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Seção
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V. Da Cobrança de Dívidas
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Seção V
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Da cobrança de
dívidas
Art. 42. Na cobrança de débitos, o
consumidor inadimplente não será
exposto a ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.
I – DOUTRINA
Abusividade na cobrança
bancária, assédio de cobrança,
cessão de dívidas e cláusulas
abusivas: A Portaria SDE/MJ 3, de
15 de março de 2001, expressamente
prevê como abusiva e nula, ex vi art.
51, IV , do CDC , a cláusula que: “7.
Autorize o envio do nome do
consumidor e/ou seus garantes a
cadastros de consumidores (SPC,
Serasa etc.), enquanto houver
discussão em juízo relativa à relação
de consumo”; e “9. Permita à
instituição bancária retirar da conta
corrente do consumidor ou cobrar
restituição deste dos valores usados
por terceiros, que de forma ilícita
estejam de posse de seus cartões
bancários ou cheques, após
comunicação de roubo, furto ou
desaparecimento suspeito ou
requisição de bloqueio ou final de
conta”. A primeira destas cláusulas
permite a violação da honra e do
nome do consumidor, mesmo se o
consumidor está apenas exercendo
seu direito de discutir a dívida no
Judiciário. O segundo tipo de cláusula
viola o patrimônio do consumidor,
que fisicamente está na posse do
fornecedor, facilitando a cobrança de
sua dívida e criando desvantagem
exagerada para o consumidor. Ambas
permitem a violação do crédito do
consumidor, como homo economicus,
e são cada vez mais comuns no
mercado brasileiro, como comprova o
grande número de ações aqui
reproduzidas, as quais condenam os
fornecedores por danos morais
(geralmente de fonte própria ou
extracontratuais) frente aos
consumidores por inscrição indevida
(ou não comunicada) nos bancos de
dados de consumo. Note-se que na
atualização do CDC , pela Lei
14.181,2021 foi incluída nova cláusula
abusiva sobre práticas na cobrança e
na renegociação de dívidas, proibindo
e considerando nula de forma
absoluta a cláusula que: “Art.
51.XVIII-estabeleçam prazos de
carência em caso de impontualidade
das prestações mensais ou impeçam o
restabelecimento integral dos direitos
do consumidor e de seus meios de
pagamento a partir da purgação da
mora ou do acordo com os credores”.
A Lei 14.181,2021 traz também
importante novidade, a completar o
abuso de vulnerabilidade (‘abus de
faiblesse’ do direito francês) do Art.
39, IV do CDC , a saber o assédio de
consumo na oferta de crédito (Art. 54-
C, IV- assediar ou pressionar o
consumidor para contratar o
fornecimento de produto, serviço ou
crédito, principalmente se se tratar de
consumidor idoso, analfabeto, doente
ou em estado de vulnerabilidade
agravada...” Esta norma se interpreta
o que já era proibido pelo Art. 39, IV
também interpreta o caput do Art. 42
do CDC , no que podemos chamar de
abuso de cobrança, em que a
vulnerabilidade do idoso, do
analfabeto, do consumidor em geral,
por exemplo, cobrando dívidas
prescritas, como se fossem exigíveis.
A Lei 14.181,2021 consolida o fato que
o momento da cobrança é
especialmente sensível e mesmo
perigoso de ser abusado da fragilidade
do consumidor. Assim também o
momento da renegociação voluntária,
após a cobrança, assim o Art. 54-C,
inciso V considera abusivo:
“condicionar o atendimento de
pretensões do consumidor ou o início
de tratativas à renúncia ou à
desistência de demandas judiciais, ao
pagamento de honorários
advocatícios ou a depósitos judiciais”.
Também a cessão de dívidas é um
destes momentos, assim o CDC vai
reforçar o direito de saber para quem
se deve, sendo que o direito
assegurado no Código Civil de receber
notificação em caso de cessão de
dívidas é muito desrespeitado no
Brasil. Espera-se que com a prática do
CDC atualizado pela Lei 14.181,2021
as práticas comerciais nos serviços
bancários, de crédito, financeiros,
securitário e previdenciário ( ADI
2591 ) melhorem no país.
Meios de cobrança e
constrangimento: A Diretiva
Europeia de 2005/29 introduziu a
noção de práticas comerciais
agressivas, além das enganosas. O
direito comparado também conhece e
sanciona práticas abusivas como a
pressão indevida, o aproveitamento
da vulnerabilidade situacional do
consumidor, a coação, a intimidação,
a chamada ‘violence’,’duress’
(violência), a ‘influência indevida’, o
assédio de consumo. Estas práticas
geralmente são identificadas na
oferta, como afirma o Artigo 8.º da
Diretiva 2005/39 que define práticas
comerciais agressivas como: “ Uma
prática comercial é considerada
agressiva se, no caso concreto, tendo
em conta todas as suas características
e circunstâncias, prejudicar ou for
susceptível de prejudicar
significativamente, devido a assédio,
coação – incluindo o recurso à força
física – ou influência indevida, a
liberdade de escolha ou o
comportamento do consumidor médio
em relação a um produto, e, por
conseguinte, o conduza ou seja
susceptível de o conduzir a tomar uma
decisão de transação que este não
teria tomado de outro modo.” O caput
Art. 42 do CDC sem dúvida,
visionário, proíbe a pressão e a
coação-e qualquer violência – na
cobrança de dívidas. Assim, é de se
destacar que no Brasil ocorreu uma
morte de um consumidor em um
supermercado, atacado pelos
seguranças. Trata-se de crime (Art. 71
do CDC ), mas também de prática
abusiva, a de usar de violência e
pressão física para ‘cobrar’ eventuais
dívidas. Se o caso, não serve para o
Art. 42, este bem elucida quanto é
importante – também no direito
privado – proteger os direitos
fundamentais e a dignidade do
consumidor, enquanto pessoa
humana.
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