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A natureza do rol do art. 1.015 do CPC/15 de acordo com o Superior Tribunal de Justi-
ça e seu papel no desenvolvimento de um processo jurisdicional democrático.
1 INTRODUÇÃO
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Bacharel em Relações Internacionais e graduando em Direito pela PUC Minas. Pós-Graduando em Direito
Processual pela PUC Minas. CEO da Papel Jurídico.
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2 APRESENTAÇÃO DO CASO
Em 2001, com a edição da Lei de nº 10.352, foram definidas novas hipóteses de inter-
posição obrigatória do Agravo Retido e novas regras de interposição para o Agravo de Ins-
trumento, como, por exemplo, a comunicação ao juízo de primeira instância acerca da inter-
posição perante o tribunal e a antecipação de tutela recursal.
A Lei de nº 11.187/2005 transformou o Agravo Retido como regra, sendo possível a
interposição de Agravo de Instrumento somente em hipóteses previamente definidas em lei,
notadamente quando envolvia urgências e riscos em seu manejo tardio.
Com o Código de Processo Civil de 2015, inaugurou-se um novo regramento proces-
sual, extinguindo-se a figura do Agravo Retido e estabelecendo-se hipóteses taxativas de in-
terposição do agravo de instrumento na fase de conhecimento.
Na nova sistemática, aqueles casos não previstos no rol taxativo de interposição do
Agravo de Instrumento devem ser impugnados através do recurso de Apelação, como preli-
minar.
Contudo, há casos não previstos no rol do art. 1.015 do CPC/15 que se assemelham
àqueles inseridos pelo legislador, razão pela qual diversos juristas passaram a defender uma
interpretação ampliativa do dispositivo legal.
A partir disso, diversas correntes se formaram.
Alguns juristas defendiam uma interpretação ampliativa do dispositivo, de modo a
abranger situações não previstas no dispositivo, mas que se assemelhassem àquelas postas.
Outros defendiam uma interpretação bastante restritiva de sua redação, não havendo
autorização para interposição do recurso em outras situações, mesmo que similares.
Por fim, uma outra corrente defendia um caráter meramente exemplificativo, de modo
a autorizar a interposição do recurso em diversas outras situações, mesmo que não similares
àquelas inseridas pelo legislador.
Com a insegurança jurídica originada pelas divergências teórica e jurisprudencial, eis
que a temática se mostrava bastante pragmática, a discussão chegou aos diversos tribunais
existentes no país, havendo decisões judiciais em todos os sentidos mencionados.
Contudo, no julgamento do REsp 1704520/MT, em 2018, de relatoria da ministra
Nancy Andrighi, o Superior Tribunal de Justiça fixou o entendimento de que o art. 1.015 do
CPC/15 apresenta um rol de taxatividade mitigada, sendo possível a interposição do recurso
de Agravo de Instrumento, fora das hipóteses legais, somente em casos de urgência ou risco
no julgamento da questão através do recurso de Apelação.
Assim, houve uma tentativa de uniformização da temática por parte do STJ, pois a tese
fora fixada no sistema de recursos repetitivos, conferindo-lhe efeito erga omnes.
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3 REVISÃO DE JURISPRUDÊNCIA
A controvérsia teórica quanto à natureza do rol do art. 1.015 do CPC/15 logo chegou
aos tribunais, uma vez que, diante da multiplicidade de entendimentos, recursos de Agravo de
Instrumento eram interpostos ora fundamentos em uma teoria, ora fundamentos em teorias
distintas.
O próprio Superior Tribunal de Justiça, ao analisar inicialmente a questão, chegou a
defender uma interpretação extensiva, inserindo-se questões atinentes à competência como
possibilidade de interposição do recurso de Agravo de Instrumento:
O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, por sua vez, havia firmado o enten-
dimento de que o rol do agravo de instrumento era taxativo, não admitindo interpretação ex-
tensiva:
Em 2018 a questão foi decidida em sede de Recurso Especial, através do regime de re-
cursos repetitivos.
O recurso originou-se de uma ação ordinária de rescisão contratual com pedido de re-
paração por danos patrimoniais e morais, distribuída perante o Tribunal de Justiça do Estado
do Mato Grosso.
Alegada a incompetência pelos réus, houve o seu acolhimento pelo juízo, remetendo-
se o processo ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
Logo, os autores interpuseram o recurso de Agravo de Instrumento, tendo sido este
negado por unanimidade, sob o fundamento de inadequação do instituto recursal, recorrendo-
se à tese de taxatividade do rol do art. 1.015 do Código de Processo Civil de 2015.
Sob alegação de urgência na resolução da questão, foi interposto Recurso Especial de
nº 1.704.520/MT perante o Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso que, antes de en-
caminhá-lo ao Superior Tribunal de Justiça, selecionou o recurso para afetação e processa-
mento sob o rito dos recursos repetitivos.
Encaminhado o recurso ao Superior Tribunal de Justiça, este foi admitido pela relato-
ra, ministra Nancy Andrighi, possuindo como objeto a definição acerca da natureza do rol do
art. 1.015 do CPC/15, tendo sido julgado no ano de 2018.
Neste caso, venceu a tese defendida pela relatora, ministra Nancy Andrighi, apresen-
tando seu pensamento na primeira sessão de julgamento, realizada no dia 19 de setembro da-
quele ano.
Para a ministra Nancy Andrighi, o rol do art. 1015 do CPC/15 possui uma taxatividade
mitigada, cabendo interposição de recurso de Agravo de Instrumento, fora de suas hipóteses,
somente quando há urgência ou risco do julgamento da questão através do recurso de Apela-
ção.
Como exemplo citado pela ministra Nancy Andrighi em seu voto, tem-se a situação
em que há negativa, pelo juízo, de sigilo na tramitação do feito, situação que, até o julgamento
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de eventual recurso de Apelação, poderia causar efeitos nefastos à parte, que teria sua privaci-
dade e intimidade expostos ao longo de todo caminhar procedimental (BRASIL, 2018).
Neste sentido, a ministra defendeu uma abertura hermenêutica no sentido de se permi-
tir a interposição do recurso de Agravo de Instrumento para questões consideradas urgentes.
Os ministros Jorge Mussi, Napoleão Maia Nunes, Felix Fischer, Luiz Felipe Salomão,
Benedito Gonçalves e Raul Araújo acompanharam o entendimento da ministra Nancy An-
drighi.
Para a ministra Maria Thereza de Assis Moura, responsável pelo voto divergente, de-
veria ser mantida a natureza jurídica do rol do art. 1.015 do CPC/15, considerando ter sido
uma opção legislativa.
Desse modo, não caberia à função jurisdicional do Estado alterar tal natureza, sob pe-
na de interferência indevida no devido processo legislativo.
Além disso, a ministra Maria Thereza de Assis Moura levantou ainda questões prag-
máticas, como, por exemplo, o risco de se ter inúmeros recursos de Agravo de Instrumento
interpostos por advogados por receio da preclusão.
Os ministros Humberto Martins, João Otávio de Noronha, Mauro Campbell Marques e
Og Fernandes acompanharam o entendimento da ministra Maria Thereza de Assis Moura.
Como breve resumo do julgamento, vale a transcrição integral da ementa relativa ao
REsp 1704520/MT, in verbis:
Ademais, a tese fixada pelos julgadores acaba por ser diferente das três correntes prin-
cipais levantadas pela doutrina, sobre as quais se estudará no capítulo seguinte.
4 ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO
O jurista Flávio Luiz Yarshell é um dos defensores desta corrente, aduzindo que, ao
longo do processo, diversos atos de caráter decisório podem ser proferidos de modo a causar
prejuízos à parte se não impugnados imediatamente, como, por exemplo, competência ou
indeferimento de quesitos, razão pela qual deveria haver uma abertura maior à possibilidade
de interposição do recurso de Agravo de Instrumento (YARSHELL, 2015).
Percebe-se, destarte, que as três teorias se mostram distintas, possuindo cada uma os
seus próprios fundamentos de defesa.
A doutrina, aliás, assume papel importante na interpretação a ser conferida ao rol do
art. 1.015 do CPC/15, eis que através de um raciocínio crítico, é capaz de levantar discussões
que acabam por nortear decisões judiciais e, consequentemente, uniformizar a tratativa jurídi-
ca da matéria.
Até a inauguração de uma nova sistemática normativa em relação aos recursos no Có-
digo de Processo Civil de 2015, a figura do Agravo de Instrumento passou por diversas trans-
formações ao longo das últimas décadas, conforme estudado anteriormente.
Com o regramento vigente, a figura recursal passou a ser utilizada em situações ex-
pressamente elencadas pelo legislador, durante a fase de conhecimento, e contra todas as deci-
sões proferidas nas fases de liquidação ou de cumprimento de sentença, no processo de exe-
cução e no processo de inventário.
Dado o recorte teórico do presente trabalho, serão abordadas no presente tópico, preci-
puamente, as possibilidades de interposição do recurso de Agravo de Instrumento na fase de
conhecimento.
Normatiza o art. 1015 do Código de Processo Civil de 2015, in verbis:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versa-
rem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua re-
vogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à exe-
cução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º ;
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XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutó-
rias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no
processo de execução e no processo de inventário. (BRASIL, 2015).
6 ANÁLISE CRÍTICA
brasileiros, cabendo novamente ao Superior Tribunal de Justiça definir novas teses de aplica-
ção geral.
7 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Com comentários sobre a virada tecnológica no direito processual. Salvador: Editora JusPo-
divm, 2020.
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Oficial da União, Brasília, 17. jan. 1973.
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da União, Brasília, 17. mar. 2015.
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meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos Tribunais. 14ª ed. Salvador: Edito-
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8. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016.
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THEODORO JR., Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco Bahia; PE-
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Forense, 2016.
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