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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Processo originário: 0010831-74.2015.8.19.0003

FRANCISCO CLAUDIO DOS REIS, brasileiro, casado,


auxiliar de serviços gerais, portador do RG n.° 05987099-8
IFP/RJ e ó F do CPF n.° 167.442.923-15, residente e
domiciliado na Avenida São Jose, n.° 1216, Bairro Parque
Belém, Angra dos Reis/RJ e MARIA CLEIDE REIS DOS
SANTOS, brasileira, casada, do lar, portadora do RG
n.°20627533-1 DETRAN/RJ e do CPF n.° 008.348.137-00,
residente e domiciliada na Avenida São Jose, n.° 1216,
Bairro Parque Belém, Angra dos Reis/RJ, vem à presença
de Vossa Excelência, por meio do seu Advogado, infra
assinado, ajuizar

AÇÃO RESCISÓRIA COM PEDIDO LIMINAR

Visando desconstituir Acórdão prolatado pelo Tribunal


Pleno, na Ação de Restituição de Deposito Judicial em face
do BANCO DO BRASIL S.A, pessoa jurídica de direito
privado, sociedade anônima aberta de economia mista,
inscrita no CNPJ sob o nº 00.000.000/0001-91, com sede
no Setor De Autarquias Norte, S/N, Quadra 05, CEP
70.040-250, Brasília – DF, pelos motivos e fatos que passa
a expor.

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DO CABIMENTO DA RESCISÓRIA

Nos termos do art. 966 do Código de Processo Civil, a ação


rescisória é cabível em face de qualquer decisão transitada em julgado,
uma vez que o NCPC ao inovar a redação, excluiu a exclusividade do cabimento
deste tipo de rescisão somente às sentenças, in verbis:

A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida


quando:

I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação,


concussão ou corrupção do juiz;

II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente


incompetente;

III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em


detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão
entre as partes, a fim de fraudar a lei;

IV - ofender a coisa julgada;

V - violar manifestamente norma jurídica;

VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em


processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação
rescisória;

VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado,


prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer
uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento
favorável;

VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos


autos.

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Assim, diante de prova inequívoca de que a decisão foi fundada em
erro de fato e viola manifestamente norma jurídica, requer a desconstituição da
coisa julgada e o rejulgamento da causa, correspondendo ao juízo rescissorium.

DA TEMPESTIVIDADE

Considerando tratar-se de decisão transitada em julgado em 21 de


junho de 2022, ou seja, dentro do prazo de 2 anos previstos no Art. 975 do CPC.

DOS FATOS

A ação originária visou a restituição de deposito judicial de quinhão


de herança, obtendo como sentença:

Decisão:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


RESTITUIÇÃO DE DEPÓSITO BANCÁRIO. DEPÓSITO
REALIZADO NO ANO DE 1964. Sentença de extinção do
processo, com resolução do mérito, com fundamento na
prescrição, com fulcro no art. 487, II do CPC. Apelação da parte
autora. Depósito efetuado em 1964 e ação proposta em 2015.
Depósito sem movimentação por mais de 50 anos. Beneficiários
do depósito identificados por outros nomes, havendo
divergência quanto ao patronímico. Ainda que acolhida a tese
autoral de que houve mero erro de digitação, admitindo-se,
portanto, a titularidade do depósito, verificase que a pretensão
autoral se encontra fulminada pela prescrição. Ainda que se
considere a inocorrência de prescrição contra o incapaz,
verifica-se que os autores completaram a maioridade em 1980 e
1981, respectivamente. restando superado, há muito, o prazo
vintenário previsto para as ações pessoais (art. 177 do Código
Civil de 1916). O decurso de mais de 34 anos da maioridade dos
autores enseja o reconhecimento da prescrição da pretensão
autoral. Aplicação do art. 1º da Lei n. 2.313/1954, que prevê a
extinção dos contratos de depósitos se superado o prazo de 25
anos sem renovação. Depósito bancários considerado
abandonado, conforme preceitua o art. 1º da Lei n. 370/1937.

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Sentença mantida. DESPROVIMENTO DO RECURSO.
(APELAÇÃO CÍVEL nº 0010831-74.2015.8.19.0003
APELANTE: FRANCISCO CLAUDIO DOS REIS e MARIA
CLEIDE REIS DOS SANTOS APELADO: BANCO DO
BRASIL S/A RELATORA: DES. SÔNIA DE FÁTIMA DIAS
COMARCA DE ANGRA DOS REIS - 2ª VARA CÍVEL).

Data do trânsito em julgado: 21 de junho de 2022.

Ocorre que para tal conclusão, não há que se falar de que o direito à
restituição está atingido pela prescrição e/ou decadência, pelo transcurso do
prazo de mais de trinta anos ou qualquer outro prazo que possa ser invocado,
na medida em que imprescritível o direito de restituição do depósito judicial
(decorrente de lei) e ainda, a prescrição somente começa a correr após a
extinção do contrato, o que não ocorre no caso em tela, pois a contratação
permaneceu em vigor mesmo depois de atingida a maioridade dos autores,
razão pela qual se fundamenta a presente ação rescisória.

Os valores referentes à herança não foram sacados! Os valores


sumiram, assim como aconteceu com outras diversas pessoas em ações
semelhantes e outras idênticas, como, por exemplo, os autos nº 0017641-
25.2017.8.190026.

DO DIREITO

A Ação Rescisória se trata de medida excepcional, pois deve primar


pela preservação da coisa julgada, sendo cabível somente diante de vícios
gravíssimos previstos no rol taxativo da lei (art. 966 CPC), como ocorre no
presente caso, vejamos:

DA VIOLAÇÃO DA NORMA JURÍDICA

Trata-se de erro material consubstanciado na imprescritibilidade do


direito de restituição dos valores depositados por ordem judicial referente a
quinhão de herança.

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Nesse sentido, vejamos decisão do STJ em caso análogo:

Informativo advindo do STJ/SUPERIOR TRIBUNAL DE


JUSTIÇA –, tem como sendo “imprescritíveis” os depósitos da
Caderneta de Poupança com a sua base na Lei n° 2.313/1954;
assim, não se justificando a “desculpa” do Banco de que, após
10 anos, não teria mais que restituir tais depósitos. “Depósito em
caderneta de poupança. Lei n° 2.313/54. O § 1° do art. 2° da Lei
n° 2.313/54 excepciona do prazo previsto no caput para
recolhimento ao Tesouro os depósitos populares, com o que não
se pode falar em prescrição para afastar o direito dos titulares ou
de seus sucessores de postular o respectivo levantamento.
Recurso especial não conhecido.” (o Resp. n° 686.438/RS).

Destarte, ainda que transcorridos mais de 50 anos desde a data do


depósito, não se pode falar em prescrição ou decadência, as quais somente
teriam seu termo inicial a partir da extinção do contrato de depósito, fato esse
que não ocorreu, pois segundo ofício anexo do próprio Banco, esse afirma que
o dinheiro sumiu devido à mudança dos planos econômicos.

Desse modo, diante da informação do Banco de que não há nenhum


deposito tanto no nome dos Autores, quanto de sua genitora e existem provas
juntadas aos autos de que houve o deposito e esse esta em poder do Banco
Réu, somente com a determinação judicial para levantamento dos depósitos
ter-se-ia termo inicial para fins de contagem do prazo prescricional.

Não poderá o Banco do Brasil alegar a inexistência do depósito e


nem tampouco a ocorrência de prescrição, pois esta é afastada pelos seguintes
fundamentos:

a) segundo o art. 2º, § 1º, da Lei n. 2.313/54, que constitui lex


speciali em relação ao Código Civil Brasileiro, até mesmo os
depósitos populares são imprescritíveis; têm natureza
imprescritível, devendo incidir tal dispositivo legal à espécie por
ser norma de caráter especial em relação ao Código Civil;

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b) não havendo o Poder Judiciário depositante determinado o
levantamento do depósito, que é o substrato jurídico do vínculo
entre a instituição financeira e esse Poder, ausente a pretensão,
assim, de iniciar-se a fluência de qualquer prazo prescricional.

A propósito, em casos iguais/semelhantes, obtiveram as seguintes


decisões:

AÇÃO ORDINÁRIA DE RESTITUIÇÃO DE DEPÓSITO


JUDICIAL EM ESTABELECIMENTO BANCÁRIO LEVADO
A EFEITO HÁ MAIS DE VINTE (20) ANOS. PRESCRIÇÃO.
Inocorrência, em face da natureza jurídica do depósito bancário,
devendo o depositário prestar contas de seu valor e rendimento,
mormente quando não comprovada a extinção da relação
contratual. PRESCRIÇÃO DO ACRÉSCIMO DE JUROS E
CORREÇÃO MONETÁRIA. DESCABIMENTO.
INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO. INOCORRÊNCIA.
INCIDÊNCIA DE CORREÇÃO MONETÁRIA,
CAPITALIZAÇÃO E JUROS REMUNERATÓRIOS.
POSSIBILIDADE. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível
Nº 70012983524, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: José Aquino Flores de Camargo, Julgado em
23/11/2005).

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE DEPOSITO JUDICIAL.


PRESCRIÇÃO E ABANDONO. CORREÇÃO MONETÁRIA.
EXISTENTE A RELAÇÃO CONTRATUAL DE DEPOSITO
BANCÁRIO, SEM TER OCORRIDO SUA RESCISÃO OU
EXTINÇÃO, NÃO HÁ FALAR EM PRESCRIÇÃO. NÃO
CONFIGURADO LAPSO TEMPORAL PREVISTO EM LEI
QUE CONFIGURE A EXTINÇÃO DO CONTRATO "SUB
JUDICE" POR ABANDONO DA QUANTIA DEPOSITADA.
APLICÁVEL O SALÁRIO MÍNIMO PARA ATUALIZAÇÃO
MONETÁRIA AO TEMPO EM QUE INEXISTIAM ÍNDICES
OFICIAIS PARA ESTA FINALIDADE. APELO
DESPROVIDO. (5FLS.) (Apelação Cível Nº 70001291319,
Primeira Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Alexandre Mussoi Moreira, Julgado em 14/09/2000).

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Portanto, não há prescrição em quaisquer de suas modalidades,
conforme acima explanado, devendo o banco Réu, restituir a quantia
depositada atualizada, com juros e correção monetária desde a época do
aludido depósito até os dias de hoje.

DO ERRO DE FATO

No presente caso a decisão pautou-se em falsa premissa fática ao


considerar o deposito como comum, uma vez que se trata de deposito
realizado por ordem judicial, no interesse de menor de idade.

A instituição Financeira, ao aceitar o depósito judicial está vinculada


às normas administrativas do Poder Judiciário, que disciplinam essas contas. O
depósito judicial existe como meio para a efetivação da tutela jurisdicional, a
fim de que o processo realize a função social de proporcionar, tanto quanto
possível, tudo o que a parte espera conseguir pela realização do direito.

Verifica-se pela leitura da Certidão do Ato Notarial e pela Cédula


de Deposito em anexo que o deposito se deu por Ordem Judicial.

Dispõe o § 1º do artigo 2º da Lei nº 2.313, de 3 de setembro de 1954,


que os créditos dos depósitos populares de poupança, que se encontrarem em
estabelecimentos bancários, comerciais, industriais e nas Caixas Econômicas, são
imprescritíveis, para se reclamar sobre os seus prejuízos, e na espécie não se
subsume na previsão do invocado art. 178, § 10, nº III, do Código Civil.

Quando as partes comparecem a Juízo e promovem depósitos nos


processos para solver uma obrigação, o fazem à ordem do Juízo do feito. Estes
são feitos mediante regras estabelecidas nos Convênios que são feitos entre o
Tribunal e os bancos autorizados, ou através de lei que discipline o depósito
judicial. O depositário não tem posse, que é relação apreciável do Direito
privado, mas sim poder público sobre a coisa, derivado do seu dever de detê-la
e de prestar contas sob pena de ser considerado depositário infiel.

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Não podem ser desprezadas as disposições do art. 1.266, Código
Civil que disciplina que "O depositário é obrigado a ter na guarda e
conservação da coisa depositada o cuidado e diligência que costuma com o
que lhe pertence, bem como a restituí-la, com todos os frutos e acrescidos,
quando lhe exija o depositante".

Tais implementos, de obrigação geral, mais se impõem aos


administradores bancários, com a finalidade da preservação do dinheiro
depositado, conforme as suas específicas atividades negociais, objeto das
aplicações financeiras das quantias confiadas, enquanto depositadas.

Ora, ressalta mais uma vez que somente com a rescisão ou extinção
do contrato ter-se-ia termo inicial para fins de prescrição, o que não ocorre no
caso em tela, pois a contratação permaneceu em vigor mesmo após atingida a
maioridade dos autores, sem sofrer qualquer modificação.

Além disso, estamos diante de DEPÓSITO JUDICIAL e não um


simples depósito em conta corrente ou poupança, portanto, inexiste
prescrição, pois, conforme acima dito, trata-se de depósito judicial, e esse,
é por tempo indeterminado.

O STJ tem precedente nesse sentido, em caso idêntico, assim


ementado:

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA.


DEPÓSITO JUDICIAL REALIZADO NO INTERESSE DE
MENORES. CONTA INATIVA DESDE 1944. 1. A falta de
prequestionamento em relação ao art. 6º, IV, do CPC, impede o
conhecimento do recurso especial. Incidência da súmula
211/STJ. 2. O depósito judicial não cria entre o depositante e o
depositário nenhum tipo de relação jurídica de caráter privado,
tratando-se, na realidade, de uma relação essencialmente
pública, já que é ato judicial e não contratual. Logo, o depósito
judicial não se confunde com os depósitos bancários comuns,
não estando submetidos ao mesmo regramento. 3. Não há falar,
portanto, em prescrição do direito de devolução da quantia

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depositada ou em prescrição dos juros, pois, o termo inicial da
prescrição, neste casos, é a extinção da relação jurídica, o que
não ocorreu na hipótese ora em análise. 4. O art. 1º da lei
6.205/75 entrou em vigor em 29 de abril de 1975, gerando
efeitos apenas para prestações posteriores a esta data, vedada a
sua aplicação retroativa, motivo pelo qual a utilização do salário
mínimo como fator de correção monetária para o período de
1944 a 1964, conforme fixado pelo Tribunal de origem, não
atenta contra a legislação vigente à época. 5. Na ausência de
índices de correção no período anterior a outubro de 1964, a fim
de que não se configure o enriquecimento sem causa por parte
do Banco, admiti-se a utilização do saláriomínimo como
instrumento de atualização, tendo em vista o caráter oficial de
sua estipulação. 6. É devida a restituição do depósito judicial
efetuado em 1944, acrescida de correção monetária, utilizando-
se como índice de correção, para o período de 1944 à 1964, o
salário mínimo. 7. Recurso especial não conhecido.” (Resp nº
579.500/MG, 4ª Turma do STJ, Min. Luis Felipe Salomão, 03-
09-2009).

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS.


AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE DEPÓSITO JUDICIAL.
CARÊNCIA DE AÇÃO. INTERESSE DE AGIR.
PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. NATUREZA JURÍDICA
DO DEPÓSITO JUDICIAL. CORREÇÃO MONETÁRIA.
Inexiste cerceamento de defesa se a parte requerida poderia ter
juntado os documentos e em face de cuja reclamação houvera,
anteriormente a desconstituição da sentença. Há prova do
depósito, realizado por ordem judicial em inventário, e o Banco
não comprova saque ou extinção da conta. Por isso, não flui o
prazo prescricional. O valor deve ser restituído com correção
monetária e os juros remuneratórios contratados, além dos juros
moratórios a partir da citação. PRELIMINAR REJEITADA.
APELO IMPROVIDO.APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA
SEGUNDA CÂMARA CÍVEL Nº 70060837622 (N° CNJ:
0276325-37.2014.8.21.7000) COMARCA DE MARAU
BANCO DO BRASIL S.A. APELANTE LEDA REBECHI DE
MARCO E OUTROS.

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A Terceira Turma do STJ já enfrentou questão bastante assemelhada
à presente, no julgamento do Resp. nº 283.320/RS, relator o Ministro Ari
Pargendler, DJ de 04/12/2000, JBCC vol.:00187 pg:00089, RJADCOAS vol.:00016
pg:00022, RSTJ vol.:00139 pg:00311, assim ementado:

“COMERCIAL. DEPÓSITO BANCÁRIO, REALIZADO POR


ORDEM JUDICIAL, NO INTERESSE DE HERDEIRO
MENOR DE IDADE. CORREÇÃO MONETÁRIA. O depósito
bancário, realizado por ordem judicial, no interesse de herdeiro
menor de idade, deve, alcançada a maioridade deste ser
devolvido com correção monetária, ainda que essa cláusula não
tenha sido explicitada pelo juiz. Recurso especial não
conhecido.”

Ademais, o depositário judicial deve, assim como ocorre no depósito


convencional, zelar para que o bem não se deprecie.

Portanto, tratando-se de violação a norma jurídica e julgamento sob


erro de fato que conduziu à conclusão exposta na decisão, tem-se por
necessária a sua revisão.

DA INVERSÃO DO ONUS DA PROVA

Conforme documento em anexo, restou especificado a quantia a ser


depositada, o motivo pelo qual seria depositado aquele valor e ainda, consta
dos documentos apresentados o extrato bancário da evolução do rendimento
do valor depositado.

Documentos esses não impugnados em momento algum pelo


réu, o que pressupõe sua veracidade. Ora, o simples fato de “não encontrar”
em seu banco de dados os valores, não quer dizer que não exista.

No presente caso, no que tange a inversão do ônus probante, medi-


ante a apresentação do depósito judicial e ainda do extrato bancário, no qual
está carimbado e assinado que receberam a quantia a ser depositada em conta
judicial, cabe ao Réu provar que o valor foi levantando no decorrer dos anos,
fato esse que restou infrutífero.

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Sendo assim, conforme preceitua o art. 373, I, restou provado os fa-
tos constitutivos do direito do autor, e, em contrapartida, não logrou êxito o réu
ao provar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor.

DA JUSTIÇA GRATUITA

Os Autores são beneficiários da Justiça Gratuita no processo


originário e a condição não mudou, possuindo a mesma inviabilidade de
pagamento das custas judiciais, conforme prevê a redação do Art. 99 Código de
Processo Civil de 2015.

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser


formulado na petição inicial, na contestação, na petição
para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.

§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na


instância, o pedido poderá ser formulado por petição
simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá
seu curso.

§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver


nos autos elementos que evidenciem a falta dos
pressupostos legais para a concessão de gratuidade,
devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a
comprovação do preenchimento dos referidos
pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência


deduzida exclusivamente por pessoa natural.

Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz jus
os Requerentes ao benefício da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE SEGURANÇA

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- JUSTIÇA GRATUITA - Assistência Judiciária indeferida -
Inexistência de elementos nos autos a indicar que o
impetrante tem condições de suportar o pagamento
das custas e despesas processuais sem comprometer o
sustento próprio e familiar, presumindo-se como
verdadeira a afirmação de hipossuficiência formulada
nos autos principais - Decisão reformada - Recurso
provido. (TJSP; Agravo de Instrumento 2083920-
71.2019.8.26.0000; Relator (a): Maria Laura Tavares; Órgão
Julgador: 5ª Câmara de Direito Público; Foro Central -
Fazenda Pública/Acidentes - 6ª Vara de Fazenda Pública;
Data do Julgamento: 23/05/2019; Data de Registro:
23/05/2019

Cabe destacar que a lei não exige atestada miserabilidade dos


Autores, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas,
despesas processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme
destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de


necessidade, nem tampouco se fala em renda familiar ou
faturamento máximos. É possível que uma pessoa natural,
mesmo com bom renda mensal, seja merecedora do
benefício, e que também o seja aquela sujeito que é
proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez.
A gratuidade judiciária é um dos mecanismos de
viabilização do acesso à justiça; não se pode exigir que,
para ter acesso à justiça, o sujeito tenha que
comprometer significativamente sua renda, ou tenha
que se desfazer de seus bens, liquidando-os para
angariar recursos e custear o processo." (DIDIER JR.
Fredie. OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Benefício da Justiça
Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. p. 60)

"Requisitos da Gratuidade da Justiça. Não é necessário

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que a parte seja pobre ou necessitada para que possa
beneficiar-se da gratuidade da justiça. Basta que não
tenha recursos suficientes para pagar as custas, as
despesas e os honorários do processo. Mesmo que a
pessoa tenha patrimônio suficiente, se estes bens não têm
liquidez para adimplir com essas despesas, há direito à
gratuidade." (MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART,
Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo
Civil comentado. 3ª ed. Revista dos Tribunais, 2017. Vers.
ebook. Art. 98)

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição


Federal e pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça ao
requerente.

DA GRATUIDADE DOS EMOLUMENTOS

O artigo 5º, incs. XXXIV e XXXV da Constituição Federal assegura a


todos o direito de acesso à justiça em defesa de seus direitos, independente
do pagamento de taxas, e prevê expressamente ainda que a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

Ao regulamentar tal dispositivo constitucional, o Código de Processo


Civil prevê:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou


estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma
da lei.

§ 1º A gratuidade da justiça compreende: (...)

IX - os emolumentos devidos a notários ou

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registradores em decorrência da prática de registro,
averbação ou qualquer outro ato notarial necessário à
efetivação de decisão judicial ou à continuidade de
processo judicial no qual o benefício tenha sido
concedido.

Portanto, devida a gratuidade em relação aos emolumentos


extrajudiciais exigidos pelo Cartório. Nesse sentido são os precedentes sobre o
tema:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. BENEFICIÁRIO DA


AJG. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. REMESSA À CONTADORIA
JUDICIAL PARA CONFECÇÃO DE CÁLCULOS. DIREITO DO
BENEFICIÁRIO INDEPENDENTEMENTE DA
COMPLEXIDADE. 1. Esta Corte consolidou jurisprudência
no sentido de que o beneficiário da assistência judiciária
gratuita tem direito à elaboração de cálculos pela
Contadoria Judicial, independentemente de sua
complexidade. Precedentes. 2. Recurso especial a que se
dá provimento. (STJ - REsp 1725731/RS, Rel. Ministro OG
FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/11/2019,
DJe 07/11/2019, #93784221)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


EMOLUMENTOS DE CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL.
ABRANGÊNCIA. Ação de usucapião. Decisão que indeferiu
o pedido de isenção dos emolumentos, taxas e impostos
devidos para concretização da transferência de
propriedade do imóvel objeto da ação à autora, que é
beneficiária da gratuidade da justiça. Benefício que se
estende aos emolumentos devidos em razão de
registro ou averbação de ato notarial necessário à
efetivação de decisão judicial (art. 98, § 1º, IX, do CPC).
(...). Decisão reformada em parte. AGRAVO

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PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSP; Agravo de Instrumento
2037762-55.2019.8.26.0000; Relator (a): Alexandre
Marcondes; Órgão Julgador: 3ª Câmara de Direito Privado;
Foro de Santos - 10ª Vara Cível; Data do Julgamento:
14/08/2014; Data de Registro: 22/03/2019)

Assim, por simples petição, uma vez que inexistente prova da


condição econômica dos Autores, requer o deferimento da gratuidade dos
emolumentos necessários para o deslinde do processo.

DO DEPÓSITO CAUÇÃO

Nos termos do Art. 968, § 1º do CPC/15, os Autores são beneficiários


da gratuidade de justiça na ação originaria.

DOS PEDIDOS

Isto posto, REQUER:

a) O deferimento do benefício da Gratuidade de Justiça, nos termos


do Art. 98 do CPC e a não realização do deposito caução tendo em
vista serem os autores beneficiários da justiça gratuita na ação
originaria;

b) O deferimento da tutela de urgência, para fins de suspender a


decisão que rejeitou/indeferiu o julgamento dos autos originários;

c) A citação do Requerido, para querendo, contestar a presente


demanda, nos termos do Art. 970 do CPC/15, sob pena de revelia;

d) O deferimento da produção de provas nos termos do Art 972 do


CPC, em especial o depoimento pessoal do genitor dos herdeiros
que ainda é vivo;

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e) A total procedência da presente ação, para, nos termos do Art.
968, inc. I, rescindir o acórdão nos autos 0010831-74.2015.8.19.0003,
com a desconstituição da coisa julgada que corresponde ao juízo
rescindes e o rejulgamento da causa, correspondendo ao juízo
rescissorium, para fins de RESTITUIR DEPOSITO BANCÁRIO
DECORRENTE DE ORDEM JUDICIAL EM INVENTARIO;

f) Informa-se que deixa de depositar a importância prevista no art.


968, inc. II, do CPC, em razão do que dispõe o §1º do mesmo
dispositivo;

g) Manifesta o interesse na realização de audiência conciliatória, nos


termos do Art. 319, inc. VII do CPC;

h) A condenação do Réu ao pagamento de honorários advocatícios


nos parâmetros do valor da condenação, conforme previstos no art.
85, §2º do CPC;

Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a titulo


meramente fiscais, haja vista a impossibilidade de precisar o valor atualizado do
deposito.

Nesses termos pede deferimento.

Rio de Janeiro, 31 de outubro de 2023.

Antonio José Ferreira Junior


Advogado – OAB/RJ 179703

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