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Jurisprudência em

Teses, Ed.161.
(Versão Integrada)
DIREITO DO CONSUMIDOR - V

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Seca e Jurisprudência.

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JURISPRUDÊNCIA EM TESES DO STJ
EDIÇÃO N. 161: DIREITO DO CONSUMIDOR V

Tese 1:
Nos contratos bancários posteriores ao início da vigência da Resolução-CMN nº 3.518/2007, em 30/4/2008,
pode ser cobrada a tarifa de cadastro no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição
financeira. (Súmula nº 566/STJ)
Súmula 566-STJ: Nos contratos bancários posteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n.
3.518/2007, em 30/4/2008, pode ser cobrada a tarifa de cadastro no início do relacionamento entre o
consumidor e a instituição financeira.

Primeiramente, vamos introduzir alguns conceitos.


São eles:
• Tarifa de abertura de crédito (TAC): Tratava-se de uma tarifa cobrada do cliente pelo simples fato
da instituição bancária lhe ter concedido um financiamento.
• Tarifa de emissão de carnê (TEC): Tratava-se de uma tarifa cobrada pelos bancos pela emissão dos
carnês de pagamento dos financiamentos bancários.
• Tarifa de cadastro: É uma tarifa cobrada pelo banco no momento em que o cliente inicia o
relacionamento bancário. Os bancos justificam tal tarifa afirmando que, antes de iniciarem o
relacionamento bancário, é necessário fazer uma busca acerca da situação financeira do
consumidor, o que demanda custos.

Resolução CMN 2.303/1996 e Resolução CMN n. 3.518/2007.


• Resolução CMN 2.303/1996: Tal resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) era
considerada pouco intervencionista, possibilitando que as Instituições Financeiras a cobrança de
diversas tarifas, salvo aquelas por serviços considerados básicos.
• Resolução CMN n. 3.518/2007: A Resolução CMN n. 3.518/2007 teve caráter mais
intervencionista, bem como listou os serviços bancários que poderiam ser tarifados. Nesta lista,
não há o TAC e o TEC, que, portanto, desde então passaram a ser proibidos.

Tarifa de Cadastro.
A Circular BACEN 3.371/2007, que complementa a Resolução CMN 3.518/2007, permitiu expressamente a
cobrança da Tarifa de Cadastro. Portanto, os bancos, mesmo após a referida resolução, permanecem
podendo cobrar tarifa de cadastro.

Os bancos permanecem podendo cobrar a tarifa? E antes era possível cobrar a tarifa de cadastro?
Sim. Como a Resolução CMN 2.303/1996 tinha caráter não intervencionista, em tese já era possível cobrar
também a Tarifa de Cadastro. Ocorre que para os bancos era mais vantajoso cobrar a Tarifa de Abertura de
Crédito (TAC). Após a Resolução CMN 3.518/2007, com a proibição de cobrar a TAC, os bancos passaram a
instituir a Tarifa de Cadastro.

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CMN 3.518/2007
É proibido cobrar: É permitido cobrar:
• Tarifa de Abertura de Crédito (TAC). • Tarifa de Cadastro.
• Tarifa de Emissão de Carnê (TEC).

Tese 2:
É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de instituição financeira pelos danos
decorrentes de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito de contrato de penhor
civil. (Súmula 638/STJ)
Código de Defesa do Consumidor.
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:
I. impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza
dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre
o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis.

Penhor civil e penhor de joias.


Penhor é um direito real caracterizado pela transferência da posse de coisa móvel do devedor ou de
terceiro ao credor como forma de garantia do débito.

Uma prática comum é o penhor de joias, onde o consumidor deixa uma joia “empenhada” no banco como
uma forma de garantir o pagamento da dívida. Ao final, paga a dívida, a joia é devolvida. Por outro lado,
caso a dívida não seja paga, a joia é leiloada.

Caso concreto.
Suponha que o cofre da Caixa Econômica Federal, onde ficam guardadas as joias “apenhadas” foi roubado.
O Banco será responsável por indenizar? SIM.

Fortuito Interno
O furto ocorrido deve ser entendido como fortuito interno, inerente à atividade explorada pelo banco.
Assim, a instituição financeira é responsável por furtos ou mesmo roubos em seus cofres. STJ. 4ª Turma.
REsp 1.250.997/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 5/2/2013.

A cláusula que limita o valor de indenização é nula de pleno direito.


CDC, Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
I. impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de
qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de
direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis.

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Tese 3:
Aplica-se o prazo prescricional do art. 27 do CDC às ações de repetição de indébito por descontos indevidos
decorrentes de defeito na prestação do serviço bancário.
Tese 4:
Nas ações de repetição de indébito por defeito do serviço bancário (art. 27 do CDC), o termo inicial da
contagem do prazo prescricional é a data em que ocorreu a lesão ou pagamento.
Código de Defesa do Consumidor.
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do
serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do
dano e de sua autoria.

Caso concreto.
Suponha que José possui uma conta bancária no Banco X. Um determinado dia, José percebeu que um
valor de R$1.000,00 foi indevidamente retirado da sua conta. Após se dirigir ao banco, José foi informado
que no mês anterior havia sido contratado um empréstimo bancário em seu nome, bem como o valor
agora descontado correspondia a primeira parcela do referido empréstimo.

Houve defeito na prestação do serviço.


Perceba que aqui o termo “defeito” está colocado de uma forma técnica. Cabe, portanto, diferenciar um
“vício” de um “defeito.
• Vício: O vício pertence ao próprio produto ou serviço, não atingindo a pessoa do consumidor ou
outros bens seus.
◦ Exemplo: um pacote com menos biscoitos que o indicado na embalagem (vício de quantidade)
ou com biscoitos moles devido ao mal acondicionamento (vício de qualidade).
• Defeito: O defeito vai além do produto ou serviço, atingindo o consumidor em seu patrimônio
jurídico mais amplo.
◦ Exemplo: Um biscoito contendo substância tóxica, capaz de causar danos a saúde do
consumidor.

No caso dos descontos indevidos, há defeito na prestação do serviço bancário.


Há defeito posto que tal fato é apto a causar verdadeira lesão a personalidade do consumidor. Portanto,
não se trata de um mero vício, mas sim de um fato do serviço.

Os defeitos estão sujeito ao prazo prescricional de 5 anos.


No caso dos defeitos, o prazo para requerer judicialmente a reparação do dano é prescricional de 5 anos
(art. 27 do CDC).

O termo inicial é a data em que ocorreu a lesão ou pagamento.


Nas ações de repetição de indébito por defeito do serviço bancário (art. 27 do CDC), o termo inicial da
contagem do prazo prescricional é a data em que ocorreu a lesão ou pagamento.

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Tese 5:
Não há relação de consumo entre a instituição financeira e a pessoa jurídica que busca financiamento
bancário ou aplicação financeira para ampliar o capital giro ou fomentar atividade produtiva.
Código de Defesa do Consumidor.
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Teoria finalista.
Pelo art. 2º do CDC, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.

No caso de empréstimo para fomento de atividade empresarial, o beneficiário do empréstimo não se


enquadra na categoria de “consumidor final”.
Não é cabível a aplicação do Código de Defesa do Consumidor na hipótese em que o financiamento
bancário obtido pela recorrente é destinado ao incremento de sua atividade empresarial. Isso porque,
conforme a jurisprudência do STJ, tal situação não se trata de relação de consumo, bem como não se
vislumbra na pessoa da empresa tomadora do empréstimo a figura do consumidor final prevista no art. 2°
do Código de Defesa do Consumidor. AgRg no REsp 1351745/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/06/2015, DJe 07/08/2015.

O mesmo se aplica quando o empréstimo visa ampliar capital de giro e atividade profissional.
Segundo a orientação jurisprudencial do STJ, não incide o CDC, por ausência da figura do consumidor (art.
2º do CDC), nos casos de financiamento bancário ou de aplicação financeira com o propósito de ampliar
capital de giro e atividade profissional. AgInt no AREsp 555.083/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019.

APROFUNDANDO! A teoria finalista possui exceções.


Nos casos acima expostos, a teoria finalista é aplicada, afastando a aplicação do CDC. Ocorre que, em
determinados casos concretos os tribunais superiores adotam a teoria finalista de forma mitigada,
possibilitando a aplicação da legislação consumerista. Vejamos alguns exemplos:

• Sociedade empresária administradora de imóveis que tenha adquirido avião com o objetivo de
facilitar o deslocamento de sócios e funcionários.
◦ STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1321083-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
9/9/2014 (Info 548).
• Concessionária de veículos frente a operadora de telefonia.
◦ REsp 1195642/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/11/2012,
DJe 21/11/2012.
• A aquisição de veículo para utilização como táxi.
◦ STJ. 4ª Turma. REsp 611872-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 2/10/2012 (Info
505).

Quando a teoria finalista mitigada é aplicada?


Conforme o caso, caracterizada uma vulnerabilidade legitimadora da aplicação da Lei nº 8.078/90, mitiga-
se os rigores da teoria finalista, autorizando a equiparação da pessoa jurídica compradora à condição de
consumidora.

A doutrina tradicionalmente aponta a existência de três modalidades de vulnerabilidade:


• Técnica: ausência de conhecimento específico acerca do produto ou serviço objeto de consumo;

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• Jurídica: Falta de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos na relação de
consumo; e
• Fática: Situações em que a insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica do
consumidor o coloca em pé de desigualdade frente ao fornecedor.
• Mais recentemente, tem se incluído também a vulnerabilidade informacional: dados insuficientes
sobre o produto ou serviço capazes de influenciar no processo decisório de compra.
REsp 1195642/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/11/2012, DJe
21/11/2012.

Tese 6:
As normas do Código de Defesa do Consumidor são aplicáveis às atividades de cooperativas que são
equiparadas àquelas típicas de instituições financeiras.
Código de Defesa do Consumidor.
Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como
os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços.
§1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as
de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.

Súmula 297-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.

Aplicação do CDC a relação entre cooperados e cooperativas que desenvolvem atividades equiparadas
às instituições financeiras.
A orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de se admitir a aplicação das
disposições do Código de Defesa do Consumidor às relações travadas entre cooperados e cooperativas
quando estas desenvolvem atividades equiparadas às instituições financeiras. AgInt nos EAREsp 1302248/
PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 20/10/2020, DJe
29/10/2020.

Em sentido semelhante:
Súmula 602-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos habitacionais
promovidos pelas sociedades cooperativas.

Cooperativas habitacionais.
As cooperativas habitacionais são associações de pessoas que se reúnem com o objetivo de comprar ou
construir imóveis. Teoricamente, tais cooperativas não possuem finalidade lucrativa.

O CDC é aplicado aos empreendimentos habitacionais promovidos por sociedades cooperativas.


É firme a orientação deste Tribunal Superior no sentido de que as disposições do Código de Defesa do
Consumidor são aplicáveis aos empreendimentos habitacionais promovidos pelas sociedades
cooperativas. AgInt no AREsp 949.537/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 25/10/2016, DJe 16/11/2016.

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Tese 7:
A ocorrência de fortuito externo afasta responsabilidade civil objetiva das instituições financeiras, por não
caracterizar vício na prestação do serviço.
Tese 8:
As instituições financeiras são responsáveis por reparar os danos sofridos pelo consumidor que tenha o
cartão de crédito roubado, furtado ou extraviado e que venha a ser utilizado indevidamente, ressalvada as
hipóteses de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.
Código de Defesa do Consumidor.
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação
ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua utilização e riscos.
§3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I. que não colocou o produto no mercado;
II. que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III. a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Súmula 479-STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.

O fornecedor é objetivamente responsável pelos danos causados por fatos do produto ou serviço.
Isso significa que a responsabilidade do fornecedor por defeitos do produto ou serviço independe da
análise de sua culpa.

Só há três formas do fornecedor se escusar do dever de indenizar.


CDC, Art. 12, §3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado
quando provar:
I. Que não colocou o produto no mercado;
II. Que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III. A culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Fortuito interno x Fortuito externo.


Além disso, não basta o fornecedor alegar culpa exclusiva terceiro, este também precisa demonstrar que o
risco de tal “fato de terceiro” não está abrangido entre os normais à atividade desenvolvida. Daí os
conceitos de “fortuito interno” e “fortuito externo”. Vejamos:
• Fortuito Interno: São os riscos normais a atividade desenvolvida.
◦ Não excluem o dever de indenizar.
◦ Exemplo: Responsabilidade do banco de indenizar vítimas de fraudes bancárias.
• Fortuito Externo: São os riscos que não são normais a atividade desenvolvida.
◦ Excluem o dever de indenizar.
◦ Exemplo: Roubo a mão armada em estacionamento externo, gratuito e de livre acesso de
lanchonete.

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Exemplos de fortuito externo na atividade bancária:
• Roubo a mão armada em estacionamento em área aberta, gratuita e de livre acesso a todos:
EREsp 1431606/SP, Rel. Min. MARIA ISABEL GALLOTTI.
• Latrocínio cometido contra correntista do banco, já em via pública: STJ. 3ª Turma. REsp 1557323/
PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/02/2018).

Exemplo de fortuito interno na atividade bancária:


• Cartão de crédito roubado, furtado ou extraviado e que venha a ser utilizado indevidamente.

O banco não será responsabilizado caso o cartão de crédito roubado, furtado ou extraviado e que venha
a ser utilizado indevidamente por culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Vejamos exemplos de casos em que o banco se escusa do dever de indenizar:
• Culpa exclusiva do consumidor: compra realizada com o cartão original e mediante o uso da
senha (STJ. 3ª Turma. REsp 1.633.785/SP).
• Culpa exclusiva de terceiro: no “sequestro relâmpago” em via pública, quando o saque é realizado
mediante coação da vítima (STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.161.860/SP).

Tese 9:
As entidades bancárias são responsáveis pelos prejuízos resultantes de investimentos malsucedidos quando
houver defeito na prestação do serviço de informação/conscientização dos riscos envolvidos na operação.
Código de Defesa do Consumidor.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
III. a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos
que apresentem

Dever de informação dos riscos.


O princípio da boa-fé e seus deveres anexos devem ser aplicados na proteção do investidor-consumidor
que utiliza os serviços de fornecedores de serviços bancários, o que implica a exigência, por parte desses,
de informações adequadas, suficientes e específicas sobre o serviço que está sendo prestado com o
patrimônio daquele que o escolheu como parceiro. REsp 1724722/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 27/08/2019, DJe 29/08/2019.

A proteção contra práticas abusivas, assim como o direito à informação, é direito básico do consumidor,
cuja manifesta vulnerabilidade (técnica e informacional) impõe a defesa da qualidade do seu
consentimento, bem como a vedação da ofensa ao equilíbrio contratual. REsp 1326592/GO, Rel. Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 07/05/2019, DJe 06/08/2019.

Apesar do gestor do fundo de investimento ter somente uma obrigação de meio, a má-gestão,
consubstanciada pelas arriscadas e temerárias operações com o capital do investidor configura o dever
de indenizar.
O administrador de fundo de investimento não se compromete a entregar ao investidor uma rentabilidade
contratada, mas de apenas de empregar os melhores esforços - portanto, uma obrigação de meio - no
sentido de obter os melhores ganhos possíveis frente a outras possibilidades de investimento existentes
no mercado.

No entanto, o Superior Tribunal de Justiça afirma que a má-gestão, consubstanciada pelas arriscadas e
temerárias operações com o capital do investidor, ou a existência de fraudes torna o administrador

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responsável por eventuais prejuízos. REsp 1724722/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 27/08/2019, DJe 29/08/2019.

Perfil do investidor.
A instrução CVM nº 539/2013 dispõe sobre o dever de verificação da adequação dos produtos, serviços e
operações de investimento ao perfil do cliente. Com base nela, as instituições bancárias, antes dos
consumidores começarem a realizar investimentos, fazem uma espécie de questionário com a intenção de
definir o perfil do investidor e recomendar investimentos com ele compatíveis.

Por exemplo, a um investidor de “perfil conservador” serão recomendados investimentos de renda fixa,
tesouro direto, poupança, etc. Já para um investidor de “perfil moderado” serão recomendados
investimentos em ações, debentures, etc.

Caso o banco aplique o dinheiro do consumidor em fundo de investimento incompatível com o seu
perfil, ocasionando prejuízos, haverá o dever de indenizar.
É ilícita a conduta da casa bancária, que, aproveitando-se de sua posição fática privilegiada, transferiu, sem
autorização expressa, recursos do correntista para modalidade de investimento incompatível com o perfil
do investidor, motivo pelo qual deve ser condenada a indenizar os danos materiais e morais porventura
causados com a operação. REsp 1326592/GO, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 07/05/2019, DJe 06/08/2019 (Info 653).

Tese 10:
As regras do CDC não se aplicam aos contratos firmados no âmbito do Programa de Financiamento
Estudantil - FIES, pois não se trata de serviço bancário, mas de programa governamental custeado pela
União.
Programa de Financiamento Estudantil – FIES.
O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) é um programa do Ministério da Educação (MEC), instituído
pela Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, que tem como objetivo conceder financiamento a estudantes
em cursos superiores não gratuitos, com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo MEC e
ofertados por instituições de educação superior não gratuitas aderentes ao programa.

Não se trata de serviço bancário.


Além disso, os bancos atuam no sistema como meros agentes financeiros, prepostos ou mandatários de
órgãos públicos.
O Tribunal estadual reconheceu a ausência de motivos aptos a sustentarem a eventual
imposição de responsabilidade ao Banco do Brasil, o que ensejou sua exclusão do polo
passivo da lide. Isso porque ele teria sido mero agente financeiro, preposto ou mandatário
de órgãos públicos, não tendo nenhuma atuação causadora de danos à insurgente. AgInt
no REsp 1876497/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 26/10/2020, DJe 29/10/2020.

Finalidade social do crédito educativo.


O Contrato de Crédito Educativo, dada a elevada finalidade nitidamente social da sua instituição, não deve
ser interpretado sem levar-se em conta a sua especificidade, como se fosse uma relação financeira
comum, por isso que a sua compreensão assimila as regras que servem de padrão ao sistema de proteção
ao equilíbrio das relações de crédito, em proveito da preservação de sua teleologia.

Apesar da inaplicabilidade do CDC, tais contratos devem ser vistos sob uma ótica de vulnerabilidade do
contratante e dos fins sociais do contrato.

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Embora a jurisprudência desta Corte Superior seja no sentido da não-aplicação do CDC aos Contratos de
Crédito Educativo, não se deve olvidar a ideologia do Código Consumerista consubstanciada no equilíbrio
da relação contratual, partindo-se da premissa da maior vulnerabilidade de uma das partes.

O CDC, a despeito de não ser aplicado, pode ser utilizado como vetor interpretativo.
O CDC, mesmo não regendo diretamente a espécie sob exame, projeta luz na sua compreensão. Neste
caso, o CDC foi referido apenas como ilustração da orientação jurídica moderna, que valoriza o equilíbrio
entre as partes da relação contratual, porquanto essa diretriz está posta hoje em dia, no próprio Código
Civil.

Vale dar destaque as normas insertas nos arts. 421 e 422 do CC, as quais tratam, respectivamente, da
função social do contrato e da boa-fé objetiva. A função social apresenta-se hodiernamente como um dos
pilares da teoria contratual. É um princípio determinante e fundamental que, tendo origem na valoração
da dignidade humana (art. 1º da CF), deve determinar a ordem econômica e jurídica, permitindo uma
visão mais humanista dos contratos que deixou de ser apenas um meio para obtenção de lucro.

Boa-fé objetiva.
Da mesma forma, a conduta das partes contratantes deve ser fundada na boa-fé objetiva, que,
independentemente do subjetivismo do agente, as partes contratuais devem agir conforme o modelo de
conduta social, geralmente aceito (consenso social), sempre respeitando a confiança e o interesse do
outro contratante.

No caso concreto, entendeu-se desarrazoada uma multa contratual no valor de 10%.


Tratando-se no caso dos autos de Contrato de Crédito Educativo e levando-se em conta a elevada
finalidade social da sua instituição, mostra-se desarrazoada uma multa contratual no valor de 10%. AgRg
no REsp 1270314/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
25/02/2014, DJe 13/03/2014.

QUESTÕES

Nos contratos bancários posteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007,


1. em 30/4/2008, não pode ser cobrada a tarifa de cadastro no início do relacionamento entre o (___)
consumidor e a instituição financeira.
Nos contratos bancários posteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007,
2. em 30/4/2008, pode ser cobrada a Tarifa de abertura de crédito (TAC) e a Tarifa de emissão (___)
de carnê (TEC).
É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de instituição financeira
3. pelos danos decorrentes de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito (___)
de contrato de penhor civil.
É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de instituição financeira
4. pelos danos decorrentes de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito (___)
de contrato de penhor civil, por tratar-se de hipótese de fortuito externo.
Nas ações de repetição de indébito por descontos indevidos decorrentes de defeito na
5. (___)
prestação do serviço bancário, o prazo para a ação é decadencial.

12
Aplica-se o prazo prescricional do art. 27 do CDC às ações de repetição de indébito por
6. (___)
descontos indevidos decorrentes de defeito na prestação do serviço bancário.
Nas ações de repetição de indébito por defeito do serviço bancário (art. 27 do CDC), o termo
7. (___)
inicial da contagem do prazo prescricional é a data em que ocorreu a lesão ou pagamento.
Há relação de consumo entre a instituição financeira e a pessoa jurídica que busca
8. financiamento bancário ou aplicação financeira para ampliar o capital giro ou fomentar (___)
atividade produtiva.
O art. 2º do CDC adota a teoria finalista. Já a jurisprudência, mitiga tal teoria quando, a
9. despeito do agente não ser o usuário final do produto, estiverem presentes no caso concreto (___)
a vulnerabilidade técnica, jurídica, fática ou informacional.
As normas do Código de Defesa do Consumidor não são aplicáveis às atividades de
10. (___)
cooperativas.
O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos habitacionais
11. (___)
promovidos pelas sociedades cooperativas.
A ocorrência de fortuito externo afasta responsabilidade civil objetiva das instituições
12. (___)
financeiras, por não caracterizar vício na prestação do serviço.
A ocorrência de fortuito interno afasta responsabilidade civil objetiva das instituições
13. (___)
financeiras, por não caracterizar vício na prestação do serviço.
As instituições financeiras são responsáveis por reparar os danos sofridos pelo consumidor
14. que tenha o cartão de crédito roubado, furtado ou extraviado e que venha a ser utilizado (___)
indevidamente, ressalvada as hipóteses de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.
As entidades bancárias não são responsáveis pelos prejuízos resultantes de investimentos
15. malsucedidos, não sendo possível alegar defeito na prestação do serviço de (___)
informação/conscientização dos riscos envolvidos na operação.
É ilícita a conduta da casa bancária, que, aproveitando-se de sua posição fática privilegiada,
transferiu, sem autorização expressa, recursos do correntista para modalidade de
16. (___)
investimento incompatível com o perfil do investidor, motivo pelo qual deve ser condenada a
indenizar os danos materiais e morais porventura causados com a operação.
As regras do CDC se aplicam aos contratos firmados no âmbito do Programa de
17. (___)
Financiamento Estudantil – FIES.

Gabarito:
1.E 2.E 3.C 4.E 5.E 6.C 7.C 8.E 9.C 10.E 11.C 12.C 13.E 14.C 15.E 16.C 17.E

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Seca e Jurisprudência.

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