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NEGÓCIO JURÍDICO
A título de exemplo, o Código Civil será aplicado numa situação “em que
alguém compra um automóvel do vizinho, que não é profissional nessa
atividade de venda de veículos.” Como inexiste relação de consumo, se “o
carro seminovo apresenta problemas de funcionamento [e] o caso envolve
um vício redibitório”, deve ser aplicado o Código Civil. Sendo assim, o
adquirente terá a seu favor as opções e prazos previstos no art. 445 do
CC/2002.” (TARTUCE, 2021, p. 259)
Observa Sílvio de Salvo Venosa (2021, p. 193): “Não é qualquer vício que
se traduz em redibitório, senão aquele que torna a coisa imprópria para o
uso colimado no contrato, ou diminua-lhe o valor. Quem compra um
cavalo de corridas portador de uma moléstia respiratória, que o impede de
correr, recebe o semovente com vício oculto que o torna impróprio para o
uso pretendido. Quem compra um animal para abate, por outro lado, não
pode ver nessa moléstia um vício redibitório. Este deve ser grave, de
acordo com o caso concreto, oculto e existente ao tempo da transmissão.”
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Ensina Sílvio de Salvo Venosa (2021, p. 195, grifo do autor) que “os defeitos aparentes
não dão margem à responsabilidade do alienante. Há necessidade de valoração prática
desse requisito em cada caso concreto. Há coisas que na vida social são conhecidas pela
sociedade em geral. Há coisas que dependem de maior ou menor conhecimento técnico,
para serem conhecidas. A noção de homem médio no caso dos vícios redibitórios tem
que ser avaliada dessa forma. Um mecânico ou um vendedor de automóveis não pode
ser tratado como um comprador comum na aquisição de um veículo, sob o prisma de
aferição de conhecimento do vício. O que se mostra como defeito notório para um
especialista não o será para o homem médio. Modernamente, quanto mais lidamos com
aparelhos cada vez mais sofisticados, maior deverá ser o cuidado do juiz no caso
concreto. Como menciona Guillermo Borda (1989:216), a reputação dos vícios ocultos é
uma questão sujeita à livre apreciação judicial. Como primeiro enfoque do problema,
podemos afirmar que os vícios ou defeitos ocultos são os que não poderiam ser
descobertos mediante exame atento e cuidadoso da coisa, praticado pela forma usual no
caso concreto. Não deve ser entendido que o homem comum tenha o dever de se
assessorar de um técnico em qualquer negócio jurídico. O alienante é quem tem o dever
de boa-fé no contrato, alertando sobre eventual vício. O Código de Defesa do
Consumidor realça esse direito à informação do adquirente, que deve inclusive ser
alertado sobre os riscos que a coisa possa apresentar (art. 6º, III).”
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Ainda na lição de Sílvio de Salvo Venosa (2021, p. 195, grifo do autor): “Não pode reclamar de
vício oculto quem adquire objeto usado ou avariado, com a ressalva do vendedor ou
transmitente de que a coisa é entregue ‘no estado’. O defeito deve ser grave. E deve ser de tal
importância que, se dele tivesse tomado conhecimento anteriormente o adquirente, o contrato
não teria sido concluído. Essa importância vista no caso concreto é que torna a coisa imprópria
para o uso destinado, ou lhe diminui o valor, como dispõe o art. 441. A impropriedade para o
uso, ou a diminuição do valor, norteará a escolha da ação a ser proposta pelo prejudicado, a
redibitória, para desfazimento do negócio, ou a quanti minoris, para abatimento do preço. A
escolha da ação, no entanto, incumbe à parte. Defeitos irrelevantes que não alteram a
destinação da coisa, nem seu preço não são considerados vícios. Os defeitos devem existir ao
tempo do contrato. O dever do alienante é de garantia e, portanto, não pode ter como origem
uma causa posterior à transferência da coisa. A questão da fixação do momento da origem do
vício é resolvida por meio de prova, nem sempre muito fácil. É matéria complexa, por
exemplo, saber se a umidade em um prédio provém de vazamento de tubulação anterior ao
negócio, assim como o é a moléstia do gado vendido, o defeito no motor de um veículo etc. Os
exemplos são profusos em matéria de construção civil atinentes a vícios de construção, do solo
e má qualidade de materiais empregados. As questões técnicas devem ser deslindadas por
perícia. Os vícios que eclodem após a transferência são de responsabilidade do adquirente. É
importante fixar, nesse diapasão, que será considerado vício ou defeito oculto aquele cujo fato
gerador é anterior ou concomitante ao negócio jurídico.”
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Esclarece Flávio Tartuce (2021, p. 259 e 261-262, grifo do autor) que o caput do art.
441 do Código Civil “leva em conta o primeiro contato da pessoa com a coisa. Mas,
pode ser que, estando o bem na posse do adquirente, após uma análise mais apurada e
profunda, este perceba o vício de imediato, sendo o mesmo do tipo aparente nesse
momento de contato com a coisa, aplicando-se o art. 445, caput, do CC, quanto ao
prazo decadencial. Por outro lado, pode ser que o vício somente seja conhecido mais
tarde, caracterizando-se como um vício oculto também quanto ao seu conhecimento
posterior, aplicando-se o prazo previsto no art. 445, § 1.º, do CC.” Se “uma empresa
adquire azulejos [armazenados em caixas] diretamente de uma fábrica para a revenda
no varejo [inexiste “relação de consumo, pois os azulejos serão vendidos a terceiros, ou
seja, repassados aos consumidores”] e, ao abrir uma das caixas, “o adquirente [...]
percebe que os azulejos daquela caixa estão em ordem”, mas, “de todas as outras caixas
estão quebrados” [...], o vício é oculto num primeiro momento sendo somente
conhecido mais tarde quando houver um contato maior com a coisa”, devendo “ser
aplicado o art. 445, § 1.º, do CC.” Contudo, se “os azulejos estiverem em ordem na
primeira superfície da caixa, mas todos os demais, na mesma caixa, estiverem
quebrados, haverá um vício oculto na compra, mas que se revela aparente quando
houver um contato efetivo com a coisa”, aplica-se o caput do art. 445 do Código Civil.
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Medidas que podem ser tomadas pelo adquirente prejudicado: (TARTUCE, 2021, p.
262-263; VENOSA, 2021, p. 197-199)
AÇÃO ESTIMATÓRIA OU QUANTI MINORIS: pleiteando “abatimento proporcional no
preço”, podendo haver necessidade de perícia
AÇÃO REDIBITÓRIA: requerendo “a resolução do contrato (devolvendo a coisa e recebendo
de volta a quantia em dinheiro que desembolsou), sem prejuízo de perdas e danos [...]. Para
pleitear as perdas e danos, deverá comprovar a má-fé do alienante, ou seja, que o mesmo
tinha conhecimento dos vícios redibitórios (art. 443 do CC). Todavia, a ação redibitória, com
a devolução do valor pago e o ressarcimento das despesas contratuais, cabe mesmo se o
alienante não tinha conhecimento do vício.” Importante observar que “a resolução do
contrato é o último caminho a ser percorrido [princípio da conservação do contrato]. Nos
casos em que os vícios não geram grandes repercussões quanto à utilidade da coisa, não cabe
a ação redibitória, mas apenas a ação quanti minoris, com o abatimento proporcional do
preço. Anote-se que, segundo a doutrina, se o vício for insignificante ou ínfimo e não
prejudicar as finalidades do contrato, não cabe sequer esse pedido de abatimento no preço
(BUSSATTA, Eduardo. Resolução dos contratos..., 2007, p. 122).”
Alteração do pedido – “Uma vez proposta a ação escolhida, não poderá o autor variar
o pedido, porque nosso ordenamento processual não o permite, sem o consentimento
do réu.” (VENOSA, 2021, p.
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
PERECIMENTO DA COISA EM PODER DO ADQUIRENTE (CC, art. 444) – “a responsabilidade do alienante
permanece ainda que a coisa pereça em poder do adquirente em virtude do vício oculto já existente no momento
da entrega (art. 444 do CC). Aplicando a norma, concluiu o Tribunal do Distrito Federal que ‘assim, mesmo em
se tratando de veículo com quase dez anos de uso, deve o alienante responder pelo defeito oculto no motor, o
qual após dois meses da venda veio a fundir, necessitando de retífica completa’ (TJDF, Recurso Cível
2007.06.1.004531-8, Acórdão 339.162, 2.ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, Rel. Juiz
Jesuíno Rissato, DJDFTE 21.01.2009, p. 170).” (TARTUCE, 2021, p. 263; VENOSA, 2021, p. 198)
SUBSTITUIÇÃO DO BEM – “a possibilidade de o adquirente pleitear a troca do bem, uma vez que o Código
Civil de 2002 não enuncia expressamente tal possibilidade” tem sido discutida. “[...] muitas vezes, tal pleito não
será possível, pois o alienante não é profissional na atividade que desempenhou, como no exemplo de alguém
que adquire um veículo do vizinho. Em outras hipóteses, ou seja, nos casos em que o alienante é profissional na
atividade que desempenha, será possível tal pedido, não havendo qualquer ilicitude quanto ao mesmo [...]. O
exemplo pode ocorrer no caso em que uma empresa, profissional em sua atividade, vende para outra empresa
uma máquina industrial, que será utilizada na linha de produção desta. Nessa situação, não há que se falar em
relação de consumo, pois a última empresa não é destinatária final econômica do bem, pois utiliza a máquina
para dela retirar lucro. É forçoso concluir que será possível pleitear a troca do bem, fazendo diálogo com o
Código de Defesa do Consumidor.” (TARTUCE, 2021, p. 263)
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
VENDA DE ANIMAIS (CC, art. 445, § 2º) – “Essa lei especial pode ser o CDC, caso
estejam presentes os elementos da relação de consumo” (CDC, arts. 2º e 3º). “A título
de exemplo, pode ser citada a compra por consumidores de animais de estimação em
lojas especializadas ou pet shops (TJRS, Processo 71000962233, 1.ª Turma Recursal
Cível, Porto Alegre, Juiz Relator Ricardo Torres Hermann, 19.10.2006). Na falta de
previsão legal, devem ser aplicados os usos e costumes locais, o que está em sintonia
com a parte final do art. 113 do CC e com a concepção social do contrato. Na falta de
usos é que incidem os prazos constantes do § 1.º do art. 445 do CC, por analogia. Como
os animais são bens móveis semoventes, em regra, aplica-se o prazo de 180 dias. Nessa
linha, da jurisprudência estadual: ‘tratando-se de venda de animais, o adquirente decai
do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de 180 (cento e
oitenta) dias, a partir do conhecimento do vício redibitório, nos termos do artigo 445,
§§ 1.º e 2.º, do Código Civil’ (TJGO, Apelação Cível 0313744-52.2014.8.09.0137, 4.ª
Câmara Cível, Rio Verde, Rel. Des. Nelma Branco Ferreira Perilo, DJGO 26.07.2016, p.
148). Nota-se que, pela norma, os costumes têm prioridade de aplicação em relação à
analogia, o que representa uma subversão à ordem prevista no art. 4.º da Lei de
Introdução. [...] a ordem ali prevista não é necessariamente obrigatória, o que é
confirmado pelo dispositivo em comento.” (TARTUCE, 2021, p. 264-265)
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
CJF/STJ, Enunciado 174 da III Jornada de Direito Civil, do Conselho da Justiça Federal
e do Superior Tribunal de Justiça: “Em se tratando de vício oculto, o adquirente tem os
prazos do caput do art. 445 para obter redibição ou abatimento de preço, desde que os
vícios se revelem nos prazos estabelecidos no parágrafo primeiro, fluindo, entretanto, a
partir do conhecimento do defeito [...]. Esclarecendo o teor do enunciado, ele está
prevendo que, nos casos de vícios ocultos, o adquirente terá contra si os prazos de 30
dias para móveis e 1 ano para imóveis (art. 445, caput, do CC), desde que os vícios
surjam nos prazos de 180 dias para móveis e 1 ano para imóveis (art. 445, § 1.º, do CC), a
contar da venda. Parte da doutrina concorda com a aplicação do raciocínio [...]. Ao final
de 2014, surgiu decisão do Superior Tribunal de Justiça aplicando esse enunciado
doutrinário, sendo pertinente transcrever sua breve e objetiva ementa: ‘Recurso especial.
Vício redibitório. Bem móvel. Prazo decadencial. Art. 445 do Código Civil. 1. O prazo
decadencial para o exercício da pretensão redibitória ou de abatimento do preço de bem
móvel é de 30 dias (art. 445 do CC). Caso o vício, por sua natureza, somente possa ser
conhecido mais tarde, o § 1.º do art. 445 estabelece, em se tratando de coisa móvel, o
prazo máximo de 180 dias para que se revele, correndo o prazo decadencial de 30 dias a
partir de sua ciência. [...]’ (STJ, REsp 1.095.882/SP, 4.ª Turma, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, j. 09.12.2014, DJe 19.12.2014).” (TARTUCE, 2021, p. 266-267)
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Observa Flávio Tartuce (2021, p. 267-268): “Com o devido respeito, não há como
filiar-se a essa visão [Enunciado 174 – citado no slide anterior]. Isso porque a
interpretação pode privilegiar condutas de má-fé. Imagine-se a situação em que
alguém vende um imóvel mascarando um problema no encanamento, que
somente estourará depois de um ano e meio da venda. Ora, seria ilógico pensar
que não cabe a alegação de vício redibitório, principalmente levando-se em
conta que um dos princípios contratuais do Código Civil de 2002 é a boa-fé
objetiva. Em síntese, mesmo respeitando o teor do enunciado e dos julgados,
[...] podem gerar implicações de ordem prática no caso de sua aplicação,
traduzindo-se em injustiças. Em conclusão, deve-se deduzir que os dois
comandos legais previstos na ementa do Enunciado n. 174 não se
complementam, tendo aplicação isolada de acordo com o tipo de vício no caso
concreto [...]. [...] penso haver divergência na Corte Superior, com dois julgados
em posições conflitantes: um mais remoto, [...] de que o início do prazo para
alegar o vício deve ser contado da sua ciência; outro mais recente, que segue a
interpretação do art. 445, § 1.º, do Código Civil, guiada pelo Enunciado n. 174
da III Jornada de Direito Civil. A divergência repete-se na doutrina.”
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Esclarece Sílvio de Salvo Venosa (2021, p. 203-204, grifo do autor): “ Como regra,
terminado o prazo de garantia, inicia-se a contagem dos prazos estabelecidos em
lei. Contudo, se durante a garantia surgir o defeito na coisa, o adquirente deve
denunciar o fato nos 30 dias seguintes a seu descobrimento, ’sob pena de
decadência’. Desse modo, uma vez evidenciado o defeito, o adquirente deve
denunciá-lo ao alienante. Não se trata de prazo para o ingresso de ação, mas para
simples comunicação, denúncia do defeito, solicitando as providências cabíveis.
Com isso, se não for resolvida a questão, abre-se a possibilidade para a ação
redibitória ou quanti minoris. Como os prazos decadenciais não correm durante o
período de garantia, conforme a dicção legal, eles somente se iniciam após o termo
final dessa garantia. Trata-se de obstáculo legal do prazo decadencial (art. 207).
No entanto, o adquirente deve comunicar o evidenciamento do defeito no prazo de
30 dias, para manter viva a possibilidade de reclamar; não efetivando essa
denúncia, o que ocorre nessa situação melhor se denomina perempção, pois estará
tolhida a ação judicial. Nesse caso não há mais que se falar em decadência, cujo
prazo nem se iniciara. Ademais, em se tratando de defeito de manifestação tardia,
aplica-se o § 1º do art. 445. A óptica da questão se transfere para a prova.”
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Ensina Maria Helena Diniz (Curso..., 2007, p. 128 apud TARTUCE, 2021, p.
269-270) “que ‘com o término do prazo de garantia ou não denunciando o
adquirente o vício dentro do prazo de trinta dias, os prazos legais do art. 445
iniciar-se-ão’ [...]. No âmbito da jurisprudência estadual, seguindo essa
correta interpretação: ‘Ação de indenização por danos morais e materiais.
Pedido de redibição de contrato de compra e venda de uma retroescavadeira
que apresentou defeitos logo após a aquisição. Acórdão rescindendo que
condenou a autora, sucessora da fabricante, à devolução dos valores pagos
pela requerida. Pleito de rescisão fundamentado no art. 485, V, do Código de
Processo Civil. Violação dos artigos 445, § 1.º e 446 do Código Civil. Vício
oculto de coisa móvel que surgiu durante o período da garantia contratual.
Acórdão rescindendo que incorreu em erro na contagem do prazo
decadencial. Decurso da garantia contratada. Início imediato da contagem do
prazo de 30 (trinta) dias’ (TJPR, Acórdão em Rescisória 0828097-7, 10.ª
Câmara Cível em Composição Integral, Londrina, Rel. Des. Guilherme Freire
de Barros Teixeira, j. 10.03.2016, DJPR 26.04.2016, p. 325).”
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
CONCEITO – “perda [total ou parcial do uso, posse ou propriedade fundada numa causa
jurídica] da coisa diante de uma decisão judicial ou de um ato administrativo [apreensão pela
autoridade policial ou administrativa] que a atribui a um terceiro”. (CC, arts. 447 a 457 do
atual Código Civil). Importante observar que “a perda do bem por vício anterior [ou
concomitante] ao negócio jurídico oneroso [com obrigações equivalentes, segundo Sílvio de
Salvo Venosa] é o fator determinante da evicção [...]. da leitura do art. 447 do atual Código
Civil percebe-se que há uma garantia legal em relação a essa perda da coisa, objeto do negócio
jurídico celebrado, que atinge os contratos bilaterais, onerosos e comutativos, mesmo que
tenha sido adquirida em hasta pública.” (TARTUCE, 2021, p. 276-278, VENOSA, 2021, p. 210;
212-213 e 221)
Esclarece Sílvio de Salvo Venosa (2021, p. 213-214) que “não é [...] toda apreensão
administrativa, ou ato administrativo, que pode ser equiparado à sentença para os fins de
evicção. No caso de desapropriação, por exemplo, diverge a doutrina. No entanto, se o bem foi
alienado como livre e desembaraçado, quando já havia decreto expropriatório, devemos ter
como configurado o direito de evicção. Note que a responsabilidade pela evicção independe de
culpa. A perda da coisa por ato administrativo de política sanitária ou de segurança pública,
como regra geral, não faz operar a garantia.”
Contratos gratuitos – “não há razão para a garantia, porque a perda da coisa pelo beneficiário
não lhe traz um prejuízo, apenas obsta um ganho. No entanto, nada impede que, mesmo em
uma doação, as partes estipulem a garantia, que não existe na lei. (VENOSA, 2021, p. 210)
EVICÇÃO
EVICÇÃO PARCIAL (CC, art. 455): “Sendo parcial, mas considerável [supera a
metade do valor do bem, devendo ser considerada a essencialidade da parte
perdida em relação às finalidades sociais e econômicas do contrato (princípio da
função social dos contratos – Ex. imagine-se o caso em que a parte menor da
fazenda perdida é justamente a sua parte produtiva. A evicção, aqui, pode ser
tida como parcial, mas considerável, cabendo a rescisão contratual)] a perda,
poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato [ação de evicção] e a
restituição da parte do preço correspondente ao desfalque. Sendo parcial a
evicção, mas não considerável, poderá o evicto somente pleitear indenização por
perdas e danos.” (TARTUCE, 280-281; VENOSA, 2021, p. 220)
Evicção parcial e considerável – “parece que convém ao evicto fazer a opção de
rescindir o contrato, podendo pleitear tudo o que consta do art. 450 do CC. De
qualquer modo, ele tem ainda a opção de pleitear o abatimento no preço quanto
ao valor da perda. Vale dizer que, também no caso de evicção parcial, merece
aplicação o princípio da conservação do contrato. Assim, o juiz da causa pode
entender que a rescisão contratual é o último caminho a ser percorrido.”
(TARTUCE, 2021, p. 281)
EVICÇÃO
Expressa revogação do art. 456 do Código civil pelo inciso II do art. 1.072 do CPC – “dispunha o caput do
comando material anterior que ‘para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará
do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do
processo’. Sempre se utilizou a denunciação da lide, prevista no art. 70, inc. I, do antigo Código de Processo
Civil, sendo ela supostamente obrigatória, para que o evicto pudesse exercer o direito que da evicção lhe
resultasse, pela dicção que estava no caput do último comando citado. Depois de muitos debates em sua
tramitação, a denunciação da lide continua sendo o caminho processual para tanto. Nos termos do novel art.
125, inc. I, do CPC/2015, é admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes [CPC, art. 126],
ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que
possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam. Nota-se que não há mais menção à obrigatoriedade da
denunciação da lide, o que vem em boa hora, encerrando profundo debate. Em complemento, o § 1.º do art. 125
do CPC/2015 passou a esclarecer que ‘o direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a
denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida’. [...] a revogação do caput do
art. 456 do Código Civil de 2002 [também] levou consigo a possibilidade jurídica de denunciação da lide por
saltos ou per saltum [proibida pelo art. 73 do CPC], com a convocação para o processo de qualquer um dos
alienantes da cadeia de transmissão que tivesse responsabilidade pelo vício da evicção. Tal caminho processual
era possível pelo uso da expressão ’o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos
anteriores’ [...]. Para encerrar este debate sobre a denunciação por saltos, cabe esclarecer que o vigente Código
de Processo Civil admite apenas uma denunciação sucessiva por parte do primeiro litisdenunciado”. (CPC, art.
125, § 2º). “Por bem, o Código de Processo Civil de 2015 confirmou o que estava no parágrafo único do ora
revogado art. 456 do Código Civil de 2002. Nos termos do seu art. 128, inciso II, feita a denunciação pelo réu, se
o denunciado for revel, o denunciante pode deixar de prosseguir com sua defesa, eventualmente oferecida, e
abster-se de recorrer, restringindo sua atuação à ação regressiva.” (TARTUCE, 2021, p. 281-282 e 285-286, grifo
do autor; VENOSA, 2021, p. 214 a 216)
EVICÇÃO
Prevê o parágrafo único do art. 54: “não poderão ser opostas situações jurídicas não
constantes da matrícula no Registro de Imóveis, inclusive para fins de evicção, ao
terceiro de boa-fé que adquirir ou receber em garantia direitos reais sobre o imóvel,
ressalvados o disposto nos arts. 129 e 130 da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, e
as hipóteses de aquisição e extinção da propriedade que independam de registro de
título de imóvel”. Ausentes “tais informações na matrícula do imóvel, não caberá o
reconhecimento da evicção, o que visa prestigiar a boa-fé e a conservação do
negócio jurídico, concentrando-se os atos no registro. Ademais, conforme o art. 55
da mesma lei, a alienação ou oneração de unidades autônomas integrantes de
incorporação imobiliária, parcelamento do solo ou condomínio edilício,
devidamente registrada, não poderá ser objeto de evicção ou de decretação de
ineficácia, mas eventuais credores do alienante ficam sub-rogados no preço ou no
eventual crédito imobiliário, sem prejuízo das perdas e danos imputáveis ao
incorporador ou empreendedor, decorrentes de seu dolo ou culpa, bem como da
aplicação das disposições constantes do Código de Defesa do Consumidor. Mais
uma vez, o objetivo é de conservação dos negócios jurídicos, bem como a própria
efetivação da incorporação imobiliária.” (TARTUCE, 2021, p. 287)
EVICÇÃO
Referências bibliográficas
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Agravo em Recurso Especial n. 1126890/MG.
Relator: Ministro Raúl Araújo. Brasília, 15 de junho de 2020. Diário da Justiça eletrônico, 01 jul. 2020.
Disponível em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?
num_registro=201701564421&dt_publicacao=01/07/2020>. Acesso em: 16 mar. 2022.
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação Cível n. 1009672-40.2021.8.26.0564. Relator:
Carmen Lucia da Silva. São Paulo, 24 de agosto de 2022. Tribunal de Justiça de São Paulo, 24 ago.
2022. Disponível em: <https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?
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3SJRUEJvQJ6FF3lZ2idzXxkhuNaeS0PirfvbT4fuMb6-3rgKOAUNc3GrsFng>. Acesso em: 02 set. 2022.
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