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EXCELENTÍSSIMO SENHOR (A) DR(A).

JUÍZ DE DIREITO DA
3°VARA DA COMARCA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SÃO
PAULO

PROCESSO N° XXXXX-XX.XXXX

Tulius, já devidamente qualificado nos autos, vem, por intermédio de


sua advogada que esta subscreve (procuração anexa), respeitosamente, perante
Vossa Excelência, nos termos do artigo 336 e seguintes do CPC apresentar
CONTESTAÇÃO aos autos da Ação Declaratória de Nulidade de
Negócio Jurídico c/c Liminar de Busca e Apreensão e Danos Morais proposta por
Magnólia já qualificada nos autos do processo XXXXX-XX.XXXX pelas razões de
fato e de direito a seguir aduzidas:

1) DA SÍNTESE DA INICIAL

A requerente alega que em 20/11/2022 anunciou a venda do seu


veículo Renault Sandero ano 2019 cuja placa é a DDD-000 no valor de R$
37.000,00 (trinta e sete mil reais) pela plataforma da OLX. Menciona também que,
após ter feito o anúncio recebeu o contato telefônico do senhor Aurélio (terceiro
ainda não identificado nos autos do processo em epígrafe), que disse ter gostado do
carro e que mandaria seu ex funcionário, ora requerido, ver o veículo, e se fosse o
caso do mesmo gostar do carro, ele realizaria a compra no valor de R$ 38.000,00
(trinta e oito mil reais), mil reais a mais que o valor do anúncio, e o repassaria ao
requerido como forma de adimplir a uma dívida de cunho trabalhista no valor de R$
40.000,00 (quarenta mil reais).
O requerido portanto, aprovou o veículo, aduzindo a requerente ainda que, na
hora do requerido olhar o carro o questionou acerca dele ser realmente funcionário
de Aurélio - o que assentiu. Após o aceite do carro, o requerido ligou para seu ex
empregador para informá-lo que gostou do veículo e que poderia ser dado como
forma de adimplemento da dívida trabalhista. Aurélio então se comprometeu a
efetuar o depósito na conta bancária da requerente.
A requerente sustenta ainda que, no dia 27/11/2022 o requerido foi buscar o
carro e ambos seguiram junto para o cartório onde seriam feitas as tratativas
necessária para tradição do negócio, a título de exemplo, a transferência
documental do veículo. Já no cartório, a requerente alega ter recebido de Aurélio
uma mensagem cujo o conteúdo era a foto de um comprovante de depósito
bancário no valor de R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais), dando-se por satisfeita
apenas com a foto do comprovante, a requerente sequer verificou no momento o
extrato de sua conta bancária pelo aplicativo, dando, portanto, continuidade nas
tratativas.
Após as burocracias necessárias, a requerente pondera que verificou que o dinheiro
da venda do veículo não havia de fato caído em sua conta, entrou em contato com
Aurélio que disse que faria novamente o depósito - o que, segundo a requerente,
nunca aconteceu. Percebendo que o dinheiro não chegava de forma alguma em sua
conta, a requerente aduz que decide entrar em contato com Aurélio outra vez,
porém não obteve mais êxito em sua tentativas.
Dessa forma, a requerente alega que foi nesse momento que percebera que
havia sido vítima de um golpe, dirige-se a delegacia onde faz um boletim de
ocorrência e posteriormente é feito um bloqueio de transferência do veículo - ou
seja, o requerido, que estava de boa fé não pode realizar a total transferência do
carro para seu nome, nem tampouco usufruir do bem que havia comprado.

2- PRELIMINARMENTE - DA OCORRÊNCIA DE CONEXÃO

De logo, o requerido roga pelo reconhecimento de conexão da presente


demanda com o processo de n° XXXX-XX.XXXX que está tramitando na XX Vara da
comarca de Sertãozinho - São Paulo, que foi distribuída no dia 05/12/2022, ainda
em fase de inicial - conforme termo de distribuição anexo (documento j.)
Denomina-se conexão quando duas ou mais ações ( como o caso em epígrafe) é
coexistente com a causa de pedir de outra nos termos do artigo 55 do CPC. No
caso em tela, é notório que há conexão entre este litígio com o processo de XXXX-
XX.XXXX tramitando na comarca de Sertãozinho, haja vista que os fatos que
embasam a pretensão do requerente(na demanda conexa) ora requerido neste
litígio, são, em tese, os mesmos da ação em comento, só há apenas a inversão dos
polos - em um constitui polo ativo e em outro passivo - porém o objeto da demanda
é o mesmo, conforme é possível verificar na petição inicial anexa (documento f.)
Assim sendo, é indubitável Excelência que unir os dois processos é medida
que torna-se necessária, considerando que, em função do grau de complexidade
dos fatos já explanados aqui, há um inegável risco de proferir decisões
contraditórias se mantiverem os processos correndo em duplicidade.
Reconhecida, portanto, a conexão, que os autos do segundo processo o qual o
requerido é integrante do polo ativo, seja remetido ao juiz preventos sob a luz do
artigo 58 do CPC.

3- DO MÉRITO

3.1 - Da Validade do Negócio Jurídico e da Boa Fé presumida

Primordialmente, é de extrema relevância frisar que o ocorrido entre os


litigantes trata-se de um negócio jurídico de compra e venda de um veículo, e, por
tratar-se de um negócio jurídico deve-se observar os requisitos cumulativos para
sua eficácia e validade dispostos no artigo 104 do código civil:

artigo 104 do cc: a validade do negócio


jurídico requer:
I- agente capaz;
II- objeto lícito, possível, determinado ou
determinável;
III- forma prescrita ou não defesa em lei;

Assim sendo, conforme o elucidado no diploma legal, ainda que a requerente alegue
ter sido vítima de um golpe, ainda sim trata-se de um negócio jurídico válido por
deter todos os requisitos essenciais para sua validação, ademais, o requerido
também agiu de boa fé objetiva nos termos do artigo 422 do código civil:

artigo 422 do CC: os contratantes são


obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa fé.

Ora Excelência, o requerido estava dotado de lisura no momento em que realizou o


negócio jurídico com a requerente, ele apenas se aproveitou que tinha uma dívida
trabalhista com o terceiro (de má-fé), e aceitou em pagar o carro da requerente no
lugar, dessa forma há de chegarmos no consenso de que o simples fato do
requerido aceitar o carro como forma de pagamento não pressupõe que o mesmo
estava compactuando com um golpe, conforme aduz a requerente, se houve algum
erro nessa relação jurídica foi por parte da requerente, que, sequer abriu o aplicativo
do seu banco para verificar se de fato havia caído dinheiro em sua conta,
contentando-se apenas com um “print” de um depósito - que certamente poderia ser
falso, como de fato foi.
Dessa forma, é notório nobre julgador que o erro ou descuido foi por parte da
requerente, o requerido apenas aceitou o carro como forma de adimplemento de
uma dívida e cumpriu com todos os requisitos para a validação do negocio entre as
partes, não sendo, portanto, cabível pedir a anulação do negócio.

3.2 - Da Obrigatoriedade das Partes na Compra e Venda

Em uma situação de compra e venda, seja ela de bem móvel ou imóvel,


incumbe as partes determinadas obrigações. No caso em tela, o requerido realizou a
compra de um veículo, ambas as partes chegaram a um acordo com relação ao
preço, sendo este até a mais que o pedido pela requerente ( o que deveria ter sido
mais um motivo para que a mesma desconfiasse do terceiro, o que não o fez) e
dessa forma, um dos contratantes é obrigado a transferir o bem conforme aduz o
artigo 481 e 482 do código civil:

artigo 481 do CC: Pelo contrato de compra


e venda, um dos contratantes se obriga a
transferir o domínio de certa coisa, e o
outro a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

artigo 482 do CC: A compra e venda,


quando pura, considerar-se à obrigatória e
perfeita, desde que as partes acordarem no
objeto e no preço.

Assim sendo, o terceiro e a requerente entraram em um acordo ao que tange o


preço do veículo, e o requerido entrou em consenso com a requerente ao que
concerne o objeto - no caso se gostou ou não do veículo.
O negócio firmado foi completamente legal, houve acordo entre valor e
objeto, ocorreu a tradição do veículo conforme determina o artigo 1267 do código
civil, o próprio princípio do Pacta Sunt Servanda determina que um contrato tem o
poder de criar obrigações com força de lei entre as partes, e uma vez que a
requerente não demonstrou desconfiança e aceitou realizar a transferência do
veículo para o requerido, por si só já elucida que o negócio não é passível de ser
anulado.
Portanto Excelência, ainda que o dinheiro não tenha caído na conta da
requerente houve de fato a boa fé do requerido, o problema começou por culpa
exclusiva da requerente que, não se preveniu e confiou indubitavelmente no terceiro
- cujo apenas havia tido contato por telefone, sequer o viu pessoalmente. Além do
mais, o requerido não faz parte da negociação, é apenas um beneficiário e não deve,
em hipótese alguma ser responsabilizado por condutas fraudulentas de terceiros.
Nesse caso, a requerente de certa forma foi lesada, mas não pelo requerido e sim
pelo terceiro Aurélio e deve ingressar com ação em face desse terceiro - o pivô de
toda essa litigância.
Assim sendo, a improcedência do pedido de anulação do negócio jurídico é
medida que se faz necessária para resguardar o direito do requerido em continuar
com o veículo, haja vista que o mesmo não foi responsável pela falta de atenção da
requerente ao que concerne o pagamento realizado por terceiro.

4 - DOS PEDIDOS

Ante ao que foi exposto, pede-se a Vossa Excelência

1) Roga-se pelo conhecimento da preliminar de conexão, com fulcro no inciso VIII do


artigo 337 do código de processo civil, devendo que o feito seja remetido ao juizo
prevento da 3° Vara XXXX da Comarca de São José de Rio Preto - São Paulo em
razão da conexão com o processo de n° XXXX-XX.XXXX;

2) Não obstante, com relação ao mérito, roga-se a improcedência dos pedidos de


anulação do negócio jurídico com base nos artigos 104, 422, 481, 482 e 1267 do
código civil;

3) O desbloqueio do veículo para o que requerido possa realizar o licenciamento e


desfrutar do mesmo, uma vez ocorrida a tradição - nos termos do 1267 do código
civil;

4) A produção de todos os meios de provas em direito admitidos, bem como a prova


documental e demais que forem necessárias para comprovações das alegações;

5) A condenação da requerente ao pagamentos dos honorários sucumbenciais em


20% sobre o valor da causa;

Termos em que, espera deferimentos.


Guariba, 04 de março de 2023

Advogada

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