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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA


CURSO DE DIREITO - 2 ANO

Acadêmica: Laisla C. G. Vorpagel


Docente: Dra. Prof. Elaine Cristina Francisco Volpato

Questões de estudo e fixação


1. Pedro celebra contrato de seguro, com cobertura para invalidez total e
permanente. Em 20 de outubro de 2008, é vítima de acidente. Fica
hospitalizado e passa por longo tratamento médico. Cientificado em 20 de
julho de 2010 de que é portador de incapacidade total e permanente,
formula pedido administrativo de pagamento da indenização securitária em
20 de novembro de 2010. A seguradora alega que não há cobertura e, em
20 de setembro de 2011, formaliza a recusa ao pagamento da indenização,
cientificando o segurado. Inconformado, Pedro propõe ação de cobrança
de indenização securitária em 20 de janeiro de 2012. Diante do caso, se
pergunta:
a. O direito de ação está prescrito, pois não houve causa de
interrupção? Justifique.
É preciso considerar a data do termo inicial, ou seja, para fins de prescrição quando
deve ser o marco do início. Para isso, a jurisprudência vem adotando a teoria da actio
nata com viés subjetivo. Isso quer dizer que termo inicial será contado do momento em
que a parte tenha conhecimento do ato ou fato do qual decorre o seu direito de exigir.
No caso em comento deve-se levar em consideração a data de 20/07/2010, quando foi
constatada sua incapacidade. À luz do Código Civil nas ações de segurado contra
seguradora esta prescreveria em um ano, contudo uma interpretação sistemática
entende que nos casos de indenização por erro médico ou falha na prestação de
serviço, que é o que se verifica in casu, deve se aplicar o contido no art. 27 do CDC c/c
a súmula 469 do STJ, em que o prazo prescricional é de 5 anos. Portanto, não
prescrito.

b. O prazo prescricional foi suspenso com a formulação do pedido


administrativo e voltou a fluir com a cientificação da recusa da
seguradora? Justifique.
Ao se observar a literalidade do código não haveria a suspensão. Contudo a
controvérsia no que tange os artigos 197 e 200 do CC serem ou não taxativos ainda é
latente. Sendo assim, como o caso não foi apreciado nos incisos do supramencionado
entende-se pela não suspensão.
c. Qual é o prazo para a propositura da ação na relação entre segurado
e seguradora? Justifique.

De acordo com a regra do art. 202, §1°, II é de um ano. Porém deve ser levado em
conta a jurisprudência dos tribunais superiores, já que estas entendem prazos
diferentes para certas situações, como no caso de: 10 anos em situações de
ressarcimento em caso de negativa de cobertura (RE 1176.320 STJ).

2. Não sendo proprietário de imóvel, Nelson passa a ocupar como seu, no


ano de 2005, imóvel localizado em área urbana de Brasília, com 450 metros
quadrados. Ali estabelece sua moradia habitual, tornando pública a posse.
O imóvel é de propriedade de Fábio, embaixador brasileiro em atividade na
Bélgica desde o ano 2000. Quando retorna ao Brasil no ano de 2008, Fábio
se aposenta e fixa residência em Santa Catarina. No ano de 2016, Nelson
propõe ação de usucapião contra Fábio. Considerando ser incontroverso
que Nelson exerce a posse, sem quaisquer vícios, diante do caso
responda:
a) A ação deve ser julgada improcedente, pois, embora a posse tenha sido
exercida com animus domini, de forma contínua e pacífica, faltou o
preenchimento do requisite temporal de 10 (dez) anos, em razão da
existência de causa impeditiva atinente à ausência de Fábio do país, o
que impediu a contagem do prazo da prescrição aquisitiva entre 2005 e
2008? Justifique
A Usucapião, também chamada de prescrição aquisitiva, é uma modalidade de
aquisição originária de um direito real: a propriedade, que é reconhecida em atenção à
posse mansa, pacífica e prolongada por certo intervalo de tempo. Ou seja, trata-se de
instituto que permite a estabilização da propriedade por meio da transformação de uma
situação fática e jurídica, consolidando-se o título em favor do possuidor (usucapiente).
De acordo com a regra do Código o termo inicial da prescrição aquisitiva é o do
exercício da posse ad usucapionem e não da ciência do titular do imóvel quanto a
eventual irregularidade da posse, devendo ser afastada a aplicação da teoria da actio
nata em seu viés subjetivo. Assim decidiu a 3ª turma do STJ, ao negar pedido
demarcatório de terras. No caso em tela trata-se de uma usucapião ordinária, com
prazo prescricional de dez anos. Ao se aplicar a regra do art. 198, II do CC verifica-se
que está estava suspensa durante o período em que Fábio esteve fora do país, já que
a serviço deste. Sendo assim, a partir de 2008 o prazo poderia retornar a contagem;
sendo que Nelson ingressou somente com a ação no ano de 2016, portanto oito anos
após Fábio já estar em solo brasileiro; não há que se falar em qualquer vício na
propositura da ação. Assim também entendeu a V Jornada de Direito Civil e
jurisprudência das cortes superiores “o prazo na ação de usucapião pode ser
completado no curso do processo, ressalvadas as hipóteses de má-fé processual do
autor”. (Enunciado 497 do CJF/SJT) ou seja, que a ação de Usucapião pode ser
proposta na proximidade do fim do prazo que reclama a lei e se consumar no decurso
do pleito.

b) A ação deve ser julgada procedente, pois foram preenchidos todos os


requisitos legais da usucapião extraordinária: posse com animus
domini por 10 (dez) anos (cf. arts. 1238, II e 1242, CC), já que Nelson
estabeleceu no imóvel sua moradia habitual, sem interrupção ou
oposição.
A proposição está correta, haja vista que a posse foi habitual, pública, sem indícios de
anterior litigio bem como os requisitos da posse “ad usucapionem”, qual seja, a
intenção de dono por aquele que ocupa exercida de forma mansa e pacífica, sem a
oposição do proprietário do bem, e, sobretudo, a posse contínua e duradoura.

3. O juiz pode, de ofício, reconhecer a decadência legal e a decadência


convencional? Explique diferenciando-as.

A decadência legal é aquela que decorre de lei, ou seja, com previsão expressa. Já a
decadência convencional decorre de uma vontade e poder ser firmada pelas partes em
conjunto (nos casos de acordo de calendário processual, por exemplo) ou de forma
unilateral (quando o juiz determinar). Outra diferença entre elas é que a decadência
legal não pode ser renunciada pelas partes, mas pode ser reconhecida de ofício pelo
juiz; ao passo que a decadência convencional não, já que esta ultima não envolve
interesse público, logo reclama uma provocação por parte do interessado.

4. Ainda não é possível o juiz conhecer de ofício da prescrição, muito embora


a jurisprudência nacional já acolha em certos casos esta possibilidade.
Julgue a verdade desta afirmação.

Tradicionalmente, no direito brasileiro, era pacífico o entendimento de que o juiz não


poderia declarar a prescrição da pretensão de ofício quando a parte beneficiada em
virtude da ocorrência da prescrição não a alegasse, na exata expressão do artigo 194
do Código Civil brasileiro de 2002 (Art. 194. O juiz não pode suprir, de ofício, a
alegação de prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapaz).

Contudo, este entendimento foi modificado radicalmente, seguindo a tendência de


maior atuação do juiz no processo judicial, esta mudança ocorreu através da Lei
11.280/2006, que revogou o artigo 194 supramencionado ao estabelecer que ‘’ o juiz
pronunciará, de ofício, a prescrição”. Segundo o jurista Paulo Lôbo ‘’ a prescrição
deixou de ser direito individual e converteu-se em dever de natureza pública; deixou de
ser exceção de direito material, de meio de defesa, como era de sua natureza. Nesta
hipótese, como não é exercida pela parte a quem aproveita, deixa de ser exceção para
se converter em objeção substancial.’’
Portanto, esta afirmação seria verdadeira anteriormente a data de início da vigência da
Lei 11.280 de 2006.
5. No tocante à prescrição, pode-se dizer com acerto que:
a. Seu prazo em curso pode ser aumentado ou diminuído por lei
posterior, ou por ato volitivo das partes?
Os prazos de prescrição são definidos por lei, cuja revogação só ocorre mediante
publicação de lei revogadora diversa, a lei que determina o prazo prescricional é aquele
vigente na ocasião do fato gerador. Quanto a admissibilidade de ato volitivo das partes
para aumento ou diminuição do prazo prescricional previsto em lei, o Código Civil de
2002 proíbe fazê-lo, considerando-se para todos os fins nula a cláusula que modifica o
prazo prescritivo.

b. A morte do credor suspende o prazo de prescrição em favor dos


seus sucessores até a abertura do inventário ou arrolamento?
O curso da prescrição, isto é, da formação do prazo prescritivo, não se interrompe com
a morte do titular da pretensão. O prazo continua a fluir contra seus sucessores, se
estes não exercerem a pretensão.

c. Não corre a prescrição na pendência de ação de evicção? Justifique.


Nos termos do artigo 198 do CC ‘’ Art. 198. Também não corre a prescrição: III -
pendendo ação de evicção.’’ Isto é, não ocorre a prescrição se pender ação de evicção,
suspende-se a prescrição em andamento; somente depois de ela ter sido
definitivamente decidida, resolvendo-se o destino da coisa evicta, o prazo prescritivo
volta a correr.

d. O pagamento de dívida prescrita por tutor de menor absolutamente


incapaz comporta repetição do indébito?

Quando credor não cobra a dívida no prazo de dez anos e sua pretensão é alcançada
pela prescrição; se o devedor, após esse prazo, pagar a dívida ao credor, não poderá
pedir de volta o que pagou alegando a prescrição, pois não houve extinção do direito
do credor nem da correspondente dívida. Ainda, vale ressaltar que nos termos do artigo
198, inciso I, não ocorre prescrição contra absolutamente incapazes.

e. A prescrição pode ser objeto de renúncia expressa se previamente


convencionada pelas partes?
O ordenamento jurídico veda a renúncia antecipada, a renúncia dá-se quando
consumada a prescrição, em regra, mediante documento escrito, em juízo ou
extrajudicialmente.

6. O abuso de direito acarreta:


a. Apenas a ineficácia dos atos praticados e considerados abusivos
pela parte prejudicada, independentemente de decisão judicial?
Explique.
b. A indenização a favor daquele que sofrer prejuízo em razão dele,
com qual prazo prescricional?
c. As consequências jurídicas, indenizatórias, apenas são decorrentes
da coação, ou de negócio fraudulento ou simulado, não sendo
medida adequada para se “curar” hipóteses de abuso de direito.
d. Somente existe a ineficácia dos atos praticados se considerados
abusivos pelo juiz.
e. A indenização apenas é devida em hipóteses previstas
expressamente em lei, o que não ocorrem em caso de atos abusivos.

Alternativa B está correta. O abuso de direito acarreta a indenização a favor daquele


que sofrer prejuízo em razão dele, o prazo geral de prescrição é de dez anos. É o
prazo preclusivo supletivo. Quando a lei determinar que a inércia no exercício do direito
gere prescrição, mas não determinar qual o prazo, remete-se para o geral, de dez
anos. A alternativa ‘’a’’ também é incorreta pois não gerará apenas ineficácia do ato
abusivo praticado, o abuso também poderá ser objeto de ação judicial de indenização,
e dependerá de decisão judicia

7. Pedro, engenheiro elétrico, mora na cidade do Rio de Janeiro e trabalha na


Concessionária Iluminação S.A. Ele é viúvo e pai de Bruno, de sete anos de
idade, que estuda no colégio particular Amarelinho. Há três meses, Pedro
celebrou contrato de financiamento para aquisição de um veículo
importado, o que comprometeu bastante seu orçamento e, a partir de
então, deixou de arcar com o pagamento das mensalidades escolares de
Bruno. Por razões de trabalho, Pedro será transferido para uma cidade
serrana, no interior do Estado e solicitou ao estabelecimento de ensino o
histórico escolar de seu filho, a fim de transferi-lo para outra escola.
Contudo, teve seu pedido negado pelo Colégio Amarelinho, sendo a
negativa justificada pelo colégio como consequência da sua inadimplência
com o pagamento das mensalidades escolares. Para surpresa de Pedro, na
mesma semana da negativa, é informado pela diretora do Colégio
Amarelinho que seu filho não mais participaria das atividades recreativas
diuturnas do colégio, enquanto Pedro não quitar o débito das
mensalidades vencidas e não pagas. Com base no caso narrado,
responda:

a. O Colégio Amarelinho realmente atua no exercício regular do seu


direito de cobrança e, portanto, não age com abuso de direito ao
reter o histórico escolar de Bruno, haja vista a comprovada e
imotivada inadimplência de Pedro?
Não, a retenção do histórico do filho de Pedro fere o direito constitucional a educação.
Portanto, aplica-se os art. 186 do Código Civil, o qual dispõe que aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Ademais a LEI N° 9.870,
DE 23 DE NOVEMBRO DE 1999 traz: Art. 6º São proibidas a suspensão de provas
escolares, a retenção de documentos escolares ou a aplicação de quaisquer outras
penalidades pedagógicas por motivo de inadimplemento, sujeitando-se o contratante,
no que couber, às sanções legais e administrativas, compatíveis com o Código de
Defesa do Consumidor art 42, e com os arts. 177 e 1.092 do Código Civil Brasileiro,
caso a inadimplência perdure por mais de noventa dias.

b. As condutas adotadas pelo Colégio Amarelinho configuram abuso


de direito, pois são eticamente reprováveis, mesmo que não
configurem atos ilícitos indenizáveis?

Sim, conforme art. 187 do código civil também comete ato ilícito o titular de um direito
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico
ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

c. Será que tanto a retenção do histórico escolar de Bruno, quanto a


negativa de participação do aluno nas atividades recreativas do
colégio, configuram atos ilícitos objetivos e abusivos, independente
da necessidade de provar a intenção dolosa ou culposa na conduta
adotada pela diretora do Colégio Amarelinho
Sim, pois conforme disposto no art. 186, aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito, ou seja, independente de intenção dolosa ou
culposa, o ato se torna abusivo.
8. Entre as preferências e privilégios dos credores, o privilégio geral só
compreende os bens sujeitos ao pagamento do crédito que ele favorece; e
o especial, todos os bens não sujeitos ao crédito real nem a privilégio
geral? Justifique.

Conforme o art 963 do Código Civil, “O privilégio especial só compreende os bens


sujeitos, por expressa disposição de lei, ao pagamento do crédito que ele favorece, e, o
geral, todos os bens não sujeitos a crédito real, nem a privilégio especial”. Nesta linha,
explico: o privilégio especial refere-se aos bens que são usados como garantia de
pagamento de um determinado crédito. Isso significa que certos bens são atribuídos a
um status especial, sendo reservados para o pagamento prioritário de determinadas
dívidas, conforme definição presente no art. 964 do Código Civil. Já os privilégios
gerais englobam todos os bens que não estão sujeitos a nenhum tipo de privilégio
especial ou garantia real,são os bens que ficam disponíveis para o pagamento de
qualquer tipo de crédito (art.965 do CC). Em resumo, enquanto o privilégio especial
recai sobre um determinado bem, o geral atinge todo o patrimônio do devedor, mas
ambos não prescindem de expressa disposição da lei, não admitindo a criação de
privilégios creditórios por convenção das partes. Ademais, os dois (especial e geral)
não atribuem ao credor o direito de sequela, mas apenas o de preferência, que só
poderá ser exercida enquanto os bens permanecem no patrimônio do devedor e só
serão atingidos pelo privilégio os bens não sujeitos a crédito real.

9. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; da


mesma maneira, a interrupção da prescrição produzida contra o principal
devedor não prejudica o fiador? Justifique.

Não. O Código Civil, em seu art. 204, caput, prevê, como regra, o caráter pessoal do
ato interruptivo da prescrição, haja vista que somente aproveitará a quem o promover
ou prejudicará aquele contra quem for dirigido. Em geral o artigo dispõe sobre o
alcance da interrupção da prescrição, segundo a natureza da relação que une os
credores ou os devedores, sob o aspecto da solidariedade ativa ou solidariedade
passiva.
No que se refere ao principal devedor, o fiador e a prescrição, o § 3º , do art. 204 CC,
dispõe, expressamente, que a interrupção produzida contra o principal devedor
prejudica o fiador. O fiador é arrastado para a mesma arena adversa onde se
encontra o devedor principal da obrigação, atingido pela causa de interrupção da
prescrição, mesmo que o beneficiário ou interessado pelo cessamento da interrupção
deixe de provocá-lo. Portanto, devedor e fiador são, simultaneamente, atingidos pelos
efeitos da interrupção da prescrição.

10. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do


negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, sendo-lhe
permitido supri-las de ofício ou a requerimento das partes? Justifique.

Conforme dispõe o § único do art. 168 do CC “As nulidades devem ser pronunciadas
pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar
provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes”.
A nulidade absoluta é questão de ordem pública, os negócios jurídicos absolutamente
nulos não afrontam apenas os interesses das partes contratantes, toda a ordem jurídica
e social seria atingida se houvesse qualquer tipo de conivência ou cumplicidade do
poder judiciário com sua realização. Por essa razão as nulidades absolutas podem ser
alegadas por qualquer interessado ou pelo próprio Ministério Público quando lhe
couber intervir. Podem ainda as nulidades absolutas serem declaradas pelo juiz
independentemente de qualquer provocação (ex officio) das partes, interessados do
Ministério Público, desde que, contudo, seja provocado a conhecer do negócio jurídico
ou de seus efeitos e a nulidade se encontrar provada. Além disso, com a declaração de
nulidade dos negócios jurídicos nulos, pouco importa a vontade das partes de
eventualmente preservar sua validade, sendo vedado ao juiz suprir a nulidade mesmo
que haja requerimento das partes.

11. Segundo o Código Civil, a invalidade do instrumento induz a do negócio


jurídico mesmo que este possa ser provado por outro meio? Justifique.

Não. O Art. 183 do CC dispõe “A invalidade do instrumento não induz a do negócio


jurídico sempre que este puder provar-se por outro meio”. Explico: o negócio jurídico
não pode ser confundido com o instrumento negocial, enquanto o negócio jurídico é a
declaração de vontade que produz os efeitos desejados pelo agente, o instrumento
negocial consiste em uma das formas de manifestação exterior das declarações de
vontade. Na nulidade, a inoperância do instrumento não implicará a do ato; se este se
puder provar por outros modos, o negócio continuará eficaz. Se, porém, o instrumento
for essencial à constituição e à prova do ato negocial, com a sua nulidade ter-se-á a do
negócio. Por exemplo, se inválido for o instrumento que constituir uma hipoteca,
inválida será esta, uma vez que não poderá substituir sem o referido instrumento, nem
por outra maneira ser provada.

12. João, credor quirografário de Marcos em R$ 150.000,00, ingressou com


Ação Pauliana, com a finalidade de anular ato praticado por Marcos, que o
reduziu à insolvência. João alega que Marcos transmitiu gratuitamente
para seu filho, por contrato de doação, propriedade rural avaliada em R$
200.000,00. Considerando a hipótese acima, responda:
a. Caso o pedido da Ação Pauliana seja julgado procedente e seja
anulado o contrato de doação, o benefício da anulação aproveitará
somente a João, cabendo aos demais credores, caso existam,
ingressarem com ação individual própria.

A afirmativa está incorreta, pois a anulação do ato faz com que o bem retorne ao patrimônio do
devedor, protegendo todos os credores deste, não só quem ajuizou a Ação Pauliana. De
acordo com o artigo 165 do Código Civil, anulados os negócios fraudulentos, a vantagem
resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores.

b. O caso narrado traz hipótese de fraude de execução, que constitui


defeito no negócio jurídico por vício de consentimento?

A afirmativa está incorreta, pois se trata de fraude a credores, não de fraude a


execução. Para que haja fraude a execução há necessidade de que se tenha um
processo de execução em andamento, o que não ocorre no fato exposto.
13. No caso do problema anterior (n. 12), o que ocorreria na hipótese de João
receber de Marcos, já insolvente, o pagamento da dívida ainda não
vencida, ficará João obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se
tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu por qual
motivo jurídico?

De acordo com o exposto no artigo 162 do Código Civil, o credor quirografário, que
receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará
obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores, aquilo que recebeu.

14. João tem o prazo prescricional de dois anos para pleitear a anulação do
negócio jurídico fraudulento, contado do dia em que tomar conhecimento
da doação feita por Marcos? Considerando os fatos narrados no caso 12.

A afirmativa está incorreta. Nos termos do artigo 178 do Código Civil, é de quatro anos
o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que
se realizou o negócio jurídico;

15. Nas hipóteses de lesão previstas no Código Civil, pode o lesionado optar
por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo,
pretensão com vista à revisão judicial do negócio por meio da redução do
proveito do lesionador ou do complemento do preço, em que prazo
decadencial?

Conforme art. 157 §2° do Código Civil, não se decretará a anulação do negócio, se for
oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do
proveito. Contudo, o prazo decadencial para este ato, segundo art. 178, II, será de 4
anos a partir da celebração do contrato. Pois, aplica-se nessa situação o mesmo prazo
para a anulação do negócio jurídico por lesão.

16. A simulação é uma causa de anulabilidade do negócio jurídico, que pode


ser alegada por uma das partes contra a outra e, em sendo a simulação
inocente, o negócio jurídico dissimulado poderá ser válido, em qual prazo
prescricional?
Em casos em que ocorra o negócio jurídico simulado e essa simulação seja inocente, o
negócio jurídico dissimulado pode ser válido no prazo prescricional de dez anos,
quando a lei não lhe haja fixado prazo menor, segundo art.205 do código civil.
17. A anterioridade do crédito que permite que o credor pleiteie a anulação do
ato jurídico cujo objetivo seria praticar fraude contra credores decorre de
haver sido reconhecido judicialmente tal crédito, ao tempo do ato tido
como fraudulento. Em qual prazo? Qual a natureza deste prazo?
O prazo decadencial para a alegação de fraude contra credores é de 4 anos, conforme
art. 178 do código civil

18. João, único herdeiro de seu avô Leonardo, recebeu, por ocasião da
abertura da sucessão deste último, todos os seus bens, inclusive uma
casa repleta de antiguidades. Necessitando de dinheiro para quitar suas
dívidas, uma das primeiras providências de João foi alienar uma pintura
antiga que sempre estivera exposta na sala da casa, por um valor módico,
ao primeiro comprador que encontrou. João, semanas depois, leu nos
jornais a notícia de que reaparecera no mercado de arte uma pintura
valiosíssima de um célebre artista plástico. Sua surpresa foi enorme ao
descobrir que se tratava da pintura que ele alienara, com valor milhares de
vezes maior do que o por ela cobrado. Por isso, pretende pleitear a
invalidação da alienação. A respeito do caso narrado, responda:
a. O negócio jurídico de alienação da pintura celebrado por João está
viciado por lesão e chegou a produzir seus efeitos regulares, no
momento de sua celebração. Justifique.

Conforme discorre o art. 157 do Código Civil: “ocorre a lesão quando uma pessoa, sob
premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente
desproporcional ao valor da prestação oposta”. Assim, percebe-se que o negócio
jurídico celebrado está viciado por lesão, visto que pela necessidade de pagar suas
contas, João acabou vendendo o quadro por preço inferior ao que valia.

b. O direito de João a obter a invalidação do negócio jurídico, por erro,


de alienação da pintura, não se sujeita a nenhum prazo
prescricional.

A afirmação está incorreta. O negócio jurídico realizado não trata-se de erro, mas sim
de lesão. Além do mais, conforme aduz o art. 178, inciso II da Codificação: “É de quatro
anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: II
- no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se
realizou o negócio jurídico”. Portanto, verifica-se que o há o prazo de quatro anos para
pleitear a anulação do negócio.

c. Se o comprador da pintura oferecer suplemento do preço pago de


acordo com o valor de mercado da obra, João poderá optar entre
aceitar a oferta ou invalidar o negócio. Por qual fundamento legal?

Caso João aceite a suplementação de valores, o negócio jurídico será válido, caso não
aceite o negócio jurídico será invalidado. Conforme traz o art. 157, §2º, do CC: “não se
decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte
favorecida concordar com a redução do proveito”.

19. Considerando o caso da questão 18, a validade do negócio jurídico de


alienação da pintura subordina-se necessariamente à prova de que o
comprador desejava se aproveitar de sua necessidade de obter dinheiro
rapidamente?

Não. A invalidade do negócio jurídico ocorre por necessidade e inexperiência do


vendedor, e não por aproveitamento do comprador.

20. Para existir obrigação de indenizar, com fundamento no abuso de direito, é


imprescindível a presença de dolo ou culpa, requisito necessário para
caracterizar o comportamento abusivo e o ilícito indenizável?
Exemplifique.

O dolo e a culpa não são requisitos necessários para a comprovação do


comportamento abusivo e do ato ilícito indenizável, podendo ocorrer o abuso sem o
dolo e a culpa. O abuso de direito ocorre quando o titular deste o exerce de forma
excessiva, de modo que ultrapassa os limites impostos pela boa-fé objetiva e pelos
deveres de cuidado e respeito aos interesses alheios, prejudicando os terceiros de
forma injustificada. Como exemplo de abuso de direito podemos utilizar de exemplo
uma pessoa que, proprietária de um terreno, constrói uma enorme parede e bloqueie
completamente a vista da janela da casa do vizinho, o que levou a desvalorização da
propriedade vizinha. Aqui, independentemente de ter havido dolo ou culpa, e de ter
exercido o seu direito de construir em sua propriedade, o comportamento poderá ser
considerado abusivo e, desse modo, passível de indenização, visto que excede os
limites razoáveis do direito de propriedade e resultou no prejuízo injustificado do
vizinho. O dolo e a culpa só teriam relevância para a determinação do valor da
indenização.

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