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Missão

Gerar e transferir ciência, tecnologia e produtos para otimização


dos sistemas de produção vegetal, com responsabilidade ambiental,
visando ao desenvolvimento socioeconômico e à segurança
alimentar, por meio da pesquisa, da formação de recursos humanos
e da preservação do patrimônio.

www.iac.sp.gov.br
EXPEDIENTE

Governo  do  Estado  de  São  Paulo

N
esses 128 anos do Instituto Agro- Secretaria  de  Agricultura  e  Abastecimento
nômico (IAC), de Campinas, é im- Agência  Paulista  de  Tecnologia  dos  Agronegócios
portante ressaltar que sua história Instituto  Agronômico
Governador  do  Estado
foi construída por pessoas competentes, Geraldo  Alckmin
pesquisadores da mais alta qualidade, Secretário  de  Agricultura  e  Abastecimento
Arnaldo  Jardim
que têm enfrentado o desafio de desen-
Secretário-­Adjunto  de  Agricultura  e  Abastecimento
volver a agricultura paulista e brasileira. Rubens  Naman  Rizek  Júnior
Em São Paulo, sob o comando do Go- Coordenador  da  Agência  Paulista  de  Tecnologia  dos  Agronegócios
Orlando  Melo  de  Castro
vernador Geraldo Alckmin, trabalhamos
Diretor  Técnico  de  Departamento  do  Instituto  Agronômico
imbuídos da filosofia de procurar sempre Sérgio  Augusto  Morais  Carbonell
harmonizar o econômico, o social e o am-
biental. A busca por maior produtividade
O  AGRONÔMICO
e competitividade, com justiça social e (Instituto  Agronômico)
sustentabilidade na agricultura é, sem Campinas,  SP  
1941-­1;;  1949-­2011  1-­63
dúvida, um dos maiores e mais difíceis (Série  Técnica  Apta)
A  partir  do  v.  52,  n.  1,  faz  parte  da  Série  Técnica  Apta  da  SAA/APTA.  
desafios de nosso século, não obstante, a A  eventual  citação  de  produtos  e  marcas  comerciais  não  expressa,  
agricultura paulista tem muito a mostrar. necessariamente,  recomendação  de  seu  uso  pela  Instituição.  

Nossa espetacular performance, respon- É  permitida  a  reprodução  parcial,  desde  que  citada  a  fonte.  A  reprodução  
total  depende  de  anuência  expressa  do  Instituto  Agronômico.  
sável por São Paulo exibir uma das mais
avançadas áreas de pesquisa agrícolas O  AGRONÔMCO  
Boletim  Técnico-­Informativo  do  Instituto  Agronômico
do mundo, se dá muito em função de Volume  64-­66  –  2012-­2014
Série  Técnica  APTA
todo o legado do IAC, sua excelência e ISSN  0365-­2726  
seus trabalhos premiados, que são mo- oagronomico@iac.sp.gov.br

tivo de orgulho. O nosso maior desafio, Editores  


Charleston  Gonçalves
sempre, é nos mantermos sintonizados e Luiza  M.  Capanema
próximos às necessidades dos produto- (GLWRUDomRHDUWH¿QDOHOHWU{QLFD
res e da produção, para que a excelência Intermídia  Serviços  de  Propaganda  Ltda.

da pesquisa possa manter-se com resul- Capa  


Impulsa  Comunicação  
tados práticos, como vem ocorrendo na Fotos
história do IAC. Arquivo  IAC
Shutterstock  
Deputado Arnaldo Jardim
Secretário de Agricultura e Abastecimento
do Estado de São Paulo

Av.  Barão  de  Itapura,  1.481  -­  Caixa  Postal  28  -­  13020-­902    Campinas  (SP)
Fone:  (19)  2137-­0600  -­  Fax:  (19)  2137-­0706
EDITORIAL

O Agronômico v. 64-66 │ 2014

A
s ações de Transferência de Tec-
nologia no IAC ocorrem a partir
do entendimento de que o pro-
gresso técnico na agricultura é norte-
ado pela lógica de que o produtor rural
não é um receptor passivo de tecnolo-
gias. A transferência se dá a partir da
consideração de que o processo de
inovação é permeado por aprendizado
que, por sua vez, tem caráter cumula-
tivo. Em outras palavras, a inovação
na agricultura ocorre por meio da in-
teração entre os agentes que geram
conhecimento científico e tecnológico
e aqueles presentes do setor produtivo.
Portanto, a inovação acontece de forma sos e serviços amplamente adotados Esperamos que esse novo con-
coletiva e interativa, onde o conheci- em diversas regiões brasileiras graças teúdo de O Agronômico, consi-
mento científico e/ou tecnológico, ge- a um laborioso planejamento de trans- derado como uma ferramenta de
rado pela pesquisa, ou prático, oriundo ferência de tecnologia. Transferência de Tecnologia, seja
da vivência do produtor, circulam em O Agronômico apresenta, ainda, do agrado dos leitores e propicie
sistema complexo, onde os feedbacks a relação e uma breve descrição das o fomento à Inovação.
de todos os envolvidos são relevantes
cultivares IAC registradas no Minis-
para o resultado final.
tério da Agricultura e Abastecimento,
Nesse contexto, o IAC e sua Dire-
no período 2011-2014. Totalizando um
toria-geral tem buscado intensificar as
número de 84 cultivares.
ações de Transferência de Tecnologia, Sérgio Augusto Morais Carbonell
As páginas azuis trazem entrevis- Diretor geral
no sentido de cumprir sua missão ins-
titucional e fomentar cada vez mais a ta com o vereador André von Zuben,
inovação no setor produtivo. onde destacam-se informações sobre
Charleston Gonçalves
Adotando essa diretriz, a partir de a Comissão Permanente de Ciência e Luiza M. Capanema
2014, o Boletim Informativo O Agro- Tecnologia (CCT) e o papel do IAC nas Editores - O Agronômico

nômico retoma a publicação de seus discussões sobre os rumos da Ciên-


exemplares com o objetivo de desta- cia, Tecnologia e Inovação no municí-
car resultados de pesquisa e ações pio de Campinas.
direcionados à promoção da Transfe- Também é apresentado o Balan-
rência de Tecnologia e da Inovação. ço Hídrico, 2012-2014, que completa
Os volumes 64-66 apresentam re- a serie histórica disponibilizada por
latos de tecnologias geradas pelo IAC meio deste veículo.
e adotadas pelo setor produtivo, bem O Boletim Informativo O Agronômi-
como resultados de pesquisa com po- co ao longo dos seus 74 anos de exis-
tencial de aceitação nas diversas ca- tência tem contribuído para difusão dos
deias produtivas do agronegócio. resultados de pesquisa do IAC, tornan-
Alguns artigos narram os sucessos do-se peça importante no desenvolvi-
do IAC que geraram produtos, proces- mento da agricultura brasileira.
INFORMAÇÕES
ÍNDICETÉCNICAS

EDITORIAL
1 O Agronômico
V. 64-66│2014

PÁGINAS AZUAIS
2 Entrevista com
André von Zuben

TRAJETÓRIA DE PESQUISA,
6 DESENVOLVIMENTO E TRANSFERÊNCIA
DE TECNOLOGIA
O melhoramento genético
de feijoeiro no Instituto
Agronômico IAC (1932 a 2014)

CULTIVARES IAC
14 Cultivares IAC lançadas no
período de 2011-2014

PÓS-GRADUAÇÃO IAC
31 Inovação na formação de recursos
humanos em agricultura tropical e
subtropical

INFORMAÇÕES TÉCNICAS
32 Sistema de multiplicação MPB
e integração com o setor
sucroenergético

Aeroponia pode inovar a produção


42 de minitubérculos de batata no
Estado de São Paulo

Pré-zoneamento para a cultura da


52 oliveira no Estado de São Paulo

Programa de transferência de
56 tecnologias do maracujá-amarelo
do IAC

Fertilizantes: Qualidade das


65 análises de nutrientes e
contaminantes é fundamental

73 Macaúba: Promessa brasileira de


planta oleaginosa para produção
de energia renovável sustentável

78 BALANÇO HIDRÍCO
Balanço hídrico (2012-2014)
PÁGINAS AZUIS

Entrevista com André von Zuben


Vereador de Campinas (SP), eleito em 2012 pelo
PPS (Partido Popular Socialista)
1. O vereador André von Zuben foi Como presidente da Comissão de
bancário e tem formação na área de Ciência e Tecnologia da Câmara Mu-
recursos humanos. Como começou nicipal de Campinas, tenho me empe-
sua ligação e interesse pela área de nhado bastante para desenvolver o se-
Ciência, Tecnologia e Inovação? tor de forma participativa, envolvendo
Quando assumi a presidência da toda a cadeia que compõe o segmento:
Comissão Permanente de Ciência e prefeitura, empresários, institutos de
Tecnologia (CCT), já no início do meu pesquisa, universidades, terceiro setor
mandato na Câmara Municipal de e trabalhadores da área.
Campinas, detectei que o setor estava Além do papel estratégico de en-
muito desarticulado e que o município volvimento do setor, como vereador
precisava assumir um papel mais in- também acompanhei as principais
dutor para promover o seu crescimen- diretrizes das secretarias municipais
to. Na Comissão, imprimimos um nova e os planos de governo, além disso,
dinâmica, e nas reuniões mensais, interagi junto ao executivo com o in-
passamos a realizar debates públicos e tuito de articular políticas públicas e
a ouvir os principais representantes do desenvolver ações que sejam impor-
setor e suas propostas, além de uma tantes para a cidade, entre elas, cola-
série de visitas e consultas com a fina- borei com a adesão de Campinas ao
lidade de definir um plano estratégico Programa Cidades Sustentáveis, um
para resgatar a vocação de Ciência e plano de gestão integrada e com o de-
Tecnologia da cidade de Campinas. senvolvimento do Plano Municipal de
Entre os pontos discutidos para Ciência, Tecnologia e Inovação para os
retomar o crescimento perdido para próximos 10 anos.
outras cidades, foram apontadas 3. Compete à Comissão de Ci-
ações prioritárias como: melhorias ência e Tecnologia promover no
na lei de incentivos fiscais para em- município iniciativas em defesa do
presas de base tecnológica, definição desenvolvimento científico e tecno-
de uma política pública de fomento, a lógico, além de acompanhar discus-
Entrevista realizada por Carla Gomes1
ser construída de forma integrada en- sões sobre o tema em âmbito esta-
tre empresas, sociedade, instituições dual e nacional – certo?
de pesquisa e prefeitura de Campinas Desde 2013, quando assumi a
e um plano diretor com indicadores e presidência da Comissão, estamos
metas a serem seguidas para o avan- fazendo um trabalho intenso de ações
ço real do setor. Desta forma, a co- estratégicas para promover o setor.
missão começou a ajudar a elaborar Apresentei o projeto de lei que cria a
uma proposta para que Campinas vol- Semana Municipal de Ciência e Tec-
1 Jornalista, Assessora de Imprensa do Instituto tasse a crescer nesta área. nologia, que já foi aprovado e desde
Agronômico (IAC).
2. Quais atividades desempenha outubro de 2013 entrou para o calen-
como presidente da Comissão de Ci- dário oficial do município. Participei

2
ência e Tecnologia? da criação do Conselho Municipal de
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
EDITORIAL
PÁGINAS AZUIS

Ciência, Tecnologia e Inovação, e su- Além de um pacote de incentivos titular em um Conselho Municipal, de
geri uma emenda modificativa e aditi- fiscais que irá criar condições de for- acordo com a lei. Mas como vereador
va, ampliando a participação e repre- mar em Campinas um parque tecnoló- temos acesso a todos os conselhos,
sentatividade do Conselho. Propus ao gico de defesa e de aviação civil e dois cumprindo um papel de acompanha-
setor a elaboração do Plano Municipal projetos de lei de incentivos fiscais mento e fiscalização, que compete ao
de Ciência, Tecnologia e Inovação, para empresas de diversos setores, legislativo, colaborando assim para
que é conduzido pela Secretaria de principalmente das áreas de ciência e que algumas políticas públicas sejam
Desenvolvimento Econômico, Social tecnologia, turismo de negócios e lo- desenvolvidas efetivamente e de acor-
e Turismo da Prefeitura de Campinas, gística, e outro, que beneficia direta- do com os anseios da sociedade.
que está sendo trabalhado como eixo mente as startups – empresas jovens 7. Quais Instituições de Campinas
estratégico para o desenvolvimento e de pequeno porte que desenvolvem participam desse trabalho?
econômico da cidade de Campinas. projetos promissores na área de pes- O Conselho Municipal de Ciência,
O futuro da Política de Ciência, quisa e tecnologia. Tecnologia e Inovação é composto por
Tecnologia e Inovação para Campinas 5. Criado em 2013, o Conselho representantes indicados pelos órgãos
está sendo discutido de forma inte- de Ciência, Tecnologia e Inovação e entidades a seguir discriminados:
grada envolvendo representantes da tem como objetivo a promoção de I - membro nato: indicado pela Secre-
Prefeitura de Campinas, sociedade atividades de ciência, tecnologia e taria Municipal de Desenvolvimento
civil e acadêmicos ligados ao setor e de inovação em Campinas, desenvol- Econômico, Social e de Turismo, que
tem como protagonistas os membros vendo parceiras com instituições de exercerá a Presidência do Conselho;
do Conselho Municipal de Ciência, pesquisas e universidades do muni- II - membros designados, tendo um
Tecnologia e Inovação, a Secretaria de cípio – certo? Pergunto: Quais ativi- titular e um suplente
Desenvolvimento Econômico, Social e dades devem ser promovidas? Quais a) 03 (três) representantes do Poder
Turismo da Prefeitura de Campinas e a já estão sendo realizadas? Executivo Municipal;
Comissão de Ciência e Tecnologia, da Tudo será planejado a partir do pla- b) 01 (um) representante da Universi-
Câmara de Campinas. no, que elabora diretrizes gerais, com dade Estadual de Campinas;
4. Esses trabalhos tiveram início em base em eixos estratégicos divididos c) 01 (um) representante da Pontifícia
2013, certo? Para quando são espera- em quatro temas: tripla hélice, go- Universidade Católica de Campinas;
dos os primeiros resultados efetivos? verno, mercado e sociedade. A partir d) 01 (um) representante do Instituto
Os primeiros resultados já come- dos direcionadores será feito os pro- Agronômico de Campinas (IAC);
çaram a aparecer. A cidade já tem jetos executivos para cada área, como e) 01 (um) representante do Centro
um Conselho consultivo, que está em marketing, atração de investimentos Nacional de Pesquisa em Energia e
plena atuação, e antes disso, já estava e retenção de empresas, formação, Materiais (CNPEM);
desenvolvendo alguns ações específi- capacitação e qualificação de mão de f) 01 (um) representante da Fundação
cas, como o Prêmio Startup Campinas, obra especializada, agência de desen- CPqD;
que seleciona os melhores planos de volvimento e inovação, entre outros. g) 01 (um) representante do Centro de
negócio da cidade com prêmios como 6. Quais atividades o senhor de- Tecnologia da Informação Renato Ar-
incubação, equipamentos eletrônicos, sempenha como membro do Conselho cher (CTI);
cursos, troféus e MBAs. Também im- de Ciência, Tecnologia e Inovação? h) 01 (um) representante do Instituto
plantou a 1ª Aceleradora Municipal do No Conselho, eu participo ativamen- de Tecnologia dos Alimentos (ITAL);
país, envolvendo investidores e em- te, como convidado, pois o legislativo

3
presas de base tecnológica. não pode ser nomeado como membro
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
PÁGINAS
EDITORIAL
AZUiS

9. O vereador propôs a elabora-


ção do Plano Municipal de Ciência,
Tecnologia e Inovação, que está
sendo conduzido pela Secretaria
de Desenvolvimento Econômico,
Social e Turismo da Prefeitura de
Campinas – é isso? Qual o anda-
mento deste trabalho?
Logo nas primeiras reuniões da Co-
missão de Ciência e Tecnologia, ficou
muito claro que a cidade precisava de
um plano e de diretrizes para o avanço
do setor.
No primeiro semestre de 2013, foi
criado um comitê provisório de tra-
balho, com a participação de algumas
instituições que já haviam passado na
Comissão de C&T e com o apoio da
Fundação Fórum Campinas. A partir
i) 01 (um) representante do Sin- 8. Considerando que o cenário de
deste arcabouço, foi feito um levanta-
dicato dos Trabalhadores em Pes- C,T&I requer trabalho contínuo, sem
mento das principais ações que o setor
quisa, Ciência e Tecnologia (SIN- interrupções, como o vereador e a
de ciência e tecnologia precisava para
TPq); Comissão de C & T planejam garan-
expandir em Campinas. Já em outu-
j) 01 (um) representante da Asso- tir a manutenção desses trabalhos,
bro, durante a 1ª Semana de Ciência e
ciação para a Promoção da Exce- considerando que a gestão da atual
Tecnologia, foi criado um documento
lência do Software Brasileiro (Sof- Câmara se encerra em dois anos?
inicial com os eixos indicadores para
tex); Por isso, priorizamos criar uma po-
o plano. Nos meses de novembro e de-
k) 01 (um) representante do Cen- lítica continuada e estruturar de forma
zembro, reuniram-se 15 representantes
tro das Indústrias do Estado de integrada o setor.
do governo municipal e das instituições
São Paulo (CIESP); A instalação do conselho foi um
para articular o desenvolvimento de um
l) 01 (um) representante da Funda- grande passo para o avanço e desen-
plano definitivo para o setor.
ção Fórum Campinas (FFC); volvimento da política de Ciência e
Depois dessas reuniões prelimi-
m) 01 (um) representante da As- Tecnologia do município. Os Conse-
nares, o grupo estendeu o trabalho
sociação Campinas Startup (ACS); lhos Municipais são ferramentas que
ao recém-criado Conselho e realizou
n) 01 (um) representante de Orga- podem dar permanência as políticas
uma reunião preparatória, a partir da
nização Não Governamental, devi- setoriais e o setor sequer tinha um
análise de Matriz SWOT, no dia 21 de
damente constituída e com atua- conselho. Fizemos ações fundamen-
março de 2014, no CPqD, que serviu
ção na área de Ciência, Tecnologia tais para instituir uma política perene
para embasamento do “Planejamen-
e Inovação. no município, que tem vocação nesta
to Estratégico de Ciência, Tecnologia
área, mas estava atuando timidamen-
e Inovação”, no dia 28 de março, na
te, podendo agora, potencializar este
4
Universidade Mackenzie, reuniram-se
crescimento.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
PÁGINAS AZUIS

os principais representantes do setor meiro instituto de ciência e tecnologia gação e pesquisa. Sua finalidade princi-
em um seminário de imersão. Ao todo, de Campinas, pioneiro no país e tem pal é envolver a população, em especial
mais de 52 lideranças do segmento muito a contribuir com esse processo, crianças e jovens, em torno de temas e
participaram do evento que discutiu o além de ser um dos mais importantes atividades de ciência e tecnologia que
futuro das políticas de ciência, tecno- centros de pesquisa do país, que se são realizados no município.
logia e inovação para o município, bem destaca pela inovação no setor agrí- 14. Na avaliação do vereador,
como as metas a serem atingidas para cola. O instituto apresentou diversos quais as principais características
tornar o município referência mundial avanços no setor, principalmente es- que fazem de Campinas um Polo de
em inovação. tudos relacionados a cana-de-açúcar, Ciência, Tecnologia e Inovação?
O resultado do seminário será um mandioca e seringueiras, entre outros. Centros de Pesquisa, universidades,
documento oficial e publicado em um Outra questão é o valor histórico do empresas de tecnologia, formação de
livro. A ideia é que o livro seja referên- IAC para Campinas, fundado em 1887 recursos humanos. Também é a déci-
cia para a política de Ciência e Tecno- pelo imperador D. Pedro II. ma cidade mais rica do Brasil, respon-
logia até 2025. 13. Muitos dos produtos e serviços sável por pelo menos 15% de toda a
10. As instituições de pesquisas usados pela população foram desen- produção científica nacional, sendo o
de Campinas foram ouvidas? volvidos em Campinas, são dezenas terceiro maior polo de pesquisa e de-
Sim, tanto na Comissão de Ciên- deles. Exemplos: a garrafa de cerve- senvolvimento brasileiro. O segmento
cia e Tecnologia da Câmara quanto ja, desenvolvida pelo ITAL, o feijão mostra força e aproveita-se ainda da
no “Planejamento Estratégico”, onde carioca, o mais consumido no Brasil, logística privilegiada da região, corta-
todas as instituições de pesquisas é do IAC, o cartão telefônico, do CPqD da pelas principais rodovias do Estado,
foram convidadas e enviaram seus e tantos outros. Na opinião do senhor mão de obra especializada e a projeção
representantes para participarem das o que pode ser feito para que a popu- do Aeroporto de Viracopos, que dará
discussões e do seminário. lação tenha conhecimento dessa “pa- sequência a essa tendência de cresci-
11. Como foi a participação do ternidade” campineira e valorize mais mento.
Instituto Agronômico? as instituições? 15. Quais as perspectivas para o
O IAC esteve na Comissão de Ciên- O fortalecimento da imagem como futuro na área de C&T em Campinas?
cia e Tecnologia da Câmara Municipal Polo de Ciência, Tecnologia e Inovação São promissoras. Além do potencial
de Campinas, é membro atuante do é um eixo estratégico que faz parte do do setor, a Prefeitura e a Câmara estão
Conselho Municipal de Ciência e Tec- plano. O próximo passo será o deta- atuando em parceria com todo o ecos-
nologia e Inovação e está trabalhando lhamento em um projeto executivo. sistema para potencializar estas carac-
em conjunto com os demais partici- Assim que concluído o plano, que deve terísticas. Q
pantes para transformar Campinas em ser lançado até o final deste ano, serão
referência mundial na Ciência, Tecno- feitos os projetos executivos, inclusi-
logia e Inovação. Referência que o Ins- ve o que diz respeito a comunicação
tituto Agronômico já é para o país. e marketing. A própria Semana Mu-
12. Como o senhor avalia a contri- nicipal de Ciência e Tecnologia é uma
buição do Instituto Agronômico para estratégia, já que o evento contempla
colocar a região de Campinas como várias atividades abertas ao público,
polo de C,T&I? juntamente com a colaboração de en-
O Instituto Agronômico é o pri- tidades e instituições de ensino, divul-

O Agronômico | v. 64-66 | 2014 5


TRAJETÓRIA DE PESQUISA,
DESENVOLVIMENTO E
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

O melhoramento genético
de feijoeiro no Instituto
Agronômico IAC (1932 a 2014)

O
s trabalhos com melhora- realizados foi recomendada como cul-
mento genético em feijoeiro tivar em 1971 com o nome de Cario-
no Brasil, foram iniciados no quinha. Na sequência vários trabalhos
Instituto Agronômico (IAC), em 1932, conjuntos foram realizados pelo IAC e
através de avaliações sobre a capaci- Coordenadoria de Assistência Técnica
dade produtiva da espécie, porte de Integral (CATI), órgão também ligado
planta e resistência a doenças, para a Secretaria de Agricultura e Abasteci-
posterior utilização na obtenção de mento do Estado de São Paulo, com a
linhagens. finalidade de demonstrar aos agricul-
Neste período, centenas de linha- tores que a cultivar era mais produtiva
gens foram analisadas quanto às carac- que as demais em uso. Os resultados
terísticas mencionadas, selecionando- obtidos nesse trabalho promoveram
-se plantas em populações derivadas de uma revolução no comércio de feijão
cruzamentos artificiais. Como resultado no Brasil, pois a cultivar modificou a
deste trabalho pioneiro observou-se que tradição do consumo de feijões dos ti-
as linhagens de tegumento preto eram pos rosinha, roxinho, manteiga e jalo
mais produtivas que os demais tipos e viabilizou o agronegócio do feijão no
por apresentarem tolerância a seca e Brasil. Este tipo de grão, 43 anos do
principalmente, ao patógeno agente da seu lançamento, é ainda cultivado.
ferrugem, que se caracterizava na época A partir do lançamento da cultivar
como a principal doença que ocorria na Carioquinha o Programa de Melhora-
cultura. Constatou-se também que as mento Genético de Feijoeiro do IAC
Alisson Fernando Chiorato1 sementes de cor preta apresentavam desenvolveu inúmeras populações
Sérgio Augusto Morais Carbonell1 baixa aceitação comercial, o que não segregantes que apresentavam tegu-
acontecia com cultivares de tegumento mento carioca visando o lançamento
tipo rosinha, roxinho, bolinha e, princi- de genótipos mais adaptados que a
palmente os tipos manteiga (feijões de ‘Carioquinha’. Neste sentido, no início
origem Andina) que dominavam o mer- da década de 80 foi lançada a cultivar
cado consumidor antes dos anos 70. IAC Carioca que apresentou potencial
Em meados de 1970, pesquisado- produtivo maior e resistência a raça fi-
1 Instituto Agronômico, Centro de Grãos e Fibras,
res do Instituto Agronômico em uma siológica 65 do patógeno da antracno-
afchiorato@iac.sp.gov.br. propriedade em Palmital-SP, identi- se (Colletotrichum lindemuthianum).
ficaram uma planta de maior capa- Essa nova cultivar, nessa época, mos-
cidade produtiva, cuja coloração do trou-se a mais agressiva e dissemina-
grão era creme com listras marrom. da nas principais regiões produtoras
O proprietário da fazenda a chamava de feijão no Brasil.
de carioquinha, devido a uma raça de Em continuidade ao melhoramen-
suínos que também possuía listras to genético voltado para resistência a
6 O Agronômico | v. 64-66 | 2014
pelo corpo. Após vários experimentos doenças, em especial, antracnose, no
TRAJETÓRIA DE PESQUISA,
DESENVOLVIMENTO E
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

início da década 90 foram lançadas as superior as cultivares anteriormente


cultivares IAC Carioca Aruã, IAC Ca- lançadas. Em 2002 foi lançada a culti-
rioca Pyatã e IAC Carioca Akytã. Essas var IAC Carioca Tybatã, uma linhagem
três cultivares reuniam em um único irmã da IAC Carioca Eté, mas com me-
genótipo, genes de resistência para as lhor qualidade de grão, maior potencial
raças fisiológicas da antracnose 31, produtivo e também resistência para
65, 73, 81, 89 e 95 proporcionando os patógenos da antracnose, mancha
estabilidade da resistência em regiões angular e tolerância ao vírus do mosai-
com alta ocorrência do patógeno, as- co dourado.
sim como porte ereto de planta. Visando manter o vetor do pro-
Vale destacar, além da resistência a gresso genético para produtividade,
antracnose, que a cultivar IAC Carioca nos anos de 2004 e 2005 foram lan-
Aruã foi a primeira cultivar brasileira a çadas pelo IAC as cultivares IAC Vo-
apresentar tolerância ao escurecimen- tuporanga, IAC Apuã e IAC Ybaté com
to do grão, podendo ser armazenada potencial produtivo maior do que as
por vários meses sem que ocorresse a cultivares anteriores. Essas cultivares
depreciação do produto. Essa cultivar apresentaram porte de planta ereto
também se tornou a base genética uti- para colheita mecânica, atendendo a
lizada por vários programas de melho- demanda de produtores da época que
ramento na busca de grãos mais claros iniciaram nesse período um sistema
e tolerantes ao escurecimento. de colheita mecânica da cultura.
As cultivares IAC Carioca Pyatã e Após o lançamento dessas cultiva-
IAC Carioca Akytã destacaram-se pela res, em 2005 o programa de melho-
resistência genética a doença da man- ramento genético de feijoeiro do IAC
cha angular causada pelo fungo Pseu- mudou a base genética utilizada em
doisariopsis griseola juntamente com cruzamentos, tendo como principal
a resistência a antracnose, agregando objetivo, além da resistência a antrac-
a elas um diferencial de qualidade, nose, melhorar a qualidade tecnológica
que permitiu reduções significativas de grãos considerando características
no custo de produção devido a dimi- como maior tamanho de grão, menor
nuição no uso de defensivos agrícolas tempo de cozimento, tolerância ao es-
e, a disponibilização de produtos com curecimento, coloração clara de grão,
melhor qualidade ao consumidor. qualidade de caldo e maior porcenta-
Após esta fase, ocorreu em 1999 o gem de proteína.
lançamento da cultivar IAC Carioca Eté É importante lembrar que até mea-
que apresentou resistência genética dos de 1998 o tamanho de grão consi-
a antracnose, mancha angular e tole- derado como padrão era o da cultivar
rância ao vírus do mosaico dourado, Carioquinha desenvolvida em 1970,
bem como, com potencial produtivo que apresentava tamanho médio entre
O Agronômico | v. 64-66 | 2014 7
TRAJETÓRIA DE PESQUISA,
INFORMAÇÕES TÉCNICAS
DESENVOLVIMENTO E
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

as peneiras 11 e 12. Após 1998, este essa cultivar é considerada padrão de


padrão foi modificado com a dispo- mercado para qualidade de grão, apre-
nibilização da cultivar BRS Pérola de- sentando ainda excelente produtivida-
senvolvida pela EMBRAPA, passando de e porte ereto de planta para colheita
para o tamanho médio de grão entre mecânica.
as peneiras 12 e 13, o que se tornou o A síntese da trajetória de P&D do
padrão preferido das empresas empa- programa de melhoramento do feijoeiro
cotadoras e do consumidor final. Isto pode ser observada na Tabela 1. Vários
tem relevância, pois o consumidor estados brasileiros utilizam a cultivar
final é, em última instância, o elo da IAC Alvorada com extensas áreas em
cadeia produtiva que define as exigên- cultivo, principalmente nos Estados de
cias de mercado, e consequentemente São Paulo, Paraná e Minas Gerais, Goi-
para todo o processo de inovação. As ás e Mato Grosso (Tabela 2).
empresas empacotadoras passaram a A cultivar IAC Alvorada, apesar de
aliar as “marcas do produto” ao tipo ser padrão para qualidade de grão,
e coloração clara de grão e o con- apresentou suscetibilidade ao fungo de
sumidor, associando grãos maiores solo Fusarium oxysporum causador da
a um melhor rendimento de panela. doença da murcha de Fusarium, sendo
Salienta-se que não é só o tamanho este fato um inibidor para sua utiliza-
do grão que determina o sucesso de ção nas principais áreas de cultivo no
uma cultivar, mas a sua característica Brasil. Isto se configurou em um novo
Foto: Henrique Grandi

de manter a coloração clara (carioca), desafio para o programa de melhora-


a alta produtividade com estabilidade mento do IAC levando ao desenvolvi-
de produção, a qualidade tecnológica mento de milhares de linhagens, que
e nutricional e a resistência a pragas foram avaliadas para os aspectos de
e doenças. qualidade de grão e resistência as do-
Alinhado às demandas do mercado, enças da antracnose e murcha de Fu-
o programa de melhoramento genético sarium. Como resultado final ocorreu
de feijoeiro do IAC novamente mudou a o lançamento da cultivar IAC Formoso
base genética dos genótipos utilizados no ano de 2010. Destaca-se aqui, que
em cruzamentos desenvolvendo culti- esta cultivar, a partir do vetor de qua-
vares que apresentassem grãos maio- lidade tecnológica, é a que apresenta
res (maior rendimento de peneira) e o menor tempo de cozimento do grão.
resistência/tolerância ao escurecimen- Outro aspecto importante da cultivar
to do grão. A cultivar IAC Alvorada, IAC Formoso refere-se a produtivida-
lançada pelo IAC em 2008, respondeu de superior e também tolerância ao
a essa demanda por ter agregado tais déficit hídrico. Essa cultivar além de
características. Atualmente, no Brasil apresentar alto potencial produtivo e
8 O Agronômico | v. 64-66 | 2014
TRAJETÓRIA DE PESQUISA,
INFORMAÇÕES TÉCNICAS
DESENVOLVIMENTO E
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

tolerância ao déficit hídrico, destaca- da cultivar IAC Milênio2. As principais


-se por possuir teores significativos características da cultivar IAC Milênio
de isoflavonas quando comparados a a serem destacadas são a produtivi-
outras cultivares do mercado, chegan- dade média apresentada de 2.831 kg
do a apresentar uma porcentagem 10 ha-1 nos ensaios de Valor de Cultivo e
vezes maior em relação aos padrões de Uso (VCU) realizados no Estado de São
mercado. A porcentagem de isoflavona Paulo entre os anos de 2011 a 2013,
encontrada na cultivar IAC Formoso ciclo médio de 95 dias, massa de mil
é equivalente a 10% da porcentagem grãos de 290 gramas, alta qualidade
média de isoflavonas encontrada na de grão resistente ao escurecimento,
soja. resistente ao fungo de solo Fusarium
Em 2012, foi lançada a cultivar IAC oxysporum e também para as raças fi-
Imperador, que além manter a resis- siológicas 81, 89 e 95 do patógeno da
tência a antracnose, a bacteriose e a antracnose (Colletotrichum lindemu-
murcha de Fusarium apresenta preco- thianum).
cidade, com ciclo de 75 dias, conside- Atualmente as pesquisas condu-
rando a fase da semeadura a colheita. zidas no âmbito do Programa de Me-
Essa cultivar ainda está em expansão lhoramento Genético do Feijoeiro têm
pelo recente lançamento, mas certa- sido pautadas pelos seguintes temas:
mente irá integrar sistemas de cultivo qualidade tecnológica do grão, au-
em regiões onde foi implantado o va- mento dos índices de produtividade,
zio sanitário1 que requer a utilização de escassez hídrica, adoção de caracte-
cultivares de ciclo rápido. rísticas nutracêutica ao feijão comum.
Entre os anos 2010 e 2013 os tra- Referente a parte nutracêutica, foram
balhos de P&D do Programa de Me- encontrados nos genótipos isoflavo-
lhoramento Genético do Feijoeiro dire- nóides, agliconas, daidzeína e geniste-
cionaram suas atividades para agregar ína e os flavonóis kaempferol, mirice-
qualidade de grão presente na cultivar tina e quercetina. Grãos do tipo preto e
IAC Alvorada e resistência à antracno- origem Mesoamericana, a exemplo da
se e à murcha de Fusarium. O resul- cultivar IAC Una, destacaram-se pelas
tado deste esforço foi o lançamento maiores concentrações de isoflavo-
nóides, variando de 5.25 a 14.03 mg/
1 O vazio sanitário é um período de ausência de plantas
vivas nas lavouras de culturas como soja, feijão e algodão. kg, sendo uma cultivar que também
Na soja, ele visa reduzir a quantidade de uredosporos apresentou o isoflavonóide daidzeína.
(esporos que aparecem na fase epidêmica da doença) no
ambiente durante a entressafra e, dessa forma, diminuir a
possibilidade de incidência precoce da ferrugem asiática. 2 A denominação “Milênio” se deve ao fato de ser esta a
O período, que varia de 60 a 90 dias, foi estabelecido cultivar de número 1.000 desenvolvida pelo Instituto
considerando que o tempo máximo de viabilidade de Agronômico em seus 127 anos de existência.

9
uredosporos registrado é de 55 dias.

O Agronômico | v. 64-66 | 2014


TRAJETÓRIA DE PESQUISA,
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DESENVOLVIMENTO E
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

A cultivar IAC Formoso, com grãos realizada pelo Núcleo de Produção de


tipo carioca, aliado ao alto teor de pro- Sementes do IAC teve uma evolução
teínas e sendo também uma cultivar nos últimos anos, pois entre os anos
resistente a ocorrência de carunchos, de 2005 a 2007 foram produzidos ao
apresentou a maior concentração de redor de 10.000 kg de sementes ano,
genisteína, representando cerca de ao passo que no ano de 2013, o sis-
11% do conteúdo presente na soja, tema fechou com uma produção de
bem como níveis elevados do flavonol 90.000 kg, representando um aumen-
kaempferol. to aproximado de 700% na produção
de sementes genéticas entre os anos
A transferência de tecnologia de 2008 a 2013 (Figura 1). Salienta-se
do Programa de Melhoramento que essa produção de sementes é rea-
Genético de Feijoeiro lizada para atender empresas parceiras
Visando a difusão das tecnolo- do IAC, que multiplicam as cultivares
gias desenvolvidas pelo Programa de visando atender ao produtor rural.
Melhoramento de Feijão do IAC, des- Entre os anos de 2013 e 2014 foram
taca-se que a produção de sementes emitidas autorizações de multiplicação
de sementes para 28 empresas o que

10 O Agronômico | v. 64-66 | 2014 Figura 1. Produção de sementes de feijão, cultivares do IAC, 2005 a 2013.
TRAJETÓRIA DE PESQUISA,
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DESENVOLVIMENTO E
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

totalizou uma área de 2.976 hectares sendo que, por meio de avaliações re-
semeados com cultivares de feijão do alizadas a resistência genética ao pató-
IAC. Em relação a esse total, e consi- geno promove uma redução ao redor de
derando que cada hectare produz em 30% no custo de produção do agricul-
média 1.800 kg de sementes de feijão tor rural. Para a cultivar IAC Imperador,
beneficiada, foram produzidos cerca além das características citadas acima,
de 1.873.500 kg de sementes, sendo a produtividade média obtida de apro-
suficientes para semear uma área de ximadamente 50 sacos de 60 kg por
89.286 hectares, considerando que em hectare, aliado a sua precocidade, tem
média são utilizados 60 kg de semen- permitido colheitas de 75 dias, a contar
tes para cada hectare. da semeadura a colheita, vem sendo
O resultado destacado acima reflete bem procurada por agricultores de vá-
um processo efetivo de difusão e ado- rias regiões do Brasil. A cada ano tem
ção das tecnologias geradas no âmbito aumentado a procura por essa cultivar
do Programa de Melhoramento Gené- desde seu lançamento em 2012. Ou-
tico de Feijoeiro do IAC, pois grande tras características como a resistência
parte da semente obtida pelas empre- ao fungo de solo causador da murcha
sas foram utilizadas para a semeadura de Fusarium (Fusarium oxysporum),
de novos campos de produção, o que tal como conseguido na cultivar IAC
permite deduzir que a participação em Milênio, tem permitido também maior
área na agricultura brasileira das culti- aceitabilidade da cultivar por parte dos
vares do IAC seja maior do que o valor agricultores.
mostrado acima. Salienta-se também
que os dados apresentados referem-se
ao processo legal de comercialização
de sementes de feijão, não estando
computado a utilização de sementes
salvas pelos agricultores. No Brasil
apenas 19% das lavouras comerciais
de feijão utilizam sementes certificadas
(ANUÁRIO ABRASEM, 2014).
A aceitabilidade das cultivares de
feijão do IAC devem-se basicamente a
qualidade de grão apresentada por aten-
der as exigências do mercado brasileiro,
como também, a resistência genética
demonstrada para o patógeno da antrac-

11
nose (Colletotrichum lindemuthianum),
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
TRAJETÓRIA DE PESQUISA,
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TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

Tabela 1. Trajetória de P&D do Programa de Melhoramento Genético do Feijoeiro Instituto Agronômico (IAC),
1932-2014.

Atividades de pesquisa e
Período e principais fatos Produto
desenvolvimento (P&D)
1932 Início das pesquisas com Avaliações sobre a capacidade Identificação de linhagens de tegumento preto
o feijoeiro no IAC produtiva da espécie, porte de eram mais produtivas que os demais tipos de
planta e resistência a doenças, tegumento por apresentarem tolerância a seca e
para posterior utilização na principalmente, ao patógeno da ferrugem
obtenção de linhagens
Década de Identificação de planta Demonstração aos agricultores Recomendação de cultivar com nome de
1970 de maior capacidade que a nova cultivar era mais Carioquinha (1971)
produtiva com coloração produtiva que as demais em uso
do grão creme com naquele período
listras marrom
Década de Lançamento da cultivar Desenvolvimento de inúmeras IAC Carioca: potencial produtivo maior do que
1980 IAC Carioca populações segregantes com a ‘Carioquinha’ e resistente à raça fisiológica
tegumento carioca visando o 65 do patógeno da antracnose (Colletotrichum
lançamento de genótipos mais lindemuthianum)
adaptados do que a Carioquinha
Década de Lançamento das Busca por resistência a doenças, IAC Carioca Aruã: tolerância ao escurecimento
1990 cultivares IAC Carioca em especial, a antracnose; do grão; IAC Carioca Pyatã e IAC Carioca Akytã:
Aruã, IAC Carioca Pyatã, Busca de melhorias nos índices resistência genética a doença da mancha angula e
IAC Carioca Akytã e IAC de produtividade resistência a antracnose;
Carioca Eté. IAC Carioca: resistência genética a antracnose,
mancha angular e tolerância ao vírus do mosaico
dourado e potencial produtivo superior as cultivares
lançadas anteriormente
Década de Lançamento das Busca de melhorias nos índices IAC Carioca Tybatã: qualidade de grão, maior
2000 cultivares IAC Carioca de produtividade e variedades potencial produtivo, resistência a antracnose,
Tybatã, IAC Votuporanga, adequadas a colheita mecânica; mancha angular e tolerância ao vírus do mosaico
IAC Apuã, IAC Ybaté e Busca por melhor qualidade dourado; IAC Votuporanga, IAC Apuã e IAC Ybaté:
IAC Alvorada tecnológica de grãos maior potencial produtivo;
IAC Alvorada: excelente produtividade e porte ereto
de planta para colheita mecânica
2010 - 2014 Lançamento das Busca por melhor qualidade IAC Formoso: produtividade superior e menor
cultivares IAC Formoso, tecnológica de grãos, tempo de cozimento do grão;
IAC Imperador e IAC produtividade e resistência as IAC Imperador: precocidade nas fases de
Milênio doenças da antracnose e murcha semeadura e colheita; IAC Milênio: Resistência ao
de Fusarium. Fusarium oxysporum, qualidade de grão, porte para
colheita mecânica e alta produtividade.

Fonte: Organizado pelos autores.

12 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


TRAJETÓRIA DE PESQUISA,
INFORMAÇÕES TÉCNICAS
DESENVOLVIMENTO E
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

Tabela 2. Cultivares IAC de feijão e localização de semeadura 1982-2014.

Denominação Ano de
N. RNC* Localizacão de semeadura
da cultivar registro

IAC-Bico de Ouro 00303 1982 SP


IAC-Carioca Akytã 00304 1993 SP e PR
IAC-Carioca Aruã 00305 1993 SP e PR
IAC-Carioca 00306 1989 SP, PR e MG
IAC-Maravilha 00307 1993 SP, PR e MG
IAC-Una 00308 1994 SP, PR e MG
IAC-Carioca Pyatã 00309 1994 SP, PR e MG
Carioca (Carioquinha) 00429 1971 SP, PR, SC, MG, MS, MT, GO, RJ, AL, BA, SE, PA
IAC Eté 02450 1999 SP, PR e MG
IAC-Carioca Tybatã 11244 2002 SP, PR e MG
IAC-Apuã 21119 2005 SP
IAC-Ybaté 21120 2005 SP
IAC-Votuporanga 21121 2005 SP
IAC - Tunã 21286 2006 SP
IAC Harmonia 22627 2007 SP, PR e MG
IAC Alvorada 22628 2007 SP, PR, SC, MG, MS, MT, GO, RJ, AL, BA, SE
IAC Boreal 22629 2007 SP e PR
IAC Galante 22630 2007 SP, MS, PR
IAC Diplomata 22631 2007 SP e PR
IAC Centauro 22666 2008 SP
IAC Esperança 25536 2009 SP
IAC Jabola 25537 2008 SP
IAC Formoso 27213 2010 SP, PR, SC, MG, MS, MT e GO
IAC Imperador 29886 2012 SP, PR, SC, MG, MS, MT, GO, RJ, AL, BA, SE, RN, RS e DF
IAC Milênio 31078 2013 SP, PR, SC, MG, MS, MT, GO, RJ, AL, BA, SE, RN, RS e DF

13
*RNC: Registro Nacional de Cultivares.
Fonte: Organizado pelo autores.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
CULTIVARES IAC

Cultivares IAC lançadas no


período de 2011-2014

O Instituto Agronômico disponibi- aspectos mencionados acima, como


lizou entre os anos 2011 e 2014 um a tolerância e resistência a doenças e
número de 84 cultivares, grande parte vírus, e a tolerância a seca e adaptação
desta já disponíveis comercialmente. à diferentes regiões de cultivo.
Dentre elas destaca-se a cultivar Feijão O aspecto relacionado à resistência
IAC Milênio, marca representativa de a seca indica que o IAC se antecipou
1.000 registros em nome do Instituto a atual conjuntura de escassez hídrica,
Agronômico no Ministério da Agricul- dado que os programas de melhora-
tura, Pecuária e Abastecimento. mento genético iniciaram seus traba-
As cultivares registradas e lançadas lhos há cerca de 10 anos.
no período em destaque atendem a A figura 1, ilustra a frequência sim-
diversas cadeias produtivas do agro- ples das 100 principais palavras extra-
negócio, bem como à adaptação a di- ídas do texto, em formato de nuvem de
ferentes ambientes de produção e re- palavras, representando os destaques
giões do Brasil, como é o exemplo das comentados aqui.
cultivares Cana IACSP 955094; Cana
IACSP 962042; Cana IACSP 963060
adaptadas às regiões canavieiras de Cultivares 2011
São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Tal Cana IACSP 955094
fato demonstra a importância atual do
IAC para o desenvolvimento da agri- Hábito de crescimento levemente
Charleston Gonçalves1
Luiza M. Capanema2 cultura brasileira. decumbente, altura muito alta, e diâ-
Adriano T. E. Aguiar3 Vale ainda mencionar que várias metro de colmo médio, internódios de
cultivares aqui relacionadas apresen- comprimento médio, gema com sali-
tam características inovadoras para ência média no nó do tipo obovada e
o agronegócio brasileiro, como é o número de perfilho de 12,32/m. Adap-
caso do Quiabo IAC Dacar e Quiabo tada em todas as regiões canavieiras
IAC Mali que possuem frutos de for- dos Estados de São Paulo, Goiás e
1 Instituto Agronômico, Centro de Horticultura,
charleston@iac.sp.gov.br mato quinado. Minas Gerais. É responsiva quanto ao
2 Instituto Agronômico, Centro de Horticultura, luiza@ Destacam-se também a diversidade ambiente de produção. Possui resis-
iac.sp.gov.br
de cultivares que apresentam resis- tência à ferrugem, ao carvão, ao raqui-
3 Instituto Agronômico, Centro de Café,
aguiar@iac.sp.gov.br tência e tolerância a doenças e vírus, tismo e à escaldadura.
bem como características relacionadas
Cana IACSP 962042
a maior produtividade, benefícios de
pós-colheita, armazenamento, qualida- Hábito de crescimento levemen-
de, dentre outros. te decumbente, altura e diâmetro do
Uma análise da frequência sim- colmo médio, internódios com com-
ples de palavras encontradas no tex- primento médio, gema pouco proemi-
14 O Agronômico | v. 64-66 | 2014
to descritivo das cultivares mostra os nente no plano do colmo, do tipo alon-
INFORMAÇÕES
CULTIVARES
TÉCNICAS
IAC

gada e número de perfilho de 11,46/m. comportamento responsivo quanto ao


Cultivar adaptada em todas as regiões ambiente de produção.
canavieiras dos Estados de São Pau-
lo, Goiás e Minas Gerais. É responsiva Laranja Sorocaba IAC 2006
quanto ao ambiente de produção. É Porte médio, frutos com massa
resistente à ferrugem, ao carvão, ao média de 195 gramas, formato leve-
raquitismo e à escaldadura. mente alongado, média de 25 semen-
tes por fruto, 54% de rendimento em
Cana IACSP 963060 suco, cor de casca e suco alaranjado
Hábito de crescimento ereto, alta, forte. Seu suco apresenta baixa aci-
diâmetro do colmo fino, internódios de dez, além de ser ideal para consumo
comprimento curto, gema com média in natura, em período de entressafra
saliência nos nós, gema tipo redonda, da laranja lima comum. É adaptada as
número de colmos de 12,45/m. Cultivar diferentes regiões do Estado de São
altamente produtiva, sendo resistente Paulo, com maturação mais precoce
à ferrugem, ao carvão, ao raquitismo de frutos na região norte e maturação
e à escaldadura. Adaptada em todas as mais tardia, nas regiões sul e centro. É
regiões canavieiras dos Estados de São tolerante ao vírus da tristeza e pouco
Paulo, Goiás e Minas Gerais. Apresenta atacada pela mosca-das-frutas, sen-

Figura 1. Nuvem de palavras1 das cultivares IAC 2011-2014.


1 Resulta da contagem de palavras simples. É gerada a partir do Programa Wordle, desenvolvido por Jonathan Feinberg e

15
disponível em www.wordle.net. O Wordle contabiliza a frequência de palavras, destacando as mais repetidas pelo tamanho da
letra. As cores e ordenação são aleatórias.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES
CULTIVARES
TÉCNICAS
IAC

do suscetível aos ácaros (ferrugem, soide, base convexa, ápice convexo,


leprose e branco), larva minadora, à cor alaranjada, forte aderência entre
doenças fúngicas (gomose, verrugose, o epicarpo e o mesocarpo, glândulas
melanose, rubelose e mancha preta), de óleo natural vicíveis e mesocarpo
bacterianas (cancro cítrico, CVC, HBL) branco. Frutos com muito suco, de cor
e declínio. laranja, sabor adequado, aroma fraco e
vesículas pequenas e cheias. Colheita
Laranja Charmute de Brotas de julho a meados de outubro e com
IAC 2007 floradas espontâneas. É incompatível
com trifoliatas e seus híbridos. Pode
Cultivar de porte médio a alto, bom ser recomendada para plantios mais
crescimento, copa redonda, saia baixa, adensados e tem boa aceitação dos
folhagem interna densa e muitos fru- produtores de fruta de mesa, em fun-
tos internos. Frutos grandes com mas- ção de apresentar mais de uma florada
sa entre 190 e 237 gramas, formato ar- anual, resultando na produção de fru-
redondado, média de 2,8 sementes por tos temporões. É resistente a exocorte,
fruto, rendimento em suco de 50%, cor sorose e xiloporose e apresenta tole-
de casca e suco alaranjado forte. Apre- rância à tristeza dos citros. Adaptada
senta alternância de produção, com as regiões centro e norte do Estado de
maturação em novembro. Tolerante ao São Paulo.
vírus da tristeza. É suscetível aos áca-
ros da ferrugem, da leprose e branco, Laranja Americana IAC 2008
à lagarta minadora, à doenças fúngi- Porte alto, frutos esféricos, com
cas (gomose, verrugose, melanose, massa média de 164 gramas, 25 se-
rubelose e mancha preta), bacterianas mentes por fruto e 50% de rendi-
(cancro cítrico, CVC, HBL) e declínio. É mento. Frutos de maturação precoce
adaptada à região central do Estado de a meia-estação. Suco com vitamina
São Paulo, com maturação de outubro C próximo de 76 mg/100ml. Cultivar
a abril, sendo uma ótima opção como com boa adaptação à região centro e
tardia. Produz frutos de excelente qua- norte do Estado de São Paulo. Possui
lidade para mercado in natura e para porte alto com frutos de maturação
suco NFC (not from concentrate). precoce a meia estação. Altamente
produtiva, é tolerante ao vírus da tris-
Laranja Ipiguá IAC 2012 teza e suscetível aos ácaros (ferrugem,
Cultivar de porte baixo, pouco vi- leprose e branco), lagarta minadora, à
gorosa, mas com boa produção por doenças fúngicas (gomose, verrugose,
volume de copa. Plantas com forma melanose, rubelose e mancha preta),

16
esferoide, folhas: brevi-peciolada, bacterianas (cancro cítrico, CVC, HBL)
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
deltoide, elíptica e tendo frutos elip- e declínio.
INFORMAÇÕES
CULTIVARES
TÉCNICAS
IAC

Laranja Azeda São Paulo IAC 244 lo, com exceção de áreas de ocorrên-
Forma esferoide e hábito de cres- cia de morte súbita dos citros. Possui
cimento aberto. Árvores grandes com tolerância à tristeza e à gomose, porém
densidade de folhagem média e su- é suscetível a exocorte, xiloporose, de-
perfície do tronco liso. Folhas do tipo clínio, galha lenhosa, morte súbita dos
simples, de cor verde, com forma elíp- citros e aos nematoides Pratylenchus e
tica e margem crenada. São brevipe- Tylenchulus.
cioladas, com pecíolo apresentando
Limão-Cravo IAC 863
largura média e forma deltoide. Apre-
sentam odor típico de laranja Azeda, Árvore vigorosa, de porte médio,
devido ao óleo, o qual pode ser ex- com crescimento aberto e ramos pen-
traído para fins medicinais, culinários dentes, com espinhos pequenos e em
ou cosméticos. Frutos de tamanho pequeno número. Alta produtividade e
médio com massa média de 140 gra- precocidade. Frutos de tamanho mé-
mas e coloração alaranjada. Cultivar dio, de formato globoso, com 6 a 15
pode ser utilizada como porta-enxer- sementes e suco ácido. Compatível
to para o limão verdadeiro em todo o com as principais cultivares de copa
Estado de São Paulo, bem como para de citros. É utilizada em todo o Estado
produção de frutas para doces e con- de São Paulo, com exceção de áreas de
feitarias. É resistente à gomose e sus- ocorrência de morte súbita dos citros.
cetível à tristeza, quando usada como Possui tolerância à tristeza e à gomo-
porta-enxerto para várias espécies de se, porém é suscetível a exocorte, xilo-
citros, à exceção de limão verdadeiro. porose, declínio, galha lenhosa, morte
Apresenta plantas com forma esferoi- súbita dos citros e aos nematoides
de e hábito de crescimento aberto. Pratylenchus e Tylenchulus.

Limão-Cravo Santa Bárbara Limão-Cravo Filipines IAC 833


IAC 884 Porte médio, crescimento aberto e
Árvore vigorosa, porte médio, com ramos pendentes. Frutos de tamanho
crescimento aberto e ramos penden- médio, de formato globoso, com 6 a
tes. Fruto de tamanho médio, de for- 15 sementes por fruto. Porta-enxerto
mato globoso, com 10 a 16 sementes compatível com as principais culti-
por fruto, alta poliembrionia e suco vares de copa de citros, induzindo a
ácido. Porta-enxerto compatível com produção precoce e a alta produção
as principais cultivares de copa de ci- de frutos de boa qualidade. Apresenta
tros. Induz a produção precoce e a alta bom desempenho em solos arenosos

17
produção de frutos de boa qualidade. É e pouco férteis. Muito resistente à seca
utilizada em todo o Estado de São Pau- e tolerante à salinidade e adapta-se O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES
CULTIVARES
TÉCNICAS
IAC

bem à diversos níveis de pH. É utili- possuir características favoráveis à


zada em todo o Estado de São Paulo, produção de suco concentrado.
com exceção de áreas de ocorrência
de morte súbita dos citros. Possui to- Trifoliata IAC 382
lerância à tristeza e à gomose, porém é Ramos de crescimento semiereto,
suscetível a exocorte, xiloporose, de- folhas parcialmente caducas, trifolio-
clínio, galha lenhosa, morte súbita dos ladas, com folíolo central maior e mais
citros e aos nematoides Pratylenchus e largo que os laterais. Frutos amadure-
Tylenchulus. cem de março a maio, são pequenos,
com massa média de 92 gramas, li-
Milho-Pipoca IAC 14 2 3 1
geiramente achatados, casca amarela-
Linhagem de ciclo superprecoce, esverdeada, aderente, rugosa, pubes-
porte baixo apresenta produtividade centes e com média de 32 sementes.
de 500 kg/ha. Possui resistência à Porta-enxerto pode ser utilizado em
mancha de turcicum e ao complexo de todo o Estado de São Paulo. É tolerante
enfezamento e resistência moderada à à tristeza, à morte súbita, à gomose e
pinta branca, ferrugem comum e ferru- ao nematoide Tylenchulus. Possui boa
gem branca. É suscetível à cercospora resistência à seca. Induz a formação
e à ferrugem polissora. Adaptada às de plantas semi-anãs, o que favorece
regiões produtoras do Estado de São a colheita e tratos culturais. Produz
Paulo. É progenitor dos híbridos de frutos com características adequadas
milho pipoca IAC 112 e IAC 12. ao consumo como fruta seca e para a
industrialização.
Tangelo Orlando IAC 225
Porte médio, produtiva, frutos de
casca amarelo-laranja, de espessura
Cultivares 2012
fina, moderadamente aderentes e com Açucena IAC Olimpo
alto teor de óleo. Colheita é em mea-
dos de agosto e massa média de 140 Planta rústica sendo tolerante as
gramas. Cultivar tolerante à tristeza, ao principais pragas da cultura. Bulbosa
declínio e à morte súbita dos citros, ornamental com apelo atrativo da inflo-
mas suscetível à xiloporose e gomo- rescência. Possui ampla adaptatividade
se. É utilizada em todo o Estado de São e elevada produção. Seus bulbos su-
Paulo, preferivelmente em áreas irriga- portam armazenamento de 3 meses sob
das ou sem déficit hídrico pronuncia- condição de câmara fria.
do. Pode ser utilizada como porta-en-
xerto ou como copa, por ser resistente Açucena IAC Marins

18 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


à clorose variegada dos citros e por Bulbosa ornamental indicada para
INFORMAÇÕES
CULTIVARES
TÉCNICAS
IAC

o mercado interno e exportação, seja Antúrio IAC Netuno


em forma de bulbo para forçamento ou Coloração da espata vinho muito
como flor de corte. Apresenta elevado escuro a negro com espádice bran-
grau de adaptabilidade e bom cresci- co-amarelo, planta produtiva porém
mento sob várias condições de solo. exigente em nutrição. Flor de corte de
É tolerante a doenças, principalmente longa durabilidade pós-colheita. É tole-
fungos de solo e Stagonospora e a rante ao ataque das principais pragas,
condições climáticas adversas. Capa- tais como tripes e lagarta, à bacteriose
cidade de armazenamento do bulbo de e à antracnose. Adaptada a região do
no mínimo 3 meses em câmara fria. Vale do Ribeira, litoral Norte de São
Apelo atrativo da inflorescência. Paulo e regiões tropicais semelhantes.
Amendoim IAC OL 3 Arroz IAC 203
Cultivar com plantas de arquitetura Mais produtiva, com alto índice de
rasteira e de crescimento vegetativo resposta à insumos e maior resistência
determinado, cujo ciclo do plantio à à principal doença do arroz, brusone.
plena maturação situa-se entre 130 e IAC 203 possui 71% maior de rendi-
140 dias. Apresenta teor moderado de mento em teste industrial. É adequada
óleo nos grãos. Suas principais carac- para o cultivo em terras altas, ou em
terísticas são o alto teor de ácido oléi- condições de sequeiro. Possui arqui-
co, monosaturado, baixa porcentagem tetura moderna, com plantas baixas,
de ácido linoléico e poliinsaturado. tendo em média 75 cm, além do bom
Possui resistência à mancha castanha, perfilhamento, conferindo resistência
sendo bem produtiva nas diferentes ao acamamento.
regiões do Estado de São Paulo.
Arroz IAC 204
Antúrio IAC Rubi
Cultivar adequada para o plantio
Cultivar com espata grande de colo- em terras altas, ou em condições de
ração vermelha, formato arredondado sequeiro. Possui arquitetura moderna,
com nervuras bastante proeminentes, com plantas baixas, tendo em média
espádice branco-amarelo, planta de 65 cm, além do bom perfilhamen-
porte alto. Flor de corte de longa du- to, sendo resistente ao acamamento.
rabilidade pós-colheita. É tolerante ao Apresenta rendimento industrial de
ataque das principais pragas, tais como 72% superior as demais cultivares. É
tripes e lagarta, à bacteriose e à antrac- altamente produtiva, com alto índice
nose. Adaptada a região do Vale do Ri- de resposta aos insumos. Também é
beira e regiões subtropicais similares. resistente à brusone.

O Agronômico | v. 64-66 | 2014 19


CULTIVARES IAC

Café IAC 125 RN médio, internódios de comprimento


Cultivar de porte baixo, resistente à médio, gema com pouca/média saliên-
ferrugem e às duas raças do nematoide cia nos nós e do tipo redonda e núme-
Meloidogyne exigua. A planta possui ro de colmos de 12,33/m. Apresenta
ciclo de maturação precoce. O plantio comportamento produtivo correlacio-
deve ser feito, preferencialmente, em nado com a fertilidade do solo e quan-
áreas irrigadas ou fertirrigadas, po- tidade de água no solo. É resistente à
dendo ser adensado. A produtividade ferrugem, ao carvão, ao raquitismo e
em áreas irrigadas é de 40 a 66 sacas à escaldadura. Adaptada em todas as
de café beneficiado, por hectare/ano, e regiões do Estado de São Paulo, Goiás,
em áreas não irrigadas, mas com ba- Minas Gerais e Mato Grosso.
lanço hídrico favorável à cultura, de 30
a 45 sacas/hectare/ano. Cana IACSP967569

Café IAC Ouro Verde Hábito de crescimento levemente


decumbente a decumbente, alta, diâ-
A cultivar Ouro Verde possui porte metro do colmo médio, internódios de
baixo, folhas novas com coloração ver- comprimento médio, gema com média/
de ou bronze, frutos vermelhos e ma- muita saliência nos nós e tipo redon-
turação média. Os produtores podem
da e número de colmos de 11,28/m.
plantar em sistemas de adensamento e
Cultivar adaptada em todas as regiões
irrigado. A produtividade é de 40 a 60
canavieiras do Estado de São Paulo,
sacas de café beneficiado, por hectare/
Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso.
ano, e em áreas sem irrigação de 30 a
Apresenta comportamento responsivo
45 sacas/hectare/ano.
quanto ao ambiente de produção, sen-
Café IAC Obatã 4739 do altamente produtiva. É resistente à
ferrugem, ao carvão, ao raquitismo e à
Cultivar de porte baixo, possui fru-
escaldadura.
tos amarelos sendo resistente à fer-
rugem. Apresenta maturação média à Feijão IAC Imperador
tardia. A produtividade em áreas irriga-
das é de 40 a 60 sacas de café benefi- Cultivar do tipo carioca, apresenta
ciado, por hectare/ano, e em áreas não qualidade de grão superior às cultiva-
irrigadas, mas com balanço hídrico fa- res de ciclo precoce, atualmente reco-
vorável à cultura, em torno de 30 a 45 mendadas ao setor produtivo, apre-
sacas/hectare/ano. sentando grão com tempo reduzido de
cocção, tornando-se importante para
Cana IACSP974039 cultivos entresafra. Possui resistência

20
Hábito de crescimento levemente múltipla às doenças, sendo elas: an-
decumbente, alta, diâmetro do colmo tracnose, ferrugem, mancha angular,
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
CULTIVARES IAC

mosaico comum e dourado, murcha de A garganta de profundidade média é


Fusarium e murcha de Curtobacterium. amarela esverdeada. Os estames são
amarelos na base tornando-se averme-
Hemerocale IAC Joinville lhados no ápice, com anteras pretas.
Planta ornamental, produzida pela
hibridação de espécies do gênero asiá- Hemerocale IAC Rainha Silvia
tico Hemerocallis, família Hemerocalli- Planta ornamental produzida pela
daceae. Na primavera, produz duas a hibridação de espécies do gênero asi-
três hastes florais com 15 a 20 flores ático Hemerocallis, família Hemero-
com pétalas laranja claro, em dois tons callidaceae. Na primavera, produz duas
com fio de borda escuro, com margem hastes florais com 13 flores e pétalas
estrutural, com a linha média contras- rosa-escuras em dois tons, com fio
tante e nervuras aparentes. É facilmen- de borda escuro e estrutura da mar-
te propagada por divisão de touceira. gem crespa, e linha média e nervuras
As mudas florescem após um ou dois não aparentes. É facilmente propaga-
anos de cultivo em campo aberto. Ofe- da por divisão de touceira. As mudas
rece um produto com multifinalidades florescem após um ou dois anos de
para uso no paisagismo, podendo ser cultivo em campo aberto. Oferece um
cultivada em bordaduras ao longo produto com multifinalidades para uso
de canteiros e muros ou em grupos, no paisagismo, podendo ser cultivada
formando maciços. É uma planta que em bordaduras ao longo de canteiros
exige pouca manutenção, rústica e e muros ou em grupos, formando ma-
bem-adaptada às condições climáticas ciços. É uma planta que exige pouca
predominantes no Sul, Sudeste e Cen- manutenção, rústica e bem-adaptada
tro-Oeste do País. às condições climáticas predominantes
no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País.
Hemerocale IAC Cora Coralina
Planta ornamental produzida pela Hemerocale IAC Dorinha
hibridação de espécies do gênero asiá- Planta ornamental produzida pela
tico Hemerocallis, família Hemerocalli- hibridação de espécies do gênero asi-
daceae. Possui hábito de florescimento ático Hemerocallis, família Hemero-
diurno e não refloresce, planta de cul- callidaceae. Exige pouca manutenção,
tivo a pleno sol, com possibilidade de apresenta resistência aos períodos de
cultivo em vaso, desde que cultivado seca, às pragas e doenças e tem capa-
ao sol. A melhor época de plantio é no cidade de adaptação a diferentes tipos
inverno, As flores apresentam cores de de solo e clima. Possui crescimento
pétalas e sépalas vermelho alaranjado vegetativo abundante. As pétalas são

21
e estrutura de margem crespa, com li- de coloração amarelo claro em tom
nha média e nervura pouco aparentes. único, sem brilho, textura áspera, com O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES
CULTIVARES
TÉCNICAS
IAC

margem crispada, linha média e ner- cum e ao complexo de enfezamento,


vura não aparentes. A garganta é larga tolerância à pinta branca, à ferrugem
e verde, os estames são amarelos e comum e branca. É suscetível a Cer-
anteras amarelas. Apresenta produtivi- cospora e à ferrugem Polissora.
dade de duas a três hastes florais por
planta e 10 botões florais por haste. Milho-Pipoca IAC 8383
É progenitor do IAC 125, um dos
Hemerocale IAC Longhi
híbridos de milho pipoca mais plan-
Planta ornamental produzida pela tado no Brasil. Apresenta alta produ-
hibridação de espécies do gênero asiá- ção, com resistência moderada à pinta
tico Hemerocallis, família Hemerocalli- branca, à ferrugem comum e ao com-
daceae. Planta perene. Apresenta pé- plexo de enfezamento. É suscetível a
talas de coloração vinho em um único mancha de Cercospora e à mancha de
tom, com banda vermelha alaranjada e Turcicum.
halo escuro, estrutura de margem ás-
pera, com linha média não aparente e Seringueira IAC 505
nervura aparente. A garganta é peque- Seringueira IAC 502
na de coloração amarela esverdeada,
os estames são amarelos carmim, com Seringueira IAC 501
anteras pretas. Planta de cultivo em Seringueira IAC 500
campo a pleno sol, com possibilidade Seringueira IAC 503
de cultivo em vaso, desde cultivado ao Seringueira IAC 512
sol. Apresenta produtividade de duas
hastes florais por planta e 6 botões flo- Seringueira IAC 511
rais por haste. Seringueira IAC 507
Milho-Pipoca IAC HS SAM Seringueira IAC 506
Cultivar de híbrido simples, sendo Apresenta precocidade e plantas
suscetível à queima de turcicum, à pin- vigorosas na pré-sangria, com casca
ta branca e à mancha de Cercospora. espessa, caule dominante e um siste-
Além de ser a progenitora da cultivar ma balanceado de galhos e boa com-
IAC 112, apresenta elevada capacidade patibilidade com relação ao enxerto
produtiva. x porta-enxerto. A copa é estreita e a
folhagem densa. Mostram-se muito
Milho-Pipoca IAC 12 produtivas na região do Planalto do
Híbrido simples, com ciclo super- Estado de São Paulo.
precoce e de porte alto. É progenitor
do IAC 125, um dos híbridos de milho Triticale IAC 6 Pardal
Mais resistente à brusone do que
22
pipoca mais plantado no Brasil. Apre-
senta resistência a mancha de turci- os outros materiais existentes no mer-
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES
CULTIVARES
TÉCNICAS
IAC

cado, ao oídio e à ferrugem das folhas Cidra IAC 364


– consideradas as principais doenças Porte médio, folhas verdes, flo-
da cultura do trigo. Com essa carac- res brancas ou apurpuradas. Frutos
terística, o produtor pode reduzir em exalam fragrância e têm importância
mais de 60% a aplicação de defensivos comercial em função de seu tamanho
agrícolas. Apresenta bom rendimento grande (até 30 cm), adocicados, com
de grãos nas condições de cultivo em formato alongado, massa média de
sequeiro e com irrigação por aspersão 600 gramas, quase sem suco, com
e alta produtividade. casca rugosa de coloração amarela e
albedo espesso. Adaptada as diferentes

Cultivares 2013 regiões do Estado de São Paulo, exce-


to em áreas de frio intenso. Apresenta
tolerância à tristeza e ao cancro cítrico.
Algodão 26RMD
É suscetível ao vírus da leprose e ao
Adaptada às principais regiões ap- greening. Frutos utilizados no mercado
tas para o cultivo do algodoeiro no Es- de frutas frescas, principalmente para
tado de São Paulo, destaca-se pela re- o processamento na forma de doces,
sistência múltipla às doenças. Devido frutas cristalizadas, geléias e raspas da
à resistência à ramulose e à ramularia, casca e para fragrâncias.
seu cultivo pode reduzir a aplicação de
fungicidas foliares nas lavouras. Pela Citrange IAC 387 Carrizo
resistência ao mosaico das nervuras Porte médio, ramos de crescimen-
também permite reduzir aplicações to semi-ereto, folhas caducas, trifolio-
de inseticidas para o controle do pul- ladas, com folíolo central maior que os
gão. Cultivar bem produtiva, apresenta laterais. Frutos amadurecem de mar-
estabilidade fenotípica de produção e ço a maio, são pequenos com massa
possui boa porcentagem de fibra. média de 95 gramas. Suco com sabor
acre e coloração amarela-esverdeada.
Arroz 107I Porta-enxerto pode ser utilizado em
Cultivar com alto teor de amilose. todo o Estado de São Paulo. É tole-
Apresenta alta produção, e tem como rante à tristeza, à morte súbita e re-
características principais a resistência sistente à gomose de Phytophtora mas
múltipla, especificamente em relação suscetível ao declínio. Apresenta boa
à mancha parda da folha, à mancha tolerância à seca. Induz a produção
dos grãos, à escaldadura das folha e à média dos frutos e com boas carac-
mancha da bainha. É resistente ao aca- terísticas para consumo como fruta
mamento e ao degrane natural. seca e industrialização.

O Agronômico | v. 64-66 | 2014 23


CULTIVARES IAC

Citrange IAC 385 Troyer medianamente vigorosa e com fru-


Porte médio, possui frutos com tos típicos do grupo Valência. Fru-
massa média de 55 gramas. Suco com tos com maturação precoce, massa
sabor acre e coloração esverdeada. média de 124 gramas. Tolerante ao
Utilizado em todo o Estado de São vírus da tristeza, ao cancro cítrico e
Paulo como porta-enxerto. É tole- à seca, porém suscetível ao vírus da
rante à tristeza, à morte súbita e re- leprose e ao greening. É adaptada as
sistente à gomose de Phytophtora e diferentes regiões do Estado de São
suscetível ao declínio. Apresenta boa Paulo. Possui uso no mercado como
tolerância à seca. Induz à produção fruta fresca e para o processamento
média dos frutos e com boas carac- industrial.
terísticas para consumo como fruta
seca e industrialização. Laranja IAC 161 Valência Late
Porte médio, boa produtividade,
Laranja IAC 27 Washington Navel medianamente vigorosa e com frutos
Árvore de forma esferoide e hábito típicos do grupo Valência. Frutos com
de crescimento aberto. Apresenta altu- peso médio de 147g. Suco de cor laran-
ra média, com densidade de folhagem ja intenso e maturação tardia. Tolerante
de média para densa e superfície do ao vírus da tristeza, ao cancro cítrico
tronco lisa. Caracteriza-se por possuir e à seca, porém suscetível ao vírus da
frutos de maturação precoce, tama- leprose e ao greening. Possui boa pro-
nho grande com forma esferoide, ápi- dutividade e apresenta ciclo de matu-
ce e base truncados, cor laranja-forte ração dos frutos tardio. Utilizada para
e peso médio de 226g. Polpa saboro- processamento industrial e no mercado
sa, de cor alaranjada com textura fir- de fruta fresca.
me, com eixo sólido e geralmente não
apresenta sementes. É tolerante ao Laranja IAC 489 Valência FM
vírus da tristeza e suscetível ao vírus Mutação da cultivar Valência. Pos-
da leprose, ao greening e ao cancro cí- sui porte médio e folhas com forma-
trico. É adaptada às diferentes regiões to murcho com bordos virados para
do Estado de São Paulo. Seu plantio cima, em qualquer época do ano. To-
em região com temperaturas mais lerante ao vírus da tristeza, ao cancro
amenas e sem períodos de estiagem cítrico e à seca. Cultivar adaptada às
favorece a produção de frutos com diferentes regiões do Estado de São
melhor coloração de polpa e de casca. Paulo. É suscetível ao vírus da leprose
Responsiva à irrigação. e ao huanglongbing (greening). Bom
potencial produtivo, sendo de ciclo tar-
Laranja IAC 476 Valência Taquari dio e muito utilizada no processamento
24 O Agronômico | v. 64-66 | 2014
Porte médio, boa produtividade, industrial e no mercado de fruta fresca.
INFORMAÇÕES
CULTIVARES
TÉCNICAS
IAC

Laranja IAC 420 Seleta do Rio pequeno a médio, com massa média
Plantas com vigor médio e produ- de 86 gramas, casca cor alaranjada
viva, suco abundante e ligeiramente
ção média. Frutos de tamanho médio,
ácido, três a quatro sementes por uni-
forma esferoide, de cor laranja intensa,
dade. Cultivar com floradas espontâ-
casca levemente rugosa e albedo es-
neas, não é indicada para a região sul
pesso e massa média de 118 gramas.
e sudoeste do Estado de São Paulo. É
Frutos com 51% de rendimento. Culti-
resistente à exocorte, sorose e xilopo-
var adaptada às diferentes regiões do
rose e apresenta tolerância à tristeza
Estado de São Paulo, exceto regiões
dos citros, sendo suscetível ao gree-
com clima que apresenta maior déficit
ning. Atende ao mercado de fruta fres-
hídrico durante o inverno. É tolerante ca. Possui alto potencial produtivo.
ao vírus da tristeza e à clorose varie-
gada dos citros, sendo suscetível ao Laranja IAC 491 Natal Murcha
vírus da leprose e ao greening. Pos-
sui ciclo de maturação precoce com Mutação da cultivar Natal. Possui
grande potencial para serem utilizados porte médio, grande produtividade por
como fruto de mesa ou para o proces- volume de copa. Permanente enrola-
samento como suco pasteurizado. mento das folhas. Apresenta tolerância
ao vírus da tristeza, ao cancro cítrico
Laranja IAC 104 Pineaple e à seca. É suscetível ao vírus da le-
prose e ao greening. Cultivar adaptada
Plantas de porte alto, produz frutos às diferentes regiões do Estado de São
com tamanho médio, forma esferoide, Paulo. Ciclo de maturação tardio, sen-
de cor laranja-forte e massa média de do seus frutos utilizados na indústria e
132 gramas. Fruto com maturação na no mercado de frutas fresca.
meia-estação e com grande potencial
para serem utilizados na produção de Laranja IAC 129 Homossassa
suco. Tolerante ao vírus da tristeza e
Produção precoce no campo,
suscetível ao vírus da leprose e ao
plantas produtivas. Possui frutos
greening. Adaptada às diferentes regi-
com tamanho médio, bem coloridos
ões do Estado de São Paulo, exceto re-
quando maduros e casca levemente
giões com clima que apresenta maior
rugosa. Apresenta tolerância à tris-
déficit hídrico durante o inverno. teza e à clorose variegada dos citros.
É suscetível ao vírus da leprose e
Laranja IAC 2005 Pêra EEL
ao greening. Possui ciclo de matu-
Porte médio, galhos mais ou me- ração médio e frutos com potencial

25
nos eretos e folhas acuminadas. Frutos para serem utilizados na produção
possuem maturação tardia, tamanho de suco. O Agronômico | v. 64-66 | 2014
CULTIVARES IAC

Laranja IAC 137 Caipira DAC marrom de alternaria. É adaptada às


Induz a produção de copas de gran- diferentes regiões do Estado de São
de porte com boa produção e quali- Paulo. Possui frutos que apresentam
dade dos frutos. Não é utilizado para casca solta, tipo Ponkan, porém mais
consumo como fruta seca e nem para firmes, facilitando o manuseio na co-
a industrialização do suco. Esse porta- lheita e pós-colheita com maturação
-enxerto é indicado para as regiões sul tardia. Adequa-se muito bem ao gosto
e sudoeste do Estado de São Paulo, e do consumidor como fruta fresca.
para a região norte é necessário fazer
uso de irrigação. É tolerante à tristeza, Tangerina IAC 543 Fremont
aos viroides da exocorte e da xiloporo- Porte médio de forma oblata com
se, ao declínio. Suscetível à gomose e base côncava e com colar e ápice de-
ao greening. Apresenta baixa resistên- primido. Resistente à mancha marrom
cia à seca. de alternaria. Apresenta elevada pro-
dução, com frutos de tamanho gran-
Limão Rugoso IAC 295
de, casca lisa e ligeiramente solta, o
Porte grande, ramos de cresci- que facilita a colheita e pós-colheita.
mento aberto, folhas persistentes, Consumido como fruta fresca. Suas
pecíolo as vezes alado e bordo on- características organolépticas perma-
dulado. Frutos amadurecem de abril necem adequadas por três meses na
a junho, grandes e com massa média planta, sem perder a qualidade da fru-
de 250 gramas, ligeiramente ovala- ta. Boa opção para plantios visando à
dos, casca aderente e rugosa com entressafra da “Ponkan”.
cor amarela. Porta-enxerto tolerante
à tristeza e à seca sendo resistente Tangor IAC 2009 Dekopon
à gomose. É suscetível ao declínio e
ao nematoide dos citros. Amplamen- Planta de porte médio. Frutos de
te adaptada às diferentes regiões do formato arredondado e tamanho gran-
Estado de São Paulo. de. Apresenta polpa macia, suculenta
e saborosa, o que agrada os consumi-
Tangerina IAC 545 De Wildt dores. A ausência total de sementes
Porte médio, frutos de tamanho é uma das principais características
médio a grande e coloração amarelo- de sucesso nos mercados nacional e
-alaranjada. Casca ligeiramente rugo- internacional. Tolerante ao cancro cí-
sa com glândulas de óleo proeminen- trico, leprose, clorose variegada dos
tes. Fruto com peso médio de 140g, citros e ao declínio. É suscetível ao
polpa de cor alaranjada forte. Resis- ácaro da ferrugem, à larva minadora e

26 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


tente à leprose e suscetível à mancha à mosca-das-frutas e aos fungos cau-
CULTIVARES IAC

sadores da mancha preta, verrugose, pode ser utilizado em todo o Estado de


gomose, Colletotrichum, melanose e São Paulo. É tolerante à tristeza e re-
rubelose. Adaptada às regiões de cli- sistente à gomose de Phytophtora e ao
ma ameno, especialmente à região su- nematoide dos citros. Apresenta boa
doeste do Estado de São Paulo, onde tolerância à seca. Induz a formação de
adquire excepcional qualidade. plantas de porte baixo, mas com alta
eficiência produtiva. Possui frutos com
Trifoliata IAC 848 Davis A boas características para consumo
como fruta seca e industrialização.
Ramos de crescimento semi-ereto,
folhas caducas, trifoliadas e pecíolo Feijão IAC Milênio
alado. Frutos amadurecem de mar- Cultivar do tipo carioca, apresenta
ço a maio, são pequenos, com mas- qualidade de grão superior e tempo re-
sa média de 80 gramas, ligeiramente duzido de cocção. Possui resistência
achatados, casca aderente e rugosa, múltipla às doenças: antracnose, fer-
pubescente e de cor amarela a alaran- rugem, crestamento bacteriano, man-
jada. Caldo tem sabor acre e coloração cha angular, mosaico comum, murcha
esverdeada. Esse porta-enxerto pode de Fusarium e a murcha de Curtobac-
ser utilizado em todo o Estado de São terium.
Paulo. Tolerante à tristeza, à morte
súbita e resistente à gomose de Phy- Amendoim IAC OL 4
tophtora e ao nematoide dos citros, Plantas de arquitetura rasteira e de
mas suscetível ao declínio. Apresenta crescimento vegetativo determinado.
boa resistência à seca. Induz a forma- Apresenta teor moderado de óleo nos
ção de plantas de porte baixo, com grãos. Suas principais características
alta produção de frutos e com boas são o alto teor de ácido oléico, mo-
características para consumo como nosaturado e baixa porcentagem de
fruta seca e industrialização. ácido linoléico, poliinsaturado. Possui
resistência à mancha castanha, sendo
Trifoliata IAC 718 Flying Dragon bem produtivo nas diferentes regiões
Ramos de crescimento semi-ere- de produção no estado de São Paulo.
to, ondulados com espinhos curvos,
folhas caducas, trifoliadas e pecíolo
alado. Frutos amadurecem de março a Cultivares 2014
maio. São pequenos, com massa mé-
Algodão IAC FC 1
dia de 80 gramas, ligeiramente achata-
dos, casca aderente e rugosa, cor ama- Planta de altura média, folha palma-
rela a alaranjada. Esse porta-enxerto da e formato da maça ovalada. Matu-
O Agronômico | v. 64-66 | 2014 27
INFORMAÇÕES
CULTIVARES
TÉCNICAS
IAC

ração da fibra de 87,7. Comprimento de espigas de 1,21 metros, peso mé-


de 24,2 mm e índice de fibras curtas dio de 100 sementes de 138 gramas
de 13,1. Sua porcentagem de fibras e peso hectolítico de 87,8 Kg/100L.
é de 36,9%. A cultivar se destaca em Possui ciclo super precoce e apresen-
produtividade, especialmente em so- ta resistência moderada à ferrugem
los infestados por nematoides das es- comum, à mancha de Phaeosphaeria
pécies Meloidogyne e Rotylenchulus. (pinta branca), ao complexo de enfe-
Apresenta excelente qualidade da fibra, zamento e resistência à podridão de
notadamente, quanto ao comprimento grãos. Adaptada à Região Centro e Sul
e resistência, o que garante um fio de do Estado de São Paulo, com altitude
melhor qualidade para indústria têxtil. variando de 600 a 720 m.
Fibra naturalmente colorida (marrom).
Adaptada às principais regiões aptas Milho pipoca 367
ao cultivo do algodoeiro no Estado de Cultivar de ciclo super precoce,
São Paulo. com resistência moderada à ferrugem
comum, à mancha de Phaeophaeria
Algodão IAC FC 2 (pinta branca) e ao complexo de en-
Planta de altura média, folha palma- fezamento. Florescimento masculino
da e formato da maça ovalada. Matu- e feminino em torno de 55 dias, altura
ração da fibra de 85,7. Comprimento média de planta de 2,04 metros, altura
de 24,8 mm e índice de fibras curtas média de espigas de 1,10 metros, peso
de 13,5. Porcentagem de fibras é de médio de 100 sementes de 148 gramas
33,1%. Possui fibra naturalmente co- e peso hectolítico de 86 Kg/100L. É um
lorida (marrom). Destaca-se pela alta híbrido triplo, muito produtivo, com
produtividade, especialmente em áreas elevado rendimento de grãos, tornan-
infestadas por nematoides. A resistên- do o preço da semente mais acessível
cia também a outras doenças impor- aos produtores. Apresenta alta capaci-
tantes, torna-a segura para todas as dade de expansão volumétrica do grão.
regiões de cultivo no Estado de São
Paulo. Possui fibras de ótima qualida- Milho IAC 8046
de para a indústria têxtil. Possui grão semi-dentado de cor
alaranjado e florescimento masculino
Milho pipoca IAC 268 e feminino de 61 dias. Altura de planta
Híbrido triplo, com elevado rendi- com 2,28 metros, altura de espiga 1,21
mento de grãos, tornando o preço da metros, peso de 1000 sementes de
semente mais acessível aos produto- 351 gramas e peso hectolítico de 77,8
res. Florescimento masculino e femini- Kg/100L. É tolerante à seca, sendo
no em torno de 60 dias, altura média moderadamente resistente à lagarta do
28 O Agronômico | v. 64-66 | 2014
de planta de 2,23 metros, altura média cartucho e tolerante ao herbicida Tem-
INFORMAÇÕES
CULTIVARES
TÉCNICAS
IAC

botrione. Apresenta boa adaptação nos produtivo, podendo ser utilizada para
Estados do Paraná, São Paulo, Goiás, o mercado de mini hortaliças. Ideal
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. para os mercados interno e externo.
Milho IAC 8077 Quiabo IAC Guiné
Grãos tipo semi-dentado de cor Fruto verde homogêneo com bri-
alaranjado e florescimento masculino lho e formato “quinado”. Possui eleva-
e feminino de 63 dias. Altura de plan- da produtividade nos dois primeiros
ta com 2,35 metros, altura de espiga meses de colheitas. Seus frutos são
1,25 metros, peso de 1000 sementes tolerantes ao armazenamento. Apre-
de 317 gramas e peso hectolítico de sentam ainda pilosidade delicada e
80 Kg/100L. Possui boa adaptação em podem ser utilizados para o mercado
regiões alta e baixa dos Estados do Pa- de mini hortaliças. Ideal para os mer-
raná, São Paulo e Goiás em plantio de cados interno e externo.
verão e de safrinha. Em Minas Gerais
recomendado para o plantio de verão e Quiabo IAC Mali
em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul Fruto verde homogêneo com brilho
para o plantio de safrinha. Tolerante à e formato “quinado”. Possui maior to-
seca e ao herbicida com principio ativo lerância à injúria pelo frio, por 12 dias
Tembotrione. e mais tolerante ao armazenamento
com ou sem refrigeração. Apresenta
Trigo IAC 388 Arpoador elevada produção e pode ser utilizada
Cultivar de ciclo precoce, apresen- para o mercado de mini hortaliças. É
ta como características principais a adequada para os mercados interno e
tolerância ao crestamento, resistên- externo.
cia ao oídio e à bruzone. Possui ele-
vada produtividade e, é indicada para Quiabo IAC Midori
a semeadura nos sistemas de cultivo Cultivar altamente produtiva com
irrigado e de sequeiro. boa capacidade de armazenamento.
Apresenta frutos de formato roliço
Quiabo IAC Dacar com coloração verde intenso com bri-
Fruto de cor verde intenso com lho e aparência de frescor. Ótima para
brilho e formato “quinado”. Com apa- o mercado interno.
rência de frescor e pilosidade delicada.
Possui ótima capacidade de armazena- Quiabo IAC Mori
mento, sendo mais tolerante com ou Cultivar com boa capacidade de
sem refrigeração, por 10 dias. Apre- armazenamento, e elevada produção.
senta menor perda de massa à tempe- Seus frutos roliços são de coloração
ratura ambiente. Possui alto potencial verde com brilho. Possui resistência do
O Agronômico | v. 64-66 | 2014 29
CULTIVARES IAC

fruto às manchas pelo contato manual com diâmetro > 45 mm. Possui boas
na colheita. É ideal para o mercado in- qualidades para consumo de mesa na
terno. forma de salada, purê e fritas (18,2% de
matéria seca). Sua forma oblonga com
Quiabo IAC Nissei polpa creme é ideal para o consumo “in
Cultivar altamente produtiva, com natura”.
menor perda de massa no armazena-
mento sem refrigeração e maior tole- Algodão IAC PV 1
rância ao armazenamento com ou sem Plantas de coloração vermelha (fo-
refrigeração. Possui resistência do fru- lhas, caule, brácteas e maças), com
to às manchas pelo contato manual na altura média, folha palmada e formato
colheita. É ideal para o mercado inter- da maça ovalada. Maturação da fibra
no. Formato do fruto tipo roliço, de cor
de 86,60, comprimento de 28,7 mm e
verde com brilho.
índice de fibras curtas de 4,6. Sua por-
Batata IAC Ibituaçu centagem de fibras é de 40,6%. Apre-
senta resistência aos nematoides das
Ciclo vegetativo de 113 dias e tem- espécies Meloidogyne e Rotylenchu-
po para formato dos tubérculos de lus, à mancha angular, alternaria e ra-
119 dias. Broto cilíndrico largo de co- mulose. Também é resistente à tripes
loração vermelho-púrpura. Tolerante e ao bicudo, pelo mecanismo de não
às doenças viróticas regulamentadas
preferência. Indicada para produção de
e resistente às doenças de folhagem
algodão orgânico e sistema de plantio
(requeima e pinta preta). Apresenta
consorciado com cultivares de colora-
excelente qualidade de fritura, dado o
ção normal, a fim de que a resistência
formato (oval cheio) e alto teor de ma-
possa se manifestar.
téria seca (23,5%), para confecção de
rodelas fritas (chips). Destinada a agri-
cultores de pequeno e médio porte.

Batata IAC Vitória


Ciclo vegetativo de 100 dias e tem-
po para formato dos tubérculos de
134 dias. Broto cilíndrico estreito de
coloração azul-púrpura. É resistente
às doenças de folhagem (requeima e
pinta preta) e às doenças viróticas. Sua
produtividade é muito alta e excelente

30
produtora de tubérculos graúdos (87%)
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
PÓS-GRADUAÇÃO IAC

Inovação na formação de recursos


humanos em agricultura
tropical e subtropical

O
conhecimento e a competên-
cia do Instituto Agronômico
(IAC) criaram ao longo dos
anos a necessidade de atender uma
demanda crescente de formação de
recursos humanos. Por esse motivo, a
instituição criou, em 1999, o curso de
Pós-Graduação em Agricultura Tropical
e Subtropical (PG-IAC).
Essa ação marcou mais uma vez o
pioneirismo do Instituto que, como ins-
tituição de pesquisa não pertencente ao
sistema universitário, foi o primeiro na
Secretaria da Agricultura do Estado de
Foto: Martinho Caires

São Paulo a ter um curso de pós-gradu-


ação stricto-sensu.
Com o aumento da demanda e para
ampliar a qualidade do curso e a for-
mação de recursos humanos, o curso
de Doutorado foi iniciado em 2009 e As dissertações e teses dos alunos do
em 2012, o Instituto também passou a curso têm caráter inovador, pois são parte
oferecer o MBA em Fitossanidade a dis- integrante de projetos desenvolvidos pelos
tância, em parceria com a Associação pesquisadores no Instituto Agronômico,
Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF). que possui uma vasta e diversificada área
A PG-IAC destaca-se por oferecer experimental, além da enorme riqueza de
formação voltada para a pesquisa apli- diversidade vegetal, características ímpa- Adriana Parada Dias da Silveira1
cada, com geração de tecnologia espe- Luis Felipe Villani Purquerio2
res no Estado de São Paulo. Na sua maioria
cífica em diferentes linhas de pesquisa são projetos multidisciplinares que congre-
no universo da agricultura tropical e gam pesquisadores dos diferentes centros
subtropical. de pesquisa do IAC e de outras instituições
Credenciada pela Coordenação de nacionais e estrangeiras.
Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní- Ressalta-se ainda que os alunos do cur-
vel Superior (CAPES), a PG-IAC tem so têm sido rapidamente incorporados ao 1 Instituto Agronômico, Centro de Solos e Recursos,
atualmente conceito 5 e conta com a mercado de trabalho, seja no setor público pdsil@iac.sp.gov.br
participação de 40 docentes em suas ou privado. Grande parte dos egressos atua 2 Instituto Agronômico, Centro de Horticultura,
três áreas de concentração: Gestão de hoje em institutos de pesquisa, universida- felipe@iac.sp.gov.br

Recursos Agroambientais, Genética, des, empresas multinacionais e nacionais,


Melhoramento Vegetal e Biotecnologia ou como consultores em diversas áreas de
e Tecnologia da Produção Agrícola. formação do curso.
Nos seus 15 anos de existência, a Nos 128 anos do Instituto Agronômico,
PG-IAC já formou 360 alunos em ní- a Pós-Graduação tem destaque especial na
vel de mestrado e 15 em doutorado instituição, sempre inovando na formação
e, atualmente, tem 42 mestrandos e de recursos humanos, com enfoque mul-
46 doutorandos com bolsas de diver- tidisciplinar, integrando instituições públi-
sas instituições de apoio como CAPES, cas e privadas, abrindo possibilidades de
FAPESP, CNPQ, CAPES/EMBRAPA e Ini- financiamentos para pesquisa e gerando
ciativa Privada, totalizando investimen- conhecimento e tecnologias para inovação
tos de mais de R$ 2 milhões por ano. no setor agrícola.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014 31
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Sistema de multiplicação MPB


e integração com o setor
sucroenergético

O
s programas de melhoramen- Registra-se também sua utilização
to de cana-de-açúcar com em vários países produtores de ca-
frequência, quantidade e quali- na-de-açúcar na América Central. Na
dade têm disponibilizado seus produtos sequência são apresentados depoi-
biológicos - as variedades. No Programa mentos, informações e alguns re-
Cana do Instituto Agronômico (IAC), o sultados, indicados diretamente por
processo de Pesquisa e Desenvolvimen- aqueles que são a causa principal do
to (P&D) desse importante insumo tec- desenvolvimento do produto MPB, ou
nológico é conduzido em média durante seja, o protagonista produtor agríco-
doze anos, o que implica em um amplo la. Assim sendo, criam-se perspectivas
período de caracterização. Dentro dessa de implantação de modelos simples que
dinâmica é essencial haver sistemas sin- permitam integração, agregação e efeti-
cronizados de multiplicação que permi- va adoção das inovações originadas da
tam a chegada rapidamente dos pacotes pesquisa do Programa Cana IAC.
varietais aos setores de produção, usi-
nas, associações de produtores e forne-
cedores independentes. O sistema deve
associar qualidade fitossanitária, baixo Projeto de
Mauro Alexandre Xavier1
Marcos Guimarães de Andrade Landell2
consumo de material de propagação
vegetativa e, se possível, representar MPB e o Setor
Luis Gustavo Teixeira3
Paulo de Araújo Rodrigues3
Gustavo Leonel Nassif3
inovação. Nesse conceito abre-se opor-
tunidade para o setor resgatar os bene- Sucroenergético:
Antonio Carlos de Oliveira Junior3 fícios da formação de viveiros e corrigir
Kenjiro Mine3 eventuais distorções técnicas decorren- Usina São Martinho
tes em parte da baixa adoção de novas
variedades. Esse diagnóstico é claro e A usina está localizada no muníci-
notório, principalmente, no último gran- pio de Pradópolis na região de Ribeirão
de período de expansão da cana-de- Preto. O grupo São Martinho possui
-açúcar registrado no Brasil, ou seja, os quatro usinas e está entre os maiores
1 Instituto Agronômico, Centro de Cana, últimos 10 anos. Fruto dessa demanda, processadores do Brasil, com capaci-
mxavier@iac.sp.gov.br.
o Programa Cana IAC apresentou ao se- dade aproximada de moagem de 22
2 Instituto Agronômico, Centro de Cana,
mlandell@iac.sp.gov.br. tor sucroenergético, em 2012 o sistema milhões de toneladas de cana. Na sa-
3 Produtores rurais e representantes de empresas Mudas Pré-Brotadas, (MPB) descrito no fra 2013/2014, a São Martinho bateu o
parceiros na rede de experimentação do Programa documento IAC 109 e resumido na se- recorde mundial de processamento de
de Cana do Instituto Agronômico.
quência de etapas (Figura1). cana de uma só unidade superando 9
Esse sistema tem sido usado, im- milhões de toneladas.
plementado e desenvolvido por dife- A crescente demanda por um novo
rentes “atores” da cadeia de produção sistema de plantio de canaviais que

32 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


de etanol, açúcar e energia no Brasil. pudesse representar uma alternativa
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

A B

C D

E F

Figura 1. Sequência de etapas do Sistema MPB: corte do minirrebolo (a), tratamento químico (b), caixa

33
de brotação (c), aclimatação 1 (d), aclimatação 2 (e), MPB finalizado (f).
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

economicamente viável ao sistema de A estrutura construída conta com


plantio de cana picada levou os gesto- galpão industrial destinado a prepa-
res da Usina São Martinho à inovação. ro de minirrebolos e plantio, câmara
Criou-se, assim, um projeto destinado úmida para brotação de gemas, estufa
a adequar a tecnologia de produção de para desenvolvimento inicial e banca-
Mudas-Pré-Brotadas de cana-de-açú- da de rustificação, conforme figura 2.
car, proposto pelo Centro de Cana do O complexo tem capacidade de produ-
IAC em Ribeirão Preto, a um modelo zir 2,5 milhões de mudas pré-brotadas
de produção em série, conforme os por mês, e o ciclo de produção deve
moldes de uma biofábrica de mudas variar entre 38 e 60 dias, a depender
em escala industrial. das condições de clima e das varieda-
Nesse método, cada uma das fases des a serem reproduzidas.
de produção foi analisada e ajustada Esse complexo possui mais de
de forma a permitir automação de pro- 9.000 m2 de área coberta, com sistema
cessos, otimização de procedimentos de coleta de água pluvial para a utili-
e eliminação de pontos de estrangula- zação nos processos produtivos. Para
mento na linha de produção. o armazenamento da água pluvial, foi

B C

34
Figura 2. Visão geral da estrutura (a), bandejas e tubetes (b) e suporte (c).
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

construído um reservatório com ca- em final de época, deixamos para fa-


pacidade de um milhão de litros. O zer o serviço de replantio no início das
galpão foi feito de modo a favorecer águas com mudas do próprio local. O
a iluminação e ventilação natural, dis- desenvolvimento do canavial foi abai-
pensando o uso de energia elétrica no xo do esperado e teríamos de quebrar
trabalho diurno. muita cana para completar as falhas.
Para o desenvolvimento das ati- Pelas mesmas razões os nossos vivei-
vidades, o processo conta com 70 ros também estavam curtos, o que nos
colaboradores dedicados, ligados às colocou diante de um impasse: gastar
atividades de campo e que receberam muita cana da própria área, prejudican-
capacitação técnica para atuar nas di- do ainda mais a produtividade do pró-
ferentes etapas produtivas. ximo corte, ou sacrificar um viveiro,
A tecnologia MPB faz parte da es- prejudicando o próximo plantio. Nem
tratégia da São Martinho para a rápida uma coisa, nem outra. Já em tempos
expansão de novas variedades de de crise, decidimos utilizar nosso vi-
cana-de-açúcar, implantação de vi- veiro de produção de plantas nativas,
veiros com maior sanidade, possibi- que estava ocioso, para fazer mudas
litando também a redução da taxa de de cana para o replantio. Improvisa-
reforma dos canaviais, por meio da mos de maneira artesanal o processo
revitalização das soqueiras. Tudo isso, de produção, garantindo que o pri-
faz parte das ações inovadoras para a meiro objetivo fosse alcançado: gastar
conquista de um canavial com produ- pouca muda. Assim foi feito e, no final
tividade acima de 100 toneladas por de novembro de 2011, replantamos as
hectare e taxa de reforma abaixo de falhas com mudas pré-brotadas. Foi
10%, contribuindo para a redução do um sucesso. Não perdemos pratica-
custo de produção e maximização dos mente nenhuma planta e corrigimos as
resultados da companhia. falhas para o restante do ciclo.
A partir dessa experiência, interes-
Condomínio Agrícola Santa Izabel samo-nos pelo assunto e fomos visitar
O condomínio tem sede na fazenda o Centro de Cana do IAC, em Ribeirão
Santa Izabel, em Jaboticabal e cultiva Preto, a fim de conhecer o sistema MPB
cana, soja e milho nos estados de São que já estava sendo amplamente utili-
Paulo e Minas Gerais. zado para multiplicação de viveiros de
Em 2011, no plantio de cana de ano mudas com vantagens reconhecidas.
e meio, em razão de diversos fatores, Em 2012, de posse da experiên-
tivemos uma área que ficou com mui- cia do IAC, repetimos o trabalho de
tas falhas, necessitando, portanto, de replantio em novembro e dezembro,
desta vez não apenas em cana planta
replantio. Como a área foi plantada
que apresentava falhas, mas também
O Agronômico | v. 64-66 | 2014 35
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

cana soca. Utilizamos mais varieda- número de perfilhos por metro, maior
des e novamente tivemos um desem- uniformidade entre eles e também nas
penho excelente, praticamente sem touceiras, resultando em maior produ-
perder mudas. ção por hectare (Tabela 1). Na colhei-
Essas duas experiências junto com ta, em maio de 2014, os resultados fo-
as informações levantadas pelo IAC, ram mantidos, embora não tenhamos
encorajaram-na a planejar não só o re- conseguido aplicar testes estatísticos
plantio, mas o plantio de cana de ano e em razão das condições da colheita.
meio com o sistema MPB. Ainda tínha- Antes disso, em fevereiro e março
mos muitas dúvidas, mas o que cha- de 2014, seguimos nosso plano plan-
mava mais a atenção era fazer o plantio tando cerca de 10 ha com mais três va-
nas áreas comerciais sem irrigação. riedades. Por enquanto, só temos ava-
Iniciamos essa nova fase, que foi liações no nível de falhas e perfilhos
concebida em três etapas: em primei- em que o sistema MPB segue superior
ro lugar garantir o estabelecimento do ao plantio mecanizado tradicional.
canavial plantado com mudas pré-bro- Este breve relato serve para emba-
tadas de ano e meio sem irrigação. Em sar nossos comentários e expectati-
segundo lugar, aprender a produzir vas em relação à técnica de MPB. Em
mudas em escala com alta qualidade e primeiro lugar, temos uma redução
baixo custo e, finalmente, desenvolver considerável no volume de mudas uti-
ou adaptar equipamentos e máquinas lizado, facilitando o manejo de viveiros
para o plantio dessas mudas nas áreas e disponibilizando mais matéria-prima
comerciais. Nesse momento, além do para a indústria. Em segundo lugar,
permanente contato com a equipe do podemos garantir com mais facilidade
IAC, convidamos o engenheiro-agrô- um material genético livre de doenças,
nomo Pedro Faria para colaborar com pragas e até mesmo plantas daninhas.
nosso time neste desenvolvimento. Manipulamos todas as plantas. Em
Em março de 2013 transplantamos terceiro lugar, temos um aproveita-
nossa primeira área comercial de MPB mento espacial muito melhor uma vez
com 1,5 ha. Novamente tivemos uma que as plantas guardam a mesma dis-
agradável surpresa. Embora tenham tância na linha de plantio e talvez este
ficado mais de 20 dias sem chuva seja o ponto mais relevante. A cana é
após o plantio, as mudas não morre- uma planta de touceiras e nós insis-
ram e ao contrário estabeleceram um tentemente a colocamos em sulcos
canavial sem falhas. Aproximadamente ou linhas. Nos plantios tradicionais,
doze meses depois, fizemos a primeira quando utilizamos entre 15 a 20 ge-
biometria e os resultados foram muito mas viáveis por metro, assistimos a
positivos quando comparados ao plan- uma competição não apenas entre os
36 O Agronômico | v. 64-66 | 2014
tio mecanizado convencional. Maior perfilhos, mas também entre as tou-
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

ceiras de cana para se estabelecerem. Tabela 1. Parâmetros avaliados em estudo biométrico comparativo sobre mu-
Competição por água, nutrientes, luz das pré-brotadas (MPB) e plantio convencional mecanizado de cana-de-açúcar.
e espaço exigem um gasto de energia
que não se traduz necessariamente em Parâmetros avaliados MPB Conv. mec.
produção de maior volume de açúcar
por hectare. No MPB, as touceiras se- número de colmos/metro 12,06 ± 1,47 A 9,34 ± 1,10 B
guramente poderão expressar melhor diâmetro de colmos (cm) 2,83 ± 0,09 B 2,92 ± 0,05 A
seu potencial de produção. comprimento de colmos (cm) 264,8 ± 8,91 A 254,5 ± 14,18 B
Ainda será preciso muito trabalho falha (>50cm) 0,00 ± 0,00 B 12,84 ± 11,45 A
para dinamizar a produção das mudas
colmos/touceira 5,70 ± 1,06 4,80 ± 2,15
em biofábricas que garantam qualidade 1
produtividade (TCH) 133,6 ± 15,18 A 104,0 ± 13,57 B
genética com baixo custo. Também te-
remos de acertar o sistema de plantio, Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P * 0,05).
não apenas na mecanização da opera- 1
Produtividade estimada em toneladas de colmos por hectare (TCH), segundo a fórmula estabe-
ção de transplantio, mas possivelmente lecida pelo IAC, em que TCH = [(Diâmetro²) x Comprimento X Números de colmos x 0,007854]/
Espaçamento
com mudanças no preparo de solo que
deverá ser mais delicado para receber a
muda. Também teremos de fazer ajus-
tes na questão de fertilização, controle
tem dado grande contribuição para
de pragas, plantas daninhas e mesmo
o desenvolvimento socioeconômico
na janela de plantio. Enfim, muito ain-
para no município de Jandaia e região.
da precisa ser feito para viabilizar este
A partir de março de 2009 foram
novo sistema de plantio em escala co-
retomadas as atividades relacionadas
mercial sem o uso de irrigação. Mesmo
à produção de viveiros.
assim, apesar da pequena experiência
Com isso reestruturou-se toda a
até agora, acreditamos que o sistema
área do tratamento térmico. Nessa
MPB poderá representar uma ruptura
época trabalhava-se somente com o
positiva no cenário sucroenergético,
sistema gema-gema (minirrebolos) e
aumentando a produtividade e a pro-
obtinha-se uma taxa de reprodução de
dução de cana, trazendo a necessária
1 x 20 hectares.
redução nos custos de produção.
Essa prática permitiu promover
Destilaria Nova União S/A – uma mudança no plantel varietal da
empresa. Houve uma aposta em no-
DENUSA
vas variedades e uma retomada de
A Destilaria Nova União S.A (De- multiplicação de materiais que haviam
nusa) está localizada no município sido lançados há pouco tempo, mas
de Jandaia, GO. Gera mais de 1.200 estavam parados em seus blocos de
empregos diretos durante a safra e multiplicação antigos, como a IAC91-
O Agronômico | v. 64-66 | 2014 37
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

1099, que em um ano passou de 0,5 canteiros horizontais onde é realizada


para 800 ha. a brotação de gemas, substituindo as
Esse período foi o marco do de- bandejas de plástico. Os substratos
senvolvimento varietal da empresa, são elaborados na própria empresa
ancorado na adoção e aplicação dos à base de serragem fina compostada
conceitos dos projetos AMBICANA e com a adição de formulações comer-
MANEJO VARIETAL, tecnologias de- ciais de adubos (Figura 3).
senvolvidas pelo Programa Cana IAC. O ambiente de aclimatação foi ins-
Com essas inovações foram obtidos talado com madeira de reflorestamen-
ganhos de produtividade, priorizando to e a estrutura de rustificação foi
o patrimônio biológico da empresa. construída na própria empresa com
Em 2011, após visita do pesquisa- descarte da manutenção automotiva,
dor do Instituto Agronômico, Marcos (Figura 4).
Landell, foi nos apresentado o proces- Há uma capacidade de produção
so de produção de mudas pré-brota- de até 60 mil mudas do tipo MPB por
das (MPB) do Programa Cana IAC. mês, as quais são totalmente desti-
Nesse momento foi tomada a decisão nadas à produção de viveiros pré-pri-
por estabelecer um viveiro de mudas mários (Figura 5), portanto o objetivo
seguindo a metodologia do IAC e im- principal é a estruturação da base do
plementando o desenvolvimento de processo de produção.
MPBs com baixo investimento. A peculiaridade desse projeto está
Nessa época foram construídos no fato de que 100% do material des-

A B

38
Figura 3. Canteiros horizontais de brotação das gemas (a) e substrato utilizado (b).
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

A B

Figura 4. Ambiente de aclimatação (a) e estrutura de rustificação (b).

tinado à propagação vegetativa têm das Pré-Brotadas (MPB), desenvolvido


passado pelo processo de tratamento pelo Instituto Agronômico (IAC), em
térmico antes de ser encaminhado à Ribeirão Preto (SP). Com a novidade,
produção de MPBs. sai de cena o tradicional rebolo e en-
Com a adoção do sistema de pro- tram as mudas pré-brotadas.
dução de mudas pré-brotadas foi As mudas formadas permitem uma
resgatada a cultura de formação de taxa de multiplicação acelerada. Isso
viveiros. A taxa de multiplicação atu- porque a partir de uma tonelada de
al é de 1 x 25. Conclui-se que não é cana, no sistema MPB, em um ano e
preciso grandes investimentos para meio pode-se chegar a uma área plan-
desenvolver o sistema na empresa, o tada de 400 hectares. Esse processo
qual contribui para estabelecer novos de multiplicação rápida foi a mola pro-
parâmetros de qualidade. pulsora para a multiplicação de novas
variedades de grande diferencial pro-
Abengoa Bioenergia Brasil dutivo pelo grupo Abengoa.
A Abengoa Bioenergia Brasil tem A redução de custos no setor e o
sua sede localizada na Fazenda São Luiz aumento de produtividade passam
no município de Pirassununga – SP. obrigatoriamente por um melhor pla-
O conceito MPB tem chamado a nejamento e execução de viveiros
atenção graças a numerosos benefí- que resultarão em plantio comercial
cios desde o início de sua produção uniforme, produtivo e com melhor
em 2012. Trata-se do sistema de Mu- qualidade fitossanitária. Acreditando
O Agronômico | v. 64-66 | 2014 39
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

A
neste potencial, estão sendo inseridos Aprendizado
investimentos em casas de vegetação,
Foi no convívio do dia a dia que
área dos viveiros e mão de obra, o que
aprendi um pouco sobre a cultura do
permitirá um avanço de produção de
algodão. As oportunidades de compar-
mudas de 1.400.000 para 2.700.000,
tilhar conhecimentos com pesquisa-
em 2015. Nesse contexto, a tecnologia
dores e técnicos de empresas na par-
MPB contribui para os indicadores do
ticipação em dias de campo, palestras
grupo Abengoa.
e simpósios tornaram-me mais roceiro
que engenheiro.
Em busca da produtividade Nesse caminho, com o intuito de
de três dígitos abreviar o tempo de aprendizado na
B
Kenjiro Mine é produtor agrícola na cultura da cana, montei, numa área de
região de Ituverava - SP 4.000 m², um campo experimental à
Imigrante que sou, comecei ainda moda caipira, sem qualquer pretensão
menino, “apanhando algodão”, mas de pesquisa científica, com seis varie-
com o tempo, o algodão perdeu espa- dades de cana indicadas por usinas da
ço em SP e mudou de mão e de lugar região de Ribeirão Preto.
(pequenos produtores do PR e SP de- Fizeram parte dos tratamentos mu-
ram lugar a grandes fazendas tomando das de MPB (IAC) e meristema. Os le-
o cerrado do Centro-Oeste). vantamentos iniciais de perfilhamento
Mesmo não seguindo a vocação estão indicados na figura 6.
agrícola da família, aprendi que o suces- Após 90 dias de implantação do can-
so de uma lavoura começa com o plan- teiro há oportunidade de colecionar e
tio. Um plantio bem feito, já era mais agregar, “ao vivo e a cores”, muitas ob-
da metade do sucesso da lavoura, que servações com relação às variedades e,
começava pela escolha de uma semen- principalmente, na questão das mudas.
te de qualidade e de origem conhecida, Acredito que essa tecnologia possa
procedimentos que qualquer produtor se constituir numa importante ferra-
Figura 5. Individualização das gemas (a) e de grãos sempre fez e continua fazendo. menta para se buscar A PRODUTIVIDA-
MPB de cana pronta (b). Apesar de ser calouro no assunto DE DE TRÊS DÍGITOS.
cana, percebo que não é (ou não foi) Numa conta simples e rápida de
esse cuidado que a grande maioria fez “padaria”, a tecnologia de MPB, propor-
no seu canavial. Creio que até pouco ciona (desconsiderando-se as perdas)
tempo, a muda boa era aquela cana nova uma taxa de multiplicação de 1: 6.400
que estava perto da área de implantação em dois ciclos, conforme a tabela 2.
ou reforma.

40 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Figura 6. Perfilhamento de seis variedades de cana-de-açúcar e perfilhamento médio.

Tabela 2. Taxa de multiplicação.

MPB Colmo semente Gemas MPB final


1 10 8 80
80 10 8 6400

O Agronômico | v. 64-66 | 2014 41


INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Aeroponia pode inovar a produção


de minitubérculos de batata no
Estado de São Paulo

Importância econômica da batata produção e por deficiências no abas-


tecimento e na comercialização. Na

A
batata é o terceiro alimento
composição do custo de produção, a
humano mais consumido do
batata-semente é considerada o item
mundo, sendo superada ape-
mais oneroso, variando de 20 a 40%
nas pelo arroz e pelo trigo. Embora
do custo total, dependendo da região
o milho seja considerado por muitos
e ano de cultivo. Não obstante, a pro-
autores o terceiro alimento em impor-
tância, deve-se destacar que grande dução constitui-se como uma das
parte de sua produção é utilizada na etapas mais importantes da cadeia
alimentação animal e na produção de produtiva, principalmente por estar
óleo e etanol. diretamente relacionada ao processo
O valor nutricional e o alto poten- de degeneração da cultura e, conse-
cial produtivo por unidade de área le- quentemente, ser limitante na expres-
varam a Organização das Nações Uni- são do potencial produtivo e na quali-
das para Agricultura e Alimentação dade dos tubérculos.
(FAO) a incentivar o plantio de batata
e conscientizar a população mundial Sistemas hidropônicos para pro-
de sua relevância como forma auxi- dução de minitubérculos
Alex Humberto Calori1, liar de combate à fome e miséria no de batata
Thiago Leandro Factor2,
José Carlos Feltran3,
mundo, especialmente em países em
Luis Felipe Villani Purquerio4 desenvolvimento. A utilização de sistemas hidropôni-
Muito embora tenha ocorrido sig- cos tem se destacado no mundo como
nificativo aumento na produção de ba- uma das principais estratégias para a
tata nos países em desenvolvimento, redução do custo de produção e au-
seu consumo ainda está longe de atin- mento na taxa de multiplicação e pro-
gir a média dos países desenvolvidos. dução de batata-semente de qualida-
Na África, a média anual de consumo de em ambiente protegido. No Brasil,
1 Doutorando, Pós Graduação em Agricultura por pessoa é de 14,2 kg. Na América entretanto, a quase totalidade da pro-
Tropical e Subtropical, Instituto Agronômico,
ahcalori@gmail.com. Latina, é de 23,6 kg, enquanto que, dução de minitubérculos de batata-se-
2 Polo Nordeste Paulista – DDD/APTA, na América do Norte, atinge 57,9 kg e mente é oriunda de plantio em vasos
factor@apta.sp.gpv.br.
chega a 96,1 kg na Europa. No Brasil, e substrato agrícola, com rendimento
3 Instituto Agronômico, Centro de Horticultura,
feltran@iac.sp.gov.br. em 2006, o consumo foi de 14,2 kg, baixo, com valores entre 3 e 11 tubér-
4 Instituto Agronômico, Centro de Horticultura, segundo a Associação Brasileira de culos por planta, segundo a literatura.
felipe@iac.sp.gov.br.
Horticultura. No cultivo em hidroponia do tipo
Uma das razões para o baixo con- NFT (Nutrient Film Technique), pesqui-
sumo de batata no Brasil ainda é o sas evidenciam que a produção de tu-

42
preço elevado pago pelo consumi- bérculos de batata-semente por planta
dor, decorrente do elevado custo de e por área, pode ser cinco vezes maior
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

que a produtividade obtida no sistema Tabela 1. Produtividade de minitubérculos de batata-semente produzidos em diferen-
com o uso de vaso e substrato. tes sistemas hidropônicos.
Na técnica de hidroponia NFT, há,
ainda, a possibilidade de se trabalhar Produtividade
com diferentes estruturas de cultivo,
construídas com diversos tipos de Sistema hidropônico
material. Calha articulada de policlo- Tubérculos/planta Tubérculos/m2
reto de vinila (PVC) e telha de fibro-
cimento (Figura 1) são alternativas de Aeropônico1 50 874
matéria-prima para a construção do
NFT (calha articulada)2 39 458
sistema. Esses sistemas podem diferir
no custo de investimento e, principal- NFT (telha de fibrocimento)2 11 513
mente, na produtividade (Tabela 1).
DFT3 42 246

Vaso4 3 - 11 -

1 Factor et al. (2007); 2 Medeiros et al. (2002); 3 Factor & Araújo (2005); 4 Favoretto (2005); Daniels et al. (2010); Lima
Júnior et al. (2010).

  A B C

Figura 1. Detalhe de sistema hidropônico do tipo NFT utilizado para a produção de minitubérculos de batata, com calhas arti-
culadas (A); vista superior da bancada com as plantas de batata (B) e vista interior do sistema e dos minitubérculos (C). Fonte:
Medeiros et al. (2002).

O Agronômico | v. 64-66 | 2014 43


INFORMAÇÕES TÉCNICAS

No Brasil, em iniciativa pioneira re- 2 vezes maior que no sistema NFT e


cente, pesquisadores desenvolveram 3,5 vezes maior que no sistema DFT.
o protótipo de um sistema aeropôni- Por sua vez, em relação ao sistema de
co para a produção de minitubérculos cultivo em vaso, a diferença na taxa de
de batata-semente. Nesse sistema, as multiplicação pode ser ainda maior, de
plantas crescem suspensas e apoiadas 4,5 vezes (Tabela 1).
pelo colo da raiz na parte superior de A multiplicação em sistema ae-
uma câmara, em cujo interior o con- ropônico pode diminuir o número de
junto de raízes se desenvolvem sem gerações de batata-semente no campo
solo e sem substrato, recebendo solu- e os custos de produção e aumentar a
ção nutritiva por meio de nebulizado- qualidade fitossanitária das sementes
res (Figura 2). para a primeira geração de produção
A aeroponia possibilita maior pro- no campo de batata para consumo.
dutividade de minitubérculos em re- A aeroponia é uma técnica com
lação aos demais sistemas hidropô- grande potencial de aplicação no Bra-
nicos (NFT, DFT e vaso). Além disso, sil, principalmente como estratégia
a colheita é escalonada e facilitada, para aumentar a produção e propor-
pois é feita por meio de janelas laterais cionar alta qualidade sanitária da ba-
(Figura 2C). O aumento da produção tata-semente em condições tropicais
ocorre devido à ausência de obstá- de cultivo. Entretanto, pela recente
culos ao desenvolvimento das raízes, introdução desse sistema no país, ava-
melhor aeração do sistema radicular e liado somente na forma de protótipo
maior número de plantas por área. Na até o momento, a aeroponia precisa de
aeroponia, a produtividade pode ser aprimoramento e adaptação para con-

 
A B C

Figura 2. Protótipo de sistema do tipo aeropônico para a produção de minitubérculos de batata, com caixas de cultivo: nebulização
em funcionamento (A); vista lateral do sistema com as plantas de batata (B); e vista do interior da câmara de cultivo e dos minitu-
bérculos (C). Fonte: Factor (2007); Factor et al. (2012).

44 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


INFORMAÇÕES TÉCNICAS

  (B)  
(A)  
A B

Figura 3. Sistema aeropônico para produção de batata-semente: detalhe das câmaras ou bancadas (A); e plantas em pleno desen-
volvimento (B). Fonte: Calori AH, Factor TL.

dições comerciais de cultivo. Além dis- manejo cultural para a produção de


so, são necessários estudos sobre ma- minitubérculos de batata no sistema
nejos cultural e nutricional, bem como aeropônico. Para a realização da pes-
divulgação e adoção por produtores e quisa, foi construído o primeiro sis-
empresas especializadas em produção tema aeropônico, em escala comer-
de batata-semente do estado de São cial no Brasil, com matérias-primas
Paulo e Brasil. e equipamentos de fácil aquisição no
Considerando as demandas de pes- mercado (Figura 3).
quisa da aeroponia e as perspectivas
de produção de batata-semente no A construção do sistema
país, a APTA/IAC está desenvolvendo aeropônico
essa tecnologia inovadora por meio de o sistema aeropônico destacado
projeto1 de pesquisa envolvendo sua neste artigo pode ser dividido em três
equipe de pesquisadores e o Curso partes: fundação e estrutura de supor-
de Pós-Graduação do IAC. A pesquisa te, bancadas de cultivo e sistema de
objetiva estudar e superar gargalos do distribuição da solução nutritiva.
1 O projeto está sendo conduzido no Polo Nordeste Paulista e
- Fundação e estrutura de suporte:
no Instituto Agronômico, da Agência Paulista de Tecnologia compostas pelo reservatório de con-
dos Agronegócios (APTA), sob a coordenação dos
pesquisadores Thiago Leandro Factor e Luís Felipe Villani
tenção da solução nutritiva, construí-
do com tijolos, e a base para fixação
45
Purquerio e do aluno de doutorado do IAC, Alex Humberto
Calori, com financiamento da Fundação de Amparo a
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP - 2013/15867-0). da segunda parte (Figura 4A). Além
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INFORMAÇÕES TÉCNICAS

da captação da solução nutritiva, as locou-se uma camada de 2 cm de areia


paredes perimetrais do sistema aero- peneirada no interior do reservatório,
pônico têm a função de servir de base a fim de proporcionar melhor acomo-
para a fixação das bancadas metálicas. dação do revestimento e evitar sua
Antes da impermeabilização do reser- perfuração por objetos pontiagudos.
vatório, foram feitos o nivelamento e a Na impermeabilização do reservatório
compactação do terreno, deixando-se de solução nutritiva, foi utilizado mate-
uma diferença de nível de, aproxima- rial à base PVC, chamado de geomem-
damente, 2%, voltada para o centro do brana, composto por uma liga plásti-
reservatório. Após o nivelamento, co- ca, elástica e flexível (Figura 4B). No

 
A

C D

Figura 4. Estrutura de alvenaria para sistema aeropônico composta por: reservatório de contenção da
solução nutritiva (a); impermeabilização do reservatório com geomembrana (b); estrutura metálica de
aço galvanizado para suporte das plantas e do revestimento lateral (c); e revestimento lateral de PVC

46 com janelas que deslizam para a realização da colheita (d). Fonte: Calori, A.H.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

centro do reservatório, colocou-se um maneira intercalar e espaçamento de


ralo destinado a captação e condução 0,5 m nas linhas. Na parte interna das A
da solução nutritiva aos reservatórios bancadas, foram usadas 3 linhas de
de 1000 L, constituindo-se em um sis- tubos de PVC ¾” (Figura 5A). Para a
tema hidropônico do tipo fechado. drenagem da solução nutritiva, foram
- Bancadas de cultivo: compostas utilizados tubos de PVC de 50 mm. Es-
por estrutura metálica e revestimento tes conectam a camara de nebulização
aos reservatórios de solução nutritiva,
de PVC. A estrutura metálica é respon-
com capacidade para 1000 L. Para o
sável pelo suporte das plantas, assim
acionamento do sistema, utilizaram-se
como do sistema radicular. No reves-
motobombas centrífugas de múltiplo
timento de PVC ficam as janelas que
estágio e potência de 1 CV, reguladas
permitem a colheita escalonada dos por um painel eletrônico automatizado. B
minitubérculos de batata. As bancadas O tempo de distribuição da solução nu-
metálicas possuem dimensões de 4,0 tritiva pode ser variável em função do
m de comprimento por 1,1 m de largu- desenvolvimento da cultura.
ra e 1,0 m de altura, construídas em aço
galvanizado e tela ondulada galvanizada
na extremidade superior (Figura 4C). As Etapa de produção de mudas
bancadas foram fixadas e travadas jun- como as plântulas utilizadas no
to à base de alvenaria. Após a fixação sistema aeropônico provêm de propa-
das bancadas e a impermeabilização gação vegetativa in vitro, é necessária
dos reservatórios, foi feita a instalação uma etapa de aclimatação das mesmas
dos trilhos e das placas de PVC. Para antes do transplantio para o sistema
tanto, foram utilizadas placas montá- aeropônico. Para isso, foi construída
veis de PVC, apoiados em trilhos du- uma estrutura de aclimatização do tipo
plos de alumínio, de maneira a formar floating ou piscina, onde as plântulas
as janelas laterais (Figura 4D). As jane- recebem a solução nutritiva pela parte
las foram dispostas em módulos de 2 m inferior da bancada. Figura 5. Distribuição da solução nutriti-
de comprimento, deslizáveis em 1 m de As bancadas de floating foram cons- va por nebulização (a) e sistema radicular
deslocamento para cada lado, deixando truídas utilizando-se estrutura metálica com minitubérculos de batata (b). Fonte:
e madeira do tipo compensado, sendo Calori, A.H.
o lado oposto livre para a colheita dos
tubérculos. revestidas com geomembrana de PVC.
- Sistema de distribuição da so- Na parte superior das bancadas foram
lução nutritiva: os nutrientes são for- fixados arcos, os quais foram recober-
necidos por meio de nebulização. O tos com tela de polietileno com 30 %
sistema é composto por nebulizadores de sombreamento. Os nebulizadores
com vazão de 14 L/h, distribuídos de foram instalados na área interna pro-

47
tegida (Figura 6).
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Agenda de pesquisa: estudos com dio de desenvolvimento da planta, es-


manejos nutricional e cultural pécie vegetal e a cultivar utilizada.
Além da solução nutritiva, o manejo
além do desenvolvimento da es-
cultural também é importante. A maior
trutura para a produção de minitubér-
vantagem dos plantios adensados é o
culos de batata-semente, o projeto de
ganho de produtividade, com menor
pesquisa contempla estudos envolven- custo de produção, pela utilização mais
do os manejos nutricional e cultural eficiente da radiação solar, da água e
para esse sistema produtivo. dos nutrientes. Essa prática torna-se
Em cultivo sem solo, é essencial ainda mais importante no cultivo aero-
conhecer a concentração da solução pônico, onde o custo de investimento
nutritiva, pois ela está diretamente li- do sistema produtivo é elevado.
gada à produtividade e à qualidade do Na pesquisa em andamento, estão
produto final. O desequilíbrio nutricio- sendo estudadas quatro condutividades
nal da planta pode ocorrer tanto por elétricas (CE) da solução nutritiva (1,0;
excesso quanto por deficiência. A com- 2,0; 3,0 e 4,0 dS/m) e quatro espaça-
posição ideal de uma solução nutritiva mentos entre plantas (10,0 x 10,0; 10,0
depende não somente da concentração x 15,0; 15,0 x 15,0 e 20,0 x 20,0 cm).
dos nutrientes, mas também de fatores O primeiro experimento foi finalizado no
ligados ao cultivo, incluindo o tipo de segundo semestre de 2014 e o segundo
sistema hidropônico, ambiente, está- experimento será repetido em 2015.

(A)  
A (B)  
B

Figura 6. Estrutura de aclimatização do tipo floating para plântulas de batata: vista externa (a); e vista interna, com a
linha de nebulização e as plântulas (b). Fonte: Calori, A.H.

48 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Após a determinação da CE e do imediatamente adotados pelo setor  


espaçamento adequados, será estu- produtivo, que já se mostra interessa-
dada a concentração de nitrogênio (N) do na nova tecnologia.
da solução nutritiva, uma vez que esse Até o momento, o sistema aero-
nutriente está diretamente relacionado pônico foi construído e testado com
ao processo de tuberização da planta sucesso, bem como foi realizado o pri-
de batata. O N disponível nos diferen- meiro experimento no sistema.
tes estádios de desenvolvimento exerce Embora os estudos sejam iniciais, A  A B  
grande efeito sobre a taxa de multipli- durante a instalação da estrutura e rea-
cação e produtividade, devido à sua ati-   lização do primeiro experimento, pesqui-
vidade na diferenciação e crescimento sadores, professores, representantes de
dos tubérculos. A deficiência de N po- empresas privadas e estudantes de pós-
dem afetar o desenvolvimento da parte -graduação e imprensa tiveram a oportu-
aérea das plantas causando redução da nidade de conhecer o sistema produtivo
área foliar. Consequentemente, a produ- que chama a atenção do público em ge-
tividade será baixa, além da redução no ral pelo caráter inovador de cultivo das
tamanho dos minitubérculos. Em con- plantas “no ar” (Figura 7. https://www.
trapartida, o excesso de N pode atrasar A  youtube.com/watch?v=aJ7Rl06RtK4). B  
B
o processo de tuberização, levando, É importante ressaltar que o sis-
também à redução da produtividade. tema aeropônico, além do cultivo de Figura 7. Visita de pesquisadores, professo-
Serão estudadas quatro concen- minitubérculos de batata-semente, res, pós-graduandos do IAC e da ESALQ e
trações de N da solução nutritiva. As possibilita o cultivo de outras espé- representantes de empresas privadas à es-
doses de N a serem avaliadas serão cies vegetais, principalmente daquelas trutura experimental de produção de minitu-
definidas com base no melhor resul- em que o sistema radicular tem valor bérculos de batata, no Primeiro Dia de Campo
de Aeroponia, realizado em 16/09/2014 (a) e
tado obtido nos experimentos anterio- econômico, como plantas medicinais vista interna da câmara de produção aberta
res. Esse experimento tem previsão de e aromáticas, por exemplo. Assim, em ambos os lados no final do ciclo produtivo
instalação em 2016. criam-se perspectivas futuras de opor- (b). Fonte: Purquerio, L.F.V.
tunidade de produção e estudos em
Realizações e perspectivas futuras diferentes linhas de pesquisa como
A experiência da instalação de uma a fitotecnia, melhoramento genético,
estrutura aeropônica em escala comer- nutrição mineral de plantas, fitossani-
cial para a produção de minitubérculos dade, entre outras. Para o setor produ-
de batata é inovadora no Brasil, bem tivo, vale lembrar que esse sistema de
como serão inéditos os resultados da cultivo pode ser uma opção para a pro-
pesquisa com relação as manejos cul- dução de raízes de alto valor agregado,
tural e nutricional. Ressalta-se, ainda, que tem sua produção dificultada no
que por ser uma pesquisa de caráter solo, como é o caso dos minitubércu-
aplicado, seus resultados poderão ser los de batata-semente (Figura 8).
O Agronômico | v. 64-66 | 2014 49
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

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O Agronômico | v. 64-66 | 2014 51


INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Pré-zoneamento para a cultura da


oliveira no Estado de São Paulo

Seu cultivo normalmente se encon-

O
Brasil é um grande impor-
tador de azeitonas e azeite, tra em regiões semi-áridas do mediter-
sendo totalmente dependente râneo, com elevadas temperaturas e
de importação de países como Espa- baixo índice pluviométrico (250 a 550
nha, Portugal, Itália, Chile e Argentina. mm anuais) nos meses de verão. No
Em 2009, foram importados, por volta clima mediterrâneo, durante o inverno,
de 44 mil toneladas de azeite e 70 mil ocorre acumulação de frio, conside-
toneladas de azeitona em conservas, o rado indispensável para que a oliveira
que movimentou mais de um bilhão de saia da dormência e floresça. Como já
reais no mercado nacional. mencionado suportam temperaturas
Existem cultivos estabelecidos nos próximas a 40°C sem ocorrer queima-
Estados de Minas Gerais e Rio Grande duras, mas a atividade fotossintética
do Sul e também alguns produzindo no começa a ser inibida com temperatu-
estado de São Paulo. No entanto, ainda ras acima de 35°C. A planta é sensí-
há falta de conhecimento das caracte- vel ao frio, mas ocorre um aumento
rísticas agroindustriais das cultivares gradual de tolerância provocada pelas
introduzidas e seu potencial econômi- baixas temperaturas do outono, o que
co de extração e comercialização do estimula a dormência. Podem ocorrer
azeite produzido. Entre essas caracte- pequenas lesões em brotos e ramos
rísticas, a composição dos frutos e pa- se a temperatura permanecer por um
râmetros químicos se destacam como período entre 0 e 5°C. Se ocorrer tem-
essenciais para a seleção e recomen- peraturas negativas até -10°C podem
dação de cultivares.
ocorrer danos definitivos nos brotos
A oliveira (Olea europaea) é uma
e ramos, podendo ser irreversíveis e
planta angiosperma dicotiledônea da
levar a planta à morte. O período de
Angelica Prela Pantano1 família oleaceae. É arbórea e cultivada
florescimento é altamente influenciado
Edna Ivani Beertoncini2 em diversas regiões como: sul da Eu-
Marcos Silveira Wrege3 pelas condições ambientais. Em condi-
ropa (Portugal, França, Itália, Grécia e
Espanha), no norte da África, Américas ções de inverno ameno, as cultivares
do Sul e do Norte e alguns países da oriundas de regiões de clima tempera-
Ásia. É uma planta de clima tempera- do, podem apresentar variabilidade na
do e devido a sua estrutura xerófita se floração em relação a outro ciclo, devi-
desenvolve bem em ambientes com do a instabilidade térmica no inverno,
1 Instituto Agronômico, Centro de Ecofisiologia e verões longos, quentes e secos e, com o que é comum em regiões subtropi-
Biofísica, angelica@iac.sp.gov.br baixos índices pluviométricos. Quanto cais, como o sul de Minas Gerais.
2 APTA, Polo Regional do Centro Sul/Piracicaba (SP),
à frutificação, a temperatura adequada No Estado de São Paulo, o cultivo
ebertoncini@apta.sp.gov.br
varia entre 25 e 35°C. Contudo, é capaz ainda é restrito, mas vem se expandin-
3 Embrapa Florestas, Colombo (PR)
de suportar temperaturas próximas a do rapidamente, o que leva ao aumen-
to da demanda para novas pesquisas,
52
40°C, sem ocorrer queimaduras às fo-
lhas e aos ramos. com objetivo de recomendação de
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

áreas aptas para o cultivo de acordo, Tabela 1. Relação dos principais municípios do Estado de São Paulo e respectiva
principalmente, com as características estimativa de disponibilidade de frio, com temperaturas abaixo de 13°C.
climáticas desejáveis para o desenvol-
Nº de Horas
vimento satisfatório da planta. Portan- de Frio
Locais
to, o objetivo desse estudo é identificar Caconde, Gália, Taquarituba, Silveiras, Valinhos, Araçoiaba, Boituva, Itaí, Iti-
regiões no estado onde ocorram acú- rapina, Jundiaí, Sarapuí, Coronel Macedo, Diadema, Riversul, Santa Isabel,
mulo de 500 horas de frio com tem- Águas da Prata, Bernardino de Campos, Burí, Cássia dos Coqueiros, Socorro,
500 - 600
peraturas abaixo de 13°C, condições Franca, Mandurí, São Carlos, Tatuí, Torrinha, Vinhedo, Cristais Paulista, Gua-
essas consideradas ideais ao cultivo reí, Ibaté, Pedregulho, São Carlos, Timburí, Angatuba, Cerqueira César, Itaberá,
Várzea Paulista
de oliveiras.
Capela do Alto, Monte Alegre do Sul, Itatiba, Natividade da Serra, Santa Bran-
Os dados utilizados para a estimati-
ca, Itupeva, Avaré, Botucatu, Franco da Rocha, Itapetininga, Itapeva, Monteiro
va de Números de Horas de Frio (NHF), 600 - 700
Lobato, São Miguel Arcanjo, Tejupa, Caieiras, Itatinga, Guarulhos, Morungaba,
no Estado de São Paulo, foram obtidos São Bernado do Campo, Sarutaria, Louveira, Osasco, Rio Grande da Serra
junto ao banco de dados do Ciiagro - Mairiporã, Mogi das Cruzes, São Luis do Paraintinga, Susano, Arujá, Bom Jesus
Instituto Agronômico. Nesse estudo, dos Perdões, Bragança Paulista, Cabreúva, Itapevi, Itaquaquecetuba, Jambeiro,
adotou-se a metodologia de Pedro Ju- Poá, Santo Antônio do Jardim, Atibaia, Capão Bonito, Itatinga, Santo Antônio do
nior et al. (1991) e Bardin et al. (2010), 700 - 800 Pinhal, São Caetano do Sul, São Paulo, Vargem, Campo Limpo, Ferraz de Vas-
concelos, Jarinú, Bom Jesus de Pirapora, Santana do Parnaíba, Santo André, La-
os quais estimam a temperatura média
goinha, Redenção da Serra, Carapicuíba, Ribeirao Pires, São Sebastião da Grama,
a partir do método de coordenadas ge- Mauá, Cajamar
ográficas, com os coeficientes deter- Juquitiba, São Bento do Sapucaí, Biritiba-Mirim, Embú, Embú-Guaçu, Piedade,
minados exclusivamente para o Estado 800 - 900 Pilar do Sul, Piracaia, Serra Negra, Nazaré Paulista, Pinhalzinho, São Roque,
de São Paulo. Guapiara, Jandira, Ibiúna
O método estima o número de ho- 900 - 1000 Salesópolis, Mairinque, Cotia, Joanópolis, Taboão da Serra
ras de frio, com base na temperatura
Apiaí, Francisco Morato, Pedra Bela, Ribeirão Branco, Tapiraí, Cunha, Divi-
média do mês mais frio (Tjulho) do Acima
nolândia, Santo Antônio do Pinhal, Barra do Turvo, Itapecerica da Serra, Itararé,
local, sendo esse o fator a apresentar de 1000
Campos do Jordão
maior correlação em relação às de-
mais variáveis independentes testadas
(latitude, longitude e altitude). Para Foram adotadas escalas de 100 NHF
estimativa de NHF acima de 13°C, utili- para separar as classes e assim agrupar
zou-se a seguinte equação: as localidades com acúmulo semelhan-
tes em NHF (Tabela 1 e Figura 1).
NHF >13 = 4482,88 – 231,21 (Tjulho)
Grande parte dos locais com NHF
Tomou-se como base apenas os estimados acima de 500 se encontra
fatores altitude e acúmulo de horas de em regiões de altitude acima de 700
frio, uma vez que esses são os fato- m, embora não se pode aplicar esse
res determinantes para a adaptação da parâmetro para identificação de áre-
cultura em uma determinada região e
53
as aptas, pois muitas áreas no esta-
estão correlacionados. do possuem tal altitude, porém não O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

acumulam número de horas de frio já estabelecidos em altitude variando


necessário para o florescimento. A es- de 900 a 1900m de altitude.
timativa apresentada nesse trabalho se De acordo com a Classificação
baseia em dados meteorológicos obti- Climática de Köppen, as localidades
dos em um único ponto por município. passíveis de produção de azeitonas do
Para um resultado mais preciso, se faz Estado de São Paulo são classificadas
necessário o registro de temperaturas como Cwa e Cwb. O clima tipo Cwa
no local de cultivo, utilizando assim da- são locais considerados “tropical de
dos reais. Nesse município há cultivos altitude, com inverno seco e tempera-

Figura 1. Regiões do Estado de São Paulo identificadas de acordo com acumulo de horas de frio, com temperaturas

54
abaixo de 13°C.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

turas do mês mais quente superior a COUTINHO, E.F. A cultura da oliveira. Pelotas:
22°C”. O clima Cwb, indica “tropical de Embrapa Clima Temperado, 2007. 143p.
altitude, com temperatura do mês mais OLIVEIRA, M.C.; RAMOS, J.D.; PIO, R.; CAR-
quente inferior a 22°C”, o que ocorre DOSO, M.G. Características fenológicas e físi-
em Campos do Jordão e Santo Antônio cas e perfil de ácidos graxos em oliveiras no
do Pinhal. No entanto, apenas a classi- sul de Minas Gerais. Pesquisa Agropecuária
ficação climática do local, não pode ser Brasileira, v.47, p.30-35, 2012.
considerada isoladamente na escolha
de um determinado local para cultivo. PEDRO JÚNIOR, M.J.; ORTOLANI, A.A.; RIGI-
Para a escolha de um local para cul- TANO, O.; ALFONSI, R.R.; PINTO, H.S.; BRU-
tivo, devem ser observadas diversas NINI, O. Estimativa de horas de frio abaixo de
condições como, altitude, clima, adap- 7 e 13°C para regionalização da fruticultura de
tabilidade da cultivar na região. Para clima temperado no Estado de São Paulo. Bra-
isso se faz necessário o acompanha- gantia, Campinas, v.38, n.1, p.123-130, 1979.
mento de desenvolvimento de diver- PEDRO JÚNIOR, M.J.; MELLO, M.H.A.; ORTO-
sas cultivares disponíveis no mercado LANI, A.A.; ALFONSI, R.R.; SENTELAS, P.C.
para averiguação da adaptabilidade em Estimativa das temperaturas médias mensais
cada região, pois existe variabilidade das máximas e das mínimas no Estado de São
genética entre as cultivares e com isso Paulo. Campinas: Instituto Agronômico, 1991.
um melhor ou pior desenvolvimento 11p. (Boletim técnico, 142).
dessa frutífera em regiões distintas do
Estado de São Paulo. PRELA-PANTANO, A.; BERTONCINI, E.I.; BAR-
DIN-CAMPAROTTO, L. Levantamento e Ca-
REFERÊNCIAS racterização Climática das Localidades com
Cultivo de Oliveiras no Estado de São Paulo. III
BARBOSA, W.; POMMER, C.V.; RIBEIRO, M.D.; Encontro da Cadeia Produtiva de Olivicultura e
VEIGA, R.F.A.; COSTA, A.A. Distribuição ge- 6ª Expoazeite, Campinas, 2012. CD-ROM. (Do-
ográfica e diversidade varietal de frutíferas e cumentos IAC, 108).
nozes de clima temperado no Estado de São
Paulo. Revista Brasileira de Fruticultura. Jaboti-
cabal, v.25, n.2, p. 341-344, 2003.

CARDOSO, L.G.V.; BARCELOS, M.F.P.; OLI-


VEIRA, A.F.; PEREIRA, J.A.R.; ABREU, W.C.;
PIMENTEL, F.A.; CARDOSO, M.G.; PEREIRA,
M.C.A. Características físico-químicas e perfil
de ácidos graxos de azeites obtidos de dife-
rentes variedades de oliveiras introduzidas no
sul de Minas Gerais – Brasil. Semina Ciências
Agrárias, Londrina, v.31, p.127-136, 2010.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014 55
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Programa de transferência
de tecnologias do
maracujá-amarelo do IAC

1. Introdução Interessante destacar o significa-


tivo potencial de geração de renda e
O cultivo do maracujá-amarelo (Pas- emprego que o plantio do maracujá-
siflora edulis), em pomares comerciais, -amarelo oferece aos produtores ru-
é relativamente recente no Brasil. O re- rais. O cultivo desta fruta é feito, em
conhecimento de seu valor comercial sua grande maioria, por produtores
data da década de 1960, quando então familiares, envolvendo diversos mem-
a área plantada passou a se expandir bros da família nas atividades diárias
em todas as regiões brasileiras. Em al- de plantio, manejo e colheita (e pro-
gumas delas, também houve um incre- cessamento, quando for o caso). Além
mento significativo na produtividade, o disso, é uma atividade que permite um
que levou o país à condição de maior rápido retorno econômico e um fluxo
produtor mundial. Contudo, o cresci- de renda distribuído ao longo da maior
mento da área em produção, como em parte do ano. Quando se trata de pro-
dutores rurais familiares, essa peculia-
Foto: Antonio Carriero

várias outras culturas, tem ocorrido en-


tre ciclos de expansão e retração. Esses ridade torna-se ainda mais importante,
ciclos são ditados particularmente por porque se insere positivamente no
problemas fitopatológicos, mas tam- contexto da necessidade de obtenção
bém resultam de questões ligadas à de renda mensal capaz de atender às
comercialização do produto. necessidades familiares, que vão des-
Laura M. M. Meletti1 A produção do maracujá é direcio- de a alimentação, saúde, educação,
Luiza M. Capanema2 nada para o consumo in natura como dentre outras.
também para a indústria processado- Outro destaque, além do elevado
ra, cujos produtos finais são o suco e a potencial de geração de renda e em-
polpa da fruta. Mais recentemente, ob- prego da cultura, é que o maracujá
serva-se que o processamento da fruta pode ser considerado um produto de
também tem sido realizado dentro de alto valor agregado, destinado a um
propriedades familiares, de forma ar- segmento de consumidores com renda
tesanal, o que resulta em polpa con- mais elevada.
1 Instituto Agronômico, Centro de Horticultura, gelada da fruta, com e sem sementes. Após este breve panorama do cul-
lmmm@iac.sp.gov.br
Este produto tem sido comercializado tivo do maracujá-amarelo no Brasil,
2 Instituto Agronômico, Centro de Horticultura,
luiza@iac.sp.gov.br diretamente pelos produtores, destina- outros aspectos, de cunho mais his-
do a sorveterias, restaurantes, bares, tóricos, também devem ser menciona-
merenda escolar, dente outros. Tal dos, porque tiveram relevância no dire-
alternativa tem-se configurado como cionamento das pesquisas no Instituto
uma forma de agregação de valor, que Agronômico (IAC) com o maracujá. Os
se traduz em uma nova e importante resultados das pesquisas desenvolvi-
fonte de renda a partir do cultivo do das no IAC no âmbito do Programa de
56 O Agronômico | v. 64-66 | 2014
maracujá. Melhoramento Genético do Maracujá
INFORMAÇÕES
O AGRONÔMICO
TÉCNICAS
Revista nº 64

iniciado na década de 1990 levaram com características distintas da que


à configuração de um Programa de existia até então no mercado, capaz de
Transferência de Tecnologias do ma- oferecer maior rendimento industrial
racujá-amarelo, também destacado ao por ocasião do processamento da fruta
longo deste texto. e sua transformação em suco.
O melhoramento genético siste-
2. Melhoramento matizado da espécie Passiflora edulis
(maracujá-amarelo) teve início na dé-
genético do cada de 1990. Até essa época, as se-
maracujá no IAC mentes que os produtores plantavam
eram selecionadas por eles mesmos,
Um dos principais fatores de pro- muitas vezes numa banca de frutas do
dução que contribui para o elevado mercado atacadista. Não havia semen-
custo de produção do maracujá-ama- tes de qualidade superior disponíveis,
relo é a mão-de-obra. O manejo ade- e nenhuma cultivar selecionada com
quado da cultura demanda cuidados que eles pudessem trabalhar. É tam-
diários, do plantio até a colheita. No bém nesta década que foram formadas
caso de pomares com área superior a equipes de pesquisa multidisciplinares
1 hectare, especialmente no período e multinstitucionais, com o objetivo de
de polinização e colheita, os agricul- iniciar as pesquisas em melhoramento
tores familiares não conseguem suprir genético do maracujazeiro.
toda a necessidade de mão-de-obra, e
procuram a contratação de trabalhado- 2.1 Cultivares pioneiras de
res temporários. Assim, a redução nos maracujá-amarelo
custos de produção foi um dos princi- Como resultado da primeira década
pais indicativos para o início das pes- de pesquisas, ocorreu o lançamento
quisas com melhoramento genético, das cultivares pioneiras de maracujá-
que tinham naquele período como foco -amarelo pelo IAC, no ano de 1999: cv.
principal a elevação da produtividade, IAC 273 (Monte Alegre), cv. IAC 277
o que poderia permitir um retorno fi- (Jóia) e cv. IAC 275 (Maravilha) (Fi-
nanceiro maior aos produtores. Outro gura 1). Tais cultivares são híbridas,
elemento importante neste contexto, com diferencias significativos de pro-
que também direcionou as pesquisas dutividade e qualidade de fruta, voltada
com maracujá no IAC, foi o processo para os dois segmentos da cadeia pro-
de segmentação da cadeia produtiva. dutiva (frutas frescas – IAC 273 e IAC
A partir de 1990, além do mercado de 277; agroindústria IAC 275). A maior
frutas frescas, o segmento da agroin- contribuição deles na ocasião foi ofe-

57
dústria passou a valorizar uma fruta recer a possibilidade de quadruplicar
O Agronômico | v. 64 -66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

a média de produtividade nacional que A disponibilidade das primeiras cul-


a cultura apresentava em algumas re- tivares registradas de maracujá (novas
giões, quando associada a tecnologia tecnologias) não resultaria automati-
de produção adequada. As principais camente na adoção pelos produtores.
características comerciais dos cultiva- Após o lançamento por instituições de
res IAC de maracujá-amarelo podem pesquisa, faz-se necessário viabilizar o
ser observadas n Quadro 1. uso destas tecnologias, criando canais
Simultaneamente ao lançamento eficientes de acesso para os produto-
destas cultivares, organizou-se um sis- res rurais e/ou outros agentes do setor
tema para a disponibilização de semen- produtivo (produtores de sementes em
tes e de técnicas de produção adequa- larga escala; viveiristas; extensionis-
das, editadas em manuais de cultivo tas rurais com conhecimento do pro-
rápida e seguidamente esgotados. Este
duto, dentre outros). Assim, o resulta-
conjunto foi o que ofereceu condições
do destacado anteriormente somente
aos produtores rurais de expandir seus
pomares, que por sua vez serviram de foi possível a partir da organização de
incentivo a outros pomares comerciais, um sistema de produção de sementes
em diversos estados brasileiros. e mudas, o Programa de Transferência
de Tecnologias do maracujá-amarelo.
Esse programa será tratado com mais
detalhes a seguir.

2.2 A fruta rosa e roxa: uma


opção de nicho de mercado
Posteriormente, o programa desen-
volveu uma seleção de maracujás ro-
IAC 273 sados, conhecida como IAC Rosa-ma-
çã, criado para atender um nicho de
mercado de frutas vendidas por unida-
de, para consumidores que conhecem
e apreciam o maracujá-doce. Assim
como ele, a fruta do maracujá-maça é
bem menos ácida, sendo indicada para
um público que não tolera a elevada
acidez da fruta convencional. Em mea-
IAC 277 IAC 275 dos da década de 1990, existia no mer-
cado um público seleto que consumia
Figura 1. Cultivares IAC maracujá, IAC 273, IAC 275, IAC 277. cestas de hortifrutigranjeiros de alta

58 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Quadro 1. Principais características comerciais das cultivares IAC de maracujazeiro registradas no Ministério da Agricultura.
Instituto Agronômico, Campinas, SP.
Maracujá-amarelo Maracujá-roxo
Características/Cultivares
IAC 275 IAC 273 IAC 277 IAC Paulista
Porte da planta Crescimento vigoroso Crescimento vigoroso Crescimento vigoroso Médio crescimento
Muito precoce Tardia Média
Média
Precocidade Produz entre Produz em até Produz em até
Produz em até 7-8 meses
6-7 meses 8-9 meses 7-8 meses
Florescimento intenso abundante abundante mediano
Polinização manual sim sim sim sim
Casca fina Casca média Casca média Casca fina
* 55% de polpa ± 46% de polpa ± 48% de polpa ± 50% de polpa
rendimento
Mercado Frutas frescas Mercado Frutas frescas Mercado Frutas frescas
industrial
13°-17°Brix 13°-14°Brix 13°-15°Brix 13°-18°Brix
Frutos Polpa Polpa amarelo-
Polpa amarela
Alaranjada-intensa alaranjada Polpa alaranjada
Peso médio Peso médio Peso médio
Peso médio 170g
180 a 200g 220 a 250g 200 a 240g
Tamanho médio Tamanho grande Tamanho grande Tamanho médio
Casca amarela Casca amarela Casca amarela Casca roxa
Produtividade 40-50 t/ha 40-45 t/ha 40-50 t/ha 25 t/ha

Fonte: Organizado pelo autores.

qualidade, entregues em domicílio nos tais (SST), tornando-o mais compe-


condomínios de alto padrão. O mara- titivo. Seria ele também um produto
cujá-maçã adequou-se perfeitamente para abrir as portas do mercado in-
a este segmento comercial, tendo sido ternacional, que prefere o maracujá-
cultivado apenas para esta finalidade -roxo ao amarelo, por sua acidez re-
em municípios próximos a Campinas duzida. Também foi o descendente do
(Figura 2). maracujá-maçã a compor as cestas
Outro produto resultante deste domésticas, por sua aparência alta-
programa foi o maracujá-roxo, o IAC mente atrativa. No entanto, o cambio
Paulista, lançado em 2005. Com ele, financeiro daquele momento deses-
pretendia-se principalmente melhorar timulou totalmente as exportações e
a qualidade do suco nacional, por ele- o plantio comercial em larga escala
vação do teor de sólidos solúveis to- (Quadro 1 e Figura 2).

O Agronômico | v. 64 -66 | 2014 59


INFORMAÇÕES TÉCNICAS

3. Programa de
Transferência de
Tecnologias do
maracujá-amarelo
O Programa de Transferência de
Tecnologias (PTT) do maracujá-ama-
relo foi concebido a partir do ano de
2000, com base no entendimento de
que progresso técnico na agricultura
não é guiado por uma lógica em que o
produtor rural é um receptor passivo de
tecnologias. Mas sim, a partir da consi-
deração de que o processo de inovação
IAC Rosa - Maça é permeado por aprendizado, que por
sua vez tem um caráter participativo.
Os bons resultados alcançados por
este programa estão relacionados ao
fato de que os experimentos que deram
origem às cultivares foram conduzidos
em sua totalidade no esquema de pes-
quisa participativa. A aproximação dos
diferentes elos da cadeia produtiva já
no desenvolvimento do produto tor-
na-o prontamente aplicável ao final do
processo e amplia consideravelmente
sua taxa de adoção.
Por este processo, uma determinada
inovação é conhecida de antemão pelos
produtores, geralmente desenvolvida vi-
sando a superação de alguma dificulda-
de real do setor produtivo. Passa a ser,
então, solução inovadora, mais que um
produto passível de adoção.
IAC Paulista
3.1 Princípios da pesquisa
Figura 2. Cultivares IAC maracujá, IAC Rosa–Maçã, IAC Paulista. participativa do Programa de
Transferência de Tecnologias
60 O Agronômico | v. 64-66 | 2014
do maracujá-amarelo
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

A pesquisa participativa (PP) in- Como detalhado anteriormente,


clui outros agentes da cadeia produti- este Programa resultou da estreita in-
va na geração do conhecimento. Eles teração do conhecimento técnico-cien-
passam a contribuir efetivamente no tífico do pesquisador, que conduziu
processo de obtenção de uma nova o programa de melhoramento genéti-
tecnologia, têm o poder de opinar e co, com a experiência de produtores,
direcionar o desenvolvimento de uma que vivem o dia-a-dia da produção e
inovação, adequando-a as demandas comercialização do maracujá. A forte
pontuais do setor produtivo. Ou seja: parceria entre os dois elos levou a uma
associa-se o conhecimento científico sinergia capaz de impulsionar também,
trazido pelo pesquisador ao conheci- a etapa seguinte, a inovação.
mento e demandas daqueles que ge- Uma vez que as cultivares IAC
ram a necessidade de pesquisa.
foram as pioneiras no mercado do
Baseia-se, portanto, na interação
maracujá-amarelo, a adoção pelos
entre pesquisadores, produtores e téc-
nicos ligados ao objeto pesquisado, produtores começou obrigatoriamen-
com ênfase nos processos e em traba- te pelo alinhamento com a legislação
lhos de campo contínuos. Está alicer- pertinente da Lei de Cultivares. Como
çada na construção de relações mais primeiro passo, foi necessário regis-
democráticas entre os envolvidos. As trar estas cultivares no Ministério da
etapas de observação, análise, coleta Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
de dados, identificação e definição de to (MAPA), condição para a legaliza-
problemas, planejamento de ações, ção da produção e da comercialização
execução e avaliação são realizadas das sementes.
em conjunto. Isso permite avanços no Considerando que as cultivares IAC
diálogo técnico, amplia a percepção 273 (Monte Alegre), IAC 277 (Jóia) e
dos agentes imersos na realidade dos IAC 275 (Maravilha) foram desenvol-
agricultores, a ponto de produzir ino- vidas em esquema de pesquisa parti-
vações para transformá-la. cipativa, com produtores associados
Finalmente, outra vantagem adicio- ao processo desde a fase de validação
nal da PP é que os modelos participa- das seleções, já havia uma significativa
tivos tendem a gerar maior eficiência demanda por sementes selecionadas a
nos processos e rotinas da pesquisa, ser atendida, principalmente no Esta-
possibilitando aos coordenadores de do de São Paulo. Por este motivo, foi
programa delegar maior responsabili- organizado um sistema de produção e
dade e funções aos colaboradores. comercialização das sementes dos cul-
tivares no IAC, iniciado em 2001.
3.2 Como funciona o Programa
A primeira ação de marketing foi a
de Transferência de Tecnologia divulgação das cultivares no Programa
do maracujá no IAC Globo Rural, da TV Globo, a partir do
O Agronômico | v. 64 -66 | 2014 61
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

que seguiu-se uma demanda nacional e embalagem é feito por pesquisado-


pelas sementes, veiculado em 2001. res e técnicos do IAC, o que permite a
Para atendê-la, a produção das se- garantia de origem das sementes IAC.
mentes foi levada a efeito na então Es- A comercialização das sementes
tação Experimental de Monte Alegre do é atualmente realizada pelo Centro de
Sul, pertencente ao IAC, posteriormen- Horticultura do IAC.
te transformada em Polo Regional do Paralelamente à organização da
Leste Paulista, ligado à Agência Pau- produção das sementes, foi necessária
lista de Tecnologia dos Agronegócios a obtenção do registro do responsável
(APTA). Deste modo, nesta fase de técnico pela produção no RENASEN
divulgação nacional, já havíamos aten- (Registro Nacional de Sementes) e
dido a legislação pertinente e multipli- a publicação dos preços de venda na
cado as sementes para oferecer uma Imprensa Oficial do Estado de São
quantidade compatível com a elevada Paulo. Após estes procedimentos le-
gais, a semente passou então a ser
demanda por sementes.
comercializada regularmente, desde o
3.2.1 A qualidade das sementes IAC lançamento das cultivares, para todo
Em campo, a qualidade da fruta é ga- o território nacional, o que já ocorre
rantida por polinizações manuais con- ininterruptamente há quase 14 anos.
troladas, que propicia a pureza genética
do material. Com esse procedimento, 3.2.2 Disponibilização de sementes
evita-se a contaminação por pólen es- no IAC
tranho, o que resultaria em perda de ca- A maioria dos produtores de ma-
racterísticas superiores do fruto. Para o racujá, como já mencionado aqui, en-
produtor, o beneficio é a homogeneida- contra-se no segmento da agricultura
de dos frutos e a alta produtividade de familiar, que tem como uma das suas
todas as plantas resultantes. principais características a escassez
No laboratório, após a colheita, o de mão-de-obra. Isso limita a área de
controle de qualidade das sementes cultivo a um máximo de 1 hectare, nas
continua, avaliando-se fruto a fruto, regiões sudeste-sul, e de 5 a 8 hectares
individualmente, quanto as caracterís- na região nordeste e centro-oeste. Em
ticas produtivas. Selecionam-se frutos função disso, estabeleceu-se um módu-
com padrão de peso e tamanho, de lo padrão de 1.000 (mil sementes), que
acordo com o segmento de mercado a corresponde ao necessário para o plan-
que se destina a produção. Por fim, os tio de 1 hectare. Os produtores podem
processos de beneficiamento e emba- adquirir parciais desta quantidade ou
lagem são manuais. múltiplos, dependendo da sua necessi-
dade de reforma, uma vez que um po-
62
O controle de todas as etapas do
processo de produção, beneficiamento mar de maracujá dura em média 2 anos.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

A aquisição pode ser feita por te- esta disponibilidade, ou se encontram


lefone ou e-mail. O produtor entra em geograficamente distantes, foram edi-
contato, especifica a cultivar desejada tados 3 manuais técnicos contendo
e a quantidade requerida. O atendi- instruções de cultivo, do plantio à co-
mento é feito em até 24h da enco- mercialização do maracujá, editados
menda, uma vez em que as sementes e esgotados continuamente (1996,
são produzidas continuamente, e a 1999, 2010).
remessa postal pelos correios ocorre Atualmente, o capítulo do Boletim
em até dois dias úteis. Também se faz 200 sobre maracujá contendo instru-
atendimento pessoal aos que preferem ções resumidas da cultura e com edição
vir buscar as sementes no Centro de atualizada em 2014 é enviado a todos
Horticultura em Campinas. os produtores que adquirem sementes,
Juntamente com a disponibiliza- para minimizar a falta de informação
ção das sementes das cultivares se- que existe em todos os estados da fe-
lecionadas, realiza-se um atendimento deração. Este material também está dis-
personalizado ao produtor que entra ponível on-line no site do IAC1.
em contato com o IAC. O Programa de Mas existem casos em que o aten-
TT do Maracujá baseia-se no trabalho dimento individualizado não atende a
conjunto de uma técnica e uma pesqui- demanda de uma região produtora, de
sadora, e por isso mesmo, oferecem uma cooperativa ou de uma empresa
ao produtor um atendimento diferen- ascendente. Ou torna-se bastante re-
ciado, além de técnico, e não apenas petitivo. Nestas situações, um curso
uma simples venda da semente. Em de tecnologia de produção do mara-
mais de 95% dos casos, o contato do cujá é oferecido aos produtores. Por
produtor vem acompanhado de dúvi- iniciativa de prefeituras, cooperativas,
das que vão desde a escolha da área, Casas de Agricultura ou de empresas
dimensionamento do pomar, manejo, de suco, o pesquisador responsável
comercialização e processamento do pelo Programa Maracujá ministra cur-
maracujá. Somente os que adquirem sos de curta duração (2 a 4 dias), teóri-
sementes sequencialmente, em todas co-práticos, envolvendo principalmen-
as reformas dos pomares, e já detém a te produtores, mas também técnicos
tecnologia de produção, não precisam extensionistas, agrônomos das redes
mais desta atenção especializada. de atacado e varejo que adquirem o
Para os produtores com pouca ou produto na região e de prefeituras pró-
nenhuma experiência na cultura, mui- ximas. Durante os 14 anos em que o
tas vezes as dúvidas são tantas e tão Programa Maracujá atua na TT, foram
frequentes que eles comparecem ao realizados cerca de 22 cursos.
IAC em busca de informações. Para
atender aos produtores que não têm
1 Disponível para download em http://www.iac.sp.gov.br/
publicacoes/porassunto/agricolas.php
O Agronômico | v. 64 -66 | 2014 63
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Nos últimos 5 anos, ocorreram cur- taram as cultivares IAC. Os demais,


sos de curta duração ou Dias de Cam- bastante tradicionalistas, permanece-
po em São Bento do Sapucaí, Registro, ram com sementes não selecionadas
Mogi-Guaçu, Corumbataí, no Estado mais algum tempo, sem procedência
de São Paulo, e também em Araxá e sem garantia de origem, com baixa
(MG), Cuiabá e São José dos Quatro produtividade, aguardando os resulta-
Marcos (MT), Jacinto Machado, Urus- dos dos demais para decidir pela ado-
sanga e Sombrio (SC) e Itapirema (PE). ção da inovação.
Outra forma de atuação do Progra- Após o ano de 2007, outras culti-
ma de TT do Maracujá é o atendimento vares de maracujá-amarelo foram lan-
técnico realizado diretamente a produ- çadas. A demanda por sementes está
tores, por meio de resposta a cartas do atualmente distribuída entre quatro di-
site Globo Rural (recebidas via asses- ferentes fornecedores, dentre os quais
soria de comunicação do IAC), de Su- o IAC, com produção anual de 580 mó-
plemento Agrícola do Jornal ‘O Estado dulos de sementes por cultivar.
de São Paulo’ ou diretamente a consul-
tas por e-mail ao pesquisador da cul- 4. O sucesso do
tura no IAC. Este atendimento é feito
ininterruptamente, desde 1993, tendo Programa de TT do
se intensificado consideravelmente nos
últimos 3 anos, após a generalização do
maracujá
uso da internet pelos produtores. Mui- Após o lançamento das cultivares
tos deles enviam fotos de seus pomares IAC, observou-se ampliação significa-
solicitando diagnóstico de doenças ou tiva da produtividade da cultura, em ní-
deficiências nutricionais, medidas de vel nacional, com destaque para o Es-
controle ou pareceres técnicos, justa- tado de São Paulo, onde as sementes
mente porque não encontram especia- selecionadas são cultivadas de acordo
listas na cultura a quem recorrer em com a tecnologia de produção reco-
suas regiões de origem. mendada para a cultura.
Desde a criação do Programa de Como resultado deste programa,
TT do Maracujá, foram produzidas atualmente é possível adquirir semen-
pelo IAC sementes das três cultivares tes direcionadas aos dois segmentos
de maracujá-amarelo disponíveis (IAC de mercado (frutas frescas e agroin-
275, IAC 273 e IAC 277), em quantida- dústria), o que não existia até então.
de suficiente para atender à demanda. Todas as cultivares lançadas posterior-
Logo após o lançamento delas, e im- mente seguiram essa segmentação.
pulsionadas pela divulgação em pro- Para o produtor, isso se traduziu
grama de elevada audiência em rede numa real possibilidade de produzir
nacional, chegou-se a produzir 1.000 uma fruta adequada ao mercado que
módulos de sementes (cada um deles ele identificou como mais interessan-
suficiente para o plantio de 1 ha), no te para na sua região de cultivo. Com
ano de 2003. isso, foi possível atender às suas ex-
No período (2002-2004), o IAC pectativas de retorno financeiro, ofere-
produziu sementes para atender pro- cendo a ele a oportunidade de conhe-
dutores do sudeste-sul e a EMBRAPA, cer a tecnologia recomendada para a
sementes para atender o nordeste e o cultura, e através dela, alcançar maior
centro-oeste2. Nesta ocasião, cerca de produtividade e alta qualidade no pro-
Foto: Antonio Carriero

55% dos produtores de maracujá ado- duto a ser comercializado.


2 Programa IAC-Embrapa de incentivo à produção, difusão
e comercialização de sementes de alta qualidade, vigente
de 2002 a 2004.
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Fertilizantes
Qualidade das análises de nutrientes
e contaminantes é fundamental
Laboratório do IAC é credenciado junto ao MAPA, para realizar análises fiscais
em fertilizantes minerais, e é acreditado pelo Inmetro na norma ISO 17025.

Em agricultura, preservar a saúde


do solo e seu potencial produtivo é
requisito para o sucesso em qualquer
lavoura. De forma mais geral, por as-
sim dizer, é nele que tudo começa. A
garantia do controle de qualidade e da
inocuidade dos insumos agrícolas com
o objetivo de preservar a fertilidade do
solo e a condição ambiental requer uma
gama de análises, tais como: macro e
micronutrientes, elementos benéficos
e contaminantes inorgânicos em ferti-
lizantes, corretivos, condicionadores,
substratos e resíduos que podem ser
empregados como fertilizantes.
Essas análises devem ser feitas de Figura 1. Amostras fiscais encaminhadas ao laboratório do IAC para
forma rotineira – e eficaz – pelos fabri- análise química.
cantes. Os produtores rurais também
as empresas, e encaminhadas a rede
podem recorrer a essas ferramentas
LANAGRO. Somente o fiscal respon-
para verificar a qualidade dos insumos
sável pela coleta é capaz de identificar
que serão aplicados em suas proprie-
a origem das amostras. Com elas se-
dades. Por outro lado, o Ministério da
gue uma guia orientando o laboratório
Agricultura, Pecuária e Abastecimen- Aline Renée Coscione Gomes1
sobre quais as análises devem ser Carla Gomes2
to (MAPA), representado por seus
realizadas.
fiscais federais agropecuários, visita
indústrias e coleta amostras, seguin-
do normas específicas, baseadas no Informações
tamanho e natureza do lote produzido, técnicas
além do número de embalagens do
produto. Essas amostras são analisa- Os fertilizantes são insumos agrí-
das nos laboratórios da Rede Nacional colas destinados ao fornecimento de
1 Instituto Agronômico, Centro de Solos,
de Laboratórios Agropecuários (LA- nutrientes às plantas, a fim de aumen- aline@iac.sp.gov.br.
NAGRO), responsável por checar se as tar a produtividade e a qualidade das 2 Jornalista científica, Assessora de Imprensa do
concentrações de nutrientes corres- culturas em geral (TRANI & TRANI, Instituto Agronômico (IAC)

pondem àquelas declaradas no regis- 2011). Os fertilizantes minerais (FM)


tro do produto, atendendo à legislação simples são produtos usualmente
vigente. Na figura 1 são mostradas constituídos por um único composto
químico, que pode conter um ou mais
65
amostras coletadas pelos fiscais fede-
rais com objetivo de fiscalização junto nutrientes de plantas (BRASIL, 2007).
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Outros nutrientes presentes nos


fertilizantes são expressos após a fór-
mula NPK, mas acompanhados do sím-
bolo químico do elemento em questão.
A legislação atual exige a apresentação
dessas concentrações ou garantias e
as de qualquer outro elemento presente
no fertilizante, na forma de % em m/m
(BRASIL, 2007). Na figura 2 é mostra-
do um exemplo de fertilizante contendo
uma fórmula NPK. Trata-se de um fer-
tilizante mineral composto por mistura
de grânulos. Neste caso cada partícula
contem somente N, P, ou K e por isso
elas apresentam coloração e tamanho
diferentes.
Figura 2. Exemplo de fertilizante mineral com aplicação via solo. A formulação ideal dos fertilizantes
Mistura de grânulos contendo nitrogênio, fósforo e potássio. para cada cultura ou grupo delas e a
quantidade e a frequência de aplicação
A fórmula de um fertilizante corres- desses insumos foram definidas, pre-
ponde à concentração, expressa em viamente, por meio de estudos agro-
porcentagem dos nutrientes nele conti- nômicos, realizados a partir de en-
dos. Por tradição, são explicitados sem- saios no campo, na maioria dos casos.
pre o nitrogênio (N), o fósforo (P2O5) e Conforme a nomenclatura, os mi-
o potássio (K2O), mesmo que este não cronutrientes são requeridos pelas
a contenha. Por exemplo, 00-14-20 não plantas em menores proporções do
contém nitrogênio, somente 14% de que os macronutrientes. Isso explica
P2O5 e 20% de K2O. Os fertilizantes, na porque as formulações de fertilizan-
verdade, não contêm P e K na forma de tes têm micronutrientes em menores
óxidos, mas esta forma de apresenta- quantidades. É provável que a formu-
ção continua sendo empregada e vem lação mais antiga utilizada seja a que
da tradição dos primórdios das análises contem compostos químicos com a
químicas (TRANI & TRANI, 2011). Os finalidade de fornecer às plantas os nu-
FM podem compreender também, além trientes nitrogênio, fósforo e potássio.
dos macronutrientes primários (N, P, Essa formulação responde pelo maior
K), um ou mais nutrientes secundários volume comercializado atualmente. Os
(Ca, Mg, S) ou micronutrientes (B, Cu, fertilizantes minerais simples, empre-
Fe, Mn, Zn, Co, Ni, Mo, Cl, Si) (BRASIL,
66
gados na preparação dos fertilizantes
2007). com vários nutrientes, sua garantia mí-
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

nima, principais características e rotas A amostragem pode ser definida


de obtenção estão listados na legisla- como um processo de seleção de uma
ção vigente do MAPA (BRASIL, 2007). pequena quantidade de algum material
A análise de sanidade dos fertili- ou de certo número de elementos de
zantes é um tópico mais recente, esta- um grupo, com a finalidade de estimar
belecida na década passada, quando a a natureza ou a qualidade do todo. É a
sociedade passou a se interessar pelo operação mais crítica do processo de
reaproveitamento de resíduos agroin- controle de qualidade e das determi-
dustriais e urbanos. Naquele período, nações analíticas, pois qualquer erro
foi estabelecida a necessidade de exa- poderá comprometer todo o processo
mes e atendimento a limites de agen- e levar a resultados finais incorretos.
tes fitotóxicos, patogênico ao homem Os critérios adotados na seleção da
e animais, metais pesados, pragas e amostra são de extrema importância,
ervas daninhas (BRASIL, 2006). a fim de que esta seja representativa
A análise química de qualquer mate-
da população, com características se-
rial envolve, basicamente, as mesmas
melhantes às do todo (SILVA, 1984).
etapas: amostragem do produto a ser
Frequentemente, a amostra recebi-
analisado, preparo da amostra recebida
da pelos laboratórios tem uma quan-
no laboratório, determinação analítica
de diferentes constituintes e interpreta- tidade superior à necessária para as
ção dos resultados analíticos. determinações analíticas requeridas.
No caso de fertilizantes, a primei- O excesso exige uma operação de su-
ra etapa quase sempre é feita no lo- bamostragem, que acaba por ser de
cal de produção, armazenamento ou inteira responsabilidade do laborató-
utilização do produto. Assim, a coleta rio. Ao reduzir a amostra, corre-se o
da amostra não é de domínio do res- risco de descaracterizar o produto, por
ponsável direto pela execução da aná- conta de processos como: absorção
lise química (RODELLA & ALCARDE, de umidade, contaminação, perdas
2004). No caso de análises fiscais, a por volatilização, segregação, entre
amostragem é realizada pelo Fiscal outros (RODELLA & ALCARDE, 1994).
Federal Agropecuário, diretamente na As determinações analíticas são
unidade produtora, seguindo normas processos de medida baseados em
específicas, baseadas no tamanho e fenômenos químicos, físicos ou físi-
natureza do lote produzido, além do co-químicos. Portanto, não são ab-
número de embalagens do produto solutas e estão sujeitas a erros, como
(BRASIL, 2004; 2013a). Os métodos todo procedimento de experimentação
oficiais do MAPA para as análises fis- científica. Esses erros têm sido mais
cais constituem uma norma à parte e recentemente descritos como incerte-
estão reunidos na Instrução Normati- za de medição, nomenclatura popula-
va nº 28 (BRASIL, 2007). rizada com o advento da metrologia,
O Agronômico | v. 64-66 | 2014 67
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

conceito base adotado pela norma granulometria (BRASIL, 2007). Res-


ISO IEC 17025: Requisitos Gerais para salta-se que a tolerância para deficiên-
Competência de Laboratórios de En- cia de garantias é bem mais extensa
saio e Calibração, norma adotada in- e abrangente do que para excesso de
ternacionalmente, que versa sobre o nutrientes. Isso porque o agricultor
gerenciamento administrativo e ope- não terá a produção esperada, caso o
racional dos laboratórios. O objetivo é fertilizante não contenha a quantidade
garantir a rastreabilidade dos proces- de nutriente mínima necessária para
sos internos, a comparabilidade dos a produção da cultura que plantou.
resultados entre entidades diferentes Sob esse ponto vista, a deficiência é
e a confiabilidade dos diagnósticos de mais prejudicial do que o excesso de
laboratórios acreditados. No Brasil, o nutrientes. Considerando a ótica am-
único órgão autorizado para auditorias biental, o maior problema do excesso
e concepção da “acreditação” dos la- é a sobra de nutrientes, especialmente
boratórios de acordo com esta norma o nitrogênio, que pode causar impac-
é o Inmetro. tos negativos.
Ao se fazer uma medida, procu- Os laboratórios do Centro de So-
ra-se manter a incerteza em níveis los e Recursos Ambientais do Insti-
baixos e toleráveis, de modo que o tuto Agronômico (IAC), em Campinas,
resultado analítico tenha credibilida- trabalham, inclusive com serviços ao
de. Sem esta, a informação obtida não público, desde 1930. Primeiramente,
terá valor. Na análise de fertilizantes, como laboratório de análises pedo-
a incerteza deve considerar o erro da lógicas, período em que era o único
amostragem feita na fábrica, da suba- do País. Depois, foram agregados os
mostragem realizada no laboratório e laboratórios de análise de solos para
todas as etapas subsequentes de aná- fins de fertilidade e, finalmente, o de
lise, chamadas de marcha analítica. A análise foliar. A partir de 2003, o labo-
quantificação dos erros envolvidos em ratório de fertilidade do solo passou a
cada uma dessas etapas foi estudada funcionar de forma autônoma, em es-
usando um fertilizante 4-14-08 na va- trutura física separada. No ano seguin-
riabilidade dos resultados de N, P e K te, novos pesquisadores ingressaram
(CARVALHO, 1994). Considerando a no IAC, via concurso, e a ampliação da
variação que a incerteza pode produ- equipe resultou no aumento do escopo
zir nos resultados finais obtidos nos de análises oferecidas. Esta Unidade
laboratórios com atividades fiscais, a veio compor, em 2005, o Laboratório
legislação vigente prevê no Capítulo de Análise Química de Fertilizantes e
III da IN 05 de 2007, valores de tole- Resíduos do IAC, que passou por ex-
rância nos resultados analíticos para tensa reforma e foi acreditado pelo
68 O Agronômico | v. 64-66 | 2014
as garantias dos nutrientes e para a Inmetro, em 2009, para a análise de
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

resíduos que podem ser usados como e as encaminham para seus labora-
fertilizantes. Este Laboratório é o úni- tórios internos ou para os externos
co público do Brasil credenciado pelo credenciados, como o do IAC. O envio
MAPA para analisar fertilizantes. Nas de amostras e retorno de respostas
figuras 3 e 4 temos o Laboratório de são feitos via Correios. Os resultados
Análise Química de Fertilizantes e Re- seguem no prazo máximo de 12 dias
síduos do IAC antes e após a reforma. úteis, dependendo da quantidade de
Nele são feitas análises de teores nutrientes amostrada.
totais de metais em solos, de garantias
e metais pesados em todos os tipos de
fertilizantes e a caracterização de resí-
duos, incluindo os compostos de lixo
e os lodos de esgoto para avaliação de
uso agrícola. A Unidade é coordenada
pela pesquisadora Aline R. Coscione.
Nos resíduos, esses diagnósticos
são realizados segundo a norma CO-
NAMA n.º 375, de 2006 (MMA, 2006).
O Laboratório de Fertilizantes e Resí-
duos do IAC também avalia vinhaça e
produtos intermediários da cadeia de
Figura 3. Laboratório da antiga Seção de Pedologia situado no edifício Con-
produção sucroalcooleira. Além de selheiro Antônio Prado (2008), o qual deu origem ao atual laboratório de
servir à pesquisa do Instituto Agronô- Fertilizantes e Resíduos do IAC.
mico, o Laboratório atende também à
iniciativa privada e outras instituições
de pesquisa e ensino.
O credenciamento junto ao MAPA,
obtido em 14 de dezembro de 2011,
autoriza o IAC a realizar análises fis-
cais em fertilizantes minerais, como
laboratório integrante da Rede Nacio-
nal de Laboratórios Agropecuários
(LANAGRO), vinculada ao Ministério
da Agricultura. (BRASIL, 2011).
A atividade de fiscalização tem
início com os fiscais do Ministério da
Agricultura, que visitam as linhas de
produção de fertilizantes em todo o
69
Figura 4. Mesma sala da foto 3 após a reforma, com o laboratório em ati-
território nacional, coletam amostras vidade (2009).
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Os diagnósticos podem ser enca- antes de serem encaminhadas para a


minhados também por e-mail. análise química propriamente dita.
Sediado em Campinas, o Laborató- As análises de fertilizantes, corre-
rio do Instituto Agronômico, da Secre- tivos, condicionadores, substratos e
taria de Agricultura e Abastecimento de resíduos de interesse agrícola são im-
São Paulo, realiza, por ano, cerca de prescindíveis para o controle de quali-
três mil análises de fertilizantes e de dade e para a correta aplicação desses
resíduos, que podem ser usados como insumos no solo.
fertilizantes. No período de junho de A verificação assegura ao agricul-
2013 a junho de 2014 foram analisadas tor que as quantidades recomenda-
409 amostras fiscais entre fertilizantes das e aplicadas irão suprir as necessi-
e corretivos de acidez, totalizando 1789 dades das plantas para os nutrientes
diagnósticos, sendo a maioria para N, presentes no fertilizante. Este mesmo
P, K, B, S e Zn. Na figura 5 mostra-se o controle garante que o corretivo irá
processo de recebimento de amostras produzir o efeito desejado, quando
pelo laboratório do IAC, no qual o esta- incorporado ao solo. O rigor e a qua-
do físico das amostras e a documenta- lidade das análises sustentam a se-
ção enviada pelo cliente são verificadas gurança acerca da ausência de con-
taminantes que possam se acumular
no solo e entrar na cadeia alimentar,
provocando efeitos indesejáveis para
animais, pessoas e ambiente.
A análise de fertilizantes, corre-
tivos e resíduos também implica na
conservação da capacidade produtiva
do solo, sem causar riscos à nature-
za. A legislação brasileira tem buscado
a proteção dos recursos naturais e a
garantia de produtos em conformida-
de com o anunciado pelos fabricantes.
Entretanto, o setor ainda carece de
métodos estabelecidos para a análi-
se de contaminantes nesses insumos
agrícolas. Nesse cenário, o papel do
Instituto Agronômico, como gerador
de sistemas eficientes de análises e
fiscalizador do trabalho de terceiros,
como colaborador do MAPA, é fun-
70
Figura 5. Recebimento de amostras fiscais
no laboratório do IAC. damental para a atuação responsável
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

dos protagonistas do agronegócio e a cionado a saldos positivos. Intempé-


tranquilidade de consumidores. Os be- ries à parte, o ideal é alcançar o má-
nefícios passam também pela credibi- ximo dos saldos planejados. É nesse
lidade do produto brasileiro e inserção contexto empresarial que a análise
em mercados externos, cada vez mais de garantias e de contaminantes em
rigorosos na seleção de fornecedores. fertilizantes, corretivos e afins é de
suma relevância. Esses diagnósticos,
feitos de forma confiável e aliados às
Conclusões análises de fertilidade do solo, evitam
desperdícios e reduzem impactos am-
Gerar produtos e oferecer serviços bientais por excessos nos campos,
com qualidade e eficácia que resistam poupando energia e recursos naturais.
aos processos rigorosos de avalia- O resultado final é a otimização da
ções e sistemas que vieram para ficar, produtividade, a ampliação do lucro
como a rastreabilidade, é condição de do agricultor e a conservação dos ele-
sobrevivência para as empresas e em- mentos naturais. Como esse pacote de
presários que pretendem permanecer benefícios, não há razões para dispen-
na ativa no agronegócio nos próximos sar o aporte oferecido por esse tipo de
anos, independentemente do porte ou tecnologia. Como Instituição pública
segmento de atuação. de pesquisa, o Instituto Agronômico
No caso específico de insumos mantem a geração de soluções tec-
agrícolas, a certeza de adquirir e apli- nológicas e prestador de serviços de
car produtos em conformidade com excelência para os diversos elos das
os rótulos e prescrições é fundamen- cadeias de produção, incluindo as es-
tal para o agricultor, em especial por- feras fiscalizatórias. Com tradição e
que esses materiais respondem por experiência alicerçadas em décadas de
30% dos custos da produção agrícola, atuação, o IAC segue modernizando
aproximadamente. Portanto, adquirir suas estruturas físicas e colaborando
insumos de má qualidade ou inade- com a agricultura nacional, na labuta
quado para a finalidade desejada, sig- diária aquém das porteiras e nas ques-
nifica perda de recursos, desempenho tões mais complexas do negócio ver-
negativo da lavoura e impacto ambien- de, em que o Brasil não por acaso é
tal que poderiam ser evitados. referência global.
Toda propriedade rural, de peque-
no, médio ou grande porte, destina- REFERÊNCIAS
-se à geração de renda. Então, como BRASIL, Instrução Normativa no. 28, de 7 de
empreendimento, os investimentos agosto de 2007. Métodos analíticos oficiais
devem ser feitos de forma racional,
71
para fertilizantes minerais, orgânicos, organo-
conforme a real necessidade e dire- -minerais e corretivos. Diário Oficial da União nº
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

41, MAPA, Brasília, DF, 31 de agosto de 2007, BRASIL, Instrução Normativa nº 57, 11 de
Seção 1. dezembro de 2013. Estabelece os critérios e
BRASIL, Instrução Normativa nº 5, de 23 de requisitos para o credenciamento e monitora-
fevereiro de 2007. Definições e normas sobre mento de laboratórios MAPA e que estes inte-
as especificações e garantias, tolerâncias, re- gram a Rede Nacional de Laboratórios Agro-
gistro, embalagem e rotulagem dos fertilizantes pecuários do Sistema Unificado de Atenção à
minerais destinados à agricultura. Diário Oficial Sanidade Agropecuária. Diário Oficial da União
da União nº 41, MAPA, Brasília, DF, 1º março de nº 41, MAPA, Brasília, DF, 12 de dezembro de
2007, Seção 1, p.1-43. 2013, Seção 1.
BRASIL, Instrução Normativa nº 53, de 23 de CARVALHO, F.J.P.C. Segregação de fertilizan-
outubro de 2013. Estabelece as definições, a tes ensacados em “Big Bag”. 2001. 110f. Tese
classificação, o registro e renovação de regis- (Doutorado em Engenharia Química) – Escola
tro de estabelecimento, o registro de produto, Politécnica, Universidade de São Paulo, São
a autorização de comercialização e uso de ma- Paulo, 2001.
teriais secundários, o cadastro e renovação de RODELLA, A.A.; ALCARDE, J.C. Variabilidade
cadastro de prestadores de serviços de arma- na composição de misturas de fertilizantes
zenamento, de acondicionamento, de análises decorrente de segregação e estimativa do efei-
laboratoriais, de empresas geradoras de mate- to sobre a produtividade da cana-de-açúcar.
riais secundários e de fornecedores de miné- STAB: Açúcar, Álcool e Subprodutos, Piracica-
rios, a embalagem, rotulagem e propaganda de ba, v.13, p.14-19, 1994.
produtos, as alterações ou os cancelamentos SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DO ESTADO
de registro de estabelecimento, produto e ca- DE SÃO PAULO (SMA), Resolução SMA nº 90,
dastro e os procedimentos a serem adotados de 13 de novembro de 2012, publicada no Di-
na inspeção e fiscalização da produção, im- ário Oficial do Estado de São Paulo em 14-11-
portação, exportação e comércio de fertilizan- 2012, seção I, p.66-67. Acesso em: 8/9/2014,
tes, corretivos, inoculantes, biofertilizantes e em: http://www.ambiente.sp.gov.br/legislacao/
materiais secundários; o credenciamento de resolucoes-sma/resolucao-sma-9-2012/
instituições privadas de pesquisa; e requi-
SILVA, G.A. Estudo da segregação em ferti-
sitos mínimos para avaliação da viabilidade e
lizantes. 1995. 169f. Tese (Livre-Docência) –
eficiência agronômica e elaboração do relatório
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo,
técnico-científico para fins de registro de fer-
São Paulo, 1995.
tilizante, corretivo e biofertilizante na condição
de produto novo. Diário Oficial da União, MAPA, TRANI, P.E.; TRANI, A.L. Fertilizantes: Cálculo
Brasília, DF, 24 de outubro de 2013, Seção 1. de fórmulas comerciais. Campinas: Instituto
Agronômico, 2011. 29p.(Boletim Técnico IAC,
BRASIL, Portaria SDA Nº 219, 13 de dezembro
208).
de 2011. Credenciamento do laboratório do
IAC. Diário Oficial da União nº 239, MAPA, Bra- MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA); CO-
sília, DF, 14 de dezembro de 2011, Seção 1, p.11. NAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Resolução 375. Critérios e procedimentos para
BRASIL, Limites para contaminantes, 5 de
o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em
junho de 2006. Diário Oficial da União nº 110,
estações de tratamento de esgoto sanitário e
MAPA, Brasília, DF, 9 de junho de 2006, Seção
seus produtos derivados. Brasília, 2006. 32p.
1, p.15.

72 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Macaúba
Promessa brasileira de planta oleaginosa para
produção de energia renovável sustentável

D
entre os principais desafios o biodiesel emite 57% menos gases
mundiais, a população, que poluentes que o diesel mineral. Com
passará dos atuais 7 bilhões isso, são evitadas 12.945 internações
para aproximadamente 9 bilhões de ha- por ano resultantes de doenças respi-
bitantes em 2050, é dos mais preocu- ratórias e que sejam poupadas 1.838
pantes e com forte impacto no aumento vidas pela mesma razão (FGV, 2012).
do consumo de energia e alimentos. No Brasil, a principal matéria-prima
Atualmente, derivados de petróleo, car- para produção de biodiesel provém da
vão e gás natural representam as princi- soja, com participação de 75% da de-
pais fontes energéticas e são a causa de manda atual. Estima-se que a área plan-
sérios desafios ambientais que o mun- tada adicional necessária para atender
do contemporâneo tem que equacionar. ao percentual atual de mistura de bio-
Em 2013, o consumo de diesel no país diesel ao diesel de petróleo seria da
foi da ordem de 18,8%, contra 9,4% da ordem de 6 milhões de hectares, pois
gasolina e 4,8% do etanol (BEN, 2014). de acordo com estimativas oficiais,
Assim, visando estimular o aumento da serão necessários 4,3 bilhões de litros Carlos A. Colombo1
biomassa energética e gerar renda aos de biodiesel em 2015. Portanto, existe Joaquim A. de Azevedo Filho2
produtores, o governo brasileiro regu- enorme descompasso entre a oferta e Luiz H. Chorfi Berton3
Cássia R. Limonta Carvalho4
lamentou em 2005 o Programa de Pro- a necessidade de biodiesel e o grande Walter J. Siqueira5
dução e Utilização do Biodiesel (PNPB), desafio é conciliar a expansão de áreas
que estabelece o uso de misturas cres- agricultáveis com ocupação ordenada
centes de biodiesel ao diesel de petróleo e sustentável do espaço agrícola, com
em todo o território nacional. vistas a atender a demanda energética
A partir de novembro de 2014 a adi- e de alimentos, simultaneamente.
ção de biodiesel passou a ser de 7%, Dentre as espécies florestais des-
e deve chegar a 10% em 2020, o que tinadas a produzir biodiesel, as pal-
sinaliza concretamente o desejo do meiras, nativas e exóticas, têm amplo
1 Instituto Agronômico, Centro de Recursos
governo federal de incrementar a pro- potencial de utilização, com especial Genéticos Vegetais, ccolombo@iac.sp.gov.br
dução do combustível verde sustentá- destaque para Acrocomia aculeata 2 APTA, Polo Regional do Leste Paulista, Monte
vel. Esta produção agregou, de 2008 a (Jacq) Lodd. ex. Mart. (Arecaceae), Alegre do Sul (SP), joaquimadelino@apta.sp.gov.br.

2012, mais de R$ 12 bilhões ao Produ- popularmente mais conhecida como 3 Aluno de doutorado do Instituto Agronômico
4 Instituto Agronômico, Centro de Recursos Genéticos
to Interno Bruto (PIB) do país e gerou macaúba ou bocaiuva (Figura 1). A Vegetais, climonta@iac.sp.gov.br.
86.112 empregos, incluindo a agricul- espécie apresenta ampla distribuição 5 Instituto Agronômico, Centro de Recursos
tura familiar. Segundo levantamento geográfica, ocorrendo na América Genéticos Vegetais, walterjs@iac.sp.gov.br

da APROBIO (2012), nos mesmos tropical e subtropical, desde o sul do


quatro anos o biodiesel fez a balança México e Antilhas até o sul do Brasil,
comercial brasileira economizar R$ chegando ao Paraguai e Argentina. A
11,5 bilhões em importação de diesel
73
macaúba é considerada a palmeira de
mineral. Do ponto de vista ambiental, maior ocorrência no Brasil, podendo
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

ser encontrada sobretudo na região rico em ácido oleico, muito apreciado


centro-sul do país, onde cresce natu- para consumo humano e para biodie-
ralmente formando grandes popula- sel em função da maior estabilidade
ções (Figura 2). a oxidação e operabilidade a baixas
No Paraguai e no Brasil a polpa temperaturas. A concentração do óleo
tem sido historicamente utilizada em no endosperma é, em média, de 54%,
caráter extrativista para obtenção de sendo rico em ácido láurico, matéria
óleo para sabão e lamparina, fabri- prima para fabricação de cosméticos
cação de farinha e suas folhas em- e outros produtos de saponificação.
pregadas para alimentação animal, As porções do mesocarpo e endos-
sobretudo no Estado do Mato Grosso perma também geram tortas e rações,
do Sul. O fruto da macaúba é rico em excelentes suplementos alimentares
óleos, estando concentrados no me- tanto para humanos e animais, em vir-
socarpo e endosperma. A concentra- tude da rica composição nutritiva, com
ção de óleo no mesocarpo pode atin- 9% e 32% de proteína, respectivamen-
gir valores superiores a 70%, sendo te. Outra porção do fruto de grande

74 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


Figura 1. Características sugeridas para a criação de um ideotipo preliminar da
macaúba.
INFORMAÇÕES
O AGRONÔMICO
TÉCNICAS
Revista nº 64

valor econômico é o endocarpo, que Todas estas vantagens da macaú-


apresenta elevado poder calorífico po- ba despertaram o interesse quase que
dendo ser aproveitado com excelentes simultâneo de grande número de pes-
rendimentos em gasogênios, opera- quisadores do Brasil e do exterior. Nos
ções metalúrgicas e siderúrgicas. Es- últimos oito anos assistimos ao surgi-
timativas de produção de óleo a partir mento de várias iniciativas de pesquisa
de populações nativas de macaúba são com esta palmeira, como empresas
da ordem de 5 mil litros por ha ano-1. multinacionais (Instituto Fraunhofer),
A título de comparação, a soja pode Petrobras, empresas ligadas à pro-
produzir 650, girassol 1.500, mamona dução e comercialização de biodiesel,
2.000, pinhão-manso 2.400 e o dendê empresas especializadas na produção
6.000 na Indonésia e Malásia, países de mudas (Acrotech), universidades
de maior produção (Figura 3). O dendê (UFV, ESALQ, UFMS, UCDB, UFMG,
é muito exigente em água e precisaria UNIMONTES, UFLA, UFMT) e insti-
ser irrigado quando plantado em am- tuições de pesquisa nacionais (APTA,
bientes com déficit hídrico, estando na IAC, EMBRAPA, IAPAR, EPAMIG) e
contramão da economia de água e da internacionais, como as universidades
sustentabilidade que buscamos para de LEUPHANA e HOHENHEIM (Ale-
as culturas brasileiras. manha), ROYALE (Paraguai) e DE LA

Figura 2. Distribuição geográfica de Acrocomia aculeata.


O Agronômico | v. 64-66 | 2014 75
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

SALLE (Colômbia), Faculdade de Agro- 10.000 e 1.700 kg ha-1 de torta da pol-


nomia da Universidade de Buenos Ai- pa e endosperma, respectivamente, e
res, produtores rurais, associações de 5100 kg ha-1 de carvão, como co-pro-
assentados, órgãos governamentais dutos da extração do óleo.
como o MDA, MMA, MAPA e SMA-SP, Não há nenhum outro exemplo na
dentre outros. história do Brasil de uma espécie nati-
O primeiro plantio da macaúba em va ter chamado tanto a atenção de pes-
escala comercial deu-se em 2010- quisadores em tão pouco tempo. No
2011 no Estado de Minas Gerais a entanto, o rápido interesse comercial
partir de mudas de sementes de plan- despertado por uma espécie perene e
tas nativas daquele estado. Embo- não domesticada pode levar à propa-
ra ainda não esteja em produção no gação e plantio de plantas sem quali-
Brasil, nossas estimativas, baseadas dade agronômica, o que inviabilizaria
em dados de plantas nativas, indi- a sua competitividade. Além disso, a
cam que, em condições agronômicas instalação de lavouras comerciais po-
adequadas, uma plantação comercial derá enfrentar uma série de limitações,
pode render 25 mil kg de frutos ha incluindo o desconhecimento de suas
ano-1 e a produção anual pode che- exigências ecológicas (PIRES et al.,
gar de 7 mil kg ha-1 de óleo, além de 2013). A ampla variação fenotípica e

Figura 3. Comparação da produção de óleo de macaúba com a produção das principais

76
oleaginosas destinadas a produção de biocombustíveis.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES TÉCNICAS

diversidade genética observadas na acidentado e, principalmente, em áreas REFERÊNCIAS


macaúba nos seus diferentes ambien- de conservação, sobretudo na região
tes de ocorrência indicam que plantas do Pontal do Paranapanema, onde APROBIO. Anais eletrônicos....Disponível
superiores podem ser identificadas encontramos as maiores populações em: http://www.aprobio.com.br/desta-
e selecionadas para criação de varie- naturais da espécie, chegando a 1.000 que_relatorio.html. 2012. Acesso em 20
dades para plantio em escala comer- plantas por hectare. Esta região, que junho 2012.
cial, formação de coleções núcleo de abriga a maior reserva de mata atlân- FGV. O biodiesel e sua contribuição ao
desenvolvimento brasileiro. Anais eletrôni-
germoplasma, criação de jardim de tica do interior do estado e o maior
cos....Disponível em : http://www.ubrabio.
sementes e dar início a estudos de contingente de pequenos agricultores com.br/sites/1700/1729/00000201.pdf.
melhoramento genético. Tais objetivos assentados (cerca de 6 mil famílias) 2010. Acesso em 10 março 2011.
necessitam de estudos e conhecimen- apresenta condições favoráveis para PIRES, T.P., SANTOS SOUZA, E.DOS.
tos para identificação dos genótipos plantio comercial da macaúba, sobre- KUKI, K.N., MOTOIKE, S.Y., Ecophysiolog-
mais promissores regionalmente. tudo em sistemas agroflorestais. Por ical traits of the macaw palm: A contribu-
O IAC iniciou suas pesquisas em ser árvore nativa, também teria grande tion towards the domestication of a novel
macaúba em 2006 realizando estudos apelo para plantio em áreas de prote- oil crop. Industrial Crops and Products, v.
44, p. 200-210, 2013.
sobre biologia reprodutiva, fenologia, ção permanente ou reserva legal, con-
PPE 2020. Plano Paulista de Energia. Anais
biometria de frutos e caracterização ge- forme determinam leis vigentes.
eletrônicos.... Disponível em : http://www.
nética de populações do Estado de São Portanto, a biomassa para produ- energia.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/docu-
Paulo buscando interpretar a enorme ção de energia é uma das principais al- mentos/491.pdf. 2012. Acesso em 20 se-
variabilidade encontrada. Desde então, ternativas energéticas de países com a tembro de 2013.
selecionou progênies de maior interes- geografia e dimensão do Brasil. O Pla- BEN 2014. Balanço Energético Nacional.
se agronômico que se encontram em no Paulista de Energia (2012) oferece Relatório Síntese, ano base 2013. Anais
experimentação em Pindorama e Pre- um conjunto de diretrizes e propostas eletrônicos.... Disponível em: https://
sidente Prudente, atividades realiza- de políticas públicas na área da energia ben.epe.gov.br/downloads/S%C3%AD-
ntese%20do%20Relat%C3%B3rio%20
das com auxílios à pesquisa FAPESP. e destaca a macaúba como opção de
Final_2014_Web.pdf. Acesso em 8 de de-
Duas dissertações de mestrado e uma cultivo no Estado de São Paulo, com zembro de 2014.
tese de doutorado foram concluídas e, vistas à ocupação de áreas não ade-
atualmente, outras três de doutorado quadas para mecanização ou espaços
e uma de mestrado encontram-se em subutilizados e a necessidade de am-
andamento, abordando aspectos de pliar a inclusão social em locais como
diversidade genética, anatomia, cito- Vale do Ribeira, Vale do Paranapanema
genética e expressão de genes envol- e Vale do Paraíba, nesse caso em siste-
vidos no rendimento e composição de mas agropastoris para recuperação de
óleo dos frutos. pastagens degradadas. Assim, o plan-
Em relação a São Paulo, a macaúba tio da macaúba poderá representar em
ainda é encontrada em grande quan- futuro próximo importante instrumen-
tidade em pastos, bordas de matas, to de desenvolvimento regional, não

77
margens de estradas, áreas de relevo apenas para o Estado de São Paulo.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
INFORMAÇÕES
BALANÇO HÍDRICO
TÉCNICAS

Balanço hídrico (2012-2014)


Esta resenha apresenta os dados em alguns locais essa deficiência hídri-
mensais de temperatura média (Tmed), ca se estendeu até outubro e novem-
total de precipitação (Prec) e resulta- bro, como no caso de Assis, Adaman-
dos do Balanço Hídrico (BH) para loca- tina, Campinas, Capão Bonito, Jundiaí,
lidades do Estado de São Paulo, onde Limeira, Mococa, Monte Alegre do Sul,
o Instituto Agronômico mantém esta- Pariquera Açu, Pindorama, Piracicaba,
ções meteorológicas. Os valores de BH Ribeirão Preto e Votuporanga. Também
positivos indicam excedente hídrico e foi observada a ocorrência de geadas
os valores negativos indicam deficiên- em Capão Bonito, Itararé e Mandurí,
cia hídrica ou falta de água no solo. afetando o cultivo de hortaliças, prin-
No mês de janeiro de 2012, foram cipalmente. Esse período seco e com
observados volumes de precipitação baixas temperaturas afetou ainda o
dentro do esperado, ou seja, próximo cultivo de inverno: alho, batata, cebola,
à média histórica para as localidades feijão, tomate e hortaliças em geral.
analisadas. Em relação as tempe- Em grande parte do estado esse
raturas médias, foram observados período seco se estendeu ainda pela
valores em torno de 2° C abaixo dos primavera, com exceção de Pindamo-
observados no ano anterior (2011). O nhangaba e Ubatuba.
mês de fevereiro foi caracterizado por Essa condição de baixa precipita-
apresentar veranicos em Adamantina, ção e irregularidade nas chuvas afetou
Assis, Mococa, Pindamonhangaba e o armazenamento de água no solo,
Angelica Prela Pantano1
Ludmila Bardin Camparotto1 Ubatuba, com altas temperaturas e prejudicando diretamente a semeadu-
Joaquim Francisco de Miranda1 precipitação abaixo do volume espe- ra e plantio de cultivos de verão do ano
rado. Esses veranicos prejudicaram o agrícola 2012/2013.
desenvolvimento vegetativo de culti- A irregularidade das chuvas afetou
vos como café, citrus, banana, cana- ainda o florescimento em lavouras de
-de-açúcar e em casos de hortaliças café, que combinado com altas tem-
foi preciso aumentar o manejo com peraturas causaram abortamento de
irrigação. flores, influenciando diretamente na
Nos meses de outono, as precipita- produção e qualidade dos grãos. Ain-
ções registradas foram abaixo da média da, as condições atípicas observadas
1 Instituto Agronômico, Centro de Ecofisiologia e histórica em Adamantina, Mococa, Pin- nos meses de outubro e novembro
Biofísica, angelica@iac.sp.gov.br
dorama, Ribeirão Preto e Votuporanga, comprometeram a frutificação de cul-
principalmente em março e abril. turas perenes da próxima safra como:
Durante o inverno, estação caracte- frutíferas em geral e cana de açúcar.
rizada com baixa precipitação em todo No mês de dezembro, foram obser-
o estado, foram observados baixos vo- vados elevados índices pluviométricos
lumes pluviométricos em todo o estado em todo o estado, normalizando as-

78 O Agronômico | v. 64-66 | 2014


e ocorrência de deficiência hídrica. E sim, as condições hídricas do solo.
BALANÇO HÍDRICO

BALANÇO HÍDRICO MENSAL - ESTADO DE SÃO PAULO (2012)


Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Adamantina
Tmed 24,7 26,4 25 24,1 20,3 19,7 19,2 22,7 23,9 26,7 26,6 27,7
Prec 245,0 94,3 68,4 70,3 92,9 259,9 8,8 1,0 124,9 148,2 74,1 224,5
BH 98,2 0,0 -7,7 -27,0 -20,9 0,0 170,1 -6,9 -43,5 0,0 0,0 -42,5
Assis
Tmed 22,5 24,5 23,8 21,9 18,0 17,3 16,8 18,9 21,3 23,7 23,4 25,5
Prec 346,1 98,0 99,3 143,1 154 286,8 29,9 0,6 89,4 85,6 75,5 225,7
BH 244,0 -1,2 -2,8 33,0 102,8 243,7 -0,6 -17,6 0,0 -10,3 -18,7 19,6
Campinas
Tmed 22,1 24,9 24,6 22,7 18,8 18,4 18,0 20,3 22,3 24,7 23,9 25,9
Prec 301,4 137,4 148,4 213,9 73,1 165,5 40,6 0,0 24,3 100,7 93,9 133,3
BH 122,4 19,5 27,1 123,9 19,0 118,0 -0,1 -19,5 -37,5 -14,4 -14,5 -11,7
Capão Bonito
Tmed 19,1 22,3 24,4 19,0 15,4 14,0 13,3 16,0 17,9 19,7 19,4 21,9
Prec 343,1 274,4 87,8 147 31,3 224,2 97,6 4,4 57,8 74,5 105,9 161,7
BH 262,7 175,7 -6,0 46,7 -0,9 176,6 65,4 -8,1 -1,0 -2,2 0,0 39,9
Itararé
Tmed 18,3 20,0 18,4 16,8 13,7 12,7 12,9 15,2 16,0 18,0 17,7 20,7
Prec 247 154,4 76,2 127,6 46,8 321,4 84,6 8,6 79,6 74,5 133,4 261,7
BH 165,9 68,8 0,0 63,8 4,5 287,0 48,4 -7,3 0,0 0,0 51,2 159,0
Jundiaí
Tmed 22,7 24,0 23,2 21,9 17,7 17,6 16,8 18,4 20,5 23,1 22,1 24,5
Prec 161,8 172,1 96,6 133 81,9 232,8 51,2 0,3 20,2 125 128,6 281,9
BH 56,0 62,5 -0,6 37,3 31,2 186,4 8,6 -12,3 -28,1 0,0 0,0 141,0
Limeira
Tmed 22,0 24,4 23,7 21,9 18,0 18,0 17,5 18,9 21,0 23,7 22,6 25,4
Prec 332,0 147 115,6 121,4 52,8 119,5 49 0,0 30,8 75,0 62,2 215,4
BH 227,8 34,0 3,8 36,9 1,3 71,7 3,2 -13,5 -23,8 -23,8 -29,1 0,0
Mandurí
Tmed 22,7 24 23,2 21,7 17,7 16,5 15,9 18 20,7 23 22,6 25
Prec 213,6 127,1 64,7 131 64,9 289,7 34,5 0,3 64,8 125,5 78,5 218,6
BH 107,6 17,4 -8,0 12,1 13,8 249,5 -0,1 -12,7 -4,0 0,0 -7,3 42,3
Mococa
Tmed 23,4 25,2 24,6 23,5 19,1 20,0 19,0 22,2 23,2 25,7 24,6 25,8
Prec 289,4 82,6 100,4 64,4 102 97,5 38,6 0,0 35,1 104,7 102,9 229,9
BH 182,0 -6,2 -7,1 -16,6 0,0 30,5 -0,7 -30,8 -39,0 -21,8 -13,4 0,2
Monte Alegre do Sul
Tmed 21,7 23,7 22,7 21,6 17,1 17,6 16,8 18,0 20,5 23,2 22,4 24,5
Prec 457,2 137,1 107,9 156,3 78 203,3 65,3 1,2 23,9 89,6 97,3 224,2
BH 361,6 30,5 5,5 72,8 30,3 156,0 21,7 -11,2 -25,6 -10,4 -1,2 25,1
Pariquera Açu
Tmed 24,5 26,3 24,1 22,9 20,2 18,3 17,6 19,2 20,7 22,3 22,7 26,4
Prec 218,8 137,0 84,8 102,2 125,8 196,5 177,3 11,3 19,0 89,3 54,9 155,9
BH 17,0 0,2 -4,3 0,0 44,2 149,8 134,0 -8,6 -25,2 -2,0 -30,9 -0,3
Pindorama
Tmed 23,3 25,2 24,4 24,3 19,2 19,6 18,9 21,1 23 25,6 24,7 26
Prec 215,1 146,8 103,5 49,2 78 130,3 17,6 0 21,2 31,8 150,4 198,2
BH 96,5 26,8 -0,9 -19,0 0,0 49,2 -4,7 -33,3 -50,4 -87,4 0,0 0,0
Pindamonhangaba
Tmed 24,8 26,1 24,4 23,4 19,0 19,2 17,9 19,9 22,4 25,2 24,9 27,5
Prec 303,0 88,0 149,0 131,5 75,0 118,3 50,5 0,0 22,5 105,7 72,8 384
BH 175,9 -8,8 0,0 30,8 22,1 67,5 7,3 -14,4 -35,7 -14,8 -41,7 125,3
Piracicaba
Tmed 23,4 25,0 24,7 22,5 18,9 18,6 17,9 19,1 21,6 24,8 24,2 26,5
Prec 243,7 142,9 143,6 117,9 83,1 187,4 28,1 0,0 46,5 81,9 144,9 145,9
BH 83,7 23,9 21,2 30,0 28,4 138,7 -1,4 -19,4 -18,0 -27,5 0,0 -4,9
Ribeirão Preto
Tmed 23,2 25,1 24,7 23,6 19,6 19,9 19,2 20,8 23,2 25,9 24,7 26,2
Prec 295,2 93,7 117,2 45,1 57,5 100,7 21,4 0,0 73,1 61,3 158,7 130,3
BH 133,9 -2,9 -0,8 -22,0 -0,1 0,0 -7,2 -34,9 -12,8 -59,0 0,0 -9,0
Ubatuba
Tmed 24,3 25,6 24,5 23,5 20,7 19,8 19,3 19,6 21 22,5 22,6 26,7
Prec 254,8 80,9 235,7 99,6 198,3 48,1 129,3 26,3 58,1 164,4 262,4 312,4
BH 133,3 -9,1 79,3 1,8 130,0 -0,3 67,6 -4,5 -4,1 35,1 166,0 152,3
Votuporanga
Tmed 25,2 26,6 26,0 25,5 21,2 21,4 20,7 23,5 25,3 27,8 26,8 27,4
Prec 345,4 83,4 72,8 93,7 84,1 163,6 15,2 7,2 7,06 45,3 136,9 231

79
BH 179,2 -12,8 -37,8 -12,9 0,0 46,9 -7,8 -44,8 -87,5 -114,5 -13,2 0,0

O Agronômico | v. 64-66 | 2014


BALANÇO HÍDRICO

Balanço hídrico
Esta resenha apresenta os da- caso de Adamantina, Assis, Campinas,
dos mensais de temperatura média Limeira, Mococa, Monte Alegre do Sul,
(Tmed), total de precipitação (Prec) Pindorama, Piracicaba, Ribeirão Preto
e resultados do Balanço Hídrico (BH) e Votuporanga.
para localidades do Estado de São No mês de outubro, foram registra-
Paulo, no ano de 2013. dos volumes de precipitação menores,
Embora seja comum a ocorrência o que resultou em deficiência hídrica
de chuvas abundante no mês de ja- em Adamantina, Assis, Campinas, Ca-
neiro, nesse ano em algumas localida- pão Bonito, Mococa, Pariquera Açu,
des as chuvas foram abaixo da média Pindorama, Pindamonhangaba, Ri-
histórica e esperada. As chuvas em beirão Preto e Votuporanga. Situação
menor volume aliadas a altas tempe- essa de deficiência hídrica no solo, que
raturas típicas da época, ocasionaram se estendeu até o inverno.
deficiência hídrica em Assis, Jundiaí, e Esses veranicos influenciam dire-
Votuporanga. Em fevereiro foi obser- tamente no florescimento de culturas
vado deficiência hídrica em Adaman- perenes, não irrigadas, como café,
tina, Pariquera Açu e Piracicaba. Em citrus e cana de açúcar. Afetou dire-
geral, nesses meses de verão foram tamente na produtividade e qualidade
observadas temperaturas médias ele- dos grãos de milho safrinha em re-
vadas em todo o estado, porém dentro giões como Vale do Paranapanema,
da normalidade. Em alguns locais os Mococa, Pindorama e Votuporanga.
valores registrados foram mais eleva- No caso de culturas perenes, além de
dos quando comparados com valores prejudicar a safra atual, provoca da-
registrados no ano anterior, como o nos na planta que afetam a produção
da safra seguinte.
Embora, os meses de outubro-no-
vembro-dezembro sejam caracteriza-
dos como sendo meses com aumento
significativo do volume de precipitação,
esse ano, diversas regiões do estado
tiveram registrados volumes abaixo do
esperado para a época ( Adamantina,
Assis, Campinas, Monte Alegre do Sul,
Piracicaba e Votuporanga). Com volu-
me de precipitação abaixo do normal
e esperado para a época e ocorrência
de altas temperaturas, normais para a
época, foi observada deficiência hídri-
80 O Agronômico | v. 64-66 | 2014
ca em diversas regiões do Estado.
RESENHA
BALANÇO
CLIMATOLÓGICA
HÍDRICO

BALANÇO HÍDRICO MENSAL - ESTADO DE SÃO PAULO (2013)


Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Adamantina
Tmed 25,8 26,2 25,2 23,1 21,9 21,2 19,0 20,2 23,7 24,1 25,7 27,4
Prec 343,6 97,1 208,7 76,5 100,8 107,3 44,2 0,0 50,2 218,6 96,9 106,4
BH 140,1 -5,8 51,7 -0,9 11,8 42,9 -0,1 -16,2 -25,8 43,5 -5,9 -31,7
Assis
Tmed 23,2 24,0 23,3 20,7 18,8 18,1 16,2 17,4 20,1 21,8 23,2 25,6
Prec 97,8 196,8 118,3 22,8 127,2 145,1 37,1 1,4 107,7 168,1 57,7 96,7
BH -8,5 20,8 10,0 -11,5 28,1 95,5 0,0 -10,1 0,8 77,5 -10,3 -24,2
Campinas
Tmed 23,6 24,6 23,8 21,8 20,2 19,5 17,7 19,0 21,6 22,5 23,8 25,6
Prec 259,9 136,5 153,3 93,3 62,8 69,5 60,6 3,5 31,8 81,1 85,8 97,8
BH 62,3 21,8 41,4 11,4 -0,1 10,2 15,6 -11,4 -24,4 -9,0 -18,4 -36,4
Capão Bonito
Tmed 19,3 20,6 18,8 16,7 14,8 12,2 10,2 15,3 16,8 18,6 20 20,5
Prec 149,5 164,5 128,3 84,9 30 172,7 113,1 7,6 111,7 108,3 111,8 56,0
BH 26,5 75,5 47,9 25,3 -1,4 125,8 89,7 -7,4 19,1 31,2 22,4 -8,4
Itararé
Tmed 17,9 19,2 17,5 15,9 14,4 13,1 11,4 13,4 14,7 15,8 17,5 19,2
Prec 151,8 212,3 103,7 97,3 121,5 236,3 129,5 12,3 141,1 125,1 82,3 73
BH 51,9 129,7 28,3 38,4 72,5 197,3 97,5 -4,2 64,0 62,5 7,0 -2,0
Jundiaí
Tmed 22,5 23,5 22,3 20,2 18,6 18,0 16,2 17,3 19,5 20,6 22,0 23,7
Prec 130,9 142,2 158,6 147,7 59,2 84,6 73,7 6,2 43,7 127,1 165,1 65,3
BH 0,0 18,8 58,9 74,6 0,0 33,2 32,2 -8,2 -9,4 0,0 65,8 -13,3
Limeira
Tmed 23,1 23,7 23,0 20,1 18,8 18,4 17,0 18,2 20,4 21,8 22,9 24,3
Prec 182,8 106,5 132,6 73,8 83,4 43,8 30,2 3,2 17,4 74,8 99,0 140
BH 8,5 0,2 27,4 3,5 24,5 -0,3 -2,0 -18,7 -33,7 -11,8 -3,7 0,0
Mandurí
Tmed 23,1 23,7 22,4 19,9 17,9 18,8 15,2 16,5 18,9 20,7 22,5 24,2
Prec 209,6 258,9 249,7 156,1 98,6 180 52,0 1,8 87,0 133,3 113,6 46,5
BH 42,2 151,2 148,9 85,3 43,9 123,5 15,9 -8,0 0,0 41,0 12,1 -25,5
Mococa
Tmed 24,3 24,7 24,0 21,8 20,6 20,2 18,5 20,1 22,2 22,8 24,0 25,1
Prec 371,7 168,4 200,3 107,8 79,4 32,4 43,1 11,2 110,1 80,6 182,9 209
BH 251,1 53,7 87,1 26,9 10,9 -3,6 -1,7 -23,2 0,0 -5,9 29,0 74,0
Monte Alegre do Sul
Tmed 22,1 22,8 22,5 20,1 18,5 18,1 16,4 17,5 20,0 20,8 21,9 23,4
Prec 256,5 190,1 174,8 101,6 77,6 60,0 90,4 8,9 63,6 116,0 66,2 80,8
BH 103,5 91,4 73,1 29,2 18,6 7,9 47,4 -7,8 -2,4 0,0 -5,5 -15,5
Pariquera Açu
Tmed 24,0 25,9 23,8 21,8 20,1 18,8 16,3 17,2 18,5 20,8 22,7 24,8
Prec 278,3 125,6 219,6 35,9 55,7 121,2 83,8 22,9 94,4 97,4 162,7 105,8
BH 132,3 -0,2 99,8 -9,9 -4,8 23,3 45,2 -2,3 18,9 16,8 61,1 -3,7
Pindorama
Tmed 24,5 24,9 23,9 21,7 20,5 20,2 18,1 19,5 22,3 23,2 24,6 25,7
Prec 301,9 197,8 214,4 68,9 103 53,1 14,6 0,3 82,4 117,0 173,7 102,3
BH 145,3 80,9 102,6 -0,6 25,4 -0,3 -6,5 -28,1 -0,9 0,0 6,9 -7,4
Pindamonhangaba
Tmed 22,6 25,7 24,4 21,7 20,1 19,9 17,6 19,3 21,7 22,7 21,8 24,6
Prec 213,0 279,0 149,0 34,0 49,0 22,0 92,0 16,0 0,0 148,8 114,5 41,0
BH 51,9 150,8 29,6 -9,7 -7,1 -21,0 0,0 -13,5 -49,7 0,0 0,5 -30,0
Piracicaba
Tmed 24 25,2 24 21,3 19,6 18,8 17,3 18,2 20,8 22,5 23,7 25,5
Prec 243,3 117,1 129,5 144,2 90,9 119,8 55,5 3,3 31,9 156,7 100,1 118,1
BH 95,3 -0,1 10,0 66,2 28,8 67,9 12,2 -9,6 -19,5 2,9 -0,6 -4,8
Ribeirão Preto
Tmed 24,4 24,7 24 22 21 20,5 18,6 20,1 22,5 22,8 23,8 24,9
Prec 292,0 205,2 162,6 54,0 87,4 49,2 29,3 0,8 59,3 95,8 167,1 314,5
BH 170,4 90,8 49,6 -3,7 0,0 -2,1 -5,9 -32,3 -18,5 -0,7 0,0 166,1
Ubatuba
Tmed 24 26,2 24,5 22,2 21,0 20,5 18,3 18,6 21,5 21,6 22,8 24,5
Prec 590,7 249 344,3 117,7 159,8 38,2 226 47,8 143,5 211,6 192,4 309,2
BH 472,3 114,2 224,0 32,4 87,6 -2,8 155,9 -0,1 62,7 126,5 92,6 180,9
Votuporanga
Tmed 26,1 26,2 25,6 23,2 22,4 22,1 20,0 21,2 24,1 24,9 26,3 27
Prec 130,4 192,1 176,4 68,9 67,3 67,7 35,7 0,0 85,6 50,3 130,0 173,4
BH -10,7 0,0 22,4 -2,1 -3,0 -1,1 -6,9 -38,7 -9,8 -55,8 -10,7 0,0

O Agronômico | v. 64-66 | 2014 81


INFORMAÇÕES
BALANÇO HÍDRICO
TÉCNICAS

Esta resenha apresenta os dados dos colmos. Em geral as plantas apre-


mensais de temperatura média (Tmed), sentaram tamanho menor o que afetou
total de precipitação (Prec) e resulta- diretamente o rendimento (kg/ha).
dos do Balanço Hídrico (BH) para loca- No caso de cultivo de frutíferas,
lidades do Estado de São Paulo, no ano volumes menores de chuva atuam di-
de 2014. Este ano pode ser considerado retamente no teor de brix, ocasionando
com condições atípicas para o estado maior concentração de açúcar e dei-
de São Paulo. Em geral, foram obser- xando os frutos com sabor mais ado-
vados volumes de precipitação muito cicado, porém, em situação extrema,
inferiores às médias históricas e espe- como esta, afeta o desenvolvimento
radas para as diferentes localidades do vegetativo da planta, causando dimi-
Estado. Em algumas regiões do Esta- nuição no número e tamanho dos fru-
do, a deficiência hídrica já vem sendo tos, reduzindo de forma significativa a
observada desde meados de 2013 e se produtividade e qualidade do produto.
intensificaram em 2014, com essa situ- Embora seja normal o aumento ou iní-
ação de escassez de chuva. cio do aumento de volume de precipi-
Nos meses de janeiro, fevereiro e tação a partir de setembro, de acordo
março foram observadas altas tempe- com as médias históricas para o esta-
raturas, mas dentro ou pouco acima do, em 2014 esse fato não foi observa-
das médias normais para a época. Em do, pois nos meses de setembro e ou-
2013, já foram registrados volumes de tubro os volumes de precipitação foram
precipitação abaixo do esperado em abaixo do esperado, o mesmo ocorreu
algumas localidades e com a situação para os meses de novembro e dezem-
atual foi observado o agravamento das bro, embora tenho sido registrado um
condições de deficiência hídrica do volume mais elevado de chuva, compa-
solo. Assim, algumas localidades como rando com os meses anteriores, esse
Adamantina, Assis, Campinas, Jundiaí, volume também foi abaixo das médias
Limeira, Mococa, Monte Alegre do Sul, históricas, porém foi importante para o
Pindorama, Piracicaba, Ribeirão Preto favorecimento da umidade do solo, be-
e Votuporanga apresentam deficiência neficiando os cultivos.
hídrica desde o início do ano. Essa con- Essa falta de precipitação afetou de
dição prolongada de deficiência hídrica forma direta os níveis de água em rios,
no solo afetou a produção de culturas represas e reservatórios de onde é fei-
como cana de açúcar, soja, milho, trigo, ta a captação água para irrigação e pe-
citrus e hortaliças. Em muitas regiões las companhias de abastecimento de
as condições hídricas para o manejo água. Os níveis dos rios e reservatórios
de irrigação também foram afetadas atingiram níveis abaixo de 10% da sua
devido à redução dos níveis dos rios. capacidade, sendo esse o menor nível
A cana de açúcar foi uma das culturas observado nos últimos 30 anos, como
mais afetadas com a deficiência hídrica, no caso do Rio Piracicaba e do Sistema
a falta de chuva durante o período ve- Cantareira que abastece grande parte da

82
getativo afetou diretamente o tamanho capital paulista e região metropolitana.
O Agronômico | v. 64-66 | 2014
BALANÇO HÍDRICO

BALANÇO HÍDRICO MENSAL - ESTADO DE SÃO PAULO (2014)


Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Adamantina
Tmed 26,8 27,0 25,8 24,7 21,2 21,2 19,8 22,2 24,8 25,6 25,6 26,4
Prec 126,5 190 82,9 72,2 50,0 7,8 51,4 3,1 131,3 33,7 146,3 146,4
BH -3,4 24,1 -12,6 -22,8 -21,9 -55,2 -14,6 -79,1 0,0 -82,5 0,0 -4,1
Assis
Tmed 24,7 25,2 23,7 22,1 18,6 18,2 17 19,2 21,2 23,1 24,0 23,9
Prec 215,7 104 126,6 56,7 76,2 7,9 43,1 8,9 141,3 6,7 175,2 186,9
BH 0,0 -5,4 0 -15,3 0 -30,1 -8,8 -49,1 0,0 -51,8 0,0 65,3
Campinas
Tmed 26,5 27,1 24,7 22,9 20,1 20,1 18,9 20,7 23 24,4 25,0 24,9
Prec 181,4 14,1 98,6 61,9 22,5 9,2 28,2 12,2 69,2 15,6 154,8 232,8
BH 0,0 -107,5 -26,3 -36,1 -51,4 -59,8 -35,1 -65,9 -29,3 -103,3 0,0 32,4
Capão Bonito
Tmed 22,0 23,8 22,5 19,9 16,2 16,9 15,5 16,5 18,4 19,6 20,3 21,7
Prec 102,9 75,5 132,7 64,7 85,4 133,6 25,0 28,8 167,3 47,8 150,9 153,9
BH -0,5 -10,5 0,0 -5,4 0,0 66,8 -3,4 -10,7 50,2 -6,0 41,9 50,6
Itararé
Tmed 20,6 21,1 18,8 17,1 14,2 13,8 12,6 14,1 15,7 17,3 18,2 19,0
Prec 130,2 128,3 175,9 70,9 109,7 146,6 95,6 62,2 186,3 29,4 206,5 318,3
BH 0,0 0,0 33,4 0,0 51,9 97,3 51,0 8,5 126,0 -9,5 98,0 230,1
Jundiaí
Tmed 25,2 25,5 23,2 21,3 18,4 18,4 17,0 18,5 21,2 22,6 23,5 23,4
Prec 142,6 44,2 194,8 77,3 31,6 4,8 41,8 15,7 75,9 2,8 158,9 153,1
BH 0,0 -80,2 0,0 -1,8 -10,8 -30,6 -6,8 -36,1 -6,7 -90,6 0,0 1,7
Limeira
Tmed 25,1 25,8 24,3 21,7 19,6 18,8 20,7 21,3 26,3 23,9 24,3 24,4
Prec 74,8 40,6 117,4 52,6 4,6 5,6 13 6,6 71,0 10,3 141,2 134,4
BH 40,5 -89,2 -3,4 -37,7 -63,0 -51,7 -59,5 -72,9 -57,6 -103,7 0,0 0,0
Mandurí
Tmed 24,3 24,7 22,8 20,8 17,6 17,5 16,9 17,8 20,8 22,1 23,8 23,5
Prec 116,9 46,5 197,9 43,9 83,7 3,7 50,7 14,1 172,0 26,9 119,5 134,5
BH -0,6 -27,3 0,0 -7,1 0,0 -15,0 -1,0 -26,5 0,0 -21,8 0,0 0,0
Mococa
Tmed 25,8 26,3 24,9 23,1 20,3 20,5 19,3 21,1 24 25,3 25,0 24,6
Prec 71,3 66,4 200,1 70,1 16,8 3,9 51,1 0,0 49,5 30,8 183,1 264,5
BH -19,9 -43,9 0,0 -4,1 -24,1 -44,7 -8,4 -66,8 -51,7 -94,7 0,0 101,3
Monte Alegre do Sul
Tmed 24,2 25,6 23,5 21,5 18,7 18,7 16,9 18,6 21,5 22,4 23,5 23,5
Prec 82,5 62,2 107,1 68,7 35,7 17,4 55,6 4,4 81,5 14,3 137,7 210,4
BH -8,3 -34,8 -5,5 -14,1 -23,4 -36,9 0,0 -51,9 -4,5 83,0 0,0 33,2
Pariquera Açu
Tmed 27,1 27,3 24,7 22,6 20,0 18,7 17,1 18,6 2,01 21,6 23,7 25,3
Prec 55,5 184,2 180,4 120,3 59,3 90,7 43,1 50,0 136,4 30,9 110,2 121,9
BH -39,5 0,0 0,0 0,0 -0,8 0,0 -0,2 -1,3 0,0 -16,3 -0,1 -0,8
Pindorama
Tmed 26,1 26,3 24,9 23,8 20,7 20,9 19,6 22,1 24,5 25,2 25,7 25,3
Prec 55,5 123,1 176,2 86,1 10,9 1,6 26,5 0,0 80,5 19,9 198,9 182,0
BH -30,6 -7,1 0,0 -4,0 -30,2 -50,7 -30,8 -77,8 -27,8 104,7 0,0 16,0
Piracicaba
Tmed 26,3 26,6 24,8 22,7 19,6 19,2 17,7 19,8 22,5 24,3 22,6 23,3
Prec 101,4 54,5 99,8 54,1 36,4 2,1 18,2 5,9 85,7 15,9 168,3 220,9
BH 52,7 -84,2 -27,0 -41,9 -32,3 -58,9 -34,4 -62,9 -6,5 101,8 0,0 83,2
Ribeirão Preto
Tmed 25,6 25,5 24,5 23,4 20,4 20,7 19,4 21,9 24,3 25,4 25,4 24,7
Prec 105,8 55 76,7 76,4 0,8 1,8 29,7 0,3 70,6 36,6 110,8 239,8
BH 66,7 -70,7 -45,6 -24,9 -72,4 -68,6 -32,8 -83,9 -37,4 -93,3 -17,3 13,9
Ubatuba
Tmed 26,8 26,2 25,1 23,0 20,7 20,1 19,0 19,2 20,8 21,7 23,6 25,1
Prec 176,9 178,6 267,5 265,2 102,5 112,1 160,4 112,7 119 93,4 145,4 107,3
BH 0,0 0,0 102,6 166,4 25,3 44,9 99,3 48,2 37,3 40,9 38,2 -3,5
Votuporanga
Tmed 26,9 27 26,8 26,4 22,2 22,2 20,7 23,1 25,7 26,3 26,0 26,4
Prec 95,7 162,1 271,8 32,4 10,8 3,1 53,6 0,0 101,9 28,7 235,7 134,7
BH -15 0,0 0,0 -37,2 -54,4 -66,7 -13,4 -87,8 -19,6 -110,3 0,7 -1,5

O Agronômico | v. 64-66 | 2014 83


Crédito: Tela em óleo de Maria Cecília Neves

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