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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA JULIA LISSA SATO CHUBACI, protocolado em 30/11/2022 às 18:49 , sob o número WPRO22014517851.
Excelentíssima Senhora Doutora Desembargadora Relatora Jane Franco Martins da
C. 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do E. Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo

Agravo de Instrumento nº 2268287-31.2022.8.26.0000

MASSA FALIDA DE NEXGENESIS HOLDINGS LTDA. e Outras (“Agravada” ou


“Massa Falida”), por seus advogados, já qualificada nos autos do agravo de
instrumento em epígrafe (“Agravo”), interposto por Rakuten USA Inc. (“Rakuten
USA”) e Rakuten Group Inc. (“Rakuten Japão” e, em conjunto com Rakuten USA,
“Grupo Rakuten” ou “Agravantes”), vem respeitosamente à presença de V. Exa., com
fundamento no artigo 1.019, II, do Código de Processo Civil (“CPC”), apresentar sua

CONTRAMINUTA DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

pelos fundamentos de fato e de direito aduzidos nas anexas razões.

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Requer que as intimações referentes a este recurso sejam realizadas,

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exclusivamente, em nome de Thiago Braga Junqueira (OAB/SP nº 286.786); André

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Luiz Marcassa Filho (OAB/SP nº 300.903); Carolina Kiyomi Iwamoto
(OAB/SP nº 305.287) e Ana Julia Lissa Sato Chubaci (OAB/SP nº 451.715), sob pena
de nulidade, nos termos do artigo 272, § 2º do CPC.

Termos em que
Pede deferimento.

São Paulo, 1 de dezembro de 2022.

Thiago Braga Junqueira Carolina Kiyomi Iwamoto


OAB/SP nº 286.786 OAB/SP nº 305.287

André Luiz Marcassa Filho Ana Julia Lissa Sato Chubaci


OAB/SP nº 300.903 OAB/SP nº 451.715

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E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (“TJSP”)

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Agravantes: Rakuten USA Inc. (“Rakuten USA”) e Rakuten Group
Inc. (“Rakuten Japão” e, em conjunto com Rakuten USA,
“Grupo Rakuten” ou “Agravantes”)
Agravadas: Massa Falida de Nexgenesis Holdings Ltda. e Outras
(“Massa Falida” ou “Agravada”)

CONTRAMINUTA DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

I. TEMPESTIVIDADE

1. O despacho que intimou a Massa Falida a apresentar contraminuta a este


agravo de instrumento foi disponibilizado no Diário de Justiça Eletrônico (DJE) em
11.11.2022 (sexta-feira) e publicado em 16.11.2022 (quarta-feira), devido à
suspensão do expediente forense nos dias 14 e 15.11.2022, conforme Provimento
CSM nº 2.641/2021 (doc. nº 1). O prazo de 15 (quinze) dias úteis para apresentação
da contraminuta, portanto, teve início em 17.11.2022 (quinta-feira). Logo, é
tempestiva a manifestação apresentada nesta data.

II. OBJETO DO RECURSO

2. Trata-se de agravo de instrumento (“Agravo” ou “Agravo de Instrumento”)


interposto contra a r. decisão (“Decisão Agravada” ou “Decisão Liminar” –
fls. 1.270/1.276 dos autos de primeira instância), proferida nos autos do incidente de
apuração e imposição de extensão da responsabilidade patrimonial cumulada com
pedido de desconsideração da personalidade jurídica nº 1136837-07.2021.8.26.0100
(“Incidente”) da falência nº 1009063-28.2020.8.26.0100 (“Falência”) de Nexgenesis
Holdings Ltda. e Outras (“Grupo Gencomm” ou “Falidas”), ajuizado pela Massa
Falida, que deferiu o pedido de tutela de urgência para indisponibilidade de bens
inaudita altera parte de todos os requeridos, inclusive das Agravantes.

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3. Decisão Agravada. Na r. Decisão Agravada, o D. Juízo da 1ª Vara de

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Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo (“Juízo Falimentar”)

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declarou que, em sede de cognição sumária, a Massa Falida comprovou o
preenchimento dos requisitos do fumus boni iuris e periculum in mora, exigidos pelo
art. 300 do CPC para concessão de tutela de urgência, diante “dos enormes prejuízos
causados aos credores das falidas e da possibilidade de dilapidação do patrimônio
dos envolvidos que, em caso de procedência desta demanda, será destinado à
solução do passivo falimentar”.

4. Em relação às Agravantes, a r. Decisão Agravada considerou, em suma, que

(i) a operação comercial de venda à TOG Brazil Holdings Inc. (“TOG”) da


totalidade das quotas sociais das empresas pelas quais o Grupo Rakuten
atuava no Brasil, deixando de lado apenas a Rakuten Marketing Brazil Ltda.
(“Rakuten Marketing”), foi efetuada com características pouco comuns e
aparentemente ficcional, em uma nítida separação entre as pessoas jurídicas
ruins economicamente para a TOG, e a parte economicamente viável para a
controladora japonesa;

(ii) sendo fato que, dentro de três meses após a aquisição das sociedades, o
Grupo Gencomm ajuizou pleito de recuperação judicial e, apenas dois meses
depois, pleiteou a autofalência, pode-se inferir que o objetivo era, de fato, a
autofalência;

(iii) assim, o Grupo Rakuten se desfez das subsidiárias deficitárias em clara


tentativa de se blindar dos efeitos da falência e, além de tudo, tentou
permanecer com a Rakuten Marketing, empresa que ainda se mostrava
lucrativa; e

(iv) há evidência de que o Grupo Gencomm, já “adquirido” pela TOG, atuava, na


verdade, como forma de proteger seus ex-controladores, o Grupo Rakuten, a
reforçar, inclusive, a alegação de confusão patrimonial.

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5. Agravo. Neste Agravo, as Agravantes pleiteiam a reforma da r. Decisão

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Agravada e, para tanto, argumentam que:

(i) não estariam caracterizados os elementos do art. 50 do Código Civil (“CC”)


para a desconsideração da personalidade jurídica;

(ii) a Rakuten Marketing também seria uma empresa deficitária e teria atividade
distinta das Falidas, o que contradiria a tese de que o Grupo Rakuten teria
isolado a empresa para somente alienar as subsidiárias deficitárias à TOG;

(iii) a operação de venda das Falidas teria se dado de modo regular e de acordo
com os padrões de mercado;

(iv) a linha de crédito com o banco Itaú integraria contrato de crédito rotativo
existente desde 2017, não tendo servido o objetivo de postergar o
reconhecimento da insolvência até a transferência do controle;

(v) o pagamento de bônus de retenção aos ex-administradores das Falidas não


constituiria uso predatório do patrimônio, mas sim prática de mercado;

(vi) não teria havido abuso de poder na aprovação das contas dos
administradores ou irregularidades contábeis;

(vii) a operação com a empresa XiaomiBRZ teria sido fruto de regular decisão
comercial, sendo que o Grupo Rakuten teria sido mera vítima de
inadimplemento que fazia parte do risco do negócio;

(viii) não teria havido tomada de decisões para eximir o Grupo Rakuten de
responsabilidade após a venda das Falidas à TOG;

(ix) a via eleita pela Massa Falida para buscar a responsabilização das
Agravantes seria inadequada;

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(x) a Justiça Brasileira não teria competência para processar a demanda contra

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as Agravantes, por serem empresas estrangeiras que não teriam praticado
atos em território brasileiro;

(xi) seria necessária a delimitação da responsabilidade de cada um dos réus, que


deveria ser proporcional à suposta participação nos atos ilícitos verificados;

(xii) inexistiria pedido específico de exibição de documentos, o que caracterizaria


“fishing expedition” e prova diabólica.

6. Ocorre que, conforme se passará a ver, as Agravantes não trazem elementos


de prova, ou sequer indícios, que permitam infirmar o entendimento esposado na
r. Decisão Agravada, a qual deve ser integralmente mantida por esse E. Tribunal,
tendo em vista que:

(i) a r. Decisão Agravada reputou presentes os requisitos do fumus boni iuris e


periculum in mora para concessão da tutela inaudita altera parte;

(ii) são vazias as alegações das Agravantes de que teriam agido dentro das
práticas de mercado tanto na atividade das Falidas, quanto na alienação das
quotas à TOG, não sendo capazes de eximir as Agravantes da
responsabilidade pelos atos que levaram à falência do Grupo Gencomm, de
que tentaram se blindar por meio da referida alienação;

(iii) a Massa Falida demonstrou a presença dos pressupostos legais necessários


para instauração do Incidente, não havendo que se falar em inadequação da
via eleita;

(iv) os fatos que fundamentam o Incidente se deram em território nacional, o que


atrai a competência do Juízo brasileiro para seu exame, independentemente
do fato de as Agravantes serem empresas estrangeiras (art. 21, III, do CPC);

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(v) não é possível exigir-se nesta fase postulatória do Incidente a indicação da

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quantia exata devida por cada parte a título de indenização. A dimensão do
prejuízo causado e, portanto, da reparação devida invariavelmente exigirá
ampla dilação probatória;

(vi) a Massa Falida apresentou lista dos documentos a serem exibidos, não
sendo genérico ou especulativo o pedido de exibição de documentos,
devendo também ser mantida a r. Decisão Agravada a esse respeito, nos
termos do art. 373, §1º do CPC.

7. Para demonstrar a esse E. Tribunal a gravidade dos atos que antecederam a


quebra das Falidas, esta contraminuta aborda 3 (três) temas principais, sendo: (i) o
panorama histórico das Falidas, notadamente quanto aos atos que culminaram na
sua alienação pelo Grupo Rakuten à TOG, como forma de promover sua saída
atabalhoada do Brasil; (ii) os fundamentos que ensejam a manutenção da tutela
cautelar constante da r. Decisão Agravada em relação às Agravantes (fumus boni
iuris); e (iii) o risco de dano irreversível a que a Massa Falida estaria exposta em
caso de reforma da r. Decisão Agravada (periculum in mora).

III. SÍNTESE DOS FATOS RELEVANTES PARA A CONTROVÉRSIA

(a) Histórico das atividades do Grupo Rakuten no Brasil

8. O Grupo Rakuten é um conglomerado tecnológico de origem japonesa que


atua no setor de plataformas de e-commerce para lojistas. É conhecido
mundialmente e tem presença marcante no mercado mundial 1.

9. No mercado brasileiro, o Grupo Rakuten iniciou suas atividades em maio de


2011, quando Rakuten Group Inc. se tornou sócia majoritária das empresas Amogh
Empreendimentos e Participações Ltda. e Ikeda Internet Software Ltda., que tiveram
suas denominações alteradas para Rakuten Brazil Holdings Ltda. e Rakuten Brasil

1
O Grupo Rakuten é, inclusive, bastante conhecido por ser patrocinador de grandes equipes esportivas, como o
time de futebol “Futbol Club Barcelona”, da Espanha, e o time de basquete da NBA Golden State Warriors, dos
Estados Unidos da América. A presença marcante da Rakuten no mercado mundial se mostra ainda mais visível
quando se constata que papéis por ela emitidos são negociados na bolsa de valores de Nova York sob a forma de
“American Depositary Receipts”, que são certificados de ações conferidos a companhias estrangeiras.

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Internet Service Ltda., respectivamente. Em junho de 2013, o Grupo Rakuten

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constituiu a Rakuten Marketing Brazil Ltda. e, em abril de 2015 e outubro de 2017,

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constituiu as empresas Rakuten Brasil Financial Services Ltda. e Rakuten Brasil
Logistics Services Ltda., respectivamente (fls. 187/306 dos autos de primeira
instância).

10. Portanto, no Brasil, as atividades do Grupo Rakuten desenvolveram-se por


meio de 5 (cinco) sociedades empresárias, sendo: (i) 1 (uma) controladora – a
Rakuten Brazil Holdings Ltda. –, cujo capital social foi totalmente subscrito e
integralizado por Rakuten, Inc. e Rakuten USA, Inc., e (ii) 4 (quatro) controladas
diretamente por Rakuten Brazil Holdings Ltda. – a Rakuten Brasil Internet Service
Ltda., a Rakuten Brasil Financial Services Ltda., a Rakuten Brasil Logistics Services
Ltda. e a Rakuten Marketing Brazil Ltda. Todas as sociedades eram, portanto,
subordinadas direta ou indiretamente à Rakuten, Inc.

11. Até 14.10.2019 --- data que marca a tentativa inescrupulosa de saída do
Grupo Rakuten de suas obrigações no Brasil ---, as 5 (cinco) sociedades que
integravam o Grupo Rakuten no Brasil operavam no setor de tecnologia, direcionado
para o mercado de e-commerce para lojistas. A operação do Grupo Rakuten no Brasil
foi estruturada, de modo que, em tese, cada sociedade operacional desempenharia
funções distintas, tendo como objetivo conjunto a prestação de serviços de:

(i) hospedagem de sites em plataforma de vendas online;


(ii) intermediação de pagamentos;
(iii) validação de compras realizadas pelo consumidor final;
(iv) antecipação de recebíveis aos lojistas;
(v) manutenção e guarda de recebimentos financeiros pagos aos lojistas
(conta de pagamento);
(vi) consultoria para confecção de lojas virtuais e centros de compra online;
(vii) atividades de marketing pela internet;
(viii) consultoria em logística;
(ix) serviços de coleta, remessa e entrega de produtos; entre outros.

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12. Na prática, as Falidas desempenhavam suas atividades de forma

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interconectada, complementar e coordenada, inclusive perante seus clientes, e eram

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referidas conjuntamente como “Rakuten”, sem qualquer discriminação do papel
desempenhado por cada uma na prestação dos serviços contratados (que
costumava ser assinado pela Rakuten Internet em conjunto com a Rakuten
Financial).

13. Em resumo, a estrutura societária do Grupo Rakuten no Brasil até a venda de


4 (quatro) empresas do Grupo Rakuten --- todas em situação de alto endividamento
--- à TOG, em 14.10.2019, era a seguinte:

14. Além dessa estrutura societária, vale frisar que era única a administração
dessas 4 (quatro) sociedades operacionais, pois as quatro tinham o mesmo Diretor
Presidente, qual seja o Sr. Renê Toshiro Abe (docs. nº 2 a 5), figura central nos atos
fraudulentos, de má-gestão e abusivos contra credores, que foram expostos no
Incidente.

15. Ou seja, embora fossem constituídas formalmente como veículos


empresariais distintos, todas as quatro empresas operacionais tinham o mesmo
quadro de administradores e gestão de caixa única. Assim, inexistia, na prática, uma

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separação de fato entre os centros decisórios de cada empresa.

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16. As empresas do Grupo Rakuten, à exceção da Rakuten Marketing Brazil
Ltda., operaram no Brasil de 2011 a 2019, sempre tendo resultados operacionais e
financeiros negativos, declarando sucessivos prejuízos em seus balanços.

(b) Venda das Falidas à TOG por USD 1,00 e “devolução” da Rakuten
Marketing por R$2,00

17. Em 14.10.2019, o Grupo Rakuten decidiu pela venda à TOG Brazil Holdings
Inc. da totalidade das quotas que detinha na Rakuten Brazil Holdings Ltda ---
sociedade holding --- bem como três sociedades por ela controladas, sendo todas
elas deficitárias, quais sejam: Rakuten Brasil Internet Service Ltda., a Rakuten Brasil
Financial Services Ltda., a Rakuten Brasil Logistics Services Ltda. (doc. nº 6).

18. Por curiosa coincidência, a única empresa do Grupo Rakuten no Brasil que
não era operacional e financeiramente deficitária não foi contemplada como uma das
target companies. A Rakuten Marketing --- a única empresa com resultados positivos
--- foi objeto de operação ainda mais suspeita: foi vendida de forma indireta à TOG
Brazil Holdings, uma vez que suas quotas eram de titularidade da Rakuten Holding
Ltda. e, imediatamente após a transferência das quotas, “devolvida” ao Grupo
Rakuten.

19. As operações ora descritas foram concluídas por meio de um Instrumento de


Compra de Quotas (“Instrumento”) e seu Primeiro Aditivo (doc. nº 7), tendo sido
ambos celebrados em um intervalo de 4 (quatro) dias, com o claro intuito de ludibriar
credores, pois:

(i) foram redigidos exclusivamente em inglês, apesar de envolver 5 (cinco)


empresas brasileiras;
(ii) envolviam alienação de quotas de uma empresa – Rakuten Marketing –,
que sequer figurava como target nos instrumentos;

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(iii) não contêm justificativa ou critério técnico, econômico e/ou contábil para

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a atribuição do valor das referidas quotas em US$ 1,00 (dólar norte-

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americano);
(iv) previam a “devolução” das quotas de Rakuten Marketing pelo valor de
R$2,00 (dois reais) pagos por Rakuten Group Inc., em transação já
declarada ineficaz em antecipação de tutela pelo D. Juízo Falimentar, com
fundamento no artigo 129, caput da LRF;
(v) contêm cláusula que dava ampla quitação e isentava completamente a
Rakuten Group Inc. e a Rakuten USA Inc. de quaisquer responsabilidades
por débitos anteriores à venda das quotas, com claro intuito de blindagem
patrimonial das ex-controladoras; e
(vi) não contém cláusulas típicas de contratos de compra e vendas de quotas,
por exemplo: (a) declarações e garantias, em que o vendedor das quotas
apresenta ao comprador uma série de declarações sobre o negócio e
informações sobre as quais o comprador se baseia para entender melhor
o funcionamento das empresas a serem compradas; (b) indicação de que
o comprador tenha efetuado auditoria prévia (due diligence) das
empresas a serem compradas; (c) regramento sobre responsabilidades
indenizatórias por contingências futuras a serem materializadas após a
venda das quotas; e (d) cláusula de earn-out, por meio da qual uma
parcela correspondente ao pagamento da parte do preço de aquisição de
uma empresa é vinculada a uma compensação aos sócios vendedores
em relação aos lucros futuros da companhia (vide docs. nº 6 e 7).

20. A TOG adquiriu, então, a totalidade das quotas das 5 empresas do Grupo
Rakuten, transferindo as quotas de Rakuten Marketing Brazil Ltda. à Rakuten Group
Inc. (Japão) por R$2,00 (dois reais), apenas 4 dias após a celebração do Instrumento
(doc. nº 8).

21. A “devolução” das quotas da Rakuten Marketing Brazil Ltda. para a Rakuten
Group Inc. nos moldes mencionados já foi declarada ineficaz pelo D. Juízo
Falimentar, por força do art. 129, caput da LRF, nos seguintes termos:

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Quanto ao primeiro item, isto é, a probabilidade do direito invocado, o documento

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15 (fls. 6 e 447/482) indica que, em 31/10/2019, a NEXGENESIS HOLDINGS LTDA

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deu baixa, sem aparente contraprestação legítima, às quotas sociais que possuía
da RAKUTEN MARKETING BRAZIL LTDA, no montante de R$ 5.473.687,66 (cinco
milhões, quatrocentos e setenta e três mil, seiscentos e oitenta e sete reais e sessenta
e seis centavos). Consigne-se, segundo informação do próprio AJ, que, na
referida data, ambas as sociedades autoras do presente feito já estavam em
estado de insolvência, conforme balanços patrimoniais às fls.7/11. Assim,
aplicável ao caso o art. 129, IV, VI da LFRJ. Outrossim, há elementos que indicam
que a ré RAKUTEN MARKETING BRAZIL LTDA era pessoa jurídica controlada pelas
autoras, na forma do art. 1098 do Código Civil.
Quanto ao perigo de demora, tendo em vista a complexidade da falência das autoras,
bem como a possibilidade de que, com a demora na tramitação neste feito, possa
ocorrer dilapidação dos bens em questão, frustrando a presente demanda até o
mérito. Demonstrado está, portanto, o periculum in mora.
Dessa forma, concedo a tutela provisória de urgência, na forma do art. 300 do CPC
e art. 137 da LFRJ, e determino o sequestro da totalidade das quotas sociais da
RAKUTEN MARKETING BRAZIL LTDA (1ª Ré), de propriedade da RAKUTEN, INC
(2ª Ré) no valor de R$ 33.941.383,00 até o desfecho do presente feito, com o
dever dos administradores da RAKUTEN MARKETING BRAZIL LTDA prestarem
contas mensais às autoras. (doc. nº 9)

22. Esse movimento óbvio de tentativa de blindagem patrimonial das Agravantes


demonstrou que o intuito dessa sucessão empresarial era manter a única empresa
do Grupo com operação saudável no Brasil e isolar as sociedades deficitárias nas
mãos de TOG.

23. Após 28.10.2019, a TOG alterou a razão social das empresas por ela
adquiridas do Grupo Rakuten e mantidas, dando origem ao Grupo Gencomm. As 4
(quatro) sociedades adquiridas continuaram a atuar no mesmo setor de tecnologia.
As denominações das sociedades adquiridas foram alteradas (vide docs. nº 2 a 5),
conforme demonstrado no quadro abaixo:

Denominação anterior à venda das Denominação após venda das quotas


#
quotas (Grupo Rakuten) (Grupo Gencomm)
1 Rakuten Brazil Holdings Ltda Nexgenesis Holdings Ltda (Holding)
2 Rakuten Brasil Internet Service Ltda. Gencomm Internet Services do Brasil Ltda.
3 Rakuten Brasil Financial Services Ltda. Gencomm Financial Services do Brasil Ltda.
4 Rakuten Brasil Logistics Services Ltda. Gencomm Logistics Services do Brasil Ltda.

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24. Assim, a estrutura societária após 28.10.2019 passou à seguinte:

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(c) Pedidos de recuperação judicial e de autofalência

25. Em 3.2.2020, apenas três meses após a operação de compra de quotas da


Rakuten Brazil Holding Ltda. e controladas, TOG promoveu o ajuizamento de pedido
de recuperação judicial das empresas do Grupo Gencomm perante o D. Juízo
Falimentar (doc. nº 10), sob a alegação de que não conseguira sanar as dificuldades
financeiras das empresas adquiridas.

26. Em 5.4.2020, apenas dois meses depois do deferimento do processamento


do pedido, o Grupo Gencomm formulou pedido de autofalência (doc. nº 11) que,
em 13.4.2020, foi decretada pelo D. Juízo Falimentar (doc. nº 12). Em 25.9.2020, a
pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo (docs. nº 13), foi instaurado
inquérito policial com o escopo de “apurar a ocorrência, ao menos em tese, dos
crimes de Fraude a Credores e indução a erro (arts. 168 e 171 da lei 11.101/2005);
Apropriação indébita (art. 168 do CP) e Lavagem ou ocultação de bens, direitos e
valores (art. 1º, da L. 9.613/98)”.

27. Desde o deferimento do processamento da recuperação judicial, a


Expertisemais Serviços Contábeis e Administrativos Eireli (“ExpertiseMais”) foi

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nomeada como Administradora Judicial da Massa Falida do Grupo Gencomm (doc.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2268287-31.2022.8.26.0000 e código Kn5bAyJM.
nº 14).

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA JULIA LISSA SATO CHUBACI, protocolado em 30/11/2022 às 18:49 , sob o número WPRO22014517851.
28. Desde então, a Expertisemais iniciou plano de investigação para apurar a
ocorrência de desvio patrimonial e outras ilegalidades pelos ex-administradores e ex-
controladores das Falidas. Uma das iniciativas nesse sentido foi a contratação do
escritório de advocacia Pinheiro Neto Advogados, no Brasil, e do escritório de
advocacia estrangeiro Sequor Law LLP, nos Estados Unidos.

(d) Apuração de atos ilícitos praticados pelas ex-controladoras das Falidas

29. As investigações conduzidas já na fase falimentar evidenciaram a prática de


numerosos atos ilícitos decorrentes da alienação das quotas de emissão das Falidas
pelo Grupo Rakuten à TOG, além de atos comissivos e omissivos que culminaram
na derrocada definitiva e irreversível das operações das Falidas, em detrimento
direto dos seus credores.

30. Em 15.12.2021, a Massa Falida ajuizou o Incidente, com fundamento nos


elementos de prova em questão (doc. nº 15). A petição inicial foi cristalina em
demonstrar, e o parecer do Ministério Público (doc. nº 16) foi taxativo em reconhecer,
a presença dos requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora para a
concessão da tutela de urgência pleiteada pela Massa Falida.

31. Assim, em 31.3.2022, a r. Decisão Agravada foi proferida pelo D. Juízo


Falimentar, nos autos do Incidente, diante dos robustos elementos de prova
coletados pela Massa Falida. A r. Decisão Agravada bem indicou os indícios de
ilegalidades praticados especificamente pelas Agravantes. Confira-se:

Causa espécie ainda o fato de que, em 14/10/219, o Grupo Rakuten vendeu à TOG
Brazil Holdings Inc. a totalidade das quotas sociais de todas as empresas pelas quais
o referido grupo atuava no Brasil (fls. 373/405), deixando de lado apenas a Rakuten
Marketing Brazil Ltda, e que tal operação comercial, complexa por si só, foi efetuada
com características pouco comuns, conforme narrado às fls. 13/14 da inicial, isto é:
a) contratos apenas em inglês, apesar de as pessoas jurídicas serem brasileiras; b)
envolviam quotas de pessoa jurídica que não estava como objeto dos instrumentos;
c) ausência de demonstração concreta de valuation ou due diligence, inclusive com

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atribuição de valor de venda em um dólar; d) previsão de que a única empresa

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lucrativa do Grupo (Rakuten Marketing Brazil Ltda) com valuation de dois reais,

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inclusive objeto de outra ação em trâmite neste Juízo (autos 1064208-
35.2021.8.26.0100, fls.423/426); e) cláusula de quitação plena dos grupos que então
controlavam as referidas empresas (Rakuten Inc e Rakuten Usa Inc). Ademais,
apenas quatro dias após a venda das pessoas jurídicas à TOG Brazil Holdings, a TOG
devolveu (fls. 428/613), pelo preço de dois reais, as quotas da Rakuten Marketing
Brazil Ltda para a corré Rakuten Inc (Japão). Assim, após uma operação
aparentemente ficcional, a única empresa lucrativa do grupo (Rakuten Marketing
Brazil Ltda) acabou voltando ao controle da corré Rakuten Inc (Japão), em uma nítida
separação entre as pessoas jurídicas ruins economicamente, para a TOG Brazil, e a
parte economicamente viável para a controladora japonesa do grupo.
As informações acima se confirmam, inclusive, pelo desfecho que a operação em
apreço teve. Isso porque a TOG Brazil, após a operação, alterou as denominações
das sociedades que adquiriu (fls. 219/350), conforme se pode visualizar à fl. 16 da
inicial, item 22. E, três meses após a aquisição das sociedades, o Grupo
Gencomm, nova denominação do grupo controlado pelo Grupo TOG, ajuizou
pleito de recuperação judicial e, apenas dois meses após, pleitearam a
autofalência, que foi acolhida (fls.617/672).
Nota-se, portanto, que a operação comercial pode ser sintetizada da seguinte forma:
o grupo controlador (Rakuten Inc e Rakuten USA) vendeu a “parte podre” da
empresa, recomprando, em seguida, a lucrativa. Após, o grupo que assumiu as
pessoas jurídicas deficitárias acabou por simular um pleito de recuperação
judicial, quando, ao que se pode inferir, o objetivo era, de fato, a autofalência,
que, de fato, foi requerida. Assim, o grupo estrangeiro que controlava as
empresas deficitárias delas se desfez, em clara tentativa de se blindar dos
efeitos da falência e, além de tudo, tentaram permanecer com a Rakuten
Marketing, empresa que ainda se mostrava lucrativa. (...)
Há ainda fato relevante, noticiado à fl. 44 e corroborado pelos documentos às fls.
1036/1040, a evidenciar que a empresa, já “adquirida” pela TOG, atuava, na verdade,
como forma de proteger seus ex-controladores, o grupo Rakuten, a reforçar,
inclusive, a alegação de confusão patrimonial.”

IV. RAZÕES PARA MANUTENÇÃO DA R. DECISÃO AGRAVADA

(a) Regime jurídico aplicável à responsabilização dos ex-sócios das Falidas

32. Ao contrário do alegado pelas Agravantes, a Massa Falida trouxe na inicial


do Incidente extensiva descrição dos fundamentos legais para desconsideração da
personalidade jurídica e responsabilização do Grupo Rakuten, conforme se passa a
expor.

33. Dentre os credores das Massas Falidas, estão contemplados lojistas que
mantinham contratos com as empresas do Grupo Rakuten e não receberam os

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repasses que lhes eram devidos pelas Falidas. Tais lojistas podem ser considerados

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beneficiários do regime jurídico previsto no Código de Defesa do Consumidor

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(“CDC”), em razão da flagrante condição de hipossuficiência técnica e econômica
que tinham em relação às empresas do conglomerado japonês.

34. Além disso, considerando que o Fisco Nacional, Estadual e Municipal também
figuram entre os credores das Massas Falidas, são aplicáveis as disposições do
Código Tributário Nacional (“CTN”).

35. Ou seja, a extensão da responsabilidade patrimonial aos sócios e ex-sócios


das Falidas, além de contemplar as regras do CC, da LSA e da LRF, também deverá
considerar as disposições do CDC e do CTN.

36. Dessa forma, o ordenamento jurídico aplicável à hipótese prevê que o sócio
ou titular de quotas serão responsáveis patrimonialmente nas hipóteses definidas
nos artigos 117, caput e §§ 1º “a”, “b”, “c” e “g” da LSA., nos artigos 50, caput e §§ 1º
ao 3º do CC, no artigo 28, caput e § 5º, do CDC, e nos artigos. 134, VII, do CTN, in
verbis:

“Art. 117. O acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados
com abuso de poder.
§ 1º São modalidades de exercício abusivo de poder:
a) orientar a companhia para fim estranho ao objeto social ou lesivo ao interesse
nacional, ou levá-la a favorecer outra sociedade, brasileira ou estrangeira, em
prejuízo da participação dos acionistas minoritários nos lucros ou no acervo da
companhia, ou da economia nacional;
b) promover a liquidação de companhia próspera, ou a transformação,
incorporação, fusão ou cisão da companhia, com o fim de obter, para si ou para
outrem, vantagem indevida, em prejuízo dos demais acionistas, dos que
trabalham na empresa ou dos investidores em valores mobiliários emitidos pela
companhia;
c) promover alteração estatutária, emissão de valores mobiliários ou adoção de
políticas ou decisões que não tenham por fim o interesse da companhia e visem
a causar prejuízo a acionistas minoritários, aos que trabalham na empresa ou
aos investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia;”
(...)
g) aprovar ou fazer aprovar contas irregulares de administradores, por
favorecimento pessoal, ou deixar de apurar denúncia que saiba ou devesse saber
procedente, ou que justifique fundada suspeita de irregularidade.”

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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2268287-31.2022.8.26.0000 e código Kn5bAyJM.
“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de

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finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que
os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos
bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados
direta ou indiretamente pelo abuso.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa
jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer
natureza.
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre
os patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador
ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto
os de valor proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão
das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.”

“Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando,


em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da
lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração
também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência,
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má
administração.
(...)
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores.”

“Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação


principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que
intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis:
(...)
VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.”

37. Desse modo, a Massa Falida passa a expor abaixo o abuso do poder de
controle na postergação do reconhecimento da situação de insolvência sob o
contexto da operação fraudulenta de venda das quotas das Falidas à TOG,
demonstrando o desvio de finalidade no uso das pessoas jurídicas Falidas e o claro
intuito de blindar o patrimônio dos ex-sócios das Falidas para prejudicar credores.

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(b) Venda fraudulenta de quotas das Falidas à TOG - Instrumento de

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Compra de Quotas

159 Em 14.10.2019, a venda à TOG da totalidade das quotas que detinha nas 4
(quatro) empresas operantes no Brasil, conforme demonstrado acima, foi concluída
por meio do Instrumento e o Aditivo ao Instrumento, por meio do qual a Rakuten
Brazil Holdings Ltda., como “Seller”, ou vendedora, alienou para a TOG, como
“Buyer”, ou compradora, a totalidade das quotas subscritas e integralizadas por
Rakuten Brazil Holdings Ltda. em 3 Targets (ou companhias alvo): (i) Rakuten Brasil
Internet Service Ltda. (Target 1), (ii) Rakuten Brasil Financial Services Ltda. (Target
2); e (iii) Rakuten Brasil Logistics Services Ltda. (Target 3) (vide docs. nº 6 e 7).

38. A Rakuten Japão, enquanto detentora de 233 quotas na Target 1, qual seja a
Rakuten Brasil Internet Service Ltda., assinou o referido instrumento como uma das
“intervening and consenting parties” (partes intervenientes e concordantes),
juntamente com as 3 Targets.

39. Todavia, analisando o Considerando 1 e o Considerando 4 do Instrumento


conjuntamente com a Cláusula 2.1, fica claro que a Rakuten Japão também estava
cedendo suas 233 quotas na Target 1 (Rakuten Brasil Internet Service Ltda.), para o
fundo americano TOG, como “Buyer”, ou compradora. Ou seja, Rakuten Japão,
apesar de disfarçadamente ser somente “intervening and consenting party”, estava
efetivamente vendendo suas quotas da Rakuten Brasil Internet Service Ltda.

40. Assim, verifica-se, embora o Instrumento não tenha expressamente


denominado a Rakuten Japão como “Vendedora” (mas somente como “parte
interveniente e anuente”), o objeto do negócio envolveu tanto quotas subscritas e
integralizadas por Rakuten Brazil Holdings Ltda. nas 3 Targets quanto quotas
subscritas e integralizadas por Rakuten Japão em uma das Targets (Target 1).

41. Por óbvio, a titularidade dessas quotas tinha algum valor relevante tanto para
a Rakuten Brazil Holdings Ltda. quanto para a Rakuten Japão.

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42. Conforme o Relatório apresentado pela Ilma. Administradora Judicial, tanto a

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Rakuten Brazil Holdings Ltda. quanto a Rakuten Japão fizeram aportes significativos

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de capital e bens nas 3 (três) empresas falidas no decorrer de 2011 a 2018 (vide doc.
nº 17). A Rakuten USA entrou como sócia minoritária em 1.8.2016 e também fez
alguns aportes no capital da Target 1, no valor de R$ 2.350.000,00.

43. Soa estranho que, após tantas contribuições financeiras relevantes no capital
das Falidas, o valor das quotas subscritas e integralizadas por Rakuten Brazil
Holdings Ltda. nas 3 Targets e das quotas subscritas e integralizadas por Rakuten
Japão em uma das Targets (Target 1) tenham atingido o ínfimo valor de 1 dólar
em outubro de 2019.

44. Ou seja, em 14.10.2019, mediante a ínfima contraprestação paga pelo fundo


americano TOG à Rakuten Brazil Holdings Ltda. (US$1,00 dólar), tais quotas (que
certamente envolviam um negócio de valor muito maior) foram adquiridas pela TOG.

45. Fato Novo – Pagamento de USD 5 milhões pela Rakuten USA à TOG. As
cartas juntadas pelas Agravantes ao Incidente (doc. nº 17) trazem a informação, sem
maiores explicações, de que, além de ter pagado contraprestação simbólica pelas
quotas das Falidas, a TOG recebeu 5 milhões de dólares da Rakuten USA. Ora,
o vendedor pagou a seu comprador para que levasse as quotas das sociedades
vendidas!

46. A despeito de alegarem repetidamente ter sido realizado procedimento


estruturado de avaliação das Falidas antes da alienação das quotas, não foi
apresentado pelo Grupo Rakuten um único relatório que justifique o valor atribuído
às quotas, muito menos que explique o pagamento de USD 5 milhões à TOG.

47. Em relação à ausência de contraprestação significativa pela TOG – e mais, à


existência de pagamento de USD 5 milhões à compradora –, sabe-se que o valor
de uma participação societária de um sócio retirante deve ter como parâmetro a
avaliação da empresa. A avaliação de uma empresa, como se sabe, é resultado de
um processo complexo baseado em determinados critérios técnicos calcados em

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premissas próprias. Ou seja, a utilização de diferentes critérios de avaliação, em

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regra, resultarão em diferentes valores finais da empresa.

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48. No caso das sociedades limitadas, o tema está disciplinado no artigo 1.031
do CC, que prevê que a avaliação dos haveres do sócio retirante, em qualquer
situação de saída, e de qualquer tipo de empresa, deve ter “base na situação
patrimonial da sociedade, à data da resolução, em balanço especial levantado”.
Esse balanço especial levantado jamais foi exibido aos credores das Falidas. Esse
seria o único documento que poderia justificar para a Massa Falida qual teria sido a
metodologia de avaliação das Falidas que justificaria a atribuição do valor ínfimo de
1 dólar às quotas das Falidas ou o pagamento de USD 5 milhões à TOG.

49. Embora operações como essas, em “porteira fechada”, existam em situações


muito específicas, chama atenção que essa venda foi feita sem qualquer menção à
due diligence prévia no Instrumento. De outro lado, as disposições contratuais
preveem a completa isenção de Rakuten Japão e Rakuten USA de quaisquer
responsabilidades, aliada com os bônus concedidos aos executivos para
permanecerem nas empresas e encontrarem um comprador.

50. Esses fatos já seriam demonstração inequívoca de que a única intenção do


Grupo Rakuten era de se eximir de suas obrigações perante seus credores e a
revelação do pagamento de USD 5 milhões à compradora se soma a isso para
desnudar completamente a fraude perpetrada pelo Grupo Rakuten.

51. A esse respeito, também causa estranheza o fato de esse expressivo


pagamento não ter constado do Instrumento ou de quaisquer documentos revelados
à Massa Falida até o momento.

52. Deveria existir, no mínimo, um relatório de due diligence prévio elaborado


pelos assessores jurídicos e/ou financeiros da TOG e da vendedora, no sentido de
expor os riscos do negócio.

53. A despeito de o parecer da empresa Deloitte apresentado pelas Agravantes,

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datado de 8.11.2022 (doc. nº 18), descrever um suposto processo de due dilligence

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e atestar que a venda das quotas das falidas se deu de acordo com as práticas de

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mercado, é necessário notar que (i) não houve efetiva apresentação do relatório da
suposta auditoria e/ou documentos que justifiquem a precificação do Instrumento, e
(ii) a análise realizada pela Deloitte não abordou elementos suspeitos do negócio
como a devolução da Rakuten Marketing sem contraprestação e o pagamento de
USD 5 milhões pela Rakuten USA à TOG. Logo, o parecer constitui relatório
superficial e parcial, que não tem natureza probatória, pois sequer examinou a
totalidade dos fatos envolvidos na operação.

54. O que se vê, portanto, é que inexiste balanço especial e relatórios de due
diligence para essa venda de quotas. Da mesma forma que inexiste causa lícita para
a celebração do Instrumento, que tinha o único objetivo da blindar o Grupo Rakuten.

55. Em resumo, o Instrumento, concretizado mediante a contraprestação de


US$ 1,00 pela TOG e o pagamento de USD 5 milhões à TOG, teve por finalidade
somente fechar um negócio jurídico simulado, para blindar o patrimônio e a
reputação da Rakuten Japão, que estava deixando de ter participação societária em
três pessoas jurídicas deficitárias no Brasil, além da holding local, e pagando para
que sua sucessora as assumisse.

(c) Aditamento ao Instrumento de Compra de Quotas – Grupo Rakuten após


a vendas das quotas à TOG – Alienação das quotas da Rakuten Marketing para
a Rakuten Japão por R$ 2,00 – Blindagem patrimonial

56. Exatamente 04 (quatro) dias após a celebração do Instrumento e a


transferência das quotas das 04 (quatro) Falidas para TOG, a TOG, então
controladora indireta de 100% das quotas da Rakuten Holding, transferiu as
quotas de Rakuten Marketing (então controlada pela Rakuten Holding) para Rakuten
Japão, por meio do Primeiro Aditamento ao Instrumento (vide doc. nº 7).

57. O referido Aditamento traz como Seller, Vendedora, a Rakuten Japão e como
Buyer, Compradora, a TOG. As Targets desse Aditamento seriam (i) a Rakuten Brasil
Internet Service Ltda.; (ii) a Rakuten Brasil Financial Services Ltda.; (iii) a Rakuten

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Brasil Logistics Services Ltda. e (iv) a Rakuten Brazil Holdings Ltda.

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58. Na Leitura do “Whereas” (ou seja, dos Considerandos) do referido
Aditamento, fica evidente que as partes decidiram, quatro dias depois,
estranhamente, “modify the original structure of the Transaction”, ou seja, modificar
a estrutura do Instrumento que já havia sido cumprido.

59. Por meio desse estranho Aditamento, a Rakuten Brazil Holdings Ltda., que
figurava como Vendedora no Instrumento, passaria a ser Target. Dessa forma, as
138.216.715 quotas da Rakuten Brazil Holdings Ltda. detidas pela Rakuten Japão,
bem como a única quota da Rakuten Brazil Holdings Ltda. detida pela Rakuten USA
seriam vendidas à TOG.

60. Complementando a ardilosa fraude, em 28.10.2019, as partes firmaram a 27ª


Alteração do Contrato Social da Rakuten Brazil Holdings Ltda. evidenciando a
alteração da denominação social e a troca do controle societário para a TOG (vide
doc. nº 2).

61. Também em 28.10.2019, como ato final da fraude, as partes celebraram a


14ª Alteração do Contrato Social da Rakuten Marketing Brazil Ltda. indicando a
alienação total de suas quotas sociais pela Nexgenesis Holdings Ltda. (atual
denominação da Rakuten Brazil Holdings Ltda.) e pela Gencomm Internet Services
do Brasil Ltda. (atual denominação da Brasil Internet Service Ltda.) à Rakuten Japão
(doc. nº 19).

62. Esse movimento era uma óbvia tentativa de blindagem patrimonial de


Rakuten Japão: o claro intuito dessa sucessão empresarial era manter com a
Rakuten Japão a única empresa do Grupo com operação saudável no Brasil, a
Rakuten Marketing, e isolar as sociedades deficitárias nas mãos de TOG.

63. A despeito de alegarem que a Rakuten Marketing também era deficitária, as


Agravantes novamente deixam de trazer documentos que demonstrem os
fundamentos para a precificação da empresa em R$ 2,00. Inclusive, o parecer da

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Deloitte que as Agravantes alegam sustentar tal afirmação (vide doc. nº 18)

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demonstra justamente que a empresa era superavitária nos exercícios anteriores à

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operação de venda das Falidas à TOG, assim como informado pela Massa Falida e
demonstrado pela Administradora Judicial em seu relatório (vide doc. nº 17).

64. Conforme o relatório apresentado pela Ilma. Administradora Judicial (vide


doc. nº 17), as 04 (quatro) empresas do Grupo Rakuten vendidas à TOG Brazil
Holdings Inc. estavam em situação de alto endividamento frente a credores. A
única empresa do Grupo Rakuten no Brasil que ainda mantinha saúde
financeira era a Rakuten Marketing, em parte às custas das despesas
incorridas pelas demais empresas na confusão patrimonial já demonstrada.

65. Ou seja, o Grupo Rakuten, por meio da Rakuten Japão, manteve, após
18.10.2019, participação acionária em somente uma única empresa operante no
Brasil e que mantinha boa saúde financeira, a Rakuten Marketing (vide doc. nº 18).

(d) Empresas sucessoras – Grupo Gencomm – Decretação de falência e


reconhecimento judicial de sucessão empresarial fraudulenta

66. Com apenas 3 (três) meses à frente da administração do Grupo Gencomm,


em 3.2.2020, os novos controladores ingressaram com um pedido de recuperação
judicial para as 4 (quatro) sociedades recém adquiridas do Grupo Rakuten (vide doc.
nº 10).

67. Em 5.4.2020, apenas dois meses após o deferimento do processamento da


recuperação judicial, o Grupo Gencomm ingressou com pedido de Autofalência
(vide doc. nº 11), sob a justificativa de agravamento da crise financeira. Em
13.4.2020, a Recuperação Judicial do Grupo Gencomm foi convolada em Falência,
tendo sido fixado o termo legal em 26.10.2019 (vide doc. nº 12).

68. Em 22.6.2021, as Massas Falidas da Nexgenesis Holdings Ltda. (atual


denominação da Rakuten Brazil Holdings Ltda.), e da Gencomm Internet Services do
Brasil Ltda. (atual denominação da Rakuten Brasil Internet Service Ltda.) ajuizaram
a Ação Declaratória de Ineficácia contra Rakuten Marketing e Rakuten Japão (doc.

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nº 20), com base nos artigos 129, incisos IV e VI da LRF e 1.145 do CC 2

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demonstrando que a 27ª Alteração do Contrato Social da Rakuten Brazil Holdings

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA JULIA LISSA SATO CHUBACI, protocolado em 30/11/2022 às 18:49 , sob o número WPRO22014517851.
Ltda. e a 14ª Alteração do Contrato Social da Rakuten Marketing são ineficazes em
relação às Massas Falidas.

69. Isso porque, tais instrumentos societários demonstram a alienação, a título


gratuito, em estado de insolvência, de quotas sociais que pertenciam à Massa Falida
na sociedade Rakuten Marketing para a Rakuten Japão.

70. Em 23.6.2021, foi deferido, em atenção aos artigos 300 do CPC e artigos 129,
incisos IV e VI, e 137, todos da LFR, “o sequestro da totalidade das quotas sociais
da RAKUTEN MARKETING BRAZIL LTDA (1ª Ré), de propriedade da RAKUTEN,
INC (2ª Ré) no valor de R$ 33.941.383,00 até o desfecho do presente feito, com

2
LRF:
“Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de crise
econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores:
(...)
IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
(...)
VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os
credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo
se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados,
judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos;”
Código Civil:
“Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do
estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou
tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.”
Comentário doutrinário sobre o artigo 1.145 do CC e o diálogo que esse dispositivo mantém com o artigo 129, inciso
VI da LRF:
“Feita uma avaliação acerca do potencial da insolvência do alienante do estabelecimento empresarial, pode
ser verificada grave inaptidão patrimonial, vislumbrando-se prejuízo vultoso para os credores, desfalcada,
irremediavelmente, a garantia geral oferecida a seu pagamento. No conjunto dos ativos, o estabelecimento cuja
titularidade está sendo transmitida pode apresentar tal relevância que, sem ele, o valor do passivo
acumulado superaria aquele atribuído aos demais bens. Nesse caso, para que seja possível extrair todos os
efeitos da alienação desejada, exige-se, com fator de eficácia, o adimplemento antecipado das dívidas do
empresário alienante ou, efetuada a notificação judicial ou extrajudicial de cada um dos seus credores, não
seja oferecida, no prazo de 30 dias, qualquer oposição, o que será equivalente a uma aquiescência tácita. O
contrato celebrado, caso não seja materializada uma das situações propostas, será válido, mas não apresentará
plena eficácia, não podendo atingir a esfera jurídica de credores do empresário alienante. Frise-se que a
hipótese prevista no presente artigo pode fornecer suporte à decretação da falência do empresário,
porquanto a alienação onerosa ou gratuita do estabelecimento, de acordo com o art. 94, III, c, da Lei n.
11.101/2005 (antigo inciso V do art. 2º do Decreto-lei n. 7.661/45), constitui uma das causas singulares de
caracterização do estado falimentar, quando realizada sem aquiescência dos credores e não sobrarem bens
suficientes ao saldo das dívidas. Ademais, persiste correspondência com o disposto no art. 129, VI, da Lei n.
11.101/2005 (antigo art. 25, VIII, do Decreto-lei n. 7.661/45), que prevê, ante a falta de prévio adimplemento ou
de aquiescência dos credores, o ajuizamento de ação revocatória, por meio da qual é postulado o
reconhecimento judicial da ineficácia da alienação de um estabelecimento, deixando o negócio de produzir
efeitos perante os ditos credores. A ação revocatória é proposta contra o adquirente do estabelecimento e
pretende trazer tal universalidade à massa falida, integrando o procedimento concursal em andamento.”
(BARBOSA FILHO, Marcelo Fortes, Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência: lei n. 10.406, de 10.01.2002:
contém o código civil de 1916, coordenador Cezar Peluso, 2ª edição revista e atualizada, Barueri, Manole, 2008, p.
1.044 – sem ênfase no original)

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o dever dos administradores da RAKUTEN MARKETING BRAZIL LTDA

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prestarem contas mensais às autoras” (vide doc. nº 9). Confira-se:

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA JULIA LISSA SATO CHUBACI, protocolado em 30/11/2022 às 18:49 , sob o número WPRO22014517851.
“Em relação à tutela provisória, entendo que a parte demandante preencheu
adequadamente os requisitos previstos no art. 300 do CPC, isto é, a probabilidade do
direito invocado e o perigo de demora.
Quanto ao primeiro item, isto é, a probabilidade do direito invocado, o documento
15 (fls. 6 e 447/482) indica que, em 31/10/2019, a NEXGENESIS HOLDINGS LTDA
deu baixa, sem aparente contraprestação legítima, às quotas sociais que possuía
da RAKUTEN MARKETING BRAZIL LTDA, no montante de R$ 5.473.687,66 (cinco
milhões, quatrocentos e setenta e três mil, seiscentos e oitenta e sete reais e sessenta
e seis centavos). Consigne-se, segundo informação do próprio AJ, que, na
referida data, ambas as sociedades autoras do presente feito já estavam em
estado de insolvência, conforme balanços patrimoniais às fls.7/11. Assim,
aplicável ao caso o art. 129, IV, VI da LFRJ. Outrossim, há elementos que indicam
que a ré RAKUTEN MARKETING BRAZIL LTDA era pessoa jurídica controlada pelas
autoras, na forma do art. 1098 do Código Civil.
Quanto ao perigo de demora, tendo em vista a complexidade da falência das autoras,
bem como a possibilidade de que, com a demora na tramitação neste feito, possa
ocorrer dilapidação dos bens em questão, frustrando a presente demanda até o
mérito.
Demonstrado está, portanto, o periculum in mora.
Dessa forma, concedo a tutela provisória de urgência, na forma do art. 300 do CPC
e art. 137 da LFRJ, e determino o sequestro da totalidade das quotas sociais da
RAKUTEN MARKETING BRAZIL LTDA (1ª Ré), de propriedade da RAKUTEN, INC
(2ª Ré) no valor de R$ 33.941.383,00 até o desfecho do presente feito, com o
dever dos administradores da RAKUTEN MARKETING BRAZIL LTDA prestarem
contas mensais às autoras.”

71. A referida decisão judicial reconheceu que a Nexgenesis Holdings Ltda.


(originalmente, Rakuten Brazil Holdings Ltda.) baixou, em 31.10.2019 3, em sua
escrituração contábil, na conta investimento (131007 – Participações Societárias), as
quotas sociais da Rakuten Marketing, no valor de R$ 5.473.687,66 (cinco milhões,
quatrocentos e setenta e três mil, seiscentos e oitenta e sete reais e sessenta e seis
centavos) (vide doc. nº 9):

3
Ou seja, duas semanas após o dia em que a Rakuten, Inc. (2ª Ré da Ação Declaratória de Ineficácia) alienou o
controle societário do GRUPO RAKUTEN NO BRASIL à TOG BRAZIL HOLDINGS, INC. pela bagatela de US$ 1,00
(um dólar norte-americano), com o nítido intuito de fazer sua blindagem patrimonial e se safar das responsabilidades
patrimoniais frente aos credores que tinha no Brasil (vide doc. nº 6).

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72. Frise-se, ainda, que o Juízo Falimentar levou em consideração o fato de que,
em 28.10.2019, a 14ª Alteração do Contrato Social da Rakuten Marketing indicou a
alienação total de suas quotas sociais, “sem aparente contraprestação legítima”,
pela Nexgenesis Holdings Ltda. e pela Gencomm Internet Services do Brasil Ltda. à
Rakuten Japão, quando “já estavam em estado de insolvência”.

73. Aliás, em 6.10.2021, esta C. 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do


Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo negou provimento ao agravo de
instrumento interposto por Rakuten Marketing e pela Rakuten Japão (doc. nº 21),
pois:

(i) a “NEXGENESIS HOLDINGS LTDA. deu baixa em sua escrituração contábil,


sem aparente contraprestação, das quotas sociais que possuía da RAKUTEN
MARKETING BRAZIL LTDA., no montante de R$ 5.473.687,66, quando as
empresas já se encontravam em estado de insolvência”;

(ii) “aparentemente, a Rakuten Marketing era a única sociedade empresária


superavitária do grupo Rakuten Brasil, já que todas as outras integrantes do
atual Grupo Gencomm eram deficitárias e faliram, fato que justifica o interesse
da Rakuten Group em realizar esse negócio jurídico, em detrimento dos
credores”;

(iii) “este fato foi apontado no relatório elaborado pelo Administrador Judicial
como uma das principais causas e circunstâncias da falência, já que um dos
únicos ativos que restaram ao grupo foram os recebíveis de titularidade dos
lojistas”.

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74. Como se não bastasse, a Rakuten Marketing e a Rakuten Japão

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confessaram que, de fato, a TOG, então titular de 100% das quotas da Rakuten
Holding há somente 4 dias, transferiu por R$ 2,00 as quotas de Rakuten Marketing
Brazil Ltda. (então controlada pela Rakuten Holding) para Rakuten Japão e juntaram
até o recibo comprovando o preço de R$ 2,00 (vide doc. nº 8).

75. Esse movimento óbvio de tentativa de blindagem patrimonial de Rakuten


Japão demonstrou que o claro intuito dessa sucessão empresarial era manter com
Rakuten Japão a única empresa do Grupo com operação relativamente saudável no
Brasil e isolar as sociedades deficitárias nas mãos de TOG.

76. Essa manobra societária arquitetada pelo Grupo Rakuten e TOG claramente
pode ser enquadrada como ato de abuso de poder de controle, na forma do
artigo 117, §1º, alínea “b” da LSA, uma vez que promoveu a “transformação”
societária das empresas do Grupo Rakuten, para obter vantagem indevida para si:

“Art. 117. (...)


§ 1º São modalidades de exercício abusivo de poder:
(...)
b) promover a liquidação de companhia próspera, ou a transformação, incorporação,
fusão ou cisão da companhia, com o fim de obter, para si ou para outrem, vantagem
indevida, em prejuízo dos demais acionistas, dos que trabalham na empresa ou dos
investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia;”

77. A Rakuten USA, embora minoritária, jamais se opôs a nenhum desses


movimentos, o que leva a crer que estava em conluio fraudulento com Rakuten Japão
e TOG. Inclusive, no julgamento do agravo de instrumento nº 2190828-
50.2022.8.26.0000, interposto contra a r. Decisão Agravada pelo ex-diretor jurídico
da Rakuten USA Reginald Rasch, esta C. Câmara já deliberou sobre atos que tocam
o envolvimento da Rakuten USA e de seu ex-diretor jurídico na fraude envolvendo
as Falidas [doc. nº 22], consignando que:

(i) a Rakuten USA também irá permanecer no pólo passivo, ao indicar que a
“sociedade empresária interveniente dessa operação RAKUTEN USA INC.
permanece no polo passivo da ação de responsabilização e logo também

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deve permanecer o agravante, pois o mesmo atuou ‘na qualidade de

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Conselheiro da LinkShare, Assuntos Jurídicos, Diretor Jurídico Associado, e

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Diretor Jurídico Adjunto’, passando então a atuar como ’Diretor Jurídico
Adjunto e Diretor Jurídico da Rakuten Marketing LLC‘, subsidiária integral da
Rakuten USA, e nesta atuado com dupla função, como ’Diretor Jurídico‘ entre
2005 até 03/05/2021, além de ’Secretário Corporativo‘ por quase dez anos
(agosto de 2011 a maio de 2021), períodos que abrangem os fatos narrados
na inicial”;

(ii) em razão de ocupar a posição de diretor jurídico da Rakuten USA, entende


que “não é crível que o agravante não tenha qualquer conhecimento
acerca do ilícito, até porque deveria tomar ciência da operação de venda
das quotas sociais por disposição contratual”;

(iii) fundamenta a responsabilização do Sr. Reginald Rasch na responsabilidade


“de ordem solidária e subjetiva, conforme interpretação analógica dos arts. 39
e 40 da Lei 6.024/76, que dispõe sobre a intervenção e liquidação das
instituições financeiras em crise”. Consigna ainda que “a responsabilidade
subjetiva do agravante é de natureza contratual”;

(iv) afastou a tese de que o Sr. Reginald seria parte ilegítima, por entender que o
“agravante deve permanecer no polo passivo diante de sua ocupação na
RAKUTEN USA INC., sociedade empresarial interveniente no contrato de
compra e venda de quotas firmado entre a vendedora RAKUTEN BRAZIL
HOLDINGS LTDA. e a compradora TOG BRAZIL HOLDINGS, INC., negócio
este reputado como fraudulento”;

(v) “apesar de inexistir a descrição de seu comportamento [do Sr. Reginald]


culposo na petição inicial, certo é que a defesa poderá desenvolver-se a partir
da narrativa global dos envolvidos na fraude e das regras de
responsabilização pela quebra dos sócios e administradores”;

(vi) “o feito está adequadamente instruído e, em razão do extenso litisconsórcio


formado na presente demanda, não há qualquer inadequação na narrativa
inaugural, ainda que reputadas genéricas pelo agravante”.

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78. No mesmo sentido, foi também proferido voto vencedor pelo Exmo. Des.

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Cesar Ciampolini no referido julgamento, em que foi destacada a atuação do Sr.
Reginald Rasch enquanto diretor jurídico da Rakuten USA e a ilicitude da operação
de venda da totalidade das quotas das Falidas:

(i) “De fato, como decorre da minuta recursal e é aferível da prova dos autos, o
agravante, enquanto diretor jurídico da Rakuten USA Inc., uma das antigas
controladoras indiretas das falidas, participou diretamente de operação,
tida por fraudulenta, consistente na alienação simulada de sociedades
integrantes do mesmo grupo, dentre elas as falidas, já insolventes à época, e
uma única sociedade rentável, a Rakuten Marketing Brazil Ltda.”;

(ii) “A operação tinha por finalidade última blindar o patrimônio das


controladoras estrangeiras, livrando-as das consequências da insolvência
das sociedades do grupo (as falidas) e retendo-se a única sadia (a Rakuten
Marketing), que foi, depois, readquirida”.

79. Diante de todos esses elementos, as Massa Falidas entendem demonstrados


os pressupostos de extensão da responsabilidade patrimonial às ex-sócias das
Falidas pelo passivo da Massa Falida.

(e) Uso predatório do patrimônio das Falidas – Abuso da Personalidade


Jurídica e Abuso de Poder de Controle

(i) Precedente do TJSP acerca do ilícito decorrente da contratação


de linha de crédito no Itaú mediante cessão fiduciária de recebíveis de terceiros

80. Em 6.8.2019, dois meses antes da venda do negócio à TOG por valor irrisório
(1 dólar), a Rakuten Financial Services emitiu cédula de crédito bancário nº
730700346242 (“CCB”) em favor do Banco Itaú Unibanco S/A (“Itaú”) (doc. nº 23),
aumentando, materialmente, sua exposição a crédito rotativo junto ao Itaú para o
vultoso montante de R$ 65.000.000,00 (sessenta e cinco milhões de reais).

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81. A referida linha de crédito foi garantida pela constituição de cessão fiduciária

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de recebíveis no montante correspondente a 100% da soma dos valores de principal

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mais acessórios das obrigações garantidas, nos termos de três instrumentos
particulares de cessão fiduciária de direitos creditórios (em conjunto, a “Cessão
Fiduciária de Direitos Creditórios”) (doc. nº 24) 4.

82. A assunção dessa obrigação financeira junto ao Itaú se deu em montante


absolutamente incompatível com as receitas auferidas e projetadas pelas Falidas em
agosto de 2019, conforme o relatório apresentado pela Ilma. Administradora Judicial
(vide doc. nº 17), o que por si só já caracteriza ato de má-gestão.

83. De qualquer forma, nas palavras da própria instituição financeira que


concedeu o empréstimo, a concessão da linha de financiamento “levou em
consideração a circunstância de ela integrar um conglomerado japonês
multibilionário” (doc. nº 25).

84. Todavia, a partir de dezembro de 2019, ou seja, poucos meses após a


emissão da CCB acima referida, a falida Gencomm Financial Services, já sob
controle da TOG, passou a inadimplir suas obrigações de pagamento perante o Itaú.

85. Esse inadimplemento, por sua vez, deu-se praticamente um mês após a
conclusão da alienação do controle das Falidas pelo Grupo Rakuten à TOG e é uma
demonstração inconteste de que, à época da transferência das participações
societárias, as Falidas já se encontravam em estado de insolvência, incapazes de
honrar suas obrigações. Aliás, tal situação vinha sendo artificialmente postergada
como demonstra a emissão da CCB, em benefício exclusivo das ex-controladoras,
que procuravam alguém para assumir as dívidas em paralelo.

86. Com o inadimplemento da CCB e o esvaziamento do controle societário até


então exercido pelo Grupo Rakuten, o Itaú passou a reter os recebíveis dados em

4
São eles o Termo de Constituição de Garantia de Cessão Fiduciária de Direitos de Crédito – Recebíveis de Cartão
de Crédito, Débito e/ou Outros Benefícios – Hipercard, conforme aditado, o Instrumento Particular de Cessão
Fiduciária de Direitos Creditórios (Recebíveis de Cartão de Crédito e Débito) nº 0041048351 e o Instrumento
Particular de Cessão Fiduciária de Direitos Creditórios (Recebíveis de Cartão de Crédito e Débito) nº 0041049965.

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garantia para amortização do saldo devedor da cédula, por meio da excussão

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(consolidação de propriedade) da cessão fiduciária de direitos creditórios. Ao total,

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os recursos indevidamente retidos (consolidados) pelo Itaú somam
aproximadamente R$ 77,3 milhões 5.

87. Ocorre que os recebíveis dados em garantia ao Itaú se referem a valores


devidos pelas credenciadoras de cartão de crédito (Cielo, Redecard, dentre outras)
aos clientes da Rakuten (lojistas). Ou seja, os titulares da propriedade dos recebíveis
são os lojistas e não o Grupo Rakuten – fato curiosamente omitido da argumentação
das Agravantes quando alegam que a operação com o Itaú era “absolutamente
corriqueira para qualquer atividade empresarial”.

88. Conforme cláusula padrão dos contratos celebrados entre o Grupo Rakuten
e os lojistas, cabia à Gencomm Financial Services (à época, ainda Rakuten Financial
Services) a mera intermediação entre os lojistas e as credenciadoras de cartões de
crédito (Cielo, Redecard, dentre outras), por meio do oferecimento de plataforma
para lojas realizarem operações de vendas em varejo pela Internet.

89. Diante das informações de diversos lojistas de que seus recebíveis estavam
sendo excutidos (consolidados) pelo Itaú, em 28.8.2020, o D. Juízo Falimentar
reconheceu que tais recebíveis, de fato, eram de titularidade dos lojistas. Tal decisão
foi objeto de agravos de instrumento interpostos pelas Falidas e pelo Itaú.

90. Em 7.4.2021, esta C. 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJSP


decidiu, por votação unânime 6, pela integral manutenção da decisão de Primeira
Instância, reiterando que os recebíveis dados em garantia ao Itaú eram de
titularidade dos lojistas. Além disso, este E. TJSP reconheceu que as Falidas
violaram a boa-fé contratual ao ceder fiduciariamente bens de terceiros, resultando
na perda de clientela e inviabilização do negócio, em evidente ato de má gestão.

91. Este E. TJSP concluiu que “as falidas, ao conferirem, em garantia de

5
R$ 77.337.053,03, conforme atualizado até 30.4.2021.
6
Agravo de instrumento nºs 2220888-74.2020.8.26.0000 e 2213101-91.2020.8.26.0000.

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financiamento bancário próprio, créditos que não lhe pertenciam, pois

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nitidamente estranhos a seu patrimônio e inconsistentes com a dinâmica de seu

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modelo de negócios, a pretexto de previsão contratual autorizativa, certamente o
fizeram contrariando princípios de boa-fé (artigo 411 do CC), levando-as a um
super endividamento, pois o valor tomado é absolutamente incompatível com os
montantes de receitas próprias” (doc. nº 26).

92. Como consequência, o E. TJSP ordenou ao Itaú a integral restituição dos


montantes indevidamente outorgados em garantia pela Rakuten Financial Services
e excutidos irregularmente pelo Itaú, descontados os montantes que seriam de
titularidade da Rakuten Financial Services a título de remuneração pela prestação de
serviços a seus clientes.

93. Ou seja, analisando todos os pontos acima relatados, o E. TJSP reconheceu


que houve a apropriação indevida de bens de terceiros pela Rakuten Financial
Services, ao firmar a CCB, dando em garantia recebíveis de lojistas para a obtenção
de linha de crédito junto ao Itaú. Isso porque os recebíveis pertenciam
exclusivamente aos clientes das Falidas (pequenos lojistas que buscavam os
serviços das empresas do Grupo Rakuten para veicular seus produtos e serviços por
meio do e-commerce).

94. Portanto, evidente que o E. TJSP já reconheceu a ilicitude do ato praticado


pela Rakuten Financial Services, à época representada pelo Sr. Renê Toshiro Abe,
junto ao Itaú, descrevendo tal ato como transferência fraudulenta em garantia
de bens de terceiros. Logo, resta patente que houve prática de ilícito pelas Falidas
para postergar o reconhecimento do estado de insolvência em benefício exclusivo
das ex-controladoras, em nítido abuso de poder de controle e da personalidade
jurídica.

(ii) Pagamentos de bônus de retenção elevados aos ex-executivos


das Falidas

95. No ano de 2019, as empresas Rakuten Brazil Holding Ltda. e Rakuten Brasil
Internet Service Ltda. efetuaram pagamentos de bônus de transação/retenção aos

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Srs. (i) Renê Toshiro Abe, diretor estatutário da Rakuten Brazil Holding Ltda. (doc.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2268287-31.2022.8.26.0000 e código Kn5bAyJM.
nº 27); (ii) Rodrigo Panachi (doc. nº 28), (iii) Fernanda Agresta Santos (doc. nº 29),

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA JULIA LISSA SATO CHUBACI, protocolado em 30/11/2022 às 18:49 , sob o número WPRO22014517851.
(iv) Luiz Celso Meissner Baptista (doc. nº 30); e (v) Luiz Henrique Pelizon Loureiro
(doc. nº 31), os quatro últimos diretores da Rakuten Brasil Internet Service Ltda.

96. Vale frisar que o acordo para pagamento de bônus de retenção ao Sr. Renê
Toshiro Abe, celebrado em 1.4.2019, garantia ao Sr. Rene Toshiro Abe o pagamento
extra, além de seu pró-labore (que não era baixo), de um bônus de USD 100 mil,
com o objetivo “incentivar o Executivo a colaborar diligentemente com os trâmites
necessários para promover a transação de mudança de sócio da Empresa ou de
suas subsidiárias” (vide doc. nº 27).

97. A oferta dos bônus constituiu um inegável incentivo para que se agisse no
interesse da acionista Rakuten Japão, em violação ao dever fiduciário com as
Falidas, postergando artificialmente o estado de insolvência até encontrar alguém
disposto a receber valores para assumir o controle acionário ou receber a
participação societária sem custo algum.

98. No acordo firmado entre a Rakuten Brasil Internet Service Ltda. e a Sra.
Fernanda Agresta Santos, também celebrado em 1.4.2019, ofertou-se para a referida
Diretora Jurídica um pagamento extra, além do seu salário (que também não era
baixo), de bônus de retenção de USD 15 mil, também com o objetivo de “incentivar
a permanência do colaborador de modo que este permaneça em seu emprego atual
até que uma das condições abaixo ocorram: (a) início da transição societária da
empresa, ou de sua controladora (Rakuten Brasil Holding Ltda. – RBH), para um
comprador de suas quotas, via apresentação formal de proposta de aquisição das
quotas, podendo este documento ser vinculante ou não vinculante; ou (b)
transcorrido 9 (nove) meses da assinatura desse termo” (vide doc. nº 29).

99. Frise-se que quem assinou esse ato de extrema “benevolência” com a Sra.
Fernanda Agresta Santos foi o Sr. Renê Toshiro Abe, o que claramente demonstra o
conluio entre esses atores para, de um lado, exercer atos no interesse exclusivo da
Rakuten Japão e, de outro lado, dilapidar o patrimônio das Falidas.

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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2268287-31.2022.8.26.0000 e código Kn5bAyJM.
100. Já o aditamento ao acordo de retenção do Sr. Rodrigo Panachi (vide doc. nº

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA JULIA LISSA SATO CHUBACI, protocolado em 30/11/2022 às 18:49 , sob o número WPRO22014517851.
28), celebrado em 17.6.2019, também concedido pelo Sr. Renê Toshiro Abe, traz um
aumento no bônus originalmente estimado em USD 20 mil para USD 50 mil.

101. Só nesses três casos, vemos que, entre abril e junho de 2019, embolsaram
“extras” de USD 165 mil do caixa das Falidas, às vésperas da venda das quotas à
TOG.

102. Frise-se ainda que os Srs. Luiz Celso Meissner Baptista e Luiz Henrique
Pelizon Loureiro, também ex-Diretores da Rakuten Brasil Internet Service Ltda.,
também foram beneficiados por esses bônus da retenção (vide docs. nº 30 e 31).
Supondo patamares semelhantes de pagamentos, não seria irreal imaginar que
as Falidas tenham gastado quase R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) com
bônus de retenção para somente 5 ex-executivos das Falidas.

103. Não é razoável que empresas em situação de elevado nível de endividamento


se obriguem e paguem tão vultosa quantia a 6 (seis) executivos, em contrapartida a
suposto trabalho (que não durou nem três meses!) de auxiliar as Falidas a terem
suas quotas fraudulentamente vendidas por 1 dólar para um fundo norte-americano.
Ainda mais quando se percebe que essa venda de quotas se prestou,
exclusivamente, para postergar o reconhecimento do estado de insolvência e,
assim, blindar Rakuten Japão dos riscos inerentes à situação de suas
controladas brasileiras.

104. A remuneração e os atos praticados tiram por finalidade única atender os


interesses dos cotistas, em abuso do controle e da personalidade jurídica de um lado,
e violação de deveres fiduciários de outro.

105. Tanto é que as próprias Agravantes afirmam que tais bônus teriam sido pagos
com dinheiro depositado pela Rakuten USA para a TOG ou com dinheiro injetado
pela Rakuten Japão nas Falidas – sem maiores explicações.

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(iii) Exposição das Falidas às atividades deficitárias de XIAOMIBRZ

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106. As Agravantes alegam que não teria havido uso predatório do patrimônio das
Falidas ou gestão ruinosa na manutenção e ampliação da relação comercial com a
empresa XIAOMIBRZ, pois a operação nada mais seria do que uma decisão
comercial para buscar receitas e “a XIAOMIBRZ se tratava de uma relevante
revendedora de produtos XIAOMI” – a despeito de ter sido criada apenas 12 (doze)
dias antes da contratação com as Falidas (doc. nº 32).

107. Ocorre que a Massa Falida identificou evidências no sentido de que os


diretores das Falidas insistiram em manter operações deficitárias com a empresa
XIAOMIBRZ, mesmo cientes dos problemas com chargebacks (obrigação de
devolução de valores de compras canceladas em cartões de crédito) que a
XIAOMIBRZ vinha apresentando.

108. Em troca de e-mails datada de setembro a outubro de 2019 entre funcionários


da Rakuten, uma colaboradora da Rakuten questiona acerca da possibilidade de
incluir multa contratual ou taxa fixa de análise para as ocorrências de casos de
“chargebacks” em relação à XIAOMIBRZ (doc. nº 33).

109. Tal e-mail deve ser analisado considerando que as Falidas teriam recebido,
até a semana anterior à data do e-mail, cerca de R$ 5 milhões de reais de
“chargebacks” da XIAOMIBRZ (doc. nº 34). Sabe-se que devolução de valores de
compras canceladas em cartões de crédito implicavam em reiterados prejuízos às
Falidas.

110. Ou seja, a referida troca de e-mails evidencia que a XIAOMIBRZ já estaria


causando problemas à Rakuten e, mesmo assim, as Falidas insistiriam em manter
operações deficitárias com a referida empresa, com elevadíssima concentração da
sua atividade com esse cliente.

111. Além disso, o Sr. Paulo Roberto Abreu indicou em e-mail enviado em
22.3.2019 que a contratação com a XIAOMIBRZ (classificada com cliente de alto
risco) já representaria risco à relação da Rakuten com a Cielo – servidor importante

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para suas operações (doc. nº 35). Ademais, o dono da XIAOMIBRZ já havia causado

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problemas para as Falidas anteriormente devido aos inadimplementos de seu

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investimento anterior, a loja Invicta (doc. nº 36)

112. As referidas cadeias de e-mails, portanto, demonstram que já haviam


indícios de que a XIAOMIBRZ prestava serviços aos consumidores de forma
deficitária e a operação com essa empresa seria de alto risco. Ignorando tais
riscos, mesmo assim, as Falidas, mais uma vez, por atos de seus gestores, optaram
por manter e ampliar operações deficitárias com a referida empresa.

(iv) Decisão comercial sob controle de TOG em vista do risco de


acionamento contra o Grupo Rakuten – Confusão patrimonial e abuso da
personalidade jurídica

113. Ao contrário do afirmado pelas Agravantes, há indícios concretos de que


houve confusão patrimonial e abuso da personalidade jurídica quando o Sr. Luis
Pelizon (Diretor de Vendas da Rakuten Brasil) utilizou, como argumento para a
manutenção do contrato em margem negativa, o risco de ação contra o Grupo
Rakuten – e não “mera negociação”.

114. Em troca de e-mails datada de janeiro de 2020, a Gencomm teria enviado e-


mail a clientes reajustando em 6% os serviços de plataforma (doc. nº 37). A cliente
argumenta que o reajuste ainda não seria devido, considerando o prazo do contrato.
Além disso, informa considerar desarrazoado o ajuste em 300% (trezentos por
cento).

115. Ou seja, a corrente de e-mails acima é relevante, porque gerou troca de e-


mails interna em que é discutida a possibilidade de manter a margem negativa para
evitar eventual ação judicial da cliente, demonstrando a prática de atos ruinosos e de
má-gestão em benefício das ex-controladoras.

116. Nessas comunicações internas, o Sr. Luis Pelizon (Diretor de Vendas da

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Rakuten Brasil 7) utiliza como argumento para a manutenção do contrato em

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margem negativa o risco de ação contra a Rakuten:

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117. Isto sugere que determinadas decisões comerciais tomadas pela
administração das Falidas, já nomeada por TOG, levaram em consideração não os
interesses preponderantes das empresas do Grupo Gencomm como lhe impunham
os deveres fiduciários da administração da Gencomm, mas os interesses do Grupo
Rakuten (ex-controladoras).

118. Tal fato é mais um indício da incomum relação entre TOG e o Grupo Rakuten,
demonstrando possível atuação da primeira como testa de ferro da segunda, em
clara demonstração de confusão patrimonial e da ausência de centros decisórios
distintos entre TOG, Falidas e Grupo Rakuten. Toma-se uma decisão empresarial
em uma empresa, com o exclusivo intuito de evitar risco de exposição patrimonial da
outra empresa. Além disso, resta evidente intuito de promover a blindagem da TOG,
Rakuten Japão e Rakuten USA.

(v) Abuso do poder de controle decorrente de decisões tomadas por


Rene Toshiro Abe representando a Rakuten Japão

119. Na mesma linha do quanto acima salientado, pode-se dizer que uma série de

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Veículo empregador a ser confirmado.

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decisões tomadas pela ex-controladora Rakuten Japão, antes da venda do controle

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à TOG, representada pelo Sr. Rene Toshiro Abe, geraram evidente

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descapitalização das empresas do Grupo Rakuten em favor da ex-controladora
Rakuten Japão.

120. Por exemplo, a ex-controladora Rakuten Japão, aprovou em Reunião de


Sócios Quotistas, as contas das empresas do Grupo Rakuten, que informaram sobre
(i) pagamentos de bônus de retenção com dinheiro tomados emprestado junto ao
Itaú em nome das Falidas; e (ii) manutenção de operações deficitárias com a
empresa XIAOMIBRZ, mesmo ciente dos problemas com chargebacks (devolução
de valores de compras canceladas em cartões de crédito).

121. Ou seja, ao menos nas Reuniões dos Sócios Quotistas de 2018 e 2019 que
aprovaram as contas das gestões 2017/2018 e 2018/2019 da Rakuten Internet e da
Rakuten Holdings, as decisões tomadas pelo Sr. Rene Toshiro Abe, como
representante da ex-controladora Rakuten Japão, foram abusivas e representaram
abuso de poder de controle da ex-controladora Rakuten Japão (docs. nº 38 e 39).

122. Tal hipótese já foi analisada pelo TJSP em ação de responsabilização de


acionista controlador e administrador, com base nos artigos 115 e 117 da LSA:

“Há evidente descapitalização da Maringá em favor de sua controladora e de


outras controladas, decorrente de simples decisões em reuniões de Diretoria,
da qual Roberto faz parte.
Ora, o princípio básico adotado pelo Projeto que se converteu na Lei n. 6.404/76,
“e que constitui o padrão para apreciar o comportamento do acionista
controlador, é o de que o exercício do poder de controle só é legítimo para fazer
a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e enquanto
respeita e atende lealmente aos direitos e interesses de todos aqueles
vinculados à empresa os que nela trabalham, os acionistas minoritários, os
investidores do mercado e os membros da comunidade em que atua”
(Exposição Justificativa, de lavra dos anteprojetistas Alfredo Lamy Filho e José
Luiz Bulhões Pedreira, in “Das Sociedades Anônimas Comentários à Lei”, José
Waldecy Lucena, Vol. 1, Rio de Janeiro, Renovar, 2009, p. 1.073).
Ainda a respeito do acionista controlador, José Waldecy Lucena registra que “a Lei
separa as responsabilidades do controlador e as dos administradores. E do que se
conclui que o administrador ainda que posto no cargo por obra do controlador (o
chamado homem de palha ), que o fez eleger por assembleia sob seu controle , há
de ser responsabilizado pelos atos praticados em detrimento de outros acionistas, dos

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empregados da companhia ou da comunidade em que esta atua. Claro que

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demonstrada a culpa concorrente do controlador, este também responderá pelo dano

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causado” (opus cit ., p. 1.086).
O art. 117 da LSA dispõe que o acionista controlador responderá “pelos danos
causados por atos praticados com abuso de poder”, destacando-se, entre o rol
exemplificativo, as seguintes modalidades: (1) “promover alteração estatutária,
emissão de valores mobiliários ou adoção de políticas ou decisões que não
tenham por fim o interesse da companhia e visem a causar prejuízo a acionistas
minoritários, aos que trabalham na empresa ou aos investidores em valores
mobiliários emitidos pela companhia” alínea c; (2) “contratar com a companhia,
diretamente ou através de outrem, ou de sociedade na qual tenha interesse, em
condições de favorecimento ou não equitativas” alínea f; (3) “aprovar ou fazer
aprovar contas irregulares de administradores, por favorecimento pessoal, ou
deixar de apurar denúncia que saiba ou devesse saber procedente, ou que
justifique fundada suspeita de irregularidade” alínea g.
(...)
Dispõe o caput do art. 115 da LSA que “o acionista deve exercer o direito a voto
no interesse da companhia”, considerando-se “abusivo o voto exercido com o
fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter, para si ou
para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar,
prejuízo para a companhia ou para outros acionistas”. (Apelação Cível nº
1053084-94.2017.8.26.0100, 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do
Tribunal de Justiça de São Paulo, Des. Rel. Ricardo Negrão, j. 21.7.2020)

123. Ou seja, evidente que o Sr. Rene Toshiro Abe, enquanto representante da
Rakuten Japão, violou os artigos 115 e 117 “g” da LSA ao votar pela aprovação das
contas sem levantar possíveis irregularidades nas gestões 2017/2018 e 2018/2019
da Rakuten Internet e da Rakuten Holdings.

124. Como se não bastasse, o Sr. Rene Toshiro Abe, representando a Rakuten
Japão, também se omitiu em adotar políticas de saneamento das finanças das
empresas do Grupo Rakuten, deixando de orientar os negócios da empresa de modo
sustentável. Ou seja, houve abuso do poder de controle na postergação do
reconhecimento da situação de insolvência no contexto da operação fraudulenta de
venda das quotas das Falidas à TOG.

125. Todavia, o Sr. Rene Toshiro Abe, representando a Rakuten Japão optou por
aprovar as contas, sem ressalvas, em claro intuito de se eximir de responsabilidade,
incorrendo em evidente ato de abuso de poder de controle na forma dos artigos 115
e 117, alínea “g” da LSA. Ademais, por ter deixado de adotar políticas de controle do
endividamento das empresas do Grupo Rakuten, em especial da Rakuten Internet e

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da Rakuten Holdings, acabou por agir em abuso de poder de controle, por omissão,

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na forma do artigo 117, alíneas “a” e “c” da LSA.

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(f) Desconsideração da Personalidade Jurídica

126. Conforme acima tratado, a extensão da responsabilidade patrimonial aos ex-


sócios das Falidas, além de encontrar respaldo nas regras do CC, da LSA e da LRF,
também deverá considerar as disposições do CDC e do CTN. Isso porque, os lojistas
que firmaram contratos com a Rakuten, bem como o Fisco, também seriam tutelados
pelo Incidente, enquanto credores a serem beneficiados pelo pagamento do total do
passivo da Massa Falida.

127. Assim, segundo o artigo 28, caput e § 5º, do CDC e o artigo 134, VII, do CTN,
o estado de insolvência de uma empresa seria suficiente para a
extensão/redirecionamento da responsabilidade patrimonial aos sócios:

“Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando,


em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da
lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração
também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência,
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má
administração.
(...)
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores.”

“Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação


principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que
intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis:
(...)
VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.”

128. De qualquer forma, cabe às Massas Falidas ressaltar que, ainda do ponto de
vista mais restritivo do artigo 50 do CC, encontram-se configurados os pressupostos
de desconsideração da personalidade jurídica das Falidas, para a extensão da
responsabilidade patrimonial aos sócios.

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129. Como se sabe, o artigo 50 do CC permite a desconsideração da

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personalidade jurídica em caso de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.

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130. In casu, evidente a necessidade de desconsideração da personalidade
jurídica das Falidas para alcançar os bens das demais empresas que figuraram como
sócias. O conjunto probatório ora trazido comprova o desvio de finalidade no uso das
pessoas jurídicas, por meio da manutenção de contratos confessadamente
deficitários para postergação do reconhecimento da situação de insolvência para
atender exclusivamente os interesses das cotistas, bem como por meio da sucessão
irregular de atividades do Grupo Rakuten Rakuten por TOG, e a confusão patrimonial
entre as empresas do Grupo e entre as empresas do Grupo e seus sócios (art. 50,
§§ 1° e 2° do CC).

131. Mesmo antes da venda à TOG, embora fossem constituídas formalmente


veículos empresariais distintos, todas as quatro empresas operacionais do Grupo
Rakuten tinham o mesmo quadro de administradores, uma gestão de caixa única,
compartilhavam sede e serviços (vide docs. nº 2 a 5).

132. Conforme visto acima, os ex-administradores das Falidas tomaram inúmeras


decisões empresariais que configuram atos ilícitos, o que inclui atos com violação
dos deveres fiduciários, a demonstrar abuso do uso personalidade pelas cotistas e
desvio da finalidade das Falidas em benefício das sócias. Os atos também indicam
a existência de confusão patrimonial.

133. Segundo Nelson Nery Júnior, o abuso da personalidade consiste na


“possibilidade de se ignorar a personalidade jurídica autônoma da entidade
moral sempre que esta venha a ser utilizada para fins fraudulentos ou diversos
daqueles para os quais foi constituída, permitindo que o credor de obrigação
assumida pela pessoa jurídica alcance o patrimônio particular de seus sócios
ou administradores para a satisfação de seu crédito” 8.

8
NERY JUNIOR, Nelson – Código Civil Comentado / Nelson Nery Junior, Rosa Maria de Andrade Nery – 9 ed. –
São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 310.

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134. A venda das quotas tratada acima indica que o único intuito da engenharia

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societária executada pela Rakuten Japão, Rakuten USA, TOG, Falidas e seus

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administradores era lesar credores, procurando isentar-se das responsabilidades.

135. O movimento societário de outubro de 2019, seis meses antes da decretação


da falência da das Falidas, era uma óbvia tentativa de blindagem patrimonial de
Rakuten Japão. O claro intuito dessa sucessão empresarial era manter com a
Rakuten Japão a única empresa do Grupo com operação saudável no Brasil, a
Rakuten Marketing, e isolar as sociedades deficitárias nas mãos de TOG.

136. Constata-se que há farto conjunto probatório que comprova a sucessão


irregular de atividades por TOG e a confusão patrimonial entre as empresas do Grupo
Rakuten e entre as empresas do Grupo Rakuten e seus sócios. Pelo exposto acima,
verifica-se que a arquitetura atual do Grupo Rakuten e Gencomm consiste em abuso
da personalidade jurídica.

137. A situação dos autos guarda grande semelhança com a situação fática tratada
no âmbito de uma ação de extensão de responsabilidade patrimonial ajuizada pela
Massa Falida de Imbra S/A contra a sócia à época da falência (Arbeit Gestão de
Negócios Ltda.) e as ex-sócias controladoras (fundo de private equity GP Capital
Partners Ltda. e Smiles LLC) da empresa falida Imbra S/A, que haviam alienado o
controle da Imbra S/A, logo antes da quebra por US$ 1,00 à Arbeit.

138. O Juízo da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Foro Central


da Comarca de São Paulo julgou procedente a demanda a fim de condenar todos os
réus, solidariamente, ao pagamento em favor da massa falida, das quantias
referentes às condenações em ações indenizatórias propostas por consumidores das
falidas, danos morais e materiais (doc. nº 40). Tal condenação foi mantida em grau
de recurso pelo E. TJSP (docs. nº 41 e 42).

139. O caso guarda semelhanças com o presente pois, por exemplo: (i) houve a
extensão da responsabilidade patrimonial da sócia e da ex-sócia que alienou o
controle logo antes da quebra por US$ 1,00; (ii) o caso envolvia a venda suspeita do

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controle acionário da Imbra S.A. e a má gestão da Imbra S.A. pelos seus ex-

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administradores; (iii) o caso envolvia danos a consumidores, em razão do

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fechamento abrupto de clínicas de serviços odontológicos. Assim, a
responsabilização solidária e extensão da responsabilidade às ex-controladoras
fundamentou-se nos artigos 82 da LRF e 28, §5º do CDC.

140. Neste ponto, vale destacar os trechos abaixo da sentença e do acórdão


proferido pelo E. TJSP, para salientar as similitudes dos casos:

Sentença

“Trata-se de ação de reparação de danos proposta pela MASSA FALIDA de IMBRA


S/A contra GP CAPITAL PARTNERS V, LP (“GP”), SMILES LLC(“Smiles”) e ARBEIT
GESTÃO DE NEGÓCIOS LTDA. (Arbeit), pelas seguintes razões, em síntese: a) A
Imbra foi constituída como prestadora de serviço odontológico, realizando ampla
publicidade, oferecendo colocação de prótese e pagamentos parcelados com
financiamento, ou seja, tratando a saúde do consumidor como mercadoria; b) com a
sua expansão, atraiu o interesse do GP, fundo de private equity de grande reputação
no mercado, que por meio de veículos de investimento, como a Smiles, adquiriu o
controle da Imbra; c) o GP assumiu o controle e continuou com o sistema de venda
de próteses, sem cuidados com a saúde do consumidor, e depois de sucessivos
prejuízos alienou o controle à Arbeit, especializada em comprar negócios em situação
falimentar e com sócio incluídos entre os maiores devedoras da Previdência Social;
d) sem crédito, a Arbeit decidiu requerer a autofalência de sua controlada, a Imbra,
fechando as portas das clínicas da noite para o dia, deixando milhares de
consumidores sem atendimento, além dos já prejudicados por serviços
inadequadamente prestados; e) os consumidores têm ajuizado ações de indenização
contra a massa falida, que se vê condenada a pagar os valores, mas não dispõe de
recursos para pagamento, na falência.
(...)
Segundo a nova Lei de Falências (art. 82), o comprometimento pessoal dos
sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e administradores será
apurado no próprio juízo da falência, com observância das respectivas leis.
Portanto, os controladores não respondem apenas com base na legislação
societária, mas com fundamento na legislação tributária, antitruste e do
consumidor, esta invocada pela autora.
(...)
A relação de consumo entre Imbra e consumidores, assim como a pretendida
responsabilização dos ex-controladores da Imbra pelos danos causados a esses
consumidores, está sujeita às normas do CDC.
Embora vozes doutrinárias levantem-se contra a responsabilização do controlador,
em matéria de relação de consumo o STJ consagrou o entendimento de que o
art. 28, par. 5º., da Lei 8078/90 autoriza a drástica medida sem necessidade de
exame de aspectos subjetivos (cf. Resp 279.273/SP; 1106072/MS; 737.000/MG).

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(...)

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2268287-31.2022.8.26.0000 e código Kn5bAyJM.
Por isso, e invocando as disposições do CDC, requer a massa falida a

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desconsideração da personalidade jurídica das ex-controladoras da Imbra, reais
responsáveis pelos prejuízos causados aos consumidores, para que sejam
condenadas a pagar à massa falida os valores que ela será obrigada a pagar aos
consumidores, no processo falimentar.
Por fim, quando decidiu-se pela venda do negócio, o GP alienou o controle à Arbeit,
que tinha seu nome vinculado à aquisição de empresas em crise e com um sócio na
lista dos maiores devedoras da Previdência Social (fls. 560 e 623).
A Arbeit, por sua vez, pagou simbolicamente um dólar norteamericano pela
aquisição da Imbra, com a promessa de receber mais quarenta milhões de Reais
da GP, desde que terminasse os tratamentos odontológicos (fls. 955; cláusula
4.2., a, iii), mas admitiu que a aquisição do controle da Imbra se deu sem uma
auditoria (fls. 428), ou seja, sem saber qual o caixa da companhia (fls.1250/1251).
Ora, se Arbeit não tinha a noção exata do fluxo de caixa e do montante de
recursos necessários a terminar os tratamentos, claro que a estimativa prevista
no contrato com a GP era temerária, novamente revelando um negócio de venda
de controle lesivo aos interesses dos consumidores.
Finalmente, a Arbeit decidiu-se pelo requerimento de autofalência da Imbra, sob o
fundamento de que a execução movida pelo banco KDB “fechou” o mercado de
crédito para a companhia, mas sequer cogitou da medida de recuperação.
Se a Arbeit tinha justificado a aquisição do controle da companhia porque
confiava na viabilidade do negócio, não havia razão para poucos meses depois
ignorar a alternativa da recuperação judicial, decidindo abruptamente pelo
fechamento das clínicas e sequer conservando os prontuários dos pacientes,
em clara desconsideração a seus interesses.
Nesse contexto, os ex-controladores devem ser responsabilizados pelos danos
causados aos consumidores da Imbra, reconhecidos nas ações por eles movidos
contra a massa falida, que não tem recursos para satisfazer tais créditos.
Pelo exposto, julgo procedente a demanda para condenar os réus,
solidariamente, ao pagamento, em favor da massa falida, das quantias relativas
às condenações que têm suportado, por força de sentenças condenatórias
proferidas nas ações de indenização propostas pelos consumidores da Imbra,
em virtude dos danos morais e materiais por eles suportados.” (vide doc. nº 40)

Acórdão em sede de Apelação

“A apelante GP adquiriu sem grande diligência o controle da apelada (fs.


1.153/1.155), sem levar em conta o interesse primordial dos consumidores de serviço
de saúde prestado por ela.
Nos autos não há qualquer elemento de que tenha diligenciado serviços aptos a
melhorar a prestação do serviço. Ao contrário, sua atuação como controladora
implicou perda de qualidade, redução de profissionais e aumento do prazo das
consultas (fs. 218/230 e 285/293).
Não há dúvida, ainda, que a transferência do negócio pela GP à Arbeit não foi feita
de modo cauteloso (fs. 428) e acarretou elevado risco aos consumidores, porque
limitou-se a imputar à adquirente o dever de concluir tratamentos odontológicos sem

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noção exata de seus custos.

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É por isso que a atuação temerária das apelantes implica sua obrigação de

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indenizar a massa falida das quantias das condenações que as sentenças
movidas em face da IMBRA vierem a atribuir-lhe.” (vide doc. nº 41)

Acórdão em sede de Embargos de Declaração

“De fato, o acórdão não responde expressamente às alegações de cerceamento de


defesa, pois manteve a sentença integralmente, conforme se vê a fs. 1.673, inclusive
em relação a essa questão. A r. sentença passou ao julgamento antecipado, pois
levou em conta a desnecessidade da apresentação de outras provas, diante da
verificação de que que a massa falida vem sendo condenada reiteradamente por
atos lesivos praticados por seus ex- controladores, de modo que faz jus ao
ressarcimento das quantias que é obrigada a despender, consignando a
jurisprudência do E. STJ autoriza a desconsideração também contra os controladores
com amparo no art. 28, §5, do CDC, sem necessidade do exame de seus aspectos
subjetivos (Resp. ns. 279.273 e 1106072), conforme se vê a fs. 1.673 e 1.674. Dessa
forma, considerando a desnecessidade da dilação probatória e ausente argumento
capaz de modificar a conclusão do julgado, não há que se falar em cerceamento de
defesa.” (vide doc. nº 42)

141. Assim como a Arbeit pagou o valor simbólico de 1,00 dólar pela aquisição da
Imbra S.A., a TOG, fundo americano, também pagou 1 dólar pelas empresas do
Grupo Rakuten no Brasil.

142. Da mesma forma, poucos meses após a aquisição empresas do Grupo


Rakuten no Brasil pela TOG, a falência das empresas adquiridas foi decretada, assim
como no caso Imbra. Além disso, havia evidente confusão patrimonial.

143. Conforme ensina CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO, a desconsideração da


personalidade jurídica se presta a debelar uma situação de fraude e é legitimo
instrumento útil à efetivação dos direitos do credor e da garantia constitucional de
acesso à justiça:

"A desconsideração da personalidade jurídica conduz à responsabilidade do sócio nos


casos em que a sociedade é manipulada como instrumento de fraude. Esse intuito
chegou ao pensamento jurídico brasileiro mediante assimilação da disregard doctrine,
desenvolvida nos tribunais norte-americanos, ganhando celebridade a partir do apoio
e divulgação que lhes deram Rubens Requião e Jose Lamartine Corrêa de Oliveira.
Antes, a Consolidação das Leis do Trabalho já permitia levar a responsabilidade por
obrigações da sociedade além dos limites do patrimônio desta, para atingir as demais

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pessoas integrantes da mesma constelação empresarial (art. 2o, par 2o). Mais

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recentemente, o Código de Defesa do Consumidor autoriza expressamente a

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desconsideração da pessoa jurídica, a ser feita pelo juiz e, processos referentes a
relações de consumo, "quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de
direito, excesso de poder, infração a lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos e
ou contrato social" (art. 28).
Indo além dessas disposições bem particularizadas em setores específicos, os
tribunais praticam a desconsideração da personalidade jurídica para
responsabilizar sócios também em situações não previstas nas leis societárias
ou tributarias - aplicando-a em relação a débitos perante fornecedores,
prestadores de serviços, mutuantes em geral etc. Isso é feito exclusivamente
diante de situações de fraude - porque o combate a esta é o objetivo único da
disregrad doctrine e, sem uma conduta fraudulenta a debelar, impõe-se a
clássica destinação entre a personalidade jurídica do sócio e da sociedade a
que pertence. Observas essas limitações, a desconsideração da personalidade
jurídica é um legitimo instrumento útil à efetivação dos direitos e da garantia
constitucional de acesso à justiça, mediante a responsabilização dos bens dos
sócios pelas obrigações da sociedade.” (Dinamarco, Cândido Rangel, Instituições
de Direito Processual Civil, Volume IV, São Paulo: Malheiros Editores, 2004, pag. 366)

144. A responsabilidade patrimonial secundária “se resolve na aptidão dos bens


de uma pessoa a serem objeto de constrições judiciais” (Dinamarco, Cândido
Rangel, Instituições de Direito Processual Civil, Volume IV, São Paulo: Malheiros
Editores, 2004, página 140).

145. Por essas razões, deve ser mantida a r. Decisão Agravada para atingir o
patrimônio das Agravantes, por abuso de personalidade jurídica, desvio de finalidade
e confusão, desvio, transferência e ocultação patrimonial.

(g) Adequação da via eleita

146. Diante de todos os fundamentos legais expostos, fica evidente a adequação


do Incidente para a atribuição da responsabilidade às ex-controladoras por meio de
desconsideração da personalidade jurídica das Falidas, conforme os arts. 82 e 82-A
da LRF:

Art. 82. A responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada,


dos controladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas
respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência, independentemente
da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado
o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil.

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fls. 153

§ 1º Prescreverá em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da sentença de

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encerramento da falência, a ação de responsabilização prevista no caput deste artigo.

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§ 2º O juiz poderá, de ofício ou mediante requerimento das partes interessadas,
ordenar a indisponibilidade de bens particulares dos réus, em quantidade compatível
com o dano provocado, até o julgamento da ação de responsabilização.

Art. 82-A. É vedada a extensão da falência ou de seus efeitos, no todo ou em parte,


aos sócios de responsabilidade limitada, aos controladores e aos administradores da
sociedade falida, admitida, contudo, a desconsideração da personalidade
jurídica.
Parágrafo único. A desconsideração da personalidade jurídica da sociedade falida,
para fins de responsabilização de terceiros, grupo, sócio ou administrador por
obrigação desta, somente pode ser decretada pelo juízo falimentar com a
observância do art. 50 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) e
dos arts. 133, 134, 135, 136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
de Processo Civil), não aplicada a suspensão de que trata o § 3º do art. 134 da Lei nº
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).

147. Dessa forma, o Incidente é a via adequada para apuração da


responsabilidade caracterizada nas hipóteses definidas nos artigos 50, caput e §§ 1º
ao 3º do CC, nos artigos 117, caput e §§ 1º “a”, “b”, “c” e “g” da LSA., no artigo 28,
caput e § 5º, do CDC, e nos artigos. 134, VII, do CTN, conforme demonstrado acima.

(h) Da competência da Justiça Brasileira

148. Como o Incidente se fundamenta em fatos e atos ocorridos no Brasil, é


evidente que compete ao poder judiciário brasileiro processá-lo e julgá-lo, conforme
o inciso III do art. 21 do CPC.

149. Como bem reconhecido pela r. decisão que rejeitou o pedido de atribuição de
efeito suspensivo ao Agravo (“Decisão Interlocutória” – fls. 88/99), “não se vislumbra
ofensa aos limites da jurisdição nacional, uma vez que a petição inicial atribuiu fatos
e atos fraudulentos praticados no Brasil, inclusive pelas agravantes, ex-sócias,
sediadas nos Estados Unidos da América e Japão, que resultaram na falência de
sociedades empresárias, ocasionando diversos prejuízos a credores e às próprias
falidas”.

150. Nesse sentido, posiciona-se a doutrina e a jurisprudência sobre o tema:

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fls. 154

Legitima-se a jurisdição nacional quando o fundamento seja fato ocorrido ou de um

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ato praticado no Brasil. O fundamento de determinada demanda é, sem dúvida, sua

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causa de pedir próxima ou remota. Portanto, todas as vezes que o fundamento da
causa de pedir seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil, a competência
jurisdicional será nacional.
No caso, não se está falando do domicílio do réu, muito menos do local em que deva
ser cumprida a obrigação. A opção formulada pela legislação processual diz respeito
a fatos ou atos que possam configurar o fundamento da causa de pedir em
determinada demanda judicial. A causa de pedir abrange todos os fatos que a
incorporam, incluindo os fatos acessórios ou complementares. 9

****

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANO MORAL - Demanda promovida por estrangeiros


residentes no exterior – Competência da Justiça Brasileira – Condição da empresa ré
de pessoa jurídica com filial no Brasil, fato de que a obrigação de reparação de
dano, se reconhecido o dever de indenização, será cumprida também no Brasil
e fundamento consistir em fato ocorrido no Brasil perfazem situações que
atraem a competência da autoridade judiciária brasileira para o processamento
e julgamento da demanda – Inteligência do artigo 21, incisos I, II e III e parágrafo
único, do Código de Processo Civil – Sentença que julgou extinto o processo sem
resolução do mérito anulada – Recurso provido.
(TJSP; Apelação Cível 1016294-09.2020.8.26.0100; Relator (a): Paulo Pastore Filho;
Órgão Julgador: 17ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 13ª Vara Cível;
Data do Julgamento: 05/02/2021; Data de Registro: 05/02/2021)

151. Inclusive, esta C. Câmara já reconheceu no julgamento do agravo de


instrumento nº 2190828-50.2022.8.26.0000, interposto contra a r. Decisão Agravada
pelo ex-diretor jurídico da Rakuten USA Reginald Rasch (vide doc. nº 22), a
competência para deliberar sobre as questões postas no Incidente, inclusive em
relação às Agravantes:

9
SOUZA, Artur César de. Jurisdição e competência no Novo C.P.C: competência da justiça federal e competência
da justiça estadual. São Paulo: Grupo Almedina, 2019, p. 76-79

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fls. 155

152. Portanto, ao contrário do defendido pelas Agravantes, não há que se falar em

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ausência de competência e nulidade da r. Decisão Agravada.

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(i) Da delimitação temporal, dos atos e da responsabilidade

153. Conforme exposto acima, a Massa Falida fez extensiva descrição dos atos
que ensejam a responsabilidade das Agravantes, com devida exposição do tempo e
modo em que ocorreram.

154. Ademais, a despeito da irresignação quanto à ordem de bloqueio de bens no


limite do valor total do passivo da Falência, não é possível exigir-se nesta fase
postulatória do Incidente a indicação exata da extensão do dano e da quantia devida
por cada parte a título de indenização, inclusive pelas Agravantes, vez que a
dimensão do prejuízo causado e, portanto, da reparação devida invariavelmente
exigirá ampla dilação probatória.

(j) Da necessária ordem de exibição de documentos

155. Tampouco procede o pleito das Agravantes no que se refere à ordem de


exibição de documentos fixada na r. Decisão Agravada, o qual, ao contrário do que
se alega, não foi genérico: a Massa Falida apresentou na inicial do Incidente lista de
documentos de que solicitou a exibição pelos réus, a seguir reproduzida.

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Circunstâncias de

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demonstrem que o

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Individualização do Finalidade da Prova (Art.
documento existe e se acha
documento (Art. 397, I, CPC) 397, II, CPC)
em poder da parte contrária
(Art. 397, III, CPC)
Balanço especial levantado, Demonstrar o critério utilizado Considerando se tratar de
para a apuração do valor da pela Rakuten Japão, Rakuten negociação envolvendo
companhia quando da venda USA e Rakuten Brasil Holdings empresas estrangeiras, quais
da participação da Rakuten Ltda. para precificar a venda sejam, Rakuten Japão,
Japão e Rakuten USA, através em 1 dólar Rakuten USA e TOG Brazil
da Rakuten Brasil Holdings Holdings Inc.., tais documentos
Ltda., para a TOG Brazil claramente se encontrariam em
Holdings Inc.. poder de tais partes.
Relatório de Due Diligence Demonstrar o critério utilizado Considerando se tratar de
prévio ao Instrumento de pela Rakuten Japão, Rakuten negociação envolvendo
Compra de Quotas USA e Rakuten Brasil Holdings empresas estrangeiras, quais
Ltda. para precificar a venda sejam, Rakuten Japão,
em 1 dólar Rakuten USA e TOG Brazil
Holdings Inc., tais documentos
claramente se encontrariam em
poder de tais partes.
Seguros D&Os firmados pela Demonstrar o potencial de Tratam-se de documentos
Rakuten Japão, Rakuten USA e cobertura do Passivo da Massa relevantes em função de
TOG Brazil Holdings Inc. em Falida, em caso de legislações de países
favor de seus diretores, por responsabilização final dos ex- estrangeiros
atos ilícitos diretores das empresas co-
responsáveis patrimoniais
pelas fraudes contra as Falidas
E-mails e correspondências Demonstrar a prévia ciência Tratam-se de documentos
trocadas entre a Rakuten Japão dos representantes da TOG relevantes para demonstrar o
a TOG e as Falidas sobre a acerca do estado pré- caráter fraudulento da
situação financeiras das insolvência das Falidas transferência de quotas das
Falidas antes da venda das Falidas à TOG
empresas à TOG
Atas de Reunião de Cotistas da Demonstrar a prévia ciência Tratam-se de documentos
Rakuten Japão, da TOG e das dos representantes da TOG relevantes para demonstrar o
Falidas com as orientações e acerca do estado pré- caráter fraudulento da
decisões sobre os negócios insolvência das Falidas transferência de quotas das
entre a Rakuten Japão, a TOG Falidas à TOG
e as Falidas

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156. Conforme amplamente fundamentado pela Massa Falida no Incidente, a

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exibição desses documentos é essencial para que seja possível ampliar a convicção

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firmada até o momento sobre os fatos descritos na inicial.

157. Para além desses fatores, os quais já seriam de todo suficientes para
fundamentar a ordem de exibição de documentos, também chama atenção que,
especificamente no caso dos autos, a Administradora Judicial apurou que antes da
falência as Falidas parecem ter destruído provas de forma deliberada, pois não
foram localizados determinados documentos pertinentes aos administradores
e os representantes dos controladores, notadamente e-mails trocados entre
eles.

158. A administração judicial não conseguiu arrecadar arquivos e e-mails trocados


entre os administradores e os representantes dos controladores. Seria como se a
Rakuten USA e a Rakuten Japão jamais tivessem dado qualquer orientação aos
administradores ou empresas locais, ou o Sr. Renê Toshiro Abe e outros Diretores
que fraudaram as Falidas jamais tivessem feito parte da administração das
empresas.

159. É inegável que, segundo as regras ordinárias de distribuição do ônus da prova


previstas no artigo 373 do CPC, cabe ao autor a prova dos fatos constitutivos de seu
direito e ao réu o ônus da prova dos fatos extintivos, modificativos e impeditivos do
direito do autor. Por outro lado, segundo o artigo 373, §1º do CPC, quando houver
“excessiva dificuldade” de o Autor provar determinado fato pelas regras ordinárias de
distribuição do ônus da prova, caberá ao Réu o ônus de produzir determinada prova:

Art. 373. (...)


§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos
do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz
atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do
ônus que lhe foi atribuído.”

160. Nesse sentido, esta C. Câmara já reconheceu no julgamento do agravo de


instrumento nº 2190828-50.2022.8.26.0000, interposto contra a r. Decisão Agravada

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pelo ex-diretor jurídico da Rakuten USA Reginald Rasch, que “os requisitos da tutela

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provisória cautelar para a decretação de indisponibilidade dos bens e determinação

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de exibição de documentos estão preenchidos” (vide doc. nº 22). Por fim, registrou
que, “[m]esmo não se aplicando o método analógico, ressalta nos autos que a
responsabilidade do agravante é de ordem dúplice com presunção de culpa, o que
autoriza a inversão do ônus probatório”.

(k) Do periculum in mora a justificar a manutenção da r. Decisão Agravada

161. Diante de todo o exposto nesta contraminuta e na petição inicial do Incidente,


bem como considerando o parecer favorável do Ministério Público, resta
devidamente demonstrado que a r. Decisão Agravada deve ser mantida.

162. Não há motivos para que a Massa Falida ou este E. TJSP suponha que as
Agravantes passarão a agir com boa-fé a partir do ajuizamento do Incidente.

163. Caso seus bens continuem disponíveis durante toda a instrução processual,
é evidente o risco de dilapidação e prejuízo ao resultado útil do processo. Saliente-
se que a tutela deferida possui natureza acautelatória e não constitui expropriação
definitiva de bens. Os bens continuarão em poder dos requeridos, que poderão deles
gozar – mas não dispor em favor de terceiros.

164. Aliás, em caso envolvendo fraude e desvios de valores de uma instituição


bancária para ex-acionistas e ex-administradores, em prejuízo a uma massa falida,
a 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJSP houve por bem manter
decisão de indisponibilidade de bens dos réus para mitigar o risco de dilapidação
patrimonial:

“TUTELA PROVISÓRIA. Urgência. Incidente de desconsideração da personalidade


jurídica e extensão dos efeitos da falência com pedido de antecipação de tutela c/c
liminar de arresto e indisponibilidade de bens inaudita altera parte. Tutela de
urgência concedida em primeiro grau. Recurso de um dos réus. Alegação de
violação ao contraditório e à ampla defesa. Inocorrência. A concessão da tutela
provisória liminarmente decorre da própria urgência do provimento e encontra amparo
na Constituição Federal (art. 5º, XXXV, da CF) e no art. 9º do CPC. O contraditório
aqui é diferido, ainda que se trate de pedido de desconsideração da personalidade

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jurídica e extensão dos efeitos da falência. Recurso não provido. TUTELA

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PROVISÓRIA. Urgência. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica e

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extensão dos efeitos da falência com pedido de antecipação de tutela c/c liminar de
arresto e indisponibilidade de bens inaudita altera parte. Tutela de urgência concedida
em primeiro grau. Agravo de um dos réus. Sólidos os fundamentos da decisão
agravada no tocante ao preenchimento dos requisitos da tutela provisória de
urgência previstos no artigo 300 do Código de Processo Civil. Entende-se
evidente, tratando-se de agravo de instrumento contra decisão envolvendo
tutela provisória, naturalmente prolatada à base de cognição sumária, que a
questão deve ficar circunscrita ao preenchimento dos respectivos
pressupostos legais. Não se pode proceder a um exame aprofundado das teses
suscitadas pelas partes sob pena tanto de pré-julgamento do mérito quanto de
supressão de instância. Recurso não provido.
(...)
Em segundo lugar, verifica-se que, ao examinar os elementos coligidos nos autos, o
juízo de primeiro grau apontou a existência de indícios veementes da ocorrência de
práticas delituosas, as quais teriam resultado no desvio do patrimônio do Banco
Pontual em favor de seus acionistas e ex-administradores, em manifesto
prejuízo de credores, a saber: (i) confusão patrimonial; (ii) constituição de “banco
oculto”, sediado nas Bahamas, para utilização como plataforma de desfalques de
ativos da falida; (iii) desvio de recursos financeiros por meio de operações
denominadas “security agréments”, por meio das quais eram concedidos empréstimos
no país e os tomadores efetuavam depósitos no “banco oculto” estabelecido no
exterior, como garantia de obrigações cujo inadimplemento já estava previamente
ajustado; e (iv) aquisição de “export notes” de interposta empresa (Tagus Fomento),
sem garantias suficientes, que serviram de engenhoso mecanismo de esvaziamento
patrimonial dos ativos do Banco Pontual às vésperas da intervenção na instituição
financeira. Especificamente em relação ao agravante, a decisão recorrida salientou
que ele era um dos sócios administradores da pessoa jurídica União de Executivos
Participações e Administração Ltda (acionista da falida), bem como beneficiário final
da “offshore” Pier Nine Limited (controladora do “banco oculto”).
Desse modo, considerando que o juízo de primeiro grau, à vista das
investigações realizadas, convenceu-se da verossimilhança das teses
suscitadas, em especial das alegações de confusão patrimonial e de desvio
fraudulento, justificando o perigo de dano no “risco de desaparecimento e/ou
perecimento de bens dos requeridos”, sendo “razoável supor que se valerão de
novos atos irregulares para a blindagem de seu patrimônio pessoal no curso do
presente feito” (fls. 967 dos autos principais), forçoso reconhecer, em exame
superficial compatível com as etapas processual e recursal, que são sólidos os
fundamentos da decisão agravada no tocante ao preenchimento dos requisitos
da tutela provisória de urgência previstos no artigo 300 do Código de Processo
Civil.
Ademais, embora o agravante defenda que os supostos desvios ocorreram fora do
período de sua gestão e após seu desligamento da instituição financeira, é
incontroverso que ele ainda permaneceu formalmente vinculado à União de
Executivos Participações e Administração Ltda., pessoa jurídica até então acionista
do banco falido. Nesse contexto, não há como deixar de reconhecer que o caso
envolve suposta fraude financeira transnacional e possui contornos diferenciados. A
decisão agravada se pautou pela análise genérica das condutas e não há como, a

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esta altura, em sede de cognição sumária, particularizá-las pormenorizadamente, pois

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as irregularidades, no mais das vezes, são constatadas pela soma dos fatos

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envolvidos (TJSP, Agravo de Instrumento n. 2019337-19.2015.8.26.0000, 10ª
Câmara de Direito Privado, j. 22-09-2015, rel. Des. Carlos Alberto Garbi).
Nessa quadra, anote-se, bem observou o representante do Ministério Público, Dr.
Owem Miuki Fujiki, no seu parecer:
“Não se nega a possibilidade de alteração panorâmica, após o devido contraditório e
a dilação probatória. Contudo, ao menos neste estágio, e considerando o risco do
dano irreparável, as dimensões das lesões verificadas, o alcance e as consequências
das fraudes praticadas, a relevância do bem jurídico tutelado, atentando-se também
para o princípio da integral reparação do dano, sem se olvidar da probabilidade do
direito, era caso de concessão da tutela provisória antecipada, nos termos e conforme
ocorreu por meio da r. decisão agravada” (fls. 319/320).
À vista dessas considerações, entendo de rigor a manutenção da decisão
agravada por suas próprias e judiciosas razões.
Posto isso, nego provimento ao recurso.” (Agravo de Instrumento nº 2247128-
37.2019.8.26.0000, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJSP, Des. Rel.
Gilson Delgado Miranda, j. 31.3.2020)

165. Dessa forma, não há que se falar em reforma da r. Decisão Agravada, uma
vez que é evidente o risco de dilapidação do patrimônio das Agravantes e de prejuízo
ao resultado útil do processo.

166. Inexistência de periculum in mora inverso. Ausência de constrições


contra até o momento. Concordância em Primeira Instância com Liberação de
recursos do Agravante. Além disso, não foram efetivadas contra as Agravantes
quaisquer medidas constritivas até o momento. Desse modo, não há que se falar em
periculum in mora inverso que supere o perigo concreto que correm a Massa Falida
e seus credores de que haja dilapidação do patrimônio das pessoas físicas e jurídicas
atingidas pela r. Decisão Agravada.

167. Como as Agravantes deixaram de demonstrar elementos aptos a


desqualificar o fumus boni iuris e o periculum in mora comprovados pela Massa
Falida, é evidente que a r. Decisão Agravada deve ser mantida por seus próprios
fundamentos

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V. CONCLUSÃO E PEDIDO

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168. Por tudo que se ora expõe e diante da nítida caracterização dos requisitos do
fumus boni iuris e periculum in mora, a Massa Falida respeitosamente pleiteia seja
negado provimento ao Agravo, com consequente e integral manutenção da r.
Decisão Agravada por todos os seus próprios fundamentos.

Termos em que,
P. deferimento.
São Paulo, 1 de dezembro de 2022

Thiago Braga Junqueira Carolina Kiyomi Iwamoto


OAB/SP nº 286.786 OAB/SP nº 305.287

André Luiz Marcassa Filho Ana Julia Lissa Sato Chubaci


OAB/SP nº 300.903 OAB/SP nº 451.715

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