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Scientia Agraria

VALE, D.W. et al. Doses de nitrogênio, fósforo e potássio...


ISSN 1519-1125 (printed) and 1983-2443 (on-line)

DOSES DE NITROGÊNIO, FÓSFORO E POTÁSSIO NA NUTRIÇÃO DO PORTA-


ENXERTO CÍTRICO DE LIMOEIRO ‘CRAVO’

NITROGEN, PHOSPRORUS AND POTASSIUM LEVELS IN NUTRITION OF


CITRUS ROOTSTOCK ‘RANGPUR’ LIME

Diego Wyllyam do VALE1


Renato de Mello PRADO2
Henrique Antunes de SOUZA3
Antônio Baldo Geraldo MARTINS4

RESUMO
Neste trabalho avaliou-se o efeito da aplicação de diferentes doses de N, P e K sobre o estado nutricional do porta-
enxerto cítrico limoeiro ‘Cravo’. O experimento foi realizado na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, sob
delineamento experimental em blocos casualizados, em esquema fatorial 33 + 1, com três repetições. As doses padrões de N,
P e K foram de 920 mg dm-3, 100 mg dm-3 e 790 mg dm-3, respectivamente. Para compor os tratamentos utilizou-se: D1 – metade
da dose padrão, D2 – a dose padrão e D3- o dobro da dose padrão, além da testemunha (sem adubação). Após a emergência
das plântulas, as adubações foram realizadas via fertirrigação, aumentando a concentração dos nutrientes na solução de
acordo com o crescimento das mudas. As adubações N e K, em cada unidade experimental, foram realizadas durante quinze
semanas. Aos 120 dias após a emergência das plântulas foi realizada a avaliação dos teores de nutrientes na massa seca
total e o acúmulo de N, P e K nas plantas. A dose de nitrogênio de 1.840 mg dm-3 proporcionou maior teor e acúmulo de N, para
o intervalo de doses aplicado. A aplicação de P e K acima de 100 e 790 mg dm-3 não proporcionou aumento na absorção
desses nutrientes, respectivamente.
Palavras-chave: Citrus limonia L.; adubação; fertirrigação; acúmulo; teor.

ABSTRACT
The objective of this work was to evaluate the effects of doses a fertilizer N, P and K on the nutritional status of
citrus rootstock of ‘Rangpur’ lime, in UNESP/FCAV, Brazil. The experimental design was randomized blocks, in a factorial
experimental design in 33 + 1, with three replicates. The standard doses of N, P and K were 920 mg dm-3, 100 mg dm-3 and 790
mg dm -3, respectively. The treatments were: D1 - half the standard dose, D2 - the dose standard, and D3 - double the standard
dose given, beyond the control (without fertilizer). After the emergence of the seedlings, fertilizations were done though
fertirrigation. The concentration of nutrients in solution was to increase to the growth of the seedlings. The fertilizations N and
K, in each experimental unit, were applied until fifteen weeks. Already the phosphates fertilizations were built into the
substrate at the time of sowing. After 120 days the emergence, the seedlings were evaluated at nutritional status. From the
results of dry matter and nutrient content calculated is the accumulation of N, P and K in plants. The nitrogen level 1,840 mg
dm-3 content and a higher accumulation of N, for the range of doses studied. The increase of P and K above of 100 and 790
mg dm-3 not provide increase in the absorption of these nutrients, respectively.
Key-words: Citrus limonia L.; fertilization, fertirrigation; accumulation; content.

1
Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Produção Vegetal. Departamento de Solos e Adubos. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Campus de Jaboticabal. Via de Acesso Professor Paulo Donato Castellane,
s/n°, 14884-900, Jaboticabal, São Paulo – Brasil. E-mail: diegodwv@yahoo.com.br. Autor para correspondência.
2
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Professor do Departamento de Solos e Adubos. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Jaboticabal. E-mail: rmprado@pq.cnpq.br.
3
Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Produção Vegetal. Departamento de Solos e Adubos. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Jaboticabal. Jaboticabal, São Paulo – Brasil. E-mail:
henrique.antuness@yahoo.com.br.
4
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Professor do Departamento de Produção Vegetal. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Jaboticabal. Jaboticabal, São Paulo – Brasil. E-mail: baldo@fcav.unesp.br.

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adubações, aumentando a absorção de nutrientes


INTRODUÇÃO pelas plantas (Duenhas et al., 2005). Entretanto, o
Estima-se que o Brasil cultive cerca de 803 número de pesquisas que tratam da aplicação de
mil ha com plantas cítricas, totalizando uma nutrientes via fertirrigação em mudas é baixo,
produção aproximada de 438 milhões de toneladas havendo necessidade de mais informações que
de frutos e 1.402.000 toneladas métricas de suco possam sustentar uma recomendação de
de laranja concentrado (SLCC), fato este que lhe fertirrigação para a produção de mudas de citros,
confere o título de maior produtor mundial de SLCC cultivadas em recipientes preenchidos com
(AGRIANUAL, 2007). substrato inerte.
Em culturas perenes, como a do Citrus, a Assim este trabalho teve por objetivo avaliar
precocidade para o início da produção é importante o efeito da adubação N, P e K no estado nutricional
para garantir retorno econômico mais rápido do do porta-enxerto de limoeiro ‘Cravo’.
investimento feito na instalação do pomar. Para isto,
a muda cítrica com qualidade e com adequado
estado nutricional torna-se o insumo mais MATERIAL E MÉTODOS
importante no sucesso da formação de um pomar O experimento foi realizado na Faculdade
com alta homogeneidade e vigor, garantindo um de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP em
adequado desenvolvimento das plantas (Lima, Jaboticabal, SP (21º 15' S, 48º 19' W e 605 m). O
1986). clima da região é do tipo subtropical-mesotérmico,
O porta-enxerto pode influenciar o ou seja, com verão úmido e inverno seco. A
desenvolvimento dos frutos da variedade copa, e a temperatura anual do local é de 22 ºC.
maior parte dessa influência deve-se à capacidade A produção de “seedlings” de limoeiro
de absorção de água e nutrientes pela planta (Castle, ‘Cravo’ (Citrus limonia L. Osbeck) foi realizada em
1995). O porta-enxerto cítrico também pode um viveiro telado com tela anti-afídica com abertura
influenciar no conteúdo mineral da folha (Dasberg, de 1 mm2, e com bancadas elevadas a 0,3 m do
1996) e na eficiência de produção dos frutos (Quaggio solo. As sementes obtidas de uma planta de limoeiro
et al., 2004). `Cravo’ foram semeadas em 27/12/2005, em tubetes
Estima-se que no Brasil na década de 90, (56 cm 3), preenchidos com substrato à base de
cerca de 80 % dos pomares eram constituídos pelo composto de casca de pinus e vermiculita fina
porta-enxerto limoeiro ‘Cravo’ (Citrus limonia (densidade igual a 418 kg m-3), cuja caracterização
Osbeck.), pela sua característica de induzir vigor, química, realizada segundo método holandês
maior tolerância ao estresse hídrico e alta adaptado de Sonneveld & Elderen (1994), revelou
produtividade as plantas (Schafer et al., 2006). que: CE = 1,5 dS m-1; pH = 5,9; N (nitrato) = 2,4 mg
A eficiência da aplicação de fertilizantes tem dm-3; N (amônia) = 31,4 mg dm-3; P = 16,3 mg dm-3; K
papel fundamental na produção de mudas cítricas. = 67,9 mg dm-3; Ca = 108,9 mg dm-3; Mg = 58,8 mg
O nitrogênio (N) é considerado o nutriente mais dm-3; S = 188,7 mg dm-3; Cl = 27,0 mg dm-3; Na = 9,6
importante nos programas de adubação e torna-se mg dm-3; B = 0,1 mg dm-3; Cu = 0,1 mg dm-3; Fe = 0,2
especialmente crítico para a produção de mudas mg dm-3; Mn = 1,3 mg dm-3 e Zn = 0,1 mg dm-3.
cítricas, em que a densidade de plantas é elevada, O delineamento experimental foi blocos
com rápido crescimento vegetativo (Esposti & casualizados em esquema fatorial 33 + 1, sendo três
Siqueira, 2004). fatores (NPK) aplicados em três doses, além da
Existem indicações de respostas positivas testemunha (sem adubação), com três repetições.
de porta-enxertos cítricos cultivados em tubetes à Cada repetição foi composta por duas plantas (uma
adubação com N, nos primeiros quatro meses após por tubete).
a semeadura (Carvalho & Souza, 1996; Decarlos As doses padrões de N, P e K adotadas
Neto et al., 2002) e, também, à aplicação de N, fósforo para a produção do porta-enxerto foram de 920 mg
(P) e potássio (K) durante toda a fase de formação dm-3 (Ruschel et al., 2004), 100 mg dm-3 (Boaventura,
das mudas (Bernardi et al., 2000). 2003) e 790 mg dm -3 (Ruschel et al., 2004),
Além da dose adequada, é importante o respectivamente. Assim, para compor os
conhecimento da freqüência de adubação, uma vez tratamentos, foram utilizadas: D1 = metade da dose
que pode ocorrer intensa lixiviação de nutrientes, padrão; D2 = a dose padrão; e, D3 = duas vezes a
provocada pelas constantes irrigações e devido às dose padrão, além da testemunha (sem adubação).
pequenas dimensões dos recipientes (Barroso et No momento da semeadura, realizou-se a
al., 2000). Assim, há necessidade de que os incorporação do adubo fosfatado ao substrato. Após
nutrientes sejam parcelados em cobertura, a emergência das plântulas, as adubações N e K,
principalmente as fontes de N e K. em cada unidade experimental, foram realizadas
Uma forma promissora de fornecimento de durante as quinze semanas subseqüentes,
nutrientes para a produção de mudas é por iniciando-se em 31/01/2006. As adubações de N e
fertirrigação, uma vez que o nutriente é fornecido K foram realizadas via fertirrigação, em que a
juntamente com a água (essencial para sua concentração dos nutrientes na solução foi
absorção) apresenta outras vantagens, entre as aumentando de acordo com o crescimento das
quais a melhor distribuição do fertilizante e a plantas ao longo de 15 semanas (n), da seguinte
possibilidade de maior parcelamento das forma: n1=2%; n2=2%; n3=2%; n4=5%; n5=5%;

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n6=5%; n7=5%; n8=8%; n9=8%; n10=8%; n11= 10%; Posteriormente o material vegetal (parte
n12= 10%; n13=10%; n14=10% e n15=10%. Em aérea e sistema radicular) foi triturado em moinho
cada semana, as doses foram divididas em duas (peneira com diâmetro de malha de 1 mm) para a
aplicações. determinação dos teores de nutrientes na massa
Como fontes de N, P e K foram utilizadas seca total, pelos métodos descritos por Malavolta
os fertilizantes: nitrato de amônio (340 g kg-1 de N), (1997). A partir dos resultados da massa seca e do
superfosfato triplo (440 g kg-1 de P2O5) e o cloreto de teor de nutrientes calculou-se o acúmulo de N, P e K
potássio (60 g kg-1 de K2O). nas plantas (teor x massa seca total).
Além das doses de N, P e K, realizaram-se As análises de variância para avaliar o efeito
uma aplicação de 0,5 g planta-1 de sulfato de cálcio das doses será aplicado o estudo de regressão
com a função de atender as exigências nutricionais polinomial do teor e acúmulo de N, P e K utilizando o
da cultura. Os micronutrientes foram fornecidos programa ESTAT (1994) até 5 % de probabilidade e
através de pulverizações mensais nas seguintes as superfícies de respostas foram realizadas
doses (g dm-3): B = 0,2; Mn = 0,5 e Zn = 0,6 (Bernardi utilizando o programa SAS (SAS INSTITUTE, 1996).
et al., 2000). O Fe também foi fornecido via
fertirrigação na quantidade de 2 cm3 por tubete da
solução na concentração de 0,45 mg dm-3 de Fe – RESULTADOS E DISCUSSÃO
EDDHA (ácido etilenodiamina – de N, N 1 – [2 –
hidroxifenil acético]). Teores dos nutrientes
Aos quatro meses após a emergência das Foram constatados efeitos da aplicação de
plântulas (17/05/2006), estas foram colhidas, N e P, tendo o primeiro afetado os teores de N e K, e
lavadas e colocadas em sacos de papel para o último afetando os teores de P e K (Tabela 1). Houve
secagem em estufa de ventilação forçada de ar, a interação N x P para o teor de K, e a interação de N x
uma temperatura entre 65 a 70 °C, até atingir massa K para o teor de N do porta-enxerto. Observou-se o
constante. Assim, determinou-se a massa seca da incremento linear no teor de fósforo, com o aumento
planta inteira (parte aérea e raízes). das doses deste nutriente.

TABELA 1 – Teores de nutrientes na planta inteira do porta-enxerto limoeiro ‘Cravo’, aos quatro meses após a
emergência, em função da adubação N, P e K(1).
(2) (3) (1) (4)
Variável Equação Doses Teste F Y max.
-4 -4 -6 -3
Y=9,206+(8,37e *N)-(4,88e *K)+(2,143e N = 1.840 mg dm
T.N. -6 -7 -3 11,20* 17,14
*N*N)-(1,078e *N*K)+(7,467e *K*K) K = 395 mg dm
-3
T.P. Y = (0,0013P) + 1,35 P = 200 mg dm 15,32** 1,61

Y=11,799+(0,003*N)-(6,482e-4*P)-(1,304e-6 P = 65 mg dm -3
T.K. -6 -5 -3 11,10* 13,76
*N*N)+(6,317e *N*P)-(5,459e *P*P) N = 1.310 mg dm
(1) ns
** - Significativo a 1 % de probabilidade; * - significativo a 5 % de probabilidade; não significativo a 5 % de probabilidade;
(2) -1 -1 -1
T.N. - teor de nitrogênio (g kg ); T.P. – teor de fósforo (g kg ); T.K. – teor de potássio (g kg );
(3) -3
Doses - dose do fertilizante (mg dm de substrato) responsável pelo maior teor do nutriente;
(4) -1
Y max. – maior teor do nutriente (g kg ).

Verifica-se que as doses de N igual a 1.840 meses de tratamentos.


mg dm -3 e de K igual a 395 mg dm -3 foram as Para Serrano et al. (2004), a incorporação
responsáveis pelo maior teor de nitrogênio para o de adubo formulado com liberação lenta de N, P e K
intervalo de doses estudado. Pode-se constatar que (Osmocote® 14-14-14) ao substrato aumentou de
a maior dose de N foi responsável pelo maior teor forma linear os teores foliares de N do porta-enxerto
foliar de N, resultado semelhante ao constatado por limoeiro ‘Cravo’.
Carvalho et al. (2000), entretanto estes autores Nota-se que apenas a aplicação de fósforo
observaram um efeito quadrático nesta relação. resultou em incremento de P, com ajuste linear
Serrano et al. (2004) verificaram resposta linear e (Tabela 1). Bernardi et al. (2000) observaram que os
crescente para os teores de N em resposta ao teores de P aumentaram de 2,20 g kg-1 na dose
incremento da adubação, corroborando as mínima do nutriente (0,19 g planta-1 de P) até 4,42 e
observações apresentadas neste trabalho. 3,42 g kg-1 nas doses de 2,30 e 2,77 g de P, todavia,
Os resultados obtidos são diferentes aos ainda segundo os autores, a aplicação de P em
de Natale & Marchal (2002), que em experimento doses mais altas proporcionou redução nos teores
com plantas cítricas de 18 meses de idade, em deste nutriente. Já neste trabalho verifica-se um teor
vasos, constataram que a adubação nitrogenada máximo de 1,61 g kg-1 para P, com a dose deste
não proporcionou diferenças significativas no teor nutriente de 200 mg ou 0,2 g.
foliar de N. Porém estes autores avaliaram o N após Gallo et al. (1960) também não observaram
10 e 20 dias da aplicação do nutriente, enquanto no efeito da adubação potássica sobre os teores de P
presente trabalho esta avaliação ocorreu após 4 nas folhas de laranjeira ‘Baianinha’. Entretanto,

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Bernardi et al. (2000) observaram respostas à com mais de um nutriente.


adubação potássica nos teores de P para laranja Bernardi et al. (2000) observaram que o
valência (enxertada em limoeiro ‘Cravo’) em fornecimento de N aumentou linearmente os teores
experimento com NPK. A diferença de resultados de nutrientes em mudas de citrus, porém o K atuou
entre os autores e o trabalho em questão pode ser negativamente, os efeitos foram mais intensos nos
devido às diferentes respostas à adubação entre teores mais elevados de N, quando estes autores
as espécies, pois cada autor trabalhou com uma aumentaram as doses de K de 0,42 para 12,45 g
variedade específica de Citrus. planta-1 fez com que os teores de N reduzissem,
Observou-se diferença entre o fatorial e a corroborando com os efeitos obtidos no presente
testemunha, com resposta quadrática à aplicação trabalho.
de N e P no teor de K do porta-enxerto, sendo as Scivittaro et al. (2004), em experimento com
doses de P igual a 115 mg dm-3 e N igual a 1.250 mg porta-enxerto de limoeiro ‘Cravo’, em tubetes,
dm-3 responsáveis pelo maior teor de K (13,76 g verificaram incremento nos teores de P na parte
kg-1) (Tabela 1). Observa-se que as doses de P igual aérea com a aplicação de N, todavia, concluíram
a 65 mg dm-3 e N igual a 1.310 mg dm-3 foram as que altas doses de N (acima de 0,37 g dm -3 )
responsáveis pelo maior teor de K. proporcionam redução no acúmulo de P.
Serrano et al. (2004), verificaram aumento
no teor de K em porta-enxerto de limoeiro ‘Cravo’ Matéria seca total
com a aplicação de K no substrato. Reese & Koo Para massa seca total observou-se
(1975) também relataram que o aumento das doses resposta significativa do fatorial (549,01 mg
de K resulta em aumento dos teores foliares de K, tubete -1 ) em relação à testemunha (251,67 mg
mas não interferem nos teores de N. A aplicação de tubete-1) (F=60,92 **).
altas doses de N resulta em altos teores de N na Conforme a Tabela 2, houve resposta
folha e baixos teores de K (Reese & Koo, 1975), fato significativa das plantas à adubação nitrogenada e
não verificado no presente trabalho. Tais resultados fosfatada indicando as doses de N igual a 1840 mg
evidenciam a interação entre teores, assim, mostra- dm -3 e de P igual a 90 mg dm -3 , como as
se a necessidade mais estudos elucidem o responsáveis pela maior massa seca total (821 mg
desbalanço que pode ocorrer quando se trabalha tubete-1).

TABELA 2 – Massa seca total (M.S.T.) de nutrientes do porta-enxerto limoeiro ‘Cravo’, aos quatro meses após
a emergência, em função da adubação N, P e K.
(2) (3) (1) (4)
Variável Equações Doses Teste F Y max.
-3
Y=249,071+(4,69*P)+(0,07*N)-(0,016*P*P) N = 1840 mg dm
M.S.T. NxP -5 -3 26,46* 821
-(0,001*P*N)+(9,335e *N*N) P = 90 mg dm
-5 -3
Y=308,866+(0,075*N)+(0,354*K)+(3,229e N = 1840 mg dm
M.S.T. NxK 14,41* 687
*N*N)-(2,662e-5*N*K)-(1,74e-4*K*K) K = 1015 mg dm-3
(1) ns
** - Significativo a 1 % de probabilidade; * - significativo a 5 % de probabilidade; não significativo a 5 % de probabilidade;
(2) -1
M.S.T. NxP – massa seca da interação nitrogênio x fósforo (g kg ); M. S. T. NxK – massa seca da interação nitrogênio x
-1 -1
potássio (g kg ); T.K. – teor de potássio (g kg );
(3) -3
Doses - dose do fertilizante (mg dm de substrato) responsável pelo maior teor do nutriente;
(4)
Y max. – maior massa seca dos porta-enxertos de limoeiro ‘Cravo’ (mg).

Nota-se que houve interação significativa Acúmulo de nutrientes


entre N x P, sendo a dose de P igual a 90 mg dm-3 e Houve interação significativa N x P para o
N igual a 1840 mg dm-3 estão associadas à maior acúmulo de N, P e K, e interação N x K para o acúmulo
massa seca total (Tabela 2). A interação significativa de N, e interação P x K para acúmulo de K (Tabela
entre N x K apontou as doses de 1840 mg dm-3 de N 3).
e 1015 mg dm-3 de K como responsáveis pela maior Observa-se que a dose de P igual a 50 mg
massa seca total da parte aérea (687 mg tubete-1). dm-3 foi responsável pelo maior acúmulo de N e a
Scivittaro et al. (2004), em experimento que avaliou dose de P igual a 100 mg dm-3 foi a responsável
a resposta à adubação nitrogenada na formação do pelo maior acúmulo de P e K (Tabela 3).
porta-enxerto de limoeiro cravo, concluíram que a Pelo desdobramento das interações N x P
máxima produção de massa seca foi obtidas com e N x K, observa-se maior acúmulo de N com a dose
2,47 e 4,23 g planta-1 de N e K, respectivamente. de 1.840 mg dm-3 de N, e com a dose de P igual a 50
Apesar dos autores terem encontrado valores mg dm-3 (máximo de 12,85 mg planta-1), e para dose
superiores ao do presente trabalho para matéria de K igual a 790 mg dm-3 tendo maior acúmulo com
seca, para N e K, isto implica que talvez as doses 10,97 mg planta-1 (Tabela 3). Bernardi et al. (2000),
trabalhadas pudessem ser maiores. avaliando a resposta de citrus a adubação com N, P

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TABELA 3 – Acúmulo de nutrientes na massa seca da planta inteira do porta-enxerto limoeiro ‘Cravo’, aos
quatro meses após a emergência, em função da adubação N, P e K.

(2) (3) (1) (4)


Variável Equação Doses Teste F Y max.
-4 -4 -3
Y=2,479+(0,045*P)+(6,207e *N)-(1,339e N = 1.840 mg dm
A.N. -5 -6 -3 F= 20,38* 12,85
*P*P)-(2,532e *P*N)+(2,849e *N*N) P = 50 mg dm
-4 -6 -3
Y=2,884-(4,003e *N)+(0,004*K)+(2,436e N = 1.840 mg dm
A.N. -7 -6 -3 F= 21,71* 10,97
*N*N)-(9,841e *N*K)-(1,849e *K*K) K = 790 mg dm
-6 -5 -3
Y=0,37+(0,008*P)-(8,594e *N)-(2,726e N = 1.840 mg dm
A.P. -6 -7 -3 F= 10,96* 1,04
*P*P)-(1,442e *P*N)+(1,259e *N*N) P = 100 mg dm
-4 -3
Y=2,973+(0,054*P)+(0,002*N)-(2,069e N = 1.840 mg dm
A.K. -5 -7 -3 F= 101,41** 9,30
*P*P)-(1,622e *P*N)+(5,779e *N*N) P = 50 mg dm
-4 -3
Y=3,626+(0,063*P)+(0,004*K)-(2,633e P = 100 mg dm
A.K. -5 -6 -3 F= 15,96* 8,73
*P*P)-(1,165e *P*K)-(1,29e *K*K) K = 790 mg dm
(1) ns
** - Significativo a 1 % de probabilidade; * - significativo a 5 % de probabilidade; - não significativo a 5 % de probabilidade;
(2) -1 -1 -1
A.N. - acúmulo de nitrogênio (mg planta ); A.P. - acúmulo de fósforo (mg planta ); A.K. - acúmulo de potássio (mg planta );
(3) -3
Doses – dose do fertilizante (mg dm de substrato) responsável pelo maior acúmulo do nutriente;
(4) -1
Y max. – acúmulo máximo dos nutrientes (mg planta ).

e K, constataram que as mudas de laranjeira planta-1) (Tabela 3). Para a interação N x P, as doses
‘Valência’ enxertadas em limoeiro ’Cravo’, de P igual a 50 mg dm-3 e N igual a 1.840 mg
apresentaram resposta quadrática em relação as dm-3 foram as responsáveis pelo maior acúmulo
doses de N aplicadas sobre os valores do nutriente de K. Observa-se que, para a interação P x K, as
nas folhas novas. doses de P igual a 100 mg dm-3 e de K igual a 790
Scivittaro et al. (2004) também observaram mg dm -3 foram as responsáveis também pelo
que a aplicação de N em porta-enxerto limoeiro ‘Cravo’ maior acúmulo de K.
promoveu incremento no acúmulo do N, fato este Rozane et al. (2007) encontraram como
esperado devido ter aumentado o teor e matéria seca melhores doses para produção de porta-enxertos
e, ainda, de P e K, porém até certo ponto, pois o de citrumelo ‘Swingle’ de 920 mg dm-3 de N, 100
modelo que melhor se ajustou foi o quadrático, os mg dm-3 de P e 790 mg dm-3 de K.
autores citam também que o que pode ter influenciado Segundo os dados obtidos no presente
tais dados é a interação antagônica entre os nutrientes. trabalho o aumento das doses em relação ao
Ruschel et al. (2004) observaram diminuição no padrão de nitrogênio (920 mg dm-3) aumentou o
acúmulo de N com o aumento das doses de P, acúmulo deste nutriente, P e K. Para potássio a
corroborando com os resultados obtidos neste dose padrão (790 mg dm-3) proporcionou bons
trabalho. resultados.
Para desdobramento da interação N x P
observou-se que houve incremento no acúmulo de P.
Verifica-se, ainda, que a dose de P igual a 100 mg dm- CONCLUSÕES
3
e de N igual a 1.840 mg dm-3 foram as responsáveis A dose de nitrogênio de 1.840 mg dm-3
pelo maior acúmulo de P (1,04 mg planta-1) (Tabela 3). proporcionou maior teor e acúmulo de N para o
Foi encontrado também efeito entre o fatorial intervalo de doses estudado.
(7,2 mg planta-1) e a testemunha (2,8 mg planta-1), Dose de K de 790 mg dm -3 promoveu
havendo resposta quadrática à adubação fosfatada, melhor estado nutricional nos porta-enxertos de
sendo a dose de P igual a 81 mg dm-3 responsável limoeiro ‘Cravo’.
pelo maior acúmulo de K (F = 58,6**). Constatou-se
efeito linear e crescente das doses de N no acúmulo
de K. AGRADECIMENTO
Pelo desdobramento das interações N x P e
P x K, observou-se que na primeira houve incremento À FAPESP, pela bolsa de iniciação
no acúmulo de K (máximo de 9,30 mg planta-1), no científica concedida ao acadêmico de Engenharia
segundo desdobramento o máximo foi de 8,53 mg Agronômica Diego Wyllyam do Vale.

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VALE, D.W. et al. Doses de nitrogênio, fósforo e potássio...

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Recebido em 16/04/2008
Aceito em 24/10/2008

66 Scientia Agraria, Curitiba, v.10, n.1, p.061-066, Jan./Feb. 2009.

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