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2. DA NULIDADE DE CITAÇÃO

A citação válida é o meio adotado pelo Código de Processo Civil para formar a relação
triangular processual, ao qual, devidamente citada, a parte tem direito a defender-se de
todos os argumentos aduzidos na inicial, sob a luz do princípio da eventualidade ou da
concentração de defesa.

Neste único ato, regularmente parte do processo o impugnante teria direito a se manifestar
sobre tudo que foi alegado, consagrando os princípios constitucionais da Ampla Defesa e do
Contraditório.

Quando falamos de pessoa jurídica, diferentemente da pessoa física, estamos tratando de


uma ficção jurídica. Trata-se de figura ao qual a lei aduz personalidade jurídica, apta a fazer
negócios, comprar, vender e associar-se inclusive a outras empresas.

Porém, por ser uma ficção, a Pessoa Jurídica precisa estabelecer, no estatuto ou no contrato
social, a figura apta a responder e representá-la em situações adversas: compras, vendas,
cisões, fusões e é claro, judicialmente.

A citação de pessoa diversa a quem tenha poderes para representá-la em juízo é o mesmo
que citar uma pessoa física no vizinho. Ninguém representa a pessoa física quanto a ela
mesma, bem como ninguém mais representa a pessoa jurídica quanto a pessoa indicada em
seu Contrato Social ou Estatuto.

Nesse sentido entendeu o Tribunal de Justiça de MG:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - EMBARGOS À EXECUÇÃO - NULIDADE


DA CITAÇÃO - PESSOA JURÍDICA - AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DE
REPRESENTANTE LEGAL DA PESSOA JURÍDICA OU FUNCIONÁRIO
- CITAÇÃO INVÁLIDA.
I - É válida a citação realizada na pessoa de quem se apresenta como
representante legal da pessoa jurídica, sem fazer qualquer ressalva
quanto à inexistência de poderes para tal, em face da aplicação da
teoria da aparência.
II- A teoria da aparência só se aplica quando o mandado de citação é
recebido, sem ressalva, por alguém que tenha alguma relação com a
empresa que se pretende citar, tal como gerente ou empregado.
III - Não tendo ocorrido a citação na pessoa do representante legal
da pessoa jurídica ou na pessoa que tem alguma relação com a
empresa, deve ser reconhecida a nulidade do ato citatório.
IV - O cumprimento espontâneo do executado supre a falta ou a
nulidade da citação, nos termos do artigo 239 § 1º do CPC.”
(TJ-MG - AI: 10000212671747001 MG, Relator: Fernando Caldeira
Brant, Data de Julgamento: 06/07/2022, Câmaras Cíveis / 20ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 07/07/2022)

De acordo com o § 2º do artigo 248 do Código de Processo Civil, a citação da pessoa jurídica
deverá ocorrer, por meio de pessoa com poderes de gerência geral ou de administração
(representante legal) ou, ainda, por meio de funcionário responsável pelo recebimento de
correspondências, o que não ocorreu no caso dos autos. Nesse sentido:
Art. 248. Deferida a citação pelo correio, o escrivão ou o chefe de
secretaria remeterá ao citando cópias da petição inicial e do
despacho do juiz e comunicará o prazo para resposta, o endereço
do juízo e o respectivo cartório.

§ 1º A carta será registrada para entrega ao citando, exigindo-lhe o


carteiro, ao fazer a entrega, que assine o recibo.

§ 2º Sendo o citando pessoa jurídica, será válida a entrega do


mandado a pessoa com poderes de gerência geral ou de
administração ou, ainda, a funcionário responsável pelo
recebimento de correspondências.

E, no caso dos autos, verifica-se que a citação da Sra. Sirlene A. Cordeiro não se enquadra
em nenhuma das hipóteses previstas pelo § 2º do artigo 248, do Código de Processo Civil,
pois a mesma não é funcionária, gerente, administradora, sócia, diretora ou representante
legal da empresa, nem mesmo é conhecida da Ré, tornando-se inválida a citação.
prova que de a Sirlene não é funcionária

Como se constata do próprio AR juntado nos autos originais do processo de conhecimento,


a Sociedade Anônima, composta por diversos sócios, gerentes e administradores foi citada
por uma figura que não pertence a nenhum quadro societário ou funcional.

Quanto a necessidade da citação pessoal, entende o Superior Tribunal de Justiça que para a
dissolução de uma sociedade anônima de capital fechado se faz necessária a citação
PESSOAL de cada sócio:

“EMPRESARIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA FECHADA. CUNHO


FAMILIAR. DISSOLUÇÃO. FUNDAMENTO NA QUEBRA DA AFFECTIO
SOCIETATIS. POSSIBILIDADE. DEVIDO PROCESSO LEGAL.
NECESSIDADE DE OPORTUNIZAR A PARTICIPAÇÃO DE TODOS OS
SÓCIOS. CITAÇÃO INEXISTENTE. NULIDADE DA SENTENÇA
RECONHECIDA. 1. Admite-se dissolução de sociedade anônima
fechada de cunho familiar quando houver a quebra da affectio
societatis. 2. A dissolução parcial deve prevalecer, sempre que
possível, frente à pretensão de dissolução total, em homenagem à
adoção do princípio da preservação da empresa, corolário do
postulado de sua função social. 3. Para formação do livre
convencimento motivado acerca da inviabilidade de manutenção da
empresa dissolvida, em decorrência de quebra do liame subjetivo dos
sócios, é imprescindível a citação de cada um dos acionistas, em
observância ao devido processo legal substancial. 4. Recurso especial
não provido.” (STJ - REsp: 1303284 PR 2012/0006691-5, Relator:
Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 16/04/2013, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 13/05/2013).

Se a citação entre figuras que tem o vínculo de sócios com a sociedade por ações necessita
de citação PESSOAL, é inadmissível que se aceite a citação de uma Sociedade Anônima por
pessoa estranha que não é funcionária, gerente, administradora, sócia, diretora ou
representante legal da empresa.
Com a evolução do direito privado e infelizmente a existência de maus devedores, a
jurisprudência pátria adotou a teoria da aparência, conferindo validade à citação recebida
no endereço do devedor, mesmo que por pessoa que não tenha poderes expressos para tal.

Todavia, a teoria da aparência deve e sempre deverá ser interpretada como exceção a regra,
sendo a regra a necessidade da citação de quem tem poderes para receber a intimação ou
citação para representar a Pessoa Jurídica no processo.

Afinal, de que servirá o Princípio da Publicidade atribuído as Juntas Comerciais e a CVM se


os dados publicizados vão ser ignorados pelo judiciário? Da simples extração do Estatuto ou
do Contrato Social de uma Pessoa Jurídica você tem a indicação do sócio ou acionista
responsável por representá-la em juízo.

Nesse sentido, a teoria da aparência apenas é aplicável quando o mandado de citação é


recebido, sem ressalva, por alguém que tenha alguma relação com a empresa que se
pretende citar, tal como gerente/administrador ou empregado, o que, como dito, não
ocorreu in casu, uma vez que a Sra. Sirlene A. Cordeiro não possui as referidas atribuições.

Não apenas o Egrégio Tribunal de Justiça deste Estado quanto tribunais de outros estados
admitem a flexibilização da aplicação da teoria da aparência quando recepcionada por
pessoa estranha:

“COBRANÇA. CITAÇÃO. CORREIO. AR. PESSOA JURÍDICA. É nula a


citação postal da pessoa jurídica quando o AR é entregue em
endereço diverso de sua sede e recebida por pessoa estranha aos
quadros da empresa. (TJ-DF 07149310820188070020 DF
0714931-08.2018.8.07.0020, Relator: FERNANDO HABIBE, Data
de Julgamento: 22/04/2021, 4ª Turma Cível, Data de Publicação:
Publicado no PJe : 06/05/2021 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)”

De igual forma há diversos posicionamentos da inaplicabilidade da teoria da aparência


quando recebida a citação por pessoa estranha, como recente julgado do Egrégio Superior
Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL Nº 1878875 - DF (2020/0140216-7) DECISÃO


1. Cuida-se de recurso especial interposto por Tereza Cristina Dias
Santos e Outro, com amparo nas alíneas a e c do permissivo
constitucional, objetivando a reforma de acórdão proferido pelo
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, assim
ementado: PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVO
INTERNO. PREJUDICADO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
IMPUGNAÇÃO. CITAÇÃO POR CORREIO. PESSOA JURÍDICA.
ENDEREÇO DIVERSO. CITAÇÃO RECEBIDA POR PESSOA SEM
VÍNCULO COM A EMPRESA. EX-SÓCIO. TEORIA DA APARÊNCIA.
INAPLICABILIDADE. CITAÇÃO INVÁLIDA. (STJ - REsp: 1878875
DF 2020/0140216-7, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
Data de Publicação: DJ 01/09/2021).

Assim, o documento que considerou válido o ato citatório, possui vício de formalidade.

Por fim, ressalta-se que, nos termos do artigo 239, § 1º do CPC, o comparecimento
espontâneo da Ré supre a falta ou nulidade da citação. Sendo assim, a nulidade do referido
ato citatório contemplará apenas os atos praticados até o comparecimento espontâneo da
Ré nos autos, devendo fluir a partir desta data o prazo para apresentação da contestação.

AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR


ABALO DE CRÉDITO. DECISÃO QUE INDEFERIU A CITAÇÃO POR
CARTA SIMPLES. PESSOA JURÍDICA. É REGULAR A CITAÇÃO DA
PESSOA JURÍDICA, POR VIA POSTAL, MEDIANTE CARTA COM
AVISO DE RECEBIMENTO SIMPLES, QUANDO A
CORRESPONDÊNCIA É ENCAMINHADA PARA O ENDEREÇO CERTO
DA RÉ, SENDO ALI RECEBIDA POR UM FUNCIONÁRIO QUE NÃO
NECESSARIAMENTE SEJA SEU REPRESENTANTE LEGAL.
RECURSO ESPECIAL - CITAÇÃO DE PESSOA JURÍDICA PELO
CORREIO, CPC, ART. 223, PARÁGRAFO ÚNICO - EMPREGADO DO
RÉU - VALIDADE - FUNDAMENTAÇÃO DISSONANTE COM A CAUSA
DEDUZIDA EM JUÍZO - NULIDADE - 1. Esta Corte firmou
entendimento de ser válida a citação de pessoa jurídica, pela via
postal, quando recebido o aviso registrado por simples empregado
da empresa, presumidamente autorizado para tanto. 2.
Constatando-se disparidade entre o pedido da inicial narrado no
relatório e as questões fáticas sobre as quais se deu a
fundamentação do magistrado, exsurgindo-se que o juiz decidiu
causa que não a afetada ao seu conhecimento, nula é a sentença. 3.
Recurso Especial conhecido e provido neste ponto. (STJ - RESP
259283 - MG - 5ª T. - Rel. Min. EDSON VIDIGAL - DJU 11.09.2000 -
p. 00284) JCPC.223)". RECURSO PROVIDO

Portanto, a inexistência ou nulidade da citação corresponde a vícios insanáveis que, no


entender da doutrina e da jurisprudência do Tribunal Superior e do Supremo Tribunal
Federal, podem ser apreciados a qualquer tempo, não se submetendo a prazo prescricional
ou decadencial, devendo, portanto, neste cumprimento de sentença ser apreciada a
nulidade a fim de fulminar todos os atos processuais derivados da citação nula em diante.

DO ACORDO

conforme documento em anexo, as partes concordaram em resolver a presente lide por


meio de acordo. Desta feita, nessa oportunidade é apresentado o termo de acordo assinado
por ambas as partes.

Informa, ainda, que os litigantes cumpriram suas respectivas obrigações estabelecidas no


referido instrumento. sendo acostado, inclusive o comprovante do pagamento realizado
pelo signatário, referente ao adimplemento itens do pacto.

Diante do exposto, requer

1. Juntada do termo de acordo assinado pelas partes em anexo;


2. extinção do processo com resolução do mérito, de acordo com a alínea “b”, inciso III,
art. 487, do CPC.

Nestes termos, pedem deferimento.


Rio do Sul/SC, 19 de julho de 2023.

Nestes termos,
Pedem deferimento.

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