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5 LESÃO

EMENTA: DIREITO CIVIL. TERMO DE CONFISSÃO E PARCELAMENTO DE


DÍVIDA. APLICAÇÃO DE JUROS DE MORA SOBRE JUROS DE
MORA. OCORRÊNCIA. DEFEITO DO NEGÓCIO JURÍDICO. LESÃO. ANULA
BILIDADE PARCIAL DO TERMO. COBRANÇA INDEVIDA. DANO
MORAL. NÃO CONFIGURADO. MERO DISSABOR. RECURSO CONHECIDO
E PARCIALMENTE PROVIDO.
1. A presença de anatocismo, capitalização de juros sobre juros, é conduta
vedada pelo ordenamento jurídico pátrio, consoante Decreto 22.626/1933, Lei
de Usura, que continua em vigor, dado que o Código Civil de 2002 consagra os
princípios da função social da obrigação, da boa-fé objetiva e a vedação do
enriquecimento sem causa.
2. Ademais, a partir da interpretação teleológica do Título IV do Código Civil, do
inadimplemento das obrigações, arts. 389 a 420, torna-se patente a
impossibilidade da prática de juros legais da mora sobre juros legais da mora.
3. No caso dos autos, existe termo de parcelamento de dívida corrigido
monetariamente pelo IGPM e cobrança de juros legais de mora, conforme o art.
126 da Resolução 414/2010 da ANEEL, sendo ilícito contratual incidir nova
cobrança de juros sobre o valor total do débito, tal qual ocorrido.
4. Diante da conjuntura fática, tratando-se de negócio jurídico defeituoso
eivado de lesão objetiva, art. 157 do CC, outra manifestação judicial não resta
salvo declarar a anulabilidade parcial do termo de parcelamento, no que tange
a incidência da segunda imposição de juros de 1% ao mês sobre o valor total
do débito.
5. Quanto à possibilidade de configuração do dano moral presumido, saliente-
se que a jurisprudência do STJ não reconhece a existência de dano moral in re
ipsa pela mera cobrança indevida caracterizadora de falha na prestação de
serviço público. Precedentes. (TJDFT - AC: 0017918-80.2016.8.07.0003,
Relator: DESEMBARGADOR LAUDIVON NOGUEIRA, Data de Julgamento:
28/04/2022, Câmaras Cíveis Isoladas / 1ª CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 05/05/2022)
6. Recurso parcialmente provido.
A lesão consiste no defeito dos negócios comutativos, em razão do
desequilíbrio entre as partes, uma que uma levou excessiva vantagem, em
razão da inexperiência da outra parte. Ripert define lesão como “prejuízo
material que resulta para uma das partes da falta de equivalência entre as
prestações impostas pelo contrato”.

Os fundamentos do instituto da lesão encontram-se em valores éticos. Muitos


apontam duas causas determinantes: o cristianismo, que injeta na sociedade o
ideal de amor recíproco como a própria essência de vida, e a democracia, que,
segundo Ripert, por influência da fraternidade (pilastra básica da democracia),
faz com que os regimes jurídicos busquem a proteção à parte contratualmente
mais fraca. Assim, parte-se da ideia de que a equidade deve reinar nas
convenções, e, por isso, se nos negócios comutativos há desproporção entre
as prestações devidas pelas partes, vicioso é o ajuste.

O contrato pode ser anulável em um período de 4 anos, entretanto segundo o


Código Civil:

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente


necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido
suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com
a redução do proveito. (Rideel, 2021)

Portanto, se ocorrer à tentativa de correção de cobrança ou se justificado a


cobrança maior, o contrato não poderá ser anulável.

Requisitos. A lesão era desdobrada em três espécies, de acordo com a


presença de certos requisitos: a lesão enorme (ou lesão propriamente dita), a
lesão usurária (ou usura real) e a lesão especial.

A lesão usurária consiste no empréstimo de capital com juros acima de 1% ao


mês, que é nula, sem prazo e delituosa prevista nos artigos 1º ao 4º do Decreto
nº 22.623/33
Art. 1º. É vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular em
quaisquer contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal
§ 3º. A taxa de juros deve ser estipulada em escritura publica ou
escrito particular, e não o sendo, entender-se-á que as partes
acordaram nos juros de 6% ao ano, a contar da data da propositura
da respectiva ação ou do protesto cambial.
Art. 2º. E vedado, a pretexto de comissão; receber taxas maiores do
que as permitidas por esta lei.
Art. 3º. As taxas de juros estabelecidas nesta lei entrarão em vigor
com a sua publicação e a partir desta data serão aplicáveis aos
contratos existentes ou já ajuizados.
Art. 4º. E proibido contar juros dos juros: esta proibição não
compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em
conta corrente de ano a ano. (BRASIL,1993)

Além disso, há as diversas lesões previstas no Código de Defesa do


Consumidor, que não precisa provar a inexperiência, pois a vulnerabilidade do
consumidor é presumida. O contrato é nulo e sem prazo. (RIDEEL, 2021)

6 FRAUDE CONTRA CREDORES

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. DEFEITO DO NEGÓCIO


JURÍDICO. FRAUDE CONTRA CREDORES. FUNDAMENTAÇÃO
SUFICIENTE. EXISTÊNCIA DE PROVA DA FRAUDE. CONVENCIMENTO.
1. A fraude contra credores consiste em defeito do negócio jurídico praticado
com a finalidade de ocultar os bens do devedor contra possível execução. A
declaração da anulabilidade, portanto, visa proteger interesse do credor em
ter seu crédito satisfeito. 2. Há, portanto, dois elementos que devem ser
analisados na alegação de fraude: um primeiro de ordem objetiva, consistente
na lesão aos credores; outro de ordem subjetiva, consistente no
conhecimento do adquirente da situação de insolvência do devedor. 3. Ambos
os elementos devem ser demonstrados com prova suficiente da lesão e do
conhecimento sobre a insolvência. Nesse sentido, a situação deve ser
analisada de acordo com todo o conjunto probatório, principalmente no que se
refere à existência do elemento subjetivo. Por se tratar de animus existente
no íntimo do indivíduo, deve ser aferido com base num padrão de conduta do
qual se possa inferir o conhecimento do adquirente sobre a insolvência. 4. No
caso, a alienação de imóvel posteriormente à constituição do crédito
associado ao baixo preço do bem em comparação ao valor de mercado e a
alegação de que o repasse de recursos foi para pagamento da compra e
venda, quando se tratava de empréstimo são elementos que evidenciam a
intenção de ocultar o bem de eventual execução. 5. Recursos dos réus não
conhecidos. Recurso do autor conhecido, mas não provido.
(TJDFT - AC: 0017918-80.2016.8.07.0003, Relator: DESEMBARGADOR
EUSTÁQUIO DE CASTRO, Data de Julgamento: 04/03/2020, Câmaras Cíveis
Isoladas / 8ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 19/03/2020)

A fraude contra credores representa um dos chamados vícios sociais, pois


nesse caso a vontade existe e funciona normalmente, há perfeita
correspondência entre a vontade interna e a sua declaração, mas é avessa à
lei, ou à boa-fé, orientando-se no sentido de prejudicar terceiros ou de infringir
o Direito. São manifestações que não comprometem a manifestação de
vontade, mas a ordem jurídica. Estando positivado no art. 158 e 159.

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão


de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido
à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos
credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.

§ 1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar


insuficiente.
§ 2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem
pleitear a anulação deles.

Art. 159. Serão anuláveis os contratos onerosos do devedor


insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para
ser conhecida do outro contratante.

No sentido em que o termo é aplicado Código, fraude ao credor é todo ato


prejudicial ao credor, praticado pelo devedor que se torna insolvente ou já está
em estado de insolvência. Assim, com a prática de tal ato pelo devedor de
modo a desfalcar seu patrimônio, ocorre o comprometimento dos direitos
creditórios alheios.
A maioria absoluta da doutrina aponta dois como os elementos
caracterizadores da fraude contra credores. O primeiro, objetivo, é o eventus
damni, que corresponde ao ato do devedor prejudicial ao credor por ter sido
realizado em estado de insolvência ou por tornar aquele insolvente. O segundo
elemento, subjetivo, é a má-fé, a intenção de prejudicar o credor (consilium
fraudis).

Ainda neste vício, há várias formas de praticar a Fraude Contra Credores. O


ato de liberalidade e a recusa de aumento de patrimônio, aqui a fraude é
presumida, pois é ato gratuito, por frustrar o credor em receber o valor
presentes nos artigos 158, 385-388 e 1813 do Código Civil. Enquanto aos atos
onerosos, somente ocorrerá a anulabilidade dos contratos nos casos de
insolvência notória ou havendo motivo para ser conhecida pelo outro
contratante. O conhecimento aqui é não só o real, como também o presumível,
em face da notoriedade. Daí se ter a participatio fraudis do outro contratante.

Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o


pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em
proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores, aquilo que recebeu.

Quando da insolvência do devedor e pluralidade de credores, deve ser aberto o


concurso creditório, pelo qual os credores, não havendo preferenciais, entram
em rateio, na proporção dos seus créditos, observada a anterioridade das
penhoras, conforme o art. 909 do CPC/2015.

Se um credor quirografário foi pago antecipadamente, adquiriu situação melhor


que a dos demais quirografários, violando o princípio da igualdade (art. 5º da
CF), pelo que é justo que reponha em proveito de todos para que ocorra rateio
em iguais condições.

O pagamento antecipado do débito frustra a igualdade que deve haver entre os


credores quirografários, os quais possuem como única e igual garantia o
patrimônio do devedor.
Os prazos devem ser contados conforme se tratar de pessoa física ou pessoa
jurídica, pois as físicas não são suscetíveis ao instituto da falência. A fraude
contra credor feita por pessoa física começa a contar a partir de 4 anos da
efetivação do negócio jurídico, presente no artigo 178 do Código Civil. Já na
pessoa jurídica, o início da contagem acontece a partir de falência,
considerando o prazo definido em lei. A responsabilidade do credor será de 2
anos anteriores da decretação judicial de falência e 3 anos após, decretada na
lei de falência de nº 11.101/2005. A consequência é o prejuízo ao credor
decorrente de insolvência, o autor nesse caso deve propor a ação Pauliana ou
revocatória.
Neste vício se enquadra também a fraude processual, também conhecida com
fraude à execução, ocorre quando o devedor já estando em curso uma
execução efetiva atos para retirada de bens ou ativos financeiros em seu nome
para não pagar a execução. Neste caso, haverá consequências civis e
criminais.

BIBLIOGRAFIA
 Código Civil
 Direito Civil Brasileiro, vol. 1, Carlos Roberto Gonçalves
 https://tj-ac.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1491901930/apelacao-
civel-ac-7006544120208010001-ac-0700654-4120208010001
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 https://marcosfelipebecalli.jusbrasil.com.br/artigos/327400560/
defeitos-ou-vicios-do-negocio-juridico
 https://direito.legal/direito-privado/direito-civil/resumo-de-defeitos-
e-invalidade-do-negocio-juridico/
 Traité Élémentaire de Droit Commercial, Georges Ripert.
 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico: existência,
validade e eficácia. São Paulo: Saraiva, 1974.

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