Você está na página 1de 13

AO JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CAMPINA GRANDE/PB

BALTAZAR JORGE COSTA, brasileiro, casado, pai de 2 (dois) filhos (um com 1
ano e outro com 3 meses), trabalha na Justiça Federal como analista judiciário, portador da
cédula de identidade RG nº 8.004.021 SSP/PB e inscrito no CPF sob nº 007.159.696- 84,
residente e domiciliado na Rua Calixto, nº 100, Bairro do Mirante, Campina Grande/PB, vem
por meio de seu advogado devidamente constituído, à presença de Vossa Excelência propor

AÇÃO ANULATÓRIA DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS

em face de ÂNGELO SOARES CAVALCANTI, portador da cédula de identidade nº


58.851 SSP/PB, inscrito sob o CPF nº 112.585.232-78, domiciliado na Rua das Pitombeiras,
nº 1.456, Bairro do Monte Real em Campina Grande/PB, pelos motivos de fato e de direito
que passa a expor:

I - DOS FATOS

1. Em 25/05/2018, o requerente celebrou com o requerido, Ângelo Soares


Cavalcanti, um contrato de compra e venda de imóvel, localizado na cidade de Campina
Grande-PB, no valor de R$150.000,00, sendo quitado no ato da assinatura, tendo todos os
documentos assinados pelo vendedor;

2. A transferência não chegou a ser efetivada em cartório de imóveis;

3. Em meados de junho de 2018, o requerente iniciou a construção de sua casa


própria sob o terreno adquirido;

4. Em novembro de 2019, já com a casa concluída e com despesas à época de


R$200.000,00 para a construção do imóvel, surgiu a informação de que o referido terreno
adquirido havia sido posto à leilão judicial como garantias de processo trabalhista que
tramitava em desfavor do réu;

5. Conforme comprovações apresentadas nos autos, o requerido tinha


conhecimento da existência dos processos, dos quais já se defendia desde 2017. Ou seja, o
requerido realizou a venda e a celebração do contrato ciente da penhora do terreno, valendo-se
de má-fé com o requerente do caso para concretizar o negócio jurídico;

6. Está provado que o negócio jurídico foi celebrado com dolo, na medida em que
o requerente foi enganado pelo requerido, que omitiu a informação da penhora do imóvel e
seu encaminhamento à leilão por dívida trabalhista;

7. A casa construída sob o terreno adquirido é o único imóvel que dispõe o


requerente, sob o qual vive com sua família, constituída de sua esposa e 2 (dois) filhos
menores, ambos, em primeira infância, um com 1 (um) ano e o outro com 3 (três) meses;

8. A decisão da justiça trabalhista transitou em julgado em 15/3/2020 em desfavor


do requerido;

9. O requerente recorre à justiça para resguardar seus direitos e o da sua família.

II - FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

II. 1. DOS VÍCIOS DO CONTRATO

Com base nos fatos expostos, fica claramente perceptível que o requerente, não
detinha conhecimento de que o terreno estava em leilão judicial decorrente de um processo
trabalhista, e que o requerido sabia há meses e estava se defendendo desde meados de 2017,
antes mesmo de celebrar o contrato com o requerente, dessa informação, omitindo-a e agindo
de má-fé.

Torna-se um contrato anulável, pois, se tratando de um negócio jurídico bilateral, a


atitude do requerido se caracteriza no que consta o artigo 147 do Código Civil, resultante de
sua omissão intencional (com dolo), dado que, do contrário, o requerente jamais teria
concordado em celebrar o contrato.

“Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma


das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado,
constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria
celebrado.” – CÓDIGO CIVIL
Ademais, caracteriza-se como um vício redibitório, quando um bem tem seu uso
comprometido por um defeito oculto, de maneira que, se obtivesse o conhecimento antes, o
negócio não teria sido realizado. É o que dispõe o artigo 441 e seguintes do Código Civil.

Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser


enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que
é destinada, ou lhe diminuam o valor.

Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que


recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o
valor recebido, mais as despesas do contrato.

Sobre o tema, pontua Maria Helena Diniz, em sua obra Direito Civil, Teoria dos
Contratos, que

“os vícios redibitórios, portanto, são falhas ou defeitos ocultos existentes na


coisa alienada, objeto do contrato comutativo, não comuns à congêneres, que
a tornam imprópria ao uso a que se destina ou lhe diminuem sensivelmente o
valor, de tal modo que o ato negocial não se realize se esses defeitos fossem
conhecidos.”.

O Código de Defesa do Consumidor garante, entre vários direitos, “a proteção de


seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e
harmonia das relações de consumo”. Além de possuir como princípio o uso sempre da boa-fé
nas relações entre consumidor e fornecedor, o que já vimos no nosso caso, que não foi
utilizado pelo réu.

“Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o


atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da
sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios:

[...]

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de


qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo


e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os
princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição
Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores;

IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos


seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;
V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de
qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos
alternativos de solução de conflitos de consumo; [...]”

II. 2. DA INVALIDADE DO CONTRATO

Ações jurídicas realizadas entre pessoas físicas ou jurídicas são denominadas como
negócio jurídico. No caso concreto, o negócio jurídico é pautado no contrato de compra e
venda de imóvel, realizado entre os senhores Baltazar (requerente) e Ângelo (requerido).
Esses negócios, para que sejam legalmente válidos, necessitam cumprir os requisitos
estabelecidos no art. 104 do Código Civil, vejamos:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Portanto, o negócio jurídico realizado respeitando os requisitos apresentados no art.


104 do CC, será legalmente válido e, consequentemente, terá condições de produzir todos os
efeitos jurídicos dele esperados.

No caso em questão, observamos que o requerido, vendedor do terreno, tinha ciência


da existência de um processo trabalhista do qual defendia-se desde o ano de 2017, onde o
terreno estava sendo penhorado e posto à leilão, em razão da dívida trabalhista. Porém, em
28/05/2018, quando resolveu vender o imóvel ao requerente, decidiu omitir as informações
das condições que encontrava-se o terreno.

Em razão dessa omissão, percebe-se a má-fé por parte do requerido, e a visível lesão
ocasionada ao requerente. Manobras como estas, que se inspiram em má-fé e levam alguém a
induzir a outrem a prática de um ato com prejuízo para este, são denominadas como dolo.

Portanto, considerando o narrado, é evidente que estamos diante de um negócio


jurídico celebrado com dolo. Vejamos o que o Código Civil dispõe a respeito de situações
como esta:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o


negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou
fraude contra credores.

Assim, diante da redação acima mencionada, percebemos que o Código Civil é claro
ao evidenciar que é anulável o negócio jurídico que padecer de incapacidade relativa do
agente envolvido e de vícios como: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores.
Sabendo que o negócio jurídico em questão, pautado no contrato de compra e venda
do imóvel, foi celebrado com dolo, padecendo de deficiência em seus elementos constitutivos,
permitindo sua anulação legal através do que dispõe o Art. 171 do CC. em razão do dolo
cometido pelo requerido.

Ou seja, apesar do contrato suprir os quesitos apresentados no Art. 104 do CC, ele
possui defeito por vício de consentimento ocasionado pelo dolo, e por isso, resguardado o
direito de ser anulado, pelas razões apresentadas.

II. 3. DO REGIME DE CASAMENTO

É preciso, à priori, compreender a situação do regime de casamento do requerido.


Caso este regime seja de comunhão parcial de bens, há a necessidade de esclarecer o motivo
de não ter feito uma análise dos bens do seu cônjuge.
De modo que, o regime da comunhão parcial de bens tem por fim formar um
patrimônio comum entre os cônjuges, reunindo, assim, todos os bens que forem adquiridos
depois da celebração do casamento.

O regime de comunhão parcial de bens consiste na preservação da individualidade de


bens que cada um dos cônjuges possuía antes do casamento e na comunicação comum dos
bens adquiridos em conjunto pelo casal após o casamento.

Nesse mesmo sentido, Carlos Roberto Gonçalves ensina:

O regime da comunhão parcial é o que prevalece se os consortes não fizerem


pacto antenupcial, ou, se o fizerem, for nulo ou ineficaz (CC, art. 1.640,
caput). Por essa razão, é chamado também de regime legal ou supletivo,
como já mencionado. Caracteriza-se por estabelecer a separação quanto ao
passado (bens que cada cônjuge possuía antes do casamento) e comunhão
quanto ao futuro (bens adquiridos na constância do casamento), gerando três
massas de bens: os do marido, os da mulher e os comuns.

Os bens que entram na comunhão, estão previstos no artigo 1.660 do diploma


civilista, a seguir listados:

Art. 1.660. Entram na comunhão:


I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda
que só em nome de um dos cônjuges;
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho
ou despesa anterior;
III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos
os cônjuges;
IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge,
percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a
comunhão.
Desta forma, e levando em consideração tudo o que já foi explanado, é de
entendimento do TRT-4 - AP: 00017612420115040332, Data de Julgamento: 04/09/2020,
Seção Especializada em Execução

REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO. CÔNJUGE. CASAMENTO


COM COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. Quando a dívida trabalhista é
contraída pelo executado na constância do matrimônio celebrado com
comunhão parcial de bens, há presunção relativa de que foi assumida em
benefício do casal. Portanto, ambos os cônjuges são responsáveis pela
satisfação do débito exequendo, devendo ser redirecionada a execução
contra o cônjuge do executado, forte no art. 1.663, § 1º, do Código Civil.
(TRT-4 - AP: 00017612420115040332, Data de Julgamento: 04/09/2020,
Seção Especializada em Execução).

Ademais, com a possibilidade de o requerente perder o único bem de sua família, por
um ato doloso do requerido, uma solução viável e juridicamente possível, se faz necessário
que se investigue os bens do cônjuge o mais célere possível, evitando assim, que o imóvel vá
a leilão e que a cônjuge do requerido seja responsável solidariamente pelas dívidas
trabalhistas.

II. 4. DA FRAUDE DE EXECUÇÃO

Como já foi provado, o requerido tinha conhecimento que o imóvel estava penhorado
e ido a leilão judicial. Logo, agiu com conduta dolosa ao realizar a venda, caracterizando uma
fraude na execução, de maneira que, seu comportamento se enquadra no rol de incisos do
artigo 792 do Código de Processo Civil, mais precisamente nos incisos II e IV, que pontua os
casos em que será considerado caso de fraude:

Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à


execução:
I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com
pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido
averbada no respectivo registro público, se houver;
II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo
de execução, na forma do art. 828;
III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou
outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a
fraude;
IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o
devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência;
V - nos demais casos expressos em lei.

Já por parte do requerente, o STJ tem entendimento claro do que seria necessário
para que seu posicionamento se caracterize como uma fraude, relatado na Súmula 375 do
tribunal referido: “O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do
bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente”.

É certo que, o requerente não detinha conhecimento do processo que existia acerca do
requerido e da possível penhora do imóvel, pois quitou o terreno e construiu sua moradia no
local de aquisição. Observa-se também que o requerente só tomou conhecimento que a
propriedade estaria sendo posta à leilão judicial após o término da obra, ficando nítido que
não houve má-fé na sua conduta enquanto comprador.

II. 5. DA COLISÃO DE PRINCÍPIOS

Neste ponto, colidem frontalmente com dois princípios jurídicos fundamentais. De


um lado, encontra-se a boa-fé do requerente, que seguiu em tempo e forma todos os preceitos
legais para realização do negócio jurídico envolvendo a compra de seu terreno. Do outro lado,
existe a proteção da verba trabalhista, uma vez que o terreno foi posto à penhora como
garantia de dívida trabalhista contra o réu.

O impasse em questão nos remete à colisão de princípios, sob os quais, segundo a lei
da colisão, ganha maior peso a relação de maior prevalência após o sopesamento de todas as
condições fáticas à luz do caso concreto. Sobre isso disse Robert Alexy:

A colisão de princípios, por sua vez, permite que se fuja à lógica da


invalidade, sendo resolvida pela aplicação da lei de colisão, na qual se
determina que princípio ganha maior peso na relação de precedência
condicionada e que, por conseguinte, deve regular o fato (ALEXY, 2008, p.
95)

Também a título de exemplo, cita-se o HC 82.424/RS (BRASIL, 2004) – caso


Ellwanger – sobre o qual foi o relator do acórdão, Min. Maurício Corrêa:

E nesses casos há necessidade de proceder-se a uma ponderação jurídico-


constitucional, a fim de que se tutele o direito prevalente. Cabe ao intérprete
harmonizar os bens jurídicos em oposição, como forma de garantir o
verdadeiro significado da norma.

Se por um lado, a dívida trabalhista não terá precedência sobre a égide jurídica em
salvaguardar a boa-fé entre os cidadãos, tampouco terá precedência sobre o Direito de Família
envolvendo a “casa da morada” e da impenhorabilidade do bem de família. A casa familiar
serve como bem de família, nos termos do artigo 1º da Lei 8.009/1990, para fins de
impenhorabilidade, inclusive no caso de dívidas existentes.

Neste ponto, cabe ainda enfatizar que o requerente não possui dívidas, pois cumpriu
com o pagamento do terreno no ato de sua compra. A dívida trabalhista é do requerido, cuja
conduta de dolo constitui, ao que consta, ser seu modus operandi nos negócios jurídicos que
estabelece.

Agiu de má-fé em desfavor do requerente da mesma forma que agiu de má-fé antes,
sendo, por isso, condenado pela justiça do trabalho e cujas consequências reverberam agora
sobre o bem de família do requerente. Sobre o tema, vários julgados resguardam o direito do
autor.
É de entendimento do STJ, as seguintes decisões: Súmula 205 do STJ, “A Lei
8.009/90 aplica-se à penhora realizada antes de sua vigência” ¹ 1. Súmula 364, “O conceito de
impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas
solteiras, separadas e viúvas.” ²2

Conclusivamente, conforme foi apresentado, a casa do requerente é a sua morada,


onde constitui sua família, resguardada por lei em todos os seus termos, onde o sopesamento
da colisão de princípios lhe confere prevalência sobre a dívida trabalhista e sobre a qual
inexiste a possibilidade de penhora conforme entendido pelas cortes superiores.

II. 6. DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Conforme já asseverado, a Constituição Federal previu, em seu art. 5º, X, a


inviolabilidade da intimidade, honra, vida privada e imagem das pessoas, tendo o Código
Civil, em seu art. 12, previsto a possibilidade de responsabilização civil nos casos em que haja
lesão ou perigo de lesão a estes bens jurídicos fundamentais.

Carlos Roberto Gonçalves define a responsabilidade civil como o dever jurídico


secundário de reparar o dano decorrente do descumprimento do dever jurídico primário de
não lesar.

A responsabilidade civil por ato ilícito ou abuso de direito é passível de indenização


por danos materiais e morais. Temos então uma garantia constitucional que obriga o causador
do dano proveniente de ato ilícito a prestar reparação na extensão do dano como indica o art.
927 do CC, “Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo”.

Portanto, existem 3 pressupostos da responsabilidade civil: o ato ilícito, o dano


injusto, o nexo causal, que interliga os pressupostos anteriores e, em regra, a comprovação do
dolo ou culpa do agente.

- Responsabilidade objetiva: se funda no risco, com origem em determinação legal,


independente de culpa do agente.

- Responsabilidade subjetiva: depende de demonstração de culpa do agente – art.


186.

Um dos elementos da responsabilidade é o dano ou prejuízo, que traduz a violação a


um interesse jurídico tutelado material ou moralmente. Assim, o dano material (que não pode
ser hipotético, mas certo) consiste na violação dos direitos patrimoniais, já o dano moral
implica na violação dos direitos da personalidade.
1
Súmula n. 205, Corte Especial, julgado em 1/4/1998, DJ de 16/4/1998, p. 43
2
² Súmula n. 364, Corte Especial, julgado em 15/10/2008, DJe de 3/11/2008.
II. 7. DOS DANOS MATERIAIS

O requerente se encontra impedido de exercer a plenitude de seu direito de


proprietário, sendo assegurado o direito de indenização moral e material em caso de lesão de
algum dos seus direitos.

O requerente utilizou-se de um capital de R$150.000,00 (cento e cinquenta mil reais)


para adquirir o terreno no dia no dia 28/05/2018, valor este sendo quitado no ato da compra
do terreno.

Em meados de junho do mesmo ano, iniciou a construção de sua residência gastando


cerca de R$200.000,00 (duzentos mil reais) e, após finalização da construção, adentrou para
morar com sua família, levando em consideração que todos os documentos de compra e venda
foram devidamente assinados.

Entretanto, apenas no ano seguinte, o requerente ficou sabendo que seu imóvel havia
sido encaminhado a leilão judicial em virtude de um processo trabalhista em desfavor do
requerido.

Com isso, fica claro que o requerido agiu com total dolo e má fé na venda do terreno,
tendo em vista que o mesmo se defendia do processo trabalhista há 1 ano.

Sendo assim, institui o Código Civil, de acordo com seu artigo 186 e 927, que
“aquele que violar o direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito, fica obrigado a repará-lo”. Entende-se por ato ilícito o ato causador de prejuízo,
seja patrimonial, físico ou moral, a outrem.

Configurando-se como o dano emergente de tudo aquilo que se perdeu, conforme o


entendimento do autor Cavalieri Filho quando cita: “Dano emergente é tudo aquilo que se
perdeu, importando "efetiva e imediata diminuição no patrimônio da vítima, devendo a
indenização ser suficiente para a restitutio in integrum" (Cavalieri F.º, 2005, p. 97).

Portanto, fica o requerido obrigado a restituir todo e qualquer prejuízo financeiro


sofrido pelo requerente, sendo inicialmente o valor de R$150.000,00 (cento e cinquenta mil
reais) correspondente ao valor do terreno.

Em segundo ponto R$200.000,00 (duzentos mil reais) sendo o valor investido na


construção de sua residência e R$130.000,00 (cento e trinta mil reais) referente a valorização
do imóvel, levando em consideração que o imóvel tem um preço médio de revenda alocado
em R$330.000,00 (trezentos e trinta mil reais).

II. 8. DOS JUROS POR MORA


Os juros moratórios são uma das sanções pecuniárias do devedor inadimplente de
uma obrigação perante o credor, em geral causada pelo atraso no seu cumprimento. Sua
natureza é essencialmente punitiva, penalizando aquele que descumpriu o dever que dele era
esperado

A obrigação principal do requerido era ter agido de boa-fé com o requerente, sendo
que, tais ações acarretam danos materiais e morais para o credor, de acordo com a justificativa
do Carlos Roberto Gonçalves na súmula 163 do STF:

Pela Súmula 163 do Supremo Tribunal Federal, 'salvo contra a Fazenda


Pública, sendo a obrigação ilíquida, contam-se os juros moratórios desde a
citação inicial para a ação'.

Assim também dispõe o art. 405 do Código Civil, sendo esse o critério seguido nos
casos de responsabilidade contratual.

Ficando assim, o requerido obrigado a pagar danos moratórios, tendo em vista que,
em casos de responsabilidade extracontratual ou aquiliana, pela prática do ilícito meramente
civil, os juros de mora são computados desde a data do fato, conforme prescreve a Súmula 54
do Superior Tribunal de Justiça:

Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso em caso de


responsabilidade extracontratual. [...]. Os juros de mora sobre indenização
por dano moral, todavia, incidem desde o arbitramento. Não há como se
considerar em mora o devedor antes, se ele não tinha como satisfazer
obrigação não fixada por sentença judicial, arbitramento ou acordo entre as
partes.

II. 9. DOS DANOS MORAIS

Consolidado no ordenamento jurídico brasileiro e expressamente previsto no art. 1º,


III da Constituição Federal de 1988, a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar que
defende a aplicação de indenização por dano moral.

Ademais, o art. 186, do Código Civil de 2002, complementa de forma clara, aquele
que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Os danos morais são aqueles que ferem o interior da pessoa, seu psicológico, bem
como os direitos da personalidade, como o nome, a honra e a intimidade.

O requerente adquiriu o terreno para a concretização de um sonho, que seria a


residência do casal, onde investiu toda a economia da família, no intuito de prover moradia e
bem-estar para seus filhos. O requerido se utilizou de um momento de realização do
requerente para vender-lhe um terreno, onde o requerido já sabia que estava em penhora
trabalhista.
Desde o conhecimento sobre a situação do terreno pelo requerente, além da
possibilidade de perder seu único lar onde seus filhos construíram memórias afetivas, o
mesmo tem se sentido frustrado por ter sido enganado. Além da incerteza sobre a
possibilidade de perder seu único lar, onde seus filhos construíram memórias afetivas.

Eis a acepção de dano moral na jurisprudência pátria:

Entende-se por dano moral a lesão a um bem jurídico integrante de própria


personalidade da vítima, como a sua honra, imagem, saúde, integridade
psicológica, causando dor, tristeza, vexame e humilhação à vítima. (TRF 2ª
Região – 5ª Turma; Apelação Cível nº 96.02.43696-4/RJ – Rel.
Desembargadora Federal Tanyra Vargas).

O dano moral é uma modalidade de responsabilidade civil que busca reparar os


prejuízos psíquicos causados à vítima de um ato ilícito ou de um abuso de direito.

O dano moral é uma modalidade de responsabilidade civil que busca reparar os


prejuízos psíquicos causados à vítima de um ato ilícito ou de um abuso de direito.

Quanto à prescindibilidade de demonstração do dano, postua Antônio Jeová Santos


(Dano moral indenizável. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 606):

A afirmação de que o dano ocorre in re ipsa repousa na consideração de que


a concretização do prejuízo anímico suficiente para responsabilizar o
praticante do ato ofensivo, ocorre por força do simples fato da violação de
modo a tornar-se desnecessária a prova do prejuízo em concreto. A prova in
re ipsa é decorrência natural da realização do ilícito, isto é, surge
imediatamente da análise dos fatos e a forma como aconteceram.

À juízo de ilustração, destaca-se decisões recentes proferidas pelo TJMG a respeito


do tema, sob judice que esclarece a ocorrência de dano moral em casos análogos, vejamos:

Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Apelação Cível: AC


XXXXX-60.2017.8.13.0024 MG
1. Para que se configure a responsabilidade civil, exige-se uma conduta
ilícita (ação ou omissão), de forma culposa ou dolosa, que viole um dever
jurídico preexistente, causando, por esse agir (nexo causal), dano a outrem.
2. Apesar do entendimento de que o mero inadimplemento não enseja
reparação extrapatrimonial, o caso vertente guarda peculiaridades que
justificam a indenização por danos morais.
3. A frustração da expectativa do autor em usufruir do imóvel próprio, a
insegurança sofrida pelo descumprimento absoluto contratual, o
ludibriamento provocado para obter vantagem econômica indevida, a
retenção do valor pago pelo autor e a sua hipossuficiência financeira, impõe
ao apelado lesão moral por ultrapassar o mero aborrecimento cotidiano.

Diante da possibilidade de reparação do dano puramente moral, resta-nos trilhar o


caminho referente ao quantum da indenização que, se não deve ser exagerado, certamente,
não poderá ser arbitrada como indulgência a quem causou malefício a outrem.
Sob tal prisma, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO, por sua 2ª Câmara
Cível, tem assim decidido:

A indenização por dano moral é arbitrável, mediante estimativa prudencial que leve
em conta a necessidade de, com a quantia, satisfazer a dor da vítima e dissuadir de novo
atentado, o autor da ofensa. (TJ-SP – Apelação Cível nº 198.117 – 2ª Câmara – em 21.12.93 –
Rel. Des. Cezar Peluso – RT nº 706, Ago/11, pág. 67.

Na doutrina encontramos Carlos Roberto Gonçalves afirma que:

Em geral mede-se a indenização pela extensão do dano e não pelo grau de


culpa. No caso de dano moral, entretanto, o grau de culpa também é levado
em consideração juntamente com a gravidade, extensão e repercussão da
ofensa, bem como a intensidade do sofrimento acarretado à vítima. A culpa
concorrente do lesado constitui fator de atenuação da responsabilidade do
ofensor”. (Responsabilidade Civil, n.94, p.424)

Portanto, prevê claramente o dano moral, diante de todo exposto, o requerente requer
a reparação mediante indenização.
GRUPO:

ANNALINE GOMES

ISAAK CAVALCANTI

JOSÉ GILDO

MARCELA DE OLIVEIRA

THIAGO BRUNO

VITÓRIA CRISTINA

YASMIN BYANQUE

Você também pode gostar