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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 3ª Turma Cível

Processo N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0720699-33.2022.8.07.0000

AGRAVANTE(S) BONASA ALIMENTOS S/A - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL -

AGRAVADO(S) R E COMERCIO DE ALIMENTOS BRASILIA LTDA


Relatora Desembargadora ANA MARIA FERREIRA DA SILVA

Acórdão Nº 1727097

EMENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL E PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL. INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
DISSOLUÇÃ O IRREGULAR. AUSÊNCIA DE LOCALIZAÇÃO DE BENS ÀPENHORA.
REQUISITOS. ART. 50 DO CÓDIGO CIVIL. INEXISTÊNCIA.

1. Ocerne da controvérsia recursal consiste em aferir a possibilidade de desconsiderar a personalidade


jurídica da Executada, ora Agravada, em razão da dificuldade do juízo a quo localizar bens penhoráveis
e da alegação de encerramento irregular de suas atividades.

2. Nas relações jurídicas civis-empresariais, observa-se que o ordenamento jurídico adotou a teoria
maior da desconsideração da personalidade jurídica, a qual exige prova robusta do abuso desta
personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade da sociedade ou pela confusão patrimonial entre
o patrimônio dos sócios e o da sociedade empresária, nos termos do art. 50 do Código Civil.

3. No caso, pela análise detida dos autos, verifica-se que não foram comprovados os requisitos
necessários para a instauração do referido incidente.

4. Este e. Tribunal de Justiça possui jurisprudência consolidada no sentido de ser inviável a instauração
do incidente de desconsideração da personalidade jurídica quando tiver por fundamento o
encerramento irregular da sociedade empresária e a não localização de bens penhoráveis, pois estas
situações, isoladamente, não caracterizam o abuso da personalidade jurídica.

5. Negou-se provimento ao agravo de instrumento da exequente.

ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, ANA MARIA FERREIRA DA SILVA - Relatora, FÁTIMA RAFAEL - 1º
Vogal e MARIA DE LOURDES ABREU - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador
ROBERTO FREITAS FILHO, em proferir a seguinte decisão: CONHECER E NEGAR
PROVIMENTO, UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 14 de Julho de 2023

Desembargadora ANA MARIA FERREIRA DA SILVA


Relatora

RELATÓRIO

Trata-se de agravo de instrumento interposto por BONASA ALIMENTOS LTDA - EM


RECUPERAÇÃO JUDICIAL, ora exequente/agravante, em face da decisão proferida pelo Juízo da 3ª
Vara de Execução de Títulos Extrajudiciais e Conflitos Arbitrais de Brasília, na Ação de Execução de
Título Extrajudicial proposta em desfavor de R E COMERCIO DE ALIMENTOS BRASILIA LTDA -
ME, ora executada/agravada, nos seguintes termos:

Sabe-se que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica "é cabível em todas as fases do
processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial" (art. 134 do CPC).

Contudo, nada obstante as hipóteses extensas de cabimento do incidente, há que se observar que o
requerimento para a sua instauração deve preencher certas exigências legais.

Nesse contexto, o § 4º desse mesmo dispositivo legal mencionado, impõe ao requerente do incidente o
preenchimento dos pressupostos legais específicos para a desconsideração da autonomia patrimonial da
entidade.

Dentre os pressupostos legais inerentes ao incidente em tela, tem-se a demonstração razoável da


ocorrência de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial (art. 50 do CC).

No caso em tela, a parte exequente fundamenta o seu pedido no encerramento das atividades da
empresa devedora, bem como no exaurimento das diligências necessárias à localização de bens para a
satisfação do débito exequendo.

Com efeito, entendo que os fundamentos suscitados pelo exequente não caracterizam o abuso de
personalidade jurídica necessário à desconsideração da personalidade da entidade empresarial.

Sabe-se que a personalidade jurídica e a autonomia patrimonial foram institutos erigidos para
possibilitar o exercício da atividade empresarial com autonomia da entidade face aos seus sócios,
privilegiando assim a separação patrimonial da entidade.
Nesse cerne, tem-se que o inadimplemento das obrigações, sem a comprovação de abuso da
personalidade jurídica, não serve como fundamento para responsabilização do sócio da empresa
devedora.

Nesse mesmo sentido, este e. TJDFT tem se posicionado:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INCIDENTE DE


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. MUDANÇA DE ENDEREÇO SEM
INFORMAÇÃO NOS CADASTROS SOCIAIS. ENCERRAMENTO IRREGULAR. NÃO
LOCALIZAÇÃO DE BENS PASSÍVEIS DE PENHORA. DESVIO DE FINALIDADE. CONFUSÃO
PATRIMONIAL. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS CARACTERIZADORES. A não localização da
sociedade empresária no endereço constante dos registros sociais e a não localização de bens passíveis
de penhora não caracterizam, por si só, abuso da personalidade jurídica, devendo tal fato ser
corroborado por outras situações que demonstrem desvio de finalidade e/ou confusão patrimonial, a
autorizar a instauração do incidente de desconsideração da personalidade da sociedade empresária
devedora". (Acórdão n.º 1096711, 07015058620188070000, Relator: CARMELITA BRASIL 2ª Turma
Cível, Data de Julgamento: 16/05/2018, Publicado no DJE: 21/05/2018. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Tampouco serve como fundamento para embasar a desconsideração da personalidade jurídica o


encerramento das atividades sem a quitação das obrigações, haja vista que a hipótese não conduz de
plano à ocorrência de abuso da personalidade. O c. STJ, já se manifestou acerca do tema em diversas
oportunidades, conforme se verifica in verbis:

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OFENSA AO ART. 535 DO


CPC. ALEGAÇÃO GENÉRICA. INOVAÇÃO EM SE DE DE AGRAVO REGIMENTAL.
INOVAÇÃO EM SEDE DE AGRAVO REGIMENTAL. IMPOSSIBILIDADE.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. ART. 50 DO CC/2002. TEORIA
MAIOR. DISSOLUÇÃO IRREGULAR. INSUFICIÊNCIA E INEXISTÊNCIA DE PROVA.
AFERIÇÃO DA PRESENÇA DOS ELEMENTOS AUTORIZADORES DA TEORIA DA
DISREGARD DOCTRINE. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. (...) 3. A
mera demonstração de insolvência da pessoa jurídica ou de dissolução irregular da empresa sem a
devida baixa na junta comercial, por si sós, não ensejam a desconsideração da personalidade jurídica.
Precedentes. (...)". (AgRg no AREsp 550.419/RS, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, j.
28.04.2015, DJe 19.05.2015)

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO.


DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA SOCIEDADE. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. DESCABIMENTO. ART. 50 DO CCB. 1. A desconsideração da personalidade jurídica de
sociedade empresária com base no art. 50 do Código Civil exige, na esteira da jurisprudência desta
Corte Superior, o reconhecimento de abuso da personalidade jurídica. 2. O encerramento irregular da
atividade não é suficiente, por si só, para o redirecionamento da execução contra os sócios. 3.
Limitação da Súmula 435/STJ ao âmbito da execução fiscal. 4. Precedentes específicos do STJ. 5.
Agravo Regimental Desprovido". (AgRg no REsp 1.386.576/SC, Rel. Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, Terceira Turma, j. 19.05.2015, DJe 25.05.2015)

"AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO. RECURSO ESPECIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA


PERSONALIDADE JURÍDICA. ENCERRAMENTO DE ATIVIDADES SEM BAIXA NA JUNTA
COMERCIAL. REQUISITOS. AUSÊNCIA. VALORAÇÃO DA PROVA. EQUÍVOCO. NÃO
OCORRÊNCIA. NÃO PROVIMENTO. 1. A mera circunstância de a empresa devedora ter encerrado
suas atividades sem baixa na Junta Comercial, se não evidenciado dano decorrente de violação ao
contrato social da empresa, fraude, ilegalidade, confusão patrimonial ou desvio de finalidade da
sociedade empresarial, não autoriza a desconsideração de sua personalidade para atingir bens pessoais
de herdeiro de sócio falecido. Inaplicabilidade da Súmula 435/STJ, que trata de redirecionamento de
execução fiscal ao sócio-gerente de empresa irregularmente dissolvida, à luz de preceitos do Código
Tributário Nacional. (...)" (AgRg no AREsp 251.800/SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta
Turma, DJe 13.09.2013).
Logo, ausentes indícios de abuso da personalidade, incabível a instauração do incidente manejado pelo
credor.

Ante o exposto, indefiro o processamento do incidente de desconsideração da personalidade jurídica.

Retornem os autos à suspensão (ID103626607).”

Preparo efetuado (ID nº 36629535).

Em suas razões recursais, após breve relato dos fatos, sustenta que não foram localizados bens
penhoráveis em nome da parte executada/agravada, bem como houve o encerramento irregular da
sociedade empresária.

Aduz que “(...) vasta a documentação presente nos autos que aponta ser nítido, e muito claro que estão
presentes TODOS os requisitos que possibilitam a Desconsideração da Personalidade Jurídica da
empresa Executada, conforme dispõe o artigo 50 do Código Civil bem como artigos 133, 134 e 139
todos CPC e demais disposições aplicáveis a espécie”.

Afirma que o encerramento irregular das atividades empresariais, aliado à inexistência de patrimônio
expropriável da empresa devedora, gera a presunção relativa do abuso da personalidade jurídica,
caraterizado pela confusão patrimonial entre a pessoa jurídica e seus sócios.

Assevera que “(...) a tese de que a pessoa da sociedade não se confunde com a dos sócios, embora seja
um princípio básico, não é absoluto, estando o caso dos autos flagrantemente a reclamar seu
temperamento, com a desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada. Na hipótese,
fora constatada o desaparecimento da sociedade, sem sua prévia dissolução legal, pela ausência de bens
em nome da pessoa jurídica ora executada e bem como lesão ao direito de terceiros, no caso, o
exequente, por ocasião do não-recebimento do seu crédito”.

Ao final, pugna pela concessão da liminar, para o fim de determinar a imediata instauração do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada. No mérito, pugna pelo
conhecimento e provimento do recurso interposto.

Indeferi a antecipação da tutela recursal (ID 36868312).

Sem contrarrazões.

É o relatório.
VOTOS

A Senhora Desembargadora ANA MARIA FERREIRA DA SILVA - Relatora

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do agravo de instrumento interposto pela


exequente, BONASA ALIMENTOS LTDA - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL.

Em suas razões recursais, após breve relato dos fatos, sustenta que não foram localizados bens
penhoráveis em nome da parte executada/agravada, bem como houve o encerramento irregular da
sociedade empresária.

Aduz que “(...) vasta a documentação presente nos autos que aponta ser nítido, e muito claro que estão
presentes TODOS os requisitos que possibilitam a Desconsideração da Personalidade Jurídica da
empresa Executada, conforme dispõe o artigo 50 do Código Civil bem como artigos 133, 134 e 139
todos CPC e demais disposições aplicáveis a espécie”.

Afirma que o encerramento irregular das atividades empresariais, aliado à inexistência de patrimônio
expropriável da empresa devedora, gera a presunção relativa do abuso da personalidade jurídica,
caraterizado pela confusão patrimonial entre a pessoa jurídica e seus sócios.

Assevera que “(...) a tese de que a pessoa da sociedade não se confunde com a dos sócios, embora seja
um princípio básico, não é absoluto, estando o caso dos autos flagrantemente a reclamar seu
temperamento, com a desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada. Na hipótese,
fora constatada o desaparecimento da sociedade, sem sua prévia dissolução legal, pela ausência de
bens em nome da pessoa jurídica ora executada e bem como lesão ao direito de terceiros, no caso, o
exequente, por ocasião do não-recebimento do seu crédito”.

Requer a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica da empresa


executada.

Sem razão a exequente.


Conforme relatado, o cerne da controvérsia recursal consiste em aferir a possibilidade de
desconsiderar a personalidade jurídica da Executada, ora Agravada, em razão da dificuldade do juízo a
quo localizar bens penhoráveis e da alegação de encerramento irregular de suas atividades.

Nas relações jurídicas civis-empresariais, observa-se que o ordenamento jurídico adotou a teoria
maior da desconsideração da personalidade jurídica, a qual exige prova robusta do abuso desta
personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade da sociedade ou pela confusão patrimonial
entre o patrimônio dos sócios e o da sociedade empresária, nos termos do art. 50 do Código Civil.
Confira:

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o
propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.

§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios,


caracterizada por:

I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa;

II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor


proporcionalmente insignificante;

III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.

§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de
sócios ou de administradores à pessoa jurídica.

§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste
artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.

§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da


atividade econômica específica da pessoa jurídica.”
Com efeito, a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica deve ser excepcional; sendo a
regra, a preservação da autonomia patrimonial dos bens dos sócios.

No caso, pela análise detida dos autos, verifica-se que não foram comprovados os requisitos
necessários para a instauração do referido incidente.

A não localização de bens passíveis de penhora sem a comprovação de abuso da personalidade


jurídica, não serve como fundamento para responsabilização do sócio da empresa devedora.

Tampouco serve como fundamento para embasar a desconsideração da personalidade jurídica a


alegação de dissolução irregular das atividades da sociedade empresária, haja vista que a hipótese, por
si só, não conduz de plano à ocorrência de abuso da personalidade.

Esta é a jurisprudência consolidada por este e. Tribunal de Justiça. Vejamos:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. DISSOLUÇÃO
IRREGULAR. REQUISITOS. ART. 50 DO CÓDIGO CIVIL. INEXISTÊNCIA. RENOVAÇÃO DE
PESQUISA PELO SISTEMA SISBAJUD. POSSIBILIDADE.

1. De acordo com o art. 50 do Código Civil, a desconsideração da personalidade jurídica pode ser
determinada se houver prova robusta da existência de abuso de direito, caracterizado pelo desvio de
finalidade da sociedade empresária ou confusão entre os bens da pessoa jurídica e dos seus sócios.

2. O mero encerramento irregular da empresa executada, bem como a ausência de bens passíveis de
penhora, não enseja a desconsideração da personalidade jurídica.

3. No processo de execução, o juiz deve determinar a prática de atos constritivos e auxiliar a parte
credora sempre que sua intervenção se mostrar necessária.

4. É possível a reiteração de pesquisas pelo sistema SisbaJud para futura penhora, se já transcorreu
prazo razoável desde a última consulta.

5. Agravo de Instrumento conhecido e parcialmente provido. Unânime. (Acórdão 1602037,


07159913720228070000, Relator: FÁTIMA RAFAEL, 3ª Turma Cível, data de julgamento: 4/8/2022,
publicado no DJE: 31/8/2022. Pág.: Sem Página Cadastrada.). (grifei).

DIREITO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. TEORIA MAIOR.
APLICAÇÃO. PRESSUPOSTOS. ART. 50 DO CÓDIGO CIVIL. INEXISTÊNCIA. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO NA ORIGEM. INEXISTÊNCIA. MAJORAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE.

1. A aplicação da desconsideração da personalidade jurídica deve ser excepcional, sendo a regra a


preservação da autonomia patrimonial, devendo ser deferida quando presentes os requisitos do art. 50
do Código Civil, nos termos da redação alteradora promovida pelo art. 7º da Lei n. 13.874/2019 (Lei
da Liberdade Econômica).

2. Nas relações jurídicas não consumeristas, o ordenamento jurídico adotou a teoria maior da
desconsideração da personalidade jurídica a qual exige prova do desvio de finalidade da sociedade ou
da confusão patrimonial entre o patrimônio dos sócios e o da sociedade empresária, enquanto
requisitos do abuso desta personalidade que ensejem esta desconsideração.

3. O pedido de desconsideração da personalidade jurídica deve ser indeferido quando tiver por
fundamento o inadimplemento contratual, o encerramento irregular da sociedade empresária e a não
localização de bens penhoráveis, pois estas situações, isoladamente, não caracterizam o abuso da
personalidade jurídica.

4. Agravo conhecido e desprovido. Decisão agravada mantida. Honorários advocatícios não


majorados, em razão da inexistência de fixação na origem. (Acórdão 1411612,
07286848720218070000, Relator: Roberto Freitas Filho, 3ª Turma Cível, data de julgamento:
24/3/2022, publicado no PJe: 5/4/2022. Pág.: Sem Página Cadastrada.). (grifei).

CIVIL E PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE


JURÍDICA. AUSÊNCIA DE PATRIMÔNIO PENHORÁVEL. DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA
EMPRESA DEVEDORA. PRESSUSPOSTOS LEGAIS ESPECÍFICOS PARA
DESCONSIDERAÇÃO. TEORIA MAIOR. DESVIO DE PERSONALIDADE. CONFUSÃO
PATRIMONIAL. REQUISITOS. NÃO CONFIGURADOS.

1. O Código Civil, em seu artigo 50, adotou a teoria maior da desconsideração da personalidade
jurídica, que exige prova do desvio de finalidade (afastamento do objeto social descrito no ato
constitutivo) ou da confusão patrimonial (ausência de separação entre o patrimônio dos sócios e da
sociedade empresária).

2. Revela-se inviável a desconsideração da personalidade jurídica motivada, por si só, pela ausência
ou dificuldade de localização de patrimônio penhorável ou, ainda, pelo encerramento irregular das
atividades empresariais.

3. Recurso conhecido e desprovido.


(Acórdão 1657348, 07275863320228070000, Relator: MARIA DE LOURDES ABREU, 3ª Turma
Cível, data de julgamento: 26/1/2023, publicado no DJE: 14/2/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.)
(grifei).

Assim, ausentes indícios de abuso da personalidade, incabível a instauração do incidente manejado pel
a exequente.

DISPOSITIVO
Posto isso, nego provimento ao agravo de instrumento interposto pela exequente.

É como voto.

A Senhora Desembargadora FÁTIMA RAFAEL - 1º Vogal


Com o relator
A Senhora Desembargadora MARIA DE LOURDES ABREU - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECER E NEGAR PROVIMENTO, UNÂNIME

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