Você está na página 1de 14

Estabelecimento Empresarial

Base legal: artigos 1.142 a 1.149 do Código Civil.

1- Definição de Estabelecimento Empresarial


Estabelecimento comercial/ empresarial designa o
complexo de bens, materiais e imateriais pelos quais o
comerciante explora determinada atividade mercantil. É
o complexo de elementos que o empresário congrega e
organiza, tendo em vista obter o êxito da atividade
profissional exercida.
Antes do atual Código Civil, não havia uma definição legal do estabelecimento. Hoje, o
artigo 1.142 define o estabelecimento empresarial.

Sinônimos : fundo de comércio ou azienda.


2-Natureza Jurídica do Estabelecimento Comercial
Segundo Marcelo Bertoldi, a natureza do Estabelecimento Comercial é de uma
universalidade de direito. Ou seja, a universalidade significa, aqui, a destinação unitária de
um conjunto de coisas ou bens com objetivos empresariais. É universalidade “de direito”,
pelo fato de os bens serem assim constituídos em virtude de determinação legal (artigo
1.142 CC).
Entretanto, há divergência doutrinária – Ex: Waldo Fazzio Jr. entende que a natureza do
estabelecimento é de universalidade de fato, uma vez que, pela própria determinação legal,
o estabelecimento será constituído de bens segundo a vontade própria do empresário, isto
é: é o empresário que irá organizar os bens para o exercício da empresa.
3- Elementos do Estabelecimento Empresarial
O Estabelecimento comercial se compõe de diversos elementos:
•Materiais – são os bens tangíveis, corpóreos, imóveis e móveis – Ex: as mobílias, os
maquinários, o estoque, os veículos, os edifícios etc.
•Imateriais – aqueles que não são suscetíveis de apropriação física, ou seja, incorpóreos.
Ex: patentes de invenção, segredo industrial, nome empresarial, marca, ponto.
A) Ponto – compreende o local específico em que a empresa se encontra, ou seja, onde se
realiza a atividade. É o local qualificado pelo fato de lá situar-se a empresa. O ponto surge
em decorrência da atividade exercida. Essa atividade atribui a um determinado imóvel, e a
um local, um atributo que estes antes não possuíam, transformando-os, acrescentando-
lhes um valor imaterial.
B)Título do estabelecimento – É o nome fantasia pelo qual é reconhecido o
estabelecimento comercial. Como já vimos, não se confunde com o nome empresarial (que
identifica o empresário) – Também traduz valor patrimonial. Pode ser alienado (ao
contrário do nome), desde que não seja composto pelo patronímico do empresário ou dos
sócios.
C) Domínio na Internet – Estabelecimento virtual. Possuem endereço eletrônico, que é o
seu nome de domínio Ex: www.fiat.com.br. Cumpre função, em relação à página acessível
via internet, igual à do título do estabelecimento em relação ao ponto.
4) O Aviamento
O estabelecimento não é avaliado pela simples soma dos valores de cada um dos bens que
o integram. Deve ser também considerada a capacidade para a obtenção de lucros, a
aptidão para a reunião dos fatores de produção para a realização do resultado pretendido.
A essa aptidão, decorrente da boa organização de seus elementos, se dá o nome de
Aviamento.
O Aviamento não é propriamente um elemento do estabelecimento comercial, mas sim
uma qualidade do estabelecimento, resultante da organização de seus elementos.
Quanto mais eficiente for a organização dos elementos do estabelecimento, mais aviado
será.
Ex: Ford Motors ( Henry Ford –linha de produção)
5) Clientela
É uma situação fática derivada do aviamento e é um fator do aviamento. Se o
aviamento é a aptidão, a qualidade de gerar lucros, esses lucros somente advirão com a
existência de um conjunto de pessoas que são atraídas ao estabelecimento, à procura de
bens e serviços (clientela). Não é considerada, da mesma forma, elemento do
estabelecimento.
Doutrinariamente faz-se distinção entre clientela e freguesia, onde:
Clientela- pessoas que habitualmente negociam com o estabelecimento, ou seja,
contingente de pessoas que o empresário sabe serem consumidores de suas mercadorias
e serviços.
Freguesia – viabilidade de atrair futuros clientes.
Entretanto, a distinção é só teórica. A lei os trata indistintamente.

6- Proteção aos “elementos do estabelecimento”


6.1- Proteção do´Título do Estabelecimento” e da clientela
A legislação não oferece proteção expressa ao título do estabelecimento (nome fantasia)
e à clientela.
Entretanto, isso não impede que o empresário busque meios de promover a
responsabilidade civil de quem, comprovadamente, e com o ardil de usurpar o título de seu
estabelecimento, desvia irregularmente as clientela.
A proteção, no caso, se faz de forma indireta, por meio das normas que regulam a livre
concorrência e as que regulam o ponto (local onde o empresário é localizado pela
clientela).

6.2- Proteção ao ponto


Ciente da importância que o ponto tem para os empresários, o legislador criou normas
para a sua proteção.
Se o empresário é proprietário do imóvel onde exerce a atividade empresarial, a proteção
se faz pelas normas de tutela de propriedade imobiliária do Direito Civil.
Se, todavia, o empresário está estabelecido em imóvel locado, a proteção jurídica é
disciplinada pela lei do Inquilinato (lei 8.245/91), na parte que trata de locação não
residencial – artigo 51 e seguintes da referida lei).
Essa tutela se faz pelo direito de o empresário locatário obter a renovação do contrato de
locação do imóvel ou pela possibilidade de percepção de uma indenização.
A proteção jurídica existente tem por objetivo evitar injustificado locupletamento do
locador. Ex: locador retoma o imóvel para instalar seu estabelecimento e usufruir do ponto
e da clientela feita pelo locatário.
Formas de Proteção em caso de locação comercial:
I- Ação Renovatória
O direito à renovação compulsória do contrato de locação de imóveis destinados a
estabelecimentos empresariais é norma de ordem pública, não é passível de renúncia
antecipada. A cláusula que estabelecer a renúncia a esse direito não tem validade
jurídica.
----Requisitos para se obter o direito à renovação (artigo 51 da lei 8245/91)
a) Contrato escrito e por prazo determinado;
b) Prazo contratual mínimo de 5 anos (aceita-se soma de contratos escritos por prazo
menor);
c) Atividade empresarial constante por três anos no mínimo (mesma atividade);
d) Interposição da ação no prazo legal (período compreendido entre 1 anos e seis meses
da data do término do contrato vigente).
--- Condutas do Locador,de oposição ao pedido:
1º- Alegar que o locatário não preenche os requisitos exigidos para o direito à renovatória;
2º- Alegar que o valor oferecido para aluguel está aquém do valor de mercado;
3º- Exercer o direito de exceção de retomada. A exceção de retomada pode se dar nos
seguintes casos:
• Para realizar obras ordenadas pelo Poder Público, que importem em transformação
radical do imóvel;
• Para fazer modificações no imóvel que impliquem no aumento do valor do negócio;
• Para ser utilizado pelo próprio locador;
• Para transferência de estabelecimento existente há mais de 1 ano,
sendo detentor da maioria do capital o locador, seu cônjuge,
ascendente ou descendente.
II- Direito de Indenização
O locatário terá direito a ser indenizado, em caso de retomada do imóvel pelo locador nos
seguintes casos (artigo 52, § 3º):
A) Quando a renovação não ocorrer por motivo de proposta de terceiro em melhores
condições que a feita pelo atual locatário;
B) Se o locador, no prazo de 3 meses após a entrega do imóvel não deu o destino alegado
ao imóvel, ou não iniciou as obras alegadas (tanto as ordenadas pelo Poder Público
como as que alegou que pretendia realizar);
C) Se desenvolver no imóvel o mesmo ramo da atividade explorada pelo locatário.

O período da renovação será equivalente ao último contrato, e, no prazo máximo de 5 anos.


7- Trespasse
 
É o nome que se dá à alienação do estabelecimento comercial, alienando seu aviamento.
Objeto do trespasse: é a universalidade de bens materiais e imateriais que compõem o
estabelecimento.
Importante relembrar: o nome empresarial não é alienável.
Difere da venda isolada de um bem. Ex: vender um carro.
 Restrições à alienação:
• em caso de massa falida, se a venda é feita sem consentimento expresso de todos os

credores, ou o pagamento a todos estes, se o devedor não tiver bens suficientes para solver
o passivo.
7.1 Direitos e Obrigações decorrentes da alienação
 
Com o trespasse, o adquirente assume a responsabilidade pelo pagamento dos débitos
existentes à época do negócio, desde que tenha tomado ciência destes (por meio da
contabilidade ou outra forma).
Entretanto – Há responsabilidade solidária entre alienante e adquirente pelo prazo de um
ano contado a partir da publicação da comunicação do trespasse, em relação aos créditos
vencidos, ou a contar do vencimento, em caso de crédito vincendo.

Cláusula de não transferência do passivo- Pode ser firmada entre alienante e adquirente,
entretanto, não tem valor perante os credores, salvo se estes renunciaram expressamente
ao direito de acionarem o adquirente quando anuíram com o contrato de trespasse.
Conseqüência- o adquirente passa a ter direito de regresso perante o alienante do valor que
acaso pagou.
Créditos trabalhistas - em caso de trespasse do estabelecimento, a mudança não atinge
os funcionários que continuarem no estabelecimento, podendo o empregado demandar
tanto contra o adquirente quanto contra o alienante. E, nesse caso, o alienante continua
responsável não só pelo prazo de um ano, mas enquanto não tenha ocorrido a prescrição
do direito trabalhista.

Cláusula de não restabelecimento – impõe ao alienante a proibição de, no período de 5


anos subseqüentes à transferência, não restabelecer-se em idêntico ramo de atividade
empresarial, concorrendo com o adquirente, salvo se devidamente autorizado em
contrato. (artigo 1.147 do Código Civil).
Registro – Os contratos de trespasse somente produzirão efeitos perante terceiros após
averbação no Registro Público de Empresas Mercantis e da devida publicação na imprensa
oficial.

Você também pode gostar