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ISSN 0104-2068

JURISPRUDÉNCIA DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
(ANTIGA REVISTA DE JURISPRUDÉNQIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SAO PAULO)

REVISTA OFICIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA


DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOLUME 322 — ANO 43


TOMOI
MARÇO DE 2008

Repositório autorizado pelo Superior Tribunal de Justiça.


conforme Registro n. 21. de 13.03.1992

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DE SÃO PAULO
B|5L|OTECA

Legal e chulalória
São Paulo

Tiragem: 3.500 — Circulação em todo o Território Nacional


DOUTRINA

A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NOS


CONTRATOS COLIGADOS

Enéas Costa Garciaª'

Sumário: ]. Oproblema. 2. A operação comercial. 3. A con­


ceituação jurídica dos ”contratos coligadas " ( "contratos cone­
xos "). 4. Interpretação e "propagação dos efeitos " nos contratos
coligadas. 5. A experiência legislativa estrangeira. 6. Aplicação
da teoria no direito brasileiro. 7. Aplicação jurisprudencial da
teoria. 8. Pressupostos da teoria. 9. Proteção conferida ao con­
sumidor nos contratos coligados. 10. Conclusões. Bibliografia.

! . O problema

O presente estudo tem por escopo analisar a proteção cabível ao consu­


midor nas contratações que envolvem fornecimento de crédito para aquisição
de produtos ou serviços, contratos que são celebrados numa única operação
comercial.
Tomemos um caso hipotético —— frequente na praxisjudiciária — para
apontar as principais questões jurídicas que o tema evoca: o consumidor
procura grande loja de eletrodomésticos para adquirir um produto qual­
quer. E atendido pelo vendedor que, além das explicações sobre os apare­
lhos disponíveis, oferta a facilidade de pagamento a prazo, em múltiplas
prestações.

' Juiz de Direito do TJSP. Mestre e Doutor em Direito Civil (USP).


JT] — 2l84 — LEX - 322
Atraído por esta oferta, o consumidor resolve fechar negócio e é enca­
minhado ao setor de pagamento. São apresentados papéis para assinatura,
preenchida ficha de cadastro, colhidos dados pessoais e bancários, etc., ope­
ração geralmente realizada pelos funcionários da loja. Ao consumidor é en­
tregue — no momento ou posteriormente pelo correio — o carnê para paga­
mento das prestações.
Esta é a operação comercial. Tudo se passa como simples etapa buro—
crática para a conclusão da compra almejada. Se tudo correr bem, possivel­
mente o consumidor nem mesmo perceberá que os pagamentos são, via de
regra, destinados a uma financeira.
Ocorre que por vezes o negócio malogra: o produto não é entregue,
apresenta defeitos, não corresponde à oferta, etc.
O consumidor reclama o cumprimento adequado do contrato. enquanto
a financeira sustenta que este problema não lhe é oponível, que seria algo
estranho ao contrato celebrado consigo. Não é incomum o consumidor so­
frer restrição de crédito, com a inclusão do nome no SCPC ou SERASA, por
descumprimento do referido contrato.
Diante deste quadro indaga-se: é possível superar as noções clássicas
da doutrina contratual — especialmente o princípio da relatividade das con­
venções — e admitir que o consumidor possa opor ao concedente do crédito
as mesmas defesas que teria contra o fornecedor inadimplente? Ou deve con—
tentar-se com o mero exercício de ações indenizatórias ou regressivas contra
o fornecedor, constrito ao cumprimento inflexível do contrato de financia­
mento?

2. A operação comercial
A complexidade das relações contratuais tem levado ao aparecimento,
cada vez mais frequente, de contratos conexos, que se complementam para a
eficaz realização da operação negocial“).

"' O tema dos contratos conexos — também chamados “contratos coligados . união de contratos".
"redes contratuais“, "collegamenla negoziale” — tem sido amplamente estudado na doutrina. Algu­
mns referências bibliográficas: Enneccerus & Lehmann (Tratado de derecho civil. Derecho de
obligaciones. [. Il — 2ª. v. lª. 9" l00. p. 7 ss.); Messineo (Doctrina general del contrato. cap. VII. 9. p.
402 ss.); Franco di Sabato (Unitá epluralitá di nego:i. pp. 4 l 2-38); Gilda Ferrando (I conmmi collegali:
principi della tradi:ione e tendenze innovative. pp. l27-4l); Francesco Galgano (Diritto civile e
commerciale. Le obbligazioni e i conlralli. v. ll. (. !, pp. l79-88); Fernando de Gravato Morais (União
de contratos de crédito e de venda para o consumo. passim); Orlando Gomes (Contratos. nº 77. p. ] l2
ss.); Leonardo Rodrigo Xavier (Redes contratuais no mercado habitacional. passim); José Virgílio
Lopes Enei (Contratos coligadas. p. 1 l l ss.); José Carlos Barbosa Moreira (Unidade ou pluralidade de
contratos. Contra/os conexas, vinculados ou coligadas..... p. 753 ss.); Arnold Wald (Obrigações e con—
tratos. nº Sl. p. l90); Arnaldo Rizzardo (Contratos. nº 2.6. p. 79); Ricardo Lorenzeti (Redes
cantracluales: conceptualización juridica. relaciones internas de colaboraciáon, efectos frente a
terceros. pp. 22-58); Roberto Rosas (Contratos coligadas. pp. 53 ss.); Rogério Zuel Gomes (A nova
ordem contratual: pós-modernidade. con/ralos de adesão. condições gerais de contra/ação, contratos
relacionais e redes contratuais. pp. ISO-222).
LEX - 322 — 2l85 — JTJ
São exemplos os contratos celebrados perante lojas, que oferecem faci­
lidades de pagamento à prestação, que trazem em conjunto contratos de fi­
nanciamento, no mais das vezes realizados por outra empresa, nem sempre
do mesmo grupo empresarial”).
Este tipo de contratação geralmente ocorre de maneira global, sem que o
consumidor tenha exato conhecimento das nuances dos contratos concluídos.
Não raro, a própria loja que fez a venda, valendo—se dos mesmos fun—
cionários que atenderam o cliente, apresenta os papéis do financiamento para
assinatura e os encaminha ao destinatário, sem que haja distinção nítida quanto
aos negócios celebrados.
Tudo é apresentado como etapa burocrática da conclusão da venda na­
quelas condições vantajosas que foram ofertadas (v.g. prestações em doze,
vinte, trinta meses, etc.).
Há uma simbiose nos negócios: geralmente a financeira ocupa as de­
pendências da grande loja, vale-se dos funcionários desta para operacionalizar
os contratos, assegurando aprovação automática dos financiamentos, etc.
Segundo DIETER MEDICUS”): ”Mas comfreqiiéncia existe, sem ent­
bargo, uma união ntais intima de um empréstimo com outro negócio, por
exemplo. com uma compra a prazo: o mutuário (o comprador) e o mutuante
(o Banco) não mantém contato diretamente um com o outro. O empréstimo é
propiciado pelo vendedor; por meio dele se examinam os formulários do
Banco; ele ajuda o contprador também a encaminhá-lo e tramita o pedido
com o Banco. Repetidas vezes a possibilidade e as condições do crédito
constituem precisamente argumentos para a propaganda do vendedor. Em
certas ocasiões. apenas pode determinar o comprador que não procede a
crédito do mesmo vendedor: senão de um terceiro (o Banco). Em tais "negó­
cios/inanciados por terceiro " surge a questão de se o Banco terceiro, real­
mente, há de suportar pelas disposições forçadas e os riscos do negócio
financiado por ele."

'ª' O fenômeno foi bem captado em acórdão do TJSP: "Não se sustenta a alegação da Apelante que. em
razão da existência de "contrato da'/iliação " com ajittanceira Itati (emissora do cartão) é parte total­
mente estranho ao pactuada com o Apelado, adu:indo que a restrição anotada em seit nome seu deu
somente no interesse dela (financeira). que por um "erro de procedimento " enviou o nome do Apelado
ao cadastro dos órgãos de proteção ao crédito, servindo—se de sua nomenclatura. “0 cartão, como ela
mesma afirma. contém a sua "bandeira " e aftnanceira Itaú tem unidades de atendimento localizadas
nas lojas da Apelante (fls. 62). É sabido que, a captação da clientela das financeiras é. geralmente.
efetuada pelos estabelecimentos comerciais como o da Apelante. que oferecem o cartão como uma co­
modidade. parafacilitar o pagamento de mercadorias adquiridas em seu estabelecimento. a que e' feito
com o preenchimento de proposta de adesão, que posteriormente e enviada para a aprovação dajinan­
ceira. Desta forma, tanto afinanceira como os estabelecimentos que oferecem tais cartões. obtém al­
gum tipo de vantagem económica, pois como afirma a própria Apelante (Ils. l65). ajinanceira se obri­
ga a pagar ao estabelecimento comercial as despesas feitas pelos seus clientes e ele. por seu turno,
assume a obrigação de aceitar o cartão sem acréscimos nos preços dos produtos ou serviços. "0 con­
sttmidor não tem conhecimento destes procedimentos previamente, observando-se, no caso. o aplica­
ção do art. 29 da Lei nº8.078/90, que equipara a consumidor toda pessoa exposta às práticas comer­
ciais ahusivas." (TJSP — 7' Câm. — Ap. nª 527.275-4ll-00 — Rel. Luiz Anlonio Costa —j. 3l/lO/07).
"' Tratado de las relaciones obligacionales, v. I. 5 94, p. 5 l 3.
.lTJ — 2186 — LEX - 322
Esta é uma tendência irreversível no comércio. Os serviços devem ser
abrangentes, apresentar diferencial para suplantar a concorrência, oferecen­
do facilidades que atraem e conquistam o consumidor“).
A operação comercial é vantajosa para todos os envolvidos: a) o forne­
cedor consegue atrair clientes, oferecendo condições vantajosas de pagamento,
resguardando-se dos riscos da insolvência — na medida em que recebe pron­
tamente da financeira; b) a financeira usa as instalações e, geralmente, os
funcionários da loja, poupando despesas operacionais; consegue granjear
grande clientela para seus contratos e pode até oferecer condições mais favo­
ráveis de contratação, comjuros menores; e) o consumidor conta com a faci­
lidade do crédito aprovado prontamente e usufrui as condições favoráveis de
pagamento.
A vida econômica já não pode prescindir destes contratos coligados“),
de modo que cabe ao Direito reconhecê—los e atribuir-lhes o necessário trata­
mento jurídico.

3. A conceituação jurídica dos “contratos coligados'

Nos contratos coligados existem contratos que se unem em razão de


uma causa comum.
Na lição de FRANCESCO GALGANOW o contrato coligado: "não é
um contrato único, mas uma pluralidade coordenada de contratos, que con­
servam cada qual uma causa autônoma, ainda que no seu conjunto procu­
rem atuar como unitária e complexa operação econômica."
Segundo JOSÉ VIRGÍLIO LOPES ENEI”): "Os contratos coligadas
diferenciam—se, assim, dos contratos atípicos mistos na medida em que não
correspondem & mera soma de prestações de natureza diversa a formar um
único e particular contrato, mas à união de contratos que, embora preser—
vando a sua individualidade estrutural, comungam de uma mesma finalida­
de econômica."
Conforme ALMEIDA COSTA“): "Neste caso, trata—se de dois ou mais
contratos entre si ligados de alguma maneira, todavia sem prejuizo da indi­
vidualidade própria que subsiste."

”' Há uma necessidade do mercado que impõe este tipo de contratação conjunta. A respeito do tema,
com investigação a respeito do "mercado" e sua repercussão juridica, cf. Rodrigo Xavier Leonardo
(Redes contratuais no mercado habitacional, pp. 22 ss.).
”' Sustentando que o contrato coligado nasce da necessidade econômica: Gilda Ferrando, Icon/ratti
collegati: principi della Iradizione e tendenze innovative, p. 127.
"" Diritto civile «: commerciale. Le abb!iga:ioni e i contratti, v. ll, t. I, p. l79.
”' Con/ratos coligadas, p. 1 U.
"' Direito das obrigações. nª 32.2, p. 323.
LEX - 322 — 2l87 — JTJ
Esta ligação, esta união de finalidade — especialmente econômica (uni—
dade econômica?” — tem sido apontada pela doutrina como nota
caracterizadora dos contratos coligadosҼ).
A forma de união de contratos que mais suscita problemas éjustamen­
te aquela na qual se estabelece uma dependência(' " — bilateral ou unilateral
— entre os contratos. Nestes casos —- lecionam ENNECCERUS & LEH—
MANNW) — os contratos “são queridos somente como um todo. ou seja, em
recíproca dependência, ou ao menos de maneira que um dependa do outro e
não este daquele."
MESSINEOW menciona que os contratos deste tipo são, por vontade
das partes, concebidos como "unidade económica. Do ponto de vistajuridi—
ea, sua característica funda-se nisto: cada um constitui a causa do outro."
Este é o fenômeno que nos interessa mais de perto. União de contratos
que, apesar de autônomos, existe para satisfação de um único interesse eco­
nômico. Contratos conexos por conta de uma mesma finalidade, em razão de
uma causa comum““.
São aqueles contratos — fruto da complexidade da vida econômico­
comercial — que são celebrados em conjunto para que determinado negócio
alcance a sua completa eficácia. Negócios que não seriam viáveis isolada­
mentel'”.
A “causa comum" tem sido bem realçada pela doutrina: ”Embora cada
contrato preserve os seus elementos categoriais próprios e inderrogáveis
(que o conduzam a um determinado tipo contratual ou mesmo à categoria
dos contratos em geral, na hipótese de contrato atípico). a causa mal (fun­

l“ A "unidade econômica" — segundo Dieter Medieus (Tratado de las relaciones obligacianales. p.


5 l 5) — "existe especie/atente se o concedente do crédito se serve da cooperação do vendedor na pre­
paração ou na conclusão do contrato de crédito. Praticamente existe esta cooperação na maior parte
das vezes em que o vendedor confecciona o formulário de oferta do fornecedor de crédito. ajuda o
comprador a preenche-lo e completado o formulário a encaminha ao fornecedor de crédito."
““' Segundo Roberto Rosas (Contratos coligadas. p. 53): "No negócio coligado cada negócio éperfeita
em si mesmo, com efeitos, mas esses efeitos dirigem-se a unia ftmção fundamental (...) E em outro
trecho: "Há unidade de interesse econômico. Num contrato único não e tão importante distingui-lo pelo
interesse econômico. mas se há complexidade de interesses. e importante verificar-se o escopo econó—
mico." (Ident ibidem. p. 53).
Também ressaltando a importância da unidade econômica: Rogério Zuel Gomes (A nova ordem contra­
tual: p. 2l6); Ricardo Lorenzetti (Redes contractuales: conceptmtlimción .... p. 29).
"" A doutrina (Enneceerus & Lehmann. Tratado de derecho civil. Derecho de abligacianes. t. ll — 2“.
v. lº. * I00. p. 7 ss.; Orlando Gomes, (.“ontratos. p. l l2) reconhece algumas modalidades de união de
contratos: a) contratos de união meramente externa; b) união com dependência bilateral ou unilateral;
e) união alternativa.
“'" Tratado de derecho civil. Derecho de obligaciones. [. ll — 2". v. lª. & IOO. p. 8.

&. P E
"” Doctrina general del contrato. cap. VII. 9. p. 402.
"“ "Os contratos coligadas são queridos pelas partes contratantes como um todo." (Orlando Gomes.
Contratos. p. i |Z).
”ª' Como exemplo típico pode ser lembrada a compra de bens atrelada a contrato de financiamento.
'cralmcnte financiamento realizado or instituição Ii vada. ao menos comercialmente. ao vendedor.
.lT.l — 2l88 — LEX - 322
ção prático—social) passa a ser dada não por cada contrato individualmente
considerado. mas pelo conjunto. surgindo dai, portanto, uma causa sistemá­
tica ou supracontratual. “É defensável até que os contratos preservem a sua
causa final individual, mas é certo que na coligação haverá uma causa final
sistemática que unirá o conjunto, e que só será alcançável por meio do
cumprimento de todos os contratos coligadas "(””.
Segundo RODRIGO XAVIER LEONARDO”) a união leva a contratos
"diferenciados estruturalmente, porém interligados por um articulada e es­
tável nexo económico. funcional e sistemático. capaz de gerar consequên­
cias jurídicas particulares, diversas daquelas pertinentes a cada um dos
contratos que conformam o sistema. Em outras palavras: reconhece-se que
dois ou mais contratos estrutm'almente diferenciados (entre partes diferen—
tes e com objetivo diverso) podem estar unidos, formando um sistema desti­
nada a cumprir uma jitnção prático-social diversa daquela pertinente aos
contratos singulares individualmente considerados. "Tal como em qualquer
sistema. em uma rede de contratos pode ser concebido um conjunto dotado
de ordem e união. Os elementos desse sistema são, justamente, os contratos
que se encontram unidos por um nexo funciona! e ordenado para o alcance
de objetivos próprios ao sistema (frise-se bem, objetivos que transcendem a
individualidade de cada contrato-elemento)."
Esta “causa/ina! sistemática " é de extrema importância na interpreta­
ção e execução dos contratos coligados, sob pena de perder-se justamente a
razão de ser da união dos contratosª'ª).

4. Interpretação e "propagação dos efeitos " nos contratos coligadas


A aplicação prática da coligação contratual, especialmente consideran—
do a situação de inferioridade em que se coloca o consumidor, impõe a revi­
são conceitual de alguns institutos juridicosl'”.
A concepção clássica dos princípios contratuais, com especial ênfase
no princípio da relatividade das convenções, levaria à rejeição da pretensão
de estender os efeitos de um dos contratos em relação ao participe do outro
contrato.

'"" José Virgilio Lopes Enei. Contratos coligadas. p. ll3.


”" A teoria das redes con/ramais e nfunção social dos can/ralos: rejlexões a par/ir de uma recenle
decisão do Superior Tribunal de Justiça. pp. l02/3.
"'" A respeito da conceituação dos contratos coligados como um "sistema". com a respectiva análise das
relações que se estabelecem entre os partícipes. cf. Ricardo Lorenzetti. Redes contractuales:
conceptualizacián .... pp. 30 ss.
"“' Cabe citar a perspicaz análise de Rodrigo Xavier Leonardo (A súmula ""308 e a adoção da teoria
das redes contro/iuris pelo Superior Tribunal de Justiça). segundo o qual um jurista do séc. XIX ficaria
bastante surpreso como principios contratuais tradicionais sofrem alteração sob a ótica dos efeitos das
"redes contratuais". especialmente no que diz respeito à idéia de autonomia da vontade e relatividade
das convenções.
LEX - 322 — 2189 — JTJ
O contrato, fruto da autonomia da vontade, somente pode criar obriga­
ções para aqueles que voluntariamente manifestaram vontade. Por conse­
guinte, os efeitos contratuais não atingemjuridicamente terceiros. Famoso o
adágio: “res inter alias acta. aliis neqtte nocet neque prodest "ªº).
Logo — e esta argumentação é freqiiente nas lides que envolvem pro­
blemas deste tipo — o contrato de financiamento (envolvendo banco e con­
sumidor) não poderia sofrer os efeitos do inadimplemento surgido no outro
contrato de compra e venda, celebrado entre consumidor e fornecedor.
Restaria ao consumidor cumprir religiosamente o contrato de financia­
mento e buscarjunto ao fornecedor indenização do prejuízo sofrido, o que
englobaria o valor despendido na quitação daquele contrato que se tornou
inútil para o comprador.
Ocorre que a doutrina tem reconhecido a importância destes contratos
coligados e adotado outro modo de encarar o temaª".
Em dois temas, ligados aos contratos coligados, avulta a necessidade
de revisão da doutrinajuridica tradicional, quais sejam: a) interpretação dos
contratos conexos e b) a questão da propagação dos efeitos decorrentes da
nulidade ou ineficácia de um dos contratos em relação aos outros contratos
conexos.
A regra básica em termos de interpretação dos contratos conexos é o
reconhecimento da necessidade de consideração conjunta da intenção das
partes, afastando a análise de cada contrato como se fosse algo isolado e
autônomo.
Conforme tosÉ VIRGÍLIO LOPES ENElªºt: "Como o que move as
partes integrantes de uma rede contratual é uma finalidade sistemática,
supracontratttal — normalmente a realização de uma única embora comple­
xa operação econômica, a intenção das partes, seja a subjetiva, seja a de­
clarada, só poderá ser verdadeiramente contpreendida mediante a leitura
e interpretação do conjunto contratual. A interpretação de cada contrato

ªº Orlando Gomes. Contratos. p. 43.


:" Aliás. mesmo o princípio da relatividade das convenções tem sofrido novas interpretações. com
reconhecimento da eficácia do contrato perante terceiros — além das hipóteses usuais de estipulação
em favor de terceiro. A respeito do tema. cf. Antonio Junqueira de Azevedo. Princípios do novo direito
contratual e desregulamentação do mercado. Direito de exclusividade nas relações contratuais de for­
necimettto. Função social do contrato e responsabilidade aqui/iana do terceiro que contribui para inadim­
plemento contratual. pp. l l3-20.
Cláudia Lima Marques (Contratos no Código de Defesa do Consumidor. item 4.2. p. 277). ao tratar da
nova teoria contratual no CDC. menciona a relativização do princípio tradicional,justamente na hipóte­
se em estudo: "Nas relações contratuais de massa a crédito. a relação se estabelece entre o consumidor
e a empresa de credito. mas o bem éjhrnecido pela empresa-vendedora. Neste triangulo contratual. a
acessoriedade da relação de crédito em relação ao cumprimento dos deveres da relação de forneci­
merllo da bent deve/Fear clara. para evitar que uma fique independente da outra. impossibilitando as
reclamações do consumidor."
:“ Contratos coligadas. p. l25.
JTJ — 2190 — LEX - 322
individualmente considerado. como se ele existisse isolado no mundo, não
permitirá a identificação da finalidade e causa sistémica, configurando,
portanto. interpretação deturpada da vontade das partes."
A interpretação deve buscar o equilíbrio da relação contratual comple­
xa e, como observa GILDA FERRANDO'”), o equilibrio contratual deve ser
avaliado pelo conjunto e não em face dos contratos singulares.
Outra questão polêmica diz respeito à propagação dos efeitos da nuli­
dade ou ineficácia de um contrato em relação a outro.
Alguns autores sustentam a respectiva autonomia dos contratos, razão
pela qual cada qual permaneceria submetido ao regime jurídico que lhe é
próprio, o que levaria — supõe-se — à afirmação da inexistência de efeitos
recíprocos“).
Porém, a doutrina especializada nos contratos coligados propõe outras
soluções para o tema. Especialmente naqueles contratos coligados em que se
estabelece dependência bilateral entre os contratos.
Considerando a “causa final” que norteia a criação e execução dos con­
tratos, a eventual ineficácia ou invalidade de um dos negócios frustra o pro—
jeto contratual, pois um dos negócios não poderia subsistir isoladamente“).
Nesse sentido GILDA FERRANDOªª): "Quando estes requisitos [re—
quisitos objetivos e subjetivos da coligação de contratos] existem, os eventos
relativos a um dos contratos (nulidade, resolução) se comunicam também
ao outro ou'serão esperáveis remédios diversos, como a exceção de inadim­
plemento. E este mesmo O efeito principal da coligação — expresso ainda
com afórmula simul stabunt, simul cadent —: quando um anel da corrente
contratual se rompe a cadeia inteira se quebra."
Os efeitos — negativos no caso — de um contrato irradiar-se-iam ao
outro negócio. “A propagação também terá lugar, normalmente, quando a
invalidade ou ineficácia de um dos contratos impossibilitar a consecução
da função sistémica da rede de contratos, ou seja, a operação econômica
almejada não mais puder ser alcançada com sucesso. Nesse caso, não há
como se preservar a eficácia dos demais contratos integrantes da rede tendo
em vista a frustração precoce da jinalidade perseguida. O fim da rede con­
tratual torna—se impossivel, enquanto o fim de cada contrato isoladamente
considerado torna-se inútil "ª“.

”“ Icon/ram colleguti: principi della Iradizimie e lem/enze innavatire. p. I35.


'ª" Cf. Orlando Gomes (Contratos. p. l ll): "Em qualquer das suas-formas. a coligação de contratos
não enseja as dtjiculdades que os contratos mis/os provocam quanto ao direito aplicável. porque os
contratos coligadas não perdem a individualidade, aplicandoJr:-lhes o conjunto de regras próprias do
tipo a que se ajustam."
'ªª' Segundo Franco di Sabuto (Unita epluralilá di negozi. p. 438) "a sensibilidadejuridica. o senso de
equidade, a justiça do caso concreto sugerem que não é possivel, havendo a coligação. que a resolução
de unr negócio não opere sobre a outra."
ªº) ] contra!/i collegati: principi della tradizione e lendenze innoralive. p. l29.
”" José Virgilio Lopes Enei. (“on/ralos coligadas. p. 125.
LEX—322 —219l— JT]
De maneira mais ampla, nas hipóteses de contratos conexos com rela­
ção de dependência, observam ENNECCERUS & LEHMANNªª): "Se con—
forme com isto se quis uma relação de dependência, não é só a validade de
um contrato que depende a validade do outro. senão tanibém que, segundo a
presumível intenção das partes, a revogação de um contrato implicará tam­
bém a revogação do outro. Mas nos demais [casos] cada um dos contratos
está sujeito às regras válidas para o tipo de contrato ao qual se ajusta."
Portanto, considerando a unidade funcional, a unidade econômica que
impõe a conexão entre os contratos, é possível admitir a transposição dos
efeitos de um dos contratos em relação aos demais que compõem a rede
contratual.

5. A experiência legislativa estrangeira


O tema da transposição dos efeitos entre contratos coligados — nas
relações entre fornecedor. consumidor e concedente do crédito — tem rece­
bido tratamento especial pela doutrina e encontra respaldo no direito positivo.
Na Alemanha, a Lei de Crédito ao Consumidor (Verbraucherkreditge­
setz), de l7/09/l990, já consagrava a possibilidade, em contratos conexos
de financiamento de compra e venda, de o consumidor alegar perante o fi­
nanciador qualquer defesa que poderia apresentar contra o vendedor.
Cito a tradução espanhola da obra de DIETER MEDlCUSªº': "VerbrKrg
£ 9. Negocios conexos. (...) 3. El consumidor puede negar el reintegro de!
crédito. siempre que las excepciones surgidas de! contrato de compra conexo
le facultasen frente a! vendedor para denegar su prestación. Esto no rige, se
e! precio de compra financiado no excede de cuatrocientos marcos así como
las excepciones basadas en una modificación del contrato acordada entre el
vendedor e el consumidor después de [a conclusión de! contrato de crédito.
Si se basa la excepción de! consumidor en un vício de !a casa entregado y el
consumidor reclama retoque o compensación fundado en disposiciones
contractuales o legales, solo puede rehusar el reintegro de! crédito, si el
retoque o compensación ha fracasado."
A mesma lei definia contratos conexosºº): ”VerbrKrg _? 9. Negocios
conexos. (...) l . Un contrato de compra forma un negocio unido con el con­
trato de crédito, se sirve a! crédito de ]inanciación de! precio de compra y
ambos contratos se contemplan como unidad económica. Una unidad
económica hay que aceptar especialmente, se el dador de! crédito se vale de
la colaboración de! vendedor en la preparación o en la conclusión del con—
trato de crédito."

'ª'l'Tralado de derecho civil. Derecho de obligaciones. [. ll — 2". v. lª. 5 100. p. 8.


”'ª' Tratado de las relaciones abligacionales. v. ll (apêndices). p. 1.040.
"º' Idem ibidem. p. 1.040.
JTJ — 2192 — LEX — 322
Esta lei foi incorporada ao 868 em razão da Reforma do Direito das
Obrigações, levada a termo em 2002”".
Atualmente o tema vem regulado no 9“ 358, 3 do BCE. Transcrevo a
tradução de RODRIGO XAVIER LEONARDO“): ”um contrato deforneci­
mento de bens ou de realização de outra espécie de prestação e um contrato
de financiamento para consumo são conexos quando o empréstimo serve,
total ou parcialmente, para o financiamento de outro contrato e ambos cons­
tituem uma unidade económica. É pressuposto uma unidade econômica es­
pecialmente quando o mesmo empresário financia a contraprestação do
consumidor, ou em caso de jinaneiamento por meio de um terceiro.» quando
o maneiador contribua com o fornecedor do bem durante a preparação ou
durante a celebração do contrato de empréstimo com consumidores."
Esta preocupação do direito alemão não e isolada. Na verdade, repre­
senta a adoção, no direito interno, das normas comunitárias relativas ao tema.
Há, na Comunidade Econômica Européia. legislação precisa a respeito
da proteção do consumidor nos contratos de concessão de crédito.
A norma básica é & Diretiva nº 102, de 22/12/I986 (Diretiva 87/l02,
como é conhecida), do Conselho das Comunidades Européias, que cuida da
“aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas
dos Estados-membros relativas ao crédito ao consumo”.
A análise da Diretiva permite constatar que seu alvo é a concessão de
crédito ao consumo, tanto que não se aplica (art. 29, l) “a) A contratos de
crédito ou ofertas de concessão de crédito destinados à aquisição ou à ma—
nutenção de direitos de propriedade sobre terrenos ou edificios existentes
ou projectados e destinados à renovação ou bene/iciação de edifícios en­
quanto tal: b) A contratos de locação, salvo quando tais contratos prevejam
que o titulo de propriedade passe para o locatário rtojinal do contrato; e) A
créditos concedidos ou postos à disposição do consumidor sem pagamento
de juros ou de qualquer outro encargo: d) A contratos de crédito ao abrigo dos
quais não sejam cobrados juros. desde que o consumidor aceda a liquidar o
crédito num só pagamento: e) A créditos concedidas por instituições de cré­
dito ou financeiras sob a forma de adiantamentos sobre uma conta corrente,
com excepção das contas de cartões de crédito. Não obstante, aplica—se a

'ª" Por força das normas de Direito Comunitário. a Alemanha viu-se obrigada a incorporar ao seu direito
interno os preceitos da Diretiva 44. de l999. que trata da compra de bens de consumo. O prazo fatal de
incorporação era 3l/l2/200l. Debateu-se a respeito da maneira de cumprir esta obrigação: poder-sc-ia
apenas criar uma lei nacional incorporando as regras da diretiva ou praticar solução mais ambiciosa.
consistente na reformulação do direito obrigacional. o que envolvia a modificação do BCE. Apesar do
curto espaço de tempo para a mudança de um código. especialmente de um verdadeiro monumento
legislativo como é o código civil alemão. optou—se pela incorporação das normas da Diretiva no próprio
código. com reformulação do Direito Obrigacional (Cf. Horst Ehmann & Holger Sutschet. La reforma
del BCB. Modernimeión del derecho alemún de obligaciones).
'“ ' A teoria das redes crmtraluais e ajimção social dos contratos: re/lexões a partir de uma recente decisão
do Superior Tribunal de Justiça. p. l07.
LEX - 322 — 2l93 — JTJ
estes créditos o disposto no artigo 69: ]) A contratos de crédito que envol—
vam montantes inferiores a 200 EC Us ou superiores a 20.000 EC Us; g) A
contratos de crédito em que o consumidor tenha de reembolsar o crédito:
quer num período que não exceda os três meses, quer, num máximo de qua­
tro pagamentos, num período que não exceda os doze meses."
Além de várias normas a respeito da proteção do consumidor nas ope­
rações de crédito, a Diretiva 102/87 trata especificamente dos contratos en—
volvendo financiamento para aquisição de bens, especialmente naqueles ca—
sos em que fornecedor e concedente do crédito mantêm operações coligadas.
Assim dispõe o art. 1 lº da Diretiva l02/87:
"! . Os Estados-membros assegurarão que a existência de um contrato
de crédito não influenciará de maneira alguma os direitos do consumidor
contra o fornecedor dos bens ou serviços adquiridos ao abrigo desse con­
trato, nos casos em que os bens ou serviços não sejam fornecidos ou de
qualquer modo não estejam em conformidade com o contrato relativo ao seu
fornecimento.
2. O consumidor terá o direito de demandar o mutuante quando:
a) Com vista a adquirir bens ou obter serviços, um consumidor cele­
brar um contrato de crédito com terceira pessoa diversa do fornecedor des­
ses bens e serviços, e
b) O mutuante e o fornecedor de bens ou serviços tiverem um acordo
preexistente ao abrigo do qual 0 mutuante põe o crédito à disposição exclu­
siva dos clientes desse fornecedor para aquisição de bens e serviços ao
mesmo fornecedor. e
c) O consumidor a que se refere a alinea a) obtiver tal crédito em
conformidade com o referido acordo preexistente, e
d) Os bens ou serviços abrangidos pelo contrato de crédito não sejam
fornecidos ou só parcialmente o sejam ou não sejam conformes com o con­
trato de fornecimento, e
e) O consumidor tiver demandado o fornecedor, mas não tenha obtido
a satisfação a que tiver direito.
Os Estados—membros determinarão em que medida e em que condições
pode ser exercido este direito."
Tratando—se de legislação que vincula todos os Estados-membros, nos va­
riados ordenamentos jurídicos foram inseridas referidas normas, as quais são
encontradas na Espanhal”), Portugal”", França“), ltálialªº', Reino Unido“, etc.

”" Ley nº 7/95. de 23/03/I995 de Crédito al Consumo. artigos 14 (: IS (contratos vinculados).


”" Decreto-lei nº 359/91. de 2l/09/l99l.
”” Code de la Consomrnalion (Panic Législative). artigo 31 l-Z e ss.. especialmente art. L3l l-ZS-l.
“ªº” Leggc del l9/02/l992.
”“ The Consumer Credit Act of 1974.
JTJ — 2l94 — LEX - 322
Esta norma européia traz importante contribuição na análise do tema,
fixando o princípio de que os contratos coligados não produzem necessaria—
mente efeitos autônomos, admitindo — mediante certas condições — que o
consumidor se volte não apenas contra o fornecedor, mas também contra o
agente financeiro.
6. Aplicação da teoria no direito brasileiro
A análise do direito estrangeiro leva, naturalmente, ao questionamento
quanto à admissibilidade desta solução no nosso ordenamentojurídico.
RODRIGO XAVIER LEONARDOIªª' defende amplamente a possibili­
dade dc extensão dos efeitos de um contrato coligado a outro, o que ele
denomina “para—eficácia" ou “comunicação da eficácia”, no direito brasileiro.
Toma como fundamento a norma do art. 51 do CDC, que deveria ser
interpretada de maneira larga, para considerar não apenas cada um dos con­
tratos, mas o conjunto representado pela rede contratualªª'”.
Também é invocada a solidariedade estabelecida no art. 79, parágrafo
único do CDC, especialmente no que toca a vícios do produto vendido e
seus efeitos no contrato de financiamento, 0 qual seria atingido pela solida—
riedade estabelecida no art. 18 do CDC”).
Por fim, também a regra da boa-fé contratual — especialmente a conside­
ração dos deveres de conduta — interceder-ia para autorizar a “para-eficácia”.
Transcrevo a lição de RODRIGO XAVIER LEONARDOIª“: "Ora, se
os fornecedores constituem redes contratuais para poder melhor negociar
seus produtos e serviços no mercado de consumo, devem comprometer-se a
sustentar o sistema por eles mesmo criado, o que implica, nos termos indi­
cados no item 4.2.1.2 do capitulo 4. deveres de condutas compativeis com a
necessária estabilidade, persistência temporal e equilíbrio do sistema. "Para
que uma rede contratual seja estável, todos os integrantes do sistema devem
pautar suas condutas conforme os deveres laterais de proteção àqueles que
surgem na liame/ina! do sistema, que não por acaso são os mais vulnerá­
veis (os consumidores). “Assim, quando um dos elementos do sistema age
em desconformidade com estes deveres de conduta, levando a cabo, v.g.,
práticas abusivas, tais como exigir do consumidor vantagem manifestamen­
te excessiva (art. 39 da Lei 8.078/90) ou vender produtos ou serviços com
vícios de qualidade e quantidade (arts. 18 e 20 da Lei 8.078/90), os direitos,
as pretensões, as ações e as exceções que surgem de tais fatos, em favor do

”'ª' Redes contratuais no mercado habitacional. pp. l77-236.


"“ Idem ibidem, p. I87.
"º' Ident ibidem, p. I9B.
'"” Redes contratuais no mercado habitacional. p. 200.
LEX - 322 — 2195 — JT]
consumidor, podem ser opostos a qualquer dos sujeitos integrantes da rede
(elementos do sistema), desde que o exercicio desses direitos, dessas preten­
sões, dessas ações e dessas exceções seja necessário para a preservação de
seus legítimos interesses provenientes da relação jurídica de consumo tra­
vada ao final da rede contratual."
Esta menção à boa-fé contratual parece—me significativamente impor­
tante, inicialmente porque há, atualmente, expressa previsão da cláusula ge­
ral de boa-fé no Código Civil, de modo que esta norma tem aplicação ampla
em todos os quadrantes do direito privado, estendendo sua atuação para além
do Código de Defesa do Consumidor.
Num segundo momento, a menção aos deveres acessórios de conduta
recoloca a relaçãojuridica no patamar de correção e lealdade que deve presi­
dir a atuação contratual, pois as partes tinham pleno conhecimento da vincula­
ção estrcita que unia os contratos, de modo que não poderiam — em verda­
deiro comportamento contrário à boa-fé — valer-se de pretensa autonomia
formal dos contratos para alterar aquela que seria a “vontade contratual"
surgida no momento inicial.
Há que se reconhecer, outrossim, a situação de inferioridade na qual se
encontra o consumidor, que é submetido a esta prática comercial frequente­
mente sem a devida informação a respeito da natureza complexa da relação
jurídica contratada.
Também a idéia de rompimento da “base negocialººlªº) pode ser invocada
para justificar a aplicação da teoriaªªª).
Na versão de LARENZ, a base negocial pode ser subjetiva ou objetiva. A
base subjetiva “é uma representação mental ou esperança de ambos os con­
tratantes pela qual ambos se deixaram guiar na conclusão do contrato."““'
A base objetiva, por outro lado, constitui: "o conjunto de circunstân­
cias e estado geral de coisas cuja existência é objetivamente necessária
para que o contrato. segundo o significado das intenções de ambos os con­
tratantes, possa subsistir como regulamentação dotada de sentido."”“
Ainda segundo LARENZW", rompe—se a base objetiva do negócio quan­
do: a) ”a relação de equivalência entre prestação e contraprestação, pres­

“ª' Sobre a teoria da base negocial. cf. a essencial monografia de Karl Larenz. Base del negóciojuritlico
y ("mp/intento rle los con/ratos. Entre nós. o estudo pioneiro de Clóvis V. do Couto e Silva, A obrigação
como processo. p. l08. Análise atual das teorias da base negocial, voltada para o tema da revisão dos
contratos por onerosidade. encontra-se em Luis Renato Ferreira da Silva. Revisão dos cmrtrulos: do
Código Civil ao Código do Consumidor. pp. 133 ss.
“"' Cf. Fernando de Gravulo Morais. União de con/ralos de crédito e de venda para o consumo. pp. 373—9.
“" Base del negócio juridico y cumplimento de los contra/os. p. 224.
”“ Larenz. Base del negócio juridico y cumplimenlo de los coltrratos, p. 224.
ӻ' Ob. cit.. p. 225.
JTJ — 2196 —— LEX - 322
supostas no contrato, foi destruida em tal medida que não se pode falar
racionalmente de uma 'contraprestação. (destruição da relação de equiva­
lência) "; b) "a comum finalidade objetiva do contrato, expressa em seu con­
teúdo, tenha resultado definitivamente inalcançável, ainda quando a pres­
tação do devedor seja possivel (frustração da ]inalidade)
Apesar da teoria da “base negocial” ser frequentemente utilizada na
análise do fenômeno da onerosidade excessiva. penso que ela apresenta ele­
mentos interessantes a serem ponderados na coligação dos contratos.
De certo modo, quando as partes celebram o contrato coligado, está
presente aquele elemento da base subjetiva. consistente na "representação
mental" ou “esperança” comum no sentido de que o negócio atue de maneira
coordenada.
De outro lado, o que caracteriza o contrato coligado — como visto — é
justamente esta causa comum, a finalidade conjunta que reúne os contratos.
Neste contexto, se parte desta “coligação" se frustra (v.g. não cumpri—
mento da prestação pelo vendedor) é possível afirmar que a "comum/inali—
dade objetiva do contrato " “" restou inatingível, o que caracterizaria o rompi­
mento da base negocial.
É certo que a teoria é invocada diante de um contrato único, mas não
haveria empecilho, a meujuízo, na sua aplicação de maneira global, consi­
derando não apenas os contratos autônomos, mas a verdadeira relação de
“collegamento negoziale'mªl.
7. Aplicaçãojurisprudencial da teoria
A jurisprudência nacional tem compreendido a mecânica dos contratos
coligados e, em alguns casos, estendendo os efeitos de um contrato ao ou­
tro, reconhecendo responsabilidades solidárias entre vendedores e institui­
ções financeiras.
Nesse sentido, importante julgado do TJSP, que faz expressa menção
aos “contratos coligados": “Compra e venda de móveis com financiamento
pessoal. Contrato desfeito em razão de atraso imputável a vendedora. Con­
trato de jinanciamento conexo ou coligado que sofre os mesmos efeitos —
Danos morais decorrentes de indevida negativação perante cadastro de
inadimplência, cuja inscriçãofoi promovida pela/inanceira, a quem o des­
fazimento do negócio não teria sido comunicado pela vendedora — Irrele­
vância — Ressarcimento devido — Solidariedade entre os réus no ressarci­

“7' Larenz. ob. cit.. p. 225.


“" Ainda que não haja expressa menção no Código Civil sobre "base negocial". sua aplicação está
implícita no sistema. especialmente diante de normas como a revisão dos contratos por onerosidade
excessiva. No CDC ;] doutrina (cf. dentre outros: Cláudia Lima Marques. Mutum! de direito do consumi—
dor. p. 58) vê manifestação da "base negocial" no art. 6“. V do código.
Admitindo a teoria da base negocial objetiva no nosso sistema. Clóvis V. do Couto e Silva. A obrigação
como processo. p. l08.
LEX - 322 — 2l97 —— JTJ
mento dos danos causados ao consumidor — Indenização corretamente esta­
belecida e dentro dos padrões normalmente aceitos pela jurisprudência em
hipóteses análogas — Recurso desprovido." (TJSP — Ap. nº 1.105.817-0/3
— Rel. Carlos Vieira Von Adamek —j. 22/10/07)“9).
Em outro caso, não se aceitou — com invocação da teoria dos contra­
tos coligados — alegação de fornecedor no sentido de que o consumidor
estava ciente da transferência dos títulos de crédito relativos ao negócio a
terceiro, devendo reclamarjunto àquele qualquer problema surgido quanto à
cobrança dos tituloslªº).
Noutra oportunidade o TJSP admitiu a extinção dos efeitos de contrato
de financiamento em razão da evicção do bem alienado no conexo contrato de
compra e venda: "Compra e venda de veiculo com alienação jiducia'ria. Veiculo
apreendido pela policia e restituído a terceiro em razão de suposta prática
de crime de apropriação indébita pelo vendedor. Sentença que julgou proce­
dente ação declaratória de nulidade do contrato e determinou a indenização
dos danos morais causados. "(...) Contrato desfeito por conseqt'iéncia do
vício do negócio originário. Contrato conexo ou coligado que sofre os mes­
mos efeitos — Danos morais decorrentes de indevida negativação perante
cadastro de inadimplência reconhecidos —— Ressarcimento devido — A pela—
ção desprovida "'ª".
No mesmo sentido. admitindo comunicação de efeitos entre os contra­
tos: “APELAÇÃO — ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA — ALE­
GAÇ'ÃO DE NÃO RECEBIMENTO DO BEMALIENADO. Sendo o contrato
de financiamento, com garantia fiduciária, um contrato coligado ao de cont­
pra e venda, não sendo realizado este último, também 0 de financiamento
deve ser considerado não aperfeiçoado. RECURSO PROVIDO "ºº'.

““' O excelente acórdão. além de citar a doutrina especializada no tema dos contratos conexos. identi—
fica as circunstâncias que caracterizam sua existência: "A responsabilidade dafmunciadom é determi­
nada não só pela sua participação efetiva na complexa relação juridica. da qual também e parte. mas
especialmente. no casa. pela atribuição a vendedora de poderes para. em seit nome. firmar as condi­
ções do contrato de financiamento, sabido que o autor. como ocorre notoriamente nesses casos, assi­
nou os documentos e ajustou as condições do financiamento diretamente com a vendedora dos móveis.
a quem competirt'a igual dever “de injieração por ocasião do desfazintento do negócio." (TJSP —- Ap.
nª I.l05.8l7-0/3 ——- Rel. Carlos Vieira Von Adamek —j. 22/l0t'07).
”"' "DANO MORAL — Apontamento indevido do nome do autor no cartório de protesto — Estabeleci­
mento comercial que emitiu duplicatas com lastro. não honradas —Titulos de crédito relativos ao preço
cedidos a instituições financeiras — Noção de contratos coligados. ou conexos — Consumidor equipa­
rado — Responsabilidade objetiva — Configuração de dano moral — Fixação da indenização em quan­
tum adequado — Sentença mantida — Recurso não provido." (TJSP — Ap. nª 442.l66.4/S-00 — Rel.
Francisco Loureiro ——j. 28/05/07).
""TJSP — Ap. nº l.lO7.202-0/0 — Rel. Carlos Vieira Von Adamek —j. 22/10/07.
Outro precedente semelhante: "Compra e venda de veiculo c'ontjinatteiamento e alienação fiduciária.
V icio consistente na restrição administrativa para transferência da propriedade do bem. que é "sinistra­
do Situação equivalente zi evieção e que determina o desja:imento do negócio. Vicio que alcança o
contrato de financiamento em ra:ão da conexão existente entre os negócios, voltando as partes ao estado
anterior-." (TJSP —— 35' Câm. "D“ — Ap. nº l.|03.222-0/4 — Rel. Carlos Alberto Garbi —j. 25/06/07).
“º'TJSP — 20' Câm. “D" — Ap. nº 7.138.189—6'0 —— Rel. Paulo Jorge Scartezzini Guimarães —j. 29/ ! 0/07.
JT] — 2l98 — LEX - 322
8. Pressupostos da teoria
É natural que a concepção dos contratos coligados e a interdependência
funcional sejam recebidas com empolgação no meiojurídico, mesmo porque
representa satisfação de um forte anseio existente na vida negocial: a eficaz
tutela do consumidor, valor constitucionalmente reconhecido:
Todavia, não se pode pender para o extremo oposto — com inegável
criação de situações desequilibradas — adotando a teoria como panacéia
para todos os males jurídicos.
Ainda que em termos econômicos e sociais esta forma de contratação
tenha grande repercussão, não se pode deixar de notar que se trata de exce­
ção no regimejuridico contratual. E como exceção deve ser aplicada.
A teoria dos efeitos comunicantes dos contratos conexos não tem — e
não pode ter —— o condão de destruir todo o arcabouço teórico da doutrina
contratual clássica, especialmente seus princípios fundamentais —— ainda que
sob roupagem atualizada — tal como a autonomia da vontade e relatividade
das convenções.
Estes princípios têm sua razão de ser e, na maioria esmagadora dos
casos, tutelam interesses legítimos que a ordem jurídica deve preservarl”).
Portanto, sem desmerecer a importância e utilidade da nova teoria, ne­
cessário que estejam presentes os pressupostos para o reconhecimento desta
união de contratos, a qual autorizaria a derrogação dos princípios gerais.
Segundo GILDA FERRANDOW', para reconhecimento dos contratos
coligados e aplicação mútua de efeitos, dois requisitos são necessários: a)
elemento objetivo, representado pelo nexo econômico ou teleológico entre
os contratos e b) elemento subjetivo, que consiste na intenção de coordenar
os vários negócios em vista de um escopo comum.
E conclui: "Na estrutura da coligação existe, portanto, um elemento
objetivo que unifica a operação econômica (o escopo prático unitário) e
existe um elemento subjetivo (a intenção de atuar a coligação) "º”).
Na União Européia, por força da legislação específica, são requisitos
necessários para que o consumidor possa opor ao concedente do crédito as
defesas que teria contra o vendedor: a) contrato de crédito celebrado com
pessoa distinta do vendedor; b) acordo de colaboração entre credor e vende—
dor; c) anterioridade do acordo; d) exclusividade do acordo; e) obtenção do
crédito pelo consumidor em conformidade com o acordo de colaboração; f)
conhecimento por parte do credor do destino do crédito*“).

'“' Seria chocante. contrário mesmo no senso comum de Justiça. imaginar que alguém pudesse sofrer os
efeitos de contrato do qual não participou. para o qual não manifestou sua vontade.
"“ Icon/rutli col/ega”: principi della [riu/1:10:10 e lem/enm innovative. p. ll“).
'““ Idem ibidem. p. l29.
""' Fernando de Gravato Morais. União de contratos de crédito e (le rem/u para o consumo. pp. 22 ss.
LEX - 322 — 2199 — JTJ
Entre nós, RODRIGO XAVIER LEONARDOÚ“ aponta a necessidade
de três elementos para caracterização da “rede contratual": a) conexão entre
os contratos; b) surgimento de uma causa sistemática; e) verificação de um
propósito comum.
A meu ver, todos estes requisitos podem ser reconduzidos a um pressu­
posto fundamental, que seria a voluntária intenção de participar de um pro­
jeto contratual comum, pautado por esta “causa sistemática".
Creio que a derrogação dos princípios tradicionais (autonomia da von­
tade, relatividade das convenções) somente sejustifica quando o concedente
do crédito está perfeitamente ciente de que o financiamento somente foi
obtido como instrumento para efetivação do negócio de compra e venda.
Em outras palavras: não se trata da hipótese em que o consumidor com­
parece ao estabelecimento do credor e obtém financiamento, para posterior­
mente dar ao dinheiro o destino que melhor lhe aprouver, caso em que ao
concedente do crédito é totalmente estranho o emprego que será dado à quan­
tia mutuada.
Para hipóteses deste tipo os princípios gerais de relatividade das con—
venções, inoponibilidade das exceções pessoais, seriam perfeitamente apli—
cáveis.
A nota característica do fenômeno que estudamos é justamente o co­
nhecimento — mais do que isso —, a voluntária participação do concedente
do crédito no processo de venda do produto ou serviço.
Há uma associação entre o fornecedor e o concedente do crédito, com
vantagens recíprocas. Aquisição do produto e financiamento são operações
que se completam e que não existiriam autonomamente.
A partir deste momento o concedente do crédito tem a sorte do seu
negócio vinculada ao outro contrato. Na verdade, os contratos já nasceram
assim vinculados, unidos pela mesma causa.
Nestas condições, parece justo que o concedente do crédito suporte
eventuais problemas surgidos na outra relação. Ele participou deste “siste­
ma contratual”, ele não foi surpreendido, sabia perfeitamente a razão e a
finalidade do crédito concedido.
É esse conhecimento, esta associação ao fornecedor, que justifica o
reconhecimento de violação da boa-fé contratual no comportamento do
concedente do crédito que — após ter auferido as vantagens da união dos
contratos — pretende isentar-se de qualquer responsabilidade sob o argu—
mento de que aquele negócio — que até então era a razão de ser do seu
contrato — lhe é estranho.
Enfim, a aplicação da teoria exige cuidado: deve ficar restrita àqueles
casos nos quais existe relação de colaboração (parceria) entre fornecedor e

”“ Redes contratuais no mercado habitacional, pp. 145-8.


JTJ — 2200 — LEX - 322
concedente do crédito, sendo que este último tem conhecimento de que seu
contrato somente foi celebrado no contexto de conclusão daquele outro ne­
gócio.
Esta relação de colaboração não exige forma especial, pode ser mera­
mente verballªª). Segundo FERNANDO DE GRAVATO MORAlSl”): “ver­
dadeiramente importante não é a existência de un: acordo entre credor e
vendedor, mas a efectiva colaboração entre ambos para permitir a aquisi­
ção do crédito. A cooperação implica, necessariamente, um pacto prévio
entre ambos nesse sentido, ainda que seja oral ou implícita '. Nessa seqt'iên­
cia, entende que ”uma duradoura e regular relação negocial de facto com
cooperação planijicada ' integra 0 campo de aplicação da norma.”
GILDA FERRANDOlªº', com base na jurisprudência italiana, ensina
que a princípio exigia-se concreta demonstração do acordo de vontades vol­
tado para a conclusão do contrato coligado, contudo, atualmente adota-se
critério objetivo, que põe ênfase na relação funcional entre os contratos e
"necessidade de apreciar o conjunto de interesses perseguidos pelas par­
tes, o programa unitário para realização do qual os diversos contratos são
coordenados
A relação de colaboração teria — segundo FERNANDO DE GRAVATO
MORAlSlº" — o seguinte conteúdo: a) o credor se dispõe a conceder crédi­
to a todos os clientes do vendedor que desejarem financiamento, reservan­
do—sc o direito de recusar a conclusão do negócio se duvidar da solvabilida­
de do consumidor; b) se o crédito for concedido deve ser direcionado para a
aquisição do bemjunto àquele fornecedor; c) o fornecedor compromete-se a
encaminhar clientes que desejam adquirir produtos e necessitam de finan—
eiamento; d) há, por vezes, colaboração material do fornecedor, com a prá­
tica de atos que antecedem e preparam a celebração do contrato de crédito
ou auxiliam na sua conclusão.
Em princípio o ônus da prova da existência deste acordo de colabora­
ção é do consumidonªª'. Todavia, considerando as dificuldades inerentes à
referida prova, cabível a inversão do ônus probatório (art. 6º, VIII do CDC).
Ademais, frequentemente o próprio negóciojá indica este ajuste entre
fornecedor e credor, ou a prova decorre de indícios ligados à forma de con­
tratação.
FERNANDO DE GRAVATO MORAISW' apresenta indícios que de­
monstrariam esta colaboração entre as partes: a) realização em conjunto de

'ª" Fernando de Gravato Morais. União de can/ratas de crédito e de venda para o consumo. p. 37.
'ª'“ Ob. cit.. p. 36.
"'º' [contra!/i callegali: principi della Iradizione e tendenze innovative. pp. l32-3.
"'" Ob. cit.. pp. 38-9.
'ª“ Fernando de Gravata Morais. União de contra/os de crédito e de venda para o consumo, p. 42.
“"' União de contratos de crédito e de renda para o consumo, pp. 43-6.
LEX - 322 — 220l — JT]
atos preparatórios dos contratos; b) informação dada pelo vendedor a respeito
da possibilidade de aquisição com concessão de crédito por determinada
pessoa; e) posse pelo vendedor de modelos de pedidos e contratos de crédito
(previamente elaborados pelo financiador); d) preenchimento destes contra­
tos pelo vendedor, ou auxílio para preenchimento; e) recolhimento pelo ven—
dedor de documentos destinados à identificação ou aferição da solvência do
comprador; f) envio dos documentos pelo vendedor ao credor; g) utilização
de formulários conjuntos ou coordenados entre vendedor e credor; h)
financiador que não mantém contato direto com o consumidor, sendo a ope­
ração realizada integralmente perante o vendedor; i) circunstâncias de tem­
po e lugar da celebração dos contratos (celebração da compra e do financia—
mento no mesmo dia e nas instalações do vendedor); j) pagamento, direto
ou indireto, de compensação ao vendedor pelo trabalho de angariar clientes.
9. Proteção conferida ao consumidor nos contratos coligadas
Pressuposta a conexão dos contratos — a unidade funcional — é possi—
vel estender os efeitos do contrato de aquisição de produto ou serviços ao
coligado contrato de financiamento.
Duas situações merecem tratamento especial: a) inadimplemento da
obrigação de entrega do produto ou prestação do serviço; b) vício do produ­
to ou serviço.
No contrato bilateral, o descumprimento da obrigação a cargo de uma
das partes autoriza a outra a sustar o cumprimento da sua obrigação (exceptio
non adimpleti contractus). E uma decorrência do sinalagma funcional do
contrato.
Em caso extremo, persistindo o inadimplemento, a parte lesada pode
buscar a resolução do contrato por culpa do devedor.
No contrato conexo de compra e venda com financiamento, 0 consu­
midor poderia — diante do inadimplemento do vendedor quanto à obriga­
ção de entrega do produto — suspender a execução do contrato de financia­
mento, deixando de pagar as prestações? Ou, resolvido o contrato perante o
vendedor, poderia também buscar a resolução perante o concedente do fi­
nanciamento?
Na doutrina, FRANCO Dl SABATOW', reconhece a necessidade de
propagação dos efeitos de um contrato a outro, mas nega a aplicação da
exceptio e da resolução por inadimplemento no contrato de financiamento,
propondo outra solução para a questão: ”O caminho deve ser outro: indivi­
dualizada a coligação, deduz-se que os negócios estão em relação de neces­
sidade. Isto significa que a resolução por inadimplemento de um determina,
sim. a resolução do outro, mas não por inadimplemento (porque não existe),
mas sim por impossibilidade superveniente. Impossibilidade que será qua­
*“' Unitá e pluralilá di nego:i, p. 438.
JTJ — 2202 — LEX - 322
lificada subjetivamente, em virtude da coligação, como imputável à parte
que no outro negóciofoi inadimplente: possivel, caso queira, atribuir a re­
solução do segundo negócio ao dever genérico de correção e boa-fé ou ao
dever de ordinário de cuidado, pois no caso o contratante não deve limitar­
se a cumprir, mas deveria fornecer os meios necessários ao cumprimento, a
saber, pré-constituir a possibilidade de cumprir (ou a não excluir a possibi­
Iidadejá existente)."
GILDA FERRANDOlª” admite não só a propagação dos efeitos, como
atribui ao vendedor a obrigação de ressarcir o concedente do crédito: ”Por
conseguinte, no caso de faltar a entrega do bem pelo vendedor ao consumi­
dor, encontra-se estabelecido não só que deve desmoronar a operação intei­
ra, mas também que a sociedade/inanceira é obrigada a pleitear a restitui­
ção da quantia ao vendedor e não ao adquirente, porque é ao vendedor que
a soma foi diretamente entregue, ainda que ele não seja parte do contrato
de mútuo. O fato de ser o vendedor o beneficiário económico do financia­
mento tem como consequência o nascimento de sua obrigação de restitui­
ção que em fundamento claro, ainda que não expressamente enunciado, na
boa-fé contratual."
FERNANDO DE GRAVATO MORAIS“) informa que a doutrina euro—
péia, sob vários fundamentos, admite a exceptio. Após ressaltar a dificulda­
de aparente da aplicação do instituto — pois o vendedor recebe a vista o
preço do financiador, o que afastaria a possibilidade de invocação da exceptio
perante o fornecedor — sustenta que o fundamento da exceptio encontra—se
na condição peculiar de união (colaboração) dos contratos: "Mas em que
medida se pode aludir, para efeito de invocar a excepção de inadimplência,
a uma correspecti vidade entre o dever de entrega da coisa em conformidade
com o contrato e o dever do consumidor de pagar as prestações do emprés­
timo? "Elemento fulcral neste domínio é a existência de uma relação de
colaboração estreita (e efectiva no que toca à aquisição) entre credor e
vendedor, operando-se deste modo uma espécie de imputação àquele do
incumprimento deste. Se O vendedor não cumpre, as conseqiiências dessa
inexecução não podem deixar de se repercutir na esfera jurídica do
financiador: "A contraprestação periódica que incumbe ao consumidor pe­
rante o financiador deve considerar-se subordinada à realização da presta­
ção de entrega conforme por parte do vendedor. O beneficiário do crédito
'aceita' as obrigações decorrentes do empréstimo, no pressuposto de que
obtém uma coisa conforme com o contrato. Trata—se de uma sinalagmaticidade
sui generis decorrente da teleologia do art. 12, nº 2. O “comprador a conta­
da' em face do 'vendedor a pronta ' transforma-se num 'consumidor a pres­
tações ' perante o credor "(º“.

Ҽ'" ] contralli collegati: principi della trar/izione e lenden:e innovative, pp. l37-8.
'ºº' União de cmttratus de crédito e de venda para o consumo. p. 247.
"ª" Idem ibidem. pp. 252-3.
LEX - 322 — 2203 — JTJ
Importante, para evitar abusos na aplicação do instituto, que o consu—
midor expressamente invoque a exceptio perante o credorª“. Não basta sim­
plesmente deixar de pagar, pois a utilização da exceção (: faculdade do deve­
dor. de modo que necessária manifestação expressa neste sentido, pois caso
contrário seria justo o credor supor que o consumidor optou por cumprir o
contrato sem valer-se da exceção, pleiteando seus direitos exclusivamente
perante o fornecedor.
Com a invocação da exceprio o consumidor afasta sua eventual mora
perante o financiadorª”.
Além da posição defensiva — representada pela exceptio — pode o
consumidor tomar a iniciativa de buscar a resolução do conttato de compra e
venda por culpa do vendedor. Neste caso, qual seria o destino do conexo
contrato de financiamento?
As mesmas razões que justificam & admissibilidade da exceptio autori­
zam a resolução do contrato de financiamento. Quebrado o sinalagma con­
tratual, em razão da estreita unidade que existe entre os contratos, não há
razão para manutenção do contrato de financiamento.
A operação deve ser analisada de forma unitária, razão pela qual não
há causa para manutenção das prestações do financiamento quando o con­
trato para o qual este foi concebido encontra—se resolvidol'º'.
Admitida a comunicação dos efeitos, “a destruição do negócio produz
um efeito liberarório imediato: o de legitimar o consumidor a recusar o
pagamento das quantias vincendas "”".
Há consenso quanto à possibilidade de o consumidor, resolvida a com­
pra e venda, sustar o cumprimento do contrato de financiamento no que toca
às prestações vincendas.
Porém, a mesma unanimidade já não existe quanto à restituição das
prestações pagas pelo consumidorª“: ele pode, em razão da resolução do
contrato de financiamento, demandar do credor a restituição das parcelas
pagas ou deve, apenas, voltar—se contra o vendedor, sendo seu direito peran­
te o financiador limitado à sustação das prestações vincendas?
Sempre partindo da união funcional que existe entre os contratos, con­
cordamos corn a opinião de FERNANDO DE GRAVATO MORAIS“) no
sentido de que os efeitos da resolução (contrato de financiamento) são retroa—

*ª" Fernando de Gravata Morais. União de contratos de crédito e de venda para o consumo. p. 264.
“ºº' Idem ibidem. p. 265.
”ª“ Fernando de Gravata Morais (ob. cit.. p. ISS) cita a existência de doutrina que invoca :] teoria da
base negocial para justificar o fenômeno. sustentando que a compra e venda seria a “base" que susten­
ta o financiamento. razão pela qual o desaparecimento da primeira influiria no segundo.
"'" Fernando de Gravata Morais, União de contratos de crédito e de venda para o consumo. p. l92.
'“ A respeito da controvérsia. cf. Fernando de Gravata Morais. União de contratos de crédito e de
renda para o consumo. pp. l97-207.
"' Ob. cit. p. 205.
.lTJ — 2204 — LEX - 322
tivos, impondo ao financiador a obrigação de restituição de todos os valores
recebidos“): "Entre as prestações realizadas pelo consumidor (ao credor) e
a causa da resolução do contrato (incumprimento do contrato de compra e
venda por parte do vendedor imputável ao credor) existe uma ligação espe­
cífica, decorrente da natureza sinalagmática de obrigações resultantes de
negócios distintos, que legítima a eficácia ex tunc da resolução "””.
Caberá ao financiador, posteriormente, voltar-se contra o vendedor para
recuperar o montante que lhe havia sido entregue por ocasião da celebração
do negócio.
Ainda no campo da inexecução da obrigação a cargo do vendedor (en­
trega da coisa) seria possivel cogitar da execução específica da obrigação
perante o concedente do crédito? Em outras palavras: deixando o vendedor
de entregar a coisa, poderia o consumidor voltar—se contra a financeira para
exigir dela o cumprimento da obrigação?
No direito comunitário europeu a questão se coloca com bastante ênfa­
se, pois a Diretiva respectiva menciona a possibilidade de o consumidor
alegar, contra o concedente do crédito, “todas as defesas" que poderia argíjir
contra o vendedor, Esta amplitude da expressão leva à discussão a respeito
da possibilidade de exigir do credor o cumprimento específico da obrigação
do vendedor.
Noticiando a controvérsia, FERNANDO DE GRAVATO MORAIS“)
relata o surgimento de três correntes doutrinárias: a) aquela que nega a pos­
sibilidade de exigir do credor o cumprimento da obrigação, sendo limitada a
possibilidade de defesa do consumidor a sustação do pagamento ou resolu­
ção do negócio; b) outra que admite esta execução específica contra o cre­
dor, especialmente argumentando que o credor suporta os riscos do negócio
coligado e poderia exercer controle sobre o vendedor, somente liberando o
dinheiro mediante garantia de entrega da coisa; e) uma terceira corrente que
somente admite execução especifica contra o credor quando o objeto seja
fungível, podendo ser adquirido junto a terceiro, a expensas do credor.
Após expor as correntes existentes sobre o tema, FERNANDO DE
GRAVATO MORAIS“ defende a impossibilidade de exercício da execução
específica da obrigação de entregar a coisa perante o credor (financeira),
apoiado nos seguintes argumentos: a) a adoção da tese negativa não prejudi­
ca os direitos do consumidor, que sempre poderá exigir o cumprimento in
natura da obrigação do vendedor. Mesmo no caso de falência do vendedor,
poderia o consumidor resolver o negócio e recuperar o que pagou, resolven­
do o contrato de financiamento, de modo que a proteção que a lei busca

"" Os valores efetivamente “recebidos" pelo financiador. pois eventual “entrada" paga ao vendedor
deve ser resiíluida por quem a recebeu.
ӻ' Idem ibidem. p. 205.
”“' União de contratos de crédito e de renda para o consumo. pp. l46 ss.
”“ Ob. cit.. pp. [49-52.
LEX - 322 — 2205 — JTJ
conceder—lhe é alcançada; b) geralmente o financiador desconhece, ou pou­
co conhece, a coisa vendida; c) a lei visou proporcionar ao consumidor uma
garantia em caso de falência do vendedor e não criar mais um devedor sub­
sidiário para cumprimento da obrigação; d) geralmente o credor e uma ins­
tituição financeira, que não tem como ramo de atividade entregar coisas; g)
haveria uma dificuldade operacional para o banco fornecer em prazo razoá­
vel as coisas adquiridas pelo consumidor e não entregues; h) haveria proble­
mas de dificil solução quando o financiamento fosse apenas parcial, vendo­
se o credor obrigado a entregar a coisa na sua integralidade.
Creio que estes argumentos — deduzidos sob a égide da legislação
específica européia — têm inteira aplicação no nosso sistema, especialmen­
te quando se considera que não há legislação específica dotada de uma ex­
pressão tão ampla como a da Diretiva européia.
Ainda que, com base nas normas do CDC e com recurso à boa-fé con­
tratual, seja possivel justificar adequadamente a propagação dos efeitos do
contrato de compra e venda ao de financiamento, especialmente no que
concerne à resolução de ambos os negócios ou sustação dos pagamentos,
considero inviável a colocação do concedente do crédito como devedor soli—
dário da obrigação de entrega da coisa.
O risco do seu negócio está na vinculação do crédito para aquisição do
bem, mas não na efetiva execução do contrato de compra e venda, no que
tange à execução in natura da obrigação.
Equãnime e conforme a proteção conferida ao consumidor que, diante
do descumprimento do contrato de compra e venda, o negócio de crédito
suporte a mesma sorte. Mas parece-me excessivo que o financiador — já
prejudicado pela frustração do negócio de crédito — seja compelido a suprir
a atividade do vendedor.
Cabe retomar, agora, o segundo grupo de questões suscitadas no início
deste tópico, qual seja: a existência de defeito (vício) no produto ou serviço.
No regime do Código de Defesa do Consumidor, a existência de vício
do produto ou serviço confere ao consumidor tripla alternativa: a) substitui­
ção do produto (art. l8. I) ou reexecução do serviço (art. 20, I); b) restituição
da quantia paga, com indenização (art. l8, ll e art. 20, ll) ou c) abatimento
proporcional do preço (art. l8, lll e art. 20, lll).
A questão que se coloca diz respeito à possibilidade de propagar estes
efeitos ao contrato coligado de financiamento.
Pelos motivos expostos supra, acreditamos que as prerrogativas que
envolvem execução específica da obrigação — como substituição da coisa e
reexecução do serviço — devem ser dirigidas exclusivamente contra o for­
necedor e são inoponíveis ao credor (financiador).
Havendo resolução do contrato, cabível a resolução do contrato de fi­
nanciamento, como visto, inclusive com a devolução da quantia paga.
JT] — 2206 — LEX - 322
Apenas o pleito indenizatório é que não seria oponível ao financiador,
devendo ser exercido exclusivamente contra o fornecedor.
Por fim, o abatimento proporcional do preço.
Dada a conexão funcional dos contratos e a cooperação estreita entre
vendedor e financiador, entendemos que cabível a alegação de abatimento
do preço perante o credor, com redução proporcional do montante do finan­
ciamento.
Mais uma vez recorro a lição de FERNANDO DE GRAVATO MO­
RAISW': "A nosso ver. a redução do preço da compra e venda deve acarre­
tar, nessa justa medida. uma diminuição do montante do crédito. Analise­
mos, em primeiro lugar. a questão ao nivel da repartição equitativa dos
riscos da operação complexa. Para o consumidor e' pouco relevante o exer­
cicio da actio quanti minoris se esta não importar a redução das prestações
do crédito. A não ser assim, continuando obrigado a pagar, nas mesmas
condições, as prestações do crédito. o seu beneficiário apenas pode reagir
contra o vendedor, exigindo o montante pago em excesso. Daqui resulta
uma oneração excessiva do consumidor e, paralelamente, uma vantagem
desproporcional para o credor. Senão vejamos: O consumidor fica com uma
coisa defeituosa, continua a pagar as prestações do empréstimo ao credor
(o lucro do seu negócio mantém-se inalterado), suporta o encargo de inten­
tar uma acção judicial contra o vendedor (que, em regra, voluntariamente
não abre mão do montante já recebido) e ainda O risco de falência deste
último."
10. Conclusões
Sintetizando o exposto, podemos afirmar que:
[) é reconhecida a categoria dos “contratos coligados" (conexos, redes
contratuais), representada por contratos unidos por uma finalidade econô­
mica comum, que apesar de autônomos em si, devem ser interpretados como
um conj unto, permitindo que os efeitos contratuais se comuniquem, estabe­
lecendo solidariedade entre os envolvidos na rede contratual;
ll) o equilíbrio da relação contratual complexa deve ser avaliado pelo
conjunto e não em face dos contratos singulares;
lll) em razão da unidade funcional e econômica, determinante da cone­
xão entre os contratos, e possivel admitir a transposição dos efeitos (invali­
dade, rcsolução, etc.) de um dos contratos em relação aos demais que com­
põem a rede contratual;
IV) apesar da inexistência no nosso sistema jurídico de legislação es­
pecífica — como ocorre na Europa — a teoria pode ser aplicada com base
nas normas do CDC, especialmente art. 51, art. 7º, parágrafo único e art.

""' União de contratos de crédito e de venda para o consumo, p. l63.


LEX - 322 — 2207 — JT]
18. bem como com fundamento na cláusula geral de boa-fé, com especial
relevo para o dever acessório de conduta que recai sobre todos os partícipes
da relação obrigacional. Também a idéia de “base negocial” poderia ser
invocada como fundamento da teoria;
V) a aplicação da teoria deve restringir-se aos casos nos quais existe
relação de colaboração (parceria) entre fornecedor e concedente do crédito,
sendo que este último tem conhecimento de que seu contrato somente foi
celebrado no contexto de conclusão daquele outro negócio;
VI) em razão da união dos contratos e possível: a) alegar a exceptio
non adimpletis contracms para suspender a execução do contrato de finan­
ciamento em razão do não cumprimento do contrato de compra e venda; b)
demandar a resolução do contrato de financiamento em razão da resolução
da conexa compra e venda, com a suspensão do pagamento das prestações
vincendas do financiamento e restituição das parcelas pagas; c) em caso de
vicio do produto ou serviço, exercer contra o financiador as prerrogativas de
resolução do contrato (sem perdas e danos) e de abatimento proporcional do
preço, com redução das prestações do financiamento.

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