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XXXII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo


“Efeitos das concentrações foliares crescentes de N sobre as
concentrações foliares de Ca, Mg, K e P da mamona irrigada com
efluente de esgoto tratado”

ANA PAULA BEZERRA DE ARAÚJO (1), BOANERGES FREIRE DE AQUINO (2), FRANCISCO
MARCUS BEZERRA LIMA (3) & SUETÔNIO MOTA (4) MARIA EMÍLIA BEZERRA DE ARAÚJO
(5)

RESUMO – O experimento foi instalado e conduzido é conhecida como uma planta que retira grandes
em condições de campo na Estação Experimental da quantidades de N. Quando o N está ausente ocorre um
CAGECE/PROSAB/CT-UFC no município de impedimento do crescimento inicial da planta, já que
Aquiraz – CE, utilizando-se solo classificado como esse elemento faz parte dos aminoácidos e proteínas e
Argissolo Acinzentado distrófico, onde foram falta do elemento retarda o crescimento inicial da planta
avaliados os teores de Ca e Mg na folha da Mamona. por impossibilitar a incorporação de carbono. Dessa
Concentrações foliares crescentes de NK resultaram forma, com o crescimento da planta, haverá deficiência na
de aplicações crescentes no solo de adubos quantidade de clorofila e da enzima Rubisco (Epstein &
nitrogenado e potássico, ambos nas doses (0, 30, 60 e Bloom, 2006).
90 de Kg ha-1). A fonte de água utilizada para a A adubação da mamoneira é pouco estudada no Brasil,
irrigação foi Efluente de Esgoto Doméstico Tratado. principalmente nos estados do Nordeste, principal região
O espaçamento utilizado foi de 1 m entre plantas e 2,5 produtora, e nos cerrados do Centro-Oeste, região onde a
entre fileiras e a cultivar utilizada foi a Nordestina cultura é emergente. A mamoneira é uma planta exigente
BRS 149, porte médio. O delineamento experimental em nutrientes, tendo nas sementes elevada concentração
foi bloco casualizado em parcelas subdivididas com de óleo e proteínas, o que conduz a uma demanda por
dezessete tratamentos e quatro repetições. As análises elementos essenciais, especialmente nitrogênio, potássio,
de regressão foram utilizadas para estudar os efeitos fósforo, cálcio e magnésio. A mamona exporta da área de
entre as concentrações de N, P, K, Ca e Mg na folha cultivo cerca de 80 kg de N, 18 kg de P 2O5 e 32 kg de
da Mamona. Os resultados alcançados foram os K2O, 13 kg de CaO e 10 kg de MgO para cada 2000 kg ha -
1
seguintes: as concentrações foliares crescentes de de baga produzida (Canecchio Filho e Freire, 1958),
Nitrogênio causaram diminuições nas concentrações valores confirmados posteriormente por Nakagawa;
de Cálcio e Magnésio; as concentrações foliares Neptune (1971).
crescentes de Potássio causaram diminuições nas O caus em que se vive entre a oferta e demanda dos
concentrações de Cálcio e Magnésio na folha da recursos hídricos e o crescimento acentuado da população
Mamona. nas grandes cidades indicam a priorização do uso das
águas superficiais para o abastecimento público e geração
Palavras-Chave: (mamona; nutriente foliar; de energia elétrica, determinando, em decorrência, a
fertilização; irrigação). necessidade do reúso de águas residuárias (Leon e
Cavallini, 1999; Hespanhol, 2003; Brega Filho e
Introdução Mancuso, 2003). É de interesse da agricultura além do
uso das águas de mananciais de superfície e subterrâneas,
uma alternativa importante é o aproveitamento das águas
A mamoneira (Ricinus communis L.) é uma
de esgotos tanto para irrigação como para a nutrição,
oleaginosa que vem apresentando bastante
crescimento e produção das plantas.
representatividade no cenário econômico e social. O
óleo da mamona se destaca por possuir inúmeras
aplicações na área industrial, com perspectiva de
Material e Métodos
utilização como fonte energética na produção de
biocombustível (Severino et al., 2005). A mamoneira

________________
(1)
Primeiro Autor é Mestrando do PPG em Engenharia agrícola do Departamento de Engenharia Agrícola, Centro de Ciências Agrárias, Universidade
Federal do Ceará. Av. Mister Hull, 2977, Campus do PICI, Fortaleza, CE, CEP 60356-000. E-mail: ana_ufc@hotmail.com.
(2)
Segundo Autor é Adjunto do Departamento de Ciências do Solo, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Ceará. Av. Mister Hull,
2977, Campus do PICI, Fortaleza, CE, CEP 60356-000. E-mail:
(3)
Terceiro Autor é Adjunto do Departamento de Engenharia Agrícola, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Ceará. Av. Mister Hull,
2977, Campus do PICI, Fortaleza, CE, CEP 60356-000.
(4)
Quarto Autor é Adjunto do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental, Universidade Federal do Ceará. Av. Mister Hull, 2977, Campus
do PICI, Fortaleza, CE, CEP 60356-000.
(5)
Quinto Autor é graduanda do Departamento de Ciências do Solo, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Ceará. Av. Mister Hull,
2977, Campus do PICI, Fortaleza, CE, CEP 60356-000.
A. O Local nitrogenado realizadas ao nível de campo. A TABELA 2
O experimento foi realizado no período de janeiro apresenta os teores foliares de macronutrientes que, em
de 2007 a junho de 2007. A área experimental foi de geral, consideram-se adequados ao crescimento das
aproximadamente 1277,25m 2, localizada no projeto principais culturas agrícolas. Deve-se considerar,
do Centro de Pesquisa de Reúso de Água, entretanto, que esses valores são indicações muito gerais e
CAGECE/PROSAB/Centro de Tecnologia – UFC no que podem variar com fatores como: condições de solo,
município de Aquiraz. Na área de (65,5m × 19,5 m) clima e variedade poderão influenciar os mesmos,
foi montado o Experimento irrigado com efluente de aumentando-os ou diminuindo-os, como se viu.
esgoto doméstico tratado, o espaçamento utilizado foi
de 1m entre plantas e 2,5 m entre fileiras de plantas. Discurssões
O solo foi é classificado como ARGISSOLO
ACINZENTADO DISTRÓFICO, segundo normas do De acordo com Marschner (1995), os nutrientes podem
sistema brasileiro de Classificação do solo, competir entre si durante os processos de absorção pelas
(EMBRAPA, 1999). A cultura em estudo foi a raízes. Tanto excessos como escassez podem gerar
mamona (Ricinus communis L.), variedade BRS-149 fenômenos de competições entre nutrientes, o que pode
(Nordestina) ciclo de 250 dias (sequeiro), prejudicar o crescimento da planta.
caracterizada por apresentar porte médio, até 1,70 m Considerando a cultura da mamona, principalmente em
de altura, caule esverdeado e produtividade máxima, termos de região Nordeste, os estudos sobre os efeitos
podendo chegar a 2400 kg/ha -1 de bagas em sistema entre os nutrientes são escassos ou inexistentes.
irrigado. O delineamento experimental utilizado foi Recomendações em boletins técnicos têm estabelecido
bloco casualizado com parcelas subdivididas, níveis de 60 kg/ha de N, 80 kg/ha de P 2O5 e 60 kg/ha de
experimento com efluente de esgoto doméstico K2O como sendo adequados para máxima produção da
tratado já constituído de 17 tratamentos, e uma mamoneira. Esses níveis estão entre as doses de NPK
testemunha, que recebeu somente efluente de esgoto e empregadas na presente pesquisa de campo, de onde
quatro repetições, com um total de 68 parcelas. foram obtidos os dados de concentrações foliares os quais
A área total foi de 1.277,25 m 2 (65,5m x 19,5m), foram usados de construir as equações de regressão a
sendo cada parcela composta de 6 plantas, partir das médias dos tratamentos. (TABELA 3).
(considerando somente 2 plantas úteis). Foi realizada Na FIGURA 1 e 2 pode-se, então, observar que houve
coleta de solo nas profundidades de 0-30 cm e 30-50 um decréscimo das concentrações de Ca e Mg em das
cm de acordo com a metodologia de amostragem de concentrações de N. Isso se deve ao fato de que quando se
solo (UFC, 1993). Na TABELA 1 temos as aumentam as doses de N há um conseqüente aumenta de
características química e física do solo da área massa foliar e, conseqüentemente uma diluição desses
experimental. Adubação por cova consistiu (em nutrientes na folha.
proporções por ha) de: 4 doses de Nitrogênio Na FIGURA 3, observa-se que na medida em que
(0/30/60/90 kg/ha -1), uma testemunha absoluta, que aumentam as concentrações de N na folha as de P tendem
recebeu somente efluente de esgoto, mais a adubação a decrescer. Os resultados gerais da literatura mostram
básica de 100 kg/ ha -1 de P, e 4 doses de Potássio de uma tendência inversa à encontrada no presente trabalho,
K(0/30/60/90 kg/ ha -1) e 20 g/cova de FTE BR-12; contudo pode-se considerar que a diminuição nas
foram também adicionados 6 litros de esterco bovino concentrações de Mg da folha, em função também do
curtido e 50g de calcário dolomítico por cova. As aumento do N, pode explicar a menor absorção de P, uma
fontes dos adubos químicos foram: uréia, superfosfato vez que há um comprovado sinergismo entre Mg e P
simples e cloreto de potássio. associado ao metabolismo integrado do Mg-ATP ao nível
A irrigação se procedeu de acordo como da membrana celular e que opera no processo de absorção
especificado para o experimento: efluente de esgoto de nutrientes essenciais. Por outro lado, pode ser também
doméstico tratado. O sistema de irrigação utilizado considerado que o aumento da biomassa produzida pelo N
foi o de microaspersão, utilizando-se um micro pode também ter causado uma diluição do P na folha.
aspersor para cada grupo de 6 plantas. O experimento Na FIGURA 4, fica demonstrado a influência positiva
foi irrigado com efluente de esgoto doméstico tratado do N sobre a absorção e aproveitamento do K na folha da
o qual foi captado de lagoa de estabilização da mamoneira. São abundantes os dados na literatura que
CAGECE (Companhia de Água e Esgoto do Estado mostram essa interação positiva do N com o K em
do Ceará) localizada nas proximidades da área do diversas culturas; os presentes resultados, em termos de
estudo. Mamona no Nordeste, podem ser considerados como
inéditos. Um outro aspecto que explica essa interação
Resultados positiva se relaciona com o maior crescimento das raízes
A. Resultados Esperados condicionado pela presença crescente do N e que, assim,
Os dados das concentrações foliares dos permite uma maior absorção do K, nutriente que, em
macronutrientes N, P, K, Ca e Mg da Mamona foram geral, é, comparativamente, mais rapidamente absorvido
submetidos a análises estatísticas para obtenção de pelas raízes do que outros nutrientes.
equações de regressão relacionando as concentrações
foliares crescentes de N com as concentrações de P,
K, Ca e Mg. As concentrações crescentes de N foram
resultantes das aplicações crescentes de adubo
Conclusões [5] HESPANHOL, I. Potencial de reuso de água no Brasil:
agricultura, indústria, município e recarga de aqüíferos.In:
As concentrações foliares crescentes de nitrogênio, MANCUSO, C. S. A; SANTOS, H. F. (Editores ). Reúso de
conseguidas através de aplicações crescentes de adubo água. Barueri, SP: Manole, 2003.
[6] LEON, S.G.; CAVALLINI, J.M. Tratamento e uso de águas
nitrogenado, diminuíram as concentrações foliares de residuárias. Tradução de GHEYI, H. R.; KONIG, A.;
Ca, Mg e P da mamona; enquanto que as CEBALLOS, B.S.O.; DAMASCENO, F. A. V. Campina
concentrações foliares crescentes de nitrogênio Grande: UFPB,1999 108 p.
[7] MALAVOLTA, E.; VITTI, G. C.; OLIVEIRA, S.A.
aumentaram as concentrações foliares de K da Avaliaçãonutricional das plantas , 2ª ed, Piracicaba:
mamona. Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e Fosfato,
1997, v.1, 319 p.
[8] MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants , 2ª ed.
Agradecimentos London: Academic Press, 1995. 889 p
Os autores agradecem à Universidade Federal do [9] SEVERINO, L.S.; C.R.A.; FERRIRA, G. B.; CARDOSO,
G.D.; GONDIM, T.M.S.; BELTRÃO, N.E.M.; VIRIATO, J.R.
Ceará - UFC, à CAGECE, ao PROSAB, ao Centro de Crescimento e produtividade da mamoneira sob fertilização
Tecnologia-UFC e ao CNPq. química em região semi-árida. Campina Grande: Embrapa
Algodão, 2005. 20p. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento,
62).
[10] UFC. Recomendações de adubação e calagem para o estado
Referências do ceará. Fortaleza: UFC. 1993. 247p.

[1] BREGA FILHO, D.; MANCUSO, P.C.S. Conceito de


reuso de água. In MANCUSO, C.S.A; SANTOS, H.F.
(Editores). Reuso de água. Barueri, SP: Manole, 2003. p.
37-95.
[2] CANECCHIO FILHO, V.; FREIRE, E. S. Adubação ba
mamoneira: experiências preliminares. Bragantia, v.17, p
243-259,1958.
[3] EPSTEIN, E.; BLOOM, A.J. Nutrição mineral de plantas:
princípios e perspectivas. Londrina: Editora Planta, 2006.
403p.
[4] EMBRAPA Manual de métodos de análise de solo. Rio
de janeiro, 1997,212p.

Tabela 1. Características físicas e químicas do solo Argissolo acinzentado distrófico arenoso da área experimental.
Área
(água de Esgoto)
Características Prof. (m) 0,0-0,30 0,30-0,50
Sub-área A1G2 A1G5 A2G2 A2G5
Areia grossa (g kg--1) 620 640 590 660
Areia Fina (g kg--1) 320 300 330 260
Silte (g kg-1) 30 30 50 40
Argila (g kg-1) 30 30 30 40
Argila natural (g kg--1) 10 10 10 10
Classificação Areia Areia Areia Areia
Grau de Floculação (g 100 g -1) 70 70 70 75

Densidade global (g cm-3) 1,52 1,54 1,62 1,57

Densidade de partícula (g cm-3) 2,70 2.62 2,68 2,66


Umidade (g 100 g -1) 0,033 Mpa 1,31 1,51 1,04 1,18
Umidade (g 100 g -1) 1,5 Mpa 0,63 1,23 0,87 0,73
Água útil (g 100 g -1) 0,68 0,28 0,17 0,45

Ca2+ (cmol/kg) 1,20 1,20 1,0 1,00


Mg2+ (cmol/kg) 1,10 1,0 1,20 0,90
K+ (cmol/kg) 0,12 0,07 0,16 0,03
Na+ (cmol/kg) 0,04 0,07 0,03 0,02
CTC (cmol/kg) 4,1 3,9 4,0 4,70
Soma de bases (cmol/kg) 2,5 2,3 2,4 1,90
Saturação por bases (%) 60 58 59 41
Alumínio trocável (%) 7 6 22 29
PST 1,0 2,0 1,0 1,0
RAS (mmolc.L-1) 0,03 0,06 0,03 0,02
C (g kg -1) 3,96 4,32 2,46 3,30
N (g kg -1) 0,41 0,44 0,27 0,36
C/N(g kg -1) 10 10 9,0 9,00
P assimilável (mg/kg) 7,0 18 2 5,00
M.O (g kg -1) 6,83 7,45 4,24 5,69

pH em água (1: 2,5) 5,7 5,5 4,9 4,60


CE (dSm-1) 0,33 0,35 0,19 0,19

Tabela 2. Teores totais de macronutrientes considerados adequados para a mamona (análises de folhas).

N (%) P (%) K (%) Ca (%) Mg (%)

4-5 0,3 – 0,4 3-4 1,5 – 2,5 0,25 – 0,35

Fonte: MALAVOLTA (1989)

Tabela 3. Médias das concentrações dos tratamentos de N, P, K, Ca e Mg, no tecido foliar com doses crescentes de nitrogênio.
Código Tratamento N (%) Ca (%) Mg (%) P (%) K (%)

3 N0K60 3,36 2,47 0,36 0,74 4,80

7 N30K60 3,85 2,41 0,33 0,62 4,40

11 N60K60 4,00 2,18 0,30 0,56 4,80

15 N90K60 4,30 1,94 0,28 0,48 5,4


y = -0,0259x 2 + 0,1121x + 0,2744
y = -0,7429x 2 + 5,1005x - 6,2711 R2 = 0,9622
R2 = 0,9569
0,4
4 0,3

Mg (%)
3 0,2
Ca (%)

2
1 0,1
0 0
3 3,3 3,6 3,9 4,2 4,5 3 3,3 3,6 3,9 4,2 4,5
N (%) N (%)

Figura 1. Efeito da concentração de N sobre a Figura 2. Efeito da concentração de N sobre a


concentração de Ca na folha da mamona concentração de Mg na folha da mamona

0,66 6,00
y = -0,0346x 2 + 0,1668x + 0,4792 y = 2,7048x 2 - 19,981x + 41,334
0,64 5,50 R2 = 0,954
R2 = 0,937
0,62 5,00
P (%)

0,6 K (%)
4,50
0,58 4,00
0,56 3,50
0,54
3,00
3 3,5 4 4,5 5 3 3,3 3,6 3,9 4,2 4,5
N (%) N (%)

Figura 3. Efeito da concentração de N sobre a Figura 4. Efeito da concentração de N sobre a


concentração de P na folha da mamona concentração de K na folha da mamona

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