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Avaliação e Correção das Fertilidades

dos Solos Para Hortaliças

Ronessa Bartolomeu de Souza


Ruy Rezende Fontes

Introdução
As hortaliças são plantas que necessitam, em geral, de quantidades elevadas de
nutrientes, uma vez que a maioria das cultivares foram selecionadas em condições de
alta disponibilidade de nutrientes visando altas produtividades em curto período de
tempo. Além disso, comparativamente a outras culturas, elas extraem e exportam
maiores quantidades de nutrientes por hectare, em virtude de suas exigências peculiares,
ciclo relativamente curto, consumo expressivo de água e, principalmente, da sua maior
produção de biomassa. Tanto é assim, que são consideradas como principal fonte de
sais minerais, vitaminas e fibras indispensáveis na alimentação humana.
A produção de hortaliças é uma atividade que envolve alto risco, entretanto,
apresenta boa relação custo/benefício, proporcionando em geral, ótimo retorno
econômico para o agricultor. Devido a essas características, muitas vezes, os produtores
adubam em excesso. O excesso, além de prejudicar a qualidade do produto, é danoso
em termos econômico, agronômico e, principalmente, ambiental. Mesmo em se tratando
da olericultura convencional, deve-se buscar um programa de adubação que seja mais
sustentável. A utilização mais racional dos corretivos e fertilizantes traz benefícios sob
vários aspectos: ambientalmente, pela maior eficiência no uso da terra e menores riscos
de salinização do solo e poluição de águas superficiais e subterrâneas; produz alimentos
mais saudáveis e equilibrados nutricionalmente e, consequentemente, mais resistentes
ao ataque de pragas e doenças e aumenta a produtividade e o lucro.
A avaliação da fertilidade do solo pode ser realizada diretamente por meio da
análise química de solos ou, indiretamente, por meio da análise de plantas, seja pela
análise química dos teores de nutrientes nos tecidos vegetais ou visualmente, pelos
sintomas de deficiência ou de toxidez. Para os macronutrientes, a análise de solo reflete
relativamente bem a disponibilidade destes para as plantas, enquanto para os
micronutrientes, nem sempre a análise de solo estima a real disponibilidade para as
culturas. Neste caso, a diagnose foliar tem se mostrado bastante eficiente para detecção
de desequilíbrios nutricionais.
Recomendações Gerais
A dose adequada de fertilizantes pode ser definida em função da produtividade
esperada e da quantidade dos nutrientes existentes no solo (P, K, calagem e, às vezes, os
micronutrientes), constituindo-se a base das tabelas de adubação. O nível crítico do
nutriente é o que norteia a recomendação de adubação com base na análise de solo, o
qual pode ser definido como o teor do nutriente no solo capaz de permitir a produção
ótima econômica da cultura e geralmente difere entre as espécies. Além disso, as curvas
de respostas da produção às doses de um nutriente não são iguais para diferentes solos e
sistemas de cultivo, pois tanto a produtividade quanto a disponibilidade do nutriente são
diferentes. Adicionalmente, existem outras diferenças quanto às interações entre os
nutrientes, a forma suprida às plantas, o íon acompanhante, o pH, a quantidade de
matéria orgânica adicionada, e sistema de produção empregado. Do exposto, depreende-
se que as tabelas de adubação, embora extremamente úteis, são apenas uma
aproximação bastante grosseira, uma vez que cada sistema de produção é único. Assim,
é necessário aliar-se conhecimento técnico e bom senso para uma eficiente
recomendação de adubação.
Para a adubação das hortaliças, devido ao ciclo relativamente curto, dá-se
preferência aos fertilizantes solúveis como o superfosfatos simples e triplo, fosfatos
mono e diamônico, uréia, sulfato de amônio, nitrocálcio, cloreto de potássio, nitrato de
potássio e sulfato de potássio. O enxofre é adicionado, normalmente, como íon
acompanhante do superfosfato simples e/ou do sulfato de amônio. Porém, ao utilizar-se
fórmulas concentradas de fertilizantes é necessário adicionar algum adubo com enxofre.
O Cálcio e o Magnésio são geralmente fornecidos pela calagem quando realizada com
calcário dolomítico. No caso dos micronutrientes, há disponibilidade de fontes
inorgânicas (óxidos e sulfatos de Cu e Zn, bórax, ácido bórico, molibdato de sódio ou
amônio), de quelatos orgânicos ou sintéticos (principalmente EDTA) e de fritas
(silicatos) ou FTE. Devido à lenta solubilidade, uma vez que liberam gradualmente os
micronutrientes no solo, as FTEs não são muito apropriadas para correção de
deficiências a curto prazo. Neste caso, a adubação foliar é mais eficiente. Nos solos
brasileiros, não é comum aplicar Fe e Mn às hortaliças, exceto em caso de
supercalagem. Sabe-se também, que adubações com elevadas doses de fósforo, além de
diminuir a absorção de zinco, podem alterar o metabolismo do ferro reduzindo a fração
metabolicamente ativa no interior da planta ocasionando sintomas de deficiência de
ferro em algumas culturas. Tem sido comum a ocorrência de deficiência de Fe e/ou Mn

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em mudas de hortaliças, entre elas, de tomateiro, sob o sistema de substratos em
bandejas de isopor, o que em geral ocorre devido a calagem com altas doses de cal
hidratada ou calcário, tal como é o caso do calcário “filler” de uso comum na região de
Brasília/DF.
Com exceção do calcário, que é aplicado a lanço em toda área, os fertilizantes
devem ser aplicados localizadamente, na linha, sulcos ou na cova. Parte dos fertilizantes
são colocados no momento do plantio das sementes ou do transplante das mudas as
quais são complementadas por aplicações ao longo do ciclo da cultura. O parcelamento
é justificado pela possibilidade de altas concentrações de N e K aumentarem, pelo
menos momentaneamente, a concentração salina da solução do solo, o que danificaria as
mudas recém-transplantadas. Além disso, N e K são passíveis de lixiviação,
principalmente em solos arenosos, em decorrência de precipitações intensas ou irrigação
com turno de rega e/ou lâmina d’água inadequados às exigências da cultura. Apenas
para hortaliças cultivadas em espaçamento reduzido os fertilizantes podem ser aplicados
e incorporados em toda área. Em geral, toda a dose dos micronutrientes, grande parte
(70%) ou o total do fósforo e porções (10 a 40%) do nitrogênio e do potássio são
adicionadas ao sulco, imediatamente antes do transplantio das mudas. O parcelamento
do restante de N e K é feito em diversas vezes, semanal ou quinzenalmente, a depender
do ciclo da cultura.

Calagem
A maioria dos solos brasileiros apresenta elevada acidez e baixa reserva de
nutrientes. A acidez dos solos é normalmente refletida pelo baixo pH, elevada saturação
de alumínio e baixa saturação por bases (soma de potássio, cálcio, magnésio e sódio
trocáveis).
O cálculo da necessidade de calagem (NC) para cultivo de hortaliças pode ser
feito utilizando o método da neutralização do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ +
Mg2+ conforme a seguinte fórmula:
NC = Y(Al3+) + [X-(Ca+Mg)] = toneladas de calcário por hectare, PRNT 100%,
a ser incorporado na camada de 0-20 cm de profundidade.
O valor de Y é variável em função da capacidade tampão de acidez do solo, que
pode ser estimada por meio da textura ou por meio do teor de fósforo
remanescente(Prem) do solo (Quadro 1). O Prem apresenta relação linear inversa com a
capacidade tampão dos solos e constitui-se em melhor estimativa desta do que o teor de

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argila, com a vantagem adicional de ser um método de análise mais simples e mais
rápido que a análise granulométrica.

Quadro1. Valores de Y em função do teor de argila ou do teor de P remanescente


Classe argila Y teor de Prem Y
% mg/L
muito argiloso 60 - 100 0,0-1,0 0-4 4,0-3,5
argiloso 35 - 60 1,0-2,0 4-10 3,5-2,9
text. média 15 - 35 2,0-3,0 10-19 2,9-2,0
arenoso 0 - 15 3,0-4,0 19-30 2,0-1,2
30-44 1,2-0,5
44-60 0,5-0,0

O valor de X é a exigência mínima de Ca + Mg da cultura (varia de 1,0 a 3,5) conforme


pode ser visto Quadro 2.

Quadro 2. Valores de Ca2+ + Mg2+ (X), máxima saturação por Al3+ tolerada (mt) e
saturação por bases desejada (Ve) para o cultivo de hortaliças

Culturas X mt Ve
cmolc/dm3 % %
Batata e batata doce 2,5 10 60
Cará e inhame 2,5 10 60
Milho verde 2,5 10 60
Beterraba, cenoura, 3 5 65
mandioquinha, nabo, rabanete
Chuchu, melão 3,5 5 80
Demais hortaliças 3 5 70

Outro método para o cálculo da necessidade de calagem é o da saturação por


bases. Neste, usa-se a seguinte relação:
NC = T(Ve – Va)/100 = toneladas de calcário por hectare, PRNT 100%, a ser
incorporado na camada de 0-20 cm de profundidade.
T = CTC a pH 7,0 = SB + (H + Al), em cmolc/dm3
Va = Saturação por Bases atual, em %
Ve = Saturação por Bases desejada para a cultura de interesse (Quadro 2)

Fósforo
Embora seja exigido em quantidades relativamente pequenas pelas plantas, o P é
o nutriente mais limitante da produtividade na maioria dos solos brasileiros e,
especialmente, nos sob cerrado. Além dos baixos teores assimiláveis de P dos solos, o
aproveitamento dos fertilizantes aplicados é baixo devido a grande capacidade de

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fixação deste nutriente nos solos, tornando-o menos disponível às plantas. Como
conseqüência disto, o fósforo é geralmente utilizado em maiores proporções que os
demais. Além disso, a resposta a elevadas doses de N, visando altas produtividades,
depende da disponibilidade de P no solo que também tem que ser alta.
A análise química do solo é a principal tecnologia para se avaliar a
disponibilidade de P e K dos solos e recomendar adubação com estes nutrientes. Assim,
a amostragem, primeira etapa do processo, deve seguir princípios e normas já
estabelecidos amplamente divulgados na literatura para que realmente represente a
fertilidade do solo. A interpretação dos resultados pode ser feita com base em tabelas
existentes para diversas regiões do Brasil contendo os limites considerados adequados
para o cultivo das hortaliças em geral. A recomendação, por sua vez, depende da
espécie, das características do solo, da eficiência do fertilizante, da densidade de plantas
e da produtividade esperada. Como exemplo, serão apresentadas as tabelas de
interpretação dos teores de P e K no solo para o cultivo de hortaliças desenvolvidas para
o Distrito Federal (Quadro 3), Minas Gerais (Quadro 4) e São Paulo (Quadro 5).

Quadro 3. Limites de interpretação para os teores de fósforo (Mehlich-1) e de


potássio em solos para o cultivo de hortaliças (Distrito Federal)
Nutriente Baixa Média Alta Muito alta
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-------------------------------mg/dm --------------------------------------
P (Mehlich-11/) < 10 11-30 31-60 > 60
K < 60 61-120 121-240 > 240
1/ Mehlich-1 (HCl 0,05 mol/L + H2SO4 0,0125 mol/L)
Fonte: EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO DISTRITO
FEDERAL. Recomendações para o uso de corretivos, matéria orgânica e fertilizantes para
hortaliças no Distrito Federal. 1a . Aproximação Brasília: EMATER-DF/ Embrapa Hortaliças,
1987. 45p.

Com relação ao K, bem como de outros cátions trocáveis, os diversos extratores


comumente utilizados fornecem resultados comparáveis, não sendo necessário
mencionar o método usado para extração. Por outro lado, no caso do P é fundamental
citar o extrator utilizado, uma vez que há grandes diferenças entre os extratores. Quanto
à sensibilidade à capacidade tampão de fosfatos (CTF), observa-se a seguinte ordem
decrescente: Mehlich-1 > Bray-1 >>> Resina. A resina tem-se mostrado independente
do teor de argila ou de qualquer medida da CTF. A CTF pode ser entendida como a
resistência do solo a mudanças na quantidade de P em solução. Há trabalhos
evidenciando melhores correlações entre o P absorvido ou acumulado na planta e o P
disponível extraído com o Mehlich-1 e outros, com a Resina.

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Quadro 4. Classes de fertilidade para interpretação dos teores de fósforo (Mehlich-
1) e de potássio em solos para o cultivo de hortaliças (Minas Gerais)

Classes de Fertilidade
Caract.
Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
Argila teor de P disponível no solo
% ----------------------------------------------- mg/dm3 -------------------------------------------------
100 – 60 < 10,0 10,1 - 21,0 21,1 - 32,01/ 32,1 - 48,0 > 48,0
60 – 35 < 16,0 16,1 - 32,0 32,1 - 48,0 48,1 - 72,0 > 72,0
35 – 15 < 26,0 26,1 - 48,0 48,1 - 80,0 80,1 - 120,0 > 120,0
15 – 0 < 40,0 40,1 - 80,0 80,1 - 120,0 120,1 -180,0 > 180,0
Prem2/ (mg/L)
0– 4 < 12,0 12,1 - 17,2 17,3 - 24,0 24,1 - 36,0 > 36,0
4 – 10 < 16,0 16,1 - 24,0 24,1 - 33,2 33,3 - 50,0 > 50,0
10 – 19 < 24,0 24,1 - 33,2 33,3 - 45,6 45,7 - 70,0 > 70,0
19 – 30 < 32,0 32,1 - 45,6 45,7 - 63,2 63,3 - 96,0 > 96,0
30 – 44 < 44,0 44,1 - 63,2 63,3 - 87,2 87,3 - 132,0 > 132,0
44 – 60 < 60,0 60,1 - 87,2 87,3 - 120,0 120,1-180,0 >180,0
teor de K no solo
----------------------------------------------- mg/dm3 -------------------------------------------------
< 20 21 - 50 51 – 901/ 91 - 140 > 140
1/ O limite superior desta classe indica o nível crítico.
2/ Prem= P remanescente: agitar uma amostra de solo com 60 mg/L de P em CaCl2 0,01 mol/L, relação
solo:solução 1:10 em peso, por 1 hora. Centrifugar ou filtrar a suspensão e dosar o P na solução de
equilíbrio.
Fonte: RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ V., V.H. Recomendações para o uso de
corretivos e fertilizantes em Minas Gerais- 5a. Aproximação. Viçosa: CFSEMG, 1999. 359p.

Quadro 5. Limites de interpretação para os teores de fósforo (Resina) e de potássio


em solos para o cultivo de hortaliças (São Paulo)
Classe Produção Relativa K P resina
% ---------------------mg/dm3-------------------------
Muito baixo 0 - 70 0,0 - 30,0 0,0 - 10,0
Baixo 71 - 90 31,0 - 62,0 11,0 - 25,0
Médio* 91 - 100 63,0 - 120,0 26,0 - 60,0
Alto > 100 121,0 - 234,0 61,0 - 120,0
Muito alto > 100 > 234 > 120,0
Fonte: RAIJ, B. Van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI, A.M.C. Recomendações de
adubação e calagem para o estado de São Paulo, 2. ed, Campinas: Instituto agronômico e Fundação IAC,
1996. 285p.

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Potássio
O K é, geralmente, o segundo nutriente em quantidade extraída pelos vegetais,
após o N. É absorvido como K+ e preferencialmente por difusão, assim como o P. Situa-
se em posição intermediária, pois não é fixado como o P nem tão facilmente lixiviado
quanto o N. A exigência da maioria das hortaliças nos estágios iniciais é relativamente
pequena, aumentando com o crescimento e desenvolvimento da planta, sendo
recomendável portanto, o seu parcelamento ao longo do ciclo. Sugere-se não utilizar
exclusivamente o cloreto de potássio, devido a grande concentração de cloro (47,6% de
Cl) e elevado índice salino. Em algumas espécies, o excesso de Cl pode afetar a
qualidade do produto colhido, sendo a ervilha altamente sensível enquanto o espinafre é
tolerante a altas concentrações. Alternativamente, pode-se usar o sulfato de potássio que
além de menor índice salino é fonte de enxofre.
Algumas hortaliças são altamente exigentes em K, como o tomate, o qual extrai
e exporta grande quantidade de K (70% do total nos frutos). Este grande fluxo de K para
os frutos deve restringir o de cálcio, sendo responsável, pelo menos em parte, pela
ocorrência de deficiência de cálcio (podridão apical) nos frutos dessa hortaliça.
Adubação potássica pesada, além de induzir ou agravar a deficiência de cálcio,
diminui a absorção de magnésio, causando desequilíbrios. Assim, para culturas
adubadas com grandes quantidades de K, como o tomateiro, dependendo dos teores de
Mg no solo, pode-se aplicar adicionalmente uma fonte de magnésio (sulfato ou cloreto
de magnésio) no plantio. Alternativamente, para correção destas deficiências de Ca ou
de Mg induzidas por alto K é bastante comum utilizar adubação foliar ( 6 g/L de cloreto
de cálcio, semanalmente, em caso de podridão apical; 1,5 g/L de sulfato de magnésio +
5 g/L de uréia (melhora a absorção foliar do Mg) por duas a três vezes).

Nitrogênio
Ainda não se tem, no Brasil, um critério confiável de recomendação da adubação
nitrogenada com base na análise de solo. Por ser facilmente lixiviado, especialmente
nos solos arenosos, o N deve ser aplicado de forma localizada, parcelado e com
parcimônia. A análise de tecidos vegetais é uma forma eficiente para verificar a
adequação da adubação e para recomendação de nutrientes, especialmente de N e K em

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cobertura, entretanto é relativamente trabalhoso e demorado. Assim, a análise de seiva
por meio de medidores portáteis (microeletrodos) mostra-se como alternativa
promissora para avaliar o estado nutricional da planta e recomendar adubação em
cobertura quando necessária.
Os adubos nitrogenados apresentam solubilidade em água relativamente alta e,
em geral, alto índice salino e capacidade de acidificação (2 NH4+ + 3O2 Æ 2NO2- +
2H2O + 4H+). O sulfato de amônio, uréia, nitrato de amônio e nitrocálcio, devido aos
seus altos índices salinos, tendem a aumentar a pressão osmótica da solução do solo e,
com exceção do nitrato de potássio, todos acidificam. Outro aspecto importante refere-
se a higroscopicidade, que pode dificultar a aplicação do adubo no campo. Neste
sentido, o nitrato de amônio e o nitrocálcio parecem apresentar maiores problemas.
Outro cuidado que se deve ter é com respeito a quantidade de água aplicada na
irrigação, uma vez que o excesso pode provocar o carreamento de nutrientes,
principalmente nitrato, para regiões fora do alcance das raízes, diminuindo a eficiência
da adubação, e aumentando o risco de poluição das águas. A contaminação do lençol
freático com nitratos provenientes de esterco de aves tem ocorrido em alguns locais no
estado de SP e SC.
No Estado de SP (Raij, et al., 1996) adota-se um critério de classes de resposta
esperada com base no manejo e histórico de uso do terreno:
Alta resposta esperada – solos corrigidos, com muitos anos de plantio contínuo de
gramíneas ou outras culturas não leguminosas; primeiros anos de plantio direto; solos
arenosos, sujeitos a grandes perdas por lixiviação; teores baixos de N nos tecidos
vegetais ou na seiva.
Média resposta esperada – solos muito ácidos, que serão corrigidos; plantio anterior
esporádico de leguminosas; solo em pousio por um ano; uso de quantidades moderadas
de adubos orgânicos; teores médios de N nos tecidos vegetais ou na seiva.
Baixa resposta esperada – solos em pousio por dois ou mais anos; cultivo após
pastagem (exceto solos arenosos); cultivo anterior intenso de leguminosas; ou adubação
verde com leguminosas; ou rotação permanente; uso constante de quantidades elevadas
de adubos orgânicos; teores altos de N nos tecidos vegetais ou na seiva.

Micronutrientes
Embora alguns manuais de recomendação de adubação já apresentem tabelas
para a interpretação dos teores de micronutrientes no solo (Quadros 6 e 7), as

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recomendações para hortaliças geralmente reduzem-se a Boro e Zinco cujas quantidades
variam com a cultura, independente da análise de solo. Exceção feita para as Brássicas e
leguminosas em que são recomendados Boro e Molibdênio (0,4 - 0,5 g/L de molibdato
de amônio em 3 a 4 pulverizações). O mesmo comportamento ocorre em relação ao
enxofre tanto no estado de São Paulo (Quadro 7) quanto em Minas Gerais (Quadro 8).

Quadro 6. Limites para interpretação dos teores de Micronutrientes em solos (Minas


Gerais)
Micro Muito baixo Baixo Médio Bom Alto
-------------------------------------- mg/dm3---------------------------------------
Zn -Mehlich-1 < 0,4 0,5 - 0,9 1,0 - 1,5 1,6 - 2,2 > 2,2
Mn -Mehlich-1 < 2 3-5 6- 8 9 - 12 > 12
Fe -Mehlich-1 < 8 9 - 18 19 - 30 31 - 45 > 45
Cu -Mehlich-1 < 0,3 0,4 - 0,7 0,8 - 1,2 1,3 - 1,8 > 1,8
B -água quente < 0,15 0,16 - 0,35 0,36 - 0,60 0,61 - 0,90 > 0,90

Quadro 7. Limites para interpretação dos teores de Enxofre e Micronutrientes em solos


(São Paulo)
Nutriente Baixo Médio Alto
-------------------------------------- mg/dm3---------------------------------------
S (FC em água) 0–4 5 – 10 > 10
Zn -DTPA 0 – 0,5 0,6 – 1,2 > 1,2
Mn -DTPA 0 – 1,2 1,3 – 5,0 > 5,0
Fe -DTPA 0–4 5 – 12 > 12
Cu -DTPA 0 – 0,2 0,3 – 0,8 > 0,8
B -água quente 0 – 0,20 0,21 – 0,60 > 0,60

Quadro 8. Limites para interpretação dos teores de Enxofre em solos em funcão do


valor de Prem (Minas Gerais)
Prem Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
mg/L -------------------------------------- mg/dm3---------------------------------------
0– 4 < 1,7 1,8 - 2,5 2,6 - 3,6 3,7 - 5,4 > 5,4
4 – 10 < 2,4 2,5 - 3,6 3,7 - 5,0 5,1 - 7,5 > 7,5
10 – 19 < 3,3 3,4 - 5,0 5,1 - 6,9 7,0 - 10,3 > 10,3
19 – 30 < 4,6 4,7 - 6,9 7,0 - 9,4 9,5 - 14,2 > 14,2
30 – 44 < 6,4 6,5 - 9,4 9,5 - 13,0 13,1 - 19,6 > 19,6
44 – 60 < 8,9 9,0 - 13,0 13,1 - 18,0 18,1 - 27,0 > 27,0

Adubação orgânica
A matéria orgânica, sempre recomendada para o cultivo de hortaliças, tem efeito
favorável sobre as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. Serve como fonte

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de nutrientes, principalmente N, S e P; aumenta a CTC; apresenta poder tamponante da
acidez do solo; por sua elevada reatividade regula a disponibilidade de micronutrientes,
bem como a atividades de elementos tóxicos, como o Al3+ e similarmente afeta as
características químicas de moléculas orgânicas ou inorgânicas adicionadas ao solo
(agrotóxicos, metais pesados, entre outras). Fisicamente, a matéria orgânica atua como
cimentante, favorecendo a agregação do solo, melhorando, conseqüentemente, a
aeração, permeabilidade, a capacidade de retenção de água e a resistência do solo à
erosão. Em termos biológicos, os compostos de carbono da MO servem como fonte de
energia e nutrientes para os organismos do solo e alguns compostos orgânicos podem
ter efeito fisiológico direto sobre as plantas.

LITERATURA
EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO DISTRITO
FEDERAL. Recomendações para o uso de corretivos, matéria orgânica e
fertilizantes para hortaliças no Distrito Federal. 1a. Aproximação Brasília:
EMATER-DF/ Embrapa Hortaliças, 1987. 45p.

FERREIRA, M. E.; CRUZ, M.C.P.; RAIJ, B. Van; ABREU, C.A. Micronutrientes e


elementos tóxicos na agricultura. Jaboticabal: CNPq/FAPESP/POTAFOS, 2001.
600p.

FERREIRA, M. E. ; CASTELLANE, P.D.; CRUZ, M.C.P. Nutrição e adubação de


hortaliças. Piracicaba: POTAFOS, 1993. 487p.

FILGUEIRA, F.A.R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na


produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: Editora UFV, 2000. 402p.

FONTES, P. C. R. Fertilização das hortaliças. 42o Congresso Brasileiro de Olericultura,


2002, CD-rom, Uberlândia/MG, 2002.

MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. New York: Academic Press, 2a.
ed, 1995. 889p.

NOVAIS, R.F.; SMYTH, T. J. Fósforo em solo e planta em condições tropicais. Viçosa:


UFV/DPS, 1999. 399p.

RAIJ, B. Van; ANDRADRE, J.C.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A. Análise


química para avaliação da fertilidade de solos tropicais. Campinas: Instituto
agronômico, 2001. 285p.

RAIJ, B. Van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI, A.M.C.


Recomendações de adubação e calagem para o estado de São Paulo, 2. ed,
Campinas: Instituto agronômico e Fundação IAC, 1996. 285p.

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RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ V., V.H. Recomendações para o
uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais- 5a. Aproximação. Viçosa:
CFSEMG, 1999. 359p.

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