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DPC II | Delosmar Mendonça

DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

Unidade 2

AULA 3: Agravo de Instrumento

1. CABIMENTO (art. 1015 do CPC)

Cabe agravo de instrumento contra decisão interlocutória.

A decisão interlocutória é recorrível. A recorribilidade da decisão interlocutória


poderá ser:

a) Imediata – recorrível mediante Agravo de Instrumento, quando a


decisão for agravável; ou

b) Diferida – recorrível mediante Apelação, quando a decisão for não


agravável.

São agraváveis as decisões interlocutórias previstas no art. 1.015, além de outras


previstas em lei.

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que


versarem sobre:

I – tutelas provisórias;

II – mérito do processo;

III – rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

IV – incidente de desconsideração da personalidade jurídica;

V – rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua


revogação;

VI – exibição ou posse de documento ou coisa;

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VII – exclusão de litisconsorte;

VIII – rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;

IX – admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

X – concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à


execução;

XI – redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;

XII – (VETADO);

XIII – outros casos expressamente referidos em lei.

Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões


interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento
de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.

O parágrafo único determina que serão agraváveis quaisquer decisões interlocutórias


proferidas em:

a) Processo de INVENTÁRIO;
b) Processo de EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL;
c) Fase de LIQUIDAÇÃO de sentença;
d) Fase de CUMPRIMENTO de sentença.

O entendimento majoritário do STJ é de que o rol do art. 1.015 é taxativo, contudo, essa
taxatividade é mitigada: é cabível o agravo de instrumento contra decisão interlocutória
não agravável diante da demonstração de uma situação de urgência por perigo de dano.

Em dezembro de 2018, o STJ, a ensejo do julgamento dos RE 1.696.396 e


1.704.520, firmou o entendimento de que "o rol do art. 1.015 do CPC é de
taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de
instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do
julgamento da questão no recurso de apelação".

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FONTE: https://www.migalhas.com.br/depeso/341278/taxatividade-
mitigada-do-art-1-015-e-os-efeitos-da-impugnacao-tardia

Nos casos das decisões interlocutórias agraváveis previstas no art. 1.015, a não
interposição do recurso leva à preclusão.

2. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

Na sistemática do CPC/15, a decisão interlocutória é definida por exclusão: as decisões


proferidas pelo Juízo de 1º grau que não forem sentença – que extingue o processo ou
encerra a fase de conhecimento –, serão decisões interlocutórias. Observe-se ainda que
existe outra espécie de ato judicial em 1º grau: despacho, ato meramente ordinatório.

São decisões interlocutórias:

i. Tutela de urgência (agravável);

Cognição sumária. Tem caráter provisório.

ii. Julgamento parcial do mérito (agravável);

Trata-se de uma decisão de mérito que é veiculada em decisão interlocutória. Essa


decisão tem caráter definitivo.

É apta a formar coisa julgada. Se não for interposto o Agravo de Instrumento, a


decisão interlocutória que profere julgamento parcial do mérito gera coisa julgada.

iii. Decisões sobre provas (não agravável);

Geralmente, as decisões referentes à admissibilidade e ao modo de condução da


produção de provas são veiculadas por decisão interlocutória não agravável,
recorrível, portanto, mediante apelação.

iv. Decisões sobre nulidades;

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Decisões em que o Juízo de 1º grau declara a nulidade de um ato processual que


realizou. Na prática, chamamos isso de “chamar o feito à ordem”.

v. Outros casos não previstos

3. INTERPOSIÇÃO (art. 1016 do CPC)

Art. 1.016. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal


competente, por meio de petição com os seguintes requisitos:

I - os nomes das partes;

II - a exposição do fato e do direito;

III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido;

IV - o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo.

O Agravo de Instrumento será interposto por petição escrita dirigida diretamente ao


Tribunal competente.

Há aí uma distinção entre este recurso e a Apelação, a qual será dirigida ao Juízo de
primeiro grau que proferiu a sentença, que intimará a parte contrária para apresentar
contrarrazões e, posteriormente, remeterá os autos ao Tribunal.

O professor sustenta que, com a instituição do processo eletrônico, não persiste qualquer
razão que justifique a exigência de dirigir a Apelação ao Juízo de primeiro grau, quando
este não realizará qualquer juízo de admissibilidade.

Diferentemente da Apelação, portanto, o Agravo de Instrumento não passa pelo Juízo que
proferiu a decisão interlocutória agravada.

Deve ser interposta por meio de petição: exige-se a peça escrita. Não pode ser interposto
de forma oral.

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Nos termos do art. 1.016 do CPC, a petição de Agravo de Instrumento deverá conter:
os nomes das partes; a exposição do fato e do direito; as razões do pedido de reforma
ou de invalidação da decisão e o próprio pedido; o nome e o endereço completo dos
advogados constantes do processo.

Uma particularidade do Agravo de Instrumento é a necessidade de indicação do endereço


completo dos advogados constantes do processo. Por que isso? A peça do Agravo de
Instrumento é dirigida diretamente ao Tribunal. Diferentemente do que ocorre na
Apelação, em que o Juízo de primeiro grau irá remeter os autos ao Tribunal.

4. FORMAÇÃO DO INSTRUMENTO

Por que o Agravo de Instrumento se chama assim? Isso deve-se ao fato de que há
formação de instrumento.

Um procedimento de primeiro grau está em curso e o recurso forma um instrumento


– uma extração de peças dos autos principais que viabiliza que tramitem em paralelo
dois procedimentos. É como se o recurso abrisse um afluente (recurso) no curso de um
rio (processo), de modo que os dois continuassem a fluir paralelamente.

Digressão sobre a origem do recurso de Agravo de Instrumento

Em Portugal, no final da Idade Média, havia algumas sentenças que não podiam
ser recorridas por apelação, não se permitindo o duplo grau de jurisdição. Não
havia como recorrer da sentença.

Naquela época, ainda persistia a monarquia absoluta, sendo o rei o chefe de todos
os poderes. Aqueles que estivessem irresignados com a decisão não recorrível
dirigiam queixas ao rei para pedir que reconsiderasse a decisão.

Diante dessas queixas, caso o Palácio Real considerasse interessante o caso, podia
colher, em nome do rei, informações junto ao Judiciário. Para responder a essa
demanda, transcreviam-se as peças processuais formando um instrumento que era

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enviado ao rei. Com base neste instrumento, o monarca decidiria sobre a


manutenção ou não da decisão.

A formação do instrumento permite o acesso de uma entidade superior às peças do


processo.

Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:

I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que


ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva
intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das
procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;

II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso


I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;

III - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.

§ 1º Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e


do porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais.

§ 2º No prazo do recurso, o agravo será interposto por:

I - protocolo realizado diretamente no tribunal competente para julgá-lo;

II - protocolo realizado na própria comarca, seção ou subseção judiciárias;

III - postagem, sob registro, com aviso de recebimento;

IV - transmissão de dados tipo fac-símile, nos termos da lei;

V - outra forma prevista em lei.

§ 3º Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que


comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o relator aplicar o
disposto no art. 932, parágrafo único .

§ 4º Se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados tipo fac-símile


ou similar, as peças devem ser juntadas no momento de protocolo da petição
original.

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§ 5º Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas nos


incisos I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros documentos que
entender úteis para a compreensão da controvérsia.

O art. 1.017, caput, do CPC trata da formação do instrumento, determinando que a


petição de Agravo de Instrumento deverá ser instruída com os documentos
obrigatórios (incisos I e II) e facultativos.

Ausente a juntada de documentos obrigatórios ou existindo algum vício que


comprometa a admissibilidade do recurso, em observância ao art. 1.017, §3º, o relator
deverá oportunizar ao agravante prazo para que seja sanado o vício ou
complementada a documentação exigível, nos moldes do art. 932, § único.
incide o art. 932, § único,

Observe-se que esta obrigação apenas se impõe quando o Agravo de Instrumento se der
em autos de papel. O art. 1.017, §5º, do CPC é firme ao dispensar essa exigência
quando os autos do processo forem eletrônicos. Para o professor Delosmar, a distinção
entre as peças obrigatórias ou facultativas tornou-se irrelevante com os processos
eletrônicos.

Nesta senda, ensinam DIDIER JR E CUNHA:

“Interposto o agravo de instrumento em processo que tramite em autos eletrônicos,


não há mais qualquer exigência. O agravante deve atender apenas aos requisitos
previstos no art. 1.016 do CPC, sendo-lhe franqueada a possibilidade de fazer
juntar cópias ou documentos que repute úteis para a análise a ser feita pelo
tribunal”.

Há diversos modos de interposição do Agravo de Instrumento, os quais são previstos


no art. 1.017, §2º, do CPC.

5. COMUNICAÇÃO AO JUÍZO DE 1º GRAU

Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia
da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da
relação dos documentos que instruíram o recurso.

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§ 1º Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará


prejudicado o agravo de instrumento.

§ 2º Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no


caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento.

§ 3º O descumprimento da exigência de que trata o § 2º, desde que arguido e provado


pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento.

Protocolado o recurso, é facultada a comunicação da interposição do Agravo de


Instrumento ao Juízo de 1º grau. A comunicação ao Juízo de primeiro grau não é
obrigatória. Trata-se de uma faculdade (“poderá”).

A comunicação da interposição do Agravo de Instrumento ao Juízo a quo visa permitir


que este exerça o juízo de retratação. O recurso de Agravo de Instrumento possui efeito
devolutivo regressivo: abre competência para que a autoridade que proferiu a decisão
possa retratar-se, reformando a decisão no todo ou em parte. O professor destaca que esta
é uma característica de todo agravo.

Comunicado da interposição do Agravo de Instrumento, poderá o Juízo de primeiro grau:

a) Manter integralmente a decisão interlocutória agravada;

b) Exercer o juízo de retratação para reformar PARCIALMENTE a decisão


interlocutória agravada, de modo que o recurso persiste na impugnação que
ataca que a parte da decisão que não foi objeto da retratação;

c) Exercer o juízo de retratação para reformar INTEIRAMENTE a decisão


interlocutória agravada, o que deverá ser comunicado ao relator do Agravo de
Instrumento, que considerará o recurso prejudicado e não o conhecerá (art.
932, III, do CPC).

6. EFEITOS DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Efeito devolutivo – comum e regressivo (com juízo de retratação).

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Efeito suspensivo – concessão por decisão judicial.

Em regra, o Agravo de Instrumento não tem efeito suspensivo. Não tem efeito
suspensivo automático ope legis. Apenas haverá efeito suspensivo por
determinação judicial. Para que se conceda o efeito suspensivo, o agravante
deve demonstrar seja a probabilidade do provimento do recurso, seja o risco
de dano grave ou de difícil reparação, sendo relevante a fundamentação – isto
é, a título de tutela de evidência ou de urgência, respectivamente. Sem essa
demonstração, não será concedido o efeito suspensivo.

Pode-se também requerer, no Agravo de Instrumento, a antecipação da tutela recursal (art.


1.019, I, do CPC).

EXEMPLO: Em primeiro grau, é indeferido o pedido de tutela de urgência. Diante


disso, o promovente agrava a decisão liminar para requerer antecipação da tutela
recursal. Veja que, neste caso, não faz sentido pleitear a concessão do efeito
suspensivo: não há nada para suspender. Caso o Tribunal defira essa antecipação,
substituirá a decisão liminar. Ao julgar o recurso, o Tribunal proverá ou não a
reforma da decisão liminar, concedendo ou não a tutela de urgência.

Veja-se que, no Agravo de Instrumento, tanto a concessão de efeito suspensivo quanto


a antecipação da tutela recursal são providencias iniciais.

No primeiro caso, requer-se uma declaração negativa: suspender os efeitos de


uma decisão. Almeja-se evitar o cumprimento de uma providência obtida pela
contraparte pelo juízo de primeiro grau.

No segundo caso, requer-se uma medida positiva: conceder a antecipação de


tutela recursal. Quer-se obter a providência que não foi atribuída no primeiro grau.

7. PROVIDÊNCIAS INICIAIS DA RELATORIA (art. 1019 do CPC)

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Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído


imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o relator,
no prazo de 5 (cinco) dias:

I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela,


total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;

II - ordenará a intimação do agravado pessoalmente, por carta com aviso de


recebimento, quando não tiver procurador constituído, ou pelo Diário da Justiça ou
por carta com aviso de recebimento dirigida ao seu advogado, para que responda no
prazo de 15 (quinze) dias, facultando-lhe juntar a documentação que entender
necessária ao julgamento do recurso;

III - determinará a intimação do Ministério Público, preferencialmente por meio


eletrônico, quando for o caso de sua intervenção, para que se manifeste no prazo de
15 (quinze) dias.

DECISÃO
AGRAVO DE
INTERLOCUTÓRIA Prazo de 15 dias Distribuição imediata
INSTRUMENTO
AGRAVÁVEL

NÃO CONCESSÃO DE INTIMAR


CONHECIMENTO ou EFEITO AGRAVADO e MP
NEGAR Prazo de 5 dias SUSPENSIVO OU DE
PROVIMENTO ANTECIPAÇÃO DE (se for caso de sua
TUTELA RECURSAL intervenção)
(art. 932, III e IV)

CONTRARRAZÕES Prazo não superior a 1


JULGAMENTO DO
Prazo de 15 dias AO AGRAVO DE mês da intimação do
RECURSO
INSTRUMENTO agravado

Em destaque amarelo, estão as providências iniciais da relatoria.

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