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AGRAVO DE INSTRUMENTO
1. FUNDAMENTO LEGAL

O agravo de instrumento é um recurso usado diante de decisões interlocutórias


proferidas pelo juízo. O rol de hipóteses, já decidido pelo STJ como sendo de taxatividade
mitigada, possui previsão no art. 1.015, CPC:

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias


que versarem sobre:

I - tutelas provisórias;

II - mérito do processo;

III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;

V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do


pedido de sua revogação;

VI - exibição ou posse de documento ou coisa;

VII - exclusão de litisconsorte;

VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;

IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos


embargos à execução;

XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º ;

XII - (VETADO);

XIII - outros casos expressamente referidos em lei.

Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões


interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de
cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de
inventário.

Mas o que é taxatividade mitigada? Bem, conforme o STJ o critério para definir a hipótese
de cabimento do agravo de instrumento é a urgência1:

Por que esse nome “taxatividade mitigada”?

1 Disponível em <https://www.dizerodireito.com.br/2019/02/cabimento-do-agravo-de-instrumento.html>,
acesso em 12/11/2020.

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Foi uma expressão cunhada pela Min. Nancy Andrighi.


O objetivo da Ministra foi o de dizer o seguinte: o objetivo do legislador foi
o de prever um rol taxativo e isso deve ser, na medida do possível,
respeitado. No entanto, trata-se de uma
taxatividade mitigada (suavizada, abrandada, relativizada) por uma
“cláusula adicional de cabimento”.

Que cláusula (norma, preceito) é essa? Deve-se também admitir o


cabimento do recurso em caso de urgência.

E por que se deve colocar essa “cláusula adicional de cabimento”? Por


que se deve adicionar essa regra extra de cabimento? Porque, se
houvesse uma taxatividade absoluta, isso significaria um desrespeito às
normas fundamentais do próprio CPC e geraria grave prejuízo às partes
ou ao próprio processo.

Logo, tem-se uma taxatividade mitigada pelo requisito da urgência.


Tese fixada pelo STJ:

Como o tema foi apreciado pela Corte Especial em sede de recurso


repetitivo, o STJ fixou a seguinte tese:

O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo
de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da
questão no recurso de apelação.
STJ. Corte Especial. REsp 1.704.520-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018 (recurso
repetitivo) (Info 639).

2. MOMENTO PROCESSUAL DA SUA UTILIZAÇÃO

O momento processual de sua utilização é após uma decisão interlocutória que tenha
previsão no art. 1015, CPC. Atentem-se, portanto, aos enunciados, pois se for narrada uma
decisão durante o iter processual, provavelmente o examinador quer um agravo de
instrumento.

3. FIQUE LIGADO!

Gente, o agravo de instrumento possui alguns detalhes a serem ressaltados. Em primeiro


lugar, há o chamado juízo de retratação, ou seja: o juízo de primeiro grau pode se retratar da
decisão e aí o recurso não será julgado. Sua previsão está no art. 1018, §1º, CPC.

Outro detalhe é que o art. 356, CPC trata da situação do julgamento parcial do mérito.
Ou seja, se o processo estiver instruído de forma suficiente, de maneira que parte dos pedidos

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possa ser julgada, o juízo decidirá por meio de uma decisão interlocutória. E como se trata de
uma decisão dessa natureza, adivinhem? Isso. Caberá agravo de instrumento dessa decisão:

Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos


pedidos formulados ou parcela deles:

I - mostrar-se incontroverso;

II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355 .

§ 1º A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a


existência de obrigação líquida ou ilíquida.

§ 2º A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação


reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito,
independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa
interposto.

§ 3º Na hipótese do § 2º, se houver trânsito em julgado da decisão, a


execução será definitiva.

§ 4º A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o


mérito poderão ser processados em autos suplementares, a
requerimento da parte ou a critério do juiz.

§ 5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo


de instrumento.

Por fim, lembrem que o STJ e doutrina admitem a aplicação da teoria da causa madura
(maiores detalhes sobre a teoria podem ser conferidos na explicação referente à apelação
quando cuidarmos desta peça processual) em relação ao agravo de instrumento2:

Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, § 3º, do CPC/1973 / art. 1.013, § 3º do
CPC/2015) em julgamento de agravo de instrumento.
STJ. Corte Especial. REsp 1.215.368-ES, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/6/2016 (Info 590).

O entendimento adotado pelo STJ é amplamente aceito pela doutrina:

"(...) Está aí, portanto, a questão da dimensão do disposto pelo novo


parágrafo do art. 515 - se ele abrange apenas o recurso de apelação, ou
também outros. Figure-se a hipótese da decisão interlocutória com que
o juiz determina a realização de uma prova e a parte manifesta agravo
de instrumento com o pedido de que essa prova não seja realizada: se o
tribunal aceitar os fundamentos do recurso interposto, para que a prova

2 Disponível em <https://www.dizerodireito.com.br/2016/11/possibilidade-de-aplicacao-da-teoria-da.html>,
acesso em 12/11/2020.

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não se realize, e entender também que nenhuma outra existe a ser


realizada, é de rigor que passe desde logo ao julgamento do meritum
causae, porque assim é o espírito da Reforma - acelerar a oferta da tutela
jurisdicional, renegando mitos seculares, sempre que isso não importe
prejuízo à efetividade das garantias constitucionais do processo nem
prejuízo ilegítimo às partes (...)" (DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma da
reforma. 6ª ed., São Paulo: Malheiros, 2003, p. 162-163).

4. PROBLEMA CONCRETO

Thiago, pessoa com 65 anos de idade, possui uma assinatura de TV a Cabo em sua
residência, mas constantemente o sinal do serviço simplesmente desaparece. Recentemente,
inclusive, Thiago ficou 15 dias seguidos sem o serviço.

Totalmente insatisfeito com a situação, Thiago procura a Defensoria no dia 28 de abril


de 2020 e solicita uma providência, tendo em vista que deseja cancelar o contrato, mas a
operadora de TV, chamada TELEVISÃO 10, se nega a realizar o cancelamento.

A Defensoria ajuizou demanda em vara cível comum, no dia 05 de maio de 2020, tendo
Thiago como autor, sendo feitos os seguintes pedidos: obrigação de fazer, consubstanciada
no cancelamento do serviço de TV a Cabo a ser feito pela ré e pagamento de compensação
por dano temporal no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Também foi solicitada a concessão da gratuidade de justiça em favor do autor.

No dia 11 de maio de 2020, o juízo indeferiu o pedido de gratuidade de justiça,


determinando que as custas fossem juntadas em até 5 (cinco) dias, sob pena de extinção do
processo sem julgamento do mérito.

Você, Defensor(a) de Thiago, foi intimado(a) pessoalmente da decisão no dia 12 de maio


de 2020, terça-feira.

Apresente a peça cabível no caso, considerando na contagem do prazo sábados e


domingos, mas desconsiderando eventuais feriados.

5. SOLUÇÃO E MODELO COMENTADO

ENDEREÇAMENTO – FOLHA DE INTERPOSIÇÃO

Deverá ser feita direto ao Tribunal.

À PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO .......

Processo nº
Prioridade na tramitação: PESSOA IDOSA (art. 1048, I, CPC c/c art. 71, Estatuto
do Idoso – Lei 10.741/03)

AGRAVANTE: Thiago, representado pela Defensoria Pública do Estado ....., inscrita no CPNJ .....,
endereço eletrônico ....., domiciliada em......

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AGRAVADO: TELEVISÃO 10, representada por....., inscrito no CPF / CNPJ ....., endereço eletrônico .....,
domiciliado em ......

QUALIFICAÇÃO E FUNDAMENTO LEGAL

Atentem-se para o fundamento para interposição do agravo de instrumento. Vejam, o


rol do art. 1015, CPC é de taxatividade mitigada, mas essa mitigação não permite uma livre
interposição.

No caso, houve rejeição do pedido de gratuidade de justiça. Conforme previsão legal, o


fundamento para questionar essa decisão encontra-se no inciso V do art. 1015, CPC, razão pela
qual ele deverá aparecer na fundamentação de vocês.

Thiago, já devidamente qualificado aos autos, vem, por meio do membro da


Defensoria Pública do Estado... que esta subscreve, com base no art. 1.015, V,
CPC c/c art. 4º, I, LC 80/94, interpor AGRAVO DE INSTRUMENTO em face da
decisão proferida às fls... do processo em que figura como demandada a ré
TELEVISÃO 10, já qualificada aos autos.

FECHAMENTO - PEDIDO DE DEFERIMENTO, LOCAL, DATA E ASSINATURA

Sem mistérios; façam o fechamento da peça conforme já treinamos. Atentem-se ao


prazo: a intimação pessoal da decisão à Defensoria ocorreu 12 de maio de 2020, terça-feira.
Considerando o prazo de 15 dias a ser contado em dobro, a data final para interposição do
recurso é 23 de junho de 2020.

Nestes termos, pede deferimento.

Local, 23 de junho de 2020

Defensor Público

INTRODUÇÃO

Por questões de cordialidade, é costume que seja feito um cumprimento aos julgadores
e ao Procurador de Justiça que oficia perante o Órgão. Essa passagem também costuma
figurar nos espelhos de correção. Além disso, façam uma pequena introdução, antes de
adentrarem na estrutura da peça.

Egrégia Câmara, excelentíssimos julgadores, douto Procurador de Justiça,

Em que pese a competência técnica do juízo de 1º grau, a decisão agravada


não merece prosperar, pelas razões de fato e jurídicas abaixo.

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I – PRELIMINARES

A) DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

A gratuidade de justiça é justamente o mérito do agravo de instrumento, de maneira


que vocês abordarão de forma mais aprofundada esse ponto mais à frente.

Informa o agravante que requereu a gratuidade de justiça em primeiro grau,


por não possuir condições financeiras para arcar com os custos do processo
judicial. No entanto, o juízo indeferiu o pedido. Reiterando a falta de condições
financeiras para pagamento das custas, deixa o agravante de recolher os
valores referentes.

B) DAS PRERROGATIVAS DOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA

Informem que as prerrogativas dos membros da Defensoria serão observadas,


conforme abaixo. Lembrando que não precisam pedir para que o juiz defira a observância das
prerrogativas, isso porque não é uma faculdade, é uma imposição legal, razão pela qual você
deve apenas informá-lo.

Informa-se ao juízo que serão usadas as prerrogativas dos membros da


Defensoria Pública, mormente a vista pessoal, prazo em dobro e dispensa de
procuração, nos termos do art. 128, I, VII e XI, LC 80/94.

C) DO INTERESSE E LEGITIMIDADE

O interesse e a legitimidade devem estar presentes quando da resposta a um recurso,


de maneira que vocês devem fazer alusão a esse ponto.

Estão presentes o interesse e a legitimidade recursal do agravante; em


relação ao interesse, o agravante busca uma melhor situação jurídica no
processo judicial, enquanto em relação à legitimidade, o apelante busca
tutelar direito próprio em nome próprio.

D) DO CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE

O cabimento e a tempestividade são requisitos de admissibilidade recursal que devem


figurar na folha de razões, bastando que vocês façam uma alusão rápida, porém elucidativa,
sobre os pontos.

Em relação ao cabimento, vocês usarão o mesmo artigo que colocaram na folha de


interposição, o mesmo valendo em relação à tempestividade: usem a mesma data que vocês
colocaram na folha de interposição.

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O recurso trata de irresignação à decisão interlocutória proferida pelo juízo


de piso. Nos termos do art. 1.015, V, CPC, o recurso cabível é o agravo de
instrumento, sendo essa a peça processual apresentada pelo agravante.
Está presente, portanto, o pressuposto do cabimento.

Ademais, a intimação pessoal da decisão à Defensoria ocorreu 12 de maio


de 2020, terça-feira. Considerando o prazo de 15 dias a ser contado em
dobro, a data final para interposição do recurso é 23 de junho de 2020, data
essa observada pelo agravante. Presente, portanto, a tempestividade.

II – FATOS

Façam uma explicação rápida sobre os fatos. Atenção também porque às vezes o
examinador dispensa o candidato de transcrever os fatos. Nesse caso, abram o tópico e
escrevam apenas “dispensado pelo enunciado”.

O agravante ajuizou demanda em face da agravada, tendo em vista o


serviço defeituoso de TV a Cabo prestado por esta. Requereu,
preliminarmente ao mérito, a concessão da gratuidade de justiça, tendo em
vista não possuir condições financeiras para arcar com os custos de um
processo sem prejuízo de sua subsistência.

Entretanto, o juízo de primeiro grau rejeitou o pedido, razão pela qual


interpôs-se o presente recurso.

III – DAS RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO – ERROR IN JUDICANDO

O caso é simples: o juízo rejeitou o pedido de gratuidade de justiça e a ideia é que isso
seja revertido. Assim, argumentos importantes, por exemplo, a presunção de hipossuficiência à
pessoa natural é importante.

A gratuidade de justiça tem previsão no art. 98, caput, CPC. Frisa-se que, em
relação à pessoa natural (que é o caso do agravante), existe presunção legal
iuris tantum de hipossuficiência financeira (art. 99, §3º, CPC).

Não bastasse a presunção legal, o juízo simplesmente rejeitou o pedido de


gratuidade, deixando de solicitar que o agravante juntasse aos autos
comprovantes da hipossuficiência. O art. 10, CPC, veda expressamente que o
juiz decida sem ter dado às partes oportunidade de manifestação.

Assim, a decisão do juízo de 1º grau não merece prosperar, devendo ser


reformada para que haja o reconhecimento do direito à gratuidade de
justiça em favor do agravante.

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IV – PEDIDOS

Por fim, em relação aos pedidos no agravo de instrumento, lembrem da previsão do art.
1019, III, CPC, que trata da intimação do MP.

Posto isso, ressaltando que serão observadas as prerrogativas dos membros


da Defensoria, requer:

a) o conhecimento do recurso, tendo em vista a presença dos requisitos para


sua apresentação;

b) a intimação do agravado para, querendo, manifestar-se;

c) a intimação do Ministério Público para, querendo, manifestar-se;

d) caso o juízo identifique a ausência de qualquer peça essencial à


admissibilidade do recurso, requer a intimação para que haja suprimento do
vício, nos termos do art. 1.017, §3º, CPC;

e) no mérito, a reforma da decisão de primeiro grau para que seja


reconhecido o direito à gratuidade de justiça em favor do agravante.

FECHAMENTO – PEDIDO DE DEFERIMENTO, LOCAL, DATA E ASSINATURA

Por fim, chegamos ao momento de finalizar a peça. Tal como na folha de interposição,
temos o pedido de deferimento, local, data e assinatura:

Nestes termos, pede deferimento.

Local, 23 de junho de 2020

Defensor Público

6. MODELO DE PEÇA

À PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO .......

Processo nº....

PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO: PESSOA IDOSA (art. 1048, I, CPC c/c art. 71, Estatuto
do Idoso – Lei 10.741/03)

Thiago, já devidamente qualificado aos autos, vem, por meio do membro da Defensoria
Pública do Estado... que esta subscreve, com base no art. 1.015, V, CPC c/c art. 4º, I, LC 80/94,
interpor AGRAVO DE INSTRUMENTO em face da decisão proferida às fls... do processo em que
figura como demandada a ré TELEVISÃO 10, já qualificada aos autos.

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Informa-se que foram juntados os documentos previstos no art. 1.017, CPC, e que realizou a
comunicação ao juízo de primeiro grau para viabilizar o juízo de retratação.

Nestes termos, pede deferimento.

Local, 23 de junho de 2020

Defensor Público.

DAS RAZÕES

AGRAVANTE: Thiago, representado pela Defensoria Pública do Estado ....., inscrita no CPNJ .....,
endereço eletrônico ....., domiciliada em......

AGRAVADO: TELEVISÃO 10, representada por....., inscrito no CPF / CNPJ ....., endereço eletrônico .....,
domiciliado em ......

Egrégia Câmara, excelentíssimos julgadores, douto Procurador de Justiça,

Em que pese a competência técnica do juízo de 1º grau, a decisão agravada não merece
prosperar, pelas razões de fato e jurídicas abaixo.

I – PRELIMINARES

A) DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Informa o agravante que requereu a gratuidade de justiça em primeiro grau, por não possuir
condições financeiras para arcar com os custos do processo judicial. No entanto, o juízo
indeferiu o pedido. Reiterando a falta de condições financeiras para pagamento das custas,
deixa o agravante de recolher os valores referentes.

B) DAS PRERROGATIVAS DOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA

Informa-se ao juízo que serão usadas as prerrogativas dos membros da Defensoria Pública,
mormente a vista pessoal, prazo em dobro e dispensa de procuração, nos termos do art. 128, I,
VII e XI, LC 80/94.

C) DO INTERESSE E LEGITIMIDADE

Estão presentes o interesse e a legitimidade recursal do agravante; em relação ao interesse, o


agravante busca uma melhor situação jurídica no processo judicial, enquanto em relação à
legitimidade, o apelante busca tutelar direito próprio em nome próprio.

D) DO CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE

O recurso trata de irresignação à decisão interlocutória proferida pelo juízo de piso. Nos termos
do art. 1.015, V, CPC, o recurso cabível é o agravo de instrumento, sendo essa a peça processual
apresentada pelo agravante. Está presente, portanto, o pressuposto do cabimento.

Ademais, a intimação pessoal da decisão à Defensoria ocorreu 12 de maio de 2020, terça-feira.


Considerando o prazo de 15 dias a ser contado em dobro, a data final para interposição do

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recurso é 23 de junho de 2020, data essa observada pelo agravante. Presente, portanto, a
tempestividade.

II – FATOS

O agravante ajuizou demanda em face da agravada, tendo em vista o serviço defeituoso de


TV a Cabo prestado por esta. Requereu, preliminarmente ao mérito, a concessão da
gratuidade de justiça, tendo em vista não possuir condições financeiras para arcar com os
custos de um processo sem prejuízo de sua subsistência.

Entretanto, o juízo de primeiro grau rejeitou o pedido, razão pela qual interpôs-se o presente
recurso.

III – DAS RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO – ERROR IN JUDICANDO

A gratuidade de justiça tem previsão no art. 98, caput, CPC. Frisa-se que, em relação à pessoa
natural (que é o caso do agravante), existe presunção legal iuris tantum de hipossuficiência
financeira (art. 99, §3º, CPC).

Não bastasse a presunção legal, o juízo simplesmente rejeitou o pedido de gratuidade,


deixando de solicitar que o agravante juntasse aos autos comprovantes da hipossuficiência.
O art. 10, CPC, veda expressamente que o juiz decida sem ter dado às partes oportunidade de
manifestação.

Assim, a decisão do juízo de 1º grau não merece prosperar, devendo ser reformada para que
haja o reconhecimento do direito à gratuidade de justiça em favor do agravante.

IV – PEDIDOS

Posto isso, ressaltando que serão observadas as prerrogativas dos membros da Defensoria,
requer:

a) o conhecimento do recurso, tendo em vista a presença dos requisitos para sua


apresentação;

b) a intimação do agravado para, querendo, manifestar-se;

c) a intimação do Ministério Público para, querendo, manifestar-se;

d) caso o juízo identifique a ausência de qualquer peça essencial à admissibilidade do recurso,


requer a intimação para que haja suprimento do vício, nos termos do art. 1.017, §3º, CPC;

e) no mérito, a reforma da decisão de primeiro grau para que seja reconhecido o direito à
gratuidade de justiça em favor do agravante.

Nestes termos, pede deferimento.

Local, 23 de junho de 2020

Defensor Público.

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