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Nº 1.0000.23.

135068-7/001
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. JUSTIÇA GRATUITA. DECLARAÇÃO DE POBREZA.
PESSOA NATURAL. PRESUNÇÃO RELATIVA. NECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO DA HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. NÃO
DEMONSTRADA. JULGAMENTO MONOCRÁTICO. ART. 932 DO CPC.
POSSIBILIDADE. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

1. Nos termos do art. 932 do CPC, o Relator pode, nas hipóteses ali
previstas, decidir por meio de decisão monocrática, ou seja, sem que
ocorra o julgamento colegiado.

2. No Incidente de Uniformização de Jurisprudência nº 1.0024.08.093413-


6/002, julgado por este e.g. Tribunal, em 25/08/2010, fixou-se o
entendimento pela possibilidade de o Julgador condicionar a concessão
do benefício da gratuidade da justiça à comprovação do estado de
hipossuficiência financeira da parte requerente.

3. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, há


presunção juris tantum quanto à impossibilidade de a pessoa física arcar
com as despesas do processo, sem comprometer seu próprio sustento
ou de sua família, de modo que o Magistrado pode indeferir o pedido se
encontrar elementos que infirmem a hipossuficiência declarada.

4. A justiça gratuita é um benefício que é concedido para os sujeitos


carentes de recursos de modo a se efetivar o livre acesso à justiça,
assegurado no art. 5º, inciso LXXIV, CF.

5. Não evidenciada nos autos a incapacidade financeira da parte


requerente, o indeferimento da gratuidade judiciária é medida que se
impõe.

6. Conforme entendimento jurisprudencial dos Tribunais Superiores, o


recolhimento do valor das custas iniciais constitui ato incompatível com
a pretensão de concessão dos benefícios da gratuidade da justiça.

AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.23.135068-7/001 -


COMARCA DE PIRAPORA - AGRAVANTE(S): CLAUDIA MEDEIROS
PINTO - AGRAVADO(A)(S): VM DMM PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
REPRESENTADO(A)(S) POR VERALUCIA DE BARROS MAIA
MORAES

DECISÃO MONOCRÁTICA

Vistos.

Fl. 1/19
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Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de efeito
suspensivo, interposto por CLÁUDIA MEDEIROS PINTO contra
decisão (doc. ordem 22), proferida pelo Juízo da 1ª Vara Cível e de
Família da Comarca de Pirapora, nos autos da “AÇÃO DE EXIBIÇÃO
DE DOCUMENTOS” ajuizada em face de VM DMM PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS, que indeferiu o pedido de justiça gratuita.

Em suas razões recursais (doc. ordem 01), sustenta a agravante


fazer jus ao benefício da gratuidade da justiça, uma vez que não
possui condições para arcar com as custas e taxas processuais, sem
prejuízo ao seu sustento próprio e familiar.

Relata que toda sua renda está comprometida devido ao fato de


ser a responsável pela manutenção do lar e ser mãe de duas crianças,
sendo que uma delas necessita de tratamento médico constante.

Ressalta arcar com dispêndios constantes relativos à


alimentação dos filhos, que requer um nível de seletividade complexo.
Informa, também, que é portadora de dor crônica e que realiza
tratamento odontológico.

Esclarece que seus gastos mensais são maiores que seus


proventos remuneratórios, uma vez que correspondem às despesas
ordinárias e extraordinárias do lar.

Argumenta que a Lei não determina que o benefício seja


concedido somente àqueles que se encontram em condição de
miserabilidade absoluta, mas, também, àqueles que malogrem
insuficiência de recursos, nos termos do art. 98 do CPC.

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Alega que os custos de vida na capital são consideráveis e,


como consequentemente, sua renda está constantemente
comprometida, o que a inviabiliza de arcar com os gastos processuais.

Defende que a manutenção da decisão agravada lhe


obstaculizará o acesso à justiça.

Diante disso, pugna pelo recebimento do recurso, com efeito


suspensivo e, ao final, que seja este provido para lhe deferir a justiça
gratuita negada em primeira instância.

Em despacho de ordem 33, a agravante foi intimada sob a


possibilidade de não conhecimento do recurso, devido à ausência de
um dos pressupostos de admissibilidade, qual seja tempestividade.

A agravante colacionou certidão de ordem 35 e petição de


ordem 36.

Por decisão (doc. ordem 37), foi deferido o pedido de efeito


suspensivo e determinada a intimação da agravante para, no prazo de
15 (quinze) dias, comprovar sua alegada hipossuficiência financeira.
Na mesma oportunidade, foi ordenada a intimação da parte agravada,
com fundamento no art. 1.019, inciso II, do CPC/2015, para apresentar
resposta ao recurso.

A agravada, devidamente intimada (doc. ordem 38/40), não


apresentou contraminuta, decorrendo prazo in albis (doc. ordem 44).

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A agravante apresentou manifestação informando já ter
colacionado aos autos documentos financeiros (doc. ordem 41). Na
oportunidade, anexou documento de ordem 42.

Este é o relatório.

DECIDO.

DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE

O art. 1.015, do Código de Processo Civil, dispõe acerca do


cabimento do agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias
ali elencadas.

No caso em exame, a decisão recorrida encontra-se


devidamente prevista no inciso V, do referido artigo, razão pela qual o
presente recurso deve ser recebido.

Assim, conheço do recurso, vez que presentes todos os


pressupostos de admissibilidade, conforme artigos 1.016 e 1.017 do
CPC.

SÍNTESE FÁTICA

Da análise dos autos, constata-se que a agravante requereu a


concessão da justiça gratuita, ao argumento de não possuir condições
financeiras que lhe possibilitasse arcar com os custos da propositura
demanda. Afirma ter juntado aos autos do processo os comprovativos
inescusáveis para o reconhecimento e deferimento da gratuidade da
justiça. Contudo, o il. Magistrado de primeira instância, após analisar

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as razões apresentadas e os documentos jungidos, entendeu pelo
indeferimento do pedido (doc. ordem 23).

É, pois, em face desta decisão que insurge a agravante.

MÉRITO – TEMAS

1. Do julgamento monocrático
2. Da justiça gratuita

ENFRENTAMENTO

1. DO JULGAMENTO MONOCRÁTICO

Como se sabe, conforme previsão no diploma processual civil, o


Relator possui diversas funções, de modo que, como bem afirmado
pelo professor Humberto Theodoro Junior1, permite-lhe, em muitos
casos, decidir os processos por meio de decisão monocrática, ou seja,
sem que ocorra o julgamento colegiado, com a participação de outros
juízes.

Nesse contexto, leciona Fredie Didier Jr.:

Para que possa cumprir a sua função, ao relator


atribui-se uma série de poderes. Há poderes de toda
natureza: ordenação e gestão do processo, instrutório
e decisório.

Esses poderes estão espalhados ao longo do Código,


em diversos dispositivos. O art. 932 é o mais
importante, pois nele se concentra boa parte desses

1 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral


do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum – vol. III
/ Humberto Theodoro Júnior. 47. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense,
2016.

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poderes. Mas o art. 932 do CPC não exaure os
poderes do relator. (Didier Jr., Fredie. Curso de direito
processual civil: o processo civil nos tribunais,
recursos, ações de competência originária de tribunal
e querela nullitatis, incidentes de competência
originária de tribunal / Fredie Didier Jr., Leonardo
Carneiro da Cunha — 13. ed. refornn. — Salvador:
Ed. JusPodivm, 2016).

Nessa trilha de ideias, reza verbum ad verbo o artigo 932 do


CPC:

Art. 932. Incumbe ao relator:

[...]

IV - negar provimento a recurso que for contrário


a:

a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior


Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;

b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal


ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento
de recursos repetitivos;

c) entendimento firmado em incidente de resolução de


demandas repetitivas ou de assunção de
competência;

V - depois de facultada a apresentação de


contrarrazões, dar provimento ao recurso se a
decisão recorrida for contrária a:

a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior


Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;

b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal


ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento
de recursos repetitivos;

c) entendimento firmado em incidente de resolução de


demandas repetitivas ou de assunção de
competência; (G.N.).

Verticalizando tais premissas, tendo em vista os


desdobramentos da justiça gratuita – a necessidade de comprovação

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da hipossuficiência financeira para que faça jus ao benefício pleiteado
–, e, com fundamento na súmula 568 do Superior Tribunal de Justiça,
entendo pela possibilidade pelo julgamento monocrático, conforme
estabelece o artigo 932 do CPC.

Por oportuno, senão vejamos o entendimento sumulado da


Corte Cidadã:

Súmula 568. O relator, monocraticamente e no


Superior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar
provimento ao recurso quando houver entendimento
dominante acerca do tema.

Nesse passo, deve-se ressaltar que há Incidente de


Uniformização de Jurisprudência julgado por este eg. Tribunal que
restou entendido pela possibilidade de o magistrado condicionar a
concessão do benefício da gratuidade judiciária à comprovação do
estado de hipossuficiência financeira da parte requerente.

Confira-se:

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA - JUSTIÇA GRATUITA -
POSSIBILIDADE DE CONDICIONAR A
CONCESSÃO DA GRATUIDADE À COMPROVAÇÃO
DO ESTADO DE MISERABILIDADE - ART. 4º, DA
LEI 1.060/1950 - DISCRICIONARIEDADE DO
MAGISTRADO - LIVRE APRECIAÇÃO DAS PROVAS
- ARTS. 130 E 131, DO CPC. (TJMG - Inc Unif
Jurisprudência 1.0024.08.093413-6/002, Relator(a):
Des.(a) Roney Oliveira , CORTE SUPERIOR,
julgamento em 25/08/2010, publicação da súmula em
19/11/2010).

Sobre o Incidente de Uniformização de Jurisprudência explica


Fredie Didier Jr.:

O Código de Processo Civil de 1973 previu, em


seus arts. 476 a 479, a uniformização de

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jurisprudência, que consistia num incidente,
instaurado no curso de um recurso (inclusive
remessa necessária) ou ação de competência
originária em qualquer tribunal.

[...]

O § 1º do art. 555 do CPC de 1973 passou a prever,


a bem da verdade, mais um incidente de
uniformização de jurisprudência. A regra ampliou
as hipóteses de uniformização de jurisprudência
no âmbito interno dos tribunais, evitando a
adoção do procedimento previsto nos arts. 476 a
479 do CPC de 1973, que era meramente
repressivo e implicava uma bipartição da
competência funcional para julgamento da
causa.

[...]

O incidente de assunção de competência, previsto


no art. 947 do CPC, é uma reformulação do
incidente previsto no § 1º do art. 555 do CPC-1973.
(Didier Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: o
processo civil nos tribunais, recursos, ações de
competência originária de tribunal e querela nullitatis,
incidentes de competência originária de tribunal /
Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha — 13.
ed. refornn. — Salvador: Ed. JusPodivm, 2016).
(G.N.).

Desse modo, a atuação solitária deste relator, nesta


oportunidade, tem o objetivo precípuo prestigiar a força que o diploma
processual civil atribui aos precedentes, uma vez que o entendimento
consolidado é no sentido de que é ônus da parte comprovar a alegada
hipossuficiência financeira para que lhe seja concedido o benefício da
justiça gratuita, e, principalmente, buscar a segurança jurídica.

Bem por isso adverte Fredie Didier Jr.:

A obediência aos precedentes e a uniformização da


jurisprudência prestam-se a concretizar, ainda, a
segurança jurídica, garantindo previsibilidade e
evitando a existência de decisões divergentes para

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situações semelhantes, sendo certo que decisões
divergentes não atingem a finalidade de aplacar os
conflitos de que se originaram as demandas. Casos
iguais devem ter, necessariamente, decisões iguais,
sob pena de se instaurar um estado de incerteza.

O respeito aos precedentes assegura a segurança


jurídica, conferindo credibilidade ao Poder judiciário e
permitindo que os jurisdicionados pautem suas
condutas levando em conta as orientações
jurisprudenciais já firmadas. Em outras palavras, o
respeito aos precedentes estratifica a confiança
legítima: os jurisdicionados passam a confiar nas
decisões proferidas pelo judiciário, acreditando que os
casos similares terão o mesmo tratamento e as
soluções serão idênticas para situações iguais. (Didier
Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: o
processo civil nos tribunais, recursos, ações de
competência originária de tribunal e querela nullitatis,
incidentes de competência originária de tribunal /
Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha — 13.
ed. refornn. — Salvador: Ed. JusPodivm, 2016).

Portanto, esclarecidos os motivos pelo julgamento monocrático,


conforme estabelece o artigo 932, do CPC, passo analisar se a parte
agravante, após ser devidamente intimada para comprovar sua
hipossuficiência financeira, faz jus ao benefício da gratuidade judiciária.

2. DA JUSTIÇA GRATUITA

Como cediço, a gratuidade judiciária trata-se de um benefício


que é concedido para os sujeitos carentes de recursos de modo a se
efetivar o livre acesso à justiça, assegurado no art. 5º, inciso LXXIV,
CF.

Em eloquente passagem, leciona Humberto Theodoro Junior:

Como regra geral, a parte tem o ônus de custear as


despesas das atividades processuais, antecipando-
lhe o respectivo pagamento, à medida que o processo
realiza sua marcha. Exigir, porém, esse ônus como

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pressuposto indeclinável de acesso ao processo seria
privar os economicamente fracos da tutela
jurisdicional do Estado.

Daí garantir a Constituição a assistência judiciária aos


necessitados, na forma da lei, assistência essa que
também é conhecida como Justiça gratuita
(Constituição Federal, art. 5º, LXXIV). (Theodoro
Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil –
Teoria geral do direito processual civil, processo de
conhecimento e procedimento comum – vol. I /
Humberto Theodoro Júnior. 56. ed. rev., atual. e ampl.
– Rio de Janeiro: Forense, 2015).

Nesse contexto, pontua-se que o Código de Processo Civil


prevê, em seu artigo 98, que a pessoa natural ou jurídica, brasileira ou
estrangeira, com insuficiência de recursos para arcar com as custas e
despesas processuais, tem direito à gratuidade da justiça na forma da
lei, conforme se verifica in verbis:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou


estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar
as custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na
forma da lei.

No entanto, cumpre esclarecer que a benesse deve ser


concedida, nos termos do artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição da
República, da seguinte forma:

Art. 5º, LXXIV - O Estado prestará assistência


judiciária integralmente gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos. (G.N.).

Verifica-se, portanto, que o texto constitucional exige a efetiva


comprovação da insuficiência de recursos para o deferimento do
pedido de gratuidade judiciária.

Esse é, inclusive, o entendimento exarado no Código de


Processo Civil em seu artigo 99, § 2º, in verbis:

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Art. 99. [...]

§2º - O juiz somente poderá indeferir o pedido se


houver nos autos elementos que evidenciem a falta
dos pressupostos legais para a concessão de
gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido,
determinar à parte a comprovação do preenchimento
dos referidos pressupostos.

[...]

A toda essa evidência, verifica-se desse modo que a justiça


gratuita se trata de um benefício que é concedido a parte que
comprovar cabalmente que não possui condições para arcar com as
custas processuais sem prejuízo de seu próprio sustento e de sua
família.

E isto porque, tratando-se de pessoa física, há apenas uma


presunção juris tantum de que quem pleiteia o benefício não possui
condições de arcar com as despesas do processo sem comprometer
seu próprio sustento ou de sua família.

Assim sendo, tendo em vista a presunção relativa, possibilita ao


magistrado indeferir o pedido de justiça gratuita se encontrar nos autos
elementos que infirmem a hipossuficiência do requerente.

Harmoniza-se, inclusive, com o entendimento da Corte Cidadã:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE
JUSTIÇA GRATUITA. PESSOA FÍSICA E JURÍDICA.
INDEFERIMENTO. REEXAME DE PROVA.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO NÃO
PROVIDO. [...] 2. Tratando-se de pessoa física, há
presunção juris tantum de que quem pleiteia o
benefício não possui condições de arcar com as
despesas do processo sem comprometer seu
próprio sustento ou de sua família. Tal presunção,

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contudo, é relativa, podendo o magistrado
indeferir o pedido de justiça gratuita se encontrar
elementos que infirmem a hipossuficiência do
requerente. Precedentes. [...] (AgInt no AREsp
1458322/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 05/09/2019, DJe 25/09/2019)
(G.N.).

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


GRATUIDADE DE JUSTIÇA. DECLARAÇÃO DE
POBREZA. PRESUNÇÃO RELATIVA.
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. REEXAME
DE PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ.1. A
presunção de pobreza, para fins de concessão
dos benefícios da assistência judiciária gratuita,
ostenta caráter relativo, podendo o magistrado
indeferir o pedido de assistência se encontrar
elementos que infirmem a hipossuficiência do
requerente. [...] (AgRg no REsp 1000055/MS, Rel.
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, julgado em 14/10/2014, DJe 29/10/2014)
(G.N.).

No caso dos autos, após analisar as razões recursais e os


documentos jungidos (doc. ordem 20/21), entendo que não merece
reforma a decisão agravada, visto que a agravante não demonstrou
sua alegada condição de insuficiência financeira.

Pois bem.

Em um primeiro momento, é necessário destacar que a


agravante foi intimada para apresentar documentos que atestassem a
alegada incapacidade de recursos (doc. ordem 37). Em petição de
ordem 41, informou ter anexado os documentos financeiros de ordem
02, 08, 20 e 21; na oportunidade, apresentou, também, notas fiscais e
boletos de ordem 42.

Dos documentos apresentados, observo que a parte agravante


juntou Declaração de Imposto de Renda (doc. ordem 20),
contracheque referente à competência de abril de 2023 (doc. ordem

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21) e comprovantes de despesas mensais e tratamentos médicos (doc.
ordem 21 e 42), que não demonstram sua alegada incapacidade
financeira.

E isso porque, da análise do contracheque de ordem 21,


observo que a agravante é assessora judiciária e, no mês de abril de
2023, auferiu rendimentos líquidos no valor de R$14.304,69 (quatorze
mil e trezentos e quatro reais e sessenta e nove centavos).

Tal valor não corrobora com a alegação de insuficiência de


recursos e, em consequência, não justifica a reforma da decisão
interlocutória agravada.

É que diante da ausência de critérios objetivos para o


deferimento da justiça gratuita, entendo que seja razoável a adoção de
alguns parâmetros dispostos na legislação como, por exemplo, o artigo
790, §3º, da CLT, o qual preceitua que:

§ 3o É facultado aos juízes, órgãos julgadores e


presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer
instância conceder, a requerimento ou de ofício, o
benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a
traslados e instrumentos, àqueles que perceberem
salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento)
do limite máximo dos benefícios do Regime Geral
de Previdência Social. (Redação dada pela Lei nº
13.467, de 2017) (g.n.).

Entrementes, o indeferimento do benefício da justiça gratuita, a


meu sentir e a depender do caso concreto, deve ocorrer quando
verificar que a parte aufere proventos superiores a 40% (quarenta
por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social, que corresponde à importância de R$3.002,99
(três mil e dois reais e noventa e nove centavos).

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Pontua-se, por oportuno, que este tem sido um dos parâmetros
adotados por este eg. Tribunal:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - JUSTIÇA


GRATUITA - DECLARAÇÃO DE
HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA - PRESUNÇÃO
RELATIVA DE VERACIDADE - PARADIGMA
OBJETIVO - PREVISÃO ART. 790, § 3º DA CLT -
APLICABILIDADE - UNIDADE JURISDICIONAL.

- Como o Brasil adotou o sistema da unidade


jurisdicional, razão pela qual se aplicam aos
processos da Justiça Estadual o art. 790, § 3º da
CLT, ou seja, de 40% do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social,
como critério paradigmático objetivo para a
concessão de justiça gratuita.

- É importante salientar que a gratuidade da justiça


constitui direito da parte, emanando da presunção
relativa da declaração de hipossuficiência, somente
devendo ser indeferida quando comprovada a
ausência dos requisitos legais para concessão do
benefício, não o contrário. (TJMG - Agravo de
Instrumento-Cv 1.0000.23.070952-9/001, Relator(a):
Des.(a) Magid Nauef Láuar (JD Convocado) , 7ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 02/08/2023,
publicação da súmula em 07/08/2023) (g.n.)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - JUSTIÇA


GRATUITA - DECLARAÇÃO DE
HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA - PRESUNÇÃO
RELATIVA DE VERACIDADE - PARADIGMA
OBJETIVO - PREVISÃO ART. 790, § 3º DA CLT -
APLICABILIDADE - UNIDADE JURISDICIONAL.

- Da declaração de pobreza, firmada pelo requerente


do benefício, emana a presunção relativa de
hipossuficiência financeira, nos termos do art. 99, §2º,
do CPC/15.

- Como o Brasil adotou o sistema da unidade


jurisdicional, razão pela qual se aplicam aos
processos da Justiça Estadual o art. 790, § 3º da
CLT, ou seja, de 40% do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social,
como critério paradigmático objetivo para a
concessão de justiça gratuita. (TJMG - Agravo de
Instrumento-Cv 1.0000.22.066761-2/001, Relator(a):

Fl. 14/19
Nº 1.0000.23.135068-7/001
Des.(a) Renato Dresch , 7ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 19/07/2022, publicação da súmula em
26/07/2022)

À luz de tais considerações, tendo em vista que a agravante


aufere renda líquida superior a 40% (quarenta por cento) do limite
máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social,
entendo que não faz jus à justiça gratuita.

Não somente, analisando a Declaração de Imposto de Renda


(doc. ordem 20), constatei que no ano de 2021, a autora recebeu
rendimentos tributáveis de fonte pagadora o montante de R$92.447,05
(noventa e dois mil e quatrocentos e quarenta e sete reais e cinco
centavos) e declarou recebimento de rendimentos isentos e não
tributáveis quantia de R$44.999,53 (quarenta e quatro mil e
novecentos e noventa e nove reais e cinquenta e três centavos).

Os mencionados valores, a meu ver, não demonstram suposta


incapacidade financeira, visto que configuram em quantias
significativas auferidas e declaradas ao longo do respectivo ano fiscal.

A propósito, cito entendimento deste eg. Tribunal de Justiça:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO -


PRETENSÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERAIS
- JUSTIÇA GRATUITA - HIPOSSUFICIÊNCIA
FINANCEIRA NÃO COMPROVADA.
1. A assistência judiciária gratuita é garantida
constitucionalmente àqueles em situação de
hipossuficiência financeira, devendo ser demonstrada
conforme art. 98 do CPC.
2. É incompatível com a condição de
hipossuficiência o recebimento de significativos
rendimentos tributáveis ao ano.
3. A concessão indiscriminada da benesse
sobrecarrega o Poder Judiciário, prejudicando,
especialmente, aqueles que realmente precisam da

Fl. 15/19
Nº 1.0000.23.135068-7/001
tutela jurisdicional por meio da justiça gratuita. (TJMG
- Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.23.143207-1/001,
Relator(a): Des.(a) Marcelo de Oliveira Milagres , 18ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 25/07/2023,
publicação da súmula em 25/07/2023)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO -


BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA - AUSÊNCIA
DE COMPROVAÇÃO DA HIPOSSUFICIÊNCIA
FINANCEIRA - INTELIGÊNCIA DO ART.5º, LXXIV,
DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. Conforme
entendimento dominante do STJ e deste Tribunal, os
benefícios da justiça gratuita podem ser concedidos a
parte que comprovar sua hipossuficiência financeira
em arcar com as custas processuais, sem prejuízo de
seu sustento próprio e de sua família. 2. Diante da
presunção relativa da hipossuficiência financeira
contida na declaração de pobreza, necessária a sua
comprovação com base no art. 5º, LXXIV, da
Constituição da República e art. 99, §2º, do CPC. 3.
Considerando que a parte agravante possui renda
mensal elevada, conforme declaração de imposto
de renda e extratos bancários, não restou
comprovada a alegada hipossuficiência financeira
a permitir a concessão dos benefícios da justiça
gratuita. 4. Recurso conhecido e não provido.
(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv
1.0000.20.544913-5/001, Relator(a): Des.(a) Shirley
Fenzi Bertão , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
10/02/2021, publicação da súmula em 10/02/2021)
(g.n.)

Não somente, observo em decisão de ordem 25, o magistrado


de primeira instância deferiu o pedido de parcelamento das custas
iniciais requerido pela autora em petição de ordem 24. Ato contínuo, a
agravante apresentou o comprovante de pagamento da primeira
parcela das custas iniciais (doc. ordem 31).

Com efeito, salienta-se que o pagamento das custas iniciais é


incompatível com o pleito da gratuidade da justiça, uma vez que
configura em comportamento processual contraditório ocasionando
preclusão lógica e, em consequência, afasta a presunção de
incapacidade financeira.

Fl. 16/19
Nº 1.0000.23.135068-7/001

Nesse sentido, é o entendimento do Superior Tribunal Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO
ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
CUSTAS PROCESSUAIS. RECOLHIMENTO
EQUIVOCADO. INTIMAÇÃO PARA
REGULARIZAÇÃO. NÃO ATENDIMENTO. PARTE
QUE AO INVÉS DE SANAR O VÍCIO POSTULOU A
CONCESSÃO DA JUSTIÇA GRATUITA. ALEGAÇÃO
DE POBREZA AFASTADA PORQUE
CONTRADITÓRIA. RECURSO ORDINÁRIO NÃO
CONHECIDO. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO. [...] 3. No Superior
Tribunal de Justiça, já se decidiu que, ao recolher
as custas depois de postular a assistência
judiciária gratuita, a parte acaba por renunciar ao
benefício. Precedentes. 4. Agravo interno não
provido. (AgInt nos EDcl no RMS 60.936/SP, Rel.
Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 20/04/2020, DJe 23/04/2020) (G.N.).

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. JUSTIÇA
GRATUITA. INDEFERIMENTO. ACÓRDÃO
RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA N. 83
DO STJ. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO DOS AUTOS. INADMISSIBILIDADE.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ. DECISÃO
MANTIDA. [...] 2. A jurisprudência desta Corte
Superior é firme no sentido de que em virtude da
aplicação do venire contra factum proprium, o
recolhimento de custas se mostra incompatível
com o pleito de concessão dos benefícios da
assistência judiciária gratuita. [...] (AgInt no AREsp
1449564/DF, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em
19/08/2019, DJe 22/08/2019) (G.N.).

Harmoniza-se, inclusive, com o posicionamento deste Eg.


Tribunal:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO -


GRATUIDADE DA JUSTIÇA - PESSOA JURÍDICA -

Fl. 17/19
Nº 1.0000.23.135068-7/001
COMPROVAÇÃO NECESSÁRIA - PAGAMENTO DE
CUSTAS - ATO INCOMPATÍVEL -
HIPOSSUFICIÊNCIA NÃO DEMONSTRADA. 1. A
gratuidade da justiça deve ser concedida àqueles que
não têm condições de arcar com as custas e
despesas processuais. 2. Faz jus aos benefícios da
gratuidade da justiça a pessoa jurídica com ou sem
fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de
arcar com os encargos processuais. 3. A concessão
de gratuidade de justiça deve ser precedida de
análise criteriosa das condições do requerente deste
benefício e ser tratada pelos magistrados como
medida excepcional. 4. O pagamento de custas
processuais pela parte que requer os benefícios
da justiça gratuita é ato incompatível com a
declaração de pobreza. (TJMG - Agravo de
Instrumento-Cv 1.0000.22.294250-0/001, Relator(a):
Des.(a) José Américo Martins da Costa , 15ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/08/2023,
publicação da súmula em 23/08/2023) (g.n.).

EMENTA: APELAÇÃO - AÇÃO MONITÓRIA -


GRATUIDADE DE JUSTIÇA - RECOLHIMENTO DE
PREPARO - ATO INCOMPATÍVEL - DEVEDOR
PRINCIPAL - RECUPERAÇÃO JUDICIAL -
PRETENSÃO DE PAGAMENTO DEDUZIDA
FRENTE AOS COOBRIGADOS - POSSIBILIDADE -
SUSPENSÃO DO FEITO - DESCABIMENTO
O recolhimento de custas processuais é ato
incompatível com o requerimento de justiça
gratuita que, à vista disto, deve ser rejeitado.
Admite-se a arguição de fato novo na fase recursal. A
recuperação judicial do devedor principal não impede
que o credor busque a satisfação do crédito em
demanda dirigida aos coobrigados que figuram no
título como garantidores. Inteligência do artigo 49 da
Lei nº 11.101/05 e da Súmula nº 581, do c. Superior
Tribunal de Justiça. "A supressão de garantias, reais
e fidejussórias, previstas em plano de recuperação
judicial aprovado em assembleia-geral de credores,
vincula apenas aqueles que assentiram
expressamente com a medida, não se estendendo,
portanto, aos credores discordantes, omissos, ou
ausentes à deliberação." (AgInt no REsp n.
1.932.219/SP). (TJMG - Apelação Cível
1.0000.23.015805-7/001, Relator(a): Des.(a) Marcelo
Pereira da Silva , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
12/07/2023, publicação da súmula em 12/07/2023)
(g.n.).

Fl. 18/19
Nº 1.0000.23.135068-7/001
Logo, não demonstrada a alegada hipossuficiência financeira,
deve ser mantida incólume a decisão que inferiu o benefício da
gratuidade da justiça à agravante.

DISPOSITIVO

Por todos os argumentos antes lançados, NEGO PROVIMENTO


AO RECURSO, mantendo hígida a decisão de primeiro grau.

Custas ao final.

É minha decisão.

Após o trânsito em julgado desta decisão, cumpra o Cartório o


disposto no artigo 385, do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais.

Publique-se. Intime-se. Cumpra-se.

Belo Horizonte, 25 de outubro de 2023.

DES. FAUSTO BAWDEN DE CASTRO SILVA (JD CONVOCADO)


Relator

Fl. 19/19

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