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aDO 2022 • Claudia Lima Marques, Antoni…
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Seção
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V. Da Cobrança de Dívidas
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a
Seção V
s

Da cobrança de
dívidas
Art. 42. Na cobrança de débitos, o
consumidor inadimplente não será
exposto a ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.

Parágrafo único. O consumidor


cobrado em quantia indevida tem
direito à repetição do indébito, por
valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável.

I – DOUTRINA

Meios de cobrança e a não


exigência de má-fé para a
repetição em dobro: Em matéria
de cobranças de dívidas e correção de
dados, a jurisprudência brasileira
distingue entre a atuação dos bancos e
financeiras e a atuação das empresas
responsáveis pelos serviços públicos
uti singuli prestados à população.
Quanto aos bancos, a sensibilidade da
jurisprudência para a cobrança
indevida é tal que, mesmo existindo
cláusula contratual prevendo a
veracidade do débito lançado em
conta corrente ou do saldo devedor e a
reflexa concordância ficta do
consumidor, refaz o equilíbrio do
contrato e aceita condenar a empresa
bancária a danos morais pela conduta
ilícita ofensiva ao direito subjetivo do
indivíduo. Neste sentido, parece ter a
jurisprudência se consolidado por
meio da Súmula 322 do STJ: “Para a
repetição de indébito, nos contratos
de abertura de crédito em conta-
corrente, não se exige a prova do
erro.” O STJ complementou esta linha
com repetitivo que bem determinou
que a restituição em dobro do
indébito (parágrafo único do artigo 42
do CDC ) independe da natureza do
elemento volitivo do fornecedor que
realizou a cobrança indevida,
revelando-se cabível quando a
referida cobrança consubstanciar
conduta contrária à boa-fé objetiva e
que ficou assim ementada a tese: A
repetição em dobro, prevista no
parágrafo único do art. 42 do CDC , é
cabível quando a cobrança indevida
consubstanciar conduta contrária à
boa-fé objetiva, ou seja, deve ocorrer
independentemente da natureza do
elemento volitivo.” (EAREsp
XXXXX/RS).

Abusividade na cobrança
bancária, assédio de cobrança,
cessão de dívidas e cláusulas
abusivas: A Portaria SDE/MJ 3, de
15 de março de 2001, expressamente
prevê como abusiva e nula, ex vi art.
51, IV , do CDC , a cláusula que: “7.
Autorize o envio do nome do
consumidor e/ou seus garantes a
cadastros de consumidores (SPC,
Serasa etc.), enquanto houver
discussão em juízo relativa à relação
de consumo”; e “9. Permita à
instituição bancária retirar da conta
corrente do consumidor ou cobrar
restituição deste dos valores usados
por terceiros, que de forma ilícita
estejam de posse de seus cartões
bancários ou cheques, após
comunicação de roubo, furto ou
desaparecimento suspeito ou
requisição de bloqueio ou final de
conta”. A primeira destas cláusulas
permite a violação da honra e do
nome do consumidor, mesmo se o
consumidor está apenas exercendo
seu direito de discutir a dívida no
Judiciário. O segundo tipo de cláusula
viola o patrimônio do consumidor,
que fisicamente está na posse do
fornecedor, facilitando a cobrança de
sua dívida e criando desvantagem
exagerada para o consumidor. Ambas
permitem a violação do crédito do
consumidor, como homo economicus,
e são cada vez mais comuns no
mercado brasileiro, como comprova o
grande número de ações aqui
reproduzidas, as quais condenam os
fornecedores por danos morais
(geralmente de fonte própria ou
extracontratuais) frente aos
consumidores por inscrição indevida
(ou não comunicada) nos bancos de
dados de consumo. Note-se que na
atualização do CDC , pela Lei
14.181,2021 foi incluída nova cláusula
abusiva sobre práticas na cobrança e
na renegociação de dívidas, proibindo
e considerando nula de forma
absoluta a cláusula que: “Art.
51.XVIII-estabeleçam prazos de
carência em caso de impontualidade
das prestações mensais ou impeçam o
restabelecimento integral dos direitos
do consumidor e de seus meios de
pagamento a partir da purgação da
mora ou do acordo com os credores”.
A Lei 14.181,2021 traz também
importante novidade, a completar o
abuso de vulnerabilidade (‘abus de
faiblesse’ do direito francês) do Art.
39, IV do CDC , a saber o assédio de
consumo na oferta de crédito (Art. 54-
C, IV- assediar ou pressionar o
consumidor para contratar o
fornecimento de produto, serviço ou
crédito, principalmente se se tratar de
consumidor idoso, analfabeto, doente
ou em estado de vulnerabilidade
agravada...” Esta norma se interpreta
o que já era proibido pelo Art. 39, IV
também interpreta o caput do Art. 42
do CDC , no que podemos chamar de
abuso de cobrança, em que a
vulnerabilidade do idoso, do
analfabeto, do consumidor em geral,
por exemplo, cobrando dívidas
prescritas, como se fossem exigíveis.
A Lei 14.181,2021 consolida o fato que
o momento da cobrança é
especialmente sensível e mesmo
perigoso de ser abusado da fragilidade
do consumidor. Assim também o
momento da renegociação voluntária,
após a cobrança, assim o Art. 54-C,
inciso V considera abusivo:
“condicionar o atendimento de
pretensões do consumidor ou o início
de tratativas à renúncia ou à
desistência de demandas judiciais, ao
pagamento de honorários
advocatícios ou a depósitos judiciais”.
Também a cessão de dívidas é um
destes momentos, assim o CDC vai
reforçar o direito de saber para quem
se deve, sendo que o direito
assegurado no Código Civil de receber
notificação em caso de cessão de
dívidas é muito desrespeitado no
Brasil. Espera-se que com a prática do
CDC atualizado pela Lei 14.181,2021
as práticas comerciais nos serviços
bancários, de crédito, financeiros,
securitário e previdenciário ( ADI
2591 ) melhorem no país.

Meios de cobrança e
constrangimento: A Diretiva
Europeia de 2005/29 introduziu a
noção de práticas comerciais
agressivas, além das enganosas. O
direito comparado também conhece e
sanciona práticas abusivas como a
pressão indevida, o aproveitamento
da vulnerabilidade situacional do
consumidor, a coação, a intimidação,
a chamada ‘violence’,’duress’
(violência), a ‘influência indevida’, o
assédio de consumo. Estas práticas
geralmente são identificadas na
oferta, como afirma o Artigo 8.º da
Diretiva 2005/39 que define práticas
comerciais agressivas como: “ Uma
prática comercial é considerada
agressiva se, no caso concreto, tendo
em conta todas as suas características
e circunstâncias, prejudicar ou for
susceptível de prejudicar
significativamente, devido a assédio,
coação – incluindo o recurso à força
física – ou influência indevida, a
liberdade de escolha ou o
comportamento do consumidor médio
em relação a um produto, e, por
conseguinte, o conduza ou seja
susceptível de o conduzir a tomar uma
decisão de transação que este não
teria tomado de outro modo.” O caput
Art. 42 do CDC sem dúvida,
visionário, proíbe a pressão e a
coação-e qualquer violência – na
cobrança de dívidas. Assim, é de se
destacar que no Brasil ocorreu uma
morte de um consumidor em um
supermercado, atacado pelos
seguranças. Trata-se de crime (Art. 71
do CDC ), mas também de prática
abusiva, a de usar de violência e
pressão física para ‘cobrar’ eventuais
dívidas. Se o caso, não serve para o
Art. 42, este bem elucida quanto é
importante – também no direito
privado – proteger os direitos
fundamentais e a dignidade do
consumidor, enquanto pessoa
humana.

Meios de cobrança (prestadores


de serviços públicos): Quanto à
atividade das empresas prestadoras
de serviços públicos e à cobrança das
taxas relativas a serviços públicos, a
jurisprudência brasileira ainda reluta
em utilizar o CDC , preferindo a saída
de direito administrativo e a
presunção de veracidade do
demandado pelo prestador de serviço
público, presunção que só cederá em
face da prova do excesso ou da
excepcionalidade da ocorrência,
segundo “o senso comum”, ensejando
a determinação da inversão do ônus
da prova pelo juiz, de forma a facilitar
a prova da alegação do consumidor. A
Lei Geral de Serviços públicos não
melhorou esta situação. A nova
posição sobre a devolução em dobro
do e. STJ (EAREsp XXXXX/RS)
talvez modifique esta situação.
Vejamos esta evolução.

Sanção da devolução em dobro


do indevidamente cobrado ao
consumidor: Nos primeiro 30 anos
do CDC , esta norma do parágrafo
único do art. 42 tinha alcançado
relativa ou pouca efetividade. A
explicação inicial é que talvez tivesse
sido pouco compreendida. Mesmo
sendo a única norma referente à
cobrança indevida, em todas as suas
formas, a jurisprudência ainda resistia
a uma condenação em dobro do
cobrado indevidamente. Prevista
como uma sanção pedagógica e
preventiva, a evitar que o fornecedor
se “descuidasse” e cobrasse a mais dos
consumidores por “engano”, que
preferisse a inclusão e aplicação de
cláusulas sabidamente abusivas e
nulas, cobrando a mais com base
nestas cláusulas, ou que o fornecedor
usasse de métodos abusivos na
cobrança correta do valor, a devolução
em dobro acabou sendo vista pela
jurisprudência, não como uma
punição razoável ao fornecedor
negligente ou que abusou de seu
“poder” na cobrança, mas como um
fonte de enriquecimento “sem causa”
do consumidor. Quase que somente
em caso de má-fé subjetiva do
fornecedor, havia devolução em
dobro, quando o CDC , ao contrário,
mencionava desde 1990 a expressão
“engano justificável” como a única
exceção. Como sempre defendemos, a
devolução simples do cobrado
indevidamente é para casos de erros
escusáveis dos contratos entre iguais,
dois civis ou dois empresários, e está
prevista no CC/2002 . No sistema do
CDC , todo o engano na cobrança de
consumo é, em princípio
injustificável, mesmo o baseado em
cláusulas abusivas inseridas no
contrato de adesão, ex vi o disposto
no parágrafo único do art. 42. Cabe ao
fornecedor provar que seu engano na
cobrança, no caso concreto, foi
justificado. Já em caso de uso de
método abusivo, como o envio do
nome do consumidor para os bancos
de dados, sem aviso prévio, este é –
em minha opinião – sempre
injustificado e abusivo, causando
dano moral puro. Se o fornecedor
cobrou a mais e o consumidor não
pagou, tendo seu nome enviado ao
banco de dados, haverá dano moral
puro e ainda cabe ao consumidor a
devolução em dobro do que pagou a
maior, não se presumindo que o fez
por liberalidade, ao contrário o fez por
pressão do abuso do fornecedor. A
“causa” do enriquecimento do
consumidor neste caso é o contrato e
o abuso do fornecedor; em outras
palavras, o enriquecimento é legitimo
e legitimado justamente pelo
parágrafo único do art. 42 CDC ,
visando socialmente atingir uma
maior boa-fé, lealdade, cooperação e
cuidado na cobrança de dívidas.
Somente assim o efeito pedagógico
previsto no CDC acontece no País,
pois não pode valer a pena cobrar
indevidamente do mais fraco, do
vulnerável, baseando-se em cláusula
que “eu mesmo redijo e imponho ao
cliente”. Cobrar indevidamente e
impunemente de milhões de
consumidores e nunca ser condenado
à devolução em dobro é que seria
fonte de enriquecimento sem causa,
enriquecimento ilícito oriundo do
abuso do direito de cobrar. Relembre-
se aqui a Súmula 281 do STJ: “A
indenização por dano moral não está
sujeita à tarifação prevista na Lei de
Imprensa”. As demais súmulas sobre
danos morais tem demonstrado
também a importância desta sanção,
assim as Súmulas 387 , 388 , 370 e
326 do STJ. Recente Súmula 412
revitaliza a cobrança de dívidas a
maior contra o consumidor,
utilizando o prazo de 10 ou 20 anos,
prazo geral, do Código Civil em
matéria de cobrança de água e energia
(Súmula 412 do STJ: “A ação de
repetição de indébito de tarifas de
água e esgoto sujeita-se ao prazo
prescricional estabelecido no Código
Civil”). Destaque-se também a
possível importância da Súmula 477
do STJ: “A decadência do art. 26 do
CDC não é aplicável à prestação de
contas para obter esclarecimentos
sobre cobrança de taxas, tarifas e
encargos bancários”. Em 2021, esta
linha inicial foi corrigida. Em decisão
de líder, o STJ afirmou que a
restituição em dobro do indébito
(parágrafo único do artigo 42 do CDC
) independe da natureza do elemento
volitivo do fornecedor que realizou a
cobrança indevida, revelando-se
cabível quando a referida cobrança
consubstanciar conduta contrária à
boa-fé objetiva (EAREsp
XXXXX/RS). E ainda que a prescrição
é a decenal: “A ação de repetição de
indébito por cobrança de valores
referentes a serviços não contratados
promovida por empresa de telefonia
deve seguir a norma geral do prazo
prescricional decenal, consoante
previsto no artigo 205 do Código Civil,
a exemplo do que decidido e
sumulado no que diz respeito ao lapso
prescricional para repetição de tarifas
de água e esgoto (Súmula 412 /STJ).”
(EAREsp XXXXX/RS)

Lei 14.181/2021 e o direito de


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