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SOCIEDADES COMERCIAIS

O nº 2 do art. 13º do C. Comercial diz que são comerciantes as sociedades


comerciais e o art. 1º, nº 2, do CSC estabelece que são sociedades comerciais
aquelas que tenham por objecto a prática de actos de comércio e adoptem o tipo de
sociedade em nome colectivo, de sociedade por quotas, de sociedade anónima, de
sociedade em comandita simples ou de sociedade em comandita por acções.

Daqui resulta que a lei não nos dá a noção de sociedade, mas apenas indica os
requisitos para que uma sociedade se considere comercial: objecto e tipo comercial.
Para tanto é necessário recorrer ao direito civil - subsidiário, nos termos do art. 3º
do C. Comercial; e do art. 980º CC se vê que são quatro os elementos do conceito
geral de sociedade:
- elemento pessoal - pluralidade1 de sócios;
- elemento patrimonial - obrigação de contribuir com bens ou serviços;
- elemento finalístico (fim imediato ou objecto): exercício em comum de certa
actividade económica que não seja de mera fruição e
- elemento teleológico (fim mediato ou stricto sensu) - repartição dos lucros
resultantes dessa actividade.

Se a estes quatro elementos juntarmos o objecto comercial - prática de actos


de comércio - e o tipo comercial - adopção de um daqueles tipos definidos na lei
comercial - teremos o conceito de sociedade comercial.

I - Elemento pessoal - A regra resultante, até, do conceito de sociedade é a da


pluripessoalidade, tanto para a sociedade-contrato (no momento da constituição)
como para a sociedade-instituição (na sua existência).
Porém, o nº 2, in fine, do art. 7º, permite que a sociedade seja constituída por
uma só pessoa e o art. 142º, nº 1, a), ao regular a dissolução de sociedade por
sentença, permite concluir que, enquanto não for proferida tal sentença em acção
própria, a sociedade poderá continuar a existir com o único sócio restante. É um caso
de unipessoalidade superveniente.
A lei permite, porém, dois casos de unipessoalidade originária, excepções
àquela regra natural e conceitual da pluripessoalidade:

a) - Sociedade unipessoal por quotas - 270A a 270G do CSC, acrescentados


pelo Dec-lei nº 257/96, de 31 de Dezembro, na sequência de transposição da Directiva
nº 89/667/CE.

b) - Sociedade unipessoal anónima - 488º, nº 1: a sócia única tem de ser uma


sociedade que com a unipessoal forma um grupo por domínio total - 488º, nº 3.

II - Elemento patrimonial - obrigação de contribuir com bens ou serviços.


É necessário que os bens (dinheiro ou direitos, como arrendamento, crédito,
direito de propriedade industrial) tenham valor pecuniário (9º, nº 1, al. g) e h) do CSC)
e sejam susceptíveis de penhora (20º, a), do CSC.

1
- A sociedade unipessoal por quota foi acrescentada pelo Dec-lei nº 257/96, de 31 de Dezembro.

1
A entrada com serviços só é permitida nas sociedades em nome colectivo (176º
e ss) e em comandita para os comanditados (468º), sendo proibida nas SPQ - 202º - e
nas SA - 277º.
Com as entradas dos sócios forma-se o fundo comum, define-se a
proporção da participação de cada sócio na sociedade e fixa-se o capital social.

III - Elemento finalístico (fim imediato ou objecto): a actividade social deve


ser económica (não de índole cultural, política ou religiosa), definida, exercida em
comum e não de mera fruição, no que se distingue da comunhão ou compropriedade.
Falsa aparência de sociedade: 36º, nº 1 - responsabilidade solidária e ilimitada
dos indivíduos que criaram essa aparência de sociedade pelas obrigações contraídas
nesses termos por qualquer deles.

Referência às sociedades de administração de bens próprios - necessidade de


algo mais que a simples administração - de investimento e SGPS (holdings), sujeitas ao
regime financeiro especial do Dec-lei nº 495/88, de 30 de Dezembro 2.

O consórcio e a associação em participação - Dec-lei nº 231/81, de 28 de


Julho - não têm personalidade jurídica, são contratos mas não sociedades.

IV - Elemento teleológico (fim imediato ou stricto sensu):


- o fim lucrativo pode não ser decisivo. Bastará que haja um benefício
patrimonial para os sócios, como nas sociedades não lucrativas que poderão
comercializar, realizando lucro, as tecnologias fornecidas ou produtos criados
pela sociedade.
As Cooperativas, regidas por lei especial, o Código Cooperativo, são
sociedades, sujeitas ao registo comercial e a falência, tal como os ACE - Lei nº
4/73, de 4.6, regulamentada pelo Dec-lei nº 430/73, de 25.8.
- distribuição dos lucros - 21º, nº 1, a)3, 217º e 294º, nº 1. Deliberação
contrária simplesmente anulável.
Proporção - 22º, n.os 1 e 2, CSC - salvo lei ou cláusula contratual em contrário.
Nulidade das cláusulas dos n.os 3 e 4 deste art. 22º.

V - Objecto comercial - deve constar do pacto - 9º, nº 1, d) - e consiste na


prática de actos de comércio objectivos (2º, 1ª parte) ou actividades qualificadas como
comerciais - v. g., 230º do C. Comercial.
As sociedades civis em forma comercial - 1º, nº 4 - não são comerciantes por
não terem objecto comercial.

VI - Forma comercial
a) - tipo comercial - numerus clausus - 1º, nº 2 - segurança do comércio
jurídico e celeridade das transacções comerciais; mas com temperada
autonomia da vontade no pacto social, em tudo que não esteja contra
lei imperativa.
1 - Sociedades em nome colectivo - 175º a 196º
- responsabilidade pela entrada - 175º, nº 1;
- responsabilidade solidária com os outros sócios pelas obrigações sociais mas
subsidiária em relação à sociedade - 175º, nº 1 - mesmo pelas anteriores ao
seu ingresso mas não pelas posteriores à sua saída - 175º, nº 2. Os credores
2
- Sobre tipos de sociedades de direito especial, veja-se Pinto Furtado, Curso de Direito das Sociedades, 4ª ed., 40.
3
- O sócio e não o seu cônjuge - Col. 97-II-86.

2
sociais, por dívidas da sociedade em nome colectivo, podem demandar
sócios e sociedade, em litisconsórcio passivo, ou só os sócios. A falência da
sociedade implica a falência dos respectivos sócios - 126º, nº 1, do CPEREF.
- Partes sociais - 176º, 25º, nº 1, 182º e 183º
Regime especial dos sócios de indústria - 178º: salvo cláusula em contrário, não
respondem, nas relações internas, pelas perdas sociais.

2 - Sociedades por Quotas - 197º a 270G


- Responsabilidade solidária por todas as entradas - 197º, nº 1;
- Responsabilidade do património social pelas dívidas da sociedade - 197º, nº 3 -
salvo convenção em contrário no pacto - 198º, nº 1;
- quota mínima de 100 euros - 219º, nº 3 - e capital mínimo de 5.000 € - 201º.

3 - Sociedades anónimas - 271º e ss.


São características básicas destas sociedades:
a) - Cada sócio (accionista) responde individual e exclusivamente para com a
sociedade pelo valor da sua entrada. A sua responsabilidade está limitada ao valor das
acções que subscreveu - (art. 271º do CSC).
b) - Só a sociedade é responsável, com o seu património, perante os seus
credores, pelas suas dívidas (art. 271º do CSC, a contrario sensu).
c) - As participações dos sócios são formadas por acções que constituem
fracções do capital social com o mesmo valor nominal, o qual não pode ser inferior a
um cêntimo, e são representadas por títulos livremente transmissíveis (arts. 271º, 274º,
276º, 2, e 298º e segs. do CSC). Por isso mesmo, os sócios se denominam accionistas.
O valor mínimo do capital é de 50.000 € - 276º, nº 3.

4 - Sociedades em comandita
O traço distintivo fundamental e comum das sociedades em comandita reside na
circunstância de terem duas espécies de sócios, com regimes de responsabilidade
diferentes (art. 465º, nº 1, do CSC):

- os sócios comanditados assumem responsabilidade pelas dívidas da


sociedade, nos mesmos termos dos sócios das sociedades em nome colectivo;
- os sócios comanditários não respondem por quaisquer dívidas da sociedade,
à semelhança do que acontece com os sócios das sociedades anónimas. Respondem,
apenas, pelas suas entradas.

Mas dentro deste tipo de sociedades, e pelo que toca às participações sociais,
surgem-nos dois sub-tipos (art. 465º, nº 3, do CSC):
a) - Nas sociedades em comandita simples - as participações de ambas as
espécies de sócios, comanditados e comanditários, denominam-se partes sociais; e, tal
como as participações homólogas das sociedades em como colectivo, não são
representadas por quaisquer títulos;
b) - Nas sociedades em comandita por acções, as participações dos sócios
comanditados são igualmente partes sociais; mas as participações dos sócios
comanditários são acções tituladas e regidas pelos preceitos próprios do regime das
sociedades anónimas, tal como é decalcada no das SA o seu regime organizacional -
art. 478º.
Nas sociedades em comandita um capitalista provê um empresário
comercial dos meios de que este carece para impulsionar o seu negócio.
Realmente, tal fenómeno ocorre tanto no mútuo, como na associação ou conta em

3
participação e na sociedade em comandita, apenas com diversificação do grau de
envolvimento do capitalista no empreendimento comercial.

Esse envolvimento é nenhum no caso de mútuo, pois o mutuante limita-se a


ficar credor do mutuário pelo montante do crédito e respectivos juros, sem participar
nos riscos do negócio do mutuário.
Já na associação em participação há maior assunção do risco, pois a remu-
neração do capital consiste na participação dos lucros que houver.
Nas sociedades em comandita, o envolvimento é total, os comanditários são
sócios dos comanditados, embora só estes, em princípio, possam ser gerentes - 470º,
nº 1.
Além dos casos de constituição de sociedade por diploma legal e negócio
jurídico unilateral (488º, nº 1, Soc. An. unipessoal e unipessoal por quota - 270 A a
270G), as sociedades constituem-se, normalmente, por contrato.

O Contrato de Sociedade

Segundo a doutrina corrente entre nós, o contrato de sociedade é um contrato


de fim comum, por contraposição aos contratos comutativos: nestes, os inte-
resses dos contratantes são contrapostos (compra e venda), há correspectividade e
interdependência (sinalagma), as prestações têm conteúdo típico invariável, são
necessariamente bilaterais.
O contrato de sociedade é um contrato plurilateral, de fim comum, institu-
cional e de organização em que, por falta de carácter sinalagmático, não vigora a
exceptio non adimpleti contractus.

Pressupostos do contrato de sociedade:

- Capacidade de gozo (67º CC) e de exercício (123º CC) dos contratantes;


- Legitimidade negocial - Nomeadamente quanto a pessoas casadas, cada
cônjuge pode, sem autorização do outro, participar isoladamente em soci-
edades de responsabilidade ilimitada, desde que as entradas se façam com
bens móveis dos quais tenha a administração e que não sejam utilizados na
vida do lar ou como instrumentos comuns de trabalho (art. 1690°, n° l , e
1682º, n.os 2 e 3, do C. Civ.).
Sociedades entre cônjuges - art. 8º.
Pessoas colectivas - 11º, nº 4
- Consentimento expresso dos contraentes na escritura de que devem constar
os elementos indicados no art. 9º
- Objecto ou fim imediato: 11º, nº 2 - indicação concreta, precisa, do escopo
social. Não, como antes, fórmulas relativamente indeterminadas. O objecto, o escopo
social deve ser física e legalmente possível e não contrário aos bons costumes - 280º
CC.
Elementos que devem constar do contrato - art. 9º - de qualquer sociedade, sem
prejuízo das específicas de cada tipo - 176º (SNC), 199º (SPQ), 272º (SA).

Princípio da especialidade - capacidade - 160º CC e 6º do CSC

Da conjugação dos arts. 260º, 409º e 431º com o art. 6°, nº 4, do CSC, resulta,
para as sociedades por quotas e anónimas, que estas ficam obrigadas para com
terceiros pelos actos que em seu nome pratiquem os respectivos gerentes,

4
administradores ou directores; a menos que a sociedade faça prova de que tais
terceiros sabiam ou tinham obrigação de saber que o acto ultrapassava os limites do
objecto social; isto se os sócios não tiverem deliberado assumir o acto para a
sociedade.
Assim, não é nula a hipoteca constituída por uma sociedade comercial sobre
um seu prédio urbano para garantir dívida contraída por outra sociedade.
Demais se a sociedade que constitui a hipoteca declara, na respectiva escritura,
que tem interesse directo na concessão do empréstimo e se o seu sócio maioritário era
sócio-gerente da mutuária, que necessitava com urgência do empréstimo para
pagamento de divida que já fora objecto de execução - Col. Jur. 99-II-193.

Sociedades comerciais - Capacidade


Vinculação por actos dos órgãos - Garantia em favor de terceiros

I - A definição da capacidade das sociedades comerciais distingue-se do âmbito


da vinculação destas pelos actos dos titulares dos seus órgãos - tendo, aliás, precedên-
cia sobre esta segunda questão.
II - A delimitação da capacidade das sociedades comerciais faz-se, nos termos
do artigo 6º, nº 3, do CSC, em função do respectivo fim, que é o da obtenção de lucros
mediante o exercício em comum de uma actividade que não seja de mera fruição.
III - Tal capacidade abrange, assim, os direitos e obrigações necessários ou con-
venientes à prossecução do referido fim, incluindo-se as liberalidades usuais.
IV - Em princípio, a sociedade comercial não tem, nos termos do artigo 6º,
nº 3, do respectivo Código, capacidade para se obrigar mediante a constituição
de garantias a favor de terceiros.
V - Ainda segundo o mesmo preceito, exceptuam-se do princípio nele definido as
situações em que exista justificado interesse próprio da sociedade garante, bem como
os casos de sociedades em relação de domínio ou de grupo.
VI - São nulos os actos praticados por titulares de órgãos de sociedade comercial
que não sejam abrangidos pela capacidade desta.
VII - Não podem vincular a sociedade comercial os actos estranhos à capacidade
desta praticados por titulares dos respectivos órgãos.
VIII - Não tem, assim, cabimento discutir acerca da eventual vinculação de uma
sociedade comercial em relação a um contrato de penhor de carteira de activos finan-
ceiros prestados a favor de terceiro celebrado por um administrador e um procurador
seus, mas sem que ocorresse qualquer das situações especiais referidas em V - Ac.
STJ 17 Fev. de 2000, BMJ 494-366.

Sociedades comerciais - Capacidade de gozo - Princípio da especialidade -


Estatutos - Assunção de obrigação - Constituição de hipoteca - Falta de interesse
- Onus de prova - Relações de domínio

I - Não é de considerar nulo o acto ou negócio jurídico praticado pelos órgãos da


sociedade comercial com fundamento em que, dado o princípio da especialidade, não
tinham capacidade de gozo para os praticar.
II - A sociedade comercial não pode invocar os princípios inseridos no seu esta-
tuto para se subtrair ao cumprimento das obrigações assumidas.
III - Compete ao autor o ónus da prova de que não existia justificado interesse
próprio para a celebração da hipoteca cuja declaração de nulidade pretende obter.
IV - Não se pode dizer que exista uma relação de domínio entre a sociedade
autora e uma das rés se nenhuma delas estava em condições de exercer controlo

5
sobre a outra, nem vem provado que houvesse acordo entre os sócios de ambas para o
domínio unitário pela direcção de ambas as sociedades, sem embargo de os sócios
terem agido como sócios de ambas – Ac. do STJ, 21.9.2000, no BMJ 499-354.

Processo de constituição. Forma

- certificado de admissibilidade no RNPC


- escritura pública - 7º, nº 1, CSC e 80º, 2, e), do C. Not. Documento
particular - SUQuota - 270A, nº 4, na redacção dada pelo Dec-lei nº 36/2000,
de 14 de Março.
- registo do contrato - 5º e 18º do CSC e 3º, e) e 35º do CRC; Tem eficácia
constitutiva. É desde o registo definitivo que as sociedades gozam de
personalidade jurídica.
- Declaração à Rep. finanças - 95º do CIRC e 30º, 1, CIVA.
- Publicação - 166º e 167º

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A personalidade jurídica das sociedades comerciais - e das civis sob forma


comercial - art. 1º, nº 4 CSC - significa que são uma individualidade jurídica que se
não confunde com a dos sócios. Se estes, por qualquer negócio, se tornarem
credores ou devedores da sociedade, estão a contratar com a pessoa jurídica que é a
sociedade e não consigo mesmo.
As sociedades têm nome (firma - art. 10º), sede (domicílio judiciário - 3º e 12º do
CSC e 82º, 86º, 236º, nº 1 e 237º CPC), órgãos que formam, manifestam e executam a
vontade dela, um estatuto ou pacto que é a sua lei interna, um património próprio e
afecto aos seus fins, personalidade e capacidade judiciária, activa e passiva (arts.
6°, d), 7° e 8° CPC).
Passam a ser donas dos bens com que os sócios realizam as suas entradas,
podendo usar, alienar ou onerar esses bens.
A posição jurídica dos sócios perante a sociedade não envolve um direito sobre
aqueles bens. É sempre um direito, um bem móvel - 204º CC - cuja transmissão não
paga sisa, mesmo que a sociedade tenha bens imóveis.
Mantém a sua individualidade jurídica, apesar das mutações de sócios ou
património e pode subsistir temporariamente com um único sócio.

A autonomia patrimonial das sociedades determina que:


a) - o património da sociedade seja o único suporte de responsabilidade pelas
dívidas decorrentes da sua actividade, não respondendo por tais dívidas
outros bens senão os desse património.

Esta autonomia patrimonial é imperfeita no tocante às sociedades com sócios


de responsabilidade ilimitada, na medida em que estes podem responder com bens
próprios pelas dívidas da sociedade, mas só subsidiariamente, são meros garantes
da pessoa jurídica distinta que é a sociedade;

b) - em caso nenhum os credores particulares dos sócios poderão fazer-se


pagar pelos bens da sociedade, nem sequer na proporção da participação do
sócio. Esta regra é, aliás, absoluta: sob esta vertente, a autonomia patrimonial
é sempre perfeita. O que o credor executa é a quota do sócio (não os bens

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da sociedade), as acções ou, nas sociedades em nome colectivo, o direito
aos lucros e à quota de liquidação do sócio devedor, a qual poderá ser
obstada se o sócio tiver comprovadamente outros bens para pagar a dívida
exequenda - 183º CSC.

Desconsideração da Personalidade jurídica

Trata-se aqui, sobretudo, de abuso da autonomia patrimonial de que as


sociedades gozam para frustrar os interesses dos credores, com vantagens indevidas
para os sócios. São exemplos mais frequentes:
a) - descapitalização de uma sociedade de responsabilidade limitada,
transferindo-se o risco da empresa para os credores;
b) - empréstimos dos sócios à sociedade de responsabilidade limitada, de modo
a que, em caso de falência, se arvorem em credores daquela;
c) - confusão, de facto, entre os bens do sócio e os da sociedade, por forma a
que, em caso de execução movida contra a sociedade, ou contra o sócio, pelos
respectivos credores, possa sempre defender-se com base na separação patrimonial;
d) - o sócio foge a uma proibição de concorrência, que o afecta, através de uma
sociedade que controla;
e) - o sócio, legalmente impedido de votar numa deliberação social, vota através
de uma sociedade que controla:
f) - o sócio faz-se empregado da sociedade, paga-se um bom salário, faz em
proveito próprio gastos ruinosos para a sociedade;
g) - uma sociedade impedida de adquirir acções próprias adquire-as indirecta-
mente através de outra sociedade de que é sócia única ou dominante;
h) - pessoas de determinada nacionalidade, impedidas de exercer certa activi-
dade num dado país, constituem uma sociedade com sede neste país para tal fim; etc.,
etc.

Os remédios ou sanções para estes actos ou comportamentos serão encon-


trados nas figuras do abuso de direito (334º), fraude à lei com nulidade dos actos
destinados a defraudar os credores (280º, 281º e 294º CC) ou, ainda, a responsa-
bilidade dos sócios por acto ilícito - 483º CC e 78º e ss do CSC.

Sobre negócios realizados entre a escritura e o registo convém estudar os


art. 19º e 40º:
Fora da hipótese configurada no nº 2 do artigo 40º do Código das Sociedades
Comerciais, os sujeitos indicados no seu n.° 1 respondem pelos negócios realizados em
nome de uma sociedade por quotas no período compreendido entre a celebração da
escritura e o registo definitivo do contrato de sociedade, salvo se a sociedade assumir
os negócios, nos termos do artigo 19.º do mesmo Código, e ainda que falte a
comunicação à contraparte, prevista no nº 2 deste último artigo - STJ 10.12.97, BMJ
472-501.

Nos termos do art. 5º, as sociedades gozam de personalidade jurídica e


existem como tais a partir da data do registo definitivo do contrato pelo qual se
constituem, sem prejuízo do disposto quanto à constituição de sociedade por fusão,
cisão ou transformação de outras.
No preâmbulo do Código do Registo Comercial de 1986, saído aquando do
Código das Sociedades Comerciais, lê-se sob o nº 8:

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Quanto às sociedades comerciais e às sociedades civis sob forma comercial,
este diploma vai permitir executar os princípios contidos no novo Código das
Sociedades Comerciais. Entre as principais inovações salienta-se o carácter
constitutivo do registo e a possibilidade do registo prévio do contrato de
sociedade.
O nº 1 do artigo 1º do Código do Registo Comercial, ao indicar os fins do
registo, diz que «o registo comercial destina-se a dar publicidade à situação jurídica dos
comerciantes individuais, das sociedades comerciais, das sociedades civis sob forma
comercial e dos estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada tendo em
vista a segurança do comércio jurídico».
Mas, na concretização do propósito enunciado no preâmbulo, no artigo 3º afirma
que estão sujeitos a registo os seguintes factos relativos às sociedades comerciais e
sociedades civis sob forma comercial: «a) o contrato de sociedade.»
Adita o artigo 13º:
1 - Os factos sujeitos a registo, ainda que não registados, podem ser invocados
entre as próprias partes ou seus herdeiros.
2 - Exceptuam-se os actos constitutivos das sociedades e respectivas alterações,
a que se aplica o disposto no Código das Sociedades Comerciais.

Resulta claro que os preceitos registrais impõem a natureza constitutiva do


registo das sociedades, com os efeitos indicados no nº 1 do artigo 40º do Código
das Sociedades Comerciais:
Pelos negócios realizados em nome de uma sociedade por quotas ... entre a
celebração da escritura e o registo definitivo do contrato de sociedade respondem
ilimitada e solidariamente todos os que no negócio agirem em representação dela, bem
como os sócios que tais negó cios autorizarem; os restantes sócios respondem até às
importâncias das entradas a que se obrigaram, acrescidas das importâncias que te -
nham recebido a título de lucros ou de distribuição de reservas.

Mais diz o nº 1 do artigo 41º:


Enquanto o contrato de sociedade não estiver definitivamente registado, a invali-
dade do contrato ou de uma das declarações negociais rege-se pelas disposições
aplicáveis aos negócios jurídicos nulos ou anuláveis, sem prejuízo do disposto no artigo
52º
Decreta-se neste artigo 52º:
1 - A declaração de nulidade e a anulação do contrato de sociedade determinam
a entrada da sociedade em liquidação, nos termos do artigo 165º, devendo este efeito
ser mencionado na sentença.
2 - A eficácia dos negócios jurídicos concluídos anteriormente em nome da
sociedade não é afectada pela declaração de nulidade ou anulação do contrato social.

O nº 2 do artigo 19º previa que, com o registo definitivo do contrato de


sociedade, esta possa assumir «os direitos e obrigações decorrentes de outros
negócios jurídicos realizados em nome da sociedade, antes de registado o contrato»,
«mediante decisão da administração, que deve ser comunicada à contraparte nos 90
dias posteriores ao registo». E o nº 3 declara que esta assunção pela sociedade dos
negócios retrotrai os seus efeitos à data da respectiva celebração.
Perante este conjunto normativo, pensa-se que se deve entender:
- As sociedades que se apresentam como arrendatárias dos pavilhões
apreendidos para a massa, ora em causa, só adquiriram personalidade jurídica
pelo respectivo registo;

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- Como os invocados contratos de arrendamento são anteriores ao registo,
deviam ser assumidos mediante decisão da administração, comunicada à outra
parte, nos 90 dias posteriores ao registo.
- Como este procedimento não teve lugar, deverá concluir-se pela nulidade
dos contratos de arrendamento invocados pelos recorrentes.

Aliás, acresce a falta de forma legal do contrato de arrendamento para comércio e


indústria, que veio a ser imposta pela alínea b) do nº 2 do artigo 7º do Regime do
Arrendamento Urbano (Decreto-Lei n.º 321-B/90, de 15 de Outubro) - escritura pública -
STJ 14.12.94, BMJ 442-224.

- publicação - 166º e 167º do CSC e 71º do CRC: a publicação está a cargo


dos Conservadores.

Os vícios de forma tornam a sociedade irregular ou imperfeita, como prefere P.


Furtado (pág. 206) com as seguintes modalidades e consequências:

a) - Sociedade aparente - 36º, nº 1 CSC: não havendo pessoa jurídica, nem


património autónomo, há apenas uma contitularidade de obrigações, que o CSC sujeita,
como é normal no direito comercial, à regra da solidariedade.
Pinto Furtado entende dever aplicar-se o nº 2 do art. 36º porque o art. 6º, d), do
CPC atribui-lhes personalidade judiciária activa e passiva.
b) - Falta de celebração de escritura pública (formalidade ad substantiam - 7º,
nº 1) - 36º, nº 2: aplica-se o regime das sociedades civis, os art. 983º a 995º às
relações entre os sócios e os art. 996º a 1000º referentes às relações com terceiros: Os
terceiros poderão fazer valer os seus créditos perante a sociedade, mas os sócios
também respondem pessoal e solidariamente, embora subsidiariamente, pelas respec-
tivas dívidas (art. 997°, n.os 1 e 2, do C. Civ.).
Estas sociedades são dotadas de património autónomo, têm personalidade
judiciária - art. 6º CPC.

c)- Falta de registo - 37º a 41º: a sociedade irregular, devido à falta de registo,
tem uma autonomia patrimonial imperfeita (ou até inexistente, no caso das sociedades
em nome colectivo) no tocante à responsabilidade dos sócios pelas dívidas da
sociedade, mas perfeita no que se refere à responsabilidade pelas dívidas dos sócios.
d) - Cumulação da falta de registo com outros vícios do contrato - 41º
e) Vícios de forma do contrato registado - 42º e 43º.
f) Falta de registo ou publicação - 168º, n.os 1 e 2 - Col. STJ 99-II-92 e BMJ
487-324, também comentado na RLJ 133-318:

Sociedade por quotas - Renúncia à gerência - Alteração do contrato


social - Falta de registo - Inoponibilidade da alteração do pacto social –
Gerência plural - Assunção de divida

I - A assunção de dívida é o acto pelo qual uma pessoa substitui outra na posição
de devedora de uma determinada quantia, fazendo sua a posição passiva até então
ocupada pelo transmitente na relação de crédito, contanto que, para o efeito, obtenha o
acordo do credo,; sendo este assentimento que torna fixo e irrevogável o contrato de
assunção.
II - Tendo a ré sociedade por quotas - celebrado com outra sociedade um
contrato de co-assunção de dívida (artigo 595º, nº 2, do Código Civil) em momento

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compreendido entre a data da escritura de renúncia à gerência de um sócio gerente e
de alteração do pacto social, e a data em que estes factos foram registados bastam as
assinaturas de dois dos três restantes sócios para a vincular, face ao disposto no artigo
261º, nº 1, do Código das Sociedades Comerciais.
III - Um terceiro pode prevalecer-se do facto de um sócio gerente de uma
sociedade por quotas ter renunciado ao seu cargo sem que tenha sido efectuado o
registo de tal facto, tendo em conta o disposto no artigo 168º, nº 1, do mesmo Código
das Sociedades Comerciais.
IV - Por ausência de registo da alteração do contrato social, é irrelevante para
um terceiro a falta de assinatura de um determinado sócio gerente, pois que lhe é
inoponível, nos termos dos artigos 168º, n.os 2 e 4, do Código das Sociedades
Comerciais e 14º, nº 1, do Código do Registo Comercial, a alteração do pacto social
onde se inseriu a exigência daquela assinatura para a vinculação da sociedade -
Acórdão do STJ de 18 de Maio de 1999, na Col. Jur. (STJ) 99-II-92.

Acção de declaração de nulidade - 44º - e consequências da declaração de


nulidade e da anulação do contrato de sociedade - 52º: a sociedade entra em
liquidação, devendo este efeito ser declarado na sentença:

I - A invalidado do contrato de sociedade, por vício de forma (falta de escritura


que não chegou a realizar-se), verificada antes do registo definitivo, só produz efeitos
para o futuro, dando lugar à liquidação da sociedade.
II - Não podem ser restituídas aos sócios o valor das prestações que fizeram a
título de entrada, com base no preceituado no nº 1 do art. 289º do CC, cujo direito é
unicamente o de verem partilhado o activo resultante da liquidação - R.ão do Porto,
28.9.98, Col. 98-IV-196.

I - A. e RR. formaram entre si uma sociedade irregular [conceito hoje


abandonado pelo C.S.C., que só o utiliza na al. e) do nº 1 do art. 174º], por se terem
associado para a prática de determinados actos de comércio (compra e revenda de
terrenos) sem que observassem a determinação legal de constituição da sociedade
através de escritura pública, sendo aplicáveis às relações estabelecidas entre eles e
com terceiros as disposições sobre sociedades civis.
II - Enquanto não for sanado o vício da irregularidade ou liquidada, a sociedade
irregular mantém a sua vitalidade, mas com subordinação ao regime fixado para as
sociedades civis.
III - Não se pode intentar uma acção de dívida contra quem exerceu gestão em
nome alheio sem que se tenha apurado previamente o respectivo saldo numa acção de
prestação de contas - Ac. de 27.6.2000, Col. Jur. (STJ) 00-II-127

Alteração do Contrato social

a) - Sociedades em nome colectivo - 194º


b) - Sociedades por quotas - 265º, 1 e 2;
c) - anónimas - 383º, n.os 2 e 3;
d) - Comandita simples - 476º e por acções - 478º.

Registo e publicação da alteração que deve ser consignada em escritura


pública, salvo se a deliberação de alteração constar de acta lavrada por notário e não
respeite a aumento de capital, ou pelo secretário da sociedade, não respeitante a
alteração do montante do capital ou do objecto da sociedade - 85º, nº 3.

10
Acordos parassociais - 17º CSC

1 - A validade dos acordos parassociais (no caso tratava-se de acordo pelo


qual o R. se comprometia, com o seu voto, a reconduzir o A no conselho de
administração da sociedade, sob pena convencional também acordada, tendo o R
votado a destituição do A. por desinteresse deste na condução dos negócios da
sociedade) não obsta a que os pactuantes possam subtrair-se ao cumprimento das
obrigações neles estipuladas, através, designadamente, do recurso aos princípios e
regras gerais do ordenamento jurídico. A tais acordos é igualmente aplicável a doutrina
geral do incumprimento das obrigações, assim como a doutrina da cláusula penal.
2 - Não constando da acta da assembleia geral em que o A. foi destituído as
razões dessa destituição, deve concluir-se ter-se tratado de uma destituição «ad
nutum» e não por justa causa, por apenas interessar a fundamentação constante da
acta - ou dela ausente.
3 - É critério da existência de justa causa a verificação de um comportamento na
actividade do gerente - ou a prática de actos por sua parte - que impossibilite a
continuação da relação de confiança que o exercício do cargo pressupõe.
4 - No caso dos autos, a destituição do A. foi ilícita porque a acta não refere
factos passíveis de integrarem o conceito de justa causa, tendo-se tratado, por isso, de
uma destituição livre, «ad libitum» ou «ad nutum», que seria permitida se não existisse
o acordo parassocial.
5 - Mas isso não é suficiente para afirmar a responsabilidade contratual do R.
nem para lhe impor o pagamento da pena convencionada; é que o devedor só incorre
na pena caso tenha agido com culpa.
6 - A prova da falta de culpa já não está limitada pelo que consta da acta, tendo o
R. feito prova do progressivo desinteresse e desleixo do A. relativamente à vida e
interesses da empresa, pelo que o incumprimento, pelo primeiro, do acordo parassocial
não é culposo, razão porque não incorre na pena estipulada - STJ, 11.3.99, na RLJ
132º, pág. 41 e ss.
Contrato de suprimento - 243º a 245º

Especialmente previsto para as sociedades por quotas, o respectivo regime é por


analogia aplicável às sociedades anónimas, mesmo tratando-se de suprimentos
facultativos.
No entanto, a analogia só permite a aplicação desse regime ao accionista
empresário, aquele que tem a responsabilidade pelo destino da empresa e se
interessa pelo seu bom desempenho.
Não tendo sido fixado prazo para o reembolso dos suprimentos, é aplicável o
disposto no art. 777º do CC (art. 245º, nº 1) - 29.2.2000, Col. STJ 00-1-119
Accionista empresário é aquele que detém pelo menos 10% do capital social -
Col. STJ 99-I-100 e 94-III-173.
Obrigações dos sócios

comuns a todo o tipo de sociedades: 20º - entrada e quinhoar nas perdas;


próprias de SPQ - prestações acessórias (209º e 287º) e suplementares (210º a
213º) e SAn. - prestações acessórias (287º)

Direitos dos sócios

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1 - Extracorporativos ou extra-sociais: são os direitos - não do sócio como tal
-mas como se ele fosse um terceiro ou que, por deliberação da sociedade, se
radicaram na pessoa do sócio-terceiro.
Estão no primeiro caso os direitos emergentes de contrato de trabalho, de
compra e venda entre o credor - que por acaso também é sócio - e a sociedade; do
segundo caso é exemplo o direito a dividendos cuja distribuição foi já deliberada.

2 - Direitos corporativos ou sociais: os que cabem aos sócios enquanto


membros da pessoa jurídica, da instituição societária. Constituem não um direito
isolado mas «um feixe de direitos vários, de vária natureza e conteúdo», direitos esses
em face da sociedade e que integram o que podemos chamar o lado activo da sua
participação social.
2.1 - gerais ou comuns - 21º - Cabem a qualquer sócio pelo simples facto de o
ser.
- direito aos lucros – 21º, 1, a), 22º, nº 1, 217º e 294º;
- direito à informação - 181º (em nome colectivo); 214º, 215º (quotas) e 288º
(anónimas) e de inquérito, em caso de recusa ou de informação presumivel-
mente falsa, a processar nos termos do art. 1479º e ss do CPCivil.
- direito a participar nas deliberações dos sócios e o direito a ser nomeado
para os órgãos sociais - 21º, 1, b) e d).

2.2 - direitos especiais - 24º - cabem apenas a algum ou alguns sócios ou, nas
Anónimas, aos titulares de certa categoria de acções.
São exemplos destes últimos o direito de exercer determinado cargo num órgão
da sociedade, sem dele ser afastado; o direito de voto privilegiado; o direito a uma parte
mais que proporcional nos lucros (periódicos e ou de liquidação) ou menos que
proporcional nas perdas; etc..
Estes direitos, precisamente porque constituem regalias especificamente
atribuídas aos seus titulares, «não podem ser suprimidos ou coarctados, sem o
consentimento do respectivo titular, salvo regra legal ou estipulação contratual
expressa em contrário», como dispõe o nº 5 do art. 24° do CSC.

A vertente patrimonial da posição de sócio é comunicável ao cônjuge; a


vertente associativa, política ou corporativa de sócio, não 4. Por isso se decidiu que a
mulher do sócio não pode exercer o direito à informação (Col. Jur. STJ, 00-II-142)

Órgãos sociais

São as entidades ou núcleos de atribuição de poderes que integram a


organização interna da sociedade e através dos quais ela forma, manifesta e
exerce a sua vontade de pessoa jurídica.

Podem ser singulares ou colectivos, conforme são compostos por um só ou


por vários titulares.
Deliberativos, de administração (executivos ou directivos), representativos e
de fiscalização ou controle.

Nas sociedades em nome colectivo: assembleia geral e gerência - 189º a 192º;

4
- P. Furtado, 238.

12
Nas sociedades por quotas: assembleia geral - 248º - e gerência - 252º e ss;
facultativamente, conselho fiscal e, no caso do art. 262º, nº 2, obrigatório revisor oficial
de contas.
Nas sociedades anónimas: uma das duas soluções do art. 278º, podendo em
qualquer momento passar de um sistema para outro - e assembleia geral, órgão
deliberativo por excelência.

A relação entre a sociedade e cada um dos titulares dos seus órgãos tem
natureza contratual - um contrato inominado e atípico, que se rege pelas regras do
mandato, e que é formado: por parte da sociedade através da manifestação de vontade
constante do acto de eleição ou outra forma de designação do titular do órgão; e, por
parte deste, através da declaração de vontade, expressa ou tácita, de aceitação dessa
designação para o cargo social - 987º, nº 1 e 1156º do CC.

Destituição de Gerentes (257º), Directores (430º) e Administradores (403º).


Liberdade de destituição, justa causa e indemnização.

Da análise do art. 403º, nº 1, conclui-se sem dificuldade que se permite a


destituição de administradores quer com base em actos ou factos que constituam justa
causa, quer sem uma tal motivação. Mas, se a falta de justa causa é irrelevante
quanto à admissibilidade da destituição dos administradores, já não o é quanto às
consequências que desencadeia, no que toca à relação contratual que a designação
para as funções do Conselho de Administração faz nascer entre a sociedade e o
administrador.
Na verdade, é entendimento de há muito prevalente na Jurisprudência e na
Doutrina que o administrador de uma sociedade anónima exonerado sem justa causa
tem o direito a ser indemnizado dos prejuízos que por esse motivo sofrer .
Tal entendimento funda-se, por um lado, na analogia com os preceitos dos
arts. 257º, nº 7, e 430º, n.º 3, do CSC, que, como vimos, conferem tal direito aos
gerentes e directores.
Por outro lado, a mesma solução decorre da sujeição da relação jurídica entre o
administrador e a sociedade às regras do contrato de mandato, que já acima
demonstrámos. É que, no regime do contrato de mandato comercial, o art. 245º do
Código Comercial impõe, em caso de revogação unilateral sem justa causa, o dever
de indemnização por perdas e danos. E o art. 1172º do Cód. Civil determina que o
mandante, se revogar o mandato oneroso (isto é, que dê direito a retribuição), sempre
que o mandato tenha sido conferido para certo tempo, deve indemnizar o mandatário
do prejuízo sofrido.
Relevante é também o problema do cálculo de tal indemnização. A tal respeito,
importa ter em conta que a solução decorrente das normas apontadas é a de que
devem ser reparados os prejuízos que os administradores em questão sofram em
consequência da sua destituição antes do termo do mandato e sem justa causa.
Tais prejuízos devem ser calculados segundo os critérios estabelecidos
nos artigos 562º, 563º, 564º e 566º, nº 1, do Cód. Civil, dos quais resulta que a
indemnização deverá reparar o dano concreto sofrido, mediante pagamento do
montante necessário para reparar a diferença entre a situação do lesado após a
destituição e a situação que ele teria se tal destituição não tivesse ocorrido; sendo de
considerar tanto os danos emergentes como os lucros cessantes, incluindo os futuros
que sejam previsíveis, os quais o lesado provavelmente não teria sofrido se aquele
facto não tivesse acontecido.

13
Assim, os administradores destituídos sem justa causa terão direito a receber,
como indemnização, a quantia correspondente às remunerações que deixam de
receber desde a data em que foram destituídos até ao fim do seu mandato, tendo em
conta o art. 391º, nº 3, do CSC. Tais remunerações parece deverem ser consideradas
como incluindo todas as prestações remuneratórias e vantagens do mesmo tipo que os
ex-administradores tivessem direito a auferir com carácter de regularidade.
O cálculo da indemnização deverá, porém, basear-se na comparação entre a
situação remuneratória que o administrador tinha na vigência das suas funções e a
situação que passou a ter após a sua destituição daquelas funções. Deste modo, caso
ele passe a exercer outro cargo remunerado, a indemnização deverá ser deduzida
do montante das remunerações que ele passar a auferir, durante o mesmo prazo.
Para além disso, caso o administrador destituído sem justa causa invoque e faça
prova (cujo ónus sobre ele recai: art. 342º do Cód. Civil) de outros prejuízos de
natureza e valor específicos, terá igualmente direito a ser por eles indemnizado.

No mesmo sentido e com muita doutrina decidiu o STJ em ac. de 20 de Janeiro


de 1999, no BMJ 483-176, assim sumariado - na parte aqui interessante:

V - O artigo 257º do Código das Sociedades Comerciais não define


taxativamente o critério ou o conceito de justa causa de destituição de um gerente
comercial, apenas apontando, a título meramente exemplificativo, dois casos de justa
causa de destituição.
VI - Não é porém excessivo concluir-se ou estabelecer-se como critério geral da
existência da justa causa a verificação de um comportamento na actividade de gerente
- ou a prática de actos por sua parte - que impossibilite a relação de confiança que o
exercício do cargo pressupõe.
VII - A inexistência da justa causa apenas releva para efeito do direito à
indemnização. Mas esta - a indemnização devida ao gerente destituído sem justa
causa - deverá ter como suporte a existência de prejuízos, conforme decorre dos
princípios gerais da responsabilidade civil, consagrados, designadamente, no artigo
257º, nº 7, do CSC).
VIII - Não havendo indemnização contratual estipulada, o gerente destituído
sem justa causa tem, em conformidade com os princípios gerais da responsabilidade
civil, o direito a ser indemnizado pelos prejuízos correspondentes aos proventos
esperados e aos danos morais, em particular, quando seja atingido na sua dignidade
moral e profissional.
IX - Mas, provada a falta de justa causa, terá ainda o autor de alegar e
provar ter sofrido prejuízos com a destituição.
É que a indemnização requer a existência de danos, cuja prova cabe a quem
invoca o correspondente direito (artigo 342º, nº 1, do Código Civil).
X - Da simples invocação da perda de remuneração pelo exercício da gerência
não se pode concluir que o autor tenha sofrido necessariamente prejuízos.
Estes só se terão verificado se ele não teve oportunidade de exercer outra
actividade remunerada, a idêntico nível económico, social e profissional.
XI - O montante da indemnização pecuniária mede-se pela diferença entre a
situação real em que o lesado se encontra e aquela (hipotética) em que se encontraria
se não tivesse ocorrido o facto gerador do dano, resultando daqui a necessidade
imposta ao lesado de alegar e provar os factos que permitam utilizar este processo
na avaliação comparativa, inviabilizando o pedido de indemnização o incumprimento
por ele deste mesmo ónus.

14
No mesmo sentido mas acrescentando a matéria do direito especial à
gerência decidira o mesmo Supremo, por Ac. de 12.6.96, na Col. STJ 1996-II-130:

I - A mera nomeação, nos estatutos, de sócios como gerentes não basta para
que se possa falar em direitos especiais à gerência.
II - Também a cláusula estatutária de que conste ser necessária a intervenção
conjunta de dois gerentes para obrigar a sociedade, não contém um direito especial à
gerência; ainda que, nesses mesmos estatutos, noutra cláusula se nomeiem sócios
como gerentes.
III - Diferentemente será quando o clausulado indica nominativamente as
pessoas (também sócios e gerentes) que obrigam a sociedade, hipótese em que se tem
entendido que há direito especial à gerência de tais pessoas/sócios.
IV - É ao gerente, destituído sem justa causa, que cabe provar os concretos
prejuízos a cuja indemnização terá direito de acordo com o art. 257, nº 7 do CSC.

Ainda sobre este assunto e onus da prova da justa causa e indemnização,


conforme esta é pedida pelo destituído ou pela sociedade, pode ver-se:

ASSEMBLEIA GERAL DAS SOCIEDADES COMERCIAIS


ACTAS
DESTITUIÇÃO DE GERENTE POR JUSTA CAUSA
ONUS DA PROVA DA JUSTA CAUSA
INDEMNIZAÇÃO POR DESTITUIÇÃO DE GERENTE

I - Os órgãos da sociedade não têm autonomia jurídica, sendo antes sua parte
integrante.
II - As deliberações dos sócios só podem ser provadas pelas actas da
assembleia geral ou, quando sejam admitidas deliberações por escrito, pelos
documentos donde elas constem, conforme preceitua o artigo 63º, nº 1, do
Código das Sociedades Comerciais.
III - Os sócios podem deliberar a todo o tempo a destituição de gerentes, que, no
caso de se fundar em justa causa, pode ser deliberada por maioria simples.
IV - Constitui justa causa de destituição, nomeadamente, a violação grave dos
deveres de gerente e a sua incapacidade para o exercício normal das respectivas
funções.
V - A prova dos factos constitutivos da justa causa da destituição cabe ao
destituído do cargo de gerente.
VI - À sociedade, como contestante, cumpre alegar a existência dos factos que
excluam a indemnização que o destituído pede.
VII - Se a acção é proposta pela sociedade que destituiu o gerente, com justa
causa, e pretende ser ressarcida pelos prejuízos que este lhe causou, a ela compete
alegar e provar os factos ilícitos e culposos praticados pelo destituído, constitutivos do
seu direito a indemnização, e ao destituído compete contrapor factos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito por aquela invocado - S.T.J. Ac. de 9 de Julho de
1998, no Bol. M. J. 479-634

Destituição ad nutum do administrador


Justa causa. Onus da prova.
Indemnização ao administrador
(Ac. STJ de 15 de Fevereiro de 2000, na Col. STJ 00-I-101)

15
I - Na acção de indemnização proposta pelo administrador destituído ad nutum,
ao autor cabe provar a sua qualidade de administrador, a destituição e os
prejuízos e à ré sociedade incumbe alegar e provar a justa causa, os fundamentos
de destituição.
II - Estes fundamentos de destituição devem constar da acta, como base que
são da própria deliberação.
III - A justa causa de destituição é, pois, matéria de excepção - nº 2 do art. 342º
do C.C. -, cumprindo à ré sociedade demonstrar em juízo que os fundamentos que
levaram à destituição e que foram aceites pela assembleia geral integram,
efectivamente, justa causa de destituição.
IV - Se a assembleia geral se limitou a votar a destituição, sem consideração dos
motivos a dar-lhe causa, pode questionar-se, mesmo, se a prova da justa causa está ao
alcance da sociedade.
V - À falta de prova da justa causa, a sociedade fica constituída na obrigação de
indemnizar o administrador destituído pelos prejuízos que a este resultaram da
resolução unilateral da relação contratual de administração.

Sociedade anónima: órgãos de fiscalização - Suspensão e destituição de


director - Justa causa — Indemnização

I - Nas sociedades anónimas de modelo germânico, que é o adoptado pela ré,


tanto o conselho geral como o revisor oficial de contas são seus órgãos de fiscalização.
II - Competindo ao conselho geral fiscalizar as actividades da direcção e destituir
os directores, por maioria de razão poderá determinar a sua suspensão, sem prejuízo
da competência atribuída ao revisor oficial de contas.
III - Em contrário ao que sucede com a destituição, não se exige, quanto à
suspensão, nem a invocação nem a demonstração de justa causa, para que seja
insusceptível de gerar responsabilidade civil – Ac do STJ de 16.5.2000, BMJ 497-396

Destituição de gerente – 257º CSC

Da análise do art. 257º resulta:


- Ainda que o contrato de sociedade exija maioria qualificada ou outros
requisitos para a deliberação de destituição de gerente, se a destituição se fundar em
justa causa pode ser sempre deliberada por maioria simples - nº 2, in fine;
- Se uma cláusula do contrato de sociedade atribuir a um sócio direito especial à
gerência - e considera-se tal se a assinatura desse gerente for necessária e bastante
para obrigar a sociedade - BMJ 407-394 - podem os sócios deliberar que a sociedade
requeira a suspensão e destituição judicial do gerente por justa causa e designar
para tanto um representante especial - nº 3 - tal como, existindo justa causa, pode
qualquer sócio requerer a suspensão e a destituição do gerente, em acção intentada
contra a sociedade - nº 4.
- Se a sociedade tiver apenas dois sócios, a destituição da gerência por justa
causa só pelo tribunal pode ser decidida, em acção intentada pelo sócio contra o
destituendo - nº 5.

PROVIDÊNCIA CAUTELAR NÃO ESPECIFICADA


Suspensão e destituição de gerente
Justa causa
(Ac. R.ão Porto, de 7.11.1996, na Col. 96-V-185)

16
I - É entendimento pacífico que numa sociedade com dois sócios pode qualquer
deles e como preliminar da acção de destituição, requerer contra o outro providência
cautelar inominada para obtenção da suspensão do exercício da gerência.
II - Estando provado que o requerido não só vem impedindo que a requerente
exerça quaisquer actos de gerência, como nem sequer a autoriza a permanecer nas
instalações da sociedade, que falsificou a acta da assembleia geral, dando como
presente e tendo participação activa a requerente, o que não aconteceu e que falsificou
a escrita da sociedade, tal conduta é, sem dúvida, lesiva dos interesses da requerente e
da própria sociedade justificando o decretamento da providência.

... do confronto entre os n.os 1, 5 e 7 do artigo 257° do Código das Sociedades


Comerciais resulta que, mesmo nas sociedades com apenas dois sócios, a destituição
da gerência pode ser deliberada, em princípio, por maioria simples; só na hipótese de
invocação de justa causa é que se mostra necessário o recurso a acção judicial;
se a destituição tiver lugar por deliberação, não pode ser invocada justa causa e o
gerente tem direito a indemnização - BMJ 462- 446 (STJ, Ac. de 4.12.96).

A amortização da quota

está regulada nos arts. 232º a 238º do CSC, podendo ser deliberada quando
permitida pela lei ou pelo contrato de sociedade (art. 232º, nº 1.

Pressuposto de toda e qualquer amortização é a permissão legal ou


contratual de amortização, falando-se em amortização forçada ou compulsiva e
amortização voluntária conforme a sua validade não dependa do consentimento do
sócio, sendo que, sem consentimento do sócio, é indispensável a ocorrência de um
facto de que a lei ou o contrato de sociedade torne dependente a faculdade de
amortização.
A amortização, em cuja base podem estar interesses quer do sócio quer da
sociedade, constitui um meio de extinção de uma participação social, que tem por efeito
a extinção da quota (art. 232º, nº 2), apresentando-se esta extinção como elemento
essencial da amortização.
Efectua-se por deliberação dos sócios, baseada na verificação dos respectivos
pressupostos legais e contratuais, e torna-se eficaz mediante comunicação dirigida ao
sócio, devendo ser tomada no prazo de 90 dias, contados do conhecimento por algum
gerente da sociedade do facto que permite a amortização (art. 234º).
Pressupõe a existência de uma "contrapartida", calculada, "salvo estipulação
contrária do contrato de sociedade ou acordo das partes", nos termos das al. a) e b) do
nº 1 do art. 235º: .
A disciplina da exclusão de sócios encontra-se vertida nos arts. 241º e 242, o
primeiro reportando-se à exclusão por deliberação social (ou contratual), o segundo à
exclusão judicial.

Nos termos do art. 241º:


1. Um sócio pode ser excluído da sociedade nos casos e termos previstos na
presente lei, bem como nos casos respeitantes à sua pessoa ou ao seu comportamento
fixado no contrato.
2. Quando houver lugar à exclusão por força do contrato, são aplicáveis os
preceitos relativos à amortização de quotas.

17
3. O contrato de sociedade pode fixar, para o caso de exclusão, um valor ou
um critério para a determinação do valor da quota diferente do preceituado para os
casos de amortização de quotas".

Art. 242º:
1. Pode ser excluído por decisão judicial o sócio que, com o seu comporta-
mento desleal ou gravemente perturbador do funcionamento da sociedade, lhe tenha
causado ou possa vir a causar-lhe prejuízos relevantes.
2. A proposição da acção de exclusão deve ser deliberada pelos sócios...
3. Dentro dos 30 dias posteriores ao trânsito em julgado da sentença de exclusão
deve a sociedade amortizar a quota do sócio, adquiri-la ou fazê-la adquirir, sob pena de
a exclusão ficar sem efeito.
4. Na falta de cláusula do contrato de sociedade em sentido diverso, o
sócio excluído por sentença tem direito ao valor da sua quota calculado com
referência à data da proposição da acção e pago nos termos prescritos para a
amortização de quotas.
5...

Embora sejam detectáveis interligações entre os dois institutos - amortização da


quota e exclusão de sócio - impõe-se reconhecer que as diferenciações entre eles são
claras e evidentes, como decorre desde logo do respectivo regime legal.
Raul Ventura define "exclusão do sócio" como a perda da participação na
sociedade, que a um sócio é imposta, quer por deliberação da sociedade fundada em
caso previsto na lei ou em caso respeitante à pessoa ou comportamento do sócio
previsto no contrato, quer por sentença judicial baseada em facto previsto na lei. (ob.
cit., vol. II, pág. 44).
E mais adiante (pág. 60):
"A exclusão efectua-se por deliberação dos sócios quando é causada por
factos que se encontram especificados ou em disposições legais ou no contrato de
sociedade; a via judicial é exigida quando a causa da exclusão está apenas
genericamente formulada na lei, havendo que proceder, no caso concreto, à apreciação
do comportamento do sócio ou de outras circunstâncias".
Tanto na exclusão "por força do contrato", como na "exclusão judicial, há lugar à
amortização de quotas.
Porém, àquela exclusão "são aplicáveis os preceitos relativos à amortização de
quotas" (nº 2 do art. 241º; ao passo que na exclusão judicial, a lei impõe que a
sociedade, em dado prazo, amortize (ou adquira) a quota do sócio, sob pena de a
exclusão ficar sem efeito (nº 3 do art. 242º).
A diferenciação entre os dois tipos de exclusão também encontra eco no critério
para a determinação do valor da quota:
- na exclusão contratual esse critério será, em princípio, o "preceituado para os
casos de amortização de quotas" (n 3 do art. 241º);
- na exclusão judicial, em princípio, o sócio excluído "tem direito ao valor da
sua quota, calculado com referência à data da propositura da acção e pago nos termos
prescritos para a amortização de quotas" (nº 4 do art. 242º).
... num caso como noutro, a lei prevê a possibilidade de o contrato de
sociedade dispor diferentemente.
Ou seja, quer na exclusão contratual (o contrato de sociedade pode fixar), quer
na exclusão judicial (na falta de cláusula do contrato de sociedade em sentido diverso),
pode o contrato de sociedade fixar um critério especial para a determinação do valor

18
da quota, diferente dos previstos, respectivamente, nos arts. 241º, nº 3, e 242º, nº 4 –
Ac. do STJ, de 11.4.2000, no BMJ 496-289.

Diferente destes casos de exclusão de sócio e de amortização de quota é o de


exoneração do sócio, previsto no art. 240º do CSC para as SPQ5.

Para além da hipótese prevenida no nº 1 do art. 229º - direito de exoneração


decorridos dez anos sobre o ingresso na sociedade quando o pacto consagre a
intransmissibilidade da quota por acto entre vivos - o sócio pode exonerar-se da
sociedade nos casos previstos no nº 1 e suas al. a) e b), do art. 240º, sendo certo que
o contrato de sociedade não pode admitir a exoneração por vontade arbitrária do sócio
nem fixar valor inferior ao resultante do nº 4 - nº 6 do art. 240º.

Sobre a natureza jurídica dos órgãos das sociedades parece de seguir a


teoria organicista segundo a qual os órgãos da pessoa colectiva identificam-se com
ela, fazem parte integrante da sua estrutura constitutiva e, por consequência, a vontade
que exprimem e os seus actos são directamente imputados à pessoa jurídica.

Responsabilidade das sociedades por actos ilícitos dos seus órgãos

Nos termos dos art. 163º, nº 1 e 500º do CC e 6º, nº 5, do CSC, A sociedade


responde civilmente pelos actos ou omissões de quem legalmente a represente, nos
termos em que os comitentes respondem pelos actos ou omissões dos comissários.
É manifestação do princípio ubi commoda ibi incommoda.

Vinculação das Sociedades - 260º CSC, em especial n.os 1 e 4; 409º para


as S.A.

Em resultado do nº 1 do art. 260º, as limitações voluntárias (em especial as


constantes do pacto social) dos poderes de representação da sociedade pelos gerentes
não retiram validade e eficácia aos actos por eles praticados no exercício desses
poderes.
Nesse sentido é também o art. 9º, n.os 1 e 2, da Segunda Directiva da CEE.
Portanto, logo por aqui se vê que a Recorrente não tem razão quando pretende
tornar dependente a vinculação da sociedade R. aos contratos celebrados entre ela e a
A de deliberação prévia do Conselho de Gerência - Ac. de 8.6.99, na Col. STJ 99-II-
143.
Outra questão frequente prende-se com o disposto no nº 4 do art. 260º: os
gerentes vinculam a sociedade, em actos escritos (ou que exijam a redução a escrito -
Col. STJ 95-III-72 e 96-III-78) apondo a sua assinatura com indicação dessa qualidade.

A questão é de grande importância sobretudo quando se trata de responsa-bilizar


uma sociedade pelo aceite ou aval de um título de crédito (mais frequentemente letras
e livranças), discutindo-se, ainda, se as assinaturas obrigam individualmente quem
subscreveu tais títulos ou, pelo contrário, nem como tal valem e, ainda, se tal constitui
ou não vício de forma para efeito de, nos termos dos art. 7º e 32º, § 2º, da LULL, se
manter ou não o aval.

5
- Em geral e para as restantes sociedades pode ver-se, além dos Manuais, o estudo em Novas Perspectivas do
Direito Comercial, 205 e ss, Almedina, 1988, Conferências da Fac. Dir. de Lisboa e CEJ.

19
As decisões do STJ foram díspares. Assim,

A - Em 7 de Outubro de 1997 - BMJ 470-501 - provado que no lugar destinado


à subscrição da livrança figura o carimbo da sociedade executada e a assinatura de
José Monteiro Correia, seu gerente mas sem indicação desta qualidade, e que no
verso das livranças consta a expressão «Por aval à firma subscritora» seguida das
assinaturas de José Monteiro Correia, Maria de Fátima de Jesus Abreu e outros
embargantes, decidiu-se que a sociedade não ficava vinculada por ser nulo por falta de
forma (220º CC) aquele acto de subscrição.
Aliás, a admitir-se que estaríamos perante formalidade ad probationem, a sua
falta apenas poderia ser suprida por confissão expressa, que, manifestamente, não
existe (artigo 364.°, n.°2, do citado Código Civil).
Mas tratando-se de negócio formal, celebrado com desrespeito da forma legal
exigida, são absolutamente despiciendas as considerações do recorrente sobre a
existência de uma vontade real do subscritor das livranças em obrigar a sociedade
executada.
Por outro lado, declarada a nulidade da obrigação principal por vício de forma,
óbvia é a nulidade da obrigação dos avalistas (artigo 32º, § 2º, da Lei Uniforme
Relativa às Letras e Livranças).

B - Num outro caso - BMJ 481-498 - em que se provou ter sido sacada uma letra
sobre uma sociedade que embargou a execução e se provou que
- A assinatura do embargante-executado está aposta na face anterior da letra
dada à execução, em sentido transversal, no lado esquerdo, por baixo da palavra
impressa «Aceite» ;
- Nenhum outro dizer aí se contém, nomeadamente respeitante à (sua)
qualidade de gerente da sociedade sacada e à especificação, por qualquer
forma, desta sociedade;
- No verso da letra está também aposta a assinatura do embargante, por baixo
da menção «Dou o meu bom aval à subscritora»,

tendo a exequente apelado, pelo menos, às relações imediatas e à qualidade de vício


não de forma que permitiria manter a validade do aval, decidiu-se que

- a sociedade não ficava vinculada ao aceite por não ter sido indicada a
qualidade de gerente do subscritor do aceite; Trata-se de nulidade por vício
de forma;
- Também não havia aceite em nome individual porque é necessária a
identidade efectiva entre o sacado indicado no saque e quem aceita a letra,
para que esta tenha sido aceite. Assim, ao sacar-se uma letra sobre uma
sociedade, se vier a ser somente assinada por um representante
daquela com a sua assinatura pessoal, nem a sociedade nem o seu
representante ficam obrigados pela letra;
- a nulidade do aceite por vício de forma reflecte-se no aval que tenha sido
dado ao aceitante ou avalizado, e tem como consequência necessária
nulidade desse aval - 32º, § 2º da LULL;
- tratando-se de negócio formal, celebrado com desrespeito da forma legal
exigida, são absolutamente despiciendas as considerações do recorrente
sobre a existência de uma vontade real do subscritor (das livranças) em
obrigar a sociedade executada (mesmo no domínio das relações imediatas).

20
C - Em 14 de Janeiro de 1998 - BMJ 473-514, decidiu-se que a referida
invalidade da obrigação cambiária não constitui vício de forma, não prejudica a
validade do aval dado à subscritora (que não ficara obrigada), pois o que fundamenta
a ressalva ao «vício de forma» é a possibilidade de o portador ou adquirente de letra,
pela simples inspecção do título, se aperceber da irregularidade formal das assinaturas
nele vazadas.
«O facto de ser falsa a assinatura do avalizado, ou ela ser, por qualquer motivo,
insusceptível de criar uma obrigação para a pessoa a quem pertence, ou pareça
pertencer, não impede a validade da obrigação do avalista.»

D - No mesmo sentido se decidiu em 26.3.98 - BMJ 475-718:

1) - Uma sociedade por quotas só ficará vinculada, nos termos do art. 260º, n° 4,
do CSC, quando os gerentes, em actos escritos, apõem a sua assinatura com a
indicação dessa qualidade;
2) - A obrigação do avalista mantém-se no caso de a obrigação do avalizado
ser nula por qualquer razão que não seja um vício de forma;
3) - A inexistência da obrigação do avalizado não é um vício de forma para
os efeitos do artigo 32º, § 2º, da Lei Uniforme sobre Letras e Livranças.

E - A Relação do Porto (Des. - hoje Ilustre Conselheiro - Azevedo Ramos,)


decidiu, em 9.11.98, na Col. de Jur. 1998-V-179, que

I - Não há incompatibilidade entre a exigência de forma para a declaração


negocial e a possibilidade de a respectiva declaração se fazer tacitamente, desde que
a forma tenha sido observada quanto aos factos de que a declaração se deduz.
II - Uma assinatura numa letra, no lugar destinado ao aceite, sobreposta com o
carimbo de uma sociedade por quotas, acompanhada pela identificação dessa socie-
dade pela sua firma social, sede, telefone e número de contribuinte, é bastante para se
considerar tacitamente declarado que o assinante interveio na qualidade de gerente,
em representação da mesma sociedade.
III - No regime do art. 17º da L.U. não se inclui a invocação da falsidade dessa
assinatura.
IV - Por ser uma excepção «in rem» relativa, pode ser oposta a qualquer possui-
dor do titulo, esteja ou não de boa fé, por aquele a quem é atribuída a assinatura.

F - E a Relação de Lisboa, em 3.12.98, na mesma Col. 98-V-112, decidira que


no domínio das relações imediatas, obriga a sociedade o aceite aposto pelo seu
representante, sem menção desta qualidade, desde que a sacada seja a sociedade,
pois ninguém pode tirar vantagem de conduta sua, dolosa ou negligente, e a sociedade
não discutiu, podendo fazê-lo, que a assinatura aposta no lugar do aceite não pertencia
ao seu gerente.

A propósito da assinatura de gerente em contrato de locação financeira, sem


menção dessa qualidade, mas sem negação especificada de tal qualidade na
contestação da acção, decidiu o STJ, em Ac. de 28.11.99, na Col. STJ 99-III-128:

I - Se na p.i. se atribui a qualidade de gerentes da sociedade contratante às


pessoas que subscreverem o contrato de locação financeira junto, embora, ao fazê-lo,
as subscritoras não tenham feito menção dessa posição perante a firma que

21
representavam, é de considerar admitida, por confissão, tal qualidade, se a socie-
dade ré em parte alguma da sua contestação a nega especificadamente.
II - As sociedades por quotas e anónimas (409º, nº 4, CSC) ficam vinculadas
pelas assinaturas dos gerentes e administradores, mesmo que não tenham mencionado
tal qualidade, desde que resulte inequivocamente do próprio acto ou das
circunstâncias em que ocorre que aqueles agem em nome da sociedade e não em
seu próprio nome.
III - A exigência de reconhecimento notarial das assinaturas dos contratantes
constitui uma formalidade ad probationem (pelo que pode ser suprida por confissão
expressa - 364º, nº 2, CC.

Em 6.12.2001 tirou o STJ AUJ, publicado no DR, IA, de 24.1.2002, do seguinte


teor:
A indicação da qualidade de gerente prescrita no n.º 4 do art. 260º do CSC
pode ser deduzida, nos termos do art. 217º do Código Civil, de factos que,
com toda a probabilidade, a revelem.

Deliberações Sociais - 53º e ss

Na definição de Pinto Furtado6, Deliberação em geral é a declaração


juridicamente imputável a uma pessoa colectiva ou simplesmente a um órgão seu, ou
ainda, globalmente, a um grupo não dotado de personalidade jurídica, formada
mediante o concurso dos sujeitos de direito que os compõem e moldada pela fusão das
declarações individuais receptícias por eles emitidas (votos) que, no mínimo, integrem o
núcleo mais numeroso de declarações de sentido idêntico.
Dentro dela, as deliberações dos sócios, de que o Código aqui se ocupa, não
são mais, afinal, do que declarações unilaterais da sociedade, formadas como actos
colegiais do plenário dos sócios, segundo uma das “formas” admitidas por lei para o
respectivo tipo social.

Nem sempre as deliberações sociais são tomadas em assembleias de sócios.


Obedecendo ao numerus clausus legal - 53º, nº 1 - as deliberações de sócios
podem ser:
a) - Deliberações tomadas em assembleia geral, podendo nestas distinguir-se
entre as deliberações tomadas em assembleias regularmente convocadas
e deliberações de assembleias universais (art. 54°, nº 1, 2ª parte, do CSC;
b) - Deliberações por escrito
1. - deliberações unânimes por escrito - 54º, nº 1, 1ª parte, e
2. - deliberações por voto escrito, reguladas no art. 247° do CSC para as
sociedades por quotas (aplicável às sociedades em nome colectivo e
em comandita simples, ex vi dos arts. 189º, nº l , e 474° do CSC):
Da conjugação do disposto nos art. 189º (s. n. colectivo) e 248º (s. p. quotas),
resulta que o regime geral das assembleias gerais é o constante dos arts. 373º e
segs., relativos às sociedades anónimas.
Quanto às sociedades em comandita: às comanditas simples, aplicam-se as
regras das sociedades em nome colectivo (art. 474°); e às comanditas por acções, as
das sociedades anónimas (art. 471°).
Por mais frequentes as sociedades por quotas, merece especial referência o
art. 246º - matérias que dependem de deliberação dos sócios - nº 1 - e ainda as do nº 2

6
- Op. cit., 397

22
se o contrato social não dispuser diversamente...regulando o art. 248º a convocação e
funcionamento da assembleia.
Para além de não valer voto condicional - Col. 93-V-247 - o art. 251º regula os
impedimentos de voto, com a regra geral do nº 1 - conflito de interesses - e
enumeração meramente exemplificativa, mas impreterível, mesmo no pacto - nº 2.
Um dos exemplos é a exclusão de sócio - al. d): se o sócio a excluir votar, não
se está perante deliberação viciada, mas perante mera declaração pessoal que não
ganha a qualidade de voto formativo da deliberação, de nada vale esse voto que é nulo,
um nada jurídico - Col. STJ 95-I-72

Conforme o vício que as afecta e para além da inexistente - acto a que falta o
mínimo dos requisitos essenciais para que possa ter a eficácia jurídica própria de
uma deliberação ou que não seja adequado, nem sequer na sua aparência
material, a vincular a sociedade (Ac. STJ de 5.12.2000, na Col. Jur. 2000-III-155)
considera a lei deliberações
a) - Ineficazes - deliberações tomadas sobre assunto para o qual a lei (ou o
contrato social) exija o consentimento de determinado sócio.
1. As que atingem direitos extracorporativos dos sócios: no que toca a estes
direitos os sócios são como estranhos à sociedade;
2. As que visam direitos corporativos especiais - os do art. 24º - como resulta
dos n.os 5 e 6 deste artigo.

b) - Nulas - art. 56º, alíneas


- a) - refere-se aos casos de falta de convocação da assembleia geral (salvo se
todos os sócios estiverem presentes ou representados, nas condições previstas no art.
54 - a assembleia universal), sendo casos de falta de convocação também os previstos
no nº 2 do art. 56º;
- b) - refere-se às deliberações nos termos do art. 247º do CSC: é da essência
das deliberações por voto escrito que todos os sócios tenham a oportunidade de
exprimir o seu voto por essa forma;
- c) - diz respeito não só aos casos de violação do princípio da especialidade,
isto é, sobre matérias estranhas ao fim social, mas também aos casos de deliberação
sobre assuntos alheios à competência da assembleia geral;
- d) - pune as deliberações violadoras de disposições legais imperativas ou
ofensivas dos bons costumes. Entre estas disposições legais imperativas contam-se as
aludidas no art. 69º, nº 3, do CSC: as relativas à reserva legal, e as destinadas à
protecção dos credores ou do interesse público (p. ex., as normas que resultam do
princípio da intangibilidade do capital social). Também o art. 27º, n.º 1, comina a
nulidade para as deliberações que visem liberar os sócios de cumprir a obrigação de
entrada.

"...O exercício de um direito apresenta-se contrário aos bons costumes quando


tiver conotações de imoralidade ou de violação das normas elementares impostas pelo
decoro social. O aludido comando não aponta ao julgador, a quem cabe concretizar o
conteúdo dos bons costumes, uma simples verificação de facto dos usos, mas a
aferição destes por um critério valorativo que lhe indique, de entre os "usos" (mores),
quais os "bons usos" (boni mores). Esse crivo de selecção terá de ser o dos valores
preponderantes na colectividade, considerando-se, ainda, as concepções do círculo em
que actua o agente (por ex., profissional), desde que não incompatíveis com a referida
consciência social dominante" - Col. STJ 00-I-62 - que decidiu:

23
«A deliberação tomada em assembleia geral de sociedade comercial, face a
proposta, nesse sentido, do seu sócio maioritário e gerente, de trespasse do
estabelecimento comercial e de venda do imóvel, sede da sociedade, pelo preço global
de 210.000 contos, visando prejudicar a sociedade e um sócio minoritário que, estando
presente, se propôs pagar 518.000 contos, que era o valor real do trespasse e do
imóvel, além de abusiva e, como tal, anulável, é, ainda, ofensiva dos bons costumes e,
por isso, nula».

A nulidade das deliberações pode ser arguida a todo o tempo, por qualquer
interessado, e oficiosamente conhecida pelo tribunal, nos termos do art. 286º do C.
Civ.. Mas, ao contrário das nulidades em direito civil, podem ser sanadas as nulidades
previstas nas alíneas a) e b) do nº 1 do art. 56º do CSC, nos termos do seu art. 62º,
n.os 1 e 3.
Entretanto, poderá o órgão de fiscalização ou qualquer gerente (se não existir
aquele órgão) alertar os sócios, em assembleia geral, para a nulidade, a fim de eles
renovarem a deliberação, se for possível ou, se não o for, proporem a acção declarativa
de nulidade; esta deverá ser proposta pelo órgão ou pelos gerentes, se os sócios não o
fizerem (art. 57º)

c) - Anuláveis - art. 58º, nº 1:


- violação de disposições da lei (quando não punível com nulidade, v. g. não
publicação no DR. da convocatória - Col. 98-IV-25 - e do contrato social (al. a);
- casos de abuso do direito de voto, ou seja, aqueles em que o exercício deste
direito pelos sócios se mostra incompatível com a prossecução do interesse social e
lesivo deste, por o sócio o ter exercido em prol de interesses pessoais seus ou de
terceiros, em detrimento dos da sociedade ou de outros sócios - RLJ 118-202 - (al. b);
- violação do direito de informação (al. c; ver os arts. 58º, nº 4, e 290º, nº 3, e
214º do CSC).
São também de anulabilidade os casos do art. 69º, n.os 1 e 2, do CSC: violação
dos preceitos legais sobre elaboração do relatório de gestão, contas de exercício e
demais documentos de prestação de contas; e aprovação de contas irregulares.

A acção de anulação pode ser movida pelo órgão de fiscalização ou qualquer


sócio que não tenham votado a favor da deliberação, nem a tenha aprovado expressa
ou tacitamente a posteriori (art. 59º, nº 6). A acção está sujeita a prazo de caducidade
de trinta dias, contado nos termos do art. 59º, 2, a) a c) do CSC.

A acção declaratória de nulidade ou de anulação das deliberações sociais


deve ser intentada contra a sociedade (art. 60º, nº 1) e a sentença que a julgue
procedente produz caso julgado relativamente a todos os sócios e órgãos da
sociedade, mas não prejudica direitos adquiridos por terceiros de boa fé - (art. 61º).
No caso de convocação irregular dos sócios, o prazo conta-se, por aplicação
analógica dos art. 59º, nº 2, c), do CSC, 396º, nº 3, do CPC e 178º, nº 2, do CC, a partir
da data em que o sócio teve conhecimento da deliberação - Col. STJ 99-II-119.

Cabe à sociedade demandada o onus da prova da caducidade da acção de


anulação - 343º, nº 2, CC.

Procedimento cautelar - Suspensão de deliberações sociais - Acção


de anulação de deliberação social - Prazos - Caducidade da acção -
Caducidade do procedimento

24
I - «Os prazos da acção de anulação de deliberação social previstos nos artigos
59º, nº 2, do Código das Sociedades Comerciais e 389º, nº 1, alínea a), do CPC, são
autónomos ou independentes, designadamente quanto aos seus efeitos; só o decurso
do primeiro implica caducidade do direito substantivo de propositura da acção,
limitando-se o do segundo à caducidade da providência cautelar de suspensão da
deliberação.»
II - «A pendência do procedimento cautelar não impede o decurso do prazo do
citado artigo 59º, nº 2» - BMJ 487-249.

Acção de anulação de deliberações sociais - Prazo - Providência cautelar


de suspensão de deliberações sociais - Prazo - Caducidade - Renovação de
deliberação social - Inutilidade superveniente

I - O prazo de 30 dias para a propositura de acção de anulação de deliberação


social, contado nomeadamente da assembleia geral respectiva, nos termos do artigo
59º, nº 2, alínea a), do Código das Sociedades Comerciais, apenas se interrompe
pela instauração da acção.
Decorrido, por conseguinte, o aludido prazo sem que a acção seja proposta,
caduca o direito de impugnar a validade da deliberação, muito embora esta seja objecto
de providência cautelar de suspensão ainda pendente [cfr. o artigo 389º, nº 1, alínea a),
do Código de Processo Civil].
II - Mercê da renovação de deliberação social, «os sócios refazem a deliberação
que antes haviam tomado, concluindo sobre o seu objecto uma nova deliberação, desti-
nada a absorver o conteúdo daquela e a tomar o seu lugar».

Convalidada, porém, a deliberação objecto de renovação pelo decurso do prazo


da acção de anulação, torna-se inútil a deliberação renovatória igualmente objecto de
impugnação, com a consequente inutilidade da lide quanto à apreciação da sua
validade - Ac. STJ, 29.3.2000, BMJ 495-334.

Além disso, pode o sócio, comprovando essa qualidade e mostrando que uma
deliberação social contrária à lei ou ao contrato lhe pode causar dano apreciável,
requerer a providência cautelar de suspensão de deliberações sociais, no prazo
máximo de dez dias a contar da data da deliberação, ou, se o requerente não tiver
sido regularmente convocado para a assembleia, desde a data em que teve
conhecimento da deliberação (arts. 396º, maxime nº 3, a 398º do CPC).
A suspensão, se decretada, só subsiste se for tempestivamente intentada a
acção anulatória ou declaratória de nulidade da deliberação visada, atendendo-se aos
prazos dos art. 389º, nº 1, a), do CPC e 59º, nº 2 do CSC, como agora visto.

Casos mais frequentes de impugnação

1 - Ausência de convocação - nulidade - 56º, nº 1, a e 2);


2 - Convocação irregular - anulabilidade - 58º, nº 1, a; 377º e 248º, nº 3);
3 - Irregularidade da constituição e do funcionamento da assembleia -
anulabilidade, se ao caso não couber a nulidade - 58º, nº 1, a), 383º e 265º ;
4 - Deliberações sobre assunto não constante da ordem do dia - nulidade - 56º,
1, a) e c); 377º, nº 5, e) e nº 8
5 - Violação dos direitos intangíveis dos sócios e de terceiros - ineficácia ou
nulidade do art. 56º, 1, c);

25
6 - Deliberações obtidas através de simulação, erro ou dolo - anulabilidade - 240
e ss CC;
7 - Abuso do direito - anulabilidade - 58º, a) e b);
8 - Destituição de gerentes e administradores - anulabilidade - 58º, nº 1, a), se ao
caso não couber nulidade;
9 - Assembleias realizadas fora da sede social - anulabilidade se ao caso não
couber nulidade - 58º, a) e b), por violação dos art. 377º, nº 6 ou 344º;
10 - Exclusão de sócio 186º (em nome colectivo e comandita simples, por força
do 474º); 241º, 242º e 246º, c), para as s.p. quotas - anulabilidade se ao caso
não couber nulidade - 58º, nº 1, a); nas SA e comandita por acções só é admitida
a exclusão se o pacto o permitir
11 - Morte de um sócio - 184º (em nome colectivo), 225º (quotas); 339º para as
anónimas;

...os herdeiros são sempre sócios porque, na qualidade de sucessores do sócio


falecido, assumem a mesma situação dele na titularidade das relações jurídicas
patrimoniais do mesmo (Cód. Civil, art. 2021.°). A herança é, assim, titular da relação
jurídica patrimonial do falecido, que consiste na titularidade da posição social daquele
na sociedade. Os herdeiros são, portanto, sócios, embora no seu conjunto, enquanto a
herança se mantiver indivisa (Cód. Civil, art. 1405º nº l), ou representados pelo cabeça-
de-casal (Cód. Civil, arts. 2079.° e 2057.°), por a propositura da acção anulatória
representar um acto de administração da herança, conforme se nos afigura. Como tal
devem ser convocados para a assembleia, sendo em relação a eles ineficaz
deliberação que os afecte, se tal não acontecer.
12 - Amortização de quotas - 232º a 238 - nulidade se ocorrer violação dos n.os 1
e 2 do art. 236º (ressalva do capital);
13 - Deliberação não precedida do fornecimento de elementos mínimos de
informação - anulabilidade - 58º, 1, c) e 214º e 220º, nº 3;
14 - Falta do relatório de gestão - anulabilidade - 58º, nº 1, a, 65º, n.os 1 e 5, 69º,
nº 1 e 263º, nº 1.
Inexistência

Embora a lei não consagre em qualquer disposição o vício de inexistência de


deliberações sociais, pode contudo conceber-se a ocorrência deste tipo de vício, o mais
grave e que, por isso mesmo, conduz à mais extrema forma de invalidade.

Um caso em que nos parece poder entender-se adequado este vício será o de
uma invocada deliberação, supostamente tomada unanimemente por escrito, ou em
assembleia universal (nos termos do art. 54º do CSC), mas em que se constate não
terem tomado parte todos os sócios, ou por ter ocorrido falsificação de escrito (letra
e/ou assinatura) imputado a algum sócio, ou por alguém se ter arrogado poderes de
representação sem autorização expressa do sócio (art. 54º, n.º 3). O carácter
absolutamente excepcional destas deliberações e o melindre que rodeia a exigência de
unanimidade parecem-nos exigir a sanção máxima, da inexistência.

Tem sido também entendido que é inexistente uma deliberação que não tenha
sido aprovada com o número mínimo de votos, exigidos por lei ou pelo contrato, ou
tenha sido aprovada com votos de pessoas sem direito a voto, desde que o vício seja
por tal forma ostensivo e patente a toda a gente, que nem sequer externamente se
possa configurar uma deliberação.

26
SOCIEDADES COOPERATIVAS
Exclusão de associado
Reserva absoluta de competência da assembleia geral
Deliberação inexistente - Deliberação nula

I - A exclusão de cooperadores constitui reserva absoluta de competência da


assembleia geral da sociedade cooperativa.
II - É juridicamente inexistente a deliberação da assembleia geral que se propôs
deliberar sobre a exclusão de cooperadores «no âmbito dos princípios e sem
personalizar os infractores», com total omissão do processo escrito onde devia ser
lavrada a proposta de exclusão a submeter a deliberação.
III - A competência para exclusão de cooperadores não pode ser delegada na
direcção da cooperativa e, a ter esta deliberado a exclusão, tal deliberação é nula -
R.ão Porto, Col. 01-I-199

A inexistência pode ser declarada mediante uma acção de simples apreciação,


em termos idênticos à acção de declaração de nulidade. Não nos parece, entretanto,
que possa cogitar-se de renovação da deliberação inexistente, não sendo caso de
aplicação do art. 62º do CSC.

Colmatando uma lacuna que se fazia sentir na legislação anterior, o CSC veio
traçar expressamente o regime da invalidade das deliberações dos órgãos de
administração e do conselho geral.
O Código adoptou o delineamento geral do regime da invalidade das
deliberações da assembleia geral, ao distinguir deliberações nulas e anuláveis,
consoante os casos, do conselho de administração (arts. 411º e 412º), da direcção (art.
433º, nº 1), e do conselho geral (art. 445º, nº 2).

Pelo Ac. 415/2003, no DR, II, de 17.11.2003, o Tribunal Constitucional negou


provimento ao recurso para ele interposto do Ac. da Relação do Porto que decidira não
caber impugnação judicial das deliberações do Conselho de Administração. Nos termos
do art. 412º do CSC, o interessado deve recorrer para a Assembleia Geral e da
deliberação desta é que cabe impugnação judicial. Entendeu o TC que este art. 412º,
assim interpretado, não violava o direito de acesso aos Tribunais, consagrado no art.
20º da Constituição.

Resp. civil de gerentes, administradores ou directores - 71º e ss

A responsabilidade dos gerentes, administradores ou directores das sociedades


comerciais tem uma frente tripla de titulares: a sociedade - art.s 71º e 72º; os
credores sociais - art. 75º; os sócios e terceiros - art. 79º, todos do CSC.

A) - A responsabilidade dos gerentes para com a sociedade é uma responsa-


bilidade contratual e subjectiva (depende de culpa, embora esta se presuma, nos
termos do art. 799º, nº 1, do Cód. Civil). E pode derivar de:
a) - actos praticados com vista à constituição da sociedade - art. 71º;
b) - actos praticados no exercício das suas funções de gerência - art. 72º, nº 1.

A responsabilidade prevista no nº 1 do art. 72º é, como a definiu J. Pinto


Furtado, na vigência do DL nº 49381, de 15-11-69, uma responsabilidade funcional, ou

27
seja, que apenas incide sobre os actos praticados pelos administradores no e por causa
do exercício das suas funções.
Estão previstas na lei três tipos de acções de indemnização como garantia da
responsabilidade dos administradores para com a sociedade:
a) - a acção social da sociedade - art. 75º;
b) - a acção social proposta pelos sócios - art. 77º;
c) - a acção sub-rogatória dos credores sociais - art. 78º

A primeira, também dita acção social, uti universi, é proposta pela sociedade;
depende de deliberação prévia dos sócios, tomada por simples maioria em assembleia
geral; e tem de ser proposta no prazo de seis meses a contar da deliberação - nº 1 do
art. 75º.
Esta acção social uti universi pode ser proposta por representantes especiais
designados:
a) - pela assembleia geral - parte final do n.º 1 do art. 73º;
b) - pelo tribunal, a requerimento de um ou mais sócios que possuam, pelo
menos, 5% do capital social, quando os sócios não tenham procedido à
nomeação de representante especial ou se justifique a substituição do
representante nomeado pelos sócios – n.º 1 do art. 76º.
Em ambos os casos, a pessoa designada pode ser diferente daquelas a quem
cabe normalmente a representação da sociedade.

A acção social uti singuli é subsidiária da antes considerada, uma vez que só
pode ser proposta, nos termos do art. 77º, nº 1, quando a acção não tenha sido
proposta pela sociedade, ou por a respectiva assembleia geral não ter deliberado nesse
sentido, ou por ter deixado decorrer o prazo de seis meses sobre a deliberação sem
propor a acção.
Trata-se de acção social e não de acção pessoal porque os sócios vão pedir a
condenação dos administradores na indemnização dos prejuízos causados à sociedade
e não directamente a eles próprios.
Portanto, é uma acção social da iniciativa de algum ou alguns dos sócios
que aproveita, directamente, à sociedade e, por via disso, aproveita, indirectamente, a
todos os sócios e não apenas àqueles que a propuseram.
A doutrina aceita que se trata de uma acção de natureza sub-rogatória indirecta
ou oblíqua.
Como se trata de uma acção social de algum ou alguns dos sócios, naturalmente
que proposta no interesse da sociedade, e de uma acção sub-rogatória, natural é que a
lei exija a intervenção desta na acção à semelhança do que se passa com qualquer
acção sub-rogatória.
Por isso é que o nº 4 do art. 77º impõe - "deve" - o chamamento da
sociedade à causa.
Trata-se de um caso de litisconsórcio necessário activo imposto por lei, cuja
violação determina ilegitimidade activa nos termos do nº 1 do art. 28º do Cód. de
Processo Civil (CPC).
Isto é, na acção social uti singuli, o sócio ou sócios que propõem a acção fazem-
-no como substitutos processuais. Mas, trata-se de substituição imprópria "em que se
exige a presença simultânea do substituto processual e da parte substituída".
Os sócios podem cumular a acção social uti singuli com a acção pessoal,
deduzindo os pedidos correspondentes a favor da sociedade e em beneficio próprio,
individual - Col. Jur. STJ 2.000-II-41

28
B) - Responsabilidade dos gerentes perante os credores sociais - art. 78º

Abuso da personalidade Jurídica


Abuso de direito
I - Os gerentes duma sociedade só respondem para com os credores sociais
quando o património social se tornar insuficiente para satisfação dos respectivos
créditos se esta insuficiência for consequência da inobservância culposa de disposições
legais ou contratuais destinadas à protecção dos credores.
II - A utilização da personalidade jurídica societária para subtrair o património à
garantia geral e comum dos credores configura abuso de direito previsto no art. 334º
do Código Civil.
III - Se os requeridos, gerentes duma sociedade devedora de avultada
importância, constituíram, para funcionar no mesmo local e com praticamente o mesmo
objecto, uma outra sociedade para a qual transferiram parte dos bens daquela - tendo
os demais sido consumidos em execuções contra ela movidas - descapitalizando
aquela por completo até deixar reduzido o respectivo património a créditos de cobrança
duvidosa, incorreram em responsabilidade civil extracontratual perante os
credores daquela mesma sociedade - Ac. de 21 de Maio de 1998, da R.ão de Évora,
na Col. Jur. 98-III-258.

EMPRESA COMERCIAL
- Responsabilidade do gerente para com os credores sociais
- Insolvência da empresa
I - A responsabilidade do gerente prevista no art. 78º, nº 1 do CSC é de natureza
delitual ou extracontratual.
II - O aludido nº 1 do art. 78º consagra uma acção pessoal e directa para o
exercício de um direito próprio do credor, uma responsabilidade independente da
existente para com a sociedade.
III - Para que possa exercer-se o direito à indemnização ali prevista torna-se
necessário a verificação cumulativa dos seguintes requisitos:
- que o facto do gerente constitua uma inobservância culposa de disposições
legais destinadas à protecção dos interesses dos credores sociais;
- que o património social se tenha tornado insuficiente para a satisfação dos
respectivos créditos;
- que o acto do gerente possa considerar-se causa adequada do dano.
IV - Em caso de Insolvência da empresa, bem como nas situações previstas nos
art. 6º e 68º, nº 1, al. a) ambos do CPEREF, o gerente tem o dever jurídico de
apresentar aquela à falência (ou a providência de recuperação, consoante o caso), no
prazo ali previsto, sujeitando-se a responsabilidade civil se incumprir esse comando
legal - Rão Porto, 1.6.2000, Col. 00-III-204.

C) - A Responsabilidade dos gerentes, administradores para com sócios e


terceiros - art. 79º - é responsabilidade delitual, nos termos gerais da responsabilidade
civil, cabendo ao lesado fazer a prova dos pressupostos do art. 483º CC - Col. STJ 97-
III-140.
O que o art. 79º do CSC tem em vista são os danos causados directamente pelo
gerente aos sócios ou a terceiros de forma delituosa ou em violação de uma obrigação
e não aqueles outros danos que resultam duma gestão que os prejudique – Ac. de
23.5.2002, na Col. Jur. (STJ) 02-II-88.

29
Fusão - 97º a 117º; Cisão - 118º 129º; Transformação - 130º a 140º;
Dissolução - 14º a 145º e liquidação - 146º a 165º.

A propósito do art. 490º do CSC, veja-se o ac. do STJ, de 2.10.97, assim


sumariado no BMJ 470-618:

AQUISIÇÕES TENDENTES AO DOMÍNIO TOTAL


SOCIEDADES EM RELAÇÃO DE GRUPO INCONSTITUCIONALIDADE
DIREITO DE PROPRIEDADE PRIVADA PRINCÍPIO DA IGUALDADE
DIREITO À INICIATIVA PRIVADA

O artigo 490º do Código das Sociedades Comerciais permite que uma


sociedade titular de participações sociais correspondentes a 90%, pelo menos, do
capital de outra sociedade, se volva em sociedade dominante desta, podendo, só por
isso, impor aos sócios livres, prevalecendo-se da posição minoritária destes, a
alienação das suas participações sociais, mediante um preço em cuja formação os
mesmos não intervêm segundo as leis do mercado que regem o direito à iniciativa
privada.
Nesta medida, o artigo 490º do Código das Sociedades Comerciais é
materialmente inconstitucional por ofensa dos artigos 13º, n.os 1 e 2, 61º, nº 1, e 62º, nº
1, da Constituição.

No entanto e em estudo publicado no BMJ 480, pág. 5 a 29, o Prof. Menezes


Cordeiro conclui pela constitucionalidade deste regime.
Por Ac. de 26.11.2002, no DR II, de 22.1.2003, o TC decidiu não declarar a
inconstitucionalidade da norma do art. 490º, n.º 3, do CSC.

Empresas Comerciais

Desde o conceito de empresa do art. 230º do C,C.al, mais virado para as


actividades de indústrias e serviços até ao actual conceito de empresa que nos dá o
art. 2º do Código de Falências, ocorreu enorme evolução até esta norma a considerar
basicamente como unidade económica de produção.
Sobretudo o direito do trabalho fez da empresa uma instituição jurídica,
acentuando expressivamente a vinculação jurídica do trabalhador à empresa onde
trabalha, mais do que ao empresário sob cuja direcção se coloca, numa orientação que
é, mesmo, designada por teoria da empresa.
A empresa pode ser encarada como sujeito - incluindo aqui tanto o empresário
como os trabalhadores; como objecto - conjunto de factores de produção com vista ao
exercício da sua actividade, sinónimo de estabelecimento e como unidade
institucional - «Considera-se empresa, para o efeito do disposto no presente diploma,
toda a organização de factores de produção destinada ao exercício de qualquer
actividade agrícola, comercial ou industrial ou de prestação de serviços» - art. 2º do
CPEREF .
... assiste-se a uma pré-personificação da empresa, que transparece em tantas
disposições do direito do trabalho e do direito económico mais recentes, onde se
esboça uma visão institucional que prenuncia uma formação, por via sedimentar, de
uma nova concepção jurídica. A empresa, assim concebida, não será ainda um sujeito
de direitos e obrigações, uma pessoa jurídica. «A evolução ainda não está acabada».
Mas está, provavelmente, em curso.

30
Daí a quantidade de legislação visando especialmente as empresas: em
autogestão, em situação económica difícil, agrupamentos complementares de
empresas e contrato de consórcio; IAPMEI, e Recomendação da CE sobre definição de
empresas de média dimensão, pequenas empresas e microempresas.
1 - As Empresas no direito comunitário da concorrência - são os sujeitos
jurídicos que exercem uma actividade económica (ou que estão em condições de
exercê-la, e têm a possibilidade de, em cooperação, restringir a concorrência e afectar
as trocas comerciais entre os Estados-membros (cfr. art. 85° do TCE), ou a
possibilidade de, individual ou colectivamente, explorar de forma abusiva uma posição
dominante, com afectação do comércio intracomunitário (cfr. art. 86°).
Podem ser pessoas singulares ou colectivas, bem como sociedades, associa-
ções ou outras entidades sem personalidade jurídica, incluindo inventores que
comercializam as suas invenções, artistas, profissionais liberais.

2 - No Direito do Trabalho pode definir-se empresa laboral como organização


de meios que constitui um instrumento de exercício relativamente continuado de uma
actividade de produção, cujos trabalhadores estão sujeitos, individual e colectivamente,
ao regime do direito do trabalho.

3 - Conceito geral de empresa em sentido objectivo é a unidade jurídica


fundada em organização de meios que constitui um instrumento de exercício
relativamente estável e autónomo de uma actividade de produção para a troca.

O lucro será característico das empresas comerciais privadas, não


necessariamente das empresas públicas (O Sector empresarial do Estado e Empresas
Públicas foi recentemente regulado pelo Dec-lei nº 558/99, de 17 de Dezembro, sendo
sua missão - art. 4º - contribuir para o equilíbrio económico e financeiro do conjunto do
sector público e para a obtenção de níveis adequados de satisfação das necessidades
da colectividade) e das cooperativas.

Protecção da Empresa – Código da Propriedade Industrial - Dec-lei nº 16/95,


de 24 de Janeiro, revogado pelo CPI de 2003, aprovado pelo Dec-lei n.º 36/2003, de
5 de Março
O direito protege a empresa através de dois instrumentos jurídicos:
A - Propriedade industrial - Invenções (Patentes), Modelos de utilidade,
Modelos e desenhos industriais, Marcas, Recompensas, Nome e insígnia de
estabelecimento, Logótipos e Denominações de origem e indicações geográficas e
punindo a
B - Concorrência desleal, com pena de prisão ou multa os actos de
concorrência desleal, genericamente definidos no corpo do art. 317º do CPI e
nomeadamente nas várias alíneas da mesma norma, além de responsabilidade civil -
316º CPI e 483º e ss do CC, para a propriedade em geral.

FIRMA

É o nome comercial do comerciante, alargado a empresários em nome individual,


associações fundações e pessoas colectivas, sociedades civis e heranças indivisas.
A firma-assinatura desapareceu como forma de obrigar a sociedade. Rege hoje o
disposto no nº 4 do art. 260º, como visto.

31
A firma-nome, firma-denominação ou firma mista é de uso obrigatório tanto
para o comerciante em nome individual - 18º, nº 1, C. C.al como para as sociedades
comerciais - 9º, 1, c) do CSC.

Deve obedecer aos princípios da


Verdade - 10º do CSC, e 32º do Regime do Registo Nacional de Pessoas
Colectivas, aprovado pelo Dec-lei nº 129/98, de 13 de Maio,
Novidade (e exclusividade: cada titular tem uma só firma - 38º, 1, do
Regime) - 33º do dito Regime.
da Unidade (9º, 1, c) do CSC) e 38º do Regime.

Com o primeiro, garante-se que a indicação de nome dos sócios fundadores, ou


do objecto social, seja fidedigna. Com o segundo, que uma firma seja original, não
repita ou constitua imitação de alguma já registada. Com o terceiro, que, como no
nome da pessoa singular, cada titular tenha uma só firma reveladora da sua identifi -
cação.
O princípio da verdade é hoje garantido pelo normativo constante do art. 32º, nº
1, do Regime aprovado pelo Decreto-Lei nº 129/98, 13 de Maio (RRNPC), ao impor que
«os elementos componentes das firmas e denominações devem ser verdadeiros e não
induzir em erro sobre a identificação, natureza ou actividade do seu titular», não
podendo incluir-se neles elementos que sugiram actividades diferentes das suas ou que
possam induzir em erro acerca das características da entidade que se destina a
identificar.

O princípio da novidade (ou exclusividade) está consagrado actualmente no


art. 33º, n.º 1 do mesmo RRNPC, quando este preceito proclama que "as firmas e as
denominações devem ser distintas e não susceptíveis de confusão ou erro [o erro não é
mais, afinal, do que aquilo que resulta da confusão] com as registadas ou licenciadas
no mesmo âmbito de exclusividade, mesmo [outra vez, mesmo] quando a lei permita a
inclusão de elementos utilizados por outras já registadas, ou com designações de
instituições notoriamente conhecidas" - e, para as sociedades comerciais e civis sob
forma comercial, funciona ou é entendido em relação à área geográfica que
compreende todo o território nacional (art. 37º, n.º 2).
Os "vocábulos de uso corrente", porém, "e os topónimos, bem como qualquer
indicação de proveniência geográfica, não são considerados de uso exclusivo" - como
deslocadamente, a propósito do princípio da verdade, se proclama no art. 32º, n.º 4, do
RRNPC, aprovado elo Decreto-Lei nº 129/98, de 13 de Maio.

O imperativo de unidade decorre naturalmente dos princípios. Se a firma é o


sinal de identificação da entidade que a faz registar, mal se compreenderia que
houvesse duas firmas, que o mesmo é dizer dois nomes, para a mesma entidade. De
qualquer modo, como salienta Pupo CORREIA, este princípio resulta do disposto no art.
38º, n.º 1 do RRNPC7.

O registo definitivo confere direito ao uso exclusivo - 35º do RRNPC.

Dado que os problemas levantados pelas marcas e firmas são essencialmente


os mesmos, transcreve-se parte do Ac. da R.ão do Porto que versou a questão da

7
- Pinto Furtado, op. cit., 287 e ss.

32
semelhança entre as marcas ou firmas Seculum e Seculorum, de duas empresas
distintas que se dedicam, ambas, ao comércio e ou fabrico de mobiliário clássico.
Estava provado que:
1 - Por despacho de 6 de Novembro de 1992, do Presidente do então Instituto
Nacional da Propriedade Industrial, foi concedido à apelada Seculorum - Mobiliário e
Decorações, L.da, com sede e estabelecimento comercial em Valongo, o registo da
marca nacional nº 266203, classe 20ª, para móveis e peças de mobiliário, marca
reproduzida no título de registo de fs. 21 e de que constam, além do mais, as palavras
Seculorum Mobiliário E Decorações, Lda.
2 - Por escritura de 5 de Janeiro de 1998, a sociedade que antes girava sob a
firma Silva, Gomes & Ferreiras, L.da, alterou o art. 1º do Pacto Social, adoptando a
firma Seculum - Mobiliário Clássico, Lda., com sede em Vila Nova de Gaia - fs. 70 a
73 - sendo que em 10 de Abril de 1996 fora levada ao registo alteração do Pacto pela
qual, além do mais, ficou a constar como objecto da sociedade a Indústria de mobiliário
e decorações - fs. 96.
3 - Nesta escritura foi exibido certificado de admissibilidade da firma adoptada,
emitido em 5 de Agosto de 1997 - fs. 72. Com efeito,
4 - A apelante requerera em 11 de Julho e foi-lhe deferido, por Despacho de 4 de
Agosto de 1997, certificado de admissibilidade de Seculum - Mobiliário Clássico, Lda.
5 - A ora apelada interpôs oportuno recurso hierárquico deste Despacho mas, em
7 de Setembro de 1998, o Ex.mo Director Geral dos Registos e Notariado, concordando
com o despacho de sustentação dos Serviços do Registo Nacional de Pessoas
Colectivas, manteve o despacho recorrido, desatendendo aquele recurso.

Sendo estes os factos relevantes e sintetizando-os, temos que a Apelada é,


desde Novembro de 1992, titular da marca nacional nº 266203 Seculorum, destinada a
móveis e peças de mobiliário, tem estabelecimento comercial e sede em Valongo e
adoptou, em data que se ignora, o tipo de sociedade anónima.
A Apelante é uma sociedade por quotas que se constituiu com a firma Camarinha
& Ferreira, Limitada, alterada em 1996 para Silva, Gomes & Ferreiras, Lda e em 5 de
Janeiro de 1998 para a actual denominação, depois de obtido, em Agosto de 1997, o
certificado de admissibilidade de Seculum - Mobiliário Clássico, Lda. Tem sede em Vila
Nova de Gaia e o seu objecto é a indústria de mobiliário e decorações.

Nos termos dos art. 5º, n.os 1, 3 e 5, do Código de Propriedade Industrial,


aprovado pelo Dec. Lei nº 16/95, de 24 de Janeiro, 8 doravante designado por CPI, o
registo de marca abrange todo o território nacional e constitui fundamento de recusa ou
de anulação de denominações sociais ou firmas com ela confundíveis e cujos pedidos
de constituição sejam posteriores aos respectivos pedidos de registo.
É que, conforme o art. 167º, registada a marca, o seu titular gozará da
propriedade e exclusivo dela, tendo o direito de impedir a terceiros, sem o seu
consentimento, o uso, na sua actividade económica, de qualquer sinal idêntico ou
confundível com essa marca para produtos ou serviços idênticos ou afins àqueles para
os quais aquela foi registada, ou que, em consequência da identidade ou semelhança
entre os sinais ou da afinidade dos produtos ou serviços, cria, no espírito do
consumidor, um risco de confusão que compreenda o risco de associação entre o sinal
e a marca - art. 207º.
Ainda nos termos do nº 1 do art. 193º deste CPI, a marca considera-se imitada
ou usurpada quando a marca registada tiver prioridade, ambas se destinem a assinalar

8
- Com as rectificações publicadas no DR, IA, 2º suplemento, de 29 de Abril de 1995.

33
produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta e tenham tal semelhança
gráfica, figurativa ou fonética que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão,
ou que compreenda um risco de associação com a marca anteriormente registada, de
forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame
atento ou confronto.
O nº 2 desta norma caracteriza como imitação ou usurpação parcial de marca o
uso de certa denominação de fantasia que faça parte de marca alheia anteriormente
registada.
As expressões produtos «similares», «semelhantes», «afinidade manifesta» e
«idênticos» representam a mesma realidade jurídica.
A lei não define o conteúdo de afinidade.
Entre nós é jurisprudência assente que ela é aferida quando os produtos
concorrentes no mercado têm a mesma utilidade e finalidade 9.
Regulando os requisitos da firma e na sequência dos dizeres do Código
Comercial (art. 27º), dispõe o Código das Sociedades Comercias - art. 10º - que a
firma da sociedade constituída por denominação particular ... não pode ser idêntica à
firma registada de outra sociedade, ou por tal forma semelhante que possa induzir em
erro...
Coerentemente com este regime legal, na medida em que manda que as firmas
da sociedades comerciais seja composta nos termos do CSC, sem prejuízo da sua
aplicação no que se não revele incompatível com aquela legislação (art. 37º), o Regime
do RNPC aprovado pelo Dec-lei nº 129/98, de 13 de Maio 10, dispõe no art. 33º e sob a
epígrafe Princípio da novidade:

1 - As firmas e denominações devem ser distintas e não susceptíveis de


confusão ou erro com as registadas ou licenciadas no mesmo âmbito de exclusividade,
mesmo quando a lei permita a inclusão de elementos utilizados por outras já registadas,
ou com designações de instituições notoriamente conhecidas.
2 - Os juízos sobre a distinção e a não susceptibilidade de confusão ou erro
devem ter em conta o tipo de pessoa, o seu domicílio ou sede, a afinidade ou pro-
ximidade das suas actividades e o âmbito territorial destas.
....
5 - Nos juízos a que se refere o nº 2 deve ser ainda considerada a existência de
nomes de estabelecimentos, insígnias ou marcas de tal forma semelhantes que possam
induzir em erro sobre a titularidade desses sinais distintivos.
6- Para que possam prevalecer-se do disposto no número anterior, os titulares de
nomes de estabelecimento, insígnias ou marcas devem ter efectuado anteriormente
prova do seu direito junto do RNPC.

Entrando na apreciação deste art. 33º, não é difícil concluir da leitura destes
normativos que as firmas e denominações se destinam a identificar os seus titulares e
a precisar a natureza ou as actividades destes. Os elementos que as compõem têm,
por isso, de ser verdadeiros. Mas não basta que os seus elementos componentes
sejam verdadeiros para, sem mais, se poder constituir validamente uma firma ou uma
denominação. É ainda necessário que da conjugação dos seus diversos elementos não
resulte uma firma ou uma denominação susceptível de confusão ou erro com outra já
existente.

9
- BMJ 449-370.
10
- Estabelece o regime jurídico do Registo Nacional de Pessoas Colectivas e revogou, além doutros, o Dec-lei nº
42/89, de 3 de Fevereiro, regulador da matéria.

34
São os princípios da verdade e do exclusivismo a que a lei, por razões bem
conhecidas, manda atender na composição das empresas e do público em geral: das
primeiras na medida em que, se assim não fosse, operada a concorrência entre elas,
facilmente se locupletariam umas à custa das outras e do público em geral por também
este ter todo o interesse em saber com quem negoceia ou se propõe negociar.
A denominação da nova empresa tem, pois, de ser distinta e insusceptível de
confusão ou erro com a primeiramente registada.
E evidente que no exame a fazer sobre quaisquer denominações com vista a
apurar se são distintas e insusceptíveis de confusão ou erro se não pode olhar apenas
ao que nelas é igual ou parecido. Há que olhar também ao que efectivamente as
distingue, isto é, a todo um resultado final, tanto mais quanto é certo ser este um
campo em que, tanto ou mais que a expressão gráfica ou fonética dos termos, releva a
«aparência» das coisas.
De resto, prescrevendo a lei que as firmas e as denominações devem ser
insusceptíveis de confusão ou erro com as registadas no mesmo âmbito de
exclusividade e sendo de considerar nesta apreciação o homem médio que não o de
nível superior, o que se impõe fazer é evitar todos os riscos de confusão que não
apenas diminuí-los11.

A marca pode ser definida em termos gerais, como o sinal distintivo que serve
para identificar o produto proposto ao consumidor (ver Dr. Carlos Olavo, «Propriedade
industrial. Noções fundamentais», Colectânea de jurisprudência, ano XII, 1987, tomo II,
pág. 20).
A firma é o nome ou designação que identifica o comerciante na sua actividade
mercantil.
Mas isso não impede que sejam susceptíveis de confusão, quando não
pertençam ao mesmo interessado, como se salienta no acórdão da Relação de
Coimbra de 4 de Janeiro de 1983 (Colectânea de Jurisprudência, ano VIII, tomo I, pág.
21)12.
Pelo que as disposições do Código da Propriedade Industrial são
aplicáveis ao confronto entre marcas e denominações sociais.
E quanto a firmas ou denominações a lei exige que entre elas e a marca exista
tal semelhança que possa induzir o público em erro sobre a titularidade dos sinais
distintivos, o que significa que a lei não permite que os elementos caracterizadores da
firma ou denominação sejam semelhantes aos de uma marca de outrem, quando entre
a actividade a que aquela se destina e os produtos ou serviços a que esta se reporta
haja alguma afinidade13.
De sorte que tanto na marca como na firma ou denominação social e no
confronto entre uma e outra faz a lei respeitar o princípio da novidade, com a
diferença de que a garantia representada por esse princípio é, em relação às marcas,
mais extensa: não tem limites territoriais que não sejam os próprios limites territoriais do
Estado14.
Daí que sejam de observar, nas marcas e nas firmas, as mesmas regras na
aplicação concreta do referido princípio da novidade ou do exclusivismo, como resulta
do nº 5 do art. 33º do Regime do RNPC.
Assim, haverá imitação quando, postas em confronto, as marcas (ou a marca e
a denominação) se confundam. Mas a confusão subsistirá quando, tendo-se à vista
11
- BMJ 417-652 e ss.
12
- BMJ 454, 746.
13
- Ib., 747.
14
- Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, 1973, II, 328.

35
apenas a marca a constituir, se deva concluir que ela é susceptível de ser tomada por
outra de que se tenha conhecimento.
Com efeito, o consumidor, quando compra determinado produto marcado com
um sinal semelhante a outro que já conhecia, não tem à vista (em regra) as duas
marcas, para fazer delas um exame comparativo. Compra o produto por se ter
convencido de que a marca que o assinala é aquela que retinha na memória.
E tal como para a firma, no exame comparativo das marcas, feito nestes termos,
deve considerar-se decisivo o juízo que emitiria o consumidor médio do produto ou
produtos em questão15.
Concretamente quanto às marcas mistas e complexas, deverão ser consideradas
globalmente, como sinais distintivos de natureza unitária, mas incidindo a averiguação
da novidade sobre os elementos prevalentes - sobre os elementos que se afigurem
mais idóneos a perdurar na memória do público. Uma marca mista ou complexa não
será nova quando o seu núcleo se confunda com marca mais antiga.
...“o que interessa é o núcleo da firma, o Firmenkern da doutrina alemã”,
negando carácter distintivo individual às indicações genéricas sobre o tipo de actividade
exercido e o tipo societário escolhido que são comuns às demais do mesmo tipo 16.
Não é outra a doutrina de Ascarelli, citado pelo Ac. do Supremo Tribunal de
10.12.96, quando ensina: Confundibilidade que deverá valorar-se «tendo em conta um
consumidor de tipo médio e em relação à representação completa de produtos,
empresas, actividades, de modo que o exame analítico de forma deve acompanhar-se
um exame sintético, com atenção especial à impressão geral que o aspecto pode
provocar na média do público»17.
E há muito ensinou o Prof. J. G. Pinto Coelho que deve afastar-se a falsa ideia
de que só há imitação quando as semelhanças sejam tão marcadas ou antes, as
dissemelhanças sejam tão ténues que se torne necessário o confronto para as
distinguir. Devem considerar-se imitadas, também, as marcas que contêm
dissemelhanças mas que escapam facilmente ao olhar distraído do consumidor
desculpavelmente desatento18.
Resta dizer que, tal como sucede com a marca (art. 5º, nº 5, do CPI), também o
princípio da novidade e ou exclusivismo tem âmbito nacional, pois as sociedades
comerciais têm direito ao uso exclusivo da sua firma em todo o território nacional - 37º,
nº 5, do Regime do RNPC aprovado pelo Dec-lei nº 129/98.
Pelo que têm pouco interesse, neste particular, o âmbito territorial e o tipo de
pessoa em presença e o seu domicílio ou sede, pois tanto a marca como a firma de
sociedades conferem direito ao uso exclusivo em todo o território nacional; estes
índices de apreciação referidos no nº 2 do Regime aprovado pelo Dec-lei nº 129/98
apenas ganham relevo quando se trate de comerciantes cuja firma apenas confere
direito ao uso exclusivo no âmbito da competência territorial da conservatória onde foi
definitivamente registada - 38º, nº 4 - dependendo de autorização do director-geral dos
Registos e Notariado a extensão do exclusivo a todo o território nacional - nº 5.
De resto, este nº 2 manda ter em conta o tipo de pessoa e não o tipo
societário....
Mais relevante é o comando do nº 5 do mesmo art. 33º quando manda ter em
conta a existência de nomes de estabelecimentos, insígnias ou marcas de tal forma
semelhantes que possam induzir em erro sobre a titularidade desses sinais distintivos.

15
- Idem, a pág. 280 para a firma e 330 para a marca.
16
- Col. Jur. 1998-V-75.
17
- BMJ 462-451.
18
- RLJ 89º-26, na Col. Jur. 1990-V-47.

36
Sobre marcas internacionais e a Convenção de Paris, de 20.3.1883, pode
ver-se o excelente Ac. do STJ, de 26.4.2001, com imensa informação, na Col. Jur.
(STJ) 01-II-37 a 40. Dezº 2003

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