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Marcelino de Souza

Marcelo da Costa Borba


Samanta Ongaratto Gil
Josefa Edileide Santos Ramos
(Organizadores)
REITOR
Prof. Rui Vicente Oppermann

VICE-REITORA
Profª. Jane Fraga Tutikian

PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Celso Giannetti Loureiro Chaves

PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO
Profª. Sandra de Deus

DIRETOR
Prof. João Armando Dessimon Machado

VICE-DIRETOR
Prof. Jean Philippe Palma Revillion

COORDENADOR DO PPG-AGRONEGÓCIOS
Prof. Marcelino de Souza

VICE-COORDENADORA DO PPG-AGRONEGÓCIOS
Profª. Daniella Callegaro de Menezes
Ana Maria Aquino Ottati – UEMA
Ana Paula Santana de Melo – UFRPE
Angela Rozane Leal de Souza – UFRGS
Antonio Domingos Padula – UFRGS
Augusto Fischer – UNOESC
Caroline Pauletto Spanhol Finocchio – UFMS
César Augutus Winck – UNOESC
Christian Bredemeier – UFRGS
Clandio Favarini Ruviaro – UFGD
Coordenação do evento Claudia Maria Prudêncio de Mera – UNICRUZ
Prof. Marcelino de Souza Cleonice Borges de Souza – UFG
Marcelo da Costa Borba Cristian Rogério Foguesatto – UFRGS
Samanta Ongaratto Gil Daiane Thaise de Oliveira Faoro – UFRGS
Daniela Callegaro de Menezes – UFRGS
Comissão Organizadora Domingos Benedetti Alegretti – UNICRUZ
Adriane Bruchêz Edson Talamini – UFRGS
Alvaro de Oliveira Elisângela Furian Fratton – UNISC
Anelise Daniela Schinaider Eluardo de Oliveira Marques – UFRGS
Ari Jarbas Sandi Ely Jose de Mattos – PUCRS
Ataíde Israel Fernandes Cordeiro Felipe Dalzotto Artuzo – UFRGS
Bibiana Melo Ramborger Francivaldo Santos Nascimento – UFPB
Caroline Conteratto Fúlvia Fernanda De Lima – UFRPE
Daiane Thaise de Oliveira Faoro Gabriela Allegretti – INBBIO
Elen Presotto Gabrielly do Carmo Martinelli – UFRGS
Eluardo de Oliveira Marques Glauco Schultz – UFRGS
Gabrielli do Carmo Martinelli Guilherme Cunha Malafaia – UFMS
Geneci da Silva Ribeiro Rocha Ivo Elesbão – UFSM
Greici Parisoto Jana Koefender – UNICRUZ
Ivaneli Schreinert dos Santos Jean Philippe Palma Revillion – UFRGS
José Paulino da Silva João Armando Dessimon Machado – UFRGS
Josefa Edileide Santos Ramos João Augusto Rossi Borges – UFGD
Laura Possani José Eduardo Barros – UFRPE
Luiz Gustavo Lovato Josefa Edileide Santos Ramos – UFRGS
Nilmara Meireles Fonseca Kelly Lissandra Bruch – UFRGS
Patricia Batistella Klaus de Oliveira Abdala - UFG
Paulo Vinícius de Miranda Pereira Letícia de Oliveira – UFRGS
Luciano Cavalcante Muniz – UEMA
Marcelino Souza – UFRGS
Marcelo da Costa Borba – UFRGS
Maria do Carmo Maracajá – UFRPE
Maria Emilia Camargo – UCS
Marlon Vinicius Brisola – UNB
Marta Elisete Ventura Da Motta – UCS
Mauro Eduardo Del Grossi – UNB
Mylena Neres Nunes – UNEMAT
Omar Inacio Benedetti Santos – INBBIO
Patrícia Batistella – UFRGS
Patricia Guarnieri – UNB
Comissão Científica Paulo Dabdab Waquil – UFRGS
Adelar Fochezatto – UFRGS Paulo Vínicius De Miranda Pereira – UFRGS
Adriano Lago – UFSM Renato Breitenbach – UCS
Alcido Elenor Wander – UFG Rodrigo Ferneda – CCR
Alessandra Carla Ceolin – UFRPE Sandro da Silva Camargo – UNIPAMPA
Ana Cláudia Machado Padilha - UFP Sibele Vasconcelos de Oliveira – UFSM
Tamara Esteves de Oliveira – UFRGS
O VI Simpósio da Ciência do Agronegócio, realizado nos dias 25 e 26 de outubro de
2018, uma realização da comissão organizadora do Programa de Pós-Graduação em
Agronegócios (PPGA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é um evento
integrante do calendário anual de atividades do Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios
(CEPAN). O evento teve como objetivo geral difundir o conhecimento no tema de “Serviços
Ecossistêmicos no Agronegócio”. Bem como, elaborar propostas/soluções que contribuam
para o desenvolvimento de novas ideias ou iniciativas na construção de alianças a inovação e
sustentabilidade no agronegócio.
A fim de ampliar o debate sobre Serviços Ecossistêmicos com as demais áreas que
englobam a Ciência do Agronegócio, o evento contou com duas grandes áreas de interesse para
submissão de trabalhos: Serviços Ecossistêmicos e Ciência do Agronegócio. A primeira buscou
abordar produtos de funções ecológicas ou processos, que direta ou indiretamente contribuem
para o bem-estar humano, ou tem potencial para fazê-lo no futuro, como benefícios da natureza
para comunidades e economias. Já a segunda, abarcou a comercialização, mercados e preços de
produtos agrícolas, Digital Farming, Big Data, inovação no agronegócio, economia e gestão,
agricultura familiar ruralidade no campo, dentre outros temas que envolvam as atividades
relacionadas ao agronegócio.
No total foram 125 trabalhos submetidos, dos quais 71 foram aceitos para apresentação
no evento. Os participantes vieram de diversas regiões do país, mais de 20 universidades
participantes de diferentes estados. O evento deste ano também fez parte da comemoração de
20 anos da implantação do CEPAN (1998-2018). Sempre reforçando o pioneirismo do Centro
no trabalho interdisciplinar e contribuindo com soluções de problemas do agronegócio numa
perspectiva de integração das diversas áreas do conhecimento.

COMISSÃO CIENTÍFICA
VI CIENAGRO
IMPORTANTE

Todo conteúdo, direitos autorais, formato de publicação, eventuais erros e


divergências de conceitos são de plena responsabilidade dos autores. A comissão
organizadora deste evento está apenas reproduzindo de forma integral os arquivos
submetidos.
SUMÁRIO

Área 1 - Serviços Ecossistêmicos no Agronegócio


População e Meio Ambiente: uma análise de Acoplamento para o caso brasileiro
1991-2014 02-11
O Caso da Suinocultura na Microbacia de Lajeado Fragosos 12-21
Domínio do conhecimento e rot topics em Serviços ecossistêmicos no
agronegócio 22-31
Eficiência energética do sistema plantio direto 32-41
Um Mapeamento sistemático sobre serviços ecossistêmicos e sistemas
agroflorestais no Brasil 42-51
O paradoxo entre serviços ecossistêmicos e a produção de carne bovina 52-61
Pagamento por Serviços Ambientais Hídricos e sua relação com a agricultura 62-71
Serviços Ecossistêmicos dos campos sulinos versão dos pecuaristas dos campos
sulinos 72-81
Os Serviços Ecossistêmicos e sua valoração 82-89
Transformações na Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos 90-98
Repensando a Cadeia Produtiva: Uma abordagem com base no conceito de
economia circular 99-108
Área 2 – Ciência do Agronegócio - I Comercialização, Mercados e Preços – Sistemas
Agroalimentares e Cadeias agroindustriais
A influência da inadimplência, do volume e do custo do crédito nas variações da
taxa de juros dos investimentos do setor rural 110-119
A lei da integração e os sistemas agroindustriais: uma alternativa ao setor lácteo
brasileiro 120-129
Alocação de recursos para dois principais instrumentos da Política de Garantia de
Preços Mínimos 130-137
Armazenamento de grãos a percepção dos principais cerealistas de Cruz Alta/RS 138-147
Evolução do Estoque Animal e sua Representatividade para o Desenvolvimento
Econômico da Região Centro-Oeste 148-157
Exportações de produtos agrícolas brasileiros: Uma análise estatística do
comportamento no valor das exportações 1997_2017 158-167
Fatores determinantes da estratégia de preços da soja através da Regressão Ridge 168-177
Fibras Naturais Vegetais Na Indústria Têxtil Brasileira: Uma Análise Baseada No
Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho (Ecd) 178-187
Impacto do preço das commodities sobre o preço da carne de frango 188-196
Influência da informação sobre a confiança dos consumidores na cadeia da carne
bovina 197-205
Mercado de produção de sementes de soja certificadas no Rio Grande do Sul 206-214
Mercado futuro de milho e sua utilização nas cerealistas de Palmeira das Missões 215-224
Processo de comunicação de valor em cadeias produtivas 225-232
Rentabilidade e custos do sistema de pastejo rotacionado na recria de bovinos de
corte 233-242
Transmissão de preços entre níveis de mercado da soja em grão e processados
no estado do Paraná-BR (2011 a 2017) 243-252
Área 2 – Ciência do Agronegócio - II Digital Farming - Big Data - Urban Farming -
Inovação no Agronegócio
Análise da Inovatividade em Agroindústrias no Contexto das Especificidades do
Micro e do Pequeno Empreendimento 254-263
Inovação na Cadeia Produtiva de Uva: uma análise das perspectivas 264-273
Insight clonagem animal aplicada na agropecuária 274-283
Internet das coisas (IOT): um estudo exploratório em agronegócios 184-293
Inovação agrícola e mudanças climáticas: uma análise bibliométrica 294-303
Panorama brasileiro de aplicativos móveis para a agricultura 304-313
Potenciais contribuições do Big Data na agricultura orgânica 314-321
Publicações científicas sobre carne cultivada: onde, quando e por quem? 322-331
Segurança alimentar, agricultura inteligente e sustentabilidade 332-341
Smart Farming e seu Estado da Arte: Uma Revisão Bibliométrica 342-351
Tecnologias e Assistência técnica para agricultura inteligente no Brasil 352-359
Área 2 – Ciência do Agronegócio - III Economia e Gestão no Agronegócio - Gestão
Pública no Agronegócio - Direito no Agronegócio
Bem-estar de frangos de corte - uma comparação entre as legislações brasileiras
e as europeias 361-370
Desenvolvimento Sustentável na abordagem da economia e a gestão dos recursos
com base nas informações da contabilidade ambiental 371-380
Eficiência técnica e desempenho econômico de produtores de leite no Agreste
Pernambucano 381-390
Gerenciamento da propriedade rural: Implantação de um software como sistema
gerenciador da propriedade rural 391-400
Gestão do Incentivo Fiscal à Inovação em Cooperativas 401-410
Identificando o desperdício de alimentar nas residências brasileiras 411-419
Nudge como estratégia para promover o consumo mais responsável de alimentos
e prevenção de obesidade infantil 420-429
Renda agropecuária e emissões de CO2 uma análise espacial dos estados
Brasileiros 2000-2010 430-439
Área 2 – Ciência do Agronegócio - IV Agricultura Familiar e Ruralidade –
Multifuncionalidade Rural - Políticas Sociais
A renovação da gestão em propriedades rurais familiares 441-450
Análise de custos na produção de grãos em uma propriedade rural de Tapejara,
Rio Grande do Sul 451-460
Aproveitamento da casca de arroz (CA) no município de Bagé-RS 461-470
Aproveitamento e Valorização da Casca de Arroz (CA)_Uma Revisão
Bibliométrica 471-480
Caracterização das publicações científicas acerca da educação musical na escola
rural 481-490
Caracterização dos sistemas produtivos de tilápia em municípios do Noroeste do
Rio Grande de Sul 491-500
Comparação entre os benefícios concedidos pela Previdência Social brasileira à
população rural e urbana 501-510
"E esses campos são bom": A percepção dos pecuaristas diante do crescimento
das lavouras de soja 511-520
Evidências de Cooperação e Intercooperação na “Rota das Salamarias” 521-530
Indicadores Socioeconômicos na Agricultura Familiar uma Análise do Papel do
Crédito 531-540
Logística Reversa das Embalagens de Agrotóxicos: A cooperativa e o Produtor
Rural 541-550
Multifuncionalidade e Desenvolvimento Rural: O caso do Complexo Eólico
Campos Neutrais 550-559
O impacto do Pronaf sobre o VAB da agropecuária nos municípios do Rio Grande
Sul: uma análise de dados em painel 560-569
Perspectivas e motivações de jovens acadêmicos em relação ao processo de
sucessão familiar no meio rural 570-579
Políticas Públicas para a Agricultura Familiar distribuição e resultados do
PRONAF em São Vicente do Sul/RS 580-588
Possibilidades de turismo no espaço rural o caso de Paraí/RS 589-598
Proposta de balanço de nutrientes para uma propriedade rural típica da produção
animal 599-608
Sistema tributário cooperativista e o Incentivo Fiscal à Inovação 609-618
Área 1 – Serviços Ecossistêmicos
no Agronegócio

1
População e Meio Ambiente: uma análise de acoplamento para o caso
brasileiro (1991-2014)
Population and Enviromental: a coupling analysis for a Brazilian case
(1991-2014)
Lauana Rossetto Lazaretti1, Osmar Tomaz de Souza2
Resumo
O objetivo deste trabalho é verificar a relação entre o desenvolvimento populacional e a utilização dos recursos
ambientais no Brasil, entre 1991 a 2014. Para tanto, utiliza-se o método de análise de componentes principais, o
qual gera dois indicadores: o Índice Integrado de Desenvolvimento Populacional (IIDP) e o Índice Integrado de
Proteção dos Recursos Naturais (IIPR). A segunda técnica adotada é o Grau de Desenvolvimento Coordenado
(GDC) entre os aspectos populacional e ambiental, a qual possibilita verificar o encadeamento dos indicadores.
Os resultados mostram que, embora o encadeamento entre população e meio ambiente não tenha gerado níveis
altamente benéficos, os dois indicadores apresentaram tendência crescente. Este resultado sugeriu que existe uma
relação complexa entre as variáveis populacionais e as ambientais, e não se caracteriza como unidirecional e
negativa. No entanto, o cenário brasileiro é diferente do internacional. Enquanto o debate internacional preocupa-
se com a pressão populacional sobre os recursos naturais, a tendência no Brasil é de decréscimo da população,
implicando em novas preocupação ambientais para o País.
Palavras-chave: População. Meio Ambiente. Acoplamento. Indicador.

Abstract
The aim of this study is to verify the relationship between the population development and the use of environmental
resources in Brazil, between 1991 to 2014. Use the method of principal components analysis, which generates two
indicators: the Integrated Population Development Index (IIDP) and the Integrated Protection of Natural
Resources Index (IIPR). The second technique adopted is the coordinated development degree (GDC) between
population and environmental aspects, which makes it possible to check the thread of the indicators. The results
show that while chaining between population and the environment do not have generated highly beneficial levels,
the two indicators showed a growing trend. This result suggested that there is a complex relationship between
population and environmental variables, and not characterized as unidirectional and negative. However, the
Brazilian scenario is different from international. While the international debate is concerned with the population
pressure on natural resources, the trend in Brazil is decrease of the population, resulting in new environmental
concern for the Country.
Keywords: Population. Environment. Coupling. Indicator.

1 Introdução
A explosão demográfica gerou preocupações para a Organização das Nações Unidas
(ONU) e para o Banco Mundial no século XX. O crescimento populacional possui impacto
direto sobre a oferta de alimentos e a utilização de recursos naturais. Os estudos que tratam do
meio ambiente colocam a população como a principal responsável pela pressão e utilização dos
recursos naturais, sendo a relação homem-meio ambiente considerada unidirecional e negativa
(COALE; HOOVER, 1958, MEADOWS et al., 1972).
A visão Malthusiana predominante é pouco questionada na literatura, porém assumir
que a relação do homem com a natureza é ruim, apenas pela análise de sua expansão
demográfica, torna-se simples (HOGAN, 2007). Existe uma relação complexa e pouco
analisada entre os seres humanos e o meio ambiente. Destarte, o crescimento populacional pode
ser um agravante para equação população, meio ambiente e desenvolvimento, não o seu
determinante. A qualidade de vida, as relações socioeconômicas e capitalistas, a desigualdade
social e ao acesso à terra são importantes para a análise da degradação ambiental.
O meio ambiente é um sistema de interação entre homem e o seu entorno físico, que
estão em constantes alterações (CARMO, 2001). Ao chegar em seu limite de utilização, ocorre

1Doutoranda em Economia do Desenvolvimento (PUCRS )- lauana.lazaretti@gmail.com


2Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPR)/Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia
do Desenvolvimento (PUCRS)- osmar.souza@pucrs.br

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uma mudança na qualidade de vida da população, que de forma direta ou indireta está ligada
com o meio em que vive. Neste sentido, o desenvolvimento, caracterizado pelo aumento da
qualidade de vida da população, interliga a equação homem-meio ambiente, e toma forma o
conceito de população, meio ambiente e desenvolvimento. O novo termo é significado de uma
visão multidimensional, que vai além da análise apenas do crescimento absoluto da população,
e foi consolidado, primeiramente, por Hogan (1993).
No que diz respeito às características populacionais, em nível mundial, é possível
verificar uma queda na taxa de crescimento da população, em 1991 o incremento anual da
população era de 1,74% e chegou a 1,16% em 2017. A esperança de vida ao nascer aumentou
6,8 anos entre o período de 1990 e 2016, quando passou de 65,2 para 72 anos, respectivamente.
Porém, entre os continentes existem heterogeneidades, a África, por exemplo, ainda possui
elevadas taxa de fecundidade e de mortalidade (Brito, 2008). No que tange as variáveis
ambientais do agregado mundial, as emissões de Dióxido de Carbono (CO2) per capita foram
constantes (cerca de 4,5 toneladas métricas de 1990 a 2014). Já a produção de eletricidade a
partir de fontes renováveis, comparada ao total produzido, aumentou 4,66 pontos percentuais
(1,31% em 1991 para 5,97% em 2014) (THE WORLD BANK, 2018).
O crescimento da população mundial intensificou o debate da utilização dos recursos
naturais e as mudanças climáticas (MARTINE; OJIMA; MARANDOLA JR., 2015). No Brasil,
da mesma forma que a tendência mundial, o crescimento populacional vem diminuindo no
decorrer dos anos, no entanto, o que diferencia o país é o ritmo da queda, mais intenso que o
ritmo global. A população urbana passou de um crescimento de 5,14% a.a. em 1960 para 1,10%
a.a. em 2016, e entre a população rural o crescimento dos últimos anos foi negativo, −0,91%
a.a. em 2016. A esperança de vida ao nascer dos brasileiros aumentou, de 54 anos em 1960 para
75 anos em 2016. A taxa de fecundidade não chega a 2,1 filhos por mulher nos últimos anos,
percentual que para muitos estudiosos é o nível de sustentação da população (LEE, 2003). E a
taxa de mortalidade diminui mais que a metade entre 1960 e 2016, quando no último ano
encontra-se em 6,16 mortos a cada 1000 habitantes.
As emissões de CO2 per capita no Brasil aumentaram entre 1990 a 2014, porém quando
comparadas com a média mundial, representam menos impactos sobre o efeito estufa. Em 1990
eram emitidas 1,40 toneladas métricas por habitante e em 2014 chegou 2,59 toneladas. Por
outro lado, o percentual produzido de energia a partir de fontes renováveis no país chegou a
9,85% da produção total, cerca do dobro do percentual produzido no mundo.
Para Martine, Ojima e Marandola Jr. (2015) e Lam (2011) o Brasil está passando por
um processo de redução da população, e essa mudança pode gerar outras implicações.
Conforme destaca Brito (2008), as referidas transformações não se restringem apenas às
variáveis demográficas, mas possuem relações com variáveis econômicas e sociais, o que gera
efeitos positivos e negativos. A estrutura populacional e a melhoria na qualidade de vida
provocam mudanças nos padrões de consumo e proporcionam um aumento da pressão sobre os
recursos naturais (WU; NIU, 2012).
Com isso, considerando as mudanças no aspecto populacional brasileiro e a sua
complexidade sobre a relação com o meio ambiente, o presente trabalho busca verificar a
relação entre o desenvolvimento populacional e a utilização dos recursos ambientais no Brasil,
entre 1991 a 2014. Como os aspectos populacional e ambiental possuem um amplo número de
variáveis, primeiramente, utiliza-se uma análise de componentes principais, a qual gera dois
indicadores: o Índice Integrado de Desenvolvimento Populacional (IIDP) e o Índice Integrado
de Proteção dos Recursos Naturais (IIPR). A segunda técnica adotada é o Grau de
Desenvolvimento Coordenado (GDC) entre os aspectos populacional e ambiental, a qual
possibilita verificar o encadeamento de ambos.
O artigo está dividido em cinco seções, a contar desta introdução. Na segunda seção,
são apresentadas algumas das principais teorias que tratam da relação entre a população e o
Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-6586
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meio ambiente. A terceira seção trata dos aspectos metodológicos empregados neste estudo. A
quarta seção versa sobre os principais resultados da pesquisa e discute-os. Por fim, apresentam-
se as considerações finais.

2 Metodologia
A análise de componentes principais possibilita captar o máximo da variação total dos
dados em combinações lineares não correlacionadas entre si. O primeiro componente carrega a
maior variância dos dados, o segundo o máximo possível do restante, e assim sucessivamente
(MINGOTI, 2005; HAIR et al., 2009). Com isso, é possível reduzir o número elevado de
variáveis que expressam o desenvolvimento populacional e ambiental, sem perder a suas
características.
Os coeficientes do componente principal atrelados a cada variável representam o seu
grau de importância. Desta forma, é possível calcular a equação do componente principal, o
que possibilita a retirada de um escore para cada componente. Segundo Mingoti (2005), esse
valor pode ser usado como uma variável para outras análises, como no caso da elaboração de
um indicador, objetivo deste estudo.

2.1 Fonte e Base de Dados


As variáveis utilizadas no trabalho foram extraídas do Banco de Dados Mundial
(WORLD BANK OPEN DATA, 2018). Essas variáveis possuem base no trabalho realizado
por Wenheng e Niu (2012) para a China. Além destas, foram incorporadas as taxas de
fecundidade e de mortalidade, as quais, para Hogan (2007), são importantes para a dinâmica
populacional. As varáveis são classificadas em três grupos para o indicador de desenvolvimento
populacional, o primeiro trata da quantidade, qualidade e estrutura da população, o segundo são
as características do padrão de vida e o terceiro abrange o nível de produtividade. O indicador
dos recursos ambientais encontra-se dividido entre a utilização e a proteção destes recursos.
A função gerada pelas variáveis ligadas a população é denominada Índice Integrado de
Desenvolvimento Populacional (IIDP) e aquela originada das variáveis relativas aos recursos
naturais é denominada Índice Integrado de Proteção dos Recursos Ambientais (IIPR). No total
são utilizadas quarenta e nove (49) variáveis. O período analisado é de 1991 a 2014, com séries
anuais para o Brasil. O Quadro 1 apresenta as variáveis e os níveis de análise do estudo.
Quadro 1 – Sistema de indicadores e suas respectivas variáveis
Índice Restrição Fatores Variáveis
Grau de Índice integrado Quantidade 𝑥1 Densidade Populacional (-)
coordenação de e qualidade 𝑥2 Taxa de crescimento da população rural (-)
entre desenvolvimento populacional 𝑥3 Taxa de crescimento da população urbana (-)
desenvolvi- populacional (X) (𝑿1 ) 𝑥4 Força de Trabalho (PIA) (+)
mento 𝑥5 Empregos no Setor de Serviços (% do total) (+)
populacional 𝑥6 Empregos no Setor Industrial (% do total) (+)
e utilização 𝑥7 Empregos no Setor Agrícola (% do total de empregos) (-)
e 𝑥8 Esperança de vida ao nascer, total (anos) (+)
preservação 𝑥9 População em aglomerados urbanos com mais de 1 milhão de
de recursos pessoas (+)
naturais 𝑥10 População urbana (% do total) (+)
𝑥11 Taxa de fecundidade, total (nascimentos por cada mulher) (-)
𝑥12 Número de graduados (Educação Superior) (+)
𝑥13 Taxa de mortalidade (a cada 1000 pessoas) (-)
Padrão de 𝑥14 Relação entre emprego e população, maiores de 15 anos, total (%)
Vida da (+)
população 𝑥15 Agricultura, valor adicionado por trabalhador (2010 US$) (+)
(𝑿2 ) 𝑥16 Concentração de renda (-)
𝑥17 Salário dos trabalhadores, total (% do total empregados) (+)
População/ 𝑥18 Crescimento do PIB per capita (% anual) (+)
Produção 𝑥19 Indústria, valor adicionado por trabalhador (2010 US$) (+)
(𝑿3 ) 𝑥20 PIB per capita dos empregados (1990 PPP $) (+)

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𝑥21 Formação bruta de capital (anual % de crescimento) (+)
𝑥22 Serviços, valor adicionado por trabalhador (2010 US$) (+)
Índice integrado Utilização 𝑦1 Consumo de energia procedente de combustíveis fósseis (% do
de proteção dos dos recursos total) (-)
recursos naturais 𝑦2 Consumo de energia elétrica (kWh per capita) (-)
ambientais (Y) (𝒀1 ) 𝑦3 Energia nuclear e alternativa (% do total de uso de energia) (-)
𝑦4 Nível da intensidade energética primária (MJ/$2011 PPP GDP) (-)
𝑦5 PIB por unidade de uso da energia, (PPA a $ por kg de petróleo)
(+)
𝑦6 Investimento em energia com participação privada (US$ preços
atuais) (+)
𝑦7 Rendimento de cereais (kg por hectares) (+)
𝑦8 Rendas totais dos recursos naturais (% do PIB) (-)
𝑦9 Terras cultiváveis (hectares por pessoa) (-)
𝑦10 Uso de energia (kg de petróleo per capita) (-)
𝑦11 Produção de eletricidade a partir de fontes hidroelétricas (% do
total) (-)
𝑦12 Produção de eletricidade a partir de fontes de petróleo, gás y
carbono (% do total) (-)
𝑦13 Produção de eletricidade a partir de fontes nucleares (% do total)
(-)
𝑦14 Produção aquática (toneladas métricas) (+)
Proteção do 𝑦15 Área florestal (km quadrado) (+)
Meio 𝑦16 Combustíveis renováveis e resíduos (% do total de energia) (+)
Ambiente 𝑦17 Emissões de CO2 (toneladas métricas per capita) (-)
(𝒀2 ) 𝑦18 Emissões de CO2 originadas por edifícios residenciais e serviços
comerciais e públicos (% do total da queima de combustíveis) (-)
𝑦19 Emissões de CO2 originadas pela indústria manufatureira e da
construção (% do total da queima de combustíveis) (-)
𝑦20 Emissões de CO2 originadas pelo transporte (% do total da
queima de combustíveis) (-)
𝑦21 Emissões de CO2 originadas por outros sectores, não inclui
edifícios residenciais e serviços comerciais e públicos (% do total da
queima de combustíveis) (-)
𝑦22 Produção de eletricidade a partir de fontes renováveis, excluída a
hidroelétrica (quilowatt-hora) (+)
𝑦23 Produção de eletricidade a partir de fontes renováveis, excluída a
hidroelétrica (% do total) (+)
𝑦24 Consumo de energia renovável (% do total final de consumo de
energia) (+)
𝑦25 Recursos disponíveis: esgotamento de fontes de energia (US$
atuais) (+)
𝑦26 Recursos disponíveis: esgotamento de minerais (US$ atuais) (+)
𝑦27 Recursos disponíveis: esgotamento de recursos florestais (US$
atuais) (+)
Fonte: Elaborada pela autora.
Os sinais de negativo (−) e de positivo (+) em cada uma das variáveis significam o
impacto sobre o desenvolvimento da população no caso do vetor de variáveis x e para a proteção
do meio ambiente no caso de y.

2.2 Procedimentos Analíticos


O cálculo do IIDP e do IIPR é realizado por meio dos componentes principais. O
software utilizado é o SPSS 17.0. O conjunto de dados possui p variáveis e são obtidos p
componentes principais, a sua escolha obedece dois critérios. O primeiro trata-se de uma raiz
característica maior que um (eigenvalues > 1) e a segunda forma trata-se de desconsiderar a
variância explicada a baixo da média (4,34% para o IIDP e 3,703 para o IIPR). Os fatores foram
rotacionados através do método VARIMAX e os resultados são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 – Resultados dos componentes principais para o IIDP e o IIPR
Componente Principal (IIDP) Eigenvalue Proporção da variância explicada Variância acumulada
1 14,86 64,64% 64,64%
2 13,57 13,57% 78,22%

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3 1,91 8,33% 86,55%
4 1,33 5,82% 92,37%
Componente Principal (IIUR) Eigenvalue Proporção da variância explicada Variância acumulada
1 16,51 61,14% 61,14%
2 4,01 14,88% 76,02%
3 2,79 10,33% 86,36%
4 1,49 5,53% 91,90%
Fonte: Elaborada pela autora com base nos resultados da pesquisa.
Ao multiplicar os escores com sua respectiva representatividade da variância total,
torna-se possível calcular o IIDP, representado por 𝑓(𝑥), e o IIPR, representado por 𝑔(𝑦). Esses
indicadores são calculados pelas Equações 11 e 12.
𝑓(𝑥) = 0,6464𝐻1 + 0,1357𝐻2 + 0,0833𝐻3 + 0,0582𝐻4 (11)
𝑔(𝑦) = 0,6114𝐻5 + 0,1488𝐻6 + 0,1033𝐻7 + 0,0553𝐻8 (12)
Como o valor do escore de cada componente possui números negativos e inexistência
de uma escala adequada para o cálculo de um índice, adotou-se a padronização pela média e o
desvio padrão (padronização Z). O novo escore possui valores entre zero e um (0 < 𝐻𝑖 < 1).
A definição do novo valor é baseada no cálculo da equação 13.
ℎ𝑖𝑗 − 𝑀é𝑑𝑖𝑎 (13)
𝐻𝑖𝑗 =
𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑃𝑎𝑑𝑟ã𝑜
Em que, segue-se uma escala crescente. Por meio dos valores de 𝑓(𝑥) e 𝑔(𝑦) é possível calcular
o nível de acoplamento entre o desenvolvimento populacional e a proteção dos recursos
naturais, conforme explanado na próxima subseção.

2.3 Cálculo do Índice de acoplamento da equação homem/meio ambiente/desenvolvimento


O acoplamento refere-se a duas ou mais formas ou níveis de análise que possuem
interações entre si. Se o movimento dos elementos gera relações positivas, o grau de
coordenação é ajustado. Porém, se a interação dos elementos gera efeitos negativos entre um
nível e o outro, não há ajustamento. Conforme a literatura proposta, existe uma relação entre a
população e o meio ambiente, que interagem e geram efeitos um para com o outro. Desta forma,
o grau de acoplamento ou índice coordenado de desenvolvimento possibilita a identificação da
direção (ajustada ou não) de interação existente entre os dois campos de pesquisa (LI; QI; LIU,
2017). O cálculo do índice coordenado de desenvolvimento populacional e proteção dos
recursos naturais é proposto por Wu e Niu (2012) e Liao (1999). Esse método de avaliação é
adotado, e segue os cálculos apresentados nas Equações 14, 15 e 16.
𝑘 (14)
𝑓(𝑥) ∗ 𝑔(𝑦)
𝐶= 2
𝑓(𝑥) + 𝑔(𝑦)
{[ 2
] }
𝑇 = 𝛼𝑓(𝑥) + 𝛽𝑔(𝑦) (15)
𝐷 = √𝐶 ∗ 𝑇 (16)
Em que, C representa o grau de coordenação; k é o coeficiente de ajuste e representa as duas
dimensões analisadas; T representa o índice de avaliação integrada para a população e os
recursos naturais; 𝛼 e 𝛽 são o peso de cada nível de análise no índice total (D), os quais possuem
o mesmo peso neste estudo (0,5); D é o grau de desenvolvimento coordenado (GDC). O GDC
varia entre zero e um, e se distribui em dez níveis de análise, conforme o Quadro 2.
Quadro 2 – Grau de desenvolvimento coordenado e seus respectivos significados
Não possui ajustes Possui ajustes
D Tipo do ajuste D Tipo do ajuste
0,00 – 0,09 Sem ajuste 0,50 – 0,59 Harmonia primária
0,10 – 0,19 Desajuste severo 0,60 – 0,69 Harmonia secundária
0,20 – 0,29 Desajuste moderado 0,70 – 0,79 Harmonia moderada
0,30 – 0,39 Desajuste secundário 0,80 – 0,89 Harmonia favorável
0,40 – 0,49 Desajuste leve 0,90 – 1,00 Melhor Harmonia
Fonte: Elaborado pela autora com base em Wu e Niu (2012).

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Um indicador abaixo de 0,50 significa que os recursos ambientais e o sistema
populacional não podem manter um desenvolvimento coordenado. Os valores acima de 0,50
indicam que os recursos ambientais e o sistema populacional podem manter desenvolvimento
coordenado. Os resultados dos indicadores são apresentados na próxima seção.

3 Resultados
O grau de coordenação do desenvolvimento populacional com a degradação ambiental
(D – Multidimensional) e o índice de crescimento populacional e a degradação ambiental (D –
Unidimensional), como um todo, aumentaram no período analisado. Até o ano de 1996, ao
avaliar o índice unidimensional, que leva em conta apenas o crescimento da população, o grau
de coordenação deste indicador era inferior ao aspecto multidimensional. A partir de 2003 o
nível multidimensional aumenta o grau de coordenação com o meio ambiente, mantendo um
desenvolvimento coordenado, enquanto o indicador unidimensional já apresentava ajuste desde
1998 (Figura 1).
Figura 1 – Resultados do IIDP (𝒇(𝒙)), do IIPR (𝒈(𝒚)) e do Grau de desenvolvimento coordenado (D)
multidimensional e unidimensional para os anos de 1991 a 2014 no Brasil
1
D-multidimensional D-unidimensional f(x) g(y)
0,8
ESCALA

0,6

0,4

0,2

Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados da pesquisa.


Ao analisar apenas o crescimento populacional como variável representativa da
dinâmica da população, nota-se que em 1991 não havia ajuste entre população em meio
ambiente. Entre os anos de 1992 a 1997 o índice de encadeamento passou de desajuste
secundário para leve (de 0,36 para 0,46). Após esse período, o indicador apresentou harmonia
primária, secundária e moderada de 1998 a 2006. No período de 2007 a 2012, o grau de
coordenação foi de harmonia favorável. Em 2013 e 2014, o ajuste passou para melhor harmonia,
com graus de 0,90 e 0,92, respectivamente.
O Índice Integrado de Proteção de Recursos Ambientais (IIPR), representado pela 𝑔(𝑦),
aumentou cerca de 60 pontos (de 0,14 para 0,75) e o índice de crescimento populacional
crescente se deve a redução da taxa de crescimento da população. Em 2014, o aumento
populacional chegou a quase um ponto percentual menor que a taxa do período inicial (1,74%
a.a. em 1991 para 0,88% a.a. em 2014). Quando levado em conta que o crescimento
populacional tende a maior degradação do meio ambiente, uma redução do crescimento gera
efeitos positivos sobre os recursos naturais.
Quanto ao índice integrado de desenvolvimento populacional (D – Multidimensional) o
maior desajuste ocorreu no ano de 2000, com um desajuste moderado (0,23). O período que
antecede este ano foi marcado por desajustes, de 1991 a 1996 predomina um desajuste leve, de
1997 a 1999 o desajuste é secundário. Em 2001 o desajuste, ainda, foi secundário e 2002 passou
a um desajuste leve.
A partir de 2003, o desenvolvimento populacional e o ambiental entraram em harmonia.
Nos anos de 2003 e 2004 o ajuste foi harmônico primário, em 2005 e 2007 prevaleceu a
harmonia secundária. No ano de 2006 e entre o período de 2008 a 2012 o ajuste aumentou para

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harmônico moderado, e o final do período apresentou o maior nível de ajuste, harmonia
favorável (2013 e 2014).
De um modo geral, os indicadores que favorecem o desenvolvimento da população
tiveram um desempenho positivo. E as variáveis que proporcionam aumento da proteção dos
recursos ambientais demostraram aumento da utilização de recursos renováveis e redução da
emissão de CO2. O que contribui para o ajuste entre o desenvolvimento populacional e a
proteção ambiental.

4 Discussão
O indicador que leva em consideração apenas o crescimento populacional apresentou
um aumento consecutivo no decorrer do período analisado. Isso pode decorrer da ideia proposta
por Martine, Ojima e Marandola Jr. (2015), a qual analisa o caso brasileiro e observa que a
trajetória do crescimento da população brasileira encontra-se em fase descendente. Com isso,
o debate internacional com a preocupação da pressão populacional sobre os recursos naturais
possui pouca relevância no caso brasileiro. Sendo que, a partir de 2030 o número absoluto de
habitantes passará a diminuir.
Lam (2011) relata que a explosão demográfica mundial está passando por um processo
de enfraquecimento, e caminha-se para o crescimento zero da população ainda no século XXI.
A estrutura etária cria um dividendo demográfico3, que gera efeitos positivos sobre a
escolaridade, o aumento da renda e a redução da pobreza. Para o autor, a redução dos recursos
não renováveis possuem o mesmo custo que 50 anos atrás, haja vista que o número de pessoas
era significativamente menor. Porém, cabe ressaltar a existência de dois fenômenos negativos,
o aquecimento global e o consumo insustentável.
Para Martine e Alves (2015), torna-se importante salientar que na fatia da população
com renda per capita menor reflete um nível de consumo inferior, quando comparado com a
população com renda elevada. Com a utilização de recursos naturais atrelada ao consumo,
grande parte da população com baixa renda não participa do consumo mundial, pouco contribui
para os problemas ecológicos e é a parcela que mais sofre com as mudanças climáticas globais.
No Brasil, a emissão de CO2 aumentou no período analisado, em compensação a concentração
de renda diminuiu. Porém, a preocupação com essa faixa de renda não deve passar
despercebida.
A ideia proposta por Lam (2011) vai além do crescimento populacional como fator
unidirecional para os problemas ambientais, existem outras características atreladas a tal
processo. Nesse sentido, a hipótese levantada por Carmo (2000) é que o limite ambiental está
relacionado com fatores que vão além, apenas, do crescimento populacional absoluto, no caso
da água, a forma correta de utilização dos recursos e o desenvolvimento tecnológico possuem
relação direta com evitáveis desperdícios.
Para Martine, Ojima e Marandola Jr. (2015), as mudanças demográficas que implicam
pressão sobre o meio ambiente são a composição e a distribuição populacional. Com isso, a
grande mudança se encontra na estrutura de idade populacional, que se volta para o
envelhecimento e para a alteração na constituição das famílias. A pressão crescente sobre o
número de domicílios, devido a famílias com apenas duas pessoas ou uni parental, induz a
ocupações de áreas inadequadas e em situações de risco.
Para Martine e Alves (2015), a preocupação central da interação entre o homem e o
meio ambiente encontra-se no modelo econômico as custas da base ecológica, que pode estar
comprometido no século XXI. Isto decorre do cenário favorável no século XX, com
disponibilidade de recursos ambientais, grande parte da população em idade ativa e com
deslocamento urbano, que proporcionou ganhos de escala e aumento da renda per capita, e não

3 O número de pessoas em idade ativa é um ponto máximo.


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pode ser sustentado no século atual. O baixo crescimento da população leva, no decorrer dos
anos, ao envelhecimento populacional e ao final do bônus demográfico, que são agravantes para
o baixo desempenho econômico. Neste sentido, a nova abordagem leva a diagnosticar relações
complexas entre o homem, o meio ambiente e o desenvolvimento, em que o crescimento da
população não é o vilão do processo.
Em estudo realizado para a Província de Gansu na China, Wu et al. (2007) observaram
que o índice coordenado do desenvolvimento populacional e da preservação dos recursos
ambientais foi baixo no início da década de 1990, e em 2004 passou a ajuste secundário. Os
autores ressaltam que, por mais que o indicador teve aumento no período, o índice de
preservação do meio ambiente caiu gradativamente dentro do período estudado. O que leva a
uma situação de desenvolvimento populacional as custas da exploração dos recursos naturais.
No Brasil, conforme calculado anteriormente, o grau de coordenação entre a população
e o meio ambiente forma uma curva no formato de “U”, com ponto de mínimo em 2000. Isso
decorre, especificamente, devido ao baixo desenvolvimento da população nesse período, pois
o grau de preservação do meio ambiente é crescente. As formas alternativas de energia e a
conversão de maior produção por energia utilizada, podem ser indicativos de desenvolvimento
populacional com preocupações ambientais.
Wu e Niu (2012) relatam que o desenvolvimento populacional crescente da China, se
deve à redução do crescimento da população, ao aumento da população urbana, ao progresso
na educação, ao aumento da esperança de vida ao nascer e a renda per capita crescente e com
menos concentração. Isso corrobora com os resultados encontrados para o Brasil, já que essas
variáveis possuem as mesmas características. Porém, o desenvolvimento populacional Chinês
e a preservação dos recursos naturais não possuem encadeamento. Com isso, os autores
sugerem a otimização da estrutura da indústria, o aumento da eficiência na utilização dos
recursos naturais e a sua proteção, bem como defendem o consumo moderado.
Ao estudar a interação populacional com o meio ambiente, em específico com os
recursos hídricos no Estado de São Paulo, Carmo (2000) propõem que intervenções políticas,
econômicas e tecnológicas podem ser formas de amenizar ou adiar o problema do limite dos
recursos naturais. Sendo que, uma das formas de preservação do meio ambiente é o
planejamento do ato de utilização dele. Instalações de indústria e urbanização em locais
inapropriados geram efeitos adversos para o meio ambiente e para qualidade de vida da
população.
Algumas variáveis de proteção ambiental não foram favoráveis, como as rendas totais
dos recursos ambientais, que cresceram no período. Esse resultado vai de encontro com a visão
de Becker (2013), em que a produção deriva da utilização maciça de recursos ambientais, além
de discutir os efeitos negativos sobre a área florestal e a utilização de recursos fósseis não
renováveis. Esses últimos efeitos, neste estudo, foram contrários ao esperado, pois o total de
área florestal brasileira diminuiu e a produção de eletricidade a partir de fontes de petróleo e
nucleares aumentou. Desta forma, ocorreram avanços no acoplamento entre o desenvolvimento
da população e do meio ambiente, mas com questões especificas negativas.
Com relação ao desenvolvimento da população, grande parte das variáveis entre 1991 e
2014 tiveram comportamento conforme o esperado. Com ressalvas, conforme Martine e Alves
(2015), que o aumento da renda per capita e da produtividade pode decorrer da utilização
intensiva de recursos naturais, já que o Brasil possui disponibilidade. Com isso, tendo em vista
que o meio ambiente possui um limite natural, medidas de preservação ambiental são
importantes.

5 Considerações finais
A análise da população e o meio ambiente possui visões otimistas e pessimistas. De um
lado encontra-se a ideia que o crescimento da população é o principal agente unidirecional e
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causador da degradação ambiental. Por outro lado, toma forma, principalmente a partir dos anos
de 1990, a visão de que o crescimento populacional é um agravante, porém a relação com o
meio ambiente é mais complexa. O trabalho buscou verificar a relação entre o desenvolvimento
populacional e a utilização dos recursos ambientais no Brasil, entre 1991 a 2014. A partir do
cálculo de dois índices, de desenvolvimento populacional e de proteção do meio ambiente, e
analisou-se o encadeamento de ambos.
O grau de desenvolvimento coordenado unidirecional, quando considerado apenas o
crescimento absoluto da população, foi crescente em todo o período e em 2014 chegou a melhor
harmonia. Isso se deve a queda na taxa de crescimento populacional, e faz do Brasil um caso
específico à preocupação mundial. O envelhecimento populacional gera uma nova visão, no
momento em que menos pessoas estarão no mercado de trabalho e com maior número de
pessoas idosas para sustentar, questiona-se o novo modelo de produção e a inclusão de novos
tipos de serviços, entre eles os serviços ecossistêmicos. A tecnologia conseguirá suprir a
redução da mão de obra? Ou a pressão sobre os recursos ambientais aumentará?
O grau de desenvolvimento coordenado multidimensional, que envolve variáveis de
aspectos qualitativos e quantitativos da população, do padrão de vida e da produtividade, teve
um valor mínimo em 2000 e passou a aumentar nos anos posteriores, em 2014 chegou a
harmonia favorável. Porém, algumas variáveis de proteção ambiental não apresentaram o
desempenho esperado no período, o que gera uma preocupação entorno de o desenvolvimento
populacional ser sustentado pela utilização dos recursos ambientais. No entanto, cabe ressaltar
o desempenho positivo do caso brasileiro com a utilização de energias renováveis e redução de
produção de energia elétrica a partir de hidroelétricas.
O estudo possui algumas limitações, no que tange a medida exclusivamente do
desempenho no período, pois depende dos valores destes anos para ser calculado. Com isso,
uma análise abrangendo outros anos os resultados podem sofrer alterações. Outra carência
encontra-se na análise do agregado, o cenário de cada estado brasileiro possui especificidades,
porém a base de dados para a investigação é restrita.
No debate acerca do tema, poucas pesquisas utilizam-se de métodos quantitativos para
análise, os esforços para futuros trabalhos que comtemplem a abordagem são válidos na
literatura. Em específico, salienta-se a importância de estudos com a inclusão da composição e
da distribuição espacial da população na pressão sobre os recursos ambientais.

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O Caso da Suinocultura na Microbacia de Lajeado Fragosos - Custo das
Externalidades e Alternativa Tecnológica para Sua Internalização.
The Case of Pig Farming in the LajeadoMicrobasinFragosos - Cost of
Externalities and Technological Alternative for its Internalization.
Marcos Venícios Novaes de Souza1, Eduardo Bernardo Lando2, Cláudio Rocha de Miranda3,
Cícero Juliano Monticelli4
Resumo
A suinocultura é uma atividade de destaque no contexto econômico mundial e nacional. O Estado de Santa Catarina
é o maior produtor do país e, as atividades se concentram principalmente na Região Oeste do Estado, onde o
Município de Concórdia (SC) é o segundo maior produtor de suínos do Estado. No entanto, a atividade suinícola
apresenta grande ônus ambiental devido aos elevados volumes de dejetos que são produzidos e quando não
manejados de forma adequada, podendo gerar impactos significativos nos âmbitos econômico e ambiental. Diante
dessa conjuntura, existe como solução, são as denominadas rotas tecnológicas para gestão ambiental dos dejetos.
Desta forma, o presente trabalho buscou caracterizar a situação da atividade suinícola na Microbacia Hidrográfica
de Lajeado Fragosos, em Concórdia (SC), onde fizemos uma análise comparativa de custos entre o que seria a rota
adotada atualmente pelos produtores na Microbacia Hidrográfica de Lajeado Fragosos, em contrapartida com uma
proposta de Rota Sólida, onde uma unidade de compostagem mecanizada de dejetos líquidos seria utilizada de
forma compartilha. Com base nessa análise de custos,conseguimos valorar essa externalidade e apontar uma
alternativa tecnológica para internalização desse processo, buscando classificar a Microbacia como uma unidade
geográfica para gestão ambiental.
Palavras-Chave: Suinocultura, Gestão Ambiental, Externalidades, Valoração.
Abstract
Pig farming is a prominent activity in the world and national economic context. In the state of Santa Catarina,
being the country's largest producer, activities are concentrated mainly in the western region of the state, where
the municipality of Concórdia (SC) is the second largest pig producer in the state. However, swine activity presents
a great environmental burden due to the high volumes of waste that are produced and when not properly managed,
can generate economic and mainly environmental impacts. In this context, the so-called technological routes for
environmental management of waste exist as a solution. The present work aimed to characterize the situation of
the swine activity in the LajeadoFragosos Hydrographic Basin in Concórdia (SC), where we made a comparative
analysis of costs between what would be the route currently adopted by the producers in the Lajeado Hydrographic
MicrobasinFragosos, in contrast to a proposal for a Solid Route, where a mechanical composting unit for liquid
waste would be used in a shared way. Based on this cost analysis, we were able to assess this externality and point
out a technological alternative for internalization of this process, seeking to classify Microbasin as a geographic
unit for environmental management.
Keywords: Pig farming, Environmental, Externalities, Valuation.

1. Introdução
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de carne suína, ocupando o quarto lugar
no ranking, com 3.725 milhões de toneladas produzidas em 2017, sendo que deste total,
exportou 786 mil toneladas (CIAS, 2018). O plantel brasileiro é composto por 39,95 milhões
de cabeças de suínos, com cerca de 50 % concentrados na região sul, distribuídas no Estado do
Paraná com 7,13 milhões, Santa Catarina com 6,88 milhões e Rio Grande do Sul com 5,92
milhões de cabeças (IBGE, 2016). Além do crescimento em termos do número de animais nos
últimos anos, a suinocultura brasileira tem recebido investimentos substanciais, absorvendo
avanços tecnológicos em toda a cadeia produtiva (GONÇALVES; PALMEIRA, 2016).

1Administrador/Analistada Embrapa Suínos e Aves - marcos.novaes@embrapa.br


2Engenheiro
Sanitarista e Ambiental/ MSc em Desenvolvimento Regional- eduardolbernardo@gmail.com
3Agrônomo/Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves- claudio.miranda@embrapa.br
4Agrônomo/Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves - cicero.monticelli@embrapa.br

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Do ponto de vista econômico, a suinocultura no Brasil teve grandes impulsos de
desenvolvimento a partir da concentração dos agentes produtivos em determinadas regiões, fato
que permitiu a organização dessa atividade na forma de cadeia produtiva vertical, com clara
definição e integração dos elos (TALAMINI et al., 2009). Esses aglomerados trouxeram
vantagens logísticas, favorecendo a convergência geográfica dos fatores de produção, atraindo
tecnologia e mão-de-obra especializada, fornecedores dos insumos necessários, edificação de
plantas completas para abate e processamento da carne, entre outros elementos que, afinal, no
decorrer das décadas, se traduziram em redução de custos e fortalecimento da capacidade
competitiva da suinocultura brasileira, suprindo o consumo dessa carne a nível nacional, bem
como, parte do mercado.
Apesar do padrão de excelência atingida da produção industrial dessa carne, a
suinocultura brasileira tem um contrapeso negativo, com surgimento de um significativo
passivo ambiental provocado pelo do grande volume de dejetos líquidos gerados. Esse resíduo
exerce enorme pressão sobre o meio ambiente, especialmente nas situações onde há
centralização dos rebanhos e limitação do espaço físico, com carga produtiva excede à
capacidade de absorção do solo. Desta forma, o uso continuado desses resíduos como
fertilizantes, compromete a capacidade agronômica e eleva o risco de contaminação das águas
superficiais e subsuperficiais, destacando-se os índices de coliformes fecais e o processo da
eutrofização, que poderão prejudicar o abastecimento de água potável (BATJES, 1991).
Os poluentes e contaminantes presentes nos resíduos da produção agropecuária
acumulam-se gradualmente no ambiente. Esses resíduos, quando não manejados corretamente
e/ou tratados, interferem diretamente nas funções ecológicas do solo, como a capacidade de
filtrar, armazenar, tamponar e transformar metais pesados, produtos orgânicos químicos
persistentes e outros (BATJES, 1991). Os elementos Fósforo (P), Nitrogênio (N) e Potássio (K)
são exemplos de nutrientes-poluentes essenciais para alimentação dos suínos, mas que ao serem
dejetados, os excessos podem causar danos e restrição às lavouras, também provocando graves
problemas aos mananciais de água, agredindo a fauna e flora locais, trazendo ainda implicações
sociais e, por conseguinte, colocando em risco a sustentabilidade dessa cadeia produtiva.
Em função dessa complexidade de fatores atuando nos serviços ecossistêmicos,
incluindo-se aí os elevados custos para tratamento dos resíduos, o elo produtivo tem sido
constrangido a externalizar o problema dos dejetos líquidos, transportando os excedentes para
outras propriedades ou bacias hidrográficas. Na busca de soluções que evitem principalmente
a exclusão das produções de base familiar, esse trabalho trás uma proposta para internalização
e solução compartilhada do problema. Apresentando, em estudo de caso, a base de custos para
uso comum da tecnologia denominada Rota Sólida e adoção de bacias e microbacias
hidrográficas como unidades geográficas para gestão ambiental e desenvolvimento sustentável.

2. Referencial Teórico
2.1 Dejetos de Suínos e Impacto Ambiental
Segundo Lourenzi et al. (2016), a criação e produção de carne suina, apesar de ser uma
atividade de elevada importância para a economia catarinense (EPAGRI, 2017), apresenta um
grande ônus ambiental, devido principalmente ao alto volume de dejetos gerados, os quais
devem e necessitam receber adequado tratamento e destinação. Segundo Silva et al. (2007), a
maior parte do dejeto produzido no país é armazenado em esterqueiras e aplicado diretamente
nas lavouras.

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Juntamente com o aumento da produção suinícola houve o incremento na produção de
dejetos, que vem ganhando cada vez mais importância no contexto ambiental, uma vez que a
poluição provocada pelo manejo inadequado pode acarretar graves problemas ao meio ambiente
(CARDOSO; OYAMADA; SILVA, 2015).
De acordo com Konzen (1997 apud CARDOSO; OYAMADA; SILVA, 2015) e Diesel,
Miranda e Perdomo (2002 apud CARDOSO; OYAMADA; SILVA, 2015), os dejetos de suínos
são compostos por: fezes, urina, água desperdiçada pelos bebedouros, água de higienização,
resíduos de ração, pelos, poeiras e outros materiais gerados no processo de criação dos suínos.
As fezes constituem o esterco sólido ou pastoso, enquanto o esterco líquido dos suínos contém
matéria orgânica, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, sódio, magnésio, manganês, ferro, zinco,
cobre e outros elementos constituintes da dieta dos animais.
Os dejetos de suínos representam uma excelente fonte de nutrientes, especialmente N,
P e K e quando manejados adequadamente, podem substituir, parcial ou totalmente, o
fertilizante químico na produção de grãos e pastagens (KONZEN, 2005, apud OLIVEIRA;
TAVARES FILHO; BARBOSA, 2016). Contudo, a aplicação destes dejetos no solo não segue
um padrão específico, podendo variar a composição, a dose e a forma de aplicação. Devido a
isso, o uso incorreto ou em doses excessivas pode causar alterações químicas, físicas e
biológicas que podem não resultar em melhorias no solo e acarretar em danos ambientais
(OLIVEIRA; TAVARES FILHO; BARBOSA, 2016), destacando-se os desequilíbrios
químicos, físicos e biológicos do solo, poluição e degradação das águas, redução da
produtividade e de qualidade de produtos agropecuários e perda de diversidade de plantas e
organismos do solo (SILVA et al, 2007).
Outra preocupação gerada pela aplicação de dejetos suínos no solo é o aumento do teor
de metais pesados, como Cu e Zn, conforme citado por Girottoet al. (2010 apud LOURENZI
et al, 2016), devido à aproximadamente 90% do Cu e Zn ingeridos pelos suínos por meio dos
suplementos minerais serem eliminados nas fezes e na urina, estando presentes nos dejetos
(ALDRICH et al., 2002; NICHOLSON et al., 2003 apud LOURENZI et al, 2016), podendo
posteriormente contaminar mananciais de águas superficiais e subsuperficiais (BERGSTRÖM
& KIRCHMANN, 2006 apud LOURENZI et al, 2016). Dessa forma, é de extrema importância
que os mananciais e fontes de abastecimento localizados próximos de áreas agrícolas que
recebem adubação orgânica através da aplicação dos DLS’s sejam bem manejadas e
monitoradas, para que a qualidade das águas não seja alterada, sendo um dos principais aspectos
à serem analisados a contaminação por coliformes, conforme ressaltado por Thomas et al.
(2016).

2.2 Manejo dos DLS’s


Inicialmente, os rios eram o principal local de destino dos dejetos suínos, no entanto,
com o aumento da concentração de animais por propriedade, não mais se mostraram capazes
de depurar o despejo de dejetos não tratados. Como alternativa, passou-se a incentivar e
promover a aplicação dos dejetos como fertilizante do solo, após seu armazenamento e
fermentação em esterqueiras e lagoas anaeróbias (SILVA et al, 2007). No entanto, na medida
em que a concentração de suínos se manteve crescente e a estrutura fundiária e a quantidade de
terras aptas para agricultura permaneceu a mesma, houve uma sobrecarga de dejetos por
unidade de área nas propriedades suinícolas (SILVA et al, 2007).
Contudo, para que um sistema agrícola adubado com dejetos suínos constitua um
sistema sustentável, ou seja, que possa ser produtivo, lucrativo e mantido com ausência ou
geração de danos mínimos ao ambiente, é necessário que, as quantidades retiradas pelas plantas
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sejam repostas (KETELAARS & MEER, 1998 apud SEGANFREDO, 1999), por meio de
adubações orgânicas ou químicas e, que as quantidades de nutrientes adicionais, não sejam
maiores do que aquelas requeridas pelas plantas (PAIN, 1998 apud SEGANFREDO, 1999).
Nesse sentido, é extremamente importante aplicar a dosagem correta de cada nutriente
conforme demandado pelo solo, pois o retorno aos teores originais de alguns nutrientes no solo
é praticamente inatingível, conforme descrito por Kabata-Pendias (1995 apud SEGANFREDO,
1999).
A forma mais comum de manejo de dejetos suínos utilizada no Brasil é o tratamento em
esterqueiras e em lagoas de decantação para uso na lavoura como fertilizante após estabilização.
Este tratamento dos dejetos é mais difundido devido principalmente ao baixo custo de execução
e manutenção, além da facilidade operacional. As bioesterqueiras não são tão utilizadas como
as esterqueiras devido ao maior custo de manejo dessas tecnologias (KUNZ; HIGARASHI;
OLIVEIRA, 2005 apud CARDOSO; OYAMADA; SILVA, 2015).

2.3 Legislação ambiental


Como resposta, diante da pressão gerada pela produção intensiva de suínos sobre o
ambiente, foram criadas legislações as quais estabeleceram controle e limites para o
desenvolvimento de tais atividades, visando minimizar os impactos sobre o ambiente.
No ano de 1981, vigorou a Política Nacional do Meio Ambiente, a qual, em seu artigo
10, define que a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e
atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou
capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio
licenciamento ambiental (BRASIL, 1981), sendo responsabilidade do CONAMA (Conselho
Nacional do Meio Ambiente) estabelecer padrões para a implantação, acompanhamento e
fiscalização do licenciamento previsto no artigo 10° da referida lei. Dessa forma, a Resolução
CONAMA n° 237, sancionada no dia 19 de dezembro de 1997, definiu as diretrizes para o
licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente causadoras de degradação ambiental,
dentre elas, citada no ANEXO I da presente resolução, a atividade de criação de animais
(CONAMA, 1997).
No estado de Santa Catarina, o licenciamento de atividades consideradas
potencialmente causadoras de degradação ambiental é definido através da Resolução
CONSEMA n° 13 de 2012, a qual define a obrigatoriedade de licenciamento para as atividades
de criação de suínos nas modalidades de terminação, unidade de produção de leitão, granja de
suínos creche e, granja de suínos em ciclo completo (CONSEMA, 2012).
Com isso, buscando atender à legislação, estabelecer critérios para a aplicação de
dejetos suínos no solo e diminuir os efeitos adversos gerados, foi sancionada em 2001 e revisada
em 2014, a IN n° 11 da FATMA, a qual tem por objetivo padronizar o processo de
licenciamento ambiental da atividade de suinocultura, definindo os documentos necessários e
também estabelecer os critérios para apresentação dos planos, programas e projetos ambientais
para implantação de atividades pertinentes à suinocultura de pequeno, médio e grande porte,
incluindo no escopo as alternativas adotadas para o tratamento de resíduos líquidos, tratamento
e disposição de resíduos sólidos, emissões atmosféricas, ruídos e outros passivos ambientais
gerados pela atividade (FATMA, 2014).

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2.4 Avaliação Econômica
A avaliação econômica de tecnologias tem sido realizada pela Embrapa desde a década
de 1980 e, representa um importante papel nas instituições que desenvolvem pesquisa, uma vez
que, os resultados destes estudos permitem um melhor planejamento estratégico e alocação
mais eficiente dos recursos.
Diferentes enfoques metodológicos já foram experimentados. Em Ávila et al. (2008), o
autor faz uma descrição cronológica das principais referências para avaliação de impactos
econômicos, sendo que entre os conceitos aplicados são citados a utilização do excedente
econômico (AMBROSI & CRUZ, 1984), também utilizou-se modelos econométricos baseados
na função de produtividade ou taxa interna de retorno (AMBROSI & CRUZ, 1984), utilização
do modelo de decomposição, baseado no uso do Índice de Produtividade Total e do sistema de
equações.
Os impactos econômicos de tecnologias agropecuárias podem ser analisados sob quatro
diferentes aspectos, quais sejam: a) Incrementos de produtividade - exemplo: a) Adoção de
novos cultivares; b) Redução de custos de produção - exemplo: uma genética de suínos substitui
outra; c) Expansão da produção em novas áreas antes impróprias - exemplo: promovida por
tecnologias adaptadas e; d) Agregação de valor - exemplo: adoção de tecnologias de
processamento (ÁVILA et al., 2008).
De acordo com o exposto em Ávila (2001); Pinheiro et al., (2001); Magalhães et al.,
(2006) e; Ávila et al., (2008), o método do excedente econômico apresenta vantagens sobre os
demais métodos porque permite uma mensuração mais clara sobre o benefício econômico
atribuído à pesquisa ou tecnologia, não exigindo longas séries anuais de dados e também pelo
fato de que os resultados obtidos refletem a atual situação da cadeia produtiva analisada.
Com o método do excedente econômico são feitas comparações entre a tecnologia de
referência (tecnologia Embrapa) e as tecnologias tradicionais ou tecnologias substitutas - com
características semelhantes e comercializadas a partir de outras empresas - possibilitando que
desta forma se visualize separadamente os ganhos financeiros atribuídos à adoção da
tecnologia.
Para desenvolvimento da avaliação dos impactos econômicos a partir do método do
excedente econômico são considerados ainda - a partir da tecnologia de referência - a sua área
de abrangência ou unidades comercializadas, os preços ofertados para a tecnologia em análise
e a média de preços ofertados para as tecnologias substitutas comparadas.

3. Procedimentos Metodológicos
3.1 Área de Estudo
Inicialmente, para definição da área de estudo, utilizou-se ferramentas de
geoprocessamento, como: Imagens de satélite, mapas e cartas topográficas objetivando
identificar o local representativo no contexto da produção de suínos. A presente pesquisa foi
desenvolvida na área de drenagem da sub-bacia do Lajeado dos Fragosos, situada no município
de Concórdia no oeste do estado de Santa Catarina, conforme Figura 01. Dentro na sub-bacia
foi selecionada uma microbacia representativa para a atividade de produção de suínos, não
sendo sua identificação e localização divulgadas devido ao sigilo quanto às informações dos
produtores, as quais compõem os dados da presente pesquisa.

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Figura 01. Localização geográfica da bacia do Lajeado dos Fragosos, Concórdia, SC.

Fonte: Epagri, Inventário de terras e diagnóstico sócio-econômico e ambiental, bacia dos


Fragosos (2000, apud SANTA CATARINA, 2006).
Segundo Belli Filho et al. (2007), a sub-bacia hidrográfica do Lajeados dos Fragosos
está situado no berço da produção de suínos em uma região de grande relevância para essa
atividade. São 9 produtores na atividade suinícola, com 155 hectares de área total dessa
Microbacia, onde somente 67 desses hectares estão disponíveis para aplicação de dejetos
líquidos dos suínos, conforme segue na Tabela01.
Tabela 01. Dados das Atividades Suinícolas em Lajeado Fragosos.

Fonte: Dreher, 2017


Após a seleção da área de estudo, realizou-se a caracterização socioambiental da
microbacia através de levantamento à campo, onde, por meio de visitas aos produtores situados
dentro da área de abrangência da microbacia foram identificadas as atividades agropecuárias
desenvolvidas em cada propriedade, sendo todas as informações obtidas de forma auto
declaratória. Através do aspecto socioeconômico, foi possível identificar os suinocultores
situados na área de estudo.

3.2 Avaliação Econômica


Para avaliação econômica desse trabalho, utilizamos a metodologia do excedente
econômico, que segue um enfoque comparativo da adoção de duas rotas tecnológicas para
gestão ambiental dos dejetos na Microbacia do Lajeado Fragosos e, busca mapear ganhos e
perdas dos investimentos feitos em ambas as situações, seus efeitos pontuais, quando o impacto
econômico se restringe a cada estabelecimento produtivo, bem como os efeitos no entorno,
quando os efeitos se fazem sentir além dos limites do estabelecimento (AVILA et al., 2005,
2006).
A metodologia compara, em caráter teórico, a denominada Rota Sólida, descrita pelo
uso compartilhado de uma unidade de compostagem mecanizada de dejetos líquidos, onde 9
produtores de suínos de Lajeado Fragosos dariam destino aos dejetos gerados em suas
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propriedades, com internalização compartilhada da solução. Em comparação com aquela rota
utilizada atualmente pela Microbacia, denominada Rota Líquida e, caracterizada pelo transporte
de dejetos líquidos oriundos da atividade suinícola e, que estejam excedendo a capacidade anual
de absorção pelos solos/lavouras das propriedades produtoras esta Bacia, definida por
externalizar a solução.
Os benefícios são calculados a partir dos ganhos gerados pela adoção das rotas
e,descontados eventuais custos adicionais, entre custos fixos e variáveis. Há dois tipos de
benefícios calculados que se enquadram da situação estudada, quais sejam: Redução de Custos
(diferencial de custos das unidades produtoras x quantidade) e; Agregação de valor (diferencial
de valor das unidades produtoras x quantidade). Sendo que a principal variável da análise é o
volume de dejetos produzido, em metros cúbicos.
O referencial temporal é uma estimativa de que os investimentos em construção civil
tenham uma vida útil de 30 anos, mas para máquinas e equipamentos, a vida útil fica estimada
em 15 anos. Com base nessas informações, dimensionamos todos os cálculos para o período
anual e classificamos os custos em fixos e variáveis, em valor presente líquido (VPL) para
ambas as rotas.

3.3 Rota Líquida e Rota Sólida


As rotas tecnológicas para gestão ambiental dos dejetos são descritas por Palhares et al.,
2016, como os possíveis caminhos para utilização dos dejetos como fertilizante, dentro e fora
das propriedades produtoras. A Rota Líquida, nesse estudo de caso, fica caracterizada pelo
transporte de dejetos líquidos oriundos da atividade suinícola e, que estejam excedendo a
capacidade anual de absorção pelos solos/ lavoura das propriedades produtoras na Microbacia
Hidrográfica do Lajeado Fragosos. Conforme descrito por Dreher, 2017, o valor estimado para
transporte dos dejetos líquidos, fica em R$18,00/ m3, com percurso médio de 4 km,
representando a retirada desse material daquela Unidade Geográfica/ Bacia Hidrográfica.
A Compostagem Mecanizada de Dejetos Líquidos – CMDL (Rota Sólida) é uma
tecnologia que foi desenvolvida para armazenar e estabilizar os dejetos provenientes da
suinocultura, sendo mais indicada para resolver o problema de granjas com grande escala
produtiva, mas com restrição de área para destino do refugo e, fica caracterizada por maquina
revolvedora que mistura maravalha ou serragem aos dejetos líquidos dos suínos, funcionando
em edificação adequada, arejada, em sistemas de leiras onde o composto estabiliza e depois fica
armazenado, com pé direito alto e muros que comportam trilhos para deslizar o equipamento,
deve possuir espaço para instalações elétricas e bombeamento dos dejetos, bem como um
sistema de drenagem e revestimento impermeabilizado para evitar infiltração no solo.
Quanto à estimativa de custos pela Rota Sólida, classificados em fixos e variáveis e,
tomando-se em conta a vida útil, o valor residual e os juros sobre o capital, temos os montantes
de R$ 14.848,00 e R$ 22.272,00 que são despesas anuais com depreciação e custo do capital
investido em construção civil e, mais os valores de R$ 4.200,00 e R$ 2.310,00 com depreciação
e custo do capital anual das máquinas e equipamentos (Tabela 02). Os custos variáveis são
relativos à mão-de-obra para manuseio das máquinas e equipamentos, hora do salário mínimo
em 2018. Soma-se aí o uso de maravalha ou serragem como material complementar ao processo
de compostagem e, o consumo de energia elétrica para operação das máquinas revolvedoras,
obtendo-se o valor total de R$ 28.813,55, com despesas variáveis. O custo total anual total fica
estimado72.443,55 mil reais para as operações com essa tecnologia, conforme descrito na
Tabela 02.

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Tabela 02. Memorial Descritivo da Compostagem Mecânica de Dejetos líquidos
Memorial Descritivo - Compostagem Mecânica de Dejetos Taxa de Custo de Capital, a.a 6% Custos Fixos (R$ a.a.)
1 - Contrução Civil/ Instalações Und Qtde Valor (R$) R$ total Vida útil (anos) VR Depreciação Custo Capital
Paredes; Telhado; Madeiras; Outros m2 928 640,00 593.920,00 30 25% 14.848,00 22.272,00
3 - Máquinas e Equipamentos Und Qtde Valor (R$) R$ total Vida útil (anos) VR Depreciação Custo Capital
Máquina Revolvedora e Acessórios 1 70.000,00 70.000,00 15 10% 4.200,00 2.310,00
Custos Variáveis (R$ a.a.)
3 - Mão-de-obra Und Qtde Valor (R$) R$ total Mão-de-obra
Manutenção e Operação Hora/ ano 730 4,34 3.168,20 3.168,20
3 - Insumos Und Qtde Valor (R$) R$ total Insumos
Serragem ou Maravalha m3 1.100 19,82 21.801,90 21.801,90
3 - Energia Und Qtde Valor (R$) R$ total Energia Elétrica
Luz / Energia Elétrica Kwh / ano 10.950 0,39 3.843,45 3.843,45
Capacidade de Processamento (m3) 11.000 ano
Custo Total 72.443,55 R$/ ano
Custo por Unidade 6,59 R$/ m3

Fonte: Embrapa e Empresas do Setor, Valor do Salário Mínimo em Sites do Governo.


4. Resultado e Discussões
Em análise comparativa das duas rotas tecnológicas, seja aquela que está em uso pela
Microbacia Hidrográfica de Lajeado Fragosos, denominada Rota Líquida, onde se pratica o
transporte dos excedentes de dejetos de cada propriedade para regiões externas a Bacia, em
contrapartida com a proposta de implementação da Rota Sólida, com instalação de uma unidade
de compostagem mecanizada de dejetos para uso comum dos produtores e internalização da
solução. Temos então os custos de R$18,00/ m3 - Rota Líquida (DREHER, 2017), confrontados
com o custo de R$ 6,59/ m3 - Rota Sólida. (Tabela 03).
Tabela 03. Coeficientes Técnicos/ Custos - Microbacia Hidrográfica do Lajeado Fragosos.

Fonte: Dreher, 2017.


Quando comparadas estas rotas, do ponto de vista econômico, pela Sólida temos um
custo variável que chega a ser quase três vezes menor que o custo variável pela rota em uso
naquela microbacia. Entretanto, a adoção de uma unidade de compostagem mecanizada de
dejetos líquidos como alternativa para redução dos custos variáveis anuais acaba por implicar
em um investimento inicial significativo de mais de 600 mil reais, Tabela 02. Neste caso, os
argumentos giram em torno do serviço ambiental prestado pela implementação dessa rota, onde
o aumento da proteção às bacias hidrográficas fica explícito,uma vez que o tratamento e
estabilização dos dejetos suinícolas excedentes implica em uma diminuição dos impactos
causados a unidade geográfica.
Além disso, conforme os cálculos desenvolvidos nesse trabalho, se compararmos os
gastos anuais praticados com o transporte de dejetos para fora daquela Bacia, mais de 190 mil
reais anuais, com os o custo variável previsto para a Rota Sólida, CMDL, de mais de 70 mil
reais ao ano, Tabela 03, temos então um tempo de retorno do investimento que fica estimado
em 5,6 anos, envolvendo gastos fixos iniciais com construção civil, máquinas e equipamentos.
Observando-se que esse tempo de retorno é baseado na redução de custos com a instalação da
compostagem mecanizada de dejetos para uso comum dos produtores, não sendo feitos até o
presente momento estudos sobre qualquer tipo de retorno econômico através da
comercialização de adubos.
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5. Conclusões
Se entendermos a complexidade da microbaciahidrográfica como uma unidade
geográfica para gestão ambiental, temos então a Rota Sólida como uma ferramenta para
atingirmos a sustentabilidade daquela Região, o que consequentemente implica em menor
vulnerabilidade aos fatores externos. A adoção dessa unidade de compostagem mecanizada,
trás ainda outros benefícios diretos e indiretos no que diz respeito à agregação de valores as
propriedades de abrangência da bacia hidrográfica, bem como nas regiões circunvizinhas, com
preservação dos solos e demais recursos naturais, reduzindo-se odores e outros agentes
contaminantes.
Quanto à geração de renda nas propriedades rurais, temos como fator indireto da
redução dos custos variáveis a partir da adoção da Rota Sólida, com a economia de R$
122.191,35 em uma distribuição temporal e proporcional entre os produtores, o que se traduz
em maior estabilização da atividade agropecuária naquela Bacia, com mais garantia de obtenção
de renda, favorecendo ainda a expansão da atividade suinícola e fixação do produtor e sua
família no meio rural. Desta forma, pelos benefícios econômicos apontados e sua caracterização
como um serviço ambiental, torna-se recomendável maiores estudos sobre a adoção dessa rota
tecnológica, CMDL, como solução para destino dos excedentes de dejetos líquidos gerados na
atividade suinícola.

6. Referências
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Centro Nacional Pesquisa de Trigo. Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, 1984. 27 p.
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CONSEMA. Resolução n. 13, de 21 de dezembro de 2012. Aprova a Listagem das Atividades
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Domínio do conhecimento e hot topics em Serviços ecossistêmicos no
agronegócio: Uma revisão cientométrica
Knowledge domain and hot topics in Ecosystem Services in Agribusiness: A
Scientometric Review
Antonio Luiz Fantinel1, Edson Talamini2, Yesica R. Flores3, Homero Dewes4

Resumo
Nos últimos anos verifica-se um despertar de preocupações voltadas aos benefícios gerados pelo meio ambiente
as atividades agrícolas e ao agronegócio. Diferentes estudiosos vêm ensejando esforços no desenvolvimento de
pesquisas nestes dois campos científicos. No entanto, poucos estudos tentaram mapear o panorama geopolítico,
intelectual e hot topics na literatura científica sobre SE no agronegócio. Dessa forma, utilizando ferramentas
cientométrica de mapeamento de conhecimento (CiteSpace), analisamos artigos e revisões indexadas entre 2000
a 2018 na base de dados da Web of Sciencie. Um total de 4.860 publicações foram obtidas durante o período
investigado. Por combinação de dados estatísticos e de mapeamento capturamos padrões de co-citação e de
colaboração entre países/territórios, instituições e de autoria. Analisamos ainda a co-citação de documentos,
trajetória disciplinar e hot topics de pesquisa em SE no agronegócio. Os resultados captam a relação existente
entre serviços ecossistêmicos (SE) e agronegócio nas diferentes variáveis analisadas, visando o desenvolvimento
de sistemas agrícolas mais sustentáveis em escala global.
Palavras-chave: Meio ambiente, Produção, Alimento, Bibliometria.

Abstract
In recent years, there has been an awakening of concerns regarding the benefits generated by the environment,
agricultural activities and agribusiness. Different scholars have been making efforts to develop research in these
two scientific fields. However, few studies have tried to map the geopolitical, intellectual and hot topics panorama
in the scientific literature on ecosystem services in agribusiness. Using scientiometric tools of knowledge mapping
(CiteSpace), we analyzed articles and reviews on ecosystem services (SE) in agribusiness indexed between 2000
and 2018 in the Web of Sciencie database. 4.860 publications were obtained during the period investigated. By
combining statistical data and mapping, we have captured patterns of Co-citation and collaboration between
countries/territories, institutions and authors through Co-citation networks. We also analyze document co-
citations, disciplinary trajectory and hot topics of research on ecosystem services (ES) in agribusiness. The results
capture the relationship between ecosystem services and agribusiness in the different variables analyzed, aiming
at the development of more sustainable agricultural systems on a global scale.
Keywords: Environment, Production, Food, Bibliometrics.

1 Introdução
No desenvolvimento da agricultura moderna os serviços ecossistêmicos (SE) são vistos
como componentes necessários para promover a produção de alimentos, fibras e combustíveis
de maneiras econômica (COSTANZA et al. 1997; POWER, 2010; SANDHU et al. 2010; VAN
BERKEL et al. 2014).
No entanto, apesar do comprometimento de inúmeros pesquisadores trata-se de um
assunto relativamente recente e de grande importância para a sociedade em geral, é necessário
revermos e analisarmos o panorama intelectual e de tendências emergentes na literatura
científica de SE no agronegócio de forma oportuna e precisa. O presente estudo, de caráter
cientométrico, pretende responder várias questões-chave: Quais são os países/territórios,
instituições, e autores mais profícuos e colaborativos na literatura sobre SE no agronegócio?
Como as pesquisas evoluíram nos últimos anos? E quais são os hot topics de pesquisa?
Dessa forma, tendo o objetivo pautado em analisar o panorama geopolítico, intelectual
e de hot topics em SE no agronegócio pretende-se fornecer uma perspectiva útil com

1Tecnólogo em Agronegócio- UFRGS- tonifantinel@gmail.com


2 Engenharia Econômica- UFRGS- edson.talamini@ufrgs.br
3Tecnologia em Geoprocessamento – UFSM - yeyiramiflo@hotmail.com
4 Farmácia- UFRGS- hdewes@ufrgs.br

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informações relevantes para o desenvolvimento de novas pesquisas e projetos no campo
científico analisado.

2 Referencial teórico
Serviços ecossistêmicos podem ser definidos como condições e processos pelos quais
os ecossistemas naturais e as espécies que os compõem, sustentam e realizam a vida humana
(DAILY, 997). Esses serviços da natureza suportam a vida na Terra através de uma ampla gama
de processos e funções (DAILY, 1997). Podem ser divididos em serviços de fornecimento,
apoio, cultura e regulação (MILLENNIU ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005).
Nos últimos anos, em função do importante papel dos SE no agronegócio, ocorreu um
despertar de preocupações nos círculos acadêmicos. Onde, diferentes especialistas e estudiosos
analisaram focos temáticos para esses dois campos sob diferentes perspectivas. Algumas das
pesquisas desenvolvidas estão relacionadas à SE e DSE na produção agrícola (ZHANG et al.
2007), pagamentos por SE (SWINTON et al. 2007; ENGEL et al. 2008; KROEGER; CASEY,
2008; POWER, 2010), valoração de serviços ambientais (VAN BERKEL; VERBURG, 2014;
DOMINATI et al. 2014; MELATHOPOULOS et al. 2015), modelagem de oferta de SE
(ANTLE; VALDIVIA, 2006), identificação de indicadores (DALE; POLASKY, 2007),
segurança alimentar (TSCHARNTKE et al. 2012; BOMMARCO; KLEIJN; POTTS POPPY
2013) e mapeamento de SE (NAIDOO et al. 2008; BURKHARD; MAES, 2017).

3 Metodologia de pesquisa
3.1 Coleta dos dados
Foram coletados na Web of Sciencie - Clarivate Analytics artigos e revisões que
continham os termos ecosystem services and agribusiness. Todavia, é de consenso que os
autores que trabalham na área científica não usam apenas as palavras-chave citadas. Para
alcançarmos praticamente todo o escore de publicações relacionada ao tema foco foi realizado
uma expansão léxica (Mogoutov, 2007), permitindo resgatar o maior número de publicações
possíveis. Adotamos assim a seguinte estrutura de recuperação avançada: TS = ("ecosystem
services" OR "ecological systems" OR "natural services") AND (agric* OR agribusiness). O
idioma de recuperação foi definido como "Inglês" e o período de recuperação foi definido entre
janeiro de 2000 a julho de 2018 (o período de recuperação foi 31 de julho de 2018). Operadores
booleanos e de proximidade foram utilizados. A consulta resultou em 4.860 documentos
originais (4.332 artigos e 528 revisões). Cada registro bibliográfico contém os metadados de
um artigo publicado, incluindo o título, o resumo, uma lista de autores, um conjunto de
palavras-chave e referências citadas.

3.2 Análise dos dados


As análises de co-citação foram conduzidas usando o aplicativo CiteSpace (Chen, 2004;
2006; Chen et al. 2010). Este artigo centrou-se em quatro análises cientométrica: a) Análise co-
autor: países, instituições e autores mais profícuos e colaborativos foram identificados; b)
Análise de Co-Word-burst: na análise de co-citação de palavras-chave aplicamos o conceito de
detecção de rajadas (Chen, 2008; Wang et al. 2018), objetivando identificar os hot topics em
SE no agronegócio ; c) Análise de co-citação de documentos: Os documentos científicos
altamente citados no campo cientifico com base na análise da rede de co-citação foram
identificados; d) Dual-Map Overlays: a análise da trajetória disciplinar pela função Dual-Map
Overlays, é usada para identificar a evolução disciplinar e tendências emergentes (Chen;
Leydesdorff, 2014).
Como métrica, as 100 referências mais citadas de cada ano foram selecionadas para
mapear a rede de co-citação. Cada nó no mapa respectivo representa um indivíduo
correspondente. Nó com explosões de citação exibem círculos vermelhos. Nó com bordas roxas

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são pontos de alta centralidade de separação (≥0,1). As Linhas entre os nós são chamadas de
links de co-citação. Os links de ligação apresentam cores diferentes conforme o tempo de
conexão. Cores azuis indicam conexões primarias, enquanto as cores mais quentes indicam
conexões recentes. A qualidade da rede de co-citação dos documentos foi medida pela
pontuação Q de modularidade, variando de 0 a 1. Quanto mais perto de 1 mais estruturada estará
à rede. A homogeneidade dos clusters foi medida pelo escore de silhueta, variando de −1 a 1.
Escore de silhueta próximo a 1, corresponde a um grupo altamente distinto em comparação aos
outros grupos da rede (Chen, 2004; 2006; Chen et al. 2010).

4 Resultados
4.1 Análise da produção científica
A busca resultou em 4.860 publicações entre janeiro de 2000 a julho de 2018 sobre SE
no agronegócio. A figura 1 apresenta o crescimento dessas publicações durante o período
analisado (2000-2018). O ano de 2018 apresenta menor número de publicações em virtude do
período de busca (31 de julho). A produção científica foi acompanhada por um aumento
substancial no número de citações (linha vermelha) no mesmo período, em torno de 105 mil
citações no acumulado até 2018 (Figura 1), comprovando a importância da temática dentro do
contexto científico mundial para o campo analisado.
Figura 1- Distribuição de publicações e citações sobre SE no agronegócio entre 2000 a 2018.
1000

100000

Número de citações (acumulado)


800
Número de publicações

80000

600
60000

400
40000

200
20000

0 0
2000 2005 2010 2015

Período de publicação

4.2 Análise de redes de co-citação de países colaborativos


O mapa de co-citação dos principais países é apresentado na Figura 2. As publicações
sobre SE no agronegócio foram realizadas por 145 países, gerando 1.202 links de conexão com
Q de modularidade de 0.2584 e uma média de silhueta de 0.2513. Como o valor Q da rede está
abaixo da média, os nós dentro da rede são densamente compactados, sugerindo que as
especialidades no mapeamento científico não são claramente definidas (Chen, 2004; 2006;
Chen et al. 2010). Os Estados Unidos da América, com 1.664 publicações, seguido pela
Inglaterra (656 publicações), Alemanha (606 publicações), Austrália (450 publicações) e
França com 396 publicações são os países mais profícuos em publicações sobre SE no
agronegócio. Em relação à pesquisa colaborativa, países como Austrália, Espanha, Escócia,
Bélgica e França apresentam maiores colaborações internacionais.

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Figura 2. Mapa de co-citação e redes de cooperação dos principais países em SE no agronegócio.

Fonte: Autores (2018)


4.3. Análise de redes de co-citação de instituições colaborativas
O mapa de co-citação das quinze principais instituições é apresentado na figura 3. As
publicações em SE no agronegócio foram realizadas por 940 instituições, gerando 4.113 links
de conexão com Q de modularidade de 0.5853 e uma média de silhueta de 0.3583. A
Universidade de Wageningen com 149 publicações, seguida da Academia Chinesa de Ciências
(141 publicações), Instituto Nacional da Pesquisa Agronômica (INRA) (136 publicações),
Universidade do Estado de Michigan (112 publicações), e a Universidade Sueca de Ciências
Agrárias com 108 publicações são as mais profícuas. Em relação à pesquisa colaborativa, a
Instituto Nacional da Pesquisa Agronômica (INRA), Universidade da California- Berkeley,
Universidade de Göttingen, Universidade de Reading e Universidade de Queensland são as
instituições mais colaborativas.
Figura 3. Mapa de co-citação e redes de cooperação das principais instituições em SE no agronegócio.

Fonte: Autores (2018).


4.4 Análise da rede de co-citações entre autores
O mapa de co-citação dos principais autores é apresentado na Figura 4a. As publicações
sobre SE no agronegócio têm autoria de 4.890 pesquisadores, gerando 12.127 links de conexão,
com Q modularidade de 0.9389 e uma média de silhueta de 0.4827. Como o valor Q da rede
elevado, os nós dentro da rede são claramente definidos. Teja Tscharntke da Georg-August-
University com 51 publicações é o mais profícuo entre os pesquisadores identificados, seguido
por Peter H. Verburg da University Amsterdam com 49 publicações, Claire Kremen da
University of California, Berkeley com 42 publicações, Ingolf Steffan-Dewenter da University
of Wuerzburg, com 38 publicações e Riccardo Bommarco da Swedish University of
Agricultural Sciences (SLU), com 30 publicações (Tabela 1).

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Sete clusters semânticos foram identificados no agrupamento de co-autoria do corpus
indexado (Figura 4b). Esses clusters são rotulados por termos de índice de seus próprios
citadores e foram ponderados por TF*IDF (Chen et al. 2010).
Figura 4. Mapa de co-autoria de co-citação e redes de cooperação em SE no agronegócio.

Fonte: Autores (2018)


O maior cluster (#0) de conhecimento contém 219 membros, rotulado como effects
(Tabela 2). As publicações ocorreram por volta de 2010. O valor da silhueta do cluster foi de
0.851, indicando consistência razoável entre os artigos citados no cluster. O artigo de referência
é de Geiger et al. (2010). Os autores investigaram os Efeitos negativos persistentes de pesticidas
sobre a biodiversidade e potencial de controle biológico em terras agrícolas Europeias. O cluster
#4 é o mais recente, com publicações por volta de 2013. O cluster é rotulado como ecosystem
services. Contém 99 membros, com valor da silhueta de 0.962. O artigo de referência é de
Lindborg et al. (2008). Os autores discutiram uma perspectiva de paisagem versus uma
perspectiva de “único objeto” ao conservar pastagens seminaturais em paisagens agrícolas. O
foco do trabalho está nos valores da biodiversidade e patrimônio cultural.
Tabela 1. Distribuição de frequência dos principais autores em SE no agronegócio.
Autor Instituição Frequência Cluster
Tscharntke T Georg-August-University 51 2
Verburg Ph Verburg da University Amsterdam 49 1
Kremen C University of California, Berkeley 42 0
Steffan-Dewenter I University of Wuerzburg 38 0
Bommarco R SLU 30 0

Tabela 2. Resumo dos maiores clusters em SE no agronegócio.


Cluster Tamanho Silhueta TF-IDF Citação Ano Citação de referência
0 219 0.851 effects 2010 Geiger et al. 2010
1 168 0.952 ecosystem services 2010 Helming et al. 2011
2 162 0.885 China 2010 Clough et al. 2011
3 102 0.926 ecosystem services 2012 Dearing et al. 2012
4 99 0.926 ecosystem services 2013 Lindborg et al. 2008
5 96 0.934 ecosystem services 2009 Tilman et al. 2001
6 92 0.984 implications 2009 Bowman et al. 2010
7 85 0.952 biodiversity 2011 Maron et al. 2012
4.5 Análise de co-citações de documentos
A tabela 3 descreve os 5 documentos científicos altamente citados no campo de SE no
agronegócio com base na análise da rede de co-citação. Muitos desses artigos são familiares
aos pesquisadores da área científica relacionada, qualquer que seja sua especialidade ou atenção
metodológica. O documento mais citado está relacionado a sustentabilidade agrícola e práticas
de produção intensiva (TILMAN et al. 2002), seguido de previsão de mudanças ambientais
(TILMAN et al. 2001), efeitos negativos e positivos do uso da terra agrícola para a conservação
da biodiversidade e sua relação com os serviços ecossistêmicos (TSCHARNTKE et al. 2005),
uso de ferramentas de modelagem para prever mudanças nos serviços ecossistêmicos,

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conservação da biodiversidade e níveis de produção de commodities (NELSON et al. 2009),
abastecimento de serviços ecossistêmicos e vulnerabilidade à mudança global na Europa
(SCHRÖTER et al. 2005).
Tabela 3. Documentos científicos mais citados em SE no agronegócio.
Citações Autores Titulo
2414 Tilman et al. 2002 Agricultural sustainability and intensive production practices
1597 Tilman et al. 2001 Forecasting agriculturally driven global environmental change
1593 Tscharntke et al. 2005 Landscape perspectives on agricultural intensification and
biodiversity - ecosystem service management
884 Nelson et al. 2009 Modeling multiple ecosystem services, biodiversity conservation,
commodity production, and tradeoffs at landscape scales
799 Schroter et al. 2005 Ecosystem service supply and vulnerability to global change in
Europe
3.6 Mudanças na base de conhecimento
Neste artigo, usamos a função Dual-Map Overlays. Dual-Map é um mapa sobreposto
gerado pelo CiteSpace (Chen; Leydesdorff, 2014). À esquerda de cada mapa gerado podemos
ver quais disciplinas estão ativamente envolvidas no desenvolvimento científico do campo
analisado, sendo consideradas fronteiras de pesquisa. Enquanto isso, o lado direito reflete a
base intelectual do conhecimento científico, ou seja, as referências citadas. Os links de citação
começam da esquerda para direita e são agrupados usando a função z-score no CiteSpace (Chen,
2018).
A dupla sobreposição de mapas (Figura 5) indicou que a maioria dos artigos sobre SE
no agronegócio foram publicadas nas áreas de ecologia, terra e marinha (azul) e citaram
principalmente revistas da área de plantas, ecologia, zoologia, seguido de terra, geologia e
geofísica e também pelas áreas da economia e política. O segundo cluster em tamanho está
relacionado às áreas de ciência animal e veterinária (amarelo) e citam principalmente periódicos
das áreas de plantas, ecologia, zoologia. Ocorrem também a participação de outras áreas do
conhecimento, todavia, em menor expressão. As elipses presentes na Figura 5 são os clusters
de periódicos e seu tamanho corresponde para cada uma das áreas disciplinares em SE no
agronegócio.
Figura 5. Dual-Map Overlays para SE no agronegócio.

Fonte: Autores (2018)

4.7 Hot topics em serviços ecossistêmicos no agronegócio


Entre as 112 principais palavras-chave com a maior força burst detectadas nas
publicações sobre SE no agronegócio, estamos particularmente interessados nas 50 palavras
com maior explosão (Figura 6). A linha de cor azul representa o período de tempo analisado
(2000 a 2018) e a linha vermelha indica o ano inicial e o ano final da duração da rajada de
citação. As palavras-chave com explosões de citação aqui apontadas representam hot topics
relevantes em SE no agronegócio. Com especial atenção para: mudança de cobertura de solo,
sequestro, emissão de gases de efeito estufa, avaliação do ciclo de vida, erosão do solo,

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culturas de cobertura, meios de subsistência, agroecologia, trade off, bacia hidrográfica e
urbanização.
Figura. 6. Palavras-chave com rajada de citações relacionada a SE no agronegócio.

Fonte: Autores (2018)


5 Discussão
Embora este estudo não seja uma análise exaustiva de toda a literatura relacionada a SE
no agronegócio, dado a utilização de uma única base de dados. Oferece um resumo quantitativo
do panorama intelectual e de tendências emergentes na literatura científica. Aliado ao uso de
técnicas cientométrica para explorar domínios de conhecimento e conexões dentro do campo
científico.
Os resultados detalham o rápido crescimento das publicações em SE no agronegócio,
principalmente entre 2007 a 2017. Essas publicações foram realizadas principalmente por
países como USA, Inglaterra, Alemanha e França. Os resultados também demostraram os países
com maiores colaborações internacionais, com destaque para: Austrália, Espanha, Escócia,
Bélgica e França.
Observando a colaboração entre países verificamos que essa reflete diretamente na
cooperação entre instituições de ensino e pesquisa. Instituições como a Universidade de
Wageningen, Academia Chinesa de Ciências, Instituto Nacional da Pesquisa Agronômica
(INRA), Universidade do Estado de Michigan e a Universidade Sueca de Ciências Agrárias são
as mais profícuas e exibem maior cooperação com outras instituições. Os principais estudiosos
influentes e colaborativos neste campo foram identificados, com destaque para Teja Tscharntke,
Peter H. Verburg, Claire Kremen, Ingolf Steffan-Dewenter e Riccardo Bommarco.
O estudo cientométrico também revelou padrões dependentes de domínio por meio de
co-citação de documentos. Artigos referentes aos primeiros anos do campo científico tiveram
uma forte onda de citações em pesquisas recentes. Esses apresentam relação direta com o
desenvolvimento atual apontado como hot topics. Em particular, a pesquisa sobre
sustentabilidade agrícola e práticas de produção intensiva (TILMAN et al. 2012), previsão de
mudanças ambientais globais conduzidas por agricultores (TILMAN et al. 2001), efeitos
negativos e positivos do uso da terra agrícola para a conservação da biodiversidade e sua relação
com os serviços ecossistêmicos (TSCHARNTKE et al. 2005), uso de ferramentas de
modelagem para prever mudanças nos serviços ecossistêmicos, conservação da biodiversidade
e níveis de produção de commodities (NELSON et al. 2009), e abastecimento de serviços
ecossistêmicos e vulnerabilidade à mudança global na Europa (SCHRÖTER et al. 2005) são as
pesquisas com elevado número de citações.
Com a utilização da ferramenta Dual-Map Overlays permitiu-nos entender a natureza
interdisciplinar que envolve a pesquisa sobre SE no agronegócio ao longo do tempo,

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determinando possíveis mudanças disciplinares no campo científico. O hot topics emergentes
em serviços ecossistêmicos no agronegócio foram verificados. Com base na Figura 6, podemos
apontar como principais hot topics em serviços ecossistêmicos no agronegócio pesquisas que
envolvem mudança de cobertura de solo, sequestro de carbono, emissão de gases de efeito
estufa na produção agrícola, avaliação do ciclo de vida, métodos de mitigação de erosão do
solo, culturas de cobertura, meios de subsistência local, agroecologia, trade off em serviços
ecossistêmicos, conservação e restauração de bacia hidrográfica e os efeitos da urbanização nos
serviços ecossistêmicos locais.

6 Conclusão
Com o auxílio do software CiteSpace descobrimos que o conhecimento em SE no
agronegócio é desenvolvido por inúmeros países, instituições e pesquisadores engajados no
tema, tendo como principal força motriz da pesquisa os Estados Unidos da América.
Nossos dados também oferecem informações valiosas para uma compreensão
aprofundada do campo de pesquisa e dos hot topics emergentes em SE no agronegócio,
fornecendo subsídios quantitativos relevantes para pesquisadores, profissionais e organizações
governamentais no campo científico analisado.
Embora tenhamos realizado uma análise cientométrica eficaz usando CiteSpace,
sugerimos a ampliação dessa análise, incluído co-citação de periódicos e análise de categorias
de conhecimento, assim será possível correlacionar com os dados de Dual-Map Overlay e
avaliar a evolução disciplinar de uma forma mais abrangente e conclusiva. Outra questão é a
inclusão de agências de fomento para sabermos quem paga e quais os interesses dos que
incentivam as pesquisas no campo científico sobre SE no agronegócio.

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Eficiência energética do sistema plantio direto
Energy efficiency of no-till system
Marco Siegmundo Goldmeier1, Luiz Clóvis Belarmino2, Edson Talamini3

Resumo
A energia é fundamental para o crescimento econômico e um componente crítico na capacidade do setor
agroalimentar em melhorar a produtividade, competitividade e sustentabilidade. Melhorar sua eficiência de uso é
essencial, tanto para redução das emissões de gases de efeito estufa, promover segurança energética e alimentar.
O uso de plantio direto possui várias vantagens, dentre elas promover serviços ecossistêmicos, essenciais para a
manutenção do equilíbrio ecológico. Para avaliar a eficiência de uso da energia pelo sistema plantio direto, versus
outros sistemas de cultivo, principalmente o convencional, realizou-se uma revisão sistêmica. De um universo de
127 artigos encontrados, foram selecionados 44 para a composição deste trabalho. É possível observar que houve
aumento no número de publicações relacionadas ao tema nos últimos anos. O sistema plantio direto apresentou
eficiência energética superior, se comparado ao sistema convencional, além de apresentar uma série de outros
benefícios, como diminuir a perda de água do solo por evaporação e melhoria nos níveis de fertilidade ao longo
do tempo.
Palavras-chave: agricultura, balanço energético, serviços ecossistêmicos.

Abstract
Energy is critical to economic growth and a critical component in the agro-food sector's ability to improve
productivity, competitiveness and sustainability. Improving its use efficiency is essential, both for reducing
greenhouse gas emissions, promoting energy and food security. The use of no-tillage has several advantages,
among them to promote ecosystem services, essential for maintaining the ecological balance. In order to evaluate
the efficiency of energy use by no-tillage system, versus other cropping systems, mainly conventional, a systemic
review was performed. From a universe of 127 articles found, 44 were selected for the composition of this work.
It is possible to observe that there has been an increase in the number of publications related to the theme in recent
years. The no-tillage system presented superior energy efficiency when compared to the conventional system,
besides presenting a series of other benefits, such as decrease loss of soil water by evaporation and improve soil
fertility levels over time.

Keywords: agriculture, energy balance, ecosystem services

1 Introdução
A imperiosa necessidade da agricultura sustentável e do uso eficiente da energia, entre
outras motivações, surgiu da percepção de se interromper o comprometimento da qualidade de
vida das gerações futuras e, ao mesmo tempo, proporcionar ganhos econômicos que permitam
a preservação do meio ambiente e a diminuição do uso de recursos fósseis (KRAATZ, 2012).
O emprego da energia na agricultura ocorre em todas as fases de produção, desde a formulação
e aplicação de produtos fitossanitários, até abastecimento dos tratores que fazem a semeadura
e das colhedoras combinadas que realizam a colheita, e no transporte interno e externo à
propriedade, além do uso de motores de irrigação ou refrigeração e na eletricidade em
instalações da pecuária (LEVINE, 2012).
Neste sentido, entre as limitações do modelo de produção agrícola atual, focado
basicamente em produtividade e rentabilidade, está a alta dependência de materiais e
combustíveis fósseis, os quais possuem disponibilidade finita e geram grave poluição. Com a
previsão de esgotamento das fontes tradicionais de materiais e energia, estima-se expressiva
elevação nos preços destas fontes nas próximas décadas. Logo, será necessário buscar fontes
renováveis, sobretudo aproveitar a energia disponibilizada pelo sol, vento e de biomassa. Além

1
Engenheiro Agrônomo/Universidade Federal do Rio Grande do Sul – marcogoldmeier@yahoo.com.br
2
Mestre em Economia Aplicada/Embrapa Clima Temperado – luiz.belarmino@embrapa.br
3
Doutor em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul – edson.talamini@ufrgs.br

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disso, há que se considerar que a energia tende a se degradar nos processos de utilização,
transformando-se de formas úteis em não úteis.
Recentemente, uma das tecnologias mais utilizadas pela agricultura brasileira é a prática
do plantio direto, que foi amplamente difundida devido aos ganhos econômicos diretos,
indiretos e benefícios ecossistêmicos. Além de reter e prover água da chuva no solo e para
cultivos e criações, o plantio direto também realiza o sequestro de carbono e promove a
conservação, estrutura e fertilidade do solo, os quais são considerados serviços ecossistêmicos
essenciais na compatibilização da atividade agrícola com meio ambiente (POWER, 2010).
Além de vários ganhos ambientais diretos pela utilização do plantio direto, podem ocorrer
também ganhos indiretos, como o uso mais eficiente da energia e um menor consumo de
materiais não renováveis. O presente artigo tem como objetivo analisar se a prática de plantio
direto é mais eficiente, quanto ao uso da energia, quando comparado a sistemas de cultivo
convencionais.

2 Referencial teórico-analítico
A matriz energética mundial está baseada no consumo de combustíveis fósseis, ou
também chamados de não renováveis. Em 2015, o petróleo foi responsável por quase 33% do
consumo primário de energia, seguido pelo carvão e o gás natural, com 29,2% e 23,85%,
respectivamente (WORLD ENERGY COUNCIL, 2016). Juntos, estes três tipos de energia
representam 86% do consumo primário mundial de energia. Ao se comparar o período atual
com o ano de 1500, se observa que a população humana aumentou 14 vezes, a produção
aumentou 240 vezes e o consumo de energia aumentou 115 vezes (HARARI, 2017).
A mecanização da agricultura e a utilização de fertilizantes químicos é uma solução
momentânea, porém em longo prazo se torna antieconômica, pois o homem possui dependência
cada vez maior de fontes de baixa entropia cada vez mais escassa (GEORGESCU-ROEGEN,
2012). Addiscott (1995) sugere que a produção mínima de entropia deve ser um critério de
sustentabilidade, ou seja, os sistemas agrícolas devem se tornar estados estáveis e que a
manutenção do potencial biológico é essencial.
Nas últimas quatro décadas, as ferramentas de Contabilidade Ambiental foram
desenvolvidas para conceituar e quantificar os efeitos diretos e indiretos da atividade humana
sobre o meio ambiente, para permitir aos decisores acompanhar e medir o progresso em direção
aos resultados e metas de sustentabilidade (Patterson et al., 2017). Uma das metodologias é
Análise do Fluxo de Energia, ou também denominada balanço energético (Figura 1). Campos
e Campos (2004), em seu trabalho sobre a importância do uso da metodologia de balanço
energético destacaram a carência de trabalhos realizados no Brasil que contribuam na
composição de matrizes energéticas e construção de coeficientes energéticos mais específicos
e a consideram uma ferramenta essencial para a avaliação da sustentabilidade dos ecossistemas.
Figura 1: Representação simbólica do balanço energético.

Fonte: elaborado pelos autores/Google imagens.

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Na Análise de Fluxo de Energia (Energy Flow Analysis) todos os insumos empregados
na produção e os produtos gerados no processo são transformados para uma unidade comum
(Joule). Para a produção agrícola ser sustentável o balanço deve ser superior a 1, ou seja, para
cada 1 Joule utilizado, deve-se gerar um valor superior.

3 Procedimentos metodológicos
A artigo pode ser classificado como revisão sistemática, classificada como uma
avaliação estruturada da literatura com o objetivo de responder uma pergunta específica através
de uma síntese com as melhores evidências (ZUMSTEG et al., 2012). O artigo segue as
recomendações e a realização de checklist pelo Protocolo de Prisma para revisões sistemáticas
(MOHER et al., 2009). A base de dados escolhida foi Scopus, considerado o maior banco de
dados de resumos e citações da literatura com revisão por pares (ELSEVIER, 2018). Como
critério para a busca de artigos relacionados ao tema proposto, foram inseridas as palavras
energy AND efficiency no primeiro campo e no-till* OR “direct* seed*” no segundo campo,
para classificar trabalhos relacionados ao uso da técnica de plantio direto. Todos termos de
busca poderiam ocorrer no título, no resumo ou nas palavras-chave e somente os trabalhos em
formato de artigo foram selecionados. Nesta etapa foram encontrados 127 trabalhos. Após a
leitura do título e do resumo de cada artigo, e análise crítica de alinhamento com os objetivos
propostos pelo presente trabalho, foram selecionados 44 artigos para compor a revisão
sistemática.

4 Resultados e discussão
Apesar do tema não ser novo na academia, é possível observar que publicações com
este objetivo estão ganhando relevância nos últimos anos (Figura 2). Dos artigos selecionados,
10 foram publicados em 2017, ano com maior número de publicações na série temporal
considerada. Ao analisar o país de origem das publicações selecionadas, nota-se que Índia e
Estados Unidos possuem oito publicações, seguido pelo Brasil e Irã, com seis e quatro
trabalhos, respectivamente. China, Alemanha, Itália, Romênia e Turquia apresentam três
trabalhos. Estima-se que a maior difusão desta prática ocorreu nas Américas, sendo que países
da América Latina desenvolveram 14 milhões de hectares sem o auxílio de subsídios (Derpsch,
1998).
Figura 2: Evolução temporal dos artigos sobre eficiência energética no sistema plantio direto
10

Fonte: resultados da pesquisa.


As palavras-chave com maior frequência foram Energy Efficiency, Zea Mays e
Agriculture, pois apareceram 21, 14 e 12 vezes, respectivamente. Quando se refere à área de
estudo, é possível observar que 38,2% se enquadram em Agricultura e Ciências Biológicas,
seguido por Ciências Ambientas e Energia, com 19,7% e 13,2%, respectivamente.

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Análise input/output é uma importante ferramenta de análise de sustentabilidade da
agricultura (Moseley& Jordan, 2001). Pode ser usada tanto para fins de mensuração do balanço
energético e para produção de alimentos quanto para bioenergia. Gelfand et al. (2010),
compararam o balanço energético para a produção de alimentos e combustível através do
cultivo convencional e plantio direto. Os autores encontraram um balanço energético (relação
outputs/inputs) de 10 e 16 no cultivo convencional e plantio direto para a produção de
alimentos, respectivamente, e 7 e 11 para a produção de biocombustível. Gorzelany et al. (2018)
compararam 16 sistemas de cultivo de beterraba açucareira na Polônia e observaram que a
energia requerida para implementar 1 hectare variou de 21.675 MJ no sistema plantio direto
frente à 34.395 MJ no sistema convencional. Os principais resultados de alguns estudos
selecionados podem ser encontrados na tabela 1. Joule (J) é a medida tradicionalmente utilizada
para medir trabalho (energia mecânica) e também energia térmica (calor), sendo que no Sistema
Internacional de Unidades todo o trabalho ou energia são medidos em joules.
Tabela 1 – Principais resultados encontrados em alguns estudos selecionados
Fonte Cultura(s) País Conclusão
Yadav et al. O sistema plantio direto consumiu 16.727 MJ por hectare, versus 27.630 MJ
Arroz China
(2018) no sistema convencional.
Ao comparar 16 sistemas de cultivo, observou-se que a energia requerida para
Gorzelany Beterraba
Polônia implementar 1 hectare foi de 21.675 MJ no sistema de plantio direto e 34.395
et al. (2018) açucareira
MJ no sistema convencional.
Girassol, Em um experimento de longo prazo realizado na Argentina, observou-se que
Fernández
milho, soja Argentina a produção de grãos foi 13% superior no plantio direto, frente ao convencional,
et al. (2017)
e trigo além de incrementar matéria orgânica em 6%.
Após dois anos de estudo, se observou que o consórcio de trigo e milho
Hu et al. Trigo e produziu 1,6 tonelada por hectare a mais de grãos e 7,1 MJ/hectare de energia,
China
(2017) milho além de emitir 1,2 t./hectare a menos de CO2, se comparado com o cultivo no
sistema convencional.
O sistema plantio direto apresentou a maior produtividade energética, ou 0,136
Najafabadi kg/MJ. O consumo energético foi de 2,52, 3,18 e 4,32 GJ/hectare, para o
Trigo Irã
(2017) sistema de plantio direto, cultivo mínimo e cultivo convencional,
respectivamente.
Singh et al. O sistema de plantio direto apresentou um consumo energético 33% inferior
Arroz Índia
(2016) se comparado com o sistema convencional.
O sistema de plantio direto de arroz foi o mais eficiente, com balanço
Mandal et
Arroz Índia energético de 11 se comparado com o transplante mecanizado, que apresentou
al. (2015)
balanço energético de 8,6.
Sarauskis et
Milho Lituânia O melhor balanço energético foi encontrado no sistema plantio direto (14).
al. (2014)
O balanço energético de grãos foi 7,4 em sistemas de plantio direto e 5,8 em
Maia e Sá et Arroz, soja
Brasil preparo convencional, onde o uso de combustíveis impactou diretamente neste
al. (2013) e trigo
último sistema.
Foi encontrado um balanço energético de 10 e 16 no cultivo convencional e
Gelfand et Milho, soja Estados plantio direto, respectivamente, para produção de alimentos e 7 e 11 para a
al. (2010) e trigo Unidos produção de biocombustível, para o sistema convencional e plantio direto,
respectivamente.
O sistema plantio direto apresentou um custo energético de 52,72% do sistema
Fernandes et
Milho Brasil convencional, o que ocasionou uma economia de 1.216,51 MJ por hectare, ou
al. (2008)
25,45 L de diesel.
Yalcin &
O método convencional apresentou consumo de combustível sete vezes
Cakir Milho Turquia
superior comparado ao sistema de semeadura direta.
(2006)
Fonte: resultados da pesquisa.
Sistemas de plantio direto geralmente apresentam maior conversão e balanço energético
superior, se comparado com cultivo mínimo e convencional (SINGH et al., 2015; MARQUES
et al., 2015; RUSU, 2014; FERREIRA et al., 2014; HERNANZ et al., 2014; SORENSEN et
al., 2014; MORARU & RUSU, 2013; DOS SANTOS et al., 2007). Em experimento de longo
prazo realizado na Argentina, observou-se que a produção de grãos foi 13% superior no sistema
utilizando plantio direto, se comparado com o sistema convencional, além de incrementar
matéria orgânica em 6%, desde 1993 (FERNÁNDEZ et al., 2017). No Brasil, foram avaliadas

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diferentes plantas de cobertura de inverno, sob dois manejos do solo distintos, e o sistema de
plantio direto apresentou menor uso de insumos, maior produção, energia líquida e eficiência
energética superiores, se comparado com o sistema que usou escarificação a cada dois anos
(MÜLLER et al., 2017).
A cultura com maior área plantada em 2016 foi o trigo no mundo, com cerca de 220
milhões de hectares (FAOSTAT, 2018). Para a manutenção das altas taxas de produtividade e
realização de tratos culturas, o trigo também é altamente dependente de fertilizantes sintéticos
e combustíveis fósseis. Lu et al. (2018), ao analisar três preparos distintos do solo (arado
escarificador, arado de aivecas e semeadura direta) para o cultivo de trigo de inverno na China,
através do balanço energético, concluíram que o sistema de semeadura direta apresentou a
melhor eficiência de uso de energia. As proporções mais altas de inputs decorreram de
fertilizantes nitrogenados e óleo diesel (LU et al., 2018).
Sowinski & Wojciechowski (2018) analisaram a eficiência de uso de Nitrogênio pelo
trigo na Polônia e ao comparar o cultivo convencional com plantio direto sobre restos culturais
de leguminosas, observaram que a maior eficiência de uso de N pelas plantas foi no método
tradicional. Apesar da grande participação de fertilizantes nitrogenados, é necessária a visão
sistêmica do processo. Hu et al. (2017) avaliaram os resultados do cultivo consorciado de trigo
e milho na China e, após dois anos, observaram que esse sistema de cultivo produziu 1,6
tonelada/hectare a mais de grãos e 7,1 MJ/hectare de energia através do uso de plantio direto,
frente ao sistema convencional. A semeadura direta ainda permitiu reduzir as emissões de 1,2
toneladas de CO2 por hectare, além de reduzir a evapotranspiração em 11% (HU et al., 2017).
Kumar et al. (2017) compararam cinco genótipos de trigo através da semeadura direta e o
sistema convencional na Índia, onde observaram que o primeiro método apresentou balanço
energético superior (8,43), além de apresentar outros benefícios na produtividade e
rentabilidade.
O consumo energético médio de um hectare de trigo foi de 30.000 MJ no Irã, com
majoritária participação de fertilizantes, óleo diesel, água e sementes (HOUSHYAR &
GRUNDMANN, 2017). Najafabaldi (2017) comparou a semeadura direta, cultivo mínimo e
convencional de cultivo de trigo no Irã, quando observou que o consumo energético de cada
sistema foram de 2,52, 3,18 e 4,32 GJ/hectare, respectivamente. O sistema de semeadura direta
apresentou a maior produtividade energética, 0,136 kg de trigo/MJ. Taner et al. (2016)
encontraram resultados semelhantes na Turquia ao analisar os diferentes sistemas de cultivo,
pois neste caso a semeadura direta apresentou eficiência energética duas vezes superior se
comparado com o sistema convencional. A maior produtividade foi obtida com semeadura
direta (86,73 kg/GJ) e no sistema trigo/pousio (94,4 kg/GJ) (TANER et al., 2016). Servadio et
al. (2016) observaram que o consumo de combustível foi significativamente menor em
semeadura direta de trigo na Itália (0,52 GJ/ha), se comparado com o sistema convencional
(2,30 GJ/ha). O sistema de semeadura direta apresentou uma redução de produtividade de 9%
frente ao sistema convencional, porém a redução no custo de produção foi de 16% (SERVADIO
et al., 2016).
O arroz foi responsável em 2016 pela terceira maior área plantada e também a terceira
maior produção, com cerca de 740 milhões de toneladas (FAOSTAT, 2018). O maior número
de publicações relacionadas à mensuração da eficiência energética na cultura do arroz no
presente artigo é desenvolvido na Índia, o segundo maior produtor mundial, com cerca de 158
milhões de toneladas produzidas em 2016 (FAOSTAT, 2018).
Yadac et al. (2018), ao analisarem o consumo de energia em sistema de semeadura
direta e no sistema convencional de arroz na Índia, observaram que a semeadura direta é uma
tecnologia de produção segura e favorável ambientalmente, além de aumentar a eficiência de
uso de energia e reduzir as emissões de gás carbônico. A tecnologia de semeadura direta
consumiu 16.727 MJ por hectare, frente a 27.630 MJ consumidos por hectare no sistema

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convencional (YADAC et al., 2018). Em outro estudo, conduzido por Sorokhaibam et al.
(2017), também houve aumento de 9,45% no consumo de energia no preparo convencional, se
comparado a semeadura direta, além desta última tecnologia aumentar a eficiência no uso da
água. Chaudhary et al. (2017), ao desenvolverem um estudo de 16 anos nas Planícies Indo-
Gangéticas, recomendam a semeadura direta para a região, pois apresenta melhor eficiência
energética, se comparada a outras tecnologias. Em alguns casos o sistema de semeadura direta
apresentou consumo energético 33% inferior se comparado com o sistema convencional (Singh
et al., 2016).
É importante haver uma visão sistêmica, pois a fase de semeadura é apenas uma etapa.
Mandal et al. (2015) observaram que o balanço energético de um sistema de semeadura direta
apresentou balanço energético de 11 (para cada 1 MJ empregado do processo, foi gerado 11 MJ
em arroz), sendo que o transplante de arroz pré-germinado, em um sistema mecanizado,
apresentou um balanço energético de 8,6. Em um estudo realizado no Irã, para comparar dois
sistemas (semeadura direta e transplante), Eskandari & Attar (2015) entrevistaram 185
agricultores, onde observaram que a semeadura direta possui o melhor balanço energético.
Lu & Lu (2017) ao analisarem os insumos com maior participação no consumo de
energia e nas emissões de CO2 na cultura do milho na China, concluem que fertilizantes
nitrogenados e combustível possuem maior peso. Uma das orientações dos autores é a aplicação
de plantio direto sobre a palha para reduzir consumo energético e as emissões de CO 2. Em
estudo realizado no Brasil, para determinar a demanda energética de diferentes manejos de solo
no cultivo de milho, não foram encontradas diferenças significativas nos diferentes métodos
(CUNHA et al., 2015). Sarauskis et al. (2014), ao comparar cinco diferentes formas de preparo
do solo e semeadura, observaram que o melhor balanço energético é encontrado sob a
tecnologia de semeadura direta (14).
Camargo et al. (2013) ao analisarem o consumo de energia e as emissões de gases de
efeito estufa no cultivo de milho nos Estados Unidos, concluem que o uso de plantio direto e
adubação verde com leguminosas na cultura do milho ocasionam uma redução do consumo de
energia e emissão de gases de 37 e 42%, respectivamente. Outra ferramenta importante para
melhorar a eficiência energética é o uso de rotação de culturas. Rathke et al. (2007) em sistemas
de rotação de milho e soja, observaram que o menor consumo energético foi observado no
plantio direto de soja (5,43 GJ/hectare), sendo que o balanço energético da soja foi superior
com rotação de culturas (14) se comparado com o cultivo contínuo (9,9). O cultivo mínimo e a
semeadura direta possuem melhor eficiência energética, se comparado com o cultivo
convencional também na produção de silagem de milho (BARUT et al., 2011; BERTOCCO et
al., 2008), pois o método convencional pode apresentar consumo de combustível sete vezes
superior ao sistema de semeadura direta (YALCIN & CAKIR, 2006).
Uma pesquisa realizada no Brasil para avaliar o custo energético de diferentes operações
agrícolas para o cultivo de milho mostra que o sistema plantio direto apresentou um custo
energético de 52,72% do sistema convencional, o que ocasionou uma economia de energia de
1.216,51 MJ por hectare, ou 25,45 litros de óleo diesel (FERNANDES et al., 2008). Maia e Sá
et al. (2013), ao analisar o balanço energético da produção de grãos, carne e biocombustíveis,
apresentaram um balanço energético de 7,4 para grãos produzidos em sistema plantio direto e
5,8 em preparo convencional, onde o uso de combustíveis fósseis impactou diretamente no
resultado deste último sistema. Em cultivo de camelina nos Estados Unidos sob plantio direto,
apresentou um consumo de energia 5% inferior ao convencional, além de apresentar redução
de 8% na emissão de gases, porém ganhos de eficiência de nitrogênio devem ser priorizados
(KESHAVARARZ-AFSHAR et al., 2015).
Nem sempre a melhor eficiência energética ocorre nos sistemas de plantio direto.
Garofalo et al. (2018) encontraram melhor eficiência energética no cultivo convencional sem
aplicação de Nitrogênio na produção de sorgo energético. Boehmel et al. (2008) ao comparar

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oito culturas para produção de energia, observaram que o uso de plantio direto não apresentou
efeito negativo nem positivo na produtividade energética de diferentes culturas. Em uma
pesquisa de campo no Irã foram comparados quatro diferentes sistemas de produção de soja e
os sistemas convencionais naquela região apresentaram um melhor balanço energético, se
comparado ao que usa plantio direto (ALIMAGHAM et al., 2017). Um experimento de 8 anos
realizado na Romênia constatou que as diferenças de ganhos de produtividade de diferentes
métodos de preparo do solo são pequenas e não foram significativas em 6 dos 8 anos, porém o
sistema de plantio direto da soja possui alta supressão de plantas daninhas.
Em sistemas de plantio direto é possível encontrar uma relação com altas taxas de uso
de herbicida e menor uso de energia, pois uma diminuição das taxas de aplicação de herbicidas
pode exigir aumento de tratos culturais, ocasionando maior consumo de energia (SWANTON
et al., 1996). É fundamental a realização de análise de eficiência energética em uma série
histórica, pois assim é possível observar se há um ganho de eficiência no sistema ou não.

5 Conclusões
Diante dos trabalhos analisados, pode-se concluir que o plantio direto é uma tecnologia
com eficiência superior de uso de energia, se comparado com outras técnicas, como o cultivo
convencional. Além de reduzir o consumo de combustíveis fósseis, promove serviços
ecossistêmicos, como a proteção da estrutura do solo, sequestro de carbono e evita a perda de
umidade.

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Um mapeamento sistemático sobre serviços ecossistêmicos e sistemas
agroflorestais no Brasil
A systematic mapping on ecosystem services and agroforestry systems in
Brazil
Gabrielli do Carmo Martinelli1, Bibiana Melo Ramborger2
Resumo
A partir das demandas encontradas na sociedade contemporânea, especificamente relacionada ao alimento faz-se
necessária a construção de novos esquemas analíticos operacionais que tornem possível enfrentar o problema da
gestão sustentável e eficiente do capital natural com base no pressuposto de que este é essencial não só para a
continuidade das atividades econômicas, mas para a própria continuidade da vida humana. Neste artigo elaborou-
se uma breve análise da literatura científica sobre serviços ecossistêmicos e sistemas agroflorestais no Brasil,
buscando identificar tendências e perspectivas da temática, com base nos artigos indexados na base de dados
Elsevier Web of science. A maioria dos trabalhos ativeram-se nas pesquisas de campo, como coleta de dados in
loco, bem como a utilização de equações alométricas estatísticas para valorar o sequestro de carbono. Outra
observação a ser considerada é a área de estudo da pesquisa, em que concentrou-se principalmente nos estados do
Pará, Maranhão e Minas Gerais, tendo em vista os biomas: cerrado e mata atlântica.
Palavras-chave: Serviços ecossistêmicos; Sistema Agroflorestal; Millennium Ecosystem Assessment.

Abstract
From the demands found in contemporary society, specifically related to food, it is necessary to construct new
analytical operational schemes that make it possible to face the problem of the sustainable and efficient
management of natural capital based on the assumption that this is essential not only for the continuity of economic
activities, but for the very continuity of human life. In this article, a brief analysis of the scientific literature on
ecosystem services and agroforestry systems in Brazil was carried out, seeking to identify trends and perspectives
of the theme, based on the articles indexed in the Elsevier Web of science database. Most of the work was carried
out in field surveys, such as data collection in loco, as well as the use of statistical allometric equations to assess
carbon sequestration. Another observation to be considered is the study area of the research, in which it was mainly
concentrated in the states of Pará, Maranhão and Minas Gerais, in view of the biomes: cerrado and Atlantic forest.
Keywords: Ecosystem services; Agroforestry System; Millennium Ecosystem Assessment.
1 Introdução
Aproximadamente 35% da terra é utilizada para produção de alimentos, dentro desse
percentual o uso da terra tem sido ocupado pela produção de cultivos agrícolas e áreas de
pastagem. No entanto, nas últimas décadas intensificou-se a preocupação em atender a demanda
de alimentos que tende a ser ascendente até 2050. Pensando em promover a segurança alimentar
futura, diversos trabalhos têm sido elaborados, seja com o objetivo de sanar a demanda através
da redução dos desperdícios de alimentos, promover e conscientizar o consumo baseado em
“dietas saudáveis” ou até mesmo a utilização de sistema sustentável (BAJZELJ, 2014).
Neste trabalho abordaremos a intensificação da produção a partir de sistema sustentável,
especificamente o agroflorestal. As agroflorestas, também denominadas de sistemas
agroflorestais tem potencial contributivo para promover serviços ecossistêmicos, pois
assemelha-se a florestas naturais, que em um mesmo espaço promove a produção de alimentos,
equilíbrio biológico, estocagem de carbono, estabilidade do clima, aumento da biodiversidade
entre outros (NERLICH et al., 2013).
Além disso, uma das formas de amenizar ou até mesmo reverter as degradações são por
meio das combinações agroflorestais que podem representar uma alternativa de estímulo
econômico à recuperação florestal, levando à incorporação do componente arbóreo em
estabelecimentos rurais. A integração entre espécies arbóreas e culturas agrícolas não visa

1Contadora, mestre e doutoranda em Agronegócios na Universidade Federal do Rio Grande do Sul -


gabrielli_martinelli@hotmail.com
2Assistente Social, mestre e doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul –

bibianamr@gmail.com
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somente à produção, mas também à melhoria na qualidade dos recursos ambientais, graças às
interações ecológicas e econômicas que acontecem nesse processo (BALBINO et al., 2011).
Devido à contínua expansão da escala das atividades humanas, a evolução do sistema
econômico tem conduzido o mundo a uma era onde o capital natural, em substituição ao capital
manufaturado, passa a ser o fator limitante do desenvolvimento econômico, o qual é
responsável pela recorrente preocupação com o impacto do funcionamento atual do sistema
econômico sobre os sistemas naturais e a capacidade deste último em sustentar no futuro as
atividades humanas (KLUTHCOUSKI et al., 2015).
Assim, impedir e reverter o processo de destruição do meio ambiente implica, portanto,
adotar soluções econômicas e práticas agrícolas que permitam aos produtores melhorarem suas
condições de vida, ao mesmo tempo que preservem ou recuperem remanescentes florestais. Por
isso o presente artigo tem por objetivo analisar o estado da arte sobre os serviços ecossistêmicos
proporcionados pelos sistemas agroflorestais no Brasil para melhor contextualizar e aprimorar
o assunto que é pertinente para a atualidade no que tange os assuntos do agronegócio.
Dessa forma, o artigo está dividido em três seções, além desta parte introdutória. A
seção dois apresenta o referencial teórico com destaque para os sistemas agroflorestais e
serviços ecossistêmicos. Nas seções três e quatro são definidos os procedimentos
metodológicos, resultados e discussão, respectivamente; e por fim constam as considerações
finais e as referências que embasaram este estudo.

2. Referencial teórico
Para adentrar nessas premissas precisa-se rever alguns conceitos que corroboram e
contemplam cada demanda pautada, e assim compreender a relevância de cada um dos itens,
como serviços ecossistêmicos, sistemas agroflorestais, classificação proposta pelo Millennium
Ecosystem Assessment (MEA, 2005) – suporte, regulação, provisão e cultural e suas premissas.
Os serviços ecossistêmicos podem de alguma forma, em sua definição e classificação
ter os benefícios tangíveis (fluxos de recursos naturais, como madeira e alimentos, por exemplo)
e intangíveis (amenidades como beleza escênica e regulação do clima) provenientes do capital
natural (HUETING et al., 1998).
As complexas interações entre os elementos estruturais do capital natural dão origem às
chamadas funções ecossistêmicas, as quais são reconceitualizadas como serviços
ecossistêmicos na medida em que trazem implícita a ideia de valor humano. Uma função passa
a ser considerada um serviço ecossistêmico quando ela apresenta possibilidade/potencial de ser
utilizada para fins humanos (HUETING et al., 1998).
A natureza interdependente das funções ecossistêmicas faz com que a análise de seus
serviços requeira a compreensão das interconexões existentes entre os seus componentes,
resguardando a capacidade dinâmica dos ecossistemas em gerar seus serviços (LIMBURG &
FOLKE, 1999).
Com isso, faz-se necessário contextualizar o Sistema agroflorestal (SAF), o qual, é um
nome relativamente recente dado para práticas antigas, desenvolvidas em grande parte por
comunidades tradicionais em várias partes do mundo, especialmente nos trópicos. Há uma
grande ambiguidade e muitas definições para sistemas agroflorestais. De acordo com Nair,
1993; Montagnini e Nair, 2004, os sistemas agroflorestais, também conhecidos como
agroflorestas, são consórcios entre culturas anuais, espécies perenes lenhosas, frutíferas,
arbustivas e/ou animais agrupados em uma mesma área de maneira simultânea ou em sequência
temporal, essa integração fornece serviços ambientais que auxiliam na restauração da
fertilidade do solo em terras degradadas, melhorando assim o desempenho produtivo das
espécies que compõe o sistema
Os níveis de complexidade dos sistemas agroflorestais evoluem dos mais simples -
consórcios de espécies agrícolas com arbóreas sem a preocupação da dinâmica da sucessão e
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da biodiversidade, constituindo consórcios agroflorestais aos mais complexos - ecossistemas
agroflorestais, com dinâmica e diversidade similares às florestas naturais (NAIR, 1993).
Diante dessas questões, é preciso ressaltar o Millennium Ecosystem Assessment (MEA,
2005) em que utilizou uma nova estrutura conceitual para documentar, analisar e compreender
os efeitos das mudanças ambientais nos ecossistemas e no bem-estar. Ela vê os ecossistemas
através das lentes dos serviços que eles fornecem à sociedade, como esses serviços, por sua
vez, beneficiam a humanidade, e como as ações humanas alteram os ecossistemas e os serviços
que eles fornecem. O foco nos serviços ecossistêmicos tem sido amplamente adotado entre as
comunidades científica e política, resultando em novas abordagens para pesquisa, conservação
e desenvolvimento (DAILY, G. C; MATSON, 2008)
O MEA foi capaz de fazer a interação entre ilhas de conhecimento sólido e os avanços
em andamento. No entanto, futuras avaliações baseadas nesta estrutura se beneficiariam de um
esforço conjunto para entender os efeitos da biodiversidade no contexto sócio ecológico,
melhorar a modelagem quantitativa em uma série de tópicos sócio ecológicos, abordar
mudanças não-lineares e abruptas, assim como melhorar a avaliação e a comunicação da
incerteza (CHAPIN, 2006).

3. Materiais e métodos
Neste artigo elaborou-se uma análise da literatura científica sobre serviços
ecossistêmicos e sistemas agroflorestais no Brasil, buscando identificar tendências e
perspectivas da temática, com base nos artigos indexados na base de dados Elsevier Web of
science. Primeiramente, realizou-se uma revisão bibliométrica com uma análise sistemática do
conteúdo dos artigos, seguindo os critérios científicos sugerido por Knowledge Development
Process – Cronstructivist (ProKnow-C) (ENSSLIN et al. 2010).
Posteriormente, definiu-se as seguintes perguntas específicas a serem abordadas: (1)
quais sistemas agroflorestais e serviços ecossistêmicos foram estudados no Brasil? (2) Para a
avaliação do serviço ecossistêmico quais abordagens foram aplicadas na pesquisa?
Após definir as questões a serem respondidas, utilizou-se o seguinte descritor de
pesquisa agroforestry and servic* ecosyst*, não foi definido limite de tempo para a triagem dos
trabalhos visando identificar quando iniciaram os estudos sobre as temáticas de interesse e
como se comportaram no decorrer dos anos, tendo como limite o ano de 2017. Esta pesquisa
foi realizada em 13 de agosto de 2018. Considerou-se para seleção dos artigos o descritor
presente no título, resumo e palavras-chave apenas de artigos científicos. A Figura 1 ilustra o
procedimento para definir a amostra total o trabalho.

Figura 1. Processo de seleção para levantamento de literatura.

Web of Science

Total (n=352) Não contempla


o escopo
(n=331)
Total incluído na
revisão (n= 21)

Fonte: Elaborado pelos autores, com dados da pesquisa.

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Após definir a base de dados, palavras-chave e critério de seleção dos artigos, fez-se a
escolha nos títulos dos artigos encontrados para identificar somente aqueles (os artigos) que
tiveram como área de estudo o Brasil. Adiante, foram lidos os títulos, resumos, palavras-chave
e metodologia para identificar os artigos que contemplavam os objetos de pesquisa em sistemas
agroflorestais e serviços ecossistêmicos no Brasil, após essa etapa resultaram 21 artigos para
serem analisados.
Desse modo, foi constituída a amostra: foram analisados 21 artigos incluindo as leituras
dos títulos, resumos, palavras-chave e metodologias para a análise quali-quantitativa. A análise
quantitativa foi elaborada com base em uma bibliometria, no que diz respeito a análise
qualitativa foi utilizada a revisão sistemática, em que analisou o conteúdo dos artigos
selecionados.
Afim de agrupar os principais serviços ecossistêmicos proporcionados pelos sistemas
agroflorestais utilizará a classificação proposta pelo Millennium Ecosystem Assessment (MEA,
2005) – suporte, regulação, provisão e cultural.

4. Resultados e discussões
A partir da análise de 21 artigos disponíveis na base de dados Web of Science,
envolvendo discussões a respeito de sistemas agroflorestais e serviços ecossistêmicos no Brasil,
a Figura 2 apresenta as publicações por ano destes artigos.

Figura 2. Número de publicações por ano.

6
5
Número de artigos

4
3
2
1
0
2004 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Anos

Fonte: Elaborado pelos autores, com dados da pesquisa.


O primeiro trabalho identificado que aliou os dois temas tendo como área de estudo o
Brasil, foi publicado no ano de 2004. Além disso, observa-se a ascensão da temática ao longo
dos anos 2004 a 2012, destacando o ano de 2014 com o maior número de artigos publicados.
No entanto, nos anos de 2013, 2015 e 2016, houve uma queda consecutiva no número de
publicações. Apesar de ter diminuído o número de publicações nos últimos dois anos, ainda
esse panorama mostra uma interação entre os dois temas discutidos no cenário atual.
Nas Figuras 3 e 4 estão descritos os principais periódicos e as principais áreas de
pesquisa, respectivamente, onde foram feitas as publicações com a temática pesquisada.
Percebe-se que as publicações dos artigos concentraram em treze revistas, dentre elas as duas
que mais se destacaram foram agriculture ecosystems & environment e agroforestry systems
seguindo essa ordem. Ambos os journals priorizam a publicação de artigos científicos que
tratam da interface entre os agroecossistemas e o ambiente natural, especificamente como a
agricultura influencia o meio ambiente e como as mudanças nesse ambiente impactam os
agroecossistemas.

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Figura 3. Periódicos que mais publicaram sobre o assunto no período de 2004 a 2017.

PESQUISA AGROPECUARIA BRASILEIRA


LAND USE POLICY
JOURNAL OF ETHNOBIOLOGY AND…
GLOBAL ENVIRONMENTAL CHANGE-HUMAN…
FOREST ECOLOGY AND MANAGEMENT
Revistas

ENVIRONMENTAL MANAGEMENT
ECOLOGICAL MODELLING
BRAZILIAN ARCHIVES OF BIOLOGY AND…
BIOTROPICA
BIOLOGICAL CONSERVATION
BIODIVERSITY AND CONSERVATION
AGROFORESTRY SYSTEMS
AGRICULTURE ECOSYSTEMS & ENVIRONMENT
0 1 2 3 4 5 6 7
Quantidade

Fonte: Elaborado pelos autores, com dados da pesquisa.

Em outra perspectiva, pode ser observado na Figura 4 as principais áreas em que os


artigos sobre sistemas agroflorestais e serviços ecossistêmicos tem-se destacado. Além disso,
observa-se que os objetos de pesquisas estudados nos artigos estão classificados em 11 grandes
grupos, contemplando a análise de sistemas sustentáveis, biodiversidade de espécies,
importância de espécies nativas, estoques de carbono, eficiência das florestas entre outros.

Figura 4. Áreas de pesquisa em que mais houve publicações sobre a temática no período de 2004 a 2017.

FARMÁCIA DE FARMACOLOGIA
GEOGRAFIA
ENTOMOLOGIA
Áreas de pesquisa

BIOLOGIA
ESTUDOS AMBIENTAIS
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
AGRICULTURA MULTIDISCIPLINAR
AGRONOMIA
SILVICULTURA
ECOLOGIA
CIENCIAS AMBIENTAIS
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Quantidade

Fonte: Elaborado pelos autores, com dados da pesquisa.

Quanto aos autores, apenas dois destacam em publicações, sendo: ROUSSEAU, G.X e
SCHROTH, G ambos com 3 publicações, correspondendo a 11,5 %. Já ALMEIDA, R.S;
CASSANO, C.R; DATTILO, W; DE SOUZA, H.N; IZZO, T.J; MATOS, M.C.B;
PULLEMAN, M.M; SILVA, R,M e TEODORO, A,V seguem com 2 artigos cada um, enquanto
que os demais publicam apenas uma vez.
Conforme passo a passo da revisão sistemática descrita na metodologia, na Tabela 2
serão apresentados os 21 artigos selecionados para análise de conteúdo com foco nos principais
métodos utilizados para mensurar os resultados, tipo de pesquisa, e um resumo breve dos
serviços ecossistêmicos avaliados. Também serão listados o autor, ano, título do artigo e o tipo
de pesquisa.

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Tabela 2. Análise de conteúdo dos 21 artigos selecionados para amostra. (Continua)
Serviços
Autor Ano Título ecossistêmicos Classificação Metodologia Área de estudo

De Marco; Services performed by the ecosystem: forest remnants Polinização; aspectos Experimento; São Paulo e
Coelho. 2004 influence agricultural cultures' pollination and production biofísicos Regulação pesquisa de campo Minas Gerais
Landscape structure influences bee community and coffee Experimento;
Saturni et al. 2016 pollination at different spatial scales Polinização Regulação pesquisa de campo Minas Gerais
Bat and bird exclusion but not shade cover influence Biodiversidade
Cassano et arthropod abundance and cocoa leaf consumption florística; Proteção Experimento;
al. 2016 in agroforestry landscape in northeast Brazil genética Habitat pesquisa de campo Bahia
An approach to assess the potential of agrdecosystems in Biomassa; análise Experimento; Distrito Federal
Dias et al. 2016 providing environmental services microbiana Regulação pesquisa de campo e Rio de Janeiro
Unsustainable landscapes of deforested Amazonia: An
analysis of the relationships among landscapes and the
social, economic and environmental profiles of farms at Manutenção da
Lavelle et al. 2016 different ages following deforestation biodiversidade Habitat Pesquisa de campo Pará
Variabilidade de
Cardozo et Species richness increases income in agroforestry systems of especies; Maranhão e
al. 2015 eastern Amazonia biodiversidade Habitat Pesquisa de campo Pará
Agroforestry systems as a profitable alternative to slash and
Tremblay et burn practices in small-scale agriculture of the Brazilian Sem
al. 2015 Amazon Análise econômica classificação Pesquisa de campo
Efficiency of different planted forests in recovering Recuperação da
Falcao et al. 2015 biodiversity and ecological interactions in Brazilian Amazon diversidade biológica Regulação Pesquisa de campo Pará
Garrastazu et Carbon sequestration and riparian zones: Assessing the Sequestro de Equações
al. 2015 impacts of changing regulatory practices in Southern Brazil carbono Regulação alométricas Santa Catarina
The role of integrating agroforestry and vegetable planting in
Harterreiten- structuring communities of herbivorous insects and their Diversidade de
Souza et al. 2014 natural enemies in the Neotropical region espécies Habitat Pesquisa de campo Distrito Federal
De Carvalho Short-term changes in the soil carbon stocks of young oil Sequestro de Equações
et al. 2014 palm-based agroforestry systems in the eastern Amazon carbono Regulação alométricas Pará
Perceptions of environmental change and use of traditional
Celentano et knowledge to plan riparian forest restoration with relocated Restauração de
al. 2014 communities in Alcantara, Eastern Amazon florestas ciliares Habitat Pesquisa de campo Maranhão

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Processos
Dynamic emergy accounting of water and biogeoquímicos de
Watanabe ; carbon ecosystem services: A model to simulate the impacts água e carbono; Provisão e Equações Mato Grosso do
Ortega 2014 of land-use change degradação do solo regulação alométricas Sul
Forest loss or management intensification? Identifying Cobertura florestal e
Cassano, et causes of mammal decline in cacao agroforests a intensificação do Habitat e
al. 2014 manejo provisão Pesquisa de campo Bahia
Contrasting Patterns of Species Richness and Composition of
Solitary Wasps and Bees (Insecta: Hymenoptera) According Biodiversidade de
Matos et al. 2013 to Land-use espécies Habitat Pesquisa de campo Maranhão
Floral resource partitioning by ants and bees in a jambolan
Syzygium jambolanum (Myrtaceae)agroforestry system in Repartição de
Dattilo, et al. 2012 Brazilian Meridional Amazon recursos florais Habitat Pesquisa de campo Mato Grosso
De Souza et Strategies and economics of farming systems with coffee in
al. 2012 the Atlantic Rainforest Biome Crescimento da flora Provisão Pesquisa de campo Minas Gerais
De Souza et Protective shade, tree diversity and soil properties in
al. 2012 coffee agroforestry systems in the Atlantic Rainforest biome Aspectos biofísficos Regulação Pesquisa de campo Minas Gerais
Biodiversity Conservation, Ecosystem Services and
Livelihoods in Tropical Landscapes: Towards a Common Conservação da
Schroth et al. 2011 Agenda biodiversidade Habitat Pesquisa de campo Bahia
Forest fragments' contribution to the natural biological
control of Spodoptera frugiperda Smith (Lepidoptera: Controle Biológico
Sousa et al. 2011 Noctuidae) in Maize Natural Habitat Pesquisa de campo Maranhão
Gama-
Rodrigues et Carbon Storage in Soil Size Fractions Under Two Sequestro de Equações
al. 2010 Cacao Agroforestry Systems in Bahia, Brazil carbono Regulação alométricas Bahia
Fonte: Elaborado pelos autores, com dados da pesquisa.

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Os sistemas agroflorestais são interações entre a forma tradicional de produzir alimentos
aliado com novas práticas sustentáveis, ou seja, é o consórcio entre culturas anuais e espécies
arbóreas em um mesmo espaço, podendo ou não integrar animais. Esse tipo de manejo
assemelha-se a habitats naturais, pois preserva os recursos, almejando resguardar o principal
ecossistema, a terra (NAIR, 2010; 1993).
Essa nova prática de produção além de garantir renda aos produtores rurais e segurança
alimentar, ainda contribuiu principalmente para a geração de serviços ecossistêmicos.
Conforme observado nos trabalhos, diversos serviços ecossistêmicos podem ser identificados
através da regulação, provisão, habitat e cultura. A interação entre espécies arbóreas nativas e
exóticas são potencias para mitigar os Gases de Efeito Estufa (GEE), por meio do sequestro de
carbono presente na biomassa acima e abaixo do solo, serapilheira e solo (GARRASTAZU et
al. 2015; DE CARVALHO et al. 2014; GAMA-RODRIGUES et al. 2010).
A biodiversidade de cada sistema agroflorestal varia de acordo com o arranjo, por isso,
existe a dificuldade em uniformizar os serviços ecossistêmicos decorrentes da biodiversidade,
pois cada espécie (animal, vegetal e microorganismo) tem um papel a cumprir
(VASCONCELLOS; BELTRÃO, 2018). No entanto, é evidente a contribuição para o
equilíbrio ecológico e climático, polinização e dispersão das plantas, ainda as copas e raízes das
árvores regulam os fluxos de água (CASSANO et al. 2016; LAVELLE et al. 2016;
HARTERREITEN-SOUZA et al. 2014; MATOS et al. 2013).
Na maioria dos trabalhos predominaram-se as pesquisas de campo, como coleta de
dados in loco, bem como a utilização de equações alométricas estatística para valorar o
sequestro de carbono. Outra observação a ser considerada é a área de estudo da pesquisa, em
que concentrou-se principalmente nos estados do Pará, Maranhão e Minas gerais, tendo em
vista os biomas: cerrado e mata atlântica.
Os artigos foram classificados por quatro tipos de serviços ecossistêmicos de acordo
com Millennium Ecosystem Assessment (MEA, 2005). Para tanto, verificou-se que nenhum
trabalho teve função ecossistêmica cultural, limitando estudos que objetivassem analisar
recreação turística, inspiração cultural ou artística. Enquanto que as demais classificações
prevaleceram.

5. Conclusões
Após a análise dos artigos verifica-se que os sistemas agroflorestais vêm sendo
reconhecidos como uma prática de manejo sustentável da terra que realinha a produção agrícola
e pecuária com a proteção dos serviços ecossistêmicos. No entanto pesquisas explorando essas
duas temáticas ainda são discutidas incipientemente conforme evidenciado na Figura 2 em que
ilustra a evolução científica.
Por outro lado, os 21 artigos trataram de destacar alguns serviços ecossistêmicos
promovidos pela a implantação das agroflorestas em alguma região do Brasil. Além disso,
predominam os estudos de casos, por meio da coleta de dados primários.
Os sistemas agroflorestais analisados nos artigos se destacaram como complexos,
evidenciando assim, uma alta biodiversidade de espécies arbóreas propiciando o aumento da
biodiversidade e aspectos biofísicos, ou seja, quanto maior a complexidade dos sistemas mais
serviços ecossistêmicos são gerados, tendo como parâmetro a amostra analisada.

Referências
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NAIR, P. K. R. An introduction to agroforestry / P.K. Ramachandran Na1r. p. cm. Includes
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O paradoxo entre serviços ecossistêmicos e a produção de carne bovina
The paradox between ecosystem services and beef production
Alice Munz Fernandes1, Odilene de Souza Teixeira2, Lucas Braido Pereira3, Júlio Otávio
Jardim Barcellos4
Resumo
A pesquisa realizada teve por objetivo analisar a conexão entre os serviços ecossistêmicos e a produção de carne
bovina por meio de investigações científicas. Dessa forma, empregou-se uma revisão sistemática da literatura a
partir das publicações científicas acerca dessa temática. Os resultados obtidos demostram o surgimento e o
crescimento exponencial desse tema na última década. Assim, a produção de carne bovina foi associada,
principalmente, a quatro áreas com os serviços ecossistêmicos: impactos ambientais, mudanças no uso da terra,
aspectos paisagísticos e ambiente institucional. Nessa perspectiva salienta-se que a área de impactos ambientais
está sendo a mais explorada no meio científico, além disso ela possui influência direta no ambiente institucional,
com a formação de normativas e indicadores que auxiliam no processo de avaliação dos benefícios econômicos e
ecológicos. Portanto, as investigações denotam os esforços desempenhados pelos pesquisadores, de forma, a
modificar e implementar restrições para que os recursos ecossistêmicos sejam utilizados de forma racional na
produção de bovinos.
Palavras-chave: bovinos, impactos ambientais, uso da terra, aspectos paisagísticos, ambiente institucional.

Abstract
The objective of this research was to analyze the connection between ecosystem services and beef production
through scientific investigations. Thus, a systematic review of the literature was made from the scientific
publications on this subject. The results obtained demonstrate the emergence and exponential growth of this theme
in the last decade. Thus, beef production was mainly associated to four areas with ecosystem services:
environmental impacts, changes in land use, landscape aspects and institutional environment. In this perspective,
it should be noted that the area of environmental impacts is being the most explored in the scientific environment,
besides it has a direct influence on the institutional environment, with the formation of regulations and indicators
that aid in the process of evaluation of economic and ecological benefits. Thus, the investigations denote the efforts
made by the researchers, in order to modify and implement restrictions so that the ecosystem resources are used
rationally in the production of cattle.
Keywords: cattle, environmental impacts, institutional environment, landscape aspects, land use.

1 Introdução

O sistema de produção de bovinos de corte passa por transformações globais, com o


intuito de adotar práticas mais sustentáveis nos aspectos ambiental, social e econômico. Uma
vez que, a produção pecuária, particularmente a cadeia de fornecimento de carne bovina, é
cobrada como a principal contribuinte para as emissões de gases do efeito estufa, bem como na
degradação da terra e no desmatamento (BRAGAGLIO et al., 2018). À vista disso, novos
modelos de produção pecuária precisam atender simultaneamente à crescente demanda por
carne e preservar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos (MODERNEL et al., 2016).
Para desconstituir o paradoxo entre a produção animal e a conservação dos recursos do
ecossistema é preciso que haja equilíbrio e entendimento da complexa relação entre eles. Dessa
forma, os bovinos fornecem carne e produtos lácteos que sustentam a saúde e a subsistência em
grande parte do mundo e os serviços ecossistêmicos, direta ou indiretamente, fornecem as terras
de pastoreio que sustentam os bovinos, incluindo alimentos, água e recursos genéticos;
regulação do clima e da água; apoio da formação do solo; ciclagem de nutrientes e serviços
culturais (STEINER et al., 2014). No entanto, equilibrar a produção de alimentos,

1Administração/Universidade Federal do Rio Grande do Sul – alicemunz@gmail.com


2Zootecnista/Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Odilene_rs@hotmail.com
3
Zootecnista/Universidade federal de Santa Maria – lucas.pereira@iffarroupilha.edu.br
4
Médico veterinário/Universidade Federal do Rio Grande do Sul – julio.barcellos@ufrgs.br
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especialmente carne, com a preservação da biodiversidade e a manutenção dos serviços
ecossistêmicos é um grande desafio social (WILLIAMS et al., 2017).
Por esse motivo é provável que surja uma maior distinção entre as políticas de proteção
de recursos naturais e o aumento do fluxo de serviços ecossistêmicos não mercantis a partir de
terras rurais, bem como políticas alimentares destinadas a incentivar uma proporção adequada
dos requisitos nacionais (ANGUS et al., 2009). Nesse sentido, essa pesquisa avaliará de que
forma as temáticas serviços ecossistêmicos e produção de carne bovina são abordadas
conjuntamente nas investigações científicas.

2 Referencial Teórico

O reconhecimento da multifuncionalidade dos serviços ecossistêmicos nas fazendas é


importante para traçar estratégias mais conservadoras na produção animal. Dessa forma, o
caminho para o desenvolvimento sustentável envolve a criação de coerência e sinergias nas
relações complexas entre sistemas econômicos e ecológicos. No entanto, muitas vezes, a
manutenção dos negócios agrícolas possui diferentes valores para os agricultores o que
influência nas decisões sobre o manejo de agro ecossistemas, levando-os a adotar práticas
agrícolas divergentes (SWAGEMAKERS et al., 2017).
Nesse contexto, pesquisadores estudam alternativas para diminuir os impactos da
produção, assim Hessle et al. (2017) propuseram quatro cenários para as cadeias de suprimento
de carne e leite da Suécia. Constataram que a maximização da eficiência produtiva se configura
como o fator mais importante para diminuir o impacto ambiental negativo proveniente da
bovinocultura e para minimizar os custos ao produtor. Em contraponto, Repar et al. (2017)
propuseram uma estrutura para mensurar o desempenho ecológico das explorações agrícolas,
cujo enfoque fundamenta-se na capacidade de suporte do próprio ecossistema, ou seja, suas
restrições naturais.
Outro paradoxo, refere-se à utilização de água doce para a produção de carne, Ran et al.
(2017) compararam três sistemas uruguaios de terminação bovina – pastagens naturais,
pastagem semeada e confinamento. Seus resultados refletem que para o fomento da
intensificação, tem-se a necessidade de considerar a concorrência e as compensações com
outras utilizações quando se avalia a eficiência do uso da água na pecuária. Nessa perspectiva,
Theisena et al. (2017) corroboram afirmando que a integração entre lavoura e pecuária também
se caracteriza como uma forma de promover equilíbrio entre produção de alimentos e
preservação ambiental, promovendo a sustentabilidade ecológica agrícola, principalmente em
regiões subtropicais. Para Lathuillière et al. (2017), a eficiência desse tipo de sistema de
produção, impacta na transição dos estabelecimentos agrícolas.
A sustentabilidade ambiental exige o cumprimento da capacidade de suporte as
restrições impostas pelo ecossistema natural dentro do qual uma fazenda opera. A conformidade
da capacidade de carga deve ocorrer nos níveis local e global do ecossistema, exigindo uma
distinção entre o desempenho ambiental local e global da fazenda (REPAR et al. 2017). Assim,
são necessárias estratégias inovadoras para melhorar a sustentabilidade da produção e consumo
de carne bovina.

3 Procedimentos Metodológicos

Essa pesquisa configura-se como qualitativa e exploratória, cujo procedimento


consistiu na revisão sistemática da literatura. Desde modo, possibilita analisar
sistematicamente a contribuição de determinado conjunto de literatura para a construção do
conhecimento (CROSSAN; APAYDIN, 2010). Portanto, trata-se de um processo rigoroso e
reprodutível (ZENG et al., 2017) empregado para a coleta e análise dos estudos
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(TRANFIELD; DENYER; SMART, 2003). Isto posto, empregou-se a estrutura de revisão
sistemática da literatura proposta por Kitchenham e Charters (2007).
A primeira fase sintetiza o delineamento da investigação, contemplando elementos
concernentes ao seu objetivo, questões norteadoras e protocolo a ser utilizado. A fase de
execução aborda a seleção dos estudos e verificação de sua qualidade, bem como a extração
dos resultados. A última fase refere-se a elaboração do relatório para a resolução das questões
de pesquisa e a disseminação dos resultados obtidos (KITCHENHAM; CHARTERS, 2007).

3.1 Fase do Planejamento

O objetivo dessa revisão sistemática da literatura consiste em analisar a forma com que
as temáticas serviços ecossistêmicos e produção de carne bovina são abordadas conjuntamente
nas investigações científicas. Logo, definiu-se a seguinte questão norteadora da revisão: de que
forma as temáticas serviços ecossistêmicos e produção de carne bovina são abordadas
conjuntamente nas investigações científicas?
No protocolo de revisão determinou-se que a Scopus e a Web of Science consistiriam
nas bases de dados a partir das quais os estudos seriam obtidos. Como orientação de busca
utilizou-se a existência e/ou ocorrência dos termos “ecosystem services” e “beef” separados
pelo boleano “and”, no título, resumo e/ou palavras-chaves, tendo em vista que tais elementos
apresentam a temática principal dos estudos. Empregou-se como critério de inclusão/exclusão,
artigo como a tipologia do documento, publicados até a data de 16 de julho de 2018. A partir
disso, a busca inicial totalizou 80, dos quais 28 estavam contidos em ambas as bases e, destarte,
foram excluídos. Por conseguinte, a triagem preliminar resultou em 52 artigos.

3.2 Fase da Execução e do Relatório

Para avaliar a qualidade dos estudos obtidos a partir da triagem preliminar, empregou-
se como critério o fator de impacto dos periódicos indexados no Journal Citation Reports
(JCR). Isso justifica-se pelo fato deste configurar-se como um indicador que permite averiguar
a relevância dos periódicos científicos (GARFIELD, 2006), a partir do seu nível de citação, ou
seja, quão citados estes são (PODSAKOFF et al., 2005).
Logo, selecionaram-se artigos publicados em periódicos cujo JCR vigente fosse
superior a 2.00. Desse modo, obteve-se a exclusão de 18 manuscritos, o que, refletiu em um
portfólio composto por 34 artigos. Conseguinte, após a realização de uma leitura preliminar,
constou-se que 3 manuscritos estavam fora do escopo da pesquisa, por referirem-se a carne
ovina e produção leiteira. Deste modo, o portfólio analisado foi composto por 31 artigos.
Posteriormente, realizou-se o download de cada um dos manuscritos que compuseram
o portfólio. Após a leitura minuciosa dos artigos, norteada pela questão de revisão, os achados
foram organizados em um quadro síntese e agrupados conforme suas abordagens. Por fim, os
resultados foram apresentados em forma de relatório, conforme postula a última fase da revisão
sistemática (KITCHENHAM; CHARTERS, 2007). Para tanto, empregaram-se representações
gráficas e ilustrações.

4 Resultados e Discussão

O primeiro artigo que trata conjuntamente da temática de serviços ecossistêmicos e


carne bovina foi publicado em 2009. Verifica-se ainda que a partir de 2016 tem-se cerca de
74% do total de estudos sobre tal assunto, o que denota sua contemporaneidade. No tocante aos
principais elementos contidos nos manuscritos, de forma isolada, observou-se o predomínio do
termo “terra”, o que pode ser justificado pela recorrência de estudos que pautaram-se na
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comparação entre distintos meios de utilização da terra, incluindo a exploração da pecuária de
corte, como Steiner et al. (2014) e Rebhann et al. (2016), por exemplo. Outro fator explicativo
consiste em estudos acerca da regulação do uso da terra, como as investigações realizadas por
Stickler et al. (2013). A Figura 1 apresenta a nuvem de palavras advinda do título dos
manuscritos, haja vista que este sintetiza a temática principal dos estudos (DELLA; ENSSLIN;
ENSSLIN, 2012).

Figura 1 – Nuvem de palavras

Fonte: elaborado pelos autores (2018).

Constata-se também a diversidade de elementos secundários que emergiram,


circunscrevendo as investigações analisadas. Desse modo, verifica-se a multidisciplinariedade
da temática conjunta de serviços ecossistêmicos e carne bovina, o que envolve sobretudo
aspectos concernentes a custo, sustentabilidade e produção. Destaca-se ainda que a recorrência
de termos que remetem a exploração da pecuária leiteira deve-se a comparação entre as
atividades de bovinocultura (corte e leite), a fim de identificar seus impactos ambientais.
Essa natureza interdisciplinar, permite identificar distintas abordagens no que
concerne à análise conjunta da temática de serviços ecossistêmicos e carne bovina. Isto posto,
a Figura 2 ilustra as principais associações entre os termos predominantes no portfólio
analisado.

Figura 2 – Gráfico de redes com as associações entre os termos predominantes no portfólio analisado

Fonte: resultados da pesquisa (2018).


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A partir de tais associações, as abordagens salientadas nas investigações analisadas foram
classificadas em quatro grupos genéricos, quais sejam: (i) impactos ambientais, ilustrado na cor
azul; (ii) mudança no uso da terra, representado pela cor vermelha; (iii) aspectos paisagísticos,
correspondente a cor amarela, e; (iv) ambiente institucional, expresso na cor verde.

4.1 Impactos Ambientais

No que concerne à associação entre a produção de carne bovina e serviços


ecossistêmicos tem-se a extrema preocupação com os impactos ambientais negativos, sendo
que, quando desempenhada de forma adequada e a partir de pastagens nativas, a pecuária de
corte pode promover serviços de bens públicos não-comercializáveis, tais como o bem-estar
animal, conservação de paisagens, além da viabilização socioeconômica de áreas rurais
(BRAGAGLIO et al., 2018). Nesse sentido, constatou-se a utilização frequente da ferramenta
Análise do Ciclo de Vida (ACV) para verificar os impactos ambientais da produção de carne
bovina em distintas regiões do planeta, principalmente quanto a emissão de gases do efeito
estufa.
Sob essa perspectiva, Beauchemin et al. (2010) salientaram que é necessário reconhecer
que a utilização de pastagens e outras plantações de forragens podem preservar as reservas de
carbono do solo e fornecer outros serviços ecossistêmicos. Para os autores, o sistema extensivo
de produção é menos danoso ao meio ambiente, ao passo que a utilização do sistema intensivo
é questionável a longo prazo. Em contrapartida, Siqueira e Duru (2016) corroboram que as
fazendas são lucrativas apenas a curto prazo, haja vista o custo de oportunidade da terra e os
custos da pecuária. Não obstante, Salvador et al. (2016) ao estimarem o impacto ambiental de
produções de duplo propósito (leite e carne) desenvolvidas de forma orgânica e convencional,
comparando-as, constataram que as fazendas orgânicas desempenharam um impacto
significativamente menor de eutrofização.
Sob esse enfoque de multifuncionalidade dos sistemas de produção, Tichenor et al.
(2017) empregando a ACV, compararam os sistemas intensivos e extensivos de produção. Os
resultados obtidos demonstraram que aspectos paisagísticos e de mercado tendenciam a
maximização da demanda por carne produzida a pasto. Outro elemento emergente consiste no
potencial de sequestro de carbono nas pastagens, bem como na necessidade de pesquisas que
contabilizem os serviços ecossistêmicos provenientes de sistemas agrícolas desenvolvidos
mediante pastagens, como a manutenção de áreas limpas, por exemplo (LOPEZ-COLLADO et
al., 2017).
No que concerne à exploração da pecuária de corte na região brasileira dos Pampas,
caracterizada pelas suas pastagens nativas, Modernel et al. (2018) constataram que a medida
em que a produtividade da atividade aumentava, a pegada de carbono diminuía. Ainda acerca
dos serviços ecossistêmicos no Brasil, Bergier et al. (2018) averiguaram as modificações nas
precipitações pluviométricas da região do Pantanal entre 1926 a 2016, haja vista os serviços
ecossistêmicos que esse bioma presta a sociedade. Os achados apontaram um viés positivo da
taxa média de dias chuvosos para todas as estações. Segundo os autores, isso pode ser
justificado pela influência da floresta amazônica sob as chuvas do Pantanal, de modo que o
crescente desmatamento desta pode comprometer a segurança da água e a conservação de
serviços ecossistêmicos no bioma vizinho.
Em contrapartida, Röös, Patel e Spangberg (2016) contribuem afirmando que os
consumidores deveriam ser incentivados a consumirem mais carne de frango e/ou cereais e
leguminosas em detrimento a carne bovina. Sob um enfoque extremista, Wegier et al. (2018)
sugerem como uma alternativa frente aos impactos ambientais da pecuária de corte, a adoção
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de fontes de proteínas com conversões mais eficientes de biomassa e energia. Com vistas a isso,
propuseram o consumo de gafanhoto como substituto a carne bovina, o que implicaria,
consequentemente, na minimização no uso de pesticidas agrícolas.

4.2 Mudança no Uso da Terra

No tocante a associação entre serviços ecossistêmicos e carne bovina a partir da


abordagem de mudança no uso da terra, Zilverberg et al. (2014) propõem que a combinação de
monoculturas e pradarias se configura como uma possibilidade de equilibrar produtividade,
serviços ecossistêmicos e renda, mediante, inclusive a produção de carne bovina sob um regime
extensivo. Conseguinte, ao compararem modos de utilização de uso da terra, Rebhann et al.
(2016) constataram que, no caso da União Europeia, devido aos pagamentos adicionais por
serviços ecossistêmicos, todos os sistemas de manejo em pastagens extensivas são rentáveis.
De acordo com Modernel et al. (2016) as transformações no uso da terra fomentam a
intensificação dos sistemas de exploração da pecuária, aumentando o número de confinamentos
e maximizando a lotação animal em áreas extensivas. Tais elementos, segundo os autores,
refletem negativamente na prestação dos serviços ecossistêmicos, uma vez que diminui os
estoques de carbono orgânico e a ciclagem de nutrientes. Logo, a melhoria nas estratégias de
gestão das propriedades rurais e a maximização do conhecimento acerca dos serviços
ecossistêmicos podem contribuir de forma combinada para o aumento da produtividade e para
a conservação ecológica. Isto posto, a compreensão dos serviços que os ecossistemas de
pastagens nativas prestam e a adoção de estratégias de produção eficientes, configuram-se como
alternativas para a maximização da produtividade de carne e a conservação dos biomas
(WILLIAMS et al., 2017).
Não obstante, Novaes et al. (2017) destacam que as mudanças no uso da terra implicam
nas mudanças climáticas e nos serviços ecossistêmicos prestados. Diante disso, desenvolveram
cenários considerando os últimos 20 anos para 64 culturas agrícolas brasileiras, incluindo a
produção de carne, frente as emissões de CO2. Os resultados apontaram que o bioma Amazônia
configura-se como o responsável pelas maiores taxas de emissão do gás, haja vista sua expansão
em área agrícola e em pecuária.

4.3 Aspectos Paisagísticos

Outra abordagem emergente nas investigações sobre serviços ecossistêmicos e carne


bovina refere-se a sinergia entre pecuária e paisagens naturais. Para Swagemakers et al. (2017)
essa combinação é resultado das decisões dos produtores pautadas tanto em seus valores morais,
quanto na percepção que este detém do ecossistema em que estão inseridos. Deste modo,
tornam suas práticas agrícolas compatíveis com o meio, o que não dispensa incentivos
governamentais. Deste modo, o pagamento por serviços ecossistêmicos corresponde a uma
forma de fortalecer essas decisões.
Não obstante, na perspectiva de Derner et al. (2018), a aprendizagem social, coletiva ou
em rede também se trata de um mecanismo de integralização do conhecimento experimental
em comunidades rurais, haja vista a busca conjunta pela otimização e rentabilidade no uso da
terra e melhoria e conservação dos serviços ecossistêmicos.

4.4 Ambiente Institucional

Sob a égide do ambiente institucional, Angus et al. (2009) destacam a responsabilidade


dos arranjos institucionais em promover o equilíbrio de resultados socioeconômicos e
ambientais. Para tanto, apontam a necessidade imediata de maximizar o entendimento acerca
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dos trade-offs entre a produção alimentar e as metas ecológicas. Concomitante, Gadda e
Gasparatos (2009), ao analisarem o crescente processo de supeurbanização de Tóquio,
constataram que a maximização da demanda por proteína animal, sobretudo carne bovina,
possui como uma alternativa viável o planejamento regional. Segundo os autores, em escalas
menores (não global), esta seria uma ferramenta que possibilitaria a proteção do meio ambiente
sem comprometer o fornecimento de carne a população de Tóquio, especificamente. Todavia,
seria fundamental o apoio do governo, principalmente se considerada como uma estratégia para
implementação em curto prazo (CHAPMAN et al., 2017).
Por sua vez, Stickler et al. (2013) corroboram que a regulamentação da utilização da
terra consiste em um elemento complexo tanto para a governança quanto para o
desenvolvimento de estratégias de conservação florestal. Nesse sentido, analisaram o caso do
Código Florestal Brasileiro, que intenta defender interesses públicos em propriedades privadas.
Isto posto, os autores constataram que, na percepção dos proprietários de terras, especialmente
produtores de soja e carne bovina, os benefícios ambientais da conformidade com a
regulamentação são difusos e não conseguem competir com os benefícios econômicos da não
conformidade.
Não obstante, Gullstrand, Blander e Waldo (2014) afirmam que o fato da maximização
do custo marginal da biodiversidade acarretar o aumento dos preços das commodities no
mercado, torna-se questionável a eficiência do apoio institucional pautado em programas
voluntários de compensação fixa por hectare. Ao contrário, os autores constataram que uma
alternativa mais adequada consiste no desenvolvimento de uma política ambiental promulgada
com zoneamentos e indicadores de uso da biodiversidade.
Sob essa perspectiva, Higgins et al. (2014) apontam que apesar do pagamento por
serviços ecossistêmicos ser considerado por muitos indivíduos como uma visão neoliberal da
governança ambiental, tal prática consiste em um elemento híbrido. Deste modo, é construído
a partir da combinação de ferramentas políticas de mercado e não-mercado, e, portanto, requer
o envolvimento de distintas organizações e instituições para promover as mudanças ambientais
a que se propõem. Por outro lado, Barbosa, Atkinson e Dearing (2016) complementam que a
maximização da pressão sobre os serviços prestados pelos ecossistemas agrava-se com a
combinação de elementos do câmbio e da maximização da polêmica a que as exportações de
produtos florestais estão envoltas.
Ao investigar as florestas tropicais da Bolívia, Tejada et al. (2016) identificaram que,
apesar do desmatamento gerado pela expansão da pecuária de corte, o governo continua a
assegurar a produção de alimentos mediante métodos neoextrativistas. Diante disso, as
preocupações socioambientais emergem, de modo que, segundo os autores, reconhecer os
sistemas de uso da terra de forma não isolada e dinâmica, é o principal desafio para o
desenvolvimento de políticas públicas eficientes.

5 Conclusão

O paradoxo existe entre os serviços ecossistêmicos e a produção de bovinos no meio


científico, mas de forma sutil, pois entende-se que o equilíbrio entre os benefícios e malefícios
devem ser pautados e trabalhados de forma que as decisões sejam tomadas mediante a
priorização da conservação dos recursos naturais a longo prazo. Assim, as investigações
denotam a preocupação e os esforços desempenhados pelos pesquisadores, de forma, a
modificar e implementar restrições para que os recursos ecossistêmicos sejam utilizados de
forma racional na produção de bovinos.

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Pagamento por Serviços Ambientais Hídricos e sua relação com a
Agricultura: revisão bibliométrica dos últimos 10 anos (2007-2017)
Payment for Water Ecosystem Services and its relationship with Agriculture:
bibliometric review of the last 10 years (2007-2017)
Samanta Ongaratto Gil1, Greici Joana Parisoto2, Ivaneli Schreinert dos Santos3, Letícia de
Oliveira4
Resumo
Programas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), especificamente em recursos hídricos, têm trazido
oportunidades para o meio rural através de compensações financeiras, estimulando as mudanças de
comportamento no agronegócio, também criando uma conscientização ambiental, melhoria da qualidade da água
e preservação de matas nativas ou restauradas, incluindo atividades do Agronegócio. Sendo assim, o objetivo
deste trabalho foi realizar uma revisão bibliométrica a fim de analisar os artigos que abordam PSA Hídricos e
sua relação com a Agricultura, na base de dados Scopus. Classifica-se como pesquisa exploratória e descritiva,
pois visa explorar a produção científica internacionalmente, no período entre 2007 a 2017, buscando apresentar,
quantitativamente, como o tema tem sido abordado no meio científico ao longo do tempo. O estudo propiciou a
representação da evolução científica sobre o tema, principais palavras chaves indexadas, tipos de estudos e
periódicos mais ativos dentro do problema de pesquisa. Foi possível identificar um aumento recente nas
publicações a respeito do tema, o qual vem sendo introduzido mais programas deste cunho nas propriedades
agrícolas, principalmente no Brasil e China. Pesquisas de estudo de caso tem dominado o tema, o que pode estar
relacionado ao alto número de novos programas implementados ao redor do mundo e a preocupação deste
recurso para o futuro. Com o aumento recente das publicações e novos projetos, sugere-se realizar novas
pesquisas neste perfil.
Palavras-chave: Pagamento por Serviços Ambientais. Recursos Hídricos. Sustentabilidade. Conservação.

Abstract
Payment for Ecosystem Services (PES) programs, specifically in water resources, have brought opportunities for
the rural environment through financial compensation, stimulating changes in agribusiness behavior, also
creating environmental awareness, improving water quality and preserving forests native or restored, including
Agribusiness activities. Therefore, the objective of this work was to carry out a bibliometric review in order to
analyze the articles that address PES Water and its relationship with Agriculture in the Scopus database.
Classified as exploratory and descriptive research, because it seeks to explore the scientific production
internationally, in the period from 2007 to 2017, seeking to introduce, quantitatively, as the topic has been
discussed in the scientific world over time. The study provided the representation of scientific evolution on the
theme, key indexed keywords, types of studies and more active journals within the research problem. It was
possible to identify a recent increase in the publications on the subject, which has been introduced more
programs of this kind in agricultural properties, mainly in Brazil and China. Case study research has dominated
the subject, which may be related to the high number of new programs implemented around the world and the
concern of this resource for the future. With the recent increase of publications and new projects, it is suggested
to carry out new research in this profile.
Keywords: Payment for Ecosystem Services. Water Resources. Sustainability. Conservation.

1 Introdução
Pagamento por serviços ambientais (PSA) é uma ferramenta de valoração do meio
ambiente no qual o protetor da natureza recebe para preservá-la, especificamente em
preservar o solo e a água, aumentando a quantidade e qualidade da água. Conforme mostra o
site da Agência Nacional de Águas (ANA) do Programa Produtor de Água, “esses projetos
são voltados para produtores rurais que se proponham a adotar práticas e manejos
conservacionistas em suas terras com vistas à conservação de solo e água” (ANA, 2009).
Segundo sumário do Programa Produtor de Água (2009, p.5) existe uma “correlação
entre o uso agrícola do solo e a depreciação de seus atributos [...] e a implementação de

1
Mestranda em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - samantagil@hotmail.com
2
Mestranda em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - greici.parisoto@ufrgs.br
3
Mestranda em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul – ivaneli.schreinert@ufrgs.br
4
Doutora em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - leticiaoliveira@ufrgs.br
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práticas conservacionistas é a melhor forma de mitigar esses impactos, evitando o êxodo rural
ou a migração da produção”.
Associando-se a estas ideias, a UN Water, da ONU, publicou o seu Relatório Anual de
Desenvolvimento dos Recursos Híbridos – Água e Empregos (2016), explicando que a água é
um componente essencial para a economia, ressaltando que a relação do trabalho com os
recursos hídricos e naturais é dependente em oito setores: agricultura, silvicultura, pesca
energia, manufatura com uso intensivo de recursos, reciclagem, construção e transporte.
O PSA não visa somente às compensações financeiras, vai além, estimulando as
mudanças de comportamento dos produtores rurais, criando uma conscientização ambiental,
melhoria da qualidade da água e preservação de matas nativas ou restauradas. Destaca-se
também seu potencial gerador de emprego e renda para aqueles que desejam ficar nas áreas
rurais, evitando o êxodo rural.
Desta forma, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão bibliométrica a fim
de analisar os artigos que abordam Pagamento por Serviços Ambientais Hídricos e sua
relação com a Agricultura, na base de dados Scopus. Para fornecer uma visão e compreensão,
o documento introduz o assunto, primeiro fornecendo uma visão geral sobre PSA e
especificidades do tema. Seguido pelos procedimentos e metodologia utilizada para buscar e
analisar as informações. Na seção seguinte são apresentados os resultados da pesquisa assim
como sua discussão, finalizando com os principais pontos encontrados sobre o tema e
sugestão de trabalhos futuros.

2 Referencial Teórico
O ano de 2003 foi considerado o Ano Internacional da Água Potável e também foi
criada a ‘ONU Água’, responsável por publicar o Relatório de Desenvolvimento Mundial da
Água, desenvolvido pelas Nações Unidas para analisar os dados e tendências que afetam os
recursos mundiais de água doce. Toda esta movimentação para preservar, recuperar e proteger
este bem valioso mostra seu valor primordial para a saúde humana, para o desenvolvimento e
o futuro do planeta (ONU, 2018).
Entretanto, por muito tempo a água foi tratada como infinita e esta relação de abuso
tem ocasionado a degradação ambiental do planeta (ONU, 2018). Conforme mostra o inciso
II, do artigo 1°, da Lei das Águas n° 9.433/97, “a água é um recurso natural limitado, dotado
de valor econômico” (BRASIL, 1997, p.1).
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é uma ferramenta, dentre muitas, para a
valoração destes ecossistemas naturais e Jardim (2010) reforça que o PSA é um instrumento
econômico que pode auxiliar na gestão ambiental.
Apresenta-se como uma política pública para proprietários de terras que possuem
ecossistemas naturais em suas propriedades e tenham o interesse de preservá-los ou recuperá-
los, isto é, os proprietários que estão trabalhando em conjunto com o Estado ou iniciativa
privada, através de um programa, recebem um valor monetário em troca da preservação.
Moraes (2012) explica:

A ideia básica do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é a de que os


beneficiários externos dos Serviços Ambientais (SA) devem realizar pagamentos
diretos aos provedores desses serviços, proprietários do recurso ambiental,
geralmente rural, mediante contratos e condições que garantam que estes adotarão as
práticas de conservação e/ou restauração dos ecossistemas (MORAES, 2012, p.44).

O PSA utiliza-se do Princípio do Protetor-Recebedor, que visa recompensar quem


preserva a natureza e o meio ambiente, além disso, estimular mais ações de preservação. Este
princípio parte da premissa que o indivíduo (um produtor rural) que voluntariamente decide
participar de uma PSA e assume a responsabilidade de preservar a natureza para um bem

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maior, para um bem de todos, indiretamente tem uma perda financeira, perda de áreas de
produção, e consequentemente cria uma desvantagem na competitividade econômica.
Neste contexto, o PSA destina-se como uma fonte monetária de preservação da natureza
e ao mesmo tempo como uma alavanca financeira para o desenvolvimento sustentável dos
territórios rurais e a manutenção da população rural no campo. Outras vantagens são
destacadas no PSA:
A prática vem demonstrando ser eficaz em diversos países, considerando que os
serviços de preservação de recursos hídricos, regulação de gases de efeito estufa,
prevenção de erosão, biodiversidade e ecossistemas exercem um papel de grande
importância para as atividades econômicas, necessitando, portanto, atribuir-lhes
valor monetário (MORAES, 2012, p.46).

Moraes (2012) ressalta que programas como este têm surgido como alternativas para o
desenvolvimento sustentável, sempre conciliando a preservação ambiental com a melhoria
das condições socioeconômicas dos proprietários rurais. Cabe citar que o princípio básico do
PSA é reconhecer que o meio ambiente fornece gratuitamente bens e serviços que permitem a
sobrevivência e bem-estar do homem. Além disso, argumenta que a economia de mercado
não pode mais desconsiderar os recursos e usos da natureza, tendo que empregá-la como um
de seus elementos.

3 Procedimentos Metodológicos
O presente estudo descreve-se como uma pesquisa exploratória e descritiva, conforme
Vergara (2013). Através de um estudo bibliométrico, com vistas a aprimorar ideias sobre o
tema Pagamento por serviços ambientais (PSA), estritamente relacionados a recursos hídricos,
e analisar quantitativamente as produções cientificas no período de 2007 a 2017.
A base de dados utilizada foi o Scopus, para a composição da amostra, acessado através
do Portal da Biblioteca da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
disponibilizado pelo Periódico da CAPES, a pesquisa foi realizada no dia 03 de agosto de
2018, optou-se por pesquisar nos campos título, resumo e palavras-chave (Topic). Foram
utilizadas as palavras-chaves: “Payment* for Ecosystem Service” AND Water* AND Agr*. A
primeira palavra- chave, por se tratar de um termo técnico, encontra-se entre aspas com a
finalidade de não buscá-las isoladamente e com o asterisco em Payment assim buscando suas
variações. Concomitantemente, na segunda e terceira palavra, empregou-se somente o
asterisco, buscando suas diversas variações. Estas duas palavras foram escolhidas para limitar
as buscas relacionadas a recursos hídricos no agronegócio. Só foram considerados os
documentos categorizados como artigos.
Desta forma, foi alcançado um total de 60 documentos. Após realizou-se uma breve
leitura de todos os artigos para identificar quais estavam relacionados com recursos hídricos e
agronegócio, nesta etapa nove (09) artigos foram excluídos porque o objetivo não estava
relacionado com o presente estudo. Três (03) artigos foram descartados pelo texto não estar
disponível e um (01) por ser repetido. Portanto foram considerados 47 documentos científicos
para a análise bibliométrica, conforme mostra a Figura 1.
Figura 1. Processo de coleta, seleção e organização para levantamento da literatura.

Exclusão de documentos não Seleção e organização de


Pesquisa nas bases de dados
relacionados ao objeto ou documentos retornados
Scopus (n = 60)
repetidos (n = 9+3+1) (n = 47)

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

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Os dados coletados foram analisados utilizando o Software Microsoft Excel®. Nos
artigos considerados, foram analisados os seguintes aspectos: os periódicos onde foram
publicados, ano de publicação, o país de origem do estudo, o país ou região analisada pelo
documento científico, o tema principal, as palavras-chave dos artigos, autores, área de estudo
categorizada pelo Scopus, afiliação do documento e procedimentos técnicos utilizados para
seu desenvolvimento. Após foram elaborados gráficos, tabelas e uma nuvem de palavras para
uma melhor visualização dos resultados.

4 Resultados e Discussão
Analisando um cenário internacional, percebeu-se que na base de dados Scopus sobre
PSA um volume maior e mais significativo se deu no ano de 2016 (Figura 2). Tal fato pode
estar ligado ao estabelecimento da Agenda 2030, concluída em agosto de 2015, isto é, um
conjunto de ações, programas e diretrizes que orientarão os trabalhos das Nações Unidas e de
seus países membros rumo ao desenvolvimento sustentável a serem implementados de 2016 a
2030. O objetivo de número 6 da Agenda 2030, disponível no portal da ONU, é: “Assegurar a
disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”. Ademais o item 6.6
deste objetivo reforça: “até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água,
incluindo montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos” (ONU, 2018).
As publicações analisadas iniciam-se em 2007 e vão até o ano de 2017 com destaque
para o crescimento surgido a partir de 2011 e maior concentração em 2016, após uma queda
drástica em 2015, quando as publicações pulam de 02 para 10, conforme mostra a Figura 2.

Figura 2. Evolução do nº publicações, Scopus, no período de 2007 a 2017.

Fonte: Scopus.

Os países dos periódicos que mais tiveram publicações sobre o tema no analisado
foram Estados Unidos (19), Brasil (12), China e Reino Unido com 07 publicações cada,
seguidos por Espanha (05), Alemanha e Holanda (04), França e Indonesia (03) e Canadá (2).
Na Figura 3, nota-se que o Brasil esta em segundo lugar, portanto é interessante destacar que
no Brasil a Agência Nacional de Águas (ANA) desenvolveu o Programa Produtor de Água,
voltado à proteção hídrica no Brasil. Os projetos têm adesão voluntária e são voltados a
produtores rurais que se proponham a adotar práticas e manejos conservacionistas em suas
terras com vistas à conservação de solo e água, melhorando a qualidade e a disponibilidade da
água (ANA, 2018).

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Figura 3. Principais países que publicaram sobre PES, na base de dados Scopus, (2007 a 2017).

Fonte: Scopus.

Num segundo momento, foram identificados o país ou região analisada pelos artigos
utilizados neste estudo, isto é, existe uma diferenciação do país que publicou o documento
científico com a região analisada pelo mesmo.
Conforme mostra a Figura 4, o Brasil está novamente em destaque (11), seguido pela
China (07), Reino Unido (04) e Espanha, Quênia e Vietnã com dois cada. Vale destacar, que
dos artigos analisados, dois trabalharam com uma visão Global dos PES buscando identificar
os programas no mundo. Segundo o site da ANA, existem atualmente no Brasil 17 programas
ativos de Produtores de Água, em nove (09) Estados Brasileiros (Goiás, Minas Gerais, Mato
Grosso do Sul, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo)
e 01 (um) no Distrito Federal (ANA, 2018).
Figura 4. Principais países ou região analisados pelos artigos.

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

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Quanto às classificações metodológicas, 64% dos artigos se encaixam em Estudo de
caso, 23% pesquisa documental, 11% levantamento e somente 2% pesquisa experimental
(figura 5).

Figura 5. Frequência das metodologias abordadas nos artigos, na base de dados Scopus (2007 a 2017).

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

Os periódicos que apresentaram maior número de publicações científicas relativas ao


tema da pesquisa foram o Ecosystem Services com seis publicações, Land Use Policy e
Revista Ambiente e Água com três trabalhos cada, e conseqüentemente com dois trabalhos
cada, os seguinte periódicos: Ecological Economics, Ecologyand Society, Global
Environmental Change, PLoS ONE e Shengtai Xuebao/ Acta Ecologica Sinica (Figura 6).

Figura 6. Periódicos que mais publicaram sobre o tema.

Periódicos
Shengtai Xuebao/ Acta Ecologica Sinica 2
PLoS ONE 2
Global Environmental Change 2
Ecology and Society 2
Ecological Economics 2
Revista Ambiente e Agua 3
Land Use Policy 3
Ecosystem Services 6

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

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Nas figuras 7, 8 e 9 apresentam os principais autores (figura 7), as instituições
vinculadas (figura 8) e as áreas de estudo (figura 9). Percebe-se que não ficou evidenciada
uma concentração de grande número de autores por artigo, nos 10 primeiros colocados, só o
primeiro autor tem 3 artigos, os outros apresentam 2 artigos cada.

Figura 7. Autores que mais publicaram sobre o tema.

Fonte: Scopus.

Em se tratando das instituições que mais publicaram nesta amostragem, dentre as 10


primeiras colocadas, o Brasil apresentou 3 instituições, sendo em primeiro lugar a
Universidade de São Paulo – USP, em quarto lugar a Empraba (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro em sétimo. Fato este que
corrobora com a posição do Brasil entre os principais países ou região analisados (Brasil com
11 documentos científicos) e os principais países que publicaram sobre PES nesta
amostragem (Brasil com 12) respectivamente representadas pelas figuras 3 e 4 deste estudo. A
Chinese Academy of Sciences ficou em terceiro lugar, sendo que reforça a posição da China
entre os principais países ou região analisados (China com 7 documentos científicos) e os
principais países que publicaram sobre PES nesta amostragem (China com 7) também
representadas pelas figuras 3 e 4 deste estudo.

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Figura 8. Instituições que mais publicaram sobre o tema.

Fonte: Scopus.

Nas áreas de estudo, categorizadas pelo Scopus, as 03 primeiras são: Environmental


Science com 38,8%, Agricultural e Biological Science com 24,5% e Social Sciences com
18,4%.

Figura 9. Áreas de estudo que mais publicaram sobre o tema.

Fonte: Scopus.

Por fim, na figura 10 estão descritas as palavras-chave mais freqüentes nos documentos
encontrados para a pesquisa, com destaque para Forest, PaymentsEcosystem, Water,
Watershed, Restoration, Management e Participation. Nota-se que o termo Payment
(Pagamento) foi um dos mais freqüentes, em suas diversas variações.

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Figura 10. Word Cloud com as palavras-chave mais presentes os artigos.

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

5 Conclusões
Este estudo se propôs a identificar e analisar as principais características da produção
científica publicada em forma de artigo nos últimos dez anos (2007 até 2017), na base de
dados do Scopus, sobre a relação de Pagamento por Serviços Ambientais Hídricos com a
Agricultura. Foram analisados 47 artigos.
Conforme resultado apresentado, mesmo sendo um assunto relativamente novo, é
possível identificar que há um aumento recente nas publicações sobre o assunto, mesmo que o
uso da água na agricultura seja um assunto discutido há muito tempo. O papel da
conscientização e da preocupação com os serviços ecossistêmicos é essencial para este tipo de
estudo, ficando evidente o papel da China e do Brasil neste campo de pesquisa.
Pesquisas de estudo de caso têm dominado o tema, o que pode ser explicado pelo alto
número de novos programas que têm surgido e a necessidade de avaliar sua eficácia.
Este estudo apresenta algumas limitações, pois as análises são efetuadas a partir da
produção científica disponível em uma base de dados específica. Deste modo, foram
desconsiderados outros artigos que não estavam na base escolhida. Sugere-se, para pesquisas
futuras, ampliar a revisão utilizando outras formas de publicação e outras bases de busca.

Referências

ANA, Programa Produtor de Água / Agência Nacional de águas – Brasília: ANA; SUM,
2009 – Disponível em: <http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/todos-os-documentos-do-
portal/documentos-sip/produtor-de-agua/documentos-relacionados/folheto.pdf > Acesso em
04 ago. 2018.
BRASIL, Lei das águas - Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm>. Acesso em: 04 ago. 2018.
JARDIM, Mariana Heilbuth. Dissertação de mestrado. Pagamentos por serviços ambientais
na gestão de recursos hídricos: o caso de município de Extrema/MG. Universidade de
Brasília. Brasília-DF, 16 de julho de 2010. 195 p.
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MORAES, Jorge Luiz A. Pagamento por Serviços ambientais (PSA) como instrumento de
Política de Desenvolvimento Sustentável dos territórios rurais: O Projeto Protetor Das
Águas de Vera Cruz, RS. Sustentabilidade em Debate – Brasília, v3 n.1, p43-56 Jan./Junho
2012.
ONU, Organização das Nações Unidas. Agenda 2030. 2018. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/pos2015/ods6/> Acesso em 05 ago. 2018.
ONUBR, Nações Unidas do Brasil. Disponível em: <https://nacoesunidas.org>. Acesso em:
05 ago. 2018.
ONU, Relatório Mundial das Nações Unidas sobre desenvolvimento dos Recursos
Híbridos, 2016 Disponível em: <http://www.unesco.org/new/es/natural-
sciences/environment/water/wwap/wwdr/2016-water-and-jobs/> Acesso em: 06 ago. 2018.
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 14.ed. São Paulo:
Atlas, 2013.

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Serviços Ecossistêmicos e práticas de manejo de campo na visão dos
pecuaristas dos Campos Sulinos
Ecosystem Services and management practices: view of
Southern Campos cattle farmers
Marcelo Benevenga Sarmento1, Isadora Giorgis de Macedo2, Bibiana Melo Ramborger3

Resumo
A pecuária com base em campos naturais constitui-se na principal atividade agropecuária dos Campos Sulinos.
O adequado manejo e conservação destes campos dependem principalmente das ações dos pecuaristas, pois mais
de 70% das áreas campestres são privadas. Nesse sentido, é de fundamental relevância a compreensão dos
valores e práticas de manejo conduzidas pelos produtores. O trabalho tem como objetivo compreender a visão e
as práticas realizadas pelos pecuaristas da região em relação ao manejo do campo nativo e sua conservação. Foi
conduzido um levantamento do tipo “survey” com 50 pecuaristas, a partir de um questionário aplicado via
Googledocs na rede social Facebook de 20 de março a 16 de julho de 2018. O estudo mostrou que os pecuaristas
reconhecem os valores e benefícios dos campos, porém, destacam que necessitam de inventivos para a melhoria
no manejo e conservação dos campos, dentre os quais, pode-se citar: crédito subsidiado para compra de insumos,
assistência técnica e capacitação aos produtores e técnicos e o pagamento pelos serviços ambientais. Com base
no Millenium Ecosystem Assessment foi possível separar os valores e benefícios relatados pelos produtores nos
seguintes tipos de serviços ecossistêmicos: provisão, regulação/suporte e culturais. Conclui-se que os pecuaristas
da região dos Campos Sulinos reconhecem a multifuncionalidade da vegetação campestre, porém, precisam de
incentivos públicos e privados para que possam promover a melhoria no manejo dos campos bem como sua
conservação.
Palavras-chave: Campos Sulinos, Pecuária sustentável, Serviços ecossistêmicos, Manejo de campo nativo.

Abstract
Beef cattle raised in grasslands is the main agricultural activity in Southern Brazilian Campos. Adequate
management and conservation of grasslands depends necessarily on practical actions from farmers considering
70% of areas are private. Hence it is relevant comprehend the main values and practices carried out by farmers.
The objective of this research was to analyze the view and management practices related to grasslands
management and conservation. It was carried a “survey”with 50 cattle farmers from this region. The survey was
performed based on a questionnaire from Googledocs tool applied in the network Facebook from March 25th
and July 16th, 2018. The study showed that farmers recognize values and benefits obtained from grasslands
management, however, highlight the importance of incentives in improving grasslands management and
conservation. Among the incentives suggested by the farmers are: subsidized credit to buy inputs, technical
assistance, training the producers and technicians, payment for ecosystem services. Based on Millennium
Ecosystem Assessment the values and benefits mentioned were ranked in the following ecosystem services:
provision, regulation/support and cultural. I is possible conclude cattle farmers from Southern Brazilian
Campos recognizes the multifunctionality of grasslands but need public and private incentives to promote the
improvement of grasslands management and conservation.
Keywords: Southern Campos, Sustainable Livestock, Ecosystem Services, Grasslands Management.

1 Introdução

O Rio Grande do Sul apresenta um território de cerca de 282 mil km², onde podemos
encontrar uma grande diversidade de paisagens. Essa diversidade é fruto da combinação de
vários fatores, como o relevo, solo, clima, a tipologia da vegetação, etc. (HASENACK et al.
2007).

1
Engenheiro Agrônomo, mestre e Dr. Em Ciências e Tecnologia em Sementes, Professor dos Cursos de
Agronomia e Tecnologia em Agronegócio, URCAMP - marcelobs05@hotmail.com
2
Estudante de agronomia, IFSUL – Bagé - isa.giorgis@gmail.com
3
Assistente Social, mestre e doutoranda em Agronegócios na Universidade Federal do Rio Grande do Sul -
bibianamr@gmail.com

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No entanto, com o avanço da civilização e com o aumento da população humana
ocorreram muitas alterações. A introdução de animais domésticos como o gado bovino, e de
culturas como o arroz e a soja, a silvicultura e a expansão urbana modificaram grandemente a
fisionomia original dos campos (BOLDRINI, 2009).
Os campos do Rio Grande do Sul estão inseridos em dois biomas distintos: Mata
Atlântica, que compreende os campos que estão localizados a nordeste, e o Pampa/Campos
Sulinos, que inclui os campos localizados na metade sul e oeste do estado. Os campos do
Pampa são ecossistemas naturais muito antigos, considerados testemunhos de um clima frio e
seco, que já existiam antes mesmo da expansão florestal no Rio Grande do Sul. (BEHLING et
al. 2005, 2009, OVERBECK et al. 2007).
A região dos Campos Sulinos é uma das mais importantes em nível global na
produção pecuária a pasto. O manejo e conservação das áreas de pastagens naturais da região
tem especial relevância ecológica, produtiva e econômica. Neste ecossistema, cujos produtos
animais são obtidos a partir de sistemas de produção baseados em pastagens naturais, o valor
não está apenas no fornecimento de carne, lã, couro e forragens, mas também no suprimento
dos serviços ecossistêmicos.
Um bem ou serviço ecossistêmico tem grande importância para o suporte às funções
que garantem a sobrevivência das espécies. De forma geral, todas as espécies de animais e de
vegetais dependem dos serviços ecossistêmicos e dos recursos naturais para a sua existência.
Essa importância traduz-se em valores associados aos bens ou aos recursos ambientais, que
podem ser valores morais, éticos ou econômicos (TÔSTO, 2010).
O manejo dos ecossistemas de pastagens naturais deve considerar muitas demandas
competitivas incluindo a produção de alimentos, comunidades e serviços ecossistêmicos. A
produção de carne e leite para atender a demanda global requer aumentar a produtividade dos
rebanhos considerando distintas variáveis para sustentabilidade dos ecossistemas de campos
naturais e o contínuo fornecimento de serviços ecossistêmicos (BOVAL e DIXON, 2012).
Assim, este trabalho objetivou avaliar a visão e as práticas dos pecuaristas em relação
ao manejo e conservação da vegetação campestre da região dos Campos Sulinos.

2 Revisão de literatura

Para podermos enfocar no tema dos serviços ecossistêmicos faz-se necessário


primeiramente falar sobre os campos naturais, pois estes são essenciais na regulação hídrica e
no fornecimento de água limpa para a produção de forragem para a atividade pecuária, na
manutenção de polinizadores e de predadores de pragas de culturas agrícolas e na estocagem
de carbono no solo que ajuda a mitigar as mudanças climáticas globais, dentre outros
(PILLAR et al., 2015).
Os campos são ecossistemas naturais que caracterizam esta região muito antes da
expansão das florestas ocorrida no Holoceno (BEHLING e PILLAR, 2007). Além da
relevância econômica, este ecossistema possui alta biodiversidade, com ao redor de 2.200
espécies vegetais, muitas cujo potencial de uso ainda é incipiente (BOLDRINI, 2012),
possuindo alta diversidade de animais silvestres.
Em termos de estoque de carbono os campos cumprem um papel relevante. Solos de
ecossistemas campestres possuem grande capacidade de armazenagem de carbono, cuja
quantidade global é estimada em 343Gt de C, valor que é aproximadamente 50% maior que o
estocado nas florestas globalmente (FAO, 2010).
As percepções das múltiplas funções das pastagens naturais tem se modificado nas
recentes décadas. Atualmente, é reconhecido que há inúmeros temas regionais, nacionais e
globais com os quais as utilizações das pastagens naturais estão fortemente relacionadas.
Estes incluem a função das pastagens como necessidades sociais e culturais para muitas

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comunidades rurais, seu papel na redução das emissões de gases estufa, como reserva hídrica
e preservação da biodiversidade (DEFRIES e ROSENZWEIG, 2010). Ao mesmo tempo o
aumento da demanda global por alimento deve ser conciliado sem efeitos adversos
significativos (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, 2009).
O grande desafio da pecuária é aperfeiçoar as práticas de manejo para que resultem em
ganhos tanto para as pastagens naturais, o meio ambiente como para o proprietário (KEMP et
al. 2013). A exploração pecuária extensiva baseada em práticas de manejo com alta carga
animal, introdução de espécies forrageiras exóticas (algumas potencialmente invasoras) e uso
indiscriminado de fogo e de herbicidas tem diminuído o potencial produtivo dos campos
nativos, refletindo-se em um menor ganho de peso animal (DEVELEY et al., 2008).
Nabinger et al., (2011) reforçam a importância da utilização de técnicas de
melhoramento de campo como ajuste de carga, diferimento, roçadas, adubação, dentre outras
como promotoras de aumento na produtividade conciliando com a conservação dos campos.
Em relação à cadeia produtiva da carne bovina, objeto deste estudo, a mesma vem
enfrentando constantes dificuldades decorrentes da falta de subsídios para nortear o setor de
forma sistêmica. As limitações do sistema produtivo, em termos de sustentabilidade, de
eficiência de desempenho, da necessidade de se abordar o assunto sob o enfoque de cadeia
produtiva e de agronegócios, determinam quais ações devem ser tomadas de imediato para
reverter à situação atual do setor bovino de corte, que vem ao longo dos anos perdendo
mercado para outras cadeias agroalimentares concorrentes (Malafaia Et. al., 2005). Nesse
sentido, o adequado manejo e conservação dos campos naturais constituem-se em ferramentas
simples e práticas que podem aumentar a produção animal, gerando renda e sustentabilidade
para o setor.

3 Procedimentos metodológicos

Foi realizada uma pesquisa do tipo “survey” com pecuaristas cujo sistema produtivo é
baseado em um mínimo de 50% de campo nativo manejado. Todos os produtores
entrevistados enquadram-se na região do Ecossistema Campos Sulinos, pertencente à região
Sul do Brasil.
Inicialmente aplicou-se um questionário prévio a 10 pecuaristas indicados pelas
Associações e Sindicados Rurais dos municípios de Bagé e Dom Pedrito, RS. para melhor
adequar as questões aos objetivos da pesquisa. Um questionário semiestruturado com
questões abertas e fechadas foi disponibilizado no período de 25 de março a 20 de julho de
2018 na ferramenta Googledocs pela rede social Facebook. O número final de produtores
entrevistados foi cinquenta. O questionário foi direcionado para produtores rurais, sendo
selecionados somente os produtores que realizam atividade pecuária com ou sem integração
com a agricultura e que tivessem no mínimo 50% de áreas de campo nativo conservado em
suas propriedades. Os valores, concepções e práticas de cada pecuarista entrevistado foram
analisados. Os respondentes que não se enquadraram no perfil acima não foram incluídos na
análise dos dados.
O formulário completo apresenta 27 questões, dentre objetivas e subjetivas. Os dados
apresentados neste artigo são parciais e correspondem a cinco questões, sendo três subjetivas
(Tabelas 1, 2 e 3) e uma objetiva (Figura 1).
As três questões subjetivas apresentadas neste artigo são: 1-Quando você ouve falar
em campo nativo o que lhe vêm em mente? 2-Quais benefícios práticos observas ao conservar
seu campo nativo? 3-Quais aspectos você sugeriria aos órgãos públicos e/ou privados para
incentivar a conservação dos campos nativos e aumentar a sua produtividade?
Com base na classificação dos serviços ecossistêmicos do Millenium Ecosystem
Assessment (2005) foi possível separar os valores e benefícios relatados pelos produtores nas

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respostas às questões um e dois nos seguintes tipos de serviços ecossistêmicos, provisão,
regulação/suporte e culturais. Os serviços de regulação e suporte foram agrupados em um
mesmo item e os resultados são apresentados nas Tabelas 1 e 2.
Para a questão cinco os produtores foram arguidos sobre: Quais aspectos você
produtor prioriza ao manejar o campo nativo. As respostas são apresentadas na Figura 1.

4 Resultados e Discussão

Discussão das Tabelas 1 e 2

As Tabelas 1 e 2 mostram os benefícios e valores percebidos pelos pecuaristas a


respeito dos campos naturais da região. Embora na Tabela 1 predomine os serviços de
provisão, o que é relatado em diversos estudos, pois estes são mais facilmente perceptíveis
pelos consumidores destes serviços tais como carne, lã, leite e forragens. Há também o relato
de inúmeros serviços culturais conforme os seguintes relatos: “região na qual estamos
inseridos”, “Campos do sul”, “Tradição e Cultura”, “Trabalhamos com isso há mais de 40
anos!” e “Ótimo potencial para atividade pecuária”.
A pesquisa buscou de forma indireta identificar os serviços ecossistêmicos decorrentes
das atividades pecuária com base em campos naturais do Sul do Brasil a partir de
questionamentos sobre os benefícios e valores da pecuária a pasto nativo (Tabelas 1 e 2).
Os serviços de regulação e suporte foram agrupados juntos, pois, neste caso os valores
observados nas entrevistas podem enquadrar-se em um ou outro tipo de serviço. Na Tabela 1
verifica-se que os principais serviços de regulação e suporte são: Alta quantidade de espécies
naturais, preservação, sustentabilidade, biodiversidade, estabilidade, grande diversidade de
gramíneas e leguminosas com alta adaptação ao tipo de clima e solo da região, convivência
harmoniosa com espécies animais e vegetais nativas, vegetação campestre adaptada à região e
ao clima e que necessita, apenas, manejo racional do pastoreio para melhorar sua
produtividade e conservação de espécies adaptadas a milhares de anos. É nítida a percepção
da importância dos campos na biodiversidade, estabilidade e resiliência da pecuária em longo
prazo, o que caracteriza um sistema produtivo sustentável em longo prazo, capaz de tanto
prover alimentos e ganhos econômicos como bem estar e qualidade de vida aos trabalhadores
rurais e sociedade.
Asbjornsen et al. (2013) em revisão sobre os serviços ecossistêmicos das atividades
agrícolas sustentáveis nos Estados Unidos destacam a importância de vegetação perene e
estabilidade dos ecossistemas campestres para continuidade dos sistemas produtivos ao longo
do tempo. A vegetação campestre dos campos sulinos é predominantemente composta por
espécies herbáceas perenes.
Atualmente sabe-se que os serviços ecossistêmicos dependem do contexto em que
vive a população alvo da pesquisa e que as diferenças culturais, socioeconômicas e agrícolas
podem variar entre regiões (DIAZ et al., 2006), alterando os resultando da pesquisa ou mesmo
dificultando a interpretação dos mesmos. Nesta pesquisa os serviços ecossistêmicos foram
identificados de forma indireta associando-os à visão e benefícios relatados pelos
respondentes. Entretanto, na escala regional dos Campos Sulinos, em que a pesquisa está
sendo conduzida, os serviços ecossistêmicos obtidos parecem ter uma forte relação com a
percepção que os pecuaristas têm de sua região como os recursos naturais e a cultura,
claramente relatados nas respostas das Tabelas 1 e 2.

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Tabela 1. Quando você ouve falar em Bioma Pampa e Campo Nativo o que lhe vêm em mente?

Valores relacionados ao campo nativo Serviço associado


Caracterização da região na qual estamos inseridos. Cultural
Campos do sul, Região da fronteira, Região da Campanha. Cultural
Tradição, cultura. Produção natural da região. Cultural
Que trabalhamos com isso há mais de 40 anos! Cultural
Ótimo potencial para atividade de pecuária. Provisão
Produção de forragem segura ao longo do tempo, além de sustentar a fauna Provisão
Pampeana.
Produção à pasto. Produção ambientalmente sustentável. Provisão
Campo e carne de qualidade. Provisão
Produzir com mais eficiência melhorando o campo nativo. Provisão
Pasto de qualidade no verão. Provisão
Campo limpo sem invasoras. Regulação/Suporte
Alta quantidade de espécies naturais. Regulação/Suporte
Preservação. Sustentabilidade. Biodiversidade. Estabilidade. Regulação/Suporte
Na nossa região é essencial conservar o ambiente. Regulação/Suporte
Campos com uma grande diversidade de gramíneas e leguminosas com alta Regulação/Suporte
adaptação ao tipo de clima e solo da região.
Convivência harmoniosa com espécies animais e vegetais nativas. Regulação/Suporte
Vegetação campestre adaptada à região e ao clima e que necessita, apenas, Regulação/Suporte
manejo racional do pastoreio para melhorar sua produtividade.
Conservação de espécies adaptadas a milhares de anos. Regulação/Suporte
Fonte dos autores.

Tabela 2. Quais benefícios práticos observas ao conservar seu campo nativo?


Benefícios práticos da conservação do campo Serviço
Mais economia na produção. Produção de carne a baixo custo. Provisão
Melhor oferta de forragem de qualidade. Provisão
Recuperação de espécies como o Desmodium incanum. Provisão
Recurso natural gratuito que deve ser cuidado. Provisão
Custo zero com espécies forrageiras exóticas e ração. Provisão
Aumento da quantidade e qualidade de espécies forrageiras. Provisão
Qualidade e sabor da carne bovina da região. Provisão
Surgimento de espécies nobres. Regulação/suporte
Manutenção das nascentes. Regulação/suporte
Melhora no rebrote das espécies nativas. Regulação/suporte
Conservação da fauna e flora. Regulação/suporte
A produção se mantém e melhora através dos anos. Regulação/suporte
Sistema de produção perene e estável Regulação/suporte
Biodiversidade Regulação/suporte
Tolerância e resiliência às adversidades climáticas como estiagens e Regulação/suporte
geadas fortes.
Fonte dos autores.

Discussão da Tabela 3

A Tabela 3 mostra as respostas dos entrevistados em relação ao questionamento para


fornecer sugestões aos órgãos públicos e privados que possam aumentar a produtividade e
promover a conservação dos campos naturais. Grande parte dos entrevistados sugeriram
incentivos financeiros ou fiscais para custeio na aquisição de insumos e melhoria na
capacitação dos produtores e técnicos que manejam áreas de campo nativo na região. Ainda
foi relatado que os stakeholders precisam conhecer mais detalhadamente os sistemas

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produtivos da região, baseado em condições diferenciadas de solo, clima, vegetação e fator
humano.
O aumento na bonificação para o gado engordado a pasto e a criação de pequenos
abatedouros locais também foram pontos sugeridos nas entrevistas. Adicionalmente, a
assistência técnica a custo reduzido bem como o pagamento pelos serviços ecossistêmicos
decorrentes do manejo adequado dos campos podem ainda ser utilizados como inventivos,
conforme relato dos pecuaristas.
Está em curso no Brasil Cadastro Ambiental Rural (CAR) relacionado ao Código
Florestal, bem como políticas públicas de incentivo fiscais relacionados à promoção dos
serviços ambientais, muitas delas com ações e compromissos assumidos pela Embrapa, como
é o caso do Programa de Governo Agricultura de Baixo Carbono (ABC). Surgem, a partir
destas iniciativas, demandas por pesquisas, métodos e tecnologias que possam subsidiar as
ações previstas, tais como: métodos para seleção de áreas prioritárias à intervenção
conservacionista; manejo conservacionista da terra; indicadores de serviços ambientais de
fácil utilização e replicáveis para o monitoramento e certificação de práticas conservacionistas
em relação aos serviços ecossistêmicos; dentre diversas outras iniciativas (PRADO et al.,
2015).
Para Balvanera et al., (2012), uma ampla gama de intervenções ou incentivos podem
ser usados para manter os serviços ecossistêmicos: a) geração de conhecimento como
pesquisa científica, comunicação e informação; b) intervenções institucionais e governança,
como regras locais de acesso aos recursos biológicos; c) intervenções comportamentais e
sociais, por exemplo, empoderamento, relacionado aos valores sociais e individuais; d)
intervenções tecnológicas como melhorias nas práticas de manejo e busca mais eficiente de
manejo dos serviços ecossistêmicos; e) intervenções financeiras e de mercado, como exemplo
os mercados de carbono e pagamento por serviços ecossistêmicos, incentivos financeiros,
tomada de decisão.

Tabela 3. Quais aspectos você sugeriria aos órgãos públicos e/ou privados para incentivar
o aumento da produtividade e a conservação dos campos nativos?
Sugestões dos produtores para aumento na produtividade e conservação dos campos
1-Evitar interferir de forma a inibir o trabalho do produtor rural na sua propriedade.
2-Incentivos financeiros e/ou fiscais para custeio na aquisição de insumos que promovam a
melhoria na produtividade do campo e auxiliem na conservação.
3-Incentivo para adubação, introdução de calcário e sobressemeadura de espécies.
4-Incentivo financeiro para a criação de pequenos abatedouros locais.
5-Promover a capacitação dos produtores e técnicos para conhecerem a realidade produtiva
diferenciada de cada tipo de solo, relevo e condições microclimáticas.
6-Monitorar a existência de estresses ambientais que dificultam o manejo pecuário, limitam a
rentabilidade e a conservação do campo nativo.
7-Leis diferenciadas dos demais biomas brasileiros, considerando as características únicas do
Ecossistema Campos Sulinos.
8-Aumentar a bonificação do gado engordado a campo nativo.
9-Legislação ambiental que proteja, oriente e auxilie o produtor e não o pressione ou condene.
10-Maior divulgação das técnicas para aumento da produtividade em campo nativo.
11-Incentivar práticas mais rentáveis como ajuste de carga animal, roçadas e diferimento.
12-Promover sistemas produtivos que aumentem a produtividade e conservem o campo nativo.
13-Reduzir a dependência da compra de insumos externos de alto custo.
14-Promover a assistência técnica a custo reduzido para os produtores.
15-Inclusão dos produtores conservacionistas no pagamento por serviços ecossistêmicos.
Fonte dos autores.

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Discussão da Figura 1

A Figura 1 abaixo apresenta os resultados do questionamento sobre: Quais aspectos


você produtor prioriza ao manejar seu campo nativo? Verifica-se que o aumento da
produtividade destacou-se em relação às demais opções, o que pode caracterizar uma visão
focada nos serviços de provisão, que é mais facilmente perceptível pelos produtores como os
serviços relacionados à provisão de alimento e renda, principalmente. A Figura 1 demonstra
ainda que os produtores priorizam a produtividade ao manejar o campo nativo, mas sem
deixar de lado a conservação das espécies “boas”, realizar a limpeza do campo e de dar
condições para as boas forrageiras se desenvolverem. As demais respostas embora também
possam caracterizar uma visão dos serviços de provisão, associam a esta com a melhoria na
biodiversidade e no manejo do campo. Parece clara a percepção dos pecuaristas de que
embora o principal foco deles esteja na produtividade, estão cientes de que, para obtê-la,
devem necessariamente promover diversas melhorias no manejo pecuário, o que, além da
produtividade e lucratividade também acarreta na conservação dos campos.
A conservação do campo depende da forma como é feito o manejo e nesse aspecto
existe uma gama de ferramentas tecnológicas atualmente disponíveis, que, uma vez bem
utilizadas fazem a diferença tanto na produtividade, lucratividade como na manutenção dos
serviços ecossistêmicos, como bem destacaram Nabinger et al. (2011) em revisão sobre o
tema. Boval e Dixon (2012) concordam com os autores acima e salientam que o manejo dos
ecossistemas campestres deve equilibrar a demanda pela produção de alimentos com os
benefícios às comunidades locais e a oferta de serviços ecossistêmicos.
Independentemente do sistema produtivo predominante, a pecuária com base em
campos naturais pode garantir a sustentabilidade do sistema em longo prazo, entretanto,
conforme a necessidade de maior liquidez ao sistema a introdução de outros sistemas
produtivos como integração lavoura-pecuária, sistemas silvipastoris, pastagens cultivadas ou
ainda culturas anuais, pode ser bem vinda, desde que não comprometa o manejo e a
conservação dos campos naturais. Desse modo, a atividade pecuária com base em pastagens
naturais sempre terá seu papel de assegurar a manutenção da sustentabilidade da propriedade
rural ao longo do tempo, sobretudo em uma atividade de alto risco econômico, climático e
comercial como a pecuária ou mesmo a agricultura.

Figura 1. Quais aspectos você produtor prioriza ao manejar seu campo nativo?

Aumentar a carga de inverno. 7

Limpar o campo 14

Conservar as espécies boas 18

Dar condições para as boas forrageiras se


27
desenvolverem

Aumentar a produtividade 33

0 5 10 15 20 25 30 35

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Fonte dos autores.

5 Conclusões

Os resultados preliminares mostram que os pecuaristas entrevistados reconhecem as


vantagens produtivas, ambientais e econômicas de manejar adequadamente e conservar os
campos naturais desta região, entretanto, necessitam de incentivos via crédito subsidiado,
redução de impostos, melhoria na assistência técnica e maior divulgação das técnicas de
melhoramento e conservação dos campos.
Como limitações da pesquisa sugere-se que uma amostra mais representativa de
produtores da região dos Campos Sulinos seja obtida para que se possam inferir conclusões
aplicáveis decorrentes deste estudo.
Os resultados desta pesquisa contribuem para a compreensão dos valores e práticas
dos pecuaristas da região em relação ao manejo e conservação dos campos. Desse modo,
poderão servir para embasar recomendações práticas tanto para o manejo dos campos em
nível de propriedades rurais como fornecer dados para a elaboração de políticas públicas de
fomento a conservação dos campos naturais na região.
Dentre os benefícios resultantes do manejo adequado e conservação dos campos os
produtores salientaram a economia na produção, reduzido risco da atividade e produção de
forragem, carne saborosa e de qualidade, custo zero com ração, os quais estão relacionados os
serviços de provisão. Dentre os atributos relacionados aos serviços de regulação e suporte,
destacam-se: manutenção das nascentes, conservação da fauna e flora, sistema de produção
perene e estável, biodiversidade, tolerância e resiliência às adversidades climáticas como
estiagens e geadas fortes.
Os valores e práticas dos produtores mostraram que os diferentes agentes da cadeia
produtiva da pecuária com base em campo nativo devem se envolver em um amplo e contínuo
programa público de incentivos a este sistema produtivo. Para que isto ocorra é pertinente que
os produtores organizem-se em associações ou cooperativas e demonstrem o que fazem
dentro de suas propriedades.
Sistemas pecuários a pasto nativo são estáveis, resilientes, biodiversos e de baixo risco
econômico e comercial, podendo tanto prover carne, leite, lã e couro como contribuir
grandemente para o bem estar humano via manutenção dos serviços ecossistêmicos.

Referências
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Os Serviços Ecossistêmicos e sua valoração
The Ecosystem Services and their valuation
Débora Mara Correa de Azevedo1

Resumo
O presente artigo apresenta uma revisão acerca dos primeiros autores que trataram da valoração dos serviços
ecossistêmicos, mais precisamente o debate acerca das limitações dos métodos de atribuição de valores aos
serviços ambientais. A degradação e a perda da biodiversidade prejudicam o funcionamento e a resiliência dos
ecossistemas, o que vem ameaçar a sua capacidade de fornecerem o fluxo de serviços de forma contínua, para as
gerações presentes e futuras. A relação entre o funcionamento dos ecossistemas e o bem-estar humano é um
assunto abordado historicamente por grande número de autores. Na década de 1970 iniciou-se uma discussão
acerca da mensuração e valoração dos serviços ecossistêmicos, sendo que a importância da valoração ambiental
reside no fato de criar um valor de referência que indique uma sinalização de mercado possibilitando, assim, o uso
"racional" e sustentável dos recursos ambientais. Embora não exista uma classificação universalmente aceita sobre
as técnicas de valoração econômica ambiental, a valoração de ativos ambientais regionais busca sinalizar o preço
que este recurso possui, tornando possível a determinação de políticas que visem conciliar a manutenção e
conservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. Entretanto, essa medida ainda precisa ser melhor
desenvolvida, uma vez que os métodos de mensuração apresentados têm mostrado limitações para atingirem a
finalidade para qual se destinam, uma vez que se corre o risco de que aqueles serviços ambientais classificados
como insubstituíveis tenham valores que saltem para o infinito em razão das incertezas envolvidas talvez nunca
haja uma estimativa muito precisa do valor dos serviços ecossistêmicos.

Palavras-chave: Serviços ecossistêmicos, valoração, ambiental

Abstract
This article presents a review about the first authors who dealt with the valuation of ecosystem services, more
precisely the debate about the limitations of the methods of assigning values to environmental services.
Degradation and loss of biodiversity undermine the functioning and resilience of ecosystems, which threatens
their ability to provide the flow of services on an ongoing basis for present and future generations. The relationship
between the functioning of ecosystems and human well-being is a subject historically addressed by a large number
of authors. In the 1970s a discussion began about the measurement and valuation of ecosystem services. The
importance of environmental valuation lies in the fact of creating a reference value that indicates a market
signaling, thus enabling the "rational" and sustainable use of environmental resources. There is no universally
accepted classification of environmental economic valuation techniques. However, the valuation of regional
environmental assets seeks to signal the price that this resource has, making possible the determination of policies
that aim to reconcile the maintenance and conservation of the environment and sustainable development.
However, this measure still needs to be better developed since the measurement methods presented have shown
limitations in achieving the purpose for which they are intended. There is a risk that those environmental services
classified as irreplaceable will have infinite values, and because of the uncertainties involved, there may never be
a very accurate estimate of the value of ecosystem services.

Keywords: Ecosystem services, valuation, environmental

1 Introdução

Os ecossistemas fornecem uma grande quantidade de serviços, muitos dos quais são de
fundamental importância para o bem-estar humano, saúde, meios de subsistência e, até mesmo,
sobrevivência. Muito embora existam alguns acordos internacionais que têm por objetivo a
preservação dos serviços ecossistêmicos, como por exemplo a Convenção sobre Diversidade
Biológica (CDB, 2010), a biodiversidade global continua a declinar substancialmente (TEEB
SYNTHESIS, 2010).
A degradação e a perda da biodiversidade prejudicam o funcionamento e a resiliência
dos ecossistemas, fato esse que vem ameaçar a sua capacidade de fornecer continuamente o

1 Bacharel em Direito/ PPG-Agronegócios/UFRGS/ Email: dmcazevedo@yahoo.com.br


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fluxo de serviços para as gerações presentes e futuras. Estima-se que estas ameaças se tornem
maiores no contexto das alterações climáticas e do consumo, cada vez maior, de recursos
humanos. Conforme De Groot (2012), a biodiversidade e seus serviços ecossistêmicos
associados não podem mais ser tratados como bens inesgotáveis e livres; e seu verdadeiro valor
para a sociedade, bem como os custos de sua perda e degradação, precisam ser devidamente
contabilizados.
A partir disso é possível verificar o surgimento de instituições, tanto governamentais
quanto de direito privado, com o intuito de realizarem estudo e alternativas para a preservação
dos serviços ambientais.
Conforme o estudo denominado “The Economics of Ecosystem and Biodiversity”
(TEEB), uma das principais razões para a degradação contínua dos ecossistemas e da perda de
biodiversidade é o fato de que a relação de dependência do bem-estar com ecossistemas
equilibrados e os benefícios da conservação, ainda não são devidamente reconhecidos (TEEB,
2010b).
TEEB é um estudo independente, liderado por Pavan Sukhdev, elaborado pela iniciativa
“A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade”, sediada pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e com apoio financeiro da Comissão Europeia,
Alemanha, Reino Unido, Holanda, Noruega e Suécia. O TEEB para Políticas Locais e
Regionais faz parte de uma série de cinco relatórios interligados, que incluem o Relatório sobre
Fundamentos Ecológicos e Econômicos, o TEEB para Tomadores de Decisão e o TEEB para o
Setor de Negócios.
Sob a liderança do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a
iniciativa TEEB foi lançada em 2007 em reunião do G8+5, grupo que reúne os líderes dos
países do G8 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Reino Unido e os Estados
Unidos) e dos países do G5 (África do Sul, Brasil, China, Índia e México).

2 Referencial teórico

2. 1 Classificação dos serviços ambientais

A classificação mais tradicional dos serviços ecossistêmicos se baseia nas categorias de


suas respectivas funções, sendo estas divididas em cinco classes: i) funções de regulação
(voltadas à manutenção dos processos ecológicos essenciais e do sistema de suporte vital, como
a regulação de gases, clima e água; ii) de habitat (espaços adequados para a manutenção da
diversidade biológica e genética, como as funções de berçário e refúgio; iii) de suporte, as quais
que permitem que a atividade humana se estabeleça, como a água, ar e substrato; iv) de
produção relacionadas ao suprimento dos recursos naturais como o alimento, a matéria-prima
e os recursos genéticos e medicinais; e v) de informação, baseadas na aptidão do ecossistema
para o desenvolvimento cognitivo, como informação histórica, cultural e científica (FICHINO,
2014; ANDRADE e ROMERO, 2009; DE GROOt et al., 2002) .

2.2 A valoração dos serviços ambientais

A relação entre o funcionamento dos ecossistemas e o bem-estar humano é um assunto


abordado historicamente por uma ampla gama de autores desde os tempos romanos (DE
GROOT et al., 2010b).
Mas é somente a partir da década de 1970 que tal questão começa a ser relacionada com
o desenvolvimento econômico, culminando no questionamento político sobre o valor de
componentes da natureza, a princípio considerados não precificáveis, como a água e o ar limpo
(WESTMAN, 1977). Tais questões ganharam foco por meio, principalmente, de dois
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importantes estudos “Human population and the global environment” (HOLDREN e
EHRLICH, 1974), que aborda as funções do ambiente que oferecem serviços ao homem; e
“How much are nature’s service worth” (WESTMAN, 1977) que traz reflexões sobre a
importância de valoração dessas funções ecossistêmicas para o bem-estar humano por meio de
serviços da natureza (DE GROOT et al, 2010). Como consequência desse enfoque, o número
de estudos sobre problemas ambientais críticos e como eles impactam a economia e o bem-
estar humano aumenta a partir daí (FICHINI, 2014)
Então, nos anos de 1970 a literatura acadêmica passou a discutir os serviços de
ecossistema, Schumacher (1973) foi, provavelmente, o primeiro a enfatizar o valor social dos
serviços da natureza, enquanto que Westman (1977) discutiu como quantificá-los e avaliá-los.
O artigo de Ehrlich e Mooney (1983) foi o primeiro a apresentar o termo "ecosystem service"
em seu título, discutindo o impacto da perda de biodiversidade nos serviços prestados à
humanidade pelos ecossistemas.
Para Santos e Silva (2012), a tentativa de atribuir valor aos serviços ecossistêmicos teve
início na década de 60 e, a partir de então, diversos autores propuseram padronizações para
esses estudos, como por exemplo Constanza et al. (1987), Constanza (2000), De Groot et al.
(2002), Hein et al. (2006) e Andrade e Romero (2009).
Em 1997 foram publicados dois trabalhos importantes acerca da mensuração dos
serviços ambientais. Em um deles, Constanza et al. (1997) definiram serviços de ecossistemas
como sendo "os benefícios que as populações humanas obtêm, direta ou indiretamente, das
funções de ecossistemas". Os autores sugeriram uma lista de serviços de ecossistemas,
ampliando as discussões apresentadas por Westman (1977) e incluindo, por exemplo, os
serviços de polinização e o controle biológico.
Outro trabalho foi publicado por Daily (1997), que definiu serviços de ecossistema
como "as condições e processos através dos quais os ecossistemas naturais, e as espécies que
os compõem, sustentam e satisfazem a vida humana." De acordo com o autor, esses serviços
seriam os responsáveis por manter a biodiversidade e produzir bens, tais como, alimentos,
madeira, combustíveis e muitos dos produtos farmacêuticos e industriais, bem como seus
precursores.
Para Constanza et al. (1997), os serviços de sistemas ecológicos e os estoques naturais
de capital que os produzem são críticos para o funcionamento do sistema de sustentação da vida
da Terra. Eles contribuem para o bem-estar humano, tanto direta como indiretamente, e,
portanto, representam parte do valor econômico total do planeta
As definições acerca dos serviços ecossistêmicos extraídas dos estudos realizados na
década de 1980 foram de grande importância e serviram para demostrar a significância dos
ecossistemas como provedores da base biofísica para o desenvolvimento da sociedade e
economia humana aliada às noções de recursos renováveis e não renováveis e serviços
ecossistêmicos (De Groot at al., 2010).
Durante o período de 2001 a 2005, o Millennium Ecosystem Assessment (MEA) - um
programa encomendado pelo então Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Anan, e composto
por várias organizações de 77 países - dedicou-se a discutir as consequências da mudança do
meio ambiente no bem-estar humano. Foi então publicada uma síntese que apresentava os
serviços de ecossistema divididos em quatro categorias: serviços de aprovisionamento, de
regulação, cultural e de suporte (MEA, 2005). De acordo com essa síntese, as mudanças do uso
da terra foram os fatores que causaram maior impacto nos serviços de ecossistemas. Apesar de
muitos indivíduos terem se beneficiado da conversão de sistemas naturais para sistemas
antrópicos, esse ganho foi feito à custa de perdas massivas de biodiversidade, degradação de
serviços de ecossistema e em aumento da pobreza, em alguns casos. De acordo com os autores
do estudo, mesmo em situações onde fosse difícil quantificar esses custos, eles deveriam ser
considerados, especialmente quando as mudanças nos ecossistemas fossem muito acentuadas
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ou irreversíveis. Embora a importância dos ecossistemas para a sociedade humana tenha muitas
dimensões (ecológica, sócio-cultural e econômica), expressar o valor dos serviços
ecossistêmicos em unidades monetárias é um instrumento importante para aumentar a
consciencialização e transmitir a importância (relativa) dos ecossistemas e da biodiversidade
para as políticas públicas.
A informação sobre os valores monetários permite uma utilização mais eficiente de
fundos limitados, identificando onde a proteção e a restauração são economicamente mais
importantes e podem ser fornecidas a um custo mais baixo (CROSSMAN e BRYAN, 2009;
CROSSMAN et al., 2011). Também pode ajudar a determinar em que medida a compensação
deve ser paga pela perda de serviços de ecossistema em regimes de responsabilidade (PAYNE
e SAND, 2011). Constanza et al. (1997), em seu artigo “The value of the world’s ecosystem
services and natural capital”, apresentam a justificativa para a valoração dos serviços
ambientais. Para os autores “como os serviços ecossistêmicos não são totalmente "capturados"
nos mercados comerciais ou adequadamente quantificados em termos comparáveis com os
serviços econômicos e o capital manufaturado”, muitas vezes recebem muito pouco peso nas
decisões políticas. Esta negligência pode, em última análise, comprometer a sustentabilidade
dos seres humanos na biosfera.
Nesse mesmo sentido, Silva (2003) refere que a importância da valoração ambiental
reside no fato de criar um valor de referência que indique uma sinalização de mercado,
possibilitando, assim, o uso "racional" e sustentável dos recursos ambientais. Para o autor não
existe uma classificação universalmente aceita sobre as técnicas de valoração econômica
ambiental. Todavia, no seu entendimento a valoração de ativos ambientais regionais busca
sinalizar o preço que este recurso possui, tornando possível a determinação de políticas que
visem conciliar a manutenção e conservação do meio ambiente e com desenvolvimento
sustentável.
Furlan (2010) refere que existem algumas categorias de valoração dos serviços
ecossistêmicos, as quais podem ser classificadas da seguinte forma:

• valor de uso direto – deriva do uso direto da biodiversidade, como atividades de


colheita dos recursos naturais, caça, pesca;
• valor de uso indireto – oriundo dos usos indiretos, abrangendo, de forma ampla, as
funções ecológicas da biodiversidade, como proteção de bacias hidrográficas,
preservação de habitat para espécies migratórias, estabilização climática, sequestro de
carbono, etc.
• valor de opção – decorre da opção de usar o recurso natural no futuro, podendo os
usos futuros serem diretos ou indiretos;
• valor de não-uso – é atribuído pelas pessoas aos recursos ambientais, sem que
estejam ligados a alguns de seus usos; inclui os valores de herança e de existência. O
valor de herança relaciona-se ao benefício econômico de saber que os outros se
beneficiarão, futuramente, do recurso ambiental ao passo que o valor de existência
reflete o benefício econômico da existência de um recurso ambiental, mesmo que não
seja conhecido, nem usado.
Da junção de todos esses valores surge o conceito de valor econômico total (VET).

3 Procedimentos metodológicos

Trata-se de uma revisão na qual foi realizada uma pesquisa bibliográfica nas bases de
dados Scopus e Web of Science. Utilizou-se o método dedutivo o qual tem o propósito de
explicar o conteúdo das premissas (SALMON, 1978).

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4 Resultados e discussão

Nesse cenário, para Constanza (1997), as economias da Terra estariam paralisadas sem
os serviços de sistemas ecológicos de apoio à vida, de modo que, em certo sentido, seu valor
total para a economia é infinito. No entanto, para ele seria instrutivo estimar o valor
"incremental" ou "marginal" dos serviços ecossistêmicos (a taxa estimada de mudança de valor
em comparação com as mudanças nos serviços ecossistêmicos de seus níveis atuais). Ainda,
segundo o autor, existem muitos estudos nas últimas décadas destinadas a estimar o valor de
uma grande variedade de serviços ecossistêmicos.
Com a ausência de um mercado real que sirva de parâmetro para valoração de ativos
ambientais, o estabelecimento de um preço ou de um valor monetário para esses benefícios fica
prejudicado e uma das soluções utilizadas para suprir essa dificuldade é a implantação de
métodos de valoração ambiental, que captam e atribuem valores para os bens e serviços gerados
pelo meio ambiente; sendo importante que os valores (uso, opção e de não uso) dos recursos
naturais sejam estimados, tornando possível fornecer aos órgãos competentes e aos tomadores
de decisão todo o arcabouço necessário como base para a implantação de políticas de
conservação e preservação dos recursos naturais e ambientais. O valor dos recursos naturais
pode servir como parâmetro para a determinação do valor de taxas e multas por danos
ambientais causados ao meio ambiente, caso venham a acontecer (FINCO, 2004).
Para Andrade e Romeiro (2009), um dos principais problemas da prática corrente da
valoração dos serviços ecossistêmicos é o seu reducionismo no sentido de que, se por um lado
nem todas as dimensões dos valores dos serviços ecossistêmicos são captadas, de outro, as
relações entre os sistemas ecológico e econômico não são incorporadas nas análises.
O primeiro problema advém do fato de que a valoração ecossistêmica comumente
utilizada privilegia apenas aspectos econômicos, sem considerar os valores ecológicos e valores
sociais. Como visto, tais valores são importantes, dado que os elementos estruturais dos
ecossistemas desempenham funções específicas dentro dos sistemas naturais (valor ecológico)
e também representam uma contribuição importante para a identidade cultural das populações
que dependem diretamente dos ecossistemas (valor sociocultural). Assim, uma valoração mais
ampla e holística deve considerar todos esses componentes dos valores dos serviços
ecossistêmicos.
Ainda, no que diz respeito à valoração dos serviços ecossistêmicos Fonseca et al,
realizaram um trabalho onde foram referidos vários métodos de mensuração: Valoração
Contingente, Preços Hedônicos, Custos de Viagem, Produtividade Marginal, Mercado de Bens
Substitutos, Custos Evitados, Custos de Controle, Custo de Reposição e Custos de
Oportunidade. Para os autores, esses métodos, além de serem muito teóricos, apresentam
algumas limitações na avaliação dos bens e serviços gerados pela natureza. A partir da análise
de cada método os autores concluíram que para uma valoração econômica de bens e serviços
ambientais, a escolha do método a ser utilizado em cada estudo dependerá de uma análise
minuciosa do que se pretende avaliar, pois, todos os métodos existentes na literatura apresentam
vantagens e deficiências. Disseram, ainda, que em termos de contribuição para o
desenvolvimento regional sustentável, o método de Valoração Contingente é o mais utilizado
devido a sua flexibilidade, eficiência e capacidade de estimar valor como um todo e que as
organizações regionais caracterizadas por uma gestão ambiental e sustentável devem se
preocupar com a questão ambiental como fator primordial estratégico e, consequentemente,
atenderem aos requisitos das dimensões de conservação, preservação e de controle ambiental.
Para Andrade e Romeiro (2009), em sua grande maioria, os serviços ecossistêmicos são
bens públicos e, devido a isso, não são incorporados nas transações econômicas tradicionais.
Essa falha de mercado teoricamente seria solucionada a partir do momento em que a estes
serviços fossem atribuídos valores de forma que se pudesse proceder à sua alocação eficiente.
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Entretanto, a forma como se dá essa atribuição de valores – a valoração – é inadequada, pois se
baseia em pressupostos que ignoram a natureza peculiar dos serviços ecossistêmicos
(complexidade, irreversibilidades, não linearidades, etc.). Em especial, cabe notar a
pressuposição de que capital natural e capital produzido são substituíveis entre si. Esta
substituibilidade ocorre, na margem, basicamente em relação ao capital natural como fonte de
matérias-primas. Ela praticamente inexiste quando se trata do capital natural como fonte de
serviços ecossistêmicos.
Tôsto (2010) enfatiza que o problema de aplicar a análise de custo-benefício em
políticas que afetam o ambiente está, principalmente, em determinar a taxa social de desconto
adequada. Assim, foram desenvolvidos métodos indiretos e de não-mercado para valorar bens
e serviços ambientais monetariamente, Os métodos do custo de viagem, dos preços hedônicos
e a valoração contingente são, atualmente, os mais utilizados e tem havido muito debate sobre
validade e a confiança desses métodos e de outros quanto aos resultados e à eficácia.
Para Bromley (1990) ainda não há um consenso quanto à eficiência de um método em
relação ao outro, mesmo porque não há como precisar o real preço de um bem ou de um serviço
ambiental. Comenta o autor que existe ainda um profundo desconhecimento das complexas
relações da biodiversidade, da capacidade de regeneração do ambiente e de seu limite de suporte
das atividades humanas.
Finalmente, não se pode perder de vista que cada um dos estudos analisados apresenta
objetivos específicos, ou seja, busca informações sobre os aspectos econômicos de uma
determinada localidade segundo enfoques muitas vezes distintos. Além disso, cada localidade
apresenta uma determinada disponibilidade de dados e características próprias (qualidade do
solo, relevo, composição arbórea, forma e época de ocupação, infra-estrutura etc.), tanto do
ponto de vista ambiental como socioeconômico. Estes aspectos fazem com que as metodologias
adotadas para a valoração da rentabilidade apresentem diferenças significativas de um estudo
para o outro (Yang; Fausto, 1997).

5 Conclusão

O crescimento da população e o uso indiscriminado dos recursos naturais tende a


resultar em uma séria degradação dos fluxos dos serviços ambientais. Em contrapartida,
estudiosos têm desenvolvido teses no sentido de que os serviços ecossistêmicos devem ser
valorados com o intuito de que seja possível uma formulação de políticas públicas que tenham
a finalidade de evitar ou reverter a trajetória de degradação ambiental. Entretanto, essa medida
ainda precisa ser melhor desenvolvia uma vez que os métodos de mensuração apresentados têm
mostrado limitações para atingirem a finalidade para qual se destinam, portanto, correndo-se o
risco de que aqueles serviços ambientais classificados como insubstituíveis tenham valores que
saltem para o infinito, sendo que e em razão das incertezas envolvidas talvez nunca haja uma
estimativa muito precisa do valor dos serviços ecossistêmicos.
Nesse sentido, Nusdeo (2012) refere que, estudos recentes sugerem que os serviços
ecossistêmicos proporcionados pela biodiversidade mundial podem custar cerca de 60 sessenta)
trilhões de dólares anuais (NUSDEO, 2012), o que supera o PIB mundial

Referências
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sistema econômico e o bem-estar humano. Texto para Discussão: IE/UNICAMP, n.155,

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Transformações na Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos: panorama da
suinocultura e serviços ecossistêmicos

Transformations in the catchment area of the Fragosos river: an overview


of swine breeding and ecosystem services

Letícia Paludo Vargas1, Cláudio Rocha de Miranda2, Eduardo Lando Bernardo 3,


Cícero Juliano Monticelli4
Resumo
A suinocultura no oeste catarinense é uma das atividades mais desenvolvidas nas propriedades rurais da região.
Porém, ocorrem algumas externalidades negativas, como é o caso da alta produção e concentração de dejetos
propriedades rurais. A presente pesquisa teve como principal objetivo analisar as transformações da suinocultura
na Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos, com enfoque nos serviços ecossistêmicos. A pesquisa foi realizada a partir
de dados referentes à produção de suínos nos anos de 1999 e 2016. Os resultados demonstram que, apesar do
aumento dos serviços de provisão advindos da produção de carne suína em sistemas intensivos, os serviços
ecossistêmicos de reciclagem de nutrientes podem ser comprometidos em função do aumento da produção animal
e redução da área agrícola utilizada para fins de destino dos dejetos e consequente contaminação das águas da
bacia hidrográfica. Evidencia-se ainda que a produção total de dejetos é de 67.183 m³/ano no ano de 1999 e de
146.061 m³/ano no ano de 2016, ou seja, um aumento de aproximadamente 79 mil m³/ano. A intensificação da
atividade produtiva, apesar de gerar serviços ecossistêmicos de provisão, com a produção de carne suína, acaba
por gerar muitas externalidades negativas, como é o caso da poluição dos solos e água da região em questão.
Reafirma-se a importância da suinocultura para a região, entretanto, entende-se também que as questões referentes
à preservação ambiental e à temática dos serviços ecossistêmicos devem ser levadas em consideração na
elaboração de leis, diretrizes e políticas ambientais.
Palavras-chave: Produção animal. Produção intensiva. Manejo de dejetos.

Abstract
The Swine breeding in western state of Santa Catarina are one of the most developed activities in rural properties
in the region. However, some negative externalities occur, as is the case of high production and concentration of
waste rural properties. The present research had as main objective to analyze the transformations of swine
breeding in the catchment area of the Fragosos river, focusing on ecosystem services. The research was based on
data on swine production in the years 1999 and 2016. The results show that, despite the increase in the provision
services provided by swine production in intensive systems, ecosystem services for nutrient recycling can be
compromised due to the increase in animal production and reduction of the agricultural area used for the
destination of the waste and consequent contamination of the waters in the catchment area. It is also evident that
the total production of waste is 67,183 m³ per year in the 1999 and 146,061 m³ per year in 2016, an increase of
approximately 79 thousand m³ per year. The intensification of productive activity, in spite of generating ecosystem
services of supply, with the production of swine, ends up generating many negative externalities, as is the case of
soil and water pollution of the region in question. The importance of swine production for the region is reaffirmed,
however, it is also understood that issues related to environmental preservation and the issue of ecosystem services
should be taken into account in the elaboration of environmental laws, guidelines and policies.
Keywords: Animal production. Intensive production. Manure management.

1 Introdução

A suinocultura no oeste catarinense é uma das atividades mais desenvolvidas nas


propriedades rurais da região. Porém, com a produção intensiva de suínos, ocorrem algumas

1
Zootecnista. Doutora em Extensão Rural (UFSM) – letipvargas@gmail.com
2
Engenheiro Ambiental. Doutorando em Engenharia Ambiental (UFSC) – eduardolbernardo@gmail.com
3
Engenheiro Agrônomo. Doutor em Engenharia Ambiental (UFSC). Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves –
claudio.miranda@embrapa.br
4
Engenheiro Agrônomo. Mestre em Zootecnia (USP). Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves –
cicero.monticelli@embrapa.br
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90
externalidades negativas, como é o caso da alta produção e concentração de dejetos nas
propriedades rurais.
Essa situação evidenciada entre os suinocultores remete a um tema relativamente novo
e pouco explorado, mas, que está ganhando cada vez mais espaço nas pesquisas acadêmicas
brasileiras voltadas às temáticas da sustentabilidade e da preservação ambiental. Trata-se dos
serviços ecossistêmicos, que podem ser entendidos como os benefícios que a sociedade pode
obter dos ecossistemas.
Os serviços ecossistêmicos podem interferir diretamente nas transformações
socioeconômicas e ambientais de determinada região. No caso do oeste catarinense, apesar da
geração de serviços ecossistêmicos de provisão (carne suína), os possíveis impactos ambientais
gerados pela concentração da atividade devem ser considerados. A partir disso, as questões
relacionadas aos serviços ecossistêmicos são abordadas principalmente pela preocupação
ambiental com a região de estudo.
A Embrapa Suínos e Aves, no âmbito do Projeto “Avaliação de indicadores e
estratégias para valoração de serviços ambientais em bacias hidrográficas com produção
intensiva de animais – SA-Suave”, possibilitou o estudo da temática a partir dos dados
quantitativos disponíveis para esta pesquisa, por isso, o presente artigo está vinculado às
atividades realizadas no referido projeto.
Nesse sentido, a presente pesquisa teve como principal objetivo analisar as
transformações da suinocultura na Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos, com enfoque nos
serviços ecossistêmicos. Procurou-se também, caracterizar e descrever o histórico da
suinocultura na região, desde o início da ocupação do território.
A importância deste trabalho está na possibilidade de contribuir para uma melhor
compreensão da realidade local, principalmente quando relacionada aos serviços
ecossistêmicos na produção animal intensiva.

2 Referencial Teórico

A respeito da produção de suínos no Brasil, a região Sul do país lidera com 91% dos
estabelecimentos suinícolas, 60% das matrizes industriais alojadas e 67% dos abates, seguida
dos polos tradicionais na região Sudeste e dos polos de expansão na região Centro-Oeste, esta
última com crescimento de 530% no volume de abate nos últimos 10 anos. Também há polos
de produção no Nordeste e Norte (MIELE, 2017). A concentração regional da produção de
carne suína no sul do país foi responsável, no ano de 2015, por 67% dos abates com algum tipo
de fiscalização (federal, estadual ou municipal) (GUIMARÃES et al., 2017).
Um dos estados com produção mais expressiva é Santa Catarina. Segundo a Associação
Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) (2009), a suinocultura catarinense vem se
destacando por vários motivos, dentre eles: é competitiva internacionalmente; tem o melhor
nível de produtividade do País, tanto no campo como na indústria, com índices de produtividade
semelhantes e superiores aos dos europeus e americanos; possui suinocultores com produção
em escala comercial e com produção de subsistência; tem uma importância econômica e social
muito grande; dos abates inspecionados, quase a totalidade é advinda de sistemas integrados, e
é a principal atividade do Produto Interno Bruto (PIB) estadual.
Já no ano de 2016, o estado de Santa Catarina foi responsável pelo abate de 10,73
milhões de suínos e produção de 968,8 mil toneladas (peso de carcaça), representando uma
participação de 25,4% do cenário nacional para animais abatidos e 26,11% para produção de
carne (carcaça) (EPAGRI, 2017). A produção estadual concentra-se na mesorregião Oeste
Catarinense, a qual é formada pela microrregião de Concórdia, Joaçaba, Chapecó, São Miguel
do Oeste e Xanxerê, as quais são responsáveis por cerca de 78% dos suínos abatidos em Santa
Catarina (EPAGRI, 2017). Já o município de Concórdia, ocupa o segundo lugar no ranking de
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maior produtor de suínos no estado de Santa Catarina, possui um plantel de 318.920 cabeças,
estando atrás somente de Braço do Norte, com 320.000 cabeças (IBGE, 2016).
O desenvolvimento regional do Oeste Catarinense no início da ocupação do território,
estava fortemente vinculado ao modo de vida colonial, especialmente através da agricultura
familiar, que continua presente nos dias atuais na região, e que foi estabelecida pelos colonos
que migraram para Santa Catarina, vindos do Rio Grande do Sul.
A suinocultura representou para os agricultores familiares do Oeste catarinense, uma
atividade importante devido à agregação de valor aos grãos produzidos na propriedade,
permitindo uma ocupação mais intensa da mão-de-obra familiar e um fluxo de recursos mais
estável para as famílias. A capacidade que a suinocultura proporciona, de produzir grande
quantidade de proteína em reduzido espaço físico, associada à tradição das famílias
colonizadoras da região em produzir grãos, permitiu uma combinação perfeita para os
agricultores familiares que trabalhavam em pequenos módulos de terra. Assim, a associação
agricultura-suinocultura foi a força propulsora do desenvolvimento econômico e social da
região, que se consolidou efetivamente, na década de 1970, com a implantação do sistema
integrado de produção que vinculava de forma decisiva produtores e agroindústrias
(GUIVANT; MIRANDA, 1999).
No entanto, a suinocultura produzida nestas propriedades familiares se modernizou
rapidamente, principalmente pela vinculação às empresas integradoras instaladas na região. Os
sistemas produtivos passaram por um processo de industrialização e concentração com aumento
de escala, visando à redução dos custos de produção e logística (KUNZ et al., 2006). Na medida
em que a escala de produção vai aumentando, criam-se várias limitações para os produtores: a
necessidade de mais mão de obra, manejos sanitários rigorosos, investimentos financeiros dos
produtores, o manejo adequado de dejetos, entre outros.
Portanto, em que pese o padrão de excelência da produção industrial de suínos,
alcançada pelo emprego de tecnologias modernas de manejo e nutrição, têm-se ainda as
questões ambientais relacionadas à cadeia, as quais permanecem sendo fonte de muita
apreensão em virtude do grande volume de dejetos gerados e pelo potencial impacto e
comprometimento dos recursos naturais em regiões onde a produção suinícola é mais
concentrada (HIGARASHI; PAULO; MIRANDA, 2010).
Nessa mesma linha de pensamento, Ripoll-Bosch et al. (2012) destacam que
a sustentabilidade dos sistemas agropecuários depende muitas vezes de fatores inter-
relacionados, entre eles estão os níveis de intensificação da atividade, o uso e a gestão dos
recursos, a localização e a orientação produtiva do produtor.
Em áreas de uso contínuo de dejetos animais como fertilizantes ocorre significativo
acúmulo de nutrientes no solo, especialmente o fósforo (P), em função da desproporção entre
as quantidades adicionadas e aquelas removidas pelas plantas (MATTIAS, 2006; MIRANDA
et al., 2017). Solos nessas condições, além de perderem qualidade enquanto fatores de produção
de alimentos se tornam fonte potencial de poluição dos recursos hídricos, pois os teores de P
nas suas águas de drenagem podem exceder aqueles de risco para o processo da eutrofização
(MCDOWELL; SHARPLEY, 2001; DANIEL et al., 1998; SHARPLEY, 1995; SIMS et al.,
1998).
No entanto, apesar de a magnitude de seus impactos, a produção intensiva de animais
não tem recebido a adequada atenção das instituições públicas responsáveis pela sua regulação.
A legislação não atende satisfatoriamente os desafios existentes para que se mantenha uma
adequada qualidade ambiental dos agroecossistemas, pois prioriza o controle da poluição
pontual ao invés da poluição difusa, que é o tipo predominante nas atividades agropecuárias.
Além disso, as políticas de gestão do ambiente têm priorizado os instrumentos de
comando e controle, que apesar de necessários e importantes, são insuficientes para tratar o
problema da poluição em toda sua complexidade. Aspecto esse que se torna ainda mais
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relevante quando se sabe que a produção intensiva de animais, especialmente suínos, aves e
bovinos de leite são as atividades predominantes da agricultura de base familiar.
Algumas atividades, como é o caso da suinocultura, são consideradas pela legislação
como uma atividade de grande impacto ambiental, e tenta-se regulá-la exclusivamente por
ações de comando e controle, que além de serem insuficientes para tratar adequadamente
complexidade do problema, apresentam distorções que provocam injustiças socais.
Preocupados com essa situação, no mundo inteiro, países de diferentes portes estão
desenvolvendo programas de Pagamento por Serviços Ambientais como política moderna de
conservação do meio ambiente e de desenvolvimento sustentável, ou seja, é o reconhecimento
de que a proteção dos ecossistemas é essencial para o bem-estar humano.
Neste contexto, existem diversas inciativas que visam classificar os serviços
ecossistêmicos como é o caso da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e
Serviços Ecossistêmicos - (Platform on Biodiversity and Ecosystem Services - IPBES) IPBES
(2015), e divide-os em: 1) serviços de provisão, que podem ser entendidos como os alimentos,
a água, madeiras e fibras; 2) serviços de regulação, que afetam o clima, as inundações, doenças,
resíduos e a qualidade da água; e 3) serviços culturais, centrados no fornecimento de benefícios
recreacionais, estéticos e espirituais (DÍAZ, et al., 2015).
No Brasil, a discussão e a proposição dos instrumentos econômicos como uma opção
adicional aos instrumentos de política ambiental ganhou maior evidência com a recente
aprovação da lei 12.651/2012, também denominada de o novo Código Florestal Brasileiro, a
qual em seu artigo 41 contempla o “Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) como
retribuição, monetária ou não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que
gerem serviços ambientais”. Por sua vez, a legislação nacional está influenciando outros níveis
de governo, como é o caso do estado de Santa Catarina, que também adotou uma legislação que
prevê o PSA (BRASIL, 2012).
Portanto, os atuais modelos de gestão das atividades agropecuárias precisam avaliar os
impactos dos dejetos animais e como estes afetam os serviços ecossistêmicos, bem como,
encontrar alternativas que melhor equilibrem os diferentes tipos de serviços.

3 Procedimentos Metodológicos

A pesquisa foi realizada a partir de dados referentes à produção de suínos na região da


Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos, localizada no município de Concórdia, SC, oeste
catarinense, e que apresenta alta concentração de produção animal no estado.
A Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos situa-se ao Oeste da cidade de Concórdia e possui
uma área de 61,54 km2, correspondendo a 7,6% da área total do município (EPAGRI-
CIRAM/EMBRAPA, 2000). O principal rio da Sub-Bacia é o Lajeado dos Fragosos, afluente
do Rio Jacutinga, e um dos afluentes diretos deste rio, o qual, porém, a partir da formação do
reservatório da Usina Hidrelétrica de Itá, SC, passou a desaguar diretamente na área alagada
localizada nas proximidades da sede do distrito de Engenho Velho. Ademais, a Sub-Bacia do
Jacutinga pertence à Bacia Hidrográfica do Uruguai.
A área da Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos possuía a formação vegetal original
composta pela floresta estacional decidual ou floresta latifoliada do Alto Uruguai. Essa
formação estendia-se pela bacia média e superior do rio Uruguai e seus afluentes, até às altitudes
de 500 a 600 m. Pela ação antrópica, houve nessa área uma devastação sem precedentes. A
exploração das florestas ocorreu visando a extração de madeiras, implantação de culturas anuais
e formação de pastagens voltadas à criação extensiva de bovinos (EPAGRI-
CIRAM/EMBRAPA, 2000, p. 58).
As informações utilizadas no presente artigo a respeito da suinocultura na Sub-Bacia do
Lajeado dos Fragosos são referentes a dois momentos específicos, onde foram realizadas
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coletas de dados, os anos de 1999 e 2016. Os dados foram disponibilizados pelo banco de dados
da Embrapa Suínos e Aves.
A base de dados cartográfica utilizada para construção do mapa temático de
espacialização das unidades de produção de suínos da Sub-bacia do Lajeado dos Fragosos foi
obtida a partir de base georreferencial da Embrapa Suínos e Aves, para os anos de 1999 e 2016.
O software de geoprocessamento utilizado foi o QuantumGIS versão 2.18.10 Las Palmas. O
sistema gerenciador de banco de dados foi o PostgreSQL versão 9.6, com o módulo PostGIS
2.2. Os valores relativos ao volume (litros/animal/dia) de produção de dejetos líquidos de suínos
por cabeça animal foram obtidos da Instrução Normativa 11 (IN11) da Fundação Estadual de
Meio Ambiente (FATMA) / Instituo de Meio Ambiente (IMA) do Estado de Santa Catarina.
Os dados relativos à produção de carne magra foram obtidos por meio de cálculo de carcaça
conforme Embrapa (1998). As informações relativas às áreas disponíveis para aplicação de
dejetos foram extraídas por meio de técnicas de sensoriamento remoto em análise temporal,
considerando as áreas de lavoura temporária nos anos de 1999 e 2016.

4 Resultados e Discussão

A partir da análise dos dados de dois momentos da atividade suinícola desenvolvida no


âmbito da Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos – Concórdia, SC, percebe-se que o número total
de criadores era de 106 no ano de 1999, passando para apenas 56 no ano de 2016, ou seja, uma
redução de 87% no número de produtores, conforme apresentado na Tabela 1. Também se
observa que ocorreram transformações nos sistemas de criação de suínos, havendo grande
redução do no número de produtores no sistema de ciclo completo, tendo restado em toda bacia
somente três produtores com este tipo de sistema de criação.

Tabela 1 – Evolução da suinocultura na Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos por categoria

Ano Nº Criadores Nº Total Criadores


CC UPL CRECHE TERMIN.
1999 23 29 54 106
2016 3 19 2 32 56
Legenda:
CC: Ciclo Completo
UPL: Unidade Produtora de Leitões
TERMIN: Terminadores
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de Embrapa (1999, 2016).

Por sua vez, a partir da leitura dos dados da Tabela 2 constata-se que, apesar da
diminuição do número total de criadores, o rebanho suinícola total passou de aproximadamente
40 mil no ano de 1999, para mais de 80 mil animais no ano de 2016, ou seja, um aumento
superior a cem por cento no número total de cabeças de suínos, e da ordem de 147% e 69% no
número de matrizes e animais na fase de terminação, respectivamente. Em termos de produção
de carne magra estima-se que a houve um acréscimo da ordem de 60%, passando de 800
toneladas para mais de 1.400 toneladas ano, ou seja, houve grande aumento nos serviços
ecossistêmicos de provisão.

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Tabela 2 – Evolução da suinocultura na Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos no período 1999-2016

Ano Nº Total de Nº de Total de Nº Total Média Produção de


Matrizes Terminados Suínos Criadores Suínos/Criador carne magra
(ton/ano)
1999 3.972 15.570 39.657 106 374 856
2016 9.810 26.360 80.620 56 1.440 1.450
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de Embrapa (1999, 2016).

Por sua vez, a dinâmica espacial da transformação da atividade suinícola pode ser
observada na Figura 1, onde os pontos marcados em vermelho representam a localização das
propriedades com exploração suinícola nos dois períodos (1999 e 2016). A constatação mais
evidente é o desaparecimento total da produção suinícola no trecho superior da bacia, fato este
que foi motivado pela expansão urbana da cidade de Concórdia. Além disso, contribui para a
redução do número de criadores, a exigência por parte das empresas integradoras do aumento
de escala dos rebanhos, bem como a impossibilidade de obtenção da licença ambiental de
diversas granjas com instalações localizadas em áreas com restrições legais, especialmente em
Áreas de Preservação Permanente (APPs). Esta combinação de acontecimentos, ou seja,
redução do número de produtores e aumento da escala de produção fez com que o número de
suínos por estabelecimento passasse de um número de 374 para 1.440 animais, ou seja, um
aumento de 285%, números que evidenciam a intensa concentração da atividade ocorrida neste
período.

Figura 1 – Unidades Produtoras de Suínos na Sub-Bacia do Lajeado dos Fragosos (1999/2016)

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de Embrapa (1999, 2016).

A concentração da suinocultura na bacia estudada segue a tendência geral do estado de


Santa Catarina, pois no ano de 1996 havia 131 mil estabelecimentos com suinocultura, dos
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quais 82% foram classificados como de subsistência. Por sua vez, os dados preliminares do
censo agropecuário de 2017 (IBGE, 2018) apresentam a existência de 80.455 estabelecimentos
com suínos, valor esse que representa aproximadamente 44% do total de estabelecimentos, mas
quando se considera apenas os estabelecimentos do denominado extrato comercial, ou seja,
aqueles com mais de 50 cabeças de suínos, o número se reduz a 7.272, ou seja, cerca de 4% dos
estabelecimentos agropecuários catarinenses. No entanto, este segmento concentra 95% do
rebanho estadual, que é de aproximadamente 8,5 milhões de cabeças.
Os dados da Tabela 3 apresentam nos dois momentos objetos da pesquisa uma
estimativa da produção total de dejetos gerados nos anos considerados, a área de lavoura
temporária, ou seja, aquele com potencial para realizar a reciclagem dos dejetos a relação
quantidade de dejetos/área de lavoura temporária. Evidencia-se, a partir dos dados, que a
produção total de dejetos (matrizes e terminados) é de 67.183 m³/ano no ano de 1999 e de
146.061 m³/ano no ano de 2016, ou seja, um aumento de aproximadamente 79 mil m³/ano. Por
sua vez, a área de lavoura temporária reduziu de 2.974 hectares (ha) no ano de 1999 para 896
ha em 2016. Assim, a relação quantidade de dejetos/área aumentou de 23m³/ha em 1999 para
163m³/ha em 2016.

Tabela 3 – Produção total de dejetos, área de lavora temporária e relação dejetos/área na Sub-Bacia do
Lajeado dos Fragosos

Volume total de dejetos Área de lavora temporária Relação dejetos/área


Ano (m³/ano) (ha) (m³/ha)
1999 67.183 2.974 23
2016 146.061 896 163
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de Embrapa (1999, 2016).

A combinação do aumento do plantel e de redução da área de lavoura temporária


evidencia o forte aumento da pressão que aconteceu no âmbito da bacia, haja vista que o destino
predominante dos dejetos da produção suinícola é a sua aplicação no solo para que sirvam como
fertilizante das culturas agrícolas, especialmente do milho e de cereais de inverno, tais como
aveia e azevém. Em que pese o uso dos dejetos como fertilizante ser objeto de avaliação no
momento da concessão da licença ambiental, no cotidiano das propriedades nem sempre as boas
práticas agronômicas necessárias para uma aplicação com reduzidos riscos ambientais são
observadas, pois outras pesquisas demonstram o excesso de alguns nutrientes nas áreas com
aplicação continuada de dejetos, bem como nas águas superficiais drenadas pela bacia do
Lajeado dos Fragosos (MATTIAS, 2006; BARIONI JUNIOR et al., 2003).
Dentro dessa perspectiva, percebe-se que a legislação ambiental vigente é insuficiente
para tratar o problema da poluição advinda da suinocultura, pois em que pese sua modernização,
continua enfocando a atividade produtiva de maneira isolada, desconsiderando outras escalas
que ambientalmente são mais importantes, tais como a totalidade do sistema produtivo do
estabelecimento e a bacia hidrográfica onde esse se insere.
Entende-se que o modelo de produção intensiva de animais em algumas regiões, tal
como a estudada, proporciona expressiva quantidade de produção de proteína animal, mas
compromete outros serviços importantes, como, por exemplo, a capacidade do solo para realizar
a reciclagem dos nutrientes e a capacidade dos ecossistemas de fornecer água com qualidade,
pois os dejetos ricos em nutrientes, especialmente fósforo, tem o potencial de provocar a
eutrofização das águas superficiais.
Por um lado, os dados demonstram a diminuição do número de produtores no decorrer
dos dezessete anos de análise, período o qual muitos agricultores familiares abandonaram a
atividade suinícola, quer seja por motivos econômicos ou ambientais, por outro se constata um
expressivo aumento na produção de carne, bem como o aumento da pressão sobre os recursos
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naturais da bacia, especialmente o solo, provocado pela redução da área de lavouras temporárias
disponível para promover a reciclagem dos dejetos.
O modelo de criação de suínos foi se transformando e intensificando no decorrer do
tempo, fazendo com que o sistema de criação de suínos em ciclo completo praticamente
desaparecesse, sendo substituído por sistemas mais especializados, onde alguns produtores se
especializam na criação de leitões, enquanto outros se dedicam a fase de crescimento e
terminação dos suínos, modelo este que gera aumento na eficiência da produção de carne, mas
que precisa também ser considerado em termos dos seus potenciais impactos ambientais,
especialmente nas regiões de maior concentração de produção.

5 Conclusões

A partir do que foi analisado no presente artigo, a respeito da suinocultura na Sub-Bacia


do Lajeado dos Fragosos, entende-se que a intensificação da atividade produtiva, apesar de
gerar serviços ecossistêmicos de provisão, com a produção de carne suína, acaba por gerar
externalidades negativas, como é o caso da poluição dos solos e água da região em questão.
É notório que a suinocultura é uma das atividades econômica que mais gera renda e
emprego ao longo de todos os elos desta cadeia agroindustrial, constituindo-se uma atividade
especialmente importante para os agricultores familiares, todavia torna-se necessário avaliar de
maneira mais abrangente os seus impactos ambientais negativos e procurar internalizá-los no
custo da matriz produtiva desta atividade.

Referências
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Repensando a Cadeia Produtiva: Uma abordagem com base no conceito de
economia circular
Rethinking the Productive Chain: An approach based on the concept of
circular economy
Mariana Martins de Oliveira1, Adriano Lago2
Resumo
O conceito de cadeia produtiva definido como um conjunto de atividades que contemplam desde a produção até o
consumo final de um produto retrata, em parte, o atual modelo linear de produção, o qual é caracterizado por um
sistema de produzir, utilizar e descartar. Analisando as recentes preocupações em produzir de forma sustentável,
este modelo se mostra insuficiente, pois causa impactos ambientais, muitas vezes irreversíveis aos ecossistemas.
Diante disso, surge como proposta o modelo de economia circular que visa reincorporar os resíduos ao sistema de
produção, podendo acarretar alterações positivas nos índices de desenvolvimento social, econômico e ambiental.
Neste contexto, o objetivo deste estudo é trazer para discussão o conceito de cadeia produtiva como algo indo além
do consumidor final. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório e de abordagem
qualitativa com o intuito de compreender os conceitos de economia linear, economia circular e cadeia produtiva.
Constatou-se que é possível complementar o conceito de cadeia produtiva, agregando aspectos vinculados a
geração de resíduos dentro da cadeia de produção, a partir dos métodos, técnicas e exemplos consolidados da
economia circular.

Palavras-chave: Cadeia de produção, economia linear, sustentabilidade, economia circular.

Abstract
The concept of the production chain defined as a set of activities from the production to the final
consumption of a product, partly portrays the current linear model of production, which is characterized by a
system of producing, using and discarding. Analyzing the recent concerns about producing sustainably, this model
is insufficient because it causes irreversible environmental impacts to the ecosystems. Therefore, the proposed
circular economy model aims to reintroduce waste, to the production system, resulting in high levels of social,
economic and environmental development. In this context, the objective of this study was to provoke a reflection
on the concept of the productive chain as something going beyond the final consumer. For that, a bibliographic
research of exploratory character and of qualitative approach was realized with the intention to understand the
concepts of linear economy, circular economy and productive chain. It was verified that it is possible to
complement the production chain concept, adding aspects related to waste generation within the production chain,
based on the methods, techniques and consolidated examples of the circular economy.

Keywords: Chain of production, linear economy, sustainability, circular economy.

1 Introdução

A evolução da economia sempre foi caracterizada por um modelo linear de produção e


consumo, no qual as mercadorias são produzidas com matérias primas virgens, vendidas, usadas
e descartadas como resíduos (EMF, 2015). O próprio conceito de cadeia de produção, retrata
em parte esse modelo linear, onde Morvan (1985) afirma que a cadeia de produção contempla
um conjunto de atividades que levam ao fornecimento de um bem ao consumidor final.
No contexto brasileiro, cadeia de produção agroindustrial é definida por Batalha e Silva
(2001) como um processo segmentado de jusante à montante, ou seja, após determinado
produto final ser identificado, cabe ir encadeando as várias operações técnicas, comerciais e
logísticas, necessárias a sua produção.
A ideia aqui, é visualizar cadeia de produção agroindustrial, como algo indo além do
consumidor final, ou seja, contemplar no processo o pós consumo, em virtude de que as
pesquisas e tecnologias do sistema produtivo brasileiro estão cada vez mais voltadas para uma
produção sustentável. E diante disso, Azevedo (2015) afirma que a utilização de recursos

1Engenheira Ambiental/mestranda do PPGAGR/UFSM – E-mail:marimaoli@hotmail.com


2Agrônomo/Professor do PPGAGR/UFSM – E-mail:adrianolago@yahoo.com.br
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naturais e o descarte de produtos e materiais pós consumo, tem sido o ponto crítico para que se
dê, verdadeiramente, um passo rumo à sustentabilidade.
Já Lett (2014) afirma que o avanço para a sustentabilidade se dará através do redesenho
das indústrias e da vida doméstica como um todo, a partir de um novo modelo econômico
denominado economia circular. Esta tem como objetivo manter produtos, componentes e
materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor, reincorporando-os aos ciclos produtivos
ou biológicos (EMF, 2013).
Desta forma, a Economia Circular oferece um caminho para solução de problemas
ambientais que afetam a saúde humana e o desenvolvimento social (ZHIJUN e NAILING,
2007) bem como uma alternativa de melhoria nos padrões econômicos conduzindo assim a um
desenvolvimento mais sustentável (GHISELLINI et al., 2016).
Vale ressaltar que o atual modelo econômico “extrair, transformar, descartar”, foi
central para o desenvolvimento industrial e gerou um nível de crescimento sem precedentes.
Contudo, as consequências recentes deste modelo estão sendo observadas, através de aumentos
significativos nos preços, o aumento da volatilidade e a crescente pressão sobre os recursos
naturais (EMF, 2015).
Outro aspecto de fundamental importância, que deve ser contemplado nessa abordagem
é a importância do Agronegócio no sistema econômico brasileiro. Segundo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, em 2017 o setor representou 21% do Produtor Interno Bruto (PIB)
do país e foi responsável pela metade das exportações realizadas, contribuindo para um saldo
positivo da balança comercial brasileira. Porém, é importante salientar que o agronegócio
depende de dois recursos renováveis fundamentais: terra agricultável e biodiversidade.
Recentemente um relatório publicado pela Ellen MacArthur Foundation, identifica
oportunidades de transição para a economia circular no setor da agricultura brasileira, aplicando
modelos regenerativos que poderiam restaurar a reserva de capital natural do Brasil,
aumentando a diversidade biológica, fechando ciclos de nutrientes, melhorando o conteúdo
nutricional dos alimentos e, consequentemente, aumentando a produção agrícola e sua
lucratividade (EMF, 2017).
Com base no exposto e a partir de fontes bibliográficas disponíveis, este estudo tem por
objetivo aos olhos do conhecimento científico, fazer uma reflexão sobre conceito de cadeia
produtiva, sob uma perspectiva fundamentada no contexto da economia circular. Para tanto,
realizou-se uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório e de abordagem qualitativa com
o intuito de compreender o conceito de cadeia produtiva, bem como abordar a concepção do
modelo de economia linear, e os motivos de uma possível transição para a circular, por meio
de exemplos já consolidados.

2 Referencial Teórico

2.1 Modelo de Economia Linear

O sistema econômico global é predominado por um modelo linear de produção. Onde a


economia funciona a partir de um modelo de geração de valor altamente movido pelo
desperdício, no qual os produtos de consumo são criados, obtidos e utilizados através de uma
cadeia global, que inicia com insumos agrícolas. Estes passam por um processo de fabricação,
uma rede de distribuição e varejo, uso dos consumidores e coleta de resíduos, antes de acabar
com suas vidas em aterros sanitários, esgoto ou incineração (EMF, 2015).
Mesmo constatado grandes avanços no aumento da eficiência dos recursos, qualquer
sistema cujo fundamento seja o consumo, pressupõe perdas significativas ao longo da cadeia
(EMF, 2013). Além disso, a questão da escassez de recursos está se tornando vital, já que o
consumo de energia e recursos materiais está aumentando rapidamente em consequência do
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aumento exponencial da população mundial e do crescimento econômico (RASHID et al.,
2013).
O resultado disso, gera um crescimento sem precedentes de externalidades negativas
(EMF, 2013), que de acordo com Rashid et al. (2013) estão relacionadas ao consumo de energia,
uso de recursos materiais e geração de resíduos.
A demanda dos consumidores tem o potencial de aumentar o uso de materiais, gerar
aumentos nos custos de insumos e resultar em volatilidade de commodity difícil de gerenciar.
Incluindo também uma crescente escassez de energia e danos ambientais causados pelo uso
indiscriminado de terras, água, recursos florestais e pescas (EMF, 2017).
De acordo com Rashid et al. (2013) é evidente que este modelo é prejudicial para a
sustentabilidade das sociedades modernas onde o consumo de recursos é significativamente
alto, em relação a capacidade do meio ambiente suprir essa demanda.
Os relatórios gerados no Fórum Econômico Mundial 2014, realizado em Davos, na
Suíça, indicam como riscos futuros o cenário da falta de energia convencional; o aumento da
população global com alto valor de matérias-primas alimentares e um fosso econômico
crescente entre as classes sociais e entre países ricos e pobres; o aumento do aquecimento global
e o impacto das catástrofes climáticas (LETT, 2014).
Vários fatores indicam que o modelo linear está enfrentando um desafio cada vez maior
do próprio contexto no qual opera, dentre os quais destacam-se: as perdas econômicas que
seguem um modelo de valor baseado no desperdício; os riscos de preços pois o sistema linear
aumenta a exposição a riscos tendo em vista a volatilidade dos preços dos recursos e à escassez
da oferta; e os riscos de oferta em virtude dos riscos de segurança do fornecimento e obtenção
da matéria-prima. Esse modelo também acarreta na degradação dos sistemas naturais que
incluem a mudança climática, a perda da biodiversidade e do capital natural, a degradação da
terra e a poluição dos oceanos (EMF, 2015).
Uma análise rápida do exposto, submete um repensar do modelo operacional da nossa
economia (EMF, 2015), que deva contemplar um equilíbrio entre os pilares da economia,
desenvolvimento social e meio ambiente, com o intuito de concretizar uma produção com viés
sustentável.
Sachs (2008) define desenvolvimento sustentável como a junção de cinco pilares: social,
ambiental, territorial, econômico e político. Onde a transição para o desenvolvimento
sustentável começa com o gerenciamento de crises, que requer uma mudança imediata de
paradigmas e desenvolvimento de estratégias.

2.2 Modelo de Economia Circular

Segundo Côrrea e Xavier (2013) há uma crescente pressão da sociedade por uma gestão
ambiental mais sustentável e responsável. Onde a noção de uma economia circular vem atraindo
cada vez mais atenção nos últimos anos (EMF, 2017).
O conceito se caracteriza por propor uma mudança ao paradigma "reduzir, reutilizar e
reciclar", a partir de uma transformação mais radical baseada na reutilização inteligente dos
resíduos (LETT, 2014).
As principais escolas de pensamento relacionadas à economia circular surgiram na
década de 1970, ganhando atenção nos anos de 1990 (EMF, 2017). Balboa e Somonte (2014)
trazem alguns exemplos como a “Do berço ao berço” chamado C2C, desenvolvida por
McDonough e Braungart, a qual representou a aplicação da economia circular para o mundo do
design e produção industrial.
No ano de 1994, John T. Lyle postulou que qualquer sistema, a partir da agricultura,
pode ser organizado de forma regenerativa criando então o conceito “Design Regenerativo”.
Em 2010, Walter Stahel levantou a visão de uma economia em loops e o consequente impacto
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sobre a criação de emprego, competitividade econômica, recursos e prevenção de resíduos
criando o conceito de “economia de desempenho” (BALBOA e SOMONTE, 2014).
Em 2012, Janine Benyus definiu o modelo “Biominesis” como uma inovação inspirada
na natureza, usando energia solar e compostos simples para produzir fibras totalmente
biodegradáveis (BALBOA e SOMONTE, 2014).
Côrrea e Xavier (2013) afirmam que o conceito de “economia circular” é orientado pelo
conceito de Ecologia Industrial, definido por Suren Erkman em 1997. Este compreende a
interação de diferentes agentes em diferentes sistemas.
Atualmente, Geissdoerfer et al. (2017), definiram economia circular como um sistema
regenerativo em que os recursos de entrada e desperdício, as emissões e o vazamento de energia
são minimizados pelo fechamento de material e laços de energia, através do design duradouro,
manutenção, reparação, reutilização, remanufatura, remodelação e reciclagem.
O objetivo da economia circular é permitir fluxos eficazes de materiais, energia,
trabalho e informação para que o capital natural e social possa ser reconstruído. Visa a redução
do uso de energia por unidade de produção, acelerando a mudança para a energia renovável,
tratando tudo na economia como um recurso valioso (EMF, 2013).
Jun e Xiang (2011) complementam afirmando que economia circular é caracterizada
pelo baixo índice de poluição e de consumo de recursos no decorrer da produção, bem como,
alta eficiência e altas taxas de circulação, resultando na redução de efeitos adversos das
atividades econômicas na natureza atingindo portanto o desenvolvimento econômico, aliado a
proteção ambiental.
O modelo de economia circular é direcionado para um novo paradigma, implica uma
nova modalidade de produzir produtos da mesma origem, desde o seu design, e permite que as
empresas atinjam o crescimento econômico da sociedade, a sustentabilidade ambiental e a
redução dos riscos (LETT, 2014).
Com o intuito de atingir o objetivo, o modelo de economia circular foi dividido em dois
grupos: Os ciclos de nutrientes biológicos, que constitui os materiais renováveis,
biodegradáveis e capazes de reconstruir o capital natural; e os ciclos de nutrientes técnicos, o
qual envolve os materiais finitos, que são recuperados e restaurados por processos tecnológicos
para retornar ao sistema (EMF, 2013).
O relatório "Rumo à Economia Circular", publicado em 2013 pela Ellen MacArthur
Foundation, buscou realizar uma análise de oportunidades e impactos da economia circular
baseado em números diante do contexto europeu. Este aponta que grande parte do setor de
fabricação da Europa, se redesenhar seus sistemas de produção de acordo com a economia
circular, poderia economizar cerca de 650.000 milhões de euros até 2025.
Além disso, o produto interno bruto (PIB) europeu poderia crescer 11% até 2030 e 27%
até 2050, em contra partida com os 4% e 15% do atual cenário. Pois o crescimento econômico
se daria por meio da combinação do aumento da receita das novas atividades da economia
circular e redução dos custos de produção acarretado pela utilização maior dos insumos.
Embora os números retratem a realidade europeia, vale ressaltar que os desafios são universais
e as conclusões também são aplicáveis a outras regiões (EMF, 2013).
Se ocorrer a transição para a economia circular, toda a sociedade sentirá seu impacto,
pois os benefícios incluem altos índices de desenvolvimento tecnológico, materiais melhores,
uso eficiente de mão de obra e energia, além de mais oportunidades de lucro para as empresas.
Além disso, é importante destacar também os benefícios ambientais, dentre os quais estão: a
redução das emissões de dióxido de carbono, a diminuição do consumo de materiais primários,
o aumento da produtividade da terra e redução de externalidades negativas como a poluição dos
ecossistemas (EMF, 2013).

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Em relação a economia circular na agricultura, Jun e Xiang (2011) destacam que a sua
implementação é uma opção inevitável para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável,
sendo a base-chave para a evolução do sistema econômico e social.
Jun e Xiang (2011) afirmam ainda que a economia circular é a solução viável para
problemas rurais vinculados a poluição ambiental, danos ecológicos e esgotamento de recursos
naturais.
Em contrapartida ao exposto, Balboa e Somonte (2014) afirmam que até agora, o papel
da tecnologia tem sido focado em melhorar a eficiência dos processos de produção linear. O
que não atinge o objetivo real que era passar de uma economia linear para uma economia
circular, na qual o desperdício é reintroduzido na cadeia produtiva.
Além disso, Korhonen et al. (2018) complementam identificando que existem limites e
desafios que precisam ser solucionados para que a economia circular possa contribuir de forma
significativa para a sustentabilidade global. Além disso, afirmam que o conceito de economia
circular ainda permanece superficial, faltando análise crítica e científica.
Entretanto, vale ressaltar que o objetivo aqui não é consolidar a economia circular no
sistema de cadeia produtiva, e sim, através de exemplos práticos de economia circular, propor
uma reflexão acerca do conceito de cadeia de produção, analisando-o sob uma perspectiva que
vá além do consumidor final.

3 Procedimentos Metodológicos

Considerando o objetivo geral da pesquisa, o qual buscou: trazer para discussão o


conceito de cadeia produtiva como algo indo além do consumidor final, optou-se pela
realização de um estudo com abordagem qualitativa. A análise qualitativa fora utilizada ao
trabalhar com o universo de significados, motivos, crenças e valores, correspondendo a um
espaço mais intenso das relações e dos processos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis (MINAYO, 2007).
Se enquadrou, com base em seu objetivo, em uma categoria metodológica denominada
estudo exploratório, onde o mesmo permitiu que os investigadores aumentassem sua
experiência em torno de determinado problema (TRIVIÑOS, 1987). Para tanto, no que se refere
aos procedimentos técnicos, a fase exploratória assumiu a forma de pesquisa bibliográfica.
Utilizou-se esse tipo de pesquisa com o objetivo de reunir informações relevantes sobre o estado
da arte, referente ao tema proposto – Cadeia Produtiva e a Economia Circular - que serviram
de base para a fundamentação e construção da investigação da problemática: Por que o conceito
de cadeia produtiva deve terminar no consumidor final?
O levantamento bibliográfico foi realizado a partir da análise de fontes secundárias,
obtidas em livros e artigos disponíveis em periódicos e em sites que são referências no assunto.
Para tanto, a busca pelo material foi realizada utilizando as seguintes palavras chaves em
português e em inglês: cadeia produtiva, produção sustentável, economia linear, economia
circular, análise do ciclo de vida, resíduos.
Sendo assim, a pesquisa bibliográfica serviu como um apanhado geral sobre os
principais trabalhos já realizados, sendo importantes por fornecerem dados atuais e relevantes
relacionados com o tema, representando uma fonte indispensável de informações (MARCONI
& LAKATOS, 2002).
Após a seleção do material, o mesmo foi lido, traduzido, analisado, interpretado e
transcrito, discorrendo com as informações obtidas para a melhor compreensão do leitor acerca
do assunto inserido. Contudo, a soma do material aproveitável coletado proporcionou uma
adequação de acordo com as habilidades dos investigadores, de suas experiências e capacidades
de descobrir as contribuições e os indícios importantes para o presente artigo (MARCONI &
LAKATOS, 2002).
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4 Resultados e Discussão

4.1 Repensando a Cadeia Produtiva

Segundo Batalha e Silva (2001) a análise de cadeia produtiva se deu a partir da escola
de economia industrial francesa, com o conceito de filière. Este, de acordo com Morvan (1985),
se aplica a sucessão de operações que transformam bens resultando em um produto para o
consumidor final. A conexão dessas operações é influenciada pela fronteira de possibilidades
ditadas pela tecnologia e é definida pelas estratégias dos agentes que buscam valorizar seu
capital.
Ainda segundo Morvan (1985), a noção de filière, ou cadeia de produção relembra
imagens a grosso modo de “sucessão”, “encadernação”, “caminho”. Labonne (1985)
complementa afirmando que filière, evoca a análise econômica de uma sequência de operações
físicas tecnicamente complementar para a criação, a circulação e consumo de um bem ou
serviço (Figura 1).
Batalha e Silva (2001), afirmam que apesar dos esforços dos economistas franceses ao
conceituar cadeia de produção, tal conceito continua vago quanto ao seu enunciado, devido à
grande variedade de definições encontradas na literatura. Diante disso, ele propõe que a cadeia
de produção agroindustrial pode ser segmentada em três macrossegmentos: comercialização,
industrialização e produção de matérias-primas.
Sendo um processo analisado de jusante a montante, a comercialização representa as
empresas que estão em contato direto com o cliente final; a industrialização relaciona as firmas
responsáveis por transformar a matéria-prima em produto final; e por fim a produção de
matérias-primas reúnem as firmas que fornecem os insumos iniciais para o processo de
produção (BATALHA & SILVA, 2001).
Pedrozo et al. (2004) afirmam que, ao analisar o sistema de cadeia produtiva, é possível
notar que ocorrem interações entre os elos que compõem a cadeia, tais quais estabelecem
relações de complementaridades entre os atores envolvidos, numa lógica sequencial, onde os
elos podem se modificar e serem substituídos ao longo do tempo (Figura 1).
Figura 1: Sistema de Cadeia Produtiva Agroindustrial

Fonte: Adaptado de Pedrozo et al. 2004.

Frente ao exposto, ao observar o conceito de cadeia produtiva, surgem alguns


questionamentos em relação ao que ocorre após o consumidor final. Tendo em vista que de
acordo com Andersson, et al. (1998) um estudo completo deve incluir produção agrícola, refino
industrial, estoque, distribuição, embalagem, consumo e gerenciamento de resíduos.
Claudino e Talamini (2013) complementam afirmando que a geração de resíduos dos
sistemas agrícolas, industriais e urbanos podem gerar graves efeitos a longo prazo e, em muitos
casos, necessitam de complexos e caros processos de recomposição e reutilização para serem
descartados ou reaproveitados no meio ambiente.
Contudo, pesquisas científicas têm direcionado seus estudos para importantes caminhos
que apresentam eficiência energética, redução do uso de matérias-primas, redução do consumo
de água e aumento do reuso e reciclagem dos resíduos (CLAUDINO & TALAMINI, 2013),
onde o modelo de economia circular se apresenta como um grande agente ativo dentro desse
processo.
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No entanto, não se encontra na literatura uma definição conceitual clara de cadeia
produtiva que incluía o pós consumo. E como já exposto, é de extrema importância integrar os
resíduos como parte desse processo, por meio de um conceito mais amplo e completo.
Esta lógica de pensamento, surge a partir de exemplos já consolidados como é o caso
do Projeto Cana Verde, apresentado recentemente pelo relatório “Uma Economia Circular no
Brasil” de autoria da Ellen MacArthur Foundation.
O Projeto Cana Verde, desenvolvido pelo Grupo Balbo, foi pioneiro na produção
regenerativa em larga escala de cana de açúcar no Brasil. O grupo criou a Native, hoje a maior
produtora e varejista de açúcar orgânico do mundo. Seus canaviais passaram de um modelo
tradicional e linear para um modelo orgânico e regenerativo, que é altamente produtivo e
lucrativo. Entre os resultado obtidos destaca-se o aumento da fertilidade do solo, um maior
rendimento agrícola, a redução dos custos de produção e a regeneração da biodiversidade local,
com mais de 340 espécies de animais diferentes. A empresa pretende ainda disseminar essa
técnica regenerativa a outras culturas de seus sistemas produtivos (EMF, 2017).
Outro exemplo trazido pelo relatório “Uma Economia Circular no Brasil” retrata o caso
da empresa brasileira de cosméticos Natura, através do “Programa Amazônia”. Este teve por
finalidade implantar um modelo de negócio inclusivo e regenerativo na região da Amazônia,
através da incorporação de ativos da biodiversidade em seus produtos. Todo o álcool utilizado
nos seus perfumes tem origem em sistemas de agricultura regenerativa. Além disso, a Natura
une pesquisas científicas ao conhecimento das comunidades tradicionais locais gerando
empego na região (EMF, 2017).
Sachs (2007) denominando o processo como integração biodiesel-pecuária, traz como
exemplo os resíduos da extração de óleo que constituem uma ração para o gado, que estando
confinado ou semi-confinado, gera esterco processado nos biodigestores, que por sua vez
produzem adubos e energia aproveitável na usina de biodiesel. Destaca também que um grupo
industrial no Brasil passou a produzir biodiesel à base do sebo do boi.
Em 2012, fora instituído um projeto em Milão, na Itália, que visava recolher todo o
resíduo orgânico gerado na cidade para ser processado e gerar biogás. Atualmente o programa
recupera mais de 130 mil toneladas de resíduos orgânico por ano que são enviados para uma
instalação de digestão anaeróbia e compostagem. O custo desse processo é de aproximadamente
70 euros por tonelada, que são convertidos em fertilizantes orgânicos ricos em nutrientes e
energia renovável, enquanto que o custo de destinação pelo método tradicional em aterros
sanitários está em 100 euros por tonelada (EMF, 2017).
Em 2012, a startup REEP de Israel, por meio do seu idealizador Barak Yekutiely
começou a reinventar o papel, criando-o resistente e apagável, além disso, a REEP desenvolveu
uma impressora a laser capaz de apagar páginas escritas e armazená-las com segurança na
nuvem, proporcionando a reutilização da folha de papel de 10 a 20x. Caso o papel for
danificado, pode ser encaminhado normalmente para a reciclagem (EMF, 2017).
Ao constatar que 44% de todo o pão produzido no Reino Unido é desperdiçado, a
empresa Toast Ale, que fabrica cerveja, firmou parcerias com padarias e fabricantes de
sanduíches passando a coletar todo o excesso de pão para incorporar ao processo de fabricação
de cerveja junto com a cevada maltada, lúpulo, levedura e água. Não é necessário qualquer
tecnologia especial, mas esta simples mudança pode substituir cerca de um terço da cevada
maltada usada para cerveja (EMF, 2017).

5 Conclusões

O intuito deste trabalho foi o de provocar uma reflexão sobre o enfoque do conceito de
cadeia produtiva enquanto produção sustentável, com abordagem no modelo de economia
circular.
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Embora o conceito de economia circular não seja recente, observa-se que os estudos e
tecnologias nessa área ainda estão bastante limitados e os exemplos apresentados são casos
pontuais. Entretanto não impedem que o modelo de economia circular se apresente como uma
alternativa de analisar a cadeia produtiva numa perspectiva voltada para sustentabilidade, pois
traz benefícios sociais, ambientais e econômicos.
Diante disso é que surge a ideia de analisar o conceito de cadeia produtiva incluindo o
pós consumo e nesse sentido lançam-se alguns questionamentos que podem resultar no
desenvolvimento de novos estudos relacionados a complexidade do tema.
A principal questão levantada neste estudo, foi em relação ao conceito de cadeia
produtiva terminar no consumidor final. E com base no que fora exposto, observa-se um grande
potencial de complementar o conceito, agregando aspectos vinculados a geração de resíduos
dentro da cadeia de produção, bem como, utilizando métodos, técnicas e exemplos consolidados
da economia circular.
É importante ressaltar ainda, que mesmo com limites, dificuldades e poucos estudos
científicos, o modelo de economia circular demonstra uma maior eficiência ambiental e
econômica, quando comparado com o atual modelo de economia linear considerado pela análise
de cadeias produtivas.

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Área 2 – Ciência do Agronegócio

I. Comercialização, Mercados e Preços -


Sistemas Agroalimentares e Cadeias
Agroindustriais

109
A influência da inadimplência, do volume e do custo do crédito nas
variações da taxa de juros dos investimentos do setor rural (2011-2018)

The influence of defaults, volume and cost of credit on the interest rate
changes of rural sector investments (2011-2018)
Beatriz Scapin1; Bruna Márcia Machado Moraes2
Resumo
O agronegócio brasileiro passou por diversas mudanças ao longo dos anos, muito devido às mudanças tecnológicas
e investimentos no setor. Tais investimentos dependem da taxa de juros, que por sua vez, recebe influência de
diversas variáveis macroeconômicas. Tendo em vista essa temática, o presente artigo tem como objetivo analisar
a influência da inadimplência, do volume de crédito concedido e do custo dessa transação nas variações da taxa
de juros do crédito rural, no período de março de 2011 a junho de 2018. Para tal, foram estimados o modelo Vetor
Autorregresivo e o Modelo Vetor de Correção de erros, além do Impulso-Resposta. Como principais resultados
identificou-se que o volume concedido de crédito influencia positivamente nas variações da taxa de juros do crédito
rural no longo prazo, o mesmo ocorre com a inadimplência devido às renegociações das dívidas do setor. Já o
custo do crédito impactou negativamente nas variações da taxa média de juros do crédito rural.
Palavras-chave: Taxa de juros; crédito rural; inadimplência; custo.

Abstract
Brazilian agribusiness has undergone several changes over the years, largely due to technological changes and
investments in the sector. Such investments depend on the interest rate, which in turn is influenced by several
macroeconomic variables. The objective of this article is to analyze the influence of default, the amount of credit
granted and the cost of this transaction in the variations of the rural credit interest rate, in the period from March
2011 to June 2018. For this, we estimated the autoregressive Vector model and the Vector Error Correction Model,
in addition to the Impulse-Response. As main results, it was found that the volume of credit positively influences
the changes in the rural credit interest rate in the long term, as does the default due to renegotiations of the sector's
debts. The cost of credit has negatively impacted the variations in the average rate of interest on rural credit .
Keywords: Interest rate; rural credit; defaults; cost.

1 Introdução
O crescimento da agricultura está diretamente ligado à disponibilização de crédito aos
produtores. A partir da década de 60, com a instituição da política de crédito rural, as
propriedades começaram a modernizar o sistema produtivo e isso, garantiu o aumento da
produção e produtividade (KVITSHAL et al., 2015).
A política de crédito rural tem como objetivo disponibilizar recursos para o custeio,
investimento ou comercialização de produtos agrícolas, com o intuito de fomentar a produção
agropecuária. O Manual do Crédito Rural (MCR), elaborado pelo Banco Central do Brasil
(BACEN), apresenta as regras, finalidades e condições para ter acesso ao crédito rural. Sendo
assim, todos agentes financeiros que compõem o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR),
como as cooperativas de créditos e os bancos, seguem as normas estabelecidas no MCR
(BRASIL, 2018).
A partir do MCR identifica-se que os recursos disponibilizados para custeio são
destinados para cobrir as despesas com os ciclos produtivos. Já os montantes disponibilizados
para investimentos são destinados para aplicações em bens ou serviços duráveis, ou seja, os
benefícios dessas aplicações podem ser usados por diversos períodos de produção. Já o crédito

1
Acadêmica de Administração, Instituto Federal Farroupilha, campus Júlio de Castilhos, Rio Grande do Sul. E-
mail: beatrizscapin60@gmail.com.
2
Professora da Universidade Franciscana, curso de Administração, Santa Maria, Rio Grande do Sul. Doutoranda
do Programa de Pós-Graduação em Administração – Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:
brunammmoraes@hotmail.com.
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disponibilizado para a comercialização tem finalidade de garantir aos produtores e as
cooperativas recursos para o uso de técnicas que garantem o abastecimento e levem à estocagem
da colheita nos períodos onde os preços estão baixos (MCR, 2018).
O Brasil possui taxas de juros que estão entre as mais altas do mundo, isso é reflexo de
uma política monetária rígida, mantendo altas taxas de captação dos bancos. Com isso o
aumento da inadimplência e a ineficiência dos bancos tem se tornado papel relevante nas
concessões de crédito. A redução das taxas de juros dos bancos é possível com a existência de
uma boa garantia aos credores (IVO et al., 2015)
A facilidade de acesso ao crédito rural e ao aumento dos recursos disponibilizados,
trouxe, em contrapartida, o aumento da inadimplência no meio rural. Isso se deve ao fato de
que a produção agrícola está diretamente exposta a fatores que não podem ser previstos ou
controlados pelos produtores rurais, tais como fenômenos climáticos e variações nos preços dos
produtos agrícolas, podendo comprometer toda a renda gerada a cada ano agrícola (KVITSHAL
et al., 2015).
Uma maneira para manter a capacidade de financiamento do crédito rural, como afirma
Távora (2014, p.38), são as especificidades das linhas de crédito rural, que possuem
características específicas, as taxas de juros são fixas e moderadamente baixas, estabelecidas a
cada plano safra, tendo a possibilidade de refinanciamento em caso de incapacidade de
pagamento pelo produtor rural. Também, de preferência, sem alocar diretamente recursos para
fazer frente a financiamentos rurais e buscando a otimização dos recursos, existem vários
programas, boa parte com fontes do BNDS, e títulos de crédito.
Dentre os estudos recentes envolvendo o tema concessão de crédito, (Cardoso, Teixeira,
Castro e Gurgel, 2014; Melo, 2014; Barros et al., 2015; Melo e Lima ,2015; Costa, 2017), são
relacionados alguns fatores que influenciam na concessão de crédito, porém nenhum analisou
a influência desses três fatores (inadimplência, volume de crédito e custo do crédito rural), nas
variações das taxas de juros do crédito rural.
Dessa maneira, tendo em vista o tema relacionado, e a importância da taxa de juros para
a economia e a importância do crédito rural para o desenvolvimento da agropecuária, o presente
estudo tem o objetivo de analisar a influência da inadimplência, do volume de crédito concedido
e do custo dessa transação nas variações da taxa de juros do crédito rural, no período de março
de 2011 a junho de 2018.

2 Referencial Teórico
2.1 Taxa de juros e a economia
Para Andrade (2016), a taxa de juros pode ser definida como o “preço dinheiro”, tendo
relação com o capital e os juros gerados de uma operação financeira, estando relacionada a
certo período de tempo. A periodicidade pode ser ao ano, ao mês, ao dia, ao semestre, ao
trimestre, entre outros. Já para Assaf Neto (2012, p.1), “A taxa de juro é o coeficiente que
determina o valor do juro, isto é, a remuneração do fator capital utilizado durante certo período
de tempo.”. Podendo ser representada de duas maneiras, taxa percentual e taxa unitária.
Nessa mesma linha Souza (2014) define a taxa de juros sendo um percentual que incide
sobre o capital, ou sobre o valor emprestado. Na economia, ela pode ser conhecida como taxa
de juros vigente, ou seja, é a taxa básica, funcionando como referência pelos agentes financeiros
para todos os contratos de investimento, financiamento e empréstimo de dinheiro.
O valor dos juros é estabelecido a partir de alguns aspectos, o contrato fixado pelo credor
e a inflação em vigência. Juros pode ser entendido como os rendimentos obtidos sobre um
empréstimo, ou sobre um valor poupado em uma instituição financeira (ANDRADE, 2016).

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Um dos fatores que influencia de forma direta na concessão de crédito é a inflação, pois
está ligada a taxa de juros que o país pratica, tendo como finalidade regular à economia do país
e valorização a moeda nacional diante as estrangeiras (ZANATTA, CARNEIRO, 2017).
Isso faz com que a taxa de juros se torne um fator de risco de crédito para a população,
visto que, tem-se a ideia do por que pagar mais caro em uma instituição financeira do que em
outra. Sabendo que maior parte dos clientes tomam recursos onde irão pagar por menores taxas
de juros (ZANATTA, CARNEIRO, 2017).

2.2Inadimplência
No setor agropecuário a concessão de crédito é um importante instrumento para o
desenvolvimento da atividade, porém ela está sujeita a fenômenos da natureza, trazendo riscos
que podem afetar de forma direta a oferta de crédito para os produtores (LIMA, 2011).
Dessa maneira, o gerenciamento dos riscos é uma importante ferramenta que auxilia
demandantes e ofertantes de crédito na manutenção e desenvolvimento do setor, pelo fato de
garantir uma proteção aos possíveis riscos da atividade agropecuária, de forma a auxiliar na
diminuição das perdas resultantes desses riscos, bem como garantir que as instituições efetuem
financiamento (LIMA, 2011).
O crédito possibilita ao consumidor ou produtor a capacidade de financiar qualquer
produto ou serviço, tornando-se assim um importante instrumento para o aumento da produção.
Contudo, no momento da oferta de crédito tanto as pessoas físicas como jurídicas tem-se o risco
da ocorrência de inadimplência por parte do cliente (SOUZA, SILVA 2016).
O termo inadimplência pode ser entendido como o não pagamento na época estabelecida
dos recursos obtidos em contrato de empréstimo. Para Costa (2017), a inadimplência de pessoas
físicas, no Brasil, está associada a diversos fatores, tais como taxas de juros elevadas, risco
moral, seleção adversa, interferência de políticas macroeconômicas, e também pelo fato do país
ter um cenário econômico instável.
Para Gomes (2016) a inadimplência nada mais é do que o não cumprimento de uma
obrigação. E isso causa um déficit financeiro, a partir do momento que o tomador de crédito
não cumpre o prazo de pagamento, pois as empresas que concedem crédito fazem todo seu
planejamento baseado no que vão receber de seus clientes, causando dessa forma impactos
negativos no fluxo de caixa.
A inadimplência no setor agropecuário com relação à concessão de crédito rural pode
ter diversas causas, como por exemplo, a não aplicação do crédito concedido para fins de
custear a produção ou investimento dentro da propriedade rural, a falta de conhecimento por
parte dos agricultores, ocorrência de fenômenos climáticos, o uso de tecnologias inadequadas,
dificuldades no momento de comercialização da produção, e também ausência ou deficiência
de assistência técnica (KVITSHAL et al., 2015).

2.3 A importância do Agronegócio no Brasil


De acordo com Abbade (2014) grande parte do crescimento econômico do Brasil se deu
a partir das atividades agropecuárias. Fato que se explica pelo país ser privilegiado para o
desenvolvimento das atividades agropecuárias, devido a grande extensão territorial e ao clima,
que favorece o cultivo das mais variadas culturas, dessa maneira contribuindo
significativamente para o setor do agronegócio. Isso, também contribui de forma significativa
para o crescimento do PIB brasileiro.
Para Melo, Marinha e Silva (2013), a produção agropecuária apresenta impactos de
grande importância para o crescimento do PIB. Isso se da as variações significativas na
produção pecuária, nas safras agrícolas e também no crédito primário. Além disso, o país,

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também, é um grande exportador de produtos agropecuários. O que o possibilita de participar
de forma crescente na produção agropecuária mundial.
Dessa maneira, é uma medida de valor, que mostra o crescimento da renda de um setor
ou atividade. Sendo assim, o PIB do Agronegócio diz respeito a renda gerada desde a produção
de insumos para agropecuária, até as outras atividades que processam e distribuem o produto
ao destino final. O PIB do Agronegócio pode ser entendido como a soma de quatro segmentos:
produção agropecuária básica, ou primária, insumos para a agropecuária, agroindústria e
agrosserviços (CEPEA, 2017).
A Figura 1, apresenta o PIB Renda do Agronegócio Brasileiro no período de 1996 a
2017, em que os segmentos insumos e indústria se mantém quase sempre constantes ao longo
dos anos, já agropecuária e serviços são mais voláteis. A participação do PIB do Agronegócio
no PIB total, como observado na Figura 1, apresentou maior destaque nos anos de 1996
representando 31,86%, no ano de 2003 correspondendo a 30,45% e em 2002 com participação
de 29,54%. Já, a menor participação do PIB do Agronegócio no PIB total foi nos anos de 2012,
2013 e 2014, representando respectivamente 19,41%, 19,17% e 19,06%.

Figura 1: Evolução do PIB do Agronegócio e sua participação no PIB do Brasil

Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de dados do CEPEA (2018).

Como observado na Figura 1, em 2017 ocorreu uma retração do PIB renda do


agronegócio de -4,55%, em comparação com o ano anterior. O movimento de baixa também
foi verificado em todos os segmentos que compõem o agronegócio. Com este resultado, o PIB
do Agronegócio correspondeu a 21,58 % do PIB Brasileiro em 2017 (CEPEA, 2018).
A produção agropecuária manteve uma trajetória de crescimento nos últimos anos.
Onde, o PIB setorial cresceu 3,9% ao ano contra 3,6% da economia no período de 2000-2011.
Nos últimos doze anos, no que diz respeito a termos físicos, a produção de grãos, oleaginosas,
cereais e fibras surpreendeu, saltando de 83 milhões para 163 milhões de toneladas. Também,
pode-se perceber que o desempenho da agropecuária na última década foi extraordinário. Com
exceção de 2009, houve crescimento em todos os anos, representando uma enorme contribuição
para o PIB geral da economia (BELIK, 2015).

2.4 Evidências empíricas


Melo (2014) buscou explicar os causadores da inadimplência do crédito rural no Brasil
focando no contexto macroeconômico. Por meio do Modelo Auto Regressivo Defasagens
Distribuídas (ARDL), contatou-se que os processo de renegociação da dívida rural tendem a
diminuir a taxa de inadimplência, mas ao mesmo tempo geram incentivos adversos aos

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usuários. Também é possível verificar em relação as variáveis macroeconômicas que o risco de
crédito rural tem um comportamento anticíclico.
Cardoso, Teixeira, Castro e Gurgel (2014) em seu estudo buscaram avaliar os impactos
dos gastos governamentais com a política de Equalização de Juros (ETJ) no crescimento
econômico e bem-estar das regiões brasileiras. Para isso, utilizaram como método para a
realização das simulações o PAEG. Por fim, concluíram que nas regiões Centro-Oeste,
Nordeste e Sul o subsidio do crédito rural promove crescimento, porém nas regiões Norte e
Sudeste, verifica-se queda no PIB mediante os gastos com a ETJ. Também nota-se que, a
política de ETJ contribui para a redução das disparidades regionais.
Buscando analisar os determinantes da inadimplência entre os produtores de frutas do
Polo Petrolina-Juazeiro, através do modelo logit, Barros et al. (2015) verificou que os as
chances dos produtores se tornarem inadimplentes com o setor público são cinco vezes maiores
do que com o setor privado. Os fatores que explicam a inadimplência frente ao setor público e
frente ao setor privado, possuem algumas divergências o que aprofunda a compreensão do tema
em questão.
Melo e Lima (2015) avaliaram a influência dos principais fatores que condicionaram a
ocorrência do risco de liquidez nas cooperativas de crédito do Sistema Cresol, no período de
2001 a 2009. Utilizaram como método o modelo logit binário com dados em painel. Dessa
forma, verificaram que utilização de capital de terceiros, provisionamentos, volume de crédito,
relação entre depósitos totais e operações de crédito e a idade da cooperativa, foram os fatores
que contribuíram para determinar a ocorrência do risco de liquidez nas cooperativas. Com isso,
foi possível identificar que utilização de capital de terceiros e provisionamentos ajudaram
elevar o risco de liquidez, enquanto os demais indicadores colaboraram para a redução do risco
de liquidez.
Costa (2017) em seu estudo buscou analisar a relação entre o percentual da
inadimplência da carteira de crédito de pessoas físicas no Sistema Financeiro Nacional (SFN)
e a taxa média de juros das operações de crédito às pessoas físicas no SFN, analisando o período
de 2011 a 2015. Utilizando o modelo vetorial de correção de erros, foi constatado que há relação
correlação entre as variáveis estudadas. Também concluiu que as ações governamentais afetam
as famílias, bem como causam distorções nos canais de créditos.

3 Procedimentos Metodológicos
Com a finalidade de atingir o objetivo de analisar a influência da inadimplência, do
volume de crédito concedido e do custo dessa transação nas variações da taxa de juros do crédito
rural, utilizou-se o Modelo Vetor Autorregressivo para identificar as relações de curto e longo
prazo, e o Vetor de Correção de Erros para identificar a velocidade de ajuste caso haja um
desequilíbrio nas séries em análise.
Para estimar os modelos, segundo Wooldridge (2006), é necessário que sejam realizadas
algumas etapas fundamentais de tratamento das séries temporais que serão analisadas. Para tal,
para testar a presença ou não de raiz unitária, foram realizados os testes usuais de Dickey-Fuller
Aumentado (1981), e também o teste KPSS (1992). Posteriormente, foi realizado um teste para
verificar a sua ordem de integração, o que permite identificar trajetórias semelhantes ao longo
do tempo. Além disso, foi realizado o teste de Cointegração de Johansen (1988), para identificar
se as séries possuem relacionamento de longo prazo.
Após todos os passos, o modelo VAR é estimado de acordo com as equações (1):
𝑌𝑡 = 𝛼 + ∑𝑘𝑗=1 𝛽𝑗 𝑌𝑡−𝑗 + ∑𝑘𝑗=1 𝛾𝑡−𝑗 + 𝑢1𝑡 (1)
𝑘 𝑘
𝑋𝑡 = Ω + ∑𝑗=1 𝜕𝑗 𝑌𝑡−𝑗 + ∑𝑗=1 𝛾𝑡−𝑗 + 𝑢2𝑡 (2)

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em que: Yt é a variável exógena ou dependente, Yt −1 são os valores defasados da variável
exógena, X t é a matriz de variáveis incluídas no modelo, α é o vetor de parâmetros do modelo
e,  t é o termo de correção de erros.
Após estimado o VAR, foi identificado uma relação de longo prazo entre as variáveis,
sugerindo a estimação do VEC. Segundo Melo (2012), o modelo Vetor de Correção de Erros é
considerado mais robusto, visto que são incorporados ao modelo VAR os desvios em relação à
trajetória de longo prazo das séries. Especificamente, pode haver cointegração das variáveis no
longo prazo, mesmo que não haja a incidência dessa integração no curto prazo.
As séries utilizadas foram: a taxa média de juros das operações de crédito com recursos
direcionados para pessoa física do crédito rural; inadimplência da carteira com recursos
direcionados de pessoas físicas, crédito rural; índice do custo do crédito, pessoas físicas, crédito
rural total; e concessões de crédito com recursos direcionados, pessoa física, crédito rural
(deflacionado pelo IPCA). Todas as séries foram retiradas do Sistema de Recuperação de Séries
Temporais do Banco Central, e possuem periodicidade mensal, no período de janeiro de 2013
a maio de 2018. Esse período foi escolhido por ser o único com disponibilidade de todas as
séries analisadas.

4 Resultados e Discussão
Com o objetivo de analisar a influência da inadimplência, do volume de crédito
concedido e do custo dessa transação nas variações da taxa de juros do crédito rural, no período
de março de 2011 a junho de 2018, primeiramente foram realizados os testes usuais de
estacionariedade (ADF-GLS e KPSS). Com isso foi identificado que as séries não são
estacionárias em nível, e possuem ordem de integração I(1), ou seja, são estacionárias em
primeira diferença. Além disso, foi realizado o teste de definição de lags das variáveis do
modelo, sendo utilizado o modelo com um lag, resultado obtido com o teste de Schwarz, que
segundo Stock (1994) trata-se de um modelo mais robusto.
A partir disso, foi identificado ainda que, segundo o Teste de Cointegração de Johansen
(1988), que o modelo possui até 3 vetores de co-integração, apresentados pelo teste de traço e
autovalor. Resultado que indica que, no longo prazo, as séries se relacionam de maneira
semelhante ou, seja, apresentam relacionamento de equilíbrio no longo prazo. Sendo assim, na
tabela 1, estão expostas as estimativas dos coeficientes de longo prazo para as variáveis do
modelo.

Tabela 1: Resultado das estimativas de longo prazo para a taxa média de juros para as
operações de crédito rural (01/2013-05/2018)
Variável Taxa de juros Crédito Custo Inadimplência
Parâmetro -1,112*** 5,925*** -2,784***
Erros padrão 1,0000 (0,256) (1,568) (0,692)
T-Statistic [4,192] [-3,778] [4,021]
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
***, ** e * indicam a significância estatística a 1%, 5% e 10%, respectivamente.
Obs: Desvio-padrão entre parênteses; Estatística t entre colchetes.

Com as estimativas de curto prazo, apresentadas na tabela 1, identifica-se que tanto o


volume concedido de crédito rural, quanto o custo do crédito e a inadimplência exercem
influência significativa sobre as variações das taxas de juros para as operações de crédito rural.
Os resultados apontam que, dado um aumento de 1% no volume de crédito concedido pelo
sistema financeiro nacional, a taxa de juros tende a reduzir 1,12%. Isso pode ser explicado pela

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lei geral da oferta e demanda, nesse caso, quanto maior a oferta de crédito, menor o preço, ou
seja, a taxa de juros.
Outro resultado identificado foi que com um aumento de 1% no custo do crédito,
representado pelo custo médio das operações de crédito das instituições financeiras, traduz um
aumento de aproximadamente 5% na taxa de juros. Essa relação é justificada pelo fato de que,
os custos com as transações financeiras tendem a ser repassados para os consumidores de
crédito, por meio da taxa de juros de cada uma das transações financeiras.
Com relação à inadimplência, com o modelo em análise, foi encontrado um resultado
contrário ao que se espera na teoria econômica, pois, dado um aumento de 1% na inadimplência,
identificou-se uma redução de 2,78% na taxa de juros, que é a remuneração do dinheiro. Esse
resultado pode ser explicado, pelas inúmeras políticas de renegociações de dividas ocorridas no
setor agrícola, principalmente quando ocorrem adversidades com relação à clima ou quedas na
produção agrícola. Nesses períodos, a renegociação geralmente induz à redução na taxa de juros
inicialmente contratada juntamente com o crédito. Para corroborar com esses resultados, na
tabela 2 poderão ser avaliadas as estimativas de curto prazo, bem como o termo de correção de
erros.

Tabela 2: Dinâmica de curto prazo associado à taxa média de juros para as operações de crédito
rural (01/2013-05/2018)
Variável Taxa de juros Crédito Custo Inadimplência ECT
Parâmetro 0,395 0,005 -0,122 -0,02
Erros padrão 1,000 (0,553) (0,008) (0,158) (0,027)
T-Statistic [0,713] [0,678] [-0,776] [-0,777]
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
***, ** e * indicam a significância estatística a 1%, 5% e 10%, respectivamente.
Obs: Desvio-padrão entre parênteses; Estatística t entre colchetes.

Como observado na tabela 2, as estimativas de curto prazo não são estatisticamente


significativas, ou seja, a um nível de 5% de significância, os resultados encontrados com o
modelo Vetor de correção de Erros, não possuem significância estatística. O termo de correção
de erros, ECT, apresentou um resultado esperado, porém, demonstrou uma velocidade de ajuste
das séries um pouco lenta. Isso pois, dado um desequilíbrio nas séries avaliadas, obteriam um
ajuste de 0,02% em cada período, porém, da mesma forma que as demais variáveis, não possui
significância estatística. Para melhor identificar quais as relações de curto prazo, na tabela 3
estão os resultados da decomposição da variância dos erros do modelo.

Tabela 3: Decomposição da variância dos erros do modelo


Período Taxa de juros Crédito Custo Inadimplência
01 100,00 0,00 0,00 0,00
06 97,42 0,33 0,04 2,20
12 96,06 0,18 0,10 3,65
18 95,61 0,13 0,14 4,12
24 95,34 0,11 0,17 4,37
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Com os resultados da decomposição da variância dos erros do modelo, identificou-se


que ao longo dos períodos analisados, as variações ocorridas na taxa de juros, recebem
influência, em grande parte das variações da própria série. Com o passar dos períodos, as
variações na série de inadimplência exerceram maior influência nas variações da taxa de juros,
quando comparado com as demais séries. Por fim, na figura 2, podem ser avaliados os
resultados do modelo impulso-resposta.
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Figura 2: Resultado do modelo Impulso-Resposta para as variáveis do modelo

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Na figura 2 estão expostos os resultados para o modelo ipulso-resposta com as variáveis


independentes crédito, custos incididos sobre a obtensão de crédito, e também, a inadimplência
observada sobre o crédito rural. A partir desse modelo, identificou-se que, ao dar um choque
nos custos, ou seja um aumeto dos custos impactam positiviamente na taxa de juros, como já
observado naas relações de longo prazo (ver tabela 1). Além disso, após esse impacto positivo,
a série chega ao novo equilíbrio apenas próximo ao vigésimo período. Esse resultado justifica-
se pelo resultado da estimação do termo de correção de erros, em que foi verificado um ajuste
lento.
Com relação à inadimplência, no primeiro momento, dado um choque na série,
identifica-se uma ligeira queda na taxa de juros, como, da mesma forma já identificado no
modelo anterior, porém, após o quinto período, houve alteração positiva na série dos juros
novamente. Já quando avaliada a oferta de crédito, em um primeiro momento, essa alteração
provoca um aumento na taxa de juros, seguido de um decréscimo, chegando ao equilíbrio
próximo ao décimo período.

5 Conclusões
O setor agropecuário passou por diversas mudanças ao longo dos anos no Brasil, devido
às mudanças tecnológicas, e investimentos na atividade. Esses investimentos dependem, em
grande parte da oferta de crédito por parte dos agentes financiadores governamentais, e também
do preço cobrado por essa disponibilidade de recursos que consiste na taxa de juros. A taxa de
juros, em termos de teoria econômica, varia de acordo com a oferta e demanda por recursos
disponíveis, e no agronegócio não é diferente, já que são os financiamentos públicos que
impulsionam o crescimento do setor.
Porém, com o passar dos anos, a oferta de crédito rural apresentou características muito
peculiares devido às especificidades da atividade. Isso pois os produtores rurais estão propensos
à riscos que não podem controlar, como é o caso de mudanças climáticas, políticas e exigências
governamentais. Essas peculiaridades influenciam no nível de inadimplência e renegociações
de financiamentos rurais, podendo interferir também no funcionamento da taxa de juros.
Tendo em vista essa temática, o presente artigo tem como objetivo analisar a influência
da inadimplência, do volume de crédito concedido e do custo dessa transação nas variações da
taxa de juros do crédito rural. Para tal, foi estimado o modelo Vetor Autorregresivo e o Modelo
Vetor de Correção de erros, além do Impulso-Resposta.
Como principais resultados identificou-se que o volume concedido de crédito influencia
positivamente nas variações da taxa de juros do crédito rural no longo prazo, o mesmo ocorre
com a inadimplência devido às renegociações das dívidas do setor. Já o custo do crédito
impactou negativamente nas variações da taxa média de juros do crédito rural.
Como limitações do estudo, indica-se o período de tempo relativamente curto, devido à
disponibilidade dos dados. Para sugestão de pesquisas futuras, indica-se um estudo

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desagregado, para avaliar se existem diferenças se as variáveis forem estimadas em diferentes
regiões do Brasil.

Referências

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A LEI DA INTEGRAÇÃO E OS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS: UMA
ALTERNATIVA AO SETOR LÁCTEO BRASILEIRO

THE LAW OF INTEGRATION AND AGROINDUSTRIAL SYSTEMS:


AN ALTERNATIVE TO THE BRAZILIAN DAIRY SECTOR
Tiago Reginaldo Zagonel1, Leonardo Xavier da Silva2

Resumo
Num mercado global os Sistemas Agroindustriais (SAGs) precisam ser eficientes para competir com outras
nações concorrentes. A temática tem mobilizado pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento que buscam
entender essa complexidade do mundo rural e industrial. A Lei da Integração (LI) proporciona um apoio
institucional na relação entre produtores e indústrias. Por outro lado, os contratos entre os mesmos representam
uma segurança jurídica, mostrando-se um importante mecanismo legal ao gerar um ambiente de confiabilidade
mútua, mitigando o oportunismo e proporcionando maior transparência entre os agentes. Nesse sentido, seria
pertinente ocorrer na estruturação de um contrato o tensionamento e os acordos entre as partes antes do jogo
começar, para que todos entendam quais são as regras. Assim, os sistemas integrados são a materialização de um
modelo que busca a eficiência em todos os elos e surgiu da necessidade de profissionalização nos SAGs. O
estudo buscou analisar o SAG do setor lácteo, seu ambiente institucional e organizacional, com vistas a propor a
adoção de contratos formais entre produtores e indústrias, sendo os mesmos amparados pela LI, que regulamenta
os sistemas integrados no Brasil. Por meio de pesquisa bibliográfica o estudo sugere que os contratos podem
fortalecer o setor lácteo e a LI pode contribuir na formulação de estratégias que buscam a evolução do setor,
visando a conquistar novos mercados consumidores de forma mais competitiva.

Palavras-chave: Contratos; Lei da Integração; SAGs; Agronegócios.

Abstract

In a global market Agroindustrial Systems (SAGs) need to be efficient to compete with other competing nations.
The subject has mobilized researchers from different areas of knowledge who aim to understand the complexity
of the rural and industrial world. The Integration Law (IL) provides institutional support for the relationship
between producers and industries. On the other hand, contracts between them represent legal security, proving
to be an important legal mechanism by generating an environment of mutual trust, mitigating opportunism and
providing greater transparency among agents. In that sense, it would be pertinent to occur agreements between
the parties when structuring a contract and it should be done before the game begins, so that everyone would
understand previously what the rules are. Thus, integrated systems are the materialization of a model that looks
for the efficiency in all supply chain sectors and it arose from the need for professionalization in SAGs. The
study aim to analyze the SAG of the dairy sector and its institutional and organizational environment proposing
the adoption of formal contracts between producers and industries, being supported by LI, which regulates
integrated systems in Brazil. Through a bibliographical research, the study suggests that the contracts can
strengthen the dairy sector and the LI can contribute in the formulation of strategies that objectify the evolution
of the sector aiming at conquering new consumer markets in a more competitive way.

Keywords: Contracts; Law of Integration; SAGs; Agribusiness.

1. Introdução

As cadeias produtivas têm sido foco de estudos nas diversas áreas do conhecimento
que buscam descrevê-las visando a uma melhor compreensão e interpretação de suas
estruturas. Tendo a intenção similar a outros estudos que abordam a temática das cadeias
produtivas, o estudo traz ao debate a legislação aplicada aos segmentos que se utilizam de

1
Doutorando em Agronegócios – CEPAN-UFRGS. E-mail: tiagozagonel@hotmail.com
2
Doutor em Economia –UFRGS. E-mail: leonardo.xavier@ufrgs.br
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120
contratos de integração, buscando relacionar com outros segmentos que ainda não utilizam,
ou utilizam de forma parcial, tais mecanismos para o desenvolvimento competitivo dos
Sistemas Agroindustriais (SAGs).
Na contemporaneidade o mundo rural não pode ser tratado de forma isolada dos
―outros mundos‖, pois envolve pessoas, inovação, máquinas, habilidades, conhecimento
tecnológico, gestão, legislação, políticas públicas, entre outros fatores econômicos, sociais e
ambientais. Em sentido mais amplo, tais alegações já foram manifestadas no início do século
XX por outros autores, em especial, nos estudos de Ronald Coase no ano de 1937, em sua
obra, ―The nature of the firm‖ (A natureza da firma), quando o economista britânico traz ao
debate a questão dos Custos de Transação (CT), entendendo que as transações do sistema
econômico não ficavam livres de custos e essencialmente existiam duas formas de custos,
sendo os de coleta de informações e os atinentes à negociação e estabelecimento de contratos.
A partir daí a firma deixa de ser analisada somente como função de produção, pois os bancos,
advogados, corretores, entre outros, geram diferentes custos. Nesse sentido, a firma passa a
ser uma organização de coordenação de agentes econômicos, tendo uma estrutura dinâmica e
eficiência adaptativa, proporcionando a base teórica para a Nova Economia Institucional
(NEI) ou Economia dos Custos de Transação (ECT). Assim, a obra de Oliver Williamson se
destaca nas décadas de 1970, 80 e 90, como uma sequência do trabalho de Ronald Coase, e
nesta vertente o trabalho do Prêmio Nobel Douglass North (PEREIRA, et al. 2008; FARINA
et al. 1997; ZYLBERSZTAJN, 1995).
A temática dos sistemas agroindustriais em geral tem mobilizado pesquisadores de
diferentes áreas do conhecimento em buscar entender essa complexidade do mundo rural e
industrial que não estão tão separados assim, ao passo que suas estruturas perpassam questões
sociais, econômicas e ambientais que estão conectados pelo ambiente institucional e pelas
estruturas de governança formando a base da Nova Economia Institucional (NEI). A
contratualização nas cadeias produtivas tem se mostrado um importante mecanismo legal
visto que tende a gerar um ambiente de confiabilidade mútua, mitigando o oportunismo e
proporcionando maior transparência entre os agentes. Assim, os sistemas integrados são a
materialização de um modelo que busca a eficiência em todos os elos e surgiu da necessidade
de profissionalização nos SAGs, frente a um mercado globalizado.

2. Referencial Teórico

As referencias para o estudo tangenciam os conceitos de agronegócio, da Nova


Economia Institucional e dos sistemas agroindustriais. São abordados também os principais
pontos da Lei da Integração.

2.1 O Agronegócio e a Nova Economia Institucional (NEI)

A governança dos sistemas do agribusiness são construídas de modo a prover os


mecanismos de incentivo e controle dos agentes que atuam dentro do sistema. A estrutura de
governança é definida por Williamson (1993), como a matriz institucional dentro da qual a
transação é integralmente definida. Portanto o conceito carrega os modos distintos nos quais
as transações são realizadas, respectivamente: mercado, contratual e hierárquico. A matriz
institucional considera também as distintas bases culturais e institucionais que afetam as
transações.
Ao buscar uma visão mais sistêmica da agricultura é que os professores Goldberg e
Davis (1957) cunharam o conceito de agribusiness e na década de 1960 Goldberg utilizou o
conceito de agronegócio sob a denominação de Commodity System Approach (CSA), com
vistas a analisar sistemas de produção específicos presentes nos Estados Unidos. A base
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teórica do CSA foi derivada da teoria neoclássica da produção, em especial, do conceito de
matriz insumo-produto de Leontieff. O enfoque serviu de base para a introdução da questão
de dependência intersetorial e também expressa a preocupação com a mensuração da
intensidade das ligações intersetoriais. O conceito foi introduzido no Brasil com a
denominação de complexo agroindustrial, negócio agrícola e agronegócio, sendo definido não
apenas em relação ao que ocorre dentro dos limites das propriedades rurais, mas a todos os
processos interligados que propiciam a oferta dos produtos da agricultura aos seus
consumidores (CASTRO, 2002; ZYLBERSZTAJN, 1994; ZYLBERSZTAJN, 1995).
As relações agroindustriais tiveram outros enfoques que influenciaram a literatura dos
anos 60, sendo que um destes enfoques teóricos foi desenvolvido na França gerando o
conceito de cadeia (filière) aplicada ao estudo da organização agroindustrial. Diversos estudos
foram desenvolvidos em outros países fortemente baseados na vertente francesa. A despeito
das diferenças de origem e de aporte teórico, os conceitos têm diversos pontos de tangência
como, considerar o agribusiness sob a ótica sistêmica, avaliando as relações entre atores
através de diferentes setores da economia, repensando a distinção tradicional entre setor
agrícola, industrial e de serviços. Também tangencia os conceitos a importância das
instituições organizadas para darem suporte para as atividades produtivas, visto que as
instituições não são vistas como um elemento neutro com respeito à alocação dos recursos na
economia, diferentemente da visão neoclássica tradicional (ZYLBERSZTAJN, 1995).
O conceito de agronegócio é muito amplo e foi desenvolvido adicionalmente para
criar modelos de sistemas dedicados a produção que incorporassem os atores antes e depois
da porteira. Assim, nasceu o conceito de cadeia produtiva, como subsistema do agronegócio
que é composto por muitas cadeias produtivas, ou subsistemas de negócios agrícolas. Estas
contribuições ampliaram o uso do enfoque sistêmico e de cadeias produtivas em estudos e
projetos de desenvolvimento, para aumentar a compreensão, a intervenção e a gestão no
desempenho da agricultura. Assim, novos atores que participavam do desenvolvimento da
agricultura foram adicionados e caracterizados como os atores ―fora da porteira da fazenda‖,
sendo os fornecedores de insumos, as agroindústrias, as estruturas de comercialização, os
consumidores finais e as estruturas de apoio à produção (CASTRO, 2002).
É nesse contexto de evolução do agronegócio e posterior subdivisão que houve a
necessidade de desenvolver estruturas de mercado que pudessem atender as demandas globais
por meio de sistemas de integração autenticados por contratos entre produtores rurais e
indústrias processadoras. Segundo Farina (1999), os Sistemas Agroindustriais (SAGs), são
definidos como nexos de contratos que viabilizam as estratégias adotadas pelos diferentes
agentes econômicos envolvidos nas várias dimensões do agronegócio. O SAG de um produto
representa um sistema complexo onde os agentes realizam a coordenação e estabelecem as
relações tecnológicas e econômicas entre os elos da cadeia (ZYLBERSZTAJN e FARINA,
1999).
Conforme Azevedo et al. (2000), os sistemas agroindustriais são áreas em que as
instituições, em seus diversos níveis de análise, são especialmente importantes. Os direitos de
propriedade da terra, políticas de preços mínimos, políticas de segurança alimentar são
elementos do ambiente institucional – macroinstituições – que têm efeitos importantes sobre
as ações daqueles que compõem os SAGs, assim como do ponto de vista microanalítico, ou
seja, das regras que regulam uma relação específica entre indivíduos, associações,
cooperativas ou empresas. Por características intrínsecas aos produtos agrícolas e à relação
entre as partes – produtores agrícolas e agroindústria – os diferentes arranjos institucionais
têm forte impacto sobre a eficiência de um determinado sistema. Em outras palavras, a
criação de regras que disciplinam o comportamento dos participantes de um sistema
agroindustrial pode ser decisiva para sua eficiência e competitividade.

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Existe uma ligação entre os tipos de contratos e as formas de governança emergentes,
sendo que a proposição básica é de que cada forma de governança, isto é, mercado, integrada
ou mista, deve estar suportada por determinado tipo de contrato. Dessa forma, os contratos
clássicos estão associados às estruturas regidas pelo mercado, os contratos neoclássicos estão
relacionados às formas híbridas de domínio. A escolha do contrato neoclássico para as formas
mistas tem a ver com a inclusão das condições de adaptação, mantendo-se relações
contratuais definidas. Assim, no extremo, surgem os contratos relacionais, onde, conforme
MACNEIL (1985), cria-se um regime social distinto, uma mini-sociedade com regras
flexíveis e códigos internos que permitem grande flexibilidade adaptativa (ZYLBERSZTAJN,
1995).
Conforme Miranda (2008), incide sobre os contratos três princípios básicos: i)
Autonomia da vontade – significa a liberdade das partes de contratar, de escolher o tipo e o
objeto do contrato e de dispor o conteúdo contratual de acordo com os interesses a serem
auto-regulados; ii) Supremacia da ordem pública – significa que a autonomia da vontade é
relativa, sujeita à lei e aos princípios da moral e da ordem pública; iii) Obrigatoriedade do
contrato – significa que o contrato faz lei entre as partes.

2.2 A Lei da Integração

Com vistas a entender melhor o processo de formulação de uma Lei Federal, em que
um grande esforço é desprendido para uma maior equidade por parte dos atores que por ela
são afetados, faz-se necessário uma contextualização do objeto, mesmo que de forma
simplista.

2.2.1 A Lei

A legislação que trata dos sistemas integrados de produção no Brasil vem sendo
discutida em âmbito federal desde os anos de 1990 via diferentes Projetos de Lei (PLs). Em
apensos à Lei da Integração estão o PL 4.378/1998 (Dep. Milton Coser) que regula as
relações jurídicas entre a agroindústria e o produtor rural integrado e dá outras providências; o
PL 4.444/2004 (Dep. Íris Simões) que responsabiliza a agroindústria à qual o produtor rural
esteja integrado, quando o contrato estabelecer condições que induzam ao uso de agrotóxicos
ou afins e, ao longo do contrato, a empresa agroindustrial não cumprir com as normas de
proteção do trabalhador rural; o PL 3.979/2008 (Dep. Adão Preto) que estabelece normas para
regular as relações jurídicas entre a agroindústria e o produtor rural integrado; e o PL
8.023/2010 da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural
(CAPADR) da Câmara dos Deputados que dispõe sobre a integração vertical na agropecuária,
estabelece condições, obrigações e responsabilidades nas relações contratuais entre produtores
integrados e agroindústrias integradoras, e dá outras providências (BRASIL, 2016).
Após o debate dos PLs nas instâncias da Câmara dos Deputados, surge um novo PL, o
de nº 6.459, de 2013, dispondo sobre os contratos e as relações contratuais entre os produtores
integrados e as agroindústrias integradoras. O relator deste PL na Câmara dos Deputados foi o
deputado federal catarinense Valdir Colatto. Essa proposição, que foi originária do Senado
Federal, utilizou como base o PL nº 8.023, de 2010, da CAPADR, fruto do trabalho de
Subcomissão instituída na referida Comissão, para aprofundar os debates neste tema, tendo
como apensos os PLs nº 4.378/1998; nº 4.444/2004; nº 3.979/2008; e nº 8.023/2010. O debate
segue com o PL do Senado (PLS) nº 330, de 2011, de autoria da Senadora Ana Amélia
Lemos, projeto este que, no Senado, foi relatado pelo senador catarinense Dário Berger, com
o substitutivo da Câmara dos Deputados nº 02/2016.

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Após muitas sugestões, discussões e negociações com os setores envolvidos, a Lei nº
13.288, de 16 de maio de 2016, finalmente é aprovada e sancionada e dispõe sobre os
contratos de integração, obrigações e responsabilidades nas relações contratuais entre
produtores integrados e integradores, e dá outras providências (BRASIL, 2016). A partir de
então, o Brasil passa ter uma legislação que regulamenta os sistemas integrados de produção.
Na busca dos setores por maior segurança nas relações visando a firmar parcerias que
aumentassem a eficiência da produção agropecuária é que a Lei da Integração (LI) torna-se
um marco regulatório ao estabelecer regras para sistema de integração entre produtores rurais
e indústrias. A oferta de produtos agropecuários muitas vezes envolvia disputas judiciais entre
o produtor rural e a indústria, devido à falta de uma lei que regulamentasse as relações entre
esses agentes, o que acabava sendo motivos de litígios. Dentre as patologias das atividades
agroindustriais geradoras de litígio estão: o fornecimento de insumos; dívidas financeiras;
responsabilização em caso de descumprimentos de prazos ou problemas na atividade. Diante
dos problemas enfrentados na relação agroindustrial, a lei cria um padrão de contratos que
diminui essas divergências e permite a produtores e indústria atuarem em parceria, tornando o
processo produtivo mais ágil e eficiente (SENADO, 2016).

3.2 Contratos de integração

A integração é uma relação contratual na qual o produtor rural se responsabiliza por


parte do processo produtivo e, dentre outros setores produtivos, estão produção de fumo,
criação de aves e suínos, que repassam essa produção à agroindústria para que ela realize a
etapa seguinte, de transformação em produto final. Nesse processo, o produtor também pode
receber insumos da indústria, como adubos, rações, medicamentos e assistência técnica. A lei
determina que os contratos de integração estabeleçam a participação econômica de cada parte,
as atribuições, os compromissos e riscos financeiros, os deveres sociais, os requisitos
ambientais e sanitários, a descrição do sistema de produção, os padrões de qualidade, as
exigências técnicas e legais para a parceria. Ainda deve constar no documento as condições
para acesso de empregado do integrador - a indústria - nas áreas de produção na propriedade
rural, bem como do produtor rural nas dependências das instalações industriais ou comerciais
(SENADO, 2016).

3.3 Órgãos

O texto determina ainda que cada setor produtivo que contar com a integração entre
indústria e produtores deverá constituir um Fórum Nacional de Integração (Foniagro), de
composição paritária, composto pelas entidades representativas de cada uma das partes. Esses
órgãos deverão definir as diretrizes para o acompanhamento e o desenvolvimento das
parcerias em sua área. Os Foniagros terão o papel de estabelecer a metodologia de cálculo do
valor de referência para o pagamento dos produtores integrados. O cálculo em si deverá ser
feito pelas Comissões para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração
(Cadecs), órgãos também de composição paritária que deverão ser estabelecidos em todas as
unidades das empresas integradoras. As Cadecs ficarão responsáveis, ainda, por acompanhar
o cumprimento das diretrizes dos contratos, verificar o atendimento de padrões mínimos de
qualidade, dirimir questões e solucionar litígios entre os produtores integrados e a integradora
e formular planos de modernização tecnológica (SENADO, 2016).

3.4 Responsabilidades

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A lei estabelece também que todos os equipamentos e máquinas que sejam
disponibilizados pela indústria ao produtor continuarão de propriedade do fornecedor, a
menos que haja dispositivo no contrato estabelecendo o contrário. Outra regra é que, em caso
de recuperação judicial ou falência do integrador, o produtor rural integrado poderá pedir a
restituição dos bens desenvolvidos até o valor de seu crédito. Em caso de dano ambiental
decorrente das atividades desenvolvidas sob a integração, as responsabilidades de recuperação
deverão ser compartilhadas. No entanto, se o dano decorrer de prática adotada pelo agricultor
em discordância das recomendações do integrador, a empresa estará isenta e o ônus caberá
apenas ao produtor (SENADO, 2016).

3.5 Veto

O trecho que estabelece a adequação de contratos em curso foi vetado, sob a


justificativa de que a exigência de adaptação desses contratos viola o ato jurídico perfeito,
previsto na Constituição (SENADO, 2016).

3. Procedimentos Metodológicos

De forma qualitativa e por meio de pesquisa bibliográfica nas bases de dados de diversos
sítios, este estudo buscou analisar a Lei da Integração (LI) nos Sistemas Agroindustriais
(SAGs). A questão que norteou o estudo foi à tímida adesão aos contratos na cadeia produtiva
do leite, levando em conta a LI, como isso poderia influenciar no seu desenvolvimento. Além
da introdução, o estudo está estruturado sequencialmente por um referencial teórico da NEI,
sendo nele abordado o agronegócio, os SAGs e também é apresentada a Lei nº 13.288, de 16
de maio de 2016 ou LI. Após são abordados os procedimentos metodológicos e em seguida os
resultados e discussão promovendo um tensionamento entre a LI, os Contratos e os SAGs, e,
por fim, tem-se as considerações finais, agradecimentos e as referências.

4. Resultados e Discussão

Os sistemas de produção de modo integrado vêm crescentes desde a década de 50 no


Brasil e foram baseados na metodologia do modelo americano de produção agroindustrial. O
sistema de integração é uma modalidade de organização da produção agropecuária ou
agroalimentar, coordenado pela indústria – integradora – formalizado por contratos com o
produtor – integrado – que em comum acordo, viabilizam a comercialização de produtos de
origem animal ou vegetal. A necessidade de uma matéria-prima com padrões específicos se
viabilizou pelos Sistemas de Integração (SI), devido à maior segurança na produção em escala
para um mercado consumidor globalizado.
Desde a década de 1960 os SI estão na pauta de discussões por entendimentos
conflitantes e, muitas vezes, antagônicos quanto a sua configuração, suscitando na década de
1990 o primeiro PL que corroborou na criação da LI. A Lei da Integração ou Lei dos
Integrados (LI) nasce da reverberação dos Stakeholders3 atuantes nos SAGs e o
tensionamento destes atores é materializado em contratos de integração entre produtores
integrados e agroindústrias integradoras, sendo classificados teoricamente como contratos
relacionais. A negociação contratual entre esses dois agentes geram outros contratos formais e
informais junto aos agentes do setor produtivo agroindustrial, estabelecendo obrigações e

3O termo Stakeholder tinha como ideia inicial designar todos os grupos sem os quais a empresa deixaria
de existir. Freeman (1984) entende que seria qualquer grupo ou indivíduo que afeta ou é afetado pelo
alcance dos objetivos da empresa.
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responsabilidades nas relações contratuais. Isso ocorre devido às ligações intersetoriais em
que existe uma interdependência aos autores com a cadeia de suprimentos.
Uma cadeia produtiva se fragiliza quando não há equilíbrio no poder dos agentes, pois
muitos acabam entrando na atividade com uma visão romântica que é reduzida nas investidas
da economia de mercado, regido pela oferta e demanda. Uma produção requer planejamento,
gestão, otimização de recursos, uso de tecnologias e inovações. Na estruturação de um
contrato é que seria pertinente ocorrer o tensionamento e os acordos entre as partes antes do
jogo começar. Zylbersztajn (2005) comenta que, ao considerar-se a complexa gama de
atividades gerenciadas pelos agricultores nos sistemas agroindustriais (SAG's), percebe-se
que relações contratuais formais e acordos de cooperação informais de longo prazo se
estabelecem entre os agricultores, os fornecedores de insumos, os traders, as firmas
processadoras, e ainda com os supermercados e sistema de distribuição de produtos frescos.
Os problemas que ocorrem nas diferentes cadeias produtivas continuarão existindo,
talvez em menor intensidade com a contratualização entre os agentes. No entanto, uma cadeia
organizada certamente será mais eficiente do que uma cadeia desorganizada, que não se
apropria das inovações e tecnologias contemporâneas diante da sua relação econômica, social
e ambiental. Para isso a LI institui mecanismos de transparência na relação contratual, cria
Fórum Nacional de Integração (Foniagro), e Comissões para Acompanhamento,
Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs). Assim a LI e os contratos trazem
consigo a missão de perenizar a idoneidade nos processos, desde o insumo, produção,
transporte, industrialização, comercialização e ao final, ter um consumidor satisfeito.
Esse arcabouço de regras que a LI proporciona são calcados na ausência de equidade
nas relações entre produtor (integrado) e indústria (integradora). Os desequilíbrios nos SAGs
ficam mais visíveis quando confrontados ao poder econômico entre as partes, ficando a cargo
da indústria a coordenação da cadeia, logo, por ter mais recursos e informações, dita as regras
do jogo.
Ao passo em que a LI cria canais de diálogos paritários como a CADEC e o
FONIAGRO, ela também institui mecanismos que buscam minimizar assimetrias como o
Documento de Informação Pré-Contratual (DIPC), o Relatório de Informações da Produção
Integrada (RIPI), as cláusulas mínimas de um contrato enfatizando a transparência na
metodologia da formação de preço, entre outros. Fica visível assim os esforços desprendidos
na formulação da lei com o intuito de estabelecer equidade nas relações de integração.
Problemas quanto aos SI e a formalização de contratos são destacadas por alguns
autores como Belato, (2009); Ring e Van de Ven (1994); Lado, Boyd e Halon (1997), e
certamente os argumentos não são infundados, mas teriam como base um período da história
ou um ambiente hostil para a adoção de contratos num SI. De fato, os SI trazem nas cláusulas
contratuais um aparato de exigências que até então deixavam a indústria, coordenadora da
cadeia e quem redigia o contrato, numa situação mais confortável. Por outro lado, estudos de
outros atores como Tang, Sodhi e Formentini, (2016); Vogt, (2012); Zagonel et al. (2015);
Trennepohl, (2011); Miele, (2006); Ishida, (2012), salientam a importância dos contratos e
dos sistemas integrados frente a um ambiente globalizado e extremamente competitivo.
Levando em consideração a natureza individualista do ser humano, algum grau de
oportunismo pode haver em uma negociação, visto que até mesmo os contratos se tornam
incompletos por não conseguir prever todas as contingências futuras, sendo assim de natureza
incompleta conforme citado por Williamson (1985). O que a LI busca é reduzir assimetrias e
incompletudes nos acordos contratuais. Essas questões estão muito evidentes nos artigos ou
cláusulas, parágrafos, incisos, alíneas, e itens da lei em questão.
Em conformidade com a LI, a integração é entendida como a relação contratual entre
produtores integrados e integradores com propósito de planejar, produzir, industrializar e ou
comercializar a matéria-prima, bens intermediários ou bens de consumo final. Segundo
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Zylbersztajn e Farina (1999), os SAGs são definidos como nexos de contratos que viabilizam
as estratégias adotadas pelos diferentes agentes econômicos envolvidos nas várias dimensões
do agronegócio. Segundo a LI, o produtor integrado refere-se à atividade agrossilvipastoril
(atividades de agricultura, pecuária, silvicultura, aquicultura, pesca ou extrativismo vegetal)
de pessoa física ou jurídica que se vincula ao integrado por meio de contrato de integração. Já,
o integrador é a pessoa física ou jurídica que se vincula ao produtor integrador por meio de
contrato de integração, fornecendo bens, insumos e serviços e recebendo matéria-prima.
Dentre outros aspectos citados na Lei da Integração (LI), uma análise teórica por meio
da Nova Economia Institucional (NEI), torna-se esclarecedora ao passo em que são abordados
o papel das instituições em níveis analíticos do ambiente institucional com suas
macroinstituições, ou aquelas que estabelecem as bases para as interações entre os seres
humanos, e as estruturas de governança nas suas microinstituições, ou aquelas que regulam
uma transação específica que, conforme Williamson (1993), seria como a matriz institucional
dentro da qual a transação é integralmente definida. Assim, as governanças dos sistemas do
agribusiness são construídas de modo a prover os mecanismos de incentivo e controle dos
agentes que atuam dentro do sistema (AZEVEDO et al., 2000).
É nesse contexto de macro e microinstituições que a LI se desenvolveu e o seu bom
emprego dependerá da efetividade dos agentes. Torna-se um avanço para as atividades
agrossilvipastoris aderir a LI, como a cadeia produtiva do leite, visto o aparato legal que a LI
representa aos produtores integrados. De qualquer forma, a simples obrigação do pagamento
do preço estipulado na entrega de produtos à agroindústria ou ao comércio não caracteriza
contrato de integração. Bem como a integração não configura prestação de serviço ou relação
de emprego entre integrador e integrado, seus prepostos ou empregados.
Na pecuária leiteira, a adesão aos contratos de integração é tímido perante as cadeias
de fumo, suínos e aves. Algumas organizações do setor lácteo brasileiro já aderiram aos
contratos, sendo empregados por empresas e cooperativas com seus produtores ou associados,
por visualizarem as vantagens que os mesmos proporcionam. Conforme proposto por Farina e
Zylbersztajn (1994), a competitividade de sistemas produtivos, em geral, e de sistemas de
agribusiness, em particular, pode ser estudada sob o ponto de vista contratual. ―Sistemas que
estão capacitados a obter melhores informações acerca do gosto, hábitos e satisfação dos
consumidores, que podem predizer as tendências e podem reorganizar as relações contratuais
em direção ao novo alvo, são aqueles que podem ser considerados mais competitivos‖
(ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 133).
Uma frágil coordenação de dada cadeia agroindustrial propicia uma baixa
competitividade aos agentes, sendo percebida de forma mais acentuada em momentos de
crise. Isso fica evidente ao analisarmos os custos de transação, que variam conforme as
características da transação, sendo identificadas principalmente ao se ponderar a frequência,
incerteza e especificidade dos ativos. Uma cadeia desorganizada terá como resultado maiores
custos ao longo dos estágios de um SAG. Os pressupostos comportamentais como, a
racionalidade limitada e oportunismos dos agentes, são fundamentais para a compreensão da
ECT, em que os agentes de uma determinada cadeia produtiva não conseguem trabalhar com
todas as informações existentes simultaneamente, ou seja, cada agente e, conforme o seu
perfil, tem um conhecimento limitado do todo que o envolve. Também haverá o fator
oportunista atuando nos diferentes elos de um SAG, que aniquila a confiança entre os atores
podendo acentuar os litígios (AZEVEDO et al., 2000; ZYLBERSZTAJN, 1995;
WILLIAMSON, 1985).

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5. Conclusões

Tendo a intenção de discorrer sobre a importância de se dialogar com os diversos


agentes envolvidos nas cadeias produtivas ou, como referenciado, nos SAGs é que o estudo
foi desenvolvido. Ao abordar a Lei da Integração (LI), foi possível visualizar o longo caminho
percorrido para haver um entendimento até a sanção desta lei em 2016, sendo que a
dificuldade de equidade nas relações que está lei representa, entre produtores rurais e
indústrias, se arrastam desde meados da década de 60 conforme estudos, e o primeiro PL que
está apenso a LI e datado da década de 90. Certamente não foi uma tarefa fácil em se chegar
num acordo, o que só ratifica a sua importância e, principalmente, a necessidade de colocá-la
em prática como uma ferramenta estratégica.
Quando Zylbersztajn e Farina (1999) argumentam que os SAGs são nexos de
contratos que viabilizam as estratégias adotadas pelos diferentes agentes econômicos
envolvidos nas várias dimensões do agronegócio, os autores advogam que um SAG requer,
entre outros, planejamento, gestão, otimização de recursos, uso de tecnologias e inovações.
Nesse contexto, seria pertinente ocorrer na estruturação de um contrato o tensionamento e os
acordos entre as partes antes do jogo começar para que todos entendam quais são as regras.
Assim os contratos são materializados em diferentes momentos para ratificar um acordo
firmado e a LI, que representa o ambiente institucional, serve como mediadora do poder das
partes apresentando as regras básicas do jogo.
Sendo assim, o estudo sugere que os contratos podem fortalecer o setor lácteo e a LI
pode contribuir na formulação de estratégias que buscam a evolução do setor, visando a
conquistar novos mercados consumidores de forma mais competitiva. Finalmente, espera-se
que este estudo corrobore nas discussões dos SAGs e que, apoiados pela lei da integração, as
cadeias produtivas visualizem uma oportunidade de se profissionalizarem cada vez mais.

6. Agradecimentos
Agradecimento ao Centro de Estudos e Pesquisas e Agronegócios (CEPAN-UFRGS),
e também a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
apoio disponibilizado, sendo possível assim viabilizar esse estudo.

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Alocação de recursos para dois principais instrumentos da Política de
Garantia de Preços Mínimos (PGPM), o Prêmio para Escoamento da
Produção (PEP) e o Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (PEPRO)

Allocation of resources for two main instruments of the Minimum Price


Guarantee Policy, the Program for Product Flow (PEP in Portuguese) and
the Equalizing Premium Paid to Grower (PEPRO in Portuguese)
Douglas Paranahyba de Abreu1, Eluardo de Oliveira Marques2

Resumo
O Agronegócio tem se mostrado um importante setor da economia brasileira e, apesar dos períodos de crise, é a
indústria que apresenta resultados positivos. O Brasil possui políticas específicas para este setor, sendo a Política
Agrícola responsável por executar o tripé: Seguro Rural, Crédito Agrícola e Política de Garantia de Preços
Mínimos. A Política de Garantia de Preços Mínimos objetiva dar suporte na comercialização agrícola e para isso
lança mão de alguns instrumentos, dentre eles estão o Prêmio para Escoamento do Produto e o Prêmio Equalizador
Pago ao Produtor (PEP e PEPRO). O objetivo do presente trabalho é apresentar quanto de recursos tem sido
destinado a dois dos seus principais instrumentos, o PEP e o PEPRO. É possível observar que existe uma
concentração na destinação dos recursos de PEP e PEPRO para as culturas de Milho, Soja e Algodão. Além disto
os Estados que mais recebem estes recursos são o Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
Palavras-chave: Políticas Públicas; Política Agrícola; Agronegócio.

Abstract
Agribusiness has proved to be an important sector of the Brazilian economy and, despite periods of crisis, it is the
industry that has positive results. Brazil has specific policies for this sector, and the Agricultural Policy is
responsible for implementing the tripod: Rural Insurance, Agricultural Credit and Minimum Price Guarantee
Policy. The Minimum Price Guarantee Policy aims to support the agricultural marketing and for this it uses some
instruments, among them the Program for Product Flow (PEP in Portuguese) and the Equalizing Premium Paid
to Grower (PEPRO in Portuguese). The objective of this paper is to present how much resources has been
allocated to two of its main instruments, the PEP and PEPRO. It is possible to observe that there is a concentration
in the allocation of the resources of PEP and PEPRO for the crops of Corn, Soybean and Cotton. In addition, the
States that receive the most resources are Mato Grosso, Paraná and Rio Grande do Sul.
Keywords: Public Policy; Agricultural Policy; Agribusiness.

1. Introdução

Cada vez mais o Brasil se destaca internacionalmente como um promissor país que
atenderá as demandas mundiais de alimentos para os próximos anos (FAO, 2009). Os números
comprovam que o país não só é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do
mundo, como também só não mantém um comércio exterior mais significativo em proporções
do PIB por conta do seu grande mercado interno (OECD/FAO, 2015). Toda atividade
econômica apresenta riscos financeiros, no entanto, além dos riscos “comuns” dos negócios, o
setor agropecuário, maior responsável pela produção de alimentos, apresenta outras
características inerentes, como a questão do risco advindo de fatores climáticos e da sua própria
estrutura de mercado.
O indispensável bom funcionamento do setor de produção de alimentos para questões
de segurança alimentar é muitas vezes interpretado pelos governantes como se tratando de um
1
Doutorando em Agronegócio, Universidade Federal de Goiás - UFG.
2
Doutorando em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.
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setor estratégico e que necessita de fortes intervenções do Estado. Com a atual crise econômica
no Brasil e os saldos positivos do agronegócio se mostrando significativos neste período,
representantes políticos do setor, diante deste cenário, naturalmente pressionam o governo para
que destine mais recursos em favor da produção agropecuária. Toda ação do Estado deve ser
interpretada como Política Pública, no Brasil as ações dos governos direcionadas à agropecuária
são realizadas através de uma Política Pública específica, a chamada Política Agrícola. Tal
Política é formada por um tripé: (1) Garantia de Preços Mínimos; (2) Crédito Rural; (3) Seguro
Rural (MAPA, 2016). Sendo assim, as recentes justificativas utilizadas para “pleitear”
aumentos dos recursos destinados à agropecuária devem ser avaliadas com cautela, visto que,
em momentos de excessos de recursos, gastos governamentais em favor do setor podem
contribuir para seu desenvolvimento, no entanto, um setor dependente desses recursos pode
perder em competitividade em momentos de contenção fiscal.
O Brasil, apesar de possuir um Estado historicamente intervencionista em diversos
campos da economia, não apresenta forte característica na avaliação das Políticas Públicas,
segundo Borges et al. (2011) só a partir da década de 1990 é que houve uma preocupação maior
relativa a essas questões, em que a gestão das ações do Estado começou a ser vista como
instrumento importante para a estabilização da economia brasileira. Sendo assim, esforços que
busquem gerar informações a respeito das Políticas Públicas são de grande importância não
apenas como forma de demonstrar ao pagador de impostos a contrapartida de sua contribuição,
mas também para auxiliar seus representantes políticos e o próprio governo na tomada de
decisão.
É escasso na literatura estudos que apresentem em números Políticas Públicas
importantes, como é o caso da Política de Garantia de Preços Mínimos. Dito isto, o presente
trabalho tem como objetivo apresentar quanto de recursos tem sido destinado a dois principais
instrumentos da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), que são: o Prêmio de
Escoamento de Produto (PEP) e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (PEPRO).

2. Referencial Teórico

Desde o Decreto de Lei nº 5.212, de 21 de janeiro de 1943, onde se criou a Comissão


de Financiamento da Produção (CFP), o Governo Federal instituiu a Política de Garantia de
Preços Mínimos (PGPM), orientada a incentivar a produção agrícola através do
estabelecimento de um preço mínimo, garantindo renda aos produtores de culturas por ela
contempladas e consequente permanência na atividade. No entanto, anteriormente a essa
Comissão, o Brasil já experimentava políticas de interferência nos preços agrícolas. Tais como
mencionado por Delgado e Conceição (2005), através do Convênio de Taubaté (em 1906), da
criação da Comissão de Defesa da Produção do Açúcar (em 1931), do Instituto do Açúcar e
Álcool (em 1933) e para o trigo a partir de 1930.
O Plano Agrícola e Pecuário (Plano Safra) elaborado pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) é responsável por divulgar o orçamento e as principais
mudanças da Política Agrícola Brasileira. Tal política é baseada em um tripé: Política de
Garantia de Preços Mínimos (PGPM), Crédito Rural, Gestão de Risco Rural. Atualmente a
PGPM abrange uma variedade de produtos, dos mais tradicionais como Café e Algodão, até
produtos da Sociobiodiversidade como Carnaúba e Pequi (MAPA, 2016). A Companhia
Nacional de Abastecimento (CONAB), responsável hoje pela condução da PGPM no Brasil
teve, no Plano Agrícola e Pecuário 2016/2017, R$ 2,7 bilhões aprovados para atender às
operações de garantia de preços, sendo R$ 2,45 bilhões para formações de estoques públicos e
R$ 250 milhões para garantia de sustentação de preços, de forma comparativa, o Programa de

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Seguro Rural (PSR) recebeu, segundo o mesmo documento, R$ 2,1 bilhões somados os anos
de 2011 a 2015 (MAPA, 2016).
O preço mínimo é calculado e divulgado pela CONAB anteriormente ao período de
safra. Quando os preços agrícolas de mercado encontram-se abaixo do mínimo podem ser
acionados 08 instrumentos de garantia de preços, são eles: Aquisição do Governo Federal
(AGF); Contrato de Opção de Venda; Recompra ou Repasse de Contrato de Opção de Venda;
Contrato Privado de Opção de Venda e Prêmio de Risco de Opção Privada (PROP); Prêmio e
Valor de Escoamento de Produto (PEP e VEP); Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (PROP);
Financiamento para Estocagem; Instrumentos de Financiamento Privados (MAPA, 2016, p. 30-
33).
Os primeiros Instrumentos utilizados para garantia de preços no Brasil pela PGPM
foram o AGF e os Empréstimos do Governo Federal (EGF), no entanto, após a década de 1990,
devido a excessos de estoques, acompanhados de uma restrição fiscal do Governo Federal, e a
estabilização macroeconômica, esses instrumentos foram sendo substituídos pelos chamados
“novos instrumentos” supra, que diminuíram a quantidade de recursos necessários para manter
os preços mínimos nos mercados agrícolas (REZENDE, 2000). O PEP e o PEPRO, como pode
ser observado no Quadro 01, geram intervenções diretas nos mercados agrícolas, ou seja, são
incumbidos de gerar preções de demanda (de formas diferentes) com intuito de elevar os preços
de mercado para o produtor/cooperativa (ao nível dos preços mínimos).

Quadro 01. Apresentação do PEP e PEPRO.


Instrumento Descrição
Não há necessidade de adquirir o produto. Por meio de leilão, ocorre o
Prêmio de Escoamento de
pagamento da diferença entre o preço mínimo e o preço de mercado. Pode ser
Produto
utilizado para complementar o abastecimento em regiões deficitárias a partir
(PEP)
de estoques privados.
Assim como o PEP, o PEPRO permite ao Governo garantir um patamar de
preço ao produtor, que tanto pode ser o mínimo quanto outro definido (preço
Prêmio Equalizador Pago de referência). A principal diferença é o pagamento do prêmio diretamente ao
ao Produtor produtor que participa do leilão. Igualmente, desonera o Governo de adquirir
(PEPRO) o produto e viabiliza o escoamento de produto para complementar o
abastecimento nas regiões consumidoras. A operação oferece ao produtor ou
cooperativa a diferença entre o preço de mercado e o preço de referência.
Fonte: MAPA (2016). Adaptado pelos autores.

Como brevemente descrito no Quadro 01, o PEPRO é um mecanismo do qual o Governo


Federal dispõe para conseguir manter um preço mínimo aos produtores e compõe os chamados
“novos instrumentos” de PGPM. Criado recentemente na história da PGPM, o PEPRO, como
salientam Bacha e Caldarelli (2008), é um instrumento Público/Privado de intervenção
direcionado ao mercado (operacionalizado a partir de 2004).
Em Abreu, Wander e Ferreira (2017), é apresentado uma apanhado de trabalhos
científicos publicados a partir de 2000 que tratam o tema PGPM no Brasil, segundo os autores
a melhor metodologia utilizada para isolar os efeitos dos instrumentos da PGPM sobre os preços
de mercado são os modelos de intervenção em séries temporais, aprimorados a partir de Box e
Tiao (1975). Com esses modelos Saraiva et al. (2014), ao analisarem o impacto de instrumentos
da PGPM sobre os preços de arroz no Rio Grande do Sul, identificaram que somente 03 das 14
intervenções da amostra foram significativas. Para os autores estes resultados significativos se
deram em momentos de crise da orizicultura e/ou em momentos onde ocorreu um grande
volume de recursos destinados a esses instrumentos (COV, PEP, PEPRO).
Essas evidências de ineficiência/ineficácia/inefetividade das Políticas Públicas é que
motivam trabalhos como o de Saraiva et al. (2014). Na literatura é possível encontrar trabalhos
que avaliam a conjuntura em que se empregou a Política Agrícola e a partir daí o autor busca
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explicações para as mudanças históricas ocorridas na condução da PGPM (REZENDE, 2000).
Existem também trabalhos que vão discutir a eficácia dos principais instrumentos da PGPM e
comparar essa política brasileira com estratégias similares dos governos nos Estados Unidos e
na União Europeia (LAMOUNIER e SILVA, 2000). Outros autores focam nos aspectos
institucionais (“nas mudanças da lei”) que serviram como pano de fundo para as
comercializações agrícolas no Brasil (PEREIRA; PRADO, 2002). E os que buscam realizar
apenas uma retrospectiva da PGPM ocorrida no Brasil (DELGADO e CONCEIÇÃO, 2005;
MASSUQUETTI; SOUZA; BEROLDT, 2010). O que esses trabalhos possuem em comum,
além de analisar a PGPM, é que realizam uma extensa busca em documentos oficiais, muitas
vezes de difícil acesso, para alcançarem seus objetivos.
Apesar do advento da tecnologia da informação e da maior disposição dos organismos
oficiais do governo em divulgar seus dados, ainda existem grandes dificuldades em encontrar
informações na internet, sendo assim, os trabalhos supracitados cobrem uma lacuna na
sociedade, de trazer ao público os dados e interpretações das ações dos governos.

3. Procedimentos Metodológicos

O presente trabalho fará uso de estatística descritiva para apresentar de forma mais
detalhada os dados do PEP e PEPRO. Assim como realizado em Gilio et al. (2016), este tipo
de procedimento viabiliza a analise do comportamento de variáveis que antes da aplicação desta
metodologia se encontrava oculto.
Esses dados foram fornecidos pela CONAB e se tratam das intervenções realizadas no
mercado através desses instrumentos da PGPM. Todos os dados foram disponibilizados via e-
mail em diversos arquivos de planilhas Excel. Depois de reunir todos os dados em uma única
planilha, foi utilizada a ferramenta de Pivot Table para facilitar a organização.
As tabelas originais enviadas pela CONAB eram separadas por cultura, por ano e por
instrumento de PGPM. Cada planilha continha uma data de referência (com dia e mês) em que
foi acionado o instrumento e a respectiva quantidade ofertada e negociada por operação.
Segundo informações da CONAB essa data de referência regista o dia da primeira nota fiscal
entregue à CONAB por algum produtor.
Os instrumentos de interesse serão o PEP e o PEPRO, sendo assim as demais
informações serão desconsideradas. O trabalho levou em consideração apenas as operações que
tiveram quantidade negociadas e não apenas ofertadas. Pois em muitos casos observa-se que há
oferta de produtos sem quantidade negociada.

4 Resultados e Discussão

4.1 PEPRO

O PEPRO apresentou maior representatividade para culturas de Algodão, Milho e


Soja, assim como mostra o Quadro 02. O Estado que recebeu o maior volume destes recursos
foi o Estado do Mato Grosso, responsável por 83% de todo recurso destinado ao PEPRO entre
2006 e 2016 (não houve PEPRO a partir de 2014). Sendo que, no Mato Grosso, para o mesmo
período, as culturas que mais receberam recursos de PEPRO foram o Milho (68%) e a Soja
(23%) dentre todas as culturas do Quadro 02.

Quadro 02. Montante nominal de PEPRO por produto, de 2006 a 2016.


201
Cultura/ano 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2 2013 2014
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133
Algodão** 42% 60%** 100%** 92%** 47%
100%*
Arroz/casca *
Feijão 0% 0%
Milho/grão*
* 1% 17% 8% 100%** 100%** 53%**
Soja/grão** 58%** 23%
554.609.48 899.783.56 530.166.06 974.214.13 45.172.49 396.605.12 440.995.44
Total* 9 2 5 2 3 5.164.322 - 1 2
Fonte: Conab. Elaboração própria.
(*) quantidade negociada x Preço de fechamento.
(**) Mais representativo

4.2 PEP

Para o PEP, as culturas que mais receberam recursos entre os anos de 2005 e 2016
foram o Algodão, Milho e Trigo, como apresentado no Quadro 03. O milho, por exemplo,
chegou a representar sozinho valores próximos da metade ou superiores entre os anos de 2005
a 2016.
Quadro 03. Montante nominal de PEP por produto de 2005 a 2016.
Cultura/ano 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2016
Algodão** 40%** 0,3%
Arroz 19% 3% 1% 92%**
Feijão 18% 1%
Leite 0,3%
Laranja 38%
Sisal 1% 5% 0,2%
Milho** 34% 78%** 79%** 48%** 84%** 96%**
Trigo 26% 3% 15% 10% 2% 3% 41%** 100,0%
Vinho/uva 36% 4% 0,1% 20%
Total* 177.322.169 301.070.328 88.991.994 51.444.073 384.169.322 795.061.226 206.685.122 38.326.429 1.634.041
Fonte: Conab. Elaboração própria.
(*) quantidade negociada x Preço de fechamento.
(**) Mais representativo.

Com relação ao montante de PEP acessado pelos Estados no período compreendido


entre os anos de 2005 a 2016, observou-se que o Mato Grosso (42%), Rio Grande do Sul (17%)
e Paraná (13%) foram os Estados que mais receberam recursos para PEP, conforme evidenciado
no Quadro 04.

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Quadro 04: Montante Nominal de PEP por Estado de 2005 a 2016.
UF/Ano 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2016
BA 11,80% 10,60% 2,00% 6,60% 4,80% 0,20%
DF 0,10% 0,20% 3,10% 6,70%
GO** 21,10% 18,4%** 32,6%** 4,40% 5,50% 4,70%
MA 0,50% 0,00%
MG 2,60% 1,20% 0,90% 3,60%
MS 4,50% 13,00% 2,20% 2,20% 6,80% 0,50%
MT** 30,4%** 3,30% 37,00% 44,1%** 70,0%** 59,9%**
PB 0,00% 0,10% 0,00%
PI 0,20%
PR 19,10% 44,20% 9,40% 1,60% 4,20% 7,20% 1,40% 12,90% 45,50%
RN 0,00%
RO 0,70% 0,50%
RS** 8,70% 17,70% 0,30% 49,80% 10,50% 2,00% 86,0%** 47,6%** 46,3%**
SC 3,10% 6,80% 0,60% 0,20% 7,10% 0,60% 8,20%
SP 1,30% 0,10% 0,00% 0,10% 38,70%
TO 1,90%
Total* 177.322.169 301.070.328 88.991.994 51.444.073 384.169.322 795.061.226 206.685.122 38.326.429 1.634.041
Fonte: Conab. Elaboração própria.
(*) Quantidade Negociada x Preço de fechamento (termos nominais).
(**) Mais representativo.

É possível observar a representatividade do PEP em termos de produção de Milho no


Mato Grosso quando contrastamos os dados da Conab com dados de produção de milho do
IBGE. Em 2010, o Mato Grosso produziu 8.164.273 toneladas de milho, nesse mesmo ano,
6.967.021 toneladas de milho foram negociadas via PEP, ou seja, aproximadamente 85% da
produção anual de milho deste Estado em 2010. Assim como apresentado na Figura 01.
Figura 01. Quantidade total de milho produzida e quantidade negociada via PEP

Fonte: Conab (2017) e IBGE (2017).

Tanto o PEP quanto o PEPRO são instrumentos de Intervenção nos mercados agrícolas.
Identificou-se uma concentração destes recursos, principalmente, nas culturas do Milho, Soja e
Algodão. Também é possível perceber uma concentração espacial nos estados do Mato Grosso,
Paraná e Rio Grande do Sul. Essa concentração é fruto das principais cadeias produtivas dessas
regiões estarem atreladas aos produtos identificado anteriormente. Resultado semelhando foi

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encontrado em Sanches e Bacha (2015) ao buscarem verificar se as intervenções via PGPM
cumpriam com objetivo de sustentar os preços agrícolas no Estado do Mato Grosso.

5. Conclusões

O presente trabalhou ao buscar apresentar quanto de recursos tem sido destinado a dois
dos principais instrumentos da PGPM no Brasil, o PEP e PEPRO, pôde observar que estes estão
concentrados nas culturas de Milho, Soja e Algodão, nos estados do Mato Grosso, Paraná e Rio
Grande do Sul. Para estudos futuros sugere-se avaliar as causas de tais concentrações e se estais
intervenções tem conseguido atingir o objetivo de suporte de preços nos mercados agrícolas.

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ARMAZENAMENTO DE GRÃOS: A PERCEPÇÃO DOS PRINCIPAIS
CEREALISTAS DE CRUZ ALTA/RS
STORAGE OF GRAINS: THE PERCEPTION OF THE MAIN
CEREALISTS OF CRUZ ALTA / RS
Cassiane Dias Carlos Estevan Neto1,Ana Paula Alf Lima Ferreira2, Lucas Teixeira Costa 3

Resumo
A capacidade de armazenamento de grãos está diretamente relacionada a capacidade de criar estratégias e
ganhos no setor do agronegócio. No Rio Grande do Sul existe um déficit de aproximadamente 3,74 milhões de
toneladas no armazenamento de grãos. Com vistas a isso, este estudo teve por finalidade apresentar os resultados
da análise S.W.O.T. das principais cerealistas do município de Cruz Alta/RS, com o intuito de identificar o perfil
e a capacidade de armazenamento de cada empresa. A partir dos resultados foi possível detectar as fraquezas,
ameaças, forças e oportunidades de cada organização. Assim, a presente pesquisa se caracteriza como descritiva,
já no que se refere à abordagem do problema é considerada qualitativa. Os dados foram coletados por meio de
um questionário com perguntas abertas, os respondentes foram os gestores das empresas que por sua vez
procuraram responder segundo o perfil de sua organização, contribuindo com informações relevantes para a
conclusão desta análise. Percebe-se através da realização desta pesquisa, a insuficiência de armazéns para o
armazenamento correto dos grãos, tendo em vista que esse foi um dos anos de maiores safras registrados,
trazendo assim um grande desafio para as unidades armazenadoras adotarem medidas para se sobressaírem desta
dificuldade existente.

.Palavras-chave: Armazenamento de grãos, Capacidade de produção, Logística.

Abstract
Grain storage capacity is directly related to the ability to create strategies and gains in the agribusiness sector.
In Rio Grande do Sul there is a deficit of approximately 3.74 million tons in grain storage. With this in mind,
this study aimed to present the results of S.W.O.T. of the main grain producers in the municipality of Cruz Alta /
RS, in order to identify the profile and storage capacity of each company. From the results it was possible to
detect the weaknesses, threats, strengths and opportunities of each organization. Thus, the present research is
characterized as descriptive, as far as the approach of the problem is considered qualitative. The data were
collected through a questionnaire with open questions, the respondents were the managers of the companies that
in turn sought to respond according to the profile of their organization, contributing with information relevant to
the conclusion of this analysis. The lack of storage for correct storage of grains is perceived through this
research, considering that this was one of the years of higher harvests, thus presenting a great challenge for the
storage units to adopt measures to stand out from this difficulty existing
Key words: Grain storage, Production capacity, Logistics.

1 Introdução

O processo de armazenamento compreende a ação de armazenar adequadamente,


determinados produtos de acordo com os padrões de qualidade de cada categoria, para Alves
(2008) o processo de armazenagem de grãos, representa um importante fator junto ao
segmento do agronegócio, portanto, deve ser considerado no processo da cadeia produtiva
agrícola, que compreende as atividades desenvolvidas desde o plantio até a comercialização e
industrialização dos grãos.
Nesse sentido, pode-se apontar que possuir uma capacidade de armazenamento
suficiente para atender a produção de grãos, proporciona as empresas maior poder de

1Graduada em Administração/Universidade de Cruz Alta- ninadiascarlos1568@hotmail.com


2Doutoranda em Agronegócios/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul- anapaulaalf@gmail.com
3Mestrando em Agronegócios/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul- lucasadmrural@gmail.com

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barganha, pois se pode escolher o melhor momento para o escoamento da produção, de
acordo com o custo do transporte, ou com as condições dos grãos, quanto às impurezas e
excesso de água, pode-se ainda aguardar melhores condições no mercado, aumentando os
lucros do empreendimento.
Tomando-se como base atual da produtividade de grãos do estado do Rio Grande do
Sul, onde na última safra de verão 2016/2017, a qual compreende a produção das commodity:
soja, o arroz, o milho e o feijão, gerou em torno de 30,86 milhões de toneladas de grãos, e que
segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2017), representou um aumento
de produtividade em média de 2% com relação a safra de verão 2015/2016, e que dentro deste
cenário do estado o município de Cruz Alta/RS, o qual é o 3º maior produtor de soja do
estado, atingiu a produtividade de 14,7 milhões de toneladas na safra de 2016/2017,
aproximadamente 2,5 % a mais que a safra de verão 2015/ 2016.
Entende-se assim, que conhecer a realidade dos principais cerealistas do município de
Cruz Alta/RS, no que tange o processo de armazenagem de grãos é de grande relevância, para
o segmento agrícola do município, uma vez que a capacidade estática do estado e, por
conseguinte do município de Cruz Alta/RS não acompanhou o crescimento do setor agrícola
conforme apontamento da própria (CONAB, 2017). Logo, o presente estudo tem como
objetivo realizar uma análise S.W.OT. do setor de armazenagem das principais cerealistas de
Cruz Alta/RS, identificando o ponto de vista de cada empresa sob a temática em questão.

2 Referencial Teórico

2.1 O Processo de Armazenamento de Grãos

Segundo Perobelli e Haddad (2006) a maior inserção da economia brasileira no


contexto internacional está centrada na necessidade de um aumento da competitividade,
diminuição de custos e reestruturação produtiva. Tem-se, que uma unidade armazenadora,
deve dispor de uma boa capacidade de armazenamento, manter os padrões de qualidade dos
grãos e estar convenientemente bem localizada, a fim de constituir uma das soluções para
tornar o sistema agrícola produtivo mais eficaz (ALVES, 2008).
Logo, a capacidade de armazenar grãos em maior quantidade tem relevância
fundamental na cadeia logística do fluxo dos produtos agrícolas. Proporciona opção de vendas
em épocas de maior retorno financeiro e evita possíveis entraves na cadeia produtiva em
período de safra (GALLARDO et al., 2010). Os métodos para armazenar com qualidade
podem ser utilizados nas produções agrícolas, desde pequenos a grandes produtores,
certificando a qualidade final dos grãos (PIMENTEL et al., 2011).
Pode-se dizer que uma unidade armazenadora, que tenha capacidade de estocagem
condizente com a realidade e possua uma localização favorável, compõem uma das soluções
para tornar o sistema produtivo mais econômico e rentável. Além de facilitar a
comercialização da produção agrícola em melhores períodos, evitando as imposições naturais
do mercado no período da safra, a permanência de produto na propriedade e quando bem
conduzida à armazenagem apresenta inúmeras vantagens.

2.1 Análise S.W.O.T.

A Análise S.W.O.T. (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças) é uma


ferramenta que tem como princípio a busca da relação entre as forças e fraquezas
internas da empresa com as oportunidades e ameaças externas à empresa, de tal
maneira que suas forças sejam destacadas e fortalecidas, suas fraquezas trabalhadas e
mitigadas, as oportunidades capturadas e as ameaças protegidas. Deste modo, tal método
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busca auxiliar no planejamento estratégico de determinada empresa, de forma a perseguir
oportunidades e evitar ameaças, com base nas forças e fraquezas da mesma (KOTLER, 2000).
A análise do ambiente interno e externo da empresa é realizada por meio da Matriz
S.W.O.T., a Figura 1 apesenta o esquema das variáveis controláveis e não controláveis naa
quais as empresas se expõem, bem como o tipo de interferência.

Figura 1 – Análise S.W.O.T.

Fonte: Adaptado de Lopes (2013).

De acordo com Oliveira (2004), cada etapa da Matriz pode ser identificada da seguinte
forma:
1. Forças: Representam as qualidades positivas da empresa, ou seja, tudo aquilo que
agrega valores e está sob o controle da organização;
2. Fraquezas: São os pontos que atrapalham e não trazem vantagens competitivas para
a corporação. Assim como as Forças, as Fraquezas também estão sob o comando da empresa;
3. Oportunidades: São os fatores externos (que não estão sob a influência da empresa)
e quando surgem, trazem benefícios para a corporação. Para compreendermos o conceito de
oportunidades, temos como exemplo uma nova lei que possa beneficiar a empresa de algum
modo;
4. Ameaças: Também não estão sob o controle da empresa, porém são fatores que
podem prejudicar a corporação de algum modo. Um exemplo pode ser a entrada de uma
grande empresa.
Lopes (2013), aponta a aplicação da análise S.W.O.T., como uma ferramenta muito
relevante para as empresas, pois é através dela, que se pode observar de maneira concreta e
clara, as forças e fraquezas da organização e as oportunidades e ameaças do ambiente externo,
dando assim um maior respaldo para formulação de estratégias, trazendo maior vantagem
competitiva e melhorando seu desempenho organizacional.

3 Procedimentos Metodológicos

A presente pesquisa caracteriza-se como descritiva no que se refere a sua finalidade.


No que concerne à abordagem do problema é considerada qualitativa, baseada em um estudo
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de casos múltiplos (uma vez que pretende-se investigar o processo de armazenamento de
grãos, junto aos principais cerealistas do município de Cruz Alta/RS) (LAKATOS E
MARCONI,2003). A mesma também tratou-se de um estudo de multicasos, pois conforme
Yin (2001) enfatiza ser a estratégia mais adequada quando é preciso responder a questões do
tipo “como” e “por quê” e quando o pesquisador possui pouco controle sobre os eventos
pesquisados.
Desta forma, foi construído um roteiro de entrevista semiestruturada, o qual se baseou
no modelo da matriz de S.W.O.T., a fim de realizar um diagnóstico da percepção dos
principais cerealistas de Cruz Alta/RS, teve-se como respondentes da pesquisa, os gestores
das seguintes cerealistas: Coopermil, Bianchini, Ceifasul, as quais segundo CONAB (2017)
são as principais unidades de armazenamento de grãos do Município. Após a realização das
entrevistas, as mesmas foram analisadas de forma individual dentro da Matriz S.W.O.T.,
posteriormente, buscou-se a construção de uma matriz única, a qual contemplou a percepção
de todos os entrevistados frente ao atual processo de armazenagem do município de Cruz
Alta/RS.

4 Resultados e Discussões

4.1 Análise da Empresa Coopermil

A empresa Coopermil (Cooperativa Mista São Luiz Ltda), atua no mercado a cerca de
quatro anos, com um quadro de funcionários expressivo, de 46 colaboradores. A cooperativa
processa soja, possuindo uma capacidade estática de armazenagem total por grãos de 22.000
toneladas. A figura 2, representa a análise S.W.O.T com os resultados de tal empresa.

Figura 2 – Análise S.W.O.T empresa Coopermil

Fonte: resultados da pesquisa.

Conforme a análise SWOT, identificou-se como fraquezas e ameaças a capacidade


limitada de recebimento por dia, que compreende 1200 toneladas, de acordo com a empresa
este volume poderia ser maior. Como fraquezas do processo de armazenagem, identificou-se
que a indústria beneficia o grão de soja transformando em farelo e óleo, portanto, recebem
apenas o que beneficiam.
A empresa continua da mesma forma que ingressou no mercado, não apontaram
nenhum avanço até o momento desde o inicio das atividades. A empresa acredita que as três

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principais forças existentes na sua cooperativa são a acessibilidade, a localização estratégica e
a qualidade nas instalações. A cooperativa tem uma excelente posição estratégica na região, e
estão em posição confortável no mercado, em um espaço central e estratégico a acessibilidade
é facilitada.
A oportunidade visualizada pela empresa seria o aumento da produção, pois o foco é a
industrialização, descartando a ideia de apenas armazenar grãos. De acordo com os achados
da pesquisa os grãos não são produzidos em Cruz Alta, apenas compram ou recebem por
transferência da matriz em Santa Rosa. Como projeção futura para os próximos anos a
empresa pretende aumentar a produção de 12.000T para 23000T por mês.

4.2 Análise da Empresa Ceifasul

A segunda empresa participante da pesquisa foi a Ceifasul Comercial Agrícola Ltda,


que atua no mercado há 47 anos, com aproximadamente 35 funcionários na atuando
efetivamente. Os principais grãos que recebem por período são: Soja, (Março a Junho); Trigo
(Novembro e Dezembro); e Milho (Janeiro e Fevereiro). A capacidade estática de
armazenagem (total/por grãos) é de 600.000 sacos ou 36.000.000 kg. A Figura 3 apresenta as
análises da referida empresa.

Figura 3 – Análise S.W.O.T empresa Ceifasul

Fonte: resultados da pesquisa.

Desde o início dos trabalhos da empresa no município, as principais dificuldades


enfrentadas com relação ao sistema de armazenagem foram em relação à manutenção
especializada, pois não existem empresas no município de Cruz Alta que atendam a demanda.
Desta forma, é necessário contatar empresas de outras cidades para realizar manutenções
específicas, o que resulta em perda de tempo e custo elevado.
Na percepção dessa empresa as três principais fraquezas do sistema de armazenagem
foram identificadas como: O aumento da capacidade de armazenagem; Fluxo na descarga; e,
Mão de obra especializada. Como ameaças relacionadas ao ambiente externo, apontou-se três
principais ameaças do sistema de armazenagem, quais sejam: Os devidos concorrentes; A
falta de transporte ou problema no sistema de transporte caminhões e trem ( ALL x vagão); e,
Política instável que poderia levar as trading (negociação) a não investir ou operar no País.

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No ponto de vista dos gestores, as três forças do sistema de armazenagem da sua
empresa são a Infraestrutura Adequada, Tecnologia, e as Parcerias. Identifica-se também que
a oportunidade que visualizada pelo sistema de armazenagem da empresa estudada, é a
localização, pois está situada ao lado da ferrovia o que proporciona a empresa trabalhar com
carregamento ferroviário para Rio Grande.
A Marca/ Histórico da empresa, também é uma força, pois uma possuir quase 50 anos
de mercado dá credibilidade ao empreendimento, transmitindo ao cliente tranquilidade e
segurança. O fato do estado e do município não possuir mais capacidade de armazenagem,
conforme dados de produção da CONAB, pode ser visto como uma oportunidade, pois
possibilita a criação de novas empresas e o aumento dos espaços de armazenagem das
empresas que já existem.
A empresa busca aumentar o fluxo de recebimento x expedição, (envio de produto
para o Porto de Rio Grande, dessa forma a empresa consegue fazer o giro da circulação de
seus produtos, e aumentar a capacidade produtiva), com investimento de tecnologia para
aumentar a produção, e, investimento em mão de obra, adequando-se a necessidade do
mercado.
As relações de parcerias/redes com outras empresas do mesmo segmento têm sido
uma realidade no ramo da armazenagem, no caso especifico da empresa, não trabalha em rede
com empresas do mesmo fragmento segundo o gestor da organização, mas existe empresas
parceiras no segmento de comercialização de grãos que compram o grão e armazenam na
empresa (Ceifasul), a Ceifasul transborda o produto do caminhão para o vagão ( onde o
produto tem destino o Porto de Rio Grande e posteriormente em sua maioria as Trading
(negociação) comercializam com a China).
A fim de escoar de forma mais rápida e efetiva os grãos, a empresa, tem buscado
alternativas para a própria empresa e clientes, através de canais de comercialização, hoje
trabalham com a comercialização de grãos com as principais Tradings (negociação) do
mercado internacional, possibilitando aos clientes preços competitivos no mercado, além de
disponibilizar o produto de forma livre ao comprador possibilitando o cliente comercializar
com qualquer empresa.
Como projeções futuras a empresa busca manter um serviço de qualidade na
armazenagem de grãos, fortalecer a parceria com as tradings ao qual a empresa hoje trabalha,
além de buscar ampliar a capacidade de armazenamento.

4.3 Análise da Empresa Bianchini

A terceira empresa entrevistada foi a Bianchini Indústria, Comércio e Agricultura, que


atua no comércio em Cruz Alta desde 2002, o quadro de funcionários é de 47 colaboradores.
O principal produto recebido pela empresa é a soja durante o ano todo, com capacidade
estática de armazenagem (total/por grãos): 160.000 Toneladas. A Figura 3 apresenta a análise
S.W.O.T de tal empresa.

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Figura 3 – Análise S.W.O.T empresa Bianchini

Fonte: resultados da pesquisa.

Com base na análise S.W.O.T realizada nesta unidade, constatou-se que desde o início
dos trabalhos da empresa no município de Cruz Alta, a organização não identificou nenhum
tipo de dificuldade enfrentada no que se refere ao sistema de armazenagem em questão. No
entanto, houve necessidade de ampliar a unidade em 2012, a empresa dobrou sua capacidade
estática de 72.000 Toneladas para 160.000 toneladas e adotou, durante a safra, turnos para
recebimento 24 horas.
A Bianchini diz não encontrar nenhuma fraqueza do seu sistema de armazenagem,
porque ela atende suas necessidades. Portanto em sua percepção, as três principais ameaças
do sistema de armazenagem da sua empresa e do município de Cruz Alta seriam: O clima,
que afeta a qualidade dos grãos durante a colheita; Quebra técnica no armazenamento; e,
Logística. Segundo a empresa o sistema político poderia atuar a e auxiliar investindo em
linhas de crédito para construção de armazéns, uma vez que o agronegócio contribui direta e
indiretamente para a economia local e nacional.
Os principais avanços que a empresa teve ao longo do tempo com relação ao processo
de armazenagem foi o aumento da capacidade de descarga no período de safra, aumento da
capacidade estática e padrão de qualidade do produto armazenado. Na percepção da
organização as três principais forças do seu sistema de armazenagem da empresa e do
município de Cruz Alta são: Capacidade de armazenagem; Localização estratégica e
acessibilidade; Qualidade das instalações (infraestrutura adequada e tecnologia); e, Parcerias e
agilidade. As oportunidades identificadas do sistema de armazenagem da empresa e do
município de Cruz Alta é a confiabilidade da empresa, a capacidade de armazenagem e a
localização.
No entanto, a fim de escoar de forma mais rápida e efetiva os grãos a empresa faz
contratos via modal férreo. Como projeções futuras para os próximos anos a empresa pretende
sempre melhorar a produtividade e aumentar a capacidade estática. Tendo em vista que a
produtividade de grãos nos últimos 5 anos tem média anual de 450.000 toneladas, a empresa
pretende aumentar ainda mais.

4.2 Realidade do Armazenamento das Cerealistas de Cruz Alta/RS

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Com base nas forças, fraquezas, oportunidades e ameaças encontradas nas três
empresas analisadas, foi possível criar a análise S.W.O.T. do sistema de armazenamento do
município de Cruz Alta. A Figura 4 apresenta a matriz com os achados da pesquisa.

Figura 3 – Análise S.W.O.T do sistema de armazenagem de Cruz Alta-RS

Fonte: resultados da pesquisa.

Os dados da pesquisa revelam que as empresas analisadas consideram suas “forças”


principalmente a qualidade das instalações e a capacidade de descarga nos períodos de safra.
No que se refere às fraquezas identificadas, tem-se capacidade de recebimento e a
armazenagem que é limitada. Tendo em vista o ambiente externo, identificou-se que as
empresas analisadas têm como oportunidades principalmente localização e a possibilidade de
aumento de produção. Já no que concernem as ameaças, as preocupações estão relacionadas
principalmente ao clima e aos concorrentes.
Com a projeção de colher 32,18 milhões de toneladas de grãos na safra atual, o Rio
Grande do Sul poderá armazenar apenas 28,43 milhões de toneladas – déficit de 3,74 milhões
de toneladas. A diferença entre a produção e a capacidade estática é a maior das últimas cinco
safras, conforme diagnóstico da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2017).
Tem-se que desde 2015, órgãos como a CONAB, passaram a fazer exigências para o
registro de silos, a fim de mensurar a capacidade do total de armazenamento do Rio Grande
do Sul, uma vez que até 2015, existem muitos armazéns sem registro oficial. Conforme o
diagnóstico da armazenagem, os maiores déficits estão concentrados nas microrregiões de
Frederico Westphalen, Santiago, Jaguarão, Santiago e Vacaria no Rio Grande do Sul (MAPA,
2017).
Órgãos como a CONAB(Companhia Nacional de Abastecimento), BRDE(Banco
Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul), MAPA(Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento), CESA(Companhia Estadual de Silos e Armazéns), EMATER(Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural), entre outros, sempre confrontam os dados da produção
agrícola do estado com a capacidade estática de armazenagem, porém na prática, as safras não
são colhidas ao mesmo tempo e, nem toda quantidade colhida é guardada, pois substancial
parcela é exportada ou tem consumo imediato (NOGUEIRA JUNIOR, 2008), o que dificulta
ainda mais a distribuição dos grãos junto as unidades de armazenamento do Estado.
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145
Até 2014, comparado com o resto do Brasil, o Rio Grande do Sul apresentava, uma
situação mais confortável com relação ao processo de armazenagem, pois segundo a CONAB,
o estado possuía uma capacidade estática total de 31,45 milhões de toneladas, o que seria
suficiente para abrigar uma safra correspondente à 27,6 milhões de toneladas de grãos, porém
na prática a safra de 2015/2016, já atingiu 30,23 milhões de toneladas (BELIDELI, 2013), ou
seja, uma safra além da capacidade de armazenagem do que a ofertada junto ao estado.

5 Considerações Finais

Com base no objetivo central da presente pesquisa, em realizar uma análise S.W.OT.
do setor de armazenagem das principais cerealistas de Cruz Alta/RS por meio da percepção
dos seus gestores, pode-se perceber que os anseios dos mesmos caminham no mesmo
sentido. Entre os principais apontamentos relacionados à força e oportunidade, compreendem
ações que não estão sob controle das empresas, tais como, aumento de produção e de
capacidade de descarga. Os gestores possuem uma boa leitura de cenário e demonstram
projeções de buscar meios para enfrentar as fraquezas e ameaças as quais são perceptíveis aos
mesmos.
Com relação às fraquezas, pode-se verificar que essas estão relacionadas com a
capacidade estática de armazenamento, que por sua restrição acaba refletindo inclusive na
confiabilidade dos meios e estrutura disponível, o que tende a afetar os bons resultados das
cerealistas. Entende-se que politicas públicas, linhas de créditos facilitados, ou até mesmo
isenções fiscais poderiam ser soluções para que as cerealistas pudessem ampliar suas
estruturas a fim de solucionar tais fraquezas sem comprometer de forma drástica os
orçamentos.
Quanto às fraquezas, estas estão relacionadas com fatores que não estão sobre atuação
direta das cerealistas, como o clima, concorrentes, preços pagos e a falta de transporte. Foi
possível observar a falta de uma maior reflexão das entrevistas neste item, a fim de
diagnosticas fraquezas ligadas diretamente as cerealista, porém por entender que o cunho
desta pesquisa era análise da percepção das empresas, não houve direcionamento. Logo tal
fato, pode-se servir como base para futuras pesquisas, que podem identificar apenas as
fraquezas diretamente relacionadas às empresas que não sejam tão genéricas.
Contudo, ao final das análises da referida pesquisa, por entender que seus resultados
retratam o cenário temporal de sua aplicação, entende-se que sua replicação anual, traria
importantes indicadores paras as cerealistas, os quais podem nortear rumos do planejamento
estratégico, bem como sustentar futuras tomadas de decisão.

Referências
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São Paulo: Atlas, 2008.
BELIDELI, M. Supersafra gera déficit de armazenagem no Brasil. Jornal do Comércio.
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cadastrados. Disponível em:
http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/15_04_14_10_25_14_serie_historica_c
adastro_por_uf.pdf. Acessado em 21 abr. 2018.

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147
Evolução do Estoque Animal e sua Representatividade para o
Desenvolvimento Econômico da Região Centro-Oeste
The evolution of the Animal Stock and its Representativeness for the
Economic Development of the Central-West Region
MORENO, Mateus Hurbano Bomfim1, SCHLINDWEIN, Madalena Maria2, CASAROTTO,
Eduardo Luis3

Resumo
O Centro-Oeste do Brasil tem se destacado no setor primário, no qual obteve o maior quantitativo de rebanho
efetivo do país, comparado às demais regiões brasileiras, e assim seu excedente de produção segue fortalecendo
as exportações da região. Neste contexto, este estudo teve como objetivo identificar a competitividade das carnes
bovina, suína e de aves in natura na região Centro-Oeste e seu impacto na balança comercial. Além disso,
objetivou-se analisar as vantagens comparativas reveladas na exportação desses produtos pela região em relação
ao país. O estudo refere-se a uma pesquisa quantitativa, em que se utilizou dados secundários acerca do saldo da
balança comercial. Foram utilizados os indicadores de Vantagens Comparativas Reveladas, Taxa de Cobertura e
Contribuição para o Saldo Comercial para mensurar a competitividade das carnes bovina, suína e de aves in natura
e o índice de Gini-Hirshman para analisar a concentração das exportações em relação ao produto. Os resultados
mostraram que a região Centro-Oeste apresenta Vantagem Comparativa Revelada em produtos da carne bovina.
Quanto à Contribuição para o Saldo Comercial, a região possui índice positivo para carnes de aves e suínos,
demonstrando a importância das carnes para o saldo da balança comercial da região Centro-Oeste.
Palavras-chave: Balança Comercial; Competitividade; Comércio Internacional.

Abstract
The Central West of Brazil has been outstanding in the primary sector, in which it obtained the largest quantity of
effective herd by the country. Compared to the other Brazilian regions, its surplus of production continues to
strengthen the exports of the region. In this context, this study aimed to identify the competitiveness of bovine,
porcine and fresh poultry meat in the Midwest region and its impact on the trade balance. In addition, the objective
was to analyze the comparative advantages revealed in the export of these products by the region in relation to
the country. The study refers to a quantitative survey that used secondary data about the balance of trade. The
Comparative Advantages, Coverage Ratio and Contribution to Trade Balance were used to measure the
competitiveness of bovine, porcine and fresh poultry meat and the Gini-Hirshman índex was used to analyze the
concentration of exports related to the product. The results showed that the Center-West region presents Revealed
Comparative Advantages in beef products. Regarding the Contribution to the Commercial Balance, the region has
a positive index for poultry and pork meats, demonstrating the importance of meat to the balance of trade in the
Midwest region.
Keywords: Trade Balance; Competitiveness; International Trade.

1 Introdução
O aumento populacional mundial desafia governos a buscarem melhores técnicas para
a produção de alimentos, a fim de atender toda a demanda, interna e/ou externa. O setor da
pecuária de corte tem um papel importante nesse sentido, com alto potencial produtivo e, oferta
de produtos com qualidade nutricional à alimentação humana. De acordo com United States
Department of Agriculture - USDA, em relação a carne bovina, o Brasil alcança o segundo lugar
em termos de produção (15,5%) e exportação (18,2%) e terceiro lugar no quesito consumo
mundial, com um percentual de 13,1%. Para as carnes suínas o Brasil é quarto maior produtor
(3,3%) e quinto maior consumidor (2,6%), enquanto que na exportação o país fica em quarto
lugar (9,8%). No que tange as carnes de aves, o Brasil lidera a exportação (36,3%) e vice lidera
a produção (14,8%) e termina como o quarto maior consumidor (10,6%).

1
Discente do curso de Ciências Econômicas da FACE/UFGD/Dourados (mateusbmoreno@hotmail.com)
2
Docente do PPG Mestrado em Agronegócios da FACE/UFGD/Dourados (madalenaschlindwein@ufgd.edu.br)
3
Docente do curso de Administração da FACE/UFGD/Dourados (eduardocasarotto@ufgd.edu.br)
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148
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2016a), a região
Centro-Oeste obteve o maior rebanho efetivo de bovinos entre as Grandes Regiões do Brasil,
com 34,4% da participação nacional no ano de 2016, representando um crescimento de 3,3%
comparado ao ano anterior. Estados de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul registraram
os 1º, 3º e 4º maiores efetivos de bovinos do Brasil. Entre os municípios com maiores efetivos
bovinos do Brasil, Corumbá (MS), Ribas do Rio Pardo (MS) e Cáceres (MT) alcançam a 2º, 3º
e a 4º colocação, sendo que treze municípios da região Centro-Oeste estão entre os vinte
municípios com maiores rebanhos efetivos de bovinos.
Na suinocultura, a região é a terceira com maior número em efetivo de suínos (14,9%),
sendo que, entre as unidades federativas, os estados de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do
Sul ocupam o quinto (6,3%), sexto (4,9%) e nono (3,2%) lugares nacionais. No que se refere
aos municípios com os maiores efetivos de rebanho suíno, a região Centro-Oeste possui sete de
seus municípios no grupo dos vinte maiores produtores, destacando Rio Verde (GO) na segunda
posição. Para a avicultura, Centro-Oeste é a terceira colocada em número em efetivo de aves
(12,8%), enquanto que, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul ocupam a sexta (5,1%),
sétima (4,7%) e décima terceira (3,3%) colocações. Dentre os vinte municípios com os maiores
efetivos de rebanho de aves, a região Centro-Oeste possui seis deles (IBGE, 2016b).
Neste contexto, este trabalho teve por objetivo mensurar a competitividade das carnes
bovina, suína e de aves in natura da região Centro-Oeste e seu impacto na balança comercial
da região. Especificamente, pretende-se analisar as vantagens comparativas reveladas na
exportação de carne bovina, suína e de aves pela região em relação ao país. Este artigo está
estruturado em seis seções: além desta introdução; as seções dois e três abordam
respectivamente os temas Comércio Internacional e Vantagens Comparativas; a seção quatro
apresenta a metodologia utilizada; a seção cinco traz os resultados e discussões; e por último,
na seção seis são apresentadas as considerações finais do trabalho.

2 Comércio Internacional, Barreiras Comerciais e Vantagens Comparativas


Krugman e Obstfeld (2010) mencionam que o mínimo que houver de comércio
internacional será benéfico aos países, surgindo ganhos mútuos com a venda e compra de
produtos e serviços. Apesar das disparidades existentes entre os países, no que tange a eficiência
produtiva e os salários pagos aos trabalhadores, os mesmos podem exportar bens que
necessitem, em sua produção, recursos que internamente tenha um volume considerável,
enquanto que a importação possa se direcionar aos bens dos quais os recursos necessários na
produção são escassos. Assim, os países podem alcançar a especialização na produção de uma
cesta com número limitado de bens, desenvolvendo sua eficiência produtiva em larga escala.
Entre as circunstâncias que podem reduzir o comércio internacional tem-se a distância
entre os países, tendo um efeito negativo por refletir em custos maiores de transporte para os
bens e serviços. As fronteiras entre os países também representam fatores que podem diminuir
o comércio, mesmo havendo acordos comerciais que eliminem diversas barreiras como as
tarifas e outras restrições legais impostas pelos países (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
As vantagens comparativas desempenham um importante papel no que diz respeito aos
ganhos do comércio, isto é, um país que não pode produzir nenhum bem de forma mais eficiente
que outros países (não possui vantagem absoluta) poderá concorrer no mercado internacional.
A produtividade baixa reduz os salários, assim, esses países passam a ter vantagens
comparativas, sendo mais importante considerar os custos relativos. Embora as exportações
baseadas em salários baixos não sejam uma posição desejável, o comércio não deveria ser
considerado bom somente quando se recebe altos salários (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

3 Vantagens Comparativas em Análise

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Em análises em âmbito internacional, Irsahd e Xin (2017), realizaram um estudo
analisando o desempenho das exportações do Paquistão, durante 13 (treze) anos. Para tanto,
utilizaram o índice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR) e o Sistema Harmonizado (SH)
comparando com alguns países asiáticos. Como principais resultados, o Paquistão apresentou
na análise uma concentração, tanto em produtos, quanto em mercados, e ainda, não houveram
tentativas fortificadas para se diversificar e aumentar sua participação como exportador no
mundo. O país possui índice de VCR maior que em outros países analisados, nos setores têxteis
e vestuário, assim como couros e peles e vegetais, mesmo assim, necessita de melhoras no seu
acesso ao mercado, na sua produtividade, etc.
Em âmbito de Brasil, Dill et al. (2013), elaboraram um estudo com o objetivo de
identificar a competitividade da carne bovina do Brasil e EUA no mercado internacional, de
1990 a 2008. Utilizando o Índice de Competitividade Revelada (CR), os autores puderam
separar os efeitos dos subsídios, acordos comerciais e barreiras sanitárias sobre a
competitividade dos países. Dentre os resultados, o Brasil apresentou vantagens competitivas
entre 1991 e 2008, já os EUA, de 1993 a 2003. Os acordos comerciais foram positivos à
competitividade dos países estudados, enquanto que os problemas sanitários foram negativos
ao índice. Por fim, percebe-se que o Brasil se sobressaiu no mercado mundial de carne bovina,
mesmo em desvantagens com o forte subsídio que os EUA aplicam ao setor.
Em análises realizadas para a região Centro-Oeste, Marques et al. (2017), utilizaram os
índices de Vantagens Comparativas Reveladas, Taxa de Cobertura da Economia e Contribuição
para o Saldo Comercial para aferir a competitividade da carne bovina no estado de Mato Grosso
do Sul. Como resultados, o estado apresentou o segundo índice de VCR mais significativo em
comparação aos outros estados brasileiros. Além disso, alcançou o melhor índice de CSC, o
que mostra a forte representatividade da carne bovina para o saldo de sua balança comercial.

4 Metodologia
Os dados referentes as exportações e importações das carnes bovina, suína e de aves na
região Centro-Oeste e Brasil, foram coletados a partir do site do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio – MDIC, no banco de dados Comex Stat. Os valores
coletados são relativos ao período de 2008 a 2017, em valores totais anuais por produtos e
expressos em Dólar Americano (US$) sob a condição de preço FOB4. Para atender o objetivo
proposto utilizou-se indicadores de desempenho, verificando a existência da competitividade
da carne bovina, suína e de aves da região Centro-Oeste, sendo esses:

Índice de Vantagens Comparativas Reveladas (VCR): Proposto primeiramente por


Balassa (1965), o modelo do índice foi baseado na lei das Vantagens Comparativas, formulada
por Ricardo, em 1817. O índice VCR tem seu cálculo baseado em dados levantados após a
realização do comércio. Ou seja, não são consideradas as distorções que possam ocorrer na
economia em análise que afetem os resultados dos índices. Segue a fórmula 1:
𝑋𝑖𝑗
⁄𝑋
𝑗
𝑉𝐶𝑅𝑖𝑗 = 𝑋𝑖𝑧 (1)
⁄𝑋
𝑧

Sendo: Xij= exportação de carnes bovina, suína e de aves pela região CO; Xiz=
exportação de carnes bovina, suína e de aves pelo Brasil; Xj= exportação total da região CO;

4FOB (Free on Board) é um Incoterm (International Commercial Term) e significa que após o vendedor entregar
as mercadorias a bordo do navio, o comprador passa a arcar com todos os custos. Representa a condição de
venda adotada para as estatísticas internacionais de comércio exterior (ICC, 2018).
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Xz= exportação total do Brasil; i= produto exportado; j e z= regiões exportadoras. Assim, se
VCRij > 1, a região possui vantagem comparativa revelada para as exportações do produto i; e
no caso de um VCRij < 1; a região possui desvantagem comparativa revelada para as
exportações do produto i (MAIA, 2002). Considerando como o período de análise os anos entre
2008 e 2017, a vantagem comparativa será significante quando seus valores forem superiores a
1 na maioria do tempo analisado, ou seja, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
Índice de Contribuição para o Saldo Comercial (CSC): O índice foi definido por
Lafay (1990) e compara o saldo comercial de determinado produto ou grupo de produtos com
o saldo comercial teórico dos mesmos produtos em análise (ROCHA; LEITE, 2007). O índice
é dado pela equação 2:

100 (𝑋𝑖 +𝑀𝑖 )


𝐶𝑆𝐶 = 𝑋+𝑀 𝑥 [(𝑋𝑖 − 𝑀𝑖 ) − (𝑋 − 𝑀)𝑥 ] (2)
𝑋+𝑀
2

Sendo: X= exportações totais de CO; M=importações totais de CO; Xi= as exportações


de carnes bovina, suína e de aves; Mi= importações de carnes bovina, suína e de aves. Neste
caso, valores positivos significam que há vantagem comparativa no setor analisado. E, se
negativo, a região não possuirá vantagem comparativa do mesmo (COSTA et al., 2012).

Índice de Taxa de Cobertura (TC): Segundo Martins et al. (2010), o índice TC


permite determinar os pontos fortes e fracos na especialização de uma economia regional. A
TC do produto i é definida conforme a fórmula 3:
𝑋
𝑇𝐶𝑖 = 𝑀𝑖 (3)
𝑖

Em que: Xi= exportações de carnes bovina, suína e de aves da região CO; Mi=
importações de carnes bovina, suína e de aves da região CO. São considerados pontos fortes da
economia (exportações maiores que as importações), os produtos que tiverem VCR e TC
superiores à unidade. Os pontos fracos são aqueles produtos com VCR e TC inferiores à um.
Ainda, é ponto neutro quando um dos indicadores for superior e o outro inferior à unidade.

Coeficiente de concentração das exportações por produto pelo Índice de Gini


Hirschman: Para analisar o grau de concentração das exportações da região Centro-Oeste de
carnes bovina, suína e de aves in natura foi utilizado o índice de concentração de Gini-
Hirschman. O Índice de Concentração por Produtos (ICP) é calculado pela equação 4:

2
𝑋
𝐼𝐶𝑃 = √∑𝑖 [ 𝑋𝑖𝑗] (4)
𝑗

Sendo: Xij= exportações de carnes bovina, suína e de aves pela região CO; Xj=
representa as exportações totais da região CO. O índice possui valores dentro do intervalo 0 e
1. De forma que, quando um país apresentar o ICP elevado indicará que o mesmo tem suas
exportações concentradas em poucos produtos. Enquanto que um ICP baixo significará uma
maior diversificação de produtos exportados, possibilitando maior estabilidade nas receitas
cambiais.
Conforme o Quadro 1, apresenta-se os produtos selecionados para análise, os mesmos
são identificados pela Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Considerou-se esta cesta de
produtos, visto que a mesma representou 90,0% região Centro-Oeste e 80,8% para o Brasil das

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exportações de produtos de carnes. Para o cálculo dos indicadores, foram somados os valores
de exportação de carnes bovina (dez produtos), suína (seis produtos) e aves (quatro produtos).
Quadro 1 - Produtos de carne bovina, suína e de aves utilizados para a análise no estudo
Código Descrição
02011000 Carcaças e meias carcaças de bovino, frescas ou refrigeradas
02012010 Quartos dianteiros não desossados de bovino, frescos/refrigerados
02012020 Quartos traseiros não desossados de bovino, frescos/refrigerados
02012090 Outras peças não desossadas de bovino, frescas ou refrigeradas
02013000 Carnes desossadas de bovino, frescas ou refrigeradas
02021000 Carcaças e meias-carcaças de bovino, congeladas
02022010 Quartos dianteiros não desossados de bovino, congelados
02022020 Quartos traseiros não desossados de bovino, congelados
02022090 Outras peças não desossadas de bovino, congeladas
02023000 Carnes desossadas de bovino, congeladas
02031100 Carcaças e meias-carcaças de suíno, frescas ou refrigeradas
02031200 Carcaças e meias-carcaças de suíno, frescas ou refrigeradas
02031900 Outras carnes de suíno, frescas ou refrigeradas
02032100 Carcaças e meias-carcaças de suíno, congeladas
02032200 Pernas, pás e pedaços não desossados de suíno, congelados
02032900 Outras carnes de suíno, congeladas
02071100 Carnes de galos/galinhas, não cortadas em pedaços, frescas/refrigeradas
02071200 Carnes de galos/galinhas, não cortadas em pedaços, congelada
02071300 Pedaços e miudezas, de galos/galinhas, frescos/refrigerados
02071400 Pedaços e miudezas, comestíveis de galos/galinhas, congelados
Fonte: Elaborado pelos autores com dados de Comex Stat (2018).
5 Resultados e Discussão
Nesta sessão, são descritos os dados referentes as exportações de carnes bovina, suína e
de aves in natura no período de 2008 a 2017. Assim como, são apresentadas as análises e
discussões dos resultados obtidos através da utilização dos índices de VCR, TC e CSC e IGH
por produto. Conforme a Tabela 1, tem-se os valores alcançados pela exportação em dólar, dos
três produtos mencionados anteriormente, durante um período de dez anos para a região Centro-
Oeste e o Brasil. Na esfera regional, a exportação de carne bovina cresceu 49,8%, de carnes
suínas 13,3% e de aves 16,1%. A situação se repete em âmbito nacional, tendo acréscimo de
28,3% para carne bovina, 7,8% para carne suína e de 10,6% para carne de aves.
A respeito da participação da região Centro-Oeste nas exportações de carne bovina do
país, houve um aumento em 16,8% no valor obtido com sua venda, passando de 41,0% em
2008, para 47,9% em 2017. A participação da região na exportação de carne suína teve um
crescimento tímido de 0,1%. Teve destaque a participação na exportação de carne de aves, com
um crescimento de 32,8%, no período em análise (Tabela 1).

Tabela 1 – Evolução da exportação de carnes bovina, suína e de aves in natura da região Centro-
Oeste e Brasil, em US$, no período de 2008 a 2017.
Anos Brasil Centro-Oeste
Bovino Suíno Aves Bovino Suíno Aves
2008 3.951.845.957 1.357.870.435 5.808.963.711 1.622.185.715 158.601.980 760.374.604
2009 2.970.695.970 1.109.872.933 4.806.446.416 1.284.444.368 167.178.527 738.962.812
2010 3.851.256.143 1.225.039.837 5.783.749.633 1.614.555.755 217.908.473 971.147.185
2011 4.160.737.670 1.283.161.765 7.058.287.774 1.748.027.384 204.087.643 1.205.352.116
2012 4.478.153.506 1.345.624.150 6.723.048.135 2.123.708.118 242.469.123 1.188.956.822
2013 5.350.783.458 1.226.862.244 6.994.323.148 2.498.916.646 222.454.104 1.367.262.434
2014 5.734.258.213 1.444.435.725 6.884.857.569 2.829.463.205 211.618.554 1.158.221.704
2015 4.628.114.753 1.167.991.578 6.228.155.195 2.276.841.737 197.523.280 924.789.013
2016 4.344.110.069 1.349.378.594 5.945.728.108 2.006.439.629 195.859.040 847.176.569
2017 5.069.079.049 1.464.468.194 6.427.195.796 2.430.661.562 179.673.921 882.664.645
Fonte: Elaborada pelos autores com dados de Comex Stat (2018).
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De acordo com a Tabela 2, é possível observar os valores de exportação dos produtos
selecionados para a análise do estudo. Nota-se que seis produtos não foram apresentados pelo
fato de não terem sido comercializados no período de análise. Os itens mais representativos
estão destacados em negrito.

Tabela 2 – Valor de exportação dos produtos de carnes bovina, suína e de aves em milhões de US$
para a região Centro-Oeste, no período de 2008 a 2017.
Produto 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
02012020 0 0 0,02 0,00 0,04 0 0 0 0 0
02012090 0,01 0,01 0 0 0 0,56 0,09 0 0 0
02013000 106,9 135,7 209,3 308 422,7 444,1 476,04 410,3 487 409,8
02022010 0 0 0 0,23 0 0,48 0,46 0 0,35 0,47
02022020 0 0 0 0 0 0 0 0 0,36 0,04
02022090 1,71 1,28 2,43 2,34 3,22 8,02 29,4 6,33 5,53 3,39
02023000 1.513 1.147 1.402 1.437 1.697 2.045 2.323 1.860 1.513 2.016
02031100 0 0 0 0,06 0 0 0 0 0 0
02031200 0,01 0 0 0 0 0 0 0 0 0
02032100 9,55 19,9 21,86 13,38 34,2 23,53 9,86 7,08 10,6 3,37
02032200 8,32 2,36 0,32 0,71 1,25 1,63 1,77 0,57 1,25 2,89
02032900 140,7 144,9 195,7 189,9 207 197,29 199,9 189,9 183,9 173,4
02071200 310,4 321 397,1 492,1 405,1 517,1 372,5 312,7 237,9 200,6
02071400 450 417,9 574 713,2 783,9 850,12 785,6 612,03 609,2 682,1
Fonte: Elaborada pelos autores com dados de Comex Stat (2018).

5.1 Análise dos Indicadores das Exportações de Centro-Oeste


Para a análise da competitividade da exportação de carnes bovina, suína e de aves in
natura pela região Centro-Oeste, foram considerados os índices de Vantagem Comparativa
Revelada (VCR), Vantagem Comparativa Revelada Simétrica (VCRS), Taxa de Cobertura
(TC), Contribuição para o Saldo Comercial (CSC), e Índice de Gine-Hirshman (IGH) por
produto.
Conforme a Tabela 3, os produtos relacionados a carne bovina apresentaram valores de
VCR superiores a um e valores de VCRS entre 0 e 1 em todos os anos da análise. Portanto,
pode-se afirmar que a região Centro-Oeste possui vantagem comparativa em relação ao Brasil
para a exportação de carne bovina in natura. Percebe-se que o primeiro e o último ano de análise
têm os índices de VCR e VCRS permanecendo no mesmo patamar.

Tabela 3 – Índices VCR, VCRS, TC e CSC para a carne bovina, entre a região Centro-Oeste e o
Brasil, no período de 2008 a 2017.
Anos VCR TC CSC
2008 1,80 36,21 -2,46
2009 1,75 39,77 -2,37
2010 1,62 27,12 -6,34
2011 1,66 18,29 -9,83
2012 1,67 15,31 -15,38
2013 1,55 19,67 -12,61
2014 1,65 19,67 -14,27
2015 1,74 19,41 -11,72
2016 1,76 24,40 -7,11
2017 1,78 39,22 -2,90
Fonte: Elaborada pelos autores com dados de Comex Stat (2018).

Nota-se que o índice de TC apresentou valores superiores a unidade em todo o período


de análise, indicando que a região CO tem uma posição comercial forte para estes produtos da
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153
carne bovina. No entanto, o índice de CSC teve somente valores negativos nos dez anos
analisados, sendo que no final da análise o índice ficou com um valor pior do que no início da
análise, e dessa forma, indica que o produto não tem vantagem comparativa (Tabela 3).
De acordo com a Tabela 4, analisando os produtos selecionados de carne suína in
natura, é possível verificar que os índices de VCR e VCRS possuem valores menores que a
unidade, o que para o VCR já indica que a região não possui vantagem comparativa revelada,
e quando tem-se valores negativos entre -1 e 0 para o VCRS, contribui para o resultado anterior,
comprovando a desvantagem comparativa da carne suína para a região Centro-Oeste, em
relação ao Brasil.

Tabela 4 – Índices VCR, VCRS, TC e CSC para a carne suína, entre a região Centro-Oeste e o
Brasil, no período de 2008 a 2017.
Anos VCR TC CSC
2008 0,51 2227,31 0,41
2009 0,61 30810,64 0,45
2010 0,69 UNI 0,58
2011 0,63 UNI 0,55
2012 0,64 UNI 0,65
2013 0,60 UNI 0,60
2014 0,49 UNI 0,57
2015 0,60 UNI 0,53
2016 0,55 UNI 0,53
2017 0,46 UNI 0,48
Fonte: Elaborada pelos autores com dados de Comex Stat (2018).

Pode-se observar que o índice de TC da região Centro-Oeste para os produtos de carne


suína apresentou resultados positivos nos dois primeiros anos analisados, porém nos anos
seguintes a região teve ocorrência de comércio unilateral, ou seja, houve apenas a exportação.
Quanto ao índice de CSC, seus valores foram positivos, o que indica que os produtos de carne
suína in natura possuem vantagem comparativa revelada (Tabela 4).
No que tange aos produtos de carne de aves, nota-se que em todo o período de análise
o índice de VCR foi menos do que a unidade, e o índice de VCRS foi negativo. Esse resultado
indica que a região não possui vantagem comparativa revelada em relação ao Brasil, para a
exportação de carnes de aves in natura (Tabela 5).

Tabela 5 – Índices VCR, VCRS, TC e CSC para a carne de aves, entre a região Centro-Oeste e o
Brasil, no período de 2008 a 2017.
Anos VCR TC CSC
2008 0,57 UNI 2,04
2009 0,62 UNI 1,98
2010 0,65 UNI 2,61
2011 0,68 4366,51 3,19
2012 0,62 997,52 3,01
2013 0,65 920,94 3,44
2014 0,56 1435,99 2,99
2015 0,53 2859,58 2,43
2016 0,54 1461,28 2,19
2017 0,51 773,32 2,20
Fonte: Elaborada pelos autores com dados de Comex Stat (2018).

Em relação ao índice de TC, conforme a Tabela 5, o comércio de carne de aves da região


foi unilateral nos três primeiros anos, havendo somente a exportação destes produtos, enquanto
que para os anos seguintes os resultados foram expressivamente superiores a unidade, indicando

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uma posição comercial forte. Quanto ao índice de CSC, os resultados foram positivos, ou seja,
a região possui vantagem comparativa revelada.

5.2 Índice de Gini-Hirshman (IGH) por produto


Por fim, utilizou-se o índice de Gini-Hirschman, o coeficiente de concentração em
relação aos produtos exportados de carnes bovina, suína e de aves in natura, sendo possível
verificar a dependência ou não da economia em poucos produtos. Conforme a Figura 1, o índice
de Gini-Hirschman mostra que no período de 2008 a 2017, a região Centro-Oeste teve uma
tendência de aumento para concentração, indicando, embora sejam poucos produtos, certa
dependência nas exportações. De 2008 a 2011 o índice apresentou um decréscimo, o que
poderia ser uma desconcentração, porém de 2011 a 2014 o índice volta a ter um crescimento,
retomando a concentração. De 2014 a 2016 novamente o índice diminui seu valor, notando que
em 2017 um aumento na dependência é o que finaliza o período de análise.

Figura 1 - Índice de concentração por produtos das exportações de CO.

Fonte: Elaborada pelos autores com dados de Comex Stat (2018).

O índice GH mostrou que a região Centro-Oeste tem suas exportações concentradas em


poucos produtos, reforçando o perfil não diversificado da economia em análise. Pode-se
observar que os produtos de carne bovina em 2008 representavam aproximadamente 60% do
total em valor exportado pela região Centro-Oeste, portanto, quando seu valor exportado tinha
uma queda, o mesmo ocorria com o índice, enquanto que quando ocorreu um aumento em seu
valor exportado, o índice também teve um acréscimo.

6 Considerações Finais
Para este trabalho foi delimitado o objetivo de verificar a competitividade das carnes
bovina, suína e de aves in natura na região CO e qual o seu impacto na balança comercial.
Nesta perspectiva, os resultados encontrados permitiram identificar que a região se restringe a
especialização de poucos produtos, mostrando dependência dos produtos de carne bovina.
As exportações da região para o setor da pecuária demonstraram crescimento no
decorrer dos dez anos analisados, com predominância de produtos de carne bovina. O mesmo
foi observado para a participação da região no total exportado pelo Brasil, que teve crescimento
em todo o período analisado. Em relação a vantagem competitiva, os índices de VCR e VCRS
indicam que os produtos de carne bovina são os que possuem melhores vantagens nas
exportações da região. Enquanto que os produtos de carnes suínas e de aves tiveram resultados
ruins. Para a Taxa de Cobertura, se destacaram os produtos de carne de aves, alcançando os
melhores resultados no período analisado.
São considerados pontos fortes da economia, aqueles produtos que possuírem
simultaneamente o VCR e TC superiores a um, sendo assim, os produtos carnes desossadas de
bovino, frescas ou refrigeradas; outras peças não desossadas de bovino, congeladas e carnes
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desossadas de bovino, congeladas atendem a esse requisito. Pode-se citar como fatores que
favorecem a produção de carne bovina a extensa área territorial para pastagens, além da
proximidade com grandes centros de produção de grãos e de agroindústrias e mão de obra
especializada.
Os produtos que mais contribuíram para o saldo comercial foram: carcaças e meias-
carcaças de suíno, congeladas; pernas, pás e pedaços não desossados de suíno, congelados;
outras carnes de suíno, congeladas; carnes de galos/galinhas, não cortadas em pedaços,
congelada e pedaços e miudezas, comestíveis de galos/galinhas, congelados. Nota-se que os
produtos de carnes suína e de aves não tiveram o índice de VCR significativo, indicando a
necessidade de investimentos que possibilitem ganhos em termos de competitividade.
Ademais, destaca-se que a região Centro-Oeste é privilegiada por fatores condicionantes
ao desenvolvimento da pecuária, podendo alcançar altos níveis de produção e comercialização.
Considerando que o comércio internacional da pecuária na região tem como base os produtos
de commodities, com uso intenso de recursos encontrados em larga escala, faz com que a região
obtenha a especialização em determinados produtos e, por fim, a competitividade nos mercados.
Portanto, é fundamental que haja políticas públicas internas que garantam que o setor alcance
certa hegemonia.
Por fim, sugere-se que outros trabalhos possam ter um aprofundamento referente as
razões pelas quais resultaram os cenários do comércio internacional para a região Centro-Oeste
neste período de dez anos, informações relevantes que possam explicar as variações ocorridas.

Referências
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Exportações de produtos agrícolas brasileiros: Uma análise estatística do
comportamento no valor das exportações no período de 1997-2017

Exports of Brazilian children's products: An analysis of market behavior is


not part of the period 1997-2017
Caroline Estefanie do Amaral Brasil Saraiva 1, Claussia Neumann da Cunha2,
Maria Antônia D. Ramos Pires3

RESUMO
O comércio exterior possibilita uma análise dupla, do ponto de vista macroeconômico. De um lado, mostra o
padrão de inserção comercial de um país em âmbito internacional; de outro, exibe indiretamente o grau de aptidão
comercial e o grau de dependência nacional em relação a produtos básicos. Nessa esteira, busca-se, com as
premissas explicitadas, analisar o comportamento do valor FOB em US$ das exportações de produtos agrícolas
brasileiros no período de 1997-2017. A pesquisa caracterizou-se como sendo uma análise de previsão, para
entender o comportamento dos preços em determinado período. Dessa forma, a natureza quantitativa permite a
coleta dos dados na plataforma em Excel 2000 institulada como Comex Vis, sendo selecionadas seis variáveis
categóricas para posterior construção da base de dados aplicada nesta pesquisa, contendo 249 observações para
análise estatística descritiva e temporal. Os resultados deste trabalho permitem traçar um panorama
comportamental para os produtos selecionados no comércio internacional brasileiro, bem como indicar qual o
principal produto exportado e a ser exportado nos próximos dez anos. Poderá contribuir, desta forma, com
indicações de possibilidades relacionadas à implementação de políticas comerciais e de Estado.
Palavras-chave: exportações; agronegócios; sazonalidade

1 INTRODUÇÃO
O comércio é uma atividade econômica que consiste em adquirir bens e serviços de
produtores e revendê-los a compradores. Dessa forma a dependência de produtos e serviços de
outras regiões ou países surgiu da necessidade de trocas comerciais devido à carência de
determinados produtos ou serviços. A comercialização não se restringe ao produto ou serviço,
mas em uma análise ampla a todos os processos, possibilitando a diversidade de valores
agregados que proporcionam competitividade para cada território.
No caso do Brasil, para Rodrigues, a abertura de mercados de forma maciça deu-se no
início dos anos 90 durante o Governo Collor:

No início dos anos 90, o Governo Collor deu uma brusca guinada na política de
importações, encerrando a era das “reservas de mercado” e expondo a economia
brasileira à concorrência internacional, resultando em rápidas mudanças no
comportamento da sociedade brasileira. Não dispor de matéria-prima no momento
exato, o excessivo número de pequenos pedidos de compras, a obsolescência e/ou
deterioração dos bens e a má coordenação do transporte foram identificados como
fatores de elevação de custos, capazes de quebrar os mais despreparados. (2011,
p.159)

Com a estabilização da moeda, com a nova ordem mercadológica, o empresário


brasileiro e o Governo Federal, viram a necessidade de estabelecer uma nova estratégia
comercial para aumentarem a inserção no mercado internacional. Neste momento foi
importante criar uma operação integrada, flexível, dinâmica e global, como também elaborar

1
Doutoranda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.
2
Doutoranda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.
3
Mestranda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.
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158
políticas públicas capazes de auxiliarem no crescimento competitivo do país, principalmente
após a criação do Mercado Comum do Sul, o qual intensificou os fluxos comerciais regionais.
A partir de 2000, o comércio exterior brasileiro aumentou num ritmo mais vigoroso. O
crescimento econômico mundial, o aumento dos preços internacionais de produtos básicos, a
diversificação dos mercados importadores e a maior produtividade da indústria nacional são
fatores que favoreceram o dinamismo das exportações brasileiras, que passou a atingir
sucessivos recordes (MDIC, 2017).
O comércio exterior possibilita uma análise dupla, do ponto de vista macroeconômico.
De um lado, mostra o padrão de inserção comercial de um país em âmbito internacional; de
outro, exibe indiretamente o grau de aptidão comercial e o grau de dependência nacional em
relação a produtos básicos. Nessa esteira, busca-se, com as premissas explicitadas, analisar o
comportamento do valor FOB em US$ das exportações de produtos agrícolas brasileiros no
período de 1997-2017.
A pesquisa caracterizou-se como sendo uma análise de previsão, para entender o
comportamento dos preços em determinado período. Dessa forma, a natureza quantitativa
permite a coleta dos dados na plataforma em Excel 2000 institulada como Comex Vis, sendo
selecionadas seis variáveis categóricas para posterior construção da base de dados aplicada
nesta pesquisa, contendo 249 observações para análise estatística descritiva e temporal.
Na primeira seção, são apresentadas as premissas do estudo. Na seção 2 é apresentado
o referencial teórico e na seção 3, é introduzida a base de dados e a metodologia empregada
neste estudo. Na seção 4 são discutidos os resultados analisados. Por último, conclui-se este
trabalho com alguns comentários finais.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Agronegócio Mundial
No que concerne ao fornecimento de alimentos para a população, pela perspectiva da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2017), a insegurança
alimentar continuará a ser uma preocupação global crucial e a coexistência de subnutrição,
suscita novos desafios em distintos países. Alcançar a segurança alimentar global nos próximos
40 anos exigirá aumentos sustentados na produtividade agrícola. Isso exigirá um maior
investimento em P & D agrícola (SMYTH et al., 2015).
Diante disso, é inegável a crescente demanda por alimentos no mundo, cujas estimativas
correspondem a um aumento de 60% nas próximas décadas. Não obstante, aspectos como
disponibilidade, acessibilidade, utilização e estabilidade configuram-se como os pilares da
segurança alimentar a partir desse novo cenário (FAO, 2016).
O crescimento econômico mundial, o aumento dos preços internacionais de produtos
básicos, a diversificação dos mercados importadores e a maior produtividade da indústria
nacional são fatores que favoreceram o dinamismo das exportações brasileiras, que passou a
atingir sucessivos recordes (MDIC, 2017).
O Brasil está entre as dez maiores economias mundiais, com um PIB de mais de US$ 2
trilhões em 2013. As exportações agrícolas do Brasil desempenham um papel importante nos
mercados internacionais, sendo o segundo maior exportador agrícola mundial e o maior
fornecedor de açúcar, suco de laranja e café. As perspectivas da agricultura brasileira
permanecem positivas e as safras do Brasil devem continuar crescendo com base no
crescimento da produção e do aumento da área agrícola (OCDE, 2015).

2.2 Séries temporais


Uma série temporal é uma sequência de observações feitas em um período de tempo,
sendo que a análise de séries temporais constitui-se de um método quantitativo de previsão que
realiza a projeção de valores futuros de uma variável, fundamentada eminentemente nas suas
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159
observações passadas, organizadas de forma sequencial e em intervalos de tempo específicos
escolhidos (BOX; JENKINS; REINZEL, 1994).
Essa análise se aplica nos casos em que há um padrão persistente ou sistemático no
comportamento da variável, que é possível de captar através de uma representação paramétrica
(PINDYCK; RUBENFIELD, 1991).
De um modo geral, os principais objetivos em se estudar séries temporais podem ser os
seguintes (EHLERS, 2007):
− descrição: descreve propriedades da série, o padrão de tendência, existência de
variação sazonal ou cíclica, observações discrepantes (outliers), alterações
estruturais (ex. mudanças no padrão da tendência ou da sazonalidade), etc.
− explicação: usa a variação em uma série para explicar a variação em outra série.
− predição: prediz valores futuros com base em valores passados. Aqui assumisse que
o futuro envolve incerteza, ou seja as previsões não são perfeitas. Porém é
necessário tentar reduzir os erros de previsão.
− controle: os valores da série temporal medem a “qualidade” de um processo de
manufatura e o objetivo é o controle do processo. Um exemplo é o controle
estatístico de qualidade aonde as observações são representadas em cartas
de controle.
As abordagens podem ser feitas utilizando-se métodos de:
− técnicas descritivas: gráficos, identificação de padrões, etc;
− modelos probabilísticos: seleção, comparação e adequação de modelos, estimação e
predição;
− análise espectral: tem como interesse básico a identificação da periodicidade dos
dados;
− métodos não paramétricos: (alisamento ou suavização) como o modelo de suavização
exponencial sazonal Holt-Winters;
− outras abordagens: modelos de espaço de estados, modelos não lineares, séries
multivariadas, estudos longitudinais, processos de longa
dependência, modelos para volatilidade, etc.

3 METODOLOGIA
A pesquisa científica é vista como um processo formal e sistemático de aplicação do
método, tendo como objetivo principal descobrir as respostas aos problemas usando
procedimentos científicos (GIL, 1999).
A pesquisa realizada configura-se como quantitativa quanto a abordagem do problema
e descritiva no que concerne a finalidade. Sendo que, a abordagem quantitativa do problema
caracteriza-se pela utilização da quantificação, tanto na coleta quanto no tratamento das
informações, por meio de técnicas estatísticas (RICHARDSON, 1999; MARCONI;
LAKATOS, 2011), e descritiva no que concerne a finalidade tem por objetivo a descrição das
características que se estabelecem nas variáveis envolvidas, buscando descobrir a existência de
associações entre elas (GIL, 1999).
Como fonte de dados, utiliza-se a base de dados do grupo de produtos para exportação,
obtida pelo projeto Comex Vis4 do Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços,
localizado no website desse Ministério. Como interesse de análise, obteve-se os dados de
exportação entre 1997 e 2017, da soma de US$ valor FOB, ou seja, o valor de exportação de

4O Comex Vis é um projeto da Secretaria de Comércio Exterior que disponibilizará representações


gráficas e interativas de dados do comércio exterior brasileiro. O projeto tem como objetivo auxiliar na
análise e na comunicação dos dados de comércio exterior, possibilitando maior facilidade e transparência
na exploração dessas informações por meio de visualizações (MDIC, 2018).
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160
mercadoria sem os custos logísticos internacionais. Com base no Ranking das séries históricas
do Comex Vis, grupo de produtos: exportação, selecionamos os principais produtos do
agronegócio, como também o produto com menor índice de exportação. os quais foram
selecionados e citados em ordem decrescente, e continham valores nos anos propostos para
análise. Os produtos selecionados foram:
a) Soja mesmo triturada;
b) Carne de frango congelada, fresca ou refrigerada incluindo miúdos;
c) Farelo e resíduos da extração de óleo de soja;
d) Carne de bovino congelada, fresca ou refrigerada;
e) Café cru em grão;
f) Ovos.
Desta forma, foi considerado esses produtos como as variáveis do estudo, sendo
variáveis numéricas medidas em dólar. Em relação as observações, do período de janeiro de
1997 a outubro de 2017 foi possível extrair 249 observações. Nesse sentido, a base de dados
foi organizada em uma planilha de Excel, em forma de tabela fechada, contendo em sua coluna
as seis variáveis, e nas linhas as 249 observações.
Conseguinte, empregou-se a estatística descritiva por meio de medidas de localização
(média, média interna, moda e mediana) e medidas de variabilidade (mínimo máximo,
amplitude, desvio médio, desvio padrão, variância e coeficiente de variação). Após, foi
realizada o estudo de previsão da série temporal de US$ valor FOB, de cada produto, com um
tempo de previsão até outubro de 2027.
Para organização dos dados utilizaram-se planilhas eletrônicas da Microsoft Office
Excel, para operacionalização dos testes estatísticos, estatística descritiva, adotou-se o software
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0 e para a análise de previsão foi
utilizado a Microsoft Office Excel, com um intervalo de confiança de 95%.

4 ANÁLISES ESTATÍSTICAS
4.1 Análise Descritiva
Com base na problemática da pesquisa, foi realizada a representação gráfica dos valores
ao longo do tempo de todos os produtos. A figura 1 ilustra a distribuição temporal da soja
mesmo triturada.

Figura 1 - Distribuição temporal da soja mesmo triturada


4.500.000.000,00
4.000.000.000,00
3.500.000.000,00
3.000.000.000,00
2.500.000.000,00
2.000.000.000,00
1.500.000.000,00
1.000.000.000,00
500.000.000,00
0,00
jan/97

jan/00

jan/03

jan/06

jan/09

jan/12

jan/15
abr/05
jul/98
abr/99

jul/01
abr/02

jul/04

jul/07
abr/08

jul/10
abr/11

jul/13
abr/14

jul/16
abr/17
out/15
out/97

out/00

out/03

out/06

out/09

out/12

Fonte: Dados da Pesquisa

Percebe-se um crescimento ao longo do tempo, sendo que, nos abril, maio e junho há
um aumento nos valores e nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro observa-se os menores
valores.
A figura 2 apresenta a distribuição temporal da carne de frango congelada, fresca ou
refrigerada incluído os miúdos.

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161
Figura 2 - Distribuição temporal da carne de frango congelada, fresca ou refrigerada incluído
os miúdos.
700.000.000,00
600.000.000,00
500.000.000,00
400.000.000,00
300.000.000,00
200.000.000,00
100.000.000,00
0,00
jan/97

jan/00

jan/03

jan/06

jan/09

jan/12

jan/15
abr/05
abr/99

abr/02

abr/08

abr/11

abr/14

abr/17
out/97
jul/98

out/00
jul/01

out/03
jul/04

out/06
jul/07

out/09
jul/10

out/12
jul/13

out/15
jul/16
Fonte: Dados da Pesquisa

Observa-se um crescimento ao longo do período, porém nos meses de janeiro de


fevereiro observa-se um decréscimo nos valores.
A figura 3 apresenta a distribuição temporal do farelo e resíduos da extração de óleo de
soja. Em linhas gerais, observa-se um aumento no valor das exportações sendo que os meses
de janeiro e fevereiro correspondem aos menores valores e os meses de maio e setembro há um
aumento.

Figura 3 - Distribuição temporal do farelo e resíduos da extração de óleo de soja


1.000.000.000,00
800.000.000,00
600.000.000,00
400.000.000,00
200.000.000,00
0,00
jan/97

set/98

jan/02

set/03

jan/07

set/08

jan/12

set/13

jan/17
mai/15
mai/00

mai/05

nov/07

mai/10
nov/97

jul/99

nov/02

jul/04

jul/09

nov/12

jul/14
mar/01

mar/06

mar/11

mar/16

Fonte: Dados da Pesquisa


A figura 4 representa a distribuição temporal da carne de bovino congelada, fresca ou
refrigerada, onde há um crescimento ao longo do tempo e observa-se que, de forma geral, o
mês de janeiro apresenta os menores valores

Figura 4 - Distribuição temporal da carne de bovino congelada, fresca ou refrigerada.


600.000.000,00
500.000.000,00
400.000.000,00
300.000.000,00
200.000.000,00
100.000.000,00
0,00
ago/04

dez/08

ago/17
mai/01

nov/07
fev/98
mar/99

jun/02

fev/11

mai/14
jun/15
jan/97

abr/00

mar/12
jul/03

jan/10

abr/13

jul/16
set/05
out/06

Fonte: Dados da Pesquisa

A figura 5 representa a distribuição temporal do café cru em grãos. Observa-se o maior


valor em 2011 e um decréscimo nos valores a partir do ano de 2012.

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162
Figura 5 - Distribuição temporal do café cru em grãos.
800.000.000,00
600.000.000,00
400.000.000,00
200.000.000,00
0,00

jun/03

jun/14
nov/09
abr/05

mai/15
abr/16
nov/98

jul/02

mar/06
fev/07

ago/12
mai/04

jul/13

mar/17
dez/97

out/99
set/00

dez/08

out/10
set/11
jan/97

ago/01

jan/08
Fonte: Dados da Pesquisa

A figura 6 representa a distribuição temporal do ovo. Observa-se o maior valor em 2011


e um decréscimo nos valores a partir do ano de 2012.

Figura 6 - Distribuição temporal do ovo.


14.000.000,00
12.000.000,00
10.000.000,00
8.000.000,00
6.000.000,00
4.000.000,00
2.000.000,00
0,00
jun/03

jun/14
nov/98

jul/02

abr/05

nov/09

jul/13

abr/16
dez/97

out/99

mar/06

dez/08

out/10

mar/17
jan/97

set/00
ago/01

mai/04

fev/07
jan/08

set/11
ago/12

mai/15
Fonte: Dados da Pesquisa

Com base na distribuição temporal de cada produto, foi feito a junção das cinco
variáveis para demonstração em conjunto. A figura 7 apresenta a distribuição temporal dos
produtos.

Figura 7 – Distribuição temporal dos produtos


30.000.000.000,00
25.000.000.000,00
20.000.000.000,00
15.000.000.000,00
10.000.000.000,00
5.000.000.000,00
0,00

Soja mesmo triturada Carne de frango congelada, fresca ou refrig.incl.miudos

Farelo e resíduos da extração de óleo de soja Carne de bovino congelada, fresca ou refrigerada

Café cru em grão Ovos

Fonte: Dados da Pesquisa

4.2 Análise Temporal


Após a análise descritiva, aplicou-se a previsão temporal, utilizando o software Office
Excel 2010, para se discutir o comportamento do valor FOB em US$ das variáveis selecionadas.
Nesse sentido, a figura 8 apresenta a análise de previsão valor FOB em US$ para soja, mesmo
triturada, até outubro de 2027. A análise estabelece a previsão bem como o um limite de
confiança superior e inferior. O valor FOB em US$ da soja mesmo triturada pode chegar a US$
5.056.522.885,61 e a US$ 339.112.401,23 nos períodos de menor valor, dentro de um limite de

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163
confiança no último ano de US$ 7.049.607.091,42 a US$ -676.141.310,03, sendo o produto que
apresenta maior variação.
A previsão apresenta uma tendência de crescimento e segue um padrão dos anos
anteriores. Vale salientar que quanto maior o tempo da previsão mais amplo é o limite de
confiança.

Figura 8 – Análise de previsão valor FOB em US$ para Soja mesmo triturada.
8.000.000.000,00
6.000.000.000,00
4.000.000.000,00
2.000.000.000,00
0,00
-2.000.000.000,00
jan/97
jan/98
jan/99
jan/00
jan/01
jan/02
jan/03
jan/04
jan/05
jan/06
jan/07
jan/08
jan/09
jan/10
jan/11
jan/12
jan/13
jan/14
jan/15
jan/16
jan/17
jan/18
jan/19
jan/20
jan/21
jan/22
jan/23
jan/24
jan/25
jan/26
jan/27
Soja mesmo triturada Previsão( Soja mesmo triturada )

Limite de Confiança Inferior( Soja mesmo triturada ) Limite de Confiança Superior( Soja mesmo triturada )

Fonte: Dados da Pesquisa

Para a OCDE (2015) a soja deve continuar sendo o produto agrícola do Brasil mais
importante e deve continuar sendo o produto de exportação mais lucrativo com mais de metade
da produção brasileira destinada aos mercados mundiais.
A figura 9 apresenta a análise de previsão valor FOB em US$ para Carne de frango
congelada, fresca ou refrigerada incluindo miúdos, sendo que pode chegar a US$
904.313.018,38 nos meses de maior valor e a US$ 516.009.888,44 nos meses de menor, tendo
um limite de confiança entre US$ 1.809.238.485,59 e US$ -97.223.277,06.

Figura 9 – Análise de previsão valor FOB em US$ para Carne de frango congelada, fresca ou
refrigerada incluindo miúdos.
2.000.000.000,00

1.500.000.000,00

1.000.000.000,00

500.000.000,00

0,00

-500.000.000,00
jan/97
jan/98
jan/99
jan/00
jan/01
jan/02
jan/03
jan/04
jan/05
jan/06
jan/07
jan/08
jan/09
jan/10
jan/11
jan/12
jan/13
jan/14
jan/15
jan/16
jan/17
jan/18
jan/19
jan/20
jan/21
jan/22
jan/23
jan/24
jan/25
jan/26
jan/27

Carne de frango congelada, fresca ou refrig.incl.miudos

Previsão(Carne de frango congelada, fresca ou refrig.incl.miudos )

Limite de Confiança Inferior(Carne de frango congelada, fresca ou refrig.incl.miudos )

Limite de Confiança Superior(Carne de frango congelada, fresca ou refrig.incl.miudos )

Fonte: Dados da Pesquisa


Para a OCDE, (2015) o setor avícola deverá ser capaz de atender a demanda mundial
crescente fornecendo exportação sustentada. As exportações devem continuar expandindo
durante todo o período da projeção atingindo 5,3 Mt em 2024 o que levará a presença do Brasil
no mercado mundial de carne de aves para acima de 31%.

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164
Já a figura 10, apresenta a análise de previsão valor FOB em US$ para farelo e resíduos
da extração de óleo de soja, com um valor máximo de US$ 674.067.808,77 e mínimo de US$
204.419.412,67, dentro do limite de confiança superior de US$ 1.262.633.947,08 e inferior US$
-254.048.074,83

Figura 10 – Análise de previsão valor FOB em US$ para Farelo e resíduos da extração de
óleo de soja.
1.400.000.000,00
1.200.000.000,00
1.000.000.000,00
800.000.000,00
600.000.000,00
400.000.000,00
200.000.000,00
0,00
-200.000.000,00
-400.000.000,00
jul/02
jun/03

abr/05

jun/14

abr/16

jun/25

abr/27
nov/98

mar/06

nov/09

jul/13

mar/17

nov/20

jul/24
dez/97

out/99
set/00

fev/07

dez/08

out/10
set/11

fev/18

dez/19

out/21
set/22
mai/04
jan/97

ago/01

jan/08

ago/12

mai/15

jan/19

ago/23

mai/26
Farelo e resíduos da extração de óleo de soja
Previsão( Farelo e resíduos da extração de óleo de soja )
Limite de Confiança Inferior( Farelo e resíduos da extração de óleo de soja )
Limite de Confiança Superior( Farelo e resíduos da extração de óleo de soja )
Fonte:
Dados da Pesquisa

Na Figura 11 a análise de previsão valor FOB em US$ para Carne de bovino congelada,
fresca ou refrigerada apresenta um valor máximo de US$ 859.534.612,49 e mínimo de US$
467.009.125,82, dentro do limite de confiança superior de US$ 1.337.447.352,49 e inferior US$
220.165.373,28, sendo o único produto que não apresenta valor negativo em suas previsões.

Figura 11– Análise de previsão valor FOB em US$ para Carne de bovino congelada, fresca ou
refrigerada.
1.500.000.000,00

1.000.000.000,00

500.000.000,00

0,00
jan/97
jan/98
jan/99
jan/00
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jan/03
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jan/10
jan/11
jan/12
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jan/19
jan/20
jan/21
jan/22
jan/23
jan/24
jan/25
jan/26
jan/27

Carne de bovino congelada, fresca ou refrigerada

Previsão( Carne de bovino congelada, fresca ou refrigerada )

Fonte: Dados da Pesquisa

Nesse sentido, para a OCDE (2015), a expansão do rebanho bovino brasileiro, associada
à forte demanda internacional e à desvalorização do real, provavelmente manterá a carne bovina
brasileira altamente competitiva no mercado mundial.
A figura 12 mostra a análise de previsão valor FOB em US$ para Café cru em grão. Na
previsão o máximo de valor FOB seria US$ 616.240.466,39 e o mínimo de US$
434.463.591,15, dentro do limite de confiança superior de US$ 1.588.284.974,99 e inferior US$
-355.804.042,22.

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165
Figura 12 – Análise de previsão valor FOB em US$ para Café cru em grão.
2.000.000.000,00
1.500.000.000,00
1.000.000.000,00
500.000.000,00
0,00
-500.000.000,00
jan/97
jan/98
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jan/00
jan/01
jan/02
jan/03
jan/04
jan/05
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jan/10
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jan/23
jan/24
jan/25
jan/26
jan/27
Café cru em grão Previsão(Café cru em grão )

Limite de Confiança Inferior(Café cru em grão ) Limite de Confiança Superior(Café cru em grão )

Fonte: Dados da Pesquisa

A figura 13 mostra a análise de previsão valor FOB em US$ para ovos. Na previsão o
máximo de valor FOB seria US$ 8.159.154,40 e o mínimo de US$ 5.035.581,55, dentro do
limite de confiança superior de US$ 22.486.704,33 e inferior US$ -6.168.395,52.
Figura 13 – Análise de previsão valor FOB em US$ para ovos.
25.000.000,00
20.000.000,00
15.000.000,00
10.000.000,00
5.000.000,00
0,00
-5.000.000,00
-10.000.000,00
jun/02

jun/15
abr/00

abr/13

abr/26
dez/08
mar/99
fev/98

mai/01

jul/03
ago/04

nov/07

mar/12
set/05
out/06

fev/11

mai/14

jul/16
ago/17

nov/20

mar/25
set/18
out/19

dez/21

fev/24
jan/97

jan/10

jan/23
Ovos Previsão(Ovos)
Limite de Confiança Inferior(Ovos) Limite de Confiança Superior(Ovos)

Fonte: Dados da Pesquisa

Vale ressaltar que, de todos os produtos analisados, o café é o produto que apresenta a
menor variação, mesmo assim existe a tendência de crescimento ao longo dos anos.
O crescimento do café é corroborado pela OCDE (2015) que prevê a produção de café
deva alcançar 61 milhões de sacas de 60 kg em 2023/24, 25% acima de 2013/14. Esse
crescimento reflete aumentos constantes na produção sustentada por maiores investimentos e
melhor gestão de cultivo. Além disso, existe um escopo considerável para expansão da
produção entre os pequenos agricultores. As exportações de café devem crescer de 25%
consolidando assim o Brasil como o principal produtor e exportador mundial.
Com relação ao produto menos exportado, os ovos tiveram um incremento de 56,06%
em suas exportações. Esse crescimento deveu-se as inovações tecnológicas que propiciaram o
aumento da oferta do produto ao mercado consumidor como uma proteína de origem animal de
grande valor nutricional, ou seja, uma alternativa saudável à carne vermelha (SHINI et al.,
2010).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme a análise descritiva, a soja mesmo triturada, obteve como resultado, o maior
valor FOB temporal crescente de 1997 à 2017. Este mesmo produto demonstrou estar em
disparidade com as demais variáveis, tanto em sua média quanto em sua mediana.

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166
Observando as figuras das análises temporais, a possibilidade de variações sazonais é
bem clara nos cinco produtos selecionados, sendo estes em ápice nos períodos de safra. Além
disso, há tendência de crescimento é claramente não-estacionária, sendo diferentes entre as
variáveis. Estes também apresentam uma clara tendência positiva que parece acelerar-se no
final da série, tendo uma maior dispersão na medida que toma maiores valores.
Os resultados deste trabalho permitem traçar um panorama comportamental para os
produtos selecionados no comércio internacional brasileiro, bem como indicar qual o principal
produto exportado e a ser exportado nos próximos dez anos. Poderá contribuir, desta forma,
com indicações de possibilidades relacionadas à implementação de políticas comerciais e de
Estado.
Para pesquisas futuras, recomenda-se a realização de investigações com outros produtos
do agronegócio brasileiro e a comparação de estudos entre países.

REFERÊNCIAS
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control. 3. ed. New Jersey: Prentice Hall, 1994.
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vis. Disponível em: < http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-
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<http://www.desenvolvimento.gov.br/portalmdic/>. Acesso em: 18 nov. 2017.
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Disponível em: < http:// www.agri-outlook.org>. Acesso em: 16 set. 2017
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Acesso em: 16 set. 2017
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RODRIGUES, Paulo Roberto Ambrosio. Introdução aos sistemas de transportes no Brasil
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SHINI, S. et al. Understanding stress-induced immunosuppression: Exploration of
cytokine and chemokine gene profiles in chicken peripheral leukocytes. Poultry Science, [s.
l.], v. 89, n. 4, p. 841–851, 2010.

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167
Fatores determinantes da estratégia de preços da soja através da
Regressão Ridge

Determining factors of soybean price strategy through Ridge


Regression
Maurício de Conto Maschke1, Jaqueline Berdian de Oliveira2, Rangel de Matos3, André da
Silva Pereira4

Resumo
No contexto mundial e nacional, a soja representa uma das principais commodities agrícolas. No Brasil, a produção
da oleaginosa está entre as atividades econômicas que contribuem positivamente para a balança comercial. Nesse
sentido, o estudo tem como objetivo analisar os fatores determinantes da estratégia de preços da soja através da
Regressão Ridge. Como procedimentos metodológicos, os dados são de natureza quantitativa e utilizado o modelo
de regressão linear múltipla e Regressão Ridge. Como dados significativos do estudo, destacam-se a precificação
sofre influências da oferta e demanda, podendo ser citadas como exemplo as produções, exportações, importações
e estoques finais. Tais informações são reportadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)
através de relatórios mensais, sendo assim procura-se corrigir a multicolinearidade através dos modelos ridge trace
e Regressão Ridge, desenvolvendo testes que melhor forneçam uma previsibilidade do preço da soja, possuindo
então uma previsão de quanto será a variação da soja até o final do dia.
Palavras-chave: Soja, Regressão Ridge, Commodity, Mercado.

Abstract
In the world and national context, soy represents one of the main agricultural commodities. In Brazil, oilseed
production is among the activities that contribute positively to a trade balance. In this sense, the objective of this
study is to analyze the determinants of the soybean strategy through the Serra do Regressão. The data are
methodological, the data are quantitative in nature and the linear regression model and the regression line are
used. As the data are from the study, the influences of supply and supply stand out, and can be cited as examples
of productions, sales, imports and final inventories. This information is reported monthly by the US Department
of Agriculture (USDA), thus seeking a multicollinearity through the ridge and regression models, developing the
testicles that best provide a predictability of soybean prices, and then having a week of duration will be a variation
of the soybean until the end of the day.
Keywords: Soybean, Ridge Regression, Commodity, Market.

1. Introdução
No contexto mundial e nacional a soja está inserida como uma das principais culturas
agrícolas. No Brasil, a produção da oleaginosa está entre as atividades econômicas que
apresentaram crescimentos mais expressivos nas últimas décadas. O Brasil figura como o
segundo maior produtor mundial de soja, atrás apenas dos EUA. Segundo dados da Embrapa
(2018), na safra 2016/2017 a cultura ocupou uma área de 33,89 milhões de hectares, o que
totalizou uma produção média de 114 milhões de toneladas, observando os dados que conferem
a significativa participação na oferta e na demanda do produto no contexto mundial.
Amplamente difundida nas variadas formas de utilização em diferentes segmentos, o
complexo agroindustrial da soja tem expressiva importância socioeconômica para o Brasil.
Movimenta um grande número de agentes e organizações ligados aos mais diversos setores

1Economista – Universidade de Passo Fundo (UPF) endereço eletrônico autor1


2Administradora pela Universidade Regional Integrada Campos de Erechim (URI) e aluna do Programa de
Pós-graduação em administração (UPF)- 176217@upf.br
3
Contador pela Universidade de Passo Fundo (UPF) Pós Graduação MBA Executivo Instituto de
Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai (IDEAU)- rangel_matos93@hotmail.com
4
Economista (USU), Mestre e Doutor em Economia (UFRGS), e professor do Programa de Pós-graduação em
Administração Universidade de Passo Fundo. andresp@upf.br
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168
socioeconômicos do país, tais como empresas de P&D, fornecedores de insumos, indústrias de
máquinas e equipamentos, produtores rurais, cooperativas agropecuárias, processadoras,
produtores de óleo, fabricantes de ração e usinas de biodiesel, dentre outras, transformando-se
em um complexo gerador de riquezas, empregos e divisas (EMBRAPA,2010).
Há vários tipos de mercado onde podem ocorrer as negociações da soja. A formação do
preço interno da oleaginosa possui uma estreita relação com o referencial da Bolsa de Chicago
(CBOT). Além disso, os relatórios de safra disponibilizados pelo Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos (USDA) oferecem aos agricultores, empresas do agronegócio e
participantes do mercado de futuros uma ideia da direção do mercado. Uma vez que mercados
consolidados são utilizados como referência na descoberta de preços pelos agentes em todo o
mundo, esses deveriam refletir as informações de maneira eficiente, já que os mercados
mundiais são interligados e as informações estão disponíveis a todos os agentes.
Assim, considerando a importância da leguminosa para a economia nacional e a
significativa atenção que deve ser desprendida pelos diversos agentes e segmentos de mercado
na observação dos indicativos econômicos no processo de planejamento e na tomada de decisão
para a devida comercialização da soja, o estudo tem como objetivo analisar os fatores
determinantes da estratégia de preços da soja através da Regressão Ridge.

2 Referencial Teórico
Essa seção tem como objetivo apresentar os principais elementos teóricos que sustentam
a discussão e análise dos dados.

2.1 O agronegócio da soja


Partindo do preceito de que a soja é uma unidade do agronegócio e uma expressão da
agricultura moderna, pode-se concluir que grande parte daquilo que é válido para o agronegócio
como um todo, deve valer também para o complexo soja.
O Agronegócio é uma expressão traduzida do inglês agribusiness, o qual consiste em
negócios no setor da agropecuária e pode ter suas origens creditadas ao trabalho de Davis e
Goldberg (1957) em que conceituavam o termo agribusiness. Por agronegócio compreende-se
tudo o que envolve desde a fabricação dos insumos essenciais, produção agrícola, os
procedimentos que envolvem a produção até chegar ao consumidor final havendo qualidade e
satisfação do mesmo (BIALOSKORSKI NETO, 1994).
O agronegócio é um segmento que vem crescendo constantemente no Brasil, atingindo
grande representatividade econômica. Conforme ressaltam Buainain e Souza Filho (2001) é
incontestável o potencial e os efeitos confiantes das atividades agropecuárias perante o
desenvolvimento do setor contribuindo para o crescimento do país. O dinamismo expressivo
do agronegócio no país, tem sido um dos tópicos mais pertinentes da economia nos últimos
anos, o qual destaca-se não somente no campo e indústria, mas também, nas cadeias de negócios
envolvidos.
A soja, como exemplo de agronegócio, gera a cada safra expectativas de negócios
rentáveis nos mais variados setores correlatos, tanto na economia interna, quanto na externa.
Neste contexto, o complexo de soja – grão, farelo e óleo - aparece como uma das maiores
cadeias agroindustriais do Brasil, seu principal destino é o processamento do grão em óleo e
proteína. Do grão esmagado, aproximadamente 80% é convertido em farelo e o restante em
óleo. O farelo é o insumo fundamental para a produção de aves, ovos e suínos enquanto o óleo
tem ampla utilização na indústria e na produção de biodiesel. A intensificação do esmagamento
da soja tem provocado um vínculo crescente entre a indústria, a agricultura e a pecuária.
(EMBRAPA, 2010).

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169
A soja é uma das culturas mais difundidas no mundo. Apesar da sua grande importância
econômica no mercado mundial, a importação da soja em grão limita-se a poucos países. A
Tabela 1 ilustra a importação do grão no mercado mundial nas safras 2016/2017 e 2017/2018.

Tabela 1. Importação soja mundial (em milhões toneladas)


2017/2018 2017/2018
2016/2017 Variação (a/c) Variação (b/c)
País/Safra abr. mai.
(a) (b) (c) Abs. (%) Abs. (%)
China 93,50 97,00 97,00 3,51 3,75 0,00 0,00
União Europeia 13,42 14,00 14,00 0,58 4,35 0,00 0,00
México 4,13 4,25 4,40 0,27 6,64 0,15 3,53
Japão 3,18 3,25 3,25 0,08 2,36 0,00 0,00
Outros 30,12 32,77 33,06 2,94 9,78 0,29 0,88
Total 144,33 151,27 151,71 7,38 5,11 0,44 0,29
Fonte: USDA (maio/2018).

De acordo com a Tabela 1, percebe-se que a China e a União Europeia


respondem juntas com cerca de 74%, segundo dados do USDA, na safra
2016/2017 e aproximadamente 73% na safra 2017/2018. Apenas a China
representa quase 65% das importações mundiais da soja em grão, segundo o
departamento norte-americano, demonstrando a tamanha relevância que este país
representa no mercado mundial da oleaginosa.
Assim, qualquer oscilação na economia chinesa que comprometa o fluxo
da sua demanda da soja pode, portanto, comprometer o quadro de oferta e
demanda mundial da commodity.
A produção de soja mundial limita-se a poucos países. A maior parte da
produção é realizada pelos Estados Unidos, Brasil, Argentina e a China. A Tabela
2 apresenta a produção mundial dos principais países produtores, em milhões de
toneladas na safra 2016/2017 e 2017/2018.

Tabela 2. Produção soja mundial (em milhões toneladas)


2017/2018 2017/2018
2016/2017 Variação (a/c) Variação (b/c)
País/Safra abr. mai.
(a) (b) (c) Abs. (%) Abs. (%)
Estados Unidos 116,92 119,52 119,52 2,60 2,22 0,00 0,00
Brasil 114,10 113,00 115,00 0,90 0,79 2,00 1,77
Argentina 57,80 47,00 40,00 -17,80 -30,80 -7,00 -14,89
China 12,90 14,20 14,20 1,30 10,08 0,00 0,00
Outros 49,04 47,14 46,09 -2,95 -6,02 -1,05 -2,23
Total 350,76 340,86 334,81 -15,95 -4,55 -6,05 -1,77
Fonte: USDA (maio/2018).

De acordo com os dados apresentados na Tabela 2, o principal produtor de soja é os


Estados Unidos que sozinho representa 33,33% da safra mundial de 2016/17. O Brasil é o
segundo colocado com 32,52% e Argentina com 16,47%. Juntos, os três países, são
responsáveis por aproximadamente 82% da safra mundial.

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170
2.2 Os mercados da soja
As negociações da soja podem ocorrer em quatro grandes mercados. Com o intuito de
contribuir no entendimento, o Quadro 1 apresenta os tipos de mercados e as características.

Quadro 1. Tipos e características do mercado da soja.


Tipo de mercado Características
Mercado onde os produtos são negociados com pagamento à vista ou a prazo, mediante
Mercado spot
entrega imediata da mercadoria.
Mercado onde se negociam contratos a termo, especificando-se a venda ou compra
antecipada da produção, mediante preço previamente combinado entre as partes,
podendo ou não ocorrer adiantamento de recursos por conta da promessa de entrega
Mercado a termo
futura da mercadoria em local determinado. Os contratos não são padronizados, são
intransferíveis e somente poderão ser liquidados na data acordada e com a entrega da
mercadoria.
Mercado onde se negociam contratos futuros, estabelecendo-se a obrigação de compra
e venda de uma mercadoria em data futura por um preço negociado em bolsa (pregão).
Mercado futuro Os contratos são padronizados com relação aos prazos, à quantidade e à qualidade da
mercadoria, podendo ser liquidados antes do prazo de vencimento, mediante reversão da
posição assumida na bolsa (compra ou venda).
Mercado onde se negociam contratos de opções, definindo-se acordos onde uma parte,
ao pagar um valor (prêmio), adquire o direito (opção) de comprar ou vender, em data
futura, uma mercadoria a um preço negociado em bolsa. Por sua vez, a contraparte, ao
Mercado de
receber esse valor (prêmio), obriga-se a vender ou comprar essa mesma mercadoria, caso
opções
a primeira exerça o seu direito de compra ou venda. O valor do prêmio é livremente
negociado entre as partes (bolsa ou balcão), e os contratos de opções são flexíveis,
quando negociados em balcão, e padronizados, quando negociados em bolsa.
Fonte: Elaborado por Paulo D.Waquil, Marcelo Miele [e] Glauco Schultz (2010) com base em Marques; Mello;
Martine Filho, 2008; BM&F, 2007a, 2007b; Hull, 2005; Correa; Raíces, 2005; Azevedo, 2001; Silva Neto, 2002 .

O Quadro 1 demonstra que, essencialmente, são quatro grupos de operações praticadas


em todo o mundo e que são utilizadas, também, no mercado interno para a negociação da soja,
o mercado físico (spot, cash ou à vista), a termo, mercado futuro e mercado de opções.
Segundo Corrêa e Raíces (2005, p. 12), o mercado futuro e o mercado a termo possuem
muitas semelhanças, já que estão baseados na fixação de preço e liquidação futura dos
contratos, sendo o ajuste diário a diferença principal entre os dois tipos de contratos e “a forma
de reduzir o risco embutido no contrato a termo e acompanhar a variação do preço no mercado,
reduzindo o risco de inadimplência. O mercado futuro permite a redução de risco que é
conhecida como hedge.
A seguir, são abordados os três principais contratos de derivativos agrícolas: contrato a
termo, contrato futuro e contrato de opções.
O contrato a termo pode ser definido como um contrato que responsabiliza as partes
(promessa) na compra e venda dos produtos agrícolas, estabelecendo-se previamente preço,
qualidade, quantidade, data e local de entrega futura dos produtos (SILVA NETO, 2002).
Independentemente do que ocorrer com os preços dos produtos no mercado (baixa ou alta), o
vendedor e o comprador terão que honrar o compromisso assumido em contrato, ou seja, “são
obrigados a comprar ou a vender certa quantidade de uma commodity a determinado preço e
em determinada data futura” (BM&F, 2007a, p. 11).
Da evolução dos contratos a termo resultou a formação dos mercados de futuros. No
contrato futuro, as partes ficam obrigadas a comprar ou vender o objeto da negociação, ou seja,
o contrato padronizado e disponível no mercado de derivativos (bolsa), pelo preço negociado
em pregão. A diferença para o contrato a termo, além da padronização dos termos do contrato,
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é que as partes não precisam necessariamente pagar pelos produtos ou entregar a mercadoria,
podendo reverter suas posições na bolsa e sair do mercado a qualquer momento.
O contrato futuro é um compromisso de fazer ou receber entrega de uma certa
quantidade e qualidade de determinado produto, ou commodity, em horário e local de entrega
específicos no futuro. Todos os termos do contrato são padrão, com exceção do preço, que é
determinado pela oferta (ordens de venda) e pela demanda (ordens de compra). O processo de
determinação de preços ocorre através do sistema eletrônico de operações da bolsa ou em leilão
aberto no pregão de uma bolsa de commodities regulamentada (CMEGROUP, 2014).
Todos os contratos são finalmente ajustados, seja pela liquidação com uma operação
contrária (uma compra após uma venda inicial ou uma venda após uma compra inicial) ou pela
entrega da mercadoria no mercado físico. Uma transação contrária é o método mais
frequentemente usado para liquidar um contrato futuro. A entrega física acontece em menos de
2% dos casos para todos os contratos agrícolas negociados. Formado em 1848, o Chicago Board
of Trade foi um dos primeiros mercados a vender contratos futuros (CMEGROUP, 2014).
As principais funções econômicas de uma bolsa de futuros são gestão de riscos e
estabelecimento de preços. A bolsa viabiliza estas funções fornecendo um pregão e plataformas
operacionais para congregar compradores e vendedores. A bolsa também estabelece e impõe
regulamentos para assegurar a realização das operações em ambiente aberto e competitivo. A
Bolsa de Mercadorias de Chicago aparece como a principal referência para os preços
internacionais da soja. Isso porque, na Bolsa de Chicago, há uma alta concentração de ofertantes
e demandantes dos principais países produtores e importadores da oleaginosa. Assim, os preços
internos da soja possuem uma relação muito próxima com o referencial do mercado futuro -
CBOT (CMEGROUP, 2014).
Bessada, Barbedo e Araujo (2009) definem os contratos de opções como sendo uma
evolução dos contratos futuros. Diferenciam destes, porque o comprador de uma opção adquire
o direito de seu exercício (a compra ou venda da commodity fica condicionada à vontade do
possuidor da opção). Estes contratos são operados e regulados pelas bolsas de futuros e pelas
bolsas de valores (no caso de ações), mas podem também ser transacionados no mercado de
balcão.
Ainda, segundo estes autores, o preço de uma opção é um prêmio pago (ou recebido)
por adquirir (ou vender) um direito. As opções podem ser de compra (call) ou de venda (put),
sendo as duas instrumentos que dão ao seu comprador (o titular) um direito futuro sobre algo,
mas não uma obrigação; e ao seu vendedor (o lançador) uma obrigação futura em caso do titular
exercer seu direito E, por assumir esta obrigação, o lançador recebe o prêmio pago pelo titular.
Na call, o hedger se protege contra a alta dos preços do bem ou ativo, e na put, da baixa dos
preços no mercado físico.
Os principais fatores que influenciam a paridade de exportação brasileira e o preço
doméstico da soja são: cotação da soja na Bolsa de Chicago (CBOT), prêmio de exportação,
despesas portuárias, frete, câmbio, impostos e outras taxas e comissões.
Uma commodity se caracteriza como sendo um produto primário de importância global
com baixíssimo grau de diferenciação. Além disso, o produto tem padrão e cotação
internacional e pode ser negociado nas bolsas de futuro de todo o mundo (OLIVEIRA, 2007).
Outra definição que classifica commodities como produtos homogêneos, em que suas
características específicas não interferem nos preços, uma vez que são indiferenciáveis aos
olhos do consumidor. Para Machado (2010) são commodities as mercadorias primárias não
manufaturadas de grande exposição no mercado internacional e com grande importância
econômica neste mercado. Elas são padronizadas e transacionadas entre importadores e
exportadores e negociadas em bolsas de mercadorias. Segundo este autor a soja brasileira
corresponde a uma commodity agrícola.

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Existem bolsas de valores de mercados abertos específicas para negociar tais
commodities e, geralmente, sua produção é realizada em grandes escalas e sua comercialização,
dentro de um padrão de qualidade conhecido mundialmente IMEA (2015).
A soja se tornou uma das principais commodities produzidas mundialmente, e faz parte
do conjunto de atividades agrícolas com maior destaque no mercado mundial. A dinâmica do
mercado da soja é dividida em países produtores-exportadores e países consumidores-
importadores IMEA (2015).
Normalmente, as commodities são cíclicas por definição. Isso significa que a produção
é estimulada ou desestimulada de acordo com o preço. Se o preço de algum produto estiver
alto, diversos produtores se sentirão “estimulados” a produzi-lo. Se a produção for grande, os
estoques aumentam, o preço cai e, consequentemente, diversos produtores perdem o interesse
por produzir grandes volumes, fazendo com que a safra diminua. Consequentemente, os
estoques reduzem-se e o preço volta a subir. Não há uma tendência de alta nem baixa eterna,
mas sim ciclos, por isso, as commodities como a soja são consideradas cíclicas (NEHMI, 2012).
Deve-se também atentar para o fato da volatilidade do mercado da commodity soja.
Como apontado por Valliante (2013), Sarris e Schmitz (1981) e Buainain (2014), a atividade
agrícola apresenta um maior número de fatores de risco do que as demais atividades
econômicas, pois a natureza destes produtos e a diversidade de produtores faz com que os
preços de produtos agrícolas sejam naturalmente voláteis.
Como destacado por Mazoyer e Roudart (2010), é possível observar que produtos
agrícolas apresentam períodos de altos preços e períodos de baixos preços, cujo ritmo pode
variar de alguns anos a alguns decênios conforme os produtos, em uma sucessão mais ou menos
regular de períodos. Neste contexto, mercados futuros são importantes para o gerenciamento
do risco de variação de preço em mercados físicos (VALLIANTE, 2013).

2.3 Regressão Ridge


Os autores Hoerl e Kennard (1970b) foram os primeiros a aplicarem o método de
Regressão Ridge. Segundo Roozbeh e Arashi (2015), a Regressão Ridge, exerce um papel
relevante na análise de dados, uma vez que, possibilita resolver o problema de
multicolinearidade. Acompanhando o mesmo ponto de vista que Roozbeh e Araschi (2015), os
autores Bashtian, Arashi e Tabatabaey (2011), complementam que a saída apropriada para o
efeito da colinearidade é desistir dos mínimos quadrados ordinários e utilizar o método de
regressão “ridge”.
De acordo com Marquardt e Snee (2013) a Regressão Ridge possui um amplo benefício
por possuir uma demonstração gráfica, chamado de ridge trace auxiliando o analista para
identificar quais coeficientes são sensíveis aos dados, dessa forma, a análise de sensibilidade é
um meio que a Regressão Ridge desenvolve. O ridge trace é uma ferramenta para diagnosticar
graficamente, os efeitos da não ortogonalidade, através de uma imagem prontamente
interpretada podendo direcionar para uma estimativa pontualmente melhor (HOERL;
KENNARD, 1970b).
Dessa forma, por meio da regressão ridge, será possível potencializar um conjunto
estável de coeficientes, que irá proporcionar uma boa elaboração de previsão e observação
futura (MARQUARDT; SNEE, 2013). Assim, será possível uma melhor análise dos fatores
determinantes na estratégia de preços da soja, possibilitando o desenvolvimento de técnicas
estratégicas para obter melhores resultados no mercado da commodity.

3 Procedimentos Metodológicos
Visando alcançar o objetivo do estudo que foi analisar os fatores determinantes da
estratégia de preços da soja através da Regressão Ridge, foi realizada uma pesquisa quantitativa
com a aplicação de testes de hipóteses de possíveis resultados por meio de econometria. Sendo

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a pesquisa classificada como explicativa que oferece elementos que explica a conjunturas das
formações de preços da commodity soja no mercado de Chicago.
Quanto aos dados utilizados no estudo, foram utilizados relatórios mensais da USDA e
cotações da CBOT, sendo avaliada a projeção da área colhida e plantada nos Estados Unidos,
projeção de produção e exportação dos Estados Unidos, Brasil e Argentina, projeção de
importação da China, projeção dos estoques finais num contexto mundial e específico. No caso
Estados Unidos, essas informações serviram como parâmetro para a formação de preço da soja
na CBOT. O modelo de regressão múltipla e Regressão Ridge, tendo como base o bushel como
variável dependente, e como variável independente a área plantada e colhida nos Estados
Unidos, esmagamento, estoque final, produtividade, exportação e produção nos EUA, Brasil e
Argentina, importação da China, produção e estoque final mundial.
Quanto à análise dos dados e de posse dessas projeções, num primeiro momento foram
delimitadas as variáveis que foram transformadas em logaritmos e analisadas por meio do
método de regressão múltipla e teste de hipóteses. Num segundo momento, procedeu-se a
análise de multicolinearidade e, por fim, foi aplicado Regressão Ridge. Como apoio às análises,
foi utilizado o software Eviews 9.

4 Resultados e Discussão
No que se referem aos resultados alcançados neste estudo, depois de realizados os
cálculos, pode-se analisar os achados da pesquisa, o qual tem a função de distinguir se o
resultado dos testes, hipóteses é nulo, aceito ou rejeitado. Ao verificar os testes, os valores que
aparecem como significativos são as variáveis da área plantada, colhida, produtividade e
esmagamento dos Estados Unidos, as demais variáveis não são significativas.
Partindo da premissa das variáveis significativas e não significativas, procura-se
analisar através do Ridge Trace e Regressão Ridge, somente as variáveis significativas. Por
isso, qualquer informação sobre a commodity soja, referindo-se a área plantada, produzida e
colhida dos Estados Unidos, estoque final, esmagamento, exportação, rendimento de saca por
acre, produção do Brasil, da Argentina, importação da China, estoques finais e produção
mundial, influenciam no preço do bushel, de acordo com os resultados obtidos entre os testes
Ridge Trace e Regressão Ridge.
Depois de realizado a Regressão Ridge, aplica-se a comparação entre o t calculado e t
tabelado, conforme a Tabela 3.

Tabela 3. Resultado obtido do t calculado

Fonte: Dados do estudo (2016).

De acordo com a tabela 3, percebe-se que somente as variáveis produção, área colhida
e plantada dos Estados Unidos, foram significativos a 5% de significância. As demais variáveis
não se apresentaram significativas para servirem de parâmetros para explicar flutuações de

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preços. Portanto o teste 1 foi o que apresentou o melhor resultado de previsibilidade tornando-
se satisfatório, conforme os resultados de rastreamento do ridge trace e Regressão Ridge.
Sendo assim o r² (coeficiente de determinação) do teste 1, possui o resultado de
0,825271, ou seja, esta equação apresenta um grau de ajuste alto, podemos dizer que a variação
do bushel está sendo explicada em 0.825171% pelos seguintes dados: Estados Unidos (área
plantada, área colhida, esmagamento, produtividade, produção, exportação e estoque final),
Brasil (produção), Argentina (produção), China (importação) e dados mundiais de
produtividade e estoque final de soja.
O resultado final pode ser interpretado da seguinte forma: (a) para cada aumento de 1%
na área colhida dos Estados Unidos, o US$/ bushel, terá uma variação negativa de -0,977128%;
(b) para cada aumento de 1% na área plantada dos Estados Unidos, o US$/ bushel terá uma
variação negativa de -0,871364%; (c) para cada aumento de 1% do esmagamento de soja dos
Estados Unidos, o US$/ bushel terá uma variação negativa de -0,859845%; (d) para cada
aumento de 1% no estoque final de soja dos Estado Unidos, o US$/ bushel terá uma variação
negativa de -0,336986%; (e) para cada aumento de 1% no estoque final de soja mundial, o US$/
bushel terá uma variação positiva de 0,336986%; (f) para cada aumento de 1% na produção de
soja na Argentina, o US$/ bushel terá uma variação negativa de -0,009506%; (g) para cada
aumento de 1% na produção de soja no Brasil, o US$/ bushel terá uma variação negativa de -
0,423340%; (h) para cada aumento de 1% na produção de soja nos Estados Unidos, o US$/
bushel terá uma variação negativa de -0,449414%; (i) para cada aumento de 1% na
produtividade da saca de soja por acre nos Estados Unidos, o US$/ bushel terá uma variação
positiva de 0,605467%; (j) para cada aumento de 1% na produção de soja mundial, o US$/
bushel terá uma variação positiva de 0,870798%; (k) para cada aumento de 1% na importação
da China, o US$/ bushel terá uma variação positiva de 0,165138%; e, (l) para cada aumento de
1% na exportação de soja dos Estados Unidos, o US$/ bushel terá uma variação positiva de
0,440771 %.

5 Conclusões
Mediante análises dos testes e modelagem estatísticas, percebeu-se que os relatórios de
oferta e demanda da USDA são fatores determinantes para formação de preço da soja na CBOT.
Qualquer informação ditada pela USDA, indica na diminuição ou aumento da área plantada,
crescimento ou queda da área colhida, exportação, esmagamento de soja, estoque final,
produção e produtividade dos Estados Unidos, produção de soja do Brasil, produção de soja da
Argentina, importação da China, produção e estoque final mundial, determina alteração na
cotação da commodity na bolsa de Chicago.
Foi possível identificar que os Estados Unidos é o maior responsável pela formação de
preço de soja na CBOT. Brasil, Argentina e China, também influenciam na precificação desta
commodity, porém não de forma tão significativa quando comparado aos Estados Unidos.
Sendo assim, verifica-se a importância da análise fundamentalista na aplicação da
previsibilidade do preço da soja, através das informações trazidas pelo departamento de
agricultura dos Estados Unidos, no caso a USDA.
A cotação do US$/bushel foi regredida em doze variáveis, sendo que primeiramente foi
realizada a regressão múltipla, e logo foi identificada correlação entre uma variável e outra, ou
seja, há presença de multicolinearidade. A multicolinearidade pode ser corrigida pelo Ridge
Trace e Regressão Rridge, sendo assim foi proposta três testes, na qual o primeiro teste manteve
todas as variáveis, propostas neste trabalho, e os outros dois testes foram excluídos algumas
variáveis a fim de identificar qual modelo resultariam em um melhor resultado de previsão,
através de rastreamentos dos menores k possíveis.
Os três testes de Ridge Trace, apresentaram valores k de 0,02, porém ao analisar os
gráficos percebe-se que o teste 1 foi o que mais rápido se ajustou e estabilizou-se, trazendo

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valores k entre 0,02 e 0,04, já o teste dois, apresentou no gráfico a estabilização entre 0,02 e
0,05, e o teste três apresentou o pior resultado, representando valores entre 0,06 e 0,08. Dessa
forma, a análise da Regressão Ridge, também foi demonstrada o melhor resultado para o teste
1, embora que não tenha dado significativo, pois o teste 2 e 3 apresentou divergência nos sinais,
não havendo concordância com os mesmos.
Dessa forma, o teste 1 de Ridge Trace e Regressão Ridge, foram satisfatórios por
gerarem resultados de forma positiva, que possam ser aplicados na previsibilidade do preço da
soja na bolsa de Chicago, captando a variação de quando houver informações sobre oferta e/
ou demanda desta oleaginosa. Ou seja, existem fatores que influenciam de forma significativa
a estratégia de preço da soja, forçando aos produtores e vendedores do produto a desenvolverem
habilidades que o permitam conseguirem melhores resultados financeiros.

6 Referências

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Fibras Naturais Vegetais Na Indústria Têxtil Brasileira: Uma Análise
Baseada No Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho (Ecd)
Natural Vegetable Fibers in the Brazilian Textile Industry: An Analysis
Based on the Structure-Conduct-Performance Model (ECD)
Morgana Secchil1, Ana Claudia Machado Padilha2, Renata Gonçalves Rodrigues3
Resumo
A evolução apresentada pelo agronegócio brasileiro, demonstra que o setor é um dos mais importantes para a
atividade econômica do país. Dentre os produtos que se destacam nesse crescimento estão as fibras vegetais,
utilizadas pela indústria têxtil. Como a agricultura, os têxteis têm sido uma parte fundamental da vida humana
desde o início da civilização, nesse contexto, considerando a importância econômica e social atribuídas ao setor,
surge o interesse em realizar uma análise. Para embasar esse estudo, cujo objetivo consiste em analisar a utilização
das fibras naturais vegetais na indústria têxtil brasileira, elege-se o Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho
(ECD). Primeiramente foi realizada uma revisão sistemática qualitativa da literatura para identificar as principais
contribuições teóricas na abordagem em questão, que possibilitou a definição das categorias de análise de acordo
com o Modelo ECD, aplicadas nessa pesquisa. Em um segundo momento foram levantados dados secundários,
com a finalidade de analisar a utilização das fibras naturais vegetais na indústria têxtil brasileira. O estudo
evidenciou que a estrutura apresentada pelo setor, demonstra potencialidades para o crescimento da indústria têxtil
nacional. Entretanto, para conquistar desempenho satisfatório, as empresas precisam definir estratégias que
permitam uma conduta competitiva.
Palavras-chave: Estrutura-Conduta-Desempenho; fibras naturais vegetais; indústria têxtil.

Abstract
The evaluation was by the Brazilian agribusiness, demonstrating that the sector is one of the most important for
an economic economy of the country. Among the products that stand out are the fiber industries, they are
responsible for the textile industry. As an agriculture, themes have been a fundamental part of human life since
the beginning of civilization, in the context, considering the economic and social importance of the sector, the
interest arises in carrying out an analysis. To support this study, your core is to analyze the use of natural
influences in the Brazilian textile industry, elected the Structure-Conduct-Performance Model (ECD). The Primer
was a qualitative systematic review of the literature to identify the main theoretical aspects of the approach in
question, which enabled the definition of the categories of analysis according to the ECD Model, the provision in
the research. Secondly, the secondary data were collected, with a purpose of analysis based on the use of natural
waves in the Brazilian textile industry. The study evidenced that a structure was carried out by the sector,
potentializing the potentialities for the national industry. However, to achieve satisfactory performance, how
companies must define actions that are a competitive condition.
Keywords: Structure-Conduct-Performance; natural vegetable fibers; textile industry.

1 Introdução
A evolução apresentada pelo agronegócio brasileiro, demonstra que o setor é um dos
mais importantes para a atividade econômica do país. Um aspecto importante acerca do
segmento, refere-se à representação no PIB – produto interno bruto – que em 2017 atingiu
21,06%, e deve crescer 3,17% em volume nesse ano de 2018. Destacam-se nesse crescimento
os produtos e móveis de madeira, papel e celulose, biocombustíveis, têxteis, café, conservas de
frutas e legumes, óleos e gorduras vegetais e bebidas (Cepea, 2018).
Diante desse cenário competitivo, a eficiência no gerenciamento e aproveitamento dos
recursos destinados à produção agrícola, fabricação e comercialização podem ser diferenciais
para os atores envolvidos em diversas cadeias produtivas (De Souza et al, 2014).

1
MBA em Administração Estratégica e Inovação de Negócios. Bacharel em Administração pela Universidade de
Passo Fundo. E-mail: morghanahs@gmail.com
2
Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAdm) da Universidade de Passo Fundo (UPF), Brasil.
E-mail: anapadilha@upf.br
3
Doutora em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil. E-mail:
renata_gr@yahoo.com.br
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Como a agricultura, os têxteis têm sido uma parte fundamental da vida humana desde o
início da civilização (Fao, 2009). As fibras vegetais apresentam diversas aplicações industriais,
como: fabricação de celulose, compostos, papel e têxtil (Reddy e Yang, 2005). Considerando a
importância do setor, a Assembléia Geral das Nações Unidas proclamou o ano de 2009 como
“Ano Internacional das Fibras Naturais” (Fao, 2009).
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit, 2011), o setor têxtil
se tornou importante para o desenvolvimento da indústria brasileira, especialmente, pelo
surgimento de pequenos produtores de fibras e pela criação de estabelecimentos industriais
familiares. Com o passar dos anos, o mercado se tornou mais exigente e a inovação passou a
fundamental para o crescimento e desenvolvimento do setor (Leão, 2008).
Considerando a importância econômica e social atribuídas ao setor, surge o interesse
em analisar o setor das fibras vegetais. Para embasar esse estudo, elege-se o Modelo Estrutura-
Conduta-Desempenho (ECD), de acordo com Leão (2008), conhecer o modelo E-C-D é
requisito obrigatório para economistas dedicados a análises industriais e preocupados em
observar como a organização de mercado repercute sobre as estratégias das empresas e seu
desempenho. Nesse contexto, o objetivo do estudo consiste em analisar a utilização das fibras
naturais vegetais na indústria têxtil brasileira, utilizando como referência o Modelo ECD,
buscando explicar o comportamento das empresas sob intensa competição nesse mercado.

2 O Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho (ECD)


O Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho (ECD), apresenta uma estrutura resultante
dos estudos propostos por economistas durante os anos 1930, destacando a interdependência
das ações das firmas e de seus concorrentes, trata-se de um modelo que apresenta uma ampla
aplicabilidade, proporcionando um melhor conhecimento da indústria que se pretenda estudar
(Mason; 1939).
Esse modelo, parte da proposição básica de que cada indústria possui características
específicas condicionantes das decisões de cada firma, relativas ao processo de concorrência,
influenciando o desempenho das mesmas (Mason; 1939). Assim, as empresas buscam
estratégias em resposta às condições de mercado, que alteram suas cadeias de valores, na
intenção de impactar positivamente nos seus lucros, ou seja, desempenho (Ralston, et al. 2015;
Figueiredo, et al. 2014). Desde seu surgimento, o Modelo ECD tem se apresentado como uma
forma promissora de concepção do desenho da estratégia ao associá-lo com os aspectos
estruturais e de desempenho (Mattos, 2007).
Desta forma, a literatura aponta como uma importante contribuição do Modelo ECD,
um melhor entendimento de como uma determinada indústria se comporta, explicitando a
importância da estrutura desta indústria nas decisões estratégicas dos integrantes da mesma e
qual a influência de tais decisões no seu desempenho e no das demais concorrentes (Scherer;
Ross, 1990). Assim, a figura 1, adaptada de Scherer e Ross por Mattos (2007), explica o modelo,
onde o efeito causal é definido pelas setas cheias, ao passo que os efeitos secundários são
definidos pelas setas pontilhadas.

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Figura 1: Modelo Estrutura – Conduta – Desempenho.

Fonte: Adaptado por Mattos, (2007) de Scherer e Ross (1990).

A estrutura é apresentada como as características da indústria que podem influenciar a


natureza competitiva das organizações (Mason, 1939; Bain, 1968; Scherer; Ross, 1990). Nesse
contexto, demanda e oferta são condições básicas que influenciam a estrutura de uma
determinada indústria. Conceitos adotados por Porter (1986, 1991, 2004) ao tratar de
competição, que apresentam de um lado a demanda a partir da elasticidade dos preços, produtos
substitutos, taxa de crescimento, sazonalidade e marketing, de outro, a oferta através do número
de competidores, atitudes nos negócios, recursos humanos, entre outros. Dessa forma, a
estrutura pode ser caracterizada de acordo com Porter (1986, 1991, 2004) como as cinco forças
competitivas, as quais definem como uma determina indústria se organiza e tem influência na
conduta dos participantes.
A conduta está relacionada às ações que as firmas podem adotar para competir em uma
indústria, assim, podem ser definidas como estratégias, que visam a sobrevivência (Scherer e
Ross,1990 e, ocasionalmente, as políticas individuais em relação aos seus mercados de produtos
e para os movimentos feitos por firmas rivais (Lennartz, Haffner e Oxley, 2012), buscando
obter vantagem competitiva (Porter, 1990, 1991, 2004).
As firmas têm autonomia de traçar sua conduta por meio de um leque de estratégias,
as quais são determinadas pela estrutura de mercado em que a empresa se insere. Nesse
contexto, os autores consideram que o desempenho econômico pode ser alterado mediante
intervenções sobre a estrutura de mercado e a conduta das firmas, o que serviria de guia para
as políticas públicas (Lucinda, 2010).
O quadro 1 aborda a estrutura da indústria dentro do contexto do Modelo ECD, a partir
de uma análise das cinco forças competitivas de Porter (2004), uma vez que, essas subsidiam a
identificação dos elementos da indústria e a importância de cada um deles na formulação das
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estratégias pelas firmas. As cinco forças de Porter são: rivalidade entre os concorrentes; poder
de negociação dos compradores; poder de negociação dos fornecedores; ameaça de entrada de
novos concorrentes e ameaça de produtos substitutos, dando sequência à fundamentação
teórica acerca do modelo que embasa este estudo.

Quadro 1 - Modelo ECD com base na análise das cinco forças competitivas de Porter.
Estrutura Conduta Desempenho
- Rivalidade da concorrência em - As organizações escolhem as - O resultado obtido pelas
uma indústria, sendo que, quanto estratégias que possibilitem organizações caracterizam o
maior a rivalidade, maior a pressão competir e obter vantagem desempenho de uma determinada
para a redução de preços e competitiva, que se trata de uma indústria, sendo entendido como
consequente redução das vantagem que a empresa mantem consequência da conduta adotada
perspectivas de ganhos (Porter, sobre seus concorrentes, pelas empresas, que, tanto pode ser
2004). normalmente uma característica medido individualmente, como a
- O poder de negociação dos difícil de ser copiada (Leão, 2008). partir da perspectiva da indústria
compradores exerce pressão sobre - È preciso entender o que leva como um todo (Scherer e Ross,
a rentabilidade da indústria, pois, uma organização a ter melhor 1990).
força os preços para baixo e joga os desempenho que outra, sem, - Cinco aspectos relativos ao
concorrentes uns contra os outros contudo, desassociar os processos desempenho: a produtividade e
(Porter, 2004). dinâmicos causadores deste eficiência, o progresso tecnológico,
- O poder de negociação dos desempenho superior daqueles que o pleno emprego, o retorno aos
fornecedores, quanto menor o são inúteis para tanto (Porter, acionistas e a estabilidade
número, maior o poder e suas 1991). econômica (Scherer e Ross, 1990).
decisões de preço podem impactar - Não há uma definição única, - Entende-se a produtividade e
no desempenho dos participantes universalmente aceita para o eficiência, como a condição da
da indústria (Porter, 2004). conceito de estratégia, a palavra empresa produzir a partir dos
- A ameaça de novos concorrentes estratégia vem sendo usada recursos disponíveis, os recursos
é caracterizada pela possibilidade implicitamente de diferentes escassos não devem ser
de novos entrantes, que desejam maneiras, no entanto, apresentam desperdiçados e a produção deve
ganhar parte da indústria, trazem cinco definições, sendo, estratégia corresponder à demanda dos
nova capacidade e recursos (Porter, como um plano, como um padrão, consumidores pelos produtos
2004; Mintzberg et al., 2006). como posição, como perspectiva e, (Scherer e Ross, 1990; Hesterly e
- A pressão exercida pelos produtos ainda, uma combinação entre estas, Barney, 2011).
substitutos, podem reduzir os levando à conceituação de - Interdependência das ações das
retornos em uma indústria, pois estratégia como padrão ou plano firmas e de seus concorrentes, onde
seues preços atrativos podem que integra as principais metas da a ação de uma afeta o retorno
reduzir os retornos potenciais organização (Mintzberg et al., esperado pelas demais (Mason,
(Porter, 2004; Mintzberg et al., 2006). 1939).
2006). - A estrutura de um setor, que
depende de condições básicas
como tecnologia e demanda,
afetaria sua conduta e seu
desempenho (Carlton e Perloff,
1999).
Fonte: elaborado pelos autores com base na literatura, 2018

3 Procedimentos Metodológicos
Esse estudo apresenta uma revisão sistemática qualitativa da literatura que consiste em
uma forma de síntese dos resultados de pesquisas relacionados a um problema específico,
analisando as contribuições em determinada área ou setor. A pesquisa utilizou-se de referências
da literatura como forma de sintetizar os resultados relacionados a um tema específico,
analisando as contribuições em determinada área ou setor. Nesse caso, foi verificada a literatura
que aborda o Modelo Estrutura Conduta Desempenho - ECD (Hesterly e Barney, 2011).
Realizaram-se buscas nas bases de dados Scielo, Capes e Google Scholar. A partir dessa busca,
foram analisados e elencados os trabalhos que trouxeram contribuições teórica e empírica no
que tange a aplicação do Modelo ECD, esses são apresentados a seguir no quadro 2.

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Quadro 2: Estudos Teóricos e Empíricos Utilizando o ECD
ESTUDOS TEÓRICOS
Autores Ano Objetivo
Proposta do modelo ECP-Triplo, através das dimensões
Abreu 2001
econômica, social e ambiental
Demonstrar a importância dos avanços no campo de
Einav; Levin 2010
estudos
Adaptação do ECD para a indústria de locação habitacional
Lennartz; Haffner; Oxley 2012
considerando o papel social do Estado
Sugestão de modelo com ênfase na conduta e desempenho
Figueiredo Jr.; Meuwissen; Oude Lansink 2014
econômicos
Como a integração da cadeia de suprimentos afeta o
Ralston; et.al 2015
desempenho das firmas
ESTUDOS EMPÍRICOS
Autor Ano
Mesher; Zajac 1997 Políticas econômicas nas telecomunições da Malásia
Mattos 2007 Indústria da carcinicultura no Rio Grande do Norte
Setiawan; Envalomatis; Lansink 2013 Indústria de alimentos e bebidas na Indonésia
Lopes 2014 Indústria calçadista do Vale dos Sinos
Figueiredo Jr.; etal 2016 Cadeia de valor da indústria de mel no Brasil
Sestayo; etal 2016 Desempenho econômico hoteleiro na Espanha
Comparativo de desempenho em restaurantes e
Shell 2016 empresas de petróleo
Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

A análise dos estudos apresentados no quadro 1, possibilitou a definição das categorias


de análise de acordo com o Modelo ECD, aplicadas nessa pesquisa, a saber:
a) Estrutura: poder de barganha dos fornecedores, poder de barganha dos compradores,
ameaça de produtos substitutos, ameaça de novos entrantes e rivalidade entre os
concorrentes (Porter, 2004).
b) Conduta: liderança em custos, estratégia de diferenciação, estratégia de enfoque
(Porter, 1986).
c) Desempenho: a produtividade e a eficiência, o progresso tecnológico, o pleno emprego,
o retorno aos acionistas e a estabilidade econômica (Scherer e Ross, 1990; Hesterly e
Barney, 2011).
Em um segundo momento foram levantados dados secundários, com a finalidade de
analisar a utilização das fibras naturais vegetais na indústria têxtil brasileira. Para tanto,
realizaram-se buscas nas nos portais BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento, ABIT -
Associação Brasileira da Industria Têxtil, ABRAPA - Associação Brasileira dos Produtores de
Algodão, CSFN - Câmara Setorial de Fibras Naturais do Ministério da Agricultura Pecuária e
abastecimento e CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento.
A definição das categorias de análise, aplicadas aos dados secundários, deram
sustentação para a elaboração do corpus da pesquisa, ao qual posteriormente foi aplicada a
análise de conteúdo. Para Bardin (2007), na análise de conteúdo o texto é um meio de expressão
do sujeito, com o qual o analista busca categorizar as unidades de texto (palavras ou frases) que
se repetem, inferindo uma expressão que as represente. Dessa forma, foi realizada uma análise
aprofundada da utilização das fibras naturais vegetais na indústria têxtil brasileira.
4 Resultados e Discussão
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4.1 Produção e comercialização de fibras naturais vegetais
Cada cadeia produtiva do agronegócio tem suas peculiaridades e essas se expressam no
momento em que são analisadas. Dentre as cadeias produtivas que se caracterizam, entre outros
fatores, pelo uso intensivo de tecnologia e pela elevada capacidade de agregação de valor estão
as fibras naturais (Abrapa, 2017). A CSFN – Câmara Setorial das fibras Naturuais, aponta como
fibras que se destacam no panorama brasileiro o Bambu, Coco, Juta, Piaçava, Seda e Sisal,
entre outas , nesse contexto, também merece destaque o Rami. É importante mencionar que a
Juta e o Sisal são fibras tradicionais e contam com apoio de politicas públicas desde a década
de 1980 (BRASIL, 2017). Buscando exibir um panorama da localização geográfica da produção
nacional das principais fibras vegetais, apresenta-se a Figura 2.
Figura 2: Mapa do Brasil- concentração brasileira de produção de fibras vegetais.

Fonte: Adaptado pelos autores com base em ABIT, 2016.


Conforme percebido na Figura 2, o principal produtor brasileiro de fibra de algodão é estado
de Mato Grosso que alcança 65% da produção. Já a fibra de sisal tem maior concentração na
Bahia, que detêm mais de 90% da produção. A fibra da juta tem maior produção no interior do
Pará, com 53% da produção, já o estado do Paraná concentra a maior produção de fibra de
Rami, em torno de 60% da produção. Em relação a fibra de linho, o estado de São Paulo é
responsável por 70% da sua produção. Ao observar a disposição geográfica do cultivo das fibras
naturais no país, nota-se que, as condições climáticas são favoráveis na maioria das regiões
brasileiras produtoras, também favoreceram a produtividade e o crescimento do volume
produzido (Abrapa, 2017).
Dentre as principais culturas o setor que apresenta destaque é o algodão, uma
importante matéria-prima, cuja fibra fomenta a indústria têxtil e de confecções (Abrapa, 2017).
Ao contemplar a participação do algodão nesses setores, os números da cadeia apontam
movimentação financeira estimada em US$ 135,4 bilhões e no que se refere ao PIB cerca de
US$ 74,1 bilhões na safra 2016/17; gerando mais de 1,218 milhão de postos de trabalho e
movimentando US$ 28,3 bilhões em impostos (Abrapa, 2017). O Brasil é autosuficiente na
produção de algodão, produz 9,4 bilhões de peças confeccionadas ao ano. E apresenta nesse
segmento segmento a cadeia têxtil completa, abrangendo desde a produção das fibras até a
integração com consumidor final, que se destaca por meio da Semana Brasileira de Moda,
considerada a quinta maior do mundo (Abit, 2017).
Já o linho possui uma durabilidade grande e tem alto potencial de absorção do calor,
suas fibras são usadas na confecção de roupa de cama, mesa, lenços, panos, tecidos e roupas
em geral (Kuasme, 2008). O linho de fibra ou linho para debulhar, é o ideal para obtenção das
fibras têxteis (Pezzolo, 2013). No país a produção da fibra de linho tem maior concentração em
SP e em 2015 a produção nacional foi de 1.325 mil toneladas.
O sisal é a principal fibra dura produzida no mundo, correspondendo a
aproximadamente 70% da produção comercial de todas as fibras desse tipo (Embrapa Algodão,
2014). A exploração do sisal concentra-se, geralmente, em áreas de pequenos produtores, com
predomínio do trabalho familiar (Bandeira e Silva, 2006), sua produção é a maior fonte de

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emprego e renda nos cerca de 140 municípios que compõem o Território do Sisal na Bahia
(Conab, 2016), que concentra 95,8% da produção nacional (Embrapa Algosão, 2014). Mais de
80% da produção brasileira do complexo sisal (cordas, cordéis e cordão) é destinada ao mercado
externo. No primeiro semestre de 2016, as exportações totalizaram 32 mil toneladas, com uma
arrecadação equivalente a US$ 53,6 milhões, algo próximo a R$ 200 milhões. O volume é 9,5%
inferior às 35 mil toneladas exportadas no mesmo período em 2015 e a menor quantidade dos
últimos cinco anos, devido à redução da demanda na China. Além disso, os preços recebidos
pelos produtores de sisal também apresentaram forte retração no período de 2016 (Conab,
2016).
A fibra de rami apresenta alta resistência e devido às suas propriedades, pode ser usada
em diversos ramos da industria têxtil, possuem boa aceitação no mercado e podem ser
considerados como um produto substituto muito próximo do linho, com a vantagem
competitiva de apresentarem preços mais acessíveis (Alves; Silva; Marra, 2013). A produção
brasileira em 2015 foi de 23 mil toneladas e o estado do Paraná concentrou a maior produção,
cerca de 60% (ABIT, 2016).
Em relação a fibra de juta, no ano de 2015, a produção nacional foi de 3,8 mil toneladas,
comparando-se às 4,7 mil toneladas produzidas na safra 2014, observa-se uma queda de 20%
na produção. Em 2016, com base no volume de sementes distribuídas e plantadas, estimou-se
uma produção de cerca de 2,5 mil toneladas. Desde o início dos anos 1990 a produção apresenta
forte tendência de queda, justificada pela competição com as fibras sintéticas, a importação e a
falta de estrutura da cadeia produtiva são as principais causas (Conab, 2017). A oferta nacional
apresenta atualmente volume insuficiente frente à demanda interna por juta, resultando na busca
por complementação, por meio das importações. Que apresentaram aumento em torno de
37,4%, uma vez que passou de cerca de 5,8 mil toneladas em 2014 para 7,9 mil toneladas em
2015, já em 2016 o total importado foi 13,6% menor que em 2015, tal queda é explicada pela
retração da economia brasileira em 2016, e não pelo aumento da produção nacional. Cabe
destacar também, que o preço mínimo da fibra registrou queda de 16,4% no período de
2016/2017 (Conab, 2017).
Realizada a apresentação das informações do setor, o Quadro 3 propõe uma análise dos
principais elementos do estudo à luz do Modelo E-C-D.
Quadro 3 - Análise dos principais elementos do estudo à luz do Modelo E-C-D
Estrutura Conduta Desempenho
 - Os países que apresentam maior  - A conduta de uma organização está Concorrência com o mercado
produtividade concentrados na Ásia, ligada diretamente às estratégias que externo, principalmente em
atuam em larga escala, resultando em um ela vai usar diante dos seus relação a China, responsável
baixo custo de produção, nesse cenário os concorrentes, nesse sentido a por 50% da produção mundial
fornecedores brasileiros tornam-se indústria do algodão se destaca, uma de fibras vegetais.
menos competitivos no cenário mundial. vez que apresenta vantagem O Brasil figura entre os cinco
 - Existe ameaças de novos entrantes, competitiva em função das maiores produtores mundiais
rivalidade entre os concorrentes, pois, estratégias utilizadas, que passam de fibras vegetais, sendo
dessa forma a competitividade no Brasil redução de custos, enfoque e responsável por 2,4% de
se torna alta, obrigando mudança de diferenciação. representatividade no
comportamento da indústria brasileira. - Em relação aos investimentos na segmento, atrás da Índia com
Essa situação pode ser visualizada na produção e transformação da 6.9%, Estados Unidos com
cadeia produtiva da juta, que vem sendo indústria têxtil, o segmento nacional 5,3% e Paquistão com 3,6% de
afetada pela competição com as fibras vem investindo em aquisição representatividade no setor
sintéticas. máquinas e equipamentos têxteis e (ABIT, 2014)
 - No que se refere a produção e de confecção, no período de A utilização das fibras naturais
industrialização do algodão no Brasil a 2016/2017 registrou-se aumento de vegetais estão crescendo a cada
indústria possui alto poder de barganha, 51,10% (ABIT, 2018). ano no mercado brasileiro, em
uma vez que é o maior produtor mundial - A produção da fibra do sisal é uma 2010 era de apenas 7%, cinco
e detêm todas as etapas dessa cadeia atividade importante mundialmente anos depois, em 2015 passou
produtiva. e também para o Brasil, para 32%, gerando um
principalmente para o estado da crescimento de 25% (ABIT,
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 - A rivalidade entre os concorrentes fica Bahia, que se utiliza das vantagens 2016), o aumento na demanda
evidenciada quando se analisa a produção climáticas como estratégia para acompanhando por exemplo, o
de sisal, que sofre forte influência dos produção de sisal, sendo setor de vestuário que
países asiáticos. considerado o maior produtor acumulou crescimento de 11%
nacional, a fibra se posiciona como em 2017 (SindiTêxtil- SP,
atividade estratégica para na geração 2017).
de renda de produtores familiares na Como exportador o Brasil
região. ocupa a 33ª posição, e como
importador ocupa a 25ª posição
(ABIT, 2014).
Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.
A dimensão do poder de barganha dos chineses na indústria têxtil, indicam, de acordo
com Porter (2004), a concorrência de mercado e a forte ameaça competitiva, que afetam a
estrutura industrial brasileira. A conduta exercida no mercado, está relacionada com as
estratégias, que as indústrias vão adotar para competir. Ratificando a teoria de PORTER (1990,
1991, 2004), “a sobrevivência no mercado está diretamente ligada a vantagem competitiva
diante de seus concorrentes”. Nesse contexto é que se destaca a cadeia produtiva do algodão
brasileiro. Uma vez que a conduta adotada pelo setor, visa a adoção de estratégias que permitam
superar as fragilidades por meio da eficiência na atuação em todos os elos da cadeia produtiva
e dessa forma competindo de forma mais ampla.
O desempenho da indústria do sisal também se destaca no contexto brasileiro. Pois a
produtividade do Território do Sisal na Bahia e a importância econômica que atividade atinge
na região, apresentam outra importante fibra vegetal para a indústria têxtil nacional. Também
cabe destacar que a cadeia produtiva da juta pode melhorar a sua estrutura para atingir melhor
desempenho, frente a demanda nacional pela fibra.
Corroborando com esses fatos Scherer e Ross (1990) apontam que - “existem cinco
aspectos relativos ao desempenho: a produtividade e eficiência, o progresso tecnológico, o
pleno emprego, o retorno aos acionistas e a estabilidade econômica” - dessa forma o
desempenho destas indústrias, estão associadas na estrutura e na conduta que elas atingem
diante da concorrência, podendo ou não, atingir resultados eficazes, bem como,
proporcionando satisfação aos consumidores.

5 Conclusões
Este trabalho teve o objetivo analisar a utilização das fibras naturais vegetais na indústria
têxtil brasileira, a partir do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho (E-C-D). O estudo mostrou
que o setor da indústria têxtil de fibras naturais vegetais, apesar de seu bom desempenho
histórico passa por diversas dificuldades devido à concorrência dos outros países, que
conseguem manter os preços competitivos devido melhor desempenho. Apesar do empenho das
empresas do setor, em termos de conduta competitiva, os fatores externos pelos quais as
indústrias não possuem controle, podem estar afetando à competitividade do mercado. A
estrutura apresentada pelo setor, demonstra potencialidades para o crescimento da indústria
têxtil nacional. Entretanto, para conquistar desempenho satisfatório, as empresas precisam
definir estratégias que permitam uma conduta competitiva.
Para estudos futuros aplicando o Modelo E-C-D, sugere-se que seja desenvolvida uma
análise setorial sobre o desempenho da indústria têxtil de fibras naturais vegetais, mostrando a
relação entre Brasil x China.

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Impacto do preço das commodities sobre o preço da carne de frango

Impact of the price of commodities on the price of chicken meat

Ismael França1,Heitor Vieira Rios2, Patrícia Soster de Carvalho3, Alexandre Afonso Meyer4

Resumo
O Brasil é um dos grandes players mundiais no mercado agrícola global, sendo o segundo maior produtor de milho,
de soja e de carne de frango do mundo. Os insumos que representam a maior parte do custo de produção da carne
de frango são os que compõe a alimentação dos animais, tendo o milho e o farelo de soja porcentagem expressiva
no total da composição das dietas. Nesse sentido, o presente trabalho objetivou avaliar e descrever as relações
lineares entre os preços brasileiros da carne de frango (PF), do milho (PM) e da soja (PS), avaliando modelos de
causalidade entre o preço do frango e os preços do milho e da soja. Os dados foram obtidos no Portal Agrolink,
coletando-se os preços médios brasileiros mensais das variáveis do período entre janeiro de 2005 e junho de 2018.
Todos os preços deflacionados utilizando-se o IGP-M. Observou-se correlação significativa para as variáveis PF
e PM (P > 0,05), sendo o coeficiente de Pearson de 0,22. Não foi encontrada correlação significativa entre PF e
PS (P > 0,05). O modelo causal PF PS. PM foi validado, sendo o coeficiente de determinação encontrado de 0,467.
Portanto, para o período analisado, observou-se que a variação do PM é causa de aproximadamente 5% da variação
no PF.

Palavras-chave: Avicultura. Cotação. Commodities. Mercado.

Abstract
Brazil is one of the world's major players in the global agricultural market, being the second largest producer of
maize, soybeans and chicken meat in the world. Feed represent the major part of the production cost of chicken
meat and corn and soybean meal represent a significant percentage of the total diet of broiler chickens. In this
sense, the present study aimed to evaluate and describe the linear relationships between Brazilian prices of chicken
meat (PC), maize (PM) and soybean (PS), evaluating causality models between chicken prices and corn and
chicken prices and soy. Brazilian average monthly prices of the variables for the period between January 2005
and June 2018 were collected from the Agrolink Portal, and all prices were deflated using the IGP-M index. A
significant correlation was observed for the PC and PM variables (P> 0.05), with the Pearson coefficient being
0.22. No significant correlation was found between PC and PS (P> 0.05). The causal model PF PS. PM was
validated, with the coefficient of determination of 0.467. Therefore, for the analyzed period, it was observed that
the variation of PM is cause of approximately 5% of the variation in FP.

Keywords: Poultry production. Price. Commodities. Marketplace.


1. Introdução

O Brasil ocupa posição destaque na produção mundial de carne de frango. Segundo


relatório da Associação Brasileira de Proteína Animal, o Brasil produziu cerca de 13,05 milhões
de toneladas e exportou 4,32 milhões de toneladas de carne de frango em 2017, consolidando-
se como o maior exportador e o segundo maior produtor de carne de frango do mundo, atrás
apenas dos Estados Unidos (ABPA, 2018). Adicionalmente, atividade avícola brasileira
desempenha um importante papel socioeconômico, gerando mais de 3,5 milhões de empregos
e contribuindo com aproximadamente 1,5% do produto interno bruto do país.
Na figura 1 é possível visualizar o crescimento da produção de carne de frango a partir
de 1986. Muitos são os fatores que contribuíram para o desenvolvimento dessa cadeia
produtiva. Nesse sentido, Krabbe et al. (2013) destaca a importância da adoção de tecnologias

1 Graduando em Agronomia – UFRGS. Aviário de Ensino e Pesquisa UFRGS. Email: ismael.franca@ufrgs.br


2 Doutorando em Agronegócios – CEPAN-UFRGS. E-mail: heitorvieira_rios@hotmail.com
3 Graduanda em Medicina Veterinária –UFRGS. E-mail: paty_soster@hotmail.com
4 Doutorando em Agronegócios – CEPAN-UFRGS. E-mail: alexandre.a.meyer@gmail.com

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que possibilitaram maior controle da ambiência e maiores conhecimentos sobre nutrição e sobre
genética das aves. Segundo o autor, a melhoria tecnológica e organizacional da cadeia produtiva
foram os principais responsáveis pelo seu desenvolvimento. Como resultado, a carne de frango
é uma proteína de baixo preço em comparação aos seus substitutos, o que contribui para que
essa proteína seja a carne mais consumida pelo brasileiro e pelo mundo (OECD/FAO, 2018).
O baixo preço da carne de frango só pode ser alcançado por meio de um baixo custo de
produção. Nessa perspectiva, destaca-se o custo das rações, o qual representa em torno de 70%
do total dos custos de produção de frangos de corte. As rações para frangos de corte são
basicamente compostas por milho e por farelo de soja. Esses ingredientes são altamente
digestíveis para os animais e compõem cerca de 90% das dietas (BAKER, 2009), sendo a
inclusão do milho de aproximadamente 55% e do farelo de soja ao redor de 35% (VIEIRA;
STEFANELLO; SORBARA, 2014).

Figura 1. Produção brasileira de carne de frango ao longo dos anos, milhões de toneladas.

14
12
10
8
6
4
2
0

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados disponíveis nos relatórios da Associação Brasileira de Proteína
Animal (ABEF, 2006; ABPA, 2018; UBA, 2002)

O cereal é o principal ingrediente energético das dietas, contribuindo com


aproximadamente 65% da energia metabolizável aparente nas formulações (COWIESON
2005); enquanto o farelo é a principal fonte de proteína, sendo responsável por fornecer cerca
de 80% do total desse nutriente para as dietas (BAKER, 1996). É importante considerar o
grande volume de produção necessário dessas matérias-primas para atender a indústria de
frango. Segundo dados do Sindicato Nacional das Indústrias de Alimentação Animal, a
avicultura de corte brasileira demandou 32,1 milhões de toneladas de ração em 2016
(SINDIRAÇÕES, 2017), exigindo um grande volume de milho e de farelo de soja.
Nesse contexto, o Brasil também se destaca como um dos principais produtores de
milho e de soja do mundo. Atualmente, o país é o segundo maior produtor de milho e de soja
do mundo, atrás, apenas dos Estados Unidos (USDA, 2018). A exemplo da produção de frango,
as produções brasileiras desses grãos também cresceram de forma expressiva, como pode ser
visualizado na figura 2.
É importante salientar que milho e soja são consideradas commodities e, portanto, são
mercadorias homogêneas, produzidas e transportadas em grandes volumes. Elas são
comercializadas em nível mundial e nas principais bolsas de mercadorias internacionais,
podendo ser transacionadas com base nas cotações vigentes nesses mercados (WILLIAMSON,
1989). As commodities podem ser negociadas no mercado spot, no mercado a termo e no
mercado futuro, sendo o último utilizado como referência para a formação de preços
internacionais (PEREIRA, 2009).

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Figura 2. Produção brasileira das safras de
milho e de soja ao longo dos anos, milhões
de toneladas.
120
Milho Soja
100
80
60
40
20
0

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Visto isso, observa-se que o preço das commodities é definido, em nível global, pelas
expectativas do mercado internacional. O milho e a soja possuem seus preços de referência
fixados pela Bolsa de Chicago. Uma característica comum em commodities é a oscilação de
preços, o que dificulta o planejamento dos setores que dependem dessas matérias-primas. As
flutuações de preços podem ocorrer por diversos motivos, tais como: movimentos
especulativos, níveis de estoque de mercadorias, grandes transações de compra e de venda,
condições climáticas, quebras de safra, entre outros (RAMOS, 1999).
Portanto, a produção e o preço da carne de frango brasileira podem estar atrelados às
produções e aos preços das commodities milho e soja. Dessa forma, objetiva-se com o presente
estudo analisar se o preço da carne de frango brasileiro é influenciado pelo preço de milho e de
soja do Brasil. Para isso, será realizada a análise de correlação e de regressão, tendo como
variável dependente o preço da carne de frango. Ainda, será feito modelo de causalidade para
averiguar se as variáveis independentes são causas ou não da variável dependente e será
estimado o coeficiente de causalidade, o que permitirá comparar os resultados obtidos entre as
análises estatísticas.
2. Referencial Teórico

2.1 Cenário produtivo


No ano de 2017, 13,05 milhões de toneladas de carne de frango foram produzidas no
Brasil segundo a ABPA (2018). Um terço deste montante é exportado gerando uma receita de
7.236 milhões de dólares, sendo que 77,7% do total exportado é produzido nos estados: Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul (ABPA, 2018). No entanto, os dois terços restantes da
produção nacional são destinados ao consumo interno, que em 2017 alcançou um consumo per
capita de 42,07kg, um aumento de 2,3% em relação a 2016.
O alto nível tecnológico empregado na produção de frangos de corte no país foi
proporcionado fundamentalmente pelo eficiente sistema de integração vertical, em que um
único agente da cadeia produtiva passa a administrar todas as ações da cadeia. Essa estrutura
de governança permitiu à atividade atingir um dos maiores crescimentos no agronegócio
brasileiro nos últimos anos, segundo o censo agropecuário de 2017 (IBGE, 2018). Segundo a
EMBRAPA (2018), as indústrias produtoras de carne de frango cresceram mais de 26 vezes no
período entre 1975 e 2017. Desta forma, a carne de frango e seus derivados fazem parte do
grupo de produtos mais exportados pelo país.

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A competitividade da carne de frango brasileira dentro do MERCOSUL é muito
elevada, e o desempenho da atividade está intimamente ligado ao complexo de grãos do bloco
(BARCELLOS, 2006). Garcia et al (2006) e Paes (2006) apontam a participação de 70% no
consumo mundial de milho destinado à nutrição animal, e, de 70 a 80% do total produzido no
Brasil, para o mesmo fim. Segundo a APROSOJA (2017), cerca de 49% da soja produzida no
país é destina ao mercado interno, e, 48% desse montante, é destinado à nutrição animal. A
estruturação da cadeia produtiva é apontada por Costa et al. (2015) como o fator central do
sucesso do negócio. Entretanto, o mercado de grãos brasileiro ainda pode ser responsável por
situações desfavoráveis ao mercado de carne de frango, principalmente quando ocorrem
desequilíbrios entre a oferta e a demanda.
Nesse sentido, a produção internacional de grãos tende a uma linha de estabilidade entre
os fatores produção e consumo. Entretanto, fatores adicionais impostos pelo mercado
desestabilizam um estado de equilíbrio dentro do mercado interno (CONTINI et al. 2006).
Frustações de safras e taxas cambiais favoráveis à exportação são os principais fatores que
afetam o equilíbrio, resultando, algumas vezes, em desabastecimento de fábricas.

2.2 Modelos de correlação de regressão e de causalidade

Regressão linear é um procedimento estatístico usual quando se deseja verificar a


existência de relação matemática entre variáveis. Ou seja, é a obtenção de uma equação resposta
a variação de uma variável dependente de acordo com a variação de uma ou mais variáveis
independente(s). Desta forma, é possível determinar a dependência de uma variável
(RESENDE, 2007). O comportamento da variável dependente em relação à independente pode
se apresentar de diversas formas no momento da formulação de modelos matemáticos, como,
por exemplo, o comportamento linear, quadrático, cúbico, exponencial ou logarítmico (AYRES
et al., 2007). Entretanto, na definição de um modelo mais representativo deve respeitar o
coeficiente de determinação da reta (r²) e o p-valor do teste estático. O estudo de correlação das
variáveis avalia a magnitude de associação entre variáveis, assim como seu sentido logarítmico
(AYRES et al., 2007).
O modelo causal abre mão do estabelecimento de uma variável dependente e outra
independente. Quando duas, ou mais, variáveis quaisquer tem efeito mútuo entre si, ou seja,
uma relação de causa e efeito, podemos utilizar análise estatística de causalidade para
identificar uma relação estatística entre os fatores sempre que haja uma relação de precedência
temporal entre elas (CARNEIRO, 1997). Czeresnia e Albuquerque (1995) apontam que a
inferência causal entre as variáveis deve deslocar-se na procura das chamadas causas de efeitos
para se encontrar os efeitos de causas. Neste mesmo espectro de análise, Magnusson e Mourão
(2002) definem como modelos complexos os modelos matemáticos que possibilitam a
avaliação de efeito de variáveis independentes entre si, que afetaram uma variável dependente.
Wright (1918) propôs a utilização da chamada análise de caminhos (path analysis) para
calcular a correlação direta entre variáveis sobre um efeito comum. Desta forma é possível o
desdobramento em fatores direto e indiretos que exerçam influência sobre a variável
dependente. Souza (2013) propõe que a utilização desta abordagem deve ser realizada
analisando as relações causais do sistema avaliado. A análise de caminhos permite avaliar se
modelos causais propostos são validos a partir de uma estrutura de correlação observada entre
variáveis, utilizando, para isso, o princípio da separação de dependência (d-separation).
A execução deste modelo de análise consiste no estabelecimento de diagrama causal
para levantamento hipotético das relações entre os fatores independentes. Posteriormente, a
decomposição das correlações dos fatores é realizada utilizando estratégias estatísticas
computacionais (CRUZ et al, 2004; SOUZA, 2013). Quando uma variável causa algum efeito
em outra variável, necessariamente elas terão uma correlação. No entanto, uma correlação nem
sempre implica em uma relação causal. A abordagem vem sendo utilizada em diversas áreas da

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experimentação agrícola (SOUZA, 2013), como no melhoramento genético animal
(DANIELCE, 2016), teores nutricionais em vegetais (MATIAS, 2014), preços agrícolas
(ZILLI, 2008), ou ainda, na epidemiologia (CZERESNIA e ALBUQUERQUE, 1995).
3. Procedimentos Metodológicos

Os dados utilizados na presente pesquisa foram obtidos no Portal Agrolink. As variáveis


coletadas foram as médias brasileiras mensais dos preços de 1kg de frango in natura no atacado
(PF), da saca de 60kg de milho (PM) e da saca de 60kg de soja (PS) no período compreendido
entre janeiro de 2005 e junho de 2018, totalizando 162 observações. Os preços foram
deflacionados utilizando o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) obtidos no site do
Ipeadata.
Para realização da presente pesquisa, foram realizados testes estatísticos de correlação,
de regressão e de modelo de causalidade. A análise de correlação teve como objetivo analisar
a existência e o grau de associação linear entre as variáveis PF e PM e entre as variáveis PF e
PS. A análise de regressão foi aplicada com o intuito de estimar equações lineares entre a
variável dependente “PF” e as variáveis independentes “PM” e “PS”. Adicionalmente, foi
realizado um modelo de causalidade objetivando avaliar a validade dos modelos propostos.
O modelo de causalidade proposto pode ser visualizado na figura 3. O presente modelo
foi determinado considerando que as variáveis PM e PS são independentes e ambos os preços
possuem efeito sobre o preço do frango PF.

Figura 3. Modelo de causalidade testado

PS PM PF

Fonte: Elaborado pelos autores


O número de relações de independência no basis set (bs) foi calculado por meio da
fórmula abaixo (1).

𝑉!
𝑏𝑠 = 2(𝑉−2)!
−𝐴 (1)

Onde:
V = número de variáveis
A = número de setas no gráfico causal (figura 3)
Os resultados da análise de caminhos foram calculados de maneira que cada relação
de independência definida no conjunto, foi testada separadamente em correlações de primeira
ordem.
Os valores de p de cada teste, foram combinados através da estatística c de Fisher,
descrita a seguir (2).

𝑐 = −2 ∑𝑘𝑖=1 ln(𝑃𝑖) (2)

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Os dados foram submetidos aos testes de correlação e de regressão utilizando o pacote
estatístico do SAS 9.4 (SAS, 2009). Para o tratamento estatístico do modelo de causalidade foi
utilizado o software Multiv (PILLAR, 2004). Para todos os testes foi considerado um grau de
significância de 5%.

4. Resultados e Discussão

Os resultados das análises de correlação e de regressão das variáveis PF, PM e PS estão


descritos na tabela 1. Observou-se correlação linear significativa entre as variáveis PF e PM (P
< 0,05), com um coeficiente de correlação de Pearson de 0,216. Considerando PF como variável
dependente e PM como variável independente, foi possível estimar a equação de regressão (Y=
4,02x + 21,14), cujo coeficiente de determinação foi de 0,047. Para a correlação entre PF e PS,
não foi observado correlação significativa (P > 0,05).

Tabela 1. Resultados das análise de correlação e de regressão das variáveis preço do frango, preço do
milho e preço da soja.
Coeficiente de
Variável Variável Coeficiente de Equação de determinação p-valor
dependente independente correlação regressão (r²)
Preço do milho 0,21617 Y= 4,02x + 21,14 0,0467 0.0057
Preço do frango
Preço da soja 0,06686 Y= 2,39x + 61,38 0,0045 0.3979
Fonte: Elaborado pelos autores

Os resultados de validação dos modelos de causalidade estão descritos na Tabela 2. A


relação entre as variáveis PS e PF, controlando a variável PM (PS PF. PM), resultou em uma
correlação de 0,036 e um valor valor-p de 0,675. Quando a variável PS foi isolada (PM PF. PS),
removendo seu efeito no sistema estudado, a correlação foi de 0,247 e o valor-p para o teste foi
de 0,003

Tabela 2. Resultados das análises dos modelos causais propostos entre as variáveis preço do frango, preço
do milho e preço da soja.
Modelo Coeficiente de correlação p-valor
PS PF (PM) 0,03613 0,6750
PM PF (PS) 0,2473 0,0028
Fonte: Elaborado pelos autores

Ao analisar os resultados encontrados, é possível observar correlação significativa para


PM e PF sendo o coeficiente de Pearson de aproximadamente 22%. Entretanto, refutando a
hipótese inicial, não foi encontrada correlação significativa para PF e PS. Uma possível
explicação para o presente resultado é que o milho representa maior porcentagem da ração de
frangos de corte do que a soja e, portanto, variações no preço do milho teriam maior correlação
com as variações no preço do frango.
Em contraste a esses resultados, Oliveira Junior, Figueiredo e Wander (2016), em estudo
similar, analisando o grau de associação linear entre PF, PM e PS coletados entre os anos de
2004 e 2013, encontraram valores significativos de correlação para PF e PS. Os mesmos autores
também encontraram valores maiores de correlação de Pearson entre PM e PF do que o presente
estudo (0,648 vs. 0,216). Possivelmente, as discrepâncias dos resultados encontrados nos
estudos podem ser explicadas pelo fato de que os autores daquele trabalho não deflacionaram
os preços dos produtos e, dessa maneira, parte das altas correlações encontradas podem ter
ocorrido devido ao efeito da inflação.

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Os resultados encontrados para o modelo PM PF. PS indicam que a variável PS não
exerce efeito causal sobre o PF, o que corrobora com o resultado encontrado pela correlação
entre as duas variáveis. O teste causalidade validou apenas o modelo causal PS PF. PM, ou seja,
podemos afirmar por meio da análise de regressão que, para o conjunto de dados estudado,
aproximadamente 5% da variação no PF foi causada pela variação no PM.

6 Conclusões

A variação do preço da soja não obteve significativa influencia no preço do frango na


série histórica analisada. O efeito da variação do preço do milho sobre a variação no preço do
frango significativo, validando o modelo PS PF. PM. O valor de r² foi de 0,0467 e correlação
de 21% para o período analisado, observou-se que a variação do preço do milho é causa de
aproximadamente 5% da variação no preço do frango.

7 Agradecimentos

Agradecimento a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES) ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo
apoio disponibilizado.

8 Referências

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br.com.br/storage/files/relatorio-anual-2018.pdf>. Acesso em 05 ago. 2018.
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Influência da informação sobre a confiança dos consumidores na cadeia da
carne bovina
Influence of information on consumer trust in the bovine meat chain
Vendruscolo, Anderson Brondani.1, Borges, João Augusto Rossi.2, Domingues, Carla Heloisa
de Farias.3

Resumo
O Brasil é um dos principais atores mundiais do agronegócio, reflexo de um complexo e estruturado trabalho de
longo prazo em nível de produtividade e qualidade por instituições governamentais e setor privado. Neste
contexto, destaca-se a cadeia produtiva da carne bovina devido à grande produção de gado de corte e ao
consumo do produto. Entretanto, informações positivas ou negativas relacionadas ao sistema produtivo da cadeia
podem acarretar em diferentes respostas comportamentais dos consumidores. Dessa forma, o presente trabalho
teve como objetivo avaliar o impacto da informação sobre a confiança do consumidor na cadeia da carne bovina
e na fiscalização sanitária responsável pela segurança da carne. Para atingir os objetivos propostos
desenvolvemos um questionário com 600 respondentes online, divididos em três grupos com diferentes tipos de
informações relacionadas a cadeia da carne bovina: G1 – neutro, sem qualquer tipo de informações, G2 –
informações positivas e G3- informações negativas. A partir dos resultados obtidos observamos que os
participantes do grupo G3 apresentaram menor confiança no sistema produtivo e de fiscalização da cadeia da
carne bovina quando comparados com os grupos G1 e G2. Os participantes do grupo G2 foram os que
apresentaram maior confiança no sistema produtivo e de fiscalização da cadeia da carne bovina. Portanto, a
divulgação de informações positivas pode ser uma estratégia eficaz a ser implementada por instituições públicas
e iniciativa privada para restabelecer a confiança dos consumidores sobre a cadeia da carne bovina.
Palavras-chave: Alimentos, Brasil, Hábitos, Indústria, Produção.

Abstract
Brazil is one of the world's leading agribusiness players, reflecting a complex and structured long-term work in
productivity and quality by government institutions and the private sector. In this context, the beef production
chain stands out due to the large production of beef cattle and the consumption of the product. However,
positive or negative information related to the productive system of the chain can lead to different behavioral
responses of the consumers. The objective of this study was to evaluate the impact of information on consumer
trust in the beef chain and on health surveillance responsible for meat safety. To reach the proposed objectives
we developed a questionnaire with 600 online respondents, divided into three groups with different types of
information related to the beef chain: G1 - neutral, without any information, G2 - positive information and G3 -
negative information. From the results obtained, we observed that the participants in the G3 group had less trust
in the production system and in the control of the beef chain when compared to the G1 and G2 groups. The
participants in the G2 group were the ones that showed the greatest trust in the production system and in the
surveillance of the beef chain. Therefore, the dissemination of positive information can be an effective strategy to
be implemented by public institutions and private initiative to re-establish consumer trust in the beef chain.
Keywords: Food, Brazil, Habits, Industry, Production.

1 Introdução

O Brasil é um dos principais atores na produção e exportação de carne bovina


(ABIEC, 2016). Esse posto é reflexo de um estruturado processo de desenvolvimento que
elevou não só a produtividade como também a qualidade da carne bovina brasileira (FAO,
2016). Além disso, o Brasil possui o segundo maior rebanho de bovinos de corte do mundo,
1
Mestrando em Agronegócios/Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFGD - Universidade Federal
1 1
da Grande Dourados - andersonvendruscolo@hotmail.com
2Phd in Business Economics/ Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFGD - Universidade Federal

da Grande Dourados2- joaoborges@ufgd.edu.br2


3
Phd in Agribusiness/ Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFGD - Universidade Federal da
3 3
Grande Dourados - carlafariadomingues@hotmail.com

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com cerca de 226 milhões de cabeças de gado e é o segundo maior país consumidor, com 38,6
kg/habitante/ano (GOMES et al., 2017). Porém, escândalos alimentares recentes podem ter
impacto na cadeia produtiva da carne bovina brasileira. Esses escândalos podem influenciar,
por exemplo, os consumidores, que ao receberem informações sobre os escândalos ocorridos,
podem diminuir ou deixar de consumir produtos cárneos.
De fato, informações positivas ou negativas sobre os alimentos e suas respectivas
cadeias produtivas acarretam em diferentes respostas dos consumidores (MAZZOCCHI,
2006). Essas informações podem influenciar tanto na confiança dos consumidores sobre
determinado produto quanto em suas intenções de compra (BERG, 2004; CHEN, 2008;
VERBEKE, 2001).
Especificamente sobre informações de escândalos alimentares e crises no setor
alimentício, estudos anteriores demonstraram, por exemplo, que a “doença da vaca louca” (ou
Encefalopatia Espongiforme Bovina), a crise das dioxinas na Bélgica e a doença da febre
aftosa levaram os consumidores a repensarem suas atitudes e comportamento no consumo de
alimentos (GELLYNCK & VERBEKE, 2001; MILES & FREWER, 2001; LATOUCHE et
al., 1998). Outros estudos relacionados a respostas comportamentais dos consumidores frente
a escândalos alimentares revelam que características sócio-demográficas como nível
educacional, número de crianças pequenas na família e idade do chefe da família influenciam
nas respostas dos consumidores frente a escândalos alimentares (RIEGER et al., 2016).
Portanto, sabe-se que os escândalos alimentares impactam negativamente no
desempenho econômico das cadeias produtivas, diminuindo o consumo de alimentos,
prejudicando as exportações, além de colocar em risco a saúde do consumidor (ORTEGA et
al., 2011). Até a presente data, os trabalhos existentes identificaram como a informação
negativa influencia na intenção de compra e na confiança dos consumidores. Porém, não há
trabalhos que identificaram como uma informação positiva da cadeia produtiva poderia
influenciar na restauração da credibilidade da cadeia, após o impacto gerado por informações
negativas. Com o propósito de preencher esta lacuna do conhecimento, este estudo teve como
objetivo avaliar o impacto da informação sobre a confiança do consumidor na cadeia da carne
bovina e na fiscalização sanitária responsável pela segurança da carne.
Este é um modelo padrão para submissão de trabalhos para o VI Simpósio da Ciência
do Agronegócio, é válido ressaltar que trabalhos submetidos fora deste padrão não serão
aprovados.

2 Referencial Teórico

2.1 Confiança do consumidor

A confiança é um fator determinante que pode influenciar no comportamento do


consumidor, sendo considerada um dos meios de reduzir a complexidade da grande maioria
das escolhas diversas enfrentadas por estes (BREDAHL, 2001; FISCHER et al., 2006).
Entretanto, para compreender essa relação, é essencial termos como base que a característica
central de ser confiável é obter informações verdadeiras (FREWER et al., 1996).
Os consumidores são influenciados por diversos fatores quando escolhem seus
alimentos, sendo estes, na maioria das vezes, produzidos ou beneficiados por indústrias cada
vez mais tecnificadas. A produção de alimentos mais sofisticados resulta em consumidores
que sabem cada vez menos sobre o que comem, tornando mais difíceis hábitos comuns como
cheirar, saborear para avaliar a qualidade e riscos relacionados aos alimentos (FURST et al.,
1996; FISCHLER, 1988; CHEN, 2008).

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Além desses fatores sensoriais dos alimentos, como o sabor, odor, características de
textura, há outros aspectos relacionados como, por exemplo, informações referentes aos
alimentos, o ambiente físico e fatores sociais como: selos de empresa amiga da criança;
indústrias que seguem protocolos de bem estar animal e que não usam trabalho escravo
(MARSHALL & BELL, 2003; EERTMANS et al, 2001). Pesquisas já demonstraram que os
consumidores reduzem o consumo de alimentos quando percebem que determinado alimento
é arriscado para saúde (VERBEKE, 2001; VERBEKE & VAN KENHOVE, 2002).
A confiança dos consumidores adultos foi objeto de estudo de Frewer et al. (1996),
demonstrando que há discriminação entre as fontes de informação de segurança alimentar em
termos de confiabilidade percebida. Quando ocorre um escândalo alimentar, os agentes
econômicos, como pecuaristas, redes de supermercados e indústria de processamento de
alimentos, têm suas próprias preocupações de interesse, por isso são considerados menos
propensos a dizer a verdade aos consumidores (CHEN, 2008). Portanto, é importante
considerar os aspectos sociais relacionados aos alimentos para entender a confiança na
segurança do consumo alimentar (GRUNERT, 2005; ROHR et al., 2005; VERBEKE, 2005).

2.2 Escândalos alimentares

Nas últimas décadas, as indústrias nacionais e internacionais de alimentos têm se


deparado com sérios incidentes que põem em dúvida a segurança e qualidade dos seus
produtos, impactando negativamente o mercado consumidor e gerando grandes prejuízos
econômicos (CHEN M. F. 2008; DE JONGE et al., 2004). Tais incidentes alimentares,
refletem negativamente na confiança dos consumidores em relação aos alimentos, em atores e
instituições responsáveis pelas cadeias produtivas, como produtores rurais, pecuaristas,
indústrias e redes varejistas, o que influencia negativamente em seus hábitos de consumo
originados pela dúvida quanto à segurança alimentar (POORTINGA & PIDGEON, 2005;
SIEGRIST et al. 2000).
Um evento de grande impacto foi o surto da “vaca louca” na Inglaterra em 1996. Com
a crise a cadeia produtiva da carne bovina teve grandes perdas de amplitude mundial como
quedas nas exportações e, desde então, os consumidores/importadores passaram a exigir
garantias de qualidade que assegurem a inocuidade dos alimentos (COSTA et al., 2000).
Behrens et al. (2010) cita o caso do escândalo envolvendo a indústria do leite
brasileira. Toneladas de leite UHT, termo em inglês: “ultra high temperature” (temperatura
ultra alta), processadas e produzidas no Estado de Minas Gerais e, posteriormente,
comercializadas em todo o país, tinham sido deliberadamente contaminados com uma mistura
de peróxido de hidrogênio, sódio e citrato de sódio, a fim de estender prazo de validade e
mascarar a adição de água no produto.
Reitenbach et al. (2018) recentemente avaliaram a percepção e comportamento dos
consumidores brasileiros de leite in natura em relação à fraude na cadeia produtiva. Neste
estudo, os resultados indicaram impactos significativos como a redução do consumo,
prejuízos à imagem do setor e ao aquecimento do mercado informal, remetendo à difamação
dos agentes da cadeia produtiva, assim como queda nas receitas do setor. Já em outra
pesquisa, ficou claro que consumidores chineses têm consciência que a fraude alimentar é um
risco para à segurança alimentar e que, após os incidentes fraudulentos, os mesmos
desenvolveram estratégias de "alívio de risco" para compensar a falta de confiança na comida
chinesa e a dissonância experimentada (KENDALL, 2018).
Escândalos alimentares na cadeia produtiva da carne bovina também têm ocorrido no
Brasil. Um exemplo recente, em 2017, foi o escândalo envolvendo as fraudes descobertas pela
operação “carne fraca” (weak meat termo em inglês), cujos objetivos eram de investigar
fraudes praticadas por empresas e laboratórios que tinham como finalidade burlar o Serviço

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de Inspeção Federal e não permitir a fiscalização eficaz do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (POLICIA FEDERAL, 2017).
Sendo assim, a caracterização do comportamento e a confiança do consumidor são
elementos imprescindíveis para eleger estratégias mais assertivas para o propósito de
amenizar o efeito dos escândalos no comportamento, na atitude, confiança e na intenção de
compra do público consumidor (BÁNÁTTI, 2011).

3 Procedimentos Metodológicos

3.1 Coleta de dados

Para a realização deste trabalho, foi desenvolvido um questionário com questões


relacionadas às características socioeconômicas e níveis de confiança, sendo adaptado de
Chen et al. (2008). As questões para avaliar os níveis de confiança foram elaboradas em
escala Likert de 1 a 7 pontos, onde 1 representa a não confiança e 7 a confiança total do
consumidor. Dentre as questões de confiança, a confiança dos consumidores na cadeia
produtiva da carne bovina brasileira e a questão para a confiança em relação aos fiscais
brasileiros do serviço de inspeção federal (S.I.F.), responsáveis pela qualidade dos produtos
cárneos que são consumidos, foram foco do presente trabalho.

3.2 Pesquisa

Para testar o impacto das informações na confiança, os respondentes foram divididos


em três grupos, para os quais foram apresentados um vídeo com diferentes informações,
conforme segue:
- Grupo G1 (tratamento controle): os participantes deste grupo não receberam informação
(vídeo) antes de responderem o questionário;
- Grupo G2 (tratamento com informações positivas): os participantes receberam informações
positivas da cadeia produtiva da carne bovina brasileira com ênfase no processo de
certificação alimentar. Estas informações foram passadas aos participantes através de um
vídeo desenvolvido pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA, com o
intuito de resgatar a confiança do consumidor após o abalo causado pelo escândalo da
operação “Carne fraca”. O vídeo teve a duração de aproximadamente um minuto e meio, e
teve como objetivo evidenciar a credibilidade da produção de alimentos no Brasil. Este vídeo
abordará a importância do Selo do Serviço de Inspeção Federal (S.I.F.) para a segurança
alimentar e saúde do consumidor, evidenciando que, no Brasil, todos os procedimentos
adotados na produção seguem normas federais que garantem a inocuidade e segurança dos
alimentos. O vídeo também abordou a abrangência e a capacidade da inspeção em identificar
possíveis fraudes no sistema de produção de alimentos.
- Grupo G3 (tratamento com informações negativas): os participantes receberam informações
negativas da cadeia produtiva da carne brasileira. Estas informações foram passadas aos
participantes através de um vídeo de aproximadamente um minuto e cinquenta segundos, que
trouxe informações sobre escândalos alimentares ocorridos na cadeia produtiva da carne
bovina brasileira. O vídeo trouxe o escândalo da “Carne fraca”, ocorrido em 2017, e,
apresentou notícias de emissoras de televisão e manchetes sobre o escândalo, buscando expor
o participante a uma informação real de escândalo alimentar envolvendo a indústria da carne
no Brasil.
A aplicação do questionário foi realizada mediante contratação de uma empresa
terceirizada especializada em pesquisas de mercado. Foram aplicados 600 questionários on
line (200 respondentes por grupo) no Brasil, sendo selecionados de maneira aleatória. Para

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facilitar a análise, as variáveis utilizadas para mensurar a confiança dos consumidores foram
agrupadas da seguinte maneira: os respondentes que marcaram de 1 a 4 na escala likert foram
agrupados no grupo não confio e os respondentes que marcaram 5 a 7 foram agrupados no
grupo confio. Os dados foram analisados utilizando a frequência das respostas para cada
grupo.

4 Resultados e Discussão

4.1 Variáveis socioeconômicas


Os participantes da pesquisa, a qual possuiu três grupos de estudo (G1, G2 e G3)
caracterizam-se respectivamente com características socioeconômicas como:

4.1.1 Características socioeconômicas do grupo G1 – controle

Os respondentes do grupo G1 caracterizaram-se em diferenças relativas ao sexo


(masculino 46,50% e feminino 53,50%), idade (16 a 24 anos 26,00%, 25 a 29 anos 15,00%,
30 a 39 anos 26,00%, 40 a 49 anos 18,50%, 50 anos ou mais 14,50%), região (Sudeste
42,50%, Sul 17,00%, Centro-Oeste 8,50%, Nordeste 23,00%, Norte 9,00%) e classe social,
Classe A 0,50%, classe B 18,00%, classe C 25,00%, classe D 29,50% e classe E 27,00%.
A variável da classe social foi subdividida em cinco categorias de valores salariais
recebidos mensalmente representados por: Classe A = mais de R$14.055,00; Classe B = de
R$4.686,00 a R$14.055,00; Classe C = de R$1.875,00 a R$4.685,00; Classe D = de R$938,00
a R$1.874,00; Classe E = até R$ 937,00 para todos os grupos.

4.1.2 Características socioeconômicas do grupo G2 – tratamento com informações positivas

Os respondentes do grupo G2 caracterizaram-se em diferenças relativas ao sexo


(masculino 48,50%, feminino 51,50%); idade (16 a 24 anos 30,00%, 25 a 29 anos 15,50%, 30
a 39 anos 22,00%, 40 a 49 anos 18,00%, 50 anos ou mais 14,50%); região (Sudeste 45,50%,
Sul 18,00%, Centro-Oeste 7,00%, Nordeste 23,00%, Norte 6,50%); e Classe social: Classe A
1,00%, classe B 17,50%, classe C 26,00%, classe D 36,00% e classe E 19,50%.

4.1.3 Características socioeconômicas do grupo G3 – tratamento com informações negativas

Os respondentes do grupo G3 caracterizaram-se em diferenças relativas ao sexo


(masculino 50,00%, feminino 50,00%); idade (16 a 24 anos 28,50%, 25 a 29 anos 13,50%, 30
a 39 anos 25,00%, 40 a 49 anos 16,50%, 50 anos ou mais 16,50%); região (Sudeste 47,00%,
Sul 15,00%, Centro-Oeste 7,50%, Nordeste 23,50%, Norte 7,00%) e classe social, Classe A
1,50%, Classe B 17,00%, Classe C 32,00%, Classe D 27,50% e Classe E 22,00%.

4.2 Resultados

Os resultados apresentados na Tabela 1 demonstram o nível de confiança dos


consumidores para os grupos G1, G2 e G3. No grupo G1, que não recebeu nenhum tipo de
informação, a maioria dos respondentes confiam na cadeia produtiva da carne bovina e nos
fiscais do S.I.F. O grupo G2, que recebeu informações positivas, apresentou confiança maior
do que o grupo controle, tanto para a confiança na cadeia quanto para a confiança no SIF.
Esses resultados sugerem que o vídeo feito pelo MAPA surtiu efeito para restaurar a
confiança dos consumidores. No grupo G3, que recebeu informações negativas, como era

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esperado (BÁNÁTTI, 2011; REITENBACH, 2018) os níveis de confiança foram mais baixos
que os grupos G1 e que o G2.
Tabela 1 – Confiança do consumidor na cadeia produtiva da carne bovina e Fiscais do S.I.F.
Cadeia da carne bovina Fiscais do S.I.F.
Confio Não confio Confio Não confio
G1 – Controle 54,78% 45,23% 52,77% 47,24%
G2 – Informações Positivas 62,31% 37,69% 66,84% 33,17%
G3 – Informações Negativas 37,19% 62,82% 48,75% 51,26%
Fonte: Dados do autor (2018).

5 Conclusões

Desta forma, tentar restaurar a confiança desse público tornou-se um objetivo de


grande relevância para a cadeia produtiva de alimentos, em especial a cadeia da carne bovina
brasileira cuja reputação foi abalada pela operação carne fraca. Logo, um aprimoramento na
compreensão das relações entre os acontecimentos antecessores e a confiança na segurança
alimentar a longo prazo, pode aperfeiçoar a eficácia das políticas públicas e proporcionar o
desenvolvimento de ações mais ajustadas em relação ao repasse de informações de risco.
Portanto, os resultados encontrados no presente estudo poderão auxiliar no
aprimoramento de estratégias governamentais e industriais na restauração da imagem da
cadeia após o impacto gerado por escândalos alimentares.

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Mercado de produção de sementes de soja certificadas no Rio Grande do
Sul
Certified soybean seed production market in Rio Grande do Sul
Rômulo Keller Lautert1, Carlos Linassi Regasson2, Igor Senger3

Resumo
O Mercado de produção de sementes certificadas de soja no estado do Rio Grande do Sul vem crescendo no
decorrer das safras, principalmente após o governo brasileiro liberar as biotecnologias Roundup Ready® e Intacta
RR2 Pro®. Além disso, os agricultores passaram a buscar sementes com maior qualidade fitossanitária e
fisiológica, e cultivares com maior potencial produtivo, a fim de garantir melhores produtividades em suas
lavouras. Sendo assim, este estudo tem por objetivo caracterizar o mercado de produção de sementes certificadas
de soja a partir de seus indicadores obtentoras e biotecnologias presentes no estado. O estudo consiste em uma
pesquisa do tipo básica, com uma abordagem quantitativa, apresentando um objetivo descritivo. Os dados foram
obtidos a partir de procedimentos bibliográficos e documentais. Assim, foram realizadas consultas destes dados
junto ao Painel Brasileiro de Sementes - SIGEF/MAPA, e no Catálogo de Produtores de Sementes e Mudas do
Rio Grande do Sul - CSM/RS. A partir da coleta dos dados estes foram organizados em tabelas, de modo a
facilitar o trabalho de análise dos mesmos. Os dados referem-se as safras 2013/2014 a 2016/2017. Concluiu-se
que, as principais obtentoras atuantes na produção gaúcha de sementes de soja, foram a Bayer S.A, Brasmax,
Don Mario, Monsoy, Nidera e TMG. E, as principais biotecnologias presentes nas cultivares multiplicadas no
Rio Grande do Sul foram a Roundup Ready® e Intacta RR2 Pro®.
Palavras-chave: Mercado de produção de sementes. Sementes certificadas. Soja. Rio Grande do Sul.

Abstract
The market for the production of certified soybeans in the state of Rio Grande do Sul has been growing during
the harvest, especially after the Brazilian government liberated the biotechnologies Roundup Ready® and
Intacta RR2 Pro®. In addition, farmers began to obtain seeds with higher phytosanitary and physiological
quality, and cultivars with greater productive potential, in order to guarantee better yields in their crops. Thus,
this study aims to characterize the market for the production of certified soybean seeds from its breeding
indicators and biotechnologies present in the state. The study consists of a research of the basic type, with a
quantitative approach, presenting a descriptive objective. The data were obtained from bibliographic and
documentary procedures. Thus, consultations were carried out with the Brazilian Seed Panel - SIGEF / MAPA,
and in the Rio Grande do Sul Seed and Seed Producers Catalog - CSM / RS. From the data collection these were
organized into tables, in order to facilitate the work of analysis of the same. Data refer to the seasons 2013/2014
to 2016/2017. It was concluded that the main breeders active in the Rio Grande do Sul production of soybean
seeds were Bayer SA, Brasmax, Don Mario, Monsoy, Nidera and TMG. And, the main biotechnologies present in
the cultivars multiplied in Rio Grande do Sul were Roundup Ready® and Intacta RR2 Pro®.
Keywords: Seed production market. Certified seeds. Soybean. Rio Grande do Sul.

1. Introdução

O mercado brasileiro de sementes de soja é de suma importância para a economia do


país. Este setor mobiliza cerca de US$ 1,3 bilhão anualmente, tal montante representa 35% do
total movimentado pelo mercado de sementes certificadas no Brasil. A cada safra são
semeados em torno de 1 milhão de hectares destinados à produção de sementes de soja, onde
são produzidas 1,5 milhão de toneladas de sementes de soja (ABRASS, 2015).

1
Engenheiro Agrônomo/Universidade Federal de Santa Maria, RS campus Frederico Westphalen –
romuloklautert@hotmail.com
2
Engenheiro Agrônomo/Universidade Federal de Santa Maria, RS campus Frederico Westphalen –
carlos_linassi@yahoo.com.br
3
Professor Doutor/Universidade Federal de Santa Maria, RS campus Frederico Westphalen -
igorsenger@ufsm.br
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206
No entanto, este bom desempenho do setor sementeiro é recente. Previamente durante
o período de 1998 à 2003, o mercado de sementes certificadas de soja sofreu uma forte
estagnação tecnológica e financeira (CIRINO, 2010). Esta estagnação ocorreu como resultado
da proibição, por parte do Governo Federal da produção de sementes com a biotecnologia
Roundup Ready®.
O Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor de soja do país. Na safra 2017/2018 a
área ocupada pela cultura foi de 5.692,1 mil hectares, e a produção total é estimada em
17.543,1 mil toneladas (CONAB, 2018a). O estado também se destaca na produção e
comercialização de sementes, segundo o Catálogo de Produtores de Sementes e Mudas do Rio
Grande do Sul (CSM/RS, 2014), na safra 2013/2014 a produção de sementes de soja era
realizada por 97 produtores autorizados pelas obtentoras.
O estado destaca-se na produção de sementes devido a suas características climáticas,
como a baixa umidade relativa e baixas temperaturas durante o inverno, propiciando assim
condições ideais para a conservação dos atributos fisiológicos das sementes (CIRINO, 2010).
No entanto, estas mesmas características climáticas são um dos fatores que restringe o
crescimento do mercado de sementes certificadas de soja, pois, o agricultor gaúcho
culturalmente realiza o salvamento de sementes para a semeadura no ano seguinte, logo,
historicamente a taxa de utilização de sementes certificadas mantém-se baixa no estado.
O setor sementeiro do Rio Grande do Sul passou por mudanças significativas em sua
estrutura, principalmente a partir da safra de 2004/2005 com a liberação da biotecnologia
Roundup Ready® pelo Governo Federal (CIRINO, 2010). Este setor ainda vem passando por
mudanças, com a liberação a partir 2010 de novas tecnologias como, a Intacta RR2 PRO da
Monsanto, e ao evento Liberty Link® da empresa Bayer (VASCONCELOS e SOUZA, 2014,
p. 225).
Previamente a liberação dos transgênicos, a criação de novas cultivares de soja era
realizado por empresas públicas nacionais em parcerias com outras empresas, fundações e
cooperativas. Atualmente, cerca de 80% do desenvolvimento genético é realizado por
empresas internacionais (AGROANALYSIS, 2014).
Em síntese, o mercado de produção de sementes certificadas de soja do Rio Grande do
Sul já apresenta grande destaque no cenário nacional. No entanto, este setor passou por várias
mudanças a partir do surgimento de novas tecnologias. Sendo assim, o estudo tem por
objetivo caracterizar o mercado de produção de sementes de soja certificada no estado do Rio
Grande do Sul. Para alcançar o objetivo geral, apresentam-se os seguintes objetivos
específicos:
- Verificar quais são as obtentoras atuantes no mercado de produção de sementes de
soja certificadas no estado.
- Verificar quais as biotecnologias presentes nas cultivares que compõem a produção
de sementes de soja certificadas no estado.

2. Referencial Teórico

O mercado de produção de sementes certificadas de soja do Rio Grande do Sul, como


sua própria denominação diz, é responsável pela produção de sementes de soja com base em
um processo de certificação regulamentado pelo Ministério de Agricultura Pecuária e Meio
Ambiente (MAPA). Os produtos elaborados por este setor são fornecidos para agricultores do
estado, demais regiões do Brasil e para outros países. Segundo CIRINO (2010), alguns atores
envolvidos nesse segmento são produtores de sementes, agricultores e obtentores. Ainda
pode-se destacar a atuação de entidades de pesquisa, e órgãos regulatórios.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2018b) no
presente, o Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor de soja indústria do país, cultivando
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207
uma área de 5,69 milhões de hectares e produzindo 16,968 milhões de toneladas, na safra
2017/2018. Além disso, o estado destaca-se na produção de sementes de soja, de acordo com
o Catálogo de Produtores de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (CSM/SR, 2014), na
safra 2013/2014 a produção de sementes de soja era realizada por 97 produtores autorizados
pelas obtentoras. Segundo Gomes et al. (2012) juntamente com o sul do Paraná o Rio Grande
do Sul apresenta o melhor nível de qualidade fisiológica de sementes de soja do país e, isso é
resultado de baixos índices de danos bióticos e abióticos sofridos pelas sementes.
O setor sementeiro do Rio Grande do Sul passou por mudanças significativas em sua
estrutura, principalmente a partir da safra de 2004/2005 com a liberação da biotecnologia
Roundup Ready® pelo Governo Federal (CIRINO, 2010). Este setor ainda vem passando por
mudanças, com a liberação a partir 2010 de novas biotecnologias como, a Intacta RR2 PRO
da Monsanto, e ao evento Liberty Link® da empresa Bayer (VASCONCELOS; SOUZA,
2014, p. 225).
A chegada da biotecnologia na agricultura, por meio de cultivares
geneticamente modificadas, iniciou um novo período da indústria de sementes do
Brasil, alterando, de maneira significativa, a dinâmica do mercado e relação entre
obtentores e produtores de sementes. Durante o movimento de reestruturação do
mercado, algumas das maiores empresas de agroquímicos passaram a atuar também
em atividades nas áreas de biotecnologia e sementes, anunciando um movimento,
sem precedentes, no sentido da convergência entre os segmentos-chave do mercado
agrícola. (ABRASEM, 2015, p. 11).

No Brasil, a soja Roundup Ready® da empresa Monsanto foi o primeiro organismo


geneticamente modificado aprovado para o cultivo, alimentação humana e animal (KLEBA,
1998). Especialmente neste caso, o tardar na liberação de organismos geneticamente
modificados (OGMs) gerou um atraso tecnológico na agricultura brasileira, e principalmente
no estado do Rio Grande do Sul. Enquanto grandes produtores de soja como a Argentina e os
Estados Unidos já desfrutavam desta tecnologia, o Brasil se ocupou de brigas entre cientistas,
agricultores, ambientalistas e representantes do governo (CIRINO, 2010).
O Rio Grande do Sul, segundo Cirino (2010) apresenta condições naturais de clima,
como baixa umidade relativa e baixas temperaturas durante o inverno. Estas condições são
tidas como ideais para a conservação dos atributos fisiológicos das sementes. Desta forma, tal
situação faz com que o estado se destaque na produção de sementes de soja. Ainda, segundo
Cirino (2010) estas mesmas características climáticas são um dos fatores que restringe o
crescimento do mercado de sementes certificadas de soja do estado. Pois, assim o produtor
gaúcho consegue realizar o salvamento de sementes para a semeadura no ano seguinte. Desta
forma, a taxa de utilização de sementes certificadas de soja mantém-se baixa no estado.
De acordo com a ABRASEM (2014), dados da Associação dos Produtores e
Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (APASSUL, 2013), expõem o fato
de que na safra 2013/2014 a taxa de utilização de sementes certificadas de soja pelos
agricultores gaúchos foi de 31%, sendo assim, os maiores consumidores de sementes não
certificadas do país. A situação permaneceu na safra 2015/2016, onde de acordo com a
ABRASEM (2016), a taxa de utilização de sementes certificadas de soja foi de apenas 35%
no estado do Rio Grande do Sul.
No entanto, apesar deste tradicional cenário de baixa taxa de utilização de sementes
certificadas por parte dos agricultores gaúchos, o setor sementeiro do estado continua
desenvolvendo-se. Pois, segundo Cirino (2010) o Rio Grande do Sul é um dos principais
fornecedores de sementes legais para outras regiões produtoras de soja no Brasil. Desta forma,
os produtores de sementes gaúchos não dependem exclusivamente da comercialização dentro
dos limites estaduais.
Neste estudo, em determinados momentos será feita a utilização da expressão
“sementes certificadas” e também a expressão “semente legal”. Cabe destacar que ambas as
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208
expressões referem-se às sementes das categorias Básica, C1, C2, S1, S2. Ainda, algumas
expressões são utilizadas de forma constante. Assim, para facilitar a compreensão, as mesmas
serão utilizadas de acordo com a legislação brasileira em sua lei nº 10.711, de 2003. Para os
efeitos desta Lei, entende-se por:

- Produtor de semente: pessoa física ou jurídica que, assistida por


responsável técnico, produz semente destinada à comercialização; - Obtentor: pessoa
física ou jurídica que obtiver cultivar, nova cultivar ou cultivar essencialmente
derivada; - Cultivar: a variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal superior que
seja claramente distinguível de outras cultivares conhecidas, por margem mínima de
descritores, por sua denominação própria, que seja homogênea e estável quanto aos
descritores através de gerações sucessivas e seja de espécie passível de uso pelo
complexo agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e acessível
ao público, bem como a linhagem componente de híbridos. (BRASIL, 2003, pg. 3).

O processo de desenvolvimento de novas cultivares de soja é lento, e oneroso sob


ponto de vista financeiro, e no caso da soja por se tratar de uma planta autógama, esta pode
ser facilmente reproduzida de forma ilimitada. Previamente a liberação dos transgênicos, a
criação de novas cultivares de soja era realizado por empresas públicas nacionais em parcerias
com outras empresas, fundações e cooperativas. No ano de 2014 cerca de 80% do
desenvolvimento genético foi realizado por empresas internacionais (AGROANALYSIS,
2014). Desta forma, para que não ocorra a estagnação das pesquisas, o próprio setor deve
idealizar mecanismos de proteção (CIRINO, 2010). Segundo Barbosa (2003) a partir do
surgimento de técnicas de manipulação genética, cresceu a necessidade de se proteger as
cultivares. Pois, tornou-se simples o processo de patenteamento dos objetos da biotecnologia,
até mesmo das variedades de plantas e animais.

3. Procedimentos Metodológicos

Este estudo consiste em uma pesquisa do tipo básica, com uma abordagem
quantitativa, apresentando um objetivo descritivo. De acordo com Raupp e Beuren (2006, p.
81) este caráter descritivo é intermediário entre a pesquisa exploratória e a explicativa, sendo
assim, não é tão preliminar quanto a primeira e nem tão aprofundada como a segunda. Nesse
sentido, o objetivo descritivo consiste em identificar, relatar, comparar, entre outros aspectos.
Os dados foram obtidos a partir de procedimentos bibliográficos e documentais.
A apresentação dos dados é realizada basicamente na forma de tabelas, contendo
informações como o total de produção e a participação por obtentor e biotecnologia. Para a
elaboração destas tabelas foram utilizados dados disponíveis nos sites do MAPA e do RNC.
Os dados foram tabulados de forma estratificada por safra, sendo que em cada safra
foram considerados os seguintes indicadores: Total de Campos, Total de Área Semeada e o
Total de Produção Estimada por cultivar. A partir destes indicadores foi realizada a análise da
participação de cada obtentora e biotecnologia perante a produção total de cada safra.
A consulta da obtentora e da biotecnologia de cada cultivar foi realizada em uma
plataforma online do Registro Nacional de Cultivares – RNC/MAPA, disponível no link <
http://sistemas.agricultura.gov.br/snpc/cultivarweb/cultivares_registradas.php >. Em relação
ao Obtentor foi considerado primeiramente o licenciado, ou seja, a empresa que comercializa
a cultivar em questão e posteriormente a empresa que registrou a cultivar.
No Rio Grande do Sul, geralmente a semeadura dos campos de produção de sementes
de soja ocorre no último trimestre de um ano, e a colheita é realizada no primeiro trimestre do
outro ano. Neste trabalho os dados expostos referem-se às safras agrícolas entre a safra
2013/2014 até a safra 2016/2017. A escolha deste período se deu devido que, a partir da safra

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209
2013/2014 as informações referentes a produção de sementes pelo MAPA, passaram a ser
disponibilizadas em formato digital, facilitando o acesso a estes dados.
As safras são expressas de acordo com os anos em que as sementes foram produzidas.
Sendo assim, no trabalho cada safra representa o somatório do produzido entre dois anos (Ex:
2013/2014), mais o produzido em um ano (Ex: 2014/2014). Este somatório se faz necessário,
pois, muitas cultivares de grupos de maturação maiores são produzidas no sistema “safrinha”,
porém, para fins de controle são contabilizadas na safra anterior.

4. Resultados e discussão

4.1. Verificação das obtentoras atuantes no mercado de produção de sementes de soja


certificadas no estado

A tabela 7 apresenta dados de produção e participação, das principais empresas


obtentoras que participaram do mercado de produção de sementes de soja do Rio Grande do
Sul nas safras 2013/2014 a 2016/2017. Analisando a produção de sementes no RS, observa-se
que na primeira safra, houve a concentração de grande parte da produção entre as empresas
Brasmax (41,73%), Don Mario (17,20%), Bayer S.A (10,73%) e Nidera (10,52%), totalizando
80,18% da produção.

Tabela 1 - Dados da Produção, e participação por obtentora no mercado de produção de sementes de


soja, nas safras 2013/2014 a 2016/2017.
2013/2014 2014/2015 2015/2016 2016/2017
Obtentora Total Safras¹
TP¹ % TP¹ % TP¹ % TP¹ %
AGROESTE 7,14 1,40 20,04 3,50 14,37 2,65 8,33 1,22 49,89
BAYER S.A 54,71 10,73 54,08 9,46 32,98 6,07 37,13 5,42 178,92
BRASMAX 212,73 41,73 213,85 37,40 180,06 33,14 246,22 35,92 852,87
COODETEC 8,34 1,64 5,51 0,96 5,60 1,03 10,98 1,60 30,44
DON MARIO 87,67 17,20 77,37 13,53 62,93 11,58 67,39 9,83 295,37
EMBRAPA 0,088 0,17 0,07 0,01 2,48 0,46 7,33 1,07 10,78
FPS – GDM 31,48 6,18 21,18 3,70 15,54 2,86 14,18 2,07 82,39
GMAX 3,15 0,62 13,14 2,30 5,35 0,99 3,78 0,55 25,44
MONSOY 8,49 1,67 35,78 6,26 75,32 13,86 119,08 17,37 238,65
NIDERA 53,60 10,52 55,14 9,65 58,84 10,83 52,48 7,66 220,08
ROOS 6,22 1,22 8,02 1,40 5,78 1,06 5,28 0,77 25,31
SYNGENTA 20,22 3,97 16,49 2,88 6,05 1,11 7,26 1,06 50,03
TMG 13,65 2,68 49,46 8,65 75,26 13,85 96,63 14,10 235,01
Outros² 1,43 0,28 1,58 0,28 2,73 0,50 9,45 1,38 15,20
Total Safra¹ 509,78 100 571,76 100 543,35 100 685,54 100 2.310,44
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do MAPA, RNC. ¹ mil toneladas. ² 2013/2014 (FT sementes,
Nexsem, Fepagro, FPS-Bayer); 2014/2015 (Agrária, Baup, FPS-Bayer S.A, Guaiá, LG, Sempre Sementes, Serra
Bonita); 2015/2016 (Advanta, Baup, Fepagro, FPS-Bayer S.A, Intellicrops, Macroseed, Riber KWS, Serra
Bonita); 2016/2017 (Baup, Dupont Pioneer, FPS-Bayer, FT Sementes, Geneze Sementes, HO Sementes ltda,
Intellicrops, LG, Riber KWS, Sempre Sementes, Soytech-Bayer S.A).

Na safra seguinte 2014/2015, estas mesmas obtentoras mantiveram-se com a maior


participação na produção somando 69,95%. Contudo, nesta mesma safra duas empresas
começaram a destacar-se, a TMG (8,65%) e Monsoy (6,26%). Este aumento de participação
das empresas TMG e Monsoy ocorreu mesmo que, não tenha ocorrido significativa redução
dos volumes de produção das obtentoras que vinham dominando a produção. Tal situação

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210
demonstra que os produtores de sementes e os consumidores apresentam boa aceitabilidade de
novas cultivares.
De maneira geral, avaliando o mercado de produção de sementes no decorrer das
safras 2013/2014 a 2016/2017, constata-se que as empresas Bayer S.A, Brasmax, Don Mario,
Monsoy, Nidera e TMG dominaram a produção de sementes legais de soja, durante o período
em questão. Ainda, verifica-se que as empresas Bayer S.A, Brasmax, Don Mario e Nidera
reduziram sua participação no mercado de sementes do RS no decorrer das safras 2013/2014 a
2016/2017. Destaca-se a redução das empresas Bayer S.A (10,73% para 5,42%) e da Don
Mario (17,20% para 9,83%) (Tabela 8).
Por outro lado, as empresas Monsoy e TMG aumentaram sua participação na produção
de sementes de soja. A Monsoy que na safra 2013/2014 apresentava participação de 1,67%
encerrou a safra 2016/2017 com 17,37% de participação. Já a TMG, saltou de uma
participação de 2,68% na safra 2013/2014, para uma participação de 14,10% no mercado de
produção de sementes soja gaúcho na safra 2016/2017 (tabela 7). Assim, durante o período
estudado nota-se uma tendência ao aumento da participação de novas obtentoras no mercado
de produção de sementes certificadas de soja do Rio Grande do Sul.
Em estudo similar, Cirino (2010) avaliando aspectos de área, produção e
comercialização de sementes de soja do Rio Grande do Sul nas safras 2005/2006 a 2007/2008,
obteve resultados similares. Este autor observou uma divisão mais homogênea, e da
participação de novas obtentoras na produção de sementes de soja do estado com o passar das
safras.

4.2. Verificação das biotecnologias presentes nas cultivares que compõem a produção
de sementes certificadas de soja no estado

A partir da identificação das cultivares que compõem a produção de sementes de soja


certificadas no Rio Grande do Sul, foi realizada a verificação e relacionamento das
biotecnologias presentes nestas cultivares. De posse destas informações foi confeccionada a
Tabela 8, que traz de forma resumida a produção e a representatividade de acordo com cada
biotecnologia, durante o período do estudo, por safra.

Tabela 2 - Representatividade das Biotecnologias presentes nas cultivares de soja produzidas entre as
safras 2013/2014 até 2016/2017.
2013/2014 2014/2015 2015/2016 2016/2017
Biotecnologia Total Safras¹
TP¹ % TP¹ % TP¹ % TP¹ %
Roundup Ready (RR) 309,55 60,72 249,11 43,57 188,78 34,74 90,24 13,16 837,69
Intacta RR2 Pro (IPRO) 198,64 38,97 322,64 56,43 353,73 65,10 572,27 83,48 1.447,29
Liberty Link (LL) 0 0 0 0 830 0,15 23,03 3,360 23,86
Convencional² 1,58 0,31 0 0 0,007 0,001 0 0 1,59
Total Safra 509,78 100 571,76 100 543,35 100 685,54 100 2.310,44
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do MAPA, RNC. ¹ mil toneladas. ² ausência de biotecnologia.

Analisando a Tabela 8 foi possível a verificação de diferentes situações envolvendo as


biotecnologias presentes nas cultivares que compõem a produção de sementes legais de soja
no RS. Inicialmente constatou-se que durante as safras avaliadas, foram multiplicadas
cultivares com e sem a presença de biotecnologias. Sendo que, das biotecnologias presentes
duas são responsáveis exclusivamente pela tolerância da soja a herbicidas (Roundup Ready®
e Liberty Link®), e outra é responsável tanto por conferir tolerância a herbicidas, como
também por conferir resistência a algumas pragas lepidópteras.
Na safra 2013/2014 a principal biotecnologia presente nas cultivares multiplicadas no
Rio Grande do Sul foi a Roundup Ready®, nesta safra 60,72% da produção foi de material
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211
contendo esta tecnologia. Nesta mesma safra, a biotecnologia Intacta RR2 Pro® representou
38,97% da produção total de sementes de soja do RS. Ainda na safra 2013/2014, verificou-se
que 0,31% da produção de sementes adveio de cultivares convencionais, ou seja, ausentes de
qualquer tipo de biotecnologia. No ano seguinte, safra 2014/2015, apenas as biotecnologias
Roundup Ready® (43,57%) e Intacta RR2 Pro® (56,43%) estavam presentes nas cultivares
multiplicadas no estado.
Na safra 2015/2016, novamente cultivares convencionais passaram a ser multiplicadas
no RS, contudo, apresentando uma participação de apenas 0,31% da produção total de
sementes de soja. Também na safra 2015/2016 participaram da produção cultivares contendo
as biotecnologias Intacta RR2 Pro® (65,10%), Roundup Ready® (34,74%) e, em seu primeiro
ano de multiplicação no estado a biotecnologia Liberty Link® foi responsável por 0,15% da
produção de sementes legais de soja do Rio Grande do Sul. Na última safra avaliada no
estudo, 2016/2017, três biotecnologias estavam presentes nas cultivares que compunham a
produção de sementes de soja. A biotecnologia Roundup Ready® obteve 13,16% de
participação, a Intacta RR2 Pro® com 83,48%, e a biotecnologia Liberty Link® 3,36% da
produção de sementes legais de soja do Rio Grande do Sul.
Analisando a Tabela 8, verifica-se que durante as safras 2013/2014 a 2016/2017 que as
principais biotecnologias presentes nas cultivares que compunham a produção de sementes do
Rio Grande do Sul são a Roundup Ready® e Intacta RR2 Pro®, ambas da empresa Monsanto.
Ainda em relação a estas duas biotecnologias observa-se uma grande diminuição da
participação da biotecnologia Roundup Ready® como biotecnologia única nas cultivares, na
produção de sementes certificadas de soja do RS.
Com o decorrer das safras também se constata que a grande maioria das novas
cultivares passou a conter também a biotecnologia Intacta RR2 Pro®. Cabe destacar que todas
as cultivares contendo a biotecnologia Intacta RR2 Pro®, também contêm a biotecnologia
Roundup Ready®. É notário o crescimento da participação da biotecnologia Intacta RR2
Pro® na produção de sementes certificadas de soja do RS. Sendo que, esta participação
passou de 38,97% na safra 2013/2014 para 83,48% na safra 2016/2017 (Tabela 8). Tal fato
demonstra que o produtor rural que adquire sementes legais, está aberto a novas tecnologias
que venham a facilitar o manejo produtivo das lavouras.
Outro fato a ser destacado é de que nas safras 2014/2015 e 2016/2017 todas as
cultivares multiplicadas no Rio Grande do Sul, apresentavam biotecnologias de tolerância a
herbicidas. Na safra 2014/2015 as biotecnologias Intacta RR2 Pro® (56,43%) e Roundup
Ready® (43,57%), ambas conferentes de tolerância a cultura da soja ao herbicida Glifosato,
totalizaram 100% da produção de sementes certificadas do RS. Na safra 2016/2017, estas
duas biotecnologias também dominaram o mercado de produção de sementes legais do estado,
sendo assim, 96,64% da produção total foi composta por cultivares tolerantes ao herbicida
glifosato. Também, nesta mesma safra a biotecnologia Liberty Link® que confere tolerância a
soja ao herbicida Glufosinato de amônio, participou de 3,36% da produção de sementes
certificadas de soja do Rio Grande do Sul. Desta forma, pode-se afirmar que na safra
2016/2017 todas as cultivares de soja multiplicadas no estado do Rio Grande do Sul
apresentavam biotecnologias de tolerâncias a herbicidas.

5. Conclusões

O mercado de sementes certificadas de soja do Rio Grande do Sul apresenta grande


destaque no cenário nacional. Devido a isso, se faz necessário estudar de forma mais
detalhada seus indicadores e tendências.
O presente estudo teve por objetivo caracterizar o mercado de produção de sementes
de soja certificada no estado do Rio Grande do Sul. Para isso, foi realizada a verificação das
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212
obtentoras atuantes no mercado de produção de sementes certificadas de soja no estado. Esta
verificação foi realizada a partir da análise das cultivares multiplicadas no estado e do
Registro Nacional de Cultivares – RNC. Esta mesma metodologia foi utilizada para a
verificação de quais as biotecnologias presentes nas cultivares que compõem a produção de
sementes de soja certificadas no estado.
Os resultados demonstram que durante o período avaliado as obtentoras Bayer S.A,
Brasmax, Don Mario, Monsoy, Nidera e TMG dominaram o mercado de produção de
sementes certificadas de soja no Rio Grande do Sul. Observou-se a tendência de aumento da
participação de novas obtentoras na produção de sementes legais de soja do estado no
decorrer das safras. Comprova-se essa tendência com o aumento da participação das
obtentoras Monsoy e TMG.
No tocante as biotecnologias presentes nas cultivares multiplicadas no Rio Grande do
Sul durante as safras 2013/2014 a 2016/2017. Nota-se que em todas as safras, a maioria das
cultivares apresentou alguma biotecnologia presente. Sendo que, nas safras 2014/2015 e
2016/2017 todas as cultivares de soja multiplicadas no estado apresentavam biotecnologias de
tolerância a herbicidas.
As principais biotecnologias presentes nas cultivares multiplicadas no estado foram a
Roundup Ready® e a Intacta RR2 Pro® da empresa Monsanto. A biotecnologia Intacta RR2
Pro® apresentou o maior aumento de presença nas cultivares multiplicadas durante o período
avaliado, passando de 39,97% de participação na safra 2013/2014 para 83,43% na safra
2016/2017.
A partir da safra 2015/2016 a biotecnologia Liberty Link® passou a estar presente em
cultivares que compunham o mercado gaúcho de produção de sementes certificadas de soja.
Ainda, se observou que a multiplicação de cultivares convencionais é inexpressiva. Nas safras
2014/2015 e 2016/2017 nenhuma cultivar convencional foi multiplicada no Rio Grande do
Sul.

6. Referências

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__________ Anuário 2015. Brasília: ABRASEM, 2015.
__________ Anuário 2016. Brasília: ABRASEM, 2016.
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abrasem >. Acessado em: 20 de mai de 2018.
APASSUL. ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES E COMERCIANTES DE SEMENTES E
MUDAS DO RIO GRANDE DO SUL. Anuário 2013. Brasília: APASSUL, 2013.

BARBOSA, D. B. Uma introdução à propriedade intelectual. Porto Alegre: Ed. Lumen


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BRASIL. Lei 10.711 de 05 de agosto de 2003. Dispõe sobre o Sistema Nacional de
Sementes e Mudas e dá outras providências. Brasília, DF, ago 2003.

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E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
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CIRINO, J. C. M. Análise do mercado de sementes de soja no Rio Grande do Sul. 2010.
70f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Sementes) – Universidade Federal de
Pelotas, Pelotas, RS, 2010.
CONAB. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da
safra brasileira de grãos, v. 6, Safra 2017/18 - Sexto levantamento. Brasília: CONAB,
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214
MERCADO FUTURO DE MILHO E SUA UTILIZAÇÃO NAS
CEREALISTAS DE PALMEIRA DAS MISSÕES

FUTURE MAIZE MARKET AND ITS USE IN CEREALISTS OF


PALMEIRA DAS MISSÕES
Leôncio Oliveira da Rosa 1, Priscila Sampaio de Moraes2, Tiago Dalla Corte3, Amanda
Regina Leite4

Resumo
O presente artigo objetiva examinar o mercado futuro do milho e a sua possível utilização pelas cerealistas de
Palmeira das Missões-RS. No geral, os preços no mercado de milho são voláteis, isso pode ser observado nas
variações de preços ocorridas no mercado brasileiro entre o ano de 2016 e no início do ano de 2018, em que essa
variação também pode ser observada no município de Palmeira das Missões onde os preços apresentaram forte
volatilidade entre R$40,00 (2016/2017), R$ 28,00 (2017/2018) e R$ 35,00 (2018). Diante do exposto, realizou-
se uma revisão de literatura sobre mercado futuro de milho, destacando suas principais modalidades e as
possíveis travas de opções oferecidas pelo mercado. Ainda, um questionário foi aplicado em 04 cerealistas do
município entrevistando os gerentes das mesmas. Constatou-se que as empresas não utilizam a opção de
trabalhar com as travas do mercado futuro de milho, pois suas estratégias de travas são desenvolvidas através da
venda diretamente com as empresas consumidoras finais.
Palavras-chave: Milho, Gestão de Risco, Mercado Futuro.

Abstract
This article aims to examine the future corn market and its possible use by cereals from Palmeira das Missões-
RS. In general, prices in the maize market are volatile, this can be observed in the price variations occurring in
the Brazilian market between 2016 and early 2018, when this variation can also be observed in the municipality
of Palmeira das Missões where prices showed strong volatility between R$ 40.00 (2016/2017), R$ 28.00
(2017/2018) and R$ 35.00 (2018). In light of the above, a review of the literature on the future maize market was
carried out, highlighting its main modalities and possible options locks offered by the market. Also, a
questionnaire was applied to four cerealists from the municipality interviewing their managers. It was verified
that the companies do not use the option to work with the future corn market locks, because their strategies of
locks are developed through the sale directly with the final consuming companies.
Keywords: Corn, Risk Management, Future Marke.

1 Introdução
O milho é uma das principais commoditie agrícola produzida no mundo e atualmente
se consolida como a segunda cultura mais importante para a agricultura brasileira, perdendo
apenas para a soja. Conforme Barros e Alves (2015) a cultura do milho tem passado por uma
série de transformações no Brasil, inclusive aquelas voltadas a tornar o referido grão uma
cultura mais nobre, para os consumidores, e rentável, para os produtores brasileiros.
A previsão da produção mundial de milho para a safra 2017/2018 é de 1,04 bilhão de
toneladas. Em relação à safra 2016/17, projeta-se uma queda de 30,9 milhões de toneladas. O
consumo mundial estimado é de 1,067 bilhão de toneladas, correspondendo a um recorde. A
projeção para os estoques mundiais do cereal é de 203,9 milhões de toneladas

1
Bacharel em Administração, MBA em Finanças, Mercado Capitais ed 1ª/Universidade de Passo Fundo1-
leoncio.oliveira@hotmail.com
2
Bacharel em Administração, aluna do Mestrado em Administração do PPGADM/UPF/Universidade de Passo
Fundo-120560@upf.br.
3
Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo. Mestre em
História pela mesma instituição (PPGH/UPF) Universidade de Passo Fundo- dallacorte@upf.br
4
Bacharel em Administração, aluna do Mestrado em Administração do PPGADM/UPF/Universidade de Passo
Fundo - amanda-rl@hotmail.com

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(DEAGRO/FIESP, 2017). No geral, os preços no mercado de milho são voláteis, o que eleva
os riscos para os agentes envolvidos na cadeia (BARROS; ALVES, 2015). Tais oscilações se
devem às questões que influem diretamente sobre o preço físico, como clima, previsões,
colheitas de safras, estoques e até mesmo movimentações especulativas nas Bolsas de
Mercadorias onde são negociadas (IMEA, 2015). Isso pode ser observado nas variações de
preços ocorridas no mercado brasileiro, em que o milho variou entre 2016/2017 R$ 52,00,
2017/2018 R$ 35,00 e 2018/2019 R$ 40,00.
Essa variação também pode ser observada no município de Palmeira das Missões onde
os preços flutuaram entre 2016/2017 R$40,00, 2017/2018 R$ 28,00 e 2018/2019 R$ 35,00,
segundo informações da maior cooperativa do município. O município apresenta uma forte
tendência para a produção de grãos, em que se alteram as culturas de milho e soja. O principal
fator determinante para a escolha entre milho e soja, são os comportamentos dos preços. Em
função da volatilidade os preços, em alguns anos plantam-se mais milho do que em outros.
Diante do exposto, busca-se com esse artigo, apresentar um estudo sobre mercado
futuro na comercialização da produção de milho. O objetivo geral do estudo é: Estudar o
mercado futuro do milho e a sua possível utilização nas cerealistas de Palmeira das Missões.
Especificamente; Realizar estudo bibliográfico pertinente sobre o mercado de milho.
Conhecer funcionamento dos contratos futuros de milho na bolsa, ajuste diário, margens de
garantia, o tamanho do contrato, os meses de vencimento e opções de compra e venda.
Entrevistar através de questionários a utilização dos contratos futuros de milho como proteção
de preços pelos cerealistas de palmeira das missões. Analisar, com base nos questionários, a
comercialização do milho no município, com destaque para a utilização da trava com
contratos futuros e de opções.

2 Referencial Teórico

2.1 Riscos e sua relação com a comercialização nas propriedades rurais


A maior profissionalização da produção de grãos nas últimas décadas representou
ganhos de eficiência e produtividade pelos agricultores, porém ainda são muitos os riscos e
incertezas relacionados a atividade. O gerenciamento de riscos é essencial para os produtores
rurais de commodities agrícolas, visto que há uma variedade significativa de riscos que podem
impactar negativamente nas atividades dos que produzem no campo (BORGES, 2010).
O entendimento de risco por Rougooret al. (1998), é como uma incerteza que afeta o
bem-estar dos indivíduos e está associado frequentemente com a ideia de adversidade ou
perda. Barros e Alves(2015) traz o entendimento de risco como a possibilidade de ocorrência
de alguma adversidade ou perda, e que a principal função dos administradores é tomar
decisões enfrentando ou gerenciando esses riscos, principalmente no caso específico da
agricultura.
Nas atividades relacionadas à produção e comercialização de commodities agrícolas,
Rougoor et al. (1998) consideram que os produtores rurais são avessos aos riscos (já que a
agricultura se revela arriscada pela dependência dos fatores de clima e flutuações de preço),
ressaltando que as atitudes ou decisões frente ao risco variam de produtor para produtor.
Nesse contexto, Borges (2010) afirma que há uma variedade significativa de riscos, a
exemplo de eventos biológicos, climáticos e de mercado, que podem impactar negativamente
nos negócios dos que produzem no campo.
O produtor rural está exposto diretamente ao risco de queda de preços na
comercialização de sua produção. Isso porque a intensão dele é vendê-la por preço que
remunere seus custos de produção e ainda lhe proporcione algum lucro. Porém, se os preços
do milho recuarem, por exemplo, sua receita poderá não ser suficiente nem para cobrir seus
custos.

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Portanto, se torna fundamental que os agricultores identifiquem os riscos que a
comercialização de sua produção está exposta e que conheçam os instrumentos de mercado
disponíveis para minimizá-los.

2.2 Palmeira das Missões


O município de Palmeira das Missões é uns dos principais produtores de grãos norte-
noroeste do Rio Grande do Sul, segundo o site Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul.
De acordo com a Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE, o RS produziu em média, 13,8
milhões de toneladas do grão no triênio 2013-2015. A área plantada no mesmo período
passou de 4,7 milhões de hectares para 5,2 milhões de hectares. Tendo por base a relação
quantidades produzidas - área plantada, na última década, pode-se afirmar que houve
importante ganho de produtividade no RS através do emprego de novas tecnologias de plantio
e de manejo do solo, como por exemplo, o melhoramento genético e a transgenia, os métodos
de plantio direto e de agricultura de precisão. A produção tem como destino principal o
mercado externo e é o item de maior destaque da pauta de exportações gaúchas.
Porém, o milho possui grande relevância, segundo a FAO – Food and Agriculture
Organization, o continente americano é responsável por cerca de 52% de todo milho
produzido no mundo - uma das principais commodities agrícolas negociada nos mercados
internacionais. Entre os países, o Brasil é o terceiro maior produtor, com aproximadamente
8% do total produzido no mundo em 2015. Entre as unidades da federação, o Rio Grande do
Sul é o sexto maior produtor de milho em grão do Brasil, superado pelos estados de Minas
Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e Mato Grosso. Onde podemos perceber diante do
mapa, quantidade produzida de milho em grão no RS média 2013-2015, que a região de
Palmeira das Missões é uma das maiores.

2.3 Mercados de comercialização de milho


Atualmente diante de tantos riscos e incertezas, os produtores precisam identificar em
quais mercados e as formas de comercializar os seus produtos a preços que tragam uma
margem de lucratividade para sua produção. De acordo com a IMEA (2015) as negociações
contemporâneas do milho podem ocorrer em quatro grandes modalidades: o físico, da venda
antecipada, de futuro e de opções.

Tabela 1. Principais tipos de modalidades de comercialização de milho.


Mercado físico (spot, cash Mercado de venda antecipada (a Mercado futuro Mercado de opções
ou à vista) termo, troca e CPR) (put e call)
Fonte: Elaborado pelo autor.

O mercado “físico” também conhecido como mercado à vista, cash ou spot é


caracterizado pela troca de produto físico (grãos) por dinheiro, de forma imediata e com alta
liquidez. De acordo com Buranello (2009) é marcado pelo relacionamento direto entre
compradores e vendedores, que definem preço, espécie e data de entrega, que pode ser
anterior ou após o fechamento da operação comercial. Muito comum de ocorrer essa forma de
comercialização logo após a colheita, para gerar fluxo de caixa para o produtor rural. No
mercado físico inclui-se a estratégia de estocagem na propriedade para venda futura ou a
armazenagem em terceiros (cooperativas, particulares) com preço de venda à fixar.
Já o mercado de “venda antecipada” diz respeito ao acordo para futuras transações.
Como exemplo, quando ocorre a venda dos futuros grãos de uma lavoura antes mesmo da
semeadura ou no meio do ciclo da cultura. Nesse caso, existe um certo risco de não
cumprimento do contrato, muito em função do preço de venda no dia de cumprimento do

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contrato (o preço do dia estar muito acima do acordado) e também por problemas com a
produtividade da lavoura afetada por exemplo, por estiagens, enchentes, granizos ou pragas.
Esse modelo pode ser feito de três modalidades. Na primeira, ocorre o contrato de
venda antes da colheita (denominado “a termo”) com o compromisso feito entre vendedor e o
comprador especificando a quantidade do produto e a data a ser entregue, a que preço e a data
de pagamentos. Para exemplificar: são mais comuns nesse caso o “contrato de lote” e o
“contrato de soja verde”. O segundo é denominado venda antecipada em equivalência
produto, conhecido também conhecida como “troca”, e que consiste na transferência de
unidades de insumos agrícolas equivalentes a uma parte da produção. Por fim, a Cédula de
Produto Rural (CPR), que consiste na negociação antecipada de parte de sua produção,
recebendo o valor antecipado, com o objetivo de fixar os preços futuros e custear sua
produção.
Nessa modalidade de mercado, o produtor ou investidor pode negociar contratos
através da compra de uma opção de venda (put) ou da compra de uma opção de compra (call),
pagando por elas um prêmio ao vendedor (lançador) da opção (PEROBELLI, 2015). No
momento que o comprador pagar o prêmio ao vendedor da opção, este detém o direito, mas
não a obrigação, de exercê-la em uma data futura. Contudo, caso o titular exerça seu direito, o
lançador possui uma obrigação futura.

2.4 Formação do preço do milho


Historicamente, o principal indicativo para a formação dos preços do milho, no
mercado externo e interno, é a relação estoque/consumo que, a princípio, fornece uma medida
do tempo que os estoques suportarão o consumo sem que haja reposição. Em uma avaliação
mais ampla, Arbage (2006) afirma que a formação de preço de mercado agrícola é resultado
direto das condições de oferta e demanda, sendo apurado em função das 22 variações
mercadológicas, entre elas, variações internacionais, nacionais e regionais, condições
climáticas, nível dos estoques, oscilações do mercado comprador e vendedor, e também o
nível da oferta e demanda de produtos substitutos e todos os fatores bióticos e abióticos que
influenciam a produção.
Por se tratar um dos principais produtos agrícolas do mundo, as cotações mundiais são
fortemente influenciadas pela relação oferta - demanda (BURANELLO, 2009), e assim como
outras commodities, o preço do milho é influenciado pelas bolsas internacionais. No caso do
milho a principal referência é a Chicago Board of Trade (CBOT) onde os demonstrativos são
feitos em bushel, sendo que cada bushel representa 25,4kg de milho. Segundo Buranello
(2009) a dinâmica dos preços internacionais do milho está intimamente ligada ao mercado
norte-americano, visto que os EUA são o maior produtor mundial e também o maior
exportador.
No Brasil, a Bolsa de Valores, Mercadoria e Futuros (BM&F BOVESPA) forma a
referência para os preços médios do mercado interno em reais por saca de 60 kg. Por meio do
gráfico1, que apresenta uma série dos preços em reais (saca de 60 kg) no Brasil para os
últimos 2 anos observa-se que os preços oscilam muito, mesmo em curto período, chegando a
ter seu preço reduzido pela metade, de R$ 52,00 em maio de 2016 para R$ 26,00 em julho de
2017, em apenas 14 meses.

Gráfico 1. Evolução dos preços reais médios (R$) da saca de milho no Brasil, entre dezembro de 2015 a
novembro de 2017.

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Fonte: Cepea/Esalq/USP (2017)

O mercado do milho brasileiro é especificamente caracterizado por forte influência das


regiões consumidoras, que resulta em diferenças consideráveis nos preços entre as diversas
regiões do país. De acordo com Arbage (2006), a origem das diferenças está no balanço inter-
regional de produção e consumo e que existem ainda particularidades na forma de
comercialização e nos sistemas de produção conforme a região ou estado.

2.5 Mercado Futuro de Milho


Os mercados futuros de commodities agropecuárias são uma forma de propiciar um
certo “seguro”, em meio a tanto risco, para o produtor rural e para a agroindústria,
possibilitando uma “garantia” quanto à queda ou à elevação de preços. Os mercados futuros
podem ser uma forma eficaz de eliminação de um dos principais riscos da atividade
agropecuária, aquele decorrente da incerteza de preços em um tempo futuro, quando se dará
então a comercialização da safra agrícola. (BERTOLO,2013)
O sistema funciona em hedge, essas operações dependem do mercado físico para
estabelecer os preços e podem seguir como long; hedge de compra, o comprador fixa o preço
de sua matéria prima para evitar oscilações imprevistas na sua margem operacional e como
short; o vendedor fixa o preço de venda de sua mercadoria para cobrir seu custo de produção
e margem de lucro. (RODRIGUES, 2013).
Sobre o funcionamento dos contratos futuros na bolsa, as variações de preço do
mercado futuro dependem da demanda e oferta dos contratos futuros, dependendo do mercado
físico, e resulta das expectativas que os agentes possuem em relação a comercialização futura
(MARQUES,2017). Essa modalidade de compra oferece opções de ganhos ao sistema de
compra de commodities de grãos, podendo existir como especulação do Mercado Futuro e
proteção de preços. Para que esse funcionamento seja eficiente a Bolsa de valores estabelece a
padronização dos contratos, que definem: datas de vencimento, qualidade da mercadoria,
pontos de entrega e outras especificidades. Dessa maneira a padronização é fundamental para
a liquidez do mercado, e objetiva estabelecer condições de transação do mercado. Conforme
Rodrigues (2012) os contratos são impessoais e homogêneos, não se trata de um negociação
entre agentes específicos, os acertos financeiros são precedidos pela Câmara de compensação.
Conforme Andrade (2004), uma das características dos mercados futuros é a
existência de depósitos de margem de garantia. Configura-se por ser um depósito, em ativos
financeiros, exigidos pela bolsa, proporcional ao valor do contrato negociado e definido a
critério da instituição. Deve ser depositada no dia útil subsequente ao de abertura da posição.
Na BM&F, hedgers recebem um desconto de 20% do valor cobrado, quando comparado aos
especuladores.
As margens de garantia aceita ativos como dinheiro, ouro, títulos públicos, carta de
fiança, ações, CPR. Se o ativo for dinheiro para a Margem de Garantia, este fica aplicado em
um fundo de investimento da BM&FBovespa, administrado pelo Banco BM&F. O valor da
margem de garantia varia conforme o ativo, o vencimento e a posição. O valor da margem de
garantia varia conforme o ativo, o vencimento e a posição assumida. Também varia conforme

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o tipo de investidor, hedgers apresentam uma margem de garantia menor do que
especuladores. As margens de garantia para cada ativo e vencimento são divulgadas
constantemente e diretamente no site da BM&Bovespa.(MARQUES, 2017).
As margens de garantia é um instrumento que oferece maior segurança ao sistema de
bolsas. Segundo Andrade (2004), são justificadas pela necessidade controle do excesso
volatilidade e principalmente a inadimplência procurando impor um nível que minimize os
riscos e não cause um impacto negativo em contratos futuros. Sobre os contratos Andrade
(2004) traz que as variáveis de risco e custo de transação estão associadas diretamente com o
fato de que todos os contratos são incompletos. Isso ocorre por dois motivos: o primeiro
implica a incerteza, um grande número de possiblidades, e saber que todas podem se tornar
inviáveis; a segunda, a performance pode ser difícil de mensurar, logo, quebras de contrato
podem ser difíceis de comprovar legalmente, dando margens a ações oportunistas
Sobre o tamanho do contrato e os meses de vencimento, o Contrato Futuro de Milho é
negociado em reais por saca de milho (1 saca = 60kg), tem o lote mínimo de negociação de 27
toneladas métricas de grão a granel ou 450 sacas (1 contrato) e a liquidação no vencimento é
feita financeiramente por diferença de preço. Como exemplo: os participantes do mercado,
como produtor, indústria ou trading poderão enviar ofertas por meio da sua corretora, com
oscilação mínima de R$0,01 por saca, sendo que a menor variação financeira do contrato é de
R$4,50 (tickvalue). Para permitir que os investidores realizem negócios nos meses de safra
(março, maio e setembro) e nos meses de entressafra (janeiro, julho, agosto e novembro), os
meses autorizados à negociação pela BM&FBOVESPA são janeiro, março, maio, julho,
agosto, setembro e novembro. (BOVESPA,2014)
Com relação ao local para formação dos preços futuros do milho, a base das
negociações localiza-se em Campinas, SP, onde foi constatado que há maior variabilidade
(coeficiente de variação) é o local onde está a maior parte da indústria que beneficia milho no
Brasil. Dos preços nas regiões produtoras do Centro-Oeste, frente aos preços de regiões
consumidoras líquidas como Campinas/SP e porto de Paranaguá.

2.6 Opções (put e call)


Opções são instrumentos que conferem a seus titulares o direito de comprar (Call) ou
vender (Put) um ativo em uma data futura por um preço predeterminado. Um investidor pode
comprar ou vender Calls ou Puts para fins especulativos ou de hedge. Desconsiderando outros
fatores que impactam a precificação das opções, Calls ficam mais caras à medida que o ativo
base se valorize, enquanto Puts se beneficiam de um cenário de queda. (Neves 2016).
O preço de uma opção é um prêmio pago (ou recebido) por adquirir (ou vender) um
direito. As opções podem ser de compra (call) ou de venda (put), sendo as duas instrumentos
que dão ao seu comprador (o titular) um direito futuro sobre algo, mas não uma obrigação; e
ao seu vendedor (o lançador) uma obrigação futura em caso do titular exercer seu direito E,
por assumir esta obrigação, o lançador recebe o prêmio pago pelo titular. Na call, o hedger se
protege contra a alta dos preços do bem ou ativo, e na put, da baixa dos preços no mercado
físico. (PEROBELLI, 2015)

2.7 Hedge
Avaliando as dificuldades dos cerealista de Palmeiras das Missões em lidarem com
inseguranças do mercado futuro de milho, se revela a importância das operações de hedge nos
mercados futuros (OLIVEIRA, 2008).
Segundo Simão (2017) o hedge consiste em operações que protegem o mercadorias ou
ativos financeiros contra oscilações bruscas de preços as quais podem ser representadas pela
troca de rentabilidade de diversos indicadores de mercado ou por meio de fixação de preços

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futuros. De maneira geral a hedge tem objetivo de proteção diante das variações de preço do
mercado.
Conforme Rodrigues (2013), a determinação dos preços no mercado futuro ocorre por
meio de interações entre a oferta e demanda de contratos futuros colocando que o mercado
está diretamente ligado ao comportamento do mercado físico, pois depende de expectativas
que os agentes têm para comercialização futura. Rodrigues, ainda, expõem que para garantir
antecipadamente o preço futuro para a mercadoria vendida ou comprada os agentes assumem
posições como: hedge de compra, long, o comprador fixa o preço de sua matéria-prima para
evitar oscilações imprevistas na sua margem operacional; e Hedge de venda (short): o
vendedor fixa o preço de venda de sua mercadoria para cobrir seu custo de produção e sua
margem de lucro.
Portanto a utilização da hedge como ferramenta varia de acorda com a necessidade do
cliente, suas operações são determinado pela variação dos preços ao longo do tempo. (MAIA,
2010)

3 Procedimentos Metodológicos
O presente estudo é revisão de literatura de natureza qualitativa sobre estudos e
investigações sobre o Mercado Futuro de Milho, destacando as características gerais dos
procedimentos do assunto em estudo. Também, será visualizado uma pesquisa realizadas nas
empresas município de Palmeira das Missões, de caráter exploratório para verificar a
utilização da temática em estudo e os procedimentos em prática.
Essa pesquisa ocorreu em fevereiro de 2018, com o objetivo de verificar a utilização
das ferramentas de mercado futuro de milho. O questionário foi aplicado em cerealistas do
município. Existem seis empresas, dentre essas uma não faz o recebimento de milho e outra
não participou da pesquisa por determinação da direção. Sendo então, o questionário foi
realizado por quatro cerealistas, que não autorizaram a divulgação dos nomes.

4 Resultados e Discussão
Essa seção pretende discutir o que os questionários mostraram em termos de
informações sobre o mercado de milho para os cerealistas. Para atingir o objetivo do trabalho,
foi realizada uma pesquisa em empresas do município de Palmeira das Missões para verificar
a utilização das ferramentas de mercado futuro e diagnosticar possíveis motivos que travem o
andamento das atividades realizadas no mercado futuro de milho na região.
Os questionários evidenciaram seguintes situações. A Empresa (A) tem como objetivo
oferecer soluções sustentáveis para seus clientes do plantio à venda da produção. Entendendo
que apesar da diminuição da produção de milho no último ano, essa cultura é de suma
importância para questões de rotação de culturas, estruturação e manejo de solo, desta
maneira sempre apresentando bons resultados, com isso proporcionando um recebimento em
média de 200 mil sacos de milho por safra, também fica claro no questionário que o período
que empresa mais compra milho e entre os meses de fevereiro a abril. Evidencia também que
a empresa está sempre em expansão. Não utiliza BMF para travas de posições, pois a maior
parte dos negócios da empresa é realizado através de Hedge (trava de posição), direto com as
empresas consumidoras finas, (BRF, Aurora, JBS, etc). Também, não trabalha com
especulação de commodities por determinação do conselho fiscal, sempre trabalha com
operações pré-fixada com indústrias ou tradings.
A Empresa (B) tem como objetivo, formar parcerias através do cooperativismo, com
produtores associados, através do fornecimento de insumos, e outros bens de uso e consumo,
recebendo a produção e agregando renda. A empresa escolheu trabalhar nesta região do
estado, em virtude do alto potencial produtivo da região de Palmeira das Missões, e também a
população com poder de compra (consumo), tendo como visão otimista do mercado de milho

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com bons preços para safra de 2018/2019. Recebe em média, por ano, safra em torno de 300
mil sacas de milho, sendo que deste recebimento o período que a empresa mais compra milho
está entre fevereiro e março (colheita). Também está dentro do planejamento da empresa para
2018, o investimento em ampliação. Não utiliza BMF para realizar travas de posições,
segundo informação dada pelo gerente da empresa essa decisão de não usar BMF é da direção
da empresa.
A Empresa (C) tem como objetivo, atender os clientes em todas as suas demandas,
desde o plantio, o acompanhamento da lavoura e o recebimento do grão. A escolha da região
de Palmeira das Missões e a opção em receber grãos relaciona-se em virtude do grupo de
sócios já possuir outra empresa de insumos voltada para ramo agrícola, e também por já
conhecer a carteira de clientes e o risco de inadimplência. A empresa recebe em média
230.000 sacos de milho por ano safra, geralmente a maior compra da produção dos produtores
se dá de janeiro a março. Pode-se evidenciar no questionário aplicado que a empresa pretende
e está investindo e ampliação da mesma, também fica claro que a mesma é a única que utiliza
ferramenta CMA SERIES 4, com a finalidade de acompanhar online o aumento ou recuo dos
preços das commodities e o dólar para então dar start nas negociações, mais também não
utiliza BMF para trava de posições.
A empresa (D) tem como seu objetivo a compra de grãos, soja, milho e trigo,
destinadas à exportação. Escolhendo trabalhar nesta região do estado pelo grande potencial de
produtividade, e com pequenos riscos climáticos em relação as demais regiões. A empresa
tem uma visão para mercado de milho variada, dependendo do ano, alguns mais agressivos e
outros não, acompanhando o mercado interno, pois se mostra mais competitivo, citando como
exemplo este ano safra de 2017/2018. Os meses do ano que a empresa mais compra milho se
dão nos meses de janeiro, fevereiro e março, deixando claro que isso acontece nos anos que
consegue fazer exportação. O questionário também evidencia que a mesma sempre está
investindo, existindo possibilidade de ampliação no futuro. A empresa (D), também, não
utiliza BMF para trava de posições, justificando que o lote de milho na região funciona da
seguinte forma; São realizados contratos de compra do produto (milho), onde menciona o
volume, valor, prazo de entrega e de pagamento, juntamente com uma CPR (cédula de
produtor rural), onde na mesma consta volume prazo de entrega e a área onde vai ser
implantada a cultura. O prazo de pagamento sempre é após a entrega do produto. Mas
havendo uma frustração da safra que pode ocorrer por vários motivos climáticos o produtor
poderá não entregar a quantidade de grãos pré-estabelecido no contrato, logo a empresa não
tem garantia real do recebimento total dos grãos, com isso deixando a empresa exposta ao
mercado futuro, correndo o risco de ter que comprar milho por um valor maior do que foi
pago no lote físico.

5 Conclusões
Com base na pesquisa efetuada, foi possível caracterizar alguns aspectos importantes
para o discernimento dos resultados relacionados ao uso das ferramentas BM&F para trava de
preços de milho. Foi constatado que o mercado futuro de milho possui oportunidades que
permite aos produtores e empresas proteger-se das oscilações do preço do milho.
Porém, ficou constado que todas as empresas entrevistadas em Palmeira das Missões,
não utilizam a opção de trabalhar com o mercado futuro de milho, conforme questionários
aplicados e entrevistas realizadas com gerentes das empresas. Percebe-se que não há essa
aplicabilidade pelas cerealistas, pois suas estratégias são de travar as posições de venda
diretamente com as empresas consumidoras finas, como exemplo, BRF, Aurora, JBS e outras.
Uma desvantagem que as empresas entrevistadas relatam nesse tipo de
comercialização pré-fixado de lote é quanto a eventuais frustações na safra. Temem eventos
climáticos, onde venha ter quebra de safra com isso o produtor poderá não entregar a

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quantidade de grãos pré-estabelecido no contrato de lote, logo a empresa não tem garantia real
do recebimento total dos grãos, deixando as empresas exposta na bolsa de mercado futuro,
correndo o risco de ter que comprar milho por um valor maior do que foi pago no lote físico.
Conforme evidenciado nos questionários aplicados e nos relatos dos gerentes das
cerealistas entrevistadas, o funcionamento do lote de milho na região ocorre seguinte forma:
a) é realizada a venda do milho para as empresas consumidoras finais (indústria) com a
promessa de entrega futura do grão a valor pré estabelecido, em determinada data; b) são
realizados contratos de compra do produto (milho) do produtor, onde menciona o volume,
valor, prazo de entrega e de pagamento, juntamente com uma CPR (cédula de produtor rural),
onde na mesma consta volume prazo de entrega e a área onde vai ser implantada a cultura. O
prazo de pagamento sempre é após a entrega do produto. Algumas empresas usam o lote em
troca de insumos para a lavoura, em alguns contratos são feitos 50/50 (troca-troca), onde os
preços dos insumos ficam mais atrativos e garantem travar o preço do lote com o custo da
lavoura.
Considerando a importância da utilização de ferramentas de garantia de preços para os
agricultores e indústria, a cadeia produtiva do milho na região pode ser beneficiada a medida
que os cerealistas e produtores utilizem a estratégia de venda através do contrato futuro.
Conclui-se, porém, que ainda não é uma prática comum na região, contudo, o presente
trabalho serve como base para o cerealista ou produtor que desejar adotar as travas do
mercado futuro de milho para reduzir a volatilidade dos preços e definir a lucratividade da sua
produção. Para pesquisas futuras, sugere-se a aplicações de questionários aos produtores
rurais de Palmeira das Missões-RS a fim de obter informações sobre a utilização ou não dessa
estratégia de opções de trava de venda ou compra utilizando o mercado futuro.

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Processo de comunicação de valor em cadeias produtivas
Process of communication of value in production chains
Camila Alves1, Marcos Araújo 2, Glenio Piran Dal Magro3

Resumo:
Com o objetivo de compreender como ocorre o processo de comunicação de valor dentro de uma cadeia produtiva
focando a entrega final de valor ao consumidor, esse trabalho baseia-se em um ensaio teórico que aborda as teorias
de cadeia de valor e cadeia de suprimentos, sobre um olhar das teorias da comunicação, como mediação, a
codificação de mensagens e de modelos e processos de comunicação. Para tanto, como resultado foi construído
um modelo genérico de comunicação de valor para ser utilizado em cadeias produtivas, já que informações
inadequadas dentro da cadeia abrandam o seu crescimento. Ademais, hoje em dia, os consumidos estão cada vez
mais em busca de informações de qualidade a respeito do que consomem, principalmente no caso da indústria
alimentar. Concluiu-se que ao compreender os fluxos de informação dentro da cadeia produtiva, isso facilitará
com que as empresas que compõem a cadeia possam gerir as melhores respostas às demandas, resultando em um
processo de criação de valor e o posterior reconhecimento do consumidor final.
Palavras-chave: cadeia de valor, consumidor, fluxo de informação, valor agregado.

Abstract:
In order to understand how the value communication process occurs within a production chain focusing on the
final delivery of value to the consumer, this work is based on a theoretical essay that deals with theories of value
chain and supply chain, about a look at communication theories such as mediation, coding of messages and
communication models and processes. As a result, a generic model of value communication was constructed to be
used in productive chains, since inadequate information within the chain slows its growth. In addition, consumers
today are increasingly looking for quality information about what they consume, especially in the case of the food
industry. It was concluded that by understanding the information flows within the production chain, this will
facilitate the companies that make up the chain to manage the best responses to the demands, resulting in a value
creation process and the subsequent recognition of the final consumer.
Keywords: value chain, consumer, flow of information, added value.

1 Introdução

Dá-se o nome de cadeia, todo o percurso que o produto faz desde a matéria-prima, a
fabricação, o transporte, até chegar ao consumidor final. Modelos genéricos de cadeias surgem
para facilitar a compreensão desse processo, além de colaborar com outros estudos aplicados
nela, como agregação de valor, a partir do modelo de cadeia de valor de Porter (1989), ou
mesmo a otimização da cadeia de suprimentos, que visa à integração e diminuição de custos e
prazos na entrega do produto, proposta por Poirier e Reiter (1996).
Contudo, alguns autores abordam a integração entre elas, já que ambas ainda não são
completas. A cadeia de valor aborda cada etapa do processo de desenvolvimento do produto ou
serviço separadamente, onde cada um destes agregam valorização de diferenciação e custo
(PORTER, 1989). Portanto, é constituída por um conjunto de atividades criadoras de valor para
um determinado produto ou serviço.
A cadeia de suprimentos se preocupa com a rapidez em atender a necessidade do
consumidor final, no momento certo, com a agilidade na entrega, na quantidade solicitada e da
maneira esperada (POIRIER; REITER, 1996). Nesse sentido, torna-se pertinente a conexão
entre as duas teorias, a integração na capacidade de produção, as informações sobre o
consumidor, sincronizadas a entrega eficiente de produtos ou serviços, mantendo

1Doutoranda em Agronegócios/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul – camilaelisaalves@gmail.com


2Doutorando em Agronegócios/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul – araujovmarcos@gmail.com
3Doutorando em Agronegócios/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul – gleniopdm@gmail.com

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simultaneamente conectados os fluxos de valor e de abastecimento (FELLER; SHUNK;
CALLARMAN, 2006).
Portanto, busca-se pela agregação de valor aumentar o valor percebido e diminuir
custos. Concomitantemente, se deseja alcançar uma alta satisfação do cliente e também
percepção de qualidade pelo mercado em que está inserida (GALE, 1996). Como a etapa final
da cadeia produtiva está centrada em atender as necessidades do consumidor, é preciso entender
o que ele percebe como valor. Esta percepção será sua avaliação objetiva do que ele consome,
na respectiva cadeia produtiva. Assim surge a necessidade em se criar valor a uma marca, por
exemplo, pois será baseado nas percepções dos consumidores, daquilo que o consumidor dá em
troca pelo que recebe (RUST; ZEITHAML; LEMON, 2001).
Nesse aspecto, o objetivo da cadeia produtiva será entregar um produto único ao
consumidor final, que seja diferente dos concorrentes. Esse produto não precisa ser fisicamente
diferente (AZEVEDO, 2000), contudo, precisa ser singular e valioso ao consumidor. Esta
percepção associada a oferta de um preço baixo, a empresa se diferenciará de seus concorrentes
(PORTER, 1989). Empresas que buscam diferenciação em relação aos seus concorrentes, seja
em preço, ou na percepção de valor, caminham principalmente para o valor da sustentabilidade,
alterando suas cadeias, seus fornecedores, buscando matérias-primas que atendam a esse valor,
a fim de melhor se relacionar com o consumidor final.
Essas mudanças vem em respostas à preocupação ambiental, social e econômica dos
consumidores, um fator significativo na percepção de valor de diferenciação (KOTLER;
KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010). Contudo, ainda existem problemas no fluxo de
informação dentro das cadeias, que levam essa informação de valor ao consumidor final. Deste
modo, a importância da informação para a cadeia torna-se importante, já que quanto mais
precisa for a informação, mais a empresa poderá sustentar este valor agregado (GAVIRNENI;
KAPUSCINSKI; TAYUR, 1999).
Por meio de um ensaio teórico, pretende-se tratar das questões que incitam esta
discussão, com o objetivo de compreender como ocorre esse fluxo de informação dentro de
uma cadeia produtiva. Baseando-se em modelos já propostos de cadeias produtivas, identificar-
se-á os principais emissores e receptores de informação, contemplando assim um processo de
comunicação de valor.

2 Referencial teórico

Para a abordagem desse ensaio teórico o referencial abordará uma contextualização


sobre cadeia de valor e cadeia de suprimentos, bem como a pertinência da comunicação de
valor que pode ser originária em cadeias produtivas.

2.1 Cadeia de valor

Os principais modelos adotados para estudos e para compreensão do ciclo que o produto
passa desde a produção até o consumo são os modelos de Porter (1989) e Poirier e Reiter (1996).
No primeiro caso, a cadeia de valor é definida por um conjunto de atividades desenvolvidas por
uma determinada cadeia, onde cada atividade da cadeia agrega valor. Estas atividades quando
desmembradas compõe a cadeia de valor, a qual se encaixa em uma corrente maior de
atividades, denominada sistema de valor (PORTER, 1989). O principal objetivo é criar valor
para os potenciais clientes. Nesse sentido a cadeia de valor da matéria prima irá influenciar não
somente a partir do produto, mas também do canal de vendas, por exemplo.
Porter criou um modelo que descreve basicamente o processo que as empresas podem
seguir, analisando suas atividades e as conexões existentes. Cabe salientar que o modo como

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são desenvolvidas as atividades da empresa determinam os seus custos e podem afetar seus
lucros. Contudo, para melhor compreensão de como ocorre este processo, a cadeia de valor,
definida por Porter, é fragmentada, conforme é possível ver na Figura 01.
Figura 01 – A Cadeia de valores genérica
Infraestrutura da empresa
s de apoio
Atividade

Margem
Gerência de recursos humanos
Desenvolvimento de tecnologia
Aquisição

Margem
Logística Marketing &
Operações Logística externa Serviços
interna vendas

Atividades primárias
Fonte: Porter (1989).

As atividades dentro da cadeia são divididas em atividades primárias e atividades de


apoio. Em ordem, uma está relacionada diretamente com a criação do produto e a segunda
sustenta as atividades primárias e a si mesma. Cada uma dessas atividades podem cooperar na
posição dos custos relativos, ademais gera suporte para a diferenciação (PORTER, 1989). Essa
forma simplificada da cadeia de valor facilita a distinção nas relações verticais da cadeia,
ligando os atores diretamente envolvidos, ou seja, os elos da cadeia, e também relações
horizontais, que é a interação de participantes de uma cadeia de valor com outros atores
(HAMILTON-HART; STRINGER, 2016).
Compreender a cadeia, significa entender as atividades desenvolvidas que diferenciam
o produto. Esta diferenciação que ocorre na cadeia produtiva se mostra importante na entrega
final de valor ao consumidor. Esse valor final só será bem-sucedido a partir da compreensão do
que os consumidores valorizam nos produtos criados pelas empresas, tendo elas que adaptarem
para atenderem a esses segmentos (SOOSAY; FEARNE; DENT, 2012).
Por outro lado, essas atividades formam o percurso entre a matéria prima e o consumidor
final. Este percurso também é composto por uma rede de equipamentos e distribuição, que vai
deste a aquisição de materiais, beneficiamento, seja em produtos intermediários ou acabados,
para que sejam distribuídos aos clientes (CUTTING-DECELLE et al., 2007).
Para otimizar esse percurso, visando a eliminação de custos significantes entre o
consumidor e o processo de produção, estreitando laços e tornando mais rápida a resposta a
essa demanda de produtos e serviços e disponibilizando aos consumidores de forma rápida
apenas os produtos que realmente estão sendo necessários, apresenta-se os conceitos de cadeia
de suprimentos (POIRIER; REITER, 1996), ou abastecimento (Supply Chain Management). A
agilidade da cadeia é tida pela busca em integrar áreas que tradicionalmente trabalham de forma
independente na cadeia de suprimentos, como marketing, distribuição, planejamento,
fabricação e compra, resultando em um plano único e integrado (CUTTING-DECELLE et al.,
2007), diferentemente da cadeia de valor.
O objetivo principal da cadeia de suprimentos, além da integração entre elos, é a entrega
de produtos e serviços necessários para os consumidores, agilizando o processo da entrega,
devido ao fluxo integrado de informação e conexão entre as fases da cadeia, o que resulta em
um processo mais eficiente (POIRIER; REITER, 1996).
Assim como a cadeia de valor, a compreensão da cadeia de suprimentos também é
facilitada a partir de modelos de processos (Figura 02) para então informar o objetivo, a direção
e controlar a cadeia, a fim de chegar a um bom desempenho, sendo os elementos integração,

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coordenação e colaboração das unidades organizacionais fundamentais para o processo
(BEHERA; MOHANTY; PRAKASH, 2015). Esses modelos facilitam na compreensão da
integração da cadeia e principalmente no fluxo de informação e produtos.

Figura 02 – Cadeia de abastecimento do futuro

Fornecedores-chave Distribuição Consumidores

Recursos primários Fabricação Pontos de venda

Valor para o
Fluxo de economia nas redes de compartilhamento consumidor

Banco de dados e intercâmbio interativo

Fluxo de informação
Fluxo de mercadorias e serviços

Fonte: Poirier e Reiter (1996).


Nota: traduzido pelos autores.

Conforme a Figura 02, observa-se a cadeia de suprimentos ou abastecimento do futuro


como um sistema dinâmico e complexo. Em uma cadeia tradicional, as vias de produção e de
agregação de valor, possuem elos predeterminados que orientam o fluxo dos materiais (dos
recursos primários para o consumidor final) e o fluxo da informação (do consumidor para os
fornecedores de matéria-prima. Em uma cadeia de abastecimento do futuro, a integralização
dos fluxos (materiais, mercadorias, serviços, informação) torna-se dinâmico e interativo. Esta
integração entre elos, fomentada pelo compartilhamento e troca de informações de qualidade,
influencia diretamente na relação entre qualidade da informação e o desempenho da cadeia de
suprimentos (MARINAGI; TRIVELLAS; REKLITIS, 2015).

2.2 Comunicação de valor

Em um modelo mais simples de comunicação, ou seja, a linear, tem-se o objetivo de


apenas responder as cinco questões básicas propostas por Lasswell (1978). Estas questões
referem-se a quem, diz o quê, em que canal, para quem e com que efeito. Tendo aí um emissor
– quem, uma mensagem – diz o quê, por qual via, que meio – que canal, um receptor – para
quem, e uma resposta/ação – efeito. De maneira mais abrangente, novos modelos de
comunicação surgiram juntamente com os processos de evolução da sociedade e de
necessidades mais complexas de comunicação, principalmente no que diz respeito a
comunicação mercadológica, a publicidade. Essa evolução tornou os consumidores mais
participativos e ativos, onde, apenas receber uma comunicação já não basta.
Pensando em consumidores mais ativos, participativos, dotados de corpo, alma e
espírito (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010), o consumidor por si só se torna mais

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participativo e ativo nas respectivas atividades de compra, exigindo, portanto, maior interação
e participação (KELLER, 2011).
Na evolução destes processos, a comunicação se torna então mais interativa e a relação
com consumidores também. Nesse modelo interativo, é apresentado, além dos processos
básicos de Lasswell (1978), o feedback, o objetivo da comunicação e também seus ruídos,
resultantes da falta de sinal, que faz com que a mensagem não seja completa ao destinatário
(FOULGER, 2004). O feedback é também uma fonte de informação, e o seu receptor o
destinatário, fazendo também todo o processo de Lasswell, porém no caminho contrário. A
comunicação passa de linear para circular, redonda, com fluxos de informação indo e voltando,
com objetivos claros.
Para se tornar completo o processo de comunicação, torna-se necessário entender a
produção da mensagem, fazendo com que uma informação se transforme em mensagem
(codificação da mensagem), para então ser enviada ao respectivo receptor e ser compreendida,
ganhando efeito e entendimento (decodificação da mensagem). Assim, dá-se significado a
mensagem. Contudo, deve-se buscar a simetria entre o processo de codificação e decodificação
desta mensagem, tendo o emissor que pensar nas questões sociais e econômicas do receptor
(HALL, 1994).
Nessa perspectiva, é possível ver na Figura 03 o modelo desse complexo processo de
comunicação, para posterior aplicação nos modelos de cadeias agroindustriais, e dessa forma
poder entender as emissores, os canais, quem são seus receptores, que efeitos geram, quais
objetivos, se resultam ruídos e que feedback provoca, a partir da integração dos modelos de
cadeias de suprimento e de valor com as teorias da comunicação.

Figura 03 – Dinâmica do fluxo de comunicação


Codificação da mensagem Canal
Decodificação da mensagem

Emissor - Receptor –
codificador decodificador
Cadeia produtiva

Efeito
Feedback

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

A partir do desenho do processo de comunicação, é possível compreender esta dinâmica


como a mensagem é produzida, repassada e recebida, tornando-se um fluxo dinâmico, no qual
o emissor se torna receptor e vice-versa. Portanto, esse modelo de comunicação torna-se o ideal,
pois busca a interação entre o produtor da mensagem e o receptor.

3 Procedimentos metodológicos

Para o desenvolvimento do presente estudo, será utilizado uma abordagem qualitativa


de revisão bibliográfica, tratando das questões que incitam a discussão abordada. Com o
objetivo de desenhar os processos de comunicação em cadeias de suprimento e de valor.
Tomou-se por base os modelos de cadeia de valor (PORTER, 1989), de cadeia de suprimentos
(POIRIER; REITER, 1996) e das teorias da comunicação, processo de comunicação

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(LASSWELL, 1978) processo de comunicação interativa (FOULGER, 2004) e codificação e
decodificação da mensagem (HALL, 1994), para desenvolver o ensaio teórico.
Um ensaio teórico trata-se de uma exposição lógica e reflexiva, mediante rigorosa
argumentação e alto nível de interpretação e julgamento pessoal, oferecendo maior liberdade
ao autor para defender determinada posição (SEVERINO, 2002). De modo que, tem o objetivo
de sistematizar determinados olhares sobre a literatura do tema abordado, para que possa ser
utilizado posteriormente por pesquisadores a fim de nortear estudos futuros (COOPER;
LINDSAY, 1998).
Ademais, a partir do levantamento bibliográfico (pesquisa exploratória) das principais
teorias sobre cadeias produtivas, será aplicado dentro destas, a compreensão de fluxo de
informação das teorias da comunicação. Torna-se importante esta aplicabilidade uma vez que
busca constatar algo em um fenômeno, por meio de abordagem qualitativa descritiva e analítica.
Cabe salientar que a compreensão da importância da comunicação no processo mercadológico,
por meio da informação adequada, faz com que consumidores percebam o real valor de um
produto.

4 Resultados e discussão

Com o objetivo de identificar e desenhar o processo de comunicação existente nas


cadeias produtivas, visto a importância da informação adequada para o fluxo da cadeia, buscou-
se nas teorias de comunicação, modelos de processos de comunicação para integrar a noção de
fluxo de informação em cadeias produtivas.
Essa compreensão permitiu a construção de um modelo genérico de comunicação na
cadeia (Figura 04). Esse modelo apresenta a aplicação do processo simples de emissão e
recepção de mensagens na cadeia produtiva, aplicando-se em todos os elos, sendo o foco na
troca de mensagens entre consumidor e fabricante do produto, ou seja, para a empresa que não
só transforma a matéria-prima, mas também insere outros valores, para a entrega ao consumidor
final. Essa empresa fabricante (ou empresa) codifica uma mensagem, para ser entregue ao
consumidor, que a decodificará e, por sua vez gerará um feedback sobre suas expectativas e
ambições quanto ao produto, ou seja, o valor que percebido naquele produto (RUST;
ZEITHAML; LEMON, 2001), tendo assim um processo de comunicação interativa.

Figura 04 – Processo de comunicação de valor em cadeia de suprimentos

Fluxo de informação

Fornecedores

Empresa Intermediários Consumidor

Atividades primárias
1

Feedback

Fonte: Elaborada pelos autores (2018).


Nota: 1 – Processo de comunicação interativa em cadeias, comunicação entre elos e codificação e decodificação
de valor entre empresa e consumidor, sendo a empresa a fabricante do produto e atividades primárias relativas

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àquelas internas a empresa, ou de apoio a fabricação do produto, como infraestrutura da empresa, gerência de
recursos humanos, desenvolvimento de tecnologia, aquisição e atividades internas.

Nesse sentido, as linhas com setas são os fluxos de informação. Nessas informações
está incluso o fluxo de valor financeiro e de produto, além dos contratos. Todas essas
comunicações dentro da cadeia de um produto necessitam de atenção, principalmente a de
entrega de valor ao consumidor e o feedback deste. Os quadros em cinza, representam esse elo,
pois o objetivo é atender a expectativa e satisfazer o consumidor.
Portanto, este processo de comunicação tornará mais compreensível e precisa a
comunicação dentro da cadeia, sustentando assim o valor agregado por essa informação de
qualidade (GAVIRNENI; KAPUSCINSKI; TAYUR, 1999). Ademais, ao se fornecer uma
informação de qualidade, influenciada não pela percepção do usuário, porém pela própria
informação ancorada pelo processo (codificação e decodificação) de acesso a ela, resulta-se em
valor agregado (NAUMANN; ROLKER, 2000).

5 Conclusões

Esse trabalho se propôs a construir um modelo de processo de comunicação interativa


para cadeias produtivas, a fim de melhor compreender os fluxos de informação dentro da
cadeia. Isso facilitará com que as empresas possam gerir as melhores respostas às demandas da
cadeia, bem como, as relações com demais cadeias interligadas. Ademais, ao utilizar a
comunicação de valor se produzirá informações de melhor qualidade, que enviadas ao seu
receptor, resultam em informação de qualidade para o consumidor final e o mesmo perceberá
o valor agregado no produto.
O fluxo da informação dentro da cadeia produtivo torna-se imprescindível para o
processo de criação de valor e o posterior reconhecimento pelo consumidor final. Todavia, ao
se utilizar das teorias da comunicação, tem-se um modelo ideal constituído por meio de
intercâmbio dinâmico com fluxo intenso de informações.
Obviamente, o reconhecimento da comunicação de valor e a sua percepção pode variar
conforme a cadeia produtiva. No caso de cadeias curtas, agricultura urbana, orgânicos e
produtos naturais, por exemplo, a informação adequada, tem a capacidade de tornar esses
produtos algo significativo e valorizado para os respectivos consumidores, gerando resultados
para a cadeia.
Nesse sentido, por meio do modelo sugerido, foi possível uma compreensão dos
processos de comunicação e como deve ocorrer dentro de uma cadeia produtiva, baseado nas
teorias da comunicação e suas relações com os processos produtivos e agregação de valor.
Contudo, torna-se necessário aplicar o modelo para que se possa conhecer melhor suas
limitações e plausibilidade em diferentes cadeias agroindustriais.

Referências

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Rentabilidade e custos do sistema de pastejo rotacionado na recria de
bovinos de corte: um estudo em uma empresa rural na região do Pampa

Profitability and costs of the rotational grazing system in the rearing of


cattle beef: a study in a rural enterprise in the Pampa region
Gustavo Schneider Grillo1, Lucas Teixeira Costa2, Francisca Viviane Dos Santos3, Luiz
Clovis Belarmino4
Resumo
A adoção de novas práticas na atividade pecuária pode auxiliar empresas rurais a obterem melhores resultados
em termos produtivos e econômicos. Porém, em um setor em que os preços de venda são determinados pelo
mercado, são fundamentais o monitoramento e a análise de custos, pois estes são os fatores econômicos que os
produtores podem controlar. O objetivo deste estudo foi demonstrar a composição de custos e os indicadores de
resultados da implantação de um sistema de pastejo rotacionado na recria de bovinos de corte, em uma
propriedade rural localizada na cidade de Bagé, Rio Grande do Sul. Para atingir tal objetivo, foi utilizada a
metodologia qualitativa e descritiva, através da coleta de dados via entrevista não estruturada, análise
documental e observação in loco. Os resultados demonstraram que os custos variáveis, sobretudo os gastos com
aquisição de animais, representaram em média 79,43% do total, além de apontarem a produtividade média do
sistema de 472,28 kg/ha, ganho médio diário de 0,865 kg/Cab/dia, para o período estudado de cinco anos.
Palavras-chave: Contabilidade de Custos. Bovinocultura de Corte. Pastejo Rotacionado

Abstract
The adoption of new practices in the livestock sector can help rural companies to obtain better results in
productive and economic terms. However, in an industry in which sales prices are determined by the market,
monitoring and cost analysis are fundamental, as these are the economic factors that producers can control. The
objective of this study was to demonstrate the cost composition and performance indicators of implanting a
rotational grazing system in beef cattle rearing at a rural property located in the city of Bagé, Rio Grande do Sul.
using the qualitative and descriptive methodology, through data collection through unstructured interview,
documentary analysis and in loco observation. The results showed that the variable costs, especially the expenses
with the purchase of animals, represent on average 79.43% of the total, in addition to indicating the average
productivity of the system of 472.28 kg/ha, average daily gain of 0.865 kg/head/day, for the studied period of
five years.
Keywords: Cost Accounting. Beef Cattle. Rotational Grazing.

1 Introdução
A bovinocultura de corte encontra-se entre as principais atividades rurais com
capacidade de geração de renda no Brasil (LAZZARINI NETO, 2000), deste modo, a
bovinocultura brasileira se mostra como uma das mais competitivas do mundo (EUCLIDES
FILHO, 2004). Por conseguinte, o País é detentor da maior indústria processadora de carne do
mundo (CICARNE, 2015).
Em 2016, o PIB do agronegócio representou 24% do total produzido no país, dos
quais 31% correspondem à pecuária e, mesmo com a queda de 7,8% nas exportações do setor
em relação ao ano anterior, a carne bovina foi responsável por 2,89% de tudo que o país
exportou em 2016. Ainda que o movimento anual dessa cadeia produtiva tenha atingido o
recorde histórico de R$ 504,86 bilhões no ano citado, o total dispendido com serviços
administrativos e contábeis nas fazendas ainda é tímido, correspondendo a menos de 0,1% do
total (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNE -
ABIEC, 2017).

1
Graduado em Ciências Contábeis/Universidade Federal do Rio Grande do Sul- gustavo8395@gmail.com
2
Mestrando em Agronegócios/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul – lucasadmrural@gmail.com
3
Graduanda em Ciências Contábeis/Universidade Federal do Rio Grande do Sul-
francisca_viviane@yahoo.com.br
4
Mestre em Fitotecnia e Economia Aplicada-Universidade Federal de Pelotas -luiz.belarmino@embrapa.br

233
1
Barbosa et. al (2012) destacam que a grande representatividade do agronegócio
brasileiro na economia nacional pode oferecer um mercado muito mais promissor para
profissionais dos ramos de administração, economia e contabilidade. É necessário, porém,
atentar-se as peculiaridades inerentes ao segmento que se referem à instabilidade comercial
provocada pela flutuação dos preços das commodities, para que uma gestão eficiente
potencialize os resultados ao otimizar os gastos de produção. É fato que o acompanhamento
gerencial do processo produtivo e o controle de custos são ferramentas fundamentais na
viabilização da adoção de novos sistemas produtivos na atividade rural.
Também é necessário que os conceitos e técnicas de gerenciamento de custos
cheguem mais rapidamente ao setor e sejam efetivamente empregados na rotina das
propriedades, tornando-se uma importante ferramenta administrativa para a profissionalização
do setor. A intensificação dos processos produtivos mediante aplicação de sistemas e métodos
tecnológicos é necessária para aumentar a produção, a produtividade e a competitividade da
pecuária brasileira. Nas últimas décadas, diversas tecnologias foram geradas e empregadas
com a finalidade de promover a modernização do setor e melhorar seus indicadores. O grande
desafio para produtores e técnicos da área rural é a correta escolha da alternativa que irá trazer
melhores resultados para o seu sistema de produção (SOARES, 2012).
Segundo Simões e Moura (2006), entre os métodos que se valem da ciência e
tecnologia para buscar maiores rendimentos por hectare de modo sustentável na bovinocultura
de corte encontra-se o sistema de pastejo rotacionado. Esse sistema preconiza a intensificação
da utilização do recurso terra por meio do aumento na pressão de pastejo, o que gera maior
ganho de carne produzida por unidade de área, além de atender às demandas de consumidores
mais exigentes pela qualidade do alimento criado a pasto. O sistema apresenta-se como
alternativa para incrementar ganhos de eficiência técnica e econômica na atividade pecuária e,
soma-se a isso, a característica de preservação ambiental, ao possibilitar o incremento de
produção em áreas já estabelecidas, sem necessidade de abertura de mata nativa.
Em face dos desafios enfrentados pelos produtores rurais na gestão de recursos físicos,
ambientais e econômicos, este estudo visa responder a seguinte questão: quais os custos e os
resultados implicados na implantação de um sistema de pastejo rotacionado para recria de
bovinos de corte em uma propriedade rural localizada no município de Bagé, Rio Grande do
Sul? A partir dessa problemática, este trabalho tem como objetivo geral analisar a composição
dos custos e os indicadores de resultados da propriedade citada. Almeja-se com esse estudo de
caso contribuir não apenas com a comunidade acadêmica, mas também com pequenos e
médios produtores que enfrentam restrições territoriais, que necessitam aumentar a
produtividade e preocupam-se com a melhor gestão dos recursos naturais e econômicos.

2 Referencial Teórico
Devido à importância econômica da atividade pecuária para o Brasil e a necessidade
de aprimoramento e difusão das técnicas de gerenciamento, a gestão de custos nesta atividade
é constantemente realizada por meio de pesquisas e comunicados técnicos de órgãos como o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul
(FARSUL), Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), entre
outros.
Embora a aplicação do método de pastejo rotacionado seja normalmente abordada em
trabalhos relacionados às áreas da Zootecnia, Veterinária e Engenharia de Produção, em
virtude da especificidade do tema, há também publicações que abordam a aplicação desse
método sob a ótica da contabilidade de custos (SIMÕES; MOURA, 2006; BARBOSA, 2012;
ZILIOTTO, 2012; GOLAS; PAGNUSSAT; MELZ, 2014; RAUPP; FUGANTI, 2014;).

234
2
Entretanto, é comum encontrar a aplicação do método de custeio por absorção aliada a
conceitos como margem de contribuição, ponto de equilíbrio e margem de segurança,
tradicionalmente vinculadas ao método de custeio variável.
A pesquisa de Charlton e Wier (2001, tradução nossa), por meio de entrevistas
realizadas com pecuaristas neozelandeses, que implementaram sistemas de pastoreio
rotacionado, demonstrou um expressivo salto de produtividade a partir da adoção do sistema.
O estudo demonstrou que fazendas dedicadas às diversas fases de produção de ovinos e
bovinos praticamente dobraram as taxas de lotação por hectare, a produção total em kg de
peso vivo e a produtividade em quilogramas por hectare, quando optaram por rotacionar seus
sistemas.
Sob ótica semelhante, e visando determinar a viabilidade econômica da terminação de
bovinos, através da mensuração dos custos de produção e de indicadores econômicos, Soares
(2012) avaliou três sistemas de engorda em pastagens cultivadas e irrigadas com pivô central
na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, através da coleta de dados mensais de custos fixos,
variáveis, de oportunidade do capital e da terra, custo desembolsado, operacional e total. Os
animais foram pesados na entrada e saída da pastagem no intuito de avaliar a produtividade
em quilogramas por hectare, bem como a receita total por hectare. Os resultados de
produtividade encontrados foram de 369, 772 e 637 kg/ha, enquanto na análise média do
custo operacional os itens que apresentaram maiores valores foram a implantação de
pastagem (486,35 R$/ha), a energia elétrica (308,70 R$/ha) e a depreciação (154,69 R$/ha).
Com o objetivo de analisar o gerenciamento de custos incorridos na pecuária de corte
por meio de um comparativo entre a engorda de bovinos em pastagens e em confinamento,
Raupp e Fuganti (2014) realizaram um estudo de caso com abordagem predominantemente
qualitativa e valendo-se de técnica descritiva e documental para análise dos dados. Os autores
concluíram que a engorda em pastagens apresenta maior retorno, enquanto que o
confinamento apresenta a possibilidade de prejuízo, além de o risco ser maior por apresentar
maior variação de resultado, uma vez que, em função dos seus elevados custos, seu retorno
está atrelado ao preço de venda. Entretanto, a engorda de bovinos em confinamento pode
apresentar algumas vantagens, como a questão espacial, a questão temporal e a questão da
vulnerabilidade climática.
O estudo de Sato et al. (2014) teve como objetivo verificar os custos e estimar a
viabilidade econômica da terminação de novilhos Nelore e Aberdeen Angus, em pastagem
semi-intensiva no estado de Rondônia, comparando os resultados obtidos por ambas as raças
em condições idênticas na fase de recria. Valendo-se de pesquisa experimental in loco,
obtiveram resultados que apontaram superioridade de desenvolvimento, rendimento e maior
viabilidade financeira da raça Aberdeen Angus.
Em linha semelhante, Kehoe (2014, tradução nossa), a partir de pesquisa exploratória
realizada em propriedades na Irlanda, Nova Zelândia e Brasil, desenvolveu um estudo que
almejou apresentar técnicas de boa gestão de pastagens, a fim de aumentar a capacidade de
produção de gado bovino, reduzir os custos de utilização de insumos de produção e identificar
animais e sistemas de acabamento mais adequados para produzir um produto que atenda as
especificações de mercado. Entre os principais resultados de seu estudo, o autor verificou que
sistemas de pastoreio rotacionado em pastagens cultivadas beneficiam o desempenho animal,
o crescimento de gramíneas e as condições do solo. Além disso, apontou que a bovinocultura
realizada a pasto mostra-se mais sustentável econômica e ecologicamente em relação à
mesma atividade realizada em confinamento.
Através de uma pesquisa bibliográfica, Aranha, Dias e Ítavo (2016) buscaram
desenvolver um critério de rateio que permita distribuir os custos de produção ao rebanho
levando em conta o peso corporal, propondo que os custos indiretos sejam distribuídos com
base na Unidade Animal (U.A.). Os resultados confirmaram diferenças entre os critérios de

235
3
rateio, apontando que a medida proposta (U.A.) é o mais adequado para rateio dos custos na
pecuária de ciclo completo, pois possibilita classificar bovinos distintos em idade e sexo sobre
uma mesma base.
Na sequencia de estudos, Sessim (2016) buscou realizar uma análise produtiva e
econômica de sistemas de produção de bovinos de corte na região do Pampa do Rio Grande
do Sul. Foram analisadas, em sua pesquisa, quatro propriedades rurais de uma empresa no
município gaúcho de Dom Pedrito, e denominadas como Sistema de Cria em Campo Nativo
(SCN), Sistema de Cria com Agricultura (SCA), Sistema de Recria-Terminação (SRT) e o
Sistema de Terminação (ST). Além de um quinto sistema (SAI) integrando todas as
propriedades por meio do somatório dos parâmetros físicos e econômicos dos quatro sistemas
independentes. O SCN mostrou-se o mais economicamente eficiente, porém em termos de
produtividade os melhores resultados foram nas unidades SRT e ST, com 296 e 98 kg/ha
respectivamente. Os itens que mais oneraram os sistemas foram custo de oportunidade, para
as unidades SCN (38,8 e 23,6%), SCA (42,9 e 27,3%) e SAI (e 40,7 e 26,6%,), e aquisição de
animais para SRT (61,7%) e ST (71,5%).
Estes estudos demonstram que a adoção de novas técnicas e práticas agropecuárias,
aliadas ao monitoramento e à gestão de custos na bovinocultura de corte, são fundamentais
para que os produtores possam obter melhores resultados. Além disso, é possível verificar que
a adoção de indicadores zootécnicos e econômicos, bem como de parâmetros produtivos,
auxilia na interpretação e na compreensão dos resultados obtidos.

3. Procedimentos metodológicos
Neste estudo, além da observação in loco, realizou-se levantamento documental e
entrevistas não estruturadas. A análise documental foi processada através da coleta e análise
de dados dos relatórios contábeis e do sistema de informações gerenciais utilizado pela
empresa estudada. As entrevistas foram realizadas com os proprietários, juntamente com uma
coleta de dados preliminar, no período de 15/01/2018 a 31/01/2018. Para a confirmação de
dados e resultados foi realizada uma nova etapa de entrevistas no período de 11/04/2018 a
16/04/2018. De posse dos dados, foram calculados os indicadores listados no Quadro 1 a
partir da metodologia sugerida por Sato et al. (2014).
Quadro 1 - Indicadores econômicos e fórmulas de cálculo
INDICADOR FÓRMULA
Receita Receita Bruta de Vendas
Receita Unitária Receita / total vendido em kg
Custo Fixo (CF) Custos fixos + despesas fixas
Custo Variável (CV) Custos variáveis + despesas variáveis
Custo Variável Unitário (CVu) CV / total vendido em kg
Custo Total (CT) CF + CV
Custo Unitário (ct) CT / total vendido em kg
Margem de Contribuição (MC) Receita – CV
Margem de Contribuição unitária (MCu) Receita Unitária – CVu
Lucro Líquido Receita – CT
Ponto de equilíbrio contábil (PEC) CF / MCu
Ponto de equilíbrio financeiro (PEF) CF - (depreciação, exaustão e amortização) / MCu
Ponto de equilíbrio econômico (PEE) CF + COt / Margem de Contribuição Unitária
Margem de Segurança (MS) Total vendido em kg - PEC em kg
Lucratividade (LUC) (Lucro Líquido / Receita) x 100
Rentabilidade (ROI) (Lucro Líquido / CT) x 100
Payback (PB) Investimento (corrigido) no Sist. Rotacionado / Fluxo de Caixa
Fonte: Adaptado de Sato et al. (2014).

Para calcular o período de payback do investimento realizado, foi levado em

236
4
consideração apenas o valor de R$ 108.000,00, desembolsado no sistema rotacionado, visto
que os gastos decorrentes da formação da pastagem ocorreriam independentemente da adoção
do sistema. Como taxa de desconto, utilizou-se a Selic anual acumulada em primeiro de
janeiro do ano seguinte, para todos os anos.

4 Resultados e Discussão
A empresa objeto deste estudo localiza-se no município de Bagé, na região da
campanha meridional do estado do Rio Grande do Sul e dedica-se há 35 anos à agricultura e
produção de bovinos de corte em ciclo completo (cria, recria e terminação), em três unidades
distintas. A unidade estudada dedica-se às fases de recria e terminação, para as quais utiliza
uma área de 256 hectares, já subtraídos os 20% de reserva legal, aguadas e instalações.
A implantação do sistema rotacionado foi efetuada no início do ano de 2012 quando a
empresa realizou o preparo do solo, o plantio da pastagem de azevém perene, o treinamento e
a aquisição dos equipamentos do sistema rotacionado, composto por cercas elétricas, postes e
estacas móveis de fibra de vidro, bebedouros móveis, tubulação dos bebedouros e uma
motocicleta adaptada com equipamentos que permitem a passagem por cima das linhas
elétricas sem riscos de danificação de equipamentos e descargas de energia. A utilização do
sistema dura exatos 180 dias e, após esse período de pastejo, a área é desocupada, os
equipamentos são armazenados e a pastagem repousa até meados de abril do ano seguinte,
quando recebe uma nova tropa de animais. Antes disso, em fevereiro, a pastagem passa por
um processo de adubação com uréia, classificado por este estudo como Manutenção da
Pastagem.
A Tabela 1 apresenta os gastos desembolsados em 2012 na formação da pastagem e o
investimento para aquisição dos equipamentos do sistema rotacionado, treinamento dos
produtores e de um funcionário. Os gastos com combustível aparecem por duas vezes, pois
ocorreram duas etapas distintas, ambas com utilização de trator. Primeiramente, foi efetuada a
dessecação do solo a partir da aplicação de herbicida. Após quinze dias, realizou-se o plantio
das sementes em conjunto com a fertilização do solo.
Tabela 1 - Gastos de implantação de sistema rotacionado e pastagem de azevém perene em 2012
Item Unidade Quantidade Preço (R$) Total/ha (R$) Total (R$)
Sist. Rotacionado Un./ha 1 2.000,00 2.000,00 108.000,00
Herbicida kg/ha 3 18,00 54,00 2.916,00
Combustível Trator l/ha 10 2,16 21,60 1.166,40
Fertilizante kg/ha 100 1,33 133,00 7.182,00
Sementes kg/ha 35 2,30 80,50 4.347,00
Combustível Trator l/ha 10 2,18 21,80 1.177,20
Total Pastagem 310,90 16.788,60
Total Pastagem + Rotacionado 2.621,80 141.577,20
Fonte: Dados de Pesquisa (2018).

Os gastos de aquisição, treinamento e implantação do sistema totalizaram R$


108.000,00 para uma área de 54 hectares, o que corresponde ao valor de R$ 2.000,00 por
hectare. Enquanto o total dispendido para dessecação de solo, plantio fertilização atingiu
R$16.788,60, ou R$ 2.621,80/ha. Após os procedimentos supracitados, foi efetuada a
adubação de cobertura com uréia, para ajuste da quantidade de nitrogênio no solo e para que a
pastagem cresça com maior vigor. Este processo de manutenção da pastagem repetiu-se
anualmente e seus gastos são apresentados na Tabela 2.

237
5
Tabela 2 - Gastos anuais com manutenção de pastagem
Unidade 2012 2013 2014 2015 2016
Uréia Kg/ha 100 100 100 100 100
Preço R$/kg 0,92 0,94 0,96 0,96 0,97
Combustível Trator l/ha 10 10 10 10 10
Preço R$/l 2,18 2,37 2,56 2,83 3,11
Total R$ 6.145,20 6.355,80 6.566,40 6.712,20 6.917,40
Total/ha R$/ha 113,80 117,70 121,60 124,30 128,10
Fonte: Dados de Pesquisa (2018).
Os totais de 100 kg de uréia e 10 litros de combustível por hectare foram estimados
como média pelo produtor, visto que não havia registros exatos dessas medidas, pois há
utilização de ambos os insumos para outras atividades, além de variações decorrentes das
condições de clima de cada ano. Já em relação às cotações (preços), correspondem ao valor
presente nas notas fiscais de aquisição destes produtos nos meses em que foram utilizados.
Os dados de custos foram apresentados pela empresa e divididos entre custos e
despesas fixos (CF), custos e despesas variáveis (CV) e custos de oportunidade da terra (COt),
conforme metodologia aplicada por Sessim (2016). Aquisição de animais, sanidade e
impostos de venda (Funrural) compuseram os CV.
Enquanto mão de obra direta, depreciação, manutenção de pastagem, exaustão de
pastagem, alimentação de funcionários, energia elétrica, água, impostos (ITR e IPVA),
manutenção (de instalações e máquinas) e combustíveis, administrativo, mão de obra indireta,
pró-labore e serviços contábeis compuseram os CF. Os COt foram calculados a partir do valor
de arrendamento praticado na região de Bagé, Aceguá e Dom Pedrito, fixados em 40 kg de
boi gordo por hectare, cuja cotação utilizada foi a média entre a cotação de aquisição e de
venda por quilograma.
Para o cálculo dos custos de depreciação foi utilizado o método linear (diferença entre
o valor inicial e o valor residual, dividida pela vida útil), também conforme a metodologia
aplicada por Sessim (2016), porém com a vida útil considerada para instalações e galpão de
30 anos, cercas e aramados 15 anos, trator e máquinas agrícolas 15 anos, veículos 10 anos e
animais de trabalho 8 anos. Para o cálculo de depreciação do sistema rotacionado foi utilizado
o mesmo método, com vida útil arbitrada em 20 anos, mas sem a existência de valor residual.
Já em relação ao cálculo do custo de exaustão da pastagem cultivada, foi arbitrado o período
de 5 anos, pois embora sua vida útil seja estimada em 6 a 8 anos, a empresa optou por realizar
um novo plantio no sexto ano, em virtude da crença dos produtores de que a partir do sexto ou
sétimo ano as pastagens de azevém começam a reduzir suas propriedades nutricionais.
O rateio dos CF foi realizado considerando a proporção de área utilizada para cada
sistema em relação à área total, exceto para trator e máquinas, cujo método levou em
consideração a proporção de horas-máquina auferidas para cada sistema em relação ao total
de horas-máquina efetivamente utilizadas. Entretanto, as depreciações dos equipamentos do
sistema rotacionado e da motocicleta, foram diretamente apropriados ao sistema estudado,
pois somente são utilizados no mesmo. As análises de custos e econômica foram realizadas
com base na metodologia, fórmulas de cálculo e indicadores sugeridos por Sato et al (2014), e
de acordo com as definições apresentadas no referencial teórico do presente estudo.
As taxas de lotação (de entrada, média e saída) do sistema foram calculadas dividindo
o peso total dos animais por uma Unidade Animal (UA), que de acordo com o proposto por
Aranha, Dias e Ítavo (2016), correspondem a 450 kg de peso vivo. Os resultados,
demonstrados na Tabela 4, mostraram-se substancialmente superiores às médias encontradas
por Sessim (2016) em todos os cinco sistemas de pastejo contínuo analisados em seu estudo,
no qual o máximo obtido foi de 0,8 UA/ha no sistema de recria-terminação. Em relação ao
ganho médio diário, enquanto o presente estudo auferiu não menos que 0,85 kg por cabeça
(Cab) por dia, os três sistemas estudados por Soares (2012) obtiveram ganho médio diário de

238
6
respectivamente 0,789, 0,831 e 0,671 kg/Cab/dia. A Tabela 3 apresenta parâmetros produtivos
e indicadores (zootécnicos) de produtividade do sistema, nos cinco anos estudados.
Tabela 3 - Parâmetros produtivos e indicadores de produtividade
Unidades 2012 2013 2014 2015 2016
Área Sist. Rotacionado ha 54 54 54 54 54
Total de Animais Cab 160 160 164 165 170
Peso Médio Entrada Kg 195,50 201,34 198,56 197,47 196,15
Peso Médio Saída Kg 352,23 355,63 352,11 349,59 357,73
Lotação Entrada UA/ha 1,29 1,33 1,34 1,34 1,37
Lotação Saída UA/ha 2,32 2,34 2,38 2,37 2,50
Lotação Média UA/ha 1,80 1,83 1,86 1,86 1,94
Carga Média kg/ha 273,86 278,49 275,34 273,53 276,94
Produção Física Kg 25.076,11 24.686,84 25.182,62 25.099,59 27.469,12
Produtividade kg/ha 464,37 457,16 466,34 464,81 508,69
Ganho Médio Diário kg/Cab/dia 0,87 0,86 0,85 0,85 0,90
Fonte: Dados de Pesquisa (2018).
A produtividade por hectare esteve acima de 455 kg/ha em todos os cinco anos
avaliados. Considerando-se que o tempo de permanência dos animais na pastagem foi de 180
dias, este índice fica próximo aos 900kg/ha em 365 dias encontrados por Charlton e Wier
(2001) em consulta realizada com diversos produtores neozelandeses, e superior aos
resultados auferidos por Soares (2012) em pastagens irrigadas, que atingiram (também em
365 de pastejo) 369, 772 e 637 kg/ha nos três sistemas estudados. Este período reduzido de
permanência no sistema rotacionado optado pela empresa estudada, está de acordo com as
melhores práticas propostas por Kehoe (2014, tradução nossa), pois, segundo o autor, permite
que o processo de crescimento da pastagem seja reiniciado com maior vigor.
Ao analisar os custos incorridos apresentados na Tabela 4, desconsiderando os custos
de oportunidade da terra, nos cinco anos estudados, foi possível verificar a predominância dos
custos variáveis sobre os custos fixos, que atingiram em média 79,43% e 20,57%,
respectivamente. Enquanto na propriedade estudada por Raupp e Fuganti (2014), a
participação foi de 64,97% de CV e 35,03% de CF. Entre os custos fixos, destaca-se a
participação média de 37,71% da soma de Depreciação (de máquinas e implementos,
instalações, galpão, cercas e aramados) e Depreciação do Sistema Rotacionado, seguidos por
Mão de Obra Direta (20,60%), Manutenção de Pastagem (18,47%) e Exaustão da Pastagem
(8,68%).
Tabela 4 - Custos de produção da recria de bovinos em pastejo rotacionado (em R$)
2012 2013 2014 2015 2016
Custos Fixos 37.092,98 37.654,83 38.381,25 38.767,28 41.888,62
Depreciação 9.187,89 9.187,89 9.187,89 9.187,89 9.187,89
Depreciação Sistema Rotacionado 5.400,00 5.400,00 5.400,00 5.400,00 5.400,00
Mão de Obra Direta 7.108,18 7.258,98 7.294,22 7.403,91 7.403,91
Manutenção de Pastagem 6.145,20 6.355,80 6.566,40 6.712,20 6.917,40
Exaustão da Pastagem 3.357,72 3.357,72 3.357,72 3.357,72 3.357,72
Alimentação de Funcionários 2.389,05 2.469,68 2.467,04 2.467,04 3.727,85
Energia Elétrica 1.197,96 1.030,89 1.518,88 1.525,71 2.591,37
Impostos (ITR, IPVA) 1.136,93 1.277,66 1.244,07 1.268,65 1.414,87
Manutenção e Combustíveis 644,98 751,30 775,77 833,94 1.232,27
Água 525,07 564,92 569,27 610,23 655,34
Custos Variáveis 114.557,00 121.605,19 153.159,56 180.704,11 204.070,07
Impostos de Venda (Funrural 2,3%) 4.470,99 5.693,04 6.769,99 7.468,57 7.587,82
Custo de Aquisição 103.224,00 106.951,81 136.116,85 161.935,27 185.067,53
Sanidade 6.862,01 8.960,34 10.272,72 11.300,27 11.414,72
Custo de Oportunidade da Terra 7.289,28 8.283,66 10.019,42 11.447,44 11.852,75
Total 158.939,26 167.543,68 201.560,23 230.918,83 257.811,44
Fonte: Dados de Pesquisa (2018).

239
7
Em relação à composição dos custos variáveis, os itens com maiores médias de
participação foram em ordem decrescente, Aquisição de Animais (89,45%), Sanidade (6,38%)
e Impostos de Venda (4,17%). Ao adicionar os custos de oportunidade aos custos fixos e
variáveis, verifica-se que os COt alcançaram média de 6,81% da soma CT + COt. As
expressivas variações encontradas nos custos de aquisição de animais e de oportunidade
devem-se à grande volatilidade dos preços de mercado para o quilograma de peso vivo.
Através da análise dos indicadores demonstrados na Tabela 5, chegou-se ao custo
variável médio unitário de R$ 2,66/kg, que confrontado com a receita média unitária de R$
4,79/kg, revela a margem média de contribuição unitária de R$ 2,13/kg, a qual representa o
quanto em média sobrou de receita para cobrir os custos fixos unitários.

Tabela 5 - Indicadores de custos e econômicos


INDICADOR 2012 2013 2014 2015 2016
Receita (R$) 194.391,09 247.523,31 294.347,36 324.720,34 329.905,31
Receita Unitária (R$)/kg 3,45 4,35 5,10 5,63 5,42
Custo Variável (R$) 114.557,00 121.605,19 153.159,56 180.704,11 204.070,00
Custo Variável Unitário (R$) 2,03 2,14 2,65 3,13 3,36
Custo Total (CT) (R$) 151.649,98 159.260,02 191.540,81 219.471,39 245.958,69
Custo Unitário (ct) (R$)/kg 2,69 2,80 3,32 3,80 4,04
Margem de Contribuição (MC) (R$) 79.834,09 125.918,12 141.187,80 144.016,23 125.835,24
MC Unitária (MCu) (R$/kg) 1,42 2,21 2,44 2,50 2,07
Lucro Líquido (R$) 42.741,11 88.263,28 102.806,55 105.248,94 83.946,62
Ponto de equilíbrio contábil (kg) 26.184,50 17.015,87 15.698,11 15.527,28 20.244,25
Ponto de equilíbrio financeiro (kg) 13.516,42 8.906,42 8.358,27 8.339,61 11.871,36
Ponto de equilíbrio econômico (kg) 31.330,12 20.759,18 19.796,10 20.112,27 25.972,54
Margem de Segurança (MS) (kg) 30.127,61 39.885,37 42.048,35 42.154,86 40.570,37
Lucratividade (LUC) (%) 21,99 35,66 34,93 32,41 25,45
Rentabilidade (ROI) (%) 28,18 55,42 53,67 47,96 25,45
Payback (PB) (anos) 1,81
Fonte: Dados de Pesquisa (2018).

Em relação aos pontos de equilíbrio, a presente pesquisa auferiu as médias de


18.934kg (PEC), 10.138,42 kg (PEF) e 23.594,05 kg (PEE). Esses montantes demonstram a
necessidade de vendas médias em quilogramas para cobrir, respectivamente, os custos e
despesas fixos médios, os custos e despesas fixas médios descontados dos custos médios de
depreciação, e os custos e despesas fixos médios somados ao custo médio de oportunidade da
terra.
A margem de segurança revela que a empresa produziu em média 38.966,11 kg a mais
do que o necessário para atingir o PEC e cobrir seus custos e despesas fixos médios. Enquanto
a análise dos indicadores econômicos apresentou lucratividade média de 30,09%,
rentabilidade média de 42,14% e prazo de payback pouco abaixo de 1 ano e 10 meses para o
valor de R$ 108.000,00 investido no sistema de pastejo rotacionado. Enquanto nos dois lotes
analisados por Sato et al (2014) a lucratividade obtida foi de 30% e 27%, e o payback de 17 e
19 meses.

240
8
5 Conclusões
Este estudo teve o objetivo de analisar a composição dos custos e os indicadores de
resultados da atividade de recria de bovinos de corte a partir da implantação de um sistema de
pastejo rotacionado. Foi possível observar a predominância dos custos variáveis sobre os
fixos com destaque ao custo de aquisição de animais. A atividade mostrou-se se viável
economicamente e atingiu boa produtividade em comparação com os resultados obtidos em
estudos relacionados, além de retorno sobre o investimento no sistema inferior a dois anos.
Em virtude do cenário de expansão geográfica do cultivo de grãos com destaque à
soja, bem como do aumento nos custos dos insumos de produção bovina, os produtores
deparam-se involuntariamente com diversos desafios relativos ao aproveitamento das áreas
produtivas. Seja pela necessidade de melhorias nos resultados, ou de maior aproveitamento
das áreas produtivas, torna-se necessário rever a predominância dos atuais métodos extensivos
da pecuária tradicional de modo a aumentar a rentabilidade por hectare, preservando tanto os
recursos naturais, como os econômicos relacionados aos sistemas de pastejo bovino.
Em razão de os preços de venda dos estoques serem tabelados pelo mercado, é
fundamental que os produtores direcionem seus esforços ao controle de custos,
concomitantemente com a adoção de tecnologias de gestão e sistemas de criação mais
intensivos, visando aumentar a margem de contribuição, bem como os índices de produção
por hectare. O produtor rural, que já enfrenta riscos em virtude de mudanças climáticas e
imprevisibilidade do mercado, terá pela frente desafios que tendem a contribuir para a
diminuição das áreas produtivas e do tamanho das propriedades.
Os resultados do caso deste estudo demonstraram que inovações tecnológicas e
sistemas de produção semi-intensiva de bovinos de corte podem contribuir para que as
empresas rurais tornem-se menos expostas aos riscos de obsolescência do sistema extensivo,
enquanto mantém a qualidade da carne produzida a pasto. Além disso, foi possível perceber
que a Contabilidade de Custos apresenta-se como uma importante ferramenta de auxílio aos
produtores rurais ao subsidiar à tomada de decisões, suprindo-os de informações relevantes
que os possibilitam avaliarem consequências de curto, médio e longo prazo relacionadas à
introdução ou remoção de métodos produtivos e novas tecnologias.
Sugere-se, como tema de pesquisas futuras, a utilização de semelhante metodologia
para análises em sistemas rotacionados dedicados às fases de cria, terminação ou ciclo
completo. Além da comparação de desempenho de raças distintas de bovinos em sistemas
semelhantes, da utilização de diferentes pastagens e da adoção de outros métodos de manejo
produtivo.

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ABIEC. Perfil da pecuária no Brasil, relatório anual 2017. São Paulo, 2017. Disponível
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BARBOSA, L.P. et al. Contabilidade, gestão de custos e resultados no agronegócio: um
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em custos. PUBVET, Londrina, v. 6, n. 2, ed. 189, art. 1270, 2012.

242
10
Transmissão de preços entre níveis de mercado da soja em grão e
processados no estado do Paraná-BR (2011 a 2017)
Transmission of prices between market levels of soybeans and processed in
the state of Paraná-BR (2011 to 2017)

Elen Presotto1, Clailton Ataídes de Freitas2, Sibele Vasconcelos de Oliveira3

Resumo
As exportações brasileiras de soja para mercados mundiais têm maior magnitude a partir dos anos 2000, de fato
o Brasil soube aproveitar-se das suas vantagens naturais e adquiridas (com P&D), tornou-se um player mundial.
O produtor de soja brasileiro configura-se como tomador de preços do mercado internacional. A partir disto, o
processamento da soja internamente tem aumentado, como por exemplo, com o processamento para
biocombustíveis. O objetivo deste trabalho é estudar o processo de transmissão de preços em diferentes níveis de
mercado de processamento de soja, mais especificamente, entre o produtor (soja em grão), atacado (óleo bruto) e
varejo (óleo refinado) no estado do Paraná. Os resultados foram obtidos através da análise do modelo de
correção de erros, fundamentado pelos princípios da ATP (Assimetria de Transmissão de Preços). Constatou-se a
presença de ATAE, para o longo prazo comprovou-se a presença de assimetria de transmissão de preços positiva
entre o produtor e atacado e negativa para a relação entre o produtor e o varejo.
Palavras-chave: Assimetria de preços. Complexo soja. Lei do Preço Único.

Abstract
Brazilian exports of soybeans to world markets have increased in size since the 2000s, in fact Brazil has been
able to take advantage of its natural and acquired advantages (with R & D), it has become a global player. The
Brazilian soybean producer is configured as a price taker in the international market. From this, the processing
of the soybean internally has increased, as for example, with processing for biofuels. The objective of this work
is to study the process of price transmission at different levels of the soybean processing market, specifically,
between the producer (soybean in grain), wholesale (crude oil) and retail (refined oil) in the state of Paraná.
The results were obtained through the analysis of the error correction model, based on the principles of the ATP
(Price Transmission Asymmetry). It was verified the presence of ATAE, for the long term it was verified the
presence of asymmetry of positive price transmission between the producer and wholesale and negative for the
relationship between the producer and the retail.
Keywords: Asymmetry Price; Soy Complex; Law of One Price.
1 Introdução
Frente a crescente demanda nacional e internacional, o Brasil soube aproveitar-se das
suas vantagens naturais da vasta disponibilidade de terras, regimes de chuvas adequados para
exploração agropecuária e clima tropical e adquiridas com P&D. Este aumento de produção
trouxe impactos no setor produtivo, processamento (atacado) e comercialização (varejo).
Na análise de transmissão dos choques de preço vertical (produtor, atacado e varejo),
optou-se por usar o estado do Paraná como um espelho para os demais. Isto decorre de dois
grandes motivos: primeiro dado sua importância na produção de soja nacional, uma vez que é
o estado com a maior produtividade de soja no Brasil, conforme a Embrapa (2016); e,
segundo, por se ter acesso às informações necessárias para a estimação do modelo proposto, o
que não foi conseguido para os demais.
Além disso, observa-se o processo de integração do mercado interno, estruturado
verticalmente na cadeia produtiva do óleo de soja refinado e conectado do consumidor final
até o produtor de soja. Pode-se constatar que o produtor é tomador de preços, o qual sofre

1
Doutoranda no programa de Pós-Graduação em Agronegócios/UFRGS-<elenpresotto@yahoo.com.br>.
2
Docente no Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento/UFSM-<lcv589@gmail.com>.
3
Docente no Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento/UFSM-<sibele.ufsm@gmail.com>.

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com as flutuações dos mesmos tanto na compra dos insumos como na comercialização da sua
produção. Com isto, esta pesquisa procura investigar as implicações das variações dos preços
no processamento e comercialização dos derivados da soja em grão no atacado e varejo sobre
o produtor de soja, assume-se o produtor de soja do estado do Paraná como objeto para essa
análise.
Neste contexto, análise de transmissão de preços está baseada na hipótese de
Assimetria de Transmissão de Preços (ATP) vertical no mercado estudado, constituída pela
análise dos diferentes níveis de mercados (produtor, atacado e varejo), em função da
transmissão dos choques de preços do mercado processador (atacado) e varejo ao produtor de
soja do estado do Paraná. Em síntese, os agentes intermediários entre o consumidor e o
produtor usam o poder de mercado para ganhar vantagem, em determinado período de tempo,
em função dos choques nos preços. Com este intuito, esta pesquisa busca responder: há
assimetria de transmissão de preço vertical entre as oscilações de preços no atacado (óleo
bruto) e varejo (óleo refinado) para o preço pago ao produtor (ppp) de soja paranaense no
período de 2011 a 2017?
Sendo assim, o objetivo central desta pesquisa é verificar a integração entre estes
mercados. Mais especificamente, detectar a forma como ocorre a transmissão de preços entre
o preço pago ao produtor de soja paranaense e a variação dos preços dos produtos derivados
da soja em função do seu processamento e comercialização em diferentes níveis de mercado.
Por fim, este estudo está dividido em seis seções, além desta introdução, a segunda
seção apresenta o referencial teórico, seguida da revisão de literatura. A metodologia é
apresentada na quarta seção, com os principais testes realizados. A quinta seção apresenta os
resultados encontrados neste estudo e por último são apresentadas as conclusões.
2 Referencial Teórico
Este trabalho se utiliza da Lei do preço Único como referência de processo de
transmissão de preços entre mercados. Fackler e Goodwin (2001) argumentam que a LPU não
considera o custo de transação na comercialização de bens entre mercados regionais. Logo,
com a interação de mercados e a possibilidade de arbitragem existirá um preço comum e
único. Assim, a LPU na sua versão forte, condiciona a arbitragem e a equalização dos preços
entre os mercados. Ou seja, a arbitragem irá validar a LPU, desde que haja regularidade de
transações, e exista um mercado homogêneo em quaisquer dois locais distantes entre si. Estes
preços serão diferentes, no máximo, pelo custo de transporte de mover o bem da região com o
preço mais baixo para outra com o preço superior.
Entretanto, Meyer e Von Cramon-Taubadel (2004) acreditam que as variações dos
preços positivas e negativas não são repassadas com a mesma intensidade entre os mercados e
que a presença de ATP causa uma condição de bem-estar diferente da que é praticada em
condições de simetria.
As idéias, de Fackler e Goodwin (2001) sobre os desajustamentos de preços de curto
e longo prazo da LPU e Meyer e Von Cramon-Taubadel (2004) em relação aos desajustes
entres as variações dos preços positivas e negativas em relação à transmissão de preços, são
pressupostos que surgem conflitantes com o mainstream da teoria econômica. Quando há
ATP, um grupo é beneficiado por uma variação nos preços de maneira desigual, vis-à-vis a
outro grupo, ou seja, há uma alteração de bem-estar influenciada pelos movimentos dos
preços.
Meyer e Von Cramon-Taubadel (2004) entendem, também, a ATP como resultado,
em grande parte, de exercício de poder de mercado, não havendo transferência de bem-estar
entre os agentes envolvidos no mercado, mas uma perda líquida do mesmo. A ATP pode ser
descrita como uma diferença de intensidade na transmissão de preços entre os choques
positivos e negativos de uma série de preços. Von Cramon-Taubadel (1998) avalia que o

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termo assimetria é relacionado, primeiramente, à variação de preço em um determinado nível
da comercialização, em função de uma mudança que tenha ocorrido em outro nível.
O estudo sobre ATP de Peltzman (2000) e Meyer e Von Cramon-Taubadel (2004)
apontam para três diferentes manifestações de assimetria. O movimento dos preços pode
ocorrer em função, primeiro, da magnitude e da velocidade; segundo, da maneira como os
preços oscilaram se positivamente ou negativamente e, por fim, em relação aos níveis de
mercado, que pode ser de forma vertical ou espacial.
3 Revisão de Literatura
Alguns trabalhos sinalizam a existência de ATP em diversos mercados. Dentre estes
destaca-se o estudo de Teoh et al. (2014) investigaram a relação entre o preço do petróleo
bruto e os preços de vários produtos básicos como milho, soja, óleo de palma, açúcar e trigo.
Recorrendo ao modelo M-TAR (Momentum-Threshold Autoregressive), verificaram que os
preços do milho, da soja e do óleo de palma reagiram assimetricamente à flutuação do preço
do petróleo bruto. No entanto, não se encontrou assimetria na variação do preço do açúcar e
do trigo devido à variação do preço do petróleo.
Na literatura nacional, Baptista (2015) estimou a presença de ATP utilizando o
Mecanismo de Correção de Erros. A autora diagnosticou a presença de ATP nas variações no
preço do café arábica no mercado internacional (Bolsa de New York) em função das
flutuações de preços no mercado nacional dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
Os resultados apontaram para a presença de ATP, ou seja, as reduções de preços são
repassadas mais intensamente do que os aumentos, com exceção de Minas Gerais que se
revelou simétrica. Embora tenham constatado a existência de ATP no curto prazo nos preços
do café, no longo prazo a tendência foi desaparecimento dessa assimetria.
Salvini (2016) analisou a assimetria de transmissão de preços para o mercado de
combustíveis entre o atacado e varejo, para a gasolina comum e o etanol hidratado. Os
resultados obtidos foram similares para ambos os combustíveis, pois, constatou-se a
existência de assimetria no curto prazo dos preços praticados pelo atacado e transmitidos ao
varejo.
4 Metodologia
O uso de modelos com o ECT permite mensurar a transmissão de choques de preços
tanto no curto e como no longo prazo. Nesta pesquisa, o caso de ATP vertical com o uso do
ECT, busca investigar o processo de transmissão de preços quando ocorrem choques de
preços (aumentos e quedas) em função da comercialização da soja no atacado e varejo.
Meyer e Von Cramon-Taubadel (2004) e Baptista (2015) salientam que a inclusão do
termo de correção de erros no modelo que mensura a assimetria de transmissão de preços
torna a proposta de Houck (1977) mais robusta quando existe cointegração entre as séries de
preços. Assim, a equação (1) representa a estimação das assimetrias testadas via ECT para
cada nível de mercado.
∆𝑃𝑝,𝑡 = 𝛿0 + 𝛿1𝑖 𝐻∆𝑃𝑝,𝑡−1 + + 𝛿2𝑖 𝐻∆𝑃𝑝,𝑡−1 − + 𝛿3 ∆𝑃𝑁𝑀,𝑞−𝑗 +
+𝛿4𝑖 𝐻∆𝑃𝑁𝑀,𝑞−𝑖 + + 𝛿5 ∆𝑃𝑁𝑀,𝑞−𝑗 − + 𝛿6𝑖 𝐻∆𝑃𝑁𝑀,𝑞−𝑖 −
(1)
+𝛿7 + 𝐸𝐶𝑇 + 𝑡−1 + 𝛿8 − 𝐸𝐶𝑇 − 𝑡−1 + 𝜀𝑡
em que: i = 1, 2,..., K; j = 1, 2,..; t = 1, 2,...; 𝛿𝑖 são os parâmetros do modelo de ATP na
análise vertical de mercados;𝑃𝑝 é o ppp de soja no Paraná; 𝑃𝑁𝑀,𝑞 é o preço do bem processado
no q-ésimo nível de mercado estudado (atacado e varejo); 𝐻𝑁𝑀 + e 𝐻𝑁𝑀 − 4 representam o

+
4A representação da soma acumulada das diferenças positivas é definida como: 𝐻𝑁𝑀,𝑖 = ∑𝐾 + + +
𝑖=0(𝑃𝑁𝑀,𝑖 − 𝑃𝑁𝑀,𝑖−1 ) + 𝐻𝑁𝑀,𝑖−1 e
− 𝐾 − − − +
negativas com sendo 𝐻𝑁𝑀,𝑖 = ∑𝑖=0(𝑃𝑁𝑀,𝑖 − 𝑃𝑁𝑀,𝑖−1 ) + 𝐻𝑁𝑀,𝑖−1 . A partir desta definição, 𝐻𝑁𝑀,𝑖 , por exemplo, expressa a
+ +
soma acumulada, onde cada elemento de 𝐻𝑁𝑀𝑖 representa a soma dos elementos Δ𝑃𝑁𝑀,𝑗 , sendo j menor ou igual a i.

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somatório das variações de preços acumulado, do preço nos níveis de mercados estudados;
𝐻𝑝 + e 𝐻𝑝 − representam o somatório das variações de preço acumulado do ppp; 𝐸𝐶𝑇 é o
mecanismo de correção de erros 𝐸𝐶𝑇 = 𝐸𝐶𝑇𝑡−1 + + 𝐸𝐶𝑇𝑡−1 − definido como: 𝐸𝐶𝑇𝑡−1 + = 𝐸𝐶𝑇 ≥
0 e 𝐸𝐶𝑇𝑡−1 − = 𝐸𝐶𝑇 < 0,
A equação (1) é definida para estimar todos os níveis de mercado, tendo como ponto
de partida a análise de transmissão de preços ao produtor de soja, ou seja, o produtor é tido
como tomador de preço. Sobretudo, a ATP faz com que haja uma alocação de bem-estar entre
os envolvidos na comercialização.
A partir da estimativa da equação (1), seguindo as classificações de Frey e Manera
(2007), podem ocorrer diferentes tipos de assimetrias, a saber: A AIC diagnosticada quando
os parâmetros das diferenças positivas e negativas são distintos entre si, ou seja, testa-se
𝛼3 + ≠ 𝛼5 − ; A AED ocorre quando as assimetrias atrasos negativa e positiva, respectivamente
têm diferentes intensidades, isto é, testa-se 𝛼4𝑖 + ≠ 𝛼6𝑗 − sendo i = 1, 2,... K; j = 1, 2,.. S,
quando K≠S tem-se AED; A AIA testa-se a defasagem “t-z” é assimétrica; formalmente
+ 𝑆−
se∑𝐾 + −
𝑖=𝑧 𝛼4𝑖 ≠ ∑𝑗=𝑧 𝛼6𝑗 . com z ϵ [0, min (K,S)]; A ATAE ocorre quando há diferenças entre
os parâmetros do mecanismo de correção de erros das defasagens positivas e negativas, o que
implica em testar se𝛼7 + ≠ 𝛼8 − . Na prática, esse teste permite diagnosticar se a retomada da
trajetória de longo prazo dos preços da soja, após um choque, é de mesma intensidade, não
importando se o choque é positivo ou negativo.
Cabe salientar, que AED e AIC são condições suficientes, mas não necessárias para a
existência de AIA, a coexistência AED e AIC não implicam a existência de AIA.
Tecnicamente, Frey e Manera (2007) consideram o horizonte de curto prazo como a
intensidade das variações dos preços de um mercado, com as mudanças positivas ou negativas
nos preços do outro. Já a de longo prazo, a investigação se concentra na computação do tempo
de reação, do tamanho das flutuações ou na velocidade de ajuste de equilíbrio dos preços.
4.1 Procedimentos estatísticos para MCE
Para a sustentação dos modelos de ATP’s vertical, testes adicionais foram realizados
como o de estacionariedade para todas as variáveis estudadas e o de cointegração para todos
os mercados estudados. Ao se estudar a trajetória de um processo estocástico é imprescindível
verificar se existe ou não a presença de raiz unitária em tal processo. O presente estudo
utilizou-se os testes de estacionariedade DFA (Dickey Fuller Aumentado) e NG Perron.
Segundo Bueno (2011), o teste de DFA tem por objetivo testar a existência de raízes
unitárias com vetor autoregressivo ∆𝑦 = 𝛾𝑦𝑡−1 + 𝑢𝑡 , em que 𝛾 = 𝜌 − 1. O teste tem por
hipóteses 𝐻0 : 𝛾= 0 e 𝐻1 : 𝛾< 0. Se a hipótese nula for rejeitada, então, a série temporal 𝑦𝑡 é
estacionária, caso contrário, a série é não estacionária (tem raiz unitária).
O teste NG Perron é uma evolução dos testes de estacionariedade e apresenta
melhores propriedades estatísticas vis-à-vis ao teste de DFA, cabe destacar que além de testar
a parte autorregressiva do processo estocástico em questão, o teste NG Perron, também, testa
a parte das médias móveis.
Confirmada a ordem de integração de cada processo, passa-se para o teste de
cointegração. De uma forma genérica, o teste de cointegração busca observar se 𝑦𝑡 − 𝛽𝑥𝑡 seja
um processo I(0), se afirmativo pode-se confirmar que 𝑦𝑡 e 𝑥𝑡 são cointegrados e 𝛽 é o
parâmetro de cointegração. Emprega-se o teste de cointegração de Johansen, o qual tem por
hipótese nula a inexistência de cointegração, e a hipótese alternativa caso contrário. O teste
tem como hipóteses formuladas por 𝐻0 : r = r* e 𝐻1 : r > r*, ou seja, a hipótese nula testa o
número de vetores de cointegração que devem ser inferiores ou igual a r, quanto mais

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distantes de zero forem os valores de 𝜆𝑡𝑟 mais elevado será o valor da estatística. O teste do
máximo autovalor tem como hipóteses formuladas 𝐻0 :r=r* e 𝐻1 :r=r*+1, em que a hipótese
nula testa o número de vetores de cointegração igual r e a hipótese alternativa de r +1.
Além disso, os testes para a presença de autocorrelação, heterocedasticidade e
normalidade dos resíduos também são aplicados. Segundo Bueno (2011) o teste de LM ou
teste de Breusch-Godfrey tem por hipótese nula ausência de autocorrelação nos resíduos; o
teste de heterocedasticidade de White tem sob a hipótese nula a homocedasticidade; por fim,
o teste de normalidade dos resíduos de Jarque-Bera possui a hipótese nula de normalidade.
O ponto positivo desta metodologia é o diagnóstico e definição de diferentes tipos de
assimetria no complexo soja no curto e longo prazo. As críticas ao modelo proposto por este
estudo são em função do uso da correção de erros de apenas dois regimes, ou seja, este
modelo não leva em consideração mais de dois tipos de “gap” de ajustes de preços.
4.2 Fonte e base dos dados
Os preços em função dos níveis de mercado no estado do Paraná entre a soja em
grão, óleo bruto e refinado de soja estão disponíveis na base de dados do IPEADATA (2017).
O preço do óleo refinado no varejo foi obtido na Secretaria de Agricultura e Abastecimento
do estado do Paraná-SEAB (2017).
As unidades do modelo ATP vertical para os diferentes níveis de mercados são
definidas de forma distinta, o óleo bruto é mensurado em R$/ton e o óleo refinado/varejo é em
R$/900ml. Para padronizar os valores na mesma unidade, optou-se por transformar todos os
preços em R$/ton5, em virtude da ficha técnica (com as características, por exemplo, de peso,
propriedades nutricionais) mensurar entre 0,88kg e 0,9kg por litro de óleo, então, optou-se
pela média de 0,89kg por litro de óleo bruto e refinado.
A frequência dos dados é mensal e abrange o período compreendido entre janeiro de
2011 a janeiro de 2017, os dados foram deflacionados IGP-DI geral, com base em janeiro de
2011, disponível no IPEADATA (2017). O Quadro 1 apresenta um resumo das variáveis
utilizadas em cada modelo, com a unidade e a descrição de cada uma delas e seus estados e
mercados estudados.
Quadro 1 – Resumo da descrição das variáveis utilizadas para o modelo de ATP
Análise Vertical
Mercado Unidade Descrição Fonte
Produtor R$/ton Logaritmo do preço pago ao produtor de soja no estado da Paraná IPEA 𝑃𝑝
Atacado R$/ton Logaritmo do preço do óleo bruto no estado do Paraná. IPEA 𝑃𝑜𝑏
Varejo R$/ton Logaritmo do preço do óleo refinado/varejo no estado da Paraná SEAB 𝑃𝑜𝑟𝑣
Fonte:Elaboração própria.
Os softwares utilizados para a pesquisa foram: EViews 9.5 Student Version Lite,
Stata 10 e Gretl, para o tratamento dos dados em series temporais.
5 Resultados e Discussões
Para estudar o processo estacionário das séries em análise, foram utilizados os testes
de raiz unitária NgPerron e DFA. O teste de DFA foi realizado, inicialmente, com tendência
determinística e intercepto e, somente com intercepto. O teste de NgPerron, mostrou-se com
estatísticas MSB e MZa não convergentes e, portanto, de certa forma, inconclusivas. Por isto
segue-se com os resultados obtidos a partir do teste de DFA, apresentados na Tabela 1, em
que as variáveis se configuram com ordem de integração um/I (1).

5
A conversão foi realizada a partir da ficha técnica do óleo bruto e refinado disponível em:
<http://www.campestre.com.br/oleos-vegetais/oleo-de-soja/oleo-de-soja-ficha-tecnica/>.

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Na Tabela 1 o p-valor (0,2541) para a variável do preço pago ao produtor de soja
(𝑃𝑝 ) indica a não rejeição da hipótese nula de presença de raiz unitária na série, ao contrário
disso, na primeira diferença o p-valor (0,0001) do teste rejeita a hipótese nula de raiz unitária.
Juntamente com os demais p-valor, configura-se as variáveis como não estacionária em nível,
quer esteja ou não a tendência e estacionárias na primeira diferença, ou seja, todas possuem
ordem de integração um/I (1).
Tabela 1 – Resultado dos testes de raiz unitária
# P-valor ## P-valor
DFA
Em 1ª Em 1ª
Variável Em nível Em nível
diferença diferença
𝑃𝑝 0,2541 0,0001* 0,0740 0,0000*
𝑃𝑜𝑏 0,6647 0,0000* 0,4255 0,0000*
𝑃𝑜𝑟𝑣 0,4401 0,0001* 0,1737 0,0000*
#o teste foi realizado com tendência e intercepto; ##o teste foi realizado somente com intercepto;* 1% de significância;
𝑃𝑝 (preço pago ao produtor); 𝑃𝑜𝑏 (preço do óleo bruto); 𝑃𝑜𝑟𝑣 (preço do óleo refinado/varejo) e 𝑃𝑜𝑟𝑎 (preço do óleo
refinado/atacado).
Fonte: elaboração própria.

Para estudar a relação de equilíbrio de longo prazo entre os processos estocásticos


em questão, o teste de cointegração foi realizado. A Tabela 2 resume os resultados para o teste
de Johansen, para a estatísticas do traço e do máximo auto-valor. Os resultados possibilitam
afirmar que o preço dos derivados da soja nos diferentes níveis de mercados (atacado e
varejo) apresentam uma relação de equilíbrio de longo prazo com o preço da soja pago ao
produtor paranaense.
O teste foi realizado em função dos três níveis de mercado. Para os testes do traço e
máximo auto-valor, relativas ao preço do atacado/𝑃𝑜𝑏 , os dois testes indicaram a presença de
dois vetores de cointegração ao nível de 5% de significância. A variável varejo/𝑃𝑜𝑟𝑣 indicou
pelo teste do traço, a existência de dois vetores de cointegração e pelo máximo auto-valor a
não existência de cointegração, ao nível de 5% de significância.
Tabela 2 - Resultado do Teste de Johansen
Mercado nº de vetores Teste traço P-Valor Teste max.a.val. P-Valor
r=0 23,66 0,0024 19,53 0,0068
Produtor e Atacado/𝑃𝑜𝑏
r=1 4,13 0,0421 4,13 0,0421
r=0 17,86 0,0216 13,31 0,0707
Produtor e Varejo/𝑃𝑜𝑟𝑣
r=1 4,54 0,0330 4,54 0,0330
*o intervalo de defasagens foi de 1-8, utilizando o critério 3.
Fonte: elaboração própria.

A partir deste cenário, e em função dos objetivos a serem alcançados neste estudo,
estimaram-se dois modelos para mensurar a existência de assimetria vertical no complexo
soja no estado do Paraná.
5.1 Modelo vertical 1 (ppp versus preço do óleo bruto)
O primeiro modelo vertical foi formalizado a partir das variações dos preços do óleo
bruto no atacado sob o preço pago ao produtor de soja, para diagnosticar a presença de
assimetria de transmissão de preços entre o mercado atacadista e o produtor de soja. O
modelo foi testado para autocorrelação, heterocedasticidade e normalidade dos resíduos. Com
os p-valores foi possível detectar a não rejeição de todas as hipóteses nulas, ou seja, o modelo
é homocedástico, não autocorrelacionado e possui normalidades nos resíduos. Os resultados
dos testes são apresentados na sequência pelo Quadro 2. Com os p-valores é possível detectar
a não rejeição de todas as hipóteses nulas, ou seja, o modelo é homocedástico, não
autocorrelacionado e possui normalidades nos resíduos.

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Quadro 2 - Resultados dos testes aplicados
Teste Hipótese P-valor
H0: Ausência de autocorrelação
Teste LM/Breusch-Godfrey 0,1783
H1: Autocorrelação
H0: Homocedasticidade
White 0,612
H1: Heterocedasticidade
H0: Normalidade dos resíduos
Teste Jarque-Bera 0,3680
H1: Não normalidade dos resíduos
Fonte: elaboração própria.
Os primeiros resultados, expressos na Tabela 3, revelaram que todos os parâmetros
do modelo foram estatisticamente significativos ao nível de 5%, com exceção do parâmetro
da variável ∆𝑃𝑜𝑏 ,𝑡−1 + que revelou-se significativo a 12%. A seleção de defasagens foi
realizada, e nenhuma defasagem mostrou-se significativa.
Tabela 3 - Resultados do modelo vertical 1 (produtor versus atacado)
Variável Parâmetro P-valor
Const. (𝛼0 ) 0,156 0,0001*
𝐻∆𝑃𝑝 ,𝑡−1 + (𝛼1 ) -9,520 0,0001*
𝐻∆𝑃𝑝 ,𝑡−1 − (𝛼2 ) -9,266 0,0001*
∆𝑃𝑜𝑏 ,𝑡−1 + (𝛼3 ) 0,376 0,1152
𝐻∆𝑃𝑜𝑏 ,𝑡−1 + (𝛼4 ) -0,823 0,000*
∆𝑃𝑜𝑏 ,𝑡−1 − (𝛼5 ) 0,440 0,0197**
𝐻∆𝑃𝑜𝑏 ,𝑡−1 − (𝛼6 ) -1,147 0,0000*
𝐸𝐶𝑇𝑡−1 + (𝛼7 ) 10,02 0,0000*
𝐸𝐶𝑇𝑡−1 − (𝛼8 ) 9,91 0,0000*
Tipo ATP Classificação Teste p-valor Diagnóstico
AIC CP 𝛼3 + = 𝛼5 − 0,0004 Assimetria
AED CP 𝛼4𝑖 + = 𝛼6𝑗 − 0,0000* Assimetria
𝐾+ 𝑆−

∑ 𝛼4𝑖 = ∑. 𝛼6𝑗 −
+
AIA LP -------- --------
𝑖=𝑧 𝑗=𝑧

ATAE LP 𝛼7 + = 𝛼8 − 0,0000* Assimetria


*1% de significância; **5% de significância; ***10% de significância;
Fonte: elaboração própria.
Os resultados para a presença de Assimetria de Impacto Contemporâneo (AIC) é de
rejeição da hipótese nula de 𝛼3 + = 𝛼5 − . Neste contexto, é possível perceber que os mercados
são integrados e as variações mensais positivas e negativas de preços no mercado atacadista
tendem a ser transmitidas assimetricamente ao produtor. Assim, quando o choque for negativo
o ajuste contemporâneo é maior (𝛼5 = 0,44) do que quando for positivo (𝛼3 = 0,37), o mercado
atacadista de óleo bruto paranaense tende a usar o poder de mercado sobre o produtor
paranaense.
Quanto à Assimetria de Efeito Defasagem (AED), rejeita-se a hipótese nula, ou seja,
as variações acumuladas dos preços, nos períodos anteriores no mercado atacadista, afetaram
assimetricamente o preço pago ao produtor, esta assimetria pode ser caracterizada como
negativa, pois o parâmetro do somatório negativo é maior que de somatório positivo.
Sintetizando, no curto prazo, um choque negativo no preço do óleo bruto no mercado
atacadista paranaense no período anterior, tende a influenciar com maior intensidade quedas
(𝛼6 = -1,14), do que quando ocorrem aumentos (𝛼4 = - 0,82) no preço pago ao produtor de
soja.
Quanto às definições de longo prazo, os parâmetros que examinam a Assimetria de
Impacto Acumulado-AIA não foram significativos. Nenhuma defasagem foi significativa para
modelo estruturado.

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Os parâmetros que constatam a Assimetria de Trajetória de Ajuste para o Equilíbrio-
ATAE, revelam que os ajustes de curto prazo para a trajetória de longo prazo tendem a ser
mais intensos nas variações positivas. Ou seja, os aumentos dos preços no curto prazo ao
longo de uma trajetória de longo prazo tendem a ser mais intensos (𝛼7 =10,02), do que
quando ocorrem quedas (𝛼8 = 9,91).
Estes resultados permitem confirmar a hipótese de presença de assimetria de
transmissão de preços do tipo AIC, AIA e ATAE.
5.2 Modelo vertical 2 (ppp versus preço do óleo refinado varejo)
O segundo modelo vertical foi estimado via MQO a partir da Equação (1). Na
sequência, o Quadro 3 apresenta os resultados dos testes de heterocedasticidade,
autocorrelação e de normalidade dos resíduos. Os mesmos indicam a não rejeição de todas as
hipóteses nulas, ou seja, o modelo é homocedástico, não autocorrelacionado e possui
normalidades nos resíduos.
Quadro 3 - Resultados dos testes
Teste Hipótese P-valor
H0: Ausência de autocorrelação
Teste LM/Breusch-Godfrey 0,2538
H1: Autocorrelação
H0: Homocedasticidade
White 0,1509
H1: Heterocedasticidade
H0: Normalidade dos resíduos
Teste Jarque-Bera 0,3078
H1: Não normalidade dos resíduos
Fonte: elaboração própria.
A Tabela 4 resume os principais resultados encontrados. Os p-valores indicam que
todos os parâmetros das variáveis estudadas são diferentes de “zero” a 1% de significância,
com exceção dos parâmetros das variáveis ∆𝑃𝑜𝑟𝑣,𝑡−1 + e ∆𝑃𝑜𝑟𝑣,𝑡−1 − . As defasagens também
não se mostraram significativas. Estes resultados indicam que as variações dos preços no
período anterior não se mostraram significativas em explicar a transmissão entre os mercados.
Tabela 4 - Resultados do modelo vertical 2 (produtor versus varejo)
Variável Parâmetro P-valor
Const. (𝛼0 ) 0,0719 0,0000*
𝐻∆𝑃𝑝 𝑖,𝑡−1 + (𝛼1 ) −2,9138 0,0003*
𝐻∆𝑃𝑝 𝑖,𝑡−1 − (𝛼2 ) −2,6567 0,0012*
+
∆𝑃𝑜𝑟𝑣,𝑡−1 (𝛼3 ) -0,2014 0,5935
𝐻∆𝑃𝑜𝑟𝑣,𝑡−1 + (𝛼4 ) -0,3038 0,0012***
∆𝑃𝑜𝑟𝑣,𝑡−1 − (𝛼5 ) -0,1297 0,6388
𝐻∆𝑃𝑜𝑟𝑣,𝑡−1 − (𝛼6 ) -0,6242 0,0000*
𝐸𝐶𝑇𝑡−1 + (𝛼7 ) 3,0743 0,0000*
𝐸𝐶𝑇𝑡−1 − (𝛼8 ) 3,1702 0,0000*
Tipo ATP Classificação Teste p-valor Diagnóstico
AIC CP 𝛼3 + = 𝛼5 − ---- ----
AED CP 𝛼4𝑖 + = 𝛼6𝑗 − 0,0005* Assimetria
𝐾+ 𝑆−

∑ 𝛼4𝑖 = ∑ 𝛼6𝑗 − .
+
AIA LP ------- ------
𝑖=𝑧 𝑗=𝑧

ATAE LP 𝛼7 + = 𝛼8 − 0,0001* Assimetria


*1% de significância; **5% de significância; ***10% de significância;
Fonte: elaboração própria.
Na análise de assimetria entre o mercado produtor e varejista pode-se constar a
presença de Assimetria de Efeito Defasagem (AED) e de Assimetria de Trajetória de Ajuste
para o Equilíbrio (ATAE).

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Quanto às definições de curto prazo, os parâmetros que estimam a AED rejeitaram a
hipótese nula, ou seja, as variações acumuladas dos preços nos períodos anteriores no
mercado varejista afetam assimetricamente o preço pago ao produtor. Esta assimetria pode ser
caracterizada como negativa, pois, o parâmetro do somatório negativo é maior que a do
somatório positivo. Sintetizando, no curto prazo, um choque negativo no preço do óleo
refinado, no mercado varejista paranaense no período anterior, tende a influenciar com maior
intensidade o preço pago ao produtor de soja no Paraná (𝛼6 = -0,62), do que quando ocorrem
aumentos (𝛼4 = - 0,30).
Os parâmetros que constatam a ATAE, revelaram que os ajustes de curto prazo para
a trajetória de longo prazo tendem a ser mais intensos (𝛼8 =3,17) do que quando ocorrem
aumentos (𝛼7 = 3,07) caracterizando a presença de ATP negativa. Este modelo apresentou
resultados mais fortes para a presença de ATP, as quedas são repassadas com maior
intensidade, com a presença de assimetrias ATAE e AED negativa.
Os resultados dos modelos, vertical 1 e 2 corroboram as evidências de assimetrias
encontradas por autores já mencionados na Seção 3. De fato, na literatura nacional Baptista
(2015) e Salvini (2016) e internacional Teoh et al. (2014) concluem que, o fenômeno de
assimetria de transmissão de preços está presente em muitos mercados para diferentes bens
comercializados e em diferentes níveis de análise.
Neste contexto, a rejeição da hipótese da Lei do Preço Único foi evidenciada em
todos os modelos, visto que todos não rejeitaram a presença de ATAE, ou seja, existem
desvios de curto prazo assimétricos para corrigir a trajetória de longo prazo dos preços
estudados nos dois modelos. Ressalta-se que a discussão de curto e longo prazo é um tanto
nebulosa, e que neste caso com o período estudado há ATP e que os mesmos resultados não
podem ser generalizados para outros períodos de tempos como destacado por Tifaoui e
Cramon‐Taubadel (2016).
Por fim, esta pesquisa buscou entender a dinâmica dos mercados enfrentados pelo
produtor de soja brasileiro com relação ao mercado interno, tomando como exemplo o
complexo soja do Paraná, com a expectativa de que este mercado seja um espelho para as
demais Unidades Federativas.
Nos modelos analisados, detectou-se a presença de ATAE, ou seja, para o longo
prazo comprovou-se a presença de assimetria de transmissão de preços positiva entre o
produtor e atacado e negativa para a relação entre o produtor e o varejo. A condição de
presença de ATP positiva em mercados agrícolas salientada por Meyer e Von Cramon-
Taubadel (2004) e Bailey e Brorsen (1989) foi validada, com isto o movimento de preços vai
depender da conjuntura do mercado em análise.
6 Conclusões
O presente estudo propôs investigar a presença de assimetria de transmissão de
preços no complexo soja, mais especificamente, entre os níveis de mercado produtor/atacado
produtor/varejo para o processamento do grão até o óleo refinado. Com isto, buscou-se
entender o processo de transmissão de preços no complexo soja nacional em diferentes
mercados, a partir dos pressupostos da LPU (Lei do preço Único) combinados com os da
hipótese de transmissão assimétrica de preços para a análise vertical como possível
comportamento entre mercados, tendo como foco de estudo o produtor rural.
Como principais resultados alcançados com as estimativas dos modelos
econométricos, pode-se constatar o fenômeno da ATP no complexo soja brasileiro no
mercado vertical. Assim, foi possível, primeiro, rejeitar a hipótese da LPU para os modelos
propostos devido à existência do fenômeno a da ATP no longo prazo pela presença de ATAE
nos mesmos. Segundo, foi possível detectar a presença de diferentes tipos de assimetrias. O

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emprego do mecanismo de correção de erros (ECT) possibilitou investigar a assimetria no
curto e longo prazo e, então, as estimativas para existência de assimetrias a nível vertical.
Os modelos de transmissão de preços vertical mostraram-se robustos para os testes
realizados, e com fortes indicativos do uso do poder de mercado entre atacado/varejo para o
produtor. Isto porque, foram encontradas evidências de ATP em ambos os mercados, e os
testes não revelaram nenhum indicativo de simetria. Cabe destacar, que o modelo vertical 2
foi o único que não apresentou assimetria positiva, ou seja, o mercado varejista de óleo de
soja refinado supervaloriza as quedas e tende a repassar com maior intensidade choques de
preços negativos ao produtor de soja.
Para novos estudos, sugere-se a aplicação para os preços dos insumos, com o intuito
de investigar a integração do mercado que antecede o produtor de soja. Como forma de
melhorar a análise também se sugere esclarecer questões determinantes do fenômeno ATP
defendidas pela literatura. Um exemplo seria incrementar a análise, ao ponto de que a mesma
mensure os custos de ajustamentos.
Referências
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Agricultural Economics, p. 246-252, 1989.
BAPTISTA, D. de M. Integração e assimetrias na transmissão de preços de café arábica no
Brasil. 2015. 94 p. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) - Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2015.
BUENO, R. L. S. Econometria de séries temporais.São Paulo: Cengage Learning, 2011. 325 p.
FACKLER, P. L.; GOODWIN, B. K. Spatial price analysis. Handbook of agricultural economics, v.
1, p. 971-1024, 2001.
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SALVINI, R. R. Investigando a assimetria na transmissão dos preços dos combustíveis no Estado
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SEAB. SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DO ESTADO DO
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TIFAOUI, S.; CRAMON‐TAUBADEL, S. Temporary Sales Prices and Asymmetric Price
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Área 2 – Ciência do Agronegócio

II. Digital Farming - Big Data - Urban Farming -


Inovação no Agronegócio

253
Análise da Inovatividade em Agroindústrias no Contexto das
Especificidades do Micro e do Pequeno Empreendimento

Analysis of Innovation in Agroindustries in the Context of the Specificities


of Micro and Small Enterprises

Paulino José Paulino da Silva11


Resumo
A inovatividade é entendida como a voluntariedade da organização em empenhar-se em ações inovativas, por via
de novos produtos ou serviços, processos, técnicas gerenciais e de marketing. A adoção desta prática, implica
um conjunto de condições econômico-financeiras, intelectuais, tecnológicas, materiais, etc., que teoricamente
são exíguas nas empresas de micro, pequeno e médio porte (MPMEs). Na perspectiva de verificar esta
constatação teórica, o presente artigo analisa como se configura a inovatidade em MPMEs agroindustriais no
contexto das suas especificidades em Moçambique. Com base em uma pesquisa qualitativa e exploratória com
10 MPMEs e através da realização de entrevistas, coleta de documentos e posterior análise documental, de
conteúdo e a confirmação dos resultados por grupo focal, foi possível constatar que nestas empresas configuara-
se inovatividades em produtos, processos, elementos organizacionais e de marketing em sua maioria de caractér
incremental e de nível básico, sendo que existência nestas MPMEs de um conjunto de especificidades de
dimensão interna referentes à estrutura organizacional e de dimensão externa referentes aos aspectos político-
legal e da conjuntura econômica dificultam o desenvolvimento da inovatividade e explicam a sua configuração
actual.

Palavras-chave: Inovatidade, Especificidades de MPMEs, Agroindústrias.

Abstract

Innovativeness is understood as the organization's willingness to engage in innovative actions, through new
products or services, processes, managerial and marketing techniques. The adoption of this practice implies a set
of economic, financial, intellectual, technological, material, etc. conditions, which theoretically are limited in
micro, small and medium sized enterprises (MSMEs). In the perspective of verifying this theoretical finding, the
present article analyzes how the innovation in agro-industrial MPMEs is configured in the context of its
specificities in Mozambique. Based on a qualitative and exploratory research with 10 MPMEs and through
interviews, document collection and subsequent documentary analysis, content and confirmation of results by
focus group, it was possible to verify that in these companies, innovations in products had been established,
processes, organizational elements and marketing elements are mostly incremental and basic level, and the
existence in these MSMEs of a set of internal-dimensional specificities related to the organizational structure and
external dimension related to political and legal aspects and the economic situation make difficult the
development of innovation and explain its current configuration.

Keywords: Innovativeness, Specificities of SMEs; Agroindustries.

1. Introdução

Desde o início do século XIX, tanto nas organizações, quanto nos países ao nível global, a
inovação foi considerada como umas das principais direccionadoras da competitividade e do
desenvolvimento económico (LANDSTROM; HARIRCHI; ASTROM, 2012). Diante desta
realidade promissora, em vários segmentos da economia multiplicaram-se as preocupações
no fomento de novas tecnologicas, melhorias de processso produtivos, organizacionais,
enfim., tudo o que pudesse permitir melhorar o a eficiência produtiva e económica.

1
Doutorando em Agronegócios-CEPAN/UFRGS, Mestre em Administração e Negócios-
(PUCRS), Assistente Universitário-FEAF/UniZambeze-Moçambique. Bolsista PEC-
PG/CNPQ. E-mail: pajopasi@gmail.com
Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-6586
E-mail: simposioagronegocio@gmail.com
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A agroindústria de processamento de alimentos e bebidas, considerada em vários países
um dos sectores mais importantes da economia nacional por ter ligacões com vários sectores
importantes da cadeia de valor tais como a agricultura, a pecuária, a indústria química, o
comércio, etc, tradicionalmente sempre foi caracterizada por baixas actividades inovativas,
baixos investimentos em tecnologias, em pesquisas e desenvolvimento (P&D)
comparativamente ao demais sectores como o da indústria química, farmacêutica e de
softwatres, por exemplo (BAREGHEH et al, 2012; SAMADI, 2014). No entanto, devido a
necessidade de maximizar lucros e satisfazer clientes cada vez mais exigente, de aumentar a
eficiência e reduzir os custos operacionais, a agroindústria de processamento de alimentos e
bebidas têm vindo a praticar ações inovativas de relevo (SAMADI, 2014).
Todavia, em pesquisas sobre inovação pouco se examinou a agroindustria de micro e pe
queno porte (WALES, 2016). As micro e pequenas empresas (MPMEs), são as que mais
crescem em termos de quantidade no mundo, bem como as mais predominantes em boa parte
das economias no mundo (ÁCS; SZERB; AUTIO, 2016; WORLD ECONOMIC FORUM,
2015). Apesar da importância que elas representam para as economias, estas empresas estão
expostas a enormes barreiras de acesso a recursos financeiros, de pessoas qualificadas, de
acesso aos mercados, enfim, barreiras de várias ordens que geralmente dificultam e impõe
limitações de operaciolização de suas actividades (MARTINS et al, 2016; FINI et al., 2012;
LUMPKIN et al.,2015).
A literatura, aponta que a inovatividade requer a disponibilidade de um conjunto de
capacidades e condições econômicas, financeiras, tecnológicas, humanas e intelectuais,
(WALES, 2016; LUMPKIN et al., 2015, MANUAL DE OSLO 2014) que normalmente são
exíguas nas empresa de micro e do pequeno porte. Das publicações existentes, tampouco
examinaram, como as inovações se configuram no contexto específico de limitações do micro
e do pequeno emprendimento. Diante desta lacuna, o presente trabalho investiga esta questão,
objectivando compreender como se configura a inovatividade de micro, pequenas e médias
empresas do setor agroindustrial em Moçambique. Para tal, o presente artigo encontra-se
estruturado em 5 seções: A primeira integra a presente parte introdutória. A segunda seção
apresenta o marco teórico, a terceira apresenta os procedimentos metodológicos, jà a quarta
seção se reserva à apresentação e discussão de resultados e finalmente na quinta seção é
apresentada a conclusão da pesquisa.da pesquisa.

2. Marco Teórico:
2.1. A Inovatividade: Conceito, Tipologia e Caracterização.

Diferentes pesquisadores difiniram a inovatividade, tendo em conta seus os objectivos e a


realidade do contexto estudado. Nesta pesquisa, a inovatividade e a inovaçao usam-se como
termos similares, e é definida como sendo o comprometimento organizacional em empenhar-
se em ações inovativas (COVIN; SLEVIN, 1989). O requisito mínimo para se definir uma
inovação é que o produto, o processo, o método de marketing ou o organizacional sejam
novos ou significativamente melhorados para a empresa (MANUAL DE OSLO, 2014).
Diante desta observação, a inovação pode ser classificada em: de produto, de processo,
organizacional e de marketing (ANDERSON et al., 2015; HUSSAIN; ISMAIL; AKHTAR,
2015; MANUAL DE OSLO, 2014; COVIN; SLEVIN, 1989).
A inovação de produto se refere a introdução de um bem ou serviço novo ou
significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos;
Incluem-se melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e
materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais.
(MANUAL DE OSLO, 2014; COVIN E SLEVIN, 1989).

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Já a inovação de processo é a implementação de um método de produção ou
distribuição novo ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças significativas em
técnicas, equipamentos e/ou softwares (MANUAL DE OSLO, 2014). Por sua vez, uma
inovação de marketing é a implementação de um novo método de marketing com mudanças
significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no
posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços (SHAN et al., 2016).
As inovações de marketing compreendem entre outros, a abertura novos mercados, ou
reposicionamento do produto no mercado (COVIN E SLEVIN, 1989), mudanças substancias
no design do produto, sem a alteração das características funcionais do produto, incluem
também mudanças na forma de embalar produtos para o nosso caso de alimentos e bebidas no
foco de estudo, em que a embalagem e o principal determinante da aparência do produto
(MANUAL DE OSLO, 2014; SHAN et al., 2016). Por fim, uma inovação organizacional é a
implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na
organização do local de trabalho ou em suas relações externas. Podem–se vislumbrar entre
outras em melhorias ou novos sistemas gerenciais, técnicas de controle e estrutura
organizacional a fim de aumentar a eficiência da organização, etc. (MARTENS et al., 2014).
Quanto ao seu grau de novidade Tidd (2001), advoga que as inovações podem: inovações
incremental ou radical. As inovações incrementais são normalmente menores, representadas
por adaptações e melhorias. Já as inovações radicais são resultantes de um novo paradigma e
muitas vezes conduzem a mudanças substanciais e ropturas completas em sistemas anteriores.
Por outro lado, Figueredo (2009), acrescenta as seguinte tipologias: (i) inovação básica, que
corresponde a uma novidade para a própria empresa, onde a novidade se basea em pequenas
alterações de proccessos de produção ou do produtos ou ainda de equipamentos com base em
imitação de tecnologias já existentes. (ii) inovação arquitectal, que corresponde a uma
novidade para o mercado onde a empresa opera.
O Quadro 1 abaixo, apresenta o modelo elaborado pelo autor, a partir de Covin e
Slevin (1989) e manual de Oslo 2014, que vai embasar este estudo servindo como base para a
verificação empírica da inovatividade nesta pesquisa.
Quadro 1– Modelo teórico adotado para análise da Inovatividade
Dimensão Categorias Elementos/ variáveis para análise
Lançamentos de novos produtos (variados tipos incluindo
Produtos e Serviços tecnologia)/novas linhas de produtos e serviços no mercado;
Mudanças de produtos e serviços /linhas de produtos e
serviços, criação de tecnologias moderna ou de ponta.
Inovatividade Processos Ações da empresa com ênfase na sua gestão para P&D.
Ações da empresa com ênfase em novos ou melhoria dos
processos produtivos e criativos, adoção de tecnologias
moderna ou de ponta.
Marketing Ações da empresa com ênfase na entrada em novos mercados e
outras novas práticas de marketing.
Organizacional Ações da empresa com ênfase na reestruturação administrativa
visando a implentação da inovação.
Fonte: O autor (2017) , a partir de Covin e Slevin (1989) e Manual de Oslo 2014.

2.2. Especificidades das MPMEs e sua Relação na Propensão a Inovatividade

De uma forma geral, as MPMEs, são caracterizado por um conjunto de


especificidades (PASSOS; SPERS, 2014). Entenda-se por especificidades ao conjunto
específico de fatores internos ou externos que caracterizam e limitam o potencial
funcionamento e crescimento das MPMES. Estes fatores são mais frequentes e exercem
maiores inflêuncia nas MPMES contrariamente às grandes empresas por possuirem mais
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capacidades de evitar e ter sob o seu controle tais especificidades (PASSOS; SPERS, 2014;
LUMPKIN et al., 2015; CAMPOS; VALENZUELA, 2013).
O Quadro 2 a seguir, apresenta o resumo das especificidades das MPMEs,
identificadas na literatura.

Quadro 2 – Especificidade das MPMEs identificadas na literatura.


Categorias
Dimensão Organizacionais Decisionais Individuais Autores
Falta de recursos (financeiros, Tomada de -Identidade entre Martins,
humanos, tecnológicos e decisão intuitiva; pessoa física e Escrivão Filho
materiais); Fraca qualificação Tomada de jurídica;Influência e Nagano
de Recursos Humanos;Gestão decisões de curto pessoal do (2016);Lumpk
centralizadora do proprietário prazo; Alto grau proprietário- in et al.
Interna

gerente;Ausência de um de autonomia dirigente; (2015);Passso


planejamento formal de decisória; Simbiose entre s e Spers
trabalho; Mentalidade de Simplicidade da patrimônio social (2014);
sobrevivência; Estratégia estrutura e pessoal; Dimande
organizacional intuitiva e Organizacional. Propensão à riscos (2012);Fini et
pouco formalizada. calculados. al. (2012);
IPEME (2015)
Categorias
Político legal Ambiente Económico Autores
Aspectos tributários; Politicas Dificuldades de acesso aos Tirfe (2015),Baker
Externa

de licenciamento de mercados; Taxas de juros e de (2015) e Khayesi e


atividades; Politicas de câmbio; Fraca especialização Nafukho (2011);
financiamento; Aspectos dos Parceiros Fumo (2011); Baker
trabalhistas; (fornecedores/clientes); Tilly (2014);
Corrupção;Burocracia; Outros Situação extra organizacional
aspectos político-legais; incontrolável; Fraqueza da
moeda nacional;
Fonte: o autor (2017)

A inovatividade ao ser assumido pelos gestores como uma opção estratégica vai
implicar a mobilização de recursos e competências para a sua materialização. Conforme
Lumpkin et al. (2015), grandes empresas terão mais facilidade de conceber e materializar a
inovatividade, porque podem mais facilmente mobilizar recursos e direcionar suas
competências para o alcanse deste objetivo. Situação contrária tende a se verificar em
MPMEs, por estas estarem cercadas de especificidades/limitações acima apresentadas. Estas
especificidades podem, por um lado, influenciar a forma como estas MPMEs desenvolvem
suas práticas de negócios e suas atividades (MARTINS; ESCRIVÃO FILHO; NAGANO,
2016) e, consequentemente, enfraquecer a sua postura inovativa por lado, por outro lado,
estas, podem impulsionar a sua orientação empreendedora, facilitando a criatividade,
estimulando estratégias emergentes e permitindo o desenvolvimento de conhecimento (FINI
et al., 2012; LUMPKIN et al.,2015).

3. Método de Investigação

De forma a responder ao problema de pesquisa proposto, a estratégia adequada


envolveu um estudo de natureza qualitativa, de caráter exploratório. A delimitação temporal
do estudo foi de corte transversal e os dados coletados entre Setembro de 2016 á fevereiro de

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2017. Constituíram unidades de análise 10 (dez) empresas de micro, pequeno e médio porte 2,
do sector agroindustrial, localizadas nas regiões centro e sul de Moçambique.
A seleção destas empresas ocorreu numa etapa de pré-amostragem, que contou com o
auxílio do Instituto para a Promoção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME) de
Moçambique e um diretório de agronegócios de alimentos e mercados nutritivos (2015) 3, por
via dos quais, foram contatadas presencialmente, por e-mail e por telefone 147 (cento e
quarenta e sete) empresas filiadas, sendo que somente 10 empresas (Dez) concordaram em
participar da pesquisa.
Como fontes de coleta de dados, os instrumentos envolveram principalmente
entrevistas semi-estruturadas, documentos e discussão de grupo focal. Para tal, foram
realizadas na totalidade 24 entrevistas, sendo 20 com os gerentes e funcionários das empresas
e 4 entrevistas com técnicos das áreas da agricultura, pecuária e indústria e comércio. das
agências do Governo das que trabalham no auxilio as MPMEs. Em caráter secundário foram
coletados documentos disponibilizados pelas organizações e outros achados na página web
das próprias empresas bem como de outras instituições que trabalham no auxilio as MPMEs,
que envolveram: contrato de financiamento bancários e não bancários, edital de resultados de
financiamentos, contratos de produção, memorando de entendimento, plano de amortização
das dívidas, registro de anúncios na rádio local, catálogo de produtos, certificados de
atribuição de prêmios, fotografias de embalagens de produtos; material de propaganda da
empresa, que permitiram evidenciar os relatos dos entrevistados e identificar os elementos da
inovatividade das empresas pesquisadas.
Como técnicas de análise de dados, tem-se a análise de conteúdo para as entrevistas e
para a confirmação dos resultados por via de grupo focal e a análise documental para as fontes
documentais. Contudo, após a elaboração do relatório contendo os resultados preliminares da
pesquisa, procedeu-se um processo de confirmação comunicativa dos resultados, através do
feedback dos informantes da pesquisa. Para tal, recorreu-se à técnica de pesquisa de grupo
focal, que possibilitou a apresentação pelo pesquisador dos resultados preliminares da
pesquisa á 14 pessoas, divididas em 3 grupos, sendo (i) um grupo de 6 composto por técnicos
das agências do governo de Moçambique, (ii) um grupo de 5 pessoas composto por
representantes das empresas pesquisadas, (iii) um grupo de 3 pessoas composto por
acadêmicos e pesquisadores das áreas de agronegócio e administração. A sessão do debate
teve a duração de cerca de 40 minutos, tendo terminado quando o pesquisador percebeu que
os grupos, já não estavam sendo capazes de produzir novidades nas suas discussões, ou seja,
atingida a saturação teórica. Esta atividade foi gravada em vídeo e posteriormente
analisada.Tal análise de conteúdo consistiu-se primeiro na percepção e comparação das
opiniões entre os grupos, o que permitu mais uma vez, encontrar concordância nas suas
opiniões e, em seguida compará-las com os resultados preliminares apresentados, tendo se
evidenciado que as opiniões dos grupos participantes apontavam para os resultados
apresentados, o que permitiu confirmar e validar os resultados da presente pesquisa. A seguir,
são apresentados os resultados da pesquisa.

4. Apresentação de Resultados e Discussão:

2
Em Moçambique, são micro empresas, aquelas com até 4 empregados ou com volume de negócio anual
inferior a 1.2 milhões de meticais; pequena empresa entre 5 e 49 empregados e volume de negócios entre 1.2 e
14.7 milhões de meticais; Média empresa com mais de 100 empregados e volume de negócios superior a 29.97
milhões de meticais.
3
Constitui uma publicação anual de uma Organização Não Governamental (ONG) Americana, que trabalha em
prol do fortalecimento das capacidades das MPMEs do agronegócio em Moçambique, que contém todas
informações relativas as atividades e os contatos das empresas do ramo de agronegócios.

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As empresas pesquisadas, operam majoriatriamente nas actividades de Produção e
processamento de variados produtos agrícolas, de bovinos e frangos de corte, de bebidas e
alimentos derivados de frutas nativas e processamento de sal iodado. O tempo de existência e
actução no mercado varia de 4 a 50 anos. Quanto ao tamanho, 3 empresas são de micro porte,
2 pequenas e 5 de médio porte. Quanto aos mercados, mais da metade atuam ao nível
nacional, outras ao nível das sua regiões locais e nenhuma actua ao nível global. a seguir são
apresentados e discutudos os resultados.

4.1 Elementos Identificados que caracterizam a inovatividade das MPMEs Pesquisadas


Quanto aos elementos que confuiguram/caracterizam a inovatividade das empresas
pesquisadas, evidenciam-se práticas em todas as categorias da inovativdade, isto è: em
produtos, processos, marketing e organizacional. O Quadro 3 a seguir apresenta o resumo dos
achados.

Quadro 3 – Resumo comparativo dos elementos da Inovatividade do Modelo adotado para análise com a
prática das empresas pesquisadas.

Categorias Elementos identificado no modelo teórico Elementos identificados nas


adotado para análise. empresas pesquisadas
A B C D E F G H I J
Lançamentos de novos produtos e serviços /novas ✓✓ ✓✓✓✓ ✓
Produtos e linhas de produtos e serviços no mercado;
Serviços Mudanças de produtos e serviços /linhas de ✓ ✓
produtos e serviços.
Processos Ações da empresa com ênfase na sua gestão para ✓ ✓ ✓✓
P&D.
Ações da empresa com ênfase em novos ou ✓
melhoria dos processos produtivos e criativos.
Marketing Ações da empresa com ênfase na entrada em novos ✓ ✓✓ ✓
mercados e outras novas práticas de marketing.
Organizacional Ações da empresa com ênfase na reestruturação ✓ ✓ ✓✓✓✓ ✓
administrativa visando a implentação da inovação.
Fonte: A Pesquisa (2017) Nota:✓-Elemento presente ou identificado;

4.2 Nível e grau de inovatividade que configuram as inovações das MPMEs Pesquisadas.

Boa parte das empresas pesquisadas apresentam práticas de inovação incremental,


vislumbarando-se em melhorias em seus processos, produtos, técnicas administrativas e ações
de marketing, porém de nível básico, sendo novidade para as próporias empresas e e em
alguns casos, transcendendo apenas para o mercado local onde empresa está inserida. O
Quadro 4 a seguir apresenta o resumo dos achados.

Quadro 4: Nível de novidade das inovatividades achadas na prática das empresas


pesquisadas.
Categoria da Grau da Nível de Novidade
inovatividade inovatividade Novo para a Novo para o Novo para o Novo para o
própria empresa mercado local mercado mercado global
(básica) (arquitectal) nacional (Radical)
Produto/serviço incremental A, B, E, F, G,H,J B
Processo Incremental B, G, J, H, F. G, J
Radical I
Marketing Incremental B, G, H, J
Organizacional Incremental A, B, E, F, G, H,J A, B, E, F, G, H,J
Fonte: A pesquisa (2017) , a partir de nascimento et al (2017).
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Quadro 5–Especificidades identificadas nas Empresas e a sua Relação com a Inovatividade das MPMEs pesquisadas.
Dimensões
Especificidade
das Elementos da inovatividade
Empresas relacionada a Relatos dos entrevistados
especificida dificultados
inovatividade
des
Poderíamos montar sistemas tecnológicos de produção de última geração Adoção tecnológica
por exemplo, mas pela falta de dinheiro, temos que optar entre um sistema
convencional que te vai dar enormes gastos e não terás outro dinheiro para
continuar a empresa, ou ficar com tecnologias simples e continuar lutando
(Entrevistado A1).
Todas Falta de recursos Gostaríamos de abrir um matadouro, empacotar os nossos frangos, lançar a
financeiros. nossa marca e logotipo, passarmos a empacotar a nossa farinha e dar uma
marca, mas isso tudo tem custos e neste momento, não temos dinheiro
(entrevistada E2). Lançamentos de novos produtos/novas
Apresentamos um projeto para abertura de uma fábrica de processamento linhas de produtos; Ações de marketing
de frutas e não conseguimos dinheiro a para comparticipar, perdemos o e inovação organizacional.
financiamento e o projeto está arquivado. (Entrevistada F1). Olha temos
um projeto de construção de uma fábrica e produção de ração animal. Até
agora não avançou porque não temos dinheiro disponível (Entrevistada I
1).
Internas G, Se tivéssemos pelos menos dois engenheiros agrônomos a full time,
H, Falta de recursos poderíamos pensar em outros projetos, como a produção de nossas Ações de P&D e Criatividade
J, humanos próprias sementes, experimentar culturas hibridas, ou mesmo encontrar
A qualificados. soluções simples e inovadoras para a nossa farma (Entrevistado A1).

G, J ...Uma das grandes coisas que temos tentado fazer e nos preocupa muito, é
Gestão Centralizada a descentralização e a desconcentração...se pudesse delegar certas Criatividade
no proprietário atividades á pessoas aqui, talvez isto trariam certas soluções inovadoras,
gerente. teriam outras formas de pensar e de ver as coisas.... (Entrevistado G1)

Muitas vezes, não podemos avançar com novos projetos, por não temos
D,G dinheiro na hora e no banco, o dinheiro está com os nossos clientes que Lançamentos de novos produtos
Falta de liquidez ainda não pagaram... (Entrevistado D1).

Continua

260
Especificidade Elementos da Inovatividade
Dimensões das
Empresas relacionada a Relatos dos entrevistados dificultados
especificidades
inovatividade
B Dificuldades na As taxas dos bancos são proibitivas, a empresa que se atrever a fazer
E, obtenção de financiamento tem que ter garantias de retornos expressivos, então Lançamentos de novos projectos e.
F, financiamento nessas condições não da para contar com o banco para seguir novos Maximização de novas oportunidades
Externa G, bancário, devido projetos e expandir-se no mercado (Entrevistado I2) de mercado.
I, altas taxas de juros
J
.... Tivemos um projeto de fábrica de ração muito bem concebido, onde
necessitávamos de financiamento para aquisição de equipamento. Lançamento de novos produtos no
. Fomos legíveis neste financiamento, que por sinal era em dólar mercado;
Depreciação da
I americano, e convertido em seguida para a moeda nacional. Para o
moeda nacional
nosso azar...com essa queda do metical face o dólar, porque o
(metical) face ao
equipamento custa em dólares, tornou-se muito mais caro, e preferimos
dólar americano
não comparticipar e perdemos o financiamento...a nossa fábrica de
ração fica ainda um sonho. (Entrevistado I1).
Nós produzimos novos produtos sob a demanda do mercado...
(Entrevistado J1). Lançamento de novos produtos no
J,
Dificuldades de Não podemos experimentar produzir um novo produto sem saber quem mercado;
F,
acesso aos mercados vai comprar... (Entrevistas F1)
A,
internos e externos; Somos empresas agrícolas, não nos aventuramos a produzir algo, sem
sabermos se existem clientes para esta cultura alimentar e para o
produto associado... (Entrevistado J).
Olha até hoje não sei em que mercado posso buscar, certos ingredientes Elemento da inovatividade facilitado
para produzir os nossos licores ou até melhorar a nossa qualidade.
Quando iniciamos o projeto foi assim mesmo, não sabíamos onde Criatividade
Falta de
encontrar e isso obrigou-nos a encontrar soluções próprias. Começamos
conhecimento de
a fazer usando os ingredientes que tínhamos à disposição, misturando
Interna G mercados de
vários ingredientes na busca de uma fórmula nossa. Hoje os nossos
aquisição de matéria
produtos, são reconhecidos pela autenticidade, fomo atribuídos o selo
prima.
Mad in Mozambique, bem como ganhamos o prêmio inovação e melhor
produto nacional, no Prêmio 100 Melhores PMEs de Moçambique
(Entrevistado G1).
Fonte: A pesquisa ( 2017)

261
4.1 Discussão:
Com base nos resultados apresentados constata-se que a inovatividade nas MPMEs
pesquisadas, ainda é um desafio. Quanto ao tipo de inovação, foi possível verificar que; (i)
existem empresas que não apresentam nenhum elemento da inovatividade; (ii) há menor
ocorrência de inovações em processos tecnológico e processos de P&D. (iii) Na sua maioria
as inovações são em produtos. Samadi (2014), ja apontava que na agroindutriaas inovações
são mais focadas em melhoria produtos e outros processos relativamente a processos
tecnológicos em comparação com a outras indústrias. Por outro lado, as inovações registradas
configuram-se majoritariamente em incrementais e de nível básico, Além disso, verificam-se
um conjunto de especificidades de dimensões interna e externa nas MPMEs pesquisadas, que
exercem influências sobre a sua prativa inovativa.
Destas, a falta de recursos financeiros ocorre em todas as empresas, sendo
considerada a especificidade mais comum, seguida da falta de recursos humanos qualificados,
isto no âmbito interno. Já no âmbito externo, a especificidade mais comum é a dificuldade de
acesso aos mercados. Estas especificidade contribuem para a condição atual da inovação
nestas empresas. No âmbito interno, as especificidades destacadas são inerentes à categoria
organizacional, ao passo que, no âmbito externo, são referentes às categorias político–legal e
à conjuntura econômica no geral. Esta relação identificada é referente a dois tipos: (i) a
dificultadora que registra maior ocorrência e (ii) a facilitadora, que se registrou em menor
ocorrência, sendo uma única especificidade e apenas um caso singular. Estes achados,
explicam a condição atual da inovatividade nestas empresas, e as dificuldades que parecem
estar presentes para o desenvolvimento da inovação nestas MPMEs.
Tais achados, encontram o suporte na abordagem de Covin e Slevin (2011), Martens
et al., (2014) e Lumpkin et al., (2015) , ao abordamam que inovatividade pode ser contingente
a fatores externos, como o ambiente de negócios, por exemplo, ou a fatores internos, como a
estrutura organizacional, bem como corroboram com Fini et al (2012), Martins et al (2013)
que afirmaram que as especificidades a que as MPMEs estão expostas, contribuem para a sua
condicçao inovadora. Por outro lado, estes resultados, apontam para questões relevantes sobre
o papel dos actores institucionais (Governos, instituições de apoio as MPMEs, legislação e
demais instituições), no apoio ao micro e do pequno empreendimento, de modo a que as
especificidades a que elas estão expostas sejam minimizadas.

5. Conclusão.

O objetivo central da pesquisa, foi de analisar a configuração da inovatividade em


micro, pequenas e médias empresas agroindustriais no contexto das suas especificidades em
em Moçambique. Como resultados identificaram-se inovações de produtos, de processos,
organizacionais e de marketing, porém majoritariamente incrementais e de carácter básico
sendo novidade para as próprias empresa. Entranto, o estágio da configuaração da
inovatividade nestas empresas releva a influência das especificidades dos factores internos e
externos a que estas MPMEs estão sujeitas. Diante disto, como contribuição acadêmica este
trabalho identificou as especificidades das dimensões interna e externa às MPMEs e indicou
os dois tipos possíveis de relações, dificultadoras e facilitadoras que estas tendem a manter
sobre a inovaividade em MPMEs. Gerencialmente, a pesquisa revelou um conjunto de
aspectos que podem servir de subsidios aos gestores e demais atores institucionais na tomada
de decisão sobre uma adequada incorporação da inovatividade à suas estratégias, visando à
minimização das especificidades e facilitar o desenvolvimento da inovatividade.
Contudo, a quantidade reduzida de empresas pesquisadas (10 empresas), constitui
aspecto limitante, por dificultar a generalização das suas conclusões. Por outro lado, a
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subjetividade a que a pesquisa qualitativa está sujeita, pode permitir interpretações diferentes,
apontando-se, assim, esta como outra limitação. Neste sentido, sugere-se que futuramente
hajam pesquisas que: (i) utilizem as relações expostas nesta pesquisa, para uma amostra que
possa confirmar tais resultados, utilizando uma abordagem quantitativa,testando, por
exemplo, a existência de correlações entre as especificidades das MPMEs e a configuração da
sua inovatividade utilizando uma amostra maior. (ii) aumentem o tamanho da amostra e o
alargamento à outros setores de actividades;

6. Referências bibliográficas:
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Inovação na cadeia produtiva de uva: uma análise das perspectivas
Innovation in the production grape chain: an analysis of perspectives
Murilo Campos Rocha Lima1, Cleysson Ricardo Jordão Braga Dias 2, Ana Regina Bezerra
Ribeiro 3, Josefa Edileide Santos Ramos4

Resumo
Diante da construção contextual da temática de inovação e cadeias produtivas, percebe-se a necessidade de
trabalhos empíricos que preencham lacunas de compreensão prática desta temática. O presente estudo, objetiva
analisar a ocorrência de processos de inovação nos diferentes elos da Cadeia Produtiva de Uva de Petrolina/PE.
Para coleta de dados, foram aplicados questionários semiestruturados em diferentes elos da cadeia. Como
metodologia aplicou-se o método de análise de discurso, codificando como categorias de análise 1) processos de
inovação na cadeia, 2) transformações a partir das inovações inseridas e 3) perspectivas de inovações inseridas
futuramente nos elos da cadeia. Os resultados apontam para existência de processos de inovação nos diferentes
elos que contribuem para o desenvolvimento da cadeia, nota-se o esforço para inovações que afetem diretamente
esses processos, sejam em nível organizacional ou inserções de melhorias no produto final, destaca-se o feedback
dos clientes e o investimento nos colaboradores. Assim, o desenvolvimento das inovações parece estar ligado as
parcerias que as organizações buscam para sua consolidação e aperfeiçoamento.
Palavras-chave: Inovação. Cadeias Produtivas. Uva. Elos da Cadeia.

Abstract
In view of the contextual construction of innovation and productive chains, the need for empirical work that fill
the gap in the practical understanding of this theme is evident. The present study aims to analyze the occurrence
of innovation processes in the different links of the Petrolina Urea Production Chain. For data collection, semi-
structured questionnaires were applied to different links in the chain. As a methodology, the discourse analysis
method was applied, coding as categories of analysis 1) innovation processes in the chain, 2) transformations based
on the innovations inserted and 3) perspectives of innovations inserted in the links of the chain. The results point
to the existence of innovation processes in the different links that contribute to the development of the chain, we
note the effort for innovations that directly affect these processes, be they at the organizational level or insertions
of improvements in the final product, we highlight the feedback of the clients and the investment in the employees.
Thus, the development of innovations seems to be linked to the partnerships that organizations seek to consolidate
and improve.
Keywords: Innovation. Productive Chains. Grape. Links of the Chain.

1 Introdução

Os pesquisadores adentram na complexidade daquilo que nomeiam cadeias produtivas


ou supply chain, na busca de contribuírem para seu desenvolvimento e consequentemente
extraírem o que de melhor podem oferecer no seu funcionamento. Na ambiência das pesquisas,
explora-se na sua maioria: a motivação de cooperação técnica entre os agentes; a identificação
dos gargalos perpassando os elementos faltantes; e a busca pela compreensão dos fatores
condicionantes de competitividade nos seguimentos (SILVA, 2005).
Para Farina e Zylbersztajn (1992) o propósito nuclear da cadeia produtiva agroindustrial
está no privilégio às relações entre agropecuária, às indústrias de transformação e distribuição
que resultam num produto principal. Ainda segundo os autores, percebe-se, em geral, uma
estrutura verticalizada onde a matéria prima principal concatena um conjunto de produtos.
Além disso, destaca a existência de interpendência horizontalizada entre os agentes, mesmo
que estejam no mesmo segmento da cadeia.

1Mestrando em Administração e Desenvolvimento rural/UFRPE -murilo20_@hotmail.com


2
Mestrando em Administração e Desenvolvimento rural /UFRPE- cleyssonricardojbd@gmail.com
3
Doutora em Engenharia de Produção/UFPE- arbr2008@hotmail.com
4
Doutoranda em Agronegócios-/UFRGS – edileideramos@gmail.com
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Devido as constantes mudanças dos mercados acrescidas pela velocidade que vêm
ocorrendo, aceleradas pelas tecnologias, mudanças de comportamentos do consumidor, as
formas das organizações se comportarem no mercado, a capacidade de gerar e absorver
inovações torna-se essencial para que um agente econômico se torne competitivo. Lemos
(2000) aduz que para os contextos organizacionais conseguirem acompanhar estas rápidas
mudanças em movimento, torna-se de extrema relevância a aquisição de novas capacitações e
de conhecimentos, o que representa para organização ter que intensificar a capacidade de
indivíduos, empresas, países ou região de aprender a transformar este aprendizado em fator de
competitividade para os mesmos.
Adentra-se no contexto das inovações, observadas como radicais ou incrementais. Para
Lemos (2000), a inovação radical condiz com o desenvolvimento e admissão de um novo
produto, processo ou ainda uma transformação na organização da produção. O autor contribui
com a contextualização das inovações de caráter incremental, sendo qualquer a introdução de
qualquer tipo de melhoria e um produto, processo, ou organização da produção já existente.
Considerando os processos de inovação nas cadeias produtivas agroindustriais,
destacam-se as necessidades de adentrar os novos e sofisticados mercados reivindicando a
adesão de novas tecnologias nos processos que também alcancem o produto. Na sua maioria, a
conglutinação destas inovações aos processos, é resultado da contribuição das organizações
externas, perpassando os fornecedores de equipamentos ou insumos, além dos órgãos públicos
e P&D (TRAIL; MEULENBERG, 2002).
O objeto de estudo desta pesquisa é a cadeia produtiva da uva de Petrolina, localizada
no Vale do são Francisco, Sertão pernambucano, que é alvo de um projeto de implantação que
vem a reestruturar a atividade econômica do local, a fruticultura irrigada, iniciada na década de
1950 e consolidada nos anos 90 (SILVA, 2007). Destaca-se que em 2017, 71,35% da uva
exportadas pelo Brasil saíram da cadeia produtiva de Petrolina, dados que vão do mês de janeiro
até o mês de outubro, sendo movimentados 42,5 milhões de dólares, o que se aproxima de 20,2
milhões de quilos de uva (SPR, 2017).
Ocorrem enormes esforços por parte das organizações envolvidas nesta cadeia para que
novos conhecimentos sejam adquiridos apropriáveis para estimular a interação entre os
diferentes agentes econômicos e sociais para a difusão e consequentemente geração de
inovações. Sendo assim, essas apropriações de conhecimentos, a integração dos agentes, podem
gerar inovações que promova a competitividade da cadeia produtiva da uva (LEMOS, 1999).
Os investimentos dos mais diversos agentes, segundo Silva (2007) como estado, atores
de iniciativa privada e políticos provocaram efeitos de grande significação na cidade sertaneja,
em pequeno espaço de tempo uma nova realidade tem se instaurado. Petrolina se beneficia com
o aumento da oferta de emprego, renda e diversificação da produção local, tendo como a uva
sua principal cadeia produtiva. Assim, o objetivo deste estudo é analisar a ocorrência de
processos de inovação nos diferentes elos da Cadeia Produtiva de Uva de Petrolina/PE que
contribuam para o seu desenvolvimento.
2 Fundamentação Teórica

2.1 Inovação

O avanço tecnológico e de inovação vem sendo umas das fontes de desenvolvimento


econômico dos países ao longo das décadas. Segundo Porter (1999) esse desenvolvimento se
deve ao patamar de qualificação e de educação dos colaboradores, como um dos fatores mais
importantes no crescimento produtivo e de melhorias em todos os aspectos organizacionais.
Para Ubeda, Santos e Nagano (2017), com posse das competências individuais necessárias de
cada operação na organização, a empresa pode identificar potenciais inovadores. E Porter

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(1999) conclui que, de certa forma, a inovação tornou-se, para muitas empresas, a principal
estratégia competitiva de sobrevivência e de crescimento, além da possibilidade de ter proveito
das oportunidades de mercado, gerando assim, vantagens competitivas.
A partir das contribuições conceituais de Schumpeter (1977), o conceito de inovação
foi ganhando mais definições. Nelson & Rosenberg (1993), apontam a inovação como o
processo das organizações colocarem em prática projetos de produtos ou processos que são
novos para a empresa. Nesta construção contextual, Silva, Bagno e Salerno (2014) destacam
que a gestão da inovação engloba um conjunto de estágios e decisões configurado de uma
maneira flexível diante do contexto do projeto ou da organização, desde a formatação da ideia
até o desenvolvimento completo de uma oportunidade.
Na perspectiva de desenvolvimento, as organizações vêm trilhando caminhos de
investimentos em inovação, especialmente nas inovações que ofereçam um diferencial no seu
mercado de atuação e nas suas práticas organizacionais. Pelegrin & Antunes (2013) aduzem
que uma organização pode ser considerada inovadora quando oferta bens e serviços que não
existiam anteriormente, utilizando um novo método organizacional (não utilizado
anteriormente), que auxilia na produção de um novo produto (não existente no mercado até
então).
2.2 Cadeias Produtivas Agroindustriais

As cadeias produtivas são contextualizadas por Batalha (1997) percebendo a totalização


das operações necessárias para determinada matéria prima (ou várias), resultarem num produto
final, chegando à mão de um usuário final (indivíduo ou organização). Adentrando nos estudos
de cadeias produtivas, segundo Silva (2005), faz-se necessário aloca-las numa perspectiva
sistêmica. Para o autor, as cadeias constituem um sistema e por isso para estuda-las são
necessárias ferramentas empregadas nas análises de sistemas.
Os estudos sobre cadeias produtivas agroindustriais surgem na percepção mais ampla
das atividades agrícolas, quando se percebe a necessidade de uma visão além da propriedade
rural. Sendo assim, a atividade agrícola é vista como um elo que faz parte de uma estrutura de
diversos elos, formando a cadeia produtiva (NEUTZLING, 2009).
Ao se tratar de cadeia produtiva do agronegócio, estão relacionados fatores que exercem
influência, sendo eles: 1) fatores econômicos; 2) micro e macro ambientais (MACHADO,
2002). É salutar destacar a complexidade estrutural das cadeias produtivas, principalmente
pelas diferenças existentes entre si nas diferentes capacidades de organização, afetando
diretamente na sua articulação. Assim, torna-se possível uma análise de que em momentos de
instabilidade mercadológica, as cadeias bem estruturadas possuem capacidade de permanência
na competitividade (ZYLBERSZTAJN, 1993).
A formação de cadeias produtivas se distancia de padrões pré-estabelecidos, pelo
contrário, há uma dependência da dinamização das diversas variáveis presentes nos arranjos,
percebidas nos contextos regionais e nas exigências mercadológicas. Por isso, o sucesso na
produção agropecuária também se relaciona com o relacionamento e integração entre os elos
da cadeia produtiva (SILVA; FERNANDES, 2005).
3 Procedimentos Metodológicos

Pesquisa do tipo exploratória, com natureza descritiva e abordagem metodológica


qualitativa e quantitativa. O amparo da classificação está no foco em explorar os resultados
obtidos e alcançar contribuições relevantes para temática das Cadeias Produtivas. Para atingir
o objetivo proposto pela pesquisa, foi realizada uma investigação qualitativa, buscando
descrever características do fenômeno/população na compreensão do contexto de inserção do
fenômeno. A análise das questões objetivas possuiu caráter quantitativo. Foram utilizados como

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instrumento de coleta de dados questionários semiestruturados que permitiram uma análise
mais detalhada da concepção dos respondentes. Os questionários foram enviados por e-mail
aos respondentes, num esforço de alcançar o maior número de agentes da Cadeia Produtiva da
Uva de Petrolina/PE.
O critério de escolha para seleção da amostra se deu por acessibilidade e conveniência
dos pesquisadores, além da curiosidade em investigar diversos elos da cadeia. Os indivíduos
foram selecionados seguindo critérios como: agentes ligados aos processos e agentes de
diferentes elos da cadeia da cadeia produtiva (Produtor, Exportador, Fornecedor e Pesquisador).
Além disso, destacam-se as contribuições relevantes que podem surgir, por agentes que estão
diretamente ligados aos processos expandindo a compreensão da cadeia como um sistema.
Assim, foram selecionadas 10 pessoas ligadas a cadeia produtiva de uva de
Petrolina/PE. No Quadro 1 estão apresentados a distribuição dos respondentes, quantidades
por agentes especifico e local de atuação dos respondentes.
Quadro 1 - Distribuição dos respondentes
Respondente Total Local de Atuação
Os produtores estão ligados as maiores cooperativas do
Produtor(a) (R1; R2 e R3) 3
Vale do São Francisco, onde produzem oito tipos de uvas.
Importante agente da cadeia responsável pela inserção do
Exportador(a) (R4) 1 produto nos países do exterior, principalmente nos mais
desenvolvidos.
Fornecedor(a) (R5; R6; R7; R8 e R9) 5 Fornecedores de insumos para produção da uva.
Atua diretamente em uma das maiores organizações de
Pesquisador(a) (R10) 1 pesquisas em agronegócio do Brasil. Está ligado
diretamente a sede de Petrolina.
Fonte: Elaborado pelos autores (2017).
Vale destacar que foi realizado um pré-teste do roteiro antes da execução das
entrevistas para testar a adequação. O pré-teste foi realizado com uma empresária da cadeia.
Por fim, após a coleta, os dados foram transcritos para o Excel e aplicou-se o método de análise
de discurso, para observação dos resultados. A codificação das categorias de análise baseadas
nas teorias abordadas foram 1) processos de inovação na cadeia, 2) transformações a partir das
inovações inseridas e 3) perspectivas de inovações inseridas futuramente nos elos da cadeia. O
roteiro do questionário seguiu as categorias estabelecidas.
4 Resultados e Discussão
O trabalho destaca necessidade das cadeias produtivas agroindustriais em adentrar os
novos mercados e adesão de novas tecnologias nos processos e também nos produtos.
Considerando os processos de inovação, os respondentes foram indagados sobre a implantação
de novos processos e melhorias em seus departamentos.
“Nos últimos 05 anos, qual novo processo ou melhoria significativamente (mesmo
que já existentes no mercado) foi implementado em seu departamento?”
A criação de novas variedades de uva foi apontada como as principais inovações na
cadeia, destacada como a mais importante para o desenvolvimento da cadeia como um todo,
impactando positivamente a produção da cadeia. Estas respostas apontam para necessidade de
análise de desempenho nos investimentos feitos nas novas variedades de frutas. Estas parecem
ser a grande aposta desta cadeia produtiva. No quadro 1 são acrescidas mais algumas inovações
apontadas nos últimos 5 anos.
Quadro 2 - Inovações dos últimos 5 anos
R3: “Novas embalagens para atender diferentes nichos de mercado”;
R4: “Plantio de novas variedades mais produtivas e inovação no tipo de embalagem”;
R7: “Melhor condicionamento da fruta para um melhor shelf life, novas variedades resistentes às mudanças
climáticas e pragas”.
Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

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Um dos respondentes R7, ainda, ressalta que as mudanças climáticas devem ser
consideradas uma variável que detenha atenção dentro da cadeia produtiva, visto que, as uvas
são sensíveis a certas quantidades de água. Destaca-se a grande perda na produção de uvas
ocorrida entre os anos 2004/2005 em Petrolina, pelo fator climático.
O próximo quesito investigado trata-se dos processos de inovação internos das
organizações que os respondentes estão localizados, indagando sobre os maiores
desenvolvedores dos processos de inovação na organização.
“Quais os maiores desenvolvedores dos processos de inovação na organização?”.
Esta questão possui caráter objetivo e aponta para três possíveis respostas: a) Somente
a empresa; b) A empresa em cooperação com outra organização (empresas, universidades,
centros tecnológicos...); c) outra organização.
Figura 1 - Desenvolvedores dos processos de inovação na organização

11% 11%
Somente a empresa

A empresa em cooperação
com outra organização

Outra organização
78%

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

Os respondentes apontam que a maior parte das organizações, nas quais estão inseridos,
possuem uma preocupação em desenvolver a inovação em parceria com outra organização, ou
seja, com outro agente da cadeia. Destaca-se neste ponto, a importância da cooperação entre os
diferentes elos da cadeia para o crescimento de todos.
Buscou-se mapear organizações que são importantes para o desenvolvimento das
inovações dentro da cadeia estudada:
“Dentro da cadeia produtiva da uva, cite nomes de organizações/empresas que você
considera importante para o apoio e desenvolvimento das inovações na cadeia?”.
Quadro 3 - Organizações/empresas de apoio e desenvolvimento das inovações na cadeia
R1: “Fornecedores de insumos”.
R2: “Cooperação entre os produtores”.
R3: “Acho que empresas de pesquisas”.
R4: “Empresas que desenvolvem novas variedades. Ex. Embrapa”.
R5: “SEBRAE/CODEVASF/VALEXPORT”
R5: “Centros de Pesquisa Federal, Estadual, Secretaria Municipal, Sebrae”.
R7: “Embrapa/Laboratórios internacionais de patentes”.
R8: “Special fruit, Labrunier e Embrapa”.
R9: “Embrapa”.
R10: “Embrapa”.
Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

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Dentre as organizações e empresas de apoio e desenvolvimento das inovações na Cadeia
Produtiva de Uva de Petrolina/PE foram citadas no Quadro 3 as consideradas mais importantes
na opinião dos entrevistados. Destacou nesse quesito a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), para o desenvolvimento de inovações da Cadeia.
Na perspectiva das inovações que impactaram positivamente a produção da cadeia:
“Que tipos de inovações na cadeia produtiva da uva você considera que impactou
positivamente na produção?”.

Quadro 4 - Perspectiva das inovações que impactaram positivamente a produção da cadeia


R1: “Desenvolvimento de variedades mais resistentes e produtivas”
R2: “Novas variedades”
R3: “Variedades mais resistentes e ao mesmo tempo com sabor e aparência”
R4: “Novas variedades”
R5: “Novas culturas resistentes a mudança climática”
R6: “Implantação de novas variedades produtivas, novos sabores e novas embalagens”
R7: “As novas variedades”
R8: “Variedades mais resistente e métodos de conservação mais eficiente (tipos de caixas)”
R9: “Novas variedades de uvas”
R10: “Novas variedades”
Fonte: Elaborado pelos autores (2017).
Percebe-se que mesmo num esforço de enxergar além das organizações que estão
inseridas, todos os agentes destacam como inovações importantes o desenvolvimento de novas
variedades de uvas para cadeia produtiva como um todo. Estas respostas indicam apontam para
necessidade de análise de desempenho nos investimentos feitos nas novas variedades de frutas.
Estas parecem ser a grande aposta desta cadeia produtiva.
Quanto ao panorama de implementação de novos processos de inovação:
“No último ano, quantos processos novos foram introduzidos na sua empresa?”.

A Figura 2 apresenta a quantidade de novos processos foram introduzidas na empresa.

Figura 2 - Implementação de novos processos de inovação

33% Entre 1 e 3
45% Entre 4 e 6
Entre 7 e 10
Mais de 10

22%

0%

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).


Observa-se a existência de inserção de novos processos em todas as organizações dos
respectivos respondentes. Em que 45% das organizações introduziram entre 1 e 3 novos
processos; 22% introduziram entre 7 e 10 processos e 33% introduziram mais de 10 novos
processos, nenhuma empresa citou entre 4 e 6.
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“A organização que você está inserido, utiliza Sistema de Gestão do Conhecimento,
novos ou significante alterados para melhoramento do uso ou troca de informações,
conhecimentos e competências dentro da empresa?”.
Quanto a utilização de Sistema de Gestão do Conhecimento, novos ou significante
alterados para melhoramento do uso ou troca de informações, conhecimentos e competências
dentro da empresa, os resultados apresentam que as organizações têm se preocupado com a
troca de informações para seu melhoramento interno.
Em relação a inovação como fator de estrutura organizacional foi elaborada uma escala
likert, sendo 1 para demostrar que o respondente discorda completamente e 5 concorda
completamente.
“Concorda com a afirmativa: “Houve alterações fundamentais na organização interna
do trabalho, tais como mudanças na estrutura de gestão ou a integração de novos
departamentos ou atividades da organização”.
Figura 3 - Alterações fundamentais na organização interna do trabalho

5
DISCORDO COMPLETAMENTE

2
1

1
0

1 2 3 4 5
CONCORDO COMPLETAMENTE
Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

Em relação a quantidade de parceiros das organizações e a existência de uma possível


rede de cooperação:
“Quantos parceiros você consegue identificar para sua empresa que estão diretamente
ligados a cadeia produtiva da uva?”.
Percebeu-se que dos a maioria dos respondentes possuir mais de 10 parceiros, e dois
respondentes indicam ter 8 parceiros diretos. Na próxima questão buscou-se analisar as
parcerias como processo de inovação. Em relação a identificação das inovações que estão em
fase de desenvolvimento na cadeia aponta para um panorama futuro da cadeia produtiva
estudada.
“Quais as inovações, que estão em fase de desenvolvimento, você considera que serão
relevantes para a cadeia produtiva da uva?”.
Quadro 5 - Inovações em fase de desenvolvimento
R1; R5: “Novas Variedades, Novos Manejos”.
R2: “Tempo de Prateleira”.
R3; R4 e R7: “Novas Variedades e Desenvolvimento de Novos Produtos Fitossanitários”.
R5; R8; R9; R10: “Variedades com baixo custo de produção”.
R6: “Pesquisa de novos mercados”.
Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

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“Concorda com a afirmativa: “Você acredita que essas inovações em fase de estudo,
irão impactar no faturamento da empresa”.
A análise também se deu por uma escala likert, sendo 1 para demostrar que o
respondente discorda completamente e 5 concorda completamente. Na Figura 8 é possível
analisar os resultados obtidos.
Figura 3 - Inovações em fase de estudo, irão impactar no faturamento da empresa”.

5
DISCORDO COMPLETAMENTE

2
0

1 2 3 4 5
CONCORDO COMPLETAMENTE
Fonte: Elaborado pelos autores (2017).
Quanto ao posicionamento dos respondentes em relação ao feedback do cliente como
fator de interferência na cadeia:
“No seu ponto de vista como o cliente interfere na cadeia produtiva da uva, no
processo de feedback?
Quadro 6 - feedback do cliente como fator de interferência na cadeia:
R1: “Baliza a aceitação da fruta e a sustentabilidade do comércio”
R3: “Desenvolvimento de variedade”
R4: “Diretamente”
R7: “Informando as exigências do consumidor”
R9: “A qualidade da chegada da uva no destino final, impacta diretamente na escolha da uva, cada cliente possui
um padrão de qualidade, sendo uns com padrões mais altos e outros mais baixos. Diante disso, a escolha do tipo
e qualidade da uva”
R10: “Interfere quando sua escolha vai pelo produto de melhor qualidade, como sabor ideal de determinadas
variedades (brix, acidez),na aparência do seu material de embalamento, etc”.
Fonte: Elaborado pelos autores (2017).
Percebe-se a importância do feedback do cliente nos processos de inovação dentro das
organizações e consequentemente na cadeia, principalmente, o impacto na qualidade do produto
no destino final, como destaca um dos respondentes.
Quanto a investigação da influência do cliente no desenvolvimento da cadeia:
“Concorda a afirmativa: “O cliente tem um grande peso para o desenvolvimento das
inovações na cadeia produtiva da uva”.
Na análise apresentada na Figura 4, observa-se que oito respondentes indicaram que
concordam completamente com afirmação. Reforçando a importância do posicionamento do
cliente no desenvolvimento da cadeia.

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Figura 4 - Resultados da Q15

DISCORDO COMPLETAMENTE

1
0

0
1 2 3 4 5
CONCORDO COMPLETAMENTE

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).


Os resultados apontam primeiramente que há um esforço dos agentes para uma boa
relação com os demais parceiros da cadeia produtiva. Além disso, nota-se a percepção o esforço
para inovações que afetem diretamente os processos produtivos, sejam eles num nível
organizacional ou inserções que melhorem o produto final. Destaca-se que o desenvolvimento
das inovações parece estar ligado as parcerias que as organizações buscam para sua
consolidação e aperfeiçoamento. Percebe-se o esforço em inovar e torna-se uma cadeia cada
vez mais competitiva.

5 Conclusões

O tema de Cadeias Produtivas continua despertando interesse dos pesquisadores pelo


interesse de contribuições cada vez mais relevantes no contexto teórico e prático. É válido
perceber que as abordagens mostram um esforço para definir bem seu papel e sua definição.
Este estudo consegue contribuir numa melhor explanação de percepções de inovação na Cadeia
Produtiva de Uva em Petrolina, Pernambuco. Destaca-se assim, os poucos estudos que existem
diretamente nesta temática e nesses lócus. No interesse de observar a ocorrência de processos
de inovação na Cadeia Produtiva de Uva de Petrolina/PE, buscou-se construir um questionário
semiestruturado com base nas teorias existentes sobre a temática.
O tratamento dos dados se deu por uma análise de discurso que apontou resultados
qualitativos e quantitativos. Os resultados demonstram a existência dos processos de inovação
nos diferentes elos pesquisados, além de indicar fatores que afetam diretamente neste processo
nas organizações e consequentemente na cadeia, nota-se o esforço para inovações que afetem
diretamente esses processos, sejam em nível organizacional ou inserções de melhorias no
produto final. Destaca-se o feedback dos clientes e o investimento nos colaboradores, o
desenvolvimento das inovações parece estar ligado as parcerias que as organizações buscam
para sua consolidação e aperfeiçoamento. As limitações deste estudo estão na necessidade de
uma análise mais robusta dos resultados obtidos na pesquisa. Sugere-se que sejam confrontados
com as teorias e reforcem as conclusões aqui apresentadas.

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Insigths de Clonagem Animal Aplicada na Agropecuária
Insights of Animal Cloning Applied in Agriculture
Alice Munz Fernandes1, Ana Paula Alf Lima Ferreira2

Resumo
A clonagem animal configura-se como um marco do agronegócio, cujo conhecimento é dúbio e o desenvolvimento
configura-se como incipiente. Diante disso, o objetivo desse estudo consistiu em identificar os reflexos,
contribuições, desafios e/ou tendências da clonagem animal no contexto agrícola. Para tanto, empregou-se uma
revisão sistemática da literatura, cujo portfólio analisado correspondeu a publicações científicas disponíveis na
base de dados Web of Science, que atendiam determinados critérios de inclusão/exclusão, totalizando quatorze
estudos. Após leitura minuciosa de tais arquivos, os resultados foram sintetizados através de um mapa mental, que
demonstrava as variáveis antecedentes e determinantes da clonagem animal no contexto agropecuário a partir da
circunscrição apresentada pelo portfólio obtido. Os resultados obtidos demonstraram a relevância das seguintes
variáveis: produtividade, manutenção genética, informações, discussões secundárias, relação custo-benefício e
projeções. Como fundamentos de tais elementos, observaram-se preceitos éticos e capitalização do conhecimento.
Palavras-Chave: desenvolvimento, ciência, inovação, tecnologia.

Abstract
Animal cloning is a milestone in agribusiness, whose knowledge is dubious and development is incipient.
Therefore, the objective of this study was to identify the reflexes, contributions, challenges and / or trends of animal
cloning in the agricultural context. For this purpose, a systematic review of the literature was used, whose portfolio
corresponded to scientific publications available in the Web of Science database, which met certain inclusion /
exclusion criteria, totaling fourteen studies. After a thorough reading of these files, the results were synthesized
through a mental map, which showed the antecedent and determinant variables of animal cloning in the
agricultural context from the circumscription presented by the obtained portfolio. The results showed the
relevance of the following variables: productivity, genetic maintenance, information, secondary discussions, cost-
benefit ratio and projections. As foundations of such elements, ethical precepts and capitalization of knowledge
were observed.
Keywords: development, science, innovation, technology.

1 Introdução

Questões acerca da equivalência nuclear adquiriram destaque na ciência no século XIX


e subsidiaram a longa série de experiências que no início da década de 50 resultaram na
clonagem de sapos. Cerca de três décadas depois, estudavam-se clonagem de mamíferos
mediante células embrionárias. Contudo, em 1996, nasce a ovelha Dolly, primeiro animal
clonado a partir de uma célula adulta e no ano seguinte, surge Polly, o primeiro clone
transgênico (BERARDINO, 2001). A partir de tal marco, milhares de animais de mais de vinte
espécies foram clonados no mundo (BORDIGNON, 2017).
Todavia, apesar das técnicas de reprodução assistidas terem sido desenvolvidas em
épocas menos controversas, remontando a década de 70 mediante a transferência de embriões
na bovinocultura de corte e leite, por exemplo (MAPLETOFT; HASLER, 2005), a clonagem
animal, igualmente enquanto técnica de reprodução, provoca polêmica (BROOKS; LUSK,
2011). De acordo com Vjata e Gjerris (2006), a clonagem de animais configura-se como um
processo complexo através do qual os cientistas copiam os traços genéticos de determinado
animal, e desse modo criam outro(s) animal(is) semelhantes, como gêmeos idênticos, mas que
nasceram em momentos distintos (BROOKS; LUSK, 2011). Para tanto, tem-se basicamente
dois processos, quais sejam: transferência nuclear de células somáticas e clonagem de embriões
(AIZAKI; SAWADA; SATO, 2011).

1Administração/Universidade Federal do Rio Grande do Sul (alicemunz@gmail.com)


2Administração/Universidade Federal do Rio Grande do Sul (anapaulaalf@gmail.com )

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Por meio da clonagem, os produtores são capazes de desenvolver características
desejáveis nos rebanhos (PATERSON et al., 2003), como maximizar a qualidade da carne e
dos produtos lácteos, minimizar os preços e potencialmente reduzir a incidência de doenças e
moléstias (LEWIS et al., 2004). Para Bordignon (2017), aspectos como maior mortalidade
embrionária e fetal e menor viabilidade animal do clone em comparação com animais
naturalmente concebidos dificulta o emprego de tal prática de modo generalizado.
Ademais, questões concernentes à sanidade e inocuidade dos produtos alimentares
advindos de clones animais, bem como os hábitos de consumo e preferência de compra dos
consumidores, configuram-se como determinantes do futuro da utilização de tal tecnologia na
indústria agrícola (BROOKS; LUSK, 2011). King, Yada e Grodzinski (2011) corroboram que
a maximização da sensibilidade social e o debate público sobre o processo de biotecnologia
agrícola serão direcionadores da inserção ou não de produtos originários de clones no mercado.
Sob esse enfoque, tem-se que o futuro da clonagem de animais de fazenda é dúbio, haja
vista que apesar das aplicações potenciais de tal tecnologia, desempenha sobretudo um papel
fundamental na pesquisa básica e da biomedicina, onde o valor de cada animal é muito alto
(VJATA; GJERRIS, 2006). Com vistas à isso, a pesquisa realizada teve como objetivo
identificar os reflexos, contribuições, desafios e/ou tendências da clonagem animal no contexto
agrícola.
Para tanto, realizou-se uma revisão sistemática da literatura, considerando as
publicações científicas sobre tal temática. Assim, além da introdução, este artigo é composto
pela sessão de método, que descreve os procedimentos de coleta e análise dos dados e
conseguinte expõem os resultados e discussões. Por fim, apresenta as considerações finais,
contemplando as limitações do estudo e sugestões para investigações futuras.

2 Método
A pesquisa realizada configura-se como uma revisão sistemática da literatura, que,
conforme Van Aken (2001) visa fornecer insigths mediante a análise do conhecimento
acumulado em determinado conjunto de estudos. Desse modo, tal procedimento metodológico
permite avaliar sistematicamente através da utilização de um algoritmo explícito ao invés da
heurística (CROSSAN; APAYDIN, 2010), a contribuição de determinado aglomerado de
literatura para a construção do conhecimento (GINSBERG; VENKATRAMAN, 1985). Para
tanto, empregou-se a estrutura pragmática de revisão proposta por Tranfield, Denyer e Smart
(2003). Esta é composta por dez fases distribuídas em três estágios, conforme apresenta a Figura
1.

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Figura 1 – Estrutura pragmática da revisão

Fonte: adaptado de Tranfield, Denyer e Smart (2003).


Para obtenção dos estudos que compuseram o portfólio analisado, utilizou-se como base
de dados a Web of Science, cuja busca foi orientada pela Lei de Zipf, Lei da Bibliometria que
caracteriza-se pela ocorrência, incidência ou frequência de palavras. Como critérios de
inclusão/exclusão considerou-se o termo “animal cloning” e as variações de agricultura,
representadas por “agric*”, cuja simultaneidade é garantida pelo boleano “and”.
O filtro de busca incluiu também a tipologia do documento, concernente, a artigo.
Todavia, consideraram-se somente aqueles que referiam-se a investigações empíricas, de modo
que documentos de revisão da literatura foram excluídos. Como limitação temporal,
consideraram-se as publicações ocorridas até a data de 19 de setembro de 2017. Assim, o
portfólio de artigos analisados foi composto por 14 (catorze) documentos, cuja distribuição
temporal é apresentada na Figura 2.

Figura 2 – Distribuição temporal das publicações


3
Publicações

Anos

Fonte: elaborado pelas autores (2017).

No que concerne a relevância de tais estudos, observou-se que, conjuntamente, estes


possuem 310 (trezentos e dez) citações, cujo índice H corresponde a 7 (sete). Todavia, constata-
se que nos últimos quatro anos não ocorreram publicações sobre clonagem animal e atividade

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agrícola. Entretanto, as citações de tais trabalhos mantiveram-se constantes, com uma redução
a partir de 2015. Diante disso, a Figura 3 apresenta a distribuição temporal do total de citações
do portfólio analisado.

Figura 3 – Distribuição temporal das citações


35
30
25
Citações

20
15
10
5
0

2012
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011

2013
2014
2015
2016
2017
Anos

Fonte: elaborado pelas autores (2017).

Após verificada a relevância desta temática, observou-se a forma como as publicações


científicas contemplavam-na. Para tanto, definiu-se como questão norteadora da revisão a
seguinte interrogativa: quais as contribuições, reflexos, tendências e/ou desafios da clonagem
animal no contexto agrícola? Assim, mediante a leitura minuciosa dos estudos, tais informações
foram compiladas e organizadas em um quadro a partir do qual foram elaborados
individualmente os diagramas de causa e efeito considerando cada elemento do portfólio de
estudos.
Posteriormente, essas representações foram analisadas conjuntamente, de modo que as
variáveis emergentes e determinantes comuns originaram um mapa mental que ilustra a forma
como a clonagem animal no contexto agropecuário está sendo pautada e prognosticada pelas
investigações científicas. Por fim, os achados obtidos foram contrastados com a literatura,
objetivando explicar o comportamento do fenômeno estudado.

3 Resultados e Discussão

A clonagem enquanto tecnologia replicativa, é destacada devido sobretudo às suas


múltiplas aplicações potenciais (PACE et al., 2002). Assim, questões polêmicas permeiam o
emprego e aceitação de tal processo, cujos benefícios e desvantagens ainda não são totalmente
conhecidos. Diante disso, tem-se que os reflexos, tendências, desafios e/ou consequências da
clonagem animal no contexto agrícola mundial, o que pode ser verificado mediante alteração
de meios de produção, viés de consumo e técnicas de preservação de espécies, por exemplo.
Segundo Pace et al. (2002), as taxas de crescimento e desempenho reprodutivo de
animais clonados e não clonados são semelhantes. Em contrapartida, o estudo realizado por
Bazer e Spencer (2005) verificou os índices de sobrevivência de animais clonados durante o
período de desenvolvimento fetal, pós-nascimento e durante a lactação. Nesse sentido Fishe et
al. (2007) corrobora que tais problemas são atribuídos à reprogramação incompleta ou
inadequada do genoma nuclear transferido, o que justifica a alta taxa de mortalidade de animais

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clonados. No que concerne a transferência de embrião, apenas 6% do total transferido para as
vacas reprodutivas tornam-se clones saudáveis e duradouros (WELLS, 2005).
Não obstante, Bazer e Spencer (2005) elucidam que a clonagem proporciona a
identificação de características que fomentam a produtividade dos rebanhos e,
consequentemente, melhoram o desempenho dos animais. Ademais, a clonagem também
configura-se como um mecanismo de capitalizar o conhecimento extraído da pesquisa
genômica animal e o poder da tecnologia transgênica (PAGE; AMBADY, 2004). Sob esse
aspecto, Singh, Ma e Sharma (2012) evidenciam que o processo de clonagem de animais, a
partir da transferência nuclear de células somáticas, renovou o interesse no armazenamento de
tecido pós-mortem, uma vez que esses podem ser utilizados para reintroduzir os genes perdidos
no grupo de reprodução, preservando a diversidade genética e revivendo as espécies ameaçadas
de extinção.
Quanto ao impacto da clonagem no produto agroalimentar de origem animal, o estudo
pioneiro de Yamaguchi, Ito e Takahashi (2007), evidenciou que a utilização de tecnologia não
interfere nas características e composição da carne e leite provenientes de clones. Sob tal
perspectiva, Zhang et al. (2012) mediante uma abordagem proteômica, constataram que o leite
advindo de bovinos clonados não difere daquele obtido a partir de animais tradicionais, sendo
que as distinções deviam-se a aspectos individualizados do gado e não da modificação genética.
Contudo, as pesquisas sobre clonagem devem ser pautadas em princípios éticos
fundamentais, obedecendo os pressupostos de bem-estar animal (CLAXTON, SACHEZ;
MATTHIESSEN-GUYADER, 2004). Ainda como preconizaram Stice et al. (1998), a
clonagem apresenta relevante contribuição para a pesquisa básica, sobretudo na área de
biomedicina, ciência ambiental e desenvolvimento agrícola, propriamente dito.
Diante disso, no tocante as discussões acerca da clonagem animal (SCHUTZ; AYRES,
2005) salientam que o acesso à informação e o direcionamento das políticas públicas justificam
o posicionamento dos indivíduos quanto as tecnologias de produção animal. Para tanto, os
autores apontam que a parcialidade das informações fomenta o desenvolvimento de posturas
extremistas, de modo que profissionais que trabalham com extensão rural devem desmistificar
determinados fenômenos da produção agropecuária em âmbito de sociedade.
Por sua vez, Aizaki, Sawada e Sato (2011), evidenciam que a indústria de alimentos
somente obterá sucesso efetivo na comercialização de produtos advindos de clones, se o
mercado possuir informações suficientes para mitigar ou extinguir o misticismo a que tal
fenômeno está envolto. Ante ao exposto, a Figura 4 apresenta o mapa mental que contempla as
variáveis emergentes e determinantes da clonagem animal no contexto agropecuário a partir da
circunscrição apresentada pelo portfólio de estudos analisados.

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Figura 4 – Mapa mental

Fonte: elaborado pelas autoras (2017).

Observa-se que a maximização da produtividade é justificada pela possibilidade de


diversificação das raças e pelo melhoramento genético. Para tanto, a compreensão da função
dos genes permite selecionar animais com risco minimizado de doenças, o que impacta na
diminuição do uso de antibióticos (BAZES; SPENCER, 2005). Desse modo, o a clonagem
animal assegura a escolha das características desejáveis pelo produtor (PATERSON et al.,
2003), como tolerância ao calor e possibilidade de remoção do gene que ocasiona a doença da
vaca louca, por exemplo, o que não é possível a partir do cruzamento convencional (PAGE;
AMBADY, 2004).
Este processo propicia também a manutenção genética visando o desenvolvimento de
estoques de genes, como ocorre na clonagem vegetal através da conservação de sementes
indefinidamente objetivando sua potencial utilização no futuro (PAGE; AMBADY, 2004).
Sendo assim, é possível preservar espécies em extinção e estabelecer a manutenção da flora e
da fauna.
Todavia, a relação custo-benefício da clonagem animal ainda é incipiente. Dentre os
elementos que antecedem tal variável, o baixo índice de sobrevivência dos clones é apontado
como relevante, haja vista que apenas 6% dos embriões transferidos para as vias reprodutivas
de vacas receptoras geram clones saudáveis. Ou seja, há uma perda considerável durante o
período de gestação, nascimento e pós-nascimento, ocasionando uma baixa taxa de animais
clonados que atingem a idade adulta (WEELS, 2005). Ademais, o elevado risco e incerteza
também promove preocupação na relação custo-benefício, pois o emprego de tal tecnologia
corresponde a considerável dispêndio financeiro.
Diante disso, infere-se a inexistência de consenso pela comunidade científica quanto a
aplicabilidade da clonagem animal, apesar de percebíveis suas vantagens. Sendo assim,
acrescido do misticismo que essa tecnologia provoca à sociedade em geral, maximizado pela
possibilidade de replicação na espécie humana (clonagem humana) configura-se como uma
temática polêmica e promotora de discussões em todos os âmbitos (religioso, político,
ambiental, sanitário, etc.).
Nesse sentido, tem-se a contribuição (favorável ou não) do Ambiente Institucional para
fomento da clonagem animal mediante políticas públicas e programas governamentais para

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incentivos em P&D. Entretanto, o posicionamento de determinado mercado frente ao consumo
de produtos agroalimentares provenientes de animais clonados é parcialmente direcionado pelo
seu Ambiente Institucional (BROOKS; LUSK, 2011). A disponibilidade e tipo de informação
ao qual a sociedade possui acesso contribui para explicar a adoção de comportamentos
extremistas massificados, diante de problemáticas que envolvem aspectos intrínsecos, tais
como crença e religião, por exemplo (SCHUTZ; AYRES, 2005)
Como resultante de tal fenômeno, surgem inúmeras discussões secundárias. Dentre
essas, destaca-se a aplicação da clonagem animal na biomedicina e seu viés socioambiental.
Para Houdebine (2000), a melhoria de tal tecnologia pode favorecer a transgênese, o que
impacta no desenvolvimento de outras pesquisas básicas no âmbito da medicina e da
agricultura. Conseguinte, emergem questões pautadas na esfera socioambiental, haja vista
elementos concernentes aos impactos da produção agroalimentar proveniente de clonagem
animal, bem como dos impactos desta no equilíbrio agro ecossistêmico e na manutenção dos
recursos naturais.
Em contrapartida, a clonagem animal pode configurar-se como uma importante
alternativa para garantir a segurança alimentar e biossegurança da população. Segundo a FAO
(2016), a demanda mundial por alimentos deve aumentar aproximadamente 60% nas próximas
décadas. Todavia, além da disponibilidade de alimentos, deve-se considerar sua acessibilidade,
utilização e estabilidade. Assim, a melhoria na tecnologia de clonagem animal, pode
futuramente fomentar a produtividade e minimizar o preço dos alimentos, bem como manter
um ciclo de produção estável (BAZER; SPENCER, 2005).]
Entretanto, preceitos éticos norteiam as investigações sobre clonagem, sobretudo devido
as preocupações e pressões da população, expressas também no contexto de bem-estar animal
(CLAXTON; SACHEZ; MATTHIESSEN-GUYADER, 2004). Nesse sentido, apesar de seu
valor incontestável, o desconhecimento principalmente quanto as consequências do processo
de clonagem remete a inúmeras reflexões de cunho moral e ético (HOUDEBINE, 2000).
Sob outra perspectiva, a possibilidade de capitalização do conhecimento mediante
clonagem animal fomenta os avanços em P&D (PAGE; AMBADY, 2004). Assim, partindo da
premissa de que conhecimento configura-se como um determinante para o desenvolvimento da
sociedade, em suas distintas conjunturas, tem-se que a clonagem possibilita intensifica-lo
tecnologicamente e, consequentemente, capitalizá-lo.

4 Considerações Finais

A clonagem animal trata-se de uma tecnologia que possui potencial para transformar a
produção e mercado agroalimentar. Todavia, o desconhecimento e o misticismo que rodeiam
tal processo, tornam-no dúbio e dotado de distintas facetas. Dentre esses elementos, destaca-se
a imprecisão na taxa de sobrevivência dos animais, elevados custos de produção e
comportamento dos consumidores, por exemplo.
Diante disso, os resultados obtidos demonstraram o surgimento de variáveis
antecedentes e determinantes da clonagem animal no contexto agrícola. A relação custo-
benefício, produtividade e manutenção genética, configuram-se como variáveis relacionadas
aos aspectos tecnicistas do processo, contrastando as vantagens e desvantagens desse. Em
contrapartida, informações, discussões secundárias e projeções correspondem ao âmbito
socioambiental da clonagem, através de sua polêmica e problematização frente aos diferentes
ambientes. Por sua vez, a capitalização do conhecimento e preceitos éticos, subsidiam esse
processo, norteando seus procedimentos e aplicações.
Contudo, reconhecem-se as limitações do estudo realizado acerca da utilização de
somente uma única base de dados. Também aponta-se o escopo e viés dos periódicos científicos
no qual as investigações analisadas foram publicadas, que, por serem, em sua maioria a área de

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produção animal, não abordam elementos suficientes concernentes a aspectos de gestão. Para
pesquisas futuras, recomenda-se a replicação desse estudo em outras bases de dados, a fim de
maximizar o número de itens do portfólio analisado. Também sugere-se a realização de
investigações empíricas, objetivando identificar o comportamento das variáveis apresentadas
no mapa mental, bem como a percepção dos stakeholders acerca de tal conjunto de
determinantes.

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Internet das coisas (IOT): um estudo exploratório em agronegócios
Internet of Things (IOT): na exploratory study in agribusiness
Cainã L. Costa1, Letícia Oliveira2, Léia Michele S. Móta3
Resumo
Um novo conceito de utilização da Internet, é denominada como Internet das Coisas (IoT), sendo uma maneira
que interconecta os objetos físicos do nosso cotidiano na rede virtual. Sendo assim, este trabalho teve como
objetivo explorar a literatura atual sobre a Internet das Coisas (IoT) com aplicação no agronegócio. Esta revisão
contextualizou um panorama das aplicações e contribuições teóricas indexadas na base de dados Scopus.
Realizando um protocolo de pesquisa, obteve-se 21 artigos selecionados e analisados. A maior abordagem de
temas foi na área de cadeia de suprimentos, onde a IoT se projeta como uma ferramenta promissora afim de
interligar todas as etapas de produção agrícola. Ainda foi verificado que esta mesma ferramenta é capaz de
gerenciar as tomadas de decisões, monitorar e atuar na atividade agrícola, na meteorologia e irrigação. Apesar de
todas as vantagens do uso da IoT, alguns desafios ainda são recorrentes, como por exemplo, armazenagem em
nuvem, aprimoramento da conectividade, aperfeiçoamento de sensores, autonomia energética dos dispositivos,
etc.
Palavras-chave: Internet das coisas, agronegócio, agricultura de precisão.

Abstract
A new concept of Internet use is called Internet of Things (IoT), a way that interconnects the physical objects of
our daily lives in the virtual network. Thus, this work aimed to explore the current literature on the Internet of
Things (IoT) with application in agribusiness. This review contextualized a panorama of the theoretical
applications and contributions indexed in the Scopus database. By conducting a research protocol, 21 articles
were selected and analyzed. The major themes approach was in the supply chain area, where IoT is projected as
a promising tool in order to interconnect all stages of agricultural production. It has also been verified that this
same tool is able to manage decision making, monitor and act on agricultural activity, meteorology and irrigation.
Despite all the advantages of using IoT, some challenges are still recurring, such as cloud storage, connectivity
enhancement, sensor enhancement, device power autonomy, and so on.
Keywords: Internet of things, agribusiness, precision agriculture.

1 Introdução

Nas últimas décadas houve um crescente avanço da Internet, tendo início como uma
rede acadêmica e, posteriormente passou a ser uma rede global. A sua rápida evolução é
marcada pelo fato de estar inserida a um sistema de comunicação aberto. Sendo responsável
por movimentar diversas áreas do conhecimento abrindo oportunidades para novos serviços e
conexões.
Não é possível falar da transformação da sociedade sem mencionar tal fenômeno, que
hoje está em pauta nos principais diálogos da economia digital. Seu ritmo de crescimento é
acentuado devido a infinidade de conteúdos e serviços, conduzindo a sociedade forçosamente
a um mundo novo, onde o entretenimento, aprendizagem, trabalho, comércio e investigação
científica recorrem a essa tecnologia (BRITO; CAMPOS; ALVES, 1999).
Um novo conceito de utilização da Internet, é denominada como Internet das Coisas
(IoT). Esse termo foi empregado pela primeira vez no ano de 1999, por Kevin Ashton. A
expressão ganhou vida quando o autor realizou uma apresentação para Procter & Gamble
(P & G) integrando o uso de tecnologias de endereçamento de dados e sinais com a Internet. O
objetivo de sua proposta era melhorar o fluxo dos produtos e informações sem a interferência
direta do homem. Utilizando a tecnologia RFI (Radio Frequency Identification) foram
observados ganhos significativos em cadeias logísticas, permitindo movimentações confiáveis
e rápidas, além de sincronizar todos os agentes da cadeia por meio de informações

1Engenheiro de Produção/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - costalimaeng@gmail.com


2 Administração/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - leticiaoliveira@ufrgs.br
3 Sistemas da informação/Faculdade Unyleya - leia.michele@gmail.com

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compartilhadas. Atualmente sabemos que a Internet é totalmente dependente do ser humano
para obter dados, porém é também uma ferramenta facilitadora, gravando e recuperando
quantias significativas de dados do mundo físico (ASHTON, 2009).
De uma forma geral compreende-se por IoT a maneira com que objetos físicos do nosso
cotidiano se interconectam na web, muitos destes equipamentos estão incorporados com
inteligência ubíqua e são controlados pela Internet. Os avanços em tecnologias subjacentes
permitiram que “coisas” possam ser identificadas, detectadas e controladas remotamente
usando sensores e atuadores (FENG; LAURENCE; LIZHE, 2012). Acredita-se que a próxima
revolução da Internet, a IoT, irá conectar, em tempo real, pessoas e objetos com a tecnologia
operando invisivelmente nas tomadas de decisões que outrora eram do ser humano (ATZORI;
IERA; MORABITO, 2010). Como resultante estará a intensa integração da mesma no cotidiano
da sociedade. Alguns dados preliminares estimam que atualmente o mundo implementou 5
bilhões de dispositivos inteligentes e a previsão para o ano de 2020 é que haverá 50 bilhões de
objetos conectados (CHASE, 2013).
Para que a IoT se desenvolva é necessário o suporte de algumas tecnologias inovadoras,
como, a identificação de radiofrequência (RFID), sensores, atuadores, telefones celulares,
arquitetura de redes, protocolos, interoperabilidade e conexão sem fio são algumas das pedras
angulares mais citadas neste processo que evolui continuamente (ATZORI; IERA;
MORABITO, 2010; TAN, 2010). Salienta-se que estes componentes já trazem aplicações com
grandes benefícios para a nossa sociedade. Entre as aplicações visíveis na atualidade essa
tecnologia está inserida na domótica, no monitoramento remoto de pacientes, automação e
fabricação industrial, logística, gerenciamento de negócios e processos e transporte inteligente
de pessoas e bens (RITZ; KNAACK, 2017).
No setor do agronegócio, a IoT surge como um poderoso mecanismo favorável ao
auxílio do controle de todos os níveis das cadeias alimentares. Uma ferramenta apta a unir a
detecção e monitoramento da produção, analisar o desenvolvimento de culturas, controlar o
desempenho zootécnico animal, avaliar o processamento de alimentos, prever e precaver-se
quanto as variáveis agrometeriológicas, inferir no controle de pragas e infecções e melhorar o
conhecimento de ações e gestões agronômicas, a uma tecnologia sofisticada de operação
remota, e ainda, assegurar-se de uma melhor qualidade dos alimentos supervisionando a
rastreabilidade e condições do embarque do produto (SUNDMAEKER et al., 2016).
Neste contexto, o objetivo geral deste artigo é apresentar um panorama sobre a IoT
dentro do setor do agronegócio. Em específico, o estudo contextualiza as principais aplicações
da IoT dentro de uma base de dados de relevância científica, apontando as principais percepções
do setor e os desafios para o futuro.

2 Referencial Teórico

Como já mencionado proporcionar uma fluência entre produtos e informações sem a


ação humana é um dos objetivos centrais da IoT. A concepção desses produtos em linhas gerais
considera muitas “coisas” do ambiente físico como “hardware” atuadas por intermédio de
codificações específicas denominadas de “softwares” oriundas do ambiente virtual. Para o
tornar realidade é que pesquisadores das mais diversas áreas reúnem esforços em busca de
soluções eficientes, precisas e que tragam ganhos econômicos significativos. Assim esse item
irá brevemente expor as principais métricas utilizadas nesse processo.
A sua criação emergiu dos sistemas embarcados, microeletrônica, comunicação e
sensoriamento remoto. Chamando a atenção tanto da indústria quanto da academia, os motivos
pelos quais esses atores interagem pode ser explicado pela aplicabilidade diversificada nas
atividades humanas. A extensão de objetos até a Internet é limitada e vem sendo desenvolvida

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pela capacidade computacional de comunicação, ou seja, conectividade com a mesma. Um
objeto já conectado permite ser controlado gerando conexões e troca de informações entre
provedores de serviços (SANTOS, 2016).
Os principais métodos e ferramentas atualmente utilizadas na IoT para transferência e
processamento de dados estão identificados em itens já definidos. Segundo Santos et al. (2016)
a IoT necessita de um arranjo de múltiplas tecnologias que viabilizem a integração dos seguintes
blocos:
Computação: é a parte ocupada por um sistema operacional de processamento como,
por exemplo, processadores, micro controladores, que possuem a tarefa de executar os
algoritmos locais nos objetos inteligentes;
Serviços: para o provimento de serviços destacam-se as áreas de identificação,
agregação de dados, colaboração inteligente e ubiquidade. A primeira área é encarregada em
mapear entidades físicas de interesse do usuário em entidades virtuais, tendo como exemplo, a
umidade de um local físico com o seu valor, coordenadas de localização do sensor e ocasião da
coleta. Responsável por coletar e sumarizar dados a segunda área de serviços necessita ser
versátil para trabalhar com dados homogêneos e/ou heterogêneos captados dos objetos
inteligentes. A terceira faz a decisão quanto reação a um determinado cenário imposto. Na
última área de serviços ocorre a colaboração inteligentemente em momentos e lugares distintos
em que sejam necessários.
Semântica: competência em extrair conhecimentos dos objetos na IoT. Descobre e usa
informações a partir de recursos que sejam eficientes na IoT, o objetivo é determinar serviços
com dados existentes. Para tanto, podem ser usadas diversas técnicas como Resource
Description Framework, Web Ontology Language e Efficient XML Interchange.
Identificação: é reputado como a função de maior importância, já que a identidade
única do objeto poderá conectá-lo ou não a Internet. As tecnologias mais encontradas são RFID,
NFC (Near Field Comunication) e endereçamento IP que são utilizadas para identificar objetos.
Sensores/Atuadores: a coleta é sua tarefa principal sobre o contexto onde os objetos
se encontram e, em seguida, armazenam e encaminham esses dados para data warehouse,
clouds ou centros de armazenamento. Atuadores podem manipular o ambiente ou reagir de
acordo com os dados lidos.
Comunicação: diz respeito às diversas técnicas usadas para conectar objetos
inteligentes. Também desempenha papel importante no consumo de energia dos objetos sendo,
portanto, um fator crítico. Algumas tecnologias usadas são WiFi, Bluetooth, IEEE e RFID.
Identificados os itens primordiais as possibilidades de aplicações são infinitas, embora
a interconectividade dos objetos com a Internet possua algumas restrições de processamento,
memória, comunicação e energia. É da ordem natural dos objetos a heterogeneidade devido a
divergência dos recursos para implementação. As questões teóricas e práticas mais demandadas
estão em prever o endereçamento dos dispositivos e encontrar boas rotas de saída que sejam
parcimoniosas as aptidões restritas dos objetos. É necessário então a adaptação dos protocolos
existentes considerando que há paradigmas a serem superados para que a rede de objetos
inteligentes atenda os padrões impostos pela rede global (LOUREIRO et al., 2003;
CHAOUCHI, 2013).

3 Procedimentos Metodológicos

A metodologia empregada neste trabalho baseou-se em uma pesquisa exploratória no


acervo de publicações da base de dados Scopus. A busca textual utilizou os termos chaves
“Internet of things” e “agri*” delimitando-a aos campos de título, resumo e palavras-chaves.
Essa seleção foi realizada com o intuito de investigar o papel da IoT dentro das atividades

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agrícolas. O protocolo de pesquisa restringiu-se a artigos publicados na subárea de agricultura
e ciências biológicas e escritos no idioma inglês sem restrição de período de tempo. A
investigação foi realizada em junho de 2017. Ao todo foram encontradas 24 publicações dentro
das especificações citadas, onde 3 delas foram descartadas por não apresentarem aplicações
diretamente ligadas ao agronegócio. Os demais trabalhos foram utilizados na avaliação do
estudo exploratório, conforme o Anexo 1.

4 Resultados e discussão

O estudo exploratório dividiu-se em dois tópicos. O primeiro relaciona os artigos de


implementação tecnológica e aplicação agrícola e o segundo de cunho teórico e estudo de caso.
4.1 Internet das coisas (IoT): implementações tecnológicas nos agronegócios

Sarangi; Umadikar; Kar, (2016) avaliaram a possibilidade de interconectar doenças


agrícolas informadas pelos produtores rurais à especialistas do ramo utilizando um sistema de
autoatendimento, localizado na Índia, as tecnologias avançadas de IoT empregadas
automatizaram as respostas das incidências. O sistema se mostrou eficiente em proporcionar a
avaliação de doenças com o aconselhamento de especialistas. A arquitetura modular utilizada
pelo Wisekar permite um dimensionamento rápido e de possível ampliação de sua base de
dados.
Chen (2015) utilizou a IoT no sistema de rastreabilidade na cadeia de suprimentos
alimentares. O autor relata a dificuldade de integração de todas as informações do setor
produtivo que são individualizadas em cada uma das etapas contidas na cadeia. Foi proposto
uma arquitetura de sistema de rastreamento inteligente, onde os problemas no ciclo de vida do
produto são resolvidos e futuramente evitados, podendo ser acessados e solucionados
remotamente.
Edwards-Murphy et al. (2016) desenvolveram uma tecnologia WSN (wireless sensor
networks) heterogênea de cunho experimental que coletou dados de colmeias nos quesitos
biológicos, meteorológicos e de engenharia. As avaliações ocorreram pelo método de
aprendizado de máquina e foi concebida a análise automática das colmeias. Foram armazenados
parâmetros de dispersão de gases (CO2, O2, gases poluentes), temperatura, umidade relativa e
estado de agitação. Após o processamento de dados foram classificados dez importantes
comportamentos da colmeia pela correlação dos dados e confirmação de especialistas.
Xiao et al. (2015) propuseram um monitoramento de áreas agrícolas com câmeras de
alta resolução que permitisse a transferência dos dados a grandes distâncias. O sistema de
controle remoto possui sensores ligados a uma rede Wi-Fi. A IoT exerceu papel de gerenciadora
das informações oriundas do circuito.
HUALONG et al. (2015) discutiram a problemática da medição dos parâmetros de
condições ambientais individuais em aviários. Como solução, projetaram um sistema de
múltiplos sensores com monitoramento inteligente que fosse capaz de acompanhar em tempo
real parâmetros ambientais interligados numa única plataforma. Esse sistema com aplicação em
IoT conseguiu avaliar de forma satisfatória variáveis como o ar, CO2, NH3 e H2S, as quais
enquadram-se nas normativas sanitárias. Assim o projeto foi adequado e preciso podendo ser
executado em outros tipos de criadouros.
Aplicando a mesma metodologia de sensores de gases em criadouros de animais citadas
anteriormente, Duan; Ma; Liu (2015) acrescentaram em sua arquitetura IoT o vídeo
monitoramento. O objetivo foi acompanhar a trajetória de suínos no ambiente de confinamento
afim de verificar se alterações de emissões afetariam o bem-estar do animal, assim como, as
suas características zootécnicas tendo como recurso a supervisão das imagens geradas.

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Sawant; Durbha; Jagarlapudi (2017) e Yang; Zhang; Song (2015) para fornecer água as
plantações sugeriram uma plataforma online, a qual pode ser acessada em um processo
contínuo de registro de dados facilitando a tomada de decisão para diversos períodos de
irrigação. A tecnologia IoT empregou sensores agrometeorológicos que registraram variáveis
como temperatura do ar, do solo e umidade relativa em pontos específicos do cultivo de laranja.
Os valores foram comparados com uma estação meteorológica comercial comprovando a
eficácia do sistema. Assim a estrutura para irrigar foi automatizada seguindo os parâmetros de
necessidade hidrológica do cultivo.
Zulkifli; Noor (2017) no mesmo objeto de pesquisa os autores utilizaram ferramentas
semelhantes para reduzir o uso de água no cultivo. Sua metodologia diferencia-se do autor
citado anteriormente porque além de empregar o sistema inteligente houve uma comparação
com a técnica convencional de irrigação. Os resultados de sua pesquisa comparados com os
métodos tradicionais indicaram que o sistema automatizado reduz aproximadamente em 50%
o uso de água, além de reduzir custos com fiações, tubulações e mão de obra o que acaba
otimizando o sistema produtivo.
Lu et al. (2015) estabeleceu um estudo capaz de maximizar a produção de frutas e
vegetais, aplicando um sistema IoT na cadeia de abastecimento agrícola, afim de melhorar o
nível de informação da mesma, aumentando o rendimento e qualidade da produção, reduzindo
os custos e consequentemente uma melhor inserção no mercado.
Jiao et al. (2014) apuraram o crescimento e as informações do meio ambiente da cultura
do tomate em estufas implementando um sistema com base na IoT, equipado com três camadas,
a primeira de sensores, seguido da transmissão e aplicação. A estrutura modular inserida na
experiência de campo, mostrou-se capaz de absorver informações sobre o meio ambiente para
o crescimento deste cultivo, onde as mesmas foram gerenciadas remotamente demonstrando
confiabilidade e estabilidade na compilação de dados através da transmissão de WSN.
Zhang et al. (2016) identificaram uma oportunidade de atuação da IoT na supervisão do
comportamento de aves por se tratar de uma atividade corriqueira e importante na avicultura.
Esta medida previne e evita a propagação de doenças. Os autores projetaram um mecanismo
com técnicas sofisticadas de mineração de dados. As informações foram coletadas por um
grupo de dispositivos RFID (radio frequency identification), um deles em formato de etiqueta
foi colocado individualmente nas aves. A aplicação identificou comportamentos de
alimentação, deslocamento e tempo de descanso. Como características únicas da pesquisa
evidencia-se o monitoramento on-line de possíveis epidemias em aves, rapidez na identificação
e atuação das doenças o que implica em baixa perda produtiva, além de ter um custo de
implantação menor comparado as técnicas usuais.
Popović et al. (2017) pesquisaram uma nova visão para plataforma de IoT onde a
arquitetura do sistema irá fundamentar-se em múltiplas e simultâneas visualizações, conforme
as requisições de partes interessadas, englobando usuários finais, pesquisadores,
desenvolvedores e gerentes de projeto. Atualmente existem algumas plataformas de IoT
acessíveis no formato de serviços públicos, mas que ainda não atendem as especificidades da
agricultura de precisão, assim o viés do artigo foi implementar um novo conceito para esta
tecnologia utilizando na sua elaboração códigos abertos afim de proporcionar criações
colaborativas e atender diversas necessidades. O estudo de caso já vem sendo implementado
de forma prática combinando equipamentos que se interligam com informações externas, um
exemplo é a utilização da placa eletrônica Arduino que recebe, processa e envia informações.
Estas aplicabilidades estão em fase de captação e análises, embora já tenham sido testadas em
pulverizações inteligente, irrigação e avaliação do ambiente marinho. O feedack dos agentes
envolvidos será fundamental para o crescimento e término da prototipagem fase atual do
referente estudo.

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4.2 Internet das coisas (Iot): abordagens teóricas e estudo de caso

Xin; Zazueta (2016) propuseram uma arquitetura com ferramentas para tomada de
decisão onde os dados irão conectar os agricultores a conhecimentos teóricos. O projeto é uma
alternativa diferenciada para produtores, a arquitetura proposta possui componentes de
integração dos dados do ambiente físico aos dados institucionais, indicadores do gerenciamento
da fazenda, soluções de software fundamentado em conhecimento de diferentes provedores e
integração de serviços. Esta solução é disposta em nuvem de dados o que permite a integração
de serviços, coisas e tecnologia de negócios a partir de qualquer localidade. Ambientes de
nuvem híbridos mostraram-se promissores para integrar esses diferentes serviços e fornecer
soluções agrícolas inteligentes para grandes e pequenos agricultores.
Barmpounakis et al., (2015) descreveram um plataforma B2B (business-to-business)
aplicada ao setor agroalimentar. O objetivo era interligar de ponta a ponta as várias tecnologias
de informação anteriormente isoladas conforme suas linhas funcionais, conectando todos os
agentes do agronegócio. O documento conceitual descreveu todos os requisitos a serem
abordados através da técnica B2B com foco no gerenciamento e controle da produção de
hortifrutigranjeiro.
Lianguang (2014) desenvolveu um modelo SCOR (supply chain operations reference)
de produtos agrícolas fundamentado em IoT, identificando as característica da agricultura
moderna e avaliando a implementação deste possível modelo. O autor ponderou as
características essenciais da moderna agricultura, mapeou o cenário atual da logística dos
produtos, analisou as principais tecnologias empregadas, e por fim, relatou a aplicação de um
caso para alimentação de suínos, sinalizando as principais vantagens de gerir a logística
utilizando tecnologias de informação.
Para corroborar com a infinidade de softwares que auxiliam a gestão da propriedade
rural Kaloxylos et al. (2012) realizaram uma releitura das principais defasagens tecnológicas
de suas aplicações. Os autores concluíram que as ferramentas atuais eram monolíticas, ou seja,
solucionavam problemas de uma determinada atividade rural. Com o advento da IoT a
tendência é que o produtor acesse plataformas multi propósito. Desta maneira, arquitetaram um
sistema de gerenciamento de fazendas fornecendo um exemplo operacional de elementos
autônomos e cognitivos do processo de gestão. Esta plataforma foi resultante de uma ampla
análise de casos utilizados por pesquisadores e especialistas das áreas.
Stočes et al., (2016) pesquisaram as relações do uso específico da IoT na agricultura
identificando as limitações tecnológicas e suas técnicas funcionais. O estudo foi um ensaio
teórico distinguindo as vastas quantidades de dispositivos para IoT em uso, ou em
desenvolvimento, categorizando-os com base em tipo, conectividade, local de implementação,
etc. O autor constatou que uma das principais áreas de concentração da IoT foi no setor da
agricultura, mas que ainda se encontra em fase de desenvolvimento.
Zecca; Rastorgueva, (2016) estudaram as relações assimétricas entre o mercado de
alimentos e os consumidores. Sua pesquisa visou entender quais são os produtos de maior
preferência dos clientes e o quanto eles estão dispostos a pagar para produtos certificados.
Considerando os atributos dos produtos certificados e qual sua influência no quesito qualidade.
Os mesmos relataram algumas formas externas que poderão ser implementadas a nível
nacional, sendo a IoT a principal ferramenta pois consegue rastrear os alimentos certificados.
Verdouw; Beulens; Van der Vorst (2013) examinaram como o conceito de IoT pode
melhorar a virtualização das cadeias que suprem o setor de floricultura. Os autores
identificaram as principais perspectivas sobre o assunto na literatura e desenvolveram um
quadro conceitual para análise de suas preposições utilizando como sistema básico de
informação a conjuntura da IoT. Ainda no mesmo estudo tomou-se como base uma investigação
da situação existente no comércio de flores da Holanda definindo os principais desafios futuros
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da virtualização. O artigo apontou que no país em questão são grandes os progressos no uso
desta tecnologia, incluindo transações on-line, leilão remoto, e plataformas comerciais virtuais.
Yan; Wang; Shi (2017) efetuaram uma pesquisa que abrange e discute os riscos da
cadeia de abastecimento agrícola no âmbito da IoT, classificando esses riscos por meio da
análise qualitativa. Foi utilizado um modelo matemático capaz de medir a proporção dos fatores
de risco em uma pequena perspectiva. Algumas medições poderão evitar o risco da cadeia de
suprimentos agrícola embasada na IoT. As medidas consideraram a segurança das informações,
acelerando a construção de uma infraestrutura, melhorando o envolvimento do governo e
aumentando a fiscalização pela facilidade do compartilhamento de informações. A ideia dos
autores é avaliar quantitativamente os fatores de risco com precisão nas operações. Assim
poderá ser possível ajustar a estratégia de gerenciamento e, em tempo hábil, fortalecer o
monitoramento de dispositivos de IoT, melhorando assim, a capacidade do gerenciamento
destes riscos.
5 Conclusões

Este artigo revisou a literatura sobre IoT no agronegócio e fornece uma visão geral das
aplicações existentes, tecnologias habilitadoras e principais desafios futuros. A área mais
abordada foram as cadeias de suprimentos, seguido por gerenciamento de tomada de decisões,
monitoramento agrícola, meteorologia e irrigação.
A predominância de artigos que tratam da cadeia de suprimentos pode ser explicada
pela necessidade da integração de todos os elos produtivos e pela facilidade de alguma
ferramenta inserir-se em uma etapa de produção e se conectar com a IoT. Porém, a revisão
deixa claro que ainda há muito o que se desenvolver no sentido de interconexão, como por
exemplo, ligar as informações da necessidade do consumidor final até o produtor primário.
A bibliografia consultada possui, em sua grande maioria, artigos e estudos exploratórios
que oferecem plataformas de IoT desenvolvidas ou implementadas em pequenas escalas e em
funcionalidades básicas. Esse estudo demonstrou que há uma tendência no desenvolvimento de
ampliações de IoTs em diversos setores e abrangências. Nos artigos revisados percebe-se uma
necessidade de controles produtivos por acessos remotos ou inteligentes, as ações dessa
natureza decorrem por serem mais eficientes, seguras e de baixo custo.
Almeja-se que o IoT seja uma poderosa ferramenta que transformará o agronegócio em
redes inteligentes de objetos conectados que sejam sensíveis ao contexto e possam ser
identificados, detectados e controlados remotamente . E ao mesmo tempo, supra a carência de
mão de obra no campo. Apesar de todas as vantagens do uso da IoT, os artigos mostram que
ainda há muito o que evoluir, principalmente devido a necessidade do surgimento de melhores
tecnologias subjacentes, como por exemplo, armazenagem em nuvem, aprimoramento da
conectividade, aperfeiçoamento de sensores, autonomia energética dos dispositivos.

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SAWANT, S.; DURBHA, S. S.; JAGARLAPUDI, A. Interoperable agro-meteorological
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Brasileiro de Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos, 2016.

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SUNDMAEKER, H. et al. Internet of Food and Farm 2020. Digital and Virtual Worlds, n.
January, p. 129–152, 2016.
TAN, L. Future internet: The Internet of Things. 2010 3rd International Conference on
Advanced Computer Theory and Engineering(ICACTE), p. V5-376-V5-380, 2010.
VERDOUW, C. N.; BEULENS, A. J. M.; VAN DER VORST, J. G. A. J. Virtualisation of
floricultural supply chains: A review from an internet of things perspective. Computers and
Electronics in Agriculture, v. 99, p. 160–175, 2013.
XIAO, D. et al. High resolution vision sensor transmission control scheme based on 3G and
Wi-Fi. Nongye Gongcheng Xuebao/Transactions of the Chinese Society of Agricultural
Engineering, v. 31, n. 9, p. 167–172, 2015.
XIN, J.; ZAZUETA, F. Technology t rends in ICT – t owards d ata- d riven , f armer- c
entered and k nowledge- b ased h ybrid c loud a rchitectures for s mart f arming. v. 18, n. 4, p.
275–279, 2016.
YAN, B.; WANG, X.; SHI, P. Risk assessment and control of agricultural supply chains
under Internet of Things. Agrekon, v. 56, n. 1, p. 1–12, 2017.
YANG, M. E. L. X.; ZHANG, M. E. L. W.; SONG, M. E. P. Q. Study on the factors effect of
adopting application in agricultural products supply Chain. Advance Journal of Food
Science and Technology, v. 8, n. 1, p. 36–44, 2015.
ZECCA, F.; RASTORGUEVA, N. Trends and Perspectives of the Information Asymmetry
Between Consum- ers and Italian Traditional Food Producers. p. 19–24, 2016.
ZHANG, F. Y. et al. Monitoring behavior of poultry based on RFID radio frequency network.
International Journal of Agricultural and Biological Engineering, v. 9, n. 6, p. 139–147,
2016.
ZULKIFLI, C. Z.; NOOR, N. N. SCIENCE &amp; TECHNOLOGY Wireless Sensor
Network and Internet of Things (IoT) Solution in Agriculture. Pertanika J. Sci. & Technol,
v. 25, n. 1, p. 91–100, 2017.
Anexos

Anexo 1 -Artigos utilizados para o estudo exploratório

Autores Título Ano


1 Architecting na IoT-enabled platform for precision agriculture and
Popovic et al. 2017
ecological monitoring: A case study
2 Sawant. S.; Durbha, S. Interoperable agro-meteorological observation and analysis platform for
2017
S.; Adinarayana, J. precision agriculture: A case study in citrus crop water requirement
3 Yan, B.; Wang, X.; Shi, Risk assessment and control of agricultural supply chains under Internet
2017
P. of Things
4 Zulkifli, C. Z.; Noor, Wireless Sensor Network and Internet of Things (IoT) Solution in
2017
N. N. Agriculture
5 b+WSN: Smart beehive with preliminary decision tree analysis for
Edwards-Murphy et al. 2016
agriculture and honey bee health monitoring

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6 Zecca, F.; Rastorgueva, Trends and perspectives of the information asymmetry between
2016
N. consumers and italian traditional food producers
7
Stoces et al. Internet of Things (IoT) in Agriculture - Selected Aspects 2016

8 Sarangui, S.; Automation of Agriculture Support Systems using Wisekar: Case study of
2016
Umadikar, J.; Kar, S. a crop-disease advisory servic
9
Feiyang et al. Monitoring behavior of poultry based on RFID radio frequency network 2016

10 Technology trends in ICT - towards data driven farmer-centered and


Xin, J.; Zazueta, F. 2016
knowledge-based hybrid cloud architectures for smart farming
11
Chen, R. Y. Autonomous tracing system for backward design in food supply chain 2015

12 Management and control applications in Agriculture domain via a Future


Barmpounakis et al. 2015
Internet Businessto-Business platform
13 Intelligent monitoring system for laminated henhouse based on Internet of
Hualong et al. 2015
Things
14 Yuyao, D.; Li, M.; Remote monitoring system of pig motion behavior and piggery
2015
Gang, L. environment based on Internet of Things
15 Study on the factors effect of adopting application in agricultural products
Lu et al. 2015
supply chain
16 Yang, X.; Zhang, W.;
Research on saving irrigation control system based on things 2015
Song, Q.
17 High resolution vision sensor transmission control scheme based on 3G
Deqin et al. 2015
and Wi-Fi
18 Design of farm environmental monitoring system based on the internet of
Jiao et al. 2014
things
19 Study on Supply-chain of Modern Agricultural Products Based on IOT in
Lianguang, M. 2014
Order to Guarantee the Quality and Safety
20 Virtualisation of floricultural supply chains: A review from an Internet of
Verdouw et al. 2013
Things perspective
21
Kaloxylos et al. Farm management systems and the feature internet era 2012

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Inovação agrícola e mudanças climáticas: uma análise bibliométrica
Agricultural innovation and climate change: a bibliometric analysis
Luiz Gustavo Lovato1, Jean Philippe Palma Revillion2

Resumo
Aumentar a produtividade agrícola e garantir a segurança alimentar em um cenário de mudanças climáticas e com
recursos naturais cada vez mais escassos. Tais desafios demandam inovações que busquem a adaptação ou
mitigação desses impactos. Desta forma, este estudo tem como objetivo fazer um levantamento da produção
científica sobre o tema: inovações agrícolas e mudanças climáticas. Uma bibliometria foi realizada, analisando os
documentos que contemplam os termos do tema nas seguintes áreas de pesquisa: economia, negócios e gestão. Os
dados foram coletados nas bases de dados Scopus e Web of Science. A partir da análise dos resultados da pesquisa,
um panorama sobre os principais autores, periódicos, instituições e países produtores de conhecimento sobre o
referido assunto, ao longo da última década, é traçado. Houve um incremento da produção científica nos últimos
3 anos, liderado por Estados Unidos e Reino Unido. Não foi identificado um grupo de autores proeminentes e a
maioria dos documentos foi publicada em forma de artigo em periódicos ou conferências.
Palavras-chave: bibliometria, inovação, agricultura, mudanças climáticas.

Abstract
To Increase the agricultural production and to ensure food security in a climate change scenario and scarce
natural resources. Such challenge demand innovation to find new ways to adapt or to mitigate those impacts. In
this sense, this study aims to evaluate the scientific production about the topic climate change and agricultural
innovation. A bibliometric study has been led, analyzing the documents that cover the terms of the theme on the
following areas: economics, business and management. The data was gathered from data basis Scopus and Web
of Science. Based on the research results, an overview on the main authors, journals, institutions and countries
producers of knowledge about the referred subject, in the last decade, has been built. An increase on scientific
production in the last 3 years was identified, led by US and UK. The study did not identify a group of relevant
authors and the major part of the documents was published as paper type on journals or conferences.
Keywords: bibliometrics, innovation, agriculture, climate change.

1. Introdução

Em um cenário de escassez de recursos naturais, crescimento populacional e desafios


para distribuição de renda, os impactos das mudanças climáticas sobre a produção agrícola
(aqui entendido como cultivo agrícola e, também, produção pecuária) e, consequentemente,
sobre a segurança alimentar e a qualidade nutricional dos alimentos produzidos, são eminentes.
A construção de formas de adaptação e mitigação desses efeitos tornam-se de suma importância
em tais circunstâncias.
Segundo a FAO - Food and Agriculture Organization of United Nations (2016), cerca
de 800 milhões de pessoas no mundo sofrem com a subnutrição, ao passo que aproximadamente
500 milhões de pessoas são obesas. Baseado em dados do IPCC - Intergovernmental Panel on
Climate Change, o relatório da FAO ainda destaca a necessidade de garantir o acesso aos
alimentos em um cenário em desenvolvimento onde as mudanças climáticas impactam os
ecossistemas marinhos, costeiros e terrestres, bem como, a disponibilidade de recursos hídricos
e a dinâmica de sistemas agroalimentares. A estimativa da entidade é de que a produção de
alimentos precisará aumentar 60% nas próximas décadas a fim de suprir a demanda e as
alterações dos hábitos alimentares da população mundial.
Em face a peremptoriedade desses desafios, o desenvolvimento de meios de adaptação
e a construção de sistemas agrícolas resilientes passam a requerer especial atenção. Dispositivos
políticos baseados no conhecimento são necessários para viabilizar e criar inovação agrícola
(REGANOLD; WACHTER, 2016). A utilização da análise de big data com o apoio da

1Tecnólogo em Viticultura e Enologia/Mestrando em Agronegócios – UFRGS - luizglovato@gmail.com


2 Doutor em Agronegócios e Professor Associado da UFRGS - jeanppr@gmail.com

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inteligência artificial são, hoje, base para uma “agricultura da informação”. Tais inovações não
buscam somente a redução de custos e a maior eficiência na utilização de insumos, mas também
um menor impacto ambiental (WILKINSON; RAMA, 2017). Esses são apenas alguns
exemplos de inovações agrícolas que têm em seu escopo a adaptação e/ou mitigação dos efeitos
das mudanças climáticas.
Desta forma, este estudo tem como objetivo fazer um levantamento da produção
científica sobre o tema: inovações agrícolas e mudanças climáticas. Uma bibliometria foi
realizada, analisando os documentos que contemplam os termos do tema nas seguintes áreas de
pesquisa – segundo classificação das bases de dados consultadas: economia, negócios, gestão,
finanças, contabilidade e administração pública. A partir da análise dos resultados da pesquisa,
um panorama sobre os principais autores, periódicos, instituições e países produtores de
conhecimento sobre o referido assunto, ao longo da última década, é traçado.

2. Referencial teórico

Os padrões globais de produção de alimentos são alterados pelas mudanças climáticas.


Uma nova geografia agrícola vem sendo desenhada, na medida em que regiões antes
climaticamente aptas à agricultura tornam-se inviáveis – regiões tropicais poderão ter a
produtividade reduzida, enquanto locais de média-alta latitude poderão ter incremento na
produção (FAO, 2015). Segundo dados do IPCC (2015), um aumento de 2°C-4°C está previsto,
tanto a médio prazo (2040) quanto a longo prazo (2100); atividades agrícolas, florestais e
pecuárias respondem por aproximadamente 30% da emissão de gases de efeito estufa. Até
2030, a emissão anual de gases de efeito estufa na atmosfera em função das atividades agrícolas
deve crescer de 6 Gt de CO2 para 8 Gt de CO2, em torno de 38% de aumento (SMITH et al.
2007). Aliado a isso, tópicos como crescimento populacional, segurança alimentar e redução
da pobreza tornam-se relevantes na eminência de alterações climáticas importantes. Estratégias
regionais e supranacionais são necessárias para dirimir essas questões. O melhoramento de
práticas e tecnologias já existentes e a criação de novas são inerentes e irremediáveis.
De acordo com Kotler (1991) qualquer bem, serviço ou ideia que é percebida como uma
novidade por alguém, é uma inovação. Inovação pode estar, mas não necessariamente está,
relacionada à invenção, e pode envolver novidades no produto, processo ou serviços, bem
como, na forma de organização de uma unidade produtiva para responder a externalidades
(GRUNERT et al. 1995), (HAUSER; TELLIS; GRIFFIN, 2006). Em um contexto onde a
produção agrícola passa a enfrentar condições climáticas extremas e cada vez menos
previsíveis, o foco desses sistemas produtivos passa a ser guiado pela construção de resiliência
e habilidade para se adaptar a essas mudanças. Isso levará a uma maior inovação na agricultura
e setores agroalimentares (NIGGLI et al., 2009).
Para traçar um panorama da produção científica e da visão econômica e de negócios
sobre inovações na agricultura em um contexto de mudanças climáticas, um estudo
bibliométrico foi realizado. A bibliometria pode ser definida como um estudo quantitativo que
busca identificar pontos de convergência entre artigos científicos. É o estudo da organização da
ciência e tecnologia a partir de fontes bibliográficas (MACHADO JUNIOR et al., 2016;
SPINAK, 1998).

3. Procedimentos Metodológicos

O estudo bibliométrico foi realizado a partir das bases de dados Scopus e Web of
Science. A coleta de dados ocorreu no dia 23/07/2018. As seguintes palavras-chave foram
utilizadas em ambas as bases de dados: “climate change” AND innovation AND agr* OR

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livestock. Buscou-se documentos que relacionassem os respectivos termos no título, resumo e
palavras-chave. O período de análise escolhido foi de 2008 a 2017, visto que a produção
científica sobre o tema intensificou-se nos últimos 10 anos, demonstrando a relevância do tema.
Não foi especificado o tipo de documento.
Os primeiros resultados calcados nas diretrizes acima descritas mostraram 577
documentos na base de dados Scopus e 479 na Web of Science. Devido à grande amplitude do
tema, diversas áreas de pesquisa mostraram resultado relevantes. Porém, o objetivo deste estudo
bibliométrico é avaliar a produção científica na área de economia, gestão e negócios. Para isso,
alguns filtros de pesquisa foram aplicados. Na Scopus, a área “economics, econometrics and
finance” resultou 49 documentos e a área “business, management and accounting” relacionou
44 documentos. Na Web of Science as áreas “business economics” e “public administration”
resultaram em 71 e 39 documentos respectivamente. Importante mencionar que um mesmo
documento pode atender mais de uma área de pesquisa, portanto, o número total de documentos
classificados nas áreas de interesse deste estudo foi 79 na Scopus e 97 na Web of Science.

Gráfico 1 – Número de documentos por área de pesquisa na Scopus

Scopus - áreas de pesquisa


Health Professions 1
Veterinary 2
Psychology 2
Immunology and Microbiology 4
Nursing 5
Materials Science 5
Physics and Astronomy 7
Mathematics 7
Pharmacology, Toxicology and Pharmaceutics 8
Decision Sciences 8
Chemistry 8
Arts and Humanities 11
Multidisciplinary 14
Chemical Engineering 15
Computer Science 21
Medicine 29
Biochemistry, Genetics and Molecular Biology 40
Business, Management and Accounting 44
Economics, Econometrics and Finance 49
Energy 61
Earth and Planetary Sciences 61
Engineering 79
Social Sciences 180
Agricultural and Biological Sciences 199
Environmental Science 241
0 50 100 150 200 250 300

Fonte: próprio autor (2018).

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Gráfico 2 - Número de documentos por área de pesquisa na Web of Science

Web of Science - áreas de pesquisa


Chemistry
Archaelogy
Veterinary Sciences
Biotechnology applied microbiology
Anthropology
International relations
Computer science
Sociology
Geology
Life sciences biomedicine other topics
Social sciences other topics
Plant Sciences
Physical geography
Water resources
Energy fuels
Government law
Food science technology
Engineering
Geography
Meteoroloy atmospheric sciences
Public Administration
Science technology other topics
Business Economics
Agriculture
Environmental Sciences Ecology
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Fonte: próprio autor (2018).

Após a seleção das áreas de pesquisa, excluíram-se os artigos repetidos, resultando 155
documentos. Por fim, documentos que não constavam as palavras-chave - “climate change”,
“innovation”, “agriculture” e “livestock” – no título ou resumo foram excluídos. A leitura dos
resumos também considerou o tema tratado no documento quando apenas uma ou duas
palavras-chave eram localizadas, excluindo aqueles que fugiam do foco deste estudo, bem
como, buscou a inclusão de títulos e resumos que apresentassem palavras e termos como
“farm”, “global warming” e “technological change”, os quais têm relação com o tema central
deste estudo bibliométrico. Ao final, 77 documentos restaram para serem analisados.

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Figura 1 – Processo de seleção dos documentos

• Filtro 3
155 documentos Exclusão de
• Filtro 1
Documentos que documentos não
contemplam as • Filtro 2 relacionados ao tema,
áreas de Exclusão de após leitura de título,
economia, gestão documentos resumo e palavras-
e negócios repetidos chave
Scopus = 79
77 documentos
Web of Science = 97

Fonte: próprio autor (2018).

4. Resultados e Discussão

Dentre os 77 documentos analisados, prosseguiu-se uma estratificação dos mesmos por


ano, tipo, autores, periódicos, instituições e país de origem das publicações.
No período de 2008 a 2017 o número de publicações se manteve estável até 2014,
registrando 6 publicações nesse ano. Já no ano de 2015, 12 publicações são registradas,
atingindo o número de 19 publicações em 2016 e retornando a 12 em 2017. Isso demonstra um
expressivo esforço científico em debruçar-se sobre o assunto inovações agrícolas e mudanças
climáticas nos último 3 anos. Importante destacar que o ano de 2008 não registrou documentos,
isso aconteceu após a aplicação dos filtros de pesquisa, significando que no referido ano,
nenhuma publicação contemplou as áreas de pesquisa ou tema estudados nesta bibliometria.
Gráfico 3 – Número de publicações na Scopus e Web of Science no período 2008-2017

Publicações 2008-2017
20

15

10

0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: próprio autor (2018).

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Dos documentos analisados, 86% são artigos publicados em periódicos ou congressos,
totalizando, juntos, 67 documentos. O restante divide-se entre capítulos de livros, editoriais,
livros e uma revisão. Portanto, a maioria das publicações sobre o tema pode ser encontrada em
periódicos ou anais de congressos.

Gráfico 4 – Número de publicações por tipo

Tipo de documento
2 21
6

11

56

Artigo Artigo em congresso Capítulo de livro


Material editorial Livro Review

Fonte: próprio autor (2018).

Uma extensa lista de autores foi compilada. De um total de 228, apenas 5 possuem mais
de uma publicação. Isso demonstra a dispersão do conhecimento sobre o tema entre os autores
e, também, a não concentração de publicações em um grupo de autores mais prolíficos, não
aplica-se aqui a Lei de Lotka, que fundamenta-se na premissa de que “alguns pesquisadores
publicam muito e muitos publicam pouco” (GUEDES; BORSCHIVER, 2005).
Tabela 1 – Autores com mais de uma publicação
Autor Documentos
Letson, D. 2
Blok, V. 2
Stanciu, S. 2
Zemeckis, R. 2
Zilberman, D. 2
Fonte: próprio autor (2018).

Um total de 40 periódicos publicaram artigos sobre inovações agrícolas e mudanças


climáticas entre 2008 e 2017, 13 deles são responsáveis por mais da metade dos artigos
publicados em periódicos. Destaque para o Agricultural Economics e o Journal of Cleaner
Production, ambos publicaram 4 artigos cada na última década.

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Gráfico 5 – Periódicos com 2 publicações ou mais

Publicações por periódico


Anual Review of Resource Economics
Technological Forecasting and Social Change
Rural Development
Quality Access To Success
Journal Of Urban Economics
Journal of Innovation Economics Management
Environment Development And Sustainability
Ecological Economics
Journal of Rural Studies
Food Policy
Agris On Line Papers In Economics And Informatics
Journal Of Cleaner Production
Agricultural Economics

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

Fonte: próprio autor (2018).

Nas bases de dados Scopus e Web of Science, o estrato instituições/organizações refere-


se ao lugar onde os autores conduzem suas pesquisas. Os 77 documentos analisados reúnem
228 autores afiliados a 152 instituições/organizações. Apenas 14 foram berço de ao menos 2
publicações sobre inovações agrícolas e mudanças climáticas nas áreas de economia, gestão e
negócios. Destaque para a University of California System, University of California Berkeley
e Wageningen University and Research Centre.
Gráfico 6 – Instituições com 2 publicações ou mais

Publicações por instituição


University of York UK
Univrersity of Sussex
Hebrew University of Jerusalem
Aleksandras Stulginskis University
University of Oxford
University of Manchester
University of Greenwich
Universitatea Dunarea de Jos din Galati
Universitat Hohenheim
Michigan State University
Consiglio Nazionale delle Ricerche
University of California Berkeley
Wageningen University and Research Centre
University of California System
0 1 2 3 4 5 6 7

Fonte: próprio autor (2018).

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Entre os países que mais publicaram estão, disparados na liderança, Estados Unidos e
Reino Unido. Relacionando a origem dos documentos com as instituições/organizações,
percebe-se que os pesquisadores, tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido, estão
dispersos em várias instituições/organizações. Enquanto na Holanda, por exemplo,
Wageningen concentra as pesquisas na área. Vale salientar que Ásia e América do Sul,
importantes players agrícolas globais, possuem pouca relevância na produção científica
internacional nas áreas de economia, gestão e negócios sobre inovação, agricultura e mudanças
climáticas.
Gráfico 7 – Países com 3 publicações ou mais

Países de origem das pesquisas


3 3
3
3 19
3
3
4

4
14
7

7 8

United States United Kingdom Germany Italy


Netherlands Australia Canada China
India Kenya Nigeria Romania
Spain

Fonte: próprio autor (2018).

5. Conclusões
O objetivo deste artigo foi apresentar, de forma quantitativa, o panorama da produção
científica sobre inovações agrícolas e mudanças climáticas, nas seguintes áreas: economia,
gestão e negócios. O estudo bibliométrico realizado compreendeu a análise de documentos
publicados entre 2008 e 2017 e que estivessem indexados nas bases de dados Scopus e Web of
Science.
Conclui-se que o número de documentos publicados aumentou nos últimos 3 anos,
sendo 2016 o ano recorde em publicações. A maioria do conhecimento científico sobre o tema
é publicado em forma de artigo (86% dos documentos). Não há concentração de publicações
em um determinado grupo de autores. Há, sim, uma grande dispersão na autoria dos
documentos. Dentre os 228 autores identificados, apenas 5 têm seus nomes em mais de uma
publicação. Quanto à análise dos periódicos, identificou-se um grupo de 13 revistas (dentre 40)
responsáveis por mais da metade dos documentos publicados em forma de artigo. Destaque
para o Agricultural Economics e o Journal of Cleaner Production, os periódicos que mais
publicaram sobre o tema. Os pesquisadores estão afiliados a 152 instituições/organizações,
sendo a University of California System a líder em publicações. Estados Unidos e Reino Unido
estão na dianteira quanto à produção científica.

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Apesar de organizar e buscar convergências quanto ao tema inovações agrícolas e
mudanças climáticas na área de economia, gestão e negócios, este estudo apresenta algumas
limitações. Uma análise do fator de impacto das publicações seria relevante, bem como uma
revisão do conteúdo dos 77 documentos residuais. Essas limitações podem ser exploradas em
estudos posteriores, onde pode-se examinar convergências e divergências sobre o tema, através
de mineração de dados e/ou palavras, por exemplo.
Diante de um desafio global, percebe-se que a ciência produz iniciativas pontuais. A
grande dispersão de autores e instituições/organizações que pesquisam o tema e, ainda, o
aumento de publicações nos últimos 3 anos, demonstra a emergência em sanar problemas de
interesse comum a todos e o caráter exploratório do tema. A produção científica da América do
Sul e Ásia, importantes players agrícolas mundiais é incipiente em bases de dados
internacionais como a Scopus e Web of Science, reforçando a necessidade da criação de
dispositivos políticos supranacionais que incentivem a inovação para adaptação e mitigação do
impacto das mudanças climáticas sobre a produção de alimentos.

6. Referências

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food security and trade. 2015.
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Panorama brasileiro de aplicativos móveis para a agricultura
Brazilian panorama of mobile applications for agriculture
Carlos Augusto Linassi Regasson1, Igor Senger2, Rômulo Keller Lautert3

Resumo
Atualmente, o smartphone é um equipamento essencial para uso pessoal e profissional, visto que o mesmo é
amplamente utilizado devido as suas funções, as quais facilitam a comunicação e amparam processos. Sendo a
grande base de um smartphone, os aplicativos móveis são ferramentas que apresentam funções distintas de grande
importância para o usuário. Este estudo teve o objetivo de analisar a oferta de aplicativos móveis voltados à
agricultura brasileira, bem como suas finalidades. Para o levantamento destes aplicativos, foram selecionadas
palavras-chave para a busca na Google Play Store e também em sites de busca como o Google, Bing e Yahoo!.
Visando identificar as finalidades dos aplicativos, os cinquenta que apresentaram as maiores quantidades de
downloads foram analisados. Foram identificados 621 aplicativos voltados à área agrícola, sendo que a subárea de
Administração, Finanças e Comércio foi a que se destacou com 27,86%, seguida por Notícias e Informação
agrícola com 13,53%. Dos cinquenta analisados, a área de Pragas e Doenças se destacou com dez aplicativos
(20%) seguida pela área de Administração, Finanças e Comercio com 16%. As finalidades dos aplicativos
comtemplam diversas necessidades do meio rural, como a identificação de plantas por meio de foto, previsão do
tempo e regulagem de maquinários. Conclui-se que atores envolvidos no agronegócio podem identificar soluções
presentes nos aplicativos que facilitam seu laboro; os desenvolvedores de aplicativos tem acesso a informações
que podem ser usadas para a identificação de lacunas no mercado e; para que o aplicativo seja bem-sucedido, deve
haver um planejamento rigoroso.

Palavras-chave: Smartphone. Aplicativos Móveis. Oferta. Agricultura.

Abstract
Currently, the smartphone is essential equipment for personal and professional use, since it is widely used because
of its functions, which facilitate communication and support processes. Being the great foundation of a
smartphone, mobile applications are tools that present distinct functions of great importance to the user. This study
aimed to analyze the supply of mobile applications aimed at Brazilian agriculture, as well as its purposes. For the
survey of these applications, keywords were selected for the search in the Google Play Store and also in search
sites like Google, Bing and Yahoo!. In order to identify the purposes of the applications, the fifty that presented
the largest amounts of downloads were analyzed. A total of 621 applications were identified for the agricultural
area, with the Administration, Finance and Commerce sub-area standing out with 27.86%, followed by News and
Agricultural Information with 13.53%. Of the fifty analyzed, the area of Pest and Diseases stood out with ten
applications (20%) followed by the Administration, Finance and Commerce area with 16%. The purposes of the
applications contemplate diverse needs of the rural environment, as the identification of plants by means of photo,
forecast of the time and regulation of machines. It is concluded that actors involved in agribusiness can identify
solutions present in the applications that facilitate their work; application developers have access to information
that can be used to identify gaps in the marketplace; for the application to be successful, there must be a strict
planning.

Keywords: Smartphone. Mobile Applications. Offer. Agriculture.

1Engenheiro Agrônomo/UFSM campus Frederico Westphalen – carlos_linassi@yahoo.com.br


2Professor/UFSM campus Frederico Westphalen - igorsenger@ufsm.br
3Engenheiro Agrônomo/UFSM campus Frederico Westphalen – romuloklautert@hotmail.com

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1 Introdução

Após alguns anos de desenvolvimento, atualmente o smartphone proporciona ao usuário


múltiplas funções, como fotografar, acessar a internet, fazer ligações, organizador pessoal e a
possibilidade de baixar aplicativos diversos, sendo este último criador de um cenário inovador,
sofisticado e contextual, fazendo com que a experiência de uso do smartphone fique mais
prazerosa e produtiva (MASSRUHÁ et al., 2014). Os aplicativos estão entre os principais
motivos para o sucesso e ascensão dos smartphone, pelo fato dos mesmos tornarem a vida dos
seus usuários mais fácil e agradável e também por substituir equipamentos caros
(APLICATIVOS, 2014).
Englobando diversas áreas como saúde, jurídica, educação, entretenimento, agricultura,
lazer e negócios, o mercado global de aplicativos movimentou cerca de 81,7 bilhões de dólares
em 2017, com estimativa de crescimento de 92% até 2022 de acordo com o portal online APP
ANNIE (2018). O mesmo portal salienta que o Brasil foi o quarto colocado no que se refere à
quantidade de downloads de aplicativos em 2017, atingindo um número de 6,3 bilhões, sendo
que a previsão para 2022 é que tenha um aumento de 34%, chegando à marca de 8,4 bilhões de
downloads. Diante disto, o uso de aplicativos representa um meio fácil e eficaz de oferecer uma
ferramenta e atingir um público alvo desejado, sendo que o mercado que o mesmo retrata tem
gerado oportunidades para a sociedade e para a economia em diversas áreas (TIBES; DIAS;
ZEM-MASCARENHAS, 2014), como a área da agricultura.
O termo Aplicativo Móvel Agrícola (AppMA) refere-se a qualquer aplicativo móvel
que visa alguma necessidade ou desejo do setor agrícola e pecuário, bem como de suas partes
interessadas. São várias as áreas em que os AppMAs podem atuar, como no preço das culturas,
condições climáticas, níveis de estoque, técnicas agrícolas, rastreamento e gerenciamento de
gado, monitoramento de parto, gerenciamento de pontos de água, gerenciamento de irrigação,
conversação entre maquinários, estimativa e mapeamento de rendimentos, mapeamento de
tipos de solo, transações com o governo, entre outras (KARETSOS; COSTOPOULOU;
SIDERIDIS, 2014).
No que se refere à oferta de AppMAs nas lojas online, Bambini, Luchiari-Júnior e
Romani (2014) desenvolveram um estudo focando o mercado de aplicativos voltados a área
agrometeorologia no Brasil. Por sua vez, Costopoulou, Ntaliani e Karetsos (2016) realizaram
um estudo demonstrando a situação mundial da oferta de aplicativos agrícolas. Neste sentido,
devido à importância do setor agrícola na economia brasileira, da revolução digital que o
mesmo setor está passando e da carência de estudos constatada, torna-se necessário um
aprofundamento do comportamento do mercado nacional de aplicativos voltados a esta área.
Considerando este contexto, surgem as seguintes questões de pesquisa: os aplicativos
voltados à agricultura respondem à demanda existente nos seus diversos nichos de atuação?
Quais são as áreas agronômicas em que existem mais aplicativos disponíveis e o que os mesmos
fazem para ajudar seus usuários?
A partir disto, o objetivo geral deste trabalho consiste em realizar um estudo sobre os
aplicativos móveis que envolvem a agricultura brasileira. Como objetivos específicos, este
estudo dedica-se a: verificar a disponibilidade de aplicativos móveis para a agricultura
brasileira; identificar as áreas com maior e menor oferta de aplicativos móveis; descrever a
finalidade para a qual os aplicativos foram desenvolvidos; e identificar e categorizar as
empresas desenvolvedoras dos aplicativos móveis.

2 Referencial Teórico

A telefonia móvel apresenta particularidades que são significantes para o


desenvolvimento de diversos setores, pois exige uma alfabetização básica para seu uso. Por ser

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acessível a uma ampla gama da população, permite a comunicação por voz e a transferência de
dados, que podem ser utilizados em aplicações para fins de educação, comércio, saúde, governo
(RASHID; ELDER, 2009) e também para a agricultura.
Muitos aplicativos móveis agrícolas pagos e gratuitos foram desenvolvidos para o meio
rural, abrangendo diversas áreas dentro e fora da propriedade rural (OLIVEIRA FERRAZ;
PINTO, 2017), sendo que estes mostram um significativo potencial na modernização da
agricultura em países desenvolvidos e em desenvolvimento (COSTOPOULOU; NTALIANI;
KARETSOS, 2016).
No cenário nacional são vários os temas pesquisados referentes ao uso de aplicativos
agrícolas: aplicativo focado no controle e gerenciamento de propriedades rurais com a atividade
leiteira como principal (COSTA et al., 2015); criação de um aplicativo voltado ao controle de
silos e colheitas para cooperativas agrícolas, visando evitar a perda de produção e manter a
qualidade das sementes armazenadas (CONTI E WIGGERS, 2015); desenvolvimento de um
sistema de informação visando a demonstração de ocorrências de mosca branca em determinada
região (NARCISO E QUINTELA, 2015); aplicativo para o cálculo de compatibilidade de pneus
de tratores agrícolas e a relação peso/potência do mesmo, visando amenizar o efeito do galope
e dinamizar o serviço no campo (MACHADO et al., 2015); trabalho referente a um aplicativo
para smartphone que visa fornecer recomendação de adubação para a cultura da mandioca,
baseando-se em análise química realizada (NASCIMENTO, SALAME E TAVARES, 2015)
e; um estudo objetivando subsidiar ao agricultor uma ferramenta necessária para controlar sua
produção de grãos através do gerenciamento de culturas, custos de produção e rendimentos
obtidos em cada safra (RIFFEL, 2016).
Outros trabalhos que demonstraram o desenvolvimento de aplicativos voltados à área
agrícola também foram e estão sendo desenvolvidos no Brasil (SILVEIRA JÚNIOR; ALVES;
CORREIA, 2015; BRILHADOR; SERRARENS; LOPES, 2015; ASSIS et al., 2015; LODI et
al., 2015; ROMANI; MAGALHÃES; EVANGELISTA, 2015).
Além de interessados de diversos segmentos e de profissionais da área, os principais
usuários dos AppMAs são os produtores rurais, profissionais das agrárias, compradores,
cooperativas, fornecedores de insumos e provedores de conteúdo, sendo que o principal
impacto que os AppMAs proporcionam é o acesso a informações úteis e relevantes pelos seus
usuários. Além disso, melhora a cadeia dos diversos suprimentos agrícolas através do aumento
dos serviços de extensão e das informações de mercado, de forma que promova benefícios
socioeconômicos por meio da agregação de valor no produto, redução de perdas, criação de
empregos e também tornando países subdesenvolvidos mais competitivos ao nível mundial
(QIANG et al., 2012).

3 Procedimentos Metodológicos

Por meio da escolha do método utilizado em um estudo investigativo e cientifico,


sustenta-se a cientificidade e credibilidade do que está sendo exposto (PANNO; REGASSON;
DA SILVA, 2015). O uso de procedimentos científicos remete ao objetivo de resolver algum
problema, sendo que o resultado de uma pesquisa científica passa por inquéritos ou exames
minuciosos (FONSECA, 2009). O trabalho em questão apresenta uma abordagem quanti-
qualitativa, com natureza e objetivos de pesquisa descritiva, a qual tem por objetivo demonstrar
as características de uma determinada população, levando em consideração os aspectos das
perguntas que norteiam a pesquisa, onde o pesquisador faz o estudo, a análise, o registro e a
interpretação dos fatos sem a interferência ou manipulação dele, ou seja, ele deve descobrir a
frequência que o fenômeno se estrutura ou ocorre num determinado sistema (MALHOTRA,
2001)

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Para a identificação dos aplicativos de interesse agrícola, foi realizada uma pesquisa
direta na loja virtual e também em sites de busca online. Para a busca em lojas de aplicativos,
necessita-se inserir uma ou mais palavras no campo de busca. Desta forma, o primeiro passo
foi a seleção das palavras-chave a serem utilizadas na pesquisa. A definição das palavras-chave
a serem usadas nesta pesquisa foi baseada nas áreas e subáreas das Ciências Agrárias descritas
na “Tabela de Áreas do Conhecimento” do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq, s/d) e também nas áreas e subáreas das Ciências Agrárias na tabela da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES, 2014).
Como segundo passo, de março até maio de 2018, cada uma das palavras-chave foram
inseridas na loja virtual “Google Play Store”, realizando-se assim uma pesquisa direta na loja
para identificação de aplicativos. Os aplicativos resultantes destas pesquisas foram analisados
individualmente, selecionados e triados de acordo com os objetivos deste trabalho por meio de
critérios de seleção.
A seleção e triagem dos AppMAs foi baseada nos seguintes critérios: a) de acordo com
a descrição e a aplicabilidade do app, onde o mesmo deveria condizer com o ramo agrícola,
sendo que outras categorias de aplicativos, como de saúde, estilo de vida e principalmente jogos
foram descartados e; b) devem estar na língua portuguesa. Os aplicativos que se repetiram
durante as pesquisas com as palavras-chave foram desconsiderados. Estes critérios foram
utilizados devido à grande quantidade de aplicativos e games que foram localizados nas buscas,
facilitando e organizando a triagem e seleção dos aplicativos de interesse agrícola disponíveis
na língua nacional. Assim, no final da pesquisa foi possível identificar os aplicativos de
interesse agronômico por palavra-chave.
Optou-se por usar a loja virtual “Google Play Store” (disponível em sistemas Android),
por a mesma ser mais utilizada, com 92,8% do total dos usuários de smartphone no Brasil
(KANTAR, 2017) e 85% dos usuários no mundo (IDC, 2017). Além disso, a plataforma do
Google apresenta vantagens, como ter o maior crescimento no mercado, oferecer maior
diversidade de dispositivos no mercado em comparação aos seus concorrentes, ser baseado em
Linux, gratuito e open-source e, além disso, ser uma plataforma de desenvolvimento gratuito e
multiplataforma (DA SILVA; DA SILVA; RUPPERT, 2012).
O terceiro passo ocorreu após a finalização das pesquisas na loja virtual. O mesmo
consistiu em complementar a localização e seleção dos aplicativos de interesse agronômico
(segundo passo). O terceiro passo ocorreu em maio de 2018 e realizou-se uma pesquisa em sites
de busca online por meio de três sites de busca web (Google, Bing e Yahoo!), utilizando os
termos “aplicativos móveis na agricultura” como palavras-chave. Os primeiros 30 links
resultantes de cada site de busca foram abertos, analisados e, após leitura e análise, os
aplicativos de interesse agrícola descritos nas páginas visitadas foram selecionados, localizados
dentro da loja virtual e sendo por fim somados aos identificados no sendo passo.
O passo quatro teve como objetivo uma melhor organização dos aplicativos agrícolas
identificados nas pesquisas por palavra-chave (passo dois) e pelos sites de busca (passo três).
Assim, os AppMA identificados foram subdivididos em áreas específicas dentro do ramo
agrícola, onde foi realizada uma definição de categorias agronômicas seguindo o modelo
proposto por Costopoulou, Ntaliani e Karetsos (2016). O estudo destes autores apresenta
categorias de aplicativos agrícolas definidas, porém optou-se por modifica-las para uma melhor
interpretação dos resultados, sendo elas: Comercial, Financeiro e Administrativo; Produção
Animal; Produção Vegetal; Pragas e Doenças; Tecnologia e Inovação agrícola; Máquinas
Agrícolas; Pulverização e Atividades relacionadas; Previsão do Tempo; Educação e Eventos
agrícolas; Notícias Agrícolas; e a seção de outros aplicativos.
Para a definição de alocação de cada AppMA em cada área de interesse agronômico
descritas anteriormente, foi utilizada como base a análise de conteúdo quantitativa (BARDIN
1977), onde o texto da descrição do AppMA foi analisado e o pesquisador interpretou e

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categorizou as unidades de texto (palavras ou frases) e as classificou de acordo com as
categorias de aplicativos agrícolas.
Diante do fato de muitos aplicativos disponíveis na loja virtual apresentarem a mesma
funcionalidade e pela grande quantidade de aplicativos disponíveis, uma análise aprofundada
foi realizada com os cinquenta AppMAs brasileiros mais populares para assim analisar a
finalidade de cada um, consistindo assim no quinto e último passo. Para a medição da
popularidade, foi utilizada a quantidade de downloads como primeiro critério de desempate e a
avaliação dos usuários perante o aplicativo (de 1 a 5) como segundo critério, sendo que ambas
são informadas na página do aplicativo dentro da loja virtual.
Assim, os cinquenta aplicativos agrícolas com as avaliações mais altas e com maiores
quantidades de downloads foram selecionados, analisados e descritos nos resultados.
(COSTOPOULOU; NTALIANI; KARETSOS, 2016).

4 Resultados e Discussão

4.1 Quantidade de AppMAs localizados com as palavras-chave

Tendo em vista quantificar os aplicativos agrícolas por palavra-chave, usou-se 94


palavras-chave relacionadas à agricultura. Assim, após a pesquisa individual de cada palavra-
chave na loja online, localizou-se um total de 1230 aplicativos voltados à agricultura. Vale
salientar que nesta etapa dos resultados não houve a exclusão de aplicativos repetidos, pelo fato
do foco ser em quantos aplicativos agrícolas cada palavra-chave conseguiu identificar. Como
palavras-chave que apresentaram os maiores resultados, teve-se: “Agrônomo”, “Soja” e “Agro”
com 62, 57 e 55 AppMAs encontrados, respectivamente. Já as que apresentarem menores
resultados são: “Animal”, “Fitossanidade”, “Energia renovável” e “Trator”, sendo que para
estas palavras-chave, não foi encontrado nenhum aplicativo.
Após a triagem e exclusão dos apps repetidos identificados, os mesmos foram alocados
nas respectivas áreas agronômicas descritas por Costopoulou, Ntaliani e Karetsos (2016),
totalizando assim 621 AppMA localizados.

4.2 Divisão dos AppMAs por áreas agronômicas

A área Comercial, Administrativa e Financeira expressou a maior quantidade de


AppMAs, totalizando 173, o que corresponde a 27,86% do total de aplicativos voltados à
agricultura. Dentre os aplicativos selecionados nesta área, identificou-se que parte deles são
voltados à gestão produtiva, de estoque e financeira de propriedades rurais, com enfoque animal
e vegetal.
A área das Notícias e Informações agrícolas demonstrou uma quantidade de 84
aplicativos (13,53%), onde encontram-se apps voltados à comunicação no meio rural,
principalmente no que tange a redes sociais específicas para o setor; noticiários online em forma
de vídeos e podcasts; revistas digitais; cotações diárias de preços e comportamento de mercado
e; Frequently Asked Questions (FAQs)
Já na área de Produção Vegetal (12,56%) os apps estão relacionados com manejo de
plantas voltadas à jardinagem, horticultura e floricultura; cálculos de fertilização para plantas;
manuais para produção de espécies frutíferas, oleaginosas, gramíneas e florestais; rastreamento
e produção de sementes e; identificadores de plantas. Voltados a cálculos topográficos,
navegadores de campo por meio de Global Positioning System (GPS), controladores de
irrigação, agricultura de precisão e engenharias, a área de Tecnologia e Inovação agrícola
apresentou uma totalidade de 64 aplicativos, representando assim 10,31% do total de
aplicativos identificados.

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Abordando controles, identificação e soluções para pragas e doenças de animais e
vegetais, a divisão de Pragas e Doenças representou 7,41 % dos resultados, apresentando
aplicativos com soluções voltadas a controle de plantas daninhas; monitoramento de fungos a
nível nacional (ferrugem asiática); doses de medicamentos veterinários, compatibilidade de
produtos voltados ao controle de fungos e bactérias maléficas à produção e; bulas digitais de
produtos.
No que tange aos aplicativos de Educação e Eventos voltados ao meio agrícola (6,60%),
os relacionados a eventos eram específicos dos mesmos, ou seja, eram utilizados apenas no
evento, entrando assim muitas vezes em desuso após a finalização deste. Já outros voltados à
educação abordam funções relacionadas a dicionários e jogos interativos que objetivam a
aprendizagem técnica dos usuários.
Exemplos da área de produção animal (5,31%) são aplicativos voltados a cálculos e
formulação de rações para bovinos, suínos e aves, cálculos de estimativa de ganho de peso,
reprodução e desmame. Os aplicativos voltados à área de Pulverização e Atividades
relacionadas (3,54%) oferecem serviços voltados a cálculos de calda de pulverização; escolha
da ponta correta para a aplicação e; calibração de pulverizadores automatizados e manuais.
Como o próprio nome já diz, os aplicativos de Previsão do Tempo (2,90%) são voltados
a consultas de comportamentos climatológicos, como precipitações, umidade relativa do ar,
direção e velocidade do vento, sendo estes aplicativos também utilizados por atores não
relacionados ao meio rural. Também com 2,90% dos resultados, a área de Máquinas Agrícolas
apresentou apps relacionados a regulagens, cálculos de avaliações de plantio, colheita,
aplicações e manuais online.
Por fim, dentro da seção de “Outros” (7,09%), pode-se citar aplicativos com soluções
que não se enquadram nas outras citadas, como por exemplo os voltados à logística de coleta
de leite em propriedades rurais; cálculos de calagem de solo; poluição da água e equilíbrio
hidroscópico; cálculos de área; calculadoras em geral e; ideias de jardinagem e horticultura.
Revelando o status global de aplicativos móveis agrícolas, Costopoulou, Ntaliani e
Karetsos (2016) relataram 121 AppMAs da área de Dados Comerciais e Financeiros disponíveis
para sistemas Android, enquanto os utilizados para isso no Brasil somaram 173. No mesmo
sentido, os autores relataram a existência de 41 apps no âmbito das Notícias Agrícolas,
enquanto no Brasil foram achados 84. Já no total de aplicativos encontrados, o mesmo trabalho
supracitado apresentou 551 AppMAs na plataforma Android, 70 a menos que o resultado
apresentado neste trabalho.
Assim, no que se refere à quantidade de apps, o Brasil apresenta uma maior quantidade
de apps agrícolas (621) em comparação ao estudo de Costopoulou, Ntaliani e Karetsos (2016).
No mesmo sentido, Nakasone, Torero e Minten (2014) analisando as iniciativas de projetos
agrícolas voltados à criação de produtos e serviços para dispositivos móveis em países em
desenvolvimento, relatam que por meio da análise de 87 projetos em 2013, 48% deles eram
voltados a preços de mercado, 39% relacionados com extensão agrícola, 22% do ramo
meteorológico, 20% nas áreas de oferta e demanda, 6% em redes sociais e 17% em outras áreas,
sendo que os mesmos poderiam contemplar mais de uma área.

4.3 Análise dos cinquenta AppMAs com maior popularidade

Por meio da análise dos 50 aplicativos mais populares identificados nesta pesquisa, a
área de Pragas e Doenças foi o que apresentou a maior quantidade, representando 20% do total
e contemplando soluções voltadas à identificação de pragas e doenças por meio de foto,
catálogos e indicação de produtos para o combate e/ou controle, indicação de fertilizantes para
deficiências nutricionais identificadas com foto, recomendação de doses de medicamentos

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voltados a animais bem como bulários digitais, modo de ação de defensivos agrícolas e
monitoramento de infestação de pragas.
Já os aplicativos voltados às áreas Financeira, Administrativa e Comercial
representaram 16% do total aplicativos, os quais oferecem serviços voltados a cotações
agrícolas, custos de produção, comercialização de semoventes e maquinários, gestão produtiva
e reprodutiva de rebanhos bovinos, planejamento de safras e gerenciamento de equipes, acesso
a informações do mercado futuro, localizador de feiras orgânicas e preços de commodities
momentaneamente.
No âmbito das Tecnologias e Inovações agrícolas, têm-se 14% dos 50 AppMAs mais
populares sendo estes voltados à identificação de plantas por fotos, navegação de campo,
levantamentos topográficos e de área voltados à agricultura de precisão e coordenação de
processos para amostragem de solos. A área de Notícias e Informações agrícolas apresenta
quatro aplicativos (8%), sendo eles direcionados a conteúdos de revistas já consagradas,
conteúdos e bulas de produtos de empresas multinacionais e tira-dúvidas a respeito da criação
de bovinos de corte. A área de Previsão do Tempo também apresentou quatro aplicativos (8%),
os quais abordam previsões de precipitação, umidade relativa do ar, direção do vento e outros
aspectos da meteorologia com mapas baseados em imagens de satélite.
Na área da Produção Vegetal, foram identificados três aplicativos (6%), os quais
oferecem informações sobre épocas de plantio e colheita para hortaliças e sugestões de manejo
da cultura do milho de acordo com a fase fenológica da cultura. Já os de Máquinas Agrícolas
também somaram três (6%), os quais são voltados a ajustes iniciais para colhedoras e
uniformidade e qualidade de plantio.
A área de Produção Animal contribui com dois aplicativos (4%), tendo estes o objetivo
de comparar os tipos de produtos usados na suplementação alimentar e de consultar as
principais forrageiras tropicais voltadas à alimentação animal. Na área de Educação e Eventos
foi relatado apenas um aplicativo (2%) voltado à consulta de termos utilizados na veterinária.
Por fim, os aplicativos classificados como “Outros” tiveram uma representatividade de
16%, sendo estes voltados a medições de áreas em geral, disponibilidade de valores nutricionais
de alimentos, interpretação de análises de solos, cálculos de calagem, uso de triângulos texturais
de solo, cálculo de volume de madeira e cálculos de semeadura. Os aplicativos voltados a
Pulverização e Atividades relacionadas não foram identificados nos mais populares, o que não
se pode afirmar que não existam aplicativos para esta finalidade.
Dentro da triagem dos cinquenta apps com maior popularidade, dentre as empresas que
ofertam os aplicativos na loja online, 26 delas (52%) são empresas especializadas na criação e
desenvolvimento de aplicativos e digitalização, onze (22%) são instituições governamentais,
como universidades federais e fundações de amparo à pesquisa, oito (16%) são empresas
multinacionais e/ou grandes corporações e cinco (10%) são desenvolvedores individuais.
De modo geral, os resultados deste estudo podem ser utilizados por todos os envolvidos
no agronegócio, como agricultores, profissionais das ciências agrárias, empresários,
instituições de pesquisa, desenvolvedores de aplicativos e empresas agrícolas, de modo que as
alternativas que os aplicativos oferecem sejam reconhecidas e que sua utilização seja maior e
mais difundida. Além de apresentar um panorama geral do mercado dos AppMAs e saber os
desejos e necessidades que eles satisfazem, os resultados aqui apresentados podem servir de
suporte no desenvolvimento de novos aplicativos por meio da identificação de lacunas e
oportunidades de mercado.

5 Conclusões

Os objetivos do trabalho focaram no mercado de aplicativos agrícolas, os quais fazem


parte da recente onda digital na agricultura brasileira, demonstrando que inevitavelmente o

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futuro da agricultura passará por ferramentas digitais. Por outro lado, percebe-se algumas
resistências dos atores envolvidos no setor perante inovações e mudanças.
A quantidade total de aplicativos encontrada (621) passa uma impressão de ser um
número alto e significativo, porém, cabe salientar que existem casos onde a qualidade do
aplicativo deve prevalecer. Para o usuário, o aplicativo somente será significante e
rotineiramente usado quando tiver alguma solução perceptível, ou seja, além de funcionar
corretamente, deve ser uma ferramenta que sacie uma necessidade ou um desejo.
Desta forma, pela influência no ramo agrícola no Brasil, pela quantidade de pessoas
envolvidas e pela quantidade total de aplicativos existentes na plataforma pesquisada, conclui-
se que a quantidade de aplicativos voltados à área agrícola não satisfaz todas as necessidades e
desejos existentes, tendo-se assim uma ampla oportunidade para novos projetos.
Com os resultados da quantidade de aplicativos disponíveis para cada área agronômica
usada neste estudo, pode-se ter uma noção de como está se comportando a oferta dos mesmos,
onde algumas áreas demonstram grandes quantidades e outras pequenas quantidades. Com
essas informações, novos desenvolvedores podem tem uma noção preliminar das oportunidades
de mercado para assim colocar suas ideias em prática, onde, certamente nas áreas com maiores
números de aplicativos já existentes, a tendência é que as oportunidades sejam menores,
diferente das áreas com pouca quantidade. Isso ocorre principalmente pelo fato de que muitas
ideias já foram pensadas por outros desenvolvedores, ocasionando assim um produto ou serviço
não inovador no mercado de AppMAs.
Outras áreas do conhecimento podem vir a realizar trabalhos como esse para assim
desenvolver a literatura e conhecimento acerca do setor. Visando entender a utilização dos
AppMAs pelo seu público alvo, como sugestão de pesquisa, indica-se um estudo focado nas
intenções de uso, analisando assim os principais motivos que levam aos usuários a adotarem
esta tecnologia, contribuindo assim para estratégias de marketing, desenvolvimento e difusão
do setor. Por fim, pesquisas a campo por meio de questionários estruturados aplicados em
prováveis usuários e desenvolvedores podem ser elaboradas para identificar oportunidades para
criação de apps e também para entender o processo de criação dos mesmos.

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Potenciais contribuições do Big Data para a agricultura orgânica
Potential Big Data contributions to organic farming
Fabiano da Silva Ferreira1, Caeverton de Oliveira Camelo2, Leonardo Xavier da Silva3

Resumo
Nos últimos anos, houve um aumento no uso de tecnologia no setor agrícola e na geração de dados relacionados
ao processo de produção, sendo que a capacidade de armazenamento e a análise também evoluíram de maneira
bastante significativa. Então, uma possível aplicação do Big Data na produção orgânica tende a ser relevante,
pois pode aumentar a eficiência do uso dos recursos. Para a realização deste estudo, buscou-se na literatura
internacional, artigos que contemplassem o tema “Big Data”, mais especificamente voltado para a produção
orgânica. Essa potencial aplicação na produção orgânica é explicada pela importância que adquiriu no mercado
de alimentos, justamente porque um dos principais focos é a necessidade de melhorar o acesso dos consumidores
a esse tipo de alimento e o fornecimento de produtos cada vez mais saudáveis. O monitoramento e o controle de
ervas daninhas e de pestes, bem como a obtenção de dados de caracterização das propriedades agrícolas são
algumas das interessantes contribuições que a Big Data pode dar para a produção de alimentos por vias
orgânicas. Conclui-se que as contribuições do Big Data podem estar relacionadas a todos os agentes na cadeia de
suprimentos na produção orgânica, assim como se observa na agricultura convencional, bem como podem ser
direcionadas a um agente específico, como também podem abranger vários agentes juntos.
Palavras-chave: Agronegócios. Internet das coisas. Consumo saudável.

Abstract
In the last years, there has been an increase in the use of technology in the agricultural sector and in the
generation of data related to the production process, storage capacity and analysis have also evolved
significantly. Therefore, a possible application of Big Data in organic production tends to be relevant as it can
increase the efficiency of resource use. In order to carry out this study, we searched in the international
literature articles that included the theme "Big Data", more specifically focused on organic production. This
potential application in organic production is explained by the importance it has acquired in the food market,
precisely because one of the main focuses is the need to improve the access of consumers to this type of food and
the supply of increasingly healthy products. Monitoring and controlling weeds and pests as well as obtaining
farm characterization data are some of Big Data's interesting contributions to organic food production. It can
be concluded that the contributions of Big Data can be related to all the agents in the supply chain on organic
production, as it is observed in conventional agriculture, as well as can be directed to a specific agent, but can
also cover several agents together.
Keywords: Agribusiness; Internet of things. Healthy consumption.

1 Introdução

Verifica-se um aumento no uso de tecnologia no setor agrícola, no qual a aplicação de


procedimentos mais eficientes e precisos tem causado impactos nos ganhos de produtividade
e eficiência econômica nas atividades voltadas à obtenção de produtos vegetais e animais e no
agronegócio em geral. Dentro dessa dinâmica, assim como o rápido avanço das eficiências
técnicas e econômicas, percebe-se que a geração de dados relacionados ao processo produtivo
e a capacidade de armazenamento e análise dessas informações têm evoluído.
Segundo Tien (2013), nos Estados Unidos, grandes programas de pesquisa estão sendo
financiados para lidar com grandes dados em todos os cinco setores da economia, entre eles a
agricultura. Esse processo evolutivo de processamento de dados, conhecido e amplamente
abordado em todo o mundo como Big Data, vem ganhando espaço na agricultura, fazendo
com que esse ramo de atividades contribua mais intensamente para o desenvolvimento
econômico.

1Engenheiro Agrônomo/Doutorando em Agronegócios- UFRGS- fabiano.ferreira@ufrgs.br


2Bacharel em Gestão de Agronegócios/ Doutorando em Agronegócios- UFRGS- caeverton.camelo@ufrgs.br
3Economista/Professor Associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul -

leonardo.xavier@ufrgs.br
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No entanto, percebe-se a aplicação do Big Data no setor agrícola focado apenas nas
atividades produtivas convencionais, ou seja, nos sistemas de produção que utilizam insumos
químicos e/ou a maioria dos derivados de petróleo direta e indiretamente em grandes
indústrias de sementes e pesticidas.
Em sistemas que buscam utilizar insumos mais naturais em seus processos de
produção de alimentos, como a produção orgânica, ainda não há trabalhos na literatura,
deixando parecer que qualquer discussão sobre eles é apresentada como pioneira ou uma das
poucas já envolvidas no processo.
A partir do momento em que a agricultura orgânica se torna um marco dentro do
agronegócio, devido à demanda evidente e que se torna cada vez mais intensa, aumenta a
necessidade de estudos para entendê-la.
Portanto, o presente estudo objetivou discutir brevemente algumas possíveis
aplicabilidades de Big Data na agricultura orgânica, considerando que o uso de Big Data leva
a novas estratégias de marketing para satisfazer os consumidores e aumentar as margens de
lucro (DAVENPORT, 2014).

2 Referencial Teórico

O Big Data refere-se ao conjunto de dados que como seu nome se refere é
ligeiramente grande e, portanto, não pode ser colocado em apenas um servidor e não pode ser
alocado em um banco de dados que utiliza linhas e colunas (DAVENPORT, 2014).
Sonka (2014) enfatiza que não se pode passar por um dia de trabalho sem ver alguma
menção ao Big Data, sua aplicação e seu potencial, com impactos sem precedentes. Para Tien
(2013), Big Data é um termo aplicado a conjuntos de dados cujo tamanho está além da
capacidade das ferramentas disponíveis para realizar sua aquisição, acesso, análise e/ou
aplicação em um período razoável. Entre esse setor econômico, Van Evert et al. (2017)
enfatizam, por exemplo, que a coleta de dados, a modelagem e análise de dados e o
compartilhamento de dados se tornaram os principais desafios no controle de ervas daninhas e
na proteção de cultivos.
Alguns autores, como Chen, Mao e Liu (2014) relatam que o Big Data pode ser
explicado de acordo com quatro V's: Velocidade, Variedade, Valor e Volume. No entanto,
deve-se notar que mais três V's podem ser encontrados que podem ajudar a descrever Big
Data, que são veracidade, variabilidade e visualização (VAN RIJMENAM, 2014). Diante
dessas observações, o Big Data pode ser classificado de cinco maneiras diferentes, de acordo
com as fontes de dados, formato do conteúdo, armazenamento de dados, armazenamento de
dados e dados, que podem ser vistos na figura 1.

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Figura 1 – Classificações sobre Big Data

Fonte: Hashem et al. (2015).

Portanto, a partir da ampla gama de dados provenientes do Big Data, observa-se o


potencial de aplicação destes em diferentes meios de aplicação, bem como em diferentes
contextos, a fim de gerar melhores interpretações para esses dados.

3 Procedimentos Metodológicos

Buscaram-se, na literatura internacional, artigos que contemplassem o tema “Big


Data”, mais especificamente voltados para a produção orgânica.
Em seguida, a partir da verificação das abordagens que foram dadas sobre o uso do
Big Data em casos específicos, foi apresentada uma discussão sobre as formas como o mesmo
poderia ser utilizado na produção de alimentos orgânicos considerando as especificidades.
Uma tabela dividida por descrições rápidas e oportunas do uso do Big Data é
apresentada, acompanhada de seus respectivos autores e de algumas considerações empíricas
de como cada uma dessas descrições se relacionaria com a prática da produção orgânica. Não
foi estabelecido um período de publicação para os estudos que foram obtidos da literatura,
nem um local específico de pesquisa (país ou município). Vale ressaltar que também não foi
realizada análise estatística.
O estudo restringiu-se a uma breve revisão de literatura, de caráter sugestivo, a partir
do que é percebido como algumas considerações feitas sobre o tema Big Data podem ser
relacionadas no contexto da produção de alimentos orgânicos. Vale ressaltar que essa relação,
a princípio, não foi verificada diretamente no mesmo trabalho na extensa pesquisa realizada.

4 Resultados e Discussão

De acordo com o que foi observado na seção anterior, existem várias classificações de
Big Data, de modo que uma enorme gama de seu uso pode ser explorada na demanda por uma
produção orgânica. Por exemplo, A Internet das Coisas (IoT) tem um papel importante na
cadeia de suprimento agrícola, uma vez que ela pode ser usada em todos os elos da cadeia de
suprimentos, como pode ser visto na figura 2.

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Figura 2 – Internet das Coisas na Cadeia de Suprimentos

Fonte: Yan, Wang e Shi (2017)

Assim, como no sistema convencional, os elementos de IoT poderiam ser usados na


produção orgânica para produção segura, monitoramento em tempo real e compartilhamento
de informações entre os participantes do mercado (YAN; WANG; SHI, 2017).
Esses elementos também são importantes para a produção orgânica, uma vez que a
informação segura, o monitoramento e o compartilhamento de informações são
preponderantes para o desenvolvimento desse sistema produtivo.
Já, Verdouw et al. (2016) propõem uma possível virtualização da cadeia de
suprimento de alimentos, por serem produtos perecíveis, que possuem uma variação de oferta
e devem seguir rígidos requisitos de segurança e sustentabilidade. Vale ressaltar que esse
mesmo modelo pode ser aplicado no sistema orgânico de produção, pois apresenta os mesmos
requisitos de produção convencional listados e requer monitoramento e controle intensos em
toda a cadeia de suprimentos.
Conforme destacado nos exemplos anteriores, o Big Data não está diretamente ligado
apenas à produção primária, mas à toda a cadeia de suprimentos (CHEN; MAO; LIU, 2014),
trazendo benefícios para todos os links e para toda a produção orgânica sistema. A Figura 3
abaixo mostra a síntese de possíveis aplicações de Big Data na produção orgânica que são
discutidas posteriormente.

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Figura 3 - Potencial de aplicação do Big Data na produção orgânica em cada elo da cadeia de suprimentos.

Fonte: Os autores (2018).

Quando Van Evert et al. (2017) descrevem que grandes modelos de análise de dados
foram delineados em uma pesquisa que procura, entre outras coisas, identificar as
preocupações de agricultores, proprietários de agronegócios, consumidores e meio ambiente,
pode-se dizer que a mesma metodologia poderia ser usada em sistemas de produção orgânica,
a fim de identificar suas peculiaridades e como as percepções de produtores e consumidores
em relação a uma alimentação saudável poderiam ser melhor compreendidas pela abrangência
das informações coletadas e analisadas.
Outra contribuição interessante que o Big Data poderia contribuir para a produção
orgânica seria realizar o procedimento feito por Frelat et al. (2016), que, com base nos
resultados obtidos em um estudo que previu o estado da disponibilidade de alimentos da
agricultura para as famílias, sugere como uma estratégia melhor para aumentar a segurança
alimentar para melhorar o acesso ao mercado e as oportunidades fora da fazenda. Essa
potencial aplicação na produção orgânica é explicada pela importância que adquiriu no
mercado de alimentos, justamente porque um dos principais focos ser a necessidade de
melhorar o acesso dos consumidores a esse tipo de alimento e o fornecimento de produtos
cada vez mais saudáveis.
Assim, a metodologia realizada na pesquisa de Frelat et al. (2016) permitiria uma
compreensão muito mais detalhada e abrangente do nível de diversidade dos produtores
orgânicos. Atualmente, um sistema que permite o desenvolvimento de muitas informações
sobre a disponibilidade de alimentos orgânicos para as famílias praticamente não pode ser
observado.
Outro relacionamento a ser destacado refere-se a Sonka (2014), onde o possível
impacto do Big Data no setor agrícola provavelmente exigirá inovação organizacional e
tecnológica. Essa observação se enquadra diretamente na produção orgânica, pois já exige
ações do agricultor orgânico relacionadas a diferenciações no próprio empreendimento, em
contextos a partir do uso de insumos diferenciados, não utilização de materiais químicos e
também adaptações tecnológicas voltadas ao mercado. Tecnologia e inovação, como apontam
Ozdemir e Kolker (2016), juntamente com as estratégias, consideradas como agendas
inerentes ao processo de compreensão dos caminhos futuros da ciência da nutrição na atual
era do Big Data.

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Segundo Drewnowski e Specter (2004), as disparidades de saúde nos Estados Unidos
estão ligadas a desigualdades na educação e na renda - por exemplo - em dezenas ou até
centenas de outras conclusões das causas e consequências da má alimentação hoje, de fato,
em vários países como o Brasil.
A adoção de grandes sistemas de coleta e análise de dados (Big Data) pode contribuir
diretamente para o desenvolvimento da produção orgânica, a partir do momento de uma
compreensão mais holística inerente aos fatores relacionados ao consumo desse tipo de
alimento. Por exemplo, como a parte relacionada à obesidade, à qualidade da dieta, à
densidade energética dos alimentos e aos custos energéticos que permitiriam uma
compreensão mais detalhada de outros fatores envolvidos no processo natural de produção de
cada tipo de alimento de natureza orgânica e até de seu possível papel para a redução da
obesidade, a partir de uma densidade de energia e um custo de energia como o fator
sustentabilidade ambiental.
O consumo de produtos orgânicos pode ser orientado por cinco atributos: fator
exógeno, conhecimento e conscientização, fatores relacionados ao produto, variáveis
sociodemográficas e fatores econômicos (YIRIDOE; BONTI-ANKOMAH; MARTIN, 2005).
Nesse sentido, a aplicação do Big Data na produção orgânica estaria voltada para
entregar ao consumidor exatamente o que o consumidor necessitaria, buscando sempre
satisfazer os cinco atributos. Por exemplo, nos fatores exógenos, com um novo nível de
granularidade dos dados, a partir do Big Data, pode-se observar uma rastreabilidade mais
precisa que serviria de base para a certificação e a verificação voluntária (COBLE et al.,
2016). O quadro 1 a seguir resume as possíveis aplicações do Big Data, bem como suas
contribuições.

Quadro 1 – Síntese do uso de Big Data na produção orgânica e suas potenciais contribuições.
Uso de Big Data Fonte da pesquisa Benefícios nos sistemas de produção orgânicos
- Maior conhecimento dos agentes causadores e a
interação destes com os produtos naturais utilizados
Monitoramento e controle contra os mesmos.
Van Evert et al.
de ervas daninhas e de - Servindo como mais um fator de agregação de valor
(2017)
pestes aos produtos comercializados, pois passaria aos
consumidores maior confiança quanto ao processo
produtivo do alimento.
- Possibilitaria um conhecimento significativamente
Para a obtenção de dados de mais amplo dos mais variados sistemas produtivos em
caracterização de todo o mundo, com a possibilidade da realização de
propriedades agrícolas inúmeras análises de correlação, enriquecendo a troca
obtidos de 93 sites em 17 de experiências, análises mais aprofundadas de
países diferentes graus de influências externas (cultura,
tradições, climas, instituições etc.).
Para a elaboração de - Maior conhecimento de seus papéis no contexto da
indicadores de segurança boa alimentação e, consequentemente, maior fonte de
alimentar informação para o marketing.
- Fontes de rastreabilidade mais seguras para os
Frelat et al. (2016)
alimentos ofertados e do grau de impactos ambientais
Para a elaboração de
envolvidos.
Indicadores de uso da terra
- Fontes de informações mais seguras para a elaboração
de políticas agrícolas.
Para entender a relação
- Tornaria o real poder dos alimentos orgânicos para o
entre o ambiente
desenvolvimento socioeconômico das famílias dos
socioeconômico dos
produtores mais claro do ponto de vista de suas
agricultores aos indicadores
influências na segurança alimentar dos consumidores.
acima
Indicador de desempenho Possibilitaria entender melhor as especificidades
doméstico da fazenda relacionadas ao modo de produção orgânica do ponto

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Uso de Big Data Fonte da pesquisa Benefícios nos sistemas de produção orgânicos
de vista da forma como os produtores enxergam o
mercado de alimentos saudáveis e como esse modo de
ver poderia influenciar nas políticas agrícolas voltadas
para o setor.
Virtualização da cadeia de
Verdouw et al. (2016) Melhor monitoramento e controle dos fluxos da cadeia,
suprimentos
trazendo informações mais seguras e confiáveis para a
Uso de elementos IoT na Yan, Wang e Shi
rastreabilidade dos alimentos orgânicos.
cadeia de suprimentos (2017)
Fonte: Os autores (2018).

O diferencial da aplicação do Big Data na produção orgânica em relação à agricultura


convencional se destaca na importância às questões ligadas à preservação ambiental.
O maior conhecimento dos agentes causadores de moléstias a partir do monitoramento
e controle das espécies estaria mais intimamente ligado ao ambiente pela própria utilização de
produtos naturais inerentes à agricultura orgânica e pela busca maior da manutenção do
equilíbrio ecológico in loco. A agregação de valor aos produtos comercializados teria um
maior peso do que nos alimentos não produzidos por vias orgânicas porque uniria o uso da
tecnologia em prol da preservação ambiental de forma mais direta e esse papel
conservacionista seria repassado aos consumidores pela maior confiança quanto ao processo
produtivo do alimento.
A maior possibilidade do desenvolvimento de indicadores cada vez mais pontuais
causaria um domínio maior das especificidades ligadas aos sistemas de produção orgânica
locais, gerando consequencias diretas no processo de tomada de decisão de custos, de formas
mais eficientes de rastreabilidade, do controle do manejo e na utilização mais eficiente de
todos os recursos naturais, como por exemplo, na análise de correlações entre as quantidades
dos diferentes insumos (controle biológico) e a produção propriamente dita.
Diante disso e de várias outras possibilidades de uso, a agricultura orgânica se
beneficiaria de um número de informações que auxiliaria na elaboração de políticas públicas
mais realistas e mais voltadas para os diferentes sistemas produtivos orgânicos.

5 Conclusão

A breve discussão realizada enfoca algumas das muitas possibilidades de usar Big
Data na produção orgânica. O propósito de contribuir apenas com pontuações breves é
apresentado como uma etapa inicial na inserção do tratamento e fluxo de grandes quantidades
de dados neste subsetor da agricultura, ainda sujeito a estudos multivariados substanciais.
Portanto, nota-se que as contribuições do Big Data podem estar relacionadas a todos
os agentes na cadeia de suprimentos, bem como podem ser direcionadas a um agente
específico, mas também podem abranger vários agentes em conjunto.
Até o presente momento na literatura, os estudos do Big Data na agricultura têm se
limitado aos meios convencionais de produção de alimentos, sendo muito importantes do
ponto de vista desenvolvimentista. Mas, isso se torna algo já limitado, quando se considera a
tendência mundial de consumo de alimentos mais saudáveis. Esse comportamento, faz com
que todas as formas de inovação e tecnologia, como o Big Data, tenham grande importância
em satisfazer os desejos dos consumidores na busca de alimentos saudáveis a partir da
produção orgânica.
Assim, o presente estudo foi apenas uma contribuição inicial para a grande discussão
que é necessária para atender às demandas de consumidores que estão cada vez mais
procurando alimentos saudáveis e possuem um grande poder de informação.

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Publicações científicas sobre carne cultivada: onde, quando e por quem?
Scientific Publishing about cultured meat: where, when and by whom?
Alice Munz Fernandes1, Lucas Teixeira Costa2, Ângela Rozane Leal de Souza3, Jean Philippe
Palma Révillion4
Resumo
A agricultura celular tem sido considerada como um mecanismo para minimizar os futuros impactos negativos
advindos do crescimento da população mundial estimado para as próximas décadas. Dentre as alternativas
viabilizadas por essa tecnologia, tem-se o desenvolvimento de carne cultivada em laboratório. Todavia, apesar de
já ser uma realidade em escala experimental, a carne cultivada consiste em uma temática emergente. Diante disso,
a pesquisa realizada teve como objetivo caracterizar as publicações científicas sobre carne cultivada, haja vista
que os resultados das pesquisas tendem a serem divulgados inicialmente em âmbito acadêmico. Para tanto,
realizou-se um estudo bibliométrico nas bases de dados Scopus e Web of Science, a partir de determinados critérios
de inclusão/exclusão. O portfólio obtido foi composto por 110 manuscritos que foram analisados mediante as três
leis básicas da bibliometria. Os resultados obtidos demonstraram a multidisciplinariedade da temática e sua
predominância em periódicos de alto impacto, sendo preponderante o Journal of Integrative Agriculture.
Apontaram ainda que os últimos dois anos respondem por 34,55% do total de publicações já realizadas, o que
demonstra o interesse recente dos cientistas. Quanto aos autores, constatou-se a significativa contribuição de Mark
J. Post, criador do primeiro hambúrguer cultivado do mundo, é responsável por 7,27% das publicações, com um
H-Index de 38. Evidenciou-se também que todas as leis da bibliometria foram confirmadas, independentemente
do caráter paradoxal da temática investigada.
Palavras-chave: carne artificial, carne in vitro, carne sintética.

Abstract
Cellular agriculture has been considered as a mechanism to minimize future negative impacts from the estimated
world population growth for the coming decades. Among the alternatives made possible by this technology, there
is the development of meat grown in the laboratory. However, although it is already an experimental reality, the
cultivated meat consists of a emergent issue. The objective of this research was to characterize the scientific
publications on cultured meat, given that the results of the research tend to be disseminated initially in the
academic field. To do so, a bibliometric survey was carried out in the Scopus and Web of Science databases, based
on certain inclusion / exclusion criteria. The obtained portfolio consisted of 110 manuscripts that were analyzed
through the three basic laws of bibliometry. The results obtained demonstrated the multidisciplinarity of the theme
and its predominance in high impact journals, being predominant the Journal of Integrative Agriculture. They
also pointed out that the last two years account for 34.55% of all publications, which shows the recent interest of
scientists. As for the authors, Mark J. Post, creator of the world’s first cultivated hamburger, made a significant
contribution, he is responsible for 7.27% of the publications, with an H-Index of 38. It was also evidenced all the
laws of the bibliometrics were confirmed, independently of the paradoxical character of the thematic investigated.
Keywords: artificial meat, in vitro meat, synthetic meat.

1 Introdução
Estima-se que a população global em 2050 será composta por 9 bilhões de indivíduos,
contudo as projeções indicam que a produção alimentar não acompanhará esse crescimento,
sendo, portanto, insuficiente (FAO, 2011; BONNY et al., 2017). Nesse sentido, tem-se a
necessidade de desenvolvimento de fontes alternativas de alimentação, especialmente de
proteína, a julgar pela expectativa de uma demanda de fontes proteicas para a população da
ordem de 73% nas próximas três décadas (FAO, 2011).
Diante disso, a carne cultivada configura-se como uma das possíveis fontes de proteínas
do futuro. Seu surgimento deriva da engenharia de tecidos regenerativos, com base na cultura

1Administração/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - alicemunz@gmail.com


2
Administração/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - lucasadmrural@gmail.com
3
Ciências Contábeis/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - angela.leal.souza@gmail.com
4
Agronomia/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - jeanppr@gmail.com

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322
de células precursoras. Logo, seu processo produtivo ocorre totalmente em laboratório,
mediante cultivo in vitro de células-tronco retiradas do interior do músculo do animal vivo
(POST, 2017). Após o lançamento do primeiro hambúrguer produzido com carne cultivada no
mundo (ainda em escala experimental) em agosto de 2013, distintos nomes são comumente
usados para designar essa “nova carne”, tais como, “sintética”, “artificial”, “in vitro”, “carne
de laboratório” ou ainda “carne cultivada” (VERBEKE et al., 2015), sendo esta a nomenclatura
utilizada nesse estudo.
Todavia, essa nova tecnologia é caracterizada por ambiguidades, pois ao mesmo tempo
em que é considerada uma alternativa para alimentação em um futuro próximo, por outro lado
suscita preocupações concernentes a riscos desconhecidos em relação à segurança e inocuidade
alimentar, meio ambiente e aceitação do mercado consumidor, por exemplo. Além disso,
questões éticas e morais emergem, sobretudo, sob o aspecto religioso e a possibilidade de
produção e consumo de carne humana cultivada (MAJIMA, 2014).
Não obstante, Siegrist, Sütterlin e Hartmann (2018) corroboram que a aceitação da carne
cultivada pelo consumidor é condicionada à forma com que esta será explicada e apresentada
ao mercado. Logo, partindo do pressuposto de que as pesquisas, principalmente de natureza
experimental, são primeiramente divulgadas em âmbito acadêmico, esse estudo teve como
objetivo caracterizar as publicações científicas sobre essa temática relativamente recente e
polêmica.

2 Referencial Teórico

A carne cultivada integra o campo científico emergente da agricultura celular, que


mesmo em estágio inicial, busca desenvolver produtos de origem animal com envolvimento
reduzido ou nulo do animal propriamente dito (STEPHENS et al., 2018). Desse modo, “a
tecnologia de carne cultivada atravessa os contexto industrial da biomedicina e agroalimentar”
(STEPHENS; KING; LYALL, 2018, p. 368, tradução nossa).
Nesse sentido, a engenharia de tecidos e gorduras comestíveis é objeto de pelo menos
duas patentes emitidas nos Estados Unidos (VEIN, 2004; VAN EELEN, 2007) e de outras duas
patentes de aplicações adicionais (CHALLAKERE, 2009; FORGACS; MARGA; JAKAB,
2013), o que indica que a produção em escala comercial está sendo projetada (MATTICK;
LANDIS; ALLEMBY, 2015). Contudo, obstáculos técnicos, como elevado custo de produção
por exemplo, precisam ser superados para a viabilização de produção e comercialização em
quantidade significativa (HOCQUETE, 2016).
Os argumentos que fomentam e justificam a produção de carne cultivada pautam-se em
aspectos relacionados à segurança alimentar à médio e longo prazo, bem-estar animal e
preservação ambiental. Além disso, alguns possíveis benefícios não são unânimes na
comunidade científica, de modo que o seu consumo dependerá do conflito de valores em nível
individual e coletivo (HOCQUETE, 2016).
No tocante aos entraves técnicos, apesar de ser possível produzir hambúrgueres com
carne totalmente cultivada, a composição exata de proteína nesse produto ainda é desconhecida,
embora mediante observações morfológicas, estime-se que as proteínas do citoesqueleto estão
na mesma faixa que a da carne bovina convencional. Isto posto, após a verificação de todas as
propriedades da carne cultivada e o enfrentamento das barreiras legais, intenta-se introduzi-la
no mercado com quantidade e preço razoável (POST, 2017).
Para Verbeke et al. (2015), a produção de carne cultivada causará consequências sociais
adversas no que compete a minimização das atividades agropecuárias, perda dos meios rurais
de subsistência e ainda a extinção de tradições sociais. Os autores promovem reflexões céticas
sobre o “inevitável progresso”, bem como enfatizam a falta de estabilidade do conhecimento
científico em relação a essa tecnologia agroalimentar.
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Indo mais além, Hamdan et al. (2017) corroboram que a carne cultivada fomenta
discussões éticas, filosóficas e religiosas. Os autores questionam sobre o novo produto a partir
de uma perspectiva islâmica, cujos princípios permitem somente o consumo de carne advinda
de abate halal. Destarte, concluem que esse produto apenas será aceito se as células precursoras
forem originárias de um animal abatido com tal sistema e se a carne não for resultante do
contato com o soro (considerado impuro). Em primeiro momento, esta situação denota
incoerência, haja vista que o animal precisaria ser abatido para possibilitar o cultivo da carne,
contudo, como existe a possibilidade de retirar todas as suas células-tronco, igualmente o
número de abates seria reduzido (HAMDAN; RAMLI, 2016).
Em contrapartida, Bonny et al. (2017) apontam que o futuro da indústria de carne
convencional está condicionada a adoção de novas tecnologias e sistemas agrícolas, a julgar
pela polemização a qual está envolta. Outro aspecto relevante corresponde as crescentes
mudanças do mercado e a maximização das exigências dos consumidores. Para os autores, o
desenvolvimento e implantação de estratégias inovadoras na indústria de carne é fundamental
para que esta mantenha-se competitiva frente a carne cultivada.

3 Procedimentos Metodológicos
A pesquisa realizada caracteriza-se como quantitativa no que concerne sua abordagem,
com finalidade exploratória-descritiva. Como procedimento técnico empregou-se a
bibliometria ou análise bibliométrica que possibilita examinar as características e o
estabelecimento de padrões sobre determinado campo de estudo (GENG, 2017), ou seja,
corresponde ao “estudo dos aspectos quantitativos da produção, disseminação e uso da
informação registrada” (MACIAS-CHAPULA, 1998, p. 134). Para Huai e Chais (2016), trata-
se de um ramo da ciência da informação associado à estatística, que adquiriu maior visibilidade
mediante a intensificação do volume de produção científica.
No entanto, com o passar do tempo, a ocorrência desse tipo de estudo revelou a
existência de modelos de comportamento da comunicação escrita que estabeleceram padrões
de análises, conhecidos como Leis da Bibliometria. Portanto, esse método é regido por três leis
básicas, quais sejam: Lei de Lotka, Lei de Bradford e Lei de Zipf (HOOD; WILSON, 2001;
MACHADO JÚNIOR et al., 2016). A primeira, também conhecida como Lei do Quadrado
Inverso, postula que um número restrito de indivíduos possui uma quantidade elevada de
produção científica em uma área específica do conhecimento, ao passo que um número elevado
de pesquisadores apresentam pouca contribuição (CHUNG; COX, 1990). Nesse sentido,
Rousseau e Rousseau (2000) corroboram que a Lei de Lotka concebe uma escala exponencial
inversa entre o número de publicações científicas por autor.
Por sua vez, a Lei de Bradford ou Lei da Dispersão, circunscreve que periódicos que
apresentam o maior número de publicações acerca de determinado assunto tendem a estabelecer
um núcleo de qualidade e relevância supostamente maior nessa área do conhecimento
(MACHADO JÚNIOR et al., 2016). Por fim, a Lei de Zipf ou Lei do Mínimo Esforço,
corresponde a frequência de surgimento ou incidência de palavras no texto, de modo a
possibilitar a identificação de termos relevantes no que compete a determinada temática
(ADAMIC; HUBERMAN, 2002).
Diante disso, como o assunto ou temática desse estudo não possui um único termo
consolidado que o defina (VERBEKE et al., 2015), determinou-se como orientação de busca a
existência no título, resumo e/ou palavras-chaves, de um dos seguintes termos: “artificial
meat”, “synthetic meat”, “laboratory meat”, “cultured meat”, “in vitro meat” e “cultured beef”.
A fim de assegurar a qualidade dos manuscritos, estabeleceu-se que estes deveriam estar
publicados na base de dados Scopus ou Web of Science, até a data de 05 de julho de 2018.
Definiu-se ainda, como critério de busca, que o tipo de documento não seria nota, pois devido

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a sua estrutura, esta apresenta as informações de forma exageradamente sucinta.
Isto posto, após a realização das seis rodadas de busca em ambas as bases de dados,
procedeu-se a exclusão dos manuscritos repetidos. Desse modo, a triagem inicial resultou em
159 documentos. Porém, reconhecendo as múltiplas utilizações e interpretações dos termos que
nortearam a busca, para garantir que o portfólio analisado seria composto exclusivamente por
documentos que abordassem a temática da carne cultivada da forma com que este estudo
propõem, ou seja, obtida mediante cultivo in vitro de células retiradas do animal vivo, realizou-
se a leitura dinâmica dos registros.
A partir dessa etapa, aqueles que referiam-se à proteína vegetal ou produtos embutidos,
sub processamento de carne, análises laboratoriais e experimentos com carne convencional,
entre outras formas de utilização dos termos empregados que não possuem aderência com a
proposta desse estudo, foram excluídos. Portanto, o portfólio analisado foi composto por 109
documentos válidos.
Para análise dos dados considerou-se um conjunto de elementos caracterizadores das
publicações científicas, tais como, ano, periódico, autores, afiliação, entre outros. Os resultados
obtidos foram analisados por meio de estatística univariada (frequência absoluta e relativa) e
confrontados com o que é postulado pelas Leis da Bibliometria, a fim de identificar padrões e
traçar possíveis vieses para a referida temática, em âmbito acadêmico. No tocante a organização
dos dados, foram empregadas planilhas eletrônicas e representações gráficas.

4 Resultados e Discussão
A partir do portfólio obtido, verifica-se que a primeira publicação sobre carne cultivada
ocorreu em 2008, cujo escopo central consistia em reflexões acerca da possibilidade da
tecnologia salvar animais e satisfazer comedores de carne, simultaneamente. No entanto,
observa-se uma linha de tendência positiva fortemente acentuada no que concerne à distribuição
temporal de publicações sobre essa temática, conforme demonstra a Figura 1.

Figura 1 – Distribuição temporal das publicações

22

19

16
Publicações

13

10

1
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Anos

Fonte: resultados da pesquisa.

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Constata-se que desde 2013 o número de publicações maximizou-se consideravelmente,
correspondendo a cerca de 87,16% do total. Isso pode ser justificado porque em agosto desse
mesmo ano, o primeiro hambúrguer produzido com carne cultivada foi preparado e degustado
em um programa de televisão, “encenado como um evento de mídia científica híbrida em algum
lugar entre comunicado de imprensa, experimento e show de culinária” (O’RIORDAN;
FOTOPOULOU; STEPHENS, 2017, p. 149, tradução nossa).
O responsável pela criação desse produto é o Dr. Mark J. Post, da Maastricht University,
na Holanda, que através de técnicas e princípios da engenharia de tecidos musculares, cultivou
in vitro células-tronco retiradas do músculo esquelético do bovino vivo até formaram-se
filamentos comestíveis (MATTICK; LANDIS; ALLEMBY, 2015). De acordo com Post
(2014), a geração de músculos bioartificiais com base em células satélites é estudada há mais
de 15 anos, mas nunca tinha sido utilizada para a geração de carne.
Observa-se um crescimento exponencial no interesse dos pesquisadores sobre essa
temática, abordando-a de distintas formas em praticamente todas as áreas do conhecimento.
Esse fenômeno pode ser verificado mediante análise dos locais nos quais estes documentos
estão publicados, totalizando 71 periódicos distintos. Apesar de 78,87% destes contribuírem
com somente uma publicação, apenas 4,55% do total de periódicos possuem Journal Citation
Reports (JCR) vigente inferior a 1,00.
Deste modo, enfatiza-se a importância relativa das revistas científicas onde a temática
estudada está sendo publicada (GARFIELD, 2006), inferindo-se que tratam-se de
conhecimentos considerados de significativo impacto para a ciência, ou seja, estão disponíveis
em periódicos com elevado índice de citação (PODSAKOFF et al., 2005). Destaca-se ainda que
4 revistas contribuem com 29,36% do total de publicações, o que vai ao encontro do postulado
pela Lei de Bradford, sendo, portanto, consideradas como dotadas de um núcleo de qualidade
e importância superior no que tange a carne cultivada (MACHADO JÚNIOR et al., 2016). O
Quadro 1 sintetiza a descrição sobre os principais periódicos.

Quadro 1 – Descrição dos principais periódicos


Periódico Editor-Chefe Publicações JCR Temática Central
Genética e melhoramento de plantas,
H. J. Tang
Journal of fisiologia, bioquímica, ciência
(Chinese Academy of
Integrative 11 1,042 veterinária, ecologia, bioenergia,
Agricultural Sciences)
Agriculture ciência dos alimentos e economia e
gestão agrícola
Questões éticas sobre as
Journal of responsabilidades dos produtores
Agricultural and J. Burkhard agrícolas, mudanças tecnológicas,
Environmental (Institute of Food and 9 1,240 modificação agrícolas dos
Ethics Agricultural Sciences) ecossistemas, bem-estar animal,
biotecnologia, disponibilidade e
acessibilidade dos alimentos
D. L. Hopkins Todos os fatores que influenciam
Meat Science (Centre for Red Meat 2.821 as propriedades da carne de
7
and Sheep mamíferos e, em casos excepcionais,
Development) de carne de aves
Influência no apetite de fatores
psicológicos, sociais, sensoriais e
S. Higgs culturais, neurociência cognitiva e
Appetite 3.174
(University of 5 comportamental, do apetite,
Birmingham) atitudes alimentares e comportamento
do consumidor em relação à
alimentação
Fonte: resultados da pesquisa.

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No tocante aos termos dotados de maior recorrência nas publicações, constata-se que
além daqueles utilizados como orientações de busca, outros elementos de distintas áreas do
conhecimento também emergiram. Aponta-se ainda que, mesmo que em primeiro momento as
palavras destacadas pareçam contraditórias e paradigmáticas, como por exemplo “cell”,
“ethics” e “culture”, essa multidisciplinariedade da temática estudada configura-se como um
relevante contributo para a ciência. Deste modo, a Figura 2 apresenta a nuvem de palavras, que
ilustra a análise lexical do título dos documentos que compuseram o portfólio analisado.

Figura 2 – Nuvem de palavras

Fonte: resultados da pesquisa.

Sob a perspectiva da Lei de Zipf, é possível afirmar que o tamanho de cada termo é
proporcional a frequência com que este incide nos manuscritos analisados. Portanto, quanto
maior este apresenta-se, tanto maior é sua relevância na área estudada (ADAMIC;
HUBERMAN, 2002). Entretanto, como a análise isolada dos termos não é suficiente para
identificar a forma com que as publicações científicas abordam a temática da carne cultivada,
procedeu-se a verificação da associação entre aas palavras-chaves, haja vista que estas
configuram-se como o modelo popular de pesquisa (BAO et al., 2009). A Figura 3 ilustra as
associações entre os termos.

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Figura 3 – Gráfico de redes entre as palavras-chaves predominantes

Fonte: resultados da pesquisa.

Quanto aos autores que publicam sobre carne cultivada, verificou-se que o portfólio
analisado, em sua totalidade, possui a contribuição de 204 cientistas de distintos níveis e
afiliações. Todavia, confirmando o disposto na Lei de Lotka, constatou-se que 81,37% dos
indivíduos possuem somente uma publicação, ao passo que 3,43% dos pesquisadores
respondem por 36,38% dos manuscritos. Portanto, mediante esse quadrado inverso, pode-se
identificar que o conjunto restrito de pesquisadores preponderantes caracterizam-se como
aqueles que detém especialidade na referida temática (CHUNG; COX, 1990).

Quadro 2 – Descrição dos autores predominantes


Publicações Publicações H–
Autor Afiliação Citações
Carne Cultivada Totais Index
Mark J. Post Maastricht University, Holanda 8 261 5.687 38
Carolyn S.
Arizona State University, EUA 6 8 29 3
Mattick
Jean-François National Institute of Agricultural
6 208 4.815 36
Hocquette Research, França
Braden R.
Arizona State University, EUA 5 35 243 10
Allenby
Sher-e-Kashmir University of
Hina Fayaz
Agricultural Sciences and 5 15 133 8
Bhat
Technology of Kashmir, Índia
Brunel University London,
Neil Stephens 5 25 215 8
Reino Unido
Sher-e-Kashmir University of
Zuhaib Fayaz
Agricultural Sciences and 5 34 264 34
Bhat
Technology of Jammu, Índia
Fonte: resultados da pesquisa.

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Observa-se que o farmacologista Mark Post consiste no autor responsável pelo maior
número de publicações sobre carne sintética, o que é justificado pela sua relevância como
criador do primeiro hambúrguer sintético do mundo. Este também apresenta o maior H-Index,
o que denota o impacto cumulativo e a relevância de suas publicações científicas (HIRSCH,
2005). Apesar de sua linha de pesquisa ser predominantemente técnica, relacionada à fisiologia
vascular e engenharia de tecidos, além de manuscritos sobre a viabilidade da produção de carne
in vitro, o autor contribui também com reflexões acerca dos impactos socioambientais da carne
cultivada.
Em contrapartida, Carolyn Mattick e seu professor Braden Allenby, ambos da área
de Engenharia Ambiental e Meio Ambiente da Arizona State University, remetem suas
contribuições, sobretudo, acerca das implicações da carne cultivada enquanto tecnologia
emergente. Por sua vez, o engenheiro agrônomo Jean-François Hocquette que atua na área de
crescimento e metabolismo animal, possui interesse de pesquisa em biologia muscular enquanto
contributo para a qualidade da carne bovina. Logo, suas publicações sobre a temática referem-
se as implicações da carne cultivada para o futuro da indústria da carne.
Não obstante, Neil Stephens atua na área de sociologia da biomedicina, sendo a carne
cultivada um dos elementos integrantes do seu projeto Big Tissue and Society (financiado pelo
Wellcome Trust). Por fim, os autores indianos Hina Fayaz Bhat e Zuhaib Fayaz Bhat
desenvolvem seus trabalhos na área de ciências veterinárias e microbiologia, com interesse em
biologia do câncer e molecular, bem como na proteômica das fibras animais e sua adição de
valor.

5 Conclusão

Apesar de ser um tema relativamente novo, a carne sintética tem despertado o interesse
dos pesquisadores nos últimos anos. Sua natureza multidisciplinar contribui e recebe
contribuições de diferentes áreas do conhecimento, de modo que emergem distintos construtos
teóricos que se complementam. Entre estes, destacam-se aspectos concernentes a biologia
celular, elementos culturais, reflexões éticas e potencialidades para o futuro.
Ademais, a caracterização das publicações sobre carne cultivada é relevante para
compreender o viés da ciência no que tange essa temática relativamente recente, e,
principalmente, para identificar seus “pesquisadores-chave”, considerados como especialistas
na área. Constata-se ainda que apesar das peculiaridades, as Leis da Bibliometria foram
confirmadas.
Isto posto, reconhecem-se as limitações do estudo quanto ao não aprofundamento da
análise das abordagens empregadas nas publicações científicas. Entretanto, a revisão
sistemática da literatura do portfólio de documentos utilizado, configura-se como uma sugestão
para pesquisas futuras. Além disso, a realização de análise de conteúdo de literatura não-
científica também seria interessante para entender e avaliar as informações não acadêmicas que
estão sendo disponibilizadas para os consumidores em potencial de carne sintética. Deste modo,
seria uma forma de circunscrever estratégias, bem como desenvolver políticas públicas e
regulamentação para o mercado de carne do futuro.

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Segurança alimentar, agricultura inteligente e sustentabilidade: o estado da
arte no campo científico
Food security, smart agriculture and sustainability: the state of the art in
the scientific field
Caroline Conteratto1, Elen Presotto2, Gabrielli do Carmo Martinelli3, Patrícia Batistella4

Resumo
As questões da oferta de alimentos, agricultura e sustentabilidade são pautas emergentes na ciência a nível mundial.
O presente estudo buscou analisar a produção científica por meio de um levantamento de dados que ocorreu a
partir da pesquisa nas bases de dados Web of Science e Scopus, as quais permitiram uma busca textual utilizando-
se os termos: Tópico: (food security) AND Tópico: (smart farming) AND Tópico: (sust*). Foram selecionados 28
artigos que possibilitam analisar a literatura sobre a temática da segurança alimentar assim como as contribuições
da agricultura inteligente e da sustentabilidade. A partir da seleção dos artigos buscou-se fazer uma análise de
forma quantitativa oferecida pelos referidos documentos. Os estudos de maneira geral mostraram-se preocupados
com os impactos ambientais, ou seja, a degradação do meio ambiente, por meio do aumento das emissões de gases
de efeito estufa, das mudanças climáticas, da degradação dos recursos hidrográficos e do solo. Sobretudo, estes
estudos procuraram estabelecer estratégias para mitigar estes impactos, de forma a contribuir com a redução destas
consequências ambientais e proporcionando uma melhoria da oferta alimentar, da agricultura inteligente do
desenvolvimento de práticas e sistemas sustentáveis.

Palavras-chave: perspectivas futuras, resiliência, impactos ambientais.

Abstract
Issues of food supply, agriculture and sustainability are emerging issues in science at the global level. The present
study sought to analyze the scientific production by means of a survey of data that occurred from the research in
the databases of Web of Science and Scopus, which allowed a textual search using the terms: Topic: (food security)
AND Topic: (smart farming) AND Topic: (sust *). A total of 28 articles were selected to analyze the literature on
food security as well as the contributions of intelligent agriculture and sustainability. From the selection of the
articles we tried to make a quantitative analysis offered by the mentioned documents. Studies have generally been
concerned about environmental impacts, ie environmental degradation, through increased greenhouse gas
emissions, climate change, degradation of hydrographic resources and soil. Above all, these studies seek to
establish strategies to mitigate these impacts, in ordr to contribute to the reduction of these environmental
consequences and to provide an improvement in the food supply, from the intelligent agriculture to the
development of sustainable practices and systems.

Key-words: future prospects, resilience, environmental impact.

1 Introdução
Os debates em torno da segurança alimentar, a nível internacional, ganharam força nos
últimos anos, sobretudo pela sua associação com a temática do combate à fome, assim como a
pertinência voltada a garantia alimentar para todos. A responsabilidade do agronegócio com as
demandas de segurança alimentar vem sendo uma área de estudos que promove muitos debates
e pesquisas.
Para a FAO (2018), a busca pela segurança alimentar possibilita o desenvolvimento
agrícola, reforçando a importância da agricultura e a produção de mais alimentos a longo prazo,

1Economista, Mestranda no Programa de Pós Graduação em Agronegócios – Universidade Federal


do Rio Grande do Sul. E-mail: carolineconteratto@hotmail.com
2Economista, Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Agronegócios – Universidade Federal

do Rio Grande do Sul. E-mail: elenpresotto@yahoo.com.br


3Contadora, Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Agronegócios – Universidade Federal

do Rio Grande do Sul. E-mail: gabrielli_martinelli@hotmail.com


4Economista, Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Agronegócios – Universidade Federal do

Rio Grande do Sul. E-mail: patriciabatistella@rocketmail.com


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através do desenvolvimento sustentável, preservação dos recursos naturais e conservação da
biodiversidade, gerando dessa forma, novas contingências para o desenvolvimento dos países.
A expectativa de desequilíbrio futuro quanto a oferta e a demanda por alimentos em
consonância com o crescimento populacional geram inquietação diante do contexto alimentar
e energética mundial. Destarte a isto, o aumento da urbanização, as mudanças climáticas e a
degradação do solo desafiam a sociedade a ascender, diante da limitação nos rendimentos
agrícolas, sendo consequência da exploração demasiada de recursos (TANSEY, 2017).
Para Maluf (2001) a segurança alimentar compreende a garantia de alimentos a toda a
população, onde todos tenham acesso as condições alimentares básicas de qualidade e
quantidade de forma permanente sem comprometer as demais necessidades básicas, por meio
de uma alimentação saudável e digna contribuindo para o desenvolvimento humano.
Até 2035, a população mundial deve crescer 17%, atingindo quase 9 bilhões de pessoas,
acompanhado pelo crescimento da renda e da urbanização nos países em desenvolvimento.
Devido à crescente demanda, como consequência a produção global de alimentos deve crescer
mais de 20% até 2035. Pela maior disponibilidade de áreas agricultáveis, o Brasil deverá ser
responsável por boa parte do crescimento da oferta futura de alimentos (BNDES, 2018).
A maior exigência de qualidade e sustentabilidade exigem cada vez mais a
incorporação de processos produtivos que reduzem o uso de insumos e recursos naturais, bem
como minimizam emissões de gases de efeito estufa ou seja agricultura de baixo carbono.
Permitindo desta forma a tendência de evolução de requisitos de qualidade e sustentabilidade
ambiental dos produtos agroindustriais no Brasil e no mundo (FAO, 2018; BNDES, 2018).
Diante do exposto, o presente estudo buscou analisar a produção científica por meio de
um levantamento de dados nas bases de dados internacionais, afim de verificar a repercussão
literária sobre a temática.

2 Referencial Teórico
O tema da segurança alimentar originou no século XVIII, quando economista e
demógrafo Thomas Robert Malthus (1798) abordou a preocupação com crescimento
demográfico e a oferta dos meios de subsistência, que segundo sua teoria quando o crescimento
demográfico ultrapassaria os meios de subsistência ocorreria a miséria e a fome.
Com o decorrer dos anos, conforme Valente (2002) e Belik (2003), o conceito de
segurança alimentar foi associado a segurança nacional por consequência das guerras a nível
mundial. Como ressaltam, a Europa após a Segunda Guerra Mundial além da preocupação com
a manutenção da paz se deparou com uma grande crise alimentar.
A Segurança alimentar também entendida e definida como segurança alimentar e
nutricional (SAN), está associada a oferta e demanda de alimentos e além de seus aspectos
condicionantes como o uso dos recursos naturais de forma sustentável, o uso de tecnologias e
o apoio governamental (MONTEIRO, 2004).
A segurança alimentar, por sua vez, promove uma condição onde “todas as pessoas, em
todos os momentos, tenham acesso físico, social e econômico a alimentos suficientes, seguros
e nutritivos que satisfaçam suas necessidades alimentares e preferências alimentares por uma
vida ativa e saudável” (FAO, 2016).
Conforme os postulados de Lal (2008), as principais questões globais do século XXI,
impactam de forma drástica nos processos planetários e nas funções ecossistêmicas, ocorridas
em função do estilo de vida cada vez mais afluente e do crescimento da população humana.
Dentre as questões apontadas pelo autor, elencam-se a insegurança nutricional e alimentar, a
degradação do solo, a escassez de recursos hídricos, mudanças climáticas eutrofização, extinção
de espécies e o desmatamento.
Conforme Sá et al. (2017) o avanço da segurança alimentar tem como uma alternativa
a melhoria das práticas de manejo agrícola, em que de forma sistêmica pode contribuir com a
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redução das emissões de gases de efeito estufa, aumentando a capacidade produtiva por meio
de técnicas sustentáveis, considerando as necessidades do crescimento populacional. Ainda
destacam que ações como sistemas agrícolas de manejo integrado podem resultar
sinergicamente, tornando a agricultura um importante setor que contribua para soluções como
as mudanças climáticas e a segurança alimentar.
Brouziyne et al. (2018) trataram em seu estudo sobre estratégias e adaptação para uma
agricultura inteligente, conduzindo uma avaliação da vulnerabilidade dos recursos hídricos
mediante o desempenho de culturas de sequeiro (trigo e girassol). O local de estudo foi na bacia
hidrográfica de R’dom, que através das simulações utilizadas neste estudo mostrou uma
tendência de até 2050 reduzir a quantidade de água em 44,7%, fazendo-se necessárias
estratégias de cultivo de plantio direto, semeadura precoce dentre outras processos de manejo.
Lopez-Ridaura et al. (2018) enfatizam que um dos grandes desafios para a segurança
alimentar é o desenvolvimento agrícola mediante a uma intensificação sustentável. Estudaram
o status de segurança alimentar e atividades de subsistência de 269 famílias de agricultores
familiares em Bihar, na Índia, mostrando a importância do planejamento prévio para iniciativas
de desenvolvimento destinadas a segurança alimentar.
O planejamento e a antecipação quanto as demandas ambientais foram estudadas por
Nadal et al. (2017), os quais elucidam a importância do planejamento urbano e agrícola,
avaliando o potencial de efeito estufa em telhados de áreas não residenciais usando sensores
aerotransportados em Rubí/Barcelona, permitindo uma rápida identificação de superfícies
ótimas para a futura implementação da agricultura urbana na habitação, que propicia novos
caminhos para o uso de tecnologia aerotransportada em tópicos ambientais nas cidades.
Nesta perspectiva Kunh et al. (2016) elaboraram um estudo sobre lavoura de
conservação como uma estratégia agrícola inteligente relacionada com a redução dos gases de
efeito estufa e redução da degradação do solo e das mudanças climáticas. De modo a destacar
os benefícios da lavoura de conservação e seu princípio fundamental de plantio direto.
As restrições socioeconômicas e biofísicas são descritas por Nyamadzawo et al.
(2015), os quais abordam que estas restrições estão estreitamente relacionadas ao declínio da
produção agropecuária com base na degradação do solo e dos demais recursos naturais.
Ressaltam a importância de se adotar fontes de energia alternativas como a energia solar e o
biogás como estratégias de adaptação sustentável reduzindo a degradação dos recursos naturais.
Fiore, Monasterolo e Conto (2015) reiteraram sobre o poder informativo de dados
para políticas alimentares sustentáveis, investigando a sustentabilidade agroambiental e a
melhoria de estatísticas para a compreensão da economia da equidade e do equilíbrio,
considerando a potencial contribuição da agricultura inteligente na construção de resiliência
quanto as mudanças climáticas e na otimização de fontes de dados para a melhor compreensão
das questões de segurança alimentar.
Schroeder et al. (2018) falam sobre a mobilização das terras marginais para a
intensificação da produção e transformação de biomassa em energia, devido ao aumento
populacional e a crescente demanda por alimentos realçando ainda o desafio de reverter a
degradação do solo e as práticas não sustentáveis.
Reiteram Steward et al. (2018) que a capacidade adaptativa dos sistemas de conservação
na agricultura são baseados no estresse ocasionado pelas incertezas climáticas, de modo que
África subsaariana a agricultura de conservação é promovida como uma prática sustentável em
favor as adaptações climáticas.
Makate et al. (2017) destacaram que as precipitações climáticas representam uma
ameaça aos meio de subsistência e acreditam que as tecnologias da produção agrícola
inteligente podem oferecer uma adaptação a estas questões. Sugerem a expansão sistemática
destas tecnologias para melhorar os rendimentos e o consumo de produtos agrícolas.

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A biotecnologia tem o papel de garantir a segurança alimentar como ressaltam Abah,
Ishaq e Wada (2009), de modo a atender as necessidades da população atual sem interferir ou
ainda prejudicar as demandas das gerações futuras utilizando e técnicas agroalimentares
inteligentes.

3 Procedimentos Metodológicos
O presente estudo buscou entender a produção científica por meio de um levantamento
de dados secundários publicados em duas bases de dados internacionais.
Os dados obtidos e tratados nesta pesquisa utilizaram-se de procedimentos
bibliométicos. O critério de seleção quanto as bases de dados se pautou na relevância e
qualidade dos periódicos. Para tanto, esta análise se desenvolveu em diversas etapas conforme
ilustrado na figura 1.

Figura 1- Cronograma das etapas da análise bibliométrica

Formulação do objetivo de pesquisa

Busca dos documentos

Seleção da literatura

Delimitação da literatura

Avaliação da literatura

Análise dos resultados

Fonte: Elaborada pelas autoras.

a) Formulação do objetivo de pesquisa: analisar bibliomeotricamente a literatura sobre


segurança alimentar bem como as contribuições da agricultura inteligente e da sustentabilidade
presente nesta questão emergente. Pois se trata de um tema relevante e atual, vem ganhando
espaço cada vez mais nas discussões mundiais referente a garantia de alimentos, tanto no
presente, quanto no futuro.
b) Busca dos documentos: ocorreu a partir da pesquisa nas bases de dados Web of
Science e Scopus, as quais permitiram uma busca textual utilizando-se os termos: Tópico: (food
security) AND Tópico: (smart farming) AND Tópico: (sust*).
c) Seleção da literatura: a busca resultou em 35 publicações na base de dados Scopus 12
e 23 publicações na base de dados Web of Science, de modo que totalizaram 35 artigos
publicados com os termos utilizados no dia 03 de julho de 2018, os quais abordam sobre
segurança alimentar e seus diversos aspectos.
d) Delimitação da literatura: delimitou-se a pesquisa de artigos que resultaram em 35
documentos encontrados, cujo 7 artigos encontravam-se em as ambas as bases de dados e
mediante uma breve análise destes documentos encontrados restaram 28 artigos.
e) Avaliação da literatura: foi realizada a leitura dos títulos, resumos e das palavras-
chave dos 28 artigos, cujo estes apresentaram-se aspectos condizentes com o objetivo deste

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estudo, ou seja, possibilitam analisar a literatura sobre a temática da segurança alimentar, assim
como, as contribuições da agricultura inteligente e da sustentabilidade.
f) Análise dos resultados: a partir da seleção dos artigos buscou-se fazer uma análise de
forma quantitativa da evolução das publicações, revistas em que foram publicados, análise do
qualis das revistas a nível interdisciplinar, demais áreas de estudos, continente onde foram
aplicados os estudos, palavras-chave mais citadas, os cinco artigos mais citados e
posteriormente uma análise qualitativa da literatura oferecida pelos referidos documentos.
A metodologia aplicada a este estudo buscou contemplar os objetivos propostos através
de um caminho na qual se utilizará de uma pesquisa de natureza exploratória, que objetiva
explorar a configuração da produção cientifica das temáticas em questão a nível mundial, de
modo que este estudo terá uma abordagem qualitativa-quantitativa.
Este trabalho terá um abordagem que envolve dois paradigmas o qualitativo e o
quantitativo, os quais Silveira e Córdova (2009, p. 34) tratam que “[...] tanto a pesquisa
quantitativa quanto a pesquisa qualitativa apresentam diferenças com pontos fracos e fortes.
Contudo, os elementos fortes de um complementam as fraquezas do outro, fundamentais ao
maior desenvolvimento da Ciência.”
A escolha deste estudo baseou-se na importância socioeconômica que o agricultura
possui com as questões globais emergentes do contexto da segurança alimentar, de agricultura
inteligente quanto a questão da sustentabilidade. A escolha das palavras-chave remeteu-se ao
interesse sobre as abordagens da segurança alimentar procurando entender o que está sendo
publicando quanto a esta questão a nível mundial.

4 Resultados e Discussão
Através da análise dos 28 artigos nas bases de dados, notou-se que as publicações sobre
o tema da segurança alimentar aliado a agricultura inteligente e a sustentabilidade são
relativamente recentes. As publicações tiveram início a partir do ano de 2009, em que neste ano
foi publicado apenas um artigo, posterior a isto, a temática teve uma evolução maior a partir de
2015 como ilustrado na figura 2.

Figura 2- Evolução das publicações nas bases de dados Scopus e Web of Science

14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
2009 2011 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Fonte: Dados da pesquisa.

Ao analisar as revistas em que foram publicados os artigos desta pesquisa, observou-se


que os 28 artigos foram publicados em 22 periódicos diversos. Destaca-se que a revista que
mais publicou sobre a temática foi a Agricultural Systems com quatro publicações. Em seguida
observa-se que os demais artigos foram distribuídos pelas outras 21 revistas. O maior fator de
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impacto pertence a revista Science of the Total Environment o qual indica que esta é a revista
que mais publica artigos de maneira geral das cinco elencadas na tabela 1.

Tabela 1- Cinco revistas que mais publicaram sobre as temáticas pesquisadas


Revista N° de publicações Fator de impacto
Agricultural Systems 04 3.004
International Journal of
Agricultural Sustainability 02 -
Agriculture, Ecosystems and
Environment 02 3.541
Science of the Total
Environment 02 4.610
Climatic Change 02 3.537
Fonte: Dados da pesquisa.

Ao avaliar o qualis na área interdisciplinar, pode-se constatar que a maioria estão


classificados com qualis A1, sendo seis em qualis A2, dois artigos em qualis B2, um artigo em
qualis B3, três artigos em outras áreas de pesquisa e sete não foi possível identificar (Tabela 2).
Tabela 2- Classificação dos periódicos em que os artigos foram publicados na área interdisciplinar
Classificação de qualis N° de publicações
A1 09
A2 06
B1 0
B2 02
B3 01
Outras áreas 03
Não identificados 07
Fonte: Dados da pesquisa.

Nota-se que o continente com o maior número de estudos aplicados foi o Africano, o
qual foram destinados dez artigos, em seguida, o Continente Asiático com sete artigos, o
restante dos artigos foram aplicados nos demais continentes, sendo que quatro deles tiveram
uma abrangência a nível mundial.

Tabela 3- Local onde os estudos foram realizados


Continente N° de estudos N° de países
América do Norte 02 02
América do Sul 01 01
Europa 04 04
Ásia 07 02
África 10 04
Estudos a nível nacional 04 -
Fonte: Dados da pesquisa.

Os estudos são provenientes de diversas áreas do conhecimento, conforme a Tabela 4.


Destacam-se estudos da área das ciências agrárias, ecologia e ciências ambientais. De modo
que verifica- se a interdisciplinaridade presente nesta temática.

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Tabela 4- Principais áreas em que foram publicados os estudos
Área de pesquisa N° de publicações
Ciências Agrárias 12
Ecologia e Ciências Ambientais 04
Ciência e Tecnologia em Alimentos 03
Engenharia 03
Ciências Sociais 01
Outras áreas 03
Fonte: Dados da pesquisa.

Após verificar as áreas do conhecimento as quais os artigos originaram, observou-se a


quantidade de citações em que os referidos artigos obtiveram (Quadro 1). No total de 28 artigos,
apenas 19 artigos foram citados, somando 129 citações. Ficou evidente que os artigos que mais
foram citados abordavam sobre as mudanças climáticas e a adaptação dos sistemas da
agricultura.

Quadro 1- Cinco artigos mais citados sobre Segurança alimentar, agricultura inteligente e
sustentabilidade.
N° de
Artigo Autor Fonte Ano
citações
Zhang, H.-L. Zhao,
Challenges and adaptations X. Yin, X.-G. Liu, S.- Climatic
of farming to climate change L. Xue, J.-F.Wang, Change 2015 27
in the North China Plain M. Pu, C. Lal, R. Chen,
F.
Adapting to climate change Nature
in the mixed crop and Thornton, Philip K.; Climate
2015 26
livestock farming systems in Herrero, Mario. Change
sub-Saharan Africa
Neff, Roni A.; Parker, American
Peak Oil, Food Systems, and Cindy L.; Journal of
2011 23
Public Health KIrschenmann, Public
Frederick L.; et al. Health
Ethanol and food production
by family smallholdings in
rural Brazil: Economic and Maroun, Maria Regina;
Biomass &
socio-environmental La Rouere, Emilio 2014 13
Bioenergy
analysis of micro distilleries Lebre.
in the State of Rio Grande
do Sul
Conservation tillage and Agriculture,
Kuhn, NJ Hu,
sustainable intensification of Ecosystems
Y. Bloemertz, L. Ele, 2016 7
agriculture: regional vs. and
J. Li, H. Greenwood, P.
global benefit analysis Environment
Fonte: Dados da Pesquisa.

As palavras-chave que apareceram com mais frequência foram ilustradas na Figura 3,


onde quanto maior a frequência da palavra nas palavras-chave dos artigos maior seu tamanho
na nuvem de palavras. As que mais se destacaram foram Food, Climate, Change, Low, Carbon,
Susteinable, Agriculture, Intelligent, Development. Através desta figura pode-se constatar que
as dinâmicas da agricultura inteligente e da sustentabilidade estão estreitamente relacionadas
com a temática da segurança alimentar.

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Figura 3- Nuvem das palavras-chave dos artigos analisados

Fonte: Elaborado pelas autoras.

4 Conclusões
Esta investigação do cenário da produção científica internacional proporcionou um
melhor entendimento do que está sendo estudado sobre estas temáticas, constatou-se no
entanto, que as publicações acerca da segurança alimentar associadas a agricultura inteligente
e sustentabilidade são relativamente recentes nas bases pesquisadas.
Mesmo que segurança alimentar seja uma preocupação que vem de séculos passados,
nota-se que esta questão vem ganhando espaço cada vez mais nas discussões e na ciência a
nível interdisciplinar.
A análise possibilitou identificar ainda que os estudos estão sendo desenvolvidos
principalmente na África e na Ásia, essencialmente na área de conhecimento das ciências
agrárias e que a partir de 2015 houve uma evolução nas publicações.
Os estudos de maneira geral mostraram-se preocupados com os impactos ambientais,
ou seja, a degradação do meio ambiente, por meio do aumento das emissões de gases de efeito
estufa, das mudanças climáticas, da degradação dos recursos hidrográficos e do solo. No
entanto estes estudos procuraram também estabelecer estratégias para mitigar estes impactos,
de forma a contribuir com a redução destas consequências ambientais e proporcionando uma
melhoria da oferta alimentar, da agricultura inteligente e do desenvolvimento de práticas e
sistemas sustentáveis.

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Smart Farming e seu Estado da Arte: Uma Revisão Bibliométrica
Smart Farming and its State-of-the-Art: a Bibliometric Review
Greici Joana Parisoto1, Samanta Ongaratto Gil2, Ivaneli Schreinert dos Santos3, Letícia de
Oliveira4
Resumo
Mudanças tecnológicas e avanços no acesso à informação têm trazido desafios e oportunidades para o mundo
globalizado, incluindo atividades do Agronegócio. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão
bibliométrica a fim de verificar o estado da arte em torno das publicações sobre Smart Farming, em duas das
principais bases de dados científicos mundiais. Classifica-se como pesquisa exploratória e descritiva, pois visa
explorar a produção científica internacionalmente, no período entre 1992 a 2017, buscando apresentar,
quantitativamente, como o tema tem sido abordado no meio científico ao longo do tempo. O estudo propiciou a
representação da evolução científica sobre o tema ao longo do tempo, principais palavras chaves indexadas,
tecnologias abordadas nos trabalhos, tipos de estudos e periódicos mais ativos dentro do problema de pesquisa.
Foi possível identificar um aumento recente nas publicações a respeito do tema, o qual vem sendo introduzido
com mais frequência nas operações e processos de tomadas de decisão dos gestores em propriedades agrícolas.
Periódicos de países desenvolvidos detém a grande maioria das publicações sobre a questão de pesquisa, que
podem ser explicados pela maior facilidade de acesso às tecnologias. Pesquisas de cunho quantitativo e
experimental têm dominado o tema, o que pode estar relacionado ao alto número de tecnologias que têm surgido
e a necessidade de avaliar sua eficácia nos diferentes sistemas de produção. Com o aumento recente das
publicações, sugere-se realizar novas pesquisas neste perfil atribuindo como termos chave algumas das tecnologias
apresentadas.
Palavras-chave: Inovação Agrícola, Tecnologia da Comunicação e Informação, Governança, Sustentabilidade.

Abstract
Technological changes and advances in access to information have brought challenges and opportunities to the
globalized world, including Agribusiness activities. Thus, the aim of this paper was to perform a bibliometric
review to verify the state-of-the-art around the publications about Smart Farming, in two of the main scientific
databases worldwide. It is classified as an exploratory and descriptive research, since it aims to explore scientific
production internationally, in the period between 1992 and 2017, seeking to present, quantitatively, how the
subject has been approached in the scientific researches over time. The study provided the representation of
temporal scientific evolution about the theme, indexed keywords, technologies covered in the works, types of
methodologies and more active journals within the research problem. It was possible to identify a recent increase
in the publications on the subject, which has been introduced more frequently in the operations and decision-
making processes of managers in agricultural properties. Periodicals from developed countries hold the vast
majority of publications on the research question, which can be explained by the greater ease of access to
technologies. Quantitative and experimental researches have dominated the theme. It may be related to the high
number of technologies that have arisen and the need to evaluate their effectiveness in the different production
systems. With the recent increase of publications, it is suggested to carry out new researches assigning as key
terms some of the presented technologies.
Keywords: Agricultural Innovation, Information and Communication Technology, Governance, Sustainability.

1 Introdução

Mudanças tecnológicas e avanços no acesso à informação têm trazido desafios e


oportunidades para o mundo globalizado, aumentando a competitividade no mundo dos
negócios e trazendo soluções para todas as partes envolvidas. Um setor que vem se adequando
e se beneficiando com o surgimento dessas novas tecnologias é o rural, onde ferramentas como
sensores e computação em nuvem estão sendo utilizadas para a tecnificação das fazendas, além
da análise e organização de grandes volumes de dados, que vêm possibilitando o
desenvolvimento das chamadas “fazendas inteligentes”.

1
Mestranda em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - greici.parisoto@ufrgs.br
2
Mestranda em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - samantagil@hotmail.com
3
Mestranda em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul – ivaneli.schreinert@ufrgs.br
4
Doutora em Agronegócios/Universidade Federal do Rio Grande do Sul - leticiaoliveira@ufrgs.br
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Ao passo que a Agricultura de Precisão se baseia em um sistema de manejo integrado
de informações e tecnologias, fundamentado nos conceitos de que as variabilidades de espaço
e tempo influenciam nos rendimentos dos cultivos (EMBRAPA, 2018), a Agricultura
Inteligente vai adiante, além de gerenciar as tarefas no local, também coordena nos dados,
aprimorado pelo conhecimento das circunstâncias em tempo real (WOLFERT et al., 2017).
Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations - FAO, a
agricultura Inteligente é fundamental para o futuro da agricultura. Smart Farming é um conceito
de gestão agrícola onde se faz uso da tecnologia moderna para aumentar a quantidade e a
qualidade dos produtos agrícolas (SCHUTTELAAR & PARTNERS, 2017).
Em entrevista ao site Agrolink, o conselheiro fiscal do Conselho Científico para
Agricultura Sustentável (CCAS), José Luiz Tejon Megido, cita uma pesquisa realizada pela
Monday Morning Institute, com parceria da Organização das Nações Unidas (ONU), que
entrevistou 5.500 líderes globais para encontrar as cinco principais soluções para os riscos do
mundo contemporâneo como desemprego, pobreza, crises financeiras, fome e desnutrição,
emissão de carbono na natureza, dentre outros e todas elas se relacionam ao novo agronegócio
e a tecnologia.
As tendências demográficas, incluindo o envelhecimento das populações e a migração
contínua de pessoas das áreas rurais para as áreas urbanas, têm atraído à atenção de
pesquisadores e preocupado empresários agrícolas. Desta forma, Smart Farming se apresenta
como o novo nome do estado da arte do agronegócio gerando novas oportunidades para
propriedades de todos os portes, exigindo treinamento intensivo, educação e atração de uma
nova geração de jovens, mulheres e de novos produtores.
Contudo, não há como deixar de lado a importância da atuação do ser humano com a
tecnologia, onde este deverá estar cada vez mais próximo das tomadas de decisões rápidas,
deixando a parte operacional, em sua grande parte, para as máquinas.
Identificar como a ciência vem enquadrando Smart Farming ao longo do tempo, os
países e a pesquisa direcionada podem ajudar a conduzir novas pesquisas com o objetivo de
cobrir áreas que receberam menos atenção. Isso irá desenvolver novas abordagens para entender
melhor o tema podendo até direcionar para pesquisas que abordem novas aplicações.
Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão bibliométrica a
fim de verificar o estado da arte em torno das publicações sobre Smart Farmings, em duas das
principais bases de dados científicos mundiais. Para fornecer uma visão e compreensão do
estado da arte, o documento introduz o assunto, primeiro fornecendo uma visão geral sobre o
setor e especificidades do tema. Seguido pelos procedimentos e metodologia utilizada para
buscar e analisar as informações. Na seção seguinte são apresentados os resultados da pesquisa
assim como sua discussão, finalizando com os principais pontos encontrados sobre o tema e
sugestão de trabalhos futuros.

2 Referencial Teórico

A agricultura inteligente ou, no termo em inglês, como é mais conhecida, Smart


Farming (SF), se baseia na introdução de tecnologias de informação e comunicação em
máquinas, equipamentos e sensores em sistemas de produção agrícola, possibilitando que um
grande volume de dados e informações seja gerado sob um constante processo de
automatização. SF depende da transmissão de dados e da concentração de dados em sistemas
de armazenamento remoto para permitir a combinação e análise de vários dados agrícolas para
a tomada de decisões (PIVOTO et al., 2018).
A literatura sobre Smart Farming é recente. O conceito e termos associados à SF ainda
não chegaram a um consenso na literatura científica (WOLFERT et al., 2017).
Desenvolvimentos rápidos na Internet of Things (IoT), na tradução livre “Internet das Coisas”,
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e computação em nuvem estão sendo grandes impulsionadores deste fenômeno. A base para o
avanço neste setor envolve uma combinação de tecnologias de internet e tecnologias orientadas
para o futuro para uso como objetos inteligentes.
O conceito de SF, segundo a Beecham Research Ltd. (2014), se originou através da
engenharia de software e a ciência da computação com a adição de tecnologias de computação
e transmissão de dados da agricultura, dentro de um ambiente global de computação
praticamente universal. Para utilização, esses elementos de computação são incorporados em
objetos e interconectados entre si e com a internet.
Ideias derivadas do Farm Information Management System (FMIS), como Agricultura
de Precisão e Gestão de Sistemas de Informação em Agricultura também são englobadas no
campo de Smart Farming. FMIS é definido como um sistema projetado para coleta,
processamento, armazenamento e disseminação de dados em um formato necessário para
executar operações e funções em propriedades rurais (SØRENSEN et al., 2010).
Outra ferramenta interessante, como já citado, é a Internet of Things (IoT), introduzida
por Kevin Ashton, um empresário britânico, em 1999, e que compartilha o conceito de um
ambiente inteligente com o FMIS. A IoT permite que objetos sejam controlados remotamente
através da infraestrutura de rede existente, criando oportunidades para mais integração direta
entre o mundo físico e sistemas baseados em computador (GUBBI et al., 2013).
As tecnologias de SF mais promissoras incorporam avanços em sensores, análise de
dados, telemetria e tecnologias de posicionamento, mas o desenvolvimento e disseminação
dessas tecnologias podem exigir tempo e investimento.
O uso de ferramentas SF é possível principalmente devido ao uso de sensores na
agricultura. Um sensor é um dispositivo eletrotécnico que mede quantidades físicas do ambiente
e converte estas medições em um sinal que pode ser lido por um instrumento. Entre as medições
lidas por sensores estão o seguinte: temperatura, umidade, luz, pressão, ruído níveis, presença
ou ausência de certos tipos de objetos, níveis de estresse mecânico, velocidade, direção e
tamanho do objeto (LEHMANN; REICHE; SCHIEFER, 2012).
Uma das discussões sobre novas tecnologias também emergiu do estudo de Schumpeter
(1934), que relatou sobre a essência do desenvolvimento econômico em relação à inovação,
onde Inovação tecnológica muda padrões de produção e pode influenciar no desenvolvimento
econômico de diferentes regiões e países.
Não se sabe se esse conjunto de novas tecnologias poderá acompanhar os crescentes
rendimentos alcançados por outras revoluções, como a Revolução Verde, por exemplo. Uma
propriedade baseada no conceito de Smart Farming pode ter tanto sua estrutura quanto a forma
de realizar seus processos alterados de maneira inédita, podendo conectar diversas operações
em uma só máquina de forma a ter total acesso aos seus dados em tempo real (POPPE et al.,
2015).
Devido à carência de alimentos e o crescimento da população em todo o mundo, estima-
se que um aumento de 70% no consumo mundial de alimentos deve ser alcançado até 2050
(FAO, 2009). Se tais tecnologias mencionadas se difundirem e tiverem um impacto positivo
em países como o Brasil, por exemplo, poderão contribuir para a crescente demanda por
produção de alimentos mundial.

3 Procedimentos Metodológicos

O presente estudo classifica-se, segundo Vergara (2013), como pesquisa exploratória e


descritiva, quanto aos fins, pois visa explorar a produção científica sobre o tema “Smart Farm”
(Fazenda Inteligente) internacionalmente, no período entre 1992 a 2017, buscando apresentar,
quantitativamente, como o tema tem sido abordado nas pesquisas científicas ao longo desse
tempo. O intervalo temporal foi determinado buscando abranger todo o período de publicações,
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sobre o tema, disponíveis nas bases de dados utilizadas. O ano limite foi 2017, devido às
publicações do ano de 2018 ainda estarem em andamento.
Além do período de publicação, só foram considerados os documentos publicados na
língua inglesa, espanhola ou portuguesa, como artigos completos e com relevância à questão
da pesquisa, ou seja, relacionados ao agronegócio e Smart Farming. Sua abrangência territorial
se deu ao mundo todo dentro do escopo dos países de origem dos periódicos disponíveis nas
bases de dados.
Para composição da amostra, foram utilizados dados secundários, realizando-se um
estudo bibliométrico em publicações acadêmicas nacionais e internacionais nas bases de dados
Web of Science (Institute for Scientific Information Knowledge) e SciVerse Scopus ® de
propriedade da Editora Elsevier, acessados através do Portal da Biblioteca da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, disponibilizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES). A escolha das bases de dados se deu por conta da ampla
cobertura da literatura relevante e recursos bibliométricos avançados, além de sua utilização em
outros estudos bibliométricos (WOLFERT et al., 2017; GAUTAM & RYUICHI, 2012;
BUCHER, 2017).
O passo seguinte consistiu na elaboração da expressão de busca, onde observando na
literatura qual era mais utilizada para representar o conceito, optou-se por pesquisar nos campos
título, resumo e palavras-chave (Topic), a expressão de busca em inglês “smart farm*”. As
aspas possuem a função de buscar as duas palavras juntas evitando a recuperação de cada uma
isoladamente e o asterisco possibilita a procura da palavra “farm” e suas variações, como
“farming”, também muito utilizado para descrever o conceito.
Assim, foi obtido um total de 83 registros, somando as duas bases. Destes, alguns não
possuíam o resumo disponível ou o objeto de estudo não era relativo ao agronegócio e fazendas
inteligentes. Por fim, eliminando-se os que acabaram de ser descritos mais os repetidos, foram
considerados 49 documentos científicos para a análise bibliométrica (Figura 1).

Figura 1. Processo de coleta, seleção e organização para levantamento da literatura. Fonte: A autora, com
dados da pesquisa.

Pesquisa nas bases de


Exclusão de Seleção e organização
Definição das dados
documentos não de documentos
palavras-chave Scopus (n = 52)
relacionados ao objeto retornados
(n = 83) + Web of Science
ou repetidos (n = 34) (n = 49)
(n = 31)

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

Os dados coletados foram analisados utilizando o Software Microsoft Excel ®. Além da


análise, primeiramente os dados foram organizados e trabalhados, dividindo-os em seções, após
a leitura do título, resumo, palavras-chave e texto completo, quando necessário, a fim de
classifica-los relacionando segmentos próximos e realizando a identificação de padrões e
tendências relevantes.
Na Figura 2 estão apresentados os principais motivos para não utilização de alguns
artigos, resultantes da busca efetuada nas bases de dados Scopus e Web of Science, sendo o
motivo mais frequente da exclusão dos mesmos a presença repetida nas fontes de busca.
Além dos trabalhos repetidos, os outros quesitos que foram empregados para exclusão
de arquivos que não interessavam à pesquisa, foram o objeto de estudo do artigo não estar
relacionado à Smart Farming e o acesso ao arquivo completo não estar disponibilizado.

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Figura 2. Quantidade de artigos excluídos de acordo com o motivo e quantidade de artigos utilizados na
pesquisa, no período de 1992 a 2017.

Artigos utilizados 49

Texto não disponível 4

Objeto de estudo não é Smart Farming 8

Repetido 22

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

Desta forma, para o portfólio de análise, foram utilizados 49 trabalhos da pesquisa


inicial. A seguir, é feita a análise das variáveis e discussão dos resultados.

4 Resultados e Discussão

A análise bibliométrica da literatura científica propiciou a formulação de alguns


resultados como evolução da atividade científica ao longo do tempo, principais palavras chaves
indexadas, tecnologias abordadas nos trabalhos, tipos de estudos e periódicos mais ativos no
tema.
Buscando identificar um panorama das publicações em nível mundial, verificou-se que
nas bases de dados Scopus e WoS vêm surgindo publicações sobre Smart Farmings desde o ano
de 1992, porém um volume maior e mais significativo se deu somente a partir de 2016 (Figura
3).
Figura 3. Evolução da atividade científica sobre Smart Farming nas bases de dados Scopus e WoS, no
período de 1992 a 2017.

18
Quantidade de publicações

16
14
12
científicas

10
8
6
4
2
0

Anos

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

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Tal fato pode estar ligado ao estabelecimento da Agenda 2030, que se deu em 2015,
onde são propostos 17 macro objetivos para o Desenvolvimento Sustentável Global, entre eles
fome zero e agricultura sustentável (ONU, 2018).
Os países dos periódicos que mais tiveram publicações sobre o tema no período
analisado foram Índia (9), Coreia do Sul (8) e Austrália (7), seguidos por Reino Unido,
Alemanha, Holanda, Estados Unidos e Itália, com quatro trabalhos cada um, Nova Zelândia (3)
e Suíça (2), como pode ser visto na Figura 4. Nas bases de dados pesquisadas e no período
analisado, não foram encontrados documentos publicados em periódicos brasileiros.

Figura 4. Principais países que publicaram sobre Smart Farming nas bases de dados Scopus e WoS, no
período de 1992 a 2017.

Suíça
Nova Zelândia
Itália
Estados Unidos
Holanda
País

Alemanha
Reino unido
Austrália
Coreia do sul
India

0 2 4 6 8 10
Quantidade de publicações científicas

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

Percebe-se uma predominância por publicações em países desenvolvidos, com exceção


da Índia, que apresentou o maior número de publicações, ou seja, nove trabalhos. Isso pode ser
explicado pela maior facilidade de acesso a novas tecnologias por esses países e também pelo
maior contato com a língua inglesa.
Na Figura 5 estão descritas as palavras-chave mais frequentes nos documentos
encontrados na pesquisa, com destaque para Agricultural e Smart Farming, utilizadas oito
vezes como “Keywords”, Wireless Sensor Network, referida em sete trabalhos, Internet of
Things e Smart Farm, citadas cinco vezes cada uma e Climate Change, Precision Agriculture
e Software apontadas quatro vezes cada.
Nota-se que o termo Wireless Sensor Network (Rede de Sensores sem fio) foi um dos
mais frequentes, juntamente com Internet of Things - IoT (Internet das coisas), tecnologias
muito utilizadas para interligar informações e operações em distâncias diferentes ao mesmo
tempo, auxiliando, em sua maioria, na tomada de decisão e gerenciamento de propriedades,
além de comandos automáticos em determinados sistemas.

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Figura 5. Word Cloud com as palavras-chave mais presentes nas publicações científicas sobre Smart
Farming, nas bases de dados Scopus e WoS, no período de 1992 a 2017.

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

Outras tecnologias utilizadas em Smart Farmings nas publicações científicas


encontradas estão descritas na Figura 6, sendo as mais utilizadas: Wireless Sensor Network
presente em 26% das publicações, Agricultural Innovation Systems e IoT (24%), seguidos por
Mobile-app (Aplicativos para dispositivos móveis) e Agricultura de precisão, presentes em
quatro publicações cada.

Figura 6. Frequência das tecnologias abordadas nos trabalhos científicos sobre Smart Farming nas bases
de dados Scopus e WoS, no período de 1992 a 2017.

Information Big data Data mining


and 4% 2%
communication
Technology
(ICT) Wireless
6% System
Network
Agricultura de (WSN)
precisão 26%
9% Mobile-app
9% Agricultural
Innovation
Internet of
Systems (AIS)
Things (IoT)
24%
20%

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

Quanto às classificações metodológicas (Figura 7), 46% dos artigos se encaixam em


Pesquisa Experimental, sendo a maioria deles estudos de viabilidade de novos sistemas
tecnológicos, como controle automático da temperatura utilizando sensores e diferentes

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operações da fazenda conectadas por redes sem fio para auxílio constante nas tomadas de
decisões, por exemplo.
Figura 7. Frequência das metodologias abordadas nos trabalhos científicos que abordam Smart Farming
nas bases de dados Scopus e WoS, no período de 1992 a 2017.

Pesquisa
bibliográfica Estudo de caso
23% 23%
Pesquisa
documental
8% Pesquisa
Experimental
46%

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

Para os 11 estudos de caso buscados, utilizaram-se propriedades em que já operavam


com alguma tecnologia e/ou práticas de Agricultura de Precisão para avaliar seu
comportamento. Além desses, também foram identificadas pesquisas bibliográficas abordando
o tema principal, trazendo pareceres da situação atual do seu uso e desenvolvimento em
diferentes regiões do mundo. Ainda, 8% dos arquivos científicos apurados utilizaram pesquisa
documental, fazendo uso de dados disponíveis que ainda não foram explorados para aplicar-se,
então, um filtro analítico.
Os periódicos que apresentaram maior número de publicações científicas (Figura 8),
relativas ao tema da pesquisa, foram o Advanced Science Letters, com três publicações, o
Computers and Electronics in Agriculture, International Journal of Applied Engineering
Research e International Journal of Multimedia and Ubiquitous Engineering com dois
trabalhos cada. O restante dos estudos encontrados foi publicado em diversos periódicos
individualmente, assim como os autores, que em sua maioria, não apresentaram mais de um
trabalho por autor.
Figura 8. Instituições que mais publicaram sobre o tema Smart Farming.

International Journal of Multimedia and


2
Ubiquitous Engineering
International Journal of Applied
2
Engineering Research
Computers and Electronics in
2
Agriculture

Advanced Science Letters 3

Fonte: A autora, com dados da pesquisa.

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Devido às dificuldades dos países em desenvolvimento em padronizar suas publicações
nas normas dos periódicos internacionais, escrita em inglês e até mesmo o preconceito dos
editores em aceitar trabalhos vindos de outros locais, nas últimas três décadas forçaram vários
grupos de pesquisadores a lançar um grande número de periódicos nacionais para dar vazão a
essa massa de resultados por meio de publicações (CARVALHO et al., 2016).

5 Conclusões

De acordo com o presente objetivo, este estudo apresentou uma análise do perfil das
publicações sobre Smart Farming, em nível mundial, em todo o período disponível nas bases
de dados Scopus e Web of Science.
Segundo os resultados apresentados, é possível identificar que há um aumento recente
nas publicações sobre o tema e que vem sendo introduzido com mais frequência nas operações
e processos de tomadas de decisão dos gestores em propriedades agrícolas, incentivados
também, pelos objetivos impostos pela Agenda 2030.
Periódicos de países desenvolvidos detém a grande maioria das publicações sobre a
questão de pesquisa, que podem ser explicados pela maior facilidade de acesso às tecnologias,
com exceção da Índia, que se destaca no número de publicações.
Pesquisas de cunho quantitativo e experimental têm dominado o tema, o que pode ser
explicado pelo alto número de tecnologias que têm surgido e a necessidade de avaliar sua
eficácia nos diferentes sistemas de produção.
Este estudo possui algumas limitações, devido às bases de dados utilizadas e os critérios
escolhidos, que podem ter excluído estudos relevantes. Com o aumento recente das publicações,
sugere-se realizar novas pesquisas bibliométricas, identificando como termos chave, algumas
das tecnologias apresentadas para verificar em quais áreas do agronegócio elas têm se difundido
mais e quais se mantém mais representativas dentro das Smart Farmings.

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Tecnologias e assistência técnica para Agricultura Inteligente no Brasil: um
estudo exploratório
Technologies and technical assistance for Smart Farming in Brazil: an
exploratory study
Dieisson Pivoto1, Cristian R. Foguesatto2, Paulo Dabdab Waquil3, Edson Talamini4

Resumo
A partir do início do século 21, emergiram “novas” tecnologias úteis aos sistemas de produção de alimentos,
chamadas de Agricultura Inteligente (em inglês, Smart Farming- SF). Um dos principais benefícios dessas
tecnologias é seu potencial no sentido de contribuir para o aumento da produtividade agrícola. Com base em uma
amostra de agricultores da região sul do Brasil (n=119) o objetivo desse estudo foi identificar as principais SF
adotadas nessa região. Os resultados indicaram que a amostragem de solo é a principal tecnologia de agricultura
de precisão (AP) adotada. Aplicativos móveis (aplicativos em smartphones) para o gerenciamento agrícola
também são amplamente difundidos. Em relação a percepção sobre assistência técnica, os produtores rurais
analisados destacaram que a falta de conhecimento dos técnicos e consultores agrícolas é um dos principais
obstáculos para a exploração de SF. As informações aqui apresentadas podem ser úteis para o desenvolvimento de
políticas e programas visando aumentar a taxa de adoção de SF.
Palavras-chave: Decisão de adoção, Agronegócio, Big Data, Difusão, Gestão

Abstract
At the beginning of the second decade of the 21 st century, the use of a “new” set of applications called Smart
Farming (SF) began to emerge among agribusiness organizations and agents, enabling productivity gains. Based
in a farmers’ survey (n=119) this study identified the main SF technologies used in grain production systems in
the South of Brazil and verified the perception of the grain farmers regarding technical assistance for SF. Results
indicate that soil sampling is the main precision agriculture (PA) technology adopted by the production systems
assessed, while smartphone apps to assist in agricultural management is the most commonly used information
technology (IT). Regarding the pe5rception of technical assistance, the farmers pointed out the low level of
knowledge of the technicians and consultants on SF technologies as one of the main obstacles to exploring their
potential. Our findings can be serving as insights to development of future policies and programs.
Keywords: Adoption decision, Agribusiness, Big Data, Diffusion, Management

1 Introduction

The South of Brazil has been following the global changes in agriculture. This evolution
is linked to the diffusion of technologies and technical-scientific knowledge of universities and
private companies that provide products and services for the agricultural sector. From the 1940s
onwards, with the green revolution, agriculture went from being heavily dependent on labor, to
depending on chemical resources and mechanization (MAZOYER; ROUDART, 2008). In the
early 1990s, with the evolution of computer sciences and Global Positioning Systems (GPS), a
transfer or effect of knowledge spillovers from other areas to agriculture was observed. One
example is Precision Agriculture (PA), which incorporated technologies from other areas, such
as military and computer sciences, and is defined by the Brazilian Precision Agriculture
Commission (CBAP) as "an agricultural management system based on space and time variation
of the productive unit that aims to increase economic return, sustainability and minimize its
effect on the environment"(BRASIL, 2012). The first tests and experiments with this set of
technologies were carried out in the South of the Brazil and was later diffused and adopted in
other regions. PA breaks with the traditional model for conducting production systems. The

1Doutor em Agronegócios - Universidade Federal do Rio Grande do Sul – dieissonpivoto@gmail.com


2
Mestre em Agronegócios - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - cristian_rogeriof@hotmail.com
3
Doutor em Economia Agrícola - Universidade Federal do Rio Grande do Sul – waquil@ufrgs.br
4
Doutor em Agronegócios - Universidade Federal do Rio Grande do Sul – talamini@ufrgs.br

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main difference between PA and the previous model is the more scientific production
management, working with variability of the production areas.
At the beginning of the second decade of the 21st century, a new concept and set of
applications emerged among agribusiness organizations and agents from computer, information
and communication sciences, called Smart Farming (SF) (WOLFERT et al., 2017; PIVOTO et
al., 2017). The main innovation or set of novelties this concept presented is a more intense use
of the information produced by sensors that already existed in PA, and integration with other
data sources, to produce results that generate new interpretations and decisions. Along the same
lines, SF emphasizes automation of activities and smart responses, without the need for human
intervention in the processes.
On the one hand, many technologies linked to SF are not yet innovations 36
(SCHUMPETER, 1988), because they are not available in the market or economically viable,
since they are under development and being tested by companies and research institutions. On
the other hand, as presented by Wolfert et al. (2017) and Pivoto et al. (2017), SF is a broad
concept encompassing other areas already established in the market, such as Precision
Agriculture and agriculture Information Technology (IT). Some technologies and concepts,
however, are more recent, such as Big Data and Robotics in Agriculture, whose use by technical
consultants and farmers still causes discomfort. However, these technologies have the potential
to maximize the return for farmers. It is possible to understand or imagine the dynamics for
adopting and diffusing SF technologies based on the two sets of technologies (PA and IT) that
are already diffused to some degree in the grain production systems of the South of Brazil.
Before analyzing the process of technology innovation and diffusion, it is necessary to
understand the technologies analyzed and the level of adoption of these technologies by the
producers. Understanding the diffusion of these technologies is a way of anticipating changes
in the patterns of agricultural production systems in Brazil. This anticipation is useful for agents
involved in agribusiness, such as public and private research companies, who can adjust their
objectives, as well as agribusiness machinery and input companies that can better understand
the process of technology diffusion in the context of SF. Therefore, the aim of this paper is to
identify the main SF technologies used in grain production systems in the South of Brazil and
verified the perception of the grain farmers regarding technical assistance for SF.

2 Evolution of Agriculture: from 1.0 to 4.0

At the beginning, in the Neolithic period, agriculture was strongly dependent on nature
and climatic conditions, with man learning to tame plants and animals. Due to the low amount
of knowledge accumulated by society during this period, agriculture depended strongly on
edaphoclimatic conditions. Currently, these rudimentary methods of agricultural production,
called agriculture 1.0, are still a reality for many farmers in many developing countries
(MAZOYER; ROUDART, 2008).
The transition from a solar-based system (biomass, air, and water) to a fossil fuel-based
system led the rise of industrial and urban society (WRIGLEY, 1988) and marked the beginning
of agriculture 2.0. The energy revolution accelerated the process of agricultural change in the
18th and 19th centuries, setting the pace for a new agricultural revolution. Characterized by the
development of agricultural machinery and the use of fertilizers (mineral fertilizers and new
organic fertilizers), this new agricultural system made rapid progress in the early 20th century,
bringing new tools (reversible plows, seeders, hoe cultivators) and harvesting equipment

3
Innovation is a new service, process or product for the market or for organizations whose application is
economically viable.

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(harvesters) by removing, one by one, the main not in the most time-consuming operations for
the agricultural cycle (LOSCH, 2015).
One of the main disruptive aspect of agriculture 2.0 was less need for manpower to carry
out agricultural operations. This change led to the migration of the rural population to the urban
environment. Operations that were carried out manually were now performed with machines
and equipment with steam engines or internal combustion. Mechanization multiplied the
capacity of human labor to carry out agricultural activities. In 1994, the Food and Drug
Administration (FDA) approved the first food completely produced with biotechnology, the
FLAVRSAVR™ tomato. After this product was developed, biotechnology was diffused and
expanded into large crops. In the mid-1990s, the emergence of geospatial technologies like
remote sensors, geographic information systems (GIS) and GPS enabled the use of precision
agricultural practices for specific applications of fertilizers, pesticides, irrigation and
herbicides, marking the emergence of agriculture 3.0, more integrated with science. Agriculture
4.0 or SF appears at the beginning of the 21st century, through the diffusion of Internet of
Things (IoT) technologies and SF technologies (WOLFERT et al., 2017; PIVOTO et al., 2017).
If at large production scales, these technologies increase productivity and reduce costs, in small
ones, in addition to this, they mainly improve the quality of food.
Recent advances in network computing enabled the development of millions of low-
cost internet-connected devices, including cameras, sensors, radio frequency identification
(RFID) and smartphones. This new technological paradigm could not have emerged, before
because it was economically inviable (FREEMAN and PEREZ, 1988). Their use in agriculture
has become economically feasible only with the significant reduction in the price of sensors
and electronic equipment, due to technological advances. This dynamic is described by
Freeman and Perez (1988), who elucidate the process of consolidation of new technologies,
through other economic cycles. Agriculture 4.0 is highly dependent on scientific knowledge,
with progressive insertion of knowledge from areas such as Big Data, artificial intelligence (AI)
and other branches of information sciences, improving decision-making processes.

3 Methodology

The adoption of SF was analyzed through research with farmers from the South of
Brazil (Paraná, Santa Catarina and Rio Grande do Sul) (Figure 1). Data were collected between
April and December 2016 through a questionnaire. The questionnaire used was based in recent
studies of agricultural economics, including Souza Filho et al. (2011), Tey and Brindal (2012)
and Pierpaolia et al. (2013).
To participate in this research, the famers needed to produce more than 50% of its gross
revenue in grains (soy, wheat, corn etc.). Given this, one semi-structured questionnaire was
sent, and 160 were answered, but some were disregarded due to incomplete answers. In addition
to questionnaire via the digital platform, questionnaire was also applied in agricultural fairs and
visits to farmers, so that the total sample analyzed in this study was composed of 119 farmers.
The questionnaire assessed the technologies adopted by famers (PA and IT). The
assessment used a binary variable (yes or no), which was inserted into the database as 0 = does
not adopt and 1 = adopts the technology, for both PA and IT. For PA, when the response was 1
= adopts the technology, the producer attributed the % of the total acreage of the property that
used the technology. Seeking identify the main channels and agribusiness agents regarding the
diffusion of SF and difficulty of the technical consultants to advise in smart farming , a semi-
structured questionnaire also was applied. All collected data were analyzed through descriptive
statistic and content analysis.

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Figure 1 - Location of the southern region of Brazil (South States), cities and number of producers sampled in
the states of Rio Grande do Sul, Santa Catarina and Paraná

Source: authors (2018).

4 Results and Discussion

4.1 Adoption of SF

PA is a set of technologies to manage crop variability. The results indicate that one of
the most adopted technologies by farmers using precision agriculture is georeferenced soil
sampling (Table 1). Sixty-five percent of the famers adopt this technology and they do it, on
average, in 40.41% of the areas of their properties. A lower percentage of farmers adopted
variable rate fertilizers and correctives, compared to those who use georeferenced soil
sampling. There is a difference of 8.66%, indicating that the producers harvest, but choose not
to carry out the second stage, the variable rate application. It is noteworthy that these producers
apply fertilizers and correctives in a smaller area when compared to georeferenced soil
sampling. Only 34.92% of the area of these producers, on average, receives the application, that
is: they fulfill only part of the principle of precision agriculture.

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Table 1. Number of adopters, frequency of adoption of Precision Agriculture (PA) technologies and percentage
of use of technologies in relation to the total area of the property
Technologies Adopters Frequency of Area that uses the
(sample size) adopters technology (%)
(%)
Georeferenced soil sampling 76 64.96 40.41
Autopilot spraying 67 56.78 39.96
Application of fertilizers and 67 56.30 34.92
variable rate correctives
Automatic control of sections for 62 52.54 29.75
application of agrochemicals
Harvest maps 35 29.41 15.13
Autopilot 32 27.35 15.60
Drones andvants 14 11.76 3.19
Variable rate sowing 13 10.92 7.86
Telemetry 9 7.63 2.44
Source: authors (2018).

Recent Brazilian studies found similar results, such as the one by Bernardi and Inamasu
(2014), who observed adoption rates of 49% for sowing/fertilizer machines, and 38% for
fertilizer/limestone spreaders among producers using some PA technology. In Australia,
Robertson et al. (2012) observed a 20% growth rate in the adoption of variable rate fertilizers
and correctives in the period from 2002 to 2009. The use of autopilot sprayers was adopted by
56.78% of the producers. On average, these producers use machines equipped with autopilot to
spray 39.86% of the cultivated area. So, it is possible to increase the use of this technology,
even among the producers that already use it. On the other hand, the percentage of farmers that
uses automatic control of sections to apply agrochemicals was lower than that of producers who
use the autopilot for spraying.
Autopilot is the most widely adopted PA tool worldwide (GEBBERS; ADAMCHUK,
2010). With the advancement of the electronic, information and communication industry, the
cost of these technologies tends to drop. Add to that the investment in developing automated
machines. These technologies are already available in the market, in the initial phase of tests,
some already commercially, like automated tractors. The results show that only 29.41% of the
sampled farmers use harvest maps. This technology is only used in 15.13% of the cultivated
area. This low percentage of use may be related to the utility attributed to the technology by the
producers of southern Brazil or the lack of technical support for analysis, interpretation and
technical recommendation of the data generated.
Fountas et al. (2005) found that North American and Danish famers found soil maps
more useful than harvest maps. The usefulness and importance of the harvest maps increased
with the increase in the time of collection of this information (FOUNTAS et al., 2005). The
authors found significant and positive difference between producers with more than 5 years of
use of harvest maps and the others. A study by Artuzo (2015) corroborates this result,
demonstrating that the producers' perception of the viability of PA occurred only after the third
year of adoption of technologies. Variable rate sowing is still used by a small percentage of
farmers (10.92%). However, it should be noted that the area that uses this technology surpassed
the use of harvest maps. Telemetry is used by 7.63% of the famers. The technology allows real-
time data transfer from the machine to the office and from the office to the machine. Telemetry
is one of the main technologies the process of agricultural digitization, allowing monitoring and

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decision making in real time. It also enables many processes to be automated, with operators
distant from the location where the operation is being performed.
On the one hand, what is seen in the field is that machines and equipment are undergoing
a process of digitization, especially since agricultural companies are offering products with
more sensors and automated processes. On the other hand, the great question is whether the
organization of farmers (management area) can monitor and take advantage of the digitization
process potential. In this context, IT links agriculture 3.0 and agriculture 4.0, because through
them data collection is automatically extended around property, allowing the systematization
and extraction of results that improve decision making.

4.2 Technical assistance of SF

The farmers pointed out the low level of knowledge of technicians and consultants
regarding SF technologies as one of the main obstacles to using them. It was observed that the
producers with the highest level of technology adoption presented the most critical answers to
the lack of knowledge of the technicians. For example, one of them said that "many are not
qualified. In some cases, I own more technology than the companies in the area".

Chart 1: Summary of the items raised by the participants regarding the difficulty of the technical consultants to
advise in smart farming
Item Answers given by participants

Many are not qualified. In some cases, I own more technology than the companies in
the area.

Low overall knowledge of technologies. When the consultant does not know, this does
Knowledge not encourage the adoption and use of technology.

Many agronomists have little knowledge of information technology. They have


difficulty with smartphone software and apps. They lack in courses that are necessary
for the current times.

There is a need for greater credibility of companies that provide services in precision
agriculture. Companies must bring numbers and examples of technologies for the
farmers.

The consultants need to be more technical and honest with the farmers.
Credibility

Machine resellers are not prepared to sell the PA and information technology services
that are part of the machines and equipment. As a result, producers do not know what
to do with the information. I have sensors to generate harvest map in my harvester,
though I do not use them.

One of the main difficulties is the language used by technicians. Younger farmers
understand it, but older producers have difficulty understanding.

Language and Standardization of language/knowledge among all users and operators.


communication

Agronomists have difficulty passing the information.

Source: authors (2018).

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The results indicate that, in the perception of farmers, many technicians and consultants
are not yet adapted to the new context of digital agriculture. There is still a need for technical
visits and field observation by technical assistance. However, many of the recommendations
and indications of management to farmers require data and information subsidies that were not
available 10 years ago. For this, the consultants need to be updated with software and learn to
interact with other areas of knowledge, to enable solutions and extract data results. A second
item mentioned by the producers was related to the credibility of the companies that provide
services in SF. For the participants, some resellers and service providers sell accessories and
technologies or even services without having proven results or a follow-up service. An example
of this situation would be harvesting maps and some sensors that, after being sold by the
companies, are not used for lack of an after-sales service.
For SF to advance, it is necessary that the complete cycle be adopted. What is currently
seen now is only part of SF: agricultural machinery and equipment. On the other hand, resales
and technical support are not prepared for a new context of agriculture, as well as the
administrative and management areas in farms. The producers also mentioned the language and
communication used by the consultants. Smart farming brings new concepts and knowledge.
Some farmers commented that they have difficulty understanding the language of technical
assistance and some pointed out that the consultants' communication is flawed. Initiatives
linked to providing training courses in this area have increased in Brazil as a response to two
items highlighted by the producers, knowledge and language. Among them are the courses
offered by Fatec-Pompeia in Big Data and Precision Agriculture, as well as other new courses
in Brazil.

5 Concluding Remarks

The results demonstrate an advance in the adoption of PA and IT technologies in grain


production systems in the South of Brazil. Some grain farmers are inserted in the context of SF
and tend to move forward in this new paradigm. However, the number of producers using a
larger set of PA and IT technologies is still limited. The low adoption rate of some SF may be
consequence of some “challenges” for it adoption. For instance, the low level of knowledge of
technicians and consultants regarding SF technologies as one of the main obstacles to using
them. Therefore, future programs and policies should pay attention in this scenario, seeking to
change this situation.

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review. Agricultural Systems, n. 153, p. 69-80, 2017.

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Área 2 – Ciência do Agronegócio

III. Economia e Gestão no Agronegócio -


Gestão Pública no Agronegócio - Direito no
Agronegócio - Certificação e propriedade
agroindustrial

360
Bem-estar de frangos de corte: uma comparação entre as legislações
brasileiras e as europeias

The welfare of broilers: a comparison between Brazilian and European


legislations
Heitor Vieira Rios1, Patrícia Soster de Carvalho2, Ismael França3

Resumo
A preocupação da sociedade com a forma que produzimos nossos alimentos é uma discussão emergente, que inclui
o embate sobre como devemos tratar os animais de produção. O bem-estar animal (BEA) tem como vanguardistas
países europeus, os quais parecem estar mais atentos e exigentes às práticas que contemplam esse tema, em
especial às adotadas em sistemas intensivos de criação, como o predominante na produção de frangos de corte.
Uma vez que o Brasil ocupa posição de destaque no cenário internacional como produtor e como exportador de
carne de frango, torna-se eminente uma análise exploratória sobre as regulações federais brasileiras e sobre as
diretrizes europeias acerca do assunto. Objetivou-se com o presente trabalho descrever o ambiente institucional
brasileiro e o europeu no que tange ao bem-estar de animais de produção, dando-se ênfase às legislações que
contemplam o tema. Observou-se que as legislações federais brasileiras são menos instrutivas em relação ao BEA,
quando comparadas às legislações europeias. Entretanto, pode-se vislumbrar que as mudanças em progresso no
ambiente institucional brasileiro em relação ao BEA estão ocasionando transformações nas organizações, entre
elas, grandes empresas, as quais procuram adequar-se aos preceitos dessa nova ciência para se manterem
competitivas. Nessa ótica, o estabelecimento de legislações federais mais instrutivas e específicas seria interessante
para aumentar a legitimação e garantir a competitividade da indústria brasileira de proteína animal no cenário
internacional.
Palavras-chave: Leis. Regulações. Indústria da carne. Proteína animal. Sustentabilidade.

Abstract
The concern of society about the way we produce our food is an emerging question, which concerns the way we
should manage farm animals. Animal welfare is a relatively new science whose vanguards are European countries.
These nations seems to be more concern about practices adopted in high intensive production systems, such as the
ones used in the broiler´s production. Because Brazil is a great player on the poultry meat production and
exportation, an exploratory analysis about Brazilian federal legislations and European directives about the
welfare of broilers becomes eminent. The objective of this study was to describe the Brazilian and European
institutional environment with regard to the welfare of production animals, emphasizing the federal legislations
that contemplate the subject and comparing them with European guidelines and international standards. It was
observed that Brazilian federal legislation is very lagging and not very normative in concern to animal welfare
when compared to European legislations. However, it is possibly to identify changes in progress in the Brazilian
institutional environment related to animal welfare such as the concern of big companies, which are adopting
animal welfare concerns in order to legitimize themselves. In this context, the development of more instructive
federal legislations would be interesting to increase the Brazilian´s animal protein industry legitimization and
competitiveness in the international scenario.
Keywords: Laws. Regulations. Meat industry. Animal protein. Sustainability.

1 Introdução

O Brasil é um dos maiores players no comércio internacional de produtos agrícolas e


ocupa posição de destaque na produção mundial de carne de frango. Atualmente, o país é
atualmente o segundo maior produtor e o maior exportador de carne de frango do mundo
(ABPA, 2018), sendo responsável pelo atendimento de aproximadamente 12,8% da demanda
mundial dessa proteína (MAPA, 2015; OECD/FAO, 2017). Cerca de 66% da produção é

1 Doutorando em Agronegócios – CEPAN-UFRGS. E-mail: heitorvieira_rios@hotmail.com


2 Graduanda em Medicina Veterinária –UFRGS. E-mail: paty_soster@hotmail.com
3 Graduando em Agronomia – UFRGS. Aviário de Ensino e Pesquisa UFRGS. Email: ismael.franca@ufrgs.br

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destinada ao mercado interno, onde o consumo per capita de carne de frango atinge 42,1 kg,
sendo os 34% restantes destinados ao mercado internacional (ABPA, 2018). Sob esta
perspectiva, pode-se vislumbrar que a atividade possui um grande papel socioeconômico para
o país, sendo importante geradora de emprego e de renda.
Em paralelo, as preocupações éticas e morais a respeito da forma com que produzimos
nossos alimentos têm ganhado destaque na sociedade contemporânea. A inquietação da
população a respeito do bem-estar de animais de produção tem provocado importantes
discussões, sendo pauta emergente em debates técnicos e científicos. Essas inquietudes
parecem ganhar maior relevância quando discutidas as condições de vida dos animais criados
em sistemas intensivos de produção, como o utilizado na criação de frangos de corte.
Muitos são os motivos para que esse assunto seja alvo de polêmicas. O próprio conceito
de bem-estar animal (BEA) não é consenso no meio científico nem entre os demais stakeholders
da cadeia produtiva de carne de frango. O conceito de BEA está atrelado a diferentes culturas
e correntes de pensamentos, cujas opiniões variam sobre a utilização de animais por seres
humanos. Como as condições que os animais devem possuir durante a sua vida estão
intimamente relacionadas às esferas morais e éticas dos indivíduos (FRASER, 2003;
THOMPSON et al., 2011), o nível de preocupação com o BEA e com os aspectos da vida dos
animais que devem ser observados variará dependendo das opiniões e dos posicionamentos das
pessoas sobre o tema. Para Huertas, Gallo e Galindo, (2014), o BEA é uma questão complexa,
multifacetada e interdisciplinar envolvendo as esferas científicas, éticas, econômicas, políticas,
culturais e religiosas de uma sociedade.
Nesse sentido, os padrões mínimos de BEA demandados por uma determinada
sociedade podem divergir de outra, pois as normas asseguradas pelos governos podem variar
de acordo com a cultura, com a ética e com os valores das sociedades. Essa realidade pode ser
um grande problema para o comércio internacional de carne de frango, uma vez que as
regulamentações de determinados países podem ser mais rigorosas quanto aos padrões de BEA
quando comparada a outros, o que pode implicar em barreiras comerciais. Sob essa perspectiva,
países europeus emergem como vanguardistas em relação ao assunto e podem ser mais
rigorosos a respeito das práticas que visam o BEA do que países em desenvolvimento
(FRASER, 2014), como o Brasil.
A pressão pública quanto aos códigos de conduta, às leis e à aplicação da legislação
têm aumentado nos últimos anos em todos os países, principalmente em relação à saúde
humana, ao BEA e ao impacto das ações humanas sobre o meio ambiente. Na Europa, a visão
de que não é civilizado permitir que as pessoas adoeçam, que os animais sejam maltratados ou
que o ambiente seja danificado são importantes questões que pressionam a adoção de leis nas
respectivas áreas (BROOM, 2011). Croney e Millman (2007) ressaltam a importância das
legislações para estabelecer um padrão básico de cuidados que devem ser considerados para
garantir um BEA adequado. Nesse contexto, objetiva-se com o presente trabalho avaliar de
forma qualitativa e exploratória as regulações existentes no Brasil e na Europa acerca do bem-
estar de frangos de corte.

2 Referencial Teórico

2.1 O bem-estar animal

O conceito de bem-estar animal (BEA) pode ser muito complexo e difícil de se


estabelecer. Ele está atrelado a diferentes culturas e correntes de pensamentos, cujas opiniões
variam sobre a utilização de animais por seres humanos. Tais posicionamentos podem ocorrer
devido a questões religiosas, ou, simplesmente, a questões filosóficas que colocam em cheque
a forma como utilizamos/tratamos os nossos animais. Segundo Broom e Molento (2004), as
diferentes definições sobre o que compreende o BEA são vistas como empecilhos para a sua
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utilização em medições científicas precisas, em documentos legais e em declarações e
discussões públicas.
O Relatório Brambell (BRAMBELL, 1965) representou um grande avanço no que tange
à conceituação do BEA. A partir dele, foram instituídas as “Cinco Liberdades”, uma definição
amplamente utilizada e reconhecida para o entendimento do BEA, a qual, posteriormente, foi
refinada pelo Comitê de Bem-Estar de Animais de Produção (FAWC, 2012). O atual conceito
das Cinco Liberdades compreende que os animais devem estar: livres de fome e de sede; livres
de desconforto; livres de dor, lesões ou doença; livres para expressar os seus comportamentos
normais; livres de medo e de aflição (FAWC, 2012). Embora seja um conceito muito utilizado
em meios técnicos e científicos (MIELE et al., 2011), as Cinco Liberdades apresentam algumas
limitações, principalmente no que diz respeito a referências em relação ao estado cognitivo e
mental dos animais.
Nesse sentido, cientistas procuraram formular outras definições para o conceito. Para
Hughes (1976), BEA pode ser definido como "um estado de completa saúde física e mental,
em que o animal está em harmonia com o ambiente que o rodeia". Duncan (1993) acredita que
o bem-estar animal é dependente sobre o que os animais sentem” e, similarmente, Duncan e
Petheric (1991) definem que o BEA “depende apenas das necessidades cognitivas dos animais”.
Adicionalmente, em uma definição amplamente aceita pelos cientistas estudiosos do
comportamento animal, Broom (1986) determina o bem-estar de um indivíduo como “o estado
do indivíduo em relação às suas tentativas de adaptar-se ao seu ambiente”.
Para Miele et al. (2011), há diferentes visões do público e da ciência sobre o tema;
enquanto o público percebe o conceito como a capacidade do animal de experienciar emoções
positivas, cientistas acreditam o conceito envolver, primariamente, a ausência de sofrimento.
Os mesmos autores argumentam que BEA é um conceito multidimensional, e que há muitos
aspectos da vida de um animal que estão envolvidos no seu bem-estar, incluindo: saúde,
liberdade para expressar determinados comportamentos, ausência de dor, ausência de estresse,
presença de emoções positivas entre muitos outros.
Nessa perspectiva, Broom e Molento (2004) defendem que existem graus de bem-estar,
e que entender o conceito de bem-estar como dualista (possui ou não possui) é restringir o
conceito e abordar o tema de forma simplista. Sendo assim, os autores suportam a ideia de que
o bem-estar de um animal deve ser classificado em níveis, sugerindo-se utilizar de forma
genérica as expressões “bem-estar adequado” e “bem-estar pobre”, ou, alternativamente, “alto”
e “baixo grau de bem-estar”, quando se deseja referir sobre o estado do bem-estar dos animais.
Nesse sentido, Molento (2005) defende que a prerrogativa adequada para definir o grau de bem-
estar que um animal se encontra é analisar o grau de dificuldade que um animal específico
demonstra na sua interação com o ambiente, observando os meios pelos quais dispõe para
contornar as adversidades a ele impostas.
Como pode ser percebido, o conceito de BEA é muito amplo e envolve diversos âmbitos
da vida do animal, não sendo fácil definir com precisão a sua extensão. Nada obstante, é visível
perceber a conexão dessa ciência com os valores e com os aspectos éticos que envolvem o BEA
(HUERTAS; GALLO; GALINDO, 2014; SILVA et al., 2011). Nesse sentido, um maior
entendimento sobre a forma como o assunto ganhou destaque no ambiente institucional torna-
se necessário.

2.2 O ambiente institucional e o bem-estar animal

Segundo Carenzi e Verga (2009), o Relatório Brambell pode ser considerado um marco
para o surgimento da ciência do BEA. A partir desse movimento social e científico britânico, a
atenção das pessoas aos animais de produção cresceu de forma significativa. Blokhuis et al.
(2000) destaca que, a partir de 1970, a sociedade ficou mais atenta aos desenvolvimentos da
indústria animal, aumentando os debates sobre as questão referentes ao bem-estar. Em 1978, a
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UNESCO reconheceu que os animais possuem direitos por meio da Declaração Universal dos
Direitos dos Animais, proclamada em Bruxelas, sendo subscrita, inclusive, pelo Brasil
(SANTANA; OLIVEIRA, 2004). Mais recentemente, Miele et al. (2011) apontam que as
doenças repercutidas pela mídia que envolvem zoonoses, como a Encefalopatia Espongiforme
Bovina, a Influenza Aviária e os surtos de Salmonela trouxeram a atenção do público para as
condições nas quais os animais são criados.
Para Silva et al. (2011) os mecanismos de intensificação da produção alertaram o
público para o meio como produzimos alimentos de origem animal, fomentando embates éticos
sobre o BEA. Conforme Dalla Villa et al. (2014), a ética da utilização de animais por humanos
é o principal motivador para o desenvolvimento de políticas que visem garantir o BEA. Fraser
(2014) destaca que, dentre outros motivos, as pesquisas sobre o comportamento animal
forneceram informações sobre manejo, alojamento e gerenciamento dos animais; as quais
evidenciam a relevância do BEA para a adoção de políticas públicas e para o comércio.
Nesse contexto, a pressão de organizações não governamentais por normas que visem o
BEA ganharam poder na sociedade, exigindo o desenvolvimento e a adoção de normas que
protejam os direitos dos animais (DALLA VILLA et al., 2014). Em corroboração, McInerney
(2004) defende que o melhor método para garantir um bem-estar minimamente aceitável para
os animais de produção é por meio de regulações e de legislações que reflitam os valores
defendidos pela sociedade.
No entanto, é também presumível que essas mudanças no ambiente institucional são,
primeiramente, circunscritas a regiões específicas do globo. Em corroboração, Bennett (1995)
afirma que o que é considerado aceitável nas práticas de bem-estar de animais de produção é
um reflexo do pensamento da população e, sendo assim, variará dependendo da população e se
modificará ao longo do tempo. Fraser (2014) destaca a dificuldade de países não desenvolvidos
ou em desenvolvimento de adotarem estratégias que visem o bem-estar de animais de produção.
Segundo o autor, é difícil para a população absorver que sistemas de produção altamente
intensificados e produtivos devam ser preteridos em detrimento do BEA. Não obstante, o
mesmo autor enfatiza que o BEA se tornou um conceito global, e que todos os países, inclusive
os menos desenvolvidos, precisarão estar receptivos para o desenvolvimento e para a adoção
de normas de bem-estar.

3 Procedimentos Metodológicos

Para a presente pesquisa foi realizada uma análise exploratória, utilizando bases de
dados de diversos sítios para pesquisa sobre os temas: Teoria Institucional e BEA. As
motivações da presente pesquisa deve-se à necessidade de explorar as possíveis diferenças e
semelhanças entre as legislações brasileiras e europeias a respeito do bem-estar de frangos de
corte, o que pode impactar a relação comercial entre o Brasil e a Comunidade Europeia.
Para a presente pesquisa, foram abordadas as legislações brasileiras de âmbito federal a
partir de pesquisas realizadas no site do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Já as regulamentações europeias abordadas, foram pesquisadas no site da European Comission.

4 Resultados e Discussão

Atualmente, as legislações brasileiras de âmbito federal que abrangem o bem-estar de


frangos de corte em seus textos são compostas por: quatro instruções normativas, uma lei
federal, uma portaria, uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito e um decreto, além da
própria Constituição Federal de 1988. Tais legislações e suas disposições podem ser
visualizadas no Quadro 1.

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Quadro 1 – Legislações federais brasileiras que abrangem o bem-estar de frangos de
corte
Legislação Disposição (ões) Geral (is)
Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e
a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem
Decreto nº 9013 de 2017
sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de
origem animal (RIISPOA).
Dispõe sobre transporte de animais de produção ou de
Resolução Nº 675, de 2017, CONTRAN
interesse econômico, de esporte, de lazer e de exposição.
Dispõe sobre o credenciamento de entidades para
Instrução Normativa n° 12, de 2017
treinamento em abate humanitário.
Instituir a Comissão Técnica Permanente de Bem Estar
Animal - CTBEA, do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Portaria nº 905 de 2017 Abastecimento, com o objetivo de coordenar ações em
bem-estar dos animais de produção e de interesse
econômico nos diversos elos da cadeia pecuária.
Aprova o regulamento técnico para os sistemas orgânicos
Instrução Normativa nº 46, de 2011
de produção animal e vegetal.
Estabelece os procedimentos gerais de Recomendações de
Boas Práticas de Bem-Estar para Animais de Produção e de
Instrução Normativa nº 56, de 2008
Interesse Econômico (Rebem), abrangendo os sistemas de
produção e o de transporte.
Aprova o regulamento técnico de métodos de
Instrução Normativa n° 03, de 2000 insensibilização para o abate humanitário de animais de
açougue.
Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas
Lei nº 9.605, de 1998 de condutas e de atividades lesivas ao meio ambiente, e dá
outras providências.
Em seu artigo 225, inciso VII do capítulo primeiro –“
proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade”. Por meio da Emenda Constitucional nº 96 de
Constituição Federal de 1988 2017, inclui no presente artigo o capítulo sétimo, no qual
consta “não se consideram cruéis as práticas desportivas
que utilizem animais, desde que sejam manifestações
culturais... devendo ser regulamentadas por lei específica
que assegure o bem-estar dos animais envolvidos”
Fonte: Adaptado de BRASIL (1988; 1998; 2000; 2008; 2011; 2017a; 2017b; 2017c, 2017d)

As principais legislações europeias que compreendem o bem-estar de frangos de corte


encontradas foram quatro: dois regulamentos e duas diretivas. Essas regulamentações e suas
disposições podem ser visualizadas no quadro 2.

Quadro 2 – Legislações europeias que abrangem o bem-estar de frangos de corte


Legislação Disposição (ões) Geral (is)
Estabelece normas mínimas de proteção dos animais nas
Diretiva 98/58/CE
explorações pecuárias.
Relativo à proteção dos animais durante o transporte e
Regulamento (CE) nº 1/2005
operações afins.
Relativa ao estabelecimento de regras mínimas para a
Diretiva 2007/43/CE
proteção dos frangos de corte.
Regulamento (CE) nº 1099 de 2009 Relativo à proteção dos animais no momento do abate.
Fonte: Adaptado de Council Directive (1998; 2007) e União Europeia (2005; 2009).
O Brasil contem artigos nas suas leis que defendem o BEA, muito embora o escopo de
muitas destas legislações se detenham a simplesmente proibir a crueldade aos animais. Em
sustentação, a Constituição Federal Brasileira de 1988 traz, no inciso VII do parágrafo primeiro

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do artigo 225, a proibição de práticas cruéis aos animais. É importante ressaltar que o capítulo
sétimo do mesmo artigo, criado pela Emenda Constitucional nº 96 de 2017, não considera cruéis
as práticas desportivas que utilizem animais em manifestações culturais, embora assegure que
as mesmas devam ser regulamentadas por leis específicas que assegurem o bem-estar dos
animais envolvidos (BRASIL, 1988).
Ao analisar a qualidade das legislações federais brasileiras referentes ao BEA, pode-se
perceber ausência de diretrizes, principalmente no que se refere ao manejo dos animais na
granja. Percebe-se que as legislações de transporte e de pré-abate são mais específicas em
relação ao tratamento dos animais quando comparadas às referentes ao tratamento dado aos
animais nos sistemas de produção. Nesse sentido, o Decreto nº 9.013 de 2017 (BRASIL, 2017b)
e a Resolução do CONTRAN nº 675 de 2017 (BRASIL, 2017c) legislam sobre o transporte e
as condições de pré-abate dos animais, respectivamente, sendo que o primeiro fornece
informações específicas sobre as atividades que envolvem o ante mortem, o abate propriamente
dito, o post mortem e, ainda, possíveis penalidades para casos em que a prática esteja em
desacordo com a legislação.
Sobre o manejo nas granjas, a instrução normativa (IN) n º 46 de 2011 estabelece o que
se entende por BEA, levando em consideração o conceito das Cinco Liberdades e estipula
normas sobre o espaço apropriado para os animais e proíbe o seu confinamento; no entanto, ela
se refere apenas a animais produzidos de forma orgânica, os quais não representam a maior
parte da produção brasileira, na qual os animais são criados em sistemas intensivos de produção
(BRASIL, 2011). A IN nº 56 de 2008 comenta sobre alguns cuidados a serem adotados, apesar
de vagos e pouco específicos, estabelecendo no seu artigo quarto; não obstante, que “a
Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo – SDC fará publicar na
imprensa oficial e em outros meios de comunicação Manuais de Boas Práticas de Bem-Estar,
que estabelecerão recomendações de procedimentos específicos para cada espécie animal de
acordo com sua finalidade produtiva e econômica” (BRASIL, 2008). No entanto, a Portaria nº
905 de 2017 pode ser um sinal de que o governo brasileiro está mais consciente das condições
em que os animais de produção estão sendo criados. Essa normativa é responsável pelo
estabelecimento de um "Comitê Técnico Permanente sobre Bem-Estar Animal", que tem como
objetivo propor normas e recomendações técnicas de boas práticas para o bem-estar animal
(BRASIL, 2017d).
Quando analisadas as regulamentações europeias referentes ao BEA, é possível
averiguar instruções específicas para atingir um alto grau de BEA, principalmente no que se
refere ao tratamento dos animais durante o período de criação. A Diretiva 98/58/CE (COUNCIL
DIRECTIVE, 1998) estabelece normas gerais que devem ser observadas em animais de
exploração pecuária, entre elas: acesso à água e à alimentação adequados, regime de luz
apropriado para a espécie, não permite mutilação dos animais, garante a liberdade de
movimentos, exige que os animais sejam inspecionados pelo menos uma vez ao dia, entre
outras. Essa diretiva não é específica para aves, fornecendo regras gerais que devem ser
cumpridas. Já a Diretiva 2007/43/CE (COUNCIL DIRECTIVE, 2007), instruí sobre diretrizes
específicas para frangos de corte, estabelecendo normas, por vezes, muito instrutivas, como por
exemplo: estabelece que a densidade máxima nos aviários deve ser de 33 kg/m², a intensidade
luminosa mínima deve ser de 20 lux durante os períodos de iluminação e a concentração
máxima de amônia e de dióxido de carbono deve ser de 20 e 3000 ppm, respectivamente.
O Regulamento (CE) nº 1 de 2005, o qual dispõe sobre o transporte dos animais,
apresenta como normas: a exigência de que os veículos sejam adequados, a estipulação da
duração máxima das viagens, o fornecimento de água e de alimentos quando necessários, o
controle da temperatura e da ventilação durante o translado, a exigência da certificação dos
transportadores, entre outros (UNIÃO EUROPEIA, 2004). Esse regulamento não trata apenas
de aves, mas legisla sobre todas as espécies e, por vezes, refere-se a espécies específicas. Por

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fim, o Regulamento (CE) nº 1099 de 2009 dispõe sobre os cuidados a serem tomados no
processo de abate dos animais (UNIÃO EUROPEIA, 2009). Esse regulamento também não é
específico para frangos de corte, embora trate “aves” de forma específica em determinados
casos, como quando legisla sobre os métodos de atordoamento permitidos.
Pode-se perceber que as regulamentações europeias são mais normativas em relação às
práticas que devem ser adotadas para garantir um adequado grau de bem-estar aos frangos de
corte do que as brasileiras, quando se referem ao tratamento conferido aos animais durante o
processo de criação, ou seja, quando eles estão na granja. Enquanto a Diretiva 2007/43/CE
estabelece normas sobre as condições mínimas que os frangos de corte devem possuir durante
a sua criação, nenhuma legislação brasileira o faz, com exceção da IN nº 46 de 2011; não
obstante, ela trata apenas de animais criados de forma orgânica.
Outra diferença observada é que nenhuma legislação federal brasileira trata sobre
frangos de corte de forma específica, com exceção da IN n º 46 de 2011, a qual, além de
estabelecer diretrizes para outras categorias animais, também dispõe sobre normas de bem-estar
para frangos de corte. No entanto, como frisado anteriormente, essa normativa se refere apenas
à criação de animais em sistemas orgânicos, não dispondo sobre a criação dos animais no
modelo convencional. Todavia, há de se salientar que, embora não sejam observadas normas
sobre o bem-estar de frangos de corte na Portaria nº 905 de 2017, ela estabelece a criação de
estabelecimento de uma “Comissão Técnico Permanente sobre Bem-Estar Animal”, que tem
como objetivo propor normas e recomendações técnicas de boas práticas que visam o BEA.
É importante observar que as legislações brasileiras que abrangem o transporte e,
principalmente, o abate dos animais, são instrutivas e definem normas a serem seguidas durante
os procedimentos quando comparadas as que se referem a criação dos animais. Especula-se que
isso ocorra, pois o transporte e as atividades nos frigoríficos podem ser melhor controlados por
fiscais devido à maior facilidade de monitoramento em comparação às atividades realizadas nas
granjas, onde os animais estão alojados.
As condições de manejo nas granjas ainda são pouco abordadas nas legislações
brasileiras. Para Silva et al. (2011), a legislação brasileira não aborda especificamente questões
relacionadas ao BEA; isso pode ser parcialmente explicado pelo fato de que os consumidores
brasileiros não estão tão preocupados com questões éticas quanto ao bem-estar animal como
consumidores estrangeiros, especialmente europeus (HUERTAS; GALLO; GALINDO, 2014).
Nesse sentido, Molento (2005) enfatiza que a demanda por produtos derivados de animais que
tenham condições de vida adequadas tendem a ser demonstradas mais claramente pelas
sociedades, como resultado de conceitos básicos de educação e de conhecimento sobre o BEA.
Para McInerney (2004), as dificuldades encontradas na criação e no desenvolvimento
de legislações que abordem o BEA se devem à grande velocidade que os valores e as atitudes
das pessoas estão se modificando em relação ao tratamento dos humanos para com os animais.
Em consonância, Paranhos da Costa et al. (2012) comentam que é possível que as condições
dos animais de produção que garantem um alto grau de bem-estar não estejam sendo
amplamente adotadas, pois as iniciativas que lhe dizem respeito ainda são relativamente
recentes. É possível que a pressão por melhorias no grau de bem-estar dos animais produzindos
em países em desenvolvimento seja proveniente de países desenvolvidos, especialmente
quando eles importam produtos brasileiros (MOLENTO, 2005), e não de legislações locais.
Nesse sentido, Fraser (2006) comenta sobre os grandes complexos de restaurantes que adotaram
em suas políticas de compras apenas produtos que atendem determinadas prerrogativas que
abrangem o BEA. Tais situações podem ser vistas como oportunidades para a cadeia produtiva
de carne de frango brasileira, visto que estar em conformidade com esses requisitos pode ser
estratégico para as empresas brasileiras.
Apesar dessas considerações, é possível verificar modificações no ambiente
institucional brasileiro em relação ao BEA. Enfatiza-se que das nove legislações federais

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brasileiras que contemplam o tema, quatro delas são recentes, sendo estabelecidas em 2017.
Isso pode ser um indicativo de que as pressões que objetivam proporcionar melhores condições
de vida aos animais de produção também estejam afetando o Brasil, incentivando a criação de
legislações que contemplam o tema.

5 Conclusão

As legislações da Europa e do Brasil em relação ao BEA diferem bastante entre si. Os


países europeus parecem ser mais preocupados quanto às práticas que visam o bem-estar de
frangos de corte em relação ao Brasil. As legislações brasileiras que contemplam o bem-estar
de frangos de corte ainda são incipientes, e as regulações que abordam sobre práticas que devem
ou não ser adotadas durante a criação dos animais não são específicas para frangos de corte,
nem instrutivas como são as europeias.
No entanto, é possível vislumbrar mudanças no ambiente institucional brasileiro em
relação ao tema. As recentes criações de novas legislações que abordam o BEA são indícios de
que o Brasil tem aumentado sua preocupação com a qualidade de vida dos animais de produção,
ainda que o país não tenha legislações espécie-específicas no que concerne à criação dos
animais.
Não foi o objetivo do presente trabalho abordar sobre a motivações que provocam a
criação de legislações, nem abordar que outras forças coercitivas atuam sobre a cadeia
produtiva brasileira de carne de frango e que afetem o grau de bem-estar dos animais. Sugere-
se, para futuros estudos, analisar que outras mudanças institucionais podem ser observadas no
Brasil em relação ao bem-estar de frangos de corte.

6 Agradecimentos

Agradecimento a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES) ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo
apoio disponibilizado.

7 Referências

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Desenvolvimento Sustentável na Abordagem da Economia e a Gestão dos
Recursos com base nas Informações da Contabilidade Ambiental
Sustainable Development in the Approach to Economics and Resource
Management based on Environmental Accounting Information
Moisés Cristiano da Silva1, Julcemar Bruno Zilli2, Amanda Regina Leite3, André da Silva
Pereira4
Resumo
Este estudo tem como objetivo apresentar aos leitores uma maneira simples de fazer com que as empresas
entendam a importância de investir em políticas internas que levem em conta as externalidades de seu processo
produtivo. Além disso, apresentar um princípio econômico que possa ilustrar as ações que permitem auferir
resultados que tem base no desenvolvimento sustentável, para garantir que os recursos, sejam eles naturais,
financeiros ou sociais possa estar constantemente fluindo nas empresas com consequentes resultados em níveis
desejáveis e proporcionais aos investimentos. A disponibilidade dos recursos naturais do planeta está ficando
cada vez mais crítica, a ponto de estes se tornarem o principal desafio para o futuro do crescimento econômico
mundial. Tudo porque, apesar dos avisos, nem os consumidores e nem os gestores perceberam a importância do
conhecimento sobre de onde vem a matéria prima, ou se ela vai continuar mantendo os seus níveis necessários
para o crescimento do consumo e das vendas. Tendo o Lucro como principal fonte de informação ao elaborar um
estudo de viabilidade, e o consumismo como combustível para ir às compras, as decisões com base ambiental,
praticamente inexistem. Nesse sentido há uma demanda cada vez maior de informações a serem desenvolvidas
por profissionais e estudiosos que visem incluir de forma prática e funcional, mudanças significativas em todo o
processo produtivo e em todos os níveis de consumo para atingir os objetivos de um desenvolvimento
sustentável com benefícios em longo prazo em todos os segmentos da sociedade.
Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável. Recursos Naturais. Contabilidade Ambiental. Economia do
Meio Ambiente.

Abstract
This study called Sustainable development in the approach to economics and resource management based on the
concepts of Environmental Accounting aims to present readers with a simple way to make companies understand
the importance of investing in internal policies that take into account the externalities of its production process.
Also present an economic principle that could illustrate the actions that allow obtaining results that is based on
sustainable development, to ensure that resources, whether natural, financial or social may be constantly
flowing in companies with consequent results in desirable and levels commensurate with investments. The
availability of natural resources of the planet is becoming increasingly critical to the point that they become the
main challenge for the future of world economic growth. All because, despite warnings, neither consumers nor
managers realized the importance of knowledge about where it comes from the raw material, or whether it will
continue to maintain its required levels for the growth of consumption and sales. Having profit as the main
source of information to prepare a feasibility study, decisions with environmental base, practically non-existent.
In this sense there is a growing demand for information to be developed by professionals and scholars who aim
to include practical and functional, significant changes in the whole production process and at all levels of
consumption to achieve the objectives of sustainable development with benefits long-term in all segments of
society.
Keywords: Sustainable Development. Natural Resources. Environmental Accounting. Economics of the
Environment.

1 Introdução
Crise hídrica, aumento das temperaturas globais, escassez dos recursos naturais:
assuntos como esses cada vez mais tomam conta das informações diárias. Há de se entender
as relações de todas essas expressões como algo que pode afetar o comportamento e a atitude
diante da sociedade ao analisar seus impactos em cada aspecto da vida cotidiana.
1
Economista pela Universidade de Passo Fundo. E-mail: moisescristiano@upf.br
2
Economista (UNOCHAPECÓ), Mestre e Doutor em Economia Aplicada (ESALQ/USP) e professor do Curso
de Ciências Econômicas da Universidade de Passo Fundo. E-mail: jbzilli@upf.br
3
Administradora pela Universidade de Passo Fundo e aluna do Programa de Pós-graduação em administração
(UPF)- amanda-rl@hotmail.com
4
Economista (USU), Mestre e Doutor em Economia (UFRGS), e professor do Programa de Pós-graduação em
Administração Universidade de Passo Fundo. andresp@upf.br
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371
Empresários e suas decisões estratégicas, consumidores e suas decisões de consumo:
tudo está entrelaçado e interdependente. As causas e os efeitos podem ser vistas em
comparações temporais que apresentam modelos comprometedores em termos de
disponibilidade de recursos. Necessita-se tomar atitudes para promover urgentemente
modelos de desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da vida diária a fim de evitar o
risco de terem de ser tomadas medidas excessivas de privação de um modo de vida
confortável e de resultados satisfatórios dos processos produtivos.
Nesse sentido, governos, instituições privadas e não governamentais, cientistas,
estudiosos e gestores, têm buscado respostas para manter um modelo econômico que permita
o desenvolvimento com base em ações sustentáveis e de manutenção dos recursos naturais
aos quais as sociedades são totalmente dependentes.
Em função disso, a gestão dos recursos de maneira sustentável está se tornando cada vez mais
uma análise do ambiente micro, ao se estabelecer padrões de gerenciamento ambiental. Nesse
sentido, o mundo começou a discutir o desenvolvimento sustentável, de forma a sensibilizar
as instituições a seguir o modelo que permita a manutenção da vida e do modo de viver que
mantenha um equilíbrio entre a produção, o lucro, o consumo e os recursos.
O desenvolvimento sustentável é algo que já vem sendo discutido há muito tempo.
Alinhados aos compromissos de sustentabilidade, especialistas e estudiosos cada vez mais
estão imersos em entender o que deve ser feito em relação à preocupação existente em
encontrar saídas sustentáveis de suprir às atuais demandas ao consumo e a crescente produção
que atenda a essas necessidades humanas em termos econômicos, ao mesmo tempo tendo a
consciência de que os recursos utilizados para as atividades humanas requerem uma constante
demanda de recursos naturais.
Por esses motivos discutir o desenvolvimento sustentável, seus impactos econômicos e
sociais são primordiais atualmente. Para encontrar respostas satisfatórias, no âmbito
empresarial existem ferramentas, de informação e análise, capazes de elevar os níveis de
controle e organização que permitam chegar mais rápido a resultados totalmente mensuráveis.
Dessa forma serve de incentivo a ideia de que há de se buscar as mais consistentes
respostas às indagações sobre como essas teorias explicam um caminho ou um modelo que
possa promover atitudes e políticas que construam a base para uma cultura, pensamento,
atitudes e práticas voltadas ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis à
sobrevivência do meio em que a sociedade, como um todo, permanece inserida (MAY;
LUSTOSA; VINHA, 2003, p. 191).
Nesse sentido, o estudo pretende apresentar uma investigação teórica e qualitativa
sobre como as teorias econômicas e a contabilidade ambiental podem fornecer informações
confiáveis para permitir a análise do desempenho das empresas que levam em conta os ativos
ambientais no processo produtivo. Especificamente, apresentar um histórico da necessidade
de tomar medidas para desenvolver a sustentabilidade dos recursos naturais; explanar Teorias
Econômicas e de Contabilidade Ambiental; apresentar o princípio poluidor-pagador de Pigou
e o indicador de ecoeficiência;
O estudo se justifica devido ao fato que a questão da sustentabilidade dos recursos
naturais é algo que se faz necessário por muitos motivos. No estudo da economia, há a
necessidade de um entendimento amplo e claro sobre que papel os recursos naturais, escassos,
podem ter na produção de bens e serviços. No estudo da contabilidade ambiental, a inclusão
de dados precisos da atividade produtiva pode ter um impacto direto sobre a vida das
empresas e consequentemente dos cidadãos e do modelo econômico de crescimento e
desenvolvimento com sustentabilidade.
Para tanto um gerenciamento confiável de recursos é necessário que toda e qualquer
ação tenha base em dados que possam gerar discussões e resultados práticos no sentido de se
obter os melhores resultados possíveis em seu objetivo. Ao se manter iniciativas que

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promovam políticas públicas para fazer valer as leis de descarte correto de resíduos, por
exemplo, é necessário deixar claro qual o caminho mais viável para alcançar os resultados
mais satisfatórios. Saber qual a política, método ou fórmula correta a ser adotada com base
em dados que se transformem em indicadores de gerenciamento e qualidade, podem também
contribuir para o amplo debate e aplicações de políticas públicas certeiras, coerentes e
práticas. Portanto, o estudo das teorias que aqui se aplicam se tornam pertinentes.

2 Referencial Teórico
Uma linha de pesquisa, estudo e aplicação prática que levasse em conta o
desenvolvimento com responsabilidade ganha força a partir de transformações sociais e
diagnósticos confiáveis que apontam para a necessidade de mudança na forma de encarar o
desafio de levar em conta os recursos naturais e finitos dentro do processo produtivo
mantendo a disponibilidade destes para as necessidades atuais e futuras.
Sachs (2007) lista alguns motivos profundos que levaram a sustentabilidade aos
debates institucionais. Para ele, a tomada de consciência sobre a finitude do nosso planeta foi
uma reação à uma “grande proeza técnica” – a chegada do homem à Lua, além de
incapacidade técnica para o desenvolvimento de efeito rápido, gerado pela corrida
armamentista, desproporção entre crescimento populacional exponencial e reservas limitadas
de terras e deterioração ambiental provocada pelo crescimento econômico dos anos 1950 e
1960 (SACHS, 2007, p. 286). Não por acaso, os motivos listados remetem a um relatório que
mudou a visão científica sobre o problema dos recursos finitos do planeta Terra face à
exploração de suas reservas.
Logo após o movimento ambientalista ter ganhado certo impulso com a publicação do
livro de Rachel Carson, “A Primavera Silenciosa”, a crescente preocupação universal sobre o
uso saudável e sustentável do planeta e de seus recursos, fez com que, em 1972, a
Organização das Nações Unidas, ONU, convocasse a Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia). O evento foi um marco e sua Declaração Final
com 19 princípios que representam um Manifesto Ambiental para nossos tempos. (Trechos da
Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, Estocolmo, 1972, parágrafo 6)
Na mesma época da Conferência, os pesquisadores Donella Meadows, Dennis
Meadows, Jorgen Randers e William Behrens III, publicaram o estudo “Limites do
Crescimento” com base no relatório encomendado pelo Clube de Roma, um centro de
pesquisas e atividades de inovação e iniciativa, criado em 1968, que congregava políticos,
cientistas, economistas, empresários, industriais, servidores públicos, interessados nas
questões preocupantes globais. Esse relatório apresentou cinco pontos principais como objeto
de análise: aceleração da industrialização; rápido crescimento populacional; fome; diminuição
da quantidade de recursos naturais não renováveis; deterioração do meio ambiente.
Os dados apresentavam valores históricos colhidos entre 1900 e 1970 e apresentou o
diagnóstico de que o mundo não sofreria alterações na forma de desenvolvimento econômico,
mas que em cem anos, haveria um colapso do sistema econômico, causado pelo esgotamento
dos recursos naturais não renováveis, e um consequente efeito dominó sobre a base industrial
com o aumento do preço da matéria prima, capacidade de investimento reduzida, com
impactos negativos no serviço e na agricultura (LEUZINGER; CUREAU, 2008, pp. 8, 9)
Portanto era necessária uma nova lógica de desenvolvimento que levasse em conta esses
resultados, a fim de evitar que o mundo assistisse o colapso do sistema econômico causado
pela finitude dos recursos naturais.
Em 1983, a médica Gro Harlem Brundtland, foi convidada a estabelecer e presidir a
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Em abril de 1987, a chamada
Comissão Brundtland, que publicou um relatório inovador, “Nosso Futuro Comum”, traz o
conceito de desenvolvimento sustentável para o discurso público, definindo o

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desenvolvimento sustentável como “aquele que encontra as necessidades atuais sem
comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades.” - do
Relatório Brundtland, “Nosso Futuro Comum” (Organização das Nações Unidas - ONU,
2014)
No Brasil a discussão mais ampla sobre sustentabilidade teve seu auge de inserção
cultural organizacional a partir do ano de 1992, quando o Rio de Janeiro foi palco da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a RIO 92. Nessa
ocasião foi elaborada a Agenda 21, o Plano de Ação para realização do desenvolvimento
sustentável no século XXI, um compromisso das nações em tomar atitudes e ações conjuntas
e harmoniosas na busca do desenvolvimento sustentável.
Dez anos depois, em 2002 em Johanesburgo, na África do Sul, aconteceu a RIO+10
que discutiu os resultados e ações da RIO 92, e quando foi instituída a Declaração de Política
de 2002 da Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável. Essa declaração afirma
que o desenvolvimento sustentável é construído sobre três pilares interdependentes e que se
suportam mutuamente: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção
ambiental.
A mais atual discussão mundial sobre sustentabilidade foi a RIO+20, que aconteceu no
Rio de Janeiro, Brasil, em 2012. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável discutiu o tema sob vários aspectos relacionados às questões de sustentabilidade
em todas as suas dimensões, com destaque para a criação do Centro Mundial de
Desenvolvimento Sustentável (Centro Rio+), com o objetivo de facilitar a pesquisa e o
intercâmbio de conhecimentos e promover o debate internacional sobre desenvolvimento
sustentável.
Nesse sentido, toda a base das discussões aqui apresentadas decorre da ideia de que
toda a base do conhecimento científico está envolvida na busca de soluções sustentáveis para
o desenvolvimento. Assim, tanto a Economia quanto a Contabilidade Ambiental podem
colaborar para o desenvolvimento sustentável das organizações ao trazerem à tona
informações relacionadas à tomada de decisões estratégicas que podem incluir dados
relevantes sobre a como os processos da empresa podem ser organizados de forma a
considerar o desenvolvimento sustentável em termos socioambientais, e levar em conta os
recursos naturais no processo produtivo.

2.1 Economia ambiental


As Ciências Econômicas, ao serem abordadas por teóricos, apresenta uma ideia muito
clara sobre recursos finitos, inclusos os recursos naturais e a ideia da sustentabilidade, não só
financeira, mas em dimensões cada vez maiores. Para Mankiw, a sociedade, por ter recursos
limitados, não pode produzir todos os bens e serviços que as pessoas desejam ter (MANKIW,
2009, p. 3). Em relação aos recursos naturais esses conceitos são aplicáveis e úteis para a
atual necessidade da consideração de sua relevância dentro dos processos produtivos, do
ponto de vista de sua preservação ou gerenciamento.
Abramovay (2012) instiga à reflexão ao uma perguntar se é possível um capitalismo
capaz de levar o mundo em conta. Ao propor a ideia de mercado como um ambiente
interativo que vai muito além da oferta e da procura e embasado na ideia de que mercados são
estruturas sociais, o autor sugere que os agentes, ao interagirem, partilham seus recursos, de
forma a gerar impactos relevantes em toda a cadeia de produção e consumo. Nesse caso cabe
a esses agentes a incorporação de valores ambientais, éticos ou mesmo de equidade social
(ABRAMOVAY, 2012, p. 137).
Para Woiler e Mathias (2013, p. 20), os problemas associados à degradação do meio
ambiente pela população, pelos órgãos públicos e pelas empresas privadas e estatais são
antigos, havendo a necessidade de implantar ações ou criar dispositivos legais que promovam

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a consciência de que cada ação, individual ou coletiva, tem impacto sobre a sustentabilidade.
Por isso levar em conta os aspectos positivos ou resultados sociais e ambientais do uso dos
recursos naturais disponíveis se faz primordial, dadas as suas consequências.
Em face dessa necessidade de consciência a busca do entendimento por parte de
estudiosos sobre o tema tem ficado cada vez mais especializada. No caso da economia as
linhas de pensamento se concentram nas diferenças entre economia ecológica e economia
ambiental. A aplicação das análises e consequentes resultados ambientais é que são as linhas
de pesquisa dessas duas teorias que podem ser aplicadas em diferentes ambientes produtivos,
apesar de suas propostas levarem em conta a inclusão dos recursos ambientais e os impactos
no meio ambiente, devidamente contabilizados, independente do ramo de atividade.
Em linhas gerais a economia ecológica é um conceito que tem por base a melhoria do
bem-estar e equidade das sociedades humanas, junto à conservação e uso adequado do meio
ambiente e acompanhamento de indicadores de desenvolvimento sustentável, como sobre as
estimativas de depreciação, aplicação de técnicas de avaliação econômica, custos de uso do
solo, custos e benefícios da recuperação ambiental, custo de viagem para a utilização dos
recursos como meio de turismo e conscientização, além do custo de oportunidade ao se deixar
de produzir para preservar. (MAY, 1995, p. XI). A economia ecológica preocupa-se, antes de
qualquer coisa, com a preservação e com a disponibilidade dos recursos naturais e acredita
que o capital natural e material de uma economia não são substituíveis, além do que um
crescimento sustentável só se daria se o nível de estoque de material natural se mantivesse
constante (MAY,1995, p. 24)
A visão da Economia Ambiental sobre o desenvolvimento sustentável aborda aspectos
relacionados à gestão dos recursos ambientais. Uma análise com base na economia ambiental
vai levar em conta custos e benefícios da atividade sob o ponto de vista das externalidades
positivas ou negativas que a atividade vai acarretar. A economia ambiental também leva em
conta os conceitos da economia ecológica, incluindo análises de resultados com a gestão dos
recursos ambientais, e seus impactos econômicos e sociais. Um das técnicas dessa teoria
utilizada em ações de gestão ambiental, no âmbito da produção, é analisando e colocando em
prática a gestão de custos ambientais através da valoração dos bens ambientais.
Nesse sentido a base do conceito de economia ambiental apresenta métodos
econômicos que podem estabelecer o valor ambiental da atividade econômica incluindo essa
variável no processo produtivo. Com a gestão dos recursos ambientais também é possível
fazer o levantamento sistemático das externalidades negativas do processo produtivo que
podem levar a prejuízos sociais e ambientais, o que pode ter impacto econômico nos
processos, sejam eles localizados ou setorizados, bem como sistêmicos.
A intenção da gestão ambiental, dentro das organizações, é tornar o processo mais
consciente da necessidade de encontrar maneiras de diminuir ou mitigar os impactos das
externalidades negativas ao meio ambiente e, consequentemente levar em conta a finitude dos
recursos ambientais para fazer uso destes de forma sustentável (MOURA, 2011, pp. 9-77).
Propõe conceitos econômicos clássicos que apontam para análises microeconômicas como,
por exemplo, a teoria do bem-estar social na determinação de custos e benefícios sociais
quando as decisões de investimentos públicos afetam o consumo da população ou seu nível de
bem-estar, determinando quanto melhor ou pior estará o bem-estar das pessoas devido a
quantidade de bens e serviços ambientais que sofreram mudanças seja na apropriação do seu
uso ou não (MOTTA, 2007, p. 13)
Portanto, a economia busca utilizar os conceitos da análise microeconômica para
determinar custos e benefícios por meio da teoria do bem-estar, demonstrando suas
interrelações com os demais setores da empresa e da economia.

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2.2 Contabilidade ambiental
A Contabilidade Ambiental tem um papel fundamental em todo o processo de tomada
de decisões que levam em conta essas informações que incluem a valoração dos ativos
ambientais no processo produtivo. Segundo Tinoco e Kraemer (2011), na literatura contábil
há várias classificações para ativo, que pode ser definido como um recurso escasso, operando
na entidade, capaz de ser transferido por força da economia, reportado em termos financeiros,
que foi adquirido como resultado de transação atual ou no passado e que tem capacidade de
gerar benefício econômico futuro.
Seu valor econômico é o máximo valor atual dos resultados futuros esperados. Em
relação ao ativo ambiental, os benefícios podem ser esperados a partir do aumento da
capacidade ou da segurança ou da eficiência de outros ativos da empresa; redução ou
prevenção de provável contaminação ambiental resultante de futuras operações; conservação
do meio ambiente (TINOCO; KRAEMER, 2011, p. 153).
Essas definições de ativo ambiental com vistas a resultados futuros mas com
prevenção, redução ou preservação, se mostra alinhado ao conceito de desenvolvimento
sustentável, segundo Ferreira (2011), “em consonância com o conceito relacionado ao
desenvolvimento da própria contabilidade ambiental como resultado da necessidade de
oferecer informações adequadas às características de uma gestão ambiental, ou a um conjunto
de informações que relatem adequadamente, em termos econômicos, as ações de uma
entidade sobre o meio ambiente que modifiquem seu patrimônio” (FERREIRA, 2011, p.53).
Costa (2012), defende a necessidade de incluir a contabilidade ambiental por entender
que ela é parte fundamental da contabilidade gerencial. Suas informações podem auxiliar os
gestores a “planejar e a controlar as atividades da organização e avaliar o desempenho do
negócio tanto econômico quanto ambiental” (COSTA, 2012, p. 14).
Em função disso, a Contabilidade Ambiental se mostra extremamente útil aos gestores
interessados em relacionar as suas atividades atuais, o planejamento e as informações
gerenciais de forma a promover a sustentabilidade com responsabilidade social, tendo em
vista a utilização dos recursos naturais na medida de suas necessidades atuais e futuras,
estendendo esse conceito para toda a comunidade interna e externa envolvida em seus
processos produtivos.

3 Procedimentos Metodológicos
De acordo com o objetivo do estudo de apresentar como o princípio poluidor-pagador
de Pigou e os indicadores de ecoeficiência podem ser aplicados ao se avaliar a necessidade de
implantar políticas de gestão que levam em conta os conceitos da economia e da contabilidade
ambiental através do método qualitativo. Ao apresentar as teorias e os princípios básicos da
técnica de avaliar e analisar o impacto das externalidades presentes no processo produtivo, é
possível chegar a noções de gerenciamento que levem em conta uma atitude administrativa
que permita utilizar políticas ambientais para incentivar ações práticas que visem mitigar os
impactos ambientais que podem estar presentes no processo produtivo. Um levantamento
contábil e econômico desses impactos pode revelar informações úteis à utilização de ações de
desenvolvimento sustentável e de gestão ambiental dentro das organizações através de
decisões estratégicas.
Quanto à pesquisa, foi levado em consideração o estudo de caso de um processo
produtivo que exerça uma pressão considerável nas externalidades ambientais negativas
relativas à produção de resíduos contaminados. Através da aplicação dos conceitos da
economia e da contabilidade ambiental e da apresentação de como a externalidade ou as
medidas de diminuição dessa externalidade, a partir do princípio poluidor-pagador e do
cálculo do indicador de ecoeficiência, podem servir de guias para a avaliação dos impactos
ambientais e suas consequências em eficiência e resultados financeiros para a organização.

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376
3.1 O PRINCÍPIO POLUIDOR-PAGADOR
O princípio poluidor-pagador, ou a internalização do dano, foi apresentado primeiro
por Arthur Cecil Pigou, no início do século XX, ao contextualizar a correção das
externalidades negativas através da cobrança, pelo Estado, da diferença entre o custo marginal
privado e o custo marginal social, ou seja, o custo de uma externalidade negativa no bem estar
social configurando-se uma espécie de tributo corretivo ao poluidor.
A Figura 1 representa o caso de um setor produtivo constituído por empresas em
concorrência perfeita. A curva de demanda, como soma lateral de todas as demandas
individuais dos consumidores, intercepta a curva de oferta de mercado. Se não há
externalidades na produção do bem todos os demais mercados estão ajustados em
concorrência perfeita. Mas na presença de uma externalidade negativa, se sai do ponto ótimo
por não haver mais a igualdade entre o preço e o custo marginal, onde se cria uma nova curva
com o custo social incluso que se torna maior do que o custo privado.
Figura 1 – Curvas de Custo Social

Fonte: Antonio Carlos Assumpção CEAV - BNDES – 2013.

O conceito é de que a externalidade modifica as curvas de produção e também do


custo de produção por um motivo simples. Segundo o princípio poluidor-pagador, há a
necessidade de haver uma compensação ou pagamento de tributo pela modificação do
ambiente natural, resultado do processo produtivo, de forma que vai causar um efeito
negativo na sociedade a partir do momento em que o Estado terá de desembolsar recursos
para corrigir essa modificação.
Esse efeito negativo pode afetar a curva de demanda pela influência negativa no bem-
estar social e também o ajuste no custo marginal da produção. Um dos motivos desse ajuste
pode ser a diminuição do recurso da empresa para a produção, uma vez que esse recurso será
utilizado para ao pagamento do tributo ou imposto por conta da externalidade negativa
produzida ao recurso natural ou ambiental. Esse mecanismo de reflexão na curva de oferta é
resultado do ajuste nos custos marginais privados mais o custo marginal social pelo aumento
do preço do produto aos consumidores e a diminuição da quantidade de transações no
mercado, mostrando que a cobrança pelo valor da externalidade como um tributo está de
acordo com a formulação de Pigou. (MAY;LUSTOSA;VINHA, 2003, p. 63)
Verifica-se o caso de um processo produtivo que resulta em um percentual elevado de
resíduo contaminado. Um setor da empresa é responsável por 58% do descarte de resíduo
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contaminado, uma externalidade negativa do processo produtivo. Se corretamente descartado
pode oferecer a possibilidade de evitar custos sociais, segundo o princípio poluidor-pagador
de Pigou.
Tomando por base o setor de uma empresa que é responsável por 25% do resíduo
descartado e ela descarta uma tonelada de resíduo por ano, tem-se uma base de cálculo
interessante para entender esse processo. Empresa 100% = 1.000kg/ano Setor/Empresa 25% =
250kg/ano Setor 58% = resíduo contaminado Total Setor = 145kg/ano.
Aplicando conceitos da Economia Ambiental e da Contabilidade Ambiental pode-se
entender melhor esse processo. A economia ambiental defende que todo o processo produtivo
está interligado economicamente e o objetivo é aplicar conceitos de gestão ambiental que
visem mitigar as externalidades negativas. Abramovay, ao propor a ideia de mercado como
um ambiente interativo que vai muito além da oferta e da procura e embasado na ideia de que
mercados são estruturas sociais, sugere que os agentes, ao interagirem, partilham seus
recursos, de forma a gerar impactos relevantes em toda a cadeia de produção e consumo.
Nesse caso cabe a esses agentes a incorporação de valores ambientais, éticos ou mesmo de
equidade social. (ABRAMOVAY, 2012, p. 137). Portanto, é de responsabilidade social da
empresa incorporar valores ambientais que visem minimizar os impactos dos resíduos
contaminados no meio ambiente. Seus resultados podem ir além, visto que evitaria a
aplicação de recursos por parte da administração pública para evitar a contaminação de
nascentes, rios, mananciais hídricos subterrâneos ou a poluição do ar, conforme o princípio
poluidor-pagador.
A partir da ideia de ativo ambiental conforme definido pela contabilidade ambiental é
também possível entender essa relação, pois, tendo o valor econômico sendo o máximo valor
atual dos resultados futuros esperados, o ativo ambiental sendo classificado e identificado
pode ter os benefícios de aumento da capacidade ou da segurança ou da eficiência de outros
ativos da empresa, redução ou prevenção de provável contaminação ambiental resultante de
futuras operações e conservação do meio ambiente. (TINOCO; KRAEMER, 2011, p. 153).
Um desempenho econômico e contábil eficientes da mitigação de externalidades
negativas pode ser expresso pela aplicação do indicador de ecoeficiência. Segundo Tinoco e
Kraemer (2011), o conceito de ecoeficiência que constitui a ligação entre o desempenho
financeiro e ambiental, foi definido em 1992 pelo Conselho de Negócios Mundial para o
Desenvolvimento Sustentado (WBCSD, em inglês). Ele permite acrescentar mais valor
reduzindo a influência ambiental, consumindo menos recursos ou gerando menos resíduos.
Eles podem ser classificados como indicadores de valor do produto ou serviço e indicador de
influência ambiental que incluem aspectos relacionados com a criação do produto ou serviço
e seu consumo ou utilização, dado através da equação:

Valor do produto ou serviço


Ecoeficiên cia  (1)
inf luência ambiental (impacto ambiental)

O WBCSD recomenda quatro instrumentos que a empresa pode aplicar para colocar
em prática o conceito de ecoeficiência: sistema de gestão ambiental; certificação ambiental;
análise do ciclo de vida; processo de produção mais limpa. O seu objetivo é minimizar a
utilização de matérias-primas, energia e geração de resíduos e aumentar a durabilidade do
produto, a reciclabilidade, a utilização dos serviços e maximizar os recursos renováveis. Por
otimizar os três objetivos básicos crescimento econômico com equilíbrio social e valor
ecológico, a aplicação de práticas ligadas à ecoeficiência vai levar a empresa ou organização a
uma estreita relação com a ideia de desenvolvimento sustentável.
A relação com a análise econômica do custo social e da eficiência dos processos que
levem ao um resultado financeiro e ambiental favorável pode responder às questões de como
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a absorção de conceitos de gestão ambiental tendo por base as informações e análises da
contabilidade e da economia ambiental são úteis do ponto de vista da sustentabilidade.

4 Resultados e Discussão
A análise dos resultados do estudo prova que a aplicação de princípios de gestão com
base na Economia Ambiental, através do levantamento sistemático das externalidades do
processo produtivo, pode levar a uma gestão dos recursos de forma a promover a
sustentabilidade.
O caso do levantamento da geração de resíduos que podem causar externalidades
negativas no ambiente, se forem administradas com a conscientização dos recursos humanos
envolvidos no processo, pode resultar em diminuição satisfatória dessas externalidades. As
ações de mitigação podem ter consequências positivas, se seguidas as bases do conceito
poluidor-pagador, eliminando possibilidades de a má gestão dos resíduos afetar o bem estar
social da comunidade.
O conceito da ecoeficiência, que pode ser auferida através do levantamento
sistemático dos resultados dos processos e acompanhamento gerencial dos resultados das
ações de mitigação das externalidades negativas, com a promoção da gestão ambiental,
permite avaliar os resultados econômico-financeiros e sociais das ações ambientais dentro das
organizações.
Esses resultados demonstram que tanto a economia ambiental quanto a contabilidade
ambiental devem estar presentes nos processos produtivos das organizações como um todo. O
momento de conscientização da aplicação de princípios econômicos e contábeis que
promovam o desenvolvimento sustentável urge agora. É necessário levar em conta a
necessidade de produzir de forma a considerar os recursos naturais finitos como parte
fundamental dos processos produtivos e tornar a sua utilização atual sustentável para manter a
sua disponibilidade futura de forma satisfatória.

5 Conclusões
Entender como funcionam os processos decisórios que podem levar a um
desenvolvimento sustentável nas organizações e instituições se torna primordial ao estudar as
teorias científicas que proporcionam informações relevantes para a tomada de decisões.
A investigação das teorias revelam caminhos que podem se tornar úteis no objetivo de
que as ações se tornem efetivas. O estudo da teoria econômica e sua aplicação nas ações de
mitigação das externalidades negativas do processo produtivo que permitam a consciência
cada vez maior da importância de se levar em conta os recursos naturais como sendo escassos,
pode levar a reflexões positivas da sociedade como um todo.
Seus resultados podem estar relacionados à qualidade de vida e aos aspectos vitais
como, por exemplo, a contribuição da manutenção de insumos básicos para a vida, como é o
caso da água, que se for utilizada de maneira consciente e com a noção de que é um recurso
finito pode significar a sua manutenção em níveis aceitáveis para as gerações atuais e futuras.
Ou conhecer os processos e analisa-los de forma que possam se tornar claros do ponto de
vista prático e resultar em ações que permitam resultados relevantes torna o estudo e a
pesquisa válidos e isso se tornar em resultados relevantes para as organizações.
Nesse sentido a reflexão, a análise, o estudo e a aplicação de conceitos presentes nas
teorias da economia ambiental e da contabilidade ambiental podem ser muito úteis para
ampliar o debate científico da necessidade de se tomarem medidas cada vez mais iminentes
para manter os recursos naturais finitos disponíveis em níveis aceitáveis para a manutenção
do modo de vida atual.
Este estudo revelou que tomar ações de desenvolvimento sustentável deve cada vez
mais encontrar eco dentro da sociedade como um todo. Um recurso tão vital quanto a água,

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por exemplo, com sua disponibilidade e sua qualidade não devem ser deixadas de lado por
parte dos cidadãos conscientes de sua responsabilidade social. A atual escassez de água e a
crise hídrica vistas no estado de São Paulo nos últimos meses mostra como o drama da falta
da água pode ser real, para citar apenas um dos recursos finitos, porém vitais do planeta para a
manutenção da vida. Se não forem tomadas medidas efetivas para que as pessoas,
comunidades, cidades, empresas, organizações, estados e países tenham a consciência da
necessidade de se tomarem medidas sustentáveis de sobrevivência, pode-se colocar em xeque
o crescimento e o desenvolvimento econômico e social.
Por isso é importante entender como ações de mitigação de externalidades nas
empresas através da aplicação de ferramentas contábeis ambientais ou informações e análises
econômicas que levem em conta a gestão ambiental dos recursos escassos podem contribuir
para a manutenção dos recursos vitais do planeta como um todo. A Economia, e a
Contabilidade como ciências sociais, também podem e devem contribuir sistematicamente
para que os resultados sejam os mais favoráveis possíveis.

6 Referências
ABRAMOVAY, Ricardo. Muito além da economia verde. São Paulo: Editora Abril, 2012.
FERREIRA, A. C. S. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvimento
sustentável. São Paulo: Atlas, 2003.
GUJARATI, D. N. Econometria Básica. São Paulo: Pearson Makron Books, 2003.
LEUZINGER, M. D., & CUREAU, S. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
LUSTOSA, M. C. J.; VINHA, V. da. Industrialização, meio ambiente, inovação e
competitividade. Economia do meio ambiente. Rio de Janeiro: Campus, p. 155-172, 2003.
MANKIW, N. G. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage Learning, 2009.
MAY, P. H. Economia Ecológica: Aplicações no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1995.
MAY, P. H., LUSTOSA, M. C., & VINHA, V. D. Economia do Meio Ambiente. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2003.
MOTTA, R. S. Economia Ambiental. Rio de Janeiro: FGV, 2007.
MOURA, L. A. Economia Ambiental - Gestão de Custos e Investimentos. Belo Horizonte:
Del Rey Ltda, 2011.
ONU. Organização das Nações Unidas. ONUBR. Disponivel em:<http://www.onu.org.br/a-
onu-em-acao/a-onu-e-o-meio-ambiente/> Acesso em: 10 Out. 2018.
RIO+20. Sobre: Rio+20. Fonte: Comitê Nacional de Organização Rio+20:
http://http://www.rio20.gov.br, 2018.
SACHS, I. Rumo à Ecossocioeconomia. Teoria e Prática do Desenvolvimento. São Paulo:
Cortez, 2017.
SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1999.
TINOCO, J. E., & KRAEMER, M. E. Contabilidade e Gestão Ambiental. São Paulo: Atlas,
2011.
UN-WATER. UN Water. Fonte: Site da UN-Water:
http://www.unwater.org/publications/publications-detail/en/c/218614/ Acesso em: 10 Nov.
2017.

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380
Eficiência técnica e desempenho econômico de produtores de leite no Agreste
Pernambucano
Technical efficiency and economic performance of dairy farmers' in the Agreste
region of Pernambuco
Josefa Edileide Santos Ramos1, Marcelo da Costa Borba2, Daniela Moreira de Carvalho3,
Leonardo Ferraz Xavier4
Resumo
O Brasil é um dos grandes produtores mundiais de leite, ocupando atualmente a quinta posição no contexto
mundial. No entanto, seu sistema de produção é considerado de baixa rentabilidade para o produtor, isto se deve
à grande heterogeneidade dos sistemas de produção, em que a pecuária leiteira altamente tecnificada convive com
a pecuária de baixo nível tecnológico e baixa produtividade. O objetivo deste trabalho é avaliar a eficiência técnica
em propriedades rurais produtoras de leite na região do Agreste Meridional de Pernambuco. Foi utilizado como
método a Análise Envoltória de Dados (DEA). Ao comparar os grupos de produtores, observou-se que os de alta
eficiência apresentaram escala de produção e índices de rentabilidades mais elevados do que os benchmarks. No
entanto, os benchmarks destacam-se quanto a utilização de recursos. Os produtores mais ineficientes possuem
margem bruta negativa e não se mostram sustentáveis, pois não conseguem cobrir seus custos no curto prazo. A
utilização de assistência técnica para transferência de tecnologia entre as propriedades e a difusão dos melhores
processos produtivos, pode ser uma alternativa para redução no problema da insustentabilidade desses negócios.
Palavras-chave: Indicadores de desempenho. Eficiência produtiva. Análise envoltória de dados. Benchmarks.
Abstract
The Brazil is one of the world's largest milk producers, currently occupying the fifth position in the world context.
However, its production system is considered of low profitability for the producer, this is due to the great
heterogeneity of the systems of production, in which the dairy farming highly technified coexists with the cattle
raising of low technological level and low productivity. The objective of this work is to evaluate the technical
efficiency in rural properties producing milk in the southern Agreste region of Pernambuco. Data Envelopment
Analysis (DEA) was used as the method. When comparing the producer groups, it was observed that the high
efficiency ones had a scale of production and indexes of yields higher than the benchmarks. However, benchmarks
stand out as to the use of resources. The most inefficient producers have a negative gross margin and are not
sustainable because they can not cover their costs in the short term. The use of technical assistance to transfer
technology between the properties and the diffusion of the best productive processes, can be an alternative to
reduce the problem of the unsustainability of these businesses.
Keywords: performance indicators. Productive efficiency. Data Envelopment Analysis. Benchmarks.
1 Introdução
A produção de leite está entre as principais atividades do setor agropecuário brasileiro.
Segundo o último censo agropecuário, estima que existam cerca de 161,9 mil estabelecimentos
na pecuária de leite responsáveis pela geração de bilhões de reais anuais e de milhares de
empregos no meio rural (IBGE, 2006). Apesar do Brasil ser considerado um dos grandes
produtores mundiais de leite, ocupando atualmente a quinta posição, seu sistema de produção
é considerado de baixa rentabilidade para o produtor rural. Isto se deve à grande
heterogeneidade dos sistemas de produção, em que a pecuária leiteira altamente tecnificada
convive com a pecuária de baixo nível tecnológico e baixa produtividade.
Existem produtores especializados que investem em tecnologia, obtêm ganhos de
escala e produzem com melhor qualidade, recebendo melhor remuneração pelo produto. No
outro extremo, estão os produtores de pequeno porte, que juntos representam, tanto em número
como em quantidade, um volume significativo. Esses produtores vivem da renda gerada na
atividade leiteira, em grande parte compondo o que se denomina agricultura familiar (FBB;
IICA, 2010). Entender a dinâmica da produção de leite em pequenas propriedades rurais,
identificando os produtores que se destacam, pode ser útil para a estratégia de ação da extensão

1 Administração/UFRGS - edileideramos@gmail.com
2 Administração/UFRGS; marcelodcborba@gmail.com
3 Administração de Cooperativas/UFRPE3 - dmcoop@gmail.com
4 Economia/UFRPE - leonardoferraz@gmail.com

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rural em processos de geração e disseminação de conhecimentos adequados à produção familiar
e o desenvolvimento de políticas públicas no meio rural (FERRAZZA et al., 2015).
Muitas propriedades rurais ainda são gerenciadas de forma empírica, sem
conhecimento dos custos de produção, que é uma das principais informações de suporte
à tomada de decisão (SANTOS; LOPES, 2014). O produtor precisa considerar a informação
como um insumo de grande importância, conhecer o mercado onde atua e seu sistema de
produção dentro e fora da porteira (LOPES et al., 2007). Por não conseguir controlar o preço
do produto que vende e atuar em um mercado competitivo, o produtor de leite necessita
administrar as variáveis que estão sob o seu controle como uma estratégia para tornar seu
produto competitivo. O seu resultado econômico em um mercado caracterizado pela
concorrência depende do gerenciamento dos custos de produção e seus ganhos de escala (REIS;
MEDEIROS; MONTEIRO, 2001).
É salutar a estimativa de índices de desempenho zootécnico e econômico, que possam
permitir a utilização da gestão de custos como instrumento de competitividade da pecuária
leiteira nacional, facilitando uma compreensão mais clara das reais capacidades de resistência
dos produtores nas diferentes realidades em que se encontram (LOPES; REIS; YAMAGUCHI,
2007). Tais ações podem possibilitar o embasamento para o planejamento da empresa rural,
avaliação de seus resultados e a tomada de decisões estratégicas. Segundo Pinheiro e Altafin
(2007) conhecendo os indicadores de desempenho dos produtores de referência é possível
identificar quais os principais gargalos dos produtores menos eficientes, que poderão refletir
sobre os outros, e aperfeiçoar seus processos para torna-los mais eficientes, garantindo, dessa
forma, sua sustentabilidade. Este estudo tem como foco o segmento primário da cadeia
produtiva do leite, e busca a identificação e a caracterização de sistema referência característico
da região Agreste pernambucana.
2 Fundamentação Teórico
1.1 A pecuária leiteira no Brasil
Atualmente o Brasil se encontra entre os maiores produtores de leite de vaca do mundo,
de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department
of Agriculture - USDA). O Brasil ocupou a quinta posição no ranking mundial de produção de
leite em 2014, atrás da União Europeia, Índia, Estados Unidos e China. Apesar de ocupar a
quinta posição sua participação é de apenas 5% no total mundial, não sendo suficiente para
atendar a demanda nacional, sendo o país tradicionalmente importador de leite. Os maiores
produtores de leite do país concentram-se principalmente nas regiões Sul e Sudeste.
No Nordeste, por sua vez, as concentrações da produção de leite estão no Sertão e no
Agreste, a exemplo das mesorregiões dos sertões cearenses, sertão alagoano, agreste
pernambucano, sertão paraibano, sertão sergipano e central potiguar, já que o clima se torna
mais adequado para a criação do gado (REIS FILHO; SILVA, 2013). A região Nordeste
representa 11,1% da produção nacional de leite, estando atrás do Sul (com 34,7%), Sudeste
(34,6%) e Centro-Oeste (14,1%). A região Norte (5,5%) ocupa a última posição do ranking.
Dentre os estados nordestinos, a Bahia é o maior produtor de leite, representando 31,2% da
produção regional. Por sua vez, Pernambuco ocupa a segunda posição, com 15,6% na produção
leiteira na região estadual (IBGE, 2016).
De acordo com Oliveira et al. (2009), a cadeia do leite é a principal atividade para
dezenas de municípios do Sertão e, principalmente, do Agreste de Pernambuco, onde está
concentrada a mais importante bacia leiteira do estado. Nesse aspecto, a mesorregião do Agreste
Pernambucano representa 76,9% da produção estadual (IBGE, 2016). Em sua grande maioria,
a pecuária leiteira é conduzida por produtores familiares, localizados principalmente na Região
do Agreste. Apesar de a produção de leite apresentar números expressivos, a atividade convive

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com baixos índices zootécnicos, apresentando baixa produtividade, em torno de 1.396 litros por
vaca/ano, portanto, abaixo da média nacional. No Brasil, considerando a produção de 35,17
bilhões de litros de leite deste ano, a produção por vaca ordenhada foi de 1.525 litros/vaca/ano.
Dentre as regiões geográficas, a maior produtividade é encontrada na Região Sul com 2.789
litros/vaca/ano.
No Nordeste, o Estado de Alagoas ocupa a primeira colocação em produtividade com
1.887 litro/vaca/ano, em seguida está o Estado do Sergipe com 1.466 e Pernambuco aparece na
terceira posição, com produção de 1.396 litro/vaca/ano, como já mencionado (IBGE, 2016). No
entanto, a mesorregião do Agreste pernambucano, apresenta potencial um pouco mais elevado
do que o estado. Sua produtividade gira em torno de 1.739 litros/vaca/ano, pouco acima da
média nacional de 1.525 litros/vaca/ano, confirmando suas boas características para a produção
de leite (IBGE, 2016).
A produção leiteira do Estado de Pernambuco, em sua maioria conduzida por
produtores familiares, é a principal atividade para dezenas de municípios do Sertão e,
principalmente, do Agreste pernambucano, onde está concentrada a bacia leiteira do estado.
Pernambuco é o segundo maior produtor de leite do Nordeste (839.029 mil litros), próximo ao
estado da Bahia (858.408 mil litros) maior produtor (IBGE, 2016). Apesar de a produção de
leite apresentar números expressivos a atividade convive com baixos índices zootécnicos, isso,
em comparação aos estados do sul. O baixo nível tecnológico aplicado na exploração leiteira e
a falta de gestão mais profissionalizada nas propriedades conferem ao segmento produtivo
indicadores técnicos aquém das suas reais potencialidades. De acordo com Mattos et al. (2017)
a atividade leiteira é naturalmente complexa, pesquisas com essa temática podem fundamentar
estratégias e políticas públicas para o setor de forma a contribuir para o fortalecimento da
atividade ou mesmo para desenvolvimento e implantação de tecnologias adequadas à realidade
regional e, desta forma, atuar para o desenvolvimento do Estado.
1.2 Eficiência na atividade leiteira
A eficiência no processo produtivo é um ponto fundamental para a manutenção de
qualquer atividade pecuária, sendo que determinar o custo e a rentabilidade proporcionam aos
produtores subsídios para a tomada de decisões (FERREIRA; FERREIRA; EZEQUIEL, 2004).
Diante desse cenário, o gerenciamento do processo produtivo, por meio de registros agrícolas
confiáveis, constitui um instrumental para a geração desses indicadores. O acompanhamento
de índices zootécnicos e econômicos pode ser utilizado como ferramenta para o gerenciamento
do desempenho técnico-econômico da atividade leiteira (FERRAZZA et al., 2015). A
estimativa da eficiência na empresa rural pode ajudar na decisão sobre como melhorar o seu
desempenho atual ou introduzir novas tecnologias para aumentar sua produção, é útil, ainda,
para fins estratégicos (comparação com outras empresas), táticos (permitir a gerencia controlar
o desempenho da empresa pelos resultados técnicos e econômicos obtidos), planejamento
(comparar os resultados do uso de diferentes combinações de fatores) ou outros fatores
relacionados à administração interna da empresa (TUPY; YAMAGUCHI, 1998). A cerca da
produtividade esta varia devido às diferenças na tecnologia de produção, na eficiência dos
processos de produção e no ambiente em que ocorre a produção. Já, a eficiência de uma unidade
produtiva é entendida como uma comparação entre valores observados e valores ótimos de
insumos e produtos (TUPY; YAMAGUCHI, 1998). Nesse contexto, uma boa forma de
identificar se a atividade exercida é eficiente, ou não, é compará-la com a de outros rebanhos
semelhantes (benchmarks). Desta forma, ao evidenciar os produtores mais eficientes, pode-se
tentar eliminar as ineficiências (GOMES; ALVES, 1999). Por outro lado, o reconhecimento de
elevada eficiência econômica de alguns rebanhos pode tornar-se referência para os demais
(TUPY; VIEIRA; ESTEVES, 2003).

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A análise da medida de eficiência relativa na produção originou-se com os trabalhos de
Koopmans (1951), Debreu (1951) e Farrell (1957), que definiram uma medida simples para
uma firma eficiente que utiliza vários insumos. Para melhor entendimento do que seja
eficiência, faz-se necessário conceituar os três tipos existentes em um processo de produção:
eficiência técnica, alocativa e dinâmica. A eficiência técnica é determinada pela diferença entre
a proporção observada de quantidades combinadas de um produto de uma empresa com o
insumo e a proporção alcançada pela melhor prática. Pode ser expressa como o potencial para
aumentar a quantidade de saídas de determinadas quantidades de insumos, ou o potencial de
reduzir as quantidades de insumos utilizados na produção de determinadas quantidades de
saídas. É afetado pelo tamanho das operações (eficiência de escala) e por práticas gerenciais
(eficiência técnica sem escala), além de ser definida independente de preços e de custos
(REINALDO; POSSAMAI; THOMAZ, 2002). Com base nos estudos descritos anteriormente,
sofre a eficiência relativa, Charnes, Cooper e Rhodes (1978) desenvolveram a abordagem não
paramétrica para a análise de eficiência relativa de firmas, chamada de Data Envelopment
Analysis (DEA). Este método procura medir a eficiência produtiva de unidades de produção
múltiplos insumos e múltiplos produtos. São diversas as aplicações da DEA nas avaliações de
unidades encontradas na literatura. Foram selecionados alguns trabalhos que aplicaram este
método na produção de leite.
Quadro 1 - Seleção de estudos anteriores sobre DEA na produção de leite
AUTORES OBJETIVOS PRINCIPAIS RESULTADOS
Identificar benchmarks na produção de
O método utilizado na identificação de benchmarks
(TUPY; leite utilizando como ferramenta de
forneceu relatórios individuais de eficiência técnica e de
YAMAGUCHI, análise a técnica não paramétrica de
escala, a utilização racional dos fatores de produção
2002) programação linear Data Envelopment
empregados na produção de leite.
Analysis.
Associação positiva entre índices de eficiência e lucros.
Estudar a eficiência técnica em
As empresas ineficientes podem melhorar sua eficiência
fazendas leiteiras na Bacia Abasto Sul
(ARZUBI; na adoção de medidas p/ obter a melhor combinação de
Buenos Aires. E ainda, investigar a
BERBEL, 2002) recursos de decisões estratégicas. A difusão das
ligação entre a eficiência as variáveis
características das empresas eficientes permite melhorar
técnica e económicas.
a competitividade das empresas da região
Avaliar a eficiência dos produtores Predomínio do grupo de produtores ineficientes
pelas medidas de eficiência técnica e de representando 67,5% da amostra. A margem líquida
(MAGALHÃES; escala e calcular indicadores de negativa indica a grave crise que sofre esse grupo de
CAMPOS, 2006) desempenho econômico dos produtores, confirmada pela desvantajosa relação entre
produtores de leite do Município de o preço de venda do produto e o custo médio de
Sobral, Ceará, Brasil. produção.
Os benchmarks apresentam melhores indicadores de
Avaliar a eficiência técnica e
custos, produção diária, produtividade terra, eficiência
econômica da produção familiar de
(PINHEIRO; de concentrados e margem bruta por área. As
leite em projetos de assentamento de
ALTAFIN, 2007) simulações realizadas apontam para um ganho de
reforma agrária, no município de Unaí,
eficiência de 28,04%, quando realizados os ajustes
MG.
indicados pelo modelo.
A maior apresenta ineficiência técnica. Os pequenos
Mensurar as eficiências técnica e de
estão operando com retornos crescentes a escala, com
escala de propriedades produtoras de
potencial p/ expandir suas produções e produtividades.
(GONÇALVES et leite do Estado de Minas Gerais,
Os grandes apresentaram as melhores medidas de
al., 2008) considerando diferentes estratos de
eficiência técnica, explicada, em parte, pela presença de
produção, e identificar os fatores
fatores como acesso ao crédito rural, treinamento e
determinantes desta eficiência.
assistência técnica.
Identificar grupos de produtores de leite Tecnicamente ineficientes, mesmo quando se leva em
tecnologicamente homogêneos no conta as características particulares de grupos
(SOUSA; Estado de Goiás e calcular os ganhos homogéneos de propriedades e diferenças em termos de
CAMPOS; dos produtores ineficientes, curto e longo. Este último, por sua vez, é mais
GOMES, 2012) considerando os de melhor desempenho competitivo no longo prazo. A tendência da produção
(benchmarks) com o mesmo nível de leite no Estado de Goiás aponta para menos capital-
tecnológico. intensivo em sistemas de produção.
Fonte: Elaborado pela Autora (2017)

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2 Procedimentos Metodológicos
Nesta pesquisa, foram estudadas 16 propriedades produtoras de leite, localizadas no
Agreste Meridional de Pernambuco. Os dados constituem-se primários obtidos através da
pesquisa de campo, originários do Grupo de Pesquisa em Gestão Rural (GPGR), coordenados
pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, campus de Garanhuns. Foram colhidas
informações ao longo de 12 meses durante o ano de 2015. A pesquisa seguiu o método
quantitativo, utilizando a metodologia de Data Envelopment Analysis (DEA) para avaliar a
eficiência técnica nas propriedades. Lopes, Lorenzett e Pereira (2011, p. 81) conceituam o
modelo DEA como um “método não paramétrico de construção de uma fronteira de eficiência,
relativamente à qual pode-se estimar a eficiência de cada unidade, e determinar as unidades
referenciais (benchmarks) para os casos de ineficiência”. O desempenho da empresa será
avaliado quando ela é comparada as suas similares sendo o seu resultado utilizado como suporte
ao processo estratégico.
Avalia-se a eficiência de unidades produtivas que se desenvolvem em um mesmo tipo
de atividade e que se diferenciam somente pela quantidade de inputs utilizados ou pela
quantidade de outputs gerados. Segundo Reinaldo, Possamai e Thomaz (2002, p. 7) “o método
calcula uma medida máxima de performance para cada DMU relativa a todas as demais, com a
restrição de que todas as unidades se encontrem sobre a fronteira ou abaixo dela”.
Há dois modelos DEA tradicionais, o modelo constant returns to scale (CRS) também
conhecido por CCR, seu nome deriva das iniciais de seus criadores Charnes, Cooper e Rhodes
(1978), que trabalha com retornos constantes de escala, e o modelo variable returns to scale
(VRS) denominado de BCC por seus desenvolvedores Banker, Charnes e Cooper (1984), que
considera retornos variáveis de escala. Nesse trabalho optou-se pela utilização do modelo BCC
(VRS) por considerar a variação em função da escala de produção. O modelo BCC pressupõe
tecnologias que exibam retornos variáveis de escala de produção. De acordo com Belloni (2000,
p. 68), “ao possibilitar que a tecnologia exiba propriedades de retornos à escalas diferentes ao
longo de sua fronteira, esse modelo admite que a produtividade máxima varie em função da
escala de produção”. Nesse caso, um aumento no volume de insumos utilizados no processo
produtivo não necessariamente resulta num aumento proporcional dos produtos.
A constante 𝑘 pode ser adicionado ao modelo da Equação (1), construindo um modelo
compatível com a avaliação de unidades que estejam produzindo sobre retornos variáveis a
escala (BANKER; CHARNES; COOPER, 1984). A variável 𝑘 informa se os retornos de escala
são constantes, crescentes ou decrescentes para a projeção ótima: Se k > 0: a produção é
caracterizada como retorno de escala crescente; Se k < 0: a produção é caracterizada como
retorno de escala decrescente; Se k = 0: a produção é caracterizada como retorno constante.
Os valores obtidos para eficiência de variable returns to scale são maiores ou iguais aos
obtidos para eficiência constant returns to scale. O modelo DEA em sua forma dual
apresentada na equação (1) é denominada de modelo do envelopamento. Usando a dualidade
na programação linear, pode-se derivar uma forma envoltória equivalente do problema, esse
modelo envolve menos restrições do que a forma dos multiplicadores.

Sujeito a:

Equação (1).

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O valor de θ obtido é o escore de eficiência para a i-ésima empresa. Satisfaz θ ≤ 1, o
valor de 1 indica um ponto na fronteira e, portanto, uma empresa tecnicamente eficiente, de
acordo com a definição de Farrell (1957). O problema de programação linear deve ser resolvido
𝑛 vezes, uma vez para cada empresa da amostra, desta forma um valor de θ é obtido para cada
empresa (COELLI et al., 2005). O problema de programação linear de CRS pode ser facilmente
modificado para considerar o VRS adicionando a restrição de convexidade 𝛱’λ = 1.O conceito
de fronteira é especialmente importante para a análise da eficiência, pois a eficiência é medida
como distância à fronteira. Por exemplo, as empresas que são tecnicamente ineficientes operam
abaixo da fronteira, enquanto aqueles que são tecnicamente eficientes funcionam sobre a
fronteira de produção (JI; LEE, 2010).
Na avaliação das propriedades, as unidades possuem tamanhos e tecnologias diversas
em contextos socioeconômicos diferenciados. Neste caso os modelos mais adequados são
aqueles que consideram os retornos variáveis de escala. Assim, optou-se por um procedimento
baseado no modelo BCC dual, com orientação a insumo em que buscou-se reduzir o consumo
de insumos mantendo o nível de produção, já que o ano de 2015 registrou baixos índices
pluviométricos e clima desfavorável a produção para a região. O modelo foi composto por 4
variáveis correspondentes aos insumos (X = 4) e uma relacionada aos produtos (Y = 1). São
elas: X1 = Área utilizada na atividade leiteira (expressa em hectares); X2 =Total de vacas (vacas
em lactação e vacas secas) - (expressa em unidades); X3 = Custo total de produção (expressa
em R$); X4 = Capital investido na atividade (animais, máquinas e equipamentos) - (expressa
em R$); Y1 = Produção anual de leite (expressa em litros).
Após a organização das matrizes de dados, para obter as medidas de eficiência técnica e
de escala, formulou-se o problema de programação linear, pressupondo retornos variáveis à
escala. A classificação dos produtores foi efetuada de acordo com os escores de eficiência
obtidos pela pressuposição. Foram elaboradas a frequência relativa, segundo diferentes classes
de eficiência, analisando o comportamento dos indicadores de desempenho zootécnicos e
econômicos. Por último foi determinado os benchmarks dos produtores com base na correlação
dos indicadores de desempenho com os scores de eficiência, com objetivo de identificar os
indicadores que afetam o desempenho econômico das empresas.
3 Resultados e Discussão
A análise da eficiência das propriedades produtoras de leite foi realizada mês a mês,
destacando as unidades eficientes e indicando o comportamento de cada uma ao longo do
período estudado. A análise fornece um indicador que varia de zero a um, em que somente os
produtores que obtêm índice de eficiência igual a um estão sobre a fronteira de eficiência e são
considerados eficientes. Foram apresentadas na Tabela 2 as frequências absoluta e relativa dos
produtores, segundo diferentes classes de eficiência técnica, sob orientação a insumo.
Tabela 2 - Frequência relativa da amostra segundo medidas de
eficiência técnica.
Eficiência BCC (VRS)
Medidas de eficiência
Fi %
0,0 | -- 0,2 0 0
0,2 | -- 0,4 2 1,1
0,4 | -- 0,6 43 22,6
0,6 | -- 0,8 66 34,7
0,8 | -- 1,0 43 22,6
1 36 18,9
Total 190 100
Mínimo 0,356
Média 0,757
Máximo 1
DP 0,189

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Fonte: Elaborado pela Autora (2017).
Nota: Fi - Frequência absoluta de produtores; % - Percentual de produtores.
Ao considerar retornos variáveis de escala constatou-se que das 190 observações, 18,9%
mostraram combinações eficientes de inputs e outputs, ou seja, alcançaram máxima eficiência
utilizando os insumos de forma racional no processo produtivo fazendo com que o fluxo de
despesas na atividade, no curto prazo seja gerenciado de modo eficiente. As unidades
produtivas com medida de eficiência inferior a um são consideradas tecnicamente ineficientes.
A natureza de tal ineficiência está ligada a utilização dos recursos condicionadores da produção.
Os produtores sofrem o efeito da pequena escala de produção, característica comum às
propriedades do agreste pernambucano que sofrem com a carência de tecnologias de ponta e
políticas de desenvolvimento para o setor, além dos períodos de estiagem que afetam
diretamente a produção.
Na Tabela 4 estão apresentados os resultados dos indicadores zootécnicos segundo as
medidas de frequência relativa da eficiência técnica e a correlação entre os escores de eficiência
com os indicadores zootécnicos. Para tanto, os produtores foram separados nos seguintes
estratos: i) mínima eficiência, com as 38 piores DMUs; ii) baixa eficiência, com as seguintes
38 melhores; iii) DMUs; média eficiência, com as seguintes 39 melhores DMUs; iv) alta
eficiência, com as seguintes 39 melhores DMUs; e v) benchmarks, com as 36 DMUs com
eficiência igual a 1.
Tabela 4 - Indicadores zootécnicos segundo medidas de frequência relativa e correlação.
Medidas de Eficiência
Indicadores zootécnicos Unidade
Mínima Baixa Média Alta Benchmark Correlação
Produção de leite (P) L/mês 3.264 4.251 4.543 6.421 5.159 0,211
Área para pecuária (A) Há 17 17 19 16 12 -0,065
Rebanho total (RT) Cabeças 35 36 33 34 27 -0,066
Total de vacas (VT) Cabeças 17 17 16 18 14 -0,046
Vacas em lactação (VL) Cabeças 12 13 12 14 11 0,004
Vaca Seca (VS) Cabeças 5 5 4 3 3 -0,176
VL/VT % 70,8% 73,8% 73,9% 80,2% 75,6% 0,195
VL /RT % 35,8% 36,5% 39,2% 43,0% 37,7% 0,152
VL /A Cab. /ha. 0,84 0,85 0,74 1,13 1,41 0,302
P/VL L/dia 9 10 10 14 13 0,467
P/A L/ha/mês 205 265 232 439 532 0,495
Fonte: Elaborado pela Autora (2017).
Os resultados mostram as médias dos indicadores zootécnicos segundo a frequência
relativa dos níveis de eficiência encontrados na análise. Em geral, os produtores eficientes
obtiveram os menores indicadores de tamanho, o que indica o melhor aproveitamento dos
recursos utilizados. Os indicadores benchmarks podem servir como parâmetro de referência
para as demais DMUs, que não conseguiram alcançar a fronteira de eficiência e devem ajustar
seus fatores de produção e aumentar seu nível eficiência.
Na análise do coeficiente de correlação de Pearson, verificou-se que a eficiência teve
uma maior correlaciona com a produção por vacas em lactação (0,467) e produção por área
(0,495), o que indica a forte influência da escala da produção na eficiência das propriedades.
Oliveira et al., (2007) analisaram indicadores zootécnicos e econômicos de sistemas de
produção de leite da região sul da Bahia e identificaram que o volume de produção teve
correlação positiva (0,62) com a lucratividade, o que intensifica a relação da eficiência técnica
com a escala de produção.
Já os indicadores de tamanho apresentaram uma baixa correlação negativa com a
eficiência. Em estudo realizado nos estados de Minas Gerais e no Rio de Janeiro, o volume de
produção foi mais determinado pelo tamanho da fazenda do que pelos índices de produtividade
(FERRAZZA et al. 2015), sugerindo que fatores ligados à produtividade animal poderiam ser
priorizados nos ajustes da produção. As relações VL/RT, VL/VT, VL/A obtiveram correlação

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positiva, na região do Triângulo Mineiro, resultados apontaram que os indicadores relacionados
aos fatores terra e animais apresentaram maior correlação com a rentabilidade,
independentemente do tamanho da produção (CAMILO NETO et al. 2012). No entanto, a
região Nordeste difere bastante das regiões Sul e Sudeste, quanto a condições climáticas,
investimentos tecnológicos e políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do setor, o que
indica a necessidade de estudos regionalizados e a determinação de parâmetros para cada
realidade. Na Tabela 5, por sua vez, são apresentados os indicadores econômicos de acordo
com a divisão dos grupos de medidas de eficiência e a correlação desses indicadores com os
escores calculados.
Tabela 5 - Indicadores econômicos segundo medidas de frequência relativa e correlação.
Medidas de Eficiência
Indicadores Econômicos Unity
Mínima Baixa Média Alta Benchmark Correlação
Renda Bruta da atividade R$/Mês 4.756 5.253 5.719 7.876 5.455 0,075
Renda Bruta do leite R$/Mês 3.827 4.607 5.084 7.030 5.337 0,174
Preço médio do leite R$/L 1,11 1,07 1,07 1,05 1,00 -0,167
COE atividade R$/Mês 5.117 4.202 5.140 6.340 4.283 0,045
COT atividade R$/Mês 8.744 7.769 8.569 9.726 7.816 0,037
Custo total atividade R$/Mês 9.495 8.520 9.320 10.477 8.568 0,037
COE do leite R$/Mês 4.136 3.663 3.564 5.433 4.217 0,087
COT do leite R$/Mês 7.466 7.569 6.296 7.919 6.902 0,006
Custo total do leite R$/Mês 9.083 9.130 7.759 9.230 8.550 0,002
COE unitário do leite R$/L 1,14 0,90 0,70 0,84 1,11 -0,032
COT unitário do leite R$/L 3,10 3,20 2,12 1,41 2,60 -0,212
CT unitário do leite R$/L 3,72 3,94 2,71 1,66 3,29 -0,201
Gasto com MDO total/ RB do leite % 80% 75% 63% 35% 83% -0,113
Gasto com concentrado/RB do leite % 49% 40% 30% 48% 35% -0,079
Margem bruta do leite R$/Mês -309 944 1.520 1.597 1.121 0,201
Margem líquida do leite R$/Mês -3.639 -2.962 -1.212 -889 -1.564 0,289
Lucro total do leite R$/Mês -5.256 -4.523 -2.674 -2.200 -3.213 0,283
Lucro unitário R$/L -2,62 -2,87 -1,64 -0,61 -2,29 0,188
Custo da mão-de-obra familiar R$/Mês 1.218 1.289 1.229 1.219 1.241 -0,012
Lucratividade %a.m. -254 -264 -162 -70 -234 0,170
Capital investido por litro de leite R$/L 5,19 6,22 4,92 2,08 5,80 -0,122
Fonte: Elaborado pela Autora (2017).
Observou-se que todos os grupos apresentaram margens liquidas e resultados negativos,
até mesmo as observações do grupo benchmarks. Esse resultado demonstra que a amostra de
produtores não consegue cobrir seus custos quando incluídos depreciação e mão-de-obra
familiar. No entanto, o modelo classifica as observações de acordo com o escore de eficiência,
e seleciona as melhores observações, dentro da amostra, compondo o grupo dos benchmarks.
Esse grupo é o que melhor combinou seus recursos na geração de seus produtos.
Já as despesas com alimentação concentrada e mão de obra em relação ao rendimento
bruto do leite são indicadores de eficiência econômica largamente adotados. Notou-se uma
maior participação da mão de obra na renda bruta do leite em relação à participação do
concentrado, com exceção do grupo dos produtores de alta eficiência, que apresenta o inverso.
Esses resultados são semelhantes aos encontrados no Sul da Bahia (OLIVEIRA et al., 2007).
No entanto, difere de sistemas nos quais se utilizam vacas de maior nível de produção de leite,
em decorrência da maior adoção de tecnologias poupadoras de mão de obra e da maior
intensidade de uso de concentrado nesse tipo de sistema de produção. O grupo dos produtores
de alta eficiência apresenta os maiores índices de produção, renda e custos, o que explica a
maior intensidade no uso do concentrado.
4 Conclusões
Os resultados encontrados ressaltam a importância dos índices de medição de
desempenho de referência, ao se considerar os fatores que sejam comuns aos sistemas de
produção e que podem estar associados a eficiência produtiva, uma vez que gera parâmetros
mais precisos para atividade, visto que estimativas baseadas em um universo heterogêneo pode
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não traduzir a realidade das fazendas leiteiras. As técnicas de medição de eficiência podem
facilitar o intercâmbio de informações tecnológicas e de gestão, viabilizando o
desenvolvimento local e regional.
Entretanto, a estiagem, ainda é um problema na região, durante esse período a reserva
de alimentos começa a se exaurir impactando na perda de pastos, falta de forragem e no elevado
preço da ração concentrada. Associados à estiagem os produtores vivenciaram um período de
queda na produção, rentabilidade e produtividade. Nesse contexto, o grande desafio do produtor
para tornar a propriedade mais eficiente depende da dedicação a atividades típicas de
gerenciamento, entre as quais se inclui o controle e avaliação dos principais indicadores
zootécnicos e econômicos da propriedade.
Os produtores mais ineficientes necessitam de grandes transformações no que tange os
recursos utilizados, esses produtores possuem margem bruta negativa e não se mostram
sustentáveis, pois não conseguem cobrir seus custos no curto prazo. Já os melhores, conseguem
cobrir seus custos no curto prazo, mas, ainda necessitam de ajuste a médio e longo prazo. Ao
comparar os grupos de produtores, observou-se que os de alta eficiência apresentaram escala
de produção e índices de rentabilidades mais elevados do que os benchmarks. No entanto, os
benchmarks destacam-se quanto a utilização de recursos (terras, animais, benfeitorias, entre
outros), quando comparados os níveis de produtividade, ambos os grupos apresentam
indicadores próximas.
Em síntese, percebe-se a possibilidade de um incremento nos resultados dos
produtores ineficientes. Desta forma, a utilização de assistência técnica para transferência de
tecnologia entre as propriedades e a difusão dos melhores processos produtivos, pode ser uma
alternativa para redução no problema da insustentabilidade nos negócios a longo prazo, fator
esse identificado neste trabalho. O uso da extensão rural no processo educativo de formação da
população rural também tende a servir como capacitação e desenvolvimento dos produtores,
através da continuidade da parceria com a universidade e ampliação de novas parcerias com
órgãos de fomento, por exemplo, Embrapa e Emater. Sugere como linha de investigação futura
a caracterização de indicadores estratificados, observando outros critérios para a classificação
dos produtores, como os objetivos de longo prazo, nível educacional e renda dos produtores.
Com isso será possível identificar os pontos de estrangulamento e disseminar informações sobre
a eficiência produtiva em propriedade leiteiras.
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Gerenciamento da propriedade rural: Implantação de um software
como sistema gerenciador da propriedade rural.
Rural property management: Implementation of software as a rural
property management system.
Catiane de Lima1, Alba Valéria Oliveira Ficagna2, Juliana Birkan Azevedo3, Anderson
Neckel4

Resumo
A presente pesquisa discute o gerenciamento das propriedades rurais ligada à agricultura familiar e os sistemas de
informações gerenciais como meio de obter a eficiência e agilidade no gerenciamento, além da implantação do
software para o gerenciamento da propriedade do Sr. José Jair de Lima, localizada no interior do município de
Ciríaco/RS. Tem como objetivo implantar um software para o gerenciamento da propriedade rural, a partir da
elaboração de um estudo de caso de abordagem qualitativa. O estudo apresenta natureza qualitativa e exploratória,
utilizando técnicas para a coleta de dados a observação participante, a pesquisa documental e pesquisa pela
internet, que buscou alguns softwares disponíveis no mercado. Através dos resultados obtidos foi proposta a
implantação de um software. Os dados pesquisados demonstraram que o software SW-Rural da Brazsoft pode ser
um eficiente e gerador de informações para o gestor, tornando possível concluir a extrema importância do
gerenciamento para as propriedades rurais, trazendo novas possibilidades de investimento no setor e garantindo a
sucessão familiar da propriedade.

Palavras-chave: Agricultura familiar. Gerenciamento da propriedade rural. Sistemas de Informações Gerenciais.

Abstract
This research discusses the management of rural properties linked to family agriculture and management
information systems as a means of achieving efficiency and agility in management, as well as the implementation
of software for the management of the property of Mr. José Jair de Lima, located in the interior of the municipality
of Ciríaco / RS. It aims to implement a software for the management of rural property, from the elaboration of a
case study of qualitative approach. The study has a descriptive and exploratory nature, using data collection
techniques: the research of some softwares available in the market, documents and participatory observation.
Through the obtained results an action plan for software implementation was proposed. The researched data
demonstrated that the software can be an efficient generator of information for the manager, making it possible
to conclude the extreme importance of management for rural properties, bringing new possibilities of investment
in the sector and guaranteeing the family succession of the property.

Keywords: Family agriculture. Rural property management. Management Information Systems.

1 Introdução

No cenário nacional, a agricultura familiar vem garantindo cada vez mais seu lugar no
mercado. Com isso, para acompanhar os avanços tecnológicos, o empreendimento rural
familiar deverá ter uma gestão mais assertiva, como forma de garantir sua sustentabilidade.

1
Graduada no Curso Superior de Tecnologia ou Tecnóloga em Agronegócio (CST) pela Universidade de Passo
Fundo. Passo Fundo/RS; catiane.lemes@yahoo.com
2
Docente do Curso de Administração da Universidade de Passo Fundo. Graduada em Letras, graduanda em
Administração. Mestre pela Universidade de Passo Fundo UPF. alba@upf.br.
3
Docente do Curso de Administração e do CST em Agronegócio da Universidade de Passo Fundo (UPF). Cursa
atualmente Doutorado em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA - UFRGS), na
área de concentração de Marketing. Graduada em Administração pela Universidade de Passo Fundo (UPF- 2012),
e Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM - 2014).
4
Docente do curso de Administração, na Universidade de Passo Fundo-UPF. Mestrado em Administração,
Especialização em MBA em Marketing Estratégico e Gestão de Vendas Graduação em Administração.
andersonn@upf.br.

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Com os vários avanços tecnológicos que a agricultura brasileira vem aderindo nestes
últimos anos, é necessário que os agricultores se adaptem e se preocupem com a gestão da sua
propriedade e/ou empresa. Para isso existem os softwares, sendo, estes, um sistema de
informação gerencial que podem garantir, ao agricultor, a facilidade na gestão das propriedades
rurais, independente das atividades que são realizadas. Neste sentido, Salgado (2002, p. 68)
salienta a necessidade de serem adotadas práticas administrativas na propriedade “[...] de forma
a possibilitar ao produtor um melhor gerenciamento da atividade, para que decisões sejam
tomadas com base em informações que demostrem os reais resultados da exploração,
permitindo um acompanhamento gerencial e consolidado do negócio.”
A pesquisa realizou-se na propriedade do Sr. José Jair de Lima, a qual está localizada
na comunidade de São Sebastião da Raia da Várzea, que fica a onze quilômetros da cidade de
Ciríaco e a seis quilômetros da comunidade de Cruzaltinha na BR 285, apresenta uma área total
de 33 hectares, sendo a principal atividade a produção de grãos, destacando o cultivo de soja,
milho e, nos intervalos, intercalados com aveia e azevém com o objetivo da rotação de culturas.
A mão de obra utilizada é extremamente familiar, para cultivo total da área, disponibilizando
de máquinas, equipamentos e instalações próprias.
O trabalho demostra como a aplicação de um sistema de informação gerencial, como
um software, é de grande importância para o gerenciamento da propriedade e no
desenvolvimento da agricultura familiar, possibilitando a permanência dos jovens na atividade
rural. Além de garantir ao proprietário uma análise específica dos dados, ajudando nas tomadas
de decisões e planejamento da viabilidade de novos investimentos, o uso de um software
contribui para a redução de custos e maior lucratividade.
Desta forma, após feita a análise da propriedade rural que trabalha somente com culturas
anuais de soja e milho, não possuindo nenhuma forma de sistemas de controle específico, viu-
se a necessidade de encontrar um software para o gerenciamento da propriedade. Assim,
estabeleceu-se como problema de pesquisa a seguinte questão: Como implantar um software
para o gerenciamento da propriedade rural?
O sistema de informação gerencial representa a “mudança contínua em tecnologia,
gestão do uso da tecnologia e o impacto no sucesso dos negócios. Novos negócios e setores
aparecem enquanto os antigos desaparecem, e empresas bem-sucedidas são aquelas que
aprendem com novas tecnologias.” (LAUDON, 2010, p.5).
O objetivo geral consiste em implantar um software para o gerenciamento da
propriedade rural. Desta forma, os objetivos específicos estão baseados em: buscar dados das
atividades desenvolvidas na propriedade; analisar o atual método de gerenciamento da
propriedade; pesquisar um software adequado para lançamento dos dados e propor a adoção do
software como principal sistema gerenciador da propriedade.

2 Referencial Teórico

2.1 Agricultura familiar

Há uma certa dificuldade sobre o conceito inicial que marca o surgimento da agricultura
familiar no Brasil, para a autora Wanderley (2003) existe uma certa dificuldade, do ponto de
vista teórico, em atribuir um valor conceitual à categoria da agricultura familiar que se difundiu
no Brasil, sobretudo a partir da implantação do PRONAF. Porém, ela considera que o agricultor
familiar, mesmo que moderno, inserido ao mercado, “[...] guarda ainda muitos de seus traços
camponeses, tanto porque ainda tem que enfrentar os velhos problemas, nunca resolvidos, como
porque, fragilizado, nas condições da modernização brasileira, continua a contar, na maioria
dos casos, com suas próprias forças.” (WANDERLEY, 1999, p. 52).
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A agricultura familiar teve sua definição no Brasil dada pela Lei n.º 11.326/2006
(PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2006, s/p) como sendo a prática de atividades no meio
rural, atendendo aos seguintes requisitos: “[...] área maior que quatro módulos fiscais, renda
originada e utilizando mão-de-obra própria familiar nas atividades econômicas do seu
estabelecimento ou empreendimento [...]” (ARRUDA, 2017, p. 221).
É importante ressaltar também que com a criação do PRONAF no ano de 1996, mas
teve grande incentivo do governo no ano de 2006, a agricultura familiar se estimulou e começou
a garantir seu espaço no mercado, garantindo a permanência dos jovens na propriedade, renda
da própria atividade familiar e obtendo a interação da cidade com o campo.
Altafin (2007) afirma que os instrumentos de política pública, que envolvem desde a
reforma agrária até o crédito, a extensão rural e a educação do campo, são essenciais para
garantir que os agricultores familiares ampliem suas potencialidades na realização das suas
funções de preservação ambiental. Após estes projetos de incentivo, o produtor familiar tem
sido visto como um agente estratégico para a incorporação de práticas mais sustentáveis, tanto
em termos ambientais quanto social.

2.2 Tecnologia na agricultura familiar

A agricultura familiar está cada vez mais ganhando espaço no mercado, mas há ainda
uma grande deficiência tecnológica, não pela falta de tecnologia adequada; ao contrário, em
muitos casos, mesmo quando a tecnologia está disponível, esta não é transformada em inovação
devido à falta de capacidade, conhecimento e condições para inovar. Para que a agricultura
possa continuar desempenhando o seu papel, de produzir alimentos, fibras e energia, garantindo
o seu mercado de atuação, é fundamental a adoção de tecnologias modernas, que assegurem o
aumento da produtividade, a redução dos custos de produção e a oferta de alimentos com
qualidade. Conforme Kay et al (2014, p. 7) “A tecnologia rural vem evoluindo há muitas
décadas e continuará a fazê-lo. O campo da biotecnologia oferece possíveis ganhos em
eficiência de produção, podendo incluir variedades de cultivos que se adaptem a determinadas
localidades [...]”.
Independentemente da tecnologia, esta fornece dados, análise destes dados e aumento
de produtividade com maior precisão, mas deve ter um entendimento para poder utilizá-la
adequadamente, por isso necessita ter um conhecimento e habilidade do usuário, tendo que o
agricultor investir em capacitação para utilização da ferramenta tecnológica. Com estas
informações, Kay et al. (2014, p. 8) afirma que “Essas tecnologias e outras ainda a serem
desenvolvidas oferecerão um desafio constante ao gestor rural do século XXI.” Com isso,
podemos ter uma ideia do grande desafio que as propriedades poderão passar, pela exigibilidade
do mercado e a situação da propriedade sem um futuro planejamento, dificultando muito a
implantação de práticas modernas, como a adaptação às novas tecnologias e para uma possível
implantação de um sistema de informação de gerenciamento para gerir a propriedade.

2.3 Sistemas de informações gerenciais

Nos últimos anos, obtive-se grandes mudanças nos métodos de coleta, análise e na
interpretação de dados. Com o uso de tecnologias, os dados disponíveis sobre um todo
transformam-se em dados mais específicos para pequenas áreas de terra, sendo cada vez mais
comuns encontrá-los nas propriedades, com isso, os dados específicos obtidos ajudarão os
gestores a customizar cada acre de terra. Conforme Kay et al. (2014, p. 23) “[...] os gestores
deverão determinar quais informações são críticas para sua tomada de decisão, quais são úteis
e quais são irrelevantes, precisando ser analisadas e armazenadas de maneira facilmente
acessível para consulta futura.”
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Machado e Nantes (2000) demonstram que novos softwares surgem como ferramentas
de gestão, possibilitando controle mais rigoroso dos custos e receitas, em alguns destes, pode-
se ter acesso à distância via internet às informações de produção e de mercado. Percebe-se que
há ferramentas para auxílio gerencial que podem ser usadas em propriedades rurais, no entanto
os agricultores não as utilizam para melhorar seu processo de tomada de decisão, seja por falta
de conhecimento ou por apresentarem altos custos.
Marshall Junior et al. (apud SALGADO, 2008) afirmam que as ideias de uso das
tecnologias de qualidade norteiam o conhecimento, sendo uma das atividades principais que
aumenta a motivação com o trabalho entre os colaboradores da empresa, da família e dos jovens
que trabalham nas propriedades rurais.
Neste processo de evolução das ferramentas de gestão, estas facilitam o controle dos
custos e despesas das empresas e propriedades rurais, sendo que na tecnologia da informação,
anteriormente conhecida pelas empresas que a utilizavam, com o passar do tempo, com a
evolução dos sistemas, foi acontecendo uma conjunção de várias especialidades na utilização
do computador. Conforme Cruz (2014, p. 5), estes sistemas são entendidos como “[...] todo e
qualquer dispositivo que tenha capacidade de tratar e/ou processar dados e/ou informações,
tanto de forma sistêmica como esporádica, quer esteja aplicada no produto, quer esteja aplicada
no processo”. ‘Como todo e qualquer dispositivo’, Cruz se refere ao conjunto de hardwares,
softwares, ou qualquer outro elemento que permita o tratamento de dados e/ou informações de
forma específica a quem os utiliza. Sendo assim, a tecnologia de informação está totalmente
ligada ao SIG, tendo como seu principal dispositivo de informação o software para
gerenciamento tanto para empresas quanto para propriedades rurais.

2.4 Sistemas de informações gerenciais (softwares) para a propriedade rural

Os sistemas de informações gerenciais são de extrema importância para as empresas e


para as propriedades rurais que necessitam de um gerenciamento específico e ágil, facilitando
na análise dos dados de ambas e nas tomadas de decisões, conforme Cruz (2009, p. 14) “[...] os
novos Sistemas de Informações Gerenciais podem e devem integrar-se a uma ou mais
tecnologias emergentes, como forma de dar a organização que os necessita, poder de
mobilidade com segurança”, pois, é a sobrevivência e a prosperidade que os resultados obtidos
e as decisões tomadas pelos administradores farão com que as empresas e propriedades rurais
permaneçam no mercado.
A gestão da propriedade rural compreende a coleta de dados, geração de informações,
tomada de decisões e ações que necessitam destas decisões, aperfeiçoando o planejamento das
atividades na propriedade. Conforme Batalha; Buainain; Souza Filho (2005, p. 10) “A aplicação
das tecnologias de gestão no âmbito da agricultura familiar, pode se dar, principalmente, em
duas esferas: A primeira relacionada a organizações associativas e cooperativas, e a segunda, à
própria gestão da propriedade rural. A obra relaciona que, na primeira esfera encontram as
cooperativas e/ou associações que forneçam aos seus associados e/ou cooperados trabalhos,
eventos e até software de gestão, mantendo o agricultor informado nos relatórios obtidos na
propriedade.

3 Procedimentos Metodológicos

Diehl e Tatim (2004) fundamentam a abordagem do problema, pois esta se caracterizar


por um estudo de caso de caráter qualitativo. Quanto ao objetivo geral a pesquisa é caracterizada
como exploratória. A pesquisa é baseada na diferenciação, buscando inovar o gerenciamento
da propriedade e os resultados foram descritos. As variáveis de estudo são: o método de

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gerenciamento da propriedade, software para aperfeiçoar o gerenciamento e o software como
sistema gerenciador da propriedade.
Este estudo visa a implantação do software para gerenciamento da propriedade rural da
família Lima, a fim de implantar o software como sistema de informação para a gestão da
propriedade, garantindo melhor análise dos lucros, despesas e estoque das atividades realizadas,
facilitando a tomada de decisão e planejamentos futuros da propriedade rural. O universo
pesquisado para realização desta pesquisa é composto pelos três membros da família, o pai,
sendo o proprietário do imóvel, a mãe, que realiza as atividades na agricultura, e a própria
pesquisadora, que será a usuária do software para fazer o gerenciamento da propriedade.
Desta forma, esta pesquisa utiliza as seguintes técnicas de coleta de dados: a pesquisa
em documentos da propriedade, para realizar os lançamentos necessários no software, além de
uma pesquisa descritiva da propriedade, tendo o conhecimento da infraestrutura que ela possui
e a vantagem que o software irá trazer para a propriedade. Além disso, utilizou-se, para a coleta
de dados, a observação participante. A técnica de análise foi a análise de conteúdo, onde todos
os dados foram colhidos e registrados pelo próprio pesquisador.

4 Resultados e Discussão

4.1 Caracterização da cadeia produtiva

A propriedade pesquisada está localizada no interior do município de Ciríaco/RS.


Apresenta uma área cultivável própria de 33 hectares, são utilizados os sistemas de produção,
como soja e milho no cultivo de verão e com o cultivo de aveia e azevém para cobertura do
solo, no período de inverno. São utilizadas práticas como o plantio direto, possuindo a
infraestrutura e com todos os equipamentos utilizados no plantio e colheita próprios.
A produtividade média, dos cultivos de soja e milho, varia em torno de 60 sacas por/ha
no cultivo de soja e 110 sacas/ha no cultivo de milho, baseadas na produção do ano de 2017.
Para os próximos anos, a propriedade não possui expectativas de crescimento da área cultivada,
mas está trabalhando ao máximo para aumentar a produtividade e implantar novos
investimentos para mais geração de renda da família.
Nas atividades agrícolas, o custo é influenciado pela compra dos insumos para a
realização do cultivo de cada sistema, onde este está muito relacionado com o preço do dólar e
as movimentações do mercado interno e externo. O proprietário garante uma expectativa no
aumento nos preços, para assim efetuar, se necessário, a comercialização dos grãos, sempre na
expectativa de se obter maior lucro na venda dos seus produtos.
Na comercialização, com o aumento dos preços dos produtos, é possível gerar um
retorno financeiro maior. O proprietário sempre faz uma análise antes da compra de qualquer
insumo, pesquisa preço nas cooperativas que é associado, e em algumas empresas que também
prestam assistência técnica à propriedade, como a Rota Agrícola e a Diagro.
No processamento, a propriedade estudada trabalha com diferentes tipos de
cooperativas e empresas do ramo. Somente o proprietário é associado em três cooperativas que
atendem próximo a propriedade, como a Coasa, Cotrijal e a Coagrisol, as empresas que também
prestam assistência técnica de boa qualidade são a Rota Agrícola, Diagro e a Dimicron. Nestas
cooperativas e empresas, a propriedade trabalha fielmente, na comercialização dos grãos e nas
compras de insumos, com uma confiabilidade altíssima tanto para a cooperativa quanto para os
associados.
A gestão da propriedade não possui nenhum sistema de informação de gerenciamento,
o controle que é realizado pelo proprietário, é somente as anotações à mão, no papel quando
utiliza os maquinários da propriedade e faz um planejamento para as próximas safras. A mão

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de obra é extremamente familiar, contribuindo bastante para o melhor andamento das
atividades.
O atual gestor é quem toma as decisões finais, porém busca dialogar com os demais
membros da família, pois a sua filha, potencial sucessora, está em busca de uma maior
capacitação para tocar adiante os negócios da propriedade, tendo um maior conhecimento
formal sobre o mercado. Esta expõe a sua opinião e por sua vez chegam a um acordo, e o gestor
coloca-o em prática, quando necessário.
Após a colheita, o transporte dos grãos é feito pela própria família, facilitando na
colheita dos grãos e no transporte até as cooperativas onde será entregue para a armazenagem.
Por não ser um produto perecível, os grãos não possuem exigências específicas para o seu
transporte, somente é seguido a recomendação de utilizar a lona no caminhão para o cuidado
de não haver perdas até a chegada na cooperativa.
A armazenagem dos grãos ocorre diretamente nas cooperativas, no período da colheita,
os grãos permanecem armazenados na cooperativa até a necessidade da venda. A
comercialização acontece por intermédio das cooperativas, onde o grão está armazenado, pois
os produtos saem da propriedade e chegam até ela in-natura. No caso dos grãos, antes da
comercialização, ocorre à classificação e separação das sementes de acordo com o padrão
exigido pelo ministério da agricultura.
No caso do consumo, as atividades desenvolvidas na propriedade não possuem um
contato direto com o público, pois a venda dos produtos ocorre diretamente na cooperativa,
ainda com o produto in-natura.
A expectativa da propriedade para os próximos dez anos, com o aumento da população,
haverá um grande aumento da demanda de grãos, com esse aumento, exigirá maior produção
dos grãos com qualidade, além disso, a propriedade estará com uma excelente gestão, podendo
inovar em novas tecnologias que o mercado venha a oferecer e em novos investimentos no ramo
agrícola e pecuário.

4.2 Coleta, análise e interpretação dos dados da pesquisa

Esta seção apresenta a análise e interpretação dos resultados obtidos através dos
documentos analisados da propriedade no mês de maio de 2018, na propriedade.

4.2.1 Softwares para aperfeiçoar o gerenciamento disponíveis no mercado

Com a necessidade de implantar um sistema eficaz de gerenciamento para propriedade,


analisando os custos dos insumos, combustível, custos com maquinários, financiamentos,
investimentos, fornecendo relatórios para tomadas de decisões e planejamento futuro da
propriedade, o software, como um sistema de informação gerencial, pode trazer todos os
relatórios e todo o controle gerencial que a propriedade rural deve ter. Para isso, escolhe-se um
software que se adapte aos critérios necessários: possuindo acesso gratuito, de fácil
conhecimento e, por haver locais que não possua acesso à internet, podendo ser utilizado
somente em desktop na propriedade, para se obter maior segurança e eficiência no
gerenciamento da propriedade pesquisada.
Para ajudar o produtor rural no gerenciamento da propriedade, independente das
atividades realizadas, foi realizado uma pesquisa para verificar os softwares disponíveis no
mercado que atendam às necessidades dos produtores e baseado nesta pesquisa aprofundar o
estudo em um software que possa atender as necessidades da propriedade em estudo.
A Brazsoft trata-se de uma empresa brasileira, sediada na cidade de Cuiabá MT, que
desenvolve e distribui software de gestão rural, para toda América Latina, atuando
exclusivamente no segmento Agropecuário. As especialidades do software referem-se aos
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módulos agrícola e pecuário, podendo ter a escolha de ambos a quem o adquirir. As
especialidades do software, os módulos agrícola e pecuário, podendo ter a escolha de ambos a
quem o adquirir são: a) Agrícola: Controle de manutenção de máquinas agrícolas, uso de
fertilizantes, abastecimento de combustível; Controle de pagamento, cheques e empréstimos,
de estoque da fazenda e registro sobre clima; Gestão financeira contas a pagar/receber e
gerenciamento por safras, talhões e culturas, b) Pecuária: Controle geral das entradas, saídas e
transferências de animais, ganho de peso e GPD (Ganho de Peso Diário), desmama, manejo e
custos de lotes confinados; Gerenciamento do rebanho a nível Individual, Lotes, Pastos,
Categoria, Raça; Inseminação artificial, controle de cios, Inseminações, Produção
Inseminadores, Estoque de Sêmen, análise reprodutiva das Vacas e Touros, módulo de
formulação de ração com baixa automática no estoque dos itens da fórmula. . Ao contratar a
consultoria da Brazsoft, o software não terá custos, a consultoria adquirida irá trazer bons
resultados de gestão utilizando o software completo.
A Perfarm é uma empresa criada em 2015, sob medida, para agricultores e pecuaristas
brasileiros, desenvolvida por produtores rurais e profissionais com formações dentro do campo
de ciências agrárias. O software possui a tecnologia de ‘desenhar’ a área utilizada pela
propriedade, dividindo os talhões utilizados para a lavoura e para a criação de animais. Também
garante que as decisões de estratégias sejam bem informadas e viáveis para novos investimentos
na propriedade. A Perfarm também disponibiliza cursos de treinamento in farm para os
produtores rurais que adquiram o software, indo até a propriedade tirar as dúvidas e executa
treinamentos em todos os níveis do agronegócio: Operacional, Tático e Estratégico.
O CPT Softwares é uma empresa localizada em Viçosa, Minas Gerais e tem como
principal objetivo, fornecer aos empreendedores rurais e urbanos, softwares dinâmicos que os
auxiliem no gerenciamento das mais diversas atividades. Ao adquirir os softwares que a CPT
oferece tem como vantagem de possibilitar o controle e o gerenciamento de quaisquer tipos de
atividades agropecuárias, não necessitando do usuário adquirir um software para cada tipo de
cultura ou animal. A CPT softwares disponibiliza os sistemas de gestão para teste nos primeiros
30 dias gratuito, dependendo da necessidade do produtor, após este prazo é necessário o
pagamento por mês, garantindo o pacote de assessoria e a ativação para o uso completo do
software.
Podem ser encontrados mais softwares no mercado, todos disponíveis aos agricultores,
conectados à internet e que necessitam de um gerenciamento mais preciso, adaptáveis as
variadas demandas, e as empresas prestam assessoria aos que necessitam. Conforme Batalha
(2005, s/p) “estes sistemas de informações gerenciais, estão cada vez mais se evoluindo no
mercado e fornecendo grandes incentivos à adaptação de novas tecnologias na agricultura.”

4.2.2 Análise do Sistemas de Informações Gerenciais para o gerenciamento da propriedade

Após o relatório realizado de cada empresa pesquisada que fornece softwares, optou-se
por aderir ao sistema de informação de gerenciamento da Brazsoft Tecnologia em
Agrobusiness, pois trata-se de um software que pode atender as necessidades da propriedade,
além de ter acesso gratuito e teste de 30 dias para a adaptação e consultoria. Sendo assim, os
locais das informações necessárias para os lançamentos das atividades realizadas na
propriedade e de toda a movimentação que é feita, bem como toda a sua infraestrutura podem
ser lançadas no software:
Após o download do software, o primeiro passo é ter acesso ao sistema, utilizando um
dos logins descritos em vermelho, o usuário e senha. Na escolha de um destes logins, o
proprietário tem acesso ao controle diário da atividade. No primeiro login, somente o acesso da
atividade agrícola; no segundo, somente da pecuária e, no terceiro, o proprietário pode optar
em ter o acesso as duas atividades, podendo fazer os lançamentos dos dados da propriedade e,
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principalmente, de toda a atividade realizada, para assim, poder gerenciar e controlar as
informações geradas pelo software.
Após o login de acesso, em cada guia estão todos os controles que devem ser lançados
os dados diariamente, dentre eles estão: Controle de Estoque, Plantio, Aplicação de Defensivos,
Entrada e Saída da Produção, Comercialização, Clima, Pragas, Temperatura diária Prestação
de Serviços, Departamento Pessoal, etc. Neste modelo, além de usar a atividade agrícola,
dependendo a propriedade que também possua criação de gado, tem o controle completo da
atividade na pecuária. Assim, deve-se ter um controle diário para realizar os lançamentos no
software para que os relatórios dados reais e um bom entendimento para o gestor.
Após acessado o item de atividade agrícola, abre uma nova guia para os lançamentos
das atividades de produção agrícola, geradas pela propriedade. Deve ser lançado os ciclos de
produção, além de acrescentar o talhão (área) utilizado para o plantio. Também nesta mesma
guia, acrescenta-se o trabalho utilizado nas máquinas, aplicação de insumos, a mão de obra e
os custos extras que podem ter ocorrido durante a safra.
O controle do clima é considerado um dos mais importantes itens para quem trabalha
diariamente na agricultura. Os lançamentos do clima deve ser diários, para se obter um controle
mais eficiente, como o controle da temperatura máxima e mínima, a velocidade do vento, a
quantidade de chuva, a umidade do ar, a estação meteorológica que são os pluviômetros, dentre
outros aspectos do clima que podem interferir na pulverização, na calagem e em alguns insumos
que são necessários para o processo produtivo e também na colheita.
O relatório gerado pelo software, podendo emiti-lo e anexá-lo em pastas organizadas
para o controle do gestor.

Figura 1. Exemplo do relatório gerado pelo software

Fonte: SW-Rural Gestão Agrícola e Pecuária (2018).

Observa-se que, se a propriedade utilizar todos os campos disponíveis no software,


mantendo todo o controle das informações e lançamento dos dados diários das atividades
realizadas, clima, tempo de utilização de máquinas, mão de obra, entre outras atividades que
possa ocorrer na propriedade deve ser lançado, para que o relatório final possa ser de bom
entendimento ao gestor.
Diante dos resultados apurados da utilização do software SW-Rural da empresa Brazsoft
Tecnologia em Agrobusiness, pode-se afirmar que, com a utilização completa, o gestor pode
ter relatórios específicos da sua atividade, garantindo a tomada de decisão eficiente e
aprofundando o conhecimento no seu próprio negócio familiar.

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5 Conclusões

A agricultura familiar vem se destacando cada vez mais em seu segmento de


desenvolvimento no meio rural, verificando a sua importância nos dias atuais. Destacando
também que, com as inovações tecnológicas, o empreendimento rural familiar deve ter uma
gestão eficiente como forma de garantir seu lugar no mercado.
Os Sistemas de Informações Gerenciais têm garantido grande apoio à gestão das
empresas de pequeno e grande porte, podendo ser utilizado também para o gerenciamento das
propriedades rurais, para que os gestores determinem quais as informações necessárias para a
sua de tomada de decisão, fornecendo resultados positivos ou negativos da gestão e todo o
relatório de atividades realizadas na propriedade.
Concretizando o objetivo geral e os específicos adotados, a presente pesquisa
possibilitou buscar informações e dados concretos sobre cada atividade desenvolvida na
propriedade, a análise do método de gerenciamento da propriedade utilizado atualmente, a
pesquisa de um software para lançamento dos dados a fim de aperfeiçoar o gerenciamento e
propor a adoção do software como principal sistema gerenciador da propriedade.
Desta forma, conclui-se que, devido aos resultados obtidos na pesquisa, a implantação
do software SW-Rural da Brazsoft para o gerenciamento da propriedade rural é de grande
importância para o futuro da atividade familiar na propriedade, onde representa a solução de
diversas indecisões geradas pelas incertezas que envolvem qualquer atividade no ramo do
agronegócio, garantindo maior geração de renda para a família e a permanência dos filhos para
dar continuidade as atividades, garantindo a sucessão familiar.
Tal conclusão garante que, com o bom desempenho de gerenciamento com o software,
com a participação da família para o desenvolvimento das atividades desenvolvidas e na tomada
de decisão na propriedade, pode-se afirmar, que a garantia da sucessão familiar para a
continuação do gerenciamento e dos negócios geridos atualmente pelo proprietário, a filha que
está se especializando para o gerenciamento da propriedade, possa dar continuidade as
atividades com mais visão de futuro e conhecimento do mercado em que a propriedade está
inserida no ramo do Agronegócio.

Referências

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Gestão do Incentivo Fiscal à Inovação em Cooperativas
Management of the tax incentives for innovation by cooperatives
Aziz Eduardo Calzolaio1, Heitor Medina 22, Deivid Forgiarini3

Resumo: O objetivo deste artigo é elucidar as práticas realizadas pelas cooperativas agropecuárias quanto à gestão
contábil e gerencial vinculada ao incentivo fiscal à inovação (IFI). Para tanto, realizou-se uma pesquisa de natureza
qualitativa cujo método de investigação selecionado foi o de estudo de caso único, sendo a unidade de análise uma
Central de Cooperativas Agroindustriais brasileira. Tal Central congrega um conjunto de 30 cooperativas
agroindustriais e possui o maior parque industrial de leite em pó da América Latina. Além disso, tal organização
aloja um departamento de Pesquisa e Desenvolvimento. Como resultado, fico esclarecido que a gestão contábil,
administrativa e gerencial que já era rotineiramente operacionalizada na Central foi capaz de atender os novos
procedimentos específicos relacionados à utilização da política em debate, sem a implementação de novos
processos. Além disso, a Central analisada está articulada com outras organizações do sistema de inovação, como
órgãos governamentais e organizações privadas. Ademais diversos departamentos internos da Central trabalham
juntos para o acesso ao IFI. Assim, as práticas de governança e gestão corroboram com a gestão necessário para
administrar o benefício em questão recebido. Isso faz com que o pesquisador desenvolva habilidades
administrativas, assim como diferentes departamentos acompanham a rotina da pesquisa e suas necessidades
especiais. Apesar disso o cooperativismo, como um todo, pouco acessa tal política, visto que apenas 4 cooperativas
utilizaram o IFI em 2014, frente a 1.206 organizações capitalista que o fizeram no Brasil.
Palavras-chave: Cooperativas agropecuárias. Organização e gestão. Incentivo fiscal à inovação.

Abstract: the objective is to elucidate the practices performed by farming cooperatives regarding to the tax,
accounting and administrative management linked to the tax incentive for innovation (TII). So that, a research of
qualitative nature was performed. Furthermore, the research method used was single case study whose the
analysis unit investigated was a Agroindustry Cooperatives Central located in Brazil. Besides that, this Central
has 30 agroindustry cooperatives associated to it. In addition to, that Central owns the largest industrial park of
powdered milk in Latin America. As a result, it was clarified that the accounting, administrative and managerial
management already was implanted in the Central was able to attend the new specific procedures regarding to
the TII access. So, It was not necessary add new management processes. In addition, the Central has had
relationship with other organizations of the innovation system, such as government agencies and private
organizations. Apart from, several internal departments of the Central work together for lead the Central to the
access to IFI. Thus, governance and management practices have been enough for Central to use the TII. As a
result of, not only the researcher developing administrative skills, but also different departments keep up with the
research routine in order to help it. Nevertheless, cooperativism has little access to the such policy, since only 4
cooperatives used the IFI in 2014, compared to 1,206 capitalist organizations that did it in Brazil.
Keywords: Agricultural cooperatives. Organization and management. Tax incentivo for innovation.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é elucidar as práticas realizadas pelas cooperativas


agropecuárias quanto à gestão tributária, contábil e gerencial vinculada ao incentivo fiscal à
inovação (IFI). Apesar de relevante, essa política ainda é pouco conhecida no universo das
cooperativas brasileira. Assim, delineou-se um estudo sobre o acesso de tal política pelas
organizações cooperativistas. Isso permitiu identificar os principais procedimentos de gestão
aplicados na obtenção dos benefícios fiscais em questão.
O incentivo público à inovação direciona as atividades de Ciência e Tecnologia para
impulsionar os esforços de inovação das organizações. Com isso, potencializa a aplicação
econômica dos conhecimentos gerados nos centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D)

1Dr. em economia pela UFRGS/professor da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo e da Universidade de


Caxias do Sul - aziz-calzolaio@sescooprs.br
2Dr. em administração pela Unisinos/professor da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo – heitor-

medina@sescooprs.coop.br
3Ms. em administração/professor da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo – deivid-

forgiarini@sescooprs.br

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(CIMOLI, et al, 2005). Neste sentido, a política fiscal de incentivo à inovação é um instrumento
utilizado pelo governo para ampliar a quantidade e qualidade das atividades de inovação com
vistas ao desenvolvimento do país. No Brasil, o IFI foi reformado através da Lei 11.196/05
(BRASIL, 2005), regulamentado pelo Decreto 5.798/06 (BRASIL, 2006) e posteriores
normatizado pela Receita Federal do Brasil em 2011 (BRASIL, 2011).
Cooperativas agropecuárias são associações de produtores4 rurais ou agropastoris e de
pesca cujos meios de produção da matéria-prima pertençam ao cooperado (BIALOSKORSKI,
2016). Essas organizações são importantes para a economia brasileira, pois 555 cooperativas do
ramo agropecuário são responsáveis por mais de 40% do PIB de agronegócios brasileiro (OCB,
2014)5. Tal setor congrega mais de 1 milhões de cooperados e gera 189 mil empregos. Ademais, as
cooperativas brasileiras exportam US$ 5,1 bilhões para 147 países, registrando um valor positivo
na balança comercial brasileira em 2016 (OCERGS, 2017). Todavia, mesmo com esse
importante peso econômico, apenas 4 cooperativas utilizaram o IFI em 2014, uma sinalização
do pouco envolvimento dessas organizações com a política de inovação do Brasil.
O IFI pode contribuir para reduzir custos e aumentar a produtividade das cooperativas,
ao encorajá-las a investirem em projetos de maior conteúdo tecnológico. Além disso, tal política
pode tornar mais eficiente as cooperativas que rotineiramente realizam atividades de P&D,
como as que atuam na geração de energia e na e na saúde. Assim, buscasse resposta para a
seguinte pergunta: como é a gestão dos procedimentos necessários para acessar o IFI nas
cooperativas agropecuárias? Além desta seção, a literatura sobre inovação e cooperativas é
apresentada na seção 2. Na sequência, apresenta-se a metodologia na seção 3. Posteriormente,
os dados são analisados na seção 4. Por fim, as conclusões estão na seção 5.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 INCENTIVO FISCAL E INOVAÇÃO NAS COOPERATIVAS

Até a década de 2000 as cooperativas brasileiras utilizavam poucos incentivos fiscais,


absorvidos, na sua maioria, pelas grandes empresas capitalistas. Estas, por sua vez, têm
facilidades para angariar financiamentos públicos (TRIGUERO-CANO; CUERVA NARRO,
2011). Tal tendência de maior apoio fiscal às grandes corporações em detrimento das
cooperativas é verificado ao constatar-se que apenas 4 cooperativas utilizaram o IFI em 2014,
no Brasil, frente a 1.206 organizações capitalista deles se beneficiaram.
As diretrizes estratégicas que possibilitam vantagem competitiva auxiliam a
manutenção da organização e o aperfeiçoamento de seu desempenho (CALDEIRA, 2007;
GANIYU; BARBARA; PAUL, 2018). Dentre dessas diretrizes está a inovação e o investimento
em tecnologia nas fases de produção e de transformação de produtos. Isso torna importante a
realização de P&D e os ativos intangíveis (TRIGUERO-CANO; CUERVA-NARRO, 2011).
Dessa forma, as firmas melhoram sua posição no mercado e atingem lucros extraordinários,
evitando a perda de clientes e a falência (SCHUMPETER, 1982). Por isso, os ambientes
econômicos são dinâmicos em sus mudanças (DA SILVA, 2017). Com isso, as invenções são
primordiais para a competitividade, o crescimento e o desenvolvimento nacional (GRAZZI;
PIETROBELLI, 2016).
A incerteza é uma característica da inovação, pois existe o risco de que uma pesquisa
embrionária resulte em insucesso (NELSON, 2006; BOWERS; KHORAKIAN, 2014). Além
4
“cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspirações e
necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e
democraticamente gerida” Scheneider (2010, p. 41).
5
O Brasil tem 6,6 mil cooperativas, em 13 ramos diferentes, com mais de 13,2 milhões de associados e com capacidade de
gerar em torno de 376 mil empregos (OCB, 2017).

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disso, mesmo com o sucesso, a nova criação tem certo grau de imprevisibilidade, visto que
pode funcionar de forma diferente do planejamento inicial. Ademais, o tempo necessário para
que uma pesquisa venha a ser aplica no desenvolvimento de um produto é acima do
frequentemente tolerado em um projeto de investimento pelo setor privado (NELSON, 2006;
FREEMAN; SOETE, 2008). Outrossim, o custo da inovação é alto (ROSENBERG, 2006).
Portanto, há um conjunto de incertezas no processo de desenvolvimento duma inovação
cujo resultado é criar barreiras que torna o empresário cauteloso, dado o risco de perda de
investimento em projetos de inovação. Neste sentido, a política de inovação busca superar tais
barreiras, inclusive provendo soluções de financiamento. Assim, os incentivos públicos, dentre
eles o tributário, são voltados a compensar os riscos e incertezas da atividade de inovação
(FREEMAN; SOETE, 2008).
Em 2005 foi introduzido o novo modelo brasileiro de incentivo fiscal à inovação, através
da lei 11.196 (BRASIL, 2005). Este benefício é passível de ser utilizado por empresas que
realizem gastos com P&D, contratação de pesquisadores e registro de patentes ou cultivares.
Esses dispêndios podem ser realizados dentro da própria empresa; ou serem referentes à
contratação de serviços de P&D6 advindos de parcerias com universidades; Microempresa e
Empresa de Pequeno Porte e consultores independentes.
A IN nº 1.187/2011 regulamenta aspectos relacionados à utilização dos incentivos
fiscais à inovação. Esta é definida como a concepção de novo produto ou processo de
fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou
processo que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade,
resultando em maior competitividade no mercado (BRASIL, 2011).
Segundo a IN 1.187/2011, os dispêndios realizados no período de apuração fiscal com
pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica podem ser deduzidos da base
tributária do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social Sobre o
Lucro Líquido (CSLL) (BRASIL, 2011). Esses gastos incluem todos aqueles realizados para
desenvolver as atividades listadas no quadro 1, bem como os voltados: a) a exames laboratoriais
e testes; b) ao pagamento de salários, encargos sociais/trabalhistas e capacitação técnica do
pessoal envolvido exclusivamente ou parcialmente em projeto de P&D; c) ao registro e
manutenção de marcas, patentes e cultivares, ainda que pagos no exterior; d) à assistência
técnica e científica; e) ao pagamento de royalties devido ao uso de patentes industriais cuja
propriedade seja pessoa física ou jurídica residente no exterior.
Para utilização dos IFI, a pessoa jurídica deverá elaborar projeto de pesquisa tecnológica
e desenvolvimento de inovação tecnológica. Além disso, deve realizar o controle analítico dos
custos e despesas integrantes a esse projeto com uma metodologia uniforme e consistente ao
longo do tempo, tendo registro detalhado e individualizado dos dispêndios dedutíveis. Além
disso, as horas trabalhadas e dedicadas ao projeto devem estar registradas em controles
específicos, com seu respectivo valor salarial. Isso deve ocorrer para toda a equipe envolvida
no projeto, seja pesquisadores ou funcionários de apoio técnico. Ademais, a organização precisa
apurar o lucro real.
A operacionalização dos IFI arrolados na Lei 11.196/05 ocorre através da exclusão da
base de cálculo, tanto do IRPJ quanto da CSLL, do valor correspondente à 60% dos dispêndios
com P&D já discriminados anteriormente. Esse percentual pode ser aumentado de duas
maneiras: i) será acrescido de mais 20% ou 10% no caso da organização ter ampliado,
respectivamente, até 5% ou acima de 5%, a média do número de pesquisadores com dedicação

6
As atividades de P&D listadas nas regulamentações do IFI são: pesquisa básica dirigida, pesquisa aplicada,
desenvolvimento experimental, tecnologia industrial básica, tecnologia industrial básica e serviços de apoio
técnico. Para explorar o conceito de cada uma delas ver a Instrução Normativa IN 1.187/2011 (BRASIL, 2011).

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exclusiva à P&D no ano-base frente ao anterior7; ii) ampliado em mais 20% caso a organização
tenha recebido a concessão de alguma marca, patente, ou registro de cultivares.
A pessoa jurídica poderá usufruir - no próprio ano da aquisição - de depreciação
acelerada integral das máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos adquiridos para serem
utilizados nas atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica.
Isso diminui o lucro líquido no ano da compra desses bens tangíveis, impactando na diminuição
do IRPJ e da CSLL. Da mesma forma, essa aceleração pode ser aplicada aos dispêndios
relativos à aquisição de bens intangíveis.
Os atos de registro e de manutenção de marcas, patentes e cultivares, realizados no
exterior, e que são viabilizados com recursos financeiros enviados do Brasil, deixaram de serem
tributados com relação ao IRPJ incidente nesse tipo de operação, outro IFI brasileiro. Além
disso, é passível obter de 50% de redução do Imposto sobre Produto Industrializado cujo bem
adquirido se destine à realização de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação
tecnológica.
No cooperativismo os trabalhadores exercem o associativismo pelos seus próprios esforços
e ajuda mútua, coordenam, assim, a organização de recursos econômicos coletivos para suplantar
suas carências. Nessa forma de organização econômica a propriedade é coletiva, visto que todos os
cooperados são donos dos meios de produção e podem inferir - ou interferir - diretamente no destino
do empreendimento (DAVIS; BIALOSKORSKI NETO, 2010). Assim, se a cooperativa investe
em P&D e inovação, seus associados se beneficiaram do novo conhecimento desenvolvido por ela.
Por esse motivo é importante o estudo da aplicação das políticas de inovação nas cooperativas, já
que elas disseminam inovação no campo de milhares de produtores rurais.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este artigo se caracteriza como uma pesquisa de natureza qualitativa cujo método de
investigação selecionado foi o de estudo de caso único. Nesse método, se o caso de estudo
fornecer as informações necessárias e suficientes para atingir os objetivos formulados, ele é
significativo, sem necessidade de proceder-se uma análise por amostragem (EISENHARDT,
1989). Além disso, um estudo de caso focado no tema apresentado é necessário porque a
literatura sobre políticas de inovação raramente enfoca a gestão organizacional dos projetos
direcionados ao IFI. Por isso, necessita-se explorar tal tema, seguindo, para tanto, as diretrizes
de Tripodi; Fellin e Meyer (1975).
A unidade de análise escolhida neste estudo de caso foi uma Central de Cooperativas
Agroindustriais no estado do Rio Grande do Sul - Brasil – que atende os requisitos
necessários no método utilizado. Isso porque ela congrega um conjunto de 30 cooperativas
agroindustriais e possui fábricas de produtos lácteos cuja capacidade de processamento é de
2,2 milhões de litros de leite por dia. Sendo assim, é considerado o maior parque industrial de
leite em pó da América Latina. Além disso, tal organização aloja um departamento de Pesquisa
e Desenvolvimento (P&D) cuja pesquisa é transmitida para ser aplicada nas cooperativas
atreladas à Central. Em 2018, a Central possuía 617 colaboradores diretos e abrangia mais de
170 mil produtores rurais associados fornecedores de matéria-prima à indústria da Central,
estando localizados em 350 municípios.
A Central tem importância em termos de produção de conhecimento e difusão de
tecnologia e inovação, visto que essa unidade de análise, possui 21 pesquisadores
distribuídos em 5 linhas de pesquisas. Com isso, a Central, transfere os resultados das

7
A IN 1.187/2011 permite que seja considerado para fins de cálculo do incremento de pesquisadores aqueles
empregados que já colaboravam com a firma, mas que em determinado momento muda sua função, e contrato de
trabalho, para pesquisador.

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pesquisas produzidas em sua unidade de P&D para as cooperativas associadas,
impulsionando e aperfeiçoando na produção de milhares de produtores rurais, aumentando
dessa forma a produtividade dos produtores rurais associados.
Com relação aos instrumentos de pesquisa utilizados para consultas de dados
secundários da unidade de análise, se destaca, entre outros, o Relatório Anual de Utilização
de Incentivos Fiscais 2014, o último publicado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT). Esse documento, consolida os dados referentes às atividades de inovação e ao
impacto tributário de todas as organizações beneficiadas pelo IFI. Nele se registrou que
apenas 4 organizações cooperativas dos mais variados ramos acessaram tal política no Brasil.
Dentre essas, havia uma Central que congregava cooperativas agroindustriais, sobre aquela
repousou a escolha, como unidade dessa pesquisa.
Ainda, compôs o rol de dados secundários revisados atinentes à Central, o balancete da
unidade de pesquisa, o projeto de P&D da central, o centro de custos atinentes às despesas com
atividades de inovação e as planilhas referentes aos cálculos tributários do incentivo fiscal. A
parte desses documentos, foram consultadas as legislações pertinentes ao IFI da República
Federativa do Brasil. Nesse processo seguiu-se a orientação Yin (2010) no processo de revisão
de estabilidade (verificação de documentos por diversas vezes) e da verificação da exatidão
(informações detalhadas e exatas dos eventos pesquisados).
No que tange ao instrumento de coleta de dados primários, esse foi submetido à
avaliação de professores doutores e especialistas da área de denotado saber: um auditor da
Receita Estadual do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, um professor doutor em
cooperativismo, uma contadora especialista em cooperativas e um advogado tributarista. Nesse
sentido, se seguiu a recomendação de Bradburn, Sudman e Wansink (2004) e Seidman (2006),
os quais aconselham submeter o instrumento de pesquisa à avaliação de especialistas para a
análise de conteúdo. Acatadas as sugestões e as correções feitas, os roteiros revisados, foram
submetidos a pré-testes com gestores do setor agropecuário, para nova validação e revisão.
Assim, a fase exploratória de coleta de dados envolveu entrevistas semiestruturadas
em profundidade com os envolvidos na gestão da Central. Para tanto, foram executadas
entrevistas com os seguintes gestores: gerente tributário, gerente jurídico, diretor da unidade
de pesquisa, gestor da indústria de beneficiamento e gestor do setor de compras. Além do
que, foi realizada a observação neutra em diferentes contatos informais, conforme orienta Yin
(2010). Esse autor destaca como pontos fortes dessa técnica de coleta de evidências do estudo
de casos a constatação da realidade em tempo real para uma maior contextualização, o que
proporciona evidências adicionais.
Os dados coletados nas entrevistas passaram por verificação da sua aderência em relação
ao observado no referencial teórico. Além disso, as percepções dos entrevistados foram
analisadas pela técnica de análise de conteúdo, conforme orientam Bardin (2011). Outrossim,
de posse das informações acumuladas e evidenciadas empiricamente, efetuou-se a triangulação
de dados para análise e a apresentação dos resultados da pesquisa, seguindo a sugestão de Yin
(2010). Estes sugerem uma triangulação entre os dados primários e secundários; as
informações coletadas nas entrevistas e as informações derivadas da observação neutra.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em 2018, o departamento de P&D da unidade de análise desenvolvia 5 linhas de


pesquisas com orçamentos já aprovados. O campo científico de cada uma delas era:
entomologia, fitopatologia, fertilidade de solo, melhoramento de espécies forrageiras, plantas
daninhas. Tais pesquisas começaram a alguns anos atrás e em 2015 o dispêndio com elas foi de
R$ 2,02 milhões. Todavia, diferentemente de outras organizações que aproveitariam 100%

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deste valor para fins do IFI, a cooperativa tem um limitador legal que dificulta esse
beneficiamento tributário à inovação, dado suas especificidades como modelo de negócio.
Para que a Central Cooperativa acesse o IFI ela tem que confeccionar um projeto de
inovação que é enviado ao MCT do Governo Federal do Brasil. Tal documento é elaborado por
uma empresa de consultoria externa. Esta, segundo a Central, acompanha as mudanças nas
regulamentações e as transmite de forma apropriada para seus gestores. Além do que, a
terceirizada contratada para administrar o projeto realiza, caso necessário, o envio dos
documentos para os órgãos competentes e elabora as devidas respostas frente a algum
questionamento do governo. Ademais, o custo de obter o benefício dos serviços prestados pela
consultoria é baixo, uma vez que a remuneração é um percentual do imposto economizado
através do benefício fiscal, sem que a empresa precise desembolsar qualquer valor de seu caixa
antes de obter a economia de tributária.
No processo de construção do projeto de inovação, a Central fornece as informações
contábeis e técnicas, relacionadas às pesquisas, que são recepcionadas e compiladas pela
empresa de consultoria terceirizada. Esta é alimentada com dados relacionados às atividades de
inovação executadas, os valores despendidos com elas e a economia de tributo alcançadas
devido ao IFI.
Reuniões entre ambas as organizações, consultoria e Central Cooperativa,
intermediadas pelo gerente tributário, são realizadas para que sejam registradas em detalhes a
evolução dos projetos do P&D. Portanto, há uma integração entre os pesquisadores e a empresa
externa, principalmente para discussões acerca dos pontos relevantes das atividades
tecnológicas e de inovação. Visto que a empresa de consultoria desenvolve tal trabalho desde
2013, sem nenhum desabono, goza, por isso, de credibilidade junto à sua cliente. Por fim, após
finalizado o projeto de inovação, ele é enviado ao MCT que o julga pertinente ou não.
O MCT recepciona o projeto de inovação até o dia 30 de junho do ano seguinte ao do
aproveitamento dos benefícios do IFI. Em seguida, esse órgão do governo emite um parecer
aprovando-o de forma total ou parcial. Neste caso, é possível, quando cabível, realizar ajustes
solicitados pelo analista governamental. Este, em geral, observa se as atividades de inovação
relatadas estão de acordo com os critérios da lei, para que, assim, os gastos feitos nelas possam
ser devidamente deduzidos.
A interação com os órgãos fiscalizadores ocorre por via eletrônica, meio pelo qual há
transferência documental, sem que haja encontros presenciais. Um ponto a destacar é que a
cooperativa não precisa da aprovação prévia do MCT para realizar as deduções contábeis
pertinentes ao IFI. Ao contrário, ao ter realizado de fato as despesas com P&D, essas são
deduzidas no cálculo do tributo no mesmo ano em que foram executadas e são relatadas, então,
para o MCT, no ano posterior ao gozo do benefício.
Junto à Escrituração Contábil Fiscal entregue pela Central à Receita Federal do Brasil
estão as informações de economia de impostos oriundos do uso do IFI. De forma que os
documentos comprobatórios acerca das operações dos gastos com P&D ficam arquivados
naquela organização, à disposição da fiscalização pertinente. Cabe ressaltar que inexiste
registros relacionados à contestação por parte da autoridade fiscal governamental. Esta se
resguarda no fato de que o MCT julgou como procedente os gastos com P&D e, assim, deferiu
como procedente o acesso ao IFI.
As atividades da unidade de P&D da Central são controladas por um centro de custos
específico e, assim, são facilmente identificadas para serem utilizadas a fim de angariar-se os
benefícios do IFI. Ainda, tal forma de registro dos dispêndios já era efetuado antes de iniciar-
se a utilização dos incentivos à inovação. Com isso, os procedimentos contábeis, já
estabelecidos anteriormente à usufruição da referida política foram suficientes para a prática da
gestão contábil pertinente às despesas com atividades de inovação relacionadas ao IFI.

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Com relação à gestão administrativa, cada centro de custo vinculado às diferentes linhas
de P&D é supervisionado por um gestor e acessado via uma plataforma eletrônica interligada
com diversas outras áreas da Central. De forma que, quando um pesquisador necessita de algum
material para sua pesquisa ele o solicita via software específico. Depois, tal pedido é analisado
pelos gestores superiores para suas anuências e encaminhado para o departamento de compra.
Existe uma relação direta entre o pesquisador e o departamento de compra, pois
qualquer material atinente à pesquisa que precise ser comprado é devidamente cadastrado
eletronicamente com antecipação e detalhamento de características. Assim, por um lado, a área
técnica responsável pelas atividades de inovação consulta no mercado as caraterísticas ideias
do material demandado para, então, indicá-lo ao departamento de compras. Este, por outro lado,
consulta a unidade de P&D antes de adquirir o produto para certificar-se de que a compra está
correta. Dada a intensa relação entre o pesquisador e outras áreas da Central, aquele desenvolve
habilidades administrativas e de gestão que incluem processos e operacionalização de
plataformas eletrônicos acessadas por múltiplos departamentos.
Os procedimentos de gestão contábil e administrativa realizados antes de se lograr o IFI
acolheram perfeitamente as operações envolvidas no acesso a tal benefício. Portanto, não houve
necessidade de se implantar nenhum novo procedimento, pois do ponto de vista da gestão, tanto
administrativa quanto contábil, as rotinas já estavam estabelecidas. Portanto, inexistiu custos
administrativos adicionais para se usufruir do referido benefício tributário.
Com relação à gestão contábil, as unidades produtivas consideradas para fins de
deduções pertinentes ao IFI referem-se a todas aquelas que gerem impostos cujos valores são
agregados no CNPJ da Central. Ou seja, o valor do lucro líquido que sofre o abatimento é
resultante das diferentes atividades econômicas, advindas de diversas unidades produtivas da
Central, independente de observação da local onde as despesas com P&D tecnológico foram
realizadas. Dessa forma, os cálculos tributários são centralizados em uma unificação contábil
da matriz.
A figura 1 exemplifica o organograma referente à origem do imposto e das atividades
de inovação em diferentes áreas produtivas da unidade. No exemplo hipotético, as unidades
industrial, varejista e de transporte geram imposto, visto que suas atividades envolvem ANC,
utilizados para fins de benefício do IFI cujos gastos com P&D ocorrem em uma unidade que
não gera impostos.

Figura 1 - Unidades produtoras duma cooperativa e a geração de impostos


CNPJ central é o
considerado para
fins de dedução do
IFI

unidade: P&D sem


ato cooperativo

unidade: industria unidade: varejo unidade:


com ato não com ato não transportadora com
cooperativo cooperativo ato não cooperativo

Fonte: elaborada pelos autores

A figura 2 demonstra, resumidamente, os processos envolvidos no acesso ao IFI. Ela foi


construída considerando o caso da Central analisada na pesquisa.

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Figura 2 – Cadeia de operações relacionada à usufruirão do IFI

Fonte: elaborada pelos autores

A Central Cooperativa seleciona o projeto de inovação segundo as necessidades técnicas


referenciadas pelas suas cooperativas associadas. Em seguida, diferentes departamentos da
unidade de análise trabalham em conjunto para viabilizar a gestão da P&D. Isso é feito para
que os gestores aliem procedimentos tanto das compras, quanto dos registros em controles
pertinentes vinculados às atividades de inovação. Concomitantemente, na unidade de P&D, os
pesquisadores realizam suas atividades. Com os dados sobre os gastos com inovação, o
contador calcula o benefício oriundo da IFI. Todas as informações geradas internamente são
repassadas para a consultoria externa elaborar o projeto de inovação apresentado ao MCT. Este,
então, julga o projeto, que pode ser aprovado, reprovado ou devolvido para alterações.

5 CONCLUSÕES

A tecnologia gerada pelo Central estudada apoia a produção de centenas de pequenos


produtores, o que auxilia a potencializar a renda daqueles cooperados. Sem a P&D da Central,
que consegue disseminar o conhecimento nela gerado para as cooperativas associadas sem ônus
para essas, o acesso à tecnologia teria que ser ocorrer através do mercado. Neste, o preço das
inovações é muito alto para essas organizações. Da mesma forma, é possível que as demais
cooperativas singulares, em especial as que realizam P&D, também possuam um papel
importante na disseminação de tecnologia para o sistema produtivo rural. Dessa forma, existe
uma contribuição, que ainda precisa ser medida, do sistema cooperativista no aperfeiçoamento
do Sistema de Inovação Regional e Nacional.
A pesquisa permitiu estudar e compreender como uma Central Cooperativa acessa uma
política de inovação. Desta forma, o objetivo de elucidar as práticas realizadas pelas
cooperativas agropecuárias quanto à gestão tributária, contábil e gerencial vinculadas ao IFI foi
atingido, visto que os processos praticados pela unidade de pesquisa para acessar o IFI foram
descritos detalhadamente.
Como resultado, foi verificado que a gestão contábil, administrativa e gerencial que já
era rotineiramente operacionalizada na Central foi capaz de atender os novos atos específicos
relacionados à utilização da política em debate, sem a implementação de novos processos. Isso
sinaliza um preparo da unidade de análise estudada para processar a relação com os

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procedimentos burocráticos relacionados ao acesso às políticas públicas. Nesse sentido, a
gestão da Central possui uma estratégia para fazer do acesso ao IFI um meio de alcançar
vantagens competitivas, visto que as operações administrativas e contábeis da Central se
operacionalizam adequadamente do ponto de vista técnico.
Existe uma sólida relação entre a Central estudada e outras organizações do sistema de
inovação. Mediante interações com órgãos governamentais e organizações privadas a Central
acessa todo o conhecimento necessário para usufruir de uma política de inovação. Nesse
sentido, cabe verificar o grau no qual a Central e outras cooperativas acessam programas
públicos voltados a inovação e que elos do sistema de inovação precisam ser aperfeiçoados.
Além disso, há uma fluída cooperação entre os gestores da Central e seus pesquisadores.
Nesse sentido, diversos departamentos trabalham juntos para que a referida organização angarie
o IFI. Assim, existe boas práticas de governança e gestão articulados com uma adequada
tecnologia da informação voltada à gestão. Isso faz com que o pesquisador desenvolva
habilidades administrativas, assim como diferentes departamentos, como o de compras por
exemplo, acompanham a rotina da pesquisa e suas necessidades especiais.
Apesar da pertinente preparação da unidade de análise estudada para acessar o IFI, o
cooperativismo como um toda ainda pouco acessa políticas de inovação. Isso é evidenciado ao
notar que apenas 4 cooperativas utilizaram o IFI em 2014, no Brasil, frente a 1.206 organizações
capitalista. Portanto, o envolvimento das cooperativas com o IFI ainda é limitado. Nesse
sentido, cabem estudos para esclarecer em que medida realmente as cooperativas acessam as
políticas de inovação e em quais circunstâncias isso ocorre. Dado a importância das
cooperativas no setor rural brasileiro, tais organizações começam a invocar a política de
inovação para ampliar sua produtividade, rentabilidade, participação no mercado e formação
de vantagens competitivas. Por isso é importante compreender melhor a relação entre tais
organizações e o sistema de inovação.

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Identificando o desperdício alimentar nas residências brasileiras
Identifying household food waste in Brazil
Ramos, Gabriel Jäger1, Borges, João Augusto Rossi2, Rodrigues, Nayara Santos3

Resumo
A disponibilidade de alimentos pode existir somente até 2050 e espera-se que o desperdício de alimentos aumente
nos próximos 25 anos. Esse desperdício tem impactos negativos, como impactos ambientais, devido a emissões
de GEE, uso de água, terras agrícolas e fertilizantes, perdas econômicas e insegurança alimentar. O desperdício de
alimentos ocorre em todos os pontos da cadeia produtiva, porém, a maior quantidade ocorre nas residências. Há
diversas pesquisas sobre desperdício de alimentos nas residências, objetivando entender esse fenômeno, entretanto,
pesquisas neste tema ainda são escassas na América do Sul. Além disso, nenhum estudo semelhante foi feito no
Brasil até o momento, o que aumentou a importância da realização deste estudo. O objetivo geral do estudo foi
identificar a quantidade e a frequência do desperdício alimentar domiciliar no Brasil. Para atingir este objetivo,
desenvolvemos um questionário online, com dois grupos de questões, sócio-demográficas e questões que medem
a quantidade e a frequência do desperdício. A amostra final foi composta por 600 pessoas, distribuídas pelas 5
regiões do Brasil. Os resultados mostraram que frutas, verduras e saladas são os tipos de alimentos mais
desperdiçados. Depois destes, os alimentos mais desperdiçados são os produtos de panificação e as proteínas
animais em geral. Os alimentos menos desperdiçados foram os fast-foods e as refeições prontas.
Palavras-chave: Quantidade e frequência de desperdício alimentar domiciliar, Agenda 2030 para
desenvolvimento sustentável, Insegurança alimentar, Segurança alimentar, Desperdício alimentar domiciliar
auto-relatado.

Abstract
Food availability might exist only until 2050 and food waste has been predicted to increase in the next 25 years.
This waste has negative impacts such as environmental impacts due to GHG emissions, freshwater, cropland and
fertilizer use, economic losses and food insecurity. Food losses occur in all food supply chain points, however the
largest amount of food waste occurs in households. There are various research towards household food waste in
order to understand this phenomenon, however researches in this topic are still scarce in South America. Besides,
no similar studies was done in Brazil so far, which increased the importance of carrying out this study. The general
objective of the study was to identify the amount and frequency of household food waste in Brazil. To achieve this
objective, we developed an online survey, with two groups of questions, socio-demographics and questions
measuring the amount and frequency of food waste. The final sample was composed by 600 people, distributed by
the 5 regions of Brazil. The results showed that fruits, vegetables and salads are the most wasted types of food.
After those, the most wasted types of food are bakery products and animal protein in general. The least wasted
type of food were the fast food and ready-to-eat meals.
Keywords: Amount and frequency of household food waste, 2030 sustainable agenda, Food insecurity, Food
security, Self-reported household food waste.

1 Introduction

Food waste and losses4 are currently an important topic around the world. Concerns
regarding to food waste have made institutions and governments search for manners to deal
with this problem (PORPINO, 2016).

1
Mestrando em Agronegócios/Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFGD - Universidade Federal
da Grande Dourados1- gabrieljagerramos1@gmail.com1
2Phd in Business Economics/ Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFGD - Universidade Federal
da Grande Dourados 2- joaoborges@ufgd.edu.br2
3
Mestranda em Agronegócios/Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFGD - Universidade Federal
da Grande Dourados 3 - naysanro@gmail.com3
4 According to the Parfitt et al. (2010), food loss occurs when the food is lost at production, postharvest and
processing stages in the food supply chain. The food that is lost at the end of the food supply chain (retail and final
consumption) is what we called food waste. Therefore, food waste and lost refer to the decrease in edible food
mass throughout the part of the supply chain that specifically leads to edible food for human consumption
(GUSTAVSSON et al., 2011).
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Some institutions such as the Food and Agricultural Organization of the United Nations
(FAO), have been reporting that food availability might exist only until 2050 and food waste
has been predicted to increase in the next 25 years (CHEN et al., 2017). If the world not
increases the global food production by 60 per cent higher than it was in 2006/2007, humanity
might face global food insecurity.
This food scarcity is due to the necessity of feeding a rapidly increasing population that
will reach 9 billion people in the middle of the century (GODFRAY et al., 2010). Therefore, it
is clear an unethical and unsustainable situation (DIAZ-RUIZ, COSTA-FONT, & GIL,
2017) and requires the world’s attention on finding ways to increase food production. Thus,
most of the necessary effort to increase the global food availability could be actually, on food
waste reduction (FOLEY et al., 2011; KUMMU et al., 2012; FAO, 2013).
In 2015, the United Nations (UN), together with world leaders, adopted the 2030 agenda
for sustainable development. This agenda has 17 goals to end poverty, protect the planet and
ensure prosperity for all (UNITED NATIONS, 2015).
However, about 1/3 of the total food produced is discarded (FAO, 2013; SMITH &
GREGORY, 2013). This waste has negative impacts such as environmental impacts due to
GHG emissions, freshwater, cropland and fertilizer use, economic losses and food insecurity
(GUSTAVSSON et al., 2011; KUMMU et al., 2012), going against to most of the new
sustainable agenda’s goals such as zero hunger and responsible consumption and production.
In addition, while food waste is common in more than 1 billion people’s lives, on another hand,
food insecurity is a reality for too many others (KOSSEVA, 2013; LUNDQVIST et al., 2010).
Therefore, food waste is not just an economic and social issue, it goes beyond, being also an
ethical issue (HEBROK & BOKS, 2017).
Food losses occur in all food supply chain points (PARFITT, BARTHEL, &
MACNAUGHTON, 2010), from farm to our plates, however the largest amount of food waste
occurs at household level (EUROPEAN COMMISSION & REPORT, 2010). For instance,
according to the Waste and Resources Action Programme (WRAP, 2008), household food
waste represents 1,5 tons a year in UK. In this way, Gaiani et al. (2017) reported that household
food waste is related to several reasons such as labeling issues, storage, packaging issues,
portion sizes, consumer’s awareness, planning issues at the purchasing point, knowledge about
how to reemploy food in new dishes and preferences.
Since the most of food waste occurs at the household level, first, it is important to define
what food waste is. According to Parfitt et al. (2010) and WRAP (2009) food waste can be
separated in two categories: (1) avoidable and possibly avoidable food waste, regarding to
edible food that is thrown away; (2) unavoidable food waste, which is the waste from the
preparation that is not edible, such as bones, skins, shells, fishbone, etc. In this research, we
focused only on avoidable and possibly avoidable food waste.
Research on food waste have significantly increased since 2006, especially in countries
such as China, USA, South Korea, UK, Japan, India and Canada, which are the countries where
most of the researches come from (CHEN et al., 2017). Studies on this topic mostly involves
areas including climate change, sustainable resource management, energy, biodiversity, habitat
protection, agriculture and soil protection, which are the areas that are affected by food waste
in general (SECONDI et al., 2015).
Furthermore, there is a constant trend of research toward household food waste in order
to understand this phenomenon, which have investigated the influence of different variables
that may influence on food waste. However, food waste results from complex factors and
behaviors (SECONDI et al., 2015). For instance, socio-demographic factors such as age,
gender, income and household composition might influence on the amount of food waste
(JÖRISSEN, PRIEFER, & BRÄUTIGAM, 2015; QUESTED et al., 2013; BARR, 2007;
WRAP, 2008, 2009). Psychological factors such as intention to avoid food waste, financial and
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personal attitudes, perceived health risks, perceived behavioral control, planning habits,
personal and subjective norms, food waste awareness and data label and storage knowledge
also might have influence on household food waste (VISSCHERS, WICKLI, & SIEGRIST,
2016; GRAHAM-ROWE, JESSOP, & SPARKS, 2014 ).
Some studies found that older people waste less (SECONDI et al., 2015; STANCU et
al., 2016), while others indicate the opposite (CECERE et al., 2014). Regarding to gender,
studies found that women waste more (VISSCHERS, WICKLI, & SIEGRIST, 2016), while
others suggest women produce less food waste (CECERE et al., 2014; SECONDI et al., 2015).
These studies also found that, in relation to education level, people who are employed tend to
generate more food waste compared to those who are unemployed. Regarding to income,
studies found that households with different income differ in relation to their attitudes towards
food waste reduction (PRINCIPATO et al., 2015; QI AND ROE, 2016).
The household planning habits and routines were also investigated revealing that
planning our food shopping can be effective against overbuying, which prevents food waste
(PARIZEAU et al., 2015; SECONDI et al., 2015). Some studies also found that better planning
and organization regarding to cooking and storing food, results in food waste prevention by
consuming older products first and improving cooking skills, wasting less on the preparation
and making a better use of the leftovers (GRAHAM-ROWE et al., 2014; PORPINO et al., 2015;
JÖRISSEN et al., 2015; SECONDI et al., 2015; STANCU et al., 2016).
Regardless of this trend, recent research about household food waste was most
conducted in Europe (SCHANES, DOBERNIG & GÖZET, 2018; HERPEN et al., 2018).
Therefore, research in this topic is still scarce in South America. Besides, any similar study was
done in Brazil so far, the country where this study took place, which increased the importance
of carrying out the present study. Given the above background, the general objective of our
study was to identify the self-reported amount and frequency of household food waste in Brazil.

2 Literature Background

2.1 Food waste measurements

Since a better understanding of the drivers of food waste is needed, to achieve such
understanding, food waste needs to be measured in a reliable and valid way (HERPEN et al.,
2018). However, establishing a valid estimation of the extent of food waste remains a major
challenge (ELIMELECH, AYALON, & ERT, 2018; PARFITT et al., 2010), due to the lack of
standardized methods to quantify household food waste (HERPEN et al., 2018; PORPINO,
2016).
There are several methods of measuring household food waste such as self-report in a
diary, self-report survey or interview, waste-composition analysis, self-collection in provided
containers and photographs and in-home observations. Each method has its own advantages
and disadvantages.
In order to estimate the advantages and disadvantages of each method, Herpen et al.
(2018), followed four criteria. These criteria are: (1) degree to which estimates of food waste
can be biased, (2) effort required of respondents, (3) effort and costs for the researcher, and (4)
ability of the method to provide information about different states of food waste. Next, we
detailed the method used in this study.

2.1.1 Self-report survey / Interview for food waste measurement

In this method, participants answer questions reporting their amount and frequency of
food waste without the use of a diary or other instrument. Various measures have been used
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with this method such as absolute or frequency measures, visually based measures, and
proportional waste measures (HERPEN et al., 2018; PARIZEAU et al., 2015; VENTOUR,
2008).
According to Herpen et al. (2018), the advantages of this method rely on the easiness of
collecting data with relatively low cost for the researcher and requires low effort from the
respondent. This convenience is the reason for us to choose this method for our data collection.
On the other hand, people are more inclined to give socially desirable answers. Moreover, when
using surveys, the measurement draws upon the individual's memory what can be faulty.
Due to this method’s advantages, it has been used in various studies. For instance,
Parizeau et al., (2015) showed that the most common type of food wasted by people are those
from food preparation and spoiled foods. Young et al., (2017) have successfully used the self-
reported survey, measuring the amount and frequency of consumers’ food waste, founding that
bakery, salads and fruits are the most wasted types of food, confirming WRAP’s research
(WRAP, 2013a). Martindale (2014) showed that people waste fresh food 47 per cent more than
frozen food, highlighting the importance of using frozen food to reduce avoidable food waste.

3 Materials and Methods

3.1 Survey and Sampling

To achieve the objective of this research we developed an online survey, separated in


two groups of questions. The first group consisted of socio-demographic questions, including
gender, age, social status region, family composition, employment and level of education. The
second group consisted of questions measuring the total amount of food waste. In these
questions, participants self-reported the amount and frequency of households’ food waste for
each of six groups of food (fruits, vegetables and salads; animal protein in general; bakery
products; fast-food or ready-to-eat meals; dairy products and pastas).
The scale for these questions had seven response options, which were ‘quite a lot’, ‘a
reasonable amount’, ‘some’, ‘a small amount’, ‘hardly any’, ‘none’, ‘I do not have it’ or ‘I do
not consume it’. The scale for the frequency measurement questions had nine response options
which were: ‘every day’, ‘several times a week’, ‘once a week’, ‘several times a month’, ‘once
a month’, ‘several times a year’, ‘once a year’, ‘never’ and ‘I do not consume it’. This group of
questions was adapted from Ventour (2008) and WRAP (2009).
Before starting data collection, we pretested the questionnaire on 10 people by using the
Google Forms platform, and adapted inconsistencies found. In order to spread our
questionnaire, we hired a startup for distributing the surveys online to participants throughout
the country. We analyzed the data using frequency indicators.

4 Results and discussion

4.1 Descriptive statistics

The final sample was composed by 600 people, distributed by demographic variables.
Our sample was formed by 31,83% Male, 68,17% female, the mean age of the respondents was
34,9 years old with a standard deviation of 12,62. Regarding to the stratum, our sample belongs
to 5 different stratums which were 3% A, 14,83% B, 32,17% C, 27,33% D and 22,67% E.
Concerning to region, our survey reached all of the 5 regions of Brazil composing the sample
with 48,17% respondents from Southeast, 14,67% from South, 7,67% from Midwest, 23% from
Northeast and 6,5% from North.

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The family composition of the respondents were mostly composed by families with
children (49,5%) and most of the households were composed by 3 members (28,33%). The
majority of the main provider in the respondent’s household had the full time worker as
employment status (60,17%) and most of the respondents (41,33%) had the high school level
of education. Regarding to the general amount of food waste reported by the respondents, the
majority, about 41,17%, claims to have hardly any food waste, as we show in figure 1.

Figure 1 – General amount of self-reported food waste

Source: Made by the authors (2018)

Regarding to the amount of food waste reported for each of the six food groups, most
of the respondents, claims not to waste or waste hardly any food. In the group of fruits,
vegetables and salads, 40,33% of the respondents reported to hardly any waste this type of food,
in the animal protein group, about 38% reported not to or hardly any waste it. Regarding to the
bakery products, fast-food or ready-to-eat meals and dairy products food groups, the majority
reported not to waste these types of food, representing 35,17%, 46,33% and 45,17%
respectively, as we show in figure 2.

Figure 2 – Self-reported amount of food waste by food group

Source: Author’s own calculation (2018)

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Concerning to the self-reported frequency of food waste, most of the participants
(45,83%) claims to never waste fast-food or ready-to-eat meals, followed by dairy products
(43,5%) and animal protein in general (42,67%). The rate of never waste, decreased in the group
of fruits, vegetables and salads, when only 24% of the respondents say to never waste it while
12,5%, 12,83% and 13,83% say that they waste it several times a week, once a week and several
times a month respectively, as we show next in figure 3.

Figure 3 – Self-reported frequency of household food waste by food group

Source: Author’s own calculation (2018)

At first, regardless the bias due to the fact the people are inclined to give socially desired
answers, it is possible to observe that, as presented in previous studies outside Brazil
(VENTOUR, 2008; HERPEN et al., 2018; YOUNG et al., 2017) fruits, vegetables and salads
are the most wasted types of food. These results also show that this same phenomenon repeats
in Brazil, which, as other studies, confirms the WRAP’s research (WRAP, 2013a).
After the fruits, vegetables and salads, the most wasted types of food are bakery
products and animal protein in general and the least wasted type of food was the fast food and
ready-to-eat meals.
We hypothesized that it might be explained by the sense of wasting money when
wasting this type of food. This sensation might exist due to the Brazilian habit of eating this
type of food mostly when they eat out of home, spending money right before eating the food.
Different sensation occurs when buying food to cook at home, when people do not deal with
the purchased food right after it is bought.

5 Conclusions

Before understand the food waste phenomenon it is important to measure it. One of the
challenges for doing this research was to choose a method that could make it possible to
measure food waste.
We observed that the disadvantage for choosing the self-reported method was a barrier
to collect accurate data about household food waste. This fact brought ideas for future research
by applying different methods of measuring household food waste. For instance, as it was done
by the WRAP in UK, doing, besides the self-reported survey, in home observation by taking

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photographs of the food disposal, weighting the food disposal of in home caddies in order to
obtain more accurate data of Brazilian household food waste.
Our study will also contribute as a base for ongoing researches to understand
psychological factors that drive people regarding to household food waste behavior in Brazil.
Furthermore, specifically contribute by providing information towards food waste reduction,
for the development of public policies, helping Brazil to play its role in the implementation of
the world’s 2030 agenda for sustainable development. In this way, seek means for achieve
food security and zero hunger, responsible consumption, promote awareness about land and
water use due to food losses and waste, and thus, fighting against the climate change.

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Nudge como estratégia para promover o consumo mais responsável de
alimentos e prevenção da obesidade infantil: os pais aprovam essa ideia?
Nudge as a strategy for promoting a more responsible food consumption
and prevent the childhood obesity: do the parents approve this idea?
Rodrigues, Nayara Santos.1 Vendrusculo, Anderson Brondani.2 Ramos, Gabriel Jäger.3
Domingues, Carla Heloisa de Faria.4

Resumo
O atual sistema alimentar tem colocado em risco o desenvolvimento sustentável e a falta de um consumo mais
responsável de alimentos vem contribuído para o alarmante aumento da obesidade infantil e doenças não
transmissíveis. Essa problemática tem impulsionado governos a buscarem estratégias que promovam escolhas
alimentares mais saudáveis e ações sustentáveis. Como estratégia eficaz, o nudge tem sido implementado em
diversos países, contribuindo para a prevenção da obesidade e desenvolvimento sustentável. Diante desse
contexto, o objetivo geral do estudo foi identificar a aprovação ou desaprovação dos pais sobre a utilização de
nudges em cantinas escolares. Para atingir ao objetivo, fez-se uma pesquisa on-line para identificar a aceitação
dos pais para nove intervenções caracterizadas como nudges e duas intervenções que não caracterizavam nudges,
pois expressavam restrição de escolha. Foi observada aprovação predominante dos pais para as intervenções
propostas. Cerca de 97,02% dos pais aprovaram a alocação estratégica dos alimentos para direcionar a escolhas
mais saudáveis. O uso de etiquetas interpretativas nos alimentos foi aprovado por 91,99% dos pais. Para a
proposta estratégica restritiva de utilização de alimentos 100% veganos nas cantinas escolares, a aprovação foi
de 33,91%. Dessa forma, nota-se que a aprovação dos pais foi positiva em relação a implementação de nudges
pelas cantinas escolares e que políticas públicas poderão ser formuladas com esse direcionamento em incentivo
ao consumo mais responsável de alimentos, contribuindo consequentemente, para a redução da obesidade
infantil e desenvolvimento sustentável.
Palavras Chave: Mudança de comportamento alimentar, Desenvolvimento sustentável, Ambiente escolar,
Economia comportamental, Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável.

Abstract
The current food system has put sustainable development at risk and the lack of more responsible food
consumption has contributed to the alarming increase in childhood obesity and non-transferable diseases. This
issue has stimulate governments to pursue strategies that promote healthier food choices and sustainable
actions. As an effective strategy, nudge has been implemented in several countries, contributing to the
prevention of obesity and sustainable development. Given this context, the overall objective of the study was to
identify the approval or disapproval of parents about the use of nudges in school canteens. To reach this
objective, it was done an online survey to identify the parents' acceptance for nine interventions characterized as
nudges and two interventions that were not characterized as nudges, as they expressed a restriction of choice.
Parents' predominant approval was observed for the proposed interventions. About 97.02% of parents approved
strategic food allocation targeting healthier choices. The use of interpretive labels on foods was approved by
91.99% of the parents. For the strategic proposal restricting the use of 100% vegan foods in school canteens,
the approval was 33.91%. Thus, parents' approval was positive in relation to the implementation of nudges by
school canteens and that public policies could be formulated with this direction in encouraging more
responsible food consumption, thus contributing to the reduction of childhood obesity and sustainable
development.

1Mestranda em Agronegócios/Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFGD - Universidade


Federal da Grande Dourados1- naysanro@gmail.com 1
2Mestrando em Agronegócios/Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFGD - Universidade
Federal da Grande Dourados 2- andersonvendruscolo@hotmail.com 2
3Mestrando em Agronegócios/Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFGD - Universidade
Federal da Grande Dourados 3 - gabrieljagerramos1@gmail.com 3
4 Doutora em Zootecnia/Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFGD - Universidade Federal da
Grande Dourados4- carlafariadomingues@hotmail.com4

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Porto Alegre - RS, 25 e 26 de outubro de 2018 420
Keywords: Food consumption behavioral change, Sustainable development, Scholar environment, Behavioral
Economics, 2030 Agenda for Sustainable Development.
1. Introdução

O sistema de produção de alimentos envolvido na alimentação da população global, é


responsável por cerca de 25% da emissão mundial de gases de efeito estufa. Contudo, esse
sistema também promove problemas como, diminuição da biodiversidade, áreas degradadas,
elevada utilização de água e poluição (GARNETT, 2016). Outro problema identificado é em
relação ao desperdício de alimentos gerados ao longo da cadeia. Como para todos os
produtos, os impactos ambientais relacionados aos alimentos ocorrem durante as fases de
produção, processamento e distribuição, como também durante a fase de consumo. Dessa
forma, o desperdício de alimentos se correlaciona a aspectos sociais, como escolha e hábitos
alimentares, cultura alimentar e tradições (GROSSO e FALASCONI, 2018). Além disso,
segundo Garnett (2016), o sistema de produção de alimentos não consegue alimentar a
população de forma efetiva, pois enquanto a obesidade e as doenças relacionadas às dietas
aumentam, a fome e as deficiências por micronutrientes persistem.
Ao longo das últimas décadas, observa-se que devido às mudanças ocorridas nos
hábitos alimentares da população mundial, a obesidade5 tornou-se um dos maiores problemas
de saúde pública, incluindo crianças e adolescentes neste cenário (HILL et al., 2017; OMS,
2017). No ano de 2016, em todo o mundo, cerca de 41 milhões de crianças, menores de cinco
anos, apresentaram sobrepeso (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA
ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA, 2017). No mesmo ano, o número de obesos com
idade entre 5 e 19 anos foi de 124 milhões (IMPERIAL COLLEGE LONDON 2017; OMS,
2017). No Brasil, conforme último relatório da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)
realizada entre os anos de 2008/2009, 32% dos meninos e 34,8% das meninas de 5 a 9 anos
de idade apresentaram sobrepeso, e 16,6 % e 11,8% apresentaram obesidade,
respectivamente. Entre os 10 e 19 anos de idade, o resultado foi menor. Nessa faixa etária
21,7% dos meninos e 19,4% das meninas estão com sobrepeso e 5,9% e 4% apresentam
obesidade (IBGE, 2010). São diversos os riscos de doenças crônicas associadas à obesidade,
como por exemplo, hipertensão, problemas psicossociais, diabetes, além de doenças
cardiovasculares e alguns tipos de câncer (OMS, 2017; ROSENTHAL et al., 2017). Portanto,
nota-se que o consumo elevado de alimentos é prejudicial tanto à saúde do indivíduo quanto
para o meio ambiente (GROSSO e FALASCONI, 2018).
Neste contexto, diante do aumento sucessivo da obesidade e das doenças correlatas, a
ONU incluiu na agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, extinguir todas as formas
de desnutrição, assim como o sobrepeso e obesidade e portanto, antes mesmo do ano de 2030
propõe a redução de um terço a mortalidade prematura ocasionada por doenças não
transmissíveis (ONU, 2015). Dentre as metas propostas pela ONU, o consumo responsável de
alimentos é um dos principais pilares para atingir a sustentabilidade ambiental (UNDESA,
2017). As práticas de consumo responsável surgem como alternativas para um padrão
alimentar sustentável, contribuindo para decisões com menores impactos negativos sobre o
meio ambiente e sociedade. A importância de promover o hábito de um consumo de

5 Para a definição do conceito da obesidade e sobrepeso é utilizado o índice de massa corporal (IMC).
Em crianças e adolescentes entre 5 aos 19 anos, a idade e os padrões de crescimento infantil determinados pela
OMS (2017) fazem parte do cálculo do IMC como parâmetros para determinar o status da obesidade ou excesso
de peso. O resultado determinará o status do peso atual classificando como baixo peso, peso saudável, excesso
de peso ou obesidade em casos de acúmulo anormal de gordura corporal (OMS 2017).
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Porto Alegre - RS, 25 e 26 de outubro de 2018 421
alimentos mais responsável torna-se ainda mais relevante quando relacionado as crianças,
visto que seus hábitos de consumo delinearão o futuro da cadeia de abastecimento alimentar.
(BENVENUTI et al., 2016). E de fato, é no inicio da vida que as preferências de alimentação
são formadas e tendem a permanecer na fase adulta (GENEVA WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2017; BIRCH E VENTURA, 2009; MAGAREY et al., 2003; MARTY et
al., 2018; SOPHIE NICKLAUS, 2004).
Devida a preocupação observada nos últimos anos em promover o hábito mais
responsável de alimentos, houve um aumento de estudos conduzidos para verificar a
efetividade de estratégias que visam alterar o comportamento alimentar das crianças para que
as mesmas façam escolhas mais saudáveis (DECOSTA et al., 2017). Dentre as estratégias de
intervenção para promover a mudança de comportamento do indivíduo, está o nudge
(THALER; SUNSTEIN, 2008). A origem da palavra nudge provém da língua inglesa, que
quer dizer empurrar, cutucar de maneira cuidadosa e sutil. Não é expresso por restrição ou
ordem, mas faz uso de arranjos externos que alteram o comportamento das pessoas de forma
previsível, guiando e influenciando-as a fazerem melhores escolhas (GRAHAM et al., 2017;
THALER E SUNSTEIN, 2008). Dessa forma, o nudge surge como uma ferramenta capaz de
alterar o comportamento, e direcionar as escolhas de crianças e adolescentes para uma vida
mais saudável e já vem sendo utilizado em escolas de vários países (GRAHAM et al., 2017;
(WANSINK et al., 2013a; DECOSTA et al., 2017).
O ambiente escolar é ideal para promover o desenvolvimento de programas
relacionados à saúde e sustentabilidade ambiental exercendo um papel importante na
prevenção à obesidade e na formação de hábitos alimentares de crianças (DERQUI et al.,
2018; MUCKIAN et al., 2017). No Brasil, conforme a Pesquisa Nacional Por Amostra de
Domicílios em 2015, 84,3% das crianças entre 4 a 5 anos frequentam a escola, sendo este
percentual de frequência de 98,6% entre 6 e 14 anos e de 85% entre 15 a 17 anos o percentual
(IBGE, 2015). De acordo com os dados do Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE) coordenado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) do
Brasil, atualmente são servidas mais de 50 milhões de refeições por dia para 42 milhões de
alunos da educação básica de todo país (BRASIL, 2018). Dessa forma, o ambiente escolar
proporciona oportunidade para que sejam adotadas estratégias para melhorar o hábito
alimentar, aumentar a conscientização sobre a importância e consumo dos alimentos
Benvenuti et al., (2016) e contribuir para prevenção da obesidade das crianças (JACKO et al.,
2007).
No entanto, até o momento não foram realizados estudos sobre a perspectiva do uso de
nudges nas cantinas escolares para incentivar ao consumo responsável de alimentos e
combater a obesidade infantil no Brasil. Entretanto, para que os nudges possam ser
implementados nas escolas, é necessário verificar se os pais ou responsáveis aceitam a
utilização desse tipo de estratégia no ambiente escolar. Desta forma, o objetivo geral do
estudo foi identificar a aprovação ou desaprovação dos pais sobre a utilização de nudges em
cantinas escolares.

2 Referencial Teórico
2.1 Nudge

As intervenções de arquitetura de escolha por meio de nudges utilizadas como


estratégia para alterar o comportamento de indivíduos em diversos contextos, se mostram

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Porto Alegre - RS, 25 e 26 de outubro de 2018 422
eficientes (ARNO E THOMAS, 2016). Suas características envolvem alterações de objetos
que promovam estímulo em microambientes objetivando a mudança do comportamento,
podendo influenciar o comportamento simultâneo de muitas pessoas sem restringir suas
opções de escolha (HOLLANDS et al., 2013).
Como exemplo, Wansink et al. (2012) realizaram dois estudos: o primeiro em cinco
escolas primárias em Nova York, EUA, com 147 alunos; o segundo em duas escolas
primárias com 1552 alunos em Nova York, EUA. No estudo 1, durante 3 dias foram
oferecidas cenouras, sendo que no primeiro dia foi dado o nome divertido às cenouras de
“cenouras de visão raio x”, no segundo dia apenas foi escrito “prato do dia” e no terceiro dia
não foi feita a identificação do prato. No estudo 2, os pratos quentes receberam nomes
divertidos. Os resultados do estudo 1 demonstraram que as crianças comeram 66% a mais
cenouras com nomeadas de “cenouras de visão raio x”, em relação ao anúncio “prato do dia”
(32%) e o prato sem identificação (35%). No estudo 2, os resultados demonstraram que as
crianças passaram a ter 16% mais probabilidade de escolherem os pratos de vegetais que
foram nomeados divertidamente.
Em um outro estudo realizado por Swanson et al. (2009) com alunos até o quinto ano
escolar nos EUA, laranjas e maçãs foram oferecidas cortadas ao invés de serem oferecidas
inteiras. Dessa forma, foi observado que houve maior probabilidade de escolha pelas frutas
fatiadas. Já no estudo de Schwartz (2007) foi realizada uma intervenção em forma de aviso
verbal na cantina de uma escola em Nova Inglaterra, EUA. A escola continha 646 alunos, dos
quais 50% almoçavam na cantina escolar. Durante o período do estudo, o funcionário da
cantina perguntava ao aluno a cada atendimento “você gostaria de frutas e suco com o seu
almoço? ”. Os resultados mostraram que quase 70% das crianças aceitaram as frutas quando o
aviso verbal foi utilizado. Porém, quando não houve o aviso verbal, o consumo de frutas foi
40%.
Hanks et al. (2013) realizaram um estudo com alunos do sétimo ao terceiro ano do
ensino médio de uma escola em Nova York, EUA, onde várias intervenções foram
implementadas. Uma reforma estratégica foi realizada no refeitório, incluindo a atratividade
visual, legumes atraentes, menus coloridos, nomes descritivos, frutas frescas em lindas tigelas
e local específico para alimentos mais saudáveis. O aviso verbal era feito pelo atendente da
cantina perguntando aos adolescentes: “você gostaria de provar frutas ou legumes? ” “Que tal
pegar um pedaço de fruta? ”. Além de todas as intervenções citadas, havia um aviso de
sinalização ao lado da fruta com a informação: “última chance para frutas”. Todas estas
estratégias resultaram em aumento no consumo de 18% para frutas, 25% vegetais, 16% de
probabilidade em se comer fruta inteira e 10% para o consumo de porção inteira de vegetais.

3 Procedimentos Metodológicos

3.1 Coletas de Dados

Para alcançar o objetivo proposto, foi realizada uma pesquisa online com a população
brasileira de pais com filhos em idade escolar entre a educação infantil ao ensino
fundamental, sendo necessário que estes pais fossem os responsáveis pela alimentação de seus
filhos. O recrutamento dos respondentes ocorreu de maneira aleatória. Foram coletados 637
questionários através de uma empresa especializada em pesquisas de mercado. Apenas
questionários totalmente preenchidos foram aceitos.

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Porto Alegre - RS, 25 e 26 de outubro de 2018 423
3.2 Instrumento

O questionário foi desenvolvido em duas seções de questões. Na primeira seção foram


mensuradas as características socioeconômicas dos respondentes relacionadas à idade, sexo,
renda e região. Ao final desta seção foi apresentada uma questão que buscou obter em quais
grupos de idade escolar o (s) filho (s) dos respondentes pertenciam, nível educação infantil ou
ensino fundamental.
Na segunda seção as questões foram adaptadas do questionário utilizado no estudo de
Sunstein et al. (2017). Dentre as 11 questões, 9 foram referentes a diferentes tipos de nudges
relacionados à mudança de hábitos alimentares em crianças e duas foram referentes a não
nudges, pois expressavam imposições de proibição ao consumidor (Tabela 1). Os pais foram
convidados a indicar para cada um dos itens se eles aprovavam ou desaprovavam tais
intervenções nas cantinas escolares. A palavra nudge não foi mencionada no questionário
diante da sua complexidade de compreensão. Houve clareza e simplicidade na forma escrita
das questões, facilitando o entendimento com finalidade em não resultar respostas enviesadas
pelos entrevistados.

Tabela 1. Relação de intervenções propostas a serem implementadas em cantinas escolares visando


promover a mudança do comportamento alimentar infantil.
Nudges
N1 Dar nomes criativos ou atraentes para vegetais, frutas e refeições já existentes ou novas.
N2 Distribuir as frutas cortadas ao invés de serem oferecidas inteiras.
N3 Uso de fotografias de frutas, vegetais nos compartimentos de bandejas utilizadas para
suporte dos alimentos.
N4 Aviso verbal feito pelo funcionário da cantina no momento do atendimento ao aluno
como, por exemplo: “Você gostaria de frutas ou suco com seu lanche? ”
N5 As cantinas promoverem ações agrupadas como: alocar de maneira atrativa as frutas e
legumes com uso de tigelas atraentes e que o cardápio contenha nomes descritivos,
coloridos com fotos.
N6 Colocar avisos ao lado das frutas, como por exemplo: “Última chance para pegar
frutas”.
N7 Que a alocação dos alimentos na cantina seja estratégica para direcionar escolhas mais
saudáveis.
N8 Fazer uso de imagens interpretativas, como por exemplo: etiquetas comparativas ao
semáforo, onde a etiqueta na cor vermelha representa alimentos menos saudáveis
“perigo”, etiqueta na cor amarela, representa “atenção” quanto a escolha do produto e a
etiqueta na cor verde, representa alimento mais “saudável”.
N9 Que as frutas sejam cortadas em formatos divertidos, como por exemplo: “Formato de
estrela”.
Não nudges
Nn10 Que os alimentos das cantinas sejam 100% veganos.
Nn11 Que seja proibido nas cantinas refrigerantes e frituras.
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)

4. Resultados e Discussão

4.1 Variáveis socioeconômicas

O resultado da análise descritiva das variáveis socioeconômicas demonstrou que a


amostra foi composta por 70,17% de mulheres e 29,83% de homens. Dentre estes, 45,21%
tinham idade entre 16 a 29 anos, 42,60% entre 30 a 49 anos e 13,19% igual ou acima de 50
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Porto Alegre - RS, 25 e 26 de outubro de 2018 424
anos. A representatividade de respondentes na região Sul foi de 14,91%, Sudeste 45,53%,
Norte 6,91%, Nordeste 24,49% e Centro Oeste 8,16%. A variável renda familiar foi
subdividida em sete categorias de valores onde 14,13% se enquadraram com salários até R$
937,00, 28,89% com R$ 938,00 a R$ 1,874, 20,41% com R$ 1.875 a R$ 2.811, 18,68% com
R$ 2.812 a R$ 4.685, 11,77% com R$ 4.686 a R$ 9.379, 3,77% de R$ 9.371 a R$ 14.055 e
2,35% com mais de R$ 14,055. Em relação à idade escolar do filho, 49,92% dos pais
afirmaram ter filhos frequentando a Educação Infantil e 50,08% com filhos frequentando
Ensino Fundamental.

4.2 Aprovação de nudges e “não nudges”

Os percentuais de aprovações dos nudges são demonstradas na Figura 1, em que os


nudges estão representados por suas legendas (N1, N2, N3, etc.) e podem ser identificados na
integra na Tabela 1. Dentre os nudges propostos para serem implementados nas cantinas
escolares, os que obtiveram maior percentual de aprovação pelos pais foram o N7, N5, N4,
N8 e N3, seguidos do N9, N1 e N2. O nudge N6 foi o que obteve menor percentual de
aprovação pelos pais.
Figura 1. Aprovação dos pais em relação aos nudges propostos para serem
implementados em cantinas escolares.

Fonte: Elaborado pelos autores (2018)


De acordo com os resultados obtidos no presente estudo, observamos que houve mais
de 50% de aprovação pelos pais para todos os nudges propostos. Da mesma forma, Sunstein
et al.,(2017), obtiveram altos percentuais de aprovação em um estudo semelhante ao nosso,
onde buscaram descobrir as percepções dos cidadãos sobre aceitação de nudges. A pesquisa
foi realizada simultaneamente na Austrália, Canadá, China, Japão, Rússia, África do Sul,
Coréia do Sul e Brasil. A amostra do estudo foi representativa contendo 1000 entrevistados de
cada país. Os respondentes foram questionados se aprovavam ou desaprovavam 15 tipos de
intervenções a serem implementadas como políticas hipotéticas de governo. Foram diversos
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Porto Alegre - RS, 25 e 26 de outubro de 2018 425
os temas abordados, percorrendo assuntos sobre, alimentação saudável, fornecimento de
energia ecológico, doações de órgãos, campanha educacionais para redução de mortes e
lesões associadas acidentes de trânsito, campanhas em combate a obesidade infantil, anúncios
subliminares, cobranças de taxas, doações a cruz vermelha e rotulagem nos alimentos.
Os nudges em comum entre nossas pesquisas (etiquetas de semáforo e alocação dos
alimentos) também foram destaques de aprovação, assim como a população em geral
pesquisada, mostrou-se a favor de estratégias que contribuam para alimentação saudável e na
prevenção da obesidade infantil. Estes resultados apontam a importância da aceitabilidade das
intervenções para formulação de políticas públicas, principalmente quando elas se mostram
eficientes para solucionar problemas relacionados à saúde e sustentabilidade.
Embora todos os nudges propostos tenham sido aprovados pelos pais, notamos que o
nudge N6 apresentou o menor percentual de aceitação. Uma possível explicação para esse
resultado talvez esteja relacionada ao grau de intrusividade, ou seja, relação com a liberdade e
responsabilidade individual da intervenção (NUFFIELD COUNCIL ON BIOETHICS:
POLICY PROCESS AND PRACTICE. PUBLIC HEALTH: ETHICAL ISSUES, 2007).
Dessa forma, o nudge N6 pode ter gerado um desconforto aos pais quanto à liberdade
individual de escolha do filho, mediante expressão do aviso descritivo. Outra possível razão
para taxa inferior de aprovação, talvez esteja correlacionado ao não convencimento dos pais
de que tal intervenção seja eficaz (PETRESCU et al., 2016).
Os altos percentuais de aprovação dos nudges pelos pais com filhos em idade escolar,
demonstram que esse tipo de estratégia pode vir a ser utilizada na elaboração de políticas
públicas. Dessa forma, as crianças poderão desenvolver hábitos de consumo mais responsável
de alimentos, contribuindo com a sustentabilidade do sistema alimentar do futuro (DERQUI
et al., 2018).
Os percentuais de aprovações dos “não nudges” são demonstradas na Figura 2, em
que os “não nudges” estão representados por suas legendas (Nn10 e Nn11) e podem ser
identificados na integra na Tabela 1. De acordo com os resultados, observamos que o “não
nudge” Nn 11 obteve a maior aprovação pelos pais, com percentual bem acima do Nn 10 (Fig
2). Embora os “não nudges”expressem proibição e imposição quanto às opções de escolha das
crianças, os pais ainda assim aprovaram que tais intervenções fossem implementadas nas
cantinas escolares.

Figura 2. Aprovação dos pais em relação aos “não nudges” propostos para serem
implementados em cantinas escolares

Fonte: Elaborado pelos autores (2018)

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Porto Alegre - RS, 25 e 26 de outubro de 2018 426
Uma possível explicação para esse diferencial no percentual de aceitação pode estar
relacionada ao grau de intrusividade percebida pelos pais no nudge N10, em que foi proposto
que as cantinas oferecessem somente alimentos 100% veganos. Apesar do grande debate
existente sobre a adoção desse tipo de dieta e sua contribuição para a sustentabilidade
ambiental Wirnitzer,(2018), o Brasil é um dos países que mais consomem carne no mundo, o
que pode ter dificultado que esse tipo de intervenção fosse amplamente aprovada.
Em contraste com o nudge Nn 10, o nudge Nn 11 teve alto percentual de aprovação
pelos pais mesmo este restringindo a opção de escolha de seus filhos. Esse resultado pode ter
ocorrido devido a maior conscientização e conhecimento dos pais de que alimentos fritos e
refrigerante podem fazer mal à saúde de seus filhos ELI 2017.

5 Conclusão

Os padrões de consumo alimentar vêm sofrendo mudanças constantes devido ao


aumento continuo da população. Dietas que incluem alimentos práticos, porém densos em
gorduras e açúcar tem feito parte do habito alimentar de muitos, contribuindo para uma
sociedade com alto percentual de obesos e portadores de doenças não transmissíveis.
Os impactos ambientais causados pelo sistema de produção de alimentos, tem
aumentando a preocupação a nível global quanto a necessidade de encontrar maneiras para
tornar o consumo de alimentos mais saudável, responsável e sustentável. Dessa forma, o
elevado percentual de aprovação pelos pais de nudges que promovam o hábito de consumo
mais saudável de alimentos pelos seus filhos possibilita que políticas públicas sejam
desenvolvidas a partir das intervenções propostas visando a prevenção da obesidade infantil e
promoção do desenvolvimento sustentável.

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Porto Alegre - RS, 25 e 26 de outubro de 2018 429
Renda agropecuária e emissões de CO2: uma análise espacial dos estados
Brasileiros 2000- 2010
Agricultural income and CO2 emissions: a spatial analysis of the Brazilian
states 2000-2010
Patrícia Batistella1, Gabrielli do Carmo Martinelli2, Elen Presotto3, Luiz Gustavo4.
Resumo
As preocupações relacionadas ao crescimento econômico e seu efeito sobre meio ambiente têm-se tornado mais
presente nas agendas de pesquisas como também vem sendo objeto de políticas públicas. Além disso, a emergência
de tratar esta problemática no setor agropecuário, tido, como protagonista das emissões de Gases do Efeito Estufa
(GEE) no Brasil, constitui um fenômeno de grande importância a ser averiguado. Dessa forma, o estudo busca
testar a hipótese de convergência das emissões de CO2 do setor agropecuário, nos estados brasileiros no período
de 2000 a 2010. Para tanto, utiliza-se como ferramental estatístico e econométrico a análise espacial.
Primeiramente, faz-se a Análise Exploratória de Dados Espaciais (AEDE), com o intuito de verificar se o
comportamento das variáveis PIB per capita do setor agropecuário e sua relação com as emissões de CO2 do
mesmo setor são influenciadas pelo espaço. Em seguida, estima-se o modelo econométrico espacial para investigar
a existência da convergência das emissões de CO2. Os resultados obtidos apontam que o fenômeno é influenciado
pelo espaço, sendo que os estados apresentaram diferentes padrões de associação no decorrer do período analisado.
A hipótese de convergência das emissões, não foi rejeitada, sugerindo que as disparidades entre as emissões de
CO2 estão diminuindo entre os estados brasileiros no decorrer do período analisado.
Palavras-chave: renda; mitigação dos GEE; mudanças climáticas.
Abstract
Concerns about economic growth and its effect on the environment have become more present in research
agendas as well as being the subject of public policies. In addition, the emergence of dealing with this problem in
the agricultural sector, as the protagonist of the greenhouse gas (GHG) emissions in Brazil, is a phenomenon of
great importance to be investigated. Thus, the study seeks to test the hypothesis of convergence of CO 2 emissions
of the agricultural sector, in the Brazilian states from 2000 to 2010. For that, the spatial analysis is used as
statistical and econometric tooling. Firstly, the Exploratory Analysis of Spatial Data (EAED) is carried out, in
order to verify if the behavior of the GDP per capita variables of the agricultural sector and its relation with the
CO2 emissions of the same sector are influenced by the space. Next, we estimate the spatial econometric model to
investigate the existence of the convergence of CO2 emissions. The results show that the phenomenon is influenced
by space, and the states presented different patterns of association during the analyzed period. The hypothesis of
convergence of emissions was not rejected, suggesting that the disparities between the CO2 emissions are
diminished among the Brazilian states during the analyzed period.
Keywords: income; mitigation of GHG; climate changes.
1 Introdução
A intensificação das intervenções antrópicas no mundo inteiro tem despertado a atenção
da população nas últimas décadas. Tal assunto é ainda mais recorrente na tentativa de mitigar
os Gases de Efeito Estufa (GEE) ocasionados pela agropecuária. Diante de tal cenário, o Brasil
está entre os dez países que mais emite GEE, ocupando a sétima posição, sendo a agropecuária
responsável por cerca de 70% dessas emissões (SEEG, 2017).
Na busca em minimizar os impactos e efeitos negativos causados por este setor, o Brasil
por meio do Acordo de Paris tem firmado compromissos em reduzir 43% do nível de emissões
até 2030. Além disso, busca manter o aumento na temperatura média global abaixo de 2 °C e

¹Economista, Mestra pelo PPGED-UFSM, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios –


UFRGS; e-mail:<patriciabatistella@rocketmail.com>.
2
Contadora, Mestra pelo PPGA-UFGD; Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios –
UFRGS, e-mail:<gabrielli_martinelli@hotmail.com>.
3
Economista, Mestra pelo PPGED-UFSM, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios –
UFRGS; e-mail:<elenpresotto@yahoo.com.br>.
4
Enólogo, Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios–UFRGS; e-mail:
<luizglovato@gmail.com>.
Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-6586
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430
limitar o aumento a 1,5 °C, a fim de alcançar emissões líquidas nulas na segunda metade deste
mesmo século (BRASIL, 2017; SCHLEUSSNER et al., 2016).
A situação passa a se agravar, uma vez que, para atender a demanda populacional nos
próximos 30 anos, será necessário aumentar a produção de alimentos em 60% (FAO, 2016).
Porém, as intensificações dos sistemas produtivos podem interferir a longo prazo no rendimento
produtivo da agricultura e pecuária, limitando alcançar essa demanda (MORIN et al., 2018).
Já que as emissões mundiais de GEE provenientes desses seguimentos estão em ascensão.
No decorrer da década de 1960 que a relação entre crescimento econômico e meio
ambiente começou a ganhar enfoque e passou a ser investigada (DOMINGES et al., 2010). O
ponto de partida para toda essa discussão está na Revolução Industrial, período em que ocorreu
a intensificação do uso de combustíveis fósseis e consequentemente o aumento nas emissões
de dióxido de carbono (CO2). Dentre todas as emissões de gases, o CO2 é um dos principais
causadores de impacto negativo ao meio ambiente e sua acumulada concentração é acelerada
pela atividade humana (TAKIMOTO, 2007; FLORIDES; CHRISTODOULIDES, 2009). Nos
últimos anos diversos estudos têm sido elaborados para verificar quais os impactos das emissões
de GEE no meio ambiente (JCJEON et al., 2014; AZEVEDO et al., 2018; LUDERER et al.,
2018; MONTZKA, 2018; RAMANKUTTY et al., 2018), porém, pouca atenção tem sido dada
para estudos que avaliem os efeitos das emissões sobre a economia de um pais, principalmente
no Brasil (CULAS, 2007; CEDDIA et al., 2013; BURKE et al., 2018; ADOM et al., 2018).
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1% em 2017 quando comparado com
o ano anterior, influenciado, principalmente pelo setor agropecuário (IBGE, 2018). Porém, esse
crescimento econômico pode gerar consequências negativas para o ecossistema, visto que a
degradação ambiental aumenta durante os primeiros estágios do desenvolvimento
econômico, e após um certo ponto de crescimento, a tendência é invertida, e o crescimento
econômico ocasiona à melhoria ambiental (STERN, 2004). Em relação a está perspectiva que
o debate sobre a relação entre crescimento e meio ambiente tem se fundamentado.
Diante da relevância em disseminar estudos que mensurem a eficiência dos sistemas
produtivos em torno dos limites entre a proteção ambiental e o crescimento econômico esta
pesquisa tem como objetivo analisar a relação entre o Produto Interno Bruto e as emissões de
CO2 no setor agropecuário no período de 2000 a 2010. Como instrumento de análise utiliza-se
a hipótese de convergência, que aliada a demais construções teóricas tem sido referência para
explicar a relação entre duas grandes áreas do conhecimento, econômica e ambiental.
O presente estudo está dividido em cinco seções, além dessa introdução. A seção dois
apresenta o referencial teórico, trazendo as principais contribuições teóricas que relacionam
crescimento econômico e mudanças climáticas. Nas seções três e quatro são definidos os
procedimentos metodológicos, resultados e discussão, respectivamente; e por fim constam as
considerações finais e as referências que embasaram este estudo.
2 Referencial Teórico
Uma proposta analítica comumente utilizada para avaliar a relação entre crescimento
econômico e o meio ambiente é a Curva Ambiental de Kuznets (CAK). Tal definição é uma
adaptação do estudo inicial proposto Kuznets (1955) o qual verificou, através de uma análise
gráfica, a relação entre crescimento econômico e desigualdade. Partindo do mesmo
pressuposto, a CAK surge com a perspectiva de avaliar as variáveis renda versus emissões de
GEE. O principal enfoque desse mecanismo se dá pela associação dessas duas variáveis, que
inicialmente, em um período de crescimento acelerado as emissões tenderão a aumentar na
mesma proporção que o crescimento, mas a partir de certo ponto as emissões poderão reduzir
mesmo havendo ainda crescimento, a curva passa então a assumir o formato de “U” invertido.
Aliados aos estudos da definição da CAK tem-se também a hipótese de convergência
das emissões. Os pressupostos inicias referente a hipótese de convergência, estão embasados
Av. Bento Gonçalves, 7712 – Prédio Central – Porto Alegre – CEP 91.540-000 - Tel. 3308-6586
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no modelo de Solow (1956), primeiro autor a trazer evidências sobre a convergência de renda.
A convergência é identificada como um processo onde uma mesma variável, como a renda, ou
no caso do presente estudo as emissões de CO2, exibe inicialmente valores distintos entre
países, regiões, estados ou até mesmo municípios, tende a estreitar sua diferença ao logo do
tempo, sugerindo que a desigualdade diminui (LOPES, 2004).
Entre as discussões de desenvolvimento econômico nos países destaca-se as questões
relacionadas aos desequilíbrios deste processo, estes tem inspirado os estudiosos do
pensamento econômico. A principal teoria que assinala essa nova fase é a de Solow nos anos
cinquenta. Tal modelo é tido pelos economistas neoclássicos como ponto essencial para avaliar
os determinantes do crescimento mundial. Além disso, o modelo busca entender o porquê de
alguns países serem ricos enquanto outros são pobres. Outra característica que distingue a
teorização de Solow (1956) é por apresentar pela primeira vez a hipótese de convergência.
Atualmente os testes de convergência não se restringem apenas em testar tal hipótese
para renda per capita. Mas também, diversos estudos foram realizados a fim de identificar o
padrão de convergência de outros fenômenos. Dentre os quais destacam-se os estudos de
convergência de emissões de CO2 na atmosfera.
O estudo de Ota (2017) centra sua análise voltada para o aumento da desigualdade de
renda e da degradação ambiental (emissões de CO2). O trabalho aplicou a hipótese da curva de
Kuznets para a Ásia, visto que o continente passou por expressivas mudanças principalmente
nas décadas de 1990, 2000 e 2010, de grande desigualdade de renda e degradação ambiental.
Os resultados apontam que tanto a desigualdade de renda como a degradação ambiental seguem
a curva hipotética de Kuznets, com algumas irregularidades na curva de países com alta renda.
Segundo o autor essas irregularidades são causadas por características intrínsecas ao país, como
política e tecnologia, por exemplo.
Na literatura nacional ressalta-se o estudo de Ávila e Diniz (2015). Os autores
dedicaram-se a analisar a relação entre o crescimento econômico e degradação ambiental, com
os distintos enfoques da CAK e a convergência das emissões. Os resultados do estudo apontam
para a evidência de convergência condicional das emissões per capta e da CAK para o período
de 1972 a 2008.
No entanto, não foram encontrados estudos que testem a hipótese de convergência de
emissões na agropecuária nos diferentes estados brasileiros, está se destaca como principal
contribuição deste trabalho.
3 Metodologia
Na presente seção são apresentadas a base e a fonte dos dados utilizados no estudo,
bem como os aspectos metodológicos.
3.1 Fonte e base de dados
A base de dados utilizada é constituída por duas variáveis (PIB e emissões) referente
aos vinte e seis estados brasileiros e o Distrito Federal. Os dados da emissão de CO2, foram
extraídos do banco de dados da SEEG (2018). A varável emissões expressa o total de emissão
do setor agropecuário5 de CO2 GWP (Global Warming Potential) em toneladas (t), segundo o
IPCC (AR4) utilizado por exemplo nos inventários mais recentes dos países desenvolvidos.
A segunda variável utilizada corresponde ao PIB do setor agropecuário. A mesma foi
obtida no banco de dados do Ipeadata, para os anos de 2000 e 2009. A presente análise,
compreende o período de 2000 a 2010 e por não estar disponível este último ano, o mesmo foi
estimado a partir da taxa de crescimento do PIB disponível no IBGE (2018).

5
É importante destacar que no presente estudo foram utilizadas apenas as emissões de CO2 provenientes da
agropecuária, não levando em consideração demais aspectos.
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Ambas variáveis, foram relativizados pelo total de pessoas ocupadas no setor
agropecuário, obtido junto aos censos demográficos (IBGE) nos anos 2000 e 2010. Tal
procedimento foi realizado com a finalidade de se obter o PIB e emissões per capita. A seguir
são apesentados os procedimentos metodológicos realizados no presente estudo.
3.2 Análise Exploratória de Dados Espaciais (AEDE)
A análise exploratória de dados espaciais (AEDE) constitui um conjunto de técnicas que
tem por finalidade identificar e descrever distribuições espaciais, buscando detectar a existência
ou não de localizações espaciais atípicas, outliers, padrões de associação espacial, a formação
de clusters ou demais formas de heterogeneidade espacial (BAUMONT; ERTUR; LE GALLO,
2000). Em suma, a AEDE tem por objetivo identificar se há ou não dependência espacial, e a
mesma vai contribuir para que se consiga uma especificação mais adequada da forma funcional.
O primeiro passo a ser realizado num estudo com a utilização da AEDE é testar a
hipótese de que os dados sejam distribuídos aleatoriamente, ou apresentam dependência
espacial. A aleatoriedade espacial supõe que os valores de uma característica de determinada
região não dependem dos valores das mesmas características das regiões contíguas. Tal hipótese
pode ser identificada através das estatísticas de autocorrelação espacial (ALMEIDA, 2012).
A autocorrelação espacial global pode ser definida como a coincidência de similaridade
de valor com similaridade locacional. Dessa forma, não haverá autocorrelação espacial positiva
quando altos ou baixos valores de uma variável aleatória aglomeram-se no espaço, e não há
autocorrelação espacial negativa quando áreas geográficas tendem a ser cercadas por vizinhos
com valores muito diferentes (BAUMONT; ERTUR; LE GALLO, 2000).
Conforme Almeida (2012), para a implementação da AEDE é necessário que,
primeiramente, seja definida uma matriz de pesos espaciais (W). Tal matriz é responsável por
apresentar os arranjos espaciais das interações resultantes do fenômeno que está sendo
estudado. Em suma, a matriz (W) contém a informação do quanto a interação é mais forte no
caso das regiões mais próximas geograficamente ou socioeconomicamente, e mais fraca nas
regiões mais distantes. Essa matriz tem por finalidade capturar toda a autocorrelação espacial
presente no fenômeno estudado, e é uma matriz quadrada de dimensão n por n, e os pesos
espaciais 𝑾𝒊𝒋 representam a influência do município j sobre o município i. Assim, por
convenção 𝑾𝒊𝒊 , é igual a zero.
De acordo com Almeida (2012), uma questão importante para construção da matriz por
k vizinhos é definir quantos vizinhos mais próximos merecem ser considerados. Para que a
escolha não seja realizada de maneira arbitrária, segue-se o proposto por Baumont (2004). O
procedimento segue três passos: primeiramente, roda-se o modelo clássico de regressão linear
por mínimos quadrados ordinários (MQO), logo após através da estatística I de Moran6 testam-
se os resíduos para autocorrelação espacial, usando L matrizes de k vizinhos mais próximos,
variando de k=1 a k = 20. Por fim, define-se o k que tenha gerado o maior valor do I de Moran.
A AEDE possui diferentes técnicas para que os fenômenos de transbordamento sejam
identificados. Esses efeitos, denominados na literatura como spillovers, podem ser de alcance
local e global. Dessa maneira, a fim de avaliar o processo de transbordamento e a convergência
de renda das emissões de CO2, serão utilizadas as técnicas de análise exploratória de dados,
global e local bivariada.

6
A estatística I de Moran foi desenvolvida por Moran em (1948), e é a mais utilizada. Moran (1948) construiu um
coeficiente de autocorrelação espacial utilizando a medida de autocovariância.

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3.3 Modelo Econométrico Espacial
Com a perspectiva, de que o processo de convergência poderia ser afetado por variáveis
de cunho espaciais, os novos estudos passam a incorporar em seu escopo analítico a
econometria espacial. Assim, a análise da convergência de renda passa a considerar a
possibilidade de existência de dependência espacial entre as regiões. Essa abordagem não é tão
recente, visto que a possibilidade de dependência espacial foi considerada no tratamento da
convergência regional no final da década de 1990 por Rey e Montouri (1999), que estudaram a
convergência de renda dos Estados Unidos entre os anos de 1929 e 1994.
Almeida et al. (2008) destacam que a definição de um modelo para captar questões
inerentes a efeitos de transbordamento entre as regiões deve considerar explicitamente
componentes espaciais em sua forma funcional. Os modelos econométricos lineares não
compreendem os efeitos que são incorporados pela modelagem espacial, como a dependência
e heterogeneidade espacial.
Assim, quando um modelo possui em seu contexto teórico e empírico a influência do
espaço, o melhor método a ser utilizado é aquele em que possibilita capturar e mensurar os
efeitos espaciais.
O modelo a ser estimado neste trabalho segue o padrão desenvolvido por Barro e Sala-
i-Martin (1991, 1992), buscam demonstrar de forma algébrica uma forma de medir a
convergência absoluta.
𝐸𝐶𝑂2 𝑖,𝑡
𝑙𝑛 ( ) = 𝛼 + 𝛽1 𝑙𝑛(𝐸𝐶𝑂2 𝑖,𝑡−1 ) + 𝜀𝑖,𝑡 (1)
𝐸𝐶𝑂2 𝑖,𝑡−1
𝐸𝐶𝑂2 𝑖,𝑡
em que: 𝑙𝑛 (𝐸𝐶𝑂 ) corresponde à taxa de crescimento das emissões de CO2 pelo número de
2 𝑖,𝑡−1

pessoas ocupadas no setor, 𝛼 é o intercepto e representa 𝑙𝑛(𝐸𝐶𝑂2 𝑖,𝑡−1 ) o logaritmo natural do


produto per capita no ano inicial. O termo 𝑖 corresponde à região, t ao tempo e ε ao termo de
erro. Dessa forma, para que haja convergência de renda entre os países ou regiões é necessário
que o coeficiente 𝛽 seja negativo, demonstrado com isso uma relação negativa entre a renda
per capita inicial com a sua taxa de crescimento (SALA-I-MARTIN, 1992).
4 Resultados e Discussão
A seguir são apresentados os resultados da Análise exploratória (AEDE) e também do
modelo econométrico estimado para testar a hipótese de convergência de emissões de CO2.
4.1 Análise Exploratória de dados Espaciais
Os procedimentos utilizados para implementação da AEDE seguiram o proposto na
seção metodológica, sendo que a matriz de ponderação de pesos espaciais que mais se adequou
foi a matriz a matriz de vizinhos mais próximos (k = 2).
A seguir, na Figura 1, são apresentados os diagramas de dispersão de Moran bivariado,
utilizando as variáveis PIB per capita e Emissões de CO2 per capita nos anos de 2000 (a) e 2010
(b) e a taxa de crescimento dessas duas variáveis (c), ao longo do período analisado. Após está
estimação, os dados são agrupados nos quadrantes Alto-Alto (AA), Baixo-Baixo (BB), Alto-
Baixo (AB) e Baixo-Alto (BA), de acordo com seu grau de associação.
Ao observar os três diagramas, seja pela inclinação da reta ou pelo valor da estatística
I, as variáveis analisadas apresentam dependência espacial. Além disso, a autocorrelação é
positiva dado que o valor do I de Moran obtido é maior que o valor esperado da estatística. Tais
resultados indicam que a relação entre o PIB e as Emissões de CO2 per capita para os anos de
2000 e 2010, bem como a taxa de crescimento de ambas variáveis são correlacionadas
espacialmente. Na Figura 1 o diagrama (a), é resultante da regressão entre o PIB e Emissões
per capita do setor agropecuário no ano de 2000 dentre os estados brasileiros, a qual demonstra

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que a maior parte dos estados se concentra na região do quadrante BB (Baixo-Baixo),
caracterizado por apresentar baixo PIB e baixas emissões. Em contrapartida, no ano de 2010 os
estados estão mais concentrados do que no ano 2000, sendo que se tem a incidência de
localização no cluster BA (Baixo-Alto), caracterizado por possuir baixo PIB per capita e
elevadas emissões de dióxido de carbono (Figura b). Contrariamente as duas figuras, o digrama
(c), se mostra mais disperso, o qual representa a taxa de crescimento das duas variáveis ao longo
do período, embora a correlação espacial seja menor.
Figura 1 - Diagrama de dispersão de Moran Bivariado do PIB per capita e Emissões de CO2 per capita
2000 (a) e 2010 (b) e taxa de crescimento do PIB e Emissões de CO2 per capita (c)

(a) (b) (c)

Fonte: Elaborada com resultados da pesquisa através do Software GeoDa (versão 1.8.16.4).
Após verificar a autocorrelação global, foi verificado também a autocorrelação local.
Sendo esta, apresentada nos mapas cluster LISA na Figura 2. Seguiu-se os mesmos
procedimentos que na estimação anterior, mantendo a mesma matriz de pesos espaciais (k =2).
A análise da Figura 2, permite identificar através das marcações os resultados que foram
significativos ao nível de 5% de confiança. O primeiro mapa apresenta os resultados obtidos
para o ano 2000, o qual traz duas formações de clusters espaciais. Sendo que os estados
destacados pela cor vermelha - Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul - formam o clusters com padrão de associação AA (Alto-Alto), ou seja, são
caracterizados por possuir PIB e taxas de emissões de CO2 do setor agropecuário elevadas. O
segundo cluster, também no mapa (a), é formado pelos estados que se sobressaem por possuir
baixa renda agropecuária (PIB) e baixas emissões, os estados que compõe este agrupamento
estão localizados na Região Nordeste do país - Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí.
Na Figura 2, o mapa (b), traz os resultados obtidos para o ano de 2010. Observando a
mesma é possível verificar que não ouve mudanças no número de estados que foram
significativos estatisticamente. Porém, se observada um novo padrão de associação, cluster BA
(Baixo-Alto), sendo evidenciado pela cor azul clara. Esse novo padrão representa os estados
que possuem um baixo nível de PIB per capita e elevadas emissões de CO2. Compondo este
cluster estão os estados Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul.
Diferentemente dos demais, os estados Mato Grosso e Sergipe não se agruparam aos demais
estados, embora sejam significativos. Com referência a formação do cluster BB, os estados se
mantiveram os mesmos.
Ao contrapor os resultados obtidos nos dois primeiros mapas da Figura 2 (a) e (b), é
possível verificar que os estados que formaram os clusters com padrão AA são os quais
obtiveram um aumento significativo tanto na produção agrícola como também pecuária
impulsionada a partir dos anos 2000 pelo boom das commodities - soja, milho e complexo
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carnes. Já no segundo momento a Figura 2 (b), tem-se a evidência do que é proposto na curva
de Kuznets, pois ao passo que houve aumento na produtividade as emissões não aumentaram
na mesma proporção. Tal fato pode ser explicado pela crescente utilização e emprego de novas
tecnologias, tanto na plantação, manejo e pós-colheita.
Figura 2 - Mapa cluster LISA para Bivariado do PIB per capita e Emissões de CO2 per capita 2000 (a) e
2010 (b) e taxa de crescimento do PIB e Emissões de CO2 per capita (c).

(a) (b) (c)


Não Significativo
Alto-Alto
Baixo-Baixo
Baixo-Alto
Alto-Baixo

Fonte: Elaborada com resultados da pesquisa através do Software GeoDa (versão 1.8.16.4).
No último mapa (c), tem-se a análise bivariada para as taxas de crescimento tanto do
PIB agropecuário quanto das emissões de CO2 do mesmo setor. Nesta última representação o
número de estados significativos foi menor em comparação aos demais. Sendo que se tem a
formação de clusters isolados, os estados enquadrados no padrão BB foram Rio Grande do Sul,
Paraná e Rio de Janeiro, nos quais o fator predominante é baixo PIB e baixas emissões.
Os resultados apresentados corroboram com o relatório elaborado pelo SEEG (2017), a
fim de avaliar as emissões do GEE do setor agropecuário brasileiro no período de 1970 a 2015.
Tal relatório apresenta a “contribuição” das emissões por estados brasileiros, sendo que mais
de 60 % das emissões do setor são efetuadas por apenas seis estados Rio Grande do Sul, Goiás,
São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso Sul, como pode ser evidenciado, são os mesmos estados
que formaram o cluster AA na Figura 2 (a), exceto o estado de Goiás. Uma observação trazida
no relatório é que grande parte das emissões são originarias da pecuária de corte.
.2 Resultados do Modelo Econométrico Espacial para a análise de convergência absoluta
Os resultados apresentados em seguida, correspondem ao modelo estimado com o
objetivo de testar a hipótese de convergência absoluta. A forma utilizada pelos trabalhos para
testar tal hipótese, é associar o nível inicial de renda per capita ou por trabalhador com o
aumento desta mesma renda ao longo do tempo. De acordo com o modelo neoclássico
desenvolvido por Solow (1956), se todas as regiões, estados ou até municípios estão
convergindo para o mesmo nível, uma relação negativa deve ser observada entre o crescimento
da renda per capita e seu nível inicial ao longo do período. Caso tal relação aconteça, as regiões
estão convergindo para um mesmo nível de renda. Dessa forma, o modelo estimado para
convergência absoluta tem como variável dependente a taxa de crescimento das emissões de
CO2 no decorrer de 2000 a 2010, e como variável independente a emissão no período inicial,
ou seja, do ano de 2000.
A Tabela 1 traz os resultados da estimação do modelo, estimados via MQO. A mesma
traz os coeficientes, a probabilidade (p-valor) e as estatísticas dos testes. Novamente, seguiu-se
os procedimentos metodológicos recomendados. A matriz utiliza foi vizinhos k = 2.
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Tabela 1 – Resultado da estimação do modelo econométrico para hipótese de convergência absoluta
Variáveis Emissões de CO2 setor Agropecuário
Variável dependente: 𝐸𝐶𝑂2 𝑖,𝑡
𝑙𝑛( )
𝐸𝐶𝑂2 𝑖,𝑡−1

Constante 0.1875546
(0.0194297)*
𝛽1 𝑙𝑛(𝐸𝐶𝑂2 𝑖,𝑡−1 ) -0.0016200
(0.0000850)*
AIC 15.400
SC 17.992
I de Moran 0,0718
(0,28894)*
Fonte: Elaborada com resultados da pesquisa através do Software GeoDa (versão 1.8.16.4); *indica o p-valor.
Ao observar a estatística I de Moran é possível verificar que a mesma não apresentou
significância estatística, indicando que a relação entre a taxa de crescimento das emissões e sua
respectiva emissão inicial não é influenciada pelo espaço. Dessa forma, a análise da
convergência absoluta é realizada através do MCRL (Modelo Clássico de Regressão Linear),
não levando em consideração os aspectos espaciais.
Ao dar seguimento na análise do modelo, o principal resultado a ser observado no
tocante a regressão apresentada, está no coeficiente 𝛽1 que diz respeito análise de convergência.
O coeficiente da variável Emissões de CO2 (2000) apresentou sinal negativo (-0.0016200) obtido
por MCRL, além disso apresentou significância estatística. Sugerindo assim, que houve um
processo de convergência absoluta entre os estados brasileiros no período. Tal resultado indica
que os estados que possuem inicialmente uma baixa emissão no setor, em geral, suas emissões
cresceram mais que os que detinham emissões maiores.
Dessa forma, o pressuposto da hipótese de convergência absoluta é confirmado para as
emissões de CO2 dos estados brasileiros, o que de fato vem ao encontro dos resultados obtidos
na AEDE, indicando que nem sempre os estados que possuem a maior renda no setor
agropecuário são os que estão provocando o aumento das emissões.
5 Conclusões
As preocupações referentes a como será o futuro do planeta, com relação ao meio
ambiente não são recentes. Tal assunto cada dia mais tem ganhado espaço tanto em ambientes
acadêmicos como também políticos. Dessa forma, estudos que buscam retratar o assunto de
mitigação ou até mesmo uma análise do comportamento das emissões de GEE são pertinentes.
Buscando retratar este aspecto a nível de estados brasileiros este estudo foi elaborado.
Além disso, relacionado a preocupação latente, que diz respeito a renda per capita do setor
agropecuário com as emissões do mesmo. A fim de relacionar essas variáveis trazendo demais
aspectos que possam influenciar tal fenômeno, o estudo utilizou como ferramental analítico a
econometria espacial.
Os principais resultados obtidos através da AEDE apontam que as emissões de CO2 do
setor agropecuário estão correlacionadas espacialmente com renda do mesmo setor, podendo
então identificar diferentes padrões de associações entre os estados brasileiros. Além disso, a
inferência obtida sob tal análise vem ao encontro do processo de expansão pelo qual passou o
setor agropecuário nos últimos anos, ou seja, seu avanço para além dos estados do Sul do país.
Além disso, a hipótese de convergência para as emissões de CO2 também foi testada, a
qual, embora não se rejeitou tal hipótese, não segue um padrão espacial. A não rejeição da
hipótese de convergência sugere que os estados que possuíam incialmente um nível menor de
emissões estão aumentando seus níveis mais rapidamente que os estados que no período inicial
detinham uma emissão maior.

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437
O estudo em si buscou trazer uma reflexão sobre a relação entre duas variáveis, renda e
emissões do setor agropecuário, embora demais fatores possam estar relacionados a tal
processo. Dessa forma, sugere-se que os próximos trabalhos possam incluir demais variáveis
que contribuem para explicar tal fenômeno; como o avanço da tecnologia no setor agropecuário
o nível educacional do pessoal ocupado, fatores institucionais e etc.
Além disso, outro aspecto que cabe ser levantado é que análise se deteve apenas nos
anos de 2000 a 2010, nos demais períodos não se tem garantia que esse crescimento ou
diminuição das disparidades serão sustentadas. Demonstrando assim, que se políticas eficientes
implementadas com a finalidade de mitigar relações negativas, poderão ter efeitos positivos
para atenuar esta relação tão conturbada entre agropecuária e meio ambiente.
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439
Área 2 – Ciência do Agronegócio

IV. Agricultura Familiar e Ruralidade -


Multifuncionalidade Rural - Políticas Sociais
para o Campo

440
A renovação da gestão em propriedades rurais familiares
Renewal of management in family rural properties
Sandro da Luz Moreira1, Rosani Marisa Spanevello2, Marcos Casarin Jovanovichs3, Valesca
Schardong Villes4.
Resumo
O êxodo rural caracteriza-se pelo deslocamento ou migração de trabalhadores rurais para os centros urbanos
buscando melhores condições de vida. A partir do exposto o estudo tem como objetivo analisar a dinâmica
populacional jovem nos 14 municípios do Conselho Regional de Desenvolvimento (COREDE) Alto Jacuí no
Rio Grande do Sul através do uso dos Censos Demográficos (1970, 1980, 1991, 2000, 2010) realizados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Trata-se de um estudo qualitativo, bibliográfico, baseado
em dados secundários. Ainda, como recorte metodológico adotou-se como jovem a faixa etária de 15 a 24 anos
utilizada pelo IBGE e ONU. Os principais resultados demonstram que entre os censos de 1970 e 2010, mais da
metade da população jovem deixou o campo, cerca de 66,61% da população jovem no COREDE Alto Jacuí, e
sua representatividade dentro da população rural também diminuiu passando de 20,47% para 14,53%. Portanto
percebe-se a importância e a relevância destes números, tanto para o desenvolvimento rural no COREDE Alto
Jacuí, como para o Agronegócio no próprio COREDE, como para o Estado do Rio Grande do Sul e Brasil.
Palavras-chave: Êxodo Rural. COREDE Alto Jacuí. Jovens. Censo Demográfico.

Abstract
The rural exodus is characterized by the displacement or migration of rural workers to urban centers seeking
better living conditions. From the above, the study aims to analyze the youth population dynamics in the 14
municipalities of the Regional Development Council (COREDE) Alto Jacuí in Rio Grande do Sul using the
Demographic Census (1970, 1980, 1991, 2000, 2010) By the Brazilian Institute of Geography and Statistics -
IBGE. This is a qualitative, bibliographic study based on secondary data. Also, as methodological clipping, the
age range of 15 to 24 years used by the IBGE and UN was adopted as a young person. The main results show
that between the 1970 and 2010 censuses more than half of the youth population left the field, about 66.60% of
the young population in COREDE Alto Jacuí, and their representativeness within the rural population also
decreased from 20, 47% to 14.53%. Therefore, the importance and the relevance of these numbers are evident,
both for rural development in COREDE Alto Jacuí and for Agribusiness in COREDE itself, as well as for the
State of Rio Grande do Sul and Brazil.
Key words: Rural Exodus. COREDE Alto Jacuí. Youth. Demographic Census.

1 Introdução
A dinâmica relativa ao comportamento populacional das pessoas que vivem no meio
rural brasileiro, segundo Maia (2014), é marcada por um acelerado processo de redução da
população rural, sobretudo a partir dos anos 1970. Essa tendência persistiu na virada do
último século, embora em ritmo menos acelerado. Conforme o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), a população rural passou de 36 milhões em 1991 para 30
milhões em 2010, o que resulta em uma redução de 17% em menos de 30 anos. Com relação
aos jovens rurais que vivem no Brasil tem sido crescente o número de estudos5 que retratam a
saída do campo para a cidade. Pois os jovens rurais são constantemente associados ao

1
Mestrando em Agronegócios pela Universidade Federal de Santa Maria, Campus Palmeira das Missões, Rio
Grande do Sul. E-mail: sandromoreira_rs@hotmail.com.
2
Professora Associado do Departamento de Zootecnia e Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa
Maria, Campus Palmeira das Missões, Rio Grande do Sul. E-mail: rspanevello@yahoo.com.br.
3
Mestrando em Agronegócios pela Universidade Federal de Santa Maria, Campus Palmeira das Missões, Rio
Grande do Sul. E-mail: marcos.jovanovichs@iffarroupilha.edu.br.
4
Mestranda em Agronegócios pela Universidade Federal de Santa Maria, Campus Palmeira das Missões, Rio
Grande do Sul. E-mail:valesca_villes@hotmail.com.
5
Silvestro et al., (2001), Abramovay et al., (1998), Spanevello (2008).

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problema da migração do meio rural para o meio urbano. Ou seja a “migração do campo para
a cidade”.
Segundo Camarano e Abramovay, (1999), uma das causas da redução da população
rural brasileira é que o êxodo tem sido predominantemente jovem, com maior saída das
jovens mulheres comparativamente aos rapazes. As motivações que levam o estrato jovem a
deixar o campo, não assumindo a continuidade dos negócios das famílias, são de ordem
econômica e social.
Este artigo tem como objetivo é analisar a dinâmica populacional jovem nos 14
municípios do Conselho Regional de Desenvolvimento (COREDE) Alto Jacuí no Rio Grande
do Sul através do uso dos Censos Demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE. A análise tem como foco expor o comportamento jovem rural
em cada Censo Demográfico no tocante ao aumento ou diminuição de jovens dos municípios
que compõem o COREDE.

2 Referencial teórico
Neste tópico as seguintes perspectivas serão trabalhadas: Êxodo Rural jovem e
COREDE Alto Jacuí.

2.1 Êxodo rural jovem


O êxodo rural geralmente está associado ao deslocamento ou migração de
trabalhadores rurais para os centros urbanos buscando melhores condições de vida. No Brasil,
segundo Camarano e Abramovay (1998, p.45), “a importância do êxodo rural é confirmada
quando se examinam dados dos últimos cinquenta anos: desde 1950 a cada dez anos, um em
cada três brasileiros vivendo no meio rural opta pela emigração”.
É possível afirmar que o êxodo rural brasileiro apresenta duas características distintas.
A primeira característica é marcada pelo período entre 1950 a 1970 cujos migrantes
geralmente eram homens na idade adulta (ou famílias inteiras) em busca de trabalho nos
centros urbanos. Para Camarano e Abramovay (1999), o intenso processo de êxodo rural
verificado na segunda metade do século XX, foi responsável pelo alto grau de urbanização no
país e pelo número descrente da população no campo, sendo que na década de 1970, o Brasil
passou a ter mais população vivendo na cidade que no campo. A segunda característica se dá
da década de 1990 em diante: as pessoas que deixam o campo são jovens com predominância
das moças. Conforme Camarano e Abramovay (1999), a partir da década de 90, os jovens
passam a deixar o campo fazendo caminho contrário das décadas de 60,70 e 80 onde o
predomínio era de homens buscando empregos nas cidades.
O êxodo rural no passado contribuiu para a urbanização do Brasil, entre as décadas de
60 e 70 foi responsável por 17,4% do crescimento populacional das cidades. Nos anos 2000 a
2010 o êxodo rural perde a importância para as questões relacionadas à urbanização das
cidades onde representou apenas 3,5% do crescimento (ALVES et al., 2011).
Considerando a população rural gaúcha, segundo dados do IBGE, entre 1970 a 2010
caiu 48,78%, foi de 3.110.602 para 1.593.087 pessoas. A população jovem rural também
acompanhou esta tendência6. Percebe-se que em todos os Censos que o percentual de pessoas
jovens do sexo masculino no meio rural sempre foi maior, ou seja, ficam mais homens que
mulheres no meio rural até o Censo Demográfico de 2010. E percebe-se que a

6
Nos Censos de 1970, 1980 e 1991 o IBGE só tabulou os dados referentes às idades de 15 a 19 anos, fato esse
que prejudica uma análise mais detalhada sobre a população juvenil. Nos Censos de 2000 e 2010, foram
tabulados os dados referentes às idades de 15 a 24 anos

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representatividade da população juvenil oscilou bastante, em 1970 era 11,42% subindo para
11,93% em 1980, caindo 9,23% em 1991, subindo para 16,05% em 2000 e caindo para
14,60% em 2010. Isso explica-se pelas questões dos dados relativos as idades que faltam nos
Censos entre 70,80 e 91. Porém, a população rural e jovem vem sempre diminuindo. De
acordo com Alves et al., (2011), quando uma pessoa migra, ela muda-se para uma cidade da
sua região ou de outra região. No caso geral do Brasil, isso não compromete em nada a
dinâmica da população, mas, para cada região, o efeito pode ser grande. Segundo Spanevello
(2008), Brumer (2014), o êxodo jovem tem como seus principais fatores as condições de
trabalho, consideradas insalubres, exigentes em força física e longas jornadas de trabalho,
incerteza de rendimentos. E com relação às mulheres se inferem esses aspectos e mais as
condições de subalternas tanto nos estabelecimentos familiares como na herança da terra.
A saída da população jovem do meio rural traz consequências importantes às
propriedades e ao meio rural brasileiro. Entre as principais consequências podem ser citados:
a perda da mão de obra qualificada, falta de sucessão nas propriedades rurais (especialmente
em propriedades familiares), masculinização e o envelhecimento no campo.
1) Perda da mão de obra qualificada: os jovens são atraídos para os municípios
maiores em busca de melhores ofertas de trabalho, estudo e tudo o que as cidades oferecem,
assim, partem em busca de uma melhor condição de vida e deixam de se preparar para dar
continuidade às atividades da propriedade rural, ocasionando a diminuição da população e a
perda de mão-de-obra qualificada (FACCIN; SCHMIDT, 2013). Pois segundo Faccin e
Schmidt (2013) são os jovens no campo que apresentam maior grau de estudo, maior
conhecimento de ferramentas tecnológicas e maior domínio sobre o acesso a informações
como é caso da internet comparativamente aos pais.
2) Falta de sucessão nas propriedades rurais (familiares): A sucessão é a transferência
do controle ou gerenciamento sobre o uso do patrimônio familiar pelos filhos sucessores ou
pela próxima geração (SPANEVELLO, 2008). A saída dos filhos dos agricultores das
propriedades paternas em busca de ocupações urbanas, especialmente os familiares, impõe
dificuldades sobre quem permanecerá nas propriedades para tocar o negócio das famílias
quando a atual geração (dos pais) deixarem os negócios. A falta de perspectivas dos filhos em
ficar no campo levanta questões sobre o futuro das propriedades rurais, especialmente no que
se refere sobre quem os pais vão deixar a gestão dos negócios, o patrimônio e, ainda, sobre as
perspectivas dos pais na velhice, uma vez que quando os filhos ficam para tocar os negócios
geralmente assumem o amparo dos pais na velhice (SILVESTRO et al., 2001;
SPANEVELLO et al., 2014).
3) Masculinização e envelhecimento: A migração seletiva das áreas rurais (saída
predominante de jovens mais escolarizados e do sexo feminino), compromete a constituição
de novas famílias no meio rural. A população masculina que permanece acaba sendo superior
a população feminina em todas as faixas etárias, ocorrendo o processo de masculinizarão da
população rural (MAIA, 2014). Isto afeta a perspectiva matrimonial de moças ou rapazes do
meio rural, pois o casamento depende da oferta de jovens no próprio meio, sendo raros os
casos de jovens citadinas dispostas a casar com agricultores, e o número de moças migrantes é
proporcionalmente maior do que o de rapazes, o risco de celibato (solteirismo) pode ser um
estimulo adicional a migração de rapazes (BRUMER, 2007).

2.2 COREDE Alto Jacuí


O COREDE Alto Jacuí foi criado em 1991, situado na região Noroeste do estado do
Rio Grande do Sul, composto de 14 municípios. Fazem parte os municípios: Boa Vista do
Cadeado, Boa Vista do Incra, Colorado, Cruz Alta, Fortaleza dos Valos, Ibirubá, Lagoa dos

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Três Cantos, Não-Me-Toque, Quinze de Novembro, Saldanha Marinho, Salto do Jacuí, Santa
Bárbara do Sul, Selbach e Tapera (BERTÊ et al., 2016).
Segundo Bertê et al., (2016) em 2012, o COREDE Alto Jacuí apresentou um Produto
Interno Bruto (PIB) de aproximadamente R$ 5,1 bilhões, o que representava 1,9% do total do
Estado. O PIB per capita era de R$ 33.258,00, colocando-o na segunda posição dentre os 28
COREDEs do estado. No que se refere aos setores que compõem o Valor Adicionado Bruto
(VAB) do COREDE, em 2012, a agropecuária era responsável por 11,9%; a indústria por
17,6%; e o setor de serviços por 70,5% (BERTÊ et al., 2016). O VAB da Agropecuária no
COREDE, destaca-se o cultivo da soja responsável por 37,9% do setor, seguido da
bovinocultura e corte e leite e outros animais com 26%, o cultivo de cereais em grãos,
principalmente trigo e milho, com 15,4%, outros produtos da lavoura temporária também
possuem importância, como o feijão e a mandioca, representando 7,7%, e a criação de suínos,
com 6,5% (BERTÊ et al., 2016).
Em relação à população rural, nos últimos anos, vem-se evidenciando uma acentuada
diminuição no número de pessoas, representando uma queda de 55,85% no somatório dos
municípios, de 1960 até 2010 (DE MERA; NETTO, 2012a; 2014b). Em 2010 a população
total do COREDE é de 155.278 habitantes (84% Urbana e 16% Rural). Os municípios que
têm o maior número de habitantes são: Cruz Alta (62.821), Ibirubá (19.310), Não-Me-Toque
(15.936), Salto do Jacuí (11.880), Tapera (10.448) e Santa Bárbara do Sul (8.829), os demais
municípios têm menos de 5.000 habitantes (DE MERA; NETTO, 2014a; BERTÊ et al.,
2016).

3 Procedimentos Metodológicos
O artigo é uma revisão bibliográfica na qual foi feita em livros, artigos, revistas
especializadas, teses, dissertações com dados pertinentes ao assunto, com o objetivo de
adquirir conhecimentos e recolher informações sobre o problema proposto (VERGARA,
2000). Os dados utilizados no trabalho são secundários, extraídos do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística- IBGE. E como recorte metodológico adotou-se como “jovem” a faixa
etária de 15 a 24 anos utilizada pelo IBGE e ONU.

4 Resultados e discussão
Neste tópico as seguintes perspectivas serão trabalhadas: Dinâmica populacional da
juventude rural do COREDE Alto Jacuí, Considerações sobre a migração jovem rural.

4.1 A Dinâmica populacional da juventude rural do COREDE Alto Jacuí


Este item tem como base a análise dos dados do Censo Populacional do IBGE
relativo ao Censo 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010, caracterizando o número de jovens no meio
rural, seu aumento ou diminuição a cada Censo. A Tabela 1 apresenta os dados dos Censos
Populacionais sobre população rural jovem do COREDE Alto Jacuí.
De acordo com o Censo de 1970, disposto na Tabela 1, a população jovem7 representa
20,47% da população rural nos municípios do COREDE Alto Jacuí.
Percebe-se que Colorado é o município com maior representatividade de jovens no
meio rural com 24,53%, assim como Santa Barbara do Sul com 21,55%, ficando acima do
percentual médio do COREDE Alto Jacuí que é de 20,47%. Por outro lado, Cruz Alta e

7
Salienta-se que os municípios que não tem dados é devido ao fato de fatos de não terem sido criados ou
emancipados até a data do Censo, sendo pertencentes municípios maiores como é o caso de Cruz Alta.

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Tapera são os que apresentam os menores percentuais, ainda que Cruz Alta (seguido do
município de Ibirubá) contenham o maior número de pessoas vivendo no meio rural.
Verifica-se na Tabela1, referente ao Censo de 1980 que a média da população jovem
no meio rural no COREDE Alto Jacuí aumentou para 22,28% em relação ao Censo anterior.
Apenas um município destoa da média geral do número de jovens, e é Selbach com 25,95%
dos jovens no meio rural no município, e Não-Me-Toque com o menor percentual 20,35% de
representatividade jovem, enquanto o restante dos municípios ficou muito próximo à média
do COREDE. Percebe-se que Cruz Alta e Ibirubá ainda detém o número maior de pessoas
residindo no campo.
Percebe-se na Tabela 1, relativa ao Censo de 1991 que houve uma diminuição da
população rural e jovem no COREDE Alto Jacuí. Com relação aos jovens a média baixou
para 17,24%. No entanto observa-se que a representatividade nos municípios de Tapera e
Não-Me-Toque tiveram os menores percentuais de jovens no campo, ficando abaixo da média
do COREDE, a primeira com 14,82% e a segunda com 15,62%. Por outro lado, os municípios
de Salto do Jacuí e Fortaleza dos Valos tiveram o maior percentual de jovens no meio rural,
Salto do Jacuí com 19,19%, destoando da média do COREDE e Fortaleza com 18,67% de
jovens no meio rural no município. Cruz Alta e Ibirubá, embora sejam os municípios que
detenham o maior número de pessoas vivendo no campo, a população segue caindo.

Tabela 1 – População rural e jovem no COREDE Alto Jacuí e a representação jovem segundo os Censos
1970, 1980, 1991, 2000 e 2010 (jovem 15 a 24 anos).
Censo 1970 Censo 1980 Censo 1991 Censo 2000 Censo 2010
Município Total Jovem Total Jovem Total Jovem Total Jovem Total Jovem
Boa Vista do - - - - - - - - 1.969 314
Cadeado
Repr. jovem - - - - - - - - 100% 15,94%
(%) jovem - 100% - - - - - - - 100%
Boa Vista do - - - - - - - - 1.701 258
Incra
Repr. jovem - - - - - - - - 100% 15,16%
(%) jovem - 100% - - - - - - - 100%
Colorado 4.597 1.128 3.422 748 3.084 522 2.164 351 1.706 262
Repr. jovem 100% 24,53% 100% 21,85% 100% 16,92% 100% 16,21% 100% 15,35%
(%) jovem - 100% - 66,31% - 46,27% - 31,11% - 23,22%
Redução (%) - - - 33,69% - 53,63% - 68,89% - 76,78%
Cruz Alta 13.500 2.667 11.237 2.453 6.303 1.098 5.887 943 2.227 272
Repr. jovem 100% 19,75% 100% 21,82% 100% 17,42% 100% 16,01% 100% 12,21%
(%) jovem - 100% - 91,97% - 41,16% - 35,35% - 10,19%
Redução (%) - - - 8,03% - 58,84% - 64,65% - 89,81%
Fortaleza dos - - - - 2.640 493 2.260 360 1.582 232
Valos
Repr. jovem - - - - 100% 18,67% 100% 15,92% 100% 14,66%
(%) jovem - 100% - - - 100% - 73,02% - 47,05%
Redução (%) - - - - - - - 26,88% - 52,95%
Ibirubá 13.160 2.694 9.882 2.199 6.114 1.054 5.112 843 3.968 530
Repr. jovem 100% 20,47% 100% 22,25% 100% 17,23% 100% 16,49% 100% 13,35%
(%) jovem - 100% - 81,62% - 39,12% - 31,29% - 19,67%
Redução (%) - - - 18,38% - 60,88% - 68,71% - 80,33%
Lagoa dos Três - - - - - - 952 170 791 100
Cantos
Repr. jovem - - - - - - 100% 17,85% 100% 12,64%
(%) jovem - 100% - - - - - 100% - 58,82%
Redução (%) - - - - - - - - - 41,18%
Não-Me-Toque 6.936 1.417 4.560 929 3.822 597 2.619 418 1.970 227
Repr. jovem 100% 20,42% 100% 20,37% 100% 15,62 100% 15,96% 100% 11,52%

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(%) jovem - 100% - 65,56% - 42,13% - 29,49% - 16,01%
Redução (%) - - - 34,44% - 57,87% - 70,51% - 83,99%
Quinze de - - - - 2.241 394 1.815 271 1.692 233
Novembro
Repr. jovem - - - - 100% 17,58% 100% 14,93% 100% 13,77%
(%) jovem - 100% - - - 100% - 68,78% - 59,13%
Redução (%) - - - - - - - 31,22% - 40,87%
Saldanha - - - - 1.679 278 1.356 259 942 140
Marinho
Repr. jovem - - - - 100% 16,55% 100% 19,10% 100% 14,86%
(%) jovem - 100% - - - 100% - 93,16% - 50,35%
Redução (%) - - - - - - - 6,84% - 49,65%
Salto do Jacuí - - - - 3.397 652 3.043 582 1.672 343
Repr. jovem - - - - 100% 19,19% 100% 19,12% 100% 20,51%
(%) jovem - 100% - - - 100% - 89,26% - 52,60%
Redução (%) - - - - - - - 10,74% - 47,40%
Santa Bárbara 6.045 1.303 6.028 1.348 3.799 686 2.476 356 1.844 264
do Sul
Repr. jovem 100% 21,55% 100% 22,36% 100% 18,05 100% 14,37% 100% 14,31%
(%) jovem - 100% - 103,45% - 52,64% - 27,32% - 20,26%
Redução (%) - - - (3,45)% - 47,36% - 72,68% - 79,74%
Selbach 4.005 817 3.633 943 2.525 445 2.073 263 1.479 216
Repr. jovem 100% 20,39% 100% 25,85% 100% 17,62% 100% 12,68% 100% 14,60%
(%) jovem - 100% - 115,42% - 54,46% - 32,19% - 26,43%
Redução (%) - - - (15,42)% - 45,54% - 67,81% - 73,57%
Tapera 5.262 929 4.478 1.016 3.284 587 1.948 247 1.628 267
Repr. jovem 100% 17,65% 100% 22,68% 100% 14,82% 100% 12,67% 100% 16,40%
(%) jovem - 100% - 109,36% - 52.42% - 26,58% - 28,74%
Redução (%) - - - (9,36)% - 47,58% - 73,42% - 71,26%
Total 53.505 10.955 43.240 9.636 38.888 6.706 31.705 5.063 25.171 3.658
Repr. jovem 100% 20,47% 100% 22,28% 100% 17,24% 100% 15,96 100% 14,53%
(%) jovem - 100% - 87,95% - 61,21% - 46,21% - 33,39%
Redução (%) - - - 12,05% - 38,79% - 53,79% - 66,61%
(%) Rural 100% - 80,81% - 72,68% - 59,25% - 47,04% -
Redução (%) - - 19,19% - 27,32% - 40,75% - 52,96% -
Fonte: IBGE – Dados dos Censos Demográficos (1970, 1980, 1991, 2000 e 2010).

De acordo com a Tabela 1, segundo o Censo de 2000 a média da população juvenil do


COREDE caiu para 15,96%. Entre os municípios, os que ganham destaque são Salto do Jacuí
com 19,12% e Saldanha Marinho 19,10%, estes se sobressaem frente à média do COREDE
Alto Jacuí, enquanto Selbach e Tapera tem os percentuais inferior à média do COREDE a
primeira com 12,68% e a segunda com 12,67%. Cruz Alta e Ibirubá são os municípios com
maior população jovem no campo.
Observa-se na Tabela 1, que no censo de 2010 segue caindo à média percentual do
numero de jovens no meio rural indo para 14,51%. Os municípios que ganham destaque são
Salto do Jacuí com 20,51% dos jovens no meio rural, acima da média do COREDE. Por outro
lado, o município de Não-Me-Toque tem 11,52% e Cruz Alta com 12,21% de jovens que
ainda estão no campo. Ibirubá e Boa Vista do Cadeado são os municípios que tem maior
numero de jovens no meio rural.
Entre os municípios percebe-se que os municípios de Santa Bárbara, Selbach e Tapera
no Censo de 1980 tiveram um aumento em sua população jovem rural, a primeira cresceu
3,45%, segunda 15,42% e a terceira 9,36%, isto é algo que destoa do resto dos municípios no
qual sua população vem em crescente diminuição. Já nos Censos seguintes os municípios
entram na mesma linha dos municípios restantes decrescendo a população jovem.
O município de Cruz Alta foi o que mais perdeu jovens no meio rural, teve uma
diminuição de 89,81% da população jovem em 2010, Cruz Alta era o município do COREDE

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que mais tinha jovens e população rural em 1970, Não-me-Toque é o segundo município que
mais perdeu população jovem, 83,99% e é o terceiro município em termos de população
jovem em 2010, o terceiro o município em termos percentuais de diminuição de população
jovem é Ibirubá com uma perda de 80,33% e é o segundo município mais populoso em
termos rurais e jovem em 1970 e passando a ser o mais populoso em 2010 tanto jovem como
em população rural. Estes municípios tiveram uma perda alarmante em termos percentuais.
Santa Barbara do Sul que em 1980 cresceu, mas acabou em 2010 com uma redução de
79,74% da sua população jovem e é o quarto em população jovem no COREDE em 2010.
Os municípios que menos perderam população jovem rural são Quinze de Novembro
com 40,87%, Lagoa dos três Cantos com 41,18%, Salto do Jacuí 47,40%, Saldanha Marinho
49,65% e Fortaleza dos Valos com 52,95%, no entanto estes municípios não tem seus dados
tabulados desde o Censo de 1970, pois são municípios novos, que estavam em processo de
criação (emancipação), assim como Boa Vista do Incra e Boa Vista do Cadeado, que só
aparece nos Censos Demográficos em 2010. Em média a perda de população jovem no
COREDE Alto Jacuí foi de 66,61%, ou seja quase 70% dos jovens. A Tabela 1 demonstra
alguns destes dados citados acima.
Analisa-se que há uma disparidade quando comparamos números referentes aos
Censos de 1970 a 2010, segundo estes a população rural diminuiu representativamente neste
período, com uma diminuição de 52,96% da população rural no COREDE Alto Jacuí.
Imediatamente analisando-se a população jovem de 15 a 24 anos de idade, observa-se
que diminuição da população jovem é mais acentuada ainda. No Censo de 1970 a população
jovem era de 10.955 pessoas no meio rural, em 1980 baixou para 9.636 jovens no campo,
representando uma queda de 12,05%, já no Censo de 1991 a população jovem era de 6.706
pessoas, apresentando uma queda 38,79% jovens residindo no âmbito rural, no Censo de 2000
os jovens eram 5.063, representando uma queda 53,79% a população jovem e no Censo de
2010 a população jovem caiu para 3.658 jovens no meio rural. Entre os censos de 1970 a
2010, mais da metade da população jovem abandonou o campo, cerca de 66,61% da
população jovem rural saiu do campo no COREDE Alto Jacuí. Ou seja, enquanto a população
rural diminuiu 52,96% a população jovem diminuiu 66,61%. Isso significa dizer que tanto a
população rural como a população jovem rural veem deixando o meio rural, porém os jovens
com maior representatividade.

4.2 Considerações sobre a migração jovem rural


Os fatores explicativos a saída dos jovens no campo é diversificado e vai desde as
condições produtivas, relações familiares, educação e acesso a bens de consumo e
comunicação. De acordo com Brumer (2014), os jovens têm demandas, e não é só a terra e
nem apenas acesso ao crédito, mas é um conjunto de políticas, desde a terra e o processo
produtivo, até o acesso ao lazer, à cultura, o esporte, à educação, à saúde, novas tecnologias, o
jovem quer estar na globalidade.
No caso do COREDE Alto Jacuí, os fatores explicativos para este quadro de
diminuição da população jovem rural podem estar relacionados a distintas situações como é o
caso das condições produtivas, econômicas e sociais:
- Condições produtivas e econômicas: Segundo De Mera e Netto (2014a), as
transformações ocorridas na agricultura nos municípios da região do Alto Jacuí
acompanharam as evoluções do setor primário nas demais regiões do Estado e país.
Com o crescente incentivo do governo, os granjeiros passaram a arrendar terras de
pecuaristas, adquirindo propriedades de colonos e reforçando o fenômeno de
concentração de terra e o êxodo rural. Assim, a policultura tradicional foi
praticamente substituída pelas culturas trigo e soja, alterando sensivelmente a base
econômica da região em decorrência da montagem de uma infraestrutura voltada

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para produção, distribuição e comercialização desses produtos (DE MERA,
2011,p.24).
Para De Mera e Netto (2014a), a grande expansão das culturas empresariais e
mecanizadas vem criando dificuldades para os pequenos produtores, especialmente os que se
dedicam a uma só cultura como é caso da soja ou do binômio soja-trigo ou soja – milho -
trigo. A soja especialmente representa apenas um ingresso de renda na propriedade ao ano,
além da necessidade de um aparato tecnológico de máquinas e crédito agrícola para a
produção, a transgenia, tendo o seu preço balizado pelo mercado internacional. Com isso, os
agricultores, especialmente os familiares tem dificuldades em se manter no campo produzindo
esta cultura, pois para muitos são necessários suportes externos como crédito agrícola que
pode levar as famílias ao endividamento (DE MERA, 2011). Conforme reforça De Mera e
Netto (2014a), no seu estudo sobre a região do Alto Jacuí, frequentemente os agricultores
estão arrendando ou vendendo suas terras para os granjeiros, reduzindo suas possibilidades de
sobrevivência dos resultados da terra, tendendo a migrações para o meio urbano.
Este cenário acabando afetando os jovens e sua permanência. Conforme Spanevello et
al., (2014), os pais utilizam diferentes estratégias para tentar os filhos na propriedade,
inclusive repassando pedaço de terra em seu nome ou até mesmo compartilhando a gestão dos
negócios com os filhos. Neste cenário em que os pais (agricultor) possuem área de terras
pequenas para a partilha, precisando arrendar ou vender suas terras (propriedades), muitos
com endividamento bancário, torna-se difícil estimular os filhos a seguir na agricultura (DE
MERA, 2011). Com relação aos sistemas produtivos existentes nos municípios do COREDE
Alto Jacuí, a atividade leiteira vem sendo considerada importante para permanência dos
jovens no campo principalmente pelo ingresso de renda mensal na propriedade, assim como a
suinocultura e avicultura (SILVESTRO et al., 2001). Além da renda mensal, estes sistemas
facilitam a remuneração do trabalho pelos jovens. Porém exige certa profissionalização dos
produtores e investimentos muitas vezes onerosos para a família se manter no negócio.
Silvestro et al., (2001), também acrescenta que são atividades que exigem trabalho dos jovens
nos finais de semana.
De acordo com o Brumer (2014), uma das principais questões que motivam o jovem a
migrar é a necessidade de trabalhar no final de semana, diferentemente do que ocorre no meio
urbano, além da insatisfação com o rendimento obtido na agricultura e da imagem negativa do
trabalho agrícola visto, muitas vezes, como sofrido e penoso. De Mera (2011), em seu estudo
na região que compõe o COREDE do Alto Jacuí confirma que os jovens deixam o meio rural
procurando atividades menos sofridas e principalmente um salário fixo. Conforme Brumer
(2014), os jovens se reconhecem mais como agricultores do que como jovens, a juventude do
campo se identifica fundamentalmente a partir do mundo do trabalho na agricultura. Por isso,
a forma como a família trabalha, seus bens e capital para tocar a atividade produtiva, a renda
gerada tem um peso bastante grande na permanência dos jovens no campo e na agricultura.
Outro aspecto importante é o acesso dos jovens a políticas públicas de crédito.
Segundo Brumer (2007), praticamente sem apoio institucional, os jovens buscam a migração,
pois as políticas públicas garantam a ascensão e estabilidade social no campo.
- Condições sociais: As condições sociais são dadas pelas relações internas familiares,
bem como pela infraestrutura necessária para atender as demandas dos jovens na comunidade
e no meio rural onde vivem.
Considerando as relações internas familiares, Spanevello et al., (2014) e Brumer
(2014), afirmam a necessidade de os jovens terem seu trabalho reconhecido dentro da família.
Este reconhecimento pode ocorrer de várias formas: remuneração monetária mensal ou anual
pelo trabalho realizado, doação de bens aos filhos (carros, motocicletas, áreas de terras),
divisão do trabalho no interior da propriedade como é caso em que os pais estão à frente da
gestão de um sistema de produção e o outro sistema tem o filho à frente tomando as decisões

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sobre como produzir e comercializar. Estas condições que dão autonomia tendem a cativar os
filhos e despertar à vontade de permanecer no campo. Por isso, as famílias que atendem estas
condições têm mais chances de ter um dos filhos dispostos a permanecer.
Outro aspecto social importante é a educação. O acesso ao ensino técnico e mesmo
superior ainda é visto como uma alavanca para sair do meio rural. Ainda são escassos os
jovens que estudam para voltar no campo, assim como são poucas escolas focadas em
repassar conteúdos que valorizam o meio rural e a agricultura (Silvestro et al., 2001). De
Mera (2011), afirma que os agricultores familiares da região do Alto Jacuí antigamente davam
terras aos filhos, hoje em razão da escassez do mercado de terras, os agricultores tentam dar
estudos aos filhos. Ainda, conforme a autora, os agricultores vendem sua própria terra para
dar faculdade aos filhos e muitos deixam o campo com a justificativa de maior acesso à
educação para os filhos. Outro ponto destacado é a falta de lazer, ou entretenimentos no meio
rural, que faça o jovem permanecer e não procurar o lazer urbano (Spanevello, 2008).
Para De Mera (2011), outros aspectos sociais também devem ser considerados na
queda da população jovem e vão além das demandas próprias dos jovens como é o caso do
planejamento familiar e da recorrente diminuição do número de filhos pelas famílias rurais.
Outro aspecto é o aumento da expectativa de vida das pessoas que vivem no campo,
contrastando com a queda da taxa de natalidade o que acaba aumentando o número de idosos
e aposentados. Ainda, segundo a autora, o envelhecimento da população rural diminui a
participação na atividade agrícola e comunitária, fazendo com que os pais vão para a cidade
em busca de uma vida mais tranquila na cidade, com acesso a serviços de saúde, enquanto o
meio rural tende a perde a mão de obra jovem.

5. Considerações Finais
Fechando o trabalho considerando o COREDE Alto Jacuí como um universo, mas
antes trazendo um retrato do censo de 2010, onde a população urbana e rural é de 155.264
pessoas, e a população rural é de 25.171 pessoas, representando 16,21% da população rural no
COREDE Alto Jacuí. Dessa forma, destas 25.171 pessoas no meio rural 3.658 são jovens,
com uma representatividade de 14,53%. A população jovem diminuiu 66,61% e a população
rural 52,96% é preocupante e alarmante a relevância destes números, tanto para o
desenvolvimento rural no COREDE Alto Jacuí, como para o Agronegócio no próprio
COREDE, como para o Estado do Rio Grande do Sul e Brasil.
O interesse dos jovens pela vida no meio rural passa pela valorização de suas
iniciativas, pelas responsabilidades atribuídas e assumidas no interior das unidades
produtivas, ou seja, sentir-se valorizado (ABRAMOVAY et al., 1998).
Segundo os dados do IBGE está diminuindo o número de jovens no COREDE Alto
Jacuí, os dados corroboram com essa afirmação, comparando os Censos de 1970, 1980, 1991,
2000 e 2010. Algumas questões e problemas ressaltados por Ricardo Abramovay como
envelhecimento e masculinização do campo podem explicar isso, ou questões referentes a
problemas sucessórios, assim como os fatores descritos anteriormente, sempre visando
melhores condições de vida, oportunidades de emprego e acesso a educação. No entanto,
aguarda-se os dados referentes ao novo Censo Agro 2017/2018 para reforçar ainda mais o
estudo e sua relevância.

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ANÁLISE DE CUSTOS NA PRODUÇÃO DE GRÃOS EM UMA
PROPRIEDADE RURAL DE TAPEJARA, RIO GRANDE DO SUL

Patrick Dalbosco1, Luiz Fernando Fritz Filho2, Priscila Sampaio de Moraes3, Amanda Regina
Leite4

Resumo
O estudo analisou os custos de produção de soja na safra 2016/2017, em uma propriedade rural do município de
Tapejara/RS. Para tanto caracterizou a propriedade, apurou os custos envolvidos na cultura da soja, as despesas e
receitas geradas na produção demonstrando os resultados financeiros da safra, assim como o ponto de equilíbrio
e a margem de contribuição apropriada. Esta pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa quantitativa e
qualitativa. O plano de coleta de dados para esta pesquisa é caracterizado a partir de fontes primárias destacam-
se a realização de entrevista com o produtor rural e a observação da propriedade, e como fontes secundárias
estão à pesquisa bibliográfica e a análise de relatórios, planilhas e documentos relativos à produção de soja de
2017 da propriedade estudada. Este estudo é relevante por subsidiar os produtores na tomada de decisão e na
escolha das estratégias adotadas em suas unidades.
Palavras-chave: Análise de Custos. Administração Rural. Produção Agrícola. Soja.

Abstract
The study analyzed the costs of soybean production in the 2016/2017 harvest, in a rural property in the
municipality of Tapejara / RS. In order to do so, it characterized the property, determined the costs involved in
the soybean crop, the expenses and revenues generated in the production demonstrating the financial results of
the crop as well as the appropriate break-even point and contribution margin. This research is characterized as
a quantitative and qualitative research. The plan of data collection for this research is characterized from
primary sources stand out the accomplishment of interview with the rural producer and the observation of the
property and as secondary sources are to the bibliographical research and the analysis of reports, spreadsheets
and relative documents to the soybean production of 2017 of the property studied. This study is relevant because
it subsidizes producers in decision making and in the choice of strategies adopted in their units.
Keywords: Cost analysis. Rural Administration. Agricultural production.Soy.

1 Introdução

A produção agrícola vem se consolidando ao longo do tempo como uma das principais
geradoras de renda e riqueza, com grande representatividade na economia brasileira,
registrando importantes avanços e mantendo um desempenho que tem superado o setor
industrial (CREPALDI, 2016). De acordo com os dados da Conab (2017) a safra brasileira
2016/2017 foi estimada em 237,22 milhões de toneladas, representando um crescimento de
27,1% em relação à safra 2015/2016. Além disso, houve incremento da área plantada em
60,49 milhões de hectares, o que representou 3,7% de aumento se comparado à safra passada.
O agronegócio, no ano de 2016, correspondeu a 23% do PIB nacional, além de representar
48% das exportações totais do país (PORTAL BRASIL, 2016).
Martins (2005) destaca que o agronegócio da soja movimenta volume físico e
financeiro elevado, exigindo ampla visão empresarial por parte dos produtores, fornecedores
de insumos, processadores da matéria prima e negociantes, de forma a manter e estender as
vantagens competitivas de produção. As pequenas e médias propriedades rurais são
consideradas fundamentais para a economia das regiões, sendo o estabelecimento rural

1
Bacharel em Administração, Universidade de Passo Fundo- mecanicadalbosco@xmax.com.br
2
Doutorado em Desenvolvimento Rural, Universidade de Passo Fundo r- fritz@upf.br
3
Bacharel em Administração, aluna do Mestrado em Administração do PPGADM/UPF/Universidade de Passo
Fundo-120560@upf.br.
4
Bacharel em Administração, aluna do Mestrado em Administração do PPGADM/UPF/Universidade de Passo
Fundo - amanda-rl@hotmail.com

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identificado como um sistema básico com suas diversidades e inter-relações entre os
componentes e o meio ambiente, sendo o produtor rural e sua família, a parte central deste
sistema, exercendo grande representatividade na promoção do desenvolvimento agrícola
(FRITZ FILHO e MIGUEL, 2010).
Desse modo, considera-se importante compreender os problemas enfrentados pelos
produtores, as exigências do mercado e os desafios que se mostram ao longo da cadeia
produtiva, promovendo o desenvolvimento de ações e de conhecimentos que podem auxiliá-
los na melhoria da gestão do seu negócio. Assim, este estudo tem como objeto de discussão a
administração rural sob o enfoque da análise de custos de produção, considerando as
necessidades de uma propriedade rural localizada no município de Tapejara, estado do Rio
Grande do Sul. Analisando os custos de produção de soja na safra 2016/2017, além de apurar
os custos, as receitas e as despesas geradas na produção de soja demonstrando o resultado
financeiro da safra, identificando o ponto de equilíbrio e a margem de contribuição,
compreendendo de que forma a análise de custos da produção agrícola podem contribuir para
o desenvolvimento das atividades e dos resultados de propriedade rural no município de
Tapejara/RS. A propriedade estudada tem sua sede no município de Tapejara/RS, com 90
hectares, mas também atua no município de Capão Bonito do Sul/RS, com mais 160 hectares.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capitulo são apresentados os conceitos das características da atividade agrícola,


aspectos da produção de soja, gestão da propriedade rural e contabilidade e métodos de
custeio agrícola.

2.1 Caracterização da Atividade Agrícola

A atividade agrícola é muito representativa na economia, a agricultura é entendida


como “a arte de cultivar a terra”, através da qual o homem procura satisfazer suas
necessidades básicas (SANTOS, MARION e SEGATTI 2012).
A agricultura representa toda a atividade de exploração da terra, seja no cultivo de
lavouras e florestas ou a criação de animais, exercidas de forma variadas, desde o cultivo
caseiro para a própria subsistência até os grandes complexos industriais, explorando os
setores agrícolas, pecuários e agroindustriais. Assim, a atividade agrícola desempenha um
papel importante no processo de desenvolvimento produzindo alimentos baratos e de boa
qualidade, bem como matéria-prima para a indústria (CRESPALDI 2016).
Araújo destaca (2013) que a produção agrícola envolve uma série de atividades
necessárias ao preparo de solo, tratos culturais, colheita, transporte e armazenagem internos,
administração e gestão dentro das unidades produtivas, para a condução de culturas vegetais.
Apesar da importância e da representatividade da atividade agropecuária para a economia,
muitas são as peculiaridades do setor que influenciam diretamente seus resultados sendo que
um dos elementos que marcam essa atividade é a sazonalidade, decorrente da forte
dependência de fatores climáticos, ambientais e dos ciclos biológicos das plantas. Apesar do
progresso tecnológico que tem modificado a sazonalidade “natural”, encurtando tempos de
crescimento e maturação, desenvolvendo espécies adaptadas e melhoria genética de sementes,
a atividade é fortemente dependente de fatores da natureza. (BUAINAIN e SOUZA FILHO,
2011).Nesse sentido, acredita-se que a adoção de técnicas de gestão e controle,
principalmente de custos, pode ser uma alternativa fundamental para melhorar a rentabilidade
e projetar ações futuras que visam o desenvolvimento, minimizando riscos.

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2.2 Gestão da Propriedade Rural

A propriedade rural é o espaço onde são exercidas atividades que exploram a


capacidade produtiva do solo por meio do cultivo da terra, da criação de animais e da
transformação de determinados produtos agrícolas (MARION, 2014).
Oliveira (2015) destaca que o estabelecimento agropecuário constitui-se de um imóvel
de área contínua, geralmente localizado na zona rural, subdividido ou não, sob o domínio de
um produtor ou administrador, no qual se realizam explorações agropecuárias. Nesse
estabelecimento o produtor rural retira o sustento para sua família e, dependendo do volume
das atividades, pode também ter empregados.
A gestão de uma propriedade rural revela-se como um processo de tomada de decisão
que avalia a alocação de recursos escassos em diversas possibilidades produtivas, dentro de
um ambiente de riscos e incertezas características do setor agrícola. Assim, independente de
tamanho e atividade desenvolvida, o gerenciamento da propriedade rural é um dos fatores
indispensáveis para alcançar o desenvolvimento sustentável (LORENZANI, SOUZA FILHO
e BANKUTI, 2012).
Por isso, dentre as práticas da administração rural estão o planejamento, com previsão
das necessidades e geração de recursos, controle do andamento, comparando a realidade e o
orçamento; o controle financeiro e de resultados, permitindo a identificação dos problemas
operacionais e avaliação do desempenho de cada unidade estratégica de negócio; e o controle
de produção (CREPALDI, 2016). Lourenzani, Souza Filho e Bankuti (2017), consideram que
além do planejamento e do controle, o produtor rural deve também desempenhar a função de
implementação.

2.3 Análise de Custos: Sistemas de Custeio Agrícola

A gestão de custos torna-se uma estratégia fundamental para que o produtor rural
consiga acompanhar sua produção e melhorar seus resultados, de acordo com Santos, Marion
e Segatti (2012), constitui-se em um conjunto de procedimentos administrativos que registra,
de forma sistemática e contínua, a efetiva remuneração dos fatores de produção empregados
nos serviços rurais.
Os custos de uma produção agrícola envolvem uma análise realizada a partir da
mensuração dos custos incorridos no processo produtivo, que, em termos econômicos, são
tidos como fixos, no qual existem independentemente da quantidade produzida e que muitas
vezes não exibem um desembolso direto do produtor, e variáveis que são obtidos diretamente
da multiplicação da quantidade utilizada de certo insumo pelo preço de mercado do insumo
(MENEGATTI; BARROS, 2007).
De acordo com Santos, Marion e Segatti (2002) muitos são os custos presentes
na produção agrícola e que precisam ser considerados para um maior controle e mensuração
de resultados. Os principais objetivos do sistema de custos da propriedade rural é auxiliar a
administração na organização e controle da unidade de produção, permitir uma correta
valorização dos estoques para apuração dos resultados obtidos em cada cultivo ou criação,
oferecer bases consistentes e confiáveis para projeção dos resultados e auxiliar o processo de
planejamento rural.
O sistema de custeio consiste num critério por meio do qual os custos são
apropriados à produção, tratando-se de uma estratégia de gerenciamento de custos,
desperdício e melhor resultado sobre o lucro. O sistema de custeio divide-se em: custeio
direto ou variável; custeio por absorção e custeio por atividades.

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O custeio direto ou variável nasceu da necessidade de uma adaptação de custos, ou
seja, todos os custos diretos, indiretos e variáveis são apropriados aos custos variáveis
deixando os custos fixos isolados, pois são considerados despesas do período, afetando
diretamente o resultado, independente da venda ter ocorrido ou não (MARTINS, 2010). O
custeio baseado em atividades (ABC) analisa as atividades da empresa, pois é através do
consumo das atividades que se formam os custos e não pelo consumo dos produtos. O custeio
por absorção é considerado um método tradicional de custeamento, onde, para se obter o
custo dos produtos, consideram-se todos os gastos industriais, diretos ou indiretos, fixos ou
variáveis (PADOVEZE, 2010).

2.4 Demonstração do resultado, margem de contribuição e ponto de equilíbrio

A demonstração do resultado informa como o resultado é formado em determinado


período de movimentação da organização (ASSAF NETO, 2010). Nesse demonstrativo estão
apresentadas todas as receitas e despesas geradas no período, fazendo-se as deduções
necessárias para assim se chegar ao lucro do exercício (MARION, 2009).
Conforme Assaf Neto (2010) pode ser estruturada da seguinte forma:
i. Receita Operacional Bruta: refere-se ao valor nominal total das vendas de
bens ou de serviços prestados pela empresa, antes de qualquer dedução.
ii. Deduções da Receita Bruta: incluem-se todos os valores que devem ser
abatidos do valor da Receita Operacional Bruta, como: vendas anuladas; descontos
incondicionais concedidos (quando contabilizados); impostos sobre produtos, etc.
iii. Receita Operacional Líquida: receita já deduzida.
iv. Custo das Vendas ou Custo das Mercadorias Vendidas: são os custos
envolvidos no processo de produção e venda.
v. Lucro Operacional Bruto: é o valor que sobra depois da dedução do custo
das vendas com a receita operacional líquida.
vi. Despesas operacionais: são todas as despesas operacionais incorridas no
período, agrupadas em despesas com as vendas, despesas financeiras, despesas gerais e
administrativas e outras despesas operacionais.
vii. Lucro ou Prejuízo Operacional: é o lucro obtido no confronto entre lucro
acrescido das demais receitas operacionais e deduzido das demais despesas operacionais.
Assim, ao vender determinado produto, a propriedade obtém um lucro sobre este
produto, sendo que multiplicado pelo total de produtos vendidos, consegue se calcular a
margem de contribuição total. A margem de contribuição pode ser calculada em qualquer
empresa ou ramo em que ela atua. Esse conceito incorpora o regime de competência, além
dois custos diretos, variáveis e relevantes (LEONE, 2011).
Por fim, o ponto de equilíbrio que é aquele momento em que a empresa rural atinge
um volume de vendas que lhe permite cobrir seus custos operacionais, sem lucro nem
prejuízo. O Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC) é obtido quando há volume (monetário ou
físico) suficiente para cobrir todos os custos e despesas fixas, ou seja, o ponto em que não há
lucro ou prejuízo contábil, com igualdade entre a receita total e o custo total. (CREPALDI,
2016).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo utiliza-se do meio de uma pesquisa quantitativa e qualitativa, quanto ao seu
objetivo geral é caracterizada como pesquisa exploratória; e quanto ao procedimento técnico é
caracterizada como pesquisa de levantamento de dados e estudo de caso. Também cabe
caracterizar as pesquisas de levantamento de dados, nas quais ocorre o questionamento direto das
pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Já o estudo de caso é a pesquisa que tem por objetivo

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selecionar um objeto de estudo restrito, com a finalidade de aprofundar-se nos aspectos característicos
do mesmo (SANTOS, 2001).
O plano de coleta de dados para esta pesquisa é caracterizado a partir de fontes
primárias e secundárias. Como fontes primárias destacam-se a realização de entrevista com o
produtor rural e a observação da propriedade. Como fontes secundárias estão a pesquisa
bibliográfica e a análise de relatórios, planilhas e documentos relativos à produção de soja de
2017, bem como aspectos operacionais e financeiros da propriedade. Após a coleta, os dados
foram organizados e apresentados em tabelas e de forma descritiva, sendo que foram
analisados pelo pesquisador a partir dos objetivos do estudo, considerando a aplicação do
método de custeio direto.

4. RESULTADOS

Nesta seção é apresentado o levantamento de dados realizado na propriedade,


considerando a área de terras, infraestrutura e bens, receitas e despesas realizadas na safra da
soja, no período de 15 de outubro de 2016 a 15 de março de 2017, totalizando
aproximadamente 5 meses de produção.

4.1 Área de terras, infraestrutura e bens da propriedade

A propriedade em estudo é familiar, localizada no norte do Rio Grande do Sul, no


município de Tapejara e também no município de Capão Bonito do Sul. A propriedade
prioriza a cultura da soja, na safra de verão, sendo que no período de inverno, realiza
cobertura de solo com aveia. O método de cultivo desenvolvido é o plantio direto.
Ao todo são 250 hectares de área, sendo 80% de área de cultivo (200 hectares) e 20%
(50 hectares) correspondente a matas, estradas e reservas de preservação. A característica da
instalação da propriedade conta com um galpão, construído em 2010, cujo valor é de R$
250.000,00 e uma casa de 100 m², avaliada em 150.000,00.
Com relação às máquinas e equipamentos, a propriedade dispõe de caminhão,
colheitadeira, trator, carroção graneleiro, plantadeira, pulverizador e tratores num valor total
de R$ 1.430.000,00 de máquinas, veículos e equipamentos.

Tabela 1 – Máquinas, veículos e equipamentos


Descrição Marca Ano Valor do bem (R$)
Caminhão VW 2010 200.000,00
Colheitadeira New Holland 2016 750.000,00
Trator Valtra 2005 90.000,00
Carroção Graneleiro Stara 2010 20.000,00
Plantadeira Adubadeira Semeato 2008 70.000,00
Pulverizador Montana 2013 300.000,00
Total 1.430.000,00

4.2 Mão-de-obra

A formação da mão-de-obra que na propriedade em estudo é estritamente familiar,


contando com a participação do pai e do filho para a condução das atividades. O valor mensal
do custo de mão de obra é de R$ 5.000,00, sendo que o período da safra é de novembro a
abril, totalizando 5 meses, ou seja, R$ 25.000,00.
Cumpre salientar que no período da safra, a família contrata uma pessoa para auxiliar
no processo produtivo, especialmente no período do plantio. Foram considerados 30 dias de

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trabalho, com 10 horas de trabalho por dia, num custo de R$ 10,00 por hora. No total foi
contabilizado um gasto total de mão-de-obra terceirizada de R$ 3.000,00.

4.3 Depreciação

Os valores da depreciação, sendo o cálculo realizado conforme norma do CPC 27-


Ativo Imobilizado, que orienta que a estimativa do tempo de vida útil dos bens é feita pelo
próprio proprietário, sendo que a taxa de depreciação é a divisão dos 100% pelo total de vida
útil definida pelo proprietário. A depreciação total (anual) representa o valor dos bens
aplicado à taxa de depreciação, sendo que a depreciação da cultura da soja corresponde aos
meses de produção, ou seja, 5 meses.

Tabela 2 – Despesas com depreciação (instalações, máquinas, veículos e equipamentos)


Tempo Taxa de Depreciação Depreciação
Valor do bem
Descrição Ano de vida depreciação total/ano cultura da soja
(R$)
útil/anos (%) (R$) (R$)
Caminhão 2010 200.000,00 20 5% 10.000,00 4.166,67
Colheitadeira 2016 750.000,00 15 6,67% 50.025,00 20.843,75
Trator 2005 90.000,00 20 5% 4.500,00 1.875,00
Carroção graneleiro 2010 20.000,00 20 5% 1.000,00 416,67
Plantadeira adub. 2008 70.000,00 15 6,67% 4.669,00 1.945,41
Pulverizador 2013 300.000,00 20 5% 15.000,00 6.250,00
Galpão 2010 250.000,00 30 3,34% 8.350,00 3.479,17
Casa 2002 150.000,00 30 3,34% 5.010,00 2.087,50
Total 98.554,00 41.064,17

Ressalta-se a importância do cálculo da depreciação como forma do produtor rural


avaliar seus bens e a necessidade de investimento.

4.4 Identificação dos custos e despesas

Os custos levantados a partir da cultura da soja envolvem os insumos utilizados na


safra, a mão-de-obra, transporte, despesas com financiamentos de máquinas/equipamentos e
outras despesas operacionais. Abaixo se observa os gastos com insumos da safra 2016/2017.
Tabela 3 – Gastos com insumos safra 2017
Quant. de Descrição dos Quant. Preço Custo total por Custo total % do
compra produtos por ha Unit. ha (R$) (R$) custo
50.000 kg Adubo. 250 kg 1,40 350,00 70.000,00 22,4
30.000 kg Cloreto 150 kg 1,00 150,00 30.000,00 9,6
300 lt Fertilizante líquido 0,500 lt 3,00 450,00 900,00 28,8
12.000 kg Semente 60 kg 2,00 120,00 24.000,00 7,7
100 lt Herbicida 0,500 lt 340,00 170,00 34.000,00 10,9
100 lt Inseticida 0,500 lt 260,00 130,00 26.000,00 8,3
100 lt Fungicida 0,500 lt 220,00 110,00 22.000,00 7,1
200 lt Outros insumos 1 lt 80,00 80,00 16.000 5,2
Total 1.560,00 312.000,00 100

Nota-se que o custo por hectare foi de R$ 1.560,00, num custo total de R$ 312.000,00
com insumos para a produção da soja.
Com relação às despesas financeiras, foram incluídos os gastos com juros de
financiamentos a pagar. No período referente à safra foram gastos R$ 16.666,67 relativos aos
juros, considerando o período da cultura da soja.
Outras despesas realizadas na safra 2016/2017 de soja na propriedade. Foram
incluídos itens como manutenção da colheitadeira, lubrificantes, combustível, energia elétrica,

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seguros e ITR (Imposto Territorial Rural), num total de R$ 50.500,00. Cumpre salientar que o
ITR corresponde a totalidade do valor no ano.

4.5 Identificação de produção e receita e demonstração dos custos de produção

A receita total foi de R$ 910.000,00, relativa a uma produção de 14.000 sacas de 60


kg. A abaixo 4 apresenta a demonstração dos custos de produção, fixos e variáveis, relativos à
safra de soja em 2016/2017.

Tabela 4 – Demonstração dos custos de produção – Safra de soja 2016/2017


Itens Custos (R$)
Fixos Variáveis
Insumos 312.000,00
Depreciação 41.064,17
Despesas financeiras 16.666,67
Mão-de-obra 28.000,00
Manutenção 10.000,00
Lubrificantes 3.000,00
ITR 1.800,00
Combustível 25.500,00
Seguros 9.000,00
Energia elétrica 1.200,00
Total 69.730,84 378.500,00
Total geral de custos 448.230,84

Observa-se que no total os custos foram de R$ 448.230,84 o que representa R$


2.241,15 de custos por hectare. Do total, R$ 69.730,84 são de custos fixos e R$ 378.500,00
de custos variáveis. O percentual de custos da produção da soja na propriedade representa 1%
dos custos fixos, e 84% dos custos variáveis. Os custos fixos representaram 16% do total dos
custos e os variáveis 84% do total dos custos da produção de soja na safra 2016/2017.
O percentual de diferenciação dos custos da produção da soja apresenta-se como o
principal custo fixo, representando 59% a depreciação das maquinas e equipamentos e 24% as
despesas financeiras. Já entre os custos variáveis os insumos são os mais significativos,
correspondendo a 82% do total, e 7% com combustíveis e lubrificantes.

4.7 Demonstração dos resultados

A demonstração do resultado da safra de soja em 2016/2017 é exposta na tabela 5.


Tabela 5 – Demonstração do resultado da safra de soja 2016/2017
Receita Operacional Bruta R$ 910.000,00
(-) Funrural R$ 29.930,00
(=) Receita Líquida R$ 880.070,00
(-) Custos variáveis R$ 378.500,00
(=) Lucro Bruto R$ 501.570,00
(-) Custos fixos R$ 69.730,84
(=) Lucro líquido total R$ 431.839,16
(=) Lucro líquido por hectare R$ 2.159,19

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De acordo com os dados levantados e apurados, o lucro líquido foi de R$ 431.839,16
sendo que dividindo pelo número de hectares plantados, obteve-se um lucro de R$ 2.159,19
por hectare com base na produtividade obtida na safra 2016/2017. Os percentuais dos custos
que incidem sobre a receita bruta, considerando que 81% diz respeito aos custos variáveis,
15% aos custos fixos e 4% ao Funrural.

4.7 Apuração da margem de contribuição e ponto de equilíbrio

Nesta seção se apresentado a identificação da margem de contribuição e seu respectivo


percentual sobre a receita total da propriedade na produção de soja 2016/2017. Para se
calcular a margem de contribuição é necessário deduzir os custos variáveis da receita líquida.
Observa-se que nessa safra a margem de contribuição foi de R$ 501.570,00, o que
representou 57% da receita líquida obtida.
Esse instrumento é muito importante na atividade agrícola como em qualquer
atividade produtiva, determinando qual a quantidade mínima a ser produzida ou qual o
faturamento necessário para que se consiga cobrir os custos de produção.
Para o cálculo do ponto de equilíbrio da propriedade em estudo, utilizou-se a seguinte
fórmula: PE = CFT / MC, onde:
PE = Ponto de Equilíbrio
CFT = Custo Fixo Total
MC = Margem de Contribuição

a) PEV = Ponto de Equilíbrio em Valor (R$)


MC = 57 / 100 = 0,57
PEV = 69.730,84 / 0,57
PEV = R$ 122.334,80

b) PEQ = Ponto de Equilíbrio em Quantidade (sacas)


MC = Valor pago por saca R$ 65,00 x 57% = 37,05
PEQ = 69.730,84 / 37,05
PEQ = 1.882,07 sacas de soja

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A grande importância da produção agrícola para a economia tem ampliando a


discussão acerca da representatividade das propriedades rurais e da necessidade que elas
tornem-se verdadeiras empresas para melhor gerenciar suas atividades, especialmente com
relação aos custos de produção e planejamento de ações ao longo das safras.
Além da falta de informação e controle, grande parte dos produtores rurais tem pouca
escolaridade e dificuldade para compreender as diversas variáveis envolvidas na produção e
que influenciam os resultados financeiros das safras. Por isso, este estudo trouxe um modelo
simplificado de análise de custos, voltado ao custeio direto ou variável, que pode servir de
base para a identificação dos principais elementos financeiros que fazem parte da safra
agrícola de soja.
Este estudo analisou o custo obtido na produção de soja em uma propriedade do
município de Tapejara/RS na safra 2016/2017, verificando que numa área cultivada de 200
hectares foram colhidos 14.000 sacas, com uma receita de R$ 910.000,00. Contudo, o lucro
líquido total foi de R$ 431.839,16, ou seja, R$ 2.159,19 por hectare, sendo os custos fixos e
variáveis contabilizados em 448.230,84, o que representa R$ 2.241,15 por hectare produzido.

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Os resultados observados mostram o quanto o levantamento dessas informações é
importante para gerar dados capazes de possibilitar a projetação das novas safras, bem como
possibilitar uma tomada de decisão mais segura com relação à atividade desenvolvida, como
por exemplo, investimentos na produção, financiamentos bancários, entre outros.
A adoção de estratégias de controle, adequado registro de informações a respeito dos
custos envolvidos, organização de notas de compra e outros documentos de pagamento
relativos à produção devem fazer parte do dia a dia das ações do produtor, fazendo com que
essa organização gere a possibilidade de fazer o levantamento dos custos, facilitando a
demonstração do resultado.
Dessa forma o objetivo do estudo proposto foi atingido, sendo que a sugestão é que a
propriedade mantenha o controle e análise de custos, melhorando as ações a partir de
processos de administração e gerenciamento, viabilizando ainda mais a produção de soja, tão
representativa nos resultados daquele empreendimento rural. Além disso, espera-se que o
modelo proposto neste trabalho, possa servir de exemplo para outros produtores, podendo ser
adaptado à realidade de outras propriedades rurais, e colaborando para uma melhor
organização das atividades. A necessidade de conhecimento do custo, receita, margem de
contribuição, derivada de cada atividade, tornam-se determinantes para a escolha de
alternativas pertinentes na escolha do sistema produtivo e nas estratégias a serem
desenvolvidas nas unidades de produção agrícolas.

Referências

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APROVEITAMENTO DA CASCA DE ARROZ (CA) NO MUNICÍPIO DE BAGÉ-RS
USE OF RICE HUSK (RH) IN BAGÉ-RS
Pérsio Muraro1, Caeverton de Oliveira Camelo2, Fabiula Arenhardt Denis3
Resumo
O arroz em casca pode ser considerado como sendo um dos principais grãos produzidos ao redor do mundo. Sendo
que o Brasil figurou entre os maiores produtores no ano de 2016, com a nona maior produção global, tendo o Rio
Grande do Sul (RS) com a maior parcela da produção brasileira nesse ano. No entanto, vale destacar que o
beneficiamento desse produto gera alguns resíduos, dentre estes, a casca do arroz, que representa aproximadamente
20% do total do arroz em casca produzido. Portanto, o objetivo desse estudo é identificar a destinação dos resíduos
provenientes do processo de beneficiamento de arroz nos engenhos do município de Bagé no Estado do Rio Grande
do Sul. Por meio de um estudo de multicaso, com entrevistas semiestruturadas foi possível identificar a destinação
da casca de arroz em quatro engenhos situados no município. Desse modo, observou-se que, em geral, esses
engenhos incineram a casca de arroz gerada no processo de beneficiamento, no intuito de geração de calor para a
etapa da secagem do arroz. Portanto, são necessárias medidas para que ocorra mais engajamento dos engenhos da
região na busca de outras destinações que sejam economicamente viáveis para o aproveitamento desse resíduo.
Palavras-chave: Beneficiamento do arroz. Engenhos de arroz. Multicaso.

Abstract
Rice paddy can be considered as being one of the main grains produced around the world. As Brazil was among
the largest producers in 2016, with the ninth largest global production, with Rio Grande do Sul (RS) having the
largest share of Brazilian production in that year. However, it is worth mentioning that the processing of this
product generates some residues, among them, the rice husk, which represents approximately 20% of the total of
rice paddy produced. Therefore, the objective of this study is to identify the destination of the residues coming
from the process of rice processing in the mills of the municipality of Bagé in the State of Rio Grande do Sul.
Through a multicase study, with semi-structured interviews it was possible to identify the use of rice husks in four
mills located in the municipality. In this way, it was observed that, in general, these mills incinerate the rice husk
generated in the beneficiation process, in order to generate heat for the rice drying step. Therefore, measures are
needed to increase the engagement of the mills in the region in the search for other destinations that are
economically viable for the use of this waste.
Keywords: Processing of rice. Rice mills. Multicase.

1 Introdução

De acordo com dados da Conab (2018) o Estado do Rio Grande do Sul (RS) detinha a
maior produção de arroz no brasil, em um total de pouco mais de 8,5 milhões de toneladas na
safra 2016/2017. Além disso, vale destacar que grande parte desse arroz produzido no RS tem
seu beneficiamento, que inclui a secagem, descascamento e embalagem realizada na próprio
Estado, onde, o beneficiamento, de maneira geral ocorre em engenhos regionais, próximos às
zonas de produção. A região da fronteira com a Argentina, a região Central e a região Sul do
Estado do RS são responsáveis pela maior parte da safra produzida, sendo que nessas
localidades estão concentradas as indústrias de beneficiamento (MIRANDA et al., 2016). Deste
processo de beneficiamento do arroz, resta a casca, subproduto que, para a indústria, nem
sempre tem uma destinação julgada como adequada o que pode se tornar um problema
ambiental a ser gerenciado.
Na indústria do arroz, a produção de casca pode se tornar um problema, mas também
pode ser uma fonte de renda extra para a indústria, pois seu aproveitamento, após a queima (na
forma de cinza) é importante em vários setores industriais, como na produção de cimento,
principalmente pelo alto teor de sílica que apresenta. Desse modo, o parque industrial do arroz
do município de Bagé/RS tem algumas iniciativas para aproveitamento da casca do arroz, as

1
Engenheiro de Produção/UNIPAMPA - persiomuraro@hotmail.com
2
Doutorando em Agronegócios/UFRGS – caeverton.camelo@ufrgs.br
3
Licenciatura em Ciências Biológicas/URCAMP - fabiuladenis@gmail.com
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quais incluem o reaproveitamento em caldeiras para queima e geração de calor na secagem de
grãos, venda para a indústria de cimento e utilização em farelo (SCHIEFELBEIN, 2010).
Destarte, a casca que pode se constituir em um problema para a agroindústria, é o tema
que será abordado neste trabalho, sendo assim, o objetivo central deste estudo é identificar a
destinação dos resíduos provenientes do processo de beneficiamento de arroz nos engenhos do
município de Bagé/RS.
A economia gaúcha tem um sustentáculo muito forte na agricultura, onde a rizicultura
se destaca como uma das principais responsáveis pela área de plantio, bem como pelo
incremento financeiro resultante de sua comercialização. No entanto, o impacto ambiental
resultante da sua produção, seja no que diz respeito à forma de cultivo em grandes áreas, manejo
constante de irrigação e drenagem provocam o desgaste no solo (RIGON, 2015).
Além disso, o coproduto do arroz, a casca, tem um processo de decomposição natural
muito vagaroso, impactando o meio ambiente quando sua deposição é feita de forma errônea.
Alocar este material muitas vezes é um desafio para os gestores, pois, de acordo com Ochôa e
Martins (2013), as indústrias de beneficiamento, geralmente, estão localizadas próximas aos
centros urbanos.
De acordo com Walter, Marchezan e Avila (2008), cerca de 20% de toda produção total
de arroz corresponde a sua casca. Sendo assim, ao levar-se em consideração a produção de arroz
em casca, de aproximadamente 741 milhões de toneladas no ano de 2016 (FAOSTAT, 2018),
sugere-se uma produção anual global de cerca de 148 milhões de toneladas desse resíduo em
2016. Ao analisar os efeitos poluidores desse subproduto do arroz, a casca, e as possibilidades
de uma correta deposição ou destinação final, com vantagens tanto ao meio ambiente como ao
produtor/beneficiador é importante, na medida que contribui para encontrar alternativas
economicamente viáveis e ambientalmente corretas para esse problema.

2 Importância da Cultura do Arroz

A cultura do arroz, e o próprio cereal, juntamente com seus subprodutos, podem ser
consideradas como importante fonte alimentar no mundo, existindo como suporte nutricional
em praticamente todo o planeta. Conforme Ayres et al. (2011), o Estado do Rio Grande do Sul
abriga aproximadamente 270 (duzentos e setenta) empresas de beneficiamento de arroz,
espalhadas em todas as regiões orizícolas do Estado gaúcho. Portanto, praticamente toda a
produção do Estado é beneficiada por estas indústrias, comumente conhecidas por engenhos de
arroz, que transformam a produção em grãos beneficiados para o consumo humano.
No entanto, a indústria também se utiliza do arroz para a produção de outros subprodutos
direcionados ao consumo humano, ou animal, como o farelo de arroz, largamente utilizado na
alimentação de suínos, bovinos e aves, na forma natural ou industrializado na forma de rações
(SAIDELLES et al., 2012).
Conforme Rigon (2015), a safra brasileira de grãos cresce ano a ano, destacando-se
como principais produtos neste contexto o arroz, o milho e a soja, que representam
aproximadamente 92% das estimativas da produção anual, sendo responsáveis por 85% da área
a ser colhida. Assim, estes três produtos representam uma das commodities de grande valor para
o país, em especial o arroz que alimenta a maior parte da população brasileira, tanto
diretamente, pelo seu consumo, quanto indiretamente, por sua parcela contributiva na produção
de rações.
Weber (2012) considera o arroz uma importante fonte de energia em virtude desse cereal
ter uma elevada concentração de carboidratos, principalmente amido, além de conter vitaminas
essenciais, minerais e proteínas, com uma característica muito importante: possui baixo teor de
lipídios. Desse modo, o autor o considera um componente importante na alimentação saudável,
contribuindo significativamente para o equilíbrio alimentar e nutricional.

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Quanto ao cultivo do arroz, Pereira (2013), menciona que a produção ocorre em todos
os continentes, tanto em regiões tropicais como temperadas, sendo a Ásia responsável por cerca
de 90% da produção global. Já no Brasil, destacam-se como maiores produtores os Estados do
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins, conforme informações da Figura 1 a seguir.

Figura 1 – Produção de arroz no Brasil

Fonte: Brasil (2017).

Os dados expostos destacam que a produção de arroz no Estado do Rio Grande do Sul
é a maior do Brasil, nesse sentido, Indicações da Secretária de Planejamento, Governança e
Gestão – SPGG (2018), destacam que, entre 2013 a 2015, a produção média de 25 municípios
desse Estado foi superior a 100.000 toneladas/ano, sendo que Uruguaiana, Itaqui e Santa Vitória
do Palmar, em conjunto, são responsáveis por 22% do total da quantidade produzida de arroz
no Estado (Figura 2).

Figura 2 – Mapa orizícola do Estado do Rio Grande do Sul

Fonte: SPGG (2018).

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Desse modo, há de se relatar, que de acordo com Silva e Wander (2014):

O arroz, considerado um dos alimentos com melhor balanceamento nutricional,


fornecendo 20% da energia e 15% da proteína ao homem, é uma cultura que apresenta
ampla adaptabilidade a diferentes condições de solo e clima, sendo a espécie com
maior potencial de aumento de produção e, possivelmente, de combate à fome no
mundo.

Portanto, como a produção de arroz em casca é elevada, e também, conforme destacado,


aproximadamente 20% da produção desse cereal é formado pela casca, a quantidade de casca
oriunda do beneficiamento do arroz também é elevada, sendo assim, pode ser considerada como
uma quantidade significativa de massa inerte que deverá ser depositada em algum lugar, ou
aproveitada de alguma forma pela indústria (VAZ; RESTLE, 2015).
Nesse sentido, em pesquisa realizada por Lorenzett, Neuhaus e Schwab (2012), em uma
unidade de produção no município de Santa Maria – RS, foram identificados que os resíduos
totais representam aproximadamente 34% do peso inicial do arroz, sendo a casca responsável
por 20%, enquanto o farelo e os grãos quebrados representam 9% e 5% respectivamente.
Portanto, de acordo com os mesmos autores, uma possível utilização da casca do arroz
(CA), poderia ser a queima dessa casca nos próprios engenhos, como fonte de energia para
secagem de grãos. Sendo assim, a partir da queima da CA, um outro subproduto é gerado, a
Cinza da Casca do Arroz (CCA). Como essa CCA é constituída de 96% de dióxido de silício,
Ferro, Silva e Wiebeck (2007) comentam que a mesma pode substituir o talco, como carga, na
indústria automotiva, mais especificamente na fabricação de autopeças, o que pode contribuir
para a diminuição de possíveis problemas ambientais.
Além disso, a CCA também foi utilizada em estudos como componente do cimento,
dando maior durabilidade e resistência ao concreto (ALMEIDA, 2010), onde a alocação na
composição do cimento Portland é de 20% de cinza de casca do arroz e que contribui para
minimização da emissão de CO2 (RIGON, 2015). Ainda na construção civil, destaca-se a
utilização da cinza da casca do arroz na fabricação de argamassas (SILVA; TASHIMA;
AKASAKI, 2007; BEZERRA et al., 2011).
Tratando-se das várias formas de destino os pesquisadores Lorenzett, Neuhaus e
Schwab (2012), destacam a fabricação de papel e sua utilização como fonte energética. Citam
ainda seu uso na indústria de processamento de sucos, misturada na prensagem das mesmas,
misturada uniformemente na polpa a ser triturada.
Em um estudo de caso, Saidelles et al. (2012), averiguaram a gestão de resíduos em
engenho de beneficiamento de arroz, no município de São Sepé/RS, os autores apuraram que a
casca do arroz fica armazenada em local aberto para posterior reutilização nas caldeiras da
própria empresa, sendo que a parte destinada a produtores e empresas de avicultura são
armazenadas em sacos para após serem transportadas. Ao mesmo tempo, a cinza resultante da
queima desse subproduto fica depositada ao ar livre no pátio da empresa para que os produtores
a transportem e utilizem, futuramente, como "adubo" em suas lavouras.
Já em um trabalho executado na região central do Estado do Rio Grande do Sul, Cechin
et al. (2013), identificaram que a casca do arroz resultante do processamento do grão é utilizada
em secadores do arroz em fornalhas substituindo a lenha, enquanto o que excede, isto é, aquilo
que o engenho não ocupa internamente, é retirada por empresas para uso em cama de aviários,
em forno de olarias e em baia de cavalos. Com base em outros achados de literatura, os autores
relatam o uso da casca como alimento (farinhas), isolamento térmico (construção civil),
artesanato e como biodiesel.
Cientistas também recomendam este tipo de aproveitamento pela perspectiva
econômica de destino da casca para atender a demanda de energia dos próprios engenhos, para

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aquecimento de caldeiras, economizando na conta de energia elétrica (OCHÔA; MARTINS,
2013). Já no Estado de Tocantins, os autores Fernandes, Bergamann e Valdés (2014) aferiram
o uso da casca do arroz na queima controlada nas empresas de cerâmica vermelha, em
substituição à lenha extraída do cerrado.
Além da possibilidade de utilização como combustível, para fins energéticos, tendo em
vista a pirolise rápida (ALMEIDA, 2010). Portanto, esse resíduo pode ser ainda utilizado como
fonte energética, a exemplo do que é feito com os resíduos de cana de açúcar e de madeira,
dado que conforme Mayer, Castellanelli e Hoffmann (2007, p. 72), “a geração termoelétrica
com biomassa residual, neste caso a casca do arroz, traz impactos positivos ao meio ambiente,
onde podemos destacar a mitigação de emissão de carbono da atmosfera.
Além do mais, a cinza da casca do arroz possui alta capacidade de adsorção e pode ser
obtida com um baixo custo, portanto Vlaev et al. (2011) afirmam que a mesma pode ser
utilizada, de maneira eficiente, como um adsorvente na limpeza de água de esgoto e em bacias
de água em que ocorreram derramamentos de óleo e derivados de petróleo.

3 Metodologia

Por meio de estudo de múltiplos casos nos engenhos do município de Bagé/RS, buscou-
se identificar a destinação dos resíduos provenientes do processo de beneficiamento de arroz,
mais especificamente a casca do arroz que fora beneficiado nos engenhos da região.
Desse modo, este estudo teve como base uma pesquisa qualitativa, dado que Martins
(2004, p. 289), define a pesquisa qualitativa como “aquela que privilegia a análise de micro
processos, através do estudo das ações sociais individuais e grupais, realizando um exame
intensivo dos dados, e caracterizada pela heterodoxia no momento da análise”. Sendo assim,
para Triviños (1987, p. 34):

As pesquisas qualitativas compreendem um conjunto de diferentes técnicas


interpretativas que visam a descrever e decodificar os componentes de um sistema
complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e explicar o sentido dos
fenômenos do mundo social. São estudos desenvolvidos no próprio local onde os
dados são produzidos e não se propõem a quantificar nem medir, mas sim interpretar
e compreender.

Os dados sobre a destinação da casca do arroz, nos engenhos no município de Bagé/RS,


foram levantados por meio de uma pesquisa de campo, alicerçada por entrevistas
semiestruturadas, com questões fechadas, aplicada aos gerentes das empresas pesquisadas.
Sendo que, para a análise dos dados dessa etapa, a partir da aplicação dos questionários, foram
descritas as respostas para cada um dos itens de pesquisa entre os engenhos analisados, onde
buscou-se responder o questionamento central desse estudo.
A população-alvo da pesquisa foram os engenhos do município de Bagé/RS que
beneficiam arroz a partir do arroz em casca e cujo principal resíduo desse processo é a casca.
Sendo que foram descartados da população as indústrias do ramo que apenas embalam o
produto já descascado.
Destaca-se que o município de Bagé/RS está localizado na região da Campanha, do
Estado do Rio Grande do Sul. Onde, de acordo com Ayres et al. (2011), a região da Campanha
possuía 27 engenhos de arroz, com produção total de 10.904.869 sacos, de 50 kg de arroz
beneficiado, no ano de 2008. O município de Bagé/RS, segundo a mesma fonte, possuía seis
engenhos, com uma produção de 2.316.224 sacos de 50 kg de arroz beneficiado no ano de 2008.
Assim, a amostra foi formada por um total de quatro engenhos de beneficiamento de arroz do
município, que responderam a um questionário que foi aplicado a todos os engenhos no mês de
maio de 2018.

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4 Resultados e Discussões

4.1 Industrialização do Arroz

A industrialização do grão de arroz em casca para fins de consumo é denominada de


beneficiamento, onde os produtos mais comuns, encontrados no mercado, disponíveis ao
consumidor, são: arroz branco tipo 1, arroz integral e arroz parboilizado (LORENZETT,
NEUHAUS, SCHWAB, 2012).
No entanto, cabe destacar que este processo industrial, de maneira geral, possui algumas
etapas, as quais variam conforme o produto de interesse. Segundo Walter, Marchezan e Avila
(2008) o arroz integral é obtido a partir, da simples, descascagem do arroz em casca, enquanto
que, se esse for polido para a remoção do farelo, se alcança o arroz branco tipo 1, sendo que
esse grão pode passar pelo processo de parboilização, ou seja um processo hidrotérmico, no
qual se obtém o arroz parboilizado.
Destaca-se que a película, presente no arroz integral, contém a maior concentração de
proteínas, minerais e vitaminas do complexo B, enquanto que essa camada é removida do arroz
branco tipo 1, pelo polimento, restando o germe coberto pelo endosperma, que faz com que
esse arroz seja rico em amido e também possua menos concentração da maioria dos nutrientes
(WALTER; MARCHEZA; AVILA, 2008).
O detalhamento do processo produtivo começa no recebimento da matéria prima, onde
o arroz em casca é inspecionado por amostras retiradas do meio de transporte utilizado. Nesta
etapa verifica-se características como qualidade e alguns percentuais a saber: impurezas, grãos
inteiros, nível de gesso e quantidade de grãos picados. Desta forma, a qualidade da carga que
chega é identificada e permite o armazenamento e pagamento correto da matéria prima. Após
este processo a matéria prima é alocada em alguma das moegas da indústria para que os
processos produtivos com aquele tipo de matéria sigam em frente.
Os procedimentos para que, especificamente o arroz branco tipo 1, que na visão de
Ramos (2017) é o mais consumido pelos brasileiros, chegue até a mesa do consumidor atende
de forma sucinta as seguintes etapas de acordo com Fontoura (2015):

Figura 3 – Processo de beneficiamento do arroz branco

Fonte: Fontoura (2015).

Já o arroz integral e o parboilizado, como citado, possuem diferenças no processo


produtivo do arroz branco, em vista que para o arroz integral o processo finaliza-se na etapa de
descascamento, enquanto que para o arroz parboilizado operações são adicionadas antes da
etapa de secagem (SAIDELLES et al. 2012).
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4.2 Estudo de Multicaso

Como citado, o município de Bagé possui um total de 6 (seis) engenhos que realizam o
beneficiamento do arroz. Portanto, nessa seção serão relatadas as respostas dos 4 (quatro)
engenhos que fizeram parte dessa pesquisa, sendo que serão tratadas como Engenhos A, B, C
e D. O Quadro 1 apresenta a síntese das informações coletadas na pesquisa.

Quadro 1 – Informações Levantadas pelo Estudo de Multicaso


ENGENHO
A B C D
Produção de arroz Não divulgou Não divulgou Não divulgou 15 mil/toneladas/ano
Produção de casca Não divulgou Não divulgou Não divulgou 3 mil/toneladas/ano
Impurezas oriundas
da lavoura, tais Impurezas como o
Cinzas procedentes Farelo de arroz e o
Resíduos como: restos capim arroz,
da queima canjicão
vegetais, terra e anjiquinho e corriola
palha
"Após separação e
classificação dos
Utilização dos mesmos, podem ser
Não se aplica Não mencionou Vende
Resíduos triturados e
agregados na
alimentação animal”
Queima em fornalha
Incinerada para a dos secadores” e o Queimada nos
produção de calor, “excedente é fornos secadores e
Geração de energia e
Utilização da CA contribuindo na destinado a destinada para o
produção de calor
etapa da secagem depósitos de casca aproveitamento em
do produto licenciados pelo fábricas de cimento
órgão ambiental”
Estudos para
implantação de
Sim, mas altos Não existe projetos
Investimentos em Usina Geradora de
valores foram em discussão na Sem disposição
outras utilizações Energia, no entanto,
entrave empresa
existem os altos
custos
Falta de consenso
Investimento Entraves
Não buscou entre as empresas Não buscou
conjunto burocráticos
da região
Fonte: Os autores (2018).

O Engenho A possui dados da produção de arroz, bem como os dados da produção dos
resíduos, no entanto, a empresa optou por não divulgar esses dados. Destaca-se ainda que além
da casca do arroz, os outros resíduos gerados no beneficiamento de arroz são impurezas
oriundas da lavoura, tais como: restos vegetais, terra e palha. Vale destacar a empresa realiza o
controle dos resíduos, onde “os volumes devem ser retirados conforme a necessidade que se
busca, limpeza ou pré-limpeza” (Entrevistado 1).
Observa-se ainda que os resíduos gerados são em grande parte reaproveitados na
empresa, onde “após separação e classificação dos mesmos, podem ser triturados e agregados
na alimentação animal” (Entrevistado 1), enquanto que a casca do arroz é aproveitada em quase
totalidade na geração de energia e produção de calor.
Em relação ao investimento em novas tecnologias para viabilizar um destino
“ecologicamente correto” para a casca do arroz, o gestor do Engenho A afirmou que a empresa
já pensou em investir, no entanto, os altos valores envolvidos inviabilizaram isto, e, além disso,
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não se buscou outras empresas do ramo na busca de possíveis parceiras na busca do objetivo
comum.
Assim como o Engenho A, o Engenho B também possui os dados de produção, além
dos dados de geração de resíduos no beneficiamento do arroz, mas optou pela não divulgação
dos mesmos. Esse engenho destaca que além da casca do arroz, o outro resíduo gerado durante
o beneficiamento são as cinzas procedentes da queima, ou seja, as cinzas da casca do arroz
(CCA), onde o gestor destaca que é realizado o controle de todos os resíduos. Vale frisar que
todos os resíduos são aproveitados na empresa, dado que a casca do arroz é incinerada para a
produção de calor, contribuindo na etapa da secagem do produto.
O gestor relata que até o momento não existe um projeto tecnológico para
aproveitamento da casca e que na região não existe um consenso entre as empresas para o
correto aproveitamento desse resíduo.
Já o Engenho C, assim como os anteriores, optou também por não divulgar os dados
tanto da produção de arroz quanto da geração de resíduos, sendo que a empresa possui os
mesmos, assim como é realizado o controle dos resíduos, que nesse engenho foram relatados,
além da casca do arroz, o farelo de arroz e o canjicão. Vale ressaltar que “a casca do arroz é
utilizada para a queima em fornalha dos secadores” e o “excedente é destinado a depósitos de
casca licenciados pelo órgão ambiental” (Entrevistado 3). Segundo esse gestor, foram
realizados estudos para implantação de Usina Geradora de Energia, no entanto os altos custos
para a implantação se tornaram o maior entrave. Além disso, entraves burocráticos inviabilizam
o investimento em conjunto com outras empresas, de acordo com o gestor.
Por fim, o Engenho D afirmou que a sua produção gira em torno de 15.000 (quinze mil)
toneladas por ano, enquanto que a casca do arroz representa 20% desse total, ou seja, 3.000
(três mil) toneladas por ano. Além da casca do arroz, o gestor destaca que os outros resíduos
gerados são impurezas como o capim arroz, anjiquinho e corriola, sendo que a empresa vende
esses resíduos que são rejeitos na máquina eletrônica.
Já a casca do arroz, em um montante de aproximadamente 20% é queimada nos fornos
secadores, enquanto que o restante é direcionada para o aproveitamento em fábricas de cimento
na região. Segundo o gestor, a empresa, no momento, não está disposta em investir em novas
tecnologias para a destinação da casca do arroz e também não procurou possíveis parcerias.

5 Considerações Finais

Considerando todos os dados coletados, o estudo atingiu o seu objeto inicial, tendo em
vista que se identificou a destinação dos resíduos provenientes do processo de beneficiamento
de arroz nos engenhos do município de Bagé – RS, onde grande parte da casca do arroz é
destinada ao processo de queima para geração de calor, a ser utilizada no processo de secagem
do produto. Vale ainda destacar que apenas 1 (um) engenho, o Engenho C, afirmou estar
buscando a implantação de um projeto de usina geradora de energia, mas esbarra nos altos
custos de implantação como entrave.
A limitação do presente estudo consiste na realização da entrevista em somente 4
(quatro) engenhos do município de Bagé – RS, onde para estudos futuros sugere-se a
investigação da totalidade dos engenhos situados no município. Esse estudo ainda poderia ser
expandido, em vista que a pesquisa poderá ser realizada em engenhos da região da Campanha
do Estado do Rio Grande do Sul, afim de investigar se o que fora observado se estende aos
demais engenhos, bem como a análise do ambiente institucional inerente a cadeia produtiva do
arroz no Estado.
Outra questão relevante a ser investigada, como sugestão para estudos futuros, é a
realização de uma revisão sistemática da literatura, no intuito de investigar quais as destinações
dos resíduos da casca do arroz são realizadas em convergência à busca por destinos

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ecologicamente sustentáveis e economicamente viáveis, além da avaliação do aproveitamento
energético da casca do arroz, como possível solução, conforme foi abordado pelo gestor do
Engenho C, para quer as mesmas possam ser utilizadas pelos engenhos da região.

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Resumo
O arroz em casca é um dos principais grãos produzidos no mundo, sendo o Brasil o nono maior produtor no ano
de 2016. Nesse contexto, o Rio Grande do Sul (RS) possui a maior parcela da produção brasileira, com 70,8%. No
entanto, o beneficiamento desse produto gera alguns resíduos, dentre estes, a casca, que representa
aproximadamente 20% do total do arroz em casca produzido. Portanto, o objetivo desse estudo é identificar, na
literatura, estudos que tratam da utilização desse resíduo de maneira que seja considerada ecologicamente
sustentável. Por meio de uma revisão bibliométrica, foi possível identificar um total de cinquenta e uma
publicações que ressaltam a destinação ecologicamente sustentável da casca do arroz, além de que é um tema que
vem sendo cada vez mais explorado ao longo dos últimos anos. Desse modo, observou-se que o tema é bastante
discutido na literatura internacional, sendo que possuem algumas publicações nacionais inseridas nesse meio, o
que demonstra a relevância da investigação aprimorada desse tema, para que ocorra investimentos em novos meios
de destinação desse resíduo, que sejam ecologicamente sustentáveis, mas que se apresentem resultados
economicamente viáveis.
Palavras-chave: Arroz em casca. Beneficiamento do arroz. Casca do arroz.

Abstract
Rice paddy is one of the main grains produced in the world, with Brazil being the ninth largest producer in 2016.
In this context, Rio Grande do Sul (RS) has the largest share of brazilian production, with 70.8%. However, the
processing of this product generates some residues, among them the husk, which represents approximately 20%
of the total of the rice paddy produced. Therefore, the objective of this study is to identify, in the literature, studies
that deal with the use of this residue so that it is considered to be ecologically sustainable. Through a bibliometric
review it was possible to identify a total of fifty one publications that highlight the ecologically sustainable
destination of the rice husk, in addition to being a topic that has been increasingly explored throughout the last
years. In this way, it was observed that the topic is well discussed in the international literature, and they have
some national publications inserted in this scenario, which demonstrates the relevance of the improved
investigation of this theme, so that investments in new means of destination of this residue, that are ecologically
sustainable, but that present economically feasible results..
Keywords: Rice paddy. Processing of rice. Rice husk.

1 Introdução

O Rio Grande do Sul (RS) é o Estado com maior produção de arroz do Brasil,
respondendo por aproximadamente 70,8% do total da safra nacional em 2016/2017, que foi de
12,3 milhões de toneladas (CONAB, 2018). Sendo assim, o arroz é um dos principais produtos
no contexto agrícola do Estado, junto à soja e o trigo, representando uma commodity de grande
importância para o país.
A maior parte do arroz produzido no Estado do RS tem seu beneficiamento, que inclui
a secagem, descascamento e embalagem realizada no próprio Estado, em geral, em engenhos
regionais, próximos às zonas de produção. Conforme Miranda et al. (2016), a região da fronteira
com a Argentina, a região Central e a região Sul do Estado do RS são responsáveis pela maior
parte da safra produzida, e nestas estão concentradas as indústrias de beneficiamento. Vale
destacar que deste processo, resta a casca, subproduto que, para a indústria, nem sempre tem
uma destinação que possa se considerar adequada, sendo um problema ambiental a ser
gerenciado.

1
Engenheiro de Produção/UNIPAMPA - persiomuraro@hotmail.com
2
Doutorando em Agronegócios/UFRGS – caeverton.camelo@ufrgs.br
3
Licenciatura em Ciências Biológicas/URCAMP - fabiuladenis@gmail.com
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Como a sua deterioração no ambiente é demorada, seu aproveitamento como elemento
de adubação não é economicamente viável, haja vista o transporte de volta ao campo produtivo.
Por outro lado, a queima para secagem do arroz nem sempre é possível porque este processo
possui baixa intensidade calorifica, o que pode acabar demorando na secagem do mesmo
(GUERRINI; TRIGUEIRO, 2004; FOLETTO et al., 2005; POUEY, 2006).
Alguns estudos vêm buscando informações e alternativas para o aproveitamento da
casca do arroz resultante do beneficiamento do produto. Ochôa e Martins (2013) apontam a
deposição a céu aberto pelos próprios produtores, sendo a mesma reintegrada ao solo como
adubo. No entanto, o tempo de decomposição é de cinco anos e a emissão de metano é alta, o
que se constitui um problema de poluição ambiental. Ao mesmo tempo, a queima não
controlada, outro destino dado a este resíduo, implica em emissão de grandes quantidades de
monóxido e dióxido de carbono.
Frente ao problema das questões ambientais, cada vez mais importantes, o
aproveitamento dos resíduos gerados pela produção industrial é uma necessidade das
organizações modernas. Na indústria do arroz, a produção de casca pode se tornar um problema,
mas também pode ser uma fonte de renda extra para a indústria, pois seu aproveitamento, após
a queima (na forma de cinza) é importante em vários setores industriais, como na produção de
cimento, principalmente pelo alto teor de sílica que apresenta.
Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi identificar, na literatura, estudos que tratam
da utilização desse resíduo de maneira que seja considerada ecologicamente sustentável, onde
com a revisão bibliométrico buscou-se demonstrar o panorama das publicações relacionadas ao
tema.

2 Produção e Beneficiamento do Arroz

A agricultura e a pecuária são as responsáveis pela alimentação da população mundial,


fornecendo os nutrientes necessários para a sobrevivência e saúde do ser humano. O arroz
(Oryza sativa) é um dos produtos agrícolas mais importantes do mundo, responsável por grande
parte da alimentação, sendo o alimento básico de mais da metade da população mundial
(WALTER; MARCHEZAN; AVILA, 2008). Julga-se dificultoso precisar a origem do cultivo
do arroz como cultura para alimentação humana, sendo que de acordo com Schiefelbein (2010,
p. 8), “as referências mais concretas, entretanto, remontam ao ano de 2822 a.C., durante a
célebre cerimônia instituída pelo imperador da China, que consistia em semear, ele próprio,
anualmente, as sementes de arroz”.
Já na Índia, sua utilização como alimento remota de muito tempo, havendo referência a
esse alimento em todas as escrituras hindus. No trabalho de Schiefelbein (2010) duas formas
silvestres são descritas como as precursoras do arroz cultivado: a Oryza rufipogon, com origem
na Ásia, que deu origem a variedade O. sativa; e a Oryza barthii (Oryza breviligulata), que tem
raízes na África Ocidental, e que originou a variedade O. glaberrima. O gênero Oryza é o mais
rico e importante da tribo Oryzeae, englobando aproximadamente 23 espécies, que se espalham
de maneira espontânea nas regiões tropicais da Ásia, África e Américas. A espécie O. sativa é
considerada polifilética, resultante do cruzamento de formas espontâneas variadas. Conforme
Walter, Marchezan e Avila (2008, p. 1185), a composição do arroz in natura:

Consiste da cariopse e uma camada protetora, a casca. A casca, composta de duas


folhas modificadas, a pálea e a lema, corresponde a cerca de 20% do peso do grão. A
cariopse é formada por diferentes camadas, sendo as mais externas o pericarpo, o
tegumento e a camada de aleurona, que representam 5-8% da massa do arroz integral.

Segundo dados do Faostat (2018), a produção de arroz em casca na safra 2015/2016, a


nível mundial, foi de 740,96 milhões de toneladas, sendo que a China foi o maior produtor

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mundial do cereal, com aproximadamente 191,22 milhões de toneladas, seguido pela Índia,
com 138 milhões e Indonésia, com 58,4 milhões de toneladas. A Figura 1, a seguir, apresenta
a participação de cada um dos principais países produtores mundiais de arroz na safra
2015/2016, onde demonstra-se a grande participação do continente asiático.

Figura 1 - Mapa mundial do arroz

Fonte: Grupo Ceolin (2018).

Já o Brasil, com 1,7% de participação na produção mundial de arroz, é o 9º (nono) maior


produtor mundial, com uma produção de 11,1 milhões de toneladas de arroz em casca na safra
2015/2016 (FAOSTAT, 2018). De acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), expostos por Ayres et al. (2011), cada brasileiro consome, em
média, 46 kg de arroz por ano, tendo-se como base o arroz em casca. No entanto, há uma
estagnação do consumo per capita, crescendo apenas em relação ao aumento populacional do
país. Destaca-se neste contexto, o arroz branco tipo 1 como o principal produto consumido
pelos brasileiros, tendo em vista que boa parte do consumo do arroz in natura refere-se à
alimentação animal, também.
Destarte, vale destacar que:

o arroz é plantado em diversas regiões do planeta, por ser um produto básico, presente
na mesa do cidadão no dia-a-dia, tornou-se destaque em muitos países, movendo a
gastronomia, por ser rico em proteínas, a economia e a criação de novas ideias
(OCHÔA; MARTINS, 2013, p. 07).

Contudo, para que se possa ter esse consumo, é necessário que haja uma grande
produção, com posterior beneficiamento, sendo então, encaminhado ao comércio para chegar,
finalmente, ao consumidor final, ou seja, existe uma cadeia produtiva ligada diretamente a esse
produto, dado que uma cadeia produtiva pode ser definida como um agrupamento de elementos
que interatuam em um processo produtivo, com vistas ao oferecimento de produtos ou serviços
ao consumidor final que fica na ponta de cada cadeia (SILVA, 2005).

2.1 Geração de Resíduos

Os resíduos oriundos do processo de industrialização do arroz são diversos se levados


em consideração a cadeia produtiva do arroz em uma maneira global, desde a entrada dos
insumos até a saída dos produtos. Em pesquisa realizada por Saidelles et al. (2012) onde todo
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o processo de beneficiamento do arroz foi mapeado foram elencados um total de 21 resíduos
sólidos gerados. No entanto, como o trabalho em questão está interessado, especificamente, no
resíduo proveniente do grão de arroz é preciso inicialmente entender a estrutura do grão
(FONTOURA, 2015). Segundo Rocha (1998) um grão é formado pelo endosperma parte
denominada de grão polido, pelo farelo e pela casca. A camada mais externa é chamada de
casca e sua formação tem três principais componentes orgânicos: celulose, lignina e
hemicelulose (FOLETTO et al., 2005).
O resíduo denominado casca do arroz, surge quando a casca é separada do restante do
grão pelos descascadores, enquanto que o brunimento dá origem a outro resíduo, o farelo, que
é a camada mais interna da estrutura do arroz. Ainda como subproduto durante o processo
produtivo obtém-se os grãos quebrados chamados de “quirera”. Portanto, o beneficiamento do
arroz gera três resíduos principais: o farelo, a quirera e a casca. Por possuírem maior valor
agregado o farelo e a quirera normalmente são vendidos para fabricação de ração animal. Já a
casca não tem relevantes fatores nutricionais, no entanto, entre algumas das alternativas
convencionais está a sua combustão sendo uma técnica muito empregada (LORENZETT;
NEUHAUS; SCHWAB, 2012).
Destarte, a produção de arroz beneficiado resulta em uma produção de
aproximadamente 20% de resíduos da casca que dificilmente são devolvidos à região produtora
(lavouras), necessitando ter uma adequada destinação e não serem depositados no solo, de
forma descontrolada. Conforme Walter e Rossato (2010), como esse resíduo leva,
aproximadamente, cinco anos para se decompor, as toneladas geradas pelo beneficiamento nos
engenhos necessitam de uma destinação e tratamentos adequados.
Ainda de acordo com Walter e Rossato (2010, p. 33) “dependendo da forma de destino
podem gerar danos ambientais. Quando depositadas diretamente no solo, em terrenos a céu
aberto, causam impactos ambientais negativos”. Nesse sentido, a crescente preocupação com a
qualidade ambiental tem levado várias organizações a buscarem alternativas tecnológicas que
contribuam para o desenvolvimento econômico, social e ambiental de forma sustentável, por
meio da minimização dos impactos negativos potenciais dos seus produtos e operações na
sociedade.
Zago (2010), comenta que a destinação adequada dos resíduos do agronegócio, onde se
inclui o aproveitamento da casca do arroz, em diversas possibilidades industriais, contribui
sobremaneira para minimizar os efeitos danosos da deposição inadequada dos referidos
resíduos, no entanto, em relação a fiscalização ambiental referente a destinação dos resíduos
gerados. No agronegócio, diversos materiais que incluem restos de lavouras ou sobras de
produtos processados no ambiente rural ou nas indústrias próximas, além de dejetos animais,
tem destinação inadequada, resultando em danos diversos ao ambiente, como poluição e
degradação dos solos e águas. Por isso, Mayer, Hoffmann e Ruppenthal (2006, p. 101)
argumentam que “um destino a ser dado a esses subprodutos agroindustriais torna-se
imperativo, com o objetivo de solucionar os problemas ambientais existentes, na medida em
que a sociedade busca o desenvolvimento sustentável”.
Informações da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) indicam que a
grande quantidade de resíduos sólidos resultantes da produção de arroz, que decorrem de seu
processamento e beneficiamento, são identificados como casca do arroz e cinzas resultantes da
queima de casca do arroz, que são fontes de poluição e contaminação, causando impactos no
meio ambiente e na saúde humana (FEPAM, 2011).
3 Procedimentos Metodológicos

Esse estudo consistiu em uma revisão bibliométrica, sem intervenção do pesquisador,


no sentido de buscar informações sobre o tema em debate, que, no caso, é a busca pelos estudos
que tratam da destinação dos resíduos provenientes do processo de beneficiamento de arroz
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(casca) em convergência com a busca de soluções que sejam favoráveis ecologicamente e
também economicamente viáveis.

Portanto, tratar-se-á de uma pesquisa exploratória, metodologicamente definida por Gil


(2017, p. 41) como uma pesquisa que:

Tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a
torna-lo mais explícito ou construir hipóteses. A grande maioria dessas pesquisas
envolve: levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado, e análise de exemplos que
estimulem a compreensão.

Destaca-se que a análise bibliométrica, “é um método de análise quantitativa para a


pesquisa científica. Os dados elaborados por meio dos estudos bibliométricos mensuram a
contribuição do conhecimento científico derivado das publicações em determinadas áreas”
(SOARES et al., 2016, p. 175).
O levantamento de dados deste estudo foi realizado por meio de ferramentas de pesquisa
da internet, tais como trabalhos indexados nas bases de dados da Scopus, considerando as
publicações nacionais e internacionais, sem um período de tempo pré-fixado, tendo como
palavras-chave para a busca: “rice husk” and “ecological*”, sendo que nessa etapa realizou-
se uma análise bibliométrica, onde utilizou-se a 1ª Lei da Bibliometria (Lei de Zipf) que se
refere a incidência de palavras no texto (BUFREM; PRATES, 2005). Os resultados da pesquisa,
coletados no mês de junho de 2018, foram expressos por meio de gráficos, formatados a partir
do software Microsoft Office Excel versão 365;

4 Resultados e Discussões
A revisão bibliométrica, conforme exposto, foi realizada no intuito da busca de
publicações que descrevem a utilização da casca do arroz de uma maneira julgada como
“ecologicamente correta”. Para tanto, buscou-se na base de dados do Scopus os termos: “rice
husk” and ecological* em uma pesquisa que abrangeu o título, resumo e/ou palavras-chave. A
Figura 2, a seguir, apresenta os dados da quantidade de publicações relacionadas a cada um dos
termos, bem como a quantidade dos termos quando pesquisados em conjunto.

Figura 2 – Quantidade de publicações relacionadas a pesquisa de cada um dos termos

Fonte: Os autores (2018).

Conforme exposto na Figura 2, foram encontrados um total de cinquenta e uma


publicações com os termos pesquisados, sendo que a primeira se deu no ano de 1991. Observa-
se ainda o número crescente de publicações, com o ápice ocorrido em 2015, onde ocorreram 8
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(oito) publicações. A Figura 3 apresenta os dados das evoluções dos resultados de pesquisa ao
longo dos anos.
Figura 3 – Distribuição temporal das publicações

Fonte: Os autores (2018).

Há de se destacar que, conforme observado na Figura 4 a seguir, a maior parcela de


publicações se deu no formato de artigos, com um total de 40 (quarenta) publicações, enquanto
que foram observados 5 (cinco) artigos publicados em eventos, 3 (três) títulos de eventos, 2
(duas) publicações foram caracterizadas como revisão e apenas 1 (um) capítulo de livro.

Figura 4 – Tipo de publicação

Fonte: Os autores (2018).

Já a Figura 5 apresenta os dados relacionados as áreas de conhecimento das publicações,


evidenciando um total de 15 (quinze) áreas distintas, nas quais a área de engenharia possui o

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maior número de publicações (17), seguido pelas ciências agrárias e biológicas com 15 (quinze)
publicações.

Figura 5 – Principais áreas do conhecimento das publicações sobre o tema

Fonte: Os autores (2018).

Verifica-se assim a multidisciplinariedade das publicações sobre o tema investigado, o


que demonstra que esse tema circula em distintas áreas do conhecimento. Portanto, observa-se
que este assunto desperta o interesse dos pesquisadores de diversos campos de estudo, o que
acaba por direcionar as investigações sob diferentes abordagens, podendo ter diferentes
aplicabilidades.

Figura 6 – Autores com mais publicações sobre a questão ecológica da casca do arroz

Fonte: Os autores (2018).

Sob a perspectiva da Lei Bibliométrica de Lotka, em específico, em relação a


produtividade dos autores, destaca-se que que poucos autores publicam muitos artigos sobre
determinado tema, ao passo que muitos autores publicam poucos artigos sobre um tema
específico (ALVARADO, 2002; 2008). Nesse sentido, destaca-se que os autores Dimitrov,
Genieva, Petkov e Vlaev foram responsáveis pelo maior número de trabalhos publicados, em

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um total de 3 (três) publicações para cada um deles, enquanto que um total de 155 (cento e
cinquenta e cinco) autores possuem somente 1 (uma) publicação, conforme os dados
observados na Figura 6.
Conseguinte, averiguou-se as Instituições de Ensino Superior nas quais os autores destas
publicações estão vinculados. Os resultados obtidos demonstraram a predominância de 4
(quatro) instituições, Bourgas Prof. Assen Zlatarov University, Universiti Teknologi MARA,
Chinese Academy of Sciences e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sendo
representadas por 2 (dois) autores cada uma delas. Vale destacar a presença da UFSM, uma
universidade situada no Estado do Rio Grande do Sul (RS), entre as que mais possuem autores
que pesquisam o tema. Destaca-se ainda que, 87 (oitenta e sete) outras instituições foram
elencadas, sendo que as mesmas possuem apenas 1 (um) autor afiliado. A Figura 7 apresenta
os dados citados.

Figura 7 – Afiliação dos Autores

Fonte: Os autores (2018).

Isto posto, realizou-se o levantamento do país de origem dos autores, constatando que
estes possuem 29 (vinte e nove) nacionalidades distintas. Observou-se que aproximadamente
13,43% dos autores são brasileiros, ou seja, 9 (nove) autores, enquanto que a China possui 6
(seis) autores, perfazendo um total de 8,96% dos autores e a Malásia, com 5 (cinco) autores,
possui 7,46%. Destaca-se também que 5,97% dos autores não identificaram sua nacionalidade,
a mesma porcentagem de autores dos Estados Unidos (EUA). Destarte, averiguou-se que a
maioria das publicações sobre a questão ecológica da casca do arroz são de origem brasileira,
o que pode evidenciar que o tema vem sendo bem discutido no cenário nacional.
5 Considerações Finais
Considerando todos os dados coletados, o estudo atingiu o seu objeto inicial, tendo em
vista que se identificou, na literatura, estudos que tratam da utilização desse resíduo de maneira
que seja considerada ecologicamente sustentável, através da pesquisa bibliométrica que fora
realizada.
De fato, a utilização ecológica desse resíduo é um tema de pesquisa a ser aprofundado,
sendo que foram encontradas 51 (cinquenta e uma) publicações relacionadas ao tema, que
demonstram a multidisciplinaridade do tema, ou seja, o assunto é abordado em diversos campos
de pesquisa e esses resíduos podem ter diversas aplicabilidades que se julguem ecológicas e
que também possam ser economicamente viáveis com retornos a longo prazo.

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Destaca-se também a presença de estudos nacionais, dentre todas as publicações
observadas desde 1991, onde o Brasil possui o maior número de autores que investigam o tema
e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) aparece como a instituição de afiliação de
dois autores.
Desse modo, como sugestão para estudos futuros, sugere-se a realização da revisão
sistemática da literatura encontrada nesse estudo, no intuito de investigar quais as destinações
dos resíduos da casca do arroz são realizadas em convergência à busca por destinos
ecologicamente sustentáveis e economicamente viáveis.

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Caracterização das publicações científicas acerca da educação musical na
escola rural
Characterization of scientific publications about music education in rural
school
Saulo Bentes Saraiva1, Caroline Estefanie do Amaral Brasil Saraiva 2.

Resumo
Atualmente, o papel da educação musical, como ferramenta de desenvolvimento, tem sido discutido no mundo.
Assim, se fez necessário identificar as características das produções científicas a cerca da educação musical na
escola rural. Portanto, a pesquisa envolveu a utilização de levantamento bibliométrico, cujo portfólio foi
composto por documentos publicados na base de dados Scopus totalizando vinte e seis trabalhos. Os resultados
mostram que a primeira publicação foi em 1983 e, a partir do ano de 2005, as publicações anuais foram mais
constantes. Foram identificados 14 periódicos, um livro e uma conferência internacional, sendo o maior destaque
Journal of Research in Music Education. Referente à localização, o país de maior expressão é os Estados Unidos
com dezesseis artigos. Já às áreas do conhecimento, os documentos contemplam seis áreas, destacando “Ciências
Sociais” 24 documentos e “Artes e Humanidades” 22. Já para as principais palavras-chave, o termo de maior
destaque é “music education”, além dos termos “Education Funding”, "Educational Leadership", "Elementary
Music Education", "Music Teacher Education", "Music Technology" e "Rural Education". Quanto à nuvem de
palavras, o termo que mais aparece no título também é “music education”, seguido por “school”, “rural”,
“community”, “teachers”, “programs”, “arts”, “children” e “musical”. No conteúdo dos resumos, além das
palavras apresentadas do título, são descritas as palavras “student”, “study”, “learning”, “instruction” e “online”.
Vale destacar que termos remetentes a tecnologia como “online” e “Music Technology” foram identificados,
indicando que a educação musical pode ser acessível através do meio digital, inclusive nas áreas rurais.

Palavras-chave: Educação Musical, Educação Rural, Tecnologia musical.

Abstract
Currently, the role of music education, as a development tool, has been discussed in the world. Thus, it was
necessary to identify the characteristics of the scientific productions about the musical education in the rural
school. Therefore, the research involved the use of a bibliometric survey, whose portfolio was composed of
documents published in the Scopus database totaling twenty-six papers. The results show that the first
publication was in 1983 and, as of year 2005, the annual publications were more constant. Fourteen journals,
one book and one international conference were identified, the most prominent being Journal of Research in
Music Education. Regarding location, the country of greatest expression is the United States with sixteen
articles. In the area of knowledge, the documents cover six areas, highlighting "Social Sciences" 24 documents
and "Arts and Humanities" 22. For the main keywords, the most prominent term is "music education", in
addition to the terms " Education Funding "," Educational Leadership "," Elementary Music Education ","
Music Teacher Education "," Music Technology "and" Rural Education ". As for the word cloud, the term that
most appears in the title is also "music education", followed by "school", "rural", "community", "teachers",
"programs", "arts", "children", and "Musical". In the content of the abstracts, in addition to the words presented
in the title, the words "student", "study", "learning", "instruction" and "online" are described. It should be noted
that terms referring to technology such as "online" and "Music Technology" have been identified, indicating that
music education can be accessible through the digital medium, including in rural areas.
Keywords: Music Education, Rural Education, Music Technology.

1 Introdução
A construção de uma nova consciência musical torna-se necessária para se pensar a
educação musical do campo a partir da realidade dos camponeses e ao mesmo tempo
transformando-a conscientemente (SANTANA, 2017). A educação musical na escola do
campo pode fortalecer a identidade, as relações do grupo, a possibilidade de se ver como

1Graduando em música (UFRGS) - saraivalevita_12@hotmail.com


2
Doutoranda em Agronegócios (UFRGS), mestre em Administração (UFRO) - karol.estefanie@gmail.com.
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481
sujeito e se libertar de estigmas sociais e assumir um papel que por vezes é tirado do jovem
camponês, em seus direitos fundamentais de humanidade. Onde, há necessidade de se ter
práticas culturais capazes de formar sujeitos de um campo onde a perspectiva não se daria
como um ambiente apenas de produção agropecuária, mas um lugar de bem-viver, onde a
música ocupa uma posição fundamental na constituição de identidade camponesa (PEREIRA,
2016).
A educação musical possui a função de abrir novas possibilidades para que o
relacionamento do homem com a música desenvolva progressos dentro da educação escolar e
formação integral/global, podendo dialogar com as mais diversas áreas da ciência,
estimulando projetos multidisciplinares (FRANÇA, 2010). Desse modo a academia tem
contribuindo com estudos que visam dar suporte a esse segmento da educação que está em
constante transformação.
Com vistas a isso, a investigação realizada teve como objetivo identificar as
características das publicações científicas sobre educação musical na escola rural, enfatizando
os periódicos onde são divulgadas, distribuição temporal, os países onde foram desenvolvidas,
além das principais temáticas e dos autores.
Desse modo, realizou-se o levantamento bibliométrico cujo portfólio foi composto por
documentos publicados na base de dados Scopus, a partir de determinados critérios e filtros
para seleção, considerando as leis da bibliometria.
Assim, além da introdução, o artigo é composto por mais quatro sessões. O referencial
teórico, onde se expõem acerca da educação musical e sua representatividade no âmbito da
escola rural. O método descreve os procedimentos metodológicos de pesquisa empregados e,
conseguinte, a análise e discussão dos resultados. Por fim, expõem-se as considerações finais,
que abrangem as limitações do estudo e sugestões para investigações futuras.

2 Referencial Teórico

2.1 Educação Musical


O ser humano pode ser considerado um ser musical, por nascer com mecanismos
necessários para o desenvolvimento da sua musicalidade. É possível que o ser humano
desenvolva sua musicalidade tendo como protagonista nesse processo, o meio na qual ele está
inserido, sendo que, a musicalidade possui universalidades e particularidades, inseridas no
contexto sociocultural (CUERVO; MAFFIOLETTI, 2015).
A educação musical possui a função de abrir possibilidades para que o
relacionamento do homem com a música desenvolva progressos dentro da educação escolar e
formação integral/global, podendo dialogar com as mais diversas áreas da ciência,
estimulando projetos multidisciplinares, pois toda peça musical é um produto social, cultural,
temporal, contém relações matemáticas, espaciais e acústicas, admitindo incursões pela
história, geografia, religião, ciência, artes, dança, cinema e cultura. A música está em todo
lugar, e por essa razão, deve tomar lugar na Educação Básica (FRANÇA, 2010).
Com isso, a música é uma ferramenta valiosa quando se fala em desenvolvimento,
pois quando o assunto é aprendizagem sabe-se que ela pode beneficiar o aluno em varias
questões como, por exemplo, socialização, desenvolvimento da linguagem, cognitivo e motor
(ALGAYER; TRUGILLO, 2013), além de ser elemento importante para estabelecer a
harmonia pessoal, facilitando a integração e a inclusão social (FREITAS et al., 2015).
Para Cuervo (2016) as práticas pedagógicas lineares, concentradas em metodologias
expositivas nas quais o professor é, senão o único, o maior detentor do conhecimento mostra-
se limitadas em relação ao contexto educacional e tecnológico atual.

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A educação musical nas escolas, como uma prática humana e social, é constituído
pelas ações de seus participantes. Assim, a transformação da prática pedagógico-musical nas
escolas só poderá acontecer através das ações concretas e cotidianas de seus participantes
(DEL BEN; HENTSCHKE, 2002). E isso se demonstra tanto nas escolas da área urbana
quanto no meio rural.

2.2 Educação Musical no meio rural


Diversos trabalhos abordam a educação musical no meio rural. Castro e Escher (2016)
relatam um projeto de educação musical realizado com jovens e crianças em uma escola rural
de um assentamento de reforma agrária, Crawford (2017) analisa o resultado de um projeto de
educação musical on-line usado em um contexto de aprendizado misto para fornecer recursos
de aprendizado musical de alta qualidade a escolas rurais e remotas da Austrália. Mendes e
Penna (2017) analisa a educação musical em turmas multisseriadas de escolas rurais de um
município paraibano
A educação musical do campo, na escola publica, fortalece a identidade, as relações
do grupo, o protagonismo, a possibilidade de se ver como sujeito e se libertar de estigmas
sociais e assumir um papel que por vezes é tirado do (a) jovem camponês(a), em seus direitos
fundamentais de humanidade, do empoderamento do ser como sujeito. Pois há necessidade de
se ter práticas culturais capazes de formar sujeitos protagonistas de um campo onde a
perspectiva não se daria como um ambiente apenas de produção agropecuária, mas um lugar
de bem-viver, onde a música ocupa uma posição fundamental na constituição de identidade
camponesa (PEREIRA, 2016).
A construção de uma nova consciência musical torna-se necessária para se pensar a
educação musical do campo a partir da realidade dos camponeses e ao mesmo tempo
transformando-a conscientemente (SANTANA, 2017). Os professores de música podem
incentivar as crianças a explorar as tradições musicais de sua própria herança cultural, bem
como as de outros países. A participação em performances musicais significativas pode ajudar
os alunos a se orgulharem de si mesmos e acrescentar uma dimensão poderosa à sua educação
(CLARK, 2005).
Porém, quando se fala de escolas localizadas na zona rural, a educação musical é um
desafio, quer seja por questões geográficas que dificultam o acesso, ou até mesmo por
questões políticas que dificultam a contratação de professores especializados na área de
música (MENDES; PENNA, 2017).
No nordeste da China, a educação musical primária no meio rural sofrem de uma série
de problemas, incluindo a provisão inadequada de recursos por parte do governo local, a falta
de profissionalismo dos professores em termos de educação musical e uma compreensão
inadequada das novas reformas e fundamentos do currículo (SUN; LEUNG, 2014).
Porém, é de suma importância ter programas de música de alta qualidade para todos os
estudantes e particularmente para aqueles de populações rurais e também carentes (MIKSZA;
GAULT, 2014).
Nos Estados Unidos, há um interesse recente do papel da educação artística no
currículo das escolas públicas, não apenas pelo valor intrínseco das artes e seu impacto na
realização, mas porque o cultivo da criatividade é pensado para promover a inovação e
impulsionar o crescimento econômico (THOMAS et al., 2013).
Uma alternativa para o acesso a aulas de instrumento seria ensino de música à
distância, que é a transposição de uma aula presencial para meios de comunicação eletrônicos,
em cidades pequenas e zonas rurais (GOHN, 2010).
Os benefícios da tecnologia criam oportunidades para melhorar experiências de
educação musical de qualidade em contextos da vida real, apoiam os objetivos curriculares
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atuais e o pensamento da sociedade contemporânea, especialmente os jovens (CRAWFORD,
2017).
Esses benefícios resultaram em projetos colaborativos e aprendizado e ensino que não
é restrito por paredes ou localização. A educação musical pode ser acessível a todos os jovens
através de uma combinação de mídias sociais, blogs e atividades musicais criativas interativas
para envolver os alunos em todos os locais, incluindo áreas rurais e remotas. O que inclui
recursos on-line, aprendizado digital, workshops na escola, máster classes on-line e
transmissão de concertos ao vivo, onde uma variedade de estilos musicais é explorada
(CRAWFORD, 2013).
Assim, os educadores de música que oferecem experiências de aprendizado
abrangendo várias atividades de escuta musical e estilos musicais em todos os tipos de mídia
proporcionam aos alunos um ambiente rico e fértil para cultivar a compreensão e a apreciação
de todos os gêneros musicais (COOPER, 2005).

3 Procedimentos Metodológicos

Para processo técnico realizou-se uma bibliometria, que versa sobre uma técnica
quantitativa e estatística para a medição de índices de produção e disseminação do
conhecimento científico (ARAÚJO, 2006). Esse tipo de pesquisa adquiriu evidência e
relevância a partir da expansão da ciência e da tecnologia, o que possibilita conferir os
avanços obtidos através das disciplinas na esfera do conhecimento científico (VANTI, 2002).
Como orientação de busca empregou-se a Lei de Zipf, que considera a
existência/ocorrência ou frequência de aparecimento de palavras no texto (VANTI, 2002).
Contudo, por entender que o título, resumo e/ou palavras-chave detém a temática central dos
estudos, optou-se por tais critérios.
Selecionaram-se, como filtro de busca, todos os tipos de documento, sem limitação
quanto ao idioma das publicações. Não sendo definido limite inicial para o período de
publicação, de modo que este correspondeu a todos os anos até agosto de 2018
A pesquisa foi realizada considerando a existência dos termos Music Education,
School e Rural, conjuntamente, sendo este a partir do emprego do boleano and na base de
dados Scopus (base de dados abrangente em cobertura de periódicos), por meio da proxy da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Conseguinte, para análise do portfólio dos trabalhos obtidos, considerou-se a
distribuição temporal e os periódicos onde estes foram publicados. Também foram
observados os países onde a investigação foi realizada, além das áreas do conhecimento e dos
principais autores.
Por fim, foi realizada a nuvem de palavras, por meio da frequência das palavras,
considerando o título dos trabalhos e seus respectivos resumos, bem como o radar com as
principais palavras-chave. Para auxiliar na organização e compilação dos dados, utilizaram-se
o gerenciador de referência Mendeley e foram empregadas planilhas eletrônicas e
representações gráficas.

4 Resultados e Discussão

A partir da utilização dos filtros e critérios de busca, o portfólio de estudos a serem


analisados, foi composto por 26 documentos, sendo vinte artigos, quatro revisões, um capítulo
de livro e um artigo de conferência. As publicações sobre educação musical na escola rural
iniciaram em 1983. A Figura 1 apresenta a distribuição temporal das publicações.

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Figura 1- Distribuição temporal das publicações sobre educação musical na escola rural.
3

0
1983

2000

2004
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999

2001
2002
2003

2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Fonte: Resultados da pesquisa.

Observa-se que o histórico de publicações apresenta oscilações, de modo que após


vinte e dois anos subsequentes a primeira publicação sobre educação musical, encontraram-se
apenas mais três estudos. A partir do ano de 2005 as publicações anuais foram constantes,
variando entre um e três publicações por ano, exceto os anos 2008 e 2010 sem publicação. Os
anos de destaque foram 2013, 2014 e 2016 com três publicações.
Verificou-se também que tais publicações estão distribuídas em quatorze periódicos
diferentes, um livro e uma conferência internacional, denotando a diversidade de fontes
cientificas que possuem em seu escopo tal temática.
A tabela 1 apresenta a frequência de publicações dos principais periódicos que
publicam sobre educação musical no meio rural, assim, 29,2% dos trabalhos foram publicados
no periódico Journal of Research in Music Education. Ademais, todos os demais periódicos
relacionadas na pesquisa possuem entre 1 e 2 publicações com tema, o que pode ser
comparado, em termos de frequência, com 7 publicações do Journal of Research in Music
Education.

Tabela 1 – Frequência dos documentos selecionados por periódicos


Quantidade
Nome do periódico
de artigos (n°)
Journal of Research in Music Education 7
Arts Education Policy Review 2
British Journal of Music Education 2
International Journal of Music Education 2
Journal of Music Teacher Education 2
Australasian Journal of Educational Technology 1
Bulletin of the Council for Research in Music Education 1
Critical Arts 1
Education Policy Analysis Archives 1
International Journal of Community Music 1
Journal of Architectural Education 1
Journal of Music Technology and Education 1
Music Education Research 1
Research Studies in Music Education 1
Fonte: Resultados da pesquisa.

Assim, a Lei de Bradford sugere que os artigos dotados de maior relevância em


determinada disciplina geralmente são encontrados em um número reduzido de periódicos

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(HAYASHI et al.,2007). O que, infere-se que, dentre as publicações referentes a educação
musical no meio rural, na base de dados consultada, as publicações que apresentam maior
destaque e relevância encontram-se no periódico com maior número de publicações, ou seja,
Journal of Research in Music Education.
Com relação aos autores, no total são 40 autores, sendo que Crawford, Russell e
Walker tem destaque por responderem pelos maiores números de documentos (duas
publicações), sendo que os demais autores possuem apenas um documento.
No que se refere à localização geográfica dos artigos, o país de maior expressão é os
Estados Unidos com dezesseis artigos, seguido da Austrália, África do Sul e Reino Unido
com dois. China, Chipre, Hong Kong, Singapura e Taiwan possuem uma publicação
(FIGURA 2).
Figura 2 – Localização geográfica dos casos analisados
16

12

Fonte: Resultados da pesquisa.

Com relação às áreas do conhecimento, a figura 3 apresenta as principais áreas do


conhecimento dos documentos pesquisados. Por meio desse agrupamento, percebe-se que os
artigos analisados contemplam seis áreas do conhecimento, com destaque para “Ciências
Sociais” com 24 documentos e “Artes e Humanidades” com 22, vale destacar que um
documento pode pertencer a mais de uma área.

Figura 3 – Áreas do conhecimento dos artigos pesquisados

Ciências Sociais

Artes e Humanidades

Engenharia

Enfermagem

Ciência da Computação

Engenheira química

0 4 8 12 16 20 24
Fonte: Resultados da pesquisa.

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A área “Engenharia” teve duas publicações. Vale ressaltar que áreas como
“Enfermagem”, “Ciência da Computação” e “Engenharia Química” também foram
identificados.
Com o intuito de identificar as principais temáticas abordadas, foi realizada a busca
das principais palavras-chave dos documentos, sendo adotados os termos em inglês. O termo
de maior destaque é “music education”, além dos termos “Education Funding”, "Educational
Leadership", "Elementary Music Education", "General Music", "High-stakes Testing",
"Music Teacher Education", "Music Technology" e "Rural Education".
Figura 5 – Radar com as principais palavras-chave utilizadas

Music Education

Rural Education Education Funding

Educational
Music Technology
Leadership

Music Teacher Elementary Music


Education Education

High-stakes Testing General Music

Fonte: Resultados da pesquisa

Considerando a Lei de Zipf, além do radar com as palavras-chave, foi realizado um


levantamento das principais palavras que constituem o título (Figura 4a) e o conteúdo dos
resumos dos artigos (Figura 4b), sendo que para ambas as construções também adotaram-se
os termos em inglês.

Figura 4a – Nuvem de palavras no título Figura 4b - Nuvem de palavras no resumo

Fonte: Resultados da pesquisa Fonte: Resultados da pesquisa.

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O termo que mais aparece no título é “music education”, seguido por “school”,
“rural”, “community”, “teachers”, “programs”, “arts”, “children”, “musical”, “elementary” e
“management”. Por sua vez, no conteúdo dos resumos dos artigos, além das palavras
apresentadas do título, são descritas as palavras “student”, “study”, “learning”, “instruction” e
“online”.
Assim, infere-se que estes termos são considerados como dotados de maior relevância
no que concerne a aderência conjuntamente com a educação musical na escola rural no
âmbito das investigações científicas.

5 Considerações Finais

O presente artigo teve como objetivo identificar as características das produções


científicas a cerca da educação musical na escola rural disponível na base de dados Scopus.
Os resultados mostram que a primeira publicação sobre o tema ocorreu no ano de 1983,
permanecendo até 2004 com número de publicações inexpressivo. A partir do ano de 2005 as
publicações anuais foram constantes, variando entre um e três publicações por ano, exceto os
anos 2008 e 2010 sem publicação. Os anos de destaque foram 2013, 2014 e 2016 com três
publicações.
Foi identificado um total de 14 periódicos diferentes, um livro e uma conferência
internacional, sendo que 29,2% dos artigos foram publicados no periódico Journal of
Research in Music Education, com 7 documentos.
Com relação aos autores, são 40 autores, sendo que Crawford, Russell e Walker tem
destaque com duas publicações, os demais autores possuem apenas um documento. No que se
refere à localização geográfica dos artigos, o país de maior expressão é os Estados Unidos
com dezesseis artigos, seguido da Austrália, África do Sul e Reino Unido com dois. China,
Chipre, Hong Kong, Singapura e Taiwan possuem uma publicação.
Com relação às áreas do conhecimento, os documentos analisados contemplam seis
áreas do conhecimento, com destaque para “Ciências Sociais” com 24 documentos e “Artes e
Humanidades” com 22, vale destacar que um documento pode pertencer a mais de uma área.
Já para as principais palavras-chave, o termo de maior destaque é “music education”, além
dos termos “Education Funding”, "Educational Leadership", "Elementary Music Education",
"General Music", "High-stakes Testing", "Music Teacher Education", "Music Technology" e
"Rural Education".
Quanto à nuvem de palavras, o termo que mais aparece no título é “music education”,
seguido por “school”, “rural”, “community”, “teachers”, “programs”, “arts”, “children”,
“musical”, “elementary” e “management”. Por sua vez, no conteúdo dos resumos dos artigos,
além das palavras apresentadas do título, são descritas as palavras “student”, “study”,
“learning”, “instruction” e “online”. Vale destacar que tanto nas palavras-chave quanto na
nuvem de palavras foi identificado termos que remetem a tecnologia como “online” e “Music
Technology”, o que indica que a educação musical pode ser acessível através desse meio
digital, inclusive nas áreas rurais.
É importante ressaltar que tais resultados se tornam limitantes de acordo com o
método da pesquisa, podendo assim ser observada outra realidade caso haja abrangência para
outras bases de dados. Como sugestão para futuros estudos, podem-se analisar as publicações
em forma de revisão e/ou abranger mais bases de dados, a fim de compreender de forma mais
ampla como a produção científica a cerca da educação musical no meio rural se caracteriza.

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490
CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS PRODUTIVOS DE TILÁPIA EM
MUNICÍPIOS DO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL

CHARACTERIZATION OF THE TILÁPIA PRODUCTION SYSTEMS


IN MUNICIPALITIES OF THE NORTHWEST OF RIO GRANDE DO
SUL

Marcos Roberto Casarin Jovanovichs1, Rafael Lazzari2, Thamara Luísa Staudt Schneider3,
Tanice Andreata4

Resumo
A piscicultura continental é uma atividade de produção de alimentos com grande crescimento e contribui
significativamente no quantitativo de pescado consumido no mundo. Em virtude das mudanças nos hábitos
alimentares da população e a diminuição dos estoques pesqueiros pelo extrativismo, a demanda por melhorias na
gestão dos sistemas criatórios torna-se uma necessidade. A piscicultura visa produzir pescado com bom valor
nutricional para o consumo humano, promovendo também desenvolvimento econômico e social para a população.
A espécie mais produzida no Brasil é a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), que apresenta características
produtivas importantes, além de um filé de ótima qualidade, livre de espinhas. Nesta pesquisa foram analisados os
principais fatores que caracterizam os sistemas produtivos de tilápia na região Noroeste do Rio Grande do Sul, nos
três municípios com maior produção. As informações obtidas demonstraram que o sistema semi-intensivo é o
praticado pelos pesquisados em viveiros escavados e que a tilapicultura tem sido uma atividade lucrativa, com
uma margem líquida de aproximadamente 24% em média.
Palavras-chave: aquicultura; cadeia produtiva; tilapicultura.

Abstract
Continental fish farming is a fast growing food production activity and contributes significantly to the quantity of
fish consumed in the world. Due to changes in the population's eating habits and the decrease in fish stocks due
to extractivism, the demand for improvements in the management of farming systems becomes a necessity. Fish
farming aims to produce fish with good nutritional value for human consumption, also promoting economic and
social development for the population. The most produced species in Brazil is the Nile tilapia (Oreochromis
niloticus), which presents important productive characteristics, besides a fillet of excellent quality, free of fish
bones. In this research the main factors that characterize the productive systems of tilapia in the Northwest region
of Rio Grande do Sul, Brazil, were analyzed in the three municipalities with the highest production. The
information obtained showed that the semi-intensive system is the one performed by the producers in fishponds
and that tilapia farming has been a profitable activity, with a net margin of approximately 24% on average.
Keywords: aquaculture; productive chain; tilapia creation..

1
Aluno de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios, Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) – Campus Palmeira das Missões, marcos.jovanovichs@iffarroupilha.edu.br
2
Docente no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios - PPGAGRO – UFSM – Campus Palmeira das
Missões – RS, rlazzari@ufsm.br
3
Aluna de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), thamara_lss@hotmail.com
4
Docente no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios - PPGAGRO – UFSM – Campus Palmeira das
Missões – RS, tani.andreatta@hotmail.com

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1 Introdução

Em 2016, a produção mundial aquícola e o quantitativo da pesca foi de,


aproximadamente, 171 milhões de toneladas. A produção de peixes continental foi de 51,4
milhões de toneladas, representando um aumento de 2,8 milhões de toneladas. Do total de
produção aquicola e da pesca 88% foi utilizado para consumo humano (FAO, 2018). Em 2014,
o consumo per capita de pescado foi de 20 kg/hab/ano. Já, em 2016, foi de aproximadamente
20,3 kg/hab/ano, este aumento adveio da redução de desperdícios de alimentos, da atividade
aquícola continuada e a estabilização da pesca (FAO, 2016; 2018).
O aumento da demanda mundial abre espaço para o incremento da produção de
pescados, que são importantes do ponto de vista da saúde e também pelas questões ambientais,
principalmente relacionadas as diminuições dos estoques pesqueiros nos ambientes naturais.
Assim, a piscicultura é responsável pelo aporte de proteína de pescado, atendendo as demandas
de consumo direto, ocasionadas pelas mudanças nos hábitos da população e uso de subprodutos
na indústria de nutrição animal (LEONEL, 2016).
Entre as espécies cultivadas em água doce, a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus)
destaca-se devido à sua carne possuir alto valor nutricional, com teores de fósforo, cálcio e
vitaminas, adequados a manutenção da saúde da população, em diferentes faixas etárias. Uma
vantagem do pescado é que sua forma de consumo pode ser processada ou in natura (REIS,
2013).
A piscicultura está se fortalecendo como uma importante fronteira na produção de
alimentos. O Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo com cerca de oito mil
quilômetros cúbicos, ficando bem à frente da segunda colocada, a Rússia, com cerca de 4,5 mil
quilômetros cúbicos. Ainda a maior parte do território do Brasil está em zona de clima tropical,
que proporciona condições favoráveis ao cultivo de peixes (RODRIGUES et al., 2012).
Na região Sul do país, a piscicultura foi estimulada e inserida na década de 1980, como
uma possibilidade de ganhos financeiros aos produtores rurais, devido às discussões iniciadas
para promover a diversificação produtiva das propriedades rurais, fomentada pelas políticas
públicas para o desenvolvimento do País (AUOZANI, 2013).
O objetivo desse estudo foi caracterizar os sistemas produtivos de tilápia nos municípios
de Barra Funda, Chapada e Novo Barreiro pertencentes a região Noroeste do Rio Grande do
Sul.

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2 Revisão bibliografica
2.1 Piscicultura no Brasil
Em 2017, a produção total da piscicultura brasileira foi, aproximadamente, de 691 mil
toneladas, registrando um aumento de 8% em relação ao ano anterior (PEIXE BR -
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA PISCICULTURA, 2018). De acordo com a FAO (2018)
muitos países, incluindo o Brasil, ganharam importância na produção, devido a melhorias nos
sistemas de distribuição e aumento da produção. No Brasil, as regiões apresentam diferentes
características edafoclimáticas e ecológicas, com isso permite-se o cultivo de espécies com
variadas adaptações morfológicas, fisiológicas e comportamentais Tabela 1 (EMPRESA
BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA, 2017).

Tabela 1- Espécies produzidas nas regiões brasileiras em 2017

Região Especies
Norte Tambaqui, pirapitinga e pirarucu
Nordeste Tilápia e camarão marinho
Centro-Oeste Tambaqui, pacu e pintado
Sudeste Tilápia, pacu e pintado
Sul Carpa, tilápia, jundiá

Fonte: adaptada de EMBRAPA (2017).

O estado do Paraná Tabela 2, ocupou a primeira posição no ranking das Unidades da


Federação, com a despesca de 112 mil toneladas de peixes, registrando um aumento de 19,7%
em relação a 2016. O estado de Rondônia se manteve na segunda posição, com despesca de 77
mil toneladas e apresentou um aumento de 3% se comparado com o anterior. Com produção de
69,5 mil toneladas, o estado de São Paulo subiu para a terceira posição e registrou um aumento
de 6,3%, por meio de investimentos e adesão de novos produtores na atividade. Já o Mato
Grosso manteve-se na quarta posição, com 62 mil toneladas.

Tabela 2 – Ranking da produção de peixes cultivados no Brasil em 2017

Produção de peixes
Estados
Total em (ton) Percentual (%)
Brasil 691.700 100,00
Paraná 112.000 16,19
Rondônia 77.000 11,13
São Paulo 69.500 10,05
Mato Grosso 62.000 8,96
Santa Catarina 44.500 6.43

Fonte: adaptada de PEIXE BR (2018).

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No ranking de produção de peixes destacam-se os cinco produtores brasileiros, os quais
contribuíram com 52,76% do total produzido neste período. Os estados da região Sul foram os
que mais contribuíram para o aumento da produção brasileira de peixes cultivados. Estes,
juntos, Paraná (112.000 toneladas), Santa Catarina (44.500 toneladas) e Rio Grande do Sul
(22.000 toneladas), somaram 178.500 toneladas, em 2017 (PEIXE BR, 2018).
Em 2017, as principais espécies produzidas foram: a Tilápia do Nilo, as nativas com
destaque para o Tambaqui e outras espécies como carpas e trutas. Diante disso, acredita-se que
exista uma previsão de ampliação da indústria de pescado no Brasil, impulsionado pelo
aumento de produção de tilápia, tambaqui e camarão (RABOBANK, 2016). Em 2017 foram
produzidas 691.700 Tabela 3 (PEIXE BR, 2018).

Tabela 3 - Produção de peixes e especies, em ordem decrescente da quantidade produzida no Brasil – 2017

Produção de peixes
Especies
(ton) (%)
Brasil 691.700 100,0
Tilápia 357.639 51,7
Nativas (tambaqui e outros) 302.235 43,69
Outras especies 31.825 4,60

Fonte: adaptada de PEIXE BR (2018).

Cabe destacar que a produção de tilápias no ano de 2017, contribuiu com mais da metade
do quantitativo da piscicultura continental e que as espécies nativas ficaram na segunda posição.

2.2 Piscicultura no estado do Rio Grande do Sul (RS)


A produção da piscicultura do RS em 2017 foi de 22 mil toneladas, com destaque para
as carpas, que representaram 73%. Em segundo lugar, a tilápia com 19% da produção e, em
seguida, o jundiá e outros peixes nativos, com 8% da produção (PEIXE BR, 2018).
Na região Norte do estado, principalmente nos COREDEs - Conselhos Regionais de
Desenvolvimento do Rio da Várzea e da Fronteira Noroeste do RS há principalmente o cultivo
das espécies tilápia e jundiá (Rhamdia quelen) (WALTER et al., 2015)
No ano de 2016, um levantamento realizado pelo CONGAPES - Conselho Gaúcho de
Aquicultura e Pesca Sustentáveis, em parceria com a EMATER - Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural, identificou nos 42 municípios de abrangência do Escritório Regional
da Emater de Frederico Westphalen identificou 175 produtores de tilápia, em 34 municípios

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com área de cultivo de 1.042.650 m² e produziram 1.502.420 kg de peso vivo. Segundo dados
do mesmo levantamento Figura 1, os municípios de Barra Funda, Chapada e Novo Barreiro
foram responsáveis pela produção de 767.500 kg de tilápia viva, representando 51,08 % do total
produzido nesta região.

Figura 1 – Total produzido de tilápia nos municípios de abrangência do Escritório Regional da EMATER-
RS/ASCAR, de Frederico Westphalen-RS e os três maiores produtores em (kg/vivo/ano) em
2016

Fonte: Adaptado de CONGAPES (2016).

3 Procedimentos Metodológicos
Para atingir o objetivo do estudo a metodologia se dividiu em cinco etapas. A etapa um
foi iniciada com uma pesquisa bibliográfica em dados publicados referentes a piscicultura
continental brasileira e do estado do Rio Grande do Sul (RS).
Na segunda etapa foram selecionados quatro produtores de cada município, Barra
Funda, Chapada e Novo Barreiro Figura 2, que praticavam o monocultivo de tilápias em
tanques escavados e sua indicação foi a cargo dos responsáveis pelos escritórios da Emater.

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Figura 2 – Representação da localização dos municípios estudados

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Na terceira etapa ocorreu a aplicação dos questionário semi-estruturado nos produtores


selecionados após agendamento prévio e consulta aos mesmos se desejavam fazer parte do
estudo. A quarta etapa aconteceu a tabulação dos em planilha Excel para calcular as médias das
informações relevantes e assim caracterizar os produtores de tilápia.
A quinta e última foi destinada a redação final deste documento conforme percebemos
na Figura 3.

Figura 3 - Representação simplificada da metodologia aplicada neste estudo

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

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A pesquisa teve seu início no mês de janeiro de 2018 e se estendeu até julho do mesmo
ano.

4 Resultados e Discussão
Do total de 12 piscicultores estudados 11 residem na propriedade, somente um deles
do município de Barra Funda reside na cidade, pois a sua piscicultura está localizada a 2
quilômetros (Km) de sua casa. A distância média entre as pisciculturas e os centros urbanos é
de aproximadamente 6,8 km. A média das propriedades é de 13,5 Ha e todos são proprietários
das mesmas, e nelas residiam 39 pessoas.
Quanto ao tempo que estão na atividade da piscicultura, varia de um a dez anos,
evidenciando que existe os mais experientes na atividade e os que estavam cultivando o
primeiro lote. Quanto a quem os motivou para iniciar na produção de tilápias veremos a seguir
na Figura 4.

Figura 4 – Motivação para iniciar o cultivo de tilápias

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Fica evidente que a Emater é a principal fomentadora dos piscicultores e que o desejo
de diversificar nas propriedades também aparece como um dos principais fatores que
contribuem para o início da atividade.
Quanto aos fatores de produção, podemos destacar que todos os pesquisados praticam
a engorda de tilápias, compram os alevinos dos estados vizinhos de Santa Catarina e Paraná,
utilizam ração e equipamentos durante o ciclo produtivo. Os dados dos pesquisados,
demonstraram ainda que toda mão de obra utilizada é de origem familiar. A seguir o Quadro 1

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apresenta alguns dados dos pesquisados que possibilitam entender um pouco mais sobre como
está ocorrendo a produção de tilápias.

Quadro 1 – Alguns fatores de produção das pisciculturas pesquisadas


Lâmina d’água total (Ha) 11.5

Produção total de tilápia viva (Kg) 186.330

Lotaçaõ (m²) 3,4

Aeradores 44

Preço médio do kg vivo (R$) 4,76

Receita bruta do último ciclo (R$) 886.930,80

Receita líquida do último ciclo (R$) 212.863,39

Receita líquida/Ha lâmina d’água (R$) 18.509,86

Fonte: Dados da pesquisa (2018)


Um total de 25 pessoas trabalharam em média 13 horas semanais na engorda de tilápias
e obterão uma receita líquida média por Ha de lâmina d’água utilizada de R$ 18.509,86. Quando
questionados sobre qual item mais impacta no custo de produção, todos responderam que foi a
ração.

5 Considerações finais
A demanda por alimentos de origem animal faz aumentar a necessidade de melhorias
nos sistemas produtivos das cadeias agroalimentares. Portanto, surge uma oportunidade de
aumento das receitas das pequenas propriedades, através da engorda de tilápias, espécies esta
que possui um pacote tecnológico que permite o desenvolvimento pelos próprios produtores da
atividade com obtenção de bons índices produtivos. A região noroeste do Rio Grande do Sul
apresenta características favoráveis para desenvolvimento da tilapicultura, pois possui clima
que permite fazer um ciclo de cultivo por ano e também área para instalação de lâmina d’água
para a pisciculturas sem competir com outras atividades.
A constante busca por melhorias nestes sistemas produtivos faz surgir a necessidade de
profissionalização da cadeia produtiva, do aumento de pesquisas voltadas a este setor e
principalmente de organização dos canais de comercialização da produção e compra de insumos
(ração e alevinos).

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Os dados da pesquisa demonstraram que as pisciculturas estão praticando o sistema
produtivo semi-intensivo pois todos utilizam ração, possuem aeradores e uma média de lotação
de 3,4peixes/m² que são algumas características deste sistema.
Do ponto de vista econômico esta atividade sido rentável, pois os produtores
pesquisados estão operando com uma média de margem líquida de aproximadamente 24%,
tornando assim a atividade da piscicultura atrativa do ponto de vista financeiro, sendo assim
mais uma alternativa de renda para as pequenas propriedades rurais e fomenta a vontade da
grande maioria em expandir seu negócio.

6 Referências

AUOZANI L. Aquicultura no sul do Brasil: aspectos históricos e políticos de


desenvolvimento. In: BARCELLOS L.; FAGUNDES M.; FERREIRA D. Workshop sobre
Jundiá: história e perspectivas. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2013. p.
25-42.
CONGAPES - Câmara Técnica De Piscicultura. Importância da Tilápia Produzida em
Tanques Escavados na Bacia do Rio Uruguai – Aspectos Econômicos, Sociais E
Ambientais 2016.
EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Pesca e
aquicultura. 2017. Disponível em: <https://www.embrapa. br/tema-pesca-e-aquicultura/>.
Acesso em: jul. 2018.
FAO - THE STATE OF WORLD FISHERIES AND AQUACULTURE 2016. Contributing
to food security and nutrition for all. Rome, 2016, 200 p.
FAO - THE STATE OF WORLD FISHERIES AND AQUACULTURE 2018 - Meeting the
sustainable development goals. Rome, 2018, 211p.
LEONEL, A.P.S. Viabilidade econômica de produtos à base de tilápia para alimentação
escolar nos municípios de Toledo-PR e Marechal Cândido Rondon-PR. Tese (Programa
de Pós-graduação em Aquicultura). Centro de Aquicultura da UNESP – CAUNES, 2016.
PEIXE BRa - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA PISCICULTURA - ANUÁRIO Peixe BR
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PEIXE BRb - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA PISCICULTURA - ANUÁRIO Peixe BR
da Piscicultura. 2018. Disponível em: <https://www.peixebr.com.br/anuario2018/> Acesso
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RABOBANK. Feeding Nemo: turning Brazil’s economic turmoil into seafood business
oportunities. Amsterdam: Rabobank, Aug. 2016. (Rabobank Industry Note, n. 564).
Disponível em: <http://seafoodbrasil.com.br/wp-
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Acesso em 27 set 2017.

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REIS, T. A. Caracterização de macarrão massa seca enriquecido com farinha de polpa do
pescado. Dissertação. (Mestrado em ciência dos alimentos). Universidade Federal de Lavras,
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RODRIGUES, L. S. et al. Panorama da aquicultura no Brasil: Desafios e oportunidades.
Revista Panorama da Aquicultura. Rio de Janeiro, n. 35, p. 421-463. 2012.
SCHULTER, E.P.; VIEIRA FILHO, J.E.R. Evolução da Piscicultura no Brasil: diagnóstico
e desenvolvimento da cadeia produtiva de tilápia. Rio de Janeiro 2017.
SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Aquicultura no
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WALTER, T. et al. Panorama Atual da Piscicultura no Rio Grande do Sul. Relatório
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Comparação entre os benefícios concedidos pela Previdência Social
brasileira à população rural e urbana
Comparison between the benefits granted by Brazilian Social Security to
the rural and urban population
Caroline Estefanie do Amaral Brasil Saraiva1, Alice Munz Fernandes2, Claussia Neumann
Cunha3, Lucas Teixeira Costa 4.

Resumo
O objetivo desse estudo consistiu em comparar o valor dos benefícios fornecidos pela previdência social à
população rural e à população urbana do Brasil, nos últimos anos. Também buscou-se comparar os valores totais
dos benefícios concedidos aos produtores/trabalhadores rurais conforme a divisão geopolítica do país. Para tanto,
empregou-se uma pesquisa quantitativa com dados secundários provenientes do conjunto de Anuários
Estatísticos da Previdência Social. Após a atualização dos valores nominais conforme o Índice de Preço ao
Consumidor Amplo, empregaram-se análises estatísticas uni e multivariadas. Por meio de uma sequência de
testes t de Student constatou-se que existe diferença estatisticamente significativa nos valores totais das
aposentadorias concedidas à população urbana e rural do país, considerando um nível de significância de 5%,
apesar do conjunto total de benefícios previdenciários não apresentar diferença. Mediante a realização da análise
de variância observou-se também que o valor total dos benefícios fornecidos pela previdência social à população
rural nos últimos anos difere entre as regiões do país. Por fim, através do teste Tukey constatou-se que a Região
Nordeste difere estatisticamente de todas as demais regiões, o que pode ser explicado por configurar-se como
aquela que detém maior proporção da população residindo em áreas rurais.
Palavras-chave: Aposentadoria Rural. Previdência Social Rural. Seguridade Social.

Abstract
The objective of this study was to compare the value of benefits provided by social security to the rural
population and the urban population of Brazil in recent years. It was also sought to compare the total values of
benefits granted to rural producers / workers according to the geopolitical division of the country. For this, a
quantitative survey was used with secondary data from the set of Statistical Yearbooks of Social Security. After
updating the nominal values according to the Broad Consumer Price Index, uni and multivariate statistical
analyzes were used. Through a sequence of Student's t-tests it was found that there is a statistically significant
difference in the total amount of pensions granted to the urban and rural population of the country, considering
a level of significance of 5%, even though the total set of social security benefits does not present difference.
Through the analysis of variance, it was also observed that the total value of the benefits provided by social
security to the rural population in recent years differs between the regions of the country. Finally, through the
Tukey test, it was observed that the Northeast Region differs statistically from all other regions, which can be
explained by the fact that it is the one with the largest proportion of the population residing in rural areas.
Keywords: Rural Retirement. Rural Social Welfare. Social Security.

1 Introdução

A origem da previdência social no Brasil se deu com a criação de Caixas de


Aposentadorias e Pensões (CAPs) por categoria ocupacional ou empresa, sendo o marco a lei
Elói Chaves, de 1923. As CAPs eram referentes aos empregados de empresas ferroviárias, dos
portuários e marítimos, e outros, de modo que em 1921 já haviam 183 CAPs no país. Após
esse período, as caixas são substituídas pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs),
sob o regime de capitalização, que incorporavam setores urbanos organizados dos
trabalhadores, segundo a categoria profissional, centralizados no governo federal
(FERREIRA; SOUZA, 2007).

1Doutoranda em Agronegócios (CEPAN/UFRGS) - karol.estefanie@gmail.com


2Doutoranda em Agronegócios (CEPAN/UFRGS) - alicemunz@gmail.com
3Doutoranda em Agronegócios (CEPAN/UFRGS) - cachuchahontas@hotmail.com
4Mestrando em Agronegócios (CEPAN/UFRGS) - lucasadmrural@gmail.com

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501
Em 1988, com a Constituição Federal, as políticas de previdência, saúde e assistência
social foram reorganizadas e reestruturadas (BOSCHETTI, 2009), porém, o marco das
mudanças combina com a origem da legislação complementar (Leis nº. 8.212 e 8.213, de 24
de julho de 1991), onde ocorreu uma ampliação quantitativa e qualitativa de maior relevância
relativamente a situação herdada anteriormente pelo Prorural/Funrural, no caso dos benefícios
rurais (DELGADO, 2015).
Assim, extinguiu-se o tratamento administrativo-institucional separado dado ao setor
rural na previdência social, com a inclusão dos trabalhadores rurais e dos segurados em
regime de produção familiar, chamados de segurados especiais, no plano de benefícios normal
do Regime Geral de Previdência Social (SCHWARZER, 2000), para os produtores que
trabalham individualmente ou em regime de economia familiar, entendida aqui como
inexistência de contratação de mão-de-obra permanente ou eventual (CALDAS; DOS
ANJOS, 2009).
De forma geral, a previdência social do Brasil apresenta-se como importante
instrumento de política pública e base de sustentação da economia de grande parte dos
municípios de baixa renda (FERREIRA; SOUZA, 2007). Deste modo, tornou-se foco de
diversas investigações científicas (PORTO et al., 2010; DELGADO, 2015, BARROS;
FIÚZA; PINTO, 2017).
Para Delgado (2015) o sistema previdenciário rural, no Brasil, teve desempenho
eficaz, pois avançou significativamente no âmbito do seguro social aos vários grupos do meio
rural, melhorou expressivamente o nível e a distribuição da renda familiar rural com redução
da pobreza e houve melhorias produtivas na agricultura familiar, induzidas pela política
social.
Diante do exposto, a pesquisa realizada teve como objetivo comparar o valor dos
benefícios fornecidos pela previdência social à população rural e à população urbana do
Brasil, nos últimos anos. Também buscou-se comparar os valores totais dos benefícios
concedidos aos produtores/trabalhadores rurais conforme a divisão geopolítica do país.

2 Referencial Teórico

2.1 Previdência Social

No Brasil, os direitos sociais foram reconhecidos tardiamente e são produtos da


pressão operária e dos movimentos sociais. A Previdência Social passou
por reformas, consideradas como ampliadoras de direitos, como também por contrarreformas,
cogitadas como restritivas de direitos. A mais importante reforma ocorreu em 1988, quando a
ascensão das lutas sociais pressionou o Congresso Nacional Constituinte a incorporar o
sistema de Seguridade Social no texto da nova Constituição Federal (CF).

A Carta Constitucional passou a garantir o trabalho como direito social, a


Previdência Social (PS) como parte do maior sistema de proteção social já
implantado no país, configurando a Seguridade Social (SS), juntamente com a
Assistência Social e a Saúde, num importante mecanismo para a efetivação do
estado democrático de direito (LOURENÇO; LACAZ; GOULART, 2017, p. 2).

Conforme Marques e Mendes (2004), as inovações consideradas significativas no


campo previdenciário, e as quais foram materializadas na CF de 1988, podem ser resumidas
em três segmentos: (i) introdução de um piso previdenciário a partir do valor do salário
mínimo; (ii) inclusão dos trabalhadores rurais (na qualidade de segurados especiais), e; (iii)
inclusão de idosos e de pessoas com deficiência, membros de famílias de baixa renda,
constatada a renda per capita de até 1/4 do salário mínimo, os quais passaram a receber o
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502
Benefício de Prestação Continuada (BPC), para o qual também foi garantido o piso de um
salário mínimo.
De acordo com Lourenço, Lacaz e Goulart (2017) no que tange à PS, foi criado o
Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), ancorado no regime de repartição, com
contribuições obrigatórias e que abrange trabalhadores da iniciativa privada, autônomos e
algumas categorias especiais, os quais estão congregados no Regime Geral de Previdência
Social (RGPS). Por outro lado, a partir de 1989, os funcionários públicos dos estados,
municípios e União são cobertos pelo Regime Próprio de Previdência Social (RPPS),
havendo, ainda, regime de previdência específico para os militares e Forças Armadas.
Ademais, foi prevista a previdência privada por meio de regime complementar.
Assim, o conceito seguro tornou-se mais abrangente, o que permitiu que pessoas que
não contribuíram para o sistema previdenciário pudessem contar com direitos, como é o caso
da aposentadoria do trabalhador rural e do BPC gerido pela PS (BRASIL, 1993). Segundo
Marques e Mendes (2004), essas conquistas, para serem efetivadas, necessitavam contar com
fontes de receitas, sendo então criadas a Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social (Cofins), a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL), a Contribuição
Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF), existente de 1997 a 2007.
Em 1995, a PEC 33, encaminhada ao Congresso Nacional, e propôs alterar a
aposentadoria e benefícios dos segurados da Previdência Social pública e gerida pelo INSS. A
tramitação da PEC 33 se deu com a Emenda Constitucional n. 20, aprovada em 15 de
dezembro de 1998, provocando alterações, sobretudo, em relação ao aumento do tempo de
contribuição e retardamento do acesso à aposentadoria tanto para o RGPS quanto para o
RPPS (SILVA, 2004).
Salvador (2010) especifica que a Emenda Constitucional 20 retirou a
constitucionalidade existente no cálculo para o valor dos benefícios, permitindo a criação de
uma lei complementar, em 1999, que instituiu o Fator Previdenciário (FP), o qual impôs uma
espécie de multa a quem quisesse aposentar-se sem ter atingido os requisitos instituídos.

É bom lembrar que, no Brasil, grande parte dos trabalhadores não tem como
comprovar tempo de contribuição porque estão imersos em trabalhos precários,
subcontratados, com baixos salários e expostos a condições de vida insalubres e a
condições de trabalhos que causam acidentes, doenças e invalidez (LACAZ, 2016,
p. 88).

Salvador e Silva (2015) afirmam que a contrarreforma da PS, instituída pelas Medidas
Provisórias n. 664 e 665, promoveu amplas mudanças para o acesso às pensões por morte,
auxílio-doença, reclusão e, ainda, abono salarial e seguro-desemprego. Tais medidas
dificultaram o acesso aos direitos previdenciários e ao seguro-desemprego, promovendo o
desvio de recursos para a esfera financeira, bem como a estimulação da previdência privada.
Observa-se então que os direitos previstos na CF de 1988 foram dificultados pelo
Poder Executivo, pois permitiriam um Estado indigno, conforme destacado durante o governo
de José Sarney, ao não regulamentar o financiamento da SS. Ao que se seguiu com o ajuste
fiscal de 1998 durante o governo Fernando Henrique Cardoso, efetivando a contrarreforma do
Estado que atingiu a PS, a qual foi evidenciada nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e
Dilma Rousseff.

2.1 Previdência Social Rural

Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), a


Previdência Social Rural (PSR) representa um dos principais direitos sociais conquistados
pelos trabalhadores rurais, e é considerada a uma das políticas públicas mais efetivas que
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beneficia o meio rural brasileiro. O Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais (MSTTR) reivindicava proteção previdenciária desde os anos 1960, no entanto só foi
conquistada com a Lei Complementar n°11/71. A partir da Constituição Federal de 1988, os
trabalhadores rurais foram incluídos no regime geral de previdência social, sendo esta uma
das principais mudanças que contribuíram com a categoria (CONTAG, 2016).
No ano de 1992 houve uma reforma na previdência brasileira, onde a idade mínima
dos trabalhadores rurais para receberem os benefícios foi reduzida, de 65 para 60 anos, entre
os trabalhadores do sexo masculino e de 60 para 55 do sexo feminino. Ficou determinado
também que mais de uma pessoa por domicilio teria direito ao beneficio, assim como
reajustado o valor dos benefícios, passando de meio para um salário mínimo (RAMOS;
AREND, 2012). Alguns setores do governo e da sociedade questionam a Previdência Social
Rural atribuindo-lhe “suposto déficit” causado ao sistema, porém as analises feitas
consideram apenas a relação entre receita e despesa advinda da arrecadação da área rural e os
gastos com benefícios rurais, tornando-se uma visão equivocada haja vista existam
fundamentos legais que sustentam tal politica (CONTAG, 2016).
A Previdência Social Rural contribui significativamente com população rural em
diversos aspectos, ao compor a renda das famílias contribui com a diminuição da pobreza
rural, assim como possibilita melhores condições de vida aos beneficiários no que tange ao
acesso a saúde e moradia, além de ser empregada como seguro agrícola em pequenas
propriedades e ainda ser considerada como principal fonte de receitas para alguns municípios
(SCHWARZER; QUERINO, 2002; BEZERRA, 2006; SUGAMOSTO, 2007; CALDAS,
2009). Para Kreter e Bacha (2006) a PSR foi positiva para o aumento da renda no campo sem
que houvesse aumento na desigualdade de renda, corroborando com o argumento de
distribuição de renda.
Os recursos previdenciários além de contribuir para a melhoria das condições de vida
dos trabalhadores rurais, também reduzem de modo relativo o êxodo rural e a possível
favelização nas grandes cidades (FRANÇA, 2011). Além disso, Galiza e Valadares (2016)
dizem que as rendas da previdência rural, distribuída pela grande maioria por municípios
pequenos, contribui para a economia dos mesmos, uma vez que gera demanda para bens e
serviços comercializados no município.

3 Procedimentos Metodológicos

A pesquisa realizada caracteriza-se como quantitativa quanto a abordagem, pois


emprega técnicas estatísticas para o tratamento e análise dos dados (RICHARDSON, 1999),
cuja representação geralmente ocorre mediante tabelas e gráficos (FACHIN, 2003). No que
concerne a finalidade, é classificada como descritiva, cujos fundamentos teóricos são
aprimorados a posteriori (DALFOVO; LANA; SILVEIRA, 2008).
Os dados utilizados foram obtidos de forma secundária no banco de dados abertos,
disponibilizados gratuitamente pela Secretaria de Previdência do Ministério da Fazenda
(http://www.previdencia.gov.br/dados-abertos/dados-abertos-previdencia-social/),
provenientes do conjunto de Anuários Estatísticos da Previdência Social (AEPS).
Conseguinte, realizou-se a seleção das variáveis de interesse, cuja unidade de medida
correspondeu ao valor total (em milhares de reais) dos benefícios fornecidos pela previdência
social.
Deste modo, o conjunto de variáveis foi composto pelas distintas categorias e
subcategorias de benefícios fornecidos à população brasileira rural e urbana nos últimos 9
anos (2008-2016). Considerou-se também a distribuição do investimento total da previdência
social aos assegurados, conforme a divisão geopolítica do País, tomando como base os
últimos 10 anos (2008 – 2017). Dessa forma, devido aos reajustes da inflação, os valores
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foram atualizados a partir do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) referente ao
mês de julho de 2018.
Para análise dos dados aplicou-se estatística uni variada, por meio de frequência
(absoluta e relativa), bem como medidas de variabilidade e de tendência central. Ademais,
partindo do pressuposto de que o conjunto de dados segue uma distribuição aproximada a
normal, conforme postula o Teorema do Limite Central e a Lei dos Grandes Números
(MARÔCO, 2018), e como as variáveis da investigação são classificadas como numéricas,
para análise multivariada realizaram-se testes estatísticos paramétricos.
Isto posto, inicialmente verificou-se a existência de missing values e outliers. Em
seguida, empregou-se a Análise de Variância (ANOVA) para verificar se existe diferença
estatisticamente significativa entre três ou mais grupos de interesse, no caso, regiões
geopolíticas. Para tanto, pauta-se na testagem da igualdade de todas as médias das variáveis
dependentes dos grupos, que, caso sejam iguais, aceita-se a hipótese nula e automaticamente
rejeita-se a hipótese alternativa (HAIR JR. et al., 2009).
No entanto, para identificar entre quais grupos existe essa diferença, procedeu-se o
teste de Tukey que possibilita estabelecer a diferença mínima significativa de médias
(VIEIRA, 1980). Também realizou-se uma sequência de testes t de Student para verificar se
existe diferença estatisticamente significativa entre a população urbana e rural no que
concerne ao valor dos distintos tipos de benefícios concedidos pela previdência social.
Para organização dos dados utilizaram-se planilhas eletrônicas, cuja análise foi
operacionalizada por meio do Software IBM Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS) versão 2.0. Deste modo, os resultados obtidos foram apresentados através de tabelas e
representações gráficas e, em seguida, discutidos com a literatura.

4 Resultados e Discussões

4.1 Análise Univariada


Inicialmente verificou-se a distribuição temporal do valor real total dos benefícios
fornecidos pela previdência social do Brasil nos últimos anos, sob uma abordagem
comparativa entre a população rural e urbana. A Figura 1 ilustra essa evolução.

Figura 1 – Distribuição temporal dos benefícios fornecidos pela Previdência Social


R$ 450.000.000,00

R$ 400.000.000,00

R$ 350.000.000,00

R$ 300.000.000,00
Valor Real

R$ 250.000.000,00
URBANA
R$ 200.000.000,00 RURAL

R$ 150.000.000,00

R$ 100.000.000,00

R$ 50.000.000,00
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Ano

Fonte: resultados da pesquisa.

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Constata-se a existência de significativa discrepância entre os valores anuais totais de
benefícios fornecidos a população rural e urbana. Todavia, tal fenômeno pode ser justificado
pelo fato de que, o valor dos benefícios para aposentadorias e pensões, em geral, é de um
salário mínimo (SCHWARZER, 2000), já os benefícios urbanos podem atingir o teto do
INSS.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017), outro
elemento que pode contribuir para esse resultado é a distribuição territorial da população,
sendo que 76% da população brasileira encontra-se em áreas predominantemente urbanas, o
que corresponde a somente 26% dos municípios. Em contrapartida, 60,4% dos municípios do
país, classificados como predominantemente rurais detém somente 17% da população.
Conseguinte, a Tabela 1 apresenta a estatística descritiva que compara os benefícios totais
reais fornecidos a população urbana e rural, em determinado período de tempo (2008-2016).

Tabela 1 – Média e Desvio Padrão dos benefícios fornecidos pela Previdência Social (2008-2016)
Rural Urbana
Tipo de Benefícios
Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão
Previdenciários R$ 85.450.101,66 R$ 12.235.657,68 R$ 290.793.221,74 R$ 37.945.712,05
Acidentários R$ 292.008,97 R$ 40.490,18 R$ 7.961.313,36 R$ 862.078,03
Assistenciais R$ 38.842.346,69 R$ 7.862.192,07 R$ 1.136.799,85 R$ 244.541,43
Totais R$ 86.878.910,35 R$ 12.037.272,95 R$ 340.679.814,36 R$ 46.623.969,24
Fonte: resultados da pesquisa.

Observa-se que a maior média corresponde ao valor dos benefícios previdenciários,


que abrangem as aposentadorias (por tempo de contribuição, idade e invalidez), pensão por
morte, auxílios (doença, reclusão e acidente), salário-maternidade e outros (salário-família,
abono de permanência e vantagem de servidor), que foram fornecidos à população urbana, o
que deve-se pelo elevado número de beneficiários nessa categoria, bem como na referida área.
Em contraponto, contata-se também que nos últimos anos a média do valor total dos
benefícios assistenciais fornecidos à população rural foi superior aqueles relacionados à
população urbana. Elementos como amparo assistencial para portador de deficiência e para
idoso, pensão mensal vitalícia e rendas mensais vitalícias reativas a idade e a invalidez
integram esse conjunto de benefícios.

4.2 Análise Multivariada

Para verificar a existência de diferenças estatísticas significativas entre os benefícios


concedidos à população rural e urbana nos últimos anos, realizou-se uma sequência de teste t
de Student para comparação de médias, a partir da natureza do benefício. Deste modo,
considerando um intervalo de confiança de 95% e um nível de significância de 5%, verificou-
se que não existe diferença estatisticamente significativa entre o valor total dos benefícios
previdenciários concedidos à população rural e urbana do Brasil, cujo valor do teste
correspondeu a 3,99. Todavia, considerando somente o benefício da aposentadoria, integrante
do conjunto de benefícios previdenciários, rejeita-se a hipótese nula de que as médias são
iguais, uma vez que verificou-se diferença significativa para um p<0,01.
Quanto a isso, Schwarzer (2000, p. 1) enfatiza que o subsistema rural de previdência
social do Brasil “parece constituir um programa que, possivelmente, tenha uma efetividade
inédita no combate à pobreza no meio rural”. O autor enfatiza também que os impactos
socioeconômicos dos programas de previdência objetivam, basicamente, repor os rendimentos
do assegurado no período de inatividade e combater a pobreza, haja vista que intenta evitar
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que pessoas idosas fiquem sem rendimentos em um momento da vida que não devem mais se
sujeitar ao trabalho.
No tocante aos benefícios acidentários e assistenciais recebidos pela população urbana
e rural, os resultados indicaram que não existe diferença significativa entre os grupos, cujos
valores obtidos corresponderam a 3,25 e 5,24, respectivamente. Contudo, ao comparar os
valores totais dos benefícios concedidos às populações, observou-se que as médias diferem,
inclusive considerando um intervalo de confiança de 99%.
Esse paradoxo talvez seja reflexo da discrepância entre os valores totais médios dos
benefícios concedidos nos últimos anos entre as populações, o que já não é tão evidente
quanto realiza-se a análise dos conjuntos de benefícios de forma isolada. Conseguinte,
mediante o teste ANOVA observou-se a existência de diferença estatisticamente significativa
nos benefícios totais concedidos às populações rurais entre as cinco regiões geopolíticas do
Brasil, ou seja, ao menos uma das médias difere. Portanto, para identificar entre quais grupos
havia a referida diferença, empregou-se o teste Tukey, cujo resultado é exposto na Tabela 2.

Tabela 2 – Teste de Tuckey


Intervalo de Confiança de 95%
(I) Regiões Diferença Média (I-J) Sig.
Limite Inferior Limite Superior
Nordeste -34785832,302 0,000* -39043836,92 -30527827,68
Sudeste -11019237,043 0,000* -15277241,66 -6761232,42
Norte
Sul -8633752,498 0,000* -12891757,12 -4375747,88
Centro-Oeste 2080813,576 0,638 -2177191,04 6338818,20
Norte 34785832,302 0,000* 30527827,68 39043836,92
Sudeste 23766595,259 0,000* 19508590,64 28024599,88
Nordeste
Sul 26152079,804 0,000* 21894075,18 30410084,42
Centro-Oeste 36866645,878 0,000* 32608641,26 41124650,50
Norte 11019237,043 0,000* 6761232,42 15277241,66
Nordeste -23766595,259 0,000* -28024599,88 -19508590,64
Sudeste
Sul 2385484,545 0,510 -1872520,08 6643489,17
Centro-Oeste 13100050,619 0,000* 8842046,00 17358055,24
Norte 8633752,498 0,000* 4375747,88 12891757,12
Nordeste -26152079,804 0,000* -30410084,42 -21894075,18
Sul
Sudeste -2385484,545 0,510 -6643489,17 1872520,08
Centro-Oeste 10714566,074 0,000* 6456561,45 14972570,69
Norte -2080813,576 0,638 -6338818,20 2177191,04
Centro- Nordeste -36866645,878 0,000* -41124650,50 -32608641,26
Oeste Sudeste -13100050,619 0,000* -17358055,24 -8842046,00
Sul -10714566,074 0,000* -14972570,69 -6456561,45
Fonte: resultados da pesquisa.
* Diferença estatisticamente significativa para um nível de significância de 1%

Constata-se que a Região Nordeste difere de todas as demais regiões, o que pode ser
explicado pelo fato desta caracterizar-se como aquela que detém a maior proporção em
relação a população total, de indivíduos vivendo em áreas rurais, o que equivale a 26,87%
(LEITE; SOUZA, 2012). Logicamente, o tamanho da população possui relação com a
quantidade de benefícios concedidos, que, por sua vez, impacta no valor total destes.

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O dinamismo econômico da Região Sudeste a caracteriza como aquela que possui
maior percentual da população vivendo em áreas urbanas. Todavia, a semelhança entre sua
população e a da região Sul pode contribuir para explicar porque as variâncias não diferem
estatisticamente, uma vez que esta detém as menores proporções de munícios rurais remotos
(IBGE, 2017).
Ante ao exposto, verifica-se que as características e peculiaridades socioeconômicas
das distintas regiões do país, contribuem para explicar as diferenças e similitudes encontradas.
Sob esse aspecto, destaca-se que a própria distribuição populacional configura-se como um
processo historicamente influenciado por diferentes elementos. Deste modo, o Brasil pode ser
considerado mais rural do que o imaginado, apesar de uma representativa parcela da
população residir em áreas urbanas (IBGE, 2017).

5 Considerações Finais

A relevância do estudo realizado deve-se pela importância socioeconômica que a


previdência social presta à população brasileira. Deste modo, mediante a comparação dos
valores totais dos distintos conjuntos de benefícios fornecidos nos últimos anos entre as
populações rurais e urbanas, foi possível identificar algumas peculiaridades de ambos os
contextos, bem como realizar algumas inferências.
No tocante à comparação do valor total dos benefícios concedidos a população rural,
em cada região geopolítica, observaram-se aspectos relacionados à estruturação e matriz
econômica das regiões, além de fatores de natureza histórica, concernentes à formação
populacional. Através do teste Tukey constatou-se que a Região Nordeste difere
estatisticamente das demais regiões, podendo ser explicado por configurar-se como detentora
da maior proporção da população residindo no meio rural.
Os resultados obtidos podem auxiliar na verificação, sob um panorama genérico, de
algumas diferenças entre ambas as populações, a fim de fomentar o desenvolvimento de
políticas públicas ou ainda, fornecendo subsídios para verificar as diretrizes e objetivos da
previdência social, com destaque especial a minimização da pobreza rural, responsável
inclusive, por deixar pessoas idosas desassistidas.
Todavia, reconhecem-se as limitações do estudo, pois as analises limitarem-se a
consideração dos montantes totais, sem considerar outras distinções entre as populações ou
ainda elementos de perfil, por exemplo. Assim, para estudos futuros, recomenda-se o
desmembramento da base dados considerando o perfil dos beneficiários, além de executar
outras análises e testes estatísticos que auxiliassem a explicar as diferenças das populações
rurais que são atendidas pela Previdência Social.

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“E esses campo são bom”: A percepção dos pecuaristas sobre a atividade
pecuária diante do crescimento das lavouras de soja no bioma Pampa
"And these fields are good": The perception of cattle ranchers on the
livestock activity in the face of the growth of soybean crops in the Pampa
biome
Juliana Gomes Moreira1, Alessandra Matte2, Marcelo Antônio Conterato3
Resumo
No Brasil, o bioma Pampa se restringe a metade sul do Rio Grande do Sul, tradicionalmente conhecida pela
vocação para pecuária, em vista das pastagens naturais do bioma, onde as áreas cultivadas com soja veem
aumentando significativamente. Assim, o objetivo deste artigo é compreender como pecuaristas – principal
categoria social responsável pela criação de animais no Pampa – relaciona-se com o avanço da produção de soja.
Metodologicamente essa pesquisa foi do tipo descritiva explicativa, utilizando como técnica de coleta de
informações a entrevista em profundidade com pecuaristas no município de Dom Pedrito, local onde em quatro
anos a área ocupada com soja apresentou crescimento de 280%. Os principais resultados mostram uma
diversidade de percepções, principalmente ligadas às motivações para a prática da atividade pecuária e
centraram-se em três grupos principais: 1) aqueles que percebem o aumento nas áreas de soja como um fator de
influência negativa na atividade pecuária, predominantemente formado por pecuaristas tradicionais, os quais a
pecuária é herança familiar; 2) aqueles que veem o aumento da soja como benéfico para a atividade constituído,
majoritariamente, por agricultores que chegaram ao município em busca de áreas maiores de terra para
desenvolver a agricultura, os chamados “gringos”, em geral, descendentes de alemães e italianos inserindo-se na
atividade pecuária e um 3° grupo que percebe o aumento nas áreas de cultivo da soja como uma influencia
positiva e negativa para a atividade formado por pecuaristas que se envolvem direta ou indiretamente com o
cultivo da soja, por meio de arrendamento de ou para terceiros.
Palavras-chave: Pampa; Pecuária; Soja

Abstract
In Brazil, the Pampa biome is restricted to the southern half of Rio Grande do Sul, traditionally known for the
vocation for livestock breeding, due to the natural pastures of the biome, where the areas planted with soybeans
are growing significantly. Thus, the objective of this article is to understand how cattle ranchers - the main
social category responsible for animal husbandry in the Pampa - is related to the progress of this activity.
Methodologically, this research was of descriptive explanatory type, using as an information gathering
technique the in-depth interview with cattle ranchers in the municipality of Dom Pedrito, where in four years the
area occupied by soybeans presented growth of 280%. The main results show a diversity of perceptions, mainly
related to the motivations for the practice of livestock activity and focused on three main groups: 1) those who
perceive the increase in soybean areas as a factor of negative influence on livestock activity, predominantly
formed by traditional ranchers whose livestock is a family heritage; 2) those who see the soybean increase as
beneficial to the activity constituted, mostly, by farmers who arrived in the municipality in search of larger areas
of land to develop agriculture, so-called "gringos", generally descendants of Germans and Italians entering in
the livestock sector and a third group that perceives the increase in the areas of soybean cultivation as a positive
and negative influence for the activity formed by cattle ranchers who are directly or indirectly involved in the
cultivation of soybeans, by renting or for third parties.
Keywords: Pampa; Livestock; Soy

1 Introdução
No Brasil, a soja começou a ser cultivada de modo mais extensivo depois dos anos
1940. Nas décadas de 1950 e 1960, a soja começa a ser incorporada como insumo
suplementar na indústria de alimentos, passando na década de 1970 a ser insumo básico na
produção de margarina e óleos vegetais, especialmente após massivas campanhas
publicitárias para introduzir novos hábitos de consumo. Na década de 1980, com o rápido
desenvolvimento da criação de frangos e suínos confinados em larga escala sob o controle de
grandes empresas, especialmente na região sul do Brasil (oeste de Santa Catarina, norte do

1 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) – UFRGS julianamoreira1985@gmail.com


2 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) – UFRGS alessandramatte@yahoo.com.br
3 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) – UFRGS marcelo.conterato@ufrgs.br

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Rio Grande do Sul e oeste e sudoeste do Paraná), que a soja ganhou peso como base da ração
de animais, em uma estratégia lateral para obter lucros a partir do farelo, um subproduto
anteriormente considerado não mais que um mero resíduo (ESCHER, 2016, p. 148).
Além dos incentivos para o aumento da inclusão da utilização da soja, fatores
estruturais foram fundamentais para o crescimento do cultivo do grão, como a promulgação
da Lei Kandir, em 1996, que desonerou o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS)
na exportação de matérias-primas e manteve o ônus sobre produtos processados, melhorando
a competitividade dos primeiros e rebaixando a dos segundos. Entretanto, o boom da soja fez
com que as pressões do agronegócios aumentasse, em especial da Associação Brasileira de
Produtores de Óleos Vegetais (ABIOVE), para elevar a demanda interna de esmagamento de
soja, fazendo com que em 2004 o governo estabelecesse o Programa Nacional de Produção e
Uso de Biodiesel (PNPB) que exige uma mistura na composição do diesel. Um conjunto de
tecnologias de produção como melhoramento vegetal com novas variedades de sementes
transgênicas, técnicas de manejo e fertilidade do solo com plantio direto, controle de plantas
daninhas, pragas e doenças com o uso de agroquímicos, entre outras contribuiu para estes
resultados (ESCHER, 2016).
Diante desse contexto, no Rio Grande do Sul, a soja consolidou-se nas regiões
Noroeste, Nordeste, Centro Ocidental e Centro Oriental, que somadas até o ano de 2016,
possuíam 4.363.974 de hectares plantados com soja, com produtividade média de 64,15
sacas/ha (IBGE, 2016). Entre os anos de 2010 e 2016 não houve um aumento significativo
nas áreas cultivadas com o grão nessas regiões, visto que a taxa de crescimento foi em média
de apenas 21% nessa região, enquanto que nas regiões Sudoeste e Sudeste do estado,
tradicionalmente destinadas à atividade pecuária, as áreas cultivadas com soja tiveram uma
taxa de crescimento de 153% entre 2010 e 2016, passando de 391.940 ha para 992.976 ha,
com uma média de produtividade de 31 sacas/ha.
De acordo com a Emater/RS-Ascar, atualmente, a área cultivada no Rio Grande do Sul
é de cerca de 5,71 milhões de hectares, 3,29% a mais em relação à safra anterior. Se
considerada a evolução da cultura nos últimos 10 anos, há uma ampliação de 112,92% na
produção (de 8,02 milhões de toneladas, em 2009, para 17,08 milhões de toneladas, em 2018),
enquanto que a área cresceu 49,35%. No entanto, a instituição estima que a produção total
desta safra represente uma redução de 8% em relação ao ano anterior (18,57 milhões de
toneladas), resultante principalmente de fatores climáticos adversos em algumas regiões
(EMATER, 2018).
Nas últimas décadas, um acelerado processo de transformação vem sendo observado
na área compreendida pelo bioma Pampa, e diversos fatores contribuem para a crescente
redução de campos naturais. No Brasil, o bioma está restrito ao estado do Rio Grande do Sul,
compreendendo 63% do território estadual e 2,07% do território brasileiro (IBGE, 2005). O
Pampa, mesmo se tratando de um patrimônio natural, genético e cultural de importância
nacional e global, atualmente, é considerado o segundo bioma mais ameaçado do país, atrás
apenas do bioma Mata Atlântica (ATLAS, 2015). Nesse contexto, em que se observa o
avanço do cultivo da soja sobre área tradicionalmente reconhecida pela sua vocação pecuária,
o objetivo do texto centra-se em compreender como os pecuaristas do sul do estado tem se
relacionado com essa atividade. Para tanto, o texto foi estruturado em três partes, seguido das
considerações finais. A primeira apresenta o referencial que sustentou o debate, a segunda, o
método e, na terceira, são apresentadas as análises dos resultados.
2 A pecuária e a mudança produtiva sobre o bioma Pampa
Em âmbito mundial, de acordo com a Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO) a produção de gado é a atividade que ocupa maior área de
terras agrícolas no mundo, distribuída em distintas regiões do planeta. Ainda segundo essa
organização, a atividade pecuária é realizada, principalmente, por pequenos produtores em
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diversas regiões, como no continente africano. Além disso, possui relação direta com a
produção de grãos e com o cultivo e manutenção de pastagens naturais. A pecuária contribui
para diversos sistemas agroalimentares em todo o mundo, desempenhando muitos papéis para
diferentes grupos de pessoas. Do ponto de vista da sustentabilidade do setor pecuário global,
existem quatro aspectos importantes e inter-relacionados: segurança alimentar e nutricional;
meios de subsistência e crescimento; saúde e bem-estar animal, clima e uso dos recursos
naturais (FAO, 2014; 2018).
A pecuária na metade sul do Rio Grande do Sul foi sinônimo durante muitas décadas
de grandes latifúndios improdutivos desconsiderando a necessidade de áreas maiores de terra
para a criação de gado de corte e a relação com seu território, bem como uma categoria social
tradicional do Pampa que representa uma forma de produção que mantém vivo um modo de
produção que conserva a atividade pecuária e as pastagens naturais, a pecuária familiar. Os
pecuaristas familiares têm recebido o devido reconhecimento e valorização como categoria
social que sempre esteve presente nesse contexto, ainda que, por muito tempo, tenha ficado
invisibilizada. A exemplo, está o lançamento, em 2016, do livro “Pecuária Familiar no Rio
Grande do Sul: história, diversidade social e dinâmicas de desenvolvimento”, que reúne o
conjunto de estudos desenvolvidos sobre essa categoria social na última década e meia,
desvelando suas condições de vida e caracterizando-a como um ator social diferenciado étnica
e culturalmente, ligado a um conjunto de fenômenos históricos (WAQUIL et al., 2016). Em
sua essência, o pecuarista familiar tem como tradição a criação de animais, detendo domínio e
conhecimento sobre essa prática, como ter sido reconhecido por um conjunto de estudos
desenvolvidos com essa categoria social (WAQUIL et al., 2016).
Com objetivo de compreender a percepção dos pecuaristas familiares e não familiares
sobre a atividade pecuária diante do aumento nas áreas cultivadas com soja, foi escolhido o
município de Dom Pedrito, localizado no bioma Pampa, como contexto para análise dessas
mudanças. De acordo com Barreto (2011), desde 1945, havia dados de produção de arroz no
município de Dom Pedrito, cultura que ganha força em 1970 com a migração de descendentes
de italianos e alemães, conhecidos como “gringos”, vindo da região das colônias do norte do
Rio Grande do Sul, em busca de oportunidades de aquisição de terras a preços acessíveis para
o cultivo do arroz. De acordo com Barreto (2011) a consolidação do arroz reconfigurou
territorialmente os espaços de produção se destacando como elemento modernizador da
produção e das relações comerciais no município, seguido pela produção de soja,
representando uma alternativa de lavoura capitalista para o investidor agrícola, o que exibe o
perfil do produtor de Dom Pedrito.
Como ilustrado no Gráfico 1, a área destinada ao cultivo da soja está crescendo, o que
vem ocorrendo principalmente a partir de 2000, apresentando brusco aumento nos últimos
cinco anos. Para o período compreendido entre 2011 e 2015, a ocupação dessa atividade
representou crescimento de 280% para Dom Pedrito. Fica evidente que Dom Pedrito
marcadamente é o município com maior área cultivada se comparado a outros municípios
abrangidos pelo bioma Pampa, favorecido por um conjunto de fatores, dentre os quais a
topografia de solos planos e a presença de agricultores que já realizavam esse cultivo antes
mesmo desse acentuado crescimento.

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Gráfico 1 – Área de soja plantada (hectare) no município de Dom Pedrito

Fonte: Elaborado pelos autores com base em IBGE (2016).


No entanto, a quantidade média de soja produzida apresenta oscilações que nem
sempre acompanham o crescimento da área de terra cultivada. No caso do município de Dom
Pedrito, este apresenta crescimento da área cultivada de 2013 para 2014, no entanto a
quantidade produzida cai na proporção de 19,3% (de 180.900 toneladas para 145.920
toneladas). Em ambos os gráficos, é possível observar que o impacto do longo período de
restrição hídrica no verão de 2005. Essa situação pode ser observada por uma redução na área
plantada em 2006 para todos os municípios, consequentemente, na quantidade de soja
produzida em 2005 e 2006. Se comparada à atividade pecuária, o cultivo de soja é mais
vulnerável a mudanças climáticas, aspecto encontrado entre os argumentos daqueles
pecuaristas que têm cautela em relação ao cultivo dessa leguminosa.
A produção de soja pode ser entendida a partir de diferentes discursos, desde os mais
“unilaterais”, que afirmam com veemência que sua produção em grande escala pode gerar
desenvolvimento econômico, até os mais críticos que consideram a monocultura da soja um
pilar para o subdesenvolvimento e a dependência de muitos países, como o Brasil, de um
cenário internacional que estabelece as regras do atual sistema agroalimentar,
desconsiderando os problemas sociais e ambientais. Por isso, entender qual a percepção dos
pecuaristas desse município a respeito do cultivo da soja, inspirou a realização deste estudo.
Assim, na próxima seção apresentamos as balizas que conduziram o método de estudo.
Método
O método de pesquisa foi do tipo descritivo explicativo. Quanto à abordagem da
pesquisa o estudo foi definido como qualitativo, uma vez que essa não se preocupa com
representatividade numérica, mas, sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo
social e empenha-se em trazer aspectos da realidade que não podem ser quantificados,
concentrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais (CÓRDOVA;
SILVEIRA, 2009).
Para tanto, a principal técnica de coleta de informações foi a entrevista, a qual tem
como principal característica envolver um processo de conversação orientada. O tipo de
entrevista selecionado foi a entrevista em profundidade, na qual se obtêm informações sobre
determinado problema por meio de um conjunto de temas relacionados, (GÓMEZ et al.,
1996). A seleção dos entrevistados aconteceu por meio de indicações de informantes-chave
locais e pecuaristas gerando novas indicações. A entrevista foi elaborada com o objetivo de
identificar como os pecuaristas percebem a atividade pecuária diante do aumento das áreas
cultivadas com soja no município. Assim, foram realizadas 17 entrevistas entre 2017 e 2018,
sendo que as entrevistas realizadas no ano de 2018 estão veiculadas ao projeto Global-Rural:
Mudança Rural e Desenvolvimento na Globalização, sendo esse um grande projeto de
pesquisa financiado pelo Conselho Europeu de Pesquisa que visa avançar na compreensão do
funcionamento e impacto da globalização em regiões rurais. Para a análise dos resultados,
fez-se uso da análise de conteúdo. O local de estudo foi o município de Dom Pedrito (Figura

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1), em que 90 % da população reside na área urbana e apenas 9, 37 % vive na zona rural
(IBGE, 2016).
Figura 1 – Mapa do COREDE Campanha, com destaque ao município de Dom Pedrito

Fonte: Elaborado pelos autores.


4 Avanço no cultivo da soja sobre o bioma Pampa: Percepção dos pecuaristas
Ao analisar os discursos dos pecuaristas entrevistados, é possível constatar que a
inserção do cultivo da soja enquanto atividade produtiva na região, e, para alguns, em suas
propriedades na forma de arrendamento, tem influenciado diretamente sobre a criação
pecuária. Esses resultados apontam que o cultivo da soja não é realizado tão somente por
agricultores e em grandes extensões de área de terra, mas demonstram que ele também tem
adentrado estabelecimentos de pecuária familiar, mesmo que em menor escala produtiva.
Conforme Vennet, Schneider e Dessein (2016), mais de 30% dos produtores de soja no
Estado do Rio Grande do Sul são agricultores familiares, fato que não é evidenciado por haver
uma concepção de que a produção de soja é quase que exclusivamente empresarial.
Corroborando com os autores, Mier e Cacho (2016) reforçam que há diferentes estilos de
agricultura no cultivo da soja, os quais não podem ser ignorados, pois as ações dessas
distintas categorias de agricultores refletem-se nas mudanças de trajetórias de longo prazo da
produção agrícola/agropecuária.
O cenário de expansão da soja e sua incorporação no contexto da pecuária não fica
restrito apenas à realização do cultivo, mas à própria interação da pecuária com a atividade.
Isso ocorre porque, após a retirada da soja, com o propósito de oferecer uma cobertura ao solo
até o cultivo seguinte, os agricultores realizam especialmente o plantio de aveia e de azevém.
Essas pastagens têm sido utilizadas na alimentação para animais durante os meses de inverno,
o que representa uma opção de áreas de arrendamento para os pecuaristas familiares e/ou um
novo canal de comercialização, em que os cultivadores da soja optam por realizar a engorda
de animais sobre as áreas que estarão cobertas por pastagens. O plantio da soja é comumente
realizado no período iniciado em setembro-outubro, e a colheita ocorre a partir de março,
podendo iniciar ao fim de fevereiro e terminar ao fim de maio. A esse respeito, há indícios de
novas reconfigurações mercantis em torno do mercado de animais, sobretudo causadas pelo
avanço das lavouras de soja (MATTE, 2017).
Assim, ao analisar a percepção dos pecuaristas sobre a atividade pecuária diante do
avanço das lavouras de soja, para analise as percepções que se aproximavam foram
concentradas em três grupos principais: 1) aqueles que percebem o aumento nas áreas de soja
como um fator de influência negativa na atividade pecuária, predominantemente formado por
pecuaristas tradicionais os quais a pecuária é herança familiar; 2) aqueles que veem o
aumento da soja como benéfico para a atividade constituído, majoritariamente, por
agricultores que chegaram ao município em busca de áreas maiores de terra para desenvolver
a agricultura, os chamados “gringos”, em geral descendentes de alemães e italianos inserindo-
se na atividade pecuária e um 3° grupo que percebe o aumento nas áreas de cultivo da soja
como uma influencia positiva e negativa para a atividade, formado por pecuaristas que se
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envolvem direta ou indiretamente com o cultivo da soja, por meio de arrendamento de ou para
terceiros. Em essência, há uma linha tênue entre os pecuaristas na avaliação sobre o cultivo da
soja, em que é possível constatar que, enquanto alguns estão seguros de sua opinião, outros
estão cercados por incertezas e têm buscado, na interação com outros atores sociais,
argumentos para estabelecer uma interpretação sobre a relação do cultivo da soja com a
criação pecuária.
A expansão do cultivo da soja é compreendida predominantemente como não
satisfatória para boa parte dos pecuaristas pesquisados. Entre os argumentos que conformam a
interpretação de que a soja não reflete benefícios para a atividade, estão: diminuição de áreas
de campo nativo para arrendamento para a pecuária; supressão do campo nativo e
consequente incerteza sobre o uso dessa área caso o cultivo da leguminosa seja interrompido;
utilização de agroquímicos e seus reflexos sobre perda da biodiversidade de fauna e de flora;
redução de pecuária ovina e bovina; aumento no custo de produção (sementes); e envio pelos
agricultores de fêmeas bovinas para abate, o que pode ser um risco em longo prazo, visto que
estas são as responsáveis pela reprodução dos animais. Tais argumentos estão ilustrados nos
discursos a seguir.
Dessecar esses campos é uma judiaria. Esses veneno da soja são brabíssimo, pra dessecar,
veneno da lagarta. No arroz não era tanto. Dependendo de onde tá o vento queima um pouco
o campo. Eu tenho impressão, eu acho que a pecuária vai voltar. Vai voltar porque do jeito
que tá indo a crise aí. Os insumos muito caro, esses coisa aí né. Então, eu acho que vai ficar,
já tá ficando só as lavouras forte, os lavoureiro grande, os médio e os pequeno tão quebrando.
Não sou contra a lavoura porque o pessoal precisa dar emprego prá o pessoal e isso aí é bom,
né, mas eu acho que um pouco mais da pecuária tinha que voltar, até prá preservação, se não
vai terminando tudo (Pecuarista 12, Dom Pedrito, 2017).
A soja tem chegado. Bah, a pecuária diminuiu muito. [...] Depois da soja, essa coisa de
dessecar, só vem porcaria, ganxuma, caruru. E pra tu recompor um campo desses, não é fácil.
(Pecuarista 1, Dom Pedrito).
Aqui, você entra na estância, você não vê soja, vê campo nativo [...] isso é o importante do
pampa gaúcho, que hoje está se perdendo isso aí. Até os anos 2000 mais ou menos essa
propriedade nunca tinha tido nenhuma lavoura. O pecuarista tradicional, tipo meu pai, ele não
está interessado em plantar soja, ele sede uma área, terceiriza, sede como um arrendamento
duma área, em um período específico de tempo e recebe uma porcentagem e depois
transforma em pastagem, esse é o maior objetivo, que vai pegar o período de inverno
(Pecuarista 11, Dom Pedrito).
Mas hoje quase que 90% dos lavoureiro estão criando gado também, porque muitos dizem
que se vão mal de colheita tem o gado. Quase ninguém é só plantador (Pecuarista 3, Dom
Pedrito).
Já vieram me oferecer prá arrendar prá soja, mas eu só falei prá o cara assim: E eu enfio o
meu gado aonde? O campo cheio de gado de produção aí, tu não tá vendo? E mesmo que não
tivesse eu recebia por cabeça, recebia percentagem e coisa, não tem problema, a mercadoria
que eu tenho é o pasto, né [...] E esses campo são bom (Pecuarista 10, Dom Pedrito).
Se antes a prática do arrendamento de áreas de campo era encontrada com maior
frequência entre os pecuaristas familiares, atualmente ela tem reduzido consideravelmente
diante da concorrência com o cultivo da soja. Segundo Matte (2013), a dificuldade em
encontrar área temporária para a pecuária representa uma vulnerabilidade para 57% dos
pecuaristas, em decorrência do avanço de atividades como cultivo da soja e da silvicultura
sobre as áreas de campo nativo. Para um grupo de pecuaristas, está em jogo o futuro do
campo nativo nas áreas em que a soja tem avançado, o intenso uso de agroquímicos nesse
cultivo e seus resquícios no ambiente (água, fauna, flora) e a crescente redução no número de
pecuaristas, e, portanto, no número de animais.
Com base nisso, entre as incertezas que acometem os pecuaristas, centra-se a que diz
respeito à forma como essas áreas hoje cultivadas com soja estarão no momento em que o
cultivo deixar de ser realizado sobre os campos, caso isso ocorra. Conforme relato desses
produtores, o campo nativo acaba perdendo sua diversidade de espécies forrageiras,
retomando o crescimento apenas de plantas que não possuem muita palatabilidade aos
animais, consideradas espécies daninhas. O repovoamento da fauna levaria anos, bem como

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um processo de constante rodízio de animais, para que, assim, contribuíssem com a
disseminação de sementes transportadas de outras áreas. Entretanto, pouco ou nada se sabe
acerca dessa situação. De acordo com Valls et al. (2009, p. 147), um eventual retorno desses
campos “será sempre marcado por um enorme rebaixamento de sua produtividade original,
abertura à entrada fácil de espécies invasoras e perspectivas muito baixas de sustentabilidade
futura”.
Tal problemática relativa ao cultivo da soja também é encontrada em estudo realizado
por Gonzáles Ruiz e Sacco dos Anjos (2015) no Uruguai, tendo por base a região de Cerro
Largo, limite com o Brasil, que registra o relato de produtores familiares tradicionais que
estão rodeados pelo cultivo da soja, caracterizando um contexto hostil para eles. Os autores
destacam que, nas regiões de instalação de empreendimentos dedicados, sobretudo, ao cultivo
da soja e da silvicultura, tais atividades representam uma ameaça para as formas tradicionais
de produção familiar no Uruguai. Entre as estratégias para resistir e se adaptar, estão as que
envolvem o exercício da pluriatividade, a produção voltada para o autoconsumo, as vantagens
econômicas derivadas do contexto geográfico fronteiriço e os recursos de transferências
governamentais (GONZÁLES RUIZ; SACCO DOS ANJOS, 2015).
No grupo que percebe o avanço do cultivo da soja como um fator que influencia
positivamente a pecuária, os argumentos estão sustentados principalmente com base em
elementos econômicos. Primeiro, constata-se um satisfatório retorno financeiro do
arrendamento de parte da área de terra para o cultivo da soja. Segundo, a arrecadação de
impostos para o município tem aumentado à medida que aumenta a produção de soja. O
terceiro argumento está no aumento da demanda por animais, resultante principalmente do
crescimento de pastagens cultivadas, localizadas em áreas de cultivo de soja. Derivado do
anterior, o quarto argumento arvora-se no aumento do preço pago pelos animais. De alguma
forma, os discursos que orientam a interpretação de que a presença da soja implica retorno
satisfatório aos pecuaristas e aos mercados que acessam estão pautados em uma interpretação
de motivações exclusivamente monetárias, denotando afastamento com relação a aspectos
ambientais.
Corroborando com tais resultados, estudo de Matte (2013) destaca que, para 78% dos
pecuaristas entrevistados, a soja não possui nenhuma importância e não representa situação
que possa causar vulnerabilidade. Silva et al. (2014), ao analisar aspectos econômicos de
propriedades que desenvolvem a pecuária no Brasil, constatam que são comumente
encontrados comparativos de rentabilidade entre produção de soja e pecuária, em que os
produtores salientam a segunda como não remuneradora, se comparada à primeira. Mesmo
assim, os autores mostram que os produtores permanecem com a pecuária tendo como aspecto
motivador o baixo risco da atividade, argumento encontrado em 100% das 193 propriedades
analisadas em seu estudo. Entre as justificativas, está o exemplo relativo a períodos de seca,
em que ocorre a perda quase total da produção no caso de lavouras, momento em que a
rentabilidade é parcialmente garantida na pecuária mediante suplementação e redução da
lotação (SILVA et al., 2014).
Para esses produtores, não são levados em consideração aspectos ambientais, como os
argumentos encontrados no outro grupo. As falas a seguir ilustram esses argumentos.
Eu acho que isso é muito bom para o município, isso é muito bom, porque geram bastante
imposto para o município. Para a pecuária não tem influencia nenhuma, não muda nada
(Pecuarista 18, Dom Pedrito).
Hoje tu não consegue mais campo pra arrendar, porque tu coloca por cabeça e chega o
plantador de soja e ele oferece para aquele proprietário da terra, três vezes mais o que o
produtor de gado ta te pagando. E tu é obrigado a arrendar pra ele, porque tu vai deixar de
ganhar aquela baita receita ali, adiantado e tudo (Pecuarista 4, Dom Pedrito).
Até o ano passado tinha gado. Na média do ano eu fazia 600 cabeça. Eu fiz o seguinte, os
cunhados pararam com o gado porque deu uma quebra grande no gado eles pararam com o
gado e aí eu “to” pagando eles com grão. Entendeu. Porque aí eu cheguei à conclusão o
seguinte, que gado e soja não funciona. Porque compacta o solo, porque atrasa o plantio. Não
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combina, soja com gado aqui nessa região não combina. Tu colhe mais soja, o que tu ganha
em gado tu perde em soja. Eu fiz essa conta, anos fazendo essa conta e cheguei a conclusão
que não dava mais.
(Pecuarista 7, Dom Pedrito).
Em meio ao discurso de benefícios econômicos com a atividade, também pairam
aspectos que causam incertezas, como a disponibilidade de campo nativo a longo prazo e a
própria oferta de animais, em especial fêmeas bovinas e rebanho ovino. No entanto, alguns
produtores sustentam que, mesmo assim, a atividade retribui benefícios. Segundo estudo
realizado por Wesz Jr. (2016), nos países do Cone Sul, quais sejam Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai, os grandes líderes mundiais da soja, representados por um pequeno grupo
de empresas, têm sido agentes de promoção de um rápido e intenso processo de
internacionalização desse mercado que, entretanto, está cada vez mais dependente de uma
consolidada base de relações de proximidade, confiança e reciprocidade com os atores locais.
Por isso, à medida que identificam espaços propícios ao cultivo da soja, essas empresas
movem-se em direção a esses locais, com seu marketing, suas imponentes estruturas e ações
de consolidação por meio da construção de laços locais, como vêm ocorrendo no sul do Rio
Grande do Sul. Em um contexto mais geral, de acordo com a OCDE/FAO (2014), o
continente americano é atualmente o responsável por cerca de 86% de toda soja produzida no
mundo, uma das principais commodities negociadas nos mercados internacionais, em que o
Brasil está como 2° colocado no ranking mundial, gerando aproximadamente 27% do total
produzido no mundo.
Estudo realizado no âmbito do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
(Cepea) aponta que a rentabilidade dos sojicultores, em especial do Rio Grande do Sul, está
próxima a zero (GUEDES, 2017). Conforme apontado, apesar da supersafra, o preço pago
pelo produto caiu, em detrimento do aumento no custo total e nos gastos variáveis, resultando
em uma receita que não cobre os investimentos (GUEDES, 2017). Ainda segundo esse
estudo, o principal fator dessa situação é o aumento na utilização de defensivos. Sem dúvida,
esses dados contestam os argumentos apresentados pelos pecuaristas familiares de que a soja
possa ser mais rentável que a pecuária.
Por fim, um pequeno grupo não tem certeza sobre os impactos que o cultivo da soja
possa estar causando. Assim como defendem a ideia de que o cultivo desse grão possa
representar uma concorrência com a pecuária, avaliam também que seu retorno econômico
pode ser positivo ao município.
Em essência, há que se considerar que existe uma diversidade de atividades produtivas
sendo implantadas no território do bioma Pampa por diferentes motivos, e a soja pertence a
esse leque. Essa atividade está estabelecendo uma relação com o mercado de animais, ao
absorver um significativo contingente para a terminação em áreas com pastagem cultivada.
No caso da soja, conforme alguns pecuaristas, a atividade de cultivo desse grão, não em
excesso, pode ser positiva para a pecuária e para a região. Estes posicionam-se em oposição a
um entendimento de que esse cultivo provoca impactos negativos sobre setores relacionados à
pecuária, como disputa por área de terra, pressão à modernização da atividade pecuária e, em
grande escala, produção de uma commodity com destino à exportação em detrimento a uma
tendência de importação de proteína animal. Essas questões merecem ser investigadas para
além das relações ambientais (água, solos, fauna e flora) e da atividade com o ambiente.
No caso da presença de lavouras de soja, a atividade tem revelado um cenário
contestatório e polêmico que divide opiniões entre os pecuaristas. Segundo estes, o cultivo
possui um ciclo produtivo curto, o que permite ao pecuarista tirar alguma forma de benefício
dessa condição, seja por meio da venda de animais para o agricultor, que irá invernar (realizar
a engorda), seja por meio do arrendamento da área de pastagem após a colheita. Contudo,
paradoxalmente, a longo prazo, há um cenário de incerteza e insegurança, provocado por
dúvidas no que concerne à regeneração do campo nativo após o plantio da lavoura, aos
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impactos ambientais e à saúde humana diante do excessivo uso de agrotóxicos, e aos
questionamentos sobre quem permanecerá na pecuária para realizar a cria de animais
(reprodução). De maneira geral, para alguns pecuaristas familiares, as lavouras de soja
representam uma oportunidade que agrega e que compõe a renda do estabelecimento quando
do arrendamento de área de terra para o cultivo, enquanto, para outros pecuaristas, as lavouras
representam uma situação que gera riscos diversos, como já mencionado.
5 Conclusões
O cultivo de soja no bioma Pampa vem influenciando nas práticas da pecuária de
diferentes formas e a partir de diferentes perspectivas. Na percepção dos pecuaristas, como
observado, as opiniões se dividem. Para alguns, o avanço da soja consiste de ameaça sobre a
continuidade da atividade pecuária na medida em que reduz a área de pastagens naturais e o
número de pecuaristas a realizarem a criação de animais. Entre as principais preocupações dos
pecuaristas é a conservação do campo nativo, demonstrando a forte ligação com as
características naturais daquele espaço, o que pode ser um importante fator para o
desenvolvimento de políticas públicas de valorização de práticas tradicionais ligadas ao lugar.
Para outros, consequência do cultivo da soja é o aumento de pastagens cultivadas durante o
inverno, período de escassez de alimentos, além disso, permite maior arrecadação de impostos
para o município.
Assim, não só o sistema produtivo de pecuária é influenciado pelo avanço do cultivo
da soja, como também o “lavoureiro” é influenciado pela pecuária, visto que passam a realizar
a terminação de animais nas áreas de cultivo de soja, por meio do cultivo de pastagens.
Embora haja um crescente debate sobre as consequências do monocultivo da soja entre os
atores locais do bioma Pampa, é possível observar que o status quo favorece a consolidação
do “complexo soja” na região. Por isso, é urgente a necessidade de estudos sobre essa recente
e rápida mudança em curso sobre o sul do Rio Grande do Sul, visto que essas novas
dinâmicas produtivas podem influenciar sobre os mercados de animais, da carne e de grãos.

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Evidências de Cooperação e Intercooperação na “Rota das Salamarias”
Evidences of Cooperation and Intercooperation in the “Rota das Salamarias”

Anaise Dalla Corte 11, Ana Claudia Machado Padilha 2, Marcelo Matos de Sá3, Renata
Gonçalves Rodrigues4,
Resumo
A capacidade de utilização das potencialidades locais, dos recursos e das relações estabelecidas contribuem para
a melhoria da competitividade no mercado, nesse sentido, a formação de um roteiro turístico, no meio rural,
contribui para que os produtores diversifiquem suas atividades laborais e, como consequências, gerem renda não
agrícola e divulguem a cultura e patrimônio locais. Esse trabalho realizou um estudo sobre cooperação e
intercooperação no roteiro turístico “Rota das Salamarias”, que está localizado no município de Marau-RS e, a
partir da articulação entre poder público e atores locais foi estabelecida a rota. Como resultados, foi identificado
que a cooperação e a intercooperação contribuem para que os atores sociais, por meio da atividade turística,
superem dificuldades de forma coletiva ao mesmo tempo em que fortalecem relações de confiança e aumentam o
fluxo em seus estabelecimentos. Foi identificado cooperação interorganizacional lateral entre as organizações
que atuam no mesmo segmento, demonstrando o interesse mutuamente compatível entre os membros que atuam
em segmentos similares.
Palavras-chave: Roteiro; Turismo no meio rural; Relações de Confiança; Iramuteq.

Abstract
The capacity to use local potential, resources and established relationships contributes to the improvement of
competitiveness in the market. In this sense, the formation of a rural tourism itinerary helps producers to
diversify their work activities and, as a consequence , generate nonfarm income and disseminate local culture
and heritage. This work carried out a study on cooperation and intercooperation in the tourist route "Rota das
Salamarias", which is located in the city of Marau-RS and, based on the articulation among public power and
local actors, the route was established. As a result, it was identified that cooperation and intercooperation
contribute to the social actors, through tourism, overcome difficulties collectively while strengthening
relationships of trust and increase the flow in their establishments. It was identified lateral interorganizational
cooperation between the organizations that work in the same segment, demonstrating the mutually compatible
interest among the members that operate in similar segments.
Keywords: Itinerary; Rural tourism; Trust Based Relationships; Iramuteq.

1 Introdução

Em uma comunidade, a capacidade de utilização das potencialidades locais, dos


recursos e das relações estabelecidas contribuem para a melhoria da competitividade no
mercado (Rodrigues, Dewes e Souza, 2017). No meio rural, um ambiente dinâmico no qual
cada vez mais surgem iniciativas voltadas para a implementação de roteiros turísticos
(Briedenhann, 2004; Tomazzoni, 2009), visando melhores oportunidades, desenvolvimento,
geração de emprego e renda, bem como a valorização do patrimônio e cultura locais (Bryden,
1973).
Inseridas nesse contexto encontram-se as unidades de produção familiar engajadas em
atividades tipicamente agrícolas, que, entretanto, apresentam a possibilidade de diversificação
(Kastenholz, 2014), com potencial de desenvolvimento e diferenciação em uma localidade,
por meio de arranjos cooperativos e intercooperativos, no âmbito do turismo no meio rural
(Rodrigues e Souza, 2015).

1Formação/Filiação do autor1- endereço eletrônico autor1


2Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAdm) da Universidade de Passo Fundo (UPF), Brasil.
E-mail: anapadilha@upf.br2
3 Bacharel em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil. E-mail:

mmatos1978@outlook.com3.
4Doutora em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil. E-mail:

renata_gr@yahoo.com.br4
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521
A cooperação desempenha um papel central para as comunidades de destino turístico
(Beritelli, 2011), uma vez que empresas organizadas sobre a forma de cooperação reduzem os
riscos e aproveitam as oportunidades, obtendo ganhos que no nível individual não
alcançariam, tornando-se assim mais competitivas (Da Silva, 2004, Czajkowski e Cunha,
2010, Rodrigues e Souza, 2015). Nesse sentido, a cooperação e intercooperação são
elementos que auxiliam as empresas a superarem suas limitações e aumentarem a
competitividade, contribuindo para a sobrevivência e/ou o sucesso das empresas turísticas
(Rodrigues e Souza, 2015, Fyall e Garrod, 2005).
É nesse universo que emerge a necessidade da realização de pesquisas, para que se
responda “Como se desenvolve a cooperação e a intercooperação entre produtores rurais em
um roteiro turístico?”. Para esse estudo foi selecionado o roteiro turístico, “Rota das
Salamarias” localizado nas comunidades rurais de Nossa Senhora do Carmo, São Luiz da
Mortandade e Taquari, pertencentes ao município de MARAU- RS. Com o objetivo de
analisar a cooperação e a intercooperação entre produtores rurais, especialmente para o
desenvolvimento dos roteiros turísticos localizados no meio rural. Como justificativa, a
compreensão dos aspectos que envolvem a cooperação e intercooperação entre produtores
rurais, caracterizando as formas de cooperação e intercooperação existentes no roteiro
estudado, verificando se as mesmas foram espontâneas e/ou induzidas. Estudos como esse,
contribuem para a estruturação e desenvolvimento do turismo no meio rural, uma vez que, se
destaca como atividade indutora do crescimento assumindo um papel chave nas estratégias de
desenvolvimento regional (Araújo, 2010, Hall et al, 2003).

2 O Turismo no Meio Rural e o Turismo Rural

O turismo se constitui como uma importante atividade no contexto de muitas


economias (Macdonald e Jolliffe, 2003; Eusébio, 2017). Cada vez mais, as pessoas são
motivadas a conhecer novos destinos, outras culturas, e novas experiências (Elesbão, 2014),
sob esse olhar, o turismo no meio rural emerge como um segmento importante dentro da
atividade turística que pode ser percebida como uma ferramenta na geração de empregos em
nível local e incremento da renda (Fleischer e Felsenstein, 2000).
Os destinos turísticos em áreas rurais atraem e mantêm diferentes tipos de
empreendimentos (Getz e Carlsen, 2000), que vêm sendo associados às atividades orientadas
para o consumo de serviços, que se somam, ou complementam a atividade agrícola (Froehlich
e Rodrigues, 2000, Bathke, 2002, Scott, Cooper & Baggio, 2008). Indicando a existência de
uma relação entre a atividade no meio rural com o desenvolvimento local, enfatizando os
aspectos de coletividade, que, por sua vez, podem incrementar e desenvolver suportes para
atividades turísticas, como infraestrutura e oportunidades (Almeida e Blos, 2000, Okech,
Haghiri e George, 2015).
A atividade turística no meio rural, engloba diversas formas de turismo, onde o
produtor rural passa a ser empreendedor e prestador de serviços turísticos. Aliado ao turismo
está a conservação do patrimônio da região (Blanco, 2009). Esses empreendimentos
estimulam a concorrência e a cooperação, promovem a especialização e inovação, geram
investimento e crescimento, aumentando a produtividade e contribuindo para o
desenvolvimento do destino (Komppula, 2014).
Com relação aos aspectos que podem influenciar a competitividade da atividade
turística em pequenas propriedades, o quadro 1, apresenta um esquema com algumas
dimensões e suas respectivas categorias cujos elementos atuam direta ou indiretamente na
competitividade do turismo em propriedades rurais. Dessa forma, o desenvolvimento da
estratégia baseada na combinação dos recursos ou capitais no turismo rural, remete ao

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entendimento das atividades de lazer e, também, a questões relacionadas à preservação dos
recursos naturais (Kuo e Chiu, 2006).

Quadro 1 – Indicadores de impacto da atividade turística no meio rural


Dimensões Categorias
- Ar
Capacidade física do ambiente - Água
- Solo
- Ecossistemas terrestres
Ecossistemas naturais - Ecossistemas aquáticos
- Qualidade do habitat
Qualidade e segurança pública - Risco de produtos químicos tóxicos
- Recursos florestais
- Recursos aquáticos
Uso de recursos naturais - Recursos energéticos
- Recursos biológicos
Análise econômica de recursos hídricos - Alocação de recursos hídricos
- Paisagem geográfica
Patrimônio cultural e harmonia da paisagem natural - Paisagem ecológica
- Patrimônio cultural
- Mudança econômica da comunidade local
Outros
-Mudança social-cultural da comunidade local
Fonte: Elaborado com base em Kuo e Chiu (2006).

Além disso, é necessário reconhecer e reunir os principais recursos, mas não


suficiente para definir a competitividade, é a combinação destes, de forma criativa, que
pode estabelecer uma série de vantagens competitivas (Teng & Das, 2008, Komppula,
2014). No âmbito do turismo no meio rural o comportamento cooperativo entre os
empreendedores é fundamental para o desenvolvimento de um destino turístico
(Komppula, 2014).

2.1 Cooperação e Intercooperação

A cooperação sempre existiu nas sociedades humanas desde eras mais remotas,
resultante da necessidade de sobrevivência, como meio de subsistência e, sobretudo, como
agrupamento de pessoas que, na divisão do trabalho, no conjunto de suas ideias e no esforço
continuado de suas ações, realizavam seus propósitos e seus objetivos (Binotto, 2005). Assim,
a cooperação é um processo de ação coletiva iniciada por um grupo de pessoas inseridas em
rede em busca de um objetivo comum, podendo ser com finalidade lucrativa ou filantrópica.
Dessa forma, em uma rede cooperativa os atores são capazes de alcançar metas e ações que
eles não poderiam atingir com meios próprios sem essa ação coletiva (Chang, et al., 2010).
Para Mintzberg et al. (1996) a cooperação praticada pelas organizações
(collaboration) pode ser de quatro tipos: a) cooperação interorganizacional upstream, que é
realizada com os fornecedores; b) cooperação interorganizacional downstream, realizada com
os clientes da organização (por exemplo, franquias); c) cooperação interorganizacional
governamental (governo); d) cooperação interorganizacional lateral, com organizações
similares (por exemplo, entre pesquisadores). O mesmo autor indica que a cooperação
intraorganizacional que pode ocorrer ou por intermédio das pessoas, como no caso dos
grupos/equipes ou por intermédio dos negócios, na busca de sinergias entre as organizações.
Após a identificação das dimensões em que ocorre a cooperação, Mintzberg et al.
(1996) citam alguns aspectos interessantes que tangem este processo, destacando-se os
seguintes:
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Quadro 2 - Aspectos que tangem a cooperação interorganizacional.
A colaboração real parece ser de ordem psíquica, pois envolve comunicação entre as partes que
1º precisam ser comunicadores responsáveis para trabalhar face-a-face com outras partes;
2º Não necessariamente os gerentes devem ser incluídos no início do processo de integração;
3º A colaboração também significa aliar-se ao concorrente;
4º Às vezes é mais fácil a cooperação entre inimigos do que com amigos, ou seja, melhor ter ações de
colaboração com agentes longe do que de perto;
5º A cooperação pode facilitar o acesso a determinadas coisas, sendo perfeitamente bem.
Elaborado pelos autores, 2018, a partir de Mintzberg et al. (1996).

Outros autores como Smith, Carrol e Ashford (1995) afirmam que a cooperação deve
ser estudada em apenas dois níveis: um vinculado aos relacionamentos internos das
organizações, denominado de cooperação intraorganizacional; e outro, os relacionamentos
externos das organizações, denominados de cooperação interorganizacional
A confiança também é considerada um fator importante em parcerias cooperativas,
que gera um nível percebido de segurança capaz de demonstrar os interesses mutuamente
compatíveis na aliança (Das e Teng, 1998), ou seja, uma parte confia que a outra parte não
explorará suas vulnerabilidades nas relações de troca (Barney e Hansen, 1994). Baseando-se
na confiança recíproca, os relacionamentos cooperativos constituem uma rede normativa que
ajuda os indivíduos a alcançar objetivos diferentes (Wäsche e Woll, 2010), podendo
incentivar o comportamento cooperativo, reduzir conflitos e aumentar a satisfação dos
membros nas rotas de turismo (Pesämaa e Hair, 2008).
Portanto, pode-se considerar que as alianças bem-sucedidas dependem da capacidade
dos parceiros em confiar, comunicar e coordenar (Kumar e Van Dissel, 1996), uma vez que a
performance não pode ser considerada como objetivo único, pois os agentes ou membros das
organizações têm diferentes interesses e visões de resultado, podendo ser positivo na visão de
uns, e negativo na visão de outros (Rond e Bouchiki, 2004).

3 Procedimentos Metodológicos

Como escolha metodológica, adotou-se a abordagem qualitativa de estudo de caso


(Yin, 1989) contatos iniciais para agendamento das entrevistas via telefone, ocasião em que se
informou o objetivo do estudo e o interesse em coletar dados nas propriedades rurais que
integram o Roteiro.
A coleta de dados ocorreu em 2018 com a aplicação de questionário, com categorias
determinadas a priori a partir da revisão da literatura: cooperação, relacionamentos
interorganizacionais, resultados da cooperação e intercooperação. Foi integrado por 39
perguntas abertas e cinco fechadas (adaptação da escala Likert de 5 pontos que possibilita a
comparação de resultados em estudos multicêntricos) (Briones, 1998). As respostas foram
gravadas em áudio, degravadas, tabuladas e analisadas.
A técnica proposta para analisar os dados coletados nas entrevistas foi a análise de
conteúdo (Bardin, 1997), que será operacionalizada por meio do software IRAMUTEQ
(Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Quastionnaires),
enquanto ferramenta auxiliar aos procedimentos de codificação e organização das
informações obtidas por meio do instrumento de coleta.
Portanto, o conteúdo das entrevistas, obtido por meio do instrumento de coleta de
dados, será transcrito para arquivo de texto no formato UTF-8 e posteriormente processado no
IRAMUTEQ. O software, nesse sentido, é uma ferramenta que auxilia o pesquisador nos
procedimentos de codificação e organização das informações. Em consonância com as
características operacionais do software IRAMUTEQ, os dados foram organizados de acordo
com o disposto no quadro 3.
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Quadro 3 - Organização dos dados no software IRAMUTEQ.
*** *Pergunta_X _*Nome1, _*Nome2 etc.
A sequência de Asterisco seguido da pergunta (como Underline seguido de asterisco e a
quatro asteriscos consta no questionário) utilizando identificação do entrevistado,
informa ao software o underline ao invés de espaços, tem a informa ao software e ao
início do corpus. finalidade de categorizar os dados para pesquisador, que determinado
que o pesquisador se oriente enquanto conteúdo refere-se a fala de
procede às análises. determinado entrevistado.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2018.

Foi realizada análise lexical quantitativa na qual a palavra é considerada como


unidade, enquanto fornece sua contextualização por meio de segmentos de texto do corpus em
análise. Nesse sentido, cada pergunta do instrumento de pesquisa orientou a criação de um
corpus de análise que possibilitou a extração de significado das falas dos entrevistados.
Dentre as ferramentas disponibilizadas pelo software, foram utilizadas a Classificação
Hierárquica Descendente (C.H.D), na qual os segmentos de textos são correlacionados,
consubstanciando-se em um esquema hierárquico de classes de palavras, a partir das quais é
possível identificar e compreender grupos de discursos.

4 Resultados e Discussão

4.1 Caracterização da “Rota das Salamarias”

A “Rota das Salamarias” está situada nas comunidades rurais de Nossa Senhora do
Carmo, São Luiz da Mortandade e Taquari, localizadas no município de Marau – RS.
Partindo da união de inúmeros proprietários rurais, que empreendem na atividade turística no
meio rural. Para viabilizar a criação do roteiro turístico, em junho de 2008, foi constituída a
“Associação Rota das Salamarias”, que tem por objetivo desenvolver, estruturar, organizar e
divulgar o turismo no meio rural. Fazem parte atualmente do roteiro turístico, 13 propriedades
rurais. A visitação na “Rota das Salamarias” possibilita ao turista o acesso às trilhas
ecológicas, degustação de produtos gastronômicos artesanais inspirados na cultura dos
imigrantes italianos, que colonizaram a região. Além disso, a rota possui esse nome em
função de um dos produtos mais conhecidos no município, o salame (Salamarias, 2018).

4.2 Resultados

Sob a ótica de identificar conexão entre os elementos estruturantes da formação da


“Rota das Salamarias”, as falas de sete entrevistados foram submetidas à análise de similitude
por meio do software IRAMUTEQ. Foram analisadas 357 palavras que resultaram em dez
segmentos de texto, os quais indicam que a ideia de formar uma rota turística surgiu a partir
da Prefeitura.

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Figura 1 – Árvore ilustrativa da análise de similitude das falas dos entrevistados sobre a ideia de criação
da “Rota das Salamarias”.

Fonte: Corpus de análise resultante de processamento pelo software IRAMUTEQ, 2018.


O quadro 4 apresenta a identificação dos membros da rota entrevistados para esse
estudo. A análise das posições discursivas dos entrevistados possibilitou identificar a estrutura
organizacional da rota.

Quadro 4: Identificação dos membros da rota, enquadramento, anos de início na atividade


Turística e localização.
Identificação Enquadramento Início no turismo Localização
Cantina Antonio Maculam PF 2009 Rural
Cantina Bordignon PF 2008 Rural
Casa Camera PJ 2009 Rural
Cantina Maculam PF 2008 Rural
Ervateira Pagnussat PJ 2009 Rural
Cachaçaria Pol PF 2009 Rural
Cantina da Terra PJ 2006 Urbano
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Os dados analisados revelaram que o processo de decisão de participar da rota foi


coletivo e contou com a participação do núcleo familiar. Dos 7 entrevistados, 3 (43%)
informaram que o aumento na renda foi a principal motivação, enquanto 2 (28,5%)
informaram que a expectativa de aumento das vendas motivou sua participação na rota,
enquanto 2 (28,5%) não informaram por qual motivo se tornaram membros da rota.
Anualmente é realizado processo de votação para que seja eleita a diretoria da rota,
que é integrada por presidente, vice-presidente e tesoureiro, os quais têm autonomia para a
tomada de decisões operacionais relacionadas à rota. Essa forma de operacionalização tem
por objetivo tornar os processos ágeis, visto que, de acordo com um entrevistado, “[...] se
fosse toda vez fazer reuniões pra coisas simples, isso ocorre no poder público [...] as coisas
não andam porque dependem de muitas pessoas”. Ainda nesse contexto, o atual modelo de
gestão é apontado como positivo pelos integrantes da rota. Dessa forma, a autonomia da
diretoria está relacionada ao fora estabelecido pelo grupo, sob essa perspectiva, a tomada de
decisões é cooperativa, centrada no conjunto de atores sociais que integram a rota. Assim,
cooperar na percepção dos membros da rota, está relacionado à viabilização de interesses
coletivos e na reunião de recursos para que um objetivo comum seja alcançado.
Nota-se que o relacionamento interpessoal entre os membros é positivo, as análises
permitiram identificar que o “Festival do Salame” é um evento que reúne esforços de todos os
integrantes da rota, nas palavras de um membro, é “[...] quando todo mundo ajuda, se
compromete” para que o festival seja realizado. Nesse sentido, a cooperação é forte quando os
recursos dos indivíduos são alocados para que os interesses coletivos sejam alcançados. Por
outro lado, foi observado que o principal motivador para participar da rota foi uma pretensão

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individual de cada núcleo familiar, sendo a possibilidade de aumento da renda o mais
destacado. Quanto as razões para participar da rota, destacam-se como fatores principais a
disponibilidade de produtos e estrutura. Alinhado às expectativas dos produtores, foram
relatados como benefícios de participar da rota o aumento da renda e a maior visibilidade da
propriedade e dos produtos. Fica evidente o comprometimento dos membros da rota com a
atividade turística, uma vez que, foram realizaram investimentos substanciais para o
desenvolvimento da atividade.
Os principais fatores relacionados a motivação dos atores para participarem da rota,
estão atrelados aos princípios da cooperação, quando membros de uma organização possuem
objetivos comuns e valores de ajuda mútua. As médias atribuídas a fatores como: valores
como amizade (média 5,0) e objetivos comuns (média 4,9), bem como a complementariedade
e compartilhamento de recursos e capacidades dos membros da rota (média 4,0), foram os que
se destacaram.
Outro ponto importante e que obteve destaque é a confiança (média 4,0) e, a
comunicação entre os sócios (média 4,0), considerados fatores que reduzem os conflitos e
aumentar a satisfação dos membros nas rotas de turismo. Ainda nesse contexto, a tomada de
decisão (média 4,0) e o cumprimento das regras (média 4,0) fundamentam-se nos objetivos
coletivos do grupo, facilitando o processo de coordenação e gerando um ambiente de
desenvolvimento da comunidade local.
Esses resultados estão alinhados às falas dos entrevistados, visto que 37 segmentos de
texto apresentaram a palavra “ajuda” (lematizada), no contexto de: “união” (8 ocorrências);
“festival do salame” (7 ocorrências); “cooperar” (6 ocorrências); “família” (6 ocorrências);
“compromisso” (5 ocorrências); “rota e turismo” (5 ocorrências).
Quadro 5: Razões para participar da rota
Dimensões/ Aspectos Média Moda
Buscar objetivos comuns ou complementares (reciprocidade) 4 4
Ganhar credibilidade e respeitabilidade por meio de associação (institucional) 3,9 4
Reduzir a incerteza em seus ambientes (Estabilidade) 3 3
Atender aos requisitos político-legais (necessidade) 2 2
Economia dos custos de transação (eficiência) 2 2
Preservar sua autonomia (assimetria) 1,6 1
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Os aspectos relacionados aos impactos econômicos, como negociação com


fornecedores (nota 1,1) e reunião de recursos (nota 1,0), são indicativos de que a autonomia
dos membros, no âmbito de suas atividades produtivas, está centralizada na propriedade,
enquanto a “Rota das Salamarias, além de apresentar-se como uma potencial “solução
econômica para os desafios regionais (nota 3,4)”, é um canal para “venda de produtos (nota
3,3)”, bem como um meio para a “ampliação do nº de turistas (nota 3,3)”.
No âmbito dessa pesquisa, buscou-se identificar possíveis elementos que tenham
potencial para impedir, ou dificultar a intercooperação entre os membros da rota estudada.
Dentre os fatores que impedem ou, no caso do presente estudo, dificultam a intercooperação
entre os membros, são destacados o acesso aos capitais, com maior destaque para os capitais
físico (média 2,7) e humano (2,0). A análise de conteúdo está alinhada aos resultados do
quadro 8, ao ser considerado que os membros alegaram que “[...] precisava de mais gente
trabalhando [...] e a estrada ser melhor”, ou ainda que “as estradas precisam sempre estar em
manutenção [...]”, estando esses fatores relacionados ao desenvolvimento da rota.
Quando questionados sobre os relacionamentos entre os membros da rota, a
dimensão “Oportunismo” recebeu nota 3, enquanto a dimensão “Confiança” recebeu nota 7,
sendo nesse sentido, mais um elemento que aponta para a construção de relacionamentos

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baseados em confiança que, por sua vez, contribuem para o atendimento de objetivos
individuais por meio de objetivos coletivos.

5. Considerações Finais

A pesquisa buscou analisar a cooperação e a intercooperação entre produtores rurais,


que atuaram no desenvolvimento do roteiro turístico “Rota das Salamarias”, localizado no
meio rural em Marau-RS. A participação do poder público no processo de formação do
roteiro turístico contribuiu para a organização dos atores sociais que criaram a associação
“Rota das Salamarias”, a partir da qual as decisões operacionais relativas ao roteiro são
tomadas.
Nesse contexto, os resultados encontrados contribuíram para o melhor entendimento de como
foram articuladas as relações de cooperação entre os membros do roteiro. Foi identificado que
há cooperação interorganizacional lateral entre os membros que atuam em segmentos
similares, demonstrando a existência de interesses mutuamente compatíveis que contribuem
para o fortalecimento das relações de confiança.
Portanto, as estratégias cooperativas podem ser uma opção estratégica para o
desenvolvimento de roteiros turísticos em áreas rurais. Por fim, cabe destacar que a proposta
desse trabalho de pesquisa não está limitada a esse trabalho, mas indica novas possibilidades
de estudos que contribuam para o avanço no entendimento das dinâmicas presentes no âmbito
da atividade turística como promotora do desenvolvimento.

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530
Indicadores Socioeconômicos na Agricultura Familiar: uma Análise do
Papel do Crédito
Socioeconomic Indicators on Family Agriculture: an Analysis of the Role of
Credit
Mateus Hurbano Bomfim Moreno1, Madalena Maria Schlindwein2

Resumo
A agricultura familiar possui papel significativo para o desenvolvimento econômico e social no meio rural. No
Brasil, os pequenos produtores enfrentam limitações no âmbito estrutural, representadas principalmente pela pouca
modernização no setor da agricultura familiar, o que dificulta a sua permanência nas propriedades, aumentando o
êxodo rural, em especial dos mais jovens. Nesta perspectiva, este estudo objetivou analisar o nível de
sustentabilidade socioeconômica dos agricultores beneficiários e não beneficiários de créditos do Pronaf no
assentamento rural Lagoa Azul, localizado no município de Rio Brilhante (MS). Para a realização deste trabalho,
foram utilizados dados de uma pesquisa de campo, coletados e cedidos pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária, resultantes da aplicação de questionários a 83% dos titulares dos lotes do assentamento. Para a
análise de sustentabilidade, utilizou-se um modelo de índice de sustentabilidade de assentamentos rurais. Tanto os
agricultores familiares beneficiários quanto aqueles não beneficiários apresentaram um nível regular de
sustentabilidade, sendo que o Pronaf não teve impacto significativo para seus beneficiários. Os resultados indicam
que é necessário: melhorar o nível de escolarização dos responsáveis pelos lotes, para que possam gerir melhor
seus estabelecimentos produtivos; incentivar a participação das famílias em associações e/ou cooperativas, para
tornar a produção e a comercialização mais rentáveis; aumentar a diversificação nas atividades produtivas;
melhorar o acesso dos produtores rurais aos mercados locais; valorizar a mão de obra feminina; e, aumentar o
apoio governamental através de políticas públicas e assistência técnica.
Palavras-chave: Agricultura familiar; Assentamentos rurais; Desenvolvimento local.

Abstract
Family farming has a significant role in economic and social development in rural areas. In Brazil, small-scale
farmers face structural limitations, mainly due to the lack of modernization in the family farming sector, which
makes it difficult for families to remain in the settlements they live, increasing rural exodus, especially the younger
people. From this perspective, this study aimed to analyze the level of socioeconomic sustainability of beneficiary
farmers and non-beneficiaries’ ones of PRONAF financial credits in Lagoa Azul rural settlement, situated in Rio
Brilhante (MS) city. Data from a field research collected and provided by the Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária, resulted from a survey questionnaire applied to 83% of the settlement lots owners, were used
for the accomplishment of this study. A model of sustainability index of rural settlements was used for the
sustainability analysis. Both the beneficiary and non-beneficiary family farmers presented a regular level of
sustainability, and Pronaf program did not impact significantly on their beneficiaries. The results of this study
indicated it is necessary: to improve the owners’ level of education to make it possible for them to better manage
their production facilities; encourage the participation of households in associations and / or cooperatives, to
make production and marketing more moneymaking; to diversify productive activities; to improve farmers' access
to local markets; to enhance female labor; and to increase government support through public policies and
technical assistance as well.
Keywords: Family farming; Rural settlements; Local development.

1 Introdução

De acordo com o Banco Mundial (2016a), 78% da população pobre do mundo vive em
áreas rurais, e em sua maioria há dependência da agricultura de subsistência, do aumento da
produtividade agrícola e de soluções estratégicas para enfrentar e superar as adversidades. O
setor necessita do fortalecimento dos vínculos dos agricultores com os mercados, a fim de
fornecer alimentos de maneira economicamente viável e, dessa forma, diminuir a pobreza e

1Discente do curso de Ciências Econômicas da FACE/UFGD/Dourados (mateusbmoreno@hotmail.com)


2Docente do PPG Mestrado em Agronegócios da FACE/UFGD/Dourados
madalenaschlindwein@ufgd.edu.br
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promover a prosperidade. Nesse sentido, a produtividade agrícola influencia diretamente os
índices de fome e desnutrição no mundo, visto que entre os anos 2000 e 2012, período que
ocorreu um aumento médio anual de 2,6% na produção de grãos em países de baixa renda, os
índices de pobreza e desnutrição caíram 2,7% ao ano. Enquanto que o período entre os anos
1990 e 1999 (quando houve estagnação na produção agrícola nos países mais pobres) resultou
em pouca melhora nos mesmos índices (BANCO MUNDIAL, 2016b).
Entre os papeis que a agricultura familiar assume para o desenvolvimento econômico,
pode-se apontar a manutenção da população entre os espaços no campo; a diversificação das
economias locais; a preservação do patrimônio sociocultural; a promoção da segurança
alimentar; a sua contribuição para a melhoria de vida e a redução da pobreza das famílias
produtoras e também contribuições para criar estratégias de produção sustentáveis. Não menos
importante, as relações sociais entre os produtores e compradores possuem a qualidade de
reduzir os custos e inseguranças relacionadas às transações nos mercados locais, refletindo em
custos e preços relativos mais baixos (SCHNEIDER, 2016).
A agricultura familiar no Brasil, segundo a Lei Federal nº 11.326, de 24 de julho de
2006, no artigo 3º, tem como requisitos principais que o proprietário do lote não tenha uma área
maior do que quatro módulos fiscais; que a mão de obra utilizada na propriedade seja
predominantemente da própria família; que tenha um percentual mínimo de renda que se origine
na propriedade e que administre junto a sua família o seu lote (BRASIL, 2018). A atividade
agrícola familiar que abrange realidades diferentes de acordo com cada país em que se faz
presente apresenta, em seu conceito, relações com a alimentação e sustentabilidade local, a
gestão dos recursos naturais, de ambiente e de paisagem. Assim como a associação econômica
e social das populações e famílias que trabalham e vivem no campo (OSÓRIO, 2014).
A contribuição de políticas públicas configura um fator de desenvolvimento sustentável,
no âmbito social, econômico, ambiental e também político, desde as propriedades familiares
até ao país como um todo. Muitas pesquisas têm sido realizadas para mensurar os efeitos de
políticas públicas ao longo dos anos, principalmente relacionados ao Pronaf e agricultores
familiares (PAULA, GÓMES e TRACZ, 2017; MONTEIRO, 2016, 2015; GRISA, WESZ
JUNIOR e BUCHWEITZ, 2014; MATTEI, 2014). No entanto, estudos analisando índices de
sustentabilidade socioeconômica a partir da implantação de políticas públicas não são muito
comuns. Assim, faz-se necessária a realização de trabalhos que avaliem as políticas públicas a
partir de índices de sustentabilidade socioeconômica, gerando mais informações que auxiliem
em ações que possam intensificar o desenvolvimento rural sustentável.
O objetivo geral deste trabalho é analisar a sustentabilidade socioeconômica do
assentamento Lagoa Azul, no município de Rio Brilhante, no estado de Mato Grosso do Sul,
assim como o impacto do crédito do PRONAF para as famílias beneficiárias. Especificamente
pretende-se identificar, a partir da utilização de indicadores de sustentabilidade, as parcelas de
famílias com melhores índices de sustentabilidade, diferenciando-as em beneficiárias e não
beneficiárias do Pronaf.
O trabalho está estruturado em cinco seções, incluindo esta breve introdução. A segunda
seção refere-se a uma revisão bibliográfica. Na terceira seção apresentam-se os procedimentos
metodológicos da pesquisa. Na quarta seção destacam-se os resultados e sua discussão. Na
quinta seção apresentam-se as considerações finais. Por fim apresentam-se as referências
bibliográficas que embasaram o estudo.

2 Indicadores de Sustentabilidade
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística– IBGE (2012) os indicadores
nada mais são do que ferramentas compostas por uma ou mais variáveis que, quando
associadas, apontam significados mais amplos sobre os fatos a que se referem. Nesse sentido,

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os indicadores de desenvolvimento sustentável são ferramentas fundamentais para nortear uma
ação e contribuir com o acompanhamento e avaliação da evolução obtida em direção ao
desenvolvimento sustentável. Portanto, os indicadores são um meio para se alcançar o
desenvolvimento sustentável, tendo valor nos resultados que apontam, além de serem mais úteis
quando examinados em um conjunto de indicadores.
Bellen (2002), citando Tunstall (1994), reitera que os indicadores possuem cinco
principais funções, são elas: avaliação de condições e tendências, comparação entre lugares e
situações, avaliação de condições e tendências em relação às metas e aos objetivos, prover
informações de advertência e antecipar futuras condições e tendências. Ainda segundo o autor,
os sistemas de indicadores de desenvolvimento sustentável precisam ter as seguintes
características: indicadores devem ser mensuráveis; ter disponibilidade de dados; os métodos
de coleta e processamento de dados, bem como a construção dos indicadores devem ser claros;
ter disponíveis os meios para a construção e monitoramento dos indicadores; deve ser
financeiramente viável e, por fim, deve ter a aceitação política dos indicadores nos níveis
adequados a fim de influenciar as decisões.
De acordo com Hirakuri et al. (2014), o uso de indicadores para avaliação de cadeias
produtivas é capaz de contribuir ao direcionamento de políticas públicas, de pesquisas, de
transferências de tecnologia e de assistência técnica, com o propósito de reparar os possíveis
gargalos de sustentabilidade. A aplicação de indicadores à avaliação do desenvolvimento
sustentável de processos e sistemas produtivos manifestou ampliação, de forma que são
desenvolvidos por instituições públicas e privadas, incorporando os aspectos econômicos,
sociais, ambientais, culturais, políticos etc.
Considerando a sustentabilidade como melhor instrumento de preservação do sistema
ambiental-humano e que seu direcionamento pode ser identificado através de indicadores de
sustentabilidade complexos e subjetivos, Feil e Schreiber (2017) analisaram em seu estudo o
processo de elaboração do índice de sustentabilidade, detectando as definições, estruturas e
métodos prevalecentes. Resultados demonstraram que o processo de elaboração de um índice
de sustentabilidade ocorre em etapas consecutivas e se inicia com a definição do objetivo e do
sistema a ser analisado. Em seguida, são selecionados os principais indicadores (via literatura
e/ou especialistas), na sequência, tem-se a normalização (padronizando os dados), ponderação
(relevância do resultado) e agregação (minimizando a perda de informações) respectivamente.
Por fim, gera-se o índice de sustentabilidade, que, admitindo a ausência de um modelo único
em sua elaboração, diferencia-se na qualidade de suas mensurações. Portanto, é recomendada
cautela para a escolha de um processo, evitando resultados insatisfatórios e não válidos.
Referindo-se à sustentabilidade como um conceito complexo, porém, com inúmeros
indicadores que façam sua mensuração, Silva et al. (2016) buscaram identificar os indicadores
que transmitem as principais preocupações dos autores nacionais a respeito da sustentabilidade
na agricultura familiar. Resultou-se em um portfólio contendo 21 artigos científicos, além de
uma lista de 103 indicadores para avaliação de sustentabilidade na agricultura familiar.
Silva et al. (2016) dividiram os indicadores em 33 categorias, para o âmbito social: mão
de obra, educação, saneamento básico esgoto/lixo, saúde, moradia, meios de comunicação,
lazer, transporte, energia elétrica, seguridade social, participação institucional, assistência
técnica, sucessão e legalidade do sistema de produção. Referente à dimensão ambiental: água,
manejo de agroquímicos, irrigação, estado do solo, áreas de preservação, experiência no campo,
manejo do solo, práticas ecológicas, formas de plantio, área agrícola e riscos à produção. Por
fim, a esfera econômica: controles financeiros, crédito, renda não agrícola, valor agregado aos
produtos, comércio, diversidade de produção e infraestrutura.
Apesar de serem imperfeitos e não padronizados, os indicadores de sustentabilidade são
instrumentos que fazem parte do processo de observação das relações homem/meio ambiente
na área do desenvolvimento, sendo necessário conhecer a realidade/particularidade dos
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diversos sistemas de indicadores e das localidades a serem utilizadas nos estudos. Tendo em
vista a relevância de indicadores para o processo de gestão e, consequentemente, a orientação
na formulação de políticas, é necessário uma análise comparativa entre os métodos disponíveis
e escolher o mais adequado para os objetivos propostos em cada trabalho (BELLEN, 2002).

3 Metodologia
O estudo abrange a área do assentamento Lagoa Azul, no município de Rio Brilhante
no estado de Mato Grosso do Sul, localizado nas coordenadas geográficas de latitude 21º24’27”
Sul, longitude 54º43’40” Oeste e altitude 349 m. O assentamento Lagoa Azul, possui 16,3% do
total de famílias assentadas, 14,4% da capacidade total e 8,4% da área dos assentamentos rurais
do município de Rio Brilhante no estado de Mato Grosso do Sul.
Para a realização da comparação dos indicadores socioeconômicos entre os agricultores
familiares beneficiários e não beneficiários do Pronaf, foram criados bancos de dados distintos,
separando-os em dois grupos. Dessa forma, realizou-se o cálculo dos indicadores para cada
grupo e comparou-se os resultados com o impacto que o crédito do programa teve sobre os
beneficiários e em quais das dimensões e indicadores o programa apresentou maior impacto.
Os dados utilizados na pesquisa foram cedidos pelo INCRA e obtidos a partir de
pesquisa de campo, com 75 questionários aplicados às famílias moradoras do assentamento (de
um total de 90 famílias), no ano de 2015, os quais foram tratados estatisticamente a partir da
utilização do software STATA. Para a avaliação do Programa de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (Pronaf) foram utilizados indicadores de sustentabilidade a fim de avaliar as
dimensões sociais e econômicas entre os beneficiários e não beneficiários do programa,
tornando possível o cálculo e verificação do impacto do programa ao assentamento. Nota-se
que a dimensão ambiental da sustentabilidade não foi avaliada, visto que o questionário não
contemplou o tema em suas questões.
Para a caracterização sociodemográfica serão utilizados os valores calculados a partir
das estatísticas descritivas. Utilizou-se um modelo de análise que serviu como instrumento de
avaliação de sistemas agroflorestais (INSSAFs), elaborado por Camargo (2017). A partir desse
modelo, foi possível fazer a adaptação para a avaliação de assentamentos rurais. Para tanto,
foram definidos 10 (dez) aspectos da sustentabilidade nas dimensões analisadas, sendo eles:
Dimensão social: a) satisfação com os serviços prestados no assentamento; b)
percepção sobre representações sociais; c) segurança alimentar; d) qualidade de vida; e)
escolaridade.
Dimensão econômica: a) produtividade; b) rentabilidade c) equipamentos d) força de
trabalho; e) comercialização;
A partir disso, definiu-se 12 (doze) indicadores, assim como os parâmetros utilizados
para o cálculo e sua descrição.

3.1 Indicadores de Sustentabilidade Social e Econômica


No Quadro 1 são apresentados os indicadores e parâmetros utilizados para construção
do Índice de Sustentabilidade da Dimensão Social. Em seguida, no Quadro 2 são apresentados
os indicadores e parâmetros a serem utilizados para a construção do Índice de Sustentabilidade
da Dimensão Econômica.

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Quadro 1- Indicadores e parâmetros da dimensão social que serão utilizados para avaliação da
sustentabilidade social no assentamento Lagoa Azul, em 2015.
INDICADORES PARÂMETROS
Percentual de produtores satisfeitos com o serviço prestado pelo INCRA
(construção de casas)
Percentual de produtores satisfeitos com o serviço prestado pelo INCRA
(aplicação de créditos)
Satisfação com os serviços Percentual de produtores satisfeitos com o serviço prestado pelo INCRA
prestados pelo INCRA (atendimento dos funcionários)
(Isspi) Percentual de produtores satisfeitos com o serviço prestado pelo INCRA
(resolução de demandas e problemas)
Percentual de produtores satisfeitos com o serviço prestado pelo INCRA
(presença de servidores no assentamento)
Percentual de produtores satisfeitos com o serviço prestado pelo INCRA (acesso
ao INCRA – informações e funcionários)
Auxilio das cooperativas Percentual de produtores que se sentem auxiliados na produção e comercialização
(Iac) pela cooperativa existente no assentamento.
Representatividade das Percentual de produtores que se sentem representados pela associação existente
associações (Ira) no assentamento.
3=alimentos produzidos totalmente no lote; 2=maior parte dos alimentos é
produzida no lote; 1=pouca parte dos alimentos é produzida no lote; 0=alimentos
são totalmente adquiridos fora do lote.
Segurança alimentar (Iseg) Quantidade de espécies /produtos alimentícios consumidos pela família que
provêm do Lote; Número total de espécies/produtos (Valor 4=acima de 10
espécies; 3=entre 7 e 10 espécies; 2=entre 3 e 6 espécies; 1=abaixo de 3 espécies
e 0= nenhum).
Valores: 6=curso técnico ou superior completo; 5= curso técnico ou superior
Escolaridade dos
incompleto; 4= ensino médio completo; 3= ensino médio incompleto; 2=
agricultores (Ieag)
fundamental completo; 1= fundamental incompleto; 0 não alfabetizado.
Escolaridade dos demais Valores: 6=curso técnico ou superior completo; 5= curso técnico ou superior
membros das famílias incompleto; 4= ensino médio completo; 3= ensino médio incompleto; 2=
(Iemf) fundamental completo; 1= fundamental incompleto; 0 não alfabetizado.
Fonte: Adaptado de Camargo (2017, p.48).

Quadro 2 - Indicadores e parâmetros da dimensão econômica que serão utilizados para avaliação da
sustentabilidade econômica no assentamento Lagoa Azul, em 2015.
INDICADORES PARÂMETROS
Analisa a produtividade por hectare da mão de obra familiar. Este indicador é
Produtividade da terra
obtido através da renda agrícola mensal da propriedade dividida pela área total
(Iprodter)
da propriedade
Renda total da propriedade Renda mensal total da propriedade (em reais)
(Irtp)
Analisa as fontes de renda das propriedades (renda agrícola e não agrícola), bem
Diversificação da renda
como identificar a existência de concentração de renda em uma única atividade.
(Idr)
Valores: mais de uma fonte de renda = 1; apenas uma fonte de renda =0.
Maquinários e benfeitorias Quantidade de maquinários (em número absoluto)
(Imab) Quantidade de benfeitorias (em número absoluto)
Percentual da renda mensal gerada pelas atividades produtivas das propriedades
Autonomia da atividade
em relação a sua renda mensal total (agrícola ou não agrícola). Cálculo
produtiva das propriedades
percentual: ((renda agrícola/renda total) *100). Valores: >50% =2; =50 =1; 50<
(Iapp)
=0
Forma de comercialização. Valores: 4=venda direta + outros; 3= indústria +
Destinação do produto
outros; 2=venda direta + indústria; 1=venda direta + indústria + atravessadores;
(Idp)
0=atravessadores + outros
Fonte: Adaptado de Camargo (2017, p.51).

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3.3 Avaliação de indicadores de sustentabilidade em Assentamentos Rurais
Para o cálculo dos indicadores de sustentabilidade utilizou-se o modelo utilizado por
Camargo (2017), no qual os indicadores selecionados para o cálculo da avaliação da
sustentabilidade por dimensão social e econômica, foram convertidos em índices, através da
formula de índice (Quadro 3), considerando a variação dos valores entre 0 (zero) e 1 (um). Os
valores mais próximos de 1 (um) indicam maior sustentabilidade, consequentemente, quanto
mais próximo o valor observado estiver de 0 (zero), menor será sua sustentabilidade.

Quadro 3– Cálculo para a avaliação de indicadores de sustentabilidade.


vo = valor observado para o indicador
Índice = ( vo –pv )
pv = pior valor
( mv –pv )
mv = melhor valor
Fonte: Silva (2007, p.125).
Dessa forma, foram elaboradas as pontuações dos parâmetros dos indicadores. Os dados
coletados em percentuais se mantiveram nessa escala por já estarem variando de zero a um. Já
para os demais indicadores, foram estipulados escores zero e um para variáveis com respostas
sim ou não. Assim, para as variáveis com múltiplas opções de resposta os escores foram
definidos entre zero e seis, nas quais os valores próximos de seis formam a situação desejável.
Por fim, os índices foram categorizados em níveis de sustentabilidade, como pode ser visto na
Figura 3, variando de zero a um, e divididos de acordo com a faixa de valores: crítico (0,00 a
0,19); ruim (0,20 a 0,39); regular (0,4 a 0,59); bom (0,6 a 0,79) e ótimo (0,80 a 1,0)
(PNUD/ONU, 1998).

4 Resultados e Discussão
Esta seção demonstrará a análise dos resultados do índice de sustentabilidade
socioeconômica do assentamento Lagoa Azul, obtidos através do Índice de Sustentabilidade
Socioeconômica do Assentamento Rural na Agricultura Familiar (INSARs).
Em relação à dimensão social (ISDs), conforme o Quadro 4, os beneficiários
apresentaram o nível de sustentabilidade considerados ruim (0,38). Já para os não beneficiários,
o resultado foi classificado como regular (0,40). Como principal fator negativo tem-se o
indicador de auxílio das cooperativas (Iac) com baixa porcentagem de assentados que sentem a
presença de cooperativa no assentamento que auxilie na produção e comercialização dos
produtos agropecuários, alcançando uma classificação ruim de 0,3 para ambos os grupos. Outro
fator negativo neste índice foi o indicador de escolaridade para os titulares (Ieag), que
apresentou um nível crítico para beneficiários (0,19) e ruim para não beneficiários (0,33). Nota-
se que o indicador de escolaridade dos demais membros familiares também obteve um resultado
desfavorável, tendo uma classificação ruim (0,26) para os dois grupos.
O nível baixo de percepção da presença e auxílio de cooperativas e o baixo nível de
escolaridade dos moradores do assentamento podem justificar o desempenho inferior do
assentamento na dimensão social. Camargo (2017) afirma que o baixo nível de escolaridade
pode impactar negativamente na implantação de novas tecnologias na produção agropecuária,
no planejamento financeiro das famílias, na comercialização dos produtos do assentamento,
etc. Além disso, percebe-se que o maior índice de participação em associações e cooperativas
está entre aqueles que possuem um nível de escolaridade maior.
O indicador de satisfação com os serviços prestados pelo INCRA (Isspi) atingiu
pontuações melhores do que os índices anteriores, fazendo com que os beneficiários e não
beneficiários tivessem um nível de classificação regular. Destaca-se no índice de
sustentabilidade social o indicador segurança alimentar (Iseg), tendo em vista que apresentou
um nível de classificação bom para um e outro grupo. Outro indicador que teve resultado

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positivo foi de representatividade das associações (Ira), no qual os não beneficiários alcançaram
um nível bom e os beneficiários ficaram muito próximo deste nível, porém foram regulares.
Quadro 4 – Índice de Sustentabilidade Social do Assentamento Lagoa Azul entre assentados
beneficiários e não beneficiários dos créditos do Pronaf.
Índice de Sustentabilidade da Dimensão Social
Beneficiários Não Beneficiários
Indicador
Pontuação Classificação Pontuação Classificaçã
o
Satisfação com os serviços prestados
0,53 REGULAR 0,44 REGULAR
pelo INCRA (Isspi)
Auxílio das cooperativas (Iac) 0,03 RUIM 0,03 RUIM
Representatividade das associações
0,58 REGULAR 0,63 BOM
(Ira)
Segurança alimentar (Iseg) 0,66 BOM 0,68 BOM
Escolaridade dos agricultores (Ieag) 0,19 CRÍTICO 0,33 RUIM
Escolaridade dos demais membros das
0,26 RUIM 0,26 RUIM
famílias (Iemf)
ISDs=Isspi+ Iac+ Ira+ Iseg+ Ieag+
0,38 RUIM 0,40 REGULAR
Iemf/6
Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados da pesquisa.

No que se refere ao índice de sustentabilidade para a dimensão econômica, observa-se


que os dois grupos tiveram um resultado de 0,55 para beneficiários e 0,54 para não
beneficiários, revelando a classificação regular para ambos. Como fator positivo, destaca-se o
indicador de diversificação de renda (Idr), sendo o único indicador em toda a análise a
apresentar uma classificação ótima, tanto para beneficiários quanto não beneficiários. Outro
indicador com resultados favoráveis à sustentabilidade foi o de destinação do produto (Idp),
alcançando nível bom para ambos os grupos (Quadro 5).
Os indicadores de renda total da propriedade (Irtp) e maquinários e benfeitorias (Imab)
obtiveram classificação regular, sendo que seus valores foram semelhantes entre si e entre os
beneficiários e não beneficiários. O único indicador que teve classificação diferente para cada
grupo foi o de autonomia da atividade produtiva das propriedades (Iapp), de forma que os
beneficiários alcançaram um índice regular, enquanto que os não beneficiários tiveram uma
classificação ruim. Por fim, o indicador mais negativo a sustentabilidade foi o de produtividade
da terra (Iprodter), sendo classificado como ruim para ambos os grupos e com valores muito
próximos (Quadro 5).

Quadro 5 – Índice de Sustentabilidade Econômica do Assentamento Lagoa Azul entre assentados


beneficiários e não beneficiários dos créditos do Pronaf.
Índice de Sustentabilidade da Dimensão Econômica
Beneficiários Não Beneficiários
Indicador
Pontuação Classificação Pontuação Classificação
Produtividade da terra (Iprodter) 0,36 RUIM 0,37 RUIM
Renda total da propriedade (Irtp) 0,45 REGULAR 0,48 REGULAR
Diversificação da renda (Idr) 0,93 ÓTIMO 0,86 ÓTIMO
Maquinários e benfeitorias (Imab) 0,48 REGULAR 0,46 REGULAR
Autonomia da atividade produtiva das
0,45 REGULAR 0,37 RUIM
propriedades (Iapp)
Destinação do produto (Idp) 0,65 BOM 0,70 BOM
ISDe=Iprodter+Irtp+Idr+Imab+
0,55 REGULAR 0,54 REGULAR
Iapp+Idp/6
Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados da pesquisa.

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Ao verificar os indicadores socioeconômicos dos grupos analisados, constatou-se que
na dimensão social somente o indicador de satisfação em relação aos serviços prestados pelo
INCRA teve resultado maior para os beneficiários, enquanto que, na dimensão econômica, os
resultados foram equilibrados. No estudo realizado por Damasceno, Khan e Lima (2011), a
renda agropecuária anual média e a renda total anual média foram os únicos resultados dos não
beneficiários maiores que dos beneficiários.
O assentamento rural Lagoa Azul apresentou um índice de sustentabilidade
socioeconômica de 0,46, para os assentados que tiveram acesso aos créditos do Pronaf e 0,47
para os assentados que não foram beneficiados (Quadro 6). Os índices calculados para ambos
os grupos são classificados como regulares.
Outro fato a ser observado diz respeito à diferença entre os índices de sustentabilidade
encontrados para os grupos de beneficiários e não beneficiários dos créditos do Pronaf, tendo
um índice de sustentabilidade maior para os não beneficiários do Pronaf em valores absolutos
(Quadro 6). Em contraste, Damasceno, Khan e Lima (2011) afirmaram em seu estudo que os
agricultores beneficiários e não beneficiários apresentaram baixo nível de sustentabilidade,
porém, em valores absolutos, o índice apresentado pelos beneficiários foi maior.
Guanziroli (2007) indica que os resultados como melhoria na renda e condições de vida
para os agricultores beneficiados com os créditos do Pronaf são sutis, pois, há dificuldades por
parte dos beneficiados em fazer a quitação da dívida com o financiamento quando vencerem.
São fatores que dificultam o processo de geração de renda aos agricultores e consequentemente
inviabiliza o pagamento dos empréstimos: falta de assistência técnica ou sua baixa qualidade;
dificuldades no gerenciamento dos recursos do crédito; falta de visão sistêmica dos técnicos e
falta de integração nos mercados, de estrutura de comercialização e de agregação de valor.

Quadro 6 – Resultado do cálculo do Índice de Sustentabilidade no Assentamento Rural Lagoa Azul para
beneficiários e não beneficiários dos créditos do Pronaf.
Índice de Sustentabilidade no Assentamento Rural Lagoa Azul
Critérios Beneficiário Não Beneficiário
Pontuação 0,46 0,47
Classificação Regular Regular
Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados da pesquisa.

Ademais, ao analisar o impacto dos créditos do Pronaf para seus beneficiários, percebe-
se que o programa não causou impacto positivo significante sobre as dimensões social e
econômica ao comparar com o resultado dos agricultores familiares não beneficiados, ou seja,
não apresentaram melhores índices de sustentabilidade. Em outros estudos como de
Damasceno, Khan e Lima (2011), Dias et al. (2006), o programa também não causou impacto
positivo significante sobre a renda.

5 Considerações Finais
O sucesso em termos de desenvolvimento econômico e social nos assentamentos rurais
está estritamente ligado a ampliação de políticas direcionadas ao fortalecimento da agricultura
familiar, em termos de melhoria da produção e da renda familiar. Para a eficácia deste setor, ou
seja, geração de riquezas, distribuição equitativa de renda e sustentabilidade rural, são
necessárias políticas públicas que promovam as diversas atividades produtivas das unidades
familiares, além da inserção dos produtores em mercados locais e regionais. É imprescindível,
também, a presença efetiva de técnicos agrícolas que forneçam a assistência necessária para a
ampliação das atividades produtivas e de desenvolvimento das propriedades. Um fator negativo
é que os agricultores não estão organizados, visto que há pouca participação em associações
e/ou cooperativas no assentamento em análise, sendo que estas poderiam influenciar
positivamente a redução de custos e a valorização da produção.
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O índice de sustentabilidade socioeconômica alcançado pelo assentamento rural Lagoa
Azul foi categorizado como regular para os agricultores familiares beneficiários (0,46) e não
beneficiários (0,47) do Pronaf, de acordo com o critério de classificação adotado neste trabalho.
Os melhores índices foram apresentados pela dimensão econômica nos dois grupos
comparados, já a dimensão social demonstrou-se mais fragilizada.
Entre os principais fatores limitantes observados tem-se o baixo nível de escolaridade
dos agricultores familiares e seus dependentes e a baixa percepção por parte dos agricultores
familiares da presença de cooperativas que auxiliem na produção e comercialização dos
produtos dos assentados. Enquanto que os fatores positivos têm em destaque a expressiva
diversificação da renda, assim como a segurança alimentar e nutricional das famílias, o
autoconsumo e a comercialização dos produtos produzidos no assentamento.
Os agricultores familiares beneficiários do Pronaf no assentamento Lagoa Azul não
apresentaram os melhores índices de sustentabilidade quando comparado aos agricultores
familiares que não tiveram acesso aos créditos do programa. Contrariando assim, a suposição
de que o crédito provocaria melhorias na produção e consequentemente na renda familiar.
Destaca-se que a melhoria da condição de vida dos assentados necessita de maior
presença governamental no local, principalmente do INCRA, através de visitas técnicas, que
proporcionem aos assentados a oportunidade de resolver problemas e demandas, esclarecer
dúvidas, assim como obter informações a respeito de programas sociais e de atividades
alternativas que possam vir a gerar renda. Destaque-se a necessidade de maior presença de
agências de apoio ao desenvolvimento produtivo nas propriedades, como a Agência de
Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer).
Por fim, sugere-se mais estudos considerando análises de indicadores sociais,
econômicos e ambientais relacionados a aplicação do crédito na agricultura familiar. Esses
resultados poderão corroborar a sugestão de participação mais efetiva do Estado em termos de
políticas de incentivo à produção e de assistência técnica aos produtores rurais.

Referências
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Logística Reversa das Embalagens de Agrotóxicos: A cooperativa e o
Produtor Rural
Reverse Logistics of Agrochemical Packaging: The cooperative and the
Rural Producer
Daiane Johann1, Paula Narita Ebert2, Julio Cesar Ferro Guimarães3

Resumo. Este estudo tem como objetivo analisar o processo de logística reversa das embalagens de agrotóxicos.
O estudo tem caráter qualitativo, com dados quantitativos, de natureza descritiva, mediante um estudo de caso,
em uma cooperativa agroindustrial. Com intuito de fundamentar os pressupostos levantados utilizou-se dados
quantitativos para a coleta de dados dos associados, aonde se analisou a percepção dos mesmos em relação a
logística reversa das embalagens de agrotóxicos, com base em três variáveis: Legislação, Saúde e Consciência
Ambiental. A partir da identificação do papel da cooperativa e analisada a percepção de seus associados é
possível afirmar que o modelo adotado pela cooperativa é eficiente e traz resultados positivos. Para o sucesso da
logística reversa das embalagens de agrotóxicos é fundamental que a responsabilidade seja compartilhada. A
destinação final de embalagens de agrotóxicos é um procedimento complexo que requer a participação efetiva de
todos os agentes envolvidos.
Palavras-chave: Logística reversa. Embalagens de agrotóxicos. Cooperativa agroindustrial. Consciência
ambiental.

Abstract. This study aims to analyze the reverse logistics process of agrochemical packages. The study has a
qualitative character, with quantitative data, of descriptive nature, through a case study, in an agroindustrial
cooperative. In order to substantiate the assumptions raised, quantitative data were used to collect data from the
associates, which analyzed their perception regarding the reverse logistics of agrochemical packages, based on
three variables: Legislation, Health and Environmental Awareness. From the identification of the role of the
cooperative and analyzed the perception of its members it is possible to affirm that the model adopted by the
cooperative is efficient and brings positive results. For the success of reverse logistics of containers of
agrochemicals, it is essential that the responsibility be shared. The final destination of agrochemical packaging
is a complex procedure that requires the effective participation of all the agents involved.
Keywords: Reverse logistic. Packaging of agrochemicals. Agroindustrial cooperative. Environmental
awareness.

Introdução
A logística reversa (LR), ao longo do tempo, tem recebido maior atenção e passou a
ser estudada, na busca da sua adaptação em um mercado altamente competitivo. A logística
reversa pode ser um instrumento estratégico tanto para a redução de custos quanto para o
ganho de imagem corporativa, considerando-se um importante instrumento estratégico na
diferenciação dos serviços oferecidos (PADILHA; LEITE, 2008).
Os processos de logística reversa têm trazido consideráveis retornos às organizações
(LACERDA, 2003), Cometti e Alves (2010) acrescentam que a LR é uma prática ambiental
que contribui de forma significativa para o desenvolvimento sustentável. O retorno das
embalagens de agrotóxicos, quando analisado sob o ponto de vista do tripé da sustentabilidade
(SACHS, 2008) tem-se: do ponto de vista ambiental, a diminuição dos riscos de
contaminação ambiental, o consumo menor de matérias-primas; através do ponto de vista
econômico, a reciclagem entra com a principal contribuição, sendo que de acordo com dados
do INPEV (2015), 95% das embalagens vazias de agrotóxicos retornam para o sistema,
somente 5% são incineradas, podendo citar ainda a redução com transportes, pois o mesmo

1
Mestre em Administração/Universidade Meridional (IMED) - daianejohann@yahoo.com.br
2
Mestre em Administração/Universidade Meridional (IMED) – paula.ebert@hotmail.com
3
Doutor em Administração/Universidade Potiguar (UnP) - juliocfguimaraes@yahoo.com.br

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veículo que transporta para comercialização, transporta para o retorno; em relação a
contribuição social ressalta-se a geração de empregos com o canal reverso (COMETTI;
ALVES, 2010).
A produção agrícola no Brasil vem demonstrando crescimento significativo ao longo
dos anos, isso se deve ao fato das novas tecnologias que vêm sendo implantadas na
agricultura, na intenção de suprir a demanda cada vez maior do mercado consumidor mundial
(OLIVEIRA, 2012). O uso dos agrotóxicos tem a intenção de controlar as plantas invasoras,
doenças e pragas que colocam em risco a produção das culturas. Como qualquer outra, a
atividade agrícola gera resíduos sólidos, dentre os quais se destaca as embalagens de
agrotóxicos, as quais podem trazer consequências ao meio ambiente e à saúde humana
(BOZIK, et al., 2011).
Em consequência disso, tem-se as embalagens dos agrotóxicos, que enquadram-se na
categoria de resíduos perigosos, pois contém substâncias químicas que modificam o meio
ambiente. O destino das embalagens de agrotóxicos, até o ano de 2002 não sofria nenhum tipo
de fiscalização e controle, na maioria das vezes sendo descartadas em rios, terrenos baldios,
enterradas, podendo ocasionar danos ao meio ambiente (BARREIRA; PHILIPPI, 2002).
Em virtude das pressões legais, das preocupações da sociedade com as questões
ambientais a logística reversa passou a ter maior destaque e visibilidade dentro das
organizações (COUTO et al., 2011). Diante desse contexto, o presente artigo tem como
objetivo analisar o processo de logística reversa das embalagens de agrotóxicos da
cooperativa agroindustrial e seus associados. Além desta introdução, o artigo está estruturado
nas seguintes seções: i) referencial teórico; ii) metodologia utilizada; iii) resultados e
discussões; e, iv) considerações finais.

2 Referencial Teórico

2.1 Logística reversa das embalagens de agrotóxicos


Considera-se a logística uma das mais antigas atividades humanas, onde sua principal
missão é disponibilizar os bens e serviços gerados pela sociedade, nos locais, no tempo, nas
quantidades e na qualidade em que são necessários aos utilizadores (LEITE, 2009). Diversas
são as definições para a logística reversa, sendo definida como o processo de planejar,
implementar e controlar o ativo, o custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em
processo, produtos acabados e as informações relativas do ponto de consumo até o ponto de
origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à disposição apropriada.
(FLEISCHMANN et al, 1997; ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1999; LU; BOSTEL, 2007;
MELO et al, 2009).
A logística reversa agrega valores que refletem nas esferas econômica, social e
ambiental (LACERDA, 2003; LEITE, 2009;). Muitos ganhos em competitividade podem ser
obtidos a partir das vantagens competitivas oriundas das várias atividades segmentadas da
organização como marketing, produção, projetos, dentre outras. A logística reversa deve ser
analisada de um ponto de vista global da organização, possibilitando a visualização e
compreensão da forma correta como pode ser obtida vantagem competitiva através dela
(CHAVES; BATALHA, 2006).
O poder público, diante da rápida expansão do uso de agrotóxicos no Brasil, precisou
aperfeiçoar a legislação na busca pelo fortalecimento dos serviços dos órgãos responsáveis
pelo controle dos agrotóxicos, para tanto, faz-se necessário uma análise dos instrumentos
legais brasileiros acerca da destinação final das embalagens de agrotóxicos e afins
(COMETTI; ALVES, 2010; BERNARDO et al., 2015).

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2.2 O contexto do agronegócio no Brasil
A grande produção de grãos para suprir o mercado consumidor vem aumentando
(OLIVEIRA, 2012). A agricultura é um dos setores econômicos mais estratégicos do país, a
sua grande participação e o forte efeito multiplicador do complexo agroindustrial no PIB
(Produto Interno Bruto), o alto peso dos produtos de origem agrícola na pauta de exportações,
e a parcela de contribuição para o controle da inflação, podem ser citados como exemplos da
relevância da agricultura para o desempenho na economia brasileira nos próximos anos
(COMETTI; ALVES, 2009).
Nos últimos anos, houve profundas transformações no trabalho rural brasileiro, tanto
no que se refere à incorporação de novas tecnologias, como em processos produtivos, sendo
que por muito tempo a produção rural teve predominância como forma de sustento para
diversas famílias, porém nas ultimas décadas observa-se que essa atividade esta cada vez mais
voltada para a produção comercial (PERES et al., 2005). Porém, com essas mudanças, surge a
necessidade de alimentar um contingente populacional cada vez maior, com demandas
nutricionais e hábitos diversificados, que de acordo com a Organização das Nações Unidas
(ONU) será de 7,9 bilhões de pessoas em 2025 (SILVA et al., 2005; ONU, 2015).
O Brasil apresenta uma área agricultável disponível total estimada em 152,5 milhões
de hectares ou 17,9% do território, sendo que destes 57,3 milhões de hectares ou 7,3 % do
território é constituído pela área agricultável já utilizada. Existe um potencial de expansão da
agricultura correspondente a 90 milhões de hectares ou 10,5% do território, correspondente às
áreas agricultáveis disponíveis e ainda não utilizadas. Com um clima diversificado, chuvas
regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta,
fazem do país um lugar de vocação natural para a agropecuária e todos os negócios
relacionados às suas cadeias produtivas (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2016). O
agronegócio é um dos principais setores propulsores da economia brasileira. A participação
do agronegócio no PIB nacional no ano de 2015 foi de 23%, ante os 21,4% em 2014,
representando um aumento em relação ao ano anterior (CNA, 2016).
Nos últimos 40 anos a produção brasileira de grãos e fibras cresceu 325%, a área
destinada aos cultivos (de algodão, amendoim, arroz, aveia, canola, centeio, cevada, feijão,
girassol, mamona, milho, soja, sorgo, trigo e triticale) cresceu 53%, no mesmo período,
evidenciando um aumento de 181% na produtividade brasileira. A produtividade do setor
passou de 1,258 kg/hectare para 3,486 kg/hectare no período. O Brasil tem 851 milhões de
hectares, dos quais 329,9 milhões são ocupados por propriedades rurais (38,7% do país).
(MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2016; CNA, 2016).
A evolução do agronegócio no Brasil, também pode ser evidenciada pelo uso de
insumos: fertilizantes e defensivos. De acordo com a Lei 7.082/1989, denominada Lei dos
Agrotóxicos, os agrotóxicos são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou
biológicos, utilizados nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos
agrícolas, pastagens, proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de
ambientes urbanos, hídricos e industriais. O agrotóxico visa alterar a composição da flora ou
da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, Também
são considerados agrotóxicos as substâncias e produtos empregados com desfolhantes,
dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento (BRASIL, 1989).
Para que ocorresse o aumento da produtividade, como evidenciado anteriormente, ao
longo dos anos, exigiu-se a massificação dos sistemas produtivos e dos avanços tecnológicos,
o Brasil é considerado o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, o mercado brasileiro
corresponde a quase um quinto do mercado mundial no volume de vendas de herbicidas, algo
em torno de 19% do mercado internacional (EMBRAPA, 2014).
O país tem intensificado o uso de defensores agrícolas nas lavouras, ou seja, usando
mais agrotóxicos por hectares. Nos últimos dez anos, o consumo de agrotóxicos vinha

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demonstrando crescimento, porém, no ano de 2015 apresentou uma redução de 21,56%, essa
redução também ocorreu na produção de grãos, 10,3% a menos, ou 21,4 milhões de toneladas
a menos em relação ao ciclo anterior. Cabe ainda ressaltar, que somente a área plantada não
teve redução nesse período, e chega a 58,3 milhões de hectares plantados. O cenário
desfavorável vivenciado pelo Brasil em 2015 tem se refletido também no desempenho do
agronegócio nacional, foi um ano marcado por forte e contínua retração econômica,
aceleração da inflação, redução da confiança empresarial, aumento significativo no
desemprego, bem como intensa instabilidade política somada à severa crise fiscal
(SINDIVEG, 2016; CONAB, 2016; IBGE, 2016).

3 Metodologia
Este trabalho objetivou analisar o processo de logística reversa das embalagens de
agrotóxicos. O estudo tem caráter qualitativo, com dados quantitativos, de natureza descritiva,
mediante um estudo de caso, em uma cooperativa agroindustrial. Quando o interesse da
pesquisa é analisar de forma aprofundada e contextualizada um fenômeno/processo,
recomenda-se uma abordagem qualitativa. Realizou-se um estudo de caso tendo como objeto
de estudo, uma cooperativa agroindustrial. Um estudo de caso investiga fenômenos
contemporâneos em seu contexto real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o
contexto não são evidentes (YIN, 2005). Por questões estratégicas a cooperativa terá seu
nome preservado e será denominada como Coop A.
Na cooperativa a coleta de dados realizou-se através de dados primários por meio de
entrevista em profundidade, sendo que a entrevista é um dos principais métodos de
informações primárias, é uma técnica que reflete o consciente e o inconsciente do entrevistado
(MALHOTRA, 2012), e de dados secundários com a análise de documentos, através da
consulta ao site da cooperativa, documentos e controles da mesma. A entrevista foi realizada
com a gerente da área, por meio de entrevista semiestruturada. A validação e confiabilidade
da coleta de dados ocorreram pela triangulação das informações obtidas nas entrevistas e
comparação com documentos e controles da cooperativa.
Na tentativa de fundamentar os pressupostos levantados a pesquisa utilizou dados
quantitativos para a coleta de dados dos associados, foi elaborado um questionário
estruturado, sendo que o questionário é um conjunto de perguntas, que a pessoa lê e responde
sem a presença de um entrevistador (MARCONI; LAKATOS, 2005). Foi composto por 30
questões e dividido em três blocos, onde as questões de 1 a 4 compreenderam questões de
múltipla escolha, para definir a amostra (dados demográficos), da questão 6 à 24 foi
novamente dividido em três blocos (Legislação, Saúde e Consciência Ambiental), com escala
Likert de cinco pontos, sendo em seus extremos 1 (discordo totalmente) e 5 (concordo
totalmente), da questão 25 à 30 foram de múltipla escolha.
Utilizou-se como técnica de análise dos dados a análise de conteúdo, focando a sua
organização na categorização a priori, que de acordo com Bardin (2009) é caracterizada por
um conjunto de elementos que de forma metodológica descreve o conteúdo de uma
mensagem definindo em categorias. Utilizou-se a técnica de análise de conteúdo, para a
análise dos dados da cooperativa, focando a sua organização na categorização a priori, tendo
como categorias de análise i) logística reversa; e, ii) logística reversa das embalagens de
agrotóxicos. A análise dos dados dos associados foi através da estatística descritiva,
analisando a variabilidade dos dados. Tendo como categorias de análise i) legislação; ii)
saúde; e, iii) consciência ambiental.

4 Análise e Discussão dos Resultados


A Coop A foi fundada em 1957, abrangendo 18 municípios da região e está localizada
no norte do Rio Grande do Sul (RS). Possui 39 unidades de recebimento de produção, tem

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5.802 associados e conta com 1.418 colaboradores. Seu faturamento em 2015 foi superior a
R$ 1.351.579.662,00. Atua no ramo de comercialização de corretivos, fertilizantes e
agroquímicos, através de suas 13 lojas de insumos agrícolas e pecuários distribuídas na sua
área de abrangência, sendo que 12 comercializam agrotóxicos.
Após a análise da Coop A e visando alcançar o objetivo do estudo é possível afirmar
que são diversos os papéis de uma cooperativa, porém diante da presente pesquisa é possível
destacar:
a) conscientização dos trabalhadores rurais: o auxílio na conscientização dos
produtores é papel da cooperativa, e ocorrem através de programas de
conscientização/informação, treinamentos, como por exemplo, esclarecer a
responsabilidade do produtor na tríplice lavagem correta das embalagens (XU et
al., 2006; LADEIRA; MAEHLER; NASCIMENTO, 2012).
b) sensibilização ambiental: os resíduos produzidos, quando bem tratados após sua
vida útil, são passíveis de venda e rentáveis, poupando matéria prima virgem
(NONAKA; TAKEUCHI, 1997; MARCHI, 2011).
c) conformidade legal: estar de acordo com a legislação vigente, organizações
ambientalmente responsáveis ou legalmente corretas possuem publicidade
positiva (COMETTI; ALVES, 2010; BERNARDO et al., 2015).
A responsabilidade, de acordo com a Lei 9.974/2000 (BRASIL, 2000), em dar
destinação correta ás embalagens de agrotóxicos cabe aos agentes envolvidos no processo de
logística reversa, que são: os i) consumidores; ii) estabelecimentos comerciais; iii)
fabricantes; iv) órgãos públicos. Em seguida, serão apresentados os resultados da fase
quantitativa da pesquisa, será ponderado sobre o agente consumidores (i) que são
representados nesse estudo, pelos produtores rurais/associados/cooperados.
A amostra corresponde a 68 questionários, dentre os quais se destaca que a grande
maioria são proprietários da propriedade (77,94%), sendo que funcionários e arrendatários
totalizam 17,64%. O tamanho da propriedade chama a atenção para o fato de a predominância
ser de propriedades acima de 51 hectares, representando mais da metade da amostra,
totalizando 57,35%, atribui-se ao fato de predominar na região as lavouras de soja.
As preocupações nos últimos anos, com o meio ambiente vem crescendo
significativamente, muitas organizações têm dado maior ênfase às questões ambientais não
apenas como diferencial competitivo, mas também como questão de responsabilidade para
com o meio ambiente e as gerações futuras (SACHS, 2008). Ressalta-se também o aumento
em relação às pressões legais que vem ocorrendo em vários países, inclusive no Brasil, onde
se tem o foco bastante concentrado nas indústrias poluidoras, passa-se a observar também o
setor agrícola sofrendo com essas pressões (LADEIRA; MAEHLER; NASCIMENTO, 2012).
Para uma melhor compreensão dos resultados obtidos, a análise foi realizada através de três
variáveis, legislação, saúde e consciência ambiental.
A legislação apresenta normas e padrões para o uso e manuseio das embalagens de
agrotóxicos, justificando a relevância da variável Legislação para a pesquisa. A média para a
variável Legislação é de 87%, com desvio padrão de 0,486 e média das questões da variável
de 4,47%, ou seja, a maioria dos respondentes concorda que a legislação, levando em
consideração o grupo de questões abordadas para essa variável, seja relevante para o processo
de logística reversa das embalagens de agrotóxicos. O tratamento dado às embalagens de
agrotóxicos até seu retorno às indústrias está regulamentado por legislação específica
(COMETTI; ALVES, 2010; BERNARDO et al., 2015). Em relação a variável Legislação vale
ressaltar: a grande maioria recebem instruções no momento da compra em relação a sua
indicação, tipo, quantidade a ser utilizada e onde e as condições para serem devolvidas, e a
recebe de profissional capacitado (Engenheiro Agrônomo), porém evidenciou-se que não
estão recebendo todas as orientações necessárias de como proceder com as embalagens; os

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agrotóxicos e embalagens nem sempre são guardadas em galpões específicos como determina
a legislação, porém apesar da falta de informações os produtores não as armazenam nas suas
casas ou pátios evitando implicações que poderiam ser ocasionadas por esse armazenamento
incorreto.
A destinação inadequada de embalagens de agrotóxicos e afins é considerada
causadora de danos tanto ao meio ambiente quanto a saúde humana (LACERDA, 2003). O
ciclo de contaminação dos agrotóxicos se expande além das áreas de produção, sendo
necessários maiores cuidados e precauções durante seu manejo (BADACH et al., 2007). Com
base na literatura pesquisada, buscou-se embasar a análise da variável Saúde, sendo que essa
teve um resultado de 72,9% de média, desvio padrão de 0,697 e média das questões da
variável de 3,79%, a mais baixa das variáveis analisadas, evidenciando a importância de
maior atenção.
O uso de agrotóxicos tem aumentado significativamente, apesar dessa realidade do uso
de agrotóxicos em todo o país, não se tem como pensar em deixar de utilizar agrotóxicos em
curto prazo (BRITO et al., 2006). Com a análise da variável Saúde é possível concluir que
mesmo que os produtores rurais tenham ciência dos riscos à saúde que os agrotóxicos
oferecem (91%), apesar de não ser significativa a participação em treinamentos ou seminários
(64%), isso não os impedem de manipular os agrotóxicos, mesmo que haja um discurso no
sentido de conciliação entre maior produtividade e a adoção de práticas ecológicas. Diante
desse contexto, os estudos de Ladeira, Maehler e Nascimento (2012) corroboram com os
resultados obtidos para essa variável.
Além dos problemas de saúde causados aos humanos, os agrotóxicos também
degradam o meio ambiente no longo prazo com efeitos que podem ser irreversíveis. Diversas
são as organizações que têm dado maior ênfase às questões ambientais, não somente como
vantagem competitiva, mas também como questão de responsabilidade com o meio ambiente
e as gerações futuras. O meio ambiente passou a ser uma preocupação constante em agendas
políticas (LEAL, 2003; LADEIRA; MAEHLER; NASCIMENTO, 2012).
A análise da variável Consciência Ambiental resultou em média de 84,8%, com desvio
padrão de 0,460 e média das questões da variável de 4,42%, destacando que um número
elevado da amostra tem preocupação com a Consciência Ambiental relacionada ao retorno
das embalagens de agrotóxicos. Diante da análise da variável Consciência Ambiental e de
encontro aos achados nos estudos de Ladeira, Maehler e Nascimento (2012), diversos fatores
podem estar relacionados, em maior ou menor grau, ao recolhimento das embalagens vazias
de agrotóxicos, por um lado, através das legislações vigentes são estabelecidas as atribuições
de cada agente envolvido, que obriga as empresas a realizarem o recolhimento das
embalagens de agrotóxicos e dar destinação correta, por outro lado, um aumento na
consciência ambiental dos produtores rurais, tem melhorado os índices de recolhimento das
embalagens no Brasil. Nesse sentido, é possível afirmar que o recolhimento das embalagens
vazias de agrotóxicos pode ser considerado um ato de consciência ambiental por parte do
produtor rural.
O processo de logística reversa das embalagens de agrotóxicos é um procedimento
complexo e para que ele aconteça de forma correta e eficaz, é preciso salientar para a
necessidade de um trabalho em sintonia, enfatiza-se a necessidade de integração de todos seus
elos e também seu caráter holístico. Com base na análise das variáveis: Legislação, Saúde e
Consciência Ambiental e corroborando com os estudos pesquisados, para que o processo de
LR das embalagens de agrotóxicos tenha êxito, espera-se que: haja a relação entre a
realização da tríplice lavagem das embalagens pelo produtor rural e a devolução às empresas
fornecedoras; que a inutilização das embalagens relacione-se com sua devolução; que o
armazenamento das embalagens também esteja relacionado com a devolução; que o
recebimento de informações de manuseio das embalagens pelas empresas vendedoras esteja

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relacionado à devolução das mesmas para as fornecedoras; que o recebimento de informações
de manuseio pelas cooperativas também esteja relacionado com a devolução (LADEIRA;
MAEHLER; NASCIMENTO, 2012).

5 Considerações Finais
Diante do contexto exposto, evidencia-se a importância da cooperativa, o auxílio na
conscientização dos produtores é papel da cooperativa, os resíduos produzidos, quando bem
tratados após sua vida útil, são passíveis de venda e rentáveis, poupando matéria prima
virgem, demonstra-se assim a sensibilização ambiental da Coop A, destacando a
responsabilidade da mesma e quais os impactos gerados para o meio ambiente a qual ela está
inserida, ainda, é papel da cooperativa a conformidade legal, ou seja, estar de acordo com a
legislação vigente, organizações ambientalmente responsáveis ou legalmente corretas
possuem publicidade positiva.
Alguns fatos foram destacados durante a presente Pesquisa e merecem maior atenção,
como, o transporte e armazenagem inadequado das embalagens, o fato de não ter seminários
ou treinamentos para esclarecimentos sobre os agrotóxicos seu uso e manejo, questões
relacionadas à saúde do trabalhador, como uso de EPI’s. Porém diante de alguns estudos
ponderados para a elaboração desta (LADEIRA; MAEHLER; NASCIMENTO, 2012;
BERNARDO et al, 2015), destaca-se o desempenho da cooperativa agroindustrial estudada,
onde pressupõe-se que fazendo uso do modelo descrito, organizações do mesmo ramo de
atuação podem alcançar resultados satisfatórios como os aqui relatados, sendo que a
vantagem obtida por uma organização decorre de sua estratégia bem-sucedida. A preocupação
com o meio ambiente é uma fonte de diferenciação, vantagem a ser considerada pelas
organizações e a sociedade.
Para o sucesso da logística reversa das embalagens vazias de agrotóxicos é
fundamental que a responsabilidade seja compartilhada. A destinação final de embalagens
vazias de agrotóxicos é um procedimento complexo que requer a participação efetiva de todos
os agentes envolvidos desde sua fabricação e comercialização até sua utilização na lavoura.
Somente com a colaboração efetiva de todos é que o setor agrícola estará (ou permanecerá)
estruturado apropriadamente para realizar a destinação final de embalagens de agrotóxicos e
afins dentro das exigências legais estabelecidas.
Sugerem-se estudos futuros, com vistas à superação das limitações, que possam ser
desenvolvidas novas pesquisas em outras cooperativas agroindustriais, para realizar
comparações entre diferentes organizações, bem como, é recomendável avaliar cooperativas
de outras regiões do país, considerando uma amostra maior e proporcional ao tamanho da
cooperativa, seguindo os preceitos estatísticos de probabilidade e representatividade da
amostra.

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O caso do Complexo Eólico Campos Neutrais

Multifunctionality and Rural Development:


The case of the Campos Neutral Wind Complex

Letícia Bauer Nino 1

Resumo
Nos últimos anos, assistimos ao começo de uma transição para modelos energéticos de baixo carbono baseados
em fontes renováveis de energia, como, por exemplo, a eólica. Assim, o presente trabalho tem como propósito
analisar os desdobramentos da recente implantação do “Complexo Eólico Campos Neutrais” no extremo sul do
Brasil sob o aporte da Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici. Em que pese o fato de a
multifuncionalidade ser um conceito que surgiu em um contexto europeu e visando solucionar problemas de uma
realidade bem distinta da do Brasil, entrevistas realizadas indicam que o desenvolvimento de atividades não
agrícolas nos espaços rurais, como a produção de energias renováveis, possa ser um instrumento para a
consolidação de uma nova consciência de que é perfeitamente possível o desenvolvimento do mundo rural sem
que nos limitemos aos métodos e práticas do passado, quando os atores rurais ainda estavam limitados a uma
visão estritamente produtivista da terra.

Palavras-chave : sustentabilidade – multifuncionalidade – rural - energia - representações

Abstract:

In recent years, we have witnessed the beginning of a transition to low-carbon energy models based on
renewable sources of energy, such as wind. The present work aims to analyze the developments of the recent
installation of the "Neutral Fields Wind Complex" in the extreme south of Brazil under the support of Serge
Moscovici's Theory of Social Representations. Despite the fact that multifunctionality is a concept emerged in an
European context, to solve problems of a very different reality from the Brazilian, the interviews indicate that the
development of non-agricultural activities in rural areas, such as the production of renewable energies, can be
an instrument for the consolidation of a new awareness that the development of the rural world is perfectly
possible without limiting ourselves to the methods and practices of the past when rural actors were still limited
to a strictly productivist view of the land.

Keywords: sustainability – multifunctionality –rural – energy- representations

1 Introdução

A energia é fundamental para a sustentação dos padrões de vida das sociedades


hodiernas. À medida que a população cresce, e que se incrementa o nível de conforto e de
bens de consumo duráveis e não duráveis, a quantidade de energia necessária também tende a
crescer. O mesmo não ocorre com os recursos naturais não renováveis cuja propensão é o
esgotamento, sendo um grande desafio à busca de modelos de geração de energias
alternativas. O reconhecimento do aumento dos problemas de caráter ambiental e o risco de
novos apagões energéticos têm levado à busca de um novo padrão de uso dos recursos

1
Advogada, Mestre em Ciências Sociais pela UFPel e Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sistemas
de Produção Agrícola Familiar da UFPel1-leticiabnino@hotmail.com 1

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naturais e de fontes renováveis. Para FADIGAS (2011), PINTO (2013) as crises do Petróleo
(década de 1970), fizeram com que a humanidade começasse a repensar a utilização de
combustíveis fósseis e iniciasse a transição para um modelo energético de baixo carbono
calcado em fontes de energia renováveis, como é o caso da energia eólica.
Essa transição tem reflexos também no desenvolvimento sustentável das propriedades
rurais, principalmente se levarmos em consideração que, hoje em dia, alguns produtores já
recebem essa forma de renda territorial ambiental, diversificando suas receitas e fontes de
ingresso econômico. Nesse contexto, a vocação de muitos estabelecimentos agrícolas já não é
somente a geração de alimentos e matérias primas, mas a produção de energias renováveis.
Esse quadro representa uma mudança importante na percepção dos agricultores que
convencionalmente vislumbram na questão ambiental um limitador de suas ações. Todavia,
em certa medida, o novo uso dos recursos naturais poderá gerar uma tensão entre o uso
agrícola e não agrícola dos espaços rurais por parte dos agricultores e de suas organizações,
bem como de setores conservadores da sociedade atual.
O cenário até aqui descrito se insere no contexto do que, no âmbito mundial, se
conhece como multifuncionalidade do rural, no qual emerge um novo discurso onde outras
funções são atribuídas para além da produção agropecuária „stricto sensu‟. Em outras palavras
poder-se-ia dizer que o debate sobre a multifuncionalidade do rural preconiza que a
agricultura não representa a única e exclusiva atividade econômica realizada nos espaços
rurais. O contato com a realidade concreta mostra que estamos vivendo uma transição
importante no que tange ao entendimento sobre os rumos da agricultura e do mundo rural.
Consoante SACCO DOS ANJOS; CALDAS (2012, p. 8; destacado no original):

A passagem do discurso em favor da modernização agrícola para o discurso da


multifuncionalidade estabelece, ao fim e ao cabo, um verdadeiro divisor de águas,
não apenas enquanto expressão de um determinado padrão de desenvolvimento, mas
como uma das chaves interpretativas que nos permitam compreender a extensão das
transformações operadas no âmbito das percepções e dos significados.

Constata-se que o paradigma da modernização, que tinha como foco a produção


agropecuária intensiva, aos poucos cede espaço e é dominado pelo paradigma da
multifuncionalidade, onde outras funções passam a ser desempenhadas pelo espaço rural,
assim como a revalorização de recursos naturais (água, energia, etc.).
É importante mencionar que o conceito de multifuncionalidade é um neologismo que
aparece pela primeira vez no cenário internacional durante a realização da Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco 92) realizada na cidade do
Rio de Janeiro. Tal noção é retomada e se robustece em meio às negociações da Organização
Mundial do Comércio (OMC) e no contexto das reformas pelas quais passou a Política
Agrícola Comum Europeia (PAC). Conforme Segrelles Serrano (2007), desde que surgiu pela
primeira vez na Eco 92, intensificaram-se estudos e aproximações teóricas em torno dessa
temática, cujo uso tornou-se cada vez mais difundido nos foros internacionais. Entrementes,
apesar de ser um conceito surgido no contexto europeu, nos grandes ciclos de debates sobre o
futuro da agricultura e do mundo rural, a ideia de multifuncionalidade vem passando a ocupar
um espaço crescente na agenda dos órgãos que atuam no âmbito do desenvolvimento rural
sustentável na América Latina, como é o caso do Brasil. Nesse país os últimos anos
coincidem com um incremento significativo na importância atribuída às fontes renováveis,
especialmente da energia eólica. Os ventos da mudança chegam na virada do milênio,
especialmente no sul do Brasil.
O marco de referência é a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de
Energia Elétrica (PROINFA), fato que fez com que esse país promovesse grandes
empreendimentos do gênero, dentre os quais, a criação do Complexo Eólico Campos

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Neutrais, localizado no extremo sul do estado do Rio Grande do Sul. A multiplicação de
projetos envolvendo a geração de energia nos espaços rurais engendra uma série de mudanças
para além da esfera energética e estritamente econômica. Neste sentido, pode representar uma
ruptura importante na medida em que a questão ambiental e o discurso da sustentabilidade
passam a ser vistos como uma janela de oportunidades extremamente ampla para os territórios
onde tais projetos são levados a efeito em propriedades rurais que até então tinham, na
produção de commodities agrícolas, alimentos e fibras sua única e tradicional vocação.
O presente artigo tem por objetivo analisar alguns desdobramentos da instalação do
Complexo Eólico Campos Neutrais. Nosso interesse recai nas mutações produzidas no
imaginário dos produtores a partir do instante em que estes aderem a contratos firmados com
grandes empresas, através dos quais, passam a obter vantagens econômicas sob a forma de
rendas territoriais totalmente desvinculadas da produção agropecuária. Nesse contexto, trata-
se de examinar de que forma essa transição tem sido metabolizada nos processos mentais dos
agricultores, sob o aporte da Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici, a ser
abordada no tópico seguinte.

2 Referencial Teórico

Como o trabalho de pesquisa objetivou analisar as mudanças associadas à implantação


do Complexo Eólico Campos Neutrais, isto é, de que forma a transição para uma sociedade de
baixo carbono tem sido metabolizada nos processos mentais dos agricultores, a natureza do
objeto demandou a adoção de ferramentas de investigação compatíveis e/ou adequadas, como
é o caso da Teoria das Representações Sociais, de forma a desvendarmos o visível e o
invisível, bem como o nível dos significados, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores
expressados através da linguagem.
Na sociologia clássica, Durkheim foi o primeiro autor que trabalhou de forma explícita
o conceito de Representações Sociais. Minayo (1995, p.90) ensina que “Usado no mesmo
sentido que Representações Coletivas, o termo se refere a categorias de pensamento através
das quais determinada sociedade elabora e expressa sua realidade”.
De um modo geral, as representações sociais ou coletivas devem ser entendidas como
processos ou fenômenos mentais compartilhados, através dos quais as pessoas organizam suas
vidas. Concretamente, pode-se dizer que as representações sociais governam as escolhas e as
visões dos indivíduos, do ponto de vista valorativo.
Todavia, como adverte Duveen (2009, p. 13), o esforço para erigir a Sociologia como
uma ciência autônoma fez com que Durkheim propusesse uma separação radical entre essas
duas modalidades de representações, assumindo que as primeiras deveriam ser o campo da
Psicologia, enquanto as últimas conformariam o objeto de Sociologia.
Ainda segundo Duveen (2009, p. 16) a psicologia social de Moscovici “foi
consistentemente orientada para questões de como as coisas mudam na sociedade, isto é, para
aqueles processos sociais, pelos quais a novidade e a mudança, como a conservação e a
preservação, se tornam parte da vida social”. Para Moscovici (2009, p.40) “(...) o que é
realmente importante é a natureza da mudança, através do qual as representações sociais se
tornam capazes de influenciar o comportamento do indivíduo participante de uma
coletividade”.
Além de Durkheim e Moscovici, outros autores como Weber e Marx, trabalharam com
o fenômeno das Representações Sociais. Entretanto, optamos por utilizar a Teoria das
Representações Sociais (TRS) de Serge Moscovici, que, em sua noção de representação
social, concluiu ser mais adequado, num contexto moderno, estudar as representações numa
perspectiva psicossocial, o que significa a reprodução de uma percepção anterior ao conteúdo

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do pensamento (MOSCOVICI, 2003). Em conformidade com Arruda (2002, p.134), “As
representações coletivas em Durkheim apresentavam razoável estabilidade e um relativo
estancamento no tocante às representações individuais, configurando-se em algo semelhante
ao group mind, como diria Moscovici”. Essa abrangência da teoria, pela sua dinamicidade,
torna-se importante para a natureza da investigação que buscamos desenvolver.
A Teoria das Representações Sociais (TRS), forma sociológica da Psicologia Social,
originou-se na Europa com a publicação feita por Serge Moscovici (1961) de um estudo
pioneiro sobre as maneiras como a psicanálise penetrou o pensamento popular na França, La
Psychanalyse: son image e son public, obra que até hoje permanece sem tradução para o
inglês, o que fez com que fosse problemática a recepção da teoria das representações sociais
no mundo anglo-saxão. Desde seu surgimento, a TRS contrariava o paradigma dominante na
época, tanto na psicologia, como na sociologia e demorou muitos anos para obter
reconhecimento.
Foi com o intuito de enfatizar a qualidade dinâmica das representações, contra o
caráter mais estático que elas tinham na teoria de Durkheim, que Moscovici (2003) utiliza o
termo “social” ao invés de “coletivo”. Enquanto que a sociologia via as representações como
artifícios explanatórios que não poderiam ser reduzidos a qualquer análise posterior, a
psicologia social deveria voltar sua atenção somente para a estrutura e dinâmica das
representações (MOSCOVICI, 2009). Assim, Moscovici (2009, p.45), propõe” (...) considerar
como um fenômeno o que antes era visto como um conceito.
Entretanto, segundo Carvalho e Arruda (2008, p.449), “Na vida social equilíbrio e
desequilíbrio caracterizam processos dinâmicos nos quais as representações são
sistematicamente atualizadas, o que não significa dizer que sejam desprovidas de estabilidade
e mudem ao bel prazer das vontades individuais”.
Já em consonância com o pensamento de Jodelet (1984), a palavra representação
social carrega em estado dormente uma teoria sobre a sua natureza bem como de suas ações,
sendo parte integrante da nossa cultura. Aos poucos as representações vão inserindo-se em
nossa linguagem cotidiana, até serem convertidas em categorias de sentido comum, de forma
que sirvam de instrumentos que irão nos aproximar dos indivíduos para que possamos
compreendê-los, e, consequentemente, atribuir-lhes um lugar na sociedade.
Apesar de defendermos a ideia de que as representações sociais dos atores inseridos no
meio rural podem ter sofrido mudanças com o passar dos anos, de acordo com Castro (2003,
p.266), “(...) se nos basearmos na Teoria das Representações Sociais, veremos emergir uma
ideia muito diferente sobre a forma como as novas e as velhas ideias se relacionam entre
elas”. Novas ideias não implicam necessariamente no abandono de velhas ideias. Pelo
contrário, ainda consoante Castro (2003, p. 266), “(...) o que se passa é um complexo processo
de acomodação e conciliação, que tem como resultado que as novas ideias e as velhas passem,
no final a viver em paz, conjuntamente, e com transformações mútuas”.
E no que tange ao lugar que as representações ocupam em nossa sociedade, é preciso
que se faça uma distinção entre os universos consensuais e os universos reificados. Conforme
Moscovici (2009, p.50): “Em um universo consensual, a sociedade é vista como um grupo de
pessoas que são iguais e livres, cada qual com a possibilidade de falar em nome do grupo e
sob seu auspício”. Já em um universo reificado, para Moscovici (2009, p.51): “(...) a
sociedade é vista como um sistema de diferentes papéis e classes, cujos membros são
desiguais. Somente a competência adquirida determina o seu grau de participação de acordo
com o mérito (...).
Enquanto a ciência é um instrumento utilizado para a compreensão do universo
reificado, as representações são utilizadas para a compreensão do universo consensual. Neste
sentido, Moscovici (2009, p.52) nos diz que as representações “(...) restauram a consciência

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coletiva e lhe dão forma, explicando os objetos e acontecimentos de tal modo que eles se
tornam acessíveis a qualquer um e coincidem com nossos interesses imediatos”.
Outro aspecto importante para se compreender o fenômeno das representações
consiste em familiarizar aquilo que não nos é familiar. Para que possamos familiarizar aquilo
que não nos é familiar, devemos colocar em operação dois mecanismos baseados em memória
e conclusões passadas. O primeiro deles, denominado ancoragem, consiste em classificar e
dar nome a alguma coisa de forma a transformar algo que nos intriga, que nos perturba e que
nos é estranho, em categorias e imagens comuns que nos são familiares. Já o segundo
mecanismo que gera representações sociais é chamado de objetivação, processo muito mais
atuante que a ancoragem, e que consiste em transformar algo abstrato em algo quase concreto,
isto é, objetivar consiste em transferir o que está na mente em algo que realmente exista no
mundo real (MOSCOVICI, 2009).
Como para Moscovici (2009, p.54), “a finalidade de todas as representações é tornar
familiar algo não familiar ou a própria não - familiaridade”, acreditamos que a escolha da
Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici como consistente instrumento
psicossocial de pesquisa, tem enorme potencial para tornar comum e real algo que é incomum
(não-familiar), bem como revelar como os produtores rurais estão assimilando as mudanças
pelos quais estão passando os espaços rurais através do desenvolvimento de atividades não
agrícolas, como a produção de energias renováveis.
Em continuidade, de forma a cumprir o objetivo deste trabalho de pesquisa, na
próxima seção apresentamos uma análise de parte do conteúdo das entrevistas que foram
realizadas com os produtores rurais cujas propriedades integram o Complexo Eólico Campos
Neutrais, a luz da ferramenta metodológica escolhida para interpretação da realidade, isto é, a
Teoria das representações Sociais de Serge Moscovici.
Na sequência, descrevemos os procedimentos metodológicos que nortearam a presente
pesquisa.

3 Procedimentos Metodológicos

Para que se possa utilizar as representações sociais como uma ferramenta


epistemológica e de interpretação da realidade, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa, na
qual foram realizadas quinze entrevistas semi–estruturadas com produtores rurais cujas
propriedades integram o Complexo Eólico Campos Neutrais. O tamanho total das
propriedades variou de 20 a 2500 hectares. Os contatos iniciais tornaram-se viáveis através de
um dos sócios da Renobrax, uma das empresas empreendedoras do projeto. As entrevistas
foram realizadas no período de fevereiro de 2017 a dezembro de 2017. As mesmas tiveram
autorização para serem gravadas e duraram entre 18 minutos a 40 minutos. Para preservar a
confidencialidade, todos os nomes dos entrevistados neste artigo são fictícios .
Depois de concluídas, as entrevistas foram transcritas e analisadas. Utilizando-nos das
representações sociais como uma ferramenta de conhecimento e de decodificação da
realidade, examinamos, através do conteúdo das entrevistas, algumas metamorfoses sofridas
no mundo rural com o desenvolvimento de atividades não agrícolas nas propriedades rurais.

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4 Resultados e Discussão

O Complexo Eólico Campos Neutrais2 situa-se no extremo sul do Rio Grande do Sul
(Figura 1), na imensa fronteira do Brasil com o Uruguai e integra os Parques de Geribatu,
Chuí e Hermenegildo. Conjuntamente são responsáveis pela geração de 583 megawatts (MW)
de capacidade instalada, a qual é suficiente para atender ao consumo de 3,3 milhões de
habitantes. Trata-se de projeto capitaneado pela Eletrosul (empresa pública vinculada ao
Ministério de Minas e Energia) com seus parceiros privados, cujos fundos de investimento, de
origem eminentemente nacional, totalizaram R$ 3,5 bilhões de reais.

Figura 01: Mapa ilustrativo do Rio Grande do Sul com a localização dos municípios de Santa
Vitória do Palmar, Chuí e Praia do Hermenegildo

Fonte: Elaboração da autora (2016).

Nas zonas setentrionais do Brasil a implantação dos projetos se deu via compra ou
desapropriação de terras de particulares para instalação dos aerogeradores. Já no caso dos
Campos Neutrais tem-se uma situação distinta pelo fato de envolverem o estabelecimento de
contratos de arrendamento. Após as medições iniciais (projetos piloto) que comprovam
resultados promissores foram efetivadas transações ocorridas em duas etapas. A primeira
delas ocorreu durante a construção das estruturas, momento em que os proprietários das terras

2
Conforme Amaral (1970) a região dos Campos Neutrais nos remete ao período da colonização e das disputas
entre as duas coroas ibéricas pelo controle da foz do Rio da Prata, hoje compartilhada por Brasil, Argentina e
Uruguai. Com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso (1777), Espanha e Portugal estabeleceram uma zona
de exclusão correspondente a uma faixa de terra desabitada, hoje pertencente ao Rio Grande do Sul, no extremo
sul do Brasil, que não poderia ser ocupada militar ou civilmente por nenhuma das partes em conflito, daí o nome
“Campos Neutrais”.

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receberam um arrendamento equivalente a uma safra média de arroz. O valor foi fixado e
indexado à variação do preço da saca de arroz tipo um, de maior valor comercial. Tal
remuneração era assumida como forma de compensação por perdas que, hipoteticamente,
adviriam de eventual diminuição na produtividade agrícola do estabelecimento rural.
A segunda forma de pagamento consistiu no rateio de uma parcela correspondente ao
percentual de 1,8% do faturamento da venda de energia gerada pelo parque, a qual se
considera como proporcional à área arrendada de cada propriedade e não ao número de
aerogeradores instalados em seus domínios. Assim, constituiu-se um condomínio onde todas
as propriedades participantes desde as fases iniciais do projeto foram contempladas, tivessem,
ou não, aerogeradores instalados em suas respectivas áreas.
Essa dinâmica assume o caráter de inovação trazendo mudanças significativas na vida
dos proprietários que aderiram ao projeto. Sob a égide desse sistema o grande efeito foi
justamente firmar o conceito, sem precedentes históricos, de que poderiam ser desenvolvidas
atividades não agrícolas geradoras de renda, totalmente desvinculadas da produção
agropecuária. É importante mencionara que este trabalho faz parte da tese de doutoramento
da autora que está sendo desenvolvida no Programa de Pós- Graduação da Universidade
Federal de Pelotas. Para analisar como os produtores absorvem algumas das mudanças
associadas à implantação do Complexo Eólico Campos Neutrais, incorporando as novas
funções atribuídas às áreas rurais e ao próprio estabelecimento rural, e de forma a cumprir o
objetivo desta pesquisa, foram criadas apenas duas categorias de análise: Compatibilidade
entre as atividades não agrícolas e as demais atividades desenvolvidas nos espaços rurais e
recebimento de uma renda não agrícola.

Compatibilidade entre as atividades não agrícolas e as demais atividades desenvolvidas nos


espaços rurais

Apesar de termos constatado a existência de proprietários mais arrojados e


destemidos, havia no início um temor de que a instalação dos aerogeradores pudesse alterar a
rotina das atividades em suas explorações. Ao serem questionados sobre a compatibilidade
entre as atividades não agrícolas e as demais atividades que eram desenvolvidas nas
propriedades rurais, praticamente todos os entrevistados mencionaram que a maioria dos
transtornos e incompatibilidades ocorreram durante o primeiro ano do contrato, quando
estavam sendo edificadas as estruturas do Complexo Eólico. O depoimento a seguir evidencia
isto:
No momento da construção teve sim um certo impacto porque [pausa], é muito
movimento de pessoal, não é, deixam porteira aberta, muita misturança de gado
mas, já estava previsto isto aí, a mim não atrapalhou muito porque eu já tinha, eu
tinha ideia de que seria assim mesmo. Então, teve um ano meio tumultuado no
começo mas [pausa], foi só no período de construção, isto é normal com qualquer
construção, se tu constróis uma casa é assim não é, qualquer coisa que se constrói,
sempre tem algum transtorno no momento (Paulo) .

A visão acima evidencia um aspecto importante para se compreender o fenômeno das


representações consiste em familiarizar aquilo que não nos é familiar. Aquilo que era
estranho, perturbador para o produtor em um primeiro momento, foi ancorado, de forma a
transformar algo que o intrigava e o perturbava e que é estranho, em categorias e imagens
comuns que são familiares.

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Por outro lado, em que pese o fato de a maior parte dos produtores ter mencionado que
a incompatibilidade entre as atividades não agrícolas e as demais atividades desenvolvidas
nos espaços rurais ocorreu apenas no período da instalação do parque, ocorreram casos em
que houve diminuição das atividades que eram desenvolvidas antes da instalação dos
aerogeradores. O depoimento do produtor Rafael corrobora isto:
Mudou um pouco, porque eu reduzi o arroz, arroz eu quase que não planto em casa
porque [pausa], hoje a gente tem esse novo rendimento, não é, foi agregado esses
valores da eólica, e aí não tenho muito interesse em arroz não é, gosto de pecuária e,
com certeza, creio, fazendo as contas, hoje a pecuária dá mais do que arrendar para
arroz. Não para quem planta, quem produz arroz, logicamente que ganha muito
dinheiro nisso, dependendo da safra logicamente.

A partir do momento que o produtor resolve diminuir as atividades que eram


desenvolvidas na propriedade antes da instalação dos aerogeradores, podemos vislumbrar
uma percepção que reflete claramente a finalidade de todas as representações que, segundo a
Teoria de Moscovici consiste em tornar comum, real e concreto algo que até então era
abstrato e incomum (não familiar).
A seguir revelamos como os produtores rurais avaliam a perspectiva de contar com
uma forma de ingresso econômico desvinculada totalmente das atividades agropecuárias.

Recebimento de uma renda não agrícola

Após a instalação do Complexo Eólico, a maioria dos proprietários constatou que,


além de a produção de energia eólica ser perfeitamente compatível com as atividades que até
então vinham sendo desenvolvidas na propriedade, ela trazia, conjuntamente, a possibilidade
de contar com uma forma de ingresso econômico segura e regular. Aquilo que até então era
estranho, não familiar passa a indicar o senso comum, o consenso explícito de alguns dos
atores sociais, refletindo as representações dos mesmos sobre a categoria em questão.
Vejamos:
Olha, eu acho que para nós foi muito bom. Passa-se a ganhar uma renda mensal,
essa foi a mudança, foi um ganho e uma maneira diferente de administrar o
rendimento da propriedade, por que agropecuária é safra, planta hoje para colher
daqui há seis meses e quando colhe, vende o produto e tem uma receita grande, não
é. Assim que a gente vivia. Hoje tem uma receita, tem uma entrada mensal na
propriedade, tu pode programar e fazer qualquer tipo de investimento contando com
aquilo ali, que todos os meses vem. Então, isso aí mudou a dinâmica vamos dizer
assim de trabalhar, mudou, ali no parque Geribatu posso dizer que mudou a
realidade de todo mundo, de todo mundo, o pessoal ali falava: a crise da pecuária, a
crise do arroz. Hoje, essas crises não estão abalando o financeiro do pessoal ali. O
pessoal tá vivendo daquela receita todo mês paga. Mudou bastante, melhorou muito.
É garantido, todo o mês tá na conta, na verdade ela somou, ela veio para somar.
Hoje eu acredito que o pessoal tá dependendo mais da renda da eólica do que da
própria atividade agropecuária, eu acho. No Geribatu, mas eu acho que é a realidade
de todos os parques aí. (Eduardo)

Para mim está sendo bom, até agora tá sendo bom. Eu continuo trabalhando com a
agricultura assim como eu trabalhava antes [pausa], enquanto dá eu vou levando,
não é. Faço minhas plantações de milho ali quando dá e crio meus bichos. E isto aí
só vem ajudar. Eu sempre precisava vender uma vaca para comprar adubo, hoje tu já
deixa aquela vaca no campo e pega o dinheiro das eólicas para comprar, deixa para
vender depois quando tá na época boa. Às vezes tem que vender de apuro também,
meio à vista ou coisa parecida [pausa], já vende mais barato. E assim não, já sabe

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que tem aquele dinheiro, é todo o dia 15 que eles depositam [pausa], não precisa sair
correndo para vender bichos. (Marcos)

Essas percepções são cruciais, especialmente quando se pensa que as incertezas da


agricultura não decorrem apenas do comportamento climático (falta ou excesso de chuvas),
mas especialmente dos efeitos advindos das flutuações cambiais, das eventuais restrições no
acesso aos financiamentos agrícolas e, especialmente, da insegurança que reina nos mercados
dentro de uma economia cada vez mais globalizada e instável.

5 Conclusões

Algumas conclusões a que chegamos com este trabalho é que poderá ser reconhecida
nos espaços rurais a existência de uma nova realidade na questão do uso da terra,
transformadora dos antigos paradigmas que vigoraram em épocas anteriores. A produção de
energias alternativas nos parques eólicos instalados no sul do estado do Rio Grande do Sul
tem contribuído para a diversificação das fontes de ingresso dos produtores rurais, para o
fortalecimento da economia local além de tornar-se uma alternativa para o desenvolvimento
dessa região. Produtores rurais que resistiam aos ventos da mudança estão hoje encantados
com os benefícios trazidos pelos contratos firmados com empresas do setor. As alterações na
paisagem são evidentes. Há quem afirme que podem produzir prejuízos às rotas de aves
migratórias e mudar uma paisagem que até bem pouco tempo atrás se reconhecia como
imutável desde tempos imemoriais. A terra que viu crescer rebanhos e a expansão de grandes
e tecnificadas lavouras de arroz irrigado, convive hoje com aerogeradores que trazem renda às
famílias rurais e alguma capilaridade ao comércio local. A velha e convencional vocação dos
espaços rurais como meros produtores de alimentos não é mais suficiente para atender as
novas exigências e demandas da sociedade brasileira e das coletividades regionais. Com
efeito, cresce o entendimento que o mundo rural passa a ser um espaço com múltiplas
dimensões e funções. A partir do surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável, a
atividade agrícola adquire outros significados associados não mais aos aspectos produtivos,
mas também no que tange à conservação dos recursos naturais, processo esse que podemos
definir como um reconhecimento de seu caráter multifuncional. Podemos concluir também,
que o desenvolvimento de atividades não agrícolas através de projetos de geração de energia
eólica em áreas rurais pode engendrar inúmeras vantagens para as comunidades envolvidas e
para região em que venham a ser implementados. A partir do momento que os proprietários
rurais passam a auferir rendas totalmente desvinculadas da agricultura, o discurso da
sustentabilidade passa a ser visto como um amplo leque de opções e oportunidades. O
discurso ambiental se impõe sobre agricultura e a produção agropecuária desafiando as
classes agraristas a uma adaptação de suas práticas, ainda que, em algumas vezes, isso ocorra,
principalmente, por força das leis e de novas estruturas de regulação.

6 Agradecimentos

Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior – CAPES.

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7 Referências

AMARAL, A. F.. Os Campos Neutrais. Porto Alegre: Planus Artes Gráficas. 1972. 142p.
DUVEEN, G. Poder das Ideias. In: MOSCOVICI, S. Representações Sociais. Investigações
em psicologia social, Petrópolis: Editora Vozes, p.7-28. 2009.
ARRUDA, Angela. Teoria das representações sociais e teorias de gênero. Cad. Pesqui., São
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Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), a Conta de Desenvolvimento
Energético (CDE), dispõe sobre a universalização do serviço público de energia elétrica, dá
nova redação às Leis no 9.427, de 26 de dezembro de 1996, no 9.648, de 27 de maio de 1998,
no 3.890-A, de 25 de abril de 1961, no 5.655, de 20 de maio de 1971, no 5.899, de 5 de julho
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O impacto do Pronaf sobre o VAB da agropecuária nos municípios do Rio
Grande Sul: uma análise de dados em painel
The impact of Pronaf on the GVA of agriculture in the cities of Rio Grande
Sul: a panel data analysis
Rodrigo Ferneda1, Luciane Franke2, Daiane Thaíse Oliveira Faoro3

Resumo
O crédito rural do Pronaf apresenta-se como uma importante política pública para promoção do desenvolvimento
rural, em especial por sua destinação à agricultura familiar. Nesse sentido, o presente estudo busca estimar o
impacto do crédito rural do Pronaf no valor adicionado bruto (VAB) da agropecuária nos municípios do Rio
Grande do Sul no período de 2005 a 2015. Em termos de tratamento estatístico, aplica-se um modelo de dados em
painel, no qual foram investigados 483 municípios, que tiveram crédito rural do Pronaf destinado no recorte
temporal adotado. Os resultados revelaram baixa elasticidade dos coeficientes do crédito Pronaf e do emprego no
aumento do VAB da agropecuária nos municípios gaúchos. A área plantada também revela baixa elasticidade,
porém, é relativamente mais determinante que as variáveis mencionadas anteriormente. Como destaque entre os
resultados e principal contribuição desta pesquisa se apresentam os efeitos individuais dos municípios, os quais
revelaram coeficientes elásticos, positivos e estatisticamente significativos para todos os 483 municípios
analisados. Esse aspecto demonstra a relevância de ações específicas desenvolvidas em cada município para
determinar a elevação de seu VAB agropecuário.
Palavras-chave: Pronaf. Agropecuária. Dados em painel.

Abstract
Pronaf rural credit is an important public policy for the promotion of rural development, especially for family
agriculture. In this sense, the present study seeks to estimate the impact of Pronaf rural credit on the gross value
added (GVA) of agriculture in the cities of Rio Grande do Sul from 2005 to 2015. In terms of statistical treatment,
a model of panel data is applied to investigate 483 cities (these cities received the Pronaf credit on all years
investigated). Our results revealed that the coefficients of Pronaf credit and employment have low elasticity. The
planted area also has low elasticity but is relatively more determinant than the previously mentioned variables.
We highlight of this research the individual effects of the cities, which revealed elastic, positive and statistically
significant coefficients for all 483 municipalities analyzed. These results ensure the relevance of specific actions
developed in each city to increase its agricultural GVA.
Keywords: Pronaf. Agricultural. Panel data.

1 Introdução

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) criado em


1996, surgiu com a premissa de valorizar as atividades agrícolas e a promoção do
desenvolvimento no meio rural. Tal recurso é direcionado aos produtores via repasse de
instituições financeiras, por meio de critérios específicos para as modalidades custeio agrícola
e pecuário, e investimento. Nesse sentido, o presente estudo busca estimar impacto do crédito
rural do Pronaf no VAB da agropecuária nos municípios do Rio Grande do Sul no período de
2005 a 2015, através de um exercício estatístico de dados em painel.
A justificativa do recorte temporal se deve à retomada da agricultura após estiagem de
2004 (FERREIRA, 2007), bem como, a partir de 2008, apesar da crise financeira mundial o
programa não sofreu interferências, mas apontou um alerta diante da estabilização de alguns
resultados, sendo sugerido um acompanhamento público-privado para que a agricultura
familiar possa manter os agricultores sustentáveis e pautados na promoção de resultados

1Mestre em Economia/UNISINOS - rodrigo_ferneda@hotmail.com.


2Mestra em Economia/UNISINOS - luciane.franke@hotmail.com.
3 Mestra em Administração/UPF- dfaoro@hotmail.com.

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eficientes (OLIVEIRA, 2016). Destaca-se ainda, a importância do setor na pauta exportadora
do Brasil e do Rio Grande do Sul, baseado no comércio de commodities. (APEX, 2011).
Outro cenário, decorre que a partir de 2013, diante da instabilidade econômica nacional a
cadeia produtiva do setor em estudo, foi responsável pelos indicadores econômicos positivos
em comparação com os demais setores, sendo as atividades “dentro da porteira” responsável
pela produção e comercialização de alimentos (FEIX; LEUSIN JÚNIOR, 2016).
Sendo assim, o estudo está divido além desta introdução, em uma síntese do
referencial teórico abordando o aspecto do Pronaf e seu exercício no desenvolvimento das
atividades agrícolas. Na terceira seção, apresenta-se o método, traçando os caminhos que
conduziram a pesquisa. No quarto tópico, revelam-se os resultados em confronto com a teoria
e prática e por fim na quinta etapa, apresentam-se as conclusões do estudo.
2 O Pronaf: conceitos e características.

A agricultura familiar vem chamando a atenção de diversos pesquisadores, uma vez


que ela contribui para o desenvolvimento do setor agropecuário brasileiro. Famílias que
possuem uma pequena propriedade rural ficam mais propensas a riscos advindos de fatores
exógenos e endógenos. Nesse sentido, observa-se que tais famílias, necessitam do auxílio das
políticas públicas para que possam permanecer no meio rural e continuar a desenvolver suas
atividades.
No cenário brasileiro, constata-se que há diversas políticas públicas voltadas para a
agricultura familiar, as quais visam fomentar e incentivar as atividades desenvolvidas no meio
rural. Além disso, tais políticas demonstram a importância do setor para o governo, o qual
concede incentivos a fim de estimular a economia e garantir a produção de alimentos.
Segundo o Decreto n° 1.946, de 28 de junho de 1996, o Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), tem como objetivo “promover o
desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores familiares, de
modo a propiciar-lhes o aumento rural da capacidade produtiva, a geração de empregos e a
melhoria de renda” (BRASIL, 1996).
Com o surgimento desse programa, a agricultura familiar ficou mais valorizada, uma
vez que as famílias passaram a expandir suas atividades atuais, bem como, começaram a
desenvolver novas atividades. Isso só foi possível, pois o Pronaf, permite o acesso a recursos
financeiros para o desenvolvimento de tais atividades. Nesse sentido, o programa facilita a
aquisição de maquinário moderno, contribuindo no aumento da produção, renda e qualidade
de vida da família rural (MDA, 2018).
Foram estabelecidas algumas regras de financiamento do programa, de acordo com o
Manual de Crédito Rural (MDA, 2012), o Pronaf está estruturado em três modalidades de
financiamento: i) crédito de custeio; ii) crédito de investimento e iii) integralização de Cotas-
Partes de cooperados de cooperativas de produção de produtores rurais. A liberação do
financiamento está associada a quatro objetivos: i) adaptar a política pública de acordo com
a realidade socioeconômica dos agricultores familiares; ii) potencializar o desempenho
produtivo dos agricultores por meio da melhoria da infraestrutura; iii) dar acesso da tecnologia
e gestão social aos agricultores familiares e iv) aproximar os agricultores familiares aos
mercados de insumo e produto.
Ressalta-se que esse programa oferta créditos às famílias rurais por meio do
financiamento e custeio de projetos. Tais modalidades de crédito possuem taxas de juros
baixos e carência para o início dos pagamentos proporcionando mais segurança para as
famílias rurais que possuem aversão a riscos. Para Hoffmann e Ney (2004), a agricultura
familiar merece apoio diante do seu potencial em dinamizar a economia e compor uma
estratégia de combate à desigualdade social e à pobreza rural.

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Percebe-se que as políticas públicas visam contribuir para a efetivação dos direitos
fundamentais assegurados na Constituição Federal para os diversos grupos e indivíduos da
sociedade, proporcionando alternativas para se manterem no meio rural. Contudo, apesar dos
claros objetivos voltados ao desenvolvimento rural cabe a discussão quanto à efetividade desses
investimentos em gerar renda, aumentar a produtividade e melhorar o bem-estar da população no
campo. Assim sendo, na próxima seção apresenta-se a abordagem metodológica adotada para
estimar o impacto do crédito rural do Pronaf no VAB da agropecuária nos municípios gaúchos.
3 Metodologia

Os modelos de regressão com dados em painel ou longitudinais proporcionam a análise


dos cortes transversais ao longo do tempo e, portanto, agregam as funções das análises aplicadas
de séries temporais e de cortes transversais, apresentando, assim, uma dimensão espacial e outra
temporal. (GUJARATI; PORTER, 2011). Para pesquisas econômicas, o modelo de regressão
com dados em painel revela-se vantajoso em relação a outros métodos convencionais: de modo
geral dá ao pesquisador um grande número de dados, aumentando os graus de liberdade e
reduzindo a colinearidade entre as variáveis explanatórias, consequentemente, melhorando a
eficiência das estimativas econométricas. (HSIAO, 2003).
Portanto, no intuito de determinar o impacto do crédito rural do Pronaf no VAB da
agropecuária nos municípios do Rio Grande do Sul no período de 2005 a 2015, o método adotado é
o de dados em painel. Para construir o modelo econométrico estimado neste artigo faz-se necessário
definir as variáveis utilizadas e proceder alguns testes, os quais serão discutidos na subseção a seguir.

3.1 Fontes e tratamento dos dados

Foram definidos, primeiramente, os municípios gaúchos utilizados no estudo. Nesse


sentido, 483 municípios4 entre os 497 do estado do Rio Grande do Sul foram selecionados, pois
atenderam ao critério de apresentar valores contratados de crédito rural do Pronaf em todos os
anos no período analisado (2005 a 2015). A seguir são descritas as variáveis utilizadas e suas
respectivas fontes de dados:
𝐴𝐺𝑅𝑂
a) valor adicionado bruto da agropecuária (𝑉𝐴𝐵𝑖,𝑡 ): os valores foram coletados
da base da FEE Dados (2018), em reais, tomando valores constantes de 2010;
b) créditos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf) concedidos aos municípios do Rio Grande do Sul (𝑃𝑅𝑂𝑖,𝑡 ): para essa
variável utilizaram-se dados em reais, deflacionados pelo IPCA a preços de 2010,
da base de dados do Banco Central do Brasil (BACEN, 2018). Os créditos são
compostos pelos valores destinados ao custeio, investimento, integralização de
cotas-partes pelos beneficiários nas cooperativas de produção e industrialização;
c) emprego formal da agropecuária nos municípios gaúchos (𝐸𝑀𝑃𝑖,𝑡 ): representa
o número de vínculos ativos no dia 31/12 nos anos de 2005 a 2015 em cada um
dos municípios selecionados. O dado foi coletado na base RAIS do Ministério do
Trabalho (2018);
d) área plantada (𝐴𝑅𝐸𝐴𝑖,𝑡 ): corresponde à área plantada ou destinada à colheita das
lavouras temporárias e permanentes em hectares dos municípios gaúchos. Os
dados foram coletados da base de dados do IBGE (2018).
Destaca-se que as variáveis mencionadas foram tomadas em logaritmo natural para
auxiliar na diminuição da variância das séries. A metodologia proposta parte de um modelo no

4 Os municípios de Alvorada, Araricá, Balneário Pinhal, Cachoeirinha, Chuí, Esteio, Imbé, Itaqui, Itati, Nova
Hartz, Pinto Bandeira, Santana do Livramento, Sapucaia do Sul e Xangri-lá não atenderam ao critério mínimo.
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qual, estima-se os parâmetros das variáveis que apresentam alterações nas dimensões 𝑖 e 𝑡,
estabelecendo um modelo de dados em painel. Assim sendo, define-se a seguinte expressão:
𝐴𝐺𝑅𝑂
𝑉𝐴𝐵𝑖,𝑡 = (𝛽0 + 𝜇𝑖 ) + 𝑃𝑅𝑂𝑖,𝑡 + 𝑃𝑅𝑂𝑖,𝑡−1 + 𝐸𝑀𝑃𝑖,𝑡 + 𝐴𝑅𝐸𝐴𝑖,𝑡 + ∑2015
𝑡=2005 𝐷𝑈𝑡 + 𝑣𝑖,𝑡 (1)

𝐴𝐺𝑅𝑂
Onde, 𝑉𝐴𝐵𝑖,𝑡 representa o valor adicionado bruto da agropecuária do município 𝑖 no ano
𝑡; 𝛽0 é uma constante e 𝜇𝑖 corresponde ao efeito individual entre as unidades seccionais, neste
estudo representadas através de uma dummy5 específica para cada município; 𝑃𝑅𝑂𝑖,𝑡 representa o
crédito Pronaf destinado ao município 𝑖 no ano 𝑡; 𝑃𝑅𝑂𝑖,𝑡−1 representa o crédito Pronaf destinado
ao município 𝑖 no ano 𝑡 − 1, ou seja, variável do Pronaf defasada; 𝐸𝑀𝑃𝑖,𝑡 refere-se ao emprego
formal na agropecuária no município 𝑖 no ano 𝑡; 𝐴𝑅𝐸𝐴𝑖,𝑡 é a área plantada em hectares no
município 𝑖 no ano 𝑡; 𝐷𝑈𝑡 representa as dummies dos anos; e 𝑣𝑖,𝑡 é o resíduo randômico. Por fim,
uma vez descritas as variáveis, suas fontes e os tratamentos nos dados, bem como a equação, a
seguir serão apresentados os resultados e suas respectivas análises.
4 Resultados e discussão do modelo estimado

Para determinar o impacto do crédito rural do Pronaf no valor adicionado bruto da


agropecuária nos municípios do Rio Grande do Sul, faz-se necessário estabelecer as
características das equações para os modelos de regressão. Para isso, as mesmas foram
submetidas a um conjunto de testes estatísticos.
Para verificar a estacionariedade das séries de dados de cada variável foram realizados
os testes Hadri LM (2000), Levin-Lin-Chu (2002) e Harris-Tzavalis (1999). Os testes de raiz
unitária revelaram resultados controversos, não sendo possível determinar se as séries possuem
estacionariedade6. Logo, procedeu-se com testes de cointegração de Kao (1999) e Pedroni
(1999, 2004), o resultado definiu existência de uma relação de equilíbrio de longo prazo entre
as variáveis utilizadas no exercício econométrico7. Em seguida, foi realizado o teste de
Hausman (1978) para se estabelecer a escolha do melhor estimador: fixo ou aleatório8. O
resultado do teste indicou o estimador de efeito fixo como o mais adequado.
A verificação de autocorrelação dos resíduos deu-se a partir do teste de Wooldridge
(2002), o qual revelou a presença de autocorrelação9. Também se verificou a presença de
heterocedasticidade nos resíduos através do teste de razão de verossimilhança (GREENE, 2008).
O teste indicou que os resíduos são heterocedásticos10. Diante dessas condições, o método de
mínimos quadrados ordinários (MQO) não é eficiente, fazendo-se necessária a utilização de outro
estimador, e neste exercício utiliza-se o método de mínimos quadrados generalizados (MQG)
factível. Esse método corrige a autocorrelação de 1ª ordem e a heterocedasticidade presentes no
modelo.
No que tange ao modelo econométrico que trata dos efeitos do crédito rural do Pronaf
no VAB da agropecuária dos municípios, destaca-se que entre os 483 municípios do modelo,
em todos os municípios o valor em reais a preços de 2010 aumentou em 2015 na comparação
com 2005, porém, em termos de estrutura do PIB, 63,8% dos mesmos aumentaram a
participação do setor da agropecuária em seu PIB. (FEE DADOS, 2018). No que refere ao

5 Para detalhes sobre a incorporação de variáveis dummies para controlar efeitos individuais, ou seja, modelos de
efeito fixo que utilizam o estimador MQG, ver Bhargava, Franzini, Narendranathan (1982).
6 Ver tabela 2 em anexo.
7 Ver tabela 3 em anexo.
8 Ver tabela 4 em anexo.
9 Ver tabela 5 em anexo.
10 Ver tabela 5 em anexo.

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crédito rural do Pronaf, também considerando os preços de 2010, apenas 38,1% municípios
tiveram créditos superiores em 2015 do que em 2005. (BACEN, 2018).
Essa conjuntura na qual o VAB da agropecuária aumenta continuamente em todos os
municípios, e o mesmo movimento não é acompanhado pela elevação da destinação de recursos
do Pronaf em alguns municípios sugere que outros aspectos, como a área plantada e a geração
de empregos formais – com ressalvas quanto às limitações dos dados de emprego, dados os
níveis de informalidade, especialmente no meio rural (IBGE, 2018) –, podem estar
influenciando positivamente no aumento da representatividade do setor agropecuário no PIB
dos municípios gaúchos. Além disso, outras variáveis relevantes podem ser caracterizadas pelos
efeitos anuais que impactam diretamente nas safras gaúchas, como condições climáticas, e,
sobretudo, peculiaridades e ações desenvolvidas especificamente em cada município.
Logo, a incorporação dessas variáveis busca contribuir para a compreensão dos elementos
que impactam no VAB da agropecuária dos municípios, além da variável que é o objeto central
de análise deste trabalho, o crédito rural do Pronaf. Uma vez caracterizadas as especificidades
das séries do exercício realizado, a Tabela 2 apresenta as estatísticas estimadas para o modelo.
Tabela 1 - Estatísticas estimadas para o modelo: estimador MQG factível
Variáveis11 MQG
𝐴𝐺𝑅𝑂
𝑉𝐴𝐵𝑖,𝑡 Coeficiente p-valor
𝑃𝑅𝑂𝑖,𝑡 0,0112608 0,000
𝑃𝑅𝑂𝑖,𝑡−1 -0,0043773 0,172
𝐸𝑀𝑃𝑖,𝑡 0,0009377 0,066
𝐴𝑅𝐸𝐴𝑖,𝑡 0,342048 0,000
Du_Sao Francisco De Paula 15,99437 0,000
Du_Caxias Do Sul 15,96251 0,000
Du_Uruguaiana 15,83579 0,000
Du_Alegrete 15,77951 0,000
Du_Salvador Do Sul 15,7765 0,000
Du_Dom Pedrito 15,66968 0,000
Du_Vacaria 15,63305 0,000
Du_Cachoeira Do Sul 15,58059 0,000
Du_Santa Vitoria Do Palmar 15,56668 0,000
Du_Farroupilha 15,54867 0,000
Du_Venancio Aires 15,54032 0,000
Du_Westfalia 15,51982 0,000
Du_Santa Cruz Do Sul 15,5048 0,000
Du_Sao Lourenco Do Sul 15,49868 0,000
Du_Rio Grande 15,49517 0,000
Du_Sao Gabriel 15,48974 0,000
Du_Tupancireta 15,47563 0,000
Du_Sao Borja 15,43259 0,000
Du_Camaqua 15,4319 0,000
Du_Cambara Do Sul 15,39714 0,000
Du_2006 -1,057786 0,000
Du_2007 -0,8240135 0,000
Du_2008 -0,6623969 0,000
Du_2009 -0,6970356 0,000
Du_2010 -0,5713875 0,000
Du_2011 -0,4719243 0,000
Du_2012 -0,5965059 0,000
Du_2013 -0,075185 0,000
Du_2014 -0,0631845 0,000
Fonte: elaboração própria a partir do software Stata 15.

11Para detalhes sobre os resultados completos com os coeficientes estimados para as dummies de todos os
municípios, entrar em contato com os autores.
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As estatísticas estimadas indicam que o coeficiente da variável do crédito rural do
Pronaf (𝑃𝑅𝑂𝑖,𝑡 ) é positivo e estatisticamente significativo, porém, apresenta baixa elasticidade
(0,0112608), especificamente, a cada 1% de aumento no crédito rural destinado aos municípios,
em média, o VAB da agropecuária dos mesmos aumenta 0,01%. Por outro lado, o coeficiente
da variável defasada do crédito rural não é estatisticamente significativa, indicando, portanto,
que o crédito destinado no tempo t -1 não impacta nos resultados do VAB da agropecuária do
ano t.
Apesar das ressalvas em relação às informações de emprego formal, fundamentalmente
no setor agropecuário, o estimador MQG factível revelou que a cada aumento de 1% no número
de empregos formais, o VAB agropecuário aumenta 0,001%. Este valor indica baixa
elasticidade, reforçando a premissa de que no meio rural o emprego formal não é determinante
para a elevação do VAB agropecuário.
Outro resultado que confirma as expectativas refere-se ao coeficiente da área plantada
em hectares, pois, o coeficiente é positivo e estatisticamente significativo, apontando que a cada
elevação de 1% na área plantada, o VAB da agropecuária também aumenta cerca de 0,34%.
Apesar de positivo, esse resultado revela espaço para aumento de produtividade, pois o aumento
da área plantada não está gerando aumentos na mesma proporção no VAB do setor
agropecuário. Entretanto, destaca-se que o aumento na área plantada pode estar gerando
impactos positivos como efeito induzido em outros setores, porém, tais aspectos não estão
contemplados nesta análise.
Conforme já definido na metodologia, foram incluídas dummies para permitir a análise
de efeitos individuais dos municípios gaúchos sobre seus respectivos VAB na Agropecuária.
Todas as 483 dummies foram estatisticamente significativas e positivas. Contudo, para esta
análise foram consideradas as dummies dos 20 municípios que apresentaram os maiores
coeficientes. Nesse sentido, observa-se que entre os efeitos do crédito rural do Pronaf, sua
variável defasada, a geração de emprego no setor agropecuário, área plantada, dummies anuais
e dummies específicas de cada município, estas últimas apresentaram os maiores coeficientes,
e, portanto, são as que mais explicam o VAB da agropecuária dos municípios.
Tomando os créditos Pronaf destinados aos municípios a preços de 2010, nota-se que
entre os 20 municípios em destaque, apenas Westfália não teve os créditos rurais do Pronaf
reduzidos em 2015 na comparação com 2005. Além disso, apesar dos municípios terem
aumentado o valor em reais a preços constantes de 2010 de seu VAB agropecuário, em oito
deles a participação da agropecuária na composição do PIB diminuiu em 2015 em relação à
2005 (Salvador do Sul (-16 p. p.), Westfália (-4,6 p. p.), São Francisco de Paula (-2,6 p. p.), Rio
Grande (-1,8 p. p.), Santa Cruz do Sul (-1,3 p. p.), Farroupilha (-0,4 p. p.), Caxias do Sul (-0,4
p. p.) e Venâncio Aires (-0,3 p. p.). Tal elemento sugere que esses municípios estão
dinamizando suas economias, e por consequência aumentando a participação do setor industrial
e de serviços na geração de sua renda.
Em contraste, os demais municípios apresentaram elevação da participação do setor
agropecuário na composição do PIB. Destaca-se Tupanciretã que apresentou aumento de 18,3
pontos percentuais da participação da agropecuária em sua economia.
Por fim, observa-se as dummies de ano que buscavam identificar efeitos específicos das
safras anuais, impactadas diretamente pelas variações de condições climáticas. Nesse sentido,
os coeficientes dos anos de 2005 e 2015 foram omitidos, o primeiro deles foi retirado, dada a
estrutura do estimador MQG factível considerando autocorrelação de 1ª ordem, enquanto que
o ano de 2015 foi omitido pelo modelo, pois as variações anuais foram estimadas comparando-
as em relação a 2015.
Ressalta-se que os coeficientes das dummies de 2006 a 2014 foram negativos e
estatisticamente significativos. Os coeficientes com maior elasticidade referem-se aos anos de
2006, 2007, 2008 e 2009. Conforme a Conab (2018), as safras gaúchas 2007/2008 e 2008/2009
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apresentaram taxas de variação negativas de produtividade, respectivamente, 5,9% e 2,5%. Nas
safras de 2005/2006, 2006/2007 e 2009/2010 perceberam-se ganhos de produtividade em
relação às safras imediatamente anteriores, porém, a área plantada nos três períodos apresentou
retração de 1,9% no primeiro período destacado, 5,0% no segundo, e 3,0% no terceiro. Tais
elementos buscam contribuir na análise dos efeitos negativos apontados em cada um dos anos.
Em síntese, o exercício estatístico aponta para baixa elasticidade do coeficiente do
crédito Pronaf e do emprego no aumento do VAB da agropecuária nos municípios gaúchos. A
área plantada também apresenta baixa elasticidade, porém, é relativamente mais determinante
que as variáveis mencionadas anteriormente. O período analisado sugere que os efeitos anuais
controlados pelas dummies específicas não contribuíram para melhorar o desempenho da
agropecuária nos municípios gaúchos. Já os efeitos individuais de cada município mostraram-
se relevantes para explicar o VAB do setor agropecuário, pois apresentaram os maiores
coeficientes e foram estatisticamente significativas para as 483 dummies, ou seja, para todos os
municípios gaúchos da amostra.

5 Conclusões

O artigo buscou estimar impacto do crédito rural do Pronaf no VAB da agropecuária


nos municípios do Rio Grande do Sul no período de 2005 a 2015, através de um exercício
estatístico de dados em painel. Os resultados indicaram que o crédito Pronaf, apesar de positivo,
apresentou baixa elasticidade, e a variável do crédito rural defasada não foi estatisticamente
significativa, sugerindo que os investimentos no ano anterior não são determinantes para a
variação no VAB da agropecuária dos municípios gaúchos. Além disso, variáveis associadas à
produção rural, como área plantada e geração de emprego formal no setor agropecuário também
revelaram coeficientes de baixa elasticidade.
Como destaque entre os resultados e principal contribuição desta pesquisa se
apresentam os efeitos individuais dos municípios, os quais revelaram coeficientes elásticos,
positivos e estatisticamente significativos para todos os 483 municípios analisados. Esse
aspecto denota para a relevância de ações e características específicas desenvolvidas em cada
município que determinam a medida da elevação de seu VAB agropecuário. A partir dessas
considerações emergem novas possibilidades de estudos futuros, como a compreensão e
caracterização dos efeitos individuais em cada município.

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Anexo

Tabela 2 - Teste de raiz unitária para dados em painel


Teste Hadri LM Teste Levin-Lin-Chu Teste Harris-Tzavalis
Variáveis Estatística t
Estatística z p-valor p-valor Estatística rho p-valor
ajustado
𝐴𝐺𝑅𝑂
𝑉𝐴𝐵𝑖,𝑡 37,8626 0,0000 15,8092 1,0000 0,6801 0,0001
𝑃𝑅𝑂𝑖,𝑡 20,0027 0,0000 -5,2051 0,0000 0,4990 0,0000
𝐸𝑀𝑃𝑖,𝑡 20,5443 0,0000 -77,3665 0,0000 0,3148 0,0000
𝐴𝑅𝐸𝐴𝑖,𝑡 28,7338 0,0000 -23,0719 0,0000 0,8296 1,0000
Fonte: elaboração própria a partir do software Stata 15.

Tabela 3 – Estatísticas dos testes de Kao e Pedroni para autocorrelação em dados em painel
Teste Kao

Estatística p-valor
Dickey-Fuller modificado 9,7700 0,0000
Dickey-Fuller 3,6549 0,0001
Dickey-Fuller aumentado 16,5286 0,0000
Dickey-Fuller modificado não
-9,4618 0,0000
ajustado
Dickey-Fuller não ajustado -13,2841 0,0000
Teste Pedroni

Estatística p-valor
Phillips-Perron modificado 25,8458 0,0000
Phillips-Perron -22,1479 0,0000
Dickey-Fuller ampliado -32,6099 0,0000
Fonte: elaboração própria a partir do software Stata 15.

Tabela 4 - Estatísticas do teste de Hausman (efeito fixo versus efeito aleatório): estimador within e MQG
Estimadores 𝜒2 (4) p-valor
Within e MQG 675,37 0,0000
Fonte: elaboração própria a partir do software Stata 15.

Tabela 5 – Testes de autocorrelação e heterocedasticidade


Teste F (1, 482) p-valor
Teste de Wooldridge para autocorrelação em dados em painel 326,897 0,0000
𝜒2 (483) p-valor
Teste de razão de verossimilhança para heterocedasticidade em modelos
de dados em painel 1.310,70 0,0000

Fonte: elaboração própria a partir do software Stata 15.

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Perspectivas e motivações de jovens acadêmicos em relação ao processo de
sucessão familiar no meio rural

Prospects and motivations of academic young people in relation to the


process of family succession in the rural environment

Gabriela Carvalho1*, Fabiano Nunes Vaz2, Greicy Sofia Maysonnave³, Caroline de


Ávila Fernandes1

Resumo
O objetivo deste trabalho foi identificar as perspectivas e motivação dos jovens acadêmicos em relação ao
processo de sucessão familiar no meio rural. O projeto foi realizado por meio de uma pesquisa de natureza
exploratória descritiva com os alunos do Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria.
Foram aplicados 700 questionários na forma on-line e presencial para os acadêmicos dos cursos de Agronomia,
Engenharia Florestal, Medicina Veterinária, Tecnologia em Alimentos, Tecnólogo em Agronegócios e
Zootecnia. Os dados foram submetidos a análise estatística descritiva utilizando o software Microsoft Office
Excel 2016®. Os alunos do sexo feminino foram mais representativos na amostra, com a frequência de 53%.
Para a característica ascendência, a variável descendência italiana foi a mais observada, 43,9%. Sobre motivação
dos alunos a cursar um ensino superior, 78,3%, responderam que buscam crescimento pessoal e educacional. No
total, 81,8% dos alunos são filhos e netos de produtores rurais e 51,1% dos alunos responderam que a maior
dificuldade de trabalhar no campo é o acesso à tecnologia. Os acadêmicos do Centro de Ciências Rurais da
Universidade Federal de Santa Maria tiveram percepções e motivações positivas em relação ao meio rural.

Palavras-chave: Jovens agricultores. Jovens empreendedores. Meio rural. Sucessão rural familiar.

Abstract
The objective of this work was to identify the perspectives and motivation of young academics in relation to the
process of family succession in rural areas. The project was carried out through a descriptive exploratory
research with the students of the Center of Rural Sciences of the Federal University of Santa Maria. 700
questionnaires were applied in online and face-to-face for the academics of the courses of Agronomy, Forest
Engineering, Veterinary Medicine, Technology in Food, Technologist in Agribusiness and Zootechnics. Data
were submitted to descriptive statistical analysis using Microsoft Office Excel 2016® software. Female students
were more representative in the sample, with a frequency of 53%. For the characteristic ancestry, the Italian
offspring variable was the most observed, 43.9%. Regarding students; motivation to attend higher education,
78.3% answered that they are looking for personal and educational growth. In total, 81.8% of the students are
children andgrandchildren of rural producers and 51.1% of the students answered that the greatest difficulty in
working in the field is access to technology. The academics of the Center of Rural Sciences of the Federal
University of Santa Maria had positive perceptions and motivations regarding the rural environment

Keywords: Young farmers. Young entrepreneurs. Countryside. Family succession.

1 Introdução
A migração da população rural, especialmente jovem, vem ocorrendo de forma
significativa nas últimas décadas na Região Sul do Brasil. A propriedade rural vem se
mantendo em um ambiente altamente competitivo e desigual e o fator determinante para a
continuidade desta atividade é a sucessão destas pequenas propriedades. Diante dos diversos
1
Discentes do curso de Zootecnia do Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria, RS, Brasil. E-mail: carv-gabi@hotmail.com * / fernandescaroline.2014@gmail.com/
2
Professor do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural, Universidade Federal de Santa Maria,
Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: Fabianonunesvaz@gmail.com
³ Doutoranda em Zootecnia do Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria,
RS, Brasil. E-mail: Greicysm@gmail.com

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570
recortes da realidade do meio rural, torna-se importante compreender que os jovens, como
principais atores sociais, são fundamentais no processo de desenvolvimento dos espaços
rurais contemporâneos (BOESSIO; DOULA 2016).
Segundo os autores Matte e Machado (2016) a falta de preparação e ausência de
sucessores na agricultura familiar vem gerando incertezas no que diz respeito não apenas à
continuidade das famílias e das atividades produtivas, mas também às comunidades rurais, as
quais cada vez mais perdem sua população e passam a sentir os reflexos dessa mudança sobre
suas dinâmicas sociais. Por outro lado, o meio urbano tem sido o principal destino, pois os
jovens buscam conhecimento em cursos superiores e novas experiências.
Ao analisar com um olhar mais detalhado sobre essa dinâmica no rural, é possível
observar que além do esvaziamento populacional, a saída dessa população tem ocasionado um
contexto de incertezas (WEISHEIMER, 2007), e por conta disso, algumas consequências têm
sido recorrentes, como o envelhecimento da população, a masculinização do meio, pois as
mulheres buscam melhor condições nos espaços urbanos e com isso gera dificuldades na
constituição de novas famílias e também pais sem garantias de cuidados na velhice.
De 1970 até 2010, segundo dados do último Censo Populacional (IBGE, 2011), o
número de jovens com até 29 anos residindo no meio rural brasileiro reduziu 43,3% entre as
jovens mulheres e 46,3% entre os jovens homens. Consequentemente, houve um acréscimo
no número de idosos no meio rural brasileiro, com um aumento de pessoas acima de 60 anos
equivalente a mais de 51,9% (IBGE, 2011).
Carneiro e Castro (2007) apontam que atualmente os jovens estão analisando, de uma
forma mais positiva, o meio rural, valorizando-o como um ambiente mais tranquilo, seguro e
com boa qualidade de vida, contrariando o que antes era percebido pela sociedade como um
local atrasado e parado.
Contudo, constatam-se poucos estudos que levem a entender a motivação dos jovens
acadêmicos em ralação a sucessão rural. Assim, o objetivo deste trabalho foi identificar as
perspectivas e motivação dos jovens acadêmicos em relação ao processo de sucessão familiar
no meio rural.

2 Referencial Teórico

2.1 Sucessão Rural

A sucessão é um processo importante, pois garante que a agricultura familiar se


perpetue e continue a produzir grande gama de alimentos e produtos, agregando mão de obra
e sendo alternativa aos grandes modelos econômicos (FEDERAÇÃO DOS
TRABALHADORES NA AGRICULTURA NO RIO GRANDE DO SUL, 2014).
Diante dos esforços que vêm sendo realizados com o objetivo de melhorar as
condições de vida no meio rural, a percepção da sociedade, principalmente das pessoas
ligadas ao meio rural, muda o sentido e passa a analisar o processo interno de continuidade
das pequenas propriedades rurais, levando em conta o conhecimento adquirido desde a mais
tenra idade, que faz com que os jovens escolham por continuar com as atividades do campo
(FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA NO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL, 2014).
A sucessão acarreta na sobrevivência na expansão e na continuidade. Envolve fatores
do passado, envolve as expectativas e obrigações futuras, além dos valores da organização
(GRZYBOVSKI, 2002). De acordo com o que foi afirmado, Schuch (2010) diz que a
sucessão rural é o processo de transferência legal do patrimônio visando a continuação de
atividades produtivas e, ao mesmo tempo, permitindo às gerações mais novas o comando do
negócio familiar.

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De acordo com Cardona e Balvín (2014), o planejamento da sucessão engloba a
criação de documentos que organizem e gerenciem a transferência da propriedade. O processo
de sucessão deve ser iniciado com a presença do fundador da empresa e com a participação e
o aval de todos os envolvidos da família. É necessário e importante que aconteça um diálogo
e que se esteja preparado para administrar as dificuldades e conflitos que tendem a surgir
futuramente.
Mello et al. (2003) argumentam que no passado o processo sucessório estava centrado
na estratégia de transferir a propriedade para o filho mais novo e viabilizar as instalações dos
demais filhos como agricultores. Atualmente, o processo sucessório está ligado a figura
paterna, onde é ele mesmo que toma a decisão de como será realizada a sucessão e quando
isso ocorrerá. Schuch (2010) aponta que a sucessão deve ser discutida, planejada e
competente a fim de preservar o patrimônio, assegurando a continuidade da atividade,
recomendando que os pais deixem de ver seus filhos como mão de obra barata, passando a
enxergá-los como sócios. Para Schuman, Stutz e Ward (2011), os dilemas da sucessão devem
ser revolvidos utilizando a tradição e a inovação, os dois juntos em sintonia.

2.2 Geração Y

Para Bona (2013) a tecnologia é muito importante para o grupo de pessoas conhecido
como Geração Y. Para compreender melhor esse fenômeno é importante que se entenda que
essas pessoas nasceram entre o final da década de 70 e o início da década de 90. Essa é a
primeira geração global, já que está altamente conectada com tudo e com todos ao mesmo
tempo. Esse tipo de recurso faz com que a Geração Y tenha facilidade em adquirir
informações e conhecimentos externos em menor tempo. Através da janela da tecnologia, eles
enxergam realidades diferentes das quais estão acostumados, e com isso, começa o interesse
por demais assuntos dos quais anteriormente não tinham acesso (BONA, 2013).
Algumas características despontam como aquelas mais presentes e comuns aos
representantes globais da geração Y: eles são imediatistas; usam a tecnologia como sua
principal ferramenta. Buscam atividades que lhes fazem sentido e estão diretamente
relacionados aos seus valores propósitos de vida. Também dão valor ao equilíbrio entre vida
pessoal e profissional, aprendem melhor em ambientes confortáveis, nos quais reconhecem
que são respeitados por sua individualidade. Sonham com líderes que apresentem discursos
coerentes com a prática; querem menos burocracia, e mais meritocracia e serviços
customizados; e sonham com uma sociedade igualitária e inclusiva (ESTEVES, 2013).
Em relação ao trabalho, as características mais relevantes têm sido: a habilidade de
fazer várias coisas ao mesmo tempo; a capacidade de absorção de um grande número de
informações; a rapidez de raciocínio; a vontade de aprender; a urgência de crescer
rapidamente em termos profissionais; e uma forte orientação para os seus próprios valores
(BRAGA, 2013).
A forma de agir e pensar da geração Y pode se correlacionar diretamente com a
motivação e vontade dos jovens buscarem algo novo, e assim influenciar no processo de
sucessão familiar rural (BRAGA, 2013).

2.3 Motivação

Robbins (2005) definiu motivação como o processo responsável pela intensidade,


direção e persistência dos esforços para alcançar uma determinada meta. O mesmo autor
descreve três aspectos fundamentais para definir motivação, sendo o primeiro a intensidade,
visto por ele como “quanto esforço a pessoa despende”, ele ainda comenta que apesar de ser
fundamental, e não único, já que sem direção (segundo aspecto), todo o esforço pode ser em

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vão, e por último, o autor fala de persistência, que é uma medida de quanto tempo uma pessoa
consegue manter seu esforço. Para Robbins, os indivíduos motivados se mantêm na realização
da tarefa até que seus objetivos sejam atingidos.
Uma das teorias que se torna indispensável quando o assunto tratado é motivação, é a
Teoria de Maslow, que visa identificar as necessidades humanas de maneira gradual. Para
Maslow (1954), as necessidades humanas são divididas em cinco categorias, sendo elas:
fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e a última, de autorrealização. Considera-se que
na maioria dos casos, para a realização de uma, a anterior deve ter sido parcialmente suprida
(BONA, 2013).
Outra teoria apresentada na área da motivação, e que também ressalta a importância da
satisfação no trabalho, é o estado de “flow”, ou também conhecida pelo estado de espírito
extraordinário, apresentada por Csikszentmihalyi (1992). Conforme Costa (2011) esse estado
ocorre quando o indivíduo, motivado e capacitado para a atividade, sente-se desafiado pela
tarefa, concentra-se de forma extrema na sua resolução até o ponto de perda da noção de
tempo e emprega o máximo das suas capacidades. Ao mesmo tempo que realiza grandes
esforços, não os percebe como tal, pelo menos no sentido negativo do termo (no sentido de
sacrifício, de exaustão), justamente porque os esforços são realizados em direção a suas
próprias metas, e não a fim de atender metas alheias.

3 Procedimentos Metodológicos

O presente trabalho foi realizado entre os meses de dezembro de 2017 a abril de


2018, por meio de uma pesquisa de natureza exploratória descritiva com os alunos do
Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria.
Participaram deste trabalho os cursos de graduação: Agronomia, Engenharia
Florestal, Medicina Veterinária, Tecnologia em Alimentos, Tecnologia em Agronegócios e
Zootecnia. A primeira etapa da coleta dos dados foi realizada através da aplicação de
questionários online via site do portal do aluno da Universidade Federal de Santa Maria,
onde foram obtidas 300 respostas. A segunda etapa foi feita de forma presencial nas salas de
aula da Universidade Federal de Santa Maria, com 400 questionários respondidos.
Os questionários foram estruturados para os alunos, com perguntas comuns que
visaram caracterizar o perfil das pessoas entrevistadas no tocante ao gênero, idade,
ascendência e curso, além de questões sobre a motivação dos jovens em relação à sucessão
rural e as dificuldades que levam ao jovem a querer, ou não, a permanecer no campo.
Após a coleta dos dados, estes foram analisados utilizando a análise estatística
descritiva no software Microsoft Office Excel 2016®, calculando-se o número de respostas,
médias e frequência para cada questão.

4 Resultados e Discussão

Para a variável analisada no tocante gênero, as alunas do sexo feminino foram mais
representativas na amostra, com a frequência de 53,0% no total da amostra, no curso de
Agronomia as mulheres tiveram frequência de 32%, na Engenharia Florestal 53,85%, para a
Medicina Veterinária 73,29%, Tecnologia em Alimentos 54,91%, Tecnólogo em
Agronegócio 42,45% e para o curso de Zootecnia 56,2% (Tabela 1).
Conforme o censo do IBGE (2011) a população de Rio Grande é distribuída entre
homens e mulheres, a população masculina representa 94.983 habitantes, enquanto a
população feminina é de 102.245 habitantes. E dessa população de mulheres no estado,
segundo IBGE (2011), 48,9% estão no ensino superior.

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Segundo Perondi (2016) a decisão de sair ou ficar na propriedade rural como
sucessor está além de outros aspectos, diretamente relacionada à dificuldade de constituir
novas famílias, ou seja, de realizar casamentos (matrimônio). Esse fator possui relação mais
direta com os homens, pois as mulheres deixaram de ver o casamento como única forma de
“inserção social”, passando a buscar pela ampliação de experiências afetivas (CARNEIRO,
2001). A importância de encontrar uma companheira disposta a residir no campo tem se
tornado um fator decisivo na tomada de decisão dos jovens sobre a sucessão familiar. Isso se
justifica pela crescente saída das mulheres do meio rural, na qual a sua grande maioria busca
um ensino superior, que resulta em um número reduzido de mulheres jovens dispostas a
permanecer no campo.
Ainda conforme o autor, essa saída de mulheres do meio rural tem relação com um
processo histórico de desigualdade de gênero, pois as filhas mulheres não participavam do
processo de sucessão e não possuíam espaço para a participação. De modo geral, as
mulheres possuíam pouco ou nenhuma autonomia. A tomada de decisão era feita pelos pais,
cabendo a elas apenas acatá-la. Hoje o trabalho da mulher passou a ser melhor reconhecido,
e elas vêm assumindo com autonomia as tomadas de decisões na grande maioria das
atividades desenvolvidas em sua vida (CARNEIRO, 2001).
Em relação à idade, em todos os cursos estudados a maior parcela dos respondentes
estão na faixa etária de 21 a 25 anos (Tabela 1), sendo que no estado, essa faixa etária
corresponde a 40,5% da população (IBGE, 2011). A baixa representatividade do público de
meia idade, acima de 40 anos em um curso de graduação, pode ser explicada pelo “ciclo
natural da sociedade’’ em que o ingresso em uma universidade ocorre muito cedo, logo após
o término do ensino médio, que na maioria das vezes acontece com 17 anos de idade.

Tabela 1 – Perfil sociodemográfico (gênero, idade e ascendência) dos cursos de graduação estudados
Tecnologia
Engenharia Medicina Tecnologia em
Agronomia em Zootecnia
Florestal Veterinária Agronegócio
Alimentos
N = 699 150 39 146 57 106 201
Gênero
Feminino 32,00 53,85 73,29 64,91 42,45 56,2
Masculino 68,00 46,15 26,71 35,09 57,55 43,8
Idade
17-20 anos 33,33 30,77 43,15 36,84 55,66 32,80
21-25 anos 53,33 56,41 41,10 40,35 25,47 51,70
26-30 anos 10,00 10,26 8,22 12,28 7,55 10,90
31-40 anos 2,00 2,56 6,85 1,75 4,72 4,00
> 41 anos 1,33 0,00 0,68 8,77 6,60 0,50
Fonte: Autora (2018).

Sobre a motivação dos alunos para cursar um ensino superior, 80,86% das mulheres
e 75,30% dos homens responderam que buscam crescimento pessoal e educacional (Tabela
2). Este dado demonstra as características da geração Y, que está cada vez mais buscando
novos conhecimentos. Segundo Bona (2013) é a primeira geração global que, impostos pela
sociedade, são levados de modo natural à informação pela ajuda da tecnologia. Esse tipo de
recurso faz com que a Geração Y tenha facilidade em adquirir informações e conhecimentos
externos em menor tempo. Através da janela da tecnologia, eles enxergam realidades
diferentes das quais estão acostumados, e com isso, começa o interesse por demais assuntos
dos quais anteriormente não tinham acesso, e assim então, surge à motivação para cursar um
ensino superior.
Depois de formados, 62,80 % das mulheres responderam que pretendem fazer uma
pós-graduação (Tabela 2). Brumer e Spanevello (2008) afirmam que, as dificuldades

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encontradas no meio rural representam para os filhos de produtores rurais, fatores de acesso
aos empregos urbanos ou alternativas de vida que não fazem parte da realidade do meio
rural, por isso, parte significativa dos jovens que saem para estudar buscam o ensino
superior. Das mulheres 47,98% pretendem procurar um emprego ligado ao meio rural e dos
homens 55,79% (Tabela 2). Sobre o objetivo de criar o seu próprio negócio, independente da
família 29,65% das mulheres marcaram esta opção e 39,02% dos homens também. Já para a
questão determinante que busca entender se os alunos pretendem voltar para substituir seus
pais ou avós, apenas 8,63% das mulheres pretendem, e 17,38 % dos homens estudantes
desejam apenas suceder a propriedade rural. Isso deixa claro que ainda não ocorre um
planejamento estruturado e formal da sucessão da propriedade. Cardona e Balvín (2014)
falam sobre a importância da existência de um protocolo familiar, um acordo que vise regrar
as relações entre familiares e a propriedade, objetivando acima de tudo evitar conflitos, e
ajudar na transferência de poder. Assim como Leone (2005) e Oliveira (2010) citam a
importância do processo sucessório, Oliveira, Albuquerque e Pereira (2012) trazem a
percepção que o processo sucessório geralmente só ocorre com a morte de um dos
dirigentes. Na agricultura familiar isto se torna quase que uma regra, pois o filho realmente
assume a propriedade, posse e poder, após o falecimento ou incapacidade dos pais.

Tabela 2 – Motivação dos jovens acadêmicos em busca da sucessão familiar no meio rural de acordo com
o gênero
Respostas O que te motivou a cursar um ensino superior? (%)
Feminino N=371 Masculino N=328
Influência familiar 34,50 34,76
Crescimento pessoal e educacional 80,86 75,30
Independência financeira 56,06 51,83
Aprimorar conhecimentos para aplicar na
17,79 31,40
sua propriedade
Necessidade 15,36 13,72
Quais são os seus principais objetivos pós-formado? (%)
Feminino N=371 Masculino N=328
Voltar para casa para trabalhar com a
8,63 17,38
minha família
Procurar um emprego na área urbana 28,30 16,16
Criar meu próprio negócio, independente
da minha família 29,65 39,02
Voltar para substituir meus pais ou avós 4,85 6,71
Procurar um emprego ligado ao meio
47,98 55,79
rural
Fazer uma pós-graduação 62,80 42,38
Fonte: Autora (2018).

Quando foi perguntado aos alunos porque gostariam de trabalhar em uma


propriedade rural 446 alunos, ou seja 63,71% responderam que gostariam de trabalhar, pois
é uma coisa que gostam de fazer. Segundo uma pesquisa feita por Stuani e Neckel (2016)
com 15 jovens agricultores da cidade de Nova Araçá, região Norte do Rio Grande do Sul, os
entrevistados relatam que “gostar da atividade é o motivo que faz com que a maioria
permaneça, mesmo que os pais não incentivem de forma direta’’. Produzir alimentos que
vão para diversos locais, quase sempre representando momentos de união das famílias traz
satisfação a eles. Segundo os dados desta pesquisa (Tabela 3), 328 alunos, 46,86%
responderam que trabalhar no campo proporciona qualidade de vida e 210 pessoas, 30%
responderam que ao trabalhar no campo é possível ter uma independência pessoal, pois
geralmente quando se trabalha no campo autonomamente existe mais flexibilidade nos
horários.
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Os autores Carneiro e Castro (2007) apontam que atualmente os jovens estão
analisando, de uma forma mais positiva, o meio rural, valorizando-o como um ambiente
mais tranquilo, seguro e com boa qualidade de vida, contrariando o que antes era percebido
pela sociedade como um local atrasado e parado. Em concordância com estas percepções o
autor Doula et al. (2014) colabora com a discussão falando que a partir da pesquisa com
jovens rurais da Zona da Mata Mineira, os jovens estão valorizando como fatores positivos
para o meio rural a tranquilidade e a segurança e também ser dono da propriedade traz certa
liberdade, entendida como a ausência de certos controles que o trabalho nos centros urbanos
impõe como: horários rígidos, a vigilância dos gestores, dentre outros aspectos.

Tabela 3 – Percepção dos jovens acadêmicos em relação ao meio rural


Respostas Por que você trabalharia em uma propriedade rural?
N %
Subsistência 82 11,71
É uma coisa que sei fazer 147 21,00
Segurança 51 7,29
Independência pessoal 210 30,00
É uma coisa que eu gosto de fazer 446 63,71
Aumentar o negócio da família 178 25,43
Qualidade de vida 328 46,86
Qual a maior dificuldade em trabalhar no campo?
N %
Trabalho é muito pesado 335 47,86
Dificuldades de acesso a tecnologias 358 51,14
Falta de opções de lazer 149 21,29
Fonte: Autora (2018).

Em relação a pergunta, qual a maior dificuldade de trabalhar no campo (Tabela 3)


358 alunos ou seja 51,15 % responderam que uma das dificuldades é o acesso à tecnologia, e
como a tecnologia para a geração jovem é essencial, tanto para o lazer como para o
desenvolvimento da agricultura familiar. Do total, 335 alunos sendo eles 47,86%
(Tabela 3) responderam que uma grande dificuldade de trabalhar no campo é porque o
trabalho é muito pesado. De acordo com estes resultados, o autor Spanevello (2008) afirma
segundo suas pesquisas que as mudanças estruturais na sociedade em geral, desde a questão
da renda, da dificuldade e penosidade do trabalho, da desvalorização da ocupação, da falta
de lazer no campo e da autonomia na gestão da propriedade, entre outras coisas, geram
implicações diretas na sucessão das propriedades rurais.
Estes fatores oferecem de forma mais relevante, não apenas informações, mas sim
um comparativo entre os modos de vida ofertados no meio rural em um contraponto ao meio
urbano (BRUMER; SPANEVELLO, 2008). As dificuldades encontradas no meio rural
representam para os jovens filhos de agricultores, mulheres ou homens, motivos para que a
parte significativa dos jovens, que saem para estudar nos centros urbanos busque um ensino
superior com perspectivas de um futuro melhor.

5 Conclusões

Grande parte dos jovens do Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de


Santa Maria tiveram percepções e motivações positivas em relação ao meio rural. Os
acadêmicos, sendo eles filhos ou não de produtores rurais, mulheres ou homens,
demonstram gostar do meio rural e acreditam no progresso deste meio. Muitos deles

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pretendem dar continuidade a atividade agrícola, direta ou indiretamente pretendem
contribuir com o desenvolvimento do meio rural.
Essa preferência, ou gosto, se deve ao fato de que o campo pode permitir a eles
atividades para o seu desenvolvimento pessoal, profissional e econômico, bem como
garantir moradia e alimentação. É preciso aproveitar esse sentimento de identidade e
envolvimento com o campo, nesse momento da vida desses jovens, pois ela é fundamental
para garantir a permanência dos mesmos no meio rural aliado a todos os benefícios
associados a tal ação.
Os dados analisados nesta pesquisa confirmam muito do que é citado pela literatura
da área, porém percebe-se uma mudança de percepção em relação aos demais jovens, pois
os jovens acadêmicos estudados nessa pesquisa, na sua grande maioria são filhos de
produtores rurais, e eles saíram do meio rural em busca de conhecimento para que no futuro
seja aplicado esse conhecimento em prol do desenvolvimento do campo.
Ainda existem muitas dificuldades no meio rural. Como também ocorre a
masculinização do meio. Existe as dificuldades de acesso a tecnologia nas pequenas
propriedades, a mão de obra e também a penosidade do trabalho. Com esta pesquisa,
independente de gênero e ascendência, foi possível perceber o meio rural de forma positiva,
perante aos olhos dos jovens acadêmicos que serão o futuro do agronegócio.

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Políticas Públicas para a Agricultura Familiar: distribuição e resultados do
PRONAF em São Vicente do Sul - RS
Public Policies for Family Agriculture: distribution and results of PRONAF
in São Vicente do Sul - RS
Claudio Raimundo de Bastos Brasil1, Fernanda Rezer de Meneses2, Gláucia Delavechia
Pinto3
Resumo
O trabalho apresentado desenvolve uma análise do PRONAF à luz de uma pesquisa realizada no Município de
São Vicente do Sul-RS e a relação entre programas públicos e a Agricultura Familiar. Através do objetivo geral
de: identificar a evolução do número de contratos e dos valores liberados pelo PRONAF no município de São
Vicente do Sul/RS, no período de 2015 a 2016, assim como as atividades beneficiadas, busca efetivar objetivos
específicos de: descrever a criação e trajetória do PRONAF e sua importância para a história da agricultura
familiar brasileira; identificar as principais categorias e atividades que o programa atende no município;
descrever as principais dificuldades e desafios das organizações envolvidas com o PRONAF no município. A
justificativa centra-se no PRONAF como marco entre as Políticas Públicas direcionadas à agricultura familiar no
Brasil, bem como no crescimento da economia e melhoria nas condições de vida da agricultura familiar local. A
metodologia utilizada envolve análises quantitativas e qualitativas (de caráter exploratório) buscadas em fontes
documentais e secundárias, além de bibliografias inerentes ao tema, sistematizando e contextualizando as
informações, articulando-as para se chegar às conclusões. Nessas, ficou evidente que o setor agropecuário de São
Vicente do Sul é bem desenvolvido e a Agricultura Familiar local acessa significativamente os créditos
relacionados ao PRONAF, enfatizando que no município ocorre uma melhor organização tanto das cadeias
agroindustriais quanto dos agricultores familiares, o que por si só justifica o montante significativo de recursos e
projetos aprovados nos últimos anos.
Palavras-chave: agricultura familiar, desenvolvimento rural, políticas públicas.

Abstract
The present work develops an analysis of PRONAF in the light of a research carried out in the Municipality of
São Vicente do Sul-RS and the relation between public programs and Family Agriculture. Through the general
objective of: identifying the evolution of the number of contracts and values released by PRONAF in the
municipality of São Vicente do Sul, in the period from 2015 to 2016, as well as the activities benefited, seeks to
accomplish specific objectives of: creation and trajectory of PRONAF and its importance for the history of
Brazilian family agriculture; identify the main categories and activities that the program meets in the
municipality; describe the main difficulties and challenges of the organizations involved with PRONAF in the
municipality. The justification focuses on PRONAF as a framework between the Public Policies directed to the
family agriculture in Brazil, as well as in the growth of the economy and improvement in the living conditions of
the local family agriculture. The methodology used involves quantitative and qualitative analyzes (of an
exploratory nature) sought in documentary and secondary sources, in addition to bibliographies inherent to the
theme, systematizing and contextualizing the information, articulating them to reach the conclusions. In these, it
was evident that the agricultural sector of São Vicente do Sul is well developed and the local Family Agriculture
significantly accesses the credits related to PRONAF, emphasizing that in the municipality there is a better
organization of both agroindustrial chains and family farmers, which in itself only justifies the significant
amount of resources and projects approved in recent years.
Keywords: family agriculture, rural development, public policies.

1 Introdução
É fato que a economia nacional brasileira deve grande parte de seu PIB a produção e
comercialização de alimentos, sendo que deste montante em torno de 70% do que é
consumido pelas famílias é produzido em pequena escala pela chamada agricultura familiar.
Diversos autores nacionais e estrangeiros definem a agricultura familiar como uma
Unidade de Produção Agrícola (UPA) onde a gestão e a mão de obra são feitos essencialmente
pela família. Já a FAO define agricultura familiar como todas as atividades agrícolas de base

1 Mestre em Desenvolvimento Rural / IFFarroupilha - claudio.brasil@iffarroupilha.edu.br


2 Mestre em Economia e Desenvolvimento / URI-Santiago - fernandarezer@gmail.com
3 Tecnólogo em Gestão Pública/ IFFarroupilha - glaucia_delavechia2@yahoo.com.br

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familiar e também como uma forma de classificar a produção agrícola, florestal, pesqueira,
pastoril e aquícola que é gerida e operada por uma família e que depende principalmente de
mão de obra familiar, incluindo tanto mulheres, como homens.
O fato é que nos dias atuais a agricultura familiar e sua importância (econômica e
social) são reconhecidas internacionalmente e no Brasil não é diferente, haja vista o vasto
numero de políticas públicas que foram criados nas ultimas décadas visando defender e
beneficiar essa importante categoria social.
Porém, ainda são notáveis os problemas enfrentados pelos agricultores familiares no
Brasil e as diversas necessidades do setor requerem atenção e revisões constantes nas políticas
públicas implantadas, afim de que as mesmas valorizem estes pequenos produtores, seus
empreendimentos e sua produção, de modo a estabelecer a fixação das famílias no seu habitat,
evitando novas migrações de êxodo rural e fortalecendo o desenvolvimento rural como um
todo.
Afinal, sabe-se que a heterogeneidade no meio rural é das mais diversas e por isso é
preciso uma atenção constante que abarque além do viés econômico, haja vista, que existem
muitos agricultores capitalizados e inseridos em diversos mercados (institucionais e
informais), mas ainda existe uma pequena parcela com dificuldades até mesmo de produzir.
Dito isto, o objetivo deste trabalho é analisar a ligação entre as políticas públicas
destinadas ao setor da agricultura familiar, neste caso especifico sobre o PRONAF( Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), buscando identificar seus efeitos para o
desenvolvimento rural de São Vicente do Sul município pertencente ao COREDE Vale do
Jaguari, região centro oeste do Rio Grande do Sul.

2 Referencial Teórico
2.1 Agricultura Familiar
A agricultura familiar brasileira é resultado de um processo histórico iniciado a partir
da colonização, influenciada principalmente pelos acontecimentos políticos, econômicos e
sociais dos últimos séculos. Sobre isso, Lamarche (1997) aponta que a exploração familiar
sofreu diversas alterações haja vista que parte dos pequenos produtores foi excluída do
processo de modernização, conservando assim, muitas das características tradicionais.
Porém, mesmo diante dos desafios, a agricultura familiar é forte e contribui
significativamente para o desenvolvimento do país, observando que no Brasil a mesma surge
como uma forma de produção alternativa à monocultura e ao latifúndio do período colonial
fortalecendo-se com os impactos sociais, culturais e ambientais ocasionados a partir da
década de 1950.
Nesse sentido, Lima e Figueiredo (2006), afirmam que:

Mesmo que não seja este o desenvolvimento que se almeje e nem a agricultura que
se busca, de base ecológica. [...] no conjunto e no processo contraditório e dialético
que se estabelece em uma sociedade de classe, a agricultura familiar tem um papel e
tem importância.

Atualmente é inquestionável a importância da agricultura familiar no processo de


desenvolvimento rural, pois seu potencial vai além da produção de alimentos, uma vez que,
no Brasil, a mesma se destaca entre as maiores do mundo e representa uma fonte de alimentos
e de matéria prima para muitos países. Nesse sentido, Delgado e Bergamasso (2017) apontam:

Nela estão presentes diversos modos de fazer Agricultura, entre os quais a produção
Agrícola Familiar, encontrada em extensas e importantes regiões do país. A
agricultura familiar no Brasil é crescentemente uma forma social de produção
reconhecida pela sociedade brasileira, por suas contribuições materiais e imateriais.

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Compreende-se assim, que é importante reconhecer a contribuição deste setor da
agricultura para a segurança alimentar e erradicação da pobreza no mundo, observando os
avanços alcançados e as conquistas nos campos econômicos, sociais, políticos e culturais,
refletindo sobre os desafios que são encontrados na efetivação de programas de incentivos.
Enfatiza-se assim, a necessidade de que os envolvidos com esse setor façam um
balanço dos resultados obtidos com a implantação do mesmo e das perspectivas para o futuro
daqueles que atuam nessa área, das políticas e programas, considerando para isso, as
peculiaridades locais e regionais.

2.1.1 A Agricultura Familiar e o desenvolvimento dos Municípios


Sabe-se que a agricultura familiar favorece emprego de práticas produtivas
ecologicamente mais equilibradas, como a diversificação de cultivo, o menor uso de insumos
industriais e a preservação do patrimônio genético.
Aliado a isso, a Revista Agropecuária (2012), indica que no Brasil esse segmento
produtivo é responsável pela produção de 87% da produção nacional de mandioca; 70%
de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo e, na pecuária, 60% do
leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos. Compreende-se assim, que
importância da agricultura familiar no Brasil centra-se na grande produção de alimentos que
essa atividade realiza, pois, na maioria dos casos, os agricultores familiares não direcionam
suas mercadorias ao mercado externo, mas sim para o atendimento imediato da população.
O fato é que em relação aos municípios que seu desenvolvimento seja efetivo,
considerando a participação da agricultura familiar, é necessário conhecer as ações que
atendam as necessidades das famílias que trabalham nesse setor. Para isso, é preciso
considerar o tamanho dos mesmos, sua localização e densidade demográfica, observando a
população rural e sua influência no desenvolvimento local.
Aponta-se, assim que o desenvolvimento dos municípios, por meio da agricultura
familiar, se efetiva na medida em que o mesmo oferece oportunidades e espaços para que os
produtos sejam comercializados, considerando que a escolha do canal de comercialização
mais apropriado não é fácil e, a forma de comercialização depende das características dos
produtos, agentes e instituições envolvidas, Niederle (2011).
Observa-se, segundo as pesquisas, que os supermercados, as escolas e as feiras são os
canais onde é comercializado o maior volume de produção, porém, os produtores familiares
não produzem quantidade suficiente para o varejo e acabam não conseguindo vender todo o
produto ou consumir o mesmo, uma vez que são produtos pericíveis e assim, acabam
perdendo parte da produção.

2.2.1 Breve histórico do Programa PRONAF


De acordo com Schneider e Grisa (2015) são várias as políticas públicas que visam o
fortalecimento e o desenvolvimento da agricultura familiar brasileira, sendo que a maioria
visa apoiar e incentivar os agricultores menos favorecidos no meio rural, por isso é deveras
importante que os diversos atores conheçam o funcionamento dessas políticas, principalmente
os gestores públicos, mas, também a população em geral.
Sabe-se que o movimento sindical dos trabalhadores rurais há muitos anos vinha
defendendo uma política agrícola diferenciada aos pequenos produtores. Em 1994, depois da
Jornada de Luta (atual Grito da Terra), liderada pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag), foi criado o Programa de Valorização da Pequena
Produção Rural (Provape), BRASIL (2015).
Já em 1995 com o aprofundamento da proposta de valorização do pequeno produtor,
com baixa taxa de juros, fonte de recursos e foco no agricultor familiar, foi instituído o
PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), por meio da

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Resolução 2.141, de 24 de agosto de 1995, "destinado ao apoio financeiro às atividades
agropecuárias exploradas mediante emprego direto da força de trabalho do produtor e de sua
família" (IBIDEM).
Através do Reordenamento Agrário (SRA/MDA) o referido programa começou a se
consolidar em 1996 como instrumento de geração de emprego e renda e desenvolvimento do
campo. As operações, que antes eram apenas de custeio, passaram a ser feitas também para
investimento, fazendo com que os movimentos sociais intensificassem o diálogo com os
ministérios da área econômica e os bancos. E com a criação do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) 1999, observava-se que a cada ano ocorriam melhorias e
avanços na área rural. A partir de 2003, aumentou a força política e o (re)conhecimento
efetivo do programa, servindo até mesmo de referência mundial.
Conforme pode ser visto no gráfico a seguir, o PRONAF vem evoluindo
significativamente, desenvolvendo um crescimento no que diz respeito as deliberações.
Segundo o MDA no ano agrícola 2002/2003 o valor de recursos disponibilizados foi de R$
2,3 bilhões e o ano 2015/2016 aumentando para 28,9 bilhões para apoiar os agricultores
familiares.

Gráfico 1: Plano Safra – 2015/2016

Fonte: Plano Safra Cartilha 2015/2016

Para Schneider, Cazella, e Mattei (2004), a criação do PRONAF foi um dos


acontecimentos mais marcantes que ocorreram na esfera das políticas públicas para o meio
rural brasileiro no período recente.

O surgimento deste programa representa o reconhecimento e a legitimação do


Estado em relação às especificidades de uma nova categoria social- os agricultores
familiares- que até então era designada por termos como pequenos produtores,
produtores familiares, produtores de baixa renda ou agricultores de subsistência.

Rezer de Menezes (2016), corrobora indicando que o sucesso do programa deve-se


principalmente as suas normas que abordam questões que vão desde preocupações ambientais
a temas relacionados a vulnerabilidade (econômica e social) das famílias envolvidas,
buscando minimizar as dificuldades do dia a dia e garantindo a permanência dessas pessoas
no meio rural.

3 Procedimentos Metodológicos
3.1Caracterização da Pesquisa
Os procedimentos metodológicos deste trabalho de pesquisa envolvem análises
quantitativas e qualitativas (de caráter exploratório) realizadas através de pesquisa em fontes
documentais e secundárias, além de bibliografias inerentes ao tema.
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Compreende-se como ponto de partida para a compreensão do que é conhecido como
metodologia qualitativa de pesquisa o entendimento de que uma metodologia é muito mais do
que um conjunto de técnicas de pesquisa. Pode-se afirmar que cada tipo de metodologia traz
consigo um conjunto de pressupostos sobre a realidade, bem como um instrumental,
composto por uma série de conceitos, pelo treinamento do olhar e por técnicas de observação
da realidade, VÍCTORA; KANAUTH; HASSEN (2000)
As pesquisas em fontes secundárias com dados obtidos no IBGE foram utilizadas para
caracterizar o local pesquisado, ou seja, o município de São Vicente do Sul. Os dados
relativos ao PRONAF (numero de contratos, valores, produtos financiados, etc.) foram
obtidos em diferentes fontes, dentre elas, no site do Banco do Brasil
http://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/c/micrrural/ e também no Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA) http://www.mda.gov.br/ a fim de corroborar e incrementar não apenas a
pesquisa mas também os dados e informações coletados.

3.2 Coleta de Dados


A coleta de dados constitui uma etapa muito importante da pesquisa, mas não deve ser
confundida com a pesquisa propriamente dita. Todas as suas etapas devem ser esquematizadas
para facilitar o desenvolvimento da pesquisa e assegurar uma ordem lógica na execução das
atividades. Nesse sentido, a coleta de dados, obtidos por meio de diversas fontes (revistas,
jornais, sites, etc.) foram analisados e interpretados de modo a trazer para a pesquisa o que
realmente era importante para fundamentar a mesma.
Assim, as informações obtidas foram sistematizadas e contextualizadas com o tema da
pesquisa, possibilitando uma articulação entre os objetivos para se chegar às conclusões
finais.

4 Resultados e Discussão
Ao analisarmos as tabelas obtidas no site do Banco Central do Brasil, percebe-se que
ao longo dos dois últimos anos foram liberados um número de quase 400 contratos,
totalizando mais de 11.000.000,00 destinados exclusivamente a esse município.

Tabela 1 - Contratos/Valores acessados em 2015


Custeio Investimento
Contratos Valores Contratos Valores

Agrícola 79 3.118.691,76 19 521.344,38

Pecuária 89 1.761.123,00 37 761.464,54

Total 168 4.879.814,76 56 1.282.808,92


Fonte: Banco Central do Brasil (2017)

Tabela 2: Contratos/Valores acessados em 2016


Custeio Investimento
Contratos Valores Contratos Valores

Agrícola 55 3.025.403,39 19 606.063,92

Pecuária 82 1.659.599,29 17 246.376,97

Total 137 4.685.002,68 36 852.440,89


Fonte: Banco Central do Brasil (2017)

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Na linha de custeio onde estão os principais valores distribuídos, os mesmos
diminuíram em quantidade, porém os valores liberados nessa linha foram praticamente os
mesmos de um ano para o outro. Já em relação aos contratos na linha de investimento houve
uma redução, não muito drástica, tanto no número de contratos como em relação aos valores
de recursos liberados. Portanto, existe uma tendência maior para o financiamento de
atividades agropecuárias de industrialização ou de beneficiamento ou ainda de
industrialização ou comercialização de produção própria ou ainda de terceiros.
As tabelas a seguir mostram os principais produtos e serviços beneficiados no
município no ano de 2015 em cada uma dessas linhas:
Tabela 3: Quantidade/Valor dos Contratos de Custeio por Produto (Agrícola)
Período: Janeiro/2015 - Dezembro/2015
Produto Quantidade Valor
"SOJA" 61 2.734.820,97
"ARROZ" 6 251.467,85
"MILHO" 8 71.845,85
OCULTO(*) 2 36.139,53
OCULTO(*) 1 14.822,08
OCULTO(*) 1 9.595,48
79 3.118.691,76
Fonte: Banco Central do Brasil (2017)

Tabela 4 : Quantidade/Valor dos Contratos de Custeio por Produto (Pecuária)


Período: Janeiro/2015 - Dezembro/2015
Produto Quantidade Valor
"BOVINOS" 89 1.761.123,00
89 1.761.123,00
Fonte: Banco Central do Brasil (2017)

Tabela 5 : Quantidade/Valor dos Contratos de Investimento por Produto (Agrícola)


Período: Janeiro/2015 - Dezembro/2015

Produto Quantidade Valor


"OUTRAS MÁQUINAS" 8 142.824,00
OCULTO(*) 3 110.992,92
OCULTO(*) 1 101.908,25
OCULTO(*) 1 100.000,00
OCULTO(*) 2 38.700,00
OCULTO(*) 1 14.889,00
OCULTO(*) 1 8.160,00
OCULTO(*) 1 3.680,00
OCULTO(*) 1 190,21
19 521.344,38
Fonte: Banco Central do Brasil (2017)

Tabela 6: Quantidade/Valor dos Contratos de Investimento por Produto (Pecuária)


Período: Janeiro/2015 - Dezembro/2015
Produto Quantidade Valor
"BOVINOS" 20 399.042,00
OCULTO(*) 2 155.984,00
OCULTO(*) 1 68.437,21

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"OUTRAS MÁQUINAS" 5 50.606,00
OCULTO(*) 1 43.632,00
OCULTO(*) 1 14.407,98
OCULTO(*) 3 13.619,00
OCULTO(*) 1 13.426,00
OCULTO(*) 1 1.750,00
OCULTO(*) 2 560,35
37 761.464,54
Fonte: Banco Central do Brasil (2017)
Já as tabelas a seguir mostram os principais produtos e serviços beneficiados no ano
de 2016 em cada uma dessas linhas:

Tabela 7: Quantidade/ Valor dos Contratos de Custeio por Produto (Agrícola)


Período: Janeiro/2016 - Dezembro/2016
Produto Quantidade Valor
"SOJA" 48 2.838.157,67
OCULTO(*) 2 94.199,99
OCULTO(*) 2 32.769,62
OCULTO(*) 1 28.767,82
OCULTO(*) 1 17.081,78
OCULTO(*) 1 14.426,51
55 3.025.403,39
Fonte: Banco Central do Brasil (2017)

Tabela 8: Quantidade/Valor dos Contratos de Custeio por Produto (Pecuária)


Período: Janeiro/2016 - Dezembro/2016
Produto Quantidade Valor
"BOVINOS" 81 1.639.599,29
OCULTO(*) 1 20.000,00
82 1.659.599,29
Fonte: Banco Central do Brasil (2017)

Tabela 9: Quantidade/Valor dos Contratos de Investimento por Produto (Agrícola)


Período: Janeiro/2016 - Dezembro/2016
Produto Quantidade Valor
"TRATOR" 7 381.042,98
"OUTRAS MÁQUINAS" 5 101.700,00
"DEPÓSITO E INSTALAÇÕES CONGÊNERES" 4 57.457,94
OCULTO(*) 1 48.733,00
OCULTO(*) 2 17.130,00
19 606.063,92
Fonte: Banco Central do Brasil (2017)

Tabela 10: Quantidade/Valor dos Contratos de Investimento por Produto (Pecuária)


Período: Janeiro/2016 - Dezembro/2016
Produto Quantidade Valor
"BOVINOS" 10 165.512,50
OCULTO(*) 2 26.872,00
OCULTO(*) 1 21.927,80
OCULTO(*) 1 14.000,00
OCULTO(*) 1 7.000,00

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OCULTO(*) 1 5.886,67
OCULTO(*) 1 5.178,00
17 246.376,97
Fonte: Banco Central do Brasil (2017)
A análise dos dados encontrados sobre o município de São Vicente do Sul indicam
que os principais produtos beneficiados pelo programa são a soja, arroz e o milho,
acompanhados pela pecuária de corte. Percebe-se ainda, que também foram encontrados
dados que indicam que a compra de máquinas e implementos agrícolas também são realizados
através de recursos oriundos do programa, o que apenas confirmou uma situação que já
imaginava-se acontece frequentemente.
Diante dos dados e informações encontradas talvez caiba um questionamento: se o
PRONAF é destinado exclusivamente para a agricultura familiar e está sendo utilizado para a
expansão desses produtos considerados comodityes e fortemente relacionados ao agronegócio,
não estaria assim o programa perdendo pelo menos em parte o seu foco e objetivo?
O fato é que esses dados indicam que essa diferença significativa em relação ao
volume de contratos dá-se principalmente em função do peso econômico e das pressões dos
agentes envolvidos (sindicatos, federações, políticos, etc.), de um processo de interação
produtiva maior na região sul, de um nível maior de organização dos agricultores familiares
locais, entre outros, corroborando assim com as ideias de Matei (2005).

5 Conclusões
Após analisadas as informações e dados encontrados, principalmente os aspectos
socioeconômicos, fica evidente que o setor agropecuário de São Vicente do Sul é bem
desenvolvido e a agricultura familiar local acessa significativamente os créditos relacionados
ao PRONAF. Já as contextualizações da agricultura familiar aliada aos dados obtidos do
PRONAF serviram de embasamento para análise da realidade das unidades de produção
agrícola da região, indicando que a bovinocultura de corte e a soja atualmente são as
principais atividades geradoras de renda.
Parte da problemática era verificar se os recursos do PRONAF eram aderidos pelos
agricultores familiares locais e a resposta a essa pergunta é sim, ou seja, o programa auxilia
muitas famílias no seu desenvolvimento econômico e social e principalmente para que as
mesmas permanecem no meio rural.
Talvez a grande crítica esteja relacionada aos subsídios destinados na sua maioria a
produtos relacionados ao agronegócio, mas, fica evidente que no município ocorre uma
melhor organização tanto das cadeias agroindustriais quanto dos agricultores familiares, o que
por si só justifica o montante significativo de recursos e projetos aprovados nos últimos anos.
Cabe ainda destacar, que São Vicente do Sul é considerada a capital da batata doce,
contudo não foi possível detectar entre os dados se esse produto também abarca subsídios
desta importante política pública.
Fica evidente ainda que ao longo dos anos e através das mudanças e regras que vieram
adequando o PRONAF à diversidade rural brasileira, o número de municípios atingidos e o
grande volume de recursos disponibilizados tiveram um aumento significativo principalmente
nos últimos dez anos.
Aliado a isso, o PRONAF é de fato uma política pública que possibilita que a
agricultura familiar encontre condições melhores e mais adequadas para desenvolverem suas
atividades, proporciona um maior acesso a novas tecnologias, bem como um incremento na
produção e na produtividade, gerando assim melhores rendas e consequentemente uma
melhor condição de vida das famílias envolvidas.

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Referências

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Possibilidades de turismo no espaço rural: o caso de Paraí/ RS
Possibilities of tourism in rural areas: the case of Paraí/RS

Marcelo Pellegrini1, Juliana Birkan Azevedo2, Ana Claudia Machado Padilha3, Alba Valeria
Oliveira Ficagna 4, Anderson Neckel5

Resumo
Este estudo teve por objetivo estudar a implantação da atividade turística no meio rural no município de Paraí-
RS, além de mapear propriedades e locais com potencial turístico, a fim de introduzir esta atividade no espaço
rural, como uma forma de geração de renda para as propriedades e para o município. Quanto aos procedimentos
metodológicos, a pesquisa foi de natureza qualitativa, e, em relação aos objetivos, foi de caráter descritivo e
exploratório, e consistiu em um estudo de múltiplos casos, desenvolvido por meio de entrevistas com a
extencionista da EMATER, a Secretária de Educação e Cultura, e com cinco proprietários de propriedades rurais
com potenciais turísticos. Os resultados foram analisados e interpretados, averiguando-se assim, que, no
município em estudo, há um grande interesse pela parte dos indivíduos pesquisados, em participar de um
possível processo de implantação do turismo no espaço rural. Porém, evidencia-se a necessidade do incentivo do
poder público municipal de Paraí por meio de um projeto com o qual seria solicitado emendas parlamentares
assim tornando possível apoiar o processo da implantação do turismo no espaço rural, devido ao seu complexo
sistema de implantação e desenvolvimento operacional.
Palavras-chave: Administração pública. Turismo no espaço rural. Incentivos. Propriedades rurais.

Abstract
This study aimed to study the implantation of tourism activity in rural areas in the city of Paraí-RS, in addition
to mapping properties and sites with tourism potential, in order to introduce this activity in the rural area, as a
form of income generation for properties and for the municipality. As for the methodological procedures, the
research was qualitative in nature, and, in relation to the objectives, it was descriptive and exploratory, and
consisted of a multiple case study, developed through interviews with the EMATER representative, the Secretary
of Education and Culture, and with five owners of rural properties with tourist potential. The results were
analyzed and interpreted, finding that, in the municipality under study, there is a great interest on the part of the
individuals surveyed, in participating in a possible process of implantation of tourism in the rural area.
However, it is evident the need for the encouragement of municipal public power in Paraí through a project to
request parliamentary amendments thus making it possible to support the process of implementing tourism in
rural areas, due to its complex system of deployment and operational development.
Keywords: Public administration. Tourism in rural areas. Incentives. Rural properties.

1 Introdução

O processo de implantação do turismo no espaço rural denota um complexo sistema de


desenvolvimento operacional, portanto, para que este processo seja implantado de forma
efetiva e positiva, se faz necessária a criação e o estabelecimento de uma parceria público
privada, a fim de capacitar e orientar os agricultores neste empreendimento, evitando desta
forma a inoperância do mesmo. Sendo assim este estudo traz o seguinte tema: Administração

1Tecnólogo em Agronegócio/Universidade de Passo Fundo- 150087@upf.br


2Mestre em Administração/Universidade de Passo Fundo – juliana.azevedo@upf.br
3 Doutora em Agronegócios/Universidade de Passo Fundo – anapadilha@upf.br
4 Mestre em Educação/Universidade de Passo Fundo – alba@upf.br
5 Mestre em Administração/Universidade de Passo Fundo – andersonn@upf.br

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Pública e Turismo Rural. Levando em conta a implantação do turismo no espaço rural no
município de Paraí: uma parceria com a administração pública municipal, como uma forma de
diversificação e geração de renda para as propriedades deste município.
Por grande parte das propriedades do município de Paraí serem de porte familiar,
muitas vezes, não há espaço para diversificar suas culturas, gerando um ganho a mais. A
implantação do turismo rural nestas propriedades agregaria valor a estas. Bem como, seria
uma oportunidade empreendedora que, baseada em conhecimentos na área, viabilizaria a
geração de renda aos produtores.
Implantar o turismo rural no município gerará mais uma forma de ganho para as
propriedades e os munícipes. “O Turismo Rural, além do comprometimento com as atividades
agropecuárias, caracteriza-se pela valorização do patrimônio cultural e natural como
elementos da oferta turística” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010, p.19).
Além de tornar o município conhecido regionalmente, e atrair visitantes para o mesmo
a economia estará em constante desenvolvimento, bem como a preservação ambiental poderá
ser promovida. “O turismo no meio rural pode gerar mudanças significativas em diferentes
segmentos: na valorização do território, na proteção do meio ambiente e conservação do meio
natural, histórico e cultural [...]”. (LUNARDI; ALMEIDA, 2008, p. 33).
É necessário o desenvolvimento de uma rota para turismo rural no município de Paraí,
de modo que os visitantes possam conhecer melhor toda a diversidade e as potencialidades do
turismo existentes nesta localidade. A criação de uma rota turística possiblita maior
integração entre os pequenos produtores rurais, pertencentes ao projeto.
Com o intuito de promover o desenvolvimento econômico local, e agregar renda aos
pequenos produtores rurais, o poder público municipal de Paraí, demonstra interesse em
apoiar iniciativas que promovam o turismo rural. Para tanto é imprescindivel que haja uma
articulação entre o poder público e os produtores rurais, constituindo-se em uma parceria
público-privado.
2 Referencial teórico

A seção 2 apresenta a fundamentação teórica, onde estão desenvolvidos os suportes


científicos que estão sendo pesquisados. No estudo há um resgate da concepção de políticas
públicas e uma investigação acerca do tema turismo no espaço rural.

2.1 Políticas Públicas

As políticas públicas são formas de visualizarmos o governo em ação. Há políticas


públicas para as mais diversas áreas: educação, saúde, segurança, habitação, saneamento
básico, entre outras. O escopo deste trabalho envolve o turismo, neste caso, priorizaremos as
políticas setoriais direcionadas à promoção do turismo.
No Brasil há várias políticas públicas voltadas ao desenvolvimento das atividades
rurais, uma delas é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF). “A partir de 2003, o programa ganhou novas linhas de crédito e vantagens de
financiamento para atividades como a agroindústria e o turismo rural” (SANTOS; PIRES,
2010, p. 63).
Para Santos e Pires (2010), um marco importante foi a Carta de Santa Maria, onde foi
realizado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, no ano de
1988 o “I Congresso Internacional de Turismo Rural e Desenvolvimento Sustentável”, lá foi
lançada a Carta de Santa Maria pelos empreendedores de turismo rural. Seu principal objetivo
era buscar parcerias entre o governo e iniciativas privadas, com isso formando políticas
voltadas ao segmento do turismo rural.

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Em 2003, houve a criação do Ministério do Turismo, e juntamente com ele a
publicação da obra: “Plano Nacional de Turismo: diretrizes e metas e programas”. Este foi o
primeiro documento que estabeleceu normas para desenvolver o setor do turismo em âmbito
nacional, estadual e municipal. Com isso o turismo demonstrou mais uma forma de gerar
renda ao país. O Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério do Turismo são os
órgãos governamentais mais envolvidos com o interesse comum no meio rural, como cenário
de produção e lazer (SANTOS; PIRES, 2010).
Cabe a cada município recorrer aos respectivos Ministérios em busca de recursos que
provém do governo federal, que muitas vezes são destinados por intermédio de Deputados.
“As competências dos vários níveis de governo são definidas na Constituição Federal. Há
competências exclusivas de cada um, competências comuns aos vários níveis e também as
chamadas concorrentes” (ABIKO, 2011, p.5).
Cada ano o município programa seu orçamento, que dispõe os limites das receitas que
estão programadas para o período. Segundo Cavalcante (2008, p.17) o orçamento é o
instrumento básico que “[...] transforma-se o mecanismo central de controle público sobre o
estado”. Os gastos provindos do governo municipal, são todos lançados no portal de
transparência e são fiscalizados pelos órgãos competentes. “[...] O Estado deixa de ser o
provedor direto exclusivo e passa a ser o coordenador e fiscalizador de serviços [...]”
(FARAH, 1999, p. 331).

2.2 Turismo no espaço rural

Em linhas gerais pode-se dizer que o turismo no espaço rural é qualquer atividade
turística que está inserida geograficamente no meio rural, não necessariamente ter alguma
atividade agropecuária. Assim para o Ministério do Turismo (2010), é levado em conta na
hora da denominação a posição que ele esta ocupando, se é dentro do meio rural pode ser
definido como Turismo no Espaço Rural, ou em Áreas Rurais.
Além disso, para o Ministério do Turismo (2010), é importante lembrar que o Turismo
no Espaço Rural também ocorre fora das propriedades, por isso, depende da qualidade da
paisagem externa da região, que pode ser levado como um fator de agregação de atratividade
e de identidade. “É justamente essa uma das razões pela qual esse segmento turístico
beneficia a comunidade na qual se insere, na forma de passeios a atrativos naturais e artificiais
nas redondezas, na utilização de equipamentos e serviços” (MINISTÉRIO DO TURISMO,
2010, p. 23).
Já o turismo rural, na visão de Santos e Souza (2010), se dá pelo aproveitamento dos
recursos existentes no espaço rural, sem esquecer dos patrimônios culturais e arquitetônicos.
Levando em conta elementos da natureza que podem ser de agrado para os turistas. O turismo
rural abriu uma alternativa para as propriedades de ganhar uma renda a mais. Conforme a
pesquisa de Blos, “uma das características fortes do turismo rural é a exigência de ser uma
atividade econômica complementar a uma outra principal primária” (BLOS, 2000, p. 220).

3 Procedimentos metodológicos

A pesquisa busca, de forma qualitativa e por meio de entrevistas, desenvolver um


estudo acerca de parcerias público-privado para a implantação do turismo no espaço rural, no
município de Paraí-RS, levando em conta os incentivos que a administração pública
municipal pode oferecer aos produtores. Utiliza informações sobre as propriedades estudadas.
A pesquisa qualitativa vem a descrever a complexidade de tal problema e a interação
com outras variáveis, facilitando a compreensão e a classificação dos processos dinâmicos
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vividos por grupos sociais (DIEHL; TATIM, 2004). Um dos fatos importantes é analisar o
indivíduo entrevistado, “uma estratégia de campo que combina ao mesmo tempo a
participação ativa com os sujeitos, a observação intensiva em ambientes naturais, entrevistas
abertas informais e análise documental” (MOREIRA, 2002, p. 52).
Sendo assim, na coleta de dados qualitativos, serão realizadas entrevistas
semiestruturadas com os proprietários de algumas propriedades com potenciais turísticos,
bem como, com a extencionista da EMATER e com a Secretária de Educação e Cultura (que
atualmente está cuidando da pasta do turismo), ambas do município em estudo, pois estas
possuem um vasto conhecimento acerca da estrutura organizacional das propriedades e das
potencialidades existentes no município, bem como das particularidades dos perfis dos
turistas, e se realmente haverá demanda para este tipo de serviço na comunidade.
Na pesquisa de caráter qualitativo, o pesquisador, ao encerrar sua coleta de dados,
acaba ficando com uma série de dados dispersos, uma enorme quantidade de notas de
pesquisa, bem como depoimentos em forma de texto (DIEHL; TATIM, 2004). Sendo assim,
neste estudo, se utilizou a técnica de análise de conteúdo.
4 Resultados e discussão

Os resultados da análise das entrevistas aplicadas à extencionista da EMATER e da


Secretária Municipal de Educação e Cultura (responsável pela pasta de turismo no
município), bem como dos proprietários, são apresentados na presente seção. A coleta de
dados foi realizada no mês de abril de 2018, através de entrevistas semiestruturadas, para
identificar a opinião dos mesmos e seu posicionamento a respeito de um possível Processo de
Implantação do Turismo Rural e Turismo no Espaço Rural no município de Paraí – RS.

4.1 Caracterização do município

O município de Paraí localiza-se na região Serrana do estado do Rio Grande do Sul,


segundo o IBGE, no último Censo realizado em 2010, o município possuía aproximadamente
6.812 habitantes, mas segundo as projeções que o mesmo fez, é que no ano de 2017 o
município teria alcançado 7.404 habitantes.
Paraí faz divisa com as cidades de Casca, Nova Araçá, Guabijú, São Domingos do
Sul, São Jorge e possui um território de 121,446 km², e segundo dados do IBGE de 2015,
Paraí, possui um PIB per capita de R$ 34.125,62.
O município de Paraí desenvolveu sua economia baseada em sua colonização, onde
manteve suas raízes embasadas no trabalho, na família e na religião. A agricultura, sempre foi
a principal fonte de renda dos munícipes, em 2007 respondia por 43% da economia do
município, assim utilizando tecnologia avançada, principalmente nos setores de suínos, leite e
frangos (ZANOTTO, 2009).

4.2 Análise e interpretação das entrevistas feitas a cinco gestores de propriedades rurais do
município.

A seguir, são analisadas as respostas dos cinco produtores entrevistados acerca da


possibilidade de implantação de turismo rural em suas propriedades.

4.2.1 Propriedade A

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O proprietário aceitou fazer parte do projeto, pois para ele atividades turísticas no
meio rural são importantes por gerar um bem estar aos que as frequentam, bem como
valorizam os atrativos existentes no município.
Localizada na Comunidade Nossa Senhora de Caravaggio, mais conhecida no
município como Barra Seca, a propriedade A, localiza-se no acesso secundário ao município
de Paraí. Na propriedade residem quatro pessoas, e a mão de obra é totalmente familiar. São
35 hectares (ha) de terra, sendo 21 ha para cultivo de milho e o restante para as demais
culturas desenvolvidas na propriedade. A propriedade é um tanto diversificada, possuindo um
galpão para armazenagem de cereais, um açude para pesca, uma compostagem de dejetos de
suínos, galpões para a suinocultura, um silo solar para armazenagem de milho, um campo de
futebol para lazer, um estábulo para cavalos, e um galpão para depósito de maquinários
agrícolas utilizados na propriedade.

Além de um galpão para criação de gado de corte, uma trilha em meio a mata já ativa,
uma lavoura de milho, e uma estrada para passeio de bicicleta para caminhada pela
propriedade. A propriedade possui integração com suinocultura, com capacidade de
alojamento para 2000 cabeças de suínos e um confinamento para gado de corte com
capacidade para 250 animais. Na grande de mata nativa, onde se encontram trilhas em meio à
mata preservada podem-se encontrar diversas espécies de animais como: quatis, veado,
tamanduá, raposas entre outros, bem como ter um contato direto com a natureza. Na
propriedade existe um silo solar, onde são armazenados cereais para posterior alimentação do
gado de corte, ou venda para a comunidade. Este é outro atrativo que também pode ser
visitado.
Esta propriedade possui cerca de 2000 suínos que produzem dejetos. A propriedade
preocupada com o destino desses dejetos implantou uma compostagem de dejetos líquidos, na
qual são misturados dejetos de suínos com cama de aviário. Após um período médio de 3
meses ocorre a fermentação e evaporação do liquido, transformando-se num adubo de
excelente qualidade, que poderá ser usado na adubação de: gramas, lavouras, flores, jardins,
vegetais, entre outros

4.2.2 Propriedade B
Localizada na Comunidade Santa Terezinha, mais conhecida como Arroio dos
Moreiras, a Propriedade B, localiza-se próxima a divisa com o município de Guabiju. É uma
das maiores propriedades estudadas, contendo 150 hectares de área. Na propriedade residem
oito pessoas, destas duas são funcionários.
O gestor aceitou fazer parte do projeto, pois para ele, a inovação e a tecnologia no
meio rural são importantes, pois se faz necessário repassar aos visitantes a visão que a
tecnologia já chegou ao campo, bem como mostrar os cuidados com o bem estar animal e os
cuidados sanitários também.
O proprietário fez grandes investimentos nos últimos anos, investindo na compra de 2
equipamentos para a ordenha das vacas, facilitando o manejo e diminuindo o trabalho na
propriedade. A propriedade possui atualmente cerca de 260 vacas, destas 115 estão em
lactação. Produzindo uma média de 30 litros de leite por vaca ao dia, gerando um total
aproximado de 3.450 litros de leite ao dia, totalizando de 103.500 litros leite ao mês. A
propriedade possui também uma área de cultivo de soja e uma área para criação de gado de

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corte, onde são criados no campo cerca de 280 cabeças. A propriedade possui um açude para
dessedentação dos animais e serve também para pesca.
Esta propriedade é o destino correto para quem busca tecnologia no meio rural, nela
pode ser visto dois equipamentos robóticos que fazem todo o processo de higienização e
ordenha das vacas, bem como um painel de controle de qualidade e números de produção de
cada animal. Pode ser acompanhado também o excelente manejo e o cuidado com os animais.
A propriedade possui o gado leiteiro totalmente confinado em compost barn (que é
uma grande área coberta para descanso das vacas, leiteiras, geralmente revestida por uma
cama de serragem). A propriedade possui também ventiladores para um melhor arejamento do
local.
Outro atrativo que pode ser explorado nesta propriedade é a visita do gado de corte no
campo, onde as 280 cabeças de gado podem ser visitadas em meio a pastagens e morros.
Segundo relato do proprietário, o mesmo está com projeto para os próximos três anos
fazer um investimento em uma agroindústria, para fabricação de queijos e lácteos, a fim de
agregar valor ao leite produzido na propriedade. Onde futuramente poderá ser realizada
visitação e degustação, bem como venda de produtos no local aos turistas que visitarem a
propriedade.

4.2.3 Propriedade C
Localizada na Comunidade São Mateus, popularmente conhecida como Arroio dos
Gordos ou Canhada, a Propriedade C é uma das propriedades que mais bem retrata a
colonização italiana. Nela pode ser feito um resgate histórico dos antepassados da cultura
italiana. Esta propriedade esta integrada ao sistema de integração de avicultura de corte, com
capacidade de produção de 13 mil aves. A propriedade contém 57 hectares de área, sendo 12
deles destinados ao plantio de soja e milho, 1,5 ha para pastagem do gado leiteiro, 2 ha para a
avicultura, e o restante campo e mata. Na propriedade residem quatro pessoas, e a mão de
obra é totalmente familiar.
O proprietário aceitou fazer parte do projeto, pois já possui interesse em implantar
atividades turísticas na propriedade. Para ele é importante repassar aos turistas o valor cultural
e histórico da cultura italiana.
Esta propriedade é o destino correto para quem busca relembrar costumes, cultura e
paisagens típicas da colonização italiana. A propriedade contém maquinários típicos como,
por exemplo: engenho para moer cana “tchortcho”, manjolo para triturar erva mate, máquina
para bater milho, máquina para debulhar milho, forno de barro, lamparinas antigas, rebolo
para afiar facas, pipas antigas para guardar vinho, ventilador de cereais antigo, pilão, bules,
taro, moedor de carne manual, cunha para arrastar madeira, cestas de vime, caixão para
armazenar farrinhas, moinho de mola, carriola de madeira, cercado de madeira “stecato”.
Na propriedade existe um local para implantação de uma roda da água, que já existia,
porém com o tempo ela foi se deteriorando. Com o apoio da administração pública o
proprietário pretende reconstruir a roda da água.
Esta propriedade possui uma casa típica da colonização italiana, onde já residiram os
antepassados do proprietário. A casa preserva sua arquitetura original, porém necessita de
reparos e revitalização.

4.2.4 Propriedade D

Pertencente ao povoado Santo Antônio, a propriedade D é uma das propriedades mais


afastadas da cidade, cerca de 10 km do centro. Nesta propriedade residem três pessoas.

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Contém 24 ha de área, sendo, 6 ha destinados ao plantio de milho, 2 ha para o plantio de
brócolis, 1 ha de parreirais de uva, e 1 ha para a plantação de mirtilos.
O proprietário aceitou fazer parte do projeto, pois ele já está investindo em cuidados
com a propriedade para implantar a atividade turística, pois para ele é importante o contato do
turista com a biodiversidade, contato com ar puro e com os animais.
Vale destacar, que a propriedade possui uma grande área de mata centenária, dentro
dela, há árvores exóticas como: sapopema, carrapicho e árvores em extinção como xaxim.
Esta propriedade contém uma área com mata nativa onde já existe um projeto com o
propósito de abrir trilhas ecológicas. Além de contar com um açude que serve para pesca.
Segundo o relato do proprietário, o mesmo planeja instalar um pedalinho para passeio.
Também há uma série de aves que valorizam a propriedade e o local, dentre elas: faisão,
calopsita, pavão, marreco, galinhas de várias espécies e codornas, contribuindo com a
preservação da fauna e da flora desta região. Na propriedade também se encontram vários
animais como por exemplo: cabritos, ovelhas, porquinhos da índia, entre outros. Também
existe um espaço destinado às crianças, onde se encontra: uma casinha de madeira, um
escorregador, um banco de madeira, areia, gramado e brinquedos diversos.

4.2.5 Propriedade E
Localizada na Comunidade Santo Anjo, a propriedade E, se destaca no município de
Paraí por possuir uma agroindústria. Nesta propriedade residem nove pessoas, e a mão de
obra é totalmente familiar. São 7 hectares de terra, sendo 3 ha para cultivo de nozes, uva, figo,
abóbora, laranja, pêssego, pepino, berinjela, pimentões e 2 ha para o cultivo de milho.
Na agroindústria são produzidas geleias, sucos, compotas e extrato de tomate. A
propriedade é de fácil acesso já que fica as margens da ERS 324, Km 267. Hoje a
agroindústria vende seus produtos em diversos estados do Brasil, como Rio Grande do Sul,
Minas Gerais, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia.
Os gestores da propriedade e da agroindústria aceitaram fazer parte do projeto, pois
para eles esta seria uma boa oportunidade para divulgar os produtos de sua agroindústria, bem
como mostrar a forma de produção e cuidados com a matéria prima.
A propriedade por possuir uma agroindústria própria, pode oferecer aos visitantes a
oportunidade de vivenciar o processo de produção, controle de qualidade, bem como uma
visitação pela mesma. Desta forma, como um atrativo a parte, após a visita poderá ser
oferecida uma degustação dos produtos produzidos na propriedade, bem como a
comercialização dos mesmos, assim divulgando as potencialidades da agroindústria aos
turistas visitantes.

4.3 Análise e interpretação das entrevistas com a extencionista da EMATER e a Secretária


Municipal de Educação e Cultura

Quando questionadas sobre a sua opinião sobre a implantação de um roteiro turístico e


o desenvolvimento da atividade de turismo rural em algumas propriedades da nossa cidade, a
extencionista da EMATER respondeu que é um sonho de longa data. Segundo ela “Não
medirei esforços para colaborar. Temos um grande potencial, basta explorar”. Já a Secretária
entrevistada respondeu que “Penso ser válido, uma vez que nosso município ainda não dispõe
deste atrativo e possui várias riquezas que podem ser divulgadas e apreciadas”.
Ambas responderam de forma afirmativa e otimista quando questionadas acerca da
possível demanda para um roteiro turístico e para a atividade de turismo no espaço rural como
um todo no município, e também afirmaram que seriam possíveis frequentadoras.

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Sobre o papel da administração pública, a Extencionista da Emater respondeu que
“Imprescindível, sem este maior parceiro, impossível dar continuidade”. E a secretária
afirmou: “Tendo recursos e meios legais, penso que a administração pública municipal não se
negará em apoiar”.
Sobre as atividades que chamariam uma maior participação do público alvo, a
extencionista da EMATER pontuou: “Recepção à visita nas propriedades rurais, alimentação,
caminhadas, pesca esportiva, ciclismo, rotas e festas de comunidades rurais (turismo
religioso)”. A Secretária lembrou da extração de basalto como atrativo.
Quando questionada se acreditava que os produtores rurais da região se interessariam
na atividade turística, a extencionista respondeu: “Pela vivência que tenho nas comunidades
acredito que teriam interesse sim”. A secretária respondeu também positivamente, se tiverem
apoio.
Por fim, quando questionadas se, na opinião delas, haveria demanda havendo parcerias
entre propriedades, montando um roteiro de visitação no município, a extencionista
respondeu: “Com certeza, o roteiro integrado amplia os benefícios socioeconômicos e
ambientais do turismo para a comunidade, preservando a cultura local e gerando
oportunidades de novos negócios para as mesmas”. A secretária completou que: “Penso que
sim, pois isso favorecerá o crescimento do município, como também. o ‘conhecimento’ de
nossos municípios visitantes, pois acredito que este trabalho deverá ser divulgado”.

5 Conclusões

A agricultura familiar está passando por um constante processo de transformações,


tendo que se adaptar a nova realidade. O turismo no espaço rural se tornou uma opção de
geração de renda, e trabalho, corroborando assim, com a permanência dos agricultores no
meio rural. Além de trazer consigo atividades agrícolas e não agrícolas no setor rural.
A administração pública municipal de Paraí se torna uma aliada aos pequenos
agricultores rurais, no que se refere às parcerias que ela pode estabelecer. A administração
pública municipal pode criar um importante elo de colaboração para desenvolver incentivos
ao turismo no espaço rural. Através da criação de secretarias, criação de leis de incentivo ao
turismo no espaço rural, colaboração com materiais para a melhoria das propriedades, bem
como a isenção de impostos nos primeiros anos às propriedades participantes deste projeto,
fazendo disso uma forma de incentivo para a implantação do turismo no espaço rural nas
propriedades rurais.
Na agricultura familiar, o turismo no espaço rural se torna uma importante forma de
geração de renda e muitas vezes um meio de subsistência das famílias, devido ao complexo
sistema de produção e geração de renda existente no meio rural. Durante a realização da
pesquisa buscou-se averiguar, se os gestores das propriedades rurais tinham interesse em
implantar o turismo no espaço rural em sua propriedade com a parceria da administração
pública municipal de Paraí.
Diante disso foi possível constatar que a totalidade das propriedades pesquisadas
demostraram interesse em participar do processo de implantação do turismo no espaço rural
em sua propriedade em parceria com a administração pública municipal do município em
estudo. Entretanto, a ausência de uma parceria para a maior parte dos pequenos agricultores
rurais entrevistados torna a implantação do turismo no espaço rural inviável, devido: ao alto
investimento de capital financeiro que se faz necessário para a infraestrutura, obtenção de
conhecimento (cursos da área), embelezamento das propriedades, e compra de maquinários
adequados para cada tipo de atividade a ser desenvolvida conforme a demanda de cada
propriedade.

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Neste estudo, foram realizadas entrevistas com: cinco gestores de pequenas
propriedades rurais, além de uma entrevista com a extencionista da EMATER, e com a
secretária municipal de educação e cultura, ambos do município de Paraí.
Ficou evidenciado que o turismo no espaço rural é uma importante forma de geração e
complementação de renda para a agricultura familiar. Evitando assim o êxodo rural, que é um
relevante problema social, presente neste município e no Brasil.
Entretanto, evidencia-se a necessidade do incentivo do poder público municipal de
Paraí em apoiar o processo da implantação do turismo no espaço rural, devido ao seu
complexo sistema de implantação e desenvolvimento operacional. O desenvolvimento do
turismo no espaço rural contribui com: a divulgação do município, a valorização das
propriedades, os traços culturais da região, bem como o cuidado com o meio ambiente. Sendo
assim, o município poderá oferecer aos potencias turistas uma oportunidade de lazer e
descanso e um contato direto com a natureza, cultura, culinária, fauna e flora, religiosidade,
pedreiras, entre outras atividades que podem ser realizadas no campo.

Referências

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Epusp, 2011.

BLOS, Wladimir. O Turismo rural na transição para um outro modelo de desenvolvimento


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mais legítima e democrática. Revista de Políticas Públicas e Gestão Governamental.
Brasília: ANESP, 2008, Vol. 6, Nº 2.

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Paulo: Prentice Hall, 2004.

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LUNARDI, Raquel; ALMEIDA; Joaquim Anésio de Jesus. As representações do trabalho no


turismo rural para as mulheres da região dos campos de cima da serra – RS. Revista
Extensão Rural, UFSM, ano XV, jan/jun. 2008. Disponível em: <
http://w3.ufsm.br/extensaorural/art2ed15.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2018.

MINISTÉRIO DO TURISMO. Turismo Rural: Orientações Básicas. Brasília, 2. ed.


Ministério do Turismo, 2010. Disponível em:
<:http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publi
cacoes/Turismo_Rural_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2018.

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SANTOS, Alessandra Santos dos; PIRES, Paulo dos Santos, in: SANTOS, Eurico de
Oliveira; SOUZA, Marcelino de (orgs.). Teoria e prática do turismo no espaço rural -
Barueri, SP: Editore: Manole, 2010.

ZANOTTO, Gilmar Francisco. PARAÍ, HISTÓRIA E VIDA. 1. ed. Porto Alegre: Suliani
Editografia Ltda, 2009.

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Proposta de balanço de nutrientes para uma propriedade rural típica da
produção animal intensiva do Oeste de Santa Catarina

Nutrient balance proposal for a small farm typical of the intensive animal
husbandry in the West of Santa Catarina State - Southern Brazil
Milton Antonio Seganfredo1, Eduardo Lando Bernardo2, Rodrigo Cavalli Pozzo3

Resumo. O objetivo do trabalho foi o balanço de nutrientes para uma propriedade rural representativa da
produção intensiva de animais do Oeste de SC, partindo-se da proposta metodológica de relacionar os
nutrientes excretados pelos rebanhos com as áreas agrícolas necessárias para seu uso como fertilizantes,
considerando as novas diretrizes de adubação para o extremo Sul do Brasil. Como objeto de estudo, utilizou-se
uma propriedade rural localizada em Concórdia SC, representativa das pequenas propriedades do Sul do Brasil
com produção intensiva de aves e suínos em sistemas confinados e bovinos de corte em sistemas de integração
lavoura-pecuária. A área da propriedade é 16 ha, e os rebanhos são constituídos de 380 suínos em terminação,
16.500 frangos de corte, 24 matrizes de gado de corte e 24 bezerros. As culturas utilizadas na propriedade são a
aveia preta (Avena strigosa) e azevém (Lolium multiflorum) consorciados, milho (Zea mays) e pastagem
naturalizada de grama missioneira gigante (Axonopus catharinensis Valls). O total de nutrientes excretados pelos
animais foi calculado multiplicando-se a excreção média diária de cada espécie pelo tempo de permanência na
propriedade e o resultado foi relacionado com o consumo de nutrientes para cada uma das culturas e alternativas
de culturas propostas para a redução dos desequilíbrios na oferta e demanda de nutrientes. A metodologia utilizada
mostrou-se uma ferramenta de fácil utilização, baixo custo e capaz de identificar desbalanços entre oferta e
demanda de nutrientes, relacionado os nutrientes excretados pelos rebanhos e áreas agrícolas aptas para seu uso
como fertilizantes do solo.

Palavras-chave: adubação orgânica, excreção de nutrientes, lavoura-pecuária

Summary. The objective of this study case was to perform a nutrient balance for a small farm representative of
the intensive animal husbandry in the West of Santa Catarina State – Southern Brazil by following an easy-to-use
tool. The method focuses the relationship between the nutrients excreted by herds and the land needed for their
use as soil fertilizer which is calculated according to the recently reviewed criteria for soil fertilization applied to
Southern Brazil. The study case was carried out in a small farm located in Southern Brazil where the main
economical activity is the intensive animal husbandry. The farm area is 16 ha and the herds are composed of 380
finishing pigs, 16.500 broiler chickens, 24 beef-breed cows and 24 calves. The main plants cultivated in the farm
are Avena strigosa, Lolium multiflorum, Axonopus catharinensis Valls and Zea mays. The amount of nutrients
excreted by the herds was calculated considering the average daily excretion, the number of animals and the time
they remained in the farm. The sum of excreted nutrientes was related to the nutrient consumption for each plant
specie and growing season and two alternative cropping systems aiming to reduce the inbalance between nutrients
coming from animal excretion and the available land for their use as soil fertilizers. The method used in this study
case proved to be a cheap, feasible and an easy-to-use tool capable to identify imbalances between nutrient supply
and consumption by relating herd nutrient excretion to suitable land for their use as soil fertilizers.

Keywords: Crop-livestock system, nutrient excretion, organic fertilization

1 Introdução

A criação animal intensiva, incluindo sistemas de integração lavoura-pecuária, é


reconhecidamente uma importante alternativa para a geração de renda nas pequenas
propriedades de agricultura familiar da região Sul do Brasil, caracterizadas pela baixa

1 Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia, SC, milton.seganfredo@embrapa.br


2 Doutorando em Engenharia Ambiental, UFSC, Florianópolis, SC, eduardolbernardo@gmail.com
3 Engº Agrº, Concórdia SC, rodrigo.pozzo@hotmail.com

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disponibilidade de mão-de-obra e de terras aproveitáveis para lavouras. Com o aumento da
escala de produção, no entanto, tem sido causa de preocupação o desbalanço entre as
quantidades de nutrientes oriundas das dejeções animais e as áreas agrícolas aptas para o seu
uso como fertilizantes do solo, que é a principal alternativa de destinação desses resíduos, pois
esse desbalanço pode comprometer o serviço ecossitêmico reciclagem de nutrientes
Nesses cenários, para que se possa avaliar as perspectivas de sustentabilidade do serviço
ecossistêmico reciclagem de nutrientes, torna-se imprescindível a disponibilidade de
ferramentas de baixo custo e de uso simplificado, que possibilitem avaliar de maneira rápida e
confiável, se as terras de uma determinada propriedade são suficientes ou não para comportar
as dejeções dos rebanhos atuais ou aqueles previstos em projetos de expansão ou ampliação.
Uma alternativa exequível e capaz de atender aos pressupostos quanto ao tipo de
ferramenta acima descrita é o balanço de nutrientes, no qual relaciona-se as quantidades de
nutrientes disponíveis para uso como fertilizantes do solo, com as quantidades de nutrientes
potencialmente consumidos pelos sistemas de culturas conduzidos na propriedade rural.
Primeiramente, determina-se as quantidades de nutrientes excretados pelos rebanhos partindo-
se de sua excreção média diária e, em seguida, aquelas potencialmente consumidas pelos
sistemas de culturas. A estimativa do consumo de nutrientes é feita a partir dos teores de
nutrientes do solo, os quais são conhecidos mediante a análise química do solo, e das demandas
de nutrientes das espécies que compõem o sistema, essas conhecidas através das recomendações
oficiais de adubação para a região onde se localiza a propriedade rural objeto de estudo.
O objetivo do trabalho foi a realização do balanço de nutrientes de uma propriedade
rural representativa da produção intensiva de suínos, aves e bovinos de corte do Oeste de SC,
partindo-se de uma metodologia simplificada que envolve a relação entre os nutrientes
excretados pelos rebanhos e as áreas agrícolas necessárias para seu uso como fertilizantes,
considerando as novas diretrizes de adubação para a região Sul do Brasil.
Como justificativa para o tipo de balanço de nutrientes proposto está o fato de que uma
ferramenta dessa natureza poderá prever e/ou identificar possíveis desequilíbrios na relação
entre as quantidades de nutrientes excretados pelos rebanhos e as áreas agrícolas disponíveis
para a sua reciclagem na condição de fertilizantes do solo. Além do baixo custo, exequibilidade
e confiabilidade, esse tipo de balanço de nutrientes poderá ser realizado em várias escalas
geográficas, podendo, inclusive, ser aplicado em cada uma das glebas de uma propriedade rural
com potencial de uso dos dejetos animais como fertilizantes do solo.

2 Referencial teórico

Nas pequenas propriedades rurais enquadradas como de agricultura familiar existentes


no Sul do Brasil, caracterizadas pela escassez de terras aptas para a agricultura mecanizada e a
crescente falta de mão-de-obra, uma importante alternativa para a geração de renda e a sua
inserção no agronegócio tem sido a produção intensiva de aves e suínos em sistemas confinados
e, mais recentemente, de bovinos de corte em sistemas de integração lavoura-pecuária.
Como características desses sistemas destacam-se o alto padrão zootécnico de bovinos,
aves e suínos e o alto padrão tecnológico quanto ao manejo dos rebanhos e sanidade animal,
além do uso de espécies de alto potencial genético nas culturas de grãos e pastagens
(FONTANELI et al., 2012; KRABBE et al., 2013; ABPA, 2018a; ABPA, 2018b).
Esses sistemas intensivos de produção animal facilitam a obtenção de altas
produtividades, o escalonamento da produção e a logística de transporte de animais e insumos
e também a distribuição dos produtos industrializados (KRABBE et al., 2013), porém, geram
preocupação quanto ao destino de suas dejeções (SANTA CATARINA, 2014). Embora estejam
sendo pesquisadas algumas alternativas de tratamento desses resíduos que possibilitam
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diminuir a dependência de áreas agrícolas para a sua reciclagem (MIELE et al., 2015) ou a
exportação dos nutrientes das propriedades, a forma de reciclagem predominante ainda é o uso
como fertilizantes do solo.
As principais motivações históricas para o uso dos dejetos animais como fertilizantes
do solo são a operacionalidade da prática, os subsídios para o transporte e a premissa de que
tais resíduos constituem-se uma fonte rica de nutrientes para as plantas e um substituto de baixo
custo para os fertilizantes formulados industriais (SEDIYAMA et al., 2000). Entretanto, tais
motivações e premissas tem merecido reavaliação, frente à mudança de cenário verificada
especialmente nas décadas de 2000 e 2010 (IBGE, 2018), destacando-se o aumento da escala
de produção, os custos do armazenamento e transporte dos dejetos para uso como fertilizantes
do solo (SEGANFREDO; GIROTTO, 2005) e, principalmente, o aumento dos relatos sobre os
impactos ambientais dessa prática (MALLARINO; BUNDY, 2008; FAO, 2009; SMITH;
SCHINDLER, 2009; SHARPLEY, 2011; SHARPLEY et al., 2012; SEGANFREDO, 2013;
WITHERS et al., 2014). A partir da ponderação desses fatores, os dejetos animais enquadram-
se simultaneamente como fonte de nutrientes e fator de risco ambiental, sendo necessário,
portanto, atenção quanto ao equilíbrio da relação entre a oferta de nutrientes via dejetos animais
e as áreas agrícolas necessárias para seu o uso como fertilizantes.
Uma alternativa exequível, de baixo grau de complexidade e baixo custo para se prever
possíveis desequilíbrios nessa relação é o balanço entre as quantidades de nutrientes excretados
pelos rebanhos e as áreas agrícolas disponíveis para tal finalidade. Esse balanço pode ser
realizado em várias escalas geográficas, podendo, inclusive, ser aplicado em cada uma das
glebas de uma propriedade rural com potencial de uso dos dejetos animais como fertilizantes
do solo (SEGANFREDO, 2003). Esse balanço mostra-se facilitado para o N e P para suínos e
frangos de corte, em função do acervo de dados sobre as taxas de excreção para essas classes
animais (CAPUTI et al., 2012). Mais recentemente, tornaram-se disponíveis alguns relatos
também sobre taxas de excreção também para bovinos de corte, principalmente para o N e P
(SILVA et al., 2015).

3 Procedimentos Metodológicos

A propriedade objeto de estudo localiza-se em Concórdia SC e caracteriza-se como


representativa do cenário das pequenas propriedades do Sul do Brasil, nas quais a principal
fonte de renda é a produção intensiva de aves e suínos em sistemas confinados e, mais
recentemente, de bovinos de corte em sistemas de integração lavoura-pecuária.
Para o balanço de nutrientes foi calculado o total de nutrientes excretados por todas as
espécies animais da propriedade, sendo as quantidades resultantes relacionadas com a demanda
de áreas agrícolas potencialmente aptas para seu uso como fertilizantes do solo, considerando
as novas diretrizes de adubação para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
(COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE SOLO SOLO RS/SC, 2016). A área total da
propriedade é de 16 ha, dos quais 4,1 ha são ocupados com culturas anuais, 5,2 ha com pastagem
naturalizada de grama missioneira gigante (Axonopus catharinensis Valls), 1,1 ha com
reflorestamento de eucaliptos (Eucalyptus sp.), 4,3 ha com floresta secundária
predominantemente da formação floresta estacional decidual (SANTA CATARINA, 1991) e o
restante com benfeitorias e outros usos agrícolas não produtivos. A distribuição das áreas na
propriedade, com as respectivas classes de uso da terra, encontram-se na Figura 1. Para o
conhecimento dos teores de nutrientes do solo, amostras de solo das principais áreas de lavoura
com uso dos dejetos como fertilizantes do solo, e da área com eucaliptos foram coletadas e
encaminhadas para análise num laboratório pertencente à Rede Oficial de Laboratórios de
Análise de Solos e de Tecidos Vegetais dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
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Os resultados da análise do solo das áreas de lavouras (Lav01 e Lav2) e da área de eucaliptos
(Euc01) usada como referência para solo sem uso de dejetos encontram-se na Tabela 1. Como
áreas agrícolas aptas para o uso dos dejetos como fertilizantes do solo foram consideradas as
áreas de lavouras e de pastagem naturalizada.

Tabela 1. Principais características químicas dos solos das áreas de lavouras e de eucaliptos
Características químicas dos solos
Área
pH Arg MO V P K Cu Zn Ca+Mg CTC
% mg (dm3)(-1) cmolc (dm3)(-1)
Eucaliptos 4,5 42 3,93 20,3 7,73 64,7 7,7 8,7 4,63 23,5
Lavouras - média 5,4 41 4,93 68,5 92,4 508 20 36 12,1 20
Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Figura 1. Distribuição das áreas da propriedade e respectivas classes de uso da terra.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

O rebanho suíno é constituído de 380 animais, com produção de 2,5 lotes por ano e
excreção média diária (EMD) por suíno de 30,4 g de N e 4,85 g de P (CAPUTI et al., 2012) e
9,7 g de K (SANTA CATARINA, 2014). O plantel avícola conta com 16.500 frangos de corte,
sendo produzidos 6 lotes por ano e a EMD considerada para o balanço de nutrientes foi de 1,31
g de N e 0,26 g de P (CAPUTI et al., 2012). Para a estimativa da EMD de K considerou-se dieta
contendo 0,79 % K, consumo de 4,8 kg ração (SOUZA et al., 2013) e taxa de excreção de 0,66
% (SOUZA et al., 2004), sendo o resultado 0,59 g dia-1 ave-1. O rebanho de bovinos de corte é
constituído de 24 vacas matrizes com peso vivo médio 450 kg mantidas na propriedade durante
todo o ano, e mais 24 bezerros mantidos até os 8 meses de idade quando atingem peso vivo
médio 200 kg e são comercializados. Durante a primavera-verão os bovinos permanecem na
pastagem naturalizada por aproximadamente 245 dias e durante o outono-inverno permanecem

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cerca de 120 dias na pastagem mista de aveia preta (Avena strigosa) e azevém anual (Lolium
multiflorum) semeados nas áreas cultivadas na primavera-verão com milho para grãos.
Para a pastagem naturalizada missioneira gigante, considerou-se produção de MS de 9,0
t ha concentrada num período de 245 dias durante a primavera-verão, suprindo 251 g dia-1 de
-1

N, 22 g dia-1 de P e 185 g dia-1 de K (HANISCH et al., 2016). Para a consorciação aveia +


azevém, considerou-se produção de MS de 5,6 t ha-1 contendo 2,26 % de N, 0,21 % de P e 1,59
% de K (SILVA et al., 2015), estimando-se um consumo de 249 g dia-1 para o N, 23 g dia-1 para
o P e 140 g dia-1 para o K, considerando-se consumo de MS de 11 kg dia-1 para cada UA. Em
ambos os períodos; outono-inverno e primavera-verão, os bovinos recebem a suplementação
de silagem na dose de 8,5 kg animal-1, além de sal mineral. A EMD de P e N das vacas matrizes
foi calculada usando-se as equações propostas por Prados et al., (2016), sendo os valores
resultantes para cada unidade animal (UA) 175 g dia-1 para o N e 18 g dia-1 para o P. Em função
da escassez de literatura sobre as quantidades de K excretadas por bovinos de corte, a EMD foi
estimada em 140 g dia-1 UA-1, considerando-se taxas de excreção de 80 % sobre a ingestão,
consumo de MS de 11 kg dia-1 UA-1 e concentração de K de 1,59 % na MS para pastagem mista
de aveia e azevém (SILVA et al., 2015).
A capacidade da propriedade de comportar em suas áreas agrícolas o N, P e K
excretados pelos seus rebanhos foi calculada considerando-se as recomendações de adubação
de Comissão de Química e Fertilidade do Solo RS/SC (2016) e três cenários de consumo de N,
P e K. Esses cenários de consumo de nutrientes foram previstos considerando altas
produtividades, tendo como objetivo o maior consumo possível de dejetos internamente na
propriedade e a diminuição de dependência de áreas de terceiros, que é uma das alternativas
estabelecidas em legislação para o destino dos dejetos animais quando a disponibilidade desses
excede a capacidade de uso na propriedade (SANTA CATARINA, 2014). Os cenários são os
seguintes: (i) O sistema vigente constituído de pastagem naturalizada com produtividade de 9,0
t ha-1 de MS concentrada na primavera-verão, uma cultura de milho para grãos durante a
primavera-verão com produtividade de 10,5 t ha-1 e um ciclo de pastagem mista de aveia preta
e azevém durante o outono-inverno com produtividade de 6,0 t ha-1 de MS; (ii) O sistema
alternativo 1, constituído de pastagem naturalizada com produção concentrada na primavera-
verão, uma cultura de milho para silagem com produtividade de 18 t ha-1 MS seguido de uma
cultura de milho para grãos durante a primavera-verão com produtividade de grãos estimada
em 8,0 t ha-1; (iii) O sistema alternativo 3, constituído de pastagem naturalizada com produção
concentrada na primavera-verão, e duas culturas de milho para silagem durante a primavera-
verão.

4 Resultados e Discussão

A soma dos nutrientes excretados pelos suínos, aves e bovinos de corte da propriedade
e sua relação com as áreas disponíveis para seu uso como fertilizantes do solo encontram-se na
Tabela 2.
Conforme a Tabela 2, no sistema vigente de integração lavoura pecuária com a cultura
de milho para grãos na primavera-verão, pastagens cultivadas no outono-inverno e pastagens
naturalizadas, a propriedade rural em estudo comporta apenas 18 % do N, 31% do P2O5 e 18,3
% do K2O excretados anualmente pelos animais da propriedade. Para a opção de gerenciamento
dos dejetos animais realizada em 2017, quando 85 % da cama de aviário foi exportada da
propriedade mediante a comercialização, e 50% dos dejetos líquidos suínos (DLS) foram
aplicados em áreas de terceiros legalmente averbadas para tal finalidade, houve um excedente
de 2.385 kg de N, 201 kg de P2O5 e 1.816 kg de K2O (Tabela 3).

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Para equilibrar a relação entre consumo e oferta de nutrientes com base no N, além não
usar os DLS na propriedade, seria necessário diminuir também o uso da cama de aviário de 15
% para 7,8 % do total produzido. Com isso não haveria sobras de N como o ocorrido em 2017,
porém, haveria falta de 705 kg de P2O5 e excedente de 837 kg de K2O. Essa alternativa
possibilitaria diminuir os excedentes de P do solo, porém, não seria suficiente para diminuir os
excedentes de K.

Tabela 2. Quantidades de N, P2O5 e K2O excretados pelos rebanhos e sua relação com as áreas disponíveis
para seu uso como fertilizantes do solo numa propriedade típica da produção animal intensiva do Oeste
de Santa Catarina.
Nutrientes
Rebanhos N P2O5 K 2O
kg ano-1 kg ano-1 kg ano-1
Frangos de corte 5.447 2.476 2.956
Suínos em terminação 3.985 1.456 1.532
Vacas matrizes na pastagem de inverno 504 119 486
Bezerros na pastagem de inverno 115 91 106
Vacas matrizes na pastagem naturalizada - verão 835 164 1.049
Bezerros na pastagem naturalizada - verão 104 90 111
Total de nutrientes excretados pelos rebanhos em 2017 10.990 4.395 6.240
Consumo de nutrientes pelas culturas no ano de 2017 1.983 1.362 1.145
Relação consumo/disponibilidade de nutrientes 2017 18,0 31,0 18,3
Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Tabela 3. Balanço de nutrientes para a opção de uso dos dejetos realizada em 2017, e alternativa de ajuste
das quantidades usando como referência o elemento crítico N
Nutrientes kg ano-1
Nutrientes oriundos dos dejetos e seu consumo
N P2O5 K2O
Total de nutrientes provenientes dos dejetos bovinos 1.558 464 1.751
Nutrientes provenientes do uso de 15 % camas aviário 817 371 443
Nutrientes provenientes do uso de 50% dos DLS 1.993 728 766
Total de nutrientes aplicados nas culturas em 2017 4.368 1.563 2.961
Consumo nutrientes estimado para culturas do ano 2017 1.983 1.362 1.145
Sobras de nutrientes em 2017 (aplicados - consumidos) 2.385 201 1.816
Ajustes oferta/consumo nutrientes 2017, com base no N
Nutrientes de dejetos bovinos + 7,8 % camas aviário 1.983 657 1.982
Balanço de nutrientes pelo consumo de 2017 ajustado 0 -705 837
Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Na Tabela 4 encontram-se duas alternativas de sistemas de culturas que possibilitariam


continuar usando parte da cama de aviário e parte dos DLS na propriedade, e ao mesmo tempo
reduzir os excedentes de P e K do solo. No uso alternativo 1, considerou-se que seriam mantidas
as culturas realizadas em 2017, acrescentada mais uma cultura de milho para silagem, e
diminuído o uso de DLS para apenas 12,8 % do total produzido. Assim, usando-se o mesmo
critério de equilibrar a oferta de nutrientes supridos via dejetos animais com a demanda de N
das culturas, haveria falta de 954 kg de P2O5 e 121 kg de K2O. Destaca-se, no entanto, que
apesar dessa falta de P e K, ao menos para o curto prazo não se espera prejuízos à produtividade
das culturas, tendo-se os altos teores de P e K do solo (Tabela 1). Como medida de precaução,
caso a decisão seja pelo uso alternativo 1, deverá ser monitorado o desenvolvimento das
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culturas e proceder à análise do solo periodicamente, pois isso possibilitará detectar eventuais
sintomas de deficiências de nutrientes nas culturas e identificar se os teores de P e K
permanecem acima dos teores críticos para as culturas utilizadas.

Tabela 4. Sistemas de culturas alternativos para a redução do desequilíbrio entre oferta e demanda de
nutrientes na propriedade, usando como referência o elemento crítico N
Nutrientes kg ano-1
Nutrientes oriundos dos dejetos e suas opções de uso
N P2O5 K2O
Uso alternativo 1
Total de nutrientes aplicados nas culturas em 2017 4.368 1.563 2.961
Consumo nutrientes estimado culturas de 2017 + milho silagem 2.688 1.903 2.436
Sobras de nutrientes para o uso alternativo 1 1.680 -340 525
Ajustes para o uso alternativo 1, com base no N
Nutrientes de dejetos bovinos + 15% camas + 7,85 % DLS 2.688 949 2.135
Balanço de nutrientes para o uso alternativo 1, após o ajuste 0 -954 -121
Uso alternativo 2
Consumo 2017, substituindo milho grãos por 2x.milho silagem 3.098 2.108 3.502
Sobras de nutrientes para o uso alternativo 2 1.270 -545 -541
Ajustes para uso alternativo 2, com base no N
Nutrientes dos dejetos bovinos + 15% camas + 18,1% DLS 3.098 1.099 2.472
Balanço de nutrientes para o uso alternativo 2, após o ajuste -0 -1.009 -1.030
Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Como segunda alternativa para diminuir a disparidade entre oferta e demanda de


nutrientes, ao invés de uma cultura de milho para grãos conforme o realizado em 2017 ou de
uma cultura de milho para grãos e uma cultura de milho para silagem conforme considerado no
uso alternativo 1, pode-se manter a pastagem naturalizada e a pastagem mista de aveia e azevém
no outono-inverno, acrescentando-se duas culturas de milho para silagem na primavera-verão.
Partindo-se do mesmo princípio de equilibrar a oferta de N suprida via dejetos animais com o
N consumido, o balanço de nutrientes indica que no uso alternativo 2 haveria falta de 1.009 kg
de P2O5 e de 1.030 kg de K2O (Tabela 3). Essa alternativa possibilitaria maior tempo de
ocupação do solo, fazendo com que além aumentar a proteção contra a erosão, fossem
diminuídos os excedentes tanto de P quanto de K do solo. Para evitar eventuais prejuízos à
produtividade das culturas, cabem as mesmas medidas de precaução descritas acima.
Essa situação de desbalanço de nutrientes confirma outros relatos sobre a desproporção
entre a oferta e o consumo de nutrientes pelas culturas quando do uso de dejetos animais como
fertilizantes do solo (SHARPLEY; JARVIE, 2012). Para ajustar esse desequilíbrio a alternativa
é aplicar os dejetos animais seguindo um plano de manejo de nutrientes, em que as doses de
dejetos sejam aplicadas com base do elemento que primeiro atender as demandas das culturas,
complementando-se o restante com fertilizantes industrializados formulados (SEGANFREDO,
2001). Tendo-se a dificuldade referida, tornam-se importantes algumas medidas para redução
das quantidades de nutrientes excretados via ajustes nas dietas animais, como por exemplo o
uso de enzimas fitases, formulação de dietas com base no conceito de proteína ideal e o uso de
prebióticos, probióticos, minerais quelatados, extratos de ervas, minerais orgânicos e outras
alternativas disponíveis para tal finalidade (LIMA et al., 2011; PESSOA et al., 2012; PENA et
al., 2013). Além do manejo das dietas, torna-se também importante a busca de sistemas de
manejo de dejetos que permitam a exportação de nutrientes para maiores distâncias como por
exemplo o uso de plataformas de compostagem (OLIVEIRA; HIGARASHI, 2006) e sistemas
de remoção de nutrientes dos dejetos que permitam o uso de maiores quantidades desses
resíduos na condição de fertilizantes do solo, ou a diminuição da dependência do uso do solo
como opção de reciclagem dos dejetos (MIELE et al., 2015).

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5 Conclusões

A metodologia utilizada mostrou-se uma ferramenta de uso simplificado e de baixo


custo, capaz de identificar desbalanços entre oferta e demanda de nutrientes, partindo-se da
relação entre quantidades de nutrientes excretados pelos rebanhos e áreas agrícolas aptas para
seu uso como fertilizantes do solo.

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Sistema tributário cooperativista e o Incentivo Fiscal à Inovação
Cooperative tax system and Fiscal Incentive to Innovation
Aziz Calzolaio1, Heitor Mendina2, Airton Donatti3, Deivid Forgiarini4
Resumo
O objetivo deste artigo é investigar a relação entre o regime tributário das cooperativas e o acesso ao Incentivo
Fiscal à Inovação. Para tanto, se realizou uma pesquisa de natureza qualitativa cujo método de investigação
selecionado foi o de estudo de caso único. Em tal estudo, a unidade de análise foi uma Central de Cooperativas
Agroindustriais brasileira, proprietária do maior parque industrial de leite em pó da América Latina. Como
resultado, inferiu-se que os dispositivos que normatizam o incentivo fiscal à inovação estão desarmonizados com
as regulamentações tributárias que regem as cooperativas. Tal incompatibilidade legal tem o feito prático de
restringir a capacidade que essas organizações possuem para apropriar-se dessa referida política. Com isso, sugere-
se um debate envolvendo diversos atores do sistema de inovação no qual as cooperativas estão envolvidas para
discutir a superação da referida limitação.
Palavras-chave – Cooperativismo. Incentivo Fiscal à Inovação. Tributação em cooperativas.

Abstract
The objective of the present paper is to investigate the relation between the tax regime of cooperatives and access
to TII was investigated. For a better understanding of this, a research of qualitative nature, whose investigation
method was the single case study, was performed, in which the analysis unit was a Brazilian Agroindustry
Cooperatives Center. Such has the largest industrial park of powdered milk in Latin America. As a result, it was
inferred that the policies that regiment the incentive for innovation confront the nature of cooperatives, restricting
the capacity of such organizations have in the appropriation of this policy. Hence, it is suggested a debate involving
the diverse actors in the innovation system, in which cooperatives are involved, to discuss the overcoming of that
restriction.
Keywords - Cooperativism. Tax incentive for innovation. Tax in cooperatives.

1 INTRODUÇÃO

As organizações cooperativistas são relevantes para a economia brasileira. Isso é observado


por meio de alguns dados, o país tinha 6,6 mil cooperativas, em 13 ramos econômicos diferentes
cujos associados eram mais de 13,2 milhões e número de empregados ficou torno de 376 mil
empregos diretos (OCB, 2017). Somento de cooperativas agropecárias havia 1.555 que eram
responsáveis por 40% do PIB de agronegócios brasileiro (OCB, 2014), ao mesmo tempo em que
congravam mais de 1 milhões de cooperados e geravam em torno de 189 mil empregos. Ademais,
as cooperativas brasileiras exportaram US$ 5,1 bilhões para 147 países em 2016 (OCERGS,
2017). Entretanto, apenas 4 cooperativas utilizaram o incentivo fiscal a inovação (IFI) em 2014.
O objetivo deste artigo é investigar a relação entre o regime tributário das cooperativas
e o acesso ao Incentivo Fiscal à Inovação (IFI). Essa política é pouco utilizada por essas
organizações. Este artigo analisa um estudo de caso sobre o aspecto tributário relacionado ao
acesso de uma Central de Cooperativas Agroindustriais no Estado do Rio Grande do Sul –
Brasil - ao IFI.
Cooperativas são associações autônomas de “pessoas que se unem voluntariamente para
satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma
empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida” (SCHENEIDER, 2010, p. 41).
Especificamente, cooperativas agropecuárias são aglutinações de produtores rurais ou

1 Dr. em economia - UFRGS/professor da ESCOOP e da UCS - aziz-calzolaio@sescooprs.br


2 Dr. em administração - Unisinos/professor ESCOOP – heitor-medina@sescooprs.coop.br
3 Gerente Tributário da Cooperativa Central Gaúcha Ltda - airton@ccgl.com.br
4 Doutorando em Administração - Unisinos/professor da ESCOOP – deivid-forgiarini@sescooprs.br

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agropastoris e de pesca cujos meios de produção da matéria-prima pertençam a eles
(BIALOSKORSKI, 2016).
O IFI foi reformulado através da Lei 11.196/05 (BRASIL, 2005). Posteriormente, foi
regulamentada pelo Decreto 5.798/06 (BRASIL, 2006). Ademais, a Instrução Normativa (IN)
nº 1.187/11, da Receita Federal do Brasil, o disciplinou (BRASIL, 2011). Para entendê-lo no
contexto tributário das cooperativas é preciso destacar que o sistema tributário das organizações
interfere na formatação da política fiscal de inovação (WARDA, 2005). Por isso este artigo
discute o regime de tributação que regula os pagamentos compulsórios de impostos federais
pelas cooperativas.
O IFI pode reduzir custos e aumentar a produtividade das cooperativas, resultando em
maiores recursos para elas investirem em projetos de maior conteúdo tecnológico, portanto,
mais modernos e inovadores. Além disso, pode beneficiar cooperativas, como as de energia e
do ramo de saúde, que rotineiramente realizam atividades de P&D. Por isso, a pergunta de
pesquisa é: quais aspectos legais precisam ser aperfeiçoados para que as cooperativas ampliem
seu acesso ao IFI? Tal discussão está organizada da seguinte forma: Além desta seção, a literatura
sobre aspectos tributário das cooperativas é apresentada na seção 2. Na sequência, na seção 3,
apresenta-se a metodologia. Posteriormente, os dados são analisados na seção 4. Por fim, as
conclusões estão na seção 5.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Até a década de 2000 as cooperativas brasileiras utilizavam poucos incentivos fiscais.


Estes eram absorvidos, na sua maioria, pelas grandes empresas capitalistas, as quais têm
facilidades para angariar recursos públicos (TRIGUERO-CANO; CUERVA NARRO, 2011).
Tal tendência de maior apoio fiscal às grandes corporações, em detrimento das cooperativas, é
verificado ao constatar-se que apenas 4 cooperativas utilizaram o IFI em 2014 frente as 1.206
organizações capitalista brasileiras que acessaram tal benefício.
O risco de uma inovação resultar em insucesso faz com que exista a probabilidade de
se ter prejuízos associados a ela (NELSON, 2006; BOWERS; KHORAKIAN, 2014). Além
disso, mesmo com o sucesso, suas funcionalidades podem diferir da desejada inicial, tendo ela,
portanto, um certo grau de imprevisibilidade. Ademais, o tempo aplicado no desenvolvimento
de um produto é longo, acima do convencionado para se ter um retorno de um projeto.
(NELSON, 2006; FREEMAN; SOETE, 2008). Outrossim, o custo de um projeto de inovação
é alto (ROSENBERG, 2006). Tudo isso se constitui como barreira à inovação cuja superação é
buscada pela política de inovação. Assim, os incentivos públicos, dentre eles o tributário, são
voltados a compensar os riscos e incertezas da atividade de inovação (FREEMAN; SOETE,
2008).
Em 2005 foi introduzido o novo modelo brasileiro de incentivo fiscal à inovação, através
da lei 11.196 (BRASIL, 2005). Este benefício é passível de ser utilizado por empresas que
realizem gastos com P&D, contratação de pesquisadores e registro de patentes ou cultivares.
Assim, dispêndios com atividades inovativas realizados dentro da própria empresa, em
parcerias com universidades ou efetivados junto a Microempresa e Empresa de Pequeno Porte
e consultores independentes podem ser utilizados para fins de angariar-se o IFI.
A IN nº 1.187/2011 regulamenta aspectos relacionados à utilização dos incentivos
fiscais à inovação, definido como a concepção de novo produto ou processo de fabricação, bem
como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que
implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando em
maior competitividade no mercado (BRASIL, 2011). Dessa forma, os dispêndios com inovação
realizados no período de apuração fiscal com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de

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inovação tecnológica podem ser deduzidos da base tributária do Imposto de Renda da Pessoa
Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) (BRASIL, 2011).
Os gastos passíveis de deduções fiscais referem-se a todos relacionados às atividades
listadas no Quadro 1. Além disso, também é considerado: a) a exames laboratoriais e testes; b)
ao pagamento de salários, encargos sociais/trabalhistas e capacitação técnica do pessoal
envolvido exclusivamente ou parcialmente em projeto de P&D; c) ao registro e manutenção de
marcas, patentes e cultivares, ainda que pagos no exterior; d) à assistência técnica e científica;
e) ao pagamento de royalties devido ao uso de patentes industriais cuja propriedade seja pessoa
física ou jurídica residente no exterior.

Quadro 1 – definições realizadas pela IN 1.187/2011


trabalhos executados com o objetivo de adquirir conhecimentos quanto
pesquisa básica
à compreensão de novos fenômenos, com vistas ao desenvolvimento de
dirigida
produtos, processos ou sistemas inovadores
trabalhos executados com o objetivo de adquirir novos conhecimentos,
pesquisa aplicada com vistas ao desenvolvimento ou aprimoramento de produtos, processos e
sistemas
trabalhos sistemáticos delineados a partir de conhecimentos pré-
existentes, visando a comprovação ou demonstração da viabilidade técnica ou
desenvolvimento funcional de novos produtos, processos, sistemas e serviços ou, ainda, um
experimental evidente aperfeiçoamento dos já produzidos ou estabelecidos

aquelas tais como a aferição e calibração de máquinas e equipamentos,


o projeto e a confecção de instrumentos de medida específicos, a certificação
tecnologia de conformidade, inclusive os ensaios correspondentes, a normalização ou a
industrial básica
documentação técnica gerada e o patenteamento do produto ou processo
desenvolvido
aqueles que sejam indispensáveis à implantação e à manutenção das
instalações ou dos equipamentos destinados, exclusivamente, à execução de
serviços de apoio
projetos de pesquisa, desenvolvimento ou inovação tecnológica, bem como à
técnico capacitação dos recursos humanos a eles dedicados

Fonte: elaboração própria.

A operacionalização dos IFI arrolados na Lei 11.196/05 ocorre através da exclusão da


base de cálculo, tanto do IRPJ quanto da CSLL, do valor correspondente à 60% dos dispêndios
com P&D. Esse percentual pode ser aumentado de duas maneiras: i) será acrescido de mais
20% ou 10% no caso da organização ter ampliado, respectivamente, até 5% ou acima de 5%,
a média do número de pesquisadores com dedicação exclusiva à P&D no ano-base de utilização
do benefício frente ao anterior; ii) ampliado em mais 20% caso a organização tenha recebido
a concessão de alguma marca, patente, ou registro de cultivares.
A pessoa jurídica poderá usufruir - no próprio ano da aquisição - de depreciação
acelerada integral das máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos adquiridos para serem
utilizados nas atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica.
Isso diminui o lucro líquido no ano da compra desses bens tangíveis, impactando na diminuição
do IRPJ e da CSLL. Da mesma forma, essa aceleração pode ser aplicada aos dispêndios
relativos à aquisição de bens intangíveis.
O IFI permitem que os atos de registro e de manutenção de marcas, patentes e cultivares,
realizados no exterior, e que são viabilizados com recursos financeiros enviados do Brasil,
deixem de serem tributados com relação ao IRPJ incidente nesse tipo de operação. Além disso,
é passível obter de 50% de redução do Imposto sobre Produto Industrializado cujo bem
adquirido se destine à realização de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação
tecnológica.

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2.1 COOPERATIVISMO E TRIBUTAÇÃO

No cooperativismo os trabalhadores exercem o associativismo de maneira livre e que resulte


em ajuda mútua. Nesse processo eles coordenam a organização de recursos econômicos de forma
coletiva e solucionam dificuldades impossíveis de serem resolvidas individualmente. Nessa forma
de organização econômica a propriedade é coletiva, visto que todos os cooperados são donos dos
meios de produção e podem inferir - ou interferir - diretamente no destino do empreendimento
(DAVIS; BIALOSKORSKI NETO, 2010).
A Lei 5.764 de 16 de dezembro de 1971 define a Política Nacional de Cooperativismo
e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas no Brasil. Segundo essa
regulamentação, as cooperativas são de propriedade de seus associados e servem para prestarem
serviços que melhorem as condições deles. Os atos das cooperativas referentes as transações
entre cooperados e a cooperativas são operações de trocas que deslocam bens e serviços entre
os associados. Este sendo dono da cooperativa, realiza transações dentro da sua própria empresa
que, assim, não são consideradas de mercado.
Os atos celebrados entre os associados e a cooperativa, na busca de um proveito comum,
auxilia o desenvolvimento da atividade econômica sem objetivar o lucro e, por isso, são
chamados de Ato Cooperativo (AC). Este refere-se às operações tanto entre a cooperativa e
seus associados, ou vice-versa, como entre as cooperativas reunidas em uma única organização
comum (BRASIL, 1971). Enquanto ato não cooperado (ANC) ocorre, no caso particular das
agropecuárias, no instante que as cooperativas realizam transações com não associados com
intuito de complementar a escala de produção industrial; ou quando ofertam bens e serviços
para não associados (BRASIL, 1971). Como apenas o ANC é fonte de transação de mercado
com geração de lucro, então, somente ele sofre incidência do IRPJ e CSLL.
O Parecer Normativo do Coordenador do Sistema de Tributação nº 73 (BRASIL, 1975)
aponta que as Sociedades Cooperativas devem contabilizar as receitas e os custos em dois
grupos separados, ou nos registros relacionados aos atos cooperados e ou aos atos não
cooperados. Além do mais, os custos e encargos indiretos cuja segregação numa dessas duas
espécies é impossível de ser feita diretamente, são arbitrariamente vinculados a uma delas.
Nesse caso, os custos em encargos são separados em proporções equivalentes ao peso que cada
ato tem nos registros contábeis.
A segregação dos resultados das cooperativas em atos cooperados e não cooperados
interfere no efeito que o IFI tem sobre a economia de imposto dessas organizações. Na tabela
1 há um exemplo hipotético de um gasto de $1.000 com P&D realizado por uma cooperativa.
Supondo que tais dispêndios sejam legalmente dedutíveis de acordo com IFI, 80%, ou seja,
$800 poderiam ser deduzidos da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Todavia, somente no caso
das cooperativas, precisa-se segregar tais gastos em Ato Cooperativo e Ato não Cooperativo.
A partir disso, apenas o valor dos gastos com P&D vinculado a este último ato pode ser
deduzido. Por exemplo, se o ANC é de 30%, apenas $300 poderiam ser deduzidos. Enquanto
em um outro tipo de firma, poder-se-ia aproveitar os $800 integralmente para fins de incentivo
tributário. Portanto há um fator redutor da participação no IFI.

Tabela 1 - Redução dos benefícios fiscais relacionados aos Atos Cooperativos


Dispêndio com P&D $ 1.000
Valor dedutível demais tipos de firmas (80%) 800
Valor dedutível cooperativa P&D $ – apenas
o percentual referente ao Ato não Cooperado = 30% 800*(0,3) = 240
Elaborada pelos autores

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este artigo se caracteriza como uma pesquisa de natureza qualitativa cujo método de
investigação selecionado foi o de estudo de caso único. O caso escolhido forneçe as informações
suficientes compreender em profundidado o fenômeno pesquisado, sendo suficiente no sentido
apontado por (Eisenhardt, 1989). A unidade de análise escolhida neste estudo de caso foi uma
Central de Cooperativas Agroindustriais no estado do Rio Grande do Sul – Brasil. Tal
unidade atende os requisitos necessários do método utilizado porque congrega um conjunto
de 30 cooperativas agroindustriais e possui fábricas de produtos lácteos cuja capacidade de
processamento é de 2,2 milhões de litros de leite por dia. Sendo assim, é considerado o maior
parque industrial de leite em pó da América Latina. Além disso, tal organização aloja um
departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) cuja pesquisa é transmitida para ser
aplicada nas cooperativas atreladas à Central. Em 2018, a Central possuía 617 colaboradores
diretos e abrangia mais de 170 mil produtores rurais associados fornecedores de matéria-prima
à indústria da Central, estando localizados em 350 municípios.
Com relação aos instrumentos de pesquisa utilizados para consultas de dados
secundários da unidade de análise, se destaca, entre outros, o Relatório Anual de Utilização
de Incentivos Fiscais 2014, o último publicado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT). Nele se registrou que apenas 4 organizações cooperativas dos mais variados ramos
acessaram tal política no Brasil. Dentre essas, a unidade estudada. Ainda, compôs o rol de
dados secundários: o balancete da unidade de pesquisa, o projeto de P&D da central, o centro
de custos atinentes às despesas com atividades de inovação e as planilhas referentes aos cálculos
tributários do incentivo fiscal. Além disso, foram consultadas as legislações pertinentes ao IFI
da República Federativa do Brasil. Sobre todos esses documentos aplicaram-se as orientações
sugeridas por Yin (2010) com relação à revisão de estabilidade (verificação de documentos por
diversas vezes) e verificação de exatidão (informações detalhadas e exatas dos eventos
pesquisados).
No que tange ao instrumento de coleta de dados primários, esse foi submetido à
avaliação de professores doutores e especialistas de denotado saber em suas áreas. Os
profissionais que especionaram o instrumento de pesquisa foram um auditor da Receita
Estadual do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, um professor doutor em cooperativismo, uma
contadora especialista em cooperativas e um advogado tributarista. Nesse sentido, se seguiu a
recomendação de Bradburn, Sudman e Wansink (2004) e Seidman (2006), os quais aconselham
submeter o instrumento de pesquisa à avaliação de especialistas para a análise de conteúdo.
Assim, a fase exploratória de coleta de dados envolveu entrevistas semiestruturadas
em profundidade com os envolvidos na gestão da Central. Para tanto, foram executadas
entrevistas com os seguintes gestores: gerente tributário, gerente jurídico, diretor da unidade
de pesquisa, gestor da indústria de beneficiamento e gestor do setor de compras. Além do
que, foi realizada a observação neutra em diferentes contatos informais, conforme orienta Yin
(2010). Por fim, os dados coletados nas entrevistas passaram por verificação da sua aderência
em relação ao observado no referencial teórico Bardin (2011). Além disso, efetuou-se a
triangulação de dados para análise e a apresentação dos resultados da pesquisa, seguindo a
sugestão de Yin (2010).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em 2018, o departamento de P&D da unidade de análise desenvolvia 5 linhas de


pesquisas com orçamentos já aprovados. O campo científico de cada uma delas era:
entomologia, fitopatologia, fertilidade de solo, melhoramento de espécies forrageiras, plantas
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daninhas. Toda essa pesquisa é relevante porque seu resultado é disseminado entre diversas
cooperativas associadas que, por sua vez, o replicam em milhares de propriedades de seus
cooperados. Além disso, a escolha da linha de pesquisa da Central é decidida de acordo com as
necessidades tecnológicas das cooperativas associadas, portanto, é diretamente fundamentada
nas necessidades de soluções de problemas técnicos dos produtores rurais.
As pesquisas da Central começaram a alguns anos atrás e em 2015 o dispêndio com elas
foi de R$ 2,02 milhões. Todavia, diferentemente de outras organizações que aproveitariam até
80% deste valor para fins do IFI, a cooperativa tem um limitador que a dificulta usufruir dos
beneficios oferecidos pela legislação do IFI. Tal fator dificultador está relacionado à estrutura
tributária dessas organizações econômicas no que diz respeito ao AC e ANC. Pois a segregação
das transações numa destas duas formas interfere no efeito que o IFI tem sobre a economia de
imposto das cooperativas, funcionando como um fator redutor da economia de tributo. Na
prática, a cooperativa abate apenas parte do valor permitido com seus gastos de P&D, ao reduzi-
los na mesma proporção que o ANC representa nas operações dessa organização. Assim, ela
deixa de utilizar o valor integral dos dispêndios com atividades inovativa, conforme ilustrado
na tabela 2.

Tabela 2 - Cooperativa e Incentivo Fiscal à Inovação: resultado tributário


dispêndio com P&D $ 1.000
valor dedutível - demais tipos de firmas (80%) $ 800
Valor dedutível cooperativa P&D (redutor) $ 800*(% ANC)
com redutor sem redutor
Lucro líquido/Sobra geral 5000 5000 5000 5000
% Ato não coop. 0,20 0,80 0,20 0,80
Lucro líquido 1000 4000 1000 4000
Dispêndios c/ inovação 160 640 800 800
base tributária 840 3360 200 3200
IRPJ - 15% 126 504 30 480
IRPJ Adic. - 10% 84 336 20 320
CSLL - 9% 75,6 302,4 18 288
Imposto a pagar 285,6 1142,4 68 1088
Diferença na econômica de imposto = (imposto com redutor) - (imposto sem redutor)
Ato Não Cooperado. 0,20 0,80
Diferença 217,6 54,4
varição % -76% -5%
Fonte: elaboração própria

No exemplo hipotético da tabela 2, o mesmo valor gasto em P&D tecnológico resultaria


em diferentes economias de imposto para a cooperativa, conforme o percentual de AC e ANC.
Para tornar a ilustração mais ampla, utilizou-se duas hipóteses de participação de atos não
cooperados, uma de 20% e a outra de 80%. Aquela aproxima-se mais da realidade do setor
agropecuário e esta do setor da saúde, considerando o caso brasileiro. Ainda, chama-se redutor
dos gastos o resultado da multiplicação do ANC pelo valor gasto com P&D. Verifica-se que
com o fator redutor, a cooperativa paga 76% ou 5% a mais de imposto, respectivamente, ao
ANC de 20% e 80% comparada com outros tipos de organização que realizarem o mesmo gasto
com P&D. Entretanto, se a cooperativa for altamente inovativa, mas sem prática de ANC, então,
ela estaria tecnicamente excluída de angariar o IFI, mesmo cumprindo todos os requisitos
exigidos nas regulamentações dessa política. Isso abre um debate que possivelmente gerará
posições diversas, dado duas possibilidades de interpretação.

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A primeira é registrar contabilmente a interpretação pura da tributária. Nesse caso, as
regulamentações tributárias pertinentes ordenam a vinculação do total de dispêndio das
cooperativas a um dos respectivos atos, cooperados e não cooperados. Consequentemente, os
dispêndios com inovação atrelados arbitrariamente ao AC deixariam de ser utilizados para fins
de dedução do lucro líquido e, assim, cumprir-se-ia as normas tributária e contábeis. Logo,
excluir-se-ia parte do benefício fiscal em questão, caso da Central analisada. Todavia, para tal
tratamento deve-se desconsiderar variáveis econômicas relevantes que fundamentam a política
de inovação do país.
A segunda possibilidade de interpretar o fator redutor da economia de tributo é
ressaltando o papel que a política de inovação possui mediante o cenário das organizações, de
acordo com a abordagem de Schumpeter (1982). As atividades de inovação são consideradas
arriscadas e incertas, pois a inovação final esperada pode não ocorrer. Assim, o investimento
nelas pode resultar em fracasso e prejuízo financeiro (BOWERS; KHORAKIAN, 2014;
FREEMAN; SOETE, 2008; NELSON, 2006; ROSENBERG, 2006). Além disso, o empresário
tem pouca disponibilidade para esperar o prazo necessário para obter o retorno de um projeto
de inovação. Com todas essas limitações, adicionando ao fato de que a inovação é
imprescindível para o desenvolvimento da nação, o governo cria medidas de incentivo a ela,
dentre as quais o IFI.
Do ponto de vista do objetivo da política de inovação, utilizar integralmente os gastos
com P&D, sem o fator redutor da economia de tributo, leva a cabo a própria motivação do
governo, qual seja, incentivar a inovação. Essa dedução completa dos dispêndios é feita por
qualquer organização que se enquadra nos critérios estabelecidos para acessar o IFI, com
exceção das cooperativas, impedidas de fazê-la na ausência de ANC. Dito isso, se a cooperativa
é engajada no desenvolvimento de P&D tecnológico, e até de novos produtos e serviços,
impedi-la de usufruir das deduções de forma integral, usufruídas pelas demais organizações,
seria uma forma de discriminação e, portanto, de cerceamento de direito.
Ao aplicar a normativa contábil e tributária ao mesmo tempo em que se desconsidera as
abordagens econômicas, cooperativas altamente inovadoras, mas sem ANC, ficariam sem
nenhum incentivo relacionado à inovação, mesmo que contribuam para elevar a taxa de
inovação do país. Neste caso, a política está sendo uma tautologia para medir o quanto se tem
de ato cooperado e não cooperado, o que não guarda nenhuma relação com o cerne que motiva
o incentivo do governo, a potencialização da inovação.
Caso haja uma concordância com a visão econômica, então, 100% dos gastos com
inovação deveriam ser deduzidos da base de cálculo dos impostos. Todavia, isso criaria uma
exceção para tais tipos de dispêndios do ponto de vista da legislação tributária e contábil para
cooperativas. Assim, sugere-se que isso seja pauta de uma discussão entre os diversos atores e
especialistas em questões técnico-inovativas, jurídicas e políticas do universo cooperativista.
Além disso, superar a simples escolha de seguir o purismo numérico da regra tributária, levará
a um debate sobre a importância da inovação no meio cooperativista.
Com relação aos achados da pesquisa, se identificou conhecimentos que ampliam o
entendimento sobre a relação de uma Central Cooperativa com a política de inovação. Nesse
sentido, é pertinente criar uma harmonização entre as regras tributárias e o papel da inovação
para garantir que as cooperativas usufruam de maneira mais eficiente os IFI. Portanto, é preciso
um debate envolvendo diversos atores do sistema de inovação no qual as cooperativas estão
envolvidas para que, assim, se analise o fator redutor da economia de tributo das cooperativas
no que tange ao benefício fiscal à inovação. Nesse sentido, é preciso amadurecer o debate que
levará a decisão de simplesmente se optar pelo regramento contábil puro, ou entender que os
motivos econômicos justificam que as despesas com inovação das cooperativas possam ser
integralmente deduzidas.

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5 CONCLUSÕES

A tecnologia gerada pelo Central estudada apoia a produção de centenas de pequenos


produtores, o que auxilia a potencializar a renda daqueles cooperados. Sem a P&D da Central,
que consegue disseminar o conhecimento nela gerado para as cooperativas associadas sem ônus
para essas, o acesso à tecnologia teria que ocorrer através do mercado. Neste, o preço das
inovações é muito alto para essas organizações. Da mesma forma, é possível que as demais
cooperativas singulares, em especial as que realizam P&D, também possuam um papel
importante na disseminação de tecnologia para o sistema produtivo rural. Dessa forma, existe
uma contribuição, que ainda precisa ser medida, do sistema cooperativista no aperfeiçoamento
do Sistema de Inovação Regional e Nacional.
Dado a importância das cooperativas no setor rural brasileiro, tais organizações
começam a invocar a política de inovação para ampliar sua produtividade, rentabilidade,
participação no mercado e formação de vantagens competitivas. Entretanto, existem barreiras
que restringem o acesso delas às políticas, de forma que este trabalho iniciou a identificação e
discussão de tais obstáculos. Evidencia-se, ainda, que existe um desajuste entre as legislações
que regulamentam a política de inovação e as que normatizam o universo das cooperativas no
Brasil. Visto que aquelas foram elaboradas sem considerarem as especificidades destas. Com
isso, os dispositivos que normatizam o incentivo a inovação confrontam com a natureza das
cooperativas, diminuindo a capacidade que essas organizações possuem para apropriar-se do
benefício à inovação, como no caso do IFI.
A restrição na utilização do IFI pelas cooperativas impede que elas utilizem o benefício
fiscal de forma integral, tal qual as demais organizações. A não tributação do IRPJ e da CSLL,
usufruído pelos AC das cooperativas, foram concedidos a elas devido à natureza especial de
suas operações. Nesse caso, a cooperativa está submetida as regras particulares, não atribuídas
as demais organizações, referentes a destinação de seus resultados econômicos. Na firma
capitalista as destinações de lucros não são regradas como o é no caso da pró rata das
cooperativistas. Estas precisam, por força da lei, utilizar parte de seu lucro para constituir o
Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social, por exemplo. Assim, o efeito fiscal
diferenciado endereçado às cooperativas é desfeito quando os outros tipos de organizações
angariam, proporcionalmente, maior benefício advindo do IFI do que as cooperativas.
Em síntese, a legislação do IFI se confronta com as regulamentações específicas,
tributária e contábeis, que regem o cooperativismo. Dessa maneira, as cooperativas, ao
cumprirem suas legislações, ficam tecnicamente impedidas de exercer seu direito de receber
integralmente os benefícios fiscais à inovação. Portanto, é importante promover um debate
envolvendo diversos atores, tais como o governo e as entidades do sistema cooperativista, para
buscar uma solução para o problema dos fatores restritivos imputados às cooperativas no acesso
ao IFI.
A pesquisa permitiu compreender as principais dificuldades de uma Central Cooperativa
acessar O IFI. Desta forma, o objetivo deste artigo de investigar a relação entre o regime
tributário das cooperativas e o acesso ao Incentivo Fiscal à Inovação (IFI) foi atingido, visto
que foi apontada os aspectos da regulamentação tributária que limitam o acesso das
cooperativas ao IFI. Dessa forma, sendo a política de inovação um dos fatores propulsionadores
do desenvolvimento das nações, cabe o governo repensar a forma como as cooperativas
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brasileiras têm sido tratadas ao buscar o IFI. Este, ao ser concedido de forma reduzida para as
cooperativas, enfraquece o motivo pelo qual o Estado criou tal benefício.

REFERÊNCIAS

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