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D0229G20
GOIÂNIA-GO
2020
E. S. FERREIRA Resumo
Estudo das propriedades de transporte de metais pesados em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfoge...
D0229G20
GOIÂNIA-GO
2020
E. S. FERREIRA Resumo
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela sua presença em minha vida e a Nossa Senhora por sua proteção.
A Prof. Dr. Márcia Maria dos Anjos Mascarenha, pela orientação, confiança e oportunidade, e
ao Prof. Dr. Leonardo Ramos da Silveira, pela coorientação.
Ao Laboratório de Análises de Águas (LAnA), em nome do Prof. Dr. Paulo Sérgio Scalize e a
Dr. Ellen Flávia Moreira Gabriel, sempre tão gentil e solícita, pelo acompanhamento e auxílio
em todo processo de preparação de amostras.
Ao Instituto de Química em nome do Prof. Dr. Paulo Sérgio de Souza, pela realização das
análises de concentração dos metais.
A Jessica Luana e Uender, pela amizade e por terem me auxiliado em minha chegada a Goiânia.
Aos meus colegas da turma de 2018, parceiros de estudos, companheiros nas aflições e nas
alegrias durante o mestrado. Em especial ao Rômulo, João Vitor, Luiz Carlos, Priscila, Sabrina,
Carlos, Jaqueline e Alexandre.
A Denise Santos Serpa, pelo incentivo desde o início para entrar no mestrado, pela ajuda nos
estudos de inglês, por acreditar em mim quando eu mesmo duvidava, pelo apoio e
companheirismo, saiba que sem você a conclusão desse trabalho e sonho não seria possível.
Não tenho palavras que possam descrever sua contribuição, serei eternamente grato a tudo que
fez por mim e vejo que Deus não poderia ter colocado pessoa melhor em minha vida.
E. S. FERREIRA Resumo
RESUMO
As barreiras de solo compactado são, atualmente um dos processos mais utilizados para
construção de liners em aterros sanitários. O Dimensionamento dessas estruturas de contenção
exige o conhecimento de parâmetros de transporte de contaminantes em meios porosos, como
é o caso da adsorção, que age de forma a retardar o movimento do contaminante, e a difusão,
mecanismo que domina o processo de transporte de contaminante quando se trabalha com
baixas permeabilidades. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi obter experimentalmente a
capacidade de retenção do Cu2+ em um solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e
bentonita. Para isso foram executados ensaios no solo (S) e nas misturas solo arenoso laterítico
com 10% de fosfogesso (SF), solo arenoso laterítico com 6% de bentonita (SB6) e solo arenoso
laterítico com 10% de fosfogesso e 6% bentonita (SFB6), variando as concentrações de Cu2+
entre 0 e 800 mg/L. Foram realizados para amostras S, SF, SB6 e SFB6 ensaios de
caracterização química, física e mineralógica, ensaios de compatibilidade indireta para avaliar
a interação entre o Cu2+ e os materiais e ensaio de equilíbrio em lote para obtenção da
capacidade de adsorção. Já os ensaios de difusão foram realizados com as amostras S, SB6 e
SFB6 compactados na umidade ótima e peso específico máximo na energia Proctor normal. Os
ensaios de caracterização química, física e mineralógica demonstraram que a estabilização do
solo com bentonita reduziu os poros da macroestrutura, mas manteve intacta as características
do solo. O fosfogesso proporcionou o aumento da disponibilização de Ca2+ elevando a CTC
dos materiais em até 8,36 vezes em relação ao solo; entretanto, o Ca2+ disponibilizado não
estava disponível para troca iônica. Além disso, o fosfogesso agiu de forma contrária a bentonita
aumentando os diâmetros dos poros em determinadas faixas da distribuição do tamanho de
poros (PSD). As análises de compatibilidade indireta demonstram que o Cu2+ agiu de forma a
agregar as partículas do solo e da mistura SB6, mas mostrando-se compatíveis com os materiais
utilizados. Os resultados dos ensaios de equilíbrio em lote demonstraram que a estabilização
provoca o aumento da capacidade de retenção pelos materiais, apresentando a seguinte ordem
de remoção SB6>SFB6>SF>S, sendo a estabilização com bentonita mais eficiente que com o
fosfogesso. As células de difusão construídas apresentaram-se eficientes para a realização dos
ensaios com solos compactados. O uso dos estabilizantes melhorou a capacidade de atenuação
do transporte difusivo do Cu2+, onde o solo permitiu um maior avanço do Cu2+ com uma menor
redução de concentração no reservatório, o SFB6 apresentou uma redução de concentração do
reservatório próxima ao solo, mas com menores avanços de concentrações no corpo de prova,
por fim, o SB6 apresentou uma maior redução de concentração no reservatório e maior
imobilização do contaminante na primeira camada em relação aos outros materiais. Assim, os
ensaios de adsorção e difusão demonstram que o uso dos estabilizantes melhoraram a
capacidade de atenuação do transporte de Cu2+, sendo recomendado utilizá-los em obras
geoambientais destinada a retenção de íons de Cu2+.
E. S. FERREIRA Resumo
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita
ABSTRACT
The compacted soil barriers are currently one of the most used processes for building liners in
landfills. Dimensioning these containment structures requires the knowledge of contaminant
transport parameters in porous media, such as adsorption, which acts to delay the movement of
the contaminant, and diffusion, a mechanism that dominates the contaminant transport process
when one works with low permeability. Thus, the objective of this work was to experimentally
obtain the Cu2+ retention capacity in a lateritic sandy soil stabilized with phosphogypsum and
bentonite. For this, tests were performed on Soil (S) and lateritic sandy soil with 10%
phosphogypsum (SF), lateritic sandy soil with 6% bentonite (SB6) and lateritic sandy soil with
10% phosphogypsum and 6% bentonite (SFB6), with Cu2+ concentrations varying between
0 and 800 mg/L. Chemical, physical and mineralogical characterization tests were performed
for soil, SF, SB6 and SFB6 tests, indirect compatibility tests to evaluate the interaction between
Cu2+ and the materials and batch test to obtain the adsorption capacity. The diffusion tests were
carried out with the soil, SB6 and SFB6 compacted in the water ratio and maximum specific
weight in the normal Proctor energy. The chemical, physical and mineralogical characterization
tests demonstrated that the stabilization of the soil with bentonite reduced the pores of the
macrostructure, but kept the characteristics of the soil intact. The phosphogypsum increased the
availability of Ca2+ by raising the CTC of the materials up to 8.36 times in relation to the soil,
however the Ca2+ made available was not available for ion exchange, in addition, the
phosphogypsum acted in a way against the bentonite, increasing the diameters pores in certain
PSD strips. The indirect compatibility analyzes show that Cu2+ acted in order to aggregate the
particles of the soil and of the SB6 mixture, but showing itself compatible with the materials
used. The results of batch tests showed that the stabilization causes an increase in the retention
capacity by the materials, with the following removal order SB6> SFB6> SF> S, with
stabilization with bentonite being more efficient than phosphogypsum. The diffusion cells
constructed were efficient for carrying out tests with compacted soil. The use of stabilizers
improved the ability to attenuate the diffusive transport of Cu2+, where the soil allowed a greater
advance of Cu2+ with a lower reduction in concentration in the reservoir, SFB6 showed a
reduction in the concentration of the reservoir close to the soil, however with less advances of
concentrations in the liner and finally the SB6 showed a greater reduction in concentration in
the reservoir and greater immobilization of the contaminant in the first layer compared to other
materials. In this way, the adsorption and diffusion tests demonstrate that the use of stabilizers
improved the ability to attenuate the transport of Cu2+, and it is recommended to use them in
geoenvironmental works designed to retain Cu2+ ions.
E. S. FERREIRA Resumo
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.3 - Mecanismo de dispersão em fluxo uniforme bidimensional em areia isotrópica. (a)
fonte contínua; (b) fonte instantânea. Fonte: FREEZE E CHERRY (1979) adaptado por
NASCENTES (2006). .............................................................................................................. 15
Figura 2.5 – Isotermas Linear, Freundlich e Langmuir. Adaptado de (FETTER, 1993) ......... 20
Figura 2.6 - Isoterma de Freundlich: (a) curva mostrando a sorção em função da concentração
e (b) log usando os parâmetros determinados Gurjão, (2005). ................................................. 21
Figura 2.7 – Isoterma de Langmuir: (a) curva mostrando a sorção em função da concentração e
(b) valores plotados usando os parâmetros determinados. Gurjão, (2005). ............................. 22
Figura 3.2 - Ensaio WP4C: a) pesagem da massa de solo; b) compactação do solo na capsula
do equipamento; c) correção de umidade das amostras; d) determinação da sucção. .............. 37
Figura 4.6- MEV, a) amostra de S; b) amostra SF; c) amostra SB6; e c) amostra SFB6. ........ 50
Figura 4.11 - Isotermas de adsorção (a) S; (b) SF; (c) SB6; (d) SFB6 ..................................... 55
Figura 4.13 – variação de pH versus concentração de CuCl2, antes e depois do contato com os
materiais. .................................................................................................................................. 59
Figura 4.16 – Concentração de Cu2+ nos corpos de prova, ensaio de difusão, a) amostra S para
tempo de 16 dias, b) amostra SB6 para tempo de 20 dias, c) amostra SFB6 para tempo de 16
dias. ........................................................................................................................................... 63
Tabela 3.1- Caracterização física dos materiais (adaptado de Borges, 2019). ......................... 34
Tabela 4.1 - Análises de microelementos, teor de matéria orgânica, CTC, pH e ∆pH. ........... 47
Tabela 4.3 - Parâmetros de ajustes das isotermas Linear, Freundlich e Langmuir. ................. 57
𝐶 Concentração da solução
𝐶𝑜 Concentração no equilíbrio
e Índice de vazios
i Gradiente hidráulico
IE índice de expansão
k Coeficiente de permeabilidade
𝐾𝑑 Coeficiente de distribuição
𝐾𝑓 Constante de Freundlich
L Comprimento da amostra
Le Comprimento efetivo
𝑛 Porosidade
Pa Porcentagem adsorvida
𝑃𝑒 Número de Peclet
pH Potencial hidrogeniônico
𝜌 Massa específica
𝜏 Tortuosidade do meio
𝑣 Velocidade do fluxo
𝑣𝑠 Volume da solução
𝑥 Direção do fluxo
𝛼 Dispersividade dinâmica
3.1. MATERIAIS.................................................................................................................. 34
E. S. FERREIRA Sumário
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 69
APÊNDICE - A ....................................................................................................................... 77
E. S. FERREIRA Sumário
Estudo das propriedades de transporte de metais pesados em solo arenoso laterítico tratado com fosfoge... 8
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Devido à alta demanda de aterros sanitários em regiões tropicais, os solos argilosos tornam-se
indispensáveis e aparecem como uma alternativa barata e eficiente para aplicação em aterros
sanitários (OLIVEIRA; JUCÁ, 2004; BOSCOV et al., 2011; OSINUBI; MOSES; LIMAN,
2014). No entanto, para ser efetiva uma barreira deve apresentar baixa permeabilidade,
resistência mecânica e estabilidade físico-química, o que nem sempre é alcançado por muitos
tipos de solos quando compactados, devido ao processo de formação que lhes confere uma
mineralogia peculiar e estrutura porosa (MORANDINI; LEITE, 2012; 2015).
Dentre as pesquisas citadas vale destacar Borges (2019), que avaliou a viabilidade da utilização
de misturas compostas de solo arenoso laterítico, bentonita e fosfogesso para uso na construção
E. S. FERREIRA Capítulo 1
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 9
No entanto, outro ponto crucial a se avaliar, segundo Shackelford (2014), é o processo sorcivo
e difusivo, visto que estes são os mecanismos que controlam o processo de migração de
contaminantes em materiais com baixa permeabilidade. No caso de aterro sanitários, tem-se a
presença de metais traços oriundos de resíduos associados a processos industriais, manufatura
e domésticos, como por exemplo o cobre, que por não sofrerem degradação microbiana ou
química, persistem ao longo do tempo após sua introdução, o que pode agravar a contaminação
(BOLAN et al., 2014).
Nesse sentido, o presente trabalho busca contribuir com o conhecimento sobre transporte de
cobre por meio do processo de sorção e de difusão em solos lateríticos. Além disso, o trabalho
possibilita avaliar o comportamento desses parâmetros ao adicionar bentonita, material
corriqueiramente utilizado quando se deseja reduzir o coeficiente de permeabilidade, e do
fosfogesso, subproduto que ainda apresenta limitação de utilização.
1.1. OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo geral investigar o processo de transporte do Cu2+ a partir
do ensaio de difusão e de sorção utilizando um solo arenoso laterítico (LA’) e misturas desse
solo com fosfogesso e bentonita.
E. S. FERREIRA Capítulo 1
CAPÍTULO 2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
De acordo com Boscov (2008), os principais mecanismos que regem o transporte dos
contaminantes são: i) a advecção, ii) a dispersão mecânica, iii) a difusão, iv) reações químicas
entre o soluto e os sólidos e v) as reações químicas entre o próprio soluto. Pesquisas mostram
que a taxa de migração de contaminantes em argilas saturadas (em pequenos gradientes
hidráulicos) é determinada, principalmente, pela difusão e não pela condutividade hidráulica
(SHACKELFORD, 1993).
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 11
2.1.1. Advecção
Shackelford (1993) afirma que o fluxo unidimensional de massa de uma espécie química não
reativa por advecção através de uma área seccional unitária em uma unidade de tempo pode ser
expressa pela Equação (2.1).
Observa-se, com tal formulação, que todos os fatores que influenciam na condutividade
hidráulica irão interferir da mesma forma no processo advectivo, ou seja, quanto maior a
permeabilidade do meio poroso maior a migração dos contaminante.
A dispersão mecânica é a mistura que ocorre a partir do espalhamento do soluto nos vazios do
solo durante o processo advectivo, sendo causada inteiramente pelo movimento do fluído
(BOSCOV, 2008). Este mecanismo deve ser explicado em escala microscópica, ou seja, dentro
do volume de vazios onde as moléculas do contaminante se deslocam com velocidades
diferentes às da trajetória principal, de modo que se afastam da mesma (SOUZA, 2009).
De acordo com Freeze e Cherry (1979), três mecanismos definem a dispersão mecânica, sendo
o primeiro relacionado à diferença do tamanho dos poros no percurso do fluído, o segundo em
relação à tortuosidade dos canais de fluxo que fazem com que as partículas mudem de direção
e o terceiro relacionado à rugosidade das paredes dos canais formados pela interconexão dos
poros do solo. A Figura 2.1 apresentam esses mecanismos.
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 12
Figura 2.1 - Mecanismos que definem a dispersão mecânica em escala microscópica. a) tamanho dos poros; b)
comprimento da trajetória; c) atrito nos poros. Fonte: Fetter (1993) adaptado por Nascentes (2006).
𝜕𝐶
𝐽𝑚 = −𝐷𝑚 𝑛 (𝜕𝑥 ) (2.2)
2.1.3. Difusão
E. S. FERREIRA Capítulo 2
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As máximas taxas de migração de soluto por difusão ocorrem em meios líquidos livres,
obtendo-se o máximo de diluição. Em se tratando de meios porosos, principalmente em solos
com granulometrias finas, a difusão ocorre de forma mais lenta em relação a soluções livres,
devido aos caminhos tortuosos de migração, presença de partículas sólidas, viscosidade do
contaminante, interação eletrostática entre o contaminante e as partículas sólidas, dentre outros
(SHACKELFORD; DANIEL, 1991; SHACKELFORD, 2014).
A Figura 2.2 emprega o conceito de tortuosidade, sendo essa uma propriedade geométrica do
meio que é definido como a relação entre comprimento por comprimento efetivo (L/Le),
permitindo quantificar o processo difusivo em meios porosos. Ao atribuir esse fator à Equação
(2.3), tem-se o coeficiente de difusão efetivo.
Figura 2.2 - Conceito de comprimento efetivo no transporte em solo. (Adaptado de Schakelford; Daniel, 1991)
𝐷∗ = 𝜏𝐷𝑜 (2.3)
𝜕𝐶
𝐽𝐷 = −𝐷∗ 𝑛 (𝜕𝑥 ) (2.4)
E. S. FERREIRA Capítulo 2
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Onde: 𝐽𝐷 = fluxo do soluto por unidade de área e por unidade de tempo; 𝐷∗ = coeficiente de
difusão efetivo; 𝑛 = porosidade; 𝐶 = concentração da solução e 𝑥 = direção do fluxo.
De acordo com Fonseca Neto (2007), duas características importantes no que diz respeito à
primeira lei de Fick devem ser ressaltadas; uma é que essa lei se baseia numa equação linear e,
mesmo que os valores de concentração entre dois pontos sejam distintos, o fluxo das partículas
na direção de x será proporcional ao gradiente da concentração das partículas. Além disto, esta
lei independe do fluxo, ou seja, fluxo de um soluto não depende do fluxo de outro soluto não
existindo acoplamento de fluxo.
𝐷ℎ = 𝐷𝑚 + 𝐷∗ (2.5)
E. S. FERREIRA Capítulo 2
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De acordo com Nascentes (2006), nos casos de fluxo não confinado, bi ou tridimensional, a
componente transversal de dispersão deve ser considerada. A Figura 2.3 apresenta um esquema
do mecanismo de dispersão para um fluxo horizontal bidimensional, em que podem ser
observadas suas duas componentes - longitudinal e transversal.
Figura 2.3 - Mecanismo de dispersão em fluxo uniforme bidimensional em areia isotrópica. (a) fonte contínua;
(b) fonte instantânea. Fonte: FREEZE E CHERRY (1979) adaptado por NASCENTES (2006).
(a)
(b)
Mesmo que o meio poroso seja isotrópico com respeito à textura e condutividade hidráulica, a
dispersão é mais forte na direção do fluxo (dispersão longitudinal) do que nas direções normais
ao fluxo (dispersão transversal) (SILVEIRA, 2014). Para baixas velocidades de fluxo, Freeze e
Cherry (1979) e Boscov (2008) relatam que os coeficientes de dispersão longitudinal e
transversal podem ser muito próximos.
𝐷ℎ𝐿 = 𝛼𝐿 𝑣𝑥 + 𝐷∗ (2.6 a)
E. S. FERREIRA Capítulo 2
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𝐷ℎ𝑡 = 𝛼𝑡 𝑣𝑥 + 𝐷∗ (2.6 b)
A influência relativa de cada uma das parcelas na dispersão hidrodinâmica pode ser obtida a
partir do emprego do número de Peclet, determinado pela razão do coeficiente de dispersão
hidrodinâmico e do coeficiente de difusão. O número de Peclet é admissional e pode ser
definido pela Equação (2.7).
𝑣𝑑
𝑃𝑒 = 𝐷∗ (2.7)
Além dos mecanismos fisicos, reações quimicas tendem a afetar o transporte de solutos em
meios porosos. Dessa forma, mudanças nas concentrações podem ocorrer por reações de
adsorção/desorção, precipitação/dissolução, oxi-redução, complexação, quelação,
biodegradação e até mesmo por decaimento radioativo, a depender do contaminante e do tipo
de material em contato (Silveira, 2014).
Segundo Nascentes (2006), os processos de interação entre solo e soluto que merecem maior
atenção são os que resultam na acumulação de soluto no solo, por sua transferência do fluido
percolante para a fase sólida, onde ficam retidos. Essas reações agem reduzindo a concentração
E. S. FERREIRA Capítulo 2
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De acordo com Rowe et al. (1995), a sorção é o processo em que um contaminante é removido
da solução, independente da natureza do processo, que pode incluir troca catiônica ou partição
de compostos orgânicos na matéria orgânica sólida. Deste modo, a sorção incluiria os processos
de adsorção, absorção, sorção química e troca iônica (BOSCOV, 1997).
O processo de absorção ocorre quando se trata de materiais porosos, onde os íons livres são
transportados por difusão para o interior das partículas (Boscov, 1997).
De acordo com Nascentes (2006), a sorção química corresponde ao processo em que o soluto é
incorporado à partícula sólida por uma reação química. Muitos minerais e substâncias orgânicas
em contanto com a água são capazes de atrair moléculas de água ou íons ou liberar certos
constituintes, por processos físico-químicos de simples adsorção, devido às forças eletrostáticas
e, de sorção química, que é consequência da reação química entre o íon adsorvido e a superfície
sólida adsorvente (SILVEIRA, 2014). Quando ocorre a troca de posição entre espécies iônicas,
o processo é chamado de troca iônica.
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Segundo Rowe et al. (1995), um dos fatores de maior importância nos processos de interação
solo-contaminante e no transporte de substâncias através do solo é o fenômeno de expansão-
contração da dupla camada difusa. A dupla camada difusa é a nuvem de cátions formada ao
redor das partículas e a quantidade de cátions aderidos necessária para neutralizar a partícula
do solo é a capacidade de troca catiônica.
A contração da dupla camada difusa, apresentada na Figura 2.4, ocorre pela substituição de
cátions monovalentes por bivalentes, o que aumenta os espaços vazios entre partículas do solo.
Caso a troca ocasione a contração da dupla camada difusa, a condutividade hidráulica do
material tende a aumentar, caso contrário tende a reduzir.
Figura 2.4 – Fenômeno de Expansão/contração da camada dupla, a) expansão; b) normal; c) contração. Rowe et
al (1995), adaptado por Silveira (2014).
E. S. FERREIRA Capítulo 2
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A capacidade de troca catiônica cresce, de modo geral, com o aumento do pH do solo. Isto
ocorre devido ao aumento no nível de dissociação de hidroxila (OH-) nas extremidades e nas
superfícies das partículas de argila, resultando em aumento da carga líquida negativa das
mesmas. A adsorção de ânions, ao contrário do que ocorre com os cátions, é geralmente
estimulada em ambientes ácidos (NASCENTES, 2006).
O processo de sorção pode ser investigado e quantificado, a partir de uma função de distribuição
conhecida como isotermas de sorção (Nascentes, 2006), que é obtida em laboratório a partir de
ensaios de equilíbrio em lotes, ajustados por diferentes tipos de modelos matemáticos, conforme
discutido a seguir.
O ensaio de equilíbrio em lote tem por objetivo analisar o comportamento sorcivo dos solos em
relação às soluções, normalizada pela relação da massa de solo e a concentração de equilíbrio,
para diferentes valores de concentração.
O ensaio consiste em realizar uma mistura de uma solução com concentração e composição
conhecida, em uma determinada massa de solo por um período de tempo pré-determinado para
que se atinja o equilíbrio químico, ou seja, para que a ocorrência de concentrações de soluto na
fase liquida (massa de soluto dividida por volume de solução) e na fase sólida (massa de soluto
adsorvido dividido por massa seca de adsorvente) permaneçam constantes ao longo do tempo.
Dessa forma, no início do ensaio, a massa adsorvida aumenta com o tempo, ao passo que a
massa dissolvida na fase líquida decresce, até que seja atingida a constância de distribuição nas
fases líquida e sólida. No ensaio, considera-se que o tempo de equilíbrio químico é atingido
quando uma diferença igual ou inferior a 5% na concentração da fase líquida seja verificada
após intervalos de tempo pré-estabelecidos ou usualmente após 24 horas de contato (EPA,
E. S. FERREIRA Capítulo 2
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A quantidade de soluto adsorvido por unidade de massa de solo pode ser mensurada pela
Equação (2.8).
(𝐶𝑜 −𝐶)𝑣𝑠
𝑆= (2.8)
𝑚
O modelo mais simples de adsorção considerado é a isoterma linear, que admite uma
proporcionalidade direta entre a concentração de soluto na fase sólida e a concentração de
equilíbrio, expressa pela Equação (2.9). Segundo Gurjão (2005) o coeficiente de distribuição
Kd é um valor constante e depende basicamente do tipo de solo e do tipo de soluto, ou seja,
depende da interação da matriz sólida e do soluto.
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Os parâmetros para o modelo de Freundlich, podem ser melhor obtidos a partir de sua forma
logarítmica, a qual resulta em uma reta com declividade 𝜀 e intercepto igual a log de Kf para
C=1, conforme Figura 2.6. Neste caso, o valor do intercepto é um indicador da capacidade de
adsorção, e a declividade, da intensidade de adsorção. Vale ressaltar que o modelo linear é
apenas um caso especial do modelo de Freundlich quando 𝜀 = 1.
Figura 2.6 - Isoterma de Freundlich: (a) curva mostrando a sorção em função da concentração e (b) log usando
os parâmetros determinados Gurjão, (2005).
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Figura 2.7 – Isoterma de Langmuir: (a) curva mostrando a sorção em função da concentração e (b) valores
plotados usando os parâmetros determinados. Gurjão, (2005).
𝑆 = 𝐾𝑑 𝐶 2.9
𝑆 = 𝐾𝑓 𝐶 𝜀 2.10
𝑆𝑚 𝐾𝑙 𝐶
𝑆= 2.11
1+𝐾𝑙 𝐶
Paula (1999); Gurjão (2005); Silva (2008); Chalermyanont, Arrykul, Charoenthaisong (2008);
Lopes (2009); Marques (2009); Moreira e Alleoni (2010); Gonçalves et al. (2013); Almeida
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 23
(2015); Oliveira (2018), obtiveram bom ajustes aos dados experimentais em diferentes tipos de
materiais utilizando os modelos de Langmuir e Freundlich. Dentre estes, Gurjão (2005), Silva
(2008) e Almeida (2015) relatam bons coeficientes de correlações para o modelo linear, mesmo
utilizando altas concentrações de metais. Já Oliveira (2010) utilizou apenas o modelo linear
para descrever o comportamento adsortivo em solos do serrado de Goiás, obtendo elevados
coeficientes de correlação.
Finalizado o processo de saturação, uma das tampas é fixada à base promovendo a selagem no
contato com o molde cilíndrico e base por meio da aplicação de silicone. Em seguida, a solução
contaminante com concentração conhecida que se deseja ensaiar é introduzida no reservatório
da parte superior da célula até a altura desejada, então, o topo da célula também é selado com
o posicionamento de uma tampa acoplada a uma pá misturadora que visa garantir a
homogeneidade da solução contaminante durante todo o ensaio.
E. S. FERREIRA Capítulo 2
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Permite-se, então, que o contaminante migre para o solo durante determinado período de tempo
sem que ocorram grandes alterações de temperatura. Pequenas amostras da solução
contaminante são coletadas em períodos regulares por um orifício existente na tampa para se
avaliar a variação de concentração da solução. Ao final do experimento, a solução contaminante
é removida e o solo extrudado da célula de difusão, sendo então seccionado em fatias iguais no
sentido diametral para retirada da água intersticial e ou amostras de solo, para determinação do
perfil de concentrações químico do solo pós ensaio.
Na Tabela 2.1 são apresentados valores obtidos a partir de ensaios de difusão em alguns estudos
realizado em solos lateríticos com e sem estabilização (Gurjão, 2005; Eberemu, Amadi e Edeh,
2012; Gabas, Sarkis e Boscov, 2014; Silveira, 2014; Amadi; Osinubi, 2017). Vale ressaltar que
a obtenção do coeficiente requer programas computacionais e ou soluções numéricas que
descrevam, a partir de ajustes, os resultados obtidos experimentalmente (PAZ, 2015).
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 25
Os sistemas de selagem, basais (base liners), visam reduzir o fluxo de percolado à matriz
hidrológica constituindo, assim, elemento essencial para garantir a conservação do meio no
entorno destas áreas (MORANDINI, 2014).
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Segundo Morandini e Leite (2012), devido à sua ampla distribuição mundial, os solos tropicais
têm um grande potencial para serem usados nestas barreiras compactadas, contando que alguns
requisitos técnicos e econômicos sejam satisfatórios. Sendo necessária muita das vezes a
utilização de algum estabilizante para eu se atenda aos critérios de projeto, como apresentado a
seguir.
A origem dos solos tropicais está relacionada ao clima quente e úmido com alta pluviosidade,
sendo então encontrados em diversas partes do globo, mas especialmente nas regiões
intertropicais da África, Austrália, Índia, Sudeste Asiático e América do Sul,
(CHALERMYANONT; ARRYKUL; CHAROENTHAISONG, 2008; OSIMUBI; MOSES;
LIMAN, 2014). Estes solos resultam de processos pedológicos típicos de perfis bem drenados,
sendo a caulinita o argilomineral predominante e a fração argilosa rica em óxidos e hidróxidos
de ferro e alumínio, o que resulta em estruturas porosas constituídas de macro e microporos
(NOGAMI; VILLIBOR, 1995).
De acordo com Carvalho et al. (2015), o processo de formação desse solo é mais que uma
simples decomposição de rocha, visto que o intemperismo envolve a transformação químico-
mineralógica e estrutural, conferindo-lhe diferentes propriedades e comportamento em relação
a outros formados em regiões de clima temperado e frio.
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 27
Miguel, Barreto e Pereira (2015) avaliaram um solo arenoso laterítico composto por caulinita,
gibbsita e óxidos de ferro para execução de uma barreira hidráulica em uma bacia de retenção
em uma mineradora, a fim de minimizar o vazamento de água ácida pela fundação de uma
barragem de contenção. Para tanto, foram realizados ensaios geotécnicos, químicos e
mineralógicos para caracterização da amostra coletada no local e testes de adsorção com
soluções de alumínio (Al), manganês (Mn) e ferro (Fe), variando o pH inicial das soluções na
condição ácida. O alumínio apresentou baixa adsorção nas condições ácidas imposta neste
experimento, não permitindo obter a isoterma de adsorção para o elemento. Os valores de
distribuição Kd foram 0,0364 e 0,0281 L g-1, respectivamente, para Mn e Fe. Quanto ao fator
de retardo Rd, os valores variaram de 81 a 91, para o Mn, e de 61 a 79, para o Fe, considerando
os diferentes comportamentos das isotermas de adsorção.
Com esse mesmo material, Miguel, Barreto e Pereira (2017) avaliaram a capacidade do solo
em reter espécies químicas contaminantes e para isso realizaram ensaio de coluna utilizando
água ácida da mina de UTM-Caldas- MG. O estudo mostrou que com pH menor que 6,0 ocorreu
dessorção de ferro e manganês acima do permitido pela legislação, e com pH superior a 6,0
ocorreu adsorção do ferro em manganês e liberação de alumínio e fluoreto na forma livre com
concentração também superior ao permitido pela legislação vigente.
Gabas, Sarkis e Boscov (2014) investigaram a difusão e a retenção em solo argiloso laterítico
compactado, submetendo-as a ensaio de difusão de reservatório único utilizando soluções de
cádmio (Cd) e chumbo (Pb) com pH de 3,0, 5,0 e 8,0. Os ensaios de difusão apresentaram
valores em torno de 10-10 m²/s para os dois metais e retenção elevada de cádmio e chumbo, com
maior retenção de chumbo (99% para pH 3,0; 5,5 e 8,0) do que cádmio (96% para pH 3,0; 91%
para pH 5,5 e 90% para pH 8,0), expressa por coeficientes de distribuição Kd variando entre
100-300 mL/g, para Cd, e 500-2000 mL/g, para Pb. Uma simulação numérica utilizando o
programa Pollute1 mostrou que liners construído com esse solo apresentaria bom desempenho,
sendo a concentração de metais após difusão através da camada inferior a 0,2% da concentração
no lixiviado.
1
Programa de modelagem matemática amplamente utilizada desde a década de 80 para análises de pluma de
contaminação.
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 28
Boscov et al., (2011) realizaram um estudo a fim de descrever as características de uma argila
laterítica, representando um conjunto de solos de ocorrência significativa no Estado de São
Paulo, a serem empregados em um revestimento de aterro sanitário. Para isto realizaram-se
testes de laboratório para avaliar a permeabilidade, a adsorção e a difusão de seis metais através
do solo compactado. O estudo mostrou que o solo apresenta uma capacidade modesta de reter
cádmio e que óxidos metálicos constituintes podem ser dissolvidos do solo por soluções ácidas.
Os autores ressaltaram a necessidade de mais investigações para explicar as reações químicas
que podem ocorrer quando tais solos são expostos a soluções ácidas, o que pode ser tão
significativo quanto os mecanismos de difusão e adsorção.
Conciani (2011) analisou a capacidade de retenção de Cromo (Cr) e Níquel (Ni), em solo
argiloso tropical da cidade de Brasília- DF, através de ensaios de coluna e sorção. Observou-se
que o Ni teve uma maior mobilidade que o Cr, sendo o coeficiente de difusão molecular para o
Cr igual a 5,94x10-10 m2/s e para o Ni de 6,79x10-10 m2/s; o fator de retardamento variou entre
1,0 e 2,4, para o Cr, e entre 1,01 e 1,94, para o Ni. O dimensionamento de um liner de aterro
realizado pela autora mostrou que levaria cerca de 140 anos para que os contaminantes
utilizados nessa pesquisa conseguissem atravessar uma barreira de 600 mm.
Gurjão (2005) estudou as propriedades de seis solos tropicais brasileiros de diferentes classes
da classificação MCT a fim de caracterizar e avaliar o desempenho geoambiental de seis tipos
de solo. Para isso, realizou-se ensaios de caracterização física, química e mineralógica. Nas
caracterizações físicas foram realizados ensaios rotineiros de laboratórios geotécnicos, como,
classificação MCT e ensaio de permeabilidade. Posteriormente, foram determinados os
coeficientes de difusão e sorção para dois tipos de metais, cobre e zinco. A autora concluiu que
os melhores solos para utilização em liners para os metais estudados são LG’ (Argiloso
laterítico), NG’ (Argiloso não laterítico) e LA’ (arenoso laterítico).
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 29
Atualmente, são utilizados os mais diversos tipos de materiais a fim de estabilizar ou melhorar
alguma característica dos solos empregados na engenharia geotécnica, que vão desde a adição
de algum material químico, tipo de compactação, adição de resíduos dos mais diversos
seguimentos industriais até mesmo a mistura de solo de outra localidade. (Degirmenci; Okucu;
Turabi, 2006; Çoruh; Ergun, 2010; Eberemu, 2012; Amadi, 2013; Amadi; Eberemu, 2013
Morandini, 2014; Kumar; Dutta; Mohanty, 2014; Osinubi; Moses; Liman, 2014; Nisti et al.,
2015; Rezende et al., 2016; Ammar et al., 2016; Rashad, 2017).
Como neste trabalho serão estudadas misturas de solo tropical, fosfogesso e bentonita, são
apresentadas a seguir algumas características dos mesmos a fim de se compreender o que cada
material pode proporcionar quando utilizados em estabilizações de solos.
2.2.3. Bentonita
A bentonita é uma argila natural formada pelo intemperismo das cinzas vulcânicas.
Distingue-se de outras argilas pela sua extrema finura e é composta principalmente por
montmorilonita, mineral com grande superfície específica (800 m2 / g), alta deficiência de carga
(0,5-1,2 por célula unitária) juntamente com alta capacidade de troca catiônica (80 – 150
meq/100g) (AMADI, 2013).
As argilas bentôniticas também são conhecidas por sua capacidade de expansão, sorção,
plasticidade e baixa condutividade hidráulica (MORANDINI; LEITE, 2015). Essas
propriedades conferem à bentonita uma gama de aplicações industriais, sendo um material
extremamente versátil. Silva e Ferreira (2008) apresentam uma relação de 138 aplicações das
argilas betoníticas, o que inclui seu amplo uso em obras geoambientais como material de
revestimento para contenção de resíduos de diversos segmentos. Esse uso é justificado pela
grande redução de permeabilidade e pelo aumento da capacidade de sorção gerado pela barreira
que contém adição de bentonita.
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 30
Apesar dos benefícios da estabilização de solos com bentonita, estudos realizados por Gleason,
Daniel e Eykholt (1997), Liu (2013) e Malusis, Asce e Mckeehan (2013), demonstram que o
contato dos materiais com íons de Ca2+ podem alterar a estrutura mineralógica do material,
reduzindo a capacidade de expansão da dupla camada difusa. Essa alteração pode ocasionar
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 31
2.2.4. Fosfogesso
O processo para a produção do ácido fosfórico pode ser obtido por via úmida (processo úmido)
ou processo da fornalha elétrica (via térmica). O processo úmido é o mais utilizado, sendo a
produção do fosfogesso por meio deste, realizada através da dissolução de uma pasta fluida
composta de rochas fosfáticas em ácido sulfúrico, resultando em diferentes composições de
fosfogesso, que são: di-hidratado (DH), hemi-hidratado (HDH), e anidro (PARREIRA, 2003).
O processo por via úmida não é apenas o mais utilizado no Brasil, mas em todo o mundo, pois
apresenta vantagens como: baixo investimento para instalação do sistema de produção, baixo
custo de produção, além de ser flexível quanto à utilização de rochas de origens variadas
(OLIVEIRA, 2005).
Na produção de uma tonelada de ácido fosfórico, são produzidas cerca de cinco toneladas de
fosfogesso di-hidratado (CASO4.2H2O), e pouco deste material é reutilizado. Do percentual
total da produção mundial de fosfogesso, apenas 15% tem destinação pela indústria de
fertilizantes, na fabricação de cimento, na construção civil para fabricação de materiais, como
forros, painéis, placas, pisos, revestimentos, blocos pré-moldados e como aditivo em obras de
engenharia no melhoramento das propriedades de solos estabilizados como solo-cal e solo-
cimento (KUMAR, 2002; OLIVEIRA, 2005; TAYIBI et al., 2009; RASHAD, 2017).
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 32
Cota et al. (2012) analisaram qual seria a biodegradação da mistura lixo urbano/fosfogesso e se
o uso do material como cobertura em aterros sanitários poderia contribuir para o aumento da
exposição de seres humanos a radioatividade e metais. Foram realizados, nessa pesquisa,
ensaios de composição mineralógica por difratometria de raios X, composição química por
fluorescência de raios X, determinação de atividades de radionuclídeos por espectrometria
gama e concentração de Cr e As, além de modelagem numérica. Os autores observaram que o
fosfogesso não apresentou qualquer risco à saúde humana ou ao meio ambiente, pois, para o
uso em aterros sanitários, a liberação dos contaminantes ficou dentro dos limites aceitáveis.
Concluiu também que as amostras com adição de fosfogesso apresentaram menor tempo de
decomposição de matéria orgânica enquanto os experimentos eram realizados.
Ribeiro, Mascarenha e Santos (2018) realizaram estudo sobre a viabilidade técnica da utilização
de fosfogesso na construção de sistemas de cobertura de aterro sanitário. Os materiais estudados
foram, solo arenoso laterítico 100%, fosfogesso 50% + solo 50%, fosfogesso 50% + solo 47%
+ bentonita 3%, fosfogesso 50% + solo 44% + bentonita 6% e fosfogesso 50% + solo 41% +
bentonita 9%. Os resultados demonstraram valores de coeficiente de condutividade hidráulica
inferiores a 10-8 m.s-1 para o solo e a mistura solo/fosfogesso, e valores inferiores a 10-9 m.s-1
para as amostras contendo bentonita, quando compactados na energia Proctor normal.
Utilizando a energia Proctor intermediária nos materiais solo e solo/fosfogesso observaram
valores de coeficiente de condutividade inferiores a 10-10 m.s-1 e 10-9 m.s-1 respectivamente.
Uma simulação de sazonalidade (umedecimento e secagem) para o solo e a mistura
solo/fosfogesso demonstrou um aumento do coeficiente de condutividade, entretanto
mantendo-se inferiores a 10-9 m.s-1. Desta forma, os autores concluíram que o solo e o
solo/fosfogesso apresentaram condições favoráveis quando compactados na energia Proctor
intermediaria para aplicação como barreira hidráulica, definindo a mistura solo/fosfogesso
como prioritária por dar finalidade ao fosfogesso até então considerado um passivo ambiental.
E. S. FERREIRA Capítulo 2
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 33
Nos testes de compatibilidade, o autor observou que as amostras que utilizaram NaOH
apresentaram redução dos valores de k em relação aos utilizando água, devido à viscosidade da
solução e a formação de estruturas dispersas. As amostras contendo bentonita apresentaram
maiores valores de condutividade quando tratadas com HNO3 e isso pode ser atribuído à
formação de estruturas floculadas e à diminuição da dupla camada nos minerais argilosos.
Nessa condição, nenhuma das amostras atingiu valores de k inferiores a10-9 m∕s, mostrando que
a compatibilidade deve ser analisada com maior frequência em projetos de revestimentos. Por
fim Borges (2019), conclui que amostras contendo 10% de fosfogesso e 6% de bentonita
atendem os critérios hidromecânicos necessários para materiais de liners em aterros sanitários.
E. S. FERREIRA Capítulo 2
CAPÍTULO 3
METODOLOGIA
3.1. MATERIAIS
As misturas utilizadas nesta pesquisa são o solo arenoso laterítico (S), solo arenoso laterítico
com adição de 10% de fosfogesso (SF), solo arenoso laterítico com adição de 6% de bentonita
(SB6), solo arenoso laterítico com adição de 10% de fosfogesso e 6% de bentonita (SFB6). As
misturas SB6 e SFB6 foram escolhidas por atenderem aos critérios de permeabilidade e
resistência a compressão simples necessários em liners de aterro sanitário, de acordo com o
observado por Borges (2019). O solo e a mistura SF foram avaliados para que possa se entender
a contribuição de cada material nos processos investigados. Na Tabela 3.1 constam os dados de
caracterização física dos materiais.
Amostras
Propriedades
S F B SF SB6 SFB6
Massa especifica dos grãos
2,64 2,36 2,71 2,59 2,62 2,58
(g/cm3)
Limite de liquidez (%) 37 - 470 36 54 44
Limite de plasticidade (%) 27 - 48 27 27 24
Índice de Plasticidade (%) 10 NP 422 9 27 20
Granulometria sem defloculante
Pedregulho (%) 0,1 0,0 0,0 0,1 0,1 0,1
Areia (%) 62,0 40,2 0,0 56,4 55,7 54,5
Silte (%) 29,0 59,8 89,0 43,5 29,9 45,4
Argila (%) 8,9 0,0 11,0 0,0 14,3 0,0
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 35
O metal traço escolhido para esta pesquisa foi o Cu2+, que além de ser encontrado em aterros
sanitários, apresentam-se em resíduos de mineração e indústrias. As concentrações foram
obtidas a partir da diluição de sais de cloreto de cobre (CuCl2) e foram determinadas de acordos
com os testes preliminares de cada experimento.
3.2. MÉTODOS
As análises químicas para determinação dos macros e micronutrientes, CTC e pH dos materiais
foram realizadas pelo laboratório de solo substrato e nutrição de plantas da UFG, de acordo
com a metodologia proposta pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA,
1997).
A mineralogia e microscopia das amostras foram realizadas nos laboratórios de mecânica dos
materiais, de FURNAS centrais elétricas, localizada no município de Aparecida de Goiânia.
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 36
A distribuição de poros (PSD) dos materiais foi obtida a partir da primeira derivada numérica
do ajuste da curva característica solo-água (CCSW). A obtenção dos pontos experimentais da
CCSW seguiu as recomendações de ASTM D6836 (ASTM, 2003), executando os ensaios de
placa de pressão para sucções de até 100 kPa e Dew Point PotentiaMeter (WP4C) para valores
superiores. Os ensaios foram executados no laboratório de geotecnia (LABGEO) com materiais
compactados em seus respectivos valores de teor de umidade ótima e peso específico seco
máximo (Tabela 3.1), na trajetória de primeira secagem.
Para a o ensaio de placa de pressão, as amostras de solo foram compactadas de maneira estática
nos cilindros da célula do equipamento, utilizando uma prensa hidráulica (Figura 3.1a). Após
compactados os corpos de prova foram postos sobre uma pedra porosa e um papel filtro para
que não houvesse perda de material no processo de saturação realizado por capilaridade (Figura
3.1b).
Para obtenção dos valores de sucção a partir do WP4C foram preparadas e compactadas 10
amostras dos materiais nas condições ótimas. Os materiais foram pesados (Figura 3.2a) e
compactados (Figura 3.2b) dentro das células do equipamento utilizando um molde de tecnil
que permite a ocupação de cerca de 70% do volume da célula. Após a compactação
aguardou - se que as amostras secassem ao ar (Figura 3.2c), de modo a se obter uma distribuição
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 37
Figura 3.1 - Ensaio placa de pressão; a) compactação; b) saturação por capilaridade; c) montagem das células; d)
ensaio em andamento.
Figura 3.2 - Ensaio WP4C: a) pesagem da massa de solo; b) compactação do solo na capsula do equipamento; c)
correção de umidade das amostras; d) determinação da sucção.
Adotou-se a Equação 3.1, proposta por Durner (1994), para representação matemática dos
dados experimentais das curvas de retenção. Essa equação foi obtida a partir da formulação
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 38
proposta por van Genuchten, estendendo seu uso para curvas bimodais típicos de regiões
tropicais. Com os dados de ajuste obteve-se a distribuição de tamanho de poros de cada material
a partir da primeira derivada da curva Equação 3.2.
1 mi
𝑗
S𝑒 = ∑i=1 wi [1+(α |𝑢 |)ni
] 3.1
i 𝑎 −𝑢𝑤
−𝑑𝑒
𝑃𝑆𝐷 = 3.2
𝑑(log 𝐷𝑝 )
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 39
procedimento foi executado de forma a não se utilizar o comando diluir durante as leituras, de
modo a garantir as mesmas condições de ensaios para todas as amostras.
A expansão dos materiais foi avaliada pela metodologia proposta por Sivapullaiah, Sitharam e
Rao (1987). O ensaio consiste em adicionar um volume conhecido de material passante na
peneira 0,42 mm em frascos graduados com a solução contaminante desejada, e observar o
volume ocupado após 24 horas de contato (Figura 3.4). Com os dados obtidos e utilizando a
Equação 3.3 é determinado o potencial de expansão da amostra com contaminante e avaliada a
sua reatividade.
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 40
ℎ−ℎ𝑆
𝐼𝐸 = ℎ𝑆
(3.3)
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 41
Figura 3.5 – Sequencia ensaio de adsorção, a) Agitação de amostras; b) amostras centrifugadas e c) avolumação
das amostras digeridas.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 42
Para definir as concentrações ideais para a realização dos ensaios foram executados testes
preliminares de adsorção. As concentrações preliminares (2, 4, 8, 16 e 32 mg L-1 de Cu2+)
foram adotadas a partir dos valores de referência apresentado pela resolução CONAMA 420
(BRASIL, 2009), que define um limite de concentração máximo de 2 mg L-1 de Cu para águas
subterrâneas. Para o ensaio teste, adotou-se o solo como material adsorvente, visto que esse
teoricamente apresentaria a menor capacidade de remoção entre os materiais estudados e
encontra-se em maiores proporções nas misturas.
O teste realizado apresentou uma remoção do metal superior a 97% para as concentrações
adotadas, não permitindo a obtenção de bons ajustes com os modelos de isotermas propostos.
Dessa forma, adotou-se as concentrações de 0, 40, 80, 160, 320 e 640 mg L-1 para os ensaios
seguintes, as quais estão de acordo com as concentrações adotadas por Paula (1999), Gurjão
(2005), Silva (2018), Oliveira et. al. (2018).
As isotermas de adsorção foram obtidas por meio dos ajustes linear (Equações 2.9), de
Freundlich (Equação 2.10) e de Langmuir (Equação 2.11), como apresentado por Fetter (1993),
e descritas no item 2.6.1, sendo estes os mais utilizados pela literatura quando analisado o
processo de adsorção em solo.
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 43
Figura 3.7 - Célula de difusão confeccionada: a) projeto do equipamento, b) célula de difusão construída.
(a)
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 44
(b)
Após a compactação, as células foram postas sobre pedras porosas permitindo a saturação por
capilaridade (Figura 3.8 c). O tempo de saturação adotado foi estimado a partir dos testes
previamente realizados para cada uma das misturas, tendo em vista a diferença do coeficiente
de permeabilidade dos materiais e a não utilização de elevadas cargas hidráulicas. Finalizado
esse procedimento, as células foram vedadas na base e na parte superior, numeradas conforme
a concentração da solução que seria adicionada (Figura 3.8 d) e em seguida adicionou-se as
soluções sintéticas nas respectivas células em seis concentrações 0, 50, 100, 200, 400 e 800 mg
L-1 (Figura 3.8 e).
Os ensaios de difusão tiveram tempo de duração superior a 16 dias, onde a cada 48 horas
coletava-se 10 ml da solução contaminante do reservatório, utilizando-se uma pipeta. Essas
amostras foram utilizadas para a determinação da concentração do metal ao longo do tempo,
bem como aferição das medidas de condutividade elétrica, com um condutivímetro mCA150,
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 45
e de pH, com um pH-metro Hach HQ30D (Figura 3.8 g). Após o tempo estipulado para os
ensaios descartou-se a solução restante no reservatório seguido da extração e fatiamento dos
corpos de prova em 4 camadas de 10 mm de material (Figura 3.8 f).
Figura 3.8 - Ensaio de Difusão, a) compactação; b) Material compactado na célula; c) Saturação por
capilaridade; d) Célula montada e solução de Cu2+; e) preenchimento da célula com solução de Cu 2+; f) aferição
de pH condutividade e coleta de solução do reservatório para análise; g) fatiamento do corpo de prova.
(g)
E. S. FERREIRA Capítulo 3
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 46
Após o procedimento de digestão as amostras foram filtradas em papel filtro e transferidas para
balões volumétricos de 50 ml, seguido da avolumação da amostra, conforme Figura 3.5 f. O
procedimento de determinação da concentração de Cu2+, foi realizado com o mesmo
equipamento utilizado no estudo da adsorção (Figura 3.6).
E. S. FERREIRA Capítulo 3
CAPÍTULO 4
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados das análises químicas dos materiais estudados são apresentados na Tabela 4.1.
Nota-se que nos materiais em que se adicionou o fosfogesso ocorreu considerável aumento na
CTC, induzida pela presença do Ca2+, que apresenta uma elevação de concentração em torno
de 8,36 vezes nos materiais estabilizados com fosfogesso em relação ao solo.
A partir dos valores de pH obtidos em H2O e em KCl, obteve-se o valor de ∆𝑝𝐻 negativo, o
que indica uma superfície carregada negativamente, o que sugere a preferência dos materiais
no processo de adsorção de íons positivos.
Amostras
Propriedades
S SF SB6 SFB6
Cu mg/L 1,0 1,2 0,9 1,3
Zn mg/L 4,3 3,7 3,6 3,0
Mn mg/L 21 30 24 36
Fe mg/L 62 51 65 45
M.O. % 3,2 3,4 2,9 4,2
K+ cmolc/dm3 0,3 0,3 0,3 0,3
Ca2+ cmolc/dm3 4,1 34,4 6,0 34,3
2+
Mg cmolc/dm3 1,1 1,1 2,3 2,2
H+ Al3+ cmolc/dm3 3,1 3,1 2,8 2,5
CTC cmolc/dm3 8,6 38,9 11,4 39,3
pH (H2O) - 5.9 5.4 7.4 6.8
pH (KCl) - 5.5 5.3 6.4 6.4
∆pH *
- -0.4 -0.1 -1 -0.4
*∆𝑝𝐻 = 𝑝𝐻𝐾𝐶𝑙 − 𝑝𝐻𝐻2𝑂
As análises mineralógicas dos materiais estudados são apresentadas nas Figuras 4.1, 4.2, 4.3,
4.4 e demonstraram a presença de gibbsita e caulinita no solo, e na mistura SF, além desses
argilominerais, ocorre a presença de sulfato e cálcio, devido a composição química do
fosfogesso. Entretanto, não foi observado presença de montmorilonita nas misturas que contém
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 48
a bentonita, o que pode estar relacionado ao baixo percentual adicionado na mistura, sendo
necessário a realização de uma nova análise da amostra e da bentonita pura.
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 49
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 50
50
Ajuste - S
40 Ajuste - SF
PSD - de/dlog (D)
Ajuste - SB6
30 Ajuste - SFB6
20
10
0
1,00E+00 1,00E+02 1,00E+04 1,00E+06
Å
Figura 4.6- MEV, a) amostra de S; b) amostra SF; c) amostra SB6; e c) amostra SFB6.
(a) (b)
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 51
(c) (d)
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 52
Os resultados obtidos para o solo (Figura 4.7) mostram que o aumento da concentração de Cu2+
na solução provocou o aumento da fração correspondente a areia grossa. Este aumento na fração
granulométrica pode ter sido influenciado pela adsorção do Cu2+ na superfície das partículas de
solo, tornando as bordas anteriormente carregadas negativamente em positivas, reduzido a
repulsão e permitindo a formação de uma estrutura floculada. De acordo com Lopes (2016), a
interação entre as partículas é explicada pela lei de Coulomb, que depende da constante
dielétrica do material, a qual pode ser atraente se as superfícies forem carregadas de maneira
oposta ou repulsivas, caso contrário.
Estes resultados contradizem os obtidos por Souza, Boscov e Gurjão (2016), que observaram
que o Cu2+ é um agente desagregador quando em contato com um solo arenoso laterítico do
Distrito Federal. Entretanto este comportamento pode ser justificado devido os solos do Distrito
Federal terem predominância de ligações em pontes de argila entre as partículas do solo, que
são mais fracas que as agregações compostas por óxidos e hidróxidos, permitindo uma fácil
desestruturação dos agregados (CARDOSO, 2002).
As frações granulométricas para a mistura SB6 (Figura 4.8) apresenta-se diferente do solo, visto
que a mudança na concentração de Cu2+ não foi capaz de alterar as cargas superficiais da
mistura que permitissem a formação de areia grossa. Esse comportamento pode ser justificado
pela presença da bentonita, que apresenta elevada superfície específica e consequentemente
maiores cargas negativas, aumentando a capacidade da mistura em reter os cátions e mantê-los
imóveis (SHACKELFORD et al., 2000).
A troca catiônica nos materiais que contém bentonita também pode ter provocado a
disponibilização do Na+, que pode ter interferindo no processo de formação de agregações entre
as partículas como observado no solo. Observa-se também que mesmo ao adicionar 6% de
bentonita ao solo, o material não apresentou porcentagem de fração argila superiores ao
adicionado, com exceção da amostra sem adição de Cu2+ e CU, demonstrando que ainda ocorre
o agrupamento das partículas.
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 53
100% 100%
80% 80%
60% 60%
40% 40%
20% 20%
0% 0%
0 50 100 200 400 800 0 50 100 200 400 800
Concentração (mg/L) Concentração (mg/L)
Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa
100% 100%
Fração granulométrica (CU)
Fração granulométrica (SU)
80% 80%
60% 60%
40% 40%
20% 20%
0% 0%
0 50 100 200 400 800 0 50 100 200 400 800
Concentração (mg/L) Concentração (mg/L)
Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa
100% 100%
Fração granulométrica (CU)
Fração granulométrica (SU)
80% 80%
60% 60%
40% 40%
20% 20%
0% 0%
0 50 100 200 400 800 0 50 100 200 400 800
Concentração (mg/L) Concentração (mg/L)
Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 54
100% 100%
80% 80%
60% 60%
40% 40%
20% 20%
0% 0%
0 50 100 200 400 800 0 50 100 200 400 800
Concentração (mg/L) Concentração (mg/L)
Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa
Os resultados obtidos através dos ensaios de expansão livre são apresentados na Tabela 4.2.
Observa-se que não houve alterações significativas em relação a expansão dos materiais em
contato com o Cu2+ que comprometa a utilização destes, considerando-se a proposta de
Sivapullaiah, Sitharam e Rao (1987), que estabelecem valores de IE menores que 2,5. Vale
ressaltar que a composição mineralógica presente no solo (Figura 4.1 a) não permite que ocorra
expansão do material pela adsorção de água ou cátions livres, visto que o mesmo não apresenta
em sua composição argilominerais 2:1.
A ocorrência do aumento do índice de expansão para o solo pode estar relacionada ao processo
de floculação das partículas, conforme observado a partir de sua granulometria, o que tende a
formar uma estrutura mais porosa, proporcionando um arranjo estrutural que ocupe maior
volume.
A mistura SB6 apresentou uma redução do seu IE com o aumento da concentração, o que
permite inferir que a fixação dos íons de Cu2+ na bentonita tende a evitar a expansão dos
argilominerais. Além disso, a troca catiônica com o Cu2+ ocasiona a liberação de Na+ na solução,
que tende a interferir nas aglomerações entre as partículas como discutido anteriormente.
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 55
Concentração Média
(mg/L) 0 50 100 200 400 800
IE - S 0,09 0,13 0,13 0,15 0,18 0,18 0,15
IECu2+/IEH2O - 1,4 1,4 1,6 2 2 1,68
Os dados experimentais de adsorção ajustados aos modelos Linear, Freundlich e Langmuir são
apresentados na Figura 4.11. O comportamento das isotermas infere a um processo favorável
de remoção do Cu2+ pelos materiais. Esse comportamento ocorre porque o Cu2+ apresenta
expressiva afinidade por determinados grupos funcionais de superfície, formando moléculas
estáveis, correspondente a uma adsorção específica, de alta energia de ligação pelos coloides
orgânicos e inorgânicos, que resulta na baixa mobilidade do metal em solo (LOPES, 2009).
Além disso, a estrutura microporosa (Figura 4.5), onde os poros são pouco maiores que o
diâmetro molecular do adsorvato contribui com a remoção do contaminante pelo processo de
absorção, fixando os íons entre as partículas.
Figura 4.11 - Isotermas de adsorção (a) S; (b) SF; (c) SB6; (d) SFB6
3,00
Dados Experimentais Cu++
2,50 Isoterma Freundlich
2,00 Isoterma Langmuir
Linear (Dados Experimentais Cu++)
S (mg/g)
1,50
1,00
0,50
0,00
0 100 200 300 400 500
Ce(mg/L)
(a)
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 56
3,00
Dados Experimentais Cu++
2,50 Isoterma Freundlich
Isoterma Langmuir
2,00 Linear (Dados Experimentais Cu++)
S (mg/g)
1,50
1,00
0,50
0,00
0 100 200 300 400 500
Ce(mg/L)
(b)
3,00
2,50
2,00
S (mg/g)
1,50
1,00 Dados Experimentais Cu++
Isoterma Freundlich
0,50 Isoterma Langmuir
0,00 Linear (Dados Experimentais Cu++)
0 100 200 300 400 500
Ce(mg/L)
(c)
3,00
2,50
2,00
S (mg/g)
1,50
1,00
Dados Experimentais Cu++
0,50 Isoterma Freundlich
Isoterma Langmuir
0,00
0 100 200 300 400 500
Ce(mg/L)
(d)
Na Tabela 4.3 constam os parâmetros de ajustes paras os modelos utilizados. Observa-se que
as misturas apresentaram melhores coeficientes de correlações (R2) ao serem ajustadas pelos
modelos Langmuir e Freundlich, visto que o modelo linear é recomendado para baixas
concentrações (FETTER, 1993). Comportamento semelhantes para solos tropicais foram
observados por Lopes (2009), Oliveira (2010) e Silva (2018).
Entretanto, vale ressaltar que as concentrações utilizadas foram muito superiores a que se
encontram comumente em lixiviados de aterros sanitários. Dessa forma, além da obtenção dos
parâmetros da isoterma linear utilizando os cinco pontos experimentais, determinou-se os
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 57
A adição da bentonita, como esperado, proporcionou o aumento da adsorção de Cu2+, o que está
relacionado as propriedades dos argilominerais constituintes (AMADI; OSINUBI, 2017;
GHOMARI; BEZZAR; ABDELLAOUI, 2012). Entretanto, esperava-se que o aumento
significativo na CTC promovida pela adição de fosfogesso (Tabela 4.1) provocasse uma maior
remoção de Cu2+ nas misturas em que este foi adicionado. Neste caso, houve uma
superestimação da CTC determinada nos ensaios químicos, possivelmente devido à presença
de teores elevados de Ca2+ presentes em sua composição química, que não estavam disponíveis
para troca catiônica. Esta superestimação também foi observada em estudo realizado por
Oliveira et al. (2018) com resíduos de construção e demolição.
Na Figura 4.12 consta a porcentagem de Cu2+ adsorvida versus a concentração inicial utilizada.
De forma geral, observa-se que a quantidade de Cu2+ absorvida nos materiais aumentou com o
aumento da concentração inicial na solução, enquanto isso a porcentagem de Cu2+ removido
decresceu. Tal comportamento é o esperado visto que com o aumento da disponibilidade de
Cu2+ ocorre a redução dos sítios ativos que tendem a fixar os íons dispersos na solução (Lopes,
2009).
Analisando a porcentagem de Cu2+ adsorvida (Figura 4.12), observa-se que o solo apresenta
uma remoção de Cu2+ superior às misturas com fosfogesso para concentrações inferiores a
80mg/L. A ocorrência dessa redução inicial pode estar relacionada com a disputa entre o Ca2+
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 58
disponibilizada pelo fosfogesso e o Cu2+ pelos sítios de adsorção disponível no solo. Segundo
Santos (1975), a presença de Ca2+ ocasiona a formação de uma película rígida, na superfície dos
argilominerais, que tende a afetar a capacidade do argilomineral em adsorver outros cátions
livres. Em maiores concentrações, as misturas contendo fosfogesso apresentaram uma remoção
superior ao do solo e uma equivalência com as misturas SFB6 e SB6 em concentrações
superiores a 320mg/L.
100%
80%
% adsorvida
60%
40%
20%
0%
0 100 200 300 400 500 600
C0 (mg/L)
S SF SB6 SFB6
O aumento da adsorção provocada pela adição de bentonita pode ser justificada pelas
propriedades do material como cargas superficiais, CTC, diâmetro das partículas e superfície
específica, apresentados no item 2.2.3. Entretanto, Santos (1975) também relata que, nas
montmorilonitas, além do Ca2+ afetar a remoção de íons na superfície dos argilominerais pela
formação da película rígida, ele também restringe a expansão das partículas, o que afeta a
adsorção de íons entre camadas dos argilominerais 2:1.
A influência da presença do íon Ca2+ nas bentonita do tipo sódicas, conforme apresentado por
Santos (1975), também foram observados por Gleason, Daniel e Eykholt (1997); Liu (2013) e
Malusis, Asce e Mckeehan (2013).
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 59
Figura 4.13 – variação de pH versus concentração de CuCl2, antes e depois do contato com os materiais.
5,5
pH
4,5
4
0 100 200 300 400 500 600
Concentração (mg/L)
pH da solução pHt24 S pHt24 SF
pHt24 SB6 pHt24 SFB6
Os valores monitorados apresentam-se inferiores a 6.9 no qual o Cu2+ apresenta-se na sua forma
predominante (LINDSAY, 1997; LOPES, 2009). Verifica-se também que os valores estão no
intervalo de maior retenção do Cu2+, em diferentes solos tropicais estudados por Lopes (2009),
e inferiores ao pH 6,0, conforme recomendações da D4646 (ASTM, 2008).
Observa-se, que as misturas que contém bentonita apresenta um pH mais elevado que os demais
Tabela 4.1. Entretanto, quando em contato com a solução de CuCl2 as misturas que contém
bentonita apresentam uma maior redução do pH. Comportamento semelhante acontece quando
em contato com as misturas, no entanto a influência da concentração é menor nesse caso
possivelmente devido a maior dificuldade de hidrolise devido o contato da solução com as
partículas de solo e fosfogesso.
Os ensaios de difusão para análises do avanço de contaminação do Cu2+ foram realizados para
o solo e para as misturas SB6 e SFB6, nas concentrações de 0, 50, 100, 200, 400 e 800 mg/L.
As concentrações das soluções no reservatório ao longo do tempo e o avanço dessas
concentrações ao longo dos corpos de prova foram determinas pelo período de 16 dias para o
solo e a mistura SFB6 e de 20 dias para a mistura SB6. O ensaio sem concentração de Cu2+
(0 mg/L) para cada material foi realizado a título de referência.
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 60
Figura 4.14 - Concentração no reservatório ensaio de difusão, a) amostra S para tempo de 16 dias, b) amostra
SB6 para tempo de 20 dias, c) amostra SFB6 para tempo de 16 dias.
800
600
Concentração (mg/L)
400
200
0
0 48 96 144 192 240 288 336 384
Tempo (h)
0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L
(a)
800
600
Concentração (mg/L)
400
200
0
0 48 96 144 192 240 288 336 384 432 480
Tempo (h)
0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L
200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L
(b)
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 61
800
600
Concentração (mg/L)
400
200
0
0 48 96 144 192 240 288 336 384
Tempo (h)
0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L
200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L
(c)
Figura 4.15 - Concentração do reservatório normalizada (C/C0), a) amostra S para tempo de 16 dias, b) amostra
SB6 para tempo de 20 dias, c) amostra SFB6 para tempo de 16 dias.
1
0,8
(C/C0) (mg/L)
0,6
0,4
0,2
0
0 48 96 144 192 240 288 336 384
Tempo (h)
50 100 200 400 800
(a)
1
0,8
(C/C0) (mg/L)
0,6
0,4
0,2
0
0 48 96 144 192 240 288 336 384 432 480
Tempo (h)
50 100 200 400 800
(b)
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 62
1
0,8
A maior redução de concentração, inicialmente, deve-se à afinidade de fixação dos íons de Cu2+
em contato com os materiais que compõem os corpos de prova, seja pela superfície carregada
negativamente ou pela troca catiônica, que tende a atrair os íons livres da solução.
Posteriormente, quando a capacidade de adsorção da primeira faixa de material do corpo de
prova é atingida, o processo de remoção torna-se mais demorado, visto a maior distância que
os íons tendem a percorrer para reagir com as partículas sólidas.
Este fato fica mais evidente em se tratando das amostras de SB6 e SFB6, onde os materiais
utilizados na estabilização proporcionam o aumento da capacidade de adsorção em relação ao
solo (Tabela 4.3), além do aumento da tortuosidade devido a redução dos macroporos (Figura
4.5 e 4.6). Estas características permitem a redução do coeficiente de difusão, aumentando o
tempo para que os íons atravessem o corpo de prova, atingindo material não contaminado.
As curvas de concentração de Cu2+ ao longo do corpo de prova são apresentadas na Figura 4.16.
Como esperado observa-se que, à medida que houve a redução de concentração do Cu2+ nos
reservatórios (Figura 4.14), ocorre o aumento da mesma ao longo do corpo de prova. Verificou-
se que as soluções com menores concentrações tendem a ser fixadas na primeira camada e as
de maior concentração apresentam um maior avanço, o que ocorre devido a maior
disponibilidade de íons que facilita a saturação dos sítios de adsorção disponíveis na superfície.
A partir dos resultados obtidos para o solo (Figura 4.16a), nota-se que o avanço dos íons de
Cu2+ para o tempo de ensaio ocorreu até a segunda camada do material compactado, não sendo
observado concentração superiores ao ensaio de referencia a partir da terceira camada, o que
demostra a capacidade do solo em restringir o avanço do contaminante.
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 63
Para a mistura SB6 (Figura 4.16b) o comportamento é o mesmo, apesar do tempo de duração
do ensaio ser maior, o qual, associado às propriedades dos argilominerais que compõem a
bentonita, pode ter contribuído para a atração dos íons livres e consequentemente maiores
concentrações na primeira camada do corpo de prova, conforme também verificado por
Ghomari, Bezzar e Abdellaoui, (2012). Isso contribui com a redução de concentração dos íons
de Cu2+ do reservatório, retendo-os na camada mais superficial, o que reflete em menores
concentrações na segunda camada quando comparado ao solo e ao SFB6. A mistura SFB6
(Figura 4.16c) apresenta valores de avanço de concentração intermediário aos obtidos para o
solo e a mistura SB6, devido a influência do fosfogesso.
Figura 4.16 – Concentração de Cu2+ nos corpos de prova, ensaio de difusão, a) amostra S para tempo de 16 dias,
b) amostra SB6 para tempo de 20 dias, c) amostra SFB6 para tempo de 16 dias.
Concentração (mg/kg)
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
0
profundidade (cm)
4
0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L
200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L
(a)
Concentração (mg/kg)
0 400 800 1200 1600 2000 2400
0
profundidade (cm)
4
0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L
200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L
(b)
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 64
Concentração (mg/kg)
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
0
profundidade (cm) 1
4
0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L
200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L
(c)
Em relação ao pH das soluções, tem-se que o aumento da concentração de Cu2+ antes do início
do ensaio provoca a redução do pH, devido a ocorrência de hidrólise salina entre o sal CuCl2 e
H2O. Ao iniciar o ensaio, o contato da solução com o solo (Figura 4.17 a) provocou uma
redução inicial do pH, a partir do qual o mesmo se manteve estável até o fim do ensaio. Para a
mistura SB6 (Figura 4.17 b), nas concentrações de 50, 100 e 200 mg/L, o aumento nos valores
de pH demonstram a ocorrência de interações e possível liberação de íons OH-. Por fim, a
mistura SFB6 (Figura 4.17c) não apresenta modificações significativas, exceto para o ensaio de
referência, onde ocorreu a redução do pH após 48 horas de contato, seguindo da estabilização.
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 65
fosfogesso e bentonita, mas com tendência de estabilização, o que provavelmente seria atingido
com maior tempo de contato.
Os resultados dos ensaios de difusão mostraram que a difusão é um meio ativo de transporte de
espécies químicas, onde mesmo com taxas de fluxo muito baixas há ocorrência do transporte
dos íons presentes na solução contaminante para o corpo de prova. Esse transporte depende
especificamente de como ocorre a interação entre o contaminante e os componentes da matriz
solida. Nesse sentido, resíduos que permitam melhorar a capacidade de interação entre o
contaminante e o material que compõe um liner, podem auxiliar na atenuação do transporte
difusivo.
7,5 3000
7
2500
Condutividade (μS/cm) - S
6,5
2000
6
5,5 1500
pH - S
5 1000
4,5
500
4
3,5 0
0 48 96 144 192 240 288 336 384 0 48 96 144 192 240 288 336 384
Tempo (horas) Tempo (horas)
0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L 0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L
200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L 200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L
(a) (b)
8 3000
7,5
Condutividade (μS/cm) - SB6
2500
7
6,5 2000
6 1500
pH - SB6
5,5
1000
5
500
4,5
4 0
0 48 96 144 192 240 288 336 384 432 480 0 48 96 144 192 240 288 336 384 432 480
Tempo (dias) Tempo (dias)
0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L 0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L
200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L 200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L
(c) (d)
E. S. FERREIRA Capítulo 4
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 66
8 3500
2000
6
1500
5,5
5 1000
4,5 500
4 0
0 48 96 144 192 240 288 336 384 0 48 96 144 192 240 288 336 384
Tempo (horas) Tempo (horas)
0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L 0 mg/L 50 mg/L 100 mg/L
200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L 200 mg/L 400 mg/L 800 mg/L
(e) (f)
E. S. FERREIRA Capítulo 4
CAPÍTULO 5
CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
5.1. CONCLUSÕES
A partir das análises granulométricas, observou-se que o Cu2+ provocou agregação do solo em
fração de areia grossa e, ao adicionar bentonita, as agregações se reduziram para frações de
areia fina e silte.
A partir dos ensaios de expansão livre, observou-se que, apesar de ocorre floculação das
amostras de solo, aumentando seu volume, não houve alterações significativas no
comportamento do material que comprometam sua utilização em liners.
Os ajustes realizados com a isoterma linear foram influenciados pelas altas concentrações
utilizadas, o que fez com que a mesma não apresentasse bom coeficiente de correlação,
entretanto a utilização apenas das três primeiras concentrações permite a obtenção de
parâmetros mais assertivos. Desta forma os melhores ajustes foram obtidos para o modelo de
Freundlich e de Langmuir.
E. S. FERREIRA Capítulo 5
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 68
Em relação aos ensaios de difusão, observa-se que o solo permitiu o maior avanço de
concentração entre os materiais, seguido das misturas SFB6 e SB6, respectivamente. Os
resultados demonstraram que o processo de estabilização permitiu a retenção do contaminante
na primeira camada dos corpos de prova, o que foi influenciado pela melhora na capacidade de
adsorção.
E. S. FERREIRA Capítulo 5
REFERÊNCIAS
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6502: Amostras de solo – Preparação
para ensaio de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, RJ, 9 p, 1995.
AMADI, A. A.; OSINUBI, K. J. Transport parameter of lead (Pb) ions migrating through
saturated lateritic soil-bentonite column. International Journal of Geotechnical
Engineering, p. 1-6, 2017, DOI: 10.1080/19386362.2016.1277620
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Method for 24-h Batch-Type Measurement of Contaminant Sorption by Soils and Sediments.
D4646-03 Pennsylvania, United States: ASTM.
AMMAR, R.; KANBAR, H. J.; KAZPARD, V.; WAZNE, M.; EL SAMRANI, A. G.;
AMACHA, N.; SAAD, Z.; CHOU, L. Role of phosphogypsum and NPK amendments on the
retention or leaching of metals in different soils. Journal of environmental management,
vol. 178, p. 20-29, 2016. doi.org/10.1016/j.jenvman.2016.04.042
E. S. FERREIRA Referências
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APÊNDICE - A
80 Experimental - SB
Experimental - SFB6
Ajuste - Solo
Water ratio - ew
60 Ajuste - SF
Ajuste - SB6
Ajuste - SFB6
40
20
0
1 10 100 1.000 10.000 100.000 1.000.000
Soil suction, kPa
100
90 S S.U.
80 S C.U.
S 50 mg/L Cu S.U.
70
S 50 mg/L Cu C.U.
Passante (%)
E. S. FERREIRA Apêndice - A
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 78
100
SF S.U
SF C.U
80 SF 50 mg/L Cu S.U.
SF 50 mg/L Cu C.U.
60 SF 100 mg/L Cu S.U.
Passante (%)
100
SB6 S.U.
SB6 C.U.
80
SB6 50 mg/L Cu S.U.
SB6 50 mg/L Cu C.U.
60 SB6 100 mg/L Cu S.U.
Passante (%)
E. S. FERREIRA Apêndice - A
Estudo sobre o transporte de cobre em solo arenoso laterítico estabilizado com fosfogesso e bentonita 79
100
SFB6 S.U.
80 SFB6 C.U.
SFB6 50 mg/L Cu S.U.
SFB6 50 mg/L Cu C.U.
60
Passante (%)
E. S. FERREIRA Apêndice - A