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RECURSOS – DISPOSIÇÕES

GERAIS
CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
 Segundo Renato Brasileiro de Lima, recurso é um instrumento
processual voluntário de impugnação de decisões judiciais,
previsto em lei federal, utilizado antes da preclusão e na relação
jurídica processual, objetivando a reforma, a invalidação, a
integração ou o esclarecimento da decisão judicial impugnada.

 Desse conceito se extrai as principais características dos


recursos:
a) Voluntariedade
b) Previsão legal
c) Anterioridade da preclusão ou coisa julgada
d) Desenvolvimento dentro da mesma relação jurídica processual
que emana a decisão impugnada
NATUREZA JURÍDICA
 Várias são as correntes doutrinárias:

a) Desdobramento do direito de ação, fase do mesmo


processo (Lima, Greco Filho)

b) Nova ação dentro do mesmo processo

c) Meio destinado a obter a reforma da decisão


 Error in judicando. Vício no conteúdo da decisão,
errônea apreciação judicial da vontade contida na lei. O
recurso visa a reforma da decisão.

 Error in procedendo. Vício na forma da decisão,


decorrente do descumprimento de uma norma de
natureza processual. O recurso visa a anulação da
decisão.
PRINCÍPIOS
1) Princípio do Duplo Grau de jurisdição

Segundo Lima, o duplo grau de jurisdição deve ser entendido


como a possibilidade de um reexame integral (matéria de fato e
de direito) da decisão do juízo a quo pelo juízo ad quem. Conclui-
se que os recursos especial e extraordinário não são
desdobramento do duplo grau de jurisdição.

 Fundamentos
falibilidade humana, inconformismo das pessoas

 Princípio não absoluto. Exceção: competência originária do


STF.
 Parte da doutrina entende que o princípio do duplo grau de
jurisdição está implícito na CF/88. Diretriz (art. 5º, inciso LV
CF/88)
Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

 De todo modo, a Convenção Americana de Direitos Humanos


(Pacto de São José da Costa Rica) assegura de maneira
expressa em seu artigo 8º, § 2º, alínea “h”, segundo o qual
toda pessoa acusada de delito tem o direito de recorrer da
sentença para juiz ou tribunal superior.
 Mutatio Libelis
Não se admite que o Tribunal faça reexame de matéria, em
sede recursal, pela primeira vez, sob pena de supressão do
primeiro grau de jurisdição o que seria também violação ao
duplo grau de jurisdição.

STF. Súmula 453. Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e


parágrafo único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova
definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância
elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou
queixa.
2) Princípio da taxatividade
Esse princípio diz que só pode haver recurso, se houver previsão legal do
mesmo, ou seja, nenhum advogado ou promotor pode interpor um tipo de
recurso que não esteja taxado e instituído na lei.

3) Princípio da Fungibilidade
Art. 579 CPP. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela
interposição de um recurso por outro. Reconhecendo o juiz desde logo, a
impropriedade do recurso interposto pela parte, deve mandar processá-lo
de acordo com o rito do recurso cabível.

O que se entende como má-fé?


(a) critério objetivo: entende-se que há má-fé quando o recurso equivocado é
interposto fora do prazo do recurso adequado.
(b) critério subjetivo: entende-se que há má-fé quando há um erro grosseiro
na interposição do recurso.
4) Princípio da Unirrecorribilidade
Atendendo-se ao princípio da singularidade, cada decisão tem
um tipo de recurso adequado, não podendo a parte usar de mais
de um meio recursal para combater a mesma decisão. (art. 593 §
4º, CPP)

Entretanto, há uma exceção que deve ser ressaltada. Contra o


acórdão do TJ, tese, é possível interpor simultaneamente o
recurso especial para STJ (art. 105 da CF) e o recurso
extraordinário para o STF (art. 102 da CF).

5) Princípio da Indisponibilidade.
O art. 576 do CPP, de forma expressa, dispõe que o MP não
pode desistir do recurso que tenha interposto.
A defesa pode desistir do recurso que tenha interposto.
6) Princípio da não reformatio in pejus direta e indireta

A expressão reformatio in pejus direta refere-se a proibição do Tribunal de


proferir decisão mais desfavorável do que a decisão impugnada no caso de
recurso exclusivo da defesa.

A expressão reformatio in pejus indireta refere-se ao fato de anulada a


sentença em recurso exclusivo da defesa, o juiz que proferir a nova sentença
também estará vinculado ao máximo da pena imposta no primeiro grau,
não podendo agravar a situação do acusado.

O recurso exclusivo da defesa não pode prejudicar o réu (617 do CPP).

7) Princípio da reformatio in mellius. No recurso exclusivo da acusação, é


plenamente possível que o juízo ad quem melhore a situação do acusado,
seja para absolver, seja para aplicar uma causa de diminuição de pena,
excluir qualificadoras.
8) Princípio da Colegialidade
A parte tem o direito de recorrendo a instância superior ao
primeiro grau de jurisdição obter um julgamento por órgão
colegiado. Isso proporciona, em tese, a troca de ideias, a
discussão de teses entre os magistrados que integram esses
órgãos colegiados.

Nas impugnações de natureza extraordinária e no


julgamento do habeas corpus junto aos Tribunais
Superiores é possível o julgamento monocrático quando a
decisão impugnada estiver em manifesto confronto com
súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal Superior.
9) Princípio da Dialeticidade

A petição de um recurso deve conter os fundamentos de


fato e de direito que embasem o inconformismo do
recorrente.
O recurso deve declinar os fundamentos do pedido de
reexame da decisão impugnada para que a parte contrária
possa apresentar suas contrarrazões, como também para
fixar os limites da atuação do Tribunal na apreciação do
recurso (tatum devolutum quantum appelatum)

Súmula 707 STF: Constitui nulidade a falta de intimação do


denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da
rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.
CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS
 Quanto à obrigatoriedade:

a) Recurso Voluntário. é a regra geral; a sua interposição depende da vontade da parte,


a qual decide pela sua interposição ou não.

b) Recurso Obrigatório. trata-se de exceção; na verdade, o juiz deve enviar os autos ao


tribunal, ainda que as partes não interponham recurso. Reexame necessário somente de
decisões do juiz singular.

 Alguns autores entendem que a expressão “recurso de ofício” é imprópria porque o


recurso pressupõe o inconformismo do recorrente e o seu desejo de ver a decisão
recorrida alterada. Tecnicamente, o caso é de “duplo grau obrigatório de jurisdição”,
sendo essa uma condição de eficácia da sentença

 A divergência entre a doutrina processual penal clássica e a moderna, reside no fato


da CF/88 ter ou não recepcionado a figura do "recurso" de ofício processual penal
(sistema acusatório). Para Norberto Avena não há de se falar em
inconstitucionalidade. Essa é a posição que prevalece na visão da Suprema Corte.
 Quanto à fundamentação:
a) Recursos de fundamentação livre. A regra é que todos os recursos sejam de
fundamentação livre, ou seja o recorrente tem ampla liberdade quanto as matérias a
serem alegadas em sua fundamentação.
b) Recurso de fundamentação vinculada. O recorrente não pode alegar qualquer matéria
que desejar, sua atuação está vinculada as matérias expressamente previstas na lei ou
na Constituição. Ex: apelação contra as decisões do júri, recurso especial, recurso
extraordinário.

 Quanto a extensão da matéria impugnada:


a) Recurso total. Engloba todo o conteúdo passível de impugnação
b) Recurso parcial: abrange apenas parte do conteúdo impugnável da decisão recorrida.

 Quanto ao objeto imediato do recurso:


a) Recursos extraordinários: tem como objeto imediato a proteção e a preservação da
boa aplicação do direito. O objetivo não é a proteção do direito subjetivo da parte,
apesar de poder beneficiá-lo. Ex. Recurso Especial, Recurso Extraordinário.
b) Recursos Ordinários: o objetivo é proteger o interessa particular da parte
sucumbente.
O recurso de ofício ou necessário funciona como uma providência imposta
em lei para que se aperfeiçoe o transito em julgado da decisão. Sem ele a    
decisão não produz efeito.

Súmula 423 do STF: Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex
officio, que se considera interposto ex lege.

Hipóteses de duplo grau obrigatório:

 a) concessão de habeas corpus (art. 574 , I , do CPP);


 b) concessão de reabilitação penal; (art. 746 do CPP);
 c) absolvição ou arquivamento de inquérito nos casos de crime contra a economia
popular ou saúde pública (art. 7º da Lei n. 1.521/1951)
 d) sentença que concede o Mandado de Segurança (art 14 § 1º Lei 12016/09)

O art. 574, II do CPP, no ponto em que trata do recurso de ofício da


decisão de absolvição sumária, após a instrução da primeira fase do
procedimento dos processos da competência do Tribunal do Júri, restou
revogado tacitamente pela Lei nº 11.689/2008.
PRESSUPOSTOS RECURSAIS OBJETIVOS
Dizem respeito ao próprio recurso

(a) Cabimento: O recurso estar previsto em lei. Irrecorribilidade das decisões


Interlocutórias (salvo art. 581 CPP) reexame como preliminar do recurso de apelação.

(b) Adequação: O recurso deve ser adequado, ou seja, deve se utilizar a via impugnativa
correta. Para cada espécie de decisão cabe um recurso específico. Princípio da
Fungibilidade.

(c) Tempestividade: cada recurso tem um prazo de interposição, sob pena de preclusão
temporal.

(d) Regularidade Processual: Observância das formalidades legais, fundamentação.

(e) Ausência de fatos impeditivos e extintivos: Renúncia – Desistência – Deserção.


PRESSUPOSTOS RECURSAIS SUBJETIVOS
Os pressupostos subjetivos de admissibilidade recursal dividem-se em dois : a) legitimidade
para recorrer e interesse recursal.

a. Legitimidade: Diz o artigo 577 do CPP que os recursos poderão ser interpostos
pelo MP, pelo querelante, pelo réu, seu procurador ou defensor.
A legitimidade decorre da sucumbência; só tem legitimidade a parte sucumbente,
ou seja, aquela que não obteve tudo que pediu.

a. Interesse Recursal: também decorre da sucumbência; o interesse na


interposição do recurso surge exatamente da desconformidade entre aquilo que
foi pedido e aquilo que foi obtido. (art. 577 § único)

Súmula 705 STF. A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não
impede o conhecimento da apelação por este interposta.
 A análise dos pressupostos recursais constitui o chamado
juízo de admissibilidade ou juízo de prelibação, o qual, se
positivo, permite o exame do mérito do recurso.
JUÍZO DE PRELIBAÇÃO
Os recursos, em regra, são interpostos perante o juízo de 1ª
instância (prolatou a decisão), este deverá verificar apenas a
presença dos pressupostos recursais (juízo de admissibilidade pelo
juiz "a quo"); se entender presentes todos os pressupostos, o juiz
recebe o recurso, manda processá-lo e, ao final, remete-o ao
tribunal; estando ausentes algum dos pressupostos, o juiz não
recebe o recurso;

O tribunal (juiz "ad quem"), antes de julgar o mérito do recurso,


deve também analisar se estão presentes os pressupostos recursais
(novo juízo de admissibilidade); estando ausentes qualquer dos
pressupostos não conhecerá o recurso, mas se estiverem todos eles
presentes, conhecerá deste e julgará o mérito, dando ou negando
provimento ao recurso (juízo de delibação = juízo de mérito).
EFEITOS DOS RECURSOS
Obstativo: A interposição do recuso obsta a preclusão temporal com o consequente trânsito em julgado.

Devolutivo: é comum a todos os recursos. Consiste em transferir à instância superior o conhecimento de determinada questão.
Reabre a possibilidade de análise da questão combatida no recurso, através de um novo julgamento. Como o recurso é
voluntário cabe a parte delimitar a matéria a ser objeto de reapreciação, pois pode estar satisfeita, por exemplo com parte da
sentença (efeito tantum devolutum quantum appelatum)
Súmula 160 STF. É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da
acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.

Suspensivo: o recurso funciona como condição suspensiva da eficácia da decisão, que não pode ser executada até que ocorra o
julgamento final. No silencio da lei, o recurso não tem efeito suspensivo (Norberto Avena, 2018). No caso de sentença
absolutória, a atual redação do art. 596 do CPP, de forma expressa, afasta o efeito suspensivo

Extensivo: é previsto no art. 580 do CPP, no caso de concurso de agentes, a decisão do recurso interposto por um dos réus, se
fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos demais.

Regressivo, iterativo ou diferido: é o feito que possibilita o juízo de retratação por parte do órgão recorrido, possibilitando,
assim, ao prolator da decisão, a possibilidade de alterá-la ou revogá-la parcial ou inteiramente. (Ex. Recurso em Sentido Estrito
– Agravo em Execução – Carta Testemunhável)

Translativo. Consiste na devolução pelo órgão ad quem de toda a matéria não atingida pela preclusão. Possui efeito transltivo o
recurso que confere ao Tribunal julgador o poder de decidir qualquer matéria em favor ou contra qualquer das partes. Em sede
processual penal o único recurso dotado de efeito translativo é o recurso ex officio.
ESPÉCIES DE RECURSO
 INTERPOSTOS NA PRIMEIRA INSTANCIA
RESE – Recurso em Sentido Estrito (art. 581 a 592 CPP)
Apelação (art. 593 a 603 CPP) (art. 82 JECRIM)
Embargos de Declaração (art. 382 CPP) (art. 82 JECRIM)
Agravo em Execução (art. 197 da Lei 7210/84)
Carta Testemunhável (art. 639 a 646 CPP)
Correição Parcial (art. 6 e 9 da Lei 5.010/66 e Regimento Interno)

 INTERPOSTOS NA INSTÂNCIA SUPERIOR


Embargos de Declaração (art. 619 a 620 CPP)
Embargos Infringentes e de Nulidade (art. 609 CPP)
ROC - Recurso Ordinário Constitucional (art. 102 II e 105 II CF/88)
REsp – Recurso Especial (art. 105 III CF/88)
RE – Recurso Extraordinário (art. 102 III CF/88)
PROVOCAÇÃO 01
Suponha que um crime militar de furto foi indevidamente
processado e julgado pela Justiça Federal. Proferida a
sentença condenatória em 1 ano de reclusão. Há recurso
exclusivo da defesa arguindo a nulidade absoluta em
virtude da incompetência absoluta da Justiça Federal para
julgar crimes militares. Reconhecida a nulidade pelo
Tribunal, os autos encaminhados para a Justiça Militar,
estará esta vinculada ao quantum da pena fixada pelo juízo
incompetente em virtude da reformatio in pejus indireta?
Fundamente sua resposta
PROVOCAÇÃO 02
Mévio foi pronunciado como incurso nas sanções do art. 121, § 2º,
inciso IV, do Código Penal e, após julgamento popular, foi
condenado como incurso nas sanções do art. 121, caput, do Código
Penal, com pena final concretizada em 06 (seis) anos de reclusão.
Inconformado com a decisão do júri, interpôs apelação com
fundamento no art. 593, inciso III, “d”, do Código de Processo Penal.
Ao julgar a apelação, o Tribunal de Justiça deu provimento ao
recurso defensivo e determinou que Mévio fosse novamente julgado
pelo Tribunal Popular. No novo julgamento, Mévio foi condenado
nos termos da capitulação contida na decisão de pronúncia, com pena
final fixada em 12 anos de reclusão. Nesse caso, haveria algum
impedimento legal para que, em virtude do novo julgamento popular,
Mévio recebesse uma sanção penal mais gravosa da que recebeu no
primeiro julgamento?
Fundamente sua resposta.

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