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5.

Empresa

Noção jurídica de EMPRESA (= estabelecimento comercial): “organização concreta de fatores


produtivos como valor de posição no mercado”.

Elementos da Empresa

 Elementos corpóreos (ex.: mercadorias, matérias-primas, imóveis, dinheiro)


 Elementos incorpóreos (direitos e situações jurídicas):
o Ativo:
 Direitos – destacando-se o direito ao arrendamento do espaço para exercício da
atividade comercial, créditos, direitos de propriedade industrial, etc.
 Certas situações de facto com valor económico (ex: o saber fazer)
o Passivo: dívidas, empréstimos e contraprestações
 Clientela:
o Relações contratuais com certa estabilidade; expectativa ou capacidade de angariar
novos clientes.
o A Consagração legal do direito à clientela: a indemnização de clientela, consagrada no
regime legal do contrato de agência.
 Aviamento - Capacidade lucrativa, aptidão para gerar lucros. Certas situações de facto que
potenciam o lucro do comerciante. (Ex.: relações com fornecedores ou clientes, acesso ao
crédito, eficiência da organização, reputação ou “Goodwill”, posição no mercado, etc.).

Negociação da Empresa

A empresa pode ser objeto de direitos reais (propriedade, usufruto, posse) e de direitos de crédito
(locação).

Estes direitos podem constituir-se voluntária ou coercivamente (penhora e venda judicial de


empresa).

A empresa vista como um bem jurídico, que pode ser objeto de transmissão ou cedência do gozo.

Sobre a empresa poderão recair dois tipos de negócios jurídicos:

- o trespasse;
- a locação ou cessão de exploração.

-Trespasse: É a transmissão definitiva, por ato entre vivos, com ou sem carácter oneroso, da
propriedade da empresa. Pode ser uma venda, troca, doação, entrada em sociedade ou venda
executiva, etc. O artigo 1112.º do Código Civil (redação da Lei n.º 6/2006, de 27.02):

Artigo 1112.º (Transmissão da posição de arrendatário)

1 - É permitida a transmissão por ato entre vivos, da posição de arrendatário sem dependência da
autorização do senhorio:

a) No caso de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial;

b) A pessoa que no prédio arrendado continue a exercer a mesma profissão liberal, ou a


sociedade profissional de objeto equivalente.

2 - Não há trespasse:
a) Quando a transmissão não seja acompanhada de transferência, em conjunto, das
instalações, utensílios, mercadorias ou outros elementos que integram o estabelecimento;

1
b) Quando a transmissão vise o exercício, no prédio, de outro ramo de comércio ou
indústria ou modo geral, a sua afetação a outro destino.

3 – A transmissão deve ser celebrada por escrito e comunicada ao senhorio. [no prazo de 15 dias
- art. 1038.º, g), do CC]

4 – O senhorio tem direito de preferência no trespasse por venda ou dação em cumprimento,


salvo convenção em contrário.

5 – Quando, após a transmissão, seja dado outro destino ao prédio, ou o transmissário não
continue o exercício da mesma profissão liberal, o senhorio pode resolver o contrato.

No caso de trespasse:

- Transmite-se para o adquirente a posição de empregador nos contratos de trabalho (art.


285.º do Cód. Trab.);
- Os trabalhadores devem ser informados e consultados (art. 286.º do Cód. Trab.);
- Há um dever de comunicação à AT, com antecedência mínima de 30 dias e máxima de
60 sobre a data da sua formalização (exceto em caso de certidão de inexistência de dividas
tributárias) – art. 82.º do CPPT.

Locação (ou cessão de exploração)

É a disposição temporária e remunerada do mero gozo da empresa.

o O locatário explora a empresa por sua conta e risco, pagando uma determinada
remuneração ao dono do estabelecimento.
o O artigo 1109.º do Código Civil:

Artigo 1109.º (Locação de estabelecimento)

1. A transferência temporária e onerosa do gozo de um prédio ou de parte dele, em conjunto com


a exploração de um estabelecimento comercial ou industrial nele instalado, rege-se pelas regras da
presente subsecção, com as necessárias adaptações.

2. A transferência temporária e onerosa de estabelecimento instalado em local arrendado não


carece de autorização do senhorio, mas deve ser-lhe comunicada no prazo de um mês.

À locação é aplicável o n.º 2 do art. 1112.º, do CC (referente ao trespasse).

Parte II – Sociedades Comerciais

1. Noções fundamentais

Artigo 1º do CSC

1.A presente lei aplica-se às sociedades comerciais.

2. São sociedades comerciais aquelas que tenham por objeto a prática de atos de comércio e
adotem o tipo de sociedade em nome coletivo, de sociedade por quotas, de sociedade anónima, de
sociedade em comandita simples ou de sociedade em comandita por ações.

3. As sociedades que tenham por objeto a prática de atos de comércio devem adotar um dos
tipos referidos no número anterior.

4. As sociedades que tenham exclusivamente por objeto a prática de atos não comerciais
podem adotar um dos tipos referidos no n.º 2, sendo-lhes, nesse caso, aplicável a presente lei.

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Artigo 980.º do CC

“Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com bens
ou serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que não seja de mera fruição, a fim
de repartirem os lucros resultantes dessa atividade.”

Elementos do contrato de sociedade

1.Elemento pessoal: pluralidade de sócios / de partes: Por regra a sociedade é um


agrupamento de pessoas, de base contratual. Mas há exceções: as sociedades unipessoais (criadas por
negócio unilateral ou por ato legislativo).

 Unipessoalidade originária:
o Sociedades Unipessoais por Quotas (art. 270.º-A e ss);
o Sociedades em relação de grupo - domínio total inicial (art. 488º, n.º 1);
o Sociedades de capitais exclusivamente públicos, constituídas não por contrato, mas por
ato legislativo
 Unipessoalidade superveniente:
o A dissolução da sociedade pode ser requerida quando, por mais de um ano, o número
de sócios for inferior ao exigido por lei.
o Exceção: se um dos sócios for pessoa colectiva pública ou entidade equiparada - alínea
a), do n.º 1, do art. 142.º e n.º 3 do art. 464.º

2. Elemento patrimonial: O fundo patrimonial é a base da atividade social a desenvolver.


Obrigação de contribuição com bens de diversa natureza. As entradas podem ser em:
- Dinheiro
- Outros bens suscetíveis de penhora
- Indústria ou serviços

Os sócios são obrigados a entrar para a sociedade com bens suscetíveis de penhora (art. 20.º, al.
a), do CSC).
Para além de dinheiro, os sócios podem contribuir com bens de qualquer natureza (móveis ou
imóveis), desde que redutíveis a um valor pecuniário, bem como direitos reais sobre coisas certas e
determinadas

3.Elemento finalístico: É o fim imediato (ou objeto): a atividade social.

 Os sócios propõem que a sociedade exerça uma atividade económica de natureza


empresarial. O pacto social deve indicar o objeto da sociedade (art. 11.º).
 A distinção das associações do Código Civil - exercício de atividades não económicas:
culturais, desportivas, religiosas, políticas, etc. Fim ideal e não lucrativo.
 Atividade económica exercida em comum - possibilidade de cada sócio contribuir para
o desenvolvimento da atividade social.
 É diferente do contrato de consórcio. Neste não há exercício de uma atividade em
comum, mas concertação da atividade de cada membro do consórcio.
 Atividade económica que não seja de mera fruição - exclusão das situações de
compropriedade ou comunhão de direitos ou interesses.

4.Elemento teleológico: É o fim mediato (ou fim em sentido restrito). O fim é a obtenção de
lucro – ganho económico, um incremento patrimonial. Lucro para ser repartido pelos sócios: o lucro
como ganho económico da sociedade a transferir para o património dos sócios.

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 Diferente das vantagens patrimoniais produzidas diretamente no património dos sócios
(como sucede nas COOPERATIVAS, nos ACE’s e nos AEIE’s).
 As perdas: O risco da atividade social. Os sócios sujeitam-se ao risco.
 AFFECTIO SOCIETATIS: Vontade de associação, vontade de exercer em comum uma
determinada atividade económica

ELEMENTOS ESPECÍFICOS DO CONTRATO DE SOCIEDADE COMERCIAL

Objeto comercial – requisito substancial

 “...tenham por objeto a prática de atos de comércio...”


 A atividade ou atividades que a sociedade vai exercer têm que constituir atos de
comércio (art. 2.º e 230.º do Código Comercial)
 As sociedades civis tem objeto não comercial e forma não comercial;
 As sociedades civis sob forma comercial (objeto civil e forma comercial) – regem-se
pelo CSC (art. 1.º, n.º 4), mas não são comerciantes

Forma comercial – requisito formal

o Adoção de um dos tipos de sociedades comerciais previsto no Código.


o Obrigatoriedade de a sociedade respeitar, na sua constituição, os requisitos
formais estabelecidos na lei comercial.

O princípio da tipicidade – razão de ser

O legislador impõe a observância de um figurino (tipo de sociedade) cujo regime está prefixado
na lei.

O princípio da tipicidade torna a intervenção das sociedades no tráfico jurídico mais estável e
certa.

Intenção do legislador de tutelar a segurança e a certeza jurídicas.

Os credores sociais, os sócios e o público em geral, mesmo desconhecendo os estatutos sociais,


sabem que as sociedades de um certo tipo não podem deixar de obedecer a um determinado quadro
regulativo. Por isso, sabem com o que podem contar nas suas relações com as sociedades.

A tipicidade não implica um absoluto afastamento da liberdade contratual: os tipos de sociedades


comerciais não são fechados e, como tal, as partes não estão impedidas de moldar aspetos do regime das
sociedades.

O legislador apenas traçou a caracterização geral de cada tipo social.

Limitou-se a fixar as características básicas, para salvaguarda da segurança jurídica,


designadamente proteção:

- dos interesses de terceiros;


- do interesse dos sócios (nomeadamente, minoritários);
- e do interesse público

Para cada tipo de sociedade, existem três aspetos fundamentais fixados pelo legislador:

- a responsabilidade do sócio pela obrigação de entrada;


- a responsabilidade do sócio pelas obrigações sociais;
- e a participação social (conjunto de direitos e obrigações do sócio).

6. Regime de cada tipo social

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7.1 SOCIEDADE EM NOME COLECTIVO

Artigo 175.º (características)

1. Na sociedade em nome coletivo o sócio, além de responder individualmente pela sua


entrada, responde pelas obrigações sociais subsidiariamente em relação à sociedade e
solidariamente com os outros sócios.
2. O sócio não responde pelas obrigações da sociedade contraídas posteriormente à data em
que dela sair, mas responde pelas obrigações contraídas anteriormente à data do seu
ingresso.
3. O sócio que, por força do disposto nos números anteriores, satisfizer obrigações da
sociedade tem direito de regresso contra os outros sócios, na medida em que o pagamento
efetuado exceda a importância que lhe caberia suportar segundo as regras aplicáveis à sua
participação nas perdas sociais.
4. O disposto no número anterior aplica-se também no caso de um sócio ter satisfeito
obrigações da sociedade, a fim de evitar que contra ela seja intentada execução.

Principais traços do regime jurídico da SENC

 Cada sócio responde pela sua entrada (exceção: art. 179.º).


 Os sócios assumem uma responsabilidade solidária e ilimitada pelas dívidas sociais.
 Admissibilidade de sócios de indústria – não respondem, internamente, pelas perdas sociais,
salvo cláusula em contrário (art. 178.º).
 Todos os sócios são, em princípio, gerentes (artigo 191.º). Número reduzido de sócios.
 Necessidade de uma especial relação de confiança entre os sócios - todos os gerentes têm
poderes iguais e independentes. Salvo convenção em contrário (193.º, n.º 1).
 Cada sócio tem um voto, independentemente da sua participação no capital social (artigo 190.º)
 Transmissão das partes sociais (artigo 182º, n.º1)
o “A parte de um sócio só pode ser transmitida, por ato entre vivos, com o expresso
consentimento dos restantes sócios.”
 Proibição de concorrência e de participação noutras sociedades (artigo 180.º, n.º1):
o “Nenhum sócio pode exercer, por conta própria ou alheia, atividade concorrente com a
da sociedade nem ser sócio de responsabilidade ilimitada noutra sociedade, salvo
expresso consentimento de todos os outros sócios.”
 Alterações do contrato (artigo 194.º, n.º 1)
o “Só por unanimidade podem ser introduzidas quaisquer alterações no contrato de
sociedade ou pode ser deliberada a fusão, a cisão, a transformação e a dissolução da
sociedade, a não ser que o contrato autorize a deliberação por maioria, que não pode ser
inferior a três quartos dos votos de todos os sócios.”

7.2 SOCIEDADE POR QUOTAS

Características (art. 197.º):

 Capital social dividido em quotas


 Responsabilidade solidária dos sócios por todas as entradas convencionadas
 Só o património social responde perante os credores pelas dívidas da sociedade, salvo o
disposto no artigo 198.º

Regime do artigo 198.º:

 Licitude (isto é, mera possibilidade legal) de introduzir no pacto social cláusula


contratual responsabilizando diretamente um ou mais sócios perante os credores sociais.
 Responsabilidade sempre limitada a determinado montante.

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 Responsabilidade solidária com a sociedade ou subsidiária em relação à sociedade
 Direitos do sócio que pagar dívidas sociais, nos termos do artigo 198.º n.º 1:
o “Salvo disposição contratual em contrário, o sócio que pagar dívidas sociais,
nos termos deste artigo, tem direito de regresso contra a sociedade pela
totalidade do que houver pago, mas não contra os outros sócios.” (n.º 3 do art.
198.º)

- Possibilidade de acentuação da índole personalista ou capitalista na sua constituição.

- Maleabilidade da orientação do CSC.

- Aspetos que revelam o pendor personalista do modelo supletivo legal:

 Regime geral da cessão de quotas (art. 228.º e ss)


o A transmissão de quotas entre vivos deve ser reduzida a escrito.
o A cessão de quotas não produz efeitos para com a sociedade enquanto não for
consentida por esta, a não ser que se trate de cessão entre cônjuges, entre
ascendentes e descendentes ou entre sócios.

 Representação em deliberações dos sócios (art. 249.º, 5)


o Não é permitida a representação voluntária em deliberações por voto escrito.
(…)
o A representação voluntária do sócio só pode ser conferida ao seu cônjuge, a
um seu ascendente ou descendente ou a outro sócio, a não ser que o contrato de
sociedade permita expressamente outros representantes.

 Substituição de gerentes (art. 253.º, n.1)


o Se faltarem definitivamente todos os gerentes, todos os sócios assumem por
força da lei os poderes de gerência, até que sejam designados os gerentes.

Constituição da sociedade - requisitos especiais

Capital social (art. 201.º)

“O montante do capital social é livremente fixado no contrato de sociedade, correspondendo à


soma das quotas subscritas pelos sócios.”

não podem ter valor nominal inferior a 1 EUR cada uma (art. 219.º, 3)

Entradas (art. 202.º)

 Não são admitidas contribuições de indústria;


 As entradas em espécie têm que ser realizadas de imediato;
 As entradas em dinheiro:
o Podem ser entregues nos cofres da sociedade até ao final do 1º exercício económico;
o Podem ser diferidas para data certas (até 5 anos) desde que o valor mínimo das quotas
esteja realizado - art. 199º, b).

Quotas (art. 219.º)

 Valor não inferior a 1 EUR;


 Não podem ser emitidos títulos representativos de quotas

Firma (artigos 10.º e 200.º)

 Art. 200.º

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Firma-nome: nome ou firma de alguns ou todos os sócios
o Reis & Lima, Lda.
Firma-denominação: denominação particular
o Alpendre da Avó, Lda.
Firma mista: reunião das anteriores
o RELIM - Reis & Lima, Lda. Possibilidade de referência ao objeto (art. 10.º)

NOTA: Obrigatório: a palavra “Limitada” ou a abreviatura “Lda.”

Sociedades Unipessoais por Quotas

Artigo 270.º - A (Constituição)

1.A sociedade unipessoal por quotas é constituída por um sócio único, pessoa singular ou
coletiva, que é o titular da totalidade do capital social.

2.A sociedade unipessoal por quotas pode resultar da concentração na titularidade de um único
sócio das quotas de uma sociedade por quotas, independentemente da causa da concentração. (...)

5. O estabelecimento individual de responsabilidade limitada pode, a todo o tempo,


transformar-se em sociedade unipessoal por quotas (…).

A sociedade unipessoal por quotas rege-se pelas normas aplicáveis às sociedades por quotas em
geral, exceto as que pressuponham a pluralidade de sócios (art. 270.º-G).

Regras especiais:

- A firma deve incluir a expressão “sociedade unipessoal” ou a palavra “unipessoal” (artigo 270.º - B);

- Uma pessoa singular só pode ser sócio de uma única sociedade unipessoal por quotas (artigo 270.º - C,
n.º 1);

- Uma SQ não pode ter como sócio único uma sociedade unipessoal por quotas (art. 270.º - C, n.º 2), sob
pena de poder ser requerida a dissolução administrativa;

- O sócio único exerce as competências das Assembleias Gerais (art. 270.º E);

- O sócio único pode celebrar negócios jurídicos com a sociedade, desde que serviam para a prossecução
do objeto social, seja observada a forma escrita e sejam publicitados com as contas (artigo 270.º - F), sob
pena de nulidade.

7.3 SOCIEDADE ANÓNIMA

Caracterização (art. 271.º)

o O capital é dividido em ações;


o Cada sócio limita a sua responsabilidade ao valor das ações que subscreveu

Requisitos especiais para a sua constituição (art. 271.º a 283.º):

o Capital mínimo: 50 000 EUR (art. 276.º, n.º 5);


o Número mínimo de sócios: 5 (art. 273.º, n.º 1);
o Valor nominal mínimo das ações: 1 cêntimo (art. 276.º, n.º 3);
o Firma: “sociedade anónima” ou a abreviatura “S.A.” (art. 275.º).

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Responsabilidade dos sócios perante a sociedade e perante os credores sociais

Sócio versus Sociedade: Cada sócio responde individual e exclusivamente para com a
sociedade pelo valor da sua entrada (art. 271.º, do CSC).

Sócio versus Credores sociais: Os sócios não respondem pelas dívidas da sociedade. Só a
sociedade é responsável, com o seu património

Conclusão: Cada acionista tem a sua responsabilidade limitada, interna e externamente.

Nas entradas em dinheiro pode ser diferida a realização de 70% do valor nominal (ou do valor
de emissão) das ações subscritas (art. 277.º, n.º 2).

O contrato de sociedade não pode diferir a realização das entradas em dinheiro por mais de 5
anos (art. 285.º).

 O acionista só entra em mora depois de interpelado pela sociedade para efetuar o


pagamento, num prazo entre 30 e 60 dias.

A sociedade anónima é o protótipo das sociedades de capitais:

o Limitação da responsabilidade do sócio ao valor das ações que subscreveu (art. 271.º);
o Atribuição do voto em função do capital representado pelas ações que pertencem a
cada sócio (art. 384.º);
o Livre transmissão das ações (art. 328.º, n.º 1).

A proteção das minorias:

o Direito de convocação da assembleia geral (art. 375.º, 2);


o Direito de requerer a nomeação judicial de mais um membro efetivo e um suplente
para o conselho fiscal (art. 418.º, 1);
o Direito coletivo à informação e, para os acionistas individualmente considerados, o
direito mínimo à informação:
 Direito coletivo à informação (art. 291.º n.º 1). para acionistas que tenham,
isoladamente ou em conjunto, 10% do CS - informações dadas por escrito.
 Direito mínimo à informação (art. 288.º). É necessário possuir 1% do CS +
motivo justificado
o Direito ao lucro do exercício (art. 294.º): Metade do lucro (do exercício) distribuível
deve ser distribuído, salvo diferente cláusula contratual ou deliberação tomada por 3/4
dos votos correspondentes ao capital social em assembleia para o efeito convocada .

7.4 SOCIEDADE EM COMANDITA

Sócios Comanditários: Respondem apenas pelas suas entradas (como os sócios das SA’s) e são
Sócios afastados da administração.

Sócios Comanditados: Respondem subsidiária, solidária e ilimitadamente pelas dívidas da


sociedade (como os sócios das SENC) e administram a sociedade.

Subtipos (art. 465.º, n.º 3):

 Comandita simples: as participações de todos os sócios denominam-se partes sociais.


 Comandita por ações: os sócios comanditados têm partes sociais; os comanditários
ações.

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Este tipo de sociedades facilita a associação de indivíduos activos e empreendedores, mas que
não têm recursos ou dispõem apenas da sua indústria, com aqueles que possuindo o capital e desejando
aplicá-lo em negócios, não pretendem assumir grandes riscos.

Regime

Firma (art. 467.º) - nome de pelo menos um sócio comanditado + “em Comandita” ou “&
Comandita” ou “em comandita por ações”.

Sócios de indústria (art. 468.º) - só os sócios comanditados.

Atribuição da gerência (art. 470.º) - aos sócios comanditados.

Número mínimo de sócios comanditários, nas sociedades em comandita por ações (art. 479.º): 5.

8. Constituição das Sociedades Comerciais

Processo de constituição das sociedades comerciais

I) A constituição pelo processo típico


II) A constituição com apelo a subscrição pública
III) A constituição de sociedades comerciais pelo Estado

Processo típico:

1º - Ato constituinte

Contrato ou negócio jurídico unilateral reduzido a escrito, com assinaturas reconhecidas


presencialmente – art. 7.º, n.º 1.

Exceção: se forma mais solene for exigida para a transmissão dos bens com que os sócios entram
para a sociedade

2º Registo (por transcrição): depois de celebrado na forma legal, deve ser inscrito no registo
comercial, nos termos da lei respetiva. O principal efeito do registo definitivo do contrato de sociedade
traduz-se na aquisição de personalidade jurídica da sociedade comercial.

3º Publicação (on-line) do ato constituinte.

Constituição “on-line” (DL n.º 125/2006, de 29 de Junho)

 Não é aplicável quando há entradas que exigem forma mais solene do que a forma
escrita nem à sociedade anónima europeia.
 Exige assinatura eletrónica.
 Envio através da internet de todos os documentos necessários.
 O registo é efetuado no prazo de 2 dias úteis após pagamento.

Requisitos da “Empresa na hora”:

 Opção por pacto social de modelo aprovado pelo DGRN;


 Opção por firma constituída por expressão de fantasia (previamente criada e reservada
a favor do Estado e a que está associado um NIPC) ou apresentação de certificado de
admissibilidade de firma;
 Constituição efetuada em certas CRC ou CFE, num mesmo dia e em atendimento
presencial único

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9. Direitos e obrigações dos sócios

Obrigações dos sócios

Obrigação de entrada

Nas Sociedades por Quotas (Art. 199º, 202.º e 203.º ):

 A realização das entradas em dinheiro só pode ser diferida para datas certas ou ficar
dependente de factos certos e determinados; Mas podem ser exigidas quando se
cumprirem 5 anos após a celebração do contrato (ou metade do período de duração, se
for inferior).
 Só não pode ser diferido o valor mínimo das quotas (1 EUR) – art. 199.º, b).

Nas Sociedades Anónimas (Art. 277º e 285.º)

 A realização de 70% do valor nominal (ou valor de emissão) das ações, nas entradas em
dinheiro, pode ser diferida pelo período de 5 anos após a celebração do contrato (ou
aumento do CS).
 O sócio só entra em mora depois de interpelado pela sociedade para efetuar o
pagamento, num prazo entre 30 e 60 dias.

Prestações acessórias (Art. 209.º e 287.º)

 Podem recair sobre todos ou apenas alguns sócios;


 Podem ser onerosas ou gratuitas;
 O incumprimento destas obrigações não afeta a situação do sócio enquanto tal.

Prestações suplementares (art. 210.º a 213.º)

 Só previstas para as SQ’s


 Têm por objeto dinheiro;
 São entradas não contabilizadas no capital social;
 O seu incumprimento tem as mesmas consequências do incumprimento da obrigação de
entrada;
 O pacto social deve indicar o seu montante (e os sócios que a elas estão obrigados e a forma
de repartição);
 Estas prestações não vencem juros;
 Podem ser restituídas se a situação da sociedade o permitir.

Diretos dos Sócios

Direito aos lucros

 Metade do lucro distribuível deve ser distribuído, salvo diferente cláusula contratual ou
deliberação tomada por 3/4 dos votos correspondentes ao capital social em assembleia para o
efeito convocada (art. 217.º e 294.º);
 Salvo cláusula em contrário, os sócios participam nos lucros na mesma proporção em que
participam no capital social (art. 22.º)

Reservas Legais

Art. 295.º (Reserva legal)

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Uma percentagem não inferior à vigésima parte dos lucros da sociedade é destinada à
constituição da reserva legal e, sendo caso disso, à sua reintegração, até que aquela represente a quinta
parte do capital social. No contrato de sociedade podem fixar-se percentagem e montante mínimo mais
elevados para a reserva legal.

 Sociedades por Quotas - Art. 218.º

1. É obrigatória a constituição de uma reserva legal.

2. É aplicável os dispostos nos art. 295.º e 296.º, salvo quanto ao limite mínimo de reserva legal,
que nunca será inferior a 2 500 euros

Art. 296.º Utilização da reserva legal

A reserva legal só pode ser utilizada: Para cobrir a parte do prejuízo acusado no balanço do
exercício que não possa ser coberto pela utilização de outras reservas; Para cobrir a parte dos prejuízos
transitados do exercício anterior que não possa ser coberto pelo lucro do exercício nem pela utilização de
outras reservas; Para incorporação no capital.

Direito à informação

A) Nas sociedades por quotas (art. 214.º e 216.º) :


 Amplo direito à informação;
 Os gerentes devem prestar a qualquer sócio que o requeira informação verdadeira,
completa e elucidativa sobre a gestão da sociedade;
 Quando seja recusada a informação, o sócio pode requerer um inquérito judicial à
sociedade.
B) Nas sociedades anónimas (art. 288.º a 291.º) :
 Direito mínimo à informação (art. 288.º). É necessário possuir 1% do CS + motivo
justificado.
 Direito a informações preparatórias da AG (art. 289.º). É para todos, a partir da data da
convocação da AG
 Direito a informações em AG (art. 290.º). Direito a que sejam prestadas informações
verdadeiras, completas e elucidativas.
 Direito coletivo à informação (art. 291.º n.º 1). para acionistas que tenham,
isoladamente ou em conjunto, 10% do CS - informações dadas por escrito.

Participação Social

 AS QUOTAS

 Princípio da unidade (art. 219.º);


 Amortização de quotas (art. 232.º e ss); A amortização (extinção) de quotas só pode ser
deliberada quando permitida pela lei ou pelo pacto social
 A amortização compulsiva só é admitida quando se verifica um facto que o pacto social
considere fundamento para tal;
 A amortização só pode ser deliberada se ficar ressalvado o capital social (art. 236.º);
 Pode haver cláusulas contratuais que prevejam o modo de calcular o valor da quota a
amortizar. Contudo, existem também regras imperativas (art. 235.º).

 AS AÇÕES (art. 298.º e ss)

 Não podem ser emitidas por valor inferior ao seu valor nominal (ou abaixo do seu valor de
emissão): Proibição de emissão de ações abaixo do par;
 O prémio de emissão é admitido, embora o ágio fique sujeito a reserva legal - art. 295.º, n.º 2,
a).

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 “As ações são nominativas, não sendo permitidas ações ao portador”.
 Obrigação de identificação do beneficiário efetivo. Criação de Registo Central.
 As ações podem ser ESCRITURAIS ou TITULADAS, “consoante sejam representados por
registos em conta ou por documentos em papel” – art. 46.º do CVM.
 Títulos provisórios e títulos definitivos – art. 304.º
 Pode haver diversas categorias de ações – art. 302.º
o “As ações que compreendem direitos iguais formam uma categoria.”
 Possibilidade de limitação da liberdade de transmissão das ações – art. 328.º
 Transmissão das ações – art. 101.º e 102.º CVM
 Pode haver ações SEM VALOR NOMINAL, mas não podem coexistir ações com valor
nominal e ações sem valor nominal (art. 276.º, 2).
 O CS da sociedade divide-se num n.º fixo de ações, cujo valor dependerá do valor contabilístico
da sociedade.
 O valor da entrada do sócio deve ser pelo menos igual ao montante do capital social
correspondentemente emitido (art. 25º,2).

Ações SEM VALOR NOMINAL

 Valor de emissão das ações = valor das entradas levadas a CS por cada ação (CS / n.º de ações
emitidas).
o A possibilidade aberta pelo art. 298.º, n.º 3: o valor de emissão não tem que ser sempre
igual.
 Valor contabilístico das ações = CS / n.º de ações da sociedade. É o valor que conta para os
direitos dos sócios.
o Exemplo: Capital social de 50.000 EUR, dividido em 50.000 ações: as ações terão um
valor contabilístico de 1 EUR (independentemente do valor da sua emissão).

10. Organização e Funcionamento

Deliberações dos sócios

 Deliberações em assembleia geral convocada (art. 247.º e 373º);


 Deliberações em assembleia universal (art. 54.º,1);
 Deliberações unânimes por escrito (art. 54.º,1);
 Deliberações por voto escrito – só na SENC e SQ (art. 189.º e 247.º )

 SOCIEDADES POR QUOTAS

Em princípio conta-se 1 voto por cada cêntimo de CS, e as deliberações são tomadas se
obtiverem a maioria dos votos emitidos, não se considerando como tal as abstenções (art. 250.º).

Órgãos sociais:

 Assembleia geral (art. 248.º e normas das SA’s)


 Gerência (art. 252.º e ss)
 Conselho fiscal ou ROC (art. 262.º)

- O Secretário da Sociedade - Art. 446.º-D): designação facultativa

Gerência:

 A administração e representação da SQ compete à gerência;


 São designados no contrato ou eleitos pelos sócios;
 Pode ser plural (art. 261.º) ou singular;

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 Só podem ser gerentes pessoas singulares com capacidade jurídica plena;
 A gerência não é transmissível (nem por morte, nem por ato entre vivos).

 SOCIEDADES ANÓNIMAS

Órgãos sociais: Deliberações dos acionistas (art. 373.º e art. 384.º)

A assembleia geral dos acionistas deve reunir pelo menos uma vez por ano, durante o 1º
trimestre de cada ano (art. 376.º).

A convocatória deve ser publicada ou enviada por carta registada (ou por e-mail, com recibo de
leitura). Menções obrigatórias (art. 377.º, n.º 5).

Local da AG (art. 377.º, 6): na sede ou noutro local. Ou por meios telemáticos (exceto se o
contrato de sociedade os proíbe).

11. Administração e fiscalização

A administração e fiscalização podem ser estruturadas segundo uma das modalidades previstas
no art. 278.º:

A)Modelo clássico ou latino – art. 278.º,1, a)

 N.º ilimitado de membros do CA (art. 390.º, n.º 1);


 Pode haver apenas um “administrador único” (art. 390.º, n.º 2);
 Pode ser constituída uma “comissão executiva” para a gestão corrente (art. 407.º, n.º 3).

Fiscalização no modelo clássico:

 Fiscal único, que tem que ser ROC – art. 413.º, n.º 1, a); ou
 Conselho fiscal (que integra um ROC) – art. 413.º, n.º 1, a), in fine e 414.º, n.º 2; ou
 Conselho fiscal (do qual não é membro ROC) e o ROC. É o “modelo latino reforçado”
– art. 413.º,1, b). As grandes SA’s têm que adoptar esta estrutura de fiscalização (art.
413.º, n.º 2).

B)Modelo anglo-saxónico -– art. 278.º, n.º 1, b)

 O conselho de administração tem o número mínimo de 5 administradores, dos quais 3


terão que ser “não executivos”;
 A comissão de auditoria, como órgão de fiscalização (art. 423.ºF), é integrada por
administradores não executivos, em número mínimo de 3 (art. 423.º-B, n.º 2);
 Nas sociedades cotadas e grandes SA’s a comissão de auditoria deve incluir pelo menos
um membro com curso superior adequado (e com conhecimentos de contabilidade e
auditoria) e que seja independente (art. 423.º-B, n.º 4).

C) Modelo germânico – art. 278.º, n.º 1, c)

 O conselho de administração executivo (art. 424.º e ss) pode ter n.º ilimitado de
membros (ou um administrador único se o CS não exceder 200 000 EUR);
 O conselho geral e de supervisão (art. 434.º e ss), com n.º ilimitado de membros, que
não têm que ser acionistas;
 Para as sociedades cotadas e para as grandes SA’s é obrigatória a existência, no seio do
conselho geral e de supervisão, de uma “comissão para as matérias financeiras” – art.
444.º, n.º 2;

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 Esta comissão deve incluir pelo menos um membro com curso superior adequado (e
com conhecimentos de contabilidade e auditoria) e que seja independente – art. 444.º,
n.º 5.
 O Secretário da Sociedade: obrigatório para as sociedades anónimas cotadas em Bolsa
(artigo 446.º-A a Artigo 446.º-F)

Secretário da Sociedade:

- Elemento obrigatório para as sociedades anónimas cotadas em Bolsa (artigo 446.º-A a Artigo
446.º-F);
- O secretário (e seu suplente) são designados pelos sócios (no ato constitutivo) ou pelo Conselho
de Administração, e é sujeito a registo (art. 446º-E);
- Responsabilidade civil e criminal (art. 446º-F).

FISCALIZAÇÃO DAS SOCIEDADES COMERCIAIS

ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO

 Nas sociedades por quotas é obrigatório ter conselho fiscal ou ROC se forem ultrapassados dois
dos três limites referidos no art. 262.º, n.º 1.
 Nas sociedades anónimas o órgão de fiscalização é sempre obrigatório (art. 278.º e 413.º).

Órgãos de fiscalização possíveis:

- Fiscal único (ou Conselho Fiscal com ROC)


- Conselho Fiscal sem ROC
- Comissão de Auditoria
- Conselho Geral e de Supervisão
- ROC (ou SROC)

Composição do órgão de fiscalização no modelo clássico: Artigo 413.º: Neste modelo a fiscalização
compete:

a) A um fiscal único, que deve ser revisor oficial de contas ou sociedade de revisores oficiais de
contas, ou a um conselho fiscal; ou

b) A um conselho fiscal e a um revisor oficial de contas ou uma sociedade de revisores oficiais de


contas que não seja membro daquele órgão.

2 - A fiscalização da sociedade nos termos previstos na alínea b) do número anterior:

a) É obrigatória em relação a sociedades que sejam emitentes de valores mobiliários admitidos à


negociação em mercado regulamentado e a sociedades que, não sendo totalmente dominadas por outra
sociedade que adote este modelo, durante dois anos consecutivos, ultrapassem dois dos seguintes limites:

i) Total do balanço: 20 000 000 EUR

ii) Volume de negócios líquido: 40 000 000 EUR

iii) Número médio de empregados durante o período: 250

 Redação da Lei n.º 148/2015, de 09/09

b) É facultativa, nos restantes casos.

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3 - O fiscal único terá sempre um suplente, que será igualmente revisor oficial de contas ou
sociedade de revisores oficiais de contas.

4 - O conselho fiscal é composto pelo número de membros fixado nos estatutos, no mínimo de
três membros efetivos.

5 - Sendo três os membros efetivos do conselho fiscal, deve existir um ou dois suplentes,
havendo sempre dois suplentes quando o número de membros for superior.

6 - O fiscal único rege-se pelas disposições legais respeitantes ao revisor oficial de contas e
subsidiariamente, na parte aplicável, pelo disposto quanto ao conselho fiscal e aos seus membros.

Incompatibilidades (art. 414.º-A) – Objetivo: imparcialidade. Nomeação:

 Designação pela assembleia geral (art. 415.º);


 Nomeação oficiosa (art. 416.º);
 Nomeação judicial – a requerimento da administração ou de acionistas (art. 417.º);
 Nomeação judicial – a requerimento de minorias (1/10 do CS - art. 418.º).

Órgão de fiscalização no modelo anglo-saxónico: Artigo 423.º-B

Comissão de auditoria: composta por uma parte do CA.

 São designados em conjunto com os restantes administradores, com indicação discriminada


(art. 423.º - C).
 Propõe à AG a nomeação do ROC e fiscaliza a revisão legal de contas, bem como a
independência do ROC.
 Não pode ter funções executivas.
 Nas SA’s cotadas a maioria dos membros deve ser independente

Órgão de fiscalização no modelo germânico: Art. 434.º

Conselho geral e de supervisão: em n.º superior aos administradores.

 Pode ter comissões especiais (art. 444.º). Deve ter comissão para matérias financeiras -
obrigatória em certos casos (n.º 2).
 Os seus membros podem ser designados no pacto social ou eleitos em AG.
 Pode ter certos poderes de gestão: art. 442.º

12.A sociedade como pessoa coletiva

Personalidade Jurídica

A personalidade jurídica das sociedades comerciais:

 Com o registo do contrato de sociedade surge uma nova pessoa jurídica.


o O registo tem efeito constitutivo

Artigo 5.º do CSC

As sociedades gozam de personalidade jurídica e existem como tais a partir da data do registo
definitivo do contrato pelo qual se constituem (...).

Consequências da atribuição de PJ às sociedades comerciais:

 A sociedade passa a ser titular de direitos e de obrigações.

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o Ainda que a sociedade sofra alterações profundas, mantêm-se a mesma; quando o sócio
contrata com a sociedade não está a contratar consigo mesmo.
 A sociedade passa a encabeçar o seu património, o qual sai da esfera dos sócios.
o As entradas são alienações para os sócios e aquisições para a sociedade; Os sócios só
têm direitos perante a sociedade e não perante os bens desta.
 A sociedade necessita de possuir uma estrutura organizatória
o Criação dos órgãos da sociedade: deliberativos, executivos e fiscalizadores.

Autonomia patrimonial

A personalidade jurídica pressupõe a existência de um património autónomo. Assim,

 O património da sociedade responde apenas pelas dívidas da sociedade e não por


quaisquer outras, nomeadamente dos sócios.
 Pelas dívidas sociais respondem apenas os bens da própria sociedade;

Exceções: 1. Os sócios das sociedades em nome coletivo e os sócios comanditados das sociedades em
comandita, bem como todos ou alguns sócios das sociedades por quotas, na hipótese prevista no art.
198.º, respondem também por dívidas da sociedade.

2. O sócio único de qualquer sociedade responde ilimitadamente pelas dívidas da sociedade,


mas apenas pelas contraídas no período posterior à concentração das participações sociais, quando a
sociedade seja declarada falida e se prove que não foi respeitada a separação de patrimónios (art. 84.º, n.º
1).

3. A sociedade-sócio, sendo totalmente dominante ou diretora, responde pelas dívidas da


sociedade dominada ou subordinada face a terceiros (art. 501.º e 491.º);  Nestes 3 casos a autonomia
patrimonial não é completa.

Património e capital social

Património social: vários sentidos possíveis:

 Património bruto: conjunto dos direitos, avaliáveis em dinheiro, de que uma sociedade em
determinado momento é titular, mais as suas dívidas - é a esfera jurídica da sociedade.
 Património ilíquido: conjunto dos elementos ativos (bens e direitos ou créditos) de uma
sociedade, sem levar em conta o passivo.
 Património líquido: valor do ativo menos o passivo - é o conceito mais comum.

PATRIMÓNIO SOCIAL VS CAPITAL


SOCIAL

- Valor real - Valor ideal

- Valor variável - Valor fixo

Noção de capital social

Exemplo:

 António, Bento e Carla, constituem a “ABC, Lda.”


 Capital social de € 30 000,00
 3 quotas de igual valor nominal
o Carla dá de entrada o seu SMART, avaliado por um ROC independente em € 12 000,00
Capital social: € 30 000,00 Soma das entradas: € 32 000,00

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Cifra representativa da soma dos valores nominais das participações sociais fundadas em
entradas em dinheiro ou espécie.

 Valor fixado no pacto social e tendencialmente estável.

Funções do capital social

A) Funções internas

 Avaliação da situação económica da empresa:


o o CS é uma cifra de referência que permite fazer a medição, por comparação com o
património líquido
o apuramento dos lucros e perdas

Exemplo: Uma sociedade tem um património líquido no valor de € 50 000,00 - terá lucros, se o
capital social for de € 30 000,00 - terá perdas, se o capital social for de € 90 000,00.

 Determinação dos direitos e obrigações dos sócios:


o direito ao lucro (art. 22.º);
o direito de voto (art. 250.º e 384.º);
o direito à informação (art. 291.º)
 Arrumação do poder societário
 Aferição da validade das deliberações dos sócios:
o Quórum das assembleias gerais (art. 383.º, 2);
o Maiorias (ex.: arts. 265.º, n.º 1, 386.º, n.º 3).
 Formação da estrutura de produção

B) Funções externas

Função Garantia

Função de garantia: a função rainha do capital social.

Para os credores da sociedade, o capital social é uma garantia, o que decorre essencialmente dos
princípios da intangibilidade e da efetividade.

Nas sociedades de responsabilidade limitada, os sócios não respondem pelas dívidas. A garantia
dos credores é o património do devedor.

O capital social é uma “cifra de retenção”, um dique que impede que o património social
desapareça e com ele, a garantia dos credores

Regras de conservação do CS:

1) Proibição de distribuição de bens Não podem ser distribuídos bens aos sócios se a situação
líquida for inferior ao capital social + reservas (art. 32.º) Só podem ser distribuídos lucros

2) Proibição da retribuição certa Art. 21.º, n.º 2 «É proibida toda a estipulação pela qual deva
algum sócio receber juros ou outra importância certa em retribuição do seu capital ou indústria.»

3) Imodificabilidade do capital social

4) Assegurar a cobertura de metade do CS

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Obrigação de manutenção de uma certa proporção entre património e capital:

 património não deve ser igual ou inferior a metade do CS Se for, há uma perda grave do capital
social

Perda grave do capital social

Ratio do art. 35.º :

 Garantir a efetividade do capital social:


o Proteção das expectativas de terceiros que confiavam na existência de um património
próximo do valor do capital social;
o Evitar que a sociedade chegue à perda total sem alteração do capital social.

n.º 1 do Artigo 35.º do CSC

«Resultando das contas de exercício ou de contas intercalares, tal como elaboradas pelo órgão de
administração, que metade do CS se encontra perdido, ou havendo em qualquer momento fundadas
razões para admitir que essa perda se verifica, devem os gerentes convocar de imediato a AG ou os
administradores requerer prontamente a convocação da mesma, a fim de nela se informar os sócios da
situação e de estes tomarem as medias julgadas convenientes.»

n.º 2 do Artigo 35.º do CSC

«Considera-se estar perdida metade do capital social quando o capital próprio da sociedade for igual ou
inferior a metade do capital social.»

n.º 3 do Artigo 35.º do CSC

«Do aviso convocatório da AG constarão, pelo menos, os seguintes assuntos para deliberação dos sócios:

a) A dissolução da sociedade;

b) A redução do CS para montante não inferior ao capital próprio da sociedade, com respeito, se
for o caso, do disposto no n.º 1 do artigo 96.º;

c) A realização pelos sócios de entradas para reforço da cobertura do capital.»

Regime jurídico da perda grave

Obrigações dos gerentes e administradores:

 Verificar, a todo o momento, se a sociedade perdeu metade do capital social


 Convocar a AG (nas SQ’s) ou pedir a convocação (nas SA’s)
 Informar os sócios (na AG) da perda grave

Violação dos deveres dos gestores - art. 523.º

«O gerente ou administrador de sociedade que, verificando pelas contas de exercício estar


perdida metade do capital, não der cumprimento ao disposto nos n.ºs 1 e 2 do artigo 35.º é punido com
prisão até 3 meses e multa até 90 dias.»

Obrigação de publicitar a perda grave

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As sociedades por quotas, anónimas e em comandita por ações devem indicar o montante do
capital próprio segundo o último balanço aprovado, sempre que este for igual ou inferior a metade do
capital social – art. 171.º, 2, CSC

 Não se aplica às SENC


 Não é qualquer perda: só a que resulte do balanço aprovado
 A informação deve constar claramente em toda a sua atividade externa (contratos, publicações,
correspondência, anúncios e sítios na Internet).
 «O capital social é de € 30 000,00 e o capital próprio é de € 10 000,00»
 Sanção: coima de € 250 a € 1 500.

13. Alteração do Capital Social

Em princípio o CS não é alterável, exceto se for desencadeado o mecanismo para tal necessário:

 Alteração do pacto social (exige deliberação dos sócios).


 Tem que ser reduzido a escrito (ata da deliberação) e registado.

Aumento do Capital Social (art. 87.º e ss)

A) Por novas entradas.


 Dos sócios ou de novos sócios (que entram agora para a sociedade).
o Ocorre um incremento do património da sociedade.
 A hipótese de aumento de capital por transformação de dívidas em capital.
o Equiparado a um aumento por novas entradas. Permite o saneamento
financeiro da sociedade, ao diminuir o seu passivo
 O regime de aumento do CS por conversão de suprimentos registados no último balanço
aprovado (DL n.º 79/2017, de 30 de junho).
 Só para SQ’s.
 Requer 75% do CS e a não oposição dos restantes.
 A verificação das entradas (suprimentos): por CC ou pelo ROC da sociedade (é uma
exceção ao art. 28º).

B) Por incorporação de reservas


 O património próprio da sociedade não se altera quantitativamente, mas
qualitativamente.
 Utilização das reservas disponíveis para esse efeito (art. 91.º e 296.º).
 Ocorre um aumento proporcional da participação de cada sócio (art. 92.º).

Direito de preferência dos sócios

Os sócios das SQ’s e SA’s têm direito de preferência na subscrição das quotas e ações a emitir
nos aumentos de CS por novas entradas em dinheiro (art. 266.º e 458.º).

Possibilita que os sócios que o desejem possam manter intacta a sua percentagem de participação
no CS: manutenção dos equilíbrios societários.

Este direito é alienável e renunciável.

Capital autorizado (Art. 456.º)

Modalidade de aumento do CS previsto para as SA’s).

O pacto social pode autorizar a administração a aumentar o CS, uma ou mais vezes, por entradas
em dinheiro.

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Flexibiliza os aumentos do CS – aumentos de CS determinados pela administração, de acordo
com as necessidades de gestão.

Redução do capital social

 Diminuição do capital nominal Art. 94.º:

1 - A convocatória da assembleia geral para redução do capital deve mencionar:

a) A finalidade da redução, indicando, pelo menos, se esta se destina à cobertura de


prejuízos, a libertação de excesso de capital ou a finalidade especial;

Art. 95.º, I

A redução do capital não pode ser deliberada se a situação líquida da sociedade não ficar a
exceder o novo capital em, pelo menos, 20%.

3 - O disposto nesta lei sobre capital mínimo não obsta a que a deliberação de redução seja
válida se, simultaneamente, for deliberada a transformação da sociedade para um tipo que possa
legalmente ter um capital do montante reduzido.

4 - A redução do capital não exonera os sócios das suas obrigações de liberação do capital.

 A redução do CS não pode prejudicar a exigência legal do capital mínimo, exceto nos termos do
art. 95.º, n.º 2:

- A operação “acordeão” – redução seguida de aumento do CS

 Na redução para compensar prejuízos:


o Não ocorre uma diminuição patrimonial efetiva.
o Permite o saneamento financeiro da sociedade, restabelecendo o equilíbrio entre o
capital social e o património da sociedade.
 Na redução com devolução de bens aos sócios
o Há uma diminuição efetiva do património social, e, portanto, da garantia dos credores.

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