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TJRJ 202400048537 26/01/2024 17:42:00 AI?b - PETIÇÃO ELETRÔNICA Assinada por RICARDO HENRIQUE SAFINI GAMA
EXMA. SRA. DES. RELATORA SANDRA SANTAREM CARDINAL – 17ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Processo n.º 0076004-73.2023.8.19.0000

LAGRO DO BRASIL PARTICIPAÇÕES LTDA., (“Lagro” ou “Embargada”) já qualificada nos


autos do agravo de instrumento em referência, interposto por WANDERSON PINHEIRO DA SILVA e
OUTROS (“Embargantes”), vem, por seus advogados, com fundamento no artigo 1.023, § 2º, do
Código de Processo Civil (“CPC”), apresentar

CONTRARRAZÕES

aos Embargos de Declaração de fls. 333/337 (“Embargos de Declaração”), opostos contra o


Acórdão de fls. 274/310 (“Acórdão Embargado”).

I. TEMPESTIVIDADE

1. O despacho que intimou as partes para apresentarem contrarrazões aos embargos de


declaração foi publicado no DJe no dia 09/01/2024 (terça-feira) conforme certidão de fl. 350.
Considerando a suspensão dos prazos processuais, por força do recesso forense durante o período
de 20/12/2023 a 20/01/2024 (art. 220 do CPC), o prazo de 5 dias úteis começou a fluir apenas em
23/01/2024 (terça-feira) encerrando-se em 29/01/2024 (segunda-feira). Portanto, são
tempestivas estas contrarrazões.

contato@veirano.com.br Av. Bartolomeu Mitre, 770 - Leblon 22431-004 - Rio de Janeiro RJ t 21 3824 4747

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II. OMISSÃO INEXISTENTE

2. Os Embargantes alegam, em síntese, que o Acórdão Embargado incorreu em omissão


ao aplicar a desconsideração da personalidade jurídica da companhia Rossi Residencial S.A.
(“Rossi”), para atingir o patrimônio da Lagro e dos demais Embargados, com fundamento no
art. 50 do Código Civil (“Teoria Menor”), sem se pronunciar expressamente sobre a suposta
aplicação do art. 28, §5º do Código de Defesa do Consumidor (“Teoria Maior”).

3. No entanto, não há omissão no Acórdão Embargado sobre o assunto, tendo em vista


que esta Câmara se baseou expressamente na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
(“STJ”), a qual deixa claro que, em caso de desconsideração da personalidade jurídica de
sociedade anônima, “apenas os administradores da sociedade anônima e seus acionistas
controladores podem ser responsabilizados pelos atos de gestão e pela utilização
abusiva da empresa” (fl. 304).

4. Portanto, inviável a desconsideração da personalidade jurídica de sociedade anônima


aberta, com base apenas e tão somente na literalidade do art. 28, §5º do CDC, o qual prevê
que seja “desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma
forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores ”.

5. Sobre o assunto, a 3ª Turma do STJ possui entendimento consolidado de que mesmo


"o § 5º do art. 28 do CDC não autoriza a responsabilização pessoal de quem, embora
ostentando a condição de sócio, não desempenha atos de gestão, ressalvada a prova de
que contribuiu, ao menos culposamente, para a prática de atos de administração " 1.

6. No mesmo sentido, a 4ª Turma do STJ já decidiu que, verificados os requisitos para


desconsideração, ela alcança somente sócios administradores e aqueles que
comprovadamente contribuíram para a prática dos atos caracterizadores do abuso ou da
fraude:

1 STJ, REsp nº 1.900.843/DF, 3ª Turma, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, relator para acórdão Ministro Ricardo
Villas Bôas Cueva, DJe 30/5/2023. No mesmo sentido: STJ, REsp nº 1.900.843/DF, 3ª Turma, Min. Rel. Paulo de Tarso
Sanseverino, relator para acórdão Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 30/5/2023; STJ, REsp nº 1.766.093/SP, 3ª
Turma, Min. Rel. Nancy Andrighi, DJe 28/11/2019; STJ, REsp n. 1.861.306/SP, 3ª Turma, Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
DJe 8/2/2021.

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“AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DESCONSIDERAÇÃO DA


PERSONALIDADE JURÍDICA. SÓCIO MINORITÁRIO. PODERES DE GERÊNCIA OU
ADMINISTRAÇÃO. AUSÊNCIA DE ATOS FRAUDULENTOS. RESPONSABILIDADE.
EXCLUSÃO. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

1. "A desconsideração da personalidade jurídica é medida de caráter excepcional


que somente pode ser decretada após a análise, no caso concreto, da existência
de vícios que configurem abuso de direito, caracterizado por desvio de finalidade
ou confusão patrimonial, requisitos que não se presumem em casos de dissolução
irregular ou de insolvência. Precedentes" (AgInt no REsp 1.812.292/RO, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Quarta Turma, julgado em 18/5/2020, DJe de
21/5/2020).

2. Em regra, a desconsideração da personalidade jurídica alcança somente os


sócios administradores e aqueles que comprovadamente contribuíram para a
prática dos atos caracterizadores do abuso ou fraude.

3. No caso dos autos, deve ser afastada a responsabilidade do sócio minoritário,


sem poderes de administração, porquanto não se extrai do v. Acórdão recorrido
quaisquer elementos que corroborem ter o citado sócio contribuído para a
prática de atos fraudulentos.

4. Agravo interno desprovido.”2

7. Em linha com a jurisprudência da 3ª e 4ª Turmas do STJ, esse TJRJ em julgados da


16ª3, 7ª4 e 24ª5 Câmaras Cíveis ocorridos, respectivamente, em 2021, 2022 e 2023, assinalaram
que o §5º do art. 28 do CDC não dá margem para admitir a responsabilização pessoal de sócio
que jamais atuou como gestor ou administrador da empresa.

8. Desse modo, é evidente a inexistência de qualquer omissão sobre a suposta


aplicação da Teoria Maior, uma vez que expressamente inaplicável ao caso.

2 AgInt no REsp n. 2.070.566/TO, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 11/9/2023, DJe de
14/9/2023.
3 “Desconsideração da personalidade jurídica que, em regra, deve atingir somente os sócios administradores, mas

não aqueles que têm apenas o status de sócio (REsp 1861306/SP e REsp 786.345/SP). Manutenção da decisão que se
impõe, ressalvado o patrimônio do sócio minoritário e sem poderes de gestão, que, neste caso, não deverá ser atingido
(...) A decisão agravada, que determinou o levantamento do véu da pessoa jurídica para atingir o patrimônio dos sócios,
com fundamento no artigo 28, § 5º, do CDC, merece ser prestigiada, com exceção do alcance da ordem de
despersonalização, que, de fato, só deve atingir o segundo agravante, que figura no contrato social como
administrador, mas não o terceiro, que ostenta apenas status de sócio” TJ-RJ, AI nº 0047993-39.2020.8.19.0000, 16ª
Câmara Cível, Des. Rel. Eduardo Gusmao Alves de Brito Neto, DJe 05/11/2021
4 “Incidência do § 5º, do art. 28, do CDC, que positiva a teoria objetiva (menor) da desconsideração. Dispensa da

prova da utilização fraudulenta da pessoa jurídica, exigindo-se, tão somente, a comprovação do efetivo obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos sofridos pelo consumidor. Proteção ao vulnerável (art. 4º, I, CDC). Princípio da efetividade
da tutela jurisdicional. Desconsideração da personalidade jurídica que, em regra, deve atingir somente os sócios
administradores. Precedente do STJ”. TJ-RJ, AI n. 0083672-66.2021.8.19.0000, 7ª Câmara Cível, Des. Rel. Luciano
Saboia Rinaldi de Carvalho, DJe 27/04/2022.
5 “Segundo o STJ, ‘A despeito de não se exigir prova de abuso ou fraude para fins de aplicação da Teoria Menor da

desconsideração da personalidade jurídica, tampouco de confusão patrimonial, o § 5º do art. 28 do CDC não dá margem
para admitir a responsabilização pessoal de quem jamais atuou como gestor da empresa” TJ-RJ, AI nº 0090453-
70.2022.8.19.0000, 24ª Câmara Cível, Des. Rel. Sérgio Seabra Varella, DJe 03/03/2023.

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9. Não fosse isso o bastante, ainda que se entendesse pela aplicação da Teoria Maior,
como pretendem os Embargantes, nunca poderia ser dispensada a prova concreta de atos
que caracterizam o abuso da personalidade jurídica, tendo em vista os expressos termos da
jurisprudência do STJ, que exigem a comprovação de “atos de gestão e (...) utilização abusiva
da empresa” (fl. 304), para a responsabilização do acionista controlador ou administrador
que assim tenha agido.

10. Diante do exposto, a Lagro confia ter demonstrado que inexiste a suposta omissão
indicada pelos Embargantes no Acórdão Embargado, devendo ser rejeitados os referidos
Embargos de Declaração.

Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 2024.

RICARDO HENRIQUE SAFINI GAMA MÁRCIA CUNHA


OAB/RJ 147.500 OAB/RJ 213.889

AMANDA DUDENHOEFFER BRAGA LEONARDO BERTOLACE MAGALHÃES


OAB/RJ 189.173 OAB/RJ 241.506

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