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EXMA. SRA. DRA. DESEMBARGADORA RELATORA DO AGRAVO DE INSTRUMENTO


N. 0076004-73.2023.8.19.0000 – EG. 17ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO DO EG.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

TJRJ 202400049440 26/01/2024 21:15:00 HEPI - PETIÇÃO ELETRÔNICA Assinada por FABIO FARIAS CAMPISTA
WANDERSON PINHEIRO DA SILVA e sua esposa EVELIN DOS
SANTOS BRUM PINHEIRO (“Família Agravante”), nos autos do agravo de
instrumento em epígrafe, em que são agravados JOÃO PAULO FRANCO ROSSI
CUPPOLONI E OUTROS (“Agravados”), vêm, por seus advogados,
tempestivamente, em atenção ao despacho de fls. 349, com fundamento no artigo
1.023, §2º, do CPC, impugnar os embargos de declaração de fls. 313/315,
317/322, 324/331 e 339/347, o que fazem mediante as razões a seguir expostas.

1. TEMPESTIVIDADE

1. O despacho de fls. 349 foi publicado no dia 09.01.2024, terça-feira,


motivo pelo qual o prazo de 5 dias úteis para a apresentação da presente resposta
se iniciou no dia 22.01.2024, segunda-feira, encerrando-se, assim, no dia
26.01.2024, sexta-feira, tendo em vista que os prazos processuais foram
suspensos entre os dias 20.12.2023, quarta-feira, e 20.01.2022, sábado, em razão
do recesso de final de ano (Art. 66, §1º, da Lei Estadual nº 6956/2015 c/c art. 220
do CPC).

2. É tempestiva, portanto, a presente impugnação, eis que protocolada


hoje, dia 26.01.2024, no termo ad quem do prazo legal.

2. OS CONTORNOS DO V. ACÓRDÃO EMBARGADO

3. O v. acórdão embargado corretamente deu parcial provimento ao


recurso interposto pela Família Agravante para “para deferir a desconsideração da
personalidade jurídica, de modo a estender aos acionistas da executada Rossi
Residencial S.A. – em recuperação judicial, à exceção da BPS Capital Participações
Societárias S.A., a responsabilidade pelo pagamento do crédito exequendo.”

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4. Para chegar a essa conclusão, o v. acórdão embargado analisou


detidamente o conjunto fático probatório dos autos, fixando as seguintes
premissas fáticas:

(i) houve desvio de finalidade e confusão patrimonial em razão da


ocultação dolosa/maliciosa de patrimônio da Executada Rossi,
sob o comando dos seus acionistas com direito a voto, que fazem
uso de uma espécie de engenharia societária para movimentar o seu
dinheiro em contas bancárias titularizadas por outras sociedades do seu
grupo econômico de modo a evitar que seus ativos sejam encontrados
por seus credores, frustrando o cumprimento de ordens judiciais que
objetivam a satisfação das execuções movidas contra a Executada Rossi:

(...)

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(ii) a ausência de bens penhoráveis, com a apresentação de


imóveis inidôneos em nome de terceiras sociedades e penhora
online negativa, se mostra como um obstáculo ao
ressarcimento do prejuízo da Família Agravante,
consumidora, e reforçam a inquestionável blindagem patrimonial.

(...)

(...)

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5. Irresignados com o resultado do julgamento, os acionistas agravados


opuseram os embargos de declaração de fls. 313/315, 317/322, 324/331 e
339/347, sustentando, em última análise, que deveriam ser atribuídos efeitos
infringentes para excluir a responsabilidade deles pela torpe manobra perpetrada
pela Executada Rossi sob o seu comando e gestão.

6. A leitura conjunta dos recursos apresentados, por meio das quais todos
os Requeridos no IDPJ de origem sustentam a sua ilegitimidade passiva, leva a
uma situação jurídica absurda de impunidade e frustração do pagamento de
credores, que afronta os princípios mais comezinhos da razoabilidade: a Executada
Rossi seria acéfala, sem controle dos seus acionistas, de modo que ninguém seria
responsável pelo abuso da sua personalidade jurídica, fazendo com que os
acionistas com participações relevantes em seu capital social, responsáveis pela
indicação dos membros do Conselho de Administração e do Conselho Fiscal
pudessem se aproveitar economicamente dos ilícitos praticados pela sociedade sem
terem, em contrapartida, qualquer responsabilidade patrimonial pelos malfeitos
cometidos com a sua óbvia anuência e autorização.

7. Se todos estiverem certos, ninguém seria responsável pela abjeta


ocultação dolosa de patrimônio da Rossi identificada pelo v. acórdão recorrido e
que não foi negada por nenhum deles. Uma verdadeira aberração.

8. Ocorre que a aplicação do Direito não pode simplesmente desconsiderar


a realidade fática para tutelar e proteger condutas manifestamente ilícitas e
contrárias aos valores fundantes do nosso sistema jurídico com base em
argumentos meramente formais e, no caso dos autos, falsos.

9. Na identificação da solução jurídica aplicável ao caso concreto, por meio


do exercício dialético entre fato e norma, é dever do intérprete se certificar que o
resultado proposto atenda aos valores axiológicos que fundamentam o nosso
ordenamento jurídico 1, estando em conformidade, por exemplo, com a boa-fé, com

1
“O restante das normas jurídicas não é só legislação que se move segundo preceitos da Carta Magna, mas
também englobam valores em si, valores que devem ser conformes aos da lei maior. As normas constitucionais
não são apenas normas de interpretação das normas ordinárias, como também elas próprias são parâmetros de
seu entendimento e de sua aplicação, princípios de que o juiz não deve se esquivar, pois, se o fizer, ferirá
letalmente o princípio da legalidade (principalmente a legalidade constitucional). Assim, podemos aplicar
tranquilamente as normas constitucionais junto às normas de caráter ordinário, por exemplo, em função do
artigo x, e por aí vai. A norma constitucional é assim (concreta). Todas as cláusulas legais contidas na
legislação ordinária (diligência, boa-fé, e tantas outras) não serão aplicadas se não tiverem valores conformes
aos valores fundamentais insertos na Carta Magna.” (PERLINGIERI, Pietro. Normas constitucionais nas

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a vedação da fraude contra credores e do abuso da personalidade jurídica, com o


dever da reparação integral do dano, e com a duração razoável do processo.
Justamente o que fez o v. acórdão embargado.

10. Disso decorre que os embargos de declaração opostos pelos Agravados


veiculam um mero inconformismo com o resultado do julgamento de modo que não
poderão ser acolhidos para rejulgar a lide e afastar a desconsideração da
personalidade jurídica da Rossi, pois essa hipótese (mero inconformismo) não se
insere dentre aquelas previstas no art. 1.022 do CPC. O desprovimento de tais
recursos é impositivo.

3. IMPUGNAÇÃO AOS RECURSOS DOS AGRAVADOS EMBARGANTES

3.1. OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DA EXECUTADA ROSSI (FLS.


313/315): FRUSTRADA TENTATIVA DE ALTERAR O RESULTADO DO
JULGAMENTO

11. Sustenta a Rossi a ocorrência de suposto fato novo capaz de alterar o


resultado do julgamento, na medida em que, “em 08 de novembro de 2023,
realizou-se a Assembleia Geral de Credores do Grupo Rossi, em continuidade à 2ª
Convocação”, quando teria sido “aprovado o Plano de Recuperação Judicial em
todas as quatro classes, em conformidade 2 com o disposto no artigo 45 da Lei
11.101/05”, aguardando-se atualmente “a homologação do referido plano pelo
Meritíssimo Juízo da 01ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais”.

12. Diante disso, a Rossi afirma que tal “fato torna impossível admitir o
prosseguimento da demanda na forma que se encontra”, uma vez que “seu
pretenso direito se qualifica como concursal ao processo Recuperacional da
Peticionante, sob pena de beneficiar o credor em detrimento de outros”, não sendo
possível admitir o “prosseguimento do presente Incidente em face de qualquer dos
Executados, sob pena de bis in idem”.

13. Por conta disso, a Rossi requer “o enfrentamento da questão para que
a Embargante, caso não decorra o efeito infringente e a modificação do julgado,
possam exercer seu direito recursal de forma ampla e sem limitações, pugnando,

relações privadas. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 8, n. 1, 2019, p. 7. Disponível


em: http://civilistica.com/normas-constitucionais-nas-relacoes-privadas/. Acessado em 20.08.2022)

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portanto, pelo aclaramento da r. decisão neste ponto”.

14. Ocorre que o fato novo noticiado pela Rossi, além de não configurar
omissão, em nada altera o entendimento fixado pelo v. acórdão embargado.

15. Isso porque o IDPJ de origem não sofre qualquer reflexo do pedido de
recuperação judicial da Executada Rossi, devendo, portanto, prosseguir para
atingir o patrimônio dos acionistas controladores da Executada Rossi, nos termos
da jurisprudência consolidada do Eg. STJ em razão do princípio da autonomia da
personalidade jurídica (recentemente positivado no art. 49-A do Código Civil) 2:

(i) Os acionistas da Rossi não foram incluídos no procedimento de


recuperação judicial, de modo que seu patrimônio não foi afetado ao
juízo universal da recuperação;

(ii) “não viola a competência do juízo universal da falência ou da recuperação judicial, por
si só, a decisão que desconsidera a personalidade jurídica da empresa”, pois, “se o
patrimônio da massa falida não é objeto de constrição, mas sim os bens dos sócios não
atingidos pela decretação da falência, não se cogita de competência do juízo falimentar
para decidir sobre a execução do crédito reclamado” (AgInt no REsp n.
1.883.886/SP, relator Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em
5/10/2021, DJe de 14/10/2021).

(iii) O mesmo entendimento já havia sido expressamente firmado pela Eg.


Segunda Seção do Col. STJ no julgamento do AgRg no CC n.
140.557/SP, relator Ministro Raul Araújo, julgado em 10/6/2015, DJe
de 3/8/2015, e do AgRg no CC n. 115.696/SP, relator Ministro Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 25/5/2011, DJe de 16/6/2011, fixando
o entendimento de que a recuperação judicial não atinge em regra o
patrimônio dos sócios ou as sociedades do mesmo grupo econômico,
sendo necessário decisão expressa nesse sentido para suspender o
curso do IDPJ:

“Ora, a recuperação judicial, via de regra, atinge somente a sociedade empresária


recuperanda, não afetando coobrigados, fiadores, obrigados de regresso (Lei
11.101/2005, art. 49, § 1º) ou, como no caso, sociedade tida como sucessora da
recuperanda e seus sócios. Assim, bens de terceiros não estão sob a tutela do Juízo da
Recuperação, salvo decisão deste em tal sentido.
Nesse contexto, cumpre assinalar que a jurisprudência desta egrégia Corte é firme no
sentido de não reconhecer a existência de conflito de competência em casos como este,
em que bens de terceiro, a exemplo de bens dos sócios, avalistas, de sociedade do
mesmo grupo econômico, ou mesmo de outra sociedade considerada sucessora da
recuperanda são chamados para responder à execução ajuizada contra a sociedade
em recuperação judicial.”

2 “Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores ou administradores.”

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“Não é cabível a suspensão de execução trabalhista que, após a desconsideração da


personalidade jurídica de sociedade falida, prosseguiu contra os sócios de
responsabilidade limitada, pois, em regra, a suspensão atinge somente o devedor em
regime de falência ou recuperação judicial, prosseguindo contra os coobrigados,
fiadores e obrigados de regresso, nos termos do artigo 49, § 1º, da Lei 11.101/2005,
podendo o credor trabalhista habilitar seu crédito na falência e, ao mesmo tempo,
executar os sócios.” (trecho do voto do Min. Relator)

16. Tanto é assim que o Col. STJ recentemente (setembro de 2023)


enfrentou exatamente essa questão, tendo decidido que a aprovação do plano de
recuperação judicial não isenta os acionistas da responsabilidade de pagamento
integral da dívida da sociedade recuperanda cuja personalidade foi
desconsiderada.

17. Isso porque o Eg. STJ entende que a novação decorrente da concessão
da recuperação judicial difere daquela prevista no código civil e “afeta somente as
obrigações da recuperanda, devedora principal, constituídas até a data do pedido,
não havendo nenhuma interferência quanto aos coobrigados, aos fiadores, aos
obrigados de regresso e, especialmente, aos avalistas, dada a autonomia do aval”,
já que “o indivíduo atingido pela desconsideração não responde por dívida alheia;
ele passa a fazê-lo na qualidade de codevedor, e a fonte de sua obrigação estará
no ato ilícito de abuso da personalidade jurídica,” de modo que “a desconsideração
provoca uma alteração no polo passivo da relação obrigacional, incluindo o sócio
onde primitivamente só se encontrava a sociedade”. Confira-se:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. PERSONALIDADE


JURÍDICA. DESCONSIDERAÇÃO. INCIDENTE. RELAÇÃO DE CONSUMO. ART.
28, § 5º, DO CDC. TEORIA MENOR. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. SOCIEDADE EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. NOVAÇÃO. SÓCIOS. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL.
MANUTENÇÃO.
1. O presente recurso busca verificar: a) se houve negativa de prestação jurisdicional e b)
se os efeitos da novação resultantes da aprovação do plano de recuperação judicial
modificam a situação dos sócios chamados a responder pela dívida da empresa por f orça
da desconsideração da personalidade jurídica da empresa recuperanda.
(...)
3. A novação decorrente da concessão da recuperação judicial afeta somente as
obrigações da recuperanda, devedora principal, constituídas até a data do pedido,
não havendo nenhuma interferência quanto aos coobrigados, fiadores e obrigados de
regresso, compreensão que deve ser estendida a todos os corresponsáveis pelo
adimplemento do crédito, aí incluídos os sócios atingidos pela desconsideração da
personalidade jurídica, desde que preservado o patrimônio da sociedade
recuperanda e a sua capacidade de soerguimento.
4. A extinção de execuções contra a empresa recuperanda, resultante da aprovação

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do plano de recuperação judicial, não impede o prosseguimento daquelas que, no


momento da aprovação do PRJ, voltam-se contra o patrimônio pessoal dos sócios,
chamados a responder pela dívida da sociedade por força da desconsideração da
personalidade jurídica.
5. Recurso especial não provido.
(REsp n. 2.072.272/DF, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,
Terceira Turma, julgado em 12/9/2023, DJe de 28/9/2023.)

18. Afinal, “não haveria lógica no sistema se o reconhecimento da


possibilidade de prosseguimento da execução redirecionada contra os sócios
gestores, por força da desconsideração da personalidade jurídica, dissesse respeito
apenas ao ‘interregno temporal que medeia o deferimento da recuperação e a
aprovação do plano, cessando tais direitos após a concessão judicial definitiva’, na
mesma linha do raciocínio empreendido no julgamento do Tema nº 885/STJ” (REsp
n. 2.072.272/DF, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma,
julgado em 12/9/2023, DJe de 28/9/2023).

19. Indo além, o STJ destacou que “o texto legal também não exige que a
responsabilidade de terceiros preexista ou seja concomitante à obrigação imposta
ao devedor principal, admitindo, assim, uma interpretação mais abrangente do
termo "coobrigados", contido no § 1º do art. 49 da LREF, de modo a alcançar não
só as pessoas que já eram corresponsáveis pelo adimplemento do débito, mas
também aqueles que, no transcurso de demandas judicias, por expressa previsão
legal de caráter protecionista, são chamados a responder com seus bens pessoais
por dívidas da sociedade”, tratando-se de “uma garantia legal estabelecida em
favor de uma determinada classe (consumidor) que, em virtude da sua
vulnerabilidade, não teria condições de exigir garantias convencionais e que opera
os seus efeitos sempre que a personalidade jurídica da pessoa jurídica inadimplente
representar um obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados” (REsp n.
2.072.272/DF, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado
em 12/9/2023, DJe de 28/9/2023).

20. Diante disso, a Min. Relatora concluiu que, “por força dessa "garantia",
à semelhança do que ocorre com os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso,
os sócios tornam-se responsáveis pelo pagamento da integralidade da dívida, não
sendo eles os destinatários da novação operada com o objetivo de reabilitar a
empresa”, motivo pelo qual “o consumidor irá receber seu crédito de acordo com o
plano aprovado somente se cobrada a dívida do devedor em recuperação judicial.
No entanto, se redirecionada a responsabilidade pelo adimplemento aos sócios, o

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consumidor poderá exigir o seu crédito na sua forma originária, observados


eventuais pagamentos. Assim, caso receba o valor na execução, informará o fato
ao Juízo da recuperação e vice-versa”.

21. Como se vê, o fato novo alegado pela Rossi não tem o condão de alterar
o resultado do julgamento que corretamente acolheu o IDPJ de origem para tornar
os seus acionistas responsáveis pelo pagamento da integralidade da dívida, sem
sofrer os efeitos do plano de recuperação judicial que supostamente foi aprovado.
O provimento do recurso, sem alteração do resultado do julgamento, para suprir
a omissão com relação a esse ponto é medida que se impõe.

3.2. OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DA FAMÍLIA ROSSI (FLS. 339/347):


MERO INCONFORMISMO E ALTERAÇÃO DA VERDADE

3.2.1. OMISSÃO COM RELAÇÃO AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO


JUDICIAL DA EXECUTADA ROSSI

22. Agindo de maneira coordenada com a executada Rossi, o núcleo


composto por RCR SERVIÇOS DE ECONOMIA EIRELI, RENATA ROSSI CUPPOLONI
RODRIGUES, JOAO PAULO FRANCO ROSSI CUPPOLONI e APEROAMA
PARTICIPAÇÕES LTDA. (“Família Rossi”), também apresentou embargos de
declaração apontado a ocorrência de omissão no v. acórdão embargado por não
terem sido “considerados os efeitos jurídicos gerados pela recuperação judicial do
Grupo Rossi, que se estendem à situação de um requerimento de desconsideração
da personalidade jurídica”, destacando que o “plano de recuperação judicial implica
novação dos créditos anteriores ao pedido” de modo que é “extinta a relação
jurídica anterior, que é substituída por uma nova, tendo por base o plano
aprovado”.

23. Todavia, como visto no capítulo 3.1 acima, apesar de o v. acórdão


recorrido não ter enfrentado essa questão diretamente, o suprimento desta
omissão não tem o condão de alterar o resultado do julgamento que corretamente
acolheu o IDPJ de origem para tornar os seus acionistas controladores
responsáveis pelo pagamento da integralidade da dívida, já que estes não são
beneficiados pela eventual novação da dívida decorrente da aprovação do plano
de recuperação judicial.

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24. Em todo caso, para evitar o surgimento de nulidades, mostra-se


recomendável o provimento do recurso ora impugnado, sem alteração do resultado
do julgamento, apenas e tão somente para suprir a omissão com relação a esse
ponto.

3.2.2. SUPOSTA OMISSÃO COM RELAÇÃO


À APLICAÇÃO DA TEORIA MENOR: INEGÁVEL EXISTÊNCIA DE GRUPO DE
CONTROLE MINORITÁRIO

25. Apontando a existência de um suposto erro de julgamento sob a alcunha


de “omissão”, a Família Rossi também defende a necessidade de revisão das
conclusões contidas no v. acórdão embargado sob a alegação de que não seria
possível aplicar ao caso dos autos a Teoria Menor para desconsiderar a
personalidade jurídica de sociedade limitada e de sociedade anônima Rossi e da
Dranci, devendo ser aplicada a Teoria Maior na medida em que seus integrantes:
(i) não seriam sócios da DRANCI, mas apenas administradores; e (ii) não seriam
acionistas controladores da Rossi.

26. Essa indisfarçável tentativa de obter o rejulgamento da lide por meio de


meros embargos de declaração não merece prosperar, não sendo os embargos de
declaração o instrumento adequado para tal desiderato.

27. Isso porque não há omissão alguma nesse ponto, tendo o v. acórdão
embargado expressamente analisado o conjunto fático probatório dos autos para
concluir que houve a ocultação dolosa de patrimônio da Rossi por seus acionistas
com direito a voto, obstaculizando o pagamento à Família Agravante consumidora,
de modo que deveria ser decretada a desconsideração da personalidade jurídica da
Rossi e da Dranci por meio da Teoria Menor, conforme resumido no capítulo 2
acima.

28. Como bem asseverou o v. acórdão embargado “o STJ possui


entendimento de que cabe a desconsideração da personalidade jurídica em
sociedade anônima limitada a seus administradores e acionistas controladores”,
reconhecendo não só a possibilidade de aplicação da Teoria Menor, mas também
que a Família Rossi e os demais agravados embargantes integram o bloco de
controle da Rossi e da Dranci. Não há omissão sobre esse ponto.

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29. Nesse sentido, sublinha-se que o Col. STJ recentemente (setembro de


2023), mais uma vez enfrentou exatamente a questão controvertida nestes autos,
tendo decidido ser possível a aplicação da Teoria Menor às sociedades anônimas
para impor não só aos acionistas, mas também aos seus administradores/gestores
a responsabilidade de pagamento integral da dívida cujo pagamento ao
consumidor lesado é obstaculizado, não sofrendo qualquer efeito do procedimento
de recuperação judicial:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. PERSONALIDADE JURÍDICA.


DESCONSIDERAÇÃO. INCIDENTE. RELAÇÃO DE CONSUMO. ART. 28, § 5º, DO
CDC. TEORIA MENOR. SOCIEDADE ANÔNIMA. ACIONISTA CONTROLADOR.
POSSIBILIDADE. EXECUTADA ORIGINÁRIA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
EXECUÇÕES. SUSPENSÃO. ART. 6º, II, DA LREF. INAPLICABILIDADE.
PATRIMÔNIO PRESERVADO.
1. A controvérsia dos autos resume-se em saber se, pela aplicação da Teoria Menor da
desconsideração da personalidade jurídica, é possível responsabilizar acionistas de
sociedade anônima e se o deferimento do processamento de recuperação judicial da
empresa que teve a sua personalidade jurídica desconsiderada implica a suspensão de
execução (cumprimento de sentença) redirecionada contra os sócios.
2. Para fins de aplicação da Teoria Menor da desconsideração da personalidade
jurídica (art. 28, § 5º, do CDC), basta que o consumidor demonstre o estado de
insolvência do fornecedor e o fato de a personalidade jurídica representar um
obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados, independentemente do tipo
societário adotado.
3. Em se tratando de sociedades anônimas, é admitida a desconsideração da
personalidade jurídica efetuada com fundamento na Teoria Menor, em que não se
exige a prova de fraude, abuso de direito ou confusão patrimonial, mas os seus efeitos
estão restritos às pessoas (sócios/acionistas) que detêm efetivo poder de controle sobre
a gestão da companhia.
4. O veto ao § 1º do art. 28 do Código de Defesa do Consumidor não teve o condão de
impossibilitar a responsabilização pessoal do acionista controlador e das demais
figuras nele elencadas (sócio majoritário, sócios-gerentes, administradores societários
e sociedades integrantes de grupo societário), mas apenas eliminar possível
redundância no texto legal.
5. A inovação de que trata o art. 6º-C da LREF, introduzida pela Lei nº 14.112/2020, não
afasta a aplicação da norma contida no art. 28, § 5º, do CDC, ao menos para efeito de
aplicação da Teoria Menor pelo juízo em que se processam as ações e execuções con tra a
recuperanda, ficando a vedação legal de atribuir responsabilidade a terceiros em
decorrência do mero inadimplemento de obrigações do devedor em recuperação judicial
restrita ao âmbito do próprio juízo da recuperação.
6. O processamento de pedido de recuperação judicial da empresa que tem a sua
personalidade jurídica desconsiderada não impede o prosseguimento da execução
redirecionada contra os sócios, visto que eventual constrição dos bens destes não
afetará o patrimônio da empresa recuperanda, tampouco a sua capacidade de
soerguimento.
7. Recurso espe cial não provido.
(REsp n. 2.034.442/DF, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,
Terceira Turma, julgado em 12/9/2023, DJe de 15/9/2023.)

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30. Como bem destacado no aludido julgado “o tipo societário não é o que
define a aplicabilidade da denominada Teoria Menor, sendo admitida, pois, a
responsabilização de acionistas que detém efetivo controle sobre a gestão de uma
sociedade anônima”, dispensando-se, “sob a disciplina dessa específica teoria, a
comprovação de abuso da personalidade jurídica ou a prática de ato ilícito, infração
à lei ou ao estatuto social”. Justamente a hipótese na qual se enquadra a Família
Rossi e os demais agravados embargantes segundo o v. acórdão embargado.

31. Em verdade, a Família Rossi e os demais agravados embargantes fingem


desconhecer que eles integram o grupo de controle minoritário da Rossi e da Dranci
(a Rossi, controlada pelos agravados embargantes, é controladora da Dranci com
mais de 70% do capital social), sendo evidente que os acionistas com participação
relevante no capital social estão cientes, se aproveitam economicamente e são
responsáveis pela ilícita engenharia societária que blindou o patrimônio da
Executada Rossi com o intuito de frustrar o pagamento de credores e o
cumprimento de ordens judiciais.

32. Nesse sentido, sublinha-se que a Família Rossi possui uma participação
de 16,341%, a BPS de 14,22% 3, o BTG de 14,72%, e a Lagro de 23,248% no
capital social da Executada Rossi (totalizando 68,529% do capital votante), sendo
mais do que suficiente para influir na gestão/administração da sociedade, agindo
como se integrasse o bloco de controle de fato, sendo os agravados embargantes
titulares de direito a voto, decorrente da titularidade de ações ordinárias, e uma
série de outros direitos que o simples acionista não possui (isoladamente, convocar
assembleia geral, requerer exibição de documentos e informações do administrador
e do conselho fiscal, propor ação de responsabilidade contra o administrador e a
sociedade controladora, e etc.).

33. Com efeito, a Família Rossi e os demais agravados embargantes


participam ativamente da estrutura decisória da Executada Rossi (na gestão e na
administração) e da gestão do seu patrimônio, beneficiando-se financeiramente da
engenharia societária elaborada para frustrar o pagamento dos credores, tendo

3
“A ROSSI RESIDENCIAL S.A. (B3: RSID3) (“Rossi” ou “Companhia”) informa que
recebeu, nesta data, comunicado de seu acionista BPS Capital Participações Societárias
S.A. (“BPS”) informando que, em 04 de abril de 2022, sua participação acionária na
Companhia atingiu 2.844.648 (dois milhões, oitocentas e quarenta e quatro mil, seiscentas e
quarenta e oito) ações ordinárias, representando 14,22% do total de ações da Companhia” (Cf. Aviso ao
Mercado de 05.04.2022 – fls. 2570/2572 dos autos de origem)

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indicado e eleito representantes seus no Conselho de Administração e no


Conselho Fiscal da Executada Rossi, conforme se pode observar nas atas
da AGO de 28.04.2022 e da AGE de 29.04.2021:

(i) AGO de 28.04.2022 (fls. 1739/1746 dos autos de origem):

(ii) AGE de 29.04.2021 (fls. 2564/2566 dos autos de origem):

(...)

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(...)

34. Além de ter elegido representantes próprios no Conselho de


Administração e no Conselho Fiscal, os Agravados também votaram
favoravelmente na eleição de outros membros dos referidos órgãos
deliberativos, tendo ainda participado da fixação do montante milionário
para pagamento dos membros dos citados órgãos sociais (R$ 9.498.283,20
em 2021 e R$ 7.587.209,45 em 2022).

35. Isso tudo fica ainda mais evidente quando se observa a situação jurídica
do grupo de acionistas da Família Rossi, que representam de fato o grupo de
controle da Executada Rossi, determinando as estratégias a serem seguidas, o que,
por óbvio, abarca a engenharia societária ora denunciada, elaborada com o único

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376

intuito de promover a blindagem patrimonial da Executada Rossi e frustrar o


pagamento dos seus credores, tornando o seu patrimônio imune às ordens
constritivas do Poder Judiciário: alocação de todos os bens e fluxo de capital em
nome de terceiras sociedades do grupo, não deixando nada em nome da Executada
Rossi para ser encontrado.

36. O embargante João Paulo Franco Rossi é Diretor-Presidente e membro


do Conselho de Administração da Executada Rossi. Já a Agravada Renata Rossi
também integra o Conselho de Administração da Executada Rossi, além de fazer
parte dos Comitês Jurídico e da Pessoas e Governança. Ou seja, os membros da
Família Rossi são responsáveis por elaborar e aprovar a conduta da Executada
Rossi, incluindo, por óbvio a sua aviltante blindagem patrimonial. Confira-se:

37. Sublinha-se, neste ponto, que a acionista da Executada Rossi,


Aperoama Participações Ltda., é controlada pelo seu antigo acionista e
atual CEO Joao Paulo Franco Rossi Cuppoloni, ao passo que a acionista RCR
Serviços de Economia EIRELI é controlada pela acionista Renata Rossi
Cuppoloni Rodrigues a Executada Dranci é controlada pela Executada Rossi
em conjunto com a Participações Rep 127 Ltda.. Trata-se de mais uma manobra

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377

para reforçar a blindagem patrimonial contra credores que buscam a satisfação do


seu crédito, de modo a disfarçar o controle da sociedade pela família Rossi:

Sócios da Apeorama Participações Ltda.


Joao Paulo Franco Rossi Cuppoloni (Sócio – Administrador)
Cecilia Helena Franco Alves

Sócios da RCR Serviços de Economia EIRELI


Renata Rossi Cuppoloni Rodrigues

Sócios da Executada
Dranci
Rossi Residencial S.A. – 70%
Participações Rep 127 Ltda. –
30%

38. É o que revela o Formulário de Referência da Executada Rossi:

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378

39. Para piorar, em evidente confissão do esquema de blindagem


patrimonial com o uso de terceiras sociedades arquitetado pelos agravados
embargantes , sublinha-se que 90% dessas terceiras sociedades são administradas
pela embargante Renata Rossi, que exerce, de fato, o controle e a administração
dos ativos da Executada Rossi, que, repita-se, não tem bens em seu nome (tudo,
inclusive dinheiro, circula em nome dessas terceiras sociedades controladas para
escapar de credores e das ordens do Poder Judiciário):

40. Esse cenário configura o que a doutrina especializada descreve como


sendo o grupo de controle minoritário da sociedade pelos acionistas com
participações relevantes, consequência da pulverização do capital social das
sociedades anônimas com ações negociadas em bolsa:

“Há situações, no entanto, como mencionado de início, em que um acionista ou


grupo é capaz de controlar a sociedade sendo detentor de menos da metade das ações
votantes. Trata-se do controle minoritário. Esse fenômeno torna-se viável quando há
uma grande pulverização das ações em circulação, muitas vezes conjugada com um
elevado absenteísmo dos acionistas nas assembleias[9]. Os acionistas titulares da
maioria do capital votante simplesmente não comparecem às assembleias gerais, por
estarem interessados apenas nos direitos econômicos das ações. Ou, ainda que
compareçam, sendo detentores de pequenas frações do capital, não conseguem se
articular para atuar de modo coordenado. Como, de modo geral, a vontade social se
forma pela maioria dos votos dos acionistas presentes nas assembleias, esse cenário
propicia que um acionista ou grupo titular de um bloco de ações inferior à maioria
do capital votante consiga, de modo reiterado, fazer prevalecer sua vontade nas
deliberações assembleares e eleger a maioria dos administradores.”4

4
PENNA, Paulo Eduardo. Controle Minoritário no Direito Brasileiro. In: CRISTOFARO, Pedro Paulo;
MACHADO FILHO, Caio (coords.). Direito Empresarial: Estudos Contemporâneos – Grupo de Direito
Empresarial da PUC-Rio. Rio de Janeiro: Quartier Latin, 2017. Disponível em:
https://www.novotny.com.br/publicacoes/controle-minoritario-no-direito-
brasileiro#:~:text=O%20controle%20minorit%C3%A1rio%2C%20em%20que,ainda%20relativamente%20r
ecente%20no%20Brasil. Acessado em 29.08.2022.

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379

41. Essa qualificação de controle minoritário encontra-se em ampla


harmonia com o teor do art. 116 da L.S.A. 5, sendo certo que a união dos Agravados
(que junto detinham 68,529%) se mostra suficiente para a sua caracterização (o
mínimo necessário é de 25%):

“Esse tipo de controle minoritário ainda é comum. A Lei 10.303, de 31 de outubro


de 2001, alterou o § 2º do art. 15 da LSA, dispondo que, em companhias novas ou
que optem por abrir seu capital, o número de ações preferenciais sem direito a voto
não pode ultrapassar 50% do total das ações emitidas. Nesse novo cenário, alcança-
se a maioria do capital votante com a titularidade de apenas 25% mais uma do total
das ações emitidas pela companhia.”6

42. Isso porque, diversamente do que defendem os Agravados, pode-se


separar os acionistas de uma companhia aberta em dois grandes grupos: (i) “de
um lado temos os acionistas com atuação mais ativa, que, por sua vez, se dividem
em dois subgrupos: os controladores, e os chamados ‘ativistas minoritários’, que,
embora não integrando o bloco de controle, adotam uma atuação proativa,
participando das assembleias e cobrando transparência, resultados e o respeito a
seus direitos, seja pela via administrativa (Comissão de Valores Mobiliários - CVM)
ou judicial/arbitral”; e (ii) “do outro lado, há os acionistas passivos que apenas
acompanham as informações públicas das companhias e compram e vendem
ações”, que “são meros investidores de mercado, sem interesse, tempo ou
capacidade para se envolver nas deliberações sociais”. 7

43. Como consequência, “quanto mais pulverizado o capital social e menor


a presença de ativistas minoritários, o número de ações necessário para controlar
a companhia tende a ser menor”8. Justamente o que ocorre no caso dos autos, em
que as deliberações sociais são basicamente derivadas da vontade dos minoritários
Lagro, BTG, BPS e Família Rossi (vide atas de fls. 1.739/1.746 e 2560/2569 dos
autos de origem). Os demais acionistas são o que se pode denominar de acionistas

5
“Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas
por acordo de voto, ou sob controle comum, que:
a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações
da assembléia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; e
b) usa efetivamente o seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos
da companhia.”
6
PENNA, Paulo Eduardo. Controle Minoritário no Direito Brasileiro. In: CRISTOFARO, Pedro Paulo;
MACHADO FILHO, Caio (coords.). Direito Empresarial: Estudos Contemporâneos – Grupo de Direito
Empresarial da PUC-Rio. Rio de Janeiro: Quartier Latin, 2017. Disponível em:
https://www.novotny.com.br/publicacoes/controle-minoritario-no-direito-
brasileiro#:~:text=O%20controle%20minorit%C3%A1rio%2C%20em%20que,ainda%20relativamente%20r
ecente%20no%20Brasil. Acessado em 29.08.2022.
7
Idem, Ibdem.
8
Idem, Ibdem.

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passivos e por isso não foram incluídos no IDPJ de origem.

44. Foi justamente todo esse robusto lastro probatório produzido pela
Família Agravante que conduziu o v. acórdão embargado a reconhecer a existência
do bloco de controle do acionistas ativistas com participação relevante no capital
da Rossi, ainda mais quando se observa que os embargantes agravados não se
desincumbiram minimamente do seu ônus probatório de demonstrar que não
seriam controladores da Rossi, encargo este que lhes é atribuído pelo art. 6º, VIII,
do CDC, já que a relação entre as partes é consumerista. Simplesmente não foram
produzidas provas capazes de infirmar as constatações do v. acórdão embargado.
A pretensão dos embargantes agravados se ampara unicamente em de ilações,
sofismas e mentiras.

45. Observa-se, assim, que a tentativa de alterar as conclusões do v.


acórdão embargado sobre essas questões por meio da oposição de simples
embargos de declaração não se mostra possível, motivo pelo qual deve ser negado
provimento a este capítulo do recurso, sem prejuízo da possibilidade de essa Col.
Câmara destacar expressamente que os embargantes agravados formam um bloco
de controle minoritário de acionistas com participação relevante no capital social.

3.2.3. OMISSÃO COM RELAÇÃO AOS IMÓVEIS OFERECIDOS PELA


EXECUTADA ROSSI

46. Prosseguindo com a sua tentativa de promover o rejulgamento da lide


por meio de simples embargos de declaração, sustenta a Família Rossi que haveria
omissão com relação ao fato de que “as executadas indicaram os imóveis, juntaram
suas respectivas certidões de ônus reais e, ainda, os termos de quitação com o
Banco Bradesco, indicando que as hipotecas já estavam liberadas, a apontar que
os imóveis eram idôneos e de alta liquidez, aptos a garantirem integralmente o
feito”, o que supostamente impediria a desconsideração da personalidade jurídica
da Rossi.

47. Mais uma vez não há qualquer omissão com relação a esse ponto, tendo
o v. acórdão embargos expressamente se debruçado sobre a questão para concluir
que os imóveis oferecidos eram inidôneos e insuficientes, bem como que havia a
ocultação dolosa de patrimônio da Rossi para impedir o cumprimento das
obrigações judiciais, conforme demonstrado no capítulo 2 acima. O mero
inconformismo da Família Rossi com o resultado do julgamento é evidente e impõe

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381

o desprovimento deste capítulo do seu recurso.

48. Ainda que assim não fosse, sublinha-se inegável o acerto do v. acórdão
nesse ponto, porquanto as ilações lançadas pela Família Rossi para alterar o
resultado do julgamento são falsas e não encontram eco nos autos. Diferentemente
do que aduz a Família Rossi:

(i) A Executada Rossi ignorou por completo a sua intimação para


pagamento voluntário do débito na forma do art. 523 do CPC e tampouco
indicou bens à penhora, conforme determina o art. 774, V, do CPC,
deixando transcorrer in albis o prazo para pagamento e para
apresentação de impugnação ao cumprimento de sentença, violando o
seu dever de cooperação previsto no art. 6º do CPC.

(ii) Somente depois da frustração da penhora online de seus ativos e após


a implementação do arresto sobre os bens de seus acionistas é que a
Executada Rossi se movimentou por meio do oferecimento à penhora de
imóveis de terceiras sociedades, violando a ordem prevista no art.
835 do CPC e comprovando ainda mais a ausência de bens em nome
próprio: os imóveis apresentados eram de propriedade da SÃO
GERÔNCIO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. e da ANTEROS
EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA.;

(iii) Não houve recusa imotivada da Família Agravante aos imóveis


oferecidos pela Executada Rossi, tendo sido demonstrada: (a) a
impossibilidade da substituição dos valores em dinheiro que haviam ido
arrestados por imóveis com manifesta inidoneidade (imóveis de
terceiros sem prova da anuência destes terceiros com o oferecimento do
bem à penhora, de baixíssima liquidez e gravados com hipoteca na
certidão do RGI) e insuficiência (o valor de avaliação do imóvel é
menor que o valor da execução – art. 831 do CPC); e (b) a Executada
Rossi, ao indicar imóveis de terceiras sociedades nas vésperas (em julho
de 2021) de pedir a recuperação judicial (em setembro de 2021), já
sabia que tais sociedades seriam arroladas com a executada Rossi no
procedimento de recuperacional de modo que tais bens jamais
ingressariam no patrimônio da Família Agravante, já que seriam
arrecadados pelo juízo universal da recuperação (vide decisão que
deferiu o processamento da recuperação judicial da Rossi de fls.
3892/3917 dos autos de origem); e

(iv) Embora não seja necessário demonstrar a insolvência da sociedade para


que sua personalidade jurídica seja desconsiderada, conforme deixa
evidente o Enunciado n. 281 da IV Jornada de Direito Civil do CJF9 e a

9
“A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art. 50 do Código Civil, prescinde da demonstração
de insolvência da pessoa jurídica”

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382

jurisprudência do Col. STJ10, a Família Agravante exauriu sim a busca de


bens da executada Rossi, tendo identificado que os imóveis dos
lançamentos mais recentes da Executada Rossi no Rio de Janeiro, cujas
unidades ainda não teriam sido vendidas (Laranjeiras e Jacarepaguá –
fls. 1763/1770 e 1771/1778 dos autos de origem) também não se
encontram em nome da Executada Rossi, mas de outras terceiras
sociedades controladas pelas Executadas e/ou seus sócios (VITIS
EMPREENDIMENTOS S.A. e ARAURE EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS
LTDA., respectivamente – fls. 1763/1770 e 1771/1778 dos autos de
origem);

Acionistas da Executada Rossi Acionistas/administradores Sócios da Araure


da Vitis
RCR Serviços de Economia EIRELI Fernando Miziara de Mattos Fernando Miziara de Mattos
Lagro do Brasil Participações Ltda. Cunha Cunha
Renata Rossi Cuppoloni Rodrigues Joao Paulo Franco Rossi Joao Paulo Franco Rossi
Aperoama Participações Ltda. Cuppoloni Cuppoloni
BTG Pactual WM Gestão de Renata Rossi Cuppoloni Renata Rossi Cuppoloni
Recursos Ltda. Rodrigues Rodrigues
BPS Capital Participações
Societárias S.A.

49. E mais: tal como apontado no capítulo 3.2.2 acima, os embargantes


agravados, a quem cabe o ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC) mais uma não se
desincumbiram minimamente do seu encargo probatório de demonstrar que a Rossi
possuiria patrimônio livre e disponível para adimplir as suas obrigações, não tendo
carreado aos autos qualquer prova capaz de infirmar as constatações do v. acórdão
embargado. Novamente constata-se que a pretensão dos embargantes agravados
se ampara unicamente em de ilações, sofismas e mentiras.

50. Como se vê, a Família Rossi, sob a desculpa de haver uma suposta
omissão, lança uma série de mentiras e esconde a realidade dos autos para tentar
induzir essa Col. Câmara a rejulgar inteiramente o agravo de instrumento, o que
não pode ser tolerado. O desprovimento desse capítulo dos seus embargos de
declaração é inescapável.

10
“7. A inexistência ou não localização de bens da pessoa jurídica não é condição para a instauração do
procedimento que objetiva a desconsideração, por não ser sequer requisito para aquela declaração, já que
imprescindível a demonstração específica da prática objetiva de desvio de finalidade ou de confusão
patrimonial.” (...) (REsp 1729554/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 08/05/2018, DJe 06/06/2018).

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383

3.3. OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DA LAGRO:


MENTIRAS, ERRO DE JULGAMENTO E INOVAÇÃO DE TESE EM SEDE
RECURSAL

3.3.1. SUPOSTA OMISSÃO SOBRE A EXISTÊNCIA DE BLOCO DE


CONTROLE DA ROSSI

51. Seguindo a mesma estratégia da Família Rossi, a Lagro, sem nenhum


pudor, lança uma série de mentiras factuais com o objetivo de induzir essa Col.
Câmara a alterar o resultado contido no v. acórdão embargado, o que viola os
ditames da boa-fé processual e os limites objetivos dos embargos de declaração,
recurso de fundamentação vinculada. Não há omissão, apenas a indicação de
suposto erro de julgamento que revela o seu inconformismo com a solução
conferida ao caso dos autos.

52. Nesse sentido, destaca-se que a Lagro aduz que teria havido omissão
com relação ao fato de que “nunca integrou o Conselho de Administração da Rossi
nem mesmo elegeu nenhum conselheiro não havendo pronunciamento judicial a
respeito de tal fato incontroverso”, afirmando que “não há controle na Rossi seja
pela inexistência de um único acionista detentor de mais de 50% das ações, seja
pela inexistência de acordo de acionistas”.

53. Ocorre que o v. acórdão embargado enfrentou diretamente essa


questão e foi expresso em reconhecer que os embargantes agravados integram o
bloco de controle da executada Rossi, conforme demonstrado nos capítulos 2 e
3.2.2 acima.

54. Ademais, as ilações da Lagro são mentirosas, pois a prova dos autos é
clara em demostrar que ela tinha direito a votos e participava ativamente na
gestão da Rossi, indicando membros do Conselho de Administração e do Conselho
Fiscal, conforme se pode verificar as atas da AGO de 28.04.2022 e da AGE de
29.04.2021, cujo teor foi transcrito no capítulo 3.2.2 acima.

55. Em verdade, esse suposto erro de julgamento apontado pela Lagro


desconsidera, por completo, a fundamentação da Família Agravante que foi
expressamente acolhida pelo v. acórdão embargado no sentido de que o conjunto
probatório dos autos demonstra o inegável abuso da personalidade jurídica
da Executada Rossi ante a decisão consciente dos Embargantes Agravados

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384

(bloco de controle minoritário dos acionistas com participações


relevantes) de promover a ocultação dolosa de patrimônio em nome de
terceiras sociedades do grupo, não deixando nada em nome da Executada
Rossi para ser encontrado com o único intuito de promover a blindagem
patrimonial da Executada Rossi, frustrar o pagamento dos seus credores e
receber dividendos, já que o patrimônio da Rossi ficaria imune às ordens
constritivas do Poder Judiciário.

56. Desse modo, à luz do art. 116 da L.S.A. 11, a união dos Embargantes
Agravados (acionistas ativistas que junto detinham 68,529%) se mostra suficiente
para a caracterização do referido bloco de controle, já que o mínimo necessário
para a sua configuração é de apenas 25% do capital social votante, em razão da
pulverização do capital social da Rossi na bolsa (o que é expressamente
reconhecido pela Lagro ao apontar a existência de mais de 4.500 acionistas da
Rossi, em sua grande maioria acionistas passivistas).

57. Por óbvio, somente aqueles acionistas com participação relevante e que
atuaram ativamente da gestão da Rossi, com a indicação de membros do Conselho
de Administração e do Conselho Fiscal, cujas deliberações formam a da vontade da
Rossi foram incluídos no polo passivo do IDPJ, restando excluídos todos os milhares
de acionista passivistas da Rossi, que se mantém inertes na gestão dos negócios
da sociedade (vide atas de fls. 1.739/1.746 e 2560/2569 dos autos de origem).

58. Como se vê, simplesmente não é verdade que “não houve havendo
pronunciamento judicial a delinear como a Lagro poderia ser tida como
“controladora” da Rossi”, bem como de que seria necessário explicitar a diferença
existente entre a Lagro, acionista ativista, e os outros mais de 4.500 acionistas
passivistas que jamais participaram da gestão da Rossi. O desapego à verdade e o
intuito protelatório da Lagro é gritante.

59. A tudo isso se soma a torpe tentativa da Lagro inovar a sua tese recursal
ao alegar que haveria omissão com relação ao fato de que “passou a ser acionista
da Rossi em 2019, conforme Comunicado ao Mercado disponível no site da B31,

11“Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo
de voto, ou sob controle comum, que:
a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da
assembléia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; e
b) usa efetivamente o seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da
companhia.”

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enquanto os fatos que fundamentam o título judicial executado pelos agravantes


datam de mais de 3 anos antes da aquisição de ações da Rossi pela Lagro”.

60. Como tal argumento não foi ventilado pela Lagro na contestação em
primeira instância e nem nas contrarrazões ao presente agravo de instrumento,
não sendo possível vislumbrar a existência de omissão sobre a questão:
simplesmente não havia obrigação do seu enfrentamento pelo v. acórdão
embargado. A inovação de tese em sede recursal é gritante.

61. Ainda que assim não fosse, salta aos olhos que tal linha argumentativa,
além de não possuir qualquer fundamento legal, é manifestamente desinfluente
para o julgamento da lide, na medida em que a causa de pedir do IDPJ que foi
acolhida pelo v. acórdão embargado diz respeito à conduta adotada pela Rossi após
o início da fase de cumprimento de sentença em 2021, quando ficou evidenciada a
existência de uma arquitetura societária montada para ocultar dolosamente o
patrimônio da Rossi de modo a frustrar o pagamento de credores. Naquele
momento, a Lagro confessadamente já integrava o bloco de controle minoritário da
Rossi, indicando membros do Conselho Fiscal e do Conselho de Administração.
Nenhuma omissão há para ser suprida.

3.3.2. ALEGADA OMISSÃO SOBRE OS IMÓVEIS DE TERCEIROS


OFERECIDO PELA ROSSI

62. Por fim, defende a Lagro que o v. acórdão embargado “não se


manifestou quanto ao fato de que 2 dos 3 imóveis oferecidos à penhora estavam
livres e desimpedidos e, somados, possuíam valor superior ao valor então
executado”, o que teria sido “confessado pelos próprios Embargados na petição que
rejeitou os referidos imóveis”.

63. Mais uma vez o desapego à verdade é constrangedor.

64. Conforme demonstrado nos capítulos 2 e 3.2.3 acima: (i) não há


qualquer omissão sobre essa questão, tendo o v. acórdão embargado
expressamente repelido essa ordem de argumentos ao constatar que os imóveis
oferecidos eram inidôneos e insuficientes, bem como que havia a ocultação dolosa
de patrimônio da Rossi para impedir o cumprimento das obrigações judiciais; e (ii)
a Família Agravante jamais confessou a idoneidade e a suficiência dos bens
oferecidos, tendo, em verdade, recusado os imóveis com base nos fundamentos

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resumidos no item 47 acima.

65. Observa-se, assim, que a Lagro inovou a sua tese defensiva em sede
recursal e, tal como a Família Rossi, lançou uma série de mentiras sem o menor
pudor, suscitando a ocorrência de alegados erros de julgamento sob a denominação
de omissão, vício inexistente na hipótese dos autos. Os embargos de declaração
não são o meio adequado para buscar o rejulgamento da lide, de modo que o
desprovimento de tal recurso é medida que se impõe.

3.4. OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DO BTG

3.4.1. SUPOSTA OMISSÃO SOBRE A EXISTÊNCIA DE BLOCO DE


CONTROLE DA ROSSI

66. Tal como os demais embargantes agravados, o BTG aponta a existência


de suposta omissão, que se traduziria em verdadeiro erro de julgamento, ao
defender que “a BTG PACTUAL WM não poderia ter o seu patrimônio atingido, haja
vista a demonstração de que não possui poderes de gestão ou administração na
ROSSI”.

67. De acordo com o BTG, o v. acórdão embargado teria ficado omisso


“quanto ao fato de que a ora embargante esclareceu que nem mesmo é sócia ou
acionista das empresas executadas, mas simples gestora de fundos de
investimento que possuem posição minoritária na ROSSI”.

68. Não há omissão alguma nesse ponto, já que o v. acórdão embargado


acertadamente enfrentou a questão ao concluir que o BTG seria acionista da Rossi.
Simplesmente não é verdadeira a ilação de que o BTG seria mero gestor de fundos
com participações na Rossi, na medida em que:

(i) o Formulário de Referência extraído do site da CVM e colacionado às


fls. 1.726/1.738 dos autos de origem foi preenchido pela própria Rossi
que, presume-se, sabe muito bem que são os seus acionistas ao
declará-los oficialmente à autarquia federal que regula o setor. Nele
há clara indicação de que o BTG é sim acionista da Executada Rossi
com participação relevante de 14,72%:

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387

(ii) o próprio o Comunicado ao Mercado que supostamente demonstraria


que o BTG não seria acionista, mas gestor de fundos de investimento,
informa que o BTG é sim acionista da Rossi. Uma confissão
indefensável contida na petição de embargos do próprio BTG:

(iii) Ainda que assim não fosse, o mero comunicado ao mercado não teria
o condão de comprovar se determinada pessoa é o ou não acionista
de determinada sociedade, nos termos do art. 31 da L.S.A. 12 ,
saltando aos olhos que o BTG não se desincumbiu minimamente do
seu ônus probatório ao deixar de trazer aos autos qualquer prova de
que não seria acionista da Rossi.

12
“Art. 31. A propriedade das ações nominativas presume-se pela inscrição do nome do acionista no livro de
"Registro de Ações Nominativas" ou pelo extrato que seja fornecido pela instituição custodiante, na
qualidade de proprietária fiduciária das ações.”

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69. Ademais, conforme já demonstrado nos capítulos 3.1 e 3.2.2, não se


mostra correta a ilação do BTG no sentido de que não poderia ter o seu patrimônio
atingido por ser “apenas acionista da sociedade anônima de capital aberto ‘ROSSI
RESIDENCIAL S.A.’” ou simples gestor de fundos de investimento, na medida em
que o v. acórdão embargado corretamente reconheceu que o BTG é acionista ativo
com relevante participação societária (14,72% das ações ordinárias com direito a
voto), integrando o bloco de controle minoritário com a BPS, a Lagro e a Família
Rossi para influir na administração e na gestão da Executada Rossi, contribuindo,
assim, com a implementação da estratégia de blindagem patrimonial para frustrar
o pagamento de credores, em manifesto abuso da personalidade jurídica. Alterar
essa constatação não se mostra viável pela via estreita dos embargos de
declaração.

70. Indo além, mesmo na impossível hipótese de ser considerado mero


gestor de fundos de investimento, o que se admite apenas para argumentar, ainda
assim o BTG seria responsável pelas dívidas da Executada Rossi na medida em que
o BTG, por força do art. 1.368-E do Código Civil, responde pelos prejuízos causados
em função da sua dolosa conduta que culminou no abuso da personalidade jurídica
da Executada Rossi com o objetivo de obter vantagem financeira da engenharia
societária elaborada para frustrar o pagamento dos credores.

71. Conforme demonstrado no capítulo 3.2.2. isso também foi


expressamente apontado pelo v. acórdão embargado ao aduzir que “o STJ possui
entendimento de que cabe a desconsideração da personalidade jurídica em
sociedade anônima limitada a seus administradores e acionistas controladores”,
reconhecendo a possibilidade de atribuição de responsabilidade patrimonial ao BTG
pelas obrigações inadimplidas pela Rossi.

72. A insistência do BTG em sustentar que “não pode ser alcançada pela
execução, seja por não ser administradora, seja por não ser controladora”, colide
frontalmente com as conclusões do v. acórdão embargado, revelando que os seus
aclaratórios manifestam apenas e tão somente a sua discordância com as
conclusões alcançadas por essa Col. Câmara.

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3.4.2. ALEGADA OMISSÃO SOBRE OS IMÓVEIS DE TERCEIROS


OFERECIDO PELA ROSSI

73. De igual modo não prospera a ilação do BTG de que “o v. aresto ignorou
o fato de que a única medida constritiva levada a efeito nos autos do cumprimento
de sentença deu-se através do BACENJUD”, não havendo que “se falar em execução
frustrada se não houve uma efetiva pesquisa de bens em nome dos executados”.

74. Na sequência, o BTG, mais uma vez escapando dos limites dos embargos
de declaração, aponta a existência de suposto erro de julgamento, ao defender
que: (i) “para afirmar que os executados estariam agindo em fraude à execução
ou contra credores, deveriam ao menos ter apresentado indícios de que eles se
tornaram insolventes após a transferência de determinado bem em determinada
data”, de modo que não seria suficiente a “mera alegação de que deveriam ter
dinheiro disponível em conta bancária ou de que um dos imóveis objeto de
lançamento imobiliário se encontraria em nome de outra empresa”; e (ii) a “ROSSI
e DRANCI peticionaram nos autos do cumprimento de sentença indicando bens à
penhora para garantir a execução, o que comprova que a alegação de que os
executados estariam esvaziando o seu patrimônio é completamente descabida, não
havendo justificativa plausível para o acolhimento do incidente”.

75. Novamente a Família Agravante reitera o teor dos capítulos 2 e 3.2.3


acima, por meio dos quais demonstrou fartamente que: (i) não há qualquer
omissão sobre essa questão, tendo o v. acórdão embargado expressamente
repeliu essa ordem de argumentos ao constatar que os imóveis oferecidos eram
inidôneos e insuficientes, bem como que havia a ocultação dolosa de patrimônio da
Rossi para impedir o cumprimento das obrigações judiciais; e (ii) embora não seja
necessário demonstrar a insolvência da sociedade para que sua personalidade
jurídica seja desconsiderada, a Família Agravante exauriu sim a busca de bens da
executada Rossi, com penhora online e busca perante os registros de imóveis,
tendo constatado a inexistência de bens em nome da Rossi, conforme bem
demonstra o resumo contido no item 47 acima; e (iii) os imóveis de terceiros
somente foram oferecidos pela Executada Rossi após o arresto de dinheiro dos seus
acionista, e eram inidôneos (imóveis de terceiros sem prova da anuência destes
terceiros com o oferecimento do bem à penhora, de baixíssima liquidez e gravados
com hipoteca na certidão do RGI) e insuficientes (o valor de avaliação do imóvel é
menor que o valor da execução – art. 831 do CPC), não sendo possível substituir a
penhora em dinheiro por tais bens inservíveis (art. 835, I e V, do CPC).

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76. Para piorar, os agravados embargantes fingem desconhecer o


fato de que as terceiras sociedades proprietárias dos aludidos imóveis
estavam arroladas com a executada Rossi no procedimento de
recuperação judicial de modo que tais bens jamais ingressariam no
patrimônio da Família Agravante (vide decisão que deferiu o
processamento da recuperação judicial da Rossi de fls. 3892/3917 dos
autos de origem) caso fossem aceitos. Tudo não passava de uma torpe
manobra dos embargantes agravados, responsáveis pela formação da
vontade social da da Executada Rossi, para ganhar tempo e tentar liberar
os próprios bens que haviam sido arrestados. O cinismo dessa tese
defendida pelo BTG e os demais embargantes agravados é constrangedor.

77. Por conseguinte, salta aos olhos a ausência de qualquer vício no v.


acórdão embargado apto a justificar o provimento dos aclaratórios do BTG. Erro de
julgamento e mero inconformismo não estão arrolados no art. 1.022 do CPC.

5. CONCLUSÃO E PEDIDOS

78. Ante o exposto, a Família Agravante requer sejam os embargos de


declaração da Rossi, da Família Rossi, da Lagro e do BTG desprovidos ou, então,
providos, sem alterar o resultado do julgamento contido no v. acórdão embargado,
em parte unicamente para esclarecer que: (i) a recuperação judicial da Rossi não
produz qualquer efeito no âmbito do presente IDPJ, não tendo o condão de impedir
a atribuição de responsabilidade aos embargantes agravados pelo adimplemento
da integralidade das obrigações devidas pela executada Rossi; (ii) que os
embargantes agravados integram o grupo de controle minoritário da executada
Rossi, sendo os responsáveis pela formação da sua vontade social e, por extensão,
pela implementação da estratégia de blindagem patrimonial para frustrar o
pagamento de credores.

79. Ao mesmo tempo, a Família Agravante reitera o teor dos seus


aclaratórios, que devem ser providos para suprir a omissão neles exposta de modo
que essa Col. Câmara, considerando que materialmente já reconheceu em sua
fundamentação a presença dos requisitos das Teoria Maior e Menor, deixe
expresso na parte dispositiva do v. acórdão embargado que a desconsideração da
personalidade jurídica da Executada Rossi se ampara não só na Teoria Menor,
positivada pelo CDC; mas também na Teoria Maior, prevista no Código Civil,

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justificando a imputação de responsabilidade aos embargantes agravados também


em razão do desvio de finalidade e da confusão patrimonial perpetrada pelos
acionistas administradores integrantes do bloco de controle minoritário da Rossi.

Termos em que,
p. deferimento.
Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 2024.

FABIO FARIAS CAMPISTA MÁRIO AZEVEDO


OAB/RJ 97.573 OAB/RJ 159.823

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