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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2017.0000731070

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação / Reexame


Necessário nº 0008129-78.2011.8.26.0108, da Comarca de Cajamar, em que
são apelantes JUIZO EX OFFÍCIO, INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA
SOCIAL DOS SERCIDORES DE CAJAMAR - IPSSC e TRIBUNAL DE
CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, é apelado IVONE MOREIRA
BANDEIRA TEMPORIN.

ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento aos
recursos. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


ANTONIO CELSO AGUILAR CORTEZ (Presidente) e PAULO GALIZIA.

São Paulo, 25 de setembro de 2017.

Teresa Ramos Marques


RELATOR
Assinatura Eletrônica

Apelação / Reexame Necessário nº 0008129-78.2011.8.26.0108


Voto n° 18.768
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10ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO


APELAÇÃO CÍVEL: 0008129-78.2011.8.26.0108
APELANTE(S): INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DOS
SERVIDORES DE CAJAMAR IPSSC E OUTROS
APELADO(S): IVONE MOREIRA BANDEIRA TEMPORIN
JUIZ PROLATOR: ADRIANA NOLASCO DA SILVA
COMARCA: JUNDIAÍ

VOTO Nº 18.768

EMENTA
PREVIDÊNCIA
Pública Aposentadoria Mandado de segurança
Registro negado Tribunal de Contas Legitimidade
de parte Possibilidade:

O Tribunal de Contas é parte legítima porque a


aposentadoria é ato complexo que somente se
aperfeiçoa com sua manifestação.

PREVIDÊNCIA
Pública Aposentadoria Mandado de segurança
Registro negado Decadência administrativa
Impossibilidade:

O termo inicial do prazo decadencial para revisão e


anulação do ato de aposentadoria é a data do
julgamento de sua legalidade ou registro pelo
Tribunal de Contas.

PREVIDÊNCIA
Pública Aposentadoria Mandado de segurança
Registro negado Cassação Impossibilidade:

Os princípios da boa-fé e da segurança jurídica


obstam a cassação de beneficio pago por longos
anos, por força de decisão normativa e motivada da
autoridade competente.

RELATÓRIO

Sentença concessiva da ordem para reconhecer a prescrição


administrativa e determinar o arquivamento do processo administrativo
instaurada para cassação da aposentadoria da impetrante.
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Voto n° 18.768
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Apela o Instituto de Previdência Social dos Servidores de Cajamar


IPSSC, alegando que a prescrição é quinquenal porque a relação é de trato
sucessivo (Súmula 85 do Superior Tribunal de Justiça). A cada pagamento dos
proventos, renova-se o prazo prescricional. A aposentadoria foi concedida ao
arrepio da lei. A impetrante não tinha direito ao benefício, como decidido pelo
Tribunal de Contas. Não há direito adquirido contra legem. O ato ilegal não se
convalida, mesmo passados longos anos.
O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo também apela, alegando
ilegitimidade de parte. No mérito, o processo administrativo teve tramitação
regular e perfeita, inexistindo qualquer vício. A aposentadoria foi concedida em
desacordo com os arts.37, inciso II, e 40, par.13, da Constituição Federal uma
vez que a impetrante não foi investida nas funções mediante concurso público,
tendo sido contratada por tempo determinado e, ainda, não foi beneficiada pela
estabilidade do art.19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitória. O
contraditório e a ampla defesa exercidos pelo próprio IPSSC. A irregularidade
verificada relaciona-se com a não aplicação de dispositivo constitucional,
sendo correta a negativa ao registro do ato de aposentadoria ilegal. Não ocorreu
a prescrição quinquenal, visto que a formação do referido processo se deu em
23/10/2002, tramitando regularmente. Cumpriu seu papel institucional sem
extrapolar seus poderes, cumprindo tão somente seu poder dever. Prequestiona
os art.37, caput, inciso II, 40, par.13, 71 a 75 da Constituição Federal.
Nas contrarrazões, aduz a apelada que o Tribunal de Contas é parte
legítima porque sua decisão é que deu causa à cassação da aposentadoria. No
mérito, preencheu todos os requisitos legais. No máximo caberia readequação
do benefício e não sua cassação. Ressalte-se que o tempo de contribuição não
foi impugnado. Operou-se a prescrição: a aposentadoria foi requerida em
28.5.99 e deferida em 15.1.02. Aplica-se o art.54 da Lei Federal nº 9.784/99. A
decisão deve ser mantida e prestígio ao princípio da segurança jurídica e da
proteção da confiança em sintonia com o art.5º, inciso XXXVI, da Constituição
Federal.
O Ministério reiterou parecer em que alega falta de interesse que

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legitime sua intervenção (fl.554, com remissão às fls.498/499).

FUNDAMENTOS

1. Ivone Moreira Bandeira Temporin impetrou mandado de segurança


contra ato do Diretor Executivo do Instituto de Previdência Social dos
Servidores de Cajamar IPSSC, Sr. Emiliano Campos e do Conselheiro
Presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Sr.Cláudio Ferraz
de Alvarenga, alegando, em síntese, que: (i) em 28.5.99 requereu a concessão
da aposentadoria por ter completado o tempo de serviço exigido na qualidade
de servidor celetista; (ii) o benefício foi deferido somente em 11.1.02; (iii) o
Tribunal de Contas ao auditar as contas anuais do IPSSC relativamente ao
exercício de 2002, não homologou a aposentadoria, alegando vícios
admissionais e impossibilidade de inativação pelo regime próprio; (iv) diante
da decisão do Tribunal de Contas, o IPSSC instaurou o processo administrativo
nº 43/2010; (v) não foi intimada pelo Tribunal de Contas para acompanhar o
processo de auditoria das contas anuais ou de eventual irregularidade em sua
aposentadoria; (vi) o poder da Administração de rever os próprios atos não é
ilimitado e, na hipótese, está prescrito.
Pediu em liminar a imediata suspensão do processo administrativo nº
43/2010, abstendo-se de cassar a sua aposentadoria e, ao final, a concessão da
segurança, tornando definitiva a liminar, homologando-se a aposentadoria do
impetrante e trancando o processo administrativo nº 43/2010 autuado pela
Autarquia Previdenciária.
Deferida a liminar (fl.135) e concedida a segurança (sentença,
fls.500/505), apelam o IPSSC (razões, fls.508/52) e o Tribunal de Contas
(razões, fls.521/537).

2. O Tribunal de Contas alega ilegitimidade de parte porque autoridade


coatora no mandado de segurança é aquela com poderes para corrigir o ato

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impugnado, conforme doutrina e jurisprudência. O registro da aposentadoria


foi negado porque irregular, porém, nenhum de seus membros determinou a
cassação da aposentadoria, ato praticado pelo IPSSC.
Sem razão.
Como bem decidiu a sentença, “Ainda que o impetrado Tribunal de
Contas não seja o emissor do ato que se questiona a validade, a aposentadoria
é ato complexo, e somente após a apreciação por parte da Corte de Contas,
este se encontra findo, restando justificada sua presença no pólo passivo.”
(fl.501).
Ressalte-se que o entendimento está em consonância com a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, pacífica no sentido de que a
aposentadoria é ato complexo que somente se aperfeiçoa após a regular
apreciação de sua legalidade pelo Tribunal de Contas.
Nesse sentido, confira-se a decisão monocrática proferida no AREsp
382642/MG, relatada pelo Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
publicada em 16.8.17, bem como a decisão monocrática proferida no REsp
1501068/PR, relatada pelo Ministro SÉRGIO KUKINA, publicada em 12.6.17
transcritas abaixo, item 4.
A cassação do beneficio previdenciário da impetrante pelo IPSSC
decorreu da negativa de registro de sua aposentadoria por decisão proferida
pelo Tribunal de Contas do Estado, logo, legítima sua inclusão no polo passivo
da impetração, inclusive para a defesa de ato administrativo de sua
competência.

3. De acordo com os documentos, Ivone Moreira Bandeira Temporin


foi admitida na Prefeitura do Município de Cajamar em 21.3.98, na função de
servente “A”, regida pela Consolidação das Leis do Trabalho; até 11.6.99
totalizava 11 anos, 02 meses e 24 dias de trabalho (fl.38).
Em 28.5.99 requereu a concessão de aposentadoria por tempo de
serviço (fl.32).
Na oportunidade contava com 59 anos de idade e, conforme certidão de

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tempo de contribuição do INSS, possuía 21 anos, 09 meses e 17 dias,


computando-se os períodos de 7/2/63 a 2/7/79 junto a Cia Industrial e
Mercantil Paoletti e de 21/3/88 a 11/8/1993 junto a Municipalidade (fls.40/41).
Somando-se o tempo de contribuição junto ao INSS e o tempo de
serviço prestado ao Município, até 16.12.98 contava com 30 anos 4 meses e 27
dias (documento, fl.42)
A Assessoria Jurídica do IPSSC opinou favoravelmente à concessão do
benefício (parecer, fls.43/44); o benefício foi deferido em 11.1.02, com efeitos
a partir de 14.1.02 (fls.45/48).
Em decisão datada de 10.8.07 o Tribunal de Contas do Estado negou
registro à aposentadoria da impetrante porque ela não foi investida na função
mediante concurso público, tendo sido contratada nos moldes do art.37, inciso
IX, da Constituição Federal (contratação por prazo determinado) e, ainda, não
foi beneficiada pela estabilidade assegurada pelo art.19 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, haja vista que na data da promulgação da
Constituição Federal não havia completado 5 anos de exercício ininterrupto da
função (decisão proferida no TC33922/026/02, fls.53/68, especificamente
fls.59/60).
Diante do decidido, o IPSSC instaurou processo administrativo para
exame da legalidade do ato de concessão de aposentadoria à impetrante e,
concluindo-se por sua ilegalidade, em 30.11.11, cassou o benefício da
aposentadoria por tempo de serviço (decisão, fls.28/31), dando origem ao
ajuizamento do presente mandado de segurança.

4. A sentença reconheceu a “prescrição de natureza administrativa” para


revisão ou anulação do ato concessivo da aposentadoria porque a impetrante foi
notificada da cassação do benefício em fevereiro de 2011 (fl.193), ou seja, mais
de cinco anos após sua concessão. Na fundamentação o magistrado cita o art.54
da Lei Federal nº 9.784/99, assim redigido:
“Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que
decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos,
contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.”
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Realmente, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no


sentido de que a autotutela administrativa dos atos que produzem efeitos
favoráveis para os destinatários está sujeita ao prazo decadencial quinquenal,
previsto no art. 54 da Lei 9.784/1999, sejam eles anuláveis ou nulos.
Nesse sentido a decisão monocrática proferida no AREsp 658372/RJ,
relatada pelo Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, publicada em
4.5.17, in verbis:
“ADMINISTRATIVO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR
PÚBLICO. ATO ADMINISTRATIVO. ANULAÇÃO. DECADÊNCIA
ADMINISTRATIVA. INCIDÊNCIA DO ART. 54 DA LEI 9.784/99. ATOS
NULOS OU ANULÁVEIS. PRECEDENTES DO STJ. REPOSIÇÃO AO
ERÁRIO DE VALORES PAGOS PELA ADMINISTRAÇÃO DECORRENTES
DE EXECUÇÃO JUDICIAL. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO DESPROVIDO.
(...)
5. De início, é imperioso reconhecer que é firme a orientação desta Corte de
que a autotutela administrativa dos atos que decorram efeitos favoráveis para
os destinatários estão sujeitos ao prazo decadencial quinquenal, previsto no
art. 54 da Lei 9.784/1999, sejam eles anuláveis ou nulos.
6. Nesse diapasão, os seguintes julgados:
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO. ATO ADMINISTRATIVO. ANULAÇÃO.
DECADÊNCIA ADMINISTRATIVA. INCIDÊNCIA DO ART. 54 DA LEI
9.784/99. ATOS NULOS OU ANULÁVEIS. PRECEDENTES DO STJ.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
I. O acórdão recorrido encontra-se em dissonância com a
jurisprudência desta Corte, consolidada no sentido de que o prazo
decadencial para que a Administração promova a autotutela, previsto no art.
54 da Lei 9.784/99, aplica-se tanto aos atos nulos, quanto aos anuláveis. Com
efeito, a autotutela administrativa dos atos - anuláveis ou nulos - de que
decorram efeitos favoráveis para os destinatários está sujeita ao prazo de
decadência quinquenal, previsto no art. 54 da Lei 9.784/1999. A regra não
se aplica de forma retroativa, e, nos atos anteriores à citada norma, o termo
a quo é o dia 1.2.1999, data em que a lei entrou em vigor. (STJ, REsp.
1.157.831/SC, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe de 24.4.2012). No
mesmo sentido: STJ, AgRg no REsp 1.147.446/RS, Rel. Min. LAURITA VAZ,
DJe de 26.9.2012.
II. Nesse sentido, o poder-dever da Administração rever seus próprios
atos, mesmo quando eivados de ilegalidade, encontra-se sujeito ao prazo
decadencial de cinco anos, ressalvada a comprovação de má-fé, nos termos do
previsto no art. 54, caput, da Lei 9.784/99 combinado com o art. 37, § 5o, da
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Constituição da República (STJ, AgRg no REsp. 1.133.471/PE, Rel. Min.


REGINA HELENA COSTA, DJe de 25.6.2014). Em igual sentido: AgRg
no REsp. 1.551.065/RN, Rel. Min. SÉRGIO KUKINA, DJe de 29.9.2015;
AgRg no REsp 1.538.807/RS, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe de
10.11.2015; AgRg no RMS 39.359/MS, Rel. Min. OG FERNANDES, DJe de
18.9.2015; AgRg no REsp 1.502.298/RS, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS,
DJe de 14.9.2015; AgRg no RMS 13.710/RJ, Rel. Min. NEFI CORDEIRO,
DJe de 23.9.2015.
III. Agravo Regimental improvido (AgRg no AREsp. 586.448/RJ, Rel. Min.
ASSUSETE MAGALHÃES, julgado em DJe 30.3.2016).
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. DEMISSÃO. SERVIDOR
PÚBLICO QUE EXERCEU A FUNÇÃO POR MAIS DE 20 ANOS EM CARGO
QUE EXIGIA FORMAÇÃO EM CURSO SUPERIOR. CASSAÇÃO DE
APOSENTADORIA. IMPOSSIBILIDADE. A COMISSÃO PROCESSANTE
CONCLUIU PELA FALTA DE MÁ-FÉ DO IMPETRANTE E SUGERIU O
ARQUIVAMENTO DOS AUTOS POR INCIDÊNCIA DA DECADÊNCIA.
PENA DIVERSA OFENDE OS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE,
RAZOABILIDADE E DA SEGURANÇA JURÍDICA. TESTEMUNHAS QUE
APONTARAM O EXÍMIO TRABALHO EXERCIDO PELO IMPETRANTE NO
DECORRER DOS ANOS EM QUE EXERCEU A FUNÇÃO. A TRANSIÇÃO
DO REGIME CELETISTA PARA O REGIME ESTATUTÁRIO CONTRIBUIU
PARA A CLASSIFICAÇÃO DO IMPETRANTE EM CARGO DIVERSO. O
SUPERIOR HIERÁRQUICO DO IMPETRANTE, OUVIDO COMO
TESTEMUNHA, AFIRMOU QUE O CURSO TÉCNICO DO IMPETRANTE
SERIA EQUIVALENTE AO CURSO SUPERIOR. DECURSO DE MAIS DE
20 ANOS DESDE A INSTAURAÇÃO DO PAD E A NOMEAÇÃO DO
SERVIDOR. DECADÊNCIA. ART. 54 DA LEI 9.784/99. ORDEM
CONCEDIDA EM CONFORMIDADE COM O PARECER DO MPF.
PREJUDICADO O AGRAVO REGIMENTAL INTERPOSTO CONTRA A
DECISÃO LIMINAR ANTERIORMENTE DEFERIDA PELO EMINENTE
MINISTRO LUIZ FUX.
1. O direito líquido e certo a que alude o art. 5o., LXIX da Constituição
Federal é aquele cuja existência e delimitação são passíveis de
demonstração documental, não lhe turvando o conceito a sua complexidade
ou densidade. Dessa forma, deve o impetrante demonstrar, já com a
petição inicial, no que consiste a ilegalidade ou a abusividade que pretende
ver expungida e comprovar, de plano, os fatos ali suscitados, de modo que
seja despicienda qualquer dilação probatória, incabível no procedimento da
ação mandamental.
2. É lição constante (e antiga) dos tratadistas de Direito Civil que o instituto
da decadência serve ao propósito da pacificação social, da segurança
jurídica e da justiça, por isso, somente em situações de absoluta
excepcionalidade, admite-se a revisão de situações jurídicas sobre as
quais o tempo já estendeu o seu manto impenetrável; o Direito Público
incorpora essa mesma orientação, com o fito de aquietar as relações do
indivíduo com o Estado.
3. O art. 54 da Lei 9.784/99 prevê um prazo decadencial de 5 anos, a contar
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da data da vigência do ato administrativo viciado, para que a Administração


anule os atos que gerem efeitos favoráveis aos seus destinatários. Após o
transcurso do referido prazo decadencial quinquenal sem que ocorra o
desfazimento do ato, prevalece a segurança jurídica em detrimento da
legalidade da atuação administrativa.
4. O § 2o. do art. 54 da Lei 9.784/99 deve ser interpretado em consonância
com a regra geral prevista no caput, sob pena de tornar inócuo o limite
temporal mitigador do poder-dever da Administração de anular seus atos,
motivo pelo qual não se deve admitir que os atos preparatórios para a
instauração do processo de anulação do ato administrativo sejam
considerados como exercício do direito de autotutela.
5. In casu, impõe-se reconhecer a ocorrência da decadência, já que o ex-
Servidor, atualmente aposentado, (i) exerceu os serviços
satisfatoriamente por mais de 20 anos; (ii) o seu superior hierárquico
acreditava que o curso realizado pelo impetrante era equiparado a curso
superior; e (iii), no ano de 1990, houve a transição do regime celetista
para o regime estatutário, o que evidentemente, atrai alguma confusão para
os seus operadores, como toda inovação legislativa.
6. Ordem concedida para reconhecer a ocorrência da decadência da
Administração em anular a aposentadoria do impetrante, em
conformidade com o parecer do MPF. Prejudicada a análise do Agravo
Regimental interposto contra a decisão liminar anteriormente deferida
pelo eminente Ministro LUIZ FUX (MS 15.333/DF, Rel. Min. NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, DJe 8.3.2016).
(...)
9. Ante o exposto, nego provimento ao Agravo em Recurso Especial da
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ.”

No mesmo sentido, acórdão proferido no REsp 1644560/RJ, relatado


pelo Ministro HERMAN BENJAMIN, publicado em 24.4.17, a saber:
“PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. ART. 535, II, DO
CPC. SERVIDOR CIVIL. PERCENTUAL DE 70,28%. MODO DE
IMPLANTAR. EQUÍVOCO. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. ERRO DA
ADMINISTRAÇÃO. RECEBIMENTO DE BOA-FÉ. IMPOSSIBILIDADE.
REVISÃO. DECADÊNCIA ADMINISTRATIVA. OCORRÊNCIA.
PRECEDENTES DO STJ. RECURSO ESPECIAL DA UNIÃO
(...)
5. Consoante a jurisprudência deste Tribunal Superior, "caso o ato
administrativo, acoimado de ilegalidade, tenha sido praticado antes da
promulgação da Lei n. 9.784/99, a Administração tem o prazo decadencial
de cinco anos, a contar da vigência do aludido diploma legal, para anulá-lo.
Se o ato tido por ilegal tiver sido executado após a edição da mencionada lei,
o prazo quinquenal da Administração contar-se-á da sua prática, sob pena
de decadência" (AgRg no REsp 1.563.235/RN, Rel. Ministra Assusete
Magalhães, Segunda Turma, DJe 24/2/2016). In casu, a Administração já

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procedia ao pagamento da incorporação do índice de 70,28% desde 1993,


de modo que o prazo decadencial somente teve início em 1º/2/1999 (entrada
em vigor da Lei 9.784/1999), encerrando-se em 1º/2/2004. Assim, iniciado
o procedimento administrativo e prolatado o Acórdão do TCU em 2008, deve-
se reconhecer a ocorrência da decadência.
6. Recurso Especial da União não provido, e Recurso Especial de Valdemir
de Azevedo Coutinho provido.”

No entanto, a mesma Corte firmou entendimento de que o termo inicial


do prazo decadencial para revisão do ato de aposentadoria, dada sua
complexidade, é a data do julgamento de sua legalidade ou registro pelo
Tribunal de Contas, a saber:
“ADMINISTRATIVO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR
PÚBLICO FEDERAL. APOSENTADORIA. REVISÃO. DECADÊNCIA. ATO
COMPLEXO. SÚMULA 96 DO TCU. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA
DESTA CORTE E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL DA SERVIDORA A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
...
4. Esta Corte Superior pacificou recentemente o entendimento de que a
contagem do prazo decadencial para Administração revisar o benefício de
aposentadoria tem início a partir da manifestação do Tribunal de Contas.
Neste sentido:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM
RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 3/STJ.
SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. REVISÃO DE ATO DE
APOSENTADORIA. DECADÊNCIA. ART. 54 DA LEI 9.784/99.
INOCORRÊNCIA. ATO COMPLEXO. TERMO INICIAL. DATA DO
REGISTRO PELO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. PRECEDENTES
DO STF E DO
STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. É assente, nesta Corte, o entendimento de que "a concessão de
aposentadoria é ato complexo, razão pela qual descabe falar em prazo
decadencial para a Administração revisá-lo antes da manifestação do
Tribunal de Contas" (STJ, AgRg no REsp 1.508.085/SC, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de 19/06/2015).
2. Agravo interno não provido (AgInt no REsp. 1.626.905/RS, Rel. Min.
MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe 23.2.2017).
ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
SERVIDOR PÚBLICO. PENSÃO POR MORTE. REVISÃO. DECADÊNCIA
ADMINISTRATIVA. NÃO OCORRÊNCIA. MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
PREQUESTIONAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO INTERNO
IMPROVIDO.
I. Agravo interno contra decisão monocrática que julgara Recurso Especial
interposto contra acórdão publicado na vigência do CPC/73.

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II. O STJ e o STF firmaram o entendimento segundo o qual a


decadência, prevista no art. 54 da Lei 9.784/99, não se consuma no período
compreendido entre o ato administrativo concessivo de aposentadoria ou
pensão e o posterior julgamento de sua legalidade e registro, pelo Tribunal
de Contas da União, uma vez que se tratam de atos juridicamente
complexos, cujo aperfeiçoamento somente ocorre após seu registro, pela
Corte de Contas. Precedentes: STF, MS 31.642/DF, Rel. Ministro LUIZ
FUX, PRIMEIRA TURMA, DJe de 22/9/2014; STJ, AgRg no REsp
1.204.996/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, DJe de
04/02/2015; STJ, AgRg no REsp 1.494.956/SC, Rel. Ministro SÉRGIO
KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 03/09/2015.
III. Na forma da jurisprudência, "não compete a este eg. STJ se manifestar
explicitamente sobre dispositivos constitucionais, ainda que para fins de
prequestionamento" (STJ, AgInt no REsp 1622131/SC, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, DJe de 21/10/2016). Nesse mesmo sentido:
STJ, AgInt no REsp 1.547.436/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEGUNDA TURMA, DJe de 11/10/2016.
IV. Agravo interno improvido (AgInt no REsp. 1.604.506/SC, Rel. Min.
ASSUSETE MAGALHÃES, DJe 8.3.2017).
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
APLICABILIDADE. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA
DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. ACÓRDÃO EM CONFRONTO
COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO. APERFEIÇOAMENTO DE APOSENTADORIA PELO
TRIBUNAL DE CONTAS RESPECTIVO. ATO COMPLEXO. PRAZO
DECADENCIAL PREVISTO NO ART. 54 DA LEI 9.784/99. NÃO
INCIDÊNCIA.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada
em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da
publicação do provimento jurisdicional impugnado. Assim sendo, in casu,
aplica-se o Código de Processo Civil de 2015.
II - O acórdão recorrido está em confronto com o entendimento desta Corte,
segundo a qual a aposentadoria do servidor público, por ser ato
administrativo complexo, somente aperfeiçoa-se com a confirmação pelo
respectivo Tribunal de Contas, iniciando-se, então, o prazo decadencial
previsto no art. 54, da Lei n. 9.784/99.
III - O Agravante não apresenta, no agravo, argumentos suficientes para
desconstituir a decisão recorrida.
IV - Agravo Interno improvido (AgInt no REsp. 1.535.212/SC, Rel. Min.
REGINA HELENA COSTA, DJe 8.11.2016).
5. A mesma orientação foi adotada pelo egrégio Supremo Tribunal Federal
que, além disso, estabeleceu que, transcorridos mais de cinco anos desde a
chegada do processo no Tribunal de Contas sem que tenha havido
manifestação daquele órgão, deve ser assegurado à parte o direito ao
contraditório e a ampla defesa, sob pena de nulidade do ato. A propósito:
AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. ACÓRDÃO DO
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TCU QUE CONSIDEROU ILEGAL ATO QUE INCLUIU NOVAS PARCELAS


AOS PROVENTOS DO IMPETRANTE, NEGANDO-LHE REGISTRO.
OCORRÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE
SE NEGA PROVIMENTO.
1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido da impossibilidade de
aplicação do prazo decadencial enquanto não ocorrer o aperfeiçoamento do
ato complexo de concessão de aposentadoria, ou seja, até o julgamento do
registro pelo TCU. Entretanto, esta Corte reconheceu o direito ao
contraditório e à ampla defesa, desde que o Tribunal de Contas não examine a
legalidade do ato concessivo de aposentadoria ou pensão no prazo de 5 anos,
contado da chegada do processo no TCU. (Precedentes: MS 25.116/DF, Rel.
Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, DJe 10/2/2011; MS 28.576/DF, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe 11/6/2014; MS 31.342-AgR/DF,
Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe 10/12/2012). 2. Conforme
informações do próprio órgão, o ato foi disponibilizado ao TCU para análise
em 22/1/2001 e julgado ilegal pelo Acórdão 2.955/2006, na sessão de
17/10/2006. Houve, portanto, o decurso de 5 anos necessário para que abrisse
ao impetrante o direito à ampla defesa e ao contraditório. 3. Agravo
regimental a que se nega provimento (MS 27.082 AgR, Min. Rel. LUIZ FUX,
DJe 4.9.2015).
MANDADO DE SEGURANÇA. APOSENTADORIA. CONTAGEM DE
TEMPO. ALUNO-APRENDIZ. DECADÊNCIA. ATO COMPLEXO. SÚMULA
96 DO TCU. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.
I - A jurisprudência desta Casa firmou-se no sentido de que, reconhecendo-se
como complexo o ato de aposentadoria, este somente se aperfeiçoa com o
devido registro no Tribunal de Contas da União, após a regular apreciação de
sua legalidade, não havendo falar, portanto, em início da fluência do prazo
decadencial antes da atuação da Corte de Contas. Precedentes.
II - A questão encontra-se regulamentada pela Lei 3.442/59, que não alterou a
natureza das atividades e a responsabilidade dos aprendizes estabelecidas pelo
Decreto-Lei 8.590/46.
III - A Súmula 96 do Tribunal de Contas da União prevê a possibilidade de
contagem, para efeito de tempo de serviço, do trabalho prestado por aluno-
aprendiz, desde que comprovada sua retribuição pecuniária, para cálculo de
concessão do benefício de aposentadoria. Precedente.
IV - Segurança concedida. Prejudicado, pois, o agravo regimental interposto
pela União (MS 28.576, Min. Rel. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe
10.6.2014).
(...).” (Decisão monocrática proferida no AREsp 382642/MG, relatada pelo
Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, publicada em 16.8.17)

“(...)
Com efeito, verifica-se que o entendimento adotado pela instância ordinária
mostra-se em consonância com a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, segundo a qual "a concessão de aposentadoria é ato complexo, razão
pela qual descabe falar em prazo decadencial para a administração revisar o
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benefício antes da manifestação do Tribunal de Contas." (EREsp


1.240.168/SC, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE
ESPECIAL, julgado em 07/05/2012, DJe 18/05/2012).
Em igual sentido, podem se destacados os recentes precedentes:
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO. APOSENTADORIA. ATO COMPLEXO.
DECADÊNCIA. TERMO INICIAL. MANIFESTAÇÃO DO TRIBUNAL DE
CONTAS DA UNIÃO.
1. A jurisprudência desta Casa firmou-se no sentido de que a aposentadoria de
servidor público, por ser ato administrativo complexo, somente se aperfeiçoa
com a sua confirmação pelo respectivo Tribunal de Contas, iniciando-se,
então, o prazo decadencial para a Administração rever a concessão do
benefício.
2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 572.001/CE,
Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/10/2014,
DJe 21/11/2014)
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. APOSENTADORIA. ATO
COMPLEXO. EXAME DA LEGALIDADE PELA CORTE DE CONTAS.
DECADÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. JULGAMENTO MONOCRÁTICO.
POSSIBILIDADE.
1. O artigo 544, § 4º, II, "c" do CPC autoriza o relator a conhecer do agravo
para dar provimento ao recurso especial, "se o acórdão recorrido estiver em
confronto com súmula ou jurisprudência dominante no Tribunal."
2. No caso, o acórdão recorrido, conforme deixou certa a decisão ora
agravada, está em manifesto confronto com o entendimento doSuperior
Tribunal de Justiça sobre o tema de que aqui se cuida, não havendo falar em
impossibilidade de julgamento monocrático da matéria.
3. O Tribunal de origem, ao proclamar a decadência e julgar procedente o
pedido, acabou por destoar da atual e consolidada jurisprudência desta Corte,
segundo a qual "a concessão de aposentadoria é ato complexo, razão pela
qual descabe falar em prazo decadencial para a administração revisar o
benefício antes da manifestação do Tribunal de Contas." (EREsp
1.240.168/SC, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE
ESPECIAL, julgado em
07/05/2012, DJe 18/05/2012).
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 330.240/SC,
de minha relatoria, PRIMEIRA TURMA, julgado em 02/10/2014, DJe
17/10/2014)
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.
ADMINISTRATIVO. APOSENTADORIA. ATO COMPLEXO. REVISÃO.
DECADÊNCIA. TERMO INICIAL. CONFIRMAÇÃO PELO TRIBUNAL DE
CONTAS. ACÓRDÃO EMBARGADO EM CONSONÂNCIA COM A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ E STF. SÚMULA N.º 168 DO STJ. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL INDEMONSTRADO. EMBARGOS AOS QUAIS SE
NEGOU SEGUIMENTO. DECISÃO MANTIDA EM SEUS PRÓPRIOS
TERMOS. PONDERAÇÃO ACERCA DA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA
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SEGURANÇA JURÍDICA, DIGNIDADE DA PESSOAL HUMANA E A BOA-


FÉ. QUESTÃO NÃO ENFRENTADA PELO ACÓRDÃO EMBARGADO.
INADMISSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. O acórdão embargado, em consonância com a jurisprudência predominante
neste Superior Tribunal de Justiça, consignou o entendimento de que "a
aposentadoria do servidor público, por ser ato administrativo complexo, só se
perfaz com a sua confirmação pelo respectivo Tribunal de Contas, iniciando-
se, então, o prazo decadencial para a Administração rever a concessão do
benefício."
2. Incidência do enunciado da Súmula n.º 168 desta Corte: "Não cabem
embargos de divergência, quando a jurisprudência do tribunal se firmou no
mesmo sentido do acórdão embargado." 3. Outrossim, a questão acerca da
aplicação dos princípios da segurança jurídica, dignidade da pessoal humana
e a boa-fé, a despeito da oposição de embargos de declaração, não foi
examinada pelo acórdão embargado, razão pela qual resta inviabilizada
comparação e, por conseguinte, a admissão dos embargos de divergência sob
essa perspectiva.
4. Agravo regimental desprovido. (AgRg nos EREsp 1.143.366/PR, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/02/2013, DJe
18/02/2013)
Ante o exposto, conheço em parte do recurso especial e, na parte conhecida,
nego-lhe provimento, restando prejudicado o pedido de fls. 899/930.” (Decisão
monocrática proferia no REsp 1501068/PR, relatada pelo Ministro SÉRGIO
KUKINA, publicada em 12.6.17)

No caso, o Tribunal de Contas negou registro ao ato de aposentadoria


da impetrante em 10.8.07 (fl.67), termo inicial do prazo decadencial para sua
revisão e eventual anulação.
Assim, considerando que a impetrante foi notificada para se manifestar
no processo administrativo nº43/10 instaurado pelo IPSSC para exame da
legalidade da concessão de sua aposentadoria em 28.2.11 (fl.193) e o benefício
cassado em 30.11.11 (decisão, fls.28/31), não se operou a decadência
administrativa.

5. Contudo, o poder de revisão de seus próprios atos pela


Administração não pode violar a estabilidade das relações jurídicas.
No caso presente, foi concedida aposentadoria por tempo de serviço,
devidamente motivada e apoiada em parecer da Procuradoria da autarquia
(fls.43/48)
Ao fazer a revisão dessa decisão, passando a considerar ilegal a
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concessão do benefício, a autarquia acolheu decisão do Tribunal de Contas


modificando o critério administrativo, uma vez que o ato anulado estava
formalmente em ordem e devidamente motivado: o que hoje a Administração
considera ilegal, era legal anteriormente, por ato jurídico fundamentado,
perfeito, acabado e cercado de todas as formalidades legais.
Os entendimentos jurídicos podem oscilar e, justamente por essa razão,
é que os princípios da boa-fé e da segurança jurídica apontam para a
estabilidade das relações formadas com publicidade e impessoalidade e que
perduram no tempo.
A cassação do benefício da impetrante é que ofende o princípio da
moralidade, previsto expressamente no art.37 da Constituição Federal.
Consoante já decidiu essa Décima Câmara de Direito Público, na
Apelação 531.217-5/6, relatada pelo Desembargador REINALDO MILUZZI, a
anulação de seus próprios atos pela Administração, com amparo na Súmula 473
do Supremo Tribunal Federal, não tem a extensão que pretende lhe dar a
Fazenda, a saber:
“É certo também que a Súmula 473 do Supremo
Tribunal Federal dispõe que a Administração pode anular seus próprios atos,
quanto eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência e oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada em todos os casos a
apreciação judicial.

“Ocorre que, no caso em apreço, não se pode admitir a


suspensão do pagamento da complementação dos proventos, tendo em vista o
princípio da segurança jurídica que abriga os impetrantes.

“O Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal


Federal, já analisou esta questão nos autos do Mandado de Segurança
nº22.357-DF: 'Esclarece Otto Bachof que nenhum outro tema despertou maior
interesse do que este, nos anos 50 na doutrina e na jurisprudência, para
concluir que o princípio da possibilidade de anulamento foi substituído pelo da
impossibilidade de anulamento, em homenagem à boa-fé e à segurança
jurídica. Informa ainda que prevalência do princípio da legalidade sobre o da
proteção da confiança só se dá quando a vantagem é obtida pelo destinatário
que gera sua responsabilidade. Nesses casos não se pode falar em proteção à
confiança do favorecido'.
'Embora do confronto entre os princípios da legalidade
da Administração Pública e o da segurança jurídica resulte que, fora dos
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casos de dolo, culpa, etc, o anulamento com eficácia ex tunc é sempre


inaceitável e com eficácia ex nunc é admitido quando predominante o interesse
público no restabelecimento da ordem jurídica ferida, é absolutamente defeso
o anulamento quando se trate de atos administrativos que concedam
prestações em dinheiro, que se exauram de uma só vez ou que apresentem
caráter duradouro, como os de índole social, subvenções, pensões ou
proventos de aposentadoria'.

“Neste sentido, outro precedente do STF cuja ementa


merece transcrição:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO - JULGAMENTO -
PARÂMETROS. Na apreciação de todo e qualquer recurso de natureza
extraordinária são consideradas as premissas fáticas do acórdão impugnado.
Defeso é adentrar o exame dos elementos probatórios dos autos para, à mercê
de moldura fática diversa, concluir-se de forma diametralmente oposta. Nisto
está a razão de ser, a essência dos recursos a serem julgados em sede
extraordinária. RECURSO EXTRAORDINÁRIO - DIREITO LOCAL. Por
ofensa a norma estadual não cabe o extraordinário - verbete nº 280 da Súmula
do Supremo Tribunal Federal. COMPLEMENTAÇÃO DE PROVENTOS DA
APOSENTADORIA - LEIS Nºs 4.819/58 E 200/74 DO ESTADO DE SÃO
PAULO. Contemplando a lei nova a preservação do direito não só daqueles
que, à época, já eram beneficiários como também o daqueles empregados
admitidos na respectiva vigência, forçoso é entender-se pela homenagem à
almejada segurança jurídica, afastada a surpresa decorrente da modificação
dos parâmetros da relação mantida, no que julgada procedente o pedido
formulado na ação. (RE 168.046/SP Min. Marco Aurélio, j. 17.4.98 2ª
Turma)”.

Se a Administração somente agora considera ilegal a inativação, não


pode escorar-se no princípio da legalidade administrativa (art. 37, caput, da
Constituição Federal) em detrimento dos princípios da boa-fé e da segurança
jurídica, modificando situação anterior, fundamentada e manifestada pela
autoridade competente.

6. Outros servidores que tiveram seus benefícios de aposentadoria


cassados por força da mesma decisão do Tribunal de Contas também
recorreram ao Judiciário e as Câmaras de Direito Público deste Tribunal, ao
analisar os recursos sobre a matéria, também afirmaram a impossibilidade da
cassação para preservação da segurança jurídica, como mostram as ementas
abaixo:
“MANDADO DE SEGURANÇA Servidor público do Município de Cajamar
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Aposentadoria por tempo de serviço Cassação do benefício previdenciário


diante de decisão do Tribunal de Contas do Estado que negou o registro da
aposentadoria Inviabilidade de cassação do benefício, em vista do tempo
decorrido desde a sua concessão Decadência configurada Preservação do
principio da segurança jurídica Sentença mantida Recursos oficial e
voluntário não providos.” (Apelação / Reexame Necessário
0004490-52.2011.8.26.0108; Relator (a): Rebouças de Carvalho; Órgão
Julgador: 3ª Câmara Extraordinária de Direito Público; Foro de Cajamar - 1ª
Vara Judicial; Data do Julgamento: 07/03/2016; Data de Registro: 09/03/2016)

“CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO MANDADO DE SEGURANÇA


SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL APOSENTADORIA NEGATIVA DE
REGISTRO PELO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DECADÊNCIA
AFASTADA BENEFÍCIO CONCEDIDO HÁ MAIS DE CATORZE ANOS
CASSAÇÃO INADMISSIBILIDADE PRINCÍPIO DA SEGURANÇA
JURÍDICA AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ. 1. É de decadência e não de prescrição
o prazo do art. 10, I, da Lei Estadual nº 10.177/98. Transcurso do prazo
decenal não verificado. Decadência afastada. 2. Servidor público municipal
inativo. Aposentadoria. Registro do ato que concedeu o benefício negado pelo
TCE por não preencher os requisitos necessários à aposentação. Processo
administrativo instaurado visando à cassação da aposentadoria.
Inadmissibilidade. Aposentadoria concedida há mais de catorze anos.
Situação consolidada no tempo. Exegese do princípio da segurança jurídica.
Inexistência de fraude ou má-fé por parte do servidor. Precedentes desta
Corte. Segurança concedida. Sentença mantida. Reexame necessário
desacolhido.” (Apelação / Reexame Necessário 0002476-95.2011.8.26.0108;
Relator (a): Décio Notarangeli; Órgão Julgador: 9ª Câmara de Direito Público;
Foro de Cajamar - 1ª Vara Judicial; Data do Julgamento: 27/01/2016; Data de
Registro: 27/01/2016)

“APELAÇÃO CÍVEL MANDADO DE SEGURANÇA. 1. Servidor público do


Município de Cajamar Aposentadoria por tempo de serviço Instauração
posterior de procedimento administrativo para a cassação do benefício
previdenciário, ex vi de decisão do Tribunal de Contas do Estado, negando o
registro da aposentadoria Inviabilidade de cassação do benefício, em vista
do tempo decorrido desde a sua concessão Medida que implicaria na
determinação de retorno de servidor com atualmente 76 anos de idade
Princípio da segurança jurídica - Concessão da segurança Preservação da
sentença. 2. Recursos não providos.” ( Apelação 0008061-31.2011.8.26.0108;
Relator (a): Osvaldo de Oliveira; Órgão Julgador: 12ª Câmara de Direito
Público; Foro de Cajamar - 1ª Vara Judicial; Data do Julgamento: 14/12/2015;
Data de Registro: 15/12/2015)

“(...) APELAÇÃO MANDADO DE SEGURANÇA APOSENTADORIA


Vislumbrada hipótese que desaguaria, realmente, em ofensa a direito líquido e
certo Ato do instituto que, à época da concessão da aposentadoria, entendia
preenchidos os requisitos para o benefício Concessão que se deu há mais
Apelação / Reexame Necessário nº 0008129-78.2011.8.26.0108
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de 11 anos Revisão, nesta oportunidade, que certamente desestabilizaria a


segurança das relações jurídicas Precedentes desta Corte - Sentença de
procedência que merece confirmação Desacolhido o reexame necessário.
Recurso do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo prejudicado. Negado
provimento ao recurso do IPSSC.” (TJSP; Apelação
0007192-68.2011.8.26.0108; Relator (a): Rubens Rihl; Órgão Julgador: 8ª
Câmara de Direito Público; Foro de Cajamar - 1ª Vara Judicial; Data do
Julgamento: 22/07/2015; Data de Registro: 23/07/2015)

Destarte, pelo meu voto, nego provimento aos recursos por outro
fundamento.

Faculto aos interessados manifestação em dez dias de eventual oposição


a julgamento virtual de recurso futuro para sustentação oral.

TERESA RAMOS MARQUES


RELATORA

Apelação / Reexame Necessário nº 0008129-78.2011.8.26.0108


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