Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Acórdão Nº 1727097
EMENTA
2. Nas relações jurídicas civis-empresariais, observa-se que o ordenamento jurídico adotou a teoria
maior da desconsideração da personalidade jurídica, a qual exige prova robusta do abuso desta
personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade da sociedade ou pela confusão patrimonial entre
o patrimônio dos sócios e o da sociedade empresária, nos termos do art. 50 do Código Civil.
3. No caso, pela análise detida dos autos, verifica-se que não foram comprovados os requisitos
necessários para a instauração do referido incidente.
4. Este e. Tribunal de Justiça possui jurisprudência consolidada no sentido de ser inviável a instauração
do incidente de desconsideração da personalidade jurídica quando tiver por fundamento o
encerramento irregular da sociedade empresária e a não localização de bens penhoráveis, pois estas
situações, isoladamente, não caracterizam o abuso da personalidade jurídica.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, ANA MARIA FERREIRA DA SILVA - Relatora, FÁTIMA RAFAEL - 1º
Vogal e MARIA DE LOURDES ABREU - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador
ROBERTO FREITAS FILHO, em proferir a seguinte decisão: CONHECER E NEGAR
PROVIMENTO, UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
RELATÓRIO
Sabe-se que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica "é cabível em todas as fases do
processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial" (art. 134 do CPC).
Contudo, nada obstante as hipóteses extensas de cabimento do incidente, há que se observar que o
requerimento para a sua instauração deve preencher certas exigências legais.
Nesse contexto, o § 4º desse mesmo dispositivo legal mencionado, impõe ao requerente do incidente o
preenchimento dos pressupostos legais específicos para a desconsideração da autonomia patrimonial da
entidade.
No caso em tela, a parte exequente fundamenta o seu pedido no encerramento das atividades da
empresa devedora, bem como no exaurimento das diligências necessárias à localização de bens para a
satisfação do débito exequendo.
Com efeito, entendo que os fundamentos suscitados pelo exequente não caracterizam o abuso de
personalidade jurídica necessário à desconsideração da personalidade da entidade empresarial.
Sabe-se que a personalidade jurídica e a autonomia patrimonial foram institutos erigidos para
possibilitar o exercício da atividade empresarial com autonomia da entidade face aos seus sócios,
privilegiando assim a separação patrimonial da entidade.
Nesse cerne, tem-se que o inadimplemento das obrigações, sem a comprovação de abuso da
personalidade jurídica, não serve como fundamento para responsabilização do sócio da empresa
devedora.
Em suas razões recursais, após breve relato dos fatos, sustenta que não foram localizados bens
penhoráveis em nome da parte executada/agravada, bem como houve o encerramento irregular da
sociedade empresária.
Aduz que “(...) vasta a documentação presente nos autos que aponta ser nítido, e muito claro que estão
presentes TODOS os requisitos que possibilitam a Desconsideração da Personalidade Jurídica da
empresa Executada, conforme dispõe o artigo 50 do Código Civil bem como artigos 133, 134 e 139
todos CPC e demais disposições aplicáveis a espécie”.
Afirma que o encerramento irregular das atividades empresariais, aliado à inexistência de patrimônio
expropriável da empresa devedora, gera a presunção relativa do abuso da personalidade jurídica,
caraterizado pela confusão patrimonial entre a pessoa jurídica e seus sócios.
Assevera que “(...) a tese de que a pessoa da sociedade não se confunde com a dos sócios, embora seja
um princípio básico, não é absoluto, estando o caso dos autos flagrantemente a reclamar seu
temperamento, com a desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada. Na hipótese,
fora constatada o desaparecimento da sociedade, sem sua prévia dissolução legal, pela ausência de bens
em nome da pessoa jurídica ora executada e bem como lesão ao direito de terceiros, no caso, o
exequente, por ocasião do não-recebimento do seu crédito”.
Ao final, pugna pela concessão da liminar, para o fim de determinar a imediata instauração do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada. No mérito, pugna pelo
conhecimento e provimento do recurso interposto.
Sem contrarrazões.
É o relatório.
VOTOS
Em suas razões recursais, após breve relato dos fatos, sustenta que não foram localizados bens
penhoráveis em nome da parte executada/agravada, bem como houve o encerramento irregular da
sociedade empresária.
Aduz que “(...) vasta a documentação presente nos autos que aponta ser nítido, e muito claro que estão
presentes TODOS os requisitos que possibilitam a Desconsideração da Personalidade Jurídica da
empresa Executada, conforme dispõe o artigo 50 do Código Civil bem como artigos 133, 134 e 139
todos CPC e demais disposições aplicáveis a espécie”.
Afirma que o encerramento irregular das atividades empresariais, aliado à inexistência de patrimônio
expropriável da empresa devedora, gera a presunção relativa do abuso da personalidade jurídica,
caraterizado pela confusão patrimonial entre a pessoa jurídica e seus sócios.
Assevera que “(...) a tese de que a pessoa da sociedade não se confunde com a dos sócios, embora seja
um princípio básico, não é absoluto, estando o caso dos autos flagrantemente a reclamar seu
temperamento, com a desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada. Na hipótese,
fora constatada o desaparecimento da sociedade, sem sua prévia dissolução legal, pela ausência de
bens em nome da pessoa jurídica ora executada e bem como lesão ao direito de terceiros, no caso, o
exequente, por ocasião do não-recebimento do seu crédito”.
Nas relações jurídicas civis-empresariais, observa-se que o ordenamento jurídico adotou a teoria
maior da desconsideração da personalidade jurídica, a qual exige prova robusta do abuso desta
personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade da sociedade ou pela confusão patrimonial
entre o patrimônio dos sócios e o da sociedade empresária, nos termos do art. 50 do Código Civil.
Confira:
“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o
propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de
sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste
artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
No caso, pela análise detida dos autos, verifica-se que não foram comprovados os requisitos
necessários para a instauração do referido incidente.
1. De acordo com o art. 50 do Código Civil, a desconsideração da personalidade jurídica pode ser
determinada se houver prova robusta da existência de abuso de direito, caracterizado pelo desvio de
finalidade da sociedade empresária ou confusão entre os bens da pessoa jurídica e dos seus sócios.
2. O mero encerramento irregular da empresa executada, bem como a ausência de bens passíveis de
penhora, não enseja a desconsideração da personalidade jurídica.
3. No processo de execução, o juiz deve determinar a prática de atos constritivos e auxiliar a parte
credora sempre que sua intervenção se mostrar necessária.
4. É possível a reiteração de pesquisas pelo sistema SisbaJud para futura penhora, se já transcorreu
prazo razoável desde a última consulta.
2. Nas relações jurídicas não consumeristas, o ordenamento jurídico adotou a teoria maior da
desconsideração da personalidade jurídica a qual exige prova do desvio de finalidade da sociedade ou
da confusão patrimonial entre o patrimônio dos sócios e o da sociedade empresária, enquanto
requisitos do abuso desta personalidade que ensejem esta desconsideração.
3. O pedido de desconsideração da personalidade jurídica deve ser indeferido quando tiver por
fundamento o inadimplemento contratual, o encerramento irregular da sociedade empresária e a não
localização de bens penhoráveis, pois estas situações, isoladamente, não caracterizam o abuso da
personalidade jurídica.
1. O Código Civil, em seu artigo 50, adotou a teoria maior da desconsideração da personalidade
jurídica, que exige prova do desvio de finalidade (afastamento do objeto social descrito no ato
constitutivo) ou da confusão patrimonial (ausência de separação entre o patrimônio dos sócios e da
sociedade empresária).
2. Revela-se inviável a desconsideração da personalidade jurídica motivada, por si só, pela ausência
ou dificuldade de localização de patrimônio penhorável ou, ainda, pelo encerramento irregular das
atividades empresariais.
Assim, ausentes indícios de abuso da personalidade, incabível a instauração do incidente manejado pel
a exequente.
DISPOSITIVO
Posto isso, nego provimento ao agravo de instrumento interposto pela exequente.
É como voto.
DECISÃO