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DIREITO PROCESSUAL PENAL

NOÇÃO.
Sistema de normas ou regras jurídicas que disciplinam e regulam a aplicação do
direito penal aos comportamentos delituosos submetidos à apreciação dos tribunais.
Sistema de normas jurídicas que regulam o processo penal.

DIREITO PROCESSUAL PENAL E DIREITO PENAL

A relação existente entre Direito Processual Penal e o Direito penal é uma relação de
complementaridade na medida que, aquele é o meio ou instrumento de realização do
Direito penal, que não é um ramo de direito de aplicação directa.
O Direito Processual Penal assume um aspecto de parte ou forma de um direito
penal global.

O Direito Processual Penal é um direito formal, adjectivo e o Direito Penal é um


direito material, substantivo.

SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS:

PROCESSO ACUSATÓRIO. CARACTERISTICAS.

Inicia com uma Acusação;


O Ofendido apresenta o criminoso perante o Tribunal e o acusa de viva voz;
As partes litigam num Tribunal (geralmente colectivo), em pé de igualdade;
O Juiz assume uma posição passiva, sem iniciativa no campo da investigação;
Quanto a forma o processo obedece os princípios da Oralidade, da Publicidade e da
Contrariedade;
A apreciação de provas é livre;
A sentença faz caso julgado, não podendo o caso ser reaberto;
Há presunção da inocência do acusado e o processo desconhece a prisão
preventiva.

PROCESSO INQUISITÓRIO. CARACTERISTICAS.

Inicia com a fase da Investigação dirigida por um Juiz. A investigação abre-se com
uma denúncia secreta;

Reúne-se na figura do Juiz a função de Instrutor, acusador e julgador;


Não há direito à defesa do acusado. Este é reduzido à condição de «coisa» ou
«Objecto», perdendo o estatuto de sujeito processual;
Quanto a forma o processo é escrito e secreto;
Admite-se apenas a prova legal, dando especial relevância «confissão» considerada
como a «rainha das provas» e que obtinha-se a base de torturas.
A sentença não faz caso julgado.
A regra é a prisão preventiva.

PROCESSO MISTO.
Inquisitório na fase de investigação, isto é, na fase de Instrução preparatória.
Acusatório nas fases seguintes especialmente no julgamento, que é público, oral e
contraditório.
O PROCESSO EM ANGOLA. FASES DO PROCESSO: DESCRIÇÃO
SUMÁRIA

É misto (inquisitório e acusatório);


Uma fase de investigação e recolha de prova, que corresponde a fase de instrução
preparatória, ou da formação do corpo de delito complementado às vezes com a
instrução contraditória;
-Constitui uma fase pré-judicial dirigida, em princípio, pelo MºPº, completamente
escrita e secreta;
- O processo começa com a notícia ou o conhecimento de uma infracção, um juízo
de suspeita;
- Caracteriza-se por um conjunto de actividades oficiosas e inquisitórias, realizadas
no sentido de confirmar a suspeita inicial e reunir provas sobre a existência do crime,
a (s) pessoa (s) que cometeu, a forma da sua participação e o grau da
responsabilidade;
- Se a suspeita se confirmar o MºPº deduz a acusação, caso contrário o processo é
arquivado ou aguarda pelas provas.
Uma fase do julgamento presidida pelo juiz;
Uma fase da execução da pena;
- A execução da pena é da competência exclusiva dos órgãos da administração
penitenciária (MINISTÉRIO DO INTERIOR), salvo no que respeita a questões sobre
o Início, duração, suspensão ou extinção da responsabilidade criminal, que são da
competência do juiz. Art. 625º e 628º CPP
- A acusação corresponde a um juízo de probabilidade e não mais de suspeita;
- Com a acusação o processo é introduzido em tribunal e assume a natureza de
processo judicial, desde que o juiz confirme o juízo de probabilidade formulado pelo
Mº Pº, concordando com a acusação por ele deduzida e pronunciando o acusado.
-Caso haja insuficiência de provas abre-se oficiosamente ou a requerimento da
acusação uma outra fase presidida pelo juiz, a fase de instrução contraditória.
A fase da Instrução divide-se em duas sub - fases:
•A fase de Instrução Preparatória ou do corpo de delito ,secreta, não contraditória
e presidida pelo Mº Pº;
•A fase de Instrução Contraditória, semi-pública, contraditória e presidida pelo
juiz.

A fase de Instrução termina, seguindo-se o despacho de pronúncia.

– Art. 365º CPP; 346º CPP e 44º Decreto-Lei nº 35.007. A pronúncia corresponde a
aceitação do juiz dos factos alegados na acusação.
Com o despacho de pronúncia inicia-se a fase do julgamento.
Esta fase é dominada pela ideia de transformar o juízo de probabilidade em juízo de
certeza.

DIREITO PROCESSUAL PENAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DIREITO PROCESSUAL PENAL DIREITO PROCESSUAL CIVIL

•A acção é Pública e exercida em •A iniciativa é do titular do direito que


princípio pelo Mº Pº, por força da lei. pretende ver declarado, protegido ou
(Princípio da legalidade oposto ao da realizado o seu direito. Ninguém o
Oportunidade). obrigará a requerer mediante um tribunal
• O objecto do processo é fixado na a protecção do seu direito.
acusação, não depende das partes. • O objecto do processo é delimitado
•Não é possível comporem-se. A pelas partes, ñ podendo o juiz condenar
pretensão punitiva é do Estado. Só em pedido maior ou diferente.
excepcionalmente admite-se pôr fim ao • As partes podem dispor do Processo
processo mediante perdão, isto, nos assim como dos direitos que pretendem
crimes particulares. fazer valer. A desistência, a confissão e a
• Apresenta uma estrutura inquisitória e a transacção são iniciativas e medidas
oficialidade domina em grande fases e possíveis no processo civil.
áreas do processo. •A estrutura é acusatória e o impulso
• Na sua mais importante fase processual incumbe às partes.
(o julgamento) é quase exclusivamente • Predominantemente escrito.
oral.
DIREITO PROCESSUAL PENAL DIREITO PROCESSUAL CIVIL
•A produção de provas é tarefa do •O ónus da prova é incumbida às partes.
Tribunal; •Basta a verdade formal e admite-se as
•Procura-se atingir a verdade presunções.
material(objectiva), através da produção •Interessa-se apenas com os factos,
oficiosa de provas e da sua livre sendo indiferente as pessoas dos autores
apreciação. ou dos réus (regra geral).
•É um processo personalizado. A
sentença penal executa-se no agente

FIM E OBJECTO DO PROCESSO PENAL

FIM GERAL (DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL)


•Protecção e defesa dos valores mais importantes do Estado e da Ordem que melhor
corresponde aos interesses fundamentais.

FIM ESPECIFICO (DIREITO PROCESSUAL PENAL) – TRÊS TEORIAS.


1.Obtenção de uma sentença com valor de caso julgado;
2. A procura da verdade;
3. A realização da justiça.

O fim imediato determinado pelo carácter instrumental do processo penal é a


concreta realização do direito penal, ou seja, a definição do direito penal aos factos
concretos levados à apreciação do Tribunal.

OBJECTO DO PROCESSO PENAL


•Facto material e real que constitui a causa da relação jurídica punitiva, ou o facto
criminoso e a personalidade do delinquente.

Obs.: O objecto de toda actividade processual, desde o conhecimento até à publicação


da sentença é o «crime».
FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL
A Constituição
Código do Processo penal
Legislação Posterior
Doutrina e Jurisprudência

INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL


No direito processual penal admite-se analogia e interpretação extensiva.
Art. 10º CC
Art. 1º§único CPP.

INTEGRAÇÃO DE LACUNAS (ORDEM HIERÁRQUICA):


1.Procurar um caso análogo regulado por uma norma de direito processual penal e
aplicar à lacuna (analogia legis).Na falta do caso análogo:
2. Aplica-se ao caso omisso a norma ou normas do direito processual civil que regule
um caso análogo e se harmonize com a natureza do processo penal. Na falta dessa
norma:
3. aplica-se os princípios gerais do processo penal. Na falta de princípios gerais do
processo penal:
4. Os princípios gerais do direito.

APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO


APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO.

-O princípio geral da aplicação da lei no tempo consiste em que a lei só vigora para o
futuro. art.º 12º CC. Em direito processual penal vigora o mesmo princípio. «tempus
regit actum». A lei processual, sendo adjectiva e instrumental é em princípio de
aplicação imediata.
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO
-A lei processual penal aplica-se , em princípio, dentro do território de um Estado, no
espaço territorial onde exerce a sua soberania.
O poder de julgar e de aplicar pena é uma emanação do poder do Estado. Exerce-se
um, onde se exerce o outro. Princípio da territorialidade.

EXCEPÇÕES:
1. Derivada dos usos e convenções internacionais, que reconhecem o princípio da
extraterritorialidade dos consulados, embaixadas e residências dos embaixadores
estrangeiros.

PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO PENAL

1.PRINCÍPIOS RELATIVOS À INICIATIVA PROCESSUAL

1.1. PRINCÍPIO DA OFICIOSIDADE OU OFICIALIDADE. Resulta da política


da intervenção do Estado na administração da justiça. No início para verificar o
pressuposto da vingança privada e depois com o fundamento de que a pena é uma
retribuição do mal causado à sociedade com o crime. De acordo com este princípio a
iniciativa ou o impulso processual compete ao Estado ou a uma entidade Oficial. Art.
1º, 12º e 14º do Dec.-Lei n.º 35007. Não é um princípio absoluto. Os limites e
excepções resultam dos crimes SEMI-PÚBLICOS E PARTICULARES.

CRIMES SEMI-PÚBLICOS: são aqueles que para serem punidos necessitam de ser
denunciados pelos ofendidos ou por pessoas ligadas aos ofendidos.

1.2. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. Obriga o Mº Pº na sua actividade de


promoção processual a determinar-se exclusivamente por critérios legais. Art. 185º nº
2 CRA e art. 1 do CP Penal. Ao p. da legalidade opõe-se o princípio da oportunidade.
Consequência do princípio da legalidade é o princípio da imutabilidade da acusação.
O Mº Pº não pode modificar, renunciar ou desistir da acusação suspendendo ou
arquivando o processo.

1.3. PRINCIPIO DO ACUSATÓRIO OU DA ACUSAÇÃO. É o princípio segundo


o qual se atribui a função de acusar a uma entidade diferente daquela a quem está
conferida a função de julgar. Art. 349º CPP.

2. PRINCÍPIOS RELATIVOS À PROSSECUÇÃO PROCESSUAL.

2.1. PRINCÍPIO DO INQUISITÓRIO OU DA INVESTIGAÇÃO (P.


INSTRUTÓRIO). Ao tribunal compete inquirir ou investigar a verdade sobre os
factos objecto do processo e a pessoa que os cometeu. O juiz não se limita apenas em
apreciar as provas que lhe são apresentadas pelas partes. Tem o dever de ir mais além.
Assim o princípio do INQUISITÓRIO se opõe ao princípio do DISPOSITIVO que
domina no processo civil.

2.2. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO OU DA CONTRARIEDADE.


Princípio segundo o qual na descoberta da verdade e na aplicação da justiça, devem
ser igualmente consideradas tanto as razões da acusação como os pontos de vistas da
defesa. Art. 415º C. P. Penal.

2.3. PRINCIPIO DA CONCENTRAÇÃO OU DA CONTINUIDADE. Os actos


processuais devem decorrer concentradamente, sem grandes intervalos ou soluções
de continuidade, quer no que se refere ao local quer no tempo. O julgamento deve
decorrer na sala apropriada, sala de julgamento, assim como, deverá a audiência ser
contínua. Art. 414º CP. Penal.

2.4. PRINCIPIO DA SUFICIÊNCIA DO PROCESSO PENAL. Princípio segundo


o qual, no processo penal resolver-se-ão todas as questões que interessam à decisão
da causa, qualquer que seja a sua natureza. É consequência lógica da necessidade de
concentração processual. Art. 2º CP. Penal.

LIMITES AO P. DA SUFICIÊNCIA: Art. 3º CP Penal. O juiz pode


discricionariamente entender que não é conveniente resolver questões de natureza
civil, administrativa, fiscal, etc. no processo penal. Outras vezes, essa inconveniência
é presumida pela lei. Nesse caso, o juiz é obrigado a suspender o processo penal para
que se intente e se julgue a respectiva acção no tribunal competente.

3. PRINCÍPIOS RELATIVOS À PROVA

3.1. PRINCIPIO DA VERDADE MATERIAL. Opõe-se à chamada verdade formal


(jurídica ou processual) estreitamente ligado ao princípio ou sistema de provas
formais ou legais do velho processo inquisitório e essencialmente obtida a partir de
atitudes processuais dos respectivos sujeitos.

3.2. PRINCIPIO DA LIVRE APRECIAÇÃO DA PROVA. Princípio segundo o


qual o juiz na apreciação da prova não está sujeito a regras predeterminadas. Art. 655º
CPC.

3.3. PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO. Princípio segundo o qual, deverá agir-se a
favor do réu, sempre que a prova produzida seja insuficiente e não conduza à
formação de um juízo de certeza sobre a existência de infracção ou de que foi o
arguido que a cometeu. Art. 148º e 150ª CPP
4. PRINCIPIOS RELATIVOS À FORMA

4.1. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE. Essencialmente aplicada a fase de audiência


de discussão e julgamento. Essa publicidade pode ser entendida no sentido de que os
actos processuais, particularmente, as audiências de julgamentos são abertas ao
público e a elas podem assistir, em princípio, quaisquer pessoas ou de que delas deve
ser dado conhecimento ao público. O princípio da PUBLICIDADE está estreitamente
ligado ao princípio da ORALIDADE. Art. 407ºCPP.

4.2. PRINCÍPIO DA ORALIDADE. Princípio segundo o qual a decisão sobre o


objecto do processo deve ser tomada com base na discussão oral da causa, em
audiência de julgamento. Art. 6º da lei n.º 20/88.

4.3. PRINCIPIO DA IMEDIAÇÃO. Significa que dentre os meios submetidos a


apreciação, devem ser escolhidos os mais próximos e directos (imediatos). O
princípio da imediação está estreitamente relacionado com o princípio da
concentração ou da continuidade.

ESTRUTURA FORMAL DO PROCESSO PENAL.


A RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL.SUJEITOS, PARTICIPANTES E
PARTES PROCESSUAIS

O processo penal é um processo de partes, de estrutura dinâmica e dialéctica,


dominado pelo princípio do contraditório e do debate de teses e pontos de vistas
opostos.O Ministério Público é parte no sentido processual ou formal e não no
sentido substancial ou material, pois, ele não defende interesses próprios no processo
penal, mas sim interesses do Estado. Nesta ordem de ideias, parte é qualquer pessoa
capaz de deduzir uma pretensão em juízo ou de contradizer, independentemente de a
essa capacidade processual corresponder um direito em sentido substancial (ser
sujeito da relação jurídico- processual).
Instruído o processo tanto o Mº Pº como o réu, assumem posições diferentes no
processo. O primeiro assume a posição de acusação e o segundo a posição de
contestação e defesa. Dai mais uma vez se pode concluir que do ponto de vista
instrumental, formal o processo penal é um processo de PARTES, estruturado a partir
das posições processuais opostas, assumidas pelos sujeitos processuais com
capacidade para discutirem a causa e obrigarem o tribunal a tomar uma decisão.

RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL

Não se pode em processo penal falar de uma relação jurídica processual, nos termos
em que essa relação existe e é entendida no direito e processo civil. A verdade é que
no processo penal se estabelecem relações entre sujeitos e os intervenientes no
processo e que a essas relações correspondem direitos e deveres processuais.

SUJEITOS PROCESSUAIS, PARTICIPANTES E PARTES PROCESSUAIS.

Sujeitos (em sentido amplo), são pessoas entre as quais se estabelecem as relações
jurídicas processuais. Em sentido restrito são aqueles participantes a quem competem
direitos e deveres processuais autónomos, no sentido de que através da sua própria
decisão pode determinar, dentro de certos limites, a concreta tramitação do processo.
Os sujeitos processuais são o juiz, titular da jurisdição, o Ministério Público ou o
acusador particular, titular da acção penal e o réu, titular do direito à defesa.

O TRIBUNAL
A ORGANIZAÇÃO DOS TRIBUNAIS CRIMINAIS. ARTIGO 176º CRA

Os tribunais encontram-se hierarquicamente organizados em (art. 6º Lei 18/88 de 31


de Dezembro):
♣Tribunal Supremo;
♣Tribunais Provinciais;
♣Tribunais Municipais.
TRIBUNAIS ORDINÁRIOS E EXTRAORDINÁRIOS
(classificação doutrinária)

Os Tribunais ordinários são aqueles que integram na estrutura comum da organização


judiciária. Em Angola os tribunais ordinários são: Os tribunais municipais,
provinciais e supremo, que em conjunto formam o sistema unificado de justiça,
instituído pela Lei 18/88, de 31 de Dezembro.
Os Extraordinários são os tribunais que se encontram fora deste sistema. Dentro dos
tribunais extraordinários a doutrina distingue ainda, os tribunais especiais e os
tribunais extraordinários propriamente ditos.
Outros sectores da doutrina classificam os tribunais ordinários em Comuns e
especiais. De acordo a esta classificação seriam extraordinários os criados
ocasionalmente, para julgar crimes em situações excepcionais. Os ordinários são
todos outros.

COMPETÊNCIA. ESPÉCIES

Jurisdição penal:é o poder concedido aos tribunais de conhecer da existência de um


crime, individualizar a pena e de a aplicar ao agente que cometeu.

A competência: é a capacidade que o tribunal tem de julgar um caso concreto


determinado. É a medida de jurisdição ou poder de julgar.

A COMPETÊNCIA DE UM TRIBUNAL PODE SER: material, territorial ou


funcional.

Competência material ou em razão da matéria. Tem a ver com a espécie do tribunal e


determina-se pela natureza ou pela gravidade da infracção penal cometida.
Competência territorial ou em razão do território. Determina-se em função da área ou
território sobre o qual se exerce jurisdição de um tribunal da mesma espécie.
Competência funcional. A que se determina em razão da categoria ou hierarquia de
um tribunal ou de um órgão judicial (juiz) para decidir certa fase do processo ou
certos actos processuais dentro da mesma fase.

COMPETÊNCIA MATERIAL

Na maioria das vezes, a competência material determina-se pela natureza da


infracção ou pela sua gravidade. No primeiro caso, o critério de determinação da
competência é qualitativo e no segundo é quantitativo.
O Critério qualitativo determina o tribunal competente através da espécie da
infracção que a lei o encarrega de julgar.

A incompetência material, é tida por lei como uma excepção dilatória e por
conseguinte leva a que o tribunal obsta ao conhecimento do mérito da causa e dá
lugar à absolvição da Instância ou a remessa do processo para o outro tribunal.
A inobservância das regras de competência material produz a INCOMPETÊNCIA
ABSOLUTA DO TRIBUNAL. Pode ser alegada em qualquer altura do processo.
Poderá argui-la tanto o Mº Pº como o acusador particular e o réu. Art. 139º do C.P.P.
Determinada e declarada a incompetência material é remetido o processo ao tribunal
competente e este, se for o caso anulará os actos processuais que não teria praticado
caso o processo tivesse corrido perante ele, desde o início ou os que tenham de ser
repetidos para tomar conhecimento da causa. Art. 145º C.P.P.

O tribunal declarado competente poderá aceitar a competência, mas poderá também


não fazer e discordar de uma decisão a que é alheio e não o obriga. Neste caso
levanta-se um conflito negativo de competência, que deve ser resolvido por uma
instância superior.
COMPETÊNCIA TERRITORIAL Art. 45º, 47º, 48º, 50º

O critério geral de determinação da competência territorial de um tribunal é o


LUGAR DA INFRACÇÃO “locus delicti”.

EXCEPÇÃO ÀS REGRAS GERAIS DE COMPETÊNCIA MATERIAL E


TERRITORIAL COMPETÊNCIA POR CONEXÃO

COMPETÊNCIA POR CONEXÃO, verifica-se sempre que haja conexão entre


crimes e as regras gerais de determinação de competências, quer em razão da
matéria, quer em razão do território, quer as duas conjuntamente são afastadas por
regras ou critérios excepcionais em função da referida conexão. A conexão pode ser
objectiva (material) ou subjectiva (pessoal). A objectiva é a que resulta do crime ou
crimes cometidos, isto é, quando dada uma pluralidade de infracções e de agentes, a
sua relação se faz através da própria materialidade ou conteúdo das infracções.

As regras excepcionais estabelecidas nos artigos 56º, 57º e 58º, em razão da conexão
objectiva, é preciso notar que elas não se aplicam, quando os crimes conexos sejam
uns de competência dos tribunais comuns e outros da competência dos tribunais
especiais.

No que concerne a conexão subjectiva é o agente ou o sujeito que estabelece, a


conexão entre vários crimes. Trata-se de uma acumulação ou concurso real de crimes.
As infracções são conexas por terem sido praticadas pela mesma pessoa, ou pelo
mesmo sujeito.

O artigo 55º CPP, dispõe que o juiz competente para julgar:


1.É o da Infracção a que corresponder pena mais grave.
2.Sendo as infracções de igual gravidade, aquele em que o réu estiver
preso.
3.Não estando preso, o da infracção mais recente.
4.E, sendo da mesma data, aquele em que primeiro tiver sido proferido o despacho de
pronúncia ou equivalente (o despacho que designar dia para julgamento em processo
de policia correccional e sumário corresponde à pronúncia em processo de querela).

Tendo sido instaurado vários processos, apensar-se-ão àquele que respeite à infracção
que determina a competência para o Julgamento.
Art. 55º CPP. Se os processos correm em tribunais diferentes, a apensação só se fará
depois do despacho de pronúncia ou equivalente.

O desvio às regras gerais de competência estatuída no art. 55º CPP, constitui


excepção tanto às regras de competência material como às regras de competência
territorial.
É necessário considerar os casos da existência simultânea de conexão objectiva e
subjectiva, isto é, de vários crimes cometidos por um só réu (acumulação real)
conexos, todos ou alguns, com crimes cometidos por outros réus. São casos de
conexão a que a doutrina chama conexão mista. Quando assim, acontece, prevalece,
na determinação do tribunal competente, a conexão subjectiva. Artº 60º CPP. A
competência para julgamento dos crimes conexos se mantém, mesmo se for julgada
improcedente a acusação pelo crime ou infracção que determinou a competência do
tribunal. Art. 61º CPP.

CONSTITUIÇÃO DOS TRIBUNAIS: A ASSESSORIA POPULAR. POSIÇÃO


E PAPEL DOS ASSESSORES NA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA
Art. 28º e 37º da Lei nº 18/88

A assessoria popular e a colegialidade dos tribunais de primeira instância foram


instituídas pela Lei nº 11/77 de 9 de Abril (Lei da Intervenção dos Assessores
Populares nos Tribunais). Lei substituída pela Lei 11/82 e Decreto Executivo n.º 3/78
IMPEDIMENTOS

Causas de impedimentos - ART. 104º CPP


Os impedimentos são determinados ou pela verificação de um interesse pessoal do
juiz, cônjuge e parentes, na causa; ou pela sua participação no processo noutra
qualidade processual incompatível com a função de julgar; ou por lhe ter sido pedida
responsabilidade por algum dos sujeitos do processo ou parentes seus. Os
impedimentos devem ser declarados OFICIOSAMENTE, isto é, deve ser o juiz, ele
próprio, declarar-se impedido. §2 art.104ºCPP.

SUSPEIÇÕES

Causas das suspeições – art 112ºCPP.


Os fundamentos da suspeição têm a sua origem nas relações e parentesco, interesse
ou amizade que não constituam impedimentos.
Nenhum deles determina a inabilidade ou incapacidade subjectiva do juiz para julgar
a questão. Apenas concede às partes a faculdade de o recusarem, por ser razoável
supor, em tais casos, um relacionamento próximo entre o juiz e pessoas interessadas
na causa.
O juiz não pode declarar-se SUSPEITO. Só o Mº Pº, a parte acusadora ou o arguido é
que podem levantar a suspeição, se oquiserem. Art. 112ºCPP.

Os impedimentos e as suspeições não têm a mesma natureza.


Os primeiros produzem INCAPACIDADE SUBJETIVA DO JUIZ, a sua
incapacidade funcional de julgar na causa concreta e determinada em que eles se
verificam.

As suspeições não produzem qualquer incapacidade ou inabilidade na pessoa do juiz


da causa. O que produz é o direito das partes o recusarem.
OBS.: os actos praticados por um juiz impedido são nulos. Art. 110º§3; e os
praticados por um juiz suspeitos antes de arguir a suspeição são válidos. Art. 115º§2.
A dedução dos impedimentos e suspeições dá origem a INCIDENTES
PROCESSUAIS.

O MINISTÉRIO PÚBLICO
1.ORGANIZAÇÃO DO Mº Pº. POSIÇÃO DO MºPº NO PROCESSO PENAL.
FUNÇÕES.
O Mº Pº é o órgão que se encarrega da prossecução do processo e é também o titular
da acção penal. Art. 1º do Dec.
– Lei nº 35.007.
O Mº Pº é exercido em Angola pela Procuradoria Geral da República,
institucionalizada pela Lei n.º 4/79, de 27 de Abril.
A Procuradoria Geral da República é uma Unidade Orgânica subordinada ao
Presidente da República.

O Mº Pº esta representado junto dos tribunais, a nível do Tribunal Supremo:


a)No Plenário, pelo Procurador Geral da República;
b)Nas Câmaras, pelos Adjuntos do Procurador da República.
A nível das províncias, a Procuradoria Geral da República é representada pelo
Procurador Provincial da República , que é o magistrado do Ministério Público junto
do tribunal Provincial.
Os procuradores provinciais adjuntos funcionam junto de outras instituições, como na
Direcção Provincial da Investigação Criminal, Direcção Provincial da Inspecção das
Actividades económicas, etc.

Dentro do processo penal, o MºPº cumpre tarefas e exerce funções processuais


específicas. É em princípio, o introdutor da causa em juízo, através da acusação
contra o arguido.
Em sistemas judiciais penais em que existem um organismo privativo de investigação
processual (direcção Provincial de Investigação Criminal) a acção do Mº Pº limita-se
a um papel de orientador e fiscalizador da instrução preparatória.
Com a acusação o processo é introduzido em juízo (fase judicial) e o Mº Pº que até ai
desempenhou a função de um órgão de justiça, assume a posição de parte processual.
Compete também ao Mº Pº validar a prisão preventiva, ordenada em Instrução
preparatória pelas autoridades policiais, substitui-las por outras medidas estabelecidas
na lei e ordenar a soltura dos detidos. Art. 2º, g) da Lei nº 5/90.

O Mº Pº E A INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA OU CORPO DE DELITO


O EXERCÍCIO DA ACÇÃO PENAL IMPEDIMENTOS E SUSPEIÇÕES

A Instrução Preparatória compreende uma série de actividades que vão desde a


recolha de depoimentos, realização de exames, buscas e apreensões, à prisão dos
arguidos suspeitos, etc.

Nos processos de transgressão e sumários a instrução preparatória pode ser


substituída pelo auto de noticia que faz fé em juizo., nos termos do art. 2º Dec.-Lei n.º
35.007 e art 169º CPP.
Nestes casos, a remessa ao tribunal do auto de notícia equivale a acusação.

A EXCEPÇÃO AO PRINCÍPIO DO EXERCÍCIO DA ACÇÃO PENAL PELO


Mº Pº (princípio da oficiosidade) PODERÃO CONSTITUIR CERTOS CASOS
DE ACUSAÇÃO DOS ASSISTENTES DESACOMPANHADA DO Mº Pº.

Ao MºPº são impostas as mesmas causas de impedimento e suspensão dos juizes. Art.
105º e 113º CPP. Não se aplica porém ao MºPº o impedimento do n.º 3 do art. 104º do
C. P. Penal.

ACUSAÇÃO PARTICULAR. ASSISTENTES.POSIÇÃO DOS ASSISTENTES.


PODERES.CONSTITUIÇÃO.OFENDIDOS. A REPARAÇÃO DE PERDAS E
DANOS.INDEMNIZAÇÃO ATRIBUIDA EM PROCESSO PENAL
A ACUSAÇÃO PARTICULAR.
A acção criminal é pública e compete ao MºPº exercê-la. Esta é a regra geral, que
consagra o princípio da oficiosidade. Art. 1º Dec.-Lei n.º35.007.
Este princípio não é absoluto , e sofre restrições constantes dos arts. 3º e 4º do mesmo
diploma:

1.O Mº Pº não poderá exercer a acção penal, sem lhe ter sido feita a denúncia nos
casos previstos na lei. Para crimes semi-públicos a lei exige uma participação de
pessoas que a lei indica.
2.O MºPº também ñ poderá exercer a acção penal, quando ela depender de acusação
particular.
Só poderá acusar pelos factos incluídos na acusação particular e a sua intervenção
cessa com o perdão ou desistência do acusador particular.
§ único do art. 3º do Dec.-Lei n.º 35.007.
3.Constitui uma verdadeira excepção à oficialidade da acusação a faculdade
concedida aos assistentes de acusarem desacompanhados do Mº Pº, nos casos em que
este se abstenha de o fazer

O assistente particular é parte subordinada ou acessória do MºPº, embora possa


exercer a acção penal (deduzir a acusação), quando o Mº Pº se abstenha e a não
formule.

Além da faculdade de deduzir acusação, quer de forma autónoma, quer a título


subsidiário, na qualidade de auxiliar do Mº Pº, o assistente pode:

a)Na instrução Preparatória.


-Colaborar com o Mº Pº e os órgão especializados de investigação criminal e
apresentar memoriais ou requerimentos de diligências de prova que interessem à
descoberta da verdade. Art. 13º § único do Dec.-Lei n.º 35.007
-Consultar o processo, tomar conhecimento das declarações do arguido, de
diligências de prova a que pudesse assistir e dos incidentes ou excepões em que deva
intervir. Art. 7º CPP.
-Obter a confiança do processo, para efeito de formulação de acusação. Art. 349º
CPP.

b) Na instrução contraditória.
-Requerê-la. Art. 327º CPP, com a redacção que lhe foi dada pela Lei n.º 20/88 de 31
de Dezembro.
- Intervir directamente, isto é, de modo autonómo e sem subordinação ao Mº Pº,
oferecendo provas e requerendo ao juiz diligências convenientes. Art. 4º§ 2 do Dec.-
Lei nº 35.007
-Assistir aos autos de instrução contraditória, salvo se a sua presença for
incompatível como êxito da diligência. Art. 330º e§1 CPP.
-Requerer ao juiz que sejam feitas às testemunhas perguntas para completar e
esclarecer os depoimentos, necessários ao esclarecimento da verdade. Art. 332º CPP.
-Requerer esclarecimento dos peritos. Art. 333ºCPP.
-Manter ou não acusação (formular acusação definitiva ou abster-se). Art. 335ºCPP
-Recorrer do despacho da Pronúncia e do que ponha termo ao processo, mesmo que o
Mº Pº não o tenha feito. Art. 4º,§2º n.º 3 do Dec.-Lei nº35.007.

c) No julgamento.
-Assistir à audiência. Art. 417º CPP.
-Pronunciar-se sobre o requerimento da defesa e exercer o contraditório
.Art. 415º CPP.
-Ser ouvido, pessoalmente em declarações. Art. 216º, 428º 3 431º CPP.
-Interrogar e contra-interrogar. Art. 435º CPP.
-Requerer a aclaração ou reforma da sentença. Art. 456ºCPP.
- Alegar oralmente e contra-alegar. Art. 467ºCPP.
-Reclamar dos quesitos. Art. 11º, nº 3 da Lei nº 20/88.
-Recorrer da sentença. Art. 647º nº 2 do CPP.
As pessoas com legitimidade, nos termos do art. 4º do Dec.-Lei nº 35.007, poderão
requerer a sua constituição como assistentes, em qualquer altura do processo, desde
que o façam até 5 dias antes da audiência de discussão e julgamento, tratando-se de
simples assistentes à acusação do Mº Pº. Terão no entanto, de aceitar o processo no
estado em que se encontrar. Art 4º,§5 do dec.-Lei nº35.007.

Nos Crimes particulares a sua prossecução depende da constituição de assistente e


deverá fazer-se logo no início. De outro modo o processo não anda. Art. 9º ,§3 do
Dec.-Lei n.º 35.007.

Não é admitido a representação da parte pro mais de um advogado em um só acto


processual. Se houver vários ofendidos é permitido que cada um deles constitua o seu
advogado e que serão representados apenas por um. Esta regra se afasta caso haja
incompatibilidade de interesses entre os ofendidos.

O requerimento a pedir a constituição de assistente é na fase judicial dirigido ao juiz,


e na fase de instrução preparatória dirigido ao MºPº que admite provisoriamente
cabendo mais tarde ao juiz a quem o processo for distribuído apreciar definitivamente
o pedido. Art. 21º, 2 e 4 da Lei nº 20/88

OFENDIDOS. A REPARAÇÃO DAS PERDAS E DANOS. INDEMNIZAÇÃO


ATRIBUIDA EM PROCESSO PENAL

Ofendido é a toda aquela pessoa prejudicada nos seus legítimos interesses, ou todas
as pessoas civilmente lesadas pela infracção penal.

A prática da infracção, além de ofender interesses essencialmente comunitários, é


susceptível de lesar interesses patrimoniais e morais, pertencentes quer a pessoas
físicas quer à pessoas civis, interesses protegidos pela lei e cuja lesão faz incorrer o
infractor em responsabilidade delitual. Esta responsabilidade efectiva-se e concretiza-
se pela reparação do mal causado e pode consistir quer no pagamento de uma
indemnização, quer na obrigação de restituição, podendo assumir outras formas.

O art. 29ºCPP obriga a dedução do pedido de indemnização contra os arguidos no


próprio processo penal. E o art. 30º estabelece as
seguintes excepções:

1.A acção cível poderá propor-se em separado, quando a acção penal não tiver sido
exercida pelo Mº Pº dentro dos seis meses, a contar da participação, ou se estiver sem
andamento durante esse tempo, ou o processo for arquivado ou o réu tiver sido
absolvido.

2. O mesmo sucede quando instaurado processo penal por infracção que dependa de
participação ou acusação particular, se verificarem as razões indicadas na hipótese.
3. Se a acção penal se extinguir antes do julgamento (ex. por amnistia), a acção de
perdas e danos terá de ser proposta no tribunal civil. Art. 33º CPP.
Não é necessário que se constitua assistente no processo para requerer
indeminização. Art. 32ºCPP.

O pedido deve ser formulado em requerimento ou petição sob forma articulada e as


provas devem ser indicadas num prazo concedido para o mesmo efeito na acção
penal. Mesmo que na acção não tenha sido requerida a indemnização por percas e
danos que a infracção causou o juiz arbitrará oficiosamente na sentença. Art. 34ºCPP.
A sentença condenatória (art. 450º CPP), deverá determinar a indemnização por
perdas e danos, sob pena de nulidade secundária. Art. 100º CPP.

A lei reserva uma possibilidade para as pessoas a quem forem devida a indemnização
para requerem-na, antes de ser proferida a sentença final em 1ª instância.§3 do art. 34
CPP.
Caso o réu não pague a liquidação e a execução correrão no tribunal cível, servindo
de título executivo a sentença penal condenatória.
O ARGUIDO E O SEU DEFENSOR. ARGUIDO E RÉU. POSIÇÃO DE
ARGUIDO NO PROCESSO. O INTERROGATÓRIO E O DIREITO DE
DEFESA.

AUDIÇÃO DO ARGUIDO. COMPARÊNCIA DO ARGUIDO. FALTA, MORTE


OU AUSÊNCIA DO ARGUIDO

O CPP refere-se ao sujeito passivo do mesmo processo quer com o nome de arguido
quer com o nome de réu, indiscriminada e aparentemente de uma forma nem sempre
criteriosa. No entanto, usa-se com maior frequência o termo arguido para designar o
sujeito passivo durante a fase da instrução e o termo réu, após a pronúncia e
sobretudo na fase de julgamento. Do ponto de vista legal e material não existe
diferença entre os termos, mas na perspectiva teórica e doutrinal é costume fazer a
distinção e utilizar um termo ou outro conforme as fases processuais.

O agente será arguido desde o momento em que determinado crime suficientemente


comprovado é imputado a determinada pessoa. Será réu a partir do momento em que
o juízo de suspeita que sobre ele recaía se transforme em juízo de probabilidade,
confirmado pelo juiz, ou seja, a partir da pronúncia.

O art. 251º CPP define o arguido como aquele sobre quem recaia forte suspeita de ter
perpetrado uma infracção , cuja existência esteja suficientemente comprovada.
O arguido é sujeito processual e como tal a ele cabe não só obrigações, mas também
direitos processuais.

O arguido tem o direito de ser ouvido, logo, o interrogatório funciona como meio de
obtenção de prova e como meio de defesa.
De acordo a fase do processo ,a situação do arguido e do objectivo imediato com que
ele se propõe, pode se considerar três tipos de interrogatórios do réu:
a)Primeiro interrogatório de arguido preso.
Art. 4º da Lei nº 18-A/80;
b)Interrogatório do arguido não preso e os segundos e seguintes interrogatórios de
arguidos presos. Art. 264º e 265º CPP
c)Os interrogatórios em audiência. Art. 425º e 534º CPP e 10º da Lei nº 20/88
Em todos eles se revela o estatuto próprio do arguido como sujeito processual,
armado com o seu direito à defesa.

Os presos sem culpa formada, presos durante a fase de instrução do processo, deverão
ser apresentados ao Mº Pº. Art. 14 da Lei nº 18-A/92.
É obrigatório a presença do advogado ou defensor oficioso no acto do interrogatório
do réu, sob pena de nulidade processual das declarações obtidas. Art. 268º CPP
Nos interrogatórios de arguidos não presos a presença do advogado ou do defensor
oficioso não é obrigatória, mas poderá se fazer assistir de advogado. Art. 265º §2 do
CPP.

Assim o interrogatório constitui um direito subjectivo processual do arguido,


concedido no interesse da sua defesa e por conseguinte nunca lhe pode ser recusado.
Logo, o interrogatório de arguido preso é obrigatório, mas o de arguidos não presos,
não é obrigatório. Art. 250º§1 CPP

Quando alguém estaja a ser ouvido como declarante e tenha forte suspeita de que
esteja a ser algo de suspeitas de ter cometido o crime pode requerer que seja ouvido
nos termos e com as formalidades do primeiro interrogatório do arguido não preso.
Art. 252º§Único CPP.
O arguido tem os seguintes direitos no acto do interrogatório: ser assistido por um
advogado, não responder às perguntas que lhe forem feitas sobre à matéria da culpa,
não ser punido se responder falsamente.

A comparência do arguido em juízo é obrigatória nos termos do art. 22º CPP. A falta
de comparência do arguido em juízo, quando esta for obrigatória é sancionada. Art.
283º, 286º n. 3º e 419º CPP.
Assim, para além de um direito de defesa a comparência em juízo é ao mesmo tempo
um dever ou uma obrigação processual inerente a responsabilidade pessoal do
arguido.

Assim que, a falta de capacidade processual suspende o processo (caso de demência)


e a morte extingue o procedimento criminal (em princípio). Art. 125º n.º 1 e § 1 CPP.
Em princípio porque em caso de morte do arguido os seus familiares podem interpor
o recurso de revisão da sentença que o tenha condenado. Art. 675º CPP
A excepção a regra de comparência do arguido é também, o processo especial de
ausente , regulado nos termos do artigo 562º Segs. CPP
O DEFENSOR. ADMISSIBILIDADE E OBRIGATÓRIEDADE DO
DEFENSOR.
DEFENSOR COSNTITUIDO E DEFENSOR NOMEADO

O arguido pode constituir advogado em qualquer altura do processo e em qualquer


processo, em harmonia com o que se dispõe o artigo 49º do Decreto-lei nº 35.0007
A presença do defensor é obrigatória, não apenas por necessidade de defender o réu,
mas também pelo interesse geral de uma boa aplicação da justiça.
È obrigatório que seja nomeado o defensor no despacho da pronúncia, proferido em
processo de Querela, se ainda não houver advogado constituído. Art. 49º Dec.-Lei
35.0007 e no julgamento em processo de Policia Correcional, caso não tenha sido
nomeado antes.
Nos processos de transgressão e sumários não há obrigatoriedade, dada a
simplicidade processual e a menor importância dos interesses em causa.
A nomeação do defensor é, também, obrigatória se do exame médico-forense a que
foi submetido o arguido, se concluir pela sua falta de integridade mental e
consequente irresponsabilidade ou há dúvidas sobre a existência de responsabilidade.
Art. 127º CPP.

A falta de nomeação de defensor ao arguido, quando ela for obrigatória, constitui


nulidade principal do processo penal. Art. 98º n.º 4 do CPP. Essa nulidade deverá
considera-se sanada se for anterior ao despacho da pronúncia ou equivalente e o
advogado constituído ou o defensor nomeado , posteriormente não argui-la no prazo
de 5 dias, a contar da data da junção da procuração forense ou da notificação da
nomeação. Art. 98º §5 CPP.

Assim é nulo o interrogatório efectuado sem a presença do defensor, quando


obrigatório, ou quando o advogado é indevidamente impedido de assistir, se
facultativo.
É do mesmo modo nula a acusação que não tenha sido precedida de interrogatório de
arguido, quando obrigatório.
O advogado pode recusar o patrocínio:
1.Existindo más relações ou inimizade pessoal com a parte ou interessado que solicite
os seus serviços;
2.Quando entenda que a pretensão da parte ou interessado é injusta, imoral ou ilícita,
ou careça de fundamentos e não possa proceder;
3. Quando estiver impedido nos termos da lei reguladora do processo;
4. Invocando outras razões justas e atendíveis;
5. Por impossibilidade material de satisfazer o serviço solicitado, nos termos dos
regulamentos gerais do exercício da advogacia.

Entre os direitos (podem ser gerais ou especiais- os especiais são de natureza


processual) de natureza processual (extensivo aos demais defensores) o advogado
tem os seguintes:
1.O direito de consultar o processo e exame das provas. Art. 25º, 70º,72º, 352º CPP;
2.Direito de contactar o arguido, de comunicar e conferenciar com ele, em condições
de liberdade, segurança e confidencialidade;
3.Direito de assistir aos interrogatórios do arguido. Art. 253º, 264º, 256º e
268º CPP;
4.Direito de assistir às buscas, nos termos do artigo 6º n.ºs 2,5 e 6 da Lei nº 22/92;
5.Direito de estar presente a todos actos de instrução contraditória (330º) e na
audiência de discussão e julgamento. Art. 416º e segs. CPP.

Os deveres dos advogados podem ser gerais ou especiais. Os especais são os de


natureza processual (extensivos aos demais defensores):
1.Não recusar a defesa, sem motivos justificado nem a abandonar. Art. 27º, 28º CPP;
2.Praticar actos necessários ao bom e regular andamento do processo
e à defesa do arguido e abster-se de praticar os que possam prejudicar ou
desfavorecer.
3. Guardar sigilo profissional e segredo de justiça;
4. Não se afastar , nas suas alegações e requerimentos em audiências do respeito
devido ao Tribunal; não usar expressões injuriosas, violentas ou agressivas contra
autoridades públicas ou quaisquer outras pessoas; não fazer explanações ou
comentários sobre assuntos alheios ao processo e que não sirvam para
esclarecimento. Art. 412º CPP.
5. Contribuir para a descoberta da verdade, requerendo diligências
independentemente da vontade do arguido, interpondo recurso e mais que se lhe
afigure útil para a descoberta da mesma.

TEORIA DOS ACTOS PROCESSUAIS


1.Definição de actos processuais
2.Prazos
3.Ineficácia e invalidade. Inexistência. Nulidade: absoluta, relativa e
simples irregularidades
4.Classificação dos actos processuais

DEFINIÇÃO DOS ACTOS PROCESSUAIS


O processo penal é um conjunto de actos, estreitamente dependentes uns dos outros,
que se ordenam e encadeiam de uma forma dinâmica com vista à realização de fim do
processo. Esses actos são actos processuais e com eles se preenchem as principais
actividades exercidas no decurso do processo, pelos sujeitos e participantes
processuais.
Tanto a actividade jurisdicional, como a actividade da acusação e defesa, se exercem
através dos actos de processos, isto é actos processuais.
Os actos processuais são actos jurídicos. Actos, enquanto acção humana; jurídicos,
porque regulados pelo direito e produtores de efeitos jurídicos; processuais, na
medida em que se produzem e manifestam num processo, as normas que os
disciplinam são normas de direito processual e meio de realização de fim processual.

Actos processuais são também actos jurídicos que têm por fim constituir, modificar e
prosseguir ou extinguir uma relação jurídico-processual.
Dos actos jurídico-processuais há que distinguir os factos jurídicos processuais, que
não dependem nem têm origem na vontade das partes ou sujeitos envolvidos no
processo. Ex.: a morte do arguido que extingue o procedimento criminal.

PRAZOS

Prazo judicial é o período durante o qual ou a partir do qual se pode praticar um acto
processual.
O prazo pode ser estabelecido por lei, ou pelo juiz. O primeiro (fixado por lei) é em
princípio, improrrogável, sem prejuízo das excepções previstas pela lei. Art. 144º e
147º CPC

O prazo conta-se a partir do início «dies a quo» ou do seu termo «dies ad quem».
Contando-se a partir do início não se considera o dia em que começa, mas, conta-se o
dia em que findar. Art. 279º CC. Se o prazo for regressivo não se considera o dia em
que termina, mas, conta-se o dia em que começa. Art. 404ºcpp (ex. de prazo
regressivo).

Os prazos podem ser dilatórios ou peremptórios. Art. 145ºCPC.


Dilatório, quando só depois do termo o acto pode ser praticado, ou seja, só depois do
seu decurso começa a contar-se outro prazo.
Peremptório, quando o acto deve ser praticado enquanto decorre o prazo, isto é, entre
o primeiro dia do prazo e o último.
O decurso do prazo peremptório faz caducar, ou seja, faz extinguir o direito à prática
do acto respectivo. Art. 145º nº 3 CPC
Há, no entanto, no processo penal prazos que não têm essa consequência; prazos que
embora imperativos, não fazem caducar o direito de praticar certo acto, apenas têm
com efeito uma cominação.
O acto poderá ser praticado foram do prazo peremptório desde que se alegue e se
prove JUSTO IMPEDIMENTO. Art. 145º nº 4 e 146ºCPC.
O acto pode ainda ser praticado independentemente do justo impedimento desde que
se pague uma multa de montante igual a 25% da taxa de justiça devida ao final.
Art. 145º n. 5 do CPC e art.1º n.º 2 da Lei n.º 7/00 de 3 de Novembro (por analogia).

INEFICÁCIA E INVALIDADE. INEXISTÊNCIA. NULIDADE: ABSOLUTA,


RELATIVA E SIMPLES IRREGULARIDADES.
O acto jurídico para que produza efeitos que a lei lhe assinala tem de reunir certos
requisitos. Tais podem ser de forma, de tempo de lugar, etc.
Para que o acto tenha existência jurídica, é necessário que estejam presentes todos os
requisitos (elementos) e além de existirem devem estar em conformidade com a lei,
não podem ser irregulares ou mal conformados, imperfeitos, isto é, não podem estar
afectado de qualquer vício.

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