Você está na página 1de 43

Artigo 1º do Codigo das Sociedades Comerciais

1. A presente lei aplica-se às sociedades comerciais.


2. São sociedades comerciais aquelas que tenham por objeto a prática de atos de comércio e adotem o tipo de sociedade em nome coletivo, de
sociedade por quotas, de sociedade anónima, de sociedade em comandita simples ou de sociedade em comandita por ações.
3. As sociedades que tenham por objeto a prática de atos de comércio devem adotar um dos tipos referidos no número anterior.
4. As sociedades que tenham exclusivamente por objeto a prática de atos não comerciais podem adotar um dos tipos referidos no nº2, sendo-lhes,
nesse caso, aplicável a presente lei.

Artigo 980ª do Código Civil

“Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade
económica, que não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade.”

Elementos do Contrato de Sociedade

1. Elemento pessoal: pluralidade de sócios / de partes


Por regra a sociedade é um agrupamento de pessoas, de base contratual.
Mas há exceções: as sociedades unipessoais (criadas por negócio unilateral ou por ato legislativo).

Elemento pessoal

Unipessoalidade originária:

a) Sociedades Unipessoais por Quotas (artigo 270º-A e ss)


b) Sociedades em relação de grupo – domínio total inicial (artigo. 488º, nº1)
c) Sociedades de capitais exclusivamente públicos, constituídas não por contrato, mas por ato legislativo.
Unipessoalidade superveniente:
A dissolução da sociedade pode ser requerida quando, por mais de um ano, o número de sócios for inferior ao exigido por lei.
Exceção: se um dos sócios for pessoa coletiva pública ou entidade equiparada – alínea a), do nº1, do art.142.º e nº3 do art.464º.

O fundo patrimonial é a base da atividade social a desenvolver.


Obrigação de contribuição com bens de diversa natureza. As entradas podem ser em: dinheiro, outros bens suscetíveis de penhora, indústria ou
serviços.

ELEMENTO FINALÍSTICO

É o fim imediato (ou objeto): a atividade social.

 Os sócios propõem que a sociedade exerça uma atividade económica de natureza empresarial. O pacto social deve indicar o objeto da sociedade
(art 11º).
 A distinção das associações do Código Civil – exercício de atividades não económicas: culturais, desportivas, religiosas, políticas, etc. Fim ideal e não
lucrativo.
 Atividade económica exercida em comum – possibilidade de cada sócio contribuir para o desenvolvimento da atividade social.
 É diferente do contrato de consórcio. Neste não há exercício de uma atividade em comum, mas concertação da atividade de cada membro do
consórcio.
 Atividade económica que não seja de mera fruição – exclusão das situações de compropriedade ou comunhão de direitos ou interesses.
ELEMENTO TEOLÓGICO

É o fim mediato (ou fim em sentido restrito)

O fim é a obtenção de lucro ganho económico, um incremento patrimonial.

Lucro para ser repartido pelos sócios: o lucro como ganho económico da sociedade a transferir para o património dos sócios.

Diferente das vantagens patrimoniais produzidas diretamente no património dos sócios ( como sucede nas COOPERATIVAS, nos ACE`s e nos AEIE`S).

ELEMENTOS DO CONTRATO DE SOCIEDADE

 As perdas ----> O risco da atividade social. Os sócios sujeitam-se ao risco.


 AFFECTIO SOCIETATIS - Vontade de associação, vontade de exercer em comum uma determinada atividade económica.

ELEMENTOS ESPECÍFICOS DO CONTRATO DE SOCIEDADE COMERCIAL

Objeto comercial – requisito substancial

 “…tenham por objeto a prática de atos de comércio…”


 A atividade ou atividades que a sociedade vai exercer têm que constituir atos de comércio (art.2º e 230º do Código Comercial)

ELEMENTOS ESPECÍFICOS DO CONTRATO DE SOCIEDADE COMERCIAL

Objeto Comercial

 As sociedades civis – art. 980º e ss do Código Civil;


 As sociedades civis sob forma comercial (objeto civil e forma comercial ) – regem-se pelo Código das Sociedades Comerciais (art.1º, nº4), mas não
são comerciantes.
ELEMENTOS ESPECÍFICOS DO CONTRATO DE SOCIEDADE COMERCIAL

 Forma comercial – requisito formal


 Adoção de um dos tipos de sociedades comerciais previsto no Código.

TIPOS DE SOCIEDADES

 O princípio da tipicidade – razão de ser

Tipos

 Tipos comuns (Sociedades em Comandita, Sociedades por Quotas, Sociedades Anónimas e Sociedades Comerciais)
 Tipos especiais (em função do objeto social)

Exemplos:

 Sociedade de Capital de Risco (DL nº18/2015, de 04/03);


 Sociedades Corretoras e Sociedades Financeiras de Corretagem (DL nº262/2001, de 28/09);
 Sociedades de Desenvolvimento Regional (DL nº25/91, de 11/01);
 Sociedades de Factoring (DL nº171/95, de 18/07);
 Sociedades de Locação Financeira (DL nº72/95, de 15/04);
 Sociedades Financeiras de Aquisição a Crédito – SFAC (DL nº206/95, de 14/08)
 Sociedades Gestoras de Participações Sociais – SGPS (DL nº495/88, de 30/12)
 Sociedades de Gestão e Investimento Imobiliário – SGII (DL nº135/91, de 4/04)
SOCIEDADE EM NOME COLETIVO

Artigo 175ª (características)

1. Na sociedade em nome coletivo o sócio, além de responder individualmente pela sua entrada, responde pelas obrigações sociais subsidiariamente
em relação à sociedade e solidariamente com os outros sócios.
2. O sócio não responde pelas obrigações da sociedade contraídas posteriormente à data em que dela sair, mas responde pelas obrigações contraídas
anteriormente à data do seu ingresso.
3. O sócio que, por força do disposto nos números anteriores, satisfazer obrigações da sociedade tem direito de regresso contra os outros sócios, na
medida em que o pagamento efetuado exceda a importância que lhe caberia suportar segundo as regras aplicáveis à sua participação nas perdas
sociais.
4. O disposto no número anterior aplica-se também no caso de um sócio ter satisfeito obrigações da sociedade, a fim de evitar que contra ela seja
intentada execução.

Principais traços do regime jurídico da SOCIEDADE EM NOME COLETIVO:

 Cada sócio responde pela sua entrada (exceção: art 179º)


 Os sócios assumem uma responsabilidade solidária e ilimitada pelas dívidas sociais.
 Admissibilidade de sócios de indústria – não respondem, internamente, pelas perdas sociais, salvo cláusula em contrário (art.178º).
 Todos os sócios são, em princípio, gerentes (artigo 191.º). Número reduzido de sócios.
 Necessidade de uma especial relação de confiança entre os sócios- todos os gerentes têm poderes iguais e independentes. Salvo convenção em
contrário (193.º, nº1).
 Cada sócio tem um voto, independentemente da sua participação no capital social (artigo 190.º).
 Transmissão das partes sociais (artigo 182º, nº1)
“A parte de um sócio só pode ser transmitida por ato entre vivos, com o expresso consentimento dos restantes sócios.”
 Proibição de concorrência e de participação noutras sociedades (artigo 180º, nº1):
“Nenhum sócio pode exercer, por conta própria ou alheia, atividade concorrente com a da sociedade nem ser sócio de responsabilidade ilimitada
noutra sociedade, salvo expresso consentimento de todos os outros sócios.”
 Alterações do contrato (artigo 194º, nº1)
“Só por unanimidade podem ser introduzidas quaisquer alterações no contrato de sociedade ou pode ser deliberada a fusão, a cisão, a
transformação e a dissolução da sociedade, a não ser que o contrato autorize a deliberação por maioria, que não pode ser inferior a três quartos dos
votos de todos os sócios. “

SOCIEDADE POR QUOTAS

Caraterização

 Seu significado na realidade económica


 Características (art197º)
 Capital social divido em quotas
 Responsabilidade solidária dos sócios por todas as entradas convencionadas
 Só o património social responde perante os credores pelas dívidas da sociedade, salvo o disposto no artigo 198º.

Regime do artigo 198º:

 Licitude (isto é, mera possibilidade legal) de introduzir no pato social cláusula contratual responsabilizando diretamente um ou mais sócios perante
os credores sociais.
 Responsabilidade sempre limitada a determinado montante.
 Responsabilidade solidaria com a sociedade ou subsidiária em relação à sociedade.

Direitos do sócio que pagar dívidas sociais, nos termos do artigo 198º nº1:

“Salvo disposição contratual em contrário, o sócio que pagar dívidas sociais, nos termos deste artigo, tem direito de regresso contra a sociedade pela
totalidade do que houver pago, mas não contra os outros sócios.” (nº3 do art 198º)

 Possibilidade de acentuação da índole personalista ou capitalista na sua constituição.


 Maleabilidade da orientação do Código das Sociedade Comerciais.
 Aspetos que revelam o pendor personalista do modelo supletivo legal:
 Regime geral da cessão de quotas (art. 228. e ss)
1. A transmissão de quotas entre vivos deve ser reduzida a escrito.
2. A cessão de quotas não produz efeitos para com a sociedade enquanto não for consentida por esta, a não ser que se trate de cessão entre
cônjuges, entre ascendentes e descendentes ou entre sócios.
 Representação em deliberações dos sócios (art249º, 5)
1. Não é permitida a representação voluntária em deliberações por voto escrito.
(…)
5. A representação voluntária do sócio só pode ser conferida ao seu cônjuge, a um seu ascendente ou descendente ou a outro sócio, a não ser que o
contrato de sociedade permita expressamente outros representantes.
 Substituição de gerentes (art. 253º, nº1)
1. Se faltarem definitivamente todos os gerentes, todos os sócios assumem por força da lei os poderes de gerência, até que sejam designados os
gerentes.

Constituição da sociedade- requisitos especiais


 Capital social (art201º)
“O montante do capital social é livremente fixado no contrato de sociedade, correspondendo à soma das quotas subscritas pelos sócios.”
 Livremente fixado
 Corresponde à soma das quotas subscritas – estas não podem ter valor nominal inferior a 1EUR cada uma (art219º, 3)
 Entradas (art.202º)
. Não são admitidas contribuições de indústria;
. A entrada em espécie tem que ser realizada de imediato;
. As entradas em dinheiro:
. Podem ser entregues nos cofres da sociedade até ao final do 1ºexercício económico;
. Podem ser diferidas para datas certas (até 5anos) desde que o valor mínimo das quotas esteja realizado – art. 199º, b).
 Quotas (art.219º)
. Valor não inferior a 1EUR;
. Não podem ser emitidos títulos representativos de quotas;
 Firma
. artigos 10º - 200º
 Firma (art.200º)
. Firma-nome: nome ou firma de alguns ou todos os sócios ex: Reis & Lima, Lda.
. Firma-denominação: denominação particular ex: Alpendre da Avó, Lda.
. Firma mista: reunião das anteriores ex: RELIM – Reis & Lima, Lda. Possibilidade de referência ao objeto (art10º)

Obrigatório: a palavra “Limitada” ou a abreviatura “Lda.”

SOCIEDADES UNIPESSOAIS POR QUOTAS

TíTULO lll – SOCIEDADES POR QUOTAS

Artigo 270º - A (Constituição)

1. A sociedade unipessoal por quotas é constituída por um sócio único, pessoal singular ou coletiva, que é o titular da totalidade do capital social.
2. A sociedade unipessoal por quotas pode resultar da concentração na titularidade de um único sócio das quotas de uma sociedade por quotas,
independentemente da causa da concentração. (…)

5. O estabelecimento individual de responsabilidade limitada pode, a todo o tempo, transformar-se em sociedade unipessoal por quotas (…)

 Regras especiais:
. A firma deve incluir a expressão “sociedade unipessoal” ou a palavra “unipessoal” (artigo 270º - B);
. Uma pessoa singular só pode ser sócio de uma única sociedade unipessoal por quotas (artigo270º - C, nº1);
 Uma Sociedade por Quotas não pode ter como sócio único uma sociedade unipessoal por quotas (art270º - C, nº2), sob pena de poder ser requerida
a dissolução administrativa;
 O sócio único exerce as competências das Assembleias Gerais (art270º E);
 O sócio único pode celebrar negócios jurídicos com a sociedade, desde que sirvam para a prossecução do objeto social, seja observada a forma
escrita e sejam publicitados com as contas (artigo270º - F), sob pena de nulidade.
SOCIEDADE ANÓNIMA

CARACTERIZAÇÃO

 Seu significado na realidade económica atual


 Caracterização (art271º)
. O capital é dividido em ações;
. Cada sócio limita a sua responsabilidade ao valor das ações que subscreveu.
 Requisitos especiais para a sua constituição (art281º a 283º):
. Capital mínimo: 50000 EUR (art.276º, nº5);
. Número mínimo de sócios: 5 (art.273º, nº1);
. Valor nominal mínimo das ações (ou valor de emissão) não pode ser inferior a 1 cêntimo (art276º, nº3);
. Firma: como nas Sociedades por Quotas, mas com a expressão “sociedade anónima” ou a abreviatura “S.A.” (art275º).
 Nas entradas em dinheiro pode ser diferida a realização de 70% do valor nominal (ou do valor de emissão) das ações subscritas (art277º, nº2);
 O contrato de sociedade não pode diferir a realização das entradas em dinheiro por mais de 5 anos (art.285º).
 O acionista só entra em mora depois de interpelado.
 A sociedade anónima é o protótipo das sociedades de capitais:
. Limitação da responsabilidade do sócio ao valor das ações que subscreveu (art.271º);
. Atribuição do voto em função do capital representado pelas ações que pertencem a cada sócio (art.384º);
. Livre transmissão das ações (art.328º, nº1)
 A proteção das minorias:
. Direito de convocação da assembleia geral (art.375º, 2);
. Direito de requerer a nomeação judicial de mais um membro efetivo e um suplente para o conselho fiscal (art.418º, 1);
. Direito coletivo à informação e, para os acionistas individualmente considerados, o direito mínimo à informação:
. Direito coletivo à informação (art.291º nº1) para acionistas que tenham, isoladamente ou em conjunto, 10% do Capital Social – informações
dadas por escrito.
. Direito mínimo à informação (art288º). É necessário possuir 1% do Capital Social + motivo justificado.
. Direito ao lucro do exercício (art294º), Metade do lucro (do exercício) distribuível deve ser distribuído, salvo diferente cláusula contratual ou
deliberação tomada por ¾ dos votos correspondentes ao capital social em assembleia para o efeito convocada.
SOCIEDADES EM COMANDITA
Sociedade de responsabilidade mista
 Sócios Comanditários
. Respondem apenas pelas suas entradas (como os sócios das Sociedades Anónimas)
. Sócios afastados da administração.
 Sócios Comanditados
. Respondem subsidiária, solidária e ilimitadamente pelas dívidas da sociedade (como os sócios das Sociedades em Comandita)
. Administram a sociedade

Sociedades em Comandita: Subtipos

Os subtipos sociedade em comandita simples e sociedade em comandita pro ações (art.465º, nº3):

 Comandita simples: as participações de todos os sócios denominam-se partes sociais.


 Comandita por ações: os sócios comanditados têm partes sociais; os comanditários ações.

Sociedades em Comandita: regime

 Firma (art.467º) – nome de pelo menos um sócio comanditado + “em Comandita” ou “&Comandita” ou “em comandita por ações”.
 Sócios de indústria (art.468º) – só os sócios comanditados.
 Atribuição da gerência (art. 470º) – aos sócios comanditados.
 Número mínimo de sócios comanditários, nas sociedades em comandita por ações (art479º) :5.

CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADES COMERCIAIS


Processo de constituição das sociedades comerciais

A constituição da sociedade como um processo.

3 modalidades:

l) A constituição pelo processo típico

ll) A constituição com apelo a subscrição pública

lll) A constituição de sociedades comerciais pelo Estado.

l) Processo típico

1º- Ato constituinte

Contrato ou negócio jurídico unilateral reduzido a escrito, com assinaturas reconhecidas presencialmente – art.7º, nº1.

Exceção: se forma mais solene for exigida para a transmissão dos bens com que os sócios entram para a sociedade.

2º Registo (por transcrição);

3º Publicação (on-line) do ato constituinte.

Constituição de Sociedades
 Constituição “on-line” (DL nº 125/2006, de 29 de junho)
. Não é aplicável quando há entradas que exigem forma mais solene do que a forma escrita nem à sociedade anónima europeia.
. Exige assinatura eletrónica.
. Envio através da Internet de todos os documentos necessários.
. O registo é efetuado no prazo de 2 dias úteis apos pagamento.
 A “Empresa na hora” (Regime especial de constituição imediata de sociedades) – DL nº111/2005.

Requisitos da “Empresa na hora”:

. Opção por pacto social de modelo aprovado pela Direção Geral dos Registos e Notariado;

. Opção por firma constituída por expressão de fantasia (previamente criada e reservada a favor do Estado e a que está associado um Número Pessoal de
Identificação Coletiva) ou apresentação de certificado de admissibilidade de firma;

. Constituição efetuada em certas Centrais de Responsabilidade de Crédito ou Centro de Formalidades das Empresas, num mesmo dia e em atendimento
presencial único.
DIREITOS E OBRIGAÇÕES DOS SÓCIOS

Obrigação de entrada

 Nas Sociedades por Quotas (Art.199º, 202º e 203º):


. A realização das entradas em dinheiro só pode ser diferida para datas certas ou ficar dependente de factos certos e determinados; Mas podem ser
exigidas quando se cumprirem 5 anos após a celebração do contrato (ou metade do período de duração, se for inferior).
. Só não pode ser diferido o valor mínimo das quotas (1EUR) – art.199, b.
 Nas Sociedades Anónimas (Art.277º e 285º.)
. A realização de 70% do valor nominal (ou valor de emissão) das ações, nas entradas em dinheiro, pode ser diferida pelo período de 5anos após a
celebração do contrato (ou aumento do Capital Social).
. O sócio só entra em mora depois de interpelado pela sociedade para efetuar o pagamento, num prazo entre 30 e 60 dias.

Prestações acessórias (Art.209º e 287º)

 Podem recair sobre todos ou apenas alguns sócios;


 Podem ser onerosas ou gratuitas;
 O incumprimento destas obrigações não afeta a situação do sócio enquanto tal.

Prestações suplementares (art210º a 213º)

 Só previstas para as Sociedades por Quotas


 Têm por objeto dinheiro;
 São entradas não contabilizadas no capital social;
 O seu incumprimento tem as mesmas consequências do incumprimento da obrigação de entrada;
 O pacto social deve indicar o seu montante (e os sócios que a elas estão obrigados e a forma de repartição);
 Estas prestações não vencem juros;
 Podem ser restituídas se a situação da sociedade o permitir.

Direito aos lucros


 Metade do lucro distribuível deve ser distribuído, salvo diferente cláusula contratual ou deliberação tomada por ¾ dos votos correspondentes ao
capital social em assembleia para o efeito convocada (art217º e 294º);
 Salvo cláusula em contrário, os sócios participam nos lucros na mesma proporção em que participam no capital social (art22º)

Reservas

Reservas legais

Art295º(Reserva Legal)

Uma percentagem não inferior à vigésima parte dos lucros da sociedade é destinada à constituição da reserva legal e, sendo caso disso, à sua reintegração,
até que aquela represente a quinta parte do capital social. No contrato de sociedade podem fixar-se percentagem e montante mínimo mais elevados para a
reserva legal.

 Sociedades por Quotas – Art 218º

1. É obrigatória a constituição de uma reserva legal.

2. É aplicável os dispostos nos art.295º e 296º, salvo quanto ao limite mínimo de reserva legal, que nunca será inferior a 2500.

Art 296º (Utilização da reserva legal)

A reserva legal só pode ser utilizada:

Para cobrir a parte do prejuízo acusado no balanço do exercício que não possa ser coberto pela utilização de outras reservas;

Para cobrir a parte dos prejuízos transitados do exercício anterior que não possa ser coberto pelo lucro do exercício nem pela utilização de outras reservas;

Para incorporação no capital.

Direito à informação
A) Nas sociedades por quotas (art214º e 216º):

 Amplo direito à informação;


 Os gerentes devem prestar a qualquer sócio que o requeira informação verdadeira, completa e elucidativa sobre a gestão da sociedade;
 Quando seja recusada a informação, o sócio pode requerer um inquérito judicial à sociedade.

B) Nas sociedades anónimas (art288º a 291º):

 Direito mínimo à informação (art288º). É necessário possuir 1% do Capital Social + motivo justificado.
 Direito à informações preparatórias da Assembleia Geral (art289º). É para todos, a partir da data da convocação da Assembleia Geral.
 Direito a informações em Assembleia Geral (art290º). Direito a que sejam prestadas informações verdadeiras, completas e elucidativas.
 Direito coletivo à informação (art291º.nº1) para acionistas que tenham, isoladamente ou em conjunto, 10% do Capital Social – informações dadas
por escrito.

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL

 AS QUOTAS
. Princípio da unidade (art.219º)
. Amortização de quotas (art232º e ss);
A amortização (extinção) de quotas só pode ser deliberada quando permitida pela lei ou pelo pacto social.
. A amortização compulsiva só é admitida quando se verifica um facto que o pacto social considere fundamento para tal;
. A amortização só pode ser deliberada se ficar ressalvado o capital social (art 236ª);
. Pode haver cláusulas contratuais que prevejam o modo de calcular o valor da quota a amortizar. Contudo, existem também regras imperativas
(art.235º).

 AS ACÇÕES (art.298º e ss)


. Não podem ser emitidas por valor inferior ao seu valor nominal (ou abaixo do seu valor de emissão): Proibição de emissão de ações abaixo do par;
. O prémio de emissão é admitido, embora o ágio fique sujeito a reserva legar – art295º, nº2, a).
. “As ações são nominativas, não sendo permitidas ações ao portador”, como consta da nova redação do art.299º do Código das Sociedades
Comerciais (e do 52º do CVM) dada pela Lei nº15/2017, de 3 de maio.
. Obrigação de identificação do beneficiário efetivo (Lei nº 89/2017, de 21 de agosto). Criação de Registo Central.
. As ações podem ser ESCRITURAIS ou TITULADAS, “consoante sejam representados por registos em conta ou por documentos em papel” – art.46º
do CVM.
. Títulos provisórios e títulos definitivos – art.304º.
. Pode haver diversas categorias de ações – art302º
“As ações que compreendem direitos iguais forma uma categoria.”
. Possibilidade de limitação da liberdade de transmissão das ações – art.328º
. Transmissão das ações – art101º e 102º CVM.
. Pode haver ações SEM VALOR NOMINAL (introduzidas pelo DL nº49/2010, de 19 de Maio); mas não podem coexistir ações com valor nominal e
ações sem valor nominal (art276º, 2).
. O Capital Social da sociedade divide-se num nºfixo de ações, cujo valor dependerá do valor contabilístico da sociedade.
. O valor da entrada do sócio deve ser pelo menos igual ao montante do capital social correspondente emitido (art.25º, 2).

Ações SEM VALOR NOMINAL


. Valor de emissão das ações = valor das entradas levadas a Capital Social por cada ação (Capital Social/ nº de ações emitidas). A possibilidade aberta
pelo art.298º, nº3: o valor de emissão não tem que ser sempre igual.
. Valor contabilístico das ações = Capital Social / nº de ações da sociedade. É o valor que conta para os direitos dos sócios.
Exemplo: Capital social de 50.000 EUR, dividido em 50.000 ações: as ações terão um valor contabilístico de 1EUR (independentemente do valor da
sua emissão).

ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
Deliberações dos sócios

. Deliberações em assembleia geral convocada (art.247º e 373º);


. Deliberações em assembleia universal (art.54º,1);
. Deliberações unânimes por escrito (art54º, 1);
. Deliberações por voto escrito – só na SENC e SQ (art.189º e 247.º)

SOCIEDADES POR QUOTAS


. Em princípio conta-se 1 voto por cada cêntimo de Capital Social, e as deliberações são tomadas se obtiverem a maioria dos votos emitidos, não se
considerando como tal as abstenções (art.250º).

Órgãos Sociais:
. Assembleia geral (art.248º e normas das Sociedades Anónimas)
. Gerência (art.252º e ss)
. Conselho fiscal ou Revisor Oficial de Contas (art.262º)
O Secretário da Sociedade – Art.446º D): designação facultativa.

Gerência
. A administração e representação da Sociedade por Quotas compete à gerência;
. São designados no contrato ou eleitos pelos sócios;
. Pode ser plural (art.261 ª) ou singular;
. Só podem ser gerentes pessoas singulares com capacidade jurídica plena;
. A gerência não é transmissível (nem por morte, nem por ato entre vivos).

SOCIEDADES ANÓNIMAS
Órgãos Sociais
Deliberações dos acionistas) art.373º e art384º)

. A assembleia geral dos acionistas.


Deve reunir pelo menos uma vez por ano, durante o 1ºtrimestre de cada ano (art.376º).
. Convocação da assembleia (art.377º)
A convocatória deve ser publicada ou enviada por carta registada (ou por e-mail, com recibo de leitura). Menções obrigatórias (art.377, nº5).
. Local da Assembleia Geral (art.377º, 6) na sede ou noutro local. Ou por meios telemáticos (excepto se o contrato de sociedade os proíbe).

ADMINISTRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO

A administração e fiscalização podem ser estruturadas segundo umas das modalidades previstas no art.278º :

A) Modelo clássico ou latino – art.278º, 1, a) ----- Conselho de Administração e Conselho Fiscal


 Nº ilimitado de membros do Conselho de Administração (art390º, nº1);
 Pode haver apenas um “administrador único” (art390º, nº2);
 Pode ser constituída uma “comissão executiva” para a gestão corrente (art.407º, nº3)

Fiscalização no modelo clássico:

 Fiscal único, que tem que ser Revisor Oficial de Contas – art.413º, nº1, a); ou
 Conselho fiscal (que integra um Revisor Oficial de Contas) – art.413º, nº1, a), in fine e 414º, nº2; ou
 Conselho fiscal (do qual não é membro o Revisor Oficial de Contas) e o Revisor Oficial de Contas. É o “modelo latino reforçado” – art.413º, 1, b).
As grandes Sociedades Anónimas têm que adotar esta estrutura de fiscalização (art.413º, nº2).

B) Modelo anglo-saxónico – art.278º, nº1, b) ---- Conselho de Administração (compreendendo uma Comissão de Auditoria) e o Revisor Oficial de
Contas
 O conselho de administração tem o número mínimo de 5 administradores, dos quais 3 terão que ser” não executivos”;
 A comissão de auditoria, como órgão de fiscalização (art.423º-F), é integrada por administradores não executivos, em número mínimo de
3(art.423º-B, nº2);
 Nas sociedades cotadas e grandes Sociedades Anónimas a comissão de auditoria deve incluir pelo menos um membro com curso superior adequado
(e com conhecimentos de contabilidade e auditoria) e que seja independente (art.423º-B, nº4)

C) Modelo germânico – art. 278º, nº1, c) -- Conselho de Administração Executivo, Conselho Geral e de Supervisão e Revisor Oficial de Contas

 O conselho de administração executivo (art.424º e ss) pode ter nº ilimitado de membros (ou um administrador único se o Capital Social não exceder
200000 EUR);
 O conselho geral e de supervisão (art.434º e ss), com nº ilimitado de membros, que não têm que ser acionistas;
 Para as sociedades cotadas e para as grandes Sociedades Anónimas é obrigatória a existência, no seio do conselho geral e de supervisão, de uma
“comissão para as matérias financeiras” – art.444º, nº2;
 Esta comissão deve incluir pelo menos um membro com curso superior adequado (e com conhecimentos de contabilidade e auditoria) e que seja
independente – art.444º, nº5.
 O Secretário da Sociedade: obrigatório para as sociedades anónimas cotadas em Bolsa (artigo 446º-A a Artigo 446º-F).
 Secretário da Sociedade
Elemento obrigatório para as sociedades anónimas cotadas em Bolsa (artigo446º-A a Artigo446º-F);
O secretário (e seu suplente) são designados pelos sócios (no ato constitutivo) ou pelo Conselho de Administração, e é sujeito a registo (art.446º-E);
Responsabilidade civil e criminal (art.446º-F).

FISCALIZAÇÃO DAS SOCIEDADES COMERCIAIS

ORGÃOS DE FISCALIZAÇÃO
 Nas sociedades por quotas é obrigatório ter conselho fiscal ou Revisor Oficial de Contas se forem ultrapassados dois dos três limites referidos no
art262º, nº1.
 Nas sociedades anónimas o órgão de fiscalização é sempre obrigatório (art.278º e 413º).

Órgãos de fiscalização possíveis:

 Fiscal único (ou Conselho Fiscal com Revisor Oficial de Contas)


 Conselho Fiscal sem Revisor Oficial de Contas
 Comissão de Auditoria
 Conselho Geral e de Supervisão
 Revisor Oficial de Contas (ou Sociedade de Revisores Oficiais de Contas)

Composição do órgão de fiscalização no modelo clássico: Artigo 413º: Neste modelo a fiscalização compete:

 A) A um fiscal único, que deve ser revisor oficial de contas ou sociedades de revisores oficiais de contas, ou a um conselho fiscal; ou
 B) A um conselho fiscal e a um revisor oficial de contas ou uma sociedade de revisores oficiais de contas que não seja membro daquele órgão.

A fiscalização da sociedade nos termos previstos na alínea b) do número anterior:


a) É obrigatória em relação a sociedades que sejam emitentes de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado e a
sociedades que, não sendo totalmente dominadas por outra sociedade que adote este modelo, durante dois anos consecutivos, ultrapassem dois
dos seguintes limites:

l) Total do balanço: 20000000 EUR

ll) Volume de negócios líquido: 40000000 EUR

lll) Número médio de empregados durante o período: 250

. Redação da Lei nº148/2015, de 09/09

b) É facultativa, nos restantes casos.

3- O fiscal único terá sempre um suplente, que será igualmente revisor oficial de contas ou sociedade de revisores oficiais de contas.

4- O conselho fiscal é composto pelo número de membros fixado nos estatutos, no mínimo de três membros efetivos.

5- Sendo três os membros efetivos do conselho fiscal, deve existir um ou dois suplentes, havendo sempre dois suplentes quando o número de
membros for superior.

6- O fiscal único rege-se pelas disposições legais respeitantes ao revisor oficial de contas e subsidiariamente, na parte aplicável, pelo disposto
quanto ao conselho fiscal e aos seus membros.

Incompatibilidades (art.414º-A) – Objetivo: imparcialidade. Nomeação:

 Designação pela assembleia geral (art.415º);


 Nomeação oficiosa (art.416º);
 Nomeação judicial – a requerimento da administração ou de acionistas (art.417º);
 Nomeação judicial – a requerimento de minorias (1/10 do Capital Social – art418º).

Órgão de fiscalização no modelo anglo-saxónico: Artigo 423ºB


Comissão de auditoria: composta por uma parte do Conselho de Administração.
 São designados em conjunto com os restantes administradores, com indicação discriminada (art.423º-C).
 Propõe à Assembleia Geral a nomeação do Revisor Oficial de Contas e fiscaliza a revisão legal de contas, bem como a independência do Revisor
Oficial de Contas.
 Não pode ter funções executivas.
 Nas Sociedades Anónimas cotadas a maioria dos membros deve ser independente.

Órgão de fiscalização no modelo germânico: Art.434ª

Conselho geral e de supervisão: em superior aos administradores.

 Pode ter comissões especiais (art.444º). Deve ter comissão para matérias financeiras – Obrigatória em certos casos (nº2).
 Os seus membros podem ser designados no pacto social ou eleitos em Assembleia Geral.
 Pode ter certos poderes de gestão: art.442ª.

EMPRESAS

Noção jurídica de EMPRESA (= estabelecimento comercial): “organização concreta de fatores produtivos como valor de posição no mercado”.

Elementos da Empresa:
 Elementos corpóreos (ex: mercadorias, matérias-primas, imóveis, dinheiro)
 Elementos incorpóreos (ex: direito ao arrendamento, direitos de crédito, patentes, marcas, insígnias, direitos emergentes de contratos de trabalho e
de prestação de serviços, direitos emergentes de contratos de agência, concessão ou franquia, etc.)
 Clientela (Relações contratuais com certa estabilidade; expetativa ou capacidade de angariar novos clientes).
A Consagração legal do direito à clientela: a indemnização de clientela, consagrada no regime legal do contrato de agência.

Aviamento
Capacidade lucrativa, aptidão para gerar lucros. Certas situações de facto que potenciam o lucro do comerciante. (Ex: relações com fornecedores ou
clientes, acesso ao crédito, eficiência da organização, reputação ou “Goodwill”, posição no mercado, etc.).
 Elemento ou qualidade da empresa?

Trespasse

 É a transmissão definitiva, por ato entre vivos, com ou sem carácter oneroso, da propriedade da empresa.
 Pode ser uma venda, troca, doação, entrada em sociedade ou venda executiva, etc.
 O artigo 1112º do Código Civil (redação da Lei nº6/2006, de 27.02):

Artigo 1112º (Transmissão da posição de arrendatário)

1- É permitida a transmissão por ato entre vivos da posição de arrendatário, sem dependência da autorização do senhorio:
a) No caso de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial:

b) A pessoa que no prédio arrendado continue a exercer a mesma profissão liberal, ou a sociedade profissional de objeto equivalente.

2- Não há trespasse:

a) Quando a transmissão não seja acompanhada de transferência, em conjunto, das instalações, utensílios, mercadorias ou outros elementos que
integram o estabelecimento;

b) Quando a transmissão vise o exercício, no prédio, de outro ramo de comércio ou indústria ou modo geral, a sua afetação a outro destino.

Negociação do estabelecimento

3 - A transmissão deve ser celebrada por escrito e comunicada ao senhorio. (no prazo de 15 dias – art.1038º, g), do CC)

4 – O senhorio tem direito de preferência no trespasse por venda ou dação em cumprimento, salvo convenção em contrário.

5- Quando, após a transmissão, seja dado outro destino ao prédio, ou o transmissário não continue o exercício da mesma profissão liberal, o
senhorio pode resolver o contrato.

No caso de trespasse:

 Transmite-se para o adquirente a posição de empregador nos contratos de trabalho (art.285º do Código do Trabalho=;
 Os trabalhadores devem ser informados e consultados (art.286 do Código do Trabalho);
 Há um dever de comunicação à Autoridade Tributária, com antecedência mínima de 30 dias e máxima de 60 sobre a data da sua formalização
(exceto em caso de certidão de inexistência de dívidas tributárias) – art.82º do CPPT.

Locação (ou cessão de exploração=

É a disposição temporária e remunerada do mero gozo da empresa.


 O locatário explora a empresa por sua conta e risco, pagando uma determinada remuneração ao dono do estabelecimento.
 O artigo 1109º do Código Civil (Locação de estabelecimento):
1. A transferência temporária e onerosa do gozo de um prédio ou de parte dele, em conjunto com a exploração de um estabelecimento comercial
ou industrial nele instalado, rege-se pelas regras da presente subsecção, com as necessárias adaptações.
2. A transferência e onerosa de estabelecimento instalado em local arrendado não carece de autorização do senhorio, mas deve ser-lhe comunicada
no prazo de um mês.

À locação é aplicável o nº2 do art.1112º, do Código Civil (referente ao trespasse).


Direito das Sociedades
O Direito das Sociedades Comerciais como um sub-ramo dentro do Direito Comercial
Direito Comercial / Direito Civil
Noção de Direito Comercial “Conjunto de normas, conceitos e princípios jurídicos que, no domínio do direito privado, regem os factos e
as relações jurídicas comerciais.”
Âmbito do direito comercial / comércio em sentido económico.

Interesses especiais tutelados pelo Direito Comercial:


A) Tutela eficaz do crédito
B) Celeridade na celebração de negócios
C) Garantia e firmeza nas transações

Tutela eficaz do crédito - Ex.: art. 100.º do Cód. Com. / art. 512.º e ss do Cód. Civil
Código Comercial Artigo 100.º (Solidariedade nas obrigações comerciais)
“Nas obrigações comerciais os co-obrigados são solidários, salva estipulação contrária.”

Artigo 513.º (Fontes da solidariedade)


“A solidariedade de devedores ou credores só existe quando resulte da lei ou da vontade das partes.”

Código Civil Artigo 512.º


(Noção)
“A obrigação é solidária, quando cada um dos devedores responde pela prestação integral e esta a todos libera...”

Tutela eficaz do crédito


Código Civil, Artigo 638.º/1 (Benefício da excussão)
Ao fiador é lícito recusar o cumprimento enquanto o credor não tiver excutido todos os bens do devedor sem obter a satisfação do seu crédito.

Código Comercial, Art.º 101.º (Solidariedade do fiador)


Todo o fiador de obrigação mercantil, ainda que não seja comerciante, será solidário com o respetivo afiançado.

Celeridade na celebração dos negócios


Ex.: art. 396.º do Cód. Com. / art. 1143.º do Cód. Civil -Contrato de mútuo

Artigo 396.º (Prova)


“O empréstimo mercantil entre comerciantes admite, seja qual for o seu valor, todo o género de prova.”

Código Civil, Artigo 1143.º (forma)


“Sem prejuízo do disposto em lei especial, o contrato de mútuo de valor superior € 25 000 só é válido se for celebrado por escritura pública ou por
documento particular autenticado e o de valor superior a € 2 500 se o for por documento assinado pelo mutuário.”

Garantia e firmeza das transacções


* Regime dos títulos de crédito - princípios da abstração e literalidade

• Art. 102.º, § 1º Código Comercial:


“A taxa de juros comerciais só pode ser fixada por escrito.”

Evolução histórica
O Direito Comercial “nasce” na Idade Média
Surge como um Direito
 Profissional (de classe): direito dos comerciantes (ius mercatorum)
 Consuetudinário : baseado nos costumes mercantis
 Internacional

O direito comercial face ao direito civil

O direito comercial como direito especial face ao direito civil (que é o direito comum das relações privadas).

O direito comercial é um direito especial e não excepcional (possibilidade de recurso à analogia - Art. 11.º do Cód. Civil).

Artigo 3.º do Cód. Com. (Interpretação e integração) “Se as questões sobre direitos e obrigações comerciais não puderem ser resolvidas,

nem pelo texto da lei comercial, nem pelo seu espírito, nem pelos casos análogos nele previstos, serão decididos pelo direito civil.”

Atos de Comércio
Interesse prático da qualificação de um ato como comercial:

-Regra da solidariedade nas obrigações comerciais Art. 100.º do Cód. Com.: “Nas obrigações comerciais os coobrigados são solidários, salva estipulação em
contrário.”

- Qualificação de uma pessoa como comerciante, Art. 13.º Cód. Comercial: “São comerciantes (...) as pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de
comércio, fazem deste profissão”.

-Carácter comercial das sociedades cujo objecto consista na prática de atos comerciais

-Regime de responsabilidade dos bens do casal por dívidas resultantes de atos de comércio. Artigo 1691.º do Cód. Civil.

Noção de atos de comércio

“Serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste Código, e, além deles,

todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não resultar.”

Artigo 2.º Primeira parte: atos objetivamente comerciais

São atos comerciais todos os que em concreto reúnam os requisitos definidos na lei comercial.

Serão comerciais os que se acharem especialmente regulados na lei, em atenção aos interesses da vida comercial (lei formalmente comercial ou não).

 — A questão do recurso à analogia

O recurso à analogia como solução mais razoável (ex.: Artigo 230.º do Cód. Comercial)

A segunda parte - atos subjetivamente comerciais


Presumem-se comerciais todos os contratos e obrigações dos comerciantes, com duas exceções:

Não serão comerciais os atos que pela sua natureza não se conexionam com o comércio - exclusivamente civis.

Não serão comerciais os atos que, em concreto, não se conexionem com a atividade comercial do seu autor.

Classificação dos atos de comércio

Atos objetivamente comerciais

São objetivamente comerciais todos os atos especialmente regulados em leis comerciais - atos jurídicos cuja comercialidade reside neles próprios.

Atos subjetivamente comerciais

São subjetivamente comerciais todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio
ato não resultar - a sua comercialidade resulta do sujeito que o pratica.

Atos formalmente / substancialmente comerciais

São formalmente comerciais os atos praticados na observância de esquemas previstos pelo legislador (ex: subscrição de uma letra de câmbio).

São substancialmente comerciais os atos que têm a ver com o comércio em sentido jurídico.

Atos unilateralmente comerciais / atos bilateralmente comerciais

Unilateralmente comerciais são negócios bilaterais que apenas são comerciais relativamente a uma das partes.

Bilateralmente comerciais são negócios bilaterais que são comerciais em relação a ambas as partes.

Esta classificação é importante para efeitos de aplicação do artigo 99º do Código Comercial:
Artigo 99.º (Regime dos atos de comércio unilaterais)

“Embora o acto seja mercantil só em relação a uma das partes será regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os contraentes,

salvas as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o acto é mercantil, ficando, porém, todos sujeitos à jurisdição comercial.”

Artigo 230.º do Cód. Com.

Empresas comerciais

“Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou coletivas, que se propuserem:

1º Transformar, por meio de fábricas ou manufaturas, matérias-primas, empregando para isso, ou só operários, ou operários e máquinas;

2º Fornecer, em épocas diferentes, géneros, quer a particulares, quer ao Estado, mediante preço convencionado;

3º Agenciar negócios ou leilões por conta de outrem em escritório aberto ao público,e mediante salário estipulado;

4º Explorar quaisquer espectáculos públicos;

5º Editar,publicar ou vender obras científicas,literárias ou artísticas;

6º Edificar ou construir casas para outrem com materiais subministrados pelo empresário;

7º Transportar, regular e permanentemente, por água ou por terra, quaisquer pessoas,animais,alfaias ou mercadorias de outrem.

§ 1º Não se haverá como compreendido no nº 1º o proprietário ou o explorador rural que apenas fabrica ou manufactura os produtos do
terreno que agriculta acessoriamente à sua exploração agrícola, nem o artista, industrial, mestre ou oficial de ofício mecânico que exerce

directamente a sua arte, indústria ou ofício, embora empregue para isso,ou só operários, ou operários e máquinas.

§ 2º Não se haverá como compreendido no n.º 2º o proprietário ou explorador rural que fizer fornecimento de produtos da

respectiva propriedade.

§ 3º Não se haverá como compreendido no n.º 5º o próprio autor que editar,publicar ou vender as suas obras.”

Regras especiais aplicáveis aos atos de comércio

1. Forma: o princípio do art. 219.º do Cód. Civil.

O direito comercial consagra uma ampla liberdade de prova das declarações negociais.

Exemplos:

art. 396.º do Cód. Com. / art. 1143.º do Cód. Civil

art. 400.º do Cód. Com. / art. 669.º do Cód. Civil

art. 96.º do Cód. Com. / art. 365.º do Cód. Civil

2. Solidariedade passiva

O art. 100.º do Cód. Comercial (confronto com o art.513.º do Cód. Civil).

O art. 101.º do Cód. Comercial (confronto com o art.638.º do Cód. Civil)

3. Prescrição
O artigo 317.º alínea b) do Código Civil. “Prescrevem no prazo de dois anos:
b) Os créditos dos comerciantes pelos objetos vendidos a quem não seja comerciante ou os não destine ao seu comércio (...)”.
Prazo de prescrição presuntiva, de dois anos;
O prazo ordinário de prescrição é de 20 anos - art. 309.º do Código Civil)

4. Juros
Artigo 102.º do Cód. Com. - Princípio do decurso e contagem de juros nas dívidas comerciais.
A) JUROS LEGAIS
Taxa anual de juros legais: 4% (desde 01/05/2003) – Portaria n.º 291/2003, de 08/04;

Taxa supletiva de juros moratórios para créditos de que sejam titulares empresas comerciais
Corresponde à taxa de juro aplicada pelo BCE à sua mais recente operação principal de refinanciamento acrescida de 7 pontos percentuais – art.
102º, § 3º e 4º, do Cód. Com. Desde 01/07/2017 é de 7%.

Taxa supletiva de juros moratórios para créditos de empresas comerciais e emergentes de transações comerciais entre empresas
Corresponde à taxa de juro aplicada pelo BCE à sua mais recente operação principal de refinanciamento acrescida de 8 pontos percentuais – art.
102º, § 5º, do Cód. Com. (redação do DL n.º 62/2013, de 10 de maio).
2º semestre de 2021: 8%

Taxa aplicável aos créditos representados por letras, livranças e cheque: 6% (art. 48º LULL e 45º LUCH).

B) JUROS CONVENCIONAIS
A taxa de juros deve ser fixada por escrito (art. 102º, § 1º);
Juros usurários (art. 559.º-A e 1146.º do Código Civil);
Proibição do anatocismo (art. 560.º Cód. Civil):

Proibição do anatocismo (art. 560.º Cód. Civil): “Para que os juros vencidos produzam juros é necessária convenção
posterior ao vencimento” ou após “notificação judicial feita ao devedor para capitalizar os juros
vencidos ou proceder ao seu pagamento sob pena de capitalização”.
Estas regras não são aplicáveis se forem contrárias a regras ou usos particulares do comércio - n.º 3

Atrasos de pagamentos (DL n.º 62/2013, de 10/05)


Regras aplicáveis a “pagamentos efetuados como remunerações de transações comerciais” - isto é, entre empresas ou entre empresas e entidades
públicas
Não se aplica a contratos com consumidores.

Medidas de combate aos atrasos:


Direito a juros de mora, sem necessidade de interpelação, a contar do vencimento (art. 4.º, n.º 2);
Prazos supletivos de vencimento: 30 dias (art. 4.º, n.º 3);
Prazo máximo (por regra): 60 dias (art. 4.º, n.º 5)
Nulidade das cláusulas que estabeleçam prazos excessivos de pagamento ou que excluam ou limitem a responsabilidade pela mora (art. 8.º, n.º 1);

Quando se vençam juros de mora, o credor tem direito a receber do devedor um montante mínimo de € 40, sem necessidade de interpelação, a
título de indemnização pelos custos de cobrança da dívida, sem prejuízo de poder provar que suportou custos razoáveis que excedam aquele
montante (art.7.º);
Recurso à injunção, independentemente do valor (art. 10º).

Responsabilidade dos bens dos cônjuges


A) Dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges
Requisitos da comunicabilidade da dívida: art. 1691.º n.º 1 d) do Cód. Civil e art. 15.º do Cód. Comercial.

Artigo 1691.º
(Dívidas que responsabilizam ambos os cônjuges)
1. São da responsabilidade de ambos os cônjuges:
(...)
d) As dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comércio, salvo se se provar que não foram contraídas em proveito comum do
casal ou se vigorar entre os cônjuges o regime de separação de bens;”

REQUISITOS DO ARTIGO 1691.º N.º 1 ALÍNEA D) DO CÓD. CIVIL


1. Dívida contraída no exercício do comércio Cfr. presunção do artigo 15.º Cód. Com. - basta provar que a dívida é comercial e o seu autor um
comerciante. Presunção do art. 15.º do Cód. Com.:
“As dívidas comerciais do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio.”
2. Dívida contraída em proveito comum do casal
-O proveito comum presume-se (presunção ilidível).
-O proveito pode ser económico ou não - o que importa é a finalidade com que foi contraída e não o resultado - critério de uma pessoa normal
3. Regime de comunhão de bens
-Regime de comunhão geral ou de comunhão de bens adquiridos

Os art.s 1691.º n.º 1 d) do CC e 15.º do Cód. Com. visam alargar a garantia patrimonial do credor do comerciante.
• O credor do comerciante apenas carece de provar:
a) que a dívida é comercial;
b) que o devedor é comerciante;
c) que o comerciante está casado num regime de comunhão

Artigo 1695.º (Bens que respondem pelas dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges)
1. Pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens comuns do casal, e, na falta ou insuficiência deles,
solidariamente os bens próprios de qualquer dos cônjuges

B) Dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges -arts. 1692.º e 1696.º do Cód. Civil
Artigo 1692.º (Dívidas da responsabilidade de um dos cônjuges)
São da responsabilidade do cônjuge a que respeitam:
a) As dívidas contraídas, antes ou depois da celebração do casamento, por cada um dos cônjuges sem o consentimento do outro, fora dos casos
indicados nas alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo anterior;
Artigo 1696.º (Bens que respondem pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges)
1. Pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem os bens próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a sua
meação nos bens comuns;

Requisitos para aquisição da qualidade de Comerciante


O art. 13.º do Código Comercial:
São comerciantes:
1.º As pessoas, que, tendo capacidade para praticar atos
de comércio, fazem deste profissão;
2.º As sociedades comerciais.

O n.º 1 do art. 13.º do Código Comercial


Prática de atos substancialmente comerciais ou de atos conexos com eles.
1. Capacidade de exercício de direitos
Coincidência entre a capacidade civil e a capacidade comercial (art. 7.º Cód. Com.).
Possibilidade de os incapazes exercerem o comércio através dos seus representantes legais, que atuam em nome e no interesse do incapaz.
2. Profissionalidade
A profissionalidade implica:
-A prática de atos comerciais (não releva a prática de atos subjetivamente comerciais, nem de atos formalmente comerciais) ou de atos conexos
com eles.
-Uma prática sistemática e não isolada – com carácter de regularidade.
-Que faça do comércio o seu modo de vida – exploração da atividade mercantil com intuito lucrativo.

Em suma: a profissionalidade implica a existência de uma organização do comerciante – isto é de uma empresa.
3. Exercício do comércio em seu próprio nome
-Exercício pessoal, independente e autónomo do comércio.

A MATRÍCULA DO COMERCIANTE
A matrícula (isto é, a inscrição no registo comercial) é obrigatória para todos os comerciantes (art. 18.º do Cód.Com.).
Contudo, a matrícula não é condição necessária nem suficiente para a aquisição da qualidade de comerciante.

A matrícula constitui apenas uma presunção (ilidível) da qualidade de comerciante - art. 11.º do Cód. Reg. Comercial.

Artigo 11.º
(Presunções derivadas do registo)
1- O registo por transcrição definitivo constitui presunção de que existe a situação jurídica, nos precisos termos em que é definida.

I – Firma
É um elemento obrigatório para todos os comerciantes (em nome individual ou sociedades comerciais).
É um sinal distintivo do comércio, a par do logótipo (para entidades, estabelecimentos, etc.) e da marca (para produtos e serviços).
É constituída por uma expressão verbal, sujeita aos seguintes princípios:
PRINCÍPIO DA VERDADE
Os elementos da firma devem ser verdadeiros e não induzir em erro sobre a identificação, natureza ou atividades do seu titular - art. 32.º;
A transmissão da firma só é possível com a transmissão do estabelecimento comercial, havendo acordo de ambas as partes e a firma incluir uma
referência à sucessão - art. 44.º
PRINCÍPIO DA NOVIDADE OU EXCLUSIVIDADE
Assegurar a função distintiva das firmas - devem ser insusceptíveis de confusão ou de erro com outras já registadas para o mesmo âmbito de
exclusividade – art. 33.º .
Âmbito territorial de proteção da firma:
-Comerciantes em nome individual: âmbito territorial da conservatória do registo comercial competente.
-Sociedades: âmbito nacional
PRINCÍPIO DA UNIDADE
Cada comerciante apenas pode possuir uma única firma que o
identifique – art. 38.º
Proteção da firma:
proibição do uso ilícito da firma
responsabilidade civil - reparar os danos causados
responsabilidade criminal - concorrência desleal
II - Escrituração mercantil
Artigos 29.º a 44.º do Cód. Com.
Registo dos factos e operações comerciais relevantes.
“Todo o comerciante é obrigado a ter escrituração mercantil efectuada de acordo com a lei.”

Escrituração mercantil
Funções da escrituração comercial:
Dar a conhecer as operações comerciais e a situação patrimonial do comerciante;
Meio de prova dos factos neles registados (art. 44.º do Cód. Com.);
Meio de verificação da conduta do comerciante (ex.: para efeitos de insolvência culposa ou negligente – art. 227.º n.º 1 do Cód. Penal);
Base para a liquidação de impostos.

Princípio da liberdade de organização da escrituração comercial (art. 30.º do Cód. Com.).


As sociedades comerciais devem possuir livros para atas para documentar as reuniões de sócios e de outros órgãos colegiais (art. 31.º, Cód. Com.).
Possibilidade de os livros serem constituídos por folhas soltas, numeradas sequencialmente e rubricadas pela gerência ou administração.
Sigilo da escrituração (art. 41.º a 43.º do Cód. Comercial)

III - Balanço e prestação de contas Art. 62.º do Cód. Comercial


Obrigatoriedade de dar balanço (art. 62.º do Cód. Com. e 65.º e 66.º do CSC);
O balanço anual (nos 3 primeiros meses do ano seguinte àquele a que respeita – art. 65.º n.º 5 e art. 65.º-A, do CSC) e os balanços extraordinários
(ex.: art. 91.º n.º 2 do CSC).
Obrigação de prestar contas: Para as sociedades comerciais ver artigos 65.º e 65.º-A, do CSC.
IV - Registo Comercial
Registo por transcrição ou por depósito (art. 53.º-A, do CRC).
Por transcrição: matrícula, inscrições, averbamentos e anotações (art. 55.º/ 1, do CRC). Extractação dos factos sujeitos a registo.
Por depósito: mero arquivamento dos documentos que titulam factos sujeitos a registo.
Publicações legais (art. 70.º do CRC) – efectuadas oficiosamente pela conservatória, a expensas dos interessados, em sitio da Internet de acesso
público: (http://publicacoes.mj.pt/).

Você também pode gostar