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24 e 25 de outubro de 2019

Auditório da Faculdade de Agronomia da UFRGS – Porto Alegre/RS

ISBN: 978-65-86232-11-0
www.ufrgs.br/cienagro /simposioagronegocio simposioagronegocio@gmail.com
ANAIS DO VII SIMPÓSIO CIÊNCIA DOS AGRONEGÓCIOS

ORGANIZADORES

Prof. Edson Talamini


Prof. Marcelino de Souza

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)


Faculdade de Agronomia
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios - CEPAN
Porto Alegre, 2019

REITOR
Prof. Rui Vicente Oppermann

VICE-REITORA
Profª. Jane Fraga Tutikian

PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Celso Giannetti Loureiro Chaves

PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO
Profª. Sandra de Deus

DIRETOR
Prof. Jean Philippe Palma Revillion

VICE-DIRETORA
Profª. Kelly Lissandra Bruch

COORDENADOR DO PPG-AGRONEGÓCIOS
Prof. Marcelino de Souza

COORDENADORA SUBSTITUTA DO PPG-AGRONEGÓCIOS


Profª.Daniella Callegaro de Menezes
Coordenação Geral
Edson Talamini (Professor do PPG Agronegócios/UFRGS)
Marcelino de Souza (Professor e Coordenador do PPG Agronegócios/UFRGS)

Secretaria Geral
Débora de Azevedo (Secretária e Doutoranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Andrea Urack Krug (Doutoranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Steffano Ciotta da Costa (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)

Comissão Científica
Andrea Urack Krug (Doutoranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Cainã Lima Costa (Doutorando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Camila Coletto (Doutoranda do PPG Agronegócios/UFGRS
Camile Bonotto (Doutoranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Carina Pasqualotto (Doutoranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Cristiane Huppes Malmann (Doutoranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Filipe de Mello Dorneles (Doutorando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Lucilio Bulle (Doutorando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Sirineu José Sicheski (Doutorando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Tiago Bigolin (Doutorando do PPG Agronegócios/UFRGS)

Comissão de Logística
Alexandre Valente Selistre (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Cainã Lima Costa (Doutorando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Maielen Lambrechet Kuchak (Mestranda do PPG Agronegócios/UFRGS)

Comissão de Comunicação
Camila Soares Cardoso (Mestranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Flávia Regina Poyer (Mestranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Marcelo Matos de Sá (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Steffano Ciotta da Costa (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)

Comissão de Cerimonial
Andrea Urack Krug (Doutoranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Cristiane Huppes Malmann (Doutoranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Steffano Ciotta da Costa (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)

Comissão Financeira
Carlos Magno da Rocha Júnior (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Edson Talamini (Professor do PPG Agronegócios/UFRGS)
Juliano Pereira da Silva (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Luciano Fernandes da Graça (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Marcelino de Souza (Professor e Coordenador do PPG Agronegócios/UFRGS)
Sirineu José Sicheski (Doutorando do PPG Agronegócios/UFRGS)

Comissão de Patrocínio
Alisson de Souza Cunha (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)
Daiana Ribeiro Blaskowski (Mestranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Léia Ferreira de Souza Motta (Mestranda do PPG Agronegócios/UFRGS)
Raphael Vieira de Medeiros (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)

Responsável pelo Site


Marcelo Matos de Sá (Mestrando do PPG Agronegócios/UFRGS)
APRESENTAÇÃO

O VII Simpósio da Ciência do Agronegócio foi realizado nos dias 24 e 25 de outubro de 2019 nas dependências da Faculdade de Agronomia
da UFRGS. O evento é uma realização do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (PPG-Agronegócios) da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). O simpósio é evento integrante do calendário anual de atividades do Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios (CEPAN). O
objetivo central foi promover o debate e reflexões sobre aspectos sociais, econômicos, tecnológicos, ambientais que possam impactar
substancialmente “O Agronegócio no Futuro”, tema central da 7ª edição do simpósio. Uma série de vetores foram identificados e dentre eles, alguns
foram escolhidos para compor a agenda de palestras do evento, dentre os quais: Demografia e Alimentação; Agricultura Celular e Biologia Sintética;
Internet das Coisas, Inteligência Artificial e Blockchain; BlueBioeconomy; Conservacionismo e Produção, Biodiversidade e Sustentabilidade; e, por
fim, uma mesa redonda com coordenadores dos cursos de Pós-Graduação sobre a Formação para a Ciência do Agronegócio.
Reunir pesquisadores para apresentar e discutir resultados de pesquisa relacionadas ao tema central do evento e demais áreas que
caracterizam o campo interdisciplinar do agronegócio caracterizou o segundo objetivo do evento. Duas áreas temáticas foram definidas para a
submissão de trabalhos, sendo elas: Área 1 – O Agronegócio no Futuro; e, Área 2 – Ciência do Agronegócio, sendo esta subdividida em quatro seções:
I. Cadeias produtivas, competitividades e inserção internacional; II. Gestão, inovação, tecnologia e qualidade no agronegócio; III. Mercados,
contratos, instituições e políticas no agronegócio; IV. Bioeconomia, serviços ecossistêmicos e sustentabilidade.
O terceiro objetivo do VII Simpósio se constituiu na celebração dos 20 anos do PPG-Agronegócios da UFRGS. A celebração dos 20 anos do
PPG-Agronegócios reforçou o papel do pioneirismo desse PPG no Brasil e no mundo. O apoio na organização do evento que recebemos do PPG-
Agronegócios da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM e do PPG-Agronegócios da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD,
programas fortemente vinculados com o nosso, por si, já é uma celebração dos resultados efetivos da atuação do PPG na formação de recursos
humanos. Além disso, diversos (as) egressos (as) estiverem presentes celebrando memórias e revendo professores, colegas, amigos. O presente
documento reúne o conjunto de trabalhos acadêmicos submetidos, avaliados, aprovados e efetivamente apresentados nas sessões de apresentação
que ocorreram durantes os dois dias do evento. No total foram submetidos 112 trabalhos, dos quais 71 foram aceitos para apresentação durante o
evento. Os participantes vieram de diversas regiões do país, mais de 20 universidades participantes de diferentes estados. Reforçando o pioneirismo
do CEPAN no trabalho interdisciplinar e contribuindo com soluções de problemas do agronegócio numa perspectiva de integração das diversas áreas
do conhecimento, registramos, nesse documento, a contribuição de diversos autores para a construção da Ciência do Agronegócio.

A COMISSÃO CIENTÍFICA DO VII SIMPÓSIO DA CIÊNCIA DO AGRONEGÓCIO


I M PO R T A N T E

Todo conteúdo, direitos autorais, formato de publicação, eventuais erros e divergências de conceitos são de plena responsabilidade dos autores. A
comissão organizadora deste evento está apenas reproduzindo de forma integral os arquivos submetidos.
SUMÁRIO

Área 1 – Agronegócio do futuro Pág.


Agregação de valor com substituição de iluminação LFC por LED em granjas de frangos de corte 8-17
Agricultura Inteligente no Agronegócio do Futuro: contexto e desafios 18-27
Bem-Estar em Bovinos: Análise das Famílias de Patentes 28-36
Biologia sintética e produção de alimentos: uma revisão da literatura 37-46
Blockchain e smart contracts no agronegócio 47-56
Economia circular e sua relação com a produção agrícola 57-66
Explorando oportunidades tecnológicas em etanol celulósico 67-76
Fazendas Verticais: um estudo sobre as tecnologias adotadas 77-86
O Relatório de Recursos Mundiais sobre a criação de alimentos sustentáveis para o futuro 87-96
Pecuária a Pasto, Aquecimento Global e Bioma Pampa 97-106
Perspectivas de avaliação em climate-smart agriculture (CSA) 107-116
Possibilidades de Utilização de Tecnologias da Informação no Bem-Estar de Frangos de Corte 117-127
Prospecção Tecnológica: o Caso da Carne Cultivada 128-137
Quão longe estamos de tomar decisões “data driven” no agronegócio? Desafios para alunos e professores de métodos 138-149
quantitativos
Área 2 – Ciência do agronegócio Pág.
Seção - Cadeias produtivas, competitividade e inserção internacional
A paisagem e o território do vinho como alicerce do Vale dos Vinhedos 150-157
A representatividade econômica do setor vitivinícola no cenário regional, estadual e nacional 158-167
Abelha sem ferrão: proposta de viabilidade de implantação e comercialização de mel em uma pequena propriedade no estado 168-175
do Rio Grande do Sul
Análise da Estrutura do Setor de Produção de Cerveja Artesanal na Cidade de Passo Fundo/RS com Base no Modelo ECD 176-184
Análise das tendências de exportações do complexo soja de brasil e argentina: 1989 a 2019 185-194
As cadeias agroalimentares curtas: com ênfase nos consumidores 195-204
Custos Econômicos e Indicadores de Rentabilidade na Suinocultura 205-215
Determinantes da produção agrícola no estado do Rio Grande do Sul 216-225
Emissões de GEE na produção de leitões na fase de creche: uma análise sobre a fabricação da ração consumida 226-233
Estudo de viabilidade econômica para implantação de tanques escavados na tilapicultura 234-243
Gestão econômico-financeira e a assistência técnica nas propriedades rurais 244-253
Potencial de aquecimento global em processos de produção de rações para suínos em terminação 254-262
Seção - Gestão, inovação, tecnologia e qualidade no agronegócio Pag.
A percepção dos produtores rurais frente às mudanças climáticas pode ser explicada por variáveis socioeconômicas e 263-271
psicológicas?
Análise das Estratégias das cervejarias Artesanais da Cidade de Passo Fundo – RS 272-281
Contextualizando o Empreendedorismo Rural 282-291
Cooperativas agropecuárias e a diversificação de negócios 292-299
Fatores decisórios e sucessão geracional: a dinâmica de uma cooperativa agropecuária de Campo Novo/RS 310-319
Identificação de Tecnologias da Informação Utilizadas no Bem-Estar de Frangos de Corte 310-320
Impacto das normativas de bem-estar na análise de ciclo de vida da produção de aves e suínos 321-329
Investir ou não investir na implantação de uma fábrica de ração em uma propriedade rural? 330-339
Mudança Institucional na Pesquisa Agropecuária Brasileira 340-349
Notas Acerca do Movimento Foodtech no Brasil 350-357
Perfil dos consumidores brasileiros de café 358-368
Perspectivas dos produtores de ovinos sobre o manejo reprodutivo e a estruturação do diagrama de fluxo de dados para 369-378
auxiliar na tomada de decisão
Startups no setor do agronegócio brasileiro 379-386
Viabilidade econômica da adoção de software de gestão para cultivo de soja, no estado do Paraná 387-396
Viabilidade econômica da utilização de energia fotovoltaica em propriedade rural familiar 397-406
Viabilidade econômica e ambiental da produção de carne bovina em diferentes sistemas de alimentação no bioma Pampa, sul 407-415
do Brasil
Seção - Mercados, contratos, instituições e políticas no agronegócio Pag.
A gestão financeira no contexto da cadeia agroalimentar do chu chu: um estudo de caso 416-428
Análise econômico-financeira de um Sistema de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) 429-438
Aquisição de refrigerantes na geografia da obesidade brasileira 439-446
Dimensões institucionais nos mecanismos de redd+: uma revisão 447-456
Escândalos corporativos no agronegócio: efeito no preço das ações da bolsa de valores brasileira 457-466
JBS em foco: o que as demonstrações financeiras falam? 467-476
Laticínios que atuam no mercado do Brasil e no Rio Grande do Sul 477-486
Negócios sociais agroalimentares: atores, mercados e parcerias no MS 487-496
O cooperativismo como estratégia de desenvolvimento socioeconômico amazônico 497-506
Percepções dos agentes institucionais sobre o Pronaf Mais Alimentos no município de Palmeira das Missões/RS 507-516
Relação entre preço e tomada de decisão dos produtores de trigo no Rio Grande do Sul 517-525
Relações de confiança em ações coletivas em cooperativas 526-534
Sidras: uma revisão bibliométrica com foco no mercado brasileiro 535-543
Viabilidade econômica de tilápias (Oreochromis niloticus) em sistema bioflocos (BFT) 544-553
Viabilidade financeira: uma análise para a implantação de estufas de morangos semi-hidropônicos em uma propriedade de 554-562
Mato Castelhano/RS
Seção - Bioeconomia, serviços ecossistêmicos e sustentabilidade Pag.
A pecuária e o efeito estufa: uma revisão bibliométrica sobre a pegada de carbono no Brasil 563-570
Análise da eficiência energética em sistemas agroflorestais biodiversos no Brasil 571-580
Análise das emissões globais de CO2 a partir da Regressão logarítmica múltipla 581-590
Cálculo da Pegada Hídrica (água azul) em uma propriedade leiteira no estado de Goiás 591-599
Caracterização das Publicações Científicas sobre Direito e Mudanças Climáticas 600-609
Contabilidade Ambiental na Pecuária: Revisão Sistemática da Literatura 610-619
Entendendo os fatores que impactam no desperdício de alimentos nas residências 620-629
Florestas e o Mercado de Carbono 630-639
Irrigação e sustentabilidade na produção de alimentos 640-649
Lixo Zero: uma análise do Projeto do Colégio Catarinense e sua contribuição para a Agenda 2030 650-659
Mudanças climáticas: percepção e adaptação entre pequenos produtores do Vale do Caí-RS 660-669
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA): estudo de caso Programa Protetor das Águas de Vera Cruz /RS 670-679
Práticas agroecológicas da diversificação de culturas tolerantes a seca: experiências de produtores comunitários na Venezuela 680-690
Produção de leite de cabra ecoeficiente: uma abordagem pelo uso da água 691-699
Agregação de valor com substituição de iluminação LFC por LED em
granjas de frangos de corte

Value added by replacing LFC lighting with LED in broiler farms


Carolina Obregão da Rosa 1, Rodrigo Garófallo Garcia 2, Fábio Mascarenhas Dutra 3.

Resumo
Projetos de avaliação econômica de novos investimentos em tecnologia e infraestrutura da produção são
primordiais, a fim de garantir que a adoção destas tecnologias resulte em valor agregado ao produtor. Como no
caso de substituição do sistema de iluminação, que é um dos fatores que mais impacta na produtividade do lote,
dada a importância da iluminação no desempenho zootécnico das aves. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar
economicamente o investimento em sistema de iluminação LED de aviários dark house, após a estabilização dos
preços e da qualidade das lâmpadas LED disponível no mercado nacional. Foram estimados os fluxos de caixa
incrementais de dois projetos de iluminação LED, para determinação dos indicadores econômicos: Valor Presente
Líquido (VPL), Taxa interna de retorno (TIR), Retorno sobre o Investimento (ROI) e Valor Econômico Agregado
(EVA). O projeto denominado LED1 resultou em valor econômico agregado, portanto viável. O projeto LED2
apresentou VPL negativo e por consequência os demais indicadores também indicaram rejeição ao investimento.
Analisar a eficiência energética da lâmpada, sem considerar a avaliação econômica do capital investido, é
insuficiente para se determinar a viabilidade da implantação de sistema de iluminação LED em aviários que já
possuem iluminação LFC. No entanto, os resultados indicam que projetos bem planejados, com pesquisa de
mercado criteriosa, podem trazer retornos econômicos consideráveis ao produtor.
Palavras-chave: agronegócio; avicultura de corte; avaliação econômica; LED; sistema de iluminação.

Abstract
Economic evaluation projects of new investments in technology and production infrastructure are paramount in
order to ensure that the adoption of these technologies results in added value to the producer. As in the case of
substitution of the lighting system, which is one of the factors that most affect the productivity of the flock,
considering the importance of lighting in the zootechnical performance of birds. However, the use of Light
Emitting Diode (LED) was still economically unviable due to the high price and failures of LED lighting
equipment in broiler farms because of in the farm environment, including the overheating due to dust
accumulation, water getting inside the bulbs during washing. This study aimed to economically evaluate the
investment of the LED lighting system in dark house facilities, after stabilizing the prices and quality of LED
lamps available in the national market. The Incremental cash flows from two LED lighting projects were estimated
to determine the economic indicators: Net present value (NPV), internal rate of return (IRR), Return on Investment
(ROI), and economic value added (EVA). The LED1 project resulted in added economic value, therefore viable.
The LED2 project presented negative NPV and consequently the other indicators also presented rejection of the
investment. Analyzing the energy efficiency of the lamp, without considering the economic evaluation of the
invested capital, is insufficient to determine the feasibility of implementing LED lighting system in facilities that
already has compact fluorescent lamps (CFL) lighting. The results indicate well-planned projects, with careful
market research, can bring considerable economic returns to the broiler producers.
Keywords: agribusiness; broiler farming; economic evaluation; LED; lighting system.

1 Introdução
A avicultura industrial desempenha um importante papel no agronegócio brasileiro.
Além das receitas que a atividade gera para a balança comercial, a avicultura industrial, por
meio da integração vertical da cadeia, contribui para a permanência de famílias na área rural,
viabilizando a produção agrícola em pequenas propriedades. A integração vertical é um modelo
de produção que possibilitou a essa cadeia a modernização a largos passos nas últimas três
décadas. As edificações das granjas produtoras estão cada vez mais automatizadas e com
controle de ambiência.

1
Doutoranda, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail:< carolinaobregao@ufgd.edu.br>.
2
Doutor, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail:< rodrigogarcia@ufgd.edu.br >.
3
Doutorando, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail:< fabiodutra@ufgd.edu.br>.
Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-6586
E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
Os avanços tecnológicos melhoraram os investimentos em automação nas instalações
avícolas. Essa evolução impactou positivamente com o surgimento dos aviários dark house
(casas escuras), que por sua vez apresenta características como: maior densidade de aves por
m², maior controle do ambiente interno, principalmente no monitoramento da temperatura e da
iluminação, pode ser totalmente controlado sem influência do ambiente externo, a fim de obter
o melhor desempenho e bem-estar das aves. Por outro lado, estas instalações consomem mais
energia elétrica quando comparada a outros sistemas com menor nível de tecnologia (Abreu &
Abreu, 2011).
Inovações tecnológicas em granjas implicam em investimento financeiro para os
produtores, os quais já têm sua margem de lucro estreita. Neste sentido, projetos de avaliação
econômica de novos investimentos em tecnologia e infraestrutura da produção são primordiais,
a fim de garantir que a adoção destas tecnologias resulte em valor agregado ao produtor.
Thomson & Corscadden (2018) consideram que a iluminação de LED contribui para a
eficiência energética nos aviários. Porém, Rosa et al. (2017) concluíram nos anos 2013-2014,
que o investimento em um novo sistema de iluminação LED, substituindo a iluminação de
lâmpadas fluorescentes compactas (LFC), não apresentava viabilidade econômica, mas caso o
preço das lâmpadas de LED viessem a reduzir, o investimento poderia se tornar viável.
A tecnologia LED, entre os anos de 2010 a 2015, estava sendo testada na avicultura
brasileira (Rutz et al., 2014; Rosa et al., 2017), e assim como ocorreu alguns anos antes nos
Estados Unidos (EUA), o uso do LED nas granjas passou por um período de desconfiança por
parte dos produtores, por seu alto preço além de apresentarem muitas falhas no ambiente úmido
das granjas, tornando inviável o investimento nessa tecnologia (Linden, 2014).
Atualmente, em instalações novas, devido aos diversos benefícios que a iluminação de
LED proporciona à produtividade avícola (Kim et al., 2014; Olanrewaju et al., 2016; Van der
Pol et al., 2017; Archer, 2018), os projetos luminotécnicos de granjas dark house são
configurados para iluminação em LED. No mercado de equipamentos para o setor de avicultura
foram desenvolvidas lâmpadas específicas para as condições do ambiente interno dos aviários,
surgindo novas marcas e modelos com diferentes especificações, consequentemente aumentou
a oferta desse produto e seu preço abaixou. Diante disso, o uso das lâmpadas de LED alcançou
estabilidade tecnológica necessária ao seu reconhecimento como iluminação eficiente e quanto
ao seu impacto positivo ao meio ambiente (Thomson & Corscadden, 2018).
Na literatura científica, muitos estudos sobre a importância da iluminação na produção
de frangos de corte foram realizados devido à sensibilidade espectral das aves, há estudos de
sua influência desde o processo de incubação, até o desempenho produtivo, fisiologia,
imunidade e bem-estar (Prescott e Wathes, 1999; Olanrewaju et al., 2006; Olanrewaju et al.,
2015; Olanrewaju et al., 2016; 2019; Mendes et al., 2013; Purswell et al, 2018).
Pesquisas que avaliam viabilidade de implantação de sistemas de iluminação em galpões
geralmente são superficiais, incluindo apenas informações fornecidas por auditorias energéticas
(Thomson & Corscadden, 2018), ou são realizados por fabricantes de lâmpadas (Clarke &
Ward, 2017), desconsiderando que todo novo investimento deve ser avaliado também pelo
ponto de vista da avaliação econômica, com o objetivo de auxiliar o produtor na tomada de
decisão.
Por meio de pesquisas de preços, verificou-se que as lâmpadas de LED, utilizadas nos
aviários dark house estudados na pesquisa de Rosa et al. (2017), apresentaram queda de preços
a partir da entrada de novos fabricantes no mercado nacional. Assim, atualizando os valores de
preços de lâmpadas e demais custos de substituição da iluminação LFC por LED, de tarifa de
energia e a Taxa Mínima de Atratividade, pode-se reavaliar o investimento a valores atuais. Em
face do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar economicamente o investimento em sistema
de iluminação LED de aviários dark house, após a estabilização dos preços e da qualidade das
lâmpadas LED disponíveis no mercado nacional.
Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-6586
E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
2 Referencial Teórico
As pesquisas relacionadas aos efeitos da iluminação sobre as aves nas últimas décadas
foram intensas e resultaram em uma grande variedade de programas. Os programas de
iluminação são vistos como ferramentas de gestão, devendo-se considerar três fatores em sua
aplicação: o comprimento de onda, a intensidade e a duração da luz (fotoperíodo) (Olanrewaju
et al., 2006). Neste contexto, o comprimento, a intensidade e a duração de luz e, a distribuição
do fotoperíodo podem afetar o desempenho e o bem-estar das aves (Lewis & Morris, 2006;
Archer, 2018). Em relação ao comprimento de onda, ressalta-se que as aves possuem uma
sensibilidade espectral diferente da humana (Prescott & Wathes, 1999).
A intensidade da luz influencia o comportamento dos animais. Uma iluminação mais
intensa promove o aumento da atividade, enquanto que uma iluminação mais amena pode ser
eficaz na redução de comportamentos agressivos (Olanrewaju et al., 2006; Kim et al., 2014).
Deste modo, a intensidade da iluminação nos ambientes de criação pode ser controlada
utilizando como medida o lux.
Na fase de cria, o adequado posicionamento das fontes de luz e sua distribuição
estimulam as aves a procurar alimento, água e calor. Enquanto que na fase de crescimento, a
iluminação pode ser útil para regular o ganho de peso e aumentar a eficiência da produção e a
saúde das aves (Olanrewaju et al., 2006; Mendes et al., 2010). Nos aviários com maior nível
tecnológico, o planejamento dos sistemas de iluminação é largamente baseado na visão humana
– o que é um equívoco – e deve satisfazer os critérios de produção e de legislação (Mendes et
al., 2010).
Medidas de bem-estar são, em sua maioria, de complexa elaboração. Olanrewaju et al.
(2006) sugerem que o entendimento de como as aves percebem seu ambiente passa pela
quantificação da luz ambiente (iluminância), e pelo conhecimento dos efeitos dos fotoperíodos
sobre o desenvolvimento funcional do olho e da visão. A iluminação para frangos de corte tem
a finalidade de permitir melhor ingestão de ração e água, crescimento e adaptação nos primeiros
dias de vida. A qualidade, intensidade, fotoperíodo e cor da luz interferem no comportamento
e desenvolvimento das aves (Mendes et al., 2010; Benson et al., 2013). Dessa forma, verifica-
se que na produção de frangos de corte, a iluminação do ambiente pode ser considerada uma
ferramenta de gestão, pois é um dos fatores de maior influência no desempenho do lote.
Por outro lado, na gestão da empresa rural é indispensável quantificar o volume de
insumos utilizados no processo de produção e contabilizar os resultados obtidos. Neste sentido,
a gestão de custos possibilita o desenvolvimento e a competitividade do negócio. A
determinação de custos é um desafio dentro da propriedade rural, sobretudo em cadeias
agropecuárias de produção integrada, onde o produtor tem a segurança de recebimento da sua
produção, mas por outro lado, tem uma margem estreita de lucro.
Lima & Faccin (2019) afirmam que os custos da produção integrada de frangos no Mato
Grosso do Sul (MS) são altos, embora se tenha disponibilidade de grãos para a produção de
ração. “Para se alcançar viabilidade produtiva em uma área, são considerados a construção de
quatro módulos para alojamento de até 130 mil frangos no mínimo, a um custo estimado de R$
4.200.000,00” (p. 209).
Estatísticas do mercado disponíveis na Central de Inteligência de Aves Suínos (Cias,
2019), disponibilizam cinco grupos de custos da produção de frango de corte dos principais
estados produtores do país. Tais grupos de custos são: Alimentação, Mão de obra, Custo de
Capital, Depreciação e Outros. O item de custos “Outros”, no qual se insere o custo de energia
elétrica e despesas operacionais, foi o maior da série histórica em 2017, último ano que estava
disponível os dados estatísticos para o estado do MS. Embora não se possa afirmar qual foi a
despesa que elevou este custo, verificou-se que a tarifa de energia elétrica do referido estado

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variou 60% no período de 2015-2019, comparando com a tarifa utilizada em estudo anterior de
Rosa et al. (2017).
Depois da mão de obra, a eletricidade é o custo que mais impacta as despesas mensais
do produtor, sobretudo em instalações dark house. Apesar do custo de iluminação representar
uma pequena parcela do custo de eletricidade por cabeça de frango, cada centavo de economia
representa agregação de valor ao produtor rural.

3. Metodologia
Quanto à abordagem esta pesquisa caracteriza-se por quantitativa e quanto aos objetivos
é exploratória. Os procedimentos técnicos adotados foram pesquisa bibliográfica e documental
do estudo de caso desenvolvido (Gil, 2009).
Este estudo compreende uma atualização de um estudo anterior de Rosa et al. (2017),
considerando o mesmo objetivo mas com atualização de preços. Neste estudo, foram avaliados
dois aviários dark house, localizados em uma propriedade da região de Itaquiraí – MS, com
dimensões de 150 x 15m, com pé-direito de 3,80 m, ventilação negativa, exaustores,
nebulizadores de alta pressão, controladores de ambiente, controladores de intensidade
luminosa e de paredes negras, com aquecimento automático posicionado no início do galpão e
distribuído por tubos metálicos.
Os dados de consumo de energia elétrica do sistema de iluminação foram coletados nos
painéis de controle dos aviários durante o período de 12 meses, correspondendo a 6 ciclos de
criação de frangos de corte. Dados técnicos referentes à produção foram obtidos dos relatórios
gerenciais da integradora.
Em pesquisa de mercado, verificou-se que surgiram novos fornecedores de lâmpadas
próprias para avicultura. Foi possível obter dois orçamentos de lâmpadas LED de
especificações técnicas e preços diferentes. Como no estudo de Rosa et al. (2017) o valor da
lâmpada foi determinante para a inviabilidade econômica do projeto, optou-se por avaliar duas
opções de projetos de investimentos, ambos denominados de LED1 e LED2.
Ambos os aviários possuíam as mesmas características estruturais, porém uma das
instalações apresentava sistema de iluminação convencional (LFC) e a outra apresentava o
sistema em teste com iluminação LED, e que permitiu a obtenção do histórico de consumo de
um ano (2013-2014) dos dois tipos de iluminação, correspondendo a seis ciclos de criação de
frangos de corte.
Os programas de luz utilizados nos dois projetos durante o desenvolvimento da pesquisa
constam na Tabela 1.
Tabela 1. Programa de Luz utilizado nos aviários dark house avaliados
Idade da ave Fotoperíodo Iluminância
até 7 dias 23 h 25 lx
8 a 21 dias 18 h 5 lx
22 a 35 dias 20 h 5 lx
36 a 45 dias 22 h 5 lx
Fonte: Relatórios internos do integrado, dados da pesquisa (2019)
Cada aviário possui 144 lâmpadas, sendo que o aviário de iluminação LED1 foi
denominado Aviário 1 e suas lâmpadas foram desenvolvidas especialmente para condições de
aviários. Já o sistema de iluminação do Aviário 2 possui LFCs de duas potências (7 e 15 W)
intercaladas na área do pinteiro e equidistantes entre si, e o restante da área possui apenas
lâmpadas de 15 W. Os dados técnicos das lâmpadas estão apresentados juntos às tabelas
disponíveis no item resultados.

3.1 Métodos de Avaliação Econômica de Investimentos

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A avaliação econômica do projeto de substituição de iluminação LFC por LED foi
realizado em duas etapas. Na primeira etapa elaborou-se o fluxo de caixa do projeto de
investimento e na segunda aplicaram-se técnicas de avaliação de investimentos, conforme
detalhado a seguir.
Os benefícios (entradas) estimados do projeto, no caso a economia de energia gerada,
foram avaliados pela estimativa de fluxos de caixa incrementais. Para Ross et al. (2015), nas
técnicas de avaliação para fins de decisões de investimento de capital, deve-se considerar
sempre os fluxos de caixa que o projeto retornará à empresa, ou seja, somente os fluxos de caixa
incrementais do projeto.
O retorno requerido pela empresa, ou no caso, do produtor rural, deverá ser maior que
o custo de capital próprio. Este custo pode ser utilizado como a taxa mínima de atratividade
(TMA) para que o projeto seja aceito ou rejeitado (Ross et al., 2015; Gitman, 2010).
A taxa mínima de atratividade do projeto será definida pelo modelo CAPM Global ou
por benchmarking, o qual utiliza como referência empresas do mesmo setor (Assaf Neto, 2014).
Considerando que o mercado avícola brasileiro é globalizado e de capital aberto, estas empresas
possuem maior liquidez e menor volatilidade, este modelo é adequado para este fim, desde que
acrescentado o Risco Brasil. O modelo, de acordo com Assaf Neto (2014) compõe-se das
seguintes variáveis: a) Taxa livre de risco (Rf): determinada pelas taxas de juros médias dos
títulos públicos de longo prazo de economias de livres de risco; b) Coeficiente beta (β): utiliza-
se uma amostra de betas de empresas do mesmo setor semelhantes, tanto operacionalmente,
como financeiramente. Determinado o beta médio, o mesmo é utilizado como medida de risco
e do custo de capital próprio da empresa em avaliação; c) Prêmio pelo risco de mercado (Rm-
Rf): se dá pela diferença entre o retorno da carteira de mercado (Rm) e a taxa de ativos livres de
risco do mercado que se pretende determinar o prêmio.
Assim, o CAPM por benchmarking ajustado às condições brasileiras pode ser
acrescentado o fator Risco Brasil, sendo calculado pela seguinte expressão (Assaf Neto 2014;
Ross et al., 2015):
𝑅 = [𝑅𝑓 + 𝛽 × (𝑅𝑚 − 𝑅𝑓 )] + RISCOBR (1)
Em que: R = Retorno esperado; Rf = taxa livre de risco; β = beta do setor; (Rm – Rf) =
prêmio pelo risco de mercado; RISCOBR = taxa de risco Brasil.
Após a determinação do custo de capital próprio, o próximo passo foi aplicar as técnicas
de avaliação econômica de projetos. As quais são descritas a seguir:
a) VPL: corresponde ao valor presente das parcelas futuras de entradas no caixa,
descontadas a uma taxa de desconto (Damodaran, 2014). Essa taxa de desconto também pode
ser denominada de taxa mínima de atratividade, custo de capital ou custo de oportunidade. Para
fins de aceitação do projeto o VPL deverá ser maior que zero (Gitman, 2010). De acordo com
Gitman (2010), a expressão genérica do VPL é dada por:
FC
VPL= ∑𝑛t=1 𝑡 (2)
𝑛
∑t=1(FC𝑡 | × FCPr,t ) − 𝐼0 (2.2)
Em que: FCt = saldos de fluxos de caixa descontados durante o período t; Io =
investimento inicial; FCP = entradas de caixa descontadas durante o período t; r= taxa de
desconto ou taxa mínima de atratividade; n = vida útil do projeto.
b) Taxa interna de retorno (TIR): é a taxa em que o VPL se iguala a zero. O VPL é igual
a 0 quando os valores futuros, aplicados a uma determinada taxa de desconto, resultam em um
valor presente de fluxo de caixa igual ao investimento inicial (I0), ou seja, no período 0 (n0).
Portanto, o projeto só deverá ser aceito se a TIR for maior que o custo do capital (Assaf Neto,
2014; Gitman, 2010). Esta condição é expressa pela equação apresentada por Gitman (2010):
FC
$0 = ∑𝑛t=1 𝑡 (3)

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FC
∑𝑛t=1 (1+TIR)
𝑡
=I0 (3.1)
Em que: FCt = saldos de fluxos de caixa descontados durante o período t; Io =
investimento inicial; n = vida útil do projeto.
c) Retorno sobre o Investimento (ROI): é um conceito amplo, empregado para medir o
retorno do investimento em um projeto ou de resultados operacionais da empresa (Assaf Neto,
2014). Neste trabalho, o ROI consistiu na relação entre o Lucro Operacional Líquido do projeto,
representado pelo VPL dos fluxos de caixa, e o valor do investimento inicial:
VPL
ROI  (4)
I0
d) Valor Econômico Adicionado (EVA): o conceito do valor econômico agregado
possibilitou avaliar os investimentos além da ótica financeira, pois considera o valor adicionado
ao empreendimento subtraído do seu custo de capital, ou seja, entende-se o EVA como uma
medida de desempenho, pois seu resultado é o lucro econômico da empresa (Carvalho, 2002).
Para Damodaran (2014), esta medida representa o valor excedente em dólar que o investimento
retornou a empresa. Em análises de investimento com capital próprio, temos que:
EVA = (ROI – CPC) x Investimento
ou (5)
EVA = NOPAT – (CPC x Investimento)
Em que: CPC = custo de capital próprio; NOPAT = Lucro Operacional Líquido após
Impostos.
A estimativa de consumo de energia elétrica dos aviários, o levantamento do valor de
investimento a valores atuais (2019) do projeto de iluminação por lâmpadas de LED, e a análise
do fluxo de caixa incremental estimado com base no período de um ano de dados primários
coletados, e as técnicas de avaliação econômica possibilitaram a reavaliação econômica do
projeto avaliado anteriormente por Rosa et al. (2017).

4 Resultados e Discussão
Todos os valores monetários deste estudo foram convertidos em dólar comercial médio
do mês 06/2019, fixado em R$ 3,863. Os orçamentos coletados, para fins de obtenção dos
valores de investimento inicial dos projetos avaliados, foram sintetizados na Tabela 2.
Tabela 2. Descrição dos orçamentos para projetos de investimentos avaliados
Características LED1 LED2 LFC
Potência - Watts 5 10 15 7
Dimerizável Sim Sim Não Não
Fluxo luminoso - lm 370 900 950 357
Dados Técnicos
Vida Útil - Horas 30.000 25.000 8.000 8.000
das lâmpadas
Vida Útil - anos (aprox. 6mil h/ano) 5 4 1,3 1,3
Garantia fabricante - meses 24 18 3 3
Custo Unitário das Lâmpadas - U$ 9,06 17,19 2,72 3,08
Quantidade de Lâmpadas 144 132 57 87
Custo total de Lâmpadas 1.304,69 2.268,91 154,93 268,00
Orçamento do
Custo do Dimmer para Controle 227,80 212,27 0,00 0,00
Projeto (em U$)
Custo Diferença de Instalação Elétrica 854,26 828,37 0,00 0,00
Custo Total do sistema 2.386,75 3.309,55 154,93 268,00
Fonte: dados da pesquisa (2019)
Como as características das lâmpadas orçadas e preços são bem diferentes, optou-se por
avaliar os projetos separadamente, em vez se considerar uma média de preços. O projeto LED1
foi composto por 144 lâmpadas LED, modelo bulbo de 5 W, desenvolvida especialmente para
produção animal, as quais atendem perfeitamente o programa de iluminação exigido pela
integradora, assim nesta opção, utilizar-se-ia os mesmos pontos de luz já existentes. Já o projeto

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LED2 foi composto por 132 lâmpadas, conforme projeto luminotécnico do fabricante, pois elas
entregam mais lúmens, tornando desnecessária a utilização de todos os pontos de luz, assim
uma pequena adaptação nos pontos de luz seria necessária.
Previram-se a troca de todos os soquetes E27 para ambas as lâmpadas, visto que é
exigência do fabricante para manutenção da garantia das mesmas. O soquete consiste em
plástico injetado e desenvolvido para uma melhor vedação. O valor dos soquetes está incluso
no item “Custo Diferença de Instalação Elétrica”, o qual é composto por materiais e mão de
obra. Outro custo considerado foi o preço do dimer (regulador de intensidade luminosa), que é
o equipamento responsável pelo controle de iluminância (0 a 100%).
O custo com energia foi atualizado para atender ao objetivo do presente estudo e
apresentado em dólar para facilitar comparação com estudos de outros países. A diferença de
consumo de 72,73% menor para o LED representa U$709,16 de economia anual com
eletricidade. A diferença de kWh que o sistema em LED economizou (4.491 kWh/ano), assim
como o valor com substituição de lâmpadas LFC que o produtor deixaria de custear, foram
considerados como benefícios incrementais no caixa do produtor.
O período dos projetos foi relacionado à vida útil de cada lâmpada. Assim, como o
LED1 tem vida útil conforme o fabricante de 30.000 h a um consumo médio de 6.175 h anuais,
foi estimado o período aproximado de 5 anos de vida útil deste projeto, conforme demonstrado
na Tabela 3.
Tabela 3. Fluxos de Caixas dos projetos de investimentos avaliados a valores presentes líquidos
FLUXO DE CAIXA PARA ILUMINAÇÃO COM LED 1
Economia Economia
CI em LFC CI em LED Diferença com energia com subst. de Benefícios CS de LED Invest. FC FC
Ano (em kWh) (em kWh) (em kWh) (em U$) LFC (em U$) (em U$) (em U$) (em U$) Líquido Acumulado
0 6.175 1.684 4.491 -2.386,75 -2.386,75 -2.386,75
1 6.175 1.684 4.491 709,17 384,84 1.094,01 1.094,01 -1.292,74
2 6.175 1.684 4.491 709,17 384,84 1.094,01 1.094,01 -198,73
3 6.175 1.684 4.491 709,17 384,84 1.094,01 108,72 985,28 786,55
4 6.175 1.684 4.491 709,17 384,84 1.094,01 108,72 985,28 1.771,83
5 6.175 1.684 4.491 709,17 384,84 1.094,01 108,72 985,28 2.757,11

FLUXO DE CAIXA PARA ILUMINAÇÃO COM LED 2


Economia Economia
CI em LFC CI em LED Diferença com energia com subst. de Benefícios CS de LED Invest. FC FC
Ano (em kWh) (em kWh) (em kWh) (em U$) LFC (em U$) (em U$) (em U$) (em U$) Líquido Acumulado
0 6.175 1.684 4.491 -3.325,08 -3.325,08 -3.325,08
1 6.175 1.684 4.491 709,17 384,84 1.094,01 1.094,01 -2.231,08
2 6.175 1.684 4.491 709,17 384,84 1.094,01 103,13 990,87 -1.240,20
3 6.175 1.684 4.491 709,17 384,84 1.094,01 206,26 887,74 -352,46
4 6.175 1.684 4.491 709,17 384,84 1.094,01 206,26 887,74 535,28
CI = Consumo iluminação; CS: custo com substituição; FC = Fluxo de Caixa
Fonte: dados da pesquisa (2019)
Destaca-se o custo de substituição das lâmpadas após o período de garantia do
fabricante. Para o LED1 foi considerado o custo de substituição de 12 lâmpadas anuais a partir
do terceiro ano, pois conforme relatado por Rosa et al. (2017), foi observado a falha de 2
lâmpadas em média por lote. Já para o LED2, considerou-se no período 2, após os 18 meses de
garantia, a falha de 6 lâmpadas, e para os períodos restantes 12 lâmpadas.
A taxa mínima de atratividade (TMA) do projeto foi determinada pelo custo de capital
próprio, o qual foi obtido pelo método CAPM por benchmarking. Como o projeto avaliado é
do setor avícola, o CAPM baseou-se em uma empresa do mesmo setor de capital aberto. Posto
isso, a TMA assumiu as seguintes premissas em sua composição: a) A taxa livre de risco global
(Rf): representa a taxa de retorno sobre um ativo livre de risco. Neste caso foi considerada a
taxa dos títulos públicos americanos com prazo de resgate em 10 anos (T-bonds), a qual estava

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fixada em 2,07% ao ano, obtida em 25/06/2019 (https://www.federalreserve.gov/releases/h15/);
b) O beta de empresa comparável no mercado global (β): o beta da empresa local utilizada como
referência neste estudo foi de 0,4, obtido em 25/06/19 (https://br.investing.com/equities/jbs-on-
nm); c) O prêmio de risco de mercado local (Rm-Rf): a taxa considerada foi de 8,6%, de acordo
com as taxas apresentadas por Fernandez et al. (2019); d) O risco do país: considerou-se o
índice EMBI+. Na estimativa do custo de capital deste estudo a taxa de Risco-Brasil utilizada
foi de 2,36%, obtida em 21/06/2019.
Considerando-se as referidas taxas assumidas aplicadas ao Modelo CAPM, obteve-se a
TMA de 7,71% (TMA = 2,07% + (0,4 × 8,2%) + 2,36%). Após a determinação da TMA foi
possível obter os resultados dos demais indicadores propostos, conforme Tabela 5.
Tabela 5. Indicadores econômicos dos projetos avaliados
VPL (em U$) ROI TIR EVA
LED1 1.772,11 74,25% 34% 1.588,09
LED2 -85,29 -3,59% 7% -375,19
Fonte: dados da pesquisa (2019)
O projeto LED1 obteve VPL de U$ 1.772,11 e demais indicadores apresentam
viabilidade econômica do projeto. O Valor Econômico Agregado ao final do período será de
U$ 1.588,09. Já o projeto LED2 apresentou indicadores que o inviabilizam economicamente:
VPL negativo; ROI negativo; TIR (7%) menor que a TMA (7,71%); e, EVA negativo, o que
significa que o projeto está destruindo valor do empreendimento.
De acordo com os dados de consumo da granja pesquisa, o LED entregou 72,73% de
economia de energia em relação ao sistema LFC comparado. Este resultado esteve acima do
percentual de economia informado por Watkins (2011), o qual indicou que o LED poderia
economizar até 60% em comparação com as antigas incandescentes, as quais já estão fora do
mercado brasileiro desde 2010. Segundo Benson et al. (2013), o consumo do LED em condições
de alojamento foi de 33% menor que a incandescente.
Observa-se que a tarifa de energia para o estado federativo em que se realizou o estudo
(MS) aumentou aproximadamente 60% em cinco anos. A tarifa utilizada por Rosa et al. (2017)
era de U$ 0,098 (R$ 0,38) e passou para U$ 0,158 (R$ 0,61). O aumento do custo de energia
eleva os benefícios esperados, pois a economia que o sistema de iluminação LED proporciona
será ainda maior.
A análise de sensibilidade do preço da lâmpada LED apresentada por Rosa et al. (2017),
a qual indicou que a partir da redução de 35% do preço da lâmpada o projeto passaria a ser
viável, corroborou com o presente estudo, pois verificou-se que a diminuição do valor da
lâmpada, nos patamares estimados, resultou em viabilidade econômica do projeto de menor
investimento inicial (LED1).
Neste sentido, Watkins (2011) observa que melhorias na iluminação não devem ser
apenas benéficas para as aves, mas também eficientes no consumo de energia para minimizar
os custos de produção. Bailey et al. (2008) verificaram o uso e o interesse de produtores rurais
em opções de energia eficiente e renovável em fazendas canadenses. Os agricultores que já
utilizavam iluminação eficiente apresentavam maior probabilidade de estarem interessados em
implementar opções para eficiência energética ou em adotar tecnologias de energia renovável,
contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável no setor pecuário.

5 Conclusões
Analisar a eficiência energética da lâmpada, sem considerar a avaliação econômica do
capital investido, é insuficiente para se determinar a viabilidade da implantação de sistema de
iluminação LED em aviários que já possuem iluminação LFC.
A opção por substituição de iluminação LFC por LED pode ser viável economicamente,
a depender do valor total do projeto, o qual deverá analisar as especificações técnicas, qualidade
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e quantidades da lâmpada, e também o dimer a ser instalado. Os resultados indicam que um
projeto bem planejado e com pesquisa de mercado criteriosa podem trazer retornos econômicos
consideráveis ao produtor.
Métodos de avaliação econômica de investimentos devem ser utilizados na definição do
projeto de iluminação em LED das granjas avícola, a fim de se obter a maior eficiência
energética da produção e o maior valor econômico agregado para o produtor.

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Agricultura Inteligente no Agronegócio do Futuro: contexto e desafios

Smart Farming in Agribusiness of the future: context and challenges

Sara Cristiane Machado Vaz1, Pedro Eduardo Volpato Júnior2, Victor Fraile Sordi3

Resumo
A agricultura inteligente, ciência que combina as vantagens oferecidas pelas novas tecnologias com a indústria
agrícola já consolidada, oferece uma nova concepção de fazenda, com intensiva aplicação de tecnologias de
informação e comunicação. Suas práticas são reconhecidas como saída para o crescente desafio de produzir mais
alimentos utilizando menos recursos, além de satisfazer a novos e exigentes padrões de consumo mais sustentável.
Embora os potenciais benefícios da adoção massificada do modelo de agricultura inteligente sejam reconhecidos
por todos os setores do agronegócio mundial, há ainda uma série de gargalos e desafios a serem superados para
que essas práticas sejam implementadas e disseminadas. Este estudo buscou evidenciar o atual contexto da
agricultura inteligente no cenário estabelecido pelas Agtechs e apresentar os principais desafios para adoção
massificada dessas práticas. Empregou-se uma revisão sistemática integrativa de publicações disponíveis nas bases
de dados: Scopus, Web of Science, Science Direct; Spell; Scielo e Google Acadêmico. Os resultados apontam um
contexto cada vez mais favorável à adoção de práticas de agricultura inteligente, no entanto, revelam haver ao
menos 10 desafios a serem ultrapassados para o seu desenvolvimento.

Palavras-chave: Fazendas Inteligentes; Agtech; Agritechs; Agricultura 4.0; Agricultura Digital.

Abstract
Smart Farming, a science that combines the advantages offered by the new technologies with the already
consolidated agricultural industry, offers a new conception of farm, with intensive application of information and
communication technologies. The market already recognizes these practices as a way out of the growing challenge
of producing more food using less resource, in addition to meeting new and demanding standards of more
sustainable consumption. Although the global agribusiness sectors recognize the potential benefits of mass
adoption of the smart agriculture model, there are still a number of challenges for the implementation and
dissemination of these practices. This study aimed to highlight the current context of smart agriculture in the
scenario established by Agtechs and present the main challenges for mass adoption of these practices. An
integrative systematic review of publications available in the following databases: Scopus, Web of Science,
Science Direct; Spell; Scielo and Google Scholar. The results point to an increasingly favorable context for the
adoption of smart agriculture practices, however, reveal that there are at least 10 challenges to its full
development.

Keywords: Smart Farms; Agtech; Agritechs; Agriculture 4.0; Digital Agriculture.

1 Introdução

Estima-se que a população mundial atingirá a marca de 9,6 bilhões de pessoas até 2050.
Nessas circunstâncias, a produção de alimentos deverá aumentar em 70% para satisfazer à nova
demanda (COLEZEA at al., 2018). Ao passo que a demanda por alimentos aumentará
substancialmente, a pressão pública, de diferentes stakeholders, por sistemas produtivos mais
sustentáveis, menos agressivos ao meio ambiente, com menor utilização de recursos naturais,
já faz parte das preocupações do setor do agronegócio a algum tempo.

1Graduanda em Administração/UFMS - saracristiane.mvaz@gmail.com


2
Graduando em Administração/UFMS - pedro.volpatojr@gmail.com
3
Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento/UFMS- victor.sordi@ufms.br
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É nesse contexto complexo e desafiador que surgem as startups do agronegócio.
Conhecidas pelos termos: Agtechs, Agritechs ou mesmo Agrotechs, essas empresas de base
tecnológica, focadas em soluções para o agronegócio, estão transformando as fazendas em
laboratórios ao ar livre (WALTZ, 2017). As chamadas “fazendas inteligentes” (COLEZEA at
al., 2018).
Essas fazendas inteligentes estão mudando a habitual “paisagem” dos campos pelo
mundo. Agora, drones e robôs itinerantes circulam por campos abertos, capturando imagens de
alta resolução de plantas (LOTTES et al., 2017). Imagens de satélite identificam pontos de
acesso e através de georeferenciamento, as máquinas podem ser operadas remotamente.
Sensores rastreiam condições de campo, solo, água e nutrientes (MUANGPRATHUB et al.,
2019). Todo esse conjunto de operações estão conectados pela chamada Internet das Coisas
(FANG et al., 2014), e, geram uma infinidade de dados que são analisados em nuvem por
sofisticados sistemas de análise de Big Data (WOLFERT et al., 2017). Esses dados são
apresentados aos agricultores em dispositivos móveis em tempo real (WALTZ, 2017).
Essa nova concepção de fazenda, com intensiva aplicação de tecnologias de informação
e comunicação, é um fenômeno conhecimento como agricultura inteligente. Pode-se definir a
agricultura inteligente como uma ciência que combina as vantagens oferecidas pelas novas
tecnologias com a indústria agrícola já consolidada (COLEZEA at al., 2018).
Apesar de não se tratar de um conceito novo, a pesquisa nesta área ganhou força
recentemente com o advento de novas tecnologias que tornam possíveis seus principais
objetivos. Dentre eles, estão: criar um novo estilo de gestão de culturas para aumentar a
produtividade, otimizar o plantio e a colheita, além de reduzir a poluição e o impacto ambiental
(COLEZEA at al., 2018).
Embora os potenciais benefícios da adoção massificada do modelo de agricultura
inteligente estejam cada vez mais reconhecidos por todos os setores do agronegócio mundial
(REGAN, 2019), há ainda uma série de gargalos e desafios a serem superados para que essas
práticas sejam implementadas e disseminadas, e, a alta demanda atual e futura por alimentos,
além de fibras e combustíveis, seja satisfeita.
Este estudo buscou evidenciar o atual contexto da agricultura inteligente no cenário
estabelecido pelas Agtechs e apresentar os principais desafios para adoção massificada dessas
práticas.

2 Procedimentos Metodológicos

Empregou-se uma revisão sistemática integrativa de publicações disponíveis nas bases


de dados internacionais: Scopus, Web of Science, Science Direct; e nacionais: Spell e Scielo,
abrangendo, em um primeiro momento, somente artigos científicos em periódicos que
tratassem de agtechs e agricultura inteligente (Smart Farming). Identificou-se incipiência de
publicações em português sobre ambas as temáticas, sendo que, existem pouquíssimas
publicações que tratam sobre as agtechs e sobre o mercado Agtech em todas as bases de dados
utilizadas, nacionais e internacionais.
Dessa forma, no caso da temática das agtechs, modificou-se a abrangência das buscas
para relatórios, white papers, work papers, artigos de congressos, dissertações e teses, dentre
outros formatos, incluindo buscas no Google Acadêmico. Na tabela 1, apresenta-se os detalhes
das buscas utilizadas.

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Tabela 1: Protocolo de Busca da Revisão Sistemática
Tipo de Documentos
Base de Dados Descritores Escopo Intervalo Entradas
Documento relevantes

Título, resumo e
Scopus “Agtech” or “agritech” Todos - 33 0
palavras-chave

“Smart farming” or “Smart Título, resumo e Artigos e


Scopus 2015-2019 165 7
Farm” palavras-chave Revisões

Web of Science “Agtech” or “agritech Tópico Todos - 27 2

“Smart farming” or “Smart Artigos e


Web of Science Tópico 2015-2019 86 9
Farm” Revisões

Artigos e
Science Direct “Agtech” or “agritech” - 2015-2019 129 1
Revisões

“Smart farming” or “Smart Artigos e


Science Direct - 185 14
Farm” Revisões

“Fazendas inteligentes” ou
Spell Resumo - - 0 0
“agricultura inteligente”

Spell “startups”+ “agronegócio” Resumo - - 0 0

“Fazendas inteligentes” +
Scielo Todos os índices - - 1 0
“agricultura inteligente”

Scielo “startups”+ “agronegócio” Todos os índices - - 0 0

Google
“Agtech” or “Agritech” - - 2014-2019 621 10
Acadêmico

Google
“startups” + “agronegócio” - - - 51 3
Acadêmico

Total de Documentos Relevantes 28*

*há documentos que estão em mais de uma base de dados

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

As publicações selecionadas, foram analisadas na integra em busca de: (a) explicitar o


atual contexto da agricultura inteligente no cenário estabelecido pelas Agtechs e (b) apresentar
os principais desafios para adoção massificada dessas práticas. Os resultados desta revisão são
apresentados a seguir.

3 As Demandas do Agronegócio do Futuro

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Como já supracitado, estima-se que o crescimento populacional aumentará
substancialmente a demanda por alimentos (COLEZEA at al., 2018). Nesse caso, o agronegócio
e suas cadeias produtivas necessitarão aumentar sua capacidade produtiva em cerca de 70%.
Conjuntamente ao crescimento populacional, em alguns países em desenvolvimento,
novas camadas de populações mais vulneráveis socioeconomicamente estão ingressando
rapidamente ao mercado, aumentando sensivelmente o consumo per capto de produtos
alimentícios (SAATH; FACHINELLO, 2019).
Somadas a essa conjuntura de expansão de mercado consumidor e aumento
populacional, novos padrões de consumo exigem das cadeias produtivas outras preocupações
além do aumento da produtividade, como a preferência por produtos orgânicos (RANA; PAUL,
2017), a busca por alimentos funcionais (ZHANG et al., 2018), foco nas certificações e
rastreabilidade (MCCARTHY; LIU; CHEN, 2016), dentre outros fatores potenciais que
exigirão investimentos ao longo de todos os elos dessas cadeias.
Dessa maneira, para a Food and Agriculture Organization (FAO), a saída para o
agronegócio é inovar, sobretudo, com a adoção massificada das práticas de agricultura
inteligente (COLEZEA at al., 2018). O que pode ser acelerado pela consolidação do mercado
Agtech.
4 O contexto estabelecido pelas Agtechs

As agtechs, startups do segmento do agronegócio, surgiram para suprir necessidades de


maior produtividade, controle, precisão, predição, assim, como auxiliar na tomada de decisões,
de agricultores, pecuaristas, agroindústrias, varejistas de alimentos, e demais elos das cadeias
produtivas, por intermédio de soluções tecnológicas aplicadas as diversas atividades desses
agentes (BLANCO, 2019).
O ainda pequeno (em comparação a outros setores consolidados), mas crescente
segmento Agtech, é um universo de startups, aceleradoras, fundos de investimento e de capital
de risco, que visa o desenvolvimento ou “disrupção” da indústria global de alimentos
(AGFUNDER AGRIFOOD TECH, 2018).
Com o desenvolvimento de tecnologias recentes como internet das coisas (IoT), Análise
de Big Data, Blockchain, avanços nas áreas de mineração de dados, computação em nuvem,
biotecnologia, nanotecnologia e robótica (DE CLERQ; VATS; BIEL, 2018; KIMLE, 2018),
esse mercado está em franca ascensão, com aumentos vertiginosos em investimentos e
acelerado processo de criação de novos negócios (AGFUNDER AGRIFOOD TECH, 2018).
Na figura 1, apresenta-se as principais categorias e áreas de atuação dessas empresas no
mercado atual, tanto a jusante (depois da fazenda) como a montante (antes e na fazenda),
segundo a classificação do relatório AgFunder AgriFood Tech (2018).

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Figura 1 – Principais categorias de Agtechs e
áreas de atuação

Fonte: Adaptado de AgFunder AgriFood Tech (2018)

Observa-se na Figura 1, que essas startups possuem potencial de influenciar todos os


elos das cadeias produtivas do agronegócio. Mais especificamente no âmbito do modelo de
agricultura inteligente, esse setor possui um alto potencial direto de transformação, com a
aplicação intensiva de inovações tecnológicas no campo, seja na produção, no manejo, na
distribuição, venda ou gestão desses empreendimentos.
5 Os desafios para a Agricultura Inteligente

A Agricultura Inteligente (Smart Farming) prevê o aproveitamento das tecnologias de


informação e comunicação como um facilitador das atividades de organizações agrícolas, as
tornando mais eficientes, produtivas e rentáveis (O'GRADY; O'HARE, 2017). A terminologia
“smart farming” é um domínio relativamente novo que alcançou uma certa popularidade no
atual contexto do agronegócio. Surgiu da necessidade de produzir mais com menos esforço e
consiste em integrar tecnologias modernas na agricultura convencional para elevar a qualidade
e a quantidade de produtos agrícolas (COLEZEA at al., 2018).
O desenvolvimento contínuo das tecnologias de informação e comunicação (TIC’s)
oferecem um potencial significativo para o gerenciamento de informações em todo os tipos de
organizações, inclusive nas fazendas. As novas tecnologias de detecção oferecem aos
agricultores a capacidade de monitorar suas fazendas com um nível de detalhe sem precedentes,
em uma multiplicidade de dimensões e em tempo real. Há agora a possibilidade de desenvolver
modelos específicos de “fazendas inteligentes” em que o agricultor pode planejar suas
atividades em resposta às diversas mudanças nas circunstâncias e condições, possibilitando
tomadas de decisão mais assertivas e ágeis (O'GRADY; O'HARE, 2017).

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Embora já existam tecnologias para sustentar o conceito de agricultura inteligente
(COLEZEA at al., 2018), a adoção por fazendeiros e empreendimentos agrícolas depende de
uma série de fatores adicionais (O'GRADY; O'HARE, 2017).
O Quadro 1 elenca os principais desafios para o desenvolvimento da agricultura
inteligente identificados nas publicações consultadas.

Quadro 1: Desafios ao desenvolvimento da Agricultura Inteligente


Desafios Significado Estudos
Conciliar sustentabilidade com produtividade, O’grady e O’hare (2017);
Intensificação Sustentável fatores econômicos, sociais e impacto Van der Burg, Bogaardt e
ambiental. Wolfert (2019)

Capacidade de manipular e processar um


Limitações de Processamento O’grady e O’hare (2017);
grande contingente de dados de diversos
de Dados Pivoto et al. (2018)
formatos e origens.

Compreensão detalhada das necessidades,


O’grady e O’hare (2017);
Centralidade no Usuário interações e contextos operacionais
Regan (2019)
específicos dos agricultores.

Conciliar a redução de encargos para usuários


Tomada de Decisão agricultores, simultaneamente à eficácia de
O’grady e O’hare (2017)
Sustentável qualquer tomada de decisão, apresenta
desafios específicos.

Adaptação ideal dos processos, recursos


Integração e Adaptação dos humanos e tecnologias com as diferentes Eastwood et al. (2019);
Agentes e Tecnologias atividades agrícolas e maior integração entre Pivoto et al. (2018)
tecnologias e sistemas.

Jakku et al. (2018); Regan


Relutância dos Agricultores Ausência de estruturas legais e regulatórias (2019); Van der Burg,
em Compartilhar Dados em torno de dados agrícolas. Desconfiança. Bogaardt e Wolfert (2019);
Wiseman et al. (2019)

Possíveis resistências dos consumidores com


Rejeição de Tecnologias pelos produções nano tecnológicas, melhoramento
Regan (2019)
Consumidores genético, utilização de drones e outras
tecnologias intrusivas.

Possíveis desigualdades. Muitas tecnologias Jakku et al. (2018); Regan


Distribuição de Riscos e
de agricultura inteligente ainda são onerosas e (2019); Van der Burg,
Benefícios
proibitivas para muitos agricultores. Bogaardt e Wolfert (2019)

Cobertura de Rede de telefonia móvel e o


Limitações de Infraestrutura Jakku et al. (2018); Pivoto
acesso à internet em zonas rurais são gargalos
Digital et al. (2018)
para o desenvolvimento.

Nível de escolaridade e qualificação no campo


Educação e Conhecimento dos
ainda é um fator limitador para a aplicação das Pivoto et al. (2018)
Agricultores
soluções tecnológicas disponibilizadas.

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

O desafio da intensificação sustentável, refere-se a crescente pressão por sistemas


agrícolas mais produtivos e ao mesmo tempo menos impactantes ao meio ambiente. Sistemas

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mais responsáveis economicamente, socialmente e ambientalmente (O’GRADY; O’HARE,
2017; VAN DER BURG, BOGAARDT; WOLFERT, 2019).
Já o desafio das limitações de processamento de dados, refere-se a crescente demanda
por uma alta capacidade de processamento de dados em tempo real para suprir as necessidades
de uma fazenda inteligente. No campo, essas limitações ainda são mais substanciais devido as
fragilidades de infraestrutura (O’GRADY; O’HARE, 2017; PIVOTO et al., 2018).
O desafio da centralidade no usuário, refere-se à necessidade de concepção e adaptação
dos sistemas às diferentes necessidades de agricultores e culturas. Há uma diversidade imensa
de interações e contextos operacionais específicos entre agricultores. Nessas condições as
soluções devem ser centralizadas nos diferentes usuários, exigindo um nível adequado de
personalização dos serviços (O’GRADY; O’HARE, 2017; REGAN, 2019).
Já o desafio que se refere à tomada de decisão sustentável, trata-se da necessidade de
eficácia e eficiência no auxílio às decisões dos usuários. A fazenda inteligente é vista como
uma infraestrutura cyber física para a agricultura de precisão, onde existem oportunidades para
a tomada de decisões autônomas. No entanto, para explorar plenamente o potencial das novas
tecnologias, é necessário projetar as interações entre homem e máquina. Muitas tecnologias
afirmam ser centradas no ser humano, embora, no caso de gestão e tomada de decisão, o
humano é frequentemente considerado como um elemento externo. Conciliar o desejo de
automatização e praticidade para o usuário, garantindo simultaneamente a eficácia de qualquer
tomada de decisão humana necessária, apresenta desafios específicos. (O’GRADY; O’HARE,
2017).
O desafio de integração e adaptação dos agentes, refere-se à necessidade de maior
adaptação dos processos, recursos humanos e tecnologias com as diferentes atividades
agrícolas, além de uma busca incessante por integração entre as diferentes soluções e
tecnologias que ainda estão muito desconectadas entre si (EASTWOOD ET AL., 2019;
PIVOTO et al., 2018).
Já o desafio referente a relutância dos agricultores em compartilhar dados, trata-se da
desconfiança dos usuários quanto a utilização de seus dados disponibilizados nessas
plataformas. Há ainda uma ausência generalizada de estruturas legais e regulatórias em torno
de dados agrícolas (JAKKU et al., 2018; REGAN, 2019; VAN DER BURG, BOGAARDT;
WOLFERT, 2019; WISEMAN et al., 2019).
O desafio da possível rejeição de tecnologias pelos consumidores, refere-se à
possibilidade de, ao menos parte dos consumidores, oferecerem resistência ao consumo de
produtos oriundo de produções nano tecnológicas, ou com intensificação de melhoramento
genético, ou mesmo, à aversão a utilização de drones e outras tecnologias intrusivas (REGAN,
2019).
Já a o desafio referente a distribuição de riscos e benefícios, trata-se ainda da falta de
compreensão dos riscos inerentes ao investimento nesses sistemas intensivos em tecnologias e,
também, de quais os reais agentes que irão capturar valor nesse novo cenário. Argumenta-se
que poderá haver uma intensificação de desigualdades entre produtores e grandes corporações,
ou entre grandes e pequenos produtores. Muitas tecnologias de agricultura inteligente ainda são
onerosas e proibitivas para parte dos envolvidos (JAKKU et al., 2018; REGAN, 2019; VAN
DER BURG, BOGAARDT; WOLFERT, 2019).
O desafio a que se refere às limitações de infraestrutura digital, advêm da falta de
cobertura de rede de telefonia móvel em zonas rurais, além das dificuldades de acesso à internet
de qualidade no campo (JAKKU et al., 2018; PIVOTO et al., 2018).
E, finalmente, o desafio que se refere à educação e conhecimento dos agricultores, trata-
se da frequente realidade dos agricultores, quanto ao nível de escolaridade e qualificação no
campo. Carências nesses aspectos ainda conjecturam um fator limitador para a aplicação das

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soluções tecnológicas disponibilizadas. Que geralmente necessitam de conhecimentos técnicos
e sofisticados sobre as ferramentas, aparelhos e interfaces (PIVOTO et al., 2018),
6 Considerações Finais

Este estudo buscou evidenciar o atual contexto da agricultura inteligente no cenário


estabelecido pelas Agtechs e apresentar os principais desafios para adoção massificada dessas
práticas. Os resultados da revisão sistemática integrativa aplicada, apontam um contexto cada
vez mais favorável à adoção de práticas de agricultura inteligente, devido, tanto à variedade e
velocidade na criação de negócios no segmento do agronegócio, em todos os elos das cadeias
produtivas, como também à crescente percepção de benefícios na contratação desses serviços
por parte dos agricultores e demais stakeholders.
No entanto, há ainda uma série de desafios a serem ultrapassados. Os resultados do
estudo apontam ao menos 10 desafios para o desenvolvimento da agricultura inteligente no
contexto atual: (1) Intensificação Sustentável, (2) Limitações de Processamento de Dados, (3)
Centralidade no Usuário, (4) Tomada de Decisão Sustentável, (5) Integração e Adaptação dos
Agentes e Tecnologias, (6) Relutância dos Agricultores em Compartilhar Dados, (7) Rejeição
de Tecnologias pelos Consumidores, (8) Distribuição de Riscos e Benefícios, (9) Limitações
de Infraestrutura Digital e (10) Educação e Conhecimento dos Agricultores.
Nesse caso, pesquisas que se aprofundem nessas questões são necessárias para que os
benefícios potenciais dessas práticas sejam capturados por todas as cadeias produtivas,
deixando o agronegócio cada vez mais produtivo, eficiente, intensivo em dados e
conhecimentos, e, principalmente, sustentável.

Referências

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Bem-Estar em Bovinos: Análise das Famílias de Patentes
Welfare in Cattle: Analysis of Patent Families
Lucas Braido Pereira1, Odilene de Souza Teixeira2, Alice Munz Fernandes3, Antonio Luiz
Fantinel4

Resumo
O objetivo deste estudo consistiu em analisar os documentos de famílias de patentes relacionadas a bem-estar
animal em bovinos. Para isso, realizou-se uma busca na base de patentes Questel Orbit, cuja estratégia consistiu
na existência, no título e/ou resumo, dos seguintes termos: behavior, bovine, beef cattle, beef cal+, well being,
cattle, welfare e animal welfare. A investigação correspondeu ao período compreendido desde o início dos
registros até agosto de 2019. Dessa forma, obteve-se um portfólio inicial composto por 272 registros, destes 77
documentos eram concernentes a bovinos, com intervenções diretas ou indiretas na otimização do bem-estar. Para
análise dos dados utilizaram-se aspectos quantitativos. Além disso, o portfólio analisado considerou os pilares da
produção animal, quais sejam: nutrição, sanidade, melhoramento genético e manejo, acrescidos de instalações,
indicadores de bem-estar animal e rastreabilidade. O maior número de famílias de patentes correspondem às áreas
de instalações rurais, nutrição animal, sanidade e novos indicadores de bem-estar, totalizando 49%. A distribuição
temporal dessas famílias de patentes demostra que o interesse dos pesquisadores sobre a temática de bem-estar
iniciou-se em 2013 e a expressividade desse assunto destaca-se a partir de 2015. Salienta-se ainda que o maior
registro de famílias de patentes advém da China (51%), seguido pelos Estados Unidos da América (19%), ao passo
que o Brasil representa apenas 6% do total dos documentos. Apesar dos recentes registros relacionados as famílias
de patentes sobre aos bovinos, observa-se uma ascensão nos últimos anos, denotando a conscientização desta
cadeia produtiva sobre a temática bem-estar animal.
Palavras-chaves: indicadores de bem-estar, instalações, nutrição, prospecção tecnológica

Abstract
The aim of this study was to analyze the documents of patent families related to animal welfare in cattle. For this,
a search was carried out in the Questel Orbit patent database, whose strategy consisted of the existence, in the
title or abstract, of the following terms: behavior, bovine, beef cattle, beef cal +, well being, cattle, welfare and
animal welfare. The investigation corresponded to the period from the beginning of the registrations until August
2019. Thus, an initial portfolio of 272 registrations was obtained. Of these 77 documents were concerned with
cattle, with direct or indirect interventions in the optimization of welfare. For data analysis, quantitative aspects
were used. In addition, the portfolio analyzed considered the pillars of animal production, namely: nutrition,
health, genetic improvement and management, plus facilities, animal welfare indicators and traceability. The
largest number of patent families correspond to areas of rural facilities, animal nutrition, health and new welfare
indicators, totaling 49%. The temporal distribution of these patent families shows that the interest of researchers
on the welfare theme began in 2013 and the expressiveness of this subject stands out from 2015. It is also noted
that the largest record of patent families comes from China (51%), followed by the United States of America
(19%), while Brazil represents only 6% of the total documents. Despite recent records related to patent families
on cattle, there has been a rise in recent years, indicating the awareness of this production chain on the subject
animal welfare.
Keywords: welfare indicators, facilities, nutrition, technological prospection

1 Introdução

As pesquisas em bem-estar animal (BEA) iniciaram-se em resposta aos


questionamentos sobre como as intervenções humanas influenciam no bem-estar ou na
qualidade de vida dos animais (FRASER, 2018). O estudo dessa temática maximizou-se nas
últimas três décadas, com aumento expressivo recentemente, o que pode ser justificado pelas
novas exigências e demandas dos consumidores (SASSI; AVERÓS; ESTEVEZ, 2016).
Sob esta perspectiva, tem-se que estimativas de maximização na demanda por produtos
de origem animal para as próximas décadas (FAO, 2017) tem estimulado o desenvolvimento

1
Bacharelado em Zootecnia / braidopereira@gmail.com
2
Bacharelado em Zootecnia / NESPro/UFRGS – odilene_rs@hotmail.com
3
Bacharelado em Administração / CEPAN/UFRGS – alicemunz@gmail.com
4
Tecnólogo em Agronegócios / CEPAN/UFRGS – tonifantinel@gmail.com
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de inovações tecnológicas voltadas para a pecuária de precisão, que englobam aspectos
concernentes a produtividade e gestão, sem descuidar do bem-estar animal (HALACHMI et al.,
2019). Assim, as inovações bem-sucedidas podem “auxiliar a acelerar a melhoria e a
desenvolver o trabalho contínuo de maneiras mais eficientes e eficazes”, inclusive “fora da
fazenda” (PINILLOS, 2017, p. 550, tradução própria).
Logo, apesar desta temática permear distintas áreas do conhecimento e circunscrever
uma diversidade de estudos, possui maior aporte nos campos da fisiologia, genética, nutrição
e sociologia, por exemplo (KEYSERLINGK; WEARY, 2017). Com a intensificação da
produção animal, as preocupações inerentes ao bem-estar dos animais tem ocasionado
transformações nos modelos produtivos (FRASER, 2008), inclusive na bovinocultura, tanto
com aptidão para carne quanto para leite.
Não obstante, tem-se a maximização de esforços para tornar a produção animal mais
ética possível, pautada nos pressupostos do bem-estar (FRASER, 2018). Neste contexto,
emergem inovações tecnológicas (MANCINI et al., 2018), cuja análise de prospecção
possibilita identificar o desenvolvimento de tecnologias, mapear potenciais mercados e
verificar a evolução e potencial tecnológico do setor (LINHARES et al., 2018). Como
consequência de tal fenômeno, tem-se a promoção de benefícios econômicos e sociais
(ANDRADE et al., 2017).
Ante ao exposto, a pesquisa realizada teve como objetivo analisar os documentos de
famílias de patentes relacionadas a bem-estar animal em bovinos. Como justificativa para esta
circunscrição tem-se que as patentes configuram-se como um dos principais indicadores de
desenvolvimento tecnológico por indicar o estágio de desenvolvimento de determinado setor
(VINCENT et al., 2017), apresentando informações relevantes para as distintas esferas sociais,
tais como indústria, mercado e setor público (TSENG; LIN; LIN, 2007). Assim, correspondem
a “uma maneira de identificar e comparar contribuições do conhecimento científico e técnico
para o desenvolvimento tecnológico” (TUSSEN; BUTER; VAN LEEUWEN, 2000, p. 389,
tradução própria).
2 Referencial Teórico

Os segmentos da cadeia produtiva da carne bovina ou do leite estão passando por


desafios, pois os padrões de vida das pessoas estão mudando. Deste modo, demandas por
alimentos passam a ser fundamentadas por questões morais e éticas (UFER; ORTEGA; WOLF,
2019). Nesse contexto, os pesquisadores vem dispendendo esforços para compreender a
percepção dos indivíduos em relação ao bem-estar animal (EVANS; MIELE, 2019), e assim
aproximar o gestor rural do consumidor final.
Na busca por proporcionar bem-estar aos animais de produção, várias inovações
tecnológicas estão surgindo, a fim de gerenciá-lo, controlá-lo, mantê-lo, avaliá-lo e promove-
lo (MANCINI et al., 2018), visto que essas mudanças farão parte de todos os processos de
produção animal nos próximos anos. Embora os estabelecimentos de exploração de carne e leite
visem o bem-estar dos animais, torna-se fundamental a comprovação disso. Para exemplificar
esta situação tem-se a aceitação pelo consumidor por produtos certificados, ou seja, produtos
que passam por certificação do bem-estar, vistos como alimentos que utilizaram processos
dotados de maior adequação para serem produzidos, adquirindo maior credibilidade e aceitação
por parte do consumidor (UFER; ORTEGA; WOLF, 2019).
Em conformidade, um estudo sobre preferências de consumo baseadas em valores
humanos demostrou que 90% dos consumidores japoneses preferem adquirir produtos cárneos
que apresentem em seus rótulos informações sobre o bem-estar animal e práticas ambientais
(SONADA et al., 2018). Tal fenômeno, de certa forma, está relacionado com a busca por uma
produção sustentável, enfatizando que esse sistema deve ser atualmente aceitável e com

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reflexos igualmente aceitáveis futuramente, sobretudo no que concerne a disponibilidade de
recursos naturais (BROOM, 2019).
3 Procedimentos Metodológicos

Para a operacionalização desta pesquisa foi realizada uma busca na base de patentes
Questel Orbit que possui abrangência mundial e possibilita a mineração de dados por meio de
ferramentas analíticas específicas (VINCENT et al., 2017). Esta base configura-se como um
portal de propriedade intelectual que abrange mais de 90 escritórios e autoridades de patentes
do mundo todo (LI, 2018), com atualização diária (QUESTEL ORBIT, 2019).
A estratégia de busca empregada consistiu nos seguintes termos: ((behavior AND
(bovine OR beef cattle OR beef cal+)) OR ((well being AND (bovine OR beef cattle OR beef
cal+)) OR ((welfare AND (bovine OR beef cattle OR beef cal+ OR animal welfare)), na entrada
dos campos de título e resumo dos documentos de patentes. Operadores booleanos e de
truncamento foram usados para direcionar a busca. As buscas foram realizadas até 20 de agosto
de 2019.
Assim, obteve-se um portfólio inicial composto por 272 registros de famílias de
patentes. Estes documentos preliminarmente foram organizados por meio de uma planilha
eletrônica, considerando a diversidade de itens que integram e estabelecem padrões nos
registros de patentes, como por exemplo, data de prioridade, data de publicação, Classificação
Internacional de Patentes (do inglês International Patent Classification – IPC), Classificação
Cooperativa de Patentes (do inglês Cooperative Patent Classification – CPC), entre outros.
Em seguida, procedeu-se a leitura minuciosa dos resumos e das reinvindicações dos
documentos das famílias de patentes, a fim de identificar aqueles que referiam-se somente a
bovinos. Deste modo, 195 registros foram excluídos, pois apesar de atenderem aos critérios de
busca, eram concernentes a suínos, ovinos, frangos e animais de companhia. Logo, obteve-se
um portfólio composto por 77 documentos que possuem intervenções diretas ou indiretas para
a otimização do bem-estar em animais bovinos, a partir do qual procedeu-se a análise.
Para análise dos dados utilizaram-se aspectos quantitativos relacionados as distintas
variáveis contidas nos documentos de patentes, cuja operacionalização ocorreu mediante
planilhas eletrônicas e representações visuais geradas pela própria base de dados. Além disso,
o portfólio obtido foi analisado considerando os sete pilares da produção animal, quais sejam:
nutrição, sanidade, melhoramento genético e manejo, acrescidos de instalações, indicadores de
bem-estar animal e rastreabilidade ou certificação. A partir deste parâmetros, as famílias de
patentes foram classificadas considerando seu enquadramento em tais pilares.
4 Resultados e Discussão

A partir do portfólio obtido, verifica-se a distribuição das famílias de patentes sobre


bem-estar em bovinos nas sete áreas de classificação (Figura 1), as quais abrangem todos os
segmentos da cadeia produtiva, tanto dentro da fazenda quanto na indústria frigorífica até o
consumidor final. A principal área, com maior número de famílias de patentes, corresponde as
instalações rurais, que envolvem as inovações tecnológicas que visam empregar distintos
artefatos nas instalações a fim de analisar o status de bem-estar animal ou ainda as alterações
estruturais para a promoção do bem-estar. Na sequência, tem-se a nutrição animal, seguida pela
a sanidade e novos indicadores de bem-estar, os quais somam 49% das famílias de patentes.

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Figura 1 – Classificação dos registros de famílias de patentes a partir dos pilares da produção animal

Rastreabilidade e certificação Manejo


Melhoramento genético Indicadores de BEA
Sanidade Nutrição
Instalação
27%

3%

19% 12%

12%

14%
13%

Fonte: resultados da pesquisa (2019).

No que concerne as instalações, verifica-se que existem novidades em termos de


modificações das instalações de contensão dos animais no frigorífico, alterações das instalações
frigoríficas para abate religioso, modificações nas instalações de criação de bezerros, inserções
de dispositivos para promover a luminosidade correta nas instalações, transformações nas áreas
de descanso dos animais confinados com uso de camas ecológicas, emprego de sistema robótico
para a limpeza e esterilização das instalações, utilização de um dispositivo sonoro para
estimular os animais, entre outros.
Acerca dos aspectos nutricionais destacam-se novos alimentos, diferentes formas de
apresentação dos alimentos, novos aditivos alimentares e sistema automático para controlar e
gerenciar animais em pastejo, por exemplo. Na sanidade animal encontram-se
predominantemente as inovações farmacêuticas. Quanto aos indicadores de bem-estar dos
animais tem-se indicadores imunológicos, tais como a proteína soro amiloide A e o fator de
crescimento semelhante à insulina como elementos promissores na avaliação do bem-estar
animal, assim como novos métodos de avaliação de cortisol destinados à diferentes situações
de estresse. Também, encontra-se novas formas de indicar a condição de bem-estar do animal
durante o abate.
A distribuição temporal dessas famílias de patentes demostra que o interesse dos
pesquisadores sobre a temática de bem-estar em bovinos tem se intensificado ao longo dos anos,
haja vista uma maior concentração a partir de 2013 (Figura 2). Destaca-se também que este
assunto é relativamente recente em termos de prospecção tecnológica. Dentre as classificações
através dos pilares da produção animal, enfatiza-se a expressividade das famílias de patentes
relacionadas a busca por indicadores de bem-estar animal em 2015, assim como aquelas
concernentes às instalações.

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Figura 2 – Distribuição temporal dos registros de famílias de patentes a partir dos pilares da produção
animal

7
Nº de famílias de patentes

6
5
4
3
2
1
0
1995 2001 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2015 2016 2017 2018 2019
Ano de publicação da patente
Nutrição Indicadores de BEA Instalações
Manejo Sanidade Rastreabilidade e certificação
Melhoramento genético

Fonte: resultados da pesquisa (2019).

Na análise conjunta dos registros de famílias de patentes, independente da classificação,


destaca-se a China como o principal país prioritário (onde o registro de uma família de patentes
foi requerido primeiro) que representa 51% do total dos registros de famílias de patentes (Figura
3). Neste sentido, salienta-se que “o governo chinês adotou várias políticas para incentivar as
empresas comerciais do agronegócio a fazer mais inovações” (JIN et al., 2017, p. 438, tradução
própria). Como consequência, a partir de 2011 o país se tornou o líder mundial em
arquivamento de patentes, o que se justifica sobretudo pelo elevado investimento em Pesquisa
e Desenvolvimento (P&D) (CHEN; ZHANG, 2019).
Além da China, os Estados Unidos da América contribui com 19%, ao passo que o
Brasil representa apenas 6% similarmente a República da Coréia. Sendo assim, verifica-se que
as famílias de patentes estão majoritariamente predominantes em países em desenvolvimento
ou já desenvolvidos.

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Figura 3 – Países prioritários dos registros de famílias de patentes analisados

Fonte: resultados da pesquisa (2019).

No tocante aos países onde estas patentes foram protegidas, destaca-se igualmente a
China como o território com maior número de proteções (43 patentes), seguida pelos Estados
Unidos (18 patentes) e pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (17 patentes) via
Tratado de Cooperação em Patentes (do inglês Patent Cooperation Treaty – PCT) que
possibilita buscar simultaneamente proteção para uma invenção em um número elevado de
países que aderiram ao tratado (WIPO, 2019). Não obstante, ocupando o quarto lugar neste
ranking tem-se o Brasil onde 11 patentes foram protegidas.
No que se refere a classificação das tecnologias, verifica-se que as famílias de patentes
analisadas se enquadram em 17 domínios tecnológicos distintos (Figura 4), com destaque ao
grupo relacionado a outras máquinas especiais que engloba 40 documentos de famílias de
patentes. Nesse grupo estão tecnologias relacionadas ao manejo na atividade pecuária e
agrícola. Na sequência aparecem biotecnologia e química dos alimentos, com 13 registros cada.
Figura 4 – Domínios tecnológicos dos documentos de famílias de patentes analisados

Fonte: resultados da pesquisa (2019).


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A fim de estratificar de modo mais efetivo as famílias de patentes sobre bem-estar
animal em bovinos, procedeu-se com a verificação das classificações conforme o IPC. Deste
modo, constata-se que estes documentos apresentam 164 classificações diferentes que
pertencem a 37 subseções (Figura 5). Dentre estas, destaca-se justamente a Seção A, que refere-
se as necessidades humanas, com ênfase principalmente nas subseções A01K (pecuária;
tratamento de aves, peixes, insetos; piscicultura; criação ou reprodução de animais, não
incluídos em outro local; novas criações de animais) com 42 registros e A23K (produtos
alimentícios especialmente adaptados para animais; métodos especialmente adaptados para a
produção dos mesmos) que responde por 40 registros.

Figura 5 – Classificação IPC dos documentos de famílias de patentes analisados

Fonte: resultados da pesquisa (2019).

Ante ao exposto, constata-se que o bem-estar animal dos bovinos configura-se como
uma área com viés de expansão tecnológica, cujo desenvolvimento emergente reflete a
maximização das preocupações da sociedade e a busca pelo melhoramento dos processos de
produção ao longo de toda a cadeia produtiva animal. Todavia, não basta que existam
inovações, pois estas precisam ser conhecidas, acessadas e implementadas pelos produtores
rurais, frigoríficos e demais agentes envolvidos (GRANDIN, 2010).
Não obstante, reconhece-se que a falta de clareza na redação dos documentos de
famílias de patentes e a utilização, geralmente intencional, de uma diversidade de terminologias
para se referir à um mesmo assunto, apesar de configurarem-se como características comuns
deste tipo de registro (JUDEA; SCHÜTZE; BRÜGMANN, 2014) podem ter limitado a busca
e deixado de incluir outros documentos. Portanto, mesmo que a base de dados analisada seja
dotada de relevância, não pode-se assegurar que todo seu universo de registros tenha sido
compilado no portfólio obtido.
5 Conclusões

O registro de famílias de patentes relacionadas com a bovinocultura está em processo


de ascensão, com intensificação nas inovações tecnológicas relacionadas à área de instalação,
sanidade, nutrição e indicadores de bem-estar animal tanto dentro quanto fora da porteira. A
vista disto, tem-se a melhoria das condições aos animais de produção e também atender as
demandas da população por produtos que demostrem a sua preocupação ética e moral, com
respeito e zelo animal.
As famílias de patentes relacionadas ao bem-estar animal originaram-se em 2011 e
obtiveram destaque no número de registro em 2015, sendo que a China e os Estados Unidos da
América lideram os registros de patentes. Dentre as famílias de patentes a principal
classificação encontra-se em máquinas especiais, além disso de acordo com a classificação IPC,
as famílias de patentes referem-se as necessidades humanas.

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Portanto, a partir dessa análise detalhada das famílias de patentes, observa-se que o bem-
estar animal configura-se como uma inquietação de todos os envolvidos na cadeia produtiva
tanto da carne quanto do leite e possivelmente ocorrerão mudanças e adaptações a busca de
promover o máximo de conforto aos animais de produção.
Todavia, reconhecem-se as limitações do estudo quanto a busca em uma única base de
dados, que apesar de significativa e com abrangência mundial, não contempla todos os
documentos de patentes existentes. Para estudos futuros, recomenda-se a análise das empresas
e possíveis startups que desenvolveram ou financiaram as inovações analisadas, a fim de
verificar o estado da arte da tecnologia acerca do bem-estar animal.
Referências

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Biologia sintética e produção de alimentos: uma revisão da literatura
Synthetic biology and food production: a review of the literature
Adriane Bruchêz1, Laura Possani2, Ângela Rozane Leal de Souza3

Resumo
Devido às projeções de aumento populacional, que sugerem que a população mundial atingirá 8,6 bilhões de
pessoas até 2030, bem como a redução dos recursos naturais existentes, estudos sobre tecnologias de produção de
alimentos que minimizem os impactos ao meio ambiente, ao mesmo tempo em que atendem às demandas globais
de alimentos tornam-se relevantes. Neste contexto, desde 2010, com a criação do primeiro organismo vivo
controlado por um genoma sintético, cientistas de diversos países do mundo estudam alternativas de produção de
material energético e de alimentos através da biologia sintética. Portanto, o presente estudo buscou identificar
quais contribuições, reflexos, tendências e / ou desafios da biologia sintética na produção de alimentos por meio
de uma revisão da literatura. Como resultados, percebeu-se que houve avanços significativos em estudos que
buscam formas de produção de alimentos com o uso da biologia sintética, bem como com tecnologias que reduzem
o uso de recursos naturais e o impacto da produção agrícola sobre o meio ambiente. Os tópicos de segurança
alimentar, ética e percepção do consumidor quanto ao uso de tais tecnologias também são enfatizados pelos estudos
analisados. No entanto, os autores afirmam que há muito a ser feito no que tange a biologia sintética, em particular
a necessidade de testes experimentais em diferentes culturas e processos devido à segurança alimentar, bem como
estudos que viabilizem a industrialização de tais tecnologias.
Palavras-chave: Biologia sintética. Produção de alimentos. Segurança alimentar. Sustentabilidade. Percepção
do consumidor.

Abstract
Due to projections of population increase, which suggest that the world population will reach 8.6 billion people
by 2030, as well as the reduction of existing natural resources, studies on food production technologies that
minimize the impacts on the environment become relevant, and, at the same time, meet the global food demands.
It is in this context, with the creation of the first living organism controlled by a synthetic genome, that, since 2010,
scientists from several countries of the world study alternatives to produce energetic material and food through
synthetic biology. Therefore, the present study sought to identify which the contributions, reflexes, trends and / or
challenges of synthetic biology are in food production through a review of the literature. As results, it was noticed
that there were significant advances in studies that seek forms of food production with the use of synthetic biology,
as well as with technologies that reduce the use of natural resources and the impact of agricultural production on
the environment. The topics of food safety, ethics and consumer perception, regarding the use of such technologies,
are also emphasized by the studies analyzed. However, the authors state that there is much to be studied on the
subject of synthetic biology, in particular, the need for experimental testing in different crops and processes due
to food safety, as well as studies that make feasible the industrialization of such technologies.
Keywords: Synthetic Biology. Food Production. Food security. Sustainability. Consumer Perception.

1 Introdução

Em 1995, o cientista J. Craig Venter e sua equipe começaram a analisar a sequência do


Mycoplasma genitalium, um patógeno isolado dos epitélios genitais e respiratórios dos
primatas, que tem um dos menores genomas de qualquer organismo vivo livre e, como tal,
representava o genoma alvo perfeito para recriar. Para confirmar que este era de fato o requisito
mínimo para a vida, Venter e seus colegas inicialmente sintetizaram o genoma mínimo, onde o
próximo passo seria transplantá-lo para uma célula receptora para iniciar o processo que nunca
antes fora alcançado em laboratório (SLEATOR, 2010).
O primeiro avanço nas pesquisas ocorreu em 2007, quando a equipe decifrou o estágio
de transplante de cromossomos, onde Venter e sua equipe transformaram uma espécie de

1Doutoranda em Agronegócios/UFRGS- adrianebruchz@yahoo.com.br


2Doutoranda em Agronegócios/UFRGS – laurapossani@gmail.com
3Doutora em Agronegócios/ UFRGS - angela.souza@ufrgs.br

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bactéria em outra, e a confirmação do sucesso do transplante foi alcançada quando a célula
receptora começou a adotar as características físicas de seu doador cromossômico (SLEATOR,
2010).
No entanto, somente em 2010 foi publicada a criação do primeiro organismo vivo
controlado por um genoma sintético, a bactéria Mycoplasma mycoides JCVI-syn1.0 (GIBSON
et al., 2010). Para realizar a conversão de uma sequência de DNA digitalizada, armazenada em
um arquivo de computador, em uma entidade viva capaz de crescer e auto-reproduzir, ou seja,
recriar a vida do zero, foi necessário um investimento de US$ 40 milhões de horas homem
(SLEATOR, 2010).
Deste modo, a partir das descobertas feitas por Venter e sua equipe, os sistemas foram
projetados nos últimos anos e têm sido usados para manipular informações, construir materiais,
processar produtos químicos, produzir energia, fornecer alimentos e ajudar a manter ou
melhorar a saúde humana e o meio ambiente (ENDY, 2005). Os achados foram apresentados
como uma promissora preparação para o objetivo maior de transformar microorganismos
naturais, como bactérias, leveduras, algas e vírus em sintéticos, para realizar funções pré-
definidas e específicas (CENTRO ECOLÓGICO, 2009-2010).
No entanto, as possibilidades infinitas que surgem em detrimento da descoberta também
apontam para considerações relevantes sobre o desenvolvimento de técnicas que ainda são
pouco compreendidas, o que significa ponderar se elas teriam resultados mais positivos ou
negativos (KAISER, 2010). Nossa capacidade de projetar sistemas biológicos de maneira
rápida e confiável, que se comportam como esperado, permanece limitada (ENDY, 2005).
Diante disso, esta pesquisa teve como objetivo identificar reflexos, contribuições,
desafios e / ou tendências da biologia sintética, voltados a produção de alimentos. Para tanto,
realizou-se uma revisão sistemática da literatura, considerando as publicações científicas sobre
o assunto. Além da introdução, este artigo é composto pela sessão que trata do método utilizado
para realizar a pesquisa, que descreve os procedimentos de coleta e análise dos dados e,
consequentemente, expõe os resultados e as discussões. Por fim, são apresentadas as
considerações finais, contemplando limitações do estudo e sugestões para futuras investigações.

2 Biologia sintética

O surgimento do conjunto mínimo de genes essenciais para o funcionamento do


Mycoplasma genitalium, com o trabalho de Hutchison et al. (1999), é considerado o marco
inicial da biologia sintética. Entretanto, o ramo tem evoluído rapidamente nos últimos anos
(HAIMOVICH et al., 2015; HAYDEN, 2014), e, atualmente, consiste no uso de bioinformática
e técnicas de engenharia genética e bioquímica com o objetivo de desenhar circuitos biológicos
modulares, por meio do redirecionamento ou construção de novas rotas metabólicas e a criação
de organismos artificiais, visando maximizar o seu funcionamento. Não se trata de uma técnica
específica, mas de um conceito que pode utilizar diferentes abordagens de edição genômica
para alcançar a meta final (VASCONCELOS; FIGUEIREDO, 2015).
Essa engenharia pode ser aplicada em todos os níveis hierárquicos das estruturas
biológicas (moléculas individuais, células inteiras, tecidos e organismos), possibilitando a
concepção de sistemas biológicos de forma racional e sistêmica, controlados com precisão e
com finalidades práticas, maximizando a funcionalidade do organismo, e acarretando baixo
consumo energético (GARDNER et al., 2000).
Dessa forma, a biotecnologia moderna e suas técnicas, permitiu aos cientistas decifrar e
manipular o código genético, e, por conseguinte, obter a informação genética associada com
características úteis de um organismo e adicioná-la em outro (BECSKEI; SERRANO, 2000).
Permite aos pesquisadores acelerar o processo de desenvolvimento de novas gerações de
plantas, animais e microrganismos (CARRER et al., 2010), por meio de novas sequências de

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DNA sem a necessidade de um molde pré-existente (MATZAS et al., 2010; SCHWARTZ et
al., 2012). Ao combinar esses avanços com os princípios da engenharia genética, métodos de
bioinformática e de laboratório, os cientistas projetam ou redesenham organismos para
executarem funções inteiramente novas, como a produção de biocombustíveis ou secreção de
precursores de drogas farmacêuticas (BALMER; MARTIN, 2008).
Portanto, a Biologia Sintética é considerada interdisciplinar, pois interage com interface
de várias áreas, como a engenharia genética, metabólica e genômica; biologia evolutiva,
estrutural e química; biologia de sistemas, biofísica e bioinformática, entre outras
(SARPESHKAR, 2015).
Permite aplicações diversas, desde novos tecidos biológicos e remédios, até bactérias
antipoluentes, com potencial lucrativo em nível industrial, bem como promoção da
sustentabilidade. Todavia, são apresentados novos e constantes desafios, tanto para a
compreensão de suas descobertas quanto ao entendimento dos novos paradigmas éticos que
surgem quando da sua aplicabilidade (ROHREGGER, 2014), da mesma forma que
questionamentos relativos a segurança alimentar, impacto sócio econômico; percepções de
risco e benefícios para os consumidores; e aceitação ou rejeição de tecnologias emergentes
agroalimentares (HEAVEY, 2017; FREWER, 2017).

3 Procedimentos metodológicos

A pesquisa realizada é uma revisão sistemática da literatura que visa fornecer subsídios
da análise do conhecimento acumulado em um conjunto de estudos (VAN AKEN, 2001),
permitindo a avaliação através do uso de um algoritmo explícito ao invés da heurística para
sistematização (CROSSAN; APAYDIN, 2010). Dessa forma, utilizou-se a estrutura proposta
por Galvão e Pereira (2014), que fornece: elaboração da questão de pesquisa; pesquisa na
literatura; seleção de artigos; extração de dados; avaliação da qualidade metodológica; síntese
de dados (meta-análise); avaliação da qualidade das evidências; e escrita e publicação de
resultados.
A busca pelos estudos que compõem o portfólio analisado foi orientada pela Lei Zipf,
Lei de Bibliometria, baseada na ocorrência, incidência ou frequência de palavras nos textos.
Como base de dados, utilizou-se a Web of Science, e os termos "synthetic biology", "food", e
variações na agricultura, representados por "agric *", com o termo "and".
O filtro de pesquisa também incluiu o tipo de documento, definindo apenas os artigos,
e, portanto, considerou apenas as investigações empíricas e, portanto, os documentos de revisão
da literatura foram excluídos. Como limitação temporal, foram consideradas as publicações até
a data de 24 de setembro de 2018. Assim, a carteira de artigos analisados foi composta por 13
(treze) documentos, cuja distribuição temporal é apresentada na Figura 1.
Figura 1 - Distribuição temporal das publicações

Fonte: elaborado pelas autoras (2018).

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Quanto à relevância dos estudos, observou-se que, juntos, estes possuem 413
(quatrocentos e treze) citações, cujo índice H corresponde a 5 (cinco), e citações médias por
item de 31,77. Nota-se que, apesar de o volume de estudos publicados em 2017 ter diminuído,
as citações de tais estudos vêm aumentando ano a ano desde 2010, principalmente nos anos de
2016 e 2017, conforme mostra a Figura 2, que apresenta a distribuição temporal de citações da
carteira analisada.

Figura 2 - Distribuição temporal das citações

Fonte: elaborado pelas autoras (2018).

Após verificar a relevância da temática, observou-se a forma como as publicações


científicas a contemplaram, e a seguinte questão interrogativa foi definida como a questão
norteadora desta pesquisa: quais são as contribuições, reflexos, tendências e / ou desafios da
biologia sintética na produção de alimentos? Portanto, através de uma leitura minuciosa dos
estudos, realizou-se uma síntese de dados e a avaliação de evidências e resultados, buscando
semelhanças entre os estudos analisados. Por fim, os achados foram contrastados com a
literatura, visando explicar o comportamento do fenômeno estudado.

4 Resultados e discussões

Endy (2005), transcreve em seu estudo as palavras de Szybalksi e Skalka, que em 1978,
escreveu sobre a relevância do trabalho em nucleases de restrição, o que nos levou à nova
biologia sintética, permitindo a descrição e análise não só dos genes existentes , mas também
de novos arranjos genéticos. No entanto, o autor afirma que, vinte e sete anos depois, a
engenharia de sistemas biológicos sintéticos ainda é um processo de pesquisa dispendioso e
pouco confiável. Propõe duas causas possíveis para o problema, sendo a primeira a falta de
conhecimento suficiente sobre os sistemas biológicos, ou que os sistemas biológicos são muito
complexos para serem projetados com segurança, ou ambos. A segunda possibilidade é a falta
de tecnologias fundamentais que poderiam tornar a engenharia da biologia um problema de
engenharia, isto é, a engenharia da biologia permanece complexa porque nunca a
simplificamos. O sucesso ajudaria "a criar a disciplina da biologia sintética: uma tecnologia de
engenharia baseada em sistemas vivos".
Ainda segundo Endy (2005), nossa capacidade de projetar de maneira rápida e confiável
sistemas biológicos que se comportam como esperado permanece limitada. No entanto, são
necessárias novas tecnologias que tornam a engenharia biológica uma rotina, bem como
pesquisa de campo e liderança estratégica para garantir o desenvolvimento e a aplicação de
tecnologias biológicas.

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Nesse contexto, em 2010 Bar-Even et. al., realizaram um estudo que analisou a fixação
de carbono, processo pelo qual o CO (2) é incorporado em compostos orgânicos, relevantes
para a sustentabilidade na produção de alimentos e energia. Através de ensaios de 5.000
enzimas metabólicas, os autores identificaram caminhos alternativos de fixação de carbono
computacionalmente que combinam blocos de construção metabólicos existentes de vários
organismos, sugerindo que algumas das vias sintéticas propostas poderiam ter vantagens
quantitativas significativas sobre suas contrapartes naturais, como a taxa cinética geral,
tornando o processo mais rápido e eficaz, através do uso de organismos evoluídos. No entanto,
segundo os autores, a implementação de tais ciclos alternativos apresenta desafios relacionados
aos níveis de expressão, atividade, estabilidade, localização e regulação e, portanto, devem ser
explorados para que possam ser utilizados como forma de melhorar a produção de fontes
renováveis de alimentos e combustíveis, através de engenharia metabólica e biologia sintética.
Assim, em 2013, Chun et al. analisaram a conversão enzimática de um único vaso de
biomassa pré-tratado com o amido por meio de uma via enzimática sintética não natural a partir
de um composto oriundo de fontes bacterianas, fúngicas e vegetais. O estudo teve como
objetivo aumentar a produção de cereais ricos em amido e plantas bioenergéticas ricas em
celulose com potencial de crescimento substancial, minimizando a pegada ambiental da
agricultura, conservando a biodiversidade, atendendo às futuras necessidades alimentares
mundiais e sustentabilidade para biocombustíveis e materiais renováveis. Como resultado, o
estudo apresenta uma abordagem às biorrefinarias da próxima geração, apresentando um
modelo de produção baseado em um trilema: alimentos, biocombustível e ambiental.
Já em 2015, dois (2) estudos foram realizados sobre o assunto, sendo os estudos de Ort
et al. (2015), e Yang et al. (2015). Ort et al. (2015) explora uma série de redesenhos prospectivos
de sistemas de plantas em várias escalas, visando aumentar a produtividade das culturas,
melhorando a eficiência e o desempenho fotossintético. No entanto, o estudo aponta as
ferramentas e tecnologias relevantes para a fotossíntese, suas possíveis aplicações e limitações
atuais, sugerindo apenas a realização de futuros projetos, cujos esforços devem levar a novas
descobertas e avanços técnicos com impactos importantes no problema de produtividade global
das lavouras e da produção de bioenergia.
Da mesma forma, Yang et al. (2015) também aplicam esforços na pesquisa de
fotossíntese, porém, em crassulácea (CAM), que apresenta captação noturna de CO2, facilita o
aumento da eficiência do uso da água e permite que plantas CAM habitem ambientes com pouca
água, como florestas semiáridas ou sazonalmente secas. A proposta sugere uma crescente
dependência das culturas CAM, tais como Agave e Opuntia, para a produção de biomassa em
terras agrícolas semiáridas, abandonadas, marginais ou degradadas. Além do uso das espécies
para produzir bioenergia, o estudo sugere a aplicação em alimentos e rações. No entanto, da
mesma forma que o estudo de Ort et al. (2015), os autores afirmam que ainda há um longo
caminho para explorar o potencial das culturas CAM e da bioengenharia, exigindo a aplicação
de testes de campo e modelos preditivos para avaliar a produtividade das culturas, a análise de
coleções mutantes e o gerenciamento de dados.
Em contraste, em 2016, com exceção do estudo de Hoffman, que também trata da
engenharia da fotossíntese C4 do arroz e da engenharia da fixação de trigo e nitrogênio do arroz,
trigo e milho como formas de melhorar a produtividade das culturas, remediação ambiental e
conservação do solo e água, os outros estudos realizados neste ano apresentam ênfase no
metabolismo de fungos e organismos microbianos em biologia sintética.
Segundo Bills e Gloer (2016), que analisam a diversidade de espécies de fungos e a
diversificação de aglomerados gênicos biossintéticos, existe um potencial quase ilimitado de
variação metabólica e um recurso inexplorado para a descoberta de fármacos e agroquímicos.
Eles também apontam que a análise do seqüenciamento do genoma, utilizando ferramentas
computacionais e química analítica, permite a rápida conexão de grupos de genes com seus

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produtos metabólicos. Entretanto, o estudo é uma revisão que resume os aspectos gerais do
metabolismo secundário de fungos e, portanto, não indica resultados por meio de testes
experimentais aplicados, que permitam demonstrar novas metodologias que podem ser
replicadas. No entanto, sugere que da mesma forma que os metabólitos secundários exibem
uma variação nas estruturas químicas e atividades biológicas que podem beneficiar seres
humanos, animais e plantas, eles também podem levar à contaminação e, portanto, destaca que
importantes metabólitos derivados de fungos que contribuíram para o desenvolvimento
humano, saúde e agricultura, podem afetar negativamente as culturas, a distribuição de
alimentos e os ambientes humanos.
Da mesma forma, Sivasubramaniam e Franks (2016) abordam o tema da biologia
sintética através de comunidades microbianas sob um viés teórico, enfocando as percepções e
expectativas do público em relação a essa tecnologia, seu potencial para ajudar, perturbar e
repugnar. Como resultados, os autores identificaram que as percepções e expectativas públicas
de "naturalidade", bem como as noções de nojo e pavor, podem atrasar o desenvolvimento de
tais tecnologias.
Em contraste, temendo possíveis consequências negativas do uso de tecnologias de
biologia sintética, Li et al (2016), realizam um estudo experimental, no qual analisam o ácido
4-hidroxmandélico (4-HMA), um produto químico aromático, amplamente utilizado na
produção de produtos farmacêuticos e aditivos alimentares cujo processo de produção é
ambientalmente hostil. Os autores fornecem uma rota promissora de biomanufatura para
produzir 4-HMA de biomassa lignocelulósica como uma abordagem de produção com recursos
renováveis e sustentáveis, tornando o processo menos agressivo para o meio ambiente.
Além disso, como resposta às preocupações sobre segurança alimentar e meio ambiente,
em 2017, os estudos realizados enfocam a análise de ameaças à saúde humana, animal e do
ecossistema, além de analisar a aceitação ou rejeição das tecnologias e sua aplicação por parte
do consumidor. Nesse contexto, Heavey (2017) analisa a ética da biologia sintética a partir de
uma perspectiva consequencialista, examinando os efeitos potenciais sobre a alimentação, a
agricultura, a medicina, o combustível e o avanço da ciência.
Enquanto o estudo de Bereza-Malcolm et al. (2017) examinaram a presença
generalizada de cádmio nos sistemas de solo e água, como consequência de processos
industriais e agrícolas que causam contaminação ambiental e representam uma ameaça
significativa para a saúde humana. Assim, com base neste problema de pesquisa, os autores
desenvolveram um biossensor microbiano, utilizado para detecção in situ de cádmio, que
permite reduzir a exposição humana, complementando os métodos analíticos tradicionais.
Então, a construção do biossensor foi testada em várias bactérias, respondendo
satisfatoriamente. No entanto, os autores destacam a importância do teste de biossensores
usando princípios de biologia sintética em diferentes gêneros bacterianos.
Finalmente, no contexto da insegurança alimentar, Frewer (2017) também analisa a
aceitação ou rejeição do consumidor de tecnologias agroalimentares emergentes e suas
aplicações, analisando estudos de caso (pesticidas, modificação genética de plantas e animais,
nanotecnologia na agricultura, nutri genômica em segurança nutricional e biologia sintética)
considerados ao longo de um eixo de tempo (dos anos 1950 a 2017). Como resultado, o autor
identificou que especialistas e reguladores têm reconhecido cada vez mais a importância do
papel das percepções de risco e benefício, e a suposição normativa de que os consumidores são
"anti tecnologia de alimentos" é rejeitada.
Seguindo a sequência temporal, em 2018 pode-se observar a retomada de estudos
experimentais de novas tecnologias, bem como o surgimento da abordagem bioeconômica,
trazendo a biologia sintética para a área industrial sustentável. O estudo de Grewal et al. (2018),
trata da bioprodução de uma paleta de cores betalain em Saccharomyces cerevisiae de maneira
sintética. As betalains são uma família de pigmentos naturais encontrados exclusivamente na

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ordem de plantas Caryophyllales, usadas como um corante alimentar natural. O estudo
apresenta a primeira produção microbiana completa de betalain em Saccharomyces cerevisiae
com um processo de fermentação que permite uma produção mais rápida deste corante natural.
Assim, o trabalho estabelece uma plataforma para a produção microbiana de betalains de várias
cores como uma alternativa potencial à produção de uso intensivo de recursos agrícolas.
O segundo estudo analisado foi o de Lokko, et al. (2018) ligando a biotecnologia e a
bioeconomia ao desenvolvimento industrial inclusivo e sustentável. Aborda a contribuição para
o desenvolvimento do agronegócio através do uso da biotecnologia e da bioeconomia,
sugerindo intervenções através de: insumos e mecanização agrícola; modernas tecnologias de
processamento; embalagem de produtos perecíveis; promoção da segurança alimentar no
ambiente de processamento e regulação; e intervenções para melhorar a competitividade e
produtividade das cadeias produtivas. Assim, os autores passam de estudos puramente biologia
/ engenharia e execução de processos, para uma análise da viabilidade econômica e financeira
dessas tecnologias, para adequar-se ao contexto industrial.
Assim, como forma de sintetizar os resultados dos estudos, facilitando a visualização de
um panorama geral sobre o tema e sua evolução ao longo dos últimos anos, apresenta-se a
Quadro 1, que permite compreender o contexto do tema de 1978 a 2018.

Quadro 1 - Evolução temporal do tema


Ano Autor Contribuição dos autores
1978 Szybalksi e Skalka Trabalho sobre nucleases de restrição, que nos levou a nova biologia sintética,
permitindo a descrição e análise não só dos genes existentes, mas também de
novos arranjos genéticos.
1995 J. Craig Venter et Início da análise sequencial do Mycoplasma genitalium
al.
2005 Endy A capacidade de projetar de forma rápida e confiável sistemas biológicos que
se comportam como esperado permanece limitada.
2007 J. Craig Venter et Decifram o estágio de transplante de cromossomos. Transformam uma espécie
al. de bactéria em outra.
2010 J. Craig Venter et Criação do primeiro organismo vivo controlado por um genoma sintético, isto
al. é, a bactéria Mycoplasma mycoides JCVI-syn1.0.
2010 Bar-Even, et al. Uso de organismos sintéticos para melhorias no processo de sequestro de
carbono. Maior velocidade e efetividade no processo comparado ao processo
realizado com organismos naturais.
2013 Chun et al. Criação de um modelo de produção baseado em um trilema: alimento,
biocombustível e meio ambiente, através da conversão enzimática de biomassa
sintética não natural. Aumento da produção, minimizando a pegada ambiental
da agricultura, e conservando a biodiversidade.
2015- Ort et al. (2015) Uso de organismos sintéticos para a engenharia da fotossíntese visando:
2016 Yang et al. (2015) aumentar a produtividade das culturas; maior eficiência no uso da água;
Hoffman (2016) biomassa em terras agrícolas semi-áridas, abandonadas, marginais ou
degradadas; aplicação em bioenergia, alimentos e rações; remediação
ambiental; e conservação da terra, solo e água.
2016 Li et al (2016) Estudo experimental analisando o ácido 4-hidroxmandélico (4-HMA),
apresentando uma abordagem de produção a partir de recursos renováveis e
sustentáveis, reduzindo o impacto causado no meio ambiente.
2016 Bills & Gloer Análise do metabolismo de fungos e organismos microbianos. Enfatizam o
(2016); potencial das tecnologias, mas apontam a necessidade de estudos sobre
Sivasubramaniam segurança alimentar, percepções públicas e expectativas dos indivíduos em
& Franks (2016) relação a essa tecnologia.
2017 Heavey (2017) Análise das consequências de tais tecnologias: ética; segurança alimentar;
Frewer (2017) percepções de risco e benefícios para os consumidores; aceitação ou rejeição
de tecnologias emergentes agroalimentares.
2018 Grewal et al. Retomada de estudos experimentais de novas tecnologias, bem como a
(2018) abordagem do tema bioeconomia, trazendo o tema da biologia sintética para a
área industrial sustentável.

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Lokko, et al.
(2018)
Fonte: elaborado pelas autoras (2018).

Portanto, do ponto de vista de Endy em 2005, pode-se observar a partir da presente


análise, exposta na forma de evolução temporal, que treze anos depois, avanços são
apresentados em estudos que buscam formas de produzir alimentos utilizando a biologia
sintética, diante de uma tendência crescente de tais necessidades nas próximas décadas. Da
mesma forma, os estudos apresentados apontam para a crescente preocupação com o uso
eficiente dos recursos naturais, que, com o aumento populacional e aumento das necessidades
alimentares, tendem a se tornar cada vez mais escassos, o que evidencia a crescente necessidade
de análise de sustentabilidade desses novos processos. No entanto, há muito a ser feito sobre o
assunto, especialmente no que diz respeito às inovações, ou seja, novos produtos, novos
métodos de aplicação da biologia sintética para a produção de alimentos, bem como a análise
dos impactos dessa produção na segurança alimentar, controle de doenças, ou efeitos que
possam causar aos ecossistemas, ou em relação à percepção do consumidor de tais tecnologias.

5 Conclusões

A questão norteadora do presente estudo buscou identificar as contribuições, reflexos,


tendências e / ou desafios da biologia sintética na produção de alimentos. Nesse contexto, ao
analisar os estudos que compõem o portfólio da presente revisão, pode-se verificar que os
estudos realizados entre 2010 e 2018 envolvem o teste e análise de processos, técnicas e
metodologias para o desenvolvimento de organismos sintéticos e suas aplicações em vários
objetos, com vistas à produção sustentável, seja de comida, energia, medicamentos,
agroquímicos ou outros. Embora os estudos apresentem avanços na área, sugerem o
aprofundamento do tema por pesquisadores de diferentes áreas, com vistas a preencher lacunas
ou melhorar os achados, sugerindo a possibilidade de descobertas futuras significativas.
Também é evidenciado que os estudos, embora filtrando o tema da produção de
alimentos, seja para consumo humano ou animal, também abordam o uso de biologia sintética
e engenharia para a produção de materiais bioenergéticos, inclusive como forma de utilizar
alimentos e rações residuais como uma alternativa à produção sustentável.
Como semelhança entre os estudos analisados, o objetivo foi identificar métodos de
produção de alimentos e energia sustentável, visando minimizar o impacto do crescimento da
população humana, trazendo desafios relacionados ao aumento da produção de alimentos,
forragem, fibras e combustível.
Além disso, há também uma preocupação com a segurança alimentar mundial, tendo
em vista o uso de fungos, bactérias e organismos microbianos, que, da mesma forma que podem
trazer benefícios aos seres humanos, animais e ecossistemas, também podem desencadear
reações graves quando analisadas de uma maneira substancial.

6 Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico (CNPq).

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BLOCKCHAIN E SMART CONTRACTS NO AGRONEGÓCIO
SMART CONTRACT AND BLOCKCHAIN AT AGRIBUSINESS
Tiago Reginaldo Zagonel1, Ari Jarbas Sandi2, Fernanda Momo3, Leonardo Xavier da Silva4

Resumo

O presente artigo tem por objetivo investigar a interface das novas tecnologias Blockchain e Smart Contract com
o agronegócio. Por meio de pesquisa bibliográfica, foram localizados argumentos que ratificam a importância
dessas tecnologias ao campo do agronegócio. A tecnologia foi usada primeiramente no contexto das moedas
digitais que trouxe a blockchain para a mídia. Atualmente, as aplicações e o potencial da blockchain estão se
espalhando muito além das criptomoedas, proporcionando uma verdadeira revolução em outras áreas, por trazer
oportunidades para todos os segmentos da economia, ao compartilhar o controle sobre as transações de forma
confiável. O agronegócio está em evidência no mundo e vem absorvendo as novas tecnologias para se tornar
mais eficiente e competitivo. Os dados e informações disponibilizadas pelas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC) têm se mostrado como o novo campo a ser explorado. A blockchain vem se destacando na
rastreabilidade de cadeias produtivas. Isso representa uma garantia para todos os elos de que o produto rastreado
não dependerá de uma terceira parte para autenticar a sua origem. Por outro lado, a comercialização de produtos
agrícolas pressupõe um acordo entre as partes e é nesse campo que os Smart Contracts surgem como uma nova
opção visando a trazer mais confiança nas relações comerciais. Finalmente, as coletas de dados em propriedades
do mundo podem contribuir com a previsibilidade e o produtor poderá se monetizar direta ou indiretamente por
disponibilizar as informações que irão agregar valor a ele e também a outros agentes interessados.

Palavras-chave: Blockchain , Smart Contract, Bitcoins, Ethereum, Agronegócio.

Abstract

This paper aims to investigate the interface of new technologies Blockchain and Smart Contract with agribusiness.
Through bibliographic research, we found arguments that ratify the importance of these technologies in the field of
agribusiness. The technology was first used in the context of digital currencies which brought the blockchain to the
media. Today, blockchain applications and potential are spreading far beyond cryptocurrencies, bringing a real
revolution in other areas by creating opportunities to all segments of the economy by reliably sharing control over
transactions. Agribusiness is in evidence worldwide and has been absorbing new technologies to become more efficient
and competitive. The data and information provided by Information and Communication Technologies (ICT) have been
shown as the new field to be explored. Blockchain has been excelling in the traceability of productive chains. This is a
guarantee for all links that the tracked product will not depend on a third party to authenticate its origin. On the other
hand, the commercialization of agricultural products presupposes an agreement between the parties and it is in this field
that Smart Contracts emerge as a new option to bring more confidence in commercial relations. Finally, data collection
on world properties can contribute to predictability and the producer shall monetize directly or indirectly by providing
the information that will add value to him and other stakeholders.

Keywords: Blockchain, Smart Contract, Bitcoins, Ethereum, Agribusiness.

1
Doutorando em Agronegócios – CEPAN-UFRGS. E-mail: tiagozagonel@hotmail.com
2
Mestrando em Agronegócios – CEPAN-UFRGS. Analista da Embrapa Suínos e Aves. E-mail:
ari-jarbas.sandi@embrapa.br
3
Doutoranda em Administração – PPGA-UFRGS. E-mail: fernandamomo@yahoo.com.br
4
Doutor em Economia –UFRGS. E-mail: leonardo.xavier@ufrgs.br

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1. Introdução
A blockchain tem despertado interessante de vários segmentos no cenário das novas
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Primeiramente, vimos o uso da tecnologia
no contexto dos bitcoins, a moeda digital que trouxe a blockchain para a mídia e os
investidores. Enquanto as diversas moedas existentes permanecem nos noticiários, as
aplicações e o potencial da blockchain estão se espalhando muito além, proporcionando uma
verdadeira revolução na dinâmica de outras áreas, por trazer um conjunto de oportunidades
para todos os segmentos da economia, ao compartilhar o controle sobre as transações
(ATZORI, 2015).
Nessa era, as novas tecnologias estão sendo incorporadas nos mais diferentes setores
pelo mundo. Isso fica mais evidente quando se observa as novidades disponíveis ao
agronegócio que tem absorvido as TICs de forma ágil para aumentar sua eficiência e
competitividade. Entre as possibilidades que surgem para área pública, setor industrial,
comercialização, produção, entre outros, há cadeias produtivas que se utilizam da blockchain
para rastreabilidade de alimentos e também para gerar contratos inteligentes ou Smart
Contracts que, para além de um acordo ou contrato que geram direitos e obrigações, são
autoexecutáveis, verificáveis, auditáveis, sem intermediários, não manipuláveis e seguros
(WRIGHT; FILIPPI, 2015).
Nesse contexto, com o intuito de analisar os elementos característicos da blockchain
em aplicações no campo do agronegócio, o presente estudo almeja responder a seguinte
questão de pesquisa: Quais são as atuais aplicações da tecnologia Blockchain, mais
especificamente Smart Contracts ou contratos inteligentes, para o campo do agronegócio.
Assim, tem-se como resultado esperado, contribuir para a formação de agendas de pesquisa
sobre o assunto. Em relação aos procedimentos para operacionalizar esse objetivo, optou-se
por um estudo exploratório, por meio de uma revisão bibliográfica e pesquisa em diversos
sítios sobre a temática de estudo.
2. Referencial Teórico
A tecnologia blockchain é um sistema de contabilidade compartilhada e um paradigma
computacional, que é descentralizado e altamente compatível com o sistema econômico
distribuído (LENG, et al., 2018). A nova tecnologia surge para garantir a segurança nas
negociações e, para evitar um único ponto de falha, a blockchain distribui ledger ou livro-
razão que são livros idênticos para todos os membros de sua rede. Desta forma, cada membro
pode ver o que está acontecendo em tempo real e se alguma coisa suspeita acontecer em um
nó do livro contábil, outros nós saberão imediatamente (AUNG; TANTIDHAM, 2017).
Blockchain surgiu na forma de bitcoin, um sistema de dinheiro eletrônico peer-to-
5
peer (ponto-a-ponto) lançado por Satoshi Nakamoto em 2008 e foi baseado em prova
criptográfica ao invés de confiança, permitindo que duas partes dispostas a negociar
diretamente entre si o fizessem, sem qualquer necessidade de confiança de uma terceira parte.
A prova criptográfica refere-se ao processo criptográfico de obtenção de consenso por meio
de prova de trabalho, eliminando a necessidade de um mediador ou intermediário confiável.
Por outro lado, buscando ser muito mais do que um sistema de pagamento, o Ethereum foi
lançado em 2014 como uma blockchain aberta e pública, sendo baseada em plataforma de
computação distribuída que fornece uma plataforma cripticamente e economicamente segura
para o desenvolvimento de qualquer tipo de aplicativo descentralizado (NIFOROS;
RAMACHANDRAN; REHERMANN, 2017).

5
Peer-to-peer é um termo do inglês (par-a-par ou ponto-a-ponto), com sigla P2P caracterizada por uma
arquitetura de redes de computadores onde cada um dos pontos ou nós da rede funciona tanto como cliente
quanto como servidor, permitindo compartilhamentos de serviços e dados sem a necessidade de um servidor
central.

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O fundador da plataforma Bitcoin propôs uma solução para o problema do gasto-duplo
usando um servidor de timestamp6 (carimbos do tempo) distribuído ponto-a-ponto para gerar
prova computacional da ordem cronológica de transações. É um sistema de pagamentos
eletrônicos baseado em provas criptográficas em vez de confiança, permitindo que duas partes
interessadas realizem transações diretamente sem a necessidade de um intermediário
confiável. O Bitcoin é um sistema de dinheiro eletrônico peer-to-peer e definimos uma moeda
eletrônica como uma cadeia de assinaturas digitais, em que cada proprietário transfere a
moeda para o próximo assinando digitalmente uma hash7 (codificação) com as transações
anteriores e a chave pública do próximo proprietário e adicionando estas ao fim da moeda
(NAKAMOTO, 2008).
O criador da plataforma Ethereum propôs um sistema que move automaticamente
ativos digitais de acordo com regras arbitrárias pré-especificadas, o que denominou de Smart
Contracts ou Contratos Inteligentes, sendo eles de longo prazo, que contêm ativos e
codificam o estatuto de uma organização em uma extensão lógica chamada de Organizações
Autônomas Descentralizadas (DAOs). A Ethereum buscou fornecer uma blockchain com uma
linguagem de programação Turing-complete (sistema de regras de manipulação de dados),
podendo ser usada para criar contratos que podem ser usados para codificar funções de
transição de estado arbitrário, permitindo aos usuários criar sistemas, inclusive os que ainda
nem imaginamos, simplesmente escrevendo a lógica em algumas linhas de código
(BUTERIN, 2014).
Devido às capacidades estendidas orientadas a bitcoins, a Ethereum é frequentemente
chamada de Blockchain 2.0, pois ela usa "ether", um token 8 de criptomoeda para compensar
nós participantes por cálculos realizados. A Ethereum introduziu a possibilidade de Smart
Contracts ou contratos inteligentes que são mecanismos de câmbio determinísticos
controlados por meios digitais que podem realizar a transação direta de valor entre agentes
não confiáveis (NIFOROS; RAMACHANDRAN; REHERMANN, 2017).
A maioria das iniciativas que utilizam a tecnologia blockchain está focada em serviços
financeiros e nas seguradoras, porém existe um crescente campo de aplicações não monetárias
como para centralizar os documentos de identidade das pessoas, uniformizar os
conhecimentos de embarque marítimo, facilitar a logística da produção em cadeias globais de
valor e gerir os conteúdos de propriedade intelectual globalmente (DENNY; PAULO; DE
CASTRO, 2017).
A blockchain permite o desenvolvimento de novos sistemas de governança com
organizações de decisão mais democráticas, ou participativas e descentralizadas, ou
autônomas, que podem operar em uma rede de computadores sem qualquer intervenção
humana. Todas essas aplicações levaram muitas pessoas a comparar a blockchain com a
Internet, com as previsões de que essa tecnologia vai desviar o equilíbrio de poder das
autoridades centralizadas no campo das comunicações, dos negócios e até da política ou da lei
(WRIGHT; DE FILIPPI, 2015).
No contexto da operacionalização dessas novas tecnologias, há uma tendência no uso
de códigos abertos na infraestrutura dessas plataformas. Assim, as empresas comerciais
ofertantes dessas soluções, obtém a sua remuneração por meio de serviços agregados, como

6
Timestamp é um termo inglês que significa carimbo do tempo ou registro de data e hora. Um registro de data e
hora é uma sequência de caracteres ou informações codificadas que identificam quando um determinado evento
ocorreu, geralmente fornecendo data e hora do dia, às vezes com precisão de uma pequena fração de segundo.
7
Hash é um algoritmo que mapeia dados de comprimento variável para dados de comprimento fixo. Os valores
retornados por uma função hash são chamados valores, códigos, somas hash, checksums ou hashes.
8
Token é um dispositivo eletrônico gerador de senhas, geralmente sem conexão física com o computador,
podendo também, em algumas versões, ser conectado a uma porta USB. Existe também a variante para smart
cards e smartphones, que é capaz de realizar as mesmas tarefas do token.

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desenvolvimento de aplicativos e algoritmos de suporte, e não somente pela comercialização
do código fonte em si. Há três principais tipos de permissão que podem ser configuradas em
blockchain: ler (quem pode acessar o banco de dados e ver as transações), escrever (quem
pode escriturar, gerar transações e enviá-las para a rede), e atualizar (quem pode alterar um
status no banco de dados) (DENNY; PAULO; DE CASTRO, 2017). Conforme apresentado
no Quadro 1, os três tipos de permissão tendem a atender a públicos e a demandas específicas,
em especial, quando o anonimato e a restrição aos dados são efetivamente necessários ou não.
Quadro 1 – Principais tipos de blockchains segmentados por modelo de permissão
LER ESCREVER ATUALIZAR EXEMPLOS
Sem
Aberto para Bitcoin,
autorização Qualquer um Qualquer um
qualquer um Ethereum
ABERTO

pública
TIPOS DE BLOCKCHAIN

Dependente Todos os
Somente os
de Aberto para participantes
participantes Sovrin
autorização qualquer um autorizados ou um
autorizados
pública grupo deles
Limitado a um Todos os
Somente os
conjunto de participantes Conjunto de
Consórcio participantes
FECHADO

participantes autorizados ou um bancos


autorizados
autorizados grupo deles
Totalmente privado ou
Matriz com
Autorização restrito a um número Só o operador na Só o operador na
suas
Privada de participantes rede própria rede própria
subsidiárias
autorizados
Fonte: Adaptado de Hileman e Rauchs, (2017) e Denny, Paulo e De Castro (2017).
Nesse contexto, em termos conceituais, houve uma evolução dos livros de blockchain
centralizado para distribuído, ao introduzir um banco de dados que funciona como uma rede
distribuída (razão distribuída), com a promessa de cooperação quase livre de fricção entre
membros de redes complexas que transferem valor entre si sem autoridades centrais ou
intermediários. O principal valor da blockchain é sua capacidade de implantar mecanismos
criptográficos para chegar a um consenso entre as partes envolvidas com uma transação. Ao
eliminar a necessidade de uma autoridade central, ou de um intermediário, é criado um
sistema de confiança distribuída de transferência de valor com maior velocidade, diminuição
dos custos de transação e aumento da segurança na rede (NIFOROS; RAMACHANDRAN;
REHERMANN, 2017).
A blockchain oferece uma plataforma de distribuição que replica os dados do sistema
entre os pares distribuídos, onde toda a validação de transação é obrigatória através de Smart
Contracts. Isso ajuda as partes interessadas, que estão geograficamente separadas, a trabalhar
em direção a uma meta unificada. As transações são à prova de adulteração e garantem que
todas as partes da cadeia possam confiar nos dados e tomar as medidas necessárias para a
movimentação rápida e eficiente de produtos. Assim, usando Smart Contracts sobre a Internet
of Things (IoT), impulsionada pela blockchain, o conjunto de soluções determina e confirma
que todas as obrigações contratuais são atendidas em todos os pontos da cadeia (JENNATH;
ADARSH; ANOOP, 2019).
O Smart Contract (SC) ou Contrato Inteligente é um protocolo de transação
informatizado que executa os termos de um contrato com o objetivo de satisfazer condições
contratuais comuns. As cláusulas dos contratos são transferidas para um código, o que reduz a
necessidade de intermediários nas transações entre as partes. Em termos econômicos, os
objetivos relacionados incluem redução da perda de fraude, custos de arbitragem e execução e
outros custos de transação (SZABO, 1994).
A Figura 1 apresenta uma linha histórica do surgimento da plataforma Blockchain e,
em seguida, as funcionalidades dos Smart Contracts para aplicações em diferentes áreas.

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Figura 1 – Histórico do surgimento da Blockchain e dos Smart Contract

Fonte: Autores, 2019.


Segundo Hileman e Rauchs (2017), os Smart Contracts são programas de computador
que podem executar automaticamente alguma função, caso acionados por algum evento, e são
mantidos em livros contábeis distribuídos. Os Smart Contracts no contexto da Distributed
Ledger Technology (DLT) ou tecnologia de contabilidade distribuída mantêm a promessa de
que podem ser usados como uma ferramenta para automatizar um grande número de
processos de negócios em diferentes entidades. A principal diferença de executá-los em um
livro contábil distribuído é que a execução de Smart Contracts é garantida por regras do
sistema e o resultado é verificável e auditável por todos os participantes da rede.
Os sistemas de comunicação descentralizados nos levam à criação da Internet pelo
potencial disruptivo que a tecnologia representa. Hoje a tecnologia blockchain tem o potencial
de descentralizar a maneira como armazenamos dados e gerenciamos informações,
potencialmente levando a um papel reduzido de um dos mais importantes atores regulatórios
em nossa sociedade que é o intermediário. Assim, tecnologia blockchain permite a criação de
moedas descentralizadas, contratos digitais autoexecutáveis (Smart Contracts) e ativos
inteligentes que podem ser controlados pela Internet (WRIGHT; DE FILIPPI, 2015).
3. Procedimentos Metodológicos
O estudo teve seu foco na literatura das tecnologias Blockchain e Smart Contract ao
campo do agronegócio. As unidades de análise da pesquisa foram 17 artigos publicados em
periódicos científicos. Foram pesquisados todos os anos e as primeiras publicações ocorreram
no ano de 2018. Para coleta, ocorrida em agosto de 2019, foram utilizadas as bases de dados
Scopus (15 artigos) e Web of Science (2 artigos). Em cada uma dessas bases foram coletados
todos os artigos que possuíam em seu título, resumo e palavras-chave os termos Agric* AND
“Smart Contracts” AND blockchain. Após ler os documentos localizados, restaram para a
análise 10 artigos que foram tabulados em planilha eletrônica. Por ser uma temática
relativamente recente ao campo da agricultura, também foram feitas buscas no Google
Acadêmico. Assim, trata-se de um estudo exploratório, a fim de analisar elementos das novas
tecnologias, em especial, contratos inteligentes, e suas aplicações no campo do agronegócio.

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4. Resultados e Discussão
Em termos gerais, as tecnologias se desenvolvem em ritmo acelerado e a
aplicabilidade das mesmas vem avançando por diferentes áreas e setores. No Quadro 2 são
apresentadas algumas áreas do agronegócio que se utilizam da plataforma blockchain, sendo
possível visualizar os tipos de alimentos, o objetivo ou finalidade em que são usadas, suas
vantagens e resultados aos usuários.
Quadro 2 - Aplicações das tecnologias blockchain na cadeia de abastecimento
agroalimentar
ALIMENTO OBJETIVO VANTAGEM RESULTADO
Sistema auditável Reduz
Peixe custos de transação e Capacidade Certificações
aumenta a transação
Aumentar o desempenho, a
Transações globais mais confiáveis e
Vinho receita, a responsabilidade e Gestão
seguras
a segurança
Permitir que a qualidade e a
Especialmente para produtos “bio” e
Agroalimentar identidade digital sejam Qualidade
DOCG
certificadas
Garantia de segurança alimentar, através da
Informação confiável em
partilha de dados autênticos na produção,
Agroalimentar toda a cadeia de Confiança
processamento, armazenamento,
suprimentos agroalimentar
distribuição, etc.
Público, imutável,
Diminuição da variação das recompensas
Frutas contabilidade ordenada de Justiça
de mineração
registros
Proteção de marca e
Risco
Carne de porco segurança através da Aumentando a fidelidade do consumidor
Reduzido
transparência
Integração com sistemas existentes
Grandes Projeto de rastreamento de
utilizados por varejistas, atacadistas e Rastreabilidade
empresas alimentos
fabricantes de alimentos
Permitindo transparência de
Alimentos Informações sobre a origem do produto,
dados e transferência do Transparência
frescos incluindo dados do sensor
campo à mesa
Fonte: Adaptado de Galvez, Mejuto e Simal-Gandara, (2018).
Ao que se apresenta, a blockchain pode reduzir o custo e a complexidade de
transações entre as organizações, ao criar redes eficientes e seguras nas quais se pode
negociar e monitorar qualquer coisa de valor, sem ter a dependência de um ponto de controle
centralizado. Nas finanças, essa tecnologia pode permitir que comércios de valores
mobiliários sejam liquidados em minutos em vez de dias. No comércio, a blockchain pode
facilitar o gerenciamento da cadeia de suprimentos e permitir que o fluxo de mercadorias e
também de pagamentos sejam rastreados e registrados em tempo real. Ainda, a tecnologia
distribuída da blockchain tem o potencial para minimizar possíveis assimetrias de informação
que são responsáveis por imperfeições de mercado(YANO et al., 2018). O comércio global de
agricultura está aumentando, criando uma maior necessidade de rastreabilidade na cadeia de
fornecimento global (KIM et al., 2018).
Em um exemplo da operacionalização de uma blockchain no rastreamento de bovino
com Smart Contract, foi possível vislumbrar e testar regras e funções, que no futuro possam
desenvolver contratos mais complexos e que se aproximem mais de condições ótimas de
funcionamento. A simulação foi realizada no ambiente de desenvolvimento Remix², por ser
uma ferramenta desenvolvida para trabalhar com a linguagem Solidity, mais usada para esse
fim, sendo de fácil interação com o contrato e com o acompanhamento das variações dos
valores das variáveis (YANO et al., 2018). Na Figura 2 é apresentada a estrutura analítica da
simulação realizada com um Smart Contract visando a rastreabilidade de bovinos.

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Figura 2 - Estrutura Analítica do Smart Contract BoiZ.

BoiZ

Define Define
Define Inicia o Compra Boi Compra Boi
Preço do Preço do Eventos
Variáveis Contrato Magro Gordo
Boi Magro Boi Gordo
Fonte: Yano et al, (2018).
Um dos principais fatores para adoção da tecnologia blockchain na rastreabilidade de
cadeias agroalimentares está relacionada ao valor agregado em comparação com as soluções
existentes nas TICs (BORRERO, 2019). A implantação de mecanismos de rastreabilidade via
blockchain na cadeia produtiva da carne pode proporcionar inúmeros benefícios, podendo
conferir uma maior segurança nas transações, permitindo o rastreamento de toda a produção
do alimento. Por meio das funções criptográficas, a tecnologia pode assegurar a fidelidade dos
dados que circulam nas transações on-line, possibilitando realizar transferência de valores e
diversos acordos comerciais. Ainda, a tecnologia blockchain permite a geração de massas de
dados, podendo num futuro próximo aperfeiçoar ainda mais as cadeias produtivas com base
em análise de Big Data por meio da Inteligência Artificial (YANO et al., 2018).
Os contratos inteligentes já foram mencionados como uma das aplicações futuras no
texto escrito pelo fundador da Ethereum para monitorar automaticamente o seguro de safra,
visto que se pode facilmente fazer um contrato de derivativos financeiros, mas usando um
feed de dados do clima, em vez de qualquer índice de preços. Assim, se um agricultor adquire
um derivado que paga inversamente com base na precipitação da sua região, em seguida, se
houver uma seca, o agricultor irá receber automaticamente o dinheiro e, caso chover
normalmente, ele não precisará do seguro e todos ficarão felizes com a bela colheita
(BUTERIN, 2014).
Visando a uma apresentação visual, a Figura 3 demonstra a sequência de ações que
são necessárias para criar um contrato inteligente em três etapas.
Figura 3 – Esquema de formalização de um Smart Contract

Fonte: Adaptado de Ihodl, (2018).


Em uma comparação entre os recursos fornecidos pelas plataformas dos fornecedores
de software e as redes reais executadas pelos operadores, observou-se que 78% dos
provedores de serviços de software apresentam estruturas e plataformas de contabilidade
distribuídas que vêm com recursos integrados de Smart Contracts totalmente funcionais, mas
apenas 40% das operadoras realmente usam a funcionalidade extensa de Smart Contracts em
sua rede (HILEMAN; RAUCHS, 2017).
Buscando demonstrar de forma didática e simplista como seria a estrutura de uma
blockchain, são apresentados alguns elementos na Figura 4 que podem ajudar no melhor
entendimento desta plataforma. A ideia é fazer uma analogia ao apresentar a blockchain como

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uma árvore que, após o seu nascimento, só vai crescendo infinitamente, seus galhos e folhas –
que na ledger devem ter o seu formato igual ou a mesma escrituração que se multiplica de
forma contínua – crescem a cada novo comando que não poderá ser apagado, gerando um
histórico de todas as atividades realizadas, detalhando as etapas que podem envolver contratos
inteligentes, moedas digitais, rastreabilidade de cadeias produtivas, entre outros registros.
Figura 4 – Analogia com uma árvore da plataforma Blockchain

Fonte: Autores, 2019.


Diante do uso emergente das TICs no campo do agronegócio, há diferentes áreas que
se relacionam com as cadeias produtivas e seus elos que também estão se utilizando das novas
tecnologias, podendo-se citar alguns exemplos como: WALMART9 (irá trabalhar com a rede
IBM Food Trust para criar rastreabilidade de seus fornecedores); Dairy Farmers of
America10 ( quer aumentar a transparência da cadeia de suprimentos e um projeto-piloto é
desenvolvido pelo ripe.io para implantar uma plataforma usando dados de um grupo de
produtores membros do DFA e uma das suas fábricas); BRF e CARREFOUR 11 ( as duas
empresas se unem num projeto à IBM para reforçar a rastreabilidade de alimentos desde a
produção até as prateleiras do supermercado, visando a impedir fraudes na produção e
comercialização); CARGILL, BUNGE, ADM e LDC12 ( as quatro empresas se uniram para
criar uma plataforma mundial de exportações visando a agilizar operações globais).
A segurança alimentar está se tornando um assunto cada vez mais sério em todo o
mundo e as pessoas precisam de um sistema confiável de rastreabilidade de alimentos que
possa monitorar toda a vida útil da produção de alimentos, incluindo os processos de cultivo
de matéria-prima, processamento, transporte, armazenamento e venda (LIN et al., 2018). Em
Florianópolis, uma startup denominada Granter, possui um sistema de rastreabilidade de carne
suína R-Sui, baseada em tecnologia blochchain fechada com autorização privada. A empresa
criada em 2016, rastreia 20% de toda a carne suína produzida em escala industrial no Brasil.13
O crescente número de questões relacionadas à segurança alimentar e aos riscos de
contaminação levou a cadeia de suprimento agrícola a buscar uma solução de rastreabilidade

9
https://bit.ly/2ZdXw3v
10
https://bit.ly/30an82Q
11
https://bit.ly/2OXK0Bf
12
https://bit.ly/30gWMfu
13
https://bit.ly/2Lh0aAO

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eficaz para atuar como uma ferramenta de gestão da qualidade, garantindo a segurança
adequada dos produtos. A blockchain é uma tecnologia disruptiva que fornece uma solução
inovadora para rastreabilidade de produtos da agricultura e das cadeias de fornecimento de
alimentos que, atualmente, são ecossistemas complexos e envolvem várias partes
interessadas, tornando difícil a validação de múltiplos critérios (SALAH et al., 2019).
Uma das dificuldades globais é a legislação para atender as novas demandas por
segurança no mundo virtual. Em maio de 2018, entrou em vigor o General Data Protection
Regulation (GDPR), que regulamentou a proteção de dados dos cidadãos da União Europeia.
No Brasil não há regramentos específicos no Código Civil brasileiro que regulamentem a
celebração de contratos através de meio eletrônico ou virtual. Nesse caso, são aplicadas as
regras gerais que regem os contratos, sendo os contratos eletrônicos classificados como
atípicos, nos moldes do art. 425 do CPC (ROCHA; PEREIRA; BRAGANÇA JUNIOR, 2018).
Há uma movimentação para acompanhar as novas tecnologias desta quarta revolução
industrial que estão influenciando praticamente todos os setores no mundo. A blockchain,
para além dos segmentos do agronegócio já citados, tem sido utilizada largamente no Brasil
pelo setor público e privado. Assim, a adaptação é eminente e necessária por todas as áreas e
segmentos que buscam o desenvolvimento social, econômico e ambiental nessa nova era.
5. Conclusões
O agronegócio está em evidência no mundo e vem absorvendo as novas tecnologias
que fazem parte da sua revolução atual para se tornar mais eficiente e competitivo. Os dados e
informações disponibilizadas pelas TIC tem se mostrado como o novo campo a ser explorado.
Blockchain e os Smart Contract vêm como nova possibilidade de relacionamento com
maior confiança entre agentes do agronegócio e tantas outras áreas. De qualquer forma,
nenhuma tecnologia é uma ilha ao passo que, quanto maior for a interação, maior será o
know-how acumulado. Assim, outras tecnologias são de extrema importância como a Internet
das coisas (IoT), Big Data, inteligência artificial (AI), Biotecnologia, Robótica,
Neurotecnologia, Impressão em três dimensões (3D), entre outras.
Certamente algumas tecnologias irão beneficiar mais o agribusiness, pois com a
disponibilização dos dados coletados por sensores em diversas propriedades do mundo, a
previsibilidade irá aumentar e o produtor poderá se monetizar direta ou indiretamente pelo
fornecimento desses dados que irão agregar valor a ele e também a outros agentes
interessados, visto que o mesmo dado poderá ser interpretado de diferentes formas, a
depender do interesse da parte que irá analisá-lo.
Conforme alguns cases citados, a blockchain vem se destacando na rastreabilidade de
cadeias produtivas. Isso representa uma garantia e maior confiança para todos os elos de que o
produto rastreado não dependerá de uma terceira parte para validar ou autenticar a sua
origem. Por outro lado, a comercialização de produtos agrícolas pressupõe um acordo entre as
partes e é nesse campo que os Smart Contracts surgem como uma nova opção que, conforme
Prause e Boevsky, (2019), o potencial dos contratos inteligentes vai muito além das reduções
de custos, visto que facilita a colaboração empreendedora de processos de negócios
interorganizacionais no contexto de cadeias produtivas.
Finalmente, existem algumas dificuldades a serem superadas pelas TICs como no caso
da legislação que deve acompanhar a evolução da sociedade. No entanto, é preciso avançar
com prudência, disseminar o conhecimento para que todos os atores, a montante e a jusante
da produção até o consumidor final, entendam que a melhor tecnologia sempre será aquela
que traga benefícios para a sociedade em geral.
6. Agradecimentos
Agradecimento ao Centro de Estudos e Pesquisas e Agronegócios (CEPAN-UFRGS),
e também a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
apoio disponibilizado, sendo possível assim viabilizar esse estudo.

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Economia circular e sua relação com a produção agrícola
Circular economy and its relationship with agricultural production
Maria Antônia D. Ramos Pires 1, Verônica Schmidt2, Ângela Rozane Leal de Souza3

Resumo
A pergunta que busca resposta, incessantemente, é como manter a vida, economizando recursos naturais e
reduzindo os impactos ambientais das atividades produtivas (entre elas a produção agrícola). A União Europeia
tem dado especial atenção a esta temática e, em 2015, lançou um plano de ação para transição de economia linear
para economia circular; fato este que fomentou estudos sobre o tema nas mais diferentes atividades produtivas.
Este fato teve reflexos significativos na produção acadêmica através de estudos relacionados à Economia Circular,
a produção agrícola e avicultura, tanto nos países membros do bloco (68,62% dos países da amostra selecionada
neste estudo) como nos demais. Este trabalho de revisão sistemática, objetivou identificar como a economia
circular está relacionada com a produção agrícola especialmente com a avicultura. Inferiu-se que está relação se
dá principalmente, através da reciclagem de resíduos para obtenção de biocombustíveis, fertilizantes e reciclagem
de nutrientes.
Palavras-chave: bioeconomia, gestão de resíduos, galinha

Abstract
A question that seeks response, incessantly, and how to keep alive, saving natural resources and reducing
environmental impacts of productive activities (among them agricultural production). To European Union, special
attention was given to this theme and, in 2015, it launched a plane for the transition of linear economy to circular
economy; Fact this that encouraged studies on or subject to many different productive activities. This figure has
significant reflections on academic production through studies related to Circular Economy, agricultural
production and poultry farming, both in the bloc member countries (68.62%, two countries show selected in this
study) as well as others. This systematic review work aimed at identifying how a circular economy is related to
agricultural production especially with poultry farming. Inferred that this relationship is mainly given, through
waste recycling to obtain biofuels, fertilizers and nutrient recycling.
Keywords: bioeconomic, waste management, chicken
1 Introdução
A trajetória evolutiva da sociedade, desde a idade da pedra até os dias atuais, foi baseada
na exploração de recursos naturais que, hoje, sabemos serem finitos. O surgimento da
agricultura e pecuária elevou a oferta dos meios de subsistência e possibilitou o crescimento
populacional de 4 milhões de pessoas na idade da pedra (10.000 AC) para 500 milhões de
pessoas no final da idade média (1500 DC) (NIJDAM; ROOD; VAN OORSCHOT, 2019);
sendo que a evolução tecnológica dos sistemas produtivos abasteceu o crescimento
populacional até os dias atuais (BOSERUP, 1987).
O sistema agrícola mundial enfrenta, atualmente, o desafio de atender a demanda
crescente por produtos de origem animal e vegetal para diferentes finalidades, tais como:
alimentos, indústria têxtil, biocombustíveis, fármacos e outros. Paralelamente, os recursos
minerais para lastrear o referido crescimento produtivo, que são finitos, a cada dia tornam-se
mais escassos. Da mesma forma, cresce o total de resíduos gerados nas diversas etapas
produtivas e o destino dado a estes resíduos pode significar, unicamente, impacto ambiental ou,
seguindo as premissas da economia circular, retornar ao sistema produtivo e ser reutilizado.
A economia circular surge como uma alternativa para viabilizar o desenvolvimento
sustentável e a união europeia (EU) lançou diretrizes para impulsionar este conceito. Tais
diretrizes indicam a necessidade da transição de uma economia linear (extrai, usa e descarta)
para uma circular, com o fechamento do ciclo através da reciclagem, reuso e redução do

1Engenheira Agrícola/Doutoranda PPG Agronegócios-UFRGS- mariaantoniadomingues@hotmail.com1


2Médica Veterinária/UFRS – veronica.schmidt@ufrgs.br
3
Doutora em Agronegócios/ UFRGS - angela.souza@ufrgs.br
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consumo (3 R). Os resultados dependem diretamente da eficiência de reciclagem de resíduos e
subprodutos de forma a gerar benefícios econômicos e ambientais (QUINA; SOARES;
QUINTA-FERREIRA, 2017).
Os resíduos, na economia circular, são tratados com visão holística de forma a unificar
o seu aproveitamento, sejam eles resíduos de cultivos agrícolas, estercos, resíduos da indústria
alimentar, de lamas, de águas residuais, entre outros. O objetivo é o fechando do ciclo de
utilização, mantendo o máximo de tempo os bens em circulação e, por consequência, retardando
seu descarte (BALLARDO et al., 2017).
Os princípios da economia circular têm relação direta com a bioeconomia, sendo a
reciclagem um ponto de convergência, substituindo recursos não renováveis por renováveis,
economizando energia e material, explorando tecnologias limpas em setores como agricultura,
silvicultura, pesca, produção de alimentos e papel-celulose (LEE, 2019). O fósforo é um
exemplo de aplicação da economia circular, pois trata-se de um elemento essencial para a
nutrição e sua reciclagem representa economia das reservas naturais e, do ponto de vista
ambiental, seu descarte na natureza é impactante pois está diretamente relacionado a
eutrofização de águas (SMOL, 2019).
Ante ao exposto o presente estudo teve como objetivo examinar como a “Economia
Circular” está relacionada à produção agrícola, especialmente com a avicultura, através da
identificação dos resíduos comumente relacionados à produção e quais produtos são obtidos de
sua reciclagem. Assim como caracterizar as publicações científicas quando a origem dos
pesquisadores, distribuição temporal e áreas do conhecimento vinculadas.
A ênfase dada aos resíduos oriundos da avicultura (carne e postura) justifica-se pela
importância desta atividade para a produção agrícola Brasileira, o Brasil é o segundo maior
produtor mundial de carne de frango e o sétimo em produção mundial de ovos (ABPA, 2018).
2 Referencial Teórico
Segundo Weetman (2019, p.51 e p.66), “a economia circular (EC) se inspira na
natureza, onde o resíduo de uma espécie é o alimento de outra, e a soma fornece energia. A
economia circular movimenta em ciclos materiais e produtos valiosos, produzindo-os e
transportando-os usando energia renovável”. Em um conceito criado coletivamente, EC “é uma
economia verdadeiramente sustentável, que funciona sem resíduos, poupa recursos e atua em
sinergia com a biosfera”.
A EC é baseada em quatro princípios: 1. Resíduos ou alimentos: o resíduo de uma
espécie é alimento de outra; 2. Resiliência: explorar a diversidade para desenvolver resiliência
e recursos; 3. Energia renovável: atuação conjunta de vários atores gerando fluxos eficazes de
materiais e informação impulsionando a energia renovável; 4. Pensar em sistemas: criar
oportunidades através de conexões entre ideias, pessoas e lugares (WEETMANN, 2019).
A EC possui quatro blocos constitutivos: 1. Design da economia circular; 2. Modelos
de negócios inovadores para substituir os existentes ou para aproveitar novas oportunidades; 3.
Ciclos reversos; 4. Capacitadores e condições sistêmicas favoráveis – química verde, big data,
entre outros (WEETMANN, 2019).
Ainda de acordo com Weetmann (2019), o processamento de alimentos frequentemente
conflita com as abordagens eficientes em recursos para a agricultura, produção e varejo e,
geralmente, não é ecoeficiente. Em todos os estágios da produção agrícola aumentam as
demandas por recursos finitos, sendo que as mudanças necessárias para construção da economia
circular poderão ser recebidas com resistência.
3 Procedimentos Metodológicos

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A pesquisa realizada consistiu em uma revisão sistemática da literatura, com enfoque
qualitativo, a fim de analisar os documentos publicados e indexados em bases de dados on-line
que utilizaram o termo circular economy em combinação com a produção agrícola. Este é um
tipo de investigação focada em uma questão de pesquisa devidamente definida e que visa
identificar, selecionar, avaliar e sintetizar as evidências relevantes disponíveis na literatura.
A realização deste tipo de investigação é composta de cinco estágios, quais sejam: (i)
definição dos termos e dos métodos de busca; (ii) definição das bases de dados; (iii) seleção
dos artigos; (iv) levantamento dos principais pontos de cada artigo e (v) análise dos resultados
(COSTA; CARVALHO, 2016).
A definição do termo central do estudo, circular economy, contemplou o primeiro
estágio dado estudo, foram estipulados outros filtros de forma a restringir aos estudos
relacionados à produção agrícola e avicultura.
O segundo estágio do estudo contemplou a definição das bases de dados Scopus e Web
of Science, para investigação, em virtude da relevância no âmbito científico.
Na sequência ocorreu a seleção dos artigos, com a utilização da palavra-chave circular
economy e sua ocorrência no título, resumo e/ou palavras-chave. Foram adicionadas palavras
chaves secundárias, primeiro restringindo a busca a artigos relacionados à produção agrícola
empregando o termo agri* e, posteriormente, aqueles ligados à avicultura, através da palavra
poultry.
Seguindo as etapas sugeridas, obteve-se um portifólio de 71 arquivos, contidos na base
de Scopus e 3 documentos na base de dados Web of Science. Deste total foram excluídos os
documentos repetidos, a amostra foi restringida aos artigos de journals revisados por pares,
bem como aos escritos na língua inglesa. Foi obtido um portifólio final de 60 artigos. A busca
foi realizada em 09 de julho de 2019, não havendo restrição quanto à data de publicação e,
tampouco, área do conhecimento contemplada pelos documentos.
Para fundamentar os resultados e discussões, foram analisados os seguintes aspectos
dos artigos selecionados: título, autores, metodologia quanto ao procedimento técnico utilizado
na pesquisa, ano de publicação, periódico em que foi publicado, escopo do periódico, palavras-
chave, país de origem dos autores, a qual resíduo o estudo está direcionado e a existência de
citação quanto a tecnologias de processamento e produtos obtidos a partir da reciclagem.
Para análise dos dados procedeu-se uma análise de conteúdo que, segundo Bardin (
1977), consiste em um conjunto de técnicas de análises das comunicações visando obter, por
procedimentos sistemáticos e de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores
(quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção e recepção dessas mensagens a fim de explicitar e sistematizar o conteúdo. Assim,
segundo o autor, possibilita efetuar deduções lógicas e justificadas, referentes à origem das
mensagens tomadas em consideração.
Os documentos selecionados foram utilizados também como fonte de dados para
revisão bibliográfica no software VOSViewer, bem como o portifólio foi revisado e os
documentos categorizados em duas classificações, a partir da leitura do resumo dos documentos
e eventual aprofundamento no texto completo, quando necessário (SOCORRO; FIGUEIREDO,
2014). Para confecção dos mapas foram analisados o título, as palavras chave, resumo dos

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artigos, adotando o método de contagem total, considerando o número mínimo de duas
ocorrências por documento. Os resultados desta análise foram organizados em clusters que se
interligam através de linhas, quanto maior o círculo maior seu peso e quanto mais próximos
maior a força de sua ligação.
Conseguinte, foi realizada a classificação quanto à temática abordada e quanto à
metodologia utilizada no que tange ao procedimento técnico obteve-se, desta forma, as
categorias tabuladas na Tabela 1.
Tabela 1 – Categorias quanto ao tema dos estudos e a metodologia utilizada quanto ao procedimento técnico.
Tema Metodologia

Gestão e políticas Estudo de caso

Subproduto agroalimentar Experimento

Resíduo de mineração Proposição de modelo

Resíduo orgânico (animal) Revisão

Resíduo orgânico (vários)

Resíduo orgânico (vegetal)

Não definido

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base nos artigos selecionados nas bases Scopus e Web of Science.

4 RESULTADOS E DISCUSSÂO
4.1 Distribuição temporal das publicações e classificação por metodologia utilizada nos
estudos
A amostra selecionada sugere que as publicações que relacionam a Economia Circular
e a produção agrícola são recentes, no entanto, não é possível afirmar que tiveram início em
2010, mas tão somente, que os tais estudos começaram a ser relacionados com a Economia
Circular nesta data. O crescimento de publicações com esta abordagem é percebido na figura
1, nele também estão identificadas as metodologias dos estudos. Os documentos de revisão são
maioria (26 artigos) seguido de experimentos (19 artigos) sugerindo uma fase de busca por
conhecimento sobre a economia circular e as possíveis aplicações práticas.
As publicações sobre economia circular relacionadas à produção agrícola, com foco na
avicultura, apresentam maximização considerável a partir de 2015. Este fato pode ser
justificado, especialmente, porque neste ano a Comissão Europeia adotou um plano de ação
para apoiar a transição da economia europeia de linear para circular, tendo como motivação
fundamental promover o crescimento sustentável, este plano contempla cinco setores
prioritários, que são: Plásticos, resíduos alimentares, matérias-primas essenciais, construção e
demolição, biomassa e materiais de base biológica (COMISSÃO EUROPEIA, 2019).

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Figura 1 – Distribuição temporal das publicações que relacionam Economia Circular e a produção agrícola

25

20
10
Quantidade

15 9

1
10 3
3 8
4
5 1
1 4
3 3 4
1 1 2 2
0
2010 2011 2015 2016 2017 2018 2019
Ano das publicações
Estudo de caso Experimento Proposição de Modelo Revisão

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base nos artigos selecionados nas bases Scopus e Web of Science.

Na sequência, a Figura 2 mostra quais países mais pesquisaram a temática do presente


estudo e nela percebesse a presença de 13 países da UE entre os 19 constantes da amostra. Para
construção da figura foram analisadas a autoria e co-autoria dos documentos, considerando o
número mínimo de dois documentos por país. Dos 31 países que pesquisaram o tema, 19 deles
atenderam o limite mínimo de publicações estipulado. Dos 19 países considerados para elaborar
o mapa da Figura 2, treze são integrantes da UE, o que representa 68,62% da amostra. Cabe
salientar que o Reino Unido foi considerado como membro do referido bloco uma vez que sua
saída, apesar de ter sido aprovada por consulta pública em 2016, até a presente data ainda não
ocorreu efetivamente.
Figura 2 – Mapa de países dos pesquisadores sobre Economia circular e sua relação com a produção agrícola
com ênfase à avicultura.

Legenda: Número de países: 19; Número de países por clusters: (a) vermelho: 6 (b) verde: 6 (c) azul: 4 (d)
amarelo: 3
Os artigos selecionados foram publicados em diferentes periódicos, a Figura 3
apresenta os principais periódicos científicos onde ocorreram as publicações. Tendo sido
considerado, em sua elaboração, aqueles onde foram publicados pelo menos dois artigos.

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Figura 3 – Principais periódicos das piblicações sobre Economia Circular e a produção agrícola.

Journal of Cleaner Production 7


Sustainability (Switzerland) 6
Renewable and Sustainable Energy Reviews 4
Waste Management 3
Reviews in Environmental Science and… 2
Periódico

Waste and Biomass Valorization 2


Aquaculture Nutrition 2
Resources, Conservation and Recycling 2
Aquaculture 2
Applied Sciences (Switzerland) 2
Applied Energy 2
Agronomy for Sustainable Development 2
Journal of Material Cycles and Waste Management 2
Quantidade de publicações

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base nos artigos selecionados nas bases Scopus e Web of Science.
4.2 Temática central dos trabalhos
Além dos dados bibliométricos, expostos anteriormente, foi realizada uma classificação
dos artigos quanto a temática central, especialmente sobre o que foi considerado como objeto
da Economia circular. A análise do conteúdo dos documentos foi realizada a partir da leitura
de seus resumos, título, palavras chave e autor e possibilitou classificá-los conforme as
características de cada categoria descrita a seguir:
I. Gestão e políticas - Os documentos classificados (2 artigos) nesta categoria são voltados à
gestão de empresas e/ou políticas públicas voltadas à viabilização ou fomento da transformação
de economia linear em economia circular.
II. Resíduo de mineração – Nesta categoria estão alocados artigos que abordam, diretamente,
do aproveitamento de resíduos de mineração. Os estudos (2 artigos) foram conduzidos na
Polônia, país com estrutura geológica que propícia a atividade de mineração e onde a
exploração de matérias-primas de rochas desempenha um papel importante neste setor da
economia. A atividade de mineração afeta de forma negativa, mesmo que indiretamente, o
desempenho ambiental de diversas atividades do agronegócio (KAŹMIERCZAK et al., 2018).
III. Resíduo Orgânico (animal) – Os estudos relacionados nesta categoria são voltados a
reutilização de resíduos provenientes da produção animal, tais como esterco, cascas de ovos,
conchas de mariscos e resíduos de abatedouros. Assim foram identificados 18 artigos, sendo
que 12 deles relacionados a reutilização de esterco, mais frequentemente com digestão
anaeróbica e os produtos a ela relacionados tais como biogás, energia, adubo orgânico,
reciclagem de fósforo e produção de insetos para fabricação de ração animal. Entre os
documentos, quatro trataram do uso de sobras de abatedouros de animais terrestres ,como fonte
lipídica para ração de peixes (robalo) (CAMPOS et al., 2018; CAMPOS et al., 2019; CAMPOS
et al., 2018; MONTEIRO et al., 2018). Ainda foram classificados nesta categorias, um trabalho
sobre reutilização de cascas de ostras e outro sobre reuso de casca de ovos provenientes de
indústrias, ambos tem similaridades quanto a aplicabilidade como fonte de cálcio para
aplicações como: construção civil, suplemento alimentar, fertilizante, entre outros (MORRIS;
BACKELJAU; CHAPELLE, 2019;(QUINA; SOARES; QUINTA-FERREIRA, 2017).
IV. Resíduo orgânico (vários) – Os resíduos aqui designados referem-se a diferentes origens
tais como esterco de animais, sobras de cultivos, esgoto urbano, resíduos industriais,
independentemente de sua combinação nos estudos. O estudo de caso de uma “planta de multi
processamento de resíduos”, é um bom exemplo desta categoria. A referida unidade tem como
objetivo diminuir custos de reciclagem e elevar a eficiência dos processos, nela são tratados
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resíduos de diferentes origens, urbanos, industriais e agrícolas e o tratamento ocorre de forma
a integrar energia e massa de processos individuais de tratamento de resíduos (digestão
anaeróbica e pirólise) obtendo, assim, um processo integrado único elevando a sua viabilidade
econômica. Neste estudo a reciclagem dos resíduos também envolve a geração de energia
(biogás, gás natural sintetizado e pellets de carbono) e de fertilizantes de liberação lenta
(estruvita). A mistura de resíduos possibilitou uma codigestão estável melhorando a eficiência
dos equipamentos e resultou em produtos com taxas de recuperação de nutrientes de até 95,4%,
no caso da estruvita. O conceito de multi processamento foi considerado um exemplo
inequívoco do modelo de economia circular (HIDALGO; MARTÍN-MARROQUÍN;
CORONA, 2019).
V. Resíduo orgânico (vegetal) – Nesta classificação estão os estudos que utilizaram resíduos
de origem vegetal, tais como algas marinhas, resíduos de café (borra), sobras de cultivos
agrícolas, cascas de cacau, sobras de cultivos de cogumelos comestíveis, resíduos de vinícolas
e resíduos da indústria de azeite de oliva. Nesta categoria foram classificados 9 estudos que se
referem, em sua maioria, à reciclagem de resíduos através de biodigestão (aeróbica e
anaeróbica) para obtenção de biogás, fertilizantes, reciclagem de nutrientes (NPK), substrato
para produção sem solo entre outros. A exceção foi um estudo sobre viabilidade de aproveitar
resíduos da indústria de azeite de oliva para alimentação de aves tendo concluído ser adequado
seu uso em dietas de frango para melhorar o desempenho e o estado oxidativo da carne
(BRANCIARI et al., 2017).
VI. Subprodutos agroalimentar – Os artigos alocados nesta categoria (5), tiveram como
objeto de estudo os resíduos da indústria agroalimentar, as sobras de alimentos processados e
sobras de restaurantes. As perdas de produtos destinados à alimentação humana, por longa data
foram aproveitadas como alimentação para animais. Contudo, com sua proibição atual na UE e
os apelos para promoção da Economia Circular, trouxe esta questão ao debate acadêmico. Neste
caso, as sobras de alimentos preparados para consumo humano serem usadas na alimentação
de suínos. O estudo buscou identificar a opinião das pessoas ligadas a cadeia produtiva de
suínos quanto à sua utilização. Os entrevistados de modo geral mostraram-se preocupados com
o controle de doenças, no entanto aqueles ligados a indústria da carne suína foram menos
favoráveis a legalização, enquanto que os produtores e as pessoas preocupadas com o
desempenho financeiro demonstraram maior aceitação ao uso da “lavagem” na alimentação dos
animais, além de perceberem benefícios ao meio ambiente através da reciclagem deste tipo de
resíduo (ZU ERMGASSEN et al., 2018).
Os resultados gerais desta categorização são apresentados na Figura 4, quantidade e
percentual referentes a cada tipologia.
Figura 4 – Distribuição dos documentos quanto as categorias construídas pela temática central abordada.
2; 3% 2; 3%
5; 9%
Gestão e politicas

Resíduo de mineração
9; 15%

18; 30% Resíduo orgânico (animal)

Resíduo orgânico (vários)

Resíduo orgânico (vegetal)


24; 40%
Subproduto agroalimentar

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base nos artigos selecionados nas bases Scopus e Web of Science.

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4.3 Tecnologias e produtos resultantes, citadas nos estudos
Os artigos analisados contemplaram diversas tecnologias de reciclagem de resíduos e
produtos resultantes destes processos, como forma de diagnosticar estas tendências o portfólio
foi submetido a análise no software VOSviewer, resultando na Figura 5. Obtiveram-se 868
palavras no total e 190 destas atenderam ao mínimo de ocorrência, de onde foram retiradas 23
por não estarem relacionadas a tecnologias e produtos, restaram 167 termos.
A figura apresenta graficamente os resultados observados nas leituras dos artigos, em
que Economia circular relaciona-se com a produção agrícola, principalmente através da
reciclagem de resíduos de produção, utilizando de forma intensa a digestão anaeróbica com a
finalidade principal de obtenção de biocombustíveis, fertilizantes e reciclagem de nutrientes
fundamentais para a vida como o fósforo, cálcio, nitrogênio, etc.
Figura 5 – Mapa de palavras do portifólio de artigos sobre Economia circular e sua relação com a
produção agrícola com ênfase na avicultura.

Legenda: Número de palavras selecionadas: 190; Identificação dos clusters: vermelho- Produção vegetal como
consumidora de produtos reciclados; verde- Administração, gestão de resíduos e sustentabilidade; azul- Produção
animal como fornecedora de material para reciclagem; amarelo- Uso do solo como fornecedor e receptor; lilás-
Agricultura como fornecedora de material para reciclagem; azul claro - Produção animal como consumidora de
material reciclado; laranja- Processos de reciclagem e materiais utilizados; Número de links: 3545
O cluster 6, que trata da produção animal como consumidora de produtos reciclados,
mostra menor intensidade e quantidade de ligações, sugerindo ser uma área menos contemplada
com estudos para aproveitamento de produtos reciclados na atividade produtiva.
5. Conclusões
Nesta investigação concluiu-se que a “Economia Circular” se relaciona com a produção
agrícola, principalmente, através da reciclagem de resíduos de produção, utilizando de forma
intensa a tecnologia da digestão anaeróbica, com a finalidade principal de obtenção de
biocombustíveis, fertilizantes e reciclagem de nutrientes fundamentais para a vida como o
fósforo, cálcio, nitrogênio etc.
Os estudos relacionados ao tema são recentes, sendo a primeira publicação em 2010, o
uso do conceito de economia circular em estudos relativos à produção agrícola foi impulsionado
a partir de 2015, fato atribuído pela apresentação de um plano de ação na União Europeia com

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o objetivo de realizar a transição de uma economia linear para a circular. Um reflexo deste
fomento é o resultado que 68,62% dos artigos analisados são ligados a país do referido bloco.
A tendência percebida é de crescimento dos estudos sobre esta relação Economia
circular e produção agrícola, em especial como forma de reduzir os impactos ambientais,
economizar reservas naturais e melhorar o desempenho financeiro das empresas.
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Explorando oportunidades tecnológicas em etanol celulósico
Exploring technology opportunities in cellulosic ethanol
Antonio L. Fantinel1, Rogério Margis2, Edson Talamini3, Homero Dewes4

Resumo
O estudo sugere futuras direções de P&D para etanol celulósico relacionado a biologia sintética. As buscas por
patentes foram realizadas na plataforma Questel Orbit, abrangendo os últimos vinte anos de depósito (1999 –
2018). Um total 319 famílias de patentes foram recuperadas, validadas e cuidadosamente estudadas de acordo
com o objetivo da pesquisa. As famílias de patentes nessa área tecnológica estão relacionadas principalmente a
utilização de diferentes matérias-primas de biomassa lignocelulósica, em enzimas, leveduras e bactérias como
fábricas vivas. Outra área de destaque das patentes está na modificação desses microorganismos utilizando
ferramentas de engenharia metabólica e engenharia genética para uma melhor tolerância às diferentes fontes de
carbono. Os resultados maximizam a compreensão quanto ao desenvolvimento tecnológico desta área,
demonstrando que no futuro próximo a produção de alimentos e de energia não serão mais concorrentes pela
mesma matéria-prima de base, e auxiliando na elaboração de novas pesquisas e projetos para uma bioeconomia
Palavras chaves: Produção microbiana, Vias Biosintética, Ciência da informação.

Abstract
The study suggests future R&D directions for cellulosic ethanol related to synthetic biology. Patent searches were
performed on the Questel Orbit platform, covering the last twenty years of filing (1999 - 2018). A total of 319
patent families were retrieved, validated and carefully studied according to the research objective. Patent families
in this technological area are mainly related to the use of different lignocellulosic biomass feedstock in enzymes,
yeasts, and bacteria as living factories. Another prominent area of patents is the modification of these
microorganisms using metabolic engineering and genetic engineering tools to better tolerance to different carbon
sources. The results maximize understanding of the technological development of this area, demonstrating that
shortly food and energy production will no longer be competing for the same basic raw material, and assisting in
the development of new research and projects for a bioeconomy.
Keywords: Microbial Production, Biosynthetic Pathways, Information Science.

1 Introdução

O desenvolvimento de biocombustíveis é uma questão prioritária da ordem global na


tentativa de minimizar as mudanças climáticas. O etanol produzido a partir da cana-de-açúcar
pelo Brasil (RUDORFF et al., 2010) e milho nos EUA (PIMENTEL; PATZEK, 2005) são as
principais commodities na cadeia global de combustíveis renováveis.
Entretanto, em meio a sérias preocupações sobre a segurança alimentar e energética no
longo prazo, novas plataformas utilizando microorganismos sintéticos vem sendo
desenvolvidas para a produção de etanol (LEE et al., 2008; TSAI et al., 2010;
DELLOMONACO et al., 2010; LIU et al., 2013; MORENO et al., 2017; DINIZ et al., 2017;
BILAL et al., 2018). Assim, biofábricas vivas projetadas apresentam vantagens significativas e
promissoras em comparação a primeira geração de biocombustíveis, pois visam minimizar a
competição entre a produção de alimentos e biocombustíveis (HARVEY; PILGRIM, 2011;
KOIZUMI, 2014, 2015), cuja produção pode afetar diretamente a segurança alimentar
(PERALTA-YAHYA et al., 2012; TOMEI; HELLIWELL, 2016; KOIZUMI, 2014, 2015).
Microrganismos como fábricas vivas possibilitam a utilização de uma ampla gama de
açúcares (AZHAR et al., 2017), entre as quais tem-se a biomassa lignocelulósica (LEE et al.,
2008; MORENO et al., 2017; BILAL et al., 2018). O emprego dessa fonte de açúcar possibilita
a não dependência de recursos agrícolas comumente usados em alimentos, como milho, cana-

1
Tecnólogo em agronegócio / CEPAN-UFRGS- tonifantinel@gmail.com
2
Ciências biológicas / Departamento de biofísica – UFRGS- rogerio.margis@ufrgs.br
3
Ciências econômicas/DERI -UFRGS-edson.talamini@ufrgs.br
4
Farmácia/ Departamento de biofísica- UFRGS -hdewes@ufrgs.br
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de-açúcar, soja e óleo de palma. Destarte, configurando-se como um biopolímero abundante no
globo que pode ser projetado para produzir substitutos de combustíveis fósseis (LEE et al.,
2008), tende a provocar mudanças significativas nos sistemas socioeconômicos, agrícolas,
energéticos e técnicos (MCCORMICK; KAUTTO, 2013).
Dessa forma, evidencia-se a necessidade de maximização da compreensão da
comunidade científica acerca dos avanços da biologia sintética na construção e manipulação de
microorganismos para produção de etanol celulósico, haja vista sua importância para produção
de combustíveis cada vez mais sustentáveis. Assim, para obter essa visão abrangente e
sistemática do estado atual do desenvolvimento tecnológico em etanol celulósico relacionado a
biologia sintética, foram recuperadas e analisadas patentes relacionadas a tal tópico, publicadas
entre os anos de 1999 e 2018. Conquanto, examinou-se esta evolução, explorando as
oportunidades potenciais e as lacunas existentes na P&D para o campo científico analisado.

2 Referencial Teórico

Falar e conceituar biologia sintética não se configura como uma tarefa fácil, pois trata-
se de um campo científico relativamente recente, que combina os princípios da biologia e
engenharia. Em sua essência, biologia sintética estava diretamente ligada aos esforços para
"redesenhar a vida" (BENNER, 2003).
Apesar das diferentes conceituações sobre o tema, há um consenso de que a biologia
sintética visa projetar e construir novas peças biológicas, dispositivos e sistemas não existentes,
e o re-design de sistemas biológicos naturais existentes para fins úteis (BENNER, 2003; ENDY,
2005; MUKHERJI; OUDENAARDEN, 2009; WANG et al., 2012). Todavia, com o passar dos
anos, a área vem passando por diferentes estágios, objetivos e aplicações.
É possível verificar que a biologia sintética está emergindo como uma importante
disciplina, com potencial de impactar em diferentes áreas do conhecimento e da indústria. Entre
os seus distintos focos está o desenvolvimento de novas vias metabólicas em microrganismos
para produção de biocombustíveis avançados (DUTTA; DAVEREY; LIN, 2014). As vantagens
em comparação a primeira geração de biocombustíveis são visíveis e promissoras. Esses
microorganismos utilizam matéria-prima não alimentícia, como biomassa lignocelulósica,
metano, CO2 e luz solar, amplamente disponíveis no globo (CHISTI, 2013; ARO, 2016). Deste
modo, tal utilização traria possíveis soluções às questões de segurança alimentar e energética.
Pensando nisso, inúmeros pesquisadores vêm alocando esforços no desenvolvimento,
construção e otimização de microorganismos utilizando abordagens de biologia sintética e
engenharia metabólica para produção de biocombustíveis (ATSUMI et al., 2008; LEE et al.,
2008; RUDE; SCHIRMER, 2009).
Para circunscrever esta abordagem, tem-se a Escherichia coli e a Saccharomyces
cerevisiae, como exemplos, que consistem em cepas hospedeiras amplamente utilizadas como
fábricas vivas em função das suas características desejáveis (JULLESSON et al., 2015). Não
obstante, com o passar dos anos, outros microorganismos também vêm sendo estudados no
intuito de superar as dificuldades das fábricas de células modelos. Um exemplo são os
organismos fotossintéticos (ATSUMI et al., 2009; MACHADO; ATSUMI, 2012) que utilizam
CO2 de forma direta, e os metanotróficos (LIAO et al., 2016; STRONG et al., 2015) que
possibilitam a utilização de gás natural como fonte de carbono.

3 Procedimentos Metodológicos
Neste estudo, o conjunto de dados de patentes foi selecionado usando um processo
rigoroso. Os dados de documentos de patentes foram obtidos usando a base Questel Orbit,
(LAMBERT, 2004; FANTINEL et al., 2015; FANTINEL et al., 2017). O sistema de busca

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Orbit dá acesso à base de dados da FAMPAT, que por sua vez, abrange publicações de patentes
em todos os segmentos tecnológicos de 90 escritórios nacionais incluindo o INPI brasileiro e 6
escritórios regionais (EPO, WIPO, OAPI, ARIPO, EAPO e CGC). As publicações são
agrupadas em famílias de patentes (AXONAL, 2015).
A consulta utilizada nesta pesquisa contém três principais estratégias de busca
combinadas. A primeira estratégia aborda diferentes conceitos e abordagens relacionadas à
biologia sintética. A segunda estratégia de pesquisa contempla os tipos de biocombustíveis
concernentes a etanol. A terceira estratégia busca por fontes de biomassa lignocelulósica.
Operadores booleanos e símbolos de proximidade foram utilizados.
Assim, a estratégia de recuperação de dados na entrada dos campos de conceitos, título,
resumo dos documentos de patentes foi a seguinte: ((synthetic 2D (biolog+ OR genom+ OR
nets)) OR (metabolic 2D (engineer+ OR pathway+))) AND (ethanol OR bioethanol OR alcohol
OR bioalcohol OR second generation OR 2G) AND (lignocellulosic 2D (biomas+)) AND
(xylose OR hemicellulose OR pentose OR residue OR corn stover OR switchgrass OR rice
straw) AND (sugar 2D (cane bagasse OR fermentation)). Como retorno, 319 famílias de
patentes de janeiro de 1999 a dezembro de 2018 foram recuperadas. Posteriormente procedeu-
se com tratamento estatístico utilizando a ferramenta analyze, permitindo o cruzamento dos
dados e análise semântica das patentes. Foi analisado a evolução na busca por pedidos de
patentes, domínios tecnológicos, principais conceitos, clusters de tecnologia e classificação das
patentes pelo IPC, possibilitando assim, explorar oportunidades potenciais e as lacunas existentes
na P&D para o campo científico analisado.

4 Resultados
O primeiro passo da análise é mostrar a evolução dos depósitos de patentes em etanol
celulósico com abordagem de biologia sintética nos últimos 20 anos (1999 – 2018) (Figura 1).
O número de famílias de patentes é apresentado pelas barras de cinza. Um total de 309 famílias
de patentes foram depositadas nos últimos vinte anos (1999 – 2018). Nos primeiros oito anos
(1999 – 2006) houveram apenas cinco depósitos, crescendo após esse período. Picos de
depósito são verificados em 2010 e 2014. Verifica-se também que nos quatro últimos anos
números reduzidos de patentes foram depositados.

Figura 1 – Linha do tempo da atividade de patenteamento em etanol celulósico relacionado a


biologia sintética
50
45
40
Número de famílias

35
30
25
20
15
10
5
0

Período (1999-2018)

Fonte: Orbit (2019)

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Para uma avaliação mais detalhada das 319 patentes em etanol celulósico relacionado a
biologia sintética, os dados foram categorizados em vinte e um domínios tecnológicos com base
em sua relevância e aplicação (Figura 2). As categorias sob o domínio de biotecnologia
dominam as patentes de etanol celulósico relacionado a biologia sintética.

Figura 2 – Domínios tecnológicos em etanol celulósico relacionado a biologia sintética

Fonte: Orbit (2019)

Por sua vez, a Figura 3 apresenta os principais temas identificados nas patentes sobre
etanol celulósico. Pode-se verificar que estes relacionam-se a fermentação de biomassa
lignocelulósica (palha de milho, trigo e arroz e bagaço de cana-de-açúcar) por microorganismos
(leveduras e enzimas) utilizando substratos como a xilose, arabinose e hemicellulose para
produção de etanol.

Figura 3 – Nuvem de conceitos tecnológicos em etanol celulósico relacionado a biologia sintética

Fonte: Orbit (2019)

Figura 4 apresenta o conjunto de documentos agrupados de acordo com sua


proximidade semântica. Os conceitos de cada cluster são resultado do conteúdo semântico das
patentes analisadas. Com a utilização dos clusters pode-se identificar as principais tecnologia
recuperadas na busca, identificando-se seis clusters.

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Figura 4 – Clusters de tecnologia em etanol celulósico relacionado a biologia sintética

Fonte: Orbit (2019)

Dentre estes o intitulado “recombinant microbial host cell; microbial population; raw
material generation” apresenta o maior número de patentes. Os principais focos nesse cluster
estão relacionados a tolerância em células microbianas (WO2019 / 058260), fermentações de
biomassa (WO2018215956), assimilação de xilose por leveduras (WO2015166645), pré-
tratamento de biomassa lignocelulósica (CA3012218), métodos e composições em
microorganismos (WO2009124321), engenharia genética microbiana (US20160289695), Alfa-
galactosidases e suas utilizações (WO2016097324), edição genômica (WO2015168158),
biorrefinaria integrada (US20130236941), etanol usando açúcares com 5 e 6 átomos de carbono
(WO2015092336), destilação de etanol a partir de massa lignocelulósica (JP2012183013),
replicação de vetor e métodos de expressão (US20140170724), recuperação de energia térmica
(WO2014130352) entre outros temas.
Por sua vez, o segundo cluster está intitulado como “saccharization enzime consortium;
washed acytated lignocellulosic cake; liquid”, one verificam-se patentes sobre biomateriais
fungosos filamentosos (US20190040352), conversão de lignina (US20180371502), Remoção
de sólidos não dissolvidos na fermentação (CA2823222), modificação gênica em Clostridium
(US20180057807), hidrolisado a partir da biomassa celulósica (WO2017112477;
TW201629231), solução aquosa de açúcar (WO2011162009; CA2819019; WO2011111451),
ethanol de celulose (CA2917413; US20150087040), fermentação de pentose (CA2891482;
WO2011150313), redução de lignina e aumento de celulose (US20080235820) entre outros.
Os demais clusters estão relacionados a “dependent acetylation acetaldehyde;
recombinant gram-positive clostridial; biphosphate carboxylase aoxigenase”, “Birchwood
xylan hydrolysis; birch wood xylan hydrolysis; cellulosic material”, Engineered metabolic
pathways; heterologous enzyme; 12 propanediol”, Isoprene synthase polypeptide ; propylene
production; isoprene”.
Os dados dos dez principais códigos segundo a Classificação Internacional de Patentes
(IPC) em etanol celulósico estão apresentados na Tabela 1. Os três maiores códigos utilizados
para classificar as patentes são da classe C12P, ou seja, processos de fermentação ou processos
que utilizem enzimas para sintetizar uma composição, ou composto químico desejado, ou para
separar isômeros ópticos de uma mistura racêmica.

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Tabela 1 – Códigos IPC com os principais conceitos das patentes em etanol celulósico relacionado a
biologia sintética
Códigos IPC Descrição do código Nº famílias
Preparação de compostos orgânicos contendo oxigênio
C12P-007/06 31
••• Etanol, i.e., não para bebida
••••produzido como sub produto ou a partir de substrato de resíduo ou de
C12P-007/10 material celulósico 17
••••• substrato contendo material celulósico
•contendo um grupo hidroxila
C12P-007/16 •• acíclicos 14
••• Butanóis
C12N-001/21 Bactérias modificadas pela introdução de material genético exógeno 13

C12N-001/20 Bactéria e seus meios de cultura 11


Preparação de células híbridas por fusão de duas ou mais células, p. ex.
fusão de protoplastos Introdução de material genético exógeno usando
vetores; Vetores; Utilização de hospedeiros para os mesmos; Regulação da
expressão
C12N-015/81 11
••• Vetores ou sistemas de expressão especialmente adaptados a hospedeiros
eucariotos
•••• para fungos
••••• para leveduras
C12N-001/19 Leveduras modificadas pela introdução de material genético exógeno 10
•••• Estágios múltiplos de fermentação; Utilização de fermentação com
C12P-007/14 9
diferentes tipos de micro-organismos ou reuso de micro-organismos
C12P-007/18 ••• poli-ídricos 9

C12N-001/22 Produção de etanol, não para bebida 7


Fonte: IPC/INPI (2019)

O maior código detentor de depósitos (31 famílias) é classificado como C12P-007/06,


descrito como preparação de compostos orgânicos contendo oxigênio como etanol, não para
bebida. O segundo maior código (17 famílias) é classificada como C12P-007/10, descrito como
etanol produzido como subproduto ou a partir de substrato de resíduo, ou de material celulósico.
Terceiro código, com 14 famílias de patentes é C12P-007/16, descrito como preparação de
compostos orgânicos contendo oxigênio, um grupo hidroxila, acíclicos e butanóis. Na
sequência aparecem códigos do grupo C12N, ou seja, micro-organismos ou enzimas, ou suas
composições; propagação, conservação, ou manutenção de micro-organismos; engenharia
genética ou de mutações e meios de cultura.
Não obstante, a Figura 5 apresenta a distribuição dos principais termos semânticos nos
dez maiores códigos (IPC). A análise possibilita identificar as temáticas nos diferentes códigos
de classificação. Das 31 famílias de patentes classificadas como C12P-007/06, estão
relacionadas as temáticas de produção de etanol por fermentação de biomassa lignocelulósica,
utilizando palha de trigo, arroz e cana-de açúcar (hemicelulose e xilose). Já as patentes
classificadas com C12P-007/10 fazem uso na sua grande maioria de palha de milho e arroz ou
resíduos agrícolas para a produção de etanol. As patentes classificadas no código C12P-007/16
na sua maioria estão relacionadas a utilização de biomassa lignocelulósica, principalmente a
cana-de-açúcar para produção de etanol.

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Figura 5 – Principais termos semânticos paras os códigos IPC em etanol celulósico relacionado a biologia
sintética

Fonte: Orbit (2019)

5 Discussão
Tendo o objetivo em examinar a evolução, as oportunidades potenciais e as lacunas
existentes no desenvolvimento tecnológico em etanol celulósico relacionado a biologia
sintética, podemos sugerir que o campo analisado está pautado na produção de etanol utilizando
diferentes biomassas lignocelulósica, como palha de milho, trigo, arroz e bagaço de cana-de-
açúcar. Para isso utilizam-se microorganismos, enzimas, leveduras e bactérias, como fábricas
vivas. Outra área com destaque das patentes está na modificação de microorganismos utilizando
ferramentas de engenharia metabólica e engenharia genética para uma melhor tolerância as
diferentes fontes de carbono.
Apesar dos avanços tecnológicos verificados, desafios devem ser superados na
produção de etanol utilizando biomassa celulósica, principalmente no desenvolvimento de
sistemas celulares capazes de utilizar diferentes fontes de carbono (KO; LEE, 2018). Estima-se
que as tecnologias para a produção de etanol celulósico estejam maduras nos próximos anos
(DARVISHI et al., 2018).
Combinado com a necessidade de fábricas vivas eficientes, também é necessário se
pensar no substrato usado por esses microorganismos que devem ser baratos e disponíveis em
grande quantidade. O potencial inexplorado da biomassa lignocelulósica, em especial no Brasil,
oferece um novo caminho para a produção de biocombustíveis que não competem com
alimentos (DILEKLI; DUCHIN, 2016; MAHESHWARI, 2018). No Brasil, a extensão
territorial e as características edafoclimáticas regionais possibilitam a produção intensiva de
biomassa para biotecnologia industrial a um custo menor em comparação com outros países
que prospectam células microbianas sintéticas. Concomitantemente, tem-se a necessidade de
usar subprodutos e resíduos agroindustriais como substrato (GONZÁLEZ-GARCÍA;
GULLÓN; GULLÓN, 2018), podendo no futuro tornar-se o maior produtor de produtos de
origem biológica.
Apesar das dificuldades ainda enfrentadas, esse campo reverbera o conceito de
bioeconomia com novas formas de produção de bioprodutos, ou seja, recursos biológicos da
terra e do mar, bem como resíduo, fibras, produtos industriais, energia e saúde, englobando
qualquer material biológico que pode ser utilizado como matéria-prima (EPSO, 2011). Produtos
de base biológica estão tornando-se um dos maiores e mais importantes setores da economia da

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União Europeia, tendo valor estimado em 2,1 trilhões de euros, gerando mais 18 milhões de
empregos (BIO-BASED INDUSTRIES, 2017).

6 Conclusão

O foco principal das patentes recuperadas em etanol celulósico está em processos de


fermentação utilizando resíduos agrícolas ou de material celulósico tendo como fábricas vivas
microorganismos sintéticos. Esses microorganismos são modificados utilizando ferramentas de
engenharia metabólica e engenharia genética, visando melhorar sua tolerância para processos
de fermentação que envolvem açucares presentes na biomassa lignocelulósica.
Os resultados encontrados fornecem aos pesquisadores uma melhor compreensão do
desenvolvimento tecnológico em etanol celulósico, ajudando no desenvolvimento de novas
pesquisas e projetos no campo da bioenergia e consequentemente no âmbito do agronegócio.

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Fazendas Verticais: um estudo sobre as tecnologias adotadas

Vertical Farms: a study on the technologies adopted

Deise de Oliveira Oliveira Alves1, Geneci da Silva Ribeiro Rocha2, Maielen Lambrecht
Kuchak3, Letícia de Oliveira4

Resumo
Diante de um contexto de urbanização acelerada, as fazendas verticais surgem como uma importante ferramenta
de segurança alimentar, nutricional e ambiental. Sendo assim, esse artigo tem como objetivo analisar as principais
tecnologias utilizadas nas fazendas verticais encontradas na literatura. Para atingir tal objetivo, utilizou-se a
ferramenta Análise Swot, por meio de uma revisão sistemática da literatura que compreendeu a análise das
publicações nas bases de dados da Elsevier’s Scopus e Web of Science sobre “vertical farms”. Concluiu-se, que
as tecnologias utilizadas nas fazendas verticais apresentam maiores oportunidades do que ameaças. Visto que, não
sofrem influência de eventos climáticos e tem como fator determinante o potencial para reduzir as emissões de
gases de efeito estufa, que contribuem significativamente para o meio ambiente e a saúde populacional. Já as forças
sobrepõe às fraquezas, estão relacionadas aos métodos de produção utilizados, tais como: rápido desenvolvimento
da cultivar, maior tempo de conservação dos alimentos, reutilização e economia de água, não sendo necessária
a rotação de cultura e pouca utilização de fertilizantes. Portanto, conclui-se que as tecnologias utilizadas nas
fazendas verticais, auxiliam diretamente para garantir a segurança alimentar e nutricional, e também, colaboram
para manter a sustentabilidade do ecossistema.
Palavras-chave: Produção de Alimentos. Inovação tecnológica. Análise SWOT.

Abstract
Faced with a context of accelerated urbanization, vertical farms emerge as an important tool for food, nutritional
and environmental security. Thus, this article aims to analyze the main technologies used in vertical farms found
in the literature. To achieve this goal, we used the Swot Analysis tool through a systematic literature review that
included analyzing the publications in the Elsevier’s Scopus and Web of Science databases on “vertical farms”.
It was concluded that the technologies used in vertical farms present greater opportunities than threats. Since they
are not influenced by weather events and have as a determining factor the potential to reduce greenhouse gas
emissions, which contribute significantly to the environment and population health. The forces overlap the
weaknesses, they are related to the production methods used, such as: fast cultivar development, longer food
preservation time, reuse and water saving, without the need for crop rotation and low fertilizer use. Therefore, it
is concluded that the technologies used in vertical farms, directly help to ensure food and nutritional security, and
also collaborate to maintain the sustainability of the ecosystem.
Keywords: Food production. Tecnologic innovation. SWOT analysis.

1 Introdução

Diante de um contexto de urbanização acelerada, a agricultura urbana e periurbana


surgem como uma importante ferramenta de segurança alimentar, visto que tem potencial, para
produzir benefícios em distintas dimensões, como: atender às novas demandas de produção,

1
Administradora, Mestre e Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Agronegócios/ Universidade Federal
do Rio Grande do Sul1- deisedeoliveiralaves@hotmail.com1
2
Administradora, Especialista em Administração Pública, Mestranda no Programa de Pós Graduação em
Agronegócios/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul2- geneci.6813.srr@gmail.com2
3
Administradora, Mestranda no Programa de Pós Graduação em Agronegócios/ Universidade Federal do Rio
Grande do Sul3- maielenkuchak@gmail.com3
4
Administradora e Doutora em Agronegócios. Docente no Departamento de Economia e Relações Internacionais
e no Programa de Pós Graduação em Agronegócios/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul4-
leoliveira13@gmail.com 4

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consumo, serviços e o aproveitamento do espaço nas cidades. Para tanto, a Organização das
Nações Unidas para Alimentação-FAO (2014) afirma que, o crescimento populacional vai além
da questão alimentar, já que cria focos de tensão no meio ambiente, na organização social, nos
sistemas econômicos e no desenvolvimento tecnológico, estando assim, associado ao transporte
em massa, comunicação e internet.
Neste contexto, fornecer alimentos saudáveis para a população urbana do mundo é um
desafio, nos modos atuais de agricultura convencional e de larga escala, sendo ao longo do
tempo, mais complementados por práticas agrícolas locais e urbanas. Diante disso, a agricultura
urbana e periurbana podem ser consideradas como alternativas, podendo vir a ser, as mais
eficientes em termos de recursos sustentáveis perante a agricultura convencional.
Assim, destaca-se, como uma alternativa de agricultura urbana, a produção de alimentos
nas alturas, garantindo a segurança alimentar de forma sustentável. Sendo uma solução
visionária de Dickson Despommier (1999), onde evidenciou nas fazendas verticais, a resposta
para solucionar o dilema inerente da agricultura sobre emissão de carbono decorrentes dos
transportes e colheitas agrícolas do campo para as cidades.
Sendo as principais forças de trabalho, em uma típica instalação de fazenda vertical são:
(1) Gerenciamento do viveiro; (2) Transplante de mudas; (3) Aquisições e gerenciamentos de
recursos; (4) Monitorando, crescimento e o desenvolvimento das plantas; (5) Estratégias de
polinização, colheita e distribuição para fruteiras locais; (6) Gerenciamento de resíduos para
energia; (7) Controle de qualidade de vigilância laboratorial baseada em DNA para patógenos
das plantas e controle de pragas de artrópodes; e (8) Pessoal de tecnologia de informação,
recursos humanos e escritório de negócios (DESPOMMIER, 2013).
Portanto, a implementação da agricultura vertical, em larga escala, envolve o uso de
diferentes tecnologias, como estufas e salas de ambientes controlados. O que proporciona o
desenvolvimento das plantas, contribuindo para elevar a produtividade por área, aumentando a
eficiência do uso da terra e a produção de diversas culturas. Diante disso, esse artigo tem como
objetivo analisar as principais tecnologias utilizadas nas fazendas verticais encontradas na
literatura. Para alcançar esse propósito, será utilizada a Análise Swot, conhecida como uma
ferramenta de gestão que avalia a situação interna e externa de um modelo de negócio,
mostrando seus pontos fortes e fracos, e as ameaças e oportunidades.
Para tanto, a abordagem de análise SWOT pode ser usada como uma ferramenta de
planejamento estratégico para indicar métodos para o desenvolvimento da agricultura vertical,
assim este modelo é adaptado para identificar fatores críticos que o afetam. Sendo, a principal
vantagem da SWOT, indicar as limitações atuais e futuras, como uma técnica eficaz na
formulação de novas estratégias, uma vez que, categorizam os fatores internos (pontos fortes e
pontos fracos) ou externos (oportunidades e ameaças). Deste modo, a abordagem pode fornecer
uma visão para converter as ameaças em oportunidades e compensar os pontos fracos em
relação aos pontos fortes (KRIJN et al., 2018).
O artigo está estruturado em cinco seções, a primeira é a introdução, seguida da
fundamentação teórica. Já na terceira, apresentam-se os procedimentos metodológicos, e na
sequência, aborda-se a análise e interpretação dos resultados. E por fim, tecem-se as
considerações acerca das tecnologias utilizadas nas fazendas verticais.

2 Fundamentação teórica

As fazendas verticais consistem em um mini ecossistema dentro dos edifícios, livres de


mudanças climáticas que causam perdas à agricultura tradicional. No qual, a água e os resíduos
são reaproveitados, e a plantação é permanentemente monitorada, dispensando o uso de

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agrotóxicos e pesticidas. Sendo assim, o alimento é produzido, transportado e comercializado
dentro de uma mesma região, evitando o desperdício, gerando empregos, diminuindo a emissão
de poluentes e o consumo de combustíveis fósseis (DESPOMMIER, 2013).
De acordo com o mesmo autor, a atividade mais relevante desenvolvida pela agricultura
verticalizada é o controle das condições necessárias para o crescimento, maturação e
sobrevivência de qualquer cultura, o que possibilita o máximo rendimento por metro quadrado.
Bem como, as instalações permitem o desenvolvimento do cultivo, minimizando ou mesmo
eliminando a possibilidade de perdas sem o uso de pesticidas, e do ponto de vista ambiental,
esse sistema de produção cria uma oportunidade para o retorno das terras agrícolas à sua função
ecológica original.
Assim, a agricultura vertical tornou-se uma alternativa para a produção de alimentos,
visto que é baseada em uma agricultura de ambiente controlado, onde utiliza tecnologias
movidas a energia solar, energia eólica, baterias de armazenamento, iluminação LED e
tecnologias de informação (TI) (SILVAMANI et al., 2018). Com isso, proporciona o controle
de pragas e doenças nas plantas, redução do desperdício de alimentos e da poluição do meio
ambiente. Ademais, a agricultura vertical não é influenciada pela sazonalidade na produção,
porque a produção de culturas é contínua ocorrendo durante todo ano (KALANTARI et al.,
2018).
Segundo Nicole et al., (2016), a proximidade da produção da agricultura vertical com o
consumidor proporciona uma alimentação saudável com produtos frescos, livres de pesticidas.
E também, contribui para gerar novos empregos, auxiliando como fontes de renda (SIVAMANI
et al., 2018).
No entanto, a agricultura vertical sofre com o alto custo, devido aos elevados preços
das terras nas áreas urbanas e também, com a manutenção das atividades. Sendo outro fator
limitante, a carência de mão de obra qualificada para operacionalização e a necessidade de
políticas públicas, voltadas para pesquisas de novas tipos de plantas, as quais possam sobreviver
sob as variáveis de temperatura, umidade, níveis de CO² e iluminação Led. (KRIJN, 2018).

3 Procedimentos Metodológicos

O objetivo principal deste estudo é conhecer e analisar as principais tecnologias


utilizadas nas fazendas verticais encontradas na literatura. Com o propósito de atingir tal
objetivo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa, classificada como
uma pesquisa exploratória. As fontes da pesquisa são documentos publicados nas bases de
dados Elsevier’s Scopus e Web of Science.
A coleta dos dados foi realizada no mês junho de 2019, em duas etapas: 1) foi feito uma
busca textual com o termo “vertical farms”, onde foram encontrados 42 documentos na
Elsevier’s Scopus e 58 na Web of Science; 2) Realizou-se a leitura e a seleção dos documentos
relevantes para a pesquisa, sendo identificadas 16 publicações. Em seguida, é apresentada a
análise e interpretação dos resultados.

4 Análise e interpretação dos resultados

Nos últimos anos, as fazendas verticais ganham ênfase em países desenvolvidos e em


desenvolvimento. O crescimento populacional nas áreas urbanas, evidenciam a oportunidade
de cultivar alimentos perto dos consumidores com a utilização de tecnologias que não
prejudicam o meio ambiente e que proporcionam para seus consumidores uma alimentação
saudável. Diante desse contexto, serão exemplificadas as tecnologias utilizadas nas fazendas

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verticais, encontradas nos documentos em estudo, como: hidropônia, aeropônia, aquapônia,
luz led e os diferentes tipos de softwares.

4.1 Hidropônia

A hidropônia é uma tecnologia que promove o crescimento das plantas na presença


de água enriquecida com nutrientes, sem a presença do solo. Nesse método, as raízes ganham
um soluto nutritivo balanceado, composto de água e de todos os nutrientes fundamentais
para seu desenvolvimento. Diante disso, as raízes podem ser apoiadas em substrato inerte ou
penduradas em meio ao líquido (DESPOMMIER, 2013).
No Quadro 1, é apresentado o ambiente em que o sistema hidropônico está inserido,
identificando os fatores internos (forças/fraquezas) e os externos (oportunidades/ameaças)
que impactam na agricultura urbana.

Quadro 1 - Análise SWOT da tecnologia do sistema hidropônico


ANÁLISE SWOT
Forças
- Rápido desenvolvimento de cultura;
- Pode ser produzido em qualquer local; Fraquezas
- Não há necessidade de rotação de - Dependência de energia elétrica;
culturas; - É necessário conhecimento técnico e
- Proporciona maior tempo de conservação fisiológico;
dos alimentos: - Presença de pragas.
- Menor uso de recursos hídricos;
- Pouca utilização de fertilizantes.
Oportunidades
- Baixo custo de mão de obra; Ameaças
- Redução na emissão de gases do efeito - Alto custo de investimento no
estufa; processo inicial.
- Cultivo independe dos eventos climáticos.
Fonte: Elaborado pelos autores com base na literatura em estudo (2019).

Como exposto no quadro 1, nota-se que o sistema hidropônico apresenta


muitas vantagens, como: ocupa um espaço reduzido, as plantas são cultivadas em estufa sem
necessidade do uso do solo, o que aumenta a produção e a qualidade dos produtos. Além disso,
reduz a quantidade de água utilizada, o uso de agrotóxicos, o ataque de predadores e a poluição
do solo.
O método hidropônico de cultivo de plantas, é o processo biotecnológico de obtenção
de culturas de alta qualidade. Por permitir, o controle racional da composição mineral através
da regulação de sua nutrição mineral durante o processo de desenvolvimento (QUIN et al.,
2016).
Apesar do sistema hidropônico contribuir com a produção de alimentos saudáveis para
alimentar a população, as dificuldades podem ser percebidas diante do elevado custo de
investimento financeiro inicial e a necessidade de mão de obra especializada, sendo essas
barreiras um fator limitante para a expansão desse sistema de produção. Assim, os principais
problemas enfrentados pelos produtores de fazendas verticais, é a presença de doenças e pragas,
como os artrópodes e nemátodos (ANDA; SHEAR, 2017).
4.2 Aeropônia

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Outra forma de cultivo de plantas sem solos é a aeropônia, a qual utiliza os princípios
hidropônicos, sendo cultivadas deixando as raízes expostas a um ambiente úmido
enriquecido com nutrientes. Nesse sistema, elas crescem através de uma suspensão em um
ambiente fechado ou semi-fechado, onde as raízes são pulverizadas, possuindo no seu inferior
uma haste atomizada ou vaporizada, com solução de água rica em nutrientes (STONER;
CLAWSON, 1998; DESPOMMIER, 2013).
O Quadro 2 demonstra o ambiente em que o sistema aeropônico está inserido,
identificando os fatores internos (forças/fraquezas) e os externos (oportunidades/ameaças).

Quadro 2 - Análise SWOT da tecnologia do Sistema Aeropônico


ANÁLISE SWOT
Forças
- Redução de pragas e parasitas; Fraquezas
- Economia de água; - Dificuldade no controle de solução
- Aumento da produção por metro nutritiva.
quadrado.
Oportunidades
- Redução na emissão de gases do efeito
Ameaças
estufa;
- Custo de investimento inicial alto;
- Cultivo independe dos eventos
- Mão de obra especializada.
climáticos;
- Facilidade de oxigenação.
Fonte: Elaborado pelos autores com base na literatura em estudo (2019).

O sistema aeropônico, é um tipo de hidropônia com tecnologia para a cultivo de


alimentos, que se destaca pela economia de água em relação a uma agricultura convencional. É
um método estabelecido para a produção de várias culturas, que usa soluções de nutrientes
que não contêm nenhum subproduto metabólico, evitando assim, os problemas de
contaminação dos alimentos com coliformes fecais (DESPOMMIER, 2011, 2013).
Diante das fraquezas e ameaças do ambiente, verifica-se que a dificuldade no controle
da solução nutritiva está associada, a uma distribuição correta do oxigênio. Do mesmo modo
que, pode-se citar outros fatores que são fundamentais para o desenvolvimento da planta, como:
temperatura ambiente, condutividade de energia e nível de ph.

4.3 Aquapônia

O sistema de aquapônia consiste na produção de alimentos, como: caracóis, peixes,


crustáceos e camarões em tanques aquáticos. Conhecido também, como produção de
piscicultura em um sistema de hidropônia num ambiente simbiótico fechado, o qual produz
continuamente plantas e peixes, oferecendo benefícios de reutilização e menor uso de recursos
hídricos, e os excrementos dos animais são transformados em adubo (PONS; ROVIRA, 2015).
O ambiente do sistema aquapônico, caracteriza por fatores internos (forças/fraquezas)
e os externos (oportunidades/ameaças) é apresentado no Quadro 3.

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Quadro 3: Análise Swot do sistema de aquapônia
ANÁLISE SWOT
Forças Fraquezas
- Reutilização total da água; - Dependência continua de energia elétrica;
- Aproveitamento de dejetos produzidos por
animais;
- Controle na proliferação de algas e fungos;
- Menor uso de recursos hídricos;
- Minimização dos riscos de introdução das
espécies exógenos.
Ameaças
Oportunidades
- Necessidades de conhecimentos básicos em
- Não sofre influência de eventos climáticos;
algumas áreas chave específicas;
- Redução na emissão de gases do efeito estufa;
- Mão de obra especializada;
- Baixo custo de mão de obra.
- Custo de elevado de investimento.
Fonte: Elaborado pelos autores com base na literatura em estudo (2019).

Nesse sistema, os excrementos dos peixes são removidos do tanque como nutrientes
para as plantas, onde a água é tratada e segue para ser reutilizada. Este tipo de produção, permite
um cultivo simultâneo com a mesma água e nutrientes (PONS; ROVIRA, 2015). Assim,
destaca-se como barreiras para o ambiente externo, a necessidade de mão de obra especializada,
contribuindo para o aumento dos custos na implementação.

4. 4 Luz Led

A intensidade da luz é essencial para o crescimento, a morfogênese e para outras


respostas fisiológicas das plantas, pois os baixos níveis de luz podem levar a aumentar a área
foliar específica e a altura da planta. Sendo assim, a uma necessidade de adaptação da planta
que aumenta a captura de luz, disponível que possa atender a demanda de fotossíntese
(GRAAMANS et al, 2017).
Um dos processos mais importantes do crescimento da planta é o da fotossíntese, nesse
processo a luz de Led serve para aproveitar a energia da luz solar em energia química. Á vista
disso, os pigmentos, que são as moléculas que conferem a cor da planta, também são
responsáveis por absorver ou atrapalhar efetivamente a luz solar (YUSOF; THAMRIN;
NORDIN, 2016).
No Quadro 4, apresenta-se o ambiente em que o sistema de Iluminação Led está
inserido, demonstrando os fatores internos (forças/fraquezas) e os externos
(oportunidades/ameaças).

Quadro 4 - Análise Swot do sistema de iluminação Led


ANÁLISE SWOT
Forças Fraquezas
- Substituem a luz solar; - Vibrações e agitações podem danificar
- Requer pequena voltagem; o equipamento.
- Tamanho pequeno;
- Baixa emissão de calor.
Oportunidades Ameaças
- Resistência a baixas temperaturas; - Custo de elevado de investimento.

Fonte: Elaborado pelos autores com base na literatura em estudo (2019).

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Esse sistema possui estratégias de aclimatação que incluem estruturas para a colheita de
luz efetiva em condições de pouca luz e proteção contra a luz excessiva. A luz Led é usada
todos os dias 24h, sendo submetido a um ambiente controlado para aumentar o crescimento das
plântulas e obter alta produção e boa qualidade (DONG et al, 2014).
A indústria de agricultura vertical norte-americana considera o fato de que os LEDs
eventualmente serão as luzes de escolha para o processo de produção. No entanto, com base
no custo atual dos LEDs, existem muitos produtores que ainda estão investindo e instalando
outras luminárias, incluindo plasma, indução e fluorescentes. O motivo dessas escolhas
alternativas é o custo de capital e o acesso a recursos financeiros (HIGGNS, 2016).

4.5 Tecnologias de fazendas verticais a base de software

Diante do aquecimento global, das mudanças climáticas, da poluição ambiental e


crescimento populacional, cresceu o interesse pela produção de alimentos agrícolas em estufas
e fazendas verticais. Em relação a isso, as diferentes tecnologias surgem através de softwares,
para auxiliar na maximização e na melhoria da produção em grande escala em fazendas
verticais. Sendo assim, no Quadro 5, é mostrado os diferentes softwares encontrados na
literatura pesquisada.

Quadro 5 - Diferentes tipos de softwares


Software Utilização
É um conjunto de tecnologias de informações, que pode
redefinir uma grande quantidade de dados.
É baseado em regras que categorizam dois tipos de contextos,
os de situações e de perfil. O primeiro é para dados detectados
Método de modelagem a partir de sensores reais em uma estufa como um sensor de
de contexto umidade, temperatura do solo, temperatura da folha e assim
por diante. O último serve para a documentação sobre
informações de agendamento de serviço ou de cronogramas
necessários para serviços agrícolas automatizados em uma
estufa.
São estruturas formadas, para que a planta possa ter os mesmos
Sistemas princípios de sistema ecológico, semelhante à biosfera da terra.
Bioregenerativos de Leva em consideração os fatores ambientais tais como: a luz
Apoio à Vida (BLSS) artificial e soluções nutritivas, já que são os principais fatores
que afetam o crescimento da planta.

Constituem como sistema digital com multiespectral, scanner


Sensores aéreos de sensor e sensor CASI entre outros, que fornecem cobertura
global em diferentes escalas da superfície terrestre.
Redes de sensores
Permitir que os dispositivos detectem mudanças em seu
ubíquos que usam
ambiente, se adaptam e atuam automaticamente com base nas
ontologia de fazenda
mudanças.
vertical
São várias redes de sensores, onde os dados são coletados e
Modelo de Controle de gerenciados a partir do middleware da fazenda vertical.
Ambiente Baseado em Executam interfaces como coordenação de métodos, detecção
Dados de Detecção de entrada de dados, gestão de regras de dedução e aviso de
resultado de inferência.
Fonte: Elaborado pelos autores com base na literatura em estudo (2019).

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A utilização dos sistemas de tecnologia está presente em vários campos de trabalho,
inclusive na agricultura, por apresentar benefícios que auxiliam na produção de alimentos.
Sendo as fazendas verticais, uma das práticas agrícolas consideradas como o futuro da
agricultura, diante da crescente migração da população para as áreas urbanas. Assim, as
tecnologias aplicadas para a produção de diversas culturas podem ser consideradas como as
principais práticas de cultivo, que utilizam o mínimo de água no seu sistema em comparação
com a agricultura convencional (DESPOMMIER, 2011).
No quadro 6, identifica-se o ambiente em que o sistema de software está inserido,
explanando os fatores internos (forças/fraquezas) e os externos (oportunidades/ameaças).
Quadro 6 - Análise Swot do sistema de software
ANÁLISE SWOT
Forças Fraquezas
- Trabalhos realizados automaticamente; - Monitoramento contínuo.
- Dados podem ser facilmente redefinidos;
- Sistema de produção semelhante ao
convencional.
Oportunidades
- Não sofre influência de eventos Ameaças
climáticos; - Redução da utilização de mão de obra;
- Redução na emissão de gases do efeito - Elevado valor de investimento.
estufa.
Fonte: Elaborado pelos autores com base na literatura em estudo (2019).

Os softwares utilizados nas fazendas verticais, proporcionam monitoramento em tempo


real de todas as atividades, proporcionando definição e facilidade das etapas a serem seguidas
na produção. Já com relação, as fraquezas e ameaças desse sistema, estão no monitoramento
continuo do processo, no qual poucos tem acesso devido seu alto custo de investimentos, visto
que, alguns softwares realizam automaticamente todas as atividades.

5 Conclusão

Este estudo teve como objetivo analisar as principais tecnologias utilizadas nas fazendas
verticais encontradas na literatura. Para atingir tal objetivo, utilizou-se a ferramenta de Análise
Swot, para identificar os fatores que, aliados ao acompanhamento das mudanças constantes que
ocorrem no ambiente em que essas tecnologias estão inseridas, sofrem mudanças devido à ação
de indiferentes fatores.
Diante disso, identificou-se que as tecnologias utilizadas nas fazendas verticais
apresentam maiores oportunidades do que ameaças. Visto que, não sofrem influência de
eventos climáticos e tem como fator determinante o potencial para reduzir as emissões de gases
de efeito estufa, que contribuem significativamente para o meio ambiente e a saúde
populacional.
Com referência, as forças que sobrepõe às fraquezas, são as oportunidades que estão
relacionadas aos métodos de produção usadas, tais como: rápido desenvolvimento da cultivar,
maior tempo de conservação dos alimentos, reutilização e economia de água, não sendo
necessária a rotação de cultura e pouca utilização de fertilizantes.
Portanto, conclui-se que as tecnologias utilizadas nas fazendas verticais, auxiliam
diretamente para garantir a segurança alimentar e nutricional, e também, colaboram para manter
a sustentabilidade do ecossistema. Já para trabalhos futuros, recomenda-se mais pesquisas

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sobre a temática, pois evidenciou-se uma carência de conteúdo em relação as tecnologias
utilizadas nas fazendas verticais, e sugere-se estudos, sobre investimentos financeiros
relacionados com a implementação dessas inovações tecnológicas.

Referências

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O Relatório de Recursos Mundiais sobre a criação de alimentos
sustentáveis para o futuro
The World Resources Report about creating a sustainable food future
Michel Alisson da Silva1, Silvio Parodi Oliveira Camilo2, Miguelangelo Gianezini3, Melissa
Watanabe4

Resumo
O presente trabalho analisa o Relatório do Instituto de Recursos Mundiais, uma entidade apoiada pelo Banco
Mundial, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, dentre outras entidades. Tal relatório é uma consolidação de diversos estudos já realizados até
a presente data que buscam discutir o futuro da produção mundial de alimentos. A metodologia empregada foi
uma abordagem qualitativa, descritiva, documental. O relatório aponta três hiatos importantes a serem tratados
sobre o sistema global de alimentos: o fornecimento de comida, pela projeção do crescimento populacional é
preciso aumentar a produção dos alimentos; o uso da terra, para não gerar um passivo ambiental precisa-se produzir
alimentos sem aumentar a quantidade de terras; as emissões de gases de efeito estufa, o aumento da produção de
alimentos deve caminhar com uma redução de dois terços das atuais emissões. Dentre as opções disponíveis no
relatório se destacam alguns caminhos: aumentar a produtividade, gerenciar a demanda, moderar o consumo de
carne de ruminantes, reflorestamento, reduzir a mitigação climática na produção e estimular a inovação
tecnológica. O relatório ainda aponta a necessidade de se atender a outros temas transversais a essas ações, como
a promoção do desenvolvimento econômico e a redução da pobreza, o empoderamento das mulheres agrícolas e a
proteção dos recursos de água doce. Assim, a partir da análise do relatório observa-se a necessidade de novos
estudos sobre a aplicabilidade de tais medidas com vistas à mitigação dos hiatos e ações propositivas a partir dos
caminhos sugeridos.
Palavras-chave: Recursos naturais. Consumo de alimento. Segurança alimentar. Uso da terra e da água.

Abstract
This paper analyzes the Report of the World Resources Institute, an entity supported by the World Bank, United
Nations Environment Program, United Nations Development Program, among other entities. This report is a
consolidation of several studies carried out to date that seek to discuss the future of world food production. The
methodology employed was a qualitative, descriptive, documentary approach. The report points out three
important gaps to be addressed about the global food system: food supply, by projecting population growth, needs
to increase food production; land use, in order not to generate an environmental liability, food must be produced
without increasing the amount of land; In greenhouse gas emissions, increased food production is expected to go
with a two-thirds reduction of current emissions. Among the options available in the report are some avenues:
increasing productivity, managing demand, moderating ruminant meat consumption, reforestation, reducing
climate mitigation in production and stimulating technological innovation. The report also points to the need to
address other crosscutting issues such as promoting economic development and poverty reduction, empowering
agricultural women and protecting freshwater resources. Thus, from the analysis of the report it is observed the
need for further studies on the applicability of such measures to mitigate the gaps and purposeful actions from the
suggested paths.
Keywords: Natural resources. Food consumption. Food safety. Land and water use

1 Introdução

As preocupações sobre o equilíbrio ambiental e a sustentabilidade da vida no planeta


ganharam um espaço importante sobre políticas públicas e direitos após a 2ª Guerra Mundial,

1
Bacharel em Direito, Mestre em Educação, Doutorando em Desenvolvimento Socioeconômico/Universidade do
Extremo Sul Catarinense- PPGDS/UNESC - michelalisson@gmail.com
2
Doutor em Administração e Turismo pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) Professor Permanente do
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Socioeconômico PPGDS/UNESC – parodi@unesc.net
3
Doutor em Agronegócios - CEPAN,UFRGS / Professor Permanente do Programa de Pós-graduação em
Desenvolvimento Socioeconômico PPGDS/UNESC- miguelangelogianezini@unesc.net
4
Doutora em Agronegócios - CEPAN,UFRGS / Professora Permanente do Programa de Pós-graduação em
Desenvolvimento Socioeconômico PPGDS/UNESC- melissawatanabe@unesc.net

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com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 e com a criação da
Organização das Nações Unidas em 1950.
No entanto, foi somente a partir da década de 1960 que a sustentabilidade ambiental vai
ganhar um importante espaço nos debates acadêmicos e políticos. Acompanhando esse debate
e outros temas importantes, como a redução da pobreza e a discriminação racial, os movimentos
sociais promovem diversos eventos que alcançam status internacional. Na década de 1970 esse
debate é institucionalizado a partir da conferência de Estocolmo (1972), momento em que se
assumiu a necessidade do crescimento econômico condicionado a ser socialmente receptivo e
respeitar métodos favoráveis ao meio ambiente (COSTA; SANTOS, 2009).
A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD)
publicou em 1987 o Relatório Brundtland, “Nosso futuro comum”, o qual definiu
desenvolvimento sustentável como “atender às necessidades do presente, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades” (KISS, 1988).
O desenvolvimento sustentável teve um sucesso extraordinário a partir dos anos 80, se
tornando parte integral da agenda de governos e corporações, bem como o grande objetivo de
laboratórios de pesquisa e universidades em todo o mundo. A partir desse período os estudos
passaram a ter características quantitativas de diferentes campos científicos, onde diferentes
disciplinas tradicionais em revistas especializadas passaram a convergir para a composição
disciplinar da ciência da sustentabilidade (BETTENCOURT; KAUR, 2011).
A importância da sustentabilidade não se resume a atender apenas questões ambientais
ou mesmo é focada para apenas as pessoas menos assistidas, mas algo que se sobrepõe a própria
humanidade. A sustentabilidade genuína exige “alívio da pobreza, estabilização da população,
empoderamento feminino, criação de emprego, observância dos direitos humanos e
redistribuição de oportunidades em grande escala” (GLADWIN et al., 1995).
Nesse sentido, uma preocupação latente vem preocupando a comunidade internacional
nas últimas décadas, gerando uma série de estudos a respeito de um dos problemas mais sérios
a serem enfrentados pela humanidade: a produção de comida. Esse problema é decorrente de
diversos fatores, como a crescente competição por terra, água e energia, além da
superexploração da pesca, que estão afetando nossa habilidade de produzir alimentos e
impactando a própria produção com o meio ambiente (PROSEKOV; IVANOVA, 2018).
Entre 1962 e 2006 a Revolução Verde aumentou a produção alimentar com variedades
de grãos a partir de melhoramento, utilização de fertilizantes sintéticos e irrigação. Assim como
a revolução da pecuária aumentou a produção de carne e leite por hectare por meio da
alimentação melhorada, manejos e cuidados na saúde animal. Mesmo com esses vastos
aumentos de produtividade não foi suficiente para impedir a expansão de terras cultivadas e
pastagens cerca de 500 milhões de hectares (Mha), ou mesmo reduzir as taxas globais de
pobreza, que em 2017 se estima que 820 milhões de pessoas permaneceram desnutridos
(SEARCHINGER et al., 2019).
Diversas entidades e órgãos internacionais vem discutindo o tema da produção de
alimentos, o que está resultando em uma série de estudos e relatórios que visam desenvolver
indicadores e metas a serem alcançadas para atender a demanda crescente por alimento no
mundo. Um dos documentos recentes que sistematiza de forma mais completa possível esses
indicadores e metas é o “Relatório de Recursos Mundiais: criando alimentos sustentáveis para
o futuro – Um menu de soluções para alimentar aproximadamente 10 bilhões de pessoas em
2050” (SEARCHINGER et al., 2019).
Assim, o objetivo do presente artigo é discorrer sobre os principais tópicos apontados
no “Relatório de Recursos Mundiais: criando alimentos sustentáveis para o futuro – Um menu
de soluções para alimentar aproximadamente 10 bilhões de pessoas em 2050” como forma de
compreender os dilemas, problemas e possibilidades de soluções para o problema da produção

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de alimentos no mundo e buscar relacionar com a literatura contemporânea que trabalha com
tais desafios.

3 Procedimentos Metodológicos

A presente pesquisa apresenta-se de abordagem qualitativa, com caráter descritivo a


partir de análise de documentos. A estratégia utilizada na pesquisa é análise de conteúdo.
Utilizou-se como base estrutural do trabalho o relatório intitulado “Relatório de Recursos
Mundiais: criando alimentos sustentáveis para o futuro – Um menu de soluções para alimentar
aproximadamente 10 bilhões de pessoas em 2050”. Este relatório resume as descobertas do
Relatório Mundial de Recursos Criando um Futuro Alimentar Sustentável, uma parceria
plurianual entre o Instituto de Recursos Mundiais, o Grupo Banco Mundial, Meio Ambiente
das Nações Unidas, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Centro de
Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica Desenvolvimento, e o Instituto Nacional
da Pesquisa Agronômica da França.
O relatório síntese foi publicado em dezembro de 2018, enquanto o relatório final,
objeto de análise do presente artigo, foi publicado em julho de 2019. Como fundamento para
confecção do relatório, que contou com a ajuda de uma série de pesquisadores, foram utilizados
diversos estudos, das mais diversificadas áreas, para se chegar as conclusões e indicativos
sugeridos (SEARCHINGER et al., 2019).
Suas informações concentram-se em oportunidades e políticas para cenários
econômicos a fim de atender às metas de alimentos, uso da terra e emissões de gases de efeito
estufa em 2050, de maneiras que também podem ajudar a aliviar a pobreza e uso da água. O
foco do referido relatório é de âmbito global (SEARCHINGER et al., 2019).

4 Resultados e Discussão

O relatório expõe um novo modelo, que visa quantificar as possíveis contribuições de


variáveis para alcançar suas metas. São apontados desafios e identificadas as mais proeminentes
soluções que estão disponíveis ou são promessas de curto prazo. O relatório também identifica
políticas, práticas e incentivos necessários para a implementação de soluções na escala
necessária. (SEARCHINGER et al., 2019)(p. 7)
Segundo o relatório o mundo precisa agir decisivamente para proteger o ecossistema natural
que armazena carbono, mantém biodiversidade, e provem os vários serviços de ecossistema nos
quais a humanidade depende (SEARCHINGER et al., 2019), alinhado com estudos
significativos como Lambin et al. (2001), Ramankutty (2002), Fraser (2003), Ewert et al.
(2005), Licker et al. (2010), Lambin e Meyfroidt (2011) dentre outros.
A produção de alimentos e a proteção do ecossistema devem estar ligados em todos os
níveis, políticos, financeiros e da prática agrícola, para evitar a competição destrutiva para as
preciosas terra e água. Essa combinação deve e pode resultar em grande prosperidade para
retirar as pessoas da pobreza e efetivar uma política sustentável (SEARCHINGER et al., 2019;
LAMBIN; MEYFROIDT, 2011).
O relatório define e quantifica três hiatos específicos face o sistema global de alimentos:
a) fornecimento de comida - se o consumo continuar como projetado, o mundo irá
precisar aumentar a produção de alimentos em mais de 50% para alimentar as quase 10 bilhões
de pessoas adequadamente em 2050;

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b) uso da terra - para proteger o ecossistema natural crítico para a biodiversidade e
minimizar as mudanças climáticas, a produção adicional de alimento deve produzir sem
expansão da rede atual da área de produção agrícola; e,
c) emissões de gás - a agricultura é uma significativa e crescente fonte de emissões,
devendo aumentar sua produção pela metade ao mesmo tempo que deve reduzir essas emissões
em dois terços considerando os níveis de 2010. (SEARCHINGER et al., 2019)(p. 6 e 9)
O relatório explora 22 itens das opções de “alimento sustentável para o futuro”, os quais
são divididos em 5 “caminhos”, que juntos podem alcançar essas metas:
1) reduzir a crescente demanda por alimento e produtos agrícolas;
2) aumentar a produção de alimento sem ampliar uso da terra agrícola;
3) proteger e restaurar o ecossistema natural;
4) aumentar o suprimento de peixes (por meio de melhorias da gestão das pescarias
selvagens e cultura aquática);
5) reduzir emissões GHG da produção agrícola. (SEARCHINGER et al., 2019)(p. 9)

Por um lado, o desafio de simultaneamente fechar esses três hiatos citados anteriormente
é mais difícil do que frequentemente os reconhecer. Algumas análises prévias superestimaram
o potencial do crescimento do rendimento da colheita, subestimando ou mesmo ignorando o
desafio da expansão de pastagens, e “contando duplamente” terras por assumir que o solo está
disponível para reflorestamento ou bioenergia sem contar com o crescimento mundial da
necessidade de produzir mais alimentos, proteger a biodiversidade, e sequestrar mais carbono.
O progresso significativo dos 22 itens são necessários para fechar conjuntamente esses 3 hiatos,
requerendo ações de muitos milhões de fazendeiros, empresários, consumidores e de todos os
governos (SEARCHINGER et al., 2019; RAMANKUTTY, 2002).
Por outro lado, o escopo de potenciais soluções é frequentemente subestimada. Análises
prévias tem não focado nas promissoras oportunidades de inovação tecnológica e tem
frequentemente subestimado a grandeza social ou benefícios sociais compartilhados. As opções
do relatório são detalhadas, mas temas diversos destacam-se, como observado no quadro 1.

Quadro 1: Temas destacados no Relatório de Recursos Mundiais: criando alimentos


sustentáveis para o futuro – Um menu de soluções para alimentar aproximadamente 10 bilhões
de pessoas em 2050”.
Tema Descrição
Aumento da Aumentar a eficiência no uso dos recursos naturais é o passo mais importante para chegar
produtividade nas metas de produção de alimentos e de meio ambiente. Isso significa aumentar o
rendimento das culturas além das taxas históricas (lineares) e aumentar drasticamente a
produção de leite e carne por hectare de pasto, por animal – particularmente gado, e por
quilograma de fertilizante. Manter os níveis de eficiência atual de produção implicaria em
limpar todo o restante de florestas do mundo, exterminando milhares de espécies e liberar
gases suficientes para aumentar a temperatura do planeta entre 1,5 e 2º C, mesmo que todas
as outras atividades humanas fossem eliminadas.
Gerenciamento Fechar o hiato alimentar será muito mais difícil se não pudermos diminuir a taxa de
da demanda crescimento de demanda. Diminuir o crescimento de demanda requer reduzir as perdas e
desperdícios de alimentos, mudança das dietas dos consumidores de carne em direção à
alimentos a base de plantas, evitar maiores expansões na produção de biocombustíveis e
melhoria no acesso à educação e saúde na África para aumentar o movimento voluntário de
redução nos níveis de fertilidade.
Conectar As áreas de terras agrícolas não estão apenas expandindo, como também estão mudando de
intensificação uma região para outra (por exemplo, de áreas temperadas aos trópicos). Essas mudanças do
agrícola com uso da terra aumentam as emissões de gases de efeito estufa e a perda de biodiversidade. Para
proteção dos garantir que a produção de alimentos aumente por meio do crescimento de rendimento
ecossistemas (intensificação) e não por meio da expansão territorial, os governos devem conectar esforços
naturais

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para o rendimento das culturas e pastagens com medidas legais de proteção às florestas,
savanas e turfeiras da conversão em agricultura.

Moderado Pecuária de ruminantes (bovinos, ovinos e caprinos) usam dois terços da terra agrícola global
consumo de e contribuem com aproximadamente metade das emissões de gases da produção agrícola. A
carne de demanda por carne de ruminantes projeta-se que cresça 88% entre 2010 e 2050. No entanto,
ruminantes mesmo nos Estados Unidos, a carne de ruminantes (principalmente bovina) fornece apenas
3% das calorias e 12% das proteínas. A não expansão de terras para criação de gado e a
diminuição do hiato das emissões de gases exigem que, para 2050, a população que seria de
altos consumidores de carne de ruminantes tenha que reduzir seu consumo médio em 40%
em relação ao seu consumo de 2010.
Foco no Turfeiras drenadas ocupam apenas 0,5% das terras agrícolas globais providenciam um passo
reflorestamento necessário e econômico para mitigação das mudanças climáticas, assim como o
e restauração reflorestamento de alguns pastos marginais e difíceis de melhoria da terra. Reflorestar em
de turfeiras uma escala necessária para manter o aumento de temperatura abaixo de 1,5 graus Celsius (ou
seja, centenas de milhões de hectares) é potencialmente possível, mas somente se o mundo
conseguir reduzir o crescimento projetado na demanda por produtos agrícolas intensivos e o
aumento da produção agrícola e pecuária.

Exigência de Existem medidas de gestão para reduzir significativamente as emissões de gases de efeito
produção estufa de fontes de produção agrícola, particularmente a fermentação entérica de ruminantes,
associada a pelo estrume, fertilizantes nitrogenados e uso de energia. Essas medidas exigem uma
mitigação variedade de incentivos e regulamentos, implantados em escala. A implementação exigirá
climática uma análise muito mais detalhada e o rastreamento do sistema de produção agrícola dentro
dos países.
Estimular a O fechamento total dos hiatos exige muitas inovações. Felizmente, pesquisadores
inovação demonstraram bom potencial em cada área necessária. Oportunidades incluem características
tecnológica de culturas ou aditivos que reduzem as emissões de metano do arroz e do gado, melhoria nas
fórmulas dos fertilizantes e propriedades das culturas que reduzem a emissão de nitrogênio,
processos solares para fabricação de fertilizantes, sprays orgânicos que preservam os
alimentos por períodos mais longos e carne à base de plantas substitutas. Uma revolução na
biologia molecular abre novas oportunidades para a criação de culturas. O progresso em uma
escala necessária requer grandes aumentos no financiamento de pesquisa e desenvolvimento
e políticas públicas flexíveis que incentivam a indústria privada a desenvolver e comercializar
novas tecnologias
Fonte: Adaptado de Searchinger et al., 2019

Assim, os formuladores do relatório acreditam que o alimento sustentável futuro será


alcançável apesar dos desafios serem formidáveis. O mundo precisa agir rapidamente para
definir metas e ampliar os múltiplos esforços que serão necessários para alcançá-los
(SEARCHINGER et al., 2019).
4.1 Escopo do desafio e menu de potenciais soluções: receita para mudança
O Relatório Mundial de Recursos é direcionado para uma questão fundamental: como o mundo
adequadamente alimentará aproximadamente 10 bilhões de pessoas no ano de 2050 de forma a
combater a pobreza, manter as metas de mudanças climáticas e reduzir as pressões no ambiente
mais amplo? Perseguir qualquer um desses objetivos de forma a excluir qualquer um dos outros
irá resultar na falha em conquistar todos os demais (SEARCHINGER et al., 2019).
Por exemplo, se o mundo se concentrasse em aumentar a produção de alimentos por
meio da conversão de florestas e savanas em áreas de cultivo e pastagens, a consequência direta
seria o aumento das emissões de gases de efeito estufa relacionados à perda de carbono em
plantas e solos. Como resultado o clima teria efeitos adversos à própria agricultura, com o
aumento da média de temperaturas, ondas de calor prolongadas, inundações, mudanças nos
padrões de precipitação, ou inundação de água salgada com a invasão de campos costeiros.
(SEARCHINGER et al., 2019, EWERT; PORTER; ROUNSEVELL et al., 2007).

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Outro exemplo é tentar reduzir o impacto da agricultura no clima e no meio ambiente
de uma maneira que não atenda as necessidades alimentares ou que não proporcione
oportunidades econômicas provavelmente minaria o apoio político à essa proteção ambiental.
Tentar aumentar a produção de alimentos de maneira a aumentar os preços ou substituir
pequenos agricultores sem oportunidades alternativas poderia minar o desenvolvimento
econômico necessário para apoiar uma agricultura melhorada (SEARCHINGER et al., 2019).
Primeiro, o mundo precisa aumentar a demanda de comida, uma vez que a demanda irá crescer
decorrente do crescimento populacional. As estratégias podem tentar reduzir a demanda por
comida pelos ricos de maneira socialmente benéficas, mas falhando em produzir comida
suficiente para atender a demanda global não é uma opção aceitável porque, quando a
disponibilidade de alimentos fica aquém, os ricos do mundo superam os pobres e a fome
aumenta. Com base nas tendências atuais, a produção agrícola e pecuária precisará aumentar
substancialmente mais rápido os índices do que aumentaram nos últimos 50 anos para atender
totalmente à demanda projetada de alimentos (SEARCHINGER et al., 2019, DÖÖS; SHAW,
1999).
Segundo, o mundo precisa da agricultura para contribuir com a inclusão econômica e
desenvolvimento social para ajudar a reduzir a pobreza. Mais de 70 porcento dos pobres do
mundo vivem em áreas rurais, onde a maioria depende da agricultura como seu principal meio
de subsistência. O crescimento originado no setor agrícola pode frequentemente reduzir a
pobreza mais efetivamente que o crescimento originado em outros setores econômicos, em
parte por provocar empregos e em parte por reduzir o custo da comida. Apesar da agricultura
diretamente contar para apenas cerca de 3,5 porcento do produto bruto mundial, essa figura em
aproximadamente 30 porcento nos países de baixa renda. Agricultura é pelo menos uma fonte
de meio período dos meios de subsistência de mais de 2 bilhões de pessoas. Dessas pessoas,
estima-se que 43 porcento sejam mulheres, sendo um percentual ainda maior quando analisados
os trabalhadores agrícolas de países do Leste e Sudeste Asiático, assim como na África abaixo
do Saara. Aumentar a renda das mulheres traz benefícios para aliviar a fome, sendo
particularmente eficaz em reduzir a pobreza e melhorar a segurança alimentar
(SEARCHINGER et al., 2019).
Terceiro, o mundo precisa reduzir o impacto da agricultura no meio ambiente e nos
recursos naturais. Agricultura impacta de maneira abrangente especialmente em três áreas
ambientais, conforme quadro 2:

Quadro 2: Impactos da agricultura nas áreas selecionadas


Área Descrição
Ecossistemas Desde a invenção da agricultura, o cultivo e a criação de animais são as principais causas
terrestres de perda de ecossistema. Hoje, mais de um terço da massa de terra do planeta e quase
metade da terra vegetativa é usada para produzir alimento. Agricultura continua a expandir
e é a principal causa do fim das florestas e associada aos impactos na biodiversidade.
Clima Agricultura e uso da terra com destruição das florestas contribuíram com
aproximadamente um quarto das emissões dos gases de efeito estufa em 2010. A produção
agrícola contribuiu em mais de metade dessas emissões. A conversão de vegetação nativa
e solos para agricultura também causa a perda de carbono. Em 2000, essa conversão de
ecossistemas naturais representaram um terço do aumento de dióxido de carbono na
atmosfera desde o período pré-industrial.
Água Agricultura responde pela retirada de 70% de toda água fresca retirada de rios, lagos e
aquíferos, e de 80 a 90% do consumo de água doce por atividades humanas. Agricultura
é também a principal fonte de escoamento de nutrientes, que cria “zonas mortas” e algas
tóxicas em águas costeiras e ecossistemas aquáticos
Fonte: Adaptado de Searchinger et al., 2019

4.2 O desafio dos três hiatos

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O hiato do fornecimento de comida é definido como a diferença existente entre a
produção de calorias da colheita produzida em 2010 e aquela que o mundo irá precisar em 2050
considerando a projeção de demanda. Esse hiato pode ser fechado por medidas que podem
diminuir o crescimento da demanda e pelo incremento de fornecimento. Quanto menor a
diferença decorrente do crescimento populacional, menor o desafio de aumentar a produção. E
esse desafio diminuindo, também diminui o risco que o mundo irá falhar para atender às
necessidades alimentares que mais severamente afetam os pobres (SEARCHINGER et al.,
2019, GODFRAY et al., 2010).
O hiato do uso da terra é a diferença entre a área projetada necessária para produzir toda
a comida que o mundo irá precisar em 2050 e a quantidade de terra em uso em 2010. Esse hiato
poderia fechar pela expansão das terras agrícolas, mas ao custo do dano aumentado para o
ecossistema e mais liberações de seu carbono armazenado. Para evitar grandes desmatamentos
adicionais, o objetivo é manter as atuais terras agrícolas (terras de cultivo e pastagem) conforme
identificado em 2010. A agricultura é apontada como o maior causador da perda de
biodiversidade no mundo (SEARCHINGER et al., 2019, LAMBIN et al., 2001, Ramankutty,
2002, Fraser, 2003, Ewert et al. (2005).
O hiato das emissões de gás de efeito estufa é a diferença entre as emissões relacionadas
à agricultura projetadas em 2050 e uma meta de emissões para a agricultura e mudanças
relacionadas ao uso da terra em 2050, necessárias para estabilizar o clima em temperaturas
aceitáveis. As emissões incluem tanto as de produção agrícola quanto da mudança no uso da
terra. O déficit pode ser reduzido por medidas de demanda que poderão aumentar a produção
nas terras já existentes e por mudanças nos processos de produção (SEARCHINGER et al.,
2019, RAMANKUTTY et al., 2007, LAL, 2004).
Embora a diferença alimentar seja simplesmente a diferença entre a demanda em 2050
e a demanda de 2010, as lacunas de mitigação das terras e de emissão de gases podem ser úteis
se entendidas de diferentes maneiras, o que nos leva a desenvolver algumas versões dos hiatos.
Principalmente, para projetar o que as demandas e emissões no uso da terra serão em 2050
como uma trajetória de negócio ou de “linha de base”. Geralmente os rendimentos das culturas
e pastagens tendem a crescer, os agricultores aumentam sua eficiência no uso de muitos
insumos, e esses ganhos impedem o crescimento da área agrícola e das emissões. Usando
maneiras diferentes de estimar a tendência de rendimento histórico, as projeções apontam
“alternativas” linhas de base e os hiatos de mitigação de terras ou de emissões de gases
representam a diferença entre essas linhas de base e as metas de uso da terra e emissões que
devem ser alcançados para um futuro sustentável dos alimentos (SEARCHINGER et al., 2019,
RAMANKUTTY et al., 2007).
Assim sendo, as projeções já apontam os progressos e esforços habituais dos
agricultores, governos, empresas e indivíduos. Outra projeção sinaliza também o cenário de
“não haver ganhos de produtividade após a projeção de 2010”, que não assume qualquer
melhoria de eficiência dos sistemas de produção e nenhum aumento do rendimento médio após
2010. Foi estimado, então quanta terra agrícola expandiria e as emissões de gases aumentariam
em 2050, se todas as demandas alimentares esperadas fossem atendidas essa hipótese de “sem
melhorias”. Essa projeção implica em um hiato muito maior do uso da terra e na mitigação das
emissões de gases em 2050 (SEARCHINGER et al., 2019).
De fato, o hiato quantificado por essa projeção “sem acréscimo de produtividade”
apresenta o progresso total necessário entre 2010 e 2050 para alcançar um futuro alimentar
sustentável. Por outro lado, o hiato usando a linha de base da trajetória de negócio, que
considera a projeção dos ganhos de produtividade históricos, indica quanto maiores taxas de
progresso devem ser maiores do que os alcançados no passado (SEARCHINGER et al., 2019).
Um dos questionamentos mais comuns sobre o hiato de produção de alimentos aponta que o
mundo não teria necessidade de produzir mais comida porque ele já produz 1,5 vezes a

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quantidade de calorias necessárias para alimentar todo mundo no planeta hoje e ainda sobraria
o suficiente para mais 40% da população se fosse efetivamente redistribuída. O estudo aponta
que de fato a distribuição de comida do mundo é muito desigual. Aproximadamente 820
milhões de pessoas são subnutridas, mesmo com 2 bilhões de pessoas estando acima do peso
ou obesas. No entanto, a presunção de que a melhor distribuição resolverá o problema
pressupõe uma série de suposições: afirma que não haverá perdas e desperdícios; desconsidera
que um terço de produção de alimentos hoje é destinada para alimentação animal, produção de
sementes e para usos industriais, como o biocombustível; além de presumir que o mundo todo
se tornou predominantemente vegano; pressupõe que as pessoas que se afastam da carne e do
leite farão uso de outros produtos naturais que exigem ainda mais terra, fertilizantes e água por
caloria que a alimentação animal. Realisticamente, é preciso focar na produção de alimento
conforme o consumo atual, que inclui carne e leite, e considera as perdas e desperdícios
(SEARCHINGER et al., 2019, KEARNEY, 2010).
Considerações nesse sentido foram feitas com relações aos demais hiatos, justificando,
portanto, o emprego dos critérios utilizados no relatório que justifiquem tendências históricas
e demais disposições sobre as flutuações nas sugestões dos cenários projetados.
(SEARCHINGER et al., 2019).

4.3 Critérios adicionais de sustentabilidade


Apesar do relatório apresentar uma série de medidas que possam ajudar a solucionar o
problema dos hiatos existentes na produção de alimentos, ainda não representa necessariamente
um futuro sustentável. Os itens propostos ainda devem contribuir com outros três critérios
importantes, conforme quadro 3 (SEARCHINGER et al., 2019).

Quadro 3: Critérios críticos na busca de soluções de hiatos de produção de alimentos


Critério Descrição
Promoção do O potencial da agricultura em reduzir a pobreza é primordialmente relacionado com tornar
desenvolvimento os alimentos acessíveis. Os pobres no mundo gastam em média mais da metade de seus
econômico e rendimentos em alimentos. No sul da Ásia e na África ao sul do Saara os alimentos são
redução da responsáveis por 40 a 70% dos gastos familiares. De acordo com numerosos estudos, os
pobreza preços mais baixos dos alimentos representam grande parte dos benefícios econômicos do
desenvolvimento agrícola para as economias da Ásia e da América Latina em geral, e aos
pobres em particular. À medida que as economias se desenvolvem e a produtividade
agrícola aumenta, mais os pobres preferem procurar oportunidades de emprego nas cidades
e i número de trabalhadores pode declinar. Aumentar as oportunidades de produtividade e
renda de pequenas fazendas é uma parte importante para garantir que essa transição seja
humana
Empoderamento As mulheres representam uma estimativa de 43% da força de trabalho agrícola do mundo e
de mulheres metade ou mais em muitos países africanos e asiáticos. No entanto, em média, as fazendas
agricultoras operadas por mulheres têm renda mais baixa do que as operadas pelos homens mesmo
quando homens e mulheres vêm da mesma casa e cultivam as mesmas colheitas. As
mulheres agrícolas geralmente têm seus direitos de propriedade reduzidos, o que reforça
seu acesso limitado a insumos e crédito, porque crédito normalmente exige terra como
garantia. No Quênia, por exemplo, as mulheres representam apenas 5% dos proprietários
registrados no país. Projetos que corrigem esses desequilíbrios podem aumentar os
rendimentos das mulheres. No geral, estima-se que garantir que as mulheres tenham acesso
igual a recursos produtivos poderia aumentar a produção agrícola total nos países em
desenvolvimento em 2,5 a 4%. Por outro lado, esses ganhos podem ter um benefício
desproporcional para a segurança alimentar, porque as mulheres são mais propensas que os
homens a dedicar sua renda a comida e necessidades das crianças. O IFPRI estima que as
melhorias nas condições das mulheres explicam 55% da redução da fome nos países em
desenvolvimento de 1970 a 1995. O progresso na educação das mulheres pode explicar 43%
dos ganhos em segurança alimentar, 26% dos ganhos em aumento da disponibilidade de
alimentos e 19% dos ganhos em avanços da saúde.

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Proteção dos Nos países em desenvolvimento a agricultura irrigada desempenha um papel ainda mais
recursos de água proeminente, sendo responsável por quase metade de toda produção agrícola e quase 60%
doce da produção de cereais, de acordo com a FAO. Um importante motor de crescimento de
rendimento de 1962 e 2006 foi o aumento de 160 Mha na área irrigada e uma estimativa de
duplicação do consumo de água por irrigação. Essa experiência pode sugerir uma estratégia
de expansão da irrigação sempre que possível, tanto para aumentar produção e proporcionar
maior resiliência aos agricultores. O suprimento de água doce do mundo já está muito
estressado e a agricultura é a principal razão. Globalmente, a irrigação representa quase 70%
do total de retirada de água doce de rios, lagos e aquíferos. A retirada doméstica e industrial
representa os 30% restantes. No entanto, o setor da agrícola é responsável por 90% da água
consumida. A agricultura competirá cada vez mais com as crescentes demandas desses
outros usos da água. A expansão urbana já levou a conflitos entre usos urbanos e agrícolas
no oeste dos Estados Unidos. Em 2015 o Fórum Econômico Mundial listou as disputas de
água entre diferentes usuários e entre países como o risco global número um na próxima
década. O aumento dos níveis de irrigação também traz sérios danos ambientais à vida
aquática, ecossistemas de zonas úmidas, deltas de rios e até o clima global. Os peixes
morrem ou se deslocam ara outros lugares quando seções de rios secam, mas até fluxos de
água reduzidos tendem a aumentar a temperatura da água e negam acesso a muitos habitats
fluviais, reduzindo a vida aquática. As barragens que criam reservatórios de irrigação
também tendem a impedir a migração de peixes, alterar a temperatura da água e impedir
que os sedimentos e a água doce reabasteçam os deltas dos rios. Um estudo recente estimou
que os reservatórios do mundo são responsáveis por entre 1 e 2,4% das emissões globais de
GEE a cada ano, principalmente através do metano criado pela decomposição de árvores e
outras vegetações inundadas.
Fonte: Adaptado de Searchinger et al., 2019

5 Conclusões

A produção de alimentos para atender a crescente demanda populacional no mundo se


apresenta como um dos grandes desafios das próximas décadas. A forma de apresentação dos
cenários já indicam uma metodologia a ser empregada para solucionar o problema, que é
inteiramente interdisciplinar, com aspectos transversais a serem observados devido a
complexidade dos possíveis resultados diretos e indiretos. O que se busca não é tão somente
gerar mais alimentos, mas fazê-lo de um jeito que não inviabilize a continuidade de toda a vida
no planeta e que ainda melhore a qualidade de vida de toda a população humana, inclusive das
classes mais desfavorecidas.
O presente trabalho apenas considerou os pressupostos do relatório, não sendo de forma
alguma a análise final do mesmo, cabendo ainda um aprofundamento sobre cada uma das
sugestões feitas em termos de ações possíveis. Como sugestão de estudos futuros caberia
ponderar sobre os indicadores apontados no relatório, estudando seu desenvolvimento no Brasil
ou em suas regiões, com possibilidade de identificação, por exemplo, de quais práticas seriam
ideais para cada Estado membro e como poderá ocorrer esse acompanhamento em termos de
ações por parte da sociedade civil, dos produtores e das políticas públicas. O relatório também
sugere como pesquisas futuras buscar estimativas quantitativas do uso agrícola de água doce.

6 Agradecimentos

Ao Grupo de Pesquisa em Estratégia, Competitividade e Desenvolvimento


(GEComD//PPGDS/UNESC).

Referências

BETTENCOURT, L. M. A.; KAUR, J. Evolution and structure of sustainability science. v.


108, n. 49, 2011.

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Contemporâneas acerca da Sustentabilidade. Cadernos Gestão Social, v. 2, n. 1, p. 105–120,
2009. Disponível em: <www.cgs.ufba.br>.

DÖÖS, Bo R.; SHAW, Roderick. Can we predict the future food production? A sensitivity
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EWERT, F. et al. Future scenarios of European agricultural land use: I. Estimating changes in
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EWERT, Frank; PORTER, John R.; ROUNSEVELL, Mark DA. Crop models, CO2, and
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FRASER, Evan DG. Social vulnerability and ecological fragility: building bridges between
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GLADWIN, T. N. et al. Beyond eco-efficiency: towards socially sustainable business. v. 3, p.
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GODFRAY, H. Charles J. et al. Food security: the challenge of feeding 9 billion people.
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KEARNEY, John. Food consumption trends and drivers. Philosophical transactions of the
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Pecuária a Pasto, Aquecimento Global e Bioma Pampa
Ganado en Pastoreo, Calentamiento Global y Bioma Pampa
Grassfed Livestock, Global Warming and Pampa Biome
Selistre, Alexandre Valente1; Jardim Barcellos, Júlio Otávio2; Schmidt, Veronica3
Resumo
O presente trabalho consistiu em pesquisa bibliográfica sistemática, por análise qualitativa
interdisciplinar, em diferentes fontes confiáveis de consulta, para colacionar literatura suficiente, entre produção
científica e metadados da internet, sobre as implicâncias envolvidas entre Pecuária a Pasto, Aquecimento Global
e o Bioma Pampa.
Cientificamente não se discute mais a ocorrência do Aquecimento Global, mas, academicamente se
questiona ser consequência dos efeitos antrópicos no Ambiente. Para aqueles que assim consideram, a pecuária é
tida como uma das principais majoradoras da depleção da camada de ozônio, mediante a emissão de gases de
efeito estufa à atmosfera, pelo metano expelido na ruminação de bovinos, ou pelo carbono produzido no
maquinário para plantação de pastagens, transporte e fabricação de insumos, bem como o desmatamento, ao
promover significativas mudanças climáticas.
Este é o desafio lançado à pecuária moderna sul-brasileira, para ser reconhecida como um agronegócio
de futuro sustentável.
A questão consiste em verificar se a bovinocultura de corte de alto desempenho a pasto, produtora da
Carne Verde, está a trilhar o caminho correto: ao inovar tecnologicamente, evoluir em pesquisas sobre pastagens,
aumentar a possibilidade segura de lotação, evitar deflorestamento e diminuir o tempo para abate, mitigando danos
ecológicos.
Mediante o Novo Código Florestal brasileiro, cotejado frente à perspectiva do cenário constatado pelo
recente Relatório Climate Change and Land do Intergovernmental Panel on Climate Change, a atividade pecuária
desenvolvida no sul do Brasil configura um agente degradante, ou foi exatamente a razão de preservação do
ambiente e de conservação ecossistêmica do Bioma Pampa?
Palavras-chave: Mudanças climáticas, Grassfed Beef, Reserva Legal, IPCC, Climate Change and Land.

Abstract
The present work consisted in a systematic bibliographical research by qualitative interdisciplinary
analysis, in front of different reliable sources of consultation to collate enough literature between scientific
production and internet metadata about the implications involved on Grassfed Livestock, Global Warming and
Pampa Biome.
Scientifically, the occurrence of Global Warming is not discussed anymore, but academically it is
questioned as a consequence of the anthropic effects on the Environment. For those who consider this, livestock
is pointed to be one of the major enhancers of depletion of the ozone layer, through the emission of greenhouse
gases into the atmosphere, by methane expelled in bovine rumination, or by carbon produced by machinery for
pasture planting, transportation and production of inputs, as well as such as deforestation, promoting significant
climate change.
This is the challenge launched at modern south-brazilian cattle raising, to be recognized as an
agribusiness of a sustainable future.
The issue is that high-quality grassfed beef cattle herding, producing the Green Meat, is on the right
track: technologically innovating, evolving research on pasture, increasing the safe stocking rate, reducing time
to slaughter and avoiding deforestation, mitigating ecological damage.
Through the Brazilian New Forest Code Law, compared with the perspective of the scenario verified by
the recent Climate Change and Land Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change, the cattle-raising
activity developed in southern Brazil constitutes a degrading agent, or was exactly the reason for preserving the
environment and conserving ecosystems in the Pampa Biome?

Keywords: Climate Change, Grassfed Beef, Legal Reserves, IPCC, Climate Change and Land
_________________________________________
1
Advogado, Mestrando em Agronegócio no Centro de Estudos e Pesquisa em Agronegócio pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Núcleo de Estudos em Sistemas Produção de Bovinos Corte, Brasil –
valenteselistre@gmail.com
2
Veterinário, Doutorado em Zootecnia e Coordenador Substituto do PPG-Zootecnia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Núcleo de Estudos em Sistemas Produção de Bovinos Corte, Brasil – julio.barcellos@ufrgs.br
3
Veterinária, Doutorada e professora associada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Brasil – veronica.schmidt@ufrgs.br
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E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
1 Introdução
A partir do pressuposto que, cientificamente, a ocorrência do Aquecimento Global é
inegável e comprovada, quando desconsiderados argumentos em desacordo, de cunho político
e ideológico, estabeleceu-se o cenário deste trabalho, admitindo que antropogenicamente haja
influência e efeitos na mudança do clima do planeta.
Nesta perspectiva, a pecuária foi apontada, perante os índices do recente Relatório
Climate Change and Land do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - IPCC,
como uma das principais causas na contribuição para o agravamento da calefação mundial,
ocasionados pela emissão de Gases de Efeito Estufa - GEE, como o gás metano - CH4 na
atmosfera, expelido na digestão bovina, somada à pegada de carbono atribuída à bovinocultura.
A moderna criação de gado sul-brasileira, precisa mudar esta ótica, buscando o
reconhecimento como uma potencial atividade sustentável, perante a concepção
aquecimentista, gerando convicção e segurança alimentar ao consumidor de carne vermelha.
Uma alternativa aduzida seria a Grassfed Livestock, ou Pecuária a Pasto, consistente na
moderna produção intensiva de bovinos de corte, de alta performance, alimentados
exclusivamente com pastagem, seja ela natural ou plantada. Para tanto seleção zootécnica
quanto genética, pesquisas agronômicas sobre cultivares, pastagens e inovações tecnológicas,
bem como ajuste calibrado de lotação, melhoram eficiência, aumentam a produção, reduzem
área ocupada e diminuem seu impacto ecológico, de forma sustentável, em conceito holístico.
Com o advento do denominado Novo Código Florestal, foram criados o Cadastro
Ambiental Rural – CAR, o Programa de Regularização Ambiental – PRA e regulamentadas
Áreas de Preservação Permanente - APPs e as Reservas Legais.
Resta a indagação: o pecuarista gaúcho é um vilão danoso à Natureza, ou sua vocação
inata, para a lida com gado foi determinante como meio de salvaguardar e preservar o Bioma
Pampa? Pode a pecuária vir a ser considerada preservacionista?
O presente trabalho consistiu em uma pesquisa bibliográfica por análise qualitativa
interdisciplinar, diante de diferentes fontes confiáveis de consulta, para que se chegasse a
colacionar literatura, entre produção científica e metadados da internet, sobre as implicâncias
envolvidas entre Pecuária a Pasto, Aquecimento Global e o Bioma Pampa.
A relevância do tema diz respeito à sua controvérsia e atualidade.

2 Referencial Teórico;
A fundamentação teórica deste trabalho baseou-se inicialmente nos resultados do
Projeto Pecus, pesquisa em rede nacional da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
EMBRAPA, que reuniu mais de trezentos pesquisadores, avaliando a dinâmica entre a emissão
de GEE, ou Greenhouse Gases – GHG, e o balanço de Carbono – C, em sistemas de produção
agropecuários dos seis Biomas do Brasil (EMBRAPA,2016/2019; Cuadra,2018). Mais
especificamente, no que tange ao Bioma Pampa e criação de gado a pasto (de Freitas et al.,2019;
Modernel et al.,2016), ao verificar se a alternativa de um bom manejo de pastagem (Genro et
al.,2015; Becoña et al.,2014), de forma intensiva (Dick et al.,2015; Modernel et al.,2013) entre
pasto nativo, fertilizado ou melhorado e suas combinações (Vasconcelos et al.,2018), analisado
quanto ao dilema inovação na produção de alimentos versus ecologia (Carvalho et al.,2006;
Dick et al.,2015; Gonçalves,2008), se provocam questionamentos sobre o paradoxo da
viabilidade econômica e ecossistêmica da pecuária gaúcha (Ruviaro et al.,2015/2016; Malafaia
& Barcellos,2007; Miguel,2007).
Para tanto, a abordagem teórica também vinculou-se aos consensos sobre a existência
do Aquecimento Global (Weart,2004; Silva & De Paula,2009) diante do paradigma da
cientificidade (Leite,2015), pois desde 1980, Reid Bryson foi o último a sustentar
academicamente posição contrária (Bryson & Goodman;1980), salvo defesas ideológicas
(Hansen,2013; Klein 2014), ou negacionistas que não se sustentam por rejeitarem a
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“preponderância da evidência” (Washington & Cook, 2011). Neste contexto, as consequências
destas mudanças climáticas e as implicações da antropogenia no efeito estufa proposto por
Fourier, é que resumem os debates acadêmicos (Giese et al.,2017; Felício,2014; Divine,2013).
Neste contexto o agronegócio tem parcela de contribuição direta nesta modificação
antrópica, pelo CH4 exalado na rizicultura e pecuária (Thorpe,2009), o carbono emanado no
uso de combustíveis e desmatamento (Fiorillo,2010).
A busca de alternativas ecologicamente viáveis passa pelo aumento do rebanho bovino
brasileiro (USDA,2018) e a previsão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico – OCDE e FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations da
necessidade de aumento de 20% na produção de alimentos no planeta para suprir a demanda do
crescimento da humanidade, devendo o Agronegócio Brasileiro elevar a produção em 40% até
2027 (OECD-FAO,2018), sem olvidar que este crescimento tem de ser sustentável
(Romeiro,2014; Romero1994) em concepção holística (Savory,1983/2013), minorando efeitos
da sua pegada de carbono (Wackernagel & Rees,1996), diante do levantamento do Relatório
Climate Change and Land do IPCC (IPCC,2019), inclusive no tangente econômico
(Oliveira,2008; Sessim,2016; Oliveira,2015).
Sendo o boi a melhor forma de colher pasto, convertendo-o em proteína animal, neste
trabalho, optou-se por estudar a geração de carne de bovinos alimentados exclusivamente à
campo (Bárbaro et. al.,2008), pelo sistema denominado Grassfed Livestock ou Pecuária a Pasto
(Ferreira et. al.,2011; Provenza et. al.,2019), ou a técnica australiana de Technograzing
consistentes em modernas produções intensivas de gado de corte, de alta performance
(Dias,2014), engordados somente em pastagem, seja ela natural ou sobressemeada (Suñe,2005).
O legislador brasileiro, através do Novo Código Florestal, legitima ou restringe esta
atividade agrária no Bioma Pampa (Correa,1964), nas estensas pradarias do sul do país
(Pont,1983; Callage,1928), mediante o CAR, o PRA, as APPs e a instituição da Reserva Legal
(Fernandes, 2016; Milaré,2007; Sichonany Neto & Tybusch, 2012)?

3 Procedimentos Metodológicos;
Os procedimentos metodológico para essa abordagem científica, requereram argumento
dedutivo, interpretação reflexiva, epistemológica e qualitativa, obtida por raciocínio lógico e
pesquisa documental, em um procedimento funcionalista de revisão bibliográfica sistemática,
na perspectiva de reunir uma coleção de literatura suficiente.
Independentemente da produção científica escrita sobre essa questão específica, ser
escassa e insuficiente, a busca por informações de fontes confiáveis interdiscilinares, atenderam
à demanda, condicionando o uso de metadados e redações disponíveis na internet.

4 Resultados e Discussão;
Ao levar em consideração, no rigor da ciência, a conformidade do entendimento da
existência do aquecimento global mediante efeito estufa, remanescem eventuais discordâncias,
por caráter ideológico ou geopolítico, de que seja consequência de eventos meramente naturais,
contra o argumento de agravamento acelerado pela imisção humana no Ambiente.
É consenso entre cientistas que o efeito estufa é um fenômeno atmosférico natural, cujos
gases funcionam como um anteparo, deixando passar a luz solar, como uma enorme cobertura
envolvente que, à moda de uma estufa de plantas, retém o calor. Sem esse processo, seria
impossível a vida humana na Terra, já que a temperatura média seria 33º centígrados menor.
Todavia o chamado Aquecimento Global é o agravamento desse processo, que vem
sendo percebido e registrado a dois séculos, coincidente à civilização industrial no cenário deste
paper. Origina pela emissão excessiva de GEE, sendo os principais o dióxido de carbono - CO2
e o óxido nitroso - N2O. Tais gases, acumulados ao vapor d’água natural gerado nos oceanos,
formam gradualmente uma barreira de moléculas que, quando muito espessa, retém o calor
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emitido pelos raios solares, sem dissipar-se para as camadas mais altas da atmosfera,
obstaculizando que deixe a superfície e as camadas atmosféricas inferiores, ocasionando
nefastas mudanças climáticas de aquecimento anômalo. A biosfera aprisionada nessa estufa se
ressente da temperatura aumentada, e muitas espécies definham, morrem e desparecem
definitivamente, por extinção irreparável para o ecossistema planetário.
O CH4 também contribui e é vinte e uma vezes mais nocivo à ozonosfera que o CO2,
embora volatilizado em escala bem menor (Heiling,1994). Suas principais emanações são
provenientes de causas naturais: vulcões, pântanos e decomposição de resíduos orgânicos; da
ação humana: na extração e gasto de combustível fósseis para transporte, indústria ou calefação
e queima de biomassa anaeróbica; ou do agronegócio: pelas bactérias em plantações de arroz,
na digestão de herbívoros e eventual desmatamento (Hogan et. al.,1991).
No caso específico, o CH4 produzido pela fermentação entérica, expelido por eructações
e flatulências, na digestão que ocorre na primeira parcela do estômago de herbívoros
ruminantes, onde o pasto ingerido é metabolizado por microrganismos anaeróbicos (que vivem
sem oxigênio no rúmen), composto por bactérias, fungos e protozoários (op. cit. Thorpe,2009).
Na onda do que seria ecológico e politicamente correto, a pecuária foi vilanizada, denunciada
perante os índices do recente Relatório Climate Change and Land do IPCC, na 50ª Sessão
publicada aos 08 de agosto de 2019, como uma das principais atividades agravadoras de
alterações no clima, do desgaste da ozonosfera, do efeito estufa e do aquecimento global,
somada à produção de carbono pelo consumo de petróleo gasto na formação de pastagens,
transporte ou na fabricação de rações e insumos e possível desmatamento (Fiorillo,2010). De
fato, as estimativas feitas pelo IPCC à pecuária brasileira foram desalentadoras e preocupantes.
A responsabilidade aumenta pelo fato de ter alcançado o patamar de maior rebanho comercial
bovino no mundo, na cifra de 238.150.000 cabeças (USDA,2018; FAS/USDA,2019), conduz à
estimativa de emanar 56kg/ano/bovino, liberando 8 milhões de toneladas de CH4. Isso
representa 10% do CH4 ruminal do mundo e 3% do total produzido pelas atividades humanas.
O impasse consiste na impossibilidade de captar, canalizar ou armazenar os gases
liberados pelo processo digestivo do rebanho, promove alternativas sustentavelmente viáveis
para mitigar consequências danosas (IPCC,2019; Maddox,1996).
Todavia, estes índices do IPCC, criado pela Organização Meteorológica Mundial e o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, foram idealizados diante uma
realidade da bovinocultura europeia (Romeiro,2014), muito diferente da sul-brasileira,
passíveis de crítica, pela atual inexistência de reservas de vegetação nativa original,
praticamente desaparecidas, restando preservadas tão somente mediante reflorestamento na
União Europeia, sem a mesma possibilidade de sequestro de carbono. Os fazendeiros europeus
são subsidiados muito mais para manterem a paisagem rural, de interesse turístico, do que pela
atividade agrária de produção de alimentos, evaluando os produtos muito mais por designações
de origem e identificação geográfica.
Fora estabelecido um indicador de biodiversidade o High Nature Value – HNV,
consistente em áreas agrícolas de “alto valor natural”, ao refletir preocupação com o paisagismo
rural, avaliando impactos das políticas de intervenção relativas à preservação e à melhoria e
extensão do agrossistema. O HNV mais importante é denominado “pecuária de baixa
intensidade sobre vegetação não melhorada” ou low intensity cattle breeding on unimproved
vegetation. Porém esta realidade não se reflete na biodiversidade brasileira, porque, aqui, a
degradação deu-se muito mais em circunstância da agropecuária extrativista de baixa
tecnologia, de pouca tecnicidade e promotora de desmatamento.
Em primeiro contraponto, a pecuária sobre os campos nativos tem sido, desde a
colonização luso-espanhola, a atividade econômica preponderante do sul do Brasil, a justificar
a preservação de uma cultura ancestral, de caráter transnacional, representada pela faina
tradicional do gaúcho que, secularmente, deixou de prear gado xucro alçado e foram fundadas
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as estâncias. Atualmente, em geral, essas terras encontram-se ocupadas com pecuária de
extensão de baixíssimo rendimento por hectare, o que não somente impede a recuperação da
floresta, como também continua a degradar o solo, na medida em que essas pastagens
deterioradas não oferecem suficiente proteção contra a erosão.
A perturbação que alerta ambientalistas, no sentido do desflorestamento, é coerente. Na
expressão popular “abrir mato” na busca desenfreada pelo espaço para plantar, devido ao preço
exorbitante pelo hectare de terra, além da pressão social e fundiária que empurra o pecuarista a
exagerar, em consequente desequilíbrio ecológico (Lutzenberger,1997).
Em virtude da Lei 13.158/2015 foi dada nova redação ao inciso IV do artigo 103 da Lei
8.171/1991, preconizando incentivos públicos especiais para substituição da pecuária extensiva
(rebanho esparso em grande áreas de terra) pela intensiva (restrição espacial, em pastagens
adubadas), promovendo ganhos de eficiência, aumento da produção de proteína, por unidade
de área, da precocidade e da qualidade dos produtos. No mundo atual, premente de
produtividade, eficácia e sustentabilidade, não se justifica a pecuária extensiva arcaica, hoje
ultrapassada e obsoleta. Uma alternativa é praticar uma agropecuária regenerativa
(Savory,1983), havendo condições, o plantio direto é indicado contra o sistema convencional
arando terra (op. cit. Romero,1994), bem como a integração lavoura-pecuária. Quanto à
pecuária intensiva e tecnológica, somente a pasto, prepondera a preservação ambiental, com
menos emissão de CH4 e mais sequestro de carbono.
O regime de engorda de gado moderno pode ser feito, em três sistemas eficientes: por
pastoreio intensivo contínuo (permanência dos animais em áreas fixas, por longos períodos,
com menores lotações durante o pastejo, a fim de que haja recuperação satisfatória das plantas,
usado em grandes áreas, com menor controle gerencial); por pastoreio intensivo rotacionado
(ou racional, pelo método Voisin, com permanência dos animais, em piquetes por curtos
intervalos de tempo, com períodos de descanso para as forrageiras de alta produtividade,
ensejando treinamento e gerenciamento da mão de obra, vistoria técnica, adubação e aumento
substancial de riscos); ou por regime de confinamento ou semi-confinamento (com
suplementação na oferta de grãos, silagem ou ração comercial) (Lazzarini Neto,1994).
A carne originária de animais alimentados exclusivamente a pasto é mais cara para ser
produzida, pelos simples motivos de necessitar de mais área para o pastoreio, de mais tempo
para atingir os índices de abate; em contraponto a carne confinada precisa de menos espaço
(basta um galpão, com cocho e piquete), pois quanto menos os animais caminharem e se
exercitarem, maior e mais rápido o ganho de peso, que também ocorre em menos tempo porque
os grãos têm energia prontamente disponível, facilidade de digestão e maior controle individual,
além de poder concentrar operações, escalonando gastos com transporte e outros custos.
Não obstante, o segundo contraponto contempla que a carbon footprint, conceito
aplicado para calcular a quantidade total das emissões de GEE, originadas pelo impacto direto
ou indireto, seja por uma pessoa, produto ou empresa (Wackernagel & Rees,1996), quando
estimado para a pecuária, promove a estigmatização de insustentabilidade.
Todavia, a Rede de Pesquisa Pecus, formada pela EMBRAPA Pecuária Sul,
conjuntamente à Estação Experimental da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul – UFRGS, com apoio da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária
– FEPAGRO, monitorou o balanço de carbono na pecuária brasileira a pasto, mensurando
durante um ano, as emissões de CH4 por novilhos da raça de corte hereford, submetidos a
diferentes níveis de intensificação em pastagens naturais do Pampa. Os resultados são bastante
encorajadores, e validam este trabalho, pois demonstrou que os níveis são bem inferiores
daqueles medidos pelo IPCC para a pecuária brasileira, até abaixo de 43% do estimado.
A pegada de carbono da pecuária a pasto no Bioma Pampa, pelo sequestro de Carbono
realizado pelas gramíneas componentes da pastagem em que vivem e se alimentam os bovinos,
alcança a cifra de 29% (Vasconcelos et al.,2018), e suplanta, em larga escala, os índices
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observados no planeta pelo ICPP. Ou seja, é muito mais benéfica à camada de ozônio do que
no resto do mundo, em franco contraponto à crença disseminada por completo desconhecimento
deste sistema, sequer citado no Relatório, mesmo tendo analisado mais de sete mil artigos!
Posto em pratica, desde o Novo Código Florestal, a Lei n° 12.651, de 25 de maio de
2012, na instituição do CAR, constituído por autodeclaração compulsória de produtores rurais,
das áreas que possuem, prazo findo em 2018 (Fernandes, 2016), e do consecutivo PRA, em
vigor, foram reguladas as APPs e as Reservas Legais. Estas têm sua porcentagem proporcional
a cada um dos seis bioma brasileiros, em que a propriedade rural se localiza.
Para tanto, a definição do Bioma Pampa, que, etimologicamente, vem do vocábulo
quíchua e significa região plana, composta por campos, as pradarias do sul do país, têm colinas
arredondadas, de clima subtropical temperado, típico de estepes.
Seu mapeamento, no Brasil, restringe-se a parte meridional do estado do Rio Grande do
Sul, ocupando área de 176.496 km², 63% do estado gaúcho e 2,07% do território brasileiro
(IBGE, 2004), também chamado de Campos Sulinos.
A Reserva Legal estabelecida para o Bioma Pampa é na proporção de 20% (vinte por
cento) da área. Acontece que, na Pampa, a atividade pecuária foi exatamente o fator
preponderante de preservação do bioma até hoje, diante da interação harmônica entre Natureza,
gado e o gaúcho. A vegetação deste ecossistema é formada, à exceção das matas ciliares (como
APPs são excluídas do cálculo) e os populares “capões de mato”, pequenas porções isoladas de
pequenas árvores e arbustos pelas coxilhas, por pasto, composto por uma variada
biodiversidade (Nabinger,2002), portanto, o uso racional da reserva legal para a pecuária de
corte, é indicado, até mesmo a título de conservação, respeitado os limites legais. Todavia, a
parcela de campo destinada à reserva legal de campo nativo não deva ser considerada como
área rural consolidada, mormente porque, em assim passando a ser, habilitaria o espaço para
plantações, o que não corresponde ao mens legis, porque outras culturas não possuem o
potencial de preservação que a pecuária pode exercer no Bioma Pampa.

5 Conclusões;
Com toda a propriedade de agrarista Albenir Querubini leciona que: “O imóvel agrário
é uma unidade econômico produtiva, não uma unidade de conservação”, tomando por base o
artigo 186, inciso II da Constituição Federal de 1988 e a Lei n° 8.629/93. Tal conceito tem
enorme significado, posto que o dever de cuidado para com o Ambiente, compõe a função
social ambiental, limite imanente ao direito de propriedade do produtor rural. Contudo, é
imprescindível que o pecuarista possa ter as melhores condições de produzir bovinos e carne
vermelha, bem como seu sustento econômico, desde que respeite os limites legais e a Natureza.
Se o bovinocultor, privilegiar ditames de bem-estar animal, respeitar a Reserva Legal,
que permite intervenções mediante autorização do órgão ambiental competente, e utilizar
modernas técnicas de pecuária a pasto, o Grassfed Livestock, produzindo o Grassfed Beef,
também conhecido como Green Meat, estará entregando alimento, contribuindo para o
cumprimento de acordos internacionais, como o Protocolo de Kioto e o Acordo de Paris, pois,
conforme a pesquisa da Rede Pecus, já que não se pode armazenar o CH4 emitido na digestão
bovina, ao menos o diminuir, além do desconto proveniente do sequestro de CO2 que esta
atividade agrária permite, diante de sua pegada de carbono benéfica.
Esta pecuária intensiva, exclusivamente a pasto tem um enorme potencial, porque
aumenta os índices de produção, baseados em maior carga de animais por hectare e estimula o
abate em menor tempo, compatibiliza-se com benefícios econômicos, sociais e ecológicos,
demonstrando a sustentabilidade deste sistema, independentemente de viger o paradoxo
geração de alimento versus ecologia. Com capacidade de reabilitar e conservar a biodiversidade
no campo nativo do Bioma Pampa.
O pecuarista gaúcho é vilanizado e acusado injustamente de desmatamento e apontado
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como emissor irresponsável de GEE, perante a mídia nacional e externa, criando uma imagem
negativa que necessita ser revertida, pois os resultados científicos dão respaldo e demonstram
o contrário. Na medida em que estes esclarecimentos alcançarem o cidadão urbano, a concepção
de segurança alimentar e de prosperidade econômica serão os precursores da sua valorização.
Enquanto as pesquisas sobre os campos nativos do Bioma Pampa permanecerem apenas
nas universidades, sem chegar aos produtores, e principalmente aos jurisconsultos do
Ministério Público, muito se perderá em termos de produção e em termos ambientais, porque
quanto mais produtiva se tornar a pastagem natural, maior será o interesse do proprietário em
mantê-la, preservando a vegetação, e todos os elementos que dela dependem, como os animais
que se alimentam e o solo que a sustenta. Da mesma forma, enquanto não houver maiores
esclarecimentos acerca da Reserva Legal, um instituto obrigatório para todas as propriedades
rurais, os produtores não terão consciência de que este instrumento além de preservar o
ambiente pode também ser lucrativo, caracterizando a sustentabilidade tão falada atualmente,
onde se produzirá, preservando a natureza.
“A atividade pecuária desenvolvida no Rio Grande do Sul, por exemplo, não é um agen-
te degradante, pelo contrário, foi exatamente a razão de preservação do meio ambiente, ou seja,
de conservação do Bioma Pampa”, segundo Carvalho (2006).

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Perspectivas de avaliação em climate-smart agriculture (CSA)
Perspectives for assessment in climate-smart agriculture (CSA)

Luiz Gustavo Lovato1, Patrícia Batistella2, Jean Philippe Palma Révillion3

Resumo
A climate-smart agriculture (CSA) sustenta-se sobre três pilares: segurança alimentar, resiliência e mitigação das
mudanças climáticas. Sua aplicação em sistemas agrícolas requer a avaliação de sinergismos e trade-offs entre
essas três dimensões, uma vez que, nem sempre a implementação da abordagem de CSA contemplará
positivamente todas essas bases simultaneamente. Dessa forma, esse artigo tratou de elencar ferramentas
metodológicas utilizadas para avaliar sistemas agrícolas geridos sob o conceito de CSA. O estudo de natureza
exploratória fez uso de uma revisão bibliográfica, de modo a classificar a adequação de cada metodologia para a
análise de sinergias e trade-offs. Os documentos analisados provêm da Food and Agriculture Organization of
United Nations (FAO) e do World Bank – principais apoiadores do conceito -, bem como, do periódico científico
Agricultural Systems, o qual é responsável pelo maior número de publicações sobre CSA até o presente momento.
Três tipos principais de metodologias de análise em CSA foram identificados: modelos integrados de avaliação,
análises de custo-benefício e avalição através de indicadores. Suas aplicações estão sujeitas a uma série de critérios,
que podem envolver o nível de análise, o grau de evolução do sistema e os tipos de práticas e tecnologias adotadas.

Palavras-chave: aquecimento global; eficiência; resiliência; produtividade; emissões de gases de efeito estufa.

Abstract
Climate-smart agriculture (CSA) is based on three pillars: food security, resilience and mitigation of climate
change. Its application in agricultural systems requires the evaluation of synergisms and trade-offs among these
three dimensions, though not always the CSA approach implementation will contemplate positively all these bases
simultaneously. Thus, this article sought to list methodological tools used to evaluate agricultural systems
managed under the CSA concept. The study of exploratory nature used a bibliographic review to classify the
adequacy of the methodologies in analyzing synergies and trade-offs. The documents analyzed have been
published by Food and Agriculture Organization of United Nation (FAO) and World Bank – main supporters of
the concept -, as well as, by the scientific journal Agricultural Systems, which has the most publications on CSA
until this present moment. Three analytical methodologies used in CSA were identified: integrated assessment
models, cost-benefit analysis and assessment through indicators. Theirs applications are subject to a number of
criteria, which may involve the level of analysis, the degree of evolution of the system and the types of practices
and technologies adopted.

Keywords: global warming; efficiency; resilience; productivity, greenhouse gases emissions.

1 Introduction

Climate-smart agriculture (CSA) is a concept developed by Food and Agriculture


Organization of the United Nations (FAO) in partnership with World Bank and launched in
2010. Its purpose is to support agricultural development on three pillars, namely: 1) to adapt
food crops to new climate patterns (droughts and increased rainfall, for example) by adopting
practices and technologies that also promote the economic resilience of rural populations; 2) to

1 Mestrando em Agronegócios / Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios (CEPAN), Universidade


Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - luizglovato@gmail.com
2 Doutoranda em Agronegócios / Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios (CEPAN),
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – patriciabatistella@rocketmail.com
3 Professor do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios / Centro de Estudos e Pesquisas em
Agronegócios (CEPAN), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - jeanppr@gmail.com

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ensure food security through improved agricultural productivity and access to food in these
conditions; 3) to enable mitigation of climate change by reducing greenhouse gases (GHG)
emissions in food production (LIPPER et al., 2014). The concerning about the climatic risk that
plagues agricultural activities is becoming more constant, since not only isolated weather events
can burden production, but also long-term changes in climate patterns that require strategies
with emerging actions to overcome these challenges. The diffusion of the term "climate-smart
agriculture" serves as a point of convergence for studies in the agrarian and social sciences that
seek to endorse sustainable intensification practices, adaptation to climate change and
promotion of resilience for rural populations, as well as mitigation of climate change through
technological innovations (BAGLEY; MILLER; BERNACCHI, 2015; CAMPBELL et al.,
2014). A quick search on the Scopus database using the key-word “climate-smart agriculture”
shows that, until the date August 13th, 2019, 318 scientific documents have been published
about this topic. Although it seems a small number of documents, it increased considerably -
from 6 documents in 2012 to 85 documents published in 2018 -, which demonstrates the strong
academic interest on this concept.
The studies on CSA have focused on several factors that influence each of the
dimensions that the concept proposes, from the analysis of adaptive capacities of productive
systems or smallholders, passing by molecular biology, the development of resistant cultivars
to the weather transitions and arriving to model proposals that can analyze and list priorities for
the development of CSA (BORLAND et al., 2015; CARMO-SILVA et al., 2015;
WESTERMANN et al., 2018). These studies have been dedicated to analyzing different scales,
which focus range from the individual decision maker in the productive unit up to those who
make decisions in the political sphere, promoting changes in the institutional dynamics of a
certain region or even a country (CHANDRA; MCNAMARA; DARGUSCH, 2018).
The application of the concept by researchers is more concentrated in some regions of
the globe, especially Africa and Latin America, as well as regions classified as tropical and
others in which scarcity of natural resources is a limiting factor for food production - as the case
of Israel and some countries of the Middle East in relation to water resources management
(BELL et al., 2018). Since the focus of analysis and application of climate-friendly practices
and technologies falls on underdeveloped or developing countries, the proposed CSA
guidelines are not immune to criticism. One of them is what is been called the “political
inoperability” of some models that can be easily adopted by productive systems that have a
financial structure and management that are wealthier but poorly adapted to rural producers in
situations of economic vulnerability. Other source of criticism is the perception that the burden
of climate change mitigation should be better shared in each industry, a failure that has
minimized the environmental impacts caused by the habits of consumption on climate change,
for example (KARLSSON et al., 2018; TAYLOR, 2018).
Although Thornton et al. (2018) have already proposed a conceptual framework to set
priorities in CSA research, this study will focus on methods applied in studies that consider
synergies and trade-offs in the adoption of the concept of CSA. The weighting of these factors
is important to create a kind of “smartness” measure of the productive system committed to the
approach guidelines and to the sustainability of the crops. Nevertheless, besides the promotion
of the efficient use of resources in agricultural systems, while guaranteeing above average
productivity and reducing GHG emissions, evaluations of its financial viability is of paramount
importance. Otherwise, the way the human challenge facing climate change is imposed today
can encourage the creation and execution of projects that are not economically viable and even
degrading to the environment (ROSEN; GUENTHER, 2015).

2. Theoretical References

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The main objective of CSA is to establish a productive platform capable of producing
positive effects in its three conceptual pillars, in other words, it has the ambitious goal of
selecting and promoting practices or technologies that can improve productivity, to adapt to
climate change and promote mitigation at the same time. The goal of this "triple-wins" could
only be achieved with the consideration of synergies and trade-offs between those three pillars.
In this way, evaluation and management models can only be implemented considering and
respecting the physical or social specificities of the agricultural system (DUNNETT et al., 2018;
KHATRI-CHHETRI et al., 2017).
Indeed, the smartness of the CSA relates to the potential of this approach to connect the
issues of three distinct dimensions – food security, adaptation and mitigation. However, several
and different assets need to be taken into account in a coherent analysis for planning or
implementation of a CSA, since it involves technical, economic and cultural factors.
The application of CSA can be considered an innovation within the agricultural system,
whether by adopting new practices and technologies or by rescuing traditional knowledge.
Some specific examples of CSA practices and technologies include the construction of stone
barriers in terrains with accentuated slope, in order to ensure soil conservation; the introduction
of heat and water stress-tolerant varieties; crop rotation; the development of agroforestry
systems; among others practices and technologies, which embrace also the conservative
agriculture and sustainable intensification (SAIN et al., 2017; TORQUEBIAU et al., 2018).
The three dimensions that support the CSA approach could have simultaneous effects,
through the synergism or independent effects, by means of trade-offs. Thus, not always
increasing food security, building resilience and adaptation of rural populations to climate
change and reducing greenhouse gases emissions (GHG) of agricultural systems will operate
positively at the same time. Meanwhile the search for “triple-wins” is the aim, the adoption of
a determined practice or technology could reduce the use of natural resources, but would not
bring financial security, for example. Therefore, a constant cost-benefit evaluation of those
trade-offs is important for decision makers.
The synergistic effect arises when an action directed to an attribute of the system
generates effects that simultaneously act on other attributes. For instance, the rational and
efficient use of natural and materials resources, whether in the production or distribution, can
mitigate environmental impacts and GHG emissions, as well as reducing the cost of the product,
improving its affordability (VERMEULEN; CAMPBELL; INGRAM, 2012).
Trade-off can be understood as a consideration of the costs and benefits that the adoption
of a given practice or technology can bring (CHANDRA; MCNAMARA; DARGUSCH, 2018;
KHANNA; ZILBERMAN, 1997). Very often, it brings some challenges to the decision maker,
for example, on how to support the capacity of agriculture to sequester carbon and mitigate
GHG emissions while still increasing the food supply. Yet, some technologies that could
mitigate and improve yield, in some cases, do not fit in the farmer budget (VERMEULEN;
CAMPBELL; INGRAM, 2012).
At any rate, the evaluation of synergies and trade-offs in the adoption of climate-friendly
practices and technologies requires the measurement of some factors, supported by indicators,
indexes and assessment models. Some of these perspectives for assessment of CSA are
discussed below.

3. Methods

This study is an exploratory research and applies a bibliographic review restricted to


scientific documents. The documents were collected in FAO, World Bank and the journal
Agricultural Systems databases. Both FAO and World Bank were selected by their actions as
main supporters for the development of the CSA approach. On the other hand, the journal

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Agricultural Systems concentrates the greatest amount of articles published under the string
“climate-smart agriculture”.
The book “Climate Smart Agriculture” of FAO (2018) and the group report “Climate
Smart Indicators” by World Bank (2016) are explored for synergies and trade-offs analysis in
this study. The journal Agricultural Systems, which since 1976 has been published studies
focusing on the interaction among natural, social and economic environments with land use by
farming, has been also explored. In the Scopus database, 20 out of 318 documents – until the
date August 13th 2019 – have been published by this journal on CSA, justifying its relevance
on this topic. For instance, the special issue number 151 of Agricultural Systems has the title
“Prioritising climate-smart agricultural interventions at different scales”.
The studies compiled by this research show methodologies that have been applied in the
assessment of synergies and trade-offs in CSA. Eighteen documents were selected, 16 of them
were sourced in Agricultural Systems, 1 in FAO and 1 in World Bank.

4. Results and discussion

Most of the methodologies used in synergy and trade-offs evaluations are integrated
models, that is, they incorporate two or more analysis tools to measure factors that imply the
development of CSA (VERMEULEN; CAMPBELL; INGRAM, 2012). A good part of the
integrated assessment models are intended to understand the decision-making of producers and
institutions on productive and marketing strategies, as well as to analyze which factors lead to
the choice and adoption of a particular practice or technology, important points to promote
adaptation and mitigation of climate change.
The methods identified in this work, especially those that use integrated assessment
models (IAM), propose types of analysis very similar to those applied on the dimensions of
sustainability concept. The particularity lies on the specificity of the environmental dimension,
which in CSA has focus on mitigation of GHG emissions; and social dimension, which could
be represented by the food security pillar. Of course, the application of IAM depends on the
availability of data and the costs of the field research. Very often, the data is gathered through
surveys. Some studies search for validation of frameworks that are feasible and less time
consuming, as the case of Climate Smart Agriculture Rapid Appraisal (CSA-RA), based on
participatory methods, where statements of stakeholders of different levels are collected and
compared – from farmers to researchers and policy makers (MWONGERA et al., 2017); others
aim to develop scenarios based on bio-physical and economic models, as intends to do the
Agricultural Model Inter-comparison and Improvement Project (AgMIP) (FAO, 2018). It is
important to note that these IAM have the goal of obtaining data regarding each of the three
pillars, afterwards synergies and trade-offs analysis can be achieved. The food security is
assessed by the dietary pattern of rural populations, its calorific values and prices. Resilience
and adaptation are aided by data that measure production costs, as well as, poverty indexes
(SHIKUKU et al., 2017).
As shown in Table 1, the methodologies identified in this study are evaluated second
the approach that support them and its capacity for assessment of synergies and trade-offs. The
“plus” signal (+) marked on Table 1 indicates that the methodology enables the assessment of
both synergies and trade-offs, or only one of them. The “minus” signal (-) indicates the opposite,
in other words, the methodology does not reach the full assessment of synergies or trade-offs.
A brief description of the methodologies is presented, as well as some examples of studies that
applied the respective methodology.

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Table 1. Tools and methodologies for synergies and tradeoffs assessment in climate-smart agriculture (CSA).
Methodology Approach Description Synergies Tradeoffs Examples
Considers byophisical and
socio-economic
AgMIPa, FAO (2018);
heterogeneity, yields,
function of IAMb + + Shirsath el al.
income, emissions and
production (2017)
temporal dynamics of
systems
Understanding of dynamics
Systems Jagustovic et al.
CASc and trade-offs over - +
thinking (2019)
temporal and spatial scales
Three indicators: CSA
Policy, CSA Technology
and CSA Results. It allows
assessments on project and
national level, how to
CSA Index Indicators develop practices and + + World Bank (2016)
technologies that lead to
productivity gains and
environmental benefits,
while monitoring their
performances
Mix of tools considering Mwongera et al.
CSA-RAd local socio-demographic
IAM b
data extracted from rapid
+ + (2017); Notenbaert
and participatory methods et al. (2017)
Economic assessment of van Asten et al.
Economics Cost- costs of production based (2011); Sain et al.
- +
analysis benefit on agronomic yield (2017), Andrieu et
analysis al. (2017)
Environmental Life-cycle Considers CO2 emissions Acosta-Alba et al.
- +
analysis assessment and pollution transfer (2019)
Multi-dimensional impact
Ex-ante
assessment and trade-offs Shikuku et al.
impact IAMb - +
analysis for CSA (2017)
assessment
technologies adoption
Evolves the scenarios
projections over socio- Paul et al. (2018);
Household and economic local conditions, Reidsma et al.
landscape level IAMb land use changes, choices + + (2015); Lopez-
scenarios and strategies at household Ridaura et al.
level (2018)

Considers food security,


RHoMISe poverty, gender equity and Hammond et al.
Indicators - +
greenhouse gases (2017)
emissions
"targetCSA" Brandt et al.,
decision- Identifies vulnerabilities,
implements multi-criteria (2017); Brouziyne
making
IAMb - + et al. (2018),
framework, decision-making modelling
TOPSISf and guides CSA projects Khatri-Chhetri et al.
(2019)
Notes: a = agricultural model inter-comparison and improvement project; b = integrated assessment
model; c = complex adaptive systems; d = climate-smart agriculture rapid appraisal; e = rural household multi-
indicators survey; f = technique for orders preferences by similarity to the ideal solution.

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The use of an index to weigh the importance and degree of evolution of each CSA
dimension is proposed by the World Bank through a set of indicators. From the compilation of
various attributes, the political, the technological, and the status dimensions of the implemented
projects can be measured and aggregated into what is called the CSA Index (WORLD BANK,
2016). Although information is initially calculated on a disaggregated basis and then
transformed into indicators, the possibility of aggregating these indicators in an index shape
makes it possible to identify priority areas for investment and the impacts generated by practices
and technologies adopted, allowing the financing agencies and the manager of the productive
unit to substantiate their decisions. In approaches to this, synergism, in addition to tradeoffs are
the focus of analysis.
Another way of analyzing the development of CSA is through tools that allow
evaluating the costs and benefits of CSA practices and technologies adoption and its relation to
climate change in agricultural and crop-livestock systems. Generally, in these approaches, the
focus is on trade-offs. Assessing the costs brought by increased productivity or the economic
impact of the adoption of a technology that reduces greenhouse gas emissions, for example, are
cases where the methodology can generate information regarding the economic viability and
environmental impact where the CSA systems is implemented. On the other hand, the
environmental issues can be assessed by soil analysis and life-cycle assessment for GHG
emissions of crops and livestock systems (ACOSTA-ALBA; CHIA; ANDRIEU, 2019;
BRANDT et al., 2017).
Generally, methodologies that evaluate impacts of CSA, apply the methods or indicators
prior and after the adoption of CSA practices and technologies. When planning the CSA, ex-
ante impact assessment is done by scenarios (PAUL et al., 2018; SHIKUKU et al., 2017). In
these approaches the temporal and spatial dimensions, as well as, the scale of the analysis
demands a careful attention.
Shisrsath et al. (2017) developed a spread-sheet-based methodology, using crop yield
datasets, crop models, biophysical attributes, expert surveys, and future strategies, with the aim
to help farmers adapt to climatic risk. In other study Hammond et al. (2017) used standardized
performance indicators, collected at household level and supported by a digital platform. The
locations were Central America and Africa, and different indicators were used to assess each
pillar to allow a trade-off analysis. For food security, dietary diversity, food availability and
farm productivity were consired; for adaptation and resilience, gender equity, income and
poverty were checked; and for mitigation, GHG emissions and intensity were measured.
Despite the databased methods found, only one of the articles used a human behavior
approach to analyze CSA. The Complex Adaptive Systems – based on systems thinking – aims
to evaluate the farmer’s willingness to adopt CSA practices and his/her own analysis of trade-
offs, assessed through cognitive patterns (JAGUSTOVIĆ et al., 2019).

5. Conclusions

Among the different methodologies presented, some similarities regarding the approach
chosen, the level of analysis and the measurements adopted by the researchers were identified.
Independent of how they have been named, the methodologies embrace three main approaches:
integrated assessment models (IAM), cost-benefit analysis and indicators.
IAM are supported by a mix of tools and methods that analyze specific parameters for
each pillar. Thus, it is very often applied in synergies analysis and in scenarios development.
This study has not found a pattern or standard indicators that allow a cross-comparison among
studies. When the approach is directed to the trade-off analysis, cost-benefits methods are
frequently applied. It is important to note that cost-benefits methods allow individual analysis
for each pillar of CSA, and could be integrated into a synergy analysis afterwards. However,

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these approaches are focused on economic, environmental or productivity issues individually.
In the basis of the methodologies found in bibliographic review, indicators are highlighted,
which support the development of indexes and integrated assessment models, and still are useful
in monitoring specific attributes regarding farm performance, impact of strategies and
livelihoods well-being.
Although great part of the researchers of CSA put their efforts on the smartness
measurement of agricultural interventions, one study used descriptive methods to understand
the behavior and cognitive trade-offs made by smallholder woman farmers in Africa.
As the methodologies have been applied mostly in developing countries, concerns about
costs and accessibility of the researches are highly considered. Time-saving surveys, as well as,
the use of data generated by governmental institutions are prioritized. It could be observed that
the object of the studies generally lies on poor rural regions, where agricultural and livestock
interventions can bring food security through productivity, which can enhance the income by
market orientation and reduce environmental impacts by adopting practices and technologies
that reduce GHG emissions. Establishing, in this way, a constant synergy and trade-off analysis
of the three pillars of CSA - food security, resilience and mitigation.
The variety of methodologies, approaches and indicators used to assess CSA
interventions is vast. It demonstrates the exploratory aspect of the topic. The rising of studies
in this area demonstrates the urgency to build agricultural systems committed to a new approach
of sustainable development, where multi-dimensions and multiple stakeholders have to be
considered, meanwhile all those interactions generates synergies and trade-offs.

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Possibilidades de Utilização de Tecnologias da Informação no Bem-Estar de
Frangos de Corte
Information Technologies Possibilities on Broiler´s Welfare
Heitor Vieira Rios1, Patrícia Soster de Carvalho2, Raquel Medeiros Horn3, Paulo Dabdab
Waquil4

Resumo
Frente as dificuldades de se mensurar e avaliar o bem-estar de frangos de corte é sugerida a utilização de
ferramentas da tecnologia da informação (TI). O presente estudo objetivou analisar como as TI envolvidas com
bem-estar de frangos de corte atendem os princípios do bem-estar animal (BEA). Uma revisão sistemática da
literatura foi realizada considerando os manuscritos publicados nos bancos de dados Scopus e Web of Science.
Após serem submetidos aos critérios de busca e exclusão, 55 manuscritos foram analisados, sendo encontradas 98
TI. As TI observadas nos manuscritos foram classificadas de acordo com os princípios de BEA presentes no
protocolo Welfare Quality ®, sendo adicionado o princípio “abate humanitário”. Foram observadas 9,18% das TI
envolvidas com o princípio “boa alimentação”, 25,51% com o princípio “boas instalações”, 44,90% com o
princípio “boa saúde”, 16,33% com o princípio “comportamento apropriado” e 13,27% com o princípio “abate
humanitário”. Em suma, um maior número de TI foi observado no princípio “boa saúde”, principalmente
relacionadas a captação e mensuração de problema de patas dos animais.

Palavras-chave: Tecnologia inteligente, pecuária de precisão, automação, cinco liberdades.

Abstract
Given the difficulties in measuring and assessing the welfare of broilers, the use of information technology (IT)
tools is suggested. The present study aimed to analyze how the IT involved with broiler welfare meets the animal
welfare (AW) principles. A systematic literature review was performed considering the manuscripts published in
the Scopus and Web of Science databases. After being submitted to the search and exclusion criteria, 55
manuscripts were analyzed and 98 TIs were found. The IT observed in the manuscripts were classified according
to the principles of AW present in the Welfare Quality ® protocol, adding the principle “humane slaughter”. Were
observed a total of 9.18% of IT involved with the “good feeding” principle, 25.51% with the “good housing”
principle, 44.90% with the “good health” principle, 16.33% with the “appropriate behavior” principle and
13.27% on the principle of “humane slaughter”. In conclusion, a higher number of IT was observed in the “good
health” principle, mainly related to the capture and measurement of animal paw problems.

Keywords: Smart Farming, Precision Livestock Farming, automation, five freedoms.

1 Introdução

A produção de alimentos de origem animal é desafiada a aumentar sua produtividade


respeitando preceitos éticos e morais emergentes na sociedade contemporânea. Nesse sentido,
a produção global de carne de frango é estimada a atender 38,5% da demanda mundial de
produtos cárneos até 2028 (OECD/FAO, 2019), se consolidando como a proteína de origem
animal mais consumida no mundo. Em paralelo a esse cenário, a condição de vida dos animais
nos sistemas produtivos é preocupação crescente na sociedade exigindo maior controle e
garantias da cadeia produtiva. Entretanto, mensurar e garantir o bem-estar animal (BEA) de
forma prática e eficiente é uma importante barreira a ser transposta.
Nesse sentido, fatores relevantes para considerar na avaliação do bem-estar de frangos
de corte estão descritos no protocolo de avaliação de bem-estar de aves domésticas
desenvolvido pelo programa Welfare Quality®, criado pela Comissão Europeia em 2004

1Doutorando em Agronegócios /Universidade Federal do Rio Grande do Sul - heitorvieira_rios@hotmail.com


2Mestranda em Produção Animal / Universidade Federal do Rio Grande do Sul – paty_soster@hotmail.com
3Graduanda em Zootecnia / Universidade Federal do Rio Grande do Sul – rakihorn@gmail.com
4Doutor em Economia Agrícola /Universidade Federal do Rio Grande do Sul - waquil@ufrgs.br

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(WELFARE QUALITY®, 2009). Para a criação do protocolo, realizou-se extensa pesquisa
envolvendo diversos setores das cadeias produtivas de produtos de origem animal, construindo
um diálogo entre ciência e sociedade (MIELE et al., 2011). No documento que trata sobre
frangos de corte, estipulou-se quais aspectos das condições de vida do animal eram importantes
para serem mensurados, como eles deveriam ser medidos e como deveriam ser avaliados, afim
de resultar em um sistema eficiente de avaliação.
Embora seja um documento capaz de fornecer um método prático para avaliar o grau
de BEA de um lote de frangos, o protocolo Welfare Quality® apresenta algumas limitações
para ser implementado. Dentre as limitações apresentadas estão:

(i) O tempo necessário para coleta e avaliação de variáveis torna a atividade longa
e exaustiva. O protocolo estima um tempo de aproximadamente quatro horas
para avaliar todas as variáveis necessárias.
(ii) As variáveis são mensuradas e avaliadas por pessoas. As condições de vida dos
animais poderão variar de acordo com o observador e não refletirem às
condições dos animais propriamente ditas.
(iii) A mensuração das variáveis é realizada no final da vida do lote. O grau de BEA
avaliado é apenas um reflexo do que está acontecendo no momento da coleta
dos dados e pode não levar em consideração as condições de vida que os animais
tiveram durante todo o tempo de suas vidas.
(iv) A presença do observador em meio as aves pode interferir na qualidade da coleta
dos dados.

Em paralelo às dificuldades envolvidas na definição do grau de bem-estar de frangos de


corte, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para auxiliar a captura, a mensuração, o
controle e o processamento de dados envolvidos na criação dos animais. Tais tecnologias,
classificadas como tecnologias da informação (TI), compreendem uma grande gama de
ferramentas, entre elas: novos sensores, novas câmeras, algoritmos, machine learning,
computação em nuvem, computação em neblina e etc. Esse conjunto de tecnologias objetivam
simplificar o gerenciamento da granja e da cadeia produtiva, permitindo captar, mensurar e
controlar um grande volume de dados e, assim, produzir informações úteis para o produtor
(PIVOTO et al., 2018). Frente a essa cenário, objetivou-se, com o presente trabalho, avaliar
como as ferramentas da TI atendem os diferentes aspectos que envolvem o bem-estar de frangos
de corte.

2 Referencial Teórico

2.1 O bem-estar de frangos de corte e o protocolo Welfare Quality®


O BEA é um tema complexo, multifacetado e interdisciplinar. O assunto recebe especial
destaque quando trata sobre o grau de BEA que animais criados para alimentação humana
devem possuir. Nesse cenário, frangos de corte são animais criados em sistemas intensivos de
produção e em grande escala, o que é frequentemente associado a um grau de BEA pobre na
visão da sociedade. Nada obstante, esse julgamento é frequentemente realizado de forma
emocional, sendo necessário que se desenvolvam métodos científicos para acessar o grau de
bem-estar dos animais (BANHAZI et al., 2012).
Frente a esse desafio, o projeto Welfare Quality® foi criado pela Comissão Europeia
em 2004. Dentre os objetivos do projeto estão: desenvolver protocolos para avaliar o bem-estar
de animais produção, identificar problemas de bem-estar animal e criar estratégias para suas
melhorias. Os padrões de bem-estar presentes nos protocolos foram desenvolvidos após uma
extensa pesquisa, que teve lugar em vários países europeus e envolveu diversos setores da
cadeia produtiva (MIELE et al., 2011). No documento que trata sobre frangos de corte,
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estipulou-se quais aspectos das condições de vida do animal eram importantes para serem
mensurados e como eles deveriam ser medidos e avaliados, afim de resultar em um sistema
prático de avaliação (WELFARE QUALITY ®, 2009). A tabela 2 ilustra os princípios de BEA
que são respeitados no protocolo de bem-estar de aves domésticas e os critérios que os
compõem.

Tabela 2. Princípios do BEA e critérios para a sua avaliação estipulados pelo protocolo de bem-estar de
aves domésticas da Welfare Quality®.
Princípio do BEA Critério para avaliação
1 Ausência de fome prolongada
Boa alimentação
2 Ausência de sede prolongada
3 Conforto ao repouso
Boas condições das instalações 4 Conforto térmico
5 Facilidade de movimentação
6 Ausência de lesões
Boa saúde 7 Ausência de doenças
8 Ausência de dor provocadas por manejo
9 Expressão do comportamento social
10 Expressão de outros comportamentos naturais
Comportamento específico da espécie
11 Boa interação homem-animal
12 Status emocional positivo
Fonte: Adaptado de Welfare Quality® (2009)
Cada um dos critérios de avaliação dos princípios de BEA do protocolo pode ser medido
por uma ou mais variáveis, as quais possuem suas próprias particularidades no momento da
mensuração. Após a coleta e análise de todas as variáveis, cada critério recebe um escore que,
conjuntamente com os escores dos outros critérios, resultará em uma avaliação do princípio
analisado. A união das avaliações de cada princípio fornecerá uma avaliação sobre a condição
geral do grau de BEA que poderá ser classificado em: excelente, bom, regular e inaceitável,
Embora seja um documento capaz de fornecer um método prático para avaliar o grau
de BEA de um lote de frangos, há de se considerar que muitas informações sobre os animais
podem não estar sendo mensurada pelo protocolo. Animais e ambiente estão em íntima relação
produzindo grande volume de informações a todo instante. Conseguir captar e processar os
dados das variáveis envolvidas no bem-estar de frangos de corte de forma eficiente pode ser de
grande valia para auxiliar no controle das condições de vida dos animais, o que pode ser
benéfico para toda a cadeia produtiva. Nesse contexto, emerge a possibilidade da utilização de
ferramentas da TI que possam auxiliar no controle das condições em que frangos de corte são
criados.

3 Procedimentos Metodológicos
Uma revisão sistemática (RS) da literatura foi realizada para analisar e identificar as TI
relacionada ao bem-estar de frangos de corte. As bases de dados Web of Science e Scopus
foram utilizadas. A escolha destas bases de dados deveu-se à sua relevância e importância no
presente campo de estudo. As bases de dados foram acessadas pelo Portal da Biblioteca da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, disponibilizado pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
A RS foi realizada utilizando a ferramenta Start (State of the Art Trough de Systematic
Review). O período de busca compreendeu todos os anos até 17 de abril de 2019, ou seja, sem
nenhuma limitação temportal. Após pesquisa bibliográfica inicial, foram definidos os termos e
boleanos que foram utilizados no presente estudo, os quais podem ser visualizados na Tabela

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2. Porque os autores entendem que o campo “tópico” da base de dados Web of Science e o
campo “Article title, abstract, keywords” da base de dados Scopus concentram as principais
informações sobre os documentos, os termos e boleanos escolhidos foram inseridos nesses
filtros.

Tabela 2. Termos e Booleanos Utilizados nos Campos de Pesquisa dos Bancos de Dados Web of Science e
Scopus
Broiler AND Technolog* AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND "Precision Livestock farm*" AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND Computer* AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND Digital* AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND Informatic* AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND Remote AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND Automat* AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND Camera* AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND Sensor* AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND Radio* AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND Image* AND “Welfare” OR Wellbeing
Broiler AND Sound* AND “Welfare” OR Wellbeing
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).

A consulta inicial resultou em 406 documentos. Após submeter os documentos a


critérios de inclusão e exclusão, foram analisados 55 documentos. Dentre os documentos
rejeitados estavam revisões e conference papers, manuscritos duplicados, artigos que não
atendiam os objetivos da pesquisa e documentos que não estavam escritos em língua inglesa ou
portuguesa.
A partir da análise dos 55 artigos, os documentos selecionados foram avaliados e as TI
e os manuscritos utilizados pelos autores foram classificadas de acordo com os princípio de
BEA a que se referem. A questão que norteou a revisão foi: “como as tecnologias de informação
relacionadas ao bem-estar dos frangos de corte atendem os princípios do BEA?”. Foram
utilizados os princípios do BEA presentes no protocolo Welfare Quality® como proxy para
classificar as TI identificadas. Posteriormente, o princípio “abate humanitário” foi criado para
classificar adequadamente TI envolvidas com esse aspecto do bem-estar de frangos de corte.
Para avaliar as TI em relação ao princípio do BEA atendido, foi necessário classificá-
las em grupos. Nesse sentido, os grupos identificados por Rios et al. (dados ainda não
publicados) foram utilizados. Os autores identificaram dez grupos, a saber: tecnologias de
imagem, plataforma de medição de força, cinemática, som, identificação por rádio frequencia
(RFID), balança de pesagem automática, sensor ambiental, câmara de abate, sensor animal e
algoritmo.

4 Resultados e Discussão
Após a análise dos 55 manuscritos, as TI envolvidas com o BEA foram classificadas de
acordo com o princípio de BEA as quais atendiam. Na Tabela 3, é possível visualizar os autores
dos trabalhos, os grupos de TI, o número de aparições das TI e as suas frequências de acordo
com o princípio de BEA no qual esses referiam.
Foram observadas TI classificadas em todos os princípios do bem-estar animal,
indicando haver uma preocupação científica em relação a todos os aspectos da vida de frangos
de corte. É importante salientar que o princípio “abate humanitário” foi adicionado aos demais
presentes no protocolo Welfare Quality® para poder classificar tecnologias envolvidas com
esse aspecto da vida dos frangos de corte. Possivelmente esse princípio não está presente no
Protocolo porque ele foi desenvolvido para medir o BEA no campo e não em abatedouros, no
entanto, abater os animais de forma apropriada configura-se como um importante aspecto do

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BEA (COENEN et al., 2009; HINDLE et al., 2010; MACKIE; MCKEEGAN, 2016;
MCKEEGAN et al., 2013; WEBSTER; COLLETT, 2012).

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Tabela 3. Autores, grupo de TI, e número e frequência de manuscritos observados em cada princípio do BEA.
Nº de % do
Item Autores Grupo de TI observado(s) aparições total
das TI de TI
Tecnologia de imagem
Aydin; Berckmans (2016); de Montis et al. (2013); Van Hertem et al. Som
Boa alimentação 9 9,18
(2017); Weeks et al. (2000). Algoritmo
Balança automática
Alvino et al. (2009); Calvet et al. (2014); Cordeiro et al. (2011); Curi Tecnologia de imagem
et al. (2017); de Moura et al. (2008); do Nascimento et al. (2011, Som
Boas instalações 2014); Febrer et al. (2006); Ferreira et al. (2011); Giersberg et al. Algoritmo 25 25,51
(2016); Giloh; Shinder; Yahav (2012); Iyasere et al. (2017); Kashiha Sensor ambiental
et al. (2013); Lin et al. (2016); Van Hertem et al. (2017) Sensor animal
Tecnologia de imagem
Alves et al. (2016); Aydin (2017a, 2017b); Caplen et al. (2012);
Som
Dawkins et al. (2009, 2013, 2017); Dawkins; Cain; Roberts (2012);
Algoritmo
Demmers et al. (2018); Peña Fernandez et al. (2018); Fontana et al.
Balança automática
Boa saúde (2015); Hoffmann et al. (2013); Mendes et al. (2016); Moe et al. 44 44,90
Sensor animal
(2017); Nääs et al. (2008, 2009, 2010, 2018); Roberts; Cain; Dawkins
Plataforma de medição de
(2012); Silvera et al. (2017); Van Hertem et al. (2017, 2018);
força
Vanderhasselt et al. (2013); Weeks et al. (2000); Zhuang et al. (2018)
Cinemática
Alvino et al. (2009); Febrer et al. (2006); Fontana et al. (2016); Tecnologia de imagem
Kristensen; Cornou (2011); Schwean-Lardner et al. (2014); Schwean- Som
Comportamento apropriado 16 16,33
Lardner; Fancher; Classen (2012); Stadig et al. (2018a, 2018b), Algoritmo
Taylor et al. (2017b, 2017a); Van Hertem et al. (2017) RFID
Tecnologia de imagem
Coenen et al. (2009); Hindle et al. (2010); Mackie; McKeegan, Sensor ambiental
Abate humanitário 13 13,27
(2016); McKeegan et al. (2013); Webster; Collett (2012). Sensor animal
Câmara de abate
Soma TI nos princípio de BEA 107 109,19
Total de TI analisadas 98 100
Fonte: Elaborado pelos autores

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Foram observados diversos grupos de tecnologias envolvidos com cada um dos
princípios de BEA, alguns dos quais foram específicos para um determinado princípio e outros
foram observados em mais de um princípio. Nesse contexto, o grupo de TI “tecnologia de
imagem” foi observado em todos os princípios e os grupos “algoritmo” e “som” só não foram
observados no abate humanitário. O grupo “sensor animal” foi observado relacionado aos
princípios boas instalações, boa saúde e abate humanitário. Os grupos “balança automática” e
“sensor ambiental” foram observados atendendo dois princípios do BEA, sendo eles: boa
alimentação e boa saúde, e boas instalações e abate humanitário, respectivamente. Os grupos
“plataforma de medição de força” e “cinemática” foram observados apenas no princípio de boa
saúde, o grupo “RFID” foi verificado somente no princípio comportamento apropriado e o
grupo “câmara de abate” foi observado atendendo o princípio abate humanitário apenas.
Um total de 9,18% de tecnologias envolvidas com a boa alimentação do animais foi
observado, sendo este o princípio de BEA com menor número de TI, seguido por abate
humanitário (13,27%) e comportamento apropriado (16,33%). Foram verificados quatro
diferentes grupos de TI para cada um desses princípios. Em contrapartida, as maiores
porcentagens de TI foram observadas para os princípios boas instalações e boa saúde, sendo
observado um total de 25,51 e 44,90%, respectivamente. Os dois últimos princípios citados
também obtiveram maior número de grupos de tecnologias envolvidos com a sua mensuração
ou controle, sendo que cinco diferentes grupos de tecnologias foram identificados no princípio
boas instalações e sete grupos relacionadas a boa saúde.
A maior porcentagem de TI observada no princípio boa saúde pode ser explicada devido
a uma relevante preocupação da ciência com problemas de pernas de frangos de corte. Nesse
sentido, diversas tecnologias têm sido descritas e desenvolvidas para propor um método prático
de avaliação de problemas locomotores, tais como: calo de patas, hockburn e anormalidades de
marcha (DAWKINS et al., 2009, 2017; DAWKINS; CAIN; ROBERTS, 2012; PEÑA
FERNANDEZ et al., 2018; ROBERTS; CAIN; DAWKINS, 2012; SILVERA et al., 2017;
VAN HERTEM et al., 2017, 2018). Em corroboração a essa constatação, foram verificados
maior número de grupos de TI atendendo esse princípio do BEA, o que pode ter ocorrido devido
ao esforço da ciência em procurar novas alternativas para auxiliar na resolução do problema.
Adicionalmente, é possível que um autor tenha utilizado um conjunto de TI para avaliar
um único princípio do BEA e, dessa forma, poderá ser observada maior porcentagem de TI para
o princípio em questão. É possível que este fato explique a maior porcentagem de TI relacionada
à boa saúde dos animais, uma vez que foi observado maior quantidade de grupos de tecnologias
nesse aspecto da vida do animal.
O número de publicações avaliadas foi menor do que o número de TI analisadas (55 vs
98). Isso é explicado pelo fato de um manuscrito poder fazer menção ao uso de mais de uma
TI. Como exemplo, é possível citar o documento de Van Hertem et al. (2017), no qual os autores
desenvolveram uma ferramenta visual com informações que pudessem facilitar a análise de
dados por produtores, ou seja, uma tecnologia de imagem. No entanto, o estudo também
envolveu a utilização de outras TI: para captar a vocalização dos animais (som), para avaliar a
distribuição dos animais no galpão (tecnologia de imagem), para controlar as variáveis
ambientais (sensores ambientais) e para processar as informações (algoritmo). Assim, os
autores utilizaram cinco diferentes TI em seu estudo. De forma similar, um manuscrito pode
apresentar mais de uma tecnologia relacionada a um mesmo princípio do BEA. Como
observado no estudo de Iyasere et al. (2017), em que os autores utilizaram um microchip, um
termomêtro infravermelho e um sistema de registro de telemetria, ou seja, três tipos de sensores
animais envolvidos com boas instalações.
Embora um total de 98 TI tenha sido avaliado, foram encontradas 107 aparições de TI
nas publicações, quando somados as aparições de acordo com o princípio do BEA a que eles se
referiam. Isso foi observado porque era possível que uma TI estivesse envolvida com mais de

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um princípio do BEA. Pode-se citar o trabalho de Alvino et al. (2009) para melhor ilustrar essa
constatação. Nesse estudo, os autores estudaram o efeito da intensidade luminosa utilizada em
um aviário de frango de corte sobre o comportamento dos animais. As TI utilizadas foram
tecnologias de imagem, as quais foram classificadas em “boas instalações” e em
“comportamento apropriado”, pois, além de avaliar a intensidade de luz mais adequada para
criar os animais, também avaliou-se os padrões comportamentais dos frangos de corte.
É importante destacar que os resultados observados no presente estudo estão restritos
aos procedimentos metodológicos realizados, de forma que qualquer alteração nos critérios de
busca e de exclusão dos documentos poderá ocasionar em resultados diferentes. O estudo se
propôs a avaliar como as TI relacionadas ao bem-estar de frangos de corte atendem os princípios
do bem-estar em frangos de corte. Espera-se que os resultados possam auxiliar no
direcionamento das pesquisas sobre o tema e sugere-se que novos estudos sejam realizados para
verificar a utilização das ferramentas da TI por produtores de frangos de corte.

5 Conclusões
Pôde-se observar o desenvolvimento e a utilização de TI em todos os princípios do bem-
estar de frangos de corte avaliados. A análise dos resultados sugere maior preocupação do
desenvolvimento de TI voltadas ao princípio de boa saúde dos animais, sendo observado
44,90% do total das TI direcionadas a esse aspecto da vida de frangos de corte. Adicionalmente
maior variedade de grupos de TI foram verificadas atendendo esse princípio do BEA. É
provável que o resultado observado seja resultado da preocupação da ciência em resolver
questões relacionadas aos problemas de patas do frango de corte moderno.

6. Agradecimentos
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo
apoio disponibilizado.

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Prospecção Tecnológica: o Caso da Carne Cultivada
Technological Prospection: the Cultured Meat’s Case

Alice Munz Fernandes1, Antonio Luiz Fantinel2, Ângela Rozane Leal de Souza3, Jean
Philippe Palma Révillion4
Resumo
A pesquisa realizada teve como objetivo mapear o desenvolvimento tecnológico da carne cultivada sob a
perspectiva da agricultura celular. Para tanto, realizou-se uma busca na base Questel Orbit considerando
determinadas diretrizes e orientações inerentes ao primeiro documento de patente reconhecido sobre esta temática,
em 1999. O portfólio obtido foi composto por 18 registros de documentos de famílias de patentes, espalhados pelo
mundo. Os resultados sugerem que, ao longo do tempo, existe uma associação entre os registros das invenções e
o crescimento no número de startups e de investidores que intentam viabilizar a produção em escala dessa nova
biotecnologia alimentar. Também constatou-se os países onde tais inovações foram protegidas, possibilitando
compreender o viés do futuro mercado consumidor sob a perspectiva dos atuais cessionários. Assim, destaca-se a
relevância dos Estados Unidos, União Europeia e países asiáticos quanto a proteção e registro prioritário de
famílias de patentes, o que vai ao encontro do desenvolvimento de startups nestas áreas e de investimentos públicos
em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

Palavras-chave: Agricultura celular. Carne in vitro. Carne limpa. Carne baseada em células.

Abstract
The research realized had as purpose to map the technological development of cultured meat from the perspective
of cellular agriculture. For this, a search was carried out in the Questel Orbit database considering certain
guidelines contained in the first recognized patent document on this subject, in 1999. The portfolio obtained
consisted of 18 patent family document registries from around the world. The results suggest that, over time, there
is an association among inventive records and the growth in the number of startups and investors seeking to make
scale production of this new food biotechnology feasible. The countries where such innovations were protected
were also found, making it possible to understand the bias of the future consumer market from the perspective of
current assignees. Thus, we highlight the relevance of the United States, the European Union and Asian countries
regarding the protection and priority record of patent families, which meets the development of startups in these
areas and public investments in Research and Development (R&D).

Keywords: Cellular agriculture. In vitro meat. Clean meat. Cell-based meat.

1 Introdução

Um conjunto de desafios globais está intensificando a preocupação da sociedade


contemporânea em relação à segurança alimentar, o que tem sido fomentado pelas estimativas
de crescimento populacional, mudanças climáticas e expansão da população urbana em escala
exponencial (FAO, 2017). Neste sentido, tem-se a previsão de aumento na demanda por fontes
proteicas na ordem de 73% até a metade do século (FAO, 2011), sendo que a estratégia atual
“business as usual” das indústrias mostra-se suficiente para atender somente cerca de 80% da
futura população mundial (BONNY et al., 2017).
Não obstante, aspectos concernentes aos impactos ambientais gerados pela atividade
pecuária convencional (POST, 2014), o uso de terra (MATTICK et al., 2015), as recorrentes
crises relacionadas à segurança e inocuidade da carne ocorridas desde a década de 90
(VERBEKE et al., 2010), as preocupações com a transmissão de doenças por meio de alimentos
(BHAT; BHAT, 2011; ZWART, 2015) e até mesmo a busca por alimentos dotados de maior

1
Bacharelado em Administração / CEPAN-UFRGS – alicemunz@gmail.com
2
Tecnologia em Agronegócio / CEPAN-UFRGS – tonifantinel@gmail.com
3
Bacharelado em Ciências Contábeis / CEPAN-UFRGS – angela.souza@ufrgs.br
4
Engenharia Agronômica / CEPAN-UFRGS – jeanppr@gmail.com
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palatabilidade (SODHI, 2017) intensificaram o desejo dos consumidores por fontes alternativas
de proteínas (VERBEKE et al., 2015).
Neste sentido, surge a promessa da carne cultivada, que representa uma possível ruptura
no sistema alimentar contemporâneo (O’KEEFE et al., 2016). Este produto considerado como
especulativo e incomum, “cruzando ficção científica, mídia popular, discursos políticos e
científicos” (O’RIORDAN; FOTOPOULOU; STEPHENS, 2017, p. 150, tradução própria),
pauta debates morais e éticos (DATAR; BETTI, 2010) e estimula uma diversidade de
questionamentos (HARTMANN; SIEGRIST, 2017; BRYANT; BARNETT, 2018).
Dentre as questões que emergem acerca dessa nova biotecnologia alimentar dotada de
ambiguidades, tem-se especulações quanto a viabilidade técnica e econômica da produção em
escala comercial (STEPHENS et al., 2018). Contudo, em agosto de 2013, após o Dr. Mark Post
da Maastricht University, na Holanda, apresentar ao público o primeiro hambúrguer produzido
com carne cultivada, “encenado como um evento de mídia científica híbrida em algum lugar
entre comunicado de imprensa, experimento e show de culinária” (O’RIORDAN;
FOTOPOULOU; STEPHENS, 2017, p. 149, tradução própria), verificou-se a maximização dos
esforços do setor privado em possibilitar o desenvolvimento e comercialização do produto
(SPECH et al., 2018). Assim, este produto biotecnológico está se aproximando cada vez mais
de sua viabilidade comercial (BRYANT; BARNETT, 2019).
Logo, tem-se o crescimento no número de startups e de investidores (SPECH et al.,
2018), o que demonstra que a produção em escala comercial está sendo projetada (MATTICK;
LANDIS; ALLEMBY, 2015). Nesse sentido, destaca-se a prospecção tecnológica como uma
forma de mapear o desenvolvimento tecnológico, de identificar novos mercados e de rastrear
as capacidades tecnológicas de determinado setor (LINHARES et al., 2018), configurando-se
como uma ferramenta de inteligência tecnológica que fornece inputs para estudos prospectivos
de tecnologias (PARREIRAS; ANTUNES, 2015).
Ante ao exposto, a pesquisa realizada teve como objetivo mapear o desenvolvimento
tecnológico da carne cultivada sob a perspectiva da agricultura celular. Destarte, o advento da
maximização da quantidade de dados de patentes e da diversidade de ferramentas de análise
configura-se como um contributo para o estudo de tendências tecnológicas e de atividades de
P&D em distintos setores (VINCENT et al., 2017). Assim, documentos de patentes apresentam
informações relevantes para a indústria, os negócios e a formação de políticas públicas
(TSENG; LIN; LIN, 2007).

2 Referencial Teórico

A carne cultivada, também conhecida como “carne artificial” (BONNY et al., 2017;
SODHI, 2017), “carne de laboratório” (GALUSKY, 2014), “carne in vitro” (MATTICK et al.,
2015; BRYANT; BARNETT, 2019), “carne sintética” (MARCU et al., 2015) ou “carne limpa”
(SODHI, 2017; SPECHT et al., 2018; BRYANT et al., 2019) consiste na biomassa comestível
proveniente do cultivo in vitro de células-tronco ou células estaminais retiradas do animal vivo
(POST, 2014; MATTICK et al., 2015).
Seu surgimento advém da engenharia de tecidos regenerativos e concerne ao campo
científico da agricultura celular que apesar de não possuir uma conceituação exata, pode ser
entendida como “um conjunto de tecnologias para fabricar produtos tipicamente obtidos da
pecuária, usando técnicas de cultura para fabricar o produto individual” (STEPHENS et al.,
2018, p. 157, tradução própria).
Conquanto, mesmo estando em seu estágio inicial (POST, 2014), a carne cultivada
corresponde a um conceito emergente de biotecnologia alimentar (ENRIONE et al., 2017), que
busca ser considerada como substituta de fato à carne convencional (VERBEKE et al., 2015).

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Logo, pode vir a representar uma ruptura no sistema alimentar contemporâneo (O’KEEFE et
al., 2016), sobretudo devido aos significados e simbolismos que historicamente circunscrevem
a carne (BEKKER; TOBI; FISCHER, 2017) enquanto principal alimento em distintas culturas
(ROZIN, 2003).
Todavia, destaca-se que “à medida que a tecnologia se aproxima da produção de
produtos comerciais, é vital que os consumidores recebam informações suficientes sobre o
processo de cultivo da carne, para que possam entender a tecnologia” (SHAW; IOMAIRE,
2019, p. 1792, tradução própria). Assim, tem-se verificado a intensificação de estudos que
objetivam identificar como este produto biotecnológico deve ser chamado, a fim de maximizar
a confiança e aceitabilidade do consumidor (BRYANT; DYLLARD, 2019; BRYANT et al.,
2019) paralelamente a sua viabilização em escala comercial (BRYANT; BARNETT, 2019).

3 Procedimentos Metodológicos

Para a operacionalização desta pesquisa foi realizada uma busca na base mundial de
patentes Questel Orbit que “fornece ferramentas de mineração de dados para analisar bancos
de dados individuais com recursos exclusivos” (VINCENT et al., 2017, p. 25, tradução própria).
Esta base possui atualização diária e compila registros de patentes de mais de 50 países
(QUESTEL ORBIT, 2019).
A estratégia de busca empregada compreendeu os seguintes termos, operadores
booleanos e truncamentos: (cell+ cult+ AND meat) OR (cultured meat) OR (in_vitro meat) OR
(cultured beef) OR (mioblast+ AND meat). Estes deveriam estar contidos no título ou no
resumo dos documentos de patentes. Assim, o portfólio inicial foi composto por 43 famílias de
patentes.
Contudo, o primeiro registro de patente sobre carne cultivada na perspectiva estudada
foi publicado em 24 de junho de 1999, solicitado na Holanda pelo médico e antigo prisioneiro
de guerra (principal motivação para seus estudos sobre desenvolvimento de carne cultivada)
Willen van Eelen, pelo empresário Willem van Kooten e pela dermatologista Wiete Westerhof
(JÖNSSON, 2016). Sendo assim, estabeleceu-se como restrição de busca a data de publicação
dos registros (24/06/1999 até 20/08/2019).
Além disso, considerando a diversidade de domínios tecnológicos aos quais as patentes
pertencem, a fim de obter um portfólio mais alinhado com a proposta de pesquisa, determinou-
se como filtro de busca a Classificação Internacional de Patentes (do inglês International Patent
Classification – IPC) pertencente as mesmas áreas de tecnologia da primeira patente (A23L ou
C12N, que estão contidos nas macro áreas denominadas Necessidades Humanas e Química e
Metalurgia, respectivamente) (WIPO, 2018a).
A partir desses parâmetros, o portfólio obtido foi composto por 18 documentos de
famílias de patentes. Para análise dos dados, utilizaram-se representações gráficas
disponibilizadas pela própria base de dados e planilhas eletrônicas para a compilação e
organização dos registros encontrados. Posteriormente, estes resultados foram comparados com
a evolução e surgimento de startups ao redor do mundo.
4 Resultados e Discussão

Com base no portfólio de estudos obtidos, verifica-se que o primeiro registro de famílias
de patentes refere-se justamente a patente depositada por Van Eelen, Van Kooten e Westerhof
(1999), cuja proposta consistia basicamente em extrair células do músculo embrionário ou
células somáticas por meio de uma biopsia e na construção de um andaime fino que
possibilitaria o crescimento celular, o que os pesquisadores afirmavam tornar-se um produto
comestível. Conseguinte, a Figura 1 ilustra a distribuição temporal dos registros de famílias de

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patentes sobre carne cultivada.

Figura 1 – Distribuição temporal dos registros de famílias de patentes sobre carne cultivada
4
Famílias de Patentes

1
1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019
Anos

Fonte: resultados da pesquisa (2019).

Em 2006 tem-se novamente uma invenção de autoria de Van Eelen que concerne a um
produto de carne oriundo do cultivo in vitro de células não humanas em um meio de cultura
isento de substâncias perigosas, capaz de produzir um tecido muscular animal tridimensional
(VAN EELEN, 2006). Este depósito atualmente possui como cessionário a empresa norte-
americana Just, que atua na fabricação de alimentos à base de vegetais e que no final de 2018
apresentou ao mundo nuggets de frango produzidos a partir de células retiradas da pena de uma
galinha (MORRIS; COOK, 2018).
Um mês antes da divulgação da fabricação do primeiro hambúrguer produzido com
carne cultivada, tem-se a publicação de uma família de patentes cuja invenção é de autoria de
Genovese, Roberts e Telugu (2015), que se refere a um método de especificação e cultura
escalonável do esqueleto para melhorar a produção de carne cultivada. No resumo deste
registro, os inventores ainda definem a carne como sendo “qualquer tecido metazoário ou
produto comestível derivado de células, destinado a ser utilizado como componente alimentar
ou nutricional por humanos, animais de companhia, animais domésticos ou em cativeiro”
(WO201566377).
Além disso, este registro possui como cessionários atuais um grupo formado pela
Curator of the University of Missouri e pela University of Missouri, pela startup Memphis
Meats, além da organização ativista americana People for the Ethical Treat of Animals (PETA).
Destaca-se que a Memphis Meats foi fundada igualmente em 2015 e seu cofundador é Nicholas
Genovese (MEMPHIS MEATS, 2019), cientista responsável por distintas pesquisas na área de
biologia regenerativa e ciências da vida (ROBERTS et al., 2015; GENOVESE et al., 2017),
afiliado ao Bond Life Sciences Center, University of Missouri.
Ademais, a Memphis Meats divulgou em 2016 a produção da primeira almôndega de
carne cultivada do mundo (BBC, 2017) e no início de 2018 a empresa do ramo de alimentos
Tyson Foods passou a integrar o grupo de investidores da startup, o qual já conta com a
participação de Bill Gates e Richard Branson (SORVINO, 2018).
Por sua vez, a cessionária PETA, no ano de 2008, engajada à resolver os problemas
advindos da pecuária de corte tradicional, anunciou o prêmio de U$ 1 milhão para o primeiro
cientista que produzisse e levasse ao mercado carne cultivada durante os próximos três anos
(FOX, 2009). Como nenhum laboratório reivindicou o prêmio até o final do prazo (março de

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2014), este nunca foi disponibilizado, mas a organização continua apoiando iniciativas nessa
perspectiva e sua manifestação fomentou o interesse na temática e possibilitou a aproximação
de distintos pesquisadores ao redor do mundo (FERRARI; LÖSCH, 2017).
Não obstante, no final de 2018 a startup israelense SuperMeat tornou-se cessionária de
uma patente cuja invenção foi atribuída a Savir, Friedman e Barak (2018), que consiste em um
método de produção de um alimento híbrido, isto é, que combina uma substância de origem
vegetal com uma quantidade de células animais cultivadas, que, por sua vez, não chegam a
formarem um tecido.
Conquanto, a Figura 2 apresenta os países onde o portfólio de famílias de patentes
analisado foi protegido, o que permite inferir que tratam-se daqueles países onde os cessionários
acreditam que as inovações podem vir a serem comercializadas primeiro. Isto é, países que
apresentam o maior viés comercial para as patentes analisadas (WANG et al., 2019). Destaca-
se que a escala corresponde ao número de patentes protegidas, de modo que quanto mais escuro
o destaque no mapa, maior a quantidade de patentes protegidas neste país.

Figura 2 – Países onde as patentes sobre carne cultivada foram protegidas

Fonte: elaborado com o auxílio da base Questel Orbit (2019).

Observa-se a predominância da proteção das inovações na América do Norte, União


Europeia e países da Ásia. Destaca-se que a maioria da proteção nestes países ocorreu por meio
do Tratado de Cooperação de Patentes (do inglês Patent Cooperation Treaty – PCT) que
propicia que os candidatos que desejam proteger uma invenção em distintos países (envolve
152 países contratantes) o façam de forma simultânea (WIPO, 2019b).
Conquanto, a Classificação Cooperativa de Patentes (do inglês Cooperative Patent
Classification – CPC) que objetiva classificar mais ainda o documento de patente em uma
categoria especializada, obedecendo a classificação inicial do IPC (WIPO, 2019b), tem-se que
o portfólio analisado apresenta as classificações apresentadas na Figura 3.

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Figura 3 – Classificação CPC das famílias de patentes sobre carne cultivada

Fonte: elaborado com o auxílio da base Questel Orbit (2019).

Assim, seguindo a lógica de classificação pelo IPC que configurou-se como um critério
de busca, verifica-se que as famílias de patentes estão contidas nas áreas de alimentos, gêneros
alimentícios ou bebidas não alcoólicas (não cobertos pelas subclasses A23L e A23J),
envolvendo sua preparação ou tratamento e ainda a preservação de alimentos ou gêneros
alimentícios em geral. Também abrangem microrganismos ou enzimas, composições
alimentares, preparações medicinais, aspectos químicos ou utilizações de materiais para
ligaduras, mutação ou engenharia genética e meios de cultura, por exemplo.
Deste modo, infere-se que a busca resultou em um portfólio com registros de famílias
de patentes aderentes com a temática investigada, haja vista a lógica sequencial da primeira
patente sobre tal inovação. Contudo, a falta de clareza na redação dos documentos de patentes
devido ao emprego de termos incomuns para expressar uma semântica comum e vice-versa
pode ter ocasionado distorções no enquadramento destas classificações (JUDEA; SCHÜTZE;
BRÜGMANN, 2014). Assim, mesmo considerando a representatividade da base de dados
utilizada, alguns registros de patentes podem não ter sido incluídos na busca devido aos termos
e critérios empregados.

5 Conclusões

O objetivo deste estudo consistiu em mapear o desenvolvimento tecnológico da carne


cultivada sob a perspectiva da agricultura celular, utilizando como métrica o registro de
documentos de família de patentes. A partir do portfólio obtido verificou-se que o registro de
patentes possui certa associação com o surgimento e maximização dos investimento em
startups, o que por sua vez permite compreender a distribuição geográfica mundial da proteção
e registros prioritários de tais inovações.

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Destarte, os resultados obtidos vão ao encontro do postulado pela literatura científica,
demonstrando que a produção em escala comercial deste novo produto alimentar
biotecnológico está sendo projetada. Destaca-se que não há um consenso quanto a previsão de
disponibilidade de carne cultivada em grande escala, mas existem indícios de que esta venha a
ser ofertada ao mercado em 2021 (CBS NEWS, 2018).
Assim, a contribuição desta investigação contempla a análise de um dos principais
indicadores tecnológicos sobre determinada temática, a partir do qual o delineamento de
cenários futuros pode tornar-se mais assertivo. Contudo, reconhecem-se as limitações do estudo
quanto a orientação de busca possivelmente ter restringido a seleção de outros documentos que
possam ter relação com o estudo realizado.

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Quão longe estamos de tomar decisões “data driven” no agronegócio?
Desafios para alunos e professores de métodos quantitativos
How far are we from making data driven decisions? Challenges for
agribusiness post-graduation programs
Marcelo Corrêa da Silva1, João Augusto Rossi Borges2, Márcio Rodrigues Serrano3, Clandio
Favarini Ruviaro4

Resumo
Cresce exponencialmente as demandas por profissionais capacitados em minerar, processar e interpretar dados
que possibilitam tomadas de decisões (do inglês, decisões data driven (DDD)). Isso é importante em diversos
setores da sociedade, incluindo o âmbito do agronegócio. Contudo, implantar e consolidar uma cultura de análise
de dados é complexo. Este estudo foi desenvolvido para acessar a familiaridade de estudantes de pós-graduação
em Agronegócios em tópicos de estatística e métodos quantitativos. Questionários aplicados a uma turma de pós-
graduação stricto sensu em Agronegócios serviram para debater sobre o quão longe estamos de ter uma geração
de profissionais que protagonizam tomadas de decisões data driven no âmbito do agronegócio brasileiro. Os
resultados sugerem que, na situação atual, há pouca capacitação técnica e disponibilidade de mão-de-obra
qualificada para fomentar tomadas de decisão na perspectiva data driven. Existe necessidade de maior ênfase na
formação em ciência de dados, como a criação de cursos de nivelamento e reforço escolar na graduação e pós-
graduação, além das disciplinas previstas na grade curricular.
Palavras-chave: emprego, estatística aplicada, decision-making; big data, agribusiness.

Abstract
Demands for professionals able to contribute on data mining, data analysis, data visualization, and data
interpretation are increasing significantly in business and science. In fact, a data science toolbox is necessary to
enter the fashionable playground of performing data driven decision-making. The data driven perspective can
support several issues in society, including public administration, management schemes and agribusiness in
developing countries. Still, the establishment of data science, as a culture, seems complex. We developed this
study to access how familiar students are with concepts related to statistics and quantitative methods at the
beginning of their Agribusiness Masters or Doctoral degrees. We applied questionnaires to Brazilian students
during their first classes on Quantitative Methods I in the Agribusiness post-graduation program (lato sensu)) of
the Universidade Federal da Grande Dourados. One motivation of this study was the opportunity of
understanding how far students are to become data driven decision makers, performing as agribusiness
consultants, employees, freelance or academics. The results suggest that the chances are little. There is still a
long road to travel. Likely, the poor level of knowledge will require catch-up classes, summer school initiatives,
or extension courses that go beyond the formal curriculum structure. We strongly recommend greater attention
to statistics during under graduation courses, especially for students that wish to apply for Master’s and
Doctoral degrees.
Key-words: Job, applied statistics, decision-making, big data, data analytics.

1 Introdução

O agronegócio brasileiro é conhecido mundialmente pela grande quantidade de


alimento que produz e exporta, com geração de emprego e impulsão da economia. Ao longo
dos anos, tecnologias atreladas com as cadeias do agronegócio brasileiro foram modernizadas,
com foco em aspectos produtivos, econômicos, de planejamento, logística, entre outros
(BRASIL, 2017; USDA, 2017).
Em se tratando de modernizações em prol de alavancar e aperfeiçoar o funcionamento
do agronegócio, com maior monitoramento e poder de tomar decisões assertivas, a

1
Médico Veterinário/Universidade Federal da Grande Dourados - marcelo-correadasilva@hotmail.com
2
Médico Veterinário/Universidade Federal da Grande Dourados - joaoborges@ufgd.edu.br
3
Ciências Físicas e Biológicas/Universidade Federal da Grande Dourados - marserrano10@gmail.com
4
Zootecnista/Universidade Federal da Grande Dourados - clandioruviaro@ufgd.edu.br

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manipulação de dados, ou melhor, a “ciência de dados”, tem tido destaque. Esse tipo de
conhecimento tem grande demanda para as próximas décadas, sendo uma importante área de
atuação profissional no âmbito do agronegócio e da sociedade, de modo geral (HAMMOND,
2017; HARTMANN et al., 2017).
Atualmente, vive-se em um mundo “cheio de dados”. Diversos termos e conceitos são
utilizados na perspectiva de coletar ou “minerar dados”, para realizar “predições” por meio de
algoritmos, modelagem estatística, que são importantes para “prever o futuro próximo”
mediante “simulações” de “cenários” e inferência estatística (CUKIER e MAYER-
SCHOENBERGER, 2013). Esses conceitos vão sendo, aos poucos, internalizados nos
empreendimentos e negócios (NOVELI et al., 2018), em prol de avanços nos aspectos
econômicos, sociais e de benfeitorias ambientais. Notoriamente, a contribuição de diversas
linhas de pesquisas, como bioeconomia, marketing rural, entre outras, dependerá de
profissionais com agilidade e flexibilidade na atuação como cientistas de dados.
Em se tratando das tomadas de decisão, no âmbito dos empreendimentos e negócios, o
termo data driven vem sendo citado, cada vez mais, inclusive no agronegócio. Do inglês,
remete a decisões dirigidas pelo manuseio e interpretação de dados. As decisões data driven
(DDD) têm sido apontadas como uma abordagem facilitadora, que permitem que
organizações, corporações e pessoas avaliem melhor uma situação de interesse,
compreendendo gargalos e oportunidades que, potencialmente, afetam ou afetarão aspectos
como rendimento, eficiência, bem estar, entre outros. Atualmente, isso pode ser feito em
tempo real, diferente de avaliações restritas a situações do passado. Assim, a manipulação de
dados apresenta grande potencial para a obtenção de diagnósticos (estado da arte) que
facilitam as tomadas de decisão, com criação e uso de modelos de negócio dirigidos por dados
(ELBASHIR et al., 2008; HARTMANN et al., 2016; NOVELI et al., 2018).
No âmbito do agronegócio, são muitas as oportunidades e necessidades para se
desenhar panoramas que revelam gargalos ou oportunidades. Por exemplo, maior controle de
incertezas sobre oscilações nos preços de commodities, capacidade de estocagem, correção na
adubação em lavouras, efeito de adversidades climáticas na produção, além de variações
diversas que ocorrem em função de contextos políticos. Isso está relacionado, também, com o
maior uso de interfaces digitais, acesso a novas plataformas e redes sociais para identificar
tendências, opinião, e, deste modo, aumentar vendas, fortalecer relacionamentos e confiança
com clientes, além de diminuir riscos em investimentos. Isso inclui, por exemplo, o uso de
ferramentas e aplicativos digitais, criadas com aplicação de matemática lógica, estatística
básica e aplicadas (FAHIMNIA et al., 2015; BEHZADI et al., 2018).
Porém, a partir da experiência dos autores como docentes em cursos de graduação e de
pós-graduação, particularmente na área de Agronegócios, identificou-se um potencial
problema: até que ponto os cursos de graduação e pós-graduação estão sendo assertivos em
formar alunos familiarizados com conceitos necessários para permitir ao discente trabalhar na
área de ciência de dados? Por exemplo, os discentes recebem e absorvem o conhecimento em
estatística básica e métodos quantitativos? Assim, será que os programas de graduação e pós-
graduação estão sendo assertivos em se tratando da formação de cientistas independentes,
conscientes sobre o assunto de ciência de dados?
É esperado que um cientista seja capaz de utilizar a intuição quantitativa em sua
atuação profissional. Isso pode ser pré-requisito para maior credibilidade e visibilidade das
contribuições técnico-científicas que ocorrem no setor público e privado. Não é ao acaso que
estatística e métodos quantitativos constam na grade curricular de muitos cursos de ensino
superior. De todo modo, impulsionar o uso de princípios teóricos da estatística para diminuir
viés na atuação profissional é desafiador. Aliás, pouco se sabe sobre as experiências das
turmas que ingressam nos cursos de pós-graduação em Agronegócios, no que diz respeito às
suas intenções e familiaridade com as ferramentas de manuseio e análise de dados, e com os

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métodos e modelos quantitativos mais habituais da pesquisa. A tarefa de formar bons
cientistas de dados talvez dependa de ajustes consideráveis nas disciplinas e cursos de
formação em estatística na universidade. Isso pode abrir portas para atuação no mercado de
trabalho e na carreira científica.
Neste estudo, objetivamos caracterizar a familiaridade, as expectativas e os receios de
alunos relacionados com Agronegócios no que diz respeito ao tema de estatística, mais
especificamente, métodos quantitativos. Assim, o estudo configura-se como um ponto de
partida para discutir o quão distante os profissionais em agronegócios estão de tomar decisões
na perspectiva data driven.

2 Referencial Teórico

Estudos têm estimulado discussões sobre o ensino de estatística e métodos


quantitativos, subsidiando a identificação e escolha de metodologias de ensino para as
diversas circunstâncias e demandas que existem (WITT, 2013; AIKEN e HANGES, 2015;
JUBELT et al., 2015; SONG e YONGJUN, et al., 2016; ZHENG, 2017). Metodologias de
ensino de estatística baseado em jogos, animações e simulações estão sendo encorajadas em
busca de melhor aprendizado, porém com diversas dificuldades (BOYLE et al., 2014). Essas
discussões divergem e extrapolam para diversos assuntos correlatos, como debates
importantes para impulsionar inovações e empreendimentos nos centros universitários
(FAEDO e SILVA, 2018). Muitas discussões afloram pelo atual contexto e exorbitante
quantidade de dados que são gerados, com potencial de serem utilizados para nortear
processos administrativos, dirigir mudanças e novas condutas em setores importantes como de
energia, de indústria farmacêutica, entre outros (LUSHER et al., 2014; HAMMOND, 2017;
ZHOU et al., 2016).
De fato, a atual perspectiva de manusear e interpretar bancos de dados gigantescos tem
revelado oportunidades e configurado um “admirável mundo novo” (SCHROEDER et al.,
2014; SCHILDT, 2017). De todo modo, muitas perspectivas são limitadas pela necessidade
de elevada dedicação no processo de ensino-aprendizagem de estatística e métodos
quantitativos, além do demasiado sentimento de medo e ansiedade (SLOOTMAEKERS et al.,
2014; BELL et al., 2016; DAMACENA et al., 2016).

3 Procedimentos Metodológicos

A amostra foi constituída por uma única turma de alunos matriculados na disciplina
obrigatória em Métodos Quantitativos I do curso de pós-graduação em Agronegócios da
Universidade Federal da Grande Dourados, sorteada dentre turmas de 2017 e 2019. Esses
alunos receberam um questionário, modelo Google Forms, contendo perguntas abertas e
fechadas. As perguntas fechadas eram em escala de zero a dez, conforme o nível de
familiaridade que cada respondente tinha com os conceitos apresentados em cada questão do
questionário. Os respondentes tiveram duas semanas para responder e submeterem as
respostas on-line.
Após as coletas das respostas, foram observadas estatísticas descritivas das perguntas
fechadas, com sistematização das respostas das perguntas abertas do questionário. A
interpretação e discussão dos dados foi realizada durante 40 dias mediante encontros
presenciais ou remotos com professores e colegas do programa da pós graduação em
Agronegócios da UFGD.

4 Resultados e Discussão

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A turma avaliada foi constituída por 20 alunos, sendo 45% mestrandos, 40%
doutorandos e 15% alunos não regulares, matriculados na disciplina, egressos do programa,
que tinham título de mestre em Agronegócios obtido pelo mesmo programa de pós-graduação
da UFGD (Figura 1). Ao todo, 65% da turma eram servidores públicos, 5% declararam ser
estudantes com algum empreendimento fora da universidade e 30% foram configurados
apenas como estudantes. Dentre toda a turma, 45% eram do gênero feminino e 20% declarou
ter dedicação exclusiva para estudos (Figura 1).

Figura 1- Características da turma amostrada no estudo

Quanto à formação básica, de graduação, observou-se o caráter multidisciplinar da


turma analisada, com destaque para ciências contábeis, economia e administração. Dentre
toda a turma, 20% tinham duas graduações (Figura 2).
Observou-se que 35% da turma tinha pós-graduação lato sensu, com notória
diversidade em termos das especialidades entre os alunos (Figura 3).

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Figura 2 – Formação básica dos alunos que compuseram a amostra do estudo

Figura 3 – Título de pós-graduação lato sensu ou MBA dos alunos

De modo geral, observou-se que os alunos revelaram baixa familiaridade com quase
todos os conceitos e termos explorados no questionário. É possível que familiaridade tenha
sido subestimada em função da ansiedade ou medo de exposição por parte dos alunos no

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início da disciplina. Possivelmente, os alunos podem ter preferido pontuar mais baixo como
mecanismo de defesa, visando tarefas e conteúdo mais fáceis.
Observou-se que 97,8% da turma pontuaram até 3 para familiaridade com a “tabela de
números aleatórios”, sendo que 47,4% da turma revelaram que não possuíam familiaridade
nenhuma com essa tabela. Essa é uma tabela bastante usual, utilizada para desenhar
experimentos e executar pesquisas científicas, sendo uma das tabelas mais comuns no ensino
em estatística básica. O baixo percentual nessa questão sugere limitada compreensão sobre o
processo aleatório, importante em pesquisa realizada com rigor científico. A falta de
compreensão sobre aleatoriedade sugere capacidade questionável para avaliar tecnicamente
ensaios experimentais e o conceito de viés, um fenômeno comum em pesquisas realizadas
sem delineamento, consciência e senso crítico. Isso pode limitar, por exemplo, avaliações de
desempenho entre diferentes estratégias de marketing, ou de desempenho de novos produtos
alternativos e inovações no mercado agropecuário.
Com relação a familiaridade com o conceito de “teste de hipóteses”, 89,5% da turma
pontuaram até 3, e 42,1% revelaram que não possuíam familiaridade nenhuma com isso. Este
dado é alarmante, em função que a pós-graduação strictu sensu, a produção e o
desenvolvimento científico, têm sido desenvolvidos com as premissas de testar, validar ou
falhar em rejeitar as hipóteses postuladas. Isso é elementar na ciência, o que põe em cheque o
quanto estudantes que ingressam na pós-graduação entendem de pesquisa científica, ou
compreendem o conceito de ciência. Considerando que 65% da turma tinha especialização
(Figura 3), esse resultado sugere que a formação lato sensu não tem priorizado a formação de
cientistas, com ênfase em outro tipo de profissional.
Observou-se que 73,7% pontuaram até 3 para familiaridade com o conceito de
“regressão linear simples”. Nesse assunto, 26,3% alegaram não ter familiaridade nenhuma
para regressão linear simples. Para as “regressões lineares múltiplas”, houve menor
familiaridade, sendo que 89,6% pontuou entre zero e 3, e 31,6% revelou não ter familiaridade
nenhuma. Isso chama atenção, em função que as técnicas de regressão constituem uma das
análises mais corriqueiras na realização de predições e análises de causa-efeito. Esse tipo de
análise tem grande contribuição no estudo de relações entre variáveis, mais do que
correlações simples, e tem sido muito utilizada em empresas e pesquisas. Limitação quanto ao
conceito de regressão ficou ainda mais evidente com os baixos percentuais de familiaridade
com o conceito de coeficiente de determinação (R2). Para esse conceito, que é um importante
indicador de acurácia para utilizar equações de predição ou funções que sumarizam um
conjunto ou tendência de dados, todos da turma pontuaram entre zero e três.
Quanto ao conceito de “correlação”, houve maior distribuição de percentuais ao longo
dos níveis de familiaridade. Observou-se que 63,2% da turma pontuaram entre zero e 3, sendo
que 21,1% pontuaram entre 6 e 10, e 15,8% pontuaram entre oito e dez. É esperado que o
conceito de correlação seja mais familiar aos acadêmicos do que o termo regressão, tendo em
vista que a correlação é um conceito mais simples e popular, que não envolve o uso de um
modelo matemático preditivo, que trabalha com variável(eis) dependente(s) e
independente(s). Do mesmo modo, a correlação não abrange o conceito de causa-efeito, como
ocorre no conceito de regressão, nem atribui maior nível de detalhe com relação ao tipo de
relação que existe entre variáveis quantitativas.
Quanto ao conceito de “teste de médias”, 71,4% da turma pontuou até 3 na escala
utilizada, 21% pontuou entre seis e sete e nenhum aluno pontuou entre oito e dez. Com
relação à “análise de variância” (ANOVA), 73,7% pontuaram entre zero e três, sendo que
31,6% alegaram não ter familiarização nenhuma com este método. Provavelmente, o baixo
conhecimento com o método de análise de variância esteve relacionado com o baixo
entendimento sobre variância, que é um conceito básico que possibilita estudar variabilidade.

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Quanto à “variância”, 73,7% pontuaram entre zero e três, e 36,8% alegaram nenhuma
familiaridade.
Quanto a familiaridade com o termo “erro padrão”, 68,5% pontuaram entre zero e três
e 42,1% pontuaram zero. Sobre “coeficiente de variação” 68,4% pontuaram entre zero e três,
e 36,8% pontuaram zero. O entendimento sobre média amostral variou consideravelmente,
sendo que 52,8% pontuaram entre zero e três e 42,2% pontuaram acima de quatro.
Familiaridade com o termo desvio padrão também variou bastante entre respondentes, sendo
que 52,7% pontuaram entre zero a três, 21,1% pontuaram zero, 31,6% entre um e três e 36,9%
pontuaram acima de quatro.
Com relação à utilização de modelos matemáticos de caráter quantitativo os
percentuais foram extremamente baixos. Esses são métodos usualmente utilizados em
pesquisas de experimentação agropecuária, ciências sociais, econômicas, agronegócios, entre
outros. Todos os respondentes pontuaram entre zero e três para esse conceito, sendo que
73,7% pontuaram zero para familiaridade com “modelos de efeito fixo e modelos de efeito
aleatório”. Isso sugere que os alunos não tem tido contato com estudos e abordagens com
probabilidades e risco. Em se tratando do termo “intervalo de confiança”, 68,5% pontuaram
entre zero e três, o que está muito relacionado ao baixo conhecimento com modelos
probabilísticos e métodos quantitativos, de modo geral. Quanto ao termo “modelo misto”,
100% da turma pontuou entre zero e três, sendo 73,7% pontuaram zero. O modelo misto tem
sido considerado um divisor de águas em pesquisa científica, em função da possibilidade de
atribuir variabilidade experimental a novos componentes de variância no modelo matemático,
que antes era atribuído ao erro experimental (resíduo).
Com relação ao aluno considerar que sabe fazer alguma análise estatística em algum
software, o STATA foi o mais pontuado (31,6%), seguido do SPSS (26,3%), SAS (15,8%) e
Minitab (15,8%), o software R (10,5%) e o Excel (10,5%). Quanto à familiaridade com o
software SAS, 89,5% pontuaram entre 0 e três, sendo que 78,9% pontuaram zero. Quando ao
Software R, 100% da turma pontuaram entre zero e três, e 78,9% dos respondentes pontuaram
zero. Com relação ao software Stata e SPSS houve maior variabilidade nos percentuais. No
software Stata, 73,7% da turma pontuaram entre zero e três, 15,7% pontuaram quatro e 10,6%
pontuaram seis e sete. No software SPSS, 78,9% dos respondentes pontuaram entre zero e
três, 10,6% pontuaram um e 21,1% pontuaram cinco. No tocante à familiaridade com o
Software Minitab, 89,4% pontuaram zero e, no caso do Software SPHINX, 100% dos
respondentes pontuaram zero.
O Stata é atualmente um software licenciado na universidade em que a pesquisa foi
desenvolvida, o que pode explicar menor desconhecimento comparado a outros softwares.
Contudo, outros softwares licenciados na universidade em que a pesquisa aconteceu sequer
foram citados pelos alunos, em termos de familiaridade e conhecimento para uso. Assim,
entende-se que a escolha realizada por determinados professores, em alguma ementa de
disciplina, ou treinamento extra-classe, pode ser mais determinante do que a possibilidade de
acesso ao software. A influência do professor na escolha do aluno e no tipo de capacitação
que este recebe na universidade é um fator interessante para ser explorado em pesquisas
subsequentes. Isso inclui iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso e planejamento
do projeto a ser desenvolvido na pós-graduação. Do mesmo modo que com o Stata, os
resultados para o software SPSS apresentaram maior variabilidade nos percentuais
comparados aos demais, provavelmente por que são softwares de análise estatísticos
tradicionalmente utilizados por profissionais que representam uma geração de professores e
alunos ligados a graduações relacionadas com agronegócios. Ressalta-se que tanto o Stata
como o SPSS é conhecido por serem de fácil uso, mas requerem renovação de licença anual,
sem possibilitar automação nem interatividade com outros aplicativos e programas.

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Os percentuais de percepção de autonomia para utilização do Excel em análises
estatísticas foram baixos. Isso desperta atenção por ser um software bastante difundido e usual
em cursos relacionados com agronegócios (administração, ciências contábeis, agronomia,
economia, etc.). Possivelmente, muitos alunos utilizam o software Excel, mas poucos utilizam
na perspectiva de estatística inferencial, sendo limitados, muito provavelmente, às análises
estatísticas descritivas (gráficos do tipo pizza, entre outros).
O software SAS tem sido muito utilizado em análises de ensaio clínico, muito
repercutido em universidades dos EUA. De todo modo, é um software de uso restrito, com
uma licença sabidamente de alto custo, visto a ênfase que existe para grandes corporações. É
por esse motivo, que este software, assim como outros, é habitualmente utilizado com
“cracks” ou “versões teste”, que não costumam incluir as novas interfaces que o usuário
licenciado usufrui. A baixa familiaridade com o software R chama atenção em função de ser
conhecido por ser gratuito, de uso livre, ocupando pouco espaço no computador dos usuários,
ágil em incorporar novos tipos de análise e algoritmos do mundo todo, inclusive na área de
finanças, administração, etc. Além disso, permite rodar via servidor, o que é importante em
diversas profissões e áreas de atuação, como ciência de dados e inteligência de negócios (do
inglês, business intelligence). Isso contrasta com a maioria dos softwares, como o caso do
Microsoft Excel.
Com relação a uma questão do questionário relacionada ao sentimento de resistência e
medo com o tema "estatística", 52,2% dos alunos pontuaram entre sete e dez. Isso corrobora
com dados referentes a fatores que interferem no aprendizado de pós-graduandos do curso de
administração, reportados por DAMACENA et al (2016), sendo o medo e ansiedade uma
barreira conhecida no aprendizado em estatística e métodos quantitativos
(SLOOTMAEKERS et al., 2014).
Com relação a expectativas com a disciplina de métodos quantitativos I, os
respondentes revelaram que existe interesse em aplicação dos conhecimentos na vida
acadêmica e/ou profissional. Alguns alunos revelaram que aprender estatística, o uso de
softwares e a execução, interpretação e aplicação das análises estatísticas, são importantes
para maior autonomia, com menor necessidade de terceiros na elaboração de dissertações, da
pesquisa, etc. Segundo DAMACENA et al (2018), a auto eficácia é um conceito relevante
para compreender como o comportamento de pós graduandos pode ser diagnosticado e
modificado para que a estatística possa ser vista como um conhecimento necessário e
agradável no âmbito da academia e do mercado de trabalho. Um único entrevistado alegou
expectativa por uma “breve introdução” em métodos quantitativos I, alegando que “trabalhar
os dados” seria mais apropriado na disciplina de Métodos quantitativos II. De todo modo,
alguns alunos alegaram expectativa que métodos quantitativos I fosse abranger tanto aspectos
de familiarização (“partes básicas”) como etapas de inferência estatística, interessados com o
máximo de aprendizado possível durante o semestre letivo. Um aluno (a) alegou que esperava
poder reforçar aquilo que já tinha aprendido em data passada, além de conteúdo novo. Outra
expectativa revelada foi relacionada com a escolha da melhor técnica de análise estatística,
dependendo do tipo de estudo e do objeto de pesquisa. Isso inclui aspectos de atuação
profissional e também do desenvolvimento do estudo durante a pós-graduação. Outras
expectativas estiveram relacionadas com o aprendizado visando estudo e aplicação de
estatística em artigos científicos. Além disso, alunos revelaram interesse em aprendizados
para utilizar análises e softwares com foco na melhoria da qualidade e do rigor metodológico
dos estudos e publicações. Também foram reveladas expectativas sobre assimilação da teoria
para subsidiar o aprendizado das análises realizadas em softwares.
Com relação às revelações dos alunos sobre aquilo que não desejavam na disciplina de
métodos quantitativos I, existiram respostas relacionadas com falta de interesse em resolver
“listas de exercícios” ou “fazer muitas contas”. Alguns respondentes revelaram desinteresse

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em restringir o ensinamento para algum software específico e outros revelaram desinteresse
no ensino de vários softwares estatísticos em uma mesma disciplina. Junto a isso, alguns
respondentes revelaram desinteresse em aprofundar demais os ensinamentos sobre softwares
estatísticos em métodos quantitativos I. Algumas declarações de desinteresse estiveram
relacionadas ao ensinamento de muitas rotinas de análise (vulgo, “scripts”), de modo
superficial em cada caso, sem domínio básico de nenhum. De todo modo, alguns alunos
revelaram que tornar a disciplina demasiadamente teórica não seria interessante. Houve uma
revelação sobre a necessidade da disciplina de métodos quantitativos ter uma característica
diferenciada em relação com as demais disciplinas. Outras declarações revelaram que não
seria interessante que a disciplina terminasse sem abordar os principais pontos, e que não
seria interessante que existisse insegurança para falar sobre o assunto ao término da
disciplina. Evidentemente, algumas expectativas são improváveis de serem sanadas, tendo-se
a complexidade do assunto e formato ou carga horária da disciplina, que acontece uma única
vez por semana.
Esses resultados possibilitam dissertar sobre a importância da iniciação científica.
Talvez o critério de escolha dos candidatos para a pós-graduação strictu sensu poderia atribuir
maior peso aos candidatos que realizam iniciação científica durante a graduação. Ressalta-se a
importância de fortalecer, e jamais sucatear, a iniciação científica, que é uma conquista na
história de formação acadêmica do país. Um possível caminho é o maior fomento na
contratação de palestrantes e cientistas de dados que atuam em empresas e corporações
diversas. Isso poderia estimular investimento por parte dos alunos nesse assunto, nesse campo
de atuação ou nicho de mercado. Ressalta-se que outro caminho seria a criação ou maior
divulgação dos mecanismos que possibilitam custear cursos nesses assuntos. Esse tipo de
curso tem sido divulgado bastante em redes sociais. Possivelmente, um grande desafio é
conseguir identificar melhores maneiras de fazer gestão, de intervir nos projetos pedagógicos,
e de inovar (FAEDO e SILVA, 2018). O panorama atual sugere que, muito provavelmente,
ainda não é da tradição ou da cultura dos alunos de muitos cursos, nem na geração dos pais
que criaram esses alunos, investir tempo nesse tipo de assunto, ou se preparar para esse tipo
de atuação profissional. Possivelmente, explorar
Os percentuais exacerbadamente baixos, observados em diversas questões do
questionário, revelam um gargalo importante, que pode impactar fortemente na elaboração e
conduta de projetos científicos. Isso pode limitar a produção de artigos científicos de alto
impacto pelos pós-graduandos, tendo em vista o grande apelo que existe por modelos
probabilísticos nos veículos de divulgação de resultados de pesquisa. Se esse conhecimento
não é de posse dos acadêmicos nas etapas que antecedem o ingresso no programa de pós-
graduação, a meta é que esse tipo de conhecimento possa ser assimilado e apropriado pelo
acadêmico durante ou até o término da pós-graduação strictu sensu.
Em uma perspectiva de formação interdisciplinar, como é o caso do programa de pós-
graduação em Agronegócios onde o estudo foi realizado, é comum que os discentes tenham
diferentes formações (graduações) quando do ingresso no programa. Decorre desse fato que
há, entre os discentes, aqueles que tiveram em sua graduação um maior contato com
estatística e métodos quantitativos. Por exemplo, é esperado que alunos formados em Ciências
Econômicas tivessem maior familiaridade com regressões múltiplas que os formados em
Direito. Embora esse fato possa atenuar a falta de familiaridade com conceitos básicos de
estatística e métodos quantitativos, nosso argumento é que, independente da graduação
realizada, era esperado que os discentes de pós-graduação apresentassem pelo menos
familiaridade com alguns conhecimentos que são essenciais para o desenvolvimento da
ciência.
Inevitavelmente, o fato de alunos terminarem a pós-graduação, no nível de Mestrado,
Doutorado ou Pós-Doutorado, sem familiaridade com esse tipo de conhecimento, talvez seja

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suficiente para configurar um processo falho na formação de pesquisadores independentes no
cenário da pós-graduação e ciência brasileira. De modo similar, isso talvez configure um
processo falho na preparação de profissionais para o mercado de trabalho, seja ele ligado ao
agronegócio, ou não.
Muito provavelmente, as limitações em assuntos de estatística e métodos quantitativos
estão presentes no quadro de professores, de extensionistas e de pesquisadores. Outra questão
a ser debatida é sobre uma aparente “política de não reprovar”, que acontece, muitas vezes,
por que a evasão escolar pode ser mal vista por autoridades em ensino no país, o que pode
prejudicar departamentos e faculdades no recebimento de incentivos e subsídios.
A partir dos resultados encontrados, sugerimos algumas ações que podem ser
implementadas pelos programas de pós-graduação em Agronegócios, visando melhor preparar
os discentes. A primeira ação, que a princípio parece óbvia, é identificar o nível de
conhecimento dos discentes sobre estatística e métodos quantitativos. Essa fase é crucial, pois
não podemos esperar que discentes sem um nível de conhecimento básico em estatística
possam acompanhar uma disciplina que apresentará métodos de análise complexos.
Em se identificando um baixo nível de conhecimento, o programa poderá desenvolver
cursos de nivelamento de estatística básica. É importante que nesse curso alguns paradigmas
sobre estatística sejam quebrados, pois como demonstrado nos nossos resultados, os discentes
têm receio sobre sua capacidade de aprender estatística.

5 Conclusões

Há indícios de que ainda existe uma grande distância para que estudantes de pós-
graduação em agronegócios atuem como bons tomadores de decisão na perspectiva data
driven. Isso é provável, visto o limitado nível de conhecimento e capacitação observados em
métodos quantitativos no momento que antecede as disciplinas da pós-graduação. Esse tipo de
conhecimento é crucial para evitar análises que geram conclusões enviesadas, obtidas sem
rigor técnico-científico, sem uso de princípios teóricos de experimentação, sem intuição
quantitativa.
Impulsionar a perspectiva data driven pode ser uma chave para aumentar a capacidade
administrativa e a eficiência do agronegócio brasileiro. Isso requer inovação ao nível de
formação acadêmica, cooperações entre empresas e universidades, parcerias público-privadas,
e conscientização da juventude e da sociedade sobre atuais demandas, oportunidades de
atuação profissional e empregos do futuro.
Esse estudo subsidia reflexões e debates que devem acontecer em diferentes esferas da
sociedade. Discussões sobre políticas pedagógicas e programas educacionais,
contextualizados em prol do desenvolvimento do país, devem ser estimuladas ao nível do
ministério da educação, no âmbito universitário e nas cadeias do agronegócio.
Os resultados desse estudo, permitem a sugestão de algumas ações que podem ser
implementadas pelos programas de pós-graduação em Agronegócios. Isso inclui uma
caracterização do nível de conhecimento dos discentes sobre estatística e métodos
quantitativos, o desenvolvimento de cursos de nivelamento, e maior diálogo, para quebrar
paradigmas e impulsionar ainda mais a formação de cientistas independentes.
6 Agradecimentos

A Capes (bolsa pós-doc PNPD), PROAP UFGD, Rede Ri-HU e equipe do projeto de
extensão “Ciência de Dados” e “Data Scientist” do PPG Agronegócios, UFGD.

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A paisagem e o território do vinho como alicerce do
Vale dos Vinhedos
The landscape and the territory of the wine as the foundation of the
Vale dos Vinhedos
Raphael Vieira Medeiros1, Marcelino de Souza2

Resumo
O artigo analisa os conceitos de paisagem e território com um víeis na vitivinicultura. Através das apreciações
conceituais procura entender o sentido da paisagem na constituição do território do vinho como elementos
identificadores do que é hoje o Vale dos Vinhedos. A pesquisa é teórica, porém, traz imagens para aproximar o
leitor. Os conceitos desenvolvidos na pesquisa apresentam diversas afinidades, especialmente a relação entre o
homem e a natureza e os sentimentos que essa relação desenvolve no indivíduo. A paisagem torna-se mais do que
um elemento de um processo de territorialização do vinho, pois ela acaba tornando-se o resultado de todo uma arte
que desencadeia sentimentos de identificações e singularidades de territórios, que é representado pelo terroir. Esses
elementos são essenciais para identificar uma região vitivinícola, mas o que eles realmente representam é a base
do que é hoje o Vale dos Vinhedos, pois são esses os elementos embrionários de uma região que é notoriamente
conhecida pelo seu vinho, seu espumante, sua história e suas paisagens únicas.
Palavras-chaves: Paisagem, território, vinho

Abstract
The article analyzes the concepts of landscape and territory with a viniculture. Through conceptual appreciations,
it seeks to understand the meaning of the landscape in the constitution of the wine territory as identifying elements
of what is today the Vale dos Vinhedos. Research is theoretical, however, it brings images to bring the reader
closer. The concepts developed in research present several affinities, especially the relationship between man and
nature and the feelings that this relationship develops in the individual. The landscape becomes more than an
element of a process of territorialization of the wine, because it ends up becoming the result of an entire art that
triggers feelings of identifications and singularities of territories, which is represented by the terroir. These
elements are essential to identify a wine region, but what they really represent is the basis of what is today the
Vale dos Vinhedos, for these are the embryonic elements of a region that is notoriously known for its wine, its
sparkling wine, its history and its unique landscapes.
Keywords: landscape, territory, wine

Introdução

A vitivinicultura da Região Sul do Brasil apresenta uma parcela significativa na


produção do vinho brasileiro e tem importância marcante na economia regional do Estado do
Rio Grande do Sul (PIZZOL, 2014). Essa aquisição tem sua origem na história da colonização
do estado, pelos imigrantes italianos, que remonta ao período do Governo Imperial, pois havia,
naquela época, uma necessidade governamental de que as terras da Serra Gaúcha fossem
ocupadas, uma vez que eram consideradas devolutas. A iniciativa era baseada na Lei n° 601 de
1850, denominada Lei das Terras. Este processo teve um início insatisfatório com a tentativa
de instalação dos imigrantes suíços-franceses, mas que sofreu modificações positivas com a
chegada das famílias italianas em 1875 na referida região (PIZZOL, 2014).
A atividade agrícola iniciada e desenvolvida por essas famílias era, primeiramente para
manutenção da sobrevivência, contudo, ao longo dos anos, a paisagem que era constituída por
mata de araucária, foi se transformando com a crescente plantação de vinhedos, que atualmente
representa a incorporação dos saberes de gerações associada as melhorias tecnológicas.
Ressalva-se que a afinidade entre o homem e a natureza, desde que feita em consonância
com a sustentabilidade, arquiteta paisagens singulares e únicas que caracterizam a humanização

1 Mestrando no Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios/UFRGS- rafranbr@yahoo.com.br


2
Professor Doutor no Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios/UFRGS - marcelino.souza@uol.com.br
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do espaço (PIZZOL, 2016). A paisagem do Vale dos Vinhedos foi formada por meio do
trabalho das famílias de imigrantes italianos, que por indigência da história vieram para o Brasil
com o propósito de ocupar, agricultar e trabalhar as terras que lhes foram concedidas,
materializando uma admirável obra cultural (PIZZOL, 2016).
A paisagem, além de uma percepção sensorial, é um recorte do que se vê e se sente,
segundo Guimarães (2002). Paisagens insurgem de uma única, ou seja, através de um recorte
paisagístico, há diferentes aspectos que envolvem emoções marcadas pelo racional e pelo
afetivo que vão constituir um fato formado pelo material e imaterial. Ressalva-se que tais
elementos representam características essenciais para a constituição do território vitivinícola da
região. Esses elementos por sua vez também contribuíram para o fortalecimento de uma cultura
identitária que, ligada a vitivinicultura e conjugada aos elementos naturais, foram fundamentais
para a obtenção das indicações geográficas. Desta forma o artigo, através da pesquisa
bibliográfica, apresenta e desenvolve os conceitos de paisagem, território e patrimônio como
os pilares impulsores do mercado vinho da serra gaúcha.

Entendendo a paisagem

A paisagem teve de início uma ligação profunda com as artes plásticas, de acordo com
Danadieu e Périgord (2007), no sul da China, Zong Bing (375-443) mencionou o termo em seu
tratado, denominado como a Introdução à pintura da paisagem. Essa foi umas das primeiras
vezes em que o termo aparece na história como um elemento diferenciador. Por essa razão,
hoje, associamos a palavra com a ideia de natureza e cada pessoa tem sua forma de caracteriza-
la. Na figura 1, há representação artística do pintor Claude Lorrain que exemplifica essa
interação entre a natureza e a arte.

Figura 1 - Paisagem Pastoral

Fonte:Claude Lorrain (1645)

Godron e Joly (2008) relatam a dificuldade em precisar o termo paisagem em virtude


das várias definições que a palavra pode trazer, porém existe um consenso em que ela tem sua
origem na palavra país. Em francês se escreve o termo como paysage, que é composto pelo
radical pays que em português se traduz por país e frisa-se que o termo nos remete a uma ideia
de território (DANADIEU P.; PÉRIGORD M. 2005). Há um outro elemento que também se
relaciona à paisagem, é o paisagismo que no século XIX era considerado como uma atividade
artística na França, na qual o artista pintava as paisagens, e que ao longo dos anos passou a ser
relacionada ao embelezamento dos jardins (DANADIEU P.; PÉRIGORD M., 2007.).

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No idioma português, paisagem tem na sua acepção o seguinte sentido: extensão
territorial, elementos naturais ou não, espaço geográfico, natureza e expressão artística.
(DICIO. 2018). Assim a paisagem é um espaço geográfico incluso a uma extensão territorial
que pode compreender elementos naturais, ou não, e que pode ter uma representação artística.
A figura 2 materializa essa breve definição.

Figura 2 – Exemplo de paisagem

Fonte: Foto do autor (2019)

Todavia, compreender que a paisagem vai além desses aspectos materiais é


fundamental, pois ela em suas distintas configurações interage com a vida, com os sonhos e
com um sentimento de cultura que a torna um único elemento. Essas interações são abalizadas
em sensações que vão além dos sentidos, pois acarretam à tona percepções e sentimentos de
uma ordem afetuosa que formam um regaste de algo que foi construído ou reconstruído por
imagens. Todas essas concepções traduzem o que se chama por paisagem vivida, que traz
consigo emoções de amor, paisagem topofílicos (figura 3) ou pavor, paisagem topofóbicos
(figura 4). A paisagem que nos leva ao passado, ao anseio nostálgico, é repleta de sentidos, pois
além de ser a base de uma identidade é a intercessora das relações sociedade e natureza.
(GUIMARÃES, 2002).

Figura 3 – Pôr do sol do Guaíba Figura 4 – Entrada de Auschwitz

Fonte: Foto do Autor (2019) Fonte: Foto de Bondvit (2017)

Assim a paisagem ultrapassa o sentido apenas físico da palavra, pois ela é invadida de
anseios que têm a entusiasmo de restaurar um passado, ou de manter uma história repleta de
vivências e cultura.

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Conforme Gandy (2004), a paisagem usa a interação da natureza e da cultura para
elucidar suas interações, pois ela define e explica os aspectos socioculturais de uma sociedade,
por essa razão, ela não é um componente passivo, mas sim como elemento categórico para se
ler desenvolvimento das sociedades, tanto na sua exterioridade ambiental como a cultural.
Na legislação brasileiro O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan),
no artigo primeiro da Portaria IPHAN nº 127 de 30/04/2009, definiu paisagem cultural da
seguinte forma:
Art. 1º Paisagem Cultural Brasileira é uma porção peculiar do território nacional,
representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida
e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores

A vitivinicultura é exatamente isso, a interação entre o homem e a natureza. Essa


afinidade é basal para se produzir paisagens singulares que resultam em uma humanização do
espaço, desde que realizada com harmonia e sustentabilidade (PIZZOL, 2016). Conforme
Durighello et Tricaud, as paisagens vitivinícolas são o resultado mais acentuados da atividade
do homem na paisagem, pois estampam uma marca no território junto com as tradições
culturais. O resultado dessas obras é a criação de uma categoria nos patrimônios culturais destas
paisagens culturais (UNESCO, 2005)
Uma outra forma de elucidar e exemplificar é referir a paisagem do Vale dos Vinhedos,
que foi formada por meio do trabalho de gerações de imigrantes italianos que, por indigência
histórica, chegaram no região sul do Brasil com a vontade de ocupar, cultivar e desenvolver
as terras que lhes foram oferecidas, concretizando uma surpreendente obra cultural (PIZZOL,
2016). Nesse caso da região do Vale dos Vinhedos, a terra constituiu o caminho da constituição
de um sentimento de pertencer, ela permitiu a assimilação do imigrante com o lugar e
oportunizou a transmissão dos sabores e o resgatou para uma cultura que estava esquecida
A vitivinicultura é a forma de como se traduz essa paisagem, bem como o modo de viver
dos vitivinicultores. Importante analisar que as paisagens dos vinhedos são assinaladas pela
forte presença do homem, uma vez que os vinhedos carecem de mão de obra. Além dessas
atividades, existem aquelas que são associadas à atividade vitivinícola, como, por exemplo,
empresas de engarrafamento, de rotulagem, de assessoria em enologia ou agronomia, ou até
mesmo empregos que se relacionam à manutenção e conserto do maquinário utilizado
(SHIRMER; PANIZZA, 2010).
A paisagem carrega na sua essência componentes que a definem, já que refletem um
sentido que vai além de um olhar, que para se internalizar e compreender tens que abranger
diversos fatores físicos, sociais e sentimentais. A paisagem é repleta de símbolos materiais e
imateriais, ela é ativa e é modificável. Cada paisagem é singular e especial e traz consigo suas
distinções e suas definições, não sendo diferente a paisagem vitivinícola, pois esta é constituída
por singularidades que além de marcar a natureza de uma forma extraordinária, cria laços
identitários com a população que vive nesses locais. Nesse caso, a identidade é a exteriorização
dos conhecimentos e da tradição dos indivíduos. Na figura 6, há um exemplo de paisagem
vitivinícola.
Entretanto, não se pode embaraçar a identidade com a cultura, uma vez que esta última
tem o encargo mais de unir as pessoas em torno de um determinado grupo social, já a identidade
é a sua expressão. Nesse aspecto, a paisagem identifica e completa o território, que por sua vez
tem suas definições e formas.

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Figura 6 – Paisagem vitivinícola

Fonte: Foto do Autor (2019)

Do território a vitivinicultura
Da mesma forma que a paisagem o território tem sua relação com o olhar, já que existe
uma relação própria entre as duas palavras. A percepção do território advém dos elementos
naturais e imateriais que estão presentes na paisagem. Ao se falar em materialidade, é
imprescindível entender as exterioridades naturais e humanas, enquanto a imaterialidade está
guiada por percepções, tais como a emoção, a sensibilidade e a beleza. São diversos sentimentos
que se distendem em várias configurações de visões que se desdobram ainda em uma
multiplicidade de definições que podem ser correlatas ou não. Aquilo que se vê é internalização
de um anseio, um sentimento que sofre influências diretas das experiências vividas pelo
observante, elas podem ser culturais, relacionadas à sua formação ou ligadas às experiências
vividas. (MEDEIROS e LINDNER, 2016).
Assim a relação da identidade do vinho com o território se faz através da compreensão
de algumas indagações, tais como: como é constituída a identidade do vinho? E o vinho é umas
representações de identidade para o território? Conforme Medeiros (2015), o território que se
formará será como um palco cultural de identificação, de pertencimento, todavia será ao mesmo
tempo um espaço político, um recinto do poder nos quais os atos acatam ações políticas,
econômicas e sociais. O território advém desta forma por um procedimento de valorização no
qual o anseio de pertencimento tem significativa contribuição.
Maby (2007), relata que o espaço como lugar de origem de um vinho é a garantia de sua
identidade e de sua autenticidade. Na viticultura o princípio identitário se apoia no “direito do
solo” e as características genéticas do indivíduo “vinho” são atributos essencialmente
geográficos. Com isso, o produto é autenticado como “cru”, ou seja, como um produto no qual
a identidade está condicionada ao fato de “crescer” em um determinado lugar. Além do mais,
o território é o lugar onde se realiza a “permanência de usos”. (MABY, 2007, p.4)
Este território onde os usos, costumes, modos de vida são constantes e se repetem ao
longo do tempo é o que Gui De Méo (1998) define como espaço vivido. Este espaço vivido é
impregnado de valores culturais que refletem o sentimento de pertencimento de cada indivíduo
em relação a um determinado grupo. Concordando com Maby (2007) que afirma que a sede do
vinho, o terroir, é uma sede de identidade espacial que pode ser, atualmente, relacionada às

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identidades geográficas como “uma inextinguível sede ontológica”. Significa que o homem não
pode viver de forma indiferente num espaço, ele vai transformar este espaço no sentido de se
sentir inserido, de ser parte integrante do mesmo.

Gaufre (2016) tem a seguinte definição para terroir:


Conjunto de características do solo e do clima de um lugar geográfico geralmente
restrito, dão sua tipicidade ao vinho que é o produto. Com a inteligência, a riqueza e
a beleza, o terroir faz parte desses elementos extremamente mal repartidos sobre o
planeta...” (Gaufre 2016 p.118. traduzido pelo autor)

Tonietto por sua vez coloca que o :


“.. terroir designa "uma extensão limitada de terra considerada do ponto de vista de
suas aptidões agrícolas". Referindo-se ao vinho, aparecem exemplos de significados
como: "solo apto à produção de um vinho", "terroir produzindo um grand cru", "vinho
que possui um gosto de terroir", "um gosto particular que resulta da natureza do solo
onde a videira é cultivada". Nos dias atuais o termo terroir remete a uma conotação
positiva em relação ao vinho. Contudo, isto não foi sempre assim. Na França do século
XIX, o termo era associado a um vinho que não tinha o caráter nobre (cru) para ser
consumido pelas pessoas da cidade, mas referia-se ao vinho com "gosto de terroir",
na época associado a um caráter qualitativo pejorativo - a um vinho para ser
consumido por gente do interior”. (TONIETTO 2007. p.8)

O território enquanto portador de valores socioculturais atua no sentido de enriquecer a


identidade do vinho O vinho de terroir é um produto duplamente territorializado, pois ainda
que inscrito em um território real, ele traz consigo os elementos da cultura, do ambiente, da
história local, dos valores e das tradições. O sistema vitivinícola dá conta de todos esses
elementos, ao mesmo tempo que se enquadra na legislação observando e respeitando as
restrições relativas aos processos de produção e às formas de organização social. Portanto,
identidade territorial nos remete à identidade relacionada aos demais componentes do sistema
tais como serviços, bens de troca, infraestruturas, qualidades sociais e natureza. O vinho é a
expressão dessa identidade assim como o território é a expressão daqueles que se sintam como
“ser do território”. É, pois, vinho/território uma interação identitária possível de ser observada
em diferentes níveis, muito embora nem sempre o território vitivinícola receba tudo o que ele
oferece. Somente em situações específicas esse território poderá obter esta mesma
correspondência, principalmente se o consideramos como patrimônio.
É possível pois, afirmar que o território do vinho, com suas paisagens singulares,
constitui um patrimônio fundamental também pensado para o desenvolvimento de atividades
ligadas à produção, ao consumo e, sobretudo, à cultura.
O vinho, enquanto elemento representativo deste território é o elemento da cultura que
resulta do trabalho daqueles que o produzem e seu consumo é um fator de aproximação entre
os homens. O vinho é, pois, o resultado de múltiplas iniciativas associadas a projetos nos quais
atuam diferentes atores. Sua paisagem tradicional é um elemento de identificação e de
promoção desses territórios culturalmente constituídos.
De acordo com Pastor (2006), o uso do patrimônio cultural como atrativo turístico deve
ser amplamente promovido pelas administrações como forma de ampliar a oferta do turismo
cultural. Sugere o autor que, em primeiro lugar, ocorra uma delimitação dos vinhedos, cada
parte com suas características especificas; em segundo lugar seja organizado um plano de
proteção com o auxílio dos respectivos proprietários. A partir dessas ações iniciais é que se
deverá buscar e/ou construir junto com o poder político local uma legislação para proteção deste
patrimônio constituído pelas paisagens vitivinícolas. Portanto para o autor, são os municípios
nos quais os vinhedos foram demarcados e que são os responsáveis pelo embelezamento da

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paisagem, os primeiros a buscarem de forma legal a proteção desse patrimônio. É, pois, este o
caminho para a proteção oficial do patrimônio da cultura da uva e do vinho, com a elaboração
de projetos que resultem de iniciativas públicas e privadas com o objetivo de atrair
turistas/consumidores a partir do incentivo ao enoturismo que, por consequência, fortalecerá o
mercado/negócios do vinho.

Considerações finais

A paisagem e território vitivinícolas são elemento essenciais para impulsionar os


negócios do vinho, pois além de serem os elementos embrionários da Região do Vale dos
Vinhedos, são hoje os elementos atrativos. A paisagem vitivinícola. transformou o cenário, e a
partir dela foi possível reaver uma cultura, um reencontro de um sentimento de pertencimento
e principalmente uma construção de um patrimônio. Ela é a representação do território do
vinho, é a concretização da relação intensa entre o homem e a natureza que a moldou em uma
singularidade. Essa alteração foi a forma de como o homem pode se desenvolver e constituir
seu território.
O território também tem suas peculiaridades, tanto as relacionadas aos aspectos
materiais e imateriais. A materialidade arrola o homem à natureza e a imaterialidade está
representada pelas percepções e sentimentos. A magnitude do território está no seu sentimento
de pertencer e constituir uma figura identitária do indivíduo, uma identidade do vinho.
As relações que desencadearam peculiaridades nesses territórios vitivinícolas, com seus
terroirs que são a própria conjunção do meio geográfico, da cultura, da história, dos saberes,
que foram hostilizados no passado, mas que, hoje, são a expressão do próprio vinho e que
identificam sua origem.
O vinho é cultural e a sua arte, se dá no cultivo da uva, pela sua vinificação e se conclui
na degustação e na convivialidade, constitui um elemento patrimonial que é a expressão
identitária de um território marcado pela cultura, história e tradições.
Território, identidade, paisagem e patrimônio têm no vinho o meio o comum e de acordo
com Maby (2007), assim como não há vinho sem fala ou identidade sem voz não há geografia
sem palavras.

Referências

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9279.htm. Acesso em 12 /09/2017.
BRASIL – IPHAN. Disponível em https://www.normasbrasil.com.br/norma/portaria-127-
2009_214271.html. Acesso em 24/07/2019
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Bento Gonçalves,,2016.
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GAUFRE, Jean Pierre. PETIT DICTIONNAIRE. ABSURDE E IMPERTINENT DE LA
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GODRON, Michel e JOLY Hubert. Dictionnaire du Paysage. Conseil international de la langue
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GUIMARÃES, S. T. L. Reflexões a respeito da paisagem vivida, topofilia e topofobia à luz dos
estudos sobre experiência, percepção e interpretação ambiental. GEOSUL, Florianópolis,
ISSN/ISBN: 0103964, v. 17, n. 33, p. 117-141, 2002.
MABY, Jacques. Conférence donnée à la Société Géographique Italienne. Rome, 2007.
Disponível em : https://jacquesmaby.wordpress.com/2007/01/13/le-vin-argument-identitaire-
du-territoire/ - Acesso em: 05 de mar.2019.
MEDEIROS, Rosa Maria Vieira. Território espaço de identidade. In SAQUET, Marco Aurélio;
SPOSITO, Eliseu Savério (Org.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos.
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MEDEIROS, R.M.V., LINDNER, M. Olhares de ontem e de hoje sobre a paisagem da
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PASTOR, Luis Vicente Elías. El turismo del vino otra experiencia de ocio. Bilbao: Universidad
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TONIETTO, J. Afinal, o que é terroir? Bon Vivant, Flores da Cunha, v. 8, n. 98, p. 8, 2007.
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A representatividade econômica do Setor Vitivinícola no cenário regional,
estadual e nacional
The economic representativity of the Wine Sector in the regional, state and
national scenario
Saionara da Silva1, Luciane Dittgen Miritz², Evandro Miguel Fuhr 3, Luiz Carlos Timm4

Resumo
O agronegócio tem importância fundamental na economia brasileira, está presente em todas as regiões do País,
porém, algumas dessas são mais propícias a determinadas culturas, devido a questões edafoclimáticas e
relacionadas com os demais elos da cadeia produtiva como a distribuição e comercialização do produto para o
consumidor final. Tendo em vista a importância do agronegócio optou-se por realizar um estudo sobre a uva, o
qual teve por objetivo visualizar a realidade do estado do Rio Grande do Sul frente ao cenário Nacional,
identificando, também, em quais regiões do Estado concentram-se as maiores produções de uva e,
consequentemente, do suco dessa fruta. Como objetivos específicos, houve a necessidade de mensurar o volume
de uva produzido no estado do Rio Grande do Sul; identificar as principais cidades produtoras de uva do Rio
Grande do Sul; e identificar vinícolas da região que comercializem ou produzam o suco de uva. Para tanto a
metodologia utilizada contou com o uso de tabelas para a visualização dos dados, e explanação dos resultados
por meio de texto. O período de análise dos dados secundários é de 2010 à 2017, sendo que o principal resultado
encontrado se refere ao fato de que o estado do R io Grande do Sul tem o maior volume de produção de uvas
comparado com outros estados brasileiros, em todos os anos da análise.
Palavras-chave: Agronegócio, Rio Grande do Sul, Setor Vitivinícola, Produção de Uva.

Abstract
Agribusiness is of fundamental importance in the Brazilian economy, it is present in all regions of the country,
however, some of these are more propitious to certain crops compared to the whole, due to climatic and
production chain issues such as production, distribution and marketing of the product to the final consumer.
Considering the importance of agribusiness and the peculiarities of each culture, it was decided to carry out a
study on the grape, which had as objective to visualize the reality of the state of Rio Grande do Sul in front of the
National scenario, also identifying in which regions of the State concentrate the largest grape production and,
consequently, the juice of that fruit. As specific objectives, there was a need to measure the volume of grapes
produced in the state of Rio Grande do Sul; Identify the main grape producing cities of Rio Grande do Sul; and
Identify wineries in the region that market or produce grape juice. For this, the methodology used included the
use of tables to visualize the data, and explanation of the results by means of text. The period of analysis of the
secondary data is from 2010 to 2017, and the main result found refers to the fact that the state of Rio Grande do
Sul has the highest volume of grape production compared to other Brazilian states in all years of the analysis.
Keywords: Agribusiness, Rio Grande do Sul, Wine Sector, Grape Production.

1 Introdução

O desenvolvimento do agronegócio brasileiro é resultado das mudanças no panorama


econômico mundial, que provocam alterações nos agronegócios local, regional, nacional e
internacional (BINOTTO; SIQUEIRA, NAKAYAMA, 2009). As discussões que cerceiam o
agronegócio tornam-se fundamentais, visto o crescimento e importância que o mesmo
representa, principalmente no que se refere ao giro que os produtos apresentam por englobar
produtos necessários à sobrevivência humana. A agricultura é responsável por uma infinidade
de produtos, os quais originam novos produtos por meio de processos de produção e
transformação. Como exemplo a uva, da qual surge uma variedade de subprodutos, entre eles
o suco de uva, vinhos e espumantes.

1 Graduada em Administração e Ciências Econômicas, Pós graduada em Gestão Pública Municipal. Mestranda
em Agronegócios. Universidade Federal de Santa Maria - saiomat00@yahoo.com.br
2 Professora Adjunta do Departamento de Administração, Universidade Federal de Santa Maria, Campus
Palmeira das Missões.luciane.miritz@ufsm.br
3 Graduado em Administração / UFSM - putnitpide@hotmail.com
4 Zootecnista, Mestre em Agronegócios. Universidade Federal de Santa Maria – luiztimm@gmail.com

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O Brasil tem um papel importante na importação e exportação da uva, visto que está
entre os dez maiores importadores do referido produto, especialmente provenientes do Chile e
da Argentina. Conforme dados do IBGE (2010) o estado do Rio Grande do Sul destaca-se no
cenário Nacional como um grande produtor de uvas, com aproximadamente cinquenta mil
trezentos e oitenta e nove hectares de área plantada. Observa-se, portanto, a importância que
este produto tem para o desenvolvimento da região.
As diferenças climáticas existentes entre algumas regiões do Brasil não impedem a
produção da uva, visto que a mesma se difundiu e se adaptou, em alguns casos de forma
assistida, nas mais diversas situações. Nesse sentido Protas (2003) destaca que, no Brasil,
existem diversas vitiviniculturas, cada uma com sua realidade climática, fundiária,
tecnológica, humana e mercadológica. Completa ainda que, apesar do que foi dito, para cada
uma das realidades, o cenário que se esboça neste início de século XXI, é de competição
acirrada, tanto no mercado externo quanto no interno. Tal situação exige um esforço da cadeia
produtiva tendo em vista a obtenção de melhores resultados para que o negócio se torne viável
para os envolvidos na cadeia produtiva.
Ao observar a importância que o agronegócio tem na economia e, de forma
imprescindível, na vida da população notou-se a oportunidade de realizar um estudo nessa
área. Sendo assim, este trabalho teve como principal objetivo visualizar a realidade do estado
do Rio Grande do Sul frente ao cenário Nacional, identificando, também, em quais regiões do
Estado concentram-se as maiores produções de uva e, consequentemente, do suco dessa fruta.
Em consonância com o objetivo proposto e complementando-o, têm-se como objetivos
específicos:
 Mensurar o volume de uva produzido no estado do Rio Grande do Sul;
 Identificar as principais cidades produtoras de uva do Rio Grande do Sul;
 Identificar vinícolas da região que comercializem ou produzam o suco de uva.

Espera-se que, com essa pesquisa, os alunos-pesquisadores e demais interessados no


tema possam compreender de forma clara o cenário em que o produto suco de uva encontra-
se, bem como visualizar a cadeia de distribuição desse produto.

2 Referencial Teórico

2.1 Agronegócio

Ao abordar o termo agronegócio é imprescindível entender, primeiramente, seu


conceito e origem. Nesse sentido é relatado por Freitas (2019) que agronegócio corresponde à
junção de diversas atividades produtivas que estão diretamente ligadas à produção de
produtos derivados da agricultura e pecuária. Entretanto, o agribusiness, não fica restrito a um
conceito simples, pois abrange o uso de tecnologias e biotecnologias utilizadas na produção
para que se obtenha o nível desejado de saídas do processo produtivo. Ressaltando os
aspectos citados, Lourenço (2019) afirma que o conceito de agronegócio implica na ideia de
cadeia produtiva, com seus elos entrelaçados e sua interdependência. Basta analisar esse
conceito para verificar a importância de cada etapa do processo produtivo.
Está inserido no conceito de cadeia produtiva, o fato de que a produção agrícola
ultrapassou os limites territoriais que dividiam a fazenda do mercado. Segundo Lourenço
(2019) a agricultura depende de insumos adquiridos fora da fazenda e sua decisão do que,
quanto e como produzir, está fortemente relacionada ao mercado consumidor. É ressaltado,
também, pelo mesmo autor, que existem diferentes agentes no processo produtivo, inclusive o
agricultor, em uma permanente negociação de quantidades e preços.

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Para entender de forma clara a presença dessa cadeia produtiva, Davis e Goldberg
(1957) definem o agronegócio como a soma total das operações de produção e distribuição de
suprimentos agrícolas; das operações de produção na fazenda; do armazenamento,
processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles. Então, o
agronegócio compreende as atividades internas à propriedade e também as externas.
Algumas pessoas ainda confundem a diferença existente entre a agricultura e o
agronegócio, para tanto, Araújo (2007) faz um parêntese, e explica que surgiu a necessidade
de uma concepção diferente da “agricultura”, já não se trata de propriedades autossuficientes,
mas de todo um complexo de bens, serviços e infraestrutura que envolve agentes diversos e
interdependentes. Portanto, a interação da propriedade com o meio externo foi um dos fatores
responsáveis pelo surgimento de conceitos como o de agronegócio.

2.2 Agronegócio no Brasil

O agronegócio está presente em todas as regiões do País, porém, algumas são mais
propícias a determinadas culturas, em comparação com o todo, devido a questões climáticas e
relacionadas com a cadeia produtiva como a produção, distribuição e comercialização do
produto para o consumidor final. Muitos locais estão aumentando sua produção e
diversificando os produtos, como é apresentado na Cartilha da Via Campesina (2005) há
tendência para transferir a produção de grãos do Sul (RS, SC, PR), para o Centro-Oeste.
O agronegócio é um tema bem presente na economia brasileira. Segundo Tajes (2008)
o Brasil é um país com vocação para o agronegócio, em face de suas características e
diversidades, tanto de clima quanto de solo, possuindo ainda áreas agricultáveis altamente
férteis e ainda inexploradas. Isso faz com que o País possa atender melhor a demanda de
produtos provindos da agricultura.
O aumento da demografia mundial, e sua consequente demanda por alimentos é tido,
por Tajes (2008), como um fator que leva a uma previsão de que o Brasil alcançará o patamar
de líder mundial no fornecimento de alimentos e commodities ligadas ao agronegócio,
solidificando sua economia e catapultando seu crescimento. Aliado a isso, tem-se o bom
desempenho do País em meio às crises econômicas e financeiras, pois, segundo o autor, no
que se refere ao setor de agronegócio, os valores econômicos dos principais produtos do Rio
Grande do Sul não foram prejudicados, mesmo quando houve variações de Commodities.
Outro aspecto importante no desempenho do Brasil é que em meio às crises este pode
ter vantagens competitivas. Isso é evidenciado por Tajes (2008) as citar que as crises
internacionais ainda não trouxeram consequências negativas para o agronegócio do Rio
Grande do Sul, afora alguma dificuldade maior para captação de recursos financeiros para os
novos entrantes. Aliado a isso, tem-se o fato de que a desvalorização do dólar tem favorecido
o aumento das vendas internacionais.

2.3 Agronegócio no Rio Grande do Sul

Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a


participação do agronegócio contribuiu com 23,5% para o PIB em 2017. Deste modo,
Gasques et al., (2004) ressaltam que o Agronegócio é um segmento de suma relevância para a
economia brasileira, o qual corrobora a estabilizar a macroeconomia gerando empregos e
renda, possibilitando abrandar o déficit comercial provindo de outros setores produtivos. Ao
detalhar o complexo relacionado com a produção agropecuária nacional, observa-se que a
agricultura familiar assume papel fundamental na geração de riqueza para o país.
No estado do Rio Grande do Sul, conforme Guilhoto (2019), as estimativas do PIB do
agronegócio familiar são ainda mais impressionantes que a do País. Relata, também, que a

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análise da evolução do PIB do agronegócio ao longo de oito anos (1995-2003) mostra,
claramente, que as unidades de produção familiar e os setores a ela vinculados respondem por
parcela expressiva da economia do estado.
Os entraves ao agronegócio no estado não têm afetado de forma significativa. De
acordo com Guilhoto (2019) a participação do agronegócio familiar na economia gaúcha tem
se tornado maior ao longo dos anos mesmo com uma série de entraves. O autor especifica os
entraves como sendo a insuficiência de terras, as dificuldades creditícias, o menor aporte
tecnológico e a fragilidade da assistência técnica e a subutilização da mão-de-obra.
Em linhas gerais, o estado do Rio Grande do Sul tem peculiaridades que possibilitam
o êxito rural das propriedades familiares. Guilhoto (2019) revela que fatores inerentes à forma
de colonização e a herança cultural de povos europeus capacitaram os produtores a
desenvolverem formas de associativismo, permitindo que pequenas unidades produtoras
possam competir com as grandes propriedades. Isso porque, os ganhos de escala obtidos nas
grandes propriedades (especialmente devido ao serviço do maquinário agrícola) não são tão
discrepantes. A cooperação mútua entre pequenos produtores e a disponibilidade de serviços
agrícolas de forma terceirizada, nos mercados locais, supre esse tipo de demanda da produção
familiar e reduz a diferença de rentabilidade que existe entre os cultivos em pequena e larga
escala, dando maiores oportunidades à agricultura e pecuária familiar.

2.4 Uva

A uva tem sua inserção no Brasil em dois momentos, a saber, os Portugueses


introduzirem as primeiras variedades de uvas no País. Porém, a viticultura brasileira somente
se consolidou em meados do século XIX com a introdução de uma uva americana pelos
imigrantes italianos, tal fato fez com que houvesse a substituição dos vinhedos de uvas
europeias.
O primeiro ciclo de expansão da viticultura brasileira, portanto, teve como base o
cultivo de uvas americanas, rústicas e adaptadas às condições edafoclimáticas locais.
Esta fase também estabeleceu novos rumos para a tecnificação da vitivinicultura
nacional, principalmente visando prevenir o ataque de pragas e doenças (SOUZA,
1996).

A cultura da uva espalhou-se pelo País e evolui bastante. Esta evolução vem dando
suporte ao desenvolvimento e à adoção de novas tecnologias que contribuem para o
estabelecimento da vitivinicultura como uma atividade economicamente rentável no País.
O mercado consumidor da uva é segmentado, visto que há diversos tipos de uvas e
derivados da mesma, a diversidade é tida como a principal característica Setor Vitivinícola
Brasileiro. Em relação a esse setor Camargo et al (2010) ressaltam que o mesmo é formado
por várias cadeias produtivas, sendo elas, uvas finas e americanas e híbridas para mesa, uvas
para elaboração de vinhos finos, e uvas americanas e híbridas para a elaboração de vinhos de
mesa e sucos. Trata-se, portanto, de um setor que se adapta aos gostos e necessidades
individuais dos consumidores desse produto.
Dos estados brasileiros produtores e processadores da uva, o Rio Grande do Sul possui
destaque, pois, segundo Mello (2010), é o responsável por cerca de 90% da produção nacional
de vinhos e suco de uvas. Essa produção se deve principalmente pelas condições climáticas do
Estado.

2.5 Suco de Uva

A elaboração de sucos de uva teve seu início nos Estados Unidos no ano de 1868,
quando, conforme Cainelli (2019), um grupo de religiosos, aplicando as ideias de Louis

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Pausteur na elaboração de uvas Concord, pôde fazer um “vinho não fermentado sacramental”
para uso em sua igreja. O suco de uva brasileiro ganhou expressão em termos de produção e
mercado a partir da década de 1970. Sua elaboração se dá principalmente, com uvas do grupo
das americanas e híbridas, sendo as cultivares Isabel, Bordô e Concord, todas de Vitis
labrusca, a base para o suco brasileiro (TERRA et al., 2001).
As demandas específicas do suco de uva são a doçura, a cor, o sabor e o aroma, além
das condições e dos métodos de elaboração do suco de uva, a cultivar e a maturação dos
frutos são extremamente importantes na obtenção do suco de qualidade, tecnologicamente é
essencial a busca do equilíbrio entre o teor de açúcar e acidez para se produzir um suco de uva
de boa qualidade e com a uva Concord, por possuir tal equilíbrio é a cultivar mais utilizada na
preparação dos sucos de uva (FERRI et al, 2017).
A grande procura na atualidade por meios que favoreçam uma vida saudável tem
impulsionado as pesquisas por novas substâncias que contemplam tais necessidades, entre
estas substâncias encontram-se os polifenóis, destacando-se as pesquisas do resveratrol que
está presente em diversas plantas, em especial na uva e seus derivados (SAUTTER et al,
2005). Dos produtos derivados da uva, o suco está ganhando espaço e conquistando o gosto
de consumidores preocupados com a saúde. Conforme relatado no site da UVIBRA (2019),
estudos têm revelado que o suco de uva preta ou rosada pode trazer os mesmos benefícios à
saúde que o vinho por conter antioxidantes, aos quais se atribuem os bons efeitos do vinho
sobre o coração, a diferença entre esses dois produtos se baseia no fato de que, no suco, a
duração do efeito dos flavonoides é maior. Pesquisas na área mostram que o suco elaborado
com uva Concord e outras Vitis labrusca contém faixas elevadas e amplas de polifenóis, tem
elevada capacidade antioxidante, igual que o verificado nos vinhos tintos em geral. Isso
demonstra a importância que o suco dessa fruta tem na saúde da população.

3 Procedimentos Metodológicos

O presente estudo abordou a produção da uva, sua concentração e a realidade do


estado do Rio Grande do Sul frente ao cenário Nacional no que diz respeito a este produto. No
início do processo, fez-se necessário um levantamento bibliográfico, pelos pesquisadores,
acerca dos principais assuntos referentes ao tema do estudo, tendo como principal objetivo a
interação dos envolvidos com o assunto e com o contexto da pesquisa.
Para suprir de maneira eficiente os objetivos propostos pela pesquisa, foram utilizados
dados secundários coletados nos principais sites relacionados com o tema, a saber, Embrapa
Uva e Vinho, Instituto Brasileiro do Vinho – Ibravin, entre outros. É importante observar que
os dados secundários são aqueles que se encontram à disposição do pesquisador em boletins,
livros, revistas, dentre outros. Para Marconi e Lakatos (2007) as fontes secundárias
possibilitam a resolução de problemas já conhecidos e explorar outras áreas onde os
problemas ainda não se cristalizaram suficientemente. Os dados quantitativos foram
apresentados em forma de tabelas. Selecionou-se o período de 2010 a 2017 para realizar a
análise a qual se deu em forma de texto.

4 Análise dos Resultados

O presente item aborda a realidade do estado do Rio Grande do Sul frente ao cenário
Nacional, destacando as regiões do estado onde há a concentração de produção de uva e suco
da fruta, as principais cidades produtoras da referida fruta, e as principais vinícolas e
empresas do estado do Rio Grande do Sul que produzem suco de uva.

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4.1 Produção de uva por estado brasileiro

Para compreender como o estado do Rio Grande do Sul está em relação ao cenário
brasileiro no que tange à produção de uva, foi elaborado um comparativo entre os estados
brasileiros que possuem produção da uva, com um período de análise de 2010 a 2017.
Tabela 01: Histórico da Produção de Uva no Brasil (em Toneladas)
UF 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Rio Grande do Sul 694.252 829.991 839.998 807.516 812.326 876.034 413.668 956.887
Pernambuco 195.168 208.660 224.758 228.727 236.719 237.367 242.967 621.170
São Paulo 187.507 211.581 209.139 164.313 152.540 141.311 139.976 133.261
Santa Catarina 64.116 65.093 68.806 67.167 66.619 66.699 31.837 65.196
Bahia 77.160 64.731 61.779 52.208 76.870 76.789 76.789 56.504
Paraná 95.776 73.166 69.204 79.637 75.473 65.881 50.880 53.345
Minas Gerais 9.252 9.303 10.351 12.092 10.893 11.760 10.594 13.685
Espírito Santo 1.576 1.344 1.555 1.733 2.109 2.275 2.509 3.468
Paraíba 1.620 2.016 1.836 1.836 4.036 2.196 2.636 2.620
Distrito Federal 1.289 1.308 1.360 1.845 1.845 1.890 1.386 1.700
Goiás 1.100 1.545 1.275 2.180 1.994 2.124 2.100 1.650
Mato Grosso 1.033 1.021 1.024 1.008 1.270 887 1.257 1.002
Ceará 294 302 297 244 541 923 760 708
Rio de Janeiro 82 118 128 142 145 101 258 302
Piauí 100 60 210 230 162 168 240 240
Rondônia 143 150 182 167 165 177 180 187
Mato Grosso do Sul 102 68 70 60 150 85 80 78
Rio Grande do Norte 0 0 0 0 0 0 30 30
Tocantins 0 0 0 0 0 0 0 1
Fonte: Embrapa Uva e Vinho (2019).

O Rio Grande do Sul tem o maior volume de produção de uvas comparado com outros
estados brasileiros, em todos os anos da análise como mostra a tabela 1, tendo produzido um
volume de 694.252 T em 2010, passando para 956.887 T em 2017. O segundo maior estado
produtor de uva, no ano de 2010, foi Pernambuco com uma produção que girou em torno de
195.168 T, entretanto no ano de 2011, São Paulo apresentou um volume de 211.581 T de uva,
ocupando a segunda posição no ranking no referido ano. Nos demais anos da análise a
segunda posição ficou novamente com o estado do Pernambuco, o qual apresentou produção
crescente de uva, fechando o ano de 2017 com 621.170 T, uma produção bem menor se
comparado ao estado gaúcho. Nota-se, também, que a produção de uva é mais concentrada em
seis estados, a saber, Rio Grande do Sul, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina, Bahia e
Paraná. E que dezessete estados produziram durante o período de análise. Apenas dois estados
– Rio Grande do Norte e Tocantins – iniciaram recentemente a produção de uva.

4.2 Principais regiões produtoras de uva e suco de uva bem como seus respectivos
municípios com maior representatividade no setor

As observações contidas neste tópico basearam-se em informações da Embrapa Uva e


Vinho (2019). Com isso, tem-se que a viticultura no Brasil ocupa uma área de
aproximadamente 83.718 ha. Em função da diversidade ambiental, existem polos com

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viticultura característica de regiões temperadas, com um período de repouso hibernal definido,
polos em áreas subtropicais onde normalmente a videira é cultivada com dois ciclos anuais,
definidos em função de um período de temperaturas mais baixas no qual há risco de geadas; e
polos de viticultura tropical onde é possível a realização de podas sucessivas, com dois e meio
a três ciclos vegetativos por ano.
Embora a produção de vinhos, suco de uva e derivados da uva e do vinho também
ocorra em outras regiões, a maior concentração está no Rio Grande do Sul. Sendo que no
estado a principal região produtora é a da Serra Gaúcha (Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira,
Flores da Cunha e Nova Pádua) cujos indicadores climáticos médios são: precipitação 1700
mm distribuídos ao longo do ano, temperatura 17,2°C e umidade relativa do ar 76%.
Localizada no nordeste do estado do Rio Grande do Sul, é a maior região vitícola do país,
com aproximadamente 40 mil hectares de vinhedos, segundo o Cadastro Vitícola do Rio
Grande do Sul. Trata-se de uma viticultura de pequenas propriedades, com média de 15 ha de
área total, sendo destes 40% a 60% de área útil e 2,5 ha de vinhedos, pouco mecanizada
devido à topografia acidentada, onde predomina o uso da mão-de-obra familiar, cada
propriedade dispondo em média de 4 pessoas.
As empresas que elaboram suco de uva apresentam uma estrutura moderna e com alta
tecnologia. Os investimentos na implantação de novas estruturas de processamento e
concentração de suco de uva e de outras frutas na região da Serra Gaúcha evidenciam o
potencial de expansão deste mercado e a tendência de diversificação dentro da cadeia
vitivinícola.
As condições ambientais determinam um período de repouso hibernal à videira. A
poda é realizada em julho-agosto e a colheita está concentrada em janeiro e fevereiro. Cerca
de 80% da produção é de uvas americanas e híbridas, sendo a Isabel a cultivar de maior
expressão. A densidade de plantio situa-se entre 1600 a 3300 plantas por hectare e predomina
o sistema de condução em latada ou pérgola (horizontal), proporcionando produção de 18 a 30
toneladas por hectare, de acordo com a cultivar e com a safra.
A maior parte da uva colhida é destinada à elaboração de vinhos, sucos e outros
derivados. Uma pequena porcentagem da produção, especialmente de uvas americanas como
Niágara Rosada e Isabel, é destinada ao mercado para consumo in natura. A Serra gaúcha foi
o único polo brasileiro de vinhos finos nos anos 70. Responde por 90% do vinho produzido
no Brasil e tem como destaque o município de Bento Gonçalves.
O chamado Vale dos Vinhedos compreende áreas dos municípios de Bento Gonçalves,
Garibaldi e Monte Belo do Sul, a cerca de 130 km de Porto Alegre. Próximas dali, as cidades
de Flores da Cunha, Caxias do Sul e Farroupilha também são importantes produtoras de uva.
Bento Gonçalves é ponto de partida também para um roteiro especial, Vinhos de Montanha,
no distrito de Pinto Bandeira, enquanto um circuito diferente, mas de nome parecido, Vinhos
dos Altos Montes, visita cantinas de Flores da Cunha e Nova Pádua.
A campanha gaúcha, fronteira do Brasil com o Uruguai e exibe clima temperado com
verões quentes e secos, menos chuvosos que a Serra Gaúcha. O principal polo continua sendo
Palomas, em Santana do Livramento, onde a empresa americana Almadén plantou nos anos
setenta vinhedos hoje pertencentes à multinacional Pernod-Rica. A região produz uvas tannat,
cabernet sauvignon e merlot entre as tintas e riesl. Destacando-se os municípios de Bagé e
Candiota, na região da Campanha Meridional e Pinheiro Machado e Encruzilhada do Sul, na
região da Serra do Sudeste. Além destes, a viticultura está sendo implantada em outros
municípios não tradicional como alternativa de diversificação de pequenas propriedades,
principalmente na região do Alto Uruguai do Rio Grande do Sul, onde a matriz produtiva com
base na cultura de pequenas áreas de soja, trigo e milho tornou-se inviável.
Ainda no Rio Grande do Sul, na região da Campanha Central, que tem como principal
polo produtor o município de Santana do Livramento, encontra-se um polo vitícola

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implantado e consolidado há mais de 20 anos, cujo perfil da propriedade difere daquela
existente na região tradicional. Trata-se de um tipo de exploração empresarial em grandes
áreas com uso intensivo de capital, tanto na mecanização, quanto na contratação da mão-de-
obra.

4.3 Principais vinícolas e empresas do estado do Rio Grande do Sul que produzem suco de
uva

Os resultados presentes neste item basearam-se em informações do Instituto Brasileiro


do Vinho – Ibravin (2019).
 Vinícola Aurora - A história da vinícola inicia em 1875, com a chegada de imigrantes
oriundos do norte da Itália. Estabelecidos na Serra Gaúcha, no Sul do Brasil, encontraram
paisagens e clima similares aos de seu país de origem.
 Vinícola Salton - Em 1878, a Família Salton, vinda da Itália, foi uma das primeiras a
chegar ao Rio Grande do Sul e instalou-se numa localidade fundada com o nome “Vila
Izabel”, cidade conhecida atualmente como Bento Gonçalves.
 Vinícola Garibaldi - Atualmente possui uma área construída de 32.000 m² e sua
capacidade de estocagem é de 20.000.000 de litros de vinho.
 Vinícola Miolo - a Miolo fez da sua comunicação um patrimônio sólido, que possui
características marcantes.
 Vinícola Perini - Antonio e Giuseppe Perini chegaram ao Brasil em 1876, trazendo da
Itália a arte de transformar uva em vinho e a imagem do Santo Anjo da Guarda para
abençoar seus vinhedos.
 Vinícola Cave de Amadeu - Fundada em 1979 pelo engenheiro agrônomo e enólogo
Mario Geisse, chileno que veio para o Brasil em 1976, contratado para dirigir a Chandon
do Brasil.
 Marco Luigi - A Marco Luigi oferece um seleto grupo de vinhos e espumantes
elaborados com uvas selecionadas.
 Vinícola Peterlongo - No ano de 1899, Manoel Peterlongo e sua família migraram da
Itália rumo ao sul do Brasil, com a intenção de produzir bebidas finas.

No contexto do Rio Grande do Sul, além das acima citadas, tem-se a presença de
outras vinícolas e empresas, porém com menor representatividade no setor. São elas: Casa da
Madeira, Coop. Vin. Garibaldi, Tecnovin, Catafesta, Coop. Aliança, Coop. Monte Vêneto,
Irmãos Molon, Natural Products, Vinícula Muraro, Vinícula Galiotto, Vinícola Menakaho,
Terragnolo, Del Grano, Don Cândido, Catafesta, Famiglia Tasca.

5 Considerações Finais

O presente estudo visualizou a realidade do estado do Rio Grande do Sul frente ao


cenário Nacional, no que tange à produção de uvas. Pode-se observar, durante o estudo, que a
diferença entre os estados em termos de volume de produção da uva é grande, em que há um
destaque para o estado gaúcho, em todos os anos analisados.
Foi possível verificar que a produção de uva é concentrada em seis estados, a saber,
Rio Grande do Sul, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina, Bahia e Paraná. E que dezessete
estados produziram durante o período de análise que compreende os anos de 2010 a 2017.
Apenas dois estados – Rio Grande do Norte e Tocantins – iniciaram recentemente a produção
de uva. O Rio Grande do Sul tem uma variedade ampla de vinícolas e empresas que atuam na
área de vinhos, de sucos de uva e demais derivados da fruta, dentre elas destacam-se quanto

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ao nível de representatividade, Vinícola Aurora, Vinícola Salton, Vinícola Garibaldi, Vinícola
Miolo, Vinícola Perini, Vinícola Cave de Amadeu, Marco Luigi e Vinícola Peterlongo.
Em suma, os objetivos ao qual o estudo se propôs foram totalmente contemplados,
sendo que os pesquisadores puderam visualizar de forma ampla o contexto em que o estado
do Rio Grande Sul encontra-se, identificando as principais regiões produtoras de uva do
estado.

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Disponível em www.uvibra.com.br, acesso em Julho de 2019.

- UVIBRA – União brasileira de Vitivinicultura. Produção de vinhos, sucos e derivados do


Rio Grande do Sul, em litros - 2007/2010. Disponível em www.uvibra.com.br, acesso em
Julho de 2019.

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Abelha sem ferrão: proposta de viabilidade de implantação e
comercialização de mel em uma pequena propriedade no estado do Rio
Grande do Sul
Bee stingless: proposal for feasibility of implantation and
commercialization of honey in a small property in the state of Rio
Grande do Sul

Larissa Wollmann1, Denise Carvalho Tatim2, Marcelo Pellegrini3, Ana Claudia Machado
Padilha4

Resumo
Presente em muitas civilizações, desde os primórdios da humanidade, as abelhas sem ferrão vem exercendo nos
últimos anos uma importância sociocultural. Em virtude disso, a criação de abelhas tem como alvo principal a
valorização econômica de pequenas propriedades rurais, limitam suas decisões de produzirem outras culturas em
razão da disponibilidade de área. Ressalta-se que as abelhas desempenham um papel importante nos
ecossistemas ao promoverem involuntariamente a polinização, entendido como serviço ecossistêmico, desse
modo, e contribuem para a polinização de cultivares como frutíferas e oleaginosas. Deste modo, o estudo tem
como objetivo analisar a viabilidade da implantação e a comercialização de mel de abelha como forma de
diversificar a renda em pequenas propriedades rurais no estado do Rio Grande do Sul, uma vez que, 2/3 da
alimentação humana depende direta ou indiretamente da polinização dos insetos. Para tanto, foi desenvolvida
uma pesquisa quantitativa, descritiva, com coleta de dados em fontes secundárias. Como resultados, foi possível
concluir que a implantação e a comercialização do mel da abelha sem ferrão demonstram-se economicamente
viável, com baixo custo de investimento e com um interessante retorno financeiro.
Palavras-chave: Abelhas, Pequena Propriedade Rural, Implantação, Comercialização.

Abstract
Present in many civilizations, since the beginnings of mankind, stingless bees have been exercising socio-
cultural importance in recent years. As a result, beekeeping has as its main objective the economic valuation of
small rural properties, limiting their decisions to produce other crops due to the availability of area. It should be
noted that bees play an important role in ecosystems by unintentionally promoting pollination, understood as an
ecosystem service, and thus contributing to the pollination of cultivars such as fruit and oilseeds. The objective
of this study is to analyze the feasibility of the implantation and the commercialization of bee honey as a way to
diversify the income in small rural properties in the state of Rio Grande do Sul, since 2/3 of the human diet
depends directly or indirectly from pollination of insects. For that, a quantitative, descriptive research was
developed with data collection in secondary sources. As a result, it was possible to conclude that the
implantation and commercialization of stingless bee honey are economically viable, with low investment costs
and an interesting financial return.
Keywords: Bees, Small Rural Property, Deployment, Marketing.

1 Introdução

A agricultura se desenvolveu consideravelmente nas últimas décadas, impulsionada


pela adoção de inovações, profissionalização dos produtores rurais, uso de técnicas de gestão,
aumento de produtividade, e outros elementos que contribuem para o destaque internacional
do país quando se trata do agronegócio.

1
Tecnólogo em Agronegócios/Universidade de Passo Fundo - larissawollmann@hotmail.com
2
Doutora em Psicologia /Universidade de Passo Fundo – tatim@upf.br
3
Mestrando em Administração – Programa de Pós Graduação em Administração(PPGAdm) / Universidade de
Passo Fundo / Tecnólogo em Agronegócios (UPF) – 150087@upf.br
4
Doutora em Agronegócios –Universidade de Passo Fundo - anapadilha@upf.br

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Nesse contexto, insere-se como atividade produtiva a apicultura. As abelhas, são os
polinizadores mais importantes para a reprodução da maior parte das angiospermas (Roubik,
1989). A polinização é uma atividade milenar, prestada acidentalmente pelas abelhas, para
garantir a sobrevivência do mundo vegetal e animal, principalmente do homem, que não
poderia sobreviver sem a presença das abelhas (Wiese, 2005). Não somente isso, as abelhas
contribuem com vários produtos e serviços, tais como, mel, produção de própolis, pólen,
geleia real, apitóxina e serviços de polinização, contribuindo decisivamente para a
biodiversidade do planeta (Roubik, 1989).
No Brasil, um país que é predominantemente tropical, supõem-se que as abelhas sem
ferrão devem possuir um papel central na polinização da flora nativa (Kerr 1997). No Rio
Grande do Sul, existem 23 espécies de abelhas popularmente conhecidas como sem ferrão,
nativas ou indígenas (Blochtein, 2016). Esses insetos que pertencem aos grupos meliponini e
trigonini possuem ferrão atrofiado e, em geral, são pouco agressivos.
A criação de abelhas sem ferrão, como jataí, mirim e tubuna, é conhecida como
meliponicultura, reconhecida como geradora de renda pela produção de mel e de outros
produtos. Segundo o autor Nogueira Neto (1997), os meliponineos vivem em grande parte nas
regiões de clima tropical do planeta, ocupam também regiões de clima temperado subtropical
assim as abelhas sem ferrão são encontradas em maior parte na América Neotropical, ou seja
em maior parte no território latino-americano. A apicultura é um dos poucos sistemas de
produção de animais permitido dentro de uma área de preservação ambiental, sendo assim a
atividade não ocupa a área de nem um outro sistema de produção, o que permite utilizar este
espaço para fins lucrativos, diversificando as atividades da propriedade e aumentando os
lucros.
Segundo Sousa (2018), sem as abelhas, o mel desaparecerá, além de boa parte dos
alimentos consumidos pelo homem deixará de existir, pois cerca de 2/3 dos alimentos
originam-se direta ou indiretamente, de vegetais que precisam ser polinizados.
A relação das abelhas com práticas agrícolas sempre teve um caráter complementar. A
agricultura se beneficia da polinização que amplia sua produtividade e garante frutos com
mais qualidade e, consequentemente, maior valor de mercado (Yamamoto et al., 2010).
Nesse sentido, o estudo tem como objetivo analisar a viabilidade da implantação e a
comercialização de mel de abelha como forma de diversificar a renda em pequenas
propriedades rurais no estado do Rio Grande do Sul. Essa opção centra-se na ampliação de
oportunidades de gerar renda para pequenos produtores, ampliando as fontes de renda em
consonância com a contribuição para os ecossistemas numa dimensão sustentável.
Não somente isso, a criação de meliponineos tem alcançado um importante
desenvolvimento, tanto em nível de espaço, quanto em tecnologia inovadora e investimentos
para uma criação racional mais produtiva. Além do mel, também cresce o interesse comercial
pela produção e qualidade de outros derivados meliponícolas, tais como, a própolis, o
geoprópolis e o pólen (SEBRAE, 2006).

2 Revisão da Literatura

Esta seção tem o objetivo de apresentar brevemente, os principais conceitos que se


alinham à proposta do estudo delimitado no objetivo.

2.1 Meliponicultura

A criação de meliponíneos ou meliponicultura é uma prática bastante antiga,


desenvolvida há muitos séculos, relatada pelas civilizações antigas, no Egito antigo, por
exemplo (Palazuelos e Ballivián, 2008).

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Inicialmente desenvolvida pelos índios, a meliponicultura brasileira, foi ao longo do
tempo sendo praticada de forma tradicional por pequenos e médios produtores,
principalmente por aqueles que usavam mão de obra familiar nas atividades agropecuárias,
sendo considerada uma atividade econômica complementar (Coletto Silva, 2005).
O pesquisador Nogueira Neto (1997), definiu em 1953 que as abelhas indígenas sem
ferrão se denominariam meliponíneos, e a sua criação meliponicultura. Venturieri (2007)
define a meliponicultura como a criação de abelhas sem ferrão ligada com as espécies que
fabricam e armazenam maior quantidade de mel. Devido à predileção do gênero melípona
pelos criadores o termo persiste mesmo para criações onde espécies de outros gêneros
predominem. Outra definição: Meliponicultura é a atividade de criação racional de abelhas
sem ferrão (Meliponíneos) (Confederação Brasileira de Apicultura, 2007). Entre os insetos
existem dois grupos que ocupam uma posição destacada de valor econômico para o homem: o
bicho-da-seda, por produzir uma fibra de alto valor comercial, e as abelhas pelo mel.
Economicamente, não são importantes somente pelos produtos que nos fornecem (Villas
Bôas, 2012). Braga (2006) afirma que os agricultores se beneficiam acidentalmente com a
polinização realizada pelos insetos, particularmente pelas abelhas, nativas ou não.
Á criação das abelhas sem ferrão é de fácil manejo, pois ela não oferece risco à
população, permitindo a criação em áreas próximas de pessoas e animais. Apresentam
comportamento tipicamente “eussocial” (sobreposição de gerações, divisão de trabalho e
cooperação no cuidado com a prole), e organizam-se em colônias permanentes, que podem
ser numerosas, variando desde poucas dúzias a 100 mil ou mais operárias (Silveira et al.,
2002; Michener, 2007).
A preservação das abelhas sem ferrão ajuda o meio ambiente. Ao se alimentarem de
pólen e néctar, elas polinizam todos os tipos de tamanhos de flores alcançando uma
polinização maior que as abelhas com ferrão e este processo é fundamental para produção de
sementes e frutos, garantido o desenvolvimento e a sobrevivência da vegetação.
O mel da abelha sem ferrão possui 70% de açúcares. Elas costumam visitar diversos
tipos de plantas ao mesmo tempo e, por esta razão, a característica do mel é influenciada mais
pelo tipo de abelha produtora do que pela espécie de planta visitada (Abelhas, 2017).
Antes de pensar em fazer investimentos para iniciar uma criação de abelhas é
necessário fazer uma avaliação de interesse na atividade, disponibilidade e variedade de
plantas com floração proporcional ao número de colmeias desejadas, entre outros (Wiese,
2005). Pode-se observar na criação de meliponíneos um problema que é frequentemente
levantado pelos criadores de abelha, o qual, se refere à descontinuidade dos
programas/políticas para o setor com a troca de mandatos de governantes. Muitos se sentem
inseguros a cada mudança de governo, quando, geralmente, programas iniciados são
abandonados e novos são criados (Embrapa, 2010).
Além de uma alternativa de renda, a criação de abelhas sem ferrão por agricultores
familiares pode ser utilizada também para a polinização de culturas que contribui na melhoria
da produtividade. Segundo estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), estima-se que 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo são
polinizadas por abelhas (Camargo, 2014).
Quanto à legislação, meliponários, com menos de 50 colônias, precisam se inscrever
no Cadastro Técnico Federal do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) e, com mais de 50 colônias, devem solicitar autorização em órgãos
ambientais estaduais (Mathias, 2014).
No Brasil, existe um regulamento específico para a rotulagem de produtos de origem
animal, a Instrução Normativa nº 22, de 24 de novembro de 2005. A Lei Nº 14763 de
23/11/2015, dispõe sobre a criação, o comércio e o transporte de abelhas sem ferrão -
meliponíneas - no Estado do Rio grande do Sul.

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2.2 Análise de Investimentos

A análise de investimentos se baseia no emprego de técnicas contábeis e financeiras


para identificar qual melhor alocação de investimento entre as diversas alternativas existentes.
Esse tipo de análise é indispensável ao se considerar a realização de um investimento, pois
demonstra ser claramente uma ferramenta de apoio a decisão do investidor, pois, tendo em
vista que todo investimento possui em si um risco envolvido, a análise de investimento
contribuirá para minimizá-los, tornando a ação de investir mais lucrativa no longo prazo
(Bona, 2016).
O payback é o método mais básico para se avaliar a viabilidade de um investimento ao
determinar o tempo necessário para se recuperar um investimento inicial. Para encontrar o
período de payback de determinado investimento, basta somar os valores dos rendimentos
auferidos, período após período, até que a soma dos mesmos se iguale ao valor do
investimento inicial (Bona, 2016).
O Valor Presente Líquido (VPL) é considerado uma técnica de análise mais
sofisticada do que o payback, justamente por considerar em seu cálculo o valor do dinheiro no
tempo e poder ser aplicada a qualquer tipo de rendimento (convencional e não-convencional).
Por meio dele, tanto as entradas como as saídas de capital são transportadas para valores
atuais, podendo assim ser comparadas ao investimento inicial (Bona, 2016).
A Taxa Interna de Retorno (TIR), é outra forma utilizada para a análise de
investimentos. Ela é a taxa de desconto que iguala o VPL a zero, fazendo com que todas as
entradas de capital igualem todas as aplicações. Sendo assim, ela complementa a análise de
valor presente líquido e reflete os rendimentos reais proporcionados por um investimento em
um determinado período (Bona, 2016).

3 Procedimentos Metodológicos

Reportando-se ao objeto do estudo que foi o de analisar a viabilidade da implantação e


a comercialização de mel de abelha como forma de diversificar a renda em pequenas
propriedades rurais no estado do Rio Grande do Sul, foi realizada uma pesquisa quantitativa,
descritiva e documental.
Os dados utilizados na pesquisa são natureza primária e secundária. Os dados
primários foram coletados com produtores rurais que atuam na criação de abelhas sem ferrão
no estado. Quanto aos secundários, foram acessadas publicações técnicas, livros e periódicos
científicos bem como coletados dados em instituições do setor, dentre elas, a Embrapa.
De posse dos dados, a próxima etapa tratou da análise, sendo os dados sistematizados
em planilhas e tabelas que seguiram os pressupostos e etapas das ferramentas de avaliação de
investimento que suportaram a delimitação do objeto da pesquisa.

4 Resultados e Discussão

Esta seção apresenta as análises de custos de investimento para a implantação de um


meliponário, identificando as receitas auferidas, as despesas e demais equipamentos
necessários.

4.1 Custos do Investimento

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Os custos de investimento referem-se à instalação e à compra inicial dos
equipamentos. Ocorre no primeiro ano com a quantia inicial de 20 caixas. Transcorridos cinco
anos de implantação, a projeção é de ampliar 20 colmeias a cada ano (Tabela 1).

Tabela 1: Custos de investimento


Materiais Quantidade (por ano) Valor (em R$)
Espátula, torquez, formão, fita adesiva, alimentadores, véu 1 unidade de cada 115
Estrutura das caixas 20 35
Colônias 20 5.000
Embalagens 140 168
Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Para o início da comercialização, a projeção é de aquisição é de 140 embalagens. Cada


embalagem terá um peso líquido de 500g, e será comercializado ao preço de R$ 40,00. Com
20 colônias, é possível produzir de 20 a 80L/ano, sendo que e a primeira coleta poderá ser
feita em menos de um ano após o início da atividade.

Tabela 1: Análise de investimento e Payback (em R$)


Descrição Período 0 Período 1 Período 2 Período 3 Período 4 Período 5
(+) Receitas 5.600,00 10.000,00 12.000,00 12.000,00 12.000,00
(-) Custos e despesas
(168,00) (300,00) (360,00) (360,00) (360,00)
variáveis (embalagens)
(-) Custos e despesas fixos
(960,00) (960,00) (960,00) (960,00) (960,00)
(água e luz)
(-) Depreciação - - - - -
Depreciação do prédio - - - - -
Depreciação da máquina - - - - -
= Lucro operacional
- 4.472,00 8.740,00 10.680,00 10.680,00 10.680,00
tributável
(-) Tributos (alíquota média
- (67,08) (131,10) (3.204,00) (3.204,00) (3.204,00)
ou total)
= Lucro líquido operacional - 4.404,92 8.608,90 7.476,00 7.476,00 7.476,00
(+) Depreciação - - - - - -
= Fluxo de Caixa Operacional - 4.404,92 8.608,90 7.476,00 7.476,00 7.476,00
(+/-) Investimento ou
desinvestimento líquido em (5.815,00) - (700,00) (400,00) - -
equipamentos
(+/-) Investimento ou
desinvestimento líquido em (2.000,00) - - - - -
capital de giro
=Fluxo de Caixa Livre (7.815,00) 4.404,92 7.908,90 7.076,00 7.476,00 7.476,00
Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Conforme os resultados, o retorno financeiro com perspectiva de cinco anos, o retorno


sobre o investimento seria alcançado no segundo ano. Como o VPL alcançou R$ 14.639,54,
enfatiza-se que, quanto maior ele for, mais lucrativo será o projeto. Já a TIR, entendida como
a taxa de juros que uma aplicação financeira precisaria render para ser tão lucrativa quanto o
projeto, apresentou um desempenho na ordem de 73,57%.
Diante dos dados apresentados, é possível chegar ao entendimento de que a
meliponicultura demonstrou ser um tipo de atividade economicamente viável, demandando
baixo valor de investimento financeiro e, especialmente, um interessante bom retorno
financeiro a partir dos cálculos realizados.

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5 Conclusões

Pela análise de investimento Payback, é possível concluir que a meliponicultura se


mostra como um negócio rentável para pequenas propriedades rurais que possuem pouca área
de terra e, especialmente, quando observada como atividade de diversificação de renda.
Com relação à comercialização, a questão legal é um dos principais entraves ao
desenvolvimento do setor. Como alternativa, a criação de uma legislação mais simples para a
venda direta, facilitando o acesso ao mercado não só na esfera municipal, mas, especialmente,
a estadual. Iniciativas nessa direção são identificadas, tais como o Sistema de Inspeção
Municipal (SIM), a nível municipal; e, o Sistema Unificado Estadual de Sanidade
Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf), a nível estadual.
Não somente isso, a pesquisa realizada também contribuiu para o entendimento da
necessidade de formulação de políticas que apoiem, especialmente, os pequenos produtores
que dedicam-se à atividade da meliponicultura. Incentivos como esse poderiam incluir como
prioridade a seleção de espécies de abelhas sem ferrão, nativas da região.
Na dimensão ambiental, considera-se a relevância das abelhas não só na produção de
alimentos, mas também, sua contribuição para o equilíbrio dos ecossistemas, dedicando
atenção especial à sua preservação e manutenção frente às decisões de produção agropecuária.
Além disso, destaca-se que a presença dos meliponíneos interfere em aspectos sociais e
econômicos, uma vez que a atividade de produção de mel poderá revelar-se numa alternativa
interessante para pequenos produtores familiares no estado do Rio Grande do Sul.
Por fim, espera-se que este estudo tenha resultado em contribuições que promovam o
interesse no tema, bem como, incentive unidade de produção familiar a prospectarem este tipo
de negócio enquanto promissor, não apenas na dimensão financeira mas, sobretudo, na
ecológica.

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Análise da Estrutura do Setor de Produção de Cerveja Artesanal na Cidade
de Passo Fundo/RS com Base no Modelo ECD
Structure Analysis of the Craft Brewery Sector in Passo Fundo City/RS
Based on the ECP Model
Thais Muraro Simionato1, Ana Claudia Machado Padilha2, Andre da Silva Pereira3

Resumo
O Brasil assumiu recentemente o posto de terceiro maior produtor mundial de cerveja e vem registrando um
crescimento exponencial no número de cervejarias desde o ano de 2010, com destaque para a Região Sul. Ao final
do ano de 2018 o Estado do Rio Grande do Sul concentrava 186 de um total de 886 cervejarias do país, sendo o
Estado com maior número de cervejarias. O Rio Grande do Sul ocupa ainda o primeiro lugar no ranking nacional
com relação à densidade cervejeira, que é a relação entre a população e o número de cervejarias, aqui a distribuição
média é de 79,873 habitantes/cervejaria. Neste contexto, este estudo objetivou analisar a estrutura do setor de
produção de cerveja artesanal na cidade de Passo Fundo, localizada ao norte do referido Estado. Para a realização
deste estudo, foram utilizados dados qualitativos e quantitativos, obtidos através de uma pesquisa exploratória e
descritiva onde foi utilizado um questionário, aplicado em três das cinco cervejarias instaladas na cidade tema do
estudo. A análise dos resultados demonstra que o setor é de ampla competitividade, onde faz-se necessária a
utilização de estratégias para competir no mercado. Percebe-se uma crescente oferta de estilos variados que visam
atender à demanda dos clientes que se tornam mais exigentes à medida que passam a degustar e apreciar cerveja e
chope artesanal. A estrutura do setor pode ser classificada como de baixo número de competidores e a influência
dos produtos substitutos, quando ocorre, é mínima.
Palavras-chave: Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho, Estrutura, Cerveja Artesanal.

Abstract
Brazil recently assumed the third position of largest beer producer in the world and has been registering an
exponential growth in the number of breweries since 2010, especially in the Southern Region. At the end of 2018,
the state of Rio Grande do Sul concentrated 186 breweries of a total of 886 breweries in the country, being the
state with the largest number of breweries. Rio Grande do Sul still ranks first in the national ranking of beer
density, which is the relation between population and the number of breweries, here the average distribution is
79.873 inhabitants / brewery. In this context, this study aimed to analyze the structure of the craft beer production
sector in the city of Passo Fundo, located to the north of the state. For the study, qualitative and quantitative data
were used, obtained through an exploratory and descriptive research where a questionnaire was used, applied to
three of the five breweries installed in the city studied. The analysis of the results shows that the sector is very
competitive, where it is necessary to use strategies to compete in the market. There is a growing offer of varied
styles to meet the demands of customers who become more demanding as they start to enjoy beer and draft beer.
The industry structure can be classified as low in competition and the influence of substitute products, when it
occurs is minimal.
Keywords: Structure-Conduct-Performance Model, Structure, Craft Brewery.

1 Introdução

O setor de cervejarias artesanais no país vem apresentando um grande crescimento nos


últimos anos. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
divulgados no ano de 2018, o número de cervejarias no Brasil cresce exponencialmente desde
o ano de 2010, a elevada concentração ocorre na Região Sul e Sudeste do país sendo que o
Estado do Rio Grande do Sul possui o maior número de cervejarias, seguido pelos Estados de
São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro. O MAPA informa ainda que

1 Bacharel em Administração da Universidade de Passo Fundo – thaaismuraro@gmail.com


2 Doutora em Agronegócios (UFRGS), Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Passo
Fundo (PPGAdm/UPF) – anapadilha@upf.br
3 Doutor em Economia (UFRGS), Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Passo

Fundo (PPGAdm/UPF) – andresp@upf.br


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o RS concentrava, no ano de 2017, 142 cervejarias, sendo que o total de cervejarias na região
sul era de 287.
Em 1995 surgiu a primeira micro cervejaria do Brasil, localizada em Porto Alegre. Hoje
a cidade, capital do estado do Rio Grande do Sul, é o maior centro cervejeiro do país e, somente
no ano de 2018, registrou a abertura de 44 novas empresas do setor cervejeiro, representando
21% do total nacional (GAÚCHA ZH, 2019).
Em Passo Fundo a primeira cervejaria artesanal a se instalar iniciou suas atividades no
ano de 2011, segundo dados do Cervesia. Nos últimos anos a cidade registrou crescimento no
número de plantas de produção de cerveja e chope e conta hoje com 5 cervejarias além da planta
de maltaria da Ambev. O surgimento de novas plantas de produção de cerveja e chope coincide
com o aumento do consumo das cervejas especiais no país que, segundo a Revista Exame
(2019), cresce significativamente e, conforme dados da Revista Beer Art, uma pesquisa recente
do Banco UBS aponta que a cerveja é a categoria de bebidas alcoólicas mais bem posicionada
para se beneficiar da recuperação econômica do consumidor.
O setor de produção de cerveja/chope artesanal possui cervejarias concorrentes e que
produzem produtos semelhantes, de mesmo estilo. Nesse contexto, verifica-se como a estrutura
do setor é relevante para os seus integrantes, influenciando na conduta dos mesmos de maneira
que, para sobreviver em um setor, é preciso adotar as estratégias que estão disponíveis.
O presente artigo realiza uma análise da estrutura do setor de produção de cerveja
artesanal na cidade de Passo Fundo – RS, com base na teoria do Modelo Estrutura-Conduta-
Desempenho (ECD), buscando a sua identificação e caracterização. O Modelo foi inicialmente
desenvolvido por Mason e tem sido aplicado em estudos em diversos setores em todo o mundo.
Para Barney e Hesterly (2011) a estrutura do setor em que uma empresa opera definem as
opções e restrições a serem enfrentadas e em alguns setores, as empresas têm poucas opções e
muitas restrições. Em geral, as empresas nesses setores só conseguem ganhar paridade
competitiva e, nesse cenário, a estrutura do setor determina a conduta da empresa e seu
desempenho no longo prazo, impactando também no tempo de manutenção da vantagem
competitiva.
Este artigo está estruturado em cinco seções, a contar desta introdução. Na segunda
seção é apresentada uma revisão bibliográfica. A terceira seção trata dos aspectos
metodológicos empregados no estudo. Na quarta seção destacam-se os resultados e sua
discussão. Por fim, apresentam-se as considerações finais e as referências.

2 Referencial Teórico

Segundo Barney e Hesterly (2011) o Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho é um


modelo teórico que teve seu início na década de 1930 quando buscava-se desenvolver um meio
de compreender o relacionamento entre o ambiente de uma empresa, seu comportamento e seu
desempenho. Scherer e Ross (1990) afirmam que o Modelo ECD é definido através de
indicadores de estrutura do setor, conduta e desempenho das empresas. Este Modelo pode ser
aplicado a qualquer indústria para compreender como as empresas sofrem influência da
estrutura do setor e como as condutas adotadas por elas geram impacto no desempenho da
empresa, alguns estudos que demonstram sua aplicabilidade são os de Sediyama et al. (2013)
na indústria processadora de soja no Brasil, Soveral (2017) na indústria de joias no RS, Lopes
(2014) no setor calçadista do RS, Sheel (2015) em restaurantes e companhias de petróleo e
Landivar et al. (2013) em terminais do corredor centro-leste.
A estrutura pode ser caracterizada, segundo Porter (1986), como as cinco forças
competitivas que definem como um determinado setor se organiza e influencia na conduta dos
demais componentes, essas forças em conjunto determinam o potencial de lucro final no setor

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e podem ser classificadas de intensas a moderadas. Segundo o mesmo autor, quando essas
forças são intensas nenhuma empresa obtém retornos grandiosos, porém quando moderadas os
altos retornos são comuns. As cinco forças competitivas (Figura 1) refletem o fato de que a
concorrência em um setor não está limitada aos participantes estabelecidos (PORTER, 2004).
Hitt, Ireland e Hoskisson (2008) afirmam que a intensidade da competição e o potencial de
lucros do setor são consequências das cinco forças de competição.
O modelo das cinco forças reconhece que os fornecedores podem se tornar concorrentes
da empresa e os compradores também, além disso, as empresas que optam por entrar em um
novo mercado e as que fabricam produtos que são substitutos adequados dos produtos existentes
podem se tornar concorrentes (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008).

Figura 1:Cinco Forças Competitivas

Poder de
Negociação
dos
Compradores

Ameaça de Rivalidade Ameaça de


Novos entre Produtos
Entrantes Concorrentes Substitutos

Poder de
Negociação
dos
Fornecedores

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Porter (2004) define as cinco forças: a primeira, é a ameaça de entrada, que é


caracterizada pela possibilidade de novos entrantes que desejam ganhar parte do setor e trazem
novos recursos e capacidade extra de produção, o que pode causar queda nos preços, inflacionar
os custos dos participantes e ocasionar redução da rentabilidade. A ameaça de entrada em um
setor depende das barreiras de entrada existente, em conjunto com a reação que o novo
concorrente pode esperar dos já existentes (PORTER, 1986, 2004; MINTZBERG et al., 2006;
HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008; BARNEY; HESTERLY, 2011).
A segunda força, para Porter (2004) refere-se ao poder de negociação dos fornecedores.
Hitt, Ireland e Hoskisson (2008) afirmam que uma das maneiras de os fornecedores exercerem
poder sobre as empresas é aumentando os preços ou reduzindo a qualidade dos produtos. Porter
(2004) complementa ainda que um grupo de fornecedores tem poder quando, dentre outros
motivos, é dominado por poucas empresas e mais concentrado do que o setor para a qual vende;
quando o produto dos fornecedores é um insumo importante para o negócio do comprador e
quando o setor não é um cliente importante para o grupo fornecedor. Para Barney e Hesterly

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(2011) os fornecedores podem ameaçar o desempenho de empresas em um setor reduzindo a
qualidade de seus suprimentos ou aumentando o preço.
Como terceira força têm-se a ameaça de produtos substitutos que, conforme Hitt, Ireland
e Hoskisson (2008), representam uma forte ameaça para uma empresa quando oferecem para
os clientes um preço menor, quando sua qualidade é igual ou superior do que as do produto
concorrente ou quando o custo de mudança é baixo ou inexistente. Porter (2004) menciona que
os substitutos reduzem os retornos de uma indústria e além de limitarem os lucros em tempos
normais também reduzem as fontes de riqueza que uma empresa pode obter em tempos
prósperos. Barney e Hesterly (2011) afirmam que, os produtos substitutos impõem um teto aos
preços que as empresas de um setor podem cobrar e aos lucros que podem ter, complementam
que estes produtos estão cada vez mais desempenhando um papel importante na redução do
lucro potencial em vários setores.
A intensidade de rivalidade entre os concorrentes é outra das cinco forças competitivas.
Para Hitt, Ireland e Hoskisson (2008) as ações tomadas por uma empresa geram reações
competitivas e a rivalidade se intensifica quando uma empresa reconhece uma oportunidade de
melhorar sua posição no mercado. Na concepção de Porter (2004) a rivalidade ocorre também
quando um ou mais concorrentes sentem-se pressionados e algumas formas de concorrência
são instáveis e com grande possibilidade de piorarem a situação do setor do ponto de vista da
rentabilidade. Barney e Hesterly (2011) afirmam que a rivalidade tende a ser maior quando há
um grande número de empresas em um setor e elas tendem a ser praticamente do mesmo
tamanho, quando o crescimento do setor é lento e ainda quando as empresas não conseguem
diferenciar seus produtos no setor.
No que diz respeito ao poder de negociação dos compradores Porter (2004) afirma que
eles competem com a indústria forçando os preços para baixo e que o poder dos grupos de
compradores depende de características como adquirir grandes volumes em relação às vendas
dos vendedores, se os produtos comprados da indústria são padronizados, se o produto da
indústria não é importante para a qualidade dos produtos/serviços do comprador, entre outros.
As empresas buscam maximizar o retorno do capital que investiram e consequentemente os
compradores querem comprar produtos pelo menor preço possível, para baixar os custos os
compradores negociam melhor qualidade, níveis mais elevados de atendimento e preços
menores (HITT, IRELAND E HOSKISSON, 2008). Os compradores têm mais probabilidade
de serem uma ameaça quando os fornecedores de quem compram representam uma parcela
significativa dos custos de seu produto final, neste contexto, os compradores tendem a se
preocupar muito com os custos de seus suprimentos e a buscar constantemente alternativas mais
baratas. (BARNEY E HESTERLY, 2011). Os autores afirmam ainda que se os produtos e
serviços que estão sendo vendidos aos compradores são padronizados e indiferenciados, a
ameaça de compradores poder ser maior.
Para Mintzberg et al. (2006), cada setor tem um conjunto de características
fundamentais, técnicas e econômicas que dão origem às forças competitivas, que são de grande
importância para a formulação da estratégia pois as mais fortes vão determinar a lucratividade
da uma indústria. Barney e Hesterly (2011) complementam que se uma empresa tem um número
pequeno de compradores eles podem ser uma grande ameaça.

3 Metodologia

Para o estudo da estrutura do setor de produção de cerveja artesanal de Passo Fundo –


RS foram realizadas abordagens de cunho qualitativo e quantitativo. Segundo Diehl e
Tatim(2004) a abordagem qualitativa pode descrever a complexidade de um problema e auxiliar
na compreensão dos processos dinâmicos vividos por grupos sociais. Já a abordagem

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quantitativa tem como característica a quantificação, tanto na coleta como no tratamento das
informações, objetivando garantir resultados e evitar distorções de análises. A pesquisa também
se caracteriza como exploratória, proporcionando maior familiaridade com o problema.
Em relação ao procedimento técnico, a pesquisa é classificada como estudo multicascos.
Yin (2005) define o estudo de caso como uma forma de investigar eventos contemporâneos no
seu contexto de vida real, em situações onde a fronteira entre o fenômeno investigado e o
contexto não estão claramente estabelecidas e onde se utiliza várias fontes de evidências.
Classifica-se ainda como exploratória e descritiva por envolver o levantamento bibliográfico e
ter como finalidade ampliar o conhecimento a respeito de um determinado assunto.
Para fins de delimitação da população das plantas de produção de cervejas artesanais
localizadas na cidade de Passo Fundo, foi possível mapear um total de cinco plantas, não
havendo registro ou fonte de informação disponível no governo municipal que indicasse este
número. Assim, a identificação do número de plantas deu-se a partir dos contatos informais
realizados pela pesquisadora com os próprios gestores dessas plantas na primeira visita in loco
que, o entrevistado, indicou o número de indústrias instaladas e em operação. Partindo desse
tipo de abordagem, identificou-se um total de cinco plantas instaladas e em operação na cidade
de Passo Fundo/RS. Tomando-se como referências as cinco plantas, definiu-se por pesquisar
todas elas. As entrevistas foram realizadas no mês de maio de 2019 com os gestores das plantas
que tiveram o interesse em participar da pesquisa. Duas delas, não demonstraram interesse em
participar no momento do contato.
Os dados primários foram coletados por meio de roteiro de entrevistas com categorias
determinadas a priori que emergiram da literatura selecionada para a pesquisa. Utilizou-se
como instrumento de coleta de dados um formulário composto por 29 perguntas abertas e 32
de múltipla escolha. A escolha pelo formulário que consiste em obter informações diretamente
do Entrevistado, onde o preenchimento é feito pelo próprio pesquisador à medida que recebe
as respostas, ou pelo pesquisado sob sua orientação justifica-se pela vantagem da utilização em
quase todo o segmento da população e a presença do pesquisador, que pode orientar no
preenchimento inclusive das questões que não estejam muito claras (DIEHL; TATIM, 2004).

4 Resultados e Discussão

A produção das cervejarias pesquisadas é direcionada, em sua maioria, para o mercado


regional, sendo que apenas uma delas destina 50% da sua produção para atender outros estados
próximos (Paraná e Santa Catarina). O setor, segundo dois entrevistados, apresenta tendência
de crescimento, enquanto que o terceiro entrevistado identifica a tendência de desenvolvimento.
Quanto à estrutura, o setor pode ser considerado de ampla competitividade pelo fato de
que as cervejarias aqui instaladas encontram competidores de outras cidades que estão trazendo
distribuidoras de diferentes marcas e, concorrem ainda com produtos importados de outros
países que são disponibilizados em supermercados e lojas especificas de cervejas especiais. Já
como tendências do mercado, identifica-se melhores preços além de uma maior diversidade de
produtos e consumidores mais exigentes. Um fato que chama a atenção é que os consumidores
e apreciadores de cerveja e chope artesanal se tornam cada vez mais exigentes quanto aos
produtos consumidos. O que afirma isso é a ocorrência de estarem buscando cada vez mais por
produtos diferenciados e de qualidade, pelos quais também estão dispostos a investir cada vez
mais. Este dado está relacionado com a tendência de maior diversidade de produtos, forçando
as cervejarias a aumentarem seus portfólios.
O consumidor final é, para duas das cervejarias pesquisadas, o principal cliente. O foco
destas cervejarias é na produção de barris e garrafas PET, já para a terceira pesquisada, seus
principais clientes são supermercados dos estados do RS, SC e PR. Esta, por sua vez, tem sua

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produção focada em garrafas de vidro, complementando a produção com barris. No atual
cenário econômico, a aquisição ou construção de novas plantas produtivas não ocorre, esse fato
justifica-se pelas dificuldades encontradas tanto financeira como burocraticamente.
Quanto aos competidores não identifica-se a tendência de novos concorrentes, que pode
ser justificada pelos altos custos iniciais além das políticas públicas (legislação e
regulamentação ambiental). Em relação aos já instalados no setor, os responsáveis por duas das
cervejarias pesquisadas identificam que a concorrência é acirrada porém amigável. Um fato que
contribui para que a concorrência seja amigável é que as três cervejarias estudadas possuem um
distribuidor em comum, de malte, e este disponibiliza cursos e treinamentos que na maioria das
vezes são feitos em conjunto com as mesmas. As cervejarias fornecem auxílio umas às outras
em questões como falta de insumos ou de material para higienização da produção, casos que
podem interromper um dia inteiro de produção.
Em uma avaliação dos seus concorrentes, os respondentes de duas cervejarias
pesquisadas consideram que, em sua maioria, eles são de porte superior e com potencial de
máquinas maior, porém com propósitos semelhantes. Quanto às estratégias utilizadas pelos
concorrentes para competir no mercado, identificam estratégias de custos sendo que também
foram mencionadas as estratégias de diferenciação e de diversificação. Sabe-se que uma
estratégia de baixo custo permite às empresas retornos acima da média mesmo em setores com
elevada competitividade, estratégias de diferenciação, por sua vez, buscam criar algo que seja
único no setor e a diversificação busca lançar no mercado novos produtos que podem ter ou
não relação com o atual negócio da empresa.
Identifica-se a existência de poder de negociação dos compradores sendo que ocorre em
relação aos preços. Os clientes negociam por melhores preços conforme o volume comprado
além de pedirem por brindes. Como consequência de pedirem por melhores preços tem-se
também a busca por melhores condições de pagamento, que fez com que as cervejarias se
adequassem e passassem a aceitar outras formas de pagamento que antes não eram praticadas,
como o pagamento com cartão de crédito. Como é comum à outros setores, os clientes tendem
a buscar menores preços e melhores/maiores prazos de pagamento, o que gera impacto nas
decisões dos administradores. Esse fato justifica a conduta das empresas sendo influenciada
pela estrutura, de acordo com o que sugere o Modelo ECD proposto por Scherer e Ross (1990).
Ainda com relação à barganha dos clientes, as entrevistados consideram que não ocorre
influência nos quesitos qualidade do produto, melhor publicidade e imagem da empresa.
Entende-se que a qualidade é uma busca das cervejarias que, mesmo sem ter a exigência dos
clientes quanto a isso, esperam e fazem o necessário para que seus produtos sejam de boa
qualidade.
O poder de negociação dos fornecedores, por sua vez, é quase inexistente pelo fato de
não se ter muitas opções. Quando ocorre é com base no volume comprado, buscando-se
diminuição dos preço e prazo de pagamento diferenciado. Há carência de fornecedores na
cidade de Passo Fundo e registra-se dificuldade em encontrar fornecedores no Estado do RS,
além dos altos valores cobrados por insumos diferenciados para a produção uma receita
específica. O responsável por uma das Cervejarias pesquisadas destacou que para inovar nas
receitas há muita dificuldade.
No que se refere à estabilidade econômica do setor, identifica-se que o número de
consumidores é um ponto favorável, por outro lado têm-se a instabilidade política e o número
de concorrentes indicados como fatores desfavoráveis. Sabe-se que as incertezas políticas são
prejudiciais para o desempenho da economia à medida que geram um ambiente instável e o
aumento de taxas de riscos além da redução de investimentos.
Ainda com relação às forças competitivas que determinam a concorrência no setor, os
produtos substitutos, que são aqueles com funções iguais ou semelhantes às de um determinado
produto e que acabam por disputar a preferência dos consumidores, foram identificados como
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sendo as cervejas industriais, os vinhos, os espumantes e as cachaças. Apesar de serem
mencionados, em determinados momentos essa influência não ocorre em razão da diferença,
peculiaridade dos produtos. O responsável por uma das cervejarias pesquisadas complementa
que, em algumas ocasiões, ocorre de o cliente optar por um estilo de chope mais adocicado, por
exemplo o chope de mel, ao invés de disponibilizar espumante no seu evento. Isso ocorre pelo
fato de se tornar mais em conta e acaba por influenciar positivamente a concorrência com os
produtos substitutos. Na opinião do responsável por outra cervejaria pesquisada, o que impacta
nas suas vendas é a concorrência com as cervejas industriais porém, considera que este impacto
é mínimo. A influência das cervejas industriais justifica-se pelo fato de que as grandes
cervejarias tem a capacidade de praticar preços bastante agressivos no mercado.
Em relação às barreiras para a entrada de novos concorrentes, ambos entrevistados
apontam o custo do investimento inicial e as políticas públicas como principais empecilhos. Na
sequência, o ambiente de negócios, a concorrência e o conhecimento da produção também
dificultam a entrada neste setor. Cabe ressaltar que, na visão de um dos respondentes o
investimento inicial é muito alto e considera ainda que a concorrência não gera grandes
impactos pois fornecendo um produto bom e de qualidade tem-se consumidores.
O estudo permitiu identificar também as barreiras que dificultam a competitividade no
setor. Ênfase especial dá-se à tributação que onera o setor, na sequência foram identificados
também o poder aquisitivo da população e a diversidade de produtos ofertados no mercado.
Todas os entrevistados concordam que a tributação é uma barreira que influencia a
competitividade e, inclusive, esse ponto foi reforçado nas entrevista.
Por fim, relacionado à competitividade no setor, identificam-se alguns fatores que são
influenciados positivamente pela formação de parcerias entre as cervejarias, tais como o
aumento do poder de barganha junto aos fornecedores, o acesso ao mercado, o aumento na
competitividade no setor, a aquisição de conhecimento e tecnologias, o desenvolvimento de
pesquisas e a melhoria na qualidade do produto.

5 Considerações Finais

O estudo teve como objetivo compreender a estrutura do setor de produção de cerveja


artesanal na cidade de Passo Fundo/RS. Sabe-se que a competitividade é uma exigência das
empresas em diversos setores, que os cenários estão se tornando cada vez mais complexos e
competitivos e que para as empresas se manterem é necessário que adotem alguma estratégia.
Nesse contexto, o setor de produção de cerveja e chope artesanal de Passo Fundo, a
partir dos dados observados neste estudo, pode ser considerado de ampla competitividade, pelo
fato de que as cervejarias aqui instaladas encontram competidores de outras cidades que estão
trazendo distribuidoras de outras marcas e também concorrem com produtos importados de
diversos países que são disponibilizados em supermercados e lojas específicas de cervejas
especiais. Faz-se assim necessário a utilização de alguma estratégia para competir no mercado,
mesmo que esta seja feita informalmente, desde que se observe, antes da implementação, os
recursos disponíveis e o porte da cervejaria.
Com relação à oferta, percebe-se uma crescente variedade de estilos sendo apresentadas
ao mercado, o que traz a necessidade de investimentos em P&D porém a demanda de um estilo
específico (Pilsen) é muito maior do que os demais. Novos estilos desenvolvidos caberiam para
aumentar o portfólio das cervejarias.
Notou-se ainda que a barganha dos clientes ocorre no preço e também há uma certa
pressão por melhores condições e prazos de pagamento. Quanto ao o poder de barganha dos
fornecedores há uma certa estabilidade nas relações, não havendo muita barganha de nenhum
dos lados e, quando ocorre, é pelo volume de compra.

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Outra força competitiva observada foi a barreira de entrada de novos competidores e
que mostra-se de maior força com relação às políticas públicas, devido ao grande número de
normatizações, grande parte delas de ordem ambiental. Além disso, também chama atenção o
investimento inicial em equipamentos, que implica valores considerados altos.
O setor pode ser definido, quanto à estrutura, como de baixo número de empresas. A
ameaça dos produtos substitutos é sentida com relação às cervejas industriais e a pressão dos
clientes por melhores preços e novos produtos acaba por impactar no processo da tomada de
decisão.
Por fim, conclui-se que o Modelo ECD foi eficiente no estudo por permitir a análise da
estrutura do setor de produção de cerveja e chope artesanal de Passo Fundo e o comportamento
dos integrantes do mesmo. As conclusões a que se chegou têm por base a percepção dos
participantes desta pesquisa e considera-se que os resultados obtidos não devem ser
generalizados.

Referências

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ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS DE EXPORTAÇÕES DO COMPLEXO
SOJA DE BRASIL E ARGENTINA: 1989 A 2019

ANALYSIS OF EXPORT TRENDS OF THE SOYBEAN COMPLEX OF


BRAZIL AND ARGENTINA: 1989 – 2019

Maiara Thaís Tolfo Gabbi1, Nilson Luiz Costa2, Gabriel Nunes de Oliveira3 e Camila Weber4

Resumo: O objetivo deste estudo é realizar uma análise comparada das tendências de
exportações do complexo soja de Brasil e Argentina no período de 1980 a 2019. Para atender
ao objetivo, será utilizado como metodologia o modelo econométrico de taxa de crescimento e
a utilização de apoio bibliográfico. Os resultados do modelo econométrico demonstram que
Brasil e Argentina possuem taxas semelhantes de crescimento na produção de soja, porém o
Brasil obteve uma taxa geométrica de crescimento anual maior das exportações de soja em
grãos 12,12%, enquanto que a taxa geométrica de crescimento das exportações de farelo de soja
e óleo de soja, representaram respectivamente, 1,97% e 1,92%. Enquanto que a Argentina
obteve uma taxa geométrica de crescimento anual das exportações de farelo de soja e óleo de
soja de respectivamente, 7,05% e 6,16%, enquanto que a soja em grãos obteve uma taxa
geométrica menor de crescimento anual das exportações 5,15%. Isso, é resultado de uma taxa
geométrica de esmagamento doméstico maior por parte da Argentina (7,22%), que brasileiro
(3,91%). Por fim, conclui-se que Brasil intensificou as exportações em soja em grãos e
Argentina em farelo de soja e óleo de soja.

Palavras-chaves: Exportações, Complexo Soja, Brasil, Argentina.

Abstract: The objective of this study is to perform a comparative analysis of the export trends
of the soy complex of Brazil and Argentina from 1980 to 2019. To meet the objective, the
econometric growth rate model and the use of bibliographic support will be used as
methodology. The results of the econometric model show that Brazil and Argentina have similar
growth rates in soybean production, but Brazil had a higher annual geometric growth rate of
soybean exports 12.12%, while the geometric growth rate of soybean Soybean meal and
soybean oil exports accounted respectively for 1.97% and 1.92%. While Argentina achieved a
geometric annual growth rate of soybean meal and soybean oil exports of 7.05% and 6.16%
respectively, while grain soybeans had a lower geometric annual growth rate of exports. 5.15%.
This is the result of a higher geometric domestic crush rate on the part of Argentina (7.22%)
than Brazilian (3.91%). Finally, it is concluded that Brazil intensified exports in soybeans and
Argentina in soybean meal and soybean oil.

Keywords: Exports, Soja Complex, Brazil, Argentina.

1Graduada em Ciências Econômicas e mestranda em Agronegócios/UFSM1- maiaratolfo@gmail.com1


2Graduado em Ciências Econômicas, mestre em Planejamento do Desenvolvimento e doutor em Ciências
Agrárias/Docente UFSM2- nilson.costa@ufsm.br2
3 Graduado em Ciências Econômicas mestre e doutor em Extensão Rural /Docente UFSM3-
ambientalgnu@uol.com.br3
4 Graduada em Direito e mestranda em Agronegócios/UFSM3- camyllaweber@gmail.com3

Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-6586
E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
1 Introdução
A soja consolidou-se mundialmente como cultura, alcançando papel de destaque no
cenário internacional a partir da década de 1970, onde obteve relevantes mudanças como o
aumento das áreas cultivadas, ampliação do processo de modernização e reestruturação ao
longo da cadeia produtiva da soja, bem como incrementos na produtividade que resultou no
crescimento da produção e consequentemente da exportação (SILVA, LIMA e BATISTA,
2011). O destaque da soja como cultura nos últimos anos tornou-a principal commodity
comercializada.
Atualmente, no mercado internacional constituem-se como principais produtores e
exportadores os Estados Unidos, Brasil, Argentina e Paraguai, que representaram juntos, na
safra de 2017, 85,27% da produção total e 91,80% das exportações mundiais (USDA, 2018).
Nesse contexto mundial do comércio total do complexo soja, a Argentina consolidou-se nas
exportações de farelo e óleo de soja, e em 2017 configurou-se com 48,58% e 47,91%,
consecutivamente, do mercado e apenas 4,77% das exportações em soja em grão. Já o Brasil
alcançou 42,85% das exportações de soja em grãos no comércio do complexo soja, enquanto
que no comércio do farelo de soja 21,34% e no óleo de soja 11,04%, evidenciando posições
antagônicas.
Brasil e Argentina representam duas economias sensíveis aos choques externos e
internos, e refletem uma trajetória árdua e parecida de contornar as dificuldades encontradas
por ambos país nos consecutivos governos. Sob tal complexidade, é possível entender que as
dificuldades da economia doméstica aliada aos desequilíbrios da economia global foram
impulsionadoras das diversas medidas adotadas pelos sucessivos governos, e que refletiram
setorialmente de maneira distinta para Brasil e Argentina (SOUZA e PREVIDELLI (2015);
ANGELIS et al (2013); NEUTZLING JR. (2008); STIGLITZ (2003); AFONSO et all. (2016)).
Para isso o estudo se propõe a realizar uma análise comparada das exportações do
Complexo Soja de Brasil e Argentina e para atender ao objetivo do estudo será utilizado como
metodologia o modelo econométrico de taxa de crescimento e a utilização de apoio
bibliográfico. Com o propósito de possibilitar uma melhor organização e leitura, o trabalho foi
dividido em capítulos. No capítulo dois apresenta-se a revisão bibliográfica com uma breve
contextualização da evolução das exportações do complexo soja no Brasil e na Argentina. Na
sequência, o capítulo três aborda a metodologia da pesquisa, e no capítulo quatro expõem-se os
resultados e discussões. Por fim, no capítulo 5 apresenta-se as conclusões do estudo e no
capítulo 6 as referências bibliográficas utilizadas

2 Referencial teórico e bibliográfico


2.1 Trajetórias econômicas de Brasil e Argentina

Ao final da década de 1980, a grande maioria dos países da América Latina passava por
graves e semelhantes desequilíbrios econômicos, caracterizado por inflação descontrolada,
elevada dívida externa, elevados déficits nas contas públicas, elevadas taxas de desemprego,
elevado endividamento externo, quedas significativas nos volumes investidos pelos governos,
pessimismo aos agentes econômicos e inúmeras dificuldades que surgiam com a crise
(NEUTZLING JR., (2008); SOUZA; PREVIDELLI (2015)). Dado este contexto, as economias
latino-americanas foram alvo de críticas o que dificultava a continuidade de tais países em um
quadro econômico internacional (SOUZA; PREVIDELLI, 2015).
Em 1990, diante do contexto mundial de dificuldades econômicas, Argentina e Brasil,
assim como os demais países da América Latina passavam pelas mesmas dificuldades, e
buscavam alternativas para reduzir os impactos da crise na economia (SOUZA; PREVIDELLI,
2015). Para tentar superar a crise, surgiu uma recomendação internacional elaborada pelo
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economista norte-americano John Williamson, o qual aconselhava um conjunto de políticas
econômicas a serem adotadas pelas nações em desenvolvimento por instituições sediadas na
capital norte-americana, este conjunto de políticas ficou conhecida como o Consenso de
Washington (NEUTZLING JR., 2008).
O ideário que persistiu neste consenso, resultou em um novo perfil da estrutura
produtiva doméstica das nações em desenvolvimento. Após esse período, Brasil e Argentina
iniciaram um processo de tentativa de reestabelecimento da economia, e operaram com os mais
diversos planos para reduzir inflação e aumentar o crescimento produtivo. Esses planos
políticos resolviam em curto prazo, mas a longo prazo agravavam as crises. (NEUTZLING JR.,
2008). Assim nos anos seguintes, a superação do neoliberalismo aliado a dificuldades do plano
de conversibilidade da moeda e as subsequentes crises, levou a implosão de mais uma crise em
2001 e 2002, e nos anos seguintes deu início a um novo ciclo de transição do desenvolvimento
argentino, voltada para transformar o modelo de desenvolvimento a partir de mudanças nas
formas institucionais e no regime monetário, que compõem o modo de regulação, que
consequentemente condicionam os sistemas de produção e consumo (ANGELIS et al, 2013). E
a partir daí, inicia-se uma nova era para a economia Argentina.
No Brasil, no final de 1980 e início de 1990, foi marcado por várias tentativas
fracassadas de combate à inflação: O Plano Cruzado em 1986 o Plano Bresser em 1987, o Plano
Verão em 1989 e o Plano Collor em 1990, que permitiram lições que ajudaram na elaboração
do Plano Real em 1994. O Plano Real foi um programa de estabilização macroeconômica que,
apesar da desaceleração da economia e do aumento da pressão inflacionária permaneceu em
um sucesso incontestável de longo prazo de estabilidade de preços. Com esse pano de fundo,
que em 1990 o Brasil adotou um programa de reforma estrutural, que compreendia reforma do
governo, nova política comercial e financeira com clara performance de liberalização, redução
do aparato estatal, reforma tributária e um programa de privatização com envolvimento do
sistema financeiro (AFONSO et all., 2016). O Plano real foi um experimento bem-sucedido na
estabilização da economia brasileira, auxiliando na queda da inflação, taxa de juros altas e taxa
de câmbio sobrevalorizada, o que refletiu na estabilidade dos preços e atrair capital externo
(AFONSO et all., 2016).
As premissas apontadas até então, apresentam duas economias sensíveis aos choques
externos e internos, e refletem uma trajetória árdua e parecida de contornar as dificuldades
encontradas por ambos país nos consecutivos governos. Sob tal complexidade, é possível
entender que as dificuldades da economia doméstica aliada aos desequilíbrios da economia
global foram impulsionadoras das diversas medidas adotadas pelos sucessivos governos, e que
refletiram setorialmente de maneira distinta para Brasil e Argentina.

3 Metodologia
Com o objetivo de identificar os componentes de tendência nas séries de produção,
exportações, esmagamento, consumo doméstico e importação do farelo de soja, óleo de soja e
soja em grão para Brasil, Argentina, Estados Unidos e China, foram coletados dados no US
Department of Agriculture (USDA) para o período de 1990 a 2019 e realizado um modelo
econométrico de taxa de crescimento log-linear proposto por Santana (2003) e Gujarati (2006).
A tendência de crescimento pode ser obtida por meio da equação 1:

𝑙𝑛𝑃𝑡𝑖 = 𝛼 + 𝛽1 𝑇𝑒𝑛𝑑 + 𝜀 (1)

Em que:
𝑙𝑛𝑃𝑡𝑖 é o logaritmo natural das exportações do país (Brasil, Argentina) no tempo t, sendo i =
farelo de soja, óleo de soja e soja em grão;

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𝛼 é a constante da regressão;
𝛽1é o coeficiente associado à tendência (𝑇𝑒𝑛𝑑), cujo antilogaritmo representa o crescimento
médio em termos percentuais, no valor do 𝑃𝑡𝑖 , para cada aumento de uma unidade no variável
tempo.
𝑇𝑒𝑛𝑑 é o coeficiente de tendência da regressão
𝜀 é o termo de erro aleatório;
Para o teste F, utilizado como critério de significância estatística do resultado
econométrico, adotou-se o nível de probabilidade de 5%.
Realizou-se o cálculo do antilogaritmo do coeficiente b, subtraído de 1(um) para obter
a taxa média de crescimento (r) da série, apresentado pelas equações 2 e 3 e orientações
metodológicas contidas em Santana (2003) e Porter (2011):

𝑟 = [(𝑒)𝑏 ] − 1 (2)

𝑟 = [(2,718281828459045235360287)𝑏 ] − 1 (3)

O coeficiente de determinação, também chamado R² foi calculado a partir do Método


dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e utilizado para estimar o grau de ajustamento da
reta de regressão. Por fim, realizou-se o teste de raiz unitária Dickey-Fuller Aumentado (ADF)
utilizado para verificar se uma série temporal é ou não estacionária (SANTANA, 2003).

4 Resultados
4.1 Análise das tendências de exportações de Brasil e Argentina

A soja e seus derivados são a commodity agrícola mais negociada, e respondem por
mais de 10% do valor total do comércio agrícola global (USDA, 2016). O comércio global de
soja e produtos de soja aumentou rapidamente desde o início da década de 1990 e, em 2008/09,
superou o comércio mundial de trigo e grãos totais grosseiros. Além disso, a renda dos países
em desenvolvimento cresceu nas últimas décadas, o que reflete na ampliação do consumo de
alimentos, e consequentemente na necessidade de mais produtos e derivados da soja
(RICHARDSON, 2008).
Devido ao aumento da demanda mundial e a dependência da renda desse mercado, os
países buscam cada vez mais ampliar a produtividade no objetivo de alcançar novos mercados.
Dentro desta ótica, Brasil e Argentina são países que ao longo dos anos se tornaram referência
no mercado da soja, devido à forte participação no comércio internacional. E, apesar de, ambos
os países produzirem soja, os mesmos se organizaram de maneiras diferentes para o mercado
internacional. Essa diferença pode ser vista na figura 1, figura 2 e figura 3, quando comparadas
demonstram que Brasil intensificou as exportações em soja em grãos, enquanto que Argentina
em óleo e farelo de soja. Os dados das exportações do complexo soja mostrados nas figuras 1
e 3 são melhores representados pelo ajuste de curva quadrática e para a figura 2 o ajuste de
curva linear, pois representa maior aproximação dos dados e obtém um R² próximo a 1. Os
modelos econométricos expostos nos quadros 1, 2 e 3 foram melhores representados pelo ajuste
de curva linear, pois representa a maior aproximação dos dados de exportação do complexo
soja.
A Figura 1, mostra as exportações de soja em grãos no Brasil e Argentina nas safras de
1989/90 a 2017/18. Observa-se que houve um crescimento maior das exportações do Brasil,
enquanto que a Argentina manteve-se constante nas exportações.
Analisando-se a Figura 1, no ano/safra de 1989/1990 as exportações brasileiras de soja
em grão foram de 3.933 (1000MT) e no ano/safra de 2017/2018 alcançou 72.300 (1000MT).
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Na Argentina no ano/safra 1980/1990 as exportações de soja em grão foram de 2.968 (1000MT)
enquanto que no ano safra de 2017/2018, foram de 8.000 (1000MT). Essa estrutura de
exportações da soja em grãos consolidada no comércio internacional, encontra-se com os
estudos dos autores Figueiredo e Santos (2005), uma vez que estes revelam que, nas
exportações de soja em grãos, o Brasil concorre com os Estados Unidos no comércio
internacional, enquanto que nos derivados de óleo e farelo de soja, concorre com a Argentina.
Figura 1 - Exportação de Soja em Grão no Brasil e Argentina: 1989/90 a 2017/18 em 1000MT
Elaboração própria com base em USDA (2018)

80.000
y = 92,052x2 - 591,08x + 5355,6
70.000 R² = 0,9798

60.000
50.000
40.000
30.000
20.000 y = -14,909x2 + 714,42x - 16,852
R² = 0,5294
10.000
0
1992/1993

2009/2010
1989/1990
1990/1991
1991/1992

1993/1994
1994/1995
1995/1996
1996/1997
1997/1998
1998/1999
1999/2000
2000/2001
2001/2002
2002/2003
2003/2004
2004/2005
2005/2006
2006/2007
2007/2008
2008/2009

2010/2011
2011/2012
2012/2013
2013/2014
2014/2015
2015/2016
2016/2017
2017/2018
2018/2019
Argentina Brasil Polinomial (Argentina) Polinomial (Brasil)
Elaboração própria com base em USDA (2018)

A Figura 2 revela as exportações brasileiras e argentinas de farelo de soja no período de


1989/90 a 2017/18. Observa-se que houve um crescimento maior das exportações de farelo de
soja por parte da Argentina, enquanto que no Brasil ocorreu um crescimento moderado.
Explorando-se a Figura 2, é possível identificar que no ano/safra de 1989/1990 as
exportações brasileiras de farelo de soja foram de 8.201 (1000MT) e no ano/safra de 2017/2018
foram de 15.500 (1000MT). Enquanto que na Argentina no ano/safra 1980/1990 as exportações
de farelo de soja foram de 4.004 (1000MT) e no ano safra de 2017/2018 alcançou 30.500
(1000MT), determinando uma expansão das exportações de farelo de soja por parte da
Argentina.
A Figura 3 mostra as exportações de óleo de soja no Brasil e Argentina nas safras de
1989/90 a 2017/18. Observa-se que houve um crescimento maior das exportações de óleo de
soja por parte da Argentina, enquanto que o Brasil manteve-se constante nas exportações.
Analisando-se a Figura 3, no ano/safra de 1989/1990 as exportações brasileiras de óleo
de soja foram de 660 (1000MT) e no ano/safra de 2017/2018 foram 1.480 (1000MT). Na
Argentina no ano/safra 1980/1990 as exportações de óleo de soja foram de 1.122 (1000MT) e
no ano safra de 2017/2018 alcançou 4.675 (1000MT).

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Figura 2 - Exportação de Farelo de Soja no Brasil e Argentina: 1989/90 a 2017/18 em 1000MT
35.000
y = 1010,1x + 2815,5
30.000 R² = 0,9421

25.000

20.000

15.000
y = 228,36x + 8696,4
10.000 R² = 0,782
5.000

0
1989/1990
1990/1991
1991/1992
1992/1993
1993/1994
1994/1995
1995/1996
1996/1997
1997/1998
1998/1999
1999/2000
2000/2001
2001/2002
2002/2003
2003/2004
2004/2005
2005/2006
2006/2007
2007/2008
2008/2009
2009/2010
2010/2011
2011/2012
2012/2013
2013/2014
2014/2015
2015/2016
2016/2017
2017/2018
2018/2019
Argentina Brasil Linear (Argentina) Linear (Brasil)

Elaboração própria com base em USDA (2018)

Figura 3 - Exportação de Óleo de Soja no Brasil e Argentina: 1989/90 a 2017/18 em 1000MT

6.000 y = -8,922x2 + 426,97x - 120


R² = 0,8441
5.000

4.000

3.000

2.000

1.000
y = -6,6745x2 + 216,44x + 305,6
R² = 0,6195
0
2015/2016
1990/1991
1991/1992
1992/1993
1993/1994
1994/1995
1995/1996
1996/1997
1997/1998
1998/1999
1999/2000
2000/2001
2001/2002
2002/2003
2003/2004
2004/2005
2005/2006
2006/2007
2007/2008
2008/2009
2009/2010
2010/2011
2011/2012
2012/2013
2013/2014
2014/2015

2016/2017
2017/2018

Argentina Brazil Polinomial (Argentina) Polinomial (Brazil)


Fonte: Elaboração própria com base em USDA (2018)

Enquanto a soja em grão brasileira contabilizada em 2017 representou 42,79% das


exportações totais do produto, o Farelo de soja representou apenas 21,33% e o óleo de soja
11,3%. Essa situação mostra que o Brasil destina a maior parte de seu produto para exportação
in natura, em detrimento das exportações de processados como o óleo de soja e o farelo de soja.
Na Argentina, enquanto que o farelo de soja contabilizado em 2017 representou 48,56% e o
óleo de soja 47,86% do total das exportações, a soja em grão representou apenas 4,76%. Estes

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aspectos, determinam o país como exportador principalmente de processados, enquanto que a
soja in natura é parte pequena desse mercado (USDA, 2018).
A figura 1, 2 e 3 demonstram o quanto Brasil e Argentina ampliaram suas exportações
no período analisado, e evidenciaram posições antagônicas. Assim, torna possível a busca e
análise das políticas econômicas que intensificaram as exportações de soja em grão no Brasil e
óleo e farelo de soja na Argentina.

4.2 Regressão simples: taxa de crescimento log-linear

O objetivo dessa seção é apresentar as taxas médias de crescimento log-linear das


variáveis estudadas ao longo da dissertação e dessa forma, conectá-las com os gráficos e
mostrar o teste de estacionariedade das séries históricas analisadas. No quadro 1, apresenta-se
os resultados do teste de estacionariedade, Dickey e Fuller Aumentado, das séries históricas
analisadas do Brasil e da Argentina no período de 1990 a 2019.
O teste de raiz unitária permite identificar a existência ou não de estacionariedade em
cada variável, tanto em nível quanto com a aplicação da diferenciação nas séries (SANTANA,
2003). Para as variáveis que possuem raiz unitária, não estacionárias, apresenta-se o quadro 1
com a ordem de integração. Efetuando-se a diferença nas séries, a tendência temporal é
eliminada. As exportações de soja brasileiras são estacionárias em nível, com intercepto. A
produção de soja na Argentina é estacionária em nível, com tendência e intercepto e as demais
variáveis apresentaram-se estacionárias na primeira diferença I (1) com intercepto.

Quadro 1 - Teste de estacionariedade, Dickey e Fuller Aumentado, das séries históricas analisadas no
período de 1990 a 2019
Série Histórica Estatística t Prob. Ordem de integração
Produção de Soja no Brasil -7,1001 2,1604 I (1), com intercepto
Quantidade esmagada de soja no Brasil -6,1633 0,0000 I (1), com intercepto
Consumo doméstico no Brasil -5,9339 0,0000 I (1), com intercepto
Exportações de Soja em grãos no Brasil 3,9579 1,0000 Nível, com intercepto
Produção de Soja na Argentina -3,9884 0,0207 Nível, com tendência e intercepto
Quantidade esmagada de soja na Argentina -5,8833 0,0000 I (1), com intercepto
Exportações de Soja em grãos na Argentina -9,7059 0,0000 I (1), com intercepto
Exportações de Farelo de Soja no Brasil -6,5482 0,0000 I (1), com intercepto
Exportações de Farelo de Soja na Argentina -5,2344 0,0002 I (1), com intercepto
Exportações de Óleo de Soja no Brasil -4,9938 0,0004 I (1), com intercepto
Exportações de Óleo de Soja na Argentina -4,7290 0,0008 I (1), com intercepto
Fonte: Elaboração própria (USDA, 2018)

Para tanto o quadro 2 apresenta a taxa média de crescimento log-linear para o farelo de
soja, óleo de soja e soja em grãos no Brasil e na Argentina no período de 1990 a 2019.
Observando-se o quadro, pode-se identificar através da equação de regressão log-linear, a qual
considera a relação entre a variável ano/safra x exportações de soja em grão no período, que o
Brasil possui um R2 de 0,9558, e a taxa de crescimento anual das exportações de soja em grão
foi de 12,12%, enquanto a Argentina possuí um R2 de 0,455 e uma taxa de crescimento anual
das exportações de soja em grão em 5,15%. Dentro do período de análise, a diferença nas taxas
de crescimento dos dois países, demonstram o nível de expansão nas exportações de soja em
grãos por parte do Brasil.
Enquanto a relação entre a variável ano/safra x exportações de farelo de soja, o Brasil
possui um R2 de 0,7681, e que a taxa de crescimento anual das exportações de farelo de soja
foi de 1,97% e a Argentina possuí um R2 de 0,8923 e uma a taxa de crescimento anual das
exportações de farelo de soja de 7,05%. Neste período de análise, a diferença na taxa de
crescimento das exportações de farelo de soja no Brasil e na Argentina evidenciam a maior
expansão de processados por parte da Argentina. Da mesma forma ocorre para o óleo de soja,
ao observar a equação de regressão log-linear, que considera a relação entre a variável ano/safra
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x exportações de óleo de soja, que o Brasil possui um R2 de 0,193 e a taxa de crescimento anual
das exportações de óleo de soja foi de 1,92%, e a, Argentina possuí um R2 foi de 0,7662, e a
taxa de crescimento anual das exportações de óleo de soja foi de 6,16%.
Com uma taxa de crescimento anual aproximada maior por parte da Argentina nas
exportações de farelo de soja (7,05%) e óleo de soja (6,16%), e do Brasil nas exportações de
soja em grão (12,12%), identifica-se que ambos os países se preocuparam em produzir e
exportar produtos sojícolas.
O mesmo quadro apresenta a equação de regressão log-linear, que considera a relação
entre a variável ano/safra x produção e ano/safra x esmagamento, o Brasil possui na produção
um R2 de 0,9795 e uma taxa de crescimento anual de 6,90%, e no esmagamento possui um R²
de 0,9646 e uma taxa de crescimento anual de 3,91%. nas exportações de soja em grãos um R²
de 0,9558 e uma taxa de crescimento anual de 12,12%. Quando comparadas com as exportações
de soja em grãos brasileiras, verifica-se que o esmagamento obteve o menor crescimento entre
as três variáveis e dessa forma, Brasil tem tido uma expansão ao longo do período na produção
e consequentemente na exportação de soja em grãos. Com uma taxa geométrica de crescimento
anual maior nas exportações (12,12%) e menor no esmagamento doméstico (3,91%), conclui-
se que o Brasil destina a soja em grãos principalmente para o comércio internacional, e uma
parcela menor para esmagamento doméstico.

Quadro 2 - Taxa média de crescimento log-linear para o farelo de soja, óleo de soja e soja em grãos no
Brasil e na Argentina no período de 1990 a 2019
Resultados Econométricos Antilogaritmo do Análise de tendência e Taxa
coeficiente 𝒃 geométrica de crescimento
SOJA EM GRÃOS
BRASIL
𝑙𝑛 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜𝑆𝑜𝑗𝑎𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙 𝑖 = 9,805974 + 0,0667𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,0667 ] − 1 = 6,90% Crescente. Taxa geométrica de
2
𝑅 = 0,979545; 𝐹 = 1389,759 crescimento: 6,90% a.a.
𝑙𝑛 𝐸𝑠𝑚𝑎𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑆𝑜𝑗𝑎𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙 𝑖 = 9,637715 + 0,0383𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,0383 ] − 1 = 3,91% Crescente. Taxa geométrica de
2
𝑅 = 0,964657; 𝐹 = 792,5340 crescimento: 3,91% a.a.
𝑙𝑛 𝐶𝑜𝑛𝑠𝐷𝑜𝑚𝑒𝑠𝑡𝑆𝑜𝑗𝑎𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙 𝑖 = 9,722349 + 0,037603𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,03760 ] − 1 = 3,83% Crescente. Taxa geométrica de
2
𝑅 = 0,962965; 𝐹 = 755,0410 crescimento: 3,83% a.a.
𝑙𝑛 𝐸𝑥𝑝𝑆𝑜𝑗𝑎𝐺𝑟ã𝑜𝑠𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙 𝑖 = 8,059189 + 0,1143𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,1143 ] − 1 = 12,12% Crescente. Taxa geométrica de
2
𝑅 = 0,955918; 𝐹 = 629,8621 crescimento: 12,12% a.a.
ARGENTINA
𝑙𝑛 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜𝑆𝑜𝑗𝑎𝐴𝑟𝑔𝑒𝑛𝑡𝑖𝑛𝑎 𝑖 = 9,303756 + 0,0653𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,06539 ] − 1 = 6,76% Crescente. Taxa geométrica de
𝑅 2 = 0,854885; 𝐹 = 171,8416 crescimento: 6,76% a.a.
ln 𝐸𝑠𝑚𝑎𝑔𝑎𝑚𝑆𝑜𝑗𝑎𝐴𝑟𝑔𝑒𝑛𝑡𝑖𝑛𝑎 𝑖 = 8,939707 + 0,0696𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,0696 ] − 1 = 7,22% Crescente. Taxa geométrica de
𝑅 2 = 0,913570; 𝐹 = 307,5303 crescimento: 7,22% a.a.
𝑙𝑛 𝐸𝑥𝑝𝑆𝑜𝑗𝑎𝐺𝑟ã𝑜𝑠𝐴𝑟𝑔𝑒𝑛𝑡𝑖𝑛𝑎 𝑖 = 7,857658 + 0,0501𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,0501 ] − 1 = 5,15% Crescente. Taxa geométrica de
𝑅 2 = 0,435530; 𝐹 = 23,37562 crescimento: 5,15% a.a.
FARELO DE SOJA
BRASIL
𝑙𝑛 𝐸𝑥𝑝𝐹𝑎𝑟𝑒𝑙𝑜𝑆𝑜𝑗𝑎𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙 𝑖 = 9,111229 + 0,01951𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,0195 ] − 1 = 1,97% Crescente. Taxa geométrica de
𝑅 2 = 0,759808; 𝐹 = 92,73678 crescimento: 1,97%
ARGENTINA
𝑙𝑛 𝐸𝑥𝑝𝐹𝑎𝑟𝑒𝑙𝑜𝑆𝑜𝑗𝑎𝐴𝑟𝑔𝑒𝑛𝑡𝑖𝑛𝑎 𝑖 = 8,672543 + 0,0680𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,0680 ] − 1 = 7,05% Crescente. Taxa geométrica de
2
𝑅 = 0,888466; 𝐹 = 232,0098 crescimento: 7,05% a.a.
ÓLEO DE SOJA
BRASIL
𝑙𝑛 Ó𝑙𝑒𝑜𝑆𝑜𝑗𝑎𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙 𝑖 = 7,020129 + 0,0190𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,0190 ] − 1 = 1,92% Crescente. Taxa geométrica de
𝑅 2 = 0,169556; 𝐹 = 6,921065 crescimento: 1,92% a.a.
ARGENTINA
𝑙𝑛 Ó𝑙𝑒𝑜𝑆𝑜𝑗𝑎𝐴𝑟𝑔𝑒𝑛𝑡𝑖𝑛𝑎 𝑖 = 7,169769 + 0,0597𝑡 𝑖 𝑟 = [(𝑒)0,0597 ] − 1 = 6,16% Crescente. Taxa geométrica de
𝑅 2 = 0,757876; 𝐹 = 91,77338 crescimento: 6,16% a.a.
Fonte: Elaboração própria (USDA, 2018)

Através da equação de regressão log-linear que considera a relação entre a variável


ano/safra x produção, esmagamento e exportações de soja em grão no período, a Argentina
possui na produção um R2 de 0,8549, e que a taxa geométrica de crescimento anual da produção

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de soja em grão foi de 6,76%. O esmagamento doméstico obteve um R2 de 0,9136 e uma taxa
de crescimento anual de 7,22%, enquanto as exportações de soja obtiveram um R² de 0,455 e
uma taxa de crescimento anual de 5,15%, representando desta forma que o esmagamento obteve
o maior crescimento entre as três variáveis. Com uma taxa geométrica de crescimento anual
maior no esmagamento doméstico (7,22%) e menor nas exportações (5,15%), conclui-se que a
Argentina destina a soja em grãos principalmente para o comércio interno de esmagamento, e
uma parcela menor para as exportações de soja em grãos.
Analisando-se o quadro de forma comparada de Brasil e Argentina, a diferença na taxa
de crescimento da quantidade esmagada de soja em grãos no Brasil (3,91%) e na Argentina
(7,22) evidenciam a maior expansão de processados por parte da Argentina.

5 Conclusões
A inclusão crescente da América Latina nos mercados internacionais de alimentos levou
a importantes e positivas mudanças como a incorporação da soja como principal produto
comercializado, e assim ao longo das últimas décadas, a soja tornou-se a principal atividade
agropecuária no Brasil e na Argentina, em termos territoriais e econômicos comerciais.
Brasil e Argentina obtiveram importantes ganhos com a produção de soja, no entanto
apesar das semelhanças nas trajetórias econômicas, os dois países constituíram-se distintamente
sobre o comércio internacional, onde o Brasil intensificou as exportações em soja em grãos e a
Argentina impulsionou o processamento doméstico, e dessa forma a exportação principalmente
de farelo de soja e óleo de soja.
Os resultados do modelo econométrico demonstram que Brasil e Argentina possuem
uma taxa de geométrica de crescimento semelhantes na produção de soja, onde Brasil obteve
uma taxa de 6,90% no período e Argentina 6,76%. No entanto, Brasil intensificou as
exportações em soja em grãos e Argentina em farelo de soja e óleo de soja, onde Brasil obteve
uma taxa média de crescimento anual das exportações de soja em grãos de 12,12%, enquanto
que as a taxa geométricas de crescimento das exportações de farelo de soja e óleo de soja,
representaram respectivamente, 1,97% e 1,92%. Enquanto que a Argentina obteve uma taxa
média de crescimento anual das exportações de farelo de soja e óleo de soja de respectivamente,
7,05% e 6,16%, enquanto que a soja em grãos obteve uma taxa geométrica de crescimento anual
das exportações de 5,15%. Isso, é resultado de uma taxa geométrica de esmagamento doméstico
maior por parte da Argentina (7,22%), que brasileiro (3,91%).

6 Agradecimentos
Agradecimento ao apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES).

7 Referências

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As cadeias agroalimentares curtas: com ênfase nos consumidores
Short agri-food chains: with an emphasis on consumers
Carolina de Mattos Nogueira1, Paloma de Mattos Fagundes2, Luciana Fagundes Christofari3,
João Pedro Velho4

Resumo
As cadeias agroalimentares curtas estão diretamente relacionadas aos mercados da agricultura familiar, cuja lógica
é permitir uma conexão com maior interatividade, fundamentada nas relações de confiança mútua. A crescente
demanda por esses produtos também está fortemente relacionada ao aumento da exigência dos consumidores,
preocupação com a qualidade dos alimentos e com os impactos da agricultura sobre o meio ambiente. Entender o
comportamento desses consumidores é fundamental para que o produtor possa oferecer exatamente o que eles
querem. Esta revisão insere-se nesse debate e tem por objetivo fazer uma trajetória referente ao surgimento das
cadeias agroalimentares curtas, com enfoque principal nos desejos e motivações dos consumidores. Percebe-se
nos estudos considerados que o consumidor está disposto a pagar mais pelo produto a fim de receber uma
mercadoria com maior qualidade, onde a sustentabilidade estabelece grande importância. Outros fatores
importantes são o contato direto com o produtor, a construção de lealdade e confiança, a acessibilidade e a
integração com a comunidade local.
Palavras-chave: cadeias agroalimentares curtas, comportamento do consumidor, benefícios

Abstract
The short agri-food chains are directly related to the markets of the familiar agriculture, whose logic is to allow
a connection with greater interactivity, based on the relations of mutual trust. The growing demand for these
products is also strongly linked to increased consumer demand, concerns about food quality and the impacts of
agriculture on the environment. Understanding the behavior of these consumers is critical so the producer can
deliver exactly what they want. This review is part of this debate and aims to make a trajectory referring to the
emergence of short agro-food chains, with a focus on the desires and motivations of consumers. It can be seen in
the studies considered that the consumer is willing to pay more for the product in order to receive a higher quality
merchandise, where sustainability is of great importance. Other important factors are direct contact with the
producer, building loyalty and trust, accessibility and integration with the local community.
Keywords: short agri-food chains, consumer behaviour, benefits.

1 Introdução

Nas últimas décadas ocorreram grandes mudanças na produção e qualidade dos


alimentos. O processo de industrialização foi intensificado a fim de aumentar a produtividade
em quantidades suficientes para abastecer a demanda vinda da urbanização intensiva. Com isso,
a quantidade superou a qualidade, mudando todo o sistema de produção de alimentos, bem
como suas matérias-primas para tornar os alimentos mais baratos e com maior durabilidade.
Por muito tempo as cadeias agroalimentares tradicionais ganharam destaque, porém,
com o passar dos anos o debate sobre os riscos alimentares vem se ampliando, diante de
sucessivos casos de contaminação de alimentos relacionados à produção industrial em larga
escala, uso de conservantes, corantes, entre outros produtos que disseminam a desconfiança do
consumidor em relação a esse tipo de cadeia agroalimentar.
Por outro lado, a necessidade dos produtores de se diferenciarem e estabelecerem
estratégias para se desenvolverem, criando novas condições para inserir seus produtos nos
mercados locais, ou seja, fora dos mercados tradicionais de commodities, se dá a partir da
identificação de que existem outros modelos de produção a partir da diversificação das
economias locais e que existe demanda para essa fatia de mercado.
_____________________
1
Administradora/Programa de Pós-Graduação em Agronegócios/UFSM – carolina.m.nogueira@hotmail.com
2
Dr.ª em Agronegócios/Universidade Federal de Santa Maria/UFSM – palomattos@gmail.com
3
Dr.ª em Zootecnia/Universidade Federal de Santa Maria/UFSM – luciana_christofari@ufsm.br
4
Dr. em Zootecnia/Universidade Federal de Santa Maria/UFSM – velhojp@ufsm.br

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Diante deste contexto de consumo contemporâneo e emergente surgem as redes
agroalimentares alternativas e as cadeias curtas de suprimento, aproximando e criando vínculos
entre produtores e consumidores. As cadeias agroalimentares curtas estão diretamente
relacionadas aos mercados da agricultura familiar, ao processo de produção e comercialização
de produtos agropecuários, cuja lógica é permitir uma conexão com maior interatividade,
fundamentada nas relações de confiança mútua.
A crescente demanda por esses produtos também está fortemente relacionada ao
aumento da exigência dos consumidores, preocupação com a qualidade dos alimentos e com os
impactos da agricultura sobre o meio ambiente. Entender o comportamento desses
consumidores destaca-se como uma ferramenta fundamental para que o produtor possa inteirar-
se do que seus clientes desejam e assim oferecer exatamente o que eles querem, identificando
suas necessidades para que possam ser satisfeitas com soluções que estejam de acordo com essa
mudança de hábitos.
Concernente ao exposto, esta revisão insere-se nesse debate e tem por objetivo, aos
olhos do conhecimento científico, fazer uma trajetória referente ao surgimento das cadeias
agroalimentares curtas, com ênfase principal nos desejos e motivações dos consumidores desse
segmento.

2 Referencial Teórico

21. Cadeias agroalimentares e cadeias alternativas

Entende-se por cadeia agroalimentar uma série de conjuntos interativos que envolvem
os fornecedores de serviços, os insumos e máquinas, os sistemas produtivos, a indústria de
processamento e transformação, a distribuição e o consumo final de alimentos (SOUZA, 1997),
a qual deve ser entendida como um grupo de organizações que executam em conjunto as ações
necessárias para atender a demanda de certos produtos no movimento de bens em toda a cadeia
(KAWECKA; GEBAROWSKI, 2015).
Moraes (2013) destaca ainda, os relacionamentos entre a produção agrícola, as empresas
agroindustriais e de serviços e o ambiente socioeconômico. Onde essas abordagens são
formadas por três grandes segmentos, o segmento “antes da porteira” (fornecedores para a
agricultura), o “dentro da porteira” (produção) e os segmentos “depois da porteira” (empresas
agroindustriais, indústrias de alimentos e as distribuidoras do produto final).
O estudo das cadeias conduz a uma análise de rede, pois, o funcionamento de uma
cadeia supõe a existência de uma série de atividades e instrumentos como a ciência e tecnologia,
regulamentos, leis, decretos, financiamento, mercado de futuro, entre outros (SOUZA, 1997).
Com o aprofundamento do processo de globalização dos mercados e da produção, aumentou
também a competitividade decorrente de uma expansão da escala de produção das indústrias
(MORAES, 2013).
Porém, no contexto atual, ocorreram grandes transformações na produção dos mercados
agroalimentares. Do lado do agricultor, identifica-se a mudança no modo de produção como
parte de um movimento para resistir ao processo de modernização agrícola, onde seus efeitos
são conhecidos como concentração de terra, exclusão da agricultura familiar e intensificação
da migração rural-urbana, tais movimentos foram apoiados por organizações religiosas e da
sociedade civil (DAROLT et al., 2016).
Relacionado ao consumidor, nessa nova dinâmica de mercado, existe um movimento de
mudança do padrão de consumo agroalimentar da sociedade, que se desloca de um padrão
industrial e de produção em massa, para um padrão mais doméstico, onde os critérios de
qualidade e de escolha por parte dos consumidores fornece espaço para o surgimento de
organizações alternativas (GOODMAN, 2003).

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Nos últimos anos, muitos estudos (FERRARI, 2011; GOODMAN, 2003; PLOEG et.
al., 2012) têm procurado entender a natureza de funcionamentos destas redes alimentares
alternativas e suas peculiaridades em relação a diferentes regiões e diferentes países. Sendo
plausível assumir que tais cadeias alternativas podem ser bem-sucedidas ao superar a perda de
confiança dos consumidores modernos na provisão dos sistemas de alimentos (GIAMPIETRI
et al. (2017).
Alguns estudos questionam as possibilidades e limitações das redes alternativas para
superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores. Outros, discutem as
possibilidades de as populações mais vulneráveis terem acesso à alimentação de qualidade via
circuitos curtos (DAROLT et al. 2016).
Sendo assim, é importante compreender empiricamente como estas novidades se
alinham formando, por exemplo, os novos circuitos e mercados em que ocorre a venda dos
produtos e alimentos. Nesse sentido, é importante investigar como as chamadas cadeias
agroalimentares curtas são construídas, se desenvolvem e como ganham espaço no ambiente,
evoluindo para além das práticas técnicas e produtivas das famílias no interior de suas unidades
(GAZOLLA, 2012).

2.2 Cadeias agroalimentares curtas

As cadeias agroalimentares curtas representam a interação da agricultura familiar com


a dinâmica local do desenvolvimento e remetem a formas de comercialização que expressam
proximidade entre produtores e consumidores, não necessariamente no aspecto espacial, mas a
uma espécie de conexão que permita provocar interatividade, facilitando que ambos conheçam
os propósitos um do outro (SCARABELOT; SCHNEIDER, 2012). Em outras palavras,
próxima não apenas no sentido físico, mas no de um conjunto de valores e significados que os
interligam e os conectam (MATTE et al. 2016).
Kawecka e Gebarowski (2015) afirmam que falta uma definição da "cadeia de
fornecimento curta”, salientando que em uma pequena cadeia de suprimentos possui um
máximo de um intermediário entre o produtor e o consumidor final. Marsden et al. (2000)
apresentam um conceito mais remoto, caracterizando-a na conexão direta entre produtores e
consumidores. Onde uma das principais características é a capacidade dessas em ressocializar
ou reespacializar um determinado alimento a partir do âmbito local, permitindo ao consumidor
associar juízos de valor com base no seu próprio conhecimento ou experiência (MARSDEN et
al., 2000; RENTING et al., 2003).
Conforme Schneider e Ferrari (2015) essas são as características chaves que dão
identidade a cadeias curtas. Esse processo de eliminação da intermediação ao longo da cadeia
insere-se na lógica em que produtores buscam recuperar algum controle sobre suas vendas e
reter um preço de venda cheio e os consumidores possam de alguma forma participar da
qualificação do alimento que estão comprando.
Segundo goodman (2003), os debates em torno dessas cadeias representam uma
resposta crítica aos grandes circuitos produtivos e às próprias crises e escândalos alimentares.
Assim, a construção das mesmas está fortemente relacionada com o modo de produção
alimentar, consistindo em uma fonte específica de alimentos de qualidade (MATTE et al.,
2016).
Além do critério de qualidade, podem ser consideradas em regionais/artesanais e
ecológicas/naturais e, também, classificadas em três tipologias, as de face a face, de
proximidade espacial e espacialmente estendida (MARSDEN et al., 2000). Kawecka e
Gebarowski (2015) estabelecem outras formas de tipos de venda, como por exemplo o mercado
sazonal de agricultores e as cooperativas de consumo com base em uma cooperação direta.

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Um dos aspectos centrais e decisivos na organização das cadeias curtas refere-se à
redefinição e mesmo à construção das relações com os mercados. Não há cadeia curta sem que
ocorra o estreitamento das distâncias e dos contatos entre produtores e consumidores. Logo, a
análise feita com os mesmos de como se dá esse processo de construção de mercados passa a
ser essencial para a afirmação e fortalecimento das cadeias curtas. (GOODMAN, 2003).

3 Procedimentos Metodológicos

Esta revisão possui abordagem qualitativa, a qual fora utilizada ao trabalhar com o
universo de significados, motivos, crenças e valores, correspondendo a um espaço mais intenso
das relações e dos processos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis
(MINAYO, 2007).
Enquadrou-se em um estudo exploratório, onde o mesmo permitiu que os investigadores
aumentassem sua experiência em torno de determinado problema (TRIVIÑOS, 1987). Para
tanto, no que se refere aos procedimentos técnicos, a fase exploratória assumiu a forma de
pesquisa bibliográfica. Utilizou-se esse tipo de pesquisa com o objetivo de reunir informações
relevantes sobre o estado da arte, referente ao tema proposto: cadeias agroalimentares curtas e
consumidores.
O levantamento bibliográfico foi realizado a partir da análise de fontes secundárias,
obtidas em livros e artigos disponíveis buscados em periódicos e em sites que são referências
no assunto. Sendo assim, a pesquisa bibliográfica serviu como um apanhado geral sobre os
principais trabalhos já realizados, sendo importantes por fornecerem dados atuais e relevantes
relacionados com o tema, representando uma fonte indispensável de informações (MARCONI;
LAKATOS, 2002).
Após a seleção do material, o mesmo foi lido, traduzido, analisado, interpretado e
transcrito para a melhor compreensão do leitor acerca do assunto inserido. Contudo, a soma do
material aproveitável coletado proporcionou uma adequação de acordo com as habilidades dos
investigadores, de suas experiências e capacidades de descobrir as contribuições e os indícios
importantes para o presente artigo (MARCONI; LAKATOS, 2002).

4 Resultados e Discussão

4.1 Expansão das cadeias agroalimentares curtas em diferentes países

Segundo informações da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção (SBSP, 2017),


o estimulo a este tipo de produção e comercialização em cadeias curtas começou fora do Brasil.
Nos Estados Unidos os mercados de agricultores possuem espaço há quase duas décadas. Na
União Europeia esse sistema já é trabalhado há dez anos e, em 2013, instituíram o projeto como
uma política de desenvolvimento.
Alguns exemplos, como na Itália, a experiência possui alguma especificidade:
ganharam impulso na década de 1980, porém o maior desenvolvimento foi no final da década
de 1990, auferindo maior expansão em meados dos anos 2000. Existem, na Itália, 947 mercados
de cadeias curtas, onde os principais produtos são frutas e vegetais frescos, azeite, vinho e
produtos lácteos (MARINO et al., 2013).
Por meio do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural, foram definidas como
prioridades o estimulo às cadeias curtas e mercados locais (SBSP, 2017). Porém, segundo
marino et al. (2013) os mercados italianos diferem-se significativamente das experiências
europeias e americanas pois, mostram características relacionadas a um alto nível de
sustentabilidade e qualidade.

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Na França a institucionalização da agricultura de cadeias curtas aconteceu nos anos de
1980 (DAROLT et al., 2016). Segundo os autores, no Brasil muitos dos pioneiros surgiram no
final da década de 1970 e movimentos mais recentes surgiram no país com a institucionalização
da agricultura orgânica e agroecologia, formados por iniciativas de grupos de agricultores
familiares e consumidores organizados com o apoio de organizações não governamentais
(ONGs) e instituições públicas (Ministério do Desenvolvimento Agrário, instituições de
pesquisa, extensão rural, entre outras) (DAROLT et al., 2016).
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) identificou em 2016 cerca de
600 feiras orgânicas/agroecológicas em mais de 130 cidades brasileiras, incluindo 24 capitais
e, atualmente, já são 726 iniciativas disponíveis, espalhadas por todos os estados do país (IDEC,
2017). As feiras do produtor representam os mecanismos de comercialização mais difundidos
no Brasil e é a principal porta de entrada de agricultores ecológicos para o mercado local. As
feiras são espaços educativos e de lazer que permitem grande interação entre produtores e
consumidores, permitindo maior autonomia aos agricultores (DAROLT et al., 2016).
Na Polônia, a agricultura apoiada pela comunidade é uma forma de cooperação que é
relativamente muito mais desafiadora para os consumidores pois, este modelo traz benefícios
mútuos tanto para eles como para agricultores e é derivado da demanda dos consumidores de
alimentos saudáveis e específico da cooperação direta entre clientes e produtores que
começaram a se desenvolver independentemente no Japão na década de 1970 e nos Estados
Unidos na década de 1980. Hoje, os grupos estão espalhados em todos os continentes. O
principal objetivo é criar uma alternativa de distribuição de alimentos independente dos
mercados convencionais (SYLLA et al., 2017).
Outra oportunidade de expansão das cadeias curtas é por meio de políticas públicas, em
especial as que definem a criação de mercados institucionais, o fomento a iniciativas de
cooperativas e produtores e os espaços em centros urbanos para a comercialização, as chamadas
feiras. Destaca-se que a localização dessas estruturas é fundamental para o sucesso dessa
estratégia de comercialização, pois impactam diretamente nos custos do produtor rural e na
logística (acesso ao consumidor) (PIVOTO et al., 2016).
Diante desse contexto, a seguir segue uma exposição dos principais mercados de cadeias
agroalimentares curtas no Brasil e, principalmente, na Europa, referenciando as motivações dos
produtores com ênfase nos benefícios identificados pelos consumidores de tais mercados.

4.2 Comportamento do consumidor das cadeias agroalimentares curtas

Kawecka e Gebarowski (2015) realizaram um estudo em Cracóvia, na Polônia, onde as


entrevistas realizadas durante o mercado ao ar livre mostraram que os fabricantes oferecem
produtos considerando principalmente a condição econômica e a possibilidade de obter maior
participação no preço final do produto, sendo essa a principal motivação, pois assim ganham
mais dinheiro podendo investir no desenvolvimento de suas fazendas produtivas.
Além de benefícios econômicos salientou-se a capacidade de entrar em contato
diretamente com os consumidores, onde tais contatos resultaram em mudanças no modo de
produzir, criando oportunidade de construir sua própria marca e influenciar a imagem da
empresa.
As entrevistas com os clientes revelaram uma série de benefícios: prestam uma atenção
especial na qualidade dos produtos mais elevados, destacando o frescor, melhor sabor, frutas
mais suculentas, proporcionando maiores benefícios para a saúde e valor nutricional, ou seja,
mais saudáveis. Afirmam também, que os agricultores de cadeias curtas não usam tanta
química, confiantes assim à um relacionamento favorável de preços e produtos comprados
principalmente pela sua qualidade, onde afirmam que preferem pagar mais para obter um bom
produto.

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Outra questão detalhada é a possiblidade de contato direto com o agricultor e produtor,
que muitas vezes aconselham a escolha do melhor produto. Os autores concluíram que ao
comprar em uma cadeia de suprimento curta se tem maior certeza em relação a origem do
produto e essa questão causa um impacto positivo na economia local e na manutenção de
vínculos sociais.
Na Itália, Giampietri et al. (2017) concretizaram um estudo para investigar, à luz da
Teoria do Comportamento Planejado (TPB), os determinantes dos hábitos de compra do
consumidor relacionando as cadeias curtas como locais de mercado em vez de mercados
convencionais, objetivando examinar as motivações do consumidor, entender melhor o sucesso
e o crescente número de tais redes agroalimentares alternativas e fornecer informações uteis
sobre o papel da confiança.
Certificaram que geralmente compram alimentos em cadeias curtas como, por exemplo,
mercados de agricultores (46%) ou diretamente em uma fazenda (43%), enquanto o restante
11% preferem outras formas, como os grupos de compras solidárias. Declararam que eles
pessoalmente fazem as compras (61,2%) e compram principalmente vegetais (40,8%) e frutas
(20%). O controle comportamental percebido tem maior efeito sobre a intenção, seguido da
confiança. As opiniões de outros consumidores são positivas em relação às cadeias curtas, ou
seja, as referências sociais, como de familiares, amigos, o chamado marketing boca a boca são
fatores que influenciam a decisão desse público.
A autora conclui que a confiança do consumidor possui maior relevância, visto que pode
gerar relacionamentos sólidos, construindo lealdade e promovendo o desenvolvimento
progressivo das cadeias curtas. Ao reforça-la, as intenções das pessoas de comprar em tais redes
alternativas também aumentarão, incentivando sua propagação. Contudo, o centro dessas redes
são as interações face-a-face que permitem aos consumidores tornarem-se mais informados e
consequentemente, mais confiantes.
Sylla et al. (2017) analisaram o estado atual da Agricultura Apoiada pela Comunidade
(AAC) como um exemplo de cadeia curta de fornecimento de alimentos na Polônia. Os grupos
da AAC operam principalmente em grandes cidades, o elemento comum é que os consumidores
pagam antecipadamente pela qualidade orgânica, produzidas no início da estação de
crescimento.
A AAC é um exemplo de cadeia de fornecimento curta, com base no acordo de troca
direta entre produtores e consumidores, onde os consumidores não irão só cobrir o custo real
da produção de alimentos, mas, também, vão garantir um salário decente para o agricultor. A
parceria da AAC é oferecida por um acordo formal ou informal de longo prazo e tem como
objetivo fornecer aos consumidores comida de alta qualidade ecológica, pois os mesmos se
consideram preocupados com os impactos de alguns produtos utilizados nas culturas sobre a
saúde.
Os principais benefícios do modelo identificado no estudo é a cooperação direta que
facilita a integração entre agricultores e consumidores que geralmente são moradores da cidade
e a garantia de um pagamento justo e decente para os agricultores e, consequentemente, o
desenvolvimento fazendas.
Para os autores, esses modelos são vistos como uma solução que leva ao
desenvolvimento sustentável e os resultados do estudo mostram que os consumidores
participam totalmente do modelo, destacando que incluem valor educacional, economizam
tempo associando ao planejamento: compras, melhor acessibilidade dos alimentos que
compram e integração com a comunidade local. Para os agricultores, os benefícios destacados
foram a garantia de estabilidade financeira e a simplificação das questões relacionadas à
logística e distribuição de comida.
Marino et al. (2013) avaliaram se as cadeias curtas italianas podem ser consideradas
"mercados sustentáveis", através da análise das características e comportamento de seus
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participantes - produtores e consumidores. Entre as fazendas pesquisadas, a produção orgânica
é muito relevante, abrangendo 37% da área total.
Os autores destacam que os motivos que induzem os consumidores a visitar os mercados
são: economia de dinheiro; compra de produtos locais; preocupações ecológicas; qualidade dos
produtos; conveniência do mercado; frescura dos produtos. Como os consumidores acreditam
que os aspectos relacionados à sustentabilidade são os mais importantes, entende-se que este é
um indicador de seu maior interesse.
Os consumidores agregam uma experiência social ao ato de compra, cerca de 80%
declararam que possuíam amigos e conhecidos nas propriedades, combinando a compra com
uma experiência social. Já os produtores experimentaram um aumento notável na popularidade,
devido a atenção dos consumidores à qualidade e produtos saudáveis, às mudanças que
afetaram a agricultura a nível internacional e aos alarmes de saúde.
Darolt et al. (2016) destacaram em seu estudo, realizado na França e no sul do Brasil,
que as cadeias curtas permitem remuneração mais correta ao produtor, preços mais justos ao
consumidor, incentivo à produção local e à transição para sistemas mais sustentáveis. Foram
verificadas ainda oportunidades para estimular mudanças de hábitos alimentares, incentivo à
educação para o gosto e a formação de novos grupos de consumo responsável.
A investigação mostrou que comprar em cadeias curtas diminui o impacto ambiental
pela redução de embalagens e pelo menor gasto energético com transporte. Do lado do produtor
existem mais vantagens do que desvantagens na comercialização via circuitos curtos, pois
permitem maior autonomia do agricultor, contato direto com o consumidor, transações
financeiras sem intermediários, remunerações mais justas e menor risco de perdas na
comercialização.
Do ponto de vista do consumo, essas redes alternativas trazem oportunidades para
estimular mudanças de hábitos alimentares, incentivo à educação para o gosto, organização e
mobilização de consumidores em campanhas por uma alimentação saudável. Nesse sentido,
essas redes alternativas se constituem como experiências que podem ajudar a criar políticas
públicas rumo a padrões mais sustentáveis de consumo.
Contudo, no Brasil pesquisas realizadas privilegiam principalmente o estudo e a análise
dos processos que geraram novas formas de inserção de agricultores em produtos locais, onde
o foco do estudo concentra-se na análise das práticas dos atores sociais das cadeias curtas
(SCHNEIDER; FERRARI, 2014), outro estudo refere-se em uma análise sobre o surgimento,
evolução e situação atual de cadeias agroalimentares em determinados municípios, com
objetivo na construção social das cadeias curtas, procurando mostrar sua relação com os
processos de desenvolvimento local (SCARABELOT; SCHNEIDER, 2012). Porém, os
resultados mostram-se como oportunidades para novas possibilidades aos agricultores
familiares em contribuir para processos de desenvolvimento local, não considerando nos
estudos a opinião dos consumidores em relação às cadeias curtas.

Quadro 1: Resumo dos principais resultados dos estudos com consumidores das cadeias agroalimentares curtas
País/Cidade/An Perfil da Principais resultados
Método Público-alvo Fonte
o amostra Produtores Consumidores
Agricultores
orgânicos; Maior autonomia do
especialistas de agricultor; contato Mudança de
Pesquisa 40 visitas instituições de direto com hábitos
França e Brasil Darolt et al.
descritiva e envolvendo agricultura consumidor; alimentares;
(sul) – 2012 (2016)
qualitativa diversos atores orgânica; atores remunerações mais gosto; alimentação
em seminários justas; menor riscos saudável.
de pesquisa de perdas.
sobre o tema.
Santa Scarabelot e
Catarina/Brasil Desenvolvimento Schneider
- Atores sociais - -
– 2012 Local (2012);
2014 Schneider e

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Ferrari
(2014).
Economia de
Aumento na
Idade média de dinheiro;
Questionários popularidade;
158 55 anos; preocupação
Itália (norte, estruturados atenção à qualidade e
agricultores; maioria ecológica; Marino et al.
central e sul) – aplicados em 13 produtos saudáveis;
458 mulheres; alto qualidade dos (2013).
2013 cadeias curtas mudanças na
consumidores nível de produtos;
italianas agricultura; alarmes
graduados. conveniência;
de saúde.
frescura;
Qualidade
Consumidores Maior lucro;
Entrevista em elevada; frescor;
40 produtores; com idade entre Proximidade com o Kawecka e
Cracóvia/ profundidade sabor; benefícios
120 20 a 65 anos; consumidor; Gebarowski
Polônia – 2014 semi- para a saúde;
consumidores maioria oportunidade de (2015).
estruturada contato direto com
mulheres. expandir a marca.
o produtor.
Questionário; Todos Garantia de
perguntas agricultores que estabilidade Participam
abertas e trabalham de financeira; totalmente do
fechadas; acordo com o pagamento justo modelo; valor
desenvolvido 11 agricultores; modelo AAC e para os agricultores; educacional;
Polônia/Europa Sylla et al.
por 800 consumidores desenvolvimento economia de
–2015 (2017).
pesquisadores consumidores que se sustentável das tempo; melhor
europeus que beneficiam do fazendas; acessibilidade;
representam 19 modelo. simplificação da integração com a
países. logística e comunidade local.
distribuição.
Pesquisa on- 55% mulheres; Intenção de
line jovens (76,2% compra;
260 - Giampietri et
Itália – 2016 (questionário); < 40 anos); alto confiança;
consumidores al. (2017).
amostra por nível de construção de
conveniência educação. lealdade.
Fonte: elaborado pela autora, 2019.

5 Conclusões

Diante dos estudos considerados, percebe-se que o preço não é fator relevante nesse
segmento de mercado, pois ao comprar em cadeias agroalimentares curtas, o consumidor está
disposto a pagar mais pelo produto a fim de receber em troca uma mercadoria com maior
qualidade, onde a sustentabilidade estabelece grande importância. Entende-se por qualidade o
gosto e a frescura dos produtos, vinculados à preocupação ecológica e aos benefícios para a
saúde advindos de uma alimentação mais saudável.
Outros fatores importantes, concernente aos consumidores, é o contato direto com o
produtor, a acessibilidade, a integração com a comunidade local, estabelecendo vínculos sociais
e uma construção de lealdade com o produtor, devido à confiança depositada nos mesmos.
Sendo assim, a confiança pode ser estabelecida e reforçada através dos encontros diretos entre
produtores e consumidores, o que caracteriza puramente as cadeias curtas.
Conforme o exposto, infere-se que o centro dessas redes alternativas é a interação face-
a-face, a qual permite aos consumidores tornarem-se mais informados e, consequentemente,
aumenta o nível de qualidade sobre a produção oriunda do agricultor. Nesse sentido, no que diz
respeito aos produtores e/ou agricultores, os fatores positivos destacados foram, em sua grande
maioria, as remunerações mais justas com maior lucro, gerando uma garantia de estabilidade
financeira.
Vale ressaltar que as parcerias diretas entre um grupo de consumidores e produtores
visam fornecer alimentos de qualidade produzidos de forma agroecológica e sustentável. Ao
promover as cadeias curtas como uma forma de abastecimento alimentar mais sustentável, cabe
também aos decisores políticos desempenhar um papel importante, pois as políticas públicas
favorecem a difusão das cadeias agroalimentares curtas e podem apoiar sua organização
logística, melhorando sua capacidade.
Contudo, existe uma carência de estudos relacionados aos consumidores e uma lacuna
no segmento de cadeias agroalimentares curtas, principalmente em âmbito nacional. Porém,
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sabe-se que a valorização da agricultura familiar como uma forma de garantir a segurança
alimentar é de suma importância e foi um dos temas centrais do XI Congresso da Sociedade
Brasileira de Sistema de Produção, ocorrido neste ano em Pelotas (SBSP, 2017), ratificando a
relevância de estudos futuros inseridos nesse tema.

Referências

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Custos Econômicos e Indicadores de Rentabilidade na Suinocultura
Ari Jarbas Sandi1

Resumo
Partindo das particularidades entre os sistemas de produção de suínos integrado e independente, este trabalho
analisou, por meio de um estudo multicasos, os custos de produção e os principais indicadores de rentabilidade,
para três estratos empresariais; cooperativas, mini integradores e suinocultores independentes. Ambos os modelos
de produção, integrado e independente, enfrentam desafios gerenciais cada vez mais implacáveis, exigindo de seus
administradores, um sólido conhecimento em custos de produção. O estudo teve como base o ano de 2018 e a
região sul do Brasil, maior produtora nacional de suínos com predomínio dos sistemas de produção integrada,
seguida da suinocultura independente. O trabalho comparou custos de produção e indicadores de rentabilidade.
Para isso, foram levantadas estruturas de custos e receitas de nove empresas produtoras de suínos, distribuídas em
uma cooperativa, um mini integrador e um suinocultor independente em cada estado da região sul brasileira. Para
analisar o desempenho técnico-econômico, utilizou-se as metodologias de cálculo dos custos de produção de
suínos da Embrapa e da rede InterPig. Os resultados, evidenciam variações de 28,8% a 58,8% sobre os custos
totais entre as UFs analisadas, porém para o mesmo estrato produtivo, e variações de 27,1% a 38,3% entre os
diferentes estratos para a mesma UF. Além disso, dentre todos os entrevistados, o que apresentou o menor valor
absoluto em termos de lucro líquido, seguido de menor valor relativo em termos de TIR, foi também aquele que
menos volume de carne comercializou durante o ano.

Palavras-chaves: Suínos, Produtividade, Preços, Custos de Produção, Renda.

Abstract
Assuming peculiarities between two pig production systems (independent and combined between
industry/farmer), this work analyzed through a multiple study, the production costs and the main profitability
indices for three business strata: cooperatives, small combined industry/farmer and independent pig farmers. Both
combined and independent production models face increasingly relentless management challenges, demanding
from their administrators a solid knowledge of production costs. The study was based on the year 2018 and
southern Brazil, where the largest national pig producers are and the production consists predominantly of
combined system, followed by independent one. The work compared production costs and profitability indices.
Therefore, cost and revenue structures of nine pork producers were raised, distributed in a cooperative, a combined
and an independent pig production system in each of the three Federal Union (FU) states in southern Brazil. To
analyze the technical and economic performance, we calculated pig production costs by the methodologies given
by Embrapa and InterPig network. The results show variations of 28.8% to 58.8% of the total costs between the
analyzed FU states, but for the same productive stratum; and variations of 27.1% to 38.3% between the different
strata for the same FU. In addition, among all respondents, the one with the lowest absolute value in terms of net
income, followed by the lowest relative value in terms of internal rate of return, is also the one with the least
volume of meat traded during the year.

Keywords: Pigs, Productivity, Prices, Production Costs, Income.

1 Introdução
No presente, a administração das granjas de suínos exige uma visão multidisciplinar dos
gestores, uma vez que seu desconhecimento pode levar à interpretação inadequada dos
resultados do negócio, bem como dos destinos definidos para este. O mercado caracteriza-se
por fortes oscilações de preços de insumos e de produto final (suínos ao abate), diretamente
influenciados por fatores internos e internacionais, o que torna ainda mais complexa uma gestão
eficiente. As margens de lucro têm sido menores com o passar dos anos, exigindo então que,
para manter a rentabilidade do negócio, sejam necessários não somente ganhos em escala, mas
também ganhos em eficiência, ou seja, produzir maior volume em menor tempo e a um custo
mais baixo.

1Mestrando em Agronegócios – CEPAN-UFRGS. Analista da Embrapa Suínos e Aves. E-mail:


ari-jarbas.sandi@embrapa.br
Assim, a gestão estratégica dos custos se torna dentro desse perfil de necessidades uma
ferramenta indispensável para o sucesso dos negócios suinícolas, e as habilidades em gerir
custos serão certamente um diferencial para conferir sucesso aos empreendimentos. O maior
problema reside em identificar a perda somente no resultado financeiro final, ou seja, quando
tem-se piores lucros operacionais (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização)
e por vezes, prejuízos. Quando não se utiliza o custo de produção como ferramenta de gestão,
torna-se significativamente mais difícil identificar os desvios produtivos que estão gerando
perdas.
Assim, as atividades pecuárias conduzidas com fins comerciais, devem ser
contabilizadas para análises periódicas quanto aos desempenhos técnico, econômico e
financeiro. Entretanto, poucas são as empresas rurais de suinocultura que contabilizam suas
atividades para posterior análise econômica, e, por isto, não conhecem bem os seus custos de
produção, nem tão pouco a sua rentabilidade. Então, a carência de informações internas sobre
a atividade em que muitos pecuaristas atuam, aliada ao desconhecimento sobre métodos de
análise técnica e econômica, conduzem-nos a decisões equivocadas e, muitas vezes,
condicionadas à sua experiência, à tradição, à dificuldade em migrar para outras atividades e à
disponibilidade de recursos financeiros. Quando a rentabilidade é baixa, o suinocultor e ou
empresário do setor percebe, mas tem dificuldade em identificar e quantificar os pontos de
estrangulamento do processo produtivo.
Os custos de produção, quando segmentados, fornecem informações a respeito dos
valores gastos com mão de obra, alimentação, manutenção, energia elétrica, administração,
entre outros gastos. Em períodos de crise, por exemplo, granjas que acompanham seu custo de
produção rotineiramente, iniciam estratégias de redução em custos tão logo veem sua
lucratividade cair, no intuito de prolongarem o ciclo positivo. No entanto, na maioria dos casos,
em que não existe controle de custos, os produtores assumem a queda de margem como normal
devido à baixa nos preços dos suínos vivos, ou então, ao aumento nos preços dos insumos, e,
assim, tomam providencias apenas durante a fase dos prejuízos. Dessa forma, encerram ciclos
de ganhos e iniciam a ciclos de perdas, gerando descapitalização acelerada, com consequentes
reveses financeiros para o empreendimento.
Com vistas a isso, a investigação realizada teve por objetivos: I) captar informações de
caráter técnico-comercial, relativos aos preços dos insumos e fatores de produção, e, à índices
de produtividade em 9 agentes econômicos da suinocultura brasileira, e, II) calcular e comparar
os custos de produção e a rentabilidade econômica desses no âmbito da suinocultura
independente. Para tanto, realizou-se uma pesquisa quantitativa, exploratória e descritiva,
através de estudos de multicasos, cujos dados foram coletados por meio de um questionário
semiestruturado aplicado à campo. O objeto de investigação consistiu em 03 suinocultores
independentes, 03 mini integradores e 03 cooperativas, localizados nos estados do Paraná, em
Santa Catarina e em Rio Grande do Sul.
1.1 Panorama da suinocultura sul-brasileira e características contratuais
Com uma produção anual de 3.97 milhões de toneladas e 4º maior produtor e exportador
mundial de carne suína, o Brasil consolida-se no cenário internacional como um dos principais
fornecedores de alimentos à base de proteína animal. A região sul do país, constitui-se no maior
reduto da suinocultura brasileira, concentrando 66,5% e 91,32% (CIAS/Embrapa, 2019) da
produção e das exportações nacionais, respectivamente. Neste cenário, o estado de Santa
Catarina consolida-se como principal produtor (26,6%) e exportador (50,88%) nacional. Na
região sul do Brasil, coexistem basicamente dois arranjos organizacionais da cadeia produtiva
agroindustrial de carne suína; os suinocultores independentes e os verticalmente integrados.
O termo “suinocultor independente” contrapõe-se ao termo “suinocultor integrado” para
designar aqueles produtores de suínos que não possuem vínculos contratuais formais com as
empresas agroindustriais (frigoríficos). Geralmente operam no sistema de granja de ciclo
completo (CC) ou granjas produtoras de leitões (UPL). Granjas de engorda ou terminação (UT)
independentes não são muito frequentes, ao contrário de comerciantes que subcontratam ou
estabelecem acordos tácitos com terminadores de menor escala, geralmente excluídos da
integração. Esse fenômeno é denominado no setor de mini integração (MEDEIROS; MIELE,
2014).
No Brasil, há aproximadamente 2.039.356 (CIAS/Embrapa, 2019) matrizes alojadas
para a produção industrial de carne suína, sendo 38% (ABCS, 2018) produzidas pelo mercado
independente. Todavia, para produzir suínos em sistemas confinados, é necessário que os donos
dos fatores de produção (terra, capital e trabalho) sejam compensados com recursos financeiros,
para que continuem fornecendo insumos e produtos ao mercado. Entretanto, para que isso
aconteça, os agentes econômicos precisam conhecer bem os arranjos organizacionais
existentes, as suas inter-relações e as características de cada tipo de contrato.
Como mencionado, na região sul do Brasil coexistem basicamente dois modelos e ou
arranjos organizacionais. Os suinocultores independentes e aqueles integrados sob contratos de
integração vertical plena e ou parcial. A seguir no Quadro 1, uma breve caracterização sobre
contratos de integração e independente/mercado spot.
Quadro 1 – Característica dos Contratos de Integração e do Mercado Spot
Contratos de Integração Mercado Spot /
Dimensão do contrato Contrato de produção* Contratos de compra e venda Independente
Crescimento e terminação Cico completo
Sistema Produtivo Produção de leitões
Produção de leitões Produção de leitões
Acesso ao mercado Garantido Garantido Não garantido
Controle da produção Agroindústria Agroindústria Produtor
Mão de obra
Mão de obra Eletricidade
Eletricidade Instalações e equipamentos
Insumos e fatores de Mão de obra Instalações e equipamentos Manejo dos dejetos
produção pagos pelo Eletricidade Manejo dos dejetos Rações
produtor Instalações e equipamentos Rações Material genético
Manejo dos dejetos Material genético Insumo de uso veterinário
Insumo de uso veterinário Transportes
Assistência técnica Assistência técnica
Serviço de produção de Leitões para engorda Leitões para engorda
leitões e suínos de engorda Suínos para abate Suínos para abate
Fontes de receita do
Matrizes de descarte Matrizes de descarte
produtor
Valor fertilizante de dejetos Valor fertilizante de dejetos Valor fertilizante de dejetos
(NPK) (NPK) (NPK)
Volume x preço de mercado
Fórmula de Volume x preço base x índice Volume x preço base + bônus
+ bônus por rendimento de
remuneração de eficiência por eficiência produtiva
carcaça
* Conhecido entre os participantes como contratos de parceria por comodato.
Fonte: adaptado da ABCS - Produção de Suínos: Teoria e Prática (Medeiros; Miele, 2014).
No quadro 1, o termo rações está grifado porque representa o item de maior
sensibilidade nos custos totais de produção. Na suinocultura independente com sistema de
produção tipo ciclo completo (CC), as despesas com a alimentação podem impactar entre 60%
a 80% os custos totais.
2 Referencial Teórico
A teoria econômica que estuda a lei da oferta (produtores) e da procura (consumidores),
é a microeconomia. Tratando-se de uma teoria basicamente estática, em que o fator tempo é
levado em consideração muito superficialmente, sua preocupação fundamental é a de definir as
condições do equilíbrio geral de uma organização geradora de recursos econômicos,
(BRESSER PEREIRA, 1976). A microeconomia é também chamada teoria dos preços porque
o mecanismo básico de coordenação entre produtores e consumidores, dentro de uma economia
de mercado (ao contrário de uma economia administrada), é o preço. De acordo com o mesmo
autor, a teoria do consumidor tem por base a teoria da utilidade marginal; a teoria da produção
e o estudo dos custos e das receitas das empresas.
Segundo Kaplan e Cooper (1998) a contabilidade de custos é estratégica como
fornecedora de informações para melhorar a eficácia empresarial, de tal forma que métodos e
técnicas maximizem os lucros das organizações. Ademais, Ribeiro (2003), afirma que
contabilidade se refere a “ciência que possibilita, por meio de suas técnicas, o controle
permanente do patrimônio das empresas”. De acordo com Marion (2013) a contabilidade
fornece resultados e informações que podem colaborar na tomada de decisões. Por sua vez,
Oliveira (2013) enfatiza que a ciência da contabilidade exerce a função de orientar e registrar
os movimentos administrativos. Nesse contexto, a contabilidade de custos tem como objetivo
demonstrar informações para diferentes níveis gerenciais em uma empresa, contribuindo para
as funções de determinação de desempenho e planejamento (MARTINS, 2001).
Contudo, a contabilidade de custos, tem por objetivo planejar, organizar, registrar,
analisar, interpretar e relatar os custos que incorrem sobre os produtos obtidos e
comercializados pelas organizações (MARTINS, 2001 e CREPALDI, 2002). Tais custos se
referem aos valores monetários dos insumos e fatores de produção necessários para que haja a
produção e a comercialização de determinados produtos (BERTÓ & BEULKE, 2005).
(MARTINS 2001; MEGLIORINI, 2007) classificam os custos conforme sua finalidade (diretos
e indiretos) e seu comportamento (variáveis e fixos). Segundo Ribeiro (2003) os custos diretos
referem-se aos gastos com materiais, mão-de-obra e gastos gerais de produção. Por sua vez
Hansen e Mowen (2001) afirmam que custos diretos são aqueles que podem ser identificados a
cada produto e que podem ser apropriados de forma direta para as unidades específicas.
Leone (2000) enfatiza que os custos indiretos são aqueles que não são facilmente
identificados com o objeto de custeio. Assim, o autor salienta que se tratam de gastos referentes
a materiais de uso secundário, tais como mão de obra de diaristas, gastos gerais de produção ou
qualquer custo que não possa ser aplicado diretamente ao produto. Costa (2006), enfatiza que
na classificação por comportamento, os custos fixos tratam-se dos gastos que permanecem
constantes dentro de um determinado limite de capacidade instalada, independentemente do
volume de produção, de modo que sua divisão por unidade ocorre por meio de rateio
(HANSEN; MOWEN, 2003).
Girotto & Santos Filho (2000), argumentam que para calcular os custos de produção de
uma atividade pecuária intensiva (produção de suínos), há necessidade de levar em
consideração todas as despesas incidentes sobre as operações de consumo de insumos e fatores
de produção, inclusive os custos de oportunidade sobre o capital investido. Existe um custo
econômico que deve ser considerado quando se está planejando a atividade ou negociando a
receita dos animais, que é o custo de capital (CC). Ele representa a expectativa de retorno sobre
o investimento. A soma do custo de capital (CC) com o custo operacional (COP) gera o custo
total (CT), (MIELE; FISHER, 2017).
3 Procedimentos Metodológicos
Classificado como estudo de multicasos (JUNG, 2004), o presente trabalho consistiu na
elaboração e na validação de um questionário semiestruturado, o qual foi aplicado à campo, e
abordou aspectos relacionados à produção e a produtividade de rebanhos suinícolas, bem como
informações de caráter econômico e financeiro das empresas que exercem funções comerciais
no sul do Brasil. O levantamento de dados foi realizado em três diferentes estratos empresariais
da suinocultura brasileira: i) suinocultores independentes que atuam no mercado spot, ii) mini
integradores, os quais atuam com contratos de compra e venda de insumos e animais, e; iii)
cooperativas de produção e de consumo, as quais exercem funções tanto de compra e venda,
quanto de contratos de produção por meio de comodato, (Vide, Quadro 1).
As nove entrevistas foram realizadas entre os meses de Abril a Junho do ano de 2019,
nas regiões oeste e sudoeste paranaense, alto uruguai e meio oeste catarinense, e norte e
noroeste gaúcho. Todas as informações obtidas foram de caráter declaratório, consistindo em
respostas às perguntas realizadas in loco, na presença de proprietários e gerentes setoriais.
Contudo, há de se considerar que devido aos objetivos deste artigo, apenas uma parte
das informações obtidas e elaboradas pelo autor serão apresentadas. Salienta-se, entretanto, que
este é o primeiro artigo de uma série de três, os quais integram a dissertação de mestrado do
autor em voga. Para além do questionário e após a averiguação dos dados quantitativos
declarados, estes foram organizados em planilhas de Excel, para posterior procedimentos
metodológicos de análise de custos totais de produção, e, de resultados econômico-financeiros.
3.1 Metodologias
No presente estudo, foram empregadas duas metodologias complementares de análise
de custos, sendo a metodologia de custos de produção de suínos da Embrapa Suínos e Aves, e
a metodologia da rede internacional de estudos de competitividade suinícola; InterPig.
3.1 Conceitos de custos de produção e indicadores econômicos utilizados
Os custos de produção de suínos foram calculados levando-se em consideração todas as
informações de despesas, gastos e receitas das granjas entrevistadas. Alguns autores apresentam
um conjunto de termos técnicos utilizados no custo e na análise de rentabilidade da atividade.
Os conceitos e usos aqui descritos, fundamentam-se em Fortes de Oliveira e Santos Filho (2014)
e Miele e Fischer (2017).
3.1.1 Custos variáveis
São aqueles que variam de acordo com a quantidade produzida e cuja duração é igual
ou menor que o ciclo de produção (curto prazo). Custos variáveis são itens que se incorporam
totalmente ao produto em curto prazo, não sendo reaproveitados em outros ciclos produtivos.
Enfim, os custos variáveis são aqueles que deixam de existir, se o processo de produção for
interrompido.
3.1.2 Custos fixos
Os custos são denominados fixos porque não se alteram em função da quantidade
produzida, e sua renovação acontece em longo prazo. Exemplos: a depreciação de edificações,
máquinas, implementos, equipamentos e a remuneração do capital investido. O capital
necessário para a reposição das instalações e dos equipamentos deve vir da própria rentabilidade
da atividade. De forma semelhante se tem o custo de capital (CC). O CC representa a
remuneração mínima desejada pelo produtor para se manter na atividade. Ela parte do
pressuposto de que o capital tem um valor, (juros).
3.1.3 – Geração de caixa
O indicador mais fácil de se medir e acompanhar é a geração de caixa (GC), que é um
indicador de liquidez. A geração de caixa é o saldo que sobra das entradas e saídas financeiras
(em dinheiro) de um período analisado; mês, ano, lote. A geração de caixa é composta pela
receita bruta (RB) obtida com a comercialização dos animais e adubos (dejetos compostados)
menos a soma entre as despesas com salários (SAL), custeios operacionais (CUST) e a
prestação de financiamento (PF). GC = RB – (SAL + CUST + PF)
O custeio das operações (CUST) inclui todas as despesas com energia elétrica e
aquecimento, tratamento, transporte e aplicação de dejetos, licenças ambientais, seguros,
manutenção, insumos para limpeza, desinfecção, vacinas e medicamentos, arrendamentos e
aluguéis, despesas administrativas, impostos, transporte de insumos, alimentação, material
genético e, (remuneração de parceiros, no caso das cooperativas e dos mini integradores). Além
de ser um indicador de liquidez financeira, a geração de caixa (GC) é um indicador da renda
agropecuária bruta disponível para que a empresa possa consumir, investir ou poupar. Uma
parte desta renda deve ser poupada apenas para repor a depreciação (DPR).
3.1.4 Custo operacional
O indicador de custos mais importante é o custo operacional (COP), que considera todas
as saídas de caixa (exceto a prestação do financiamento – PF), e também o custo da mão de
obra familiar e a depreciação (valores que não saem do caixa, mas são custos de produção). O
COP é composto pela mão de obra familiar (MOF), pelos salários pagos pela mão de obra
contratada (com encargos e contribuições), bem como diaristas (SAL), pelos custeios das
operações, arrendamentos, administração da atividade e impostos (CUST) e pela depreciação
(DPR). No custo operacional há junção de custos variáveis e fixos. COP = MOF + SAL + CUST
+ DPR. O custo operacional (COP) representa o valor mínimo a receber como receita dos
semoventes comercializados, ou seja, é o valor no qual o retorno sobre o investimento é nulo.
Qualquer receita acima do custo operacional (COP) implicará em um retorno positivo sobre o
investimento realizado.
3.1.5 Custo total
O custo total (CT) é o indicador que representa o valor a receber pela comercialização
dos animais, para satisfazer as expectativas do(a) produtor(a) em termos de retorno sobre o
investimento. Ou seja, é o valor da receita bruta que paga todo o custeio, a mão de obra, a
depreciação, e ainda gera o retorno sobre o capital investido desejado pelo(a) produtor(a). O
custo de capital é um desejo, não uma certeza, estando sujeito a imprevistos. CT = COP + CC.
3.1.6 Margem bruta
Em termos absolutos é a diferença entre a renda bruta (RB) e o custo variável (CV).
Também pode ser expressa em termos percentuais, dividindo-se seu valor absoluto pela receita
e multiplicando-se por 100.
3.1.7 Margem líquida
Em termos absolutos é a diferença entre renda bruta (RB) e o custo operacional (COP).
Pode ser expressa em termos percentuais dividindo-se seu valor absoluto pela receita e
multiplicando-se por 100.
3.1.8 Lucro líquido
É o resíduo que remunera o capital investido na atividade, após dedução dos custos
variáveis (CV), da depreciação (DPR) e do custo de capital (CC). Portanto, indica o valor que
restou para cada unidade monetária obtida como receita, após a dedução de todos os custos.
3.1.9 – Taxa interna de retorno e ou retorno sobre o investimento
Para estimar o retorno sobre o investimento, o indicador mais apropriado é a taxa interna
de retorno (TIR). Entretanto, pode-se utilizar também o retorno sobre o investimento (RI). O
RI em % ao ano, é obtido a partir da margem bruta anual (MB) dividida pelo capital investido
(CI). RI = MB/CI x 100. MB = RB – (MOF + SAL + CUST).
4 Resultados e Discussão
O desempenho da atividade suinícola pode ser avaliado através de índices técnicos, da
relação entre eles e também pela análise econômico-financeira.

4.1 – Coeficientes técnicos de produção e produtividade


Devido aos estudos de multicasos, abrangendo um informante para cada modelo
organizacional em cada Estado, percebe-se enorme variabilidade principalmente nas
quantidades de matrizes ativas em cada rebanho. Além disso, variabilidade nas taxas de
reposição de material genético (que gera descarte de matrizes), na relação entre número de
leitões nascidos vivos por parto, na quantidade de leitões desmamados e na quantidade de peso
vivo de suínos produzidos por matriz ao ano.
Os coeficientes zootécnicos aliados aos preços dos insumos e fatores de produção, bem
como às expectativas de retorno sobre os capitais investido e de giro, são imprescindíveis para
calcular os custos e obter os resultados econômico e financeiros da atividade de produção
suinícola. Assim, no quadro 2, evidenciam-se os principais coeficientes zootécnicos obtidos a
partir das declarações dos entrevistados.
Quadro 2 – Coeficientes zootécnicos de produção e de produtividade, ano de 2018.
Média do ano 2018 COOPERATIVA MINI INTEGRADOR SUINOCULTOR INDEP.
Gestação e maternidade Unidade RS SC PR RS SC PR RS SC PR
Matrizes ativas cabeças 5.380 51.000 25.000 6.000 8.000 10.300 2.500 200 1.800
Partos/matriz/ano número 2,4 2,4 2,5 2,4 2,4 2,4 2,5 2,3 2,4
Programação dos lotes semanas 3,0 3,0 1,0 1,0 3,0 1,0 3,0 3,0 3,0
Mortalidade das matrizes % 8,0 8,2 9,0 7,0 7,0 7,6 8,9 6,0 7,2
Taxa de reposição de matrizes % 35,0 88,0 48,0 45,0 40,0 56,7 52,0 25,0 45,0
Consumo de ração pelas matrizes kg/matriz/ano 1.200 1.080 1.030 1.140 980 1.233 1.070 1.160 1.120
Nascidos vivos por parto cabeças/matriz 12,5 13,0 14,0 12,8 13,8 14,1 13,5 12,2 12,6
Mortalidade até o desmame % 7,5 8,2 8,0 8,0 7,0 8,3 7,1 3,5 6,0
Peso do leitão ao desmame kg/cabeça 7,5 7,3 6,4 7,5 7,8 7,7 6,2 6,8 7,0
Período de lactação da matriz dias 28 26 24 26,5 26,0 27,6 22,0 25,0 26,5
Desmamados/matriz/ano cabeças 27,8 28,3 31,7 28,0 30,2 30,5 31,4 27,1 27,8
Creche e terminação Unidade RS SC PR RS SC PR RS SC PR
Mortalidade na creche % 1,5 1,8 1,7 0,9 1,5 2,2 1,0 3,0 1,5
Ganho de Peso Diário na creche gramas/dia 440 378 410 480,0 380,0 480,0 463,0 550,0 490,0
Peso de saída da creche kg 23,0 21,9 23,0 24,5 19,0 23,6 25,9 28,0 26,5
Conversão alimentar na creche kg r/kg pv* 1,5 1,5 1,5 1,5 1,6 1,3 1,4 1,7 1,5
Vazio sanitário na creche dias/lote 7,0 10,0 7,0 7,0 5,0 6,0 7,0 7,0 7,0
Mortalidade suínos na terminação % 2,2 2,3 2,2 1,0 1,8 2,3 1,7 2,0 1,8
Ganho de Peso Diário na terminação gramas/dia 922 827 980 880,0 910,0 969,0 962,0 700,0 850,0
Uso de ractopamina Sim ou não sim não não não sim não não não não
Conversão alimentar na terminação kg r/kg pv* 2,4 2,6 2,2 2,4 2,4 2,4 2,6 3,0 2,7
Vazio sanitário na terminação dias/lote 15 8 16 7,0 21,0 7,0 15,0 7,0 7,0
Peso vivo médio suíno terminado kg/cabeça 128,5 121,0 125,0 120,0 130,0 128,0 120,0 100,0 115,0
Suínos comercializados por matriz cabeças/ano 26,7 27,1 30,5 27,5 29,2 29,2 30,5 25,7 26,9
Consumo de ração na fase de creche kg/cabeça 23,2 21,7 24,4 25,6 18,0 20,8 27,7 35,3 28,4
Consumo de ração nas fases de
kg/cabeça 251,7 254,5 226,0 230,0 262,4 254,6 248,0 217,4 242,2
crescimento e de terminação
Produtividade/matriz/ano kg suíno vivo 3.565,9 3.423,7 3.960,6 3.363,2 3.920,8 3.905,8 3.762,5 2.707,8 3.200,8
* Quilograma de ração por quilograma de peso vivo. Fonte: dados da pesquisa
Todavia, deve-se apropriar os gastos realizados no consumo de insumos e fatores de
produção, bem como os valores de investimentos em edificações e equipamentos, as taxas de
juros sobre os capitais investido e de giro, e, as receitas oriundas da comercialização dos
semoventes. No quadro 3, constam todas as informações declaradas pelos informantes.
Quadro 3 – Itens e valores de investimentos, despesas e receitas
COOPERATIVA MINI INTEGRADOR SUINOCULTOR INDEPENDENTE
Investimento realizado Unidade RS SC PR RS SC PR RS SC PR
Valor dos equipamentos R$/matriz 0,00 0,00 0,00 2.000,00 0,00 0,00 2.300,00 1.425,00 2.500,00
Valor das instalações R$/matriz 0,00 0,00 0,00 3.150,00 0,00 0,00 3.000,00 3.575,00 3.500,00
Vida útil dos equipamentos anos 0 0 0 12 0 0 12 12 12
Vida útil das instalações anos 0 0 0 25 0 0 25 25 25
Juros sobre capital investido % a.a. 6,50% 8,50% 6,00% 8,50% 13,00% 8,50% 6,50% 6,50% 6,50%
Juros sobre capital de giro % a.a. 0,00% 5,50% 8,50% 7,50% 6,50% 0,00% 6,00% 7,50% 8,00%
Valor prestação financiamento R$/ano 0,00 5.000.000,00 0,00 0,00 8.132.000,00 0,00 0,00 315.000,00 0,00
Itens de despesa Unidade RS SC PR RS SC PR RS SC PR
Ração de reprodutores R$/matriz/ano 1.007,00 1.410,00 872,00 1.240,00 1.411,30 992,47 880,00 1.021,00 928,00
Ração de leitões em creche R$/cabeça 52,00 44,50 24,00 59,50 33,50 16,00 52,22 34,70 47,00
Ração de suínos em terminação R$/cabeça 202,00 325,45 188,85 222,00 278,15 177,50 221,00 183,00 200,00
Leitoas de reposição R$/matriz/ano 680,00 630,00 680,00 550,00 690,00 530,00 730,00 780,00 690,00
Sêmen e materiais R$/matriz/ano 83,00 90,00 95,00 51,00 70,00 43,00 100,00 50,00 90,00
Transportes R$/ano 832.000,00 10.037.000,00 5.330.000,00 3.439.861,15 2.000,00 2.730.125,54 1.372.644,76 190.000,00 684.404,00
Mão de obra familiar R$/ano 0,00 0,00 0,00 270.000,00 0,00 0,00 240.000,00 0,00 120.000,00
Mão de obra contratada R$/ano 0,00 0,00 0,00 1.070.000,00 0,00 0,00 1.440.000,00 240.000,00 360.000,00
Diaristas R$/mês 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 3.000,00 1.500,00 1.000,00
Energia elétrica e aquecimento R$/ano 0,00 0,00 0,00 372.000,00 0,00 0,00 129.600,00 18.000,00 108.000,00
Licenças ambientais R$/ano 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1.000,00 500,00 600,00
Seguro das instalações R$/ano 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 70.000,00 6.000,00 6.000,00
Manutenção de granjas R$/ano 0,00 0,00 0,00 800.000,00 0,00 0,00 60.000,00 6.000,00 30.000,00
Insumos de uso veterinário R$/ano 672.500,00 2.899.000,00 1.775.000,00 750.000,00 832.000,00 3.900.000,00 534.500,00 24.000,00 360.000,00
Despesas administrativas R$/ano 0,00 0,00 0,00 85.000,00 1.320.000,00 0,00 5.000,00 14.000,00 3.000,00
Funrural e outros tributos R$/ano 1.480.000,00 2.107.785,30 1.020.000,00 275.000,00 290.000,00 0,00 192.000,00 30.000,00 100.000,00
Remuneração de parceiros R$/ano 5.942.000,00 50.800.000,00 33.000.000,00 6.627.000,00 9.634.000,00 13.078.000,00 0,00 0,00 0,00
Itens de receita Unidade RS SC PR RS SC PR RS SC PR
Comércio de suínos R$/kg vivo 3,48 4,20 3,57 3,80 3,24 3,30 3,50 3,95 3,50
Comércio descarte matrizes R$/matriz/ano 130,00 250,00 175,00 175,00 130,00 200,00 185,00 255,00 165,00
Fonte: dados da pesquisa
Nota-se, que dentre as cooperativas e os mini integradores, apenas 1 mini integrador
apresentou despesas com manutenção de granjas (Quadro 3). Isso remete à imobilização de
capital para a construção de edificações e a aquisição de equipamentos e máquinas necessárias
à produção de suínos. No caso em específico, 20% de todos os suínos comercializados, foram
acomodados em instalações próprias. Com essa informação, foi possível calcular o retorno
sobre o investimento (Quadro 4), obtido a partir da razão entre a margem bruta anual e o capital
investido.
Contudo, essa informação não é corriqueira nos modelos de produção integrados,
porque os arranjos contratuais provêm responsabilidades partilhadas entre os atores do
processo. Neste modelo, geralmente cabe ao suinocultor parceiro, o ônus sobre os custos fixos
e alguns custos variáveis, como: mão de obra, energia elétrica e a ambiência das instalações,
tratamento de resíduos orgânicos, manutenção, seguros e despesas eventuais. Ao comodante,
cabe o ônus financeiro sobre os transportes e o fornecimento de insumos alimentares, a
profilaxia do rebanho, a assistência técnica e a remuneração do parceiro comodatário.
No Quadro 3, explicitaram-se todas as informações relativas a investimentos, bem como
as taxas de retorno sobre o capital, requerida pelos investidores. Também se expôs os itens de
despesas componentes dos custos variáveis, além das receitas obtidas com a comercialização
dos semoventes (suínos vivos, e matrizes de descarte). Ambas as receitas foram ponderadas
pelas quantidades comercializadas de cada tipo de produto, dando origem à receita bruta.
Ademais, há variabilidade nas informações de preços declaradas pelos entrevistados,
principalmente em relação ao custo das rações para as fases de creche e de terminação. Ao
avaliar o consumo dos suínos na fase de terminação, verifica-se uma diferença de 36,1% entre
o maior e o menor consumos (Quadro 2). Essa diferença ocorreu ao suinocultor independente
de SC, que embora obtivera a segunda melhor receita bruta entre todos os entrevistados,
granjeou o pior desempenho econômico-financeiro. Infere-se, que esse resultado tenha relação
com o baixo volume de carne produzida e comercializada por matriz ao ano (Quadro 2), bem
como pelos elevados custos variáveis, especialmente as despesas com a mão-de-obra (Quadro
4), indicando ineficiência produtiva. A partir das informações expostas nos Quadros 2 e 3,
obtiveram-se os resultados (Quadro 4) das receitas, dos custos e da rentabilidade suinícola
desempenhada por cooperativas, mini integradores e suinocultores independentes em cada UF.
Quadro 4 – Custos econômicos, indicadores de rentabilidade, indicador financeiro e
composição dos custos totais de produção de suínos.
COOPERATIVA MINI INTEGRADOR SUINOCULTOR INDEP.
Receita bruta e custos Unidade RS SC PR RS SC PR RS SC PR
A - Receita bruta - RB R$/kg de pv* 3,518 4,276 3,616 3,853 3,274 3,354 3,551 4,199 3,553
B - Custos variáveis - CV R$/kg de pv 2,905 4,101 2,567 3,595 2,996 2,444 3,190 3,958 3,020
C - Depreciação - DPR R$/kg de pv 0,000 0,000 0,000 0,018 0,000 0,000 0,085 0,102 0,113
D - Custo operacional - COP, (B+C) R$/kg de pv 2,905 4,101 2,567 3,613 2,996 2,444 3,275 4,059 3,132
E - Custo de capital - CC R$/kg de pv 0,000 0,057 0,050 0,080 0,047 0,000 0,102 0,148 0,136
F - Custo total - CT, (B+C+E) R$/kg de pv 2,905 4,158 2,618 3,693 3,043 2,444 3,377 4,207 3,268
Indicadores de rentabilidade Unidade RS SC PR RS SC PR RS SC PR
G - Margem bruta - MB, (RB - CV) R$/kg de pv 0,613 0,175 1,049 0,258 0,279 0,910 0,361 0,241 0,534
H - Margem líquida - ML, (RB - COP) R$/kg de pv 0,613 0,175 1,049 0,240 0,279 0,910 0,276 0,140 0,421
I - Lucro líquido - LL, (RB - CT) R$/kg de pv 0,613 0,118 0,998 0,160 0,231 0,910 0,174 -0,008 0,286
J - Geração de caixa - GC R$/kg de pv 0,613 0,145 1,049 0,272 0,010 0,910 0,387 -0,371 0,555
Composição dos custos totais Unidade RS SC PR RS SC PR RS SC PR
Rações % do CT ** 78,0% 83,0% 72,0% 72,0% 78,0% 73,0% 74,0% 60,0% 74,0%
Material genético % do CT 8,0% 5,0% 8,0% 5,0% 6,0% 6,0% 7,0% 8,0% 7,0%
Mão de obra % do CT 0,0% 0,0% 0,0% 2,0% 0,0% 0,0% 5,0% 12,0% 3,0%
Outros custos variáveis % do CT 14,0% 9,0% 16,0% 16,6% 13,0% 21,0% 8,0% 13,0% 7,0%
Depreciação % do CT 0,0% 0,0% 0,0% 0,4% 0,0% 0,0% 2,0% 2,0% 6,0%
Custo de capital % do CT 0,0% 3,0% 4,0% 4,0% 3,0% 0,0% 4,0% 5,0% 3,0%
Indicador financeiro Unidade RS SC PR RS SC PR RS SC PR
Taxa interna de retorno % a.a. *** 83,2% 24,0% 10,4% 26,8%
* Reais por quilograma de peso vivo. ** Percentual do custo total. *** Percentual ao ano. Fonte: dados da pesquisa, calculados.
Os resultados econômico-financeiros denotados pelos demais suinocultores
independentes, são satisfatórios, embora modestos quando comparados aos obtidos pelas
cooperativas, que apuraram cifras superiores ao grupo dos mini integradores. Agora, ao
comparar os resultados de rentabilidade entre os Estados da região Sul, o que apresentou os
menores valores absolutos em todos os estratos empresariais, foi SC, seguida pelo mini
integrador do RS.
No próximo artigo, serão abordadas informações sobre as estratégias empresariais para
a aquisição e a armazenagem de insumos alimentares, especialmente milho e farelo de soja.
Além disso, serão estimados para cada estrato empresarial, os possíveis impactos econômico-
financeiros quanto a adoção ou não, de instrumentos de proteção ao risco de preços.

5 Conclusões
Por apresentar grande sensibilidade a variação de preços, a atividade produtiva e
comercial de ativos pecuários, especialmente a produção de suínos, exige muita perseverança
e atenção de seus agentes econômicos. Perseverança, porque para um suíno completar um ciclo
produtivo, após o nascimento, precisa entre 150 a 180 dias de vida. Atenção, porque para a
constituição e a manutenção de um rebanho completo, se requer um montante considerável de
recursos escassos com liquidez imediata, o chamado, capital de giro. Assim, qualquer mudança
repentina nos preços e na disponibilidade de insumos, e até mesmo de fatores essenciais à
produção, pode causar um tremendo estrago na sustentação econômico-financeira de
empreendimentos, que têm como ativo, o sistema de produção de suínos tipo ciclo completo.
No entanto, para que a atividade demonstre o seu verdadeiro potencial produtivo-
financeiro, há necessidade de ela manifestar o seu melhor em termos de produtividade. Pouco
adianta se ter um bom número de animais nascidos vivos por parto, se a taxa de mortalidade
for elevada. Também, de pouco adianta se ter um excelente ganho de peso vivo médio diário,
se o proprietário decide comercializar os animais antes do tempo, resultando volumes de
produção de carne abaixo do esperado.
Assim, na posse de dados organizados e estruturados, possibilita-se aos gerentes
enxergarem os pontos nevrálgicos e, a partir disso, acionarem as suas melhores alternativas
gerenciais, no intuito de corrigirem desvios e gaps estruturais. Ademais, e independentemente
do modelo de produção, se exercido por cooperativa, mini integrador e ou suinocultor
independente, para que o empreendimento tenha sucesso e seja protagonista no contexto dos
agronegócios, é necessário que os seus gestores monitorem de perto todas as tarefas executadas,
sob penas desagradáveis.
Por fim, em um mercado globalizado, competitivo e dinâmico, aonde a tônica dos
negócios é definida de acordo com as habilidades gerenciais de seus agentes, as informações
de mercado aliadas aos conhecimentos técnicos, assumem papéis cada vez mais importantes no
âmbito da economia do agronegócio. Esse fato aplica-se à suinocultura, que demanda
simultaneamente ação e prudência nas decisões de caráter produtivo-comercial.

6 Referências

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Acesso em agosto 2018.
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Determinantes da produção agrícola no estado do Rio Grande do Sul
Determinants of agricultural production in the state of Rio Grande do Sul
AZEVEDO, Jenaine de 1, CAMARA, Simone Bueno 2, COSTA, Nilson Luiz3,

Resumo
O objetivo do estudo é analisar a significância da área das lavouras permanentes e temporárias, e do número do
pessoal ocupado em relação ao valor bruto da produção agrícola do estado do Rio Grande do Sul. Para isso foi
utilizado o método econométrico denominado Regressão Linear Múltipla (RML) e o Sofwtare EViews®. Foram
consideradas como variáveis independentes a área das lavouras permanentes, a área das lavouras temporárias e o
número do pessoal ocupado, e a variável dependente foi o valor bruto da produção agrícola do estado do Rio
Grande do Sul. Os dados foram obtidos através da Feedados e do Censo Agropecuário (IBGE) e correspondem
ao ano de 2017. Através da estimação do modelo de regressão constatou-se que cerca de 70% das variações no
valor bruto da produção agrícola do estado do Rio Grande do Sul são explicadas pelas variáveis independentes,
além disso, há impactos positivos de todas as variáveis independentes sobre a variável dependente. A
multicolinearidade apresenta grau fraco com Fator de Variância Inflacionária menor que cinco (FVI<5). Há
presença de heterocedasticidade, portanto o modelo foi corrigido pelo teste de White. O modelo não apresenta
autocorrelação, pois trata-se de uma amostra considerada corte transversal, enquanto a autocorrelação está
presente em séries temporais.
Palavras-chave: Produção agrícola; Lavouras; Agronegócio

Abstract
The objective of this study is to analyze the significance of permanent and temporary crops area, and the number
of people occupied in relation to the gross value of agricultural production of the State of Rio Grande do Sul. For
this we used the econometric method called multiple Linear Regression (RML) and the Sofwtare EViews®.
Were considered as independent variables the permanent plantations area, the area of temporary crops and the
number of staff busy, and the dependent variable was the gross value of agricultural production of the State of
Rio Grande do Sul. The data were obtained through the Feedados and the agricultural census (IBGE) and
correspond to the year 2017. Through the estimation of regression model it was found that about 70% of the
variation in the gross value of agricultural production of the State of Rio Grande do Sul are explained by the
independent variables, in addition, there are positive impacts of all variables independent on the dependet
variable. The multicollinearity presents weak degree of variance Inflation factor less than five (FVI < 5). There is
presence of heteroscedasticity, therefore the model was fixed by the test of White. The model shows no
autocorrelation, because this is a sample considered cross section, while the autocorrelation is present in time
series.
Key-works: Agricultural production; Crops; Agribusiness

1 Introdução

O agronegócio no Brasil assume grande importância pelo volume de movimentações


de recursos, mão de obra empregada e produção de alimentos. Compreende o conjunto de
todas as operações e transações que vão desde a fabricação dos insumos agropecuários, das
operações de produção nas unidades agropecuárias, até o processamento, distribuição e
consumo dos produtos agropecuários “in natura” ou industrializados (ARAÚJO, 2003, p.28).
Logo, o agronegócio engloba todas as empresas que estão dentro e fora da porteira da
fazenda, trazendo produtos do campo para os consumidores, não consistindo apenas na

1
Mestranda em Agronegócios, Universidade Federal de Santa Maria, Campus de Palmeira das Missões 1-
jenaineaz@hotmail.com 1

2
Mestranda em Agronegócios, Universidade Federal de Santa Maria, Campus de Palmeira das Missões-
simonebuenocamara@gmail.com

3
Professor do Programa de Pós Graduação em Agronegócios, Universidade Federal de Santa Maria, campus
de Palmeira das Missões – nilson.costa@ufsm.br
produção de alimentos, mas outros processos como geração ou aquisição de insumos, uso de
produtos agrícolas em diferentes formas através do processamento e comércio de produtos
agrícolas (JAMANDRE, 2013). Segundo o mesmo autor, compreende todas as empresas em
torno da produção agrícola, como a agricultura que abrange a produção de diversas culturas.
Historicamente, a agricultura teve função relevante no crescimento econômico
brasileiro e teve grandes avanços de produtividade, sendo vista como um setor estratégico
para o crescimento econômico (GRAZIANO, 1998; RANGEL, 2012; BRAGAGNOLO,
BARROS, 2015). Ainda que ao longo da história econômica exista certa divergência sobre
qual o papel desempenhado pela agricultura no processo de desenvolvimento, existe certo
consenso em afirmar que a mesma desempenha papel relevante ao criar segurança alimentar,
diminuindo a exposição dos mais pobres à fome, e ao gerar excedentes que são importantes
para o crescimento industrial (SCHERER; PORSSE, 2017).
Em relação a mão de obra no rural, segundo os dados do Censo de 2017, percebe-se
uma diminuição de cerca de 20% no número de pessoal ocupado em relação ao Censo de
2006. Isso retrata a diminuição do pessoal ocupado nos estabelecimentos do estado do Rio
Grande do Sul, e consequentemente a mão de obra disponível. Esse fato, pode estar
relacionado a mecanização de grande parte dos processos produtivos que acaba não utilizando
mão de obra braçal, instigando muitas vezes a migração do pessoal ocupado do rural para o
urbano.
Contudo, considerando que a produção agrícola é constituída pelo resultado das
culturas permanentes e temporárias, bem como necessita do emprego da mão de obra, embora
os processos sejam mecanizados, busca-se com o estudo analisar a significância da área das
lavouras permanentes e temporárias, e do número do pessoal ocupado em relação ao valor
bruto da produção agrícola do estado do Rio Grande do Sul.

2 Produção agrícola no estado do Rio Grande do Sul

A agricultura tem desempenhado papel central no controle da inflação, na garantia da


segurança alimentar, na geração da ocupação direta do meio rural e indireta no meio urbano,
bem como na integração socioeconômica do território nacional (BUAINAIN, GARCIA;
2016). Tem alcançado altos índices de produção nas últimas décadas além de contribuir de
maneira relevante no crescimento econômico do Brasil (BRAGAGNOLO; BARROS, 2015).
A agricultura tradicional, pouco intensiva em capital passa a utilizar uma agricultura
com mais tecnologia, ainda que isso não tenha sido disseminado de forma homogênea entre
todas as regiões brasileiras, em relação a todos os produtos e produtores (ORTEGA; JESUS,
2011). Entretanto, o dinamismo da agricultura não foi suficiente em muitas regiões do país,
pois quando o setor agrícola entra em crise, a região perde sua vitalidade e capacidade de
manter o emprego, ocupação e a renda (BUAINAIN; GARCIA, 2016).
Através de modernos mecanismos tecnológicos utilizados para a produção de
matérias-primas e alimentos, foi possível estabelecer condições mais favoráveis tanto do
ponto de vista mecânico como químico (NASCIMENTO; FIGUEIREDO; MIRANDA, 2018).
No entanto, ainda é importante considerar em primeiro lugar, em qualquer empreendimento
rural, qual ou quais serão os produtos a serem produzidos e em quais quantidades, tendo em
vista os recursos disponíveis e o retorno desejado (BATALHA, 2010). Logo, a
disponibilidade de terras bem como tipos de cultura que se adequam ao clima do local são
fatores que interferem na dinâmica territorial da agricultura.
Nesse aspecto, a ocupação territorial é determinada e movida por múltiplos fatores
econômicos e populacionais (BUAINAIN; GARCIA, 2016). Onde,o recente crescimento
agrícola no Brasil foi caracterizado por uma forte expansão agrícola da área plantada,
motivada por bons preços pagos a esses produtos agrícolas, aliadas a uma forte demanda
mundial (SAVOIA, 2009).
Segundo os dados preliminares do Censo (2017), no estado do Rio Grande do Sul,
existem cerca de 365 mil estabelecimentos que compreendem aproximadamente 22 milhões
de hectares. Porém, nem toda essa área é utilizada para cultivo de lavouras, sendo a maior
representatividade (42%) relacionada ao cultivo de pastagens.
A área utilizada para lavouras representa 36% da área total, sendo no meio rural as
forças da dinâmica agrícola divididas entre as lavouras temporárias e permanentes
(BUAINAIN; GARCIA, 2016). As lavouras temporárias, como o próprio nome já diz são
aquelas que contêm culturas agrícolas que são colhidas e plantadas dentro de um espaço de
tempo e uma vez colhidas, não permanecem na lavoura para uma segunda colheita, enfim
oferecem apenas uma colheita e o período de vida é curto (LEMES, 1996; DENTZ;
ESPÍNDOLA, 2019) como exemplo temos a soja, o milho, o feijão e outras culturas.
No gráfico 1, é possível identificar a forma de distribuição das terras no estado do Rio
Grande do Sul.

Gráfico 01: Utilização das terras no estado do Rio Grande do Sul

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados preliminares do Censo, 2017.

Em relação às lavouras permanentes, destaca-se como características o fato de não


necessitarem de um replantio para que se faça mais de uma colheita. São cultivares agrícolas
em que a planta permanece na lavoura por vários anos para diversas safras, conforme é o caso
da laranja, da maçã, do caqui e de muitos outros (DENTZ; ESPÍNDOLA, 2019). As lavouras
permanentes são representadas pelas culturas como abacate, azeitona, erva mate, laranja e
outras culturas (FEEDADOS, 2019) e representam cerca de 4% da área total das lavouras.
As lavouras temporárias são predominantes representando cerca de 96% da área das
lavouras e consequentemente também representam o maior valor da produção agrícola
(FEEDADOS; IBGE, 2019).
Em relação ao pessoal ocupado no rural, segundo o Censo Agropecuário (2017), o
Brasil conta com uma população de 15 milhões de pessoas ocupadas em atividades
agropecuárias distribuídas em mais de 5 milhões de estabelecimentos. Enquanto no estado do
Rio Grande do Sul, os 364 mil estabelecimentos contam com aproximadamente de 983 mil
pessoas ocupadas, o que resulta em 2,7 pessoas por estabelecimento rural. Nesse aspecto, no
Rio Grande do Sul, as pessoas ocupadas nos estabelecimentos rurais representam cerca de 6%
do total do país. Em relação ao Censo Agropecuário (2006) a média de pessoas ocupadas por
estabelecimento era de 2,79 pessoas. Nesse aspecto, a participação de produtores no total de
pessoas ocupadas na agricultura colabora com a ideia de estabilidade na agricultura brasileira,
porém uma possível diminuição de trabalho na função de produção agrícola poderia se dar
através da migração desses produtores para o meio urbano (BRAGAGNOLO; BARROS,
2015). Este fato, relacionado com alguns fatores como falta de opções diversificadas de
trabalho, bem como a competição com máquinas e equipamentos (ALVES; MARRA, 2009).
Considerando os aspectos mencionados, este trabalho tem por objetivo analisar a
significância da área das lavouras permanentes e temporárias, e do número do pessoal
ocupado em relação ao valor bruto da produção agrícola do estado do Rio Grande do Sul.

3 Procedimentos metodológicos

O objetivo da pesquisa está relacionado à da significância da área das lavouras


permanentes e temporárias, e do número do pessoal ocupado em relação ao valor bruto da
produção agrícola do estado do Rio Grande do Sul.

3.1 Método de estimação

O modelo econométrico estimado para análise foi a Regressão Linear Múltipla (RML).
Esse modelo é calculado a fim de estimar o impacto das variáveis selecionadas sobre o
produto agrícola (BRAGAGNOLO; BARROS, 2015). A análise de regressão é uma das
técnicas estatísticas mais utilizadas para análise, que busca investigar e modelar a relação
entre as variáveis (COELHO-BARROS et al., 2008). Então, busca a análise do
relacionamento entre as variáveis dependentes e independentes. Desta forma, grande parte das
pesquisas delineadas para examinar o efeito exercido por duas ou mais variáveis
independentes sobre uma variável dependente utiliza a análise de Regressão Múltipla
(ABBAD, TORRES, 2002).
Os testes econométricos, segundo Santana (2005) são utilizados para analisar a relação
entre uma variável dependente e duas ou mais variáveis independentes. Segundo o mesmo
autor, o modelo Regressão Linear Múltipla (RML) é um importante instrumental de análise de
problemas econômicos, que permite relacionar variáveis, quantificar seus efeitos e testar
hipóteses teóricas.
Portanto, um possível modelo estimado para apurar essa regressão foi:

𝑌1 = 𝛼 + 𝛽1 𝑋1 + 𝛽2 𝑋2 + 𝛽3 𝑋3 + 𝜀𝑖 (1)

Onde,

𝑌1 é o valor bruto da produção agrícola;

𝛼 é a constante;

𝛽1 𝑋1 é a área das lavouras permanentes;

𝛽2 𝑋2 é a área das lavouras temporárias;

𝛽3 𝑋3 é o número de pessoal ocupado e;

𝜀𝑖 termo de erro aleatório.


Sendo que:
Após a coleta dos dados, os mesmos foram tabulados no Microsoft Excel ®, e
posteriormente extraídos para o software EViews® e realizadas as análises estatísticas e
inferenciais.
Primeiramente, foi estimada a regressão e a partir disso, realizadas os testes de
validação do modelo. Foram considerados para análise o 𝑅 2 , a Estatística F, as probabilidades
de erro e a significância das variáveis independentes.
Após a regressão, é importante verificar se o modelo é significativo e se as variáveis
explicativas possuem influência sobre a variávelmexplicada.

3.2 Testes de validação do modelo de regressão

Para validação da equação, foram feitos os testes de Heterocedasticidade e


Multicolinearidade e a análise de resíduos. Considerando que a autocorrelação costuma
ocorrer em séries temporais e a amostra do presente estudo é resultado de dados de corte
transversal, a Estatística-d de Durbin Watson não foi considerada para análise.
A equação utilizada para análise da heterocedasticidade foi a seguinte:

INCLUIR EQUAÇÃO

Para tanto, o grau de multicolinearidade foi analisado segundo o fator de variância


inflacionária (FVI) demonstrado na equação a seguir:
1
𝐹𝑉𝐼𝑡= (3)
1−𝑅𝑡2

Logo, a perfeita colinearidade é rara, o que geralmente se tem são casos de imperfeita
colinearidade entre as variáveis, onde a multicolinearidade é uma questão de grau, sendo
considerado forte quando próximo da perfeita e fraco quando próximo de zero (SANTANA,
2003).

3.3 Fonte de dados

O estado do Rio Grande do Sul é composto por 497 municípios. Porém, para o estudo
foram estabelecidos alguns critérios para seleção desses municípios, integrando a amostra
somente os municípios que continham informações em todas as variáveis, tanto dependente
quanto independentes, utilizadas para o estudo correspondentes ao ano de 2017. Restando
assim, 452 municípios.
O valor bruto da produção agrícola foi extraído da Feedados e corresponde ao ano de
2017. É formado pelos valores em reais da produção de culturas permanentes como: abacate,
azeitona, banana, caqui, erva mate, figo, goiaba, laranja, limão, maçã, mamão, manga,
maracujá, marmelo, noz, palmito, pêra, tangerina, tugue e uva. E pelos valores das culturas
temporárias como: abacaxi, alho, amendoim, arroz, aveia, batata doce, batata inglesa, cana de
açúcar, cebola, centeio, cevada, ervilha, fava, feijão, fumo, girassol, linho, mamona,
mandioca, melancia, melão, milho, soja, sorgo, tomate, trigo e triticale.
A área das lavouras temporárias e permanentes foi extraída dos dados preliminares do
Censo Agropecuário de 2017, e corresponde a área plantada de cada cultura.
O número de pessoal ocupado foi extraído dos dados preliminares do Censo
Agropecuário de 2017.

4 Resultados e discussões

A presente pesquisa teve como objetivo analisar os fatores que possuem influência no
valor da produção agrícola do estado do Rio Grande do Sul considerando fatores de dentro da
porteira. Para essa análise foi utilizado o teste econométrico denominado Regressão Linear
Múltipla (RML).

4.1 Estimação do modelo de regressão

O modelo econométrico utilizado para o estudo está corrigido pelo Teste de White
pelo fato de ter apresentado heterocedasticidade, violando a hipótese nula de que os resíduos
são homocedásticos. Logo, este testeQ permite corrigir os dados com base na matriz de
covariância consistente, que gera estimativas corretas para os coeficientes de covariância na
presença de heterocedasticidade (SANTANA, 2003).
Nessa perspectiva, apresentam-se na Tabela 1 os resultados da estimação do modelo
econométrico estimado a partir do Software EViews.

Tabela 1 – Resultados da estimação do modelo de regressão linear


Dependent Variable: LOG(VALOR_DA_PRODUCAO_TOTAL_)
Included observations: 452
White heteroskedasticity-consistent standard errors & covariance

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.

C 1.850121 0.297239 6.224361 0.0000


LOG(LAVOURAPERMANENTE) 0.377233 0.034157 11.04413 0.0000
LOG(LAVOURATEMPORARIA) 0.523377 0.030611 17.09781 0.0000
LOG(PESSOAL_OCUPADO) 0.164464 0.066756 2.463653 0.0141

R-squared 0.702177 Mean dependent var 9.523570


Adjusted R-squared 0.700183 S.D. dependent var 1.153336
S.E. of regression 0.631516 Akaike info criterion 1.927423
Sum squared resid 178.6680 Schwarz criterion 1.963827
Log likelihood -431.5976 Hannan-Quinn criter. 1.941769
F-statistic 352.0830 Durbin-Watson stat 2.272895
Prob(F-statistic) 0.000000 Wald F-statistic 418.7767
Prob(Wald F-statistic) 0.000000

Fonte: Elaborado pelo autor através da manipulação dos dados da pesquisa (2019).

Conforme informações apresentadas na Tabela 1, o coeficiente de determinação R-


quadrado ajustado (0.700183) indica que em média 70% das variações no valor bruto da
produção agrícola são explicadas pelas variações das variáveis explicativas (área das lavouras
permanentes, área das lavouras temporárias e pessoal ocupado). Logo, a estatística 𝑅 2
expressa a proporção da variabilidade amostral da variável dependente que pode ser explicada
pela dependência com as variáveis independentes (SANTANA, 2005). As demais variações
(30%) podem ser explicadas por outros fatores que não foram agregados na equação.
A análise permite verificar que as lavouras temporárias são mais representativas que as
lavouras permanentes, onde para cada aumento de 10% nas áreas das lavouras temporárias há
um acréscimo de 5,23% no valor bruto da produção agrícola, enquanto as lavouras
permanentes representam 3,77% das variações. Esta predominância das lavouras temporárias
é evidenciada quando nos reportamos ao valor total da produção agrícola, onde cerca de 74%
do valor da produção é resultante das lavouras temporárias (FEEDADOS, 2019). Porém, o
número de estabelecimentos com culturas temporárias é menor que o número de
estabelecimentos com culturas permanentes (IBGE, 2017).
Essa predominância das culturas permanentes e temporárias em relação ao valor bruto
da produção agrícola pode estar relacionada com a mecanização e melhoria na infraestrutura
das propriedades, principalmente a partir da década de 1970, com a modernização da
agricultura (SAVOIA, 2009). Onde, a mecanização acaba por aumentar a produtividade e
exigir menos mão de obra. Justificando, desta forma, a menor influencia do pessoal ocupado,
onde um aumento de 10% no pessoal ocupado resulta em um aumento de 1,6% no valor da
produção total agrícola.
A estatística F é utilizada para avaliar a importância global das variáveis
independentes ou a validade da regressão. Logo o teste F é aplicado para avaliar se as
variáveis independentes incluídas no modelo de regressão múltipla apresentam influência
significativa sobre a variável explicada (SANTANA, 2003). Nesse aspecto, a estatística F =
0.000000 é estatisticamente significante e confirma a aceitabilidade do modelo para estudar o
fenômeno proposto, considerando 1% da probabilidade de erro.
As probabilidades de erro são significativas a nível de 1% e 5%.
A seguir é apresentada a equação com os coeficientes substituídos resultado da
estimação do modelo de regressão:

LOG(VALOR_DA_PRODUCAO_TOTAL_) = 1.85012 + 0.37723 ∗ LOG(LAVOURAPERMANENTE) +


0.52337 ∗ LOG(LAVOURATEMPORARIA) + 0.16446 ∗ LOG(PESSOAL_OCUPADO)

4.2 Testes de validação do modelo de regressão

O teste de multicolinearidade demonstra se uma ou mais variáveis explicativas estão


altamente correlacionadas e impossibilita a separação dos efeitos individuais sobre a variável
dependente. Para medir o grau de multicolinearidade pode ser utilizado o cálculo do fator de
variância inflacionária (FVI) para cada variável explicativa (SANTANA, 2003). Na tabela 2
está apresentada a validação do teste de multicolinearidade.

Tabela 2 – Teste de multicolinearidade pelo fator de variância inflacionária (FVI)


Variance Inflation Factors
Included observations: 452

Coefficient Uncentered Centered


Variable Variance VIF VIF

C 0.088351 108.0386 NA
LOG(LAVOURAPERMANENTE) 0.001167 31.69226 1.405816
LOG(LAVOURATEMPORARIA) 0.000937 97.00420 2.248985
LOG(PESSOAL_OCUPADO) 0.004456 295.0576 2.817967

Fonte: Elaborado pelo autor através da manipulação dos dados da pesquisa, 2019.

Nessa estimação, o FVI não excede o valor de 5, demonstrando há uma


multicolinearidade fraca entre as variáveis. Desta forma, os resultados demonstram que não
há forte intercorrelação entre as variáveis explicativas, onde a multicolinearidade não
representa um problema para a regressão, não estando as variáveis correlacionadas, uma vez
que todas as variáveis possuem Fator de variância inflacionária menor que cinco (FVI< 5)
(SANTANA, 2003).
O teste de heterocedasticidade evidenciou a presença de heterocedasticidade no
modelo de regressão estimado.

Tabela 3 – Teste de heterocedasticidade


Heteroskedasticity Test: White

F-statistic 24.84035 Prob. F(9,442) 0.0000


Obs*R-squared 151.8271 Prob. Chi-Square(9) 0.0000
Scaled explained SS 235.9627 Prob. Chi-Square(9) 0.0000

Fonte: Elaborado pela autora através dos dados da pesquisa, 2019.

Isso quer dizer que a variância do termo de erro não é constante para todas as
observações das variáveis explicativas, portanto a hipótese nula de que os resíduos são
homocedásticos, foi violada (SANTANA, 2003). Para a correção do problema com
heterocedasticidade, o modelo foi corrigido pelo teste de White.

4.3 Análise de resíduos


As representações gráficas são formas de verificação da adequação de um modelo
econométrico tornando possível plotar os resíduos em função do valor estimado da variável
dependente (SANTANA, 2003). Uma dessas representações é o gráfico de resíduos que
permite visualizar o comportamento anormal das variáveis. Logo, os resíduos da regressão
são definidos considerando a diferença entre o valor observado na variável dependente em
relação ao seu valor estimado.
Nesse sentido, em relação a esse determinando valor, os resíduos podem ser
consideravelmente maiores ou menores que os demais, sendo os mesmos considerados
outliers (SANTANA, 2003). Segundo o mesmo autor, os outliers nos resíduos de regressão
exigem um conhecimento prévio sobre a origem dos principais fatores que podem ocasionar
esses problemas.
No gráfico 03 é possível visualizar o gráfico de resíduos do modelo econométrico.
Gráfico 03: Análise dos resíduos
3

-1

-2

-3
50 100 150 200 250 300 350 400 450

LOG(VALOR_DA_PRODUCAO_TOTAL_) Residuals
Fonte: Elaborado pelo autor através da manipulação dos dados da pesquisa (2019).

Através da análise do gráfico de resíduos, é possível observar que o modelo apresenta


um outlier, porém sua eliminação não afeta os resultados da regressão. Sendo assim, nem
sempre a eliminação do outlier deve ser a solução recomendada, pois a regressão com a nova
base de dados não obteve resultados com diferenças expressivas comprovando que os outliers
exercem um pequeno efeito sobre o modelo da regressão.

Considerações finais

O presente artigo teve por objetivo analisar a significância da área das lavouras
temporárias e permanentes, bem como do número do pessoal ocupado em relação ao valor
bruto da produção agrícola do estado do Rio Grande do Sul através de um modelo
econométrico baseado na Regressão Linear Múltipla. Concluiu-se que 70% das variações
ocorridas no valor bruto da produção agrícola são oriundas das variações nessas variáveis,
logo existem outras variáveis que podem explicar os demais 30% sobre o valor bruto da
produção agrícola.
Portanto, todas as variáveis independentes possuem impactos positivos sobree a
variável valor bruto da produção agrícola, porém a de maior influência (5,32%) é a variável
área das lavouras temporárias, enquanto a variável de menor influência é a variável pessoal
ocupado (1,6%).

Referências

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Organizacional: aplicações, problemas e soluções. Estud. psicol. vol.7 no.spe Natal 2002
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Emissões de GEE na produção de leitões na fase de creche: uma análise
sobre a fabricação da ração consumida
GHG emissions of piglets production in the nursery phase: an analysis on
consumed feed manufacturing
Carolina Obregão da Rosa²; Rita Therezinha Rolim Pietramale¹; Deivid Kelly Barbosa¹;
Clandio Favarini Ruviaro¹ ²
Resumo
A carência de inventários ambientais específicos para a cadeia suinícola brasileira torna indispensável a
quantificação e análise dos potenciais impactos ambientais originados pela emissão de gases de efeito estufa da
produção de suínos. A priori, a fabricação de rações para a pecuária e o manejo dos resíduos causam impactos
negativos para o meio ambiente. Neste sentido, se propôs identificar as emissões de gases de efeito estufa no
processo produtivo da ração destinada a leitões na fase de creche. Utilizou-se da ferramenta de Avaliação do Ciclo
de Vida com o uso do software Simapro® e o método ReCIPE. A análise foi realizada utilizando-se dados
referentes aos anos de 2016 a 2018 relativos ao consumo e composição da ração fornecida aos animais, bem como,
as informações zootécnicas de entrada e saída dos lotes. Os resultados deste caso indicam que para cada quilo de
ração produzida, destinada a leitão de creche, emite-se cerca de 0,96 Kg de CO2 eq., já para a produção de 1 kg de
ganho de peso, foram emitidos cerca de 1,48 kg de CO2 eq. Destaca-se a elevada participação de premixes na dieta
suína nesta fase, pois é o segundo ingrediente mais presente na ração quando comparado a outras fases produtivas.
Assim, a emissão de gases de efeito estufa desse ingrediente, aproxima-se a do milho. Ressalta-se a necessidade
de um maior volume de trabalhos que apresentam inventários mais abrangentes nos países de maior produção de
suínos, principalmente em relação a qualidade dos dados obtidos e produzidos.
Palavras-chave: Suinocultura industrial; Potencial aquecimento global; Avaliação do Ciclo de Vida;
Processamento de rações; Alimentação animal.

Abstract
The shortage of more specific inventories from the Brazilian pig chains does it indispensable to quantify and
analysis the impacts caused by the emissions of global warming potential from this farming. The food origination
process to livestock and waste management resulted a negative impacts of pig production systems to
environmental. The present study aimed to identify the GHG emissions in the production process of the feed
intended for piglets in the nursery phase. We used the Life Cycle Assessment tool appliance the Simapro® with
the ReCIPE method. The analysis was done in a case study with the provision of data consumption and composition
of feed supplied to the animals. Obtaining the input and output of information zootechnical lots. The reports were
from the production of the years 2016 to 2018. The results of the life cycle evaluation indicate that for each
kilogram of feed produced for the piglet 0.96 kg of CO2eq is emitted. For the production of 1 kg of weight gain
1.48 kg of CO2 eq is emitted. We highlight the high participation of premixes in the diet at this stage, because it
is the second most present ingredient in the list when compared to other productive phases. Thus, premix's
greenhouse gas emissions approximate that of maize. It is emphasized the need for a larger volume of works that
present more comprehensive inventories in the countries with higher pork production, especially regarding the
quality of the generated data.
Keywords: Pig farming industry; Global Warming Production; Life Cycle Assessment; Feed processing; Animal
feed.

1 Introdução

O desenvolvimento do complexo agroindustrial brasileiro de suínos e aves,


principalmente na região Sul, resultou em elevado aumento das emissões de gases verificadas
desde 1970 pelo Sistemas de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa – SEEG
(2017), aproximadamente 90% até 2015. O grande desafio é ser cada vez mais eficiente na
produção e, simultaneamente, buscar meios de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Desta forma, o Brasil como um dos principais produtores de carne do mundo, tem aumentado
os esforços no sentido de elevar a sustentabilidade de seus sistemas agropecuários, agregando
principalmente as premissas ambientais neste objetivo.
______________________________________________________________________________

¹ Programa de Pós-Graduação em Zootecnia na Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD;


² Programa de Pós-Graduação em Agronegócios na Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD.
Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-6586
E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
Com o crescimento observado da suinocultura no Brasil, os impactos ambientais, que
tem como uma das consequências as mudanças climáticas, causam preocupações tanto pelo
sistema de produção, pelo consumo de ração e pelo volume de resíduos poluentes gerados. A
carência de inventários mais específicos da cadeia suinícola brasileira torna indispensável
quantificar e analisar os impactos causados pela emissão de gases impactantes da sua produção,
principalmente os gases com potencial de efeito estufa. (OBSERVATÓRIO ABC, 2017; SEEG,
2017). Os gases que mais contribuem para o aquecimento global são: dióxido de carbono (CO2),
metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) (SNYDER et al, 2008), os mesmos emitidos durante a
produção confinada de suínos.
A carne suína é, em média, a mais consumida mundialmente, logo sua produção tem
participação expressiva no volume de gases de efeito estufa (GEE) emitidos, pois se estima que
esta cadeia de produção animal libere cerca de 668 mil toneladas de CO 2 eq. para a atmosfera
terrestre anualmente (MCAULIFFE et al., 2017). No entanto, segundo Bell et al. (2015) os
sistemas de produção de suínos mais utilizados caracterizam-se pelo modelo intensivo, ou seja,
animais de genéticas especializadas criados em confinamentos. Ademais, Ito et al. (2016)
afirmam também que esta intensificação da atividade resultou em um aumento no volume de
dejetos produzidos, que são altamente poluidores. Assim, esses mesmos autores definem a
suinocultura como uma atividade de alta capacidade poluidora.
Por outro lado, Toniazzo et al. (2018) sugerem que para que se minimize os impactos
causados pela produção de suínos seria necessário diminuir o consumo dos produtos oriundos
desta atividade. Mas também asseguram que existem meios de se diminuir os impactos, tanto
das emissões de GEE quanto os impactos causados ao solo e água.
Na visão de Patience et al. (2015) a confecção de rações e o manejo dos resíduos no
sistema de produção de suínos causam impactos negativos para o meio ambiente, pois o cultivo
dos grãos que compõem a alimentação dos suínos contribui em maior escala para as emissões
dos GEE. Não obstante, faz-se necessário considerar as emissões ao longo da cadeia de
produção, iniciando pelo cultivo dos grãos, o transporte e o processamento deles.
Desta forma, o processamento da alimentação dos suínos tem sido a principal fonte
de emissão de GGE da cadeia produtiva (CHERUBINI et al., 2015). Porém, resultados obtidos
de partir de uma maior investigação dos potenciais impactos ambientais ao longo do sistema
produtivo suinícola, podem auxiliar na gestão ambiental, na tomada de decisão e na construção
de cenários positivos. Neste sentido, o presente projeto propõe identificar as emissões de GEE
no processo produtivo da ração destinada a leitões na fase de creche.

2 Referencial Teórico

Segundo Sosu-Boakye et al. (2014) os ingredientes mais utilizados na dieta dos suínos,
criados na União Europeia, são o farelo de trigo, farelo de colza e aveia. No entanto, o uso
desses ingredientes não somente causa maior deposição de N no solo como também resulta na
necessidade de um maior consumo a fim de atender a demanda nutricional dos animais.
Reduções expressivas tem sido estudadas para que haja uma menor emissão de gases poluentes
no meio ambiente, tais como o estudo de Kaufmann (2015), que identificou que ao reduzir 2,1%
o teor de proteína bruta da dieta de um animal nas fases de recria e engorda, tem-se uma queda
de 11,2% na quantidade emitida de CO2 eq. no final do processo de engorda de animais abatidos
com 100 kg de peso vivo.
De acordo com Gutiérrez et al. (2016), a origem dos ingredientes da dieta de suínos
interfere diretamente no montante de CO2 eq. emitido pela cadeia produtiva. Tais afirmações
também foram relatadas por Reckman et al. (2013), onde eles afirmaram que o trajeto
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percorrido por um dos ingredientes da dieta, o farelo de soja, sendo oriundo do Brasil trazia
consigo um aporte nas emissões causadas pelo transporte do mesmo, pois este percorria uma
distância de 10.112 km desde sua origem em terras brasileiras até a fábrica de rações no norte
da Alemanha.

3 Procedimentos Metodológicos

O uso da avaliação do ciclo de vida está baseado nos princípios e normas da ISO 14040
e ISO 14044 (GUINÉE et al., 2001; GUINÉE et al., 2002; ISO, 2006 a, b), com foco ambiental
e abordagem relativa, e unidade funcional. Todas as análises são relativas à unidade funcional
de 1 kg de peso vivo de leitões, para todas as entradas e saídas no inventário do ciclo de vida.
A metodologia de ACV consiste em quatro fases: definição de objetivo e escopo, coleta
dos dados, análise do inventário a partir da coleta dos dados, avaliação de impacto e, por fim,
a interpretação de resultados (GUINÉE, 2001; FINKBEINER et al., 2006; ISO, 2006 a, b). O
limite temporal do estudo foi de três anos de produção do sistema convencional,
desconsiderando o uso da terra. As fases da avaliação do ciclo de vida estão presentes na Figura
1.

Figura 1. Fases da Avaliação do Ciclo de Vida

Fonte: ISO 14040 (ISO, 2006).

3.1 Objetivo e Escopo


A fim de avaliar o impacto sobre o potencial de aquecimento global de sistemas
brasileiros de produção de leitões ao final da fase de creche, buscou-se coletar os principais
indicadores zootécnicos produtivos de alojamentos de animais desmamados nesta fase. A
análise foi realizada em um estudo de caso, com a disponibilização de dados de consumo e
composição da ração fornecida aos animais bem como a oferta de dados da fase anterior a de
creche e a posterior a esta, obtendo assim as informações zootécnicas de entrada e saída dos
lotes. Os relatórios eram referentes aos anos de 2016 a 2018.

3.2 Dados Produtivos


Optou-se por gerar uma média dos principais indicadores zootécnicos dos animais em fase de
creche para cada lote estudado. Isso foi possível através de relatórios de desempenho gerado ao
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final da fase, de acordo com as informações das unidades de produção de leitões desmamados
e das unidades de engorda.
Os relatórios são de 36 meses de produção e estes contêm informações sobre a
quantidade de leitões desmamados por ano e o peso médio deles. Já para os dados de saída
obteve-se relatórios de produtividade de 12 lotes de engorda, sendo 4 de cada ano estudado,
onde continha peso de entrada e assim obtido a média de peso de saída da creche.

Tabela 1. Indicadores do processo produtivo.


Peso
Qtde alojada Consumo de ração
Peso entrada (Kg) saída
(UA) (kg)
(Kg)
Md. 21.199,67 7,24 22,80 23,94
Total 763.188,12 552.5481,99 1.635.6647,79 1.716.7306,21
Mín. 19.029 6,94 22,71 --
Máx. 22.715 7,74 22,88 --
SD -- 0,35 0,09 --
CV (%) -- 0,13 0,01 --
- Md – média; SD – desvio padrão; CV – coeficiente de variação.
- Calculou-se que ao ano caberiam 10,43 períodos de 35 dias, porém toda semana havia entrada e saída de lotes e
os relatórios da Unidade Produtora de Desmamados eram mensais.

Os indicadores coletados da produção de leitões desmamados e utilizados nas análises


foram: Quantidade de leitões desmamados ao mês e Peso médio de desmame (PMD). As
variáveis coletadas da produção de ração foram: O consumo médio necessário de ração animal
na fase e a composição da dieta pelos ingredientes básicos. A formulação da dieta utilizada no
cálculo baseou-se nos macroingredientes (milho, farelo de soja, farelo de carne, óleo de soja e
premixes) (Tabela 2). Coletou-se um indicador de mortalidade com base na média do dia, que
estava em 6% na unidade toda.

Tabela 2. Composição dos macroingredientes da dieta.


Milho Farelo de Farinha de Óleo de Premix Outros
soja carne soja
Quantidade (%) 36,96 27,76 1,16 1,73 34,83 2,53
Dieta formulada pela empresa a partir das premissas de Rostagno et al. (2011).

3.3 Avaliação do Ciclo de Vida


Para a Análise de Ciclo de Vida (ACV), foi necessário inventariar todos os dados
coletados de produção via relatórios e via informações empíricas com os técnicos de campo.
Assim, obteve-se a quantidade de quilos de leitões “descrechados” em um ano e também o total
de ração consumida para cada quilo de ganho de peso.
Por meio do software Simapro® calculou-se então as emissões de CO2 eq. por quilo de
ração consumida, de acordo com a composição da mesma. Em função da quantidade de quilos
de CO2 eq. emitidos para cada tipo de ração, foi possível calcular quanto de CO2 eq. emitiu-se
por quilo de ganho de peso médio do animal, com relação à ração produzida, sem que se levasse
em consideração as emissões pelo uso da terra.
Para o cálculo de emissão dos ingredientes da dieta consumida utilizou-se da
metodologia ReCIPE, citada por Laso et al. (2018). Esta metodologia proporciona uma
harmonia ao cálculo de emissão através da implementação de pontos médios das variáveis
analisadas e dos dados de caracterização do produto estudado (LASO et al., 2018), além de ser
a metodologia indicada para a utilização de um inventário de dados sem origem científica, como
é o caso deste estudo.

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4 Resultados e Discussões

Os dados referentes ao consumo de ração total e as proporções necessárias dos ingredientes da


sua formulação estão expressos na Tabela 3.

Tabela 3. Consumo de ração e proporção dos ingredientes utilizados.


Consumo de Milho (kg) F. soja (kg) F. carne Óleo de soja Premix
ração (kg) (kg) (kg)
Md. 507.520,02 187.579,40 115.511,56 5.887,23 8.780,10 176.769,22
Total 18.270.720,72 6.752.858,40 4.158.416,16 211.940,28 316.083,60 6.363.691,92
Mín. 455.554,26 168.372,85 103.684,15 5.284,43 7.881,09 158.669,55
Máx. 543.797,10 200.987,41 123.768,22 6.308,05 9.407,69 189.404,53
SD 46.166,01 17.062,96 10.507,38 535,53 798,67 16079,62
Md – média; SD – desvio padrão.

Para cada quilo de Ganho de Peso (GP) de leitões em fase de creche foi necessária a
produção de 1,54 Kg de ração em média, conforme apresentado na Tabela 4, assim como, a
proporção dos respectivos ingredientes da ração em relação ao quilo GP.

Tabela 4. Consumo de ração por quilograma de ganho de peso


GP Consumo Milho/GP F. soja/GP F. Óleo de Premix/GP
(Kg) de (Kg) (Kg) carne/GP soja/GP (Kg)
ração/GP (Kg) (Kg)
(Kg)
Md. 15,56 1,54 0,57 0,35 0,02 0,03 0,54
Total -- 23,96 8,87 5,45 0,32 0,48 8,40
Mín. 15,14 1,51 0,56 0,34 0,02 0,02 0,53
Máx. 15,78 1,52 0,58 0,37 0,02 0,02 0,55
SD 0,30 0,03 0,01 0,01 0,00 0,00 0,01
CV (%) 0,13 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Md – média; SD – desvio padrão; CV – coeficiente de variação; GP – ganho de peso.

Os resultados da avaliação de ciclo de vida do caso estudado indicam que para cada
quilo de ração destinada a leitão de creche produzida emite-se cerca de 0,96Kg de CO2eq., já
para a produção de 1 kg de GP, foram emitidos cerca de 1,48 kg de CO2 eq (Tabela 5). O milho
e o premix juntos foram os responsáveis por 1,07 Kg de GEE por kg de GP dos leitões ao final
da fase de creche (Tabela 5).

Tabela 5. Emissões de GEE sobre o consumo de ração pelo quilo de ganho de peso
GEE Consumo
Farelo de Farinha de Óleo de
(Kg de de Milho/GP Premix/GP
soja/GP carne/GP soja/GP
CO2 ração/GP (Kg) (Kg)
(Kg) (Kg) (Kg)
eq.) (Kg)
Md. 0,96 1,48 0,55 0,34 0,02 0,03 0,52
Total -- 35,46 4,87 1,47 0,10 0,10 4,37
Mín. 15,14 1,46 0,54 0,33 0,01 0,02 0,51
Máx. 15,78 1,51 0,56 0,36 0,03 0,04 0,53
SD 0,30 0,03 0,01 0,01 0,00 0,00 0,01
CV (%) 0,13 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Md – média; SD – desvio padrão; CV – coeficiente de variação; GEE – gases de efeito estufa; GP – ganho de peso.

Os resultados de desempenho do caso estudado (Tabela 3) diferem dos encontrados por


Ali et al. (2017), os quais obtiveram que para cada quilo de peso ganho do leitão ao final da
fase de creche consumiu-se cerca de 1,15 kg de ração, a qual fora formulada de acordo com as
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indicações de Rostagno et al. (2011). Já o indicador de potencial de aquecimento global
apresentado por Ali et al. (2017), sem considerar o uso da terra, foi de 1,19 Kg de CO2eq. por
Kg de peso vivo de animal terminado, considerando os animais desde a desmama até o pré-
abate.
Observa-se também, nos resultados de Ali et al. (2017), que o potencial de aquecimento
global da fase de creche foi superior às demais fases de produção, corroborando com os dados
encontrados no presente estudo. Isso pode ser explicado pelo fato do nível de premix da dieta
compor aproximadamente 70% da ração dos leitões analisados por estes autores, o que indica
que tal conjunto de ingredientes possa vir a ser o de maior impacto no potencial de emissões de
GEE.
No Canadá, Mackenzie et al. (2015) encontraram o valor de 1,75 kg de CO2eq. por Kg
de peso vivo de suíno nas fases de creche a engorda, tais valores são significativamente superior
ao encontrado por Ali et al. (2017), porém vale ressaltar que estes autores são de regiões
diferentes o que pode influenciar sobre o tipo de ingrediente utilizado como também as técnicas
de produção.

5 Conclusão

A fase de creche, ou recria, do suíno é uma fase de transição, entre o sofrimento


fisiológico sobre o desmame e a preparação corpórea para o ganho de peso excessivo na fase
da engorda. Por ser uma fase exigente quanto ao manejo é que se identificou que existe um
aporte de ingredientes mais específicos, como é o caso do premix ou núcleo, como são
chamados os complexos nutricionais especializados. Com essa especificidade dos premixes da
dieta, bem como o alto percentual quando comparado a outras fases, concluiu-se que este vem
a ser o segundo maior influenciador sobre as emissões geradas pelo processamento da ração
necessária para um quilograma de ganho de peso do leitão, sendo o milho o ingrediente que
causa a maior parcela de emissão de gases de efeito estufa.
Muitos trabalhos têm discutido as emissões causadas na cadeia como um todo, sem
que se possa identificar em qual etapa produtiva encontra-se o ponto a ser melhorado para que
cada vez mais a suinocultura se torne sustentável. Desta maneira, trabalhos com inventários
mais abrangentes nos países de maior produção fazem-se necessários, principalmente no
detalhamento não só dos dados, mas em como estes dados foram produzidos. Assim, quanto
maior for a abrangência de um estudo, maior a precisão dos cálculos de Avaliação do Ciclo de
Vida.

6 Agradecimentos

À Cooperativa Agropecuária de São Gabriel do Oeste – COOASGO, pela


disponibilização dos dados que foram base para a realização deste estudo.
À CAPES/CNPq, Agências de Fomento que forneceram bolsa aos acadêmicos
envolvidos neste trabalho.

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ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE
TANQUES ESCAVADOS NA TILAPICULTURA

ECONOMIC FEASIBILITY STUDY FOR IMPLEMENTATION OF


EARTH TANKS ON TILAPICULTURE
1 2 3
Suzi Cristiny Costa Marques , Régio Marcio Toesca Gimenes , Fábio Mascarenhas Dutra ,
4
Marcos Antônio da Silva .

Resumo
A produção de tilápias tem-se expandido muito nos últimos anos no Brasil, apoiada por novas estratégias de
produção e consumo que buscam solucionar o desafio de alimentar 9,5 bilhões de pessoas até 2050. O presente
estudo objetivou analisar a viabilidade econômica da implantação de tanques escavados para a produção de
tilápias no Assentamento Itamarati em Mato Grosso do Sul. Como base de avaliação da viabilidade econômica
foram utilizadas técnicas do Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), Taxa Interna de
Retorno Modificada (TIRM), Índice de Lucratividade (IL) e Payback Descontado a partir de uma Taxa Mínima
de Atratividade de 10,46%. O investimento inicial foi de R$185.454,47, sendo desembolsado no ano zero. A
análise de viabilidade apresentou um VPL de R$ 99.688,00, TIR de 20,79% TIRM de 10,60%, IL de 1,54% e
Payback descontado de 6,54 anos. Assim, a implantação de tanques escavados para a produção de tilápias
demonstrou-se economicamente viável.
Palavras-chave: Tilapicultura; Viabilidade econômica; Tanques escavados

Abstract
The production of tilapia has greatly expanded in recent years in Brazil, supported by new production and
consume strategies that seek to solve, the challenge of feeding 9.5 billion people by 2050. This article aimed to
analyze the feasibility of the implantation of tanks excavated for the production of tilapia in the Assentamento
Itamarati, in Mato Grosso do Sul State in Brazil. Based on economic feasibility assessment, we used the Net
Present Value (NPV), Internal Rate of Return (IRR), Modified Internal Rate of Return (MIRR), Profitability Index
(IL) and Discounted Payback from a Minimum Attraction Rate of 10.46%. The initial investment was R$
185.454,47, disbursed at year zero. The feasibility analysis showed an NPV of R$ 99.688,00, IRR of 20, 79% and
MIRR of 10,60% IL of 1.54% and discounted payback of 6.54 years. Thus, the implantation of tanks for the
production of tilapia has shown to be economically feasible.
Keywords: Tilapicultura; Economic viability; Troughs excavated

1 Introdução
Dentre os principais desafios da atualidade, encontra-se a necessidade de um sistema
nutricional sustentável capaz de prover a demanda futura prevista para 9,5 bilhões de pessoas
em 2050, exigindo maior oferta de alimentos (Saath; Fachinello, 2018). Tendo em vista o
desafio alimentar futuro, a dieta alimentar em todo mundo vem sendo estimulada para o
consumo de proteína animal de qualidade, refletindo na produção e consumo de peixe (FAO,
2016).
De acordo com Peixe-BR (2019), a proteína oriunda do peixe é a de maior produção
no planeta, sendo que em 2018 foram produzidas 176 milhões de toneladas de pescado, desse
total 84 milhões são oriundos de peixe de cultivo, enquanto 92 milhões são de captura. O
cultivo de peixe é atualmente o principal produto da aquicultura, diversos sistemas de

1
Mestranda, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail:< suzicristiny@hotmail.com>.
2
Pós Doutor, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail:< regiogimenes@gmail.com>.
3
Doutorando, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail:< fabiodutra@ufgd.edu.br>.
4
Mestrando, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail:<marcosantonio@ufgd.edu.br>.
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produção são utilizados, variando quanto às técnicas utilizadas e espécies produzidas (LIMA,
2013).
O Brasil deve registrar um crescimento de 104% na produção de pesca e aquicultura
até 2025, atingindo posição de destaque entre os maiores produtores de pescado no mundo
(FAO, 2016). A produção do pescado brasileiro é bem estabelecida em viveiros escavados e
tanque rede, instalados em reservatórios particulares ou em águas da união. O otimismo para a
produção brasileira justifica-se pela grande extensão de terra, clima favorável e a
disponibilidade da maior reserva de água doce do mundo (BUENO et al., 2015).
O estado de Mato Grosso do Sul, ocupa posição de destaque no ranking nacional da
produção de peixe, pois é rico em lâmina d’água, fator fundamental para o desenvolvimento
da atividade (PEIXE-BR, 2018). A tilápia é o principal produto da piscicultura brasileira,
sendo a quarta maior produção do mundo com 400.280 mil toneladas em 2018, com previsão
de aumento de 500 mil toneladas em 2020 (PEIXE-BR, 2019). A importância desse segmento
vai além da lucratividade, influencia também na geração de renda e emprego, contribuindo
para desenvolvimento local (BENÉ et al., 2015).
Para o melhor aproveitamento do potencial produtivo é necessário conhecer as
limitações e potenciais lucrativo para o produtor, assim um estudo de viabilidade faz-se
necessário para respaldar os incentivos disponibilizados para essa atividade. Diante do
exposto, pretende-se identificar se há viabilidade econômica na implantação de tanques
escavados para produção de tilápias no Assentamento Itamarati, que é maior assentamento
rural da América Latina e já apresenta grupos estabelecidos de piscicultores que utilizam a
prática para complementar a renda familiar.

2 Referencial Teórico
A produção aquícola no Brasil tem apresentado um desempenho em torno de 14,02%,
conforme dados do IPEA (2017). Compõem as atividades aquícolas a pesca extrativista que
corresponde à retirada de elementos pesqueiros do ambiente natural e aquicultura; que se trata
do cultivo em espaços controlados e confinados de organismos aquáticos tais como peixes e
crustáceos.
O principal produto da aquicultura é a tilápia, sendo produzidas em viveiros escavados
ou tanques redes e é de fácil produção por ter capacidade de se adaptar aos ambientes de
salinidade intermediária (EMBRAPA, 2017). De acordo com o relatório do Banco Mundial
(2013) cerca de 62% do consumo de peixes até 2030 serão provenientes da aquicultura. Neste
contexto, o Brasil tem alcançado um destaque como potencial produtor de tilápias e espera-se
que o país produza 20 milhões de toneladas por ano até 2030 (FAO, 2016).
A produção de tilápias foi introduzida no Brasil em 1970, mas apenas em 1990 passa a
se tornar uma atividade economicamente viável para o produtor rural (EMBRAPA, 2018),
apesar de possuir o melhor perfil para piscicultura devido a suas características zootécnicas e
pela sustentabilidade produtiva dentre os sistemas intensivo ou extensivo utilizados para sua
produção comercial (IPEA, 2017).
Nota-se que a cadeia produtiva das tilápias ainda enfrenta desafios, tais como a falta de
equipamentos próprios para a atividade, à falta de rações adequadas a espécie e a dificuldade
para obter as licenças ambientais das propriedades e a construção de tanques. Essas limitações
acabam dificultando a entrada de pequenos e médios produtores e minimizando os
investimentos privados no setor (IPEA, 2017).
A ampliação da Tilapicultura tem gerado grandes benefícios para o desenvolvimento
regional como a geração de novas oportunidades de trabalho, tanto para o produtor familiar
como para as grandes empresas rurais que entram na atividade (EMBRAPA, 2018). De acordo

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com os dados do IBGE (2015), a produção de tilápias no Brasil concentra-se na região Sul,
com 42% do total, seguida pelas regiões sudeste e nordeste com 26% e 24%, respectivamente,
e com 8% a região Centro-Oeste.
Os principais polos produtivos de tilápias utilizam sistemas de cultivo intensivo em
tanque redes e de cultivos semi-intensivos em tanques escavados (EMBRAPA, 2018). De
acordo com Kubitza (2015), os tanques escavados apresentam menor custo de produção na
região sul do País, principalmente no estado do Paraná que é o principal produtor, isso se deve
ao menor custo de ração e de alevinos no país e o apoio de grandes cooperativas que permite a
otimização dos custos.
O estado de Mato Grosso do Sul, ocupa o 11º lugar no ranking nacional de produção
de peixe segundo a Peixe BR, (2018). Em 2016, de acordo com a Secretaria de Estado de
Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura (SEMAGRO, 2017) o
estado totalizou 1.200 piscicultores ativos, e atualmente possui 10 frigoríficos.
De acordo com a SEMAGRO (2017), o Mato Grosso do Sul conta com um cenário
positivo para os próximos anos com a operação de novos grupos atuando na região que
poderão ocupar 554 hectares com tanques-rede e incrementar em mais de 120 mil toneladas a
produção do estado. Dessa forma, o estado vem contribuindo com a autorização do uso de
águas da união, oferecendo benefícios tributários e facilitando contratos para empresas, o que
acarreta em mais investimentos para o agronegócio na região.
Sendo assim, nota-se o grande potencial do estado de Mato Grosso do Sul, rico em
lâmina d’água e território, aproveitando as oportunidades de mercado, atendendo uma
demanda já estabelecida e crescente, como é o caso da grande produção e consumo das
tilápias.

3 Procedimentos Metodológicos
A presente pesquisa teve como foco a população de produtores rurais do assentamento
Itamarati que possui 50 mil hectares. Esse assentamento possui 15.867 habitantes e
aproximadamente 2.900 famílias, e é um distrito do município de Ponta Porã. Fica localizado
a 258 km de distância da capital Campo Grande e está situado no estado de Mato Grosso do
Sul, Brasil. A escolha desse assentamento se justifica por ser o maior assentamento da
América Latina, além de vários órgãos governamentais e associações estarem presentes no
assentamento como forma de auxílio e capacitação da população local, como por exemplo, o
Instituto Nacional de Colonização e reforma Agrária (INCRA), Assistência Técnica Rural
(ATER), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Federação dos Agricultores
Familiares (FAF) dentre outros.
Para a análise de viabilidade, avaliou-se uma implantação hipotética de dez tanques
escavados de 20x50 metros para a produção de tilápias, considerando a lâmina de água total
de um hectare, ou seja, de 10.000m², com dois ciclos produtivos de 180 dias em cada viveiro.
Para implantação dos tanques é necessário pagar uma taxa de autorização da atividade que
deverá ser renovada a cada quatro anos. Neste trabalho, foi considerado apenas o valor da
terra onde serão implantados os tanques, ou seja, em 1 hectare, o valor de mercado utilizado
em Mato Grosso do Sul está estimado em R$ 30.250,00.
A análise de viabilidade econômica permite determinar se a atividade vai gerar
vantagens econômicas ou não (VIAN et al. 2019). Para realizar a análise de viabilidade
proposta no trabalho, primeiramente foi elaborado o fluxo de caixa para um período de 10
anos, sendo a receita anual estipulada por meio da venda do quilo de tilápias produzida nos
dois ciclos multiplicada pelo preço de venda. Como os dados de cotações de tilápias são
pouco divulgados, foi necessário entrar em contato com os principais frigoríficos da região

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para que assim fosse calculado o preço médio, com base nos dados de anos anteriores. Assim,
para esse trabalho será usado o valor de R$4,21 como preço de venda para cada quilo
produzido.
Na etapa seguinte, aplicou-se as técnicas de avaliação de investimentos conforme
detalhado a seguir:
A) Taxa mínima de atratividade: representa o mínimo de retorno exigido pelo
investidor, ou seja, é considerada a taxa mínima equivalente à rentabilidade de aplicações
correntes e de pouco risco. Segundo Kassai, et al. (2007), “a taxa mínima de atratividade é a
taxa mínima de rentabilidade a ser alcançada em determinado projeto”.
Para calcular taxa mínima de atratividade foi utilizado o modelo CAPM ajustado
Híbrido, de Pereio (2001), este modelo foi escolhido, pois “ajusta o prêmio do mercado global
para o mercado interno por meio de um beta país que, matematicamente é apresentado pela
inclinação de regressão entre o índice de mercado local e do mercado global” (TEIXEIRA;
CUNHA, 2017; SOUZA; GIMENES, 2018; SOUZA; COSTA; 2018).
Campo e Zuniga-Jara (2018), ao pesquisar o custo de capital usado para estimar o
valor presente líquido em pesquisas relacionadas à aquicultura nos últimos 25 anos,
calcularam uma rentabilidade mínima para pesquisas futuras na aquicultura. Segundo os
autores, o custo de capital médio calculado é de 10,6%, sendo maior quando se pesquisa
crustáceos e algas, e para projetos em países em desenvolvimento.
B) Valor presente líquido: O valor presente líquido (VPL) é um dos principais métodos
de avaliação de investimento, indica o valor atual de uma série de fluxos de caixa,
descontados a uma determinada taxa de juros (VIAN et al. 2019). Um valor presente líquido
positivo indica que os ganhos gerados por um projeto excedem os custos previstos, o que
significa que o projeto será viável e quanto maior for o VPL, melhor (WU; MA; ZHANG;
2019).
C) Taxa interna de Retorno: A taxa interna de retorno, representa a taxa que torna o
VPL de todos os fluxos de caixa do investimento igual a zero (PRADHAN et al., 2019). De
acordo Tudisca et al. (2013), um investimento será conveniente se a sua TIR for superior a
uma taxa de desconto de referência predeterminada à qual o investidor poderia investir suas
liquidações financeiras. Para Gitman (2010), um projeto é considerado economicamente
viável se apresentar uma TIR maior ou igual a TMA.
D) Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM): Segundo Kassai (1999) a TIRM é
uma versão melhorada da TIR, pois elimina o problema de muitas raízes, bem como de taxas
divergente de financiamento e refinanciamento, indicando a herdeira taxa de retorno de um
projeto. Segundo Barbieri e Álvarez (2007), a TIRM é um melhor indicador da taxa de
retorno de longo prazo por levar em consideração a realidade do mercado.
E) Payback Descontado: é considerado o tempo de retorno do capital investido.
Segundo Di Trapani et al. (2014), o Payback descontado representa o número de anos
necessários para que os fluxos de caixas descontados igualem o custo do investimento inicial.
F) Índice de Lucratividade: tenta identificar a relação entre custos e benefícios de um
novo investimento. É calculado com base no valor atual das entradas de caixa e dividido pelo
valor atual do investimento inicial. Este índice é usado principalmente para classificar os
projetos em ordem decrescente de atratividade. Se o projeto apresentar valor menor que 1,0
indica que o valor atual dos fluxos de caixa esperados é menor do que o valor do investimento
inicial e, portanto, deve ser rejeitado. Se o índice for maior que 1, o projeto deverá ser aceito
(BEDECARRATZ; LÓPEZ; MORA; 2011).
G) Valor Anual Equivalente (VAE): O valor anual equivalente é o resultado da
transformação do VPL do projeto, em valores anual uniforme em parcelas periódicas e
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constante entre os anos de vigência do projeto (BOTEON, 2009). O projeto será considerado
viável se o VAE for positivo, indicando que os benefícios periódicos são maiores que os
custos periódicos (SILVA; FONTES; 2005).

4 Resultados e Discussão
O investimento total em capital fixo é uma soma dos dois componentes, custo direto e
custos indiretos (PRADHAN et al., 2019). Os custos diretos e indiretos podem ser verificados
na Tabela 1. Os valores estimados foram conseguidos por meio de contato com especialistas
da área e fornecedores dos equipamentos.

Tabela 1- Dados para produção de tilápias em 1 ha de lâmina d’água em tanque escavado, no


assentamento Itamarati, Mato Grosso do Sul, 2019
Descrição – viveiros e construção Quantidade Valor Total
Valor da terra 1 R$ 30.250,00
Autorização para atividade 1 R$ 800,00
Serviços para implantação dos viveiros 90 R$ 16.200,00
Serviços de escavação de canal de abastecimento 100 R$ 14.000,00
Alevinos por ano 176.920 R$ 21.230,40
Serviços de plantio de grama (m²) 50 R$ 500,00
Máquinas e equipamentos 44 R$ 42.100,24
Total em Investimento fixo R$ 140.080,64
Fonte: Dados da pesquisa, 2019

A depreciação para serviços de licenciamento e construção de viveiros, foi calculada


com base no período de vida em que deverão ser realizados novamente os serviços. Os
serviços de escavação manutenção do canal de abastecimento deverão sofrer manutenções a
cada cinco anos. As máquinas e equipamentos utilizados na implantação possuem uma vida
útil de cinco anos, com exceção do gerador de energia elétrica que apresenta vida útil de 10
anos. Os custos variáveis e fixos considerados na elaboração do fluxo de caixa pode ser
acompanhada na tabela 2.
Custos Variáveis Unidade Valor unitário Valor Total
Ração para Alevino 2-3 mm 40% P.B 372 R$ 71,92 R$ 26.754,24
Ração 4-5mm – 32% de proteína 2166 R$ 61,58 R$ 133.388,28
Ração 9-8 mm – 28% de proteína 2743 R$ 38,81 R$ 106.455,83
Mão-de-obra (despesca) 80 R$ 70,00 R$ 5.600,00
Gasolina para gerador 100 R$ 4,60 R$ 460,00
Total dos custos variáveis R$ 272.652,35

Custos Fixos Unidade Valor unitário Valor Total


Energia elétrica 12 R$ 3.000,00 R$ 36.000,00
Mão de obra fixa 12 R$ 1.800,00 R$ 21.600,00
Total dos custos fixos R$ 57.600,00
Tabela 2- Custos Variáveis e Fixos na produção de tilápias no assentamento Itamarati, Mato Grosso do Sul
Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Os gastos com rações foram calculados considerando 22% de mortalidade alevinos,


durante o processo produtivo e considerando 176.920 alevinos em cada ciclo produtivo. A
mão de obra no assentamento é predominantemente familiar, mas em períodos de despesca é
possível a contratação por meio de pagamento de diária. Os custos fixos para a produção
foram compostos pela na remuneração dos próprios produtores, de modo que estes produtores
poderiam trabalhar em outras atividades e a energia elétrica gasta para bombear água nos
tanques.
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Para a elaboração do fluxo de caixa foi considerado um período de 10 anos, o
desembolso inicial no valor de R$ R$185.454,47, sendo R$140.080,64 em investimento fixo e
R$45.373,83 em capital de giro. No quinto ano há um desembolso no valor de R$60.830,64
referente ao gasto anual com alevino e ao reinvestimento em máquinas e equipamentos, com
vida útil de cinco anos. Considerando a capacidade de produzir 100.000kg de peixe com a
capacidade instalada e o valor de venda para frigorífico a R$ 4,21, totalizou-se uma receita
anual de R$421.000,00 conforme o Fluxo de Caixa apresentado na Tabela 3.

Tabela 3-Fluxo de caixa

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Para aplicar as técnicas de avaliação de viabilidade econômica do projeto, fez-se


necessário primeiramente, definir a Taxa Mínima de Atratividade (TMA), que foi utilizada
para descontar os fluxos de caixa do projeto. Para a realização do cálculo da TMA,
assumiu-se as seguintes premissas:
a) Taxa Livre de Risco Global (RFG): representa o retorno sobre um investimento
livre de risco, neste caso optou-se pela taxa de juros paga pelos títulos emitidos pelo Tesouro
do Governo dos Estados unidos, com resgate em 30 anos (T-bonds). O valor utilizado para
taxa de rendimento dos T-bonds foi de 2,47%, obtido em 05/07/2019
(https://br.investing.com/);
b) Risco País (RC): é o risco de crédito a que os investidores estrangeiros estão sujeitos
quando investem no país. O índice utilizado para medir o risco país é EMBI+ Brasil
(Emerging Markets Bond Index Plus), calculado pelo Banco J.P Morgan (BACEN, 2016).
Neste trabalho, o valor utilizado para a taxa EMBI+ Brasil é de 2,38% ao ano, sendo obtida
em 05/07/2019 (http://ipeadata.gov.br/);
c) Beta do país (βCLG): O beta foi calculado mediante a regressão entre o índice de
mercado de ações locais e o índice de mercado global. O índice do mercado local utilizado foi
o IBOVESPA e para o índice de mercado global foi usado o MSCI ACWI (All Country World
Index), para ambos foi utilizado a variação mensal no período de junho de 2013 a junho de
2019. O coeficiente angular calcular pela regressão é 2,19.
d) Beta desalavancado de empresas comparáveis no mercado global (β): para o cálculo
foi utilizado um beta médio para um grupo de empresas comparáveis (DAMODARAN,
2002). Neste estudo utilizou-se o beta desalavancado do setor Farming/Agriculture βA=0,48
calculado por Aswath Damodaran (http://pages.stern.nyu.edu/) e obtido em 05/07/2019.

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e) Retorno do mercado Global (RMG): para o cálculo utilizou-se MSCI Acwi-All
Country World index, como uma proxy do retorno global. O período de analisado para o
retorno médio foi de 2013 a 2019, cujo valor obtido foi de 8,90% ao ano.
f) O coeficiente de Determinação (R²): Calculado a partir da regressão entre o índice
Ibovespa e a variação do risco país dado pela variação mensal do EMBI+ Brasil, no período
de junho de 2013 a junho 2019. O valor apurado na regressão para o coeficiente de
determinação é de 0,1692.
Assim, após o levantamento dessas premissas é possível determinar o valor da taxa
mínima de atratividade, conforme o MODELO AH-CAPM:

TMA=2,47%+2,38%+2,19{0,48(8,90%−2,47%)}(1−0,1692)=10,46% (1)

Após o cálculo da TMA é possível identificar os valores utilizados com referência nas
técnicas de análise de investimento que são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4- Indicadores de viabilidade econômica


Valor Presente Líquido (VPL) R$ 99.688,00
Valor Futuro Líquido (VFL) R$ 269.583,48
Valor Anual Equivalente (VAE) R$ 16.545,73
Taxa Interna de Retorno (TIR) 20,79%
Taxa Interna de retorno Modificada (TIRM) 10,60%
Índice de Lucratividade 1,54%
Payback Descontado 6,54 anos
Fonte: Dados da pesquisa, 2019

O valor calculado para o VPL foi positivo (R$ 99.688,00), indicando que por este
critério a avaliação do projeto é viável. De acordo com Silva e Queirós (2011), esse método
define se houve valorização no capital investido no projeto. Como o VPL encontrado é
positivo, presume-se que o projeto deve ser aceito, visto que o produtor obterá retorno
financeiro maior do que seu custo de capital (SOUZA; GIMENES, 2018).
A Taxa Interna de Retorno (TIR) apurada neste trabalho apresentou retorno de
20,79%, portanto uma taxa superior a TMA que foi de 10,46% ao ano, reforçando a
viabilidade do projeto. A TIRM representa uma taxa mais realista no reinvestimento dos
fluxos de caixa intermediários (BARBIERI; ÁLVAREZ, 2007). O valor calculado foi de
10,60%, a TIRM por ser de fácil compreensão, permite uma melhor comparação com outras
taxas de mercado (Kassai et al, 2007). Como o valor apresentado da TIRM é maior que o da
TMA, conclui-se que por esse critério o projeto é viável.
Segundo Silva e Fontes (2005) o Valor Anual Equivalente (VAE) possibilita a
distribuição do valor presente líquido em parcelas equivalentes do valor atual, durante a vida
útil do projeto. O VAE Calculado para o projeto foi R$16.545,73 como o valor é positivo
pode-se considerar o projeto economicamente viável. O índice de lucratividade calculado
demonstrou que para cada real investido no projeto, o produtor tem como retorno R$1,54. O
período de retorno do capital investido foi calculado com base no Payback Descontado por ser
considerado um método mais eficaz do que o Payback tradicional (KASSAI et al,2007). O
período de Payback calculado para o projeto foi de 6,54 anos considerado um período curto
considerando os dez anos de vida útil do projeto.
A implantação de tanques escavados para produção de tilápias no assentamento
Itamarati mostrou-se viável para o produtor, apresentou um investimento total de
R$185.454,47, sendo de R$140.080,64 referente ao investimento fixo e R$45.373,23 de

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capital de giro para a construção dos tanques utilizando 1 hectare de lâmina d’água. O custo
com a construção de viveiro representou 56% do custo total da implantação, relativamente
abaixo de valores encontrados por Brande et al., (2019) e Sacco e Mauad (2016) em estudo
similares.
A viabilidade econômica para produção de tilápia foi encontrada em outros estudos
(Brande et al.; 2019; Sacco e Mauad; 2016; Souza, Biscai, DA SILVA, 2013; TURCO et al.,
21014; VANCIN, MALACARNE, BERTIATO; 2017). O valor VPL chegando a R$99.688,00
e a taxa interna de retorno de 20,79% são indicativos da viabilidade do projeto. Campos et al
(2007) e Boechat et al. (2015) encontraram altas taxas de retorno na implantação de
tanques-rede para a produção de tilápias, sendo 57% e 71% ao ano, respectivamente.
Os custos variáveis estimados correspondem a R$ 272.652,35 sendo o custo com ração
correspondente a 97,77%, percentual muito próximo do encontrado por Sabag et al, (2007) e
muito acima dos 63,78% encontrado por Trobetta et al., (2017) e 70% encontrado por
Furlanetto et al. (2006), uma alternativa para a redução do custo de rações, conforme
recomendações da CNA (2018) é o escalonamento da produção que permite ciclos produtivos
em diversos períodos de tempo e como a disponibilidade de juvenis é maior ao longo do ano,
como essa técnica é possível reduzir os custos de produção.
As principais limitações para a expansão da atividade na região Centro-Oeste,
segundo Kubitza (2015) são principalmente a dificuldade de licenciamento ambiental (em se
tratando de áreas maiores que 5 há), o alto custo de produção, a insuficiente assistência
técnica, o baixo preço de venda, mão de obra de baixa qualidade, difícil acesso ao crédito e
baixa oferta de ração de qualidade. O preço de mercado da tilápia depende muito do canal de
mercado onde o produtor está inserido, tais como a presença de frigorifico, a venda direta ao
consumidor, e também do volume de venda, do tamanho do peixe produzido (Kubitza, 2015).
Nesta análise verificou-se também que o período de Payback foi considerado curto, o mesmo
ocorre com Vancin, Malacarne e Betiato (2017), ao comparar a viabilidade da produção de
tilápias no Rio Grande do Sul, o prazo de Payback encontrado pelos autores foi de 2,4 anos.

5 Conclusões
A produção de tilápias em tanques escavados nas condições estabelecidas neste artigo
apresentou viabilidade econômica, surgindo como uma excelente opção de investimento para
o produtor que visa diversificar sua renda por meio da tilapicultura no Assentamento
Itamarati.
Apesar do grande potencial encontrado no estado para a expansão da atividade o
produtor ainda enfrenta algumas limitações para se manter competitivo e conquistar novos
mercados. O custo da ração e a dificuldade em estabelecer seu preço torna a atividade um
pouco limitada para pequenos e médios produtores.
No Assentamento Itamarati, além de proporcionar uma nova fonte de renda para os
produtores, a produção de peixes tem se tornado um fator importante para o desenvolvimento
rural com geração de empregos e cooperativas, mas ainda precisa da colaboração do poder
público para disponibilizar a assistência técnica e crédito para potenciais produtores. Uma
sugestão para o melhor desempenho é o uso de parcerias com investidores privados que
possam financiar a produção.

Referências
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Gestão econômico-financeira e a assistência técnica nas propriedades rurais
Economis and financial management and technical assistance in rural
properties
AZEVEDO, Jenaine de1, CAMARA, Diego K.2, CHRISTOFARI, Luciana F.3.

Resumo
A gestão econômico-financeira é um instrumento de grande importância para o desenvolvimento e sucesso das
propriedades rurais. O controle gerencial na administração rural auxilia os produtores no processo decisório
possibilitando a análise do melhor resultado econômico e da viabilidade ou não das atividades e da propriedade
como um todo. Mesmo diante da importância do tema, as propriedades rurais brasileiras possuem carências
relacionadas ao processo de gestão, fato que pode prejudicar o processo de desenvolvimento das mesmas. Logo,
é destacado o papel da Assistência Técnica e Extensão Rural como difusores e transmissores de conhecimento.
Nesse sentido, o objetivo do trabalho é identificar se as propriedades rurais que recebem algum tipo de
assistência técnica (assessorias) possuem nível de gestão econômico-financeiro melhor do que aquelas que não
recebem. Para tanto, foram coletadas, informações de 175 gestores de propriedades rurais, por meio de
questionários online, distribuídos de maneira não aleatória, com questões fechadas para caracterizar os gestores,
os processos de gestão e os tipos de assessorias recebidas. Os dados foram compilados em planilha do Microsoft
Excel® e posteriormente foi realizada análise descritiva dos dados. Os principais resultados demonstram que as
assessorias financeiras oriundas do contador, autônomo e assistência técnica possuem influência no nível de
gestão econômico financeira das propriedades rurais. Assim como as assessorias produtivas oriundas de
cooperativas, autônomos e assistência técnica.

Palavras-chave: Propriedades rurais. Assessoria. Controles.

Abstract
Economic and financial management is an important instrument for the development and success of rural
properties. The managerial control in the rural administration helps the producers in the decision making
process allowing the analysis of the best economic result and the viability or not of the activities and property as
a whole. Even considering the importance of the theme, Brazilian rural properties have deficiencies related to
the management process, a fact that may hinder their development process. Thus, the role of Technical
Assistance and Rural Extension as knowledge diffusers and transmitters is highlighted. In this sense, the
objective of this work is to identify if the rural properties that receive some kind of technical assistance (advisory
services) have a better economic and financial management level than those that do not receive it. To this end,
information from 175 farm managers was collected through online questionnaires, distributed non-randomly,
with closed questions to characterize the managers, management processes and types of advice received. The
data were compiled in a Microsoft Excel® spreadsheet and later a descriptive analysis of the data was
performed. The main results show that the financial advisory services provided by the accountant, self-employed
and technical assistance have influence on the level of economic and financial management of rural properties.
As well as productive advisory services from cooperatives, self-employed and technical assistance.

Keywords: Rural properties. Advice. Controls.

1 Introdução

O setor agrícola possui inúmeras especificidades que o divergem de todos os demais


setores, e assim como outros negócios é preciso uma boa gestão para sobreviver e prosperar.
Logo, o agronegócio, integra princípios de gestão de negócios com os conhecimentos técnicos

1
Mestranda em Agronegócios – Universidade Federal de Santa Maria- jenaineaz@hotmail.com
2
Mestranda em Agronegócios – Universidade Federal de Santa Maria – odiegocamara@hotmail.com
3
Professora do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios – Universidade Federal de Santa Maria –
luciana_christofari@ufsm.br
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dos desafios gerenciais do setor agrícola da produção real às aceitações do consumidor
(JAMANDRE, 2013). Com a intensificação do agronegócio, as propriedades rurais passaram
a serem consideradas empresas, necessitando adequar-se às exigências da indústria e do
mercado consumidor (VESTENA et al., 2011). Nessa linha de argumentação, Marion (2003)
afirma que as propriedades rurais podem ser consideradas empresas rurais, porque exploram a
capacidade de produção do solo decorrente do uso e cultivo da terra, e da criação de animais,
além da transformação de produtos agrícolas. Resultantes das várias explorações da
capacidade de produção, inúmeras foram as mudanças no agronegócio, sendo um dos
principais fatores responsáveis por esse processo o aumento da competitividade, que fez com
que o processo de gestão fosse aperfeiçoado para realizar os negócios de uma forma mais
dinâmica e ágil (CARVALHO; LIMA; THOMÉ, 2015).
A gestão de uma empresa rural é um processo de tomada de decisão que avalia a
alocação de recursos escassos em diversas possibilidades produtivas, dentro de um ambiente
de riscos e incertezas, características do setor agrícola (LOURENZANI et al., 2003). Segundo
o mesmo autor, o gerenciamento da propriedade rural é um dos fatores indispensáveis para
alcançar o desenvolvimento sustentável da propriedade como um todo, independente do
tamanho da propriedade.
Diversos estudos demonstram que os proprietários rurais não utilizam processos de
gestão para gerir suas atividades e essa não utilização estaria relacionada a vários fatores
como a falta de conhecimento (MAZZIONI et al., 2007; COLLETA et al., 2013; CALGARO;
FACCIN, 2012; KREUSBERG, SÖTHE, TOLEDO FILHO, 2013; SOTHE; DRESEL; DILL,
2014; GRAINER et al., 2017), aumento dos custos da propriedade para implantar o processo
de gestão (BORILLI et al., 2005; HOFER; BORILLI; PHILIPPSEN, 2006; KREUSBERG
SÖTHE, TOLEDO FILHO, 2013; MOURA, PEREIRA, RECH., 2016), falta de tempo para
executar as tarefas administrativas (CALGARO; FACIN, 2012; ZANIN et al., 2014; CYRNE
et al., 2015), falta de motivação (MAZZIONI et al., 2007), existência de controles já
considerados suficiente e não acreditar em sistemas formais (HOFER; BORILLI;
PHILIPPSEN, 2006; KREUSBERG; SÖTHE; TOLEDO FILHO, 2013; ZANIN et al., 2014),
falta de recurso para investir, alguns não consideram necessária a utilização da gestão e
atribuem isso a falta de pessoal preparado para auxiliar e prestar esse serviço (COLLETA et
al., 2013).
Logo, a atualização dos meios de gerenciamento destacada por Crepaldi (2012) pode
estar atrelada a uma assistência técnica apta a auxiliar esse processo de conhecimento e
mudança nas propriedades rurais. Concorda Peixoto (2008) que tanto a assistência técnica
quanto a extensão rural possuem grande importância no processo de comunicação de novas
tecnologias, que são geradas pela pesquisa, através de conhecimentos diversos e essenciais ao
desenvolvimento rural no sentido amplo e, especificamente, ao desenvolvimento das
atividades agropecuárias. Estas atividades foram realizadas, durante muito tempo, de forma
rudimentar, com pequena inovação tecnológica, sendo assim, conferido grande incentivo à
criação de instituições de pesquisa agropecuária e à formação de especialistas em
determinadas áreas do conhecimento relacionadas à inovação agropecuária, e para difusão
desses conhecimentos surgiu a figura do profissional especialista em assistência técnica e
extensão rural em 1948 (CASTRO, 2015). Como reflexo de uma instituição sendo
representada, os produtores e as comunidades rurais percebem no agente de Assistência
Técnica e Extensão Rural (ATER) a presença de alguém que pode contribuir para a mudança
social que o local almeja (PETARLY; COELHO; SOUZA, 2017).
Colleta et al. (2013) afirmam que há necessidade de uma assistência técnica mais
adequada com condições de orientar o produtor também na área de gestão, devendo esse
serviço ser planejado segundo as especificidades de cada tipo de produtor. Entretanto, a maior
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parte dos produtores rurais não terá condições financeiras para contratar mão de obra
especializada e exclusiva para esta área, obrigando aos agentes de assistência técnica
produtiva, também serem encarregados por esta transmissão de conhecimento. No presente
estudo, tratamos a assistência técnica como assessoria produtiva e financeira. Nesse contexto,
o objetivo do trabalho é identificar se as propriedades rurais que recebem algum tipo de
assessoria possuem nível de gestão econômico-financeiro melhor do que aquelas que não
recebem.

2 A gestão econômico-financeira (GEF)


A gestão econômico-financeira apresenta-se como um instrumento importante para o
desenvolvimento e sucesso das propriedades rurais, pois o controle gerencial na administração
rural auxilia os produtores no processo decisório possibilitando a análise do melhor resultado
econômico e da viabilidade ou não das atividades e da propriedade como um todo. Callado e
Callado (2011) afirmam que para o agronegócio brasileiro ser mais competitivo e rentável, ele
deve direcionar sua administração para a necessidade de informações contábeis regulares
sobre os aspectos financeiros, bem como a avaliação de seus processos administrativos e
produtivos onde a falta de precisão sobre seus custos compromete a qualidade das decisões
tomadas.
Nesse sentido, em muitos casos além da escassez de informações sobre a propriedade,
falta ainda um trabalho de apurar as informações que se tem, visando obter as análises
indispensáveis para um gerenciamento profissional do negócio. A informação gerencial
resulta do que, na realidade, ocorre na propriedade. Através de uma organização dos dados
referente ao movimento econômico-financeiro diário do estabelecimento, é possível gerar
significativo número de informações. Entretanto, após a obtenção dessas informações
financeiras e econômicas, a maioria dos gestores rurais não sabe como trabalhar esses dados.
Diante desse retrato, algumas observações podem ser realizadas. A análise das
informações obtidas através dos registros financeiros, econômicos e contábeis (ASSAF
NETO, 2009) vem ao encontro da análise das demonstrações econômico-financeiras. Nesse
sentido, a gestão econômico-financeira (GEF) pode ser tratada como a arte e a ciência
(GITMAN, 2002) de administrar receitas, custos, gastos e investimentos e os atores
envolvidos (no caso rural, os produtores) como os verdadeiros protagonistas e responsáveis
pelo correto andamento dos números. Através da utilização da GEF é possível avaliar
aspectos que podem ser monetizados da organização como um todo, conforme apresentado no
quadro 1.

Quadro 1 – Aspectos avaliados pela gestão econômico-financeira.


Aspectos avaliados pela gestão econômico-financeira

G (1) capacidade de pagamento da empresa por intermédio da geração de caixa

(2) rentabilidade = capacidade de remunerar os investidores gerando lucro em níveis compatíveis


E com suas expectativas
(3) lucratividade = resultado operacional, apuração de custos, despesas, margem de contribuição,
F ponto de equilíbrio, etc.

(4) nível de endividamento e na necessidade de capital de giro

(5) diversos outros fatores que atendam aos objetivos dos agentes (orçamento, investimentos,
nível de imobilização, etc.)
Fonte: adaptado de Gitman (2002).

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A contabilização rural e a gestão econômico-financeira das propriedades são muito
importantes (BAGOLIN et al., 2015) e apresentam grandes desafios. A GEF se concentra na
avaliação e monitoramento do desempenho das propriedades rurais e nas contribuições que
oferece para a correta tomada de decisão dos gestores dessas propriedades, desde simples
registros de dados até análises mais complexas. De acordo Kay, Edwards e Duffy (2014), a
GEF baseia-se nos conceitos da teoria microeconômica e evolução da teoria de finanças das
organizações, assim como nas teorias associadas à disponibilidade e análise da informação e
seus usos para o controle da gestão.
A assertividade das decisões econômicas e financeiras e o desempenho das
organizações dependem de ações que são tomadas no dia a dia, e que muitas vezes não
contam com nenhuma ferramenta ou registro para subsidiar a mesma.

2.1 Assistência técnica e a gestão econômico-financeira em propriedades rurais

Considerando seu caráter difusionista, é importante destacar que a assistência técnica


possui papel importante na transmissão desses conhecimentos aos produtores rurais, isso
porque os assistentes técnicos podem quebrar essas barreiras e serem capazes de transmitir
esse conhecimento bem como acompanhar a execução das ferramentas gerenciais. Isto é
possível através do trabalho da extensão rural que coloca seus agentes em interação com o
público-meta quase que diariamente, onde vários encontros, programas, seminários, cursos,
visitas, dias de campo são organizados para promover as atividades dos técnicos, para
apresentar uma nova proposta de trabalho ou atrair os agricultores na adoção de determinada
técnica ou inovação (DEPONTI; ALMEIDA, 2012). Essa abordagem pode ser vista através
de alguns estudos (COLLETA et al., 2013; KNOREK; FERRARI, 2013; BATALHA;
BUAINAIN; SOUZA FILHO, 2005) que tratam a assistência técnica como uma possibilidade
de mudança no aspecto gerencial das propriedades rurais.
Com objetivos de desenvolver o produtor rural, contribuir na solução de problemas,
aumentar a produtividade, reduzir custos, melhorar condições de produção, gerar maior
lucratividade e repassar novas tecnologias, a assistência técnica se apresenta como uma
alternativa as melhorias necessárias ao desenvolvimento das propriedades rurais (PEDROZO,
2019). O papel tradicional da assistência técnica era de transferir conhecimentos
exclusivamente técnicos, pois os mercados não se apresentavam tão exigentes. Em
decorrência desses mercados mais competitivos, essa estratégia não é mais suficiente,
existindo a necessidade da transferência de tecnologia pela assistência técnica, mas também,
do desempenho de outros papéis como transmissores de conhecimentos (NAVARRO;
CAMPOS, 2013), tais como os demonstrados no quadro 2.

Quadro 2 – Funções da Assistência Técnica


1) Transmitir conhecimentos sobre mercados e comercialização
2) Contribuir na formação de organizações de produtores
3) Transferir conhecimentos sobre gestão das propriedades e das organizações coletivas
4) Informar aos produtores a respeito do “menu” de políticas existentes
5) Elaborar estratégias para transformar produtores em beneficiários dessas políticas
6) Auxiliar no diagnóstico da realidade socioeconômica com objetivo de propor projetos compatíveis com
as potencialidades e condicionantes locais
Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Navarro e Campos, 2013.

O surgimento dessas novas demandas de conhecimentos resultam em um grande


desafio, pois implicam na necessidade da construção de unidades de assistência

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multidisciplinares, com técnicos de distintas áreas do conhecimento ou técnicos com
formação multidisciplinar (NAVARRO; CAMPOS, 2013). Por isso, a assistência técnica e a
extensão rural possuem importância fundamental no processo de comunicação de novas
tecnologias, geradas pela pesquisa, e de conhecimentos diversos, que são essenciais ao
desenvolvimento rural e, especificamente, ao desenvolvimento das atividades agropecuárias e
florestais (PEIXOTO, 2008). Tendo em vista que os programas de extensão e de treinamento
são necessários para ajudar os agricultores a desenvolver suas habilidades de gestão e
competências para melhorar sua produção agrícola (AL-ZAHRANI et al., 2019).

3 Procedimentos metodológicos
A coleta de dados ocorreu por meio de questionários online, distribuídos de maneira
não aleatória, com questões fechadas para caracterizar os gestores, os processos de gestão e as
assessorias recebidas distribuídas entre produtivas e financeiras.
Foi calculado um nível de gestão econômico-financeiro para as propriedades rurais de
acordo com o questionário. Através do levantamento das assistências técnicas recebidas
nessas propriedades será possível identificar se o nível de gestão econômico-financeira varia
de acordo com cada assistência recebida. No Quadro 1 é possível verificar a classificação do
índice de gestão econômico-financeira utilizado para a pesquisa.

Quadro 3 – Classificação do Índice de Gestão Econômico-financeiro


Índice de Gestão
Classificação
Econômico-Financeira (IGEF)
0 – 0,2 Incipiente
0,21 – 0,4 Baixo
0,41 – 0,6 Moderado
0,61 – 0,8 Alto
0,81 – 1,0 Profissional
Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Com a finalidade de identificar os tipos de assistência técnica recebidas nas


propriedades rurais foram definidas algumas categorias, como apresentado no Quadro 2.

Quadro 4 – Categorias de análise da assistência técnica


Assistência técnica Assistência técnica
financeira produtiva
Contador
Fornecedor de insumos
Cooperativa
Emater
Cooperativas
Sindicatos
Universidades
Autônomos
Autônomos
Outros (AT) Outros (AT)
Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Para as análises estatísticas dos dados foram utilizados a análise paramétrica da


variância – ANOVA, com auxílio do software SAS®, e a comparação entre as médias por
meio do Teste de Tukey, com nível de significância de 5%, utilizando como variável –
resposta o Índice de Gestão Econômico – Financeira.

4 Resultados e discussão
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4.1 Caracterização da amostra

A população pesquisada é de 175 proprietários de estabelecimentos rurais no Rio


Grande do Sul, distribuídos em 90 municípios. A maioria dos pesquisados (70,2%) foram
homens com idades entre 30 a 59 anos (70,2%). Quanto ao nível de escolaridade mais da
metade (52,7%) tem formação além do ensino médio, com destaque para formações nas áreas
agrárias (47,8%), veterinária (16,3%) e zootecnia (10,8%).
Quanto aos dados produtivos, apurou-se que metade da amostra (49,7%) são de
pequenas propriedades com até 60 hectares, sendo que 2,0 ha (n=1) foi a mínima e 4.000 ha
(n=2) foi a máxima. Não é possível utilizar a classificação por módulos fiscais pela variação
estabelecida pelo INCRA para cada município.
Com relação às fontes de renda, aproximadamente a metade (48,6%) possuem a renda
exclusivamente oriunda das atividades desenvolvidas na propriedade, perfazendo 79,5% que
tem como renda principal ligada a agropecuária.
A atividade predominante é a produção de grãos, presente em 76,6% das propriedades
analisadas (n=81 como principal, n=53 como complementar), com destaque ainda para a
pecuária de corte presente em 41,1% (n=28 como principal, n=44 como complementar) e a
pecuária de leite presente em 32% (n=29 como principal, n=27 como complementar). As
propriedades classificadas como diversificadas foram aquelas que apresentaram mais de três
atividades desenvolvidas sem a predominância de alguma específica (mais de 75%).

4.2 Análise da influência da assistência técnica na gestão das propriedades rurais

Para análise da significância da assistência técnica foram elencadas para análise o


Contador, as Cooperativas, a Emater, os Sindicatos, as Universidades, os Autônomos e
demais prestadores de assistência técnica (AT). A análise permitiu identificar que em relação
ao recebimento e a frequência de assistência técnica para as propriedades (Tabela 1) constata-
se um IGEF estatisticamente maior para quem recebe algum tipo de auxílio, daqueles que não
recebem, mesmo que seja ocasionalmente.
Tabela 1 – Comparação entre as médias do IGEF quanto aos atributos relacionados ao recebimento e a
frequência da assistência técnica financeira

Frequencia/tipo Contador Cooperativas Emater Sindicatos Universidades Autônomos AT

Regularmente 0,61a 0,45a 0,50a 0,49a 0,63a 0,66a 0,56a


Ocasionalmente 0,54a 0,35a 0,45a 0,58a 0,59a 0,55a 0,47ab
Não recebe 0,35b 0,46a 0,43a 0,41a 0,41a 0,34b 0,36b
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.
Obs.: Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

Segundo os resultados, as propriedades que recebem assistência de Cooperativas,


Emater, Sindicatos e Universidades não tiveram diferenças significativas em relação ao seu
nível de gestão econômico-financeira. As assistências técnicas que possuem diferença
estatística são representadas pelas assessorias oriundas de um Contador, de Autônomos e
demais prestadores de assistência técnica. Logo, a busca por profissionais que auxiliem na
área financeira traz avanços significativos na gestão da mesma. Esse resultado também é
apontado nos estudos de Lourenzani et al., (2003) e Borilli et al. (2005) que relatam a

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necessidade de apoio por profissionais da área contábil ou financeira para aumentar a prática
da GEF no meio rural e quando essa situação ocorre, os ganhos são significativos.
Quando realizada a mesma análise, porém, com relação à assistência técnica produtiva
recebida por autônomo, a única diferença significativa é entre o IGEF médio de quem recebe
assistência com frequência regular comparando com aqueles que não recebem.

Tabela 2 – Comparação entre as médias do IGEF quanto aos atributos relacionados ao recebimento e a
frequência das assistências produtivas
Fornecedor de
Frequência/tipo Cooperativas Autônomos AT
insumos
Regularmente 0,48a 0,36a 0,55a 0,57a
Ocasionalmente 0,38a 0,34a 0.46ab 0,41b
Não recebe 0,46a 0,52b 0,35b 0,35b
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.
Obs.: Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

Para fornecedores de insumos, não há diferença significativa entre os produtores que


recebem assistência técnica produtiva regular, ocasionalmente ou não recebem. Já na
assistência técnica oriunda de outras empresas que prestam assistência, temos diferença
significativa entre aqueles que recebem de maneira regular daqueles que recebem
ocasionalmente ou não recebem.
A prática de buscar auxílio de profissionais é maior para as áreas produtivas (53,2%)
com relação a procura por assessoramento financeiro (37,1% em contadores e 24,6%
autônomos), corroborando Marion (2007) quando afirma que os produtores rurais priorizam
as questões produtivas em detrimento as econômicas e financeiras em uma propriedade rural.
A Tabela 4 ilustra mais detalhes quanto a essa situação.

Tabela 3 – Descrição dos responsáveis pela assistência técnica produtiva e financeira


Financeira Produtiva
Responsável pela assessoria / Área
Sim Nível Não Nível Sim Nível Não Nível
Empresas de projetos agronômicos,
33% M 67% I 45% M 55% I
planejamento ou assistência técnica
Profissionais autônomos 25% A 75% I 53% M 47% I
Empresas fornecedoras de insumos 41% M 59% I 71% I 29% B
Cooperativas 34% A 66% I 49% I 51% M
Emater 22% M 78% B 24% A 76% I
Associações ou Sindicatos 20% P 80% M 22% M 78% B
Universidades ou Instituições de ensino 14% P 86% M 14% M 86% M
Outros (AT) 7% P 93% I 5% PA 95% I
Classificação do nível IGEF: P = Profissional; A = Alto; M = Moderado; B = Baixo; I = Incipiente.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.

Ao comparar a responsabilidade em assessorar os produtores nessa amostra, percebe-


se que em todos os tipos de responsáveis há um maior auxilio para questões produtivas.
Destacam-se as diferenças percentuais relacionadas a participação das empresas fornecedoras
de insumos, das cooperativas e dos profissionais autônomos. Outra informação pertinente é
observada quanto aos produtores que são assessorados na área financeira por empresas de
projetos e planejamento, empresas fornecedoras de insumos e pela Emater, em média não

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ultrapassaram a classificação “moderada” no IGEF, contudo, apresentam um nível melhor de
GEF daquelas que não recebem apoio desses responsáveis.
Para o atributo relacionado a necessidade de auxílio técnico ou ferramentas de apoio
para implementar melhorias na gestão da propriedade rural (Tabela 5) observa-se que existem
diferenças estatisticamente significativas para aqueles produtores que entendem não necessitar
de apoio. Esse grupo (16,6% do total) tem em média um IGEF muito próximo a classificação
“incipiente” e mesmo assim consideram não ter interesse em auxílio na área financeira e em
outra qualquer.
Tabela 4 – Comparação entre as médias do IGEF quanto a área que necessita de auxílio técnico ou
ferramentas de apoio para implementar melhorias.
Área da gestão N Média
Em outras áreas 50 0,4978 A
Administrativa/econômica/financeira 96 0,4783 A
Em nenhuma área 29 0,2161 B
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.
Obs.: Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem
estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Contudo, a maioria da amostra (54,9%) afirma necessitar de auxílio técnico ou


ferramentas de apoio na área da GEF, muito em razão da baixa média de IGEF apresentada,
com classificação apenas em “moderada’. Portanto, analisar os diferentes níveis em que a
gestão das propriedades analisadas se encontra possibilita entender os principais aspectos que
influenciam na formação do mesmo, e a partir disso, conhecer as carências e necessidades de
assessoria em relação ao apontamento, registro, controle e análise dos números, de acordo
com a necessidade em cada nível.

5 Conclusões

A gestão econômico-financeira é de grande importância para as propriedades rurais,


porém não é utilizada de forma significativa. Percebe-se que na amostra estudada, as
assessorias possuem influência nesse processo, sendo as mais significativas oriundas da
assessoria financeira (contador, autônomos e assistência técnica) e assessoria produtiva
(cooperativas, autônomos e assistência técnica). Portanto, percebe-se que os profissionais
autônomos e assistência técnica possuem maior significância no processo de gestão
econômico-financeiro das propriedades rurais, onde a presença desses profissionais elevou o
índice de GEF.
Além disso, constata-se que há um maior auxílio por parte da assistência técnica para
aspectos produtivos. As propriedades assessoradas na área financeira por empresas de
projetos de planejamento, empresas fornecedoras de insumos e pela Emater, em média não
ultrapassam nível de gestão moderado.

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Potencial de aquecimento global em processos de produção de rações para
suínos em terminação
Global warming potential emissions in growing pig feed manufacturing
processes
Rita Therezinha Rolim Pietramale¹; Carolina Obregão da Rosa²; Deivid Kelly Barbosa¹;
Clandio Favarini Ruviaro¹ ²
Resumo
Dentro das cadeias produtivas de animais destinados a alimentação, a produção de monogástricos tem participado
expressivamente dos fatores que interferem no aquecimento global. Como a carne suína é a mais consumida
mundialmente, ela pode ter uma participação relevante nas emissões dos gases de efeito estufa (GEE). É na
produção da ração dos suínos onde ocorre a maior parte das emissões de CO 2 eq. do sistema. Assim, este trabalho
objetivou identificar quanto se emite de CO2 eq. na produção da ração necessária para o ganho de 1 Kg de peso
(GP) vivo. O inventário de dados coletados foi de lotes aleatórios de produção de animais terminados para abate
entre os anos de 2016 e 2018. Buscou-se coletar os principais indicadores zootécnicos referentes a fase onde este
animal é alojado com aproximadamente 22 a 30 kg de PV e abatido com 90 a 130 kg de PV. Para produzir 1 kg
da ração destinada a esta fase, identificou-se que foram emitidos cerca de 0,49 kg de CO2 eq. Sendo assim, para
cada animal consumindo a média de 219,78 kg de ração, emitiu-se 107,69 kg de CO2 eq. ao final da fase de
engorda. O estudo apresentou emissões menores que estudos já realizados, o que possibilita a conclusão de que
existem casos no Brasil de eficiência ambiental na fabricação da ração para fases de engorda. Não obstante o
elevado potencial poluidor da suinocultura, existem meios de se diminuir este impacto, via tratamento dos dejetos
ou pelo aumento da eficiência produtiva dos animais.
Palavras-chave: Sustentabilidade; cadeia produtiva; alimentação; abatedouros; manejo de resíduos

Abstract
In the animal production chains intended to human food, monogastric production was major contributor to global
warming factors. The pork is the most consumed in the world and can participate significantly in greenhouse gases
emissions. The swine feed production has a most CO2 eq. emissions of the system. So, this work proposes to identify
how much CO2 eq. emitted the necessary swine feed production to 1 kg of weight gain. The collect indexes were
from randomized finished swine batch reports of three years, 2016 to 2018. The data were the main indicators of
animal production that expressed the phases of the animals. Swine was housed with 22 to 30 kg per animal and
slaughtered with 90 to 130 kg. Each kilogram feed produced to this animal phase issue approximately 0.49 kg of
CO2 eq. For each animal that consumes an average 219.78 kg of feed is emitted 107.69 kg of CO 2 eq. at the end
fattening phases. The study presented the lower emissions than previous studies. This enable the conclusion that
there are cases of environmental efficiency in the fattening swine phases feed production in Brazil. Even the high
polluting potential of the pig farming, with the use waste management or increasing the productive efficiency of
animals is possible to decrease this impact.
Keywords: Sustainability; productive chain; food; slaughterhouses; waste management

1 Introdução

Com o cenário econômico mundial da produção suinícola em constante oscilação, o


Brasil, a partir da década de 1990, passou a participar e a investir em aumento de produtividade
devido a sua abertura para o mercado externo (GASTARDELO et al., 2016). Sabe-se que o
Brasil detém um elevado potencial de produção pecuária, isso o posicionou como um país
importante no comércio mundial de alimentos (PATIAS et al., 2017). Devido a isso, o mercado
internacional passou a exigir que a produção brasileira primasse pela qualidade dos processos
produtivos, seja sobre o controle sanitário como também no controle da poluição ambiental.
Os países importadores da carne suína brasileira influenciam diretamente em como
ocorrem os processos dentro da porteira, com tecnologias e exigências sobre o que pode ou não
ser feito sobre a criação dos animais (BORGES, 2013). Juntamente com a aplicação destas
novas técnicas de manejo houve um aporte na criação de animais em sistema de confinamento,
_______________________________________________________________________

¹ Programa de Pós-Graduação em Zootecnia na Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD;


² Programa de Pós-Graduação em Agronegócios na Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD;
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o qual resultou em um acréscimo nos impactos ambientais causados pelo excesso de resíduos
animais, bem como, a larga escala na produção de rações, sendo este um assunto que tem estado
em evidência sobre as discussões científicas (CARDOSO et al., 2015).
A produção animal influencia expressivamente as alterações do meio ambiente, devido
aos seus efeitos sobre o uso da terra (mudanças) e no ciclo de nutrientes (OENEMA et al.,
2007). Assim, a carne suína, a mais consumida no mundo, sendo responsável por
aproximadamente 36% da demanda mundial de proteína animal, torna-se uma atividade
importante a ser avaliada quanto a suas consequências sobre os impactos ambientais (FAO,
2019). Mesmo com o potencial poluidor da suinocultura, o Brasil tem se destacado nesta
atividade buscando pacotes tecnológicos que se adaptem às necessidades produtivas nacionais.
Dentro deste contexto, o maior desafio é equilibrar os indicadores produtivos, cada vez mais
eficientes, juntamente com os aspectos ambientais e econômicos.
Dentro dos processos produtivos necessários a produção da carne suína, destacam-se
aquelas que ocorrem dentro das unidades de produção de carne, que seriam as que ocorrem na
a fase de engorda destes animais. Nesta fase os animais ficam sujeitos a oscilações nas
condições e mudanças de manejo, como mudanças periódicas de formulação da dieta
acompanhando seu desenvolvimento fisiológico, mudança nas necessidades bioclimáticas
(sendo estas as que mais afetam o desempenho) além de alta susceptibilidade às doenças e
outros males que prejudicam seus ganhos de pesos. Desta forma, o presente trabalho objetivou
identificar quanto se emite de CO2 eq. no processo de produção da ração necessária para que se
tenha 1 Kg de ganho de peso (GP), comparando o que realmente foi consumido com o que
deveria ser consumido de acordo com as indicações técnicas de profissionais que acompanham
a atividade.

2 Referencial Teórico

A produção industrial convencional de suínos é a mais utilizada atualmente atendendo


a demanda volumétrica de produção da carne suína em larga escala, estando a China como
maior produtora no ranking internacional da cadeia de suínos (ZHANG et al., 2019). Mas este
não era o cenário no início da década de 1990, onde os principais produtores e exportadores
encontravam-se no continente europeu, que hoje compreende o bloco econômico da União
Europeia (GASTARDELO et al., 2016).
O mercado de carne suína internacional encontra-se em alerta devido a interferência de
problemas sanitários como a Peste Suína Africana, a qual já resultou em perda de
aproximadamente 14,1% do plantel suíno chinês (cerca de 45 milhões de animais sacrificados),
maior produtor e consumidor do produto (ZHANG et al., 2019). Deste modo, a cadeia de
produção suinícola internacional passa por um momento delicado, onde por um lado países que
fazem fronteira com a China ou que importam subprodutos destinados a alimentação dos suínos
ficam apreensivos e cautelosos na atividade e, por outro, os países exportadores de carne suína
veem uma chance de alavancar a produtividade (ZHANG et al., 2019).
Visto isso, nota-se na suinocultura uma atividade que detém um potencial de
desenvolvimento econômico/financeiro (PIETRAMALE et al., 2019b). Porém, no contexto
ambiental, autores como Mcauliffe et al. (2017) afirmam que, dentro das cadeias produtivas de
animais destinados a alimentação, a produção de monogástricos tem participado
expressivamente dos fatores que interferem no aquecimento global. Sendo a carne suína a mais
consumida mundialmente, ela pode estar participando de forma expressiva nas emissões dos
gases de efeito estufa (GEE) (OENEMA et al., 2007).
Estima-se que cerca de 668 mil toneladas de kg de CO² eq. estão sendo produzidos por
ano mundialmente pela suinocultura (MCAULIFFE et al., 2017). A produção de GEE pelas
atividades suinícolas e avícolas tende a ser maior devido à alta dependência do cultivo de grãos
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destinados a alimentação destes animais, apesar da suinocultura possuir meios de reduzir os
impactos ambientais através da manipulação destas dietas (RÖÖSS et al., 2013).
Muitos são os aspectos negativos dentro da produção de suínos terminados,
principalmente quando estes atingem diretamente as questões mercadológicas internacionais
(PIETRAMALE et al., 2019a). Os países importadores de produtos oriundos da suinocultura
passaram a exigir cada vez mais dos países produtores, tanto em questões de qualidade de
produto como em qualidade de produção principalmente sobre a qualidade da dieta oferecida e
do meio ambiente envolvido na produção (ITO et al., 2016). Portanto, o maior desafio dos
suinocultores comerciais voltou-se para a pressão exercida pelo mercado externo, a partir dos
anos 2000, sobre a sustentabilidade ambiental, principalmente nas regiões de concentração de
produção, e ainda o aumento da demanda sobre o produto, exigindo cada vez mais um aporte
na produção sem que isso afete o meio ambiente (OLIVEIRA e NUNES, 2002).
Dentro desta perspectiva, a formulação da dieta da fase de terminação tem sido estudada
em função da redução do uso dos ingredientes protéicos, pensando na redução da proporção
dos mesmos e fornecendo nutrientes mais biodisponíveis para os animais reduzindo a
necessidade de volume dos mesmos (SONESSON et al., 2016). Esta alimentação fornecida na
engorda dos animais tem sido relatada como a que consome cerca de 73%, na União Europeia
e, 78% nas Américas, do montante de ração total necessário para todas as fases produtivas, da
gestação ao pré-abate (KEBREAB et al., 2016). Afirma-se que processamento da ração dos
suínos, bem como a originação de seus ingredientes, tem tido um papel expressivo nas emissões
de GEE desta cadeia produtiva (CHERUBINI et al., 2015).

3 Procedimentos Metodológicos

O método de Avaliação do Ciclo de Vida foi aplicado seguindo os princípios acordados


nas normas da ISO 14040 e da ISO 14044 (ISO, 2006 a, b; RUVIARO et al., 2015), com ênfase
ambiental, abordagem relativa e de unidade funcional. Desta forma as análises aplicadas neste
trabalho foram relacionadas ao processamento de ração necessária para a produção de 1kg de
Ganho de Peso vivo e 1 kg de carcaça de suínos em fase de engorda.
A metodologia de ACV consiste em quatro fases: definição de objetivo e escopo, coleta
de dados para a produção do inventário, análise deste inventário, avaliação de impacto e
interpretação de resultados (GUINÉE, 2001; FINKBEINER et al., 2006; ISO, 2006 a,b;). Tal
inventário foi de lotes aleatórios de produção de animais terminados para abate entre os anos
de 2016 e 2018.

3.1 Objetivo e Escopo


Com o objetivo de identificar o impacto sobre o potencial de aquecimento global de
unidades produtivas (UP) brasileiras de engorda de suínos buscou-se coletar os principais
indicadores zootécnicos referentes a fase onde este animal é alojado com aproximadamente 22
a 30 kg de PV e abatido com 90 a 130 kg de PV. A análise foi realizada com base em dados de
produção disponibilizados por UPs do Mato Grosso do Sul. Foram necessárias coletas de
informações sobre a composição da ração fornecida aos animais bem como a oferta de
indicadores de desempenho de lotes de entrada e saída dos animais.

3.2 Dados Produtivos


Optou-se por gerar uma média dos principais indicadores zootécnicos destes lotes em
fase de engorda para cada UP estudada. Isso foi possível através de relatórios de desempenho
gerado ao final da fase, de acordo com as informações das unidades de engorda e da unidade
de abate.

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Os relatórios são de 12 lotes de produção e estes continham informações sobre a
quantidade de leitões alojados por ciclo e o peso médio dos mesmos, além de indicadores de
ganho de peso, consumo de ração, mortalidade na fase, consumo real e consumo indicado pelos
responsáveis técnicos (ideal).

Tabela 1. Indicadores do processo produtivo.


Qtde Peso Qtde abatidos Peso Consumo de Período de
alojada entrada (UA) saída ração (kg) alojamento
(UA) (Kg) (Kg) (dias)
Md. 2.583,67 22,80 2.532,25 120,97 219,78 105,33
Total 31.004 706.891,20 30.387 3.675.915,39 6.678.454,86 --
Mín. 1.045 22,43 1.022 113,52 203,857 100
Máx. 5.187 23,05 5.079 128,29 233,575 109
SD -- 0,23665 -- 4,71 7,65 2,99
CV(%) -- 0,056 -- 22,18 58,56 8,97
- Md – média; SD – desvio padrão; CV – coeficiente de variação.
- O consumo de ração foi calculado por animal durante toda a fase.

As variáveis coletadas da produção de ração foram: O consumo médio necessário de


ração animal na fase e a composição da dieta pelos ingredientes básicos. A formulação da dieta
utilizada no cálculo baseou-se nos macroingredientes (milho, farelo de soja, farelo de carne,
óleo de soja e premixes) (Figura 1). Coletou-se um indicador de mortalidade com base na média
do dia, que estava em 6% na unidade toda.

3.3 Avaliação do Ciclo de Vida


Para a realização da ACV, construiu-se o inventário completo dos inputs e outputs
referentes aos lotes avaliados. Tais dados estavam disponíveis nos relatórios de resultados
gerados no alojamento e no embarque para abate. Assim, obteve-se a quantidade de quilos de
leitões terminados em cada lote e também o total de ração consumida para cada quilo de ganho
de peso. Todo o processo de coleta de informações excluiu dados referentes a ocupação e/ou
uso da terra (Figura 1).
Figura 1. Entrada e saída de ingredientes no processamento de rações.

1- 0,55%; 22,75% 70,21%


2- 2,30%; F. de soja
3- 0,38%; Milho
4- 1,45%;
5- 0,27%. 1 Kg 1- F. de carne;
2- Óleo de
de soja;
3- sal mineral;
ração 4- premix;
5- outros.

A dieta formulada pela empresa a partir das premissas de Rostagno et al. (2011).

Através do uso do software Simapro® foi possível calcular as emissões de CO2 eq. para
cada quilo de ração consumida por animal e também pelo quilo de Ganho de Peso (GP), de
acordo com a composição da mesma. Em função da quantidade de quilos de CO2 eq. emitidos
para cada tipo de ração, foi possível calcular quanto de CO2 eq. emitiu-se por quilo de GP médio
do animal, com relação a ração produzida. A metodologia utilizada para a emissão dos GEEs
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foi a ReCIPE, que oportuniza uma harmonização na análise de emissões por implementar todos
os pontos médios de cada indicador calculado bem como seus dados de caracterização do
produto estudado (LASO et al., 2018).

4 Resultados e Discussões

Os lotes de produção resultaram em 98,16 kg de média para o ganho de peso (GP) e um


rendimento de carcaça de 73,99% com 219,78 kg de ração consumida por animal (Tabela 2).
Porém ao considerar que estes animais tivessem consumido o que era indicado tecnicamente, o
consumo para os mesmos 98,16 kg de GP seria de 225,13 kg (Tabela 2), sendo 5,35 kg a mais
do que realmente foi ingerido.

Tabela 2. Consumo de ração real pelo ideal e o Ganho de Peso e rendimento de carcaça.
GP (Kg) Rendimento Consumo de Consumo Consumo de Consumo de
de carcaça ração (Kg) de ração ração/GP (Kg) ração/GP (Kg)
(%) real (Kg) ideal real ideal
Md. 98,16 73,99 219,78 225,13 2,24 2,29
Total 2.982.787,92 2.248.334,13 6.678.454,86 6.841.025,31 -- --
Mín. 90,51 73,99 203,86 203,94 2,25 2,25
Máx. 105,33 74,00 233,57 245,52 2,22 2,33
SD 4,82 0,00 7,65 13,36 0,05 0,05
CV(%) 23,21 0,00 58,56 178,39 0,00 0,00
Md – média; SD – desvio padrão; GP – Ganho de Peso.
O consumo ideal é estimado pela empresa através das metas internas de desempenho.

Ao calcular a quantidade de kg de CO2 eq. produzidos para produzir 1 kg da ração


destinada a esta fase, identificou-se que eram emitidos cerca de 0,49 kg de CO2 eq. Sendo assim,
para cada animal consumindo a média de 219,78 kg de ração, emitiu-se 107,69 kg de CO2 eq.
ao final da fase de engorda (Tabela 3). Para cada quilograma de GP, cada animal consumiu em
média 2,24 Kg de ração, sendo que o ideal indicado era de 2,29 Kg (Tabela 2). Portanto, as
emissões de CO2 eq. seriam cerca de 12,35% maiores se o consumo dos animais atingisse o que
era considerado ideal para os mesmos 98,16 Kg de GP. Assim cada quilograma de GP emitiu
cerca de 1,10 Kg de CO2 eq. para produzir a ração necessária para tal produção, porém se estes
animais consumissem o que era indicado, estas emissões aumentariam para 1,23 kg de CO2
eq./GP (Tabela 4). Isso demonstra que estes animais, apesar de haver variações entre os lotes,
no todo eles foram 12,35% mais eficientes que o esperado para o consumo de ração necessário
para ganhar um quilo de peso vivo.

Tabela 3. Emissões da produção de ração consumida por quilograma de ganho de peso.


GEE/Kg ração GEE/Kg ração GEE/kg de GP GEE/kg de GP
consumida (Kg de consumida (Kg de Co2 (Kg de Co2 eq.) (Kg de Co2 eq.)
Co2 eq.) real eq.) ideal real ideal
Md. 107,69 120,99 1,10 1,23
Total 3.272.376,03 3.676.523,13 3.281.066,71 3.668.829,14
Mín. 99,89 107,65 1,05 1,19
Máx. 114,45 133,48 1,15 1,27
SD 3,74 8,41 0,03 0,02
CV (%) 14,06 70,66 0,00 0,00
Md – média; SD – desvio padrão; CV – coeficiente de variação; GP – ganho de peso; GEE – Gases de Efeito
Estufa.

Ao comparar diferentes composições de dieta de suínos, Reckman et al. (2016)


observaram que cada quilograma de alimento produzido emitiu de 0,47 a 0,55 kg de CO2 eq.

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na fase de engorda dos animais. O que diferenciou do estudo em questão é que no trabalho de
Reckman et al. (2016) houve um consumo de 2,84 kg de ração para cada kg de GP e nesta
pesquisa se obteve 2,24 kg de ração/kg de GP (Tabela 2), mostrando uma melhor eficiência
destes animais no consumo pelo ganho.
Em uma análise realizada no Brasil, Cherubini et al. (2014) identificaram que para cada
1000 kg de carcaça suína produzida, emitiu-se 2.268 kg de CO2 eq. para a produção de ração
para estes animais, considerando que estes animais tiveram um rendimento de carcaça de
73,9%, sendo que cada um entrou na fase de engorda com 23,7 kg de PV e saíram com 125 Kg
de PV, cada quilograma de Ganho de Peso emitiu cerca de 2,07 kg de CO2 eq. Ainda no mesmo
estudo, fora explanado que cada kg de GP na fase de engorda necessitou de 2,51 kg de ração
consumida, a qual, através de cálculos sobre a emissão do GP, observou-se que eram emitidos
0,82 kg de CO2 eq. para cada quilograma de alimento produzido.
Com um rendimento de carcaça de 79% e peso final de 120 kg de PV, Reckman et al;
(2013) encontraram que o GP destes animais foi de 90 kg e que cada Kg de PV ganho consumiu
2,87Kg de ração. Desta forma, estes mesmos autores identificaram neste estudo que cada
quilograma de animal terminado emitiu 1,3 kg de CO2 eq. na produção da ração consumida e
ao incluir o GP neste calculo a emissão na produção da alimentação ingerida por Kg de PV
ganho passa a ser de 1,73 kg de CO2 eq., o que resulta em 0,60 kg de CO2 eq para cada quilo
de ração (Reckman et al., 2013).

5 Conclusão

O presente estudo apresentou valores para emissões mais eficientes que os estudos
encontrados até o momento. O que leva a conclusão que existem casos no Brasil de eficiência
produtiva da ração para fases de engorda.
Todo o processo da análise excluiu o uso da terra, as emissões dos animais e do manejo
dos resíduos, atentando-se apenas para a produção da ração consumida pelos animais. Na etapa
de discussão, os trabalhos confrontados apresentaram metodologias diferentes das usadas neste
estudo, no entanto, utilizaram as mesmas bases de dados para fins de cálculo (EcoInvent®).
Tais métodos diferem principalmente na abrangência das categorias de impactos, e como aqui
preocupou-se somente no processo de produção do alimento do animal, utilizou-se o ReCIPE®.
Tal estudo pode ser replicado considerando as outras categorias de impactos ambientais e
também extrapolar para as emissões dos animais bem como as relacionadas ao manejo dos
dejetos.
Estudos como estes se fazem necessários, principalmente no Brasil, expressando como
ocorrem os processos de produção da carne suína e como se dão as discussões sobre os impactos
causados por esta atividade. Como fora mencionado, a suinocultura tem um potencial poluidor
elevado, porém existem meios de se minimizar este impacto seja via tratamento dos dejetos
como também pelo aumento da eficiência produtiva dos animais, considerando aqui todos os
manejos necessários na criação.
6 Agradecimentos

À Cooperativa Agropecuária de São Gabriel do Oeste – COOASGO, pela


disponibilização dos dados que foram base para a realização deste estudo.
À CAPES/CNPq, Agências de Fomento que forneceram bolsa aos acadêmicos
envolvidos neste trabalho.

Bibliografia utilizada

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A percepção dos produtores rurais frente às mudanças climáticas pode ser
explicada por variáveis socioeconômicas e psicológicas?

Can farmers’ perception to climate change be explained by socioeconomic


and psychological factors?

Cristian R. Foguesatto¹, João A. Dessimon Machado1


Resumo
A intensidade dos diversos danos negativos causados pelos impactos climáticos dependem da capacidade de
adaptação dos produtores rurais em resposta a mudanças no clima. Dessa forma, este estuda analisa quais são os
fatores que afetam a percepção dos produtores rurais do Estado do Rio Grande do Sul – Brasil, em relação ao
contexto de mudanças climáticas. Os modelos de regressão logísticos usados mostraram que o tamanho da
propriedade, o apoio de extensionistas, o número de práticas conservacionistas adotadas e o comportamento
ecocêntrico afetam de forma positiva a percepção. Por outro lado, confiança nas ações governamentais, uso de
subsídios financeiros, e o comportamento antropocêntrico, afetam negativamente a percepção. Os resultados
mostram que existem vários fatores que afetam a percepção frente às mudanças climáticas. Logo, sugerimos que
os desenvolvedores de iniciativas, entre elas, políticas públicas voltadas a mitigar/gerenciar o efeito de tais
mudanças levem em consideração fatores socioeconômicos e psicológicos dos produtores rurais.

Palavras-chave: Agricultura. Antropocentrismo. Comportamento. Ecocentrismo. Eventos extremos.

Abstract
The extent of climatic impacts depends on farmers’ awareness and the capacity of adaptation in response to
changes in the climate. This study examines the factors that influence farmers’ perception of climate in Rio Grande
do Sul-Brazil. Logistic regression model revealed that farm size, support of extension work, number of
conservation practices adopted, and ecocentrism value influenced positively the perception. On the other hand,
farm size relied on government actions, subsidies, and anthropocentric value and was affected negatively. These
findings showed that socioeconomic and psychological factors shape farmers’ perceptions. Our insights can be
used to inform policymakers and developers of climate projects.

Keywords: Agriculture; Anthropocentrism; Behavior; Ecocentrism; Extreme events

1 Introduction

Climate change refers to long-term changes in the statistical distribution of weather


conditions, persisting for an extended period, such as decades or longer (Intergovernmental
Panel on Climate Change - IPCC, 2012). Globally, climate change is a topical subject and there
is evidence that this phenomenon is taking place (BONNOT et al., 2018). As a result of these
changes, it is projected that extreme weather events (e.g. waves of heat, waves of cold, droughts,
storms, hurricanes, floods) increase in frequency and severity along the next coming decades
(IPCC, 2012). Compared with other socioeconomic sectors, agricultural production activities
are generally more vulnerable to climate change because the agricultural systems are directly
influenced by climatic conditions. The occurrence of droughts, for instance, can increase the
risks of economic losses and food insecurity around the world.
In the extreme south of Brazil, particularity in the Rio Grande do Sul (RS) state, extreme
weather events have been negatively affected the grain production (such as maize and soybean
production) in the last few summer seasons (FOCHEZATTO; GRANDO, 2011; GROSS;
CASSOL, 2015). Soybeans are one of the most important crops for the Brazilian economy
(ARTUZO et al., 2018) and historically, RS is one of the state most producer of this commodity.
In the 2017/18 harvest, this state produced about 17 mil tons of soybean, with a productivity of

1 Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios - UFRGS.


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3,013 kg/ha (Companhia Nacional do Abastecimento – CONAB, 2018). Despite rain-fed and
irrigation agriculture have been practiced in this region, the rain-fed system is widely
predominant (RADIN; MATZENAUER, 2016). Given this, the recent droughts, such as
occurred in 2004/05 and 2011/12, caused huge economic losses. As a result of the severe dry
season, in 2004/05, RS total soybean production was only about 2,800 mil tons (CONAB,
2018), being that many farmers have lost their entire harvest.
As farmers are the ones who realize the decision-making process to adopt practices that
can mitigate the negative effects of extreme weather events, understanding their perception
regarding climate change is pivotal (FOGUESATTO et al., 2018). The comprehension of
farmers’ perception of changes in climate is the first step to developing strategies of mitigation
and adaptation and failures in this comprehension can affect the creation of these strategies. A
representative survey of nearly 5,000 farmers in the U.S. revealed that the perceived risks of
the weather and climate were important for the developing adaptation measures (MASE et al.,
2017). Given this backdrop, Tesfahunegn et al., (2016) suggest that the farmers’ perception of
climate change needs to be documented. However, as perception varies from person to person,
some farmers may not care about climate change’s effects.
Using econometric models, the literature has shown that there are various factors that
can explain the farmers’ perception regarding climate change. The findings obtained by Apata
et al., (2009) with Nigerian farmers suggested that farm experience, farm size, and credit
facilitates the perception of changes in the climate. In Ethiopia, the results provided by
Tesfahunegn et al., (2016) showed that some biophysical and institutional variables also
affected farmers’ perception. In Chile, the study of Roco et al., (2014) concluded that age,
income, tenure, weather information from internet and weather information from mass media,
influenced farmers’ perception. These studies provide valuable insights, focused mainly on the
influence of socioeconomic factors on perception.
The growing impact of extreme events caused by climate change on agricultural systems
has generated a rich literature on farmers’ behavior. In Brazil, however, empirical studies for
understanding farmers’ perception on climatic issues are rather scarce. The few efforts on this
subject are mainly based on the descriptive analysis (see, PIRES et al., 2014) and qualitative
techniques (see, SILVA; FRANÇA, 2016). Therefore, the Brazilian existent literature does not
satisfactorily address the relation of farmers’ personal characteristics and their perception of
climate change.
The objective of this paper is to analyze the factors that influence farmers’ perception
of climate change. To the best of our knowledge, this is one of the first attempts to quantify
farmers’ perception in Brazil and one of the firsts in South America. To try filling this gap, we
conducted a farm-level survey in RS, Brazil, analyzing the data through the logistic regression
technique. In addition, to explore farmers’ socioeconomic characteristics, we include in the
regression model, farmers’ psychological variables as an attempt to better understand their
perception. The findings of this paper can contribute with current literature, providing Brazilian
empirical evidence on this topic, as well as also providing useful insights for the developing of
programs and the designing of policies to promote and facilitate the adoption and diffusion of
strategies of mitigation/adaptation the effects of climate change.

2. Methodology
2.1. Area under study and sample

Based on the assumption that people's perception is related to socioeconomic and


psychological factors, this study was conducted in nine counties of the northwest region of Rio
Grande do Sul, Brazil. This region was selected because it had previously been identified as
vulnerable to climate change, mainly due to severe droughts (Instituto Nacional de
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Metereologia – INMET, 2018). In addition, the counties assessed (Ajuricaba, Augusto Pestana,
Bozano, Chapada, Ijuí, Nova Ramada, Palmeira das Missões, Panambi, e Pejuçara) are
important producers of soybeans and other grains.
The empirical data used was generated from a farm-level survey applied to farmers’
producers who declared themselves as the main decision-maker of the farm. A preliminary
questionnaire was designed using past research pieces and with the assistance of nine experts
in the field of economic behavior and farm management. In order to test the adequacy of the
questionnaire, a pre-test was made with 15 farmers. The data collection was carried out from
December 2017 to March 2018 using snow ball approach and 172 questionnaires were
validated.

2.2 Analysis

Empirical data were coded and analyzed using R Package. The data from the survey
were analyzed by means of descriptive statistics and logistic regression model. The information
of the central tendency of key variables and household socio-economic characteristics, as well
as other descriptive statistics, was useful for providing an initial overview of the farmers’
sample. A logistic regression was used in order to model the factors that influence the
perception of climate change. The logistic model considers the relationship between a
dichotomous dependent variable and a set of explicative variables, whether binary, continuous,
ordinal or measured by scales. In this study, the logistic estimation is given by:

1
𝑃𝑖 = 𝑃𝑟𝑜𝑏(𝑌𝑖 = 1) =
1+ 𝑒 −(𝛽0+𝛽1 𝑋1 +…𝛽𝑘𝑋𝑘𝑖 )

𝑒 (𝛽0 +𝛽1 𝑋1 +…𝛽𝑘 𝑋𝑘𝑖 )


= , (1)
1+𝑒 −(𝛽0 +𝛽1 𝑋1 +…𝛽𝑘 𝑋𝑘𝑖 )

Therefore,

𝑃𝑖 = 𝑃𝑟𝑜𝑏(𝑌𝑖 = 0) = 1 − 𝑃𝑟𝑜𝑏(𝑌𝑖 = 1)

𝑒 (𝛽0 +𝛽1 𝑋1 +…𝛽𝑘 𝑋𝑘𝑖 )


= , (2)
1+𝑒 −(𝛽0 +𝛽1 𝑋1 +…𝛽𝑘 𝑋𝑘𝑖 )

Dividing the equation (1) by (2) we get:

𝑃𝑟𝑜𝑏(𝑌𝑖 =1) 𝑃𝑖
= = 𝑒 (𝛽0 +𝛽1 𝑋1 +…𝛽𝑘𝑋𝑘𝑖 ) . (3)
𝑃𝑟𝑜𝑏 (𝑌 =0)
0 1−𝑃𝑖

where, 𝑃𝑖 refers to the probability that Y takes the value 1 and then, 1 - 𝑃𝑖 is the probability
that Y is 0, Y is the binary dependent variable (0= if not perceive the occurrence of climate
change ; 1= if farmer perceive climate change), and 𝛽0 + 𝛽1𝑋1+… 𝛽𝑘𝑋𝑘𝑖 is a linear
combination of the explanatory of interest in this study. Exp(𝛽) indicates to odds ratio.
Explanatory variables used in this study are presented in Table 1. The socioeconomic
variables, were obtained through several agricultural studies on farmers’ behavior on climate
change. Psychological factors were analyzed by latent variables using the three environmental
values proposed by Thompson and Barton (1994). These values are ecocentrism (a view that
promotes the environmental preservation because the nature is intrinsically valuable),
anthropocentrism (nature is important due to its benefits for human welfare), and environmental
apathy (a perspective by which nature is not valued at all). For ecocentrism, anthropocentrism
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and environmental apathy, we measured twelve, eleven and nine questions, respectively, using
the same backdrop presented in the paper of Thompson and Barton (1994). All items were
assessed using a 5-point Likert scale (1= strongly disagree, 5= Strongly agree) and were
averaged to compute their subscale scores. Cronbach Alpha was used to assess the reliability
of these variables.

Table 1 – Measurement of explanatory variables and their expected signal of influence¹


Explanatory variables Type of Definition Expected
variable2 signal
Age C Age of farmer (years) -
Farm size C Farm size in hectares +
Extension work D 1 if the farmer received technical assistance; 0 if otherwise +
Conservation practices O Number of conservation practices adopted in farm +
Subsides D 1 if the farmer received economic subsides in last few +
years; 0 if otherwise
Family size C Number of family members +/-
Rely in government D 1 if the farmer rely in governmental support; 0 if otherwise +/-
Ecocentrism L All environmental values variables were measured through +
Anthropocentrism L Likert scale (1-5), from 1= completely disagree to 5= +/-
Environmental apathy L completely agree -
¹ There are no multicollinearity among the explanatory variables. Actually, the highest coefficient was 0.440, found
between “ecocentrism” and “anthropocentrism”.
2
C= continuous variable. D= dummy variable (binary variable). O= ordinal variable. L=Likert variable (strongly
disagree – strongly agree, 1–5).

As presented in Table 1, we provide a column with the expected signal of the influence
of explanatory variables. These hypotheses were defined according to the findings of Apata et
al., (2009), Deressa et al., (2011), Fosu-Mensah et al., (2012), Aydogdu and Yenigün (2016)
among others.

3. Results and Discussion


3.1 General results

Of 172 farmers surveyed, 124 (72.09%) perceive the occurrence of climate change. This
means that most farmers were aware of climate change. However, in studies carried out in
Africa and Asia regions, this level of awareness was higher than 80% (Fosu-Mensah et al.,
2012; Alam et al., 2017). The most respondents were male (88.6%), and almost 80% live in
rural areas, in an average distance of 15.54 km of their mainlands. Regarding the contact with
extension. workers, about 90% of farmers receive some type of support. Other descriptive
statistics are presented in Table 2.

Table 2 – Descriptive statistics of the sample


Stand. Cronbach
Mean Min. Max Deviation Alpha
Age 44.78 18 86 12.79 -
Farm experience¹ 30.54 4 68 13.50 -
Family size 4.04 1 9 1.19 -
Farmsize 85.15 2 3000 262.20 -
Conservationpractices 3.35 1 7 1.41 -
Ecocentrism 3.62 - - 0.66 0.808
Anthropocentrism 3.22 - - 0.68 0.720
Environmental Aphaty 2.64 - - 0.91 0.850
¹ Farm experience presented multicollinearity with farmers’ age and then this variable was not include
in the regression analysis

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The conservation agriculture (CA) refers to seven practices that can contribute
simultaneously for an increase in food production and economic gains, and for decreasing the
environmental impacts. The diffusion of no-tillage in Brazil starts in the early 1990s
(FREITAS;LANDER, 2014) and the adoption rate of this practice is extremely high in the
northwest of RS due to the land’s characteristics. In our sample, all farmers use this practice.
The other CA practices are green fertilizer (58.72%), crop rotation1 (41.28%), crop-livestock
integration (37.21%), terrace (20.36%), lines of permanent vegetation (10.38%), and cover
plants in between the lines (1.16%). The numbers in parentheses refer to the percentage of
adoption. In addition, in all farms, soybean is the main crop produced in the summer season
and about 65% of respondents grow wheat in the winter.
The environmental values were measured with the Likert scale. Ecocentrism was the
higher average, followed by anthropocentrism. The average of environmental apathy was lower
than three. The Cronbach Alpha showed that all environmental values presented an adequate
coefficient (α > 0.6).

3.2 Model results

Findings obtained by the regression model are presented in Table 3. Farmers’ age,
family size, and environmental apathy did not influence the perception of the farmers surveyed.
On the other hand, seven factors were significant. Farm size had a significant negative effect
(p>0.1). This means that an increase in land size significantly reduced the likelihood of farmer
perceive climate change.

Table 3 - Coefficient estimates of the binary logistic model


Explanatory variables 𝜷 S.E. Sig. Exp (𝜷)
Age 0.009 0.017 0.595 1.009
Farm size -0.005 0.003 0.070 0.995
Extension work 1.448 0.879 0.099 4.254
Number of CA 0.322 0.166 0.053 1.380
Rely in government -1.516 0.537 0.005 0.220
Subsides -0.388 0.200 0.053 0.678
Family size 0.398 0.447 0.373 1.489
Ecocentrism 0.885 0.384 0.021 2.423
Anthropocentrism 1.119 0.417 0.007 3.061
Environmental apathy -0.362 0.268 0.176 0.696
Constant -4.555 2.332 0.051 0.011
-2 Log likelihood 138,805
Cox and Snell R2 0.323
Nagelkerke R2 0.435

The extension workers had a significant positive effect (p>0.1). Therefore, the support
of extension workers influenced the farmers’ perception. The number of CA practices also had
a significant positive influence (p>0.1). This result suggests that farmers who adopt more CA
practices are more likely to perceive climate change. Relying on the government had a
significant negative influence (p>0.01). Therefore, farmers that rely on governmental action
had a lower likelihood of perceiving climate change. Farmers who have received economic
subsidies in the last few years, also had a lower likelihood to perceive it (p>0.1). Regarding
psychological factors, ecocentrism and anthropocentrism had a positive effect on farmers’
perception of climate change, with a significance level of (p>0.01) and (p>0.5), respectively.
It was expected that farmers’ age had a negative influence on their perception of
climate change. Younger farmers probably had more contact on issues related to climate

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change during their school education. Events which occurred in the 1990s, including the Rio
Summit and the Kyoto Protocol, giving a boost regarding the negative impacts caused by
climate change, which in turn, led to the inclusion of courses and disciplines of environmental
management in schools and universities. However, as mentioned earlier, age was not
significant. Family size and environmental apathy also have no significance in the model. This
sense of apathy is often attributed to a lack of comprehension over the benefits of nature. Thus,
people who are characterized as environmental apathetic do not have a pro-environmental
behavior (MORGAN et al., 2015); we hypothesized that this attribute should influenced
negatively the perception on climate change.
The significant negative effect of farm size implies that farmers with larger lands were
less likelihood to perceive climate change. In contrast, the study of Apata et al., (2009) that
analyzed farmers’ perception and adaptation on climate change, the farm size was a significant
positive factor. This finding also is divergent of our hypothesis. We expected that large farmers
were higher likely to perceive climate change because generally they have more information
access than smallholders (PIVOTO et al., 2019), including information on climate. In addition,
as farmers with larger lands frequently have a farm with higher technological level than small
farms, they may perceive less the changes in the climate.
The support provide by extension workers can serves as a proxy of several types of
information. Therefore, it is not surprising that the contact with extension services had a
significant positive effect in the farmers’ perception on climate change. In line with this finding,
Prokopy et al., (2015) related that extension educators are better informed on the changes
occurred in climate over the last few years. Thus, they play a critical role to help farmers to
prepare to this, despite the increasing role of private consultants for provide information
(PROKOPY et al., 2015).
As the perception on climate change is a key factor for the developing of adequate
adaptation strategies (BELOW et al., 2012), we expected a positive effect of CA adoption,
being that this hypothesis was confirmed. On the other hand, the influence signal of subsidies
was opposite to the expected. As subsidies also play a role in implementing climate change
adaptation strategies (ALAUDDIN; SARKER, 2014), it was expected that influenced
positively the perception on climate change. A plausible explication for our findings is that
farmers may using subsidies for other reasons, not directly related to adoption of measurements,
such as the renegotiation of agricultural debts.
Ecocentric value was a significant positive effect in farmers’ perception on climate
change, and anthropocentric value too. A pivotal implication of the ecocentric-anthropocentric
values is that they can influence farmers’ behavior on climate change for different reasons
(MORGAN et al., 2015); ecocentric farmers’ had environmental concerns and the
anthropocentrics are concerned on self-interest. Despite some authors argued that
anthropocentrism is a root of ecological crisis (e.g. MINTEER; MANNING, 2005), our
findings showed that self-interest contribute to climate change perception and might, to use
measures of adaptation or mitigation. Therefore, although appear as a paradox, an
anthropocentric behavior not necessary is bad for nature.

4 Conclude remarks

As showed, there are various factors that influence farmers’ perception on climate
change. Given our results, policymakers and developers of climate projects needs consider
socioeconomic and psychological factors regarding the development of new procedures to
mitigate/manage climate change impacts. For instance, ecocentric farmers have different
perception compared with the antropocentrics.

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Although the set of socioeconomic and psychological variables included in the
regression model of this study explained a substantial amount of variance in farmers’ perception
on climate change, some cautions should be exercised regarding generalized these findings. For
several reasons, including long distances among the farms, a random sampling technique was
not used. Therefore, the results can not be generalized for all northwest region of RS. However,
the results of this first attempt to understand farmers’ perception on climate change in Brazil
by using econometric models, as mentioned earlier, they can be useful.

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Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-6586
E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
Análise das Estratégias das Cervejarias Artesanais da Cidade de Passo
Fundo - RS
Strategies Analysis of Craft Breweries from Passo Fundo City – RS
Thais Muraro Simionato1, Ana Claudia Machado Padilha2, Andre da Silva Pereira3, Morgana
Secchi4

Resumo
A participação do Brasil na produção global de cerveja tem chamado a atenção nos últimos anos. Atualmente o
país é o terceiro maior produtor e possui uma cervejaria entre as 15 maiores produtoras de cerveja. Desde o ano
de 2010 o país apresenta um crescimento exponencial no número de cervejarias registradas a cada ano, tendo
ultrapassado, no ano de 2018, a marca de 800. A maior parte destas localiza-se na Região Sul, sendo Porto Alegre,
a capital do Estado do Rio Grande do Sul, a cidade com a maior concentração. Este aumento no número de plantas
de produção de cerveja artesanal gera consequências como, por exemplo, o aumento da competição entre os
concorrentes e oportunidades de se empreender no setor, o que traz a necessidade de adoção de estratégias para a
competição. Nesse contexto, este estudo objetivou analisar as estratégias adotadas pelas cervejarias integrantes do
setor de produção de cerveja artesanal no Município de Passo Fundo, localizado ao norte do Estado do Rio Grande
do Sul sendo que, para a realização do mesmo foram utilizados dados qualitativos e quantitativos, obtidos através
de uma pesquisa exploratória e descritiva. Os dados foram obtidos através de um formulário, aplicado em três das
cinco cervejarias em atividade no Município. A análise dos resultados demonstra que o setor é de ampla
competitividade porém com baixo número de competidores, o que exige das cervejarias aqui instaladas a
necessidade de utilização de estratégias para competir no mercado.
Palavras-chave: Estratégia, Cervejarias Artesanais, Competitividade.

Abstract
Brazil's participation in world beer production has drawn attention in recent years. At present the country is the
largest producer and has a brewery among the 15 largest beer producers. Since 2010, the country has presented
an exponential growth in the number of beers each year, having surpassed, by 2018, a mark of 800. Most of the
breweries are located in South region and Porto Alegre, the capital of Rio Grande do Sul, is the city with the
higher concentration. This increase in the number of craft beer production plants has consequences such as
increased competition between competitors and opportunities to undertake in the sector, which necessitates the
adoption of strategies for competition. In this context, this study aimed to analyze the strategies adopted by the
breweries that are part of the craft beer production sector in the city of Passo Fundo, located in the north of the
state of Rio Grande do Sul. The data were obtained through an exploratory and descriptive research. The analysis
of the results shows that the sector is highly competitive but with a low number of competitors, which demands
that the breweries installed here need to use strategies to compete in the market.
Keywords: Strategy, Craft Breweries, Competitiveness.

1 Introdução

O Brasil, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


(MAPA) divulgados em janeiro de 2018, apresenta um crescimento exponencial no número de
cervejarias registradas desde o ano de 2010, sendo que, em 2018, ultrapassou a marca de 800
cervejarias. Neste mesmo ano foram abertas 210 novas fábricas e, o Governo do Brasil (2019)
complementa que o total de produtos registrados entre cervejas e chopes é de 16.968 e destes,
6,8 mil foram registrados no ano de 2018. Conforme dados do ano de 2017 informados pela
Kirin Beer University (2018) o país ocupa o 28º lugar no ranking de consumo de cerveja per

1 Bacharel em Administração da Universidade de Passo Fundo – thaaismuraro@gmail.com


2 Doutora em Agronegócios (UFRGS), Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Passo
Fundo (PPGAdm/UPF) – anapadilha@upf.br
3 Doutor em Economia (UFRGS), Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Passo Fundo

(PPGAdm/UPF) – andresp@upf.br
4 Mestranda em Administração no Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Passo

Fundo (PPGAdm/UPF)- 124166@upf.br


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capita. Já, no ranking de consumo mundial em volume figura em terceiro lugar, o que indica
uma perspectiva de crescimento pois com o aumento no consumo per capita espera-se um
crescimento no mercado. Segundo a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja
(CERVBRASIL, 2019) o setor é um dos mais relevantes para a economia, correspondendo a
1,6% do PIB nacional.
Com o aumento no número de plantas de produção de cerveja no país há a necessidade
de que as cervejarias aqui instaladas façam o uso de estratégias para competir no mercado. Na
concepção de Hitt, Ireland e Hoskisson (2008) a estratégia é um conjunto integrado e
coordenado de ações e compromissos que são definidos com o objetivo de explorar as
competências essenciais de uma empresa e assim obter vantagem competitiva. Em outras
palavras, Mintzberg et al (2006, p. 39) afirmam que “estratégia é criar ajustes entre as atividades
de uma empresa”. Estas estratégias podem ser competitivas ou cooperativas, tanto à nível de
negócio como no nível corporativo.
O que objetiva a utilização das estratégias, é adquirir competitividade estratégica e
alcançar retornos acima da média (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). Nesse sentido,
têm-se a competitividade estratégica quando uma empresa é capaz de fazer a formulação e a
implantação bem sucedida de uma estratégia de criação de valor (HITT; IRELAND;
HOSKISSON, 2008). Para Barney e Hesterly (2011) o crescente aumento da competitividade
faz com que as empresas busquem um posicionamento estratégico que venha a contribuir com
o seu desenvolvimento e manutenção no mercado. Os autores consideram que as ameaças e
oportunidades no ambiente competitivo são determinantes cruciais das estratégias.
O Estado do RS, mantém o primeiro posto nacional relacionado à densidade cervejeira,
sendo, a relação entre a população do estado e o número de cervejarias, aqui a distribuição
média de habitantes por cervejaria é de 79,873 (MAPA,2017). No Município de Passo Fundo
a primeira cervejaria artesanal a se instalar iniciou suas atividades no ano de 2011, segundo
dados do Cervesia. Já, nos últimos anos a cidade registrou crescimento no número de plantas
de produção de cerveja e chopp, conta hoje com 5 cervejarias além da planta de maltaria da
Ambev. O surgimento de novas plantas de produção de cerveja e chope coincide com o aumento
do consumo das cervejas especiais no país, segundo dados da Revista Exame (2019).
Neste contexto, o presente artigo tem como objetivo analisar as estratégias competitivas
adotadas pelas cervejarias integrantes do setor de produção de cerveja artesanal no município
de Passo Fundo – RS. Sendo assim, justifica-se, pelo crescente aumento no número de plantas
de produção de cerveja e chope artesanal, conforme dados do MAPA (2018), o que gera
consequências como o aumento da competição entre os concorrentes E oportunidades de
mercado segmentado pela renda dos consumidores. Nesse sentido, analisando os dados
divulgados no relatório do MAPA, o Estado tem vocação para a produção, visto que, o mesmo
apresenta a maior concentração de plantas de produção em atividade no país, com destaque para
as microrregiões de Porto Alegre, Caxias do Sul e Gramado-Canela.

2 Referencial Teórico

2.1 Competitividade e Estratégia

As empresas dos mais variados setores buscam incessantemente por vantagem


competitiva sobre seus concorrentes. Esta vantagem competitiva é alcançada, quando a empresa
implementa uma estratégia que, para os concorrentes, é difícil de imitar ou lhes é custosa demais
(HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). Cada empresa que compete em uma indústria possui
uma estratégia competitiva, explicita ou implícita (PORTER, 2004). Estas estratégias
competitivas podem ser à nível de negócios, que são um conjunto integrado e coordenado de

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compromissos e ações que as empresas utilizam para obter vantagem competitiva, ou podem
ser de nível corporativo, que são aquelas que especificam as ações que a empresa toma para
obter vantagem competitiva (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). Os autores afirmam
ainda que, quando uma empresa visa explorar suas vantagens competitivas sobre os seus
concorrentes adotam-se estratégias à nível de negócios.
Empresas de setores que são menos competitivos enfrentam menos restrições e possuem
uma gama maior de opções de conduta, algumas dessas opções podem permitir que tenham
vantagens competitivas (BARNEY; HESTERLY, 2011). Para Scherer e Ross (1990) a conduta
está relacionada com às ações que as empresas podem adotar para competir em uma indústria,
ou seja, o comportamento das empresas frente à estrutura onde estão inseridas. Lennartz,
Haffner e Oxley (2012) definem a conduta como políticas individuais que as empresas têm em
relação aos mercados de produtos e ainda em relação aos movimentos feitos por empresas
concorrentes. Estas ações são estratégias que tem como objetivo a sobrevivência da empresa
em uma setor e podem ocasionar em um aumento de participação no setor na qual integram,
obtendo vantagem competitiva (PORTER, 1991, 2004).
Porter (1986), em uma abordagem mais específica, considera três estratégias (Figura 1)
genéricas que podem ser adotadas para criar uma posição defensável contra as cinco forças
competitivas e para superar o desempenho de outras empresas integrantes do setor. Estas
estratégias são a liderança no custo total, a diferenciação e o enfoque, elas exigem um alto nível
de comprometimento ao serem colocadas em prática.

Figura 1: Estratégias Competitivas Genéricas

VANTAGEM ESTRATÉGICA

Posição de Baixo
Unicidade Observada pelo Cliente
Custo
ALVO ESTRATÉGICO

No Âmbito de LIDERANÇA NO
DIFERENCIAÇÃO
Toda a Indústria CUSTO TOTAL

Apenas em um
Segmento ENFOQUE
Particular

Fonte: Porter (1986).

No que diz respeito à estratégia de diferenciação, Porter (2004) afirma que consiste em
criar atributos que diferenciem o produto no setor, é criar algo que seja considerado único e, a
diferenciação, proporciona o isolamento contra a rivalidade dos concorrentes à medida que cria
uma lealdade dos clientes com a marca. Ainda segundo o autor, a diferenciação é viável para
obter retornos acima da média por criar uma posição defensável na indústria. Ele afirma
também que, devido à lealdade dos consumidores, a diferenciação proporciona isolamento
contra a rivalidade competitiva. Hitt, Ireland e Hoskisson (2008) mencionam que na
diferenciação as empresas fabricam produtos não padronizados, com foco nos clientes que
valorizam mais as características do que o baixo custo. Afirmam ainda que, para se ter sucesso
nessa estratégia as empresas precisam atualizar constantemente as características valorizadas
pelos clientes, procurando gerar pouco impacto no custo. A estratégia de liderança em custos é
um conjunto integrado de ações tomadas para produzir bens e serviços com características
aceitáveis pelos clientes ao menor custo em comparação com o dos concorrentes (HITT;
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IRELAND; HOSKISSON, 2008). Porter (2004) afirma que o baixo custo em relação aos
concorrentes é o ponto central dessa estratégia. Para Hitt, Ireland e Hoskisson (2008) esta
estratégia visa atingir um amplo grupo de clientes.
Segundo Porter (2004) a terceira estratégia genérica é focar em um determinado grupo
consumidor para que a empresa seja capaz de atender seu alvo com mais eficiência do que os
concorrentes que competem de forma mais ampla. A essência da estratégia de foco é, na
concepção de Hitt, Ireland e Hoskisson (2008), explorar as diferenças de um alvo restrito do
setor. As empresas são bem sucedidas quando atendem um segmento cujas necessidades
exclusivas são tão especializadas que os concorrentes com base ampla optam por não atender
esse segmento ou ainda quando atendem as necessidades de um segmento que está sendo mal
servido pelos concorrentes de ampla abrangência (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008).

2.2 O Setor de Cervejas Artesanais no Brasil e no Rio Grande do Sul

No nosso país, o setor de cervejarias artesanais registra significativo crescimento nos


últimos anos. Conforme dados do MAPA (20018), o número de cervejarias no Brasil cresce
exponencialmente desde o ano de 2010, sendo que, ocorre uma elevada concentração nas
Regiões Sul e Sudeste do país. O Estado do Rio Grande do Sul apresenta o maior número de
cervejarias, com 184 registradas no ano de 2018. Na sequência, figuram ainda os Estados de
São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro (Figura 2).

Figura 1: Cervejarias Por Estado no Ano de 2018

Fonte: Elaborado a partir de dados do MAPA (2019).

Complementando os dados apresentados na Figura 2, O MAPA informa que, antes de


2008 o número de cervejarias no Brasil era inferior a 100 e, dez anos depois ultrapassou a marca
de 800 cervejarias. Estes números confirmam a tendência de crescimento do mercado
cervejeiro. Atualmente 479 municípios brasileiros possuem cervejarias, o que configura
aproximadamente 10% dos municípios do país, sendo o total de 5570 (IBGE, 2019). O estado
do RS passou de 142 cervejarias no ano de 2017 para 186 no ano seguinte, configurando um
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crescimento de 31% na quantidade de estabelecimentos registrados. Se considerada toda a
Região Sul do país, neste mesmo período o número de cervejarias foi de 287 para 384.
Dentre os Estados, o RS apresenta duas das cidades com maior número de cervejarias,
Porto Alegre com 35 cervejarias, e Caxias do Sul com 16, aparece em terceiro lugar no ranking,
atrás de Nova Lima (MG) que possui 19 cervejarias. Em 1995 surgiu a primeira micro
cervejaria do Brasil, a Dado Bier, localizada em Porto Alegre. Hoje a cidade, capital do estado
do Rio Grande do Sul, é o maior centro cervejeiro do país e, somente no ano de 2018, registrou
a abertura de 44 novas empresas do setor cervejeiro, representando 21% do total nacional
(GAÚCHA ZH, 2019).
O segmento de cerveja/chope apresentou o maior número em 2018, ficando à frente de
polpa de fruta, vinho, bebida alcoólica mista, e suco. Os estados de MG, SP e RS concentram
a maior parte dos registros de produtos de cerveja e chope no país. O ano de 2018 encerrou com
210 novas fábricas no país, totalizando 889 cervejarias. A cidade de Porto Alegre, capital do
Estado do RS, ficou em primeiro lugar no ranking de novos produtos registrados, com 465,
apresentando significativa diferença em relação ao segundo e terceiro colocados que são,
respectivamente, Nova Lima (MG) com 277 e Curitiba (PR) com 227 novos produtos
registrados. Cabe ressaltar que os produtos registrados não necessariamente são produzidos
(MAPA, 2018). Afirma que, somente as cervejarias registradas podem proceder com registro
de produtos, o que acaba por não contabilizar os produtos das chamadas cervejarias “ciganas”,
que são aquelas que utilizam a estrutura de outra cervejaria, legalmente constituída, para sua
produção. Cabe às cervejarias devidamente registradas o registro destes produtos das
cervejarias “ciganas”.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CERVBRASIL, 2019) o
consumo de cerveja no país movimentou o equivalente a 1,6% do PIB nacional no ano de 2016.
Já, entre os grandes produtores mundiais de cerveja, o Brasil alcançou recentemente 140
milhões de HL, assumindo o terceiro lugar no ranking mundial, ficando atrás da China (460 mi
hl) e dos EUA (221 mi hl), entretanto, ficou à frente da Alemanha (95 mi hl) e da Rússia (78
mi hl). Mesmo estando entre os grandes produtores de cerveja, o Brasil não apresenta um grande
consumo per capita.
O mercado global de cerveja é caracterizado por uma concentração de mercado
relativamente alta, Barth-Haas-Group (2018) apresenta o ranking dos maiores grupos, sendo
que, os 5 primeiros juntos possuem cerca de 60% de participação no mercado. Estes grupos
são, em ordem: a belga AB InBev (31,4%), a holandesa Heineken (11,2%), a chinesa China
Res. Snow Breweries (6,5%), a dinamarquesa Carlsberg (5,8%) e a americana/canadense
Molson-Coors (5,1%). A Cervejaria Petrópolis aparece em 11º lugar, com 1,3% de participação
no mercado mundial.
Para o Grupo Barth-Haas, entre os anos de 2016 e 2017, o Brasil figurou em terceiro
lugar no ranking dos maiores produtores de cerveja, ficando atrás apenas da China e dos Estados
Unidos. A produção brasileira, assim como a mundial, se divide em basicamente três tipos de
cervejarias: as mega cervejarias comerciais, que produzem mais de 10 bilhões de L por ano
(estas concentram uma grande parte do mercado mundial); as cervejarias grandes ou
tradicionais, onde a produção ultrapassa 1 bilhão de L por ano ou que tenham grande
representatividade e as microcervejarias, que buscam produzir cervejas com um diferencial
local.
Morado (2009) afirma que o termo microcervejaria é utilizado para designar
estabelecimentos que visam produzir cervejas com atributos ligados à sua região de origem,
tradição e qualidade diferenciada. A legislação brasileira define cerveja como a bebida obtida
através da fermentação alcoólica do mosto cervejeiro oriundo do malte de cevada e água
potável, por ação de levedura, com adição de lúpulo (BRASIL, 2009). Logo, definir o que é
uma microcervejaria ou qual o volume de produção que a caracteriza apresenta controvérsias,
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para a American Brewers Association, a caracterização de microcervejaria cabe àquelas que
produzem uma quantidade inferior a 1,76 milhões de L de cerveja por ano.

3 Metodologia

Para que fosse possível atingir o objetivo de analisar as estratégias das cervejarias
artesanais localizadas no município de Passo Fundo – RS, foram realizadas abordagens de
cunho qualitativo e quantitativo. Este estudo caracteriza-se ainda como exploratório,
proporcionando maior familiaridade com o problema.
Quanto ao procedimento técnico, pode ser classificado como estudo multicascos. A
delimitação da população das plantas de produção de cervejas artesanais localizadas na cidade
de Passo Fundo foi realizada a partir de um mapeamento do total de cervejarias, tendo sido
identificadas cinco plantas instaladas, não havendo registro ou fonte de informação disponível
no governo municipal que indicasse este número. Definiu-se por pesquisar todas elas. As
entrevistas foram realizadas no mês de maio de 2019 com os gestores das plantas que tiveram
o interesse em participar da pesquisa. Duas delas não demonstraram interesse em participar no
momento do contato.
A coleta dos dados primários deu-se por meio de um roteiro de entrevistas com
categorias determinadas a priori que emergiram da literatura selecionada para a pesquisa. Como
instrumento de coleta de dados utilizou-se um formulário composto por 29 perguntas abertas e
32 de múltipla escolha. A técnica utilizada para analisar os dados coletados nas entrevistas
realizadas com os gestores das plantas de produção de cerveja foi a análise de conteúdo, foi
desenvolvida a etapa de exploração do material, onde se estabeleceram relações entre as
respostas encontradas e a estrutura de análise formulada.

4 Resultados e Discussão

4.1 Caracterização das Indústrias Pesquisadas

O Município de Passo Fundo possui cinco cervejarias registradas, sendo que, o início
das operações da primeira ocorreu no ano de 2011. As cervejarias estudadas são de pequeno
porte, caracterizadas como microcervejarias e iniciaram suas atividades recentemente. Na
Tabela 1 verifica-se a capacidade de produção das cervejarias estudadas, assim, como o número
de funcionários nos últimos dois anos. Pode-se verificar a diversidade nos destinos, enquanto a
Cervejaria A destina toda sua produção para a região de Passo Fundo, a Cervejaria B destina a
metade da sua produção para fora da região e a Cervejaria C dedica apenas uma pequena
quantidade para as demais localidades.

Tabela 1: Características das Cervejarias Participantes do Estudo


Capacidade de Número de Funcionários Tempo de Produção
Empresa Produção Atuação (em
2017 2018 Regional Nacional
(L/mês) anos)
Cervejaria A 30.000 5 7 4 100% 0%
Cervejaria B 55.000 10 12 8 50% 50%
Cervejaria C 50.000 19 19 7 95% 5%
Fonte: Dados primários (2019).

Para Barney e Hesterly (2011), vantagem competitiva é a capacidade que uma empresa
tem de criar mais valor econômico do que suas rivais, sendo que, a busca pela vantagem
competitiva é a base da formulação da estratégia de um negócio. Nesse contexto, o estudo
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revelou que a imagem da empresa e os preços do mercado são considerados como principais
vantagens competitivas das cervejarias diante dos seus concorrentes. A qualidade da mão-de-
obra, a logística e distribuição do produto, a matéria-prima, a diferenciação dos produtos, o
clima favorável à produção sem interrupção e a experiência no setor, também foram indicados.
Além disso, o conhecimento de que mudanças na capacidade produtiva se fazem necessárias
quando há um considerável aumento na demanda dos produtos ou serviços oferecidos por
determinado negócio. Portanto, em todas as cervejarias, os entrevistados registraram mudança
na capacidade produtiva de suas plantas nos últimos 5 anos. Em uma das cervejarias foram
instalados mais dois tanques na produção, além de terem sido contratados dois funcionários
extras. Na outra, ocorreu um aumento do parque fabril e, por fim, na terceira cervejaria
pesquisada o entrevistado declarou que foi trocada a planta produtiva e também foram
comprados mais tanques para a produção, está passou de 4 mil L para 8 mil L.
Com relação às áreas prioritárias para investimentos, todas as cervejarias pesquisadas
destacaram a ampliação da capacidade produtiva, a aquisição de novos equipamentos e a
atualização tecnológica. Um dado que chamou atenção, relaciona-se a não identificação das
áreas de recursos humanos, certificações e aquisições de unidades produtivas como prioridades.
Por se tratar de indústrias que demandam conhecimento e habilidades, e muitas vezes de
inovação, o investimento em recursos humanos e valorização das pessoas é um aspecto
relevante para a competitividade, apesar de não ser prioritária para as cervejarias.
Não somente isso, a certificação ISO, também pode em determinados momentos,
contribuir para o desempenho do negócio no mercado. Aspecto como aquisição de unidades
produtivas que pode ser de concorrente, não foi evidenciado como uma resposta, uma vez que
é uma decisão estratégica que, em duas pesquisadas (B e C), a opção deu-se pelo aumento da
capacidade de produção através da ampliação da infraestrutura. Quanto ao aumento da
capacidade produtiva, foram instalados mais 4 tanques na produção, não sendo necessária a
ampliação da área destinada à produção.
Quando questionados sobre as partes interessadas que influenciam na definição da
estratégia da cervejaria, ambos os entrevistados identificaram os acionistas/sócios, sendo que,
em uma das cervejarias, também ocorre influência dos clientes e das organizações
governamentais (nos níveis de cidade, estado e país). E em outra, além dos acionistas/sócios e
dos clientes também há influência das associações do setor. Nota-se que na maioria das
cervejarias pesquisadas os clientes influenciam na definição da estratégia, o que pode ser
explicado pelo fato de as cervejarias, assim como em outros negócios, terem a necessidade de
satisfazer os desejos dos seus clientes para que tenham sucesso na sua atuação no mercado.
Portanto, das três cervejarias, em apenas uma a estratégia é formalizada (planejamento
estratégico), nas demais a estratégia é definida informalmente entre os sócios, porém, ambos
tem conhecimento e se empenham para atingir o objetivo proposto.
Em relação à administração de recursos humanos, as cervejarias foram questionadas
quanto à existência de programas de desenvolvimento profissional em suas unidades produtivas
sendo que, conforme os dados levantados, duas das três cervejarias possuem programas, em
uma delas há incentivo na busca de conhecimento enquanto que na outra ocorrem participações
em congressos e os fornecedores disponibilizam cursos, também há acompanhamento
psicológico para os funcionários. Quanto aos aspectos considerados no treinamento dos
funcionários, todas as cervejarias identificaram maior produtividade e inovação. A maioria
delas considera ainda a redução no número de acidentes e/ ou doenças ocupacionais e a
melhoria na comunicação.
Referente à pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, apenas uma cervejaria
realiza. O responsável pela cervejaria explicou que conta com apoio de uma cooperativa da
cidade de Guarapuava para realizar os testes dos novos produtos. Na área de produção e
operação, o estudo revelou que, somente uma das cervejarias entrevistadas possui uma política
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de qualidade, as demais possuem um Manual de Boas Práticas, a ser seguido pelos funcionários.
Quanto ao controle de qualidade, todas as entrevistadas aplicam e o que motiva a adoção é a
garantia de um produto final bom, a confiabilidade, a garantia de não contaminação, além da
garantia de que os lotes produzidos sejam o mais parecidos possíveis. Como aspectos
prioritários no controle de qualidade foram identificados, em todas as cervejarias, a qualidade
do produto final, os efluentes líquidos, a água e os insumos.
Quanto à gestão ambiental, as cervejarias destacaram como investimentos necessários
para que se adequassem o controle dos efluentes líquidos e dos resíduos sólidos. Duas das três
cervejarias doam os resíduos de malte para alimentação de animais. A maioria das cervejarias
concorda que dificilmente irá ocorrer impacto ambiental grave e as três entrevistadas realizam
auditorias ambientais, A maioria das cervejarias entrevistadas não identifica uma vantagem
competitiva, em relação aos seus concorrentes, por ter preocupação com as questões ambientais.
Uma delas comentou ainda que acredita que se deve pelo fato de não divulgar o que faz, o que
motiva a ter esse controle é saber que está agindo corretamente.
Os respondentes foram questionados, ainda, quanto às exigências dos seus clientes e
identificaram, por unanimidade: preço, cumprimento do prazo de entrega e qualidade do
produto sendo que, para duas das três entrevistadas também ocorre exigência de maior
diversidade no portfólio e horário de atendimento diferenciado. Na sequência, identificou-se
que a influência das reclamações dos clientes ocorre no preço e nas vendas, o respondente de
uma das cervejarias destacou que sempre que possível procuram averiguar a reclamação para
evitar que torne a se repetir.

4.2 Estratégias utilizadas pelas Cervejarias Artesanais

Percebe-se que, das três cervejarias, em apenas uma é feita a formalização da estratégia
(planejamento estratégico). Nas demais a estratégia é definida informalmente entre os sócios,
porém, ambos têm conhecimento e se empenham para atingir o objetivo proposto. Os
respondentes não comentaram como ocorre a implementação das estratégias adotadas. A Figura
3 apresenta as estratégias competitivas praticadas pelas cervejarias pesquisadas.

Figura 3: Estratégias Competitivas Utilizadas pelas Cervejarias

Liderança em custos
Liderança em custos Diferenciação
focada

Diversificação não
Diversificação relacionada
relacionada

Fonte: Dados primários (2019).

A parte superior da Figura 3 são apresentadas as estratégias utilizadas, à nível de


negócios. Identifica-se a estratégia de liderança em custo, uma vez que as cervejarias estudadas
buscam produzir seus diferentes estilos de cerveja a um custo inferior ao dos concorrentes. Esta
estratégia busca atingir um amplo grupo de clientes (HITT; IRELAND e HOSKISSON, 2008).
A estratégia de diferenciação também é utilizada pelas cervejarias à medida que buscam
produzir cervejas que os clientes percebam como diferenciadas. Cada uma das três cervejarias
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estudadas possui um estilo de cerveja que não é produzido pelos concorrentes. Por fim, em uma
das cervejarias identifica-se a estratégia de liderança em custo focada, onde busca-se atender
um determinado segmento do mercado.
Na parte inferior da Figura 3 são apresentadas as estratégias de nível corporativo, que
são aquelas que auxiliam as empresas na seleção de novas posições estratégicas, segundo Hitt,
Ireland e Hoskisson (2008). Para os autores, estas estratégias buscam diversificar tanto os
produtos como os mercados atendidos. Complementam que a diversificação relacionada ocorre
quando há um aumento no portfólio mas os novos bens ou serviços possuem relação com o
atual negócio da empresa, já, a diversificação não relacionada, ocorre quando os novos bens ou
serviços não tem relação com o negócio da empresa.

Referências

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Contextualizando o Empreendedorismo Rural
Contextualizing Rural Entrepreneurship
Ivaneli Schreinert dos Santos¹, Camila Soares Cardoso², Samanta Ongaratto Gil³, Camila
Alves4

Resumo
O meio rural, que era antigamente visto como um espaço restrito a uma agricultura de poucas dinâmicas, passou
por diversas modificações através dos anos, fazendo com que, mais recentemente, os produtores rurais e outros
trabalhadores do campo passassem a precisar cada vez mais do empreendedorismo, assim como, outras
habilidades e processos de gestão, para a sustentabilidade de seus respectivos negócios. Devido à importância
deste tema, o presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura científica para
melhor compreender os tópicos que surgiram nos últimos anos. Desta forma, foram catalogadas 875 pesquisas
científicas sobre empreendedorismo rural, encontradas nas bases de dados Scopus e Web of Science, no período
de 2016 a junho de 2019. E a partir de uma análise, foi criada uma classificação dos principais temas
identificados, os tipos de negócios, as regiões estudadas e as áreas de estudos. Notou-se que o tipo de negócio
com maior ocorrência no meio rural é a produção agrícola, o qual tem uma crescente evolução, o país mais
estudado é a Índia, a maior parte das pesquisas está dentro da área de Ciências Sociais e o tema principal mais
frequente das pesquisas é o Gênero seguido pelas Estratégias de Negócios, este último com uma crescente
evolução. Os resultados demonstram que o empreendedorismo passa a ter um papel importante também na
agricultura, além de ser uma ferramenta interessante em problemas sociais como a questão de gênero. E que
países em desenvolvimento como a Índia estão configurando bastante dentro de tal tema.
Palavras-chave: Agronegócio; Empresas Rurais; Empreendedorismo Agrícola; Ciência; Pesquisa Científica.

Abstract
The countryside, which was once seen as a space restricted to low-dynamic agriculture, has undergone several
changes over the years, making farmers and other rural workers increasingly in need of entrepreneurship. as
well as other management skills and processes for the sustainability of their respective businesses. Due to the
importance of this theme, this study aims to conduct a systematic review of the scientific literature to better
understand the topics that have emerged in recent years. Thus, 875 scientific researches on rural
entrepreneurship were cataloged, found in the Scopus and Web of Science databases, from 2016 to June 2019.
And from an analysis, a classification of the main themes identified, the types business areas, the regions studied
and the areas of study. It was noted that the type of business with the highest occurrence in rural areas is
agricultural production, which has a growing evolution, the most studied country is India, most of the research
is within the Social Sciences area and the main theme. The most frequent survey is Gender followed by Business
Strategies, the latter with increasing evolution. The results show that entrepreneurship also plays an important
role in agriculture, as well as being an interesting tool in social problems such as gender. And what developing
countries like India are configuring quite within that theme.
Keywords: Agribusiness; Rural companies; Agricultural Entrepreneurship; Science; Scientific research.

__________________________

¹Engenheira Agrônoma, Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Agronegócios –UFRGS;


e-mail:<ivanelisch@hotmail.com>.
2 Engenheira Agrônoma, Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Agronegócios –UFRGS;
e-mail:<camilascardoso@outlook.com>.
3 Administradora, Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Agronegócios –UFRGS;
e-mail:<samantagil@hotmail.com>.
4Administradora, Mestra pelo PPGADM- UFRGS, Doutora pelo PPG em Agronegócios – UFRGS, Pós-doutoranda pelo
Programa de Pós-Graduação em Administração- UFMT; e-mail: <camilaelisaalves@gmail.com>.

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1 Introdução
O meio rural é, tradicionalmente, visto como um espaço de produção agrícola e de
pecuária e, por conseguinte, reconhecido como um lugar que conta com dinâmicas mais
limitadas e com menos diversificação em tecnologias e produtos poucos diferenciados,
quando comparado aos centros urbanos. Essa antiga visão leva a crer que o
empreendedorismo na área rural seria menos desenvolvido, e que haveria pouca inovação.
Entretanto, essa percepção errônea tem ficado cada vez mais no passado. As
constantes mudanças nos mercados estão induzindo as empresas rurais a se adaptarem a novas
dinâmicas, como, por exemplo, novos hábitos de consumo, os quais modificam a demanda, a
necessidade da proteção ambiental, a preocupação com os impactos socioeconômicos, o foco
na sustentabilidade, a importância do gerenciamento da cadeia como um todo, entre outros
fatores estratégicos para a sustentabilidade dos negócios.
Segundo Liang (2017), o crescimento agrícola foi atenuado pela concorrência,
intensificação e especialização, o que está resultando em um declínio gradual, fazendo com
que a agricultura precise, portanto, se adaptar às transições da sociedade, na economia e nas
políticas governamentais, a fim de desenvolver práticas mais sustentáveis.
Neste sentido, é reconhecido por profissionais, cientistas e políticos que os produtores
rurais e outros trabalhadores do campo estão precisando cada vez mais do empreendedorismo,
de uma boa gestão e de habilidades, que sejam eficazes para a sustentabilidade de suas
respectivas atividades. (MCELWEE, 2008; PYYSIÄINEN et al., 2006).
Ainda, de acordo, com recentes pesquisas: é percebido que o empreendedorismo na
agricultura não é apenas uma ilusão ou uma simples campanha publicitária, mas tem sim um
impacto profundo no crescimento e na sobrevivência dos negócios. (VERHEES et al. 2011;
LANS et al. 2011).
O empreendedorismo rural é definido como um forte elemento para o
desenvolvimento econômico rural, garantindo o acréscimo de valor aos recursos nas zonas
rurais, o qual inclui diferentes atividades, como a agricultura, o comércio e a indústria,
(ALABI e FAMAKINWA, 2019)
Considerando a importância de tal tema, o objetivo desta pesquisa é realizar uma
revisão sistemática da literatura científica para melhor compreender os tópicos que surgiram
nos últimos anos e suas evoluções. Esta pesquisa está estruturada da seguinte forma: a
introdução e referencial teórico, contextualizando o empreendedorismo rural, a descrição da
metodologia utilizada, onde foram examinados 875 artigos e revisões encontrados na base de
dados Scopus e Web Of Science, sendo considerados periódicos de todas as áreas de pesquisa
no período de 2016 até junho 2019. Posteriormente, vem os resultados elaborados a partir das
análises dos temas principais, tipo de negócios, região onde foram realizados e a área de
estudo. E finalmente, são apontadas as conclusões, junto das limitações e futuras linhas de
pesquisa.

2 Referencial Teórico

A palavra “empreendedor” deriva do termo do francês antigo "entreprendre", a qual


tem origem do latim inter, que significa reciprocidadade, e prehendre, que significa
comprador. Deste modo, a combinação dessas duas palavras significa simplesmente
intermediário (DEGEN, 2009).
O termo entrepreneur era utilizado na idade média para designar um personagem ou
um indivíduo que administra um projeto de produção em larga escala, no século XVII passa a

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ser o indivíduo com comportamento voltado para o risco, de ter lucro e/ou prejuízo na fixação
de um preço num contrato com o governo. (HISRICH e PETERS, 2002)
O economista Richard Cantillon foi um dos primeiros estudiosos a escrever sobre o
empreendedorismo, o que ocorreu na França no final do século XVII. Após o economista
francês Jean-Baptiste Say também abordou o tema, porém é mais voltado aos negócios
(HEBERT e EKULUND, 1997).
Deste modo, em 1725, Richard Cantillon descreve o empreendedor como um
indivíduo que assume, planeja, supervisiona e organiza. E Jean Baptist Say, no ano de 1803,
separa os lucros do empreendedor do lucro do capitalista (HISRICH e PETERS, 2002).
Outro autor que se destaca no tema é Schumpeter (1982), para ele o empreendedor
promove a inovação, sendo essa radical, pelo fato de destruir e substituir os esquemas de
produção vigentes. Trazendo o conceito de “destruição criativa”, sendo o primeiro a enfatizar
a inovação nesse tópico.
Posteriormente surgiram diversos conceitos para empreendedor, muitos deles
descrevem a criatividade e a imagem de lideres que desenvolvem novas ideias e superam
obstáculos revolucionando e correndo riscos. Degen (2009), por exemplo, cita o mercador e
explorador Marco Pólo como um grande exemplo de empreendedor, por sua visão de
negócios e por não medir esforços para realizar seus objetivos de empreendimentos.
Ou ainda, como na visão de Amit (1993), que trouxe os empreendedores como
indivíduos que ultrapassaram seus próprios limites, enfrentando e superando as dificuldades e
desenvolveram negócios lucrativos e duradouros. Mesmo quando não tiveram êxito na
primeira tentativa, mas que mesmo assim não desistiram e recomeçaram.
E com a evolução dos estudos relacionados ao empreendedorismo, emergiram
pesquisas em outras áreas. Além da economia, a psicologia e sociologia passam também, a ser
incorporadas e analisadas conjuntamente com o empreendedorismo. Essas novas visões
buscam explicar o porquê e como o empreendedorismo ocorre, e destacam o seu papel de
impulsionador de inovações não apenas em um contexto local, como também global.
Segundo Schoonhoven e Romanelli (2001), o empreendedorismo tem origem nas
ações coletivas de empreendedores e agentes institucionais, formando e mantendo espaços de
mercado para novos serviços e produtos. Dessa maneira, o empreendedor passaria de uma
figura heroica e solitária para um networker empresarial mais cultural e institucionalmente
incorporado. Então dentro dos estudos de empreendedorismo é possível discriminar fatores
que influenciam o comportamento do empreendedor, podendo ser fatores individuais, sociais
e ambientais (GÜROL e ATSAN, 2006).
E o empreendedorismo rural, mais especificamente, pode ser definido como todas as
formas de empreendedorismo que ocorrem em áreas caracterizadas por grandes espaços
abertos e pequenos assentamentos populacionais (KALANTARIDIS e BIKA, 2006). Ou seja,
é possível identificar, nesse ambiente, diferentes tipos de empreendedorismo, os quais se
integram de diversas maneiras com o meio rural.
O “ser rural” também significa algumas características distintas para os negócios e
empreendedores que operam nesse contexto. Por exemplo, tempo e distância entre
fornecedores, serviços e distribuidores, queda da renda local e demanda após a
desindustrialização, o despovoamento seletivo, com os mais qualificados, mais jovens e
instruídos tendendo a se afastar para educação e emprego, entre outros fatores (DEAKINS;
BENSEMANN e BATTISTI, 2016).
Devido a tais aspectos específicos e a, já mencionada, importância do
empreendedorismo para o meio rural, o tema vem demonstrando um maior destaque nos
últimos anos. Observa-se um crescimento no número de pesquisas científicas, que abordam o
empreendedorismo rural.

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3 Procedimentos Metodológicos

O trabalho utilizou a metodologia de revisão bibliométrica, e posteriormente


sistemática. Segundo Sampaio e Mancini (2013), a revisão sistemática utiliza como fonte de
dados a literatura sobre determinado tema, sendo particularmente útil para agregar as
informações de um conjunto de pesquisas realizadas separadamente, as quais podem
apresentar resultados conflitantes ou semelhantes, assim como identificar tópicos que
necessitam de evidência, o que auxilia na orientação para evoluções das investigações futuras.
A pesquisa foi realizada nas bases de dados: SciVerse Scopus ® de propriedade da
Editora Elsevier e na Web of Science (Institute for Scientific Information Knowledge)
acessados através do Portal da Biblioteca da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
disponibilizado pelo periódico da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior CAPES. As ferramentas em questão foram escolhidas por serem consideradas de
ampla cobertura da literatura relevante e recursos bibliométricos avançados. (WOLFERT et
al., 2017; BUCHER, 2017; GAUTAM & RYUICHI, 2012;)
A pesquisa foi realizada no mês de julho de 2019, e optou-se por utilizar a função
Topic, a qual realiza a busca nos campos título, resumo e palavra-chave. A expressão de
busca foi feita no idioma inglês com as palavras: Entrepreneur* And Rural. O asterisco tem
como função buscar palavras derivadas, com outros radicais. As palavras Empreendedorismo
e Rural foram utilizadas por serem de grande abrangência, buscando trabalhos que
englobassem o universo rural como o todo, não apenas relacionado à produção agrícola.
Foram limitadas apenas publicações do tipo: artigos e revisões. Após uma primeira
busca notou-se que houve uma evolução principalmente nos últimos anos (Gráfico 1). Desta
forma, optou-se por analisar o período de 2016 até junho de 2019, por ser o período com um
expressivo número de publicações.
Gráfico 1 – Evolução do número de publicações de trabalhos científicos, nas plataformas Scopus e Web
of Science, com o tema de Empreendedorismo Rural.
300
250
200
150
100
50
0
2003

2006

2009

2012
1999
2000
2001
2002

2004
2005

2007
2008

2010
2011

2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019

Fonte: Autoras (2019).

Logo, encontrou-se um total de 937 pesquisas no período selecionado, essas foram


inseridas em um banco de dados, onde foi realizado um fichamento com diversos itens como:
autores, título, ano da publicação, resumo, palavras-chave dos autores, idioma, base de dados
onde foi encontrada e o periódico em que foi publicado.
Após foi realizada a leitura dos títulos, palavras-chave, resumos e metodologias de
todos os estudos, permitindo identificar quais realmente continham ligação ao
empreendedorismo no meio rural. Assim, foram excluídos 62, sendo catalogados 875, que
compõem a amostra do presente trabalho.

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A partir de tal análise, também foi criada uma classificação dos principais temas
identificados como focos das pesquisas, verificaram-se também quais foram os tipos de
negócios que estavam sendo abordados, quais eram as regiões estudadas e quais eram as áreas
de estudos. Após foram elaborados gráficos, para uma melhor visualização destes resultados.

4 Resultados e Discussão

Foram analisados e catalogados 874 estudos, os quais abordavam a temática do


empreendedorismo com alguma ligação com o meio rural. 730 destas pesquisas tratavam do
empreendedorismo exclusivamente no meio rural, enquanto 144 trouxeram o
empreendedorismo do meio urbano juntamente ao meio rural.
Ao analisar os locais que estavam sendo estudados dentro dos artigos desta amostra,
foi identificado um total de 109 países e cinco continentes. A Índia foi o país que mais
configurou dentro do presente tema, seguido pela China (Gráfico 2). O Brasil aparece na
sétima posição, empatado com Suécia, Indonésia e Malásia.
Segundo a revista Nature (2018), há uma tendência de uma evolução na publicação de
trabalhos científicos nos países em desenvolvimento, devido ao investimento que tem sido
feito em ciência e tecnologia. A China, por exemplo, atualmente é país que mais produz
artigos científicos no mundo.

Gráfico 2 – Na esquerda os dez países que mais apareceram dentro dos estudos encontrados, sobre
empreendedorismo e o meio rural no período 2016-2019, e na direita a distribuição total quanto aos continentes.

Índia 2% Europa
China 3% 3% Ásia
6% 6% Estados Unidos
8% África
23% Espanha
6% 32% América do Norte
Itália
6% 8%
África do Sul América do Sul
8% Suécia 14%
16% Europa/Ásia
8% Malásia
Brasil Oceania
8% 13% 30%
Indonésia Ásia/oceania

Fonte: Autoras (2019).

Entretanto no tema de empreendedorismo rural, os indianos ultrapassaram os chineses


na publicação científica, provavelmente por sua expressão na área de inovação, tecnologia e
empreendedorismo. Conforme o relatório da NASSCOM (2017), a Índia foi classificada
como o terceiro maior ecossistema de startups do mundo, sendo a segunda nação mais
conectada a internet no ranking global. E ao observar a distribuição quanto aos continentes,
nota-se a que a Europa e a Ásia lideram o número de estudos em empreendedorismo rural.
As pesquisas da amostra do presente trabalho também foram, a partir de uma leitura
prévia, classificadas de acordo com a área de estudo. Foram encontradas, então, treze áreas
diferentes. A grande maioria estava dentro da área de Ciências Sociais, seguida pela área de
Negócios, Gestão e Contabilidade (Gráfico 3).

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Gráfico 3 – As dez áreas de estudo que mais apareceram ao analisar os artigos científicos sobre
empreendedorismo rural no período de 2016 a 2019.
2%
3% 2% 1% 1%
Ciências Sociais
4% Negócios, Gestão e Contabilidade
Economia, Econometria e Finanças
6%
Multidisciplinar
43%
10% Ciência Ambiental
Psicologia
Ciências Agrárias e Biológicas
Energia
28%
Artes e Humanidades
Ciência da Computação
Fonte: Autoras (2019).

Ao analisar os tipos de negócios que estavam sendo estudados, foram identificadas 48


diferentes categorias. E a produção agrícola foi a com maior ocorrência, seguida pelas
Empresas em geral e pelo Turismo e Hospitalidade (Gráfico 4).
Percebe-se então que o empreendedorismo passou a ser visto como um elemento
importante também dentro da agricultura, e não apenas em empresas ou outros
empreendimentos, normalmente associados a atividades mais urbanas.

Gráfico 4 – Os dez tipos de negócios que mais apareceram ao analisar os artigos científicos sobre
empreendedorismo rural no período de 2016 a 2019.
2% 2% 2% Produção Agrícola
2% 2%
Empresas (Micro, Pequenas, Médias e Grandes)
3%
Turismo e Hospitalidade
4%
33% Universidades
Domicílios Rurais

19% ONGs e Programas Sociais


Autônomo/Individuais
Cooperativas e Comunidades
Bioenergia
31%
Produção Animal (Bovinocultura, Avicultura,
Suinocultura, Ovinocultura)
Fonte: Autoras (2019).

Nota-se também que quando o tema é empreendedorismo no meio rural,


empreendimentos de turismo e hospitalidade têm uma grande expressão, superando até
mesmo atividades mais tradicionais do meio rural como a produção animal. De acordo com
Kageyama (2004), modificações no campo passaram a dar espaço para o desenvolvimento de
atividades não agrícolas nas propriedades rurais, ou seja, atividades como o turismo rural,
estão tendo uma maior relevância no rural.

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Deste modo, ao observar a evolução desses dois tipos de negócios, tanto a produção
agrícola, como o ramo do turismo e hospitalidade, percebe-se que há uma evolução no
número de artigos que abordam tais atividades (Gráfico 5).

Gráfico 5 – A evolução dos dez tipos de negócios que mais apareceram ao analisar os artigos científicos sobre
empreendedorismo rural no período de 2016 a 2019.
Autônomo/Individuais
160
Bioenergia
140
Cooperativas e Comunidades
120
Domicílios Rurais
100
Empresas (Micro, Pequenas, Médias e Grandes)
80
ONGs e Programas Sociais
60
Produção Agrícola
40
Produção Animal
20
Turismo e Hospitalidade
0
2016 2017 2018 Universidades
Fonte: Autoras (2019).

Havendo um destaque maior para a produção agrícola, o empreendedorismo dentro


desta atividade vem tendo cada vez mais importância. Provavelmente devido o crescimento
da concorrência e intensificação da produção, que levam os produtores a buscar uma maior
especialização, e o empreendedorismo acaba por ganhar espaço.
Ao verificar quais eram os principais temas encontrados nos estudos sobre
empreendedorismo rural, foram encontrados 34 assuntos diferentes. A maior frequência foi o
tópico de Gênero, seguido por Estratégias dos Negócios e Sustentabilidade, Impactos
Socioeconômicos e Empreendedorismo Social (Gráfico 5).

Gráfico 6 – Os quatorzes temas focos que mais apareceram ao analisar os artigos científicos sobre
empreendedorismo rural no período de 2016 a 2019.

2% Gênero
Estratégias dos Negócios e Sustentabilidade
3%
4% 16% Impacto Socioeconômico
4%
Empreendedorismo Social
4%
Inovação e Competitividade
4% Migração
Meio Ambiente e Sustentabilidade
4% 15%
Aspectos do Empreendedorismo
5% Tecnologias
Caracteristicas Psicológicas do Empreendedor
8% Finanças
13%
Transformação Econômica
8%
Politicas Públicas
10%
Cadeia de Valor
Fonte: Autoras (2019).

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É possível realizar aqui uma ligação entre o tema foco mais frequente, o Gênero, e o
país com maior ocorrência de estudo, a Índia. Segundo a Fundação Thomson Reuters (2018),
uma pesquisa realizada por 550 especialistas em questões das mulheres, constatou que a Índia
é o pior país para as mulheres viverem, sendo o mais perigoso. Desta forma, justificando a
importância destas pesquisas sobre gênero nesta região.
Também foi analisada a evolução destes principais temas, no período de 2016 até
2018. Optou-se, deste modo, por excluir o ano de 2019, devido este ainda não ter
terminado.(Gráfico 6).

Gráfico 7 – A evolução dos quatorzes temas focos que mais apareceram ao analisar os artigos científicos sobre
empreendedorismo rural no período de 2016 a 2018.
Aspectos do Empreendedorismo
50 Cadeia de Valor
Caracteristicas Psicológicas do Empreendedor
40 Empreendedorismo Social
Estratégias dos Negócios e Sustentabilidade
30 Finanças
Gênero
Impacto Socioeconômico
20 Inovação e Competitividade
Meio Ambiente e Sustentabilidade
10 Migração
Politicas Públicas
0 Tecnologias
2016 2017 2018 Transformação Econômica

Fonte: Autoras (2019).

Nesta análise, percebe-se que temas como Inovação e Competitividade e Migração


obtiveram uma pequena queda no ano de 2017, porém voltaram a crescer em 2018.
Empreendedorismo Social obteve um grande pico em 2017. E o tema de Estratégias dos
Negócios e Sustentabilidade e Políticas Públicas estão em crescente evolução, estes dois
últimos estão mais voltados ao desempenho dos empreendimentos dos empreendedores.

5 Conclusões

É possível verificar a partir destas análises, que o tema de empreendedorismo rural


está em uma crescente evolução dentro do campo científico, havendo um maior interesse
sobre este elemento também no campo. Percebe-se que países em desenvolvimento, como a
Índia, e até mesmo o Brasil, o qual configura entre os dez mais frequentes, estão investindo
em estudos sobre o empreendedorismo rural, talvez como uma ferramenta útil para o
desenvolvimento do meio rural.
Desenvolvimento este que também pode contribuir para melhorar problemas sociais,
como: a desigualdade de gênero, a migração (êxodo rural), impactos negativos no meio
ambiente e no socioeconômico. Todos estes temas estavam entre os mais estudados,
comprovando que há uma ligação entre os benefícios do empreendedorismo para a sociedade.
Provavelmente, devido a este fator, a área de estudo que ocorreu com maior frequência foi
justamente a de Ciências Sociais.
A presente análise pode inferir sobre outros aspectos, sendo possível fazer diversas
ligações que farão compreender melhor, o empreendedorismo rural, quais os atuais problemas
das regiões e as possíveis soluções para estes. Demonstrando a importância de tal estudo.
Entretanto, seria interessante uma análise mais aprofundada e com uma amostra temporal
maior.

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Sugere-se para futuros estudos ampliar o período de tempo, buscando pesquisas mais
antigas, para entender melhor a evolução dos estudos. E o uso de outras metodologias, como
por exemplo, o text mining, possibilitando também a ampliação da análise.

Referências

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Capability Development in Osun State, Nigeria. Journal of Agricultural Extension
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Cooperativas agropecuárias e a diversificação de negócios
Agricultural cooperatives and business diversification
Rosani Marisa Spanevello1, Eduarda Raquel Ropke2, Mariele Boscardin3, Gabrieli dos Santos
Amorim4

Resumo
As cooperativas agropecuárias contribuem para o desenvolvimento rural de distintas formas nas regiões em que
estão inseridas. Para garantir tais contribuições, as mesmas utilizam de algumas estratégias, dentre elas, a
diversificação de negócios, as quais que podem ser classificadas em estratégias concêntricas e estratégias
conglomeradas. A diversificação concêntrica é definida como aquela em que a nova área de negócios da
organização está diretamente relacionada com os negócios já existentes. Por sua vez, a diversificação
conglomerada define-se com a área de negócios com fraca ou nenhuma relação as áreas de negócios
anteriormente executados pela organização, seja no aspecto tecnológico ou comercial. Para detalhar as
estratégias de negócios das cooperativas agropecuárias no que tange aos tipos de diversificação foram realizadas
pesquisas nos sites de 10 cooperativas agropecuárias gaúchas na metade norte do estado. Como resultado,
constatou-se que, considerando a diversificação classificada como concêntrica os tipos de negócios estão
relacionados com a agroindustrialização de grãos resultantes da produção do quadro de associados, em especial
arroz, feijão, trigo e milho, além de outros subprodutos destinados a nutrição animal como é caso de farelos e
rações. No referente a diversificação conglomerada, as cooperativas apresentam supermercados voltados a
atender a demanda dos associados e a comunidade em geral, loja de insumos destinadas a venda de produtos para
a agricultura e pecuária, lojas de eletrodomésticos, máquinas agrícolas, roupas e materiais de construção, posto
de combustíveis, farmácias, entre outros. Esta diversificação de negócios presentes nas cooperativas, além de
ampliar a inserção das mesmas nos mercados, possibilita manutenção da interação entre os associados e a
comunidade em geral.
Palavras-chave: Cooperativas agropecuárias; Diversificação; Estratégias.

Abstract
Agricultural cooperatives contribute to rural development in different ways in the regions in which they operate.
To guarantee such contributions, they use some strategies, among them, business strategies, which can be
classified into concentric strategies and conglomerate strategies. Concentric diversification is defined as one in
which the new business area of the organization is directly related to existing business. In turn, conglomerate
diversification is defined as the business area with little or no relation to the business areas previously executed
by the organization, whether in the technological or commercial aspect. To detail the business strategies of
agricultural cooperatives regarding the types of diversification, surveys were carried out on the websites of 10
gaucho agricultural cooperatives in the northern half of the state. As a result, it was found that, considering the
diversification classified as concentric, the types of business are related to the agroindustrialization of grains
resulting from the production of associates, especially rice, beans, wheat and corn, as well as other nutrition by-
products. animal as is the case of sharps and feed. With regard to conglomerate diversification, the cooperatives
have supermarkets aimed at meeting the demands of members and the community in general, an input store for
the sale of agricultural and livestock products, appliance stores, agricultural machinery, clothing and building
materials, gas station, pharmacies, among others. This diversification of business present in the cooperatives, in
addition to broadening their insertion in the markets, enables the maintenance of interaction between members
and the community in general.
Keywords: Agricultural cooperatives; Diversification; Strategies.

1
Doutora em Desenvolvimento Rural (UFRGS)/ Professora do Departamento de Zootecnia e Ciências
Biológicas da Universidade Federal de Santa Maria, Campus de Palmeira das Missões -
rspanevello@yahoo.com.br
2
Graduanda em Zootecnia/ Universidade Federal de Santa Maria, Campus de Palmeira das Missões -
eduardaraquel@outlook.com
3
Mestre em Desenvolvimento Rural/(PGDR/UFRGS), Bolsista do CNPq - marieleboscardin@hotmail.com
4
Mestranda em Agronegócios/Universidade Federal de Santa Maria, Campus de Palmeira das Missões -
gabrieliamorin@hotmail.com
Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-6586
E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
1 Introdução

As cooperativas são consideradas organizações importantes do ponto de vista social e


econômico do meio rural, gerando riquezas para o seu entorno regional ou nacional.
Conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2016) três aspectos são
marcantes nas cooperativas agropecuárias: a sua capacidade de auxiliar na manutenção do
homem do campo através da oferta de serviços e comercialização da produção dos seus
cooperados, além de benefícios como retorno financeiro pela participação do associado,
prestação de serviço ao cooperado através da assistência técnica, social, agregação de valor ao
produto oriundo do associado, barganha para compra e venda coletiva, entre outros.
Para atender as qualificações citadas acima, conforme Dal Magro e Spanevello (2012),
as cooperativas agropecuárias necessitam criar ou estruturar novos negócios para, de um lado,
minimizar as diferentes produtivas encontradas nas propriedades dos cooperados e, por outro,
ampliar ou manter a competitiva no mercado.
Um destes negócios, segundo Lago (2012), é a intercooperação entre cooperativas
agropecuárias, cuja finalidade é facilitar a execução de negócios como vantagens econômicas
para as cooperativas que transacionam desta forma. Outra possibilidade é a diversificação de
negócios dentro de cada cooperativa. Dal Magro e Spanevello (2012) com base em Barni e
Brandt (1992) que a diversificação dos negócios em cooperativas agropecuárias é positiva
devido a possibilidade de comercializar um maior número de produtos a menores custos
unitários, especialmente quando estes produtos tem uma base tecnológica comum, como é
caso, por exemplo, de lácteos, além de maior aproveitamento dos recursos humanos e da
infraestrutura. No entanto, as cooperativas também podem diversificar novos negócios
aproveitando infraestrutura e recursos humanos para gerar outros tipos de negócios que não
necessariamente permitem aproveitar a mesma base tecnológica. É o caso dos negócios
voltados a prestação de serviços ao quadro de associados e a comunidade do entorno como,
por exemplo, o estabelecimento de supermercados.
Este artigo tem como objetivo apontar os negócios existentes nas cooperativas
agropecuárias gaúchas, através da análise da diversificação. Considera-se, neste trabalho, a
análise de dois tipos específicos de diversificação: conglomerada e concêntrica, sendo a
primeira com relação direta com a produção dos associados e a segunda desenvolvidas pelas
cooperativas sem interação direta com produção primária dos associados.

2 As cooperativas agropecuárias e a diversificação de suas atividades

Historicamente, as cooperativas se configuram como arranjos coletivos com atuação


direta nas necessidades de seus associados, tendo como princípio o desenvolvimento social e
econômico das regiões onde se localizam. No caso do setor agropecuário, um dos principais
ramos do cooperativismo brasileiro, o mesmo caracteriza-se por distintos serviços prestados
aos seus associados, que vão desde recebimento e comercialização da produção,
armazenamento e industrialização, além da assistência técnica, educacional e social.
Krug (2019), reforça a importância do cooperativismo brasileiro apresentando alguns
dados do Sicoob- SC/RS (2016), os quais demonstram que 48% de tudo o que é produzido no
meio rural brasileiro passa por uma cooperativa, de alguma forma e que no Brasil, as
cooperativas são responsáveis por mais de 70% da produção de trigo, mais de 40% da
produção de soja, 40% de leite, 38% de algodão, 21% de café e 16% de milho, sendo deste
modo responsável por 11% do Produto Interno Bruto (PIB).
Ainda tratando-se de informações referentes ao cooperativismo no Brasil, Krug
(2019), com base nos dados do Sistema Sescoop apresenta um levantamento da evolução no
número de cooperados no Brasil entre os anos de 2001 e 2016. Na análise, a autora, constatou
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que, tratando-se dos números de associados, houve um significativo aumento de 4.779.000
associados em 2001 para 12.942.196 associados em 2016. Tratando-se especificadamente do
estado do Rio Grande do Sul, constata-se que significativa adesão da população gaúcha ao
cooperativismo, visto que, há no estado aproximadamente 2,7 milhões de associados, 58,9 mil
colaboradores, 41,2 bilhões de faturamento, o que representa que, 70,6% da população gaúcha
está envolvida no cooperativismo (SISTEMA OCERGS – RS, 2017).
Segundo dados da OCERGS – RS (2017) as cooperativas agropecuárias formam
atualmente o ramo com maior expressão econômica do cooperativismo gaúcho. Ainda,
conforme esta Organização, o estado tem mais de 90% das suas cooperativas funcionando a
mais de 10 anos. No caso das agropecuárias são 126 cooperativas atuando principalmente nas
cadeias de grãos, carnes, leite e vitivinicultura, somando 312 mil associados.
Em termos de investimentos, as cooperativas agropecuárias, nos últimos 5 anos
investiram mais de 2 bilhões nas cadeias produtivas de soja, milho, leite, trigo e aveia e em
processamento industrial (OCERGS – RS, 2017). Na oferta de serviços aos associados, as
cooperativas estão entre as empresas ou organizações que garantem a oferta de assistência
técnica aos associados, além da oferta de operações de varejo como, supermercados, postos de
combustíveis e lojas agropecuárias (máquinas, equipamentos, insumos agrícolas e pecuários)
(OCERGS – RS, 2017).
Estas informações são reforçadas por Krug (2019), que destaca a participação das
cooperativas gaúchas por ramos, o agropecuário ocupa a terceira posição com 312.416
associados, representando 11%. Se destacam, o ramo de crédito e de infraestrutura, ocupando,
respectivamente, a primeira e a segunda posição em número de associados. O ramo
agropecuário do cooperativismo também se destaca nos ramos do cooperativismo que mais
empregam ocupando a primeira posição com 55%. É o ramo agropecuário também que possui
o maior número de cooperativas, ocupando a primeira posição com 126 cooperativas, o que
representa em termos percentuais, 30% (KRUG, 2019).
Diante disso, é possível constatar que as cooperativas agropecuárias contribuem
significativamente para o desenvolvimento rural das regiões gaúchas de diversas formas. Para
garantir tais contribuições, as mesmas apresentam distintas formas de diversificar suas
atividades, que podem ser classificadas como estratégias concêntricas e estratégias
conglomeradas.
A diversificação concêntrica é definida como aquela em que a nova área de negócios
da organização está diretamente relacionada com os negócios já existentes. Ou seja, a empresa
passa a produzir novos produtos destinados a novos mercados, cuja produção ou
comercialização possui um relacionamento estreito com as atividades já desenvolvidas pela
organização. Por sua vez, a diversificação conglomerada define-se com a área de negócios
com fraca ou nenhuma relação as áreas de negócios anteriormente executados pela
organização, seja no aspecto tecnológico ou comercial.
Spanevello e Dalmagro (2012), exemplificam como diversificação concêntrica a
utilização de silos e armazéns, unidades de vendas de insumos agrícolas, laboratório de
análise de sementes e do departamento técnico de uma cooperativa produtora de soja e milho
que passa a ser destinado a produzir também cereais de inverno e oleoginosas. O mesmo
conceito se aplica a cooperativas que agroindustrializam leite e ingressam em um novo ramo
de negócios passando a produzir derivados de leite, como é o caso, de bebidas lácteas. Em
relação a diversificação conglomerada, os autores, relacionam serviços distintos que não tem
relação direta com os já prestados pela cooperativa, tais como postos de combustíveis e
supermercados, os quais são destinados a sociedade em geral e não diretamente e
exclusivamente aos sócios, nem ao setor primário (SPANEVELLO E DALMAGRO, 2012).

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3 Procedimentos metodológicos

Considerando o objetivo proposto, a pesquisa que embasa este artigo é de cunho


descritivo, tendo como principal propósito descrever a diversificação dos negócios
concêntricos e conglomerados das cooperativas pesquisadas.
Para atingir o objetivo em questão foi selecionada uma amostra das cooperativas
agropecuárias gaúchas, que segundo dados Organização das Cooperativas do Rio Grande do
Sul, em 2018, representam um montante de 128 cooperativas. Para compor a amostra foi
realizada uma seleção entre as cooperativas agropecuárias da metade norte do Rio Grande do
Sul. No total, foram selecionadas 10 cooperativas agropecuárias.
As cooperativas agropecuárias selecionadas, bem como o município sede e o número
de municípios atendidos são apresentados no Quadro 01:

Quadro 01: Caracterização das cooperativas estudadas na metade norte do estado do RS.
Nome da cooperativa Município sede/ nº municípios atendidos
Cooperativa Tritícola de Frederico Westphalen/RS- Cotrifred Frederico Westphalen/ 8 municípios
Cooperativa Agrícola Mista General Osório- Cotribá Ibirubá/ 41 municípios
Coagrisol Cooperativa Agroindustrial Soledade/ 27 municípios
Cooperativa Tritícola Sarandi Ltda- Cotrisal Sarandi/ 27 municípios
Coperativa Tritícola Mista Campo Novo- Cotricampo Campo Novo/ 16 municípios
Cooperativa Tritícola de Santa Rosa - Cotrirosa Santa Rosa/ 18 municípios
Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial Não Me Toque/ 14 municípios
Cotripal Agropecuária Cooperativa Panambi/ 9 municípios
Cooperativa Agropecuária de Júlio de Castilhos- Cotrijuc Júlio de Castilhos/ 9 municípios
Cooperativa Tritícola de Espumoso Ltda- Cotriel Espumoso/9 municípios
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).

A coleta de dados ocorreu através de uma pesquisa realizada diretamente nos sites das
cooperativas. Através das informações disponibilizadas nos sites de cada uma foi possível
identificar a diversificação tanto concêntrica como conglomerada e os exemplos de negócios
dentro de cada tipo de diversificação, conforme será detalhado no item dos resultados.

4 Análise dos resultados

Os resultados obtidos a partir da pesquisa realizada permite afirmar que as


cooperativas apresentam os dois tipos de diversificação, tanto a diversificação concêntrica
quanto a diversificação conglomerada.
Considerando a diversificação classificada como concêntrica (conforme detalhado no
Quadro 02) os tipos de negócios estão relacionados com a agroindustrialização de grãos
resultantes da produção do quadro de associados, em especial arroz, feijão e também trigo e
milho este tipo de negócios está presente em cinco cooperativas. O arroz é agroindustrializção
por cooperativas como a Cotriel, chegando no mercado sob as marcas Cotriel e Rio do Sol.
No caso do feijão, este produto passa pelo processo de agroindustrialização dentro das
cooperativas, sendo colocado no mercado com uma marca comercial da cooperativa. É o caso,
por exemplo, do feijão da Cooperativa Cotrirosa que leva a marca Nutrirosa. Considerando a
produção de trigo, cooperativas como a Cotrisal e Cotricampo possuem moinhos para gerar
farinhas colocadas no mercado sob a marca de mesmo nome das cooperativas. Em especial, a

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Cotricampo oferta ao consumidor farinhas voltadas a produção doméstica dos associados,
para a indústria (fábrica de massas) e panificação (padarias). A agroindustrialização do milho
serve também para a produção de farinhas.
Outros subprodutos destinados a nutrição animal (obtidos a partir do processamento de
trigo, milho e soja) são destinados a produção de farelos e rações (realizada em fábrica de
rações próprias das cooperativas). Este tipo de diversificação é encontrado na quase totalidade
das cooperativas pesquisadas. Analisando a realidade especifica de cooperativas que fazem
parte da amostra verifica-se que a Cotripal e a Cotribá oferecem rações voltadas a produção
leiteira dos associados, enquanto a Cotrijuc coloca no mercado maior leque de rações, sendo
tanto para a pecuária leiteira, como corte e ovinos (COTRIJUC, 2019).
Quadro 02: Diversificação Concêntrica das cooperativas.
Cooperativas Diversificação Concêntrica
Cooperativa Tritícola de Frederico Westphalen/RS- Fábrica de ração, assistência técnica, armazenamento de
Cotrifred. grãos, loja de insumos e frigorífico.
Cooperativa Agrícola Mista General Osório- Loja de peças, ferragens e implementos e insumos,
Cotribá. armazenagem de produtos e insumos, assistência técnica
agrícola e veterinária, fábrica de ração.
Coagrisol Cooperativa Agroindustrial. Armazenagem de produtos e insumos, assistência
técnica, transporte de grãos e agropecuária.
Cooperativa Tritícola Sarandi Ltda- Cotrisal. Loja de insumos agrícolas, peças e implementos
agrícolas, fábrica de ração, moinho de trigo, posto de
recebimento de leite, beneficiamento de sementes,
assistência técnica agropecuária e veterinária.
Coperativa Tritícola Mista Campo Novo- Indústria de farinha de trigo, armazenamento de
Cotricampo. produtos, beneficiamento de grãos, assistência técnica
agropecuária, área experimental de pesquisa, fábrica de
ração.
Cooperativa Tritícola de Santa Rosa – Cotrirosa. Armazenamento e beneficiamento de grãos e sementes,
transporte de produtos, moinho de trigo e milho,
assistência técnica, loja de insumos e ferragens.
Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial. Assistência técnica, fábrica de ração, produção de
sementes, armazenamento de produtos, e loja de
insumos.
Cotripal Agropecuária Cooperativa. Frigorifico, fábrica de ração, assistência técnica, área
experimental, armazenagem de grãos.
Cooperativa Agropecuária de Júlio de Castilhos- Fábrica de ração, armazenamento de grãos, produção de
Cotrijuc. sementes, assistência técnica e agropecuária.
Cooperativa Tritícola de Espumoso Ltda- Cotriel. Arroz e feijão empacotado, carne, farinha de trigo e
milho, assistência técnica, fábrica de ração, transporte,
resfriamento do leite, frigorífico e loja de insumos.
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).

A presença de frigoríficos em três cooperativas, Cotrifred, Cotripal e Cotriel, também


refere-se a um exemplo de estratégia de negócio concêntrica, visto que as cooperativas
possuem frigoríficos e agroindustrializam produtos de origem animal, mais especificamente
carne bovina e suína. No caso especifico da Cotripal, a mesma coloca no mercado uma marca
especifica de carne bovina da raça Angus, denominada “Angus Supreme” tendo em seus
supermercados as únicas com as duas únicas lojas licenciadas 100% Angus no Rio Grande do
Sul (COTRIPAL, 2019).

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Ainda destaca-se como estratégias de negócios concêntricas, o foco nas questões
produtivas dos associados propriedade dita: campos experimentais de pesquisa presente em
cooperativas como Cotricampo, Cotrijal e Cotripal, servindo de suporte ao departamento de
assistência técnica no quesito de geração de tecnologias para os associados. Neste aspecto de
atendimento as questões produtivas também são importantes os negócios voltados a produção
de sementes e armazenagem de grãos presente em quase todas as cooperativas analisadas
(Cotrijal, Coagrisol, Cotrijuc, Cotricampo, Cotribá, Cotrifred, Cotrisal,Cotrirosa, Cotriel).
Outro aspecto importante dentro deste tipo de diversificação é as lojas de insumos
destinadas a venda de produtos para a agricultura e pecuária tendem a ser mais utilizadas
pelos próprios cooperados que demandam insumos para a produção agropecuária.
No referente a diversificação conglomerada, trata-se de estratégias de negócios
indiretas que visam atendem aos associados, mas também o público do entorno das
cooperativas. As estratégias de negócios conglomeradas adotadas pelas cooperativas estão
detalhadas no quadro 03:

Quadro 03: Diversificação Conglomerada das cooperativas.


Cooperativas Diversificação Conglomerada
Cooperativa Tritícola de Frederico Westphalen/RS- Supermercado.
Cotrifred.
Cooperativa Agrícola Mista General Osório- Posto de combustível e supermercado.
Cotribá.
Coagrisol Cooperativa Agroindustrial. Supermercados, loja de móveis, eletrodomésticos e
materiais de construção.
Cooperativa Tritícola Sarandi Ltda- Cotrisal. Posto de combustível, restaurante, supermercados, loja
de lar e construção.
Coperativa Tritícola Mista Campo Novo Ltda- Supermercados, posto de combustível e restaurante.
Cotricampo.
Cooperativa Tritícola de Santa Rosa – Cotrirosa. Supermercado, posto de combustível.
Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial. Supermercado, lojas.
Cotripal Agropecuária Cooperativa. Supermercado, loja de materiais de construção, oficina
mecânica, loja de moveis, posto de combustível e
farmácia.
Cooperativa Agropecuária de Júlio de Castilhos- Posto de combustível e supermercado.
Cotrijuc.
Cooperativa Tritícola de Espumoso Ltda- Cotriel. Restaurante, loja de ferragens, posto de combustível,
supermercado e loja de roupas.
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).

Os supermercados são um exemplo de atividades estas sem interação direta com as


realizadas pelos associados presentes em todas as cooperativas estudadas (10 cooperativas).
Os supermercados são considerados uma forma de alcançar um público consumidor que
perpassa o quadro de associados, visando atender a comunidade do entorno da cooperativa.
Cooperativas com a Cotrisal apresentam 17 supermercados, ou seja, possui este negócio fora
da sede do município, mas também nos municípios onde tem instalada uma unidade da
cooperativa.
Outros negócios estão relacionados com o comércio de bens necessários aos
cooperados e demais pessoas da comunidade, tais como: lojas de eletrodomésticos, máquinas
agrícolas, roupas e materiais de construção. Neste caso, as condições de compra tendem a ser
facilitada para os cooperados através da aquisição de produtos que podem ser pagos na safra,
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com a renda gerada pela produção de leite, entre outras formas. Os postos de combustíveis,
restaurantes e as farmácias (presente especificamente na Cotripal) obdecem a mesma lógica
das lojas destacadas anteriormente: servem aos cooperados, mas também ao público em geral.
Finalmente, cabe ressaltar que, as dez cooperativas analisadas dedicam-se as duas
estratégias de diversificação combinadas entre si, embora, a diversificação concêntrica tende a
prevalecer. De acordo com Spanevello e Dalmagro (2012), o maior foco nas estratégias de
diversificação concêntrica tende a ocorrer devido ao próprio “espírito cooperativista” em que
atender à demanda dos associados é o objetivo primordial da cooperativa, garantindo a
fidelização dos cooperados.

Considerações finais

Este estudo teve como objetivo apontar os negócios existentes através da análise da
diversificação em dez cooperativas agropecuárias gaúchas, localizadas na metade norte do
estado.
Apesar de as considerações tratar de um universo limitado, não permitindo conclusões
generalizadas sobre a questão da diversificação das atividades agropecuárias, os resultados
acima descritos confirmam que todas as organizações analisadas operam com os dois tipos de
diversificação de negócios, tanto concêntricas quanto conglomeradas, como forma de ampliar
a sua participação nos mercados e manter a interação com os associados e com a comunidade
em geral. Além disso, as cooperativas também diversificam suas atividades em razão da
produção agropecuária de seus sócios a fim de mantê-los na cooperativa.
Em relação a diversificação concêntrica, que possui relação direta com a produção dos
associados, em todas as cooperativas destaca-se o fomento da produção (por meio do
departamento técnico e setor de insumos) até o recebimento, transporte, armazenamento e
comercialização da produção do setor primário presente em todos as cooperativas analisadas.
Quanto a diversificação conglomerada, sem interação direta com produção primária dos
associados, identificou-se a presença especialmente de supermercados em todas as
cooperativas analisadas, que atendem e beneficiam toda a comunidade local.

Referências

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em: https://www.cotrijal.com.br/acotrijal/unidadesatendimento..Acesso em: 28 agos. 2019.

COOPERATIVA AGROPECUÁRIA JÚLIO DE CASTILHOS. Negócios. Disponível em:


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Disponível em: http://www.cotrifred.com.br/. Acesso em: 28 agos. 2019.

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COOPERATIVA TRITÍCOLA MISTA CAMPO NOVO LTDA. Onde atuamos. Disponível
em: http://www.cotricampo.com.br/a_cooperativa.php?id=3.Acesso em: 28 agos. 2019.

COOPERATIVA TRITÍCOLA DE SANTA ROSA. Negócios.


http://www.cotricampo.com.br/a_cooperativa.php?id=3. Acesso em: 28 agos. 2019.

COOPERATIVA TRITÍCOLA DE ESPUMOSO LTDA.Loja, produtos e serviços.


Disponível em: http://www.cotriel.com.br/ProdutoServico. Acesso em: 28 agos. 2019.

COTRIPAL COOPERATIVA AGROPECUÁRIA. Nosso negócio. Disponível em:


http://www.cotripal.com.br/. Acesso em: 28 agos. 2019.

DAL’ MAGRO, G. P; SPANEVELLO, R. M. A diversificação das atividades nas


cooperativas agropecuárias no norte gaúcho. Organizações Rurais & Agroindustriais,
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KRUG, A. U. Manual teórico e prático de governança corporativa para cooperativas. Porto


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LAGO, A. Fatores condicionantes do desenvolvimento de relacionamentos intercooperativos


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SISTEMA OCERGS SESCOOP RS. Expressão do Cooperativismo Gaúcho - 2019


Disponível em: http://www.sescooprs.coop.br/app/uploads/2019/07/expressao-
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E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
Fatores decisórios e sucessão geracional: a dinâmica de uma cooperativa
agropecuária de Campo Novo/RS
Decisional factors and generational succession: the dynamics of an
agricultural cooperative of Campo Novo/RS
Gabrieli dos Santos Amorim1, Adriano Lago2, Luciana Fagundes Christofari3, Camila Weber4

Resumo
O êxodo rural dos jovens no campo leva a consequências no processo de sucessão geracional em propriedades
rurais. Nesse intuito, as cooperativas agropecuárias influenciam na permanência do jovem no campo, de maneira
que as cooperativas tem a capacidade de atender e apoiar os fatores e necessidades econômicas e sociais dos jovens
que interferem na sua permanência. Os fatores decisórios no processo de sucessão geracional são o arcabouço que
sustentam o objetivo deste estudo em analisar na perspectiva de uma cooperativa agropecuária na cidade de Campo
Novo/RS os fatores decisórios no processo de sucessão geracional das famílias associadas a cooperativa que
interferem na manutenção do quadro social de associados e que, no entanto, está vinculado a continuidade das
atividades da cooperativa no mercado agropecuário. O método de elaboração compreende uma pesquisa
exploratória e descritiva, com a utilização de uma entrevista, como instrumentos de coleta de dados. Deste modo,
para a compreensão do nível de importância e desempenho dos fatores decisórios na perspectiva da cooperativa
optou-se pela utilização da metodologia de Slack, Chambers e Johnston (2007) a matriz de importância-
desempenho. Como resultados obteve-se que dos dezoito fatores decisórios analisados onze deles são considerados
satisfatórios na concepção da cooperativa, ou seja, estão contribuindo para a permanência do jovem no meio rural,
os demais fatores necessitam de melhorias e de ações urgentes, pois são os fatores que não contribuem com a
permanência do jovem no meio rural e devem ser aperfeiçoados. Além disso, a cooperativa agropecuária é eficiente
na promoção do desenvolvimento local.
Palavras-chave: Cooperativas Agropecuárias; Sucessão Geracional; Matriz importância-desempenho.

Abstract
The rural exodus of young people in the countryside leads to consequences in the process of generational
succession on rural properties. To this end, agricultural cooperatives influence the permanence of young people
in the countryside, so that cooperatives have the ability to meet and support the economic and social factors and
needs of young people that interfere with their permanence. The decisive factors in the process of generational
succession are the framework that support the objective of this study to analyze from the perspective of an
agricultural cooperative in the city of Campo Novo / RS the deciding factors in the process of generational
succession of families associated with the cooperative that interfere with the maintenance of membership, which,
however, is linked to the continuity of the cooperative's activities in the agricultural market. The elaboration
method comprises an exploratory and descriptive research, using an interview, as data collection instruments.
Thus, to understand the level of importance and performance of the decision-making factors from the cooperative
perspective, the Slack, Chambers and Johnston (2007) methodology used the importance-performance matrix. As
a result it was found that of the eighteen decision factors analyzed eleven of them are considered satisfactory in
the conception of the cooperative, that is, they are contributing to the permanence of young people in rural areas,
the other factors need improvement and urgent actions, as they are the factors that do not contribute to the youth's
stay in the rural environment and must be improved. In addition, the agricultural cooperative is efficient in
promoting local development.
Keywords: Agricultural Cooperatives; Generational Succession; Importance-performance matrix.
1 Introdução
Os jovens rurais passaram a caracterizar o êxodo rural, devido a suas migrações para o
urbano na busca de atender suas necessidades pessoais e profissionais, que segundo Camarano
e Abramovay (1998), o êxodo rural torna-se seletivo e provoca consequências ao ambiente
rural. No estado do Rio Grande do Sul no ano 2000 a população em situação de domicílio rural
representava 18,35% da população total, já no ano de 2010 pode-se observar um decréscimo o

1
Mestranda em Agronegócios/Universidade Federal de Santa Maria – gabrieliamorim@hotmail,com
2
Doutor em Agronegócios/Universidade Federal de Santa Maria – adrianolago@yahoo.com.br
3
Doutora em Zootecnia/Universidade Federal de Santa Maria – luciana_christofari@ufsm.br
4
Mestranda em Agronegócios/Universidade Federal de Santa Maria – camyllaweber@gmail.com
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percentual passa a ser 14,90% de indivíduos, já a população rural jovem no Rio Grande do Sul
decresceu de 300.045 jovens para 232.654 no mesmo período (IBGE, 2000, 2010).
Neste contexto, uma das consequências provocadas pelo avanço do êxodo rural é falta
de sucessores para dar continuidade nas atividades das propriedades rurais. A sucessão segundo
Gasson e Errington (1993), é o processo de transferência do controle ou do gerenciamento sobre
o uso do patrimônio familiar aos filhos sucessores ou a próxima geração, é a saída do atual
proprietário do comando da propriedade.
A ausência do processo de sucessão geracional em propriedades rurais, pode ocasionar
problemas como a manutenção do quadro social de associados a cooperativas agropecuárias,
estas que são estabelecidas com o intuito de auxiliar e apoiar economicamente e socialmente os
produtores rurais. À vista disso, o cooperativismo no setor agropecuário está vinculado ao
desenvolvimento do consumo e do comercio de produtos, que estimula o crescimento social, a
preservação ambiental e evita o êxodo rural, ao considerar que as cooperativas agropecuárias
tem importante influência nas propriedades rurais, além dos fatores econômicos e produtivos
mas também no âmbito social, ao influenciar o homem do campo a permanecer no ambiente
rural (TEIXEIRA et al, 2017).
A tomada de decisão de um jovem permanecer no meio rural, pode ter ligação intrínseca
com a capacidade da cooperativa em atender as necessidades profissionais e sociais do sucessor
em potencial, o que a torna uma das organizações mais aptas a trabalhar o tema de sucessão,
destaca-se que a sucessão geracional não diz respeito apenas à sobrevivência das propriedades
rurais, mas também a sobrevivência das próprias cooperativas agropecuárias (SPANEVELLO;
DREBES; LAGO, 2011).
A partir dos aspectos mencionados, este artigo tem como objetivo analisar na
perspectiva de uma cooperativa agropecuária os fatores decisórios no processo de sucessão
geracional das famílias associadas a cooperativa que podem interferir na manutenção do quadro
social de associados que, no entanto, está vinculado a continuidade das atividades da
cooperativa no mercado agropecuário da cidade de Campo Novo/RS.
A cidade de Campo Novo situa-se na Micro Região Celeiro do Estado do Rio Grande
do Sul com uma população de 5.459 indivíduos segundo o Censo Demográfico (2010), é uma
cidade representativa pois a economia do município é baseada no setor primário, principalmente
pela produção de grãos: soja, milho e trigo, sendo significativa também a presença da
bovinocultura de leite, a suinocultura, a produção de alimentos da economia familiar e a
produção agroindustrial de farinha de trigo.
2 Referencial Teórico
2.1 O propósito das cooperativas agropecuárias
As cooperativas são constituídas como um meio de inclusão social e econômica,
segundo a Aliança Cooperativa Internacional – ACI (2019) pode-se definir cooperativas como
empresas centradas em pessoas de maneira democrática, controladas e dirigidas para que seus
membros realizem suas necessidades e aspirações econômicas, sociais e culturais comuns.
Os indivíduos que se organizam e pertencem a cooperativas têm como objetivo uma
variedade de fatores econômicos, sociais e até mesmo razões políticas, a ação de cooperar com
os outros é uma maneira satisfatória de alcançar seus próprios objetivos e, ao mesmo tempo,
ajudar os outros em alcançar os seus, os cooperados buscam maximizar seus lucros líquidos
com melhores preços, bem como manter os custos de insumos baixo, pois quando associados a
cooperativas os mesmos podem vender e comprar maiores volumes com melhores preços
(ZEULI; CROPP, 2004; ACI, 2019).
No entanto, um dos tipos de cooperativas são as agropecuárias, as mais bem-sucedidas
no mercado, que cresceu e se tornou uma importante força econômica desde a revolução

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industrial (JOHNSTON, 2004). Para Almeida (2017), as cooperativas agropecuárias surgem
com o intuito de receber e vender no mercado o produto fornecido por produtores rurais e de
oferecer melhores preços na comercialização da produção, prestando assistência na demanda
de insumos por parte dos produtores e serviços como transporte, armazenagem e assistência
técnica.
O ramo cooperativo agropecuário é líder na geração de trabalho e renda no Brasil, as
cooperativas têm realizado fortes investimentos na ampliação e na modernização das técnicas
de plantio, comercialização e agro industrialização das principais matérias-primas e fibras
produzidas no país, que contribuem ativamente para o desenvolvimento não apenas do
agronegócio, mas da economia brasileira (OCB, 2019). No Rio Grande do Sul o cooperativismo
tem forte influência, no total de estabelecimentos agropecuários do estado, 143.393 dos
estabelecimentos é associado algum tipo de cooperativa (IBGE, 2017). As cooperativas
agropecuárias estão relacionadas a este total segundo o Sistema da OCERGS (2019) o Rio
Grande do Sul atualmente conta com 128 cooperativas classificadas no ramo agropecuário
prestando suporte a todas as regiões do estado.
2.2 Interface entre fatores decisórios e sucessão geracional
A sucessão na agricultura apresenta diferentes estágios, considerando principalmente a
socialização dos filhos dos agricultores a atividades agrícolas e a vida familiar nas propriedades
assumindo diferentes responsabilidades ao longo do tempo (SPANEVELLO, 2008; GASSON
et al, 1988; GASSON; ERRIGTON, 1993). Neste sentido, para a garantia da sucessão
Abramovay et al (1998) apontam quatro condições fundamentais, que são: o minorato, garantia
que o filho mais novo responsabilize-se por cuidar dos pais na velhice, assegurar que os filhos
mais velhos garantam sua reprodução como agricultores, a valorização da atividade agrícola
como forma de realização da vida adulta e a mobilidade espacial que garanta a instalação dos
filhos na agricultura.
Em relação as gerações passadas, as novas gerações estão interligadas a numerosas
relações sociais e culturais que fazem os jovens rurais repensar sobre seus objetivos e interesses
pessoais, tornando um processo de individualização associado a diversos fatores como:
tamanho do estabelecimento, capacidade produtiva, penosidade do trabalho, a baixa renda das
atividades produtivas, quanto menos diversificada a propriedade, maior a probabilidade de um
dos filhos se ausentarem, a desvalorização da ocupação agrícola e as relações sociais dos filhos
com os pais que modificam as questões referentes a sucessão geracional e fatores externos
como: os altos custos dos insumos, baixo preço pago pelo produto, a condição estrutural do
estabelecimento (SPANEVELLO, 2008).
É neste contexto, que existem condições internas familiares tanto socias quanto
econômicas que interferem na perspectiva de permanência dos filhos nas propriedade rurais,
para Brumer et al (2000), entre elas estão: a viabilidade econômica da propriedade rural (renda),
a valorização da profissão de agricultor, relações de gênero, a relação entre pais e filhos, a
pluriatividade das atividades agrícolas e a qualificação do possível sucessor. Neste sentido
Gasson e Errington (1993), também consideram algumas condições que interferem na
permanência dos filhos como a característica da família, a condição econômica e a inserção na
economia de escala.
Para Silva et al (2011), demonstram que os principais fatores que indicam desvantagens
de residir no meio rural são: a jornada de trabalho excessiva, a falta de controle sobre os preços
pagos e recebidos, a penosidade da atividade, as más condições de trabalho e transporte, falta
de acesso aos meios de comunicação e o descaso de políticas públicas direcionadas para a
categoria de jovens rurais. Savian (2011), salienta que a renda obtida pela família é um fator
importante na sucessão geracional, entretanto não é o único fator, os fatores que influenciam a
sucessão segundo o autor são: o pouco acesso a atividades de lazer, a penosidade do trabalho,
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a pouca disponibilidade de terra, a necessidade de melhorar a estrutura de produção, os baixos
preços pagos pelos produtos agropecuários e o isolamento no meio rural.
Segundo Panno (2016), apresenta-se uma série de fatores que possa vir a influenciar a
decisão dos jovens sobre o processo de sucessão relacionados a infraestrutura na propriedade,
quantidade de terras, qualidade da terra, retorno financeiro, disponibilidade de mão de obra,
distância da cidade, transporte até a cidade, acesso às tecnologias, opções de lazer,
possibilidades de matrimônio, incentivo dos pais, políticas públicas de incentivo,
comercialização da produção, preço dos produtos agrícolas, entidades cooperativas sindicatos
e associações, assistência técnica especializada, participação nas decisões da propriedade,
acesso à informação, acesso a crédito rural, disponibilidade de escolas agrícolas e valorização
social do agricultor.
Neste sentido, Schwarz (2004) analisa que para cada membro da propriedade familiar
os fatores vinculados a propriedade rural, são representados e assumidos de maneiras diferentes
pois são diferentes pessoas, coisas e momentos. Portanto, percebe-se que existem diversos
estudos e uma gama de fatores que influenciam a saída ou a permanência desses jovens rurais
no campo, sejam eles fatores intrínsecos ou extrínsecos e que são influenciados de acordo com
as características do ambiente onde estão inseridos.
3 Procedimentos Metodológicos
O método de elaboração deste estudo, consiste em uma abordagem exploratória e
descritiva. A forma selecionada para a coleta das informações foi a entrevista, orientada por um
roteiro de pesquisa semiestruturado. As entrevistas foram realizadas no mês de maio de 2019,
na cooperativa agropecuária no município de Campo Novo- RS. O Entrevistado 1 (E1) é o atual
presidente da cooperativa e o Entrevistado 2 (E2) é responsável pelo departamento de
comunicação da cooperativa. A entrevista compreende a utilização da matriz de importância-
desempenho metodologia proposta por Slack, Chambers e Johnston (2007) como uma técnica
de melhoramento, onde a prioridade de melhoramento é dada com base em sua importância e
em seu desempenho, com a utilização de uma escala métrica de nove pontos para analisar a
importância e o desempenho dos fatores decisórios, por meio da opinião dos entrevistados.
Os fatores decisórios utilizados foram elencados por meio da literatura disponível,
resultando em um total de dezoito fatores decisórios, estes fatores decisórios são analisados por
meio da estruturação da matriz de importância-desempenho e analisados de forma descritiva.
Ainda, utilizou-se da análise de discurso das questões abertas de entrevista, visando descrever
as interpretações pertinentes e conciliá-las ao objetivo proposto neste estudo.
4 Resultados e Discussões

Verificou-se que o objetivo da cooperativa agropecuária é ser um efetivo instrumento


de parceria dos associados nas diversas atividades agropecuárias da região de abrangência,
promovendo a difusão de tecnologias, assistência técnica especializada, abastecendo os
associados com insumos e sementes de qualidade e com custos reduzidos, para que assim ocorra
efetivamente a melhoria na qualidade da vida e com isso alavancar o crescimento do município
por ter como principal fonte de recursos o setor primário.
No entanto, para que o objetivo da cooperativa seja alcançado com êxito com o decorrer
dos anos, analisa-se primeiramente os dezoito fatores decisórios que influenciam no processo
de sucessão geracional, diante da perspectiva da cooperativa. Os fatores decisórios estão
dispostos na matriz de importância-desempenho de Slack, Chambers e Johnston (2007), vistos
na Figura 1. Primeiramente, percebe-se na Figura 1 a seguir, que cinco pontos estão localizados
acima da fronteira inferior de aceitabilidade ao representar que estes fatores decisórios não

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necessitam melhorias imediatas, pois estão localizados na zona adequada e considerados
satisfatórios, são os pontos representados pelas: vermelho, verde, amarelo, rosa e cinza.

Figura 1- Matriz de importância-desempenho dos fatores decisórios

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

O primeiro ponto representado pela cor vermelha, refere-se aos fatores da comunicação
entre a cooperativa e os associados, a remuneração que os filhos recebem dos pais por exercer
atividades na propriedade, o diálogo familiar, o reconhecimento e incentivo dos pais e a
infraestrutura da propriedade rural, segundo a perspectiva da cooperativa estes fatores estão
classificados como satisfatórios. O entrevistado (E1), considera que a remuneração dos filhos
é vista como uma grande dificuldade. Além disso, o (E1) salienta que a cooperativa estimula o
diálogo entre pais e filhos, através da elaboração de seminários, onde os filhos passam a
convidar os pais para participar das atividades propostas pela cooperativa.
Outro fato a mencionar, é que para os filhos dar continuidade nas atividades agrícolas
das famílias que perpetuam de gerações para gerações o (E1) indica que a propriedade deve ter
infraestrutura adequada. Destaca-se também que os fatores decisórios representados pela cor
vermelha, estão demarcados em cima da fronteira inferior de aceitabilidade e que necessitam
desta maneira de atenção. A cor verde representa os fatores decisórios da prestação de
assistência técnica nas propriedades rurais e a escolaridade dos jovens rurais, na opinião da
cooperativa estes fatores encontram-se satisfatórios, porém o (E1) considera que a cooperativa
ainda pode melhorar o desempenho da assistência técnica oferecida aos associados.
O fator decisório da renda gerada pelas atividades agrícolas realizadas na propriedade
representado pela cor rosa é satisfatório, o (E1) diz que a cooperativa garante para os pequenos
e médios produtores uma entrega melhor de renda, pois esses produtores são vistos como o foco
da cooperativa. Deste modo, a cooperativa consegue pagar o mesmo preço tanto do grande ao
pequeno produtor, a cooperativa ainda agrega valor à produção industrializando parte da
mesma, esse fato segundo (E1) torna-se parte de uma renda atrativa aos possíveis sucessores.
Outras considerações referentes a renda, segundo o (E1) e (E2) são as transferências de
cotas da cooperativa dos pais para os filhos para a participação em programas que a cooperativa
oferece, que garante benefícios monetários para os associados (pais e filhos), conta também
com o programa de distribuição de resultados que anualmente a cooperativa retorna benefícios
financeiros aos cooperados proporcionalmente à sua participação na entrega de produção, onde
os filhos também ganham retornos caso tenham suas cotas.

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Os fatores decisórios indicados pela cor amarela são satisfatórios, representados pelos
fatores de acesso a comercialização e o preço oferecido a produção agrícola, segundo o
entrevistado (E2) a cooperativa serve como referência e balizadora de preços na sua região de
abrangência e este tem sido um diferencial competitivo que tem auxiliado para a tomada de
decisão dos produtores na hora de fazer os seus negócios. O fator de decisório das relações
estabelecidas entre o urbano e o rural (compra, venda, acesso a benefícios), representados pela
cor cinza é considerado satisfatório.
Em seguida, pode-se analisar que quatro pontos na Figura 1 estão localizados abaixo da
fronteira inferior de aceitabilidade, ao indicar que estes necessitam de melhorias, sendo três
deles de melhoria e um de melhoria imediata, pois estão localizados na zona de melhoria e de
ação urgente, representados pelas cores: azul, laranja, roxo e marrom.
O ponto representado pela cor azul merece atenção pois além de precisar de melhoria,
está localizado próximo a zona de ação urgente, são os fatores decisórios de valorização social
do agricultor, a autonomia do jovem na propriedade e rural e o incentivo de política públicas.
O entrevistado (E1) afirma sobre o fator de autonomia, que sem ter autonomia o jovem não
permanece na propriedade rural, pois é uma situação muito complicada ao considerar sua
própria história como jovem agricultor e ainda, em questão da valorização social o (E1) diz que
a valorização social melhorou, pois anteriormente tinha-se vergonha de falar que se era
agricultor, porém ainda falta muito para o agricultor ser valorizado.
O fator decisório dado pela cor laranja é o de acesso aos meios de comunicação como
internet, telefone, tv, jornais entre outros, esse fator necessita de melhoria ao considerar o
acesso aos meios de comunicação limitado. A cor roxa é representada pelos fatores de acesso à
tecnologia nas atividades agrícolas como maquinários e implementos e o acesso ao crédito
rural, na perspectiva da cooperativa esses fatores ainda se encontram restritos ou com
dificuldades de ser alcançados necessitando de melhorias. Vale neste caso retomar que quando
o (E1) salienta que as propriedades rurais precisam de uma infraestrutura adequada, destaca
que isso só é possível com o uso de tecnologias adequadas.
O último fator decisório é representado pela cor marrom e refere-se à diversificação das
atividades produtivas nas propriedades rurais, que necessitam de uma ação de melhoria urgente,
ao indicar que as propriedades rurais não possuem atividades diversificadas. O (E1) afirma que
a diversificação das atividades é importante para momentos de crises produtivas, pois o estado
do Rio Grande do Sul sofre muitas interferências climáticas que resultam em perdas produtivas
que muitas vezes retiram o jovem do campo devido a se ter somente uma atividade produtiva e
no momento que ela é prejudica ele vai em busca de emprego na cidade, o (E1) reforça que as
atividades diversificadas conseguem manter um padrão de vida melhor aos agricultores, porém
a diversificação nas propriedades vem diminuindo, o (E2) afirma que a diversificação facilita
o enfrentamento de condições adversas em determinadas fontes de receitas.
Os resultados obtidos neste estudo dos fatores decisórios no processo de sucessão
geracional, corroboram com os desfechos dos trabalhos de Panno (2016), que relata para os
jovens que vão permanecer na propriedade rural os principais fatores são o retorno financeiro
e os aspectos familiares, de relacionamento interpessoal entre as gerações, já a decisão sobre
permanecer ou não, está vinculada a realidade atual de cada jovem, as maiores diferenças de
percepção entre os potenciais sucessores decididos pela sucessão e os que se afastam dela, está
no acesso às tecnologias. O estudo de Matte e Machado (2016), relata entre os principais fatores
que influenciam a tomada de decisão dos jovens em não serem sucessores estão a baixa renda,
ausência de incentivo e estímulo dos pais, comparação entre os meios urbano e rural e o acesso
ao estudo.
Outros estudos que certificam a relevância dos resultados obtidos e a seleção dos
fatores decisórios neste estudo é o de Stropasolas (2004), que acrescenta fatores como a
escolaridade que apresenta novas oportunidades aos jovens e a fraca participação dos jovens no
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processo decisório da agricultura familiar. Para Carneiro (2001), destaca-se a desvalorização
do trabalho agrícola com a oferta de emprego urbano, já Savian (2011), salienta a necessidade
de melhorar a estrutura de produção e os baixos preços pagos pelos produtos agropecuários, os
autores Silva et al (2011), indicam a falta de controle sobre os preços pagos e recebidos, falta
de acesso aos meios de comunicação e o descaso de políticas públicas direcionadas para a
categoria de jovens rurais.
Spanevello (2008), relata os fatores de baixa renda das atividades produtivas, quanto
menos diversificada a propriedade, maior a probabilidade de um dos filhos se ausentar, os pais
não incentivam a permanência dos filhos, a desvalorização da ocupação agrícola, o baixo preço
pago pelo produto e a condição estrutural do estabelecimento. Portanto, deve-se fortalecer a
diversificação das atividades produtivas, a valorização social do produtor, a autonomia dos
jovens na propriedade, o incentivo de políticas públicas, o acesso aos meios de comunicação,
tecnologia e ao crédito rural.
Os entrevistados (E1) e (E2) foram indagados em relação se a cooperativa influencia o
processo de sucessão geracional, como resposta obteve-se que a cooperativa influencia no
processo em relação aos programas que desenvolve, como o encontro anual dos jovens
cooperativados com as apresentações de cases de sucesso, o programa Jovem Aprendiz
Cooperativo onde se induz os responsáveis pelo programa a falar sobre o cooperativismo e
acompanhar as atividades dos jovens no campo reforçando a questão da sucessão familiar, a
feira da cooperativa que oferece novas informações e possibilidades para que possa se acessar
novas tecnologias, além de focar na promoção de assistência técnica para o auxílio dos jovens
na propriedade.
Complementa Deggerone e Oliveira (2018), que investigam quais ações a cooperativa
poderia desenvolver para contribuir com a permanência do jovem no campo, identificaram-se
que ações propositivas estavam vinculadas ao empoderamento dos jovens na tomada de decisão
na propriedade, o desenvolvimento de programas que incentivem a diversificação da produção,
a assistência técnica para a produção e apoio a gestão da propriedade rural.
Ainda, o entrevistado (E1) evidencia o futuro da cooperativa caso os jovens não se
mantenham no campo seria um péssimo futuro, pois não existe cooperativa se não existir a
associação familiar, por isso a cooperativa vem buscando que a sucessão ocorra, o que se torna-
se um grande desafio da cooperativa em preparar os jovens para dar continuidade as atividades
da cooperativa e da propriedade rural.
Além disso, o entrevistado (E1) frisa que se cooperativa não existisse, os produtores
rurais saíram perdendo em 50% nas suas atividades agrícolas e reforça a importância das
cooperativas de crédito neste cenário, complementa o (E2) destacando que os índices de
produtividade seriam bem menores, e as propriedades menos tecnificadas, pois a cooperativa
tem um papel de selecionar tecnologias através do seus campo experimental para testar os seus
efetivos resultados antes de recomendar aos cooperados. Desta forma, as propriedades ficam
mais protegidas da atuação de empresas que não estão comprometidas com resultados positivos
na produção e somente no resultado operacional da venda por si só, e acima de tudo, não
distribuem nenhuma fatia dos seus resultados.
O entrevistado (E2), considera a sucessão geracional como o maior desafio da
cooperativa para o futuro no município de Campo Novo, ao fato que a maior parte da área rural
está sob posse de um número menor de famílias, e que esta famílias são referência de
produtividade e bem estar econômico e financeiro para a cidade, ressaltando que é de extrema
importância o estabelecimento de relacionamento com a geração futura, aprimorando e
disponibilizando tecnologias e ferramentas de trabalho na busca de um resultado positivo nas
relações comerciais desses indivíduos. Ainda, refere-se à manutenção da eficiência em retornar
resultados aos futuros cooperados, para que eles percebam que não vão conseguir benefícios

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iguais ou melhores, realizando seus negócios com outras empresas particulares ou
isoladamente.
A cooperativa acredita segundo (E2), que a manutenção do mercado cooperativo
agropecuário da cidade de Campo Novo na intenção das futuras gerações, é dado pelo aumento
do interesse pelas atividades agrícolas, a busca da profissionalização nas escolas e
universidades, e o acompanhamento das inovações tecnológicas. Para a manutenção do quadro
social de associados, além dos fatores decisórios no processo de sucessão geracional, discorre-
se sobre as perspectivas das atividades do mercado agropecuário cooperativo na cidade de
Campo Novo que se torna um aspecto influente na manutenção dos jovens no campo.
Segundo os dados do Censo Agropecuário (2017), a cidade de Campo Novo apresenta
284 estabelecimentos agropecuários, dos quais 222 são associados a algum tipo de cooperativa
sendo 198 homens e 20 mulheres e as propriedades são compreendem na sua maioria entre 0,2
a 500 hectares de terra. É notável a presença do cooperativismo nos estabelecimentos
agropecuários de Campo Novo, o entrevistado (E2) acentua que Campo Novo tem um perfil
diferenciado em relação aos demais municípios da região de abrangência da cooperativa,
principalmente pelo solo e relevo apropriado à produção de grãos em escala comercial, tem-se
a maior média de áreas rurais por família na região de abrangência da cooperativa.
Diante dessas características o (E2) afirma que exige-se da cooperativa uma eficiência
ainda maior, principalmente no desafio de se ter preços competitivos para participar do mercado
de vendas de insumos e sementes, a principal estratégia utilizada neste sentido é uma presença
efetiva do departamento técnico nas propriedades e um bom relacionamento da área de vendas
com estes cooperados.
A cooperativa agropecuária, colabora para a manutenção do mercado agropecuário na
cidade de Campo Novo, nas considerações do (E2) a colaboração é por meio da compra de
insumos em grande volume, podendo assim repassar melhores preços aos cooperados,
protegendo os produtores de preços abusivos, pois a cooperativa se torna balizadora do
mercado, sendo detentora de mais de 80% do mercado da região, ao apresentar um grande poder
de barganha na hora de negociar com as grandes empresas do setor e a indústria de trigo, que
absorve a metade da safra de trigo da região e consegue dar liquidez às safras recebidas dos
cooperados. Diante disso, o (E2) ressalta a vocação e o pioneirismo na região ao
cooperativismo, contribuindo significativamente ao desenvolvimento local e regional dentro de
uma visão estratégica de mercado.
5 Conclusões

Em síntese, o estudo permitiu analisar na perspectiva da cooperativa os fatores


decisórios que influenciam o processo de sucessão geracional das famílias associadas a
cooperativa e que podem influenciar na manutenção do quadro social de associados. Os
esforços de compreender os fatores decisórios no processo de sucessão geracional é
impulsionado pelo avanço do êxodo rural no Rio Grande do Sul, é neste sentido que refere-se
que o cooperativismo no setor agropecuário influencia a tomada de decisão do jovem em
permanecer no rural, pelo motivo que as cooperativas agropecuárias tem capacidade de apoiar
e atender as necessidades profissionais e sociais dos possíveis sucessores.
A utilização da metodologia de Slack, Chambers e Johnston (2007) interpretou a ideia
de analisar na perspectiva da cooperativa quais os fatores decisórios necessitam ser melhorados,
de maneira que a cooperativa pode usufruir dos resultados para aperfeiçoar suas atividades e
atender as necessidades jovens os mantendo no campo, como cooperados. De modo geral,
observa-se que os resultados dos fatores decisórios se encontram em diferentes zonas de
prioridades de melhoramento na matriz de importância-desempenho.

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Ao considerar os discursos dos entrevistados, preza-se pelos programas e atividades
desenvolvidas pela cooperativa como princípios importantes na motivação para que ocorra a
sucessão geracional e pode-se mencionar, que tanto a cooperativa como seus cooperados
(produtores rurais) são dependentes um do outro para realizar suas atividades e objetivos com
êxito. Por fim, cabe ressaltar que a perspectiva da cooperativa em relação a esses fatores
decisórios é essencial para a continuidade do jovem no campo e a manutenção das atividades
no mercado agropecuário de Campo Novo, pois a maioria dos estabelecimentos agropecuários
da cidade possuem vínculos com o cooperativismo. Desta maneira, a sucessão geracional e as
cooperativas agropecuárias estão relacionadas ao crescimento e desenvolvimento social e
econômico das comunidades locais, como o caso de Campo Novo.
6 Agradecimentos
“O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001 e financiado pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Serviço
Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP)”.
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Identificação de Tecnologias da Informação Utilizadas no Bem-Estar de
Frangos de Corte
Identification of Information Technologies Used on Broiler Welfare
Heitor Vieira Rios1, Patrícia Soster de Carvalho2, Caroline Moreira da Silva3, Paulo Dabdab
Waquil4

Resumo
Mensurar, controlar e garantir o nível de bem-estar animal (BEA) demandado pela população é um desafio para a
cadeia produtiva de carne de frango. O uso de tecnologias da informação (TI) pode ser uma alternativa para atender
essas novas exigências. Objetivou-se com o presente trabalho identificar e categorizar as TI descritas na literatura
relacionadas ao bem-estar de frangos de corte. Para tanto, uma revisão sistemática da literatura foi realizada
considerando os manuscritos publicados nos bancos de dados Scopus e Web of Science até abril de 2019. Após
aplicados os critérios de busca e de exclusão, 55 manuscritos foram analisados, sendo encontrado o uso de TI 98
vezes. As tecnologias foram classificadas em 10 grupos de acordo com as suas características e com os seus
funcionamentos, a saber: tecnologias de imagem, plataforma de medição de força, cinemática, som, identificação
por rádio frequencia, balança automática, sensor ambiental, câmara de abate, sensor animal e algoritmo. Concluiu-
se que existe uma grande gama de tecnologias que podem atender o bem-estar de frangos de corte de formas
distintas. Para futuros estudos, sugere-se avaliar como as TI podem mensurar o grau de bem-estar experenciado
pelos animais durante o ciclo produtivo, a fim de atender as diferentes demandas da sociedade.
Palavras-chave: Pecuária inteligente, Agricultura inteligente, Aves, Qualidade de Vida.

Abstract
Measuring, controlling and ensuring the level of animal welfare (AW) demanded by the population is a challenge
for poultry meat production chain. The utilization information technology (IT) may be an alternative to meeting
these new requirements. This study aimed to identify and to categorize the IT described in the literature related to
the welfare of broilers. A systematic literature review was performed considering the manuscripts published in the
Scopus and Web of Science databases until April 2019. After applying the search and exclusion criteria, 55
manuscripts were analyzed and the use of IT identified 98 times. The technologies were classified into 10 groups,
according to their characteristics and their functioning, namely: imaging technologies, force measuring platform,
kinematics, sound, radio frequency identification, automatic weighing, environmental sensor, slaughter chamber,
animal sensor and algorithm. In conclusion, there is a wide range of technologies that can meet the welfare of
broilers in different ways. For future studies, it is suggested to evaluate how IT can meet societal demands for
products with different degrees of AW.
Keywords: Smart Farming, Precision Livestock Farming, Poultry, Wellbeing.

1 Introdução
A pressão global por aumentos na produtividade das atividades agropecuárias resultou
na intensificação dos modelos de produção. Nesse contexto, o sistema intensivo de produção
de frangos de corte propiciou crescimentos extraordinários de produtividade, permitindo a
produção de uma proteína relativamente barata e com alto valor biológico (UBABEF, 2011).
Em paralelo a isso, cresce, na sociedade, a preocupação com a forma com a qual os alimentos
estão sendo produzidos, em especial em relação às proteínas de origem animal. Nessa óptica,
animais produzidos em sistemas intensivos de produção parecem receber maior atenção da
população em relação às condições de vida a que estão sujeitos (FRASER, 2014).
A intensificação do sistema produtivo de frangos de corte diminuiu os espaços físicos,
aumentou a densidade de animais e diminuiu a relação entre o número de trabalhadores e o

1Doutorando em Agronegócio/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - heitorvieira_rios@hotmail.com


2Mestranda em Produção Anima /Universidade Federal do Rio Grande do Sul – paty_soster@hotmail.com
3Graduanda em Zootecnia/Universidade Federal do Rio Grande do Sul –carolinemoreiradasilva28@gmail.com
4Doutor em Economia Agrícola/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - waquil@ufrgs.br

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número de animais (HONORATO et al., 2012). Consequentemente, a atenção do produtor para
com os animais de forma individualizada foi reduzida (FOX, 1985), o que pode ser prejudicial
ao bem-estar animal (BEA). Há um grande volume de informações sendo constantemente
produzidas pelos animais e pelo ambiente, as quais poderiam ser utilizadas em prol do BEA.
Animais e seu habitat estão em intíma relação, interferindo em suas condições mutua e
ininterruptamente, tornando a avaliação e o controle do grau de BEA muito difíceis de serem
realizados sem as ferramentas adequadas.
Frente a esses desafios, emerge a possibilidade da utilização de tecnologias de
informação (TI) que visam auxiliar na mensuração e no controle das condições de vida dos
animais. Sensores, câmeras, learning machines, wireless, softwares, computação em nuvem,
computação em névoa e internet das coisas são alguns dos elementos que compõem a mais nova
Revolução Industrial, e que estão impactando consideravelmente as vidas humanas (JUKAN;
MASIP-BRUIN; AMLA, 2016). Essas inovações estão sendo introduzidas em sistemas de
produção animal, onde podem ser de grande utilidade para auxiliar no gerenciamento das
granjas e nos processos que envolvem toda cadeia produtiva.
A adoção de ferramentas da TI relacionadas ao BEA pode ser uma grande oportunidade
para a cadeia produtiva de carne de frango se adequar as novas exigências da sociedade e
explorar possíveis nichos de mercado. Dessa forma, pode ser de vital importância para o setor
oferecer proteína de origem animal a partir de frangos de corte que tiveram as condições de
vida que o consumidor demanda. Frente a importâncias dessas tecnologias no contexto atual,
objetivou-se, com o presente estudo, identificar, categorizar e analisar as TI relacionadas ao
bem-estar de frangos de corte.

2 Referencial Teórico
2.1 Tecnologia da informação
As TI compreendem um conjunto de tecnologias capazes de capturar, de mensurar e de
processar informações eficientemente. As inovações ocorridas nessa esfera da ciência têm
permitido grandes mudanças na sociedade nos últimos anos graças ao desenvolvimento de
tecnologias que permitem maior controle de processos, maior automação e maior capacidade
de gerenciamento nas atividades produtivas (CARPIO et al., 2017). Nesse contexto,
ferramentas da TI, tais como: sensores, câmeras, computação em nuvem, computação em
neblina; entre outras; são capazes de tornar as atividades agrícolas mais eficientes, uma vez que
podem ser utilizadas para a tomada de ações práticas (BANHAZI et al., 2012).
Há muitas maneiras pelas quais as TI podem atender as demandas do BEA. Para
Berckmans (2014), as TI podem oferecer monitoramento e gerenciamento da granja em tempo
real, o que pode permitir melhorias na vida dos animais. De acordo com Sassi, Averós e Estevez
(2016), as TI são capazes de aumentar a automatização das granjas, tornando as atividades mais
eficientes e precisas. Adicionalmente, o uso de TI pode contribuir na discussão sobre BEA, pois
simplifica a coleta, o processamento e a análise de dados; fornecendo informações reais para
discussões subjetivas e, frequentemente, emocionais (BANHAZI et al., 2012).
Segundo Costa et al. (2012), a análise do comportamento de frangos de corte pode
proporcionar informações relevantes sobre o grau de BEA em que eles se encontram. Em vistas
disso, Corkery et al. (2013) afirma que a análise de imagens apresenta grande potencial para
aumentar o grau de BEA. Utilizando um sistema de processamento de imagens capaz de
analisar o movimento dos animais em um aviário, Dawkins, Cain e Roberts (2012) puderam
identificar em tempo real problemas de locomoção e de lesões nas patas dos animais,
conhecidas como hockburn.

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A vocalização dos animais também pode fornecer informações sobre as condições de
vida dos animais, quando captada e processada por sensores adequados. Analisando a amplitude
e a frequência de vocalização de frangos de corte, de Moura et al. (2008) observaram que as
variáveis poderiam indicar o conforto térmico de frangos de corte. Os pesquisadores
observaram um aumento da vocalização quando a temperatura do aviário era reduzida e os
animais se agrupavam com o objetivo de se aquecerem. As TI também podem ser usadas para
mensurar e para controlar condições ambientais em um aviário. Nesse contexto, Lin et al.
(2016) desenvolveram e testaram um sensor para captar a concentração de amônia em galpões
de frangos de corte. Os autores observaram que o equipamento poderia ser utilizado em aviário
de forma prática, sendo uma ferramenta eficiente e precisa para o seu propósito.
Como pode ser observado, o desenvolvimento de ferramentas da TI que envolvem o
BEA pode ser de grande valia para a cadeia produtiva. Nada obstante, TI abrange uma grande
gama de tecnologias que podem servir a variados propósitos. Dessa forma, é um estudo para
identificar quais TI relacionadas ao bem-estar de frangos de corte estão sendo estudadas e
desenvolvidas pela ciência torna-se necessário.

3 Procedimentos Metodológicos
Uma revisão sistemática (RS) da literatura foi realizada para analisar e para identificar
as TI relacionada ao bem-estar de frangos de corte. Para isso, bases de dados Web of Science
e Scopus foram utilizadas. A escolha destas bases de dados deveu-se à sua relevância e
importância no presente campo de estudo. As bases de dados foram acessadas pelo Portal da
Biblioteca da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, disponibilizado pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
A RS foi realizada utilizando a ferramenta Start (State of the Art Trough de Systematic
Review). O período de busca compreendeu todos os anos até 17 de abril de 2019. Após pesquisa
inicial, foram definidos os termos e Boleanos utilizados, os quais foram inseridos no campo
“tópico” da Web of Science e no campo “Article title, abstract, keywords” da Scopus. Os termos
utilizados foram “Broiler” conjuntamente com “technolog*” e com “Welfare”, utilizando-se o
boleano AND entre eles. Repetiu-se a consulta substituindo-se o termo “technolog*” por cada
um dos seguintes termos: "Precision Livestock farm*", “Computer*”, ” Digital*”,
“Informatic*”, “Remote*”, “Automat*”, “Camera*”, “Sensor*”, “Radio*”, “Image*” e
“Sound*”. Ainda, porque “Wellbeing” foi identificado como um sinônimo para “Welfare”, o
processo foi repetido utilizando-se o termo “Wellbeing” no lugar de “Welfare”, sendo os
documentos encontrados adicionados aos resultados da pesquisa.
A consulta inicial resultou em 406 documentos. Após submeter os documentos a
critérios de inclusão e de exclusão, foram analisados 55 documentos. Dentre os documentos
rejeitados estavam: revisões e conference papers, manuscritos duplicados, artigos que não
atendiam os objetivos da pesquisa e documentos que não estavam escritos em língua inglesa ou
portuguesa.
Os documentos selecionados foram avaliados e as TI utilizadas pelos autores foram
identificadas e categorizadas. A questão que norteou a revisão foi: “Quais são as TI descritas
na literatura envolvidas com o bem-estar de frangos de corte?”.

4 Resultados e Discussão
Após a análise dos 55 manuscritos, as diferentes TI identificadas foram categorizadas
de acordo com as suas características. Os grupos de TI observados foram: tecnologias de
imagem, algoritmo, sensor animal, sensor ambiental, som, identificação por rádio frequencia
(RFID), plataforma de medição de força, cinemática, balança automática e câmara de abate. Os

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grupos, os autores, o número de manuscritos onde as TI foram identificadas, o número de
aparições de cada grupo e a sua frequencia podem ser visualizados na Tabela 3.

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Tabela 3. Grupos de tecnologias, autores, número de documentos. quantidade e frequencia de aparição de cada grupo de TI
Tecnologia Autores Nº doc¹ Nº TI² %³
Alves et al. (2016); Alvino et al. (2009); Aydin (2017a, 2017b); Aydin; Berckmans (2016); Caplen et al.
(2012); Cordeiro et al. (2011); Dawkins et al. (2009, 2013, 2017); Dawkins; Cain; Roberts (2012); de Montis
et al. (2013); de Moura et al. (2008); do Nascimento et al. (2011, 2014); Febrer et al. (2006); Peña Fernández
et al. (2018); Ferreira et al. (2011); Giersberg et al. (2016); Giloh; Shinder; Yahav (2012); Kashiha et al.
Tecnologia de Imagem (2013); Kristensen; Cornou (2011); Mackie; McKeegan (2016); McKeegan et al. (2013); Mendes et al. (2016); 42 43 43,88
Moe et al. (2017); Nääs et al. (2008, 2009, 2010, 2018); Roberts; Cain; Dawkins, (2012); Schwean-Lardner et
al. (2014); Schwean-Lardner; Fancher; Classen (2012); Silvera et al. (2017); Stadig et al. (2018a); Van Hertem
et al. (2017, 2018); Vanderhasselt et al. (2013); Webster; Collett (2012); Weeks et al. (2000); Youssef;
Exadaktylos; Berckmans (2015); Zhuang et al. (2018)
Aydin (2017b, 2017a); Aydin; Berckmans (2016); Cordeiro et al. (2011); Curi et al. (2017); Dawkins et al.
(2009, 2013, 2017); Dawkins; Cain; Roberts (2012); de Montis et al. (2013); Demmers et al. (2018); Peña
Algoritmo Fernández et al. (2018); Kashiha et al. (2013); Kristensen; Cornou (2011); Nääs et al. (2018); Roberts; Cain; 21 21 21,43
Dawkins (2012); Silvera et al. (2017); Van Hertem et al. (2017, 2018); Youssef; Exadaktylos; Berckmans
(2015); Zhuang et al. (2018)
Coenen et al. (2009); Hindle et al. (2010); Hoffmann et al. (2013); Iyasere et al. (2017); McKeegan et al.
Sensor animal 5 9 9,18
(2013)
Calvet et al. (2014); Curi et al. (2017); Lin et al. (2016); Mackie; McKeegan (2016); McKeegan et al. (2013);
Sensor ambiental 7 7 7,14
Van Hertem et al. (2017); Webster; Collett (2012)
Som Aydin; Berckmans (2016); de Moura et al. (2008); Fontana et al. (2015, 2016); Van Hertem et al. (2017) 5 5 5,10
Identificação radiofrequencia Stadig et al. (2018b, 2018a), Taylor et al. (2017a, 2017b) 4 4 4,08
Plataforma de medição de força Nääs et al. (2008, 2009, 2010) 3 3 3,06
Cinemática Caplen et al. (2012); Nääs et al. (2010) 2 2 2,04
Balança automática Aydin; Berckmans (2016); Van Hertem et al. (2018) 2 2 2,04
Câmara de abate Mackie; McKeegan (2016); McKeegan et al. (2013) 2 2 2,04
Total 93 98 100
¹ Número de documentos observados no grupo.
² Número de aparições de cada TI.
³ Porcentagem de cada aparição em relação ao total de TI analisados (n=98).
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

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Tecnologias do grupo “tecnologia de imagem” apresentaram maior frequência dentre
os grupos analisados, sendo observadas em 42 documentos e 43 vezes, o que corresponde a
43,88% das TI analisadas. Esse grupo de TI alberga uma grande gama de tecnologias, tais como
gravações digitais de vídeos (ALVINO et al., 2009; AYDIN, 2017a, 2017b; AYDIN;
BERCKMANS, 2016; DE MOURA et al., 2008; FEBRER et al., 2006; MCKEEGAN et al.,
2013; NÄÄS et al., 2008, 2009, 2010, 2018; STADIG et al., 2018a; WEBSTER; COLLETT,
2012; WEEKS et al., 2000; YOUSSEF; EXADAKTYLOS; BERCKMANS, 2015), imagens
térmicas (CAPLEN et al., 2012; do NASCIMENTO et al., 2011, 2014; FERREIRA et al.,
2011,; GILOH; SHINDER; YAHAV, 2012; MACKIE; MCKEEGAN, 2016; MOE et al., 2017;
SCHWEAN-LARDNER et al., 2014; SCHWEAN-LARDNER; FANCHER; CLASSEN,
2012), optical flow, a qual consiste em uma análise estatística da distribuição dos animais em
um aviário (CORDEIRO et al., 2011b; DAWKINS et al., 2009, 2013, 2017; DAWKINS;
CAIN; ROBERTS, 2012; DE MONTIS et al., 2013; PEÑA FERNÁNDEZ et al., 2018;
KASHIHA et al., 2013; KRISTENSEN; CORNOU, 2011; ROBERTS; CAIN; DAWKINS,
2012; SILVERA et al., 2017; VAN HERTEM et al., 2017a, 2018), análise de fotos (ALVES et
al., 2016; CORDEIRO et al., 2011b; GIERSBERG et al., 2016; MENDES et al., 2016;
VANDERHASSELT et al., 2013; ZHUANG et al., 2018) e ferramenta de visualização prática
sobre as condições do ambiente e dos animais (VAN HERTEM et al., 2017). Tais tecnologias
podem ser utilizadas para validar um método, uma técnica ou uma tecnologia relacionada ao
BEA. Adicionalmente, podem ser utilizadas com um algoritmo ou para ajudar no
desenvolvimento de um.
O segundo grupo com aparições de TI mais frequente foi “algoritmo”, o qual foi
observado em 21,43% do total de TI e em 21 documentos. As tecnologias classificadas nesse
grupo são os algoritmos utilizados nos trabalhos com o intuito de permitir o processamento
inteligente de dados (CORDEIRO et al., 2011b; DAWKINS et al., 2009, 2013b, 2017;
DAWKINS; CAIN; ROBERTS, 2012; DE MONTIS et al., 2013; PEÑA FERNÁNDEZ et al.,
2018; KASHIHA et al., 2013b; KRISTENSEN; CORNOU, 2011; ROBERTS; CAIN;
DAWKINS, 2012; SILVERA et al., 2017; VAN HERTEM et al., 2017a, 2018). Essas
ferramentas são desenvolvidas para alcançar um objetivo, organizando-se uma seqüência de
instruções lógicas ou de operações. Elas podem ser criadas a partir da análise de dados de outras
TI, processando dados de entrada (inputs) e transformando-os em uma saída (output).
Tecnologias classificas no grupo “sensor animal” foram ferramentas inteligentes
utilizadas diretamente nos animais para produzir/fornecer informações úteis para o pesquisador.
Sensores animais corresponderam a 9,18% do número total de TI observado, sendo verificados
em cinco documentos, respectivamente. Foram classificados nesse grupo as seguintes
tecnologias: sensores de eletrocardiograma e de eletroencefalograma (COENEN et al., 2009;
HINDLE et al., 2010; MCKEEGAN et al., 2013), microchip (IYASERE et al., 2017), sistema
de registro de telemetria (COENEN et al., 2009; IYASERE et al., 2017; MCKEEGAN et al.,
2013) e sensores de contato, como, por exemplo, o termômetro infravermelho utilizado por
Iyasere et al. (2017) e o dispositivo para mensurar a umidade dos tecidos dos animais, o qual
foi utilizado por Hoffmann et al. (2013) com o intuito de avaliar qualidade de pata de frangos
de corte.
Após o grupo “sensor animal”, o grupo de TI mais observado foi o “sensor ambiental”,
que correspondeu a 7,14% do total de aparições de TI, sendo verificado em sete dos documentos
analisados. Essas tecnologias podem ser utilizadas para controlar as condições ambientais em
um galpão, como observado em Calvet et al. (2014); Curi et al. (2017); Lin et al. (2016) e em
Van Hertem et al. (2017). Ainda, podem ser utilizadas para medir e controlar a concentração
de gases no processo de abate dos animais, como observado em Mackie; McKeegan (2016);
McKeegan et al. (2013); e em Webster; Collett, (2012).

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As tecnologias classificadas no grupo “som” puderam ser observadas em 5,10% do total
de TI e em 5 documentos, sendo seguidas pelas classificadas no grupo “RFID”, que
corresponderam a 4,08 das TI e foram identificadas em 4 manuscritos. No grupo “som”, foram
classificadas as tecnologias envolvidas na detecção e na análise das características dos sons de
frangos de corte. O sistema consiste na instalação de microfones em galpões de frangos de corte
e na análise dos dados captados, podendo ser utilizado para o desenvolvimento de algoritmos,
como observado em Aydin; Berckmans (2016); em Fontana et al. (2015, 2016); e em Van
Hertem et al. (2017) ou para o estudo sobre conforto térmico dos animais, como observado por
de Moura et al. (2008). Já as tecnologias “RFID”, foram utilizadas para a verificação do
posicionamento dos animais em sistemas free-range. Transmissores foram fixados nos animais
e os sinais foram transmitidos para receptores colocados em posições fixas. O posicionamento
da ave pode ser calculado com base no tempo que o sinal leva para percorrer o caminho entre
o animal e o ponto onde foi fixado determinado receptor (STADIG et al. 2018a, 2018b,
TAYLOR et al. 2017a, 2017b.
A utilização de plataformas de medição de força foram observadas em três documentos
e em 3,06% do total de TI, enquanto o grupo “cinemática” foi observado em dois documentos,
correspondendo a 2,04% do total de TI analisadas. Foi observado o uso das plataformas para
mensurar as forças envolvidas durante marcha de frangos de corte, a fim de identificar possíveis
anormalidades locomotoras. Os dados captados pelo equipamento são processados e analisado
por um software, gerando informações úteis para a avaliação dos animais (NÄÄS et al. 2008,
2009, 2010). O grupo “cinemática” refere-se a tecnologias que permitem a análise do
movimento corporal de frangos de corte. A cinemática usa a geometria para identificar a
posição, a velocidade e a aceleração de qualquer parte desconhecida de um determinado
sistema. Nesse sentido, para estudo da cinemática, pode-se fazer uso da plataforma de medição
de força (NÄÄS et al., 2010) e de tecnologias que envolvem a gravação de vídeo para a
produção de imagens 3D (CAPLEN et al., 2012).
Foram classificas no grupo “balança automática” equipamentos de pesagem ligados a
um software que processa as informações em tempo real. O grupo foi identificado em dois
documentos e em 2,04% do total de TI. Balanças automáticas foram utilizadas por Aydin;
Berckmans (2016) para mensurar a ingestão de alimento dos animais e por Van Hertem et al.
(2018) para pesar frangos de corte em tempo real. As tecnologias classificadas no grupo
“câmara de abate” também foram observadas em 2 manuscritos e em 2,04% do total de TI. As
câmaras de abate apresentam componentes automáticos para realizar o abate humanitário
(MCKEEGAN et al. 2013) ou para promover a inconsciência de frangos de corte (MACKIE;
MCKEEGAN 2016).
É possível observar que o número de aparições de TI foi maior do que o número de
artigos analisados (98 vs 55). Isso foi verificado porque um mesmo manuscrito pode apresentar
mais de uma TI. Para ilustrar esse fato com clareza, pode-se citar os grupos de TI: “sensor
animal”, em que foram classificados cinco manuscritos, porém foram verificadas nove
aparições de TI, e o grupo “tecnologia de imagem”, onde as TI foram verificadas 43 vezes em
42 documentos. Adicionalmente, observou-se que a soma dos documentos em cada grupo de
TI foi igual a 93, ou seja, valor maior do que o número de documentos analisados (n=55). Esse
fato foi possível porque um mesmo documento pode apresentar tecnologias classificadas em
mais de um grupo de TI.
A vigente pesquisa objetivou identificar e categorizar TI descritas na literatura que
estivessem envolvidas com bem-estar de frangos de corte. É importante salientar que os
resultados encontrados e interpretados no presente estudo estão restritos aos documentos
avaliados, os quais foram selecionados a partir dos critérios escolhidos pelos autores e estão
descritos no item “Procedimentos Metodológicos”. Dessa forma, a escolha de termos e de

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boleanos e/ou de critérios de inclusão e de exclusão diferentes dos utilizados pelos autores pode
gerar resultados diferentes.

5 Conclusões
Foram identificados dez grupos de TI diferentes nos trabalhos analisados, sendo as
tecnologias categorizadas de acordo com as suas características. Cada grupo apresenta
particularidades e diferentes formas de funcionamento, podendo atender os aspectos do bem-
estar de frangos de corte de diversas maneiras. Para futuros estudos, sugere-se avaliar como as
TI que estão sendo desenvolvidas podem mensurar o grau de BEA de produtos de origem
animais, com o intuito de atender às diferentes demandas da sociedade.

6. Agradecimentos
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo
apoio disponibilizado.

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IMPACTO DAS NORMATIVAS DE BEM-ESTAR NA ANÁLISE DE
CICLO DE VIDA DA PRODUÇÃO DE AVES E SUÍNOS

IMPACT OF ANIMAL WELFARE REGULATORIES IN LIFE CYCLE


ANALYSIS OF POULTRY AND SWINE PRODUCITON
PIETRAMALE, R. T. R1; SOUZA, D. P. 2; BARBOSA, D. K. 3; RUVIARO, C. F. 4

RESUMO
Nas premissas da sustentabilidade no setor de produção de proteína animal, o mercado consumidor tem exigido
cada vez mais sobre os impactos ambientais e bem-estar dos animais de produção. Pela relevância do tema,
objetivou-se explanar e identificar discussões cientificas que contextualizem sobre os principais fatores que
interferem negativamente no atendimento as normas de bem-estar animal e nas emissões de gases de efeito estufa
na produção de aves e suínos. O estudo bibliométrico foi realizado a partir da base de dados Web of Science, no
período entre 2009 e 2018. Os descritores foram “Life Cycle Assessment”, “Animal welfare”, Livestock”, “Animal
production”, “Poultry” e “Pig production”. Contabilizou-se os documentos de forma que todas as combinações
dos termos eram pesquisadas. Algumas variáveis estudadas em análises de ciclo de vida, também são indicadores
de bem-estar dos animais, como as emissões de CO2 pela respiração animal, os níveis de NH3 e CH4 no ar que os
animais respiram, a eficiência produtiva, temperatura ambiente, humidade, densidade animal, eficiência produtiva
e composição da dieta. Ao identificar a localização geográfica das pesquisas, a União Europeia se destacou em
todos os descritores. Isso pode ser explicado pelo nível de exigências que existe nas relações comerciais entre os
países que compõem a UE e países exportadores de produtos oriundos destas atividades, como é o caso da relação
com o Brasil. Apesar da relação entre o bem-estar dos animais e os impactos ambientais ser estreita e plausível de
ser estudada, poucos foram os trabalhos encontrados que relatassem isso de forma clara.
Palavras-Chave: Bem-estar animal; Avaliação do Ciclo de Vida; Proteína animal; Segurança alimentar.

ABSTRACT
About the sustainability in animal protein production, consumers are increasingly demanding about
environmental impacts and animal welfare. Thus, the objective was to explain and identify scientific discussions
that contextualize the main factors that negatively affect the compliance with animal welfare norms and
greenhouse gas emissions in poultry and pork production. The bibliometric study was conducted in the Web of
Science database, from 2009 to 2018. The descriptors were “Life Cycle Assessment”, “Animal welfare”,
Livestock”, “Animal production”, “Poultry” and “Pig production”. The documents were counted so that all
combinations of terms were searched. Some indicators studied in life cycle analyzes also indicate animal welfare.
These indicators are CO2 emissions from animal respiration, NH3 and CH4 levels in the air that animals breathe,
productive efficiency, room temperature, humidity, animal density, productive efficiency and diet composition.
Analyzing the geographical location of the surveys, the European Union stood out in all descriptors. This can be
explained by the level of demands that exist in trade relations between the EU and producing and exporting
countries, such as the relationship with Brazil. Even with a close relationship between animal welfare and
environmental impacts, few studies have reported this clearly. Making the subject plausible to be studied.
Keywords: Animal welfare; Life Cycle Assessment; Animal protein; Food security.
INTRODUÇÃO

Define-se sustentabilidade como um processo que seja positivo para as questões


socioculturais, ambientais e econômicas. Dentro do conceito sociocultural da sustentabilidade
tem-se a preocupação dos consumidores com os processos ocorrentes durante a fabricação de
um produto. Na produção animal isso não seria diferente, pois nos últimos anos observou-se
um aumento no interesse do mercado consumidor sobre como ocorrem os processos produtivos
dentro da cadeia de produtos de origem animal.

1Zootecnista/Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia /UFGD – rolimpiezoo@gmail.com


2Economista/Doutoranda, Prog. Pós-Graduação em Agronegócios/UFGD – daihpereiradsouza@hotmail.com
3 Zootecnista/Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia /UFGD – dkellybarbosa@gmail.com
4 Zootecnista/Docente, Programa Pós-Graduação em Agronegócios/UFGD - clandioruviaro@ufgd.edu.br

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Para que um sistema de produção animal se enquadre nos parâmetros da
sustentabilidade, ele precisa ser primeiramente eficiente economicamente, deve colaborar com
a gestão equilibrada no uso dos recursos, além de se adequar aos atributos relacionados ao bem-
estar dos animais de produção (TALLENTIRE et al., 2018). Desta forma, o produtor passa a
ter a necessidade de gerir todas as etapas produtivas dentro do ciclo de vida do seu produto,
tomando conhecimento de tudo que possa afetar o melhor desempenho da sua atividade, seja
na questão do bem-estar, da ambiência, da sanidade, da nutrição ou de simples manejo.
Ao elaborar projetos de sistemas de produção animal o investidor deve tomar
conhecimento de todo o processo pelo qual o seu objeto de produção passará. Logo as etapas
mencionadas envolvem desde do planejamento da estrutura produtiva, do alojamento do animal
até o tratamento de seus resíduos, além das fases que ocorrem fora do sistema, como a produção
dos grãos para a dieta e o abate e comercialização do produto, dando o entendimento sobre todo
o ciclo de vida do mesmo (SONESSON et al., 2015).
Nas premissas da sustentabilidade no setor de produção de proteína animal, o mercado
consumidor, tem exigido cada vez mais sobre a ocorrência de impactos ambientais e a respeito
de o bem-estar dos animais de produção. Desta maneira o setor pecuário possui uma
contribuição expressiva nas discussões sobre o potencial de aquecimento global, bem como, na
predisposição dos animais aos fatores estressantes dentro do sistema (SANTERAMO et al.,
2019). Assim tornou-se imprescindível que o pesquisador das cadeias produtivas animais de
investigar sobre todos os impactos na sustentabilidade ambiental e da atividade, investigando
sobre as principais emissões poluentes (gasosas ou não) dentro das condições de
acondicionamento aos quais os animais são submetidos, atendendo as exigências de mercado,
como, da União Europeia (SANTERAMO et al., 2019).
A relevância do tema, objetiva explanar e identificar pesquisas relevantes, a partir de
uma revisão bibliométrica, que contextualizem e fundamentem sobre os principais fatores que
interferem negativamente no atendimento as normas de bem-estar animal e, por consequência,
nas emissões de gases de efeito estufa na produção de aves e suínos.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Impactos ambientais e a relação com a produtividade animal


Mcauliffe et al. (2017) afirmam que a produção de monogástricos participa
expressivamente dos fatores que interferem no aquecimento global, pois estes animais
necessitam de produtividade de grãos para a sua alimentação. Enquanto Ito et al. (2016)
definiram a produção de monogástricos como uma atividade bastante poluidora. Outros autores
como Toniazzo et al. (2018) sugeriram que para minimizar os impactos causados por essa
atividade seria necessário diminuir o consumo dos produtos oriundos desta produção. Em
contraponto, Toniazzo et al. (2018) ainda asseguram que a lucratividade e produtividade são
imprescindíveis na avaliação da atividade produtiva, mesmo que estas vão contra as variáveis
ambientais e sociais. Porém essas ações entrariam em desacordo com as afirmações da FAO
(2018) sobre o aumento populacional mundial previsto para até 2050, cerca de 10 bilhões de
pessoas, e a necessidade de aumentar a produção de alimentos inclusive da proteína de origem
animal.
A produção animal passou por modificações ao longo dos anos, o que interferiu sobre
como todo o processo ocorre, atendendo as demandas de mercado (PIETRAMALE et al.,
2019a). Países compradores passaram a exigir cada vez mais dos países produtores,
especialmente sobre os componentes do sistema, como dieta, tipos de manejos dos animais e
os impactos sociais e ambientais causados pelo processo (ITO et al., 2016). Esse cenário trouxe
um desafio para os produtores, pois cada vez mais se discute economicamente e politicamente

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sobre as questões ambientais e de bem-estar, pois mesmo que um manejo não traga lucro para
o produtor, ele deve ocorrer, pois a falta dele pode lhe trazer prejuízos por não ter pra quem
destinar sua carne ou animal (OLIVEIRA e NUNES, 2002). Assim políticas foram sendo
elaboradas, onde o comprador despertou, mesmo que obrigatoriamente, no vendedor/produtor
a necessidade de implantar regras e normativas sobre os processos produtivos (MAZZUCO, H,
2007).
Para alguns autores, como Sousa (2005), o fato de uma atividade de produção de carne
não considerar o bem-estar resulta em baixa qualidade do produto e por consequência queda
em vendas e produtividade. A queda dos indicadores de produtividade em uma granja suína,
por exemplo, prejudica o lucro e consequentemente aumenta os impactos ambientais por
quilograma de carne produzida (PIETRAMALE et al., 2019b).
Mas Jamieson (1993) já, mencionava que, apesar do bem-estar animal não ser algo
palpável economicamente, estas exigências perpetuariam sobre a produção de proteína animal
e políticas, e as questões ética na atividade seriam cada vez mais incisivas. Logo, autores como
Hartung e Phillips (1994) afirmaram que além das questões de conforto dos animais, a inovação
tecnológica sobre o aporte de produção, que aumentou a quantidade de animais por áreas,
tornou a atividade uma preocupação sobre as emissões de gases maléficos ao meio ambiente
global e aos seres humanos. E em 2018 o assunto bem-estar animal já estava sendo mencionado
juntamente com as questões de poluição do meio ambiente.
Estudos realizados por Tallentire et al. (2018) levantaram indicadores de
produtividade que, também são utilizados em Análises de Ciclo de Vida, poderiam mensurar
os níveis de bem-estar na produção de frango de corte por toda a Europa. Índices de
produtividade podem mensurar os impactos sobre o manejo, aclimatação e alojamentos dos
animais muito mais do que se imagina (TALLENTIRE et al., 2018). Um exemplo disso é a
mortalidade de frangos de corte ocorrente entre a saída da fazenda até a porta do abatedouro
mencionada por Kittelsen et al. (2015), que tem se tornado um importante indicador sobre o
que acontece com os animais, se as lesões são características de complicações relacionadas a
falta do bem-estar dos animais.

Os impactos ambientais como resultado da falta de bem-estar


Em atividades pecuárias, como a produção de leite, Herzog et al. (2018) buscaram
entrelaçar em um estudo variáveis que, aparentemente seriam independentes, mas ao detalhar
os estudos observou-se que eram interdependentes, como a mensuração de emissões de gases
de efeito estufa a ser o CO2, o N2O e o CH4 e também o NH3, altamente impactantes ao meio
ambiente e que podem ser estudados juntos na busca da sustentabilidade ética na produção
animal. Rigolot et al. (2010) identificaram cálculos que associavam condições de ambiência e
alimentação com um aumento de emissões de CO2 pela evapotranspiração de suínos e também
pela evaporação da água do ambiente e da que o animal consome.
Na avicultura, apesar de não haverem muitos estudos, sabe-se que a respiração dos
animais emite CO2, os níveis dessas emissões estão diretamente relacionados ao calor e peso
metabólico das aves, que estes indicadores são respostas da alimentação e, sobretudo da
temperatura a qual os animais estão acondicionados (PEDERSEN et al., 2008). Estes mesmos
autores asseguraram que em produções confinadas, a liberação de CO2, através da respiração
destes animais, chegam a variar cerca de 20% durante o dia.
Outro fator que interfere diretamente nos gases prejudiciais ao meio ambiente emitidos
pela produção de aves e suínos é a decomposição de seus rejeitos (OYAMADA e SILVA,
2015). Sobre os gases de efeito estufa que são produzidos pelos rejeitos, tem-se o CH4 que é
influenciado por multifatores, tais como taxa de ventilação, temperatura e humidade do
ambiente além da densidade dos animais e composição da dieta (MÉDA et al., 2015). Estes
mesmos fatores são mencionados no Protocolo de Bem-estar para Frangos de Corte (2016), o

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que demonstra a interpolação de algumas variáveis utilizadas nos estudos sobre impactos
ambientais e, também, nos estudos relacionados ao bem-estar dos animais de produção.

METODOLOGIA

O estudo bibliométrico foi realizado a partir da base de dados Web of Science, no


período entre 2009 e 2018. A coleta foi iniciada no dia 18 de agosto de 2019 e finalizada no dia
02 de setembro de 2019. Os descritores utilizados estão expressos na Figura 1, Figura 2 e Figura
3. A identificação das palavras pesquisadas foi realizada de maneira que ou elas estivessem no
título, ou nas “palavras-chave” do trabalho ou no resumo.

Figura 1. Usando os descritores separados por temáticas.

LIFE CYCLE
ASSESSMENT

ANIMAL
WELFARE
Fonte: Elaboração própria.

Figura 2. O termo LCA como principal.

LIFE CYCLE
ASSESSMENT

LIFE CYCLE
ASSESSMENT
Fonte: Elaboração própria.

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Figura 3. O termo Animal welfare como principal

ANIMAL
WELFARE

ANIMAL
WELFARE
Fonte: Elaboração própria.
Os documentos foram contabilizados de tal forma que todas as combinações dos mesmos
termos eram pesquisadas na base de dados selecionadas. Assim proferiu-se a busca, e
possibilitou identificar quais periódicos encontravam-se em maior evidencia, quais os termos
com maior volume de trabalhos e os mesmos de forma associada e o volume pelos anos de
publicação.

RESULTADOS

Ao buscar separadamente os termos Life Cycle Assessment (LCA) e o sistema de


produção (Pig production ou Poultry), foi possível identificar que no período entre 2009 e 2018
foram encontrados uma maior quantidade de arquivos sobre os estudos de bem-estar animal
(Tabela 1). Entretanto, buscou-se a distribuição geográfica dos pesquisadores e/ou instituições
participantes das pesquisas e notou-se que, entre todas as combinações, a localização geográfica
onde mais se concentram as pesquisas é na União Europeia (Tabela 1).

Tabela 1. Quantificação por conjunto de palavras e localização geográfica.


Quantidade de Quantidade de
Conjunto de palavras Regiões do mundo
arquivos arquivos
Latin America 8
North America 11
LCA + Pig production 73
Europe Union 74
Asia 4
Latin America 5
North America 16
LCA + Poultry 89
Europe Union 60
Asia 10
Latin America 10
Animal welfare + Pig North America 6
107
production Europe Union 133
Asia 4
Latin America 61
Animal welfare +
403 North America 85
Poultry
Europe Union 321

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Asia 17
Fonte: Elaboração própria.
Quando se optou por unir as temáticas “LCA e Animal welfare” observou-se uma queda
bastante expressiva na quantidade de arquivos encontrados, principalmente sobre os termos
“LCA + Animal production” ou “LCA + Animal welfare” (Tabela 2). Desta forma, dentro da
base de dados pesquisada, observa-se uma lacuna a ser preenchida com essa associação de
temas, como fora mencionado por Rigolot et al. (2010) em seus cálculos de emissões de gases
impactantes ao meio ambiente na produção suinícola. Além destes autores, o Protocolo de Bem-
estar de Frangos de Corte (2016) demonstra uma interpolação das variáveis que identificam o
bem-estar na produção avícola também fazem parte das que são utilizadas em estudos de
Avaliação de Ciclo de Vida.

Tabela 2. O termo LCA como principal.


Termos Qtde de Termos Qtde de Termos Qtde de
principais arquivos secundários arquivos terciários arquivos
Animal
Livestock 359 9
welfare
Animal Animal
38 3
LCA 15902 production welfare
Livestock 9
Animal welfare 26 Animal
3
production
Conjunto de termos Região do mundo Quantidade de arquivos
Latin America 0
LCA + Livestock + Animal North America 1
welfare Europe Union 9
Asia 0
Latin America 0
LCA + Animal Production + North America 0
Animal welfare Europe Union 3
Asia 0
Fonte: Elaboração própria.

O mesmo ocorreu com o volume de arquivos encontrados quando se utilizou o termo


“Animal welfare” como principal descritor, porém a quantidade de trabalhos com os termos
primários, secundários, e terciários foi ainda menor (Tabela 3). Talvez devido ao volume de
trabalhos somente com o descritor principal ter sido quase a metade do que fora encontrado
com o termo “LCA”.

Tabela 3. O termo Animal welfare como principal


Termos Qtde de Termos Qtde de Termos Qtde de
principais arquivos secundários arquivos terciários arquivos
Poultry 3
LCA 24 Pig
Animal welfare 6
7526 production
Chicken 3
LCA 24
Pork 1
Conjunto de termos Região do mundo Quantidade de arquivos
Latin America 0
Animal welfare + LCA + North America 0
Poultry Europe Union 3
Asia 0
Latin America 0
Animal welfare + LCA + Pig
North America 0
production
Europe Union 6

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Asia 0
Fonte: Elaboração própria.

Novamente, quando a busca sobre as localizações geográfica dos pesquisadores e


instituições das pesquisas a União Europeia dispara com o maior volume de trabalhos (Tabela
2). Isso talvez possa ser explicado pelo nível de exigências que existe nas relações comerciais
entre os países que compõem a UE e países exportadores de produtos oriundos destas
atividades, como é o caso da relação com o Brasil.
Temas polêmicos como o bem-estar animal e os impactos ambientais já haviam sido
abordados por Jamienson (1993), que dizia que tanto o bem-estar como os estudos de impactos
ambientais seriam cada vez mais exigidos com o tempo. Tanto que em 2018, Tallentire et al.
(2018) apresentaram em pesquisas que alguns indicadores de produtividades que eram usados
na ACV também poderiam quantificar os níveis de bem-estar de frangos de corte na Europa.
Isso só reforça a ideia de se estimular cada vez mais a associação dos estudos, tanto em frangos
de corte e na suinocultura como em outras cadeias produtivas de animais.

CONCLUSÕES

Algumas das variáveis que são estudadas em análises de ciclo de vida, também são
indicadores de bem-estar dos animais de produção, tais como emissões de CO2 no ambiente
pela respiração animal, os níveis de NH3 e CH4 no ar que os animais respiram (que identificam
a fermentação dos rejeitos no ambiente), a eficiência produtiva, temperatura ambiente,
humidade, densidade animal, eficiência produtiva e composição da dieta. Apesar de umas delas
não apresentarem relação direta com os impactos ambientais ou com o bem-estar, ao serem
estudadas detalhadamente elas podem ser causas secundárias de alguns dos temas de estudo.
Uma outra consideração a ser feita é que, apesar da relação entre o bem-estar dos
animais e os impactos ambientais (emissões de gases de efeito estufa) ser bastante estreita e
plausível de ser estudada, poucos foram os trabalhos encontrados que relatassem isso de forma
clara. Dentre os trabalhos utilizados como base para esta pesquisa, observou-se que alguns não
eram descobertos a partir dos descritores utilizados na busca bibliométrica da pesquisa, porém
relatavam uma relação ínfima entre o bem-estar e as emissões de GEE. Porém tais relações
descritas apresentaram argumentos bastante intrigantes sobre como o bem-estar pode
influenciar as emissões de gases de efeito estufa.

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Investir ou não investir na implantação de uma fábrica de ração em
uma propriedade rural?
Investing or not investing in setting up a feed factory on a rural
property?
Pâmella Baptista Ludwig1 Maria Isabel Schierholt2 Gabrielli do Carmo Martinelli3 Régio Marcio
Toesca Gimenes4
Resumo
O aumento acentuado da população ao longo da história tem se tornado um dos debates mundiais mais frequentes,
justamente por estar em sinergismo com a produção de alimentos. Logo, esse contexto se estende ao setor
agropecuário, em que um dos desafios é a busca por produções mais eficientes. Dessa forma, a integração lavoura-
pecuária tende otimizar e facilitar a produção de rações por meio de subprodutos e grãos originados das lavouras,
intensificando a produção de carne. Neste contexto, o objetivo deste artigo foi avaliar a viabilidade econômico-
financeira da implantação de um fábrica de ração em uma propriedade rural, que utiliza os subprodutos e grãos da
produção agrícola para alimentação de bovinos a pasto. O investimento proposto é para uma produção máxima diária
de 28 toneladas de ração, sendo utilizadas as técnicas do payback simples e descontado, Valor Presente Líquido (VPL),
Valor Futuro Líquido (VFL), Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE), Taxa Interna de Retorno (TIR) e o Índice
de Lucratividade (IL) na busca de indicadores para apoiar a decisão do produtor em relação ao investimento. Os
resultados demonstraram que o retorno do investimento ocorreu dentro do terceiro ano quando considerado um
horizonte temporal de 10 anos, além disso, para cada um real investido, quatro reais e setenta e seis centavos
retornariam até o final do projeto. Dessa forma, todos os indicadores foram positivos, demonstrando que é atrativo
para o produtor rural implantar uma fábrica de ração em sua propriedade utilizando recursos próprios.
Palavras-chave: Diversificação produtiva; bovinocultura; Desenvolvimento local; otimização de processos.

Abstract
The sharp increase in population throughout history has become one of the most frequent world debates, precisely
because it is in synergy with food production. Thus, this context extends to the agricultural sector, where one of the
challenges is the search for more efficient productions. Thus, crop-livestock integration tends to optimize and
facilitate feed production through by-products and grains from crops, intensifying meat production. In this context,
the objective of this paper was to evaluate the economic and financial viability of the establishment of a feed factory
in a rural property, which uses the byproducts and grains of agricultural production to feed grazing cattle. The
proposed investment is for a maximum daily production of 28 tons of feed, using the techniques of simple and
discounted payback, Net Present Value (NPV), Net Future Value (VFL), Equivalent Uniform Annual Value (VAUE),
Internal Rate of Return (IRR) and the Profitability Index (IL) in the search for indicators to support the decision of
the producer regarding the investment. The results showed that the return on investment occurred within the third
year when considering a 10-year time horizon. In addition, for each real invested, four reais and seventy-six cents
would return until the end of the project. Thus, all indicators were positive, demonstrating that it is attractive for
farmers to set up a feed factory on their property using their own resources.
Keywords: Productive diversification; cattle farming; Local development; process optimization.
1 Introdução
O Brasil por sua extensão territorial, clima e diversidade de espécies é um dos maiores
produtores de alimentos do mundo (MARTINELLI; FILOSO, 2010). Considerando o cenário
crescente de demanda por alimentos, o país se destaca principalmente na produção de carne
bovina. Uma vez que, em países emergentes, os padrões de consumo vêm sendo alterados diante
do aumento ou redução da renda, a pecuária de corte desempenha um papel fundamental como
opção para suprir a demanda de alimentos globalmente (COSTA et al., 2017).
Porém, as projeções apontam que a crescente demanda por alimentos e combustível
intensifica o desafio de aumentar essa produção sem degradar o meio ambiente. Segundo a ONU
e seu segundo objetivo para a agenda 2030, a preocupação não é apenas em produzir alimentos em
larga escala, mas em sistemas sustentáveis e com práticas agrícolas resilientes, que aumentem a
produtividade, fortaleçam a capacidade de adaptação as mudanças climáticas e garantam alimentos
seguros, nutritivos e suficientes durante todo ano.
1Mestranda/Universidade Federal da Grande Dourados - ludwig@fazendariobranco.net
2 Mestranda/ Universidade Federal da Grande Dourados - mariaisabelschierholt@gmail.com
3Doutoranda/ Universidade Federal da Grande Dourados – gabriell_martinelli@hotmail.com
4 Doutor/ Universidade Federal da Grande Dourados - regiomtoesca@gmail.com

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Dessa forma, a busca por novas tecnologias e meios de produção inovadores tem sido
determinante para se alcançar uma produção sustentável e assim, o cumprimento de um desses
objetivos.Além disso, as novas fronteiras agrícolas cada vez mais consolidadas, avançam em áreas
ocupadas pela produção pecuária, que corresponde a 18,6% do território nacional, de acordo com
o IBGE, Embrapa e Conab (MAPA, 2019). No entanto, para que a produção de carne bovina
continue crescendo em meio a redução das áreas de pastagens, a pecuária de corte deverá tornar-
se cada vez mais eficiente (SORATTO et al., 2011).
Uma das alternativas em otimizar a produção é por meio de sistemas integrados como
lavoura-pecuária, já que esse sinergismo entre a produção de culturas anuais e forragem pode
apresentar vantagens agronômicas, sociais, ambientais e econômicas. Esse sistema de produção
tem como objetivo solucionar alguns danos causados pela agricultura convencional que, mesmo
tecnificada, degrada as propriedades físicas e biológicas do solo, enquanto a pastagem proveniente
dessa integração, aproveitando os resíduos de fertilizantes aplicados aos cultivos, recupera tais
propriedades (SEGUY et al., 1994).
Na contemporaneidade são crescentes as preocupações com as questões ambientais,
especificamente quando diz respeito ao aumento da emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE),
perda da biodiversidade e intensificação do uso da terra e, uma das formas de tentar sanar esses
impactos negativos é o aproveitamento dos resíduos gerados nos processos produtivos, como por
exemplo nas commodities de soja e milho. Dessa forma, a implantação de uma fábrica de ração na
propriedade rural poderia contribuir tanto com ganhos econômicos como ambientais. Para o
produtor rural esse investimento tende a diminuir custos ao longo da cadeia produtiva, otimizando
processos, pois a propriedade possui uma unidade armazenadora própria, que gera resíduos e
subprodutos da limpeza e conservação de grãos, como bandinha de soja e quirera de milho, que
exige sua utilização, venda ou descarte. A demanda por utilizar esses subprodutos e resíduos, assim
como agregar valor ao milho também impulsionam o investimento na fábrica de ração bovina.
Até o presente momento, os trabalhos que analisam a viabilidade econômico-financeira de
implantação de fábricas de ração utilizam uma taxa mínima de atratividade arbitrada,
desconsiderando o risco em torna da mesma (RIBEIRO et al., 2011), enquanto que neste estudo
esse aspecto é evidenciado devido a utilização do modelo CAPM híbrido-ajustado. Isto posto, o
objetivo do estudo foi avaliar a viabilidade da implantação de um fábrica de ração em uma
propriedade rural, que utiliza os subprodutos e grãos da produção agrícola para alimentação de
bovinos a pasto. O presente estudo está dividido em quatro seções, além dessa introdução. A seção
seguinte apresenta o referencial teórico, enquanto que na seção três os procedimentos
metodológicos utilizados. Posteriormente são definidos os resultados e discussões em uma única
seção; e por fim constam as considerações finais e as referências que embasaram este estudo.

2 Referencial teórico
2.1 Integração Lavoura-Pecuária
O sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) consiste na produção de duas atividades,
agrícola e pecuária, numa mesma área em épocas diferentes (MACEDO, 2009). Esta técnica de
rotação de culturas tem se consolidado em várias regiões do país, como um sistema altamente
produtivo, além disso, esse tipo de prática agrícola menos insustentável promove a recuperação de
áreas degradadas, a diversificação da produção, e a consequente estabilidade de produção e renda
do produtor, o aumento da eficiência no uso de recursos naturais e a preservação do meio ambiente
através da melhoria da qualidade do solo e aumento da produção (VILELA et al., 2011).
Entre os meios de produção através da ILP, três modalidades se destacam. A primeira delas
é a reforma de pastagem com culturas anuais, em que fazendas de pecuária introduzem culturas
de grãos (arroz, soja, milho e sorgo). Outra modalidade é aquela em que propriedades
especializadas em produção de grãos utilizam gramíneas forrageiras para melhorar a cobertura de
solo em sistemas de plantio direto, e que na entressafra usam a forragem na alimentação de bovinos

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(“safrinha do boi”). Por fim, há aquela na qual fazendas implantam a rotação sistemática de pasto
e lavoura para intensificar a utilização da terra e se beneficiar do sinergismo entre as duas
atividades. Estes sistemas podem ser realizados através de parcerias entre pecuaristas e
agricultores, e podem trazer outros benefícios, como a utilização dos resíduos da colheita de grãos
na suplementação de bovinos (VILELA et al., 2008).
Segundo dados da Embrapa, no estado do Mato Grosso do Sul, 913 propriedades rurais
adotaram esse sistema no ano de 2012, totalizando uma área de 91.334 hectares com uma média
de expansão de 100 hectares por ano.
Importante ressaltar que apenas esses benefícios não são suficientes para a adoção desse
modelo de produção, se o mesmo não for economicamente viável para o investidor. Portanto, para
uma tecnologia ser considerada economicamente viável, vários fatores regionais e sazonais devem
ser considerados, pois essas variáveis podem viabilizar ou não o investimento (POSSAMAI,
2017).
Entretanto, os benefícios da ILP e a crescente consolidação desse sistema de produção por
meio da recuperação de pastagens reduz a dependência de insumos externos a propriedade,
podendo melhorar a nutrição animal do rebando. Em decorrência dessas benfeitorias é pertinente
elaborar projetos de investimento e aplicar técnicas de viabilidade econômico-financeira para
verificar a viabilidade ou não de implantar uma fábrica de ração na propriedade, contribuindo para
o incremento na produção de carne através do fornecimento de ração produzida na propriedade.

3 Procedimentos Metodológicos
3.1 Área de estudo
O trabalho baseou-se em dados do município de Maracaju, situado no sul do estado de
Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste. A região considerada o berço da integração lavoura-
pecuária destaca-se pela especialização na produção de grãos, soja e milho, além de cana, algodão
e também pela qualidade de rebanho bovino.
A população estimada de Maracaju é de 45.932 habitantes e o PIB per capita de
R$52.514,89, posicionando o munícipio dentro da sua microrregião como a quarta economia
(IBGE, 2017). Ainda contribuem para o crescimento do município várias cooperativas agrícolas,
usinas sucroalcooleiras, a implantação de uma esmagadora de milho e uma forte instituição de
pesquisa, contribuindo para a busca por desenvolvimento, tecnologia e inovação.
A atividade desenvolvida pela fazenda, objeto deste estudo, consiste em sua maior parte na
produção de grãos, por meio do plantio de soja no verão e de milho no inverno. Essa atividade
ocupa uma área de 9155 ha, entre áreas próprias e arrendadas e, para contribuir com a
diversificação de sua produção, a propriedade tem investido na produção de carne. Para tanto,
utiliza rações para suplementação do gado a pasto, numa área de 440 ha adjacente as lavouras.

3.1.1 Caracterização da Fábrica de Ração Bovina


A estrutura da fábrica de ração estudada está sendo implantada em um barracão de pré-
moldado com 750 metros quadrados de construção para alojar os equipamentos, matéria prima in
natura, insumos triturados e ração pronta.
Os equipamentos orçados para realizar todas as etapas da produção foram um conjunto de
torrador de resíduos com fornalha, para adequação dos subprodutos dos grãos para o consumo
animal. Também foi orçado um triturador de 50 cv, um misturador horizontal com balança
dosadora com capacidade para 1.000 quilos, uma balança com ensaque semiautomático e três silos
de três metros cúbicos e roscas transportadoras. Dois dos silos serão alocados após o misturador e
o outro será utilizado para alimentar o triturador. Já as roscas transportadoras fazem a comunicação
dos produtos in natura com triturador e do produto triturado com as suas baias. Uma passarela de
doze metros localizada em cima das baias também foi orçada e uma pá carregadeira (seminova)
para o carregamento das matérias primas.

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A capacidade de produção instalada da fábrica será de 28 toneladas por dia. Porém, a sua
produção acompanhará a projeção de bovinos tratados no cocho, em sistema de confinamento a
pasto, consumindo em média, 10 quilos de ração por dia, conforme demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1. Evolução da produção de ração e bovinos ao longo do projeto


ANO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Produtividade 40% 60% 60% 80% 80% 80% 80% 80% 80% 80%
Produção de Ração (kg/dia) 11.200 16.800 16.800 22.400 22.400 22.400 22.400 22.400 22.400 22.400
Bovinos tratados (cabeças) 1.120 1.680 16.80 2.240 22.40 2.240 2.240 2.240 2.240 2.240
Fonte: Autores (2019).
Ao final do projeto, a média de produtividade fica em 72%, com uma produção de 20.160
quilos por dia e alimentando, em média, 2.016 cabeças de bovinos por dia.

3.2 Coleta de dados


Os dados utilizados na pesquisa são primários e foram extraídos de uma propriedade
específica que está na fase de implantação da fábrica de ração na propriedade. A propriedade está
localizada a 60 quilômetros de Maracaju, rodovia BR-267, sentido Jardim, MS.
Os dados para os cálculos de gastos fixos e variáveis contou com a consultoria de
engenheiros, empresas especializadas de equipamentos e especialistas em nutrição animal. Os
valores da obra civil, equipamentos e maquinários foram extraídos dos fornecedores contratados
pela propriedade. O cenário econômico para o investimento não considerou a utilização de
financiamento, sendo utilizado apenas recursos próprios dos proprietários.

3.3 Taxa Mínima de Atratividade


A Taxa Mínima de Atratividade (TMA) ou custo de capital é uma taxa de juros que
mensura a remuneração mínima exigida por um investidor, ou seja, o ganho mínimo que tornaria
uma alternativa financeira atraente aos investidores. O correto cálculo dessa taxa é fundamental
uma vez que a TMA é pré-requisito para as demais técnicas de avaliação de investimentos (ASSAF
NETO, 2014; BRIGHAM, 2012; GITMAN, 2010).
O método utilizado para a determinação da TMA foi o Modelo de Precificação de Ativos
Financeiros (CAPM) Ajustado Híbrido. Neste modelo o retorno ou custo exigido de um ativo pode
ser definido em função de três variáveis fundamentais: uma taxa livre de risco, um prêmio pelo
risco de mercado e o um prêmio pelo risco do ativo (β). Esse modelo propõe o uso de dados do
mercado global e do mercado local, com o objetivo de amenizar a dificuldade de mensurar os betas
e prêmios de mercados emergentes que podem ser instáveis e não confiáveis (ASSAF NETO,
2014; BRITO, 2003; DAMODARAN, 2001). Para tal método, foram utilizadas as taxas e
coeficientes apresentados na Tabela 2.
A Taxa Livre de Risco Global (Rfg) representa o retorno sobre um investimento livre de
risco, utilizando-se como parâmetro para esta taxa, as taxas de juros médias dos títulos públicos
de longo prazo emitidos pelo Tesouro dos EUA, os Treasury Bonds (T-Bonds) de 30 anos.
O Risco País (Rc) utilizado foi o indicador EMBI+Brasil, que avalia os títulos da dívida
externa brasileira. O Beta do País (βCLG) é extraído mediante a regressão entre o índice de mercado
das ações locais e o índice de mercado global. Para este, utilizou-se a variação mensal do
IBOVESPA entre janeiro/2005 e maio/2019, e para aquele, utilizou-se a variação do MSCI (All
Country World Index) para países emergentes, neste mesmo período. Este último índice representa
o desempenho do mercado de ações de 26 países emergentes, divulgado pela Morgan Stanley
Capital International (MSCI).
Para o Beta desalavancado (β) foi utilizado o índice de empresas comparáveis no mercado
global, neste caso o do setor agropecuário Farming/Agriculture, calculado por Aswath Damodaran
(http://pages.stern.nyu.edu).

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Já para o Retorno do mercado global (RMG) apurou-se a média da variação anual no período
de 2005 a 2018 do MSCI para países Emergentes (http://msci.com), resultando em uma taxa de
12.74%. Por último, o Coeficiente de Determinação (R²) é resultado da regressão entre o mercado
global (IBOVESPA) e a variação do risco país através do índice do EMBI+Brasil, no período
compreendido entre janeiro/2005 e maio/2019. Todos os resultados estão apresentados na Tabela
2.

Tabela 2- Variáveis utilizadas para calcular o custo de capital do produtor.


Descrição Total
Taxa livre de risco global 2.63% a.a
Risco país 2.56% a.a
Beta do país 0.83
Beta desalavancado 0.48
Retorno do mercado global 12.74% a.a
Coeficiente de determinação 0.00765
Custo de Capital do Produtor (CCP) 9.19% a.a
Fonte: Autores (2019).

A partir dos dados e das informações, a Taxa Mínima de atratividade foi calculada de
acordo com a seguinte equação:
𝑇𝑀𝐴 = 𝑅𝑓𝑔 + 𝑅𝑐 + 𝛽𝐶𝐿𝐺 [𝛽𝐶𝐺𝐺 (𝑅𝑀𝐺 − 𝑅𝑓𝑔) ](1 − 𝑅 2 )
𝑇𝑀𝐴 = 2,63% + 2,56% + 0,8317𝑥(0,48𝑥(12,74% − 2,63%)𝑥(1 − 0,0076)) =
𝑇𝑀𝐴 = 9,19%

3.4 Técnicas de Avaliação de Investimento


O estudo de viabilidade econômico-financeira da fábrica de ração foi realizado mediante a
elaboração do fluxo de caixa do produtor; e aplicação das técnicas de avaliação de investimentos,
como Payback simples (PBS) e descontado (PBD), Valor Presente Líquido (VPL), Valor
Uniforme Líquido ou Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE), Taxa Interna de Retorno (TIR)
e Índice de Lucratividade (IL).
A avaliação de um investimento requer entre os principais determinantes, o prazo máximo
tolerado para a recuperação do capital investido. A determinação desse tempo necessário para que
o capital seja recuperado denomina-se Payback, e é um importante indicador do nível de risco de
um projeto de investimento. Essa é uma medida complementar a outros métodos de avaliações,
pois pode haver uma tendência de aceitar projetos mais curtos com menor rentabilidade e pode ser
de dois tipos: payback simples e payback descontado. A diferença entre eles é que o último
considera o valor do dinheiro no tempo quando feita a análise. Se o resultado for menor que o
prazo estimado para recuperação do investimento, este deve ser aceito (ASSAF NETO, 2014;
BRIGHAM, 2012; GITMAN, 2010).
O Valor Presente Líquido (VPL) representa os recebimentos futuros trazidos e somados na
data zero, subtraídos do investimento inicial. Portanto, é obtido pela diferença entre o valor
presente dos benefícios líquidos de caixa e o valor presente do investimento. Se o resultado for
maior que zero, o investimento pode ser aceito. Calculada de acordo com a seguinte expressão:
𝐹𝐶𝑡 1𝑡
𝑉𝑃𝐿 = ∑𝑛𝑡=1 (1+𝑇𝑀𝐴) 𝑡 − 𝐼0 +
∑𝑛𝑡=1 (1+𝑇𝑀𝐴) 𝑡 (1)
Em que: 𝐹𝐶𝑡 = fluxo (benefício) de caixa de cada período; TMA = taxa de desconto do projeto,
representada pela rentabilidade mínima requerida; 𝐼0 = investimento previsto no momento zero;
𝐼𝑡 = valor do investimento previsto em cada período subsequente (ASSAF NETO, 2014;
BRIGHAM, 2012; GITMAN, 2010).
O Valor Futuro Líquido (VFL) de forma similar ao VPL compara entradas e saídas de
recursos financeiros numa mesma data, obtendo um valor líquido do investimento inicial. Porém,

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ao invés de trazer os fluxos para a data zero, como no VPL, carrega todos os fluxos de caixa para
a data terminal do projeto. Assim como o VPL, se o resultado for maior que zero, o investimento
pode ser feito. Matematicamente sua expressão pode ser escrita como:

𝑉𝐹𝐿 = − 𝐼𝑛𝑣 (1 + 𝑇𝑀𝐴)𝑡 + ∑𝑛𝑗=1 𝐹𝐶𝑗 (1 + 𝑇𝑀𝐴)𝑛−𝑗 + 𝑉𝑅 (2)


Em que: Inv = investimento inicial, que corresponde ao fluxo de caixa na data zero; 𝐹𝐶𝑗 = fluxo
(benefício) de caixa no período j; j = período analisado; n = número de períodos analisados; VR =
valor residual do projeto no ano n; TMA = taxa de desconto do projeto, representada pela
rentabilidade mínima requerida (ASSAF NETO, 2014; BRIGHAM, 2012; GITMAN, 2010).
O Valor Anual Equivalente (VAE) também conhecido como valor uniforme líquido, converte
valores de saídas e entradas anuais em valores uniformes e equivalentes, considerando uma dada
TMA, ou seja, distribuindo o VPL de forma uniforme na vida útil do investimento. Este método
facilita a comparação de dois projetos com vidas úteis diferentes. A fórmula do VAE é dada, como
segue:
𝑖 (1+𝑇𝑀𝐴)𝑛
𝑉𝐴𝐸 = 𝑉𝑃𝐿 [ (1+𝑇𝑀𝐴)𝑛−1] (3)

Onde: VAE = valor anual equivalente; VPL = valor presente líquido; TMA = taxa de desconto do
projeto, representada pela rentabilidade mínima requerida; n = duração do projeto em períodos de
tempo (ASSAF NETO, 2014; BRIGHAM, 2012; GITMAN, 2010).
A Taxa Interna de Retorno (TIR) representa a taxa de desconto que iguala, em determinado
momento, utilizando-se geralmente o início do investimento, as entradas com as saídas previstas
de caixa do projeto de investimento. Pode ser considerada a rentabilidade do projeto, e dessa
maneira deve ser comparada a TMA para avaliar se o investimento excederá ou não a atratividade
mínima requerida pela empresa. A seguinte expressão de cálculo foi calculada para TIR:
𝐹𝐶𝑡
𝑇𝐼𝑅 = ∑𝑛𝑡=1 (1+𝑘) 𝑡
(4)

Em que: K = taxa de rentabilidade anual equivalente periódica (TIR); 𝐹𝐶𝑡 = fluxos previstos de
entradas de caixa em cada período de vida do projeto (ASSAF NETO, 2014; BRIGHAM, 2012;
GITMAN, 2010).
O Índice de Lucratividade (IL) indica quanto será obtido a valor presente por meio dos
fluxos de caixa futuros para cada um real investido no projeto. Se o resultado for maior que 1, o
investimento será recuperado. Desta forma calcula-se o IL pela seguinte fórmula:
𝑉𝑃𝐿
𝐼𝐿 = 𝐼𝑛𝑣 (5)
Em que: VPL = Valor presente líquido; Inv = Investimento inicial (ASSAF NETO, 2014;
BRIGHAM, 2012; GITMAN, 2010).

4 Resultados e Discussão

Nesta seção apresentam-se os resultados obtidos a partir da aplicação das técnicas de


avaliação de investimentos para a implantação de uma fábrica de ração na propriedade rural
localizado no município de Maracaju, estado de Mato Grosso do Sul.

4.1 Investimento fixo


O investimento fixo do projeto para a implantação dessa fábrica de ração bovina, com a
capacidade de produção instalada para 28 toneladas de ração por dia, com equipamentos modernos
e de fácil manuseio, utilizando apenas dois funcionários, é de R$ 796.530,00, como detalhado na
Tabela 2.

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Tabela 2 – Identificação do investimento fixo.
Descrição Resumida Valor Total (R$)
Área 4.000,00
Obra civil 317.730,00
Equipamentos 348.800,00
Máquina 80.000,00
Rede elétrica 50.000,00
Investimento fixo 796.530,00
Fonte: Autores (2019).
O valor considerado para a área foi de 800m² e como estão dentro da propriedade foi
mensurado em 0,08 hectares, multiplicando-se pelo preço da terra da região de R$ 50.000,00 por
hectare. As instalações têm 450m² de estrutura fechada e 300m² de varanda em que se fixará o
torrador, sua fornalha, e o triturador e sua moega. A máquina descrita se refere a pá carregadeira
seminova, com valor de mercado de R$ 80.000,00. A rede elétrica inclui os materiais necessários
e mão-de-obra especializada para sua instalação.

4.2 Gastos Fixos e Variáveis


Os gastos fixos consistem em dois funcionários contratados, parte do setor administrativo
da propriedade que estarão envolvidos com o empreendimento, e energia, cujo valor varia de
acordo com as horas trabalhadas, ou seja, a produtividade, conforme detalhado na Tabela 3.
Tabela 3 - Descrição dos gastos fixos.
Produtividade 40% 60% 80%
Horas Trabalhadas / dia 3,2 4,8 6,4
Energia / mês R$ 5.376,00 R$ 8.064,00 R$ 10.752,00
Mão-de-obra /mês R$ 5.406,60 R$ 5.406,60 R$ 5.406,60
Administrativo / mês R$ 5.000,00 R$ 5.000,00 R$ 5.000,00
Gastos fixos / dia R$ 657,61 R$ 769,61 R$ 881,61
Gastos fixos / mês R$ 15.782,60 R$ 18.470,60 R$ 21.158,60
Gastos fixos / ano R$ 189.391,20 R$ 221.647,20 R$ 253.903,20
Gastos fixos / kg ração R$ 0,06 R$ 0,05 R$ 0,04
Fonte: Autores (2019).
Os cálculos de gastos fixos e variáveis foram baseados apenas em dias trabalhados,
totalizando 24 dias por mês. Os gastos variáveis estão diretamente relacionados aos insumos para
produção de ração e seu valor também varia conforme a produtividade. Na Tabela 4, estão
descritos os ingredientes utilizados na ração, seus valores por quilo, suas porcentagens de inclusão
na dieta, seus valores que compõem o custo do quilo da ração e os valores totais por dia, mês e
ano.
Tabela 4 - Descrição dos gastos variáveis.
Inclusão R$/kg
Ingredientes R$/kg na dieta ração 40% 60% 80%
Milho 0,5 48% 0,24 R$ 2.688,00 R$ 4.032,00 R$ 5.376,00
Uréia pecuária 1,67 1,50% 0,03 R$ 280,56 R$ 420,84 R$ 561,12
Caroço de algodão 0,7 17% 0,12 R$ 1.332,80 R$ 1.999,20 R$ 2.665,60
Resíduo soja/milho 0,25 30,5% 0,08 R$ 854,00 R$ 1.281,00 R$ 1.708,00
Núcleo mineral e aditivos 3,44 3% 0,10 R$ 1.155,84 R$ 1.733,76 R$ 2.311,68
Total / dia 100% R$ 0,56 R$ 6.311,20 R$ 9.466,80 R$ 12.622,40
Total / mês R$ 151.468,80 R$ 227.203,20 R$ 302.937,60
Total / ano R$ 1.817.625,60 R$ 2.726.438,40 R$ 3.635.251,20
Fonte: Autores (2019).
Portanto, como mostra a Tabela 3, o gasto fixo por quilo de ração corresponde a R$ 0,06
quando a produtividade é de 40%, R$ 0,05 quando esta aumenta para 60% e se estabiliza em R$

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0,04 por quilo quando a produtividade atinge 80% de sua capacidade. E como apresenta a Tabela
4, os gastos variáveis, ou seja, os insumos que compõem a ração, vão variar de acordo com o preço
destes no mercado. No momento da elaboração dos cálculos do presente trabalho, os valores
apurados indicaram um custo de R$ 0,56 por quilo de ração produzida, totalizando um custo de
produção de R$ 0,62 por quilo no primeiro ano, R$ 0,61 no segundo ano e R$ 0,60 nos próximos
anos com 80% de produtividade.

4.3 Fluxo de Caixa do Produtor


O dimensionamento do fluxo de caixa é imprescindível para a aplicação das técnicas de
avaliação de um investimento, e a consequente decisão de aceitá-lo ou rejeitá-lo. A vida útil do
projeto de investimento mensurado considerou o período de 10 anos. Enquanto que para as
instalações a depreciação foi calculada ponderando a vida útil de 15 anos, já para os equipamentos
e maquinários a vida útil seguiu a escala temporal do projeto de investimento.
A receita gerada pela fábrica foi estimada pela média das cotações de rações similares a
que será produzida, em três empresas da região, multiplicando-se pela produção proposta neste
estudo. A alíquota do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) é 27,5%, com dedução da tabela
progressiva anual do IRPF de R$10.432,32. E como o objetivo do empreendimento será apenas
para o consumo na propriedade, não foram considerados impostos sobre vendas e Funrural.
A Tabela 5 apresenta as informações utilizadas para a elaboração do fluxo de caixa livre
do produtor.
Tabela 5 – Premissas para elaboração do fluxo de caixa do produtor.
Premissas Unidade Dados
Capacidade Produtiva Kg/dia 28.000
Produção média Kg/dia 20.160
Valor de mercado da ração R$/kg 0,90
Custo de produção R$/kg 0,60
Vida útil do projeto anos 10
Vida útil dos equipamentos anos 10
Vida útil das instalações anos 15
Valor residual das instalações R$ 122.576,67
Valor do investimento fixo R$ 796.530,00
Custo de capital (TMA) % a.a. 9,19
Imposto de renda % 27,5
Fonte: Autores (2019).
Além disso, foi estimado um investimento circulante, ou seja, o capital de giro necessário
para pagar despesas e compras de insumos até o momento que se iniciam as receitas. Para tanto,
calculou-se o valor necessário para custear 6 meses das matérias-primas para a produção,
resultando em um investimento adicional de R$ 908.812,80.
Com todas as informações de investimento, taxa mínima de atratividade e fluxo de caixa
do produtor estimados, foi possível aplicar as técnicas de avaliação no empreendimento desejado.
Os resultados obtidos estão descritos na Tabela 6.
Tabela 6 – Indicadores econômicos
Indicadores Resultados
Payback Simples 2,02 anos
Payback Descontado 2,31 anos
Valor Presente Líquido (VPL) $ 6.420.584,18
Valor Futuro Líquido (VFL) $ 15.466.897,40
Valor Anual Equivalente (VAE) $ 1.008.838,48
Taxa Interna de Retorno (TIR) 57,58%
Índice de Lucratividade (IL) 4,76
Fonte: Autores (2019).
Os Payback simples e descontado demonstraram que o investimento será recuperado
dentro do terceiro ano do projeto. O VPL totalizou R$ 6.420.584,18, o VFL carregou todos os

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fluxos de caixa para a data terminal resultando em R$ 15.466.897,40 e o VAE equalizou todos os
fluxos de caixa em R$1.008.838,48, todos foram acima de zero, demonstrando a viabilidade
econômica do investimento.
A TIR, cujo resultado foi 57,58% a.a. superou a TMA que é de 9,19% a.a., confirmando a
rentabilidade do projeto. E para cada R$ 1,00 investido o retorno será de R$ 4,76 segundo o índice
de lucratividade, no final do projeto.

5 Conclusões
Os benefícios e o sinergismo criado entre a produção pecuária e a agricultura gerados pelas
diversas formas de sistemas de integração lavoura-pecuária são dificilmente questionáveis. Apesar
desse sinergismo ser muitas vezes de difícil mensuração o que dificulta a contabilização de todas
as suas vantagens, tem sido comprovado a sua grande contribuição para a qualidade do solo e
aumento da produção agropecuária.
O investimento na produção própria de ração bovina através desse estudo de viabilidade
demonstrou ser viável e rentável, podendo ainda contribuir com a nutrição animal e consequente
aumento de produção de carne, além de oferecer destino aos subprodutos e grãos da produção
agrícola da propriedade.
No entanto, cabe destacar que apesar dos gastos fixos serem diluídos com o aumento da
produção, reduzindo o custo de produção, o mesmo não acontece com os gastos variáveis. Estes
podem ser alterados de acordo com a disponibilidade dos insumos e seus valores no mercado,
mudando o cenário estudado, restando como sugestão a análise de sensibilidade tanto para
alterações nos custos variáveis quanto no preço da ração.
A agropecuária brasileira tem evoluído por meio de uma produção tecnológica e eficiente.
Além disso, pesquisas dessa magnitude podem contribuir para que o produtor rural assimile
melhor a realidade do mercado em que está inserido, corroborando significativamente para seu
desenvolvimento.

Referências
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VILELA, L.; MARTHA JUNIOR, G. B.; MACEDO, M. C.M; MARCHÃO, R. L.; GUIMARÃES
JÚNIOR, R. PULROLNIK, K.; MACIEL, G. A. Sistemas de integração lavoura-pecuária na
região do Cerrado. Pesq. Agropec. Bras., Brasília, v.46, n.10, p.1127-1138, out. 2011

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Mudança Institucional na Pesquisa Agropecuária Brasileira
Institutional Change in Brazilian Agricultural Research
Karine Daiane Zingler1, Glauco Schultz2

Resumo
A mudança institucional é um processo amplo, já que as instituições são definidas por Douglass North como as
“regras do jogo”, e as organizações que são as jogadoras nessa percepção tem um importante papel, pois ao
perceberem uma tendência a mudança no ambiente, aperfeiçoam esse movimento para aproveitar oportunidade e
manterem-se competitivas. Na pesquisa agropecuária isso também parece ser verdadeiro, por isso nesse artigo
buscou-se analisar a atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a partir da leitura de seus
Planos Diretores. A organização que foi criada em 1973 em um cenário de esgotamento do modelo de
desenvolvimento por substituição de importações a partir da constatação de que a agricultura brasileira era atrasada
e por isso tinha baixo nível de produtividade que era insuficiente para abastecer os centros urbanos e a indústria e
assim gerava pressão inflacionária. Ao longo de sua história a Embrapa cumpriu seu objetivo de aumento de
produtividade e o ambiente na qual está inserida passou a demandar novas respostas a novos problemas e isso
transparece no planejamento da empresa, porém alguns de seus elementos fundadores ainda continuam presentes
indicando a existência de path dependence.
Palavras-chave: Pesquisa Agropecuária. Mudança. Instituições

Abstract
Institutional change is a broad process, as institutions are defined by Douglass North as the "rules of the game,"
and the organizations that play the role in this perception play an important role, as they realize a tendency for
change in the environment to improve this movement to seize opportunity and remain competitive. In agricultural
research this also seems to be true, so this article sought to analyze the performance of the Brazilian Agricultural
Research Corporation (Embrapa) from the reading of its Master Plans. The organization that was created in 1973
in a scenario of exhaustion of the import substitution development model based on the finding that Brazilian
agriculture was backward and therefore had a low level of productivity that was insufficient to supply urban
centers and industry. and thus generated inflationary pressure. Throughout its history, Embrapa has fulfilled its
objective of increasing productivity and the environment in which it is inserted began to demand new answers to
new problems and this is evident in the company's planning, but some of its founding elements are still present
indicating the existence of path dependence.
Keywords: Agricultural Research. Change. Institutions

1 Introdução

A história brasileira está ligada de maneira direta a forma como a agricultura tem
evoluído. Conforme Celso Furtado, a história econômica brasileira passa por diferentes ciclos
ligados ao modelo agroexportador, desde a chegada dos primeiros portugueses ao Brasil até a
decadência da economia cafeeira no pós crise de 1929. A partir da década de 1930 inicia-se o
processo de industrialização via substituição de importações, e nas décadas seguintes o setor
urbano passa a ser protagonista do crescimento econômico com influência das políticas
gestadas pelo Estado. Porém, o avanço da urbanização e os baixos níveis de produtividade da
agricultura brasileira à época impõe dificuldades na continuidade do crescimento,
especialmente a partir da década de 1970.
É nesse cenário que em finais da década de 1960 um grupo de técnicos ligados à
extensão rural discute as soluções para a agricultura, impulsionada dentro do Ministério da
Agricultura e Ministério da Fazenda esse conjunto de ideias e ações dá origem à Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 1973. Organização que ao longo de suas
mais de quatro décadas tem cumprido a sua missão de aumentar os níveis de produtividade da

1Bacharel e Mestre em Economia, Doutoranda em Desenvolvimento Rural (UFRGS); Professora na Universidade

Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). karine-zingler@uergs.edu.br1


2Doutor em Agronegócios. Professor na Faculdade de Ciências Econômicas UFRGS. glauco.schultz@ufrgs.br

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agricultura brasileira. Mas, ao mesmo tempo teve de modificar sua atuação, prioridades e
objetivos em função do ambiente ao qual está inserida que lhe impôs novas demandas.
Então, a partir das contribuições da Nova Economia Institucional, sobretudo na visão
de mudança institucional de Douglass North esse trabalho cumpre seu objetivo de analisar os
aspectos referentes à mudança institucional e organizacional na pesquisa agropecuária
brasileira na atuação da Embrapa. A partir da pesquisa bibliográfica em livros, artigos, teses e
documentos da organização como Planos Diretores se pretende à luz da teoria institucionalista
verificar pontos que indicam inserção de temas novos. De modo operacional isso é realizado
com a análise dos objetivos estratégicos contidos nos Planos Diretores da Embrapa.
2 Referencial Teórico

A Nova Economia Institucional abre caminho para uma visão interdisciplinar, na


medida em que passa a considerar a importância de aspectos históricos, sociológicos,
antropológicos e cognitivos nas escolhas individuais e no desempenho econômico. A maior
visibilidade dessa corrente teórica ocorre a partir dos Prêmios Nobel em Economia de Ronald
Coase (1991) e Douglass North (1993), em 2009 com Oliver Williamson e Elinor Ostrom, e
em 2016 com Oliver Hart. Cada um desses autores trata a Economia Institucional sob diferentes
perspectivas e aplicações, por isso aqui se usa basicamente das contribuições de Douglass
North, autor mais preocupado em como se opera a mudança institucional.
North (2013) define instituições como “regras do jogo”, entendidas como regras
formais, normas informais e as características de como elas são aplicadas, são elas que criam
incentivos que moldam as escolhas, e sua origem advêm das crenças dos seres humanos. Assim,
para North (1991), instituições são constrangimentos humanamente inventados que estruturam
a interação política, econômica e social. E o desempenho histórico das economias só pode ser
entendido a partir da análise da evolução das instituições e da matriz institucional. Pois, são
elas que fornecem a estrutura de incentivos de uma economia, conforme mudam as instituições,
molda-se também a direção da mudança econômica para o crescimento, estagnação ou declínio.
Silva (2014) destaca que a matriz institucional, para Douglass North, é constituída do
conjunto de regras formais e informais, sendo as primeiras são a cristalização das crenças e da
maneira como a sociedade se comporta, e indicam as penalizações para o não cumprimento das
regras formais. Nesse ponto, aparece um dos conceitos básicos da Nova Economia Institucional
que é o enforcement, ou seja, a capacidade de fazer cumprir, que é o que realmente dá a
credibilidade à matriz institucional.
Outro ponto fundamental da Nova Economia Institucional e que é defendido por
Douglass North é a existência de Path Dependence, ou dependência de trajetória, evidenciando
que a história importa. E a partir disso surge outro termo importante que é a eficiência
adaptativa, que é a: “[...] capacidade de interpretar adequadamente as mudanças no ambiente e,
a partir disso, ajustar-se às condições mutáveis da realidade, para que seja possível ter um
comportamento econômico mais próximo do ótimo.” (SILVA, 2014, p. 121)
Então, algo importante para a análise institucional são as mudanças no ambiente e o
papel das organizações. Para North (2005) a mudança institucional é um processo incremental
e guiado pelas organizações que percebem oportunidades para a mudança. Estas podem ser
dadas pelo ambiente interno à organização ou externo. Basicamente as mudanças no ambiente
externo provocam mudança nos preços relativos ou podem ser fruto de inovações, “Em ambos
os casos, a ubiquidade da concorrência no cenário econômico geral da escassez induz os
empresários e os membros de suas organizações a investir em habilidades e conhecimentos.”
(NORTH, 2005, p. 60) E a partir disso, a melhoria da eficiência da organização em relação às
suas concorrentes, se adaptando ao novo ambiente e aproveitando oportunidades que se

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traduzem em menores custos de transação produzem maior chance de sobrevivência da
organização.
Sobre a origem e mudança das instituições Douglass North em importante trabalho em
coautoria, detalha que as instituições se originam de modelos mentais que se cristalizam em
sistemas de crenças os quais são validados e replicados no ambiente. Ou seja, os indivíduos
formulam soluções para determinados problemas com que se defrontam, em interação com
outros agentes eles compartilham tais soluções, que podem ser validadas ou descartadas. A
partir desses retornos os agentes vão aperfeiçoando tais soluções que a medida que são aceitas
são replicadas, estabilizadas e transformadas em crenças, formando sistemas de crenças, a um
baixo nível de custos de transações. Porém, quando o ambiente se modifica essas soluções já
não suficientes, pois aumentam custos de transação e preços relativos, e por isso novos sistemas
de crença serão criados para novos problemas que surgem. Daí decorre a mudança institucional,
sendo que quanto mais antigo e aceito for o sistema de crenças, mais difícil será de ocorrer a
mudança. ((MANTZAVINOS, NORTH e SHARIQ, 2004)
Dessa forma, as contribuições de Douglass North para a análise que é realizada nesse
trabalho está vinculado ao processo de criação do sistema de crenças que dá origem à Embrapa,
e como a atuação dessa organização vai se modificando a medida que percebe mudanças no
ambiente. Dessa forma, entende-se o que o ambiente fornece oportunidades que a organização
aproveita ou não. Com a mudança no ambiente se modificam os preços relativos e manter suas
ações conforme o sistema de crenças que lhe deu origem, pode lhe trazer elevados custos de
transação, e comprometer sua sobrevivência à medida que a competitividade estaria afetada.

3 Procedimentos Metodológicos

Para cumprir o objetivo de analisar as mudanças institucionais e organizacionais na


pesquisa agropecuária brasileira a partir da atuação da Embrapa, este artigo se utiliza
basicamente de pesquisa bibliográfica e documental. São utilizados, livros, artigos, teses e
publicações da Embrapa para análise dos principais acontecimentos que fazem parte da
Embrapa. Também foram utilizados livros e artigos que evidenciem os principais fatos e
aspectos econômicos que formam o ambiente econômico no qual a organização estudada está
inserida. Para analisar as mudanças ocorridas internamente na organização foram analisados os
Planos Diretores da organização, documento disponível no site da organização e explicita o
planejamento estratégico da Embrapa, e feita uma análise comparativa dos objetivos
estratégicos e como estes evoluem ao longo do tempo.
Então esse trabalho utiliza uma abordagem qualitativa e o tratamento de dados foi
realizado a partir da análise de conteúdo, buscando identificar e relacionar as categorias teóricas
relacionadas aos principais aspectos da mudança institucional nos diferentes Planos Diretores.
Quanto aos fins essa pesquisa pode ser classificada como exploratória, e quanto aos meios como
documental e bibliográfica.
4 Resultados e Discussões

A pesquisa realizada para análise da mudança institucional e organizacional no âmbito


na Embrapa é realizada em duas etapas, inicialmente se visualizando as principais mudanças
ocorridas no ambiente no qual a organização está inserida e depois realizado a análise do que
acontecia internamente a partir da leitura de seu documento de planejamento estratégico.

4.1 O ambiente externo


A partir das leituras realizadas nos documentos institucionais da Embrapa como livros,
Planos Diretores, Balanços Sociais, e também pesquisa bibliográfica em livros e artigos em

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história econômica consegue-se perceber alguns elementos que formaram o ambiente político
econômico das diferentes décadas pelas quais passa a história da Embrapa. Essa análise é
realizada em grandes períodos e décadas.
Conforme Furtado (1980) o Brasil passa por vários ciclos econômicos ligados ao
modelo primário exportador, no qual a dinâmica da economia brasileira era voltada para voltada
o exterior, desde a chegada dos primeiros portugueses ao Brasil com a exploração do pau-brasil
até a decadência da economia cafeeira na década de 1930. Conforme Fonseca (2003) é a partir
desse cenário negativo para a economia brasileira que o governo passa a intervir para evitar
quedas maiores nos preços do café, mas ao mesmo tempo passa a incentivar a industrialização.
O modelo de industrialização via substituição de importações alcança importantes resultados
promovendo o crescimento da economia brasileira e estimulando a urbanização, mas, conforme
Gonçalves Neto (1997) na década de 1960 esse modelo começa a encontrar esgotamento.
O esgotamento do crescimento no processo de substituição de importações e as
crescentes taxas de inflação colocavam a agricultura na centralidade dos debates na década de
1960. Uma vez que a mesma era considerada um entrave ao desenvolvimento do país, pelo seu
baixo nível de produtividade que era insuficiente para abastecer os centros urbanos com
alimentos e a indústria que também demandavam produtos provenientes do meio rural. Se
debatia então a necessidade de trazer aumentos de produção na agricultura a fim de que o
processo de desenvolvimento tivesse continuidade. No centro desse debate estava de um lado
a ideia de realizar uma reforma agrária, com desconcentração da produção, e de outro a
modernização da agricultura. (GONÇALVES NETO, 1997; FONSECA, 2003)
Porém, nesta disputa política e ideológica, o grupo que assume o poder após 1964,
impõe outras formas de intervenção do Estado na agricultura. É nesta época que se configuram
as políticas agrícolas propriamente ditas, com ação mais direta do Estado neste setor da
economia. Então foi nesse período que se formaram as políticas agrícolas: política comercial,
o crédito rural, a garantia de preços mínimos, o seguro agropecuário, a assistência técnica e a
extensão rural, o uso de insumos modernos e a tributação do setor agropecuário. (DELGADO
2012; GONÇALVEZ NETO, 1997)
No campo econômico, conforme Hermann (2011a,b), o período que vai de 1974 a 1984
abrange o mandato de dois Presidentes militares Ernesto Geisel (1974-78), João Figueiredo
(1979-1984) e marca o período de distensão do regime militar imposto em 1964. Conforme a
autora o período imediatamente anterior (1968 a 1973) é conhecido como “milagre econômico”,
quando o PIB cresceu a uma taxa média de 11% ao ano, o período foi extremamente favorável,
pois, também houve ligeira queda nos indicadores de inflação e melhoria no Balanço de
Pagamentos. Porém, a partir de 1974, quando Geisel assume o poder, a situação passa a ser
menos favorável, dado que em fins de 1973 ocorre o 1º Choque do Petróleo que faz com que
os preços desse importante insumo ao processo industrial dispare e também há aumento das
taxas internacionais de juros. A partir daí o problema do endividamento passa a assolar mais
fortemente a economia brasileira. Aliado a isso, também houve aumento da dependência
brasileira em relação ao petróleo, “Paralelamente, o aumento da dívida externa ampliou a
dependência e a vulnerabilidade financeira externa da economia. Para cumprir os encargos da
dívida é necessário: gerar superávits comerciais, para compensar (total ou parcialmente) as
despesas financeiras [...]” (HERMANN, 2011b)
Então, para Hermann (2011b), o período de 1974 a 1978 é um período de acomodação
de preços do petróleo a níveis mais elevados que os anteriores, no Brasil o resultado foi um
importante aumento no déficit em Conta Corrente que foi financiado via entrada de capitais
internacionais especulativos oriundo dos lucros dos países produtores de petróleo. Porém em
meados de 1979 houve um segundo choque do petróleo, conforme Hermann (2011b) por
decisão da OPEP o barril de petróleo passou de uma média no mercado internacional de
US$13,60 em 1978 para US$ 30,03 em 1979, e para conter os efeitos inflacionários os Bancos

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Centrais dos países industrializados decidiram pela elevação das taxas de juros. E a
consequência para o Brasil foi aumento déficit comercial, uma vez que países como Estados
Unidos retraíram-se no mercado internacional, aumento das despesas com custo da dívida. E
entre as principais medidas tomadas foi a redução do gasto público.
Para tanto, o período compreendido entre 1985 e 1989, segundo Castro (2011a) é
lembrado pelos brasileiros pela sucessão de tentativas que com insucesso tentar estabilizar a
economia brasileira que sofreu com um agudo processo hiperinflacionário. Do lado político,
este também é o período que guarda o primeiro Presidente da República civil após 20 anos sob
o regime militar. Igualmente no plano político coloca o ano de 1990 como um marco, pois é
quando assume o primeiro presidente eleito democraticamente, o que não acontecia desde 1961,
mas que tem seu mandato interrompido em 1992 em meio ao processo de impeachment que
levou a sua renúncia, um campo conturbado assim como na área econômica que somente
encontrou acomodação em 1994 com o Plano Real. Conforme Castro (2011b), esse também foi
um período marcado pela privatização e abertura econômica como estratégia para encontrar a
estabilidade econômica.
Conforme Mielitz (2011), na década de 1990 que acontece o apogeu do pensamento
neoliberal em nível mundial, mas também no Brasil, e isso marca uma mudança profunda nas
relações entre Estado e sociedade, com foco em privatizações, abertura comercial, foco da
estabilidade de preços em detrimento de políticas de desenvolvimento. Para o autor, o Brasil
sai de um modelo de desenvolvimento calcado na ação do Estado, para outro de Estado mínimo.
Giambiagi (2011) destaca que após a conturbação econômica e política do final da
década de 1980 e início da década de 1990, entre 1995 e 2002, período que coincide com os
dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República, o país encontra
período de estabilidade econômica e política. Porém, como uma das estratégias do Plano Real
era a moeda sobrevalorizada houve em todo o período déficits em Conta Corrente, e dessa
forma uma pressão sobre o agronegócio para ampliar suas exportações, uma vez que era
necessário produzir superávits na Balança Comercial que passaram a ser atingidos a partir dos
anos 2000. O período também foi marcado por reformas, inclusive administrativa do setor
público, com privatizações e pressões para redução do gasto público.
Conforme Fonseca, Cunha e Bichara (2013) ao assumir a Presidência em 2002 Luiz
Inácio Lula da Silva deu continuidade à política econômica de FHC que tinha como foco a
manutenção da estabilidade econômica, porém ampliou programas de assistência social.
Também foi um período de importante crescimento econômico influenciado positivamente pelo
crescimento mundial e aumento da demanda por commodities agrícolas.
Para Mielitz (2011) apesar do governo Lula não representar a ruptura que se imaginava
na época da campanha eleitoral importantes medidas foram tomadas em prol da inserção de
políticas agrícolas que passaram a abranger um público antes excluído e ligado especialmente
à agricultura familiar, com a criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Também o
tratamento mais específico e direto ao combate à fome com a criação do Programa Fome Zero
e o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome. E o incentivo à
mudança da matriz energética com aumento da demanda por produtos agrícola ocorreu no
período com o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel.
Ao lado de todas essas questões vinculadas ao ambiente econômico e político nacional
também é importante levar em considerações as questões ambientais e de sustentabilidade que
permeiam as discussões econômicas. Essas que partem do cenário internacional e interferem
internamente no país. Conforme Scotto et. al. (2007) até a década de 1970 as questões
relacionadas ao meio ambiente praticamente não apareciam nas discussões internacionais, mas
a partir daí, o assunto passa a ser debatido levado adiante principalmente pela Organização das
Nações Unidas (ONU) que realizou a I Conferência sobre Meio Ambiente Humano em
Estocolmo em 1972. Esse movimento motivado principalmente pelo Relatório Meadows

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realizado pelo MIT a pedido do Clube de Roma sobre os “Limites do Crescimento”. Mas, para
o Brasil um marco é a Conferência para o Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro
em 1992 (a RIO-92), pois como a conferência foi realizada no Brasil o debate em torno das
questões ambientais se intensificou internamente. Outro marco mundial é foi a Cúpula Mundial
em 2002 a partir do qual se usa a ideia de desenvolvimento sustentável como aquele que visa
crescimento e equidade econômica de maneira sustentada em longo prazo, conservação dos
recursos naturais e do meio ambiente, desenvolvimento social. E mais recentemente, em 2015
a Cúpula do Desenvolvimento Sustentável, a partir da qual todos os países da ONU se
comprometeram com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, como parte de uma agenda
para o desenvolvimento sustentável e com metas a serem atingidas até 2030. (SCOTTO et. al.
2007; ONU, 2019)
De forma breve e resumida foram trazidos os principais aspectos que tem aparecido na
pesquisa realizada sobre o ambiente que afeta a pesquisa agropecuária no âmbito da Embrapa.
Foi tratado do ambiente político e econômico do Brasil e com eventos internacionais que
tiveram repercussão no país. Destaca-se a busca pela estabilidade econômica na década de
1980, o período de privatizações e de redução dos gastos públicos na década de 1990, o papel
do agronegócio a partir dos anos 2000 para gerar saldos comerciais positivos e a partir de
meados dos anos 2000 a inserção das questões alimentares, sociais e ambientais na agenda do
governo em nível nacional, mas também potencializadas pelas discussões em torno do
desenvolvimento sustentável que tomam conta do cenário internacional capitaneada pela
Organização das Nações Unidas.

4.2 Embrapa em perspectiva histórica e análise dos Planos Diretores


A pesquisa agropecuária brasileira passa por diferentes fases, desde a criação do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro, ainda no período colonial, passando pelos Imperiais Institutos de
ensino e pesquisa agropecuária no início do século XIX. Após vem a criação de universidades
e diferentes estruturas ligadas ao Ministério da Agricultura para organizar o ensino e pesquisa
agrícola. E como ponto central tem-se a criação da Embrapa em 1973 e a organização do
Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária. (CHAGAS e ICHIKAWA, 2009)
Conforme Eliseu Alves, a Embrapa nasce de um longo processo de discussão entre um
grupo de técnicos ligados à extensão rural, à Associação Brasileira de Crédito e Assistência
Rural (Abcar) e técnicos do Ministério da Agricultura e Ministério da Fazenda. O grupo partia
do pressuposto que a agricultura brasileira era atrasada tecnologicamente e que por isso a
produtividade era muito baixa, isso gerava o problema de falta de alimentos nos centros urbanos
e por isso o Brasil tinha que recorrer a importação de itens básicos como leite, carnes, trigo,
entre outros para abastecer a população.
O grupo também diagnosticava que a extensão rural existente não era suficiente para
promover a necessária modernização da agricultura, pois não havia geração de conhecimento
adequado às necessidades da realidade da agricultura das diferentes regiões brasileiras, o
conhecimento gerado vinha de outros países e esse estoque dera baixo. Por isso, a solução vinha
com a criação de uma organização totalmente nova, diferente das estruturas existentes e
vinculadas ao Ministério Agricultura, que deveria gerar conhecimento sobre a agricultura
brasileira em seus diferentes ecossistemas e produtos a fim de garantir os aumentos de
produtividade desejados. Essa nova organização, a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, deveria vir integrada em um sistema cooperativo com as demais organizações
que trabalhavam com a pesquisa agropecuária, entre eles as universidades com cursos na área
de Ciências Agrárias, os Institutos de Pesquisa, as organizações estaduais de pesquisa
agropecuária, e que mantivesse uma relação simbiótica com organizações ligadas à extensão
rural. (CABRAL, 2005; DUARTE, 2018)

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Conforme Rivaldo (1986) entre 1974 e 1986 a Embrapa se concentrou em implantar
suas unidades de pesquisa, em treinar recursos humanos, em estabelecer relações com a
extensão rural, com as universidades e com a iniciativa privada e organizações do exterior, e a
partir disso destaca que muitos resultados de pesquisa já haviam sido alcançados naquela época
e estavam à disposição dos agricultores. Nesse período, conforme as informações do autor, que
era presidente da organização, o planejamento estava mais voltado ao nível operacional e tático.
O Modelo Institucional de Execução da Pesquisa Agropecuária aprovado em junho de 1974
determinava o trâmite dos projetos de pesquisa, mas em 1980 quando a maioria dos
pesquisadores já haviam retornado do seu treinamento no exterior em cursos de pós-graduação
o planejamento foi alterado. A partir daí foi criado o Modelo Circular de Programação da
Pesquisa Agropecuária que passou a envolver a sociedade, desde o pesquisador até o usuário
final dos resultados da pesquisa (RIVALDO, 1986)
Conforme Freitas Filho (1989) o planejamento estratégico é importante para as
organizações conseguirem contrabalancear as rápidas mudanças pelas quais elas passam tendo
em vista a sua necessidade de adaptação ao ambiente em que estão inseridas que
constantemente traz novos desafios. É a partir do final da década de 1980 que a Embrapa
começa o seu processo de divulgação do seus Planos Diretores que correspondem ao
planejamento estratégico da organização.
Então, de forma sintética as principais percepções que se tem a partir da leitura dos
Planos Diretores da Embrapa estão apresentadas no quadro 1, no qual constam os objetivos
estratégicos de cada um dos planos, a missão da organização em cada um deles e o principal
enfoque percebido a partir da leitura.

QUADRO 1 – Principais aspectos dos Planos Diretores

Autores (2019)

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A Embrapa formulou seis Planos Diretores sendo que o primeiro foi publicado em 1988.
As quatro primeiras edições trabalham com o período de quatro anos para planejamento, a partir
do V Plano Diretor é apresentada uma nova divisão no qual são descritas as metas para o
período de quatro anos, de 2008 a 2011 e posteriormente são colocados os objetivos de prazo
mais alongado até 2023, sendo para o quadro se usou apenas a segunda opção. E último Plano
Diretor, em sua sexta edição traz uma novidade ao estipular o planejamento da organização
para os próximos vinte anos. O que se percebe também é que o I PDE era mais extenso e
detalhista, enfocando a necessidade de aumento de produtividade para abastecer a crescente
população urbana. A partir II PDE começa a se enfatizar a importância da mudança em relação
ao sistema de crenças que deu origem à Embrapa, e a partir do III PDE vão se inserindo as
questões ligadas às aspectos qualitativos dos alimentos e a noção de sustentabilidade.
Quando se analisam os objetivos estratégicos, no I PDE aparece o papel da Embrapa
apoiando a agropecuária e subsidiando o governo nas suas ações, o que parece ter coerência
com o ambiente que no final da década de 1980 era de controle da inflação e redução dos gastos
públicos. No II PDE aparece a mudança enfatizando a eficiência e novas demandas relacionadas
às qualidade do alimento e sustentabilidade, também em coerência com o que se apresentava
no ambiente em 1994 quando o Plano Real era implementado. O III PDE enfatiza a
competitividade internacional, de acordo com o ambiente no final da década de 1990 de
intensificação da globalização e da necessidade do Brasil exportar mais para gerar superávit
comercial à medida que o resultado em Transações Correntes vinha sendo deficitário como
consequência do Plano Real. No IV PDE são enfatizadas questões ligadas ao pequenos
produtores rurais, sustentabilidade e segurança alimentar, provavelmente influenciada pelas
políticas públicas que se desenhavam nesse sentido no início dos anos 2000. O V PDE vem
com discurso de aproveitamento das oportunidades internacionais e também enfatizando as
questões da sustentabilidade, influenciadas pelo debate internacional e também expansão do
agronegócio no Brasil, algo que era visualizado no ambiente em meados dos anos 2000. E o VI
PDE traz a necessidade de aumento de produtividade com preocupação ambiental, a
sustentabilidade na agenda influenciada pelos debates internacionais das mudanças climáticas,
e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

5 Conclusões
Esse breve artigo teve a intenção de analisar as mudanças internas na organização
estudada, a Embrapa, a partir das alterações no ambiente que é formado basicamente pelo
cenário político e econômico do país e também da influência dos organismos internacionais
principalmente no que diz respeito aos conceitos de sustentabilidade. A análise interna da
organização foi realizada a partir da leitura dos Planos Diretores, documento norteador de longo
prazo da organização, produzido a partir de 1988.
A partir da análise dos objetivos gerais que constam nos Planos Diretores e nas
principais percepções a partir da leitura dos mesmos, pode-se perceber uma congruência do que
acontecia no ambiente e que, algumas vezes com algum atraso, se refletia no planejamento
dessa organização pública.
A Embrapa foi criada na década de 1970 em meio as discussões de modernização da
agricultura em um cenário de esgotamento do processo de substituição de importações, foi
criada para resolver o problema da produtividade. E por isso tais questões aparecem nos
objetivos da organização até hoje, demonstrando que mesmo que a mudança ocorra existe path
dependence como defende Douglass North.
Ao mesmo tempo, o ambiente se modifica, a redução dos gastos públicos e a ameaça de
privatização de empresas estatais passa a ser uma realidade e a partir disso a Embrapa também
precisa mostrar sua preocupação com a eficiência e isso transparece no II Plano Diretor. De
outro lado, quando o governo passa a priorizar questões ligadas aos aspectos sociais e

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ambientais a organização também passa a refletir isso no seu planejamento, sendo ela, enquanto
organização pública, um meio do Estado intervir na sociedade. E conforme avançam em nível
internacional as discussões sobre desenvolvimento sustentável, a Embrapa também passa a
assimilar tais conceitos e os refletir em ações, uma vez que conforme destaca Douglass North,
há uma mudança nos preços relativos, e continuar a defender um modelo de desenvolvimento
que não leve em consideração essas questões pode inviabilizar a organização.
Enfim, o que se percebe então é que o ambiente muda e a organização tem reagido, de
modo a inserir tais mudanças em sua agenda, e ao mesmo tempo tem também aperfeiçoado suas
metodologias de planejamento, o que mostra que parece estar atenta ao ambiente e como isso a
afeta. Parece que há mudança institucional no caso da Embrapa, mas existe path dependence.

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Notas Acerca do Movimento Foodtech no Brasil
Notes about foodtech movement in Brazil

Ma. Dejenane de Souza Monteiro¹ - dmonteiro.al@gmail.com


Ma. Michele Domingos Schneider² - michele.schneider@unesc.net
Dr. Miguelangelo Gianezini³ - miguelangelo@unesc.net
Dra. Melissa Watanabe⁴ - melissawatanabe@unesc.net

Resumo
Nas últimas décadas, mudanças no ambiente natural, instabilidade econômica, perspectivas de aumento
populacional e perfil mais exigente dos consumidores são elementos distintos, mas que, cada qual a sua maneira,
resultam em pressões sobre a produção global de alimentos. Neste cenário, o Brasil possui papel relevante, devido
a sua capacidade de atender boa parte dessa demanda como um dos maiores produtores de grãos e carne do mundo.
Contudo essa produção está contida em cadeias tradicionais que têm se deparado com novas alternativas
(concorrentes ou complementares). Tais alternativas estão abarcadas em nomenclaturas como “AgTech” ou
“FoodTech”, incluindo a articulação de diferentes agentes em torno de novos conceitos sobre alimentação. Neste
estudo objetivou-se compreender um dos desdobramentos deste fenômeno. Trata-se do movimento Foodtech,
integrado por pessoas e empresas que usam da tecnologia para aprimorar a cadeia produtiva alimentar. Partindo
da teoria Institucional e de Orientação para Mercados, a pesquisa está baseada em um estudo bibliográfico em
bases de dados, portais e websites, além de levantamento documental proveniente de organizações engajadas neste
movimento. Como resultado, constatou-se o crescimento de organizações da nova economia – algumas
notadamente caracterizadas como Startups – que podem contribuir na (re)configuração do ambiente institucional
concorrencial. Ademais, observou-se que as orientações para mercado apontam para existência de um público
engajado, que pode ou não associar suas decisões de consumo de “alimentos tecnológicos” à outras questões como
a ambiental, a econômica, a étnica e outras.
Palavras-chave: StartUp’s, Desenvolvimento Socioeconômico, Agronegócios, Cadeias Produtivas
Agroalimentares, Orientação para Mercados.

Abstract
Over the past few decades, changes in the natural environment, economic instability, prospects for population
growth and more demanding profiles of distinct consumer elements, but each in its own way, result in pressures
on global food production. In this scenario, Brazil has a relevant role due to its ability to meet part of this demand
as one of the largest grain and meat producers in the world. However, this production is contained in the
traditional chains, which separate with new alternatives (competing or complementary). These alternatives are
included in nomenclatures such as “AgTech” or “FoodTech”, including an articulation of different agents around
new food concepts. In this study, we aimed to understand one of the descriptors of this phenomenon. This is the
Foodtech movement, made up of people and companies that uses technology to improve the food supply chain.
Starting from the Institutional and Market Orientation theory, a research is being applied in a bibliographical
study in databases, portals and websites, in addition to documentary survey proven by activities engaged in this
movement. As a result, the growth of new economies - some characteristics such as startups - can contribute to
the (re) configuration of the competitive institutional environment. In addition, using market guidelines aimed at
exposing a public audience, which may or may not associate their “technological food” consumption decisions
with other environmental, economic, ethnic and other issues.
Keywords: StartUps, Socioeconomic Development, Agribusiness, Agrifood Supply Chains, Market Orientation.

1 Introdução

No limiar da segunda década deste século, mudanças no ambiente natural, instabilidade


econômica, perspectivas de aumento populacional e perfil mais exigente dos consumidores são
elementos distintos, mas que, cada qual a sua maneira, resultam em pressões sobre a produção
global de alimentos.
Neste cenário, o Brasil possui papel relevante, devido a sua capacidade de atender boa
parte dessa demanda como um dos maiores produtores de grãos e carne do mundo. Contudo,

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essa produção está contida em cadeias tradicionais que têm se deparado com novas alternativas
(concorrentes ou complementares), resultantes de maior emprego de alta tecnologia, produção
com menos desperdício, menor impacto ambiental e potencial de revolucionar o mercado.
Tais alternativas estão abarcadas em nomenclaturas como “AgTech” ou “FoodTech”,
incluindo a articulação de setores sociais e empresariais em torno de novos conceitos sobre
alimentação, como a junção de recursos tecnológicos que transformam a maneira de produzir,
vender, consumir e servir todos os tipos de alimentos.
Neste estudo aborda-se um dos desdobramentos deste fenômeno. Trata-se do
movimento Foodtech, integrado por pessoas e empresas que usam da tecnologia para aprimorar
a cadeia produtiva alimentar, desde a agricultura, passando pela produção de alimentos,
fornecimento e canais de distribuição.
O movimento tem buscado atrair interessados no debate sobre novas formas de
produção e consumo de alimentos mais sustentáveis, além de incentivar o empreendimento de
novos negócios nessa área. Diante do exposto esse estudo tem como objetivo conhecer os
principais agentes deste movimento no Brasil, apresentando algumas de suas características
relacionadas com as teorias institucional e de orientação para mercado.

2 Referencial Teórico

2.1 Teoria Institucional

Em um estudo sobre a obra de Douglass North em relação a economia da Europa


ocidental, mostrou que houve um crescimento importante após o término do feudalismo. Isso
porque o olhar nesse período não foi relacionado somente ao crescimento da pobreza decorrente
do crescimento populacional, as instituições eram criadas e o crescimento econômico era
constituído. Porém esse processo foi gradativo e perpassou os séculos até a revolução industrial
no séc. XIX, sendo consolidado pelo surgimento das cidades e do comércio como forma de
distribuição dos bens de consumo e enriquecimento. Nesse ínterim o termo investidor passa a
ser recorrente e as instituições financeiras são criadas (GALA, 2003).
Ao se observar o pensamento do estudioso Veblen, um dos percursores da teoria
institucional nos Estados Unidos, que observou o comportamento dos entes evolvidos no que
chamou de “o sistema de negócios”. Partiu das teorias darwinianas e da filosofia
instrumentalista como forma de entender a natureza do homem econômico. (MACAGNAN,
2013).
O estabelecimento de que a evolução da estrutura social passa por uma seleção natural,
onde há uma batalha entre as instituições estabelecidas e as que buscam adentrar no mercado
institucional. O homem social foi entendido em duas classes a superior, cuja a existência era
idealizar alternativas para o progresso e a inferior trabalhar nas indústrias para produzir bens
de consumo. No que surge o direito de propriedade que garante uma nova forma de
manifestação do homem econômico, que se dá pelo prestígio e poder dado pelas posses
(MACAGNAN, 2013; PEREIRA, 2012).
Os elementos estruturais de uma organização servem para o alcance dos objetivos e
metas, têm, portanto, características funcionais. São condicionados à um conjunto de
expectativas, obrigações e responsabilidades associadas aos cargos das pessoas. Nesse as
pessoas devem estar adequadas a esses cargos, sendo devidamente selecionados e treinados
para desempenhar esses papeis (ASTLEY; VEN, 2005).
A partir da análise de North o problema de capital não está no aspecto tecnológico e
acúmulo de capital, mas sim nas regras e arranjos institucionais. O que se entende por causas

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do crescimento nada mais é do que uma organização institucional, onde as práticas
institucionais são consideradas o próprio crescimento (GALA, 2003).
Na modernidade os estudos trouxeram m novo elemento, discorrem sobre como o novo
institucionalismo busca diferenciar-se apesar de estar interligado a tradição sociológica de
Selznick, sendo que traz em si contribuições que apropriam o campo dos estudos
organizacionais contemporâneos. O que diferencia as duas escolas possivelmente é a influência
do construtivismo social, aceito como premissa do novo institucionalismo. Ao passo que esse
conceito é contraposto pelo pensamento que as organizações se moldam de acordo com o
ambiente em que estão inseridas, segmento, campos e atuação ou sociedade (PECI, 2006).
Nesse aspecto a visão neo-institucional contemporiza questões cognitivas, levadas ao
campo das relações entre as organizações e o ambiente, que sofre constantes alterações. Adentra
no campo da conformidade, onde a empresa busca estar adequada as novas exigências da
sociedade, quer sejam no âmbito governamental, econômico, ambiental e social (CARVALHO;
GOULART, 2005). Com isso as organizações conquistam a legitimidade perante a sociedade
e aumentam sua estabilidade. A interação com os diversos autores que fazem parte do contexto
institucional, tanto interno como externo, podem trazer conhecimento para as terem maior
capacidade de reorganização e tomadas de decisões em momentos de crise.
A Teoria Institucional atual tem outras abordagens que envolvem outros conceitos como
finanças e a teoria da agência. Nesse sentido os estudos se voltam para a distinção entre
separação, controle e da propriedade como um ponto de partida (MACAGNAN, 2013).
Ademais questões voltadas a regulações governamentais, meio ambiente e consumo
propõem interação das organizações para que prosperem e participem do desenvolvimento
sócio econômico de seu entorno.

2.2 Orientação para Mercados

SCA vantagem competitiva sustentável que parte do pressuposto que o cliente percebe
valor na empresa, e que este não será encontrado em outra a longo prazo (NARVER; SLATER,
1990). Isso se dá pela percepção de valor superior as expectativas percebidas pelo cliente
(ZEITHAML 1988). Para alcançar a SCA a empresa precisa desenvolver a cultura
organizacional de orientação para o mercado, no sentido de criar valor superior para os clientes
(NARVER; SLATER, 1990).
A criação de valor pode ser dar de duas formas, ou pelo aumento dos benefícios para o
cliente em relação ao custo de aquisição, ou pela redução do custo de aquisição em relação aos
benefícios percebidos (NARVER; SLATER, 1990).
A orientação para mercados está relacionada a capacidade de toda a organização se
voltar para o atendimento do mercado em que está inserida (JAWORSKI; KOHLI, 1993). Uma
empresa orientada para mercado é aquela que consegue implementar o conceito do marketing
de maneira satisfatória. E os pilares da orientação de mercados perpassa as questões de foco no
cliente, marketing coordenado e rentabilidade (KOHLI; JAWORSKI, 1990).
A orientação para mercados parte de três pressupostos ou atividades: a inteligência de
mercados é caracterizada em prever as necessidades futuras dos clientes; a inteligência de
mercados é a disseminada entre os setores da organização orientada para mercados e a
organização desenvolve uma ampla capacidade de responder as necessidades dos clientes e dos
mercados (JAWORSKI; KOHLI, 1993).
Envolve a gestão superior, a dinâmica interdepartamental, os sistemas organizacionais,
os funcionários, o ambiente e o desempenho da empresa. Esses fatores têm reflexos
significativos nos resultados e desempenho da empresa (JAWORSKI; KOHLI, 1993). No
âmbito da gestão superior, tem-se que o envolvimento da gestão superior é determinante para
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o posicionamento de uma empresa na orientação para mercados, de forma que se trata de uma
decisão estratégica que emerge dos níveis superiores (JAWORSKI; KOHLI, 1993).
Outro fator determinante para uma empresa desenvolva um SCA é o impacto da
dinâmica interdepartamental, ou seja, a dinâmica e os conflitos entre departamentos podem
impactar a orientação de mercados de uma organização, uma vez que geram tensões entre os
setores, caso não haja um alinhamento estratégico para o atendimento das demandas do
mercado e dos clientes (JAWORSKI; KOHLI, 1993). Compreende-se neste sentido, que a
orientação coordenada e a inteligência de mercado não é tarefa apenas de área de marketing e
deve haver o envolvimento de todos os setores (KOHLI; JAWORSKI, 1990).
Já para os sistemas organizacionais que são representados pela formalização,
centralização e departamentalização, compreende-se que quanto maior o grau de formalização,
centralização e departamentalização maiores serão as dificuldades de atendimento das
necessidades do mercado em função de dificuldades e barreiras na comunicação e o dinamismo
necessário para a inteligência de mercado (JAWORSKI; KOHLI, 1993).
Os funcionários também desempenham papel fundamental, pois pressupõem-se que o
envolvimento e o sentimento de pertencimento dos funcionários e principalmente dos gestores
é determinante para a orientação para o mercado (JAWORSKI; KOHLI, 1993) e para a
inteligência de mercado (KOHLI; JAWORSKI, 1990).
O ambiente é outro aspecto, no sentido de quanto mais turbulento e dinâmico o mercado,
maiores serão as necessidades de rápido atendimento e respostas ao mercado, como um fator
de competitividade ampliando a intensidade competitiva) (JAWORSKI; KOHLI, 1993).
A base para o delineamento das estratégias competitivos deve ser pautado na orientação
de mercado. Neste sentido, empresa com a cultura de orientação para mercados conseguem
alinhar os objetivos e esforços organizacionais e consequentemente obtém melhor desempenho
competitivo e melhores resultados em termos de posicionamento de mercado, market share e
rentabilidade (NARVER; SLATER, 1990). Ademais a rentabilidade é percebida como um
reflexo dos esforços organizacionais na orientação para mercados (KOHLI; JAWORSKI,
1990).
Esse desdobramento prevê o planejamento estratégico de longo prazo que prepara as
organizações para antever as tendências de mercado e inovarem para dar robustez e conquistar
novos mercados. Essa dinâmica requer a articulação do capital humano, da tecnologia e
domínio de mercado.

3 Procedimentos Metodológicos

Partindo da teoria Institucional e de Orientação para Mercados, a pesquisa está baseada


em um estudo bibliográfico em bases de dados, portais e websites, além de levantamento
documental proveniente de organizações engajadas neste movimento. O caráter bibliográfico
apresentou-se mais viável para esse estudo por ser um tema diferenciado que desponta como
um tema contemporâneo, sem muitos desdobramentos a respeito. Isto porque, segundo Marconi
(2009), a pesquisa bibliográfica não se trata de repetição daquilo que já foi estudado sobre
determinado assunto, mas possibilita o exame de um tema por meio de um novo enfoque.
Dessa forma foram selecionados artigos que versavam sobre o tema FoodTech que
apresentavam no título ou nas palavras-chave as expressões: FoodTech; Farming cells; Lab-
grown meat; Petri-proteins; Synthetic meat; Cultivated meat; Cultured meat; Cellular
Agriculture; Cell-culture food technology.

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4 Resultados e Discussão

O movimento FoodTech no Brasil apresenta instituições que prestam algum tipo de


serviço relacionado ao movimento. Empresas de foodtech usam da tecnologia para aprimorar e
melhorar a cadeia produtiva alimentar, desde a agricultura, passando pela produção de
alimentos, fornecimento e canais de distribuição. Ou seja, o termo foodtech “[...] é a junção de
recursos tecnológicos que transformam a maneira de produzir, vender, consumir e servir todos
os tipos de alimentos.” (LAIOB, 2019).
A empresa de pesquisas Kantar, destaca que o segmento de foodtech deve movimentar
até 2025, 3% do volume de vendas no Brasil e a ABRAS (Associação Brasileira de
Supermercados) destaca que as vendas no ecommerce devem chegar a R$ 48 bilhões, em 2023
(ITMIDIA.COM, 2019).
A indústria alimentar tem sido impactada em toda a cadeia com sensores e softwares,
que objetivam melhorias na produção e nas margens dos produtores rurais, utilização de
plataformas para auxiliar na criação de novos negócios, até aplicativos, disponíveis aos
consumidores para a escolha de alimentos. Observa-se uma explosão de startups, que estão
inovando na forma de como os alimentos são produzidos, distribuídos e comercializados
(FOODTECHCONNECT, 2019).
As startups voltadas para o movimento atuam nos segmentos de logística inteligente,
marketplace de food service e varejo, comida do futuro, reciclagem e desperdício, necessidades
do consumidor, agribusiness e marketplace, varejo inteligente, processamento de alimentos,
fazenda inteligente, segurança alimentar.
O movimento é novo no Brasil e conta com cerca de 90 startups que atuam no
fornecimento de soluções viáveis que se aplicam desde ao cultivo de plantas até seu descarte,
com foco em inovação e acessibilidade. O foco está estabelecido em atender as demandas da
sociedade e mercado que buscam soluções voltadas ao consumo de alimentos (LAIOB, 2019).
Vem se constituindo pelo empreendedorismo empresarial, que apresenta como
premissas a utilização de tecnologia para a formulação de produtos, serviços e soluções para
produção, distribuição e venda de alimentos. Tem como premissa a sustentabilidade através da
redução de desperdícios na cadeia produtiva de alimentos, mudança de hábitos alimentares e
tecnologia. Alguns conceitos importantes surgem no movimento das foodtech: foodservice,
food design experience e foodtech system, que vão sendo introduzidos no mercado e
apresentando novas abordagens no setor de alimentos.
Dentre as atividades dessas instituições está a realização de cursos para capacitar
pessoas da sociedade civil interessadas em empreender negócios de FoodTech. Outra forma de
divulgação do movimento é através da difusão de informações e experiências de
empreendedores e clientes. Tomando como base a teoria de orientação para mercado, a ideia
do movimento consiste em reunir pessoas interessadas no movimento para através da
divulgação e compreensão dos interesses dos consumidores agregar valor à experiência da
alimentação tecnológica.
As startups atuam principalmente em áreas de varejo inteligente, produtos e serviços
tecnológicos direcionados ao consumidor e marketplace. Exemplos como serviços de
alimentação que lançam uma lógica diferenciada para a experiência do cliente em relação ao
alimento, oferecem técnicas de preparo e conservação com uso da tecnologia. Oferecem
alimentos naturais, sem aditivos químicos, para isso buscam parcerias com pequenos
produtores para receberem alimentos orgânicos. Utilizam plataformas digitais para que o cliente
possa agendar datas e horários para receber o pedido. O processo logístico tem um grande
enfoque em muitos empreendimentos, que propõe praticidade e agilidade para os
consumidores.
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Sob a ótica da teoria institucional, todo o conhecimento desenvolvido pelas startups com
foco em FoodTech podem estabelecer estratégias que estruturem os processos. Novos modelos
institucionais podem surgir, com critérios para funcionamento dinâmico de operação. Para as
startups com foco em serviços, da mesma forma esses modelos dinâmicos podem criar novas
concepções acerca das expectativas do cliente. Nesse sentido existe um caminho a ser seguido
que entre os erros e acertos poderão estabelecer processos que de aprendizado para transformar
a forma de conceber o mercado de alimentos acompanhando as tendências mundiais.
Sobre o movimento Foodtech no Brasil no Quadro 1 um breve relato sobre as principais
instituições que articulam informações sobre esse movimento.

Quadro 1 – Principais agentes representantes do movimento FoodTech no Brasil, 2019

Link para acesso das


Denominação Conteúdo
informações

Apresenta como começou o movimento, mostra o


Foodtech https://www.foodtechmovement.
primeiro mapa de foodtech no Brasil, ensina um novo
Moviment com.br/
jeito de consumir.

Traz uma breve explicação do que é FoodTech e startups,


informando que a marmotex é um exemplo de FoodTech, http://blog.marmotex.com/o-que-
Marmotex
trata-se de um site onde anunciam vários tipos de comida, e-foodtech/
unindo restaurantes a clientes.

Reportagens, notícias e novidades sobre o movimento https://www.startse.com/noticias/


StartSe
foodtech e também novas as novas empresas startups. foodtech

O que é o termo foodtech, aonde ele se aplica, como estão http://www.laiob.com/blog/o-


Laiob
transformando o mercado e como este movimento atua. que-e-foodtech/

Mostra 5 empresas que estão investindo no movimento https://itmidia.com/5-startups-de-


Itmdia foodtech e que pretendem revolucionar: Liv Up, foodtech-que-prometem-facilitar-
Supermercado Now, VocêQPad, IFood e MVarandas. sua-alimentacao/
Reportagens de todo o mundo que envolva tecnologia e
Food Ventures https://www.foodventures.com.br
alimentação.
Sobre as startups no Brasil, ele mostra um mapa das
startups, um aprofundamento com pesquisas e tendências https://insights.liga.ventures/estu
Liga insights
dos temas foodtech, mais de 30 entrevistas com dos-completos/foodtechs/
profissionais e empreendedores.
http://www.rgnutri.com.br/2019/
Conceito das foodtech, informa algumas startups no
01/15/como-as-startups-de-
Rg nutri Brasil e o cada uma está fazendo com o novo conceito:
foodtech-estao-transformando-o-
Ndays, Supermercado Now e Rappi.
mercado/
Primeiro evento de Foodtech Movement em Santa https://infood.com.br/foodtech-
Infood Catarina, mostra um para com porcentagem do movement-chega-a-santa-
movimento em cada região do Brasil. catarina-pela-primeira-vez/
Fonte: Elaborado pelos autores.

Como resultados preliminares observa-se o surgimento de startups que voltadas para


o foodtech, concentradas nas áreas de varejo inteligente, produtos e serviços tecnológicos
direcionados ao consumidor e marketplace.

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Em paralelo cabe mencionar as variantes do foodtech nacional, como o foodservice,
relacionado à alimentação fora de casa e o food design experience, que visa melhorar a
experiência do cliente junto a determinado produto alimentício.
As tendências de mercado, apontam a necessidade de relacionar os conceitos para
compreender as mudanças no comportamento de compra dos consumidores. Além disso é
importante tratar dos avanços em estudos sobre comida tecnológica, que também despontam
como potencial negócio no mercado brasileiro.

5 Considerações finais

Com base nos resultados, aliados às teorias estudadas constatou-se o crescimento de


organizações da nova economia – algumas notadamente caracterizadas como Startups – que
podem contribuir na (re)configuração do ambiente institucional concorrencial.
Ademais, observou-se que as orientações para mercado apontam para existência de um
público engajado, que pode ou não associar suas decisões de consumo de “alimentos
tecnológicos” à outras questões como a ambiental, a econômica, a étnica e outras.
Por fim cabe ressaltar que este estudo possui diversas limitações devido ao caráter
preliminar. Estudos complementares e futuros podem contemplar observação não participante,
desdobramentos e perspectivas do movimento, bem como seu potencial de ganho de mercado
e opinião pública, a luz de teorias como a de cadeias de demanda.
Ademais, espera-se igualmente compreender como o Brasil pode se colocar em um
lugar de destaque, ter iniciativas para empreender e captar investimentos para pesquisas e
implementação de tecnologias para criar novas formas de produzir alimentos.

6 Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Agradecimentos
também à Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC e ao Grupo de Pesquisa
Estratégia, Competitividade e Desenvolvimento – GEComD.

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PERFIL DOS CONSUMIDORES BRASILEIROS DE CAFÉ
PROFILE OF BRAZILIAN COFFEE CONSUMERS
Caeverton de Oliveira Camelo1, Aline Castro Jansen2, Fabiano da Silva Ferreira3

Resumo
O mercado consumidor de café é bastante abrangente, sendo esta uma das bebidas mais demandadas no mundo.
No Brasil, um dos países em que mais se consome café, a atividade possui relevância no contexto econômico pelo
fato de o país ser um dos maiores produtores e exportadores do produto. Nesse contexto, há de se determinar o
perfil sociodemográfico das pessoas que possuem o costume de consumir esse produto no país, bem como em
relação ao tipo de café consumido por esses indivíduos. Para isso, foram aplicados questionários com
consumidores de café e, após, foram feitas análises estatísticas, como estatísticas descritivas, análise de variância
(ANOVA) e teste Qui-Quadrado. Os resultados evidenciam que a faixa etária, o nível de escolaridade e o contato
social exercem influência sobre o consumo de café, enquanto a faixa etária, o nível de escolaridade e a ocupação
estão associadas ao tipo de café consumido pelos brasileiros. Portanto, as estratégias de mercadológicas desse setor
devem ser direcionadas a atender as necessidades específicas de cada um desses consumidores.
Palavras-chave: Comportamento do Consumidor; Café; Marketing.

Abstract
The coffee consumer market is quite wide, being one of the most demanded beverages in the world. In Brazil, one
of the countries where coffee is most consumed, the activity has relevance in the economic context because the
country is one of the largest producers and exporters of coffee. In this context, it is necessary to determine the
sociodemographic profile of people who have the habit of consuming this product in the country, as well as in
relation to the type of coffee consumed by these individuals. For this, questionnaires were applied to coffee
consumers and, afterwards, statistical analyzes were performed, such as descriptive statistics, analysis of variance
(ANOVA) and Chi-square test. The results show that age, education level and social contact influence coffee
consumption, while age group, education level and occupation are associated with the type of coffee consumed by
Brazilians. Therefore, the marketing strategies of this sector must be directed to meet the specific needs of each of
these consumers.
Keywords: Consumer behavior; Coffee; Marketing.

1 Introdução
O café possui um mercado consumidor muito abrangente, sendo esta uma das bebidas
mais demandadas no mundo. Em 2016, esta atividade movimentou no mundo em torno de US$
30,9 bilhões nas exportações e US$ 30 bilhões nas importações (INTERNATIONAL TRADE
CENTRE, 2018). Importante ressaltar que esse produto é uma das principais commodities
agrícolas comercializadas no mercado internacional, pois tem grande potencial para agregação
de valor.
No contexto econômico do Brasil, a cafeicultura apresenta alta relevância, possuindo
posição de destaque dentro do agronegócio brasileiro (SOUZA FILHO; FERREIRA;
OLIVEIRA, 2009). O Brasil é um dos maiores players mundiais nessa atividade, sendo o 2º
maior consumidor de café no mundo. Salientando a informação, segundo os dados de 2016 da
pesquisa do Euromonitor, a bebida está presente em 50% dos lares brasileiros, com um
montante de 81 litros bebidos por pessoa no período de um ano. Isto tudo realça o forte apelo
cultural que este produto possui atrelado a si (ZYLBERSZTAJN; FARINA; SANTOS, 1993)
e o seu impacto social, relacionado a um simbolismo social e místico.
Soma-se a isso o fato de que o consumo de café está aumentando a cada ano
significativamente, segundo as pesquisas realizadas pela Associação Brasileira da Indústria do

1
Gestor de Agronegócios/Doutorando em Agronegócios – UFRGS – caeverton.camelo@ufrgs.br
2
Administradora/Doutoranda em Administração – UFRGS – aline_jansen@yahoo.com.br
3
Engenheiro Agrônomo/Doutorando em Agronegócios – UFRGS – fabiano.ferreira@ufrgs.br
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Café (ABIC), desde 1990, demonstrando o potencial de crescimento desse segmento. Além
disso, o país exporta para 129 países do mundo (BRASIL, 2014), sendo um dos principais
produtores mundiais de café, o que realça a importância deste produto na economia brasileira.
A demarcação do perfil sociodemográfico dos consumidores de café é uma ferramenta
indispensável para a identificação dos diferentes segmentos deste mercado e de suas
potencialidades, além de que as estratégias mercadológicas das empresas que atuam no setor
devem ser definidas a partir das características dos seus clientes. De acordo com Moori, Bido
e Oliveira (2011), a capacidade de conseguir prever como os compradores irão reagir a
determinados estímulos e de compreender o comportamento de consumo para se obter pistas
valiosas sobre preferências nas decisões de compras, são pontos que conseguem atingir maior
eficiência na agregação de valor.
Dentre os 6 fatores de comportamento do consumidor citados por Malhotra (2001),
verifica-se a presença das variáveis sociodemográficas como relevantes para análise de
mercado e do público alvo. A partir disso, então, é possível a identificação das necessidades do
consumidor, inclusive, de forma mais simplificada do que com a utilização de outras
estratégias.
Por um lado, Kotler (2000) acrescenta que o comportamento de compra do consumidor
é influenciado por fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos. Já Solomon (2002), por
outro lado, enfatiza a existência de uma relação entre a renda, o consumo e o tipo de café, visto
que o aumento da renda, o que normalmente acontece concomitantemente ao avanço do grau
de escolaridade, proporciona maiores condições econômicas para a compra de café e de
produtos diferenciados. Ou seja, o segundo autor acrescentou o fator ‘renda’ como uma variável
relevante no perfil do consumidor, além dos outros fatores anteriormente relatados por Kotler
(2000).
Todas essas informações e dados apresentados reforçam a importância de se pesquisar
qual é a descrição dos brasileiros que consomem café. Por essa razão, apresenta-se como
problema de pesquisa: ‘Qual é o perfil dos consumidores brasileiros de café?’. Assim sendo, o
objetivo geral desse estudo é determinar o perfil sociodemográfico das pessoas que demandam
essa bebida, bem como o que está associado ao tipo de café consumido por esses indivíduos.
Estudos dessa natureza não foram realizados no contexto brasileiro, porém observa-se
que nos Estados Unidos (EUA), Yen, Lin e Davies (2008, p. 637) identificaram que “o consumo
de carne, aves e peixes aumenta com renda e varia de acordo com o sexo, as idades, a estação
e a região”, o que também reforça a relevância de se traçar o perfil sociodemográfico dos
consumidores brasileiros de café. E também pode ser considerado importante, identificar os
atributos que são levados em consideração na escolha dos tipos de café consumidos, assim
como Escriba-Peres et al. (2017), que levantaram os atributos no contexto dos tipos de carne
consumida pelos indivíduos residentes na Espanha.
2 Método

Para atingir o objetivo inicial deste trabalho, foi realizada uma pesquisa descritiva de
caráter quantitativo com consumidores de café, nesse sentido, foram definidas um total de 14
variáveis, com o intuito de proceder às análises estatísticas. Destas, seis podem ser
caracterizadas como sociodemográficas, sendo elas: gênero, estado civil, faixa etária,
escolaridade, ocupação e renda familiar. Uma relacionada ao contexto social do consumo do
produto, outra relacionada ao tipo de produto consumido, outras duas relacionadas ao consumo
do café no dia anterior e na semana anterior a pesquisa, e mais quatro ligadas ao consumo do
produto em determinados locais.
Após a definição das variáveis a serem analisadas, foi decidido que a coleta de dados
seria feita através de questionários estruturados. Porém, antes da aplicação dos mesmos, as

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perguntas foram validadas a partir de um pré-teste realizado com cinco consumidores, que
foram convidados a avaliar e comentar sobre os questionamentos e a formulação das questões.
Após esta etapa, então, ocorreu a aplicação dos questionários por meio do formulário eletrônico
do Google Forms entre os meses de fevereiro e março do ano de 2016. Ao final desse período,
foram obtidas 417 respostas de consumidores brasileiros de café, sendo assim, o tipo de
amostragem pode ser considerado não probabilístico e, portanto, por conveniência.
Finalizada a fase de coleta, passou-se para a análise dos resultados, vale destacar que
esse estudo pode ser dividido em duas etapas, onde na primeira realizou-se uma análise
descritiva dos resultados, enquanto na segunda parte buscou-se testar algumas hipóteses
previamente levantadas. Logo, os dados obtidos a partir dos questionários foram
quantitativamente analisados com emprego de análises estatísticas, realizadas com o auxílio
dos softwares Microsoft Office Excel® 2016 e Statistical Package for Social Science® (SPSS).
A partir de estudos anteriores presentes na literatura e do conhecimento dos
pesquisadores, foram definidas as seguintes hipóteses:
H1: O gênero influencia o consumo de café;
H2: O estado civil influencia o consumo de café;
H3: A faixa etária influencia o consumo de café;
H4: O nível de escolaridade influencia o consumo de café;
H5: A ocupação influencia o consumo de café;
H6: A renda familiar influencia o consumo de café;
H7: O contato social influencia o consumo de café;
H8: O tipo de café influencia o consumo de café.
Nesse cenário, destaca-se que a Figura 1 ilustra as oito primeiras hipóteses dessa
pesquisa:
Figura 1 – Hipóteses da pesquisa (H1 – H8)

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Observa-se que para identificar as variáveis que fazem a composição da dimensão


‘consumo de café’, optou-se pela realização de uma Análise Fatorial Exploratória (AFE), em
vista que esse tipo de análise tem como intuito a transformação de grandes conjuntos de dados
em um número reduzido de fatores, tornando possível uma maximização do poder de
explicação dessas variáveis (HAIR JUNIOR et al., 2010; MANLY; ALBERTO, 2016).
Portanto, para a realização do teste das hipóteses propostas, realizou-se uma análise de variância
(ANOVA), em vista que a ANOVA pode ser considerada como uma técnica de dependência
que mensura a diferença para uma variável dependente (no caso o consumo de café), com base
em um conjunto de varáveis categóricas, que atuam como variáveis independentes (HAIR
JUNIOR et al., 2010).
Em seguida, além das hipóteses anteriores, mais sete hipóteses foram definidas nesse
estudo, as quais estão ilustradas na Figura 2 a seguir:
H9: O gênero tem relação com o tipo de café consumido;
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H10: O estado civil tem relação com o tipo de café consumido;
H11: A faixa etária tem relação com o tipo de café consumido;
H12: O nível de escolaridade tem relação com o tipo de café consumido;
H13: A ocupação tem relação com o tipo de café consumido;
H14: A renda familiar tem relação com o tipo de café consumido;
H15: O contato social tem relação com o tipo de café consumido.

Figura 2: Hipóteses da pesquisa (H9 – H15)

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Por se tratar de variáveis categóricas, o método julgado como mais adequado para
avaliar a associação existente entre elas é o teste Qui-Quadrado. Utilizando este método,
portanto, é possível descrever a associação entre as variáveis, ou seja, conhecer o grau de
dependência entre elas, para que a partir do comportamento de uma delas, possa-se prever o
melhor resultado da outra variável (BUSSAB; MORETTIN, 2014). Vale ressaltar que se levou
em consideração um nível de confiança de, ao mínimo, 95% para os testes realizados.
3 Discussão dos Resultados

3.1 Análise Descritiva

Há de se destacar que todas as variáveis desse estudo podem ser caracterizadas como
categóricas, sendo que o gênero pode ser estratificado em dois estratos: masculino e feminino.
Sendo assim, observa-se que o perfil dos consumidores mostrou certa homogeneidade entre
pessoas do gênero masculino e do gênero feminino, com pequena superioridade para o gênero
masculino, que foi representado por 229 respondentes. Sendo que a porcentagem dos
consumidores dos gêneros masculino e feminino está exposta na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Frequências dos entrevistados conforme o gênero


Frequência Frequência
Absoluta Relativa
Masculino 229 54,92%
Gênero
Feminino 188 45,08%
Solteiro (a) 377 90,41%
Casado (a) 36 8,63%
Estado Civil
Divorciado (a) 4 0,96%
Viúvo (a) 0 0,00%
até 17 anos 30 7,19%
Faixa Etária 18 - 23 anos 250 59,95%
24 - 29 anos 88 21,10%

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30 - 35 anos 22 5,28%
36 - 41 anos 11 2,64%
42 - 47 anos 7 1,68%
48 - 53 anos 6 1,44%
54 - 59 anos 2 0,48%
60 – acima 1 0,24%
Ensino Médio Incompleto 21 5,04%
Ensino Médio Completo 27 6,47%
Escolaridade Cursando Graduação 274 65,71%
Graduado 47 11,27%
Pós-Graduação 48 11,51%
Estudante 296 70,98%
Funcionário Público 41 9,83%
Funcionário da Iniciativa
41 9,83%
Privada
Ocupação Autônomo 20 4,80%
Aposentado 0 0,00%
Desempregado 11 2,64%
Empresário 8 1,92%
até 1 salário mínimo 24 5,76%
de 1 a 3 salário mínimos 125 29,98%
de 4 a 6 salários mínimos 112 26,86%
Renda
de 7 a 9 salários mínimos 50 11,99%
Familiar
de 10 a 12 salários
41 9,83%
mínimos
acima de 13 salários
65 15,59%
mínimos
Fonte: Dados de Pesquisa.

Os resultados observados para a frequência do gênero dos consumidores são similares


aos observados no estudo realizado por Arruda et al. (2009) que encontraram a frequência
relativa de 57,2% para o gênero masculino e 42,4% para o gênero feminino.
Em relação ao estado civil, os dados demonstram uma ampla maioria de respondentes
que se diziam solteiros, em vista que 377 consumidores assumiam esse estado civil. Para essa
variável, foram utilizadas quatro estratificações: Solteiro (a), Casado (a), Divorciado (a) e
Viúvo (a).
Conforme destacado na Tabela 1, a ampla maioria, com pouco mais de 90% de
respondentes apresentam o estado civil ‘solteiro’. Por outro lado, aproximadamente 9% do total
são casados, pouco menos de 1% são divorciados e não apareceu na amostra consumidores que
possuíam o estado civil ‘viúvo’.
Observa-se que a grande maioria dos entrevistados, 338, declararam ter entre 18 e 29
anos de idade. Portanto, que pouco mais de 81% do total de respondentes da amostra estão
distribuídos por essas faixas etárias. Nessa variável, as faixas etárias foram classificadas em
nove estratos, que podem ser observados na Tabela 1, juntamente com as frequências.
Em relação ao nível de escolaridade, identificou-se que 274 indivíduos estavam
cursando graduação no período da coleta dos dados, ou seja, os consumidores com esse nível
de escolaridade representavam aproximadamente 65,71% do total da amostra da coleta de
dados. Os dados da porcentagem da representatividade do nível de escolaridade entre os

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consumidores de café que responderam ao questionário estão exibidos na Tabela 1, onde pode-
se observar os 5 estratos nos quais foram realizadas as classificações.
Para reforçar a porcentagem na variável anterior, de que a ampla maioria de
consumidores estavam cursando a graduação, durante o período em que foram coletados os
dados, ressalta-se que 296 respondentes do total de 417 indivíduos são estudantes, ou seja,
pouco mais de 70% da amostra dos dados coletados. Ainda se realça que 41 consumidores eram
funcionários públicos e o mesmo número de consumidores eram funcionários da iniciativa
privada, perfazendo assim pouco menos de 10% para cada ocupação. Os consumidores que se
classificaram como autônomos representavam 4,8% e os que alegaram estar desempregados
foram somente 2,64% (Tabela 1). Essa variável possui 7 estratos.
Por fim, para finalizar a apresentação dos dados sociodemográficos, destaca-se que a
Tabela 1 apresenta os dados da renda familiar dos consumidores de café que responderam aos
questionários. Essa variável apresenta seis estratos e está classificada de acordo com a
quantidade de salários mínimos que o indivíduo alega receber de proventos mensalmente. De
acordo com os dados observados, verifica-se que 125 respondentes apresentavam a renda
familiar de 1 a 3 salários mínimos, ou seja, aproximadamente 30%.
As duas variáveis subsequentes estão relacionadas com o consumo de café e foram
construídas para identificar o consumo do produto pelos indivíduos na data anterior a pesquisa
e também na semana anterior. Ambas também são variáveis categóricas e foram estratificadas
em dois estratos: sim ou não.
Em relação ao consumo de café, 93 respondentes alegaram que não consumiram café
no dia anterior, enquanto que 324 disseram que consumiram café no dia anterior. As
porcentagens da frequência de consumo de café no dia anterior ao envio do questionário estão
expostas na Tabela 2.

Tabela 2 - Consumo de café no dia anterior a pesquisa


Frequência Absoluta Frequência Relativa
Não 93 22,30%
Tomou café ontem?
Sim 324 77,70%
Não 41 9,83%
Tomou café na semana passada?
Sim 376 90,17%
Fonte: Dados de pesquisa.

Já em relação ao consumo de café na semana anterior as respostas aos questionários,


observa-se que somente 41 consumidores alegaram não ter tomado café na semana anterior a
pesquisa, enquanto que 376 consumiram café ao menos 1 dia na semana anterior a pesquisa,
conforme pode ser constatado na Tabela 2.
Ao se abordar o consumo de café, julga-se primordial abordar o local em que ocorre
esse consumo bem como a frequência que o mesmo ocorre. Portanto, nos estudos de Arruda et
al. (2009) identificou-se que o consumo de café no Brasil ocorre de maneira predominante em
casa (71%), em lanchonetes (19%), nos ambientes de trabalho (8,6%) e em cafeterias em
números bastante inferiores (1,4%). De certa maneira, esses dados condizem com os resultados
encontrados da amostra dessa pesquisa que buscou identificar o consumo de café nesses locais,
para tanto buscou-se classificar as respostas em dois estratos distintos, assim como nas variáveis
anteriores.
Em relação ao consumo de café em casa, constatou-se, de acordo com a Tabela 3 a
seguir, um total de 53 consumidores alegaram não realizar o consumo de café em casa, enquanto
que 364 consomem café em ambiente domiciliar.

Tabela 3 – Locais de consumo de café pelos entrevistados

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Frequência Absoluta Frequência Relativa
Não 53 12,71%
Consome café em casa?
Sim 364 87,29%
Não 148 35,49%
Consome café no trabalho?
Sim 269 64,51%
Não 259 62,11%
Consome café em cafeterias?
Sim 158 37,89%
Não 221 53,00%
Consome café em outros locais?
Sim 196 47,00%
Fonte: Dados de pesquisa.

Nos ambientes de trabalho, 148 consumidores afirmaram que não consomem café nesse
local, já 269 indivíduos mencionaram que consomem café nos ambientes de trabalho, conforme
pode ser detectado na Tabela 3. Há de se ressaltar que assim como na pesquisa de Arruda et al.
(2009), o consumo de café em cafeterias continua sendo ainda considerado incipiente, dado que
ampla maioria, ou seja, 259 consumidores relataram que não consomem café em cafeterias,
consoante aos dados da Tabela 3.
Já quando se aborda o consumo de café em outros locais (Tabela 3), como por exemplo
em lanchonetes, padarias, dentre outros, averígua-se uma certa heterogeneidade entre os
indivíduos que consomem e os que consomem, sendo que pouco mais da metade da amostra
(221 consumidores), alegaram não consumir café nesses locais.
Já para identificar o contexto social no qual se dá o consumo de café foi selecionada
uma variável categórica que possui quatro estratos, onde no primeiro os consumidores alegaram
consumir café sozinhos, no segundo estrato acompanhados de uma pessoa, já no terceiro estrato
os indivíduos tomam café acompanhados de duas ou três pessoas e por fim, no quarto estrato
os indivíduos tem a companhia de mais de 3 pessoas quando estão consumindo o produto. A
Tabela 4 apresenta os dados das frequências de respostas para cada um dos estratos.

Tabela 4 – Frequências da quantidade de pessoas que acompanham o indivíduo no consumo de café


Você toma café acompanhado de quantas
Frequência Absoluta Frequência Relativa
pessoas
Nenhuma 158 37,89%
Uma 99 23,74%
duas ou três 128 30,70%
acima de três 32 7,67%
Fonte: Dados de pesquisa.

Por fim, foi selecionada mais uma variável na qual os consumidores responderam qual
os tipos de café costumam consumir, sendo que as respostas estão divididas em quatro estratos
que podem ser observados na Tabela 5, bem como as respectivas frequências.

Tabela 5 – Frequências do tipo de café consumido


Qual tipo de Café Frequência Absoluta Frequência Relativa
Torrado & Moído 243 58,27%
Solúvel 82 19,66%
Cafés Especiais 61 14,63%
Em cápsulas 31 7,43%
Fonte: Dados de pesquisa.

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3.2 Perfil dos Consumidores de café

Conforme relatado para se chegar na dimensão ‘consumo de café’, realizou-se uma


Análise Fatorial Exploratória (AFE), onde observa-se que essa dimensão pode ser representada
pelas variáveis: ‘tomou café no dia anterior’, ‘tomou café na semana anterior’ e ‘tomou café
em casa’. Portanto, observa-se que o teste KMO desse fator foi 0,667 enquanto que o Alfa de
Cronbach foi 0,741, apresentando resultados satisfatórios para esse tipo de análise, conforme
destacado por Frohlich e Westbrook (2001) e Hair Junior et al. (2010).
Dessa forma, os resultados para a análise de variância estão expostos na Figura 3 a
seguir, onde observa-se que dentre as variáveis sociodemográficas, somente a ‘faixa etária’ e o
‘nível de escolaridade’ têm influência no consumo de café dos brasileiros, ou seja, as H3 (p <
0,01) e H4 (p < 0,01) foram aceitas, enquanto as demais (H1, H2, H5 e H6: p > 0,05) foram
refutadas.

Figura 3 – ANOVA para a identificação das variáveis que estão relacionadas ao consumo de café

Fonte: Dados de pesquisa.

Nesse sentido, destaca-se que a ‘faixa etária’ pode ser considerada como um fator
relevante para o consumo de café, em vista que, por exemplo, ‘uma criança tem um paladar
menos refinado que uma pessoa de meia idade’ (CASTRO et al., 2017, p. 373), ou seja, com o
paladar mais refinado, os indivíduos maduros estão mais propensos a consumir esse produto.
O nível de escolaridade também pode ser considerado relevante, dado que quanto maior o grau
de instrução do indivíduo, maior é a disposição a consumir produtos de maior qualidade
(KOTLER; KELLER, 2012), o que pode levar a escolha de consumir de café.
Pode-se ressaltar também que o gênero não tem influência no consumo de café (H1: p
> 0,05), assim como já fora observado por Vegro et al. (2002) e Arruda et al. (2009) em relação
a quantidade consumida do produto, ou seja, existe a ‘necessidade de equidade de gênero em
estratégias mercadológicas de promoção dessa bebida’ (ARRUDA et al., 2009). Assim como
ocorre com o estado civil, ocupação e renda familiar (H2, H5 e H6: p > 0,05), que não
apresentam distinção estatisticamente significante.
Por outro lado, observa-se que o contato social exerce influência sobre o consumo de
café dos brasileiros (H7: p < 0,05), já que o fato de tomar café acompanhado ou não está,
estatisticamente, relacionado ao consumo do produto. Enquanto que o ‘tipo de café’ não
influencia o ‘consumo de café’ (H8 p > 0,05), ou seja, o consumo de café pelos brasileiros
ocorre independentemente do tipo de café no qual esse consumidor está acostumado a tomar.

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Já a Figura 4, apresenta os resultados do teste Qui-Quadrado, utilizado para identificar
se existe relação entre as variáveis. No intuito de buscar algumas explicações para o consumo
de determinados tipos de cafés pelos consumidores brasileiros.

Figura 4 – Teste Qui-Quadrado para a identificação das variáveis que estão associadas ao tipo de café
consumido

Fonte: Dados de pesquisa.

Vale destacar que o ‘contato social’ não pode ser considerado como estatisticamente
relacionado ao ‘tipo de café’, ou seja, a H15 foi rejeitada (p > 0,05). Por outro lado, três
variáveis sociodemográficas podem ser consideradas estatisticamente significantes, são elas:
H11 (p < 0,01), H12 (p < 0,01) e H13 (p < 0,05), ou seja, pode-se observar a relação entre a
‘faixa etária’ e o ‘tipo de café’, ‘nível de escolaridade’ e o ‘tipo de café’ e ‘ocupação’ e o ‘tipo
de café’, com um coeficiente de contingência de 0,335, 0,246 e 0,239 respectivamente. Já as
demais variáveis sociodemográficas (gênero, estado civil e renda familiar) tiveram as suas
respectivas hipóteses rejeitadas, em outras palavras, não existe relação entre essas variáveis e o
tipo de café comumente consumido pelos brasileiros.
Desse modo, assim como na relação com o consumo de café, observa-se que para a
escolha de determinado tipo de café, a faixa etária pode ser considerada relevante, em vista que
quanto maior a faixa etária, os indivíduos estão em busca por tipos de café que se adequem ao
seu paladar, ou seja, a “idade influencia nos desejos e necessidades dos consumidores”
(CASTRO et al., 2017, p. 373). O nível de escolaridade também pode ser considerado relevante,
dado que quanto maior o grau de instrução do indivíduo, maior é a disposição a consumir
produtos de maior qualidade (KOTLER; KELLER, 2012), ou seja, esses indivíduos têm maior
a propensão ao consumo de determinados tipos de café que atendam um padrão de qualidade
mais elevado.
E, além disso, a ocupação dos indivíduos tem relação com a escolha do tipo de café
consumido, dado que os estudantes e desempregados estão propensos a consumir o café do tipo
‘torrado e moído’ enquanto que os funcionários públicos e da iniciativa privada e também os
empresários consomem mais do que o esperado, os demais tipos de café, que podem ser
considerados mais requintados, como o café solúvel, em cápsulas e os cafés especiais.
4 Considerações Finais

Essa pesquisa teve como objetivo determinar o perfil sociodemográfico dos


consumidores brasileiros de café. Para atingir essa meta, foi feito um estudo quantitativo,
utilizando algumas ferramentas estatísticas como uma análise fatorial, análise de variância
(ANOVA) e o teste Qui-Quadrado, no qual se verificou quais as variáveis categóricas que
possuíam relação tanto com o consumo de café quanto com o tipo de café.

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Nesse sentido, encontrou-se que para a variável dependente ‘consumo de café’, os
elementos ‘faixa etária’, ‘nível de escolaridade’ e ‘contato social’ – ter companhia para a ação
– afetam no consumo dessa bebida. Portanto, foram aceitas apenas as hipóteses H3, H4 e H7 e
as demais (H1, H2, H5, H6 e H8) foram refutadas, ou seja, foram aceitas as hipóteses nulas, em
que não existe relação estatisticamente significante.
Já quando se aborda a variável dependente ‘tipo de café’, o que tem associação
estatisticamente significante com a escolha do tipo de café a ser ingerido são os elementos
‘faixa etária’, ‘nível de escolaridade’ e ‘ocupação’. Desse modo, somente as hipóteses H11,
H12 e H13 foram aceitas e as outras: H9, H10, H14 e H15 foram rejeitadas, indicando que não
há relação entre essas variáveis e o tipo de café consumido pelos brasileiros.
Para estudos futuros sugere-se a inserção de outras variáveis, levantadas a partir da
literatura, que podem explicar tanto o consumo de café quanto o tipo de café consumido, e além
disso, conseguir determinar o quanto cada uma dessas variáveis tem de parcela explicativa
nessas variáveis dependentes, afim de levantar de maneira mais completa o perfil dos
consumidores brasileiros de café. Esses resultados são relevantes para que sejam realizadas
ações de marketing direcionadas a cada consumidor no qual a indústria cafeeira deseja atingir.

Referências
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D.; SOARES, C. F. Justificativas e motivações do consumo e não consumo de café. Ciência e
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BUSSAB, W. O.; MORETTIN, P. A. Estatística básica. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 548
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CASTRO, C. A.; MONTEIRO, T. A.; GIULIANI, A. C.; ZACCARIA, R. B. Fatores
Sociodemográficos e a Relação com a Aceitação dos Consumidores quanto às Marcas
Próprias no Varejo Supermercadista. REMark, v. 16, n. 03, p. 369-382, 2017.
ESCRIBA-PEREZ, C.; BAVIERA-PUIG, A.; BUITRAGO-VERA, J.; MONTERO-
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Perspectivas dos produtores de ovinos sobre o manejo reprodutivo e a
estruturação do diagrama de fluxo de dados para auxiliar na tomada de
decisão

Sheep producers' perspectives on reproductive management and data flow


diagram structuring to assist decision making

Daniel Gonçalves da Silva1, João Armando Dessimon Machado2, Lidiane Raquel Eloy3,
Bruna Martins de Menezes4

Resumo
O objetivo do estudo foi verificar as perspectivas de ovinocultores de uma determinada associação de ovinos de
raça especializada para a produção de carne, de acordo com o nível de escolaridade e uso de assistência técnica
sobre os critérios que julgam pertinentes para terem eficiência no acasalamento via monta natural. A partir dos
resultados, foi proposto um diagrama de fluxo de dados para que possa auxilia-los na tomada de decisão, com base
no futuro histórico de dados gerados pelos próprios associados e seus respectivos índices zootécnicos anuais. A
pesquisa foi realizada pela internet por uma plataforma online de questões com o tema proposto Como ter
eficiência no acasalamento via monta natural na ovinocultura?, na qual participaram 18 produtores criadores de
ovinos Hampshire Down e com propriedades no Rio Grande do Sul, distribuídos em 14 municípios. Verificou-se
que os produtores da associação de ovinos com níveis de escolaridade mais elevados apresentam uma boa
perspectiva sobre as temáticas propostas. Embora, destacando a necessidade de acompanhamento técnico para o
esclarecimento sobre alguns temas. Identificou-se que maioria dos associados utilizam assistência técnica e que as
perspectivas dessa população, foi superior ao grupo que não tem acompanhamento técnico.

Palavras-chave: Associação de ovinos, Índices zootécnicos, Ovinocultura de corte.

Abstract
The aim of this study was to verify the perspectives of sheep breeders of a specific association of sheep of
specialized breed for meat production, according to the level of education and the use of technical assistance on
the criteria that they consider pertinent to have efficiency in the mating via mount. Natural. From the results, a
data flow diagram was proposed so that it can assist them in decision making, based on the future historical data
generated by the associates themselves and their respective annual zootechnical indices. The research was carried
out over the internet by an online platform of questions with the proposed theme How to have efficiency in mating
via natural breeding in sheep ?, in which participated 18 sheep breeders Hampshire Down and with properties in
Rio Grande do Sul, distributed in 14 counties. It was found that the producers of the association of sheep with
higher education levels have a good perspective on the proposed themes. Although, highlighting the need for
technical support for clarification on some topics. It was found that most associates use technical assistance and
that the perspectives of this population were superior to the group without technical support.

Keywords: Sheep association, Zootechnical indexes, Beef sheep.

Introdução
A produção animal está em constante evolução na busca por melhores resultados sobre
os índices zootécnicos no Rio Grande do Sul. Essas mudanças são eminentes em alguns
cenários produtivos, sobretudo, na ovinocultura, devido a necessidade da quebra de paradigmas
sobre os sistemas de criação. Nesse sentido, uma das principais atividades produtivas dentro
dos estabelecimentos rurais é o método de acasalamento utilizado, pois é determinante para o
aumento do plantel e ou comercialização de cordeiros. Entre os sistemas de reprodução que
existem, o acasalamento via monta natural é o mais utilizado e sua eficiência é superior, quando

1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UFRGS. E-mail: danielgonzootec@gmail.com
2
Professor do Programa de Pós-Graduação em Agronegócio – UFRGS.
3
Pós-Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UFRGS.
4
Acadêmica do Curso de Zootecnia – Unipampa.

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comparada, por exemplo, a inseminação artificial em ovinos (Moraes, 1992). A monta natural
contribui para que os animais consigam manifestar suas características genéticas naturalmente,
visando melhorias dos índices zootécnico.
Esse novo cenário produtivo, com o estabelecimento de raças com a aptidão para a
carne, instigou que associações de ovinos começassem a ser implementadas com maior
intensidade, centralizando as informações de acordo com seus ideais. Essa centralização visou
estabelecer padrões raciais pré-definidos e potencializar as características produtivas, buscando
angariar novos adeptos e, assim, aumentar o número de animais criados. Logo, o cenário
produtivo começou a ser mais intenso. O foco de comercialização tornou-se mais atrativo,
também, devido a procura e preferência do mercado consumidor por carne macia e com
moderada deposição de gordura, situação oportunizada por ovinos jovens até, mais ou menos,
12 meses de idade (cordeiros) (Pereira Neto, 2004).
Entretanto, para que o consumidor final tenha suas preferências satisfeitas, o sistema
produtivo necessita de controles zootécnicos eficientes dentro das propriedades rurais e, assim,
garantir a máxima qualidade dos cordeiros nascidos. Ademais, os animais precisam ter um
rápido incremento de peso no menor período de tempo possível, ou seja, os sistemas se tornaram
mais eficientes. A eficiência tem início na tomada de decisão sobre as etapas fundamentais
(manejos) durante o período de acasalamento, buscando atingir a premissa básica de gerar, no
mínimo, um cordeiro por matriz acasalada/ano. Para isso, as etapas fundamentais incidem na
seleção de matrizes e reprodutores aptos a expressar seu máximo potencial genético, tornando-
se um elo primordial para a conexão entre propriedade rural e mercado consumidor.
A tomada de decisão passa pela obtenção, processamento e avaliação de dados
produtivos. Essas informações servem para a comparação entre anos mais ou menos favoráveis,
bem como, auxiliar os produtores na busca de melhores resultados. O incremento desses
resultados deve estar alicerçado em metas reprodutivas que, plausivelmente, podem ser
alcançadas de um ano ao outro. Nesse contexto, o produtor exerce posição central na tomada
de decisão, pois seus objetivos e metas para a reprodução precisam estar em evidência e,
também, estar em consonância com os padrões raciais desejados pela associação de criadores.
Logo, saber sobre a perspectiva dos produtores, a respeito das etapas fundamentais para o
manejo de animais na estação de acasalamento, é totalmente relevante na estruturação de
modelos de fluxo de informações.
O modelo de fluxo de informações ou diagrama de fluxo de dados é uma narrativa
ilustrativa sobre os possíveis acontecimentos desejados em quaisquer sistemas de produção.
Nele, abordagens sistêmicas servem para melhor orientar o produtor que, a exemplo da
ovinocultura, pode almejar índices zootécnicos eficientes no acasalamento via monta natural.
Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi verificar as perspectivas de ovinocultores
de uma determinada associação de raça especializada para a produção de carne, de acordo com
o nível de escolaridade e uso de assistência técnica sobre os critérios que julgam pertinentes
para terem eficiência no acasalamento via monta natural e a partir dos resultados, propor um
diagrama de fluxo de dados para que possa auxilia-los na tomada de decisão.

Material e Métodos
A pesquisa foi realizada via internet. Inicialmente, procedeu-se a escolha de um grupo
social de produtores rurais que utilizam aplicativos em smartphones para a comunicação, troca
de experiências e informações. A escolha foi mediante contato prévio com alguns membros do
grupo e teve como premissa básica para decisão, o interesse da população alvo sobre o assunto
proposto (Como ter eficiência no acasalamento via monta natural na ovinocultura?). Os
membros (n=41/100%) fazem parte da Associação dos Criadores de Ovinos da Raça Hampshire
Down, distribuídos em 14 municípios no Rio Grande do Sul, sendo eles: Aceguá (n=1/6%);
Caçapava do Sul (n=1/6%); Cachoeira do Sul (n=4/22%); Caxias do Sul (n=1/6%); Dilermando
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de Aguiar (n=1/6%); Farroupilha (n=1/6%); Mariana Pimentel (n=1/6%); Santa Vitória do
Palmar (n=1/6%); Santana da Boa Vista (n=1/6%); Santo Antônio da Patrulha (n=1/6%); São
Borja (n=1/6%); São Vicente do Sul (n=1/6%); Soledade (n=1/6%); Triunfo (n=2/11%). Sendo
assim, totalizando a participação de 18 (n) produtores (41,90%) de uma população alvo de 41
(n) membros. O método de amostragem foi por conveniência (não probabilístico), pois permite
obter informações em um curto período de tempo, além de ser mais simples e menos oneroso,
em comparação a outros métodos (Freitag, 2017).
As temáticas propostas foram elaboradas para verificar a perspectiva dos produtores
sobre os manejos que antecedem a estação de acasalamento via monta natural. A escolha do
sistema via monta natural foi determinado a partir do estudo desenvolvido por Moraes (1992),
quando comprovou que as taxas de concepção podem chegar até 80% em comparação as
técnicas de inseminação artificial convencional (68%) e inseminação artificial com
sincronização de cio (60%).
As temáticas foram desenvolvidas a partir da literatura e, também, mediante troca de
informação com técnicos especializados na produção de ovinos (Silva et al., 2013; Sellaive-
Villarroel e Osório, 2014). Preconizou-se obter informações sobre o nível de escolaridade (1) e
uso de assistência técnica (2), as quais foram (individualmente) separadas e observadas
estatisticamente sobre as perspectivas dos entrevistados. Para isso, as temáticas (a--s) visaram
obter repostas psicométricas de múltipla escolha que usualmente são utilizadas em
questionários, principalmente para avaliar a opinião dos entrevistados (escala Likert) (Tabela
1). A escala Likert foi pontuada de 1 a 5, sendo 1=descordo totalmente; 2=descordo;
3=indeciso; 4=concordo e 5=concordo totalmente (Likert, 1932).

Tabela 1 – Temáticas propostas para avaliar a perspectiva dos produtores.


Identificação
Temáticas
(id.)
1 Nível de escolaridade
2 Utilização de assistência técnica especializada
a Necessário escolher a raça do carneiro, de acordo com a raça das matrizes
b Necessário avaliar o peso e ou o escore corporal dos carneiros antes do acasalamento
c Necessário verificar a dentição dos carneiros
d Devo considerar a idade do reprodutor para colocar com um determinado lote de matrizes
e Devo considerar os aprumos dos carneiros
f Necessário realizar o exame andrológico nos carneiros
g Devo usar coletes marcadores de cio nos carneiros
h Necessário ter um controle eficiente de paternidade no rebanho
i Devo considerar a raça das matrizes para determinar o início da estação de monta
j Necessário avaliar o peso e ou escore corporal das matrizes antes do acasalamento
k Devo dar condições nutricionais melhores para ovelhas magras(escore < 2,5)
l Devo restringir a alimentação de ovelhas gordas (escore > 4,0)
m Necessário verificar a dentição das matrizes
n Necessário separar em lotes fêmeas jovens e adultas
o Devo deixar áreas de pasto em descanso para receber os animais na estação de monta
p Necessário fornecer sal mineral específico para ovinos durante o período
q Necessário utilizar o controle zootécnico eficiente do rebanho
r Necessário realizar ultrassom para diagnosticar a gestação
s O cuidado com o cordeiro começa na seleção do rebanho para a estação de monta
Id.1=escolaridade (ensino fundamental incompleto ou completo; ensino médio incompleto ou completo; graduação
incompleta ou completa; pós-graduação incompleta ou completa; não alfabetizado). Id.2=uso da assistência técnica (sim ou
não). Id.=a—s (escala Likert, pontuada de 1 a 5, sendo 1=descordo totalmente; 2=descordo; 3=indeciso; 4=concordo e
5=concordo totalmente).

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Utilizou-se uma plataforma gratuita e específica para a construção de formulários
online. O formulário foi preenchido de acordo com a proposta das temáticas e disponibilizado
no grupo alvo entre os dias 18 a 25 de novembro de 2018.
Ao final deste período, as informações foram tabuladas e analisadas usando o teste
Kruskal-Wallis (PROC NPAR1WAY Wilcoxon), no programa Statistical Analysis System
(SAS 9.4, 2013). Obteve-se a frequência (%) de respostas da escala Likert para a comparação
entre os níveis de escolaridade e, também, para a comparação entre os usuários, ou não, da
assistência técnica a 5% de significância.
Após a análise dos resultados, um modelo de diagrama de fluxo de dados (DFD) foi
proposto para melhor orientar a integração entre produtores e associações, visando um melhor
controle zootécnico dos manejos que antecedem o período reprodutivo. Nesse sentido,
possibilitando a coleta, tabulação, processamento, análise e estruturação de um banco de dados
eficiente. Também, propor a construção de um aplicativo eletrônico que possibilite o acesso
aos índices zootécnicos da associação (geral) e de seus associados (individual) em diferentes
anos, beneficiando a tomada de decisão com base nos próprios dados históricos gerados. As
planilhas de campo, para a coleta das informações, devem ser ajustadas de acordo com cada
propriedade rural por um técnico. Os produtores, em conjunto com o técnico, ficam incumbidos
de intervir no manejo, afim de obter melhores resultados reprodutivos.

Resultados e Discussão
O nível de escolaridade predominante observado, foi superior para os produtores que
alegaram possuir graduação completa (61%). Acompanhando a evolução histórica do ensino
superior no Brasil, Humerez e Jankevicius (2015) relatam que o número de instituições
ofertando cursos superior evoluiu entre 2003 a 2013, com valores, respectivos, de 16.505 e
32.049 cursos, entre presenciais e a distância. Números que podem ter impulsionado a procura
do ensino superior pelos produtores de ovinos.
Verificou-se que os entrevistados com graduação completa (61%) (escolaridade 4), foram
aqueles que tiveram maior frequência (%) de respostas na escala Likert (eL) a favor das
temáticas propostas. As variações predominantes foram entre as pontuações 4 (concordo) e 5
(concordo totalmente) (Tabela 2). No entanto, identificou-se que o nível de escolaridade
proporcionou perspectivas diferentes entre alguns itens.
A temática “a”; necessidade de escolher a raça do carneiro (reprodutor), de acordo com
a raças das fêmeas (matrizes), diferiu entre os níveis de escolaridade (P<0.05). Isso ocorreu,
principalmente, devido a amplitude na frequência de respostas entre os produtores com nível
de escolaridade com ensino fundamental completo (1), pois 5,56% da população respondeu
discordar (eL=2) sobre o tema e, em contrapartida, 11,11% responderam que concordam
totalmente (eL=5). Importante salientar que as repostas foram semelhantes entre os produtores
com graduação completa (3) e incompleta (4) para as escalas Likert 4 e 5 sugerindo maior
similaridade entre a perspectiva dessa população alvo. Escolher a raça do carneiro (reprodutor),
de acordo com a raça das fêmeas (matrizes) é uma tomada de decisão pertinente, pois, poderá
beneficiar a progênie com rápidos ganhos de peso e melhor acabamento de carcaça. Situações
objetivadas pelos atuais mercados consumidores. Também, há raças de menores portes
corporais e, consequentemente, carneiros com essas características que podem encontrar
problemas ao acasalar com fêmeas de raças de maior estatura.

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Tabela 2 – Nível de escolaridade dos entrevistados em relação as temáticas propostas.
Frequência (%) de respostas escala Likert Chi-
Temáticas Escolaridade square
1 2 3 4 5 P-value
1* - 5,56% - - -
Necessário escolher a raça do 2* - - - - 11,11%
a carneiro, de acordo com a 0.0454
raça das matrizes 3 - 5,56% - 5,56% 11,11%
4 - - - 33,33% 27,78%
1 - - - - 5,56%
Necessário avaliar o peso e ou 2 - - - 5,56% 5,56%
b o escore corporal dos carneiros 0.8304
antes do acasalamento. 3 - - - 11,11% 11,11%
4 - - - 27,78% 33,33%
1 - - - - 5,56%
Necessário verificar a 2 - - - 5,56% 11,11%
c 0.8953
dentição dos carneiros 3 - - - 5,56% 16,67%
4 - - 5,56% 27,78% 27,78%
1 - - - - 5,56%
Devo considerar a idade do 2 - - - 11,11% -
d reprodutor para colocar com 0.1990
um determinado lote de matrizes. 3 - - - 5,56% 16,67%
4 - - - 38,89% 22,22%
1 - - - - 5,56%
Devo considerar os aprumos 2 - - - - 11,11%
e 0.0272
dos carneiros 3* - - - - 22,22%
4* - - - 44,44% 16,67%
1 - - - - 5,56%
Necessário realizar o exame 2 - - - - 11,11%
f 0.1646
andrológico nos carneiros 3 - - - - 22,22%
4 - 5,56% - 38,89% 16,67%
1 - - - 5,56% -
Devo usar coletes marcadores 2 - - - 5,56% 5,56%
g 0.3297
de cio nos carneiros 3 - 5,56% - 16,67% -
4 - 11,11% 11,11% 38,89% -
1 - - - - 5,56%
Necessário ter um controle 2 - - - - 11,11%
h eficiente de paternidade 0.3843
no rebanho 3 - - - 5,56% 16,67%
4 - 5,56% - 38,89% 16,67%
1 - - - 5,56% -
Devo considerar a raça das 2 - - - 11,11% -
i matrizes para determinar o 0.2912
início da estação de monta 3 - - 5,56% 5,56% 11,11%
4 - - - 50,00% 11,11%
1 - - - - 5,56%
Necessário avaliar o peso e ou 2 - - - - 11,11%
j escore corporal das matrizes 0.7420
antes do acasalamento 3 - - - 5,56% 16,67%
4 - - 5,56% 27,78% 27,78%
1 - - - - 5,56%
Devo dar condições nutricionais 2 - - - - 11,11%
k melhores para ovelhas 0.5094
magras(escore < 2,0) 3 - - - 11,11% 11,11%
4 - - - 27,78% 33,33%
1 - - - - 5,56%
Devo restringir a alimentação 2 - - - 11,11% -
l 0.0887
de ovelhas gordas (escore > 4,0) 3 - - - 22,22% -
4 - - - 27,78% 33,33%

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1 - - 5,56% - -
Necessário verificar a 2 - - - 5,56% 5,56%
m 0.5659
dentição das matrizes 3 - 5,56% 5,56% 5,56% 11,11%
4 - 5,56% 5,56% 33,33% 16,67%
1 - - 5,56% - -
Necessário separar em lotes 2 - - - 5,56% 5,56%
n 0.2820
fêmeas jovens e adultas 3 - 5,56% 11,11% - 5,56%
4 - 22,22% 5,56% 27,78% 5,56%
1 - - - - 5,56%
Devo deixar áreas de pasto em descanso 2 - - - 5,56% 5,56%
o para receber os animais na estação de 0.5141
monta 3 - - 11,11% 5,56% 5,56%
4 - 5,56% 5,56% 38,89% 11,11%
1 - - - 5,56% -
Necessário fornecer sal mineral específico 2 - - - - 11,11%
p 0.3748
para ovinos durante o período 3 - - - 5,56% 16,67%
4 - 5,56% - 38,89% 16,67%
1 - - - - 5,56%
Necessário utilizar o controle zootécnico 2 - - - - 11,11%
q 0.0396
eficiente do rebanho 3* - - - 5,56% 16,67%
4* - - - 50,00% 11,11%
1 - - - - 5,56%
Necessário realizar ultrassom para 2 - - - 11,11% -
r 0.3356
diagnosticar a gestação 3 - - 11,11% 11,11%
4 5,56% 5,56% 16,67% 33,33% -
1 - - - - 5,56%
O cuidado com o cordeiro começa na 2 - - - 5,56% 5,56%
s seleção do rebanho para a estação de 0.9476
acasalamento 3 - - 5,56% 5,56% 11,11%
4 - 5,56% 5,56% 27,78% 22,22%
Total de 19 temáticas (a-–s). Escala para o nível de Escolaridade: 1=ensino fundamental completo; 2=ensino
médio completo; 3=graduação incompleta; 4=graduação completa. As respostas foram expressas em frequência
de observação (%) na escala Likert, sendo 1=discordo totalmente; 2=discordo; 3=indeciso; 4=concordo;
5=concordo totalmente.

A temática “e”; necessidade de considerar os aprumos dos carneiros para a estação de


monta, também apresentou diferença entre os níveis de escolaridade (P<0.05). Todos os
produtores de ovinos que alegaram estar no nível de escolaridade com graduação incompleta,
responderam que concordam totalmente (eL=5) sobre a temática (22,22%). Por outro lado,
ocorreu maior discrepância para os produtores com graduação completa (4), pois 44,44%
responderam que concordam (eL=4) e apenas 16,67%, concordam totalmente (eL=5).
Não houve diferença significativa entre os níveis de escolaridade 1 e 2, porque as
populações em destaque salientaram a mesma resposta (concordam totalmente, eL=5), além de
apresentaram valores próximos, sendo eles de 5,56 e 11,11%, respectivamente.
Os aprumos dos carneiros são pontos importantes a serem considerados, pois podem
ocasionar lesões nos membros locomotores, sobretudo, nos traseiros devido ao esforço
constante que os machos exercem ao saltar nas fêmeas durante o período reprodutivo. Na
estação de acasalamento e de acordo com as condições dos manejos animais e ambientais, um
reprodutor pode acasalar com 30 a 50 fêmeas, ou mais. Ademais, aprumos indesejáveis nos
reprodutores podem ser transmitidos à progênie e, consequentemente, ocasionando a
disseminação em larga escala, devido ao grande número de fêmeas que são acasaladas.
Situação semelhante a anterior, foi visualizada na temática “q”; necessário utilizar o
controle zootécnico eficiente do rebanho, demonstrando diferença entre os níveis de
escolaridade (P<0.05). Verificou-se que os produtores de ovinos que alegaram estar no nível de

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escolaridade com graduação incompleta (3), tiveram uma frequência de respostas semelhantes
entre, concordo (eL=4) (5,56%) e concordo totalmente (eL=5) (16,67%). No entanto, para o
nível de escolaridade com graduação completa (4), a amplitude variou entre as perspectivas dos
produtores de ovinos, pois 50% demonstraram que estão de acordo (eL=4), enquanto 11,11%
relataram concordar totalmente (eL=5).
O controle zootécnico é o gatilho chave para verificar como foram os índices reprodutivos
de uma determinada propriedade rural e em um determinado ano. Esse conhecimento é um forte
indicativo para a tomada de decisão, com base em dados históricos e serve para melhor orientar
os manejos em anos seguintes. Além disso, a partir de um controle eficiente, é possível descartar
animais improdutivos ou com características indesejáveis.
Embora tenha ocorrido diferença nas temáticas “e” e “q” para os dois maiores níveis de
escolaridade (3 e 4), nota-se que a aceitabilidade por técnicas complementares que podem
orientar o produtor, na busca de melhores resultados produtivo, estão em evidência nessa
população. No entanto, importante salientar que a única resposta sobre discordar totalmente
(eL=1), foi verificado na temática “r”; necessário realizar ultrassom para diagnosticar a
gestação, foi oriunda exatamente de produtores com nível de escolaridade referente a graduação
completa (4). O diagnóstico da gestação é bastante oportuno, pois visa identificar animais no
período inicial da gestação, descartar animais falhados e, principalmente, melhor estruturar um
plano nutricional para matrizes que estão gestando um ou mais cordeiros.
Logo, isso não descarta a necessidade de um acompanhamento técnico qualificado, pois
exerce elo primordial para a garantia de ótimos resultados. O oportuno é que o técnico tenha
conhecimento sobre as reais necessidades de um determinado produtor de ovinos e que o
período de assistência tenha uma continuidade temporal. Além disso, visando orientar e
capacitar o produtor, diante de novas abordagens e realidades, com respaldo em mudanças
constantes, mas paulatinas.
Porém, verificou-se que 72% dos entrevistados utilizam algum tipo de assistência técnica
para orienta-los sobre a produção de ovinos. Em contrapartida, 28% relataram não ter qualquer
tipo de acompanhamento. Na produção de ovinos, é extremamente importante o uso da
assistência técnica, pois as criações carecem de índices zootécnicos e informações sobre os
manejos para conseguir aumentar a eficiência produtiva.
Esse aumento tem como agente moderador o produtor, o qual necessita aprimorar seus
manejos, sobretudo, com os cuidados de matrizes e reprodutores para o início da estação de
acasalamento. Nesse sentido, buscando disponibilizar as melhores condições para os ovinos no
período reprodutivo que, teoricamente, é um dos principais passos para obter cordeiros
vigorosos na época de parição.
Na Tabela 3, é possível verificar as perspectivas dos produtores que utilizam (0) ou não
(1) a assistência técnica na ovinocultura. A temática “c”, necessário verificar a dentição dos
carneiros, foi a única que diferiu entre os grupos (P<0.05). A perspectiva dos produtores que
utilizam assistência (0), foi superior para a frequência de respostas para aqueles que concordam
(eL=4) e concordam totalmente (eL=5), com valores 38,89 e 33,33%, respectivamente.
Inferioridade na frequência de respostas e maior amplitude entre elas, foi verificada para
os produtores que não usam assistência (1), pois apenas 5,56% demonstram-se indecisos
(eL=3). Enquanto, 22,22% relataram concordar totalmente (eL=%) sobre a temática. A dentição
dos carneiros reflete, principalmente, a idade do animal. Porém, adotar esse procedimento em
períodos que antecedem o acasalamento e, até mesmo, mais vezes ao ano é fundamental.
Durante essa observação é possível verificar dentes quebrados ou em um processo acelerado de
desgaste, provocado principalmente por alimentações fibrosas. Nesse caso, dentes quebrados
podem interferir no consumo de forragem e ganho de peso, fazendo com que o animal não
consiga desempenhar seu máximo poder genético, inclusive na produção de espermatozoides.

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Tabela 3 – Uso da assistência técnica especializada na ovinocultura em relação as temáticas propostas.
Frequência (%) de respostas escala Likert Chi-
Assistência
Temáticas square
técnica 1 2 3 4 5 P-value
Necessário escolher a raça do carneiro, de 0 - 5,56% - 33,33% 33,33%
a 0.5310
acordo com a raça das matrizes 1 - 5,56% - 5,56% 16,67%
Necessário avaliar o peso e ou o escore corporal 0 - - - 33,33% 38,89%
b 0.8139
dos carneiros antes do acasalamento 1 - - - 11,11% 16,67%
Necessário verificar a 0* - - - 38,89% 33,33%
c 0.0489
dentição dos carneiros 1* - - 5,56% - 22,22%
Considerar a idade do reprodutor para 0 - - - 38,89% 33,33%
d 0.8139
colocar com um determinado lote de fêmeas 1 - - - 16,67% 11,11%
Devo considerar os aprumos 0 - - - 27,78% 44,44%
e 0.4101
dos carneiros 1 - - - 16,67% 11,11%
Necessário realizar o exame 0 - - - 27,78% 44,44%
f 0.2341
andrológico nos carneiros 1 - 5,56% - 11,11% 11,11%
Devo usar coletes marcadores 0 - 11,11% 11,11% 44,44% 5,56%
g 0.7091
de cio nos carneiros 1 - 5,56% - 22,22% -
Necessário ter um controle eficiente 0 - - - 33,33% 38,89%
h 0.2504
de paternidade no rebanho 1 - 5,56% - 11,11% 11,11%
Considerar a raça das matrizes para 0 - - 5,56% 55,56% 11,11%
i 0.4694
determinar o início da estação de monta 1 - - - 16,67% 11,11%
Necessário avaliar o peso e ou escore 0 - - - 27,78% 44,44%
j 0.2264
corporal das matrizes antes do acasalamento 1 - - 5,56% 5,56% 16,67%
Devo dar condições nutricionais 0 - - - 33,33% 38,89%
k 0.3080
melhores para ovelhas com escore <2,0 1 - - - 5,56% 22,22%
Devo restringir a alimentação 0 - - - 38,89% 33,33%
l 0.3080
de ovelhas gordas (escore > 4,0) 1 - - - 22,22% 5,56%
Necessário verificar a 0 - - 16,67% 33,33% 22,22%
m 0.2751
dentição das matrizes 1 - 5,56% - 11,11% 11,11%
Necessário separar em lotes 0 - 11,11% 22,22% 27,78% 11,11%
n 0.2086
fêmeas jovens e adultas 1 - 16,67% - 5,56% 5,56%
Devo deixar áreas de pasto em descanso para 0 - - 11,11% 38,89% 22,22%
o 0.4017
receber os animais na estação de monta 1 - 5,56% 5,56% 11,11% 5,56%
Necessário fornecer sal mineral específico para 0 - - - 38,89% 33,33%
p 0.2504
ovinos durante o período 1 - 5,56% - 11,11% 11,11%
Necessário utilizar o controle zootécnico 0 - - - 38,89% 33,33%
q 0.8139
eficiente do rebanho 1 - - - 16,67% 11,11%
Necessário realizar ultrassom para diagnosticar a 0 - - 11,11% 44,44% 16,67%
r 0.1525
gestação 1 5,56% 5,56% 5,56% 11,11% -
O cuidado com o cordeiro começa na seleção do 0 - - 11,11% 27,78% 33,33%
s 0.3337
rebanho para a estação de acasalamento 1 - 5,56% - 11,11% 11,11%
Total de 19 temáticas (a–-s). Uso de assistência técnica na ovinocultura: 0=sim; 1=não. As respostas foram
expressas em frequência de observação (%) na escala Likert, sendo 1=discordo totalmente; 2=discordo;
3=indeciso; 4=concordo; 5=concordo totalmente.

Verificou-se que os produtores que utilizam (0), estão mais inteirados sobre a necessidade
dos melhores cuidados com animais em reprodução, pois a grande maioria relatou que
concordam (eL=4) e concordam totalmente (eL=5) com as temáticas. Consequentemente,
variada amplitude na frequência de respostas ocorreu para aqueles 28% da população alvo, que
não possuem quaisquer ajuda. Nesse caso, as perspectivas tiveram variações entre discordo
(eL=2) a concordo totalmente (eL=5). Logo, demonstrando a necessidade de um

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acompanhamento profissional na busca de melhor compreender a visão do ovinocultor e, a
partir disso, tentar introduzir técnicas de manejos apuradas e ou uma melhor aceitação do que
foi proposto.
Nesse sentido, a elaboração do diagrama de fluxo de dados (DFD) é uma excelente
alternativa para visualizar as etapas eminentes na produção animal. Também, serve para
minimizar os possíveis erros que podem surgir durante o período (Kay e Edwards, 1999). A
partir das perspectivas dos produtores rurais, foi sugerido um modelo DFD para buscar a
eficiência no acasalamento via monta natural (Figura 1).

Figura 1 - Diagrama de fluxo de dados (DFD) para obtenção da eficiência reprodutiva no sistema de
acasalamento via monta natural.

Informações para a tomada de decisão sobre as etapas (manejos) fundamentais para o período reprodutivo.
Banco de dados centralizado na associação de ovinos para controle dos índices zootécnicos anuais.

Nesse modelo DFD a associação exerce papel fundamental, ao lado do produtor rural,
pois o modelo deve ser ajustável para cada propriedade, considerando o foco produtivo e a
realidade do sistema de produção. Assim, um acompanhamento técnico especializado, de uma
determinada associação, poderia beneficiar a centralização de informações, as quais seriam
fundamentais para expressar os índices zootécnicos da própria associação e, também, dos seus
associados.
A integração entre associação e ovinocultor é fundamental para manter e ou melhorar o
elo de comunicação, facilitando a troca de informações e promovendo associações fortes e

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robustas. Isso, para que consigam, se esse for o interesse, planejar leilões de animais, compra
de insumos em larga escala e, talvez, disponibilizar para os consumidores um produto
diferenciado, com suas próprias características.
O “serviço” de apoio começa pela aceitação do produtor e elaboração de planilhas de
campo eficientes, simples, básicas e objetivas que possam conter informações sobre o manejo
reprodutivo e índices zootécnicos (informação). O produtor, tendo acesso a essa informação,
tem o poder da tomada de decisão (com acompanhamento técnico) sobre todos os manejos
relacionados ao acasalamento.
As planilhas quando preenchidas, seriam encaminhadas para a associação e um membro
seria o responsável pelo sistema de suporte a informação. Deste modo, tabulando os dados que
chegariam até ele; criando um banco de dados uniforme, ou seja, que permita a comparação
entre os produtores; além de realizar o processamento e análise os dados.
Após a análise, as informações seriam encaminhadas para o responsável técnico e que
conhece as propriedades rurais para que consiga avaliar a real situação de cada associado.
Também, se for necessário, ajustar as planilhas para um novo ciclo produtivo. Esse ajuste de
planilhas deve ter participação ativa do produtor e, acima de tudo, ele ter a aceitação sobre as
adaptações.
A partir de um banco de dados anual sobre os índices zootécnicos, os quais servirão para
buscar a eficiência no sistema de acasalamento via monta natural, associação e produtor
poderão acompanhar essas informações via aplicativo para smartphone que a própria associação
poderá lançar ou, então, contratar serviços terceirizados. A tecnologia é uma grande aliada da
população, sobretudo dos produtores rurais, quando utilizada corretamente.

Conclusões
Portanto, verificou-se que os produtores da associação de ovinos com níveis de
escolaridade mais elevados apresentam uma boa perspectiva sobre as temáticas propostas.
Embora, destacando a necessidade de acompanhamento técnico para o esclarecimento sobre
alguns temas. Identificou-se que maioria dos associados utilizam assistência técnica e que as
perspectivas dessa população, foi superior ao grupo que não tem acompanhamento técnico.
O diagrama de fluxo de dados, além de ser uma narrativa gráfica sobre as etapas
fundamentais para o período de reprodução (manejos), deve ser ajustado para cada sistema de
produção e, principalmente, colocá-lo em prática para atestar a sua aplicabilidade.

Referências
Calvete, R.; Villwock, Luis H. Perfil da ovinocultura de lã e carne do Rio Grande do Sul e seus desafios para o futuro.
In: XLV Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. p.22-25, 2007.
Freitag, R.M.K. Amostras sociolinguísticas: probabilísticas ou por conveniência? Revista de Estudos da Linguagem,
v.26, n.2, p.667-686, 2017.
Humerez, D. C. e Jankevicius J. V. Evolução histórica do ensino superior no Brasil. Conselho Federal de Enfermagem
– COFEN. 12p., 2015.
Kay, R. D., e Edwards, W. M. Farm Management: Instructor's Manual, n.1373, Iowa State University, Department of
Economics, 1999).
Likert, R. A technique for the measurement of attitudes. Archives of psychology, 1932.
Moraes, J. C. A mortalidade embrionária e a eficácia da inseminação artificial em ovinos. Ciência Rural, Santa Maria,
v. 22, n. 3, p. 367-372, 1992.
Pereira Neto, O.A., Práticas em Ovinocultura: ferramentas para o sucesso. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural –
SENAR, Manual de Treinamento. Porto Alegre – RS, 136p., 2004.
SAS Institute. StatisticalAnalysis System 2013: versão 9.4. Cary, 2013.
Sellaive-Villarroel, A.B.; Osório, J.C.S. Produção de ovinos no Brasil. 1 ed., Editora Roca – São Paulo, SP. 656p.,
2000.
Silva, A. P. S. P.; Santos, D.V.; Kohek Jr, I.; Machado, G.; Hein, H.E.; Vidor, A. C. M.; Corbellini, L.G. Ovinocultura
do Rio Grande do Sul: descrição do sistema produtivo e dos principais aspectos sanitários e reprodutivos. Revista
Pesquisa Veterinária Brasileira. Rio de Janeiro, RJ. v.33, n.12, p.1453-1458, 2013.

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Startups no setor do agronegócio brasileiro
Startups in the Brazilian agribusiness sector
Manuel Hyleer Alania Campos1

Resumo
Atualmente o setor do agronegócio brasileiro esta passando por um processo de inovação, a qual esta sendo
provocada por novos empreendimentos conhecidos como “Startups”, que passaram a interagir dentro dos diversos
elos da cadeia produtiva, oferecendo assim novos produtos e serviços para o setor. Neste sentido, o seguinte
trabalho tem como objetivo fazer um estudo exploratório de como essas novas formas de empreendimentos estão
se inserindo e expandindo dentro do agronegócio brasileiro. Para fins desta pesquisa foram selecionadas 13
Startups seguindo a forma pré-estabelecida pelo autor e o levantamento dos dados foi realizado no período de
junho até agosto do ano de 2019. Os resultados deste trabalho mostram dois panoramas de forma geral: O primeiro,
mostra que as Startups já tem uma presença ativa nos diversos elos do agronegócio brasileiro, apresentado novos
modelos de negócios com forte utilização da tecnologia eletrônica-digital, que consiste em aplicativos móveis,
plataformas de controle do produto, da produção como um todo e plataformas que servem como mercados para
alugar ou comercializar máquinas, equipamentos e produtos agropecuários. O outro panorama, apresenta como as
grandes empresas do setor estão se adaptando a esses novos empreendimentos, comprando-os ou investindo
tornando-se parceiras e contribuindo com a expansão das Startups tanto no âmbito nacional como internacional.
Palavras-chave: Startups. Agronegócio. Brasil.

Abstract
Currently the Brazilian agribusiness sector is undergoing an innovation process, which is being triggered by new
ventures known as “Startups”, which started to interact within the various links of the production chain, thus
offering new products and services for the sector. In this sense, the following work aims to make an exploratory
study of how these new forms of enterprises are inserting and expanding within the Brazilian agribusiness. For
the purpose of this research, 13 Startups were selected following the pre-established form by the author and the
data collection was carried out from June to August of 2019. The results of this work show two general scenario:
The first one shows that Startups already have an active presence in the various links of Brazilian agribusiness,
presenting new business models with strong use of digital-electronic technology, which consists of mobile
applications, product control platforms, production as a whole and platforms that serve as markets for renting or
selling agricultural machinery, equipment and products. The other scenario shows how the large companies in
the sector are adapting to these new ventures, buying or investing them by becoming partners and contributing to
the expansion of Startups both nationally and internationally.
Keywords: Startups. Agribusiness. Brazil.

1 Introdução

Todo acadêmico que trabalha na temática, não teria a coragem de negar o conhecido
papel econômico que o agronegócio cumpre para o Brasil, contribuindo com o saldo positivo
da balança comercial, gerando de forma direta e indireta emprego e renda, destacando o país
no comércio internacional (GOMES, 2019), e tornando-se desta forma uns dos setores
econômicos mais importantes (TALIARINE; RAMOS; FAVORETTO, 2015).
Segundo Gubert et al. (2017, p. 189), “O agronegócio tem se mostrado como uma
atividade de destaque e relevância para o desenvolvimento brasileiro ao longo de sua história”,
colocando ao país como líder em vários aspectos no setor agropecuário (INOVATIVA
BRASIL, 2018). Porém, o agronegócio brasileiro é caracterizado “[...] pela agricultura em
grande escala, baseada no plantio — ou na criação de rebanhos — em grandes extensões
de terra”. (SOUZA; CONCEIÇÃO, 2009, p. 104), apresentando “ainda uma carência de
inovação e tecnologia” (INOVATIVA BRASIL, 2018).
De acordo com Lima et al. (2017), o setor do agronegócio brasileiro está passando por
um processo rápido de modernização, a qual oferece uma grande oportunidade para que novas

1
Doutorando em Desenvolvimento Rural / PGDR- UFRGS. E-mail: hmanuel132@gmail.com

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formas de empreendimento sejam desenvolvidas, e satisfazem as necessidades específicas de
toda a cadeia produtiva do setor, que vai desde a montante, passando pelo setor produtivo, até
chegar no consumo final dos produtos agropecuários. Os mesmos autores, também assinalam
que os empreendimentos conhecidos como Startup irão ter um panorama otimista para se inserir
no setor agropecuário se eles se alinham às necessidades dele.
Neste sentido, no seguinte trabalho propõe-se realizar um estudo exploratório de como
essas novas formas de empreendimentos (Startup) estão se inserindo e expandindo no setor do
agronegócio brasileiro, através do estudo de empresas ativas até o momento desta pesquisa.
O seguinte artigo está estruturado em cinco seções: A primeira seção traz uma
introdução na qual mostra-se a importância e motivos que levaram ao estudo do assunto; Na
segunda, traz o referencial teórico, na qual apresenta-se o estudo sobre a rápida modernização
do agronegócio brasileiro e como as Startups estão se inserido nesse setor, já que eles tiveram
e têm uma forte atuação no setor tecnológico; Na terceira seção, explica-se os procedimentos
metodológicos que foram utilizados para o desenvolvimento deste trabalho e a seleção dos
dados utilizados para a posterior análise; Na quarta seção, descreve-se detalhadamente os
resultados obtidos nesta pesquisa juntamente com as discussões; E, finalmente, na quinta seção
apresenta-se as considerações finais, seguidas das referências bibliográficas.
2 Referencial Teórico

2.1 Modernização do agronegócio brasileiro

Segundo Davis e Goldberg (1957), o agronegócio pode ser compreendido como a soma
total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de
produção na unidade de produção, do armazenamento, do processamento, da distribuição dos
produtos agrícolas e dos itens produzidos por meio deles. Também, envolve a pesquisa
científica até a comercialização de alimentos, fibras e energia (ABAGRP, 2019). Desta
maneira, entende-se como todo o processo produtivo, que vai desde a fabricação dos insumos
essenciais, produção agrícola, os procedimentos que envolvem a produção até chegar ao
consumidor final havendo qualidade e satisfação do mesmo (BIALOSKORSKI NETO, 1994).
Assim, torna-se um amplo sistema que necessita de um maior número de produtos e serviços
que ultrapassam as propriedades rurais (ABAGRP, 2019).
De acordo com Zylbersztajn (1996), ao longo de toda a cadeia produtiva do agronegócio
(Figura 1) são diversos serviços que são desenvolvidos: pesquisa e assistência técnica,
processamento, transporte, comercialização, crédito, exportação, serviços portuários,
distribuidores, bolsa, industrialização, até o consumo final.

Figura 1- Cadeia produtiva do agronegócio brasileiro

Fonte: Zylbersztajn (1996)

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De acordo com Lima et al. (2017), uma boa parte do desses serviços estão passando por
mudanças significativas devido ao processo de modernização que está acontecendo no setor do
agronegócio. Para Contini et al. (2006), um exemplo desse processo é como a bioindústria está
desenvolvendo uma gama imensa de produtos e processos, utilizando-se de ciências como a
biotecnologia, a nanotecnologia e da informação.
Ao longo do tempo até na atualidade, a maioria das inovações para o setor do
agronegócio foram desenvolvidas por países ou grandes empresas privadas que constituem um
ambiente de alto grau de investimento de capital econômico, tecnológico e sobretudo que
contam com um centro de pesquisa e desenvolvimento próprio. Por exemplo, Syngenta investiu
em um centro de pesquisa em Uberlândia, a qual “[...] reúne diversas técnicas avançadas de
pesquisa em sementes, que permitem o desenvolvimento de híbridos de milho e variedades de
soja adaptadas às necessidades dos agricultores brasileiros” (FAROLCOM, 2009); “Os
governos do Brasil e da China vão firmar parcerias para desenvolver a pesquisa em Organismos
Geneticamente Modificados (OGM) e ampliar investimentos no comércio agropecuário”
(GLOBO RURAL, 2010).
Porém, recentemente percebe-se um processo de mudança nesse aspecto, algumas das
inovações bioindustriais (biotecnologia, nanotecnologia e informação) que estão sendo
desenvolvidas no Brasil são realizados por empresas do tipo Startup. Empresas que nasceram e
tradicionalmente estão mais relacionadas ao mundo da tecnologia eletrônica e digital,
atualmente estão cada vez mais presentes no desenvolvimento de produtos e serviços
inovadores para o setor do agronegócio.
2.2 Startups e agronegócio brasileiro

Para Taborda (2006, p. 6), uma Startup “[...] é uma empresa em fase embrionária,
geralmente no processo de implementação e organização das suas operações”. Ries (2012),
define uma Startup como uma instituição desenhada para criar um novo produto ou serviço, em
condições de extrema incerteza, que tem na inovação (tecnológica, de produto, serviço,
processo ou modelo de negócio) o centro de suas operações.
O fator que os caracteriza como tal são: a fase inicial, a inovação, o pouco recurso
financeiro e o tamanho pequeno que elas têm. Mas, como assinala Meyer (2012), o potencial
inovador que as Startups apresentam, pode possibilitar um crescimento exponencial a curto
prazo, ao passo em que estas consigam se estabelecer rapidamente no mercado.
Outra característica deste tipo de empresas é que “[...] são pequenos projetos
empresariais ligados à investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras, frequentemente
de base tecnológica” (TABORDA, 2006, p. 6), e que segundo Lima et al. (2017), podem ser
aproveitados pelo setor agropecuário brasileiro que na atualidade apresenta carência por
soluções tecnológicas ou alinhadas para o setor.
De acordo com Inovativa Brasil (2018), “A tecnologia chegou ao campo e vem
contribuindo para os resultados positivos da produção agrícola no Brasil”; Esalqtec (2018),
assinala que esses tipos de tecnologias são conhecidas como “As AgTechs” ou “AgroTechs” e
são inovações que tem como finalidade melhorar o desempenho de toda a cadeia produtiva do
agronegócio; para Monsanto (2019), as “novas tecnologias são desenvolvidas constantemente
para aumentar a produtividade nas fazendas e ajudar a produzir mais usando menos recursos”;
E, segundo Esalqtec (2018), nos últimos anos essas inovações vêm sendo desenvolvidas por
empresas tipos startups.
Segundo o cenário promissor que o agronegócio brasileiro mostra que para os próximos
10 anos, junto com o processo de modernização acelerado, isto pode permitir que novas formas
de negócios ou empreendimentos cheguem e se estabeleçam no setor (LIMA et al., 2017). Neste

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sentido, como afirma Seixas e Contini (2017, p. 1), “o setor do agronegócio é um campo fértil
para testes e adoção de tendências tecnológicas, serviços de TI e software”, as Startup “têm
muito que aproveitar no que se refere às oportunidades de negócio, especialmente, se apresentar
uma proposta de valor devidamente alinhada às necessidades do agronegócio brasileiro”
(LIMA et al., 2017, p. 120), o que coloca esse tipo de empresas como uma grande aposta para
impulsionar o agronegócio brasileiro (INOVATIVA BRASIL, 2018).
3 Procedimentos Metodológicos

3.1 Método

A seguinte pesquisa caracteriza-se como um estudo exploratório, na qual pretende-se


ter um primeiro contato com o estudo das Startups inseridas no Agronegócio brasileiro.
Segundo Gil (2008), a pesquisa exploratória, é o primeiro passo para se inserir no
entendimento de um determinado problema e construção de possíveis hipóteses, e de acordo
com Malhotra (2001), a pesquisa exploratória é usada com a finalidade de definir o problema
com maior precisão, devido ao que consiste em um levantamento bibliográfico ou estudo de
caso, com informações definidas ao acaso, amostras pequenas, e a análise dos dados geralmente
é qualitativa.
Neste sentido, tem-se como objetivo: primeiro, familiarizar o pesquisador com o
assunto ou temática a ser estudado (SELLTIZ; WRIGHTSMAN e COOK, 1965), e segundo,
em diagnosticar situações, explorar alternativas ou descobrir novas ideias (ZIKMUND, 2000),
obtendo assim, um resultado com maior aproximação conceitual e do campo empírico a serem
abordados.
3.2 Material

Os dados utilizados são compostos de textos que foram obtidos em sites: oficiais das
Startup brasileiras, das organizações que trabalham com a temática, e dos órgãos
governamentais, assim, como em revistas online especializadas no assunto.
Com relação ao critério de seleção das informações utilizadas, estes dados foram obtidos
da seguinte maneira (forma pré-estabelecida pelo autor):
1. Empresas que se denominam ou classificam como Startup;
2. Startup que trabalha diretamente com o setor do agronegócio;
3. Startup com pelo 2 anos de funcionamento no setor; e
4. Mostrar um modelo de negócio claro e específico, que se encaixe dentro de um elo da
cadeia produtiva do agronegócio.
4 Resultados e Discussão

O levantamento dos dados foi realizado no período de Junho até Agosto do ano de 2019,
dos quais foram selecionados 3 startup para o elo dos insumos, 3 para o elo do setor
agropecuário, 2 para o elo da indústria, 3 para o elo da distribuição por atacado, e 2 para o elo
da distribuição por varejo (Ver Quadro 1).

Quadro 1 - Resumo dos dados das Startup selecionadas


Elo Startup Atividade realizada

É uma empresa de soluções tecnológicas para agropecuária de precisão,


Tech dedicada especificada a criar soluções para o setor da pecuária de precisão
Insumos
baseadas em pesquisas científico-tecnológicas.

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Desenvolve, produz e comercializa um sistema avançado que possibilitam a
realização de diferenciadas análises e classificações de sementes, grãos,
rações, espigas e fertilizantes, através do análise minuciosa de imagens de
Tbit pequenos objetos. Desta forma propicia informações com alto grau de
dificuldade de obtenção e com uma assertividade impossível através dos
métodos convencionais, sejam eles os praticados por laboratórios de
pesquisa, ou nos próprios negócios agrícolas.

Conecta prestadores de serviços de todos os processos produtivos do


agronegócio a produtores rurais que demandam terceirização agrícola, e que
Alluagro
através da geolocalização possibilita encontrar a maquinaria ou equipamento
disponível mais cerca da sua fazenda.

É uma empresa que oferece um software de gestão agrícola, que junta tanto
Aegro a parte agrícola quanto a parte financeira para o controle eficiente da fazenda
de todo o ciclo produtivo.

Desenvolve soluções digitais que impactam de verdade a operação das


fazendas. Seja na gestão de máquinas, manejo de pragas, estimativas de
Agropecuário Strider
produtividade ou no planejamento da safra, entrega análises simples, precisas
e confiáveis para que o produtor decida certo, na hora certa.

Oferta para o mercado de produtores de gado de corte, um sistema SaaS de


JetBov fácil adoção que permite o dono da fazenda consiga controlar o seu
inventário e seus indicadores de produtividade.

Dedicada para o nicho de filetação de pescados Premium, desenvolve a área


Sublimar em que será implantada sua operação, e fomentando o mercado de peixe e
crustáceos tanto para a pesca artesanal até grandes frigoríficos.
Indústria Auxilia empresas de produtos perecíveis a assegurarem a qualidade de suas
PackID mercadorias por meio de um monitoramento de temperatura online de
câmaras, freezers, gondolas ou qualquer estrutura fixa que necessite deste
parâmetro avaliado.

Dedicada ao setor do café, oferece o serviço de controle de estoque e


valorização da produção a partir do rastreamento e certificação de origem na
Markitt
armazenagem do produto, tudo isto, através do um Software e câmeras, que
mapeiam todas as movimentações a partir da leitura de QR Codes.

Empresa dedicada à rastreabilidade de commodities, com segurança e


transparência, auxiliando nos processos entre todos os elos da cadeia de
produção, desde a origem ao consumidor, utilizando um conjunto de
Ecotrace
Distribuição - soluções tecnológicas, tais como: Machine Learning, IoT, Big Data e Data
Solutions
Atacado Science, criando assim uma plataforma de rastreabilidade único por sua
confiança e transparência nos dados através do protocolo Ecotrace que utiliza
a tecnologia Blockchain.

Plataforma que agiliza o processo de revenda dos grãos de forma muito mais
rápida e eficiente, tanto para negociações no mercado disponível, a termo ou
Grão Direto barter. Desta maneira, facilita a vida dos compradores e dos vendedores,
tanto na hora de diminuir o trabalho para analisar o mercado, quanto na hora
de escolher o preço mais justo.

Desenvolve processos de acompanhamento da produção em campo, com


Distribuição - evidência para a certificação orgânica por auditoria (modelo IBD) e
iFarm
Varejo conectamos o produtor rural diretamente com o consumidor final bem como
com o varejo.

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Plataforma multiloja onde agricultores comercializam o material que
Onisafra produzem diretamente com os clientes, sem atravessadores.
Fonte: Elaborado a partir do banco de dados Startup (2019) e ESALQTEC (2018).

Dos dados apresentados na Quadro 1, podemos ter os seguintes resultados: No elo dos
insumos, observa-se que a Startups Tech e Tbit oferecem serviços, com forte uso da tecnologia
como a agricultura e pecuária de precisão, as quais proporcionam uma análise completa antes
da produção que pode contribuir com uma tomada de decisão que garante um bom resultado no
final da cadeia produtiva. Com respeito à empresa Alluagro, esta oferece o serviço que conecta
o dono da máquina ou equipamento à disposição com quem necessita do serviço, desta maneira
contribui para movimentar o capital das máquinas.
No setor agropecuário ou da produção, encontramos a Strider, Aegro e JetBov empresas
que oferecem serviços de gestão agropecuária e financeira da propriedade, em resumo são
softwares que proporcionam relatórios simples e completos de todo o ciclo produtivo. As duas
primeiras dedicadas à agricultura e a última dedicadas exclusivamente à pecuária.
No setor da indústria, encontramos a empresa Sublimar, dedicada ao mercado do peixe
e a empresa PackID empresa que oferece serviços de controle e monitoramento da temperatura
de câmaras, freezers, gondolas ou qualquer estrutura fixa, desta maneira ajuda a manter padrões
estabelecido com respeito a segurança dos alimentos.
No setor de distribuição por atacado, a Markitt e Ecotrace solutions são empresas que
utilizam a tecnologia de rastreabilidade do produto, café e commodities, respectivamente. Desta
maneira, proporcionam a garantia de origem, o estado de armazenamento e a mobilidade do
produto ao longo da cadeia produtiva pós colheita. Em relação à empresa Grão direto, esta é
uma plataforma que facilita e agiliza a comercialização dos grãos (milho e soja principalmente)
e permite negociações no mercado disponível, a termo ou barter.
E, finalmente no setor de distribuição por varejo, encontramos a Ifarm e Onisafra que
são empresa que oferecem uma plataforma de venda que relaciona produtores e consumidores
finais. A diferença entre elas é que a Ifarm é dedicada exclusivamente a produtos orgânicos e
também atende o varejo, já a outra empresa trabalha com produtos agropecuários de forma
geral.
O potencial destas empresas no agronegócio é demonstrado quando, por exemplo:
Grandes empresas do setor tem interesse em investir ou comprar estas empresas, tal é o caso da
Tbit e do Grão Direto, que receberam aporte financeiro de mais de R$ 1 milhão e cerca de R$
2,6 milhões respectivamente da Monsanto (MONSANTO, 2019; FONSECA, 2018), outro caso
relevante no setor foi a aquisição da Strider pela multinacional Syngenta no ano de 2018
(ESALQTEC, 2018), levando a empresa a ser referência mundial no uso de tecnologias para o
agronegócio; Tem uma atuação no mercado com uma representação econômica no setor, como
é o caso da Alluagro que teve uma transação acima de R$ 3,2 milhões dentro da plataforma; E,
que já se estão consolidando no setor, como é o caso da Aegro que já conta com mais de 3000
propriedades rurais cadastradas e gerencia quase 1 milhão de hectares (ESALQTEC, 2018), e
da Grão Direto que permite a agricultores e compradores das mais de 240 milhões de toneladas
de grãos brasileiros produzidas por ano visualizarem diversas ofertas em tempo real
(FONSECA, 2018).
Porém, cabe destacar que no setor de indústria foi notado baixa presença de empresas
do tipo de Startups, isto talvez pode estar acontecendo devido à que o setor requer de muito
capital inicial, requisito com a qual as Startups não contam no seu início. O mesmo foi
contrastado em referência ao elo da distribuição por varejo, e que neste caso acredita-se que
isto deve-se à recente participação no mercado.

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5 Conclusões

Considerando que o Brasil é um país que tem uma forte vocação agropecuária e que
vem passando por um rápido processo de modernização, pode-se assinalar que nesse contexto,
deixa as portas abertas e mostra um cenário otimista para que novas formas de empreendimento
com inovação se inserem no setor.
A presença de Startups no setor do agronegócio nos diversos elos da cadeia produtiva é
um grande avanço na inserção desta forma de inovação, mas que ainda se mostra muito
relacionado ao setor da tecnologia eletrônica e digital, que consiste basicamente na criação de
aplicativos móveis, plataformas multi-tarefas de controle do produto, e da produção como um
todo e plataformas que servem como mercados para alugar ou comercializar máquinas,
equipamentos e produtos agropecuários.
Também pode-se assinalar que independentemente da inovação tecnológica das
Startups que já estão atuando no agronegócio brasileiro, estas mostraram seu potencial de
aplicação no setor, e é por este motivo que as grandes empresas que dominam o mercado
começaram a investir em algumas destas novas empresas, passando desta maneira a ser donas
ou parceiras destas Startups.
Desta maneira, observa-se dois possíveis panoramas: O primeiro, devido a que as
grandes empresas podem adquirir estas novas empresas e formas de inovação, isto gerará uma
mudança nos padrões tradicionais de inovação de novos produtos e serviços que tem um alto
grau investimentos econômicos no setor de pesquisa e desenvolvimento; E, o segundo, mostra
que devido ao aporte financeiro que as Startups recebem, isto pode contribuir com sua expansão
no setor, tanto no âmbito nacional como internacional
Referências

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Viabilidade econômica da adoção de software de gestão para cultivo de
soja, no estado do Paraná
Economic feasibility of adopting a management software to soybean crop,
in the state of Parana

Greici Joana Parisoto1, Samanta Ongaratto Gil2, Ivaneli Schreinert dos Santos3, Rafaela
Alenbrant Migliavacca4
1
Mestranda em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, greici.parisoto@ufrgs.br
2
Mestranda em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, samantagil@hotmail.com
3
Mestranda em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ivaneli.schreinert@ufrgs.br
4
Doutora em Solos e Nutrição de Plantas. Esc. Sup. de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo

Resumo
Um dos desafios da contemporaneidade é a produção de alimentos por meio de sistemas agrícolas sustentáveis e
bem geridos. Dessa forma, sistemas agrícolas com gestão integrada em uma única plataforma digital, pode ser
uma alternativa para produtores terem maior controle e avaliarem seu desempenho, tanto financeiro, quanto
sustentável, além de detalhar as entradas e saídas da propriedade. No entanto, para a implantação de sistemas
integrados de gestão é necessário demonstrar a viabilidade ou não desse investimento. Assim, o objetivo deste
trabalho foi mensurar a viabilidade econômica-financeira da adoção de um sistema de gestão agrícola, através da
elaboração de cenários. Para isso, foram utilizadas as técnicas de avaliação de investimento: VPL, TIR, Payback
atualizado, IL e RC/B, com base em dados primários e secundários. O investimento se apresentou viável nos quatro
cenários propostos, sendo os casos com a adoção do software para gestão agrícola mais rentáveis em relação aos
casos sem sua utilização.
Palavras-chave: Payback; Investimento; AgTech.

Abstract
Nowadays one of the challenges is the production of food through sustainable and well-managed agricultural
systems. Thus, agricultural systems with management integrated in a single digital platform, can be an alternative
for growers to have greater control and evaluate their performance, both financial and sustainable, as well as to
detail the inputs and outputs of the farm. However, for the implementation of integrated management systems it is
necessary to demonstrate the feasibility or not of this investment. Thus, the main of this paper was to measure the
economic-financial feasibility of the adoption of an agricultural management system, through the elaboration of
scenarios. For this, was used investment valuation techniques such as NPV, IRR, updated Payback, IL and RC /
B, based on primary and secondary data. The investment was feasible in the four scenarios proposed, and the
cases with the adoption of agricultural management software were more profitable than the cases without their
use.
Keywords: Payback; Investment; AgTech.

1 Introdução

Nas últimas décadas intensificou-se a preocupação por parte da sociedade em relação a


um possível desabastecimento de alimentos, ressaltando o desafio em atender a segurança
alimentar e nutricional das gerações presentes e futuras. Segundo a Food and Agriculture
Organization of the United Nations [FAO] (2018) estima-se que uma a cada nove pessoas no
mundo sofra com a desnutrição, o que em 2017 representou um total de 821 milhões de pessoas.
Além disso, as projeções populacionais evidenciam um crescimento ascendente para os
próximos anos, o que consequentemente, deve aumentar a demanda por alimentos (HUNTER
ET AL., 2017). Já que, estão previstas em 2030 cerca de 8,6 bilhões de pessoas, podendo em
2100 atingir 11,2 bilhões de indivíduos (UNITED NATIONS, 2017).
Dessa forma, a Organização das Nações Unidas [ONU] por meio dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável [ODS] propõe 17 metas para transformar o mundo, sendo que o
segundo desafio corresponde à utilização de sistemas sustentáveis como uma nova alternativa
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para a produção de alimentos, cujo intuito é aumentar os rendimentos sem impactos ambientais
negativos, ocupando a atual área agrícola, ou seja, melhorar a produtividade no campo
(ANDRES E BHULLAR, 2016).
É irrefutável que o ecossistema brasileiro tem sido cada vez mais favorável, fomentando
de maneira crescente o surgimento de novas empresas, de negócios cada vez mais inovadores
e com novos modelos de negócios, o que tem promovido a ampliação da concorrência nos
diversos setores da economia. O empreendedor que decide aventurar-se neste ambiente de
concorrência ampla e diante de suas incertezas naturais, requer um perfil multifacetado e
criativo (RIES, 2012). Acerca dessa afirmativa Zahra (1993) define que, o que faz um
empreendedor é o seu forte compromisso com a inovação de produtos, inovação tecnológica, a
assunção de riscos e a proatividade. Dessa forma, instituir um empreendimento e na mesma
medida mantê-lo no mercado gerando lucro são tarefas desafiadoras.
O estado do Paraná ainda, escolhido para estudo mais localizado, é um dos grandes
produtores brasileiros e constante investidor de tecnologias no campo. Devido aos altos índices
de produtividade que o estado vem apresentando na safra 2018, o estado mantém a sua
relevância na produção agrícola nacional, respondendo por mais de 17% da safra de grãos do
País, mesmo ocupando apenas 2,3% do território brasileiro (IPARDES, 2018).
Desta forma, o objetivo do presente estudo foi calcular a viabilidade econômico-
financeira da adoção de um software de gestão para propriedades agrícolas, no plantio de soja,
no estado do Paraná. Também foram realizadas proposições de quatro cenários alternativos, de
forma que a avaliação do investimento forneça informações úteis aos setores privados (por
exemplo, agricultores) para adoção deste tipo de prática de gestão.

2 Referencial Teórico

Para viabilizar uma nova revolução agrícola, Crestana (2013) fala sobre produzir sem
degradar, com uso do conhecimento e tecnologia, sucedendo à revolução verde, porém com
uma produção mais sustentável e socialmente mais justa, a qual chama de revolução “agro-
sócio-ambiental”. Segundo o International Assessment of Agricultural Knowledge, Science and
Technology for Development [IAASTD] a forma de gestão adotada até agora também não é
mais uma alternativa factível, sendo necessário instigar uma revisão geral do modelo de gestão
e inovação na agricultura (IAASTD, 2008).
A agricultura de precisão, com o reconhecimento da variabilidade espacial e temporal
dos solos e das culturas, é mais um exemplo de melhoria das práticas agrícolas, também
viabilizada, em parte, pela tecnologia da informação, automação, robótica, do controle de
máquinas e implementos agrícolas, da eletrônica embarcada, do GPS, entre outras. Essas
tecnologias, também denominadas geotecnologias, concretizadas por softwares e hardwares
que operam em diferentes plataformas acrescidos de recursos de inteligência artificial abrem
novos caminhos para a gestão territorial tecnológica (BUAINAIN et. al., 2015).
A agricultura inteligente (do inglês “smart agriculture”) engloba a utilização de sensores
e informática aplicados à agricultura, buscando desenvolver práticas de produção agropecuária
mais eficientes e sustentáveis, com a utilização de tecnologias avançadas e ferramentas criadas
a partir do conceito de internet das coisas.
Sistemas dotados de inteligência artificial (IA) têm ficado cada vez mais funcionais e
sendo utilizados em escala exponencial. A Lei de Moore estabelece que o poder de computação
duplica a cada dois anos e, também, suas aplicações. Este ritmo exponencial deu origem a um
novo adjetivo da palavra tecnologia: tecnologias exponenciais.
O conceito de IA teve origem na segunda metade da década de 1940. São sistemas que
emitem características do pensamento humano e, com isso, são capazes de aprender através de
suas experiências. A popularização de smartphones e seu uso no Brasil também merecem
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destaque como drivers das próximas mudanças em relação aos negócios, produção e
gerenciamento em geral. A Tecnologia da Informação está contribuindo para criar novos
modelos e paradigmas, além da computação em nuvem, com ferramentas de busca, Big Data e
a mobilidade proporcionada pela utilização de dispositivos móveis de telefonia (BUAINAIN
et. al., 2015).
Nesse cenário, as startups do agronegócio, utilizando conceitos de “Smart Farm”
surgem como novas e importantes ferramentas tecnológicas a fim de ajudar a solucionar
problemas em propriedades agrícolas tradicionais, com soluções para gestão, entre outros
fatores, a fim de buscar o desenvolvimento de ambas as partes. As “startups” voltadas para o
meio agropecuário, também podem ser chamadas de AgTech, termo cunhado nos Estados
Unidos da América [EUA] para se referir às empresas de tecnologia aplicadas ao agronegócio
(MELO, 2016).
“Startup” pode ser definida, conforme Ries (2012), como um novo conceito de
empreendedorismo que preza pelo feedback contínuo, tanto quantitativo como qualitativo, e
esse ciclo pode ser resumido em construir, medir e aprender. É uma empresa formada por
pessoas, que pode atuar em diversos ramos de atividade, voltada para a criação de um novo
produto ou serviço, que pode causar grande impacto sobre o mercado e que atue em condições
de extrema incerteza (RIES, 2012). Ainda, segundo Blank e Dorf (2012), uma “startup” é uma
organização temporária em busca de um modelo de negócio repetitivo e escalável.

2. 1 Indicadores de viabilidade econômica

2.1.1 Valor presente líquido [VPL]

Segundo Rezende & Oliveira (2013) o VPL de um projeto de investimento pode ser
definido como a soma algébrica dos valores descontados do fluxo de caixa a ele associado,
sendo sua equação descrita abaixo, na equação 1.
(𝐵𝑖− 𝐶𝑖 )
𝑉𝑃𝐿 = ∑𝑛𝑖=0 (1)
(𝑖+𝑗)𝑖

onde, B: Benefício no ano i (entradas); Ci: Custos no ano i (saídas); j: taxa de desconto;
i: período (ano); e n: número de períodos do projeto (i = 0,...,n).

A viabilidade econômica do projeto analisado pelo método VPL é indicada pela


diferença positiva entre receitas e custos, atualizados de acordo com determinada taxa de
desconto. Quanto maior o VPL, mais atrativo será o projeto. Quando o VPL for negativo, o
projeto será economicamente inviável.

2.1.2 Taxa interna de retorno [TIR]

De acordo com Rezende & Oliveira (2013) a Taxa Interna de Retorno [TIR] de um
projeto é a taxa anual de retorno do capital investido, tendo a propriedade de ser a taxa de
desconto que iguala o valor atual das receitas (futuras) ao valor atual dos custos (futuros) do
projeto. Assim temos na equação 2:

(𝐵𝑖− 𝐶𝑖 )
𝑇𝐼𝑅 = 𝑗, 𝑡𝑎𝑙 𝑞𝑢𝑒 ∑𝑛𝑖=0 =0 (2)
(𝑖+𝑗)𝑖

onde, Bi: fluxo de benefício no ano i (entradas); Ci: fluxo de custos no ano i (saídas); j:
taxa de desconto; i: período (ano); e n: número de períodos do projeto (i=0,..., n).

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Os critérios de avaliação com base na TIR são os seguintes:
TIR ≥ TMA, o investimento é considerado viável; quanto maior for a TIR em relação à
TMA, menor o risco do projeto; TIR < TMA, o investimento é considerado inviável.
Apesar de o uso da TIR ser muito comum na avaliação de investimentos, o VPL ainda
é mais indicado devido à algumas limitações da TIR, as quais podem apresentar resultados
incorretos em determinadas condições (CASSAROTO & FILHO, 2006).

2.1.3 Payback atualizado

A opção pelo payback atualizado é justificada pelo fato de que este indicador leva em
conta o valor do dinheiro no tempo, ao contrário do período de payback simples. Pode ser
definido pelo tempo de recuperação do capital investido, considerando-se os fluxos de caixa
descontados em determinada taxa (MENDONÇA et al., 2009). Consiste em calcular o período
necessário para que o valor investido seja recuperado. Para usar esse critério como método para
avaliação econômica é necessário determinar o tempo para que o investimento reponha os
recursos nele aplicados. O projeto mais viável será aquele que devolver esse valor investido o
mais rápido (Rezende e Oliveira, 2013), conforme exposto na equação 5.

𝑗
𝐹𝐶𝑘
𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘 = mínimo {j} ∑ ≥ 𝐹𝐶0 (3)
(1 + 𝑇𝑀𝐴)𝑘
𝑘=1

2.1.4 O Índice de Lucratividade [IL]

O Índice de Lucratividade [IL] é deliberado pela divisão do valor presente dos


benefícios líquidos de caixa pelo valor presente dos desembolsos de capital; em outras palavras,
é o quociente do valor presente dos fluxos de entrada de caixa pelo valor presente dos fluxos
de saída (ROSS, 1995; BRIGHAN E HOUSTON, 1999), conforme exposto na equação 6.

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑜𝑠 𝑏𝑒𝑛𝑒𝑓í𝑐𝑖𝑜𝑠


𝐼𝐿 = (4)
Valor presente dos desembolsos de caixa

2.1.5 Relação Benefício-Custo [C/B]

Outro método que também pode ser utilizado na avaliação é o método do Custo-
Benefício [C/B] ou índice de lucratividade [IL]. Ele reflete a maior ou menor conveniência de
um projeto – é o resultado da divisão do valor atualizado dos benefícios pelo valor atualizado
dos custos do projeto, incluindo o investimento inicial (SAMANEZ, 2009), conforme exposto
na equação 7.
𝑉𝑃
𝐵/𝐶 = 𝑉𝑃𝐵 (5)
𝐶

onde: VPB: Valor Presente Benefício; e VPC: Valor Presente Custos.

3 Procedimentos Metodológicos

Para a realização deste estudo foi utilizado o método quali-quantitativo. A fim de


analisar a viabilidade econômico-financeira de um sistema de gestão para propriedades de
agricultores, foram utilizadas as técnicas de investimento Valor Presente Líquido [VPL], Taxa
Interna de Retorno [TIR], Payback, Payback atualizado, Índice de Lucratividade [IL] e Relação
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Benefício-Custo, com base em dados primários e secundários. A escolha por esses sistemas
voltados para pequenos agricultores ocorreu na intenção de oferecer um sistema simples para
auxílio na gestão da propriedade e otimização dos recursos, buscando maior rentabilidade e
possibilidade de acesso à novas tecnologias a esses produtores.
Para realização do estudo, foram propostos quatro cenários, com base no objetivo
proposto, a fim de deixar o estudo mais abrangente. A descrição de cada um pode ser vista na
Tabela 1, com a indicação do nome correspondente, tamanho da área e uso ou não do software
de gestão agrícola, para cada cenário.

Tabela 1. Cenários utilizados para realização do estudo.


Cenário Área Uso do Software
A 1 ha Sem Adoção de Software de gestão
B 100 ha Sem Adoção de Software de gestão
C 1 ha Com Adoção de Software de gestão
D 100 ha Com Adoção de Software de gestão

Para a mensuração dos componentes de custos e receita bruta, foram utilizados dados
primários e secundários, nominais, referentes ao mês de abril de 2019, os quais não foram
deflacionados pois tiverem o mesmo mês de referência (abril/2019) assim como o preço de
venda utilizado (abril/2019), onde, nesse caso, a inflação não influenciaria nos resultados. Os
custos relativos ao investimento e custeio de um hectare para uma lavoura de soja, no estado
do Paraná, foram obtidos a partir dos dados disponibilizados pela Secretaria Estadual de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento do estado do Paraná [SEAB/PR] e Companhia Nacional
de Abastecimento [CONAB].
A produtividade esperada de soja por hectare, no cenário sem adoção do software de
gestão agrícola, foi baseada em documentos técnicos da Embrapa, com base no levantamento
de maio de 2019, da CONAB, para o estado do Paraná. Já para a produtividade com o uso do
software de gestão, baseou-se em um aumento de 13% na produtividade média do estado
(CONAB, 2019) segundo pesquisa de mercado e dados disponibilizados nos meios de
divulgação dos softwares para gestão de propriedade agrícola disponíveis em território nacional
e que atuem no estado do Paraná.
O preço médio da saca de soja utilizado foi de R$ 74,00 por saca de 60 kg, no estado do
Paraná, segundo dados da CONAB (2019), referentes ao mês de maio de 2019. Posteriormente
elaborou-se cenários com redução e alta no preço da saca, tomando o valor de R$ 74,00 como
base.
Posteriormente, considerou-se o tributo de 2,3% sobre a receita bruta de vendas
referente ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural [FUNRURAL], tendo como base de
incidência desse tributo, a comercialização da produção rural. Foram ainda considerados os
tributos incidentes sobre a atividade rural, como o Imposto Territorial Rural [ITR], a
Contribuição Sindical Rural [CSR] e o Certificado de Cadastro do Imóvel Rural [CCIR], cujas
alíquotas correspondem a 0,03% ao ano; 0,2% ao ano acrescido de R$ 52,50 e R$ 3,60 ao ano,
todos esses valores correspondem ao ano-calendário de 2017.
Para calcular a alíquota do Imposto de Renda Pessoa Física [IRPF] foi considerada a
tabela disponibilizada pela Receita Federal (ano-calendário de 2016 e exercício de 2017).
Partindo-se da hipótese de que o terreno estava preparado para a instalação do investimento não
se calculou os custos referentes ao preparo do solo, no entanto, considerou-se o valor da terra
(um hectare), ou seja, assume-se que o agricultor não possui um hectare de terra.
Também se optou por simular a utilização de recursos captados junto à instituição de
crédito oficial (Banco do Brasil S.A), do programa denominado crédito de investimentos –
PRONAF Mais Alimentos, com taxa de juros de 2,5% ao ano. O Modelo de Precificação de

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Ativos Financeiros também conhecido como Capital Asset Price Model [CAPM] foi utilizado
para encontrar o valor de 15% para a Taxa Mínima de Atratividade [TMA] nominal ou o Custo
de Oportunidade [CO], com um percentual de 9,02% ao ano.
Para a depreciação, deve-se realizar a substituição de bens pelo desgaste do uso, ações
da natureza ou obsolescência normal. Através da amortização, ocorre a recuperação de capital
ou de bens, com prazo legal limitado ou despesas registradas no ativo protelado (Oliveira Neto
et. al., 2008).
Foi considerado como depreciação dos equipamentos o percentual de 10% ao ano,
utilizando o método linear de depreciação, já calculado nos custos de produção disponibilizados
pela SEAB/DERAL. Como custo de oportunidade para o empreendimento, foi considerada a
taxa de 6% ao ano sobre o investimento inicial de capital próprio, assumindo como base o
rendimento médio anual da poupança e os ganhos com um possível arrendamento da terra.
Após a elaboração do fluxo de caixa utilizando o Software Microsoft Excel, foi realizada
a análise econômica do Sistema de gestão utilizando seis instrumentos de avaliação que,
segundo Rezende & Oliveira (2013), são os mais conhecidos e utilizados para este tipo de
análise, sendo eles VPL, TIR, TMA, Payback, IL e RC/B.
O levantamento de todos os dados para cálculo dos indicadores de viabilidade
econômica foi organizado utilizando planilhas do MS Excel. A seguir serão procedidas as
análises dos resultados para discussão e proposição de novas propostas de pesquisa.

4 Resultados e Discussão

Nesta seção apresentam-se os resultados obtidos da aplicação das técnicas de avaliação


econômico-financeira da adoção do software para gestão agrícola, cuja análise poderá servir de
base para os agricultores para que os mesmos possam tomar decisão quanto a adesão, ou não,
em projetos dessa magnitude.
Na Tabela 2 estão descritos os cenários que foram utilizados como base para
viabilização do cálculo da viabilidade econômica da produção de soja, no estado do Paraná, em
meios de produção com e sem utilização de software de gestão agrícola, com o custo total, valor
do investimento, produtividade e preço esperado para cada situação.

Tabela 2. Descrição dos cenários propostos para simulação da rentabilidade e viabilidade econômica da
produção de soja com e sem adoção de software de gestão agrícola.
Cenários
Especificação Und
A B C D
Área ha 10 100 10 100
Custo Total R$ 35.241,00 352.410,00 35.241,00 352.410,00
Investimento R$ 75.000,00 750.000,00 83.000,00 830.000,00
Produtividade saca 60kg/ha 58,40 58,40 64,00 65,90
Preço R$/saca 60kg 74,00 74,00 74,00 74,00
Fonte: Resultados originais da pesquisa

O investimento inicial para implantação do sistema de gestão será de R$ 800,00 anuais


para propriedades de até 10 hectares e de R$ 1.500,00 para propriedades com mais de 100
hectares, segundo cotações realizadas via pesquisa de mercado com as AgTechs que oferecem
o software de gestão para propriedades agrícolas. Esse investimento considera toda a parte de
equipamentos necessários para implantação do sistema.
O custeio para produção de soja, por hectare, no estado do Paraná, está descrito na
Tabela 2, com dados atualizados em maio de 2019, pela SEAB/PR. O insumo que teve a maior

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participação nos custos de produção da soja foram os fertilizantes, com 13,62%, seguido pelos
defensivos agrícolas (11,88%) e aquisição de sementes (11,85%). Zanatta et. al. (2018) também
verificaram que os fertilizantes, seguidos pelos defensivos e sementes são os que possuem a
maior participação nos custos de produção da cultura da soja.

Tabela 3. Custos de produção de soja, por hectare, no estado do Paraná, em abril de 2019.
Especificação R$/ha R$/60kg Participação (%)
1. Operação de máquinas e implementos 357,75 6,50 10,15
2. Assistência técnica 35,71 0,65 1,01
3. Mão-de-obra temporária 43,46 0,79 1,23
4. Sementes/Manivas 417,60 7,59 11,85
5. Fertilizantes 479,92 8,73 13,62
6. Defensivos Agrícolas 418,65 7,61 11,88
7. Despesas gerais 32,19 0,59 0,91
8. Transporte externo 107,80 1,96 3,06
9. Despesas de manutenção de benfeitorias 36,10 0,66 1,02
10. PROAGRO/SEGURO 52,60 0,96 1,49
11. Juros 80,39 1,46 2,28
TOTAL DOS CUSTOS VARIÁVEIS (A) 2.062,17 37,50 58,52
1. Depreciação de máquinas e implementos 287,11 5,22 8,15
2. Depreciação de benfeitorias e instalações 48,13 0,88 1,37
3. Sistematização e correção do solo 93,21 1,69 2,64
4. Seguro do capital 24,82 0,45 0,70
5. Mão-de-obra permanente 166,52 3,03 4,73
SUB-TOTAL (B) 619,79 11,27 17,59
7. Remuneração do Capital próprio 215,86 3,92 6,13
8. Remuneração da terra 626,28 11,39 17,77
SUB-TOTAL ( C ) 842,14 15,31 23,90
TOTAL DOS CUSTOS FIXOS (B+C) 1.461,93 26,58 41,48
CUSTO OPERACIONAL (A+B) 2.681,96 48,77 76,10
CUSTO TOTAL (A+B+C) 3.524,10 64,08 100,00
Fonte: SEAB/DERAL

Dos custos fixos, o que mais afetou o orçamento foi a remuneração da terra, com 17,77%
de participação, tendo uma forte influência no custo total. Os custos fixos representaram
41,48% do custeio de 1 ha para produção de soja, no Paraná. Esses custos podem ser definidos
como os custos de estrutura que podem ocorrer frequentemente sem variações, ou quando essas
ocorrem, não se devem ao volume de atividade no período e sim a outros fatores (BORNIA,
2008; DUTRA, 2009).
Já o custo variável, pode ser estipulado pela proporção diretamente ligada ao volume de
produção (STARK, 2008). Para este projeto, os custos variáveis detêm a maior parcela, com
58,52% do orçamento. O custo operacional para produzir um hectare de soja no estado
representa 76,10% do custo total.
Vale ressaltar que os custos de produção estipulados nos presentes cenários foram
baseados na média estadual para o mês de abril de 2019, no estado do Paraná, com dados da
SEAB/DERAL. Porém, intempéries e outros fatores climáticos podem interferir direta e
indiretamente nesses custos, o que significa que a presente análise não deve ser assumida como
um padrão, e sim, como um estudo de caso, a fim de fornecer subsídios para outras pesquisas e
possíveis tomadas de decisão.
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Apesar de todos os cenários terem se apresentado viáveis economicamente, verificou-
se que o cenário com adoção de Software de gestão agrícola, com 100 ha, foi o que apresentou
os melhores indicadores econômicos. Os indicadores de viabilidade econômica para os cenários
propostos podem ser vistos na Tabela 4.

Tabela 4. Indicadores de viabilidade econômica para cada cenário proposto


Cenários
Especificação Und
A B C D
Área ha 10 100 10 100
Taxa Mínima de Atratividade % 15,00 15,00 15,00 15,00
VPL (Valor Presente Líquido) R$ 23.794,68 362.497,47 46.843,80 710.514,35
TIR (Taxa Interna de Retorno) % 17,78 19,19 19,86 22,23
PayBack Simples: Anos 4,00 4,00 4,00 3,00
PayBack Descontado: Anos 9,00 9,00 8,00 8,00
Índice de Lucratividade % 53,92 54,64 56,68 57,75
Relação Benefício/Custo - 0,88 0,97 0,99 0,87
Fonte: Resultados originais da pesquisa.

A rentabilidade sugere o grau de aceite econômico do negócio em relação ao


investimento (MATARAZZO, 2003). A rentabilidade de cada cenário foi calculada através da
TIR, sendo superior à Taxa Mínima de Atratividade [TMA] em todos os casos, indicando que
todos os investimentos propostos são aceitáveis. Isto significa que o investimento sugerido
rende mais que uma aplicação bancária segura e de liquidez, como um certificado de depósito
bancário ou a caderneta de poupança, por exemplo, ou até mesmo um possível arrendamento
da terra, como citado anteriormente (BUARQUE, 1984).
O cenário D foi o que apresentou a maior TIR, no valor de 22,23%, seguida pelo cenário
C, também com adoção do software de gestão, com 19,86% e dos cenários B (19,19%) e A
(17,78%) sem adoção do software de gestão, porém todos ficaram acima da taxa de desconto,
indicando sua viabilidade.
Além da TIR, o VPL verifica se os retornos obtidos com o investimento serão
satisfatórios para cobrir os custos operacionais e o investimento feito, em valor presente, ou
seja, para ser considerado viável, o resultado do cálculo do VPL deve ser positivo (Securato,
2008). Os quatro cenários apresentaram VPL positivo, confirmando a hipótese de que são
viáveis economicamente.
O Payback simples, para os casos sem adoção do software de gestão agrícola, foi de
quatro anos, indicando o tempo que o investimento leva para pagar o seu investimento inicial.
Para os casos com adoção do software, o retorno do investimento deverá se dar em até três anos
após o início das atividades. O Payback simples é um indicador que estipula quanto tempo o
empréstimo ou investimento levará para retornar ao investidor, é calculado sem descontar os
fluxos de caixa futuros (VERGARA et al., 2017).
Quando o cálculo utiliza uma taxa de desconto este é chamado de Payback descontado
(SCHRIPPE et al., 2012). Para ambos os modelos sem a utilização do software, esse indicador
apontou o retorno total do investimento dentro do período de nove anos, já para os casos com
a adoção do software, esse tempo diminui para oito anos.
A lucratividade obtida com o projeto apresentou-se maior que 50% em todos os casos
estudados, chegando a ter 57,75% de capacidade de gerar lucros no cenário D, 56,68% no
cenário C e 54,64% e 53,92% nos cenários B e A, respectivamente.
O índice de Relação Benefício-Custo [RBC] mede o quanto se espera ganhar por
unidade de capital investido. A RBC é uma razão entre o Fluxo Esperado de Benefícios de um

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investimento e o Fluxo Esperado de Investimentos necessários para realizá-lo (SOUZA E
CLEMENTE, 2008). Este indicador apresenta algumas limitações, dentre as quais se destaca a
insensibilidade à escala e à duração do projeto. A interpretação deste critério deve ser feita
considerando que se o valor de RBC > 1, o projeto deve ser aceito e caso apresente RBC < 1, o
mesmo deverá ser rejeitado. Os quatro cenários estudados apresentaram uma RBC menor que
um, indicando que o projeto não deve ser aceito, caso seja considerado somente este indicador.
Mesmo aumentando os custos e o valor do investimento, o aumento da produtividade
com o uso do software mantém viável o investimento, com uma margem de rentabilidade ainda
maior. Desta forma, para os casos estudados, é viável economicamente o uso do software de
gestão agrícola, buscando-se maior produtividade e rentabilidade na lavoura.

5 Conclusão

O investimento para produção de soja no estado do Paraná se apresentou viável nos


quatro cenários propostos, sendo os casos com a adoção do software para gestão agrícola mais
rentáveis em relação aos casos sem sua utilização, ou seja, o cenário “D” foi o que se apresentou
mais viável economicamente, nas condições propostas. Os demais cenários também se
mostraram viáveis economicamente, sendo o segundo mais rentável o C, seguido pelos cenários
B e A. Isso mostra que mesmo aumentando o investimento na propriedade agrícola com os
custos do software e seus equipamentos, devido ao aumento da produtividade adquirida com as
novas práticas, a adoção da tecnologia se torna viável economicamente, dando mais opções ao
produtor rural na hora de decidir como realizar a gestão de sua propriedade de forma eficiente
e rentável.

6 Referências

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sistemas de produção agrícola. In: PAULA, J. A (Org.) Fórum de estudos contemporâneos:
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Viabilidade econômica da utilização de energia fotovoltaica em
propriedade rural familiar
Economic feasibility of using photovoltaic energy in family rural
property
Marcos Antônio da Silva 1 Sulma Vanessa Souza2 Maria Isabel Schierholt 3 Gabrielli do Carmo
Martinelli4

Resumo
No atual contexto mundial o setor agrícola torna-se cada vez mais dependente do uso de energia para a produção
de alimentos. Sendo que a produção de alevinos por meio da utilização de energia fotovoltaica pode ser uma
alternativa em minimizar a uso de recursos não renováveis na produção de alimentos. Esse estudo teve como
objetivo analisar a viabilidade economico-financeira da produção de energia fotovoltaica em uma propriedade
rural familiar localizada no município de Dourados/MS, sendo caracterizado como um estudo de caso. Para atingir
o objetivo proposto a análise de viabilidade econômica foi efetuada mediante o uso das seguintes técnicas de
avaliação: Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), Índice de Lucratividade (IL), Relação
Benefício/Custo (B/C), Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM) e Payback Descontado (PBd), a partir da
obtenção de uma taxa Mínima de Atratividade (TMA) de 10,15% ao ano para o produtor rural. O custo inicial para
a implantação do projeto foi apurado em R$ 96.821,01 no primeiro ano e um investimento complementar de
R$14.523,15 a ser desembolsado no décimo sexto ano. A vida útil do projeto foi estimada em 25 anos. Os
resultados mostraram um VPL de R$ 360.954,78, TIR de 31,94%, IL de 4,73, B/C de 1,21, TIRM de 15,17%, e
PBd de 5,63 anos, sendo o projeto apontado como economicamente viável.
Palavras-chave: sustentabilidade; prática alternativa; produção de alimentos; resiliência

Abstract
In the current world context the agricultural sector is becoming increasingly dependent on energy use for food
production. Since the production of fingerlings through the use of photovoltaic energy may be an alternative to
minimize the use of non-renewable resources in food production. This study aimed to analyze the economic and
financial viability of photovoltaic energy production in a family farm located in Dourados / MS, being
characterized as a case study. To achieve the proposed objective the economic viability analysis was performed
using the following valuation techniques: Net Present Value (NPV), Internal Rate of Return (IRR), Profitability
Index (IL), Benefit / Cost Ratio (B / C), Modified Internal Rate of Return (TIRM) and Discounted Payback (PBd),
from obtaining a Minimum Attractiveness Rate (TMA) of 10.15% per year for the farmer. The initial cost for
project implementation was R $ 96,821.01 in the first year and a complementary investment of R $ 14,523.15 to
be disbursed in the sixteenth year. The project lifetime was estimated at 25 years. The results showed a NPV of R
$ 360,954.78, IRR of 31.94%, IL of 4.73, B / C of 1.21, IRR of 15.17%, and PBd of 5.63 years. project identified
as economically viable.
Keywords: sustainability; alternative practice; food production; resilience

1 Introdução
A energia elétrica é considerada um dos principais elementos responsáveis pelo
desenvolvimento da humanidade e seu consumo ao longo dos anos vem aumentando
consideravelmente. Estima-se que para os próximos dez anos, a demanda total de energia do
Brasil aumente em torno de 5,3% ao ano, chegando a 372 milhões de Tonelada Equivalente de
Petróleo (TEP) em 2020 (TOLMASQUIM, 2012).
Dentre os principais fatores que impulsionam seu consumo, destaca-se o aumento da
renda per capita e o crescimento populacional incentivado uma maior participação da
eletricidade nas atividades econômicas e sociais (EPE, 2019). Esse aumento no consumo

1 Mestrando, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail: <marcosantonio@ufgd.edu.br>.


2 Mestranda, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul; E-mail:<souzavanessasvs@bol.com.br>.
3 Mestranda, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail: <mariaisabelschierholt@gmail.com>.
4 Doutoranda, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail:<gabrielli_martinelli@hotmail.com>.

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aliados a intempérie da natureza, como, por exemplo, falta de chuva, influenciaram
significativamente para o aumento do custo de energia elétrica no Brasil ao longo dos anos.
Especificamente na zona rural, verifica-se que o pequeno produtor tende a ser afetado
com maior expressividade, uma vez que, seu capital é limitado quando comparado a grandes
latifundiários, sendo uma intempérie o elevado custo para a implantação desse investimento
(ESPERANCINI et al., 2007).
Nessa perspectiva, a implantação de sistemas que visem a produção de energia
renovável torna-se uma opção favorável. Esses tipos de fonte de energia são caracterizados
como sendo aquelas em que os recursos naturais utilizados são capazes de se regenerar, por
considerar os recursos da natureza como o sol por exemplo, buscando contribuir com a
mitigação das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) (FOLEY, 2011; NASCIMENTO,
2017).
Dentre as inúmeras possibilidades de geração de energia renovável, destaca-se a
energia solar fotovoltaica. De acordo com Imhoff (2007), a energia solar fotovoltaica é
proporcionada por meio da conversão direta da radiação solar em eletricidade por intermédio
do emprego de um dispositivo denominado de célula fotovoltaica, que opera utilizando o
princípio do efeito fotoelétrico ou fotovoltaico.
Seu aproveitamento pode ocorrer em “diferentes atividades dentro de propriedade,
tanto domésticas, quanto associadas à produção, no caso de uso para motores, iluminação,
refrigeração e até mesmo no meio de transporte” (REISSER; MEDEIROS, 2017, p.31). Por ser
uma fonte abundante, permanente e renovável, essa tecnologia é considerada uma alternativa
energética muito promissora (RAMOS et al., 2010).
Nesse panorama, nota-se que diversas vantagens atestam favoravelmente a utilização
de energia solar fotovoltaica, seja do ponto de vista elétrico, ambiental e socioeconômico
(ABSOLAR, 2016). Em contrapartida, esse meio de energia ainda é considerado caro quando
comparado aos meios convencionais de geração de energia (SHIMURA et al., 2016). Diante
disso, faz-se necessário que o produtor efetue estudos na intenção de obter informações sobre
a viabilidade econômica da adoção desse tipo de energia. Nessa perspectiva, esse estudo teve
como objetivo, o de analisar a viabilidade economico-financeira da produção de energia
fotovoltaica em uma propriedade familiar localizada no município de Dourados/MS.

2. Referencial Teórico

2.1 A importância da agricultura familiar no Brasil


A agricultura familiar pode ser definida como o conjunto de unidades produtivas
agropecuárias com exploração em regime de economia familiar, compreendendo aquelas
atividades realizadas em pequenas e médias propriedades, com mão de obra da própria família
(SOARES; MELO; CHAVES, 2009).
A mesma contempla inúmeras atividades agrícolas como florestal, pesqueira e
aquícola, sempre gerenciadas e operadas pela própria família. Além da produção e
rentabilidade econômica, é importante considerar nesse escopo de produção as necessidades
pessoais já que gestão e trabalho se confundem ao serem ligadas ao padrão da unidade familiar.
De acordo com Guilhoto et al., (2007), é fundamental evidenciar que a produção
familiar, além de reduzir o êxodo rural é fonte de recursos para as famílias com menor renda.
Contribui ainda, de forma significativa, para geração de riqueza uma vez que coopera não só
para a economia do ramo agropecuário, mas também no crescimento econômico de todo o país.
Estima-se que cerca de 70% da comida que chega às mesas das nossas casas é
proveniente da agricultura familiar, tendo uma relação direta com a segurança alimentar e
nutricional da população brasileira. Além disso, impulsiona economias locais e contribui para
o desenvolvimento rural sustentável ao estabelecer uma relação íntima e vínculos duradouros
da família com seu ambiente de moradia e produção (EMBRAPA, 2018).

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Neste cenário de crescente importância da agricultura familiar, o paradigma de
produção atrasada voltada apenas para subsistência está sendo superado. Mediante isso, é
pertinente a adoção de novas formas de produção sustentável, não só economicamente, mas
socialmente e ambientalmente, gerando renda ao produtor ao mesmo tempo que se compromete
com o meio ambiente e com a comunidade em que está inserida.
Barboza, Dacroce e Hofer (2016) reforçam a ideia de que uma execução apropriada e
coerente da agricultura familiar é crucial para o desenvolvimento socioeconômico de um país
manifestando um aspecto-chave para uma evolução sustentável. Uma das alternativas que
contribuem para a agricultura sustentável refere-se aos sistemas de geração de energias
renováveis, podendo tornar a produção com maior viabilidade econômica e com menor impacto
ambiental (BARBOZA et al., 2016).

2.2 Energia solar fotovoltaica no Brasil


O Brasil possui um expressivo potencial para geração de energia elétrica a partir de
fonte solar, dados apresentar elevados níveis de irradiação, os quais são superiores aos dos
maiores produtores de energia solar, como é o caso da Alemanha, França e Espanha
(NASCIMENTO, 2017). Entretanto, o uso dessa essa tecnologia no âmbito nacional ainda é
inexpressiva.
Conforme a Absolar (2019), a energia fotovoltaica não se trata apenas de uma energia
limpa e de matriz renovável, mas também contribui para ampliar a diversidade do suprimento
elétrico do país, o qual é demasiadamente dependente de hidroelétricas e termelétricas fósseis.
Posto isto, coopera para uma folga nos reservatórios hídricos e reduz a pressão para outros usos
estratégicos, contribuindo para um menor custo final ao consumidor.
Sob o aspecto ambiental, há a redução da emissão de gases do efeito estufa, queda da
emissão de materiais particulados e do uso de água para geração de energia elétrica
(NASCIMENTO, 2017). Com relação a benefícios socioeconômicos, a geração de energia solar
fotovoltaica colabora com a geração de empregos locais, com o aumento da arrecadação e com
a ampliação de investimentos (NASCIMENTO, 2017).
Entretanto, no Brasil existem alguns desafios para o emprego desse sistema. O alto
custo de investimento, o desconhecimento de suas funcionalidades e meio de utilização por
parte dos consumidores, a falta de mão de obra qualificada e uma tímida política de incentivo
fiscais podem adiar o avanço dessa tecnologia. Segundo Carstens e Cunha (2019), um grande
desafio é a falta de um mercado formado uma vez que não há escala suficiente para chamar a
atenção de grandes investidores.
O crescimento da energia solar fotovoltaica no Brasil depende de iniciativas
interdependentes. Essas iniciativas incluem a definição de um plano de longo prazo para
aumentar essa tecnologia com metas claras e objetivas, que proporcionam segurança para este
setor, especialmente para os investidores. Além disso, é necessário promover incentivos fiscais
e financeiros, que favoreçam o desenvolvimento das atividades econômicas do setor, bem como
a consolidação de um plano educacional que habilite adequadamente os profissionais em todos
os níveis para trabalhar com energia solar fotovoltaica (CARSTENS; CUNHA, 2019).

3 Procedimentos Metodológicos
Este estudo caracteriza-se como sendo quantitativo e descritivo quanto aos seus fins.
Foi também realizado a partir de um estudo de caso efetuado em uma propriedade dedicada à
produção de alevinos de tilápia do Nilo localizada no município de Dourados/MS.
As informações foram coletadas através de uma entrevista semiestruturada realizada
com o proprietário mediante o uso de um roteiro de entrevista contendo perguntas abertas. A
partir das informações obtidas na entrevista foram efetuados orçamentos com empresas do ramo
de energia solar fotovoltaica com objetivo de identificar as características dos equipamentos e
seus respectivos valores. De posse desses dados organizados, foram construídas planilhas de

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custo e fluxo de caixa para então aplicar a ferramenta da viabilidade econômica e realizar a
análise financeira.

3.1 Técnicas de avaliação de investimentos de capital


O estudo de viabilidade no presente trabalho foi realizado em dois momentos distintos.
No primeiro momento, procurou-se elaborar um fluxo de caixa do projeto com intuito de
demonstrar a economia que seria obtida pela produção de alevinos de tilápia com utilização da
energia fotovoltaica. No segundo momento, de acordo com a teoria de finanças, empregaram-
se as técnicas de avaliação de investimentos, conforme está pontuado a seguir:
a) Taxa Mínima de Atratividade (TMA): Entende-se por TMA” a taxa mínima a ser
alcançada em determinado projeto; caso contrário, o mesmo deve ser rejeitado (KASSAI et al.,
2000, p. 58). A taxa de atratividade constitui-se no parâmetro de avaliação dos projetos, ou seja,
a meta econômica mínima a ser alcançada (KUHN, 2012).
b) Valor Presente Líquido (VPL): Esse valor reflete a riqueza em valores absolutos do
investimento e é medido pela diferença entre o valor presente de todas as entradas de caixa e o
valor presente das saídas de caixa (KUHN, 2012). O VPL, dessa maneira, é estabelecido ao
descontar os fluxos financeiros pela taxa de atratividade (TMA) prevista no projeto. Assim,
quando o Valor presente líquido de um investimento é maior que zero, o investimento consiste

(2)

em uma boa oportunidade. Em outras palavras, possui valor presente líquido positivo porque
vale mais do que custa (ASSAF; LIMA, 2011). Chega-se ao VPL pela seguinte fórmula:

Em que: VPL = valor presente líquido; Rj = Receitas no período j; Cj = Custos no período j; i = taxa de desconto;
j = período de ocorrência de Rj e Cj ; n = duração do projeto em períodos de tempo.
c) Taxa Interna de Retorno (TIR): representa a taxa de desconto que iguala, em um
único momento, os fluxos de entrada com os de saída de caixa, ou seja, produz um VPL = 0
(KUHN, 2012). Na visão do autor, ela é uma taxa de juros que equipara o fluxo de entradas de
caixa com o de saída de caixa em um determinado momento. A fórmula da TIR é dada, como
segue:
(3)

Em que: TIR = taxa interna de retorno; Rj = Receitas no período j; Cj = Custos no período j; j = período de
ocorrência de Rj e Cj ; j = período de ocorrência de Rj e Cj ; n = duração do projeto em períodos de tempo.
d) Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM): A TIR Modificada (ou MTIR) tende
a corrigir os problemas estruturais da TIR relacionados às questões das raízes múltiplas ou
inexistentes e das taxas reais de financiamento dos investimentos e de reinvestimentos dos
lucros (KASSAI, 1996).
e) Índice de Lucratividade: Índice que ameniza o problema de escala, dividindo a soma
a valor presente do fluxo de caixa pelo investimento inicial. A fórmula do IL se dá pela equação
abaixo:
𝑉𝑃𝐿 (4)
𝐼𝐿 =
𝐼𝑛𝑣
f) Payback Descontado (PBd): Segundo Assaf e Lima (2011), a intenção desse método
é calcular quanto tempo o investidor irá precisar para ter o retorno do investimento realizado.
Para tanto, os fluxos de caixa futuros são descontados a valor presente utilizando a TMA para
assim calcular o período de recuperação do capital investido.

4 Resultados e Discussão

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4.1 Investimento fixo
Para este estudo optou-se pelo uso do Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede, isto
significa que toda a energia gerada é aplicada na rede elétrica. Logo, nos dias em que a produção
extrapolar o consumo, a diferença será acumulada como créditos que poderão ser compensados
em contas subsequentes, quando a produção estiver a baixo do consumo, o produtor pagará o
excedente de consumo. Este sistema de compensação de energia elétrica (net-metering) é
regularizado pela ANEEL.
Os investimentos iniciais a ser despendido para a instalação do respectivo projeto
envolvem, dentre outros, a construção de um sistema fotovoltaico, sua instalação,
terraplanagem do terreno, cerca e para raios. Os detalhamentos dos equipamentos são descritos
no Quadro 1.

Quadro 1- Investimento fixo do projeto a ser implantado.


Itens que compõe o sistema fotovoltaico
Módulo policristalino canadian 330w- 66 unidades
Inversor fronius symo 17.5-3-m 17500w- 1 unidade
String box
Cabo solar 6mm < preto
Cabo solar 6mm < vermelho
Conector mc4 multi-contact ur pv-kbt4/6ii-ur acoplador femea
Conector mc4 multi-contact ur pv-kst4/6ii-ur acoplador macho
Transformador
Junção para perfil de alumínio
Estrutura de alumínio adequado ao telhado
Material elétrico
Despesas operacionais com mão de obra para instalação do projeto
Projeto solar fotovoltaico
ART de projeto e execução
Acompanhamento junto à distribuidora
Monitoramento do sistema via web
Fonte: Autores (2019).
Estima-se que a área ocupada para instalação seja de 138,6m² cujo investimento inicial
será igual a R$ 96.821,01. Não foi considerado valor da terra nua, pois o projeto será instalado
na parte aérea (telhado). A seguir são apresentados os custos e despesas necessárias a produção
da energia solar fotovoltaica.

4.2 Custos e despesas da produção


A fim de analisar os custos desse projeto adotou-se o custo para um ano de produção.
Os custos e despesas foram apurados a partir dos seguintes elementos:
 Limpeza dos painéis: Estima-se que seja necessário realizar a limpeza em média de duas
vezes ao ano. Dessa forma considerou-se os custos com produtos de limpeza como,
esponja, pano, etc.
 Custos de operação e manutenção: para obter o valor desse custo considerou-se a taxa de
1% ao ano. Essa taxa utilizada está de acordo com os parâmetros estabelecidos pela
Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2012).
 Seguro Operacional: provisão para cobertura de danos causados aos equipamentos de 0,3%
ao ano (EPE, 2012).
 Mão de obra e encargos: para estimativa do custo de mão de obra foi considerado salário
pago ao empregado de RS 998,00 ao mês. Os encargos foram estimados a partir do
percentual de 45,59%, taxa usualmente utilizada pela Conab (CONAB, 2010).
 Para o cálculo da depreciação, considerou-se o valor residual para os equipamentos cuja

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durabilidade é superior ao horizonte da vida útil do projeto e que possam ser reutilizados ou
vendidos. Para os itens com vida útil igual ou inferior ao horizonte dos projetos o valor residual foi
desconsiderado, estimando-se, desta forma, um valor de depreciação de R$ 32.714,43/ano. Para a
aquisição e instalação das estruturas de projeto fotovoltaico, foi considerado sua aquisição através
de recursos próprios.
 Na formação do benefício, considerou-se os rendimentos dos painéis assim como a
porcentagem de reajuste médio anual de energia para os próximos 25 anos (vida útil do
projeto), levando em consideração a garantia do sistema fotovoltaico informada pelos
fornecedores. As alíquotas de ICMS, PIS e COFINS foram desconsideradas, haja vista o estado de
Mato Grosso do Sul ser adepto a política de isenção destes impostos sobre a energia fotovoltaica.
 O valor estimado do investimento foi de R$ R$96.821,01 a ser desembolsado no ano zero. Um
segundo desembolso deverá ser feito no ano 16, no valor de R$ 14.523,15, necessário para efetuar
a troca dos inversores. Esse novo aporte irá implicar em um valor residual de R$ 8.046,55,
conforme visualizado na tabela 1.
Tabela 1- Fluxo de caixa do projeto (R$).
Ano 0 Ano 1 Ano 10 Ano 16 Ano 20 Ano 25
1. BENEFÍCIOS 0,00 3.156,49 51.256,63 87.056,60 123.927,99 92.698,83
1.1 Rendimento dos painéis 0,00 99.30 % 93.22 % 89.37 % 86.89 % 83.89 %
1.2 Geração anual de Energia
32.387 30.403 29.148 28.340 27.362
(kWh/ano) 0,00
2. CUSTOS 0,00 7.414,79 7.414,79 7.414,79 7.414,79 7.414,79
2.1 Limpeza dos painéis 0,00 15,92 15,92 15,92 15,92 15,92
2.2 Mão de obra limpeza dos painéis 0,00 12,11 12,11 12,11 12,11 12,11
2.3 Custos de operação e manutenção 0,00 968,21 968,21 968,21 968,21 968,21
2.4 Seguro Operacional 0,00 290,46 290,46 290,46 290,46 290,46
2.5 Depreciação 0,00 6.128,09 6.128,09 6.128,09 6.128,09 6.128,09
3. DEPRECIAÇÃO 0,00 6.128,09 6.128,09 6.128,09 6.128,09 6.128,09
4. FLC INCREMENTAL BRUTO ¹ 0,00 21.869,79 49.969,93 85.769,90 22.641,29 191.412,13
5. IMPOSTO DE RENDA 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 10.598,44
6. INVESTIMENTOS 96.821,01 0,00 0,00 14.523,15 0,00 1.452,32
7. FLC INCREMENTAL
LÍQUIDO ² -96.821,01 21.869,79 49.969,93 1.246,75 22.641,29 182.266,01
Fonte: Autores (2019).
NOTAS: (1) fluxo de caixa incremental bruto (2) fluxo de caixa incremental líquido.

A partir das informações apresentadas nas tabelas 2, nota-se que o produtor é tido como
isento do pagamento do Imposto de Renda do ano 1 ao ano 22, dado que sua receita bruta se
apresenta inferior ao valor-base R$ 142.798,50 a partir do ano 22 foi calculado o IR.

4.3 Determinação do custo de capital do produtor.


Para calcular a taxa mínima de atratividade (TMA) será utilizado o modelo CAPM
(Capital Asset Price Model) pois estabelece uma relação entre o risco do investimento e o
retorno, apurando assim para cada nível de risco assumido um retorno correspondente.

Tabela 2- Premissas para cálculo.


ÍNDICE METODOLOGIA DE CÁLCULO VALOR FONTE/DATA COLETA
Rfg: Taxa Livre de Retorno sobre o investimento livre de 3,04% http://br.investing.com
Risco risco. Neste estudo utilizou o valor do T- em 31/01/2019
BONDS ( título emitido pelo Tesouro
Americano) com prazo de resgate de 30
anos.
Rc: Risco país Para o risco país utilizou-se a taxa EMBI 2,45% http://ipeadata.gov.br em
+ Brasil mensurado pelo banco norte- 31/01/2019
americano JP Morgan.

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𝛽𝐶𝐿𝐺 : Beta do país Regressão entre o índice de mercado de 0,8756 MSCI ACWI - Morgan
ações locais (IBOVESPA) e o índice de Stanley Capital
mercado global (MSCI ACWI) International
(http://msci.com)
𝛽: Beta desalavancado Beta desalavancado do setor 0,60 http://pages.stern.nyu.edu
Farming/Agriculture calculado por em 31/01/2019.
Aswath Damodaran
𝑅𝑀𝐺 : Retorno do Como proxy do retorno do mercado 12,06% http://msci.com de 2005 a
mercado global global utilizou-se o MSCI ACWI - All 2018
Country World Index
Coeficiente de Regressão entre a volatilidade das ações 0,0079 http://br.investing.com de
determinação (𝑅2): do mercado local (IBOVESPA) e 04/1994 a 12/2018 contra
(http://ipeadata.gov.br), variação do risco país (índice EMBI + a
no período de abril de Brasil)
1994 a dezembro de
Fonte: Autores (2019).

A partir das premissas da tabela 2 e dos dados e informações obtidas e apresentadas


nos parágrafos anteriores, obtêm-se o valor do custo do capital próprio do produtor (𝐾𝑒) com
a seguinte aplicação:
Ke = 2,62% + 2,61% + 0,8756 [(0,60 x (12,06% - 2,62%)] x (1 - 0,0079) =
𝐾𝑒 = 10,15% ao ano.

4.4 Avaliação econômica do projeto


Após a definição do Ke, aplicou-se as técnicas de avaliação de investimentos
propostos nos procedimentos metodológicos do estudo no intuito de apontar a viabilidade ou
inviabilidade do projeto a ser implantado. Os resultados são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3- Critérios de avaliação econômica.


Técnica de avaliação Técnica de avaliação
VPL Valor Presente Líquido 360.954,78
TIR Taxa Interna de Retorno 31,94%
IL Índice de Lucratividade 4,73
B/C Relação Benefício/Custo 1,21
TIRM Taxa Interna de Retorno Modificada 15,17%
PBd Payback Descontado 5,63
Fonte: Autores (2019).

O respectivo projeto ao ser analisado economicamente através da técnica de VPL


apresentou um valor de R$360.954,78. O mesmo deve ser aceito pois “quando o Valor
Presente Líquido (VPL) é maior do que zero, significa que o investimento é vantajoso, pois
existe lucro econômico, já que o valor presente das entradas de caixa é maior do que o valor
presente das saídas de caixa” (SANTOS, 2001, p. 156).
A TIR apresentou resultado satisfatório, pois segundo Assaf Neto (2011), quando a
TIR é maior que a TMA o projeto é viável, e nesse estudo a TIR é de 31,94% enquanto a TMA
foi de 10,15%.
Quanto ao IL, obteve-se um valor de 4,73 corroborando para a viabilidade do projeto
uma vez que o índice é maior do que 1 (HAWAWINI; VIALLET, 2009). O mesmo parâmetro
é utilizado para a relação custo benefício (B/C) que nesse projeto foi de 1,21, contribuindo
para que o projeto seja aceito (REZENDE; OLIVEIRA, 2008).
Quanto a TIRM, foi considerado seu uso para análise desse projeto dado essa
ferramenta ser apontado por Brigham, Gapenski e Ehrard (2001, p.436) como “superior à TIR
como indicador da” verdadeira taxa de retorno ou taxa de retorno de longo prazo de um
projeto”, dessa forma o cálculo apontou para um TIRM 15,17%, confirmando a viabilidade

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do projeto resultou num valor maior do que a TMA. Em relação ao tempo de retorno, estima-
se o investimento será recuperado pelo Payback descontado em torno de 5,63, assim sendo
indica-se aceitar o projeto, uma vez que o mesmo apresenta baixo risco, haja vista sua vida
útil ser de 25 anos. Mediante todos esses resultados auferidos na análise econômico-financeira,
confirma-se pela viabilidade do respectivo projeto.
Em consonância, Altoé et al., (2017), também obteve resultado satisfatório ao
desenvolverem um estudo sobre a viabilidade da implantação de um sistema de energia solar
fotovoltaica em uma propriedade da zona rural, dado que a economia com insumo de energia
elétrica superou o capital investido na implantação do respectivo projeto.
Silva et al., (2017) por sua vez, ao analisar a viabilidade econômica do uso da energia
solar na agricultura familiar irrigada no município de Barbalha, apontou que o projeto é
vantajoso, entretanto, o retorno financeiro ocorrerá a partir de 18,5 anos, tornando o projeto
arriscado. Por outro lado Barboza, Dacroce e Hofer (2016) ao realizarem um estudo cujo
propósito foi o de identificar a viabilidade econômica da implantação de um sistema de geração
de energia solar em uma propriedade rural situada município de Manfrinópolis/PR, constatou
a inviabilidade do projeto, tanto com aplicação de recursos próprios, quanto com financiamento
mediante o Pronaf , ambas as modalidade apresentaram valores negativos para o IL, -63%
utilizando recursos próprios e -46% com recursos do Pronaf.
De acordo com Altoé et al., (2017) o principal fator que inviabiliza a implantação deste
tipo de produção de energia no meio rural está no alto custo de investimento para a implantação
destes projetos. Dessa forma, para que haja a massificação deste tipo de energia renovável no
meio rural, é pertinente a promoção de política pública de incentivos a adoção da técnica
(ALTOÉ et al., 2017).

5 Conclusões
A partir das condições em que se desenvolveu este estudo, conclui-se, embasada na
análise de viabilidade econômico-financeira, que o emprego do sistema fotovoltaico em
propriedades de agricultura familiar para a produção de alevinos de tilápia é uma alternativa
promissora na busca do aumento de renda assim como na promoção do desenvolvimento
sustentável.
Embora o custo de investimento seja relativamente alto em primeiro momento, o
projeto demonstrou um retorno satisfatório em (5,63 anos), aproximadamente, que é quando
começam a aparecer os retornos aplicados. Tornando a propriedade autossuficiente
energeticamente, visto sua capacidade de reter a energia não usada, que é considerada como
créditos para futuros abatimentos em faturas, proporcionado pelo recurso agregado ao sistema
fotovoltaico on-grid (conectado à rede) que fora empregado neste estudo. Ademais, atualmente,
o governo oferece isenções tributárias (PIS e CONFIS) como forma de incentivos para a
inserção dessa tecnologia.
Além disso, na hora da escolha, o proprietário deve observar elementos que o ampare
em prováveis manutenções, como por exemplo: se a empresa é bem indicada; não levando em
conta somente o menor preço entre os orçamentos. Pois a previsão de retorno é a longo prazo.
Portanto, dentre as circunstâncias testadas neste estudo, ambas mostraram viabilidade
econômica para o investimento apresentado, em razão de as técnicas de investimento
empregadas se dispuserem positivamente em todas as ocorrências.
Sugere-se que trabalhos futuros apresentem a análise de sensibilidade e risco,
diminuindo as incertezas do investimento em questão. Além disso, por ser um estudo de caso
os resultados não podem ser extrapolados regionalmente, caracterizando como a limitação
desse estudo.

Referências

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E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
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E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
Viabilidade econômica e ambiental da produção de carne bovina em
diferentes sistemas de alimentação no bioma Pampa, sul do Brasil

Economic and environmental feasibility of beef production in different feed


management systems in the Pampa biome, southern Brazil

Clandio Favarini Ruviaro1, Thiago José Florindo2, Giovanna Isabelle Bom de Medeiros
Florindo3, Jaqueline Severino da Costa4

Resumo
A sustentabilidade econômica-ambiental da pecuária de corte, a partir do uso e preservação de pastos em biomas
específicos, ainda é pouco avaliada. Neste contexto, o estudo da viabilidade da produção de carne bovina no Bioma
Pampa ganha destaque em virtude da sua relevância na região sul do Brasil. Desta forma, este trabalho teve por
finalidade não somente conhecer o montante de gases de efeito estufa emitidos em diferentes sistemas de manejos
alimentares dos bovinos de corte mas, também, avaliar a viabilidade econômica-ambiental desta produção. Neste
sentido, considerou-se sete sistemas de produção típicos da região e buscou-se determinar qual seria o mais viável
do ponto de vista ambiental e econômico. Para atingir este objetivo, o trabalho foi desenvolvido em duas etapas:
a primeira considera o cálculo das emissões de gases de efeito estufa em todos os sistemas e posteriormente utiliza
algumas ferramentas de análise de investimento, como o valor presente líquido (VPL), a taxa interna de retorno
(TIR) e o índice de lucratividade anualizado (ILA). De acordo com os resultados obtidos, o sistema de produção
VII possibilita reduzir as emissões de gases de efeito estufa conciliando um retorno econômico significativo, sob
certas condições de alimentação. No entanto, o sistema de produção SPII possibilita obter aumentos na produção
de carne bovina sem a necessidade de novas áreas de pecuária, contribuindo para o uso adequado e preservação
do bioma Pampa.

Palavras-chave: Carne Bovina. Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). Gases de Efeito Estufa.

Abstract
The economic and environmental sustainability of beef cattle from pasture use and preservation in specific biomes
is still not well evaluated. In this context, the study of the feasibility of beef production in the Pampa biome stands
out because of its relevance in southern Brazil. Thus, this paper aims not only to know the amount of greenhouse
gases emitted in different feeding management systems of beef cattle, but also to evaluate the economic and
environmental feasibility of that production. Seven typical production systems in the region were considered, and
it was aimed to determine which one would be the most viable in the environmental and economic perspective. To
achieve this aim, the paper was developed in two stages: the first considers greenhouse gases emissions
calculation in all systems and; the second uses some investment analysis tools, such as the net present value (NPV),
the internal rate of return (IRR) and the annualized profitability index (API). According to the results obtained
from system production VII it is possible to optimize low greenhouse gases emission of beef production with a
significant economic return, under certain feed conditions. Furthermore, the results verified from system
production II it is possible to obtain beef production increases without the need of new livestock areas, and
contribute to the proper use and preservation of the Pampa biome.

Keywords: Beef. Life Cycle Assessment. Greenhouse gas.

1
Pós-doutorado em Agronegócios. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios
(PPGAgronegócios/FACE/UFGD). clandioruviaro@ufgd.edu.br
2
Doutor em Agronegócios . Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Câmpus de Chapadão do Sul.
thiago.florindo@ufms.br
3
Doutora em Agronegócios . Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Câmpus de Chapadão do Sul.
giovanna.medeiros@ufms.br
4
Doutora em Economia Aplicada. Programa de Pós-Graduação em Agronegócios
(PPGAgronegócios/FACE/UFGD). jaquelinecosta@ufgd.edu.br

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1 Introdução

Em 2013, o Brasil possuía 211 milhões de cabeças de gado distribuído em 160 milhões
de hectares de pastagens. No ano de 2013 foram abatidos 34 milhões de cabeças de animais, o
que corresponde a quase 27% do PIB do agronegócio brasileiro. Além disso, em 2013 o país
foi o maior exportador de carne bovina, transacionado aproximadamente U$$ 5,359 bilhões,
superando o ano de 2012 quanto o montante foi de U$$ 4,495 bilhões, um crescimento de 19,2%
(USDA, 2014).
Dado a importância do rebanho bovino brasileiro, emerge uma discussão relevante sobre
os impactos ambientais decorrentes da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) feitos por esse
setor. As emissões de GEE gerado pela pecuária são de 7,1 gigatoneladas de CO2 equivalentes
por ano, o que corresponde a 14,5% de todo o GEE gerado pelo homem. Do montante total
da pecuária, 41% das emissões de GEE são de responsabilidade da pecuária de corte, indicando
a importância desta atividade para a economia e seu papel relevante nas mudanças climáticas
mundiais (GERBER et al. 2013).
Nesse sentido, o setor produtor de carne bovina brasileira tem sofrido pressões de órgãos
nacionais e internacionais, visto que estes estão preocupados com o aquecimento global. Por
meio de estimativas, argumentam que a produção de carne bovina é responsável por mais da
metade das emissões de gases de efeito estufa (GEE) do setor agrícola nacional (RUVIARO et
al. 2015). Grande parte das pesquisas mensurando os impactos das emissões de GEE tem
empregado a abordagem de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) do produto. Kramer et.
al.(1999), destacam o quanto a metodologia ACV pode contribuir para mensurar os impactos
da agricultura considerando toda uma cadeia produtiva agrícola.
Ruviaro et. al. (2015) utilizaram este método para mensurar os impactos ambientais da
pecuária de corte no estado do Rio Grande do Sul. Contudo, verificar quais tipos de sistemas
emitem mais GEE não é suficiente, visto que de acordo com Nabinger et al. (2009), a
remuneração recebida pelo pecuarista baseia-se na produção em pastagens naturais e resulta
apenas da venda de animais, sem qualquer compensação financeira para a preservação dos
recursos naturais. Wirsenius, Hedenus e Mohlin (2011) destacam que especialmente em países
em desenvolvimento, ainda existe uma margem substancial para melhorar de forma rentável a
atividade agrícola, contribuindo para a mitigação de GEE.
Devido à preocupação sobre o potencial de aquecimento global da atividade, torna-se
necessário verificar formas de avaliar e compensar o pecuarista que tiver um manejo mais
sustentável para a produção de carne bovina. Veysset, Lherm e Bébin (2010) destacam que as
avaliações econômicas e ambientais são indissociáveis na atual agricultura. Neste sentido, o
objetivo deste estudo é verificar a viabilidade econômica da produção de gado de corte tentando
compensar aquele produtor preocupado em reduzir as emissões de GEE.

2 Referencial Teórico

O bioma pampa é composto de campos naturais muito antigos, ocupando uma área de
178.243 km2, abrangendo todo o território uruguaio, parte da Argentina e aproximadamente
dois terços do estado do Rio Grande do Sul (OVERBECK et al. 2007). Sua vegetação natural
é caracterizada por um mosaico de campos, com pequenas áreas de vegetação arbustiva e
florestas (OVERBECK et al. 2009). A principal atividade econômica desenvolvida no Bioma
Pampa é a pecuária extensiva, visto que seus solos de baixa fertilidade inviabilizam a produção
agrícola (SANTOS, TREVISAN, 2009). Do ponto de vista socioeconômico, os baixos índices
de produtividade da pecuária extensiva resultam em mínimos retornos para a economia local,
ocasionando baixa densidade demográfica e desenvolvimento inferior às demais regiões do
estado (SANTOS, TREVISAN, 2009).

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A bovinocultura em pastagens naturais é vista como o principal instrumento de
conservação dos campos, mantendo a biodiversidade da fauna e flora do Bioma Pampa ao
impedir o avanço da fronteira agrícola (SOUSSANA, 2009). No entanto, o manejo inapropriado
da pecuária nessa região gera perda de peso dos animais, além de consequências negativas para
a cobertura do solo, contribuindo para a degradação dos campos (OVERBECK et al. 2009;
CARVALHO et al. 2009; SOUSSANA, 2009).
O manejo adequado das pastagens e a melhoria da qualidade da alimentação dos animais
nos campos nativos do Bioma Pampa possibilitam sua conservação, maiores retornos
econômicos ao produtor rural e redução dos impactos em GEE, devido à diminuição do período
de pastejo dos animais (BECOÑA et al. 2014; CARVALHO et al. 2009). Wirsenius, Hedenus
e Mohlin (2011) apontam que em muitas partes da Europa, a pastagem para bovinos e ovinos
são de extrema importância para conservação da paisagem e biodiversidade. Contudo, a
remuneração recebida pelo pecuarista é oriunda apenas da produção dos animais, sem qualquer
compensação financeira para a preservação dos recursos naturais (NABINGER et al. 2009).
Segundo Latawiec et al. (2014), a implantação de benefícios aos produtores que utilizam
sistemas de pastagens sustentáveis e intensificados pode gerar um forte incentivo econômico
para transição de uma pecuária extensiva para uma atividade intensiva.
Essa prática de serviços à natureza por produtores rurais, principalmente os de
necessidade imediata, como a redução das emissões de GEE, abrem caminho para um processo
de compensação, denominado Pagamento pelo Serviço Ambiental (PSA) (MARTINKOSKI et
al. 2012; TORNQUIST; BAYER, 2009). A redução das emissões ou mitigação de GEE
constituem ações que se enquadram no PSA, gerando créditos de carbono e possibilitando
remunerar quem preserva direta ou indiretamente o meio ambiente (TORNQUIST; BAYER,
2009). Considerando que se trata de um mercado não espontâneo, primeiramente tem-se a
necessidade de identificar e quantificar qual a externalidade gerada, quem a produz e quem se
beneficia com tais práticas de conservação da natureza (MARTINKOSKI et al. 2012).
Os serviços ambientais prestados pela pecuária em pastagens nativas, em termos de
retenção CO2 atmosférico podem ser estimados por comparação do estoque de C orgânico em
solos (TORNQUIST; BAYER, 2009). Já as emissões de GEE pelos bovinos podem ser
quantificadas e comparadas entre diferentes sistemas de produção através da avaliação do ciclo
de vida (ACV) de sua produção (SOUSSANA et al. 2008). A ACV consiste em uma importante
metodologia para avaliar impactos potenciais ao longo do ciclo de vida de um produto desde a
aquisição da matéria-prima até a produção, utilização e eliminação, incluindo a análise da
extração e processamento de matérias-primas, bem como, fabricação do produto, transporte,
distribuição, uso, reuso, manutenção, reciclagem e eliminação de resíduos (ISO, 2006;
GUINÉE, 2002).
A ACV permite a identificação de pontos críticos para reduzir os impactos ambientais
dentro da cadeia de suprimentos, comparação sobre formas de utilização de recursos e emissões
de diferentes tecnologias de produção (PELLETIER; PIROG; RASMUSSEN, 2010). O
conceito de ACV é regido pelas normas ISO (ISO 14040:1997, ISO 14041:1999, ISO
14042:2000, ISO 14043:2000), onde respectivamente apresentam os princípios e estrutura,
definição de escopo e análise de inventário, avaliação do impacto do ciclo de vida e
interpretação (ISO, 2006).

3 Procedimentos Metodológicos

As informações específicas utilizadas neste estudo têm como origem os resultados das
pesquisas feitas sobre emissões GEE em sete sistemas de produção de carne bovina na região
do Bioma Pampa no Rio Grande do Sul, realizado por Ruviaro et al. (2015). Os dados são

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provenientes de uma propriedade rural localizada na região ocidental do Rio Grande do Sul –
fronteira Brasil- Uruguai, pertencente ao Bioma Pampa.
De acordo com a Tabela 1, foram considerados sete sistemas de alimentação para a
criação de gado de corte.

Tabela 1: Sistemas de produção de carne bovina analisados na região do Pampa do Rio Grande do Sul
Sistemas de produção Descrição Dias de pastejo
SP I Campo Nativo 840
SP II Campo Nativo Melhorado + Azevém 510
SP III Campo Nativo + Azevém 510
SP IV Campo Nativo Melhorado + Sorgo 360
SP V Azevém + Sorgo 502
SP VI Campo Nativo + Suplemento proteico 660
SP VII Campo Nativo + Suplemento proteico energético 510
Fonte: Ruviaro et al. (2015)

Com o objetivo de uma melhor comparação dos sistemas, as análises foram efetuadas por
animal e por hectare. O cálculo por hectare utilizou sempre a capacidade máxima de animais
em cada fase dos sistemas de produção, respeitando a capacidade de suporte animal da
pastagem. Isto refletiu em uma variação dos números de animais por hectare dentre as fases de
um mesmo sistema. Para atender o objetivo, foi desconsiderado em todas as etapas dos sistemas
de produção o custo da aquisição de animais. Na análise por hectare, o início da atividade
começa no dia 0 da gestação da vaca, sendo atribuídos os custos referentes ao uso do solo
(arrendamento), alimentação e emissão de GEE de cada fase. A receita consiste na
multiplicação do ganho de peso vivo por hectare (GPVH) em cada fase pelo preço de
comercialização do peso vivo.
Para o cálculo do custo de produção por animal, foi considerado o valor para a aquisição
de um bezerro desmamado com seis meses (final da fase de cria) no início da fase Recria I. O
custo para aquisição foi calculado a partir da multiplicação do peso do animal aos seis meses
de idade com o preço do quilo vivo no mercado (R$ 4,50). Esse procedimento foi adotado
devido às propriedades se especializarem em sistemas de cria ou engorda, sendo geralmente
realizadas em propriedades distintas, a fim de uma melhor representação regional.
Os custos de uso da terra (arrendamento) foram atribuídos de acordo com preço de
mercado da região, sendo R$ 258,62 por hectare/ano (R$ 0,71/dia), para arrendamento de
pastagem de campo nativo. Os valores de comercialização dos animais para abate (430 kg)
diferem-se de acordo com a idade do animal, sendo de R$ 4,80 por quilo de peso vivo para
animais abatidos com menos de 24 meses e R$ 4,50 por quilo de peso vivo para animais
abatidos com mais de 24 meses.
A valoração das emissões foi baseada no volume de emissão de GEE de cada sistema, o
custo do mesmo foi valorado utilizando a cotação do crédito de carbono no mercado. A
valoração neste trabalho foi de R$ 21,20 por tonelada de CO2-eq. O valor monetário das
emissões de GEE entra como custo no processo de produção. Como forma de penalizar o
sistema que mais emite GEE, foi gerado um benefício para os sistemas com menor emissão,
sendo o valor do benefício igual à diferença entre o valor das emissões do sistema de maior
emissão para o sistema atual. Para análise do investimento utilizou-se o Valor Presente Líquido
(VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR) e o Índice de Lucratividade Anualizado (ILA) para
cada sistema de produção com o objetivo de encontrar o sistema mais viável do ponto de vista
econômico e ambiental.
Para identificar qual o melhor sistema, entre os sete sistemas de produção de carne bovina
de corte, foi inicialmente necessário calcular o ganho de peso por sistemas de produção,

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atribuindo sempre a produtividade máxima de cada sistema, conforme as fases de gestação,
cria, recria e terminação. Em seguida foram apresentadas as emissões totais de GEE por
sistemas de produção. Por fim foram feitas as estimativas a partir da aplicação da técnica de
análise de investimentos (VPL, TIR e ILA) para elaborar um ranking entre os sistemas de
produção sobre aqueles mais viáveis do ponto de vista econômico e ambiental.

4 Resultados

A produtividade dos sistemas de produção de gado de corte foi comparada por animal e
por hectare. Os sistemas apresentam variação nos resultados devido à alteração da qualidade do
alimento fornecido aos animais nos sistemas avaliados, proporcionando diferenças de ganho de
peso por animal e na capacidade de suporte de animais por hectare. Entre os sete sistemas, o
sistema de produção I (Campo Nativo), por utilizar apenas campo nativo, com baixa qualidade
nutricional, apresenta um maior período (1.121 dias) para que um animal chegue à fase adulta
e esteja pronto para ser comercializado com 430 Kg.
A rentabilidade dos sistemas envolve fatores relacionados ao custo de produção e
emissão de GEE durante as etapas da produção, benefícios das emissões e receita da venda dos
animais. Dessa forma, a Tabela 2 apresenta os dados sistemas de produção referentes ao custo
de produção, custo das emissões de GEE, benefício sobre o potencial de redução, receita
comercial e receita total (agregando benefício sobre redução das emissões).

Tabela 2 – Resultado financeiro dos sistemas de produção (em reais)


Sistemas Custo total de produção Custo emissões Benefício Receita Comercial Receita Total
de GEE GEE
produção Animal Há Animal Há Animal Há Animal Há Animal Há
I 1082 874 338 512 0 0 1935 3276 1935 3276
II 1534 2296 170 312 168 199 2064 4880 2232 5080
III 1421 1771 234 414 104 97 2064 4152 2168 4250
IV 1546 2318 207 425 131 87 2064 4880 2195 4967
V 1707 2760 168 325 170 187 2064 5151 2234 5338
VI 1320 797 263 343 75 168 2064 3172 2139 3341
VII 1289 781 185 255 153 256 2064 3196 2217 3452
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Ruviaro (2015).

O SP I obteve o menor custo de produção por animal, R$ 1.082,33, entretanto, teve a


menor receita total entre os sistemas, devido a sua maior emissão de GEE por quilo de carne
produzida, não obtendo benefícios sobre redução das emissões e menor preço por quilo de carne
comercializada. Ao analisarmos os custos por hectare, os SP VI e SP VII obtiveram custos
inferiores ao SP I, devido ao menor custo de uso do solo (menor período necessário de pastejo
para o abate) e baixa utilização de insumos. Em relação à receita total por hectare, tiveram
melhores resultados os sistemas com maior intensidade de produção, refletindo em maior
produção por hectare durante o período necessário para um animal atingir 430 kg.
A diferença de dias necessários para produção, custos e datas de desembolso dificultam
a comparação entre os sistemas, sendo necessária a utilização de ferramentas de avaliação de
rentabilidade em conjunto para melhor compreensão. A Tabela 3 apresenta o resultado das
análises de VPL, TIR e ILA, divididos entre animal e hectare, além da respectiva posição dos
sistemas.
A maior produtividade por hectare dos SP II, SP III, SP IV e SP V refletiu em valores
superiores de receita, no entanto, o maior custo com insumos durante fases de produção
diminuiu sua lucratividade. Analisando por animal, o SP VII obteve o melhor resultado,
explicado pelo baixo custo de produção, abate precoce do animal e benefícios sobre redução

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das emissões. Contudo, quando comparado por hectare, o maior GPVH do SP II refletiu
positivamente, obtendo resultado superior ao SP VII.

Tabela 3 – Comparação da rentabilidade dos sistemas de produção através do valor presente líquido
(VPL), taxa interna de retorno (TIR) e índice de lucratividade anualizado (ILA)
VPL TIR ILA
Animal Hectare Animal Hectare Animal Hectare
Posição Valor Posição Valor Posição Valor Posição Valor Posição Valor Posição Valor
I 6 330,34 7 1.567,93 7 1,14% 4 3,23% 7 22,51% 6 67,32%
II 2 508,84 1 2.426,56 2 2,81% 3 3,33% 2 47,20% 3 107,94%
III 4 460,13 6 1.775,39 4 1,82% 6 2,78% 3 35,97% 5 92,56%
IV 7 308,89 2 2.225,50 5 1,79% 5 2,94% 6 32,67% 4 103,28%
V 5 346,35 4 2.131,87 6 1,79% 7 1,43% 5 33,28% 7 54,53%
VI 3 490,33 5 1.924,42 3 2,04% 2 5,39% 4 34,31% 2 113,24%
VII 1 720,18 3 2.190,97 1 4,59% 1 7,27% 1 71,11% 1 179,87%
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Ruviaro et al. 2015.

A análise da TIR também apresentou diferenças na comparação entre animal e hectare,


contudo, destaca-se o resultado do SP VII, com a melhor taxa de retorno nas duas formas de
análise. Analisando o ILA, novamente o sistema VII se destaca com o melhor resultado quando
comparado por animal e por hectare, novamente como reflexo da baixa necessidade de insumos
para produção.
Na avaliação de rentabilidade dos sistemas, o SP VII obteve melhores resultados em
quase todas as análises, no entanto, se faz necessário observar que o SP II obteve bons
resultados, principalmente quando analisado o VPL por hectare, com um GPVH superior em
aproximadamente 65% ao SP VII.

5 Discussão

Para uma produção ser sustentável faz-se necessário contemplar não apenas aspectos
ambientais, assim, procurou-se incorporar o ônus das emissões de GEE nos custos de produção
da pecuária bovina de corte. Para este fim, atribui-se um benefício econômico para os sistemas
que mitigassem as emissões quando comparados aos sistemas de maior emissão.
Nesse contexto, estudo realizado por Aby et al. (2013) na Noruega, atribui os valores da
emissão de GEE como impostos na produção de carne bovina, sugerindo que esses fossem
pagos pelo produtor. A princípio parece evidente que os custos de emissão devam ser pagos
pelo poluidor (produtor rural), contudo, como a produção de alimentos é necessária para atender
a demanda da sociedade, esses custos provavelmente seriam repassados para os consumidores.
A aplicação de impostos diferenciados aos alimentos de acordo com emissões de GEE resultaria
em uma mudança na dieta média da população, refletindo em uma mitigação das emissões de
GEE agrícolas (WIRSENIUS; HEDENUS; MOHLIN, 2011).
Por outro lado, ao analisar-se o uso dos campos nativos do Bioma Pampa para pastejo
dos animais, constata-se que esta atividade é tida como uma mantenedora da biodiversidade da
região (OVERBACK et al., 2009), não havendo nenhuma remuneração ao produtor rural por
esse serviço ambiental prestado. Do mesmo modo, Veysset et al. (2010) aponta que a fase de
cria da bovinocultura francesa se concentra em áreas de pastagem de baixa fertilidade e
montanhosas, sendo uma atividade fundamental para o desenvolvimento regional, mantendo a
paisagem e certo nível de biodiversidade dos sistemas. Assim, com o propósito de dar
incentivos aos produtores que reduzam as emissões de GEE no Bioma Pampa, incluímos os

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respectivos ônus das emissões nos custos de produção de cada sistema, mas gerando incentivos
de acordo com a redução em relação ao sistema de maior emissão.
Por meio da análise da rentabilidade dos sistemas avaliados, o SP VII, baseado no
pastejo dos animais em campos nativos e suplementação proteico energética obteve os melhores
resultados. A suplementação proteico-energética dos animais possibilitou um maior peso ao
desmame dos bezerros, manutenção do peso durante a fase de Recria I (período seco/inverno)
e ótimo GPVA durante a fase de Recria II (período chuvoso/verão). Contudo, a suplementação
proteico-energética proporcionou baixa carga animal por hectare quando comparado aos outros
sistemas. A principal característica desse sistema é o custo reduzido de produção, entretanto a
produtividade por hectare não é elevada. Esta baixa produtividade por hectare aumenta a
dependência em relação aos custos de uso da terra por unidade produzida e uma maior
necessidade de área para produção. Por esse motivo, mudanças no custo da terra influenciariam
negativamente em maiores proporções nesse sistema, comprometendo seus resultados.
A intensificação da produção no SP II através da adubação dos campos nativos e
consorciação com azevém necessitou de maiores investimentos para produção, mas obteve uma
produção de, aproximadamente, 63% superior ao SP VII. Quando analisado o VPL por hectare,
o SP II obteve o melhor resultado financeiro e alcançou resultados satisfatórios quando
analisado pelo capital investido (TIR e ILA).
A fim de compensar a menor produtividade por hectare do SP VII, seria necessária a
utilização de outras áreas para produção animal, as quais concorreriam diretamente com o
cultivo de produtos agrícolas. Dessa forma, a intensificação do sistema aumenta a produção em
unidades por área e reduz o potencial de avanço da agricultura em áreas naturais do Brasil
(LATAWIEC et al. 2014). Sob esta ótica, a adoção em larga escala desse sistema poderia
potencializar a utilização de áreas preservadas, em contrapartida, a intensificação através de
dietas mais concentradas a partir de grãos e cereais podem ocasionar conflitos futuros com a
sociedade, devido à competição com a produção de alimentos para consumo humano (WALL;
SIMM; MORAN, 2014).
Ademais, poucos investimentos são necessários para aplicação de medidas que
permitam a redução das emissões entre os sistemas avaliados. Quando comparado às emissões
dos SP I (pastejo Campo Nativo) com o SP VII (pastejo Campo Nativo e suplementação
proteico-energética), a suplementação aos animais permitiu reduções de, aproximadamente,
50% das emissões, além de uma melhor rentabilidade. Isso nos permite dizer que apenas a
implantação da suplementação proteico-energética no SP I teria impactos em curto prazo sobre
as emissões e lucratividade do sistema. Segundo O´Brien et al. (2014), as razões pelas quais
alguns produtores não tenham implantado medidas que permitam a mitigação das emissões e
aumento da lucratividade do sistema são diversas, podendo incluir a aversão ao risco, ao
comportamento sobre uma nova tecnologia ou a dificuldade na gestão para maximizar o lucro.
A definição de limites de emissões de GEE por unidade produzida pode proporcionar redução
nas taxas de emissões por animal, desde que existam alternativas viáveis economicamente e
ambientalmente. Segundo O´Brien et al. (2014), a implementação de um sistema de
compensação nacional para a agricultura necessita de transações de baixo custo e alto potencial
de mitigação das emissões. Medidas como uma tributação superior aos animais com abate
superiores há 24 meses, poderiam a curto prazo influenciar a migração dos produtores para
sistemas mais intensivos de produção por causa da rentabilidade financeira, reduzindo as
emissões de GEE.

6 Conclusão

A crescente demanda mundial por proteína de origem animal tem suscitado entre os
consumidores preocupações inerentes as depleções ambientais. Portanto, o aumento da

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produção de carne bovina condicionada à redução de sua pegada de carbono representa um
grande desafio para gestores, instituições de pesquisas e agências governamentais devido à
concorrência de trade-offs entre os objetivos ambientais econômicos.
Ao levar-se em conta os dados analisados e considerando-se que parte dos produtores
possuem baixa capacidade de aporte de capital financeiro, a suplementação proteica-energética
(SP VII) apresentou-se como uma alternativa viável pois exige poucos investimentos para
elevar a rentabilidade da atividade e, concomitantemente, reduzir as emissões de gases de efeito
estufa da produção de carne bovina. Ademais, há de considerar-se que o conhecimento restrito
por parte do produtor sobre os benefícios ambientais e econômicos da suplementação proteica-
energética é um dos motivos de resistência à implantação desse sistema produtivo.
Por outro lado, o SP II apresentou-se como uma alternativa interessante para aqueles
produtores que detêm suficiente conhecimento sobre o correto manejo de forrageiras e que
dispõem de capacidade de aporte de capital financeiro para investimento na atividade. Embora
este sistema tenha custos de produção mais elevados, ao mesmo tempo, proporciona uma
rentabilidade superior por hectare. Além do mais, tanto a adoção do SP II como do SP VII
permite obter-se um incremento na produção de carne bovina sem exigir novas áreas para a
exploração pecuária e, ainda, podem contribuir para o adequado uso e preservação do Bioma
Pampa.
As análises realizadas evidenciam que, em determinadas condições alimentares, é
possível otimizar a produção de carne de baixa emissão de CO2 equivalente, com um atrativo
retorno econômico. Melhorias na qualidade dos pastos, na seleção genética de animais com
melhores taxas de conversão alimentar, no manejo das pastagens ou o uso de suplementos são
fatores para a mitigação de gases de efeito estufa com consequentes ganhos econômicos.
Esforços conjuntos dos setores produtivos, institutos de pesquisas e agências de fomento são
imprescindíveis para que se possa identificar e implementar nas diversas regiões do país
sistemas de produção de carne, ambientalmente e economicamente, otimizados.

Referências

ÅBY, B. A. et al. Effect of incorporating greenhouse gas emission costs into economic values
of traits for intensive and extensive beef cattle breeds. Livestock Science, v. 158, n. 1, p. 1-
11, 2013.
BECOÑA, G et al. Greenhouse gas emissions of beef cow– calf grazing systems in Uruguay.
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CARVALHO, P. C. F. Lotação animal em pastagens naturais: políticas, pesquisas,
preservação e produtividade. In: PILLAR et al. eds. Campos Sulinos: Conservação e uso
sustentável da biodiversidade. Brasília: MMA, 403 p. Brasília: MMA, 2009.
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A GESTÃO FINANCEIRA NO CONTEXTO DA CADEIA
AGROALIMENTAR DO CHUCHU: UM ESTUDO DE CASO
Francisco Isidro Pereira1

Resumo
O estudo em tela buscou entender como se configura a gestão financeira em uma empresa que exerce a função de
núcleo gestor em uma cadeia agroalimentar do chuchu. Pela especificidade e singularidade do objeto de pesquisa
trata-se de um estudo de caso único. Como estratégia metodológica foram adotados como instrumentos de coleta
a entrevista semiestruturada, a observação participante e a análise documental em todos os segmentos da cadeia.
Os procedimentos analíticos foram baseados nos contrastes teóricos e esquemas. Para validar recorreu-se a
triangulação dos dados retornando as fontes. A janela temporal contemplou 19 meses entre dezembro de 2017 até
abril de 2019. Os achados de campos trilham um estilo impresso à função financeira como fortemente baseado no
controle da estrutura dos gastos compartilhado com os fluxos que configuram a programação de recebimentos e
pagamentos decorrentes do upstream e downstream da cadeia, mas também uma gestão com base na estrutura
digital incipiente,atrelada a lógica da agricultura digital.
Palavras-chave: Cadeia agroalimentar; gestão financeira; agronegócio
Abstract
The present study sought to understand how financial management is configured in a company that performs the
function of managing nucleus in a chariot food chain. Due to the specificity and uniqueness of the research object
it is a unique case study. As a methodological strategy, semi-structured interviews, participant observation and
document analysis were adopted as collection instruments in all segments of the chain. The analytical procedures
were based on the theoretical contrasts and schemes. To validate it was resorted to the triangulation of the data
returning the sources. The time window spanned 19 months from December 2017 to April 2019. Field Findings
traces a print style to the financial function as strongly based on controlling the spending structure shared with
the flows that shape upstream receipts and payments scheduling. and downstream of the chain, but also a
management based on the incipient digital structure, linked to the logic of digital agriculture
Keywords: Agri-food chain; financial management; agribusiness

1 Introdução
A teoria das finanças corporativas se perfila potente capaz de explicar, com relativa
precisão, o comportamento da natureza dos fluxos do dinheiro no âmbito das corporações, não
importando o seu porte. Não obstante, com o advento da possibilidade de alternativas de
desenvolvimento baseado localmente, em pequenas e médias empresas, no aproveitamento das
vocações e das especificidades da indústria e na maior integração com a sociedade local
(ROESE, 2003), os pressupostos teóricos financeiros parecem desconexos de seus
pressupostos, principalmente se apropriar da realidade empresarial do mundo rural
contemporâneo. Embora não explícitos, as evidencias de natureza dedutivas podem ser
extraídas de Corrêa, Kliemann e Denicol (2017) e Zimpel (2017).
Nos quadros do debate internacional da globalização e do ambientalíssimo dos anos
1990 há uma ressignificação do rural, na percepção de Cesco, Lima e Moreira (2016). A visão
se amplia do agrícola para o campo.
Embora a administração financeira, por definição, já envolva o controle de custos por
intermédio de informações integradas, a aplicação prática dessa função, nas empresas rurais, é
mais recente, especialmente após o início da década de 90, conforme Nogueira (2004). No
entanto, como sublinha Crepaldi (2016) o produtor rural guarda em sua memória as
informações, não anota os acontecimentos que são de extrema importância para a correta
contabilização, de maneira que com o passar do tempo são esquecidos, e não calculados na hora
da comercialização dos produtos. Além disso, há excessiva falta de controle e organização
financeira, pois apenas poucos separam suas despesas particulares de seu negócio agropecuário.

1Doutor/Universidade Federal do Ceará1- fisidro30@hotmail.com1

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É fato conhecido que como os demais setores, o agronegócio objetiva o retorno
econômico financeiro que satisfaça o produtor rural e seus familiares. Mas é importante notar
como fatores sociais e políticos, presentes na história de uma região, tornam-se pressupostos
fundamentais na construção de elos. Pois os mesmos não se concretizam sem a presença de
fortes vínculos extra econômicos unindo unidades agrossistêmicas rurais, produtores rurais,
consumidores, poder local e sociedade civil. Tais elos imprimem uma espécie de “nova
solidariedade” entre as unidades produtivas, o fluxo de dinheiro e trabalho. Na literatura esta
nova solidariedade é rotulada de confiança, confiabilidade tendo como garantia relações
informais, não sancionadas por contrato. Roese (2003) destaca este fenômeno como eficiência
coletiva, denotando a capacidade de competir um conjunto de unidades produtivas rurais, sem
as quais uma isolada não obterá êxito.
A aderência de tais núcleos produtivos formata o esboço de uma cadeia de agronegócios
e neste contexto de vínculos físicos, técnicos, gerenciais, se levanta a seguinte questão
norteadora: como se molda a gestão econômico financeira?
Remetendo a Sheng (2012) a tendência atual no estudo de finanças corporativas é
adicionar, às teorias consolidadas nos países desenvolvidos, a discussão das particularidades e
práticas empresariais institucionais dos principais mercados emergentes. Sob esta abordagem o
presente texto contrasta a realidade de forma a evidenciar um modelo de gestão financeira e
econômico de uma cadeia agroalimentar do chuchu na região do estado do Ceará, no nordeste
brasileiro. A escolha foi intencional e casual decorrentes de eventos acadêmicos no percurso de
2017.
O texto está organizado em sete seções incluindo esta. As seções 2 a 4 centram-se no
compêndio das linhas teóricas. Na seção 5 traceja as bases metodológicas. A sexta foca as
análises extraídas de campo. Por fim, a última seção, delineia as considerações finais.
2 A cadeia produtiva do agronegócio no bojo conceitual e as conexões gerenciais
É visível na literatura os diferentes ângulos conceituais que capturam a terminologia
“cadeia produtiva do agronegócio”. Belik, Bolliger e Silva (2000) pontuam de forma precisa as
delimitações conceituais reforçando as bases seminais decorrentes. Neves e Castro (2010),
sublinham que em nenhum momento, diferenciam empresas pequenas de grandes, familiares
de empresariais, bastando tão somente a inserção de forma competitiva da produção nos
sistemas de distribuição de forma a alcançar o consumidor. Afinal, o pequeno produtor é parte
de uma cadeia produtiva ou rede de negócios que conduz o ritmo de crescimento dessa cadeia
ou rede.
Conforme Cônsoli et al. (2011), não há ou ao menos não foi encontrada uma única
forma de descrever e caracterizar a relação entre indústrias, distribuidores e produtores e suas
interrelações. Dependendo do ponto de vista, cada um pode tecer considerações a essas
relações. Se apoiando nas definições tecidas por Castro et al. (1998), o negócio agrícola é
definido com um conjunto de operações de produção, processamento, armazenamento,
distribuição e comercialização de insumos e de produtos agropecuários e agroflorestais. Inclui
serviços de apoio e objetiva suprir o consumidor final de produtos de origem agropecuária e
florestal. Já a cadeia produtiva contempla um conjunto de componentes interativos, incluindo
os sistemas produtivos, fornecedores de insumos e serviços, indústrias de processamento e
transformação, agentes de distribuição e comercialização, além dos consumidores finais.
Os processos de produção referem-se a um ecossistema, que ao reportar a Lima et al.
(2006), se identifica um sistema ecológico onde ocorre a interação do ambiente físico e da
comunidade de organismos ali estabelecida. Sob esse prisma conceitual, um ecossistema
agrícola se diferencia exatamente pela total dependência do homem para sua existência, e
também pela influência que este, através do gerenciamento, exerce sobre a comunidade
biológica que se estabelece e também sobre o ambiente físico. Urge enfatizar que neste contexto
há o sistema natural o qual é constituído de um conjunto de elementos bióticos e abióticos em

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interação, mediante um fluxo de energia em permanente troca com seu ambiente. Este sistema
natural, ou meio ambiente, exerce forte influência sobre os sistemas produtivos e sobre os
demais componentes das cadeias que lhe são relacionadas. E aqui vale recorrer a Vian (2003)
ao abordar o aspecto da forte dependência de fatores incontroláveis com clima, pragas e
doenças. Conforme Santos (2017), devido a essas particularidades, passa a envolver outros
segmentos da economia, tornando-se muito mais complexo que a produção agropecuária
propriamente dita, passando a necessitar de uma abrangência ampla, segundo a qual os
segmentos que compõem este setor são denominados: a) “antes da porteira” – backward
linkage, compostos basicamente pelos fornecedores de insumos e serviços, máquinas,
implementos, defensivos, fertilizantes, corretivos, sementes dentre outros; b) “dentro da
porteira”, que é o conjunto de atividades desenvolvidas dentro das unidades produtivas, que
envolve preparo de solos, tratos culturais, irrigação, colheita, criações e outras, e c) “após a
porteira” forward linkage, no que refere-se as atividades de armazenamento, beneficiamento,
industrialização, embalagem, distribuição, consumo de produtos alimentares, fibras e produtos
energéticos provenientes da biomassa.
A partir da segmentação recém citada, foram criados os sistemas agronegociais
constituídos dos sistemas agroalimentar e agroindustrial não alimentar. Enquanto o primeiro é
o conjunto das atividades que concorrem na formação e a distribuição dos produtos alimentares
e, em consequência o cumprimento da função de alimentação, o segundo corresponde o
conjunto das atividades que concorrem à obtenção de produtos oriundos da agropecuária,
florestas e pesca, não destinadas à alimentação, mas aos sistemas energético, madeireiro, couro
e calçados, papel, papelão e têxtil.
Como enfatiza Soares (2009), a ideia conceitual de cadeia produtiva envolve uma visão
sistêmica da atividade como um todo, desde os aspectos tecnológicos de produção até a
comercialização, como a qualidade, sanidade e legislação, bem como no que concerne às
barreiras não tarifárias de mercado. Para ele considerando os produtos agrícolas, a cadeia
produtiva pode ser visualizada como a ligação e interrelações de vários elementos para ofertar
no mercado in natura ou processado.
Os fornecedores de insumos são as empresas que têm por finalidade ofertar produtos
primários para as fazendas. No tocante aos produtores rurais eles se apresentam como função,
atuar como agentes no uso da terra para produção de commodities. Estas produções são
realizadas em sistemas produtivos (fazendas, sítios, granjas, hortas). Os processadores são
representadas pelas agroindustriais, responsáveis por pré-beneficiar, beneficiar ou transformar
os produtos recebidos pelos agricultores. Os atacadistas são grandes distribuidores com a
função de abastecer redes de supermercados, postos de vendas e mercados no exterior. Por sua
vez, os varejistas constituem os pontos cuja função é comercializar os produtos junto aos
consumidores finais. Finalmente o mercado consumidor, representa o ponto final da
comercialização. Ele é constituído por grupos de consumidores, nacionais e/ou no exterior.
Urge ressaltar que o relacionamento entre os atores da cadeia produtiva do agronegócio
estão sujeitos a influências de dois ambientes: o ambiente institucional e o ambiente
organizacional. O ambiente institucional faz referência aos conjuntos de leis (ambientais,
trabalhistas, tributárias e comerciais), normas e padrões de comercialização que representam os
instrumentos que regulam as transações comerciais e trabalhistas no setor. Enquanto o ambiente
organizacional é estruturado por entidades que exercem influência sobre a cadeia produtiva,
tais como: agências de fiscalização ambiental, agências de créditos, universidades, centros de
pesquisa e agências credenciadoras.
Stanton (2019) enquadra a gestão da cadeia de suprimentos como o planejamento e a
coordenação de todas as pessoas, processos e tecnologia envolvidos na criação de valor para
uma empresa. Do ponto de vista pragmático, gerenciar uma cadeia de suprimentos engloba a
coordenação de todo o trabalho dentro da empresa junto com as coisas que estão acontecendo

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fora da empresa. Significa analisar o negócio como um único elo em uma cadeia longa e
integrada que fornece algo de valor para um cliente. Basicamente, valor significa “dinheiro”.
Se um cliente está disposto a pagar por algo, logo, esse algo tem valor. O lucro é simplesmente
a quantidade de valor que se capturou da cadeia de suprimentos.
Remetendo à Farina, Azevedo e Saes (1997) em um ambiente de constante mutação, a
capacidade de transformar as ameaças de choques externos em oportunidade lucrativas de
negócio depende da existência de um sistema de coordenação capaz de transmitir informações,
estímulos e controles ao longo de toda a cadeia produtiva. Sob a ótica de Araújo (2000) as
relações interorganizacionais é um modo de coordenação. Se apropriando de suas palavras e
adaptando-as na perspectiva de agronegócio, as relações interorganizacionais dizem respeito
apenas aos padrões de troca entre as organizações rurais considerando estas como minis,
pequenas, médias ou grandes constituídas como entidades autônomas e independentes. Estas
trocas envolvem coordenações de atividades, combinações de recursos e ligações sociais que
configuram uma forma de governar relações socioeconômicas.
A existência e estabilidade das relações interorganizacionais passam a ser explicadas
pela existência de um inventário de confiança mútua que é construída no desenvolvimento da
relação. Logo as empresas formam relações por outras razões e a confiança emerge como uma
consequência do desenvolvimento dessas relações.
Insiste Araújo (2000), no entanto, não se pressupor que todas as relações
interorganizacionais sejam pautadas por colaboração e dependência simétrica entre ambas as
partes. Pelo contrário, a colaboração implica frequentes interações e, consequentemente,
aumenta o potencial para conflitos e divergências. Em geral, uma relação é caracterizada por
um misto de cooperação e conflito em que cada uma das partes procura extrair concessões e
favores da outra. Um relação caracterizada apenas por cooperação tende necessariamente a
transformar-se numa relação estagnada e rotinizada. Uma relação puramente de conflito
apresenta naturalmente tensões centrífugas e tem tendência a romper-se na presença de
alternativas credíveis. A interdependência entre as partes é raramente simétrica. Em geral, uma
das partes tem tendência a exercer um ascendente sobre a outra, seja por razões de dependência
ou conhecimento assimétrico. Tal aspecto é frisado por Gameiro e Caixeta Filho (2015)
segundo os quais, a estratégia de colaboração nem sempre são fáceis de ser implantadas
provocando uma perda na cadeia como todo.
Fawcett, Mangnan e McCarter (2008) delineiam uma robusta análise em que definem
três estágios visando consolidar a colaboração na cadeia de suprimento contemplando uma
estrutura de campo de força. Huo (2012) examinou o impacto de 3 tipos de integração da cadeia
de suprimento considerando 617 companhias chinesas. Os seus achados apontam melhorias de
desempenho financeiros decorrentes das melhorias de encaixes de interesses entre o ambiente
interno e externo.
3 O mercado hortifruti e a commodity do chuchu no Brasil
Sendo o setor hortifrúti composto por frutas e verduras, estes se despontam como o mais
claro exemplo de alimentos saudáveis. É pouco provável encontrar uma boa dieta recomendada
pelos nutricionistas que não contenha em sua cesta produtos hortifrúti. As vendas nos
supermercados representam cerca de 10%, asseguram os especialistas do setor.
Remetendo a Rodrigues (2018), o chuchuzeiro é uma planta trepadeira que pode
produzir por vários anos possuindo ramas longas com até 15m de comprimento onde
apresentam anéis para sustentação no lugar onde sobem as ramas e saem folhas em formato de
coração. A cultivação do chuchuzeiro é feita dos frutos maduros brotados; os agricultores
produzem seus próprios frutos - sementes. O fruto deve estar duro, e com sinais de abertura
onde o olho irar crescer, com características de forma e textura desejadas. A semente está apta
para o plantio quando a brotação tiver 10 a 15 centímetros de altura. As flores são amareladas
e separadas em fêmeas e machos, distintas na mesma planta; a fecundação da flor é totalmente

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dependente da polinização de abelhas silvestres. O fruto, chuchu, é suculento de forma
alongada, podendo ter cor branca/creme, verde/claro ou verde/escuro, liso ou enrugado, com
ou sem espinhos. A colheita é realizada através de bolsas, com capacidade para 50 frutos,
prontos para o consumo no mercado.
O número de estabelecimentos agropecuários com cultivos de chuchu de acordo com o
censo agropecuário do IBGE (2017) é de 16.289. O quantitativo produzido somou 271.300
toneladas. Dentre os estados nordestinos sobressaem a Bahia e Pernambuco respectivamente
com uma produção em tonelada de 34.055 e 25.639.
4 A literatura financeira e o agronegócio
O que a teoria revela a respeito da gestão econômico financeira no agronegócio? Em
consonância a uma revisão na literatura procedida por Corrêa, Kliemann Neto e Denicol (2017),
é reduzida a produção bibliográfica focada estritamente no tema. No âmbito das aspectos
macroeconômicos as discussões se perfilam genéricas: o modo de gestão como garantia de
lucratividade em ambientes adversos e investimentos governamentais em infraestrutura para se
obter eficiência dos recursos humanos, naturais e financeiros. No tocante às práticas de gestão
econômico financeira de cada sistema produtivo, os esforços intelectuais convergem na
edificação de modelos incorporando variáveis essencialmente econômica e de natureza
conceituais simples como lucratividade, margem bruta e, por vezes, ponto de equilíbrio. Com
respeito as alternativas para o aumento da rentabilidade as reflexões convergem para a
diversificação, integração de culturas, especialização, verticalização e adoção de culturas com
apelo ambiental. Sendo que a adoção de qualquer uma de tais técnicas depende do contexto
macroeconômico e produtivo da propriedade rural.
Lazzarini e Chaddad (2000) apresentam conceitos financeiros aplicados à gestão do
sistema agroindustrial (SAG) e desenvolve uma ideia bastante simples: verificar a dinâmica dos
investimentos e financiamentos ao longo dos SAGs, tentando adicionar ao debate uma análise
mais sistêmica. Uma vez que a taxa de juros recebida pelo emprestado e paga pelo tomador
diferem em função de “fricções” existentes no fluxo de capitais, notadamente os custos de
informação e transação, desenvolve-se uma análise acerca da redução dessas “fricções”.
Neves (2015) discute os relacionamentos interorganizacionais entre as unidades
empresariais que embora não vincule explicitamente na temática financeira, ao expor uma
matriz reveladora das possíveis origens de custos de transação nos canais de distribuição da
empresa, sua magnitude e como reduzi-los capta a lógica da gestão de fluxos dos recursos
monetários envolvidos na mensurarão dos mesmos. Portanto, conforme Araújo (2000) os custos
de transação são entendidos como os custos associados à formulação, negociação e execução
de contratos, incluindo os custos de vigiar o cumprimento dos contratos. Para Zylbersztajn
(2005), sejam os agentes privados, sejam os gestores públicos, restam dúvidas a respeito de
como desenvolver instituições redutoras dos custos de transação para o adequado
funcionamento das cadeias produtivas. Embora haja uma predominância de estudos em torno
da gestão de custos conforme aludido anteriormente, os tais custos de transação parecem
irrelevantes nos ambientes gerenciais denotando uma clara lacuna no âmbito empírico.
No traçado analítico de Crepaldi (2016) ao reconhecer a relevância da contabilidade de
custos sob o aspecto de um processo que visa a otimização dos limitados recursos disponíveis
para que qualquer organização possa prosperar é imprescindível. A função financeira e contábil
dentro de uma empresa rural são parecidas. Embora haja relação íntima entre essas funções, a
contábil é melhor visualizada como um insumo necessário à função financeira, isto é, como
subfunção da administração financeira. Lopes e Bara (2012) após ressaltarem as
especificidades contempladas na atividade agrícola, assinalam a importância da utilização de
técnicas de análise de investimentos para a tomada de decisão de aporte de recursos de grande
monta em uma determinada atividade. Acrescentam ainda o caráter desafiador ao produtor,
empreendedor rural ou gestor, uma vez da necessidade de monitoramento das constantes

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mudanças e as tendência do macroambiente (política agrícola, taxa de juro, câmbio, entre
outros), do ambiente imediato onde a atividade está inserida (fornecedores, compradores,
produtos substitutos e concorrentes) e ainda preocupado com questões de dentro da porteira,
desde fatores edafo-climáticos, relevo e localização, passando pelo ciclo das atividades
(agrícola e pecuária), pela produtividade, custos operacionais, entre outros diversos fatores que
influenciam substancialmente a performance de um determinado investimento. Assim, torna-
se importante para esses agentes uma análise mais profunda fazendo uso de técnicas financeiras,
de análise de investimento e de análise de riscos (grifo do original).
Particularmente Cônsoli e Teixeira (2011), discorrem como as políticas financeiras
relacionadas a prazos de pagamentos e recebimentos, bem como o controle das receitas, custos
e despesas, e consequentemente das margens de lucro, impactam o capital de giro e a saúde
financeira do negócio de distribuição de insumos agrícolas, o upstream da cadeia. Mas o
impacto alcança todos os agentes de qualquer agro-chain. Remetendo a Silva (2003), se a
unidade de negócio produtiva não tiver lucros em margens de venda, de recebimento, de manter
o disponível em aplicações, pode-se conjecturar, não existir eficácia. O seu valor tenderá a
diminuir no decorrer do tempo, e a empresa irá se prejudicar facilmente..
Santos, Marion e Segatti (2002) ressaltam a ferramenta orçamentária na atividade rural,
a despeito de críticas veladas quanto a prática orçamentária no seio dos negócios salientando
as sublinhadas por Pereira (2018) e do ceticismo dos produtores quanto a previsão. Já que esta
se descortina frustrante haja vista as próprias características intrínsecas do setor, como já
descrito. As variáveis econômicas, políticas, tecnológicas, sociais e legais, entre outras, da
empresa rural também exercem insegurança ao se prever receitas, custos e despesas para o
segmento. Sem contar a falta de um desenho político agrícola seguro no país. De qualquer forma
resgatando Zamfir (2015), a formatação orçamentária permanece como ferramenta gerencial
por excelência, assegurando a consistência de ações decisórias e calcada na contribuição de
amealhar o desempenho satisfatório das operações corporativas. É enfática na sua assertiva de
que a despeito de toda crítica, a lógica orçamentária deve refutar a sua rejeição e permear como
recurso administrativo em meio à uma aparente desordem no habitat dos negócios. Nessa
mesma linha Hoji e Luz (2019) pontua que ter um plano orçamentário é indispensável para a
empresa atinja seus objetivos, mesmo que este contemple uma revisão com frequência.
Ao arremeter a Stanton (2019), todo dinheiro que flui para uma cadeia de suprimentos
se origina de um cliente (downstream) e depois se desloca no sentido do fornecedor (upstream).
As empresas na cadeia de suprimento precisam trabalhar juntas para capturar esse dinheiro.
Não obstante, essas mesmas empresas também estão competindo para ver quanto desse dinheiro
pode gerar o próprio lucro. No entanto, urge registrar a provocação de Christopher (2002):
nenhuma organização pode desenvolver uma estratégia de vantagem competitiva que otimize
somente suas eficiências internas, haja vista de a referida vantagem competitiva real somente
ser alcançada quando o fluxo como um todo for mais eficiente e mais eficaz que os dos
concorrentes.
Na perspectiva de Tiago (2019), a agricultura digital transformará o sistema alimentar,
afetando todos os elos integrantes, além de encampar como alavanca para inovação e resolver
a difícil equação de levar tecnologia às unidades rurais de todos os portes. Sob esse aspecto de
recorrer a soluções digitais para agilizar a gestão, a reinvenção da função financeira nos
negócios se encontra em pleno ajuste conforme Simons (2018) e Farrar (2019).
5 Procedimentos metodológicos
O estudo em tela converge essencialmente para o aspecto qualitativo. Na concepção de
Cardono (2017), trata-se de uma forma peculiar de fazer pesquisa onde privilegia a uma
observação mais próxima e o empenho em adaptar os próprios procedimentos de construção e
análise de dados às características do objeto.

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Para esquadrinhar, mapear e esboçar o desenho da cadeia, se apropriou das instruções e
as orientações de Beamon (1998), do Sebrae (2000), Vonderembse et al. (2006) e Sousa Filho,
Guanziroli e Buainain (2008). Os deslocamentos dos pesquisadores foram inevitáveis com
intuito de concretizar as interações entre os sujeitos de pesquisas no âmbito do upstream,
midstream e downstream. As áreas geográficas visitadas incluíram áreas urbanas da Grande
Fortaleza, onde os integrantes do forward linkage mantinha fixação residencial e trabalho; o
munícipio de Pacoti, a 90 quilômetros da base dos pesquisadores onde se encontrava a sede da
empresa âncora e as adjacências rurais da região, principalmente distritos e vilas onde a
concentração de sítios era maior e dando robustez aos limites do backward linkage da cadeia.
As especificidades e singularidades da delimitação do setting de pesquisa congregam-
se elementos que dão contornos a um estudo de caso do tipo único tal como definido por Yin
(2016). Inclusive o protocolo de procedimentos foram devidamente seguidos.
Na captura dos dados a entrevista do tipo semiestruturada aliada a observação
participante forneceram sustentação dos achados. Tentando manter a naturalidade dos sujeitos
de pesquisa em seus habitats, a captura das falas foram registradas após o encontro. Embora
rápidas anotações abreviadas, escrita em código ou rabiscados de forma ilegíveis tenham
acontecido no momento da interação.
Para Poupart et al. (2008), as entrevistas do tipo qualitativo são vistas como mais
apropriadas à pesquisa de determinados grupos ou objetos. Elas permitem que as entrevistados
falem o mais livremente possível, porém sempre dentro dos limites impostos pela questão
norteadora. Ela favorece a emergência de dimensões novas não imaginadas, de início, pelo
pesquisador. Enquanto o entrevistado fala sobre o que é verdadeiramente importante para ele,
os pesquisadores obtiveram uma certa saturação dos temas tratados: variáveis de gastos, modo
de gerir o caixa, aferição dos resultados líquidos e a forma de orçar.
A observação participante permite a proximidade com o objeto e transforma-se no
compartilhamento da experiência das pessoas envolvidas no estudo. A sua harmonização ao
objeto de estudo expressa-se em um estilo de pesquisa interativas, graças a qual o pesquisador
coordena os próprios “movimentos” com os das pessoas que participam do estudo
(CARDANO, 2017) (grifos do original).
Remetendo a Cooper e Schindler (2003), a versatilidade da observação faz dela uma
fonte primária indispensável e um complemento para outros métodos. Ela sozinha pode captar
o evento completo à medida que ela ocorre em seu ambiente natural.
O Quadro 1 identifica os sujeitos de pesquisas, suas localizações espaciais na cadeia, o
método de recolhimento de dados, os quantitativos de tempos e frequência e número de viagens
dos pesquisadores e os instrumentos pelos quais foram registrados. A janela temporal da
pesquisa abarcou 17 meses entre dezembro de 2017 e abril de 2019.
Para manter o anonimato da identidade do núcleo gestor da cadeia e principalmente
resguardar as fontes, cada sítio foram codificados com um número. Os seis primeiros são as
propriedades do gestor da cadeia sendo o número 6 o local não só de cultivo mas também
administrativo e receptor e distribuidor de todas as produções de chuchu dos sitiantes
integradores. Das 52 unidades produtivas identificadas, 26 foram alvo de visitas perfazendo um
total de 4 viagens entre a base dos pesquisadores e as idas a campo situados no upstream e
midstream no munícipio de Pacoti.
No tocante a validação dos resultados de campo recorreu-se à triangulação dos dados.
Cerca de 10% dos sitiantes foram revisitados. Embora as idas e vindas no midstream e
downstream tenha sido uma rotina contínua, as vezes se utilizava de emails, aplicativos móveis
e Skype, para dirimir dúvidas.
6 Análise dos resultados
No nordeste brasileiro registram 3.037 propriedades rurais que cultivam o chuchu
(IBGE, 2017). Dentre os estados produtores destacam respectivamente com suas toneladas em

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2017: Sergipe: 6, Alagoas: 13, Paraíba: 27, Ceará: 9.280, Pernambuco: 25.639 e Bahia: 34.055.
Ocupando o Ceará a terceira posição com 13,45% das toneladas produzidas.
No Ceará o número de estabelecimentos rurais produtores de chuchu perfazem 379
unidades produtivas, destacando o município de Tianguá, na divisa com o estado do Piauí, com
um percentual de 25,33% do total das organizações rurais.
Quadro 1 – Identificação do segmento da cadeia, métodos de captura, sujeitos de pesquisa, local, tempo de
entrevista, número de viagens e instrumentos de registro
Segmento da Método de Sujeito de Local Tempo(mins) Instrumento
Cadeia Captura Pesquisa V1 V2 V3 V4 de Registros
Sítio 9 240
Sítio 12 250
Sítio 33 300
Sítio 22 320 65
Sitiantes Sítio 18 250 DC
Entrevista Sítio 6 180
semiestruturada Gerentes Sítio 11 273
Sítio 31 330
Agrônomos Sítio 40 180 85 AMT
Observação Sítio29 220
participante Fornecedor
Sítio 26 280
UPSTREAM de Insumos
Sítio 36 240 90
PA
Sítio 49 195
Morador
Sítio 46 290
Análise
documental Sítio 50 280
Sítio 35 310 110
Sítio 17 210 AMV
Sítio 8 188
Sítio 23 260
Sítio 19 305
Entrevista Sítio 6-NG 70 90 165 65
semiestruturada Gestor do Sítio 2 120 DC
Observação Núcleo Sítio 3 80
MIDSTREAM participante Contador Sítio 4 90 AMT
Análise Funcionário Sítio 5 80
documental Motoristas Sítio 1 90 PA
Chefe de CEASA- 50-30-70
Recepção Maracanaú
Chefe de Rede Uniforça 50-40
Entrevista Hortifruti
semiestruturada Chefe de Grupo Pão de 61-50-30
FLV Açúcar
Observação Gerente de Mercadinho 50-40-55 DC
DOWNSTREA participante Compra São Luis
M Feirante Feirante 45 AMT
Gerente de Restaurante 50-35
Compra/ Coco
Pagamento Bambu
Responsável Natural Leve 30-40-35
de Compra
Gerente de Distribuidora 40-67-30
Compra
LEGENDA: V – Viagem de campo; DC – Diário de Campo; AMT – Aplicativos de Mensagens de Texto; PA –
Papéis Avulsos; AMV – Aplicativos de Mensagens de Vozes; FLV – Frutas, Legumes e Verduras; NG – Núcleo-
Gestor; CE – Ceará; PE – Pernambuco.
Fonte: Concepção própria
O campo empírico de estudo circunscreveu na quarta cidade de maior densidade de
empresas produtoras de chuchu somando 52 organizações produtivas. A configuração estrutural

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do grupo social integrante dos sujeitos de pesquisa divergem da concepção dos modelos
empresariais, por não conformar uma formalização premeditada. A sua estrutura foi se
esboçando e perfilando historicamente, assumindo uma forma não estabelecida inicialmente
pelos agentes individualmente, mas sendo construída socialmente a partir da vivência e
convivência do conjunto do atores envolvidos por pelo menos 25 anos.
Boa parte dessas organizações arrolam aspectos de sítios e portanto conforme Cesco,
Lima e Moreira (2016) se apoiando em Munhos (2007), são locais para produção agrícola, de
venda para o mercado. Se o sitio tem o sentido do trabalho, as atividades nele realizadas
designam, uma profissão, uma inserção do indivíduo na sociedade como agricultor.
6.1 Atuação do coordenador no upstream e downstream
O atual agregador das decisões estratégicas das unidades de produção é natural da cidade
e nos idos da metade da década de 90 conseguiu transformar o atual sítio-sede da empresa
âncora em algo financeiramente lucrativo. Adquirido via herança familiar e já na condição de
produtor chuchuzeiro, decidiu ampliar o cultivo da cultura. Em menos de 5 anos adquiriu mais
cinco sítios cujo volume produtivo ultrapassou as demandas das circunvizinhanças e
alcançando a Região Metropolitana de Fortaleza.
Sempre habilmente articulador e negociador, encampou a lógica pelo controle produtivo
da cadeia de suprimento do chuchu e integrando os processos através de interfaces funcionais,
geográficas e organizacionais, indo, portanto, além das fronteiras de seu sítio-sede. Conforme
fala de um dos sitiantes: “... ele sempre foi um homem que preocupou as melhoras de seus
conterrâneos. Se nois topássemos seguir suas instruções, todos ganhariam...porque local para
vender chuchu teria em condições favoráveis”.
Involuntariamente o coordenador constituiu uma cadeia de suprimento integrando e
coordenando sítios e propriedades. As habilidades diretivas foram adquiridas na vivência, ao
longo dos anos, o “modus operandi” do cultivo e comercialização, a interação e a observação
cotidiana. Usualmente o mesmo efetua ações e decisões diferenciadas quando realiza operações
de produção no âmbito dos sítios a ele associados, lotados em diferentes áreas. Isto implica a
participação nas decisões sobre a necessidade de adubação, verificação de problemas tais como
a irrigação, visando a realização dessas atividades dentro de prazos e na dimensão desejável.
6.2 Formato gerencial financeiro da cadeia
A maior preocupação do gestor da cadeia do chuchu é a ruptura das interdependências
sequenciais entre os diversos atores no contexto do upstream que é o insumo do outro ator no
âmbito do downstream. Aparentemente se gerencia uma agrochain sem muita complexidade
haja vista a operação de distribuição está sob o total controle do sítio-empresa âncora. Um
relativo grau de desafio se materializa nas relações horizontais com os fornecedores de insumos
agrícolas e entre os próprios produtores.
A relação do tipo face-to-face por ocasião das reuniões mensais, as visitas em cada
unidade produtiva e contatos via sistemas de áudios e mensagens de aplicativos se procura
captar o estado de satisfação no tocante ao resultado líquido auferido. Tais encontros permite
que aqueles com diferentes conhecimentos técnicos e experiências regionais troquem ideias e
cooperem uns com os outros visando a interesses comuns e assim o sitio-empresa âncora
consiga cumprir a sua missão desenhada melhorando os indicadores de desempenho.
A empresa âncora possui como clientes três grandes redes de supermercados que atuam
na região Metropolitana de Fortaleza: rede Uniforça, grupo Pão de Açucar e o Mercadinho São
Luiz. Atende os feirantes e distribuidores de frutas e verduras nas centrais de Abastecimento de
Maracanaú – CEASA Maracanaú. A recepção de chuchu no sitio-empresa âncora é realizado
semanalmente e por caixa com a devida identificação de cada integrante da cadeia. Quando por
alguma razão adversa a produção não é suficiente para abastecer o mercado, recorre-se aos
estados de Pernambuco e Bahia. A empresa possui 600 unidades de embalagens, caixa plásticas,
comportando 22 kg de chuchu. Elas são utilizadas para o transporte e armazenamento. A frota

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é constituída de 2 caminhões e uma camionete. Um dos caminhões tem um maior porte e
destinado para cargas maiores. O outro, de menor porte, recolhe a coleta de cada sitio integrante.
Também é comum transportar mercadorias para Fortaleza. Inclusive a caminhonete faz
atendimento de serviço de entregas específicas para clientes.
Os fluxos de receitas se concretizam sem maiores dificuldades. O Pão de Açúcar
deposita a cada 20 dias diretamente na conta da pessoa jurídica. A rede Uniforça e o Mercadinho
São Luiz credita no último dia útil do mês na conta Itaú relativa a pessoa física, sem oneração
nenhuma haja vista o pacote de serviços bancários disponibilizados.
O efeito âncora de uma estruturação forte constituída no centro da cadeia permitiu traçar
e ilustrar na Figura 1 as realidades capturadas do campo empírico e formatar a prática da gestão
financeira que acontece nas interfaces dos diversos papéis do cotidiano gerencial.
Figura 1 – Configuração da cadeia agroalimentar do chuchu e a sua formatação financeira gerencial

Fonte: Pesquisa de campo


A alocação dos gastos contemplam a lógica metodológica do custeio por absorção para
em seguida proceder a confrontação com o fluxo de receitas para simultaneamente obter o
resultado líquido e o resíduo de caixa. Utilizando, um método simples orçamentário consegue-
se obter o comportamento antecipado de ambos e atento no que pode ocorrer no recinto de cada
agrossistema dos sítios procede ajustes e contorna os imprevistos, haja vista que 14 sítios da
amostra tem adoção de smartphone. Além disso um experimento com drone, nos limites de área
cultivada de 8 sítios, tem sido implementado desde de agosto de 2018, cuja coleta de dados
gerenciais e agronômicos são obtidos em tempo real. Quando se é possível, busca explicitar os
desvios orçamentários. A projeção do balanço, não se verifica no contexto por
desconhecimento, inclusive por parte da prestadora de serviços contábeis, que aliás se restringe
unicamente ao campo fiscal. Todo esse processo econômico financeiro gerencial só se
materializa dada a existência de um rol de cadernos de arames mantidos e atualizado
diariamente pela genitora da família que rege o núcleo-gestor. Não obstante, as evidências são
claras quanto a lógica estrutural de gerir as finanças na cadeia em estudo: ainda que incipiente,
a gestão financeira no bojo da estrutura digital já é uma realidade factível.
7 Considerações finais
O estudo em tela buscou entender como se configura a gestão financeira em uma
empresa que exerce a função de uma empresa âncora em uma cadeia agroalimentar, cuja
economia é advinda de um tipo de cultivo de hortifrúti, e a produção se dá em distintas unidades.

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O estilo impresso à função financeira no bojo do sítio-empresa âncora impulsiona fortemente a
coordenação de processos e atividades na cadeia. Ela permeia a gestão da oferta e da demanda
do chuchu dentro dos sítios e propriedades e entre eles. Mesmo diante de um cenário de
pesquisa de realidade paradoxal: cadernos de arames como artefatos de registros, smartphones
nas unidades agrossistêmicas e drone, a gestão financeira na agrochain do chuchu cearense
passa a tomar parte da paisagem rural. Não obstante, os conflitos entre os elos, principalmente
no backward linkage costumam ser acirrados. A questão do alinhamento dos interesses dos
sitiantes é um ponto que está sempre no radar da empresa âncora.
O estudo proporciona três contribuições principais: 1º) avança no entendimento da
gestão de custos interorganizacional entre as unidades produtivas agrossistêmicas; 2º) a teoria
das finanças corporativas de curto prazo é posta à prova sob a perspectiva de uma lógica
integrativa entre negócios agroalimentares e 3º) a teoria orçamentária amplia o seu arcabouço
teórico no bojo de uma cadeia de agronegócios. Como aspecto pragmático os achados de
campos elucidam a operacionalização de um modelo orçamentário simples mas de alcance
gerencial no patamar intra e interorganizacional constituintes de uma cadeia agroalimentar,
projetando indicadores chaves de desempenho no seu todo. Parece que os pressupostos teóricos
orçamentários finalmente atingem o seu entendimento junto aos gestores do mundo do
agronegócio. O modelo de gestão financeira integrada de curto prazo por meio digital denota
peculiar no contexto da cadeia corroborando um aprimoramento da gestão da referida
agrochain.
A despeito de todos os esforços, a investigação contém restrições. As leituras feitas
pelos moradores locais e pelos personagens externos que “olham” para a cadeia estudada,
apresentam dissonâncias. E esse aspecto possibilita configurar viés nas interpretações e
análises. O quantitativo de sitiantes visitados pode ter ocultado dados relevantes. Assim, se
requer uma certa precaução nas entrelinhas analíticas expostas neste documento. De qualquer
forma a investigação deve ser aprofundada contemplando outra cadeia para fins de contrastes e
delinear um modelo de gestão financeira entre cadeias.
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Análise econômico-financeira de um Sistema de Produção Agroecológica
Integrada e Sustentável (PAIS)
Economic and Financial Analysis of an Integrated and Sustainable
Agroecological Production System (PAIS)
Claudia de Brito Quadros Gonçalves1, Régio Marcio Toesca Gimenes2,
Madalena Maria Schlindwein3
Resumo
O presente artigo analisa a viabilidade econômica da produção de hortaliças e ovos no sistema de produção
agroecológica integrada e sustentável. O sistema de produção agroecológica integrada e sustentável (PAIS)
corresponde à integração de uma horta em formato circular e na área central está instalado um galinheiro, onde
em um pequeno espaço é possível à produção animal e vegetal. Para obtenção dos dados foram entrevistados o
gestor do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas), um técnico de campo do
SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e um agricultor. Como métodos para a análise de
investimento foram utilizados os seguintes indicadores: VPL, TIR e Payback Descontado. A taxa mínima de
atratividade (TMA) foi calculada de acordo com o modelo CAPM ajustado híbrido (AH-CAPM), uma
abordagem diferenciada para economias emergentes como o Brasil e o valor apurado foi de 8,7525%. Após os
cálculos com a utilização da TMA apresentada chegou-se aos seguintes valores: VPL (R$ 62.550,13), TIR
(55,74%) e Payback Descontado (2,03 anos). Através dessa metodologia foi possível verificar a viabilidade da
produção de hortaliças e ovos neste sistema de produção.
Palavras-chave: Hortaliças, ovos, viabilidade econômica, PAIS.

Abstract
This paper analyzes the economic viability of vegetable and egg production in the integrated and sustainable
agroecological production system. The integrated and sustainable agroecological production system (PAIS)
corresponds to the integration of a circular garden and the central area that is installed in the chicken house,
where in small space is possible the animal and vegetable production. To analyze data from respondents or
managers from SEBRAE (Brazilian Micro and Small Business Support Service), a field technician from SENAR
(National Rural Learning Service) and a farmer. How investment analysis methods were used by the following
indicators: NPV, IRR and Discounted Payback. A minimum attractiveness rate (TMA) was calculated according
to the hybrid adjusted CAPM model (AH-CAPM), a differentiated approach for emerging economies such as
Brazil and the figure was 8.7525%. After calculations using the TMA Receipt reached the following values:
NPV (R $ 62,550.13), IRR (55.74%) and Discounted Payback (2.03 years). Through this methodology it was
possible to verify the viability of vegetable and egg production in this production system.
Keywords: Vegetables, eggs, economic viability, PAIS.
1 Introdução
No ano de 2018 em torno de 820 milhões de pessoas no mundo não conseguiram
acesso a uma alimentação suficiente, além disso, a insegurança alimentar aguda no mundo
afetou cerca de 113 milhões de pessoas, valor inferior ao ano de 2017, que chegou a 124
milhões, conforme dados apresentados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação (FAO, 2019). Entretanto aumentou o número de países atingidos pela fome,
que chegou a 53 e outras 143 milhões de pessoas em outros 42 países podem enfrentar a fome
aguda. A diferença é que na insegurança alimentar aguda uma pessoa não possui condições de
se alimentar corretamente colocando em risco sua vida e na fome crônica a pessoa não
consegue se alimentar de forma suficiente para uma vida normal por um período prolongado.
Diante deste cenário, a segurança alimentar continua sendo um desafio e constitui um
dos objetivos de desenvolvimento sustentável, a erradicação da fome, segundo Organização
das Nações Unidas (ONU, 2015), assim, novas tecnologias de produção de alimentos podem
ser uma alternativa.

1
Contadora, Mestranda em Agronegócios (UFGD) - claudia.b.quadros@gmail.com
2
Pós-Doutor em Finanças pela FEA/USP, professor do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (UFGD) -
regiomtoesca@gmail.com
3
Doutora em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo – USP, professora do Programa de Pós-
Graduação em Agronegócios (UFGD)- madalenaschlindwein@ufgd.edu.br

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O Brasil tem adotado políticas públicas com o objetivo de reduzir a extrema pobreza e
garantir a segurança alimentar, Berchin et. al. (2019) afirma que existem diversas vantagens
de incentivar a agricultura familiar tais como: segurança alimentar, melhor qualidade de vida
e redução da pobreza, renda extra para as famílias e independência financeira. Essas
propriedades também contribuem para melhores práticas ambientais e utilização de recursos
locais.
No ano de 2008 a Fundação Banco do Brasil (FBB) com o apoio do SEBRAE
(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) por meio de uma chamada
pública nº 11 adotou a tecnologia social PAIS e difundiu por todo país. Esta tecnologia pode
ser utilizada pelas famílias para seu próprio consumo e o excedente pode ser comercializado
gerando renda, visam pequenos agricultores com área total de no mínimo 0,5 hectares a qual
pode beneficiar agricultores com baixa renda, assentados, quilombolas e participantes de
programas sociais do governo federal (SEBRAE 2009).
A tecnologia social PAIS (Produção Agroecológica Integrada Sustentável), foi
desenvolvida por Aly Ndiaye, engenheiro agrônomo senegalês que iniciou este projeto em
1999, na região de Petrópolis (RJ) (NDIAYE 2016). Este projeto compreende a produção de
hortaliças, em que seus canteiros estão dispostos em uma área circular e na parte central está
instalado um galinheiro, o sistema de irrigação utilizado é por gotejamento. O objetivo desta
forma de produção é integrar a produção de hortaliças com a criação de aves, desta forma
pode-se ter uma diversificação de produção em um menor espaço, propondo uma facilidade
no manejo.
De acordo com Ruiz (2018) a renda das famílias aumentou e a qualidade do consumo
próprio e as condições dos trabalhadores rurais familiares também melhorou devido à
diversificação de produtos de base agroecológica, sem utilização de agrotóxicos o que trouxe
benefício também à saúde, devido ao manejo com técnicas mais adequadas ao meio ambiente.
Para Nascimento et. al. (2018) e Ndiaye (2016), a agroecologia busca a produção com
práticas mais sustentáveis, com menor utilização de insumos externos, respeitando as culturas
locais e o meio ambiente. Além disso, devem ser observadas práticas mais adequadas do
ponto de vista ecológico, aliando o conhecimento com as práticas utilizadas no cotidiano.
Dado que o sistema de produção agroecológica integrada e sustentável (PAIS) pode
contribuir com pequenos agricultores como uma alternativa para a segurança alimentar, surge
o seguinte questionamento: É viável economicamente produzir hortaliças e ovos no sistema
de produção agroecológica integrada e sustentável?
A fim de responder a este questionamento realizou-se este estudo com o objetivo de
analisar a viabilidade econômica da produção de hortaliças e ovos considerando um sistema
de produção integrada. A hipótese desse trabalho é de que a produção de hortaliças e ovos no
sistema PAIS é viável economicamente.
Diversos estudos já analisaram a viabilidade econômica da produção de hortaliças e de
ovos como: Richetti, Motta e Padovan (2011), Socoloski et. al. (2017), Souza, Gimenes e
Binotto (2019), Borges e Dal’ Sotto (2016), Boaretto (2005), Catapan e Nascimento (2017),
Leite et. al. (2016), Rover et. al. (2016), Pinheiro Gomes e Katz (2017), Duarte e Cavichioli
(2017), Cordeiro, Almeida e Severino (2008). A maioria destes estudos analisaram diversos
sistemas de produção de hortaliças ou produção de ovos, diferentemente este analisa a
viabilidade econômica da produção agroecológica integrada e sustentável de hortaliças e da
produção de ovos, integrando assim a produção vegetal e animal em um pequeno espaço,
garantindo diversificação e aumento de renda ao produtor.
O trabalho estrutura-se em cinco seções, incluindo esta breve introdução. Na segunda
seção apresenta-se uma revisão bibliográfica a cerca de análises de viabilidade econômica. A
seguir descreve-se a metodologia aplicada ao estudo. Na sequência apresentam-se os

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resultados da pesquisa. E, por fim, as considerações finais e as referências que embasaram o
estudo.

2 Referencial Teórico
Richetti, Motta e Padovan (2011), com o objetivo de verificar a viabilidade econômica
da produção de hortaliças no sistema (PAIS), fizeram um levantamento de dados de um
agricultor familiar no Município de Juti (MS), em que os preços apurados foram do período
do mês de maio de 2011. Para a análise de investimentos utilizou-se um período de 10 anos, e
para a análise econômica do sistema produtivo foram considerados: a remuneração dos
fatores, custo total, receita líquida, renda da família, ponto de nivelamento, taxa interna de
retorno (TIR), produtividade total dos fatores, valor presente líquido (VPL), prazo de retorno
de investimento (Payback). Neste estudo a taxa mínima de atratividade (TMA) adotada foi de
6% a.a, diante destas técnicas utilizadas a produção de hortaliças neste sistema agroecológico
foi considerada viável.
Em outra pesquisa realizada em Tangará da Serra (MT), em que o objeto de estudo foi
à verificação da viabilidade econômica da olericultura, neste a coleta de dados foi baseada em
dois agricultores familiares, e as produções analisadas foram: o tomate, a alface e a batata
doce (SOCOLOSKI et. al. 2017). Como ferramenta de análise econômica destacam-se: Valor
Presente Líquido (VPL), Tempo de Retorno de Capital (Payback), Taxa Interna de Retorno
(TIR), a Análise Custo Benefício (ACB). Sendo utilizada a Taxa Mínima de atratividade
(TMA), de 1,11% a.m, com base na Taxa Selic, definida pelo Banco Central.
Como resultados os autores apontam que a cultura da alface é a mais vantajosa, pois
apresenta menor payback e maior rentabilidade em relação às demais culturas ainda que com
redução de receitas e aumento nos custos de produção, assim foi considerado viável a
produção de alfaces. Destaca-se que toda a mão de obra dessas propriedades é realizada pela
família e que o valor foi considerado para o cálculo do custo de produção.
No sistema hidropônico de hortaliças folhosas e picantes no município de Dourados
(MS), Souza, Gimenes e Binotto (2019), se basearam em uma abordagem diferenciada para
avaliar o risco do investimento em mercados emergentes como o Brasil ao adotar o modelo de
custo de capital ao CAPM ajustado híbrido, o que ajusta os efeitos dos mercados instáveis.
Neste estudo os autores demonstraram que o projeto é viável economicamente. Também foi
feita a verificação de sensibilidade de acordo com a simulação Monte Carlo, para identificar o
risco do investimento, sendo que foi confirmada a viabilidade econômica. Os autores
identificaram que dentre as sete hortaliças produzidas a alface era a principal responsável
econômica, correspondendo a 73,72% da receita total.
Borges e Dal’Sotto (2016), fizeram um levantamento de dados em uma empresa
situado no município de Santa Helena (PR) e constataram a viabilidade econômica da
produção de alface crespa e rúcula no sistema de hidroponia, esta empresa conta com uma
área total de 750 m², com área construída de 532 m². Destaca-se que em um espaço pequeno
foi possível à produção de hortaliças gerando renda para a agricultura familiar. Observa-se
que, neste caso, a alface também contribuiu com o maior valor da receita, atingindo um
percentual de 83%, sendo que a rúcula apresentou custo de 15% maior do que da alface.
Em um estudo sobre a viabilidade da produção de alface crespa em quatro sistemas
tecnológicos sendo eles: campo aberto, túnel baixo, estufa e hidroponia, Boaretto (2005),
verificou que todos estes projetos foram viáveis economicamente, esta pesquisa foi realizada
em três propriedades do município de Dois Vizinhos (PR) e uma em Colombo (PR), cada uma
com um sistema de produção diverso. Para a análise econômica foi utilizado os seguintes
critérios: Valor Presente Líquido (VPL) e Tempo de Retorno do Investimento (TIR). Os
quatros projetos apresentaram VPL e TIR distintas, o que foi influenciado pelos valores
distintos de custo, receita, investimento, ciclos produtivos e perdas de produção diversas.

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No município de Quatro Barras (PR), Peron, Catapan e Nascimento (2017), avaliaram
a viabilidade econômica da produção de hortaliças para o programa de merenda escolar na
agricultura familiar, verificaram que este projeto foi viável economicamente e para a análise
utilizaram a metodologia multi-índices expressos por: Valor Presente Líquido (VPL), Taxa
Interna de Retorno (TIR), Índice Benefício Custo (IBC), ROIA, que significa a rentabilidade
que o negócio teria se tivesse aplicado no mercado financeiro, Tempo de Retorno de
Investimento (Payback Descontado), calcularam também o risco de gestão, risco do negócio e
grau de comprometimento da receita e a Taxa Mínima de Atratividade (TMA), foi calculada
de acordo com o percentual dos investimentos no mercado financeiro, neste caso 7,08% a.a.
Em uma granja na cidade de Mococa (SP), Pinheiro, Gomes e Katz (2017) analisaram
a viabilidade econômica na produção de ovos em galinhas poedeiras e constataram que o
projeto é viável economicamente. Em outro estudo Duarte e Cavichioli (2017), verificaram
que a produção de ovos na cidade de Taquaritinga (SP), para pequenos produtores também
apresenta a viabilidade econômica.
Cordeiro, Almeida e Severino (2008), analisaram a viabilidade econômica de
produção de ovos no Assentamento Vão Grande no município de Porto Estrela (MT) em
propriedade familiares. E constataram a viabilidade do projeto, a partir da análise do: Índice
Benefício Custo (IBC) e do Valor Presente Líquido (VPL). A Taxa Mínima de Atratividade
(TMA) utilizada foi de 6% a.a, pois foi considerado o rendimento da caderneta de poupança.

3 Procedimentos Metodológicos

3.1 Caracterização da Pesquisa e Fontes de Dados


Esta é uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa e quantitativa de
implantação de uma unidade de Projeto PAIS (Produção Agroecológica Integrada e
Sustentável). O estudo foi desenvolvido considerando dados para a cidade de Dourados (MS),
no sul da região Centro-Oeste do Brasil.
Na fase qualitativa foi realizada uma coleta de informações com o gestor do SEBRAE
responsável pelo projeto PAIS, um técnico de campo do SENAR (Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural), um técnico da AGRAER (Agência de Desenvolvimento Agrário e
Extensão Rural) que pesquisa hortaliças e também já desenvolveu projetos (PAIS) na região e
um agricultor que tem uma unidade PAIS instalada no Sítio Felix, no Distrito de Vila Vargas,
na cidade de Dourados (MS), esse levantamento se deu no período de maio a julho de 2019.
Para a área foi considerado 9 canteiros e um galinheiro na parte central totalizando
1051 m². Deste total a área para a produção de hortaliças totaliza 695 m². Cada canteiro tem
1,20 metros de largura, o espaço entre o galinheiro e os canteiros é de 1 metro de largura e
entre os canteiros de 0,50 metro. O ponto central até o término do galinheiro tem um raio de
2,5 metros e a área de escape que passa por toda a parte central do galinheiro até o final da
horta é de 1 metro.
Neste estudo foi considerada a produção de 41.977 unidades de hortaliças disponíveis
para a comercialização e 625 dúzias de ovos por ano. As hortaliças estão distribuídas em:
23.789 pés de alface, 3.586 maços de salsa, 3.586 maços de cebolinha, 6.048 maços de couve
e 4.968 maços de rúcula.
Na fase quantitativa houve a apuração dos dados em um fluxo de caixa do produtor
para aplicação das técnicas de investimento de capital, que serão descritas a seguir. Os dados
foram inseridos em uma planilha de Excel para apuração das receitas, custos e despesas
variáveis, custos e despesas fixos, tributos e depreciação onde obteve-se o fluxo de caixa livre
do produtor.

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3.2 Técnicas para análise do investimento de capital
Para analisar o investimento foi considerado o período de dez anos, conforme Richetti,
Motta e Padovan (2011) definiram ao analisar a viabilidade econômica da produção de
hortaliças no sistema de produção agroecológica integrada e sustentável.
O estudo foi dividido em: primeiro foi realizado o fluxo de caixa livre do produtor, em
seguida foi definido a taxa mínima de atratividade pelo modelo CAPM ajustado híbrido e por
fim foram aplicadas as técnicas de investimento de capital.
Como taxa Mínima de Atratividade (TMA), que será utilizada o modelo CAPM
ajustado híbrido (AH-CAPM), apresentado por Pereiro (2001), em decorrência das
instabilidades dos mercados emergentes, como é o caso do Brasil, este modelo ajusta o
prêmio do país, através do cálculo do Beta do país.
Esse é o diferencial do modelo de Custo de capital (CAPM ajustado híbrido) que se
adapta a mercados instáveis, pois ele ajusta o prêmio do país, para a utilização de um beta
país, através de uma regressão do mercado local e o índice do mercado global. A sua equação
pode ser definida como:

𝐾𝑒 = 𝑅𝑓𝑔 + 𝑅𝑐 + 𝐵𝐶𝑙𝑔[𝐵𝑔𝑔(𝑅𝑚𝑔 − 𝑅𝑓𝑔)](1 − 𝑅) (1)

Em que Rfg corresponde à taxa livre de risco global, utilizado a taxa dos títulos do
tesouro americano, o T-Bonds de 10 anos, na data de 30 de junho de 2016 com o rendimento
de 2,06% a.a. O Rc corresponde à taxa de risco país utilizado o EMBI do JP Morgan, na data
de 30 de junho de 2016, com o percentual de 2,39% a.a. O BClg, refere-se ao beta do país e o
valor pode ser calculado pela regressão entre a variação do índice IBOVESPA e da variação
do S&P do período de 2005 a 30 de junho de 2019, o valor foi de 0,9034. O Bgg significa o
beta desalavancado do professor Damodaran, no dia 30 de junho de 2016 e o valor foi de
0,48. O Rmg corresponde ao retorno do mercado global calculado pelo retorno médio do
MSCI ACWI do período de 2005 a 2018 e o valor foi de 12,06% a.a. Por fim o R² que
significa o coeficiente de determinação e é calculado pela regressão entre a variação do
IBOBESPA e a variação do índice EMBI+JP Morgan do período de 2005 a 30 de junho de
2019 e o valor 0,0078.
As técnicas utilizadas neste estudo foram: Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna
de Retorno (TIR) e Período de Retorno de Investimento (Payback Descontado).
O payback corresponde ao período do retorno do investimento. Neste caso será
utilizado o payback descontado, por considerar o valor atualizado de cada fluxo de caixa.
Dessa forma, o seu cálculo corresponde a atualização do valor presente de cada fluxo de
caixa, descontada pela Taxa Mínima de Atratividade (TMA) e em quantos períodos o
investimento é recuperado. Para Gitman (2010), uma das desvantagens do payback é que o
investimento é somente analisado pelo período de seu retorno, sem que todo o fluxo seja
analisado, portanto, deve ser analisado juntamente com as outras técnicas de avaliação de
investimento de capital. O seu cálculo pode ser definido como:
𝑉𝐹
𝑉𝑃 = (2)
(1 + 𝑖)
Sendo que o VP corresponde ao valor presente, o VF se refere ao valor futuro,
o i a taxa de desconto e o n significa o número de períodos. Assim se o payback descontado
for menor do que o tempo máximo do projeto ele deve ser aceito, no entanto, se o payback for
maior que o período definido do projeto ele deve ser recusado.
O Valor presente líquido (VPL) pode ser calculado como “a diferença entre o valor
presente dos benefícios líquidos de caixa, previstos em cada período e o valor presente do
investimento” (ASSAF NETO, 2014, p. 389). Quando o VPL for maior que zero significa que
o investimento é atraente e deve ser aceito se ele for igual à zero é indiferente, entretanto se

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for menor que zero, o investimento deve ser recusado, pois a rentabilidade deste projeto é
inferior ao aceitável. O seu cálculo pode ser definido com a seguinte equação:
𝐹𝐶𝑗 𝑉𝑅𝑛 𝐹𝐶𝑗
𝑉𝑃𝐿 = + − 𝐼𝑛𝑣 = (3)
(1 + 𝑘) (1 + 𝑘) (1 + 𝑘)
Em que o FCj se refere ao fluxo de caixa no período j o K corresponde ao custo de
capital ou TMA, o j se refere ao período analisado, o n significa o número de períodos
analisados, o VRn é o valor residual do projeto no ano n e o Inv corresponde ao investimento
inicial, que se refere aos fluxos de caixa na data zero, FC0.
Já a Taxa Interna de Retorno (TIR) é a taxa de desconto em que o VPL seja igual a
zero. Esta é uma taxa anual em que o valor presente das entradas do fluxo de caixa se iguala
ao valor do investimento inicial, conforme Gitman (2010), se a TIR for maior do que o custo
de capital o projeto deverá ser aceito, entretanto, se a TIR for menor que o custo de capital o
projeto deverá ser recusado. Esse critério faz com que a empresa consiga receber no mínimo o
retorno requerido pelo projeto garantindo o seu valor no mercado. A TIR pode ser calculada
com a seguinte equação:
𝐼 𝐹𝐶
𝐼 + = (4)
(1 + 𝑘) (1 + 𝑘)
Em que, o I0 corresponde ao valor do investimento no momento inicial do projeto, o It
é o valor previsto de investimento em cada momento subsequente, já o K será atribuído à taxa
de rentabilidade anual equivalente periódica (TIR) e o FC se dará pelos fluxos previstos de
entradas de caixa em cada período do projeto.

4 Resultados e Discussão
Os investimentos necessários para a instalação do Projeto PAIS se referem a todo
material para a instalação da horta, do galinheiro na área central e da caixa d’água, para o
sistema de irrigação por gotejamento e também toda a mão de obra para a implantação desse
sistema produtivo. Outros equipamentos necessários para a produção de hortaliças também
estão previstos. Após o orçamento em três fornecedores na cidade de Dourados (MS) o valor
total do projeto para a implantação da unidade PAIS foi de R$ 12.874,88.
Neste projeto a depreciação foi calculada pelo valor de instalação da caixa d’água e o
sistema de irrigação, que foi depreciado em 10 anos, que é o prazo total do projeto. O restante
está contemplado em manutenções e reparos, sendo utilizados 8% sobre o valor da receita
bruta, conforme Souza, Gimenes e Binotto (2019), estabeleceram em entrevista com um
agricultor na cidade de Dourados (MS). Na tabela 1 estão apresentados os custos e despesas
fixos e variáveis necessários para apuração do fluxo de caixa livre do produtor.
Tabela 1 - Custos e Despesas Fixos e Variáveis
Custos e Despesas Variáveis Total Custos e Despesas Fixos Total
1 – Insumos 18.212,36 1 - Mão de Obra 23.364,96
2 – Impostos e Manutenção 5.940,64 2 - Impostos e Taxas Diversas 150,00
3 - Despesas Administrativas 2.111,13
Total 24.153,00 Total 25.626,09
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa (2019)
Para a produção de hortaliças e ovos no sistema PAIS são necessários os seguintes
custos e despesas variáveis correspondentes a insumos: mudas, adubos, defensivos,
embalagens, gastos com produção de ovos, combustíveis e energia elétrica.
Na produção de ovos os dados para os custos foram retirados do ANUALPEC
(Anuário de Pecuária Brasileira de 2019). Em impostos no item custos e despesas variáveis
está previsto o Funrural, para seu cálculo utiliza-se o percentual de 1,5% sobre a Receita,

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conforme lei 13.606/2018, onde 1,2% INSS + 0,1% RAT + 0,2% SENAR. Os outros custos e
despesas variáveis foram definidos pelo agricultor e pelo técnico de campo do SENAR.
Os insumos representaram 75,40% dos custos e despesas variáveis, para Souza
Gimenes e Binotto (2019) este custo representou 64,29%, demonstrando um desembolso
elevado. Para Socoloski et. al. (2017) foi encontrado 27,73% para a produção de tomate,
22,87% para a produção de alface e 7,47% na produção de batata-doce, neste estudo os
maiores custos apontados foi com a mão de obra.
Os custos com mão de obra correspondem a 91,18% do total de custos e despesas
fixas, Socoloski et. al. (2017), verificou que esses desembolsos foram responsáveis por 50%
na produção de alface, 60% na produção de tomate e 70% na produção de batata-doce,
representando um valor bem elevado. Em outro estudo esses custos ainda foram maiores
totalizando 90,73% dos custos e despesas fixos conforme constataram (SOUZA, GIMENES e
BINOTTO 2019). Para Richetti, Motta e Padovan (2011), o valor da mão de obra também foi
o maior custo representando 44,70% do total, seguido da remuneração de valores que foi de
34,20%.
No capital de giro estão previstos os custos e despesas fixas e variáveis para o período
de dois meses suficientes para a colheita de hortaliças e produção de ovos. Ao final do projeto
esses valores retornam ao fluxo de caixa.
Assim da receita bruta foram deduzidos todos os custos e despesas fixas e variáveis, os
tributos para que fosse definido o fluxo de caixa livre do produtor. A partir disso foi possível
utilizar as técnicas de investimento de capital para verificar a viabilidade econômica do
projeto. A tabela 2 apresenta os dados do fluxo de caixa livre do produtor para o sistema
PAIS.
Tabela 2 - Fluxo de Caixa Livre do Produtor
Ano 0 Ano 01 Ano 02 ao 09 Ano 10
Receita Bruta Total 62.533,03 62.533,03 62.533,03
Custos e despesas variáveis 24.153,00 24.153,00 24.153,00
Custos e despesas fixos 25.626,09 25.626,09 25.626,09
Depreciação 513,89 513,89 513,89
Lucro antes de impostos 12.240,05 12.240,05 12.240,05
Imposto de Renda 918,00 918,00 918,00
Lucro operacional líquido após impostos 11.322,05 11.322,05 11.322,05
Depreciação 513,89 513,89 513,89
Fluxo de caixa operacional 11.835,93 11.835,93 11.835,93
Investimento em instalações 12.874,88 - - 7.736,02
Investimento em capital de giro 8.296,52 - - 8.296,52
Fluxo de caixa do projeto 21.171,40 11.835,93 11.835,93 27.868,47
Despesas financeiras - - -
Fluxo de caixa livre do produtor 21.171,40 11.835,93 11.835,93 27.868,47
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa (2019)
Para aplicar as técnicas de investimento no fluxo de caixa do produtor é necessário
definir a taxa mínima de atratividade (TMA), para isso será utilizado o CAPM ajustado
híbrido (AH CAPM), a equação para o cálculo do índice de atratividade se dá pela seguinte
expressão, 𝐾𝑒 = 𝑅𝑓𝑔 + 𝑅𝑐 + 𝐵𝐶𝑙𝑔[𝐵𝑔𝑔(𝑅𝑚𝑔 − 𝑅𝑓𝑔)](1 − 𝑅) , onde o Ke significa o
custo de capital, o resultado dessa equação foi de 8,7525%.
Após a apuração do fluxo de caixa livre do produtor e da definição da TMA (taxa
mínima de atratividade) é possível realizar a análise econômico-financeira, para isso serão
utilizadas as técnicas de investimento de capital que são: VPL, TIR e PBd. Com as
informações do fluxo de caixa livre do produtor e da TMA chegou-se aos seguintes valores
apresentados na tabela 3 a seguir:
Tabela 3 – Técnicas de Avaliação de Investimento de Capital
Técnica de Avaliação Resultado

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Valor Presente Líquido (VPL) R$ 62.550,13
Taxa Interna de Retorno (TIR) 55,74%
Período de Payback Descontado (PBd) 2,03 anos
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa (2019)
Com um Valor Presente Líquido (VPL) de R$ 62.550,13, o projeto é considerado
viável economicamente, pois seu valor é maior do que zero (GITMAN 2010). Este valor foi
menor do que o apresentado por Richetti, Motta e Padovan (2011), que em seu estudo
encontraram um VPL de R$ 406.094,70, pois o seu custo de produção foi menor, totalizando
o valor de R$ 2.406,26 mensais. No entanto os autores não consideraram no seu montante o
valor de tributos, manutenção, combustíveis e despesas administrativas e o valor da receita
também foi maior, totalizando R$ 6.475,99 mensais.
Já em relação ao Payback descontado (PBd) encontrou-se um tempo de retorno de
2,03 anos conforme a tabela 3, esse retorno foi semelhante ao apresentado por (RICHETTI,
MOTTA E PADOVAN 2011), isso demonstra que o investimento será recuperado
rapidamente em relação ao prazo do projeto que é de dez anos. Esse resultado reforça a
viabilidade deste sistema de produção, pois, como aponta Gitman (2010), quando o prazo para
o retorno do investimento for inferior ao prazo do projeto significa que é viável
economicamente.
A Taxa Interna de Retorno (TIR) foi de 55,74% maior do que o custo de capital que é
de 8,7525%, indicando assim a viabilidade do projeto, que é demonstrada quando a TIR for
maior do que a TMA (ASSAF NETO, 2014). A TIR foi menor do que a apresentada por
Richetti, Motta e Padovan (2011) que foi de 103,60% para a produção de hortaliças no
sistema agroecológico integrado, entretanto foi maior do que o apresentado por Boaretto
(2005), 24,76%; Borges e Dal’Sotto (2016), 20,70%; Souza, Gimenes e Binotto (2019),
30,45%; Leite et. al. (2016), 30,1%; Rover et. al. (2016), 53,45%; Peron Catapan e
Nascimento (2017), 28,55%. Estes estudos se referem a sistemas de produção diversos do
PAIS e possuem um maior custo de produção e maior valor de investimento, o que interfere
no valor da TIR.
Ao aplicar todas as técnicas de investimento propostas neste estudo verificou-se que a
produção de hortaliças e ovos no sistema PAIS é viável economicamente. Um fator positivo é
que o investimento é pequeno e este sistema visa pequenos agricultores com uma expectativa
de melhorar sua alimentação e gerar renda. Entretanto, na cidade de Dourados (MS),
verificou-se que alguns agricultores abandonaram o projeto original, em formato circular,
para o formato tradicional de Horta.
Alguns desses agricultores identificaram como problema a irrigação por gotejamento,
além de fatores como a falta de assistência técnica, dificuldade no manejo, e maior espaço
ocupado, todos esses problemas também foram relatados por Ndiaye (2016) e Ruiz (2018).
Entretanto, a assistência técnica é fundamental para o desenvolvimento do projeto e políticas
públicas que beneficiam os pequenos agricultores são fundamentais, como já relatados por
estes estudos.

5 Conclusão

A produção agroecológica integrada e sustentável (PAIS) tem como objetivo a


produção integrada de espécies animais e vegetais em um pequeno espaço. O enfoque refere-
se a pequenos agricultores com o intuito de produção para o autoconsumo e venda do
excedente, gerando renda para as famílias. Portanto é uma alternativa para a segurança
alimentar e contribui para práticas ambientais mais adequadas.

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A partir das análises econômico-financeiras realizadas pode-se concluir que a
produção de hortaliças e ovos no sistema agroecológico integrado e sustentável é viável
economicamente.
Neste sentido, aceita-se a hipótese do trabalho sobre a viabilidade econômica da
produção de hortaliças e ovos no sistema agroecológico integrada e sustentável e ressalta-se a
importância de assistência técnica e políticas públicas de incentivo à agricultura familiar,
esses fatores são essenciais para a continuidade do sistema de produção. Estudos
demonstraram que vários agricultores já abandonaram o formato original do projeto PAIS
migrando para hortas mais tradicionais. Portanto, sugere-se estudos que verifiquem a
viabilidade técnica deste sistema de produção.

Referências

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Aquisição de refrigerantes na geografia da obesidade brasileira


Soda acquisition in the geography of Brazilian obesity
Camila Elisa Alves1, Glenio Piran Dal’Magro1, Ivaneli Schreinert1, Keitiline R. Viacava2,
Homero Dewes1


Resumo
A obesidade é um grave problema de saúde, visto que a relação do excesso de peso com doenças crônicas já é
cientificamente comprovada. A ideia de que as empresas desempenham um papel central na criação dessa crise na
saúde tem sido debatida entre pesquisadores e governantes. A indústria alimentícia tem forte influência sobre
aquilo que consumimos. O consumo de bebidas adoçadas, como refrigerantes, está associado ao sobrepeso e à
obesidade em pessoas de todas as idades. Em alguns lugares do mundo, impostos sobre as bebidas açucaradas
foram aplicados a fim de reduzir o consumo dessas bebidas. O Brasil possui um alto consumo de refrigerantes em
toda a sua extensão, entretanto, existem variações geográficas nesse consumo. Este estudo objetiva identificar a
associação entre a aquisição de refrigerantes e o risco de prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil. Para
tanto, utilizamos dados de aquisição alimentar e antropométricos provenientes da pesquisa de orçamento familiar
(POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A partir de dados populacionais podemos, por
meio de análises descritivas, identificar a distribuição geográfica da aquisição de refrigerantes e da
obesidade/sobrepeso. Existem concentrações elevadas de aquisição de refrigerantes açucarados nos estados com
maior concentração de níveis de obesidade ou excesso de peso. No entanto, é importante que sejam realizadas
mais pesquisas sobre a dieta alimentar completa das populações, bem como, sobre outros fatores que podem afetar
a geografia da obesidade brasileira.

Palavras-chave: bebidas açucaradas; açúcar; hábitos alimentares

Abstract
Obesity is a serious health problem, since the relationship of overweight with chronic diseases is already
scientifically proven. The idea that companies play a central role in the creation of this crisis in health has been
debated between researchers and rulers. The food industry has A strong influence on what we consume.
Consumption of sweetened beverages such as soda. It is associated with overweight and obesity in people of all
ages. In some places of the world, taxes on sugary beverages have been applied in order to reduce the consumption
of these beverages. Brazil has a high consumption of soft drinks throughout its extension, however, there are
geographic variations in this consumption. This study aims to identify the association between the acquisition of
soft drinks and the risk of prevalence of overweight and obesity in Brazil. For this purpose, we used food and
anthropometrical acquisition data from the Family budget Survey (POF), the Brazilian Institute of Geography
and Statistics (IBGE). From population data we can, through descriptive analyses, identify the geographic
distribution of the acquisition of soft drinks and obesity/overweight. There are high concentrations of the
acquisition of sugary soft drinks in states with the highest concentration of obesity or overweight levels. However,
it is important to perform more research on the full diet of the populations, as well as on other factors that may
affecta geography of Brazilian obesity.
.
Keywords: sugary beverages; sugar; dietary habits


1 CEPAN/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - camilaelisaalves@gmail.com
2 Decision Making Lab


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1 Introdução

Os níveis de sobrepeso e obesidade têm crescido drasticamente em todo o mundo,


ascendendo um grande alerta de saúde. O excesso de peso está relacionado com sérios
problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer. No
Brasil, entre os anos de 2008 e 2018, o índice de pessoas com excesso de peso passou de 43%
para 60% na população adulta (SISVAN, 2019). Ou seja, cerca de 112 milhões de pessoas
apresentavam IMC igual ou maior do que 25 (indicador de sobrepeso ou obesidade) em 2018.
A indústria alimentícia pode ter um papel central na pandemia da obesidade, visto que
a mesma desempenha influência nos hábitos alimentares da população. No Brasil, a indústria
de alimentos é uma das mais importantes no país e contribui significativamente para a
economia. De acordo com o Euromonitor International, o Brasil movimenta, no mercado
interno, uma média de 78 milhões de toneladas de comida fresca (ovos, carnes e pescados,
vegetais, tubérculos, grãos, açúcar, etc.) e 19 bilhões de litros de bebidas não alcoólicas
(refrigerantes, sucos, água engarrafada, etc.). Estes números demonstram que o Brasil é o quarto
e oitavo mercado mundial de comida fresca e bebida não alcóolica, respectivamente. Por outro
lado, não há disponibilidade de um número que represente o consumo brasileiro de comidas
processadas.
À luz de muitas análises, os sistemas alimentares industriais reduziram os alimentos a
uma mercadoria. A produção e o consumo de alimentos são delimitados por características
geograficamente e historicamente específicas que resultam em uma tendência de
heterogeneidade de hábitos alimentares (PECHLANER; OTERO, 2008). Fatores políticos e
econômicos, de um período histórico, também influenciam os padrões alimentares de forma
temporal e espacial.
O mundo tem passado por grandes transformações alimentares. De acordo com
estudiosos como Friedmann e McMichael (1989) e Pechlaner e Otero (2008), estamos
vivenciando o terceiro regime alimentar mundial desde a década de 80. Caracterizado pela
globalização financeira, este novo regime alimentar, fez com que barreiras políticas fossem
eliminadas no mundo todo.
A influência do Estado na agricultura proporcionou altos investimentos em pesquisa e
tecnologia agrícola tanto em países desenvolvidos, quanto em países em desenvolvimento
(HAWKES et al., 2012). A tecnologia como aliada na produção de alimentos ocasionou a
produção de excedentes, fazendo com que o governo intervisse novamente e modificasse
preços, tarifas e barreiras de mercado.
As indústrias, a fim de lucrar com a alimentação humana, prejudicaram, tanto a saúde
do planeta, quanto a saúde dos indivíduos. De acordo com Shiva (2019), 75 % da destruição
planetária de solo, água, biodiversidade e 50 % das emissões de gases de efeito estufa vêm da
agricultura industrial, que também contribui para 75 % das doenças crônicas relacionadas à
alimentação. Os alimentos, então, passaram a ter outras funções do que a clássica de alimentar
e nutrir o indivíduo.
A produção de alimentos controversos para a saúde pública passou a ser algo comum
pelas indústrias de alimentos (MOSS, 2015). A potencialidade dos alimentos de saciar a fome
passou a ser questionada e alguns alimentos processados parecem ter um potencial oculto de
fazer os consumidores sentirem ainda mais fome.
Os refrigerantes estão entre os alimentos controversos para a saúde pública. Adultos que
bebem refrigerante ocasionalmente são 15% mais propensos a ter excesso de peso ou obesidade,
e adultos que bebem um ou mais refrigerantes por dia são 27% mais propensos a ter sobrepeso
ou obesidade do que os adultos que não bebem refrigerante (BABEY et al. 2009) Sabemos que
refrigerantes são altamente ricos em açúcares e o açúcar é um dos alimentos energéticos cujo
consumo é frequentemente associado à obesidade pandêmica (GREENHALGH, 2019). Bawadi
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et al. (2019) identificaram uma relação positiva significativa do IMC e da circunferência da
cintura para os participantes que consumiam calorias de bebidas açucaradas. De acordo com
Malik et al. (2013) bebidas açucaradas podem causar o excesso de peso devido ao seu alto teor
de açúcar agregado e à baixa saciedade.
Neste sentido, as empresas de alimentos buscam gerar a maior atratividade pelo menor
custo, sendo o açúcar não apenas um ingrediente para adoçar, mas também um substituto para
outros ingredientes mais caros. Um alto nível de ingestão de açúcares está associado com má
qualidade da dieta e, consequentemente, com a obesidade (WHO, 2015). Ademais, reduzir o
consumo de refrigerantes proporciona benefícios como redução do risco de obesidade e de
doenças relacionadas (BABEY et al., 2009).
A relação entre refrigerantes açucarados e obesidade é tema de destaque na pesquisa
científica. Vartarian et al. (2007) realizaram uma meta-análise com 88 estudos sobre o consumo
de refrigerantes, constatando que a ingestão de energia aumenta quando o consumo de
refrigerantes aumenta. Ademais, o consumo deste alimento torna as dietas mais pobres, pois
dispensa nutrientes importantes. Complementando, Malik et al. (2013) identificaram, a partir
de uma revisão sistemática e meta-análise, evidências da relação entre bebidas açucaradas (ex.
bebidas açucaradas, refrigerante, bebida esportiva, bebida de frutas) e peso corporal. Os autores
concluíram que o aumento de dose diária de bebidas açucaradas estava associado a ganho
adicional de peso em adultos.
Apesar do consumo de refrigerantes ter tido um decréscimo de aproximadamente 30 %
entre os anos de 2010 e 2017 (ABIR, 2019), o Brasil está entre os cinco países que mais
consomem refrigerantes no mundo, de acordo com Euromonitor International. Em 2008, o
tamanho do mercado off-trade brasileiro era cerca de 11 bilhões de litros de refrigerantes e,
mesmo com a queda no consumo, no ano de 2018, esse valor ainda foi maior que 10 bilhões de
litros por ano (EUROMONITOR, 2019). No Brasil, ao contrário dos países desenvolvidos que
tributam a produção de bebidas açucaradas, existe um subsídio do governo para a fabricação de
concentrados de refrigerantes. Mudar essa postura seria de extrema importância.
A possível ligação entre a aquisição de refrigerantes e o risco de prevalência de
sobrepeso e obesidade é um alerta para a saúde pública. Sabendo que os refrigerantes
contribuem substancialmente para a ingestão diária de energia. Além disso, existem diferenças
geográficas no consumo de bebidas açucaradas, visto que existem fatores ambientais e sociais
que influenciam esse consumo (BABEY et al., 2009). Nesse sentido, este estudo examina a
aquisição de refrigerantes açucarados nas unidades federativas brasileiras. Além disso, o artigo
investiga se existe uma associação entre a aquisição de refrigerantes açucarados e a prevalência
de sobrepeso e obesidade.


2 Padrões Alimentares

A sociedade contemporânea caracteriza-se por um contexto de crescentes excedentes
quanto a produção de alimentos. Com o advento do capitalismo e da transformação dos
alimentos em mercadorias, o ato de alimentar-se se converteu em uma questão política e
econômica (LANG; BARLING; CARAHER, 2009). Mudanças nas relações de consumir e
produzir ocorreram, porém continuam alicerçadas à vida social (GOODMAN; DUPUIS, 2002).
A partir de 1960 os aumentos significativos da produção agrícola em diferentes regiões
geográficas e para diferentes produtos, foram ocasionados pelo rápido avanço tecnológico,
promovido pela revolução verde.
Este regime de excedentes agrícolas foi solucionado por meio de práticas mercantis, a
partir disso, o alimento passou a ser considerado uma mercadoria (PECHLANER; OTERO,
2010). A partir disso, uma nova economia agrícola e alimentar internacional se configurou,
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tornando-se responsável por uma nova estruturação das dietas alimentares. A escolha de
alimentos passou a ter forte influência de toda a indústria alimentar, que passou a determinar
desde o que era produzido no campo até o que era servido à mesa. Os alimentos não se
caracterizam apenas como um item de consumo, mas como um modo de vida (MCMICHAEL,
2000).
Dentre os fatores que desencadearam os graves desequilíbrios nutricionais atuais estão
os hábitos alimentares das populações. A obesidade coletiva, assim como a desnutrição, está
fortemente relacionada aos hábitos de consumo alimentar, dentre outras variáveis sócio
econômicas e comportamentais. Ademais, existem padrões de abastecimento alimentar
geograficamente identificáveis que estão associados ao desalinhamento nutricional (ABBADE;
DEWES, 2015). Mores (2017) verificou que no Brasil não é diferente, e também identificou o
fenômeno de homogeneização de hábitos alimentares. A autora observou que, durante o período
analisado, o país poderia ser dividido em cinco grupos que refletem a similaridade dos estados
brasileiros em termos de aquisição de alimentos.
Dentre os motivos que podem ajudar a esclarecer a semelhança dos hábitos alimentares
entre certos estados brasileiros é a expansão da produção de algumas commodities agrícolas
em determinadas regiões, devido as condições ecológicas semelhantes, e o fato desses produtos
poderem vir a intervir nos padrões regionais de abastecimento e consumo de alimentos, bem
como o efeito migratório da população entre estados e regiões (MORES, 2017). Nesse sentido,
o fator geográfico pode ajudar a elucidar as semelhanças com a alimentação no Brasil. Ademais,
as mudanças do agronegócio foram identificadas como as responsáveis pelas modificações
apresentadas nos padrões alimentares nos dois períodos analisados por Mores (2017). Ou seja,
os hábitos alimentares além de derivarem das escolhas dos consumidores, provêm das
mudanças do agronegócio.


3 Método

Para explorar a relação entre aquisição de refrigerantes e a prevalência de sobrepeso e
obesidade, primeiramente investigamos o percentual de pessoas em estado de obesidade e
sobrepeso por meio do cálculo de índice de massa corporal (IMC = Kg/m2). O IMC é um índice
internacional utilizado para avaliar a situação nutricional do indivíduo. Dados de prevalência
de sobrepeso e obesidade padronizados foram estabelecidos. Utilizou-se o peso corporal e altura
dos indivíduos, obtidos da base de microdados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)
realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A escolha pelos dados da
POF ocorreu visto que a mesma possui tanto dados de aquisição alimentar, quanto dados
antropométricos.
Estimamos, posteriormente, a porcentagem de adultos a partir de 25 anos de idade que
apresentavam um índice de massa corpórea de 25 kg/m2 ou superior. Em adultos o sobrepeso é
definido quando o IMC está entre 25 e 30 kg/m2 e a obesidade quando o IMC é superior a
30kg/m2.
A aquisição de refrigerantes açucarados também foi averiguada por dados da Pesquisa
de Orçamento Familiar, no período 2008-2009. Para a análise das quantidades de refrigerantes,
usamos a quantidade final em quilogramas. Extraímos do grupo de bebidas não alcóolicas
apenas os refrigerantes açucarados, excluindo todos os refrigerantes lights e diets do nosso
estudo. As porcentagens de aquisição apresentados são referentes à participação dos
refrigerantes açucarados na aquisição alimentar total da unidade federativa.

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3 Resultados e discussão

Os refrigerantes açucarados estão sendo considerados importantes impulsionadores das
taxas de sobrepeso e obesidade. Para visualizar essa relação mais claramente entre a prevalência
da obesidade e do excesso de peso com a aquisição de refrigerantes açucarados, apresentamos
a Figura 1.

Figura 1 Distribuição geográfica da aquisição de refrigerantes açucarados e distribuição geográfica do sobrepeso
e da obesidade nos estados brasileiros, período de 2008-2009


a) REFRIGERANTES
b)
10%

> 60%

55 < 60%

50 < 55%
3%

45 < 50%

< 45%

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Fonte: Dados derivados da Pesquisa de Orçamento Familiar do Brasil - Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2010). a) Mapa da divisão espacial brasileira quanto a aquisição de refrigerantes açucarados; b)
Mapa da divisão espacial quanto aos índices de excesso de peso nas unidades federativas brasileiras, sombreado
de acordo com o percentual da população com sobrepeso e obesidade.

Visto que, as zonas mais escuras dos mapas a) e b) representam uma maior aquisição de
refrigerantes e um maior percentual de indivíduos com excesso de peso, respectivamente. Nós
entendemos que, o excesso de peso está associado com a ingestão de refrigerantes açucarados.
Cunha et al. (2010) identificaram os padrões alimentares de adultos residentes em um bairro de
baixa renda da região metropolitana do Rio de Janeiro. A partir de uma análise de regressão
linear, três padrões alimentares principais foram identificados. Como resultado, os autores
identificaram que entre as mulheres uma dieta tradicional, baseada em arroz e feijão, foi
inversamente associado com o IMC. Já uma dieta de padrão ocidental, baseada em fast foods,
refrigerantes, sucos, bolos, biscoitos, leite e laticínios, doces e lanches, está diretamente ligada
ao ganho de peso em mulheres. Refrigerantes açucarados adicionam calorias às dietas com
pouco valor nutritivo, e altos níveis de consumo na população (MALIK et al. 2013). A indústria
de refrigerantes, diante da repercussão dos níveis de obesidade, incentiva a prática de atividade
física (GREENHALGH, 2019) e responsabiliza o indivíduo a fim de isentar-se de qualquer
culpa pelos índices alarmantes de excesso de peso. A indústria das bebidas açucaradas faz
esforços para manipular as pesquisas cientificas sobre obesidade, bem como interfere em
políticas nos Estados Unidos (GREENHALGH, 2019). No Brasil, não existe comprovação
documentada deste fato. Mas verificamos que o consumo de refrigerantes deve ser levado em
consideração quando se trata de saúde pública. Logo, nossos governantes deveriam propor
medidas de políticas públicas de saúde efetivas quanto ao consumo de bebidas açucaradas para
haver resultados efetivos na luta contra a obesidade. A Figura 2 apresenta, em percentuais, o
sobrepeso/obesidade e a aquisição de refrigerantes por unidade federativa, em relação à dieta
alimentar.

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Figura 2 Relação entre a aquisição de refrigerantes açucarados e as taxas de sobrepeso/obesidade em unidade
federativa brasileira, no período 2008-2009.

62% 11%
10%
60% 10% 10%
58% 9%
9% 9%
56% 8% 8% 8% 8%
8%
8% 8%
54% 7% 7% 7%
6%
52% 5% 6% 6%
6%
6% 5%
50% 5% 4% 5% 5%
5% 60%
59% 5%
5% 4%
48% 4% 56%55%56% 4%
54% 54%54% 55% 54% 54%
46% 3% 56%53%53% 3%
51% 51% 51% 51%
49% 50% 49%
44% 48% 2%
48% 47%48%
42% 45% 1%
44%
40% 0%

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Sobrepeso/Obesidade Refrigerantes

Fonte: Dados derivados da Pesquisa de Orçamento Familiar do Brasil - Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2010).

No Rio Grande do Sul, os refrigerantes açucarados compõem 10 % da dieta alimentar
da população, segundo as quantidades adquiridas, expressa em quilogramas. Entretanto, estados
como o Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul não possuem uma relação tão clara entre
os níveis de obesidade/sobrepeso e o percentual de refrigerantes adquiridos. Uma possível
explicação seria a substituição do refrigerante por outras bebidas açucaradas. Logo, entende-se
que os refrigerantes açucarados não são os únicos responsáveis pelo estado nutricional de
sobrepeso/obesidade. Entretanto, visivelmente existe uma associação entre refrigerantes
açucarados e excesso de peso no Brasil.
Em suma, corroborando com a nossa hipótese, o presente estudo fornece evidências de
que a aquisição de refrigerantes açucarados poderia estar associada ao ganho de peso em adultos
no Brasil, assim como em outros países. Nós sugerimos a necessidade de estratégias
direcionadas para que o consumo de refrigerantes açucarados seja reduzido entre as populações,
em virtude dos danos que essas bebidas podem causar no organismo dos indivíduos. Alguns
estudos já estão sendo realizados com o intuito de minimizar o consumo de bebidas açucaradas.
Grummon et al. (2019), por exemplo, propõem o uso de informativos nas embalagens
adicionando um símbolo de alerta indicando alto teor de açúcar, de sódio ou gordura, bem como
descrevam os efeitos sobre a saúde, como meio para reduzir o consumo médio de bebidas
açucaradas em cerca de 25 calorias por dia, e a ingestão total de calorias em cerca de 30 calorias
por dia.

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4 Conclusões

O aumento da obesidade no mundo levou a pedidos generalizados de monitoramento
regular nas mudanças das taxas de prevalência de excesso de peso em todas as populações.
Portanto, um melhor entendimento dos fatores que influenciam o excesso de peso é muito
importante na promoção de políticas públicas de saúde. A relação entre o consumo de
refrigerantes açucarados e o excesso de peso é apoiada por inúmeros estudos. Em nosso estudo,
identificamos que existem concentrações elevadas de aquisição de refrigerantes açucarados nos
estados com maior concentração de níveis de obesidade ou excesso de peso. Esses achados
apoiam as recomendações atuais para limitar o consumo de bebidas açucaradas. No entanto,
mesmo com a identificação dos alimentos que produzem maiores efeitos nos níveis de
obesidade, ainda é necessário entender o funcionamento das dietas presentes nos locais com
alta incidência de excesso de peso. Porém, outros estudos precisam ser realizados para
aprofundar esta questão. Esforços centrados na integração das abordagens alimentar,
sociodemográfica e cultural são urgentemente necessários para a criação de políticas públicas.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos colaboradores, professores e colegas do Programa de Pós-graduação
em Agronegócios do CEPAN/UFRGS pelo suporte na condução deste trabalho. Agradecem
ainda ao Núcleo de Assessoria Estatística (NAE) pela orientação nas análises, assim como a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro
na forma de uma bolsa de doutorado


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DIMENSÕES INSTITUCIONAIS NOS MECANISMOS DE REDD+:
UMA REVISÃO
INSTITUTIONAL DIMENSIONS IN REDD+ MECANISM: A REVIEW
Marcos Miranda Pereira1, Ademir Augusto Silva da Cunha2, Alciléia Costa Vieira Miranda3
Paulo Vinícius de Miranda Pereira 4

Resumo
As florestas como grandes sumidouros de carbono entregam outros serviços ambientais ao planeta. Quando o
panorama geral aponta que não basta sequestrar o carbono, mas evitar novas emissões na atmosfera, surge o
programa REDD+ que aborda justamente a redução nas emissões. O objetivo deste artigo consistiu em identificar
como a Teoria Institucional interfere na implementação dos projetos de REDD+. Para tanto, utilizou-se das
técnicas revisão sistemática da literatura. A pesquisa foi efetuada utilizando o software Publish or Perish ©, que
se vale do Google Acadêmico como base de dados. Com a amostra de 37 artigos foi selecionado 09 para a análise
de todo o seu conteúdo. A análise consistiu na verificação Teoria Institucional explica o desempenho dos atores
sociais, e como a teoria aponta caminhos para a maximização dos benefícios oriundos dos projetos de REDD+.
Com este trabalho pode-se identificar quais questões envolvem a implementação dos projetos de REDD+, e como
os atores podem influenciar para obtenção de melhores resultados.
Palavras-chave: Redução de emissões por desmatamento. Revisão Sistemática. Teoria Institutional.

Abstract
Forests as large carbon sinks deliver other environmental services to the planet. When the big picture points out
that it is not enough to sequester carbon, but to avoid new emissions into the atmosphere, the REDD + program
emerges that addresses precisely the reduction in emissions. The purpose of this paper was to identify how
Institutional Theory interferes with the implementation of REDD + projects. For that, we used the systematic
literature review techniques. The research was done using Publish or Perish © software, which uses Google
Scholar as its database. With the sample of 37 articles was selected 09 for the analysis of all its content. The
analysis consisted of the verification Institutional Theory explains the performance of social actors, and how the
theory points out ways to maximize the benefits derived from REDD + projects. With this work we can identify
which issues involve the implementation of REDD + projects, and how the actors can influence to obtain better
results.
Keywords: Deforestation Emission Reduction. Systematic review. Institutional Theory.

1 Introdução

As emissões originárias de combustíveis fósseis e as mudanças no uso alternativo do


solo são uma das causas do aumento nas emissões de gases do efeito estufa (GEEs) (RIBEIRO
et. al., 2009). Com o aumento desproporcional da concentração dos GEEs na atmosfera no
decorrer do último século, a comunidade internacional estabeleceu instituições e mecanismos
voltados para a gestão deste problema. O mais importante desses mecanismos foi o Protocolo
de Quioto, estabelecido em 1997, na cidade com aquele nome, no Japão (MULLER et. al.,
2009).
O Protocolo prevê redução de 5,2% nas emissões de GEEs em relação aos níveis de
1990, no período de 2008 a 2012. Para facilitar o cumprimento das metas de redução dessas
emissões, o Protocolo trouxe como inovação os seguintes mecanismos de flexibilização:

1
Engenheiro Florestal; Mestre em Administração/Universidade Federal de Rondônia – UNIR1-
marcosrugal@gmail.com1
2
Engenheiro Eletricista; Mestre em Administração – Universidade Federal de Rondônia – UNIR/Engenheiro na
Eletrobras Distribuição Rondônia2- ademirasc@hotmail.com2
3
Engenheira de Alimentos; Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos/Instituto Federal de Mato Grosso
– IFMT³ - alcileia_miranda@hotmail.com³
4
Engenheiro Agrônomo; Doutorando em Agronegócios – Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
UFRGS/Professor do Instituto Federal do Acre – IFAC4- paulo.pereira@ifac.edu.br43

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Comércio de Emissões; Implementação Conjunta; e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL), da qual somente o último permite a participação brasileira (RIBEIRO et. al., 2009).
Paralelo a esse cenário, Minang e Van Noordwijk (2013) colocam redução das emissões
do desmatamento e da degradação florestal nos países em desenvolvimento (REDD+) como
amplamente aceita como um objetivo de política de uso da terra para mitigar as mudanças
climáticas. Para Pereira e Siena (2018) a sustentabilidade é o pano de fundo dos projetos de
geração de crédito de carbono.
Não obstante, surgem esforços para reduzir as emissões, o desmatamento e a degradação
florestal, que consideram uma forma para tornar a floresta mais valiosa em pé do que cortada
(HOANG et. al., 2013). Neste aspecto, o Acordo de Paris enfoca a necessidade de fortalecer a
capacidade dos países para lidar com os impactos das mudanças climática e coloca o carbono
uma nova commodity que ficou conhecida como “mercado de carbono” (UNFCCC, 2017).
Para a implementação dos projetos de REDD+ existe uma série de atores sociais
inerentes a questão e que podem desempenhar papel fundamental no sucesso ou fracasso na
implementação dos projetos de REDD+. Dessa forma a estratégia dos atores organizacionais
interfere diretamente no sucesso da implementação desses projetos. A perspectiva Institucional
chama atenção para a influência do Estado, da sociedade e das pressões culturais sobre a
conformação organizacional (ROSSETTO; ROSSETTO, 2005). Carvalho, Vieira e Goulart
(2005) evidenciam o interesse pelas instituições como elementos determinantes para o
entendimento da realidade social.
Do abalroamento organizacional, a Teoria Institucional surge como uma boa lente, pois
através dela é notório a relevância de fatores culturais inerentes às mudanças, além de alertar
para conjugação com fatores institucionais, especialmente a busca por de legitimidade
proeminente nessa discussão (MEYER; SCOTT, 1991). Como resposta a essas pressões
institucionais, surgem novos modelos organizacionais, vistos como os mais adequados para o
novo ciclo que se inicia (BARBIERI, 2010).
Diante do exposto, este artigo tem como escopo um estudo sobre como os arranjos de
institucionalismo afetam o desenvolvimento dos mecanismos de REDD+ através de uma
revisão sistemática. Será discutido as definições pertinentes a Teoria Institucional e ao
programa REDD+ nas suas diversas formas e apontamentos para futuras investigações.

2 Revisão Bibliográfica

Nesta seção, será apresentado os principais conceitos sobre institucionalismo, REDD+


e Revisão Sistemática. Na primeira parte é contextualizado o institucionalismo, na segunda
parte apresenta o programa REDD+ e na terceira parte a revisão sistemática.

2.1 Teoria Institucional


O ponto de vista institucional, classificado de velho ou de novo institucionalismo, tem
sido explorada em diferentes vertentes – a política, a econômica e a sociológica – que têm, cada
uma, oferecido embasamento para o entendimento de fenômenos sociais em seus respectivos
setores do conhecimento (CARVALHO; VIEIRA; GOULART, 2005). A teoria institucional
explica a ordem, a estabilidade e a mudança na sociedade, localizando as "instituições" no
centro da ação e do comportamento humano (OCHIENG et al., 2016).
As instituições são as restrições humanamente concebidas que podem ser formais ou
não e que estruturam a interação política, econômica e social. São elas que reduzem a incerteza
em troca, determinam os custos de transação e produção e, consequentemente, a rentabilidade
e a viabilidade da atividade econômica (NORTH, 1991). Para o autor, a história trata-se de uma
evolução institucional que influencia o desenvolvimento das economias direcionando seu
crescimento, estagnação ou declínio.

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Para Meyer e Rowan, (1977) as organizações incorporam práticas e procedimentos
advindos do ambiente organizacional e que são institucionalizados na sociedade. Assim,
segundo os autores as estruturas formais de muitas organizações são consequência de mitos de
seu ambiente institucionalizado em lugar das necessidades das atividades de trabalho. As regras
institucionais funcionam como mitos que as organizações incorporam, ganhando legitimidade,
recursos, estabilidade e perspectivas de sobrevivência aprimoradas.
Essa situação é gerada pelas incertezas que existem no ambiente econômico e social que
geram custos de transação. A maneira de reduzir os custos de transação, é o desenvolvimento
das instituições. As instituições criam regras formando uma matriz institucional que vão gerar
as organizações que são responsáveis pela evolução institucional e pelo desempenho
econômico das sociedades ao longo do tempo (NORTH, 1991; GALA, 2003).
A Economia dos Custo da Transação (ETC) engloba aspectos da teoria da organização
e se sobrepõe ao direito dos contratos. A incerteza, a frequência de troca e o grau em que os
investimentos são específicos de transações como as principais dimensões para descrever as
transações e uma organização eficiente da atividade econômica implica combinar estruturas de
governança com esses atributos transacionais de forma discriminante (WILLIAMSON, 1979).
Assim, a ECT estuda o custo das transações de forma a compelir dos modos alternativos
de organização da produção (governança), sob o prisma analítico institucional. O ponto crítico,
passa a ser a transação por causa da negociação dos direitos de propriedade que gera estrutura
dos direitos de propriedade e instituições (ZYLBERSZTAJN, 1995).
Usando a ECT como estrutura, Ellram, Tate e Billington (2008) postulam que as
organizações escolherão a alternativa comercial que reduza custo total de executar suas
operações. Os autores dizem que a teoria de custo de transação esclarece que a as organizações
não irão externalizar áreas onde há um alto risco de oportunismo de fornecedores.
O crescimento econômico, segundo Conceição (2008), se dá através de arranjos
institucionais que podem ser o Antigo Institucionalismo, a Nova Economia Institucional ou o
Neoinstitucionalismo. Para ele, os fundamentos institucionais criam condições de
desenvolvimento e estabilidade econômica. Estas formas institucionais que geram
desenvolvimento econômico são estudadas e copiadas de alguma forma por outras
organizações, fato já observado por outros autores (DIMAGGIO; POWELL, 1983; MEYER;
ROWAN, 1977), que chamou esse fenômeno de isomorfismo.
Em se tratando de isomorfismo, Fontes Filho (2003) diz que a teoria institucional tem
como lente a forma como regras e procedimentos são incorporados às organizações, em busca
de legitimidade. Para ele, os mecanismos coercitivos, normativos e miméticos conformam a
ação organizacional, de forma que hospitais, escolas, corpos de polícia e bombeiros, assumem
estruturas similares.
O aspecto do isomorfismo serve como pano de fundo onde as organizações seguem
outros exemplos de sucesso para fins e maximização nos seus resultados, fato corroborado por
Meyer e Rowan (1977), que diz que o isomorfismo ocorre devido às interdependências técnicas
e ao intercâmbio de conhecimento existente. Há também as questões no que se refere aos custos
de transação, definição de direitos de propriedade que já foram abordados por outros estudos
(NORTH, 1991; GALA, 2003; WILLIAMSON, 1979; FIANI, 2002) e que delimitam situações
organizacionais que podem ser impeditivas o desenvolvimento dos setores da economia.

2.2 REDD+
REDD+ é um instrumento desenvolvido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) para recompensar
financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados relacionados à atividades de:
(i) redução das emissões provenientes de desmatamento; (ii) redução das emissões provenientes
de degradação florestal; (iii) conservação dos estoques de carbono florestal; (iv) manejo

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sustentável de florestas; e (v) aumento dos estoques de carbono florestal (MMA, 2017). O
REDD+ baseia-se no conceito de que os países desenvolvidos devem compensar os países em
desenvolvimento se reduzirem suas emissões de GEE no setor florestal (PISTORIUS;
REINECKE; CARRAPATOSO, 2017).
Na UNFCCC o REDD+ deve gerar novas ou reestruturação de instituições existentes
para quantificar o carbono da floresta e, possivelmente, outros atributos florestais de interesse
nacional ou internacional (OCHIENG et. al., 2016). Segundo os autores, ainda seria
interessante verificar até que ponto o debate internacional sobre REDD+ moldou os arranjos
institucionais para medidas florestais nos países em desenvolvimento.
O sucesso no controle do desmatamento ou a prevenção da degradação das florestas
depende de um design institucional cuidadoso que ajude a alinhar os incentivos nos níveis
nacional e subnacional para a produção de resultados ambientais positivos, por isso defensores
de REDD+ deveriam abordar sistematicamente as dimensões políticas (legitimidade e
responsabilidade) (KASHWAN; HOLAHAN, 2014).
Com o impulso crescente para desenvolver sistemas REDD+, segundo Peskett,
Schreckenberg e Brown (2011) tem-se centrado cada vez mais nos arranjos institucionais
apropriados para implementar REDD+ nos níveis internacional, nacional e de projetos. Os
autores colocam como importante estudar como as variações nos arranjos institucionais,
particularmente as exigidas pelos aspectos de financiamento de carbono dos projetos, afetam
as oportunidades.

2.3 Revisão Sistemática


A revisão sistemática da literatura é um estudo secundário, que tem por objetivo reunir
estudos semelhantes, publicados ou não, avaliando-os criticamente em sua metodologia e
reunindo-os numa análise estatística, a meta-análise, quando isto é possível. Por sintetizar
estudos primários semelhantes e de boa qualidade é considerada o melhor nível de evidência
para tomadas de decisões em questões sobre terapêutica (ATALLAH; CASTRO, 1998).
Nas revisões sistemáticas os “sujeitos” da investigação são os estudos primários
(unidades de análise) selecionados por meio de método sistemático e pré-definido e a escolha
do tipo de estudo depende da pergunta que se pretende responder (CORDEIRO et al., 2007).
Para os autores uma pergunta bem estruturada é o começo de uma boa revisão sistemática, pois
define quais serão as estratégias adotadas para identificar os estudos que serão incluídos e quais
serão os dados que necessitam ser coletados de cada estudo.
O Google Acadêmico pode ser usado para identificar de forma confiável os documentos
acadêmicos mais citados. Dada a sua vasta e variada cobertura, o Google Acadêmico tornou-se
uma útil ferramenta complementar para pesquisas bibliométricas relacionadas com a
identificação dos trabalhos científicos mais influentes (MARTIN-MARTIN, 2017).
O software Publish or Perish (HARZING, 2016) é uma ferramenta muito utilizada para
a pesquisa bibliográfica, pois facilita a extração e o tratamento do banco de dados do Google
Scholar, descomplicando e favorecendo a tarefa de validação desses dados (MURAKAMI;
FAUSTO; ARAÚJO, 2015). O software possui informações de verificação de cruzamento com
muitas bases de pesquisa de indexação, como o Diretório de revistas de acesso aberto (DOAJ),
Thomson-Reuters (SCOPUS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e o Instituto para
Informação Científica (ISI) (VOGEL, et al. 2013).

3 Procedimentos Metodológicos

A presente pesquisa tem por natureza ser aplicada, pois objetiva a produção de
conhecimento específica sobre a temática “Teoria Institucional em processos de REDD+”. A
pesquisa aplicada é aquela que busca agregar conhecimento direcionado à aplicação prática de

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um determinado procedimento ou técnica (GIL, 2010). Quanto aos objetivos, o estudo
caracteriza-se como descritivo, já que a pesquisa envolverá a descrição, compreensão e
interpretação dos fatos ou acontecimentos com base na análise de suas particularidades
(CRESWELL, 2010).
Quanto a abordagem do problema, o estudo tipifica-se como qualitativo, pois é
caracterizado pela descrição, compreensão e interpretação de fatos e fenômenos, que, neste
estudo, trata-se de analisar as dimensões institucionais no sistema REDD+ (CRESWELL,
2010).
A estratégia de investigação foi realizada a partir da Pesquisa Documental. Bardin
(2006, p. 40) define análise documental como “uma operação ou um conjunto de operações
visando representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente do original, a fim
de facilitar num estado ulterior a sua consulta e referenciação”.
Primeiramente foi selecionou-se a questão de pesquisa, que nesse caso foi como a teoria
institucional atua para a implementação dos projetos de REDD+. Para a pesquisa feita no
Google Acadêmico com o termo “REDD+” como principal que continha os termos
“Institutionalization”, “Institutionalism”, “Institutional” e “Institutionalist” para a pesquisa em
inglês e os termos “Institucionalismo”, “Institucional”, “Instituição” e “Instituições” para a
pesquisa em português (STECHEMESSER; GUENTHER, 2012). A pesquisa foi
operacionalizada em 25 de maio de 2018 e retornou 2.510 resultados.
Estes descritores foram usados no software Publish or Perish © (HARZING, 2016),
que usa o Google Acadêmico como base para refinar a pesquisa. Nesse software, a pesquisa foi
escalonada por datas, já que ele limita a mil resultado por vez, o que retornou 1678 resultados
que comporão a amostra (VOGEL, et al. 2013).
Para atender à pesquisa com relação a seleção de artigos, foi utilizado o Knowledge
Development Process – Constructivist (ProKnow-C) para realizar o mapeamento proposto. O
Proknow-C tem sua origem em 2009, no Laboratório Multicritério de Apoio à Decisão
(LABMCDA) do departamento de Engenharia da Produção da Universidade Federal de Santa
Catarina, consolidando-se a partir de 2010 (AFONSO, al al., 2011). Possibilita, de forma
estruturada, a construção de um Portfólio Bibliográfico de artigos com reconhecimento
científico. É composto por quatro etapas: i) seleção de um portfólio de artigos sobre o tema da
pesquisa; ii) análise bibliométrica do portfólio; iii) análise sistêmica; e iv) definição da pergunta
de pesquisa e objetivo de pesquisa (AFONSO et al., 2011).
A próxima etapa foi a retirada de citações, patentes e livros, ficando apenas artigos
(STECHEMESSER; GUENTHER, 2012), e assim a amostra ficou com 1495 artigos.
Desse ponto foram analisados uma amostra de resumos dos artigos mais citados e
percebeu-se que apenas os artigos que tinham no título os descritores realmente falava da
questão de pesquisa. De modo que procedeu-se a análise do título e em seguida do resumo. O
que reduziu a amostra a 37 artigos (AFONSO et al., 2011) que falavam do Institucionalismo,
Teoria Institucional ou instituições. Nessa amostra percebeu-se que a grande maioria da amostra
falava do Institucionalismo, mas não como teoria, dessa forma analisados os artigos que tratam
da questão sob a lente da teoria institucional e resultou em uma amostra de 09 artigos.

4 Resultados e Discussão

A análise das comunicações científicas identificadas, no período compreendido entre os


anos de 2011 e 2017, verificou-se o crescimento das publicações sobre o tema ao longo
principalmente a partir de 2011 (Figura 1), exceto no ano de 2013 e 2014, que apresentou uma
queda na produção a partir deste ano. Pelos artigos é possível verificar que o REDD+ é uma
área jovem com relação as publicações. A figura 1 ilustra a evolução das publicações no período
de 2011 – 2016.

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Figura 1 – Quantidade anual de publicações na Amostra

Fonte: Dados da pesquisa.

Percebe-se na amostra poucos autores com publicações que realmente colocam a Teoria
Institucional para a efetiva implementação dos projetos de REDD+, por isso essa variedade.
De acordo com o protocolo da revisão apresentado, o Quadro 1 mostra os artigos
selecionados para análise de conteúdo e verificar os direcionamentos das pesquisas.

Quadro 1 – Artigos Selecionados


Autores Título Periódicos
Hajek et al., (2011) Regime-building for REDD+: evidence from a cluster of local Environmental
initiatives in south-eastern Peru. Science & Policy
Merger e Pistorius Effectiveness and legitimacy of forest carbon standards in the Carbon balance and
(2011) OTC voluntary carbon market. management
Lederer (2012) Market making via regulation: the role of the state in carbon Regulation &
markets. Governance
Manyika e Emerging institutional structures for implementing REDD+ at Student Papers
Nantongo (2012) national and local level in Tanzania.
Reynolds (2012) Institutional determinants of success among forestry-based World Development
carbon sequestration projects in Sub-Saharan
Rantala et al. Institutional Logics of Equity in REDD+: case of Tanzania. Global Conference -
(2013) IASC
Laing (2014) Assessing the impact of institutional conditions upon REDD+ Tese de Doutorado
Mcdermott e Safeguarding what and for whom? The role of institutional fit Ecology and Society
Ituarte-Lima (2016) in shaping REDD+ in Mexico.
Ochieng, et al. Institutional effectiveness of REDD+ MRV: countries Environmental
(2016) progress in implementing technical guidelines and good Science & Policy
governance requirements.
Fonte: Dados da pesquisa.

Observa-se na Quadro 1 a variedade de periódicos em que foram publicados os artigos


com destaque para Environmental Science And Policy com 02 Publicações, periódicos das
ciências sociais que juntamente com Ecology and Society, Carbon balance and management e
World Development, todos têm qualificação A1 nas qualificações da CAPES.
Pode-se notar a interdisciplinaridade nas áreas do conhecimento dos periódicos
abrangidas na amostra com predominância nas ciências sociais (55%), o que evidencia o uso
das teorias institucionais nas problemáticas da viabilidade dos projetos de REDD+.
Laing (2014) estudando as condições institucionais nas políticas de REDD+ na Guiana,
usou a Nova Economia Institucional com foco nos direitos de propriedade, governança e

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política. Ele concluiu que as mudanças no poder executivo do país afetam os direitos de
propriedade e alavancam o desmatamento e a mineração e atrasam o desenvolvimento do
programa REDD+. Finalmente o autor destaca a importância da paisagem institucional de onde
o REDD+ será implementado.
O novo Institucionalismo serve de pano de fundo para a análise de Mcdermott e Ituarte-
Lima (2016) na formação do REDD+ no México. Os autores colocam que as instituições
definem se a floresta será ou não utilizada para benefício da população e é justamente esse
design que norteará as atividades relacionadas ao REDD+. Outrossim a população que será
influenciada diretamente na implementação dos projetos de REDD+ devem participar
juntamente com as instituições para garantir benefícios econômicos e sociais a longo prazo.
Hajek et al., (2011) usa a teoria dos campos e a habilidade social para mostrar que os
atores devem se empenhar de forma conjunta para a implementação dos projetos de REDD+ e
permanecer flexíveis para as ambiguidades consideráveis e a natureza experimental. No caso
da Bacia do Madre de Dios o REDD+ deve focar nas atividades compatíveis com as que já são
exercidas na localidade e que tenham escopo da conservação e gestão da floresta.
Lederer (2012) utiliza os entendimentos sociológicos das instituições para mostrar que
na atualidade apenas os estados e os acordos intergovernamentais fornecem os pressupostos
necessários para que os mercados de carbono existam e funcionem, pois seria o governo com
sua regulamentação podem estipular as estruturas do mercado. Assim, se o mercado faz ou não
algum tipo de influência, depende do estado.
Rantala et al. (2013) usa abordagem das lógicas institucionais com base na tradição neo-
institucional em estudos organizacionais com foco na legitimidade organizacional vis-à-vis
ambiente organizacional que se refere ao campo organizacional caracterizado por processos
coercivos, normativos e miméticos, levando a uma crescente similaridade em termos e práticas
organizacionais.
Ochieng, et al. (2016) aborda através da eficácia das instituições baseada na nova
economia institucional de North (1991), nos seguintes países: Bolívia, Brasil, Peru, Burkina
Faso, Camarões, República Democrática de Congo (RDC), Moçambique, Tanzânia, Indonésia,
Laos, Nepal, Papua Nova Guiné (PNG) e Vietnã. Concluíram que apesar da capacidade técnica
dos países, têm pouca capacidade administrativa e boa governança, fatores esses que são
essenciais para a implementação dos projetos de REDD+.
Reynolds (2012), estudando vários projetos de geração de crédito de carbono com base
na nova economia institucional de Williamson (2000), concluiu que o cultivo de árvores para o
carbono requer não apenas incentivos internacionais para plantação de árvores, mas também
instituições de nível comunitário para monitorar, impor regras, distribuir benefícios. E
comunicar resultados para as partes interessadas locais, nacionais e internacionais. Projetos
florestais de carbono "bem-sucedidos", capazes de gerar e vender compensações de carbono
confiáveis.
Merger e Pistorius (2011) baseado no Novo Institucionalismo (DIMAGGIO; POWELL,
1983; MEYER; SCOTT, 1991) na análise organizacional e no conceito de "setores da
sociedade" ou "campos organizacionais" concluíram que o mercado de carbono voluntário está
em crescente expansão, mas com falta de eficiência e legitimidade, porém caminha para uma
maturação, o que seria bom para o setor florestal. Os autores ainda colocam que o ambiente
inovador e competitivo ajuda no aprendizado para a política climática internacional e para as
instituições governamentais ao elaborar regulamentos de regulação florestal no âmbito do
REDD+ através da facilitação de novas metodologias de contabilidade, geração de créditos de
REDD+ bem como as garantias e salvaguardas sociais e ambientais para projetos de REDD+.
Na análise e identificação das estruturas de governança nos projetos de REDD+,
Manyika e Nantongo (2012) reconheceram a necessidade de uma estrutura institucional clara e
de interação entre os atores.

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5 Conclusões

A pesquisa caracterizou-se particularmente pela utilização da revisão sistemática de


literatura aplicada a produção científica da relação de Teoria Institucional com os projetos de
REDD+. Foi possível verificar a predominância das publicações em periódicos de ciências
sociais tanto na penúltima amostra como na amostra final, que são os ramos que lidam
diretamente com a temática.
Ao analisar os trabalhos pode-se notar a amplitude das questões inerentes ao papel dos
atores sociais e sua sinergia com a implementação dos projetos de REDD+. Fato esse que pode
ser verificado pela variedade nas dimensões institucionais abordadas nos trabalhos, bem como
nos locais onde são realizados os estudos de caso.
Por essa revisão ter levado em consideração a Teoria Institucional nos projetos de
REDD+, pode ser que haja outras palavras-chaves que tenha mais sucesso na busca de trabalhos
sobre a temática, dada a variedade de periódicos encontrados, porém se obtém sucesso na
seleção ao atentar para os autores que são referência na temática.
Pode-se perceber na análise dos conteúdos da amostra que a Teoria Institucional
evidencia o papel dos atores que interferem na implementação dos projetos de REDD+.
Percebe-se também como cada ator social que interfere de alguma forma dos projetos de
REDD+ e acima de tudo como a Teoria Institucional direciona a criação de um ambiente
adequado para uma real implementação dos projetos de REDD+.

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Escândalos corporativos no agronegócio: efeito no preço das ações da bolsa
de valores brasileira
Agribusiness corporate scandals: effect on the stock price of the Brazilian
stock Exchange
Josefa Edileide Santos Ramos 1, Eluardo de Oliveira Marques2, Marcelo da Costa Borba3,
Glauco Schultz4

Resumo
Com a maior facilidade para o fluxo de informações, identificar de que forma notícias podem impactar ao longo
de uma cadeia produtiva se faz necessário para seu melhor funcionamento. O presente trabalho investiga o impacto
de eventos negativos em empresas pertencentes ao segmento de carnes e derivados listada na Bolsa de Valores
brasileira. Através de uma discussão contextualizada da literatura sobre escândalos coorporativos e sobre a
hipótese do mercado eficiente, foi proposto que os eventos impactam negativamente o valor de mercado de
empresas envolvidas nos escândalos e suas concorrentes. Para tratamento estatístico empregou-se o estudo de
eventos, a fim de verificar se a divulgação dos eventos provocou retornos anormais significativos sobre o preço
das ações em torno das datas dos anúncios. Os resultados mostram que as empresas realmente tiveram seu valor
de mercado penalizado, abrangendo, em maior ou menor grau, todas as empresas envolvidas nos escândalos do
caso considerado. O estudo oferece novos insights sobre a aplicabilidade da hipótese do mercado eficiente e
contribui para a avaliação da disseminação de eventos negativos no campo do agronegócio.
Palavras-chave: Fraude econômica. Retornos anormais. Indústria da carne. Regulação.

Abstract
With greater ease for information flow, identifying which form of news can impact along a production chain if
necessary for its best functioning. The present investment work or impact of isolated events in companies belonging
to the meat and derivatives segment listed on the Brazilian Stock Exchange. Through a contextualized discussion
of the corporate scandal literature and an efficient market hypothesis, it was addressed about the negatively
impacted events or the market value of companies used in the scandals and their threats. For statistical treatment,
use the event study to verify whether the disclosure of events caused abnormal returns and the stock price around
the data provided. The results shown as companies actually had their market value penalized, covering, to a
greater or lesser extent, all companies used where the case was considered. The study provides new insights into
the applicability of the efficient market hypothesis and contributes to the assessment of the spread of non-
agribusiness events.
Keywords: Economic fraud. Abnormal returns. Meat Industry. Regulation.
1 Introdução
Eventos negativos, entendidos como ocorrências adversas ou ameaçadoras, têm
tradicionalmente canalizado a atenção da mídia e do público em geral (BORAH; TELLIS,
2016). Do ponto de vista comercial, notícias desfavoráveis sobre a irresponsabilidade social
corporativa, o reconhecimento de firmas no impacto negativo sobre o meio ambiente, ou mesmo
sua incapacidade de fornecer aos clientes produtos seguros e de qualidade, concentraram uma
parcela considerável nos debate atuais (NUNES, 2018). Com o desenvolvimento de arranjos
complexos de comércio, as cadeias de suprimentos foram levadas ao centro do movimento. É
possível que um evento negativo ocorrido em uma empresa venha a influenciar as percepções
e ações de clientes, funcionários, investidores e outras partes relacionadas em torno de seus
parceiros da cadeia de fornecimento (GUALANDRIS et al., 2015; NUNES, 2018).
Embora os escândalos corporativos não sejam tipicamente eventos sistemáticos, seus
determinantes podem estar correlacionados entre as empresas, resultando em ondas de
exposições correlatas. Esses eventos nos permitem examinar a relação entre as negociações
antecipadas dos investidores, conforme os acontecimentos se desenrolam no domínio público,

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permitindo um estudo de eventos, “que testa a eficiência do mercado, o impacto, a velocidade
e o viés da reação do mercado a um evento” (KOTHARI, 2001, p. 187).
Quando se trata das relações corporativas e seu impacto nos mercados, o agronegócio
que é um setor com grande número de agentes envolvidos em diversas transações e forte
relevância para o superávit da balança comercial brasileira chama a atenção. Dentre os setores
de destaque, temos como principal o complexo soja, seguido pelo setor de carnes, com
respectivamente, 39% e 15% das exportações brasileiras (MAPA, 2019a). Este estudo tem
como objetivo avaliar o impacto da Operação Carne Fraca em empresas pertencentes ao
segmento de carnes e derivados listada na Bolsa de Valores brasileira.
Dessa forma, levanta-se o seguinte questionamento: de que forma os investidores
reagem aos anúncios de eventos corporativos negativos relacionados a um parceiro da cadeia
de fornecimento? Em busca de responder a essa questão, o presente estudo é apoiado pela
literatura sobre fraude coorporativa e o papel das instituições e agências reguladoras e pelos
principais argumentos da hipótese do mercado eficiente sobre o ajuste dos preços das ações a
novas informações (FAMA et al., 1969).

2 Referencial Teórico
2.1 Sistemas regulatórios e o impacto dos escândalos corporativos
O agronegócio brasileiro é visto pela população nacional e pela comunidade empresarial
internacional como um caso de grande sucesso. Os ganhos impressionantes na produção
agrícola e na produtividade, tornaram a agricultura um dos setores estratégicos de exportação
(IORIS, 2017). O setor assume enorme responsabilidade internacional, especialmente no
quesito qualidade, por exemplo, ao ser o principal exportador de carne de frango, destinada a
mais de 150 países, e por figurar entre os primeiros produtores de todas as outras carnes
(ORNELAS; SANTOS, 2015).
O mercado, tanto doméstico quanto internacional, tem demandado um envolvimento
cada vez maior do setor produtivo, exigindo a conformidade da produção animal às normas
sanitárias internacionais, que são delineadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE)
e Organização Mundial de Comércio, das quais o país é signatário (ORNELAS; SANTOS,
2015). O alto nível de complexidade em contextos institucionais leva a ambientes de negócios
altamente turbulentos (SILVESTRE, 2015), onde instituições vazias, falta de mecanismos (ou
incertezas) de aplicação da lei e comportamentos oportunistas de jogadores de confiança que
têm muito poder fazem mau uso desse domínio para obter ganhos privados (NICHOLS, 2017).
O risco de sustentabilidade da cadeia de suprimentos está relacionado a eventos que
podem levar a impactos financeiros, ambientais e sociais negativos a cadeia de suprimentos.
Estima-se que as fraudes de corrupção sejam responsáveis por perdas anuais de US$ 1,5 a US$
2 trilhões, ou seja, 2% do PIB mundial (IFM, 2016). No Brasil, foram anunciados casos como
o esquema de corrupção na Petrobras, revelado pela Operação Lava Jato, a Operação Carne
Fria investigada pelo IBAMA para combater o desmatamento ilegal da Amazônica, e a
Operação Carne Fraca que apontou as maiores empresas do ramo alimentício - JBS dona das
marcas Seara, Swift, Friboi e Vigor, e a BRF controladora da Sadia e Perdigão, acusadas de
adulterarem a carne que vendiam no mercado interno e externo (SILVESTRE et al., 2018).
Os escândalos na indústria da carne levaram a perdas cruciais da confiança do
consumidor no setor do agronegócio, e a partir da constatação da fraude alimentar o Brasil
adotou sérias mudanças no seu sistema regulatório. O termo fraude alimentar pode ser
explicado de várias maneiras, alguns autores interpretam como adulteração economicamente
motivada, outros como a colocação deliberada no mercado, para ganho financeiro, com a
intenção de enganar o consumidor (KOUBOVÁ; SAMKOVÁ; HASONOVÁ, 2018). O tema
entrou em foco com o advento da lei anticorrupção 12.846/13, regulamentada pelo decreto
8.420/15, surgindo como consequência dos diversos acordos internacionais assinados pelo
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Brasil (OCDE - Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico)
estabelecendo a importância das políticas de integridade como instrumento de mitigação à
fraude e a corrupção (MAPA, 2017). Isto colocou a gestão da qualidade, sistemas de
certificação e transparência na agenda política nacional. Os procedimentos de certificação
ganharam importância, diferentes padrões de certificação foram estabelecidos para servir como
instrumentos de garantia de qualidade. Considerando o novo cenário mundial para a inspeção
industrial e sanitária dos produtos de origem animal, abriram-se novos mercados, tornando a
inspeção ainda mais exigida para as transações comerciais (ORNELAS; SANTOS, 2015).
2.2 Hipótese de Mercado Eficiente
A teoria da hipótese de mercado eficiente defende que toda informação relevante é
percebida pelo mercado. Um mercado eficiente, para Fama (1965, p. 56), “é aquele em que há
um grande número de concorrentes racionais, visando a maximização dos lucros, cada um
tentando prever o valor futuro de cada ação e onde as informações importantes estão disponíveis
praticamente sem custos para todos os participantes”. Essa suposição é central para a presente
investigação. Quanto as hipóteses do mercado eficiente, espera-se que os eventos corporativos
negativos desencadeiem reações negativas correspondentes dos investidores, penalizando o
valor de mercado das empresa fontes ou de seus parceiros da cadeia de suprimentos (NUNES,
2018).
Fama (1970) enumerou três versões a hipótese de mercado eficiente: as formas fraca,
semiforte e forte. Primeiro, a versão fraca em que o conjunto de informações é apenas preços
históricos, acredita-se que o preço dos ativos reflita totalmente todas as informações passadas
publicamente disponíveis. Em seguida, a forma semiforte, espera-se que os preços se ajustam
de maneira eficiente a outras informações que estão disponíveis publicamente, e que mudem
instantaneamente em resposta a novos dados. Por fim, a forma forte propõem adicionalmente
que até mesmo informação privada ou privilegiada pode ser reproduzida no preço dos valores
mobiliários, que, com base nessas premissas (FAMA, 1970; NUNES, 2018).
A propósito, a presente investigação encontra melhor suporte na forma semiforte da
hipótese de mercado eficiente, pois examina empiricamente o efeito colateral de eventos
negativos nas cadeias de suprimentos. Em situações de corrupção, aqueles que detém
informações privilegiadas atuam garantindo-se na impunidade, acarretando incerteza de
mercado. A corrupção reduz a eficiência de mercado, com consequências para o valor das
firmas e o crescimento econômico, uma vez que parte dos recursos é destinada a instituições e
funcionários públicos corruptos, através de pagamentos de propinas, funcionando como um
‘imposto’, que aumenta a incerteza sobre acontecimentos futuros (MÉON; WEILL, 2010).
3 Procedimentos Metodológicos
3.1 Caso de estudo
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é responsável pela gestão das
políticas públicas de estímulo à agropecuária, pelo fomento do agronegócio e pela regulação e
normatização de serviços vinculados ao setor (MAPA, 2019b). Com base na denúncia de um
inspetor do MAPA, a Polícia Federal do Brasil iniciou a investigação “Carne Fraca” em janeiro
de 2015. O inquérito teve como alvo inspetores do MAPA em esquema de licenciamento e
inspeções falhas de matadouros, as fases da investigação são descritas a seguir:
Quadro 1- Fases da Operação Carne Fraca.
Fases Descrição
Operação Carne Fraca: deflagração em 17 de março de 2017, a Polícia Federal apurou
irregularidades pontuais identificadas no Sistema de Inspeção Federal (SIF), tais fatos se
1ª Fase relacionam diretamente a desvios de conduta profissional praticados por fiscais agropecuários
federais e empresários do agronegócio(BRASIL, 2017a, 2017b; SILVESTRE et al., 2018).

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Operação Antídoto: deflagrada em 31 de maio de 2017, a ação policial teve como alvo principal
a investigação a ex-superintendente regional do MAPA no Estado de Goiás. Segundo as
2ª Fase apurações, o investigado foi flagrado em interceptações telefônicas destruindo provas relevantes
para a apuração no contexto da Operação Carne Fraca(BRASIL, 2017c).
Operação Trapaça: deflagrada em 05 de março de 2018, objetivou investigar fraudes praticadas
por empresas e laboratórios que tinham como finalidade burlar o SIF e não permitir a fiscalização
3ª Fase do MAPA. As ações ocorrem em estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e
São Paulo ((BRASIL, 2018b).
Fonte: Elaborado pelos autores, (2018).
As evidências indicaram que os golpes incluíram o uso de produtos químicos para
mascarar carne bovina estragada e vendê-la em varejistas específicos, como também a injeção
de água em produtos de carne para aumentar seu peso e, consequentemente seu preço. Houve
ainda alegações de que o papelão picado foi misturado com carne para produzir linguiças de
frango e carne de porco, além de apontar agentes do governo acusados de liberar estes produtos
adulterados para revenda (BRASIL, 2018a). Foram investigadas importantes empresas na
cadeia de fornecimento da indústria de carne, como a JBS e a BRF, além de processadores
menores de gado e frango.
A Justiça Federal do Paraná listou 56 empresas envolvidas nos golpes e processou 63
pessoas, a investigação concluiu que as empresas cometeram diferentes tipos de
irregularidades: improbidade administrativa, corrupção, crimes contra a ordem econômica, uso
de processos proibidos ou substâncias proibidas, falsificação, adulteração de produtos
alimentícios, crime organizado, peculato, prevaricação, uso de documentos falsos e violação do
sigilo funcional (SILVESTRE et al., 2018).
Para capturar o impacto do escândalo corporativo sobre as ações, foi utilizada a
metodologia de estudo de evento, que consiste na avaliação de como uma informação afeta o
mercado num momento específico, dado a divulgação de um fato presumidamente relevante e
não antecipado. Em suma, usando esse método, um pesquisador determina se existe um efeito
anormal no preço das ações, associado a um evento imprevisto. Para isso, comparam-se os
retornos obtidos com o ativo ao retorno de mercado, antes e após o evento. De acordo com
MacKinlay (1997), as etapas do estudo de evento são: 1) definição do evento; 2) critério de
seleção; 3) retornos normais e anormais; 4) procedimento de estimação; 5) procedimento de
teste; e 6) resultados empíricos.
3.2 Estudo de evento
3.2.1 Definição e critérios de seleção do evento
O evento foi definido como: deflagração e desdobramento das fases da Operação Carne
Fraca. Foram analisadas as três fases (1ª Fase - 17 de março de 2017 (Carne Fraca), 2ª Fase
(Antídoto) - Em 31 de maio de 2017, e 3ª Fase (Trapaça) - Em 5 de março de 2018),
considerando o dia do anúncio de cada fase da Operação como data zero. Os dados foram
obtidos da bolsa de valores brasileira (Brasil, Bolsa, Balcão – B3). A seleção da amostra refere-
se às companhias citadas no escândalo e listadas na B3 que estão ligadas ao segmento de carnes
e derivados e incluídas no Índice Bovespa. As empresas incluídas com seus respectivos códigos
B3 são: BRF S.A. (BRFS3), Excelsior Alimentos S.A. (BAUH), Marfrig Global Foods S.A.
(MRFG), Minerva S.A. (BEEF), Minupar Participações S.A. (MNPR), JBS S.A. (JBSS3).
A definição da janela do evento envolve certo grau de subjetividade por parte do
pesquisador e depende do evento estudado e dos objetivos que se almejam com a metodologia
(CAMARGOS; BARBOSA, 2003). A janela do evento é o período circundante à data do
evento, no qual os preços dos títulos das empresas serão examinados, a fim de lidar com reações
antes do evento ou reações atrasadas. A técnica de estudo de eventos é a mais adequada para a
percepção dessas alterações no mercado acionário (MACEDO; ALMEIDA; DORNELLES,

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2016). Neste trabalho foi considerada a janela de 02 (duas) cotações antes e após o evento de
deflagração e desdobramento das fases da Operação Carne Fraca.
3.2.2 Retornos Normais e Anormais
Avaliou-se o impacto nos preços das ações através da ocorrência de retornos anormais
significativos na janela de evento. Tal retorno é tido como o retorno real verificado no título,
subtraindo o retorno normal esperado, caso não ocorra o evento estudado. Assim, o retorno
anormal de uma dada empresa i e data de evento t, pode ser definida pela fórmula:
𝐴𝑅𝑖𝑡 = 𝑅𝑖𝑡 − 𝐸(𝑅𝐸𝑖𝑡 |𝐼𝐵𝑂𝑉𝐸𝑆𝑃𝐴𝑡 ) (1)
Onde:
𝐴𝑅𝑖𝑡 = Retorno Anormal
𝑅𝑖𝑡 = Retorno Real
𝐸(𝑅𝐸𝑖𝑡 |𝐼𝐵𝑂𝑉𝐸𝑆𝑃𝐴𝑡 ) = Retorno Normal
A implementação desse modelo envolve a comparação do retorno do título durante o
período do evento com o retorno de um índice apropriado de mercado. Nos trabalhos realizados
no mercado de capitais brasileiro, o IBovespa é o mais utilizado (CAMARGOS; BARBOSA,
2003). Esse modelo chamado por MacKinlay (1997) de Modelo de Retorno Ajustado ao Risco
e ao Mercado (Modelo de Mercado) assume uma relação linear estável entre o retorno de
mercado e o retorno do título. Nesse estudo a carteira de mercado foi representada pelo
IBovespa.
Em um primeiro momento, calculou-se o retorno da ação i na data t (Rit) das empresas
citadas na operação Carne Fraca e listadas na B3, em todos os dias do período base, pelo método
logarítmico:
𝑃
𝑅𝑖𝑡 = 𝐿𝑛 (𝑃 𝑡 ) (2)
𝑡−1
Usou-se o logaritmo natural para obter uma melhor aderência à hipótese de normalidade
dos retornos. Este método apresentou uma distribuição de retornos mais próxima à distribuição
normal, que constitui um dos pressupostos dos testes estatísticos paramétricos.
A fórmula utilizada para cálculo do retorno normal foi:
𝑅𝐸𝑖𝑡 |𝐼𝐵𝑂𝑉𝐸𝑆𝑃𝐴 = 𝛼î + 𝛽𝑖 𝑅𝑚 (3)
i e i são parâmetros individuais estimados através dos mínimos quadrados ordinários
fora da janela de evento. De acordo com Campbell, Lo e Mackinlay (1997), o período utilizado
para estimar o retorno normal (janela de estimação) deve ser de no mínimo 30 dias. Para este
estudo utilizou-se para a janela de estimação os 30 pregões anteriores à janela de evento,
conforme Figura 1. Nos dias em que não ocorreram negociações e, portanto, não houve preço,
foram mantidas as cotações do dia anterior.
Figura 1 - Linha do tempo do Estudo de Evento

Janela de Estimação Janela de Eventos

T0 T1 0 T2
t

Fonte: Adaptado de Campbell, Lo, & Macckinlay (1997).


Onde: τ = 0: data do evento
τ = T1 + 1 até τ = T2: janela de evento
τ = T0 + 1 até τ = T1: janela de estimação
Considerando a racionalidade dos agentes econômicos, tal método é possível e eficaz
em função da hipótese de que, em função da racionalidade do mercado, espera-se que os efeitos
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de um evento possam refletir imediatamente nos preços das ações (CAMPBELL; LO;
MACCKINLAY, 1997; SILVEIRA, 2006). Após o cálculo dos parâmetros, os retornos
anormais podem ser calculados e os procedimentos de teste podem ser feitos.
Para a verificação da significância do retorno anormal médio obtido, foi utilizado o teste
t, através da divisão de cada retorno anormal pelo desvio padrão obtido com os valores da
regressão da janela de estimação, a fim de compará-los aos valores padronizados dos intervalos
de confiança, 95% para a aceitação ou rejeição da hipótese nula de resultados estatisticamente
iguais a zero. Se o valor absoluto do teste for superior a 1.96, então o retorno anormal médio
dessa ação é significativamente diferente de zero no nível de 5%. O valor de 1.96 vem da
distribuição normal padrão com uma média de 0 e um desvio padrão de 1 e 95% da distribuição
está entre ± 1.96.
Após os cálculos relativos a cada estudo de evento, foram comparados os valores
absolutos padronizados de cada retorno anormal estatisticamente significativo, a fim de
verificar qual deles teve maior impacto na variação de preços das ações, na bolsa de valores
considerada. O estudo buscou verificar se houve retorno anormal positivo após o anúncio da
deflagração da Operação Carne Fraca, ou se houve retorno anormal negativo. Assim, as
hipóteses deste estudo são:
H0: Inexistência de retorno anormal estatisticamente significativo, interpretado pelo
coeficiente de significância p-value, na janela de evento.
Ha: Ocorrência de retorno anormal estatisticamente significativo, interpretado pelo
coeficiente de significância p-value, na divulgação do evento.
Inferências estatísticas em estudos de eventos visam analisar se os Retornos Anormais
Acumulados (CARs) calculados são estatisticamente significativos. Seguindo as práticas
tradicionais de estatística inferencial, H0 (a hipótese nula) representa a inexistência de CARs
estatisticamente significantes, enquanto Ha (a hipótese alternativa) representa sua presença.
Para testar as hipóteses foram observados os valores padronizados e a significância do retorno
anormal médio CAR (T-2;2) durante a janela de evento.
4 Resultados e Discussão
De uma perspectiva ampla, os resultados sugerem que eventos negativos realmente têm
o potencial de afetar negativamente (pelo menos parcialmente), não apenas as empresas
diretamente responsáveis, mas também seus parceiros da cadeia de suprimentos. Os resultados
ressaltaram que os retornos, tanto das ações, quanto do mercado, foram calculados através da
fórmula logarítmica. Os retornos anormais obtidos (o retorno anormal diário foi calculado
subtraindo o retorno normal previsto pelo retorno real para cada dia na janela do evento ) foram
agregados por ação, inicialmente, dentro da janela de evento, que englobou os 5 pregões em
torno da data da divulgação de cada fase da Operação (começando no segundo pregão anterior
à divulgação até o segundo pregão posterior), conforme Tabela 1.
Tabela 1 - Retornos Anormais (AR (t-2,2) na Janela de Evento
FASE DIA BAUH BEEF BRFS JBS MNPR MRFG
-2 0,0977 0,0145 -0,0327 -0,0018 0,0473 0,0113
-1 -0,0295 0,0292 0,0822 0,1214 -0,0668 0,0159
1ª Operação
0 -0,0161 0,0764 0,0177 -0,0053 0,0675 0,0473
Carne Fraca
1 -0,0041 0,0037 0,0212 0,0143 0,0098 -0,0178
2 0,0043 0,0050 0,0040 -0,0150 0,0196 -0,0207
-2 -0,0172 -0,0219 0,0189 0,0394 -0,0190 0,0014
-1 0,0215 0,0016 0,0316 -0,1072 0,0456 -0,0064
2ª Operação Antídoto 0 0,0022 0,0102 0,0069 0,0198 -0,0005 0,0060
1 0,0026 0,0152 0,0105 0,0311 -0,0444 0,0000
2 -0,0290 -0,0367 -0,0122 0,0377 -0,0051 -0,0238
3ª Operação -2 0,0011 -0,0287 -0,0212 -0,0004 0,0494 0,0076

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Trapaça -1 -0,0019 0,0013 0,2202 0,0543 -0,0184 0,0418
0 -0,0347 0,0620 0,0188 -0,0011 -0,0175 0,0314
1 -0,0066 0,0097 -0,0455 0,0026 0,0239 -0,0002
2 -0,0112 -0,0143 -0,0023 -0,0007 0,0229 -0,0439
Fonte: Elaborado pelos autores, (2018).
Como se esperava quase todas as ações obtiveram retornos anormais dentro da janela
de evento estudada. A natureza do evento parece exercer uma influência no comportamento de
mercado no segmento de carnes e derivados, visto que mesmo as empresas não envolvidas no
escândalo, apresentam retornos anormais negativos, como é o caso das ações da Excelsior
Alimentos S.A.(BAUH), Minerva S.A. (BEEF), Marfrig Global Foods S.A. (MRFG) e Minupar
Participações S.A. (MNPR). Fortalecendo a hipótese do mercado eficiente de que as empresas
podem de fato ser afetadas por notícias relacionadas a outras empresas.
É possível que a contaminação da cadeia de suprimentos a partir de eventos negativos,
afete outros aspectos das empresas vizinhas ou empresas do mesmo segmento de mercado, já
que há uma detecção das perdas de valor de mercado, além do comprometimento do capital de
reputação das empresas como uma medida de controle adicional sobre as atividades dos
parceiros da cadeia de suprimentos, assim como as atividades tradicionais de monitoramento.
Como era de se esperar a JBS e a BRFS, principais empresas envolvidas no escândalo,
absorveram os resultados adversos do evento negativo. Presume-se que as investigações e ações
resultantes da operação foram refletidas em aumento da incerteza e redução da confiança do
investidor. A JBS foi envolvida no escândalo na primeira fase da operação, devido a acusação
de que alguns dos funcionários de uma das subsidiárias do grupo, SEARA, ofereceram propinas
a inspetores do MAPA no Estado do Paraná para que assinassem certificados de conformidade
sanitária para suas operações, mesmo que as inspeções necessárias não fossem realizadas. A
BRFs com a alegação de que cinco de seus laboratórios credenciados pelo MAPA, mascararam
os resultados das inspeções, registrando dados fictícios em relatórios e fichas técnicas, com o
consentimento dos altos executivos e funcionários (SILVESTRE et al., 2018).
Os retornos anormais acumulados foram calculados para refletir melhor o movimento
do mercado durante o evento ocorrido. Assim, acumularam-se os retornos anormais por
empresa. A Tabela 2 apresenta os CARs e seus respectivos níveis de significância dentro de
cada uma das cinco janelas de eventos distintas analisadas.
Tabela 2 - Teste de média para o retorno anormal acumulado do período
1ª Operação 2ª Operação 3ª Operação
Companhia Carne Fraca Antídoto Trapaça
CAR (t-2,2) Stat (t) CAR (t-2,2) Stat (t) CAR (t-2,2) Stat (t)
BAUH 0,0524 0,4647* -0,0199 -0,4545* -0,0533 -1,6772*
BEEF 0,1289 1,9164* -0,0317 -0,6402* 0,0301 0,3885*
BRFS 0,0925 0,9963* 0,0558 1,5472* 0,1700 0,7123*
JBS 0,1136 0,9045* 0,0208 0,1483* 0,0547 1,0073*
MNPR 0,0773 0,6732* -0,0234 -0,3175* 0,0603 0,9174*
MRFG 0,0360 0,5773* -0,0227 -0,8752* 0,0367 0,4918*
Fonte: Elaborado pelos autores, (2018).
*Nota: significância de 0,05 (o retorno anormal médio para a ação é significativamente
diferente de zero no nível de 5%)
Os CARs representam o efeito de um evento durante todo o período considerado.
Verificou-se a ocorrência de retorno anormal cumulativo estatisticamente significativo para
todas as ações com de 95% de confiança. Espera-se que o anúncio de crimes corporativos seja
imediata e negativamente refletido no preço das ações, pois o mercado ajusta-se rapidamente
ao anúncio, seguindo a ideia de eficiência de mercado apresentada por Fama (1970).
Diferentemente do que se esperava, as ações das empresas de origem do escândalo
(JBSS3 e BRFS3) houve um efeito positivo sobre o retorno anormal cumulativo, após a

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divulgação do evento, porém, os resultados devem ser considerados dentro de uma perspectiva
macro uma vez que outras particularidades devem ser abordadas. Presume-se que houve uma
quebra das relações depreciativas em longo prazo, visto as ações imediatas dos órgãos
regulatórios e do Governo Federal, em detrimento das irregularidades encontradas, colaborando
com a redução da incerteza e a rápida recuperação da confiança do investidor.
Deve-se considerar que as empresas possuem um alto valor de mercado, a JBS S/A é
uma das maiores empresas brasileiras do setor de carnes e derivados, suas ações pertencem à
lista de ativos do Novo Mercado (segmento destinado a empresas que se comprometem com a
adoção de padrões elevados de governança corporativa) da principal bolsa de valores brasileira.
Já a BRF S/A é uma das maiores fabricantes de alimentos processados do país, focada na
produção e venda de carne de aves, carne suína, cortes de carne bovina, leite e derivados e
produtos de alimentos processados sob diversas marcas. A BRFS pertence à lista de ativos Nível
3 da Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE), estando sujeita ao grau mais elevado de
transparência de informações ao mercado. Além do ativo BRFS negociado na NYSE, a empresa
possui valores mobiliários negociados no mercado acionário brasileiro.
No entanto, as empresas vizinhas podem ser afetadas mesmo que a empresa fonte não
tenha apresentado resultados negativos. A operação antídoto, apresentou CARs negativos para
quatro das seis empresas estudadas. Isso corrobora com Nunes (2018) sobre os casos de fraude
corporativa e falha operacional. Nesse caso, foram identificadas reações negativas mais fortes,
sugerindo que esses tipos de eventos, mesmo considerando as perdas acentuadas de valor de
mercado que alguns deles causaram, não são homogêneos em termos de resposta dos
investidores às empresas de origem. No entanto, considerando os pressupostos da hipótese do
mercado eficiente, seria esperado que os mercados de segurança respondessem aos eventos de
maneira rápida e homogênea, caso contrário seriam oferecidas oportunidades de arbitragem.
Portanto, considera-se que o evento Operação Carne Fraca teve influência no valor das
ações das empresas, o que corrobora com a teoria do mercado eficiente, de Fama (1970), em
que os eventos corporativos negativos desencadeiem reações negativas correspondentes dos
investidores. Embora a penalização das empresas em termos de valor de mercado não seja
exatamente imprevisível, a demonstração empírica de que as ações dessas empresas podem
absorver, pelo menos parcialmente, os impactos negativos de suas falhas pode ser vista como
uma contribuição relevante para o estudo e a investigação do potencial efeito colateral dos
eventos negativos no contexto da cadeia de suprimentos.

5 Conclusões
Apesar de os resultados indicarem efeitos negativos do evento estudado sob o mercado
financeiro, pressupõe-se que as investigações e ações resultantes da operação sejam refletidas
na redução da incerteza e aumento da confiança do investidor, considerando a quebra das
relações depreciativas em longo prazo oriundas de fraudes e demais atos ilícitos praticados
junto à administração pública. Além disso, observou-se que a resposta dos sistemas de
segurança foram lentas em relação ao previsto pela hipótese do mercado eficiente.
A contribuição do presente artigo pode ser destacada em dois pontos: (a) no campo
acadêmico, o estudo demonstra a necessidade de estudar e formular modelos que expliquem os
escândalos corporativos e o seu impacto no mercado acionário brasileiro, tendo em vista as
constantes notícias de corrupção em diversas áreas e setores no país; (b) no campo empírico,
ao reunir dados sobre escândalos corporativos, o estudo possibilita a reflexão e a discussão
sobre o que há de sistemático nesses casos, criando oportunidades para o desenvolvimento de
modelos conceituais que expliquem seus impactos no mercado mundial. Do ponto de vista
teórico, a hipótese do mercado eficiente evidencia a necessidade de se entender em que
dimensão que uma cadeia de suprimentos é afetada por notícias relacionadas a escândalos em
empresas que a integram.
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JBS em foco: o que as demonstrações financeiras falam?
JBS in focus: what do the financial statements advertise talk about?

Nataniele Pereira Dias1, Cristiane Mallmann Huppes2, António Carlos Vaz Lopes3, Rafael
Martins Noriller4

Resumo
Publicações recentes apontam que a empresa JBS é uma das 5 maiores empresas brasileiras em faturamento dos
últimos 6 anos e está entre as 4 maiores empresas do agronegócio brasileiro, junto com as internacionais Cargil,
Bunge e ADM. Além de estar na mídia por ser a maior empresa processadora de proteína animal do mundo, ela
também faz parte das empresas envolvidas em escândalos de corrupção no Brasil. Esta são as principais manchetes
que envolvem a empresa, mas, e como está o patrimônio sob o olhar contábil desta gigante? Nesta perspectiva, o
presente estudo faz uma análise dos Indicadores de Desempenho da JBS, no período de 2008 a 2017, com o intuito
de observar os números quanto a seu desempenho patrimonial e financeiro. Trata-se de um estudo que explora os
índices e os descreve numa perspectiva de comportamento. Os dados foram obtidos por meio de documentos
(Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício e Notas Explicativas) organizados e calculados
em planilhas de Excel. Os indicadores mostram que a empresa obteve bons resultados e com perspectivas
crescentes de retornos para seus sócios e acionistas, tendo por base, principalmente, os índices de liquidez,
rentabilidade e lucratividade. Observa-se ainda que a participação de capital de terceiros (externos a empresa) foi
significativa no crescimento da empresa, sendo ele, o responsável pela expansão e consolidação da empresa em
nível mundial.
Palavras-chave: Análise das Demonstrações Contábeis; Desempenho Financeiros; Mercados.

Abstract
Recent publications, JBS is one of the 5 largest Brazilian companies in revenues in the last 6 years and is among
the 4 largest companies in Brazilian agribusiness, along with international Cargil, Bunge and ADM. Besides being
in the media for being the largest animal protein processing company in the world, she is also part of the
companies involved in corruption scandals in Brazil. These are the main headlines that surround the company,
but, and how is the equity under the accounting eye of this giant? In this perspective, the present study analyzes
JBS Performance Indicators, from 2008 to 2017, in order to observe the numbers regarding its equity and financial
performance. It is a study that explores indices and describes them from a behavioral perspective. Data were
obtained through documents (Balance Sheet, Income Statement and Explanatory Notes) organized and calculated
in Excel spreadsheets. The indicators show that the company obtained good results and with growing prospects
of returns for its partners and shareholders, based mainly on liquidity, profitability and profitability indices. It is
also observed that the participation of third party capital (outside the company) was significant in the company's
growth, being responsible for the expansion and consolidation of the company worldwide..
Keywords: Analysis of Financial Statements; Financial performance; Markets.

1 Introdução

O estudo em questão envolve a empresa JBS, que traz consigo, pela sua movimentação
de mercado, ser uma das 5 maiores empresas em faturamento dos últimos 6 anos (VALOR
ECONÔMICO, 2019), bem como estar entre as 4 maiores empresas do agronegócio brasileiro,
junto com empresas internacionais Cargil, Bunge e ADM (EXAME, 2019). A JBS foi fundada
no ano de 1953, transpondo sua existência de pequeno negócio no interior do país, para ser a
maior empresa de processamento de carnes no mundo. A sigla teve origem no nome de seu
criador, José Batista Sobrinho, que iniciou na cidade de Anápolis, estado de Goiás, a atividade

1
Graduada em Contabilidade/Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD-nataniele_npd@hotmail.com
2
Mestre em Contabilidade/Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD-cristiane_huppes@hotmail.com
3
Doutor em Administração/Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD- antoniolopes@ufgd.edu.br
4
Doutor em Contabilidade/Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD-rafaelnoriller@ufgd.edu.br
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de produção alimentícia sob o nome de: Casa de Carnes Mineira. Atualmente a JBS possui
aproximadamente cinquenta marcas atuando em 22 (vinte e dois) países. Os atuais donos da
empresa Wesley e Joesley Batista fundaram uma holding, que incorpora as empresas JBS,
Vigor, Flora empresa de higiene, Eldorado do Brasil (papel e celulose), Canal Rural e o Banco
Original (VIANA 2017).
Esta empreendedora e grande empresa, envolveu-se recentemente em escândalos de
corrupção no Brasil, fato este que, em conjunto de ser um dos maiores empreendimentos
brasileiros do agronegócio, chama atenção para um estudo minucioso de suas Demonstrações
Contábeis. Sendo assim, o presente estudo faz uma análise dos Indicadores de Desempenho da
JBS, no período de 2008 a 2017, com o intuito de observar os números quanto a seu
desempenho no período analisado. Tendo como base a contabilidade com seus vários tipos de
indicadores, que apontam informações em suas Demonstrações Contábeis, pela coleta e análise,
pode-se observar o crescimento ou não no decorrer do período proposto.

2 Referencial Teórico

A contabilidade é um instrumento que elabora relatórios financeiros, gerando


informações aos seus diversos usuários. Essas informações são projetadas no sentido de
fornecer dados para a análise da situação empresarial e as tomadas de decisões (BRAGA, 2012;
QUEVEDO, 2016). A Análise das Demonstrações Contábeis, se deu no final do século XIX,
com a exigência por parte dos bancos, das demonstrações contábeis das empresas que
pretendiam buscar crédito. Com base nas demonstrações apresentadas, uma análise era
realizada buscando-se saber sobre a situação econômica financeira das empresas (IUDÍCIBUS,
1998; MARION, 2002, p. 20).
Iudícibus (1998, p. 19) escreve que “O relacionamento entre os vários itens do balanço
e das demais peças contábeis publicadas também é de grande interesse para os investidores, de
maneira geral”. Segundo Braga (2012), as Demonstrações Contábeis fornecem informações
para tomada de decisões por parte dos usuários geral. Existem inúmeros índices e indicadores
que podem comparar e aferir o desempenho de uma empresa. Estes são divididos em
indicadores de liquidez e indicadores e índices de desempenho e rentabilidade (ASSAF NETO,
2012).
Para Marion (2002, p. 13), índices de liquidez “são utilizados para avaliar a capacidade
de pagamento da empresa, isto é, constituem uma apreciação de números que revelam se a
empresa tem capacidade para saldar seus compromissos considerando longo prazo, curto prazo
ou prazo imediato”. Ross et al. (2008) afirma que esses índices são uma forma de comparar e
investigar os relacionamentos entre as diferentes partes das informações e para realizar uma
comparação desses índices, que padroniza as demonstrações financeiras trabalhando com
porcentagens em vez do total em reais.
Para a análise financeira são adotados alguns passos como: examinar a demonstração
de fluxo de caixa; calcular e examinar o retorno sobre capital investido e iniciar a análise de
indicadores (EHRHARDT E BRIGHAM 2012). Para fins de esclarecimento, o Apêndice I
apresenta um quadro apresentando os nomes, fórmulas e definições de todos os índices
analisados no presente estudo.

3 Procedimentos Metodológicos

Ao definir os aspectos metodológicos desta pesquisa, inicialmente há características de


estudo exploratório, pois seu desenvolvimento inicial ocorre mediante a premissa de
proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato, ou seja, uma análise temporal (2008

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a 2017) das demonstrações contábeis da empresa JBS, por meio de índices, ainda, este período
contempla o antes e após FULL IFRS. Quanto aos resultados dos achados da análise, as
características são de uma pesquisa descritiva, ou seja, observa, analisa e interpreta, sem a
interferência nos fatos (GERHARDT E SILVEIRA, 2009; RAUPP E BEUREN, 2006).
Quanto aos procedimentos, possui uma das características de estudo de caso, ou seja,
estudo concentrado em um único caso (JBS), bem como documental, em que se baseia em
materiais que ainda não receberam um tratamento analítico, que são as demonstrações contábeis
obtidas nos sites da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e no próprio site da JBS. Foram
tabulados os dados advindos nas demonstrações e calculadas as fórmulas descritas no Apêndice
1 em planilhas do Excel. Quanto a abordagem ao problema, são analisadas demonstrações
contábeis, que compreendem conceitos contábeis e significação em números (coleta de dados
e tratamento dos dados), o que pode caracterizar aspectos quantitativos. Porém, não haverá a
aplicação de instrumentos estatísticos e intenção de se fazer inferências. Sendo assim, a
classificação é de procedimento qualitativo que se aproxima fortemente, quanto a descrição e
análise dos resultados advindos das técnicas de análise de balanço (RAUPP E BEUREN, 2006).

3.1 Objeto de estudo


O objeto de estudo dessa pesquisa se refere a um grupo chamado José Batista Sobrinho,
mais conhecido atualmente como Grupo JBS. Fundada como um pequeno açougue na de cidade
de Anápolis - GO em 1953 por José Batista Sobrinho mais conhecido como Seu Zé Mineiro, a
Casa de Carnes Mineira que representa a cultura e os valores da companhia, em 1957 se tornou
um dos primeiros fornecedores de carne bovina para os canteiros de obra que futuramente
deram origem a nova capital federal, Brasília – DF. Desta cada de carnes, formou-se a primeira
unidade frigorifica, dando origem ao nome Friboi (JBS, 2017).
Ao longo de seu desenvolvimento, em 2004 com suas operações já em nível nacional,
fundou-se a Sede da JBS na cidade de São Paulo - SP. Em 2005 deu seu primeiro passo rumo
à internacionalização da empresa com a aquisição da SWIFT na Argentina. Atualmente a JBS
é controlada pela holding J&F e atua no mercado com as marcas Seara, Friboi, Massa Leve,
Swift e Doriana (JBS, 2017).
Maior processadora de proteína animal do mundo, a JBS atua em cinco continentes nos
segmentos de carne bovina, suína, aves e ovinos, além de couro, colágeno, embalagens
metálicas, biodiesel e transportes. Seu faturamento é expressivo, que a coloca entre as maiores
empresas do país e é dona de marcas internacionalmente reconhecidas, como Swift, Pilgrim’s,
Friboi, Seara e Frangosul (VAZ, 2017).

4 Resultados e Discussões

Nesta seção, são apresentados resultados e respectivos comentários pertinentes aos


indicadores: Liquidez Corrente, Seca e Geral; Indicadores de Rentabilidade do Ativo e do
Patrimônio Líquido; Indicadores de Endividamento; e, Indicadores de Prazos Médios.
A Figura 1 representa os dados relativos à Liquidez da empresa JBS, no período
proposto (2008 a 2017), seguida de uma análise dos indicadores.

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Figura 1: Indicadores de Liquidez Corrente, Liquidez Seca e Liquidez Geral
2,00
1,80
1,60
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
INDICADOR DE LIQUIDEZ CORRENTE
INDICADOR DE LIQUIDEZ SECA
INDICADOR DE LIQUIDEZ GERAL

Fonte: Dados da Pesquisa (2018).


Em uma escala de 0 (zero) a 2 (dois), estão representados os indicadores que
representam a capacidade de pagamento da empresa JBS. Primeiramente, o Indicador de
Liquidez Corrente indica quanto a empresa possui de Ativo Circulante para cada R$1,00 de
Passivo Circulante. Em todos os anos a empresa possui este indicador superior a 1 (um),
significando portanto, que os investimentos no ativo são suficientes para cobrir as dívidas de
curto prazo e ainda permite uma folga financeira (59% em 2008, 48% em 2009, 52% em 2010).
Para o ano de 2011, essa margem de segurança alcança sua maior porcentagem (72%), refletida
provavelmente pelo de seus haveres em dólar. A partir de 2012 o índice inicia uma queda
constante, chegando em 2015 com apenas 2% (68% em 2012, 63% em 2013, 51% em 2014,
24% em 2015, 2% em 2016). Uma possível explicação para este fato seria a crise política
instalada no país, o aumento dos custos de produção, perdas em operações financeiras e
aumento de despesas com o pagamento de dívidas. Para o ano de 2017, este índice já sobe para
24%, ou seja, a empresa possuía para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo R$ 1,24 de bens
circulantes.
Em relação a Liquidez Seca, que considera o total do Ativo Circulante menos o
Estoques, para os anos de 2008 a 2014, os valores em caixa e equivalentes de caixa são
suficientes para cobrir suas dívidas de curto prazo, ou seja, mesmo se a empresa paralisasse
suas entradas de caixa (vendas), por algum motivo, conseguiria saldar todos os seus
compromissos de curto prazo permitindo-lhe ainda um índice de 24% de folga no ano de 2013,
sendo a maior durante o período analisado. Para os anos de 2015 a 2017, as margens ficam
abaixo de 1,00, o que significa uma incapacidade da empresa em quitar suas dívidas a curto
prazo sem ter que vender seus estoques.
Por último, o Indicador de Liquidez Geral, que compreende Ativos de Passivos de
curto e de longo prazo, estão todos acima de 1,00, representando que a empresa consegue pagar
todas as suas dívidas de curto e de longo prazo, ainda se dispor de uma folga de 74% em 2008,
77% em 2009, 72% em 2010, 84% em 2011, 76% em 2012. Essa margem diminui para 51%
em 2013, 46% em 2014. Para os anos de 2015, 2016 e 2017, a margem se manteve constante

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(32%). Cabe ressaltar que essa liquidez apresenta uma tendência de diminuição no período
analisado, iniciando em 1,74 no ano de 2008 e para 2017, 1,32.
Próxima análise diz respeito a Rentabilidade do Ativo e do Patrimônio Líquido, que
aponta para a rentabilidade dos investimentos da empresa e mede qual o lucro obtido sobre o
investimento total aplicado (IUDÍCIBUS, 1998).
Figura 2: Indicadores de Rentabilidade do Ativo e Patrimônio Liquido
20,00

15,00

10,00

5,00

0,00
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

-5,00

INDICADOR DE RENTABILIDADE DO ATIVO

Fonte: Dados da pesquisa (2018).


A Figura 2, mostra que a empresa JBS no ano de 2008 obteve Rentabilidade do Ativo
de 14%, aumentando no ano de 2009 para 36%. Em 2010 essa remuneração passou para valores
negativos (-59%). Em 2011 essa queda aumentos para (-68%). Os grupos de contas que tiveram
alterações para mais no grupo do Ativo foram Investimentos e Intangível. Também, reflexos da
abertura de capital, em que houve grande incremento de capital externo, e respectivo valor de
investimento para produção. Estes investimentos refletiram nos anos subsequentes, 2012, 2013
e 2014, sendo que o retorno aumentou para índices de 153%, 163% e 292% respectivamente,
em 2015 obteve sua maior rentabilidade do ativo (419%), ou seja, a cada R$100 de Ativo, a
empresa obtinha um lucro de 319%, o que significa que aumentou a capacidade da empresa em
gerar lucro líquido e poder capitalizar-se. Em 2016 e 2017 os números foram de 69% e 94%
respectivamente.
O indicador de Rentabilidade do Patrimônio Líquido, representa o capital investido
pelos sócios da empresa e quanto a empresa obteve de lucro para cada R$100 de Capital Próprio
(MATARAZZO, 2003). Nota-se que em 2008 e 2009 para cada R$100 de capital próprio
investido a empresa conseguiu 45% e 168% de lucro respectivamente. Em 2010 e 2011 esses
números caíram para -140% e -160%. Nos anos de 2012 a 2015 esses indicadores aumentaram,
355% em 2012, 502% em 2013, 982% em 2014 e 1.848% em 2015, ou seja, aumentaram os
números de investimentos próprio da empresa, aumentando assim os seus lucros. Nos anos de
2016 e 2017 as taxas foram de 259% e 402% respectivamente. Estes números são
significativamente crescentes a partir de 2012, quando a empresa inverte sua estrutura de
capital, passando a depender mais de Recursos de Terceiros, que mesmo assim, se
transformaram em bons investimentos, remunerando de forma substancial o Capital Próprio.
Indicadores de Endividamento possibilitam identifica qual o grau de capital investido
de terceiros a curto prazo e qual o índice de capital próprio investido no Ativo Permanente
(MATARAZZO, 2003). Essa evolução é apresentada na Figura 3.

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Figura 3: Indicadores de Endividamento
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

INDICADOR DE PARTICIPAÇAO DE CAPITAIS DE TERCEIROS


INDICADOR DE COMPOSIÇÃO DO ENDIVIDAMENTO
INDICADOR DE CAPITAL PRÓPRIO

Fonte: Dados da Pesquisa (2018).


Para os exercícios analisados, a participação de capital de terceiros sobre recursos
totais apresentou-se da seguinte forma: 135% em 2008, 129% em 2009, 138% em 2010, 120%
em 2011, 132% em 2012, 197% em 2013, 218% em 2014, 314% em 2015, 313% em 2016 e
316% em 2017. Percebe-se que a proporção entre capitais de terceiros e patrimônio líquido
utilizado pela empresa aumentaram durante o período analisado, o que significa um risco de
dependência a terceiros por parte da empresa, pois quanto maior a relação de capitais de
terceiros e patrimônio líquido, menor a liberdade de decisões financeiras da empresa
Após conhecer o grau de participação de capitais de terceiros, é importante saber qual a
composição dessas dívidas. A Figura 3 indica que em 2008 a empresa JBS tinha 53% de suas
dividas vencíveis a curto prazo. Em relação a 2008, os outros anos em análise obtiveram uma
porcentagem menor sendo 38% em 2009, 37% em 2010, 40% em 2011 41% em 2012, 39% em
2013, 44% em 2014, 43% em 2015, 43% em 2016 e 35% em 2017, o que significa uma melhora
do perfil de dívida da empresa. Lembrando que o endividamento não deve ser visto como algo
negativo para a empresa, visto que é importante para seu crescimento.
Por fim na Figura 3, o Indicador de Capital Próprio mostra que em 2008 foram
investidos no Ativo Permanente 121% do Patrimônio Líquido, sendo que quanto mais a
empresa investir no Ativo Permanente, menos recursos próprios sobrarão para o Ativo
Circulante. Em 2009 e 2010 os índices são praticamente iguais, sendo 157% e 159%
respectivamente. Em 2011, 2012, 2013 e 2014 esses índices permanecem com máxima de
173%, já em 2015, 2016 e 2017 os índices de investimentos do Ativo Permanente são de 245%,
277% e 278% respectivamente. Neste sentido, observa-se que a participação de capital de
terceiros é significativa no crescimento da empresa, sendo ele, o responsável pela expansão e
consolidação da empresa em nível mundial.
Por fim, uma última análise foi feita para verificar a os prazos médios de vendas e
pagamentos. Os Indicadores de Prazos Médios informam quanto tempo, em média, a empresa
demora para receber suas vendas diárias, e pagar seus fornecedores. Também, avalia o tempo
que o estoque leva para se transformar em produção vendida (MATARAZZO, 2003).
Representada na na Figura 4, o recebimento de vendas da empresa JBS não ultrapassa
a base de 35 dias, ou seja, manteve-se, em média, no período em análise com recebimento
máximo de um pouco mais de 1 mês. Os prazos mais longos se deram no ano de 2009 (33 dias),
e no ano de 2013 (34 dias). Os prazos mais curtos foram de 20 dias nos anos de 2016 e 2017.

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Figura 4: Indicadores de Prazos Médios
40,00
35,00
30,00
25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

INDICADOR DE PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO


INDICADOR DE PRAZO MÉDIO PAGAMENTO
INDICADOR DE GIRO DE ESTOQUE

Fonte: Dados da Pesquisa (2018).


Para pagar seus fornecedores a JBS precisou de 14 dias em 2008, 11 dias em 2009, 5
dias em 2010, 10 dias em 2011, 9 dias em 2012, 12 dias em 2013, 4 dias em 2014, 4 dias em
2015, 6 dias em 2016 e 8 dias em 2017. Assim, os menores números de dias para pagamentos
de fornecedores da JBS foram nos anos de 2010, 2014 e 2015 onde não ultrapassou a faixa de
6 dias, em contrapartida os anos de 2008, 2009, 2011 e 2013 obtiveram um número superior a
10 dias. Fato que deve ser destacado aqui é que, os prazos para pagamento são superiores aos
dos prazos de recebimento. Isso requer de uma empresa boa gestão de capital circulante, pois,
suas saídas de caixa antecipam as entradas.
Por último, para a JBS vender seus produtos foram necessários 12 dias em 2008, 9 dias
em 2009, 10 dias em 2010 e 2011, 13 dias em 2012, 12 dias em 2013, 12 dias em 2014, 13 dias
em 2015, 15 dias em 2016 e 14 dias em 2017. A empresa apresentou seus melhores resultados
no ano de 2009 onde precisou de 9 dias para que seus estoques se tornassem produção vendida,
em contrapartida no ano de 2016 foi necessário um número maior de 15 dias.

5 Conclusões

Com o objetivo de analisar a evolução dos Indicadores de Desempenho da JBS, no


período de 2008 até 2017, o presente estudo inicialmente procedeu com a coleta e organização
das demonstrações Contábeis da empresa e posterior cálculo dos indicadores, o que possibilitou
a descrição das ocorrências relativas ao desempenho econômico-financeiro da empresa em
questão. Mediante estudo, fica evidente a importância da contabilidade no dia a dia de uma
empresa. Os dados que foram analisados dizem respeito a consolidação de um ano de atividade.
A análise e ponderações das ações empresariais durante o transcorrer do período é que são
consideráveis e podem ser geridas pelos procedimentos realizados neste estudo.
O suporte para o estudo de alguns indicadores, tais como: Indicadores de Liquidez
Corrente, Seca e Geral, Indicadores de Rentabilidade do Patrimônio Líquido e do Ativo,
Indicador de Participações de Capitais de Terceiros, Indicador de Endividamento, Indicador de
Capital Próprio, Indicador de Prazo Médio de Pagamento e Recebimento e por fim, Indicador
de Giro de Estoque, foram calculados e houve a descrição dos mesmos.
Os Índices de Liquidez Geral e Liquidez Corrente aponta que a empresa consegue
honrar seus compromissos com relativa folga financeira, tanto a curto como a longo prazo,

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porém a Análise de Liquidez Seca revela uma tendência de diminuição deste índice nos anos
de 2015, 2016 e 2017. Ou seja, sem vendas que gerem caixa, pode haver implicações nos
pagamentos. Este dado analisado em conjunto com os indicadores de prazos médios, sinaliza
uma necessidade urgente de rever os prazos de venda e pagamentos, já que estes, os
pagamentos, ocorrem antes das entradas das vendas.
Os Indicadores de Rentabilidade de Ativo e Patrimônio Líquido revelam variações
notáveis, começando com um índice muito baixo em 2008, tendo um pico de crescimento em
2015, resultado de um aumento de investimento na empresa. O aumento na proporção entre
capitais de terceiros e patrimônio líquido significa um risco de dependência a terceiros por parte
da empresa. Porém, após uma fragilidade dos resultados ocorridos nos anos de 2010 e 2011,
em que houveram altos investimentos aportados por capitais de terceiros, os lucros da empresa
foram ascendentes e significativos a partir de 2013.
Por mais que em uma análise de ocorrências passadas não necessariamente garantam
sua sobrevivência futura, a Análise de Balanços proporciona ferramentas que podem e são
utilizadas pelas empresas na sua prática de gestão diária. A continuidade de análises de uma
determinada empresa, o conhecimento do que já ocorreu, pode sinalizar os possíveis ganhos e
perdas futuras. Propõe-se para futuras pesquisas, a análise e discussão de como foram
constituídos os aumentos e as diminuições dos valores das contas do Balanço Patrimonial e
DRE que levaram ao resultado obtido durante esse estudo. De forma pormenorizada, avaliar a
composição do Capital de Terceiros, vencimentos e prospecção de necessidade de caixa no
futuro.

Referências

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financeiro. 10. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2012.

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São Paulo: Atlas S.A., 2012.

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GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de Pesquisa. 2009.


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IUDICIBUS, Sergio de. Analise de Balanços: analise da liquidez e do endividamento analise


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J&F. Linha do Tempo. Disponível em: < http://jfinvest.com.br/quem-somos/linha-do-tempo/>


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KRUGER, Letícia Meurer. Análise da conformidade das demonstrações contábeis das


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MARION, Jose Carlos. Analise das Demonstrações Contábeis: Contabilidade Empresarial.


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MATARAZZO, Dante Carmine. Análise Financeira de Balanços: Abordagem básica e


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QUEVEDO, Juliana Silva de. Análise das Demonstrações Contábeis da Sulmaq Industrial
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RAUPP, Fabiano Maury.; BEUREN, Ilse.Maria. Metodologia da pesquisa aplicável às


ciências sociais. In. BEUREN, I.M. (Org.). Como elaborar trabalhos monográficos em
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ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph W.; JORDAN, Bradford D. Administração


Financeira. 8. ed. São Paulo: Amgh Editora Ltda, 2008.

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APÊNDICE I

Quadro 1: Indicadores e Índices tratados no estudo


Nome Fórmula Definição
Indicador de Liquidez Avalia a capacidade da empresa
Corrente Ativo Circulante de pagar suas contas a curto
Passivo Circulante prazo.
Indicador de Liquidez Mede a capacidade da empresa
Seca Ativo Circulante – Estoque de pagar suas obrigações sem
Passivo Circulante precisar vender seus estoques.
Indicador de Liquidez Indica a capacidade de resolver
Geral Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo compromissos de curto a longo
Passivo Circulante + Passivo não Circulante prazo.
Indicador de É uma medida do potencial de
Rentabilidade do Ativo (Lucro Líquido) X 100 geração de lucro da parte da
Ativo Total empresa e mostra quanto a
empresa obteve de lucro líquido
em relação ao ativo.
Indicador de Lucro Líquido Quanto a empresa obteve de
Rentabilidade do Patrimônio Líquido X 100 lucro para certa quantidade
Patrimônio Liquido (valor médio) investida.
Indicador de Mede o a estrutura de
Participação de Capitais de Terceiros obrigações da empresa, quanto
Capitais de Terceiros Patrimônio liquido a empresa tem de capital
próprio para pagar suas dívidas.
Indicador de Passivo Circulante Demonstra quanto a empresa
Composição do Capital de Terceiros possui de obrigações a curto
Endividamento prazo para cada R$1,00 de
obrigações totais.
Indicador de Capital Serve para analisar a extensão
Próprio Ativo Permanente X 100 em que o patrimônio líquido se
Patrimônio líquido encontra englobado pelo ativo
permanente, ou seja, quanto do
patrimônio líquido foi aplicado
neste.
Indicador de Prazo Duplicatas a Receber X 360 Indica quando tempo em média
Médio de Recebimento Receita Operacional Bruta a empresa demora a receber
suas vendas diárias.
Indicador de Prazo Duplicatas a Pagar Indica em quanto tempo a
Médio de Pagamento Compras Brutas de Mercadorias e Serviços empresa consegue pagar seus
fornecedores.
Indicador de Giro do Custo dos Pordutos Vendidos Indica a velocidade com que o
Estoque Estoque estoque se transforma em
produção vendida.
Fonte: Adaptado de Marion (2002), Assaf Neto (2012), Matarazzo (2003), Iudícibus (1998).

OBS.: Na fórmula do Indicador de Rentabilidade do Ativo há autores que observam a utilização do valor médio
do Total do Ativo. Este estudo toma como base de análise o valor do Ativo Total no final do período.

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Laticínios que atuam no mercado do Brasil e no Rio Grande do Sul

Dairy operating in the Brazilian milk market in Rio Grande do Sul

Izis Freire Santos Ciechowicz1, Tanice Andreatta2, Sibele Vasconcelos de Oliveira3

Resumo
A cadeia produtiva do leite é de suma importância econômica e social para o estado do Rio Grande do Sul e nos
últimos anos vem passando por profundas transformações, muito influenciada por fatores produtivos,
institucionais e socioeconômicos. O objetivo do presente estudo é descrever as características dos laticínios
atuantes no Brasil e no Rio Grande do Sul, as respostas para a pesquisa foram obtidas através de pesquisa as
plataformas online da RAIS, IBGE, MAPA e Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do
Rio Grande do Sul. Entre os principais resultados, evidencia-se que o setor leiteiro no Brasil gera emprego e renda,
entre os principais estados processadores de leite, destaca-se Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. No estado
do Rio Grande do Sul a mesorregião Noroeste é a principal região produtora e processadora de lácteos. Coloca-se
em pauta, que após a desregulamentação do setor leiteiro e a abertura para entrada de empresas multinacionais,
elevou o número de laticínios atuantes no Brasil.

Palavras-chave: Cadeia Produtiva do Leite, Indústrias, Regionalização.

Abstract
A milk production chain is an economic and social importance for the state of Rio Grande do Sul and in recent
years has been undergoing profound transformations, greatly influenced by productive, institutional and
socioeconomic factors. The aim of the present study is to describe the characteristics of dairy products in Brazil
and Rio Grande do Sul, as answers to surveys that were conducted using online surveys of RAIS, IBGE, MAPA
and the Secretariat of Agriculture, Livestock and Rural Development of the Rio Grande do Sul. Among the main
results, the evidence that the dairy sector in Brazil generates employment and income, among the main milk states,
sales of Minas Gerais, Rio Grande do Sul and Paraná. No state of Rio Grande do Sul in the Northwest region is
the main dairy producing and processing region. After the deregulation of the dairy sector and the opening for
the entry of multinational companies, the number of active dairy products in Brazil is on the agenda.

Keywords: Industries, Milk Production Chain, Regionalization.

1 Introdução

O setor industrial de leite, denominado laticínio, se encarrega de adquirir e processar


derivados lácteos. O desempenho da indústria láctea demonstra um importante papel na
economia brasileira, e se posiciona entre as estruturas produtivas mais representativas do país.
No segmento da indústria, a maior parte do leite captado pelos laticínios no Brasil como do Rio
Grande do Sul, tem sido realizada por estabelecimentos de grande porte que representam
parcela pequena se comparado ao total de laticínios existentes no país, porém as características
relacionadas ao porte dessas empresas apresentam muitas diferenças, englobando pequenos

1Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (PPGAGR), UFSM/Palmeira das Missões-


izisfreire@hotmail.com. 1.
2Docente no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (PPGAGR), UFSM/Palmeira das Missões2-

tanice.andreatta@ufsm.br2
3 Docente no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (PPGAGR), UFSM/Palmeira das Missões. 3-
sibele.ufsm@gmail.com3

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laticínios, empresas privadas, cooperativas e multinacionais (CARVALHO, 2008; EMPRESA
DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL EMATER/RS- ASCAR, 2017).
No que compete à indústria de processamento de leite, a complexidade está relacionada
desde o processo de escolha de fornecedor da matéria-prima, aspectos específicos da fabricação
dos derivados, das negociações com varejistas e canais de distribuição, como também com o
processo de inovação da gama de produtos ofertados, além de lidar com a concorrência acirrada
(CARVALHO, 2010). O mercado do leite apresenta-se com características cada vez mais
concorrenciais, onde o preço muitas vezes se torna a estratégia competitiva, o que diminui a
lucratividade do setor que já possui custos elevados. Continuar na atividade torna-se um
desafio, pois é necessário ser competitivo, aumentar quantidade e qualidade na produção e
unindo esses fatores a diminuição dos custos. Assim, é necessário que produtores e indústrias
invistam em tecnologias, práticas de administração para ampliarem sua produção e
permanecerem no mercado (BREITENBACH, 2011).
Os produtos agroindustriais como o leite e seus derivados se caracterizam como bens de
primeira necessidade, porém, os consumidores exigem regularidade no fornecimento,
padronização da mercadoria e qualidade por parte da produção (BATALHA, 2008). É preciso
levar em consideração, que as quantidades per capita consumidas de produtos lácteos sofrem
influência de diversos fatores, sendo que os aspectos econômicos como renda e preços
impactam as quantidades consumidas (Food and Agriculture Organization of the United
Nations - FAO, 2013).
O consumo brasileiro de leite fluído é marcado por oscilações sazonais, no entanto, na
última década observou-se um crescimento anual de 3,8 litros per capita, estimulado
principalmente pela maior renda (VILELA et al., 2017). Ocorreu uma evolução mais expressiva
no consumo a partir de 2009, consequência da taxa de crescimento anual de 3,7% registrada de
2005 a 2010, alcançando a maior média histórica no ano de 2013 (179 litros/habitante/ano
segundo o IBGE, 2016 e 175 litros/habitante/ano de acordo com o RABOBANK, 2016). De
acordo com o estudo do Brasil Dairy Trends 2020 (2017), que retrata a tendência do mercado
de derivados lácteos, no que compete às quantidades produzidas sob a inspeção do SIF (Serviço
de Inspeção Federal) a região sul do Brasil posiciona-se em segundo lugar em quantidade
processada de iogurtes, queijos, manteiga, creme de leite, doce de leite, leite condensado, atrás
da região sudeste do Brasil. Portanto, objetivou-se quantificar as indústrias atuantes no mercado
de lácteos no Brasil e no estado do Rio Grande do Sul, detentoras do selo de inspeção sanitária Dipoa
e Selo de Inspeção Federal, bem como identificar a mesorregião com maior quantidade de laticínios
instalados.

2 Os Agronegócios pela perspectiva dos laticínios

A complexificação, a intensificação da produção e a integração do setor agropecuário


com os elos à montante e à jusante foram as motivações para o desenvolvimento das pesquisas
de Davis e Goldeberg (1957), que trouxeram uma nova perspectiva para o setor agropecuário,
onde o conceito de agronegócio foi concebido e elaborado como aquele que engloba todos os
participantes desde a fase produtiva, como também de processamento e distribuição de um
determinado produto agropecuário. Fundamentalmente o agronegócio pode ser compreendido
dentro de uma visão sistêmica, onde as instituições e arranjos de coordenação desempenham
um importante papel na organização das diferentes cadeias agropecuárias, que possuem
características particulares como a sazonalidade, esta que causa desequilíbrios entre a demanda
e a oferta de produtos (GOLDBERG, 1968).
Segundo Mendes e Padilha Junior (2007) o desenvolvimento dos agronegócios teve
forte ligação com o desenvolvimento tecnológico e do setor industrial. Quando se trata de
analisar a cadeias produtivas, além do ambiente organizacional, as instituições e suas interações

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exercem forte influência dentro dos sistemas agroindustriais, sobretudo a aqueles produtos de
características específicas em que regulação que dita à conduta dos agentes pode ser incisiva
no que concerne a competitividade e eficiência dos mesmos no mercado (AZEVEDO, 2000).
A cadeia produtiva de leite no Brasil exerce importância na geração de empregos e
obtendo crescimento no decorrer da última década, demonstrando importância econômica
dentre as atividades agropecuárias no Brasil (VIANA e FERRAS, 2007; MATTE E JUNG,
2017). Dentro das categorias que compõe as cadeias produtivas do leite, encontra-se os
fornecedores de insumos incluindo máquinas e equipamentos, os produtores que são
responsáveis por produzir o leite, a indústria que processa a matéria-prima, o varejo responsável
por colocar à venda as mercadorias para que por fim chegue ao consumidor final, o transporte
está presente em todos os elos (VIANA e FERRAS, 2007). De acordo com Deliberal et. al. a
respectiva cadeia produtiva passou por transformações no decorrer do tempo, sendo a
tecnologia um fator determinante para esse desenvolvimento. As melhorias que ocorreram
desde a produção, armazenagem, processamento e distribuição corroboraram para a elevação
da competitividade no setor.
As mudanças macroeconômicas que ocorreram na década de 1990 no Brasil, juntamente
com a estabilidade monetária o país passou por um processo de abertura econômica, os
princípios de livre mercado e trouxe o acirramento concorrencial, impondo as empresas
estabelecer estratégias de competitividade em nível mundial (Cunha; Dias, 2008). Um grande
número de empresas e cooperativas foi adquirido por empresas de maior porte, colocando o
produtor diante de uma reconfiguração mercadológica, em um cenário de poucas, mas grandes
indústrias de processamento lácteo. De acordo com Maia et al. (2013, p. 394) o relacionamento
“entre a indústria e o produtor primário do leite passou a ser regida sob as implicações de um
oligopsônio, ou em muitos casos, monopsônios, em que o ofertante do leite não beneficiado
atua como tomador de preços, sendo a quantidade ofertada sua única decisão a ser tomada”.
Estudos relacionados à industrialização de lácteos demonstram que ocorreram
mudanças nas estruturas de mercado, desde a desregulamentação do setor nos anos 1990, onde
ocorreu uma menor interferência governamental e elevou a entrada de leite externo no país.
Também foi percebido que ao tratar-se de concentração de mercado esse evento não promoveu
o processo de diminuição do grau de concorrência entre as indústrias do ramo. As importações
de produtos lácteos também impactaram o mercado doméstico no período, não pelas
quantidades importadas, mas pelo preço destes (GOMES, 2001; FAVERET, 2002; VILELA et
al, 2002; CLEMENTE E HESPANHOL, 2009; MARION FILHO; DE OLIVEIRA;
SCHUMACHER, 2011; MARION et. al., 2013; ZAGONEL et. al., 2016). A partir dos anos
2000, principalmente as empresas multinacionais, deram início a um processo de expansão,
incorporando laticínios nacionais, em especial aqueles de caráter regional, ocasionando um
processo de concentração. Desenvolveram-se de igual forma, as empresas nacionais e
cooperativas mais dinâmicas que buscaram parecerias e delinearam uma gestão estratégica de
crescimento (VILELA et al., 2002).
No que se refere à oferta de produtos disponibilizados pelas indústrias processadoras de
laticínios, observa-se que marcas de indústrias com elevado poder de mercado possuem forte
impacto na escolha dos consumidores. Entretanto, o RS apresenta diversas outras indústrias de
diferentes portes, distribuídas pelo estado, como demonstra a Associação das Pequenas
Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (APIL) é uma associação composta de pequenas
Agroindústrias de leite e derivados, que conta com 43 indústrias processadoras de leite,
legalmente registradas e inspecionadas (APIL, 2018).

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3 Procedimentos Metodológicos

O presente estudo objetivou descrever as características produtivas da indústria de


lácteos no Brasil e no Rio Grande do Sul. A partir de dados secundários, em que as informações
foram coletadas das plataformas online da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS,
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento - MAPA, Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio
Grande do Sul, foram identificadas as seguintes características dos laticínios: quantas empresas
atuam no mercado brasileiro e quantos empregos geram, quantas indústrias processadoras de
lácteos estão estabelecidas no mercado brasileiro, quantas indústrias processadoras de lácteos
estão estabelecidas no mercado sul-rio-grandense e em qual mesorregião estão localizadas.
Os laticínios abarcados pelo estudo são os portadores do selo de inspeção sanitária da
Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) que possuem liberação para
comercializar produtos dentro do estado e os laticínios portadores do selo do Serviço de
Inspeção Federal (SIF), que possuem licença para comercialização dentro do estado, entre
estados brasileiros e podem habilitar-se a exportação. Inicialmente, identificou-se todos os
laticínios do Rio Grande do Sul pertencentes ao DIPOA e ao SIF, para então identificar a
mesorregião do estado gaúcho com maior quantidade de processamento de lácteos.

4 Resultados e Discussões

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação- ABIA (2017),


entre os anos de 2010 a 2016 a indústria de alimentação brasileira obteve um crescimento no
faturamento de mais de 80%, sendo que no ano de 2010 havia faturado R$274,6 bilhões por
ano, e em 2016 os valores de faturamento chegaram a R$497,3 bilhões. Os cinco principais
setores que se destacaram em crescimento entre esses seis anos analisados são: o (1) setor de
carnes, (2) beneficiamento de chá, café e cereais, (3) açucares, (4) laticínios e (5) óleos e
gorduras. O ramo industrial de laticínios apesentou uma elevação de 112% se comparado o ano
de 2010 ao ano de 2017 (ABIA, 2017). Segundo a Relação Anual de Informações Sociais
(RAIS, 2017) que controla a atividade trabalhista no país e números de empresas. Em 2017,
existiam 2.488 laticínios no Brasil, sendo que os sete estados com maior número de indústrias
processadoras tratavam-se de: Minas Gerais com 829, São Paulo com 225, Paraná 192, Goiás
158, Bahia 145, Santa Catarina 125 e Rio Grande do Sul com 118 laticínios. No quesito
empregos formais, no Brasil 80.258 pessoas possuíam vínculo empregatício em laticínios do
país. Os cinco estados que lideram o número de trabalhadores empregados são respectivamente:
Minas Gerais com 23.825 pessoas, São Paulo com 10.732, Paraná com 8.404, Goiás com 6.392
e Rio Grande do Sul com 6.119 trabalhadores (RAIS, 2017).
De acordo com os dados fornecidos pelo IBGE, em 2018 a quantidade de leite cru,
resfriado ou não, industrializado no Brasil foi de 24,4 milhões de litros. Entre os anos de 1997
a 2018 o Brasil apresentou uma variação percentual de cerca de 230%, visto que no primeiro
ano deste período a quantidade industrializada era de 10,6 milhões de litros de leite. A Embrapa
e a Leite Brasil realizam uma pesquisa da quantidade de litros de leite processados pelas
principais indústrias lácteas no Brasil, o país possui grandes indústrias de laticínios sendo que
as 14 maiores indústrias processaram 13,8 milhões de litros de leite no ano de 2017
(EMBRAPA e LEITE BRASIL, 2017). Em 2018 foram elencados 13 laticínios como os
maiores, observa-se a participação percentual dos mesmos através da Figura 5.

Figura 2- Percentual da participação dos 13 maiores laticínios, no mercado de leite no Brasil.

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5,68%

6,62%
4,68%
7,00%
6,00%
5,00%

2,22%
2,14%
1,87%
1,64%
1,38%
1,38%
4,00%

1,23%
1,01%
0,84%
3,00% 0,82%
2,00%
1,00%
0,00%

LATICÍNIOS

Fonte: Elaborado pela autora, a partir dos dados do Leite Brasil (2018).

Em 2018, os principais laticínios (13 indústrias de leite) processaram 31,5% de todo o


leite industrializado em 2018. A Nestlé liderou o ranking 6,62% do total de leite industrializado
no país, seguido da Laticínios Bela Vista (Piracanjuba) com 5,68%, com destaque para a Unium
que é resultado da união das cooperativas paranaenses Frísia, Castrolanda e Capal, que
processou 4,68% do total brasileiro (LEITE BRASIL, 2018). Os agentes condicionam suas
ações dado as características das estruturas de mercado presentes no ambiente em que estão
inseridos. A concorrência e a formação dos preços são influenciadas pelo nível de concentração
de ofertantes e demandantes, fatores que estão relacionados a participação de cada empresa em
um mercado. Considera-se que uma indústria detém concentração de mercado, ao verificar que
somente quatro firmas capturam 75% da produção de uma mesma mercadoria (MENDES e
PADILHA JUNIOR, 2007).
A Figura 6 demonstra a evolução da quantidade industrializada de leite no Brasil nos
anos de 2007 a 2018. Observou-se que no período, o ano de 2014 destacou-se em
industrialização láctea, e nos anos que seguiram não houve uma recuperação das quantidades.
Esses valores podem ser explicados pelas variações no preço do leite pago ao produtor, que
ofertou mais leite para o processamento quando os preços da commodity estavam mais atrativos,
a queda dos preços pagos ao produtor de leite retirou diversos produtores da atividade (CEPEA,
2017; RELATÓRIO SOCIOENÔMICO DO LEITE, 2017).

Figura 3 - Quantidade de leite industrializada no Brasil entre 2007 a 2018.


23.955.509
22.248.969

23.466.934

24.709.033

24.021.784

23.138.943

24.297.154
21.689.611

27.000.000
20.873.104
19.497.875
19.221.494

25.000.000
17.801.015

23.000.000
Litros

21.000.000
19.000.000
17.000.000
15.000.000
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Anos

Fonte: IBGE (2019).

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No estado do Rio Grande do Sul, as primeiras agroindústrias a se instalarem foram às
voltadas à produção e processamento de leite e seus derivados. De acordo com informações
dispostas no primeiro Censo Industrial de 1920, produzido pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 1920), o Rio Grande do Sul detinha 30,77% da capacidade
industrial de processamento de leite de todo Brasil, posicionando-se atrás somente do estado de
Minas Gerais. Segundo dados do IBGE (2018), no que compete a quantidade de leite cru
adquirido e industrializado no Brasil, o Rio Grande do Sul ainda permanece na posição
secundária ao estado de Minas Gerais, que processou mais de 6 milhões de litros de leite em
2018, com 25,5% do total de leite industrializado no país. Portanto, verifica-se que os estados
de Minas Gerais e Rio Grande do Sul continuam dominando o mercado processador de leite
brasileiro. Abaixo na Figura 07, é possível visualizar as quantidades de leite industrializado nos
estados que processam os maiores volumes, respectivamente Minas Gerais, Rio Grande do Sul
e Paraná.

Figura 4- Quantidade de leite industrializado pelos três principais estados produtores no Brasil
entre os anos de 2007 a 2018.

9.000.000

6.589.511

6.442.432
6.171.001

6.106.296

6.072.010
5.990.229
8.000.000
5.648.763
5.605.830

5.546.817
5.339.420

5.242.961
5.027.323

7.000.000
6.000.000
3.551.609

3.488.321
3.459.966

3.430.747

3.426.034

3.388.665
3.249.626
3.196.155

3.091.619
2.977.976

2.972.084

2.934.679
5.000.000
Litros

2.838.258
2.818.337
2.785.988

2.762.434

2.744.028
2.589.353
2.512.727

2.429.652
2.350.265
1.966.262

4.000.000
1.751.837
1.473.892

3.000.000
2.000.000
1.000.000
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Anos
Parana Rio Grande do Sul Minas Gerais

Fonte: IBGE (2019).

Nos anos recentes, a produção de leite para o RS e para as unidades produtoras deteve
importância econômica significativa. Entre os anos de 2015 a 2018 os valores reais da
comercialização de leite elevaram em mais de 174 milhões de reais. O número de empresas que
adquirem o leite nos municípios também aumentou. Quanto à capacidade de industrialização e
a quantidade captada de leite observa-se que o estado possui uma capacidade de processamento
maior que a quantidade coletada, existindo ociosidade industrial (EMATER-ASCAR, 2017).
De acordo com o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio
Grande do Sul, em 2017 a capacidade produtiva não utilizada dos laticínios sul rio-grandenses
atingia aproximadamente 35% (SINDILAT/RS, 2017).
Os laticínios com o selo de inspeção sanitária SIF (Serviço de Inspeção Federal),
possuem permissão para comercializarem com outros estados brasileiros, além de após
habilitar-se podem estar aptos a exportação. Estes totalizam 40 unidades processadoras, das
quais 22 laticínios estão instalados nos municípios pertencentes a região Noroeste do estado

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gaúcho, vide Quadro 4. A região Noroeste se apresenta como a maior bacia leiteira, possuindo
os maiores volumes de leite tanto em produção como em processamento, sendo a responsável
por produzir mais de três milhões de litros de leite em 2014 segundo a FEE (FUNDAÇÃO DE
ECONOMIA E ESTATÍTICA, 2014).
No ano de 2017 observou-se um aumento no número de laticínios que tem se colocado
no mercado do Rio Grande do Sul, elevou-se também a quantidade de leite processada em
agroindústria própria, bem como a quantidade de leite comercializada in natura diretamente
para os consumidores. Neste mesmo ano o estado do Rio Grande do Sul possuía
aproximadamente 32 laticínios que possuíam o selo de inspeção sanitária pela Divisão de
Inspeção de Produtos de Origem Animal- DIPOA, o que permite estes comercializarem os
produtos entre municípios do estado (SECRETARIA DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E
IRRIGAÇÃO, 2018).

Figura 5 - Municípios do Rio Grande do Sul que possuem laticínios com o selo DIPOA em
2018.

Fonte: Elaborado a partir dos dados da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (2018).

No ano de 2018 os laticínios atuantes no Rio Grande do Sul, com selo DIPOA,
processaram cerca de 178 milhões de litros de leite. Desses 32 municípios, apenas um possui
duas unidades processadoras de lácteos com o referido selo, sendo o município de Boa Vista
do Sul, que processou cerca de 14 milhões de litros de leite. Do total dos laticínios, 14 destes
estão localizadas na mesorregião noroeste do Rio Grande do Sul. Os cinco municípios que
possuem as maiores quantidades de industrialização de leite, são respectivamente: Planalto,
Anta Gorda, Três de Maio, Boa Vista do Sul e Doutor Ricardo.

Figura 6 – Mapa de calor da quantidade processada de leite dos laticínios com o selo DIPOA
estabelecidos em municípios do Rio Grande do Sul em 2018.

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Planalto
Três de Maio

Anta Gorda

Boa Vista
do Sul

Doutor Ricardo

Fonte: Elaborado a partir dos dados do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (2018).

A pesquisa desenvolvida por Marion Filho; de Oliveira; Schumacher (2011) avaliou a


evolução da produção e a concentração regional da produtividade leiteira no Rio Grande do Sul
entre os anos de 1990 a 2009. Os resultados demonstraram que a mesorregião noroeste do
estado era a maior produtora da matéria-prima leite e a que mais havia se especializado, com
destaque para o município de Três Passos, sendo este o que processa maior quantidade de leite.
De acordo com Feix (2015), em estudo sobre a aglomeração de laticínios na região dos Coredes
Fronteira Noroeste e Celeiro, observou que a região Fronteira Noroeste é mais desenvolvida
economicamente e não depende somente das atividades agropecuárias, também é nesta região
que estão localizados os municípios com maior produtividade de leite, o que corrobora para os
investimentos das indústrias processadoras de leite.

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5 Considerações Finais

O consumo mundial de produtos lácteos e de origem animal é crescente, e em economias


globalizadas, a função dos laticínios é fornecer produtos e serviços com vistas a atender as
necessidades e tendências do consumo mundial, a função das organizações é proporcionar
meios fundamentais para que o setor industrial possa se desenvolver e fornecer produtos
manufaturados. A partir da análise dos laticínios atuantes no mercado do leite no Brasil e Rio
Grande do Sul, nota-se a necessidade de dar continuidade ao estudo da mesma para explicar
melhor o desenvolvimento na região Noroeste do Rio Grande do Sul. A região concentra a
maior bacia leiteira do estado e o maior número de laticínios, e seu crescimento vem sendo
constante ao longo dos anos, acredita-se que esse desenvolvimento advém da concentração de
produtores e laticínios de diferentes portes e níveis tecnológicos instalados na mesorregião.

6 Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001.

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Negócios sociais agroalimentares: atores, mercados e parcerias no MS
Agrifood social business: actors, markets and partnerships in MS
Alexandro Moura Araujo1, Handerson Molin Brun2, Caroline Pauletto Spanhol Finocchio3

Resumo
A formação de negócios sociais representa uma fonte de mudança diante da pressão das economias globais. A
preocupação com o impacto social, aliada à busca de rentabilidade e distribuição justa de benefícios, também
está associada à auto-sustentabilidade e à preocupação com o meio ambiente. Neste estudo, o objetivo foi
caracterizar os negócios sociais de Mato Grosso do Sul, através do mapeamento do Conexsus. Para isso, foi
realizada uma análise qualitativa, que possibilitou a criação de codificações relacionadas à motivação para
iniciar o negócio, os resultados alcançados e as dificuldades. Observou-se que os negócios tiveram origem
principalmente em assentamentos, seguidos por propriedades rurais e comunidades quilombolas, cuja
participação e gestão pelas mulheres foram significativas. As empresas comercializam produtos derivados do
agroextrativismo, como baru e bocaiúva, além de vegetais, produtos de origem animal e processados na
agroindústria doméstica. A comercialização ocorre principalmente pela venda direta ao consumidor e também
para programas públicos. Os principais parceiros de negócios são o governo municipal, instituições públicas,
universidades e organizações não-governamentais.
Palavras-chave: Sociobiodiversidade. Agroextrativismo. Agricultura Familiar. Comunidades Tradicionais.

Abstract
Social business formation represents a source of change in the face of pressure from global economies. Concern
about social impact, coupled with the pursuit of profitability and fair distribution of benefits, is also associated
with self-sustainability and concern for the environment. In this study, the objective was to characterize the
social businesses of Mato Grosso do Sul, through the mapping of Conexsus. For this, a qualitative analysis was
performed, which allowed the creation of codings related to the motivation to start the business, the results
achieved and the difficulties. The business originated mainly from settlements, followed by rural properties and
quilombola communities, whose participation and management by women were significant. The companies sell
products derived from agroextractivism, such as baru and bocaiúva, as well as vegetables, products of animal
origin and processed in domestic agribusiness. Commercialization occurs mainly through direct sale to the
consumer and also through public programs. The main business partners are the municipal government, public
institutions, universities and non-governmental organizations.
Keywords: Sociobiodiversity. Agroextractivism. Family Farming. Traditional Communities.

1 Introdução
A diversidade cultural em Mato Grosso do Sul (MS) pode ser verificada pela presença
marcante de quilombolas, indígenas, ribeirinhas, pescadores e agricultores que garantem a
oferta diversificada de alimentos, característicos dos biomas que no espaço coexistem: o
Pantanal, com rastros do Cerrado, e da Mata Atlântica.
Em Campo Grande – MS, por exemplo, na Associação Broto Frutos Culinária do
Cerrado, agricultores familiares negociam produtos oriundos do agroextrativismo, como
castanhas e frutos de coleta, visando atender escolas e órgãos de segurança pública
(PITALUGA et al., 2018). Outros frutos da biodiversidade como o cumbaru, pequi, baru,
guavira e o jatobá, figuram como de grande potencial para o desenvolvimento do
Assentamento Andalúcia, situado em Nioaque-MS (ARAKAKI, 2004; CANDIL, 2004).
Assim como existe uma gama de produtos oriundos da coleta, bem como um
conhecimento tradicional abarcado na produção e na conservação de recursos da natureza,
essas atividades possuem grande potencial de uso pelos povos tradicionais como alternativa

1
Mestrando em Administração-PPGAD/UFMS1- alexx_m_a@hotmail.com1
2
Doutorando em Administração – PPGAD/UFMS2- handmolin@hotmail.com2
3
Professora Adjunta/UFMS3- caroline.spanhol@ufms.br3

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de renda, organização social e acesso a mercados específicos sob forma de negócios sociais,
que surgem de forma emergencial pelo País.
Este trabalho objetiva caracterizar os negócios sociais comunitários de Mato Grosso
do Sul a partir dos dados divulgados pelo Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) em
2018. Busca-se, dessa maneira, descrever quais produtos são ofertados, as parcerias e a
formação de seus grupos.

2 Referencial Teórico

No estado do Mato Grosso do Sul, o espaço geográfico é marcado pela diversidade da


paisagem. Com uma cobertura de três biomas - cerrado, pantanal e mata atlântica, o que
favoreceu a prática de variados tipos de negócios baseados na criação de bovinos, na
produção sucroalcooleira, na soja, entre outros.
Levando em consideração a presença de afluentes e pela presença de áreas úmidas, as
atividades turísticas se destacam na região. A prática de pesca esportiva e turismo de
contemplação são fontes de rendas importantes para muitas comunidades tradicionais. Porém,
algumas dificuldades são enfrentadas por essas famílias no MS. No caso dos ribeirinhos e
pescadores artesanais situados no Porto da Manga e Passo do Lontra, no Pantanal Sul-
matogrossense, por exemplo, os resultados oriundos de atividades relacionadas a pesca e ao
turismo de contemplação se direcionam apenas às empresas instaladas nesses locais, que
ainda não conseguiu integrar o conhecimento destes sobre o ambiente e o modo de vida,
inferindo assim em um protagonismo apenas ao ambiente (OLIVEIRA, 2017). Outras
dificuldades, como no Decreto 15.166, de 21 de fevereiro de 2019, que estabelece a “cota
zero” para a pesca amadora e esportiva, em 2020, traz alguns impactos: embora busque-se a
conservação e o povoamento de peixes, delimitou-se a quantidade e o tamanho máximo de
retirada de pescados dos rios, reduzindo-se as vendas e os estoques dessas famílias.
A dviersidade do bioma no estado também possibilitam o acesso a uma quantidade
variada de ingredientes que podem ser coletados diretamente da natureza. De acordo com os
dados da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS) do IBGE (2015), o Estado
produziu 269 toneladas de produtos alimentícios oriundos da extração vegetal, cujo valor de
produção (VP) foi de R$ 367 mil, principalmente nas microrregiões do Baixo Pantanal e no
Sudoeste do estado. Como exemplo, pode-se citar a amêndoa de baru, com 43 toneladas, a
guavira com 35 toneladas e o fruto da macaúba (bocaiúva) com 9 toneladas (IBGE, 2015).
A exploração desses produtos é denominada como agroextrativismo, que combina
“atividades como a agricultura, cultivo de árvores frutíferas, pesca etc., e atividades
extrativistas, gerando o que se chama de conjunto de sistemas complexos de produção
agroextrativista” (BRASIL, 2013, p. 487). O aproveitamento desses produtos geralmente
ocorre por meio de grupos e comunidades que residem no meio rural, como os povos
indígenas, quilombolas e produtores familiares. A macaúba, por exemplo, é vendida por
agricultores familiares de Corumbá - MS e Campo Grande - MS, por R$ 3,50 o quilo. O preço
da fruta despolpada varia de R$ 5,00 a R$ 6,00 em média (LORENZI, 2006).
Seja na perspectiva do baixo retorno monetário ou pela falta de representação do
território pelas próprias comunidades locais no turismo, a partir de suas práticas cotidianas e
saberes acumulados, fica evidente a importância dos negócios (ou empresas) sociais, que se
caracterizam pela necessidade de se intervir em uma realidade e aumentar o seu alcance
social, isto atrelados aos aspectos socioambientais. Combinando-se aspectos oriundos dos
negócios tradicionais com a perspectiva social da filantropia, os negócios sociais se
caracterizam pelo seu viés autossustentável (não necessitando de injeção periódica de capital),
da consciência ambiental e a justiça no pagamento de dividendos e remunerações. O sucesso é
considerado a partir dos impactos gerados aos seus participantes, aos que estão a sua volta e à

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natureza (YUNUS, 2008). De acordo com Wilson e Post (2011), os negócios sociais são de
uma formação bastante complexa, uma vez que se projeta as características da dinâmica de
mercado no resultado proveniente do design, da mudança social, do ambiente, das estruturas
de capital e da própria operacionalização; considerando-se uma solução sustentável para
problemas no mundo.
Quando analisado o aspecto comportamental de agricultores empreendedores em redes
alternativas de alimentos (AFNS), observa-se a existência de 2 grupos quando observado a
influência das variáveis objetivo, atitude e lucro: existem aqueles que estão mais ligados a
comercialização, cujas atitudes e objetivos são afetadas pela maximização da rentabilidade,
embora levemente preocupados com os aspectos sociais e ambientais; por outro lado, existem
também aqueles que se situam mais no contexto do empreendedorismo social, onde seu
comportamento é afetado pela necessidade de se atender os aspectos sociais e ambientais do
negócio (MIGLIORE et al., 2015).
3 Procedimentos Metodológicos
O presente estudo se caracteriza como uma pesquisa aplicada, tendo em vista a busca
pela geração de informações aos interesses dos negócios locais de MS. Quanto a abordagem
do problema, este configura-se como uma pesquisa qualitativa, visando interpretar um
fenômeno proveniente da localidade. A partir dos objetivos propostos, o estudo pode ser
caracterizado ainda como descritivo-explicativo, visando identificar e descrever as
características dos negócios e seus participantes. Quanto aos procedimentos técnicos,
configura-se como uma pesquisa documental, tendo em vista a busca por informações em
materiais e dados para análise de informações (KAUARK; MANHÃES; MEDEIROS, 2010).
Visando o estudo das características dos negócios sociais, inicialmente foi realizado
uma consulta dos dados publicados pelo Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus)
realizado em 2018, obtendo-se informações relativas a 1.039 negócios espalhados pelo
território nacional, como mostra a Figura 1, sendo que 29 deles estão localizados no estado
de Mato Grosso Sul.
A análise dos dados foi realizada por meio do software Microsoft Excel, cujas
informações possibilitaram captar os biomas em que se encontram, sua composição, a
descrição dos participantes, dos mercados que acessam, da produção e as redes de parcerias.

Figura 1. Empreendimentos mapeados pelo Conexsus (2018)

Fonte: GPA Institute (2018).

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Objetivando a compreensão das características de cada um dos negócios, foram
analisadas as descrições apresentadas pelo Conexsus (2018), de cada empreendimento por
meio do software MAXQDA (Qualitative Data Analysis), versão Analytics Pro 2018, que tem
a finalidade analisar conteúdos de dados qualitativos. Por meio da codificação manual de
todas as descrições dos negócios foi possível criar códigos, subcódigos e segmentos
codificados, de forma a abranger uma descrição das motivações para a criação dos mesmos,
os resultados já obtidos e alguns entraves na atividade. Utilizou-se em seguida a ferramenta
“visualizador de conexões entre os códigos” para compreender as conexões entre essas
informações, por meio da análise do tipo “proximidade” e da exibição dos “nós” através de
círculos. Também se utilizou o “WordCloud” dessas descrições, visando compreender as
palavras que foram mais citadas na caracterização dos negócios.

4 Resultados e Discussões

4.1 Caracterização dos negócios sociais em MS

Os negócios em Mato Grosso do Sul estão localizados em 17 municípios do Estado, se


concentrando, principalmente em Corumbá, Campo Grande e Ponta Porã, como mostra o
Quadro 1. Quanto a sua origem, os dados mostram que estes em sua maioria se encontram em
assentamentos da reforma agrária (55%), propriedades rurais (31%), comunidades
quilombolas (14%) e outros (10%). Existe ainda um negócio situado em uma terra indígena,
em uma reserva extrativista e em outro local que não foi identificado.
Quadro 1. Negócios sociais mapeados nos municípios de Mato Grosso do Sul
Razão Social Município
Associação dos Apicultores da Agricultura Familiar de Corumbá Corumbá
Associação para o Desenvolvimento Agrário do Assentamento Rio Feio Guia Lopes da Laguna
Associação Hanaiti Yomomo Nioaque
Associação Liderada pela Comunidade Agrícola Nova Conquista – Itamarati II Ponta Porã
Associação Leste Pantaneira de Apicultores Aquidauana
Associação de Mulheres Rurais e Empreendedoras de Santa Terezinha Itaporã
Associação Produtiva do Assentamento Bandeirantes Miranda
Associação dos Pescadores de Iscas Artesanais de Miranda Miranda
Associação dos Produtores Orgânicos do Mato Grosso do Sul Glória de Dourados
Associação dos Produtores dos Assentamentos de Corumbá Corumbá
Associação 24 de Junho Itaquirai
Assoc. da Comunidade Negra Rural Quilombola de Desiderio Felipe de Oliveira Dourados
Associação das Mulheres do Assentamento Monjolinho Anastácio
Associação de Mulheres Extrativistas do Porto da Manga Corumbá
Associação de Pequeno Produtores de Furnas do Dioniso Jaraguari
Associação de Ribeirinhos da Comunidade São Francisco Corumbá
Associação dos Moradores da Comunidade de Antônio Maria Coelho Corumbá
Associação Negra Quilombola Ribeirinha Águas do Miranda Bonito
Assoc. de Produt. Rurais Em Economia Solidária do Assentamento Santa Mônica Terenos
Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado Nioaque
Alcides Fernandes Neto - ME Campo Grande
Coordenação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Mato Grosso do Sul Campo Grande
Cooperativa dos Agricultores Familiares Da Itamarati Ponta Porã

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Cooperativa dos Trabalhadores Rurais Assentados da Reforma Agrária Ponta Porã
Cooperativa de Prestação de Serviço e Reforma Agrária do Vale do Ivinhema Nova Andradina
Cooperativa dos Produtores Rurais da Região do Pulador de Anastácio Anastácio
Cooperativa dos Produtores Orgânicos da Agricultura Familiar de Campo Grande Campo Grande
Rede de Mulheres Produtoras do Cerrado e Pantanal Campo Grande
Renascer Assoc. de Mulheres Artesãs da Comunid. Trad. da Barra do São Lourenço Corumbá
Fonte: Dados do Conexsus, 2018

Observa-se que a maioria dos negócios se localizam no bioma Cerrado (20), exceto
nos municípios de Corumbá, Dourados e Itaquiraí. Já o bioma Pantanal se mostra presente em
todos os negócios de Corumbá (6), além de compartilhar com áreas de Cerrado em outros
municípios (5). O bioma da Mata Atlântica, foi apontada em apenas 2 negócios sociais, sendo
em Itaquiraí (1) e em conjunto a outro bioma em Ponta Porã (1). Essa diversidade de biomas
permitem o acesso a diferentes flores, plantas, frutos e culturas, que podem ser transformadas
em produtos com maior valor agregado, por meio estratégias de diferenciação.
Em relação à natureza jurídica que compreendem os negócios, o mapeamento revela
que em sua maioria tratam-se de grupos formados por associações (76%), seguido de
cooperativas (17%), empresas (3%) e outros tipos (3%).
A partir da utilização do MAXQDA Analytics, realizou-se uma codificação do
conteúdo (texto descritivo) dos negócios disponíveis no Conexsus, o que resultou em três
tipos de códigos de origem, e o respectivo número de negócios em que foi apontado:
a) As “Motivações para o surgimento do negócio”, composto por 13 códigos e seus
segmentos (codificados em cada uma das descrições), sendo que os segmentos mais citados
foram a busca por novos mercados (9); pelos movimentos sociais (8); por representação e
igualdade de gênero (7); para obter renda (6) e desenvolver a comunidade;
b) As “Dificuldades” encontradas pelos negócios sociais”, com 3 códigos e seus
respectivos segmentos: sofrem com a falta de equipamentos e utensílios (2); pela falta de
capital de giro (1) e por dificuldades financeiras (1);
c) Os principais “Resultados”, composto por 16 itens, sendo os principais: as conquistas
em termos de aquisições de equipamentos e melhorias em infraesrutura (16); a abertura para a
comercialização dos produtos (13) - principalmente por meio das vendas institucionais para as
diversas modalidades do PAA e ao PNAE (subcódigo, com 8 citações), e a expansão da
capacidade produtiva (8) dos negócios.
Por meio da ferramenta de visualização das conexões disponibilizado pelo software,
observou-se que as codificações que apresentaram maiores aproximações foram: i)
subcódigos “infraestruturas e equipamentos” + “comercialização”, nos quais ambos os
códigos se situam em *Resultados*, com 24 segmentos codificados; e ii) subcódigos “busca
por novos mercados” + “infraestrutura e equipamentos”, sendo o primeiro situado no código
*Motivações para o surgimento do negócio*, e o segundo, no código *Resultados*, com 22
segmentos codificados. Outras aproximações entre as codificações foram: a busca por novos
mercados, com os subcódigos movimentos sociais, capacidade produtiva, comercialização e
vendas institucionais; o subcódigo movimentos movimentos sociais com comercialização,
capacidade produtiva e infraestrutura; e a cadeia produtiva com a comercialização.
A partir da nuvem de palavras (WordCloud) é possível destacar os termos
“agroindústria”, “cozinha”, “instalação” e “construção”; que remetem as questões de
infraestrutura dos empreendimentos; as palavras “comunitária” e “solidária”, que podem ser
associadas as formas de gestão e decisão dos negócios; e as palavras “comercialização”,
“coleta”, “produção” e “leite”, como códigos que fazem alusão a capacidade produtiva e
mercadológica, como mostra a Figura 2.

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Figura 2. Nuvem de palavras das descrições dos negócios sociais

Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.

4.2 Caracterização dos participantes dos negócios sociais em MS

De acordo com os dados do Conexsus, os negócios sociais em MS contam em sua


maioria com uma faixa de 0 a 50 pessoas associadas ou cooperadas (68%), além de 6
negócios possuírem de 51 a 1000 pessoas (21%), e, em 4 negócios, contêm de 101 a 200
participantes (14%). Quanto a disposição de funcionários para realizarem as atividades,
destaca-se que 26 destas não possuem, contendo a presença em outras 3 empresas, 1, 5 ou
mais de 5 funcionários. Essa informação revela a importância do trabalho comunitário para a
execução das atividades, distribuindo-se os valores monetários adquiridos entre os
participantes da unidade produtiva. Também mostra a disposição da força de trabalho e da
gestão dos negócios pelas famílias.
Quanto ao perfil dos participantes, nota-se que muitos negócios tratam-se de grupos
mistos, isto é, agregam mais de um grupo de participantes em sua composição. De forma
geral, agricultores (as) familiares estão em uma proporção de 76% nestes negócios; seguido
de coletivos de extrativistas (28%), comunidades quilombolas e pescadores artesanais (17%);
e, por fim, de forma reduzida, a presença de povos indígenas, agricultores não-familiares,
microempreendedores e outros sujeitos, em 3 negócios.
de jovens e mulheres na execução dos negócios (tendo em vista a indicação da
juventude e as representações e a igualdade de gênero como um dos motivadores expressos
nas codificações anteriormente relatadas), percebe-se que existe uma presença considerável
de mulheres nos cargos de direção, gestão e em número de inscrições ativas nos respectivos
negócios; ao passo que a figura dos jovens se mostra relevante apenas no ato de cadastro nos
empreendimentos, sem uma participação muito ativa quando comparados aos coletivos
femininos, como mostra a figura 3.
Figura 3. Participação de mulheres e jovens nos negócios em MS

Fonte: Elaborado pelos autores, a partir dos dados do Conexsus, 2018.

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4.3 Produção e comercialização dos produtos

No total, 86 produtos são ofertados pelos empreendimentos, podendo ser classificados


em: i) agroextrativismo, em que 13 itens são coletados diretamente da natureza, passando por
um processo de beneficiamento ou in natura; ii) frutas, verduras e legumes (FVL), iii)
produtos da agroindústria doméstica (ou minimamente processados e/ou beneficiados); iv)
produtos de origem animal e seus derivados e v) outros tipos de produtos, que envolvem
cereais, sementes e manejo florestal, como mostra o Quadro 2. Destes produtos, os que mais
se destacam, quando observado a presença em cada estabelecimento, é a produção de mel,
alface, abóbora, ervas, baru, bocaiuva, feijão e leite.

Quadro 2. Tipos de produtos ofertados pelos empreendimentos pesquisados


Agroindústria Origem
Agroextrativ. Frutas, Verduras e Legumes
Doméstica animal
Outros

Baru 5 Alface 8 Cenoura 2 Panifício 3 Mel 9 Feijão 5


Couve- Farinha de
Bocaiuva 5 Mandioca 8 2 2 Leite 5 Arroz 3
Flor Mandioca
Jatobá 2 Abóbora 6 Espinafre 2 Aloe Vera 1 Bovinos 3 Artesanato 3
Laranjinha Manejo
2 Ervas 6 Mamão 2 Colorau 1 Pescado 3 1
de Pacu Florestal
Camalote 1 Abobrinha 4 Maxixe 2 Doces 1 Aves 2 Sementes 1
Castanha do
1 Jiló 4 Melão 2 Iogurte 1 Caprinos 1
Brasil
Óleos
Copaíba 1 Milho 4 Pepino 2 1 Equinos 1
Vegetais
Cúrcuma 1 Pimentão 4 Quiabo 2 Queijos 1 Ovinos 1
Flores 1 Tomate 4 Rabanete 2 Rapadura 1 Ovos 1
Outros
Pequi 1 Banana 3 tipos de 27 Pólen 1
F.L.V.**
Pupunha 1 Batata Doce 3 Suínos 1
Taioba 1 Beterraba 3
Urucum 1 Couve 3
Laranja 3
Fonte: Conexsus, 2018. Elaborado pelos autores, 2019. **Variedade de produtos F.L.V ofertados.

Por meio dos dados apresentados, é possível observar que as comunidades destacaram
que sua produção se caracteriza principalmente como oriunda da agricultura familiar,
adotando-se, em sua maioria, boas práticas de manejo da terra e da água disponível, além de
matérias-primas disponíveis para coleta em seu território, como mostra a figura 3.
Consideram os princípios agroecologia e da produção orgânica em seus sistemas produtivos,
porém em menor proporção. A rastreamento da produção por meio de selos ainda se mostra
relativamente baixo (24%). Para comercialização de seus produtos, os participantes
destacaram que costumam vender principalmente na forma in natura, como por meio do
beneficiamento dos mesmos (66%), de forma que esses processos também são combinados,
dependendo do tipo do produto.Em menor frequência, a transformação do produto, visando
aumentar o valor agregado se mostrou como uma prática que merece maior atenção por esses
negócios (21%).

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Figura 3. Formas de produção e comercialização dos produtos

Fonte: Conexsus, 2018. Elaborado pelos autores, 2019. **Variedade de produtos F.L.V ofertados.

A maioria dos estabelecimentos atende o mercado municipal (93%), seguido do


Estadual (48%) e o Regional (31%). Quanto a regularidade do negócio, alguns
estabelecimentos (14) não possuíam a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), enquanto que
13 estão regulares e 2 que não sabiam informar. A ausência da DAP se reflete na abrangência
do negócio, visto que a maioria dos empreendimentos realiza a venda direta ao consumidor
final, aos mercados justos e solidários; e em menor quantidade, acessam os programas
institucionais e demais mercados, cuja DAP é um requisito necessário, como mostra o quadro
3. Estes mercados se caracterizam como circuitos curtos agroalimentares diretos e indiretos
(DAROLT; LAMINE; BRANDEMBURG, 2013), cuja característica é a presença de no
máximo um intermediário nas relações de troca.

Quadro 3. Acesso aos mercados pelos negócios sociais do MS


Associação Cooperativa Empresa Outra Total
Direto ao Consumidor 20 4 - - 24
Mercado Justo e Solidário (Feiras, Redes, etc.) 17 3 - - 20
Mercados Públicos (PAA, PNAE, PGPM-Bio) 10 4 - 1 15
Mercado de Atacado e/ou Varejo 7 4 - - 11
Atravessador 6 1 - - 7
Mercado Privado de Indústrias de 3 2 - - 5
Processamento e Transformação
Distribuidor ou Outros Intermediários 3 1 - - 4
Outro 2 - - 2
Não está comercializando no momento - - 1 - 1
Fonte: Conexsus, 2018. Elaborado pelos autores, 2019.

4.4 Parcerias

As redes de parceiros disponíveis declarados pelos empreendimentos sociais revelam


que estes estabeleciam relações principalmente com as prefeituras (34%); seguido pela UFMS
e pela AGRAER (31%); pela Organização não governamental ECOA (Ecologia e Ação)
(28%); e a Embrapa (17%). A presença de grupos institucionais, órgãos de assistência técnica,
governo estadual e federal, universidades e institutos de pesquisa e organizações não
governamentais foram lembrados como parceiros do negócio, como mostra a figura 4.

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Figura 4. Principais parcerias das associações, cooperativas e empresas sociais

Fonte: Conexsus, 2018. Elaborado pelos autores, 2019.

Por meio da rede de parceiros, verifica-se a importância dos auxílios estabelecidos


principalmente pelo poder público local, pelas organizações e instituições públicas, sociais e
de pesquisa, seja para o desenvolvimento das unidades produtivas, pela busca por tecnologias
adaptadas ao contexto social, da necessidade por capacitações e de assistência técnica e
gerencial.

5 Conclusões
O estudo dos negócios sociais mapeados pelo Conexsus apontam que em Mato Grosso
do Sul, a operação de atividades produtivas agroalimentares são desenvolvidas por
comunidades tradicionais, como produtores rurais familiares, quilombolas, pescadores e
indígenas; além da oferta uma variedade de produtos, proevientes da coleta da natureza, como
o baru e a bocaiúva. As comunidades também produzem frutas, hortícolas, produtos de
origem animal, além de alguns produtos processados, tais como a rapadura, doces e óleos.
Em relação aos mercados que os negócios acessavam, estes se constituíam
basicamente por aqueles envolvendo a relação direta com o consumidor e baseados nos ideais
de justiça e solidariedade, além dos programas de compras e vendas institucionais, que em
geral, se figuram como circuitos curtos agroalimentares. Os negócios associativos e
cooperativos se destacaram, cuja atuação das mulheres na coordenação e gestão dos negócios
também se tornou evidente, diferentemente do que ocorre com jovens.
As redes de parcerias estabelecidas entre esses negócios apontam a característica
solidária que os negócios sociais possuem: a colaboração das instituições públicas de
pesquisa, governamentais e do terceiro setor.
Vale ressaltar a importância do mapeamento promovido pelo Conexsus, uma vez que
identifica grupos, comunidades e produtos. Por fim, o Conexsus também conta com mais uma
etapa que está sendo desenvolvida, sendo estes com o intuito de se cadastrar e mapear pessoas
e organizações interessadas em adquirir esses tipos de produtos em todo o território nacional,
sendo de suma importância a divulgação dessa ferramenta, principalmente às comunidades e
povos tradicionais, visando garantir a visibilidade de seus produtos e de seu território; bem
como pela iniciativa dos demandantes em efetivar suas necessidades por meio do cadastro,
para que se possa escoar esses produtos.
6 Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio da UFMS e CAPES.
Referências
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desenvolvimento rural em fragmentos do cerrado no assentamento Andalucia/MS.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Local) – Universidade Católica Dom Bosco,
Campo Grande-MS, Brasil, 2004.

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4.829, de 5 de novembro de 1965, nº 8.171, de 17 de janeiro de 1991, e nº 12.651, de 25 de
maio de 2012, para apoiar o desenvolvimento do agroextrativismo. Anais do Senado
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DAROLT, M. R.; LAMINE, C.; BRANDEMBURG, A. A diversidade dos circuitos curtos de
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GPA INSTITUE. Anual Repport. Group Pão de Açúcar Institute, 2018. 46p. Disponível em:
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O cooperativismo como estratégia de desenvolvimento socioeconômico
amazônico
Cooperativism as a strategy for Amazonian socioeconomic development
Diego Pereira Costa1, Marco Aurélio Oliveira Santos2, Léo Cesar Parente de Almeida3

Resumo
O presente artigo buscou identificar a viabilidade da instalação de cooperativa agrícola para buscar a melhor
exploração produtiva e comercial dos produtos produzidos no Distrito Camburão Alenquer-PA. As informações
que nos levaram a identificar o potencial produtivo, foram obtidas por intermédio de questionários aplicados a
produtores, extrativistas e comerciantes locais, com intuito de arrecadar informações relevantes para o estudo. A
análise das informações nos mostra que a comercialização dos produtos acaba por não terem o impacto esperado
por todo o seu potencial, isso se dá devido à interferência do mercado de atravessadores e na desorganização
comercial, o que acarreta na desvalorização do mercado. Com isso, conclui-se que a cooperação entre os
envolvidos na produção local se faz de grande e fundamental importância, uma vez que esta propõe a coletividade
em busca do desenvolvimento socioeconômico, gerando possibilidade de expansão de mercado e aumento de
renda.
Palavras-chave: Governança, cadeia de valor, políticas públicas

Abstract
The present article sought to identify the feasibility of installing an agricultural cooperative to seek the best
productive and commercial exploitation of products produced in the Camburão District Alenquer-PA. The
information that led us to identify the productive potential was obtained through questionnaires applied to local
producers, extractivists and traders, in order to gather relevant information for the study. The analysis of the
information shows that the commercialization of the products does not have the expected impact due to their full
potential, due to the interference of the middlemen market and the commercial disorganization, which leads to the
devaluation of the market. Thus, it is concluded that cooperation between those involved in local production is of
great and fundamental importance, since it proposes the collectivity in search of socioeconomic development,
generating the possibility of market expansion and income increase.
Keywords: Governance, value chain, public policy

1 Introdução
Nas sociedades inseridas na dinâmica capitalista o mercado é a principal instituição.
Contudo, nem sempre a participação no mercado assegura aos participantes boas condições
para serem agentes do próprio desenvolvimento (SEN; KLISBERG, 2010). Assim novos
padrões de consumo, ajustados à qualidade e sustentabilidade, tem ditado uma nova dinâmica
concorrencial nas cadeias produtivas.
Os consumidores tem buscado produtos sustentáveis, saudáveis, éticos, de qualidade
superior e estão atentos às práticas e mensagens que rementem à sustentabilidade. Apesar destas
oportunidades muitas cadeias carecem de estratégias de disseminação de conhecimento, de
tecnologia e de apoio técnico imprescindíveis para estabelecer uma economia de base florestal
a partir do manejo sustentável dos sistemas agroflorestais (SAFs).
O município de Alenquer tem grandes fontes de produtos florestais não madeireiros
(PFNM) com alto valor econômico e socioambiental. Muitos desses produtos têm importância
para alimentação, para o tratamento de doenças, para as indústrias de cosméticos, bebidas entre
outros (COSTA et Al., 2018), tal como a amêndoa de cumaru, onde o município de Alenquer é
o maior produtor. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística a
produção de cumaru no estado do Pará foi correspondente a 87,5% de toda produção brasileira

1Graduando em Administração/Universidade Federal do Oeste do Pará-UFOPA-


diegopereira1992@hotmail.com
2Mestre em Agronegócio/Universidade Federal do Oeste do Pará-UFOPA - marco.santos@hotmail.com.br
3Mestre em Engenharia Elétrica/Universidade Federal do Oeste do Pará-UFOPA-leocesarparente@gmail.com

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alcançando um total de 127 toneladas produzida ao longo no ano de 2016 (IBGE, 2017). De
toda a produção paraense no ano de 2016, o município de Alenquer foi responsável por 48,9%
da produção, totalizando 62 toneladas.
Os moradores do Distrito de Camburão, localizado na Zona Rural do município de
Alenquer, tem como uma de suas principais fontes de renda a comercialização da amêndoa de
cumaru, mas, a má gestão da cadeia de valor faz com que haja a desvalorização do produto. O
preço da amêndoa é flutuante, sobretudo no período da entre safra, esses preços variam de
acordo com a oferta do produto na região, tendo um preço médio de R$ 38,50 (trinta e oito reais
e cinquenta centavos), (COSTA et tal., 2018). A diferença de preços quando comparadas aos
valores praticados em diferentes cidades do Brasil deixam evidentes a falta de valorização
comercial local. Cidades como Santana/AP, Osasco/SP, Belém/PA, Terra Santa/PA encabeçam
a tabela de preços praticados em todo o Brasil com o valor cobrado por quilograma de R$150,00
(cento e cinquenta reais), a figura 1 abaixo ilustra de maneira adaptada os preços em diferentes
cidades do Brasil.

Figura 1: Preço da amêndoa do cumaru em diferentes cidades do Brasil


R$ 150,00 R$ 150,00 R$ 150,00 R$ 150,00
PREÇO POR QUILOGRAMA

R$ 120,00 R$ 120,00
R$ 100,00
R$ 90,00
R$ 80,00
R$ 70,00 R$ 70,00
R$ 60,00
R$ 50,00
R$ 38,50

Fonte: (COSTA et. al. 2018)

Um dos grandes problemas da comercialização da amêndoa de cumaru no Distrito


Camburão é a atuação de atravessadores que acabam por dominar o comércio na cadeia
produtiva local, influenciando diretamente os preços e a estrutura de valor da cadeia. Para
contornar estes entraves a cooperação entre pequenos produtores, mostra-se bastante eficaz.
Contribui para agregação de valor ao produto, bem como contribui para o desenvolvimento
social e econômico pela ação coletiva no mercado. Neste sentido, a cooperativa seria o ator que
faria a governança das inter-relações, direcionando as ações de modo a impulsionar as relações
entre diferentes elos da cadeia produtiva (DOLAN; HUMPHREY, 2000; GEREFFI;
HUMPHREY; STURGEON, 2005; MAYER; GEREFFI, 2010; PORTER, 1990).
Estes fatores são um atrativo quando se fala em união de força entre produtores,
extrativistas e comerciantes locais, no entanto, sabemos que a busca por identificar a viabilidade
de se implantar uma cooperativa é fundamental para se ter a visão de possíveis problemáticas
a curto, médio e longo prazo. As cooperativas são arranjos institucionais amplamente
difundidos por diferentes setores da economia, cuja característica comum é compartilhar os
princípios fundamentais do cooperativismo de tal modo que amplia o potencial da cadeia de
valor em um sistema produtivo e fortalece sua competitividade. (AGUIAR, 1992; COOK, 1995;
EMANA, 2009; OLSON, 1999; SIMIONI; SIQUEIRA; BINOTTO, 2009). Logo, este trabalho
tem como objetivo analisar a viabilidade de implantação de uma cooperativa no Distrito
Camburão tendo em vista a necessidade de estabelecer melhorias na governança da cadeia
produtiva local para impulsionar o desenvolvimento socioeconômico local.

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Além dessa parte introdutória, o artigo apresenta o delineamento, onde foi possível
identificar os fatores essências deste trabalho. Contando ainda com as discussões acerca da
fundamental importância que a governança exerce na estruturação organizacional e sustentando
a ideia de cooperativismo como estratégia de desenvolvimento.

2 Referencial Teórico
A agregação de valor parte fortemente do conceito de melhor aproveitar o produto
ofertado tal como; embalagem, propaganda, aquisição da confiança de seus consumidores e o
aproveitamento diversificado de toda matéria do produto (DOLAN; HUMPHREY, 2000;
GEREFFI; HUMPHREY; STURGEON, 2005; MAYER; GEREFFI, 2010; PORTER, 1990).
Todo processo produtivo para ter grandes influencias comercias necessitam basicamente do
entendimento de que a qualidade do produto gera interesse do mercado e de que a diversificação
do mesmo produto gera mais opções de consumo, o que acarreta em uma maior demanda e
aumento de competitividade. A diversificação é frequentemente utilizada na estratégia para
expandir mercados, aumentar vendas e consequentemente a lucratividade.
Cleci Grzebieluckas em seu artigo intitulado “Estratégia de Diversificação: Conceitos,
Motivos e Medidas’’, diz sobre motivos pra diversificar, aos quais;
Os benefícios da diversificação apontam que as firmas possuem estratégias de
diversificação com o intuito de maximizar o seu valor. Singh et al. (2001) acreditam
que a diversificação pode ser influenciada pela baixa performance e crescimento
limitado. Tal afirmação é corroborada por Lang e Stulz (1994), os quais fornecem
evidências de que firmas são motivadas a diversificar para potencialmente atrair maior
crescimento (GRZEBIELUCKAS, 2017).
Diversificar o produto é uma estratégia de mercado bastante valida no que diz respeito
a ampliação das vendas e aumento de competitividade, dessa maneira é possível perceber que
com produtos diversos há uma maior possibilidade de ampliação comercial. Construir uma
organização sadia, baseada em uma boa estrutura organizacional e repleta de estratégias de
vendas e aproveitamento de produtos é de fundamental importância para se ter resultados
relevantes a curto, médio e longo prazo.
O modelo de cadeia de valor de Michael Porter nos apresenta o que seria crucial no que
tange a melhoria da qualidade do processo produtivo do Distrito Camburão, onde demostra um
exemplo de estrutura adequado. A Cadeia de Valor de Michael Porter é um modelo que ajuda
a analisar atividades específicas através das quais as empresas criam valor e vantagem
competitiva, ou seja, é um conjunto de atividades que uma organização realiza para criar valor
para os seus clientes. A maneira como as atividades dessa cadeia é realizada determina os custos
e afetam os lucros. A figura 02 abaixo, representa o modelo de cadeia de valor de Michael
Poter.

Figura 02: Cadeia de Valor de Michael Porter

Fonte: (RIGOLON, 2004)

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A figura acima representa uma cadeia de valor genérica no qual existem dois tipos de
atividades gerais: Apoio e primária. Esta representa as atividades envolvidas na criação física
do produto e na sua venda e transferência para o comprador, bem como na assistência após a
venda. Já as atividades de apoio sustentam as atividades primárias e a si mesmas, fornecendo
insumos adquiridos, tecnologia, recursos humanos e várias funções da organização
(RIGOLON, 2004).
Logística interna. Atividades associadas ao recebimento, armazenamento e
distribuição de insumos no produto, como manuseio de material, armazenagem,
controle de estoque, programação de frotas, veículos e devolução para fornecedores".
Operações. Atividades associadas à transformação dos insumos no produto final,
como trabalho com máquinas, montagem, manutenção de equipamentos, testes,
impressão de operações e operação de produção. Logística externa. Atividades
associadas à coleta, armazenamento e distribuição física do produto para os
compradores, como armazenagem de produtos acabados, manuseio de materiais,
operação de veículos de entrega, processamento de pedidos e programação. Marketing
e vendas. Atividades associadas a oferecer um meio pelo qual compradores possam
comprar o produto e a induzi-los a fazer isto, como propaganda, promoção, força de
vendas, cotação, seleção de canal, relações com canais e fixação de preços. Serviço.
Atividades associadas ao fornecimento de serviço para intensificar ou manter o valor
do produto, como a instalação, conserto, treinamento de peças e ajuste ao produto
(RIGOLON, 2004).
As atividades de apoio são atividades que dão suporte as atividades primárias são
executadas em conjunto com as atividades primárias. As quatro categorias genéricas de
atividades de apoio são:
Aquisição. A função de compra de insumos empregados na cadeia de valor da
empresa; Desenvolvimento de tecnologia- várias atividades que podem ser agrupadas,
em termos gerais, em esforços para aperfeiçoar o produto e o processo; Gerência de
recursos humanos- atividades envolvidas no recrutamento, na contratação, no
treinamento, no desenvolvimento e na compensação de todos os tipos de pessoal;
Infraestrutura da empresa- uma série de atividades, incluindo gerência geral,
planejamento, finanças, contabilidade, problemas jurídicos, questões governamentais
e gerência de qualidade (RIGOLON, 2004).
A falta de cooperação entre os atores envolvidos na agricultura familiar do Distrito,
acarreta no mal funcionamento comercial, onde o comercio individual sobrepõe qualquer
perspectiva de crescimento em virtude da tentativa de alcançar objetivos individuas e não
coletivos, limitando o desenvolvimento do bem comum.
O funcionamento adequado e eficiente de uma cadeia de valor depende
impreterivelmente da estruturação consolidada, de recursos humanos comprometidos e
capacitados. Assim as cooperativas, por meio das atividades de apoio, ampliariam o potencial
de qualificação de mão de obra, controle do processo produtivo. A cadeia de valor inserida na
cooperação entre os moradores do Distrito, amenizariam diversos problemas de coordenação
das atividades primarias, sobretudo no que tange a produção, comercialização e beneficiamento
de seus produtos (DOLAN; HUMPHREY, 2000; GEREFFI; HUMPHREY; STURGEON,
2005; MAYER; GEREFFI, 2010; PORTER, 1990).
3 Procedimentos Metodológicos
A pesquisa tem um caráter exploratório. Os dados foram obtidos por meio de
questionários semiestruturado aplicado a produtores e comerciantes local do Distrito
Camburão, zona rural da cidade de Alenquer-PA, em decorrência do alto índice de produtores
da agricultura familiar. Os dados foram analisados por meio da Análise Fatorial de
Correspondência (AFC). Este método se baseia na distribuição sintática e semântica das
palavras que transmitem informações essenciais em um texto (CAMARGO; JUSTO, 2013;
RATINAUD; MARCHAND, 2012).

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O estudo sintático visa a identificar a função de um vocábulo em uma oração, bem como
a frequência deste ao longo do texto, ao passo que a semântica identifica a estrutura de
significado que carrega uma palavra. Portanto, a AFC consiste em explorar o texto, fazer
comparações e facilitar a compreensão do conteúdo textual. Deste modo, as palavras são
ordenadas em classes explicativas, processo similar à análise de conteúdo.
A AFC agrupa os vocábulos em classes de objetos similares formando clusters de acordo
com o grau de associação, medido pelo Qui-quadrado (X²), às suas respectivas classes
(MARCHAND; RATINAUD, 2012; RATINAUD; MARCHAND, 2012). Para tanto, usou-se
o software de mapeamento estatístico Iramuteq, programa que faz análises estatísticas de
materiais verbais transcritos, classificando as palavras de acordo com a estrutura de conexidade
e concorrência das palavras no texto, formando uma estrutura hierárquica que fundamentou as
discussões que se seguem.
4 Resultados e Discussão
Os dados, após analisados, deram origem a cinco clusters de palavras que explicitaram
aos fenômenos que limitam o potencial cooperativo e de agregação de valor na cadeia
produtiva. O cluster 4, denominado “Relações Comerciais”, mostra a problemática da
governança da cadeia produtiva, em especial no que tange a comercialização dos produtos, onde
o conjunto de respostas atrelados a esta problemática, as relações comerciais explicam 28,6%
do contexto estudado.
É evidente no cluster 5 e cluster 1, denominado “Governança Cooperativa”, traz à tona
o conjunto de atores que inter-relacionam diretamente com os atores locais. Esta mostra como
é organizado a estrutura de poder que gerencia a cadeia produtiva local. Nesta, elementos como
a falta de informação, acesso a atores locais relevantes para eficiência produtiva. Dessa forma
podemos dizer que a cooperativa poderia ser um agente de governança no elo produtivo
produzindo acesso à informação e ligação direta com instituições financeiras e órgãos públicos.
A governança cooperativa explica 28,6% do contexto estudado.
Nos clusters 3 e 2, denominado “Impactos Esperados”, evidencia o conjunto de ações,
pelas quais, geram benefícios para os cooperados junto as diferentes instituições públicas e
privadas, tais como as intuições financeiras e a atuação de órgão públicos na inserção de
políticas que facilitem o acesso a meios de desenvolver a cooperação, trará possibilidades do
aumento da produção, aumento de renda e valorização do trabalho. Os impactos esperados
explicam 42,8% do contexto estudado. A figura 3 apresentou dados da pesquisa realizada no
local em pesquisa.

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Figura 3: Classificação Hierárquica Descendente da problemática estudada.

Fonte: Resultados da pesquisa

Aprender a trabalhar em conjunto é um grande desafio em qualquer empreendimento


coletivo. Nesse cenário não seria tão diferente, o conflito de interesses, a ansiedade pelo retorno
financeiro a curto prazo e o consenso de propostas entre os cooperados, podem vir a ser um
grande desafio ao se implantar uma cooperativa no Distrito Camburão, tal situação esbarra na
cultura local que por sua vez esta enraíza na produção individual.
A promoção da confiança social, por sua vez, exige que o governo exerça suas
competências políticas em termos de incentivar a formação de associações cívicas e sociais,
administrar suas relações com a sociedade civil e gerar mais diretamente o desenvolvimento de
habilidades da força de trabalho. Os níveis de capital social e humano afetam a capacidade geral
de um governo de impulsionar o crescimento econômico e fomentar o apoio público às suas
políticas econômicas (WOO; RAMESH; HOWLETT, 2015).
Entre outras coisas, ter capital social ou uma população organizada em cooperativas que
confie a gestão a mediação em resolver questões e tensões sociais, contribui para a 'capacidade
de adaptação' dos estados, especialmente quando confrontados com mudanças significativas
que exigem ou levam a mudanças sociais.
Sabemos que se faz necessária que as competências do estado precisam ser combinadas
com os recursos sistêmicos apropriados, neste caso, a confiança social e política, para que os
governos construam capacidade de legitimação. Em suma, a confiança política contribui para a
capacidade política, garantindo o apoio público às políticas e contribuindo para o sustento das
instituições políticas e dos governos de maneira que a sociedade seja abrangida aumentando
assim a capacidade de empreender e promover ações coletivas de maneira eficiente. (WOO;
RAMESH; HOWLETT, 2015)..
Os elementos acima citados tal como a falta de governança, ficam evidentes quando se
remete ao processo de formação de preço. Todos os respondentes alegaram que a definição do
preço dos produtos dar-se pelo comprador local ou atravessador. Tal situação interfere
diretamente na rentabilidade dos pequenos agricultores locais, pois acarreta na geração de
desmotivação quanto ao aumento da produção. Nesse contexto podemos identificar que a
cooperação traria maiores benefícios quanto ao poder de barganha junto aos atravessadores e
possibilitaria expandir o comércio e agregar valor à produção (DOLAN; HUMPHREY, 2000;
GEREFFI; HUMPHREY; STURGEON, 2005; MAYER; GEREFFI, 2010; PORTER, 1990).

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Com isso, aumentariam as parcerias entre os produtores e ajudaria na superação de barreiras
impostas em virtude da desorganização e pelo monopólio dos compradores.
Mesmo com diversos problemas sociais e culturais no Distrito Camburão, o
cooperativismo mostra-se como uma saída viável no desenvolvimento da produção e comércio,
tendo em vista que todos os moradores estão cientes dos benéficos que a cooperação pode vir
a trazer. O beneficiamento do Distrito com o fortalecimento do comercio local, aprimoramento
de técnicas de cultivo, novos conhecimentos, melhor qualidade dos produtos, possibilidade de
acesso ao credito, trazem muitas perspectivas positivas aos moradores sobre a possibilidade de
unir forças para alcançarem objetivos em conjunto, sobretudo no que tange ao delineamento de
estratégias públicas de crescimento econômico.
A atuação da gestão pública na comunidade é mínima, e a falta desta minimiza a
possibilidade de se criar políticas públicas. Sabe-se que o governo é principal ator no que
concerna ao incentivo da produtividade, interligação entre comércios e implantação de políticas
públicas voltadas para o desenvolvimento social e econômico (NORTH, 1959; PETERS, 2015;
WOO; RAMESH; HOWLETT, 2015).
A falta de governança vivenciada pelos moradores do Distrito, acarreta no mal
desenvolvimento local pela inibição da agregação de valor ao produto, e consequentemente
perdas de valor e dificuldades nas inter-relações comerciais na cadeia produtiva. Assim um
empreendimento coletivo possibilitaria melhorias na qualidade dos produtos, tais como;
padronização, acesso a fontes de crédito, disponibilidade de infraestrutura pública, melhorias
de renda, oportunidades de novas parcerias comerciais, melhorias na escoação dos produtos,
oportunidades de capacitação e maior alcance comercial. Portanto, as cooperativas atuariam
como um agente que impulsiona a cadeia de valor norteando as ações e construindo
interligações comerciais e colocaria os atores em uma nova curva de aprendizado, ou seja,
passaria a ser o ator central da estrutura de governança local.
Nesse contexto podemos dizer que a cooperação é a principal saída a governança no
Distrito Camburão. Um empreendimento coletivo atuaria para promover melhorias estruturais
de escoamento e agregação de valor ao produto (AGUIAR, 1992; COOK, 1995; EMANA,
2009; OLSON, 1999; SIMIONI; SIQUEIRA; BINOTTO, 2009). Assim a atuação desta
cooperativa seria imprescindível para mitigar os problemas locais, sobretudo no que tange
estradas com buracos e poeira em excesso que se tornam um inimigo na hora de negociar os
produtos que saem do local, uma vez que, atravessadores alegam que a logística para o
transporte dos produtos se tornam mais caros e por isso pagam um menor preço nos produtos.
A falta de acondicionamento apropriado também é um problema, não há qualquer meio
adequado de acondicionar produtos, fazendo com que produtores tenham pressa em vende-los
evitando possíveis perdas. Como não há acondicionamento adequado, produtores usam suas
próprias residências como local de armazenamento.
Sabemos que o acondicionamento adequado de produtos é muito importante, pois este
insere pontos comerciais fundamentais como, ações estratégicas de comercialização (PORTER;
MONTGOMERY, 1998). Neste sentido, muitos produtos possuem alto valor comercial em
períodos de safra e entressafra, alguns produtos possuem alta perecibilidade, sabemos ainda
que a procura por esses produtos no período de entressafra acaba por elevar o valor comercial
destes uma vez que sua oferta diminui, dessa forma o acondicionamento ajuda no
armazenamento e na venda em períodos de valorização do produto.
O acondicionamento adequado insere diversos benefícios a diferentes produtos, o
armazenamento em lugares específicos as suas necessidades, tais como; refrigeração,
ventilação, iluminação entre outros, inserem no produto maior valor, e maior tempo de
perecibilidade, evitando e desperdícios e prejuízos.
O comercio do Distrito Camburão é bastante falho devido aos problemas acima citados,
e é neste momento que os atravessadores assumem o papel de “agentes comerciais” do local,
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estes compram os produtos abaixo do preço de mercado, fazendo com que os produtores e
comerciantes se sintam desmotivados a aumentar a produção, nessa situação muitos deixam de
produzir para comercializar e passam a produzir apenas para o consumo próprio.
A interferência desse tipo de comercio acaba afetando a cadeia de valor dos produtos,
pois atravessadores passam a ter o monopólio de compra dos produtos, definindo os preços e
caracterizando o comercio local negativamente. Tal situação também está correlacionada a falta
de infraestrutura e acondicionamento, uma vez que estes problemas colaboram negativamente
na hora de negociar, pois pequenos produtores passam a não ter perspectivas de comercializar
seus produtos em outros locais.
Uma solução para esse problema seria o melhor aproveitamento dos produtos por parte
dos atores envolvidos na produção local, tais como; a identificação dos produtos através da
criação de uma marca, embalagens de identificação, o uso acentuado de toda a matéria de modo
que não haja desperdício, a fixação de preços, a busca por parceiros comerciais e a melhoria
constante da qualidade do produto.

4.1. Implantação de cooperativa no Distrito Camburão

A falta de pensamento coletivo onde a melhor exploração e comercialização viria do


trabalho em grupo acarretam nos problemas apresentados. A busca incessante pelo crescimento
individual, onde as negociações produtivas e comerciais se dão de formas mínimas e
insustentáveis, acabam por acarretar problemas não somente a um indivíduo, mas a todos
outros.
Nesse momento dar-se a oportunidade de se quebrar esse paradigma da cultura do
trabalho individual e apresentar aos moradores locais, meios coletivos que possam valorizar
tudo o que produzem. Não esquecendo que o governo é o principal ator no que concerne ao
incentivo da ação coletiva, no que se diz do suporte técnico e especializado aos envolvidos no
manejo de espécies e elaborando políticas públicas que simplifiquem a instalação de
organizações coletivas tal como uma cooperativa.
A cooperação está cada vez mais presente nas discussões e debates de alternativas para
acelerar o desenvolvimento econômico e social dos países como parte de solução para diversos
problemas de uma sociedade mais complexa (UNIVALDO, et tal. 2014). As organizações
coletivas têm se apresentado como uma importante ferramenta para defesa dos interesses deste
setor econômico, na busca por melhores condições produtivas e comerciais. Assim a ação
coletiva é vista como meio de desenvolver o setor, dar condições para seu progresso munindo-
o com informações, ditando uma orientação ao mercado mais eficiente(SIMIONI; SIQUEIRA;
BINOTTO, 2009).
Nesse contexto, a cooperação entre as empresas tem se destacado como um meio capaz
de torná-las mais competitivas. Fortalecer o poder de compras, compartilhar recursos, combinar
competências, dividir o ônus de realizar pesquisas tecnológicas, partilhar riscos e custos para
explorar novas oportunidades, oferecer produtos com qualidade superior e diversificada são
estratégias cooperativas que têm sido utilizadas com mais frequência, anunciando novas
possibilidades de atuação no mercado. Portanto, para melhor orientação e valorização dos
produtos desta cadeia, a instalação de uma cooperativa viria a mitigar os problemas
apresentados e discutidos, uma vez que atuaria como ator coordenador da estrutura de valor.

5 Conclusão
O fortalecimento do comercio local depende não somente da quantidade que se produz,
mas sim na maneira de como todo esse produto é escoado. O estudo mostrou que a produção
local do Distrito Camburão é um grande expoente no que se refere a expressividade econômica
e social, porém, não muito explorados no meio comercial, tais recursos acabam por perder seus
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valores de venda, deixando assim o que seria uma ótima fonte de desenvolvimento
socioeconômico como apenas um meio de subsistência da família.
A falta de organização e de um coordenador que seja responsável por todo o processo
produtivo desde o início da produção até a comercialização, gera uma acentuada desvantagem
comercial aos envolvidos no manejo desses produtos, uma vez que sem a presença desse
coordenador o comercio local passa a ser desorganizado, fazendo assim com que os produtores
e extrativistas passem a comercializar seus produtos a preços definidos pelo comprador.
Existe ainda a problemática da falta de relacionamento entre comprador e vendedor,
onde passa-se a não ocorrer o vínculo de confiança entre ambos, fazendo com que não aja uma
certeza de compra e venda dos produtos, podendo acarretar em prejuízo comercial a ambos.
A implantação de uma cooperativa no Distrito Camburão, mostra-se como um grande
desafio, tendo em vista que existe a possibilidade de conflitos entre os cooperados, onde o
trabalho individual faz parte da cultura local, mas ainda assim deve-se atribuir a implantação
desta como uma fonte de organização e cooperação comercial.
A figura do governo se faz de grande importância para incentivar qualquer oportunidade
de desenvolvimento, neste caso a solidificação de parcerias e a implantação de políticas
públicas no intuído de facilitar e dar suporte ao desenvolvimento da cooperação local é de
grande valia para se criar uma entidade coordenadora do comercio, trazendo capacitação
profissional por meio de extensão rural e empregando o apoio de mão de obra especializada
para dar suporte ao processo de manejo.
As vantagens de se cooperar podem vir a trazer grandes manifestações positivas quanto
ao desenvolvimento socioeconômico a médio e longo prazo. As possibilidades de aumento de
renda, capacitação técnica, aumento de produção e vantagem competitiva sobre o comercio,
são algumas das oportunidades que a cooperação pode vir a trazer aos produtores, extrativistas
e comerciantes locais.

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Percepções dos agentes institucionais sobre o Pronaf Mais Alimentos no
município de Palmeira das Missões/RS
Perceptions of institutional actors on the Pronaf Mais Alimentos in the city
of Palmeira das Missões/RS
Sinara Pizzi Martins1, Tanice Andreatta2, Ana Caroline Lucas da Silva3, Simone Bueno Camara4

Resumo
O objetivo da pesquisa foi analisar a percepção de agentes que atuam em instituições que possuem relação com o
Pronaf Mais Alimentos no município de Palmeira das Missões, RS. O método de coleta de dados utilizado foi
entrevistas com roteiro semiestruturado. As entrevistas ocorreram no período de abril e maio de 2019. Os
entrevistados mencionam o programa como uma oportunidade, principalmente, para o pequeno agricultor
investir na propriedade em diferentes segmentos, uma vez que as condições em taxas de juros são baixas e
possui longo prazo para pagamentos. Entre os aspectos positivos aos beneficiários, os entrevistados mencionam
que o programa tem permitido o aumento da produtividade tanto nos cultivos como na pecuária, o que contribui
para o crescimento da renda familiar. Além disso, permite a melhoria e a facilitação dos processos produtivos
pela possibilidade de aquisição de equipamentos agrícolas. Mecanismos que reduzem a penosidade do trabalho
no campo e incentivam aos filhos a continuarem na propriedade rural. Por outro lado, os agentes também
mencionam que o Pronaf Mais Alimentos contribui com o desenvolvimento da economia regional,
principalmente no munícipio, uma vez que os recursos tendem a circular no comércio local.
Palavras-chave: Investimento. Agricultura Familiar. Desenvolvimento Rural. Agronegócio.

Abstract
The objective of this research was to analyze the perception of agents working in institutions that are related to
Pronaf Mais Alimentos in the city of Palmeira das Missões, RS. The data collection method used was interviews
with semi-structured script. Interviews took place in april and may 2019. Respondents cite the program as an
opportunity, especially for small farmers to invest in property in different segments, as interest rate conditions
are low and long-term for payments. Among the positive aspects to the beneficiaries, the interviewees mention
that the program has allowed the increase of productivity in both crops and livestock, which contributes to the
growth of family income. In addition, it enables the improvement and facilitation of production processes by the
possibility of purchasing agricultural equipment. Mechanisms that reduce the “porosity” of rural work and
encourage children to stay on rural property. On the other hand, agents also mention that Pronaf Mais
Alimentos contributes to the development of the regional economy, especially in the municipality, since
resources tend to circulate in local commerce.
Keywords: Investment. Family farming. Rural Development. Agribusiness.

1 Introdução

Nas últimas três décadas a agricultura familiar brasileira vem ganhando espaço e
reconhecimento político, institucional, econômico e social. Esse reconhecimento foi marcado,
principalmente, pela criação e formulação de programas e políticas públicas que oportunizam,
em certa medida, processos inclusivos e dinâmicos capazes de instituir uma nova trajetória de
atenção aos pequenos agricultores no âmbito nacional (GRISA; SCHNEIDER, 2014).
Entre esses programas e políticas públicas está o Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), criado no ano de 1996. Segundo
Schneider, Mattei e Cazella (2004), o objetivo geral do programa consiste em fortalecer a
capacidade produtiva da agricultura familiar, contribuir para a geração de emprego e renda

1 Mestranda em Agronegócios (UFSM-PM)- sinarapizzimartins@gmail.com


2
Profª Drª no Programa de Pós Graduação em Agronegócios (UFSM-PM)- tani.andreatta@hotmail.com
3
Economista (UFSM-PM)- carolinelucasg@hotmail.com
4
Mestranda em Agronegócios (UFSM-PM)- simonebuenocamara@gmail.com
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nas áreas rurais e melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares. Além disso,
também apresenta quatro finalidades específicas, tais como

[...] ajustar as políticas públicas de acordo com a realidade dos agricultores


familiares; viabilizar a infraestrutura necessária à melhoria do desempenho
produtivo dos agricultores familiares; elevar o nível de profissionalização dos
agricultores familiares através do acesso aos novos padrões de tecnologia e de
gestão social; estimular o acesso desses agricultores aos mercados de insumos e
produtos (MATTEI, 2005, p. 145).

O Pronaf tem sido um dos programas que mais vem gerando externalidades positivas
no âmbito da esfera de políticas de crédito rural para a agricultura familiar. Em uma
perspectiva mais ampla, tem estimulado mudanças efetivas para desenvolvimento agrícola
(SCHNEIDER; CAZELLA; MATTEI, 2004). Ao longo dos anos vem tomando novos
contornos, passando a fomentar setores mais específicos dessa categoria social, com
diferentes linhas de crédito, taxa de juros, condições de pagamento e montantes de recursos
(SCHNEIDER; CAZELLA; MATTEI, 2004).
Entre as linhas de crédito rural do Pronaf mais acessadas pelos agricultores familiares
está o Pronaf Mais Alimentos, criado em 2008 por intermédio do Plano Agrícola e Pecuário
(PAP) 2008/2009 (MAPA/SEAD, 2019). A principal finalidade dessa linha de crédito é de
dinamizar o sistema de infraestrutura agrícola da propriedade familiar, criando as condições
necessárias para o aumento da produtividade e qualidade de vida dos agricultores (SARON;
HESPANHOL, 2012). Assim, permite a diminuição da penosidade do trabalho por meio da
aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas, bem como, a possibilidade de aquisição de
melhores tecnologias de produtividade agrícola (SCHUHMANN, 2012).
Além disso, essa linha de crédito rural tem estimulado a modernização das
propriedades agrícolas, visando maior produtividade e competitividade produtiva. Segundo a
Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA, 2018), no
Brasil, somente no ano de 2018 foram fabricados 38.541 tratores e 5.756 colheitadeiras, ao
qual apenas 16,17% dos tratores e 13,19% das colheitadeiras foram exportados. Considerando
o Estado do Rio Grande do Sul, especificamente, foram comercializados 5.567 tratores e 988
colheitadeiras, muitos deles com recursos do Pronaf Mais Alimentos (ANFAVEA, 2018).
Nesta perspectiva, os agentes que atuam em instituições que trabalham com essa linha
de crédito rural tornam-se atores importantes que auxiliam no intermédio crédito/agricultor,
possibilitando que mais agricultores também tenham acesso. Assim, considerando a
relevância do programa em diferentes segmentos do país, esse trabalho tem por finalidade
analisar a visão de agentes que atuam em instituições relacionadas ao Programa Mais
Alimentos. Contudo, considera-se como contexto empírico de pesquisa o município de
Palmeira das Missões/RS, caracterizada fortemente pela produção agropecuária.

2 Programa Mais Alimentos

O Pronaf Mais Alimentos é uma linha de crédito de investimento para a produção de


alimentos, criada no ano de 2008. Sua principal finalidade é “de incrementar a produtividade
da agricultura familiar, em resposta à alta nos preços dos produtos agrícolas, consequência da
crise econômica mundial” (SCHUHMANN, 2012, p. 48). Assim destina recursos para
investimentos em infraestrutura produtiva, tais como máquinas e equipamentos agrícolas, para
as propriedades familiares rurais.
O público alvo desta linha de crédito são agricultores enquadrados no Pronaf e que
possuem a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), obtida através das entidades de
Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), Sindicatos (vinculados a Confederação
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Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultores Familiares - CONTAG),
Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (FETRAF – RS),
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e colônia de pescadores (BNDES,
2019).
Os critérios de acesso do agricultor ao Pronaf Mais Alimentos é que este não detenha
área superior a quatro módulos fiscais, mensurados de acordo com a legislação atual, resida
no imóvel rural ou próximo a ele e contenha renda brutal familiar de até R$ 360 mil reais nos
últimos doze meses anteriores à solicitação de DAP (MAPA/SEAD, 2019).
No início da criação do programa, o limite de crédito rural para o agricultor familiar
individual era de até R$ 100 mil reais. Atualmente, o montante disponibilizado pelo programa
aos agricultores familiares é de R$ 330 mil para atividades de suinocultura, avicultura,
aquicultura, carcinicultura (criação de crustáceos) e fruticultura e de R$ 165 mil para as
demais finalidades (MAPA/SEAD, 2019).
Além do investimento em máquinas e equipamentos agrícolas (tratores, plantadeiras,
colheitadeiras, caminhões, graneleiros, etc.), o Pronaf Mais Alimentos também destina
recursos a investimentos em estruturas, reformas e construções (instalações e ampliações),
infraestrutura a propriedade (eletrificação e redes de telefone), re(florestamento), recuperação
e correção de solos, redes de irrigação, veículos automotores, entre outros (BNDES, 2019).
Assim, os agricultores possuem uma ampla possibilidade de investimentos relacionados tanto
com a implantação, ampliação ou modernização da propriedade, na produção, armazenagem e
transporte, bem como, em serviços agropecuários (BNDES, 2019).
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Secretaria
Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (MAPA/SEAD, 2019), na
safra de 2016/2017, foram financiados por meio do Programa Mais Alimentos 40,2% dos
tratores vendidos no Brasil, ou seja, dos 39.805 tratores produzidos, 16.033 foram obtidos por
meio do programa. Além disso, de cada dois tratores e meio adquiridos pela agricultura
familiar um foi obtido por meio do programa.
No Rio Grande do Sul, considerando somente o período de 2015 a 2018, já foram
realizados um total de 139.793 contratos, ao qual resultam em um montante de
aproximadamente R$ 6,4 trilhões de reais. Os números são relevantes no estado pelo seu alto
potencial agropecuário, sobretudo da agricultura familiar. Segundo Guilhoto (2005) o
“agronegócio familiar” ao qual designa, tem demostrado grandes contribuições ao estado
gaúcho, principalmente, nas dimensões produtivas e econômicas, ao qual participa com
aproximadamente 97% das lavouras de fumo, 74% do milho, 58% da soja, 89% do leite, 74%
das aves, 70% da indústria de abate de suínos, entre outros (GUILHOTO et al., 2005).

Tabela 1- Número de contratos e montante em investimentos em máquinas e equipamentos no Programa


Pronaf Mais Alimento, no período: 2013 a 2018 no Estado do Rio Grande do Sul.
Ano Nº de contratos Montante R$
2015 38.707 1.580.419.246,52
2016 32.467 1.346.841.372,04
2017 31.983 1.489.702.010,67
2018 36.636 1.997.899.727,58
Total 139.793 6.414.862.356,81
Fonte: Elaborada a partir de dados fornecidos pelo MAPA/SEAD, 2019.

Assim, de modo geral, o Pronaf foi um dos fatores mais relevantes que ocorreram na
esfera das políticas públicas para o meio rural brasileiro no período recente. Na sua curta
trajetória de vida, esse programa se transformou em um importante instrumento de apoio à

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agricultura familiar de norte a sul do país. O maior acesso ao crédito tem contribuído para
elevar a produção da riqueza agropecuária nacional.

3 Procedimentos Metodológicos

Este estudo é caracterizado por uma pesquisa de natureza básica, cujo objetivo é
“gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista”
(PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 51). Quanto à forma de abordagem do problema de
pesquisa, este se caracteriza por uma pesquisa qualitativa, muito utilizada no campo das
ciências sociais, ao qual procura compreender e explicar o contexto e a dinâmica das relações
sociais do objeto em estudo (RAMOS, 2009).
Em relação aos objetivos se classifica como uma pesquisa exploratória, cuja finalidade
é “proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas à torná-lo mais explícito”
(RAMOS, 2009, p. 183). Segundo os autores, a pesquisa exploratória é realizada por
levantamento bibliográfico, entrevistas, entre outros (RAMOS, 2009). Portanto, a partir da
pesquisa bibliográfica procura-se discutir as contribuições das políticas públicas para a
agricultura familiar, mais especificamente do Pronaf Mais Alimentos.
Quanto aos procedimentos técnicos de coleta dados este estudo se utilizou de uma
pesquisa a campo por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas no período de abril a
maio de 2019 no município de Palmeira das Missões/RS. Assim, foram realizadas cinco
entrevistas com agentes de instituições que estão relacionadas ao Pronaf (financeiras, agentes
de assistência técnica e representantes de empresas que comercializam máquina e
equipamentos agrícolas). As entrevistas foram estruturadas por um roteiro de questões abertas
organizadas a partir de três eixos:

Figura 1- Eixos norteadores da pesquisa a campo

Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.

O método de análise de dados utilizado pelo estudo consistiu na análise descritiva.


Esta consiste em “organizar, resumir e descrever os aspectos importantes de um conjunto de
características observadas ou comparar tais características entre dois ou mais conjuntos”
(REIS, E. A.; REIS, I. A., 2002, p. 5). As ferramentas de análise, nesse caso, envolvem a
utilização de gráficos, tabelas, porcentagens, médias, entre outros, que permitem analisar as
informações coletadas de forma dinâmica buscando caracterizar os aspectos principais do
objeto em estudo.

4 Resultados e Discussões

Nessa seção serão abordados os principais resultados da pesquisa de campo e a


discussão sobre os mesmos.

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4.1 Caracterização do contexto empírico

O município de Palmeira das Missões caracteriza-se por grandes áreas de cultivos


agropecuários, principalmente, da soja e da pecuária leiteira. Essas culturas tem representado
uma importante fonte de renda e de emprego para a população, influenciando positivamente a
economia do município e da região. Além disso, outras culturas também estão presentes no
município, em menores escalas, como o trigo, o milho e o girassol (FERREIRA;
MOISEICHYK; GONÇALVES, 2016).
Nesse sentido, as propriedades rurais do município apresentam significativos índices
de mecanização, ao qual pelo menos uma das 88,06% das propriedades rurais possui algum
tipo de equipamento ou implemento agrícola com predominância de tratores, plantadeiras e
colheitadeiras. O número total de equipamentos agrícolas do município representa um total de
2.383 unidades, 0,53% do total do Rio Grande do Sul (IBGE, 2019). Além disso, apenas
11,94% das propriedades rurais do município não possuem ou não utilizam nenhum tipo de
equipamento agrícola (IBGE, 2019).
A forte influência do PRONAF é demonstrada através da utilização do programa nos
últimos anos. Em 2014, os financiamentos oriundos desse programa serviram para custear a
produção de soja, milho e trigo (HANAUER, TEIXEIRA, 2016). Neste aspecto Gazolla e
Schneider (2013) abordam que de modo geral, na região Sul do Brasil especificamente, ocorre
um padrão de destinação dos recursos para as lavouras com culturas tradicionais, bem como
para a aquisição de máquinas e equipamentos agropecuários destinados a estas produções.
Delfino et al. (2018) também relata que na safra 2016/2017 em torno de 40% dos
tratores adquiridos pelos agricultores familiares no Brasil, foram adquiridos por meio do
Pronaf, especificamente a linha de financiamento do Pronaf Mais Alimentos. Segundo o
mesmo autor, os maiores volumes são para a região sul, especialmente o estado do Rio
Grande do Sul. Isto corrobora com análise de Gazolla e Schneider (2013) em que apresentam
os estados do sul do Brasil com agricultores mais desenvolvidos e com mais acesso a
informação do que as regiões Norte e Nordeste, por exemplo.

4.2 Perfil dos agentes institucionais entrevistados

No decorrer da pesquisa foram entrevistados cinco agentes de diferentes instituições,


como de: financeiras, assistência técnica, representante de máquinas e equipamentos agrícolas
que atuam no município de Palmeira das Missões/RS. Como critério, foram selecionadas
instituições que possuíam relação com o Programa Pronaf Mais Alimentos. Na tabela 2 é
apresentado o perfil dos agentes que representaram essas instituições.

Tabela 2 – Perfil dos agentes entrevistados


Tempo da instituição
Agentes Idade Escolaridade Tempo na instituição
no município
Agente I 38 anos Pós Graduado 19 anos 64 anos
Agente II 45 anos Pós Graduado 17 anos 38 anos
Agente III 35 anos MBA 03 anos 05 anos
Agente IV 31 anos Doutorado 06 anos 40 anos
Agente V 46 anos Médio incompleto 08 anos 50 anos
Fonte: Dados da pesquisa a campo, 2019.

É possível observar (Tabela 2) que os entrevistados possuem idade entre 31 e 46 anos,


e apresentam níveis de escolaridade altos, com exceção do Agente V. Em relação ao tempo de
atuação na instituição percebe-se que a maioria da amostra (60%) concentra-se em um

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período de atuação de até oito anos (Agente III, IV e V), embora as instituições estejam
inseridas no município há muitos anos. Em relação a isso, percebe-se que as instituições
executam suas atividades há um longo período de tempo, com exceção da instituição a qual
pertence o Agente III, que está no município há cinco anos. Logo, é importante considerar que
o tempo de atuação das instituições é de grande importância ao desenvolvimento do
município, isso porque no desempenho das funções os agentes tornam-se o elo entre a
instituição e o agricultor.

4.3 Percepções dos agentes institucionais acerca do Pronaf Mais Alimentos

Os objetivos do programa estão relacionados a oportunizar o agricultor familiar a


adquirir máquinas e equipamentos para modernizar a propriedade, possibilitando a
diversificação de culturas e, consequentemente, melhora contínua na produtividade da
agropecuária (MAPA/SAF, 2018). Neste sentido, é preciso analisar através dos agentes das
instituições relacionadas ao Pronaf, qual a percepção que os mesmos possuem sobre o
Programa Pronaf Mais Alimentos, quais os efeitos do programa para os agricultores e os
impactos sobre a economia local. Assim, configuram-se diversos fatores que são
fundamentais para existência e continuidade do Pronaf Mais Alimentos a partir da visão de
agentes que atuam em instituições relacionadas ao mesmo.
Segundo os agentes entrevistados, o Pronaf Mais Alimentos desde o seu surgimento
segue normas e regras para que possa cumprir de maneira clara e transparente sua função,
possuindo como principais beneficiários os pequenos agricultores da agricultura familiar,
pequenos comércios rurais, pecuária leiteira e de corte e as cooperativas de créditos. Além
disso, segundo a percepção de todos os agentes entrevistados o programa oportuniza ao
agricultor familiar investimentos para melhoria dos processos produtivos de sua propriedade
por meio da mecanização, principalmente, pela aquisição de maquinários agrícolas, como
tratores.
Comparando a realidade do município de Palmeira das Missões/RS com o de
Teutônia/RS, Schuhmann (2012) aponta que os recursos do Pronaf Mais Alimentos no
município de Teutônia foram principalmente destinados para a compra de novos tratores
(45,10% dos entrevistados) e implementos agrícolas, com o objetivo de aumentar a
produtividade agrícola e diminuir a penosidade do trabalho no meio rural.
Entre os investimentos mais procurados pelos agricultores, na percepção dos agentes,
estão os investimentos em máquinas e equipamentos agrícolas. Contudo, também relataram
investimentos na pecuária de leite e de corte, estruturas para cultivo de hortaliças, silos,
manejo e correção de solo e para veículos utilitários, sendo que todos esses investimentos
contribuem com a execução das atividades da propriedade, resultando no aumento da
produtividade. Assim, os agentes percebem que o programa influencia diretamente nos
índices de produção, não somente pela aquisição de máquinas agrícolas, mas também por
tecnologias voltadas a correção de solo, permitindo que o agricultor familiar produza mais e
com maior qualidade.
Para os entrevistados o programa tem gerado melhorias a qualidade de vida dos
agricultores no meio rural. Segundo o Agente IV: “Com a modernização presente na
propriedade, facilitou o trabalho e auxiliou o agricultor nas atividades mais árduas, como por
exemplo, no sistema de pecuária leiteira”. Contudo, os benefícios do programa não são
importantes somente para os agricultores familiares, uma vez que as instituições financeiras
também são beneficiadas. O agente III, expõe que as instituições financeiras e cooperativas de
crédito também se utilizam do benefício, auxiliando no momento da aprovação do crédito,
seguros, consórcios e cota capital, pois, de certa forma, esse crédito torna-se um extra para a
instituição.
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Para os entrevistados, o Pronaf Mais Alimentos vem cumprindo com o seu papel e
objetivos, quanto ao planejamento do uso do crédito rural. Contudo, para o agente IV, “ele só
cumpre com seu papel se for planejado corretamente desde a elaboração do projeto até a
concretização do investimento”. Já para o agente III, “o programa é eficiente, mas poderia ter
opções para negociar possíveis dívidas oriundas da atividade”.

Quadro 1- Efeitos do Pronaf Mais Alimentos para os agricultores e a economia local


Possibilidade de Projeção de receitas e
Agentes Efeitos positivos Efeitos negativos
endividamento dispêndios
Melhora da produção Endividamento é Existe, caso não houver Sim, na elaboração do
Agente I
e aumento da renda uma exceção um planejamento. projeto.
Quando o agricultor Sim, os agricultores
Qualidade de vida,
Endividamento do não diversifica sua realizam as projeções,
diminuição do
agricultor quando propriedade, o risco do principalmente, por ter
Agente II trabalho braçal e
não instruído endividamento existe, a sucessão familiar
desenvolvimento da
corretamente. pois possui apenas uma cada vez mais presente
propriedade.
fonte de renda. na agricultura familiar.
Aumento da venda
Acredito que não, pois
Condições de adquirir de pacotes
é disponibilizado o
bens, diminuição da financeiros,
crédito de acordo com
Agente III penosidade do onerando a A maioria sim.
a capacidade de
trabalho e sucessão capacidade de
pagamento do
familiar. pagamento do
agricultor.
agricultor.
Oportunidades de
Agricultor corre risco
mecanização nas
Endividamento do de endividamento, caso
propriedades, Suporte Poucos agricultores
agricultor, caso não não ocorra o
Agente IV na produção e realizam suas
ocorra um planejamento
diminuição da projeções.
planejamento. necessário para o
penosidade do
investimento.
trabalho.
O endividamento pode Sim, faz uma projeção.
O programa tem ocorrer, o que muitas O agricultor tem uma
apresentado os vezes acontece é do educação financeira
mesmos agricultor não que é capaz de realizar
Aumento da produção
Agente V diversificar a sua e diferenciar suas
nas propriedades. investimentos a
propriedade e ter uma receitas, custos de
tempo e não está margem de lucro muito produção e prejuízos
fazendo inovações. baixo daquilo que ele com o auxilio da
cultiva. sucessão familiar.
Fonte: Elaboração própria a partir da coleta de dados, 2019.

O Pronaf Mais Alimentos ao mesmo tempo em que apresenta efeitos positivos aos
seus beneficiários também apresenta efeitos negativos. Como efeitos positivos, os agentes
mencionam a oportunidade de melhorar quanti e qualitativamente o modo de vida, mecanizar
a propriedade e diminuir o trabalho penoso, bem como, possibilita e estimula a sucessão
familiar. Esses fatores influenciam diretamente na produção da propriedade e,
consequentemente, no aumento da renda familiar.
Como efeitos negativos, conforme os agentes I, II e IV “podem estar relacionados à
possibilidade de endividamento do agricultor”. Esta situação torna-se possível no caso de as
instituições envolvidas não instruírem corretamente o agricultor no momento da aquisição do
investimento ou até mesmo por ele não possuir o seu próprio planejamento financeiro. O
agente III menciona “que o endividamento pode estar presente, caso as instituições aumentem
a venda de pacotes financeiros (seguros, cota capital, consórcio, etc.), o que acaba onerando a
capacidade de pagamento do agricultor”. Na percepção do agente V: “não identifica que o
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programa apresente diretamente efeitos negativos, mas observa que não houve crescimento de
novas ideias e a política pública só reproduz o que já existe há muito tempo”.
Além disso, os agentes relatam diversos fatores que podem contribuir para que o
agricultor familiar possa se endividar: “o não planejamento do investimento na decisão do que
investir e quando investir; a não diversificação das atividades, apostando a produção em
apenas um cultivo, pois na região de Palmeira das Missões/RS, os agricultores não possuem a
“cultura” de diversificar”. Contudo, o agente III diverge da opinião dos demais, pois acredita
que o agricultor familiar não corre risco de endividamento, menciona que o crédito é
disponibilizado de acordo com a capacidade de pagamento do agricultor, passando por uma
análise financeira antes mesmo da elaboração do projeto.
Já as instituições financeiras do município apontam que atualmente o índice de
inadimplência do programa é próximo à zero, o que significa que os agricultores familiares
estão cumprindo com as obrigações de seus investimentos. Os agricultores familiares, na
perspectiva dos agentes entrevistados, em sua grande maioria, embora de maneira rudimentar,
realizam a projeção de receitas e dispêndios da propriedade. Segundo os agentes II e V “com
o passar dos anos, o agricultor iniciou a sua projeção de receitas e dispêndios devido a sua
própria educação financeira que foi incentivada através da sucessão familiar”. A sucessão
permite a participação dos jovens que já frequentaram um período maior de ensino formal,
inclusive muitos filhos de agricultores já possuem ensino superior, bem como, alguns também
apresentam interesse maior pela gestão financeira da propriedade.
Neste contexto, a sucessão familiar é facilitada, pois segundo os agentes, esse
programa combinado a outros existentes estimula o desenvolvimento nas propriedades, a
permanência e até mesmo o retorno dos filhos para o meio rural. O aumento do poder de
aquisição de máquinas e equipamentos que o Pronaf Mais Alimentos proporciona ao
agricultor familiar, em maior ou menor grau, implica na redução do trabalho braçal através da
implantação de processos mecanizados, proporcionando aumento da produtividade. Estes
fatores, aliado ao acesso das tecnologias e de informação, contribuem para a permanência das
famílias no campo.
Na opinião do agente II “nos dias de hoje, o agricultor familiar que tem a possibilidade
e a aprovação de um crédito rural para investimento na propriedade se torna a realização de
um sonho. Antes da implantação do Pronaf Mais Alimentos, o acesso do agricultor as
políticas e aos programas não eram viáveis, devido às altas taxas de juros e até mesmo pelo
não enquadramento do mesmo as normas de outras linhas de crédito rural. Isso manteve, por
muitos anos, o agricultor familiar sujeito ao trabalho árduo”. Em termos de contribuição do
programa para a economia local, os agentes acreditam que ele possui, guardada as devidas
proporções, um efeito desencadeador de desenvolvimento. De modo geral, diferentes elos e
cadeias produtivas acabam sendo beneficiadas.
Assim, o programa contribui para dinamizar a indústria e o comércio de máquinas e
equipamentos agrícolas, gerando emprego e renda nestes segmentos. O segmento dentro da
porteira tem permitido o aumento da produtividade e o bem-estar das populações rurais,
contribuindo para movimentar a economia da cidade e comércio local. Na visão dos agentes
“é dinheiro circulando no município”, bem como, “oportunidade do agricultor familiar
investir em máquinas e equipamentos; diminuir a penosidade do trabalho e incentivar a
permanência ou até mesmo o retorno dos filhos para o meio rural”. Para os agentes esses
fatores impulsionam o crescimento do programa. Além disso, também se torna importante à
contribuição dos mediadores políticos e de técnicos, como os extensionistas da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER). A participação desses atores é importante
na destinação correta dos recursos do Pronaf, assim como, de outros programas e políticas
públicas (SCHUHMANN, 2012).

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5 Conclusões

O Pronaf Mais Alimentos desde o seu surgimento até os dias atuais é apontado como
uma política pública de grande oportunidade e de incentivo ao crescimento da agricultura
familiar. Segundo a percepção dos agentes entrevistados do município de Palmeira das
Missões/RS o programa, desde que se tenha um planejamento, cumpre com seu principal
objetivo de melhor a qualidade de vida no meio rural, possibilitando mais facilidades e
tecnologias, principalmente, na redução de penosidade do trabalho no meio rural. É um
importante programa que beneficia não somente os agricultores familiares, mas também
cooperativas de crédito e pequenos comércios rurais.
Por meio da aquisição dos recursos do Programa Mais Alimentos o agricultor tem a
possibilidade de investir em diversos produtos e serviços, como máquinas e equipamentos
agrícolas, veículos utilitários, silos, manejo e correção do solo, pecuária de leite/corte,
construção, reforma ou ampliação de benfeitorias e instalações permanentes, irrigação, entre
outros. De modo geral, os agentes das instituições apontam uma satisfação com o surgimento
do programa e com a possibilidade de poder disponibilizar o crédito rural para investimento
da agricultura familiar, apesar das alterações das taxas de juros, onde se teve tempos com um
percentual mais baixo e com um número maior de contratos firmados.
O crédito rural existe há muito anos, porém por muito tempo a política agrícola não
contemplava a diferenciação quanto ao tamanho do produtor. O Pronaf Mais Alimentos, com
taxa de juros e prazos expandidos, tem permitido o pequeno agricultor realizar investimentos
em sua propriedade. A partir da disponibilização e uso de informações, o programa permite ao
agricultor familiar através da disciplina financeira à tomada de decisão sobre o quanto investir
e no que investir. Esses aspectos têm permitido melhorar os índices de produção e
produtividade, proporcionado maior qualidade de vida familiar, incentivando a sucessão
familiar e, consequentemente, o desenvolvimento local.

Referências

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SCHUHMANN, M. L. et al. O contexto e os efeitos do Pronaf Mais Alimentos para os
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Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Programa de Pós-Graduação em Extensão
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Relação entre preço e tomada de decisão dos produtores de trigo no Rio
Grande do Sul
Relationship between price and decision making of wheat producers in Rio
Grande do Sul
Laura Possani1, Adriane Bruchêz2, Ângela Rozane Leal de Souza3

Resumo
O trigo é um dos alimentos mais consumidos no mundo, se tratando de um dos principais fornecedores de energia,
presente nas dietas alimentares a milhões de anos. Além de sua significância para a soberania alimentar, no Brasil,
possui papel fundamental como gerador de renda e empregos, embora o país ainda não consiga ser autossuficiente
na produção do cereal. Dentre os principais produtores do país o estado do Rio Grande do Sul é o segundo maior
produtor do grão, e, portanto, frente a essa realidade, o objetivo deste estudo é avaliar se o preço tem impacto na
tomada de decisão dos produtores de trigo do Rio Grande do Sul sobre a área destinada à cultura. Para tanto, a
pesquisa realizada consiste em um estudo descritivo, por meio de análise bibliográfica e de dados secundários, os
quais foram submetidos a uma análise de correlação de Spearman. Como principais resultados, observou-se que o
preço de mercado na época de plantio tem relação com a área destinada a cultura, evidenciando que o preço acaba
por ter influência na tomada de decisão do produtor pelo tamanho da área que será destinada a cultura do trigo.
Palavras-chave: Tomada de decisão. Preço. Mercado. Área cultivada.

Abstract
Wheat is one of the most consumed foods in the world, being one of the main energy suppliers, present in the diets
of millions of years. In addition to its significance for food sovereignty, in Brazil, it has a fundamental role as a
generator of income and jobs, although the country still cannot be self-sufficient in cereal production. Among the
main producers in the country, the state of Rio Grande do Sul is the second largest producer of the grain, and
therefore, in view of this reality, the objective of this study is to evaluate if the price has an impact on the decision
making of the Rio Grande do Sul wheat producers about the area destined to the crop. Therefore, the research
consists of a descriptive study, through bibliographic analysis and secondary data, which were submitted to a
Spearman correlation analysis. As main results, it was observed that the market price at the time of planting is
related to the crop area, showing that the price influences the decision making of the producer by the size of the
area to be cultivated for wheat.
Keywords: Decision making. Price. Market. Cultivated area.

1 Introdução

O trigo é considerado o principal componente da dieta alimentar na maioria dos países,


desempenhando importante papel econômico e nutricional. É também um dos grãos mais
cultivados no mundo, segundo o levantamento realizado pelo Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (USDA), que apresenta a estimativa da produção mundial de trigo para a safra
2018/19 de 747,76 milhões de toneladas do grão, em uma área total de 218,07 milhões de
hectares (CONAB, 2018).
No Brasil, enquanto o consumo continua crescendo, a produção ainda não é
autossuficiente, correspondendo a aproximadamente metade do consumo interno. Com um
consumo em ascensão e uma produção com um processo de expansão lento, o Brasil realiza
periódicas importações de trigo, com destaque para os produtos oriundos da Argentina. Dentre
os principais produtores de trigo do Brasil, destaca-se o estado do Rio Grande do Sul (RS),
sendo o segundo maior produtor do grão (CONAB, 2018).

1Doutoranda em Agronegócios/UFRGS1- laurapossani@gmail.com1


2Doutoranda em Agronegócios/UFRGS2- adrianebruchz@yahoo.com.br2
3 Doutora em Agronegócios/UFRGS3- angela.souza@ufrgs.br3

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Ainda segundo a CONAB (2018), o consumo do grão supera a produção estimada na
temporada no Brasil, assim como ocorreu em 2012/13, conforme apresentado no Quadro 1,
ensejando um maior consumo dos estoques mundiais do grão. Diante desta realidade surge um
cenário positivo para os produtores de trigo, devido a tendência que se segue de um aumento
da demanda com consequente elevação dos preços.
Quadro 1 - Suprimento e uso de trigo em grão no Brasil (1000 T)
SAFRA Produção Importação grãos Exportação Consumo interno total
2012/2013 4.379,5 7.010,2 1.683,9 10.134,3
2013/2014 5.527,8 6.642,4 47,4 11.381,5
2014/2015 5.971,1 5.328,8 1.680,5 10.713,7
2015/2016 5.534,9 5.517,6 1.050,5 10.367,3
2016/2017 6.726,8 7.088,5 576,8 11.517,7
2017/2018 4.262,1 6.387,0 206,2 10.987,4
2018/2019 5.531,8 6.300,0 300,0 11.005,5
Fonte: Conab (2018).

Em âmbito regional, observa-se que a produção de trigo no RS tem um papel de


coadjuvante dentro das propriedades, sendo destinada a soja o papel principal, devido aos altos
riscos de quebra de safra sob condições climáticas adversas, e pela instabilidade dos preços.
Sendo assim, o sucesso com a cultura do trigo, depende de um planejamento adequado.
Para tanto, o produtor necessita possuir a capacidade de buscar informações que o
auxiliem na tomada decisão, e a partir dessas informações encontrar a melhor maneira de
enfrentar os riscos e de beneficiar-se das potencialidades para garantir uma boa produção e um
bom preço pelo produto. Assim, o objetivo central deste estudo foi verificar se o preço tem
impacto na tomada de decisão dos produtores de trigo do RS sobre a área destinada à cultura.

2 Referencial Teórico

A revisão segue estabelecendo um suporte conceitual para o estudo, destacando-se a


produção de trigo e buscando apresentar os principais conceitos sobre o tema.

2.1 Panorama da produção de trigo no Brasil segundo a CONAB

Segundo o Boletim de acompanhamento de grãos da safra brasileira de grãos de maio


de 2018, para o Trigo, a estimativa é de aumento de 4,2% na área semeada, estimada em cerca
de 2 milhões de hectares, resultando na produção de 4,87 milhões de toneladas (CONAB 2018).
Essa estimativa de aumento de área de trigo no país é motivada pela disponibilidade de
área onde não foi semeado o milho segunda safra. A CONAB (2018) enfatiza que a definição
do tamanho total de área deverá ser influenciada pelo comportamento climático, uma vez que
no sul do país, maior região produtora do cereal, o atraso no plantio afeta a janela das culturas
de primeira safra do próximo ano agrícola. No Gráfico 1, é apresentado o comportamento de
destinação de área à cultura do trigo nos últimos anos.

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Gráfico 1 - Área de produção de trigo no Brasil

Fonte: Conab, 2018.

De acordo com o Gráfico 1, percebe-se que a reta é ascendente entre os anos de 2012 e
2014, porém, inicia-se uma queda nesse período que se estende até 2017. Percebe-se ainda um
aumento na área produzida no ano de 2018, entretanto, não é significativa. Todavia, além de
analisar a área destinada a produção do trigo, a Tabela 1 apresenta um comparativo entre as
áreas plantadas de seis culturas para um mesmo período de tempo.

Tabela 1 - Estimativa de Área plantada de grãos


Culturas de inverno SAFRAS VARIAÇÃO
2017 Abril/2018 Maio/2018 Percentual Absoluta
Aveia 340,3 340,3 341,7 0,4 1,4
Canola 48,1 48,1 45,1 (6,2) (3,0)
Centeio 3,6 3,6 4,3 19,4 0,7
Cevada 108,4 108,4 111,9 3,2 3,5
Trigo 1916 1916 1996,4 4,2 80,4
Triticale 23 23 22,3 (3,0) (0,7)
Subtotal 2439,4 2439,4 2521,7 3,4 82,3
Brasil 60.889,3 61.384,4 61,546,3 1,1 657,0
Fonte: Conab, 2018.

Conforme a Conab (2018), o aumento da área plantada baseia-se em análises estatísticas


e no pacote tecnológico utilizado pelo produtor, cuja estimativa indica uma produtividade
superior a 9,7% com relação à safra do período anterior. O aumento tem relação com melhores
condições climáticas nessa safra em detrimento da safra anterior. No Gráfico 2, é possível
observar o comportamento da produtividade de trigo no Brasil nos últimos anos.

Gráfico 2 - Comportamento da produtividade de trigo no Brasil

Fonte: Conab, 2018.

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2.2 Aspectos do comércio internacional do trigo

O mercado tritícola tem demonstrado uma tendência de elevação nos preços. Isto se
deve principalmente à incerteza quanto à disponibilidade e a qualidade do trigo de inverno dos
Estados Unidos, cujas lavouras têm sofrido com o déficit hídrico ocasionado pela seca que
atinge as regiões produtoras do grão no país (CONAB, 2018).
De acordo com o USDA, a produção Argentina atingiu o equivalente a 18 milhões de
toneladas em 2017/18, para um consumo de 5,2 milhões de toneladas. Grande parte desse
excedente foi exportado para o Brasil, devido à proximidade geográfica, aceitação no mercado
consumidor e a não incidência da Tarifa Externa Comum (TEC) de 10%, por este se tratar de
um país membro do Mercosul (CONAB, 2018).
É relevante enfatizar que, segundo a CONAB (2018), no primeiro quadrimestre de 2018
a Argentina vivenciou um problema semelhante ao ocorrido nos Estados Unidos, uma vez que
a seca nas regiões produtoras foi responsável por uma considerável quebra da produção de soja
e milho e, como consequência, poderá limitar o cultivo do trigo nesta temporada.
Segundo Brum e Muller (2008), mesmo que o comércio mundial considere a Argentina
como um importante exportador de trigo pelo fato de exportarem mais da metade do que
produzem anualmente, são apenas tomadores de preços no mercado internacional, e essa
realidade tem impacto direto sobre os preços praticados no Brasil. A argentina é o principal
fornecedor de trigo para o Brasil, entretanto, segundo a CONAB (2018), as intervenções
governamentais argentinas desmotivaram o produtor argentino, o que tem contribuído para que
os demais países do Mercosul, como o Paraguai e Uruguai, aumentem suas vendas para o Brasil,
embora os EUA também possuam uma participação significativa no fornecimento de trigo.
O Brasil importa mais da metade do consumo total de trigo, e tal dependência coloca o
trigo entre os principais produtos importados pelo país. Nos últimos anos, o valor das
importações do cereal representou 1,8% das importações totais do Brasil. Segundo os dados do
Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços, entre os anos de 2008 a 2018
os valores de importação de trigo e mistura de trigo são variados, conforme Tabela 2 a seguir:

Tabela 2 - Valores de importação de trigo e mistura de trigo nos anos de 2008 a 2018
Ano Valor FOB (US $)
2008 $ 1.874.042.531
2009 $ 1.208.736,696
2010 $ 1.528.251.906
2011 $ 1.832.276.566
2012 $ 1.757.055.715
2013 $ 2.414.831.762
2014 $ 1,812.450,733
2015 $ 1.216.465,601
2016 $ 1.335.389.214
2017 $ 1.149.305.765
2018 $ 1.240.553,448
Fonte: Elaborado pelas autoras.

A triticultura brasileira enfrenta diversos problemas, um dos principais é em relação a


comercialização do grão. O país, por não possuir autossuficiência, necessita importar trigo para
suprir a demanda interna. Para Brum e Muller (2008), as dificuldades da comercialização do
trigo nacional decorrem principalmente da facilidade de importação do trigo do exterior.

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2.2 Tomada de decisão

No ano de 1947 Herbert Simon lançou o livro Comportamento Administrativo, com o


intuito de explicar o comportamento humano nas organizações, e assim, iniciou-se a Teoria das
Decisões. De acordo com Herbert (1947), a Teoria Comportamental concebe a organização
como um sistema de decisões. Nesse sistema, cada pessoa participa racional e conscientemente
tomando decisões individuais a respeito de alternativas racionais de comportamento. Assim, a
organização está permeada de decisões e ações (PRÉVE, 2010).
Segundo Simon (1970) a decisão é baseada em um processo de análise e de escolhas
dentre as várias alternativas possíveis para se chegar a um determinado objetivo. Um processo
de decisão deve ter uma sequência de elementos a serem seguidos, partindo da identificação
das necessidades, do que é possível ser feito, da informação disponível e da comunicação que
precisa ser efetuada para que, unindo esses elementos, seja possível tomar uma decisão eficaz.
Para Ribeiro, o tomador de decisões, mesmo motivado pela necessidade de prever ou
controlar, geralmente enfrenta um complexo sistema de componentes correlacionados, como
recursos, resultados ou objetivos desejados, pessoas ou grupos de pessoas. Dessa forma, o
tomador de decisões deve analisar o sistema como um todo, e quanto melhor o entendimento
dessa complexidade, melhor será sua decisão. (RIBEIRO, 2003).
O contexto decisional é definido por informações incompletas, recursos limitados e
multiplicidade de objetivos, e, seja pela complexidade das organizações modernas ou pela
simples capacidade cognitiva limitada, não é possível a tomada de decisões em condições de
racionalidade perfeita, haja vista que o indivíduo tomador de decisões possui racionalidade
limitada (SIMON, 1970).
Pode-se salientar ainda que a decisão é um julgamento, uma escolha feita entre
alternativas que incluem todos os “o que”, “quando”, “quem”, “por que” e “como” que
aparecem nos processos de decisão. Com o intuito de evitar problemas futuros, os
administradores devem se basear em decisões cuidadosamente formuladas e rapidamente
implementadas (PRÉVE, 2010). Assim, uma decisão adequada é julgada e é realizada uma
escolha racional, baseada em uma interpretação da informação disponível (SIMON, 1970).
No setor agrícola, as decisões tomadas pelos agricultores são complexas, pois envolvem
múltiplos objetivos, e, ao optarem pelo desenvolvimento de ações e experiências coletivas,
constroem mecanismos que permitem atingir tais objetivos. Isso se torna importante
principalmente quando se leva em consideração um ambiente de economia globalizada, cada
vez mais hostil, competitivo e excludente das pequenas estruturas (RAMBO; MACHADO,
2009). Para Ruth Gasson (1973) a tomada de decisão de produtores é influenciada por
determinados fatores, distribuídos em quatro categorias ou orientações, quais sejam:
instrumental, social, expressiva e intrínseca.

3 Procedimentos metodológicos

O Estado do Rio Grande do Sul-RS tem sua história e economia historicamente atreladas
ao agronegócio. O estado tem um papel importante na produção de grãos sendo o terceiro maior
produtor do país, motivo pelo qual é o foco principal deste estudo. Com o objetivo de elucidar
essa importância é apresentado a seguir, na Figura 1, o mapa da produção agrícola brasileira no
ano de 2018, onde é possível observar a relevância do estado em questão.

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Figura 1 - Mapa da produção agrícola Brasileira

Fonte: Conab 2018.

Segundo os dados da Conab, o estado do RS em 2019 será responsável por uma


produção de 31.971,9 mil toneladas de grãos, onde a cultura do trigo tem um papel importante,
já que o RS é o segundo maior produtor de trigo do país.
A Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, disponibiliza mensalmente e
anualmente diversas informações em boletins, levantamentos, notas técnicas sobre a produção
nacional. Frente à atualidade e riqueza dos dados e informações disponibilizados pela
companhia, estes foram as principais fontes de dados dessa pesquisa.
Inicialmente, realizou-se uma análise bibliográfica sobre o tema em artigos científicos,
livros e arquivos publicados por estudiosos da área, onde analisou-se a importância da cultura
para o estado e de onde surgiram os principais questionamentos aqui apresentados.
Posteriormente utilizaram-se documentos disponibilizados pela Conab para coletas de
dados de áreas de produção e produtividade de trigo no estado do Rio Grande do Sul nos últimos
dez anos. Os dados de preço de mercado foram extraídos do agrolink, o qual possibilita acesso
aos dados de preço do produto de todos os meses do ano, possibilitando assim que todos os
valores utilizados fossem do mês de maio, quando é o iniciado do plantio no estado, para que
assim fosse possível observar se este tem correlação com a área plantada nos diferentes anos.
Assim, quanto aos procedimentos, o estudo emprega a análise de dados secundários,
que segundo Hulley et al. (2008), é o uso de dados existentes para investigar questões de
pesquisa diferentes daquelas para as quais os dados foram originalmente coletados. Utiliza-se
de dados individuais, provenientes de várias fontes, como estudos prévios e base de dados, onde
o investigador pode medir associações entre características nos indivíduos da amostra, da
mesma forma que teria feito se tivesse coletado seus próprios dados.
Então visando responder ao objetivo a que se propôs essa pesquisa, de posse dos dados
de preço e área plantada, com o auxílio de planilha eletrônica, realizou-se a análise de
correlação entre as duas variáveis, através da Correlação Spearman no sistema Gretl.
Dessa forma, esta pesquisa é considerada do tipo descritiva, haja vista que tem como
principal objetivo descrever características de determinada população ou fenômeno ou
estabelecimento de relações entre as variáveis (GIL, 1999).

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A pesquisa caracteriza-se ainda como quantitativa, que se centra na objetividade, e
recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno e as relações entre
variáveis (FONSECA, 2002). É aquela em que o investigador usa primeiramente alegações de
raciocínio de causa e efeito, redução de variáveis específicas e hipóteses e questões, uso de
mensuração e observação e teste de teorias (CRESWELL, 2007).

4 Resultados e discussão

Ao analisar a história do Rio Grande do Sul é possível perceber a importância da


produção do trigo e os reflexos deste na economia do estado. Observou-se que o trigo se
apresenta como uma boa alternativa para a produção agrícola de inverno, e que os produtores
veem na cultura uma oportunidade de bons rendimentos.
O preço de mercado é a resposta a todo o trabalho que o produtor teve para produzir
determinado grão, pois através dos ganhos com a venda dos seus produtos é que os produtores
continuam suas atividades. No caso do trigo, observa-se uma oscilação dos preços a cada safra
e o produtor necessita a cada ano tomar a decisão de quanto de sua área será destinar a cultura.
Destarte, ao analisar a correlação entre a área plantada e o preço de mercado do trigo
dos últimos dez anos é possível verificar um coeficiente de correlação ordinal de Spearman de
0,50994496, conforme observado na Figura 2.

Figura 2: Coeficiente de correlação ordinal de Spearman entre área plantada e preço.

Fonte: elaborado pelas autoras.

Santos (2007) estabelece, como forma de interpretação da correlação de Spearman, que


o valor: igual a 1 indica correlação positiva perfeita; entre 0,8 e 0,999 indica correlação positiva
forte; entre 0,5 e 0,799 indica correlação moderada positiva; entre 0,1 e 0,499 indica correlação
positiva fraca; entre 0 e 0,099 indica ínfima correlação positiva; entre 0 e -0,099 indica ínfima
correlação negativa; entre -0,1 e -0,499 indica correlação negativa fraca; entre - 0,5 e -0,799
indica correlação moderada negativa; entre -0,8 e -0,999 indica correlação positiva forte; e igual
a -1 indica correlação perfeita negativa.
Sendo assim, a correlação entre os dados de área plantada e variação do preço de trigo
nos últimos dez anos é uma correlação moderada positiva, pela qual podemos concluir que a
variação da área plantada de trigo no estado do RS tem uma relação direta com a variação do
preço do produto na época de plantio.
Ao analisar o preço e a tendência de mercado internacional, os produtores acabam por
ter capacidade de tomar decisões de forma mais clara e eficaz. No Gráfico 3 é possível observar
a correlação entre preço e área plantada de trigo nos últimos dez anos no estado do RS.

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Gráfico 3: Correlação entre a área plantada e a variação do preço de trigo nos anos de 2008-2018.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Portanto, podemos observar através do gráfico 3, que a área plantada varia conforme a
variação do preço, mantendo-se estável quando os preços caem e tendo pequenas elevações
quando os preços estão favoráveis.

5 Conclusões

Uma vez que o preço do trigo é determinado pelo mercado, sendo diretamente afetado
pelas condições internacionais de oferta e demanda, obter informações de mercado é um fator
relevante no momento da tomada de decisão do tamanho da área destinada à cultura, visando
garantir o sucesso na atividade.
Conclui-se assim que o preço de mercado tem impacto na área de trigo plantada no
estado do RS. Essa correlação entre o preço na época de plantio e a variação da área plantada
evidencia que os produtores vêm utilizando informações prévias para entenderem melhor como
o mercado do cereal se comporta, e então traçar estratégias de sobrevivência e competitividade.
Observou-se que a triticultura nacional enfrenta diversos fatores de riscos associados a
produção de trigo, os quais têm causado dificuldades para o setor progredir, necessitando
esforço dos produtores para tomarem decisões corretas.
Vislumbrou-se que existe um esforço dos produtores para vencer as barreiras e
observou-se que os avanços já são significativos, entretanto, ainda não foi possível impedir o
predomínio do produto argentino, que chega ao país a um custo baixo, o que impossibilita a
competição para o produtor brasileiro, uma vez que a realidade interna é de custos de produção
elevados.
Os esforços dos produtores em utilizar-se de informações para a tomada de decisão da
quantidade de trigo a produzir é um passo importante para a competitividade do setor,
entretanto, a triticultura brasileira necessita também que outros esforços sejam feitos. Existe a
necessidade de políticas públicas de apoio permanente e decisivo em favor da produção
nacional, que garanta bons preços aos produtores locais e elimine a dependência externa do
produto.
Sendo assim, baseando-se na correlação positiva entre preço e área plantada que foi
evidenciado nessa pesquisa, conclui-se que um maior incentivo ao setor e garantia de preços
elevados podem possibilitar a autossuficiência da triticultura brasileira.
Como sugestões para estudos futuros, é necessário ainda que sejam realizadas
avaliações aprofundadas na temática da tomada de decisões pela percepção dos produtores de

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possíveis vantagens, bem como a identificação das principais barreiras tanto na produção,
quanto na comercialização, logística ou demais aspectos da cadeia produtiva, que possam
explicar e auxiliar na problemática da existência de um mercado interno não atendido pelo
produtor brasileiro. Dessa forma, é necessário que sejam realizados demais estudos que
expliquem as seguintes questões: porque importar trigo? Porque não produzir o trigo
demandado internamente no Brasil? Quais são as oportunidades e ameaças, forças e fraquezas
na cadeia produtiva do trigo?

6 Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico (CNPq).

Referências
BRUM, A. L. MÜLLER, P. K. A realidade da cadeia do trigo no Brasil: o elo
produtores/cooperativas. RER, Rio de Janeiro, vol. 46, nº 01, p. 145-169, jan/mar 2008.
CONAB- Análise Mensal-Trigo Abril de 2018. Brasília, 2018. Disponível em:
https://www.conab.gov.br/info-agro/analises-do-mercado-agropecuario-e extrativista/analises-
do-mercado/historico-mensal-de
trigo/item/download/19438_4ccfb11b862fb0d40255e67d933f5fd6. Acessado em: 27/11/2018.
CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2 ed.
Porto Alegre: Artmed, 2007.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.
GASSON, R. Goals and values of farmers. Journal of Agricultural Economics, Ashford,
v.24, 521-537, 1973.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999.
HULLEY, S. B.; CUMMINGS, W. R.; BROWNER, W. S.; GRADY, D. G.; NEWMAN, T.
B. Delineamento a pesquisa clínica: uma abordagem epidemiológica. 3 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008.
Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Séries históricas.
Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-
comercio-exterior/series-historicas>. Acesso em: 26 ago. 2019.
PRÉVE, A. D. Organização, processos e tomada de decisão. Florianópolis : Departamento
de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 186p. 2010.
RAMBO, D. W. MACHADO, J. A. D. Fatores influentes e a tomada de decisão nos sistemas
de produção da banana no litoral norte do Rio Grande do Sul. G&DR. v. 10, n. 4, p. 225-247,
set-dez/, Taubaté, SP, Brasil, 2014.
RIBEIRO, A. de L. Teorias da Administração. São Paulo: Saraiva, 2003.
SANTOS, C. Estatística Descritiva – Manual de Auto-Aprendizagem. Lisboa: Edições
Silabo, 2007.
SIMON, H. A. Comportamento Administrativo: estudo dos processos decisórios nas
organizações administrativas. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1970.

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Relações de confiança em ações coletivas em cooperativas
Relationship of confidence in collective actions in cooperatives
Pedro Vinícius Juchem Herrera1, Erlaine Binotto2, Eduardo Luis Casarotto3

Resumo
As organizações têm enfrentado desafios crescentes fruto da atual economia globalizada. Dentre os diversos tipos
de organizações, estão as cooperativas. O objetivo deste artigo é analisar a influência da confiança em ações
coletivas com associados de cooperativas em dois estados brasileiros. A pesquisa foi desenvolvida com 149
agricultores que fazem parte de grupos que cooperam ou que se associaram para desenvolver suas atividades. O
instrumento de pesquisa utilizado foi o questionário. Os dados mostram que em ambos os estados o sexo masculino
é o predominante. Os pesquisados no Rio Grande do Sul têm majoritariamente origem na região sul e, de Mato
Grosso do Sul, também da região sul e da nordeste. Em relação ao nível educacional dos proprietários, a maior
concentração está no ensino primário incompleto e a menor na pós-graduação. Constatou-se que, em alguns casos,
o fato da quebra de confiança não afetou na confiança que o cooperado tem com a cooperativa ou com os membros.
É possível afirmar que a continuidade na cooperativa não foi afetada por essas situações. Os dados evidenciaram
que as relações de confiança desenvolvidas pelos cooperados para com a cooperativa são essenciais para a
cooperação. As análises permitem perceber a influência exercida pela confiança tanto na relação de fidelidade com
a cooperativa quanto na utilização dos seus serviços, como foi pressuposto na pesquisa.
Palavras-chave: ações coletivas; produtor rural; participação.

Abstract
Organizations have faced increasing challenges as a result of the current globalized economy. Among the several
types of organizations are cooperatives. The scope of this paper is to analyze the influence of trust in collective
actions with cooperative members in two Brazilian states. The survey was conducted with 149 farmers who are
part of groups that cooperate or have associated to develop their activities. The research tool used was a
questionnaire. Data showed that in both states the male gender is predominant. Those surveyed in Rio Grande do
Sul are mostly from the southern region and, from Mato Grosso do Sul, also from the southern and northeast
regions. Concerning the educational level of the owners, the highest concentration is in incomplete primary
education and the lowest in graduate school. It was found that, in some cases, the fact of breach of trust did not
affect the trust that the member has with the cooperative or with members. It can be said that continuity in the
cooperative was not affected by these situations. The data showed that the relationships of trust developed by the
cooperative members with the cooperative are essential for cooperation. The analyzes allow us to understand the
influence exerted by the trust both in the loyalty relationship with the cooperative and in the use of its services, as
it was presupposed in the research.
Keywords: collective actions; rural producer; participation.

1 Introdução

As organizações têm enfrentado desafios crescentes fruto da atual economia


globalizada, que torna o ambiente mais competitivo. Dentre os diversos tipos de organizações,
estão as cooperativas, que são encontradas nos mais diversos setores da economia e,
principalmente, no agronegócio. Jensen-Auvermann, Adams e Doluschitz (2018) afirmam que
essas organizações, cada vez mais transnacionais, são propriedade de membros com o objetivo
de aumentar os benefícios dos mesmos. Ainda segundo os autores, uma tarefa fundamental para
as companhias e cooperativas é encontrar uma estratégia competitiva que enfrente, de forma
sustentável, os desafios futuros. A importância desse enfrentamento se deve ao fato dessas
organizações desempenharem importante papel econômico e social, pois oportunizam a

1Acadêmico do curso de administração da Universidade Federal da Grande Dourados - ppedrovjh21@gmail.com


2Professora doutora do curso de administração da Universidade Federal da Grande Dourados -
ErlaineBinotto@ufgd.edu.br
3Professor doutor do curso de administração da Universidade Federal da Grande Dourados –

EduardoCasarotto@ufgd.edu.br

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pequenos e médios produtores a inserção nos mercados concentrados por meio da agregação de
valor na produção rural (FERREIRA; BRAGA, 2004).
Assim, para alcançarem objetivos comuns, os “cooperados” precisam idealizar as visões
futuras e agirem de maneira recíproca, ponderando o coletivo (AXELROD,1984). Como as
cooperativas são pautadas por ações que pressupõem cooperação, também, são
automaticamente governadas pela confiança. A confiança promove a cooperação e a
cooperação gera confiança (SILVA; BINOTTO; VILPOUX, 2016). A confiança se caracteriza
por ser algo interpessoal, tem importante papel e precisa ser incorporada como um recurso na
estratégia de uma cooperativa (JENSEN-AUVERMANN; ADAMS; DOLUSCHITZ, 2018).
Os relacionamentos baseados em confiança trazem vantagens como a redução de custos
através de contratos meticulosos (economia de tempo) e redução de custos na busca de parceiros
(LOPES; BALDI, 2005). Bem como, a confiança, basicamente, possui um caráter cognitivo,
pressupondo, ter conhecimento de um sobre o outro. Esse “conhecimento do outro” busca
reduzir os riscos de comportamentos oportunistas (LOPES; BALDI, 2005).
Ao se discutir o ambiente das cooperativas, se percebem formas organizacionais que se
apoiam na coletividade, que requerem ações coletivas em prol de objetivos comuns. Possuem
suas estruturas de governança, intermediária entre as economias particulares dos cooperados
por um lado e o mercado por outro (BIALOSKORSKI NETO, 2000).
Olson (1971) ao se referir ao tamanho dos grupos afirma que os membros de grupos
pequenos entendem com mais clareza a incumbência de suas contribuições para exercer o bem
comum. Em grupos maiores, se evidencia dificuldade de exercer ação coletiva por entenderem
de forma racional que a incumbência individual nas colaborações é pequena. Isso pode ocorrer
pela falta de estímulo suficientes para cooperar e para reconhecer os resultados da cooperação
(OLSON, 1971).
Parte-se do pressuposto de que a confiança na cooperativa é a peça chave no
relacionamento que o cooperado tem com a mesma, influenciando na utilização dos serviços e
na continuidade da cooperação.
Este artigo tem por objetivo analisar a influência da confiança em ações coletivas com
associados de cooperativas em dois estados brasileiros.
2 Ações coletivas e cooperação

Na teoria sobre ações coletivas, Elinor Ostrom propõe avanços quando analisa os
diversos modelos utilizados na literatura e propõe flexibilização. Estes modelos como a tragédia
dos comuns, o dilema dos prisioneiros e a lógica da ação coletiva tem como foco o problema
do carona em dilemas sociais e modelos de falhas coletivas (OSTROM, 2007).
Ações coletivas compreendidas como a união de forças de dois ou mais agentes, que
podem ser indivíduos, grupos, empresas, organizações ou nações, em prol de um objetivo
comum. Sendo que, as relações e interações que se estabelecem entre esses atores influenciam
e são influenciadas por cada um deles (SANDLER, 2004).
A coordenação nestes grupos, de acordo com Meinzen-Dick, Di Gregorio e Mccarthy
(2004), pode ocorrer pela existência de uma entidade formal ou informal, ou em alguns casos,
sem a existência da mesma e de forma espontânea. Por isso, a existência de ações coletivas
pode estar ligada a razões financeiras, sociais, políticas ou culturais (BRITO, 2001).
3 Procedimentos Metodológicos

Esta pesquisa é classificada como descritiva, com abordagens qualitativa e quantitativa.


Os participantes desta são agricultores dos estados de Mato Grosso do Sul (MS) e do Rio
Grande do Sul (RS).
A pesquisa foi desenvolvida com 149 agricultores que fazem parte de grupos que

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cooperam ou se associaram para desenvolver suas atividades. Destes, 114 pesquisados foram
do RS e 35 de MS. O instrumento de pesquisa usado nessa pesquisa foi um questionário
estruturado com questões abertas e fechadas. O número de pesquisados foi de acordo com a
acessibilidade e exaustão. Quanto ao número de organizações, considerou-se o acesso. Este
artigo é um recorte da pesquisa referente ao projeto Universal CNPq e se utiliza de um banco
de dados coletados entre os anos de 2015 a 2018.
As categorias de análise envolvem perfil socioeconômico e relações de confiança. A
análise dos dados foi apoiada por análise estatística.
4 Resultados e Discussão

4.1 Perfil socioeconômico

Os dados mostram que tanto no RS quanto em MS o sexo masculino é o predominante,


com respectivamente 85% e 86% da amostra, totalizando 85% do total. Quanto ao estado civil
dos entrevistados, 68% estão casados, 23% estão solteiros, 5% estão divorciados, 4% estão em
uniões estáveis, 1% estão viúvos.
Os pesquisados no RS têm majoritariamente origem na região sul (92% da amostra).
MS é reconhecidamente uma das “novas” fronteiras agrícolas abertas a partir do final da década
de 1960. Desta forma, é grande a participação de migrantes da região sul (71%), assim como
da região nordeste (13%).
Em relação a descendência familiar, no RS é predominantemente europeia – maioria da
Itália (77%) e Alemanha (17%). Em contraponto, MS tem maior diversidade: brasileira (32%),
italiana (29%), japonesa (24%) e outras nacionalidades (12%).
Na Tabela 1 são apresentados os resultados encontrados referentes a escolaridade dos
agricultores pesquisados:

Tabela 1- Escolaridade dos agricultores


Escolaridade RS % MS % Total %
Sem educação formal ou analfabeto 0 0 0 0 0 0
Ensino primário incompleto 51 45 10 29 61 41
Ensino primário completo 16 14 8 23 24 16
Ensino médio incompleto 14 12 1 3 15 10
Ensino médio completo 18 16 7 20 25 17
Graduação incompleta 8 7 3 9 11 7
Graduação completa 2 2 6 17 8 5
Pós-Graduação 4 4 0 0 4 3
Total respostas válidas 113 100 35 100 148 100
Não Resp. 1 0 1
Fonte: Dados da pesquisa

Em relação ao nível educacional dos proprietários pesquisados, a maior concentração


está no ensino primário incompleto (41%) e a menor na pós-graduação (3%). No RS o ensino
primário incompleto predomina com 45%, enquanto que em MS existe uma melhor
distribuição, pois o intervalo entre o ensino primário incompleto (29%), o ensino primário
completo (23%) e o ensino médio completo (20%) é bem menor que no RS. Além disso, o
percentual de graduação completa em MS é 17%, enquanto que no RS é apenas 2% da amostra.
A produção agrícola da propriedade é a principal geradora de receitas para as famílias,
entretanto, em alguns casos, as rendas de pensões ou aposentadorias e do trabalho fora da
propriedade (geralmente o cônjuge) são mencionados como fonte adicional de renda. A renda
é produzida pelo cultivo de soja e milho, atividades mais comuns, seguidas da produção de
leite, arroz, fumo, feijão, trigo e extração de mel, entre outras.

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Na Figura 1 são apresentados, por faixas e, em reais, a receita bruta nas propriedades.
São consideradas as condições individuais de cada estado, bem como o total da amostra de 146
respostas válidas.
Figura 1- Receita por estados e total da amostra (em Reais)

RS MS Total
45
40 40
36
35
30 26 27
25 30
20 17 20
15 11 13
10 7 13 9
4 6 6 9
5 7 72
0 2
0

Fonte: Dados da pesquisa

Os dois estados apresentam similaridade na distribuição das faixas de receita, com


exceção nas faixas de até R$ 30.000 e na de R$ 50.001 a R$ 100.000 no RS (6% e 27%) frente
a 0% e 18%, respectivamente, em MS. Entretanto na faixa acima de R$ 250.001, o percentual
de propriedades é consideravelmente maior em MS (40%) em relação ao RS (30%).
Nas demais, os valores percentuais são próximos, como por exemplo nas faixas: R$
30.001 a R$ 50.000 - RS (12%) e MS (12%); na faixa de R$ 100.001 a R$ 150.000 - RS (18%)
e MS (18%); e na faixa de R$ 150.001 a R$ 200.000 - RS (6%) e MS (6%).
Ao tratar do tamanho das propriedades, a maioria dos pesquisados (69%) possui ou
cultiva terras com até 100 hectares, com maior concentração na faixa de tamanho entre 21 e 50
hectares, 27% deles. Entretanto, é peculiar a cada estado essa distribuição, como pode ser
observado na Figura 2:
Figura 2 – Percentual por faixas do tamanho da área por estados e total de respondentes
35
30 31
30 27
25 24
25 22
20
20 17 17
13 14
15
8 7 9
10 6 5 5
4 3 1 4 3 3
5 1
0

RS% MS % Total %
Fonte: Dados da pesquisa

Na Figura 2 observa-se que no RS, a maior concentração se encontra na faixa de 21 a


50 hectares, com 30% dos respondentes, entretanto é considerável o número de pequenas
propriedades com até 20 hectares (25%), e propriedades com 51 a 100 hectares (24%). Em MS,

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a maior concentração está na faixa de 101 a 200 hectares (31%) e nas faixas de 21 a 50 e 51 a
100 hectares, ambas com 17% das respostas. Em média, 3% dos pesquisados não declararam o
tamanho de sua propriedade ou da área produtiva.
Em relação a posse das terras, a maioria dos respondentes (55%), relatou que as terras
são totalmente próprias. Outros 35%, que uma parte das terras são próprias e outra parte
arrendada. Constituindo-se assim, com esses dois grupos de proprietários, a grande maioria dos
respondentes. Destaca-se que nesta questão, foi alto o número de pesquisados que não quiseram
informar a sua condição, principalmente em MS com 23% de abstenções. No cômputo total, o
percentual de não respondentes foi de 6%, como pode ser observado na Figura 3.
Os resultados por estados se assimilam aos resultados totais. No RS, 55% informaram
que as terras são próprias e 39% tem uma parte própria e outra arrendada. Em MS, 54% e 35%,
respectivamente.
Quanto ao tempo de experiência, ou tempo em que está na propriedade, o RS apresenta
maior concentração nos grupos de até 10 anos (26%) e, entre 40 a 49 anos (20%). MS apresenta
maior concentração nos grupos entre 30 a 39 anos (26%), e entre 11 a 19 anos e 40 a 49 anos,
ambos com 17% das respostas válidas. A Figura 4 apresenta graficamente a distribuição do
tempo de experiência dos entrevistados.
A Figura 3 mostra que cada estado tem características diferentes. Enquanto no RS há
número significativo de novos produtores (com até 10 anos de experiência), combinado com
outro grande grupo de produtores com período de experiência de 40 a 49 anos, MS apresenta
certa equidade, com distribuição similar em quase todos os grupos.

Figura 3 - Tempo de experiência em números absolutos por estados e total de respondentes


RS MS Total
35 33
29
30 27 26
25
20 19 20
20 18
14 15
15
9 10 10
10 8
6 6 6
4 4 4
5 2
0

Fonte: Dados da pesquisa

Nesse sentido, os estados apresentam ciclos de experiência bem definidos nas


propriedades. Entretanto, devido ao tamanho da amostra, não se pode afirmar que este é o perfil
de MS. Todavia para o RS, a amostra é significativa para que esta afirmativa seja validada.
Destaca-se que a informação denominada “toda a vida” possui mais de um significado.
O primeiro é que o produtor nasceu, sempre viveu e trabalhou no meio rural ou na sua
propriedade. A segunda é que este começou a trabalhar no meio rural em propriedades de
terceiros e, posteriormente adquiriu a sua, deste modo sempre ao longo de sua vida trabalhou
na agricultura.
As características similares dos agricultores que responderam ao questionário, em parte
podem ser explicadas pela origem de cada um. Partindo do perfil dos representantes do RS e
estendendo-se às similaridades aos agricultores de MS. Este último, como anteriormente citado
sob a alcunha de “nova” fronteira agrícola do Brasil, teve forte processo migratório para

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exploração da agricultura, com a predominância de entradas de produtores rurais oriundos do
RS, ou estados como Paraná e Santa Catarina com fortes traços da colonização sulista e gaúcha,
agricultores de origens italiana e alemã, bem como de outras origens europeias.

4.2 Confiança

No processo de fidelização a uma cooperativa, percebe-se que a relação de confiança


do agricultor com a organização e, com os demais cooperados, tem elevado grau de influência
no relacionamento das partes. Quando questionados sobre quais fatores que determinam a
entrega da produção na cooperativa (Tabela 2), o fator “Segurança/Confiança” foi considerado
por 71,8% dos respondentes, assim como o fator “Ser associado” (61,1%).
Este resultado tornou-se um indicativo de como a confiança influencia as ações
coletivas. O fator “Preço”, que pela ótica financeira seria deveria ser o mais importante, e
“Qualidade/Serviço”, foram considerados determinantes por 28,9% e 23,5% dos pesquisados,
respectivamente.

Tabela 2 - Fatores que são determinantes para a entrega do produto na cooperativa


Qualidade/ Segurança/
Preço Ser associado
Serviço Confiança
Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não
RS 37 77 32 82 80 34 74 40
RS % 32,5 67,5 28,1 71,9 70,2 29,8 64,9 35,1
MS 6 29 3 32 27 8 17 18
MS % 17,1 82,9 8,6 91,4 77,1 22,9 48,6 51,4
Total 43 106 35 114 107 42 91 58
Total % 28,9 71,1 23,5 76,5 71,8 28,2 61,1 38,9
Fonte: Dados da pesquisa

Entretanto, outros fatores podem explicar a fidelidade dos associados com a


cooperativa. Na Figura 4 se observa o grau de importância atribuído pelos associados para
fatores que, nas suas perspectivas, melhor explicam a fidelidade à cooperativa.
Figura 4 – Grau de influência de fatores sobre a fidelidade dos cooperados - por associados
160
140
120 45 62 53 52 42 58
100 70 63 54
70
80 54
60 60
40 93 80 82 84 87 77
57 56 65 71
20 33 47
0

Altamente importante Muito importante Mais ou menos importante


Pouco importante Nenhuma importância
Fonte: Dados da pesquisa

Se em relação aos fatores para entrega dos produtos na cooperativa, segurança/confiança


e ser associado foram os principais fatores, quanto a fidelidade, os fatores “Preço” (62,84%) e

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“Qualidade” (59,59%), foram considerados como altamente importantes. Deste modo, este
resultado confirma o pressuposto assumido para este estudo: que a confiança na cooperativa é
a peça chave no relacionamento que o cooperado tem com a mesma, influenciando na utilização
dos serviços e na continuidade da cooperação.
Quanto ao nível de confiança que o associado tem em relação a cooperativa e seus
membros, constatou-se que os cooperados têm maior confiança na instituição e, menos
confiança nos outros cooperados. O grau de confiança em relação ao corpo de gestores da
cooperativa (Figura 5), considerando as respostas “muito alto” e “alto”, o gerente operacional
e o presidente foram os considerados de maior confiança. Tal situação pode ser relacionada ao
fato de se conhecerem (LOPES; BALDI, 2005).

Figura 5 – Grau de confiança que o associado tem em relação a membros, gestores e a cooperativa

Cooperativa
Outros cooperados
Gerente Administrativo
Gerente Operacional
Gerente Comercial
Vice-presidente
Presidente
0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

Muito alta Alta Regular Baixo Muito baixa Não confia

Fonte: Dados da pesquisa

Quanto a média de confiança por cooperativa, é possível observar (Figura 6) que na


maioria das cooperativas ocorre o mesmo mostrado na Figura 5, onde os cooperados confiam
mais na instituição e na equipe de gestão que nos outros cooperados. Esse aspecto reforça a
influência das relações apresentado por Sandler (2004).
Figura 6 – Média de confiança por cooperativa
5,00
4,50
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
Coop. Coop. Coop. Coop. Coop. Coop. Coop. Coop. Coop. Coop. Coop. Coop. Coop. Coop. Coop.
RS 1 RS 2 RS 3 RS 4 RS 5 RS 6 RS 7 RS 8 RS 9 RS 10 RS 11 RS 12 RS 13 MS 1 MS 2

Equipe de gestão Outros cooperados Cooperativa

Fonte: Dados da pesquisa

A diferença se deu em algumas cooperativas em que a confiança nos outros associados era
equivalente ou maior que na equipe de gestão e na cooperativa. Comparando os resultados da

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Figura 6 com a Tabela 3, constatou-se que, em alguns casos, o fato da quebra de confiança
não afetou a confiança que o cooperado tem com a cooperativa ou com os membros.

Tabela 3 - Quebra de confiança entre associado e cooperativa/outro associado


Cooperativa Outros cooperados
Não Sim Não Sim
Coop. RS 1 48 5 45 8
Coop. RS 2 20 4 21 3
Coop. RS 3 1 0 0 1
Coop. RS 4 2 0 2 0
Coop. RS 5 4 2 6 0
Coop. RS 6 2 0 2 0
Coop. RS 7 1 0 1 0
Coop. RS 8 4 1 5 0
Coop. RS 9 0 1 0 1
Coop. RS 10 4 0 4 0
Coop. RS 11 0 1 1 0
Coop. RS 12 1 0 1 0
Coop. RS 13 1 0 1 0
Coop. MS 1 29 4 26 7
Coop. MS 2 2 0 - -
Fonte: Dados da pesquisa

Em cooperativas com mais respondentes - RS 1 e 2 e MS 1, a média de confiança dos


cooperados pode ter sido influenciada por situações de quebra de confiança. Entretanto, a
continuidade, como associado, pode não ter sido afetada por essas situações, visto que a média
de confiança na cooperativa se manteve acima da média. Esses aspectos reforçam que a
confiança tem caráter interpessoal, além de importante papel sendo importante a sua
incorporação como um recurso estratégico da cooperativa (JENSEN-AUVERMANN;
ADAMS; DOLUSCHITZ, 2018).
5 Considerações Finais

Este trabalho teve como objetivo analisar a influência da confiança das ações coletivas
em associados de cooperativas em dois estados brasileiros. A pesquisa, feita com 149
cooperados, trouxe dados relevantes e significativos tanto qualitativos quanto quantitativos para
que se compreenda o fenômeno que foi estudado.
A pesquisa evidenciou que as relações de confiança desenvolvidas pelos cooperados
para com a cooperativa são essenciais para que exista a cooperação entre ambos. Os resultados
apontaram que existe influência da confiança tanto na relação de fidelidade com a cooperativa
quanto na utilização dos seus serviços, corroborando com o pressuposto da pesquisa.
Para estudos futuros, sugere-se verificar outros fatores e/ou elementos que levam os
agricultores a confiarem na cooperativa, bem como o estágio no ciclo de vida que a cooperativa
se encontra. Também se sugere replicar a pesquisa em outros estados para verificar os demais
comportamentos.
6 Agradecimentos

Ao CNPq pelos recursos para o projeto de pesquisa e pela bolsa de Iniciação Científica

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ao primeiro autor.
7 Referências

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BIALOSKORSKI, N. S. Agribusiness cooperativo. In: ZYLBERSZTAJN, D; NEVES, M.F.
Economia e gestão dos negócios agroalimentares: indústria de alimentos, indústria de
insumos, produção agropecuária e distribuição. São Paulo: Pioneira, 2000.
BRITO, C. M. Towards an institutional theory of the dynamics of industrial network. Journal
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FERREIRA, M. A. M.; BRAGA, M. J. Diversificação e competitividade nas cooperativas
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http://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552004000400003.
GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. (Org.). Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Editora
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JENSEN-AUVERMANN, T.; ADAMS, I.; DOLUSCHITZ, R. Trust-Factors that have an
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LOPES, F. D.; BALDI, M. Laços sociais e formação de arranjos organizacionais
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2004. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/rad/article/view/676/473. Acesso em: 27 ago.
2019.

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Sidras: uma revisão bibliométrica com foco no mercado brasileiro
Cider: a bibliometric review focusing on Brazilian market
Daiana Ribeiro Blaskowski¹, Ângela Rozane Leal de Souza², Letícia de Oliveira³

Resumo
As sidras são bebidas alcoólicas fermentadas feitas de maçãs e podem variar muito devido a diversas
características, como tipos de maçãs utilizadas e métodos de fabricação. Embora seja uma bebida muito antiga, foi
por bastante tempo esquecida, entretanto seu consumo tem aumentado nos últimos anos, especialmente, nos
Estados Unidos da América. No Brasil, ainda é uma bebida praticamente desconhecida ou, então, associada à baixa
qualidade, devido à pouca oferta de verdadeiras sidras. Existe uma hipótese de que a sidra possa ser apreciada
pelos brasileiros devido à sua leveza e frescura. Esta revisão bibliométrica questionou o que tem sido estudado
sobre sidra. Os objetivos eram saber quantos estudos sobre sidra foram publicados desde 2008, quais áreas mais
publicaram, quais países mais pesquisaram e o que o Brasil publicou sobre sidra. Os principais resultados foram
os seguintes: tem sido crescente as pesquisas a respeito de sidras desde o ano de 2008; a maioria dos estudos estão
relacionados ao processo de fabricação propriamente dito, como àqueles relativos ao uso de fermentação, por
exemplo; entre as dez principais nações que mais publicaram, estão os considerados produtores tradicionais de
sidra; no que tange o Brasil, existem poucas pesquisas publicadas e nada relacionado ao mercado potencial.
Palavras-chave: maçã; fruta; vinho; cerveja; artesanal.

Abstract
Ciders are fermented alcoholic beverages made from apples that can vary so much because of several
characteristics, such as apple types used and manufacturing methods. Although it is a very old drink, it has been
a little out of date, but its consumption has grown in recent years, especially in the United States of America. In
Brazil, it is still a drink unknown or known as low quality, due to the very low supply of real ciders. There is a
hypothesis cider could be appreciated for Brazilians because of its lightness and freshness. This bibliometric
review questioned what have it been studied about cider? The objectives were to know how many studies of cider
there are since 2008, which subject areas have been interested about, which countries have more researched and
what Brazil has published about cider. Main results were as follow: it has been growing researches about cider
since 2008; the majority of studies are relations to manufacturing process; among top ten nations from are more
studies, there are traditional cider producers; Brazil there is really few published researches and nothing related
to potential cider market.
Keywords: apple; fruit; pear; wine; beer; craft.

1 Introduction

Ciders are a fermented drink make from apples which have characters that vary
depending on the cultivars, condition of fruit used, and preparations methods employed. Ciders
have been classified into several types depending on the method of preparation and the
character of the product (ARENGO-JONES, 1941).
Sweet sparkling cider (or sparkling sweet cider) is produced by fermenting apple juice
just enough to give it effervescence, contains not more than 1% alcohol by volume.
Fermentation is conducted in a closed container and the various processing steps, including
filtrations and bottling are carried out in a closed system so that the natural carbon dioxide
formed during fermentation is retained.
Sparkling cider is charged with gas produced during fermentation. It has a lower sugar
and higher alcohol content (3.5% than sparkling sweet cider, and not all the carbon dioxide
produced during its fermentation is retained. Sweet cider is a still (no effervescent) cider
produced by partial fermentation of apple juice in an open tank. It also may be produced by
adding sugar to completely fermented juice.
________________________
¹ Mestranda em Agronegócio/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - daiblask@hotmail.com
² Doutora em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - angela.souza@ufrgs.br
³ Doutora em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - leticiaoliveira@ufrgs.br

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Dry cider, also called hard cider, is completely fermented apple juice. It is similar a still
wine in that it is nor effervescent, but the alcohol content about 6.5 percent, whereas wine
contains between 7% and 14% alcohol.
Carbonated cider is any cider that has been charged with commercial carbon dioxide to
produce effervescence and champagne-type cider is produced in a manner like that employed
in preparing champagne (JARVIS, 2003).
About cider families, they are determined by the type of fruit used, whether any other
ingredients have been added and the method. The cider can be tannic, acid, flavoured or ice.
(COOK, 2018).
Despite holding a smaller position on a global scale, cider production is common in
Europe and other countries, above all Northern America and Australia (Nogueira and
Wosiacki, 2012 apud ROSEND et. al., 2019). The cider market growth has been positive
internationally (KLINE and COLE, 2017).
In Spain cider is an important economic activity, mainly in Asturias and the Basque
Country. Only in Basque Country, cider production has doubled in the last 20 years (VILLAR
et. al., 2017). Asturias is natural cider producer too with an average annual volume close to
40 million litres (RODRÍGUEZ MADRERA and VALLES, 2018).
The United Kingdom has a long history with cider production, and such represents the
largest contingent of traditional cider brands in the world, further it is responsible for 70% of
Europe’ supply of cider. Despite there are approximately 500 cider markers in United Kingdom,
increase has been gradual over the last thirty years enough different to the exponential growth
of cideries in the United States of America since last 10 years (KLINE and COLE, 2017).
In United States of America although cider accounts for only 1% of the total alcoholic
beverage market, however cider has been had a more rapid growth rate than other beverages.
This significant increase in cider production has created a necessity for the development of
more research about raw materials, production, equipment and markets (NEWHART, 2019).
In Brazil, most of potential cider consumers do not know about or knowing only low-
quality cider. Therefore, it has been planned to change cider image in Brazil, because it is a
drink potential to be really connected with Brazilian market for be refreshing and soft.
Aiming to know about cider market, this research had asked: what have it been studied
about cider? The objectives this study is to know how many studies of cider there are since
2008, which subject areas have been interested about, which countries have more researched
and what Brazil has published about cider.
Concerning the term cider, it varies considerably around the world. In the United States
of America, cider refers to the freshly expressed juice of the apple. In England and Australia,
the word is used to denote fermented juice, which Americans call hard cider (DOWNING,
1989).
To this study, it has been used the term “cider” as a synonymy of alcoholic beverage
made from the fermented juice of apples why like that the results contemplated different
expressions used around the word to denominated several ways of making cider, such as “apple
cider”, “hard cider”, “sweet cider”, “sparkling cider”, “dry cider”, “carbonated cider”, “ice
cider”.

2 Theoretical referential

Bibliometric analyse has been consolidating itself as a method of study within a concern
with richer readings of reality, more attentive to the contemporary claims of complex thinking
(MORIN, 1987 apud ARAÚJO, 2006). Base of this technical is reuse analyses were created to

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other purposes using quantitative techniques to extract information (CASTRO, 1985 apud
BASTOS, HEIN, FERNANDES, 2006)
Bibliometric technical can be defined as counting scientific articles and considers it one
of the few subfields dedicated to measuring the output of science (GODIN, 2006). Thus, in the
notion that the results obtained can be generalized and consequently provide information across
the field of science (BINDER; SCHÄFFER, 2005 apud ALVES, 2011).

3 Methodological procedures

In this study, it has gathered bibliometric data from Scopus and Web of Science using
the word “cider” to know what, when and where it had been studied. Thereby the outcome of
the two databases was compared.
Preliminary, from Scopus it was consider finding the word cider in tittle, abstract and
keywords. On the other hand, from Web of Science, it was considered to detect in all finds
because it does not have the option such as the first one. Thus, Scopus extracted 1.803
documents whereas Web of Science showed 2.389 documents.
Thereon, in both repositories were used filter to extract documents published between
2008 and 2019 July. It was also observed in Scopus 72% of documents were Articles while
Web of Science the percentage reach 86%. The remaining minor categories in both were
conference paper, book chapter and review.

4 Results and discussions

In this section, it has shown the bibliometric results for the various performance
parameters such as: research growth, subject areas, nations have more studies and what
Brazilians researches have published.

4.1 Research Growth

It has finder 1.803 results of cider in Scopus and 2.389 in Web of Science. Using the
filter between 2008 and 2019 July, Scopus shown 923 and Web of Science 1.206. Figure 1
show the evolution of published since 2008 and it is possible to note considered growing but
similarities of two databases analysed.

Figure 1: Number of publications in Scopus and Web of Science

146
134
125
111 108 113
97 102
92
83 86 84 82 85
77 78 79 78
68 65
59 60 62
55

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 JUL/19

Scopus Web of Science

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Source: Author (2019).
It is worth mentioning, 2019 has 92 and 102 finding in Scopus e Web of Science
respectively, then It can be estimated the current year will have more production than other
years evaluated.

4.2 Subject Areas

Using the filter of subject area to the period between 2008 and 2019 August, it can know
Agriculture and Biological Science has connection with more than a half finding. It is important
to mention that one study can be associated in more than one area.

Table 1 – Top 5 findings in Scopus


Subject Area Nº
Agricultural and Biological Sciences 476
Biochemistry, Genetics and Molecular Biology 162
Medicine 148
Chemistry 140
Engineering 139
Source: Scopus (2019)

Observing the table 1, the five categories have more finding are those related to
productive or manufacturing process. For surprising, medicine area has so many studies about
cider.
In Web of Science it can be perceived the subject area denominated “Food science
technology” include almost 40% of the studies, however, stands out Web of Science has more
subject areas than Scopus, for that the studies are more specifically divided.

Table 2 – Top 6 findings in Web of Science


Subject Area Nº
Food science technology 481
Biotechnology applied microbiology 138
Microbiology 108
Chemistry applied 85
Agriculture multidisciplinary 57
Horticulture 55
Source: Web of Science (2019).

To table 2 else table 1, it considered to show the six subject areas, because the sixth is
“Horticulture”. In addition, it is important to highlight the subject area denominated
“Agriculture Multidisciplinary” on the fifth position.

4.3 Finding for nations – TOP 10

In the table 3, it has been demonstrated top ten nations in Scopus and Web of Science. It
interesting to say the top five are equals in both repositories. Web of Science has Australia and
Brazil with the same number of studies.

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Table 3 – Findings for nation – Top 10
Scopus Web of Science
1º United States 205 1º United States 343
2º Spain 144 2º Spain 171
3º China 96 3º China 113
4º France 80 4º France 102
5º United Kingdom 72 5º England 74
6º Canada 35 6º South Africa 55
7º Brazil 33 7º Sweden 49
8º Australia 29 8º Canada 47
9º Italy 29 9º Germany 45
10º South Korea 23 Australia 43
10º
Brazil 43
Source: Author (2019).

Canada and Australia just change your positions, especially, because the publications
from South Africa and Sweden. Italy and South Korea appears in Scopus, but not in Web of
Science. Further those already mentioned – South Africa and Sweden – Web of Science show
Germany in the first ten. Brazil appears in both, but in Web of Science draws with Australia in
tenth position.
To better visualize the distribution of studies in both databases, figure 2 presents the
distribution among the nations.

Figure 2: Percentage of findings by nation

Source: Author (2019).

Considering the filter – between 2008 and 2019 August, Scopus 923 and Web of Science
1.206 findings respectively – in Scopus 81% of the studies were from the top ten countries;
about Web of Science, the percentual was 90%.
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If it was considering just the five firsts nations – United States, Spain, China, France and
United Kingdom/England – the findings match 65% in both repositories. It should be noted
that, except China, all that countries are traditional cider producers.
Considering the potential Brazilian market is the focus of this research, it is noteworthy
that Brazil’s share is 4%. There is a hypotheses Brazil can have the similar behaviour of United
States after knowing cider, then the object cider need much more be studied here.

4.4 Brazilian Studies

As already mentioned, Brazil is inside of the ten firsts countries has studied about cider
since 2008, totalizing in the period 33 and 43 findings in Scopus and Web of Science
respectively. It can note that half 2019 has almost the same number of last full year.

Figure 3: Number of findings in Brazil

6
5
5 5 5 5 5

4 4

3 3 3 3 3

2 2 2 2 2

1 1

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Scopus Web of Science

Source: Author (2019).

Knowing the number of studies about cider in Brazil since 2008, it has rated which
subject areas was contemplated, standing out “Agricultural and Biological Sciences”. It gets
that there is nothing about business either cider market.
Inside da subject area “Multidisciplinary”, it has the following studies: Evaluation of
food baits to capture Drosophila suzukii in the southern of Brazil; Population dynamics of
mixed cultures of yeast and lactic acid bacteria in cider conditions; Apple wine processing with
different nitrogen contents; and Effect of alcoholic fermentation in the content of phenolic
compounds in cider processing.

Table 4 – Findings for subject areas in Scopus


Scopus Nº
Agricultural and Biological Sciences 23
Engineering 6
Multidisciplinary 4
Dentistry 3
Biochemistry, Genetics and Molecular Biology 2

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Chemical Engineering 2
Chemistry 2
Environmental Science 2
Immunology and Microbiology 2
Medicine 2
Nursing 2
Veterinary 1
Source: Scopus (2019).

It is quite interesting identify areas such as medicine and nursing studying about cider
and on the other hand none researches about market, production of commercial ciders, potential
consumers. Analysing this information, the hypothesis Brazilian people doesn’t know what
cider is or just has idea it is a low-quality product. Figure 4 illustrate clearly the distributions
areas of findings.
In relation to Web of Science, such as Scopus, there is no study about market cider or
consumption. The plurality it is the subject area denominated “Food and Science Technology”.
About the once find in Multidisciplinary sciences, it is the one already found in Scopus –
Evaluation of food baits to capture Drosophila suzukii in the southern of Brazil.

Table 5 – Findings for subject areas (Web of Science)


Web of Science Nº
Food Science Technology 24
Agriculture Multidisciplinary 6
Biotechnology Applied Microbiology 4
Chemistry Applied 4
Biology 3
Environmental Sciences 3
Chemistry Analytical 2
Dentistry Oral Surgery Medicine 2
Nutrition Dietetics 2
Agronomy 1
Biochemical Research Methods 1
Ecology 1
Engineering Chemical 1
Engineering Environmental 1
Geochemistry Geophysics 1
Horticulture 1
Meteorology Atmospheric Sciences 1
Microbiology 1
Mineralogy 1
Multidisciplinary Sciences 1
Oncology 1
Spectroscopy 1
Urban studies 1
Water Resources 1
Source: Author (2019).

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As already mentioned, Web of Science divides its subject areas using more specificity
than Scopus, for that it can know there are studies about oncology, mineralogy and meteorology
atmospheric science which holds the term cider. Despite these findings, it is not possibly known
what effectively evaluated the mentioned studies, but it escapes the scope of this article.
To better demonstrate the distribution of researches in both databases, figure 4 give
graphically illustrates comparative.

Figure 4: Subject areas of Brazilian studies about cider in Scopus and Web of Science

Source: Author (2019).

The graphic illustrates comparative give a clear information about the distribution. It is
comparing the two databases, it is possible to know some differences in distribution, but it is
not measured in this study because it runs away from the scope of this study.
The present research objectified to know what has been studied about cider focus on the
Brazilian market. It discovered nothing has been published about in Brazil, but the most
surprising there is not published about cider market in any other country.

5 Conclusions

The bibliometric analyse object to identify what has been studied about something.
Cider is object of this study, because it is necessary before doing a research about cider market
in Brazil.
Uncovering the object, cider has increased on number of studies since 2008, especially
in United States of America, where cider is a rediscovery product. Analysing documents to do
this Article, it was possible to find out so much materials and methods how to make cider,
persons changing experiences, reports about perceptions of potential consumers or market
expectations, several events happen which cider is the central theme.
Note, however, the majority scientific studies found about cider are related
manufacturing processing, like apples used, formulas, fermentation, chemical problems, use of
additives, among others. There is not scientific research index in Scopus either Web of Science
that studied about consumers perceptions nor market analyses.
Regarding the nations from where find more publishing researches, this effect is the
same it has been found in empirical analysis available in Internet. Then, it is feasible inferred

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people from that nations would be their interests more based if more scientific studies were
realized.
In relation to Brazil, there are few studies about cider, scientific studies even less.
According as shown, almost all researches index in Scopus and Web of Science are about
biological or chemistry topics.
Give the above and allied to the fact Brazil is a tropical country in most of its territory,
its people culturally appreciate to drink cold beverages, like beer for example, and be apple
producer, it is suggested researches in the most diverse subject areas. Maybe, cider is a product
that can bring value aggregation not only to apple productive chain, but to contribute changing
stigma Brazil is just a commodity producer.

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1
Viabilidade econômica de tilápias (Oreochromis niloticus) em sistema
bioflocos (BFT)
Economic viability of tilapia (Oreochromis niloticus) in biofloc system (BFT)
Adelita Rabaioli1, Valesca Schardong Villes2, Emerson Giuliani Durigon3, Rafael Lazzari4

Resumo
Este trabalho simulou fatores que interferem na viabilidade econômica da criação de tilápias em sistema de
bioflocos. A proposta consiste em um projeto com 12 estufas (contendo tanques de 415 m 3 cada), sendo alojadas
55 tilápias/m3, com conversão alimentar estimada de 1,2:1, peso final de 800g e preço de comercialização de R$
4,65. Analisou-se indicadores como Valor Presente Líquido (VPL), Payback, Taxa interna de retorno (TIR),
Payback descontado, Índice de lucratividade. Após avaliação destes indicadores, observou-se que o
empreendimento é economicamente viável, uma vez que o retorno do investimento se dá entre o quarto e quinto
ano, com VPL de R$ 59.792,94 e TIR de 17%, com custo de implantação e custos operacionais altos para a
produção neste sistema. A ração é um dos itens que mais interfere na viabilidade do sistema, pois representa mais
de 70% dos custos de produção. Outro importante custo é com a energia, que representa 21,79%, e fontes
alternativas como energias eólias e solares devem ser consideradas, para que assim este sistema apresente uma
maior segurança e retorno econômico.
Palavras-chave: Bioflocos; Piscicultura; Tilápia; Viabilidade Econômica.

Abstract
This work simulated factors that affect the economic viability of tilapia breeding in a biofloc system. The proposal
consists of a project with 12 greenhouses (containing 415 m 3 tanks each), housed 55 tilapia/m3, with estimated
feed conversion of 1,2:1, final weight of 800g and commercialization price of R$ 4.65. Indicators such as Net
Present Value (NPV), Payback, Internal Rate of Return (IRR), Discounted Payback, Profitability Index were
analyzed. After evaluating these indicators, it was observed that the project is economically viable, since the return
on investment occurs between the fourth and fifth year, with NPV of R$ 59,792.94 and IRR of 17%, with
implementation cost and high operating costs for production in this system. Feed is one of the items that most
interferes with the viability of the system, as it represents over 70% of production costs. Another important cost is
with energy, which represents 21.79%, and alternative sources such as wind and solar energy must be considered,
so that this system presents greater security and economic return.
Keywords: Bioflocks; Pisciculture; Tilapia; Economic viability.

1 Introdução

A aquicultura é uma das atividades de produção de proteína animal no mundo com


maior crescimento nos últimos anos. Além disso, vem sendo apontada como uma atividade de
relevância socioambiental por seus potenciais benefícios, bem como seu valor para a segurança
alimentar e com grandes impactos econômicos, por meio da geração de empregos e renda
(FAO, 2018).
No cultivo de peixes, as tilápias lideram a produção em volume, representando mais de
50% do total cultivado (PEIXE BR, 2019). Dada à importância dessa indústria, que atrai
inúmeros investidores, desde grandes e médios empresários a pequenos produtores, o
conhecimento da estrutura dessa cadeia produtiva se torna estratégico para o seu planejamento
ordenado e bem-sucedido (BARROSO et al., 2018a). Contudo, para obter os lucros esperados,
deve-se empregar métodos baseados em princípios científicos, ecológicos e econômicos, onde
projetos executados sem as devidas análises financeiras podem inviabilizar o sistema.
Especificamente, identificar os itens relevantes dos custos na atividade, bem como a

1
Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Agronegócios(UFSM) ade_rabaioli@hotmail.com
2
Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (UFSM) valesca_villes@hotmail.com
3
Doutorando, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (UFSM) emersom_durigon@hotmail.com
4
Professor,Departamento de Zootecnia e Ciências Biológicas(UFSM) rlazzari@ufsm.br

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rentabilidade no ciclo de produção são análises fundamentais para obter sustentabilidade e
competitividade no setor (SABBAG et al., 2007).
O estudo da viabilidade econômica é uma ferramenta fundamental do planejamento, que
reúne as variáveis do negócio. Fornece indicadores para que ações assertivas sejam tomadas,
auxiliando o agente nas decisões cruciais, como investir em determinado empreendimento,
analisando entraves e fatores críticos de desenvolvimento no contexto mercado e implantação,
gestão de riscos e cálculos financeiros (ARAÚJO et al., 2011).
Pesquisas estão oferecendo maior suporte ao desenvolvimento de diferentes técnicas de
manejo e produção intensiva, de modo que potencialize a produção de pescados, com reduzido
impacto ambiental e otimização da relação custo/benefício. Neste sentido, a tecnologia de
bioflocos (Biofloc Technology System – BFT) é promissora, consistindo em um sistema de
produção, com mínima renovação de água, que estimula o crescimento da comunidade
microbiana e resulta em uma fonte de alimento natural para as tilápias do cultivo, reduzindo
significativamente o uso de rações convencionais e custos para alimentação (AVNIMELECH,
2007). Todavia, ainda há poucos estudos de viabilidade econômica para a produção de tilápia
neste sistema, já que esta tecnologia demanda maior investimento inicial (BARROSO et al.,
2018b) e alto custo operacional, com mão-de-obra qualificada.
Diante deste cenário de busca por sistemas alternativos de piscicultura e de
desenvolvimento sustentável no setor agropecuário, objetiva-se analisar fatores que interferem
no desenvolvimento do sistema BFT, por simulação de viabilidade econômico-financeira, de
modo a colaborar com o planejamento e adequada tomada de decisão neste sistema de cultivo.

2 Referencial Teórico

O crescimento da população mundial para 9 bilhões de pessoas no ano de 2050 (FAO,


2018), a preocupação com a segurança alimentar e o comprometimento cada vez mais claro em
relação à sustentabilidade ambiental estão entre os principais desafios das próximas décadas. A
produção de piscicultura, que teve seu início na atividade de pesca, encontra-se hoje em
estagnação, devido, principalmente, à super exploração dos estoques pesqueiros, acabando por
encontrar na aquicultura o recurso para a continuidade do crescimento sustentável (VIEIRA
FILHO; FISHLOW, 2017).
A aquicultura é uma das atividades na esfera produtora de alimentos e do agronegócio
que mais cresce mundialmente, por ser uma importante fonte de renda e de proteína animal,
com papel proeminente na segurança alimentar (FAO, 2011). A Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) evidencia o crescimento da aquicultura com um
recorde histórico de 110,2 milhões de toneladas, representando 80 milhões de toneladas de
peixes no mundo (US$ 231,6 bilhões), com a produção de peixes cultivados em 54,1 milhões
de toneladas (US$ 138,5 milhões). Em suma, a produção global aquícola ultrapassará a
produção de peixes de captura nos próximos anos e as espécies de água doce, como carpa e
tilápia, serão responsáveis pela maior parte do aumento da produção e representarão cerca de
60% em 2025 (FAO, 2016).
Neste contexto, o setor conferiu ao Brasil um crescimento de 4,5%, com o total de
722.560 toneladas de peixes de cultivo em 2018 (PEIXE BR, 2019). Devido ao clima propício,
grande disponibilidade hídrica, com forte mercado interno, produção elevada de grãos e ao
empreendedorismo dos produtores.
O cultivo de tilápia (Oreochromis niloticus) é o mais importante dentre os aquícolas em
termos de volume produzido, com 400.280 toneladas, representando 55,4% da produção
nacional total de peixes de cultivo em 2018 (PEIXE BR, 2019), e, devido à diversificação de

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produtos de alta qualidade, aceitação no mercado interno com atendimento a diversos públicos,
aliado à capacidade de gerar empregos e promover o desenvolvimento (BARROSO et al.,
2018a), especula-se um forte impacto socioeconômico (BARROSO et al., 2018b).
Apresentando excelentes índices de desempenho o cultivo de tilápia, possibilitou a
expansão para muitas regiões do país. É uma espécie onívora que aceita facilmente vários tipos
de alimentos, apresenta boa rusticidade, fácil domínio da sua reprodução e com bom rendimento
de filé (SCHULTER; VIEIRA FILHO, 2017). Trata-se de um peixe com características
singulares, quanto à adaptação em diferentes sistemas de cultivo e regiões geográficas, com
grande persistência a alterações ambientais (BARROSO et al., 2018a), resistência à doenças e
tolerância por altas densidades, o que a tornou rapidamente a espécie preferida e mais
empregada nos diferentes sistemas de produção, além de ser muito apreciada pelos
consumidores por apresentar carne de excelente qualidade e sem espinhas intramusculares
(FIGUEIREDO JÚNIOR; VALENTE JÚNIOR, 2008).
A piscicultura está presente em todo o território nacional e a liderança da região Sul dá-
se principalmente devido ao pioneirismo, ao crescimento e à vocação para a produção agrícola
dos estados, atingindo o total de 198.600 toneladas em 2018, representando 27,5% da produção
nacional (PEIXE BR, 2019). Ressaltado pelo excelente desempenho, o estado do Paraná vem
comandando a produção brasileira, com 123.000 toneladas (PEIXE BR, 2019).
A cadeia da aquicultura vem se destacando nas últimas décadas, pois está inserida entre
as quatro maiores fontes de proteína animal para o consumo humano. O aumento do consumo
médio anual de peixes é 3,2% desde 1961, ultrapassando o crescimento populacional de 1,6%
(FAO, 2018), e a expectativa é que, o desempenho da piscicultura mantenha o crescimento em
2019, com aumento do consumo interno na faixa dos 10 kg/hab/ano no Brasil, enquanto a média
mundial será superior a 20 kg/hab/ano (PEIXE BR, 2019).
Contudo, ao demandar novas estratégias e alternativas para alcançar a sustentabilidade,
intensificando o cultivo, maximizando a utilização de água e nutrientes, reduzindo os impactos
ambientais e melhorando os índices produtivos (HU et al., 2015) a tecnologia do sistema de
bioflocos (BFT) tem sido promissora ao oferecer uma ferramenta tecnológica de aquicultura
sustentável, que contempla simultaneamente os aspectos ambientais, sociais e econômicos
(AVNIMELECH, 1999).
Agregando neste sentido, a tecnologia de cultivo em bioflocos ou “BFT” (da sigla em
inglês “Biofloc Technology”), é um sistema fechado de cultivo de organismos aquáticos (CRAB
et al., 2012; WASIELESKY et al., 2013) com troca mínima de água (EMERENCIANO;
GAXIOLA; CUZO, 2013), que proporciona um conjunto de benefícios ao ser aplicado na
produção aquícola, com o aspecto nutricional, pela disponibilidade contínua de alimento,
reduzindo o índice de conversão alimentar e quantidade de proteína nas rações e consequente
diminuição nos custos (CRAB et al., 2012; AVNIMELECH, 2009). Também proporciona
biosseguridade, com cultivos fechados aumentando o controle do sistema; diminuição ou
isenção da renovação de água, amortizando os custos do produtor com seu bombeamento,
minimizando a competição biológica com patógenos e a consequente inibição da atuação
destes, além de diminuir a emissão de efluentes e impactos ambientais (AVNIMELECH, 1999;
BURFORD et al., 2003); aumento da produtividade com a utilização de altas densidades de
estocagem, apresentando uma maior produção em uma menor unidade de cultivo de maior
controle, superando a dificuldade da falta de áreas para implantação de empreendimentos
aquícolas (FÜLBER et al., 2009; AVNIMELECH, 2012; HARGREAVES, 2013).

3 Procedimentos Metodológicos

Os dados utilizados nesta pesquisa foram provenientes de publicações, periódicos,


artigos científicos e fontes oficiais, como FAO (Food and Agriculture Organization of United

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Nations), Peixe BR (Associação Brasileira de Piscicultores), Embrapa (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária) e Bolsa do Peixe, além de indicadores mediante visitas técnicas, que
concederam informações referentes a preços praticados atualmente no mercado.
O estudo de análise financeira baseou-se em simulações de dados de viabilidade
econômica, considerando projeção de receitas, custos e investimentos, com o objetivo de avaliar
o sistema tendo em vista o orçamento para a implementação, a vida útil e o tempo de retorno
do dispêndio. A avaliação financeira do cultivo da tilápia-do-Nilo no sistema de BFT deu-se
por meio de previsões de investimentos em ativos, de vendas, preços, custos e despesas de
forma mais realista a acurada possível, e de indicadores de Investimento Inicial, Depreciação,
Custos Totais (custos variáveis diretos, custos variáveis indiretos, custos fixos), Receita Líquida
e Fluxo de Caixa.
`O fluxo de caixa são valores expressos monetariamente que refletem os recursos e
produtos durante um determinado horizonte de vida útil do projeto, constituído de fluxos de
saída e de entrada, formado por despesas de investimento, despesas operacionais, e pela venda
dos produtos diretos obtidos com o projeto, respectivamente. O horizonte do projeto foi
estimado em 10 anos, sendo que o investimento ocorre no ano zero e demais fluxos de entrada
e saída ocorrendo ao longo dos anos, sendo considerada uma Taxa Mínima de Atratividade
(TMA) de 15%.
Os métodos de avaliação do projeto de investimento foram: Valor Presente Líquido
(VPL), Payback, Taxa Interna de Retorno (TIR), Índice de lucratividade (IL), Payback
descontado.

3.1. Características técnicas


A espécie escolhida foi a Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus), da fase alevino até
engorda, iniciando o cultivo com 343.750 peixes (1g), na densidade de 55 peixes por m³ (LIMA
et al. 2015). Um dos componentes mais importantes para a determinação da viabilidade
econômica da produção de peixes é a densidade de estocagem, portanto Lima et al. (2015),
revelam que entre três densidades de estocagem de tilápia em sistema de biofloco (15, 30 e 45
peixes/m3) com peso médio de 123,0 ± 0,6g, 45 peixes/m3 apresentou a melhor resposta, uma
vez que foi possível atingir a maior produtividade e sobrevivência de 91%. Desta forma, a
análise da produtividade e dos custos em diferentes densidades auxilia na tomada da decisão,
podendo afetar os investimentos de produção, relacionados com as variáveis do desempenho
produtivo e do ambiente estudado (BEZERRA et al., 2014).
O ciclo de produção do sistema perdura por 9 meses (1,25 ciclos/ano), à mortalidade de
10% (PÉREZ-FUENTES et al., 2016; LIMA et al., 2015), totalizando 309.375 peixes de 800 g
ao término. A conversão alimentar média para os ciclos foi de 1,2 (LUO et al., 2014; BROL et
al., 2017) com ganho de biomassa de 270.500kg/ciclo e consumo da ração de 330.000kg/ano.
A quantidade de peixes para despescas no fim do ano permanece em torno de 386.719 (309.375
kg/peixe) e a despesca mensal totaliza com 42.969 peixes (34.375 kg de peixe). A produção é
escalonada de tal maneira que a utilização das 12 estufas, vai aumentando de acordo com a
produção e demanda.

3.2. Plano Financeiro


O plano financeiro foi criado com o objetivo de calcular qual o investimento necessário
para iniciar as atividades do projeto.

3.2.1 Investimento Inicial


Em termos monetários, o investimento inicial representa a quantidade aplicada ao
projeto piscícola, ao longo de sua vida útil, composto pelo projeto e licenciamento ambiental,
compra do terreno, despesas na construção dos tanques, construção civil, instalações

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complementares, equipamentos e outros, somado a um total de R$ 655.559,00, conforme
mostra a tabela 1.

Tabela 1 - Dados de Investimento Inicial da implantação do sistema de BFT


Item Quant. Valor un. (R$) Valor total (R$)
Projeto 1 5.000,00 5.000,00
Licenciamento Ambiental 1 4.000,00 4.000,00
1. Terreno - -
1.1 Aquisição do terreno (ha) 1 40.000,00 40.000,00
2. Construção civil - - -
2.1 Casas de bombeamento (16m²) 1 13.000,00 13.000,00
2.2 Rede Elétrica (m²) 290 26,00 7.540,00
2.3 Rede Hidráulica (m²) 2.300 18,33 42.159,00
3. Tanque - -
3.1 Geomembrana (m²) 5.000 40,00 200.000,00
3.2 Estufa m² 5.000 30,00 150.000,00
3.3 Soprador 6 2.000,00 12.000,00
3.4 Aerotube (m) 1.500 40,00 60.000,00
3.5 Monge 6 2.000,00 12.000,00
3.6 Construção dos viveiros (h máquina) 120 180,00 21.600,00
3.7 Construção dos canais 12 180,00 2.160,00
3.8 Comportas 12 3.500,00 42.000,00
4. Equipamentos - - -
4.1 Oxímetro 1 5.000,00 5.000,00
4.2 pHmetro 1 500,00 500,00
4.3 Gerador de energia (25Kva) 1 25.000,00 25.000,00
5. Outros 1 10.000,00 10.000,00
5.1 Treinamento dos funcionários 8 450,00 3.600,00
Total 655.559,00
Fonte: Elaborada pelos autores (2019)

Trata-se de um projeto de aquisição por um agricultor, que possui uma área de 1 ha de


terra, no valor de R$ 40.000,00, este podendo variar o preço de acordo com a região específica
(INCRA, 2017). A área produtiva é constituída de casa de bombeamento e 12 estufas em
operação, com dimensões de 415 m³/cada, alocadas em tanques escavados protegidos com
geomembranas, compostos de monges e comportas para controle de entrada e saída de água.
Para aperfeiçoar os resultados utiliza-se equipamentos para controle de qualidade da água,
como oxímetro e pHmetro, sopradores e aerotubes para constante aeração dos viveiros,
permanentemente ligados à energia elétrica ou gerador, como garantia do funcionamento
permanente.
Mediante uma equipe de funcionários capacitados e treinados, os administradores do
negócio devem estar em constante especialização, participando de treinamento, cursos de
capacitação, seminários, congressos, promovendo assim maiores oportunidades de
aperfeiçoamento, sob a supervisão de profissionais altamente qualificados.

3.2.2 Custos Fixos (CF)

Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-
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Os valores marcados como custos fixos são formados basicamente pela mão-de-obra do
empreendimento, um total de R$ 198.000,00/ano, fracionado entre um gerente de operação,
com salário mensal e encargos de R$ 5.000,00; 5 servidores gerais diurnos, ao custo de R$
1.500,00/mês; 2 guardas noturnos, assalariados com R$ 2.000,00 mensal; totalizando em 8
funcionários com jornada de trabalho 8 h/dia.

3.2.3 Custos Variáveis Direto (CVD)


São todos os dispêndios efetivos em dinheiro, para a operacionalização do
empreendimento: insumos, manutenção dos equipamentos, etc. Para o insumo ração,
considerou-se a alimentação quatro vezes ao dia, de acordo com as exigências nutricionais da
fase do peixe, ao valor médio de R$ 1,80/kg da ração (BOLSA DO PEIXE, 2019). Alevinos
foram estimados ao valor do milheiro de R$ 120,00, (BOLSA PEIXE, 2019). O preço da
energia é significante no custo do cultivo, totalizando R$ 225.000,00/ano e a água com R$
5.000,00/ano. Como fonte de carbono foi escolhido o melaço para proporcionar um aumento
na relação C:N, para que assim ocorra a reciclagem dos nutrientes do sistema e formação do
bioflocos, Avnimelech (1999), representando um custo de R$ 5.000,00/ano. O Custo Variável
Direto (CVD) totalizou em um gasto de R$ 1.032.612,50/ano, de acordo com a tabela 2.

Tabela 2 - Dados do Custo Variável Direto do sistema de BFT


Item de despesa Quant. Unidade Valor Unitário (R$) Valor Mensal (R$) Valor Anual (R$)
Ração 33.0000 kg 1,80 61.875,00 742.500,00
Alevinos 343.750 un. 0,12 4.296,88 51.562,50
Análises em geral 1 - 300,00 31,25 375,00
Calcário 2.000 kg 0,05 9,38 112,50
Luz 300.000 kW 0,60 18.750,00 225.000,00
Água 10.000 l 0,40 416,67 5.000,00
Melaço 2.000 kg 2,00 416,67 5.000,00
Combustível gerador 100 L 4,50 46,88 562,50
Outros 1 - 2.000,00 208,33 2.500,00
Total 1.032.612,50
Fonte: Elaborada pelos autores (2019)

3.2.4 Custos Totais (CT)


A depreciação do negócio é marcada pelo custo necessário para substituir os bens de
capital quando tornados inúteis pelo desgaste físico ou perda de valor tecnológico, como os
materiais adquiridos para a construção e execução do empreendimento, em um total de R$
32.722,95/ano.
Por fim, CT, sendo o somatório de todos os custos para elaboração e comercialização
do produto e o gasto total do empreendimento, com os fatores de produção de CF e CVD e
custo de depreciação dá-se o montante de R$ 1.263.335,45.

3.2.5 Rendimento
O preço da tilápia para o produtor varia conforme a região principalmente devido ao
preço do custo de produção, mas também de acordo com o canal de venda, por fim adotou-se
ao mercado com preço de R$ 4,65/kg (BOLSA PEIXE, 2019), rendendo anualmente R$
1.438.593,75 e mensalmente o valor de R$ 159.843,75.

4 Resultados e Discussão

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A viabilidade econômica da aquicultura é decisiva para os agricultores, uma vez que
fornece dados fundamentais para o processo de tomada de decisão e a implementação de ações
gerenciais para a sustentabilidade do negócio (MUNOZ; BARROSO, 2018), identificando os
itens mais relevantes e parâmetros que influenciam em sua rentabilidade (BRABO et al., 2013).
Na análise econômica é apropriado gerar o levantamento das entradas e saídas, ou seja, os
gastos envolvidos no investimento inicial, manutenções, assim como a receita gerada durante
determinado intervalo de tempo, obtendo-se, dessa forma, o fluxo de caixa financeiro, o que
permite o cálculo dos indicadores econômicos obtidos com a atividade (ARAÚJO et al., 2011).
A produção e seus coeficientes são informações fundamentais para realizar análises
relevantes da estrutura da cadeia de valor (SCHULTER; VIEIRA FILHO, 2017) e para tanto
baseou-se nos fatores de viabilidade econômica com as variáveis de um cenário, nominado
realista: preço de mercado (PM): R$ 4,65; conversão alimentar (CAA): 1.2; densidade (D): 55
(px/m3) para estimar a viabilidade do empreendimento, como apresenta a tabela 3.

Tabela 3 - Simulações de cenário realista para o sistema BFT


Indicadores Cenário realista
Investimento (R$) - 655.559,00
Receita (R$) 1.438.593,75
TMA (%) 15
Período (anos) 10
VPL (R$) 59.792,94
TIR (%) 17
PAYBACK (anos) 4,60
Índice de lucratividade (R$) 1,09
PAYBACK descontado (anos) 8,39
Fonte: Elaborada pelos autores (2019)
Parâmetros: TMA: Taxa Mínima de Atratividade; VPL: Valor Presente Líquido; TIR: Taxa Interna de Retorno.

O projeto apresentou-se rentável e atraente, baseando-se na TIR 17% acima da TMA,


VPL positivo igual a R$ 59.792,94, mostrando que o empreendimento carece de pouco mais de
4 anos e meio para pagar o capital investido e o período de 8 anos para recuperar o investimento
inicial. Segundo García-Ríos et al. (2019) o sistema de bioflocos apresenta vantagens sobre a
cultura tradicional por melhorar os indicadores econômicos, da mesma forma, Luo et al. (2014)
acreditam pela análise parcial do custo de produção, que é mais rentável cultivar tilápia usando
BFT do que usando água clara.
Contudo, observam-se custos maiores de investimento inicial, sendo compensado pela
maior produtividade em comparação aos sistemas convencionais. Portanto, há necessidade de
superar alguns desses gargalos a fim de prosseguir com o desenvolvimento, havendo mudanças
institucionais que suportem e apoiem o segmento produtivo e toda a cadeia de produção,
inclusive com investimentos em ciência e tecnologia (SCHULTER; VIEIRA FILHO, 2017).
Para a piscicultura ser uma atividade inserida em um mercado que geralmente se
aproxima da competição perfeita, no qual o preço não é passível de ser formado por
piscicultores individuais, resta incluir o controle de gestão dos custos de produção, uma vez
que estes são fundamentais na lucratividade ou não do sistema produtivo (GERASSEV et al.,
2013), em sistemas intensivos de criação de peixes a alimentação é o fator que representa a
maior parte dos custos de produção, neste projeto pode se observar que a ração representa cerca
de 71,9% dos custos variáveis diretos de produção (Figura 1).

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Figura 1 - Custo Variável Direto (CVD) para o sistema BFT

Fonte: Elaborada pelos autores (2019).

A energia elétrica é indispensável para manter os flocos em suspensão no sistema, por


meio da movimentação de água, como também para o incremento de oxigênio dissolvido, tendo
o segundo maior custo do projeto. Contudo, para a manutenção do ecossistema com menores
custos operacionais, é necessário desenvolver produções mais sustentáveis, com o uso de fontes
de energia renováveis e “limpas” (energia solar e eólica), tornando uma nova alternativa para
usos energéticos que ganham cada vez mais importância no quesito ambiental.

5 Conclusões

Pode-se considerar que o sistema de BFT é economicamente exequível, tendo em vista


que o retorno dos investimentos ocorrerá do quarto para o quinto ano, com Valor Presente
Líquido de R$ 59.792,94 e Taxa Interna de Retorno de 17%. Trata-se de um empreendimento
de produção em grande escala, com alta produtividade em pequena área de cultivo com maior
controle, gerando um menor impacto ambiental, devido a diminuição da renovação de água e
redução da quantidade de proteína nas rações pela disponibilidade de alimento natural.
A ração e energia elétrica possuem maior participação dos custos do sistema, tornando-
se itens relevantes para a gestão do sistema de produção, sendo necessário desenvolver
pesquisas com estudos tecnológicos com enfoque produtivo e ambiental, para assim reduzir os
valores de produção podendo vender esse produto a um preço mais acessível ao consumidor
final.

6 Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001, Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM), Campus Palmeira das Missões.

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Viabilidade financeira: uma análise para a implantação de estufas de
morangos semi-hidropônicos em uma propriedade de Mato Castelhano/RS

Financial viability: na analysis for the implantation of semi-hydroponic


strawberry greenhouses in a property of Mato Castelhano/RS

Kátia Rocha1, Denise Carvalho Tatim2, Morgana Secchi3, Marcelo Pellegrini4

Resumo
A produção e comercialização de morangos possuem relevância socioeconômica, o qual pode ser cultivado em
diversos sistemas de produção. Dessa forma, o estudo tem como objetivo realizar uma análise de viabilidade
financeira da produção de morangos semi-hidropônicos em uma propriedade rural com 3 hectares, localizada na
cidade de Mato Castelhano/RS. Em termos metodológicos, foi realizada uma pesquisa descritiva, quantitativa,
com coleta de dados primários e secundários. Também, foram entrevistados três produtores de morangos que
possuem estás estufas a fim de conhecer a realidade da atividade e o nível de satisfação com a produção, bem
como as informações necessárias para a análise da implantação do empreendimento junto à Embrapa. Os dados
do estudo revelaram que para a construção de quatro estufas de 315 m² cada, obteve-se um custo de R$ 9.201,60,
com 2.400 mudas e com produção de 1.920 kg por ciclo de 90 dias, tendo uma receita de R$ 15.360,00 por estufa,
ou seja, um total de R$ 61.440,00. Assim, com 4 ciclos de produção no ano, têm-se uma receita anual de R$
245.760,00. Além do mais, foi realizada a análise de risco do investimento, onde constatou-se que a atividade é
viável financeiramente, pois apresentou valor presente líquido positivo, correspondente a R$ 395.771,84 e taxa
interna de retorno de 336,29 %. Conclui-se, que é uma atividade economicamente viável, pois apresenta um
retorno do investimento já no primeiro ano de produção.
Palavras-chave: investimento, morangos, qualidade de vida, semi-hidropônicos, viabilidade.

Abstract
The production and commercialization of strawberries have socioeconomic relevance, which can be grown in
different production systems. Thus, the study aims to conduct a financial viability analysis of the production of
semi-hydroponic strawberries in a rural property with 3 hectares, located in the city of Mato Castelhano / RS. In
methodological terms, a descriptive, quantitative research was performed with primary and secondary data
collection. Also, three producers of strawberries were interviewed who have these greenhouses in order to know
the reality of the activity and the level of satisfaction with the production, as well as the information needed to
analyze the implementation of the enterprise with Embrapa. The study data revealed that for the construction of
four greenhouses of 315 m² each, a cost of R $ 9,201.60 was obtained, with 2,400 seedlings and a production of
1,920 kg per cycle of 90 days, with a revenue of R $ 15,360.00 per kiln, that is, a total of R $ 61,440.00. Thus, with
4 production cycles in the year, there is an annual revenue of R $ 245,760.00. In addition, the investment risk
analysis was carried out, where it was verified that the activity is financially viable, as it presented positive net
present value, corresponding to R $ 395,771.84 and an internal rate of return of 336.29%. It is concluded that it
is an economically viable activity, since it presents a return on investment already in the first year of production.
Key-words: investment, strawberries, quality of life, semi-hydroponics, viability.

1 Introdução

1
Tecnólogo em Agronegócio pela Universidade de Passo Fundo. E-mail: kati.teixeira96@gmail.com
2
Professora da Universidade de Passo Fundo na Faculdade de Ciências Econômicas Administrativa e Contábeis (Feac).
Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). E-mail: tatim@upf.br
3
Mestranda em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAdm) da Universidade de
Passo Fundo (UPF). MBA em Administração Estratégica e Inovação de Negócios (UPF). Bacharel em Administração (UPF)
E-mail: 124166@upf.br
4
Mestrando em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAdm) da Universidade de
Passo Fundo (UPF). Tecnólogo em Agronegócios (UPF). E-mail: 150087@upf.br

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No Brasil, a cultura do morango desempenha importante papel socioeconômico, pois
está presente em vários estados sendo geralmente desenvolvida em pequenas propriedades, com
elevada geração de empregos (GOUVEA et al., 2009). No Rio Grande do Sul, o cultivo do
morango apresenta acentuada relevância, pois, além de ser a principal fonte de renda de muitas
famílias, é atividade econômica consolidada e tradicionalmente direcionada para produzir e
atender demandas de consumo in natura e da industrialização (LAZZAROTTO;
FIORAVANÇO, 2011).
A produção da fruta no Estado é direcionada para consumo in natura nas regiões do
Vale do Caí e Serra Gaúcha, e para industrialização na região de Pelotas (PAGOT, 2004;
MADAIL, 2008). Segundo o Censo Agropecuário de 2006 do IBGE de morango, na região de
Pelotas, a produção foi de 836 toneladas, na qual se destacam os municípios de Pelotas, Turuçú
e São Lourenço do Sul (IBGE, 2014).
Uma das espécies de maior sensibilidade a pragas e doenças, o morango é altamente
exigente em práticas culturais desde o plantio até a pós-colheita (GOUVEA et al., 2009). Desta
forma, surgem opções de sistemas alternativos de produção, como é o caso do sistema semi-
hidropônico (LAZZAROTTO; FIORAVANÇO, 2011). Esse sistema de cultivo semi-
hidropônico (CSHR) está dentre uma das tecnologias de produção da fruta, realizado em estufa
plástica com ferti-irrigação localizada e dirigida ao substrato de cultivo, no qual o investimento
inicial é relativamente maior, se comparado ao sistema convencional de cultivo
(LAZZAROTTO; FIORAVANÇO, 2011).
O morangueiro é uma planta herbácea estolonífera, com caule semi-subterrâneo,
conhecido como coroa (GOUVEA et al., 2009). A coroa apresenta um tecido condutor
periférico em espiral nos dois sentidos unido às folhas, e a medula é proeminente e muito
suscetível às geadas (BETTI, 2000). Uma alternativa para contornar esse problema é produzir
morangos em ambiente protegido onde é limitado o ataque de pragas e doenças da parte aérea
(GOUVEA et al., 2009). Neste caso, o morango é produzido em substrato artificial sem
contaminação por fungos fito patogênicos e com fertirrigação (LAZZAROTTO;
FIORAVANÇO, 2011). Esta alternativa é de grande importância para os produtores, pois
assegura a rentabilidade da atividade reduzindo a demanda de agrotóxicos na cultura, pois o
cultivo protegido também evita a ocorrência de chuvas, geadas e, em locais com invernos mais
rigorosos, da neve, sobre as plantas (ANTUNES; REISSER, 2007).
Nesse sentido, pode triplicar o potencial de uso da área de terra, existe a tendência de
reduzir os custos de mudas pelo aumento das safras com a mesma planta estabelecida (BETTI,
2000). Ainda há a considerável redução no uso de fertilizantes, pois os excessos da ferti-
irrigação são reaproveitados e voltam ao sistema fechado de nutrição das plantas, evitando o
lançamento destes compostos químicos no ambiente (ANTUNES; REISSER, 2007).
Portanto, este trabalho tem como objetivo analisar a viabilidade na implantação de uma
estufa de morangos semi-hidropônicos em uma propriedade rural familiar localizada na cidade
de Mato Castelhano/RS. Nessa propriedade, tem-se estufas para produção de orgânicos (alface,
legumes e verduras), pensando em inovar e gerar novas fontes de renda, os proprietários estão
de acordo em dedicar-se à produção de morangos em substratos. Sendo assim, o estudo
justifica-se pela necessidade dos proprietários em inovar, apesar dos benefícios do cultivo semi-
hidropônico, é necessário realizar uma análise de viabilidade econômica dessa atividade, para
verificar se compensa ou não investir (LAZZAROTTO; FIORAVANÇO, 2011).

2 Referencial Teórico

A seguir será apresentado o referencial teórico que serviu de base para a realização desse
estudo, o cultivo de morangos semi-hidropônicos e as ferramentas de análise para a viabilidade
financeira.
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2.1 Cultivo de Morangos Semi-hidropônicos

O cultivo de morangos tem se expandido pelo país ao longo dos anos, da mesma forma,
vem sendo valorizado em função do avanço tecnológico em criação de novas variedades,
técnicas de manejo e produção (PAGNAN; MONEGAT, 2015). Novas variedades juntamente
com tecnologias como gotejamento, fertirrigação, cobertura plástica e manejos biológicos
permitem maior qualidade na produção e oferta do produto no mercado durante o ano inteiro
(PAGNAN; MONEGAT, 2015).
No cultivo de morangos, tem sido constante a busca pela inovação para facilitar e
melhorar a vida do produtor (GONÇALVES et al., 2014). Como exemplo, pode ser citada a
produção de morangos cultivados em substratos, ou também conhecida como cultivo semi-
hidropônico, sendo que, as experiências de diversos produtores ao longo dos anos
possibilitaram adaptações quanto à estrutura e forma de colocação das slabs, travesseiros ou
sacos que contém os substratos (GONÇALVES et al., 2014). Observou-se que deixando as
plantas todas no mesmo nível, recebem luz de forma uniforme, melhor ventilação facilitando
assim, o manejo e a colheita (PAGNAN; MONEGAT, 2015).
Para uma boa cultura neste sistema, conforme Pagnan e Monegat (2015), são
indispensáveis alguns fatores como luminosidade, ventilação e nutrição. A luz auxilia a planta
a adquirir energia, a maior parte é adquirida através da fotossíntese, outra parte menor provém
de nutrientes extraídos do solo (GONÇALVES et al., 2014). A estufa deve ser bem ventilada
de preferência estar com as laterais abertas para baixar a temperatura interna, pois o calor
permite a atração de ácaros nas plantas (PAGNAN; MONEGAT, 2015). Já, a planta deve ser
bem nutrida, inicialmente o substrato deverá ser mantido úmido permitindo que a planta
desenvolva novas raízes (PAGNAN; MONEGAT, 2015).
O sistema semi-hidropônico vem sendo introduzido nas maneiras de cultivo por
proporcionar um melhor controle da cultura, como pragas, doenças, economia de água,
comparando-o ao cultivo em solo, cultivo fora de época (ANTUNES; REISSER, 2007). Na
casa de vegetação tem-se uma melhor proteção de intempéries climáticas e se diferencia dos
demais sistemas de cultivo por ser uma alternativa aprimorada, a qual utiliza porções de
substratos, alocados em bancadas, sem manter contato com o solo, e com sistema de irrigação
interno, o que facilita a organização das plantas, diminui o espaço utilizado para as plantações,
e otimiza o monitoramento de doenças e deficiências nas plantas (GONÇALVES et al., 2014).

2.2 Gestão Financeira e Econômica Rural

Atualmente o controle e gerenciamento das propriedades rurais tem se tornado mais


prático, devido a adaptação de ferramentas tecnológicas simples é possível acompanhar e
controlar as despesas e investimentos realizados na atividade produtiva e apurar as receitas
provenientes desta (NORONHA, 2007). Um grupo de pesquisadores da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) obteve os primeiros resultados de um estudo desta
modalidade em Acrelândia, no estado do Acre, em junho de 2016. Através do registro semanal
de informações (despesas, receitas e investimentos) em planilhas eletrônicas, o agricultor pode
compreender as finanças de sua propriedade (EMBRAPA, 2016).
Para uma gestão financeira eficaz, é preciso atender as necessidades da propriedade com
adequada aplicação dos recursos financeiros, sempre evitando desperdícios e oscilações
aquisitivas (EMBRAPA, 2016). Além de se conhecer o ramo da atividade rural, é fundamental
manter o controle da movimentação dos recursos já que o capital é base de um negócio
(EMBRAPA, 2016). A área financeira da propriedade rural recebe os reflexos de todas as

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atividades desempenhadas na produção, comercialização e recursos humanos e afeta
diretamente toda decisão estratégica e operacional (NORONHA, 2007).
Para Crepaldi (1998), existem dois ciclos dentro de uma Empresa Rural, sendo o
econômico que se refere ao período entre a aquisição dos insumos e a venda dos produtos
agrícolas, e o financeiro que corresponde ao prazo que transcorre entre as saídas e entradas do
caixa. Sendo assim, é através de uma análise econômico financeira que o gestor poderá superar
crises e traçar estratégias seguras de crescimento (CREPALDI, 1998). Já, para Antunes e Engel
(1996) além da terra, todo o dinheiro que for utilizado para aquisição de insumos ou para
pagamento da mão-de-obra, contém um custo de oportunidade, pois é capaz de gerar
rendimentos quando aplicado em outras atividades produtivas ou no mercado financeiro.
O custo de oportunidade se torna o lucro que se teria com este montante de capital
investido no mercado de capitais, ao invés de aplicado nas atividades produtivas (ANTUNES;
ENGEL, 1996). Para, Antunes e Crepaldi (1996), esta análise pode ser realizada através das
seguintes informações: montante de capital investido; prazo de duração da atividade até
começar a dar retorno econômico; taxa de juros que se obteria sobre este capital se aplicado no
mercado financeiro.
Investimento é o montante que foi de fato investido na atividade da empresa, tendo sua
origem em recursos de terceiros disponíveis no mercado, como empréstimos e financiamento,
ou capital dos sócios (NETO, 2012). Já para Bodie et., al (2000) um investimento é o
comprometimento atual de dinheiro ou de outros recursos na expectativa de colher benefícios
futuros. Uma importante medida de desempenho de um negócio ocorre ao se comparar o
retorno esperado que os ativos são capazes de gerar num certo período; e o custo de recursos
alocados para seu financiamento (ANTUNES; CREPALDI, 1996).

2.3 Viabilidade Econômica

Segundo Hoffmann (1987), a avaliação econômica de um empreendimento através da


viabilidade é demonstrada conforme:
• Receita Bruta (RB): é o valor anual referente ao que foi obtido no processo de
produção, multiplicado pelo preço.
• Custo Variável (CV): compõe os custos que variam de acordo com a produção.
• Margem Bruta (MB): indica o grau de intensificação de um sistema de produção. A
Margem Bruta representa a sobra operacional do projeto, a qual se obtém subtraindo o valor
dos custos variáveis do valor das receitas.
MB = RB – CV
• Custo Fixo (CF): é representado pelos custos que não apresentam variação conforme
a produção, assim sendo, independentes quanto à produção.
• Custo Total (CT): compreende a soma dos custos variáveis e dos custos fixos:
CT = CV + CF
• Renda Líquida (RL): representa o resultado econômico líquido do projeto. O que irá
remunerar o empreendedor é a parte do valor bruto gerada no projeto.
RL = MB – CT
Lucratividade é a análise oriunda de diversas medidas possíveis para o lucro, como o
lucro bruto, lucro operacional próprio, lucro líquido e as vendas líquidas (BRUNI, 2011).
Algumas pessoas podem confundir lucratividade com rentabilidade, pois podem achar que um
negócio com lucro maior está com uma situação financeira superior (HOFFMANN, 1987). A
lucratividade jamais deve ser observada individualmente, é preciso analisar também o giro,
relação entre volume de vendas e investimento realizado (BRUNI, 2011).
Dessa forma, quando o VPL for maior do que zero, atesta-se que o investimento é viável,
pois ele é capaz de remunerar e garantir o capital investido de forma satisfatória (BRUNI,
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2011). Se ele for igual a zero, o resultado é indiferente, pois prova que o investimento não
representará nem lucro e nem prejuízo de capital (BONA, 2016). Ele não paga um “prêmio de
risco” frente ao custo de oportunidade (HOJI, 2007). Porém, quando o VPL for menor que zero,
conclui-se que o investimento é inviável, porque os seus rendimentos futuros não serão
suficientes para entregar uma rentabilidade acima do custo de oportunidade (BONA, 2016).
A TIR, ou Taxa Interna de Retorno, é outra forma utilizada para a análise de
investimentos (HOJI, 2007). Ela é a taxa de desconto que iguala o VPL a zero, fazendo com
que todas as entradas de capital igualem todas as aplicações (HOJI, 2007). Sendo assim, ela
complementa a análise de valor presente líquido e reflete os rendimentos reais proporcionados
por um investimento em um determinado período (BONA, 2016).
Com isso o critério utilizado para a aceitação ou não de um investimento passa a ser o
seguinte: se a TIR for maior que o taxa de retorno desejada, o investimento é lucrativo, caso
contrário, o investimento é considerado inviável (BONA, 2016).
3 Procedimentos Metodológicos

Este estudo apresenta uma pesquisa descritiva, quantitativa, com objetivo de analisar a
viabilidade financeira da produção de morangos semi-hidropônicos. Foram coletados dados
primários por meio de entrevistas com proprietários das estufas de morangos estudadas, a fim
de conhecer a realidade da atividade econômica e o nível de satisfação com a produção.
Também, foram coletados dados secundários como pesquisas no site da Embrapa e outras
fontes especializadas no assunto.
Para Gil (2010), a análise de dados varia de acordo com a natureza dos documentos
utilizados. Há pesquisas que utilizam principalmente dados quantitativos disponíveis em
tabelas, gráficos, ou bancos de dados. Sendo assim, nesse estudo a análise dos dados se deu de
forma quantitativa, a partir dos indicadores da base teórica referentes à análise de viabilidade
econômica e financeira, para analisar se é ou não viável a implantação.

4 Resultados e Discussão

A seguir será apresentado uma breve contextualização sobre a produção de morangos no


sistema semi-hidropônico e a análise financeira desse estudo.

4.1 Localização da propriedade e custos para produção de cada estufa

A propriedade está localizada na cidade de Mato Castelhano no estado do Rio Grande


do Sul- Brasil, com aproximadamente 3 hectares de área, onde foram construídas 4 estufas com
315 m² (10,5 de largura x 30 de comprimento). Os ambientes protegidos são os que propiciam
um microclima adequado ou próximo ao ideal para o desenvolvimento dos morangos. As
estufas são grandes para cobrir várias bancadas, com túneis altos, construídas com madeira e
cobertas com plástico nas partes de cima, na frente, atrás e nas laterais.
Foram feitas bancadas em um nível construídas sobre palanques de sustentação, a 1 m
de altura acima do solo, espaçados entre si em 3 m. Sobre estes palanques foram fixadas
travessas e ripas, que sustentam as embalagens com os substratos e o sistema de irrigação. Entre
as bancadas há um espaço que permite que sejam feitos manejos, tratos culturais e a colheita
das frutas, com distância entre si de 0,8 m. Também há um espaço de 1 m, para circulação, no
início e no final da estufa.
O sistema de bancada oferece uma distribuição de energia solar mais uniforme às
plantas, o que pode levar os frutos a terem excelente sabor quando maduros. Segue, na Tabela
1 os custos para produção de cada estufa.

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Tabela 1 – Custos para produção de cada estufa
Quantidade Descrição Custos (r$)
Irrigação
1 Filtro de disco 1” (com frete) R$ 90,00
240 Distribuidor 4 saídas 4 l/h R$ 96,00
240 Gotejadores de 4 l/h (un.) R$ 144,00
130 Tubos polietileno 16 mm (1/2 pol.) R$ 93,60
200 Micro tubo PVC flexível 3*5 (m) R$ 138,00
950 Estacas para vaso (ponteiras) R$ 190,00
1 Bomba ½ CV R$ 200,00
2 Reservatórios 500 l. R$ 142,00
1 Filme tubular 0,31*400 m. (rolo) R$ 242,00
Gastos com peças para irrigação hidráulica R$ 500,00
Subtotal R$ 1.835,60
Estufas
65 Filme plástico UV 3 m, 100 mc R$ 208,00
100 Filme plástico UV 4 m R$ 350,00
55 Filme plástico UV 2,20 m R$ 140,00
110 Corda poliéster (m) R$ 66,00
15 Pregos 17x27 (kg) R$ 15,00
7 Pregos 18x30 (kg) R$ 10,00
65 Tela nylon verde R$ 117,00
Subtotal R$ 906,00
Madeira
27 Palanques de eucalipto R$ 500,00
Tábuas R$1.330,00
Guias R$ 500,00
Subtotal R$ 2.330,00
Mudas
2.400 Mudas de morangueiro R$ 480,00
Slabs, substratos, insumos R$ 3.650,00
Subtotal R$ 4.130,00
Total R$ 9.201,60
Fonte: Conforme pesquisa (2019)

Percebe-se, que na Tabela 1, o custo total é de R$ 9.201,60 para construir cada estufa,
sendo que, o maior custo tem destaque nas compras de mudas, insumos, totalizando um valor
de R$ 3.650,00. Entretanto, o menor custo está na parte das telas, fios, pregos que serão
utilizados para compor as estufas, com custo de R$906.00.

4.2 O sistema semi-hidropônico

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O sistema semi-hidropônico é bastante utilizado na Europa, onde é preferido por
possibilitar a melhor utilização do espaço na pequena propriedade (EMBRAPA, 2016). No
Brasil, porém, é necessário definir alguns componentes tecnológicos para otimizar o retorno ao
produtor e à sociedade (EMBRAPA, 2016).
Conforme, Embrapa (2016), apresenta-se algumas vantagens claras frente ao sistema
convencional, tais como:
• o produtor não precisa fazer rotação das áreas de produção, prática necessária
para reduzir a podridão de raízes no sistema de túneis baixos. Dessa forma, chega a triplicar o
potencial de uso da área de terra;
• em prateleiras, com diferentes níveis, otimiza a área de produção;
• o manejo da cultura pode ser realizado em pé, o que favorece a contratação de
mão-de-obra;
• cada novo ciclo de produção é estabelecido com a troca do saco plástico e do
substrato a cada dois anos, o que auxilia na redução da incidência e do alastramento de
podridões na cultura; se essas ocorrerem, elimina-se somente o saco infectado e não toda a área
de produção;
• o sistema protege as plantas do efeito da chuva e facilita a ventilação, condições
que impedem o estabelecimento de doenças;
• como há menor pressão de doenças, o uso de pesticidas pode ser substituído por
práticas culturais, uso de agentes de controle biológico e produtos alternativos, reduzindo
drasticamente o risco de contaminação dos frutos, sem afetar a rentabilidade da produção;
• permite a produção de frutas com maior qualidade e menor perda por podridão;
• o período da colheita pode ser estendido em, pelo menos, dois meses;
• o sistema facilita a adoção de princípios de segurança dos alimentos,
possibilitando a maior aceitação dos morangos pelo consumidor.

4.3 Receita e Resultado da Viabilidade

No sistema semi-hidropônico, com 2.400 mudas, temos uma produção de 1.920 kg por
ciclo, de 90 dias. Assim, cada planta produz, no mínimo, 0,8 kg, que vendido ao mercado por
R$ 8,00 o kg, nos dá uma receita de R$ 15.360,00 por estufa, um total de R$ 61.440,00 das
quatro, sendo 4 ciclos de produção no ano, temos uma receita anual de R$ 245.760,00. Abaixo,
segue Tabela 2 que será apresentada a viabilidade para as produções das estufas.
Tabela 2 – Viabilidade da produção de estufas
Descrição Período 0 Período 1 Período 2 Período 3 Período 4 Período 5
+ Receitas 245.760,00 245.760,00 245.760,00 245.760,00 245.760,00 245.760,00
(-) Custos variáveis - (50.000,00) (50.000,00) (50.000,00) (50.000,00) (50.000,00)
(-) Custos fixos - (8.000,00) (8.000,00) (8.000,00) (8.000,00) (8.000,00)
(-) Depreciação (9.000,00) (9.000,00) (9.000,00) (9.000,00) (9.000,00)
Prédio - (9.000,00) (9.000,00) (9.000,00) (9.000,00) (9.000,00)
Máquinas - - - - - -
Lucro Operacional
= Tributável 178.760,00 178.760,00 178.760,00 178.760,00 178.760,00
(-) Tributos - (2.681,40) (2.681,40) (2.681,40) (2.681,40) (2.681,40)
Lucro Líquido
= Operacional 176.078,60 176.078,60 176.078,60 176.078,60 176.078,60
(+) Depreciação - 9.000,00 9.000,00 9.000,00 9.000,00 9.000,00
FCO (Fluxo de
= Caixa Operacional) - 185.078,60 185.078,60 185.078,60 185.078,60 185.078,60

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(+/-) Investimento
ou desinvestimentos
em equipamentos 45.000,00 - - - - -
(+/-) Investimento
ou desinvestimentos
em capital de giro 10.000,00 - - - - -
FCL (Fluxo de
= Caixa Livre) 55.000,00 185.078,60 185.078,60 185.078,60 185.078,60 185.078,60
CUSTO DE CAPITAL 30%
VPL 395.771,84
TIR 336,29%
Fonte: Conforme pesquisa (2019)

Dessa forma, a Tabela 2 apresenta uma receita anual de R$ 245.760,00, sendo que, será
produzido 4 ciclos de estufas no ano. Assim, será obtido um VPL (Valor presente líquido) de
R$ 395.771,84 e um TIR de R$ 336,29%, sendo, muito viável para a propriedade.

5 Conclusões

O presente estudo teve como objetivo realizar uma análise de viabilidade financeira da
produção de morangos semi-hidropônicos em uma pequena propriedade rural localizada na
cidade de Mato Castelhano/RS. Percebe-se que gosto pela produção orgânica motivou um casal
de agricultores a investir nesse diferente nicho de mercado. A produção de morangos em
substratos, conforme percebido ao longo das entrevistas não é ainda uma produção totalmente
orgânica, pois ainda hoje é utilizado pela família nas estufas, adubos químicos na fertirrigação.
Dessa forma, a produção da família é sem agrotóxicos, pois o controle de pragas e
doenças é realizado com produtos biológicos. Entretanto, a família almeja alcançar o título de
produção orgânica e isto se dará quando for realizada a troca da adubação química por esterco
fervido e biofertilizantes. De forma geral, pode-se inferir que o sistema de produção de morango
semihidropônico avaliado neste estudo apresentou níveis de eficiência econômica e de
viabilidade financeira satisfatórios, tanto em condições determinísticas como de incertezas.
Portanto, conclui-se, que é uma atividade totalmente viável e que trará bons retornos
financeiros à família de produtores, é um investimento de retorno à curto prazo e que trará uma
melhoria de vida aos mesmos, pela facilidade de manejo, produção e colheita do produto. Nesse
sentido, também é interessante estudar o marketing das estufas de morangos, em como agregar
valor ao produto, por ser uma fruta de boa aceitação e praticamente se vender pelo seu visual.
Uma outra sugestão de atividade seria produzir outros produtos com o morango ou até mesmo
industrializá-lo.

Referências

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Anais de Palestras e Resumos do IV Simpósio Nacional do Morango e III Encontro de Pequenas
Frutas e Frutas Nativas do Mercosul. Pelotas, Embrapa Clima Temperado, 2008.

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BRUNI, Adriano Leal. A Análise Contábil e Financeira. São Paulo: Editora Atlas, 2011.

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HOFFMANN, R. et al. Administração da empresa agrícola. 7. ed. São Paulo: Pioneira, 1987.
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LAZZAROTTO, J. J.; FIORAVANÇO, J. C. Produção de morango em sistema


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NORONHA, Rodrigo Campos. Administração Financeira da Empresa Rural. Disponível


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PAGOT, E. Diagnóstico da produção e comercialização de pequenas frutas. In:


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A pecuária e o efeito estufa: uma revisão bibliométrica sobre a pegada de
carbono no Brasil

Livestock and the Greenhouse Effect: A Bibliometric Review about the


Carbon Footprint in Brazil
Gabriela Aparecida de Souza1 e Thiago José Florindo1

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campus Chapadão do Sul, Rod. MS 306, km 105, Chapadão do
Sul, MS, Brasil

Resumo
O aumento do consumo de carne no mundo é um fator muito importante, uma vez que este produto é produzido
através da pecuária, uma das maiores responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera.
Consequentemente, com o aumento da demanda a produção tende a aumentar e com ela as emissões. O objetivo
principal dessa revisão bibliométrica é apresentar o estado da arte das pesquisas que abordam a temática pegada
de carbono e emissão de GEE na atividade pecuária no Brasil. Esta pesquisa foi estruturada pelo protocolo de
declaração PRISMA, onde foi realizado uma ampla busca em três plataformas de dados, depois analisados e
selecionados os artigos que melhor se enquadravam no objetivo da pesquisa. Ao todo foram selecionados 18
artigos sobre o tema, com concentração de publicações entre os anos de 2015 a 2017. Os resultados obtidos neste
trabalho contribuem para investigadores da área obtenham uma visão geral do estado da arte dos estudos
relacionados ao tema, deixando caminho aberto para investigações futuras e para o investimento em meios de
produção mais sustentáveis.

Palavras-chave: pegada de carbono, revisão bibliométrica, emissão de gases do efeito estufa, avaliação do ciclo
de vida.

Abstract
The increase in meat consumption in the world is a very important factor, since this product is produced through
livestock, one of the biggest contributors for the emission of greenhouse gases (GHG) in the atmosphere.
Consequently, with the demand increases, the production tends to increase and with it the emissions too. The main
objective of this bibliometric review is to present the state of the art of research that deals with the theme carbon
footprint and GHG emission in the livestock activity in Brazil. This research was structured by the PRISMA
declaration protocol, where a broad search was performed in three data platforms, after which the articles that
best fit the research objective were analyzed and selected. In all, 18 articles were selected on the subject, with a
concentration of publications from 2015 to 2017. The results obtained in this work contribute to researchers in
the area to obtain an overview of the state of the art of studies related to the theme, leaving open way for future
research and investment in more sustainable means of production.

Keywords: carbon footprint, bibliometric review, greenhouse gas emission, life cycle assessment.

1 Introdução

O crescimento da demanda de carne bovina mundialmente, o qual, segundo estimativas


da FAO pode aumentar em aproximadamente 70% até o ano de 2050 tem gerado pressão a
cadeia produtiva, já que o setor é responsável por grande parte das emissões de gases de efeito
estufa (GEE) antropogênicas mundiais (RUVIARO et al. 2015). O Brasil é o segundo maior
produtor de carne bovina do mundo e um dos maiores exportadores, sendo esse setor uma parte
muito importante da economia do país. A maior parte da produção é realizada em pastagens,
possuindo aproximadamente 170 Mha (IBGE, 2014) e a atividade é concentrada na região Norte
e Centro-Oeste do Brasil (CERRI et al., 2016).

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O maior desafio é aumentar a produção para atender o aumento da demanda e reduzir
as emissões deste setor, sendo somente possível se houver um uso eficiente dos recursos e
desenvolvimento na produtividade. Para diminuir as emissões todos os fatores devem ser
analisados, não somente a produção animal, mas todas as atividades correlacionadas com a
produção, como insumos para alimentação animal, desmatamento de novas áreas para formação
de pastagens, queima de combustível, etc. Uma das principais metodologias para essa
mensuração é a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), uma vez que aborda todo o processo
possibilitando atribuir impactos diretos e indiretos a atividade (SIQUEIRA e DURU, 2016).
Uma alternativa para o melhoramento dessa atividade seria a rotatividade de culturas,
auxiliando no melhoramento da pastagem e da fertilidade do solo, graças ao acumulo de matéria
orgânica. Para o Brasil essa proposta seria muito adequada, já que o clima tropical do país
auxiliaria o aperfeiçoamento do processo. Segundo Follett e Reed (2010) e Neely et al., (2009)
um pasto produtivo pode expandir os volumes de carbono no solo. Outra opção seria os sistemas
integrados que é a concentração de duas atividades na mesma área (SALTON et al., 2014).
Considerando a relevância da atividade e os possíveis impactos ocasionados, o
objetivo desse trabalho é realizar uma revisão bibliométrica das pesquisas que mensuraram a
pegada de carbono no Brasil utilizando a ACV, apontando possíveis soluções para o
aprimoramento desse setor.

2 Referencial Teórico

Nos últimos anos, a discussão sobre mudanças climáticas tem gerado preocupação sobre
a forma de produção e consumo de bens. Segundo Oliveira et al. (2018), as mudanças climáticas
são foco das preocupações mudais, isso porque os desastres ambientais como tempestades,
enchentes, secas, elevação do nível do mar, eventos extremos como tornados e furacões são
eminentes. As consequências são o agravamento da fome, sede, falta de moradia, perda
económica e de áreas de produção.
Silva e Sanquetta (2017) afirmam que a constantes emissões de GEE provocarão mais
aquecimento e possuem capacidade de danificar categoricamente o ambiente natural e
prejudicar a economia mundial, criando uma esmagadora crise global que afetara a segurança
futura do mundo. Nesse sentido, a avaliação do ciclo de vida (ACV) é um método que
possibilita um estudo qualitativo e quantitativo dos impactos causados pelos produtos, não
somente durante o processo de produção, mas por todo o período de vida do produto, como a
aquisição de matéria-prima e energia utilizada para todo o ciclo de produção. A ACV é feita em
quatro fases diferentes: definição de objetivo e escopo, análise de inventário do ciclo de vida,
avaliação de impactos ambientais e interpretação (OLSZENSVSKI, 2011). Se a pegada de
carbono de um produto ou serviço, contribui significativamente ao impacto ambiental global,
dessa forma, reduzir a emissão de carbono é uma forma de minimizar o impacto ambiental.

3 Procedimentos Metodológicos

Esse estudo é caracterizado como uma revisão bibliométrica, estruturado pelo protocolo
da declaração PRISMA (MOHER et al.,2009). Araújo (2006) define a bibliometria como uma
técnica quantitativa estatística para quantificação dos índices de produção e disseminação do
conhecimento científico.

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3.1 Questão da pesquisa

O principal objetivo dessa investigação foi constatar o estado da arte da pegada de


carbono na pecuária de corte no Brasil. Para melhor compreensão, esse estudo foi dividido em
cinco sub-questões:

 Em quais regiões brasileiras foram conduzidos os estudos?


 Qual a unidade funcional utilizada?
 Qual foi a abrangência da investigação (escopo)?
 Quais são as fases de produção de maior contribuição?
 O que se pode fazer para reduzir as emissões?

3.2 Critérios de inclusão e fontes de informação

A seleção dos trabalhos que se enquadram na pesquisa é um fator muito importante,


sendo fator primordial para responder de maneira clara as questões da pesquisa. O critério de
seleção utilizado para análise foi exclusivamente estudos voltados para pegada de carbono e
emissões de gases do efeito estufa no setor pecuário no Brasil e publicações publicadas em
inglês. Os trabalhos estudados foram selecionados nas plataformas Scopus, Science Direct e
Web of Science, sendo a definição destas bases de dados por cunho interdisciplinar e
abrangência na literatura cientifica sobre o tema pesquisado.
A investigação teve início em fevereiro de 2019, sendo selecionados publicações entre
os anos de 2011 até maio de 2019. Como publicação inicial temos o artigo “Inclunding carbon
emissions from deforestation in the carbon footprint of brazilian beef” de Cederberg (2011),
porém na busca inicial não foi estipulada nenhuma data específica, por tanto, não houve nenhum
outro estudo antes de 2011 que se enquadrasse na proposta do trabalho.

3.3 Forma de busca e seleção

Para realização das buscas nas base de dados foram empregadas as seguintes sentenças:
“livestock”, “greenhouse gases emission”, “carbon footprint” e “Brazil”. Neste trabalho
foram selecionados 213 artigos, primeiramente os estudos selecionados foram agrupados em
somente artigos, após ler os artigos coletados e realizar a análise destes ocorreu a retirada dos
que não se enquadravam na proposta da pesquisa (Figura 1).

Figura 1 – Representação da seleção da base de dados e a classificação desta de acordo com


os critérios de classificação.
Número de artigos classificados

Web Of Science (ISI) Scopus Science Direct


89 88 36

Número de artigos após exclusão de duplicados: 119

Satisfazem os critérios de seleção: 18 Excluídos por não se enquadrarem: 101

Fonte: Desenvolvidos pelos autores.

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4. Resultados e Discussão

Após a avaliação de 119 trabalhos, foram selecionados 18 trabalhos que se enquadraram


na busca da investigação. Dessa forma, na figura 2 é apresentado a frequência de publicações
durante o ano de 2011 até o ano de 2019.

Figura 2 - Frequência das publicações por ano dentro do período estudado.

Número de publicações por ano


6
5
4
3
2
1
0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Fonte: Desenvolvidos pelos autores.

De acordo com os dados, no ano de 2011 só houve um trabalho relacionado ao tema e


que nos próximos dois anos não houve nenhuma publicação similar. Em 2014 tivemos mais um
artigo, em 2015 foram publicados cinco trabalhos na área e mais dois no ano seguinte, em 2017
houve mais cinco trabalhos, em 2018 houve um e em 2019 três. Com isso, vemos que os anos
onde houve uma maior atividade de pesquisa na área foi 2015 e 2017. A figura 3 apresenta o
número de publicações por revista, com base nisso podemos determinar qual revista possui a
maior frequência de publicação na área da pesquisa.

Figura 3 - Número de publicações por revista

Livestock Science
Animal Science and Pastures
Science of the Total Environment
Agriculture,Ecosystems and Environment
Agricutural Systems
Animal Science
Scientific reports
Ecological Indicators journal
Inderscience Enterprises Ltd.
Environmental Science&Technology
Journal of Cleaner Production

0 2 4 6 8
Numero de Publicações

Fonte: Desenvolvidos pelos autores.

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A revista com o maior número de publicação é a Journal of Cleaner Production, com
sete dos dezoito artigos classificados, em segundo lugar está a Agricutural Systems, com duas
publicações, já as nove revistas restantes possuem o total de um trabalho na área. Em relação à
abrangência da pesquisa, dentro dos dezoitos estudos selecionados, dezessete foram realizados
exclusivamente no Brasil, enquanto que um dos trabalhos abrangeu o Brasil, Argentina e
Uruguai. De acordo com Desjardins et al. (2012) a forma predominante de cultivo de gado varia
de país para país, em países mais desenvolvidos por exemplo geralmente a indústria bovina
utiliza o método de confinamento para produção, alguns também abatem o animal mais novo.
A figura 4 apresenta a as regiões onde foram realizados os estudos, e o número de pesquisa por
região.

Figura 4 - Número de publicações por região.

0
Sul Sudeste Centro – Oeste Norte Nordeste

Numero de estudos

Fonte: Desenvolvidos pelos autores (2019).

A figura demostra que a região com maior número de estudos foi a do centro-oeste, com
sete das dezoito publicações, seguida da região sul com quatro, depois o norte e o sudeste com
três pesquisas cada e ao final a região nordeste com uma investigação. Um dos estudos realizado
por Cerri et al. (2016) no Mato Grosso do Sul selecionou 22 fazendas responsáveis por 78950
cabeças de gado. A figura seis mostra o tipo de unidade funcional utilizadas nos trabalhos
classificados e o número de artigos de cada unidade. A unidade funcional mais utilizada foi a
de 1 kg de peso vivo no portão da fazenda, utilizada em quinze das dezoito publicações, depois
desta a segunda maior utilizada foi a de 1 kg de carcaça animal apresentada em dois antigos, e
em uma das pesquisas o autor não deixa claro a unidade funcional utilizada. Na figura 5 é
apresentado o método de cálculo da pegada de carbono utilizado nos estudos.

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Figura 5: Número de publicações por método utilizado.

Outros

ACV com IPCC

Somente IPCC

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Fonte: Desenvolvidos pelos autores (2019).

A figura sete demonstra que o método entérico mais utilizado foi o IPCC
(Intergovernmental Panel on Climate Change), sendo a categoria ‘outros’ a segunda com maior
frequência. Nessa categoria destacam-se a utilização da avaliação do ciclo de vida junto com
outros métodos, plano de controle ambiental (PCA), entre outros. O terceiro com mais
utilização foi a utilização da ACV junto com o protocolo do IPCC, utilizado em três das
pesquisas selecionadas. Alguns dos estudos classificados atribuem como a fase de maior
contribuição de emissões o período de gestação animal. Além disto, grande parte das fazendas
pesquisadas utilizam pastagem e suprimento mineral na dieta dos animais, algumas também
complementavam a alimentação com grãos como soja. Ademais, o peso médio de abate dos
animais nas fazendas estudadas era de 465 quilos. Segundo Florindo et al. (2018) a carne
produzida na Austrália e vendida no Estados Unidos apresenta entre 29% a 50% mais impacto
do que a carne produzida no local onde foi realizado seu estudo, isso é mostra que o Brasil tem
potencial para diminuir suas emissões e que pode se tornar um exemplo para outros países no
setor pecuário, para isso é necessário a criação de políticas públicas e o investimento em
tecnologia.

Conclusão

Com o crescimento do consumo de carne bovina no mundo, o crescimento da produção


animal para atender essa demanda deve ser realizado de forma adequada, utilizando sistemas
mais intensivos que possibilitem maior eficiência no processo de produção e
consequentemente, redução nas emissões, caso contrário, esse aumento de produção pode
resultar em um grande impacto no aquecimento global.
Esse papel apresenta uma revisão bibliométrica realizada utilizando o protocolo
PRISMA para apresentar o estado da arte de trabalhos que abordam a temática pegada de
carbono e emissões de gases do efeito estufa na atividade pecuária no Brasil.
Atualmente a pecuária de corte é um dos setores com maiores contribuições para o efeito
estufa, por tanto, é de extrema importância pesquisar e criar políticas públicas que auxiliem na
diminuição de emissões deste setor. Dentro dos estudos classificados foi sugerido algumas
sugestões para a redução das emissões durante o processo de produção, como por exemplo a
utilização de pastagens mais produtivas que podem aumentar os estoques de carbono do solo,
um dos maiores sumidouros de carbono terrestre. Além disto, o melhoramento genético é outra

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alternativa para melhorar a eficiência da produção e reduzir as emissões de gases do efeito
estufa na atmosfera.

Referencias

ARAÚJO, Carlos Alberto. Bibliometria: evolução história e questões atuais. Em Questão, Porto
Alegre, v. 12, n. 1, p. 11-32, jan./jun. 2006.
Cederberg, Christel & Martin Persson, U & Neovius, Kristian & Molander, Sverker & Clift,
Roland. (2011). Including Carbon Emissions from Deforestation in the Carbon Footprint of
Brazilian Beef. Environmental Science & Technology. 45. 1773-9. 10.1021/es103240z.
CERRI, Carlos Clemente et al. Assessing the carbon footprint of beef cattle in Brazil: a case
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DE FIGUEIREDO, Eduardo Barretto et al. Greenhouse gas balance and carbon footprint of
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FLORINDO, Thiago Jose et al. Carbon footprint and Life Cycle Costing of beef cattle in the
Brazilian midwest. Journal of cleaner production, v. 147, p. 119-129, 2017.
FLORINDO, Thiago José et al. Improving feed efficiency as a strategy to reduce beef carbon
footprint in the Brazilian Midwest region. International Journal of Environment and
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MODERNEL, Pablo et al. Identification of beef production farms in the Pampas and Campos
area that stand out in economic and environmental performance. Ecological indicators, v. 89,
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OLIVEIRA, Patrícia Perondi Anchão et al. Produção de carne carbono neutro: um novo
conceito para carne sustentável produzida nos trópicos. In: Embrapa Pecuária Sudeste-
Artigo em anais de congresso (ALICE). In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO DE

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RUMINANTES NO CERRADO, 4., Uberlândia, MG. Anais... Uberlândia, MG: FAMEV UFU,
2018., 2018.
OLSZENSVSKI, Francieli Tatiana et al. Avaliação do ciclo de vida da produção de leite em
sistema semi extensivo e intensivo: estudo aplicado. 2011.
RUVIARO, Clandio F. et al. Carbon footprint in different beef production systems on a southern
Brazilian farm: a case study. Journal of Cleaner Production, v. 96, p. 435-443, 2015.
SALTON, Julio C. et al. Integrated crop-livestock system in tropical Brazil: Toward a
sustainable production system. Agriculture, Ecosystems & Environment, v. 190, p. 70-79,
2014.
SILVA, B.E.n, SANQUETTA, C.R. Análise da contribuição nacionalmente determinada (ndc)
brasileira em comparação aos países do BRICS. Revista Presença Geográfica, vol. VI, num. I,
2017
SIQUEIRA, Tiago TS; DURU, Michel. Economics and environmental performance issues of
a typical Amazonian beef farm: a case study. Journal of cleaner production, v. 112, p. 2485-
2494, 2016.

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Análise da eficiência energética em sistemas agroflorestais
biodiversos no Brasil
Analysis of energy efficiency in biodiverse agroforestry systems in Brazil
Gabrielli do Carmo Martinelli1 Caroline Conteratto2 Elen Presotto*3 Patrícia Batistella**3
Resumo
O atendimento a demanda mundial de alimentos é apontado como um dos principais desafios do século. No
entanto, a exigência vai muito além do aumento da produção. É necessário que a intensificação da produtividade
satisfaça as dietas alimentares das gerações atuais e futuras, e que além disso, a eficiência energética, os serviços
ecossistêmicos e a biodiversidade dos sistemas produtivos mantenham-se equilibrados. Neste cenário, o sistema
agroflorestal surge como uma alternativa integrada e sustentável de otimizar os recursos naturais no manejo
produtivo, buscando reduzir os impactos negativos causados pela exploração ineficiente do uso da terra. Assim,
este estudo objetivou mensurar o desempenho energético de cinco sistemas agroflorestais biodiversos da região
Sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul, no bioma Cerrado. Para isso, calculou-se os fluxos energéticos
referente a produção de alimentos em um hectare de sistema agroflorestal. Os resultados demonstraram que a
utilização de práticas agrícolas integradas, como o SAF proporcionam um ganho significativo na intensidade
energética, ainda, o coeficiente de Energia Líquida (𝜋), foi de 19932,3 𝑀𝑗ℎ𝑎 −1 SAF (I), 433963,2 𝑀𝑗ℎ𝑎 −1 SAF
(II), 140440 𝑀𝑗ℎ𝑎−1 SAF (III), 236341 𝑀𝑗ℎ𝑎−1 SAF (IV) e 261794 𝑀𝑗ℎ𝑎 −1 SAF (V), logo, todos os valores de
π > 1. Portanto, a produção por meio de boas práticas de manejo, como o sistema de rotação, contribui não só para
a eficiência energética, mas também por otimizar insumos promove a conservação dos serviços ecossistêmicos e
a biodiversidade.
Palavras-chave: Bioeconomia; ecologia; diversidade produtiva; resiliência; agroflorestal
Abstract
Meeting the world food demand is singled out as one of the major challenges of the century. However, the
requirement goes far beyond the increase in production. Productivity enhancement needs to meet current and
future generations' food diets, and that energy efficiency, ecosystem services and biodiversity of production
systems must remain balanced. In this scenario, the agroforestry system emerges as an integrated and sustainable
alternative to optimize natural resources in productive management, seeking to reduce the negative impacts
caused by inefficient use of land. Thus, this study aimed to measure the energy performance of five biodiverse
agroforestry systems in the Southwest region of the state of Mato Grosso do Sul, in the Cerrado biome. For this,
we calculated the energy flows related to food production in one hectare of agroforestry system. The results
showed that the use of integrated agricultural practices such as SAF provided a significant gain in energy intensity,
and the Net Energy coefficient (π) was 19932.3 𝑀𝑗ℎ𝑎−1 SAF (I), 433963.2 𝑀𝑗ℎ𝑎 −1 SAF (II), 140440 𝑀𝑗ℎ𝑎 −1
SAF (III), 236341 𝑀𝑗ℎ𝑎−1 SAF (IV) and 261794 𝑀𝑗ℎ𝑎−1 SAF (V), thus all values of π > 1. Therefore, production
through good management practices, such as the rotation system, contributes not only to energy efficiency, but
also to optimize inputs, promotes the conservation of ecosystem services and biodiversity.
Keywords: Bioeconomics; ecology; productive diversity; resilience; agroforestry
1 Introdução
Dentre as inquietudes da sociedade moderna, relacionadas ao meio ambiente, é evidente
a preocupação em relação as alterações climáticas decorrentes do aumento da atividade
antropogênica (Foley et al., 2011). Tal preocupação aumenta na medida em que, a agricultura
torna-se cada vez mais dependente do uso de energia para a produção de alimentos: tendo em
vista que os sistemas alimentares consomem aproximadamente 30% de toda energia disponível
(Kazemi et al., 2016; FAO, 2012). Apesar da demanda por recursos de energia renovável estar
aumentando, a grande parte dos processos produtivos ainda depende muito de energias não
renováveis.
O setor agrícola contribui com aproximadamente 24% de todas as emissões de GEE
(Gases de Efeito Estufa), além disso, tende a degradar a áreas destinadas a produção. Porém,
ao mesmo tempo, é importante destacar que o modelo predominante de agricultura, baseado

1Doutoranda, Universidade Federal da Grande Dourados; E-mail: <gabrielli_martinelli@hotmail.com>.


2Mestranda, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; E-mail: <carolineconteratto@hotmail.com>.
3Doutoranda, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; E-mail:<elenpresotto@yahoo.com>*; E-mail:
<patríciabatistella@rocketmail.com>**.
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em monocultivo intensivo, em grandes escalas territoriais costuma-se utilizar insumos externos
a propriedade de maneira excessiva, principalmente, quando se trata da produção de
commodities agrícolas, ocasionando a perda da biodiversidade (Guillaume et al., 2018).
Todavia, ocorre a necessidade da utilização de terras para a produção de alimentos com
intuito de alimentar a população mundial (Ibidhi et al., 2017), pois mesmo com a atual produção
e extensão territorial mundial, ainda 11% da população mundial é vítima da fome, isso totaliza
em números, cerca de 815 milhões de pessoas distribuídas por todo o mundo (FAO, 2017). Já
para as gerações futuras, o crescimento populacional demandará um aumento por alimentos
(FAO, 2016).
Desde o século XVIII previsões pessimistas sobre a falta de alimentos foram
disseminadas. Thomas Malthus em 1798, desenvolveu sua teoria sobre o crescimento
populacional, na qual a população tenderia a crescer em progressão geométrica, enquanto a
produção de alimentos em escala aritmética. A previsão de Malthus não ocorreu devido as
mudanças no processo produtivo ao longo do desenvolvimento da humanidade, como o
aumento da produtividade agrícola, controle da natalidade, desenvolvimento de tecnologia,
entre outros.
Concomitante a isso, a diversidade de culturas em um único espaço pode contribuir com
a produção de alimentos por meio da otimização energética eficiente. Nesse modelo alternativo,
haverá diminuição na utilização dos recursos naturais, evitando assim a escassez desses. Além
do mais, manterá o rendimento produtivo, para que o equilíbrio entre os efeitos ambientais e
energéticos sejam mantidos naturalmente (Moreno et al., 2010). Consequentemente, o uso
efetivo de energia na agricultura é uma das condições para a produção agrícola sustentável, uma
vez que ajuda a economizar recursos financeiros e ambientais através da substituição e redução
de combustíveis fósseis, mitigando assim a poluição ambiental (Uhlin, 1998; Mohammadi et
al., 2008).
Portanto, desperta-se o interesse e a valorização pela adoção de sistemas produtivos com
óticas divergentes e alternativas ao modelo de agricultura predominante, em que os recursos
naturais tornam-se ferramentas de produção (Tonucci et al., 2011). Diante do exposto, o
objetivo deste estudo é mensurar o desempenho energético de cinco sistemas agroflorestais
(SAF) biodiversos da região Sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul, no bioma Cerrado.
2. Referencial Teórico
O SAF é reconhecido como um modo integrado e sustentável de utilizar os recursos
naturais (Nair, 2010). O sistema emprega um conjunto de tecnologias e sistemas de uso da terra
em que espécies florestais são utilizadas em conjunto com as culturas agrícolas e ou atividades
pecuárias em uma mesma área, dentro de um arranjo espacial e ou sequência temporal. Essa
interação otimiza deliberadamente os benefícios ecológicos proporcionados por essa
diversidade (Nair, 1993; Montagnini; Nair, 2004).
As políticas públicas mundiais têm reverberado a importância em implantar sistemas
agroflorestais como uma prática agrícola do futuro. Já que essas práticas, ao mesmo tempo que
otimizam os insumos decorrentes do processo de produção, buscam também mitigar os gases
causadores de efeito estufa e promover serviços ecossistêmicos. No Brasil, um estudo elaborado
por (Costa et al., 2017) confirma esse potencial, os sistemas integrados (Lavoura Pecuária
Floresta) diminuem 55% no potencial de mudança climática, totalizando (2.389t de CO2
equivalente). Além disso, quanto mais complexo é o sistema maior são os benefícios sociais,
ademais reduzem os custos totais de produção em 51%, quando comparado aos sistemas
convencionais.
No estudo de (Mäder et al., 2002) verificou-se que a cobertura florestal resulta em
menor dependência de insumos, já (Yamamoto et al., 2019) concluiu que a ausência dessa

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cobertura nos sistemas de produção tendem a reduzir a produtividade e minimizar a controle
biológico natural, devido a ineficiência em produzir serviços ecossistêmicos.
Nesse sentido, se evidencia na literatura um número crescente de estudos que se
preocupam em mensurar a eficiência energética de monocultivos. Como exemplo, citam-se os
trabalhos em diferentes cultivos como nos sistemas orgânicos (Lee; Choe, 2019); trigo
(Taghavifar; Mardani, 2015; Mondani et al., 2017); arroz (Quilty et al., 2014; Kazemi et al.,
2015); azeitona (Gökdoğan; Erdoğan, 2018); canola (Mousavi-Avval et al., 2011; Kazemi et
al., 2016); batata doce (Flores et al., 2016) e milho (Sarauskis et al., 2014).
No entanto, ainda há carência de estudos que avaliem o fluxo energético de sistemas
integrados, encontraram-se alguns exemplos como na Itália (Sartori et al., 2005), e Alemanha
(Nerlich et al., 2013; Lin et al., 2017). Pelo visto, até onde se sabe, ainda não foi mensurada a
eficiência energética entre sistemas agroflorestais do bioma cerrado, localizados no Brasil.
3 Procedimentos Metodológicos
3.1 Caracterização da área de estudo
Para a elaboração deste estudo foram utilizadas cinco pequenas propriedades rurais
localizadas no município de Bonito, ao sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul. Tais
propriedades rurais fazem parte do assentamento Santa Lúcia. Localizado nos entornos do
Parque Nacional da Serra da Bodoquena. O munícipio de Bonito possui uma economia em que
predominam atividades econômicas de ecoturismo e agropecuárias. A população estimada da
cidade é de 21.738 pessoas, com uma extensão territorial de 4.934.318 km², ocorrendo uma
densidade demográfica de 3.97 hab/km². Seus munícipios limítrofes, Bodoquena e Miranda, ao
Norte; Aquidauana e Nioaque, à Leste; Guia Lopes da Laguna e Jardim, ao Sul; e Porto
Murtinho, ao Oeste (IBGE, 2018).
3.2 Coleta de dados
Os dados da pesquisa são de origem primária, coletados a partir de visita in loco no ano
de 2017. Como recurso, utilizou-se entrevistas semiestruturadas com auxílio de um roteiro
semiestruturado contendo perguntas abertas e fechadas a fim de verificar as principais entradas
e saídas dos sistemas agroflorestais. Além disso, é considerada a energia utilizada no processo
de produção, desconsiderando os recursos renováveis da natureza, como a radiação solar, chuva
e vento. Em resumo, as variáveis observadas nos cinco sistemas agroflorestais são: trabalho
humano, maquinário, combustível (diesel), fertilizantes químicos, fertilizantes orgânicos
(esterco bovino) água, sementes, mudas e a quantidade produzida de frutas, milho, mandioca,
feijão e cana de açúcar.
A Tabela 1 resume os equivalentes de energia definidos pela literatura e utilizados neste
estudo. Os insumos energéticos associados ao preparo de mudas, preparo do solo e o transporte
dos meios de produção estão incluídos nos equivalentes de energia, optou-se por utilizar o
megajoule (Mj unid-1) como unidade de conversão para o cálculo da energia equivalente para
cada hectare de produção nos diferentes sistemas agroflorestais observados.
Tabela 1- Equivalentes de energia para as diferentes entradas e saídas dos sistemas agroflorestais
Insumos Unidade Energia equivalente (𝐌𝐣 𝐮𝐧𝐢𝐝−𝟏 ) Fonte
Entradas
Trabalho Humano h 1,96 Yilmaz et al. (2005)
Calcário Dolomítico kg 1,7 Pelizzi (1992)
Água m³ 0,63 Yilmaz et al. (2005)
Fertilizante
Nitrogênio (N) kg 66,14 Shrestha (1998)
Fósforo (P2O5) kg 12,44 Shrestha (1998)
Potássio (K2O) kg 11,15 Shrestha (1998)
Maquinário
Trator h 62,7 Kazemi et. al (2015)

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Diesel l 56,31 Erdal et al. (2007); Sharan
et al. (2008)
Esterco bovino kg 0,30 Singh (2002)
Mudas de árvores kg 15,0 Smith et al. (2012)
Sementes de milho kg 25 Ozkan et al. (2004)
Muda de cana de açúcar kg 15,0 Ozkan et al. (2004)
Manivas de Mandioca kg 3,6 Ozkan et al. (2004)
Sementes de feijão kg 21 Awad Alla et al. (2014)
Saídas
Milho kg 14,7 Ozkan et al. (2004)
Cana de açúcar kg 1,9 Ozkan et al. (2004)
Mandioca kg 3,6 Ozkan et al. (2004)
Feijão kg 20 Awad Alla et al. (2014)
Frutas kg 1,9 Ozkan et al. (2004)
Fonte: Autores (2019).
3.3 Análise de fluxo de energia
Este estudo propõe-se a calcular a análise de fluxo energético, os coeficientes de
Eficiência Energética (Ω), Produtividade Energética (𝜌), Energia Específica (Ψ) e a Energia
Líquida (π). Para tanto, a Tabela 1 apresentada anteriormente, serve de suporte para mensurar
os coeficientes, visto que determina as conversões utilizadas no estudo.
O cálculo dos coeficientes é definido pelas equações (1), (2), (3) e (4), para tanto a
entrada de energia (𝛿𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 ) de cada um dos sistemas agroflorestais, é calculada pela
multiplicação das quantidades de cada variável pelo valor de equivalência energética, conforme
Tabela 1; o somatório da conversão das entradas em energia equivalente representa o total de
energia de entrada (∑𝑁 𝑖=1 𝛿𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 ). A produção total é o valor observado de produção em Kg/ha
𝑁
definida por ∑𝑖=1 𝛼𝑠𝑎í𝑑𝑎 . O valor da energia de saída (𝛿𝑠𝑎í𝑑𝑎 ) em 𝑀𝑗ℎ𝑎−1 é calculado pelo
multiplicação do valor total de produção (∑𝑁 𝑖=1 𝛼𝑠𝑎í𝑑𝑎 ) pelo equivalente de energia produzida
resultando em ∑𝑁 𝛿
𝑖=1 𝑠𝑎í𝑑𝑎 .
Com base nos valores de consumo energético calculados a partir das entradas, saídas e
produção de energia, é possível definir os coeficientes de Eficiência Energética (Ω),
Produtividade Energética (𝜌), Energia Específica (Ψ) e a Energia Líquida (π) para a produção
de alimentos em cinco sistemas agroflorestais no bioma cerrado, matematicamente definido
por:
∑𝑁 −1
𝑖=1 𝛿𝑠𝑎í𝑑𝑎 (𝑀𝑗ℎ𝑎 )
Ω: (1)
∑𝑁 −1
𝑖=1 𝛿𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 (𝑀𝑗ℎ𝑎 )
𝑁 −1
∑𝑖=1 𝛼𝑠𝑎í𝑑𝑎 (𝑘𝑔ℎ𝑎 )
𝜌: (2)
𝑒 ∑𝑁 −1
𝑖=1 𝛿𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 (𝑀𝑗ℎ𝑎 )
∑𝑁 𝛿
𝑖=1 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 (𝑀𝑗ℎ𝑎 −1
)
Ψ: 𝑁
(3)
∑𝑖=1 𝛼𝑠𝑎í𝑑𝑎 (𝑘𝑔ℎ𝑎 )
−1
𝑁 𝑁

π: ∑ 𝛿𝑠𝑎í𝑑𝑎 (𝑀𝑗ℎ𝑎 ) − ∑ 𝛿𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 (𝑀𝑗ℎ𝑎 −1 )


−1 (4)
𝑖=1 𝑖=1
em que, 𝑖 = 1,2, … , 𝑁;𝛿𝑒𝑛𝑡𝑎𝑟𝑑𝑎 , ∑𝑁 𝑁 𝑁
𝑖=1 𝛿𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 , ∑𝑖=1 𝛿𝑠𝑎í𝑑𝑎 e ∑𝑖=1 𝛼𝑠𝑎í𝑑𝑎 seguem as definições
apresentadas anteriormente e Ω, 𝜌, Ψ, e π são os coeficientes com os valores a serem calculados.
Intuitivamente, a Equação 1 pode ser interpretada como um Índice de Eficiência
Energética (Ω), caso o valor encontrado de Ω = 1, significa que a quantidade de energia
produzida é igual a quantidade de energia de entrada (gasto com insumos energéticos). Quanto
maior o valor encontrado maior será a Eficiência Energética da produção, ou seja, mais energia
consegue-se com menos insumos de entrada.
A Equação 2, calcula a Produtividade Energética (𝜌), em resumo, o valor de 𝜌 calculado
define quantos kg de alimentos são produzidos com cada unidade de insumo energético de

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entrada (Mj). A Equação 3, calcula a Energia Específica (Ψ) que representa o inverso da
Equação 2, ou seja, Ψcaracteriza a quantidade necessária em Mj para cada kg produzido.
Por último, a Equação 4 mensura a Energia Líquida (π) dos sistemas analisados, ou seja,
π mensura a quantidade de energia líquida obtida na produção. Se o valor de π>1 representa
ganhos de energia, o sistema foi eficiente e produz mais energia do que foi gasta com a
produção, se π=1 a energia gasta foi igual a produzida, o contrário π <1 identifica que a
produção de energia foi inferior a energia gasta para a produção.
Neste trabalho utilizou-se como base os estudos de Kazemi et al., (2015), AghaAlikhani
et al., (2013) e Demircan et al., (2006) para definir energia direta, indireta, renovável e não
renovável. Considera-se como energia direta, a energia incorporada na mão de obra e
combustível fóssil (diesel), já a energia indireta inclui sementes, mudas, esterco, produtos
químicos e maquinário. Enquanto que a energia renovável é definida pela mão de obra,
sementes, mudas e água. Logo, a energia não renovável corresponde ao combustivel fóssil
(diesel), produtos químicos, fertilizantes e maquinários.
4 Resultados e Discussões
Nesta seção, são apresentados os resultados referentes aos cinco sistemas agroflorestais
analisados no estado de Mato Grosso do Sul na cidade de Bonito. Além disso, evidenciam-se
as principais entradas (insumos) e saídas (produção) decorrentes da fase de produção desses
sistemas, considerando o preparo de mudas, solo, transporte e colheita, assim como, a eficiência
e produtividade de energia, energia específica e líquida.
Na Tabela 2 são descritas as quantidades de entradas e saídas observadas para a
produção de um hectare de cada Sistema Agroflorestal (SAF) em Mjha-1, já multiplicados pelo
fator de conversão (Tabela 1).
Tabela 2 - Quantidades de entradas e saídas em Mj ha-1 em cada sistema agroflorestal
Sistemas SAF(I) SAF(II) SAF(III) SAF (IV) SAF (V)
Unidades (Mj ha-1) % (Mj ha-1) % (Mj ha-1) % (Mj ha-1) % (Mj ha-1) %
Entradas 13494,27 100 23309,47 100 14256,75 100 21552,28 100 17199,15 100
Trabalho Humano 147,74 1 186,84 1 150,04 1 179,00 1 165,62 1
Calcário Dolomítico 2210,72 16 3401,36 15 2550,76 18 3401,23 16 2721,02 16
Água 486,48 4 910,60 4 511,43 4 825,55 4 680,4 4
Fertilizante
Nitrogênio (N) 21,82 0 40,85 0 22,94 0 37,03 0 30,52 0
Fósforo (P2O5) 14,36 0 26,89 0 15,10 0 24,38 0 20,09 0
Potássio (K2O) 7,35 0 13,77 0 7,73 0 12,48 0 10,29 0
Maquinário
Trator 282,15 2 282,15 1 282,15 2 282,15 1 282,15 2
Diesel 1970,85 15 1970,85 8 1970,85 14 1970,85 9 1970,85 11
Esterco bovino 720 5 1980 8 810 6 990 5 1170 7
Mudas de árvores 6435 48 12045 52 6765 47 10920 51 9000 52
Sementes de milho 475 4 350 2 375 3 500 2 400 2
Muda (cana de
açúcar) 0 0 1415,94 6 0 0 1698,94 8 0 0
Manivas de Mandioca 617,76 5 475,2 2 522,72 4 332,64 2 475,2 3
Sementes de feijão 105 1 210 1 273 2 378 2 273 2
Saídas 199580 100 434150 100 140590 100 236520 100 261960 100
Milho 49980 25 36750 8 39690 28 52920 22 41160 16
Cana de açúcar 0 0 19000 4 0 0 0 0 22800 9
Mandioca 46800 23 36000 8 39600 28 25200 11 36000 14
Feijão 4000 2 8000 2 10000 7 14000 6 10000 4
Frutas 98800 50 334400 77 51300 36 144400 61 152000 58
Fonte: Autores (2019).
Os resultados da Tabela 2 mensuram os valores de produção e de utilização dos insumos
em cada SAF. Cabe salientar, que o SAF(I) e o SAF (V) possuem a mesma quantidade de anos

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de existência (10), o mesmo período de cultivo é um atrativo que os torna semelhantes e
comparáveis.
O SAF (I) utilizou 13494,27 Mjha-1 em insumos e produziu 199580 Mjha-1, deste valor
destacam-se a produção de frutas com a maior representatividade (50%), seguida de milho
(25%) e mandioca (23%). Ao se considerar os gastos com os insumos para este sistema,
percebe-se um impacto maior na produção de mudas (48%), seguida de calcário (16%) e diesel
(15%).
Semelhante ao SAF (I) o SAF(V) utilizou 17199,15 Mjha-1 em insumos e produziu
261960 Mjha-1, deste último valor obteve-se uma produção destaque para três culturas: frutas
com maior representatividade (68%), seguida de milho (16%) e mandioca (14%). Do mesmo
modo, os gastos energéticos com os insumos gastos para produção, destacam-se o consumo
com a produção de mudas (52%), seguida de calcário (16%) e diesel (11%). Percebe-se que
em valores absolutos, o SAF (V) produziu mais energia (261960 Mjha-1) que o SAF (I) (199580
Mjha-1), os mesmos possuem características semelhantes entre os gastos e culturas que mais
impactaram.
Os outros três SAFs (II), (III) e (IV) são analisados separadamente, em função da
diferença de período de cultivo entre os mesmos. O SAF(II) utilizou 23309,47 Mjha-1 em
insumos e produziu 434150 Mjha-1, deste valor destacam-se a produção de frutas 77% do total
de energia produzida, seguida de milho e mandioca (8%). Os gastos energéticos com insumos,
percebe-se um maior empenho com a produção de mudas 52%, seguida de calcário (15%),
diesel e esterco (8%).
Ao relacionar os resultados dos cinco sistemas, apesar de serem empregados diferentes
períodos e cultivos, possuem um comportamento, até o presente momento em análise,
semelhante. A medida que, se evidencia uma maior participação na produção de energia, em
todos os SAFs pelas frutas e de gasto com insumos a maior participação é com a produção de
mudas. Do mesmo modo, o manejo de culturas com uma menor dependência de energia não-
renovável é fundamental para o aumento da eficiência energética e a redução da dependência
de recursos fósseis (Woods et al., 2010).
Os gastos com insumos, principalmente o de combustíveis fósseis, como exemplo o
diesel, não se revelaram como tendo participação expressiva de gasto de energia alternando
entre 15% à 8% entre os SAFs. Ao contrário disto, dependendo o sistema de cultivo, com dados
aplicados no Reino Unido, os gastos com insumos energéticos de fonte primária como o
petróleo podem variar de 30% a 75% (Woods et al., 2010).
A Tabela 3 sintetiza os coeficientes calculados de Eficiência (Ω) e Produtividade (ρ)
Energia Específica (Ψ) e Liquida (π) para cada SAF, configurando-se como base na análise de
fluxo de energia. De modo unânime, todos os SAFs, possuem eficiência energética em função
de apresentarem o coeficiente Ω >1, ou seja, produzem mais energia do que consomem na
produção. Por consequência deste resultado, ao se analisar o coeficiente de Energia Líquida 𝜋,
tem-se o valor de 19932,3 𝑀𝑗ℎ𝑎 −1 em SAF (I), 433963,2 3 𝑀𝑗ℎ𝑎 −1em (II), 140440 3
𝑀𝑗ℎ𝑎 −1em (III), 236341 3 𝑀𝑗ℎ𝑎 −1em (IV) e 261794 3 𝑀𝑗ℎ𝑎 −1em (V), logo, todos os valores
de π >1. Estes resultados são semelhantes aos encontrados por Jianbo (2006) que analisou e
comparou dois sistemas agroflorestais na China e constatou que os mesmos apresentam maior
eficiência energética e também melhores benefícios financeiros para os agricultores.
A importância destes resultados, como o de alcançar a eficiência energética em todos os
SAFs está ligada a inúmero motivos, além do uso eficiente de recursos tem-se ainda benefícios
na redução do potencial de mudança climática e de custos de comparado ao sistema
convencional (Costa et al., 2017).
Tabela 3- Relação de entrada e saída de energia para os sistemas agroflorestais
Coeficiente SAF(I) SAF(II) SAF(III) SAF (IV) SAF (V)
𝛀 14,78 18,62 9,86 10,97 15,23
𝛒 5,08 𝑘𝑔/𝑀𝑗 −1 8,53𝑘𝑔/𝑀𝑗 −1 2,88 𝑘𝑔/𝑀𝑗 −1 4,05 𝑘𝑔/𝑀𝑗 −1 6,12 𝑘𝑔/𝑀𝑗 −1
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Ψ 0,19 𝑀𝑗/𝑘𝑔−1 0,11 𝑀𝑗/𝑘𝑔−1 0,34 𝑀𝑗/𝑘𝑔−1 0,24𝑀𝑗/𝑘𝑔−1 0,16 𝑀𝑗/𝑘𝑔−1
𝛑 199432,3 𝑀𝑗ℎ𝑎−1 433963,2 𝑀𝑗ℎ𝑎 −1
140440 𝑀𝑗ℎ𝑎−1 236341 𝑀𝑗ℎ𝑎−1 261794 𝑀𝑗ℎ𝑎−1
Fonte: Autores (2019).
O valor do coeficiente 𝜌 mensura a produtividade energética, a cada unidade de insumo
de entrada, espera-se um valor de produção em Kg. Percebe-se que entre os SAF (I) e (V), o
último é mais produtivo energeticamente, produz 6,12 𝑘𝑔/𝑀𝑗 −1 no hectare observado, em
relação ao 5,08 𝑘𝑔/𝑀𝑗 −1 (SAF (I)). Essa relação, permanece verdadeira no coeficiente de Ψ, o
SAF (V) utiliza 0,16 𝑀𝑗/𝑘𝑔−1 para a área observada enquanto no SAF (I) utiliza-se 0,19
𝑀𝑗/𝑘𝑔−1 . Com estes resultados é possível dizer que entre os SAF (I) e (V), o último é mais
produtivo energeticamente e gasta menos energia para produzir 1 kg de saída do que em (I).
Enquanto que a Tabela 4 resume os resultados obtidos em função do tipo de fonte
utilizada, sendo ela direta ou indireta e renovável ou não-renovável, em porcentagem de
participação. Pelos resultados alcançados, pode-se expor que em todos os sistemas predomina
o uso de energia indireta, superior a 84%. Como definido por de Kazemi et al., (2015),
AghaAlikhani et al., (2013) e Demircan et al., (2006) a energia indireta está relacionada com a
utilização de insumos, neste estudo, o destaque se volta para a produção de mudas e do uso de
calcário.
Tabela 4- Fornecimento total de energia sob a forma de fonte direta, indireta, renovável e não renovável
em porcentagem de cada sistema
SAF(I) SAF(II) SAF(III) SAF (IV) SAF (V)
Fonte (%) (%) (%) (%) (%)
Energia Indireta 84 91 85 90 88
Energia Direta 16 9 15 10 12
Total 100 100 100 100 100
Energia Renovável 67 75 66 73 71
Energia Não Renovável 33 25 34 27 29
Total 100 100 100 100 100
Fonte: Autores (2019).
Os resultados calculados para o tipo de fonte de energia neste estudo, se assemelham a
produção de canola e de feijão-fava no Iran, mensurados por (Kazemi et al., 2016) na produção
de canola, uma vez que 59,91% da energia utilizada para a produção do grão é de energia
indireta e (Kazemi et al., 2015) em que 81,23% da energia utilizada para a produção e feijão-
fava são de fonte de energia indireta.
Os SAFs também se caracterizaram pela maior utilização de insumos com fonte de
energia renovável, superior a 66% em todos os SAFs. Neste estudo, considerou-se como energia
renovável a energia de trabalho humano, esterco, água e sementes. Tais resultados apontam
para uma relevância significativa, principalmente ligada a preocupação com as fontes de
recursos, renováveis e não-renováveis e a demanda por alimentos da geração presente e
gerações futuras, esta preocupação de estende a todos os tipos de produção conforme observado
nos trabalhos de Mohammadi et al., (2008) e Alimagham et al., (2017).
Outro aspecto importante e positivo, em relação ao resultado encontrado de maior
participação de energia renováveis nos cultivos dos SAFs, está na redução do uso de
combustíveis fósseis, Lin et al., (2017) define que o uso de energias não renováveis, depende
do sistema de cultivo, e que o mesmo tende a ser maior em cultivos mais modernos (padrões
europeus) do que se considerados a cultivos africanos, por exemplo.
Ainda, observa-se que os SAFs possuem características intrínsecas ao cultivo, com a
cobertura florestal, os sistemas tendem a aumentar a produtividade e tem garantia de uma menor
dependência de insumos (Mäder et al., 2002; Martinelli et al., 2019), está situação não se
revelou verdadeira neste estudo, pelos resultados encontrados, tem-se uma maior quantidade de
energia indireta (superior a 84% em todos os SAFs) utilizada, principalmente com o uso de
insumos (mudas, sementes, fertilizantes...), porém vale salientar que por se tratar de SAFs
grande parte dos insumos são renováveis.

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5. Conclusões
A execução deste estudo, permitiu a análise de fluxo energético entre os diferentes SAFs
do bioma Cerrado brasileiro. Os resultados obtidos foram essenciais para entender como os
diferentes SAFs analisados se comportam em relação a quantidade de insumo, origem de fonte
energética e produtividade. A metodologia utilizada para o cálculo dos coeficientes mostrou-se
eficiente em atender o objetivo que o trabalho se propõe, verificando-se diferenças e
semelhanças entre os SAFs, que estão relacionadas a questões de produtividade, anos de
cultivo, tipos de energia e outros.
As novas ferramentas como o manejo da terra, menor utilização de energia fóssil e
ganho em eficiência energética são os principais motivadores para estudos da utilização de
SAF, uma alternativa ao monocultivo, dependente de energia fóssil não-renovável, embora os
resultados encontrados são referentes aos SAFs observados, não os torna como modelos. Uma
vez que, o manejo local pode variar de acordo com o clima, solo, espécie florestal. Assim, o
comportamento dos coeficientes pode ser diferente dos apresentados por estes SAFs em função
dos períodos distintos de cultivo.
Por fim, sugere-se que estudos futuros abordem não só a eficiência energética dos
sistemas agroflorestais, mas também mensure a pegada de carbono dos mesmos. Além disso,
também deve ser explorada a análise do desempenho econômico desse tipo de prática agrícola,
pois pode promover informações importantes para os tomadores de decisões, tanto produtores
rurais, como instituições governamentais.
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207. https://doi.org/10.1016/j.worlddev.2018.10.001.
Yilmaz I, Akcaoz H, Ozkan B. An analysis of energy use and input costs for cotton production in
Turkey. Renew Energy 2005; 30: 145 e 55.

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Análise das emissões globais de CO2 a partir da
Regressão logarítmica múltipla
Analysis of global CO2 emissions from the multiple logarithmic Regression
AZEVEDO, Jenaine de 1, CAMARA, Simone Bueno 2, COSTA, Nilson Luiz3, OLIVEIRA, Sibele
Vasconcellos de 4

Resumo: O presente estudo tem por objetivo analisar o comportamento das emissões globais de CO2 no ano de
2014. Para tanto, utilizou-se das técnicas em análise multivariada, em especial, da regressão econométrica dos
Mínimos Quadrados Ordinários (MQO). Dentre os principais resultados, destaca-se que as variáveis explicativas
(produção industrial, produção de energia e crescimento populacional) explicaram em 78% as emissões de CO2.
Deste modo, para cada variação de 10% na indústria, crescimento populacional e produção de energia há um
acréscimo respectivamente de 5,3%, 8,8% e 2,5% nas variações das emissões globais de CO 2 em 2014. Todas as
variáveis explicativas apresentaram coeficientes positivos. A variável explicativa de maior significância é
relacionada ao crescimento populacional. Deste modo, entende-se que as atividades relacionadas ao
desenvolvimento econômico, como a produção industrial e de energia são geradoras de emissões de CO2.
Entretanto, a variável com maior significância no modelo é relacionada a população, e isto deve-se ao fato de
que, com o aumento da população, mais energia é gerada, mais alimentos são demandados, assim como se
aumenta o tráfego de pessoas e veículos ocasionado maiores emissões de gases de efeito estufa.
Palavras-chave: Regressão múltipla; Sustentabilidade; Desenvolvimento.

Abstract: This study aims to analyze the behavior of global emissions of CO2 in the year 2014. To this end, we
used the techniques in multivariate analysis, in particular, econometric regression Ordinary least squares
(MQO). Among the key findings is that the explanatory variables (industrial production, energy production, and
population growth) explained in 78% CO2 emissions. Thus, for each variation of 10% in industry, population
growth and energy production there is an increase of 5.3% respectively, 8.8% and 2.5% in the variations of
global emissions of CO2 by 2014. All the explanatory variables exhibited positive coefficients. The explanatory
variable of greatest significance is related to population growth. In this way, it is understood that activities
related to economic development, such as industrial and energy production are generators of CO2 emissions.
However, the variable with greater significance in the model is related to population, and this is because, with
the increase in population, more energy is generated, more foods are demanded, as well as increasing the traffic
of persons and vehicles raised higher greenhouse gas emissions.
Keywords: Multiple regression; Sustainability; Development.

1 Introdução

Com o crescente poder econômico dos países desenvolvidos, aumenta-se também o


impacto negativo das atividades produtivas sobre o meio ambiente, sendo que as principais
preocupações referem-se às emissões de gases causadores de efeito estufa (GEE), em
especial, às emissões de dióxido de carbono (CO2). Assim sendo, as mudanças climáticas
fazem parte das problemáticas ambientais mais importantes enfrentadas pela sociedade

1
Mestranda em Agronegócios, Universidade Federal de Santa Maria, Campus de Palmeira das Missões 1-
jenaineaz@hotmail.com 1
2
Mestranda em Agronegócios, Universidade Federal de Santa Maria, Campus de Palmeira das Missões-
simonebuenocamara@gmail.com
3
Professor do Programa de Pós Graduação em Agronegócios, Universidade Federal de Santa Maria, campus
de Palmeira das Missões – nilson.costa@ufsm.br
4
Professora do Programa de Pós Graduação em Agronegócios, Universidade Federal de Santa Maria, campus
de Palmeira das Missões – sibele_vasconcellos@yahoo.com

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contemporânea, em razão das preocupações com o contínuo crescimento econômico, bem
como com a implementação de sistemas de produção mais limpo e sustentável (IPCC, 2014).
Cabe mencionar que, ao longo das últimas décadas, a relação entre o consumo de
energia, o crescimento econômico e a poluição ambiental tem sido tema de intensa pesquisa
(HUNG et al., 2019). Segundo o Banco Mundial, os indicadores de qualidade ambiental se
deterioraram, principalmente a partir da década de 1960, devido ao aumento da temperatura
do planeta. Também contribui para o aumento das temperaturas médias, o crescimento das
emissões dos gases causadores do efeito estufa (SOARES; LIMA, 2013). Dentre esses gases,
a emissão de CO2 tem sido responsável por aproximadamente 57% do total. O segmento que
mais contribui para esse cenário é o de fornecimento de energia, que representa cerca de
25,9% das emissões mundiais (IPCC, 2014).
Logo, as emissões de CO2 provindas das atividades humanas são geralmente
conhecidas como um indicador-chave do provável aquecimento global. Além disso, a busca
de atividades econômicas, incluindo o consumo de combustível na geração de energia,
atividades industriais, residenciais e de transporte, contribui para as emissões de gases de
efeito estufa (DANISH; MAHMOOD; ZHANG, 2019). Fernando e Hor (2017) explicam que
o dióxido de carbono é o gás de efeito estufa mais produzido pelas atividades humanas. A
industrialização também tem sido um dos principais fatores para o aumento da produção de
CO2, principalmente através do consumo de eletricidade e da queima de combustíveis fósseis.
Assim, após a criação do protocolo de Kyoto em 1997, que visa a redução das
emissões dos GEE e o estímulo ao progresso técnico, a atenção oferecida ao meio ambiente
tem sido crescente nos países desenvolvidos, bem como entre cientistas econômicos e
políticos pertencentes à cúpula de países participantes (GUESNERIE, 2011). Uma das
principais pautas dos eventos que fomentam o desenvolvimento sustentável tem sido a
redução das emissões, a partir da substituição gradativa dos combustíveis não renováveis por
energias renováveis mais limpas, como a eólica, hidráulica e solar.
Deste modo, o dilema entre os recursos naturais e o meio ambiente faz com que os
governos ofertem subsídios não econômicos para o consumo de combustível que aumentam a
pegada de carbono da produção (DESTEK; SARKODIE, 2019). Entretanto, a discussão em
torno deste tema centra-se no fato de que o consumo de energia e o crescimento são os
principais responsáveis pelas emissões, mas a adoção de fontes de energia mais limpas
(energia renovável) pode reduzir as emissões de CO2 em pelo menos 0,4 bilhão de toneladas
até 2020 (IPCC, 2014). Do mesmo modo, o desenvolvimento de energia renovável é uma
medida importante para contornar crises de energia e obter o desenvolvimento sustentável
(FAN; HAO, 2019).
Zhang, Wang e Wang (2017), no estudo “Role of renewable energy and non-
renewable energy consumption on EKC: Evidence from Pakistan”, destacam que a emissão de
CO2 foi estimada em função do consumo de energia renovável (% do consumo total de
energia), do uso de energia (kg de óleo equivalente), do Produto Interno Bruto (PIB) per
capita, do comércio e desenvolvimento financeiro de 19 países africanos para o período de
1990 a 2014. O resultado da pesquisa demonstra que, embora a energia renovável reduza as
emissões de CO2 significantemente na África, a não renovável aumenta significativamente as
emissões de CO2 do país. Assim, os resultados esboçam que a influência do consumo de
energia renovável e não renovável nas emissões de CO2 varia de país para país em termos da
natureza da relação, a magnitude da influência e o nível de significância.
Muhammad (2019) analisou, sob este mesmo viés, 68 países (31 países desenvolvidos,
20 países emergentes e 17 países do Médio Oriente e Norte de África) nos anos de 2001 a
2017. As variáveis utilizadas foram: o consumo de energia per capita em kg de equivalente de
petróleo aplicado para consumo de energia (CE); emissões de CO2 (toneladas) per capita;
força de trabalho (LF); despesa nacional bruta (GE); desenvolvimento financeiro (FD);
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população (POP); população urbana (URB); abertura comercial (TO); desenvolvimento
financeiro bancário (FDB) e comércio de mercadorias (MTO). Com estas variáveis,
Muhammad (2019) demonstrou que a emissão de CO2 tem um efeito positivo e significativo
no crescimento econômico dos países desenvolvidos, bem como confirmou que a emissão de
CO2 tem um efeito positivo e significativo sobre o crescimento econômico. Para todas os
países o efeito de desenvolvimento econômico é o fator mais importante que resulta no
aumento das emissões. O efeito sinérgico das emissões de carbono e da intensidade de energia
são os principais fatores para o declínio nas emissões. As mudanças na população contribuem
pouco para as mudanças nas emissões. Para a maioria dos países, há espaço para a otimização
da estrutura de consumo de energia.
Dong, Yu e Pan (2019), ao analisar 30 países da China de 1999 a 2014, utilizaram a
redução de emissões de CO2 (CR), mix de energia (EM), progresso tecnológico (TP), PIB per
capita (GPC) e densidade populacional (PD) como variáveis de análise. Para todos países
amostrados, o efeito de desenvolvimento econômico é o fator mais importante que resulta no
aumento das emissões. O efeito sinérgico das emissões de carbono e do efeito de intensidade
de energia são os principais fatores para o declínio nas emissões. As mudanças na população
contribuem de forma pouco significativa para as alterações nas emissões.
Lin e Raza (2019) analisou as emissões de CO2 do setor de energia do Paquistão
durante 1978–2017 com as variáveis quantidade de emissão gerada pelo consumo de
combustível por unidade; substituições baseadas em combustível fóssil e consumo de energia;
consumo total de energia por unidade de variação do PIB; PIB per capita e população. Os
resultados de Lin e Raza (2019) revelam que o aumento na tecnologia de energia limpa
provoca queda acentuada nas emissões de CO2, enquanto o uso de combustível fóssil,
biomassa, produtividade do trabalho, o aumento nos transportes e indústrias causa um
aumento nas emissões de CO2.
Neste sentido, busca-se entender quais são as variáveis relacionados ao
desenvolvimento das economias que influenciam nas emissões de CO2 nos países globais?
Baseado nestes aspectos, o objetivo do estudo é verificar qual a influência das variáveis
produção industrial, produção de energia e crescimento populacional nas emissões de CO2 no
ano de 2014 de todos os países.

2 Procedimentos metodológicos

A presente pesquisa propõe-se a manipular modelos econométricos, compostos de


regressão múltipla, para concluir acerca do comportamento das emissões globais de CO2 no
ano de 2014. De modo geral, o modelo de Regressão Linear Múltipla (RLM) é uma técnica
econométrica utilizada para analisar a relação entre uma variável dependente e duas ou mais
variáveis independentes (HOFFMANN, 2016). Ou seja, o modelo de regressão múltipla o
conceito é de que uma quantidade das variações da variável dependente (Y) seja explicada
pelo conjunto das variáveis independentes (𝑋𝑖 , i =1, 2, ..., n), e a parcela não explicada dessas
variações é representada pelo termo de erro aleatório (𝜀) (SANTANA, 2003).
Ressalta-se que o modelo de regressão é um importante meio de análise de situações
econômicas globais, locais ou mesmo regionais, pois permite relacionar variáveis, quantificar
seus efeitos e testar as hipóteses teóricas subjacentes aos fenômenos estudados (SANTANA,
2003). Logo, o modelo geral de regressão linear múltipla, envolvendo variáveis explicativas
que podem variar no tempo é apresentado na equação (1).

𝑌𝑡 = 𝛽0 + 𝛽1 𝑋1𝑡 + 𝛽2 𝑋2𝑡 + 𝛽3 𝑋3𝑡 + ⋯ + 𝛽𝑛 𝑋𝑛𝑡 + 𝜀𝑡 (1)


em que,

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𝑌𝑡 = variável dependente;
𝑋1𝑡 , ..., 𝑋𝑛𝑡 = são as variáveis independentes ou explicativas incluídas na regressão;
𝜀𝑡 = termo de erro aleatório
𝛽0, 𝛽1, ..., 𝛽𝑛 = são os coeficientes parciais ou parâmetros de regressão múltipla a
serem estimados, em que 𝛽0 é o intercepto e os demais 𝛽𝑗 (j = 1, 2, ... , n) são as inclinações
(SANTANA, 2003; HOFFMANN, 2016). O Quadro 1 apresenta as especificidades do modelo
econométrico estimado para avaliar a emissão de CO2 no globo.
Quadro 1 - Estimação e descrição do modelo econométrico
𝑬𝒎𝒊𝒔𝒔𝒐𝒆𝒔𝑪𝑶𝟐𝒕 = 𝜷𝟎 + 𝜷𝟏 𝑰𝒏𝒅𝒖𝒔𝒕𝒓𝒊𝒂 + 𝜷𝟐 𝑷𝒐𝒑𝒖𝒍𝒂çã𝒐 + 𝜷𝟑 𝑷𝒓𝒐𝒅𝑬𝒏𝒆𝒓𝒈𝒊𝒂 + 𝜺
(2)
Variável Descrição
Emissões CO2 É o valor de toneladas totais emitidas pelos países no ano de 2014
𝜷𝟎 Coeficiente linear
β1 Indústria A atividade industrial corresponde ao valor adicionado do PIB, as quais estão as
indústrias de manufaturas e construção
β2 População A população é o número de habitantes em cada país no ano de 2014
β3 Produção de Energia Produção de energia envolve as produções de eletricidade de fontes de petróleo,
gás e carvão (% do total)
Ɛi Parcela não explicada pelas variações
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).
Esclarece-se que os dados são referentes ao ano de 2014, pois é o último ano com
dados disponíveis sobre emissões de CO2 para todos os países do mundo. Os dados foram
obtidos no sítio eletrônico do World Bank, totalizando 175 observações. Deste modo,
corrobora uma análise com Dados de Corte Transversal (cross-‑section), que são basicamente
um conjunto de dados coletados em um determinado momento. As ferramentas para análise
dos dados brutos foram primeiramente o software Microsoft Excel e os testes foram
realizados no programa estatístico Eviews8.
Evidencia-se que, no método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), busca-se a
obter a minimização da variância dos dados através da minimização da soma dos quadrados
dos resíduos. Neste mesmo viés, os sinais positivos para os coeficientes 𝛽1, 𝛽2 e 𝛽3 indica a
existência de relacionamento positivo e direto entre cada variável independente com a
variável dependente, ao contrário, o sinal será negativo e as relações serão indiretas
(SANTANA, 2003; COSTA; SANTANA; MATTOS, 2014; HOFFMANN, 2016).
Algumas propriedades das variáveis podem tornar os estimadores viesados, como
quando houver a presença de multicolinearidade, heterocedasticidade e autocorrelação
(SANTANA, 2003) e, por isto, algumas análises a partir da regressão inicial são necessárias
para corrigir o modelo. Neste contexto, o grau de multicolinearidade é auferido através fator
de variância inflacionária (FVI). Para Santana (2003), o FVI = 1 indica ausência de
combinação linear entre as variáveis explicativas e FVI > 5 denota a presença de
multicolinearidade. A equação é representada por:

1 (3)
𝐹𝑉𝐼𝑖 = 2
1 − 𝑅𝑖
No que concerne a identificação da heteroscedasticidade está pode ser através do teste
de White. O teste de heteroscedasticidade desenvolvido por White (1980) adiciona à equação
do termo de erro ao quadrado, bem como as intercepções de cada variável explicativa ao
quadrado. Assim, as estatísticas F e (LM = n*R²) podem ser utilizadas para testar a hipótese
de homoscedasticidade, as quais se não forem estatisticamente diferentes de zero ao nível de
5%, aceita-se a hipótese nula, confirmando-se que os resíduos são homoscedásticos

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(SANTANA, 2003). Deste modo, consideraram-se as relações cruzadas de todas as variáveis
explicativas (COSTA; SANTANA; MATTOS, 2014) conforme pode ser a equação abaixo:

𝜀𝑖2 = 𝜎0 + 𝜎1 log(𝑇𝑖 ) + 𝜎2 log( 𝑇2 )2 + 𝜎3 log(𝑇𝑖 ) (4)


∗ log(𝐿𝑖 ) + 𝜎4 log(𝑇𝑖 ) ∗ log(𝐾𝑖 ) + 𝜎5 log(𝐿𝑖 ) + 𝜎6 log( 𝐿𝑖 )2
+ 𝜎7 log( 𝐿𝑖 ) ∗ log(𝐾𝑖 ) + 𝜎8 log(𝐾𝑖 ) + 𝜎9 log( 𝐾𝑖 )2 + 𝑉𝑖

Em que para a hipótese nula do teste de White para a presença de heteroscedasticidade


é demonstrada pela equação:

𝐻0 : 𝜎1 = 𝜎2 = 𝜎3 = 𝜎4 = 𝜎5 = ⋯ 𝜎9 = 0 (5)
Cabe mencionar que o modelo também pode incorrer de presença de valores atípicos
ou mesmo autovalores (outliers) na regressão (SANTANA, 2003). Portanto, analisa-se a
presença ou não de outliers por meio do gráfico de resíduos.

3 Resultados e discussões

Após estimação do modelo econométrico, pode-se observar que a estatística F =


226.3470 é estatisticamente significante a 1% de probabilidade de erro, indicando que a
regressão está adequada para analisar as emissões de C02.

Tabela 1- Regressão Multivariada de Emissões de CO2


Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.
C -6.466479 0.914698 -7.069527 0.0000
Log (Indústria) 0.534294 0.217665 2.454663 0.0151
Log (População) 0.880414 0.037706 23.34976 0.0000
Log (Produção de Energia) 0.258656 0.059195 4.369574 0.0000
R-squared 0.789167 Mean dependent var 11.65177
Adjusted R-squared 0.785468 S.D. dependent var 2.483955
S.E. of regression 1.150507 Akaike info criterion 3.140875
Sum squared resid 226.3470 Schwarz criterion 3.213213
Log likelihood -270.8265 Hannan-Quinn criter. 3.170217
F-statistic 213.3565 Durbin-Watson stat 1.792249
Prob(F-statistic) 0.000000
Fonte: Elaborado a partir dos dados do Banco Mundial (2019).

O coeficiente R² ajustado 0,78 demonstra a parcela total que é explicada de emissões


de CO2 na regressão. Ou seja, em média 78,5% das variações na quantidade de emissões de
CO2 são explicadas pelas variações na produção industrial, pelo crescimento demográfico e
pela produção de energia. As probabilidades de erro mantiveram-se menores que 1,15%,
atestando que os parâmetros associados às variáveis independentes são estatisticamente
significativos ao nível de 5% de probabilidade. Assim, confirma-se a hipótese nula de que a
variável dependente pode ser explicada pelas variáveis independentes, mais o termo de erro.
Os sinais dos coeficientes da regressão estão coerentes aos resultados encontrados por
Muhammad (2019), Dong, Yu e Pan (2019) e Lin e Raza (2019), em que o consumo e a
produção de energia têm uma relação positiva com a emissão de CO2, do mesmo modo que a
produção industrial e o crescimento populacional. Estes fatores, de modo geral, são positivos
e significantes porque existe correlação positiva entre o crescimento econômico e as emissões

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de CO2. Este fato é descrito por Lopes (2018), que esclarece que o crescimento econômico,
representado pelo Produto Interno Bruto (PIB), apresenta-se como sendo um fator significante
para o aumento das emissões de CO2 globais. Deste modo, o Quadro 2 descreve as variações
entre as variáveis explicativas e as emissões de CO2 encontradas no modelo.

Quadro 2 - Resumo das elasticidades obtidas através da regressão múltipla


Indústria, População e Produção de energia = 78% das emissões de CO2
Indústria Para cada variação de 10% na indústria, há um acréscimo de 5,3%
nas variações nas emissões de CO2
População Para cada 10% de variação no crescimento populacional, há um
acréscimo de 8,8% nas emissões de CO2.
Produção de Energia Para cada 10% nas variações de Produção de energia, ocorre um
aumento em 2,5% nas emissões de CO2.
Fonte: Elaboração própria (2019).

Neste sentido, a variável de maior influência do modelo é o crescimento populacional.


Tal resultado está relacionado com o fato de que, com o aumento da população, mais energia
é gerada, mais alimentos são demandados, assim como se aumenta o tráfego de pessoas e
veículos (que tendem a gerar mais gases de efeito estufa). Baiocchi, Minx e Hubacek (2010),
através de uma análise econométrica sobre emissões de CO2 no Reino Unido, revelam que
70% são oriundas das atividades populacionais. Os autores descrevem que 358 milhões de
toneladas de emissões ocorre nas cadeias de fornecimento global de produtos consumidos no
Reino Unido, ao passo que os restantes 30% (ou 147 milhões de toneladas) é diretamente
emitida pelas famílias: 86 milhões de toneladas de CO2 através uso doméstico de energia, e 61
milhões de toneladas para abastecer veículos particulares.
Por outro lado, os estilos de vida também tendem a influenciar nas variações de
emissões. Baiocchi, Minx e Hubacek (2010) esclarecem que as famílias com maiores
condições econômicas tendem a emitir maiores emissões devido às viagens e ao maior acesso
aos bens de consumo. Entretanto, no que concerne as emissões de CO2 nas habitações, as
famílias de baixa renda são as que mais emitem CO2. Os autores também elucidam que as
emissões estão positivamente correlacionadas com o tamanho da família, ter filhos, uso à
internet, renda e educação. Hosseini et al. (2019) também revelam uma correlação positiva
entre a população e as emissões de CO2 nas economias desenvolvidas e em desenvolvimento.
Por sua vez, Lin e Raza (2019) revelam que o aumento na tecnologia de energia limpa
provoca queda acentuada nas emissões de CO2, enquanto o uso de combustível fóssil,
biomassa, produtividade do trabalho, o aumento nos transportes e indústrias causa um
aumento nas emissões de CO2. Corroborando esta tese, Lopes (2018) explica que o setor de
produção de energia é um dos setores que permite o desenvolvimento da economia ao longo
do tempo e em vários segmentos, mas também é um dos principais consumidores de energia e
emissor de CO2, sendo necessário repensar formas sustentáveis de produção.
Fan e Hao (2019), neste mesmo sentido, analisando os dados de 2000 a 2015 em
relação a China, encontraram evidências de que o crescimento econômico pode também levar
ao aumento do consumo de energia renovável e consequentemente reduções de emissões de
CO2. Ademais, Danish, Mahmood e Zhang (2019) abordam que o aumento da renda leva à
melhoria dos indicadores sociais, incentiva o investimento em tecnologias mais limpas e
dissemina a conscientização sobre o meio ambiente limpo.
Por sua vez, a produção de energia foi o coeficiente com menor representatividade na
estimação. Este resultado pode em larga medida ser reflexo das mudanças nos sistemas de
produção de energia, pela busca de fontes renováveis e limpas, como a solar e a eólica. Neste
sentido, Lin e Raza (2019) revelam que o aumento na tecnologia de energia limpa provoca
queda acentuada nas emissões de CO2, enquanto o uso de combustível fóssil aumenta. Para
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Lopes (2018), as energias eólica e solar contribuíram para a diminuição do consumo de
energia nuclear e emissões carbónicas.
Perez et al. (2017) relatam que o aumento da demanda por energia, devido ao
crescimento da produtividade industrial mundial, leva a uma maior geração de emissões de
gases de efeito estufa. Deste modo, a variável indústria representa 5,3% das variações em
emissões de CO2 no modelo estimado. Neste mesmo viés, as concentrações de dióxido de
carbono aumentaram em torno de 40% desde a era pré-industrial, bem como aos produtos
derivados de combustíveis fósseis (IPCC, 2014).
Entretanto, em nível global, o setor industrial é responsável por mais de um terço do
consumo de energia (WANG et al., 2019). No país chinês, a porcentagem da participação da
indústria nas emissões de CO2 é maior, visto que uma vez que o modelo de desenvolvimento
dependeu fortemente do setor industrial, com indústrias intensivas em energia apoiando a
construção de infraestrutura doméstica, indústrias pesadas e a fabricação de bens de consumo
para exportação (WANG et al., 2019).
Montoya et al. (2016) retratam que a estrutura das indústrias no Brasil vem
desenvolvendo-se a partir de fontes de consumo de energias renováveis, o que representa uma
matriz de consumo energético que utiliza poucas fontes de energia de origem não renovável.
Neste mesmo contexto, os autores esclarecem que apesar de corroborar 65,52% das emissões
de CO2, as indústrias no Brasil podem ser consideradas dentro de um padrão ecologicamente
correto, pois apesar da queima de bagaço de cana, casca de arroz e madeira liberarem bastante
emissões, estes também são capturados pelas plantas durante seu crescimento, assim como no
processo de fotossíntese, o que por sua vez ajuda a controlar o “efeito estufa” global.
Assim, observa-se que os coeficientes encontrados no modelo estimado estão
convergindo aos resultados comunicados pela literatura já existente, a qual vem confirmando
a preocupação em torno do desenvolvimento sustentável pelos países. Do mesmo modo, a
gama de novas fontes de produção de energia, matérias-prima e serviços está sendo ampliado.
Neste contexto, a equação dos coeficientes substituídos encontrada foi:

𝐸𝑚𝑖𝑠𝑠𝑜𝑒𝑠𝐶𝑂2 = −6.466479 + 0.534294 ∗ logIndustria + 0.880414 (7)


∗ logPopulacao + 0.258656 ∗ logProdEnergia + ε

3.1 Análise de resíduos da regressão

Nesta seção são apresentados os testes utilizados para validar os resultados do modelo.
Para isto são realizados os testes de multicolinearidade e heterocedasticidade.

Tabela 2 - Estimação de multicolinearidade pelo Teste VIF


Coefficient Uncentered Centered
Variable
Variance VIF VIF
C 0.836672 110.6151 NA
Log (Indústria) 0.047378 69.94091 1.048042
Log (População) 0.001422 58.48552 1.031779
Log (Produção de Energia) 0.003504 7.360189 1.061933
Teste de Heterocedasticidade
F-statistic 1.697058 Prob. F(9,165) 0.0933
Obs*R-squared 14.82673 Prob. Chi-Square(9) 0.0958
Scaled explained SS 11.92789 Prob. Chi-Square(9) 0.2174
Dependent Variable: RESID^2
Fonte: Elaborado a partir da pesquisa (2019).

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A multicolinearidade diz respeito ao caso em que duas ou mais variáveis explicativas
são altamente correlacionadas, tornando assim, difícil mensurar ou separar os efeitos
individuais de cada uma sobre a variável dependente (SANTANA, 2003). Assim, o mesmo
autor retrata que a partir do cálculo de fator de variância inflacionária (FVI=VIF) realizado
para cada variável é possível observar se há presença de multicolinearidade.
Logo, se o conjunto de variáveis explicativas não for correlacionados, o VIF é igual a
1. Entretanto, se as variáveis apresentarem intercorrelação forte, o VIF pode ultrapassar o
valor de 5 (SANTANA, 2003). Portanto, na regressão estimada, as variáveis explicativas são
não autocorrelacionadas, pois todas apresentaram valores inferiores a 2, entendendo que cada
variável tem seu próprio efeito sobre a variável explicada.
A heterocedasticidade refere-se ao caso em que a variância do termo de erro não é
constante para todas as variáveis explicativas (SANTANA, 2003). No modelo foi realizado o
teste de White para verificar a presença de heterocedasticidade, o qual adiciona a equação do
termo de erro ao quadrado.
Assim, as estatísticas F e LM (obs*R-squared) não são diferentes de zero ao nível de
5%, pois a probabilidade de rejeição da hipótese nula (de que os resíduos são homocedásticos)
é superior a 9,3 % para o teste F e superior a 9,5% para o teste LM. Logo, a regressão pode
ser explicada normalmente, não havendo presença de resíduos homocedásticos.
Por meio do gráfico de resíduos, é possível visualizar o comportamento do termo de
erro da regressão, em que se identifica a existência de seis casos outliers (SANTANA, 2003)
mas, em geral, observa-se que os resíduos possuem distribuição normal, conforme observa-se
na Figura 1.

Figura 1- Análise dos resíduos


3

-1

-2

-3

-4
16
28
40
53
63
72
88
3

100
110
118
132
142
157
168
177
187
201
214
229
239
250

LOG(EMISSOESCO2) Residuals
Fonte: Elaborado a partir da pesquisa (2019).

Com o objetivo de identificar se os casos Outliers provocaram viés na regressão, o


modelo foi estimado novamente, sem estas informações. Optou-se por manter os pontos, pois
estes não influenciam de maneira significativa a estimação da regressão.

4 Considerações finais

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Com o objetivo de verificar qual a influência das variáveis produção industrial,
produção de energia e crescimento populacional nas emissões de CO2 no ano de 2014 de
todos os países, obteve se que todas estas variáveis influenciam em maior ou menor grau as
variações nas emissões de CO2. De maneira geral, estas discussões estão atreladas ao
desenvolvimento dos países de modo sustentável, que busca formas de crescimento
equitativo, com menores externalidade negativas à sociedade.
Também vale ressaltar que os determinantes das emissões de CO2 são diversos e
abrangem ampla gama de fatores socioeconômicos e tecnológicos. Neste sentido, os
determinantes das emissões de CO2 podem variar de região para região, com influência de sua
estrutura econômica, sistema energético e população existente.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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Cálculo da Pegada Hídrica (água azul) em uma propriedade leiteira no
estado de Goiás
Water Footprint (blue water) calculation in a dairy farm in the state of
Goiás
Carlos Magno Campos da Rocha Júnior1, Verônica Schmidt2

Resumo

O objetivo central do trabalho foi avaliar/mensurar a pegada hídrica com foco na água azul com recorte na
dessedentação animal em uma propriedade leiteira do interior do Goiás, localizada no município de Itaberí. Para
determinação dessa pegada no sistema de produção, foram interpretados os dados de consumo de água, por meio
da leitura mensal, no período de maio de 2018 a maio de 2019, dos hidrômetros instalados na caixa d’água com
capacidade de 20 m³. Essa água é de uso exclusivo para dessedentação dos animais em lactação. Além desses
dados, foram analisados a produção mensal de leite, os teores de gordura e a proteína do leite. Munido desses
dados, foi calculada a eficiência produtiva versus consumo de água pelos animais em lactação para, assim,
mensurar a pegada hídrica da produção do leite expressa em litros de água por kg de leite, e para padronizar o
leite, utilizou-se o método FPCM (Fat Protein – Correted Milk). A pegada azul média dos animais foi de 73
L.kg-1 de FPCM de leite, variando de 87,15 a 57,45 L.kg-1 de FPCM de leite. Observou-se que o incremento de
produtividade com aumento de volume de leite produzido permite uma produção mais sustentável no termo da
utilização da água. O consumo médio para produção de 1 kg de leite na propriedade goiana foi de 4,5 litro na
média, valores compatíveis com os principais players da produção de leite mundial.

Palavra-chave: Eficiência, produtividade, preservação, sustentabilidade

Abstract

The main objective of this work was to evaluate / measure the water footprint focus on blue water focusing on
the animal desedentation on a dairy farm in the Goiás’interior, located in the municipality of Itaberí. To
determine this footprint in the production system, water consumption data were interpreted with the monthly
reading, from May 2018 to May 2019, of water meters installed in the water tank with a capacity of 20 m³. This
water is for the exclusive use of desedentation of lactating animals. In addition to these data, the monthly milk
production, milk fat and protein content were analyzed. Using these data, the productive efficiency versus water
consumption of lactating animals was calculated to measure the water footprint of milk production, expressed in
liters of water per kg of milk, and to standardize milk, the FPCM method (Fat Protein - Correted Milk )was
used. The average blue footprint of the animals was 73 L kg -1 milk FPCM, ranging from 87.15 to 57.45 L kg -1
milk FPCM. It was observed that the increase in productivity with increased volume of milk produced allows a
more sustainable production at the end of water use. The average consumption for the production of 1 kg of milk
on the Goiás’ property was 4.5 liters on average, values compatible with the main players of world milk
production.

Key-words: Efficiency, productivity, preservation, sustainability, milk

1 Introdução

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2017), a atividade


leiteira está presente em cerca de 1,17 milhões de propriedades brasileiras, sendo notória sua
importância econômica no Brasil. Ainda segundo o Instituto, de 2000 a 2017 a produção de
leite cresceu 69,4%, apresentando uma taxa de 3,9% ao ano e um volume de 33,4 bilhões de

1Médico Veterinário/Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios–UFRGS;


jrmagno.vet@gmail.com>1
2Doutora em Medicina Veterinária/Universidade Federal do Rio Grande do Sul- veronica.schmidt@ufrgs.br

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litros (Figura 1). De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação
e Agricultura (FAO, 2019), o Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial de produção
de leite, ficando atrás de Estados Unidos, Índia e China.
Figura 1 - Produção de leite no Brasil de 2000 a 2017.
37
35
33
Bilhões de litros

31
29
27
25
23
21
19
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: IBGE, 2019.

O aumento na produção acarreta uma forte pressão na demanda dos recursos naturais
(água, vento, luz solar, ar, florestas, vegetais, minerais, solo, entre outros). Devido à escassez
com apenas 2,5% do volume total do globo terrestre (GLEICK, 2000), a água doce tem sido
abordada de forma sistemáticas pela rede científica, com a finalidade de observar a
sustentabilidade em várias atividades, bem como a agropecuária; segundo Rosegrant et al.
(2002), as projeções do aumento do consumo de água no mundo são de mais de 50% até o
ano de 2025.
Devido a previsões do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA
(BRASIL, 2018), o leite deverá crescer nos próximos 10 anos a uma taxa de 2,1 e 2,9%. Isso
corresponderá a um acréscimo de mais de oito bilhões de litros de leite, no mínimo, podendo
chegar a mais de 13 bilhões.
O setor lácteo Brasileiro possui grande relevância social e econômica para o país,
pois são mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais que produzem leite (IBGE,2019).
Entretanto observa-se que o setor ainda não conseguiu atingir todo o seu potencial, devido a
diferentes tipos de sistema produtivos; diferentemente das cadeias produtivas da soja e milho,
por exemplo. Os aspectos econômicos e sociais devem ter uma sinergia às questões
ambientais para que a atividade alcance as condições ideias de sustentabilidade (MARTINS et
al., 2015).
A variedade dos sistemas produtivos animais e suas interações tornam as análises,
entre pecuária e utilização da água, complexas e um tanto contraditória (FAO, 2016). O
modelo de pega hídrica proposto por Hoekstra et al. (2011) pondera o consumo de água ao
longo da cadeia produtiva e mostra-se adequado para elucidar a eficiência hídrica dos
produtos de origem animal, estabelecendo indicadores de uso direto e indireto da água. Desta
forma, a pegada hídrica é compreendida pelo volume de água utilizado para produção de um
determinado produto ao longo de toda cadeia produtiva.
Isto exposto, o objetivo deste estudo consiste em estimar a pegada hídrica da
produção do leite in natura, levando em consideração o consumo direto de água pelos animais
em lactação de uma propriedade leiteira no estado de Goiás.

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2 Referencial Teórico

2.1 Água na produção leiteira

É inegável a importância da água no sistema produtivo de leite, depois do oxigênio,


é o nutriente de suma importância para os seres vivo. Segundo CAMPOS (2001), a água
consumida pelos ruminantes tem a função de nutrir os tecidos e compensar as perdas
decorrentes pelo leite, fezes, urinas, saliva, evaporação (suor e respiração), bem como, para
manter a homeotermia, regulando a temperatura do corpo e dos órgãos internos.
São necessários 1.020 litros de água para produzir um quilograma de leite
(Mekonnen e Hoekstra, 2009). Cada sistema produtivo tem suas particularidades, pois os
fatores são multifatoriais dependendo do local onde o sistema está localizado, do tipo de
animal, da composição e origem dos alimentos e do manejo de uso dos recursos hídricos
(dessedentação, irrigação, resfriamento, lavagem). A proposta de cálculo da pegada hídrica
origina-se no início do século (2001/2002). Ela foi proposta pelo pesquisador Arjen Hoekstra,
sendo aprimorada por pesquisadores da Universidade de Twente, na Holanda. Atualmente,
grande parte dos estudos são realizados pela Water Footprint Network.
A ferramenta da pegada hídrica é útil para mensurar o consumo de água na
produção de leite. É importante salientar que ter um banco de dados do gasto de água em cada
etapa da produção é fundamental. Visando mensurar o consumo e, principalmente, ações
mitigatórias com a finalidade de aumentar a eficiência hídrica do processo produtivo
(Sperberg e Martínez-Lagos, 2013).

2.2 Pegada Hídrica

Atualmente, há diversos métodos para avaliar o consumo de água pelas atividades


humanas. Nesse contexto, nos últimos anos diversos indicadores para a análise do uso dos
recursos hídricos vêm sendo desenvolvidos. Para tentar elucidar os conceitos, Hoekstra
(2002) tentou facilitar seu entendimento enquanto indicadores quantitativos, capazes de
acessar não apenas os volumes de água consumidos em determinados ambientes, mas também
o período em que ocorre esse consumo.
Segundo Hoekstra (2009), o conceito da pegada hídrica como um indicador de
apropriação da água que pondera os usos diretos e indiretos (Figura 2). Sua metodologia
calcula os consumos de água verde, mensurada a partir da evapotranspiração das culturas
vegetais; azul, infere o consumo de fontes superficiais e subterrâneas; já a cinza é o volume
necessário para assimilar a quantidade de poluentes que atingem os corpos d’água. Com esses
dados é possível realizar inferências de sustentabilidade e gerar proposições de ações
mitigatórias, objetivando a eficiência hídrica da atividade ou produto em análise.

Figura 2 – Pegada hídrica direta e indireta em cada estágio da cadeia produtiva de suprimento de um
produto de origem animal

Fonte: Hoekstra et al. (2011, p. 21).

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As informações geradas pelo método da pegada hídrica viabilizam identificar o
volume de água utilizada, bem como as fontes utilizadas para atender os diferentes propósitos
dentro de cada cadeia produtiva, demonstrando as pressões impostas pelo homem ao
ecossistema (HOEKSTRA et al., 2011).
Mekonnen e Hoekstra (2010), no estudo da pegada hídrica azul, verde e cinza em
produtos de origem animal, ressaltaram a necessidade de ponderar a água do consumo direto
pelo animal, a água contida nos alimentos que este consome e a água consumida em processos
e serviços, como, por exemplo, na limpeza do ambiente onde vive. Segundo os autores, a
estimativa da pegada hídrica para as produções pecuárias contribui tanto para o conhecimento
sobre o consumo de água utilizada na atividade quanto para a promoção da gestão e da
conservação desse recurso por parte dos atores das cadeias produtivas.
Devido à diferença dos sistemas produtivos, não é possível projetar uma pegada
hídrica padrão na produção leiteira. De acordo com Hoeskstra (2011), é necessário realizar
levantamentos detalhados do sistema produtivo em questão, pois há grandes variações no tipo
de alimentação base dos animais: silagem, cana-de-açúcar, pastagem, pastagem irrigada e
outros; proporção de concentrado na dieta e limpeza das instalações e maquinários.
Ressalta-se que essa metodologia não possui a capacidade de mensurar a gravidade
dos impactos ambientais locais decorrentes do uso e da contaminação da água ou sobre o que
é possível fazer para minimizar os seus impactos. A pegada hídrica indica possíveis
problemas que estão ocorrendo no processo produtivo, sendo necessário associar outros tipos
de análises, para permitir a compreensão em sua totalidade das questões relevantes durante a
tomada de decisão (HOEKSTRA et al., 2011).

3 Procedimentos Metodológicos

Os dados para o estudo de caso foram extraídos das anotações do dono da fazenda a
partir de uma análise descritiva e exploratória dos dados obtidos, com intuito de desenvolver
ideias e hipóteses para investigar/mensurar a utilização da água na dessedentação animal e
calcular a pegada hídrica (água azul) da propriedade em questão. Essa Unidade Produtiva é
considerada uma pequena propriedade rural, localizada no município de Itaberaí - GO, com
141,39 ha de área total, que utiliza mão de obra contratada, sendo, pois, uma propriedade com
características típicas da grande maioria das pequenas unidades produtoras de leite no Estado.
No período de monitoramento a unidade processou um total de 704.810,00 litros de leite, com
uma média de processamento diário de 1.772,05 litros de leite. Vale destacar que a fazenda
em questão apresenta uma produtividade quatro vezes maior que a média do estado de Goiás,
segundo dados preliminares do censo agropecuário de 2017, que é de 1.506,2 litros/vaca/ano e
70% mais produtiva que a média do estado de Santa Catarina, o primeiro colocado em
produtividade nacional. Isso demonstra a eficiência da propriedade frente aos índices
nacionais.
Devido à metodologia para mensurar a pegada hídrica ser flexível e permitir que seja
analisada uma fração do sistema produtivo em questão. Esse estudo de caso analisará os
dados do consumo de água de uma fazenda do estado de Goiás, no período de maio 2018 a
maio de 2019, para calcular a pegada hídrica. Será considerando a pegada azul, mais
especificamente o consumo direto dos animais em lactação.

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Tabela 1 – Dados produtivos da Unidade Produtiva leiteira, em Itaberí-GO
Mês/ano Vacas em Produção Média Produtividade Produção - Gordura (g/100 Proteína
lactação - kg-1 de FPCM média- kg-1 de kg-1 de FPCM g) (g/100 g)
de leite FPCM de leite de leite/mês
mai/18 98 14,96 5.456,10 45.806,00 3,64 3,12
jun/18 102 14,80 5.402,85 48.841,00 3,45 2,95
jul/18 104 16,70 6.096,03 53.956,00 3,68 2,98
ago/18 115 16,26 5.936,19 59.415,00 3,55 3,01
set/18 117 17,80 6.498,11 66.162,00 3,55 3,03
out/18 120 18,65 6.808,63 71.478,00 3,52 3,03
nov/18 119 16,92 6.177,14 62.969,00 3,64 3,04
dez/18 109 18,69 6.821,90 62.408,00 3,76 3,03
jan/19 99 17,02 6.210,51 53.208,00 3,58 3,08
fev/19 95 13,87 5.064,34 41.852,00 3,55 3,09
mar/19 85 14,14 6.255,94 45.772,00 3,61 3,10
abr/19 81 16,74 6.108,55 42.380,00 3,64 3,06
mai/19 101 15,98 5.831,45 50.563,00 3,63 2,97
Média 103 16,64 6.074,83 54.216,15 3,60 3,04
Fonte: Dados da pesquisa (2019).

A tabela 2 demonstra a sistemática de leitura do hidrômetro que está conectado ao


cano de entrada da caixa d’água com capacidade de 20 m³. Essa água é distribuída e
destinada, exclusivamente, aos animais em lactação, que a consomem de forma Ad libitum em
bebedouros tipo Australiano.

Tabela 2. Demonstrativo de consumo de água da propriedade de Itaberaí


Caixa de 20 m³
Data Leitura inicial Leitura final Total consumido - m³
29/05/2018 3,68
Mai/18 18,16 14,48 7,24
Jun/18 319,79 301,64 10,05
Jul/18 655,01 335,21 10,81
Ago/18 1052,76 397,75 12,83
Set/18 1451,58 398,82 13,29
Out/18 1851,42 399,85 12,90
Nov/18* 2007,17 155,74 5,19
Dez/18 2274,32 267,15 8,62
Jan/19 2618,27 343,95 11,10
Fev/19 2887,13 268,86 9,60
Mar/19 3074,98 187,85 6,06
Abr/19 3306,81 231,83 7,73
Mai/19 3621,73 314,92 10,16
Média - - 9,86
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
*Problema na bomba de captação de água. Esse valor foi desconsiderado da análise.

Munido desses dados, a proposta é realizar um recorte da metodologia da pegada


hídrica azul na propriedade em questão. Com intuito de analisar a eficiência produtiva versus
consumo de água pelos animais em lactação para, assim, mensurar a pegada hídrica da
produção do leite, expressa em litros de água por kg de leite e para padronizar o leite utilizou-
se o método FPCM (Fat Protein – Correted Milk), que permite avaliar todos os animais em
igualdade de condições para fins comparativos. O FPCM expressa a quantidade de leite

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produzido ajustado para proteína e gordura. Neste estudo foram utilizadas as médias de
proteína e gordura de cada animal do experimento. A Equação 1 apresenta a fórmula utilizada
para correção da produção de leite (FAO, 2016b).

FPCM = Leite* (0,337 + 0,116 * gorduraleite+ 0,006 * proteínaleite) (1)

Em que: FPCM: produção total de leite corrigido (Kg de FPCM.lactação-1);


Leite: somatório da Produção de leite mensal de cada animal (Kg.cabeça-1.lactação-1);
Gordura leite: porcentagem de gordura mensal contida no leite;
Proteína leite: porcentagem de proteína mensal contida no leite.

4 Resultados e Discussão

No período analisado, a população leiteira da propriedade variou de 81 a 120 animais


em lactação. A pegada azul média dos animais foi de 73 L.kg-1 de FPCM de leite, tendo como
valor máximo de 87,15 L. kg-1 de FPCM de leite no mês de setembro de 2019 e valor mínimo
de 57,45 L.kg-1 de FPCM de leite, no mês maio de 2018 (Fig. 3). Essa variação de consumo
de água corrobora com o estudo de Brugger (2007), que observou uma correlação direta entre
o consumo de água e a temperatura ambiente. Durante os meses quentes do ano, o consumo
de água pelos animais em lactação foi maior. Ressalta-se que os meses mais quentes na região
de Itaberaí são agosto e setembro.

Figura 3 - Consumo de água (L/dia) por animal em lactação

140 100
120 90
80
100 70
N° de 80 60
50 L/água
Animais 60 40
40 30
20
20 10
0 0

N° de Animais Água Azul (L kg -1 de FPCM)


Fonte: Dados da pesquisa do autor (2019).
* Vale destacar que o mês de novembro não foi analisado, pois ocorreu um problema na rede de distribuição de
água e o produtor foi forçado a soltar os animais e consumiram água de outras fontes. Impossibilitando a
mensuração nesse mês.

Verificou-se que os valores determinados no presente estudo estão de acordo com


encontrado na literatura (Tabela 4). Contudo, Owusu-Sekyere et. al. (2016) verificaram um
consumo de água superior aos demais. Tal fato pode ser devido ao clima da região estudada,
bem com a baixa produtividade dos animais (13,1 litros de leite/dia), o que proporciona um
duplo fator no aumento da pegada hídrica azul no estudo do continente Africano.

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Tabela 4 – Valores da pegada hídrica azul em diferentes estudos, no período de 2010 a 2017
Trabalho Ano Local Pegada Azul -L kg-1 de FPCM
Mekonnen e Hoekstra 2010 Média mundial 56, 90 e 93
Khelil-Arfa et al. 2012 França 77,2
De Boer et al. 2013 Holanda 66
Huang et al. 2013 China 69
Palhares e Pezzopane 2015 Brasil 75 e 97
Owusu-Sekyere et. Al. 2016 África do Sul 107
Appuhamy et al. 2016 EUA 78,4
Novelli et al. 2017 Brasil 64,6 e 67,7
Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Analisando a quantidade de água consumida (água azul) para produzir um quilo de


leite, determinou-se um valor médio de 4,5 L.kg -1 de FPCM de leite de leite (Tabela 5),
sendo 5,73 e 3,26 L.kg -1 de FPCM de leite de leite o valor máximo e mínimo,
respectivamente. Contudo, esses valores foram superiores (3,58 L.kg -1 de FPCM de leite de
leite) ao encontrados na Alemanha (DRASTIG et al., 2010), porém compatíveis com os dados
dos EUA (CAPPER et al., 2009) e Espanha (HOSPIDO; MOREIRA; FEIJOO, 2003) de 3,78
e 2,7 Lkg-1 de FPCM de leite de leite, respectivamente.
Pode-se atribuir essa diferença encontrada no estudo alemão devido a produtividade
média nos estudos, pois elas foram superiores a 22 kg de leite/vaca/dia, demostrando que o
fator de produtividade por animal tem uma correlação direta na maximização da utilização
sustentável dos recursos hídricos.

Tabela 5 – Demonstrativa de consumo de água para produzir um quilo de leite na propriedade de leite de
Itaberaí-Go, como seus respectivos animais em lactação (maio de 2018 a maio de 2019)

n° de animais em Produção - kg-1 de L de água/kg-1 de


Data Total consumido - m³ lactação FPCM de leite/mês FPCM de leite
mai/18 7,24 98 45.806,00 3,26
jun/18 10,05 102 48.841,00 3,67
jul/18 10,81 104 53.956,00 3,9
ago/18 12,83 115 59.415,00 3,55
set/18 13,29 117 66.162,00 3,82
out/18 12,90 120 71.478,00 4,23
nov/18* 5,19 119 62.969,00 9,43
dez/18 8,62 109 62.408,00 5,73
jan/19 11,10 99 53.208,00 3,7
fev/19 9,60 95 41.852,00 3,34
mar/19 6,06 85 45.772,00 5,85
abr/19 7,73 81 42.380,00 4,26
mai/19 10,16 101 50.563,00 3,86
média 9,86 104 54.216,15 4,5
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
*Problema na bomba de captação de água. Esse valor foi desconsiderado da análise

5 Conclusões

A pegada hídrica da atividade leiteira é tema de relevância mundial, devido seu


principal insumo, a água, ser finito a preocupação é cada vez mais presente na sociedade e no

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meio acadêmico. Há necessidade de fomentar mais pesquisas para minimizar os impactos que
que esta atividade gera e produzir um alimento de forma mais sustentável e eficiente.
Os resultados alcançados nessa pesquisa sinalizam que a pecuária leiteira nacional,
de uma forma geral, necessita-se modernizar e torna-se mais eficiente ao longo dos anos. E
quando os índices produtivos estão a cima da média nacional e equiparadas aos principais
players sinaliza uma atividade eficiente no ponto de vista da sustentabilidade e preservação
dos recursos hídricos.
A partir dos resultados alcançados, identificou-se que a propriedade da região de
Itaberaí, devido sua especialização da atividade impactam menos o uso da água na fase de
produção, fato que reforça a necessidade de investimentos na especialização, pois, além de
proporcionar ganhos econômicos, permite igualmente menor pressão sobre o uso de recursos
naturais.
A mensuração de consumo de água x produtividade de leite, é um bom indicador da
economicidade dos recursos hídricos para a dessedentação animal na produção de leite. O
conhecimento desses valores possibilita o planejamento para tomada de decisão em prol da
eficiência do uso da água.

Referências

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Caracterização das Publicações Científicas sobre Direito e Mudanças
Climáticas
Characterization of Scientific Publications about Law and Climate Change
Débora Mara Corrêa de Azevedo1, Alice Munz Fernandes2

Resumo
As mudanças climáticas são uma realidade cada vez mais presente nos dias atuais, pois as condições ambientais
decorrentes, como secas e enchentes, já começaram a afetar negativamente a capacidade de cultivo de alimentos
em quantidade suficiente para atender o rápido crescimento das populações. Tais mudanças têm o reflexo imediato
de intensificar a necessidade do gerenciamento dos riscos ambientais pelo Direito, mediante a construção de
observações, vínculos e decisões sobre o futuro. Com o intuito de analisar o que já se tem publicado sobre as
temáticas Direito e mudanças climáticas de forma conjunta, realizou-se uma análise cientométrica na base de dados
Web of Science, orientada por determinados critérios operacionais e analíticos. O portfólio de estudos foi composto
de 94 artigos, cujas análises pautaram-se em aspectos bibliométricos e sociométricos. Os resultados obtidos
demonstraram que nas últimas décadas os efeitos das mudanças climáticas têm despertado também o interesse dos
pesquisadores da área do Direito, e não somente das ciências da natureza. Não obstante, apesar da temática
analisada permear distintas áreas do conhecimento, observou-se que a maioria das investigações analisadas (70%)
são de responsabilidade de um único autor. No que concerne aos países de onde tais estudos provém, destacam-se
os Estados Unidos e a Austrália, ao passo que as afiliações predominantes referem-se a University of Melbourne,
a University College London (UCL) e a Chinese University of Hong Kong.
Palavras-chave: Agricultura, mudanças climáticas, Direito.

Abstract
Climate change is an increasingly present reality, because the resulting environmental conditions, such as
droughts and floods, have already begun to negatively affect the ability to grow enough food to meet rapid
population growth. Such changes have the immediate reflection of intensifying the need for the management of
environmental risks by law, through the construction of observations, bonds and decisions about the future. In
order to analyze what has already been published on the themes Law and climate change together, a scientometrics
analysis was performed in the Web of Science database, guided by certain operational and analytical criteria. The
study portfolio consisted of 94 articles, whose analyzes were based on bibliometric and sociometric aspects. The
results showed that in recent decades the effects of climate change have also aroused the interest of researchers
in the field of law, and not only of the natural sciences. However, despite the theme analyzed permeate different
areas of knowledge, it was observed that most investigations analyzed (70%) are the responsibility of a single
author. With regard to the countries from which such studies come, the United States and Australia stand out,
while the predominant affiliations refer to the University of Melbourne, the University College London (UCL) and
the Chinese University of Hong Kong.
Keywords: Agriculture, climate change, law.

1 Introdução

As mudanças climáticas configuram-se como realidades atuais, uma vez que condições
ambientais decorrentes, como secas e enchentes, já começaram a afetar negativamente a
capacidade de cultivo de alimentos em quantidade suficiente para atender o rápido crescimento
das populações (LEVY; PATZ, 2015). Ou seja, muitos dos impactos das mudanças climáticas
são canalizados por setores sensíveis ao clima, como a agricultura (MENDELSOHN, 2001).
Deste modo, a mudança e a variabilidade climática apresentam-se como um grande
desafio à produção agrícola e aos meios rurais de subsistência. Não obstante, tais fenômenos
afetam aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas, cujo sustento, em parte ou na totalidade,
provém dos sistemas de produção agrícola. Portanto, os impactos das mudanças climáticas no
rendimento das culturas já podem ser detectados nos dados observados (ALI; ERENSTEIN,
2017).
Ante ao exposto, a pesquisa realizada teve como objetivo caracterizar as publicações

1
Bacharelado em Direito / CEPAN/UFRGS – deb_correa@yahoo.com.br
2
Bacharelado em Administração / CEPAN/UFRGS – alicemunz@gmail.com
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científicas que abordam, de forma conjunta, a temática do Direito e mudanças climáticas. A
circunscrição deste estudo justifica-se porque este fenômeno, seja natural ou antrópico,
inegavelmente ocasiona impactos em todos os contextos da sociedade (FABER, 2017). Logo,
verificá-lo associadamente ao Direito a partir de um portfólio de literatura científica permite
compreender o estado da arte e o viés das diferentes áreas do conhecimento, além de possibilitar
o mapeamento da ciência mundial acerca de tal temática.

2 Referencial Teórico

Embora os impactos das mudanças climáticas na agricultura variem com base na


localização geológica e em outros fatores, existe consenso de que as mudanças climáticas
provavelmente resultarão em uma minimização significativa da safra, aumento dos preços dos
alimentos e diminuição da segurança alimentar de milhões de pessoas, particularmente nos
países em desenvolvimento. Em seu relatório de 2014, o Intergovernmental Panel on Climate
Change (IPCC) concluiu que embora os impactos projetados variem entre culturas e regiões, o
rendimento das culturas poderá diminuir em mais de 25%. Essas mudanças ocorrerão no mesmo
período de aumento populacional – e com renda per capita superior – resultando na
maximização da demanda por produção agrícola em aproximadamente 60% (ANGELO, 2017).
Tais mudanças têm o reflexo imediato de intensificar a necessidade do gerenciamento
dos riscos ambientais pelo Direito, mediante a construção de observações, vínculos e decisões
sobre o futuro. Em razão desse contexto de risco global, tem-se a intensificação de uma tomada
de consciência jurídica acerca do necessário comprometimento das presentes gerações em
relação às subsequentes. O futuro, portanto, passa a ser a principal justificativa para aplicar o
Direito que a própria sociedade produz (CARVALHO, 2010).
Sob essa perspectiva, Bello Filho (2009) apontam que as alterações climáticas
provocarão mudanças sensíveis sobre a vida na Terra o que, seguramente, repercutirá no
Direito. Em razão disso, os autores destacam o surgimento de um novo Direito, chamado de
“Direito das Mudanças Climáticas”. Ou seja, não se trata de um novo Direito, no sentido
objetivo, mas de postura do discurso jurídico diante de uma realidade que as ciências duras são
atualmente capazes de demonstrar.
Para Macías Gomes (2010) as mudanças climáticas, como um fato conhecido, têm
implicações importantes na disciplina jurídica, especialmente quando se considera que, devido
aos impactos que dela possam resultar, os Direitos reconhecidos socialmente podem ser total
ou parcialmente afetados. Essa situação impõe um desafio direto e sem precedentes às
instituições em nível nacional e internacional, que devem agir política e legalmente, haja vista
que estas precisam estabelecer estruturas de políticas públicas e regulamentares a fim de se
enfrentar o desafio da mudança clima.

3 Procedimentos Metodológicos

A pesquisa realizada caracteriza-se como quantitativa quanto à abordagem do problema


(YU, 2006) e descritiva no que concerne à sua finalidade (LAKATOS; MARCONI, 2011).
Como procedimento técnico utilizou-se a cientometria, que trata da mensuração de informações
já publicadas (SILVA; BIANCHI, 2001), considerando seu impacto e sua quantidade
(VINKLER, 2019). Desse modo, pertence ao conjunto das métricas da informação, conhecidas
como iMetrics (MILOJEVIC; LEYDESDORFF, 2013).
A operacionalização deste tipo de investigação fundamenta-se em pressupostos
bibliométricos e sociométricos, a fim de identificar padrões de comportamento em determinado
aglomerado de informações (GENG et al., 2017) que, neste caso, provém da literatura

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científica. Logo, tem-se as três leis clássicas da bibliometria como instrumentos que regem tais
modelos ou padrões, quais sejam: Lei de Lotka ou Lei do Quadrado Inverso, Lei de Bradford
ou Lei da Dispersão e Lei de Zipf ou Lei do Mínimo Esforço (HOOD; WILSON, 2001;
BAILÓN-MORENO et al., 2005).
De forma genérica, a primeira delas postula que um número reduzido de autores
responde por uma quantidade considerável de publicações científicas sobre determinada
temática, simultaneamente a um elevado número de autores que apresenta pouca contribuição
sobre este mesmo assunto (CHUNG; COX, 1990). Já a segunda lei basicamente pressupõem
que os periódicos que possuem o maior número de publicações sobre determinado assunto
podem ser considerados como aqueles que detém um núcleo de relevância e qualidade superior
acerca do referido tema (BRADFORD, 1934; ROUSSEAU; ROUSSEAU, 2000). Por fim, a
Lei de Zipf aborda a frequência de ocorrência de termos ou caracteres ao longo do texto (BAI;
WANG, 2019) e postula que aqueles providos de maior incidência podem ser entendidos como
sendo os mais relevantes sobre determinada temática (ADAMIC; HUBERMAN, 2002).
Não obstante, para averiguar a colaboração entre os autores empregou-se também
elementos concernentes à sociometria, que baseia-se na construção de redes e interações de
pesquisa para a produção do conhecimento científico (BORDONS et al., 2015). Deste modo,
refere-se a aproximação de indivíduos a fim de estabelecer redes de colaboração múltipla
(GUTIÉRREZ et al., 2016) para a complementação de conhecimentos (BLUMBERG; HARE,
1999).
A partir desta circunscrição, definiu-se como orientação de busca a existência dos
termos “climate change” e “law”, mediados pelo operador booleano “and”, somente no título,
haja vista que este sintetiza as características predominantes do estudo, denotando sua
pertinência ou não em relação a temática investigada (DELLA; ENSSLIN; ENSSLIN, 2012).
Selecionou-se para a busca a base de dados Web of Science, cujo período de publicações
correspondeu a todos os anos até a data limite de 07 de setembro de 2019.
Determinou-se como critério de inclusão/exclusão a tipologia de documento
correspondente a artigo. Deste modo, o portfólio de estudos analisados foi composto por 94
artigos. Para análise, os dados foram inicialmente organizados em planilhas eletrônicas e as
variáveis concernentes ao ano de publicação, periódico e autores foram analisadas através de
frequência relativa e absoluta, bem como matrizes de dupla entrada. Posteriormente, os achados
foram comparados com os pressupostos estabelecidos pelas leis clássicas da bibliometria.
Conseguinte, elaboraram-se redes de cocitação e de colaboração entre os autores,
denotando a estruturação intelectual da temática investigada (KHASSEH; SOHEILI; CHELK,
2018). Para isso, empregaram-se técnicas pertencentes a bibliometria moderna (THOMPSON;
WALKER, 2015), operacionalizadas mediante os softwares VOSviewer e UCINET,
respectivamente.

4 Resultados e Discussão

A partir do portfólio de artigos obtido por meio do delineamento realizado, verifica-se


que a primeira publicação que aborda as temáticas de Direito e mudanças climáticas, de forma
conjunta, ocorreu no ano de 1982. Tal estudo é de autoria de V. P. Nanda, afiliado a University
of Denver, e fornece insights sobre a relação entre as mudanças climáticas em âmbito global e
questões concernentes ao Direito internacional (NANDA, 1982). Não obstante, destaca-se que
apesar de ser um assunto discutido em distintas áreas do conhecimento, o interesse dos
pesquisadores tem se intensificado recentemente, haja vista que os últimos cinco anos (2015-
2019) respondem por cerca de 53% do total de publicações. Neste sentido, a Figura 1 ilustra a
distribuição temporal das publicações sobre a referida temática.

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Figura 1 – Distribuição temporal das publicações sobre Direito e mudanças climáticas
14
12

Publicações
10
8
6
4
2
0
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
2018
Anos

Fonte: resultados da pesquisa (2019).

Como justificativa a maximização do número de publicações a partir da segunda década


do Século XX tem-se o crescimento das preocupações acerca das consequências das mudanças
climáticas bem como medidas de mitigação e adaptação a elas.
No tocante aos periódicos onde tais estudos estão publicados, constata-se que os 94
artigos estão distribuídos em 69 journals e revistas científicas distintas. Deste montante, pouco
menos da metade (49%) possui Journal Citation Report (JCR) vigente igual ou superior a 1,00,
demonstrando a relevância científica, expressa em índices de citação (PODSAKOFF et al.,
2005), dos periódicos nos quais a referida temática é publicada (GARFIELD, 2006).
Contudo, 6% dos periódicos são responsáveis por 17% das publicações, correspondendo
a quatro artigos por journal. Tal achado vai ao encontro do postulado pela Lei de Bradford, de
modo que estes podem ser entendidos como os que, teoricamente, possuem maior pertinência
à temática investigada (BRADFORD, 1934; ROUSSEAU; ROUSSEAU, 2000). O Quadro 1
descreve as principais características deste conjunto de periódicos.

Quadro 1 – Principais periódicos sobre Direito e mudanças climáticas


Periódico JCR Editor-Chefe
Ecology Law Quarterly 0,636 Mary Rassenfoss e Kaela Shiigi
Journal of Environmental Law 2,313 Liz Fisher
Review of European Comparative &
2,125 Harro van Asselt
International Environmental Law
Water International 1,885 James Nickum
Fonte: resultados da pesquisa (2019).

Não obstante, no que se refere ao enfoque predominante nas publicações analisadas,


salienta-se que a literatura científica tende a apresentar certa similaridade quando é citada pelos
mesmos documentos (KOROM, 2019). Diante disso, para análise das cocitações, determinou-
se como unidade analítica os autores citados que apresentam ao menos dez vínculos de
cocitação.
Logo, evidencia-se que os 94 artigos analisados citam 4.130 autores em suas referências
(não necessariamente 4.130 obras distintas). Deste total, 22 autores foram citados no mínimo
em dez artigos, cuja associação e estrutura de rede elaborada pelo Software VOSviewer é
apresentada na Figura 2.

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Figura 2 – Rede de cocitações do portfólio analisado

Fonte: elaborado com o auxílio do Software VOSviewer (2019).

Cada vértice corresponde a um autor, ao passo que o tamanho dos rótulos remete a força
entre as ligações. A coloração de tais elementos demonstra o grupo ou cluster ao qual estes
pertencem e a proximidade entre as vértices expressa a ocorrência de citação conjunta das
referências no portfólio analisado (KOROM, 2019).
Neste caso, destaca-se que os 22 autores estão divididos em três grupos distintos, cuja
rede de associação é composta por 167 ligações. O autor com maior número de citações
corresponde a J. B. Ruhl e integra o cluster vermelho (51 citações). Este pesquisador é afiliado
a Vanderbilt University Law School, no Tennessee, e seus estudos envolvem a relação entre
estruturas legais e institucionais e recursos ambientais.
Por sua vez, no cluster verde o autor com maior número de citações é D. Bodansky (29
citações), afiliado a Sandra Day O'Connor College of Law, da Arizona State University, cujos
esforços de pesquisas destacam principalmente o Acordo de Mudanças Climáticas de Paris.
Finalmente, a principal referência do cluster azul é o Intergovernmental Panel on Climate
Change comumente conhecido pelo acrônimo IPCC (18 citações), uma organização científico-
política criada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) com o
intuito de avaliar a ciência relacionada às mudanças climáticas (IPCC, 2019).
Quanto aos termos predominantes nos artigos científicos, destaca-se que assuntos
dotados de multidisciplinaridade tendem a apresentar uma terminologia heterogênea. Assim,
identificar as palavras expressas com maior recorrência auxilia na verificação dos diferentes
domínios do conhecimento científico (GRIFFITHS; STEYVERS, 2004). Para tanto, construiu-
se uma rede de coocorrência de termos a partir de dados textuais por meio do Software
VOSviewer.
Como unidade de análise determinou-se as palavras-chaves, o que se justifica pela
relevância de tais elementos na indexação dos estudos (BRANDAU; MONTEIRO; BRAILE,
2005). Conseguinte, definiu-se o número mínimo de três coocorrências, de modo que das 346
palavras-chaves apresentadas pelos 94 artigos, somente 21 atendiam a esta circunscrição. Estas
foram agrupadas em quatros clusters distintos e 91 ligações, conforme ilustra a Figura 3.

Figura 3 – Rede de coocorrência de palavras-chaves do portfólio analisado

Fonte: elaborado com o auxílio do Software VOSviewer (2019).

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Observa-se que o cluster azul é formado por cinco vértices que permitem denominá-lo
de mudança climática propriamente dita, haja vista que envolve predominantemente termos
concernentes à ciência, política e governança com forte ligação a temática central. Já o cluster
vermelho pode ser entendido como aquele com foco mais acentuado na adaptação e capacidade
de resiliência frente às mudanças climáticas. Por sua vez, o cluster verde é composto por
vértices que denotam a relevância do Direito internacional, ao passo que o cluster amarelo
aborda questões direcionadas à acordos e protocolos internacionais instituídos para tratar de
aspectos ambientais.
No tocante aos autores responsáveis pelas publicações analisadas, tem-se que os 94
artigos provém de 132 pesquisadores diferentes. Salienta-se que 95% dos autores contribuem
com somente uma publicação cada, ao passo que 5% dos indivíduos respondem por cerca de
16% do portfólio averiguado. Tal achado corrobora com o postulado pela Lei de Lotka
(CHUNG; COX, 1990), cujos indivíduos dotados de maior representatividade nos estudos
sobre Direito e mudanças climáticas são apresentados no Quadro 2.

Quadro 2 – Principais autores sobre Direito e mudanças climáticas no portfólio analisado


Autor Afiliação Publicações
The Faculty of Law of the Chinese University of Hong
Benoit Mayer 5
Kong
Jacqueline Peel Melbourne Law School – University of Melbourne 2
Jan McDonald Faculty of Law – University of Tasmania 2
Kirsten H. Engel James E. Rogers College of Law – University of Arizona 2
Lee Godden Melbourne Law School – University of Melbourne 2
Phillipa C. McCormack Faculty of Law – University of Tasmania 2
Fonte: resultados da pesquisa (2019).

Salienta-se que o autor Benoit Mayer, que contribui com o maior número de
publicações, desenvolveu todos os seus estudos que compõem o portfólio analisado
individualmente. Sua linha de investigação refere-se ao Direito internacional acerca das
mudanças climáticas, abordando também aspectos concernentes a responsabilidade do Estado
e das políticas em torno do referido fenômeno.
Não obstante, Kirsten H. Engel também não possui coautorias nos estudos analisados,
cujo foco refere-se à medidas regulatórias e contenciosas adotadas por diferentes governos
locais e estaduais para a mitigação das mudanças climáticas. Por sua vez, Jacqueline Peel e Lee
Godden, afiliados a mesma instituição, desenvolveram um artigo em conjunto que trata das leis
de mudanças climáticas em uma era de governança multinível. O mesmo ocorreu com Jan
McDonald e Phillipa C. McCormack que, em parceria, elaboraram um artigo sobre a lei
australiana de conservação e as compensações da biodiversidade enquanto mecanismo para a
promoção da resiliência frente às mudanças climáticas.
Sob um panorama geral, aproximadamente 70% dos artigos analisados são de
responsabilidade de um único autor, o que denota que, diferentemente do que ocorre em outras
áreas do conhecimento, os estudiosos jurídicos apresentam uma certa propensão em trabalhar
individualmente. Todavia, reconhece-se que, mesmo em menor proporção, existe inter-relações
e colaboração entre os autores, cujas redes são expostas na Figura 4.

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Figura 4 – Redes de colaboração entre os autores do portfólio analisado

Fonte: elaborado com o auxílio do Software UCINET (2019).


Legenda: somente autores que possuem ao menos um link de associação.

Observa-se que apenas 11% dos artigos contam com a participação de no mínimo três
autores, o que vai de encontro ao praticado pela ciências agrárias ou animais, por exemplo, cuja
metodologia de pesquisa, predominantemente experimental, requer a contribuição de um grupo
geralmente maior de indivíduos. Conquanto, destaca-se que os 94 artigos analisados refletem
autores afiliados a 110 instituições distintas espalhadas ao redor do mundo. Entre estas, a
University of Melbourne, a University College London (UCL) e a Chinese University of Hong
Kong (CUHK) são as que apresentam maior número de contribuições, com quatro autores cada
uma.
Sob a perspectiva da internacionalização dos estudos sobre Direito e mudanças
climáticas, verifica-se que o portfólio analisado é proveniente de autores que representam 27
países diferentes, cuja distribuição é ilustrada na Figura 5.

Figura 5 – Distribuição geográfica dos países que publicaram sobre Direito e mudanças climáticas no
portfólio analisado

Fonte: elaborado com o auxílio do Software Microsoft Office Excel (2019).


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Observa-se que apesar de instituições estadunidenses não se destacarem
individualmente no que se refere a quantidade de estudos sobre a temática, os Estados Unidos
foi indicado como origem da maioria das publicações analisadas. Em seguida, tem-se a
Austrália, seguida pela Inglaterra. Assim, infere-se que o estudo conjunto sobre Direito e
mudanças climáticas tem despertado o interesse dos pesquisadores com maior intensidade
nestes países.

5 Conclusões

O contributo da investigação realizada corresponde a análise de uma temática emergente


e dotada de interfaces multidisciplinares mediante o emprego de técnicas de pesquisa e
ferramentas analíticas provenientes da ciência da informação. Deste modo, evidencia-se tanto
a interdisciplinaridade das ciências quanto de seus mecanismos estruturais e operacionais.
Não obstante, a caracterização das pesquisas científicas acerca da temática estudada
pode fornecer insights para investigações posteriores, uma vez que possibilita identificar certos
padrões de comportamento em relação ao portfólio averiguado. Como limitações, aponta-se a
utilização de somente uma base de dados, que apesar de relevante e significativa para a ciência,
não aborda todas as investigações acadêmicas publicadas sobre o assunto.

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Contabilidade Ambiental na Pecuária: Revisão Sistemática da Literatura
Environmental Accounting in Livestock: Systematic Literature Review

Francisca Viviane dos Santos1, Alice Munz Fernandes2, Ângela Rozane Leal de Souza3,
Romina Batista de Lucena de Souza4

Resumo
Os impactos ambientais resultantes tanto de aspectos antrópicos quanto de elementos cíclicos tem impactado nos
modelos globais de produção de alimentos. Nesta perspectiva, tem-se ambiguidades e polêmicas acerca
principalmente da atividade pecuária, devido a conversão de recursos naturais em proteínas, por exemplo. Com
vistas a tal problematização, a pesquisa realizada teve como objetivo analisar a ênfase das investigações científicas
sobre contabilidade ambiental na pecuária. Para tanto, realizou-se uma revisão sistemática da literatura nas bases
de dados Scopus e Web of Science, orientada por determinados critérios operacionais e analíticos. O portfólio de
estudos obtidos foi composto por oito artigos, cuja análise preliminar de coocorrência de dados textuais resultou
em uma rede de vértices e associações composta por dois clusters denominados de aspectos ambientais e técnicos
e aspectos econômicos e financeiros da contabilidade ambiental na pecuária. Entretanto, a interdisciplinaridade da
temática investigada ocasiona a convergência entre ambos os clusters, o que foi evidenciado pelo detalhamento
das abordagens enfatizadas nas investigações. Os resultados demonstraram ainda que novas ferramentas de
contabilidade ambiental estão sendo desenvolvidas e implementadas em um setor econômico dotado de polêmicas
e controvérsias acerca dos impactos ambientais que ocasiona.

Palavras-chave: contabilidade ambiental, custos ambientais, produção animal.

Abstract
The environmental impacts resulting from both anthropic and cyclical aspects have impacted global food
production models. In this perspective, there are ambiguities and controversies about mainly livestock activity,
due to the conversion of natural resources into proteins, for example. With a view to such problematization, the
research realized to analyze the emphasis of scientific investigations on environmental accounting in livestock.
For this, a systematic literature review was performed in the Scopus and Web of Science databases, guided by
certain operational and analytical criteria. The study portfolio consisted of eight articles, whose preliminary
analysis of textual data co-occurrence resulted in a network of vertices and associations composed of two clusters
called environmental and technical aspects and economic and financial aspects of environmental accounting in
livestock. Although, the interdisciplinarity of the investigated subject leads to the convergence between both
clusters, which was evidenced by the detailed approaches emphasized in the investigations. The results also
showed that new environmental accounting tools are being developed and implemented in an economic sector
with controversies about the environmental impacts it causes.

Keywords: environmental accounting, environmental costs, animal production.

1 Introdução

Os crescentes desafios a serem enfrentados pela sociedade contemporânea relacionados


ao crescimento populacional, aquecimento global e expansão desordenada da população urbana
tendem a impactar os sistemas de produção de alimentos ao redor de todo o mundo (FAO,
2017), de modo que “o setor agroalimentar mudou-se para uma economia de produção mais
linear” (MONTEMAYOR et al., 2019, p. 395, tradução própria). Assim, as cadeias produtivas
agroalimentares estão gradativamente passando por processos de transformação. Dentre tais
atividades, tem-se a pecuária, cujo modelo de negócio é direcionado para a produção em escala
por meio da maximização da produtividade (ZANONI, 2004).

1
Bacharelado em Ciências Contábeis / FCE/UFRGS – francisca_viviane@yahoo.com.br
2
Bacharelado em Administração / CEPAN/UFRGS – alicemunz@gmail.com
3
Bacharelado em Ciências Contábeis / FCE e CEPAN/UFRGS – angela.souza@ufrgs.br
4
Bacharelado em Ciências Contábeis / FCE/UFRGS – rominabls@gmail.com
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Em contrapartida, a intensificação desta atividade tem ocasionado cada vez mais
preocupações em relação aos seus impactos ambientais (RAMANKUTTY et al., 2018). Assim,
gestores rurais e stakeholders das cadeias produtivas de origem animal estão buscando atender
estas inquietações sociais crescentes e exigências legais por meio da gestão dos recursos
naturais sem comprometer seus aspectos econômicos e financeiros (PALHARES, 2007).
Neste sentido, a contabilidade ambiental configura-se como um contributo para o apoio
a tomada de decisão, pois possibilita avaliar os custos e impactos ambientais da produção de
alimentos (SKAF et al., 2019). Assim, dados ambientais e socioeconômicos podem ser
transformados em informações úteis, “tanto para proteger os ecossistemas naturais quanto para
definir as políticas e opções de planejamento mais adequadas para atender às metas de
desenvolvimento sustentável” (LIU et al., 2018, p. 1056, tradução própria).
Ante ao exposto, a pesquisa realizada teve como analisar a ênfase das investigações
científicas sobre contabilidade ambiental na pecuária. Como justificativa para esta
circunscrição, tem-se as características multidisciplinares da referida temática, bem como as
suas multifaces e perspectivas analíticas, que permeiam diferentes áreas do conhecimento, de
modo que identificar as abordagens predominantes no meio acadêmico possibilita entender o
comportamento científico destes temas que, de forma conjunta, pautam discussões tanto no que
se refere a formulação de políticas públicas (PALHARES, 2007) quanto acerca dos
investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) (SKAF et al., 2019).

2 Referencial Teórico

2.1 Contabilidade Ambiental

A contabilidade ambiental estuda o registro e controle dos bens, direitos e obrigações


ambientais das entidades. Enquanto área do conhecimento, seu surgimento remonta a década
de 1970 quando as empresas passaram a atentar para questões ambientais, considerando os
benefícios e prejuízos da produção no meio ambiente. Assim, sua principal finalidade consiste
em apresentar aos usuários os eventos ambientais que provoquem alterações no patrimônio
(COSTA, 2012).
Neste sentido, a contabilidade ambiental possibilita explorar a interação entre os
sistemas naturais e as atividades desempenhadas pelos seres humanos, mediante o trade-off
entre a mensuração dos custos ambientais e os benefícios recebidos por meio da exploração dos
recursos naturais (FRANZESE; LIU; ARICÒ, 2019). Dentre a diversidade de métodos
contábeis biofísicos ambientais tem-se a Pegada Ecológica (WACKERNAGEL; KITZES,
2008), Contabilidade do Fluxo de Materiais (CHRIST; BURRITT, 2015) e Contabilidade
Emergética (SANTAGATA et al., 2019), por exemplo.
As ações inerentes a transformação de recursos naturais em bens de consumo geram
impactos no meio ambiente, de modo que as organizações produtoras de bens correspondem as
responsáveis por distintas transformações nas sociedades em que estão inseridas, o que inclui
aspectos ambientais. Contudo, a contabilidade ambiental quando utilizada pelos gestores pode
apoiar na identificação e demonstração dos impactos ambientais provocados pela organização
por meio da apuração de custos e controles ambientais (GONÇALVES; HELIODORO, 2005).

Portanto, “a contabilidade ambiental pode assumir um papel estratégico na medida em


que a adoção de políticas proativas pode tornar-se mais evidente quando se dispõe de um
sistema desta natureza” (GONÇALVES; HELIODORO, 2005, p. 84). Assim, a organização
que adota práticas de contabilidade ambiental como subsídio ao processo decisório são capazes
de reconhecer, mensurar e comunicar os eventos econômicos que interferem no meio ambiente

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a fim de assegurar um desenvolvimento sustentável de forma harmônica, obtendo retornos
econômicos promovendo proteção ambiental (PINHEIRO et al., 2013).

2.2 Atividade Pecuária

A atividade pecuária configura-se como uma das atividades concernentes ao


agronegócio, que pode ser definida como sendo a arte de criar e tratar animais (SANTOS;
MARION; SEGATTI, 2002) criados para fins de abate, consumo doméstico, serviços e tração,
reprodução, leite, bem como para fins industriais e comerciais (GALLON et al., 2010).
Assim, “é pressuposto básico da empresa pecuária o aumento da produtividade, sendo
este obtido por meio de investimentos em tecnologia de produção e de gestão que resultem em
acréscimo de eficácia” (LEMES, 2001, p. 456). Todavia, esta atividade apresenta influência
direta no meio ambiente no qual está inserida, de modo que sua capacidade de liquidez, relativa
simplicidade dos processos produtivos e baixo nível de investimento de capital necessário a sua
implementação (sobretudo se tratando de bovinocultura de corte) tem refletido na maximização
no número de pessoas que ingressam na atividade (RIVERO et al., 2009).
No Brasil, aspectos como extensão territorial, condições edafoclimáticas,
disponibilidade de recursos hídricos e baixo custo de terra no passado, por exemplo, tornam a
pecuária brasileira competitiva em comparação com os países de primeiro mundo, e,
consequentemente mais atraente (LEMES, 2001). Contudo, “o País já possui problemas
ambientais históricos e, com o desenvolvimento agropecuário, novos problemas foram somados
aos antigos” (PALHARES, 2007, p. 244).
Logo, a utilização de ferramentas de contabilidade ambiental aplicadas as atividade
pecuárias pode contribuir para mensurar os impactos ambientais provenientes dos distintos
sistemas de produção, bem como maximizar a eficiência organizacional das cadeias produtivas
de origem animal (PALHARES, 2007). Não obstante, outros elementos podem ser incluídos
neste tipo de verificação, tais como emergia (DEMÉTRIO, 2011), métodos agroecológicos para
a produção animal (RAMANKUTTY, et al., 2018) e emissão de resíduos (ALEKSANDR et
al., 2019), por exemplo.

3 Procedimentos Metodológicos

A pesquisa realizada configura-se como qualitativa no que concerne a abordagem do


problema (FLICK, 2009) e descritiva quanto a sua finalidade (DENSYN; LINCOLN, 2006;
PRODANOV; FREITAS, 2013). Enquanto procedimento técnico empregou-se a revisão
sistemática da literatura que consiste na análise sintetizada do conhecimento acumulado em
determinado conjunto de estudos, a partir da qual desenvolvem-se premissas fundamentada
(VAN AKEN, 2001). Logo, este método fomenta o surgimento de insights mediante a
contribuição de um aglomerado de literatura à construção do conhecimento (GINSBERG;
VENKATRAMAN, 1985).
Destarte, apesar da relevância ocupada pela revisão da literatura enquanto procedimento
de investigação (SAMPAIO; MANCINI, 2007), esta pode ser dotada de subjetividade ou de
tendências implícitas dos pesquisadores (FINK, 1998). Logo, para assegurar o rigor da
investigação (HODGKINSON, 2001), adotou-se a estrutura de revisão sistemática da literatura
proposta por Tranfield, Denyer e Smart (2003), composta por dez etapas, conforme ilustra a
Figura 1.
Figura 1 – Estrutura da revisão sistemática da literatura

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Fonte: adaptado de Tranfield, Denyer e Smart (2003)

Assim, atendendo ao disposto na primeira etapa da revisão sistemática da literatura,


definiu-se no protocolo a seguinte questão norteadora de revisão: qual é a ênfase das
investigações científicas sobre contabilidade ambiental na pecuária? A partir disso, para
assegurar a uniformidade e qualidade dos estudos analisados, estabeleceu-se que estes estariam
classificados na tipologia de documento correspondente a artigo e deveriam estar publicados
nas bases de dados Scopus ou Web of Science.
Como orientação de busca determinou-se a existência no título, resumo e/ou palavras-
chaves dos termos “environmental accounting” e “livestock” mediados pelo operador booleano
“and”. O período de seleção correspondeu a todos os anos, limitando-se a data de 20 de agosto
de 2019. Após a exclusão dos artigos duplicados, obteve-se um portfólio composto por oito
documentos, conforme demonstra o Quadro 1.

Quadro 1 – Portfólio de estudos analisados


Título Autor e Ano Periódico
Costs of overstocking on cattle and wildlife Kreuter e Workman
Ecological Economics
ranches in Zimbabwe (1994)
Indicators of resource use and environmental
Agriculture, Ecosystems
impact for use in a decision aid for Danish Halberg (1999)
and Environment
livestock farmers
On-farm monitoring of economic and
environmental performances of cropping Bechini e Castoldi
Ecological Indicators
systems: results of a 2-year study at the field scale (2009)
in northern Italy
Cazcarro, Pac,
Water consumption based on a Disaggregated Journal of Industrial
Sánchez-Chóliz
Social Accounting Matrix of Huesca (Spain) Ecology
(2010)
Subnational mobility and consumption-based Proceedings of the
environmental accounting of US corn in animal Smith et al. (2017) National Academy of
protein and etanol supply chains Sciences
Beef or grasshopper hamburgers: the ecological
Wegier et al. (2018) Basic and Applied Ecology
implicationsof choosing one over the other
Environmental income of livestock grazing on
Land Degradation &
privatelyowned silvopastoral farms in andalusia, Campos et al. (2018)
Development
Spain
Environmental accounting of closed-loop maize
Montemayor et al. Resources, Conservation
production scenarios: manure as fertilizer and
(2019) & Recycling
inclusion of catch crops
Fonte: resultados da pesquisa (2019).

Para a análise dos dados, inicialmente utilizou-se o Software VOSviewer a fim de


identificar a rede de associação de termos predominantes, possibilitando encontrar certos
padrões entre os estudos. Em seguida, realizou-se a leitura minuciosa dos artigos por dois

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pesquisadores de forma isolada, seguindo o postulado por Tranfield, Denyer e Smart (2003) e
pautando-se na questão norteadora de revisão.

4 Resultados e Discussão

A partir do portfólio de estudos obtidos, inicialmente realizou-se a análise de


coocorrência de dados textuais, considerando como unidade de análise as palavras-chaves. Esta
circunscrição justifica-se pela relevância de tais elementos para a indexação dos estudos, bem
como seu emprego na busca de informações e na delimitação de campo científico (BRANDAU;
MONTEIRO; BRAILE, 2005).
Para operacionalização desta análise, utilizou-se o Software VOSviewer, que configura-
se como um “programa de computador disponível gratuitamente para a construção e
visualização de mapas bibliométricos”, por meio da mineração de texto (VAN ECK;
WALTMAN, 2010, p. 523, tradução própria). Logo, definiu-se a ocorrência de no mínimo dois
termos iguais nas palavras-chaves, o que resultou em 12 dos 146 distintos descritores do
portfólio analisado. A Figura 2 apresenta a associação entre tais termos.

Figura 2 – Redes de coocorrência de palavras-chaves

Fonte: elaborado com o auxílio do Software VOSviewer (2019).

Observa-se que os estudos podem ser agrupados em dois clusters distintos compostos
pelo mesmo número de vértices (itens), conforme a associação entre as palavras-chaves
predominantes. O cluster vermelho pode ser denominado aspectos ambientais e técnicos, ao
passo que o cluster verde pode ser chamado de aspectos econômicos e financeiros, haja vista
os estudos que os compõem.
Entretanto, apesar desta classificação preliminar por proximidade das palavras-chaves
predominantes, a interdisciplinaridade da temática investigada ocasiona a convergência entre
ambos os clusters. Deste modo, sob uma perspectiva analítica, separá-los ou considerá-los de
forma isolada poderia ser arbitrário, pois suas conexões e inter-relações são relevantes para a
compreensão de suas interfaces enquanto fenômeno investigado.
Assim, o primeiro estudo do portfólio analisado que aborda contabilidade ambiental em
conjunto com a atividade pecuária foi desenvolvido por Kreuter e Workman (1994), e pauta-se
na mensuração dos custos de estocagem excessiva em fazendas de gado e de vida selvagem no
Zimbábue. Para os autores os métodos contábeis tradicionais não eliminam os custos biológicos
dos efeitos da lotação na produtividade das pastagens, o que os estimulou a desenvolver uma
estrutura para avaliar os efeitos do estoque excessivo sobre os aspectos financeiros e
econômicos de sistemas alternativos de produção. A conclusão do estudo é de que misturar

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fazendas que exploram a atividade pecuária convencional e fazendas de vida selvagem
apresenta certo grau de imprecisão quanto aos benefícios do excesso de estocagem.
Por sua vez, Halberg (1999) apresentou um conjunto de indicadores que foram testados
em vinte fazendas de pecuária bovina leiteira e de carne suína na Dinamarca, de forma
longitudinal (três anos). O objetivo deste estudo era auxiliar os produtores na constatação do
uso dos recursos naturais e do impacto ambiental das atividades desenvolvidas. Para tanto,
foram incluídos o excedente e a eficiência de Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Cobre (Cu), bem
como o uso de energia por quantidade produzida (litros de leite ou quilos de carne), índice de
tratamento de pesticidas e indicadores de qualidade da natureza. Os achados apontaram que
após a implementação dos indicadores houve melhorias e mudanças nas práticas de gestão.
Não obstante, Bechini e Castoldi (2009) realizaram uma investigação na Região Norte
da Itália a fim de monitorar o desempenho econômico e ambiental de plantações por meio de
um sistema de gerenciamento operacionalizado por indicadores. Estes, por sua vez, foram
selecionados a partir de questões consideradas mais pertinentes à atividade desenvolvida, quais
sejam: manejo de nutrientes e pesticidas, utilização de combustíveis fósseis para tração e
manejo do solo. Também se empregaram indicadores econômicos, como a margem bruta. De
acordo com os pesquisadores, o estudo torna possível separar e caracterizar diferentes sistemas
de cultivo, de forma correta e estável, e pode ser aplicado para procedimentos tanto ex ante
quanto ex post e de monitoramento.
Na província espanhola de Huesca, Cazcarro, Pac e Sánchez-Chóliz (2010) utilizando a
Matriz de Contabilidade Social (do inglês Social Accounting Matrix – SAM) desenvolveram
uma pesquisa a pegada hídrica. Esta é definida como sendo “o volume de água necessário para
a produção de bens e serviços consumidos pelos habitantes, além do consumo direto nas
famílias” (CAZCARRO; PAC; SÁNCHEZ-CHÓLIZ, 2010, p. 496, tradução própria). O estudo
observou que as atividades agrícolas necessitam de um representativo volume de água, sendo
que na pecuária o volume de água utilizado é três vezes superior ao uso direto pelas famílias,
sobretudo devido a avicultura.
Não obstante, Smith et al. (2017) apresentam em seu estudo os impactos ambientais
causados pela cadeia do milho americano utilizado na produção de proteína animal e etanol.
Para tanto, empregaram o modelo de Sustentabilidade de Cadeia de Suprimento do Sistema
Alimentar (do inglês Food System Supply Chain Sustainability – FoodS), que interliga as
relações de demanda com as de oferta do grão nos Estados Unidos, minimizando custos de
transação. Os resultados evidenciaram uma excessiva emissão de gases de efeito estufa e
utilização de grandes quantidades de água e terra, o que contribui para as mudanças climáticas
e escassez local de água.
Por sua vez, Campos et al. (2018) realizaram uma investigação a fim de mensurar o
consumo de forragem advinda da pastagem de gado e seu preço ambiental privado de acordo
com a vegetação predominante por meio do método do valor residual. Das 765 fazendas que
integraram a amostra analisada, observaram que a atividade pecuária desapareceu de 33%
destas. O estudo sugeriu ainda que o método de utilização de bens substitutos até então utilizado
para valoração do preço ambiental de pastoreio demonstra inconsistências com relação a teoria
do rendimento. Deste modo, recomendam que este deve ser substituído pelo método do valor
residual.
Concomitantemente, Wegier et al. (2018) apresentaram uma perspectiva de que a
mudança nos hábitos alimentares pode minimizar os impactos ambientais. Neste sentido,
evidenciaram que a introdução de insetos na alimentação pode ocasionar a melhoria na
qualidade de vida. Todavia, reconhecem que desenvolver estratégias para incentivar a
substituição do consumo de proteína animal convencional configura-se como um desafio, haja
vista os aspectos culturais inerentes a alimentação, sobretudo no Ocidente.

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Destarte, a pesquisa desenvolvida por Montemayor et al. (2019) analisou o perfil
ambiental de seis cenários de cultivo de milho em circuito fechado empregando distintos
métodos de adubação, por meio de uma Análise do Ciclo de Vida. Os resultados elucidaram
que a substituição de partes dos fertilizantes minerais por fertilizantes orgânicos proveniente de
uma planta de biogás, isto é, fertilizante advindo da digestão animal, poderia auxiliar no
equilíbrio da produção e de certa forma, compensar os impactos ambientais.
Assim, evidencia-se a multidisciplinariedade das investigações científicas sobre
contabilidade ambiental na pecuária, cuja mensuração ocorre por distintos métodos e por meio
de uma gama de variáveis. Todavia, o conjunto de estudos analisados possibilita inferir que
novas ferramentas de contabilidade ambiental estão sendo desenvolvidas e implementadas em
um setor econômico dotado de polêmicas e controvérsias acerca dos impactos ambientais que
ocasiona.

5 Conclusões

Este estudo possibilitou compreender como as investigações científicas abordam a


temática de contabilidade ambiental e pecuária conjuntamente. Os resultados obtidos fornecem
respaldo à literatura quanto a maximização do interesse dos investigadores de distintas áreas do
conhecimento em relação a tal temática, resultando na adaptação e implementação e um gama
cada vez maior de ferramentas orientadas para a contabilidade ambiental.
Deste modo, destacam-se as contribuições da pesquisa quanto a análise combinada de
assuntos que, em essência, provém de áreas distintas (ciências animais e agrárias e ciências
sociais). Assim, evidencia-se as multifaces da referida temática, bem como a maximização das
variáveis que a circunscrevem.
Todavia, reconhecem-se as limitações do estudo quanto a utilização de somente duas
bases de dados, que apesar de representativas para a ciência, não abrangem a totalidade de
documentos científicos. Assim, pesquisas sobre a temática indexadas em outras bases não
foram contemplados pelo estudo. Para estudos futuros sugere-se investigar a aplicabilidade e
reflexos gerenciais na atividade pecuária das ferramentas de contabilidade ambiental expostas
nesta investigação, bem como comparar os distintos de métodos de valoração de custo
ambiental no setor agronegocial.

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Entendendo os fatores que impactam no desperdício de alimentos nas
residências
Understanding the factors that impact on household food waste
Gabriel Jäger Ramos1, João Augusto Rossi Borges2

Resumo
O objetivo geral de nosso estudo foi identificar os fatores que influenciam o desperdício de alimentos no nível
domiciliar. Os objetivos específicos foram: identificar as características sociodemográficas que influenciam o
desperdício de alimentos; e identificar os fatores psicológicos que influenciam no comportamento do desperdício
de alimentos. Para atingir os objetivos, desenvolvemos um questionário, dividido em três grupos de perguntas:
questões sociodemográficas, questões que mediam a quantidade total de desperdício de alimentos nas residências
e questões sobre os fatores psicológicos que influenciam as pessoas em relação à quantidade e frequência de
desperdício de alimento das famílias. Percebemos uma tendência das pessoas a desperdiçarem mais frutas, legumes
e saladas. Os resultados demostraram que educação, renda, idade e gênero têm correlação significativa com a
geração de desperdício de alimento nas residências. Em relação aos fatores psicológicos, nosso estudo demostrou
que intenção, atitudes pessoais, controle comportamental percebido, normas subjetivas, o comportamento de bom
provedor e os hábitos de planejamento da residência têm correlação significativa com o desperdício de alimentos.
Palavras-chave: Agenda 2030 para desenvolvimento sustentável, Teoria do Comportamento Planejado,
Desperdício alimentar no Brasil, Comportamento do consumidor.

Abstract
The general objective of our study was to identify the factors that influence food waste at the household level. The
specific objectives were to identify the socio-demographic characteristics that influence on household food waste;
and to identify the psychological factors that influence on the food waste behaviour. To achieve the objectives of
this research we developed a survey, separated in three groups of questions. The first group consisted of socio-
demographic questions, the second group consisted of questions measuring the total amount of food waste and the
third part of the survey consisted of questions about the psychological factors that drive people regarding to their
quantity and frequency of the households’ food waste. We perceived a tendency of people to waste more fruits,
vegetables and salads. Our results showed that education, income, age and gender have significant correlation
with household food waste generation. In relation to the psychological factors, our study showed that intention,
personal attitudes, perceived behavioural control, subjective norms, the good provider identity and the household
planning habits have significant correlation with food waste for all the six food groups we analyzed.
Key words: 2030 Agenda for sustainable development, Theory of Planned Behavior, Food waste in Brazil,
Consumer Behavior.

1. Introduction
Food waste and losses3 are currently an important topic around the world. Institutions
such as the Food and Agricultural Organization of the United Nations (FAO) have been
reporting that food availability might exist only until 2050 and food waste has been predicted
to increase in the next 25 years (Chen et al., 2017). If the world does not increase the global
food production by 60 per cent higher than it was in 2006/2007, humanity might face global
food insecurity. Therefore, food waste is clearly an unethical and unsustainable situation and
requires the world’s attention on finding ways to increase food production and decreases the
waste of food. Indeed, most of the necessary effort to increase the global food availability could

1Doutorando em Agronegócios/Programa de Pós-Graduação em Agronegócios UFGD1-


gabrieljagerramos1@gmail.com1
2PhD in Business Economics/Programa de Pós-Graduação em Agronegócios UFGD2-
joaoborges@ufgd.edu.br2

3
According to the Parfitt et al. (2010), it is called food loss when the food is lost at production, postharvest and
processing stages in the food supply chain. The food that is lost at the end of the supply chain (retail and final
consumption) is what we define as food waste. Therefore, food waste and loss refer to the decrease in edible food
mass throughout the part of the supply chain that specifically leads to edible food for human consumption
(Gustavsson et al., 2011).
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be actually on food waste reduction (Kummu et al., 2012; FAO, 2013).
In 2015 the United Nations (UN), together with world leaders, adopted the 2030 agenda
for sustainable development. This agenda has 17 goals to end poverty, protect the planet and
ensure prosperity for all (United Nations, 2015). Furthermore, many of the new sustainable
agenda’s goals are related to food waste. However, about 1/3 of the total food produced is
discarded (FAO, 2013; Smith & Gregory, 2013), which has negative impacts such as
environmental impacts due to greenhouses gas emissions (GHG), freshwater use, cropland and
fertilizer use, economic losses and food insecurity (Gustavsson et al., 2011; Kummu et al.,
2012).
In Brazil, the situation is not different compared to the rest of the world. From its 268.1
million tons of available food, approximately 10% is wasted (CAISAN, 2018). Regarding to
the food and nutrition security in Brazil, 77.4% of the households are secure, and 22,6% of the
households face food and nutrition insecurity (i.e. 14.8%, 4.6% and 3,2% presenting, low,
moderate and severe insecurity respectively).
Food losses and waste occur in all supply chain points (Parfitt et al., 2010), from the
farm to our plates, however, the largest amount of food waste occurs in households (European
Commission & Report, 2010). For instance, according to the Brazilian Agricultural Research
Corporation (EMBRAPA, 2018), each household waste an average of 128,8 kilograms of food
a year and each person waste 41,6 of food a year in Brazil.
Furthermore, there is a trend of research regarding to study household food waste in
order to understand this phenomenon. These studies have investigated the influence of different
variables that may influence food waste. However, food waste results from complex factors and
behaviours (Secondi et al., 2015). For instance, socio-demographic factors such as age, gender,
income and household composition might influence on the amount of food waste (Quested et
al., 2013; Ventour, 2008; WRAP 2009). Psychological factors such as intention to avoid food
waste, financial and personal attitudes, perceived health risks, perceived behavioural control,
planning habits, personal and subjective norms, food waste awareness and data label and
storage knowledge also might have influence on household food waste (Visschers et al., 2016;
Graham-Rowe et al., 2014).
The household planning habits and routines were also investigated revealing that
planning our food shopping can be effective against overbuying, which prevents food waste
(Parizeau et al., 2015; Secondi et al., 2015). However, these studies’ different findings seem
rather inconsistent, requiring manners of better explanation of their meaning for the food waste
behavior. Therefore, it is important to study individual’s behaviour for a better understanding
of food waste prevention (Secondi et al. 2015).
One of the theories that can be used to understand the psychological factors that
influence an individual on wasting food is the Theory of Planned Behavior (TPB). There is a
range of studies that used the TPB to understand consumers’ decisions and behaviours
(Graham-Rowe et al., 2014; Parizeau et al., 2015; Quested et al., 2013). In these studies,
personal and financial attitudes, personal and subjective norms and perceived behavioural
control are the common factors used in order to explain food waste behaviour by the TPB’s
constructs. However, some other studies used additional factors in the main TPB’s constructs,
in order to deepen the understanding of food waste behavior, which are: the individual’s desire
to be a good provider and habits related to shopping and household planning (Graham-Rowe et
al., 2014; Visschers et al., 2016). In our study, we also used those additional factors.
Although there is an increasing trend in studies about food waste at the household level,
most of them have been conducted in Europe (Schanes et al., 2018; Herpen et al., 2018).
Therefore, research in this topic is still scarce in South America, which prevents accurate
diagnostics about food waste behaviour in these countries, which have different consumer
environments and cultural situations compared to countries in Europe and North America.
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Besides, to the best of our knowledge, there is no similar study conducted in Brazil so far, which
increased the importance of carrying out the present study.
In the light of the foregoing, the general objective of our study was to identify the factors
that influence food waste at the household level. The specific objectives were to identify the
socio-demographic characteristics that influence on the food waste; and to identify the
psychological factors that influence on the food waste behaviour.

2. Theoretical Background
2.1 Theory of Planned Behavior (TPB)
The Theory of Planned Behavior is an extension of the Theory of Reasoned Action
(TRA) (Fishbein & Ajzen, 1975). Since intention is the central concept that best predicts an
individual's behaviour, for the TPB, there are three factors that affect the intention to perform
the behaviour. First, the individual’s attitude needs to be in favour of the behaviour. Second,
the norms and opinions of other people who are important to the decision maker need to be in
favour of the behaviour, which is named subjective norms. Third, the individual needs to
perceive control over the behaviour (Ajzen, 1991; Visschers et al., 2016).

3. Materials and Methods


3.1 Survey and Sampling
To achieve the objectives of this research we developed a survey, separated in three
groups of questions. The first group consisted of socio-demographic questions, including
gender, age, social status, region, family composition, employment and level of education. The
second group consisted of questions measuring the total amount of food waste. In these
questions, participants self-reported the amount and frequency of households’ food waste for
each of six groups of food (fruits; vegetables and salads; animal protein in general; bakery
products; fast food or ready-to-eat meals; dairy products; and pastas). The scales used in the
questions to measure the quantity of the households’ food waste, had seven response options,
which were quite a lot, a reasonable amount, some, a small amount, hardly any, none, I do not
have it or I do not consume it. The scale for the frequency measurement questions had nine
response options which were: every day, several times a week, once a week, several times a
month, once a month, several times a year, once a year, never and I do not consume it. This
group of questions was adapted from Ventour (2008) and WRAP (2009).
The third part of the survey consisted of questions about the psychological factors that
drive people regarding to their quantity and frequency of the households’ food waste. These
questions were adapted from Visschers et al., (2016). These questions had items about intention
to avoid food waste, personal attitudes, financial attitudes, perceived health risks, perceived
behavioural control, personal norms, subjective norms, household planning habits and the good
provider identity. Respondents rated these items in a Likert-type scale from 1 to 7 points, which
1 represented “totally disagree” and 7 represented “totally agree”.
To collect the data, we conducted an anonymous online survey. The survey was
distributed throughout Brazil. Sampling and survey were performed with the support of a
specialized market research company. To ensure the necessary level of rigor, we monitored and
commented on each step of the sampling and survey implementation. Using this strategy, we
could reach all regions of the country and our final sample was 600 respondents. Before starting
data collection, we pre-tested the survey with 10 people by using the Google Forms platform,
and adapted inconsistencies found.

3.2 Data analysis


To reach our results, we first calculated the total reported amount of food that was
wasted for each of the six groups of food by multiplying its coded quantity by the coded
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frequency of waste reported by the participant. After, we generated a new variable that
corresponded to the total amount of food wasted by each respondent for each food group, as we
show in Table 1.

Table 1 - Total amount of self-reported food waste per food group (N = 600)
Groups of food Mean
Fruits, vegetables and salads 19.60
Animal protein in general 13.25
Bakery products 15.29
Fast-food or ready-to-eat meals 9.59
Dairy Products 11.86
Pastas 12.75
Note. The scale for measuring the food waste quantity varied from 1 to 7. The scale for measuring the food
waste frequency varied from 1 to 9. When multiplying respondents’ answers, we could have the minimum
amount of food waste, which could be 1 and the maximum amount of food waste, which could be 63.

We used the Cronbach’s α to check the internal reliabilities of the items used to measure
the constructs intention, personal and financial attitudes, perceived health risks, perceived
behavioural control, personal and subjective norms, household planning habits and the good
provider identity. Due to the low reliability (<0,6) of some Cronbach’s α coefficients, we
excluded financial attitudes, perceived health risks and personal norms constructs from further
analyses. After, we created specific variables for each construct by using the mean of their
items. Then, we used the spearman rank correlation coefficient to analyze whether the total
amount of waste of the six groups of food were correlated to socioeconomic characteristics and
intention, personal attitudes, perceived behavioural control, subjective norms, the good
provider identity and household planning habits. We used the software Stata 14.

4. Results and Discussion


4.1 Amount and frequency of food waste
Regarding the quantity of food waste reported for each of the six food groups (Fruits,
vegetables and salads (FVS); Animal protein in general (AP); Bakery products (BP); Dairy
products (DP); Fast-food or ready-to-eat meals (FF) and Pastas, we believe that the moral
charges upon the individual might have influenced the respondent's answers (see Table 1) to
less food waste (Herpen et al., 2018). However, the change in the answers' pattern of high rates
for not to waste or hardly any waste food, for quite a lot and a reasonable amount in the group
of fruits, vegetables and salads, might show the individuals' tendency of wasting more these
types of food. Ventour (2008) has found the same tendency of wasting these types of food.

Table 1 – Self-reported quantity of food waste by food group.


Quite a lot A reasonable Some A small Hardly any None I do not have it or
amount amount consume it
FVS 4,33% 9,00% 14,67% 19,33% 40,33% 11,50% 0,83%
AP 2,67% 3,83% 7,17% 9,33% 38,33% 38,00% 0,67%
BP 1,33% 7,33% 11,67% 11,67% 32,00% 35,17% 0,83%
FF 1,33% 2,67% 5,67% 5,33% 25,50% 46,33% 13,17%
DP 1,67% 3,17% 6,00% 10,17% 32,50% 45,17% 1,33%
Pastas 0,67% 3,67% 8,17% 12,33% 40,00% 35,17%
Food groups: FVS: Fruits, vegetables and salads. AP: Animal protein in general. BP: Bakery products. FF:
Fast food or Ready-to-eat meals. DP: Dairy products.

Concerning to the self-reported frequency of food waste. Same as we observed in the


quantity of food waste reported, we observed a similar pattern of answers in the self-reported
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frequency of waste (see Table 2). So, the same answer’s pattern changed for the rates of never
waste, decreasing in the group of fruits, vegetables and salads. This changing reinforced the
tendency observed in the respondents’ answers for the quantity of food waste, highlighting
fruits, vegetables and salads as the most wasted food types of our study.
There is some possible explanation for the tendency of wasting more fruits, vegetables
and salads. For instance, fruits, vegetables and salads, do not have palatability like the other
food groups that tend to be more processed, which might make people waste them more than
the other food groups. Another explanation is that the causes for wasting fruits, vegetables and
salads do not start at the household. Brazil produces many of these types of food but due to
logistics and transportation shortcomings, when these foods reach the consumer their shelf life
are already compromised.

Table 2 – Self-reported frequency of food waste by food group.


Every Several Once a Several times Once a Several Once a Never I do not have it or
day times a week week a month month times a year year consume it
FVS 1,83% 12,50% 12,83% 14,83% 8,83% 18,83% 5,67% 24,00% 0,67%
AP 1,00% 6,83% 6,33% 11,50% 7,50% 18,00% 5,50% 42,67% 0,67%
BP 1,17% 8,17% 9,17% 13,17% 6,50% 17,67% 7,50% 35,33% 1,33%
FF 0,67% 3,00% 4,33% 6,00% 6,50% 13,83% 7,17% 45,83% 12,67%
DP 0,67% 4,17% 4,33% 8,00% 9,50% 19,67% 9,50% 43,50% 0,67%
Pastas 0,83% 4,83% 4,00% 9,67% 8,00% 21,00% 12,67% 37,50% 1,50%
Food groups: FVS: Fruits, vegetables and salads. AP: Animal protein in general. BP: Bakery products. FF: Fast food or Ready-to-
eat meals. DP: Dairy products.

4.2 Spearman Rank Correlations


4.2.1 Socio-demographic characteristics and the food groups
According to Schanes, et al. (2018), in their systematic review of household food waste,
it is hardly possible to single out any socio-demographic factor as an explanatory variable for
food waste generation. However, our study revealed in general, significant correlations between
socio-demographic variables and the waste of food (see Table 3).
The amount of people in the household (APH) was positively and significantly
correlated with the group fruits, vegetables and salads (FVS) and the group pastas. These results
indicate that as more people live in the household, more FVS and pastas are wasted. These
results are in line with others studies: larger households produce a higher amount of food waste
(Parizeau et al., 2015; Quested et al., 2013; Stancu et al., 2016; Visschers et al., 2016).
The level of education was positively and significantly correlated with all the six food
groups (p<0.001), which means that the higher the education level, the more is the waste of
food. The income was also positively and significantly correlated with all the six food groups
(p<0.001), which means that the higher the income the more is the waste of food. Some studies
showed no significant correlation between food waste and education level, differing from our
results (Cecere et al., 2014; Neff et al., 2015). However, Schanes et al. (2018) showed studies
in their systematic review, that point employment status potentially associated with food waste
generation. Furthermore, Qi and Roe (2016) showed that full-time workers feel they have less
time to worry about food waste. In addition, as same as our findings, Stancu et al. (2016) found
a positive correlation between income and food waste generation, while other studies found no
correlation (Visschers et al., 2016; Wenlock et al., 1980). A possible explanation about our
correlation results for education level, income and food waste generation is the hypothesis that
people who are more educated are more likely to have an employment status. Having a job
impact in the time giving to the preparation of the meals in the household what might make
people do not give the required attention about preparation waste or leftovers usage. In addition,
employed people might have meals out of their home, in restaurants or at work, more often,

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which make them reduce food waste at home. Alternatively, to have a higher income and
possibility of buying more if they need as well as buying higher amounts and variety of food,
because of the Brazilian culture of food abundance (Porpino, 2015). This hypothesis explains
the same strong correlation found by other studies, between these two variables and the food
waste in all food groups.
According to Schanes et al. (2018), there is no consensus about how far food waste
generation is subject to age. In our study, age was negatively and significantly correlated with
the groups of animal protein in general (AP), fast food or ready to eat meals (FF), dairy products
(DP) and pastas, which means that younger people waste less these types of food. As in our
study, most studies found negative correlation between age and the amount of food wasted
(Secondi et al., 2015; Stancu et al., 2016; Visschers et al., 2016). However, Cecere et al. (2014)
found the opposite. Our hypothesis for our findings is the fact that younger people might have
less experience and knowledge about food preparation or storage, as well as food waste
awareness, as Qi and Roe (2016) suggested. In the same way, Quested et al. (2013) showed that
people over 65 years of age tend to waste less food.
For Principato et al. (2015), gender does not prove to be significant in food waste
generation. However, in our study, gender was significantly correlated with animal protein,
bakery products and fast food or ready-to-eat meals (p<0.01). In the context of our study, it
suggests that men waste more these three food groups than women. Other studies also showed
similar results for gender (Cecere et al., 2014; Secondi et al., 2015), while Visschers et al.
(2016) found the opposite. Regarding the Brazilian context, we hypothesized that our results
occurred due to the fact that, commonly, women are responsible for food shopping routines and
preparation in the Brazilian households, which gives them more knowledge about how to deal
with food, for instance, better use of leftovers and products reaching their use-by date. In
addition, it is possible that women have more knowledge than men about storage and food
preparation.

Table 3 - Spearman correlations estimates between the socioeconomics


characteristics and the food groups.
1. 2. 3. 4. 5. 6.
1. FVS 1
2. AP 0.64 1
3. BP 0.67 0.66 1
4. FF 0.42 0.52 0.50 1
5. DP 0.61 0.64 0.67 0.54 1
6. Pastas 0.61 0.68 0.67 0.55 0.66 1
7. APH 0.10** 0.06 0.05 0.06 0.03 0.12*
8. Education 0.17*** 0.17*** 0.23*** 0.17*** 0.19*** 0.20***
9. Age -0.06 -0.11** -0.05 -0.08* -0.11** -0.13**
10. Income 0.14*** 0.14*** 0.21*** 0.13*** 0.17*** 0.14***
11. Gender -0.06 -0.12** -0.08* -0.13** -0.05 -0.07
* p< 0.05, ** p< 0.01, *** p< 0.001. Food groups: FVS: Fruits, vegetables and salads.
AP: Animal protein in general. BP: Bakery products. FF: Fast food or Ready-to-eat
meals. DP: Dairy products. APH: Amount of people in the household.

4.2.2 Psychological constructs and the food groups


The Spearman rank correlations between the psychological constructs and the food
groups, revealed, in general, significant correlations between the psychological constructs and
the reported amount of food waste for each of the six food groups (see Table 4). However, some
constructs did not have high coefficients with the food groups, but still significant.
Table 4 - Spearman rank correlations between the constructs and the food groups.
FVS AP BP FF DP Pastas

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Intention 0.36* 0.39* 0.35* 0.24* 0.36* 0.38*
Personal Attitudes 0.34* 0.36* 0.38* 0.26* 0.37* 0.35*
Perceived Behavioral Control 0.29* 0.34* 0.26* 0.26* 0.30* 0.32*
Subjective Norms 0.20* 0.18* 0.20* 0.20* 0.21* 0.21*
Good Provider Identity 0.11* 0.12* 0.12* 0.14* 0.13* 0.13*
Household Planning Habits 0.30* 0.26* 0.27* 0.20* 0.26* 0.24*
*p< 0.05. Food groups: FVS: Fruits, vegetables and salads. AP: Animal protein in general. BP:
Bakery products. FF: Fast food or Ready-to-eat meals. DP: Dairy products

These results showed that the stronger is the influence of these psychological constructs
on an individual, the more the individual tends to waste food. In the context of our study based
on six food groups, it suggests that as more intention of waste food a person has, more is this
person likely to waste food. People with positive personal attitude about food waste would
waste less. As much as people perceived to be in control of their household food waste
behaviour, less is the food waste. As much as the people living in the household approve the
respondent’s positive food waste behaviour (subjective norms), less is the food waste. As much
as a person has the behaviour of being a good provider, more is this person likely to waste food.
As more is planned the household shopping routines, less food waste.
Since, intention is the best predictor for an individual’s behaviour, we checked the
Spearman rank correlations between intention and all the constructs (see Table 5). It was
possible to observe a positive and significant correlation between the intention construct and
the others, except for the good provider identity. Therefore, in relation to personal attitudes, the
results showed that as much as the person perceives that it is not good to waste food, smaller is
the person’s intention to waste food. As much behavioural control the person has, less intention
to waste food. As higher is the food waste behaviour of the people who are important to the
respondent, more intention the respondent has to waste food (subjective norms). As more
planned is the household shopping routine of the respondent, less intention to waste food.

Table 5 – Spearman correlations between the constructs.


1 2 3 4 5 6
1. Intention 1
2. Personal attitudes 0.63* 1
3. Perceived behavioural control 0.26* 0.24* 1
4. Subjective norms 0.20* 0.18* 0.48* 1
5. Good provider identity 0.01 -0.04 0.28* 0.23* 1
6. Household planning habits 0.37* 0.41* 0.20* 0.07 -0.14* 1
* p< 0.05.

According to Principato et al. (2015) concerns about food waste is a significant


predictor of food waste reduction and, according to Stancu et al. (2016), it has substantial
influence on the intention to reduce food waste. Therefore, if a person is concerned about the
problems that food waste generates, this person is likely to have positive personal attitudes
about food waste behaviour.
This fact explains the strong correlation between personal attitudes and intention, found
in our study. In this way, we highlight the importance of developing people’s food waste
awareness in order to make them more concerned about food waste generation. A person more
aware about the food waste issue will have positive intention against food waste, contributing
to reduce it. Regarding to perceived behaviour control, people who consider being on the
control of their household food waste generation have more intention to reduce food waste or
reduce it directly (Graham-Rowe et al., 2015; Stancu et al., 2016; Visschers et al., 2016).
Schanes et al. (2018) defined subjective norms as commonly approved or disapproved
behaviours in a culture. Regarding household food waste behavior, it means for instance, that

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if a negative food waste behaviour is disapproved in the individual’s culture, this individual is
likely to reduce food waste. In our study’s context, we verified food waste reduction behaviours
within the household, regarding subjective norms. In relation to subjective norms, some studies
showed that it increases the intention to reduce food waste (Graham- Rowe et al., 2015; Stancu
et al., 2016). In this way, if the commonly approved behaviour in the household is to waste food
(due to the lack of awareness of food waste impacts), subjective norms might decrease the
intention to reduce food waste. If the people living in the household are more aware about food
waste, and the commonly approved behaviour in the household towards food waste reduction,
then subjective norms might increase the intention to reduce food waste.
Although the good provider identity had no correlation with intention (see Table 5) in
our study, it had correlation with the amounts of food waste in all food groups. This result might
be explained by the Brazilian culture of having plentiful and mixed food (Porpino, 2015), so
people are mostly tended to overbuying. On the other hand, our results showed a negative and
significant correlation between the good provider identity and the household planning habits,
which means that as more planned are the shopping routines, less is the overbuying of food.
Other studies also found that planned shopping routines might be an effective tool to prevent
overbuying and, consequently, food waste (Parizeau et al., 2015; Secondi et al., 2015). Our
explanation for no correlation between the good provider identity and intention is that even if
a person behaves as a good provider, it does not mean that this person has the intention to waste
food.

5. Conclusions
We investigated household food waste by both socio-demographic and psychological
factors perspective, regarding six food groups. In relation to the socio-demographic factors, our
results showed that education and income, age and gender have significant correlation with
household food waste generation. However, age did not have significant correlation with fruits,
vegetables, salads and bakery products, as well as gender did not have significant correlation
with fruits, vegetables, salads, dairy products and pastas. In relation to the psychological
factors, our study showed that intention, personal attitudes, perceived behavioural control,
subjective norms, the good provider identity and the household planning habits have significant
correlation with food waste for all the six food groups we analyzed.
Our study’s findings can be used in various ways in order to create manners of reducing
food waste in Brazil. In this way, public policies could be created to motivate consumers not to
waste food, giving them information about the impacts of food waste, through TV and Internet
advertisements, public events for discussing the theme in local communities, about the world’s
food security situation and mostly to increase consumers’ knowledge about food preparation,
storage and planning for example. Thus, we could influence consumers’ through their personal
attitudes. We also believe that consumers more aware about food waste would increase the
perceived behaviour control of the members of the household, towards food waste.
Our study had some limitations. We chose the self-reported as a method for measuring
the amount of food waste. Our reasons for choosing this method was mostly because it is
cheaper and required less time to collect data, instead of more precise methods such as the diary
or the collection of participants’ food waste. However, when answering the self-report, people
may not know exactly how often or how much food they discarded (Visschers et al., 2016).
Furthermore, people may have reported smaller amounts and lower frequencies than what is
actually real, due to the moral issue around food waste behaviour (Herpen et al., 2018).
In addition, the scales we used (Ventour, 2008; WRAP, 2009) for measuring the amount
and frequency of food waste might be questionable regarding to its applicability in Brazil. When
a Brazilian reports to waste quite a lot of food, is it the same quite a lot as a person may report
in the UK? Our answer for this question is that in the context of our study, we were not actually
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interested in measuring the actual amount of food waste, but have insights about Brazilians’
food waste behaviour. Moreover, since we are observing human behaviour, this scale remains
valid, but we suggest for further researches a validation study in order to develop a self-report
measurement that can be officially valid for use in Brazil.

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Florestas e o Mercado de Carbono
Carbon Market and Forest
Caroline Soares da Silveira 1, Letícia de Oliveira2

Resumo: O sequestro e o armazenamento de carbono, pelos serviços prestados ao ecossistema, foi lançado na
CQNUMC como um instrumento de flexibilização dos compromissos de redução das emissões de GEE dos
países com metas de redução, para mitigar as mudanças climáticas. O plantio de florestas é uma atividade que
com a redução das emissões de GEE, pode gerar créditos de carbono, na qual poderão ser comercializados no
mercado de carbono. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi identificar os estudos sobre o mercado de carbono
no Brasil e como os projetos relacionados a este mercado têm sido trabalhados e desenvolvidos, bem como
identificar a representatividade destes estudos no setor de florestas. Com vistas a cumprir o objetivo do estudo,
fez-se um estudo exploratório, contendo dados secundários dos artigos publicados nas bases de dados Scopus e
Scielo sobre o mercado de carbono no Brasil. As principais conclusões do estudo indicaram que os estudos sobre
Mercado de Carbono no Brasil foram relacionados à projetos de REDD+, projetos de MDL (maior proporção),
geração de créditos de carbono pela biomassa e estoque de CO2, projetos de mercado voluntário de carbono,
reduções certificadas de emissões (RCEs) no mercado regulado de carbono, armazenamento de carbono para o
comércio de emissões, mercado de carbono, redução de emissões de GEE.
Palavras-chave: Mercado de Carbono; Mercado de Carbono Florestal; Sequestro de Carbono.

Abstract: Carbon sequestration and storage for ecosystem services has been launched at the UNFCCC as an
instrument for easing the GHG emission reduction commitments of countries with reduction targets to mitigate
climate change. Planting forests is an activity that, by reducing GHG emissions, can generate carbon credits,
which can be traded on the carbon market. Thus, the objective of this study was to identify studies on the carbon
market in Brazil and how projects related to this market have been worked and developed, as well as to identify
the representativeness of these studies in the forest sector. In order to fulfill the objective of the study, an
exploratory study was conducted, containing secondary data from the articles published in the Scopus and
Scielo databases on the carbon market in Brazil. The main findings of the study indicated that studies on the
carbon market in Brazil were related to REDD + projects, CDM projects (higher proportion), biomass carbon
credits generation and CO2 stock, voluntary carbon market projects, certified carbon emissions (CERs) in the
regulated carbon market, carbon storage for emissions trading, carbon trading, GHG emission reductions.
Keywords: Carbon Market; Forest Carbon Market;Carbon Sequestration .

1 Introdução
As florestas, além dos benefícios econômicos pela comercialização dos produtos
madeireiros desempenham papel fundamental na mitigação das mudanças climáticas,
principalmente pelo sequestro e armazenamento de carbono. Além da questão da mitigação
das mudanças climáticas, o plantio de florestas consiste em uma das formas de aumentar ou
manter a rentabilidade no setor florestal, com o mercado de carbono. Além disso, percebe-se a
possibilidade de integrar o valor dos recursos florestais na tomada de decisão do investidor
florestal, a fim de apoiar as estratégias de manejo mais sustentáveis.
Para participar desse mercado, segundo Zanetti (2019) existe uma série de
procedimentos, acordados entre poluidores e recicladores. Quem planta florestas, está
realizando a retirada do CO2 atmosférico, e transformando esse gás em madeira. Por isso, o
plantio de florestas é uma atividade de projeto que pode receber créditos de carbono. Esses
créditos de carbono é que vão ser comercializados no mercado. O Brasil participa do mercado
de carbono florestal, principalmente pelas plantações florestais.
O mercado de carbono surgiu com o Protocolo de Quioto, que foi estabelecido pela
necessidade da mitigação das mudanças climáticas, e posteriormente foram criados os
mecanismos de comércio para esse carbono. Estes mecanismos surgiram para que as

1
Engenheira Florestal/Mestre e Doutoranda em Agronegócios – CEPAN (UFRGS)
carolinesoaresef14@hotmail.com
2
Administradora/Doutora em Agronegócios – Docente no Departamento de Economia e Relações
Internacionais e no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios/UFRGS – leoliveira13@gmail.com

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empresas que excedem os limites de emissões de GEE devem pagar por projetos de
compensação de carbono, que geralmente são realizados por empresas intermediárias. Estas
empresas elaboram os projetos de compensação das emissões de empresas poluidoras, com
base no cálculo das emissões associadas às operações da empresa e estabelecem a
compensação das emissões, por meio do plantio de florestas.
Os mecanismos têm o intuito de facilitar o cumprimento das metas de redução e
permitem a criação e o desenvolvimento do mercado de carbono, são eles: Implementação
Conjunta, o Comércio de Emissões e o Mecanismo de desenvolvimento Limpo (MDL). A
Implementação Conjunta determina que os países industrializados compensem suas emissões
participando de projetos; O Comércio de Emissões permite que países desenvolvidos
negociem entre si os níveis de emissões acordadas no Protocolo; O Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo, que afeta diretamente os países em desenvolvimento, determina que
os países industrializados possam cumprir seus compromissos de redução investindo em
projetos que evitem as emissões de gases do efeito estufa nos países em desenvolvimento
(GODOY, 2013).
O mercado para serviços prestados pelo ecossistema, como o caso do sequestro e
armazenamento de carbono para mitigação das mudanças climáticas, surgiu pela exaustão dos
recursos naturais. Para Mattei e Rosso (2014) a criação deste mercado significa dotar de valor
econômico os serviços ecossistêmicos prestados, atualmente de forma gratuita. Os provedores
dos serviços, ou seja, os proprietários das áreas em que os serviços são gerados receberiam
pagamentos de acordo com os custos de oportunidade relativos à restrição de uso dos recursos
naturais. Os pagamentos seriam provenientes, por sua vez, dos beneficiários de tais serviços.
De forma geral, dos serviços prestados ao ecossistema, pelas florestas, alguns dos
principais são o sequestro e armazenamento de carbono da atmosfera, caracterizado como um
serviço de regulação do clima, que tem conseguido efetivamente, gerar renda para os
cultivadores de florestas por intermédio do mercado de carbono. Isto inclui o uso múltiplo das
florestas que envolvem explorar os recursos produtivos, sem impossibilitar a prestação de
serviços ecossistêmicos das florestas. A tecnologia de silvicultura para isso começa a ser
desenvolvida, pois no futuro, a valoração econômica das florestas, segundo o autor,
futuramente será o principal motivo para sua conservação (Zanetti, 2019).
Portanto, o questionamento sobre o mercado de carbono está nas seguintes perguntas de
pesquisa: Como tem sido desenvolvido e trabalhado o mercado de carbono no Brasil? Qual a
representatividade dos estudos de mercado de carbono em florestas? Após a elaboração destas
questões de pesquisa, propõe-se o objetivo de identificar os estudos sobre o mercado de
carbono no Brasil e como os projetos relacionados a este mercado têm sido trabalhados e
desenvolvidos, bem como identificar a representatividade destes estudos no setor de florestas.
A importância de responder a este problema de pesquisa é em relação à aplicabilidade
do mercado de carbono no Brasil, com vistas a identificar o desenvolvimento atual desse
mercado e identificar lacunas de estudos futuros. Isto se dá principalmente pela problemática
das mudanças climáticas e a sua ameaça às atividades do agronegócio brasileiro, bem como a
preservação dos recursos naturais e o seu uso múltiplo. Portanto, é desta forma que esta
revisão pretende contribuir com a literatura, apresentando uma perspectiva clara e atual sobre
o funcionamento do mercado de carbono no Brasil e apresentar insights sobre as questões que
necessitam de recomendações e estudos futuros.

2 Referencial Teórico
O mercado de carbono foi estabelecido alguns anos após o Protocolo de Quioto, na
qual surgiu a partir da necessidade de mitigação das mudanças climáticas e os seus efeitos em
parâmetros mundiais. Nesse sentido, Zanetti (2019) indica que para compensar o aumento de
CO2 causado pelo homem, os sistemas terrestres e aquáticos não são suficientes e podem

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atingir um ponto de saturação, havendo necessidade de diminuir as emissões. Essas opções de
redução e sequestro podem ser realizadas através da mudança de matriz energética e plantios
florestais, além de outras práticas industriais. O papel e a importância das florestas devem ser
mantidos justamente pela capacidade de retirar o CO2 da atmosfera, e transformá-lo em
produtos úteis para a sociedade. A quantidade de CO2 na atmosfera terrestre ainda poderá ser
regulada pelo plantio de florestas, mesmo depois de toda a matriz energética ter sido
substituída por combustíveis renováveis.
Com a necessidade da mitigação das mudanças climáticas, em 1992, durante a
conferência denominada Encontro da Terra, realizada no Rio de Janeiro, 186 países adotaram
a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – CQNUMC, (United
Nations Framework Convention on Climate Change) um acordo mundial cujo objetivo é a
estabilização das concentrações dos GEE em um nível que previna a perigosa interferência
humana no sistema climático (COSTA, 2004). Sob o princípio da precaução, os países
comprometeram-se a elaborar uma estratégia global “para proteger o sistema climático para
gerações presentes e futuras” (BUSTAMANTE e ROVERE, 2014).
Os países também estabeleceram um grupo de acompanhamento das ações voltadas ao
tema, a Conferência das Partes (COP), que faz reuniões anuais. A COP é o órgão supremo da
CQNUMC que reúne anualmente os países Parte em conferências mundiais. Suas decisões,
coletivas e consensuais, são tomadas se forem aceitas unanimemente pelas Partes, sendo
soberanas e valendo para todos os países signatários. O objetivo é manter regularmente sob
exame e tomar as decisões necessárias para promover a efetiva implementação da convenção
e de quaisquer instrumentos jurídicos que a COP possa adotar (MMA, 2019). Na terceira
Conferência das Partes, COP-3, realizada em Kyoto no Japão, em 1997, os países adotaram o
Protocolo de Quioto (COSTA, 2004). Já na Conferência das Partes de Copenhague (COP-15)
foi definido um limite aceitável de no máximo 2ºC na temperatura, como objetivo da
Convenção do Clima (BUSTAMANTE e ROVERE, 2014).
O Protocolo de Quioto entrou em vigor somente em 2005 e consiste em um tratado
internacional que estipulou metas de reduções obrigatórias dos principais GEE. Apesar da
resistência por parte de alguns países desenvolvidos, foi acordado o “Princípio da
Responsabilidade Comum, porém Diferenciada”. Assim, os países desenvolvidos e
industrializados, por serem responsáveis históricos pela maior parte das emissões e por terem
mais condições econômicas para arcar com os custos decorrentes, seriam os primeiros a
assumir as metas de redução até 2012 (NAHUR, GUIDO e SANTOS, 2015).
Segundo Nahur, Guido e Santos (2015) durante a sétima Conferência das Partes
(COP-7), foi formado o “livro de regras” para os mecanismos do Protocolo de Quioto. De
acordo com Zanetti (2019) como consequência surgiu o estabelecimento de dois tipos de
mercados de carbono no mundo: O oficial (Protocolo de Quioto) e o Voluntário (Alternativo).
Para o cumprimento das metas do mercado oficial - Protocolo de Quioto, foram
desenvolvidos três mecanismos de flexibilização para ajudar os países a atingirem suas metas
de reduções de emissões de GEE e minimizarem os custos dessa redução. São eles: MDL,
Implementação Conjunta e Comércio de Emissões.
Segundo Zanetti (2019) os projetos do Protocolo de Quioto são acessados por
empreendimentos que buscam reduzir os níveis de emissão de GEE, para aqueles acordados
entre os países. De uma forma geral, pode-se dizer que são ações para evitar a imagem
negativa de poluidores que os países e as indústrias têm dentro deles. Ademais, até junho de
2007, a redução do desmatamento não era uma modalidade de atividade de projeto elegível no
MDL, enquanto projetos de reflorestamento foram aprovados e receberam Reduções
Certificadas de Emissões (RCEs).
Já os mercados voluntários – Alternativos, são opções frente às exigências e barreiras
para algumas atividades no mercado de Quioto. Os mercados voluntários são acessados por

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indivíduos, empresas e organizações interessadas em mitigar os efeitos que as mudanças
climáticas têm, não somente na atmosfera, mas também onde se desenvolvem os negócios.
Esse mercado pode ser considerado extra-oficial e comercializa todo tipo de projeto que se
comprometa com a meta de reduzir emissões ou compensá-las. Em 2007, estimou-se que
esses mercados, juntos, movimentaram US$ 30 bilhões (ZANETTI, 2019). O Mercado oficial
é aquele que têm algum marco regulatório definido e com metas claras de reduções de
emissões de GEE para os participantes. Já o mercado voluntário de carbono, como o próprio
nome indica, são mercados formados naturalmente e sem a exigência de uma entidade
reguladora (Mattei & Rosso, 2014).
Passado alguns anos, com a problemática envolvida na regulamentação do mercado de
carbono, na COP-23, realizada em Katowice/Polônia, em 2018, uma das pautas foi a tentativa
da regulamentação internacional do mercado de carbono. Algumas questões em pauta foram
às exigências do Brasil para que houvesse um registro centralizado na Organização das
Nações Unidas (ONU) sobre o mercado de carbono, na qual geraram discordância. Uma das
preocupações da delegação brasileira era que os países europeus conseguissem evitar que suas
empresas comprassem créditos de carbono fora da União Europeia. O posicionamento
brasileiro foi no sentido do estabelecimento do Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável
(MDS), na qual terão iniciativas que irão promover a redução de emissões e poderão ser
comercializados como créditos. Porém, o detalhe de como este mercado irá operar não obteve
consenso, adiando a discussão para a COP-25, no Chile (MMA, 2019).

3 Procedimentos Metodológicos
Para o desenvolvimento deste estudo, fez-se um estudo exploratório e bibliográfico,
buscando elementos para atingir o objetivo proposto. Utilizou-se de dados secundários
qualitativos da literatura que foram analisados por uma análise de conteúdo. A busca dos
dados secundários para compor esta revisão bibliográfica foi pesquisada nas Bases de Dados
Científica, neste caso a Scopus, Web of Science e Scielo, com o intuito de encontrar artigos
que estudaram o mercado de carbono, especificamente no caso do Brasil e apresentavam
resultados sobre a aplicabilidade deste mercado
A análise de conteúdo dos dados, que foi o método de interpretação das informações
selecionadas, segundo Bardin (2016) é constituída por três fases, são elas: pré-analise,
exploração do material e tratamento dos resultados. A pré-análise foi iniciada com o
estabelecimento dos objetivos, para então prosseguir com a busca dos artigos, iniciar a
construção deste estudo e finalmente, a leitura dos resumos. Posteriormente, fez-se a
identificação dos elementos estudados e se haviam as informações estabelecidas para a
construção desta revisão, que foram: (A) Surgimento e a história do mercado de carbono, para
compor o referencial teórico; (B) Aplicabilidade do mercado de carbono no Brasil.
Na segunda fase da análise de conteúdo, na qual consiste na análise propriamente dita,
foi feita a leitura completa dos artigos selecionados na pré-análise e coletadas as informações
estabelecidas. As informações coletadas foram organizadas para que na terceira fase da
análise de conteúdo, o tratamento dos resultados, fossem analisadas e interpretadas, conforme
será apresentado no tópico a seguir.

4 Resultados e Discussão
Os resultados e discussões estão organizados com vistas a cumprir o objetivo proposto
no estudo, que consiste em apresentar os estudos sobre o mercado de carbono no Brasil e
identificar como os projetos relacionados a este mercado têm sido trabalhados e
desenvolvidos, bem como identificar a representatividade destes estudos no setor de florestas.
O Quadro 1, apresenta os estudos sobre o mercado de carbono no Brasil, que foram
identificados nas bases de dados para compor este estudo.

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Quadro 1 – Informações sobre os Artigos Analisados
Autores e Base de Dados Informações
-Salles, Salina e Paulino O artigo analisou as diferenças e as semelhanças no desenho e na forma de
(2017) implantação dos projetos de REDD+ no Brasil sob cada modalidade de
-Scielo financiamento, via fundos públicos ou mercado.
-Torres, Ferman e Sbragia Este estudo mapeou as atividades de projetos de MDL aprovados pela Comissão
(2016) Interministerial de Mudanças Climáticas Globais, a fim de identificar
-Scielo oportunidades para novos organismos de certificação
-Fajardo e Este estudo teve como objetivo quantificar a biomassa e o estoque de CO2 e
Timofeiczyk Junior (2015) avaliar a viabilidade econômica de geração de créditos de carbono na Área de
-Scielo Proteção Ambiental – APA da Serra de Baturité, Ceará. Foram avaliados três
mercados de carbono: O mercado regulado: Mecanismo de desenvolvimento
limpo – MDL; e os mercados voluntários: Verified Carbon Stantard - VCS e o
esquema de comércio de Emissões da Nova Zelândia – NZ ETS.
-Paiva et al., (2015) O objetivo foi identificar e analisar os co-benefícios em prol do desenvolvimento
-Scielo sustentável de projetos do mercado voluntário de carbono no Brasil, além da
redução de gases de efeito estufa.
-Souza, Alvarez e Andrade O objetivo do trabalho foi discutir as divergências contábeis e tributárias das
(2013) Reduções Certificadas de Emissões (RCEs) no mercado regulado de carbono no
-Scielo Brasil, apontar suas lacunas e fragilidades, apresentar pontos de reflexão para a
criação de um marco regulatório e de classificação contábil das RCEs, sugerindo
um arranjo institucional neste sentido.
-Godoy, S. G. M. (2013) O objetivo foi identificar os custos de transação nos projetos de MDL e
-Scielo investigar se eles são barreiras para o desenvolvimento do projeto e se pode
afetar a eficiência de projetos já implantados.
-Fernandes et al., (2018) O objetivo do estudo foi calcular o potencial de restauração ecológica na estrada
-Scopus para armazenamento de carbono e discutimos outros impactos ambientais
positivos adicionais. No Brasil, mais de 566 mil hectares de estradas nas rodovias
federais e estaduais estão potencialmente disponíveis para restauração,
correspondendo a um sequestro de até 55,3 milhões de toneladas de carbono,
representando até US $ 26,5 bilhões no mercado de carbono.
-Benites-Lazaro e Mello- Este artigo tem como objetivo identificar as atividades de RSE no MDL em três
Théry (2017) países da América Latina, Brasil, México e Peru, e entender os fatores por trás
-Scopus dessas iniciativas de Responsabilidade Social Corporativa (RSE).
-De Santana Freire e De Este estudo analisa as perspectivas de implementação de políticas públicas no
Brito (2016) Brasil, capaz de promover a interação do desenvolvimento sustentável com a
-Scopus preservação ambiental.
-Godoy e Saes (2015) Apresentação da dinâmica da evolução dos mercados de carbono, analisando
-Scopus diferentes mercados e a sua estrutura, desempenho, potencial e barreiras.
-Cruz e Paulino (2013) O objetivo foi descrever e analisar a geração e a utilização dos recursos
-Scopus destinados ao Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
provenientes das reduções certificadas de emissões, leiloadas em 2007 e 2008,
dos projetos de MDL implantados nos aterros no município de São Paulo,
considerando o acesso das partes interessadas a esses recursos.
-Moraes et al., (2012) O objetivo foi desenvolver um modelo de programação para formular dietas para
-Scopus gado leiteiro quando houver políticas ambientais e examinar os efeitos dessas
políticas na formulação da dieta e na excreção de nitrogênio e mineral, bem como
nas emissões de metano.
-Hultman et al., (2012) O objetivo foi investigar, em nível de empresa, plantas de MDL nos setores de
-Scopus açúcar e cimento no Brasil e na Índia, focando em como os gerentes individuais
entendiam os benefícios e riscos potenciais de realizar investimentos em MDL.
-Pulver, Hultman e Este estudo abordou as perspectivas das empresas de países em desenvolvimento
Guimarães (2011) sobre o mercado de carbono, analisando a sua participação no MDL de usinas de
-Scopus açúcar no Brasil.
-Nepstad et al., (2008) O artigo revisou as tendências atuais dos processos econômicos, ecológicos e
-Scopus climáticos da Amazônia, a crescente evidência de feedbacks positivos entre esses
processos e o potencial das interações para empurrar as florestas da Amazônia
para um ponto crítico.

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Fonte: Elaborado pelas Autoras, 2019.

No Quadro 1, fez-se a catalogação dos artigos que foram selecionados para compor
este estudo, apresentando a ideia principal de cada um, e faz-se uma descrição dos principais
resultados e conclusões dos estudos, referente a aplicabilidade do mercado de carbono no
Brasil. Para iniciar e organizar as discussões, fez-se uma síntese dos temas que são abordados
em estudos sobre Mercado de Carbono no Brasil, na qual elaborou-se um gráfico, a partir da
frequência dos temas abordados, apresentado na Figura 1. Os temas identificados foram:
Projetos de REDD+, Projetos de MDL (maior proporção), Geração de Créditos de Carbono
pela Biomassa e Estoque de CO2, Projetos de Mercado Voluntário de Carbono, Reduções
Certificadas de Emissões (RCEs) no Mercado Regulado de Carbono, Armazenamento de
Carbono para o Comércio de Emissões, Mercado de Carbono, Redução de Emissões de GEE.

Figura 1 – Temas Abordados nos Artigos relacionados ao Mercado de Carbono

Fonte: Elaborada pelas Autoras, 2019.

Iniciando pelo estudo de Torres, Ferman e Sbragia (2016), foi identificado que houve
a diminuição no registro de novos projetos de MDL no Brasil. Além disso, dos projetos
estudados pelos autores, os de aterro sanitários no setor de resíduos foram identificados como
tendo o maior potencial para serem explorados.
Os autores Salles, Salina e Paulino (2017) analisaram 89 projetos de REDD+ no Brasil
e identificaram que amplas são as diferenças entre o perfil dos projetos, relativas a prazos,
participantes, abrangência, critérios de concessão de incentivos e práticas de mensuração
relato e verificação. Os mercados de carbono voluntários atuam principalmente com base na
teoria coaseana, de forma que as características dos projetos financiados pelo mercado de
carbono são mais aderentes às premissas da economia ambiental neoclássica.
No estudo de Fajardo e Timofeiczyk Junior (2015) os resultados mostraram que a
APA em estudo sequestra em média 84,63 MtCO2e. De acordo com os preços e custos do
mercado para o ano 2012, os projetos florestais para sequestro de carbono podem gerar valor
anual equivalente de R$ 1.336 e TIR de 21% por hectare, se vendido no mercado NZ ETS. No
mercado VCS, a venda dos créditos gera VPL de R$ 2.138 e TIR de 18%. Entretanto, se os
créditos forem comercializados no MDL, o VPL será de R$ -702,5, concluindo-se que o
projeto é viável nos mercados voluntários e inviável no mercado regulado de carbono.
Corroborando com o estudo de Fajardo e Timofeiczyk Junior (2015), o resultado
parcial do estudo de Paiva et al., (2015) sinaliza maior potencial do mercado voluntário em
comparação ao mercado regulado de carbono para contribuição ao desenvolvimento
sustentável em âmbito local, dada sua maior flexibilidade e a diversidade de atores, assim

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como a exigência, por parte de alguns padrões de certificação, da demonstração do alcance
dos co-benefícios declarados.
Souza, Alvarez e Andrade, (2013) identificaram que o mercado regulado de carbono
no Brasil carece de normatizações, gerando uma diversidade de classificação e registro
contábil dos créditos de carbono. Tende-se ao reconhecimento destes como estoques, uma vez
que os benefícios financeiros gerados com suas vendas podem ser contabilizados como fator
de redução dos custos de produção da empresa. Sob a ótica tributária, ainda há dúvidas quanto
ao enquadramento das receitas dos créditos de carbono transacionados com o exterior, dada a
indefinição de sua natureza jurídica
Sobre o MDL, estudado por Godoy (2013), os resultados mostraram que a maior parte
dos projetos com reduções realmente verificadas, não apresenta desempenho satisfatório. No
entanto, em volume de reduções, a maior parte dos projetos cumpre mais do que 91% de
sucesso de reduções. Os setores mundiais mais eficientes no Brasil são N2O e troca de
energia fóssil; os menos eficientes, os setores de agricultura e resíduos sólidos. Além disso,
foi identificado que os custos de transação afetam o sucesso da redução de MDL, e os mais
importantes são os custos ex ante, resultantes de problemas de falhas de informação e
problemas de mensuração.
O estudo de Benites-Lazaro e Mello- Théry (2017), identificou que na análise das
atividades de RSE, no Brasil, a maioria das atividades se concentra em “oportunidades locais
de emprego”. Dos 341 projetos analisados, 271 mencionam atividades relacionadas à RSE. As
principais lições da análise do MDL são que apesar de todas as críticas, as atividades de RSE
em torno do mecanismo do carbono precisam ser apreciadas e devem ser enfatizadas em
projetos com os maiores benefícios socioambientais em longo prazo e devem ser refletidos a
um preço mais alto. Além disso, nos projetos de MDL, há falta de monitoramento e
mecanismos de controle para supervisionar se as atividades planejadas de RSE ou os
benefícios para o desenvolvimento sustentável descrito são realmente alcançados.
No estudo de Hultman et al., (2012) os resultados indicaram que o MDL opera de uma
maneira muito mais complexa na prática do que simplesmente adicionar um incremento
marginal à taxa de retorno interna de um projeto. Ademais, embora a receita antecipada tenha
desempenhado um papel central nas decisões da maioria dos gerentes de buscar investimentos
em MDL, não havia prática padrão para contabilizar os benefícios financeiros dos
investimentos em MDL. Alguns gerentes identificaram fatores de reputação não-financeiros
como sua principal motivação para a realização de projetos de MDL; e, sob regimes
regulatórios flutuantes com custos reais imediatos e receita incerta de MDL, os gerentes eram
a favor de projetos que geralmente não exigiam que a receita de carbono fosse viável.
Para Pulver, Hultman e Guimarães (2011) os resultados indicaram que as dinâmicas
de mercado e não mercadológicas que direcionam os padrões de investimento das usinas de
açúcar na redução de carbono. O acesso a uma fonte confiável de informações foi um dos
principais fatores da participação inicial do MDL pelas usinas, ao lado de outros fatores de
mercado, como preocupações com receita, custo e reputação. As empresas com
relacionamentos pré-existentes com especialistas da indústria de carbono estavam mais
dispostas a assumir o risco de participação no mercado de carbono e estavam em uma posição
muito melhor para capturar oportunidades precoces em projetos de redução de emissões.
Além disso, consultores do mercado de carbono, em vez de proprietários/gerentes de usinas,
foram os principais agentes das atividades de MDL no setor açucareiro do Brasil.
Em relação ao mercado de carbono no Brasil, Fernandes et al., (2018) identificaram
que enquanto em muitas regiões do mundo o carbono é uma mercadoria, o Brasil ainda está
estudando a implementação de um mecanismo de comércio de emissões. Portando, as
conclusões é que um mercado brasileiro de carbono tornaria as ações de restauração

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florestal mais viável, e esse mercado poderia ser usado para financiar projetos governamentais
de restauração na estrada, por exemplo.
No estudo de Moraes et al., (2012) os resultados indicaram que os preços do mercado
de crédito de carbono não pareceram onerosos o suficiente para ter um efeito de incentivo
substancial na redução das emissões de metano e na alteração dos custos da dieta de nosso
hipotético rebanho. No entanto, quando se supôs que as emissões de metano fossem reduzidas
em 5, 10 e 13,5% em relação ao modelo base, os custos totais da dieta aumentaram em 5, 19,1
e 48,5%, respectivamente. Esses custos aumentados seriam repassados ao consumidor ou os
produtores de laticínios fechariam o negócio.
No estudo dos autores De Santana Freire e De brito, (2016), os resultados indicaram
que considerando o cenário em que grandes poluentes e empresas devem estabelecer metas de
redução de emissões, a criação de um sistema de comércio de emissões de gases de efeito
estufa encorajaria outras empresas a reduzir suas emissões e comercializá-las em um mercado
regulamentado. Esse modelo é semelhante ao estabelecido pelo Protocolo de Kyoto e
reproduzido internamente em países como EUA e China. Novas políticas ambientais, com
incentivos financeiros, levam os gerentes da empresa a promover a redução de emissões de
GEE por meio da inovação/adaptação de processos e produtos. O desenvolvimento
econômico focado na preservação ambiental seria então promovido.
Sobre os mecanismos de mercado identificou-se que são afetados por diferentes
fatores, resultando em menor volume de negociação efetivo. Esses motivos podem ser
resumidos como preços baixos de créditos de carbono no curto prazo, incerteza e crise
econômica. Por outro lado, algumas medidas podem beneficiar esses mercados e contribuir
para uma maior eficiência, como: adoção de metas de redução mais ambiciosas, alcançando
um número maior de países; melhorias nas regulamentações de mercado; redução de custos
de transação; e disseminar informações existentes (Godoy e Saes, 2015).
Cruz e Paulino (2013) identificaram no seu estudo que os principais gargalos
encontrados foram em relação a muitas disparidades nos projetos anunciados e efetivamente
executados, além dos anseios das populações afetadas não terem sido atendidos com os
recursos das reduções certificadas de emissão. Para solucionar, os autores indicam que é
necessário rigor no acompanhamento do cumprimento orçamentário do Fundo Especial do
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, bem como na divulgação das ações a serem
executadas com os recursos das reduções certificadas de emissão. As audiências públicas
também poderiam ser mais bem aproveitadas, fomentando-se a efetiva participação de
associações e órgãos representativos das comunidades do entorno previamente instruídos em
relação às determinações concernentes a um projeto de mecanismo de desenvolvimento limpo
desenvolvido em aterros sanitários, para melhorar a gestão dos resíduos sólidos urbanos.
Por fim, o estudo de Nepstad et al., (2012) sobre a Amazônia, identificou que,
contrariando as tendências de degradação severa de mais da metade das florestas de dossel
fechado da Amazônia até 2030, estão surgindo mudanças no comportamento dos proprietários
de terras, sucessos recentes no estabelecimento de grandes blocos de áreas protegidas em
fronteiras agrícolas ativas e técnicas práticas para concentrar a produção pecuária em áreas
menores que poderiam reduzir a probabilidade de uma substituição auto-reforçada em larga
escala de floresta propensa ao fogo. Em longo prazo, no entanto, a prevenção de um desastre
na floresta amazônica pode depender de reduções mundiais das emissões de GEE que são
grandes o suficiente para impedir que as temperaturas globais subam.

5 Conclusões
A partir do objetivo proposto, as conclusões demonstram que os estudos sobre o
mercado de carbono no Brasil são referentes a Projetos de REDD+, Projetos de MDL (maior
proporção), Geração de Créditos de Carbono pela Biomassa e Estoque de CO2, Projetos de

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Mercado Voluntário de Carbono, Reduções Certificadas de Emissões (RCEs) no Mercado
Regulado de Carbono, Armazenamento de Carbono para o Comércio de Emissões, Mercado
de Carbono, Redução de Emissões de GEE.
Os projetos de MDL, identificados como de maior proporção, apresentaram as
seguintes questões: Diminuição no registro de novos projetos de MDL no Brasil; Dos projetos
de MDL estudados por Torres, Ferman e Sbragia (2016) os que têm maior potencial de serem
explorados são os de aterro sanitário; A comercialização de créditos no MDL são menos
viáveis do que àqueles comercializados no mercado voluntário; O mercado regulado de
carbono no Brasil carece de normatizações e possui indefinição jurídica; Os projetos de MDL
possuem maiores custos de transação, falhas de informação e problemas de mensuração;
Dúvidas se os benefícios de desenvolvimento sustentável são alcançados; O MDL opera de
forma complexa na e não existe prática padrão para contabilizar os benefícios financeiros.
Dos artigos sobre mercado de carbono analisados, três artigos estudaram questões
relacionadas ao setor florestal, apenas. Nestes estudos foi abordada a viabilidade da geração
de créditos de carbono em uma APA, a geração de créditos de carbono em restauração
ecológica de estradas e as tendências nos processos econômicos, ecológicos e climáticos da
Amazônia. Por fim, a sugestão de estudos futuros sobre o tema do mercado de carbono está
no desenvolvimento de soluções para os principais problemas em relação à aplicabilidade do
MDL, na qual foram apresentados no parágrafo anterior desta conclusão.

Referências
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Irrigação e sustentabilidade na produção de alimentos
Irrigation and sustainability in food production
Laura Possani1, Adriane Bruchêz2, Homero Dewes3

Resumo
A demanda mundial por alimentos tem aumento significativamente nas últimas décadas, e consequentemente, a
preocupação com os recursos naturais finitos, como a água. Frente a essa realidade, a irrigação tem papel
primordial para a produção de alimentos, e, portanto, estudos que busquem entender a relação da irrigação a partir
de uma visão de sustentabilidade mostram-se relevantes. Dessa forma, o objetivo central do presente estudo é
mapear as características dos trabalhos sobre irrigação e sustentabilidade que estão disponíveis na plataforma
Scopus. Portanto, foi realizado um estudo bibliométrico, exploratório e descritivo. Ao analisar os dados, percebe-
se a existência de uma crescente preocupação dos pesquisadores pela temática em questão, e conclui-se que a
sustentabilidade da agricultura irrigada é um processo em andamento, que ainda necessita de muito estudo, mas
que possui potencial para ser a chave de garantia de alimentos a população mundial que cresce ano após ano, bem
como promover um ambiente sustentável para as futuras gerações.
Palavras-chave: Tecnologia. Soberania alimentar. Sustentabilidade. Água.

Abstract
World demand for food has increased significantly in recent decades, and consequently, concern about finite
natural resources such as water. Given this reality, irrigation plays a major role in food production, and therefore
studies that seek to understand the relationship of irrigation from a sustainability viewpoint are relevant. Thus,
the main objective of the present study is to map the characteristics of the studies on irrigation and sustainability
that are available on the Scopus platform. Therefore, a bibliometric, exploratory and descriptive study was
performed. Analyzing the data, we realize the growing concern of researchers on the subject in question, and it is
concluded that the sustainability of irrigated agriculture is an ongoing process that still needs much study, but has
the potential to be the key to ensuring food for the growing world population year after year, as well as promoting
a sustainable environment for future generations.
Keywords: Technology. Food sovereignty. Sustainability. Water.

1 Introdução

A agricultura mundial enfrenta um grande desafio nos próximos anos, haja vista que a
estimativa é de que, se o ritmo atual de consumo permanecer, a demanda aumentará em 60%
para os alimentos, 50% em energia e 40% na quantidade de água consumida até 2050 (FAO,
2015). Consequentemente, a demanda por alimentos produzidos pelo setor agropecuário deverá
aumentar à medida que ocorre o crescimento populacional, o aumento no consumo per capita e
na renda per capita, e a expansão das cidades nas próximas décadas (SAATH; FACHINELLO,
2018).
Dessa forma, a intensificação agrícola é frequentemente vista como uma abordagem
adequada para atender à crescente demanda por produtos agrícolas e melhorar a segurança
alimentar. Entretanto, observa-se que a economia mundial está sob pressão por um uso maior,
mais eficiente e mais sustentável dos recursos naturais para atingir objetivos complementares e
competitivos nos setores de alimentos, água e energia (SAATH; FACHINELLO, 2018). O
crescimento sustentável da agricultura depende significativamente do processo de
transformação agrícola, que por sua vez está bem relacionado com mudanças nos padrões de
cultivo (BALSADI, 2001).
A mudança climática tem sido uma preocupação dos formuladores de políticas,
cientistas e agricultores devido à sua natureza complexa e impactos de longo alcance. É o
momento certo para analisar os impactos das mudanças climáticas e analisar possíveis

1Doutoranda em Agronegócios/UFRGS- laurapossani@gmail.com1


2
Doutoranda em Agronegócios/UFRGS2- adrianebruchz@yahoo.com.br2
3
Doutor em Biologia/UFRGS3- hdewes@ufrgs.br3

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adaptações para então identificar estratégias futuras para o desenvolvimento sustentável (DI
GIULIO; MARTINS; LEMOS, 2016).
As necessidades de água para a agricultura, produção de alimentos e a bebida são
consideradas um dos desafios mais críticos que o mundo enfrenta nos dias atuais. É necessário
um manejo controlado e eficiente da irrigação agrícola para evitar os efeitos negativos da
crescente escassez de água no mundo e, portanto, assegurar uma produção sustentável (PAZ;
TEODORO; MENDONÇA, 2000).
O uso eficiente da água de irrigação é um fator chave para lidar com as demandas
alimentares de uma população mundial crescente e com os efeitos negativos da mudança
climática na disponibilidade de recursos hídricos em muitas áreas. Neste contexto complexo, a
importância de estudos que abordem a questão do uso da água para a produção de alimentos
sobre o enfoque da sustentabilidade é de suma importância (PAZ; TEODORO; MENDONÇA,
2000; MARENGO, 2008).
Sendo assim, o objetivo desta pesquisa foi mapear as características dos trabalhos sobre
irrigação e sustentabilidade disponíveis na plataforma Scopus, visando entender como os
pesquisadores mundiais tem trabalhado tal temática, e buscar assim, lacunas existentes para
futuras pesquisas acadêmicas que venham a corroborar com o tema.

2 Referencial Teórico

2.1 Irrigação e a produção de alimentos

A irrigação tem sido praticada há cerca de seis ou sete mil anos em várias partes do
mundo. Em termos globais, as áreas irrigadas correspondem a menos de 20% da área total
cultivada do planeta, porém, produzem cerca de 40% dos alimentos, fibras e culturas
bioenergéticas (ONU, 2017).
É inegável a importância da agricultura irrigada para a humanidade. Entretanto, o
insumo primordial das técnicas de produção, a água, é um recurso finito e limitado e encontra-
se sob ameaça de escassez (ONU, 2017). De acordo com a FAO, em nível mundial, o uso de
água para irrigação é proveniente de águas superficiais (61%) e de águas subterrâneas (38%).
O potencial de expansão da agricultura irrigada em nível mundial é estimado pela FAO em
cerca de 200 milhões de hectares (ONU, 2017).
O Brasil, considerado um dos principais celeiros da produção de alimentos, fibras e
biocombustíveis, responde por aproximadamente 12% das águas doces superficiais do planeta.
O País tem papel significativo na produção agrícola mundial, não podendo se eximir do
compromisso de produzir com responsabilidade e dentro dos preceitos de sustentabilidade.
Além disso, embora abundante, a disponibilidade hídrica superficial no Brasil não é
homogênea. Há regiões onde a disponibilidade é menor, porém, com grande demanda, levando
em alguns casos ao conflito pelo uso da água (ONU, 2017).
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2017/2018 deve ser
a segunda maior da história, com uma área plantada que chega a 61,6 milhões de hectares
(CONAB, 2018), sendo que a área irrigada é significativa.
A agricultura irrigada representa uma poderosa ferramenta de gestão contra as
incertezas sobre chuvas que afetam diversas regiões do mundo. A irrigação, quando bem
planejada e executada, possibilita: o aumento da produção; o aumento da eficiência no uso da
água, tanto em quantidade quanto em qualidade e regularidade; aumentar a diversidade de
culturas, contribuindo significativamente no fomento da produção agropecuária e,
consequentemente, no PIB do país. A produtividade média obtida em áreas irrigadas no país é
pelo menos 2,7 vezes maior que a obtida através da agricultura tradicional de sequeiro, que é
dependente do regime (irregular e inconstante) de chuvas (ONU, 2017).

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Com o aperfeiçoamento e aumento de eficiência das técnicas e dos processos de
irrigação, mesmo em áreas atualmente já irrigadas, por meio da introdução de sistemas e
métodos mais eficientes e tecnologias modernas para o manejo adequado da água e do solo,
novas áreas poderão ser incorporadas ao processo produtivo sem necessidade de aumento da
disponibilidade hídrica (ONU, 2017).
A produção de alimentos fornece a base para a segurança alimentar, pois é um dos
principais determinantes da disponibilidade de alimentos (SWAMINATHAN; BHAVANI,
2013). O aumento do rendimento das culturas resulta em segurança alimentar e melhores meios
de subsistência rurais (QURESHI et al., 2010).
Diversos são os benefícios gerados quando os agricultores adotam a técnica da irrigação
no sistema produtivo. Quando se utilizam as técnicas de irrigação para suprir as demandas ou
necessidades hídricas das plantas, mesmo que falte chuva, o risco de quebra de safra é
minimizado, com maior garantia de produção. A redução dos riscos de quebra de safras é um
fator atrativo para investimentos, tanto em áreas já ocupadas por unidades produtivas, como em
áreas agrícolas com baixa taxa de ocupação de terras. Dessa forma, a irrigação pode ser vista
como um elemento ampliador da disponibilidade de produtos e facilitador de capitalização na
agropecuária (TESTEZLAF et al., 2002).
Isto posto, a irrigação, quando utilizada de forma complementar à chuva, principalmente
nas regiões onde o total de precipitação natural permite o desenvolvimento e a produção das
culturas, proporciona melhor aproveitamento, aumentando a eficiência do uso da água aplicada
pela chuva. A complementação da demanda hídrica da cultura pela irrigação, nos períodos
corretos, proporciona o aproveitamento da água da chuva de modo a resultar em produção
efetiva (TESTEZLAF et al., 2002).
Estudos científicos demonstram que o estresse causado pela falta de água reduz
sensivelmente a produção vegetal, inviabilizando-a, por exemplo, em regiões de clima árido ou
semiárido, onde a falta de água é constante e limita a atividade agrícola. Por outro lado, como
consequência de uma irrigação realizada no momento correto, aplicando-se a quantidade certa
de água, ocorrem índices de produtividade acima das médias das culturas, quando cultivadas
sob condição somente de chuva (TESTEZLAF et al., 2002).
O fornecimento de água pela irrigação no momento certo, aliado com técnicas de cultivo
adequadas à cultura irrigada, sempre irá proporcionar um aumento da produtividade. Outra
comprovação científica a favor da irrigação é que algumas espécies de plantas, sob o regime
controlado de irrigação e de fertilizantes, apresentam melhoria de qualidade no produto final
(TESTEZLAF et al., 2002).
Assim sendo, a sustentabilidade tornou-se recentemente um conceito arraigado nos
sistemas de produção agrícola em todo o mundo e é a pedra angular dos programas de pesquisa
(QURESHI et al., 2010).

2.1 Sustentabilidade na produção de alimentos

A agricultura sustentável é caracterizada por mover os cultivos industrial e de


subsistência em direção às práticas ecologicamente corretas, tais como: uso eficiente de água,
uso extensivo de nutrientes naturais e orgânicos do solo, cultura ideal do solo e controle
integrado de pragas. Para tal, são necessários bens de capital físico, investimentos financeiros,
pesquisa e investimento em capacitação, além de educação (ASAD et al., 2012)
Segundo a ONU, a sustentabilidade envolve aspectos como a conservação do solo, da
água e dos recursos genéticos animais e vegetais, sem degradar o ambiente, buscando ser
tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceito. (SILVA, 2012). Assim,
a sustentabilidade baseia-se na premissa que a atividade econômica deve atender as

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necessidades atuais sem impossibilitar que futuramente ainda seja possível suprir (ALTIERI,
2008).
A sustentabilidade tem ganhado destaque devido a crescente conscientização da
necessidade de melhoria nas condições ambientais, econômicas e sociais, de forma a aumentar
a qualidade de vida de toda a sociedade, preservando o meio ambiente, assim como ter
organizações sustentáveis econômicas e indivíduos socialmente sustentáveis. Além dos
benefícios à sociedade, a adoção de mecanismos sustentáveis tem sido estrategicamente
pensada como uma forma de diferenciação de produtos e inserção em alguns mercados (SILVA,
2012).
O discurso de sustentabilidade no agronegócio favorece aspectos positivos como o
respeito à legislação ambiental, uso racional de defensivos e recursos hídricos, monitoramento
de níveis de contaminação de córregos e rios, redução nas emissões de gases na natureza,
priorização do comércio local, e dos serviços locais. Assim, iniciativas que busquem a
produção agrícola de forma sustentável são relevantes para que sejam minimizados os
problemas enfrentados pelos produtores, principalmente quanto à colocação dos produtos no
mercado, seja por logística, custos ou escala (SILVA, 2012).

3 Procedimentos Metodológicos

A Bibliometria é uma ferramenta estatística que mede a produção bibliográfica de


determinado autor ou entidade. Infere sobre a qualidade dos documentos e traz à tona tendências
da comunidade cientifica, ou seja, é a área que tenta quantificar, através de seus estudos, os
processos de comunicação científica (LOPES, 2012). Para tanto, a presente pesquisa utiliza-se
dessa técnica para o estudo do processo de irrigação frente à questão da sustentabilidade na
produção de alimentos.
Dessa forma, a pesquisa classifica-se quanto aos fins como exploratória e descritiva,
pois visa explorar a produção científica sobre o tema (VERGARA, 2013) da irrigação e
sustentabilidade internacionalmente, buscando apresentar, quantitativamente, como o tema tem
sido abordado nas pesquisas científicas ao longo desse tempo. O ano limite foi 2017.
Além do período de publicação com limite, só foram considerados os documentos
publicados como artigos completos e com relevância à questão da pesquisa, ou seja,
relacionados ao agronegócio, irrigação e sustentabilidade. Sua abrangência territorial se deu a
nível mundial, dentro do escopo dos países de origem dos periódicos disponíveis nas bases de
dados.
Para composição da amostra, foram utilizados dados secundários, realizando-se um
estudo bibliométrico em publicações acadêmicas nacionais e internacionais na base de dados
SciVerse Scopus ® de propriedade da Editora Elsevier, acessado através do Portal da Biblioteca
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, disponibilizado pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A escolha da base de dados se deu
devido a ampla cobertura da literatura relevante e recursos bibliométricos avançados, além de
sua utilização em outros estudos bibliométricos (WOLFERT et al., 2017; GAUTAM &
RYUICHI, 2012; BUCHER, 2017).
Em seguida, realizou-se a elaboração da expressão de busca, e, observando na literatura
qual eram as palavras mais utilizadas, optou-se por pesquisar nos campos título, resumo e
palavras-chave (Topic), as expressões de busca em inglês que abrangessem os trabalhos sobre
a irrigação e sustentabilidade na produção de alimentos. Assim, as palavras escolhidas para a
pesquisa foram “irrigation”, “sustain*”, “production”, “food”, “technolog*”. Os asteriscos
possibilitam a procura da palavra e suas variações.
Dessa forma, foi obtido um total de 140 documentos. Destes, alguns não possuíam o
resumo disponível ou o objeto de estudo não era relativo ao agronegócio, irrigação e

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sustentabilidade. Assim, eliminando estes estudos e aqueles que estão repetidos, foram
considerados 83 documentos científicos para a análise bibliométrica, seguindo o processo de
coleta, seleção e organização para levantamento da literatura constante na Figura 1.

Figura 1 - Processo de coleta, seleção e organização para levantamento da literatura


Exclusão de Seleção e
Definição das Pesquisa nas documentos não organização de
palavras-chave bases de Dados relacionados ao documentos
(n = 5) Scopus (n = 140) objeto (n = 57) retornados (n =
83)
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Os dados coletados foram analisados utilizando o auxílio de planilha eletrônica.


Primeiramente os dados foram tabulados e organizados, dividindo-os em seções, após a leitura
do título, resumo, palavras-chave e texto completo, quando necessário, a fim de classifica-los
relacionando segmentos próximos e realizando a identificação de padrões e tendências
relevantes.
Além dos trabalhos repetidos, os outros quesitos que foram empregados para exclusão
de arquivos que não interessavam à pesquisa, foram o objeto de estudo do artigo não estar
relacionado à temática da irrigação e sustentabilidade, e o acesso ao arquivo completo não estar
disponibilizado. Desta forma, para o portfólio de análise, foram utilizados 83 trabalhos da
pesquisa inicial. A seguir, é feita a análise das variáveis e discussão dos resultados.

4 Resultados e Discussão

A análise bibliométrica da literatura científica propiciou a formulação de alguns


resultados como evolução da atividade científica ao longo do tempo, principais palavras chaves
indexadas, tipos de estudos e periódicos mais ativos sobre o tema.
Buscando identificar um panorama das publicações em nível mundial, verificou-se que
na base de dados Scopus vêm surgindo publicações sobre irrigação e sustentabilidade desde o
ano de 1975, porém, um volume significativo se deu somente a partir de 2008, conforme
apresentado na Figura 2.

Figura 2 - Evolução da atividade científica sobre Irrigação e Sustentabilidade (1975 - 2017)

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Posteriormente, na Figura 3 estão descritas as palavras-chave mais frequentes nos


documentos encontrados na pesquisa, com destaque para irrigation, sustainable e water,

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entretanto, outras palavras se destacaram, das quais podemos citar as que mais se destacaram
como sendo: Climate, Resources, agriculture e food security.

Figura 3. Word Cloud de palavras-chave mais presentes nas publicações

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Quanto às classificações metodológicas (Figura 4), foram encontrados três principais


métodos de pesquisa, quais sejam: pesquisa experimental, bibliográfica, e estudo de caso. A
maioria dos trabalhos foi realizado utilizando pesquisa bibliográfica como metodologia
escolhida, utilizando bibliografia existentes para avaliar e entender melhor o processo de
irrigação e sustentabilidade, inclusive elaborando cenários futuros sobre o tema.

Figura 4. Metodologias aplicadas nos trabalhos analisados

Fonte: Elaborado pelas autoras.


Os países que mais tiveram publicações sobre o tema no período analisado foram EUA
(14), Índia (14), China (6), Itália (5), Austrália (4) seguidos por Canadá, Egito, Espanha, França,

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Paquistão, Sri Lanka, Sudão com duas publicações cada, e os demais países com apenas uma
publicação, como pode ser visto na Figura 5. Na base de dados pesquisada e no período
analisado, foi encontrado apenas um documento publicado de pesquisa no Brasil.

Figura 5. Publicações sobre Irrigação e Sustentabilidade por país

Principais Países
16
14
12
10
8
6
4
2
0

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Percebe-se uma predominância por publicações nos Estados Unidos e China, o que pode
ser explicado pelos problemas relacionados a estiagem enfrentados por esses países. Os
periódicos que apresentaram maior número de publicações científicas (Figura 6), relativas ao
tema da pesquisa, foram Agricultural Water Management e Agricultural Systems, e os demais
periódicos que apresentaram publicações cientificas sobre o tema podem ser observados a
seguir.

Figura 6 – Publicações por periódico

Fonte: Elaborado pelas autoras.

A seguir são apresentados os idiomas que mais apareceram nos artigos encontrados na
pesquisa, sendo que, predominantemente, os artigos são publicados na língua inglesa, e uma
pequena porcentagem em Chinês, como pode ser observado na Figura 7 a seguir.

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Figura 7. Idioma mais utilizados nas publicações

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Dentre a variedade de línguas, idiomas e dialetos praticados no mundo, o inglês é


considerado o idioma universal, o que acaba por justificar esses resultados, demonstrando que
os pesquisadores mundiais estão preocupados que suas pesquisas sejam relevantes e acessível
para toda a comunidade científica.

5 Conclusões

O presente estudo apresentou uma análise do perfil das publicações sobre irrigação e
sustentabilidade, em nível mundial, em todo o período disponível na base de dados Scopus até
2017. Segundo os resultados apresentados, é possível identificar que existem trabalhos desde
1975, mas somente nos últimos anos é que se observa aumento significativo nas publicações
sobre o tema.
Mesmo que a pesquisa bibliográfica tenha se destacado por ter sido a metodologia
escolhida em maior número, observou-se que as demais metodologias também têm uma boa
representatividade, demonstrando que os estudos voltados ao tema vêm sendo estudados de
forma diversificada.
Observou-se que aumentar a produtividade é fundamental para atender à crescente
demanda de alimentos. Dada a incerteza futura sobre o clima e a oferta de alimentos sob a
crescente pressão populacional, é vital que as conexões entre a variabilidade climática, as
práticas insustentáveis de irrigação e seus impactos na produção agrícola em escala regional
sejam estudados.
Diversos artigos demonstraram que enfrentar os desafios da segurança alimentar e
sustentabilidade nas próximas décadas é possível, todavia, exigirá mudanças consideráveis na
gestão da água, dos nutrientes e nas políticas socioeconômicas. Portanto, ficou evidente que
estudos que tenham como objetivo principal encontrar o equilíbrio entre a busca da soberania
alimentar com o mínimo de impactos ao meio ambiente são de suma importância.
Este estudo possui algumas limitações, devido a utilização de apenas uma base de dados
e limitar-se aos critérios de filtro de escolha dos estudos a analisar, que podem ter excluído
estudos relevantes. Sugere-se para estudos futuros, uma continuidade dessa pesquisa em outras
bases de dados e com outras palavras chaves que se destacaram neste primeiro estudo como
importantes para a temática.

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5 Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico (CNPq).

Referências
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VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 14.ed. São Paulo:
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Lixo Zero: uma análise do Projeto do Colégio Catarinense e sua
contribuição para a Agenda 2030
Waste Zero: an analysis of the Santa Catarina College Project and its
contribution to the 2030 Schedule
Daiane Johann – Mestre em Administração – Univali – Mestre em Administração
Carlos Eduardo de Almeida Ramoa – Univali - Doutor em Turismo e Hotelaria
Cledinei Clóvis de Melo Cavalheiro – Doutorando em Administração – Univali

Resumo
Os impactos causados ao meio ambiente pela ação do homem, tem prejudicado a adoção das boas práticas que
visam o desenvolvimento sustentável, no entanto, isso não impede que atitudes isoladas deixem de ser adotadas.
Com o intuito de apresentar uma dessas ações, este estudo tem como objetivo fazer uma reflexão a respeito da
implantação do Projeto Lixo Zero no Colégio Catarinense de Santa Catarina, e seu vínculo aos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030. A gestão da proposta e sua implementação buscam
corroborar com os ideais jesuítas de cuidado com o meio ambiente, ao mesmo tempo em que se vinculam às
preocupações contemporâneas com a sustentabilidade ambiental e equilíbrio do planeta. O estudo tem caráter
qualitativo, de natureza descritiva, diante de um estudo de caso. Para a coleta de dados utilizou-se o método da
observação e entrevistas semiestruturadas com os responsáveis pelo Projeto. Para análise dos dados foram
utilizados os conceitos de Bardin (2009) sendo realizada a análise de conteúdo, que permite uma melhor
compreensão do evento analisado. Como principais mudanças advindas com a implementação do projeto, podem
ser destacadas as que geram impacto econômico e a criação de consciência socioambiental por parte de toda a
comunidade educativa do Colégio Catarinense.
Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Resíduos
Sólidos. Lixo Zero.

Abstract
It is noticeable the high and intense use of natural resources and the various types of waste improperly thrown
into the environment that have resulted and continue to result in high levels of pollution. This study aims to
reflect on the implementation of the Zero Waste Project at Santa Catarina College, and link it to the 2030
Agenda SDGs. The proposal management and its implementation seek to corroborate the Jesuit ideals of caring
for the environment while at the same time engaging with contemporary concerns about environmental
sustainability and planetary balance. The study has a qualitative character, descriptive in nature, compared to
a case study. For data collection we used the observation method, semi-structured interviews with those
responsible for the project. For data analysis, the concepts of Bardin (2009) were used and content analysis
was performed, which allows a better understanding of the analyzed event. The main changes that come with
the implementation of the project include those that generate economic impact and the creation of socio-
environmental awareness by the entire educational community of Colégio Catarinense.

Keywords: Sustainable Development. Sustainable Development Goals (ODS). Solid Waste. Zero Waste.

1 Introdução

A sociedade contemporânea vem utilizando cada vez mais os recursos naturais e, em


razão disto, produz diferentes tipos de resíduos, os quais são lançados inadequadamente ao
meio ambiente o que resultam em elevados níveis de poluição. O planeta encontra-se imerso
em uma crise ecológica, que se expressa na forma de como nos relacionamos com o mundo e
que se traduz numa significativa crise econômica e social, a qual atinge todos os contextos nos
quais estamos inseridos. A maior parte dos problemas ambientais que presenciamos é
decorrente da ação humana. Essa ação está matizada pelas diferenças sociais e culturais.
Contribuição de parágrafo:
O planeta encontra-se também imerso em uma crise ambiental, resultado da taxa atual
de aumento da população e como consequência do consumo. De acordo com Klein (2016), esse

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crescimento, sem preocupação com o desenvolvimento sustentável, reflete na expectativa de
sobrevivência da humanidade, devido à possibilidade de escassez dos recursos naturais e da
capacidade de resiliência do planeta, que não mais terá condições de atender à necessidade
humana ao atingir o seu limite de exploração.
Castells (2008) afirma que a maioria de nossos problemas ambientais mais elementares
ainda persistem, bem como nossa organização social e de nossas vidas pessoais. Cita-se um dos
tantos problemas ambientais que é a grande quantidade de resíduos gerados pela população.
Junto deste, surge um problema ainda maior, que é a falta de reaproveitamento desses produtos.
O Brasil é o 4º maior gerador de resíduos sólidos do mundo, em 2015, foram geradas 79,9
milhões de toneladas de lixo em todo o país, um acréscimo de 1,7% maior do que gerado em
2014, sendo que apenas 3% de todo lixo gerado e produzido é reaproveitado ou reciclado
(ABRELPE, 2017).
Para muitas empresas, cujas atividades estão pautadas pela otimização de lucros de
caráter financeiro, o que importa é o resultado final, sem a preocupação com a Responsabilidade
Socioambiental (RSA), mas nas organizações que desenvolvem a Responsabilidade Social
Corporativa (RCS) ocorre a busca, por meio das inovações sociais, de ir além do ato de apenas
ganhar dinheiro, optando por dar sua contribuição mais ampla para a sociedade, para as
comunidades locais e, para atingir este objetivo, de implementar os conceitos de
Desenvolvimento Sustentável (DS) em suas diversas ações.
Com o intuito de contribuir para uma melhor qualidade no ambiente do trabalho, o
Colégio Catarinense, implantou o Projeto Lixo Zero, para a Instituição, Lixo Zero significa
desenhar e gerir produtos e processos para sistematicamente evitar e eliminar o volume e
toxicidade de lixo e materiais, bem como, conservar e recuperar todos os recursos naturais,
evitando a sua incineração ou aterramento.
A iniciativa para implementação do projeto surgiu a partir dos princípios e objetivos da
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (BRASIL, 2010), do conceito Lixo Zero e da
economia circular que surge em oposição à percepção convencional de que os sistemas
econômicos são lineares (YUAN et al, 2006; XI et al, 2011).
A iniciativa foi dentro do Colégio Catarinense, o embrião de um processo mais amplo
de preservação de recursos e preservação do meio ambiente, posteriormente encampada pela
Organização das Nações Unidas (ONU), que foi denominada de Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS), que corrobora para o alcance dos objetivos da COP 21 sobre as mudanças
climáticas. A Agenda 2030 é um plano de ação voltado para as pessoas, cujo objetivo último
é a busca por fortalecer a paz universal, com mais liberdade, reconhecendo que a irradiação da
pobreza é o maior desafio global, que tem reflexos no Desenvolvimento Sustentável (ODS).

2 Referencial Teórico

2.1 Desenvolvimento Sustentável

De acordo com Macaya (2017), o tema Desenvolvimento Sustentável teve um maior


destaque na Conferência das Nações Unidas, realizada no Rio de Janeiro em 1992 (Rio-92), na
oportunidade foram discutidos o desenvolvimento sustentável e a proteção ao meio ambiente.
Na conferência se criou um plano de trabalho e foi endossado por 179 países, para atuar nas
áreas prioritárias do desenvolvimento e meio ambiente. Posteriormente 191 nações assinaram
compromisso com a Declaração do Milênio, que buscava sumarizar os acordos internacionais
que haviam sido assinados na década de 1990.
Na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em 2012
(Rio+20), foi definida a Agenda pós-2015 para o desenvolvimento sustentável. Foram
discutidos temas como a ampliação da participação dos diversos setores da sociedade na
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construção de uma nova agenda de desenvolvimento. A Conferência resultou no documento o
futuro que queremos, onde foi criado o Grupo de Trabalho Aberto que, propuseram 17 objetivos
que comporiam os ODS (ONU, 2016).
Na sequência a ONU organizou, em 2015, a Cúpula para o Desenvolvimento
Sustentável que ocorreu em Estocolmo, que tem por objetivo a reflexão sobre ações que
pudessem promover a preservação do meio ambiente e a promoção da sustentabilidade. Ao
final do encontro, publicou um documento, denominado os dezessete Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) que tinha como principal objetivo o estímulo para
realização de ações em cinco grandes áreas, que são pessoas, planeta, prosperidade, paz e
parceria (MACAYA, 2017).
As ações desenvolvidas para alcançar os ODS, devem ser direcionadas para todos os
segmentos da sociedade, e esses esforços éticos precisam estar centrados em cada país,
priorizando e dando foco nas pessoas, na sensibilidade ao gênero, respeitando os direitos
humanos, centrando nos mais vulneráveis (ONU, 2015). No Brasil, várias empresas e
Organizações Não-Governamentais (ONG) vem assumindo para si a responsabilidade pela
implementação das ações propostas no documento editado pela ONU, do qual nosso país era
um dos signatários.

2.2 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

A Agenda 2030 constitui importante esforço da Organização das Nações Unidas para o
crescimento econômico, a inclusão social e a proteção ambiental em âmbito global. Debatida a
Agenda é desdobrada em 17 (dezessete) medidas e 169 (cento e sessenta e nove) metas,
constituindo relevante diretriz para os programas governamentais e, consequentemente, para os
produtos e serviços entregues pela Administração Pública ao cidadão.
O documento adotado na Assembleia Geral da ONU em 2015, Transformando Nosso
Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (BRASIL, 2016) é um guia para
as ações da comunidade internacional nos próximos anos. A Agenda 2030 consiste em um
quadro de resultados que abrange os 17 ODS e suas metas em uma seção sobre meios de
implementação e de parcerias globais, bem como de um roteiro para acompanhamento e revisão.
Ela é fruto da evolução dos ODMS – Objetivos do Milênio, estabelecido pela ONU nos anos
2000, os ODS são o núcleo da Agenda e deverão ser alcançados até o ano 2030.
A implementação dos ODS iniciou em janeiro de 2016 e se constitui como um desafio
de amplitude mundial, que busca seguir as diretrizes definidas pelos 17 objetivos e suas
respectivas metas, cuja principal atuação incide sob a pobreza e a proteção do planeta, adotando
para isso medidas sustentáveis apoiadas nas dimensões econômica, social e ambiental, visando
sobretudo o bem comum. Trata-se de um compromisso global que inclui não apenas os governos
dos Estados-Membros, mas exige uma atuação universal que envolve a participação da
sociedade civil, da iniciativa privada, da academia nas mais variadas áreas do conhecimento, da
mídia, demais grupos interessados enfim, de todas as pessoas do planeta. Este plano
compromete-se a não deixar ninguém para trás.
Na Agenda 2030, foram definidos os 5P´s: pessoas, planeta, prosperidade, parcerias e
paz, como estratégia de sistematização dos ODS. Através dos 5P´s, os ODS comprometem-se
com as pessoas – a erradicar a pobreza e garantir dignidade e igualdade; o planeta – a proteger
os recursos naturais e o clima da Terra; as pessoas – erradicar a pobreza e a fome de todas as
maneiras e garantir a dignidade e a igualdade; a prosperidade – a garantir vidas prósperas e
plenas em harmonia com a natureza; as parcerias – implementar a agenda por meio de parcerias
globais e sólidas e (BRASIL, 2018).

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Os ODS e suas metas buscam estimular, nos próximos anos, ações em áreas de
importância crucial para a humanidade: Planeta, Pessoas, Prosperidade, Paz e Parcerias,
conforme observado na Figura 1.

Figura 1 - Áreas de importância crucial para a humanidade dos ODS

Fonte: Agenda 2030 (http://www.agenda2030.com.br/sobre/) (2019).

Os 17 Objetivos observados na Figura 2, são integrados e indivisíveis, e mesclam as três


dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. São como uma
lista de tarefas a serem cumpridas pelos governos, a sociedade civil, o setor privado e todos
cidadãos. Sem a consciência de todos esses meios continuaremos vivendo em um planeta cada
vez mais insustentável.
Figura 2 – Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Agenda 2030 (2019).

Devido a relevância do presente estudo, que objetiva fazer uma reflexão acerca dos ODS
relacionando-os ao presente Projeto, faz-se necessário evidenciar a importância que os resíduos
sólidos e qual o papel que os mesmos tem, portanto, na sequencia destina-se uma sessão para
fundamentar o assunto.

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3.3 Resíduos sólidos

Não se pode negar que a quantidade de lixo produzido pela população mundial é
exorbitante. Para ser mais exato, são 1,4 bilhão de toneladas de Resíduos Sólidos Urbanos
(RSU) por ano. Isso significa uma média de 1,2 kg per capita ao dia, e mais interessante, saber
que quase metade desse lixo é gerado por 30 países, justamente os mais ricos, o que associa
riquezas à alta geração de resíduos (ABRELPE, 2017).
Um fato que assusta ainda mais são as pesquisas do Banco Mundial e das Organização
das Nações Unidas (ONU), que preveem um aumento de 350% de resíduos sólidos urbanos até
2050 caso não ocorra uma mudança nos padrões atuais. A expectativa é uma população de 9
bilhões de habitantes que vão gerar 4 bilhões de toneladas de lixo urbano. Os números parecem
não cooperar principalmente do ponto de vista da não geração. Nos últimos 30 anos, o lixo
produzido no mundo foi três vezes maior que o crescimento populacional (ONU, 2016).
Segundo relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (ABRELPE), a situação não é positiva, o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil
2017 mostra que 3.326 municípios brasileiros destinam seus resíduos sólidos para locais
impróprios. Isso equivale a 59,7% dos municípios. O mesmo documento registra que 76,5
milhões de pessoas sofrem os impactos negativos causados pela destinação inadequada dos
resíduos (ABRELPE, 2017).
No Brasil, somamos cerca de 7 milhões de toneladas de Resíduos Sólidos por ano
que não são coletados ou têm destinação inadequada. Esse cenário resulta em um avassalador
prejuízo a saúde de mais de 96 milhões de pessoas em todas as regiões do país (ABRELPE,
2017).
Não faltam medidas para tentar minimizar o problema, entre elas, podemos citar a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), tal instrumento organiza prioridades para se
tratar desde a não geração de lixo até a disposição correta que objetiva a gestão integrada e o
gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos (BRASIL, 2010).

3 Procedimentos Metodológicos

Quando o interesse da pesquisa é analisar de forma aprofundada e contextualizada um


fenômeno/processo, recomenda-se uma abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa emerge,
com o propósito de desenvolver modelos, tipologias e teorias, para descrever ou explicar as
questões sociais (GIBBS, 2009). Realizou-se um estudo de caso (YIN, 2005), tendo como
objeto de estudo, uma Empresa do Terceiro Setor a Escola Catarinense de Florianópolis - SC,
e tendo como objetivo fazer uma reflexão a respeito da implantação do Projeto Lixo Zero no
Colégio Catarinense, e vincula-las às ODS da Agenda 2030.
Realizou-se ainda uma pesquisa descritiva que busca descrever as características de
determinada população ou fenômeno, seu objetivo principal é estudar as características de
determinados grupos (GIL, 1991). A coleta de dados se deu através de entrevista
semiestruturada, com os responsáveis pelo Projeto, além de observação direta. Para análise dos
dados foram utilizados os conceitos de Bardin (2009) utilizando a análise de conteúdo, que
permite uma melhor compreensão do evento analisado.
Nas metodologias de ação do Projeto Lixo Zero, incluem-se os três R’s (reduzir,
reutilizar e reciclar) da Agenda 21, dessa forma, nas iniciativas práticas, inserem-se atitudes
relacionadas a esses conceitos. Com a atualização dos cenários contemporâneos e seus desafios,
o projeto tem incorporado, ainda, em suas premissas operacionais, as iniciativas relacionadas
ao repensar, recusar e responsabilizar.

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4 Resultados e Discussão

As organizações dos diferentes setores da sociedade, principalmente as de ensino,


buscam, a partir das ODS, alternativas para colocar em prática as ações definidas como
prioritárias, dentro dos 17 eixos referenciados no documento. Neste cenário, o Colégio
Catarinense desenvolveu o projeto Lixo Zero junto à comunidade educativa, para contribuir com
o cuidado do planeta.
O Projeto Lixo Zero prevê ações em três frentes de trabalho distintas: aparelhamento do
espaço físico da escola; presença, através de ações significativas, nos principais eventos do
calendário escolar; e formação permanente da Comunidade Educativa em relação aos
pressupostos teórico-metodológicos envolvidos na proposta. Para cada uma delas, existe um
planejamento minucioso, dimensionado por um grupo responsável pela gestão das ações
estruturais do projeto.
O Colégio Catarinense, em especial nos últimos anos, vem incorporando os ODS às
suas ações e práticas educativas, de modo a tornar cada vez mais presente, em sua missão, visão
e valores, a preocupação com a preservação ambiental e com o cuidado com o planeta como
forma de assegurar às gerações vindouras, condições adequadas de habitação do planeta e de
utilização de seus recursos naturais. Para compreender melhor a dimensão do estudo através do
Quadro 1 evidenciam-se os números mensais do Projeto Lixo Zero no Colégio Catarinense.

Quadro 1: Dados do Colégio Catarinense


COLÉGIO CATARINENSE NUMEROS POR DIA NUMEROS DO MÊS
Resíduos Sólidos Kg/dia Kg/mês
Orgânicos 59,81 1.192,20
Papelão 13,53 279,60
Papel 45,92 918,40
Plástico duros 37,38 747,60
Plásticos moles 22,67 454,40
Metais 2,00 40,00
Longa vida 22,53 450,60
Latas de alumínio 8,64 172,80
Óleo de cozinha - -
Vidros 3,45 69,00
Rejeitos 31,29
TOTAL 247,22 Kg/dia 4.314,60 Kg/mês
Fonte: NovoCiclo, (2013).

Se comercializados, os resíduos de melhor valor no mercado, gerariam uma receita de


aproximadamente R$ 8.035,793. 1 Além dessa economia, atualmente, o Colégio Catarinense
economiza, também, com a coleta desses resíduos, uma vez que a Companhia de
Melhoramentos da Capital (COMCAP), empresa municipal responsável pela coleta seletiva,
substituiu a empresa NovoCiclo na coleta dos resíduos, sem ônus para a escola.
A análise dos dados nos mostra que, das 4,3 mil/kg de resíduos brutos que seriam
encaminhados ao aterro sanitário da cidade por mês, a escola tem triado quase 1,5 toneladas de
resíduos. A quantidade de resíduos orgânicos sofreu redução, uma vez que as cantinas da escola

1
Considerando os seguintes valores de referência: latas de alumínio (R$1,50/Kg), papelão (R$0,18/Kg), papel
branco (R$0,25/Kg), papel jornal (R$0,10/Kg), plástico duro (R$0,90).
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se filiaram ao programa da Universidade Federal de Santa Catarina e direcionam os rejeitos
orgânicos para compostagem. Parte do óleo de frituras, utilizado pelas cozinhas dessas cantinas,
destina-se, atualmente, à produção de sabão caseiro.
Os resíduos sólidos recicláveis tais como papeis, latas e plásticos são destinados à
Cooperativa dos moradores da Caieira do Sacos dos Limões, localizada na cidade de
Florianópolis/SC. Por meio da atuação desta cooperativa, 20 famílias provém o seu sustento,
através dos resíduos oriundos do Colégio Catarinense.
O estabelecimento de estratégias preventivas e de minimização de uso de recursos, exige
medidas de diagnóstico, que respaldem o planejamento e a gestão ambiental. A análise de
processos, fluxos e descartes, permite à instituição traçar objetivos relativos à redução e ao
redimensionamento das atividades, julgando sua própria eficiência.
Este estudo busca verificar até que ponto há, por parte da instituição analisada, a
compreensão acerca dos ODS, sendo feito um recorte para análise, tomando como ponto de
partida alguns dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável como eixos propulsores, uma
vez que eles permeiam as várias áreas de atuação do Programa Lixo Zero no Colégio
Catarinense.
Partiu-se, especificamente, de cinco ODS, os considerados mais relevantes, quando se
pensa na maneira de como é desenvolvido o Projeto Lixo Zero, na Figura 3 podem ser
observados esses ODS.

Figura 3: ODS contemplados no Projeto Lixo Zero, do Colégio Catarinense

Fonte: Elaborado pelos autores (2019).

O Colégio Catarinense não somente desenvolve as ações previstas no projeto, mas


também as incorpora de forma transversal em seu currículo, pois busca promover vivências
educativas que possibilitem o reconhecimento, o respeito, a responsabilidade e o convívio
cuidadoso com os seres vivos e seu habitat.
No Brasil, atualmente, a legislação educacional reafirma a necessidade de que as escolas
promovam e se tornem espaços de estímulo à reflexão crítica e propositiva, de forma a permitir
uma concepção de educação ambiental que supere a mera conceitualização teórica ou ações
isoladas e pontuais. A constituição de espaços educativos sustentáveis ocorre, efetivamente,
quando há integração de currículos, ações e gestão socioambiental.
Esta preocupação preceituada pela legislação vigente é destacada por diversos teóricos
da educação, os quais asseveram que o currículo deve ser considerado elemento central do
processo pedagógico, no qual se dá o entrecruzamento entre escola, saber/cultura e sociedade.
(SACRISTAN, 1999; APPLE, 2002). Através dele, realizam-se os fins da educação e do ensino
escolarizado, os currículos expressam, portanto, as intenções educativas, projetos de formação
de homem e sociedade que se deseja erigir e tem por objetivo último o “ser-no-mundo” o “ser-
com-o-mundo”, ou seja, a conscientização acerca dos ODS, dentro da prática educativa, pode
garantir que isto ocorra de forma efetiva não somente como um conhecimento canônico,
escolarizado, mas como uma prática que está para além dos muros escolares, com reflexos na
atuação dos indivíduos na sociedade.
O Projeto Lixo Zero, para além da redução da quantidade de rejeitos encaminhados ao
aterro sanitário da cidade, objetiva promover uma profunda e radical mudança nos conceitos de
sustentabilidade ambiental da comunidade educativa. Seu lema é mudar mentalidades para
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mudar hábitos. Para isso, é fundamental ampliar debates e reflexões no âmbito da escola,
questionando o atual modelo de desenvolvimento, revendo as concepções de mundo e
sociedade que embasam nossas opções curriculares e desenhando novos projetos de futuro e
desenvolvimento.
Foram implementados pelo Colégio Catarinense, no ano de 2018, um Residuário
Central e diversos residuários menores, espalhados em diferentes setores e ambientes da escola,
os quais foram dimensionados com o objetivo de atender aos alunos das diversas faixas etárias
e aos mais diferentes usos. Como outra ação do projeto, houve a criação de carrinhos de coleta
de resíduos, em parceria com os funcionários do setor de limpeza.
O grupo de colaboradores desse setor tem sido ouvido e contemplado nas mais diversas
ações: palestras, campanhas de conscientização, atividades de formação conceitual e
treinamentos práticos de reciclagem e endereçamento correto dos resíduos do espaço escolar.
Nesse sentido, um modelo mental foi elaborado para maior clareza do assunto, onde
cada ODS com sinergia ao projeto foi ligado à sua respectiva meta, como pode ser observado
na Figura 3.

Figura 3 – Modelo Mental do Colégio Catarinense

Fonte: Elaborado pelos alunos, (2019).

O estabelecimento de estratégias preventivas e de minimização de uso de recursos, no


entanto, exige medidas de diagnóstico, que respaldem o planejamento e a gestão ambiental. A
análise de processos, fluxos e descartes permite à instituição traçar objetivos relativos à redução
e ao redimensionamento das atividades, julgando sua própria eficiência.

5 Resultados e Discussão

Como principais mudanças advindas com a implementação do projeto, podem ser


destacadas as que geram impacto econômico e criação de consciência socioambiental por parte
de toda a comunidade educativa do Colégio Catarinense. Neste cenário, merece destaque que,
além do cuidado com a casa comum, há uma série de atividades de alto impacto para o meio
ambiente, uma vez que os catadores buscam os produtos recicláveis a serem comercializados,
selecionam aqueles de melhor valor no mercado (como plásticos duros, papelões, latas de
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alumínio, papéis mistos e jornais), os quais geram uma fonte de receita para os membros da
Cooperativa que coleta os resíduos descartados pelo Colégio.
O educandário, além de proporcionar uma alternativa de emprego e renda a uma parcela
da população de Florianópolis que vive da atividade econômica de reciclagem de resíduos,
economiza, também, com a sua coleta, uma vez que a Companhia de Melhoramentos da Capital
(COMCAP), empresa municipal responsável pela coleta seletiva, substituiu a empresa Novo
Ciclo na coleta dos resíduos, sem ônus para a escola.
As ações do Projeto Lixo Zero, do Colégio Catarinense, possuem um forte impacto não
somente em sua comunidade educativa, mas também, de modo indireto, na cidade, pois
contribui para que se torne presente, na vida de diversas famílias, a Agenda 2030, uma vez que,
por meio de sua colaboração na tentativa de solução para tentar minimizar a grande quantidade
de lixo gerada pela sociedade, também está fomentando a conscientização ambiental e o
incremento dos esforços governamentais, colaborando para o desenvolvimento sustentável a
longo prazo.
Através da Agenda 2030, a reversão deste quadro asseguraria uma efetiva e quase que
imediata mudança na atual situação, com reflexos na melhoria das condições de vida de toda a
população de Florianópolis e região, atendendo não somente a uma demanda proposta pela
ONU, mas colaborando para que se assegure a qualidade de vida de todas as pessoas envolvidas
ou eventualmente afetadas pelo Projeto Lixo Zero do Colégio Catarinense.
A necessidade de atitudes sustentáveis desinstala certezas e enseja o engajamento em
outras causas decorrentes, tais como: economia solidária, logística reversa, organização em
rede, cultura criativa e sociedade colaborativa. Não obstante, a consciência ambiental e a
redução do consumo devem contribuir para o fortalecimento do conceito de cidadania e a
reflexão aprofundada sobre nossas reais necessidades enquanto partícipes desse mundo. Como
reflexo último, devem conduzir à incorporação plena e total dos ODS em todas as ações do
projeto que já são ou venham a ser desenvolvidas pela comunidade educativa do Colégio
Catarinense.
Esta pesquisa apresenta algumas limitações, tais como que ainda há um grande entrave
para este problema, que consiste no conflito entre o consumismo e as ações de preservação
ambiental. Por isso, o ideal é que as empresas busquem maneiras de adaptar suas atividades a
uma condição de não agressão ao meio ambiente. O maior ponto de conflito, entretanto, está
no consumo em si, responsável pelo lucro das empresas e duplamente responsável pela
multiplicação de lixo.
O estudo contribui para a literatura pela contemporaneidade do assunto, pois a escassez
de estudos elenca assuntos que discutem o assunto em sua amplitude. Coerentemente, o estudo
contribui para a área de gestão, dado que se propôs a apresentar uma reflexão a respeito da
implantação do Projeto Lixo Zero no Colégio Catarinense, Florianópolis - SC e vinculá-las aos
ODS da Agenda 2030.

REFERENCIAS

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS: PERCEPÇÃO E ADAPTAÇÃO ENTRE
PEQUENOS PRODUTORES DO VALE DO CAÍ – RS

CLIMATE CHANGE: PERCEPTION AND ADAPTATION AMONG


SMALL PRODUCERS IN VALE DO CAÍ - RS
Renata Theobald Schaedler1, Bruno César Brito Miyamoto 2

Resumo
A região do Vale do Caí é uma das principais produtoras de hortifrútis do Rio Grande do Sul, destacando-se no
cultivo de produtos como morango, alfafa, bergamota, laranja e limão. As mudanças climáticas podem vir a causar
impactos negativos na produção local, conduzida principalmente por agricultores familiares. Este trabalho foi
elaborado com o objetivo de avaliar a percepção dos produtores hortifrutigranjeiros da região do Vale do Caí- RS
em relação às mudanças climáticas além dos fatores que afetam a propensão à adotar medidas adaptativas. Para
cumprir esse objetivo foi conduzida uma survey com 302 produtores familiares locais. Os dados obtidos foram
tratados e analisados utilizando Análise de Correspondência Múltipla (ACM) e Regressão Logística. Os resultados
da ACM mostram a emergência de um padrão de associação entre adoção de medidas adaptativas às mudanças
climáticas e a existência de condições socioeconômicas e produtivas favoráveis entre os agricultores. Além disso,
os resultados das regressões logísticas destacam o efeito positivo do crédito, da assistência técnica, da escolaridade
e da relação legal com a terra sobre a probabilidade de adoção de medidas adaptativas às transformações do clima.
Palavras-chave: mudanças climáticas, percepção, adaptação, agricultura familiar.

Abstract
The region of Vale do Caí is one of the main fruit and vegetable producers in Rio Grande do Sul, standing out in
the cultivation of products such as strawberry, alfalfa, bergamot, orange and lemon. Climate change may
negatively affect local production, which is mainly driven by family farmers. This study was designed to evaluate
the perception of fruit and vegetable producers in the Vale do Caí-RS region regarding climate change and the
factors that affect their propensity to adopt adaptive measures. To fulfill this objective, a survey was conducted
with 302 local family farmers. The obtained data were treated and analyzed using Multiple Correspondence
Analysis (MCA) and Logistic Regression. The results of the MCA show the emergence of a pattern of association
between adoption of measures in response to climate change and the existence of favorable socioeconomic and
productive conditions among farmers. In addition, the results of logistic regressions highlight the positive effect
of credit, technical assistance, education and legal relationship with the land on the likelihood of adopting adaptive
measures in response to climate change
Keywords: Climate change, perception, adaptation, family farming.

1
Tecnóloga em Processos Gerenciais (IFRS)/ Estudante do MBA em Gestão Empresarial e Empreendedorismo
(IFRS) - renataef26@hotmail.com
2
Graduado em Administração (Unesp) e Doutor em Desenvolvimento Econômico (IE-Unicamp) /Professor do
Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) – miyamototup@gmail.com
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1 Introdução

O Estado do Rio Grande do Sul ocupa uma posição estratégica para a oferta nacional
principalmente de arroz, aveia e trigo e é um dos principais exportadores de soja, arroz e fumo.
As principais culturas agrícolas produzidas no estado em termos de quantidade produzida e área
plantada são o arroz, milho, soja e o trigo. Também se destacam a produção de uva, maçã e
fumo.
A agricultura familiar no Rio Grande do Sul é responsável por uma parcela expressiva
do pessoal ocupado no estado e também do valor de produção agropecuária do estado. Além
disso, a agricultura familiar do Estado é de extrema importância para a produção de milho,
feijão, leite, mandioca, suínos e aves, que são considerados alimentos básicos para a população
brasileira.
A fruticultura e a produção de hortaliças é uma das mais importantes atividades entre
os agricultores da região do Vale do Caí - RS. A região do COREDE Vale do Caí (RS) situa-
se na porção nordeste do Rio Grande do Sul – RS. Integram este COREDE 19 municípios: Alto
Feliz, Barão, Bom Princípio, Brochier, Capela de Santana, Feliz, Harmonia, Linha Nova,
Maratá, Montenegro, Pareci Novo, Salvador do Sul, São José do Hortêncio, São José do Sul,
São Pedro da Serra, São Sebastião do Caí, São Vendelino, Tupandi e Vale Real.
Posto que, o desempenho da fruticultura e da produção de hortaliças da região do Vale
do Caí pode ser afetada pelas alterações futuras do clima global, torna-se indispensável
investigar a percepção e as formas de adaptação dos agricultores em relação as mudanças
climáticas. Dessa forma, este trabalho foi elaborado com o objetivo de avaliar a percepção dos
produtores hortifrutigranjeiros da região do Vale do Caí- RS em relação às mudanças climáticas
além dos fatores que afetam a propensão à adotar medidas adaptativas. Com os desafios
impostos pelas mudanças climáticas, faz-se necessário buscar estratégias de adaptação para o
meio rural, principalmente para a agricultura familiar.

2 Referencial Teórico

2.1 Mudanças climáticas, agricultura e adaptação

O aumento das temperaturas em razão do aquecimento global pode gerar deslocamento


de áreas produtoras e perdas nas safras agrícolas no Brasil. Além disso, áreas que nos dias atuais
são usadas para cultivos de grãos podem se tornar inaptas ao final do século XXI. Simulações
conduzidas por Assad et. al. (2016) com base nos cenários RCP3 4.5 e RCP 8.5 do IPCC
apontam para o aumento do risco de perdas produtivas em culturas como arroz, milho, feijão,
soja e trigo até o final do século XXI. Frente aos efeitos adversos das mudanças climáticas, a
manutenção da produção dessas culturas no território nacional estaria condicionada a fatores
como o deslocamento geográfico dos cultivos, mudanças de manejos culturais e ao
desenvolvimento de variedades tolerantes ao calor e ao estresse hídrico.
No Rio Grande do Sul, alterações no regime de geadas podem afetar diretamente o
crescimento de culturas de inverno. Além disso, a agricultura gaúcha e dos outros estados da
região sul do país podem ser afetadas negativamente pelo aumento de eventos de precipitação
excessiva, caso as condições climáticas se aproximem dos cenários RCP 4.5 e RCP 8.5
(DEBORTOLI et. al., 2017).

3 O cenário RCP (Representative Concentration Pathway) 4.5 assume que as emissões de gases do efeito
estufa no mundo atingirão o nível máximo por volta de 2040 e depois entrarão em declínio. Já o cenário RCP
8.5 assume que as emissões continuarão a crescer ao longo de todo o século XXI.
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As mudanças climáticas podem vir a causar um efeito desproporcional principalmente
sobre os pequenos produtores rurais que são mais vulneráveis a variabilidade das condições
naturais. A dimensão dos impactos das mudanças climáticas para a agricultura familiar, em
geral, irá variar de acordo com as estratégias de adaptação que serão adotadas em resposta às
alterações (MERTZ, et. al., 2009). Estudos de percepção em relação as mudanças climáticas
ajudam a entender o comportamento dos indivíduos e as estratégias de adaptação às mudanças
no clima, sendo portanto, ferramentas importantes para a construção de programas de
desenvolvimento rural que incluam, em sua concepção, estratégias de adaptação às mudanças
climáticas (BONATTI et al., 2011; PIRES et. al., 2014).
O IPCC (2014) define capacidade de adaptação climática como "a capacidade de um
sistema de se ajustar à mudança do clima (inclusive à variabilidade climática e aos eventos
extremos de tempo), moderando possíveis danos, tirando vantagem das oportunidades ou
lidando com as consequências". Considera, ainda, que a vulnerabilidade é função de três
fatores, exposição, sensibilidade e capacidade de adaptação:
• Exposição: refere-se às mudanças que um sistema terá que enfrentar (nível do mar,
temperatura, precipitação, eventos extremos); e ao que está em risco pela mudança do clima
(população, recursos, propriedade, infraestrutura);
• Sensibilidade: é considerada como o efeito biofísico da mudança climática, levando
em conta o contexto socioeconômico (água, agroindústria, assentamentos humanos, demanda
de energia, florestas, serviços financeiros);
• Capacidade de Adaptação: capacidade de um sistema de ajustar-se à mudança
climática, à variabilidade do clima e aos episódios extremos (riqueza, saúde, tecnologia,
educação, instituições, informação, infraestrutura, capital social).
Ainda segundo o IPCC (2014), a adaptação em sistemas agrícolas pode ser dividida em
duas categorias: “Adaptações autônomas”, que é o processo de utilização de tecnologias
existentes e de utilização do conhecimento, em respostas as experiências de mudanças
climáticas, e “Adaptações planejadas”, que se refere ao incremento da capacidade adaptativa
pela mobilização de instituições e políticas em firmar ou estabelecer condições favoráveis, que
propiciem a adaptação efetiva e o investimento em novas tecnologias.
3 Procedimentos Metodológicos

3.1 Fonte de dados

O tratamento e a análise dos dados utilizados nesta pesquisa foram realizados no


software R (R Core Team, 2019). Os dados foram obtidos a partir da aplicação de questionários
entre pequenos produtores de produtos hortifrutícolas do Vale do Caí – RS. Inicialmente, o
questionário foi aplicado a uma amostra piloto composta por 31 indivíduos. Com a validação
das questões, o questionário foi aplicado posteriormente a mais 271 produtores, totalizando
uma amostra de 302 elementos.
A seleção dos produtores que compuseram amostra foi não probabilística, realizada por
“bola de neve”. Com base nessa técnica, produtores que respondiam ao questionário eram
convidados a indicar pelo menos mais três possíveis respondentes. Esse procedimento foi
repetido até a finalização da coleta de dados. Os produtores que participaram da pesquisa
cultivavam produtos como morango, alfafa, bergamota, laranja, limão, repolho, alface e
pimentão em áreas com tamanho médio de 5 hectares.

3.2 Características produtivas e mudanças climáticas

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A análise da associação entre as características socioeconômicas dos produtores, os
padrões de respostas sobre o comportamento do clima e as percepções relacionadas à
capacidade de adaptação às mudanças climáticas foi efetuada por meio de uma Análise de
Correspondência Múltipla.
A partir da decomposição de uma tabela de contingências multidimensional, a ACM
permite que sejam analisadas todas as associações entre variáveis e indivíduos. A informação
sobre os padrões de associação, condensada em um número menor de dimensões, pode ser
representada graficamente em um espaço euclidiano. A proximidade das categorias de resposta
no espaço euclidiano, formado pelas dimensões da ACM, sugerem um maior grau de associação
entre elas, enquanto que distâncias mais elevadas entre as categorias podem ser interpretadas
como repulsão ou menor grau de associação.

3.3 Medidas adaptativas às mudanças climáticas

A relação de causalidade entre características produtivas e socioeconômicas dos


produtores e a adoção de medidas adaptativas às mudanças climáticas foi avaliada por meio de
modelos de regressão logística binária. A regressão logística binária é um técnica de regressão
não linear utilizada quando a variável dependente assume uma natureza binária ou dicotômica.
O modelo possibilita que a probabilidade de ocorrência de um determinado evento seja
estimada em função de valores conhecidos de outras variáveis independentes. Na Tabela 1 são
descritas as cinco variáveis dependentes construídas neste trabalho:

Tabela 1. Descrição das variáveis dependentes presentes no modelo de regressão logística


Variável Descrição Valor
Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por causa das mudanças 1 se sim, 0 se não
MCProd
climáticas?
A_Seca Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por causa de secas? 1 se sim, 0 se não
Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por causa de excesso de 1 se sim, 0 se não
A_Precex
precipitação?
A_Inunda 1 se sim, 0 se não
Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por causa de inundações?

A_Geada Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por causa de geadas? 1 se sim, 0 se não
Fonte: Elaborada pelos Autores (2019).

Essas variáveis foram utilizadas para ajustar cinco modelos de regressão logística
binária que apresentaram a forma funcional da Equação 1:
𝑃𝑖
𝑙𝑛 ( ) = 𝛼 + 𝛽1 𝑀𝑢𝑛_𝐵𝑃𝑖 + 𝛽2 𝑀𝑢𝑛_𝐹𝐸𝑖 + 𝛽3 𝑀𝑢𝑛_𝑆𝐽𝐻𝑖 + 𝛽4 𝑀𝑢𝑛_𝑆𝑆𝐶𝑖 +
1−𝑃𝑖
𝛽5 𝐸𝑠𝑐_1𝐺𝑖 +𝛽6 𝐸𝑠𝑐_2𝐺𝑖 +𝛽7 𝐸𝑠𝑐_3𝐺𝑖 + 𝛽8 𝑃𝑅𝑂𝑃𝑖 + 𝛽9 𝐴𝑅𝑅𝑖 + 𝛽10 1𝑎2ℎ𝑎𝑖 + 𝛽11 2𝑎5ℎ𝑎𝑖 + (1)
𝛽12 > 5ℎ𝑎𝑖 +𝛽13 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑖 + 𝛽14 𝐴𝑇𝑖 + 𝛽15 𝐶𝑟𝑒𝑑𝑖 + 𝑒𝑖

𝑃
onde 𝑙𝑛 (1−𝑃𝑖 ) representa as variáveis dependentes (Tabela 1), 𝛼 é o intercepto da
𝑖
equação; 𝛽1 𝑀𝑢𝑛_𝐵𝑃𝑖 , 𝛽2 𝑀𝑢𝑛_𝐹𝐸𝑖 , 𝛽3 𝑀𝑢𝑛_𝑆𝐽𝐻𝑖 e 𝛽4 𝑀𝑢𝑛_𝑆𝑆𝐶𝑖 são os coeficientes de variáveis
binárias associadas respectivamente aos municípios de Bom Princípio, Feliz, São José do
Hortêncio e São Sebastião do Caí (categoria de referência outros municípios); 𝛽5 𝐸𝑠𝑐_1𝐺𝑖 ,
𝛽6 𝐸𝑠𝑐_2𝐺𝑖 , e 𝛽7 𝐸𝑠𝑐_3𝐺𝑖 representam respectivamente ensino fundamental completo, ensino
médio completo e ensino superior completo (categoria de referência: ausência de ensino
formal); 𝛽8 𝑃𝑅𝑂𝑃𝑖 e 𝛽9 𝐴𝑅𝑅𝑖 representam respectivamente as condições de proprietário ou
arrendatários da terra na qual produzem; 𝛽13 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑖 é coeficiente associado a uma variável que
recebe se o principal produto for uma cultura temporária e 0 em caso contrário; 𝛽14 𝐴𝑇𝑖 é a

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binária associada ao recebimento de assistência técnica; 𝛽15 𝐶𝑟𝑒𝑑𝑖 é a binária associada ao
recebimento de crédito; e 𝑒𝑖 é o erro idiossincrático.
4 Resultados e Discussão

4.1 Características dos produtores

A amostra foi composta por 302 indivíduos, sendo 251 homens e 51 mulheres. A
maioria desses produtores reside no município de Bom Princípio (37,1%), é proprietária das
terras que cultiva (76,7%), possui propriedades com tamanho entre 2ha e 5ha (35,7%) e tem a
atividade agropecuária como principal fonte de renda (85%) (Tabela 2). A idade média dos
indivíduos foi de 47 anos e o tempo de envolvimento com a atividade agropecuária de 33 anos.

Tabela 2. Características dos produtores que compuseram a amostra


Variável Descrição Código Categoria %
BP Bom Princípio 37,1%
Município no qual a FE Feliz 18,9%
Município propriedade está localizada SJH São José do Hortêncio 12,3%
SSC São Sebastião do Caí 7,9%
Out Outros 23,8%
<1G < 1º grau 46,0%
Maior grau de escolaridade do 1G 1º grau 33,4%
Escolaridade
respondente 2G 2º grau 18,9%
3G 3º grau 1,7%
PROP Proprietário 76,7%
Relação do produtor com ARR Arrendatário 12,6%
RelProp
propriedade PAR Parceiro 7,6%
Out Outros 3,0%
<1ha Até 1 hectare 19,6%
1a2ha 1 a 2 hectares 23,9%
Área Tamanho da propriedade
2a5ha 2 a 5 hectares 35,7%
>5ha Mais de 5 hectares 20,8%
Possui culturas agrícolas Temp_N Não 35,8%
Temporária
temporárias? Temp_S Sim 64,2%
Possui culturas agrícolas Perm_N Não 31,5%
Permanentes
permanentes? Perm_S Sim 68,5%
Possui pastagem na Past_N Não 59,3%
Pastagem
propriedade? Past_S Sim 40,7%
Trat_N Não 22,5%
Trator Possui trator?
Trat_S Sim 77,5%
Irr_N Não 42,7%
Irrigação Possui estrutura de irrigação?
Irr_S Sim 57,3%
Possui estufa para cultivo de Est_N Não 52,3%
Estufas
hortifrútis? Est_S Sim 47,7%
Possui máquinas de Ben_N Não 89,7%
Beneficiamento
beneficiamento pós-colheita? Ben_S Sim 10,3%
AT_N Não 49,3%
Assistência Recebeu assistência técnica?
AT_S Sim 50,7%
Obteve crédito na última Cred_N Não 73,7%
Crédito
safra? Cred_S Sim 26,3%
Participa de associação ou Assoc_N Não 55,6%
Associação
cooperativa? Assoc_S Sim 44,4%
Tem para quem deixar a Suce_N Não 33,2%
Sucessão
produção após se aposentar? Suce_S Sim 66,8%
Fonte: Elaborada pelos Autores (2019).

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A maioria dos respondentes afirmou produzir culturas frutíferas permanentes (68,5%) e
culturas hortícolas ou frutíferas de caráter temporário (64,2%), com a utilização de tratores
(77,5%) e de estruturas de irrigação (57,3%). Também foi elevada a parcela de produtores que
adota estufas no cultivo de hortifrútis (47,7%). Enquanto que a irrigação pode reduzir o risco
produtivo associado às secas, a adoção de estufas pode reduzir efeitos adversos de geadas,
ventos fortes, excesso de chuva ou granizo, além de facilitar o manejo de pragas e doenças.
Apesar da elevada experiência com a agropecuária observou-se um baixo grau de
escolaridade dos produtores, sendo que 13,2% afirmaram conseguir ler/escrever, 30,1%
possuem ensino fundamental incompleto, 17,5% possuem ensino fundamental completo,
14,9% possuem ensino médio completo, e apenas 1,65% completaram o ensino superior.
Problemas de sucessão intergeracional representam atualmente um dos grandes desafios
para a continuidade da produção agropecuária familiar no país. Dentre os produtores da
amostra, 66,5% afirmaram que conseguirão transferir a sua produção quando se aposentarem.
Dessa parcela de produtores, apenas 1/3 acredita que seus filhos continuarão na atividade, ou
seja, mesmo que não identifiquem problemas de sucessão, a manutenção da produção
dependerá majoritariamente de outras pessoas próximas que não serão os filhos.
A maior parte dos produtores também declarou não participar de associações ou
cooperativas (55,6%) e não ter utilizado financiamento na última safra (73,7%). Os produtores
que receberam financiamento captaram principalmente crédito cooperativo ou de bancos
públicos.
Cerca de metade dos produtores afirmou ter recebido assistência técnica, tendo como
principal fonte a EMATER/RS-ASCAR (40,20%). A outra metade da amostra apontou a
ausência de necessidade do serviço (cerca de 80%) como principal motivo para o não
recebimento de assistência técnica.
Constatou-se que a maioria dos produtores (cerca de 82,6%) já ouviu falar e/ou discutiu
sobre as mudanças climáticas e o seu impacto sobre o agronegócio (Tabela 3). Além disso, as
opiniões de curto prazo relacionadas ao clima convergem para a percepção de no anterior
ocorreu um verão mais quente (81,8%) e menos chuvoso do que o normal (40,7%) e um inverno
mais frio (57,3%) e mais chuvoso do que o normal.

Tabela 3. Percepção climática dos produtores que compuseram a amostra


Variável Descrição Categoria Resposta %
Já ouviu falar de mudanças climáticas? MC_N Não 17,4%
MudClima
MC_S Sim 82,6%
Ver_Q Mais quente 81,8%
Tver Como foi o último verão em termos de temperatura? Ver_N Inalterado 13,2%
Ver_F Mais frio 5%
Inv_Q Mais quente 21,5%
Tinv Como foi o último inverno em termos de temperatura? Inv_N Inalterado 21,2%
Inv_F Mais Frio 57,3%
Mais
Ver_MAC 19,9%
chuvoso
Pver Como foi o último verão em termos de precipitação? Ver_NC Inalterado 39,4%
Menos
Ver_MEC 40,7%
chuvoso
Mais
Inv_MAC 47,4%
chuvoso
Pinv Como foi o último inverno em termos de precipitação? Inv_NC Inalterado 24,5%
Menos
Inv_MEC 28,1%
chuvoso
Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por MCP_N Não 30,1%
MCProd
causa das mudanças climáticas? MCP_S Sim 70,9%
A_Seca Seca_N Não 53,3%

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Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por
Seca_S Sim 46,7%
causa de secas?
Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por EC_N Não 92,4%
A_Precex
causa de excesso de precipitação? EC_S Sim 7,6%
A_Inunda Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por IN_N Não 94,7%
causa de inundações? IN_S Sim 5,3%
A_Vento Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por VF_N Não 87,7%
causa de ventos fortes? VF_S Sim 12,3%
Você vêm alterando a forma de conduzir a produção por GEA_N Não 71,5%
A_Geada
causa de geadas? GEA_S Sim 28,5%
Fonte: Elaborada pelos Autores (2019).

Quando questionados sobre adoção de medidas adaptativas, cerca de 70% dos


produtores afirmaram que vêm alterando a forma de conduzir a produção em decorrência de
efeitos adversos das mudanças climáticas. Além disso, a maior parte da amostra afirmou que
vem adotando medidas com intuito de reduzir danos causados por eventos climáticos extremos
como excesso de precipitação (92,4%), inundações (94,7%), ventos fortes (87,7%) e geadas
(71,5%). Dentre as principais medidas citadas pelos produtores destacam-se a adoção de
estufas, coberturas, quebra-ventos, diques e estruturas de irrigação.
Apenas 46,7% dos produtores afirmaram que vem adotando ações para reduzir danos
causados por secas. Esse resultado sugere que as condições climáticas locais, caracterizada pela
distribuição regular das chuvas ao longo do ano, e a elevada adoção de estrutura de irrigação
(57,3%) entre os produtores podem estar minimizando a necessidade da incorporação de
medidas adicionais de combate à seca.

4.2 Padrões de associação entre características dos produtores e mudanças climáticas

Foi realizada uma Análise de Correspondência Múltipla (ACM) com o objetivo de


identificar os principais padrões de associação entre variáveis, categorias de resposta e
indivíduos. Ao todo seriam necessárias 40 dimensões para explicar a inércia total das categorias
de resposta. A dimensão 1 é a que mais contribui para a explicar a inércia total (13,8%) seguida
da dimensão 2 (6,9%).
Para valores negativos inferiores da dimensões 1 e valores extemos negativos da
dimensão 2 verifica-se uma associação entre produtores que possuem estruturas de irrigação
(Irr_S) e estufas (Est_S). No espaço euclidiano formado pelas dimensões 1 e 2 da ACM pode-
se considerar que categorias espacialmente próximas entre si apresentam associação (Figura 1).
Observa-se um padrão de associação mais forte entre produtores que afirmam estar adotando
mudanças produtivas em decorrência das mudanças climáticas (MCP_S) para valores negativos
da dimensão 2. Produtores que afirmam não adotar medidas em resposta às mudanças
climáticas (MCP_N) estão associados a valores positivos extremos para a dimensão 2.
A dimensão 2 também contrapõem diferentes características técnicas, produtivas e
socioeconômicas. Para valores negativos desta dimensão verifica-se um padrão de associação
entre produtores escolarizados (1G, 2G e 3G), utilização de tecnologias produtivas (Trator_S,
Irr_S, Est_S, Ben_S), captação de crédito (Cred_S), participação em cooperativas ou
associações (Assoc_S), relação de propriedade com a terra (PROP), recebimento de assistência
técnica (AT_S), existência de herdeiros para transferir a produção (Suce_S), conhecimento do
processo de mudanças climáticas (MC_S) e adoção de medidas direcionadas a reduzir efeitos
adversos de eventos climáticos extremos (VF_S, GEA_S, IN_S, Seca_S, EC_S).

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Figura 1 - Resultados da Análise de
Correspondência Múltipla (ACM)

Fonte: Elaborada pelos Autores (2019).

Por outro lado, produtores sem ensino formal (<1G), que não utilizam as tecnologias
produtivas elencadas no trabalho (Trat_N, Irr_N, Est_N, Bem_N), não captaram crédito
(Cred_N), não participam de cooperativas ou associações (Assoc_N), possuem relação mais
frágil com a propriedade (ARR, PAR), não recebem assistência técnica (AT_N), ausência de
herdeiros para transferir a produção (Suce_N), desconhecem o processo de mudanças
climáticas (MC_N) e não adotam medidas contra efeitos negativos de eventos climáticos
extremos (VF_N, GEA_N, IN_N, Seca_N, EC_N) encontram-se associados à valores positivos
da dimensão 2.

4.3 Adoção de medidas adaptativas às mudanças climáticas

Os efeitos das características socioeconômicas dos produtores e de suas percepções


climáticas na probabilidade de adoção de medidas adaptativas às mudanças climáticas foram
estimados por meio de modelos de regressão logística binária. Ao todo foram ajustados cinco
regressões que tiveram MCProd, A_Seca, A_Precex, A_Inunda, A_Geada e A_Vento como
variáveis binárias dependentes. Todos os ajustes se mostraram significativos a um nível de 5%,
com exceção de A_Vento que por esse motivo não teve os resultados exibidos na Tabela 4.
A adoção de medidas adaptativas às mudanças climáticas (MCProd) e aos eventos
climáticos extremos (A_Seca, A_Precex, A_Inunda e A_Geada), entre os produtores da
amostra, é influenciada principalmente pelo acesso ao crédito (Crédito), pelo recebimento de
assistência técnica (Assistência), pela escolaridade (1G,2G e 3G) e pelo conhecimento da
ocorrência do processo de mudanças climáticas (MudClima).
Produtores que conhecem ou já ouviram falar das mudanças climáticas (MudClima)
apresentam chance de adotar medidas adaptativas as mudanças climáticas e as secas,
respectivamente 6,21 e 4,39 vezes maiores do que os produtores que desconhecem o processo
de mudanças climáticas. De forma análoga, produtores que recebem assistência técnica

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(Assistência) possuem maior chance de adotar medidas adaptativas as mudanças climáticas
(MCProd), secas (A_Seca) e geadas (A_Geada) do que aqueles que não recebem o serviço.
Aproximadamente metade da amostra recebe o serviço de assistência técnica, que na região é
fornecido majoritariamente pelo setor público por meio da EMATER/RS-ASCAR.

Tabela 4. Percepção climática dos produtores que compuseram a amostra


Variável MCProd A_Seca A_Precex A_Inunda A_Geada
Intercepto 0,1168*** 0,0030*** 0,0037*** -0,0001 -0,0005***
Município_BP 1,4388 2,4189** 1,9341 8,3339** 1,8304
Município_FE 1,7290 1,8340 -0,0001 3,3565 -0,8963
Município_SJH 3,2879** 1,4888 1,9898 1,9087 2,6138
Município_SSC 1,4373 2,1231 4,7098 2,4323 1,9333
Escolaridade_1G 2,0498*** 0,8457 -0,4294 -0,6414 -0,4252
Escolaridade_2G 2,8393** 2,1410* 4,0704** -0,2125 1,1622
Escolaridade_3G 2,2926** 0,6910 1,1747 -0,3666 3,9065
RelProp_PROP 0,4191 5,7814*** -0,8677 -0,7430 2,5514
RelProp_ARR 0,5270 5,2269* 2,0814 0,1276 4,7796
Area_1a2ha 2,0491 3,2430 1,8276 1,6764 1,0886
Area_2a5ha 2,9833 6,2134** 3,6027 1,9170 2,3667
Area_>5ha 1,9265 9,0326*** 4,8077 1,0925 2,2778
Temporária 3,7535*** 3,0425*** 1,8553 1,1926 2,7583**
Assistência 2,3931*** 2,3276*** 1,4607 -0,5689 2,8161***
Crédito 1,4038 1,1669 4,6093** 5,9082** 2,1308**
Sucessão 1,6444 1,7186 -0,3861 1,0659 1,3627
MudClima 6,2170*** 4,3935*** 0,1014 0,0001 0,4035
Fonte: Elaborada pelos Autores (2019).
Significância *** 1%; **5%.

O acesso a crédito (Crédito) se mostrou um fator importante para a adoção medidas


voltadas a reduzir o efeito negativo causado por excesso de precipitação (A_Precex),
inundações (A_Inunda) e geadas (A_Geada). A adaptação a esses eventos entre os produtores
da amostra tem envolvido necessidades mais elevadas de investimentos voltadas a construção
de diques, estufas, canteiros e coberturas. A educação se apresentou como uma variável
importante para explicar a adoção de estratégias de combate a efeitos climáticos adversos.
Produtores que possuem algum nível de ensino formal completo possuem maiores chances de
adotar medidas adaptativas às mudanças climáticas (1G,2G, 3G), à seca (2G) e ao excesso de
precipitação (2G) do que indivíduos que não possuem o ensino fundamental completo.

5 Conclusões

O presente artigo procurou avaliar a percepção dos agricultores da região do Vale do


Caí-RS, Brasil, frente às mudanças climáticas, bem como investigar a adoção de medidas
adaptativas. Foi realizado um estudo, cujos dados foram obtidos por meio de questionários
aplicados durante os meses de fevereiro e março.
Verificou-se que a maior parte dos produtores rurais entrevistados tem conhecimento
das discussões sobre mudanças climáticas. Utilizam de tecnologias produtivas, principalmente
de tratores, estruturas de irrigação e estufas, vem alterando a forma de conduzir a produção em
decorrência de efeitos adversos das mudanças climáticas e vem adotando medidas com o intuito
de reduzir danos causados por eventos climáticos extremos como excesso de precipitação,
inundações, ventos fortes e geadas.
Sobretudo, a adoção de estratégias adaptativas, ainda poderia ser melhor. Como
evidenciado pela literatura especializada, muitas vezes pode ser explicada pela falta de

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informação, assistência técnica, acesso a crédito, entre outras dificuldades que comprometem a
adaptação dos agricultores frente as mudanças climáticas.
A ACM mostrou que a ausência de adoção de medidas contra os efeitos negativos das
mudanças climáticas está relacionada a não captação de crédito, não utilização tratores,
sistemas de irrigação, estufas, máquinas de beneficiamento, ausência de participação em
associações, não recebem assistência técnica, ou seja, são os produtores que estão em piores
condições socioeconômicas, técnicas e produtivas.
Por fim, os resultados das regressões logísticas sugerem a captação de crédito, que o
acesso à assistência técnica e o conhecimento sobre a ocorrência das mudanças climáticas
podem potencializar a adoção de medidas adaptativas. A probabilidade de adoção dessas
medidas também se mostrou mais elevada entre produtores mais escolarizados e nos casos em
que a relação com a área cultivada é de propriedade ou arrendamento.

Referências bibliográficas

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R Core Team. R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for
Statistical Computing, Vienna, Austria, 2019.

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Pagamento por Serviços Ambientais (PSA): estudo de caso Programa
Protetor das Águas de Vera Cruz /RS
Payments for ecosystem services (PES): case study Water Protector Project of
Vera Cruz/ RS
Samanta Ongaratto Gil¹, Ivaneli Schreinert dos Santos ², Greici Joana Parisoto³, Bruno José
Ely4

Resumo
O presente trabalho tem como tema o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no Município de Vera Cruz/RS
– Projeto Protetor das Águas. PSA é um instrumento econômico utilizado para valoração dos recursos do meio
ambiente, incentivando práticas de recuperação e conservação de recursos naturais. Tem como objetivo principal
estudar o programa de PSA no município de Vera Cruz/RS. O texto apresenta uma breve revisão teórica sobre
Água, PSA e Desenvolvimento sustentável. Como método, trata-se de um estudo de caso e foi realizada a
pesquisa qualitativa com coleta de dados por meio de um roteiro de entrevista. Este roteiro foi criado como base
referencial nas dimensões da Lei N° 9.433, de janeiro de 1997, denominada Lei das Águas. Como resultado,
destaca-se a preocupação com o meio ambiente, a qualidade e quantidade da água, o futuro da agricultura na
região pelos agricultores e a adesão voluntaria de todos os agricultores da região para participem do Programa
Protetor das águas. Os pontos positivos encontrados no programa desde sua implementação são a melhora na
qualidade e quantidade de água e a conciliação da preservação e subsistência nas propriedades.

Palavras-chave: Recursos Hídricos, Agronegócio, Serviços Ecossistêmicos, Agricultura, Desenvolvimento


sustentável.

Abstract
The theme of this work is the Payment for Ecosystem Services (PES) in the Municipality of Vera Cruz / RS -
Water Protector Project. PES is an economic instrument used for the valuation of environmental resources,
encouraging practices of recovery and conservation of natural resources. Its main objective is to study the PES
program in the municipality of Vera Cruz / RS. The text presents a brief theoretical review on Water, PES and
Sustainable Development. As a method, it is a case study and a qualitative research was conducted with data
collection through an interview script. This script was created as a reference base in the dimensions of Law No.
9,433 of January 1997, called the Water Law. As a result, there is concern for the environment, water quality
and quantity, the future of agriculture in the region by farmers, and the voluntary adherence of all farmers in the
region to participate in the Water Protector Program. The positive points found in the program since its
implementation is the improvement in water quality and quantity and the conciliation of preservation and
subsistence in the properties.

Keywords: Water Resources, Agribusiness, Ecosystem Services, Agriculture, Sustainable Development

__________________________

1 Administradora, Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Agronegócios –UFRGS;


e-mail:<samantagil@hotmail.com>
2 Engenheira Agrônoma, Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Agronegócios –UFRGS;
e-mail:<ivanelisch@hotmail.com>. >.
3 Engenheira Agrônoma, Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Agronegócios –UFRGS; e-mail:<
greici.parisoto@ufrgs.br >.
4 Administrador, em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS; e-mail:
<brunojoseely@hotmail.com>.

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1 Introdução

O planeta Terra é constituído por 70% de água e somente 2% está disponível na


superfície, muito pouco em se tratando do mais importante recurso natural para vida. O Brasil
abriga 12% desta água doce, é o país mais privilegiado do mundo e mesmo assim falta água
em algumas partes do país. (ONU, 2016). Entretanto, por muito tempo o homem tratou a água
como sendo infinita e esta relação de abuso tem ocasionado a degradação ambiental do
planeta (ONU, 2016). Conforme mostra o inciso II, do artigo 1°, da Lei das Águas n°
9.433/97, “a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico” (LEI DAS
ÁGUAS, 1997, p.1).
O crescimento econômico das últimas décadas, paralelamente ao incentivo à produção
e fomento a economia, desencadeou problemas sociais e ambientais. Contudo um
desenvolvimento sustentável em conjunto com o crescimento econômico é fundamental para
prosperidade sustentável e do planeta. Entre as alternativas para estimular o desenvolvimento
sustentável é a implementação de programas por Pagamento de Serviços Ambientais (PSA).
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é uma ferramenta de valoração do meio
ambiente no qual o protetor da natureza recebe para preservar a natureza, especificamente em
preservar o solo e a água, aumentando a quantidade e qualidade da água. Conforme mostra o
site da Agência Nacional de Águas (ANA) do Programa Produtor de Água, “esses projetos
são voltados com produtores rurais que se proponham a adotar práticas e manejos
conservacionistas em suas terras com vistas à conservação de solo e água” (ANA, 2009).
Neste contexto, o PSA destina-se como uma fonte monetária de preservação da
natureza e ao mesmo tempo como uma alavanca financeira para o desenvolvimento
sustentável dos territórios rurais e a manutenção da população rural no campo. Conforme o
Programa Produtor de Água (2009, p.5) existe uma “correlação entre o uso agrícola do solo e
a depreciação de seus atributos [...] e a implementação de práticas conservacionistas é a
melhor forma de mitigar esses impactos, evitando o êxodo rural ou a migração da produção”.
Associando-se a estas ideias, a UN Water, da Organização das Nações Unidas (ONU),
publicou o seu Relatório Anual de Desenvolvimento dos Recursos Híbridos – Água e
Empregos (2016), explicando que a água é um componente essencial para a economia,
ressaltando que a relação do trabalho com os recursos hídricos e naturais é dependente em
oito setores: agricultura, silvicultura, pesca, energia, manufatura com uso intensivo de
recursos, reciclagem, construção e transporte.
Vale ressaltar que em agosto de 2015 foi concluída a Agenda 2030, isto é, um
conjunto de ações, programas e diretrizes que orientarão os trabalhos das Nações Unidas e de
seus países membros rumo ao desenvolvimento sustentável a serem implementados de 2016 a
2030. Conforme mostra o site do Itamaraty, esta Agenda propõe 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas correspondentes. O objetivo de número 11
da ONU é “apoiar relações econômicas, sociais e ambientais positivas entre áreas urbanas,
periurbanas e rurais, reforçando o planejamento nacional e regional de desenvolvimento”.
O projeto Protetor das Águas do Município de Vera Cruz/RS, conhecido pelo nome de
Protetor das Águas, originalmente denominado de “Pagamentos por Serviços Ambientais
(PSA) na Sub-Bacia do Arroio Andreas – Bacia Hidrográfica do Rio Pardo -RS- Brasil” vem
sendo executado, de 2011 a 2016, na sub-bacia do arroio Andreas, pela Universidade de Santa
Cruz do Sul (UNISC) e pela empresa Universal Leaf Tabacos, com o patrocínio da Fundación
Altadis. Tem, ainda, o apoio institucional da Prefeitura Municipal de Vera Cruz, da
Associação dos Fumicultores do Brasil (AFUBRA), do Sindicato das Indústrias de Tabaco

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(SindiTabaco) e do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo (Comitê
Pardo) (MORAES, 2012).
Desta forma, esse artigo tem como objetivo geral estudar o Programa Protetor das
Águas no município de Vera Cruz/RS. Assim sendo, para alcançar o objetivo geral foram
elaborados dois objetivos específicos, sendo eles: a) identificar os principais fatores que
levam os agricultores familiares a participar do projeto; b) analisar os dados identificados do
PSA em Vera Cruz.

2 Referencial Teórico

O ano de 2003 foi considerado o Ano Internacional da Água Potável e também foi
criada a „ONU Água‟, responsável por publicar o Relatório de Desenvolvimento Mundial da
Água, desenvolvido pelas Nações Unidas para analisar os dados e tendências que afetam os
recursos mundiais de água doce. Toda esta movimentação para preservar, recuperar e proteger
este bem valioso mostra seu valor primordial para a saúde humana, para o desenvolvimento
(sustentável ou não) e o futuro do planeta (ONU, 2016).
Contribuindo para esta linha de pensamento, o objetivo 6 da Agenda 2030, disponível
no portal da ONU, é: “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento
para todos”. Ademais o item 6.6 deste objetivo reforça: “até 2020, proteger e restaurar
ecossistemas relacionados com a água, incluindo montanhas, florestas, zonas úmidas, rios,
aquíferos e lagos” (ONU, 2016).
Os recursos finitos e delicados de água doce estão sob pressão constante com o
crescimento populacional e urbano descontrolado, a poluição e as demandas de usos agrícolas
e industriais. Na agricultura, as chuvas não são suficientes para suprir a umidade para a
produção agrícola, a alternativa é a irrigação, uma atividade que consome mais de dois terços
da água doce utilizada no planeta (ANA, 2009). Enquanto nas regiões metropolitanas há uma
concentração do consumo da água e aumento expressivo da poluição, causando um efeito
cascata.
A cada ano, as crises de falta da água são mais longas e severas. Diversas são suas
causas: décadas de mau comportamento em relação ao uso da água e do solo, poluição, uma
cultura equivocada do homem com os recursos naturais, queimadas, desmatamentos,
conforme mostra a Pesquisa de Informações Municipais de 200, apud SHIKI; SHIKI, 2011, o
assoreamento de corpo d‟água foi predominante no Centro-Oeste (63,3%) e Sudeste (60,2%).
Em regiões mais urbanizadas e economicamente mais desenvolvidas a poluição da água foi
mais presente, em 43,6% dos municípios do Sudeste e 43,2% do Sul. Com relação à escassez
de água houve uma predominância em municípios do Sul (53,5%) e Nordeste (52,3%)
(SHIKI; SHIKI, 2011, p.103).
No Brasil, com a alteração do Código Florestal através da Lei nº 12.651/2012, as
mudanças aprovadas implicaram na redução das Áreas de Proteção Permanente previstas em
lei para as margens de rio dentro das propriedades rurais: as matas ciliares (aquelas que
protegem as margens dos rios) agora devem ter 15 metros (quando houver área consolidada
em APP de rio de até 10 metros de largura) metade do que era obrigatório antes. Na época,
especialistas da área ambiental foram contra, pois apontavam para a importância da
conservação dessas áreas que influenciam a produção de água, mesmo assim o projeto foi
aprovado. A proteção das florestas nativas nas regiões de mananciais, nas margens dos rios e
reservatórios é essencial para a geração de água. Sem cobertura florestal, a água não consegue
penetrar corretamente nos lençóis freáticos, causando diminuição na quantidade de água.
Contudo, na contramão do Novo Código Florestal, Fundações, como o Grupo
Boticário e a SOS Mata Atlântica, em conjunto com o Governo Federal, Universidades e

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ONGS investem na conservação de áreas-chave para a produção de água em diversas regiões
através do PSA, iniciativa que premia financeiramente proprietários de terra que conservam a
mata nativa em suas propriedades, protegendo suas nascentes, além do exigido por lei.
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é uma ferramenta, dentre muitas, para a
valoração destes ecossistemas naturais e Jardim (2010) reforça que o PSA é um instrumento
econômico que pode auxiliar na gestão ambiental. Apresenta-se como uma política pública
para proprietários de terras que possuem ecossistemas naturais em suas propriedades e tenham
o interesse de preservá-los ou recuperá-los, isto é, os proprietários que estão trabalhando em
conjunto com o Estado ou iniciativa privada, através de um programa, recebem um valor
monetário em troca da preservação. Moraes (2012) explica:

A ideia básica do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é a de que os


beneficiários externos dos Serviços Ambientais (SA) devem realizar pagamentos
diretos aos provedores desses serviços, proprietários do recurso ambiental,
geralmente rural, mediante contratos e condições que garantam que estes adotarão as
práticas de conservação e/ou restauração dos ecossistemas (MORAES, 2012, p.44).

O PSA utiliza-se do Princípio do Protetor-Recebedor, que visa recompensar quem


preserva a natureza e o meio ambiente, além disso, estimular mais ações de preservação. Este
princípio parte da premissa que o indivíduo (um produtor rural) que voluntariamente decide
participar de uma PSA e assume a responsabilidade de preservar a natureza para um bem
maior, para um bem de todos, indiretamente tem uma perda financeira, perda de áreas de
produção, e consequentemente cria uma desvantagem na competitividade econômica.
Portanto, o PSA supre ou diminui estas eventuais perdas financeiras. Shiki e Shiki
destacam o quanto é relevante gerar benefícios econômicos para quem garante a manutenção
de áreas protegidas:

No caso da região sul, há uma preocupação em associar o PSA a questões


socioambientais, de forma que os agricultores familiares recebam uma compensação
por converterem parte de sua área destinada à produção para a formação de reserva
legal, conforme determina o Código Florestal. Dessa forma, não ocorreria uma
redução de suas rendas ao mesmo tempo em que ampliaria os serviços ambientais,
com destaque às áreas criadoras de suínos, que apresentam sérios problemas de
contaminação das águas (SHIKI; SHIKI, 2011, p103).

Seguindo esta ordem, Morais (2012, p.46), salienta que “além de auxiliar na
preservação do meio ambiente, os mecanismos de PSA também possam contribuir para o
desenvolvimento sustentável”. Cabe citar que o princípio básico de um sistema de PSA é
reconhecer que o meio ambiente fornece gratuitamente bens e serviços que permitem a
sobrevivência e bem-estar do homem. Além disso, o PSA argumenta que a economia de
mercado não pode mais desconsiderar os recursos e usos da natureza, tendo que empregá-la
como um de seus elementos.
De início é interessante destacar que no Brasil a Agência Nacional de Águas (ANA)
desenvolveu o Programa Produtor de Água, voltado à proteção hídrica no Brasil. Os projetos
têm adesão voluntária e são voltados a produtores rurais que se proponham a adotar práticas e
manejos conservacionistas em suas terras com vistas à conservação de solo e água,
melhorando a qualidade e a disponibilidade da água (ANA, 2012).
O programa prevê o apoio técnico e financeiro à execução de ações de conservação da
água e do solo, como, por exemplo, a construção de terraços e bacias de infiltração, a
readequação de estradas vicinais, a recuperação e proteção de nascentes, o reflorestamento de
áreas de proteção permanente e reserva legal e o saneamento ambiental. Prevê também o
pagamento de incentivos (ou uma espécie de compensação financeira) aos produtores rurais

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que contribuam para a proteção e recuperação de mananciais, o aumento da infiltração de
água no solo e a adequada alimentação do lençol freático, gerando benefícios para a bacia e a
população (ANA, 2012).
Grazieira (2009) destaca que ao definir a Política Nacional de Recursos Hídricos e
criar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, a Lei nº 9.433/97
proporcionou um aporte legal importante para o ordenamento jurídico no que concerne a
água. Associa-se a esta colocação a lei municipal do Município de Vera Cruz Lei Nº 4.264 de
01 de dezembro de 2015, instituindo a Política Municipal de Pagamento por Serviços
Ambientais, um de seus objetivos é estimular a conservação dos ecossistemas, do solo, dos
recursos hídricos, da biodiversidade, entre outros.
O Programa Produtor de Água (PPA) destaca que os conservacionistas do projeto
proporcionam um benefício social a todos os usuários, direta ou indiretamente, e ressalta que
ambas as comunidades: urbanas e rurais necessitam de serviços ambientais para a
sobrevivência (ANA, 2009).
A grande vantagem de um programa baseado em PSA é que o produtor rural é o
agente principal do processo, sendo essencial em todas as etapas e consequentemente o fiscal
mantenedor de todo o processo. Outras vantagens são destacadas por Morais, 2012,
preservação de recursos hídricos, regulação de gases de efeito estufa, prevenção de erosão,
biodiversidade e ecossistemas exercem um papel de grande importância para as atividades
econômicas.
Segundo o site do PPA (2009), o PSA tem dois grupos participantes: os provedores de
serviços (produtores rurais) e os agentes financeiros (órgãos e entidades participantes). A
origem dos recursos para o financiamento destes programas pode ser de recursos privados, do
poder público ou dos usuários. O que importa mencionar neste tópico é que este tipo de
programa, mesmo sendo controlado por uma Agência Federal, pode ser financiado por
Fundações, Faculdades, empresas privadas, entre tantos outros.
A concessão dos incentivos ocorre somente após a implantação, parcial ou total, das
ações e práticas conservacionistas previamente contratadas. Os valores a serem pagos serão
calculados de acordo com os resultados, tais como: abatimento da erosão e da sedimentação,
redução da poluição difusa e aumento da infiltração de água no solo. Moraes (2012, p.49)
menciona que o “PSA utiliza duas metodologias para o cálculo dos seus custos: o custo de
oportunidade (preço de mercado) e a avaliação e mensuração dos impactos positivos gerados
por ações de manejo ou conservacionistas realizadas pelos participantes do projeto”. Ainda
nesta mesma linha, Motta (2011, p. 179) reforça “que para financiar os investimentos em
capital natural, temos que conhecer sua contribuição econômica e social e saber precificá-los
de acordo com sua contribuição para o bem-estar da sociedade”.
O PSA não visa somente às compensações financeiras, vai além, estimulando as
mudanças de comportamento dos produtores rurais, criando uma conscientização ambiental,
melhoria da qualidade da água e preservação de matas nativas ou restauradas. Destaca-se
também seu potencial gerador de emprego e renda para aqueles que desejam ficar nas áreas
rurais, evitando o êxodo rural.
O PSA é mais uma ferramenta para trabalhar um desenvolvimento sustentável. Moraes
menciona que:

PSA tem surgido como um programa alternativo de desenvolvimento sustentável


para algumas regiões brasileiras, conciliando a preservação ambiental com a
melhoria das condições socioeconômicas dos proprietários rurais. Os produtores
rurais brasileiros normalmente investem pouco em manejos e práticas
conservacionistas, em função do baixo nível de renda dessa atividade e da falta de
políticas públicas visando à compensação dos provedores de externalidades
positivas (MORAES, 2012, p.47)

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O Relatório Brundtland (1987) é o documento intitulado Nosso Futuro Comum (Our
Common Future), elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento. A partir deste relatório foi criado o conceito até hoje utilizado para
desenvolvimento sustentável: é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração
atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações,
portanto, é o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Costa (2008) afirma
que o desenvolvimento sustentável existe, quando é socialmente includente, ambientalmente
sustentável e economicamente viável.
A ideia desse desenvolvimento é um complexo processo de crescimento equilibrado,
destacando-se um crescimento harmônico nas diferentes relações constituídas pela sociedade.
Embora desenvolvimento sustentável seja um conceito muito utilizado, não existe uma única
perspectiva. Seiffert (2014) escreveu que foi Ignacy Sachs quem aperfeiçoou o conceito de
desenvolvimento sustentável, através de um equilíbrio integrado entre cinco dimensões de
sustentabilidade: social, ecológica, econômica, cultural e geográfica. Neste trabalho adota-se
o conceito trabalhado por Sachs.
O caminho do desenvolvimento deve contemplar práticas de economia inclusiva e
sustentável, usando os bens naturais com critério e planejamento assim exigindo mudanças
fundamentais em toda a sociedade, mudanças estas que passam da produção ao consumo, da
extração de matéria prima ao ciclo de vida do produto, sempre destacando o papel finito dos
recursos naturais, assim garantido a qualidade e abundância para as gerações futuras.

3 Procedimentos Metodológicos

A pesquisa é conduzida através de um estudo de caso, na comunidade do Município de


Vera Cruz/RS que participa do projeto Protetor das Águas, e os dados foram coletados a partir
de entrevistas em profundidade. Neste contexto, Appolinário (2006, p.61-62) considera que a
pesquisa qualitativa “[...] prevê a coleta dos dados a partir de interações sociais do
pesquisador com o fenômeno pesquisado”. Já, de acordo com Fossatti e Luciano (2008, p. 57)
“visa examinar um fenômeno dentro do seu contexto. E envolve o estudo de unidades
específicas, como pessoas, produtos e empresas.”
Foram realizadas duas etapas de entrevistas: na primeira etapa, foram entrevistados
dois gestores do projeto, sendo: o Engenheiro Ambiental - prestador de serviços do programa
e o Coordenador ETA/ETE Vera Cruz e do Projeto Protetor das Águas.
Na segunda etapa, foram entrevistados dois agricultores que já participam do
programa e que implementaram em suas propriedades o PSA. Para a definição dos
entrevistados, dentre os inscritos no programa, foram escolhidos por disponibilidade de
horários.
A entrevista terá por finalidade identificar os principais fatores que motivaram os
agricultores a participarem do PSA, contribuições e oportunidades de criação de uma
sociedade sustentável, dificuldades e ameaças. Durante o decorrer das entrevistas, os
participantes do PSA levantaram aspectos considerados relevantes no processo de
implementação e manutenção do projeto através da ferramenta brainstorming. Tendo como
objetivo a construção da Matriz SWOT, onde foram analisados os pontos fortes e fracos do
PSA e as ameaças e oportunidades do setor de desenvolvimento, utilizando como base o
referencial teórico.

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A seguir encontra-se a Tabela 1 que é o desenho da pesquisa:
Tabela 1 – Desenho da pesquisa
Objetivos Específicos Etapas Técnica
a) Identificar os principais  Coleta de dados.  Roteiro de Entrevista.
fatores que levam os agricultores  Entrevista em profundidade.
familiares a participar do projeto.
b) Analisar os dados  Análise de dados.  Matriz SWOT.
identificados no PSA em Vera  Referencial teórico.
Cruz.
Fonte: As Autoras (2016).
Nesta figura encontram-se os objetivos específicos alinhados com as etapas e as
técnicas a serem trabalhadas ao longo deste artigo.

4 Resultados e Discussão

Ao realizar a entrevista com dois gestores do projeto, sendo que trabalham em


diferentes áreas, e dois agricultores que participam do programa, pode se observar em
algumas questões as visões diversas de cada um. O diagnóstico da situação representa a
resposta ao primeiro objetivo específico: identificar os principais fatores que levam os
agricultores familiares a participar do projeto.
Nesta etapa são apresentadas as ideias dos entrevistados obtidas através do roteiro de
entrevista. Foi feita uma correlação entre o referencial teórico com as respostas dos
entrevistados. O roteiro de entrevista foi dividido em quatro dimensões: Água, Gestão de
Recursos Hídricos, Planos de Recursos Hídricos e Cobrança do Uso de Recursos Hídricos. O
roteiro de entrevista foi dividido em quatro dimensões formuladas pela autora, e utilizam
como base referencial as dimensões da Lei N° 9.433, DE JANEIRO DE 1997, denominada
Lei das Águas.
Na dimensão água, tanto os gestores como os agricultores concordaram que é
necessário um mapeamento e diagnóstico das sub-bacias da região, trabalhar melhor a gestão
das propriedades e conseguir o maior número possível de adesão voluntária dos agricultores
da região. Na opinião dos gestores, a preocupação central é cercar as nascentes e recursos
hídricos, assim conseguindo dar continuidade ao programa e alcançando os aspectos
qualitativos da água, monitorando a evolução da quantidade e qualidade da água.
Na visão dos agricultores o mais difícil é ter cultura intrínseca de não mexer na aérea
preservada, nesta mesma linha de raciocínio os gestores afirmam que o trabalho de
conscientização e educação ambiental com o público alvo é extremamente delicado e
contínuo. Moraes (2012) reforça que os produtores rurais brasileiros normalmente investem
pouco em práticas conservacionistas em função do baixo nível de renda e a falta de
informações relativas ao tema.
Na dimensão Gestão de Recursos Hídricos, os entrevistados ressaltam a importância
da unidade gestora, sendo administrada pelo funcionário da Prefeitura em conjunto com a
UNISC. Os agricultores salientaram que seu papel é fundamental no programa e seriam de
grande valia suas opiniões, conforme afirmativa o programa nacional Produtor de Água
admite que o sucesso do projeto seja dependente grandemente da participação dos
proprietários rurais (ANA, 2009). Os gestores destacaram a realização de reuniões com o
„município‟ conforme demanda e palestras em escolas para toda a comunidade. Os
agricultores recebem visitas técnicas periódicas e a realização de uma vez ao ano de eventos
de pagamento. Os agricultores destacaram que são prontamente atendidos pelo representante
das visitas.
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Na dimensão, Planos de Recursos Hídricos, os gestores destacaram que, como a
adesão dos agricultores é voluntária, algumas áreas potencialmente ótimas não fazem parte do
projeto. Esta não adesão ao projeto, por todos os agricultores, prejudica a qualidade da água e,
por conseguinte o projeto.
Na última dimensão, Cobrança do Uso de Recursos Hídricos, ambos, gestores e
agricultores, responderam que a melhor opção pela cobrança dos recursos hídricos
revitalizados seria inserir uma tarifa mínima cobrada diretamente na conta de água e
consequentemente destinar um percentual desta para subsidiar as ações do programa, assim, o
tornando auto-sustentável. Em sintonia com esta informação, o Programa Produtor de Água
cita como uma das fontes de financiamento os recursos da cobrança pelo uso da água (ANA,
2009).
A análise da situação representa a resposta do segundo objetivo específico: analisar os
dados identificados no PSA em Vera Cruz. Com a Matriz SWOT é possível identificar os
pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças do processo de implementação de um
PSA, o Projeto Protetor das Águas.A Matriz SWOT está apresentada na Tabela 2, que segue:

Tabela 2 – Matriz SWOT


MATRIZ SWOT
PONTOS FORTES PONTOS FRACOS
Qualidade e quantidade de água. Dificuldade de 100% de participação dos
Preservação do meio ambiente. agricultores da região.
Benefício econômico aos agricultores. Dependência da colaboração dos
Conciliação da preservação e subsistência nas agricultores.
propriedades. Dependência financeira (publica e/ou
Comunicação entre equipe gestora e agricultores. privada)
Gestão centralizada na UNISC e Prefeitura.
OPORTUNIDADES AMEAÇAS
Incentivo a preservação ambiental. Dependência financeira.
Mostrar Vera Cruz como gestor de água. Mudança de governo municipal.
Oportunizar a pesquisa e a melhoria do programa.
Melhoria da propriedade.
Fonte: A Autora (2016).

Através das respostas dos entrevistados pode-se perceber que as maiores preocupações
são com o meio ambiente, a qualidade e quantidade da água, a comunidade e o futuro da
região. Com a análise dos dados coletados pelos entrevistados observa-se que os pontos fortes
são: qualidade e quantidade de água, preservação do meio ambiente, benefício econômico aos
agricultores, conciliação da preservação e a subsistência nas propriedades e a comunicação
entre a equipe gestora e os agricultores. Os pontos fracos são: a dificuldade de 100% de
participação dos agricultores da região, dependência da colaboração dos agricultores e a
dependência financeira para dar continuidade ao programa.
As oportunidades são: Incentivo a preservação ambiental, assim mostrando para o
Estado, e até mesmo no Brasil, que o município de Vera Cruz é um gestor de água, um case
de sucesso. Oportunizar as pesquisas de caráter científico e assim melhorando o programa e
as propriedades. As ameaças são: a dependência financeira anual para seguir o projeto, a
mudança de governo no município pode ser uma ameaça grave a continuidade promissora do
programa.

5 Conclusões

Este artigo abordou o tema: “Pagamento Por Serviços Ambientais” através de um


estudo de caso do Programa Protetor das Águas de Vera Cruz/RS. A pesquisa mostra que o
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Município de Vera Cruz, em conjunto com a iniciativa privada e a UNISC conseguiram
implementar um projeto de sucesso, o “Projeto Protetor das Águas”, beneficiando toda a
comunidade, tanto em quantidade e qualidade da água, como também ensinaram uma nova
forma de cuidar e produzir na região agrícola deste município.
As entrevistas foram limitadas exclusivamente a esta pesquisa, pois foram aplicadas
em condições específicas e voltadas para este tipo de estudo de caso. Para isso foi aplicado
um instrumento de pesquisa com quatro participantes do projeto, sendo dois gestores do
projeto e a dois agricultores, que se disponibilizaram a responder as questões contidas no
roteiro de entrevista. A autora visitou o projeto duas vezes, sendo que na primeira visita
participou de uma palestra com os gestores e visitou uma propriedade em processo no projeto,
a fim de conhecer mais o projeto e na segunda visita, a autora aplicou as entrevistas.
Através dessas quatro dimensões (Água, Gestão de Recursos Hídricos, Planos de
Recursos Hídricos e Cobrança do Uso de Recursos Hídricos) foi possível identificar os
benefícios e as dificuldades contidas no projeto.
O primeiro objetivo específico de identificar os principais fatores que levam os
agricultores a participar do PSA, onde foi utilizado um roteiro de entrevista com perguntas
abertas. Para cada dimensão foi aplicado uma correlação das respostas dos entrevistados com
a teoria aplicada na revisão da literatura. Através das entrevistas foi possível identificar a
preocupação com a água, como é realizada sua gestão nas propriedades e a continuidade do
programa. Por meio das entrevistas também foi possível identificar as práticas aplicadas,
identificar as dúvidas dos agricultores e priorizar as práticas conservacionistas. Para o
Programa ser eficaz é necessário tomar medidas de aperfeiçoamento capazes de mudar a
cultura de produção dos agricultores, que são peça essencial ao sucesso do programa.
O propósito do segundo objetivo específico de analisar os dados identificados no PSA
de Vera Cruz, verificando necessidades de melhorias em cada dimensão foi alcançado através
da análise das dimensões do roteiro de entrevista, elaborando assim a Matriz SWOT. Através
da criação da matriz SWOT, destacou-se a preocupação com o meio ambiente, a qualidade e
quantidade da água, e o futuro da agricultura na região pelos agricultores, estes itens devem
ser tratados e trabalhados para o melhoramento do programa e da região no geral.
Este artigo foi de extrema importância, pois foi possível identificar a importância do
PSA para toda a comunidade, tanta na quantidade e qualidade de água, para hoje e o futuro.
Este tipo de programa auxilia nas tomadas de decisões pelos agricultores e líderes do
município. A pesquisa possibilitou um maior entendimento da importância dos recursos
hídricos para a existência de uma sociedade ambientalmente preocupada com o planeta. A
autora pode conhecer um projeto que prioriza o meio ambiente, a natureza, a água e o bem-
estar econômico de todos. Para pesquisas futuras sugere-se um estudo voltado para melhorias
na implementação do PSA, com interesse na sua continuidade.

6 Referências

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PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS DA DIVERSIFICAÇÃO DE
CULTURAS TOLERANTES A SECA: EXPERIÊNCIAS DE
PRODUTORES COMUNITÁRIOS NA VENEZUELA
AGROECOLOGICAL PRACTICES OF THE DIVERSIFICATION OF TOLERANT DRY
CULTURES: EXPERIENCES OF COMMUNITY PRODUCERS IN VENEZUELA
BASTIDAS, O. J. B.1, VILORIA, E. M. R.2
1
Programa de pós-graduação em Recursos Naturais, UEMS, Dourados, Brasil. 2 Engenheiro da produção de agroecossistema,
Universidade dos Andes Venezuela.
Resumo
O objetivo desta pesquisa foi promover o desenvolvimento de práticas agroecológicas para combater a fome da
população em territórios áridos no estado de Trujillo, Venezuela. A pesquisa-ação participativa foi utilizada como
metodologia, por meio de entrevistas diretas e reuniões com produtores. Tudo o trabalho ocorreu em dois anos,
possibilitando a realização de atividades agrícolas sustentáveis, surgindo e executando assim quatro linhas de
trabalho, que foram: análise para o diagnóstico de fertilidade dos solos, o estabelecimento de parcelas de
demonstração, uso de sementes crioulas no cultivo de plantas de ciclo longo, e o estabelecimento de hortas
familiares para promover a diversificação de plantações os cultivos. Os resultados mostram, em primeiro lugar:
desejo de trabalhar a agricultura, em segundo lugar, uma nova percepção dos produtores, sobre o cultivo de plantas
com maior qualidade de forma sustentável, indicando a possibilidade de produzir culturas em terras seca, unidades
a partir desses métodos agroecológicos.

Palavras-chave: Agricultura familiar, sociedades, organizações comunitárias

Abstract
The objective of this research was to promote the development of agroecological practices to combat hunger of
the population in arid territories in the state of Trujillo, Venezuela. Participatory action research was used as a
methodology, through direct interviews and meetings with producers. All the work took place in two years,
allowing sustainable agricultural activities to be carried out. Four lines of work emerged and were carried out:
analysis for the diagnosis of soil fertility, establishment of demonstration plots, use of native seeds in cultivation
of long-cycle plants, and the establishment of family gardens to promote crop diversification. The results show,
first of all: the desire to work in agriculture, secondly, a new perception of the producers on the cultivation of
higher quality plants in a sustainable way, indicating the possibility of producing crops on dry land, units from
these agroecological methods.

1 Introdução

O crescimento demográfico necessita de uma maior fonte de produção de alimentos, no


entanto, regiões que sofrem com períodos de seca carecem de tecnologias de produção que
condizem com suas necessidades climáticas de forma a suprir a necessidade de alimentos para
população sem agravar as tensões sociais. De acordo com a Organização das Nações Unidas
para a Agricultura e a Alimentação, (FAO, 2014), cerca de 805 milhões de pessoas, estavam
cronicamente subalimentadas no mundo, ou seja, as quantidades de alimento ingeridas eram
insuficientes, ou ainda, os alimentos que ingeriam não possuíam nutrientes suficientes para
sanar as necessidades básicas Em sua maioria encontram-se justamente nas áreas rurais
A Venezuela apresenta áreas rurais áridas com poucos recursos hídricos e
monoculturas de baixa produção, fazendo com que o camponês migre para as zonas urbanas.
Segundo Zambrano, Trujillo, e Sol. (2015) fazem uma referência importante a este fenômeno,
destacando que, os sistemas de produção agrícola na Venezuela e em qualquer parte do mundo,
devem contribuir para a regionalização da produção agrícola, que leve em consideração as
características naturais e sua interação com os modos de uso da terra ao mesmo tempo em que
se considerem as bases e planos de manejo ou investigações que corrijam as deficiências dos
sistemas agrícolas
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Além disso, surge a necessidade de que os sistemas de produção sejam conduzidos
com técnicas agroecológicas como: melhor aproveitamento de áreas pequenas, Produção de
frutas, legumes e vegetais agroecológicos, Bioenergia, diversificação de culturas, compostagem
e manejo dos insumos agroecológicos, principalmente em regiões áridas, contribuindo para
produção de alimento como diferentes fontes de nutrientes, e ainda, agregar renda a médio e
longo prazo para o produtor da agricultura familiar. Esta modalidade da agricultura ecológica
fornecem as bases científicas, metodológicas e técnicas, atacando também a soberania alimentar
da população para uma nova “revolução agrária” Altieri e Nicholls (2010).
Uma estratégia agroecológica pode orientar o desenvolvimento agrícola
ambientalmente sustentável, adaptando-o às condições climáticas existentes: satisfazendo
assim as necessidades humanas sem comprometer as futuras, manter os níveis contínuos de
produção agrícola e pecuária, atender e responder às necessidades sociais das famílias e
comunidades áreas rurais, conservando os recursos naturais. O trabalho será baseado em
promover o desenvolvimento de práticas agroecológicos para combater à fome e a seca durante
o exposto, no estado de Trujillo, Venezuela.

2 Procedimentos Metodológicos

O projeto acompanhou as ações do paradigma sócio-crítico unido, neste sentido a


modalidade Pesquisa-Ação Participativa (IAP) segundo Fals Borda (2008), este tipo de
pesquisa propõe uma experiência necessária para progredir na democracia, como um complexo
de atitudes e valores, e como um método de trabalho que dá sentido à prática no campo. Nesse
sentido, para permitir o diagnóstico das propriedades rurais e seu agrupamento em núcleos para
identificar os problemas e suas possíveis ações para serem transformados em produtos
positivos. Bartolomé, (1997)
Este trabalho consistiu em levantamento de dados de primeira, contando com a
colaboração dos moradores, proporcionando informações diretas através de entrevistas,
conversas, reuniões. Surgindo desses encontros, em primeira instância, um plano de ação que
mais tarde seria realizado em resposta aos problemas apresentados pelos sistemas produtivos
locais e à baixa renda econômica dos habitantes da região, na qual 4 linhas de trabalho foram
desenvolvidas para a proposta, a primeira foi o análise para o diagnóstico de fertilidade dos
solos, a segunda o estabelecimento de parcelas de demonstração, a terceira: uso de sementes
crioulas no cultivo de plantas de ciclo longo, e por último o estabelecimento de hortas familiares
para promover a diversificação de plantações os cultivos.

3 Resultados e Discussão

No âmbito de uma modalidade descritiva, foi elaborado um plano de ação junto aos
produtores, São expostos, a seguir, os resultados que emergiram a partir da análise propriamente
dita das narrativas. Apresenta-se a compreensão do processo social pesquisado, bem como
busca-se ampliar o olhar para o sentido dado pelos agricultores sociais participantes.
Uma das problemática mencionadas, foi a pouca agua que tem, e além disso está
contaminada, um trabalho feito por Ministério do Meio Ambiente (2016) corrobora esta
informação e seus responsáveis são as comunidades adjacentes, e assim está sendo explorada
para a agricultura, pecuária e consumo.
A este respeito, foi necessário fazer uma análise bacteriológica, coletando duas
amostras de água analisadas no Regional Negócio Trujilano hidráulica uma instituição que
presta serviços técnicos relacionados ao uso integral dos recursos hídricos, isto indica que cuja
água não é adequada para consumo humano, já que os valores de coliformes fecais e os

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coliformes totais excedem os valores exigidos pelo Ministério do Meio Ambiente (veja a tabela
1).
Tabela 1- Análise bacteriológica realizada em duas amostras de água na comunidade La Bético em
06/03/2016
Amostra Amostra Valor para água
Indicador Unidades
N° 1 N° 2 de Risco
Coliformes
3200 3200 NMP/100ml < 5000
Totais
Coliformes
1300 920 NMP/100ml < 1000
Fecais
Bactérias
Heterótroficas 2400 1700 NMP/100ml < 5000

Fonte: pelo Ministério do Meio Ambiente

Segundo a tabela a comunidade apresenta sérios problemas com água principalmente a


poluição e os altos valores coliformes fecais e bactérias. De acordo com as informações
fornecidas pelos porta-vozes das associações de moradores, (Grupos sociais, que permitem
exercer diretamente a gestão de políticas públicas e projetos orientados a responder às
necessidades), a colônia de estudo possui cerca de 130 habitantes, divididos em 36 famílias,
que possui uma área territorial de 293 hectares. O que diminui a capacidade de produção à
monocultura que desenvolvem e, portanto, sua qualidade para o consumo.

As medidas necessárias foram tomadas no momento da amostragem para obter


resultados precisos de acordo com a realidade das terras que a comunidade “Félix Nava, as
amostras foram levadas para o Laboratório de Serviços de Análise de andares do Núcleo
Universitário “Rafael Rangel” (veja tabela 2). ”

Tabela 2- Caracterização de solos na área experimental


IDENT. DA AMOSTRA AMOSTRA N°.1

Prof. Da Amostra (Cm) 0-20

% Areia 36

% silte 40

% Argila 24

Classe Textural Siltosa

Ph 1:2,5 Em Água 5.1 Fortemente Ácido

C.E. 1:2,5 (Ds/M) 0,32 Normal

% De Matéria Orgânica 1.90 Baixo

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% Carbono Orgânico 0,97 Muito Baixo
% Nitrogênio 0.09 Muito Baixo
Fósforo (Ppm) 22 Médio
Potássio (Ppm) 101 Alto
Cálcio (Ppm) 1200 Médio
Magnésio (Ppm) 312 Alto
Fonte: Pesquisadores (2017)
De acordo com estes resultados gerados no Laboratório do serviço de análise do solo da
ULA, NURR (2017), a comunidade “Félix Nava” possui solos com classe textual franco-siltosa.
Além disso, e de acordo com as propriedades do solo, e sua textura como resultada da (tabela
2), elas possuem permeabilidade média, boa aeração, capacidade média de retenção de água,
tamanho médio de partículas finas.

A tabela mostra a predominância de partículas arenosas através do perfil do solo,


aumentando em profundidade, com uma textura arenosa superficial que é definitivamente
arenosa no horizonte de pedra. Dados relacionados às características físico-químicas do solo
são apresentados; em correspondência com uma textura arenosa. Do ponto de vista do teor de
matéria orgânica, é muito baixo e, portanto, carbono, com pouco fósforo assimilável, mas bom
teor de potássio assimilável. Estes resultados permitem resumir que estes solos arenosos, pobres
em matéria orgânica e fósforo assimilável. Eles têm uma forte tendência a lavar as bases, por
isso são improdutivos para a agricultura, tanto pelas suas características quanto pelo relevo em
que são distribuídas.

3.1 Linhas de trabalho 1- Análise para o diagnóstico de fertilidade do solo e adubação de


culturas
Junho de 2017 foi realizado a amostragem do solo na unidade de produção (uno), a
fim de conhecer a fertilidade e fornecer as recomendações necessárias para as culturas. Quinze
sub-amostras foram coletadas na camada de 0-0,30 m de profundidade em solo sob-relevo
plano, coloração uniforme; seguindo uma trajetória em forma de zig-zag, onde foi removida
uma amostra padrão para realizar a análise o diagnóstico de fertilidade (veja a figura 1).
Figura 1. Amostragem em parcelas do produtor.

Fonte: Os pesquisadores (2016)

Em abril de 2017 foi realizado o workshop sobre "produção de sementes artesanais de


leguminosas", conduzido pelos pesquisadores e extensionistas. O local de encontro foi na
capela "Félix Nava" pertencente à comunidade, onde participaram alguns produtores da
comunidade, a fim de obter conhecimento sobre as variedades de leguminosas tolerantes à seca
que foram propostas pelos pesquisadores e extensionistas, conforme retratado na (Figura 1).

Nessa reunião foram solicitadas as variedades de leguminosas pôr os produtores e


doado por o Instituto Nacional de Pesquisas Agropecuárias (INIA) e entregues pela
instituição, dentre as quais destacam-se: o morotunga listrada, o tapirama fúcsia, o feijão

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vermelho argentino, e feijão preto adaptável à área. Essa gestão de obtenção de algumas
variedades tolerantes à seca permitiu que os produtores participassem, interviessem e
esclarecessem suas preocupações em relação às informações fornecidas pelos pesquisadores,
na (figura 2) estão apresentadas as variedades de feijão apresentado na comunidade “Feliz
Nava” citadas acima: (Fig 2). A) Feijão preto B) Tapirama fucsi, C) Vermelha argentino, D).
Morotunga listrada.
Feijão B Feijão C

Fonte: Os pesquisadores (2016)


Da mesma forma, os mesmos produtores ofereceram suas pequenas áreas de terra para
realizar as parcelas de demonstração das leguminosas tolerantes à seca, seguidas da entrega das
variedades mencionadas acima para serem cultivadas nas diferentes unidades de produção.
(Veja figura 3). Após o processo de ação transformadora, em abril de 2017, realizou-se nova
visita a comunidade, agora para nossa unidade de produção N° 2, para selecionar a terreno e
fazer a parcela de demonstração da variedade negra de tapirama.
Figura 3. Parcela demonstrativa na unidade de produção 2.

Fonte: Os pesquisadores (2017)

Além disso, durante o crescimento e desenvolvimento da cultura, observou-se a


presença de alguns insetos, tais como: formigas, pulgões, grilos e minadores. Por essa razão, 5
aplicações foliares de Nin (Azadirachta indica), que é utilizada em produção agroecológica
foram feitas para a formiga, por atuar como um inseticida, por isso, folhas dessa espécie foram
colocadas em um grande recipiente com água abundante, deixando-a de molho, durante 6 dias
Figura 3. Preparação e aplicação de controlador biológico de insetos baseado em Nin.

Fonte: Os pesquisadores (2017)


As aplicações foram feitas a cada seis (6) dias durante um mês para a colheita
manualmente, molhando completamente a planta (ver figura 20), obtendo como resultado uma
baixa população de formigas em todas as plantas. Notou-se que os outros insetos detectados
apresentaram baixo dano econômico para esses cultivos. No entanto, o controle cultural foi
utilizado, ou seja, (eliminação de ervas daninhas dentro e fora da parcela, evitando plantas
hospedeiras de insetos que atuam como entidades nocivas ao item desejado) e controle natural
presente na área, que atuam como insetos benéficos ou inimigos naturais (veja figura 4).
Figura 4. Aplicação de controlador biológico de insetos baseado em Nin.

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Fonte: Autores (2017)

Além disso, em maio de 2017 foi realizado o lotado irrigação e capina manual para a
semeadura como apresentado nas (figura 4). Esse mesmo mês, as plantas começaram a crescer
e se alongar a partir de sua parte apical, sendo necessário o procedimento de tutoramento das
variedades leguminosas utilizadas. Apesar disso, a cultura conseguiu se desenvolver
continuando com seus estágios fenológicos. Quanto ao tutorado, o produtor usou bastões de
bambu de tal forma que eles escalaram mais facilmente (figura 5).
Figura 5. Tutorado do cultivo de tapirama preta.

Fonte: Autores (2017)

Também foram realizadas plantações de tapirama preto e feijão vermelho argentino


nas propriedades de cinco produtores da comunidade com o objetivo de uso de cercas (figura
6). A vantagem dessa técnica é que o produtor não realiza uma tutoria no plantio; desde que a
planta é capaz de escalar, desenvolver e produzir nela; tendo em conta que a planta em seus
estágios iniciais de desenvolvimento precisa ser atendida por predadores como: aves, répteis
(iguanas), bovinos e caprinos. Houssay (2001) fez um trabalho Agricultura sustentável nos
trópicos onde aplicou a plantação com cerca e observo-se uma produtividade do feijão tem sido
aumentada graças às técnicas adequadas mencionda. Avaliações procedidas durante 2 anos
indicaram um progresso da ordem de 10,6 kg/ha/ano, tendo sido o progresso genético de cerca
de 6,5 kg/ha/ano
Figura 6. Uso de cercas com a variedade de Feijão argentina.

Fonte: Autores (2017)

3.2 Linha de trabalho N ° 2. Portos de família para promover a diversificação de


culturas
Para a execução desta linha, foram considerados quatro habitantes da comunidade que
manifestaram voluntariamente seu interesse em participar desta atividade. Essas pessoas são:
produtor (A), produtor (B), produtor (C), Produtor (D). A ação começou com o
desenvolvimento de viveiros de sementes de tomate, colorau, pimentão e berinjela para depois
serem transplantados para pequenas áreas de terra selecionadas por eles (figura 7).
Figura 7. Diferentes canteiros de culturas de ciclo curto (pimentão, tomate e paprica).

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Fonte: Autores (2017)

Em agosto de 2017, foi realizado o preparo e mistura do substrato com terra preta e
esterco de cabra decomposto para a realização das mudas de tomate, pimentão, pimentão e
berinjela. O procedimento aplicado ocorreu da seguinte forma: extração da semente (artesanal)
das respectivas frutas, foram colocadas em papel absorvente sobre uma superfície sombreada
para posterior secagem. Com relação às sementes de tomate, elas foram deixadas de molho com
água por duas horas; separando a mucilagem que cobre a semente para que ela não sirva como
uma cultura de doenças, para finalmente ser colocada para secar.
Em setembro do mesmo ano, a área foi selecionada para estabelecer a horta familiar na
propriedade da produtora; para isso, foi realizada a preparação com os métodos tradicionais
mencionados acima, para o posterior transplante dos itens páprica, pimentão, berinjela e plantas
medicinais (figura 8) contando alguns com cercas de arame de galinha resulta na adaptação
destas culturas. Figura 8. Horta familiar: Produtora (A e B).

Fonte: Autores (2017)


Como a comunidade não tem produção própria de fertilizantes orgânicos, os
produtores pediram aos pesquisadores para ensiná-los a fazer o minhocários, para a extração de
húmus líquido e sólido de minhoca para o uso de fertilização em diferentes culturas. Para isso,
objetos reciclados, ideais na criação de minhocas vermelhos da Califórnia (Eiseniafoetida),
foram colocados no último lugar, deixando-os com algum desnível. Estes são preenchidos com
uma camada de solo e uma camada de estrume seco decomposto, repetindo o procedimento até
uma altura de 30 - 40 cm. Além disso, restos de vegetais que servem como alimento para as
minhocas foram colocados (figura 9).

Figura 9. Lombricarios representativos produtores.

Fonte: Autores (2017)


É importante umedecer o leito de minhocas para manter a umidade adequada, já que
eles não sobrevivem a altas temperaturas ou a ambientes secos. Quanto à coleta de húmus
líquido, fez-se um orifício no fundo do recipiente, colocando-se um pedaço de mangueira de tal

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maneira que serve para drenar os resíduos líquidos do mesmo. Essas oficinas foram realizadas
no início do setembro de 2017 e reiniciado a princípios do ano 2018.
A metodologia aqui aplicada representa um alto potencial de utilização para a
consecução do objetivo deste trabalho, em termos de diversificação de cultivos por meio de
ações comunitárias, o que pode ser visto como uma importante ferramenta de complementação
pelas entidades governamentais competentes na área projetos agropecuários, com vantagens de
rapidez e objetividade, além das especializações e coleta de informações daquela localidade.

3.3 Linha de trabalho 3 - Estabelecimento de parcelas de demonstração


As aplicações foram feitas a cada seis (6) dias durante um mês para a colheita
manualmente, molhando completamente a planta, obtendo como resultado uma baixa
população de formigas em todas as plantas. Notou-se que os outros insetos detectados
apresentaram baixo dano econômico para esses cultivos. Comparando com outros trabalhos, o
controle cultural foi utilizado, ou seja, (eliminação de ervas daninhas dentro e fora da parcela,
evitando plantas hospedeiras de insetos que atuam como entidades nocivas ao item desejado) e
controle natural presente na área, que atuam como insetos benéficos ou inimigos naturais.

Visto dessa maneira, a lavoura começou a florir em de junho de 2017, com um total de
11-19 botões florais roxos (figura 10), cada cultivar de taramella tem potencial produtivo na
região de apresentar a média de três sementes por vagem. Refaça os próximos da mesma forma.
Figura 10. Primeiros botões florais Desenvolvimento do casulo

Fonte: Autores (2017)


O plantio de tapiranga preta foi realizado em maio de 2017 foi aplicado na unidade
de produção do N° 3 com a mesma metodologia de trabalho de preparação do solo com a ajuda
do produtor e de seus familiares, foram semeadas uma 1 semente cova e realizou-se irrigação
no local de plantio. A área delimitada era de 8 x 9 m, equivalente a 72m², com uma distância
entre os solos de 3m a uma distância entre filas de 2 m. A germinação ocorreu em na primeira
quinzena do mesmo mês de semeadura. No entanto, durante o seu desenvolvimento, houve
algumas desvantagens na cultura; pela presença de aves (galinhas) e répteis (iguanas) que
frequentavam o local afetando a parte aérea da planta, o que levou ao atraso do crescimento da
variedade, necessitando de nova semeadura na segunda quinzena do mesmo mês.

3.4 Linha de trabalho N ° 4: Uso de sementes artesanais para a elaboração de


canteiros de culturas de ciclo longo (fruteiras)
Em de abril de 2017, realizou-se uma nova palestra para a comunidade "Felix Nava"
sobre cultivos de ciclo longo (fruteiras), onde foram mencionados aspectos como: a
importância do uso dentro das comunidades. Para expandir os itens que podem ser cultivados
por pessoas dedicadas ao campo, especialmente produtores; sem esquecer os altos custos que
hoje têm a aquisição de sementes certificadas nas diferentes tendas do estado.
Esta palestra contou com a participação de produtores da área com interesses
particulares em relação à inclusão de culturas em suas propriedades e os benefícios que eles
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geram no longo prazo, em termos de seleção de sementes, foi escolhido de acordo com sua
forma, tamanho e estado do mesmo (condições adequadas para sementeira). A semente foi
proveniente da própria comunidade, com o objetivo de promover a propagação de espécies
já adaptadas às condições agroclimáticas da área, como uma alternativa de baixo custo para
a diversificação agrícola na região.
Segundo Ferreira & Santos, (1997). Para conseguir uma composição balanceada no
momento da mistura, as seguintes proporções foram tomadas: 10 pás de esterco bovino, 10 pás
de terra preta e 15 pás de areia. Subsequentemente, encheram-se sacos de 1,5 kg com o objetivo
de fazer as sementeiras de frutos acima mencionadas (figura 11).
Figuras 11. Sacos de enchimento e localização final para o respectivo manejo agronômico.

Fonte: Autores (2017)

Durante o mês de julho de 2017, as mencionadas árvores frutíferas foram entregues aos
produtores que selecionaram as plantas de acordo com seu interesse, prazer e necessidades
(figura 12).
. Figuras 12. Entrega de plantas frutíferas aos produtores da comunidade.

Fonte: Autores (2017)

Desta forma, estas culturas foram levadas para o campo para serem transplantadas;
com resultados positivos que afirmam o potencial da área apesar de seu clima árido; de acordo
com Houssay (2001) pouco a pouco, as mudanças foram geradas ao longo do tempo pelos
beneficiários. Onde eles serão capazes de produzir e gerar renda adicional a longo prazo; além
de contribuir para a segurança alimentar. Nesse sentido, essas espécies frutíferas são
alternativas para a diversificação; já que 90% dos produtores são dedicados a cultivar apenas
milho.
Por esse motivo, a integração desses itens em pequena escala fortalece a
produtividade da área e, portanto, do produtor. A longo prazo novas culturas serão adquiridas
enquanto a cultura dominante (milho) continua a ser uma das culturas com maior uso na área.
Ao fazer a jornada pelas diferentes etapas que compõem esta pesquisa, a mesma nos
permitiu ter uma visão global e integradora de todos os acontecimentos ou eventos que
ocorreram durante a mesma. Portanto, este estudo qualitativo de pesquisa-ação participativa,
nos levou a compreender, analisar, explicar e interpretar o processo de aprendizagem recíproca
entre a comunidade e os pesquisadores, a fim de promover culturas diversificadas em áreas
secas, onde logicamente gerou mudanças substanciais na prática de uma monocultura para uma
variedade, com práticas conscientes e ecológicos.

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A adaptação das leguminosas estabelecidas nas diferentes parcelas dos produtores foi
totalmente desenvolvida; graças aos mecanismos fisiológicos que as plantas apresentam em
tolerar períodos de seca. Além disso, as variedades utilizadas se adaptaram facilmente à área,
devido às características edafoclimáticas da região.
Com este trabalho temos a satisfação de ter a participação de muitas pessoas de
diferentes especialidades e habilidades especialmente pelos pesquisadores, pois apenas
organizar uma comunidade já é uma grande conquista, também este tipo de projeto ajuda para
que as comunidades se desenvolvam social e economicamente, gerando novos conhecimentos.
É uma contribuição significativa tanto para a comunidade científica, quanto para ser utilizada
em planos e projetos locais ou nacionais em relação às boas práticas agroecológicas.

4. Conclusões
Sem dúvida, as entidades governamentais devem se concentrar em ajudar diretamente
os produtores em cada estado; porque nos campos são geradas as produções de alimentos do
país. Além disso, deve haver associações de produtores para obter resultados bem-sucedidos na
produção agropecuária.
Na comunidade, todos os produtores devem realizar análises de solo em suas parcelas,
o que lhes permite conhecer sua capacidade de carga e produtividade, para desenvolver suas
atividades agrícolas mais segura sem ter perdas econômicas, se não todo o contrário, mas
produtivas. Além disso, é conveniente realizar poços subterrâneos adicionais para manter a
irrigação disponível no momento da semeadura. Como é uma área de produção principalmente
de milho; Recomendamos uma associação de produtores que conseguem negociar um preço
melhor para este item e, assim, apoiar o crescimento econômico e garantir esse produto para a
população.

5 Referências
ALTIERI, NICHOLLS 2010. Desenhos Agroecológicos para Aumentar a Biodiversidade
da Entomofauna Benefica em Agroecossistemas. Disponível em
http://multiversidad.es/wordpress/wp-content/uploads/2015/11/Disenos
Agroecologicos-para-incrementar-las-poblaciones-de-insectos-beneficos_.pdf.
Acceso em 20/02 2017.
BARTOLOMÉ, M. Metodologia orientada qualitativa. Capalcamvi a barragem de decisão.
Editorial EDIUC. Barcelona 1997.
Fals Borda, O. (2008). Orígenes universales y retos actuales de la IAP
(Investigación- Acción Participativa. Peripecias. Recuperado el 20 de 05 de
2016 de
http://www.peripecias.com/mundo/598FalsBordaOrigenesRetosIAP.html.
FERREIRA, M. & SANTOS, P.E.T. Melhoramento genético florestal dos Eucalyptus no
Brasil: breve histórico e perspectivas. IN UFRO CONFERENCE ON SILVICULTU-
RE AND IMPROVEMENT ON Eucalyptus. Salvador, Anais, Colombo:
EMBRAPA/CNPF v. 1, p.14-34. 1997.
Houssay, B. Agricultura sustentável nos trópicos em revista: Estud. av. vol.15
no.43 São Paulo Sept./Dec. 2001.
MATHEUS, J.; BRICEÑO, C.; SIMANCAS, D.; QUINTERO, R.; Avaliação de fertilizantes
orgânicos (zea mays, l.). No estado de Trujillo-Venezuela. Revista Venezuelana
da Universidade dos Andes Agricultura Andina, v. 20, p: 3-96, 2014.

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Moreno, L.; Resposta da planta ao estresse devido ao déficit hídrico. Uma revisão Respostas de
estresse da planta ao déficit hídrico. Revista colombiana de agronomia
colombiana, v. 27, p.179-191, 2009.
MURCIA, J. Pesquisa para mudar. Editorial Magisterio, Bogotá. D.C Colombia. 1994.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AGRICULTUR A E
ALIMENTAÇÃO, FAO 2009. O estado de insegurança alimentar no mundo: crises
econômicas - repercussões e lições aprendidas. Roma Disponível em:
http://www.fao.org/3/a-i4030s.pdf Acceso: Abril. 22, 2016.
VENEZUELA; Lei dos Conselhos Comunais. N° 39.335 segunda-feira 28 de dezembro de
2009. Disponível em http://www.minci.gob.ve/wp-
content/uploads/downloads/2012/11/LEY-CONSEJOS-COMUNALES-6-11-
2012-WEB.pdf Acceso em 15/06 2016.
VENEZUELA; MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS
NATURAIS RENOVÁVEIS (MARNR) 2010. Disponível em:
https://es.wikipedia.org/wiki/Ministerio_del_Poder_Popular_para_Ecosocialismo.
Acesso em 13/08 2016.
Zambrano, F.; Trujillo, E.; Solórzano, C.; Desarrollo rural sostenible: una necesidad para la
seguridad agroalimentaria en Venezuela. Revista de investigación,
administración e ingeniería, v. 3, p: 27-33, 2015.

6 Agradecimentos:
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior PROAP/CAPES pela
concessão da bolsa de estudos no curso de Doutorado.

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Produção de leite de cabra ecoeficiente: uma abordagem pelo uso da água
Eco-eficient goat milk production: a water use approach
Vinicius Brack Gestaro1, Tatiana Hatsck de Souza1, Amanda Dias de Oliveira2, Verônica
Schmidt3

Resumo
A produção de leite caprino no Brasil tem grande importância econômica e social, representando geração de renda
e inserção social, para pequenas e médias propriedades rurais. Nos últimos anos, a utilização e preservação de
recursos naturais têm sido tema constante no setor agropecuário, principalmente relacionado ao uso da água –
fundamental na produção leiteira. O Brasil, sendo rico neste recurso, deve preservá-lo e conservá-lo como
estratégia para a manutenção da competitividade do setor em âmbito internacional. Este trabalho objetivou
demonstrar a ecoeficiência da produção de leite de cabras, através do uso racional da água, por meio de pesquisa
bibliográfica e estudo de caso. Para tanto, identificou-se o volume de água recomendado para o processo de
higienização da sala e equipamentos de ordenha e mensurou-se o volume de água utilizado em uma unidade
produtiva (UP) de cabras Saanen. Na UP estudada são utilizados, semanalmente, entre 2.360 a 2.640 litros de água
proveniente de poço artesiano, cerca de 340 a 380 litros de água diária. Com a realização da remoção mecânica
dos dejetos antes da lavagem do piso e a utilização da água utilizada na higienização da ordenhadeira para
higienização deste, estimou-se que a UP economiza cerca de 140 litros de água diariamente, totalizando próximo
a mil litros semanalmente e 48 mil litros de água anualmente. Como resultado, verificou-se que, através de técnicas
de manejo adequadas, é possível reduzir a utilização de água na produção de leite de cabra, otimizando a produção
e alcançando maior grau de ecoeficiência e sustentabilidade.
Palavras-chave: sustentabilidade, caprinocultura leiteira, pegada hídrica

Abstract
Goat milk production in Brazil is of great economic and social importance, representing income generation and
social inclusion for small and medium rural farms. In recent years, the use and preservation of natural resources
have been a constant theme in the agricultural sector, mainly related to the use of water - fundamental in dairy
production. Brazil, being rich in this resource, must preserve and conserve it as a strategy for maintaining the
sector's competitiveness at the international level. This work aimed to demonstrate the eco-efficiency of goat milk
production through the rational use of water, through bibliographic research and case study. To this end, we
identified the recommended water volume for the cleaning process of the parlor and milking equipment and
measured the volume of water used in a production unit (PU) of Saanen goats. In the studied PU, between 2.360
and 2.640 liters of water from artesian well are used weekly, about 340 to 380 liters of water daily. With the
mechanical removal of the waste before the floor washing and the use of the water used in the cleaning of the
milking for cleaning it, it was estimated that the PU saves about 140 liters of water daily, totaling close to one
thousand liters weekly and 48 thousand liters of water annually. As a result, it was found that through proper
management techniques, it is possible to reduce the use of water in goat milk production, optimizing production
and achieving a higher degree of eco-efficiency and sustainability.
Keywords: sustainability, goat milk production, water food print.

1 Introdução

A produção de leite no Brasil tem grande importância econômica e social,


principalmente pelo fato de a base fundiária ser a pequena e média propriedade. Isso representa
renda e inserção social para milhares de pessoas. As sociedades mudam, bem como seus
valores. Nos últimos anos, meio ambiente e conservação dos recursos naturais são valores que
têm sido adicionados às atividades agropecuárias, devendo ser conciliados com os valores
sociais e econômicos para que se atinja a almejada sustentabilidade (PALHARES, 2013).

1
Zootecnista/autônomo- vinicius.gestaro@gmail.com, tatianahatsck@gmail.com
2
Médica veterinária/Mestranda PPGAgronegócios3- amandadias.vetufrgs@gmail.com
3Médica Veterinária/UFRGS4- veronica.schmidt@ufrgs.br

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O despertar das empresas para os problemas ambientais gerados nos processos
industriais, tomaram proporções significativas nas últimas décadas, quando da percepção de
que os recursos naturais são finitos, e que o mau uso dos mesmos tende a acelerar o processo
de destruição da biosfera terrestre. Os recursos financeiros aplicados na área ambiental das
empresas, passaram a ser vistos pelos empresários como uma possibilidade real de obtenção de
benefícios, tanto em termos de economia de recursos bem como para com a preservação do
meio ambiente (WISSMANN et al., 2013).
Em qualquer fórum nacional ou internacional em que esteja sendo discutida a
competitividade da agropecuária brasileira, o recurso natural que aparece como grande
diferencial de competitividade é a água. A América do Sul e o Brasil são ricos nesse recurso
natural. Preservá-lo e conservá-lo em quantidade e qualidade é estratégico para manutenção
dessa competitividade (PALHARES, 2013).
As ferramentas de ecoeficiência, pegada ecológica, rotulagem, produção mais limpa,
ecodesign entre outras utilizadas de forma adequada podem ser de grande valia para a gestão
empresarial sustentável, trazendo benefícios ambientais e otimizando a utilização de recursos
naturais, além de possibilitar ganhos econômicos (SILVEIRA et al., 2013).
Embora estudos de ecoeficiência na cadeia láctea sejam presentes no Brasil, ainda
assim, limitam-se à área de transformação – o laticínio. Entretanto, pouco tem sido estudado no
segmento da produção animal.
Segundo Carvalho et al. (2011), a água é um dos fatores de produção mais importantes
na atividade pecuária, como também é o indicador geral mais sensível em relação aos impactos
ambientais causados por atividades agropecuárias, porque praticamente qualquer inadequação
no manejo resultará em degradação da qualidade da água, tanto nos ambientes mais próximos
como nos de entorno. O aumento populacional e, consequentemente, das atividades agrícolas e
industriais estão reduzindo a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos, evidenciando a
necessidade de implantação e, principalmente a prática de políticas que visem o uso sustentável
de tais recursos.
Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi demonstrar a ecoeficiência na
produção de leite de cabras, através do uso racional da água.

2 Referencial Teórico

Para melhor entendimento da discussão dos resultados, inicialmente apresenta-se uma


breve revisão sobre os temas controle ambiental da água, gestão ambiental na produção de leite
e ecoeficiência.
A sintonia entre o setor produtivo, a ecoeficiência e o meio ambiente é buscada através
da verificação periódica dos efeitos causados sobre os custos ambientais e suas variações, tendo
por base a quantidade de produtos produzidos, a utilização dos recursos, o reaproveitamento
dos subprodutos, a reutilização da água e a disposição final de rejeitos oriundos das linhas de
produção junto aos efluentes, quando são líquidos, e para a reciclagem, quando sólidos
(WISSMANN et al., 2013).

2.1 Controle Ambiental da água

A gestão ambiental, voltada aos recursos hídricos, envolve duas dimensões: quantitativa
e qualitativa (BOSSOI & GUAZELLI, 2004).
Foram desenvolvidas métricas para ajudar a caracterizar, mapear e acompanhar as
questões ambientais no planeta e os estudos têm destacado a incompatibilidade entre a
disponibilidade hídrica e a demanda de água (HOEKSTRA et al., 2012).

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A pegada hídrica de um produto é definida como o volume de água consumido, direta e
indiretamente, para produzir o produto. A principal vantagem do método frente a outras
métricas é que ele calcula a água efetivamente consumida e não a água captada, além de inserir
o cálculo das águas verde (água da chuva) e cinza (o volume de água doce necessário para
assimilar a carga de poluentes) (HOEKSTRA et al., 2011).
De acordo com Palhares et al. (2015), independentemente do método utilizado, as
limitações para o cálculo da pegada hídrica dos produtos de origem animal são: 1. Inexistência
de cultura hídrica nas cadeias de produção; 2. Falta de informações para o cálculo, aumenta a
necessidade de inferências, aumenta as incertezas e os conflitos; 3. Pouca interação pecuária e
agricultura; 4. A produção animal é uma fonte de poluição pontual e difusa, por isso é preciso
dimensionar essas duas fontes para ter um cálculo mais robusto; 5. Determinação das fronteiras
do cálculo (sistemas de produção e áreas geográficas); 6. Ausência de visão sistêmica dos atores
das cadeias e tomadores de decisão; 7. Baixo entendimento do método pelos atores e pela
sociedade; 8. Sensacionalismo da mídia na divulgação da pegada e poucas ações que visem o
esclarecimento da sociedade quanto ao método.

2.2 Gestão ambiental na produção de leite

A exploração do meio ambiente para a produção de mercadorias, utilizando recursos


naturais não renováveis, motivou a preocupação com a conservação do meio ambiente de forma
a utilizar, contudo sem esgotar, os recursos naturais existentes (NETO et al., 2009), como a
água.
Gestão ambiental, embora bastante abrangente, é frequentemente utilizada em ações
ambientais em espaços geográficos determinados. Contudo, quando voltada a organizações,
pode ser definida “como um conjunto de políticas, programas e práticas administrativas e
operacionais que levam em conta a proteção do meio ambiente por meio de eliminação ou
minimização de impactos e danos ambientais decorrentes do planejamento, implantação,
operação ... de empreendimentos ou atividades” (NETO et al., 2009 pág. 15), inclusive da
cadeia do leite.
Um dos aspectos mais importantes da gestão ambiental empresarial, nos últimos anos
do século XX, foi a gradativa compreensão de que a adoção de medidas que visam a maior
eficiência na prevenção da contaminação é muito mais vantajosa não só do ponto de vista de se
evitarem problemas ambientais, mas também por que resultam em aumento da competitividade
(DIAS, 2011) estratégica (NETO et al., 2009).
As cabras consomem 3,5kg de água para cada quilo de leite produzido (NRC, 1981).
No semiárido nordestino, o consumo diário direto de água foi estimado em 3L.cabra.dia-1,
representando uma demanda diária de 20,7 milhões de litros de água para a caprinocultura
(ARAÚJO, 2015).
Wissmann et al. (2013), em um laticínio, verificaram que os volumes de resíduos
líquidos gerados na planta de processamento são direcionados para a estação de tratamento e
tem influência direta com os volumes de água gastos na indústria. A empresa estudada consome
de 1 a 6 litros de água para cada litro de leite recebido.

2.3 Ecoeficiência

Para Wissmann et al. (2013), o conceito de ecoeficiência é recente e inspirado pela


ideia de sustentabilidade e não pressupõe redução no consumo, mas sim o uso eficiente dos
recursos naturais. A nova prática implica explorar o ecossistema de forma responsável,
diminuindo os impactos econômicos e ambientais da produção e os benefícios não se restringem
à conservação ambiental, mas abrangem também o desempenho econômico dos negócios.
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De acordo com Dias (2011), empresas coeficientes são aquelas empresas que alcançam
de forma contínua maiores níveis de eficiência, evitando a contaminação das águas mediante a
substituição de materiais, tecnologias e produtos mais limpos e a busca do uso mais eficiente e
a recuperação dos recursos através de uma boa gestão. Ainda, segundo o mesmo autor, entre os
objetivos da ecoeficiência encontra-se a redução do consumo de recursos naturais renováveis,
minimizando sua utilização e favorecendo a reciclabilidade e a durabilidade destes.
A tendência pela qual as empresas buscam gerir seus negócios de forma a combinar
desempenho econômico e ambiental em seu sistema produtivo ou produto caracteriza a busca
pelo conceito de ecoeficiência. As ferramentas de ecoeficiência são: pegada ecológica,
rotulagem, produção mais limpa (P+L), ecodesign entre outras que, se utilizadas de forma
adequada, podem trazer benefícios ambientais e minimizar a utilização de recursos naturais,
além de possibilitar ganhos econômicos (SILVEIRA et al., 2013).
Pegada Hídrica apresenta uma metodologia que mede o volume de água embutida nos
mais diversos produtos e é utilizada como instrumento para indicar a sustentabilidade hídrica.
Os tipos de pegada hídrica são: a pegada azul - indicador de uso de água doce superficial ou
subterrânea, ciclo hidrológico; pegada verde - volume de água da chuva consumida durante o
processo de produção; pegada cinza - indicador do grau de poluição da água doce, é o volume
de água doce que é necessário para assimilar a carga de poluentes com base nos atuais padrões
de qualidade ambiental da água (FAGUNDES et al., 2015).

3 Procedimentos Metodológicos

O estudo fundamentou-se por pesquisa bibliográfica (GIL, 2010) e estudo de caso. O


estudo de caso classifica-se, quanto aos seus objetivos, como descritivo (GIL, 2009) pois
procurou-se identificar as múltiplas manifestações do fenômeno em estudo e descrevê-lo.
O estudo foi realizado em uma unidade produtiva (UP) de caprinos da raça Saanen,
criados em sistema intensivo de produção no município de Viamão, Rio Grande do Sul, Brasil
(Latitude: 30º 04' 52"S Longitude: 51º 01' 24" W). A dieta é fornecida no cocho e é composta
por volumoso (silagem de Milho e pasto verde -Tifton e Brachiaria) e concentrado (ração com
22% de proteína, resíduo de cervejaria e Sal mineral com 80 ppm de fósforo).
A ordenha mecanizada, em linha alta, com quatro conjuntos de ordenha, era realizada
duas vezes ao dia e a produção média diária de 100 litros de leite, em uma sala de ordenha com
15m2 e capacidade para 14 a 17 animais em ordenha. A unidade possui, em média, 40 cabras
em lactação. Avaliou-se o volume de água utilizado para higienização de equipamentos e
ambiente no processo de ordenha na UP e comparou-se aos volumes de água indicados na
literatura para esse mesmo fim.

4 Resultados e Discussão

A água tem grande importância para os animais sendo que sua falta acarreta perdas à
produção, especialmente leiteira, sendo que, portanto, necessário estar sempre disponível e com
boa qualidade (RIBEIRO, 1997).
Além de constituir-se em alimento aos animais, a água é considerada o solvente
universal e, por este motivo, amplamente utilizada na higienização de utensílios e ambientes
para remoção de matéria orgânica, principalmente dejetos os quais são constituídos por urina,
fezes, leite desprezado no piso e fômites, entre outros.
A água utilizada na higienização de ambientes constitui-se por água azul ou verde e,
após a diluição da matéria orgânica, transforma-se em água cinza. A redução no uso da água
para higienização ou reaproveitamento ou reuso desta, reduz o volume de água cinza gerada.
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Na Figura 1 está representado o fluxograma das etapas da higienização da ordenha de
cabras na Unidade Produtiva estudada, indicando os momentos e o volume de água utilizada
neste processo.

Figura 1 - Etapas da higienização da ordenhadeira e volume de água utilizado na ordenha em cabras.


• 60 litros de água
• limpeza anterior ao processo de higienização da ordenha - realizado diariamente e
pré- duas vezes ao dia
enxague

• 40 litros de água detergente alcalino


detergente • esta etapa é realizada com água quente - realizado diariamente e duas vezes ao dia
alcalino

• 60 litros de água
detergente • esta etapa é realizada duas vezes por semana
ácido

• 60 a 80 litros de água
• esta etapa é realizada diariamente, duas vezes ao dia
enxague

Fonte: Dados da pesquisa

Também em bovinos a limpeza da ordenhadeira é feita em ações: pré-lavagem (feita


com água fria, remove os resíduos de leite aderidos ao equipamento); lavagem principal (utiliza
detergente alcalino apropriado para o equipamento, diluído em água aquecida a 50-60ºC, por
15 minutos, removendo todo o resíduo) – 10 a 15 litros de água por unidade de ordenha; e
enxague final (realizado com água fria, para a remoção completa da solução de limpeza). Para
ordenhadeiras mecânicas utiliza-se um detergente ácido além do alcalino, uma vez por semana
ou a cada 15 dias, antes da lavagem principal – 14 a 18 litros de água (FSA, 2016).
Na UP estudada são utilizados, semanalmente, entre 2.360 a 2.640 litros de água
proveniente de poço artesiano (água azul), cerca de 340 a 380 litros de água diária.
Considerando que não há registro do volume de água utilizada na higienização do sistema de
ordenha de caprinos, os dados determinados na UP foram comparados aos dados de produção
bovina.
Para limpeza da sala de ordenha de bovinos são gastos entre 1,2 mil a 1,3 mil litros de
água diariamente. O processo de ordenha e limpeza dos equipamentos consome cerca de 37%
do volume de água utilizados na produção de bovinos leiteiros (EMBRAPA, 2016). De acordo
com Picinin (2010), estima-se em 40 a 120 litros de água a demanda média por animal adulto;
100 litros de água por vaca ordenhada, acrescidos de seis litros de água para cada litro de leite
produzido; e 25 litros de água por metro quadrado de área de limpeza das instalações.
Embora no Araújo (2015) tenha estimado em o consumo diário direto de água em
3L.cabra.dia-1, o estudo foi realizado no Semiárido Nordestino, com animais com baixa
eficiência produtiva. Desta forma, considerou-se o consumo de 3,5kg de água para cada quilo
de leite caprino produzido (NRC, 1981) e este valor representa cerca de 60% do volume de
água consumida por um bovino (6 L água) para produção de 1L leite. Com base neste
percentual, estimou-se o volume de água utilizada na ordenha de caprinos (Tabela1).

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Tabela 1: Estimativa do volume de água utilizado na ordenha de cabras, tomando como referência 60%
do volume utilizado na bovinocultura leiteira
Demanda de água (L) Bovinos Caprinos
(estimativa)
Animal adulto (L.animal-1) 40 a 120 24 a 72
Animal ordenhado (L.animal-1) 100 60
Litro de leite 6 3,5
Higienização (L/m2) 25 15
total 141 a 251 79 a 102
Fonte: dados da pesquisa

Tomando-se o volume de água utilizado na higienização de das instalações em 15 litros


de água por metro quadrado de área, estima-se em 225 litros diários de água para higienização
da sala de ordenha da UP.
Contudo, Novelli et al. (2011) mensuraram o consumo de água na ordenha de bovinos
leiteiros mais elevados na lavagem do piso, média de 1.667 L dia-1 com um máximo de 8.003
L dia-1. A variabilidade no número de animais na ordenha e a consequente maior disposição de
fezes e urina é um fator que influenciou neste consumo. Grande variação no fluxo de água entre
as unidades de ordenha pode ocorrer nas salas de ordenha quando nenhuma tentativa é feita
para ajustar o fluxo (REINEMANN et al., 2000).
Na UP é realizada a remoção mecânica dos dejetos antes da lavagem do piso e a água
da higienização da ordenhadeira é direcionada para o piso da sala de ordenha e utilizada na
higienização desta. De acordo com Souza et al. (2014), nas atividades de limpeza e higienização
do ambiente e equipamentos de ordenha, deve ser realizada a retirada do lixo, toalhas
descartáveis de papel e qualquer outro material sólido, sendo este armazenado em local
adequado e fechado para o destino correto. Isto por que, medidas simples, como a raspagem do
piso para retirada dos dejetos antes da lavagem, podem ajudar bastante na economia de água na
produção animal (EMBRAPA, 2016). Tomando-se que para higienização do piso utiliza-se
37% do volume de água da limpeza e higienização da sala de ordenha (incluindo
equipamentos), pode-se estimar que a UP economiza cerca de 140 litros de água diariamente,
totalizando próximo a mil litros semanalmente e mais de 48 mil litros de água anualmente.
Wissmann et al. (2013) concluíram que “a não geração de resíduos na atividade
industrial é praticamente impossível, entretanto, o volume dos resíduos gerados e depositados
diretamente no meio ambiente sem o devido tratamento na área de produção refletem o grau de
eficiência atingida pela empresa em termos de utilização dos recursos que se tornam cada vez
mais escassos”.
De acordo com Carvalho et al. (2011), na bovinocultura são utilizados 4,4 litros de
água para cada litro de leite produzido. Considerando os dados da UP em estudo, pode-se
estimar em 2,6 litros de águas gastos para cada litro de leite de cabra produzido.
De acordo com a FSA (2016), ter suprimento suficiente de água potável ou limpa é
necessária para higiene das mãos, úbere, tetos e equipamentos, bem como para outros
propósitos.
Palhares (2013) chama a atenção para algumas considerações: a água é um elemento
fundamental para a produção animal e fator de competitividade entre países e regiões; a
intensificação é um processo natural no aumento da produção; os ganhos de produção ocorrerão
pelo aumento da produtividade e eficiência no uso de insumos e recursos naturais; a irrigação
de pastagens, em algumas regiões, é prática fundamental para o aumento da produção leiteira,
mas se planejada e manejada de forma incorreta, aumentará o passivo hídrico da produção de
leite no Brasil; boas práticas hídricas devem ser implementadas para o correto uso da água.
Neste contexto, a utilização de água verde além de água azul, também é uma forma
sustentável da utilização da água em uma unidade produtiva. Santos (2015) determinou que em

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uma área de apenas 218 m² de captação de água da chuva haveria uma redução de consumo de
5% de toda água consumida, representando uma economia de mais do 20 m³/mês da água nobre,
retirada das nascentes e utilizadas para afastamento de dejetos, uma carga altamente poluidora.

5 Conclusões

Na UP estudada são utilizados, semanalmente, entre 2.360 a 2.640 litros de água


proveniente de poço artesiano (água azul), cerca de 340 a 380 litros de água diária. Com a
realização da remoção mecânica dos dejetos antes da lavagem do piso e a utilização da água
utilizada na higienização da ordenhadeira para higienização deste, estimou-se que a UP
economiza cerca de 140 litros de água diariamente, totalizando próximo a mil litros
semanalmente e mais de 48 mil litros de água anualmente.

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