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A reforma agrária
Plioio dc Arruda Sampaio
Depu(«e» Uder do Pvtido dos Tnbilfasdorvs
oa C im in Fcdcnl
Reforma Agrária
Ensaios c debates
Mas, SC o conceito dc reforma farcr, ao tratar do problema ou volume produção por pessoa
agrária expressa etaramente esse reforma agrária na Constituinte ocupada no cultivo), embora não
processo, oáo descreve, com a consiste em saber: que fatores autorizem a propaganda ufanista
mesma clareaa, os motivos que econômicos, sociais c políticos dos interessados, demonstram que
kvam os Estados a rcalÍTarcm colocam para o Estado brasileiro a o setor agropecuário brasileiro
reformas agrárias, nem os reais necessidade dc rcali/ar uma está dotado dc razoável dinamismo
objetivos desses processos. reforma agrária, boje, em nosso e que vem crescendo a um ritmo
Há reformas agrárias país? ba^ante aceitável, tanto quando
determinadas pela necessidade dc A resposta a essa questão permite comparado com o dc outros países
remoser obstáculos estruturais á dar resposta correta á questão como com o ritmo dc crescimento
modernUação econômica c seguinte (que se coloca como da popubção.
tccnológjca da produçlo; há logicamente necessária): que tipo As estatísticas mostram ainda que
reformas agrárias determinadas dc reforma agrária deve ser o setor agrícola - embora
peta necessidade dc mudar a reali/ada no Brasil, hoje? crescendo a um ritmo inferior ao
estrutura da produçáo ou das As respostas a essas duas questões dos outros setores • tem sido capaz
exportações agrícolas; há reformas fornecem os parâmetros para a dc divcrsiflcar-sc, dc diversificar
agrárias provocadas pela formulação dos instrumentos suas exportações c dc rcati/.ar
nccc.vsidadc dc povoar e garantir a jurídicos que o Estado requererá algumas “façanhas” imporianic.s.
soberania nacional cm certas para planejar c executar a reforma. como a dc expansão da soja, da
repões; há reformas agrárias que Aí entrará o problema da reforma agricultura energética, da
objetivam criar empregos, mecanização, da agricultura
agrária na Constituição.
combater a pobre/a, garantir a irrigada, do uso dc insumos
produçáo dc alimentos. Enfím, modernos etc.
uma síric dc motivos das mais Fatores determinantes Mostram ainda os dados
variadas ordens podem, estatísticos que esses avanços,
isoladamente ou cm conjunto, embora não sejam uniformes,
provocar processos dc reforma A primeira questão pode começar
a ser respondida com uma estão longe dc se circunscreverem
agrária. A clara determinação
negativa; se o fim da reforma cxclusivamcntc 3 um único pólo
desses motivos possit^lita não moderno diferenciado c bem
apenas uma idcntifKação m w agrária for o dc remover um
obstáculo estrutural que esteja definido. Trata-se dc um proccs.so
clara dos objetivos re^s do
entravando o crescimento da com incidência mais acentuada cm
processo (nem sempre explícitos,
produção ou a introdução dc São Paulo c nos Estados do Sul,
mas sempre mais importantes para
lccnolo^a.s agrícolas modernas, mas que se verifica, cm alguma
a interpretação correta dos casos medida, cm todas as regiões do
conaclos de reformas do que os mais cricicnics c produtivas do que
as tradicionais pode-se afirmar país. O setor agrícola constitui
objetivos formalmcntc expressos) hoje fundamcntalmcnic um setor
como oferece os únicos critérios que jã não mais se requer a
realização dc uma reforma agrária capitalista, tanto no sentido dc que
válidos para uma avaliação opera .seguindo critérios dc
ot^tiva dos seus resultados. no país. Ou, para dizer o mesmo: a
estrutura fundiária brasileira, racionalidade capitalista (produçáo
Similarmente, uma clara apesar do seu elevado grau dc para o mercado, remuneração do
identificação dos fatores que capital, trabalho assalariado,
concentração da propriedade e da
determinaram a necessidade ou a posse da terra (índices Gini entre renovação constante da lecnolo^a
conveniência de uma reforma cm função dc cálculos dc
0,95 e 0,90 numa escala onde o
agrária, cm uma dada sociedade, máximo é igual a 1,00) não bcncfício-cusio etc.) como no de
constitui preliminar decisiva para o constitui um “gargalo” impcdiiho que, apesar da existência dc
seu correto equacionamento como do aumento da produção e da importantes "holsões dc atraso”,
proposta, tanto no plano produtividade. não são estes que definem o ritmo
cconômico-social, como no plano da produçáo agropecuária. Kste
político c no plano do instrumental Os dados cslalísiicos. tanto do ritmo depende hoje claramcntc dc
jurídico para rcati/áda. crc-scimcnio da produçáo como da desempenho moderno, dinâmico,
melhoria da produtividade capiialtsia. do setor agrícola.
Daí porque a pergunta bá.sica a se (volume produção por ha cultivado
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lústa cün&tala^io pcrmiic umj resultado da postura radical de assinalar que a pobreza rural
primeira aproximarão à pergunta pequenas minorias idcologi/adas deriva dirctamcnic da estrutura
U)brc a.%nccc&sidadcs da reforma que levantaram fundiária. Com efeito, o mesmo
agrária no Rrasil. Com efeito, de vüluniaristkamcnic uma questão estudo da FAO que constatou a
maneira geral, os Bsiados artificial. Obviamcnic nenhum existência dos 17 milhões de
capilalisias rcali/aram reformas pequeno grupo leria forças para pessoas "absolutamcnic pobres"
agrárias para abrir camiriho à tal façanha. no campo brasileiro pôde
produção capilalisia. entravada A reforma agrária coloca-se hoje csl.itx;lcccr uma correlação direta
pela permanência, no campo, de com a intensidade c a entre grau de pobre/a c a grande
estruturas econômicas, sociais c üramaltcidadc que assumiu na concentração da propriedade da
políticas anacrônicas c Constituinte porque tem uma terra: os municípit>s que
insuficientes, herdadas de períodos causa real, porque constitui a apresentam maiores ínüiecs de
anteriores (feudalismo, priniuçâo resposta adequada a um pobreza (maior número percentual
mercantil simples, sistema colonial impcralbx) do dcscnstilvimenio de pol>rcs entre a população c grau
ele.). econômico, social e político da de pobre/a maior entre os pobres)
Por que um Hslado c.apílalisla, Nação bra.síleira. B.sta causa real são os que ostentam tamln^m os
como ê o Hslado brasileiro, teria da necessidade da reforma agrária maiores índices de concentração
que f;uer uma ref«>rma agrária da chama-se pobre/a rural - malri/ da propriedade da terra.
sua estrutura agrária se a maneira Kísica da pobre/a urbana c, !^sa imensa po)>re/j não ê
capitalista de produxir já se portanto, da pobre/a cm geral no residual c portanto não se pode
desenvolveu solidamente cm seu Brasil. aceitar a lese falaciosa de que será
meio rural? A resposta correta ã 5icgundu estudos da FAO (1.080), eliminada gradalivamente á
primeira questão 6 a de que o 43% das famílias rurais, medida que SC for completando a
Brasil não precisa de uma reforma correspondendo a 3.400.000 transítumação capitalista do
agrária para abrir caminho á famílias c a aproximadanienie 17 campo. Pelo contrário, os
introdução ou implantação do milhões de pcs.soas (população cinquenta anos de modernização
capitalismo no campo ou para superior á de 14 dos 20 países do capitalismo agrário parecem
superar a estagnação nu o latino-americanos) situam-se evidenciar a tese contrária. Com
crescimento dcmasiadamcnic lento abaixo da "linha da pobreza efeito, o capitalismo tal como se
da sua produção agrícola ou, absoluta". Conceito cunhado pelos implantou e vem se dcscns'olvendo
(inalmcntc, para acelerar a organismos internacionais de no Rrasil tem se mostrado capaz
modernização tecnológica da sua dcscn\x>lvímcnio (Banco Mundial, de transformar a estrutura de
prrxiuçáo agropecuária. FAO), a "linha da pobre/a produção agropecuária, de
Sc essa resposta for correta, por absoluta" de.signa nís-cís de melhorar as técnicas produtivas, de
que então a reforma agrária está carência de recursos que aumentar o \'oIumc da produção;
colocada no clcna> das questões comprometem a própria mas não tem demonstrado a
políticas mais importantes da reprodução da vida humana. mc.sma capacidade para elevar o
atualidade? Por que Iodos os padrão de vida da população rural.
A po)>rc/a rural gera inúmeras Rm Iodas as ciap.ss do proccvso de
partidos a insCTCsem cm seus consequências; migração campo-
programas? Por que o gosrrno capitalização da agropecuária, o
campo (germe da violência rural), fenômeno da pobreza não só
proclama lralar*sc de um migração campo-cidade (germe da
programa prioritário? Por que o esteve presente como foi até certo
pobreza urbana, da crise da ponto alimentado pelas próprias
Presidente da República deslocou moradia, do agrasameniu dos
se ató Roma para discutir o mudanças econômicos c .sociais
problemas sanitários nas que a própria capitalização
assunto com o Papa? Por que o metrópoles, da escalada da
debate da reforma agrária foi tão acarretou. Diante dc.ssa
marginalidade c da violência nas eonsi.tiação. comprovada
intenso na Constituinte? cidades), subordinação política dos empiricamente cm vários estudos,
Nenhum analista sério da massas rurais ao "coroncllsmo" vários analistas chcgar.im alé
sociedade brasileira atual p<xlc ele. Não é o caso de reproduzir mesmo a propor uma
aceitar o argumento de que Iodas aqui as cifras demonstrativas interpretação da modernização
essas modificações sejam o dessas chagas soei,ais, mus de tecnológica e econômica do campo
Reforma Agrária
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brasileiro como um processo sindicatos urbanos combativos para operar como fator de redução
perverso de recriação da pobreza passaram a se solídart/ar com a de custos, c lambem na medida cm
rural. lula do homem do campo. Essas que não provocou con.scqiicncias
A evidencia da incapacidade do instituições cncarrcgam-sc hoje de sociais mais nocivas, de vez que a
desenvolvimenio capilalista da divulgar, nas cidades, as indústria nascente absorvia grande
agricultura brasileira de eliminar arbitrariedades, os assassinatos, a quantidade de mão-de-obra e que
cndogcnamcntc o fenômeno violência dos grandes proprietários o espaço urbano ainda amplo
alarmante da pobreza rural coloca c a palrtKinar campanho.s de apoio podia sempre abrigar mais gente,
para o falado bra.siiciro a aos movimentos camponeses, iloje, até esses começam a
necessidade de intervir no constituindo<sc cm fatores convergir para uma posiç.ão
proccs.so. a Hm de dar solução ao importantes de uma tomada de distinta. Na etapa atual do
protdcma. consciência nacional a respeito da procc5>so du desenvolvimento, a
impropriedade da estrutura indústria já não requer um
Mas. por que esse Estado burguês fundiária que gera c perpetua cs.sa “exército de reserva“ tão ^ande.
brasileiro tem necessidade de miséria. A consciência cad.i vez acampado ao lado dos fábríco-s, até
eliminar a pobre/a rural? mais expandida de que c.ssa porque a tecnologia industrial
Conviveu com ela durante tantos miséria não responde a um mosferna absorve menos força de
anos, por que seria imperioso imperativo da natureza ou das leis trabalho. Em contrapartida, a
alacã-la vigorosamente agora? econômicas, mas à intransigência excessiva aglomeração utlxma,
A resposta a estas questões pode de grupos privilegiadas, alimenta c inicnsiricandu a competição por
ser assim resumida: porque essa radicaliza a oposição ao regime espaço, pelas fontes aquíferas c
pobre/a, antes tolerada, assumiu Capitalista c opera como um dsts provocando uma defasagem
proporções que dão origem a duas elementos de instabilidade do crescente entre a infra-estrutura
ordcfLS de fatores de processo político brasileiro. urbana c as exigcncia.s de
dcscstabili/ação social c polilica, Por outro lado, essa pobreza funcionamento cfícicntc das
altamcntc perigosos para o Estado invade as cidades e provoca não só cidades, fundamenta cada vez mais
burguês. Por um lado. essa uma deterioração acelerada c a idéia de que as dcscconomixs
pobre/a, resultado de uma ameaçadora da qualidade da vida que assa enorme aglomeração
sobrccxploração do trabalho do nos centros urbanos mais provoca superam de muito as
homem do campo, já não d mais populosos (que constituem hoje o economias de escala que
aceita como algo natural c centro nervoso do capitalismo aglomerações menoras
imutável pela massa rural, cuja brasileiro) como o esgarçamento representaram cm períodos
postura conformada c fatalista do próprio tecido social. Já anteriores. Já ninguém discute a
vem-se transformando ninguém desconhece que a necessidade de desacelerar o ritmo
rapidamente, inclusive pelo efeito extraordinária escalada da de migração campo-cidade para
da penetração de novas iddias c violência urbana, cm cidades como poder dar um mínimo de cnciência
concepção de vida, iraAsmitida Rio, São Paulo. Beto Horizonte. à.s estruturas urbanas • condição,
pelos meios modernos de Recife, é a consequência direta da por sua vxz, da cnciência do
comunicação (rádio c TV). As acelerada migração campacidade, próprio processo econômico
ocupações de terra, os conflitos provocada pela situação de miséria industrial.
violentas, a expansão dos do trabalhador rural. (De 1.970 a Ao lado dos economistas c
sindicatos c associações de 1.980, quase 16 milhões de pessoas sociólogos, urbanistas, arquitetos c
camponeses são expressões dessa mudaram-se do campo para as administradores públicos
mudança de mentalidade, que grandes cidades.) coasialam, de modo consensual, a
embora ainda se encontre cm impossibilidade prática de dar
estado embrionário já mostra um Economistas c sociólogos
burgueses consideraram a soluções minimamente aceitáveis a
caráter explosivo. E não ó apenas o proMcmas como os de moradi.i,
homem do campo que começa a acelerada migração um fator
positiv*o nas etapas iniciais do transportes c higiene urbana,
rejeitar c a denunciar sua prõpria enquanto as grandes cidades
situação de miséria. Outros setores processo de indu.Mr>atização, na
medida em que coIikou à continuarem explodindo como o
influentes da nos.sa S4KÍcdadc vêm fazendo, nas últimas décadas.
como a Igreja, a universidade, os disposição da indústria nascente
um enorme “exército de raserva”, E todos sabem que, .sem reduzir os
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Bnsaios e ücbates
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12 Ago/Nov 88
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imi&sâo na posse do imóvel. o laudo judicial retratará uma de entusiasmo sem o qual a
Para (anio, devv depositar cm situação posterior que poderá ser reforma agrária não atinge seus
Juízo os Títulos de Dívida Agrária facilmente “construída" pelo objetivos econômicos, sociais,
correspondentes ao valor que interessado, de maneira falaciosa, políticos c culturais. Por essa
atribui ao imóvel c que constituem a fim de subtrair-se à ra/ão, o texto coesliiucional deve
a indenização. desapropriação. Um campo Fixar um prazo para o poder
abandonado pode ser “povoado" Judiciário apreciar o ato
Ao contrário do que ocorre com as
de animais, cm uma noite. Uma cxproprialório. O Judiciário
desapropriações por utilidade
terra intocada pode ser trabalhada limitar-.sc-ia ao exame de
pública, utilirada gcralmcnic para legalidade do decreto, que
por tratores cm poucos dias. Ilm
imóveis urbanos, as consubstancia um alo de império
resumo; o imóvel pode ser
desapropriações por interesse “maquiado" para demonstrar a do líxeculivo. E cm caso de
social utilizadas para reforma comprovado abuso do poder
improcedência da desapropriação.
agrária não podem atingir executivo, a sanção seria o
qualquer imóvel. Dessa forma, o Obviamente a agência de reforma
agrária pode ncuiralí/ar vinte, pagamento ã vista da indenização
ato cxproprtalório deve-se
trinta, cinquenta manobras deste cm dinheiro c não cm Títulos de
desenrolar dentro de determinados
tipo, mas não tem condições Dívnda Agrária.
parâmetros estabelecidos na lei.
Na contestação do ato mínimas para evitar mil, duas mil, Traia-sc de possibilitar ao
cxproprialório, isto fa/ com que, 1res mil ■cifras das Judiciário o exame da legalidade c
perante o Judiciário, possa ser desapropriações que precisariam não do mérito, dentro, porém, de
alegado que a desapropriação ser feitas para xs.scgurar a um período determinado,
excedeu os limites legais. F. como magnitude devida ao pr^Kcsso de rcsolvvndo-sc a disputa, no caso de
cm todos os atos administrativos o reforma. erro da agencia de reforma
Judiciário, embora não lhe possa Enquanto a justiça discute o agrária, não mediante a devolução
julgar o mérito, pode examinar a mérito de uma desapropriação, a do imóvel ao proprietário, ma.s
sua legalidade, ou seja. pode agência de reforma agrária fica mediante sua condenação a pagar
examinar se a área declarada de parada na porta do prédio, sem a vista o valor da indenização.
intcrcvsc social está contida nos poder agir. Daí resultam situações No Brasil, para possibilitar a
parâmetros daquilo que pode ser de extrema gravidade, porque, no realização da reforma agrária, é
desapropriado c se o Hslado não geral, as desapropriações são feitas fundamental acelerar o processo
agju com abuso de poder, para solucionar conflitos entre de imissóo do órgão executor da
excedendo esses parâmetros. Isso proprietários (ou grileiros reforma agrária na posse dos
significa, na prática, o bloqueio da camuflados de legítimos imóveis desapropriados c, por Isso.
desapropriação por um. dois c ate proprietários) c posseiros que essa questão adquire, no contexto
tres anos. ocupam terras nâo-cxploradas, no aluai, estatuto coasliiucíonal
O exame da desapropriação pelo mais das vezes desconhecendo a explícito.
Judiciário, na prática, cm retirar circunstância da titulação da terra.
massividade ao proccs.so de A paralisação da reforma c a
reforma agrária. Com efeito, a demora do julgamento da
necessidade de provar desapropriação criam condições
judicialmcntc a validade de um para víolcncia de toda sorte. Em
laudo técnico reali/ado seis, oko, outros casos, noticiado o decreto
dc7. vinte meses antes obriga a de desapropriação assinado peto
agencia de reforma agrária a Prc.sidcnlc da República, centenas
destinar a essas demandas um de famílias “sem terra" acampam
número de funcionários ou dentro ou nos limites do tmõvxl
incompatível com uma quantidade desapropriado, no desespero para
elevada de desapropriação, conseguir um lote no futuro
sobretudo se .se tem cm vista que o avvcniamento. Nesses casos, a
laudo técnico, rcali/ado na esfera demora do procc.ssu judicial opera
administrativa, retrate uma como um fator de desmobilização
realidade cm um memento dado, c extremamente prejudicial ao clima
Reforma Agrária 13
Ensaios e debates
*Al^wmas psncí deiic trabalhe foram apresentadas ameriermente cm palestras, aposiilas e ariifot de imprensa.
"José Cromes da Silva, engenheiro agrônomo e farendeiro, foi Kereiiríoda Agriruliurae AbaviecimeniodogosvmoMonioroe
preaidenie do Intiilulo Nacional de Cokwiiraçto e Reforma Agriria (INCRA).
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coadicionamcnio social, depois dc sido imposta à concessão dc grandes inalterado o limite para a
ter passado pelos estádios glebas dc tenas púMicas. No primetro alienação ou concessão dc terras
intermediários que admitiam caso, a autorização constitucional públicas, já que passou apenas dc
apenas restrições em função da inicialmcnic estabelecida dc 10 três mil para 2.S00ha, quando na
necessidade e utilidade pública hectares ocupados durante dez anos etapa interconsiitucional anterior a
(art. 153 $22). na Constituição dc 1934, foi redução foi dc 10.000 paru 3.000ha.
E!ssa esotução rcflelc-se no progrcssvamcnic ampliada até atii>^
instituto dc Desapropriação por os cem hectares dc 1969, com a Através da incidênciadaslrés
Interesse Social para í-lns dc limitação do pra«> dc ocupação “palavras-chaves”
Reforma Agrária c na forma dc (apenas Sanos no Usucapião c.^cia])
pagamento das desapropriações. fixado cm lei ordinária. Em Dc uma maneira expedita, a
Do “previamente indenizado do contrapartida, o limite para ccmcc.ssào eficácia dc uma Constituição
valor dela” que vigorava na Carta ou alienação dc terras público-s sem qualquer pode ser aferida, com
Magna dc 1824, passou-se autorização, cm cada caso, do Senado vistas ã realização dc uma
simplesmente a pagar o justo Federal, diminuiu dc dez mil hcctarc.s Reforma Agrária, pela maneira
preço, eliminadas que foram as para os Ires mil hectares dc 1969. como é feito o pagamento das
imposições dc pagamento cm Tomando apenas aqueles quatro indenizações, pela rapidez como o
dinheiro, c feita com antecipação. parâmetros, é possível concluir que Estado se imite na posse c pelo
Num determinado estádio a Constituição Federal dc 1988: valor atribuído às terras
(ironicamente, por iniciativa, dc a) recuou, iamcniavcimcnic, desapropriadas. Assim, as palavTos
um goverrvo militar - Costa c Silva afrouxando o instituto da “dinheiro" (para forma dc
• e através dc um Alo institucional, desapropriação por intcrc.vsc S(KÍal pagamento), "prévio" (para
o Al n^ 9 dc 25 dc abril dc 1%9, tanto na abrangência (art. 18S). mostrar a precedência do
regulamentado pelo Dccrcto-lci como no tocante i exigência do pagamento) c “justo" (para definir
5S4dc25dc abril dc 19Ú9), prévio pagamento (art. 184); o valor) podem ser utilizadas como
chegou-se ao ideal do pagamento b) não resgatou o critério parâmetros válidos para esse tipo
das desapropriações pelo valor decretado pelo Governo Costa c dc análise.
declarado do imposto territorial Silva (com as assinaturas dos A tabela abauo mostra como esses
rural. Como se sabe, este critério constituintes dc 1987/88 Delfim Irés indicadores se inserem nas
foi derrubado no Tribunal Federal Nclio c Jarba.s Pas.sarínho) dc fixar três últimas Cotisiiluiçõcs
dc Recursos que cm data dc 6 dc o valor declarado para fíns dc brasileiras.
dezembro dc 1979 declarou a pagamento do ITK como limite Como se pode ver, a CF dc 1946
inconslilucionalidadc do artigo 11 para o valor das indenizações; não permitia a realização dc uma
do referido dcacto-lci, c, c) recuou também rebaixando dc Reforma Agrária no Brasil, já que
infclizmcnic, a nova CF não cem para cincocnia hectares o exigia pagamento prévio c em
restabeleceu o dispositivo.’ limite do instituto dc usucapião; dinheiro, pelo preço justo, das
A questão da dimensão da d) manteve pralicamcnic
propriedade rural pode ser estudada
na história das Constituições
brasileiras através dc dois vetores: o Pagamento -1
Constituição
aumento da superfície que o Forma Época Preço
Coastituinie tem atribuído ao instiiulo
do usucapião c à propriedade para 1946 d in l K i r o prévio justo
)9T>9 i Mu Im poaicrwr |UMO
os posseiros adquirirem terras 1 9 f» tiiuioa prévio ju U O
públicas; c ã diminuição que tem
'Po*t*nerm«ntt. am*imacert«. p*lo Agravo (Ag) n*41.03Z-AC. 0« Otiombrod* t981. Ooclarou a imtrtu6onali4«d« também
do artigo 3« do OL S64/69.
Em8d«Nov«mbred«l9ÚSoSFprorTHAgouan*soli»çaen«t.366.pubiicadanoOiénoOnciarda (M4o«m tt-tl-iges.auspandtndo
por ineoratitucionaudade. noa tarmoa da daciaéo dírmitíva proítrída paio STF noa autos dot Racuraos Extraordinànoa da nOmaro
99.649-z a 100.04S7. a axacuçSo do art 11 do DL n* 554/69 0» FOipi. Ratani BraaP, 1986. Ratorma Agriria- Dtcra1o4ai n> 554/69.
Reforma Agrária 15
Ensaios e debates
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Reforma Agrária 17
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Ao vencedor^ as batatas
As implicações da vitória da UDR na Constituinte
Tcnnifuda a votação da C^onuitulnic. paulistas que, ausentes no dia da habitual espaço dedicado à discus
a UDR SC apresenta como vitoriosa votação, disputam o título de “mais são das questões tracionais. Ignácio
cm quase lodosos lemas cm que se progrcssisla" junto aos trabalhadores Rangel, por exemplo, um colabora
empenhou. Da reforma agriria ao rurais de Piracicaba, na campanha dor sistemático do seu caderno de
perdão das dividas dos proprietários pela Prefeitura da cidade... economia c sem qualquer dúvida
rurais. um dos maiores cspccialislas na
Ironias ã parte, a reflexão se impõe.
A derrota no tema da reforma foi K ela começa pelo entendimento do questão agrária brasileira, csacvcu
tão acachapanie, que gente que sígnir>cou a vitória da UDR. sobre URP, inflação, dívida externa,
progressista como o presidente da mas só locou no lema da reforma
Alê mesmo aqueles que acompa agrária cm 15/05/88, depois da
Conferência Nacional dos Bispos
nharam o debate pelos jornais de votação portanto, num artigo ínlUu-
do Brxsil (CNBB). D. Luciano
vem 1er se dado conta do caráter bdo “Qual 6 a Conjuntura?". Segundo
Mendes de Almeida, defendeu no
cmincntcmcntc político que a re sua análise, "onde os reformistas
day-aft^r a eslratê^a de supressão
forma agrária adquiriu cm nosso dos anos 80 • esses que acabam de
dos a r t ^ rdalivos à reforma a^árb
país. Dois exemplos: na Caz<iaMef’ ser duramcnic balidos pela UDR c
da carta na segunda fase das volaçòcs
cantil, jornal que rcflclc as preocu pcloCcnirão na Constituinte • estão
da Constituição, quando, proibida a
pações dos vários segmentos em equivocados, 6 que querem fa/cr
apresentação de novas emendas,
pode-se apenas suprimir trechos já presariais nenhuma Unha sobre a agora a mesma reforma que náo
reforma a^ária saiu nas página.s fizemos naquele tempo (anos 30). In
aprovados antcriormcnic. E até a
reservadas i agropecuária, sempre itlo tcmpofc, tínhamos grandes pro
CX)NTAG. que lâo rccaladamcnlc
na seção dedicada aos temas da priedades conjugadas com pequenas
se comportou durante todo o
“política nacional". Idem, cm re explorações agrícolas, de modo que
processo de luta desde os ídos da
lação i Folha de S. Paulo: apesar de a divisão das terras acabaria com
proposta do Plano Nacional de
1er um caderno cspccírico para ms- essa contradição, ao posso que te
Reforma Agrária cm 1985, ameaçou
sunloscconômicos,ojornal Iratouo mos agora grandes ciqiíaraçôes feitas
dar uma de CUT c «fetribuir cartazes
tema sempre nas primeiras pãgina.s cm grandes propric^des".
com as fotos dos “Novos Traidores
que são dedicadas normalmentc às
do Povo*' que votaram contra ou se M as segundo Rangel, "o blifúndlo
questões políticas. A Folha foÍ alêm;
omitiram. Fiquei imaginando como capitalista, monoculturisla (...) não
durante lodo o período não publi
seria crtgraçado ver a cara do João apenas não engaja Iodos os mem
cou um "artigo t&nko" sequer sobre
Hermann ao lado da do Thame. bros da família camponesa como.
a matéria, limitando-se aos escritos
dois agrônomos c constituintes dos membros que engaja, somente
sob encomenda na página 3, o seu
* ProfcworlivTe-Uoctnic.coonlccMòorUoCurvo
tfc Uouloranwitio «m poliiic» púMacu Oo IF/L‘niramp.
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Flnsaios e Debates
os uúliza parle do tempo o “lumpcn”. O caráter central da representação real cuidou sempre
"O falo de somente ser utili/ada reforma agrária brasileira das anos de reivindicações muítocspccifícas -
SOfundamcnta-sc nesta realidade; ê dada a sua organização, cm geral,
parte dos membros da família tem o
preciso faze-la não visando priori por prrxluto • era quase impos.sívcl.
(^ave defeito de promover a desa
gregação desta, por outro bdo, o tariamente ao aumento da produção mesmo ao nfvxl das entidades de
fato de deixar sem aplicação parte (o que deve c pode ser uma con classe detentoras da representação
do tempo dos membros ativos da sequência natural doprocesso). Mas formal, superar a famosa “cho
para incorporar cerca de 30 milhões radeira” por melhores preços disioc
família compromete o nível de vida
desta. A solução para c.ssc duplo de pessoas que hoje viwm na mais daquilo. Em outras palavras, a luta
problema • segundo a experiência absoluta miséria, no campo c nas dos proprietários rurais não con
provadacm lodoo mundo-consiste periferias da cidade. seguia superar a barreira do
na entrega ã famdia de um miruftjndio, aspccdloo. A UDR veio políit/ar essa
£ sob cs.se ponto de vbta que podcmcK luta com seu discurso anü-reformista
onde esta possa implantar a pr6pria entender os cnmcntános do deputado
residência e urgani/ar uma produção, c de defesa da propriedade privada.
Plínio de Arruda Sampaio^ presidente
agrícola e não*agrícola, para auto da Associação Brasileira da Reforma Vale a pena notar que, de início, a
consumo.” Agrária (ABRA) c um dos principais sua pregação era aniigovcrnoc anií-
Nio ê apenas por concordar com a articuladorcs do todo sobre a reforma sem-terra; não leria havido UDR se
essência do Icxtoquc Irartscrcvi essa agrária na Constituinte: “O impas.se não houvvssc o seu contrário: a
longa citação do artigo de Rangel, a na reforma agrária não decorre da proposta do PNRA, os scm-lcrra. a
qual. repilo, foi a única mençãoã re sua dimensão econômica, que não ê CPT, os movimentos dos traba
forma agrária no **l-spaço mais a decisiva, mas da persistência lhadores rurais pela reforma agrária,
Lconômico” que lhe foi reservado cm um Brasil que se quer moderno, ele. Passado esse momento inicial
pela grande imprensa. A nova re democrático. Im c de preconceitos, de ser contra, a UDR articulou a sua
forma agrária que se quer para os do quadro sociológico, político c própria proposta que “incluía a rc-
anas 80 não pode 1er os mc.smos cultural da dominação de olignrquixs b>rma agrária como um capitulo da
“objetivos produtivisias” das crises tradicionais sobre a grande massa política agrícola”, c mudou o dis
anteriores (tanto 30, como ito início da população. Sc oque se impôs, na curso de proprietário de terras para
dos anos 60). onde foi alçada como Consiituinic, não foi, como se de prodiMcv rural Aí também a UDR
solução para a questão agrária c propalou demagogicamente, uma colecionou vitórias incríveis, como,
lambêm para a questão agriada. I Icjc preocupação com o nível de prcxlução por cn:mplo, a marcha sobre Brasília
a única dimensão econômica que se agropccuáiu do país, mas o fantasma cm fevereiro de 1987, com expres
pode invocar para a reforma agrária daquilo que Clóvis Rossi sÍnicti/ou siva participação de produtores ru
ê 0 seu impacto sobre 0 nívvl de na antinomia CosagranJt-scmala, a rais de todos os tamanhos, c que
ocupação no meio rural, tanto para nova Constituição lerá vida curta” terminou por legitimar a UDR como
redu/ir as crescentes txxas de êxodo (FSP de 17/05/88 PA - 3). uma intcri<KUtora do governo para
rural, como para proporcionar uma assuntos agríer^v Também aqui
E não ê apcn.is a nov'a Constituição
ocupação produtiva • ainda que no havia um sparring adequado: além
que terá vida curta: os vitoriosos de
nível de subsistência • para aqueles do governo (que é o velho saco de
hoje também. Refiro-me cspcci-
rejeitados pela modcrnÍ/ação con pancada.s). os odiados bancos que
ficamcntc ã UDR, que icvv o mais
servadora. não queriam abrir mão da correção
extraordináriocrcscimcnioquc já vi monetária pós-eru/ado.
O que os economistas clássicos cha de uma organização rural classisia
mavam de “prolctari/ação do cam neste país. E são poucos o&que tem O que estou querendo di/cr ê que as
pesinato”, onde o camponês expro compreendido o seu extraordinário estrondosas vitórias da UDR
priado transformava-se cm operário papel tva politização da luta pela signincaram também um aòrramcnio
industrial,deixou hámuílodcexistir terra no Brasil. Ê preciso entender das oontradições no campo. Primeiro,
no Brasil. Atunlmcnlc o trabalhador que a UDR surgiu no va/io deixado porque implicou a rcorganí/açào
rural que vem para a cidade Irans- pela dicotomia entre a representação interna da rcprcscnlação dos
(ivrma-æ cm marginal o que se duma fonnal di« proprietários rurais (CNA proprietários rurais. O início, cm
na economia clássica de “iumpeni- c fcdcraçt^cs) c a representação real 1985. foi a criação da frente ampla
^ação”, isto é, ele ê rebaixado a um destes, através das cooperativas c que ironicamente queria excluir a
nívvl inferior ao do proletário, queê associações de produtores. Como a UDR a partir da Sociedade Rural
Reforma Agrária 19
Hnsaios c Debates
20 Ago/Nov 88