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Estabilização de Solos Expansivos de Cabrobó, Paulista e

Suape /PE com Cal

Sergio Carvalho de Paiva


UNICAP e doutorando da UFPE, Recife, Brasil, spaiva@unicap.br

Marta Lúcia de Almeida Almendra Freitas


UNICAP, Recife, Brasil, marta.rolim@uol.com.br
Valquíria Barbosa
UFPE, Recife, Brasil, kirian_b@hotmail.com

Welington Amorim Rego


UFPE, Recife, Brasil, regamorim@gmail.com
Silvio Romero de Melo Ferreira
UFPE, UPE e UNICAP - Recife/PE, Brasil, sr.mf@hotmail.com

RESUMO: Os prejuízos causados em obras civis sobre solos expansivos em alguns países atingem o
dobro dos custos com os danos causados com enchentes, furacões e terremotos e o custo real dos
prejuízos pode chegar ao dobro do valor citado acima, desde que sejam considerados os casos não
conhecidos ou não reparados ou ainda os casos em que as causas não são atribuídas a esses solos.
Atualmente o crescimento socioeconômico do estado de Pernambuco é expressivo e encontram-se
em execução grandes programas habitacionais e obras de infraestrutura. Algumas dessas edificações
encontram-se localizadas em áreas de ocorrência de solos expansivos. O efeito do tratamento da cal
nas propriedades de solos expansivos foi investigado comparando-se as características físicas e o
potencial de expansão do solo natural com o da mistura solo-cal. Ensaios de laboratório foram
realizados com o objetivo de analisar o efeito da interação da cal com solos expansivos de Cabrobó,
Suape e de Paulista, quando adicionado cal nas proporções de 1%, 3%, 5%, 7%, 9% e 11%. Os
resultados indicam que a adição de cal ao solo, causou uma agregação ou floculação das partículas
originais e a redução no índice de plasticidade. O valor de 5% de cal hidratada adicionado aos solos
expansivos de Cabrobó e de Paulista reduziu a expansão livre e tensão de expansão a valores
praticamente nulos e no solo de Suape foi necessário adicionar 11%.

PALAVRAS-CHAVES: Solo expansivo, Solo não saturado, Solo-Cal, Melhoramento de solo.

1 INTRODUÇÃO exibir expansividade. O intrínseco está


relacionado com a composição mineralógica,
Para um solo ser expansivo, depende, textura e estrutura que deve existir e entrar em
primariamente, do tipo de argila existente, uma funcionamento, em nível microescalar,
vez que nem todos os minerais argilosos mecanismos que produzam a instabilidade
experimentam modificações volumétricas, com volumétrica do solo. O extrínseco está
variação de umidade. A instabilidade pode ser relacionado com a climatologia, a
especialmente importante nas argilas hidrogeologia, a vegetação e a ocupação
vermiculita e esmectitas, em especial a antrópica que devem estar presentes e capazes
montmorilonita. Também, ocorre nos de transferir a umidade de um ponto a outro do
interestratificados de montmorilonita, com solo.
clorita, mica e vermiculita. Vários solos são susceptíveis a expansão,
Dois requisitos básicos, um intrínseco e entre eles, os oriundos de rochas ígneas,
outro extrínseco, são necessários para um solo
basicamente, basalto, diábases e gabros, onde os Outras explicações relacionadas à
feldspatos e os piroxênios se decompõem estabilização do solo com cal são apresentadas
formando montmorilonita e minerais por Nóbrega (1985), que afirma que a
secundários, solos oriundos de rochas floculação e a troca de cátions não devem ser
sedimentares constituídos do argilamineral aceitas como forma de estabilização porque
montmorilonita. solos saturados e floculação não podem ser
No Brasil, os solos expansivos foram considerados como mecanismo de estabilização,
encontrados nas regiões Sul, Centro Sul, Norte sendo que solos saturados por cálcio reagem e
e Nordeste, Ferreira (2008). Em Pernambuco, melhoram com cal. E a responsável pela
foram identificados solos expansivos nos mudança imediata do solo com a cal são as
municípios de: Afrânio, Petrolina, Cedro, reações no nível de superfície com a cal
Cabrobó, Salgueiro, Floresta, Serra Talhada, motivada pela forte alcalinidade.
Petrolândia, Inajá, Ibimirim, Carnaíba, Nova Araújo (2009) avaliou a viabilidade técnica
Cruz, Paulista, Olinda, Recife, Cabo. No do uso da cal na estabilização de solos
Grande Recife é encontrado na formação Maria ocorrentes no Agropólo do Baixo Jaguaribe,
Farinha do Grupo Barreiras e de rochas estado do Ceará, para o emprego em camadas
extrusivas básicas. O Sistema de Informações nobres de rodovias. Foram analisadas duas
Geográficas dos Solos Expansivos e formas de aplicação do estabilizante ao solo,
Colapsíveis do Estado de Pernambuco uma diluída na água de compactação (método
(SIGSEC-PE) indicou uma suscetibilidade de proposto) e a outra em pó (método
ocorrência de solos expansivos alta em 12,5% convencionalmente utilizado). As outras
da área do Estado, média em 38,7% e baixa em variáveis investigadas na pesquisa
45,2%, Ferreira et al (2008). relacionaram-se com os teores da cal aplicados
Uns dos tratamentos que vem sendo (3%, 5% e 7%), os tempos de cura foram 7, 14,
aplicado para a correção dos solos expansivos é 28 e 90 dias. As misturas estabilizadas foram
a adição de hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) que submetidas a dois métodos de dosagem: um
comercialmente é vendido como cal hidratado. analisando o comportamento químico das
Ao ser adicionado o Ca(OH)2 modifica amostras, por meio da evolução dos valores de
imediatamente o pH do solo e o cálcio evita a pH, e o outro analisando o comportamento
penetração da água nos vazios dos mecânico, por meio da evolução dos valores de
argilosminerais neutralizando suas cargas resistência à compressão simples. Verificou que
negativas favorecendo a floculação e a troca de o incremento da cal no solo apresentou uma
cátions, e com o tempo reações de cimentação estabilização agregando ao solo um acréscimo
finalizando com a reação com o CO2 do ar da resistência nas amostras naturais em função
formando os silicatos, aluminatos e alumino- das características químicas e físicas dos
silicatos de cálcio hidratado, com propriedades mesmos em função da cal no processo de
cimentantes, Boscov (1990). estabilização.
Castro (1981) relacionou as reações da cal O presente artigo tem por objetivo estudar o
com o solo com a faixa de variação do pH da uso da cal na estabilização de solos expansivos
mistura. Na primeira faixa para pH menor que de Cabrobó, Paulista e Suape, todos do estado
4,0 ocorre as primeiras trocas iônicas dos íons e de Pernambuco, utilizando mistura do solo, em
dos cátions mais reativos; a segunda faixa de peso, com 1%, 3%, 5%, 7%, 9% e 11% de cal.
pH entre 4,0 e 5,6 o alumínio trocável é
neutralizado e parte do hidrogênio trocável é 2. PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO
deslocado; a terceira faixa de pH entre 5,6 e 7,6
com o solo iniciando a alcalinidade, começam O programa de investigação geotécnica
as reações de polimerização com o hidróxido de realizado para analisar o comportamento de
alumínio (Al(OH)3); a quarta faixa com o pH solo expansivo de Cabrobó, Paulista e Suape -
variando de 7,6 e 10,0 com a alcalinidade PE constou de coleta de amostras indeformadas,
elevada os agrupamentos silanol começam a tipo bloco, para ensaios edométricos e de
reagir; e na última faixa com o pH maior que amostras deformadas para ensaios de
10,0 começam as reações pozolânicas.
caracterização seguindo as recomendações da perda ao fogo; óxido de silício; óxido férrico;
ABNT (1986a). óxido de cálcio; óxido de magnésio e massa
Os ensaios de caracterização realizados específica foram realizadas segundo a ABNT
seguiram as seguintes metodologias: Preparação (2003b). A determinação da retenção de água
para ensaios de caracterização, executado foi realizada de acordo com a ABNT (1996) e a
segundo as prescrições da ABNT (1986b) e determinação da finura pela ABNT (1998).
ensaios de caracterização; determinação do
Limite de Liquidez, ABNT (1984a),
determinação do Limite de Plasticidade, ABNT 3 RESULTADOS E ANÁLISES
(1984b); determinação da Massa Específica 3.1 Solo
ABNT (1984c), análise Granulométrica, ABNT
(1984d). 3.1.1 Caracterização Física, Química e
A caracterização química do solo foi Mineralógica.
realizada conforme a metodologia do Manual
de Métodos de Análise de Solos da Embrapa O município de Cabrobó está inserido na
(1997). Os resultados da análise química do unidade geoambiental da Depressão Sertaneja,
solo foram calculados, de acordo com o novo típica do semi-árido nordestino. O solo
sistema de classificação de solos da Embrapa expansivo analisado é uma areia argilosa (SC),
(1999): a Soma das Bases (S); a Capacidade de com 43% de areia, 20% de silte e 37% de
Troca Catiônica (CTC ou T); o Grau de argila, Figura 1. Tem WL = 37%, IP = 19%,
Saturação por Bases (V); a Saturação por Tabela 1. Tem plasticidade alta e atividade
Alumínio (m); a Saturação por Sódio e óxidos. média, Figura 2. O Peso específico real dos
A composição quantitativa dos óxidos dos grãos é 26,06 kN/m³. O pH é levemente alcalino
solos foi obtida através da técnica analítica de (> 7) e a Capacidade de Troca Catiônica é alta
espectrometria de fluorescência de raios-X (valor T = CTC > 27 cmolc/kg na Tabela 2). A
(FRX) em amostras fundidas, com saturação por base é inferior a 50%, tratando-se
determinação de teores de dez óxidos de maior de um solo distrófico (pouco fértil). A
abundância: SiO2, Al2O3, Fe2O3 ,CaO, MnO, porcentagem de sódio (100 Na+/T) é superior a >
MgO, Na2O, K2O, TiO2 e P2O5. Uma porção de 6% e inferior a 15% caracterizando o caráter
cada amostra foi colocada em estufa para secar solódico ao solo. A condutividade elétrica do
a 110oC e então levada a uma mufla, a 1000 oC extrato de saturação é alta.
por 2 horas, para a determinação de perda ao O solo expansivo de Paulista - PE é
fogo. Foram feitas pérolas fundidas usando proveniente do intemperismo físico-químico
tetraborato de lítio como fundente. As pérolas sobre o calcário margoso da Formação Maria
foram analisadas em espectrômetro de Farinha e de siltitos e argilitos da Formação
fluorescência de raios X Rigaku modelo RIX Barreira, Souza (1999). A mineralogia da fração
3000, equipado com tubo de Rh, pelo método argila é constituída de Caulinita, de Mica,
de curvas de calibração, que foram construídas Esmectita e interestratificados irregulares de
com materiais de referências internacionais. minerais expansivos e Caulinita. É uma argila
Os ensaios de expansão "livre" foram de alta compressibilidade (CH), com 10% de
realizados em células edométricas convencionais. areia, 32% de silte e 50% de argila, Figura 1.
Amostras indeformadas dos solos foram talhadas Apresenta WL =61% e IP = 30%, Tabela 1 e tem
em anéis de aço inoxidável de altura 20,00 mm e plasticidade e atividade alta. O peso específico
diâmetro de 71,3 mm e submetidas a pequenas real dos grãos é de 26,14 KN/m3. O pH é ácido
tensões que variaram de 1,0 e 10 kPa. (< 7) e a Capacidade de Troca de Cátions é
A tensão de expansão foi determinada por três menor que < 27 cmol/ kg. O valor V (saturação
métodos diferentes: 1 - Carregamento após de base) é baixa (< 50%). A percentagem de
expansão com diferentes tensões verticais de sódio é superior a 6 e inferior a 15 conferindo ao
consolidação, 2 - Expansão e colapso sob tensão, solo um caráter solódico. A condutividade
3 - Volume constante. elétrica do extrato de saturação é alta.
A cal hidratada foi classificada segundo a
ABNT (2003a). As determinações de umidade;
expressa em porcentagem (valor V - Tabela 1) é
superior a 50%, tratando-se, portanto de um solo
Eutrófico (fértil e com reservas de nutrientes para
os vegetais). A condutividade elétrica do extrato
de saturação é alta indicando o salino do solo (> 7
µS).
.

Figura 1. Curvas granulométricas

Tabela 1. Caracterização física dos solos


Caracterização Física Solo
Cabrobó Paulista Suape
Pedregulho % 0 0 0
Areia % 43 18 16
Figura 2. Carta de plasticidade e atividade
Silte % 20 32 17
Argila % 37 50 67 Em todos os solos o óxido de silício prevalece
Relação Silte/Argila 0,54 0,64 0,25 sobre o óxido de alumínio e sobre o óxido de
% < 0,002 mm 32 48 57 ferro, Tabela 3.
WL % 37 61 81
IP % 19 30 37 3.1.2 Expansão Livre e Tensão de Expansão

O solo expansivo de Suape é constituído de A expansão "livre" (El = 100h/ho) obtida em


16% de areia, 17% de silte e 67% de argila. É edômetros convencionais para sobrecarga de
um silte de alta compressibilidade (MH). tensão 10 kPa, foi 3,20% no solo de Cabrobó
Apresenta WL = 81% e IP = 37%, tem plasticidade (Figura 3), 10,70% no solo de Paulista (Figura 4)
e atividade alta, Figura 2. O Peso específico real dos e 12,00% no solo de Suape (Figura 5). Pelo
grãos é de 26,26 kN/m³. O pH da água é ácido critério de Vijayvergiya e Ghazzaly (1973)
(<7). Os cátions adsolvidos Ca2+ + Mg2+ (inundação a 10 kPa), o solo de Cabrobó tem um
preponderam sobre os cátions Na+ + K+ e estes grau de expansividade médio e os solos de
sobre os cátions H+ + Al3+. A Capacidade de Paulista e Suape alto.
Troca Catiônica é alta (valor T = CTC > 27
cmolc/kg na Tabela 2). A saturação por base

Tabela 2 Caracterização Química dos solos

pH
CE Na+ K+ Ca2+ Mg+2 Al3+ H+ S CTC RC V m 100Na+/T
Solo H2O

µS ---------------------- cmolc/kg------------------------- ------------ % ------------


Cabrobó 8,60 1992 3,13 0,11 12,8 12,0 0,20 1,40 29,53 31,13 92,90 94,86 0,67 10,05
Paulista 5,22 303 1,33 0,40 1,50 6,30 10,5 1,40 9,53 21,43 41,73 44,50 52,42 6,20
Suape 5,55 255 0,22 0,44 26 2,4 7,80 4,50 29,06 36,86 64,66 78,80 21,2 0,60

Legenda (fórmulas utilizadas): S = Na+ + K+ + Ca2+ + Mg2+; CTC = Na+ + K+ + Ca2+ + Mg2+ + Al3+ + H+;
S  Al 3 S 100Al3
RC  100 ; V  100 ; m 
arg ila (%) T S  Al3 
Tabela 3. Valores das porcentagens de óxidos e tensões, que correspondem a diferentes métodos,
Perda ao fogo na cal, no solo e nas misturas solo-cal são apresentados na Tabela 4. A diferença
fundamental entre os métodos é a ordem seguida
Óxidos Cal Solos
(%) Cabrobó Paulista Suape entre a aplicação de tensão e a inundação. No
SiO2 0,00 60,75 65,54 39,45 Método-1, a amostra é inundada primeiro e
Al2O3 1,50 12,97 15,27 21,17 carregada depois; no Método-2, a amostra é
Fe2O3t 0,00 4,39 5,05 18,62 carregada primeiro e inundada depois; no
MgO 1,93 0,75 0,68 1,28 Método-3, a inundação e carregamento ocorrem
MnO 0,00 0,06 0,00 0,14 simultaneamente. As diferentes trajetórias de
CaO 66,42 2,93 0,14 0,14
tensões aplicadas ao solo utilizadas nos métodos
Na2O 0,00 0,94 0,00 0,00
K2O 0,12 2,24 1,77 0,21 levam a valores distintos da tensão de expansão.
TiO2 0,06 0,82 0,87 4,74 Comportamento similar foi obtido na argila de
P2O5 0,01 0,02 0,02 0,31 Petrolândia-PE por Ferreira e Ferreira (2009) e por
PF 27,44 10,37 11,88 15,83 Delgado (1986) na argila compactada Arahal-A
Total 97,48 96,23 101,22 101,88 coletada da Barreira La Paz de Arahal (Serilla),
Tabela 4. Considerando os valores médios da tensão
3.1.2 Expansão Livre e Tensão de Expansão de expansão, o solo expansivo de Paulista apresentou
valores maiores do que os de Cabrobó e Suape.
Os valores da tensão de expansão do solo
determinados por diferentes trajetórias de

Tabela 4. Tensão de Expansão


Tensão de Expansão (kPa)
Petrolândia Servilha
Método de Tensão de Expansão
Cabrobó Paulista Suape Ferreira e Ferreira Delgado
(2009) (1986)
1 Carregamento após expansão com diferentes 90 300 190 333
tensões verticais de consolidação 260
2 Expansão e colapso sob tensão 100 180 220 239 150
3 Volume constante 87 275 245 242 193
Média 92 252 218 271 201

c) Método 2 -
Expansão e
Colapso

Figura 3. Métodos de tensão de expansão aplicados ao solo de Cabrobó: a - Expansão sob tensão, b) Método 1 -
Carregamento após expansão com diferentes tensões verticais de consolidação, c) Método 2 - Expansão e colapso.
Figura 4. Métodos de tensão de expansão aplicados ao solo de Paulista: a - Expansão sob tensão, b) Método 1 -
Carregamento após expansão com diferentes tensões verticais de consolidação, c) Método 2 - Expansão e colapso.

Figura 5. Métodos de tensão de expansão aplicados ao solo de Suape: a - Expansão sob tensão, b) Método 1 - Carregamento
após expansão com diferentes tensões verticais de consolidação, c) Método 2 - Expansão e colapso.

3.2 Cal mistura solo-cal em menor intensidade do que o


acréscimo nos valores do limite de plasticidade,
Os resultados das análises químicas da cal no solo de Paulista ocorreu um decréscimo no
são apresentados na Tabela 5. A determinação WL e acréscimo no WP. Em todos os solos
da finura (ABNT, 1998) encontrou um correu redução do índice de plasticidade (Figura
resultado de: peneira 30 – 0,600 mm 0,1% e na 6). Brandl (1981) atribuiu que as rápidas
peneira 200 – 0,075 mm 0,129%, onde a cal mudanças nos valores dos limites de Atterberg
com o selo de qualidade CHI apresenta limites com adição de cal, devem-se as transformações
de ≤ 0,5% e ≤ 10% respectivamente. A retenção estruturais e floculação do material.
de água (ABNT 1996) foi obtida 87% e a norma
coloca um limite de ≥ 75%. Verifica-se que Tabela 5. Resultados das análises químicas.
todos os parâmetros analisados apresentam Determinações Unidade Resultado
resultados compatíveis com uma cal de ótima Umidade % 1,31
Perda ao fogo % 24,23
qualidade CHI segundo a ABNT (2003a). Óxido de ferro (Fe2O3) % 0,22
Os valores do óxido de cálcio determinados Óxido de cálcio total (CaOT) % 66,93
segundo as recomendações da norma ABNT Óxido de cálcio disponível % 58,49
(2003b), Tabela 5, e pela técnica analítica de (CaOD)
espectrometria de fluorescência de raio-X, Anidrido Carbônico (CO2) % 4,09
Massa específica g/mL 0,445
Tabela 3, foram próximos. Finura Peneira 30 – 0,600 mm % 0,10
Peneira 200 - 0,075 mm % 0,13
3.3 Solo – Cal Retenção de água % 87,00

A adição de cal aos solos de Cabrobó e de A adição de cal aos solos causou um
Suape elevou os valores do limite de liquidez na acréscimo nos valores do pH em água, Figura 7.
O acréscimo de 5% de cal aos solos eleva o expansivos com tempo de cura aproximadamente
valor do pH das misturas superiores a 12,4 zero. Verifica-se também que o solo de Suape
considerado por Eades e Grim (1966), como o tem uma maior quantidade de cátions tocáveis de
pH que proporciona a maior redução do Ca2+ e Al3+ do que os demais solos, o que deve
potencial de expansão indicando o teor de cal ter consumido uma maior quantidade de cal ao
ótimo. Entretanto, este valor do teor de cal que solo natural para estabilizar.
eleva o pH da mistura solo-cal a 12,4 não
produz a máxima resistência a compressão nos
solos tropicais e subtropicais segundo o relato
do TRB (1987).
A adição de cal ao solo causa redução dos
óxidos de silício, alumínio, ferro, sódio, potássio
e no dióxido de titânio e acréscimo dos óxidos de
magnésio, cálcio, Tabela 3.

Figura 8. Variação da expansão livre com o teor de cal

Figura 6. Variação do conteúdo de água com o teor de cal

Figura 9. Variação da tensão de expansão com o teor de cal

4 CONCLUSÕES

O solo natural de Cabrobó tem média


expansividade e os de Paulista e Suape alta pelo
critério de Vijayvergiya Ghazzaly (1973).
A determinação da tensão de expansão é
Figura 7. Variação do pH em água com o teor de cal influenciada pela trajetória de tensão seguida
durante o ensaio
A adição de cal aos solos reduziu os valores O valor de 5% de cal hidratada adicionado aos
da expansão “livre” (Figura 8) e da tensão de solos expansivos de Cabrobó e de Paulista
expansão (Figura 9) na mistura solo-cal. Nos reduziu a expansão livre e tensão de expansão a
solos de Cabrobó e de Paulista a adição de 5% de valores praticamente nulos e no solo de Suape foi
cal estabilizou os solos quanto à expansão “livre” necessário adicionar 11%.
e tensão de expansão. No solo de Suape a
estabilização quanto a expansão “livre” e a tensão
de expansão (Método a Volume Constante) só foi AGRADECIMENTOS
atingida com a adição 11% de cal. O critério de
Eudes e Grim (1966) não pode ser utilizado com Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio
condições para estabilizar todos os solos prestado durante a pesquisa.
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