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Ex: Um indivíduo contrata outro pensando que este tem determinadas competências que
afinal não tem (ex: carta de pesados)
Erro sobre o objeto do negócio – recai sobre o bem sobre o qual o negócio incide ou
sobre o conteúdo do negócio. Ex: um indivíduo compra um quadro a pensar que é o
original e afinal é uma cópia
A consequência do erro sobre a pessoa do declaratário e sobre o objeto do negócio (art.
251) é a anulabilidade, desde que estejam reunidos os requisitos do art. 247:
• O elemento sobre o qual recaiu o erro tem que ser essencial para o declarante
Ou seja, sem este elemento, o contrato não teria sido celebrado, ou não teria sido
celebrado nas mesmas condições
A lei pretende não condenar à anulabilidade todo o qualquer erro – o erro tem de ser
relevante. Se recair sobre uma coisa acessória, então o erro é irrelevante e não afeta a
validade da declaração negocial
Ex: uma pessoa adquire um carro, pensando que este tinha um rádio que dava para ouvir
CDs. Depois constata que este não dá para ouvir CDs. Como o carro é antigo e tem valor
para si, não teria deixado de o comprar se soubesse deste aspecto
A lei não exige que o declaratário conheça o erro do declarante. Não é relevante que o
declaratário saiba ou deva saber que o declarante está em erro. O que a lei exige é que o
declaratário não deva ignorar que aquela é uma matéria essencial.
O declarante tem de provar que a pessoa com quem contratou sabia ou devia saber dessa
essencialidade.
Ex: Uma pessoa vende a outra um carro de colecção. Ambas estavam convencidas de que
o carro é de determinada data, vindo a descobrir que não é. O que a lei exige não é que o
vendedor conhecesse o erro (que o carro não era da data que pensavam ser), é que ele
deva conhecer a essencialidade que essa matéria constituía para o comprador. Se o
vendedor fosse diligente, teria percebido que o ano de que o carro é, era essencial para o
comprador.
Para que o erro seja relevante para a base do negócio tem de recair sobre as
circunstâncias em que ambos os sujeitos firmaram a decisão de contratar
Se o erro incidir sobre essas circunstâncias (252/2) o contrato fica sujeito aos requisitos do
disposto sobre a alteração de circunstâncias (437) - existe quando as partes celebram um
contrato num determinado contexto, e este altera-se significativamente, sendo obrigados
a cumprir as suas obrigações nessas novas circunstâncias
Quando há uma alteração radical, não é justo que se exija às pessoas que cumpram as
mesmas obrigações a que se propuseram num contexto totalmente diferente. Seria
contrário à boa-fé exigir que se continuasse a cumprir as obrigações num contexto
totalmente diferente
Principal diferença:
- no erro sobre a base do negócio as partes representaram mal a realidade desde o
início
- na alteração de circunstâncias, as partes representaram bem a realidade, mas ela
depois alterou-se
Como no erro sobre a base do negócio, a declaração padece de um vício originário, a sua
consequência é a anulabilidade, quando cumpridos os requisitos do art. 437:
- A exigência das obrigações não esteja coberta pelos riscos próprios do contrato
Caso prático 25
Uma coisa é que o declarante tenha declarado aquilo que provavelmente não teria
manifestado se soubesse o que não sabia quando exteriorizou a sua vontade
Outra é que a sua falta de esclarecimento seja susceptível de eficaz invocação perante o
declaratário através, nomeadamente, da anulação do negócio
Tratando-se de erro sobre o objecto do negócio, isso depende da verificação dos mesmos
exactos requisitos de que depende a relevância anulatória do erro-obstáculo (art. 247)
A hipótese vai, contudo, mais longe. A não só deveria saber que o referido motivo era
importante para B como, além disso, não o informou de que o município havia recusado
o licenciamento para tal efeito
De acordo com o disposto no art. 227, as partes devem, na formação do contrato, actuar
de boa-fé.
O que, entre outras coisas, implica que elas devam comportar-se honestamente. Não foi o
caso de A.
A sua conduta configura, por isso, uma hipótese de dolo omissivo (art. 253)
Nessa medida a compra seria anulável com fundamento em erro qualificado por dolo (art.
254)
b) Ainda estará a tempo?
Tanto o negócio celebrado com erro espontâneo como aquele em que o erro tiver sido
causado por dolo são anuláveis
Tratando-se de erro, tal pessoa é o declarante cuja vontade por ele haja sido determinada:
B, portanto
B tem um ano após ter tido conhecimento de que não poderia utilizar o pavilhão em causa
para o efeito pretendido para anular o negócio
Caso prático 26
A, sócio da sociedade Y, concedeu procuração a B para que este cedesse a terceiro a quota
que o primeiro naquela detinha.
B celebrou o contrato de cessão com C mediante ameaça, proferida por este, de que, caso
não realizasse o negócio, seria publicada na imprensa determinada correspondência que
indiciava a sua participação em tráfico de armas.
– que esta ameaça seja ilícita, entendendo-se que tal não sucede quando a ameaça
resulte do “exercício normal de um direito” ou quando consista em puro “metus
reverentialis” (se havia indícios de tráfico de armas é às autoridades que a participação
deve ser feita e não aos jornais);
– que o fim da ameaça se cifre na própria obtenção de uma declaração negocial (no caso,
para a cedência da quota).
Demonstrada a dupla causalidade (coação que desencadeia medo; medo que ocasiona a
declaração negocial), o negócio torna-se anulável
Se a coação for proveniente do declaratário (como sucedia na hipótese), isso basta para o
efeito
Ou seja: apesar de a coação ter sido exercida sobre B, era A quem podia anular com
fundamento nela
b) Supondo que o contrato não era válido, teria alguma relevância o facto de A, apesar
de tudo, haver recebido o preço, assim o tendo declarado por escrito assinado?
– que seja posterior à cessação do vício que funda a anulabilidade (uma vez que é
também a partir de então que começa a contar o prazo para se exercer o direito de
anulação – n.º 1 do art. 287);
– que seja anterior à caducidade do direito de anulação (pois, após ela ter ocorrido, o
negócio já se consolidou precisamente por essa via)
Caso prático 27
Acúrsio, general que promoveu um golpe de Estado, diz a Bruno, ministro do governo
deposto, que lhe compra a sua moradia por 100,000 €, garantindo-lhe uma fuga em
segurança para o estrangeiro e evitando assim a prisão. Bruno, sabendo que a moradia
vale 750,000 €, diz-lhe: “as regras são as suas”.
A escritura de compra e venda é lavrada.
Após o golpe de Estado, Bruno regressa ao país e pretende reaver a casa. Acúrsio dispõe-
-se a pagar o preço justo.
Quid iuris?
O problema neste negócio é a limitação à liberdade que o declarante sofreu na sua
decisão
Bruno não decidiu vender por 100,000 € apenas por sua vontade, mas sim limitado por
circunstâncias externas
O direito à anulabilidade pode ser exercido no prazo de um ano após a cessação do vício
A cessação do vício entende-se como o momento a partir do qual o interessado fica numa
situação em que pode exercer o seu direito.
Considerando-se negócio usurário, o lesado poderia agir de acordo com o art. 283:
modificação do negócio segundo juízos de equidade.
Caso prático 28
Demonstrada a dupla causalidade (coacção que desencadeia medo, medo que ocasiona a
declaração negocial) o negócio torna-se anulável nos termos do art. 256
Entende-se que o exercício de um direito se tem como anómalo quando ele seja exercido
de forma abusiva (art. 334)
Pressionar pode envolver uma ameaça. “Fazer pressão” não é, geralmente, ilícito
Critério básico para a distinção: modo mediante o qual se manifesta a “intimidação” que
determina a vontade débil
Em Janeiro de 2020, Frederico, por escritura pública, doou um prédio urbano a Gisela,
porque esta o ameaçou com uma denúncia criminal em razão de um delito fiscal que
Frederico efectivamente cometera.
Em Abril de 2021, porém, o crime em causa acabou por prescrever.
Em Setembro de 2001, Gisela, que havia registado o prédio em seu nome, vende-o a
Horácio que, sabendo tudo o que se passara entre Frederico e Gisela, de imediato
também o regista.
Em Janeiro de 2022, Frederico pretende reaver o prédio. Deve a sua pretensão ser
atendida em tribunal?
A doação de Frederico a favor de Gisela é feita sob coação moral – art. 255:
- Houve uma ameaça ilícita de um mal (denúncia criminal) sobre a pessoa de Frederico
com o fim de obter deste uma declaração negocial (de doação) que acabou por ser
emitida, motivada pelo receio de concretização desse mal (por medo)
Apesar de a denúncia criminal ser um direito de qualquer cidadão nos crimes de natureza
pública (art. 244 CPP), a ameaça de Gisela é ilícita – utilizou a possibilidade de exercer
esse direito com o objectivo de prosseguir um fim indevido (a obtenção da declaração
negocial de Frederico)
O art. 255, n.º 3 fala em exercício normal; a contrario, constitui coação a ameaça do
exercício anormal de um direito – ou seja, o abuso do direito (art. 334)
A declaração negocial extorquida por coação é anulável – art. 256
- Tem o prazo de um ano – o medo (vício) de Frederico cessou com a prescrição do crime
em Abril de 2021 (a denúncia criminal deixou de poder ser concretizada). Prazo
terminava em Abril de 2022 mas ele queixou-se em Janeiro de 2022
O art. 291 é uma excepção à regra do artigo 289 – estabelece a inoponibilidade dos efeitos
da anulação do negócio a terceiros que adquiram direitos sobre os mesmo bens, desde
que se verifiquem os seus requisitos