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Introdução
Cantarella, H.; Corrêa, L.A.; Primavesi, O.; Primavesi, A.C. 2002. Fertilidade do solo em
sistemas intensivos de manejo de pastagens (p.99-131), In: Peixoto, A.M.; Moura, J.C.;
Pedreira, C.G.S.; Faria, V.P. (eds) Inovações Tecnológicas no Manejo de Pastagens. Anais
do 19°Simpósio sobre Manejo de Pastagens. Piracicaba: FEALQ. 231p.
1
Instituto Agronômico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais. Caixa
Postal 28; 13001-970 Campinas, SP
2
Embrapa Pecuária Sudeste, Rod. Washington Luiz, km 234, Caixa Postal 339, 13560-970 São Carlos,
SP
2
camada arável, pois este íon tende a se acumular nos horizontes subsuperficiais,
especialmente em solos adubados com altas doses de P e com a acidez corrigida.
As decisões sobre calagem e a adubação, além de atender as necessidades das
plantas e garantir aumentos econômicos de produtividade, devem visar manter o solo
com teores de nutrientes médios ou altos, destacados na faixa cinza na tabela 1. Se as
concentrações estiveram nas faixas de valores muito baixos ou baixos, a fertilidade do
solo certamente limitará a produção e, mesmo adubações pesadas podem não resultar
em altos rendimentos pois o fertilizante geralmente não atinge em um primeiro
momento um grande volume de solo. Por outro lado, valores nas faixas de teores muito
altos podem indicar a aplicação de quantidades excessivas de nutrientes, além das
necessárias para uma resposta econômica, e que podem resultar em desperdício.
Valores limites
Teor
Fósforo resina Potássio Magnésio Cálcio Enxofre
3 3
mg/dm ----------------- mmoc/dm --------------- mg/dm3
Muito baixo 0-6 0-0,7 - - -
Baixo 7-15 0,8-1,5 0-4 0-3 0-4
Médio 16-40 1,5-3,0 5-8 3-7 5-10
Alto 40-80 3,0-6,0 >8 >7 >10
Muito alto >80 >6,0 - - -
As plantas também absorvem K não trocável do solo, embora ainda não existam
critérios para os solos brasileiros para caracterizar em que situações essa contribuição
seja importante (Raij, 1991). O capim braquiária conseguiu absorver mais K do que o
presente na fração trocável de diversos solos, especialmente dos horizontes
subsuperficiais (Raij & Quaggio, 1984). Isso indica que, em algumas situações, a
análise do K trocável pode subestimar a capacidade do solo de fornecer esse elemento,
sem considerar que as camadas mais profundas também podem contribuir com K para
as plantas, especialmente para espécies capazes de aprofundar o sistema radicular.
A disponibilidade de K também pode ser afetada pelas quantidades de Ca e de Mg
trocáveis presentes no solo. Assim, uma alternativa é expressar o K em termos de
porcentagem da capacidade de troca da cátions. No entanto, em solos de baixa CTC,
4
Valores limites
Teor
pH em CaCl2 V
%
Muito Baixo <4,4 0-25
Baixo 4,4-5,0 26-50
Médio 5,1-5,5 51-70
Alto 5,6-6,0 71-90
Muito alto >6,0 >90
Fonte: Raij et al. (1996).
Valores limites
Teor
Boro Cobre Ferro Manganês Zinco
3
------------------------------------mg/dm -----------------------------------
Baixo 0-0,20 0-0,2 0-5 0-1,5 0-0,6
Médio 0,21-0,60 0,3-1,0 6-12 1,6-5,0 0,7-1,5
Alto >0,60 >1,0 >12 >5,0 >1,5
Fonte: Raij et al. (1996).
Calagem em pastagens
colonião manejado com baixa dose de adubo nitrogenado (50 kg/ha de N) não trouxe
efeito positivo sobre a produção de biomassa no primeiro e terceiro ano, com redução
no segundo ano, embora houvesse aumento do pH em água e nos teores de cálcio e
magnésio, com redução de alumínio (Tabela 5). Carvalho et al. (1993) também não
encontraram resposta da calagem em solo ácido na produção de forragem de capim
gordura mas obtiveram uma pequena resposta (18%) na produção de matéria seca em B.
decumbens em um LVA álico com 16 mmolc/dm3 de Al trocável (Carvalho et al., 1992).
Alguns estudos do efeito de calagem foram conduzidos em pastagens com nível
médio ou alto de adubação. Luz et al. (2002) não encontraram efeito de doses de
calcário, comum ou calcinado, em pasto degradado de capim Tobiatã adubado com 120
kg/ha de P2O5, além de 50 kg/ha de N e 50 kg/ha de K2O por corte, apesar do solo
apresentar valor de pH-CaCl2 de 4,1 e saturação por bases de apenas 15%. Embora a
calagem não tivesse resultado em aumento de produção de matéria seca, esta atingiu 7,5
t/ha em quatro cortes, sugerindo que a adubação foi mais importante do que a calagem
para a recuperação da pastagem. Resultado semelhante foi observado por Oliveira
(2001) com B. decumbens. Não houve diferença da calagem, calculada para V=40, 60
ou 80%, sobre a produção de matéria seca da parte aérea mas o delineamento usado não
permitiu comparar os tratamentos com e sem calagem. De qualquer modo, ficou
evidente que a B. decumbens respondeu pouco à calagem, mesmo em pasto adubado.
Esses resultados corroboram as recomendações para calagem de Werner et al. (1996)
para capins menos exigentes. Por outro lado, o trabalho de Oliveira et al. (2001)
mostrou ser possível recuperar uma pastagem degrada com uma associação de calcário e
fertilizante, com um efeito crescente sobre a produção de matéria seca nos dois anos de
observação.
A falta de efeito do calcário sobre a produção de forragem nos primeiros anos,
mesmo com aplicação de 360 kg/ha de N-sulfato de amônio e 10 t/ha calcário na
superfície de solo ácido, também foi observada na Irlanda, embora a calagem tenha
reduzido o teor de Mn, N, P e Mg na matéria seca e aumentado o pH em água para 7,0
nos primeiros 5 cm (Adams, 1986).
8
17000
Produção MS, kg/ha
16000
15000
MS =14607 + 618,1calc - 61,11calc 2
R2 = 0,93
14000
0 2 4 6 8 10
Dose de calcário, t/ha
após o segundo corte; essa operação provocou uma diminuição inicial do número de
perfilhos mas causou um aumento no seu peso.
O calcário aplicado sem incorporação aumenta substancialmente o pH na
superfície do solo mas nem todo o calcário tende a reagir pois sua solubilidade diminui
com o aumento do pH (Allen & Hossner, 1991). Primavesi (dados não publicados)
aplicou até 8 t/ha de calcário em uma pastagem em solo com 250 a 300 g/kg de argila, e
observou que o pH (CaCl2) se elevou até um máximo de 6,5 na camada 0-2,5 cm. No
entanto, somente as doses mais altas (4 e 8 t/ha de calcário) promoveram alteração de
pH camada de 5 a 10 cm após 70 dias da aplicação (Figura 2).
Vários trabalhos com a aplicação superficial de calcário têm mostrado correção
da acidez e um aumento dos teores de Ca e de Mg em profundidade. Luz et al. (2001)
observaram, 16 meses após a calagem, um aumento de pH e dos teores de Ca e Mg, bem
como redução dos teores de Al trocável até 40 cm de profundidade em um Latossolo
Vermelho argiloso sob pasto adubado com N, P e K. Quaggio et al. (1985) notaram um
aumento dos teores de Ca+Mg de 18 mmolc/dm3 e do pH em 0,5 unidade em um
cambissolo tratado 24 meses antes com 12 t/ha de calcário. De modo geral, em áreas
agrícolas tem se observado uma perda de Ca e de Mg da ordem de 20% por ano dos
teores trocáveis (Quaggio et al., 1982; Raij et al., 1982). Vários outros exemplos de
aprofundamento do efeito da calagem são discutidos por Quaggio (2000).
Em conseqüência das perdas de bases, da insolubilização incompleta do calcário
e da reacidificação promovida por adubos nitrogenados, nem sempre se consegue atingir
os valores de saturação por bases calculados. Oliveira (2001) aplicou calcário para
elevar a saturação por base a 40, 60 ou 80% em um pasto degradado de B. decumbens
em areia quartzosa, mas, dois anos depois, na camada de 0-5 cm os valores de V
chegaram a 42, 52 e 58%, respectivamente; os dados correspondentes para a camada de
5-10 cm foram 33, 41 e 48% e, na camada de 10 a 30 cm, a saturação por bases
permaneceu em torno de 25%. Carvalho et al. (1992) também observaram, em pastagem
de B. decumbens em um LVa álico, um efeito pronunciado da calagem sobre o pH até 5
cm de profundidade; o aumento nos teores de Ca e de Mg ocorreu até 10 cm e a redução
do teor de Al trocável até 15 cm.
12
Camada 0-2,5 cm
6,5
to
pH-CaCl2 6,0 t2
5,5 t4
5,0 t8
4,5
4,0
0 20 40 60 80
Dias após calagem
Camada 2,5-5 cm
6,5
6,0
pH-CaCl2
t0
5,5 t2
5,0 t4
t8
4,5
4,0
0 20 40 60 80
Dias após calagem
Camada 5-10 cm
6,5
6,0 t0
pH-CaCl2
5,5 t2
5,0 t4
t8
4,5
4,0
0 20 40 60 80
Dias após calagem
Fósforo
A deficiência de fósforo (P) nos solos brasileiros é generalizada o que limita
muito o estabelecimento e a produtividade das pastagens, além de afetar negativamente
a qualidade da forragem produzida. Nesta situação a adubação fosfatada é fundamental,
principalmente em sistemas intensivos de produção, para não limitar a resposta da
planta forrageira quando são utilizados níveis elevados de nitrogênio.
Na literatura há inúmeros trabalhos que mostram respostas acentuadas das plantas
forrageiras a doses de P. As respostas aparecem em termos de incremento de produção
da parte aérea e raízes, no número de perfilhos, e na concentração de P na forragem
(Andrew & Robins, 1971; Werner et al., 1972; Monteiro et al., 1995; Meirelles et al.,
1998; Corrêa & Haag, 1993).
Alguns estudos demonstram também diferenças entre as espécies de gramíneas
quando ao requerimento em P. Corrêa & Haag (1993), trabalhando em solo de cerrado
de baixa fertilidade com 7 doses de P (0 a 640 kg de P2O5/ha), com Brachiaria
decumbens Stapf, Brachiaria brizantha cv. Marandu e Panicum maximum Jacq.
verificaram resposta acentuada das três forrageiras para as doses de P aplicadas. As
doses de P necessárias para atingir 80% da produção máxima foram de 107, 239 e 327
kg de P2O5/ha para a B. decumbens, P. maximum e B. brizantha, respectivamente. Essas
doses corresponderam aos níveis de P-resina no solo de 10,7, 16,0 e 21,8 mg/dm3,
respectivamente. Esses valores estão próximos do limite inferior da classe de valores
14
médios de P-resina no solo (Raij et al., 1996). Os autores também verificaram neste
estudo que a B. decumbens apresentou eficiência de absorção e uso de P superior às
outras espécies, tanto do P nativo como do P aplicado, o que explica o bom desempenho
dessa forrageira nos solos de cerrado de baixa fertilidade, mesmo com o uso mínimo de
fertilizantes fosfatados.
Corrêa et al. (1996) em estudo semelhante no mesmo tipo de solo, avaliando
quatro cultivares de Panicum maximum (Tanzânia, Mombaça, Vencedor e Massai),
também verificaram resposta acentuada das plantas às doses de P aplicadas. A dose de
P associada a 80% da produção máxima foi de 223 kg de P2O5/ha, sendo semelhante
para as quatro cultivares. O nível crítico de P-resina no solo foi de 21 mg/dm3 e na
forragem de 2,3 g/kg.
O uso de fontes de P de baixa solubilidade em pastagens é periodicamente
discutido devido à eficiência de absorção de P pelas gramíneas. Corrêa et al. (1997)
avaliaram a resposta do capim Tanzânia na fase de estabelecimento da pastagem em
sistema intensivo a 6 doses de P (0 a 800 kg de P2O5/ha), utilizando como fontes de P o
superfosfato triplo, o superfosfato simples e o fosfato parcialmente acidulado com 24%
de P2O5 total e 12% de P2O5 solúvel em ácido crítico a 2%. O solo, com 7 mg/dm3 de P-
resina, recebeu calcário para elevar a saturação por bases a 70%, além de N, K e
micronutrientes. Os resultados obtidos mostraram altas respostas do capim Tanzânia ao
P. Os maiores incrementos de produção de matéria seca ocorreram até cerca de 200
kg/ha de P2O5 como superfosfato triplo (Figura 3). Nesta dose, a eficiência do fosfato
parcialmente acidulado foi de 69% daquela do superfosfato triplo, confirmando dados
de inúmeros ensaios reunidos por Goedert et al. (1986), que concluíram que a eficiência
agronômica dos fosfatos parcialmente acidulados tem sido proporcional à fração da
apatita solubilizada.
O estudo de Corrêa et al. (1997) mostrou também que os teores de P no solo bem
como a quantidade de P extraída pelas plantas foram superiores nas parcelas tratadas
com fonte de P solúvel em água (Figura 3). Para Corsi & Martha Jr (1977), plantas
forrageiras que são estimuladas para elevada produção devem ter à disposição fontes de
P solúveis que garantam pronta disponibilidade de P na solução do solo para as plantas.
15
6000
3000
0
0 200 400 600 800 1000
P2O5 aplicado, kg/ha
140 ST
y = 1E-04x2 + 0,0698x + 8,1719
3
P-resina no solo, mg/dm
100
80
60
40
35
y = -4E-05x2 + 0,0642x + 5,2578
ST
30 R2 = 0,9688
P2O5 extraido, kg/ha
FAP
25
20
15
10
y = -1E-05x2 + 0,0269x + 4,025
5
R2 = 0,9747
0
0 200 400 600 800 1000
P2O5 aplicado, kg/ha
pelas raízes superficiais é translocado para outras partes da planta devido à sua alta
mobilidade.
6000 P0
P100
Producao de MS, kg/ha
5000 P800
4000
3000
2000
1000
0
02/95 05/95 08/95 11/95 02/96 05/96 08/96 11/96 02/97
Data, mes
3,0
2,5
P na planta, g/kg
2,0
1,5
1,0
P0
0,5 P100
P800
0,0
02/95 05/95 08/95 11/95 02/96 05/96 08/96 11/96 02/97
Data, mes
P reaplicado,
Producao de MS, kg/ha
3400 50
100
3000 200
2600
2200
0 100 200 800
P2O5 aplicado 2 anos antes, kg/ha
Os resultados obtidos por Corrêa et al. (1997) bem como daqueles da Figura 5
sugerem que, mesmo as baixas respostas a P em pastagens formadas podem ser
revertidas com o esgotamento do solo com a sua exploração intensiva. Produções anuais
de 15 t/ha de matéria seca podem representar uma extração acima de 30 kg/ha de P ou
70 kg/ha de P2O5 (Tabela 6). Embora boa parte do P que passa pelo organismo animal
seja reciclado via excreção, a distribuição desta é bastante desuniforme na pastagem
(Jarvis, 1999; Cantarutti et al, 2001 ). Além disso, outros mecanismos de perdas ou
fixação do P no solo podem contribuir para reduzir a disponibilidade do P aplicado.
19
Doses Matéria
N P S K Ca Mg Cu Zn Mn Fe
de N seca
Teor dos elementos na matéria seca da parte aérea
kg/ha --------------------g/kg----------------------- ---------------mg/kg---------------
0 - 16,4 2,8 3,5 16,9 4,1 1,9 5,7 21 61 269
125 - 18,6 2,8 3,4 20,8 4,2 2,1 6,8 23 52 203
250 - 20,8 2,6 3,3 23,2 4,5 2,2 8,1 27 53 168
500 - 27,1 2,5 3,0 26,9 4,9 2,6 8,9 27 43 171
1.000 - 30,5 2,5 2,8 27,7 4,6 2,6 9,6 29 107 159
Média 22,7 2,7 3,2 23,1 4,4 2,3 7,8 25 63 194
Em recente artigo de revisão, Cronin et al. (2000) chamam a atenção para o risco
potencial de ocorrência de fluorose em animais pastando em áreas intensamente
adubadas com P na Nova Zelândia. Superfosfatos normalmente contêm de 10 a 30 g/kg
de F e o seu uso contínuo pode levar ao acumulo de F na superfície do solo. A ingestão
de F pelos animais por meio da forragem é relativamente pequenas pois o F tende a ser
imobilizado no solo. No entanto, os animais pastando no inverno podem ingerir grande
quantidade de terra. Cronin et al., (2000) sugerem que em um período de 17 a 166 anos
de adubação de pastos com superfosfato simples, a maior parte dos solos das
propriedades leiteiras da Nova Zelândia pode atingir níveis de F potencialmente tóxicos.
Não há dados no Brasil que permitam avaliar o risco de problema semelhante.
20
Nitrogênio
O N e o K são os elementos aplicados como adubos normalmente presentes em
maiores quantidades nas pastagens (Tabela 6). A inferência sobre a extração de
nutrientes acoplada a uma estimativa realista da produção de matéria seca da pastagem é
um dos principais critérios para o cálculo da adubação nitrogenada em sistemas
intensivos pois a análise do solo não tem se mostrado útil para a indicar a
disponibilidade do N do solo para as plantas.
Muitos autores têm demonstrado as altas respostas de pastagens tropicais à
adubação nitrogenada. Em um dos textos pioneiros Vicente-Chandler (1959) relatou
resposta até 1.800 kg/ha de N na América Central. No Brasil, vários autores também
encontraram respostas marcantes a N (Werner et al., 1967; Corsi, 1986; Gomes et al.,
1987), entre outros com os maiores incrementos de produção situados na faixa de 300 a
400 kg/ha de N por ano.
NA 0 4.110 - - -
125 8.770 38,4 67 -
250 13.390 37,1 75 -
500 17.520 26,8 68 -
1000 18.890 14,8 45 -
(1)
UR = uréia; NA = nitrato de amônio
Fonte: Primavesi et al. (2001)
21
áreas de cana-crua coberta com cerca de 12 t/ha de resíduos (Cantarella et al., 1999) ou
de laranja manejada com herbicida (Cantarella et al., 2000), bem como em áreas de
plantio direto (Lara Cabezas et al. 2000).
NA 0 4 12 12 11 3
25 21 19 58 1 2
50 2 34 76 0 7
100 22 144 363 310 385
200 258 747 951 865 781
Duração ciclo, dias 32 24 26 26 37
Chuvas totais, mm 174 159 249 245 111
Fonte: Primavesi et al. (2001)
da produção obtida com a mesma dose de N usada como NA, variou de 66 (para dose
anual de 125 kg/ha de N) a 95% (para dose de 1.000 kg/ha de N) (Tabela 9). A
eficiência agronômica relativa tende a diminuir com o aumento da dose porque as
respostas ao N obedecem à lei dos incrementos decrescentes. A recuperação aparente do
N fertilizante também foi maior para o NA do que para a uréia, em consonância com os
dados de perdas por volatilização de NH3 e de produção de matéria seca (Tabela 9).
Watson et al. (1990) realizaram uma extensa revisão de trabalhos comparando a
eficiência de uso da uréia com o nitrocálcio em pastagens de clima temperado na
Europa e concluíram que geralmente a uréia apresenta eficiência agronômica inferior,
especialmente no verão, embora as perdas por volatilização de NH3 pareçam menores
no norte da Europa, onde o clima é mais frio. As máximas produções de matéria seca
obtidas com a uréia foram menores do que aquelas com nitrocálcio (Watson et al.,
1990), de modo semelhante ao encontrado nos estudos aqui relatados.
15000 30
10000 UR 20 UR
NA NA
5000 y = -0,0164x2 + 29,556x + 4000,5 10
Perdas de NH 3, % N aplicado
0
0 200 400 600 800 1000 0 50 100 150 200
N aplicado 5 cortes, kg/ha N aplicado por cortes, kg/ha
1999-00 50 1999-00
20000 y = -0,0248x 2 + 36,265x + 2645,4
R2 = 0,9938
40 y = -0,0013x 2 + 0,4047x + 2,2108
15000 R2 = 0,9687
30
10000
UR 20 UR
5000 NA NA
y = -0,015x 2 + 26,879x + 2439,3 10
0
Perdas de NH 3, % N aplicado
0
0 200 400 600 800 1000 0 50 100 150 200
N aplicado 5 cortes, kg/ha N aplicado por cortes, kg/ha
Figura 6. Produção de matéria seca de capim Coastcross (soma de 5 cortes) e perdas de N por volatilização de NH3 de pastos adubados com uréia
(UR) ou nitrato de amônio (NA). (Cantarella et al. 2001; Primavesi et al., 2001b)
25
Tabela 10. Teor de N-NO3 no solo, após 5 cortes de pastagem de coastcross adubada
com diferentes doses de N(1).
Teor de N-NO3- com fonte e dose
Profundidade
Uréia, kg/ha N NA, kg/ha N
de amostragem Testemunha
250 1.000 250 1.000
cm -------------------- N-NO3, kg/ha na camada -------------------
0-10 2,4 6,3 6,6 0,4 16,8
10-20 1,2 3,4 7,6 1,0 26,4
20-40 3,6 2,4 7,2 0,7 28,8
40-60 2,4 3,1 6,0 2,0 20,2
60-100 5,5 7,2 6,7 4,3 66,7
100-140 6,0 3,6 5,5 3,6 30,2
140-200 5,5 8,6 5,0 4,3 18,2
Soma nas
camadas, cm
0-40 7,2 12,1 21,4 2,1 72,0
40-100 7,9 10,3 12,7 6,3 86,9
100-200 11,5 12,2 10,5 7,9 48,4
(1) 3
Assumindo densidade aparente do solo de 1,2 kg/dm .
Fonte: Primavesi et al. (2001b)
quinto corte de um pasto de coastcross tratado com até 1.000 kg/ha de N durante o ciclo
de crescimento no verão (Tabela 10). Teores relativamente altos de nitrato só foram
observados nos tratamentos que receberam a dose máxima de N (200 kg/ha N por corte)
na forma de NA: o solo continha cerca de 200 kg/ha de N no perfil até 2 metros de
profundidade, cerca de 160 kg/ha dos quais até 1 metro (Tabela 10). No tratamento com
a maior dose de N na forma de uréia, os teores de nitrato estiveram próximos daqueles
da parcela testemunha, provavelmente devido às altas perdas de N por volatilização de
NH3 (Tabela 9). Há também a possibilidade de que não tenha havido nitrificação de
todo o N amídico da uréia mas, esta alternativa parece pouco provável em virtude dos
altos teores de N nítrico presente na matéria seca das plantas tratadas com altas doses de
uréia (Tabela 8). De modo geral, pastos bem manejados têm grande capacidade de
absorver nitrogênio do solo devido ao extenso sistema radicular e às altas taxas de
crescimento das gramíneas. No entanto, os resultados observados indicam que a dose de
200 kg/ha de N por corte foi excessiva pois as respostas em produção de matéria seca já
eram declinantes (Figura 6), as perdas de N tanto por volatilização de NH3 quanto por
lixiviação de NO3- foram altas e houve um acúmulo de grandes quantidades de NO3 na
forragem (Primavesi et al., 2001b).
Potássio
Para o K, a análise de solo representa uma boa referência para a adubação, embora
gramíneas possam também absorver K da fração não trocável (Raij & Quaggio, 1984).
No entanto, em áreas com manejo de adubação intensivo e altas produções de matéria
seca, é importante levar em consideração a extração de nutrientes e a produtividade
esperada, de modo semelhante ao que ocorre com o N, pois o K trocável presente no
solo pode ser facilmente esgotado devido à grande extração do nutriente (Tabela 6). Por
exemplo, supondo que os cátions trocáveis estejam disponíveis, um solo com teor
médio de K (1,6 a 3,0 mmolc/dm3) contém, na camada de 0 a 20 cm de solo, cerca de
150 a 280 kg/ha de K2O (Tabela 11). Esses valores são inferiores aos 288 kg/ha de K2O,
contidos na parte aérea de uma forrageira com 20 g/kg de K, produzindo 12 t/ha de
matéria seca durante a estação de crescimento, os quais não representam rendimentos
excepcionais. Primavesi et al. (2001b) calcularam que uma pastagem de coastcross
adubada com 1000 kg/ha de N extraiu quase 500 kg/ha de K2O em 5 cortes durante a
estação de crescimento. Esses números não levam em consideração o K não trocável
nem o contido nas camadas subsuperficiais, já discutidos anteriormente nesse texto.
27
Outros elementos
A extração e exportação de S pelas gramíneas forrageiras são relativamente
pequenas. Os dados da Tabela 6 mostram que foram extraídos pouco mais de 40 kg/ha
de S para produzir 14 t/ha de matéria seca de Coastcross. Entretanto, sendo o S
constituinte de alguns aminoácidos, sua presença é necessária par ao bom
aproveitamento do N pelas plantas e, consequentemente, para garantir as altas respostas
a esse elemento. De modo semelhante ao que ocorre em explorações agrícolas, o
emprego de S na adubação de pastagens tem sido muitas vezes negligenciado. Werner et
al. (1996) recomendam 20 kg/ha por ano para gramíneas forrageiras e 3 kg S/t MS de
gramíneas usadas para capineiras ou fenação.
28
Comentários finais
As informações da literatura aqui discutidas ilustram o fato de que as gramíneas
forrageiras apresentam grande potencial de produção de matéria seca em condições
tropicais e respondem a altas doses de nutrientes. As recomendações de adubação para
pastagem em uso no Brasil dependem da análise de solo, do tipo de pastagem e do nível
tecnológico, mas, já refletem os dados de pesquisa na direção do aumento do uso de
insumos. Luz et al. (2001) apresentaram um resumo das principais tabelas de adubação
atuais. As recomendações de P em pastagens de gramíneas atingem até 200 kg/ha de
P2O5 na fase de formação; valores semelhantes são indicados para K2O nas adubações
de manutenção e, para o N, até 300 kg/ha por ano em pastos rotacionados irrigados, com
exploração intensiva (Luz et al., 2001). A economicidade dessas altas adubações
depende do nível de gerenciamento da propriedade agropecuária.
Corsi & Martha Jr. (1997) apresentam um amplo levantamento da literatura sobre
reciclagem de nutrientes em pastagem, mostrando que a exportação de nutrientes pelos
animais, tanto em sistemas de corte quanto leiteiro, são baixas: de 60 a 99% dos
nutrientes ingeridos não retornam ao pasto na forma de fezes ou urina, segundo Barrow
(1987), citado na revisão. Os dados sugerem que os sistemas de pastejo exigiriam baixas
quantidades de insumos, porém, a distribuição desuniforme e localizada dos dejetos em
29
carreadores, áreas de descanso etc, é um fator que leva a grandes perdas de nutrientes no
sistema (Corsi & Martha Jr., 1997).
Cerca de 1 a 46% da área das pastagens é coberta por fezes mas a concentração de
nutrientes nas dejeções é elevada, atingindo em torno de 1000 kg/ha de N, 640 kg/ha de
P2O5 e 500 kg/ha de K2O; a urina é pode levar a altas concentrações de N e K na área
atingida (1000 kg/ha de N e 1100 kg/ha de K2O). Além da possibilidade da deposição
dos nutrientes em áreas em que eles possam ser pouco aproveitados ou carreados para
fora do sistema vindo a causar poluição, há chances de perdas de N por volatilização de
NH3 e lixiviação, em adição às perdas por desnitrificação, sobre as quais há menos
dados. As perdas de NH3 variam de 4 a 46% do N da urina (Haynes & Williams, 1993)
e são maiores para pastos que recebem altas doses de N, que enriquecem os dejetos
(Bussink, 1994). Para o K, as perdas mais prováveis ocorreram por lixiviação pois a alta
concentração do nutriente em uma área restrita dificulta sua retenção pelo complexo de
troca iônica do solo. As perdas por lixiviação dependem da textura do solo e da
quantidade de chuvas, ou seja, variam conforme a região. Faltam dados sobre o assunto
nas condições brasileiras. As áreas atingidas pelos dejetos, especialmente fezes,
geralmente apresentam maior produção de matéria seca de pastagem, mas, os animais
tendem a rejeitá-las por períodos variáveis, que podem durar mais de 40 dias (para
maiores detalhes, veja a excelente revisão de Corsi & Martha Jr. , 1997).
A melhoria da reciclagem, que resulta em economia na necessidade de adubação,
pode ser realizada pela melhor distribuição espacial dos dejetos, a qual depende de
manejos específicos da pastagem. A análise do solo é também uma ferramenta
importante pois permite dimensionar as doses a serem aplicadas e a reavaliação
periódica do programa de adubação. Se os teores estiverem nas classes baixa ou muito
baixa, o solo pode estar se empobrecendo, com conseqüente comprometimento da
produção no futuro. Por outro lado, teores na classe muito alta indica aplicações
excessivas. O monitoramento periódico do solo em subsuperfície pode indicar a
ocorrência de perdas por lixiviação, resultante de adubações muito altas ou insuficiência
de parcelamentos. Isso se aplica inclusive para o nitrogênio inorgânico (Tabela 10), cuja
análise é relativamente simples mas oferecida por poucos laboratórios. No caso desse
elemento as amostras precisam de manuseio específico: congelamento ou secagem ao ar
imediatamente após a retirada no campo (Mattos Jr. et al., 1995).
30
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