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Capítulo 4
Alfredo Richart1
Evertom Dutra Gressele2
Daniel Schwantes1
Jeferson Klein1
Ricardo Menon1
Rubens Fey3
Leandro Rampim4
Jacir Daga1
João Edson Kaefer1
Martios Ecco1
Alexandre Luís Müller1
1
Professor do curso de Agronomia da Escola de Ciências Agrárias e Medicina Veterinária da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, Campus Toledo. Avenida da União, 500, CEP: 85902-532. Toledo, Paraná.
2
Acadêmico do curso de Agronomia da Escola de Ciências Agrárias e Medicina Veterinária da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, Campus Toledo. Avenida da União, 500, CEP: 85902-532. Toledo, Paraná.
3
Professor da Universidade Federal Fronteira Sul, Campus de Laranjeiras do Sul, Paraná. BR-158, Km 7, CEP:
85.301-970, Laranjeiras do Sul – PR.
4
Pesquisador do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Campus de Marechal Cândido Rondon. Rua Pernambuco, 1777, CEP: 85960-000. Marechal Cândido Rondon,
Paraná.
Introdução
toxicidade do alumínio trocável livre (Al3+), por meio de competente análise laboratorial, é
prática de manejo que os produtores agrícolas devem se preocupar. A correção da acidez e
a inativação do Al3+ contribuem para pleno desenvolvimento radicular e, consequentemente,
melhorar as condições de nutrição da planta, condicionando-a à alta produtividade (VEGRO,
2013).
Em estudo conduzido por Oliveira et al. (1997), analisando os resultados do
levantamento de reconhecimento dos solos do Paraná (EMBRAPA, 1984), mostraram que
61% da área do Estado eram ocupadas por solos que apresentavam caráter álico ou
distrófico, indicando necessidade de aplicação de calcário para obtenção de rendimentos
economicamente viáveis às culturas.
O uso de corretivos da acidez com elevados teores de cálcio (Ca) ou magnésio (Mg),
pode interferir nas relações entre estes cátions, restringindo os efeitos benéficos esperados
na correção da acidez, por promover desbalanços entre o Ca2+ e o Mg2+ no solo,
prejudicando a absorção de nutrientes, causando desiquilíbrio nutricional de Ca e Mg nas
plantas. Assim, na escolha do corretivo, deve ser considerado o poder de neutralização da
acidez, bem como, sua proporção entre cátions acompanhantes, principalmente, relação
entre Ca/Mg presente no corretivo (ALBUQUERQUE et al., 2001).
Esta preocupação é pertinente, especialmente na região Oeste do Estado do Paraná,
pois, os produtores vêm utilizando exclusivamente nas correções da acidez, o calcário
dolomítico, o qual, tem provocado estreitamento da relação Ca/Mg, que com passar dos
anos, tem promovido desequilíbrios no solo, prejudicando absorção de Ca pelas plantas,
mas também, do potássio (K), uma vez que este nutriente tem sido adicionado em menores
quantidades nas adubações de manutenção, acarretando em deficiência do mesmo as
culturas anuais exploradas nesta região.
Outro fator que merece destaque está relacionado ao procedimento utilizado para
definir quantidade de calcário a ser aplicado, o qual normalmente é realizado interpretando-
se os resultados analíticos da análise de solo e a partir disto, realiza-se o cálculo para definir
a quantidade de calcário a ser aplicada ao solo. Para o Estado do Paraná, o método oficial
para recomendação de calagem é o da Saturação por Bases (OLIVEIRA, 2003). Este
método considera saturação por bases (V%) adequada para cada cultura, porém, esta
metodologia não permite ajuste individual de cada nutriente fornecido via calagem (Ca e
Mg). Além disso, não possibilita discriminar os solos pela participação dos cátions Ca, Mg e
K no complexo de troca. Em virtude desta limitação, surge a possibilidade de definir as
quantidades de calcário a serem aplicadas pelo ajuste estequiométrico entre os cátions Ca,
Mg e K. Nesta situação, para realização deste cálculo, leva-se em consideração a
participação do Ca, Mg e K na capacidade de troca catiônica (CTC), a qual foi estabelecida
por Bear et al. (1945), visando atingir crescimento máximo das plantas, o qual somente
60
Richart et al.
ocorre quando as concentrações trocáveis do solo de Ca, Mg e K são cerca de 65%, 10% e
5%, respectivamente.
Em termos de respostas das culturas agrícolas, às relações entre cátions básicos no
solo, tem sido verificado que relações equilibradas dos elementos Ca, Mg e K no complexo
de troca de um Latossolo Distroférrico de Cambé, PR, resultou em aumento de
produtividade da cultura da soja (WATANABE et al., 2005). Já para a cultura do milho em
solos do cerrado, os melhores rendimentos foram obtidos com relação Ca:Mg de 3:1
(SILVA, 1980).
Embora na literatura tenha informações de que estejam estabelecidas as
participações do Ca, Mg e K na CTC para as plantas, fica a dúvida entre os profissionais
que atuam na assessoria técnica, de como determinar o tipo e as quantidades de calcário a
serem adicionadas ao solo para promover a elevação dos teores destes nutrientes nos solos
cultivados na Região Oeste do Paraná. Assim, objetiva-se expor aos profissionais da
Ciências Agrárias como estes conceitos básicos envolvendo a participação do Ca, Mg e K
na CTC podem influenciar no desenvolvimento e produtividade das culturas; além de
demonstrar como podem ser determinados por meio de cálculos matemáticos o ajuste
estequiométrico entre este cátions buscando o equilíbrio ideal entre eles no solo.
61
Calagem: determinação da quantidade de calcário...
62
Richart et al.
Figura 4.2 Localização das formações geológicas que compõem os depósitos carbonáticos
do Escudo paranaense.
Fonte: Mineropar (2005).
64
Richart et al.
Figura 4.3 Mapa de distribuição do CaO (%) nas 43 amostras de solo no estado do Paraná.
Fonte: Mineropar (2005).
Figura 4.4 Mapa de distribuição do MgO (%) nas 43 amostras de solo no estado do Paraná.
Fonte: Mineropar (2005).
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Calagem: determinação da quantidade de calcário...
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Richart et al.
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Calagem: determinação da quantidade de calcário...
68
Richart et al.
ponto em que H+ trocável foi substituído por Ca2+ tendem a causar deficiências de
manganês em diferentes plantas perenes de raízes profundas.
Na busca pelo equilíbrio ideal entre os cátions, outros estudos foram desenvolvidos
por pesquisadores como Hunter et al. (1943), os quais verificaram que a alfafa cresceu bem
em relação Ca/K bem ampla, ocorrendo crescimento normal entre 1:1 e 100:1. Em
continuidade com suas pesquisas, Hunter (1949) verificou em casa de vegetação que o
rendimento de alfafa não foi afetado pelas relações Ca/Mg de 1:4 a 32:1, representando
proporções tanto maiores e menores do que normalmente encontrados em solos. Adams e
Henderson (1962) mostraram resposta ao Mg em cultivo de sorgo (Sorghum vulgare Pers.)
e trevo ladino (Trifolium repens L.) em casa de vegetação, quando a saturação de Mg foi
menor de 4% na CTC.
Este "solo ideal" proposto por Bear et al. (1945) foi amplamente promovido por
William Albrecht como "solo equilibrado", particularmente por meio de publicações, tais
como os papéis de Albrecht (ALBRECHT, 1975). Albrecht foi professor de Solos e
Presidente do Departamento de Solos da Universidade do Missouri (Escola Superior de
Agricultura), e fez excelente contribuição para a Ciência do Solo durante um longo período
de tempo. Embora vários valores tenham sido propostos para a relação entre os cátions,
eles geralmente caem dentro do seguinte intervalo aproximado (porcentagem de saturação
da CTC): 65% a 85% para o Ca, de 6% a 12% de Mg e de 2% a 5% de K (GRAHAM, 1959).
Vale ressaltar que Grahm e Fox (1971) chegaram a esses valores modificando os dados do
Bear et al. (1945) e Bear e Toth (1948) para ajustar as condições no Missouri, os quais têm
sido utilizados há muitos anos neste estado nos EUA.
Em experimento conduzido em casa de vegetação por McLean e Carbonell (1972),
buscaram avaliar crescimento do painço (Setaria italica L.) e alfafa (Medicago sativa L.) em
dois solos com saturações de Ca variando 75%; Mg de 5% a 55% de Ca e Mg 25% em dois
níveis K. Estes autores constataram que o rendimento do painço e da alfafa não foram
afetados pelo tratamento de qualquer solo nessas saturações. No entanto, os rendimentos
de alfafa mais do que duplicaram com o aumento das saturações Ca e Mg iniciais, a partir
de 3% e de 18% para 5% e 75%, respectivamente (aumento do pH de 4,5 para 6,8). Fisher
(1974) não encontraram nenhuma resposta a fertilizantes potássicos em solo do Missouri
(CTC = 8-10 cmolc dm-3) quando a saturação do K foi maior que 2,3%. Yuan et al. (1976)
avaliando três solos arenosos na Flórida com saturações de K menores de 3% constataram
que a planta não tinha respondido a fertilizante K e, atribui esta falta de resposta ao K
liberado de minerais como feldspatos e micas.
Frequentemente, conforme os resultados apresentados por McLean e Carbonell
(1972), Lierop et al. (1979), Liebhardt (1981) e Fox e Piekielek (1984), ocorre grande
variação na saturação por cátions na CTC do solo, a qual não influenciou ou teve pequena
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Richart et al.
três nutrientes possa explicar o fato de que alguns solos com teores médios de K
respondem à adubação potássica, enquanto que outros não.
72
Richart et al.
Uma vez encontrado este teor, agora calcula-se a quantidade de Ca a ser adicionada
em kg ha-1 (Q).
1,00 cmolc dm-3 ________________
200 mg de Ca
-3 ________________
2,98 cmolc dm x
-3
x = 586 mg dm de Ca
Logo:
1 m3 ________________
1.000 kg
2.000 m3 ________________
x
x = 2.000.000 kg
1 dm3 ________________
586 mg de Ca
2.000.000 dm3 ________________
x
-1
x = 1.192 kg ha de Ca
1 dm3 ________________
80,4 mg de Mg
3 ________________
2.000.000 dm x
-1
x = 160,8 kg ha de Mg
Quantidade a adicionar:
CaO = 1.668,8 kg ha-1 de CaO
MgO = 268 kg ha-1 de MgO
Para calcular a quantidade exata de cada calcário utiliza-se uma função de duas
incógnitas. Para isso a primeira função é data pelo valor total de CaO igualado a soma das
quantidades de CaO adicionado por cada calcário. Para a outra função repete-se o mesmo
processo, porém desta vez com o MgO.
Adota-se assim:
QDol= Quantidade de Calcário Dolomítico em kg ha-1
QCalc= Quantidade de Calcário Calcítico em kg ha-1
1.668,8 = [QCalc x (45/100)] + [QDol x (29/100)]
268,0 = [QCalc x (4/100)] + [QDol x (20/100)]
Logo:
1.668,8 = 0,45QCalc + 0,29QDol
268 = 0,04QCalc + 0,20QDol
75
Calagem: determinação da quantidade de calcário...
Portanto, para elevar Ca para 65% e o Mg para 15% da CTC, deve-se adicionar:
Calcário Dolomítico = 687,5 kg ha-1.
Calcário Calcítico = 3.265 kg ha-1
Vale ressaltar que, as devidas quantidades devem ser corrigidas conforme PRNT do
produto utilizado, neste exemplo, o PRNT utilizado é de 100% para fins didáticos. Estes
cálculos podem ser realizados de maneira automática em softwares específicos para tal fim.
Considerações finais
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Richart et al.
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