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Atos unilaterais no direito das obrigações

Os atos unilaterais constituem fonte de obrigações, ainda que decorrentes da


vontade de uma única parte, sendo a manifestação de vontade. Os atos
unilaterais se diferenciam dos contratos, no que concerne à própria formação,
pois nos contratos propriamente ditos, a obrigação surge quando há o encontro
de vontades entre os negociantes. Já no caso dos atos unilaterais, existe a
expressão da vontade de uma única parte, e eles se formam quando o agente
se manifesta com a intenção de cumprir com a obrigação. Feita a declaração de
vontade, está se torna exigível ao chegar ao conhecimento a quem foi
direcionada. O Código disciplina o assunto em Promessa de recompensa (arts.
854 a 860) e agregando a ela a Gestão de negócios (arts. 861 a 875), o
Pagamento indevido (arts. 876 a 883) e o Enriquecimento sem causa (arts. 884
a 886).
DA PROMESSA DA RECOMPENSA
“Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou
gratificar, a quem preencha certa condição, ou desempenhe certo serviço,
contrai obrigação de cumprir o devido”. – Art. 854, Código Civil Brasileiro,
2002.
É negócio jurídico unilateral, que vai obrigar o emitente da declaração de vontade
a tornar pública a aceitação. A promessa de recompensa não é uma promessa
de contrato, mas uma obrigação a partir do momento de sua declaração.
Requisitos da promessa da recompensa e a publicidade (não é importando o
veículo da publicidade); especificação da condição a ser preenchida ou o serviço
a ser desempenhado; e a indicação da recompensa ou gratificação. Devem ser
observados os requisitos gerais de validade dos negócios jurídicos unilaterais e
bilaterais, os quais devem ser: promitente capaz; objeto lícito, possível,
determinado ou determinável; e forma não defesa em lei. A publicidade vai se
dirigir a pessoas indeterminadas, mesmo inseridas em um grupo exclusivo. Na
maioria dos casos o anúncio menciona apenas que a pessoa será
recompensada, não se fixando a quantia ou o objeto da recompensa. Ficará
então a fixação a critério exclusivo do promitente? A resposta não poderá ser
positiva. Em caso de desacordo, a recompensa será arbitrada pelo juiz, de
acordo com o vulto do serviço prestado, despesas e incômodos da outra parte.
Para fazer jus à recompensa, o executante deve estar legitimado a recebê-la,
independentemente de sua capacidade civil. A criança de dez anos que encontra
o cachorro perdido terá direito ao prêmio oferecido. A quitação será dada pelo
seu representante legal, dada a incapacidade absoluta do menor de dezesseis
anos (art. 3º, inciso I, do CC). Uma vez emitida a promessa, dirigida a pessoa
indeterminada, o promitente fica vinculado obrigacionalmente, se não a revogar
com a mesma publicidade com que a fez. Tendo marcado prazo para execução
do serviço, ou preenchimento da condição, o promitente deve esperar o
transcorrer do prazo, assim, a promessa tem de ficar de pé e o promitente não
pode arrepender-se.
DA GESTÃO DE NEGÓCIOS

Art. 861, do Código civil Brasileiro diz que aquele que, sem autorização do
interessado, intervém na gestão do negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o
interesse e a vontade presumível de seu dono, ficando responsável a este e as
pessoas com que tratar.

E isso ocorre quando uma pessoa, sem autorização do interessado, intervém na


administração de negócio alheio, dirigindo-o segundo o interesse e a vontade
presumível de seu dono. Na maioria das vezes se trata de um ato de altruísmo,
em que o gestor intervém na órbita de interesses de outra pessoa com a intenção
de evitar um prejuízo para esta. Exemplo disso e quando a residência de alguém
que não está presente é inundada diante de chuva forte e inesperada, fato que
leva o vizinho a contratar serviços de chaveiro, bombeamento d’água e vigilância
de modo a evitar maiores prejuízos materiais. Quanto aos requisitos, há de ser
realizado sem a autorização do dono do negócio, pois estando este ciente e
autorizando a gestão, desnaturalizado restará a gestão de negócios,
configurando outro contrato, como o mandato tácito, por exemplo. A
espontaneidade do gestor é elemento essencial da relação jurídica. É uma
atitude espontânea e improvisada, propondo-se o gestor a proceder como o faria
o próprio dono do negócio, se estivesse presente. Limitar-se a ação a atos de
natureza patrimonial. A intervenção há de ser motivada por necessidade ou por
utilidade, com a intenção de trazer proveito para o dono. O gestor do negócio
(aquele que intervém no negócio alheio) deve comunicar a gestão ao dono do
negócio. A morte do dono do negócio não faz cessar a gestão, devendo o gestor
prosseguir na execução das medidas cabíveis, enquanto aguarda instruções dos
herdeiros.

DO PAGAMENTO INDEVIDO

O pagamento indevido constitui um dos modos de enriquecimento sem causa.


Para a ação de repetição de indébito é necessário que o pagamento tenha sido
efetuado voluntariamente e por erro. Se o pagamento não foi efetuado
espontaneamente, mas em virtude de decisão judicial, incabível se mostra a
ação de repetição de indébito, ainda que se trate de quantia não devida, sendo
adequada a ação rescisória do julgado.

A correção monetária é devida a partir do indevido pagamento e não apenas a


contar do ajuizamento da ação de repetição do indébito. Entretanto, o Código
Tributário Nacional estabelece que os juros só são devidos desde o trânsito em
julgado da sentença art. 167, parágrafo único. Espécies: a) indébito objetivo -
quando o erro diz respeito à existência e extensão da obrigação, ou seja, quando
o devedor paga dívida inexistente, mas que supunha existir, ou débito que já
existiu mas se encontra extinto, ou dívida pendente de condição suspensiva; ou,
ainda, quando paga mais do que realmente deve ou se engana quanto ao objeto
da obrigação e entrega ao credor uma coisa no lugar de outra. Nestes dois
últimos casos, a devolução da coisa mantém íntegra a obrigação; b) indébito
subjetivo - quando a dívida realmente existe e o engano é pertinente a quem
paga (que não é a pessoa obrigada) ou a quem recebe (que não é o verdadeiro
credor). É o que acontece, por exemplo, quando alguém, por engano, paga
dívida da empresa da qual é sócio, supondo que se tratava de dívida pessoal;
ou de quem, por engano, deposita o pagamento na conta bancária de quem não
é o verdadeiro credor, mas seu irmão cujo nome é semelhante ao daquele.

ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

Art. 884. “Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será
obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores
monetários.

As ações destinadas a evitar o locupletamento de coisa alheia, sem causa


jurídica, são várias como a de repetição de indébito (em caso de pagamento
indevido), a de locupletamento ilícito (na cobrança de cheque prescrito,
representativo de um empréstimo não pago), a de indenização etc. Constituem
espécies do gênero das ações de in rem verso, são pressupostos da ação de in
rem verso: a) enriquecimento do credor; b) empobrecimento do devedor; c)
relação de causalidade entre os dois fatos; d) ausência de causa jurídica
(contrato ou lei) que os justifique; e) inexistência de ação específica.

O enriquecimento compreende não só o aumento patrimonial, como também


qualquer vantagem obtida pelo credor, como, por exemplo, a decorrente da
omissão de uma despesa. O convivente, por exemplo, evita gastos em razão dos
serviços domésticos prestados pela companheira, posteriormente abandonada.
Na I Jornada de Direito Civil promovida pelo Conselho da Justiça Federal, foi
aprovado o Enunciado 35, de seguinte teor: “A expressão ‘se enriquecer à custa
de outrem’ do art. 884 do atual Código Civil não significa, necessariamente, que
deverá haver empobrecimento”. O Código Civil é expresso em limitar o exercício
da ação de enriquecimento sem causa a três anos (art. 206, § 3º, IV). Não tendo,
todavia, a nova lei se referido expressamente ao pagamento indevido, entende-
se que o prazo extintivo para a ação dele derivada seja o geral, de 10 anos (art.
205). O Superior Tribunal de Justiça já firmou posição a esse respeito. Com
efeito, proclamou a Segunda Turma que “A restituição de indébito de tarifas de
água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional de 10 (dez) anos previsto no
artigo 205 do Código Civil. Precedente da Primeira Seção”.
REFERENCIAS
CATAPAN, Lucena. Atos Unilaterais: Conceito, obrigação das partes e
requisitos. Jusbrasil, Cascavel. Ago. 2017. Disponível em : <
https://catapan.jusbrasil.com.br/artigos/488754154/atos-unilaterais-conceito-
obrigacao-das-partes-e-requisitos> . Acesso em: 03. Dez.2020
FERREIRA, Ana Vitória Rodrigues. Atos Unilaterais: Resumo. Jus.com.br,
Codó. Dez. 2018. Disponível em : < https://jus.com.br/artigos/71066/atos-
unilaterais-resumo>. Acesso em: 04. Dez.2020.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 3: contratos e
atos unilaterais. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

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