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I- DOS FATOS

O Autor é vinculado ao programa de pontuação junto à Ré denominado por


mais de anos.

Sempre acompanhando o seu acúmulo de pontos, tentou realizar uma compra


de passagens aéreas em [inserir data] para [inserir local] sem êxito, recebendo a
informação de não dispor de pontos suficientes.

Ao verificar seu extrato, não teve mais acesso ao acúmulo de pontos sem
qualquer justificativa, o impedindo de realizar a planeja viagem.

Questionou formalmente a Ré, obtendo como resposta que os pontos foram


cancelados por “”.

O que não merece prosperar, visto que os pontos acumulados trata-se de


direito adquirido do Autor em troca a fidelidade e uso contínuo dos serviços da
Ré e de seus parceiros, configurando enriquecimento ilícito por parte da Ré.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS – da incidência do Código de Defesa do


Consumidor

Em primeiro lugar, não se pode deixar de ressaltar a aplicação do Código de


Defesa do Consumidor, uma vez que se trata de relação de consumo,
configurando-se a Requerida como fornecedora, consoante definição contida
no artigo 3º, caput, e a parte autora como consumidora, conforme disposto no
artigo 2º da Lei nº 8.080/90. E deve-se aplicar o artigo 6º, inciso VIII, do mesmo
Diploma Legal, invertendo-se o ônus da prova a favor da consumidora
Requerente.

II.1 Do reembolso das milhas aéreas

Conforme narrado, todos os pontos do Autor foram cancelados em clara


configuração de enriquecimento ilícito por parte da Ré.

Nas palavras da Relatora Isabelle da Silva Scisinio Dias, ao decidir sobre o tema,
caracteriza o programa de milhagens:

“O programa de milhagens é estratégia desenvolvida por empresas como a Ré


para fomentar a utilização de seus serviços, com isso atraindo clientela por meio
de bonificações, dependendo seu funcionamento regular da observância da
equação custo benefício. O benefício conferido pela empresa de transporte
aéreo ao consumidor que adquire bilhete de viagem consistente em
acumulação de pontos, no sistema designado por milhagem, caracteriza, ato
unilateral de promessa de recompensa. (...).”
TJ-RJ – RI: 00433869220168190203, Relator: ISABELLE DA SILVA SCISINIO DIAS,
4a. TURMA RECURSAL DOS JUI ESP CIVEIS, Data de Publicação: 21/06/2017)

Ou seja, o programa de milhagens possui um fim econômico que beneficia a


empresa Ré uma vez que incentiva a utilização de seus serviços e aquisições em
empresas parceiras.

Portanto, não há que se falar em gratuidade do programa. Assim, os pontos


tratam-se de contrapartida ao Autor pela fidelidade, uso contínuo dos serviços
da Ré e de seus parceiros.

Portanto, o ato de confiscar o acúmulo de pontos do Autor configura


enriquecimento ilícito, devendo recair sobre a empresa Ré quaisquer danos
causados por esta atividade.

[Inserir jurisprudência]

A fragilidade na segurança das transações por meio eletrônico não pode ser
transferida ao consumidor, visto que os riscos da atividade devem recair
exclusivamente sobre a fornecedora, independentemente de culpa. Nesse
sentido é o entendimento majoritário sobre o tema:

[Inserir jurisprudência]

Trata-se, portanto, de inequívoca RESPONSABILIDADE OBJETIVA da Ré,


consubstanciada no risco da atividade, respondendo pelos danos causados aos
seus clientes, independente do motivo.

Evidentemente que a simples inadimplência não pode motivar a perda de um


direito adquirido do Autor ao acumular depois de tanto tempo [] pontos.

Evidentemente que tal penalidade configura cláusula abusiva passívl de


nulidade nos termos do Art. 51 do CDC:

Art. 51 São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais


relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
I- impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por
vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou
disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o
consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações
justificáveis;
(...)
IV- estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem
o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a
boa-fé ou a quidade;

Trata-se de posicionamento firmado no judiciário devendo vigorar na presente


ação:

[inserir jurisprudência]

Ao lecionar a matéria, o ilustre Desembargador Sérgio Cavalieri Filho destaca:

“Todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de


consumo tem o dever de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens
e serviços fornecidos, independentemente de culpa. Esse dever é imanente ao
dever de obediência às normas técnicas e de segurança, bem como aos critérios
de lealdade, que perante os bens e serviços ofertados, quer perante os
destinatários dessas ofertas. A responsabilidade decorre do simples fato de
dispor-se alguém a realizar atividade de produzir, estocar, distribuir e
comercializar produtos ou executar determinados serviços. O fornecedor
passa a ser o garante dos produtos e serviços que oferece no mercado,
respondendo pela qualidade e segurança dos mesmos.”
(Programa de Responsabilidade Civil, 8ª ed., Ed. Atlas S/A, pág. 172) (grifamos)

Nessa toada, a responsabilidade da Ré é objetiva, ou seja, independentemente


da existência de culpa, motivo pelo qual deverá responder pelos danos
causados.

DA APLICAÇÃO DO CDC E INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Ao estarmos diante de uma relação de consumo, necessária a inversão do ônus


da prova, tendo em conta que a Lei 8.078, de 1109/1990, em seu art, 3º, §2º,
dispõe:

Art. 3º. Fornecedor é roda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional
ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem, construção, criação, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.
§1º. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Trata-se da materialização exata do Princípio da Isonomia, segundo o qual,
todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os limites de
sua desigualdade, sendo devido a inversão do ônus da prova.

Por esta razão que o art. 14, §3º, I e II, do CDC, estabelece a inversão do ônus
da prova, atribuindo ao fornecedor o ônus da prova, atribuindo ao
fornecedor o ônus de demonstrar satisfatoriamente a inexistência do
defeito ou a culpa exclusiva do consumidor. Assim, o fornecedor só se exime
da dever de reparação se provar que o dano foi causado por culpa exclusiva do
consumidor.

Por tudo isso, o fornecedor de serviços deve assegurar que o consumidor que
os utiliza que não possa ser vítima de dano. A atividade da Ré é de risco e cabe
a ela, que é a única que com ela lucra adotar todas as medidas necessárias para
prevenir quaisquer danos ao consumidor.

Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência, uma vez que disputa


a lide com uma empresa de grande porte, indisponível concessão do direito à
inversão do ônus da prova, que desde já requer.

DO DANO MORAL

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova que junta no presente


processo, a empresa ré em manifesto abuso de direito confiscou indevidamente
a pontuação acumulada pelo Autor, impedindo-o de realizar uma viagem
programada, expondo o Autor a um constrangimento ilegítimo, gerando o
dever de indenizar.

A Súmula 37 do Superior Tribunal de justiça elucida o tema:

“O dano moral alcança prevalentemente valores ideais, não goza apenas a dor
física que geralmente o acompanha, nem se descaracteriza quando
simultaneamente ocorrem danos patrimoniais, que podem até consistir numa
decorrência de sorte que as duas modalidades se acumulam e tem incidências
autônomas.”

Trata-se de dano que independe de provas, conforme entendimento


jurisprudencial:

[inserir jurisprudência]

E nesse sentido, a indenização por dano moral deve representar para a vítima
uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo sofrido e de infligir
ao causador sanção e alerta para que não volte a repetir o ato, uma vez que fica
evidenciado completo descaso aos transtornos causados.

Como exposto acima, o Autor foi vítima de fraude em programa de fidelidade


da Requerida, por falha no sistema de segurança desta.

É evidente que é insuficiente o sistema de segurança da RÉ a ponto de propiciar


a entrada de terceiros fraudadores à conta da consumidora, restando
comprovada a falha no serviço da parte Requerida.

Assim, torna-se incontestável a fraude, sendo a Requerida responsável em


conformidade com o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor. Logo,
requer a condenação da Requerida na restituição de 96.907 pontos retirados
indevidamente da conta da Autora.

II.2 Da indenização por danos morais

O dano imaterial é aquele que atinge um bem personalíssimo do ofendido. É


previsto pela Constituição Federal, Artigo 5º, inciso V, e pelo Código Civil em
seus artigos 12 e 186. Prejuízo imaterial, pode-se assim dizer, é aquele que afeta
o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima. Pelo prejuízo representar
aspectos íntimos do ser humano, sua reparação é feita por compensação
pecuniária. O dano imaterial consiste na ofensa a direito fundamental.

É a ofensa ao direito às integridades físicas, intelectual ou moral. Simples pensar


que consiste na violação à dignidade humana, isto porque somente ela pode ser
verdadeiro vetor do que compreende ou não intrínseco ao ser humano.

A conduta da Ré gerou no titular das milhas evidentes constrangimentos (a


ponto de reduzir a possibilidade de resgate de passagens aéreas), bem como
acarretou perda do tempo do Autor. Sendo assim, além de se determinar a
devolução das milhas, deve a Ré, nos termos do artigo 5º, incisos V e X, da
Constituição Federal, do artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor e do
artigo 186, do Código Civil, indenizar integralmente a vítima do evento.

Ao Autor foi negado a tranquilidade que buscava, inclusive precisando contratar


advogado e se socorrer do Poder judiciário para que pudesse receber pontos
indevidamente retirados de si.

O sentimento de impotência, preocupação, angústia e frustração, certamente


decorrentes da conduta displicente do fornecedor, ultrapassam a seara do mero
aborrecimento, causando indenização por danos morais. A respeito:

[inserir jurisprudência]
A liquidação do dano imaterial deverá ser concebida com esteio no
delineamento.

“Na fixação do valor da condenação por dano moral, deve o julgador atender a
certos critérios, tais como nível cultural do causador do dano; condição
socioeconômica do ofensor e do ofendido; intensidade do dolo ou grau de
culpa (se for o caso) do autor da ofensa; efeitos do dano no psiquismo do
ofendido e as repercussões do fato na comunidade em que vive a vítima.
Ademais, a reparação deve ter fim também pedagógico, de modo a
desestimular a prática de outros ilícitos similares, sem que sirva, entretanto, a
condenação de contributo a enriquecimentos injustificáveis” (LEX 292/185).

Assim, deve a Ré ser condenada a pagar indenização por danos morais ao Autor
no importe de R$.

III- DOS REQUERIMENTOS

Por todo o exposto, requer-se:

a) a citação da Requerida, no endereço constante no preâmbulo, por meio de


carta postal, para que apresente contestação, dentro do prazo legal, sob pena
de revelia e confissão;

b) seja julgado TOTALMENTE PROCEDENTE a presente ação, determinando à


empresa Ré a imediata restituição de ___ pontos acumulados ou,
alternativamente a indenização pecuniária no valor de R$ _______ conforme
simulação de compra realizada no site ________ para a compra da mesma
quantidade de pontos.

c) seja a empresa Ré condenada a pagar ao Autor a título de danos morais, o


valor de R$, considerando as condições das partes, principalmente o potencial
econômico-social da lesante, a gravidade da lesão, sua repercussão e as
circunstâncias fáticas;

d) seja aplicada a inversão do ônus da prova, consoante artigo 6º, VIII do


Código de Defesa do Consumidor;

e) protesta provar o alegado por todas as formas em direito admitidas, em


especial prova documental, testemunhal e pericial.

f) por fim, manifesta o interesse na audiência conciliatória, nos termos do Art.


319, VII, CPC.
Dá-se à causa o valor de R$

Termos em que,
Pede deferimento.

Vila Velha/ES, 20 de março de 2024

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