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ÍNDICE
O “PREPARO” DE ALIMENTOS MAIS SAUDÁVEIS COMEÇA COM A CIÊNCIA.........................1
1. CULTIVARES IAC..........................................................................................................................................6
14. BRAGANTIA...........................................................................................................................................110
Editorial
Governo do Estado de São Paulo
Secretaria de Agricultura e Abastecimento
Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
Instituto Agronômico
e produtos para a melhoria dos padrões Coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
Sergio Luiz dos Santos Tutui
atuais e futuro de vida dos brasileiros. Dessa
forma, em O Agronômico deste ano são Diretor Técnico de Departamento do Instituto Agronômico
Marcos Guimarães de Andrade Landell
abordados temas como (i) biofortificação
e produção alimentar com as mais
modernas tecnologias, (ii) relação entre a
saudabilidade das cultivares de amendoim O AGRONÔMICO
(Instituto Agronômico)
e a elevada demanda por essa tecnologia, Campinas, SP
(iii) renda para o produtor e saúde para 1941-1; 1949-2011 1-63
(Série Técnica APTA)
o consumidor, (iv) plantas aromáticas, A partir do v. 52, n. 1, faz parte da Série Técnica APTA da SAA/APTA.
A eventual citação de produtos e marcas comerciais não expressa,
condimentares, medicinais e inseticidas, necessariamente, recomendação de seu uso pela Instituição.
bem como, (v) compostagem de resíduos É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte. A reprodu-
orgânicos e sustentabilidade ambiental. ção total depende da anuência expressa do Instituto Agronômico.
Editores
O “PREPARO” DE
ALIMENTOS MAIS
SAUDÁVEIS COMEÇA
COM A CIÊNCIA
O Agronômico | V. 73 | 2021 1
A saudabilidade, conceito do disponibilizar recursos que contribuam
que é saudável, permeia a sociedade no alcance desse cotidiano mais salutar.
atual de modo amplo e constante. Nesse cenário, atenta às demandas de
Na ciência agronômica, esse atributo seus clientes, a pesquisa, as cadeias de
é referência no desenvolvimento produção agrícola e as indústrias que as
de cultivares das culturas agrícolas acompanham trabalham continuamente
presentes no cotidiano da população. para desenvolver e produzir alimentos
Há não muito tempo, a pesquisa que sejam capazes de nutrir, reforçar a
visava, principalmente, características imunidade e proporcionar prazer. E se
agronômicas, como produtividade e tudo isso puder ocorrer “numa garfada
resistência às pragas e doenças. Nesses só”, melhor ainda. Por isso, a geração
quesitos, a agricultura brasileira está de alimentos com acentuado perfil de
muito bem amparada nos pacotes saudabilidade tem sido uma das metas
tecnológicos gerados pelas instituições nas pesquisas do Instituto Agronômico.
de pesquisa, dentre elas o Instituto
Com 134 anos de atuação
Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria
ininterrupta, o IAC orienta seus
de Agricultura e Abastecimento do
programas de melhoramento
Estado de São Paulo. Como a ciência é
genético para o desenvolvimento de
movida a desafios na busca de tornar
novas cultivares com características
melhor o que já está disponível para a
agronômicas que atendam às
humanidade, a biofortificação natural de
necessidades de agricultores e indústrias
alimentos tomou espaço e atualmente
e com qualidades que preencham os
está presente nos programas de
requisitos presentes na lista de desejos
melhoramento genético do IAC voltados
dos consumidores.
a culturas alimentícias. Não poderia ser
diferente. A ciência deve andar de mãos No imaginário humano, a
dadas com os anseios e as necessidades alimentação desejável reúne alimentos
da população. saborosos, com alta qualidade
nutricional e praticidade. É possível
Entre os consumidores, é cada
reunir essas virtudes num pacote só?
vez maior a busca por modos de vida
A resposta é sim. A viabilidade vem de
mais saudáveis, incluindo alimentação
tecnologias geradas nas instituições de
e outros recursos que proporcionam
pesquisa e pela inovação, ocorrida a
bem-estar. Para satisfazer essa
partir da adoção dos recursos por parte
necessidade, o consumidor depende da
de agricultores e indústrias.
atuação da pesquisa, responsável pela
geração de tecnologias, e dos setores Um bom exemplo está nas novas
de produção e serviços capazes de cultivares de feijão IAC, que reúnem
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as características desejadas por minerais, além de lipídeos e proteínas.
agricultores e pelo Instituto Brasileiro Por sua composição, esse grão, que vai
do Feijão e Pulses (IBRAFE), atento às do aperitivo à confeitaria e também
oportunidades dos mercados interno na produção de óleo, é considerado
e externo. As mais recentes cultivares um dos mais completos alimentos de
de feijão IAC reúnem atributos como origem vegetal. Para quem o aprecia, o
resistência às pragas e doenças, que consumo do amendoim vai muito além
reduzem o uso de controle químico de dar prazer: seu aporte de proteína
e, consequentemente, os custos de o classifica como autossuficiente
produção e o impacto ambiental. Já no fornecimento de aminoácidos
para o consumidor, os atrativos estão essenciais, de acordo com o padrão
nos grãos claros e que se mantêm com de referência da Food and Agriculture
esse aspecto por período maior, caldo Organization (FAO). Em resumo: nutre
espesso e ainda oferecem maior teor e dá prazer. Além de proporcionar esse
de proteína, lembrando que o feijão é a combo de bem-estar, as cultivares IAC
maior fonte de proteína vegetal. reúnem tantas qualidades que ocupam
cerca de 80% dos campos paulistas
Tão presente no dia a dia
com essa oleaginosa e o estado de São
do brasileiro, a conhecida salada
Paulo responde por 90% da produção
de alface foi biofortificada pelo
nacional, aproximadamente.
Instituto Agronômico, que recorreu
à biofortificação agronômica para Quando o assunto são as frutas,
aumentar o teor de zinco nas folhas dentre as pesquisadas pelo IAC estão
dessa folhosa. Esse resultado foi obtido as uvas. No passado, os estudos do
por meio da adubação com zinco, que Instituto Agronômico propiciaram a
eleva o teor desse elemento na parte tropicalização da fruticultura brasileira
comestível da planta, sem alterar o e auxiliaram na elaboração da base da
sabor e o aspecto das folhas. Assim, viticultura no Nordeste, um dos polos
ao comer a salada de todo dia, o vitícolas nacionais. Atualmente, fazem
brasileiro estará ingerindo mais zinco parte da programação científica do IAC os
de forma natural, ao invés de comprar estudos para a obtenção de suco de uva
suplementos vitamínicos na farmácia. biofortificado. Devido à sazonalidade
Isso sem falar que, em razão dos preços, da uva e à restrição do acesso a produtos
esses produtos farmacêuticos não são vinícolas em algumas regiões do Brasil,
acessíveis à população de baixa renda. é importante enriquecer os sucos como
forma de contribuir com a alimentação
Outro produto pesquisado pelo IAC
mais saudável. Pesquisadores do IAC
que se destaca no quesito saudabilidade
avaliam a interação dos sistemas de
é o amendoim, rico em vitaminas e
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condução e as diferentes cultivares de Em 2021, o Governo do Estado
uva submetidas ao tratamento com um de São Paulo fez um investimento
bioestimulante na fase de pré-colheita. recorde de R$ 52 milhões nos institutos
Esse manejo estimula a própria planta a de pesquisa ligados à Secretaria de
produzir teores mais altos de compostos Agricultura e Abastecimento. O valor
bioativos, substâncias benéficas ao foi destinado à modernização das
organismo, sem deixar resíduos nos unidades para aprimorar o atendimento
frutos e sem prejudicar o ambiente. às demandas de inovação e pesquisa
do agronegócio paulista e nacional. O
IAC recebeu parte desse montante e,
Competência e comprometi- em 2021, investiu R$ 8,4 milhões em
mento de equipes garantem serviços e investimentos em diversas
áreas, incluindo reformas de laboratório
atuação perene e saudável
e estufas, sistemas de irrigação,
Essas e outras ações em tantas equipamentos de laboratórios,
outras áreas do IAC são possíveis instalação de geradores e câmaras frias,
graças à equipe de pesquisadores modernização da rede elétrica e da rede
de alta competência e elevado de Tecnologia da Informação, instalação
comprometimento com sua missão de alambrados para proteção de áreas
de gerar e transferir tecnologias aos de pesquisa e de campo, aquisição de
setores do agro. Esses pesquisadores tratores e implementos. Muitas são as
são auxiliados por funcionários de apoio necessidades de uma instituição de
à pesquisa igualmente comprometidos, pesquisa. Para manter o cumprimento da
por profissionais contratados via missão e a manutenção da credibilidade
fundações de apoio à pesquisa e por institucional, com foco no destinatário
alunos da Pós-Graduação IAC em da pesquisa, são exigidas amplas doses
Agricultura Tropical e Subtropical. de dedicação e investimentos.
As equipes do IAC têm sua expertise
É dessa forma que o IAC se
reforçada também pelas parcerias
mantém ativo e saudável em seus
estabelecidas com outras instituições
quase 135 anos de atuação a serem
de pesquisa e ensino do Brasil e do
completados em 27 de junho de 2022. A
exterior e pelo diálogo constante com
interação com os setores de produção e
profissionais dos setores de produção,
o diálogo permanente com agricultores
além da confiança e do apoio do setor
e técnicos de diversas regiões do
privado e das agências de fomento
Brasil, em diferentes segmentos
estaduais e federais.
e com necessidades e demandas
plurais proporcionam às equipes do
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IAC uma percepção atualizada das
mudanças de cenários de mercado,
que influenciam as agendas científicas.
Nossos pesquisadores e técnicos não
trabalham isolados. Eles vão a campo,
conversam com quem trabalha a
lavoura diariamente. Eles participam de
congressos e outros eventos técnico-
científicos e acompanham a dinâmica
da ciência brasileira e internacional.
Essa dinâmica explica porque o IAC,
umas das instituições de pesquisa mais
antiga do Brasil e que serviu de modelo
a tantas outras mais recentes no país,
segue liderando áreas de pesquisa vitais
para a economia nacional, a exemplo da
canavicultura, citricultura e cafeicultura.
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1. CULTIVARES IAC
1
IAC - Centro de Pesquisa de Café “Alcides
Carvalho”, Campinas (SP).
adriano.aguiar@sp.gov.br
2
IAC - Centro de Pesquisa de Horticultura,
Campinas (SP).
charleston.goncalves@sp.gov.br
6 O Agronômico | V. 73 | 2021
O Instituto Agronômico, em das regiões do estado, assim como
2021, disponibilizou dez (10) cultivares. para os demais estados produtores.
Além disso, realizou a inscrição de Apresenta comportamento rústico,
cinco materiais pré-experimentais ou sendo responsiva quanto ao ambiente
pré-comerciais de feijoeiro, os quais de produção, ou seja, comporta-se bem
foram habilitados exclusivamente para em diversos ambientes de produção.
produção de sementes da categoria
genética. Ressalta-se que essas cultivares
já disponíveis comercialmente, visam Cana-de-açúcar IACCTC077207
atender às diversas cadeias produtivas Apresenta hábito de crescimento
do agronegócio, com características semi-ereto, alto, diâmetro de colmo
inovadoras, e outras relacionadas à médio, internódios de comprimento
produtividade, à resistência às doenças médio, gema com média saliência nos
e pragas, longevidade pós-colheita e nós, gema do tipo romboide, número
cultivo sustentável. de 16 colmos/m. Apresenta ótima
opção para ser colhida no período
inverno-primavera. Outra característica
Cana-de-açúcar IACSP047004
favorável é a alta produtividade de
Touceira com hábito de crescimento colmos, em altitude de 466 a 604 m,
semi-ereta, alta, diâmetro de colmo estando o comportamento produtivo
médio, internódios de comprimento correlacionado principalmente com a
médio, gema com média saliência nos fertilidade e disponibilidade de água no
nós, gema do tipo romboide, número de solo. Também é resistente às principais
16 colmos/m. Apresenta boa adaptação, doenças da cultura.
caracterizando como uma cultivar
média, em relação à fertilidade do solo,
tem apresentado ótima opção para ser Cana-de-açúcar IACCTC096166
colhida no período inverno-primavera. Cultivar de média exigência, porém
Outra característica favorável é a alta muito responsiva, em relação à fertilidade
produtividade de colmos, em altitude de do solo; com ótima opção para ser colhida
377 a 466 m, estando o comportamento na safra de inverno. Outra característica
produtivo correlacionado principalmente favorável é a alta produtividade de
com a fertilidade e disponibilidade de colmos. Em relação à altitude esta
água no solo. Resistente às principais cultivar foi estudada em altitude de 457
doenças: ferrugem, carvão, raquitismo a 546 m, estando o comportamento
e escaldadura. Adaptada à região produtivo correlacionado principalmente
Centro-Oeste do estado de São Paulo à adaptabilidade edafoclimática. Touceira
e muito provavelmente para a maioria
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com hábito de crescimento semiereta, A cultivar é caracterizada como bom
alta, diâmetro de colmo médio a fino, porta-enxerto para a lima ácida Tahiti,
internódios de comprimento médio, apresenta folhas trilobadas e número
gema com média saliência nos nós, gema médio de 19 sementes viáveis por fruto. É
do tipo romboide, número médio de 15 resistente à seca, mas sua suscetibilidade
a 17 colmos/m. Tolerante às principais a várias doenças acaba encurtando sua
doenças, se adapta à região de Assis (SP). vida no pomar acarretando prejuízos ao
produtor. A cultivar se adapta às regiões
representativas de produção comercial
Feijão IAC 2051 de laranja Pêra no estado de São Paulo.
A cultivar IAC 2051 apresenta
tolerância aos patógenos da antracnose,
Citrandarin IAC 3026 Santa
crestamento bacteriano, ferrugem,
mosaico comum e mancha angular.
Amélia
Sua qualidade de grão é semelhante Cultivar de porta-enxerto que
às cultivares atualmente recomendadas induz, à variedade de copa, o porte
ao setor produtivo. Considerando- ananicante e boa qualidade de
se a produtividade média obtida e fruta. Pode ser recomendada para
principalmente por apresentar alta plantios mais adensados. A cultivar é
massa de 100 sementes e tolerância caracterizada como porta-enxerto para
ao escurecimento de grão, a cultivar variedades copa de citros e apresenta
IAC 2051 é recomendada para o cultivo folhas trilobadas. O citrandarin IAC 3026
na época das “águas”, da “seca” e de Santa Amélia apresenta 12 sementes
“inverno” no estado de São Paulo, viáveis por fruto com média de três
sendo indicada também para a época embriões por semente e porcentagem
das “águas” e da “seca” nos estados do de emergência de 83%. O peso médio
Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do (o correto seria usar massa média, sendo
Sul e Mato Grosso do Sul. Deve-se evitar o termo técnico) dos frutos é de 41,2 g,
o plantio em solos encharcados e áreas altura e diâmetro médio dos frutos de
não zoneadas ao cultivo de feijão. 3,9 cm e 4,4 cm, respectivamente. Não
apresenta tolerância à seca. A principal
característica desse porta-enxerto, o
Citrandarin IAC 3010 Pindorama citrandarin IAC 3026 Santa Amélia, é que
Cultivar de porta-enxerto que ele induz porte baixo na variedade copa
induz, à variedade de lima ácida Tahiti, o laranja Pera.
porte vigoroso, boa qualidade de fruta,
boa tolerância à seca e produtividade.
8 O Agronômico | V. 73 | 2021
Citrandarin IAC 3128 Guanabara Crotalaria spectabilis IAC 201 CS
Cultivar de porta-enxerto que Apresenta ciclo anual com
induz, à variedade de copa, o porte florescimento médio aos 70 dias
semiananicante e boa qualidade de e maturação aos 100 dias após a
fruta. A cultivar é caracterizada como emergência, altura média de planta de
porta-enxerto para variedades copa 1,0 a 1,5 metros, produção de massa
de citros e apresenta folhas trilobadas. verde médio de 26 ton ha-1. Peso médio
O citrandarin IAC 3128 Guanabara de 1.000 sementes de 19 gramas. É
apresenta 15 sementes viáveis por fruto suscetível a Septoria crotalariae. Há
com média de quatro embriões por uma forte demanda por sementes de
semente e porcentagem de emergência origem genética desta espécie, além de
de 85%. O peso médio dos frutos é de um crescente aumento de cultivo de
48,2 g, altura e diâmetro médio dos crotalárias para a conservação do solo,
frutos de 4 cm e 4,7 cm, respectivamente. fixação de nitrogênio ao solo e como
Apresenta tolerância à seca. controle de nematoides.
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2. ALFACE BIOFORTIFICADA
COM ZINCO E MICROVERDES:
SUPERALIMENTOS
PRODUZIDOS COM A MAIS
MODERNA TECNOLOGIA EM
HORTICULTURA
Luis Felipe Villani Purquerio1; Paulo César Reco1
Estevão Vicari Mellis2; Fernando César Sala3
Matheus Aparecido Pereira Cipriano4
Thiago Leandro Factor1; Simone da Costa Mello5
Thais Queiroz Zorzeto César6
Carolina Cinto de Moraes7; Felipe Marques de Lima4
1
IAC - Centro de Pesquisa de Horticultura,
Campinas (SP).
felipe.purquerio@sp.gov.br
paulo.reco@sp.gov.br
thiago.factor@sp.gov.br
2
IAC - Centro de Pesquisa de Solos e
Recursos Ambientais, Campinas (SP).
estevao.mellis@sp.gov.br
3
UFSCar - Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos (SP). fcsala@ufscar.br
4
IAC - Pós-Graduação em Agricultura
Tropical e Subtropical, Campinas (SP).
mhcipriano@gmail.com
felps.marques@hotmail.com
5
ESALQ/USP - Universidade de São Paulo,
Piracicaba (SP). scmello@usp.br
6
FEAGRI - Universidade Estadual de
Campinas, Campinas (SP).
thaisqzc@unicamp.br
7
Fertisense
carolcmoraes@gmail.com
10 O Agronômico | V. 73 | 2021
2.1. Biofortificação agronômica A ingestão diária de Zn
de alface com zinco recomendada para adultos é de 15 mg
(KIEKENS, 1995). Este valor pode variar
Embora tenha se intensificado conforme a referência; nos EUA, por
o combate à pobreza, aumentando exemplo, a recomendação diária é de
a oferta e a segurança alimentar, a 8 a 13 mg, no Reino Unido é de 7 a 13
fome e a desnutrição ainda atingem a mg (Institute of Medicine - USA 2001;
população de vários países do mundo. Department of Health - UK 1991). De
Além disso, devido ao consumo de acordo com os dados da Pesquisa de
dietas excessivamente calóricas, a Orçamentos Familiares (POF 2008-
deficiência nutricional alcança várias 2009), em torno de 23% da população
pessoas ao redor do mundo, mesmo brasileira não ingere a quantidade
essas não apresentando subnutrição. adequada de Zn. A baixa ingestão
Nesse contexto, a deficiência dietética do Zn ocorre em decorrência
de zinco, tem se tornado comum na dos baixos teores deste nutriente nos
população. Esse micronutriente é alimentos (CAKMAK et al., 2010).
essencial em seres humanos, atuando Uma das formas de se corrigir
na síntese proteica e no crescimento essa deficiência é pela ingestão de
celular. A falta de Zn compromete suplementos vitamínicos contendo
funções bioquímicas e fisiológicas, Zn, que estão cada vez mais presentes
e está associada a diversos tipos nas prateleiras de drogarias em todo
de câncer, infertilidade, queda de Brasil. Porém, além do alto custo,
cabelo, unhas deformadas, perda do que inviabiliza o acesso das classes
paladar, atraso no desenvolvimento mais pobres, a eficiência desses
esquelético, mental e maturidade suplementos é baixa, e a ingestão de
sexual, além de diminuição da sais em excesso pode prejudicar a
capacidade de aprendizagem, saúde humana.
dermatites, diarreia persistente e
dificuldade na cicatrização das feridas. Mas e se ao invés de tomar
suplemento, nós comêssemos
Estima-se que pelo menos alimentos naturais com maior teor de
1/3 da população mundial sofra Zn? Por exemplo, uma alface! Imagine
com a deficiência de Zn e que uma salada com muito mais Zn que o
aproximadamente 800.000 mortes por habitual. Isso seria possível?
ano no mundo entre crianças menores
de cinco anos podem estar associadas Sim! Apesar de historicamente
à falta desse micronutriente (BLACK, a adubação de plantas ser
2003). determinada em função do aumento
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da produtividade das culturas, devido à sua alta solubilidade e baixo
recentemente, uma estratégia para custo. Outras fontes inorgânicas são:
o enriquecimento nutricional das óxido de zinco (ZnO), carbonato
partes comestíveis das plantas, de zinco (ZnCO3), nitrato de zinco
o qual pode ser feito através de [Zn(NO3)2] e cloreto de zinco (ZnCl2)
melhoramento genético ou a partir (ALLOWAY, 2008).
de métodos agrícolas, em especial
Recentemente, a biofortificação
a fertilização, tem sido utilizada ao
agronômica com Zn tem sido
redor do mundo (WHITE e BROWN,
estudada em cereais, como trigo,
2010). Esta estratégia é conhecida
arroz e milho, uma vez que estas
como biofortificação e tem como
culturas representam a maioria das
objetivo aumentar as concentrações
calorias consumidas, especialmente
biodisponíveis de nutrientes
em países em desenvolvimento
nos alimentos e assim auxiliar a
(CAKMAK e KUTMAN, 2018). No
manutenção dos teores adequados
entanto, Clemens (2017) sugere que
dos nutrientes no organismo humano.
uma estratégia complementar seria a
Essa técnica tem sido muito biofortificação de hortaliças folhosas
utilizada para aumentar os teores atrelada à promoção do consumo,
de micronutrientes nas plantas, pois estas contêm muito mais Zn
especialmente o Zn. A biofortificação do que os cereais (BROADLEY et al.,
com micronutrientes em alimentos 2007).
utilizando fertilizantes é denominada
Embora haja poucos estudos
biofortificação agronômica. Este
com biofortificação de Zn em
tipo de biofortificação é realizada
hortaliças folhosas, Clemens (2017)
com a adubação de Zn, seja no solo,
reforça o potencial dessas culturas
em solução nutritiva ou via foliar
para o maior acúmulo de Zn e
(CAKMAK, 2008).
questiona: por que não introduzir
Os fertilizantes com Zn podem a biofortificação em hortaliças
ser aplicados diretamente no solo folhosas? Segundo White e Broadley
em três tipos de compostos, os (2011), espécies da família Asteracea,
inorgânicos, os quelatos sintéticos como a alface, tendem a ter alto teor
e os complexos naturais orgânicos, de Zn na parte aérea.
que variam em seu teor de Zn, preço
Além do potencial genético
e eficácia para culturas em diferentes
dessas plantas, as concentrações
tipos de solo. A fonte inorgânica
de Zn em hortaliças folhosas são
sulfato de zinco (ZnSO4) é a mais
geralmente maiores do que em
comum e amplamente utilizada
12 O Agronômico | V. 73 | 2021
grãos, tubérculos e frutas, uma vez crespa liderou nos últimos anos;
que os órgãos de reserva obtêm a em 2015 correspondeu a 60% da
maioria de seus minerais através do área total de produção da hortaliça.
floema e Zn é pouco móvel no floema No entanto, a aceitação da alface
(WHITE e BROADLEY, 2011). Sendo americana pelo mercado consumidor
assim, as folhosas podem contribuir vem crescendo. De 2010 para 2015,
substancialmente para a ingestão a área de produção deste segmento
dietética de Zn, apesar do baixo teor aumentou em aproximadamente 35%
calórico (HENDERSON et al., 2003). (ABCSEM, 2016). Esse crescimento
deve-se ao aumento das redes de
Na literatura foram encontrados
lanchonetes fast foods que demandam
alguns trabalhos com relação à
esse tipo de alface e pela maior
biofortificação agronômica de Zn
procura e preferência do consumidor
em folhosas (BROADLEY et al., 2010;
da classe média alta que já conhecia
PADASH et al., 2016; BARRAMEDA-
esse produto através de viagens ao
MEDINA et al., 2017a; BARRAMEDA-
exterior (SALA e COSTA, 2012).
MEDINA et al., 2017b; WHITE et al.,
2018; RUGELES-REYES et al., 2019), Sendo a hortaliça folhosa mais
com resultados promissores. produzida e consumida no Brasil
e no mundo, além de ser uma das
No Brasil são escassos os
espécies mais eficientes na absorção
estudos com biofortificação
de nutrientes, especialmente os
agronômica com Zn em alface.
cátions metálicos, a alface pode ser
Considerando-se que a maioria dos
uma importante fonte de Zn quando
trabalhos são internacionais e com
biofortificada, principalmente para
cultivares que não fazem parte do
pessoas de baixa renda ou com
mercado brasileiro, evidencia-se a
dieta vegetariana, que estão mais
necessidade de mais estudos neste
suscetíveis à deficiência pela menor
sentido e em condições tropicais de
ingestão desse micronutriente e,
cultivo, visando um efetivo programa
consequentemente, mais propensos
de biofortificação agronômica.
a problemas de deficiência de Zn.
A alface (Lactuca sativa L.) é
O Instituto Agronômico (IAC)
a hortaliça folhosa mais produzida
é um dos pioneiros em estudos
e consumida no Brasil. Os tipos
com biofortificação no Brasil, tendo
varietais produzidos no Brasil são lisa,
realizado, desde 2008, pesquisas com
crespa, mimosa, americana, romana,
biofortificação de Zn, em trigo, feijão,
roxa/vermelha e minialface (SALA e
milho, soja, e café, em parceria com
COSTA, 2012). O segmento de alface
a International Zinc Association (IZA),
O Agronômico | V. 73 | 2021 13
e a Universidade de Sabanci, da nas folhas de Vanda elevaram 8,9 vezes
Turquia. Diante dessa experiência e com o aumento das doses, chegando
demanda, a equipe de pesquisadores a 7,0 mg planta-1, independentemente
do IAC iniciou, recentemente, sob a da época, enquanto para Saladela, o
coordenação do Pesquisador científico aumento foi de 11 e 8 vezes na E1 e E2,
Dr. Luis Felipe Purquerio, estudos respectivamente, com valores máximos
sobre a biofortificação agronômica de de 10,6 e 12,3 mg planta-1. O uso de
alface com Zn. Este projeto conta com maiores doses de Zn não reduziu a
a participação de pesquisadores dos produtividade de Vanda, mas para
Centros de Pesquisa de Horticultura, Saladela, houve redução em ambas as
de Solos e Recursos Ambientais e épocas, sendo necessário, em futuros
de Ecofisiologia e Biofísica, além de estudos uma redução da dose de Zn
parceria com pesquisadores de outras para essa cultivar. A biofortificação
instituições, especialmente com o Dr. agronômica de alface foi possível e
Fernando C. Sala, da UFSCar. mais adequada com a dose de 40 mg
Zn dm-3, em ambas as épocas de cultivo
O primeiro estudo foi tema da tese
para Vanda e 35 e 12 mg Zn dm-3 na E1
de doutorado de Carolina C. de Moraes
e E2, respectivamente, para Saladela.
do Programa de Pós-Graduação em
O consumo de 50 g dessas plantas
Agricultura Tropical e Subtropical do
biofortificadas considerando-se o limite
IAC, finalizada em 2020. Essa pesquisa
permitido de Zn nos alimentos, pode
avaliou o efeito da aplicação de doses
contribuir com até 20%-40% na sua
de Zn (0, 5, 10, 20, 30 e 40 mg dm-3 Zn)
ingestão diária recomendada (MORAES,
em solo, na produção e no acúmulo em
2020). Ressalta-se que estudos de
alface (Vanda - tipo crespa e Saladela
biodisponibilidade do zinco também
- tipo crocante) em duas épocas de
são necessários para determinação da
cultivo (março a abril - E1 e maio a julho
quantidade exata que o ser humano
- E2 de 2018) sob condições tropicais
consegue aproveitar desse nutriente já
(Figura 1). Como resultados, verificou-
incorporado na em alface.
se a possibilidade da biortificação
agronômica, sendo que o acúmulo de Zn
14 O Agronômico | V. 73 | 2021
A B
Figura 1. Plantas de alface Vanda (A) e Saladela (B) submetidas a doses de 0 e 40 mg Zn dm-3 e suas
folhas medianas provenientes das doses de 0 a 40 mg Zn dm-3. Fonte: Moraes, C. C. (2020).
O Agronômico | V. 73 | 2021 15
Figura 2. Plantas de alface Vanda e Saladela, em cultivo hidropônico, submetidas a concentrações de
0,3, 1,0, 1,7, e 2,4 g L-1 mg dm-3 Zn. Fonte: Lima, B. M. (2021).
16 O Agronômico | V. 73 | 2021
Figura 3. Vista do experimento de biofortificação agronômica de alface (Vanda e Laurel) com doses de
0 e 30 mg Zn dm-3 e bactérias Pseudomonas e Burkholderia, em 30/04 e 23/05/2021. Foto: Purquerio,
L. F. V. (2021).
Figura 4. Efeito das bactérias IAC/RBcr4 (Pseudomonas putida) (PS) e IAC/BECa-088 (Burkholderia caribensis)
(BR) sobre o porte das mudas de alface Vanda (A) e Laurel (B) no momento do transplante do experimento
de biofortificação agronômica de alface. Foto: Purquerio, L. F. V. (2021).
O Agronômico | V. 73 | 2021 17
Observando-se os resultados Os resultados obtidos por meio
obtidos até o momento, pode-se de pesquisas científicas como esta
concluir que a biofortificação de alface são essenciais para a sociedade, pois
com Zn é possível, no entanto, mais além de possibilitar a produção de
estudos nesta linha de pesquisa devem alimentos mais nutritivos, servem
ser realizados em cultivo convencional como embasamento para políticas
e em hidroponia para validação públicas futuras que incentivem nossos
dos resultados em produtores e o agricultores a produzirem alimentos
estabelecimento de recomendações biofortificados.
de doses de Zn para biofortificação
agronômica em escala comercial.
18 O Agronômico | V. 73 | 2021
colhidas no estádio de oito folhas os brotos, existem distinções entre
verdadeiras com o completo ou parcial eles no processo de produção. Brotos
desenvolvimento da primeira folha são produzidos em ambiente de
verdadeira (TREADWELL et al., 2010; elevadíssima umidade e ausência de
PURQUERIO et al., 2016; DI GIOIA e luz, já os microverdes são produzidos
SANTAMARIA, 2015; BHATT e SHARMA, na presença de luz e não se consome
2018; Purquerio et al., 2018). a raiz, apenas a parte aérea e, por
consequência, contém maiores teores
Apesar de os microverdes
de nutrientes (TREADWELL et al., 2010;
compartilharem características com
XIAO et al., 2014; RIGGIO et al., 2018).
Figura 5. Ciclo de crescimento e diferença dos microverdes (microgreen) em comparação com brotos
(sprouts), de acordo com a idade, em dias, até colheita. Fonte: Riggio et al. (2018).
O Agronômico | V. 73 | 2021 19
As espécies utilizadas para A família das Brassicaceae é
produção dos microverdes pertencem popular para o cultivo de microverdes
às famílias botânicas Brassicaceae, (Figura 6), pois tem germinação rápida,
Asteraceae, Apiaceae, Amarantácea, ciclo de crescimento curto, varia entre
Cucurbitáceas, Fabaceae, bem como espécies tanto em coloração como
oleaginosas como girassol, além de sabor e possui elevadas concentrações
espécies aromáticas como alho poró, de compostos antioxidantes, vitaminas
manjericão, cebolinha e coentro (DI e minerais benéficos à saúde humana
GIOIA, et al., 2015). (XIAO et al., 2012).
Figura 6. Microverdes de rabanete (A) e repolho roxo (B) produzidos no Centro de Pesquisa de
Horticultura (IAC). Foto: Purquerio, L. F. V. (2020).
20 O Agronômico | V. 73 | 2021
Cultivando rúcula folha larga densidades utilizou-se hydroponic
(Sakata), Wieth (2018) obteve, com seedling cart, estruturas verticais com
densidade de semeadura 100 g m-², prateleiras e temperatura, umidade
produtividade de 1.470 g m-² (8 dias e suplementação de luz controladas,
após a semeadura - DAS), com a MSMF permitindo elevadas densidades, sem
de 14,7, o que significa dizer que 1 kg que houvesse problemas acentuados
de sementes, quando cultivadas para com fitopatógenos.
obtenção de microverdes, se tornam
Em estudo no Laboratório de
14,7 kg de produto fresco (MF). Nolan
Cultivo Indoor do Centro de Pesquisa de
(2018), para cultivares de rabanete em
Horticultura (IAC), para o rabanete cultivar
blend, obteve 1.153 g m-² (13 DAS) com
Zapp foram obtidas produtividades
a utilização de 102 g m-² na semeadura,
que variaram de 3.500 g m-2 a 5.500 g
o que corresponde a 11,2 MSMF.
m-2 com densidade de semeadura de
Bulgari et al. (2017), com densidade
200 g m-2 a 400 g m-2. Encontrou-se
de 45 g m-2 para rúcula semelhante a
incremento de 63% de produtividade
utilizada por Nolan (2018) de 43 g m-2,
apenas com a elevação da densidade de
obteve 1.600 g m-2. Essa produtividade
semeadura, e conversões de 17,5 a 13,7,
foi maior que a média obtida por
respectivamente, aos 10 DAS (dados não
Nolan (2018) de 491 g m-2 e inferior
publicados).
a 2.197 g m-2 verificada por Johnny’s
(2017). A densidade de semeadura é
variável para microverdes dependendo
Em relação à densidade de
da espécie e do ambiente de
semeadura, Johnny’s (2017) utilizou
cultivo (Tabela 1) e ainda precisa
praticamente o dobro da densidade
ser melhor estudada, pois elevadas
(195g m-2) utilizada por Nolan
densidades demandam mais
(2018) para o rabanete (radishblend)
sementes e, consequentemente, maior
(102,5 g m-2). Pesquisas da
custo, podendo se tornar inviável
BrightAgrotech (STOREY, 2017)
economicamente a partir de certo
recomendam densidades de
ponto. No Brasil não existem trabalhos
semeadura ainda maiores, 220
que norteiem quais densidades utilizar
g m-2 e 439 g m-2 para rúcula e
para uma grande gama de espécies e
rabanete, respectivamente. No
sistemas produtivos de microverdes.
entanto, para o cultivo nestas
O Agronômico | V. 73 | 2021 21
Tabela 1. Densidades de semeadura utilizadas por diferentes autores para produção de microverdes de
distintas espécies
Espécie/ 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Média
Fonte
---------------------------------- g m-2 ----------------------------------
Ervilha - - 2.750 - 1.388 - - - - 2.069
Girassol - - - 375 555 - - - - 465
Manjericão - 50 220 - - 41 50 - - 90
Rabanete 439 - - 313 - 103 195 - - 262
Repolho roxo - - 227 - 55 - 84 310 - 169
Rúcula 220 45 154 - 33,4 43 80 - 100 96,4
Fonte: 1Bright Agrotech (2018); 2Bulgari, et al. (2017); 3Crop King (2018); 4Ghoora (2018); 5Kumar apud
Greenharvest (2018); 6Nolan (2018); 7Johnny’s (2017); 8Weber (2016); 9Wieth (2018).
22 O Agronômico | V. 73 | 2021
de ervilha supre-se a necessidade alimentos por amplo contingente da
de vitamina K e 41g de repolho roxo sociedade, incluindo idosos e crianças,
a necessidade diária de vitamina C. devido a fácil ingestão e pouca ou
Ressalta-se também o aspecto positivo nenhuma necessidade de preparo.
que torna possível a ingestão de tais
O Agronômico | V. 73 | 2021 23
resulta em 73 mg, de laranja lima necessitam ser acertadas, iniciando-se
41 mg e de limão 38 mg (ASBRAN, com a escolha da técnica na qual vai se
2020). Neste sentido, Treadwell fazer o cultivo (com ou sem substrato,
(2010) considera microverdes como usando ebb and flow ou aeroponia,
alimento funcional ou super foods. respectivamente), posteriormente as
matérias primas (substratos, solução
Aliado a todos os aspectos até
nutritiva, espécie, cultivar) (RIGGIO
então pontuados esta técnica de cultivo
et al., 2018) e, então, o ambiente
de microverdes, pode ser aplicada
adequado para o cultivo, iluminação
com extrema simplicidade até mesmo
natural ou artificial, irrigação manual
com níveis baixíssimos de tecnologia
ou automática, estrutura de cultivo
para consumo familiar, com relativo
vertical, horizontal, tipo de suporte
êxito. No entanto, quando se busca
físico bandejas, calhas, dentre outros.
produção comercial, algumas decisões
Figura 7. Microverdes de rabanete produzidas com substrato em sistema ebb and flow (A) e de couve
tatsoi sem substrato (raiz nua) em sistema aeropônico, Laboratório de Cultivo Indoor do Centro de
Pesquisa de Horticultura (IAC). Foto: Purquerio, L. F. V. (2021).
24 O Agronômico | V. 73 | 2021
intensidades de luz, fluxo de fótons (50, microverdes de rabanete, repolho roxo
100, 150, 200 µmol m-2 s-1) fornecidos e girassol, em ambiente indoor, na
por lâmpadas LED e densidades vertical. Os experimentos ainda estão
de semeadura para produção de em andamento (Figura 8).
Figura 8. Microverdes de rabanete produzidos em diferentes intensidades de luz, fluxo de fótons (50,
100, 150, 200 µmol m-2 s-1) fornecidos por lâmpadas LED, no Laboratório de Cultivo Indoor do Centro de
Pesquisa de Horticultura (IAC). Foto: Purquerio, L. F. V. (2021).
O Agronômico | V. 73 | 2021 25
Figura 9. Microverdes de rabanete em função de diferentes condutividades elétricas da solução nutritiva
(0,3; 1,0; 2,0 e 3,0 mS cm-1) e do substrato (0,3; 1,1 e 1,8 mS cm-1). Foto: Purquerio, L. F. V. (2021).
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Pesquisa Agrícola do Estado de São Superior - Brasil (CAPES) - Código
Paulo - FAPESP, pelo apoio (Processos de Financiamento 001, pelas bolsas
2008/21414-1 e 2020/08052-3), ao de mestrado de Caroline Rodrigues,
Conselho Nacional de Desenvolvimento Felipe M. de Lima, Larissa G. Silva e de
Científico e Tecnológico - CNPQ/PIBIC, doutorado de Carolina C. de Moraes.
pela bolsa de Renan N. Pires (Processo
124865/2020-8) e à Coordenação de
26 O Agronômico | V. 73 | 2021
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O Agronômico | V. 73 | 2021 31
3. AMENDOIM: RELAÇÃO
ENTRE A SAUDABILIDADE
DAS CULTIVARES E A
ELEVADA DEMANDA
POR ESSA TECNOLOGIA
Ignácio José de Godoy1
Laís Loss2
Cássia Limonta de Carvalho3
Andrea Rocha Almeida de Moraes1
João Francisco dos Santos1
Marcos Doniseti Michelotto4
1
IAC - Centro de Pesquisa de Grãos e Fibras,
Campinas (SP). ignacio.godoy@sp.gov.br
andrea.moraes@sp.gov.br
jfsantos@iac.sp.gov.br
2
Clínica Laís Loss - Nutrição Inteligente, Dumont
(SP). laisslossnutricionista@hotmail.com
3
IAC - Centro de Pesquisa de Recursos
Genéticos Vegetais/Laboratório de Fitoquímica,
Campinas (SP).
cassia.carvalho@sp.gov.br
4
APTA Regional - Polo Regional do Centro
Norte, Pindorama (SP).
marcos.michelotto@sp.gov.br
32 O Agronômico | V. 73 | 2021
3.1. Qualidades nutricionais do do custo inferior quando comparado
amendoim a outros alimentos. Resumindo a sua
composição, 100 g de amendoim cru
Os dois principais usos do contêm por volta de 567 kcal, 26 g
amendoim são o óleo, em culinária, de proteína, 49 g de lipídeos, 16 g de
e o produto em si, como alimento, carboidratos e 8 g de fibras; dentre os
principalmente no ramo de confeitaria minerais, 92 mg de cálcio, 4,6 g de
e produtos bioenergéticos, como ferro, 376 mg de fósforo, 705 mg de
a pasta ou manteiga de amendoim potássio, 168 mg de magnésio, 3 mg
muito conhecida mundialmente de zinco; dentre as vitaminas, 0,64 mg
como alimento ricamente proteico e de tiamina, 0,135 mg de riboflavina,
saboroso. Comercialmente, a planta se 12 mg de niacina, 0,348 mg de vitamina
insere entre as oleaginosas, pela sua B6, 0,24 mg de folato (vitamina B9) e
alta produção de óleo, mundialmente 8,33 mg de vitamina E (alfa-tocoferol).
usado em culinária. Mas não é só isso. A vitamina E é um antioxidante clássico
Ele é também uma leguminosa de alto e contribui para a redução do risco de
valor nutritivo com um perfil vitamínico desenvolvimento do mal de Alzheimer.
nutricionalmente atraente e uma grande
quantidade de proteínas vegetais (25% Além do aspecto nutritivo, dado
a 30% de sua composição). pelo seu conteúdo e qualidade em
proteínas e lipídeos, o amendoim
O aporte de proteína do apresenta em sua composição os
amendoim o classifica como chamados fitoquímicos, que incluem
autosuficiente no fornecimento de os compostos fenólicos por exemplo,
aminoácidos essenciais quando e é uma boa fonte de coenzima
comparado ao padrão de referência Q10 e arginina. Esses compostos
da Food and Agriculture Organization exibem propriedades biológicas,
- FAO, fornecendo leucina, isoleucina, como atividades antioxidantes e
fenilalanina, valina e histidina. O anti-inflamatórias, as quais estão
grão também é muito valorizado por inversamente associadas a doenças
sua fração lipídica, de 36% a 56% cardiovasculares e proteção contra o
(geralmente entre 45% e 50% nas câncer como, por exemplo, a presença
cultivares mais difundidas), constituída de resveratrol, uma molécula mais
por 95% de triacilgliceróis, com mais conhecida pela sua presença no vinho
de 80% de ácidos graxos insaturados. tinto. O amendoim também contém
Além de lipídeos e proteínas, resveratrol. Este é um poderoso
o amendoim também se destaca antioxidante, que bloqueia a reação
pelo conteúdo de vitaminas e bioquímica que faz o colesterol
minerais, sendo considerado um dos se acumular na forma de placas,
alimentos de origem vegetal mais prevenindo o enrijecimento das artérias
completos, porém com a vantagem (aterosclerose) e, consequentemente,
reduzindo o risco de infarto.
O Agronômico | V. 73 | 2021 33
O amendoim também é rico Do ponto de vista do
em ácido fólico (vitamina B9). Esta melhoramento genético e criação
vitamina tem importantes funções no de cultivares, muitas dessas
organismo humano. Atua na formação qualidades acima ainda necessitam
do DNA, no conteúdo genético das de aprofundamento das pesquisas.
células. Age no cérebro, como um Entretanto, na fração lipídica,
cofator na produção de serotonina alguns avanços significativos foram
(neurotransmissor responsável pelo alcançados.
bom humor). A presença dessa
vitamina no organismo também reduz
a produção da homocisteina, enzima 3.2. Óleo de amendoim -
responsável por causar, com o tempo, importante diferencial entre
problemas cardíacos e cerebrais. cultivares
Amendoins também podem A fração óleo é a que predomina
ser considerados Low FODMAP, ou nos grãos de amendoim, podendo
seja, possuem quantidades muito exceder 50% do seu conteúdo. O maior
pequenas de hidratos de carbono de teor de óleo de algumas cultivares
cadeira curta, e por isso dificilmente pode determinar o seu maior valor de
fermentam e causam desconfortos mercado para este segmento industrial.
gastrointestinais. Ainda, são ricos em O óleo de amendoim é mundialmente
compostos Prébioticos e Polifenóis, usado em culinária, principalmente em
que trazem benefícios à microbiota países asiáticos, como a China, Índia e
intestinal. Estudos mostram que o Indonésia. No Brasil, esse mercado está
amendoim e outras oleaginosas podem crescendo por conta das exportações.
agir como moduladores da microbiota,
Na indústria de doces e confeitos,
estimulando o crescimento de bactérias
os amendoins de teores de óleo mais
“boas” para o intestino.
altos ou mais baixos não interferem
Enfim, o amendoim é um alimento nas qualidades sensoriais do produto
de alta densidade energética, rico industrializado (sabor, aroma). A
em nutrientes e compostos bioativos textura (crocância) pode variar entre
essenciais à manutenção da saúde. amendoins, mas esse atributo é
Mas, o seu consumo e recomendações também influenciado por outros
de ingestão devem ser avaliados de fatores na confecção dos produtos.
acordo com o objetivo nutricional, o No caso da pasta de amendoim, cujo
impacto na qualidade da dieta e no mercado está em franco crescimento
peso corpóreo de um indivíduo, para no Brasil, consegue-se melhor textura
que seus benefícios nutricionais sejam com cultivares mais ricas em óleo.
obtidos em bases sólidas e cientificas.
Para verificar a variabilidade
existente entre cultivares em uso no
34 O Agronômico | V. 73 | 2021
Brasil quanto ao teor de óleo e o perfil IAC 503 e IAC 505: porte rasteiro, ciclo
de ácidos graxos, avaliou-se um grupo longo, tipo morfológico Runner; Runner
de doze cultivares do programa de IAC 886, IAC Caiapó, IAC 127 e IAC 147:
melhoramento do Instituto Agronômico porte rasteiro, ciclo longo, tipo Runner;
(IAC), representativos de diferentes IAC 213: porte rasteiro, ciclo meio longo,
grupos vegetativos e comerciais. Dada vagens/grãos tipo Spanish; IAC 8112:
a sua variabilidade, esses componentes porte ereto, ciclo curto, tipo Spanish;
fisico-químicos (óleo e ácidos graxos) Tatu ST: porte ereto, ciclo curto, tipo
são importantes para a caracterização Valência; IAC 22: porte ereto, ciclo curto,
dos grãos nos diversos genótipos de tipo intermediário (Valência/Spanish).
amendoim, e podem também auxiliar
Neste trabalho, o óleo foi obtido por
na escolha das cultivares em função
extração química, e o teor nas diversas
dessas características. As principais
amostras foi estimado dividindo-se pela
características do material estudado
massa total do grão (Figura 1).
são as seguintes: IAC OL 3, IAC OL 4,
O Agronômico | V. 73 | 2021 35
enquanto que as cultivares IAC 505, cadeias variam quanto ao número
IAC Caiapó e IAC 147 apresentaram de carbonos e quanto à presença ou
os maiores teores, ultrapassando 50%. ausência de duplas ligações. Neste
Neste sentido, para possíveis projetos trabalho, o óleo extraído foi depois
de produção de óleo de amendoim em submetido a processo de esterificação
larga escala, essas três cultivares seriam e, os ésteres passaram por aparelho
as mais indicadas, considerando-se de cromatografia gasosa para
que 4% em rendimento de óleo é um determinação do perfil dos ácidos
ganho industrial significativo. graxos (Tabela 1). Estes foram os ácidos
graxos detectados pela cromatografia:
O óleo é composto de ácidos
palmítico (16:0), esteárico (18:0), oleico
graxos, que são moléculas com
(18:1), linoleico (18:2), araquídico (20:0),
longas cadeias de carbono, e um
eicosenóico (20:1), behênico (22:0) e
radical ácido no seu final. Essas
lignocérico (24:0).
(*) Ácidos graxos: C 16:0 = palmítico; C 18:0 esteárico; C 18:1 = oleico; C 18:2 = linoleico; C 20:0 = araquídico;
C 20:1 = eicosenóico; C 22:0 = behênico; C 24:0 = lignocérico.
36 O Agronômico | V. 73 | 2021
Os resultados mostram que em maior proporção, mas varia
as cultivares podem também diferir significativamente entre os genótipos.
quanto ao teor de ácidos graxos do As cultivares IAC OL 3, IAC OL 4,
óleo. O teor de alguns ácidos graxos IAC 503 e IAC 505 são portadoras
tem influência sobre a durabilidade do da característica “alto oleico” e, nas
produto e sobre o seu valor nutricional, análises realizadas, apresentaram de
como é o caso dos teores dos ácidos 79,29% a 82,58 % deste ácido. Define-
oleico e linoleico. O ácido oleico, -se como "alto oleico", o amendoim
monoinsaturado, propicia uma maior que apresenta acima de 70% deste
durabilidade do óleo ou do produto à ácido em sua composição. Essa é uma
base de amendoim, ou seja, confere ao característica altamente herdável, e
óleo maior resistência à rancificação. Por condicionada por dois genes recessivos.
outro lado, ácidos graxos insaturados Os demais genótipos são considerados
(os que apresentam uma ou duas duplas “oleicos normais”, mas apresentam
ligações na molécula), como o oleico e variações entre eles. As cultivares de
linoleico são valorizados sob o ponto de padrão típico Runner (IAC Runner
vista nutricional. 886, IAC Caiapó, IAC 127 e IAC 147)
apresentam maiores teores de ácido
Durante o metabolismo do óleo
oleico (50,21% a 54,62 %) do que a
ou do produto à base de amendoim (no
cultivar IAC 213 (que tem grãos tipo
organismo de quem o ingere, ou mesmo
Spanish) e as cultivares dos grupos
ao longo do tempo de armazenamento)
Spanish e Valência (IAC 8112, IAC Tatu
as cadeias de ácidos graxos se quebram
ST e IAC 22), essas quatro apresentam
(ou oxidam) nos pontos das duplas
os menores percentuais do ácido
ligações, dando origem a moléculas
monoinsaturado (38,73% a 41,64%).
menores, de diversos tamanhos,
formando outros compostos, que vão O ácido linoleico aparece em
alterar as qualidades do óleo, positiva proporção ligeiramente menor do
ou negativamente. Nos ácidos saturados que o oleico, nos genótipos “oleicos
(sem duplas ligações) as cadeias não normais”. Nos “alto oleicos”, o linoleico
se quebram e permanecem para dar é drasticamente reduzido. Há uma
origem a outros compostos indesejáveis correlação estreita e negativa entre
(como os triglicérides e colesterol). esses dois ácidos, porque eles fazem
Assim, o ideal são os ácidos com uma parte da mesma rota metabólica que
ou duas duplas ligações, especialmente os origina. O ácido palmítico aparece
o ácido oleico, com uma dupla ligação. em proporções que variam entre 5%
e 10% dependendo do genótipo. Os
Em todas as cultivares avaliadas
percentuais dos demais ácidos são
neste trabalho, o ácido oleico aparece
O Agronômico | V. 73 | 2021 37
ainda menores. Nos genótipos “alto de carbonos, sendo considerados
oleicos”, os teores dos ácidos palmítico monoinsaturados. O ácido linoleico, com
e esteárico são reduzidos, elevando duas duplas ligações, é poliinsaturado.
ainda mais o teor de ácido oleico. Os Monoinsaturados e poliinsaturados
ácidos graxos palmítico, esteárico, formam o grupo dos ácidos insaturados.
araquídico, behênico e lignocérico são A figura 2 mostra a distribuição de
considerados saturados (sem duplas ácidos saturados e insaturados entre os
ligações). Os ácidos oleico e eicosenoico genótipos.
contém uma dupla ligação na cadeia
Ácidos
38 O Agronômico | V. 73 | 2021
Como visto, o teor de ácidos peso, através do controle do apetite,
graxos influi na qualidade do produto. devido à maior ingestão de gorduras
Como o ácido oleico é o que aparece insaturadas em relação às saturadas
em maior proporção, as suas variações e ao teor de fibras dos grãos. Dietas
são a principal determinante desses com consumo adequado de MUFA
atributos de qualidade. O principal (ácidos graxos mono insaturados) e
impacto qualitativo é a resistência à PUFA (ácidos graxos poliinsaturados)
oxidação, que produz rancificação, refletem em baixos níveis sanguíneos
deterioração do produto. Pesquisas de LDL sem afetar os níveis de HDL
mostram que em amendoins “alto (lipoproteínas de alta densidade),
oleicos” o tempo de armazenamento benéficos à saúde.
do produto antes que ele perca as
suas qualidades é significativamente
maior do que em amendoins “oleicos Referências
normais”.
AHMED, E. M.; ALI, T. Textural quality of
No aspecto nutricional, os ácidos peanut butter as influenced by peanut
graxos insaturados são benéficos para seed and oil contents. Peanut Science,
a saúde, ao contrário dos saturados. v. 13, n. 1, p. 18-20, 1986.
Atribui-se a esses ácidos, quando
ingeridos na alimentação humana, um ALPER, C. M.; MATTES, R.D. Peanut
relativo aumento do colesterol HDL consumption improves indices of
e a sua contribuição para reduzir o cardiovascular disease risk in healthy
colesterol LDL. No caso de amendoins adults. Journal of the American College
“alto oleicos”, não só o teor de ácido of Nutrition. v. 22, n. 2, p. 133-141, 2003.
oleico é elevado como há uma elevação ARYA, S. S.; SALVE, A. R.; CHAUHAN,
do teor de ácidos insaturados, com S. Peanuts as functional food: a
redução dos ácidos saturados. Por esta review. Journal of Food Science and
razão, os amendoins “alto oleicos” são Technology, Mysore, v. 53, n. 1, p. 31-41,
considerados os melhores, também 2016.
quanto ao aspecto nutricional.
DERBYSHIRE, E. J. A review of the
Há inúmeras evidências científicas nutritional composition, organoleptic
dos benefícios do consumo de fonte characteristics and biological effects of
de lipídios mono e poliinsaturados, the high oleic peanut. International
como a diminuição do risco de Journal of Food Sciences and
doenças cardiovasculares. A inclusão Nutrition, New York, v. 65, n. 7, p. 781-
de amendoim na dieta alimentar pode 790, 2020.
auxiliar na manutenção e perda de
O Agronômico | V. 73 | 2021 39
GODOY, I. J.; SANTOS, J. F.; CARVALHO,
C. R. L.; MONTEIRO, E. V. G. Cultivares
de amendoim IAC - teores de óleo e de
ácidos graxos nos grãos e implicações
na utilização do produto. ENCONTRO
SOBRE A CULTURA DO AMENDOIM,
10. 2013. Jaboticabal. Anais [...]
Jaboticabal: FCAV UNESP, 2013.
MATTES, R. D.; KRIS-ETHERTON, P. M.;
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nuts on body weight and healthy weight
loss in adults. The Journal of Nutrition,
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MOZINGO, R. W.; O’KEEFE, S. F.;
SANDERS, T. H.; HENDRIX, K. W.
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salted in-shell peanuts using high oleic
acid chemistry. Peanut Science. v. 31,
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40 O Agronômico | V. 73 | 2021
4. AMORA-PRETA EM
SÃO PAULO: RENDA PARA
O PRODUTOR E SAÚDE
PARA O CONSUMIDOR
1
IAC - Centro Avançado de Pesquisa de
Frutas, Jundiaí (SP).
jose.bettiol@sp.gov.br
2
IAC - Centro de Pesquisa de Ecofisiologia e
Biofísica, Campinas (SP).
juliana.sanches@sp.gov.br
3
IAC - Centro de Solos e Recursos
Ambientais, Campinas (SP).
luiz.teixeira@sp.gov.br
O Agronômico | V. 73 | 2021 41
4.1. Introdução 4.2. Amora-preta como alter-
A amora-preta (Rubus spp.) faz
nativa para os pequenos produ-
parte do grupo das pequenas frutas tores da região Sudeste
vermelhas e tem despertado grande É de conhecimento geral a
interesse de cultivo por parte dos existência de várias espécies nativas
produtores paulistas. Rusticidade, de amoreira-preta, porém, a partir de
pequeno espaço de tempo para início de trabalhos de melhoramento genético
produção, potencial de produtividade de um grupo de pesquisadores da
e apelo comercial, são algumas das Embrapa de Pelotas com cultivares
características que favorecem o rápido oriundas dos Estados Unidos, a cultura
retorno do capital investido em sua tomou novos rumos no país.
exploração, mesmo em pequenas áreas
de cultivo. Atualmente, encontram-se
cultivos em diversas localidades do
Acredita-se que o consumo Brasil, especialmente nas regiões Sul e
alimentar e a utilização medicinal de Sudeste. Estima-se que a área explorada
espécies do gênero Rubus venha da no país tenha superado 600 hectares.
antiguidade Escritos gregos, tradições Segundo essas estimativas, o estado de
medicinais asiáticas e indianas, dão São Paulo contribui com cerca de um
suporte à importância desse grupo de terço dessa área. Municípios da região
plantas ao longo dos tempos. de Bauru, Oeste paulista, Pontal do
O avanço do conhecimento Paranapanema e vales do Ribeira e do
científico, em relação aos seus Paraíba, integram as principais regiões
compostos e benefícios à saúde produtoras de amora-preta.
humana, tem contribuído de maneira Nota-se que a distribuição
inegável à expansão do consumo destas geográfica destas regiões representa
frutas. O desejo por uma alimentação ampla diversidade edafoclimática,
mais saudável e de alimentos com assim, existe um grande campo a ser
funcionalidades diversas ao organismo, pesquisado para que cada cultivar
reflete-se na presença cada vez maior de amora-preta seja explorada de tal
das frutas deste grupo de espécies nas forma a ter seu potencial de cultivo
gôndolas dos mercados, sob diversas alcançado.
formas de apresentação e produtos
derivados. Em regiões onde o turismo é uma
opção de lazer, a amora-preta torna-se
uma espécie altamente atrativa, pois
suas frutas, além da possibilidade do
42 O Agronômico | V. 73 | 2021
consumo in natura, prestam-se para quimioprotetores em virtude do
a fabricação de geleias, doces, sucos, seu potencial antioxidante. Entre
sorvetes e outros produtos que agregam estes compostos destacam-se as
maior valor à exploração comercial. elevadas concentrações de compostos
fenólicos, especialmente flavonoides
e elagitaninos, os quais lhe conferem
4.3. Valor nutricional grande capacidade antioxidante,
bem como outras características de
Os alimentos funcionais têm interesse nutricional. As antocianinas
propriedades que possibilitam reduzir são os principais flavonoides na
o risco de doenças, promovendo composição da amora-preta. Os
benefícios à saúde. Os cuidados com compostos secundários são substâncias
a nutrição estão se tornando cada vez produzidas naturalmente pelas plantas.
mais importantes no nosso dia-a-dia à Além dos pigmentos, ainda existem
medida em que pesquisas descobrem vários outros fitoquímicos, como os
a correlação entre muitas doenças e ácidos fenólicos, que são essenciais
os hábitos alimentares. Neste cenário, para o crescimento e reprodução da
a amora-preta tem tido destaque planta. Esses ácidos também realizam
pelas suas qualidades como alimento a quelação de metais de transição, são
funcional. agentes antipatogênicos e contribuem
A amora-preta in natura é na adstringência e estabilidade
altamente nutritiva. Essa pequena oxidativa, agindo tanto na etapa de
fruta contém 85% de água, 10% de iniciação como na propagação do
carboidratos, elevado conteúdo de processo oxidativo.
minerais, vitaminas do complexo O elevado conteúdo de substâncias
B, vitaminas A e C, cálcio, além de antioxidantes em amora-preta sugere
compostos bioativos. Sua coloração que seu consumo possa ser importante
roxa-escura é devida ao elevado teor na prevenção aos danos causados por
de fitoquímicos como as antocianinas radicais livres no organismo humano,
que, juntamente com os carotenoides, ajudando na prevenção das doenças
compõem a maior classe de pigmentos crônicas por meio de sua inativação.
naturais encontrados nas frutas. Os radicais livres são capazes de
Os fitoquímicos são capazes desencadear reações de oxidação nos
de conferir cor às frutas e diversos ácidos graxos presentes nas membranas
benefícios à saúde dos consumidores. biológicas e em alimentos, sendo
Eles são considerados compostos responsáveis pelo envelhecimento e
bioativos que podem atuar como pelas doenças degenerativas. Alguns
O Agronômico | V. 73 | 2021 43
estudos relatados pela literatura espaldeira (Figura 1). Este experimento
sugerem efeitos positivos in vivo permitiu reunir um grande estoque
relativos à perda óssea e às doenças de conhecimentos, pois envolveu
neurodegenerativas associadas à idade operações desde o preparo da área,
e, in vitro, à oxidação de lipoproteínas produção de mudas, plantio, manejo da
de baixa densidade e de lipossomas. cultura em condições subtropicais até
Também foram constatados efeitos a colheita de dois ciclos de produção
antimutagênicos, resultando na (Figuras 2 e 3).
supressão de fatores que favorecem a
A análise dos resultados desta
expansão de tumores.
pesquisa indica que a cultivar Brazos
é mais precoce e produtiva que as
demais, além de produzir frutas com
4.4. Ações de pesquisa com maior massa e volume; por outro
amora-preta no âmbito do IAC lado, a cultivar Choctaw apresentou
4.4.1. Cultivares adaptadas às condições menor adaptabilidade às condições
de solo e clima da região Sudeste locais. A produtividade, em duas safras,
apresentou grande variação entre as
Em reunião da Câmara Setorial de cultivares testadas, conforme pode ser
Frutas do Estado de São Paulo, realizada observado na figura 4.
em Jundiaí, foram demandadas
pesquisas com pequenas frutas, Na região de Jundiaí (SP) observou-
especialmente com o grupo de espécies -se que a colheita da amora-preta se
que inclui a amora-preta. Neste sentido, estende de outubro até dezembro, com
pesquisadores de diversos Centros as diversas cultivares apresentando
de Pesquisa do Instituto Agronômico comportamento diferenciado em
(IAC) iniciaram o projeto de pesquisa relação à quantidade de frutas que
com o apoio do CNPq que visou avaliar são colhidas ao longo da safra (Figura
a adaptabilidade de quatro cultivares 5). A informação de que as cultivares
de amora-preta (Tupy, Guarani, Brazos apresentam curvas de produção
e Choctaw), sua resposta à adubação diferenciadas é importante para o
nitrogenada (N) e potássica (K), assim produtor organizar o escoamento da sua
como, avaliar as características físicas, produção, contratar mão de obra, bem
físico-químicas e químicas dos frutos como estabelecer contratos de entrega,
produzidos. No âmbito deste projeto, dentre outros, pois possibilita escalonar
foi instalada uma área experimental e planejar sua colheita e fornecimento
em Jundiaí (SP) com 1.120 plantas da produção aos consumidores.
de amora-preta cultivadas em
44 O Agronômico | V. 73 | 2021
4.4.2. Compostos bioativos semelhantes aos observados em cultivos
de amora-preta em outras regiões de
As propriedades antioxidantes
inverno ameno, como Minas Gerais e
estão muito relacionadas ao tipo de fruta,
Paraná. As pesquisas com amoreira-preta
espécie ou cultivares dentro da mesma
continuam em andamento no IAC, com
espécie, e às condições de cultivo das
caracterização de outras cultivares, bem
plantas, como ambiente e técnicas de
como, a validação das metodologias de
manejo, além do grau de maturidade na
extração, uma vez que o tipo de extração
colheita. Quanto mais maduras as frutas,
e o solvente utilizado influenciam nos
menor o teor de compostos fenólicos
resultados.
totais e a atividade antioxidante.
O Agronômico | V. 73 | 2021 45
produtiva. Neste experimento, estudou- do que suficiente para cobrir os gastos
-se comportamento de quatro cultivares com os fertilizantes nitrogenados ou
de amora-preta em resposta à adubação potássicos aplicados (Tabela 2).
nitrogenada e potássica. Estes nutrientes
foram escolhidos em função do seu
potencial em aumentar a produção e por 5. Considerações finais
serem os que implicam em maior custo
para o produtor. A produção de amora-preta
na região Sudeste vem ao encontro
Este estudo revelou que por meio da crescente demanda por frutas e
da adubação nitrogenada ou potássica derivados com alto valor nutritivo.
em doses adequadas à demanda das Devido ao valor elevado da produção
plantas é possível aumentar a produção por área, este cultivo está se tornando
de frutas por hectare, em torno de 25% uma alternativa muito rentável para os
em relação à área não adubada (Figura pequenos agricultores da região.
6). Mas todas as práticas de manejo
demandam gastos que necessitam A ideia de produzirmos localmente
ser cobertos pelo benefício que elas uma fruta que ao mesmo tempo possa
eventualmente venham a produzir. No ser incluída na dieta como alimento
caso da amora-preta, a adubação com funcional e viabilize economicamente
N ou K apresenta uma relação custo x parcela significativa dos agricultores
benefício muito favorável aos produtores. regionais, justifica todos os esforços que
O incremento de produtividade superior a pesquisa possa realizar visando suprir a
à 9 t ha-1 de frutas em duas safras é mais lacuna de conhecimento na área.
Figura 1. Vista aérea (esquerda) e detalhe das linhas de plantio em espaldeira (direita) da área de
pesquisas de campo com amora-preta do Instituto Agronômico (IAC) em Jundiaí (SP).
46 O Agronômico | V. 73 | 2021
Figura 2. Produção de mudas de amora-preta com enraizamento de secções de raízes em leito de areia
(esquerda); formação das mudas em viveiro (centro) e plantio das mudas em sulcos (direita) em Jundiaí (SP).
Figura 3. Aplicação dos tratamentos de adubação nas parcelas da área experimental (A); as frutas são
delicadas e amadurecem de forma escalonada ao longo do tempo (B). Jundiaí (SP).
O Agronômico | V. 73 | 2021 47
(t ha-1)
Produtividade acumulada em duas safras (t/ha)
12
10
0
Tupy Guarani Brazos Choctaw
Ano 1 Ano 2
100
Figura 4. Produtividade acumulada de quatro cultivares de amora-preta durante dois ciclos de cultivo
em90Jundiaí (SP).
80
70
60
100 100
50
Frutas colhidas (%)
80 80
Frutas colhidas (%)
40
60 60
30
40 40
20
20 20
10
0 0
0 0 15 30 45 60 75 90 105 0 15 30 45 60 75 90 105
0 Dias15 30da colheita45
após o início 60 Dias 75 após o início90
da colheita105
Tupy Guarani Brazos Choctaw
Figura 5. Curvas de produção de frutas ao longo do período de colheita no primeiro (esquerda) e
segundo (direita) ciclos de cultivo de amora-preta em Jundiaí (SP).
48 O Agronômico | V. 73 | 2021
10
Produtividade acumulada em duas safras (t ha-1)
(t/ha) 9
+25 %
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Sem adubo +N +K
Figura 6. Produtividade de amora-preta (médias de quatro cultivares) sem e com adubação com
nitrogênio ou potássio em duas safras em Jundiaí (SP).
Tabela 1. Teores de compostos fenólicos totais, antocianinas e atividade antioxidante nas frutas de duas
cultivares de amora-preta em Jundiaí (SP)
Compostos Atividade
Cultivar Antocianinas
fenólicos antioxidante
mg cianidina-3-O-
mg ac. gálico 100 g-1 mg TEAC g-1
glucosídeo 100 g-1
Guarani 157 63 1,4
Brazos 148 59 1,2
O Agronômico | V. 73 | 2021 49
Tabela 2. Estimativas de produtividade e de renda com o cultivo de amora-preta em dois ciclos de
produção com e sem adubação com nitrogênio ou potássio em Jundiaí (SP)
Renda
Adubação1 Custo2 Produtividade3
Bruta4 Líquida5
US$ ha-1 t ha-1 US$ ha-1
Controle 0 7,4 16 086 16 086
+N 240 9,3 (+25%)6 20 038 19 798 (+23%)6
+K 94 9,2 (+23%) 19 816 19 722 (+23%)
1
Controle = sem aplicação de N ou K, + N = 121 kg/ha/safra de N e + K = 67 kg/ha/safra de K2O; 2 custo
da adubação em duas safras (+ N: dose anual de N x 2 x US$ 0.99/kg de N; + K: dose anual de K2O x 2 x
US$ 0.70/kg de K2O); 3 produtividade acumulada de duas safras (médias das quatro cultivares); 4 renda bruta
= produção x preço dos frutos (US$ 2.16/kg); 5 renda líquida = renda bruta - custo dos fertilizantes; 6 valores
entre parênteses estimam o incremento na produtividade e na renda associado à adubação com N ou K. Taxa
de câmbio do dólar média 2016/2017: US$ 1,00 = R$ 3,34.
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+e+potencial+de+cultivo+no+Estado
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(2. ed. rev. e amp.). Lavras: Ed. UFLA.
2018. 681 p.
50 O Agronômico | V. 73 | 2021
5. AS PLANTAS AROMÁTICAS,
CONDIMENTARES, MEDICINAIS
E INSETICIDAS IMPULSIONAM
AS PESQUISAS NO INSTITUTO
AGRONÔMICO (IAC)
1
IAC - Centro de Pesquisa de Horticultura,
Campinas (SP).
eliane.fabri@sp.gov.br
paulo.reco@sp.gov.br
2
IAC - Núcleo de Inovação Tecnológica,
Campinas (SP).
lilian.anefalos@sp.gov.br
O Agronômico | V. 73 | 2021 51
O Instituto Agronômico (IAC) Tecnologia dos Agronegócios (APTA)
pesquisa há mais de 80 anos plantas como, por exemplo, a coleção de
com propriedades aromáticas, urucum, mantida no Polo Regional
condimentares, medicinais e inseticidas, do Centro-Norte, em Pindorama (SP)
contribuindo e inovando para o (Figuras 2 e 3) e os materiais de chá,
desenvolvimento da agricultura e mantidos no Polo Regional do Vale do
da alimentação mais saudáveis. As Ribeira, em Pariquera-Açú (SP).
pesquisas tiveram início com plantas
Devido ao número de espécies, as
inseticidas na antiga Seção de Fumo
demandas por pesquisas envolvendo
(fundada em 1935), incorporando os
sistemas de produção, fisiologia da
estudos com piretro, realizados na
produção, adaptabilidade edafoclimática,
década de 40. A partir daquela planta,
melhoramento genético, dentre outras,
que era a principal matéria prima
são de suma importância, possibilitando,
para inseticidas da época, outras
a partir dos conhecimentos
espécies com propriedades aromáticas,
básico e aplicado, avançarmos no
medicinais e condimentares passaram
desenvolvimento de novas tecnologias,
a fazer parte do elenco de pesquisas
e na transferência do conhecimento
desenvolvidas pela Seção, aumentando
científico e tecnológico por meio de
significativamente o tamanho e a
produtos e/ou processos para o setor de
importância da coleção dessas plantas
produção.
no IAC.
A partir da década de 1960,
Atualmente, mais de 198 espécies
a Seção de Plantas Medicinais e
de interesse aromático, condimentar,
Aromáticas promoveu importante
medicinal e inseticida compõem a
apoio ao desenvolvimento da produção
Coleção de Germoplasma do IAC
de óleos essenciais, com pesquisas de
(Figura 1). Esta Coleção encontra-se
tecnologia industrial para extração das
sob a tutela do Centro de Pesquisa de
essências, bem como novos materiais
Horticultura - IAC, tendo como curadora
genéticos, a partir do melhoramento
a pesquisadora Dra. Eliane Gomes Fabri.
de espécies com maior potencial
As espécies de pequeno porte são socioeconômico. A adoção em larga
cultivadas em canteiros e as espécies de escala da cultivar de menta IAC 701
maior porte em uma significativa área pelos produtores possibilitou que o
do Centro Experimental de Campinas Brasil se tornasse o maior produtor
“Fazenda Santa Elisa” (CEC/IAC). Além mundial de mentol na década de 1970.
das citadas, também, temos espécies Posteriormente, a indústria química
dessa Coleção mantidas em outras desenvolveu o processo de mentol
unidades da Agência Paulista de sintético, para substituir a produção
52 O Agronômico | V. 73 | 2021
natural. Nos últimos anos observa-se com diversas capacidades de extração
crescente tendência mundial, em busca (20, 100 e 200 kg de folhas).
do uso mais apropriado de insumos
Para que todo esse trabalho
naturais, em substituição aos sintéticos,
chegue ao setor produtivo, diversas
o que tem aberto novas oportunidades
ações de transferência do conhecimento
a partir das demandas por mentol
e de tecnologias vêm sendo realizadas.
natural.
Essa relevante etapa faz parte de nossa
Atualmente, o aumento do missão institucional. As pesquisas sobre
interesse do mercado e da população os sistemas de produção de plantas
por produtos naturais, aliados a sistemas aromáticas, condimentares, medicinais
de produção sustentáveis e melhor e inseticidas destacam-se pela demanda
qualidade de vida, tem impulsionado por produtos naturais in natura, plantas
as pesquisas que buscam nas plantas desidratadas para chás e infusões,
aromáticas, condimentares, medicinais extratos e óleos essenciais para diversas
e inseticidas, substâncias naturais que áreas de aplicações.
possam substituir as sintéticas, visando
Com o objetivo de divulgar os
melhoria do produto, geração de
resultados das pesquisas realizadas ao
novas opções de cultivo e inserção do
longo dessas décadas, foram publicados
agricultor paulista nesse importante
artigos científicos, apresentados em
segmento do agronegócio.
congressos e reuniões técnico-científicas,
Os laboratórios do IAC são elaborados boletins técnicos (como, por
qualificados para a extração de óleos exemplo, o Boletim IAC 200, contendo
essenciais em pequenos volumes (a capítulos sobre o cultivo e manejo
partir de 200 ml de folhas), existindo dessas espécies e o Boletim IAC 100,
ainda uma planta industrial capacitada com recomendação de adubação para
para extrações de óleos essenciais algumas dessas espécies), livros, artigos
para destilação por arraste de vapor técnicos e ampla divulgação nacional
em escala para o pequeno produtor, como a Revista Globo Rural, entrevistas
possibilitando a execução de projetos para rádios, TV, canais da internet, dias
de pesquisa e desenvolvimento de campo e visita técnica a produtores
tecnológico, em parceria com (Figuras 4 e 5). Além disso, foram
instituições de ciência e tecnologia e organizados e realizados anualmente
com o setor de produção. As unidades cursos e eventos para capacitação técnica
do Centro de Pesquisa de Horticultura de pesquisadores, técnicos, graduandos
contam ainda, com equipamentos e pós-graduandos, produtores e demais
interessados no assunto.
O Agronômico | V. 73 | 2021 53
Como parte dessas ações de diversas regiões brasileiras, com interesse
aproximação cada vez maior com o setor em atuar nessa área ou aperfeiçoar
de produção, foi organizado em 2008, o suas atividades de desenvolvimento
“Encontro Nacional da Cadeia Produtiva tecnológico e seus ramos de negócios.
de Urucum”, evento coordenado por Destaca-se a presença no referido
pesquisadores do IAC e do Instituto evento de 85,2% de participantes da
de Tecnologia de Alimentos - ITAL, região Sudeste, 9,8% da região Sul,
para tratar especificamente de avanços 2% da região Centro-Oeste, 1,5% da
tecnológicos, oportunidades e desafios região Nordeste e 1,5% da região
da cadeia, que envolve essa espécie Norte. Está sendo organizado a sexta
nativa brasileira, produtora de corante edição do curso, que foi cancelado em
natural e com alta demanda no mercado 2020, devido à pandemia. A demanda
nacional e internacional. Tal evento crescente desta cadeia produtiva tem
fez-se necessário para que a pesquisa estimulado a pesquisa pública através
pudesse contribuir com a cadeia de de recursos financeiros captados em
produção, a partir do entendimento agências de fomento e as pesquisas
dos gargalos existentes, sempre na desenvolvidas a partir de parcerias
busca de soluções. Esse trabalho tem público-privadas, na busca de novas
sido realizado de forma contínua, tecnologias e inovações com boas
caminhando para a quarta edição práticas agrícolas. Desde 2010, houve
(adiada em 2020, em razão da pandemia um aumento expressivo no número de
de Covid 19). É importante ressaltar que projetos em parceria público-privada,
em todas as edições estiveram presentes em prol de atuação mais assertiva na
as empresas que comercializam urucum contribuição para o desenvolvimento
e que, também, extraem o corante dos diferentes segmentos da cadeia
natural, e representantes de outros elos (Figura 8).
da cadeia produtiva.
Desta forma, a partir da interação
Paralelamente, o IAC organizou, marcante junto ao setor, busca-se
em 2018, outra ação estratégica, com construir formas mais dinâmicas para
absoluto sucesso, o “Curso prático otimizar entregas tecnológicas, para
de extração de óleos essenciais”, ofertar alternativas cada vez mais viáveis
envolvendo desde o cultivo até o para melhorar o desempenho do setor,
processo de extração do óleo essencial tanto no mercado nacional como no
(Figuras 6 e 7). Da primeira até a quinta internacional, com o desenvolvimento
edição, inclusive com mais de uma de produtos e processos de melhor
realização anual, houve a participação qualidade e sustentáveis.
de aproximadamente mil pessoas de
54 O Agronômico | V. 73 | 2021
Figura 1. Citronela, lavanda e gerânio, espécies que compõem a Coleção de Germoplasma de Plantas
Aromáticas, Condimentares, Medicinais e Inseticidas do Instituto Agronômico - IAC.
Figura 2. Genótipo de urucum pertencente à Coleção de Germoplasma de Urucum do IAC, em Pindorama (SP).
O Agronômico | V. 73 | 2021 55
Figura 4. Dia de campo sobre produção de plantas aromáticas no Cerrado Brasileiro, Anápolis (GO), em
parceria com a empresa HAJE.
Figura 5. Visita técnica à empresa Aromathera na Chapada dos Guimarães (MT), empresa parceira no
desenvolvimento de sistema de produção para plantas aromáticas no Brasil.
Figura 6. Curso prático de extração de óleos essenciais realizado no IAC em Campinas (SP).
56 O Agronômico | V. 73 | 2021
Figura 7. Curso prático de extração de óleos essenciais realizado na empresa HAJE, Anápolis (GO).
Figura 8. Parceiros do IAC: empresa HAJE de Anápolis (GO) e empresa Linax de Votuporanga (SP).
O Agronômico | V. 73 | 2021 57
6. COMPOSTAGEM DE
RESÍDUOS ORGÂNICOS
E SUSTENTABILIDADE
AMBIENTAL - PROJETO
RECICLAR VERDE: UMA
PARCERIA ENTRE O IAC E A
PREFEITURA MUNICIPAL DE
CAMPINAS
Marcio Koiti Chiba1
Ernesto Dimas Paulella2
1
IAC - Centro de Pesquisa de Solos e
Recursos Ambientais, Campinas (SP).
marcio.chiba@sp.gov.br
2
Prefeitura Municipal de Campinas,
Secretaria Municipal de Serviços Públicos.
58 O Agronômico | V. 73 | 2021
Tratar e destinar os resíduos como fonte de carbono que quando
orgânicos de maneira adequada e adicionada em diferentes proporções
sustentável é um grande desafio para e em diferentes granulometrias altera a
todos os centros urbanos. É, também, dinâmica da degradação microbiológica,
um tema de interesse da academia e foco acelerando ou reduzindo a velocidade
de diversas pesquisas científicas dada e a intensidade da compostagem. No
a multiplicidade de aplicações desse contexto de um grande centro urbano
tipo de material e da sua importância uma infinidade de resíduos orgânicos
inerente. Compostagem, per se, não pode ser relacionada no rol de matérias
é invenção recente. Na verdade, a primas compostáveis: resíduos de
natureza realiza esse processo com manutenção de parques e praças,
todos os materiais orgânicos. O resíduos de varrição de ruas, fração
material orgânico passa por uma série orgânica de lixo urbano (proveniente
de transformações físicas, químicas e de coleta seletiva), restos de feiras livres,
biológicas resultando em um produto etc.
estabilizado e com características que
Os resultados das pesquisas com
permitem sua reciclagem na agricultura.
a utilização de resíduos orgânicos
O homem pode então se aproveitar do
agrícolas (restos de culturas, estercos,
potencial desse material como fonte
etc.) foram promissores porém ainda
alternativa de nutrientes de plantas.
havia um sentimento de que a pesquisa
Atualmente a pesquisa científica científica sobre a reciclagem desses
sobre reciclagem de resíduos orgânicos materiais precisava se aproximar das
como opção de fertilizante para as necessidades dos centros urbanos.
plantas enfrenta o desafio de otimizar Nesse sentido e como resultado de
o processo de compostagem. Algumas um Workshop promovido pelo IAC
pesquisas buscam encontrar formas com apoio da FAPESP em 2018 nasceu
de tratar diferentes combinações de um projeto de parceria entre o IAC e
matérias primas bem como utilizar o a Prefeitura Municipal de Campinas
lodo (matéria orgânica) cuja origem são (Secretaria Municipal de Serviços
as Estações de Tratamentos de Esgoto Públicos). Esse projeto efetivamente
(ETEs) e diferentes tipos de material iniciou com a cessão, devidamente
estruturante para obter um material autorizada pelo Governo do Estado
que apresente características úteis, seja de São Paulo, de uma área ociosa
na agricultura como fonte de nutrientes de cerca de 17 hectares no Centro
de plantas e como condicionador do Experimental de Campinas-IAC para a
solo. Um exemplo é utilização de restos implantação do projeto de uma usina
de poda de árvores das vias públicas de compostagem.
O Agronômico | V. 73 | 2021 59
Assim, após a aprovação do Como resultado dessa parceria
projeto pelos órgãos ambientais, o todos os atores envolvidos saem
convênio entre órgãos públicos e ganhando: a Secretaria de Agricultura
privados formados pelo IAC, Prefeitura e Abastecimento do Estado de São
Municipal de Campinas (Secretaria Paulo, através do IAC, ganha um
Municipal de Serviços Públicos), “laboratório-fábrica” que permite a
SANASA e CEASA permitiu através de instalação de experimentos sobre
atribuições específicas individuais, metodologias e formulações de
cabendo à Prefeitura Municipal de compostos orgânicos e fertilizantes
Campinas (SMSP) a reconformação organominerais. Adicionalmente existe
topográfica do terreno, os estudos de espaço para que a área cedida abrigue
caracterização física do material utilizado projetos-piloto de startups que
para o aterro da área de compostagem, busquem soluções tecnológicas para
a implantação do sistema de drenagem, reutilização de resíduos orgânicos
tanque de acúmulo de chorume e de e seus subprodutos. A Prefeitura
reservação de água pluvial e Gestão Municipal de Campinas, através da
da Usina; à SANASA a aquisição dos Secretaria Municipal de Serviços
equipamentos, sendo um Triturador de Públicos (SMSP) economiza recursos
Madeira e Resíduos, um Compostador públicos que apesar da despesa com a
Autopropelido com esteira metálica e operacionalização da usina ainda tem
uma Peneira Rotativa, todos importados um custo evitado de R$ 1.000.000,00/
da Áustria; ao CEASA fornecer sobras mês, além de destinar de maneira
de frutas, legumes e verduras e ao IAC, adequada e sustentável todos os
a cessão de uso da área da Usina de resíduos orgânicos que antes eram
Compostagem bem como certificar a depositados em aterros sanitários. Por
qualidade do produto. fim, ganha a população de Campinas
uma vez que o impacto ambiental
das suas atividades diárias está sendo
atenuado por práticas ambientalmente
sustentáveis.
60 O Agronômico | V. 73 | 2021
Figura 1. Pilha de compostagem. Foto: PMC (SMSP).
Figura 2. Peneiramento de composto (2° plano) e composto peneirado (1° plano). Foto: PMC (SMSP).
O Agronômico | V. 73 | 2021 61
Figura 3. Revolvimento das pilhas de composto. Foto: PMC (SMSP).
62 O Agronômico | V. 73 | 2021
7. IAC 2051 E IAC 1849:
CULTIVARES DE FEIJÃO
CARIOCA TOLERANTES AO
ESCURECIMENTO DO GRÃO
1
IAC - Centro de Pesquisa de Grãos e Fibras,
Campinas (SP).
alisson.chiorato@sp.gov.br
sergio.carbonell@sp.gov.br
O Agronômico | V. 73 | 2021 63
Para que uma nova cultivar de 2051 apresentou a maior produtividade
feijão seja adotada por produtores, de grãos (4.250 kg ha-1) (Tabela 1).
deve atender as necessidades
Apresenta hábito de crescimento
requeridas pelo mercado consumidor
indeterminado tipo II, porte semi-
como produtividade de grãos,
ereto, peso de mil sementes em torno
resistência/tolerância aos principais
de 300 gramas, ciclo médio de 90 dias
fatores bióticos e abióticos que
da emergência à maturação fisiológica,
podem interferir no desenvolvimento
tempo de cozimento dos grãos em
vegetativo e qualidade pós-colheita
torno de 30 mim e teor de proteína de
dos grãos. Com relação à qualidade
20%.
pós-colheita, destaca-se a tolerância
ao escurecimento dos grãos durante Considerando a produtividade
o armazenamento, uma vez que os média obtida, elevada massa de
consumidores associam grãos escuros 100 sementes e tolerância ao
com a dificuldade de cozimento. escurecimento de grão, a cultivar IAC
2051 é recomendada para o cultivo
Desta forma, a cultivar IAC 2051 foi
na época das “águas”, da “seca” e de
desenvolvida visando atender a estas
“inverno” no estado de São Paulo,
características do mercado consumidor,
sendo indicada também para a época
apresentando elevado potencial
das “águas” e da “seca” nos estados do
produtivo, tolerância ao escurecimento
Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do
dos grãos, resistência à antracnose
Sul e Mato Grosso do Sul.
(Colletotrichum lindemuthianum) e
tolerância a Fusarium oxysporum f. sp. Recomenda-se o espaçamento
phaseoli (murcha-de-fusarium) e entrelinhas de 50 cm e 12 plantas por
Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli metro linear resultando em 240.000
(crestamento bacteriano). plantas por hectare. A produtividade
da cultivar IAC 2051 é dependente da
A cultivar IAC 2051 foi
época de semeadura, região de cultivo
desenvolvida no período de 2016 a
e nível tecnológico do agricultor
2018. A produtividade média desta
(adubação, controle de doenças e
cultivar foi superior às testemunhas
plantas daninhas, suprimento de água
utilizadas nos ensaios de VCU (Tabela 1).
e demais fatores de produção).
Em Mococa (seca/2019), a cultivar IAC
64 O Agronômico | V. 73 | 2021
Tabela 1. Produtividade de grãos da cultivar IAC 2051 comparada a três testemunhas, em experimentos
VCU conduzidos em 18 diferentes ambientes no estado de São Paulo, para as três principais épocas de
semeadura da cultura
O Agronômico | V. 73 | 2021 65
são desejáveis nos programas de A planta da cultivar IAC 1849
melhoramento do feijoeiro. Polaco é de arquitetura semiereta e
hábito de crescimento determinado
O ciclo precoce e a tolerância ao
tipo I. O ciclo médio é de 75 dias da
escurecimento do grão são características
emergência à maturação fisiológica
cada vez mais desejáveis na produção
em função das condições ambientais
do feijão e no mercado consumidor,
de cultivo, sendo considerada de ciclo
presentes de forma destacada na
precoce, apresentando grãos do tipo
cultivar IAC 1849 Polaco. A tolerância
carioca de tegumento creme com
ao escurecimento está relacionada às
listras de coloração marrom claro.
preferências de mercado por feijões
O peso médio de 1.000 sementes é
cariocas com visual de grão mais claro,
de 240 gramas e com tolerância ao
buscando relacionar com feijões de fácil
escurecimento precoce, apresentando
cozimento, muito embora isto não esteja
produtividade média de 2.464 kg ha-1,
cientificamente comprovado.
como destacado na tabela 2.
A precocidade da cultivar IAC 1849
Sob condições naturais
Polaco está relacionada a produção e a
de cultivo, a cultivar IAC 1849
produtividade da lavoura, reduzindo
Polaco é resistente à antracnose
custos no manejo das plantas como
(Colletotrichum lindemuthianum) e
na redução da utilização de defensivos
moderadamente resistente à mancha
agrícolas pela menor predisposição
angular (Phaeoisariopsis griseola),
a estresses bióticos devido ao menor
à murcha de fusarium (Fusarium
ciclo da cultura. Da mesma forma, para
oxysporum), ao crestamento bacteriano
fatores abióticos, cultivares precoces
(Xanthomonas campestris) e à murcha
de feijoeiro utilizam menos irrigações e
de Curtobacterium (Curtobacterium
energia até finalizar seu ciclo de 75 dias
flaccumfaciens pv. flaccumfaciens).
quando comparado a uma cultivar de
ciclo normal de 90 dias. A cultivar IAC 1849 Polaco é
recomendada para o cultivo na época
A cultivar IAC 1849 Polaco foi
das águas, da seca e de inverno nos
desenvolvida para atender as demandas
estados de São Paulo, nas safras das
da cadeia produtiva do feijão e oferecer
águas e seca nos estados do Paraná,
um produto precoce e de alta qualidade,
Santa Catarina, Rio Grande do Sul e
estável em produção de grãos e tolerante
Mato Grosso do Sul. Recomenda-se o
às principais doenças do feijoeiro e ao
espaçamento entrelinhas de 50 cm e 12
escurecimento do tegumento do grão,
plantas por metro linear resultando em
e que possibilite um manejo integrado
240.000 plantas por hectare.
com os diversos sistemas de produção.
66 O Agronômico | V. 73 | 2021
Tabela 2. Produtividade de grãos (kg ha-1) em experimentos de VCU realizados no biênio 2016/2017
cultivado em 18 diferentes ambientes, em três épocas de semeadura.
O Agronômico | V. 73 | 2021 67
8. MELHORAMENTO
GENÉTICO CONVENCIONAL
OBJETIVANDO A
BIOFORTIFICAÇÃO DA
CULTURA DA BATATA-DOCE
Valdemir Antonio Peressin1
José Carlos Feltran1
Luis Carlos Bernacci2
Amarilis Beraldo Ros3
Fernando Angelo Piotto4
Thiago Leandro Factor1
Sebastião de Lima Junior1
Eliane Gomes Fabri1
1
IAC - Centro de Pesquisa de Horticultura,
Campinas (SP). valdemir.peressin@sp.gov.br
2
IAC - Centro de Pesquisa de Recursos
Genéticos Vegetais, Campinas (SP).
3
APTA Regional - Polo Regional da Alta
Sorocabana , Presidente Prudente (SP).
amarilis.beraldo@sp.gov.br
4
ESALQ/USP - Departamento de Produção
Vegetal, Piracicaba (SP). fpiotto@usp.br
68 O Agronômico | V. 73 | 2021
8.1. Introdução nas épocas mais quentes do ano em
regiões de clima temperado. Dessa
Originária da América Tropical, a
forma, é uma importante cultura em áreas
batata-doce - Ipomoea batatas (L.) Lam.
tropicais, subtropicais e temperadas.
- foi disseminada pelas populações
Destinada principalmente à alimentação
pré-colombianas pelas ilhas do
humana, possui outras aptidões como
Pacífico, chegando até a costa da Nova
fonte de alimentação animal e produção
Zelândia. Posteriormente, foi levada
de etanol. Ela é rica em vitamina C, ferro
para Ásia e África pelos exploradores e
(Fe), potássio (K), fibras, vitamina B1, B2
comerciantes espanhóis e portugueses.
e ácido pantotênico. As cultivares com
É cultura estratégica para zonas de
polpa alaranjada, em especial, contêm
risco de segurança alimentar, onde a
elevados teores de carotenoides
elevada produção de raízes por área em
com atividade de pró-vitamina A
tempo relativamente curto, garante o
(β-caroteno) e são utilizadas em
suprimento de alimento energético para
diversos países no combate à deficiência
as populações locais, porém também
de vitamina A, um micronutriente
é cultivada para garantir renda ao
essencial à saúde humana devido a
agricultor. Assim, os recursos genéticos
sua importância em vários processos
de batata-doce estão entre os mais
fisiológicos. A vitamina A é fundamental
importantes do mundo, sendo cultivada
para o sistema imunológico, auxilia na
em mais de uma centena de países.
saúde oftalmológica, proliferação e
Segundo dados do IBGE (2019), diferenciação celular, é responsável pela
o Brasil colheu 810.176 toneladas em manutenção da pele saudável e atua na
57.290 hectares, com produtividade expressão gênica.
média de 14,1 t ha-1. O estado do
Dados da Organização das
Rio Grande do Sul, o maior produtor Nações Unidas para Alimentação e
nacional, colheu 175.041 toneladas em Agricultura (FAO, 2020) informam
11.983 hectares, com produtividade que, em 2019, cerca de 2 bilhões de
média de 14,6 t ha-1. O líder é seguido pessoas não tiveram acesso regular a
por São Paulo, com 140.727 toneladas alimentos de boa qualidade nutricional
em 8.650 hectares e produtividade ou mesmo puderam alimentar-se. No
média de 16,3 t ha-1. O cultivo da batata- Brasil, 55% das crianças com menos
-doce é realizado principalmente por de cinco anos de idade apresentam
pequenos agricultores. carência de ferro (Fe) e 13% têm níveis
Cultura típica de clima tropical, a baixos de vitamina A.
batata-doce também pode ser cultivada
O Agronômico | V. 73 | 2021 69
8.2. Melhoramento genético da da batata-doce. Experimentos são e
batata-doce foram conduzidos em diferentes locais
do estado de São Paulo: Presidente
No estado de São Paulo, os Prudente, Campinas, Mococa e
trabalhos de pesquisa com a cultura da Piracicaba. Este programa tem como
batata-doce iniciaram-se no ano de 1935, objetivo principal a obtenção de clones
na antiga Seção de Raízes e Tubérculos de alto desempenho produtivo e de
do Instituto Agronômico de Campinas raízes com alta qualidade nutricional,
(IAC). Naquele momento iniciou-se principalmente com relação aos teores
a formação da coleção genética de de β-caroteno (pró-vitamina A).
batata-doce com introduções enviadas
de outras instituições, inclusive do Foram instalados dois campos
exterior, e pela introdução de plantas de cruzamentos, um em Campinas,
enviadas por diversos agricultores do sob a coordenação do PqC Dr.
estado de São Paulo e do país. Valdemir Antonio Peressin e outro em
Presidente Prudente, sob a coordenação
Concomitante a estas atividades da PqC Dra. Amarílis Beraldo Rós.
de pesquisa, iniciou-se o Programa de
Melhoramento Genético da Batata- No campo de cruzamentos, que
doce, que realizava a seleção dos foi instalado em 2016 no Centro de
genótipos introduzidos na coleção Pesquisa de Horticultura do Instituto
genética do IAC e, posteriormente, Agronômico (IAC), em Campinas, foram
selecionava os genótipos derivados de utilizadas seis cultivares (IAC 2-71 -
sementes botânicas. Desses resultados Americana; IAC 66-118 - Monalisa;
foram obtidas duas cultivares, a IAC 66- SRT 47 - variante natural encontrada
118 (Monalisa) e a IAC 2-71 (conhecida dentro da cultivar Beauregard; SRT 278
como Americana). No Polo Regional - Centenial; SRT 299 - Rio de Janeiro
da Alta Sorocabana, em Presidente II e SRT 334 - Canadense), sendo as
Prudente (SP), as pesquisas com a progênies de meios-irmãos obtidas por
cultura da batata-doce começaram em meio de livre polinização. Para tanto, os
2005, mas trabalhos com melhoramento genitores foram dispostos em arranjos
genético da cultura são mais recentes, predefinidos com repetições, de modo
tendo início em 2017. que houvesse a mesma probabilidade
de cruzamento entre eles. Esse campo de
Atualmente a Secretaria da cruzamento produziu aproximadamente
Agricultura e Abastecimento possui um 30.000 sementes botânicas verdadeiras
amplo programa de melhoramento, (Figura 1).
objetivando a biofortificação da cultura
70 O Agronômico | V. 73 | 2021
Figura 1. Aspecto da produção de sementes botânicas da batata-doce em campo de cruzamento na
Fazenda Santa Elisa (Campinas-SP): a) florescimento e frutificação de parental; b) detalhe do fruto verde;
c) detalhe do fruto seco. Foto: Peressin, V. A.; d) detalhe das sementes da família 19; e) detalhe dos frascos
de armazenamento em câmara de sementes; f) detalhe das sementes da família 2-D. Foto: Feltran, J. C.
O Agronômico | V. 73 | 2021 71
Figura 2. Etapas do processo de seleção de novos clones de batata-doce na Fazenda Santa Elisa (Campinas-
SP): a) vista do campo de cruzamentos; b) detalhe da multiplicação dos seedlings em canteiros; c) detalhe
do plantio de ramas em leiras para avaliação de uma planta; d) detalhe do viveiro de clones selecionados;
e) detalhe do campo de seleção de clones (linhas de cinco plantas). Foto: Peressin, V. A.
72 O Agronômico | V. 73 | 2021
Foto: Peressin, V. A.; Governo, B. R. V. e Bernacci, L. C.
Figura 3. Variabilidade de formato, tonalidade de cor da polpa e da casca das raízes tuberosas da
batata-doce, do campo de cruzamento, no Centro Experimental de Campinas “Fazenda Santa Elisa - IAC,
Campinas (SP).
O Agronômico | V. 73 | 2021 73
No Polo Regional da Alta Na região há maior interesse em
Sorocabana, em Presidente Prudente plantas que produzam raízes com cores
(SP), houve o cruzamento das de casca roxa e de polpa amarelo-pálido
cultivares Londrina e Uruguaiana ou amarelo, mas outros materiais
(amplamente utilizadas na região) também foram selecionados em função
resultando, inclusive, em plantas dos amplos objetivos da pesquisa.
filhas com características diferentes Em teste de produtividade de raízes
das características de seus pais. O comerciais, realizado em 2019 com
resultado foi uma riqueza de materiais apoio financeiro da FAPESP (Fundação
quanto a cores de casca e polpa, de Amparo à Pesquisa do Estado de São
sabores e formatos. Os pais Londrina Paulo - processo 2017/03298-1), foram
e Uruguaiana apresentam cor de casca selecionados clones com cores de
roxa e cor de polpa amarelo-pálido polpa amarelo ou alaranjado (Figura 4).
e amarelo, respectivamente. Em um Três clones com raízes de cor de polpa
trabalho com mais de 1.500 clones amarelo-pálido e dois de polpa laranja
oriundos de sementes botânicas foram destacaram-se em relação aos pais. Os
verificadas até três cores na polpa clones apresentaram produtividade
da mesma raiz. Considerando-se a de raízes comerciais variando entre
cor predominante, foram obtidas as 20,4 e 64,3 t ha-1. As produtividades
seguintes percentagens de plantas dos pais Uruguaiana e Londrina foram
que produziram raízes com essas de 25,6 e 21,4 t ha-1, respectivamente.
cores: amarelo-pálido (43,9%); amarelo Em experimento realizado em 2020,
(28,0%); laranja-escuro (12,6%), os clones continuaram apresentando
laranja-intermediário (9,0%); branca elevadas produtividades comerciais,
(5,7%); roxa (0,4%); creme (0,2%); e variando de 39,2 a 58,6 t ha-1.
laranja-claro (0,2%). A cor da película
Esses clones promissores
(casca) também apresentou grande
continuam sendo testados e altas
variação considerando-se apenas a
produtividades comerciais continuam
cor predominante de casca, foram
sendo obtidas. Espera-se que em
quantificadas as seguintes percentagens
um futuro próximo possam integrar
de plantas que produziram raízes com
a lista de cultivares de batata-doce
as seguintes cores: roxa (71,4%), rosa
consumidas pelos brasileiros.
(18,4%); creme (7,9%), salmão (2,0%),
marrom (0,1%), amarelo (0,1%) e
branca (0,1%).
74 O Agronômico | V. 73 | 2021
Figura 4. Materiais de batata-doce selecionados no Polo Regional da Alta Sorocabana, Presidente
Prudente (SP). Foto: Rós, A. B.
O Agronômico | V. 73 | 2021 75
intermediário na maioria deles. A verdes com a margem arroxeada,
maioria dos clones as batatas-doces variando de totalmente verdes a
apresentaram raízes tuberosas de predominantemente arroxeadas. As
forma oblonga, sendo de pele rosa, de flores também apresentam variações
intensidade intermediária, com cerca de apresentando a fauce branca com anel
300 g, 15 cm de comprimento por 6 cm arroxeado, variando entre totalmente
de largura, na média geral, e, quase não esbranquiçada a totalmente roxo-
apresentaram defeitos de conformação. pálido. Apresentam formato pentagonal
no geral, variando entre semi-estreladas
Além das diferenças nas
a arredondadas (Figura 5). Os seus
raízes tuberosas, existem diferenças
estigmas são no geral localizados abaixo
morfológicas que não chegam ao
das anteras, podendo-se ficar abaixo
supermercado e à mesa do consumidor,
delas ou claramente acima (Figura 5).
mas que auxiliam na distinção e
reconhecimento dos diferentes clones. A plasticidade e diversidade
Por exemplo, há entre estes clones encontradas nas batatas-doces é, de
de batata-doce alaranjada do IAC fato, impressionante, mostrando a
plantas com folhas não lobadas até riqueza e a biodiversidade encontrada
heptalobadas (com 7 lóbulos), sendo na no germoplasma de batata-doce do
maioria pentalobadas (com 5 lóbulos, Instituto Agronômico (IAC).
Figura 5). As folhas novas são geralmente
Figura 5: Mostra da variabilidade observada nas folhas (A-F) e flores (G-M), entre os clones de batata-doce
do IAC em processo de seleção. Lâmina foliar: A inteira, B incipientemente trilobada, C-D trilobada,
E irregularmente tetralobada, F pentalobada; Corola: G arredondada, H pentagonal, I semiestrelada.
Posição do estigma: J abaixo da antera mais próxima, K na mesma altura que a antera mais próxima, L
ligeiramente acima das anteras, M claramente acima das anteras. Foto: Bernacci, L. C.
76 O Agronômico | V. 73 | 2021
9. MELHORAMENTO
GENÉTICO DE MANDIOCA
DE MESA: SEGURANÇA
ALIMENTAR E SAÚDE PARA
A POPULAÇÃO
José Carlos Feltran1
Valdemir Antônio Peressin1
Cássia Regina Limonta Carvalho2
Juliana Rolim Salomé Teramoto2
Antônio Carlos Pries Devide3
Cristina Maria Castro3
Sérgio Doná4
Thiago Leandro Factor1
Sebastião de Lima Junior1
Sally Ferreira Blat1
Daniel Gomes5
Eliane Gomes Fabri1
1
IAC - Centro de Pesquisa de Horticultura,
Campinas (SP). jose.feltran@sp.gov.br
2
IAC - Centro de Pesquisa de Recursos
Genéticos Vegetais, Campinas (SP).
3
APTA Regional - Polo Regional do Vale do
Paraíba, Pindamonhangaba (SP).
4
APTA Regional - Polo Regional do Médio
Paranapanema, Assis (SP).
5
APTA Regional - Campinas (SP).
O Agronômico | V. 73 | 2021 77
9.1. Importância econômica e utilizada em aplicações nas áreas têxtil,
social papel, biopolímeros e farmacêutica. Na
alimentação animal as raízes, a parte
Dados econômicos demonstram aérea e os resíduos do processamento
o papel fundamental da mandioca na industrial podem ser utilizados na forma
segurança alimentar das populações, de raspas, silagem e farelo de bagaço,
principalmente das situadas nas zonas respectivamente. Por fim, as raízes e a
mais carentes do ambiente tropical e parte aérea, ainda, podem ser utilizadas
sub-tropical, sendo o alimento básico na produção de etanol e na geração de
de mais de 800 milhões de pessoas energia térmica, respectivamente. Desta
espalhadas pelo mundo (FAO, 2013). forma, pode-se verificar a importância
estratégica dessa cultura para a indústria,
Mundialmente são produzidas
alimentação humana e animal e para
próximo de 304 milhões de toneladas de
geração de energia. Por esses motivos
raízes de mandioca, desta quantidade o
a FAO considera a mandioca como a
Brasil, quinto produtor mundial, contribui
cultura do século XXI (FAO, 2013).
com apenas 5,8% desse volume de
produção cultivando aproximadamente
1,2 milhões de hectares (FAOSTAT, 2021).
No Brasil, a produção está espalhada 9.2. Melhoramento genético de
por todo o território nacional e pode mandioca de mesa: histórico e
ser classificada em mandioca industrial atualidade
e mandioca de mesa. No estado de São
No Instituto Agronômico (IAC)
Paulo, temos as duas atividades, sendo
estudos iniciais com a cultura da
a mandioca industrial concentrada
mandioca datam do final do século XIX
nas regiões administrativas de Marília
no entanto, a partir de 1935 a dedicação
e Presidente Prudente, enquanto a
foi mais acentuada com a estruturação
mandioca de mesa concentra-se a
do Programa de Melhoramento Genético
produção nas regiões administrativas de
de Mandioca, a formação da coleção de
Campinas e Sorocaba (IEA, 2021).
germoplasma, o desenvolvimento de
A raiz de mandioca é utilizada técnicas de melhoramento genético e
na alimentação humana, na forma in a seleção de novas variedades. De fato,
natura (cozidas ou fritas) e na forma em 1948 iniciaram-se os trabalhos de
processada (farinhas e féculas nativa e melhoramneto genético em mandioca
modificada). Na indústria alimentícia a com cruzamentos controlados.
fécula tem aplicações como espessante, Em 1950, o IAC consolidou 15 anos
geleificante, estabilizante e emulsificante; de experimentação de mandioca em um
na indústria não alimentícia a fécula é trabalho que apresentava os elementos
78 O Agronômico | V. 73 | 2021
básicos para a produção de mandioca Em 1962, foi lançada a variedade
de mesa de forma racional: variedades, com raízes de polpa branca IAC 24-2
espaçamento, épocas de plantio, etc. Mantiqueira, obtida por polinização
(VALLE e LORENZI, 2014). aberta em SRT-120 Santa, que foi
disseminada nas principais regiões
De raízes de polpa branca a
produtoras do mundo pelo Centro
IAC 14-18 Verdinha foi obtida em
Internacional de Agricultutra Tropical
1958 por polinização aberta em SRT-
(CIAT) como CMC-40 (Figura 1b).
454 Guaxupé (Figura 1a).
a b
Figura 1. Aspecto visual das raízes de mandioca das variedades IAC 14-18 Verdinha (a) e IAC 24-2 Man-
tiqueira (b). Foto: Arquivo IAC (s.d.).
O Agronômico | V. 73 | 2021 79
a b
Figura 2. Aspecto visual das raízes cruas (direita) e cozidas (esquerda) da variedade IAC 576-70 (a) e
aspecto de duas plantas da IAC 576-70 no ponto de colheita apresentadas pelo Engenheiro Agrônomo
Daniel Pio da EDR-Botucatu (b). Foto: Feltran, J. C.
80 O Agronômico | V. 73 | 2021
a b
c d e
Figura 3. Aspecto visual das raízes cozidas de diversos clones de mandioca de mesa (a, b, c), visão do
teste de cozimento com diversos clones conduzidos pela Dra Teresa Losada Valle (d) e aspecto das raízes
descascadas do clone IAC 6-01 (e). Foto: Carvalho, C. R. L. (a,b,c); Valle, T. L. (d) e Gomes, D. (e).
O Agronômico | V. 73 | 2021 81
Tabela 1. Características nutricionais, cianogênicas e agronômicas de nove clones de mandioca de mesa
comparativamente à variedade padrão IAC 576-70. Colheita com 10 meses
Fonte: Valle, T. L.
82 O Agronômico | V. 73 | 2021
ouro quando cozidas. Além, disso o do solo, tem se destacado em avaliações
clone IAC 6-01, que possui porte alto realizadas nos estágios iniciais de
e ramificação tardia e fechada a partir implantação de sistemas agroflorestais
de 1,5 m de altura, facilita os tratos (SAF) como cultura inicial na formação
culturais, favorece o consórcio de de reflorestamentos e na restauração
culturas e produz cobertura uniforme ambiental.
Figura 4. Aspecto visual das raízes cozidas das testemunhas SRT Pinheirinho e IAC 576-70 e dos clones IAC
265-97 e IAC 6-01, colhidos aos 10 meses. Foto: Feltran, J. C.
O Agronômico | V. 73 | 2021 83
a b
c d
Figura 5. Aspecto visual das raízes descascadas do clone IAC 108-00 (a); visão da massa obtida após
a ralação das raízes do clone IAC 108-00 (b); aspecto visual da produção artesanal da farinha no
assentamento rural HortoVergel, em Santo Antônio da Posse (SP) (c) e aspecto visual da farinha do clone
IAC 108-00 sendo processada artesanalmente (d). Foto: Valle, T. L.
84 O Agronômico | V. 73 | 2021
Figura 6. Aspecto visual das raízes cozidas das testemunhas SRT Pinheirinho e IAC 576-70 e dos clones
IAC 12-10, IAC 64-10, IAC 74-10, IAC 76-10, IAC 133-10 e IAC 139-10, colhidos aos 10 meses. Foto:
Feltran, J. C.
O Agronômico | V. 73 | 2021 85
fósforo são preferíveis para seu cultivo de mandioca com potencial de uso são
por melhorarem consideravelmente o as folhas. Estas podem ser utilizadas
cozimento das raízes. O uso de adubos para alimentação humana e animal,
verdes associado ao cultivo também devido ao seu alto valor nutricional.
apresenta bons resultados quantitativos
No cultivo tradicional de mandioca
e qualitativos.
a parte aérea (hastes, pecíolos e folhas)
Independente do sistema, o cultivo é destruída antes na colheita, servindo
de mandioca de mesa concentra sua para a ciclagem de nutrientes. Nesta
atenção na produção de raízes e na sua estrutura as folhas destacam-se por
qualidade, destinadas principalmente serem uma excelente fonte nutricional
aos mercado na forma in natura ou e de baixo custo de produção, pois são
semi-processada (raízes descascadas), consideradas resíduos da produção da
entretanto outro componente da planta raiz.
a b
c d
Figura 7. Aspecto visual das plantas de mandioca da variedade IAC 576-70 (a); aspecto visual da plantas
desfolhadas (b); aspecto visual das folhas recém-colhidas (c) e aspecto visual das folhas secas e trituradas
(d). Foto: Teramoto, J. R. S.
86 O Agronômico | V. 73 | 2021
De forma geral, as folhas, também, enquanto as folhas maduras do clone
contêm quantidades significativas de IAC 6-01, com raízes de polpa amarela e
proteína, apresentam um bom perfil de rico em β-caroteno, apresentavam duas
aminoácidos essenciais, possuem mais vezes mais β-caroteno em relação às
fibras insolúveis do que fibras solúveis, raízes, conforme tabela 2.
tem altos teores de carotenoides,
As folhas de mandioca, também,
sendo os mais abundantes a luteína
são ricas em minerais (base seca) como:
(sem atividade de pró-vitamína A) e
potássio (1,23 a 2,3 g 100 g-1), cálcio
o β-caroteno (pró-vitamina A). Estes
(430 a 1140 mg 100 g-1), magnésio
carotenoides estão presentes em maiores
(0,26 a 0,42 g 100g-1), manganês (160
quantidades nas folhas maduras. Estudos
a 252 ppm), ferro (15 a 27 mg 100 g-1)
realizados no IAC com folhas maduras da
e zinco (120 a 249 ppm). Entretanto,
variedade IAC 576-70 e do clone IAC 6-01,
a composição das folhas, pode variar
demonstraram que as folhas maduras
de acordo com fatores genéticos,
da variedade IAC 576-70 contém 13
ambientais e suas interações e manejos
vezes mais β-caroteno que nas raízes,
e tratamentos pós-colheita.
Tabela 2. Teor de β-caroteno nas raízes e folhas maduras de mandioca da variedade IAC 576-70 e do
clone IAC 6-01, determinados em base seca e base úmida
Fonte: Teramoto, J. R. S.
O Agronômico | V. 73 | 2021 87
principalmente das derivadas das plantas Embrapa Meio-Oeste, 2005. CD-ROM.
com altos teores de β-caroteno nas
IEA - INSTITUDO DE ECONOMIA
raízes, já que provavelmente as folhas
AGRÍCOLA. CIAGRI. IEA (2021). Disponível
além das características nutricionais
em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/
descritas apresentam, também, teores
subjetiva.aspx?cod_sis=1&idioma=1.
elevados de ß-caroteno.
Acesso em: 13 maio. 2021.
88 O Agronômico | V. 73 | 2021
10. SUCO DE UVA:
POTENCIAL BIOATIVO
DE SEUS POLIFENOIS
1
IAC - Centro Avançado de Pesquisa de
Frutas, Jundiaí (SP).
mara.moura@sp.gov.br
jose.hernandes@sp.gov.br
2
USP - Departamento de Alimentos e
Nutrição Experimental, São Paulo (SP).
3
Pós-graduanda da Universidade Estadual
Paulista (FCA-UNESP), Botucatu (SP).
4
FCA-UNESP, Departamento de Produção
Vegetal, Botucatu (SP)
O Agronômico | V. 73 | 2021 89
As uvas (Vitis. sp) são utilizado para a elaboração do suco de
consideradas uma das maiores fontes uva e vinho são muito contrastantes.
de polifenóis, devido a diversidade de Especialmente devido a elaboração
classes de metabolitos secundários, de suco geralmente envolver elevadas
possuindo uma composição de temperaturas, as quais poderiam
polifenóis muito rica tanto qualitativa impactar negativamente a composição
como quantitativamente. Já foi destes compostos e seus efeitos para a
bem demonstrada a associação de saúde. Nesse contexto, o suco de uva
benefícios à saúde com o alto teor apresenta-se como uma alternativa
de polifenóis, os quais incluem, os para um público amplo, composto
flavonoides como procianidinas por pessoas que não gostam, ou não
e antocianinas, os estilbenos, podem consumir bebidas alcoólicas,
reconhecidos principalmente pelo como crianças, jovens, idosos e
resveratrol, entre outros. gestantes.
90 O Agronômico | V. 73 | 2021
uma classe de flavonoides e estão e 15% das mortes maternas diretas estão
presentes principalmente na película associadas à pré-eclâmpsia/eclâmpsia.
das bagas, sendo a uva, portanto, uma Estudos sugerem, que o resveratrol é
das principais fontes de antocianinas capaz de prevenir modificações nas
para a população brasileira. Apesar células endoteliais, que recobrem
do processamento térmico, que é o interior dos vasos sanguíneos.
utilizado durante a elaboração e Além disso, alguns derivados de
pasteurização para garantir a qualidade resveratrol apresentam atividades
e segurança para o armazenamento, biológicas similares às encontradas
as antocianinas presentes no suco de neste composto, demonstrando-se
uva apresentam-se como compostos promissores.
com elevada capacidade antioxidante.
Também estão presentes
O consumo regular de alimentos que
compostos como as aminas bioativas,
contêm antocianinas está associado à
que são sintetizadas nas uvas e podem
redução do risco de doenças crônicas,
ser formadas em reações decorrentes
como câncer, doenças cardiovasculares
do processo de elaboração do suco e
e o controle da doença de Alzheimer.
fermentação nos vinhos. Indicativos
Outro importante grupo são de qualidade e garantia de um bom
os estilbenos, especialmente o processamento das uvas, a triptamina
resveratrol, que é reconhecido por e a feniletilamina são aminas bioativas
suas propriedades anti-inflamatórias, desejáveis, por possuírem elevada
neuroprotetivas e pela capacidade de capacidade antioxidante, enquanto,
reduzir os níveis de lipoproteínas de algumas aminas bioativas, como
baixa densidade (LDL) séricas e o risco tiramina e histamina, em elevadas
de doenças cardiovasculares, entre concentrações, podem provocar efeitos
outras patologias. As mais recentes adversos como dor de cabeça e outras
pesquisas indicam que o resveratrol reações alérgicas.
atua na ativação de diferentes formas
O suco de uva é, ainda, uma
de proteínas da família das sirtuínas,
das fontes de procianidinas para a
através da ativação e aumento da
população brasileira, compostos que
atividade das enzimas, podendo
estão principalmente na película e
propiciar benefícios ao organismo e até
semente das uvas. As procianidinas
mesmo prevenir e controlar doenças
influenciam as características sensoriais
como a pré-eclâmpsia.
dos sucos de uva, afetando a cor e
A pré-eclâmpsia é uma doença sabor, pois sua concentração pode
específica da gestação, que se manifesta ser beneficiada pelo processamento
após a 20ª semana. Estima-se entre 10% térmico utilizado na elaboração dos
O Agronômico | V. 73 | 2021 91
sucos. Estudos preliminares destacaram para a obtenção de um suco de uva
o elevado potencial antioxidante destes biofortificado, através de estudos que
compostos e sua influência positiva na avaliam a interação dos sistemas de
microbiota. condução e diferentes cultivares de
uva submetidas ao tratamento com um
Em estudos da ingestão de suco de
bioestimulante na fase de pré-colheita.
uva, observou-se que após uma hora do
Este tratamento não deixa resíduos
consumo, foi possível detectar aumento
nos frutos e estimula a própria planta a
do status antioxidante nos voluntários.
produzir maiores teores de estilbenos e
Os rápidos efeitos verificados, foram
antocianinas, de forma a não prejudicar
associados aos compostos presentes no
o meio-ambiente.
suco, como os compostos fenólicos, que
podem modular mecanismos oxidativos O Centro Avançado de Pesquisa
enzimáticos e não enzimáticos, sem de Frutas também tem trabalhado no
afetar o status glicêmico. Também sentido de caracterização de acessos da
foi observado um efeito protetivo, coleção de germoplasma para seleção
do consumo de suco de uva, contra de genitores para o programa de
peroxidação lipídica. melhoramento de uvas para suco. Nesse
contexto, tem desenvolvido pesquisas
No âmbito tecnológico, em
em colaboração com Unicamp, UNESP,
função dos benefícios proporcionados
Centro de Pesquisa de Alimentos da
à saúde, diversas propostas vêm
USP e com os Centros de Pesquisa de
sendo apontadas para aumentar os
Seringueira e Sistemas Agroflorestais,
níveis destes compostos visto que,
de Ecofisiologia e Biofísica e de
o consumo per capita de frutas e
Recursos Genéticos Vegetais, do IAC.
vegetais pela população brasileira é
São pesquisas para caracterização
baixo, em comparação a outros países,
e identificação de genótipos com
representando um baixo consumo de
elevados teores de antocianinas totais
polifenóis. Estratégias que possam ser
e compostos antioxidantes.
empregadas na pré-colheita, com o
intuito de aumentar a concentração Além da técnica mencionada
destes, têm sido explorados, visando anteriormente, pesquisas relatam
o desenvolvimento de frutos mais que a adição de sementes de videiras
ricos em compostos funcionais e proporciona um aumento no teor de
consequentemente, a elaboração de um polifenóis e na atividade antioxidante,
produto biofortificado. consequentemente aumentando o
potencial bioativo do suco, o que ocorre
Atualmente, o Centro Avançado
devido a semente conter cerca de 60%
de Pesquisa de Frutas vem trabalhando
dos compostos fenólicos presentes na
92 O Agronômico | V. 73 | 2021
uva. Durante o processamento do suco, das cultivares IAC 138-22 Máximo e
aspectos como temperatura e tempo BRS Violeta, demonstrou que ambas
de extração são de grande importância, se apresentam como excelentes
de modo a influenciar o rendimento do alternativas para misturas com uvas
processo e promover a solubilidade dos rosadas para agregação de cor na
compostos fenólicos presentes na uva, elaboração de sucos, no entanto,
proporcionando elevada capacidade a cultivar BRS Violeta apresenta
antioxidante. Posteriormente ao maior capacidade de incrementar os
processo de extração, o resfriamento potenciais bioativos dos sucos.
rápido do suco contribui para evitar a
Em estudo de elaboração de
degradação dos polifenóis extraídos,
suco de uva integral monovarietal,
em especial as antocianinas.
ou seja, apenas com a cultivar Isabel
Além disso, estudos de manejo Precoce e também cortes com 20%
cultural, sistemas de condução e de cultivares como BRS Cora e BRS
utilização de combinações copas e Violeta, foi observado durante a análise
porta-enxertos para incrementar a sensorial, que apesar dos cortes não
produção de uvas com maior teor influenciarem nas características de
de compostos fenólicos também corpo, aroma, sabor, e impressão
têm sido realizados em parceria com global dos sucos, houve uma melhora
a UNESP e Centro de Pesquisa de significativa na coloração das amostras
Seringueira e Sistemas Agroflorestais. que foram feitos os cortes, além de
Pesquisadores e alunos da UNESP apresentar melhor aceitação pelo
e IAC, em pesquisa conjunta, consumidor, quando comparado ao
trabalhando com a elaboração de suco monovarietal de ‘Isabel Precoce’.
sucos de uva das cultivares BRS Violeta
Pesquisas realizadas com
e Isabel Precoce, observaram melhores
cultivares tintas de V. labrusca L., as
índices de cor para o suco elaborado
quais são utilizadas para a elaboração
com a variedade híbrida ‘BRS Violeta’,
de sucos no Brasil, evidenciam que,
a qual também apresentou melhores
sucos produzidos com uvas de sistema
características de sólidos solúveis,
de cultivo orgânico, apresentam
acidez titulável, maior teor de
maiores teores dos polifenóis
polifenóis totais e antocianinas totais,
resveratrol, antocianinas e taninos,
sendo uma excelente alternativa para
quando comparado ao suco de uvas
utilizar em cortes, mistura de cultivares
de cultivo convencional. Isso ocorre,
em diferentes proporções, com
pois o não uso de defensivos químicos
sucos de cultivares com deficiência
no cultivo torna as plantas mais
de coloração. A avaliação do suco
suscetíveis ao ataque de patógenos e,
O Agronômico | V. 73 | 2021 93
como mecanismo de defesa, as videiras processo de produção, permitindo a
produzem maiores quantidades de elaboração de sucos de uva de melhor
metabólitos secundários, aumentando qualidade. Além disso, a utilização
a concentração de compostos bioativos de diferentes cultivares propicia uma
nas bagas. composição físico-química variada
que permite a obtenção de sucos
Diante do exposto verifica-se
com diferentes atributos sensoriais
que, as diferentes pesquisas são
podendo, dessa forma, contribuir para
essenciais para auxiliar na escolha da
melhor aceitação e, consequentemente,
cultivar e manejo adequados para
aumento do consumo per capita.
o processamento e para nortear o
94 O Agronômico | V. 73 | 2021
Figura 2. Armazenamento de amostras de suco de uva para monitoramento de qualidade.
O Agronômico | V. 73 | 2021 95
Figura 3. Variedade Concord conduzida pelo sistema de condução espaldeira.
96 O Agronômico | V. 73 | 2021
Referências
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98 O Agronômico | V. 73 | 2021
11. LABORATÓRIOS DE
SOLOS, FERTILIZANTES E
RESÍDUOS DO IAC
DO SOLO À PLANTA:
DIAGNÓSTICOS QUE AUXILIAM
A PRODUÇÃO NO CAMPO, A
SEGURANÇA ALIMENTAR E A
SAÚDE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA
1
IAC - Centro de Pesquisa de Solos e
Recursos Ambientais/Unidade Laboratorial
de Referência. aline.coscione@sp.gov.br
O Agronômico | V. 73 | 2021 99
A Unidade Laboratorial de o início dos anos 80, apoiando as
Referência (ULR) Laboratórios de Solos, pesquisas em manejo e conservação dos
Fertilizantes e Resíduos do Instituto solos, incluindo os estudos sobre erosão
Agronômico (IAC) é uma unidade de e qualidade física. Lançou em 1986 o
referência para processos e métodos de primeiro boletim reunindo os métodos
análises focada na inovação, visando à de análise selecionados para uso em
atualização e ao aperfeiçoamento de laboratórios e nos campos experimentais.
métodos e técnicas de análises de atributos Os Laboratório de Fertilizantes e
físicos, químicos e microbiológicos de Resíduos e o de Substratos avaliam a
solo, substratos, fertilizantes e resíduos conformidade de fertilizantes, substratos,
aplicados na agricultura. Ela é constituída condicionadores de solo, corretivos de
por 6 laboratórios, administrados por acidez e sodicidade, e resíduos com
pesquisadoras especializadas em sua potencial de uso agrícola frente as
área de atuação, sendo: Fertilidade do legislações nacionais como instrumento
Solo e Nutrição de Plantas, Substratos, de inovação tecnológica, através da
Microbiologia do Solo, Física do Solo e realização de ensaios químicos e físicos,
Fertilizantes e Resíduos. Os laboratórios ensaios de incubação para mineralização
que compõe a ULR surgiram em épocas de carbono e de nitrogênio, determinação
distintas em função da necessidade de de teores semi-totais de elementos em
atender demandas específicas tanto no solos para monitoramento ambiental
atendimento ao agricultor, verificando e desenvolvimento e testes de novos
o teor de nutrientes disponíveis para as métodos de análise de fertilizantes junto
plantas como base de recomendação ao MAPA. O foco dos serviços prestados
para adubações, quanto a aspectos pelo Laboratório de Microbiologia do Solo
ambientais ligados a reutilização de é a avaliação de indicadores microbianos
resíduos que podem ser empregados em solo, substratos, fertilizantes, resíduos
como fertilizantes. Estes laboratórios orgânicos e compostos orgânicos com
estão cadastrados no Ministério da potencial de uso agrícola, para fins de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento sanidade e caracterização da microbiota.
(MAPA) para a prestação de serviços, Além da prestação de serviços analíticos
sendo que alguns deles já foram ou para representantes de fabricantes,
mantêm reconhecida qualidade de associações de produtores de fertilizantes,
seus serviços atestada pela acreditação laboratórios privados e consultorias
na norma ISO17025, concedida pela agrícolas e ambientais, os laboratórios
CGCRE-Inmetro. realizam cursos e treinamentos na teoria
dos métodos analíticos visando inovação
O Laboratório de Fertilidade do
e difusão tecnológica para melhoria dos
Solo e Nutrição de plantas foi pioneiro
insumos agrícolas, práticas de manejo
no Brasil e existe desde a fundação do
sustentável e proteção ambiental.
IAC em 1887. O Laboratório de Física
do Solo, também pioneiro, vem desde
1
IAC - Núcleo de Inovação Tecnológica,
Campinas (SP). lilian.anefalos@sp.gov.br
Figura 1. Nível de Maturidade Tecnológica. Fonte: Adaptado, a partir de ABGI Brasil (https://brasil.abgi-
group.com/radar-inovacao/artigos-estudos).
1
Ambientes promotores da inovação - “espaços envolvem negócios inovadores, baseados
propícios à inovação e ao empreendedorismo, em diferenciais tecnológicos e buscam a
que constituem ambientes característicos solução de problemas ou desafios sociais e
da economia baseada no conhecimento, ambientais, oferecem suporte para transformar
articulam as empresas, os diferentes níveis ideias em empreendimentos de sucesso, e
de governo, as Instituições Científicas, compreendem, entre outros, incubadoras de
Tecnológicas e de Inovação, as agências de empresas, aceleradoras de negócios, espaços
fomento ou organizações da sociedade civil, abertos de trabalho cooperativo e laboratórios
e envolvem duas dimensões: a) ecossistemas abertos de prototipagem de produtos e
de inovação - espaços que agregam processos;” (artigo 2º. Decreto nº 9.283, de 7
infraestrutura e arranjos institucionais e de fevereiro de 2018).
culturais, que atraem empreendedores e 2
Especificamente, relativo ao Decreto Estadual
recursos financeiros, constituem lugares que
no 62.817/2017, que regulamenta a Lei federal
potencializam o desenvolvimento da sociedade
nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, no
do conhecimento e compreendem, entre
tocante a normas gerais aplicáveis ao estado,
outros, parques científicos e tecnológicos,
assim como a Lei Complementar nº 1.049, de
cidades inteligentes, distritos de inovação
19 de junho de 2008, e dispõe sobre outras
e polos tecnológicos; e b) mecanismos de
medidas em matéria da política estadual de
geração de empreendimentos - mecanismos
ciência, tecnologia e inovação, e ao Decreto
promotores de empreendimentos inovadores
Estadual no 60.286/2014, que institui e
e de apoio ao desenvolvimento de empresas
regulamenta o Sistema Paulista de Ambientes
nascentes de base tecnológica, que
de Inovação - SPAI.
1
IAC - Pesquisadora científica, coordenadora
do PPG-IAC. pgiac@iac.sp.gov.br
1
IAC - Centro de Pesquisa de Ecofisiologia e
Biofísica, Campinas (SP).
gabriel.blain@sp.gov.br
1
IAC - Centro Avançado de Pesquisa de
Citros “Sylvio Moreira”, Cordeirópolis (SP).
hdcoletta@ccsm.br
Christina Dudienas1
Roberta Pierry Uzzo1
Martha Maria Passador2
Barbara Negri2
1
IAC - PqCs. Responsáveis Técnicas do
Quarentenário IAC, Campinas (SP).
christina.dudienas@sp.gov.br
roberta.uzzo@sp.gov.br
2
quarentenaiac@iac.sp.gov.br