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RECUPERAÇÃO QUÍMICA DO SOLO E REVEGETAÇÃO EM ÁREA DE

MINERAÇÃO DE CARVÃO A CÉU ABERTO EM LAURO MULLER, SC

RESUMO: A correção química de solos reconstruídos após mineração de carvão pode


favorecer a revegetação dessas áreas degradadas. O objetivo deste estudo foi avaliar
formas de correção química do solo em área após mineração de carvão a céu aberto,
visando relacionar com o crescimento de plantas usadas na revegetação. O experimento foi
realizado em Lauro Müller, na bacia carbonífera catarinense, em uma área minerada em
1992 e reconstruída em 1995/1996. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso,
com três repetições e cinco tratamentos: 1. Testemunha, 2. Calcário, 3. Calcário +
Brachiaria brizantha, 4. Calcário + Brachiaria brizantha + cama de aviário, 5. Dregs
(resíduo alcalino), com plantio de Pinus taeda e Eucalyptus saligna em todos os
tratamentos. As amostras de solo foram coletadas em abril de 2010, na camada de 0-10 cm
para determinar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.
Palavras-chave: dregs, nutrientes, química do solo, área degradada

Introdução

Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Mina do Apertado, localizada em Lauro Muller,
SC, com coordenadas 28°20’ S e 49°20’ W, em uma área minerada em 1991, com solo
reconstruído em 1995. O clima segundo a classificação de Köppen é mesotérmico úmido com
verão quente (Cfa), com precipitação média anual de 1400 mm e temperatura média anual de 19°C
(Santa Catarina, 1991). O solo predominante no entorno da área minerada é um Argissolo
Vermelho-Amarelo Alítico típico, derivado de rochas sedimentares das formações Palermo e Rio
Bonito, do Grupo Guatá (Campos et al., 2003; Embrapa, 2006).
O experimento foi implantado em 2001 abrangendo os seguintes tratamentos: 1)
testemunha (Test); 2) calcário (Calc); 3) calcário + Brachiaria brizantha (CalcBb) e 4) calcário +
Brachiaria brizantha + cama de aviário (CalcBbCa). O delineamento experimental foi em blocos
ao acaso com três repetições, em parcelas de 12,5 x 9 m.
O solo reconstruído foi preparado com escarificação e gradagem, visando incorporação
parcial do calcário. A dose do corretivo para elevar o pH do solo a 6,0 foi de 25 Mg ha -1,
considerando PRNT 100 %. A adubação aplicada em toda área na instalação do experimento,
baseada na recomendação para gramíneas forrageiras de estação quente (CQFS-RS/SC, 2004), foi
de 66 kg ha-1 de N na forma de uréia, 110 kg ha -1 de P2O5 na forma de superfosfato triplo e 110
kg ha-1 de K2O na forma de cloreto de potássio. A cama de aviário foi aplicada na dose de 6 Mg ha -1
em base seca, o que supre metade do requerimento de N pela braquiária e adiciona P e K acima da
quantidade recomendada (CQFS-RS/SC, 2004). A semeadura de braquiária foi realizada a lanço
utilizando 6,0 kg ha-1 de sementes. Mudas de eucalipto (Eucalyptus saligna) foram transplantadas
no espaçamento de 1,5 x 2,5 m em toda a área do experimento, utilizando em todos os tratamentos
40 g de calcário por cova.
Em virtude da permanência de restrições químicas e físicas do solo e do crescimento
deficiente do eucalipto, os tratamentos foram re-implantados em agosto de 2004. Nesta ocasião foi
introduzido um tratamento adicional com “dregs”, que consiste em um resíduo alcalino da indústria
de celulose. A dose de corretivos da acidez foi calculada para a camada de 0 a 20 cm conforme
recomendação oficial (CQFS-RS/SC, 2004). A dose de calcário aplicada foi de 13 Mg ha -1, com
PRNT 100 %. A dose de dregs foi correspondente ao somatório das doses de calcário,
considerando as duas aplicações e o poder de neutralização deste resíduo. Os corretivos foram
distribuídos manualmente e incorporados com grade aradora. A dose de cama de aviário foi de 9
Mg ha-1 em base seca. A adubação utilizada foi de 66 kg ha -1 de N na forma de uréia, 110 kg ha -1 de
P2O5 na forma de superfosfato triplo e 110 kg ha-1 de K2O na forma de cloreto de potássio (CQFS-
RS/SC, 2004). Após correção da acidez e adubação, a Brachiaria brizanta foi semeada a lanço
utilizando 6,0 kg ha-1 de sementes.
As espécies arbóreas utilizadas na revegetação Pinus taeda e Eucalyptus saligna, plantadas
em outubro de 2004, como sub-parcelas em todos os tratamentos. O plantio foi feito em covas de
0,2 x 0,2 x 0,2 m, espaçadas de 1,5 m entre plantas e 2,5 m entre fileiras. A adubação de plantio em
todos os tratamentos foi com 44 g de P 2O5 e K2O e 20 g de N por planta. Nos tratamentos com
calcário e na testemunha foi adicionado por cova 72 g de calcário, e nas parcelas do tratamento
com dregs, foram aplicadas 108 g do produto na cova. Após a cobertura completa do solo pela
braquiária foi aplicada adubação com 40 kg ha -1 de N, na forma de uréia, distribuída a lanço. A
vegetal rasteira foi periodicamente roçada, efetuando-se também capinas de coroamento ao redor
das mudas transplantadas, mantendo sobre o solo a massa vegetal cortada.
Amostras de solo foram coletadas em abril de 2010 na camada de 0 a 10 cm, utilizando
anéis volumétricos com 50 mm de altura e volume de 100 cm 3 para as análises físicas de
porosidade total, macro e microporosidade e densidade do solo. Os anéis volumétricos foram
saturados e submetidos à tensão de 6 kPa em mesa de tensão para determinação da
microporosidade. As amostras foram secas em estufa para determinar a massa de solo seco,
obtendo-se a porosidade total e densidade do solo (Embrapa, 1997). A estabilidade de agregados
foi avaliada em leivas de solo coletadas com pá, determinando-se a o diâmetro médio ponderado
dos agregados por peneiramento úmido, segundo o método de Kemper & Chepil (1965).
A amostragem para caracterização biológica e química do solo foi feita com trado
holandês, na camada de 0 a 10 cm, coletando-se cinco sub-amostras por parcela, homogeneizadas
para obter uma amostra composta. A caracterização química em termos de acidez e disponibilidade
de nutrientes foi realizada conforme Tedesco et al. (1995). O comprimento de hifas de fungos
micorrízicos foi determinado em amostras secas ao ar, suspendidas em água e filtradas, com
contagem em lâmina reticulada observa em microscópio.
A análise estatística consistiu da análise de normalidade dos dados pelo método de
Shapiro-Wilk, seguido da análise da variância, para o modelo experimental de blocos ao acaso com
parcelas subdivididas, com os tratamentos nas parcelas principais e as espécies vegetais nas
subparcelas. A comparação entre médias de tratamentos foi avaliada pelo teste DMS (5 % de
probabilidade). Utilizou-se o teste de correlação de Pearson para verificar relações entre os
atributos avaliados.

Resultados e Discussão

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