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27/04/2022
Número: 5001805-82.2022.4.03.9999
Classe: APELAÇÃO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 8ª Turma
Órgão julgador: Gab. 26 - DES. FED. NEWTON DE LUCCA
Última distribuição : 08/02/2022
Valor da causa: R$ 12.540,00
Processo referência: 0800128-38.2020.8.12.0046
Assuntos: Aposentadoria por Invalidez, Auxílio-Doença Previdenciário, Restabelecimento,
Conversão
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
(APELANTE)
LENIR VICENTINA CECCATTO CAMARGO (APELADO) VINICIUS MELEGATI LOURENCO (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
25435 27/04/2022 13:30 Voto Voto
0515
PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
8ª Turma
VOTO
"O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de
carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por
mais de 15 (quinze) dias consecutivos."
Dessa forma, depreende-se que os requisitos para a concessão do auxílio doença compreendem: a)
o cumprimento do período de carência, quando exigida, prevista no art. 25 da Lei n° 8.213/91; b) a
qualidade de segurado, nos termos do art. 15 da Lei de Benefícios e c) incapacidade temporária para
o exercício da atividade laborativa.
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Feitas essas breves considerações, passo à análise do caso concreto.
In casu, no tocante à incapacidade, contra a qual se insurgiu a autarquia, foi realizada perícia
médica judicial em 18/8/20, tendo sido elaborado o respectivo parecer técnico e acostado a fls. 92/95
(id. 252912940 – págs. 90/91 e id. 252912941 – págs.1/2). Afirmou o esculápio encarregado do
exame, com base no exame físico e análise da documentação médica dos autos, que a autora de 58
anos, ensino fundamental incompleto (7ª série) e salgadeira, é portadora de lombalgia (CID10 M54.5)
e síndrome do manguito rotador em ombro direito (CID10 M75.1), concluindo pela constatação da
incapacidade laborativa total e temporária desde 2013.
Em laudo complementar datado de 10/5/21, juntado a fls. 136 (id. 252912941 – pág. 43), o expert
ratificou a existência de incapacidade total e temporária mesmo para o exercício da atividade de
copeira.
Dessa forma, deve ser mantido o auxílio doença concedido em sentença. Consigna-se, contudo, que
o benefício não possui caráter vitalício, considerando o disposto nos artigos 59 e 101, da Lei nº
8.213/91.
Conforme o extrato de consulta realizada no CNIS e acostado a fls. 57 (id. 252912940 – pág. 55), a
demandante voltou a desempenhar o labor, em 23/1/20, na função de copeira.
Cumpre ressaltar que o fato de a parte autora estar trabalhando para prover a própria subsistência
não afasta a conclusão do laudo pericial, o qual atesta, de forma inequívoca, a incapacidade total e
temporária da requerente.
(...)
4 - O retorno ao labor não afasta a conclusão da perícia médica, vez que o segurado obrigado
a aguardar por vários anos a implantação de sua aposentadoria por invalidez precisa
manter-se durante esse período, vale dizer, vê-se compelido a retornar ao trabalho, por estado
de necessidade, sem ter sua saúde restabelecida."
(TRF 3ª Região, AC nº 0001379-77.2002.4.03.6113/SP, Rel. Des. Fed. Santos Neves, Nona Turma, j.
28/5/07, v.u., DJU 28/6/07 – pág. 643, grifos meus)
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"PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA. APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ. RETORNO DO SEGURADO AO TRABALHO. VIOLAÇÃO LITERAL DE DISPOSIÇÃO
DE LEI. INOCORRÊNCIA. SÚMULA N. 343 DO E. STF.
I - (...)
II - A interpretação dada pelo acórdão rescindendo foi no sentido de que o retorno ao trabalho por
estado de necessidade não afasta a incapacidade laborativa do segurado, não incidindo,
consequentemente, o comando estabelecido pelo art. 46 da Lei n. 8.213/91.
III - (...)
Com relação ao não pagamento do benefício por incapacidade, em razão do exercício de atividade
remunerada, o C. STJ, no julgamento do Recurso Especial Representativo de Controvérsia nº
1.786.590/SP (Tema 1.013/STJ), fixou a seguinte tese: "No período entre o indeferimento
administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez,
mediante decisão judicial, o segurado do RGPS tem direito ao recebimento conjunto das
rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do
respectivo benefício previdenciário pago retroativamente".
Tendo em vista que a parte autora já se encontrava incapacitada desde a cessação do auxílio
doença, em 30/4/15 (NB 31/ 606.938.013-8), deve ser mantido o termo inicial a partir daquela data.
Assim, caso o benefício fosse concedido somente a partir da data do laudo pericial,
desconsiderar-se-ia o fato de que as doenças de que padece a parte autora são anteriores ao
ajuizamento da ação e estar-se-ia promovendo o enriquecimento ilícito do INSS que, somente por
contestar a ação, postergaria o pagamento do benefício devido em razão de fatos com repercussão
jurídica anterior.
1. A Egrégia 3ª Seção desta Corte Superior de Justiça, por ambas as Turmas que a compõe, firmou
já entendimento no sentido de que o termo inicial da aposentadoria por invalidez é o dia imediato
ao da cessação do auxílio-doença, nos casos em que o segurado o percebia, o que autoriza a
edição de decisão monocrática, como determina o artigo 557, caput, do Código de Processo Civil.
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(STJ, AgRg no REsp nº 437.762/RS, 6ª Turma, Relator Min. Hamilton Carvalhido, j.6/2/03, v.u., DJ
10/3/03, grifos meus)
Recurso desprovido."
(STJ, AgInt no REsp nº 1.597.505/SC, 2ª Turma, Relator Ministro Herman Benjamin, j. em 23/8/16,
v.u., DJe 13/9/16, grifos meus)
Quadra ressaltar que os pagamentos das diferenças pleiteadas já realizadas pela autarquia na esfera
administrativa devem ser deduzidos na fase de execução do julgado.
Por fim, no tocante ao prequestionamento da matéria, para fins de interposição de recursos aos
tribunais superiores, não merece prosperar a alegação do INSS de eventual ofensa aos dispositivos
legais e constitucionais, tendo em vista que houve análise da apelação em todos os seus aspectos.
Ante o exposto, não conheço de parte da apelação do INSS e, na parte conhecida, nego-lhe
provimento.
É o meu voto.
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