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VOLUME II

IX CONGRESSO BRASILEIRO
DE GEOSSINTÉTICOS

AUDITÓRIO ZÉLIA GATTAI


CENTRO UNIVERSITÁRIO
JORGE AMADO – UNIJORGE
CAMPUS PARALELA
SALVADOR/ BA

18 A 21 | JULHO | 2023
Realização Apoio
REALIZAÇÃO

APOIO

SECRETARIA EXECUTIVA

Ficha catalográfica - Biblioteca Central Julieta Carteado - UEFS

Congresso Brasileiro de Geossintéticos (9: 2023: Salvador, Bahia)


C759a Anais do IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos, 18 a 21 de
julho de 2023 [recurso eletrônico] / Organização: Maria do Socorro
Costa São Mateus, Hélio Machado Baptista, Luciene de Moraes Eirado
Lima.- Salvador: ABMS, 2023.
v. 2.: il.

Tema: Geotecnia ambiental e Geossintéticos: garantia de um futuro


com qualidade!
ISBN:
Formato PDF
Disponível em:

1. Geossintéticos. I. São Mateus, Maria do Socorro Costa, org. II.


Baptista, Hélio Machado, org. III. Lima, Luciene de Moraes Eirado, org.
IV. Título.

CDU: 551.24

Rejane Maria Rosa Ribeiro – Bibliotecária CRB-5/695


PATROCINADORES

COTA OURO:
COTA PRATA:

COTA BRONZE:
COMISSÃO ORGANIZADORA

Presidente da ABMS: Presidente da IGS Brasil:


Roberto Quental Coutinho. Victor Pimentel.

Comitê Gestor:
Hélio Machado Baptista, Luciene de Moraes Eirado Lima e Maria do Socorro Costa São Mateus.

Coordenação Científica:
Luís Edmundo Prado de Campos, Maria do Socorro Costa São Mateus e Miriam Carvalho
Machado.

Coordenação de Programação:
Ana Cristina Sieira, André Luís Brasil Cavalcante, Fagner Alexandre Nunes de França, Gregório
Luís Silva Araújo, Hélio Machado Baptista.

Financeiro:
Ronaldo Ramos de Oliveira.

Divulgação e Marketing:
Luciene de Moraes Eirado Lima, Ronaldo Ramos de Oliveira e Vital Matos Batista.

Comercial:
Ronaldo Ramos de Oliveira e Victor Pimentel.

Comissão de organização:
Evelin Marques de Oliveira, Gregório Luís Silva Araújo, Luciene de Moraes Eirado Lima e Luiz
Cotias Simões.
AVALIADORES DO REGEO & GEOSSINTÉTICOS 2023

Alberto Pio Fiori - UFPR Leandro Gomes da Anunciação - ANM


Ana Elisa Silva de Abreu - UNICAMP Luciene de Moraes Eirado Lima - UFBa
Ana Ghislane Henriques Pereira Van Elk - UERJ Lucio Flávio de Souza Villar - UFMG
André Luís Brasil Cavalcante - UnB Luis Edmundo Prado de Campos - UFBA/LEPC
Anna Silvia Palcheco Peixoto - UNESP Marcelo Ribeiro Barison - UNIFAL
Carlos Alberto Lauro Vargas - UFG Marcia Maria dos Anjos Mascarenha - UFG
Carlos Rezende Cardoso Júnior - GEOTEC Marcos Massao Futai - EP-USP
Carlos Wilfredo Carrillo Delgado - Envgeo Marcus Vinicius Ribeiro e Souza - UFT
Caroline Dias Amancio de Lima - UFBa Maria Claudia Barbosa - UFRJ
Cassio Carmo - Huesker Maria do Socorro Costa São Mateus - UEFS
Cátia de Paula Martins - UFJF Mario Sergio de Souza Almeida - UFRB/DNIT
Delma de Mattos Vidal - ITA Mário Vicente Riccio Filho - UFJF
Denise Balestrero Menezes - UFSCar Michael Maedo - UFU
Denise de Carvalho Urashima - CEFET/MG Miriam F. Carvalho Machado - UFBA
Eduardo Pavan Korf - UFFS Natália de Souza Correia - UFSCAR
Elisabeth Ritter - UERJ Newton Moreira de Souza - UnB
Erinaldo Hilário Cavalcante - UFS Orencio Monje Vilar - EESC-USP
Fabricio Nascimento de Macêdo - UEFS/UNIFACS Paulo César Burgos - UFBA
Fagner Alexandre Nunes de França - UFRN Paulo Gustavo Cavalcante Lins - UFBA
Fernando Henrique Martins Portelinha - UFSCAR Paulo José Rocha de Albuquerque - UNICAMP
Gabriel Orquizas Mattielo Pedroso - UNESP Paulo Márcio Fernandes Viana - UEG/PUC-GO
Gilson de Faria Neves Gitirana Júnior - UFG Paulo Scarano Hemsi - ITA
Giulliana Mondelli - UNESP Rafaela Faciola de Coelho Souza - DEC-UFAL
Gregório Luís Silva Araújo - UnB Raimundo Leidimar Bezerra - UEPB
Gustavo Alonso Muñoz Magna - Universidade Austral - Raquel Souza Teixeira - UEL
Chile Regis Eduardo Geroto - Arteris
Gustavo Ferreira Simões - UFMG Riseuda Pereira de Sousa - UEFS
Helio Machado Baptista - Engveo Roberto Aguiar dos Santos - UFV
Heraldo Luiz Giacheti - UNESP Roger Augusto Rodrigues - UNESP-Bauru
Heraldo Nunes Pitanga - UFV/UFJF Rogerio Pinto Ribeiro - EESC-USP
Jean Lucas dos Passos Belo - STATUM Geotecnia Ronaldo Luis dos Santos Izzo - UTFPR
Jefferson Lins da Silva - EESC-USP Ronaldo Ramos de Oliveira - Maccaferri
João Carlos Baptista Jorge - UEFS/UFBa Sandro Lemos Machado - UFBA
José Antonio Schiavon - ITA Sílvio Romero de Melo Ferreira - UFPE
José Camapum de Carvalho - UnB Simone Cristina de Jesus - UFTM
José Fernando Thomé Jucá - UFPE Thelma Sumie Maggi M. Kamiji - FRAL
José Roberto Fernandes Galindo - UFRB Valéria Guimarães Silvestre Rodrigues - USP
Kátia Vanessa Bicalho - UFES Waldyr Lopes de Oliveira Filho - UFOP
Lázaro Valentin Zuquette - EESC-USP Weiner Gustavo - UFRB
PREFÁCIO

O X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental e IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos –


REGEO/GEOSSINTÉTICOS 2023 – acontecem em Salvador-Ba, no Centro Universitário Jorge
Amado – UNIJORGE (Campus Paralela), entre 18 e 21 de julho de 2023. São eventos
promovidos de forma conjunta, desde 2003 a cada quatro anos. Após a edição de 2019, que foi
sediada na EESC-USP em São Carlos-SP, a edição de 2023 traz como tema central “Geotecnia
Ambiental e Geossintéticos: garantia de um futuro com qualidade!”, e apresenta a visão da
Engenharia Geotécnica quanto à aplicação de práticas conscientes e mais sustentáveis, sem
perder de vista a segurança e a economia, tendo como referência os resultados de pesquisas e
de experiências práticas acumuladas ao longo desses anos. Ao reunir diversos profissionais,
universidades e empresas com diferentes experiências, trazem soluções e superam os desafios
da Geotecnia Ambiental e do uso de Geossintéticos e, sem dúvida, é uma oportunidade única,
que conta com a participação de profissionais das diversas áreas da Geotecnia como: Mecânica
dos Solos, Mecânica das Rochas, Mecânica dos Pavimentos, Fundações, Barragens, Escavações,
Túneis, Mineração, Geossintéticos, Geotecnia Ambiental, Aterros Sanitários, Geomecânica do
Petróleo, entre outras. O REGEO/GEOSSINTÉTICOS 2023 é uma promoção da ABMS –
Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica e da IGS/Brasil
(Associação Brasileira de Geossintéticos), sob a organização do Núcleo Regional da Bahia da
ABMS, com o apoio da UNIJORGE.

A Comissão Organizadora e a Comissão Científica do REGEO/GEOSSINTÉTICOS 2023 agradecem


o apoio de todos que trabalharam para a realização do evento, aos palestrantes e autores dos
trabalhos que trouxeram as suas contribuições e avanços, aos revisores que dedicaram parte
do seu tempo para avaliarem os trabalhos e aos Patrocinadores/parceiros pelo apoio financeiro
e por trazerem as suas inovações.

Salvador-Ba, 18 de julho de 2023.

Hélio Machado Baptista (Envgeo Engenharia), Luciene de Moraes Eirado Lima (UFBA) e Maria
do Socorro C. São Mateus (UEFS)

Comitê Gestor
IX CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOSSINTÉTICOS

SUMÁRIO
TEMA 1: CASOS HISTÓRICOS E DE OBRAS / CONTROLE DE QUALIDADE DE GEOSSINTÉTICOS: 1
FABRICAÇÃO, RECEBIMENTO E INSTALAÇÃO
Estabilização de Encosta da Formação Barreiras com solo Reforçado e Técnicas de Bioengenharia. - Robson 2
Melo do Nascimento; Ronaldo Ramos de Oliveira; Matheus Henrique Carvalho de Brito
Uso de Microgrelhas como Reforço de Solo Mole em Bacia de Detenção: Um Estudo de Caso. - Myller de 9
Souza Esteves; Matheus de Paiva Silva; Pedro Vitor Oliveira Nava; Laís Roberta Galdino de Oliveira
Controle de Qualidade de Geossintéticos no Brasil. - Delma de Mattos Vidal; José Antonio Schiavon 17

TEMA 2: DURABILIDADE DE GEOSSINTÉTICOS / GEOSSINTÉTICOS EM CONTROLE E PREVENÇÃO DE 23


EROSÃO
Degradação de Geossintéticos por Intemperismo Natural em Área Costeira. - Rayanne Karlla Santos da Silva; 24
Lucas Araújo dos Santos; Fagner Alexandre Nunes de França
Degradação de Geotêxtil Não-Tecido de Poliéster em Resíduos de Construção e Demolição Reciclado. - 32
Mateus P. Fleury; Clever A. Valentin; Jefferson Lins da Siva
Influência da Dinâmica Climática na Durabilidade de Geotêxtil por Intemperismo: Estudo de Caso. - Mag 37
Geisielly Alves Guimarães; Denise de Carvalho Urashima; Beatriz Mydori Carvalho Urashima; Marcus Vinícius
Mendes Pereira
Avaliação do Revestimento de Talude com Geossintético para Controle de Erosão. - Thays Regina Miotto 45
Begnini; Rodrigo Fortunato de Oliveira; Isaque Fernandes Oliveira; Mauro Leandro Menegotto
Evaluation of Physical Properties After 6 Years Submitted to the Real Field Conditions in the Arroio Passo da 51
Mangueira Channel. - A. Donassollo; J. R. C. Costa Jr.; P. J. Santos Jr.

TEMA 3: GEOSSINTÉTICOS EM DRENAGEM, FILTRAÇÃO E BARREIRAS IMPERMEABILIZANTES 57


Análise do Desempenho de Filtros Geotêxteis em Diferentes Situações: Uma Avaliação de Aplicações nos 58
Últimos 40 Anos. - Matheus Viana de Souza; Ivonne A. M. Gutiérrez Góngora; Ennio Marques Palmeira
Análise Numérica de Soluções de Impermeabilização de Barragens de Terra: Geomembranas e Métodos 66
Tradicionais. - Rodrigo César Pierozan; Ramissés Evangelista Araújo; Giovanna Monique Alelvan
Avaliação Estatística do Efeito de Diferentes Polímeros Coagulantes no Desaguamento de Sedimentos por 74
Meio do Ensaio de Coluna por Gravidade. - Gustavo K. Kamakura; Maria A. Aparicio-Ardila; Clever A. Valentin;
Jefferson Lins da Silva
Geotêxteis Não Tecidos em Drenagem Internas de Barragens de Rejeito: Riscos e Oportunidades. - Beatriz 81
Mydori Carvalho Urashima; Paulo Victor Castro; Paula Martins; Thaís Lazarim
Influência do Processo de Enchimento no Comportamento de Tubos de Geotêxteis. - Michael Andrey Vargas 87
Barrantes; Luis Fernando Martins Ribeiro; Ennio Marques Palmeira
Uso de Geocélulas PEAD Preenchidas com Material Granular para Sistemas de Drenagem Superficial. - 94
Wladimir Caressato Junior; Bruna Todescan de Carvalho; Leticia Toniato Andrade
Utilização de Geocomposto Drenante no Sistema de Drenagem Interna de Barragens em Substituição do 100
Material Granular. - Fernanda Sasdelli Figueiredo Sales; Rafael Freitas Rodrigues; Sabrina Medeiros Penasso;
Raphael Zanotti do Carmo; Michel Moreira Morandini Fontes
TEMA 4: GEOSSINTÉTICOS EM INFRAESTRUTURA RODOVIÁRIA, FERROVIÁRIA E DE MINERAÇÃO 107
Aspectos da Fresagem e Características de RAPs Obtidos de Pavimentos Reforçados com Geossintéticos. - 108
Tiago Rodrigues Souza; Natalia de Souza Correia; Jorge Gabriel Zornberg
Avaliação da Aderência entre Camadas Asfálticas Reforçadas com Geossintéticos sob Carregamento Estático 116
e Cíclico. - Matheus Pena da Silva e Silva; Karolina Maria dos Santos; Natália de Souza Correia
Avaliação de Estacas Granulares Encamisadas com Geogrelha por Meio da Técnica dos Solos Transparentes. - 124
Rodrigo César Pierozan; Thaynara da Silva e Silva; Edson Dias da Silva; Eduardo Hauck Antunes; Celso Romanel
Desempenho de Fadiga à Flexão de Revestimentos Asfálticos Reforçados com Geossintéticos. - Ana Laura 132
Cassini Souza Bernardinelli; Tiago Rodrigues Souza; Natália de Souza Correia
Estudo de Caso Drenagem de Pavimentos Rodoviários com Utilização de Geocomposto Drenante. - Leonardo 138
Marroffino Simões; Ricardo Oliveira Sirmatei
Impacto do uso de Geossintéticos em Pavimentos Flexíveis: Análise de Dimensionamento. - Karla Maria 146
Wingler Rebelo; Lucas Alexandre Barbosa; Thiago Marques de Oliveira
Modelagem Computacional para Previsão de Deformações ao Longo do Tempo de Muros Reforçados 152
Aplicados em Ferrovias e Encontros de Pontes. - Sarah Eilen Carvalho da Silva; Rafael Ribeiro Plácido

TEMA 5: INTERAÇÃO SOLO - GEOSSINTÉTICOS 159


Avaliação da Relação entre Tamanho de Abertura da Geogrelha e Diâmetro das Partículas de Agregado em 160
Condições de Carregamento Axissimétrico. - Gabriel Marchi de Oliveira; Isabel Maria da Conceição Fonseca
Gonçalves Falorca
Avaliação do Comportamento de Interface Solo-geotêxtil em Camadas de Solo Reforçado com Geossintéticos 168
sob condições de trabalho. - Matheus Cardoso dos Santos; Fernando Henrique Martins Portelinha
Previsão do Comportamento da Resistência na Interface Areia/Geomembrana Mediante a Aplicação de Rede 176
Neural Artificial. - Anderson Villamil González; Gregório Luis Silva Araújo; Francisco Evangelista Junior
Resistência ao Cisalhamento de Interface de Solos Residuais Tropicais e Geotêxteis em Ensaios de 183
Cisalhamento Direto. - Marcela Giacometti de Avelar; Heraldo Nunes Pitanga; Jefferson Lins da Silva; Taciano
Oliveira da Silva; Klaus Henrique de Paula Rodrigues
Um Breve Estudo a Respeito da Importância da Modelagem da Interface Geomembrana-resíduo. - Luiz 191
Henrique Ferrador Ben; Patricia Rodrigues Falcão; Paula Taiane Pascoal; Leonardo Alberto do Nascimento;
Magnos Baroni

TEMA 6: MODELAGEM FÍSICA, NUMÉRICA E PROBABILÍSTICA DE ESTRUTURAS COM 199


GEOSSINTÉTICOS
Análises de Estabilidade Interna com Tratamento Estatístico e Caracterização das Deformações em um 200
Aterro Reforçado com Geogrelha Localizado em Salvador/BA. - Lucas Dessoto Lima; João Carlos Baptista Jorge
da Silva; Ronaldo Ramos de Oliveira
Análise do Comportamento de Tubos Enterrados por meio de Simulação Numérica. - Ana Carolina Gonzaga 208
Pires; Ennio Marques Palmeira
Análise Experimental de Colunas Granulares Encamisadas com o uso de Laponite RD®. - Henrique Petisco de 214
Souza; Gregório Luís Silva Araújo; Jorge Gabriel Zornberg
Efeito de Grupo em Colunas Granulares Encamisadas. - Sabrina Medeiros Penasso; Mario Vicente Riccio Filho; 222
Ennio Marque Palmeira; Michel Moreira Morandini Fontes
Modelagem Física de Plataformas de Transferência de Carga Reforçadas com Geossintético Utilizando um 230
Sistema Estratificado de Solos Transparentes. - Dhionata Wyllian Moreira Santos; Fernando Henrique Martins
Portelinha

TEMA 7: MUROS, TALUDES E SOLOS REFORÇADOS COM GEOSSINTÉTICOS 236


Análise da Viabilidade Técnica da Verticalização de Aterros Sanitários no Brasil com Uso de Estruturas em 237
Solos Reforçados. - Paulo Eduardo Oliveira da Rocha; Thiago Villas Bôas Zanon; Fernando H. M. Portelinha
Análise de Estabilidade Determinística e Probabilística de uma Estrutura de Contenção em Solo Reforçado 244
por Geotêxtil. - Dêreck Hummel Becher; Patrícia Rodrigues Falcão; Tiago de Jesus Souza; André Querelli;
Magnos Baroni
Análise Numérica e Analítica de um Muro de Solo Reforçado com Geossintético. - Luigi Tavares Gomes; 252
Patricia Rodrigues Falcão; André Querelli; Tiago de Jesus Souza; Magnos Baroni
Efeito da Distribuição Granulométrica e da Forma do Grão de Areia na Eficiência do Reforço por Fibra 260
Polimérica. - Camilla Maria Torres Pinto; Murilo Pereira da Silva Conceição; Sandro Lemos Machado; Miriam de
Fátima Carvalho
Estudo Comparativo dos Métodos de Dimensionamento de Muros Reforçados com Geogrelhas por meio de 267
um Estudo de Caso. - Karla Maria Wingler Rebelo; Eduardo Murad Vervloet; Luiza Saiter Puppin
Muros em Solos Reforçados com Geogrelha e Paramento em Blocos Segmentais: Influência do Material 274
Granular na Resistência de Conexão. - Augusto Henrique Diniz do Carmo; Augusto Moreira Sousa; Denise de
Carvalho Urashima; Mag Geisielly Alves Guimarães; Pablo Augusto dos Santos Rocha

TEMA 8: NOVOS PRODUTOS E NOVOS USOS, SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÃO / PROPRIEDADES E 281


ENSAIOS EM GEOSSINTÉTICOS
Influência da Alcalinidade do Lixiviado no Inchamento de Bentonitas Cálcicas Ativadas e Modificadas com 282
Compostos Poliméricos. - Débora Toledo Vieira da Silva; Mauro Alexandre Paula de Sousa; Natalia de Souza
Correia; Fernando H. M. Portelinha
Métodos de Monitoramento da Tensão Normal em Ensaios de Arrancamento de Pequeno Porte Usando um 290
RCD-R: Influência nos Valores de Coeficiente de Resistência de Interface. - Priscila Fernanda Silva de Oliveira;
Eder Carlos Guedes dos Santos; Ennio Marques Palmeira
Avaliação da Capacidade de Carga de Colunas Granulares Encamisadas em Solos Moles. - Jaime Alberto 297
Suárez Moreno; Gregório Luís Silva Araújo; Ennio Marques Palmeira
Comportamento da Interface Solo-geotêxtil Sobre um Geoespaçador: Influência da Deformação 305
Perpendicular ao Plano. - Larissa Faria Ribeiro; José Antonio Schiavon; Delma de Mattos Vidal
Comportamento de Filtro Geotêxtil em Solo Internamente Instável sob Confinamento. - Dellane Stephani 311
Carvalho dos Santos; Ennio Marques Palmeira
Emprego do Ensaio CBR para Avaliação da Capacidade de Suporte de um Solo Arenoso Tropical Reforçado 317
com Geotêxteis. - Marcela Giacometti de Avelar; Klaus Henrique de Paula Rodrigues; Heraldo Nunes Pitanga;
Jefferson Lins da Silva; Taciano Oliveira da Silva
Revisão Crítica da Utilização da Espectrofotometria para a Caracterização de Geossintéticos. - José Luiz 324
Ernandes Dias Filho; Elias Socrates Nascimento da Cruz Junior; Paulo Cesar de Almeida Maia
TEMA 1: CASOS HISTÓRICOS E DE OBRAS
CONTROLE DE QUALIDADE DE GEOSSINTÉTICOS:
FABRICAÇÃO, RECEBIMENTO E INSTALAÇÃO

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estabilização de encosta da formação barreiras com solo reforçado


e técnicas de bioengenharia
Robson Melo do Nascimento
Maccaferri do Brasil Ltda, Recife-PE, Brasil, r.melo@maccaferri.com

Ronaldo Ramos de Oliveira


Maccaferri do Brasil Ltda, Salvador-BA, Brasil, r.oliveira@maccaferri.com

Matheus Henrique Carvalho de Brito


Maccaferri do Brasil Ltda, Fortaleza-CE, Brasil, m.brito@maccaferri.com

RESUMO: Este trabalho apresenta um caso de obra de recomposição de talude após deslizamento de uma encosta da
formação barreiras, em um empreendimento privado localizado na cidade de Camaragibe, estado de Pernambuco. A
solução de engenharia adotada utilizou a técnica de contenção em solo reforçado em Terramesh® System para
estabilização do maciço, além de bioengenharia para favorecimento do crescimento da vegetação, que contou inicialmente
com a análise química de macronutrientes, adubação, calagem, e escolha das espécies mais apropriadas. Posteriormente
revestimento dos taludes com Geomantas para proteção imediata dos taludes contra erosão, e por fim, plantio da vegetação
selecionada.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de encostas, Formação Barreiras, Bioengenharia.

ABSTRACT: This work presents a case of a slope recomposition work after a landslide of the Barreiras formation, in a
private enterprise located in the city of Camaragibe, state of Pernambuco. The engineering solution adopted used the soil
containment technique reinforced with Terramesh® System to stabilize the massif, in addition to bioengineering to favor
the growth of vegetation, which initially included the chemical analysis of macronutrients, fertilization, liming, and choice
of species most appropriate. Later coating the slopes with Geomat to immediately protect the slopes against erosion, and
finally, planting the selected vegetation.

KEY WORDS: Slope stabilization, Barreiras formation, bioengineering.

1 INTRODUÇÃO importante agente modificador. A má utilização do


uso e ocupação destas áreas naturalmente suscetíveis
Em junho de 2016, durante a construção de um ampliam os processos de instabilidade. Segundo
empreendimento de uma rede atacadista, um talude Gusmão Filho (2005), na formação barreiras, os
de corte de aproximadamente 20 metros de altura, sedimentos são normalmente inconsolidados, soltos,
situado entre o limite do terreno e a loja, rompeu após sem ligante, embora em profundidade apresentem
um período de precipitações intensas na região alguma compacidade. Gusmão Filho (1998) comenta
metropolitana do Recife. A ruptura alcançou um ainda que as encostas dos morros do Recife são em
comprimento de 35 metros, resultando prejuízo geral estáveis. Registros de deslizamentos tem
financeiro para os investidores. Além das chuvas com ocorrido durante invernos rigorosos, após índices de
maiores intensidades no período, podemos indicar a precipitação elevados, em encostas habitadas ou
ação humana na alteração da geometria da encosta, cortadas para fins de exploração em aterros.
ausência da cobertura vegetal e drenagem superficial Para que a loja reunisse condições de operar com
insuficiente como os principais fatores para o colapso segurança, uma obra geotécnica precisou ser
do maciço na ocasião. realizada. A Figura 1 apresenta a vista aérea do
Segundo Lima (2002), a ocupação antrópica em empreendimento, situado na Avenida Doutor
encostas no Brasil vem sendo responsável por grande Belarmino Correia, 681, Camaragibe-PE.
parcela dos escorregamentos e constitui o mais

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


2
3 RESULTADOS

3.1 Caracterização Geológica

A partir do mapa de unidades geológicas da grande


Recife, estudos elaborados nas proximidades da
região da obra, além de dissertações sobre o tema,
identificou-se que a região do talude é parte
constituinte da Formação Barreiras.

Figura 1. Vista aérea do empreendimento, imagem de


satélite. Fonte: Google Earth.

A solução proposta contou com uma contenção


em solo reforçado no sopé da encosta, além da
recomposição do maciço com taludes e bermas para
retorno à geometria do projeto de terraplenagem
inicialmente proposto na construção do
empreendimento. O retaludamento foi especificado
considerando cobertura vegetal em toda área com
espécies selecionadas, contando com o apoio do uso
de geossintéticos para prevenção de erosão
superficial e favorecimento do crescimento da
vegetação, além de um sistema de drenagem
superficial com canaletas e escadas dissipadoras de
energia.
O Estudo de caso tem como objetivo apresentar os
aspectos relevantes da solução adotada.

2 MATERIAL E MÉTODOS
Figura 2. Mapa geológico da Planície do Recife.
Adaptado de Alheiros, Ferreira e Lima Filho (1995).
A metodologia deste trabalho foi composta pelas
seguintes etapas:
Alheiros et al. (1988) define o grupo Barreiras
 Caracterização geológica da área estudada
como a unidade geológica mais importante nos
através de mapas geológicos e bibliografia de
morros ocupados da cidade do Recife. Ela é
referência;
constituída de sedimentos de granulometria variada,
 Topografia realizada através de caracterizados por uma mistura de areias e argilas,
levantamento planialtimétrico; com horizontes de seixos sub-horizontais, levemente
 Ensaios geotécnicos onde em campo foram direcionadas para o mar na forma de tabuleiros
executados furos de sondagens à percussão elevados. A deposição desta unidade geológica se
SPT, e em laboratório foi realizado deu sob a forma de leques aluviais e de depósitos
caracterização completa finalizando com fluviais de canais entrelaçados, apresentando as
ensaios de cisalhamento direto na condição facies flúvio-lagunar.
natural e inundada;
 Análise de estabilidade do talude e proposta 3.2 Levantamento topográfico
de estabilização;
 Estudo de análise química de Levantamento planialtimétrico foi realizado com
macronutrientes, correção de deficiências e intuito de conhecer a superfície do terreno,
definição das espécies para o plantio. determinação das curvas de nível além das seções
transversais na região da erosão. O talude estudado
possui extensão de 170 metros, altura aproximada de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


3
20 metros, e inclinação média de 40 graus. Na Figura condição inundada através do ensaio de cisalhamento
3 é possível identificar região mais íngreme, onde o direto, em um total de seis ensaios.
offset dos taludes nas curvas de nível encontram-se
paralelamente mais próximas, indicando no local Tabela 2. Resultados do ensaio de cisalhamento direto.
onde ocorreu a ruptura. As seções tranversais desta Amostra Umidade SUCS Φ c c
região foram consideradas como críticas para a (o) (kPa) (%)
análise de estabilidade do maciço. 01 Natural SC 33 33 64
02 Inundado SC 33 12
03 Natural SC 25 38 55
04 Inundado SC 26 17
05 Natural SM 35 25 96
06 Inundado SM 35 1

O parâmetro c mostra a variação da coesão, ele


é obtido através da seguinte expressão:
(𝐶𝑛𝑎𝑡 − 𝐶𝑖𝑛𝑢)
c (%) = ( 𝐶𝑛𝑎𝑡
)100 (1)
Figura 3. Levantamento topográfico.
Enquanto o ângulo de atrito (ϕ) se manteve
3.3 Ensaios geotécnicos constante com a inundação do solo, a coesão (c) teve
seu valor reduzido consideravelmente. Em solos não
Através de sondagens SPT (Standard penetration saturados, a água preenche parcialmente os vazios e
test) localizadas na crista do talude, meio e pé da pressões denominadas de sucção são geradas
encosta, foi possível obter o perfil estratigráfico da aumentando a resistência. Nestas condições, o solo
barreira. Confirmando o levantamento geológico apresenta uma coesão chamada de coesão aparente
inicial que indicou tratar-se da Formação Barreiras, que pode ser alterada em virtude de variações na
foi encontrada durante a sondagem de umidade. Com a inundação, esta parcela de
reconhecimento uma estratigrafia bem definida com resistência desaparece, conclui-se a partir dos ensaios
alternância de camadas arenosas e argilosas. A que a sucção exerce forte influência na parcela de
compacidade encontrada nas camadas arenosas resistência das amostras estudadas.
variou de mediana a compacta, já para as camadas Segundo Bastos (1999), a perda de massa de solo
argilosas, a consistência se apresentou entre rija e está relacionada a variação da coesão. O trabalho
dura. A sondagem identificou presença de água entre citado estabelece uma relação entre a erodibilidade e
a cota +52,55m e +49,10m, inclusive indicando o parâmetro (c), onde este parâmetro indica a
surgência de água e fluxo no pé do talude. A Tabela suscetibilidade a redução da coesão durante um
1 apresenta o resumo da descrição das camadas e seus evento pluviométrico que provoque a inundação do
respectivos intervalos. solo. Essa condição é suposta ocorrer na superfície do
terreno quando estabelecida o regime de fluxo
Tabela 1. Descrição das camadas e seus intervalos. superficial.
Intervalo (m) Classificação da camada De acordo com estudo comentado, a variação da
+68,00 à +60,65 Areia argilosa, medianamente
coesão (c) em ensaios de cisalhamento direto trouxe
compacta
a informação de que as duas amostras SC possuem
+60,65 à +56,15 Argila areno-siltosa, rija a dura
+56,15 à +54,65 Areia, medianamente potencial de erodibilidade média, com valores de
compacta 63% e 55% respectivamente, já a amostra SM possui
+54,65 à +53,70 Areia argilo-siltosa, compacta alto potencial de erodibilidade com variação de 96%
+53,70 à +52,05 Areia, compacta (>85%).
+52,05 à +47,25 Argila areno-siltosa, rija a dura
+47,25 à +45,10 Areia compacta 3.4 Análise de estabilidade do talude e proposta
+52,55 à +49,10 Nível de água de estabilização

Após o recolhimento de três amostras Inicialmente foi analisada a estabilidade do maciço


indeformadas tipo bloco da superfície da encosta, o com geometria remanescente a ruptura, utilizando a
solo foi classificado em laboratório pelo SUCS seção transversal mais desfavorável indicada no
(Sistema Unificado de Classificação de Solos), além levantamento topográfico. A análise de estabilidade
de ter seus parâmetros de resistência definidos tanto foi realizada utilizando o método de Bishop
para condição de umidade natural quanto para simplificado, adotando os parâmetros de resistência

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


4
do solo na condição de completa saturação, que é a
análise mais representativa em um período de chuvas
intensas na região. Os cálculos foram executados no
software Mac.S.T.A.R.S® W 4.0 (Maccaferri
Stability Analysis of Reinforced Slopes) da empresa
Maccaferri do Brasil Ltda.
Conforme os resultados da Figura 4, o talude
apresentou fator de segurança não satisfatório, com
FS=1,227. Desta forma, são necessárias intervenções
para que o fator de segurança aumente para valor
maior ou igual a 1,5. Figura 6. Análise de estabilidade da contenção com
retaludamento.

Também foram realizadas análises exitosas para


verificação como muro (deslizamento, tombamento e
pressão na fundação) e estabilidade interna das
camadas de reforço.

3.5 Análise química de macronutrientes e


definição das espécies para plantio

O Projeto fez a previsão de revestimento vegetal em


Figura 4. Análise de estabilidade do talude toda área de recomposição. Para eficácia no
crescimento da vegetação, foram realizados ensaios
O projeto de estabilização para recomposição do com base no método de análises químicas para
maciço indicou o uso de muro de contenção tipo avaliação de fertilidade do solo da EMBRAPA
Terramesh® System, com aterro de material de boa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
qualidade compactado ao tardoz da estrutura, além de A análise química do solo é o primeiro passo para
retaludamento com berma no encontro do aterro com a definição das medidas necessárias para correção e
a encosta natural. Este tipo de solução é formada por manejo da fertilidade de um solo. Duas amostras
uma estrutura em solo reforçado, constituída por foram analisadas, a primeira, denominada S1, com
elementos metálicos em malha hexagonal de dupla material proveniente da encosta, já a segunda,
torção, que ao mesmo tempo formam o paramento denominada S2, com material de aterro utilizado nos
externo, com aparência similar ao de um gabião retaludamentos.
caixa, e o painel de reforço que interage
mecanicamente com o solo. Tabela 3. Resultados da análise química do solo e valores
de referência para interpretação.
Parâmetro S1 S2 Referência
PH (em H2O) 5,4 5,1 7,0
Carbono 0,46 0,22 -
(dag/kg)
M. Orgânica 0,79 0,38 1,6-3,0
(dag/kg)
Fósforo 4 <1 10-40
(mg/dm3)
Ca + Mg 1,25 0,34 2,1-5,0
(cmolc/dm3)
Cálcio 0,75 0,04 1,5-4,0
(cmolc/dm3)
Figura 5. Elemento Terramesh® System.
Fonte:Maccaferri do Brasil Ltda Magnésio 0,50 0,29 0,6-1,0
(cmolc/dm3)
Relação Ca/Mg 1,50 0,14 4:1
A Figura 6 apresenta a análise de estabilidade
Potássio 0,01 0,01 -
global da seção de projeto com fator de segurança (cmolc/dm3)
considerado satisfatório, com FS= 1,684: Potassio 5 3 60-150
(mg/dm3)

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Sódio 0,02 0,02 - Os solos, em geral, possuem elevada resistência a
(cmolc/dm3) esforços de compressão, porém baixa resistência a
Alumínio 0,27 0,46 0,4-1,0 esforços de tração. A inclusão de técnicas para
(cmolc/dm3) estruturar solos com outros materiais é muito antiga.
Al + H 2,93 1,67 2,6-5,0 Segundo Palmeira (1992) ainda hoje encontram-se
(cmolc/dm3)
vestígios ou obras em bom estado construídas séculos
S. Bases 1,28 0,37 2,1-5,0
atrás como os Ziggurats, na antiga Mesopotâmia,
(cmolc/dm3)
CTC 4,21 2,04 2,6-6,0
partes da grande Muralha da China e estradas para
(cmolc/dm3) templos Incas. Nessas obras, eram incluídas mantas
Relação V (%) 30,40 18,14 51-70 de raízes, galhos ou mistura de solo com lã animal,
Relação 17,42 55,42 21-40 que apresentam a limitação de serem degradáveis.
(AI/AI+S).100 Em 1966, Henry Vidal desenvolveu a primeira
técnica construtiva de contenção em solo reforçado,
A interpretação dos resultados da análise mostrou com materiais confeccionados pela indústria. Trata-
que as amostras de solo analisadas são arenosas, PH se da execução de uma estrutura de contenção em
ácido, pobre em matéria orgânica (Mo), Cálcio (Ca), solo reforçado com fitas metálicas e paramento
fósforo (P), potássio (K) e Magnésio (Mg). frontal em placas de concreto.
Recomenda-se nestes casos a adubação orgânica, Nos tempos atuais encontramos diversas soluções
SFS (Superfosfato Simples) e K2O para recompor disponíveis no mercado de contenção em solo
principalmente o teor de Mo, Ca, P e K. A calagem reforçado, principalmente com o uso contínuo dos
também foi recomendada para diminuir a acidez do geossintéticos, onde citamos como principais
solo, e fornecer Ca e Mg, através da aplicação de características deste tipo de técnica: Aterros com
calcário dolomítico 90 dias antes do plantio. inclinações mais íngremes, variedade de opções para
Outro parâmetro que é afetado positivamente com acabamento da face dos taludes, viabilidade em
a calagem é a relaçao V (%) ou saturação das bases. locais de difícil acesso e redução considerável do
Para que o solo seja considerado fértil seu valor tem tempo de construção da obra.
que se apresentar maior que 51%. Uma vantagem construtiva da técnica de solo
Com relação a vegetação, foram indicadas o uso reforçado, é que o muro eleva sua cota junto a
de gramíneas e leguminosas. As gramíneas, são o tipo compactação do aterro, fazendo com que ela seja uma
de vegetação mais utilizadas para recomposição de solução muito utilizada em áreas de aterro de
áreas degradadas, família onde se incluem diversas conquista e recomposição de taludes com grandes
variedades de gramas, possuem raízes com sistema volumes de aterro.
radicular fasciculado. Já as leguminosas possuem Especificamente falando sobre as contenções em
raízes profundas e são capazes de fixar nitrogênio no Terramesh® System, além das características
solo, tornando-se disponível para outros vegetais. inerentes ao tipo de solução, elas possuem algumas
Com base nas espécies que são utilizadas na vantagens em que as tornam únicas onde temos como
região e no regime pluviométrico anual, foram como destaque: Permeabilidade do paramento frontal
definidas as seguintes espécies para plantio: garantindo a eficiência da drenagem do aterro
braquiaria decumbens e humidicola para as contido, inclusive devido ao problema o fluxo de
gramíneas. Já para as leguminosas, crotalaria, feijão água encontrado no pé do talude; Redução do
guandu e feijao-de-porco. impacto ambiental, devido a rápida integração com o
meio ambiente; Possibilidade de uso do solo local
como aterro estrutural, quando este é de qualidade,
4 DISCUSSÃO que reduz o custo com transporte de material de
jazidas distantes.
4.1 Contenção em solos reforçados
4.2 Técnicas de bioengenharia
Para o estudo em questão, muros de contenção à
gravidade tradicionais não são recomendados em Cortes realizados em taludes retiram a cobertura
função da altura e declividade da encosta. A natural da superfície e após a remoção desta proteção,
contenção teria dimensões robustas para vencer a os taludes ficam expostos que favorece o começo do
altura do talude, tomando muito espaço do terreno da processo erosivo. Após chuvas fortes, tem-se o
loja além de ser uma solução onerosa do ponto de aumento da frente de umedecimento, que é
vista financeiro, por este motivo, entre as soluções responsável por reduzir a coesão aparente da região
estudadas a solução adotada foi a de contenção em infiltrada e consequentemente favorece às rupturas
solo reforçado. superficiais. Taludes compostos por solos

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potencialmente erodíveis quando não revestidos
rapidamente apresentam erosão em sulcos que podem
evoluir para ravinas e voçorocas.
De acordo com Marques (2015), as técnicas
empregadas em obras de proteção contra a erosão
podem variar de soluções simples e flexíveis, como o
plantio de espécies vegetais, a soluções mais
complexas e pesadas, como a execução de estruturas
rígidas em concreto. As soluções flexíveis são mais
econômicas além de serem mais integradas ao meio
ambiente, ao contrário de soluções rígidas que são Figura 7. Geomanta MacMat® R3 004. Fonte: Maccaferri
mais onerosas e provocam as chamadas ilhas de do Brasil Ltda.
calor, devido a alta capacidade de retenção de calor
que favorece o aumento de temperatura. Deste modo, o MacMat® R3 004, além da
O restabelecimento da vegetação assegura uma proteção superficial imediata, contra erosão hídrica,
proteção imediata ao talude, as gotas de chuva ajuda a reter os aditivos utilizados para correção do
impactam diretamente nas suas folhas, preservando, solo bem como as sementes, que são usadas para
dessa forma, o solo. A cobertura vegetal nos taludes revegetação, aumentando, dessa forma, o índice de
é de fundamental importância também do ponto de pega da recuperação da vegetação.
vista mecânico, pois atua contra a ação erosiva das As espécies utilizadas foram gramíneas e
lâminas de água que se formam em chuvas intensas, leguminosas, plantadas por meio de hidrosemeadura.
além de aporte na resistência ao cisalhamento O procedimento do plantio segue a seguinte etapa
superficial do solo devido a “coesão agregada” termo executiva: Regularização do talude, calagem para
dito por Massad (2010) pela presença das raízes. correção, Hidrossemeadura com mix de gramíneas e
Oliveira (2020) comenta em seu trabalho que leguminosas, adicionados de mulche de
antes do estabelecimento da vegetação, o talude fica macronutrientes e matéria orgânica, aplicação da
desprotegido sendo necessário o uso de um material geomanta, encerrando com irrigação quando
de cobertura para proteção inicial, preservação do necessário até a pega.
solo, além de criar um ambiente propício para o
restabelecimento da nova vegetação. Geomantas
MacMat® R3 004 foram utilizadas com esta 5 CONCLUSÃO
finalidade.
Geomantas são geossintéticos que são utilizados Após elaboração deste trabalho, concluímos que a
com função de proteção inicial, atua reduzindo dois intervenção trouxe benefícios ao empreendimento,
tipos de erosão: A laminar e a por salpicamento que se encontra em pleno funcionamento desde
(efeito splah). Essas têm uma matriz tridimensional, então. Finalizamos destancando os pontos mais
que reforça a vegetação existente contra a pressão de relevantes desta intervenção:
fluxo superficial e contra a força de tração que supera  Contenções em solos reforçados apresentam
a resistência que a vegetação oferece. É flexível e vantagens técnicas, construtivas e
possui em torno de 90% de vazios, fabricada a partir econômicas em áreas de taludes com elevada
de filamentos grossos de polipropileno fundidos nos altura, quando comparado a estruturas de
pontos de contato. A presença da geomanta na gravidades tradicionais;
superfície do talude garante a passagem da  Os muros do tipo Terramesh® System
vegetação, armando as raízes desta. As geomantas, possuem face drenante, facilidade de
ainda, garantem a utilização de taludes com integração com o meio ambiente, além de
inclinações acima de 40°, são fabricadas para possibilidade do uso de solo local como
resistirem às radiações UV, permanecendo suas aterro estrutural;
características mecânicas por 5 anos, e suportam  O cobrimento vegetal mitiga a ação das
fluxo de água com velocidade de até 2,5 m/s. frentes de umedecimento, responsáveis pela
redução da coesão aparente do solo;
 É relevante a contribuição da agronomia nos
projetos de recuperação em taludes com
revegetação;

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7
 É fundamental a Análise química dos solos, J. (2004). Muros e taludes reforçados. Vertematti, J.V.
identificação de suas deficiências e possíveis (ed) Manual Brasileiro de Geossintéticos, Associação
correções antes do plantio; Brasileira de das Indústrias de Não tecidos e de Tecidos
Técnicos, São Paulo, cap. 4.5, p. 84-123.
 A definição das espécies não é trivial, sendo
Bastos, C. A. B. (1999) Estudo geotécnico sobre a
necessário conhecimento e experiência sobre erodibilidade de solos residuais não saturados. Tese de
vegetações que melhor se adaptam as Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
regiões; Engenharia Civil, Escola de Engenharia da
 Geomantas MacMat® R3 004 são Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 303p.
geossintéticos que possuem papel importante Gusmão Filho, J.A. (1998). Fundações – Do
para eficácia do sistema na fase que precede conhecimento geológico à prática da engenharia.
o crescimento da vegetação, pois impede a Editora universitária da Universidade Federal de
erosão do solo por salpicamento Pernambuco, Recife, BRA. p.398.
Gusmão Filho, J. A. (2005). Risco em taludes. Gusmão, D.
(desagregação por efeito splash) além da
G. , Gusmão Filho, J. , Oliveira, J. T. R & Maia, G. B.
erosão lâminar (carreamento do solo, das (ed) Geotecnia do Nordeste. Editora universitária da
sementes e nutrientes); Universidade Federal de Pernambuco, Recife, cap. 5,
 A consorciação de espécies leguminosas e p. 204-224.
gramíneas no plantio possui papel Lima, A. F. (2002) Comportamento geomecânico e análise
importante na criação de um ambiente de estabilidade de uma encosta da Formação
favorável na fixação de nitrogênio, Barreiras na área urbana da cidade do Recife. Tese
velocidade do crescimento da vegetação; de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
 Espécies leguminosas e gramíneas possuem Engenharia Civil, Universidade Federal de
Pernambuco, 204p.
estruturas de raízes com diferentes Marques, C. M. M. (2004). Aplicações em controle de
arquiteturas, radiculares e pivotantes, que erosão superficial. Vertematti, J.V. (ed) Manual
aporta resistência mecânica superficial. Brasileiro de Geossintéticos, Associação Brasileira de
das Indústrias de Não tecidos e de Tecidos Técnicos,
São Paulo, cap. 12, p. 321-334.
Massad, F. (2010). Curso básico de geotecnia – Obras de
terra (2ª ed.). Oficina de textos, São Paulo, BRA.
p.170.
Oliveira, R. R. (2020) Estudo do controle da erodibilidade
de um talude rodoviário com a utilização da geomanta.
Tese de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade Estadual
de Feira de Santana, 79p.
Palmeira, E.M. (2018). Geossintéticos em geotecnia e
meio ambiente. Oficina de textos, São Paulo, BRA.
p.294.

Figura 8. Obra finalizada após 3 meses de execução.

AGRADECIMENTOS

O autores agradecem a empresa Gusmão


Engenheiros Associados Ltda, pelo
compartilhamento de informações e toda colaboração
prestada para desenvolvimento deste material.

REFERÊNCIAS

Azambuja, E. , Gomes, R. C. , Ehrlich, M. & Sayão S. F.

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Uso de microgrelhas como reforço de solo mole em bacia de


detenção: um estudo de caso
Myller de Souza Esteves
Maccaferri do Brasil; Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil,
m.esteves@maccaferri.com

Matheus de Paiva Silva


Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil, matheuspaiva2@discente.ufg.br

Pedro Vitor Oliveira Nava


Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil, pedro_vnava@discente.ufg.br

Laís Roberta Galdino de Oliveira


Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil, laisroberta@ufg.br

RESUMO: Uma maneira de mitigar as consequências negativas de processos erosivos, em locais próximos a cursos
d'água, é a construção de reservatórios de controle de cheias, como bacias de retenção e detenção. Assim, o presente artigo
teve como objetivo avaliar a viabilidade técnica e financeira da utilização de geossintéticos na fundação de uma bacia de
detenção em Brasília-DF. Para isso, realizou-se um levantamento das características da obra e das possíveis soluções,
além de análise econômica por meio de bases orçamentárias. Os resultados mostraram significativa diferença nos custos
entre as soluções estudadas, visto que o uso de microgrelhas na presente obra culminou em uma redução de quase 38%
do custo inicial da solução convencional. Além de benefícios em termos ambientais, devido a redução do emprego de
pedra rachão e o transporte associado ao recebimento de insumos e disposição de resíduos (solo orgânico). Diante disso,
conclui-se que a utilização de geossintéticos, nesse caso, pode ser uma alternativa eficiente para o melhoramento da
capacidade de suporte em fundações de bacia de detenção com ocorrência de solo mole.

PALAVRAS-CHAVE: Controle de Erosão, Drenagem Urbana, Melhoramento de Solo, Geossintéticos, Viabilidade.

ABSTRACT: One way to mitigate the negative consequences of erosion processes, in places close to water courses, is
the construction of flood control reservoirs, such as retention and detention basins. Thus, this article aimed to evaluate
the technical and financial feasibility of using geosynthetics in the foundation of a detention basin in Brasília-DF. For
this, a survey of the characteristics of the work and possible solutions was carried out, in addition to an economic analysis
using budgetary bases. The results showed a significant difference in costs between the studied solutions, since the use of
microgrids in the present work resulted in a reduction of almost 38% of the initial cost of the conventional solution. In
addition to benefits in environmental terms, due to the reduction in the use of rough stone and the transport associated
with receiving inputs and disposing of waste (organic soil). In view of this, it is concluded that the use of geosynthetics,
in this case, can be an efficient alternative for improving the support capacity in foundations of detention basins with
occurrence of soft soil.

KEY WORDS: Erosion Control, Urban Drainage, Soil Improvement, Geosynthetics, Feasibility.

1 INTRODUÇÃO crescimento da exploração de recursos naturais, a


emissão de gases de efeito estufa (GEE’s) tem
Ao longo das últimas décadas, em virtude dos efeitos atingido patamares nunca vistos (IPCC, 2022).
provocados pelas mudanças climáticas, a Os efeitos tardios de tais revoluções alcançaram o
preocupação com o desenvolvimento de materiais e Brasil no século passado, impulsionando o processo
tecnologias com menor impacto ambiental tem se de industrialização e favorecendo o êxodo da
tornado uma constante para a comunidade científica comunidade rural para os centros urbanos em
global. A partir das revoluções industriais e do formação. Como consequência dessa migração

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9
massiva, e muitas vezes desordenada, temos o utilização de técnicas de engenharia, em alguns
desenvolvimento forçado dos sistemas de casos, onerosas para tornar este tipo de solo estável,
saneamento e drenagem. De fato, entre 1940 e 1980 a exemplo do uso de substituição do solo mole por
a população brasileira triplicou, enquanto a pedra rachão até atingir camadas de solos resistentes.
população urbana viu-se multiplicada por 7,5 vezes Em contrapartida, encontram-se soluções
(SANTOS, 1993). geotécnicas alternativas com vantagens técnicas,
No que se refere ao planejamento e coordenação ambientais e econômicas frente ao problema
do processo de urbanização, uma das preocupações apresentado, tal qual a utilização de geossintéticos
existentes diz respeito à conservação e manutenção como os geotêxteis e microgrelhas.
dos cursos hídricos naturais, uma vez que tais No presente artigo discute-se o caso de uma bacia
recursos frequentemente sofrem com a degradação e de detenção executada em um terreno com presença
deflagração de processos erosivos. de solo orgânico. O objetivo é realizar uma análise
Por outro lado, a água é entendida como um bem técnica e econômica de uma solução tradicional para
de domínio público, dotado de valor econômico e reforço de solos moles frente a uma solução com
indispensável à vida (BRASIL, 1997), de tal forma geossintéticos (microgrelhas).
que sua conservação se torna um fator crítico para as
presentes e futuras gerações. Assim, uma das
principais soluções desenvolvidas, no que se refere 2 MATERIAIS E MÉTODOS
ao controle dos processos erosivos, se relaciona a
implementação de reservatórios de controle de cheias 2.1 Caracterização Geral da Obra
a montante do ponto de utilização do corpo hídrico
(MEIN, 1980; NASCIMENTO et al., 1999). A obra em estudo, que faz parte de um projeto amplo
Um reservatório de controle de cheia se trata de que contempla toda a drenagem da Região
uma obra de infraestrutura voltada para a manutenção Administrativa de Vicente Pires, Distrito Federal
da vazão de água pluvial que adentra o corpo hídrico (DF), teve o projeto básico finalizado no ano de 2008,
originário em níveis aceitáveis, evitando problemas entretanto a licitação e elaboração do orçamento
de drenagem e erosões, e se configurando como uma ocorreu em 2014, e o início das obras em 2016.
ferramenta barata e prática para armazenar água de A referida obra trata-se de uma bacia de detenção
chuva e recarregar o lençol freático. Os processos para regularização da vazão de água pluvial que
erosivos, a depender da localidade e mecanismos que chega ao Córrego Samambaia de modo a evitar
levaram a sua ocorrência, podem se caracterizar alagamentos e a deflagração de processos erosivos.
como passivo ambiental com diversas consequências A Figura 1 mostra uma representação
socioeconômicas como a perda de áreas habitáveis, tridimensional do projeto.
assoreamento dos cursos d’água e degradação de vias
de transporte e patrimônio público e privado
(CARVALHO et al., 2006). Suas principais causas
antrópicas estão relacionadas à falta de planejamento
e ao uso e ocupação do solo de maneira inapropriada.
Desta forma, a utilização de reservatórios de
controles de cheias se mostra como uma alternativa
viável para extinção ou atenuação dessa
problemática.
As bacias de retenção e detenção, também
conhecidas como bacias de captação ou cacimbas,
são construídas tanto em área urbana ou rural, e
podem ser dispostas de forma paralela ou seriada,
sendo sua localização definida tecnicamente em
função do declive do terreno, área de exposição, tipo
de solo e volume de precipitação local (LODHI e
ACHARYA, 2014). Figura 1. Modelo tridimensional do projeto (Próprio
Apesar de suas vantagens, esse tipo de obra pode autor).
estar sujeita a ocorrência de gargalos e dificuldades
técnicas, como a necessidade de desapropriação de Conforme a Agência Nacional de Águas (ANA),
terrenos e a ocorrência de solo mole saturado em sua o DF é classificado como uma região de baixa
localidade. De fato, na maioria dos casos essas bacias garantia hídrica, isto é, aponta-se a necessidade de
estão presentes nas margens de córregos e rios, novos mananciais com abastecimento em
regiões com presença de solos orgânicos, exigindo a racionamento, colapso ou alerta (ANA, 2010). Além

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10
disso, o manejo adequado e a preservação da água
desta região devem ser tratados com prioridade, em
especial se considerarmos que a disponibilidade
hídrica no DF é mais restrita que em outras unidades
da federação (ADASA, 2018). Assim, um sistema de
drenagem adequado é essencial para reduzir a
ocorrência de enchentes e inundações, além de
contribuir para o aumento da disponibilidade hídrica.
Desta forma, o reservatório recebe a contribuição
da sub-bacia composta pelas redes de
macrodrenagem, denominadas “Rede 81”, conforme
representado na Figura 2. Para a chuva com tempo de
retorno de 25 anos, adotada para o projeto, o volume
de detenção será de 23.651,00 m3, com uma borda
livre de 0,80 metros, sendo que seu volume máximo
de armazenamento pode chegar a 32.628,26 m3, caso
o nível de água alcance a crista do reservatório.

Figura 3. Planta de localização dos furos de sondagens


(autoria própria).

Com os laudos das sondagens, constatou-se uma


espessa camada de solo orgânico (turfa), com
profundidade aproximada de 6 a 7 metros em todo o
terreno da obra. A Figura 4 mostra o resultado do
ensaio SPT-01, revelando baixo NSPT (índice de
resistência à penetração do solo) para as primeiras
camadas e nível freático elevado na profundidade de
1,71 metros abaixo da superfície.

Figura 2. Mapa da sub-bacia de contribuição do


Figura 4. Resultado do ensaio SPT, Furo 01 (autoria
reservatório de detenção da rede 81 (autoria própria).
própria).
2.2 Caracterização Geotécnica da Obra e A presença desse tipo de solo com baixa
Apresentação das Soluções capacidade de suporte suscitou a necessidade de
alternativas de melhoramento e estabilização da
Para a caracterização do perfil geotécnico da área de
fundação da estrutura. Inicialmente cogitou-se a
implantação do reservatório de detenção, foram substituição total da camada de baixa resistência por
realizados três ensaios Standard Penetration Test pedra rachão, material granular de elevada
(SPT), e três furos de sondagem a trado (ST), resistência. Entretanto, tal alternativa demandaria a
conforme mostrado na planta de locação dos furos de movimentação de grandes quantidades de materiais
sondagem (Figura 3). naturais primários, sendo ineficaz do ponto de vista
econômico e ambiental.
Uma segunda alternativa proposta durante a
execução da obra foi o melhoramento do terreno
natural com a utilização de geossintéticos acrescida
de uma camada de menor espessura de pedra rachão.
Para isso, fez-se uso de microgrelha de poliéster com

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alta tenacidade revestida com PVC e protegida com No entanto, após o início das obras o órgão
geotêxtil não-tecido de poliéster (agulhado e público responsável pela administração e fiscalização
consolidado termicamente por calandragem) que observou a necessidade de atualizar o projeto licitado
também atua como camada de proteção e separação. para que seu escopo considerasse todos os problemas
Dentre as estruturas da bacia observa-se: de drenagens revelados ao longo desses 8 anos, além
dissipadores de energia por impacto na entrada, de adequar o orçamento para a execução da obra sem
modelo Bradley-Paterka; rampa de acesso; contenção extrapolar os 25% de aditivo permitidos pela Lei nº
à gravidade em gabiões caixa para estabilização dos 8.666 art. 65, § 1º (BRASIL, 1993).
taludes de perímetro; descarga de fundo; vertedor de Dentre as atualizações do projeto licitado,
emergência do tipo parede espessa; canal de destaca-se a bacia de detenção da “rede 81”, em
restituição; e reservatório de detenção. consequência do seu elevado custo, ligado às
Mesmo após o processo de escavação para atingir condições geotécnicas da área de implantação da
o fundo do reservatório, a uma profundidade de bacia.
3,50m a partir da superfície, todas as estruturas O órgão público responsável juntamente com o
mencionadas estariam sobre uma camada de solo projetista da obra buscaram diversas alternativas para
mole com espessura de 3,00m, conforme mostra o a estabilização do solo mole encontrado na região da
resultado do ensaio SPT-01. bacia a fim de minimizar o custo de sua implantação,
Tal situação era indesejável, pois estruturas e foi constatado que a utilização de geossintéticos
rígidas como os dissipadores em concreto armado como microgrelhas associadas a geotêxteis
devem estar apoiadas em regiões firmes com o nãotecidos suscitaria em uma solução técnica
mínimo de deformação possível; a contenção em adequada e de baixo custo.
gabiões caixa, mesmo que flexível podendo admitir A solução convencional previa a substituição de
deformações, deve possuir fator de segurança 3,00m de solo mole por pedra rachão em toda a
adequado contra a ruptura de sua fundação; o fundo fundação da bacia, em contrapartida a solução técnica
do reservatório deve ser suficientemente estável para alternativa prévia 2,00m de pedra rachão abaixo da
suportar o tráfego de veículos pesados que irá ocorrer contenção em gabiões caixa, sendo 1,00m de
durante sua fase de construção e também em sua agulhamento, 1,00m confinados nos geossintéticos, e
manutenção, quando será feito seu desassoreamento; 0,50m de pedra rachão confinada no leito da bacia.
entre outros problemas. A Figura 6 apresenta o detalhe do muro de gabião
Como solução técnica para o problema, e sua fundação, e na Figura 7 observa-se a camada
inicialmente optou pela substituição de toda a esbelta de pedra rachão associada aos geossintéticos
camada de solo compressível por pedra rachão utilizados com a função de reforço e separação de
(Figura 5), situação indicada pelo manual técnico do camadas.
Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNIT) para camadas com até 3,00m de
solos moles (MINISTÉRIO DA
INFRAESTRUTURA, 2022).

Figura 6. Detalhe do muro de gabião do projeto executado


(autoria própria).

Figura 5. Detalhe do muro de gabião do projeto licitado


(autoria própria).

Para a execução desta solução, seriam necessários


a escavação de 32.271,10 m3 de solo mole de
primeira categoria e a substituição de 27.793,06 m3
de solo mole por pedra rachão.

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Figura 8. Geossintético como camada de separação
(Fonte: Maccaferri do Brasil, 2017).
Figura 7. Corte esquemático da solução 2 (autoria própria).
A redução na camada de pedra rachão na solução
Com o objetivo de servir como proteção da alternativa da fundação da obra só foi possível devido
microgrelha e separação da camada de base com a a distribuição das tensões verticais com a utilização
camada de aterro compactado foram utilizadas duas das microgrelhas que possuem elevada resistência ao
camadas de geotêxtil nãotecido com gramatura igual puncionamento e esforços de tração. Deste modo, o
a 200g/m2 e resistência longitudinal à tração de 10,00 material atua como reforço e camada de separação,
kN/m. deixando as deformações uniformes e
Os taludes de perímetro do reservatório de impossibilitando que o material granular adentre ao
detenção foram estabilizados com contenção em solo mole perdendo sua função.
gabiões caixa e colchões Reno, estruturas flexíveis A Figura 9 ilustra o processo de agulhamento da
apropriadas para suportar possíveis deformações da camada de rachão em uma camada inferior de solo
camada de solo mole. mole evidenciando o comprimento “L” de
distribuição das tensões verticais, observa-se que o
rachão sem confinamento perde sua função e pouco
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO contribui para a distribuição dessas tensões.

3.1 Aspectos Técnicos

Quanto às questões técnicas, a solução convencional


que contempla a substituição da camada de solo mole
por rachão é controversa, pois os ensaios SPT
realizados apresentam a profundidade das camadas
de solos moles de forma pontual, e para projeto
fazem-se necessárias interpretações da totalidade do
terreno da obra, esse tipo de análise não é capaz de
garantir que todo o perfil de solo mole da obra terá a
mesma profundidade encontrada nos ensaios, assim
verifica-se a impossibilidade de identificar a
ocorrência de regiões com profundidade variada,
superior a 3,00m de solo mole. Figura 9. Rachão sem confinamento em processo de
Em uma situação hipotética durante a execução de agulhamento (Fonte: Maccaferri do Brasil, 2017).
uma obra na qual a escavação da camada de 3,00 m
de solo mole não seja suficiente para encontrar solo A Figura 10 ilustra situação semelhante à
resistente, o desempenho da solução convencional apresentada na Figura 9, entretanto considerou-se a
pode ser comprometido, uma vez que o rachão da camada de rachão confinada por geossintéticos de
base irá agulhar e consequentemente resultar em elevada resistência a tração como as microgrelhas, e
deformações indesejáveis para as estruturas das neste caso observa-se uma melhor distribuição das
bacias. Por outro lado, a solução alternativa proposta tensões verticais.
com a utilização de geossintéticos elimina este
problema, uma vez que os tecidos técnicos
empregados exercem a função de uma camada de
separação, uniformizando as deformações (Figura 8).

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


13
nãotecidos como elemento de sacrifício sobre as
microgrelhas, assim impossibilitou-se o contato
direto das microgrelhas com a camada granular de
pedra rachão. No Quadro 2 estão as especificações
técnicas do geotêxtil nãotecido empregado para esta
função.

Quadro 2. Especificações técnicas do Geotêxtil


nãotecido utilizado.
ESPECIFICAÇÃO - GEOTÊXTIL NÃOTECIDO 100%
POLIÉSTER
RESISTÊNCIA LONGITUDINAL À 10,00
TRAÇÃO (FAIXA LARGA) kN/m ASTM D 4595 /
50,00 NBR ISO 10319
ALONGAMENTO (FAIXA LARGA)
%
Figura 10. Distribuição de tensões verticais com a RESISTÊNCIA AO ASTM D 6241 /
1,5 kN
utilização de microgrelhas (Fonte: Maccaferri do Brasil, PUNCIONAMENTO CBR NBR 12236
2017). 0,20 ASTM 4491 /
PERMEABILIDADE NORMAL
cm/s NBR ISO 11058
200,00 ASTM D 5261 /
Uma vez que o solo no local da obra possui pouca GRAMATURA
g/m² NBR ISO 9864
capacidade resistente ao cisalhamento e alta
compressibilidade, optou-se pela utilização do tecido A Figura 11 mostra a obra sendo executada com a
técnico denominado microgrelha MacGrid Net que aplicação da solução alternativa, na qual é possível
possui alta capacidade resistente à tração (superior a observar: (A) microgrelha como camada de reforço e
45,00 kN/m) e ao puncionamento, com baixas separação executada acima do solo mole; (B)
deformações. O Quadro 1 mostra as propriedades camada granular de rachão; (C) geotêxtil nãotecido
técnicas desse geossintético. como camada de separação entre o rachão e o selo de
argila; (D) contenção em gabiões caixa em torno do
Quadro 1. Especificações técnicas da Microgrelha. perímetro da bacia.
ESPECIFICAÇÃO - MICROGRELHA

RESISTÊNCIA LONGITUDINAL À
45,00
TRAÇÃO (FAIXA LARGA)
kN/m

RESISTÊNCIA TRANSVERSAL À ASTM D 4595 /
45,00
TRAÇÃO (FAIXA LARGA) NBR ISO 10319
kN/m

(D)
ALONGAMENTO (FAIXA
30,00
LARGA)
%

RESISTÊNCIA AO ASTM 6241 / NBR
3,40
PUNCIONAMENTO CBR 13359
kN
≥ (C)
ASTM 4491 / NBR
PERMEABILIDADE 0,04
15223
cm/s

A microgrelha é um tipo de geossintético que se (B)


difere da geogrelha por seu menor espaçamento entre
as faixas, auxiliando no processo de separação de
materiais de modo a evitar a fuga de material de
reforço para a camada de solo mole. Atua também,
como homogeneizador das cargas da estrutura,
(A)
formando uma rede que alivia as concentrações de
tensões e compatibiliza os recalques sofridos no
decorrer do processo de adensamento.
Uma das principais preocupações quanto ao
desempenho da solução empregada com o uso das
microgrelhas como elemento de reforço seria o risco Figura 11. Execução dos geossintéticos durante a obra.
da camada granular de pedra rachão causar danos (autoria própria)
mecânicos ao tecido técnico em consequência do
posicionamento de elementos pontiagudos, por esse 3.2 Comparativo de custo das soluções
motivo optou-se pelo emprego de geotêxteis

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


14
Com o emprego dos geossintéticos a obra teve uma
economia no valor de R$1.544.290,98, equivalente a
redução de 47,64% do custo inicial da solução
convencional. As Tabelas 1 e 2 mostram a
comparação do custo de serviço das duas alternativas.

Tabela 1. Orçamento básico da solução sem a utilização


de geossintéticos.

Gráfico 2. Diminuição do volume de escavação (autoria


Tabela 2. Orçamento básico da solução com a utilização
própria).
de geossintéticos.
Convém destacar que apesar dos materiais
geossintéticos, por seu intenso processo industrial
associado, apresentem quantidades de energia
incorporada compatíveis com o concreto e aço, sua
necessidade em massa é reduzida, resultando em
quantidades menores de emissões globais associadas
(WRAP, 2010; STUCKI et al., 2011; DIXON et al.,
Ressalta-se que os custos unitários dos serviços 2017; CHANG et al., 2019). Outros benefícios estão
orçados foram retirados da planilha orçamentária da relacionados ao aumento da vida útil do projeto e a
obra, a qual teve como base o Sicro 2 e a planilha diminuição dos gastos relacionados à manutenção.
pública da NOVACAP, ambas de maio de 2014.

3.3 Aspectos Ambientais 4 CONCLUSÃO


Foram considerados os ganhos ambientais referentes O uso de geossintéticos a exemplo das microgrelhas
à redução do lançamento de pedra rachão de associadas a geotêxteis nãotecidos como alternativa a
27.793,06 m3 para 8.606,29 m³ (Gráfico 1) e de substituição de camadas de solos moles por pedra
serviço de escavação de 32.271,10 m3 para 10.757,03 rachão mostrou benefícios técnicos, econômicos e
m3 (Gráfico 2). Além disso, a possibilidade de utilizar ambientais significativos. Espera-se ampliar, com
materiais disponíveis no local diminui a geração de este estudo, a perspectiva de utilização de
resíduos e o transporte associado ao recebimento de geossintéticos como boas alternativas (state-of-the-
insumos e disposição de resíduos. Também houve art) em relação às soluções tradicionais,
redução do uso de materiais com grandes quantidades especialmente em obras públicas com elevado tempo
de energia incorporada, o que neste caso traduz-se em de vida útil.
agregados primários.
AGRADECIMENTOS

Agradecemos a empresa Topocart Topografia e


Engenharia S/CO pela disponibilização do projeto da
bacia de detenção, bem como o apoio da empresa
Maccaferri do Brasil.
Agradecemos ao CNPq pelo apoio financeiro a
pesquisa.

REFERÊNCIAS

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Experiências do Distrito Federal. Agência Reguladora
Gráfico 1. Diminuição volume de rachão (autoria própria). de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito
Federal, Brasília, p. 328.
ANA (2010). Atlas Brasil: Abastecimento Urbano de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


15
Água (Panorama Nacional). Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico, Engecorps/Coprabe, v. 1,
p. 77.
BRASIL. (1993) Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição
Federal, institui normas para licitações e contratos da
Administração Pública e dá outras providências.
Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para
assuntos Jurídicos: sessão III, art. 65, § 1º, Brasília, DF.
BRASIL (1997). Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997.
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acessado em 18/02/2023.
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Controle de Qualidade de Geossintéticos no Brasil


Delma de Mattos Vidal
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

José Antonio Schiavon


Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, schiavon@ita.br

RESUMO: Para a seleção de um produto manufaturado a ser empregado numa obra geotécnica ou ambiental é
fundamental que o projetista possa contar com a garantia de suas propriedades mais relevantes dada pelo fabricante, que
só poderá atender esta necessidade se contar com um programa de controle de qualidade de fabricação eficiente. Desde
2020 o Brasil tem normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas que indicam os requisitos mínimos a
serem atendidos por fabricantes e distribuidores para comercializar um produto geossintético no Brasil, e o conteúdo
mínimo da Declaração de Desempenho. Esta declaração deve ser disponibilizada a projetistas e usuários e acompanhar o
produto entregue em campo, trazendo informações sobre as propriedades garantidas com 95% de confiança e as condições
de durabilidade. Este artigo apresenta os aspectos mais relevantes destas normas e discute a importância de sua
consideração na especificação de projeto.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Controle de Qualidade Industrial, Propriedades, Durabilidade, Especificação.

ABSTRACT: For the selection of a manufactured product to be used in a geotechnical or environmental work, it is
essential that the designer can count on the guarantee of its most relevant properties given by the manufacturer, which
can only meet this need if it has an efficient manufacturing quality control program. Since 2020 Brazil has had technical
standards from the Brazilian Association of Technical Standards that indicate the minimum requirements to be met by
manufacturers and distributors to market a geosynthetic product in Brazil and the minimum content of the Declaration of
Performance. This declaration must be made available to designers and users and accompany the product delivered in the
field, providing information on the properties guaranteed with 95% confidence and durability conditions. This article
presents the most relevant aspects of these standards and discusses the importance of considering them in project
specification.

KEY WORDS: Geosynthetics, Manufacture Quality Control, Properties, Durability, Specification.

1 INTRODUÇÃO surgimento no mundo. Muito rapidamente pesquisas


no tema e o processo de normalização se iniciaram no
Geossintéticos são produtos poliméricos país, tendo evoluído continuamente.
especialmente desenvolvidos para aplicações Atualmente os projetistas dispõem de produtos
geotécnicas e ambientais, nas quais desempenham com diferentes estruturas e composição, de modo a
uma ou mais funções. Como um material de poderem selecionar o geossintético que melhor se
engenharia, eles são concebidos para atender às adapte ao seu projeto (ABNT, 2021a). Entretanto,
necessidades das aplicações e funções consideradas, para que o projeto tenha a qualidade esperada, o
devendo ter propriedades físico-químicas, mecânicas produto selecionado deve apresentar no momento de
e hidráulicas, e durabilidade compatíveis com as sua comercialização as propriedades características e
desejadas em projeto. a durabilidade indicadas e garantidas pelo fabricante
Com a versatilidade dos polímeros e das com base em seu controle de qualidade industrial.
industrias têxtil e de plásticos, o desenvolvimento Fabricantes, distribuidores, projetistas e usuários
destes produtos foi muito rápido e já nos anos 80 do precisam ter uma linguagem comum e dispor de
século passado uma ampla gama de produtos estava procedimentos e regulamentação que contribuam
disponível para emprego na engenharia nacional e para garantir a confiança na técnica.
mundial (Utracki, 1995; Koerner, 1998). O Brasil está entre os países que possuem um
Geotêxteis e geomembranas começaram a ser conjunto de normas que permite estabelecer
fabricados no Brasil quase que desde o seu procedimentos de controle de qualidade bem

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17
definidos, mas é preciso que projetistas e usuários diversas etapas: controle da matéria prima, controle
exijam que os produtos especificados atendam a estes do processo de fabricação, controle das propriedades
requisitos. e das condições de durabilidade, controle do material
Profissionais de qualquer área do conhecimento entregue na obra e controle do processo de instalação.
devem estar sempre se atualizando, mas os avanços Todas estas etapas são importantes para assegurar o
numa tecnologia em contínua evolução, como é o bom funcionamento de um projeto de engenharia. As
caso dos geossintéticos, exigem que os profissionais três primeiras etapas compõem o Controle de
envolvidos acompanhem com cuidado o que vem Qualidade Industrial, CQI.
sendo realizado para aumentar a confiabilidade do Para que o projetista e o usuário de um produto
emprego e facilitar o controle de qualidade destes possam ter uma informação clara do controle de
produtos. qualidade industrial realizado e ter parâmetros de
Este artigo tem por objetivo apresentar e discutir comparação inter produtos, é preciso ter normas a
a situação atual das normas e recomendações que serem atendidas pelos fabricantes que indiquem
regulam o emprego de geossintéticos no Brasil. objetivamente os procedimentos e requisitos a serem
atendidos.

2 O PROCESSO DE NORMALIZAÇÃO E O
CONTROLE DE QUALIDADE 3 ASPECTOS RELEVANTES DO CONTROLE
DE QUALIDADE DE FABRICAÇÃO
O processo de normalização dos geossintéticos no
Brasil iniciou-se em dezembro de 1989 com a criação 3.1 Conceitos gerais
da Comissão de Estudos em Geotêxteis da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), As Partes 1 e 2 da norma ABNT NBR 16757 (ABNT
no âmbito do Comitê Brasileiro da Construção Civil 2021a, 2020) indicam os requisitos a serem atendidos
(ABNT/CB-002). Em maio de 2012, atendendo à por fabricantes e distribuidores de produtos
uma solicitação da Associação Brasileira de geossintéticos da família dos geotêxteis e produtos
Geossintéticos (IGSBrasil) esta comissão se correlatos (Parte 1) e da família das barreiras
transformou na Comissão de Estudo Especial CEE- geossintéticas (Parte 2). Ainda não há norma ISO
175 – Geossintéticos, espelho do comité técnico da sobre requisitos mínimos. A norma publicada pela
International Organization for Standardization ABNT foi proposta pela CEE 175 após reuniões com
ISO/TC 221 Geosynthetics (criado em 2000). A fabricantes e usuários que discutiram e elaboraram
participação nas comissões e comitês de um projeto com base em normas europeias e
normalização é um trabalho voluntário, não americanas, e numa Recomendação da IGSBrasil de
remunerado, e aberto a todos os interessados no tema. 2014, posteriormente revisada (IGSBrasil, 2020a;
O escopo da CEE 175 é a normalização no campo IGSBrasil, 2020b).
dos geossintéticos abrangendo todos os produtos e os A primeira ação do fabricante de um produto
processos envolvidos em sua aplicação, tais como geossintético é estabelecer a função ou as funções
projeto, especificação, recebimento, aceitação e que o produto pode desempenhar e a aplicação ou
método construtivo, no que concerne à terminologia, aplicações para as quais está sendo concebido. Esta
ensaios e requisitos. Como espelho do comitê da ISO, etapa é fundamental para definir as propriedades
a CEE 175 tem também o dever de avaliar a características a serem controladas durante o
aplicabilidade das normas publicadas pelo ISO/TC processo de fabricação. A Recomendação 002 (Partes
221 às condições nacionais. Quando elas podem ser 1 e 2), que discute os requisitos do ponto de vista de
diretamente aplicadas no país, são traduzidas e projetistas e usuários, traz tabelas indicando as
publicadas pela ABNT como normas do tipo NBR propriedades mais relevantes para cada aplicação e
ISO, o que facilita tanto a comercialização dos função (IGSBrasil, 2020a; IGSBrasil, 2020b).
produtos nacionais em outros países, como o A segunda ação é definir o sistema de gestão
emprego de produtos importados em nosso país. detalhando os procedimentos de controle de
As primeiras normas publicadas no Brasil e no qualidade da matéria prima e de todo o processo de
mundo tiveram por objeto estabelecer os termos e fabricação, bem como dos procedimentos para a
definições a serem empregados para uma linguagem análise de conformidade do produto acabado que
comum e os métodos de ensaio para determinação incluem a determinação e avaliação das propriedades
das propriedades consideradas mais relevantes, controladas e as análises de durabilidade. Este
primeira etapa de qualquer processo de controle de sistema também define o processo de marcação,
qualidade. etiquetagem e embalagem atendendo ao definido na
O controle de qualidade é um processo que tem norma ABNT NBR ISO 10320 (ABNT, 2021b).

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18
A terceira ação é a preparação da Declaração de ensaios de controle de qualidade que serviram para
Desempenho, documento a ser disponibilizado para estabelecer o valor nominal da propriedade. O valor
projetistas e usuários e que deve acompanhar o de tolerância permite estabelecer os valores mínimos
produto quando de sua entrega na obra. Ele é a e/ou máximos da propriedade-índice assegurados
garantia de qualidade do produto comercializado. pelo fabricante com um nível de confiança de 95%
(ABNT, 2021a).
3.2 Análise de conformidade no controle de As partes 1 e 2 da norma brasileira (ABNT 2021a;
qualidade industrial ABNT 2020) trazem também o procedimento para a
análise de conformidade do produto acabado
3.2.1 Propriedades a serem controladas considerando o valor declarado para o produto (VN
+ /- VT), e recomendam que o controle de qualidade
A norma ABNT NBR 16757 Partes 1 e 2 (ABNT, de recebimento em campo empregue o mesmo
2021a e 2020) indica as propriedades características procedimento quando da realização de ensaios de
cujo controle é obrigatório, os métodos de ensaio a controle.
serem empregados, a forma de apresentação dos
valores declarados e a frequência mínima do 3.2.2 Caso específico do poliéster reciclado pós
controle. consumo
Por exemplo, para todas as funções previstas na
norma para geotêxteis e produtos correlatos (filtração A norma ISO com as diretrizes de durabilidade (ISO,
- F, reforço - R, drenagem - D, proteção -P e 2020) recomenda que produtos cuja matéria prima
separação - S) a resistência à tração máxima e a contenha material reciclado pós-consumo tenha sua
deformação na ruptura devem ser verificadas em aplicação limitada à projetos com vida de serviço de
ambas as direções, atendendo ao método de ensaio da até 5 anos, e que não envolvam a função reforço.
norma ABNT NBR ISO 10319 (ABNT, 2013) ao O Brasil é um dos países do mundo com maior
menos uma vez para cada lote de fabricação. consumo de garrafas em poliéster (PET), o que levou
Outras propriedades a serem verificadas para esta ao desenvolvimento de uma indústria de reciclagem
gama de produtos são a resistência ao puncionamento deste material de alto nível, disponibilizando uma
estático (F, P, R, S), resistência à perfuração matéria prima que pode atingir a qualidade necessária
dinâmica (F, P, R, S), a característica de proteção (P), à produção de um produto com durabilidade superior
a abertura de filtração característica (F, S), a aos 5 anos.
velocidade índice (F, S) e a capacidade de fluxo no Um dos problemas do emprego de material
plano (D) (ABNT, 2021a). reciclado é a garantia da durabilidade, pois são mais
No âmbito das barreiras geossintéticas (ABNT, sensíveis a qualquer variação no processo de
2020), as características a serem controladas para as fabricação. O poliéster tem a vantagem de possuir um
barreiras poliméricas são a densidade, a resistência à marcador de qualidade que é a viscosidade intrínseca,
tração e a deformação na ruptura e a resistência ao de modo que é possível avaliar sua qualidade ao fim
puncionamento estático, e para as barreiras argilosas, do processo de fabricação.
a espessura, a massa por unidade de área, a resistência É esperado que um produto acabado cujo ensaio
ao descolamento, a permeabilidade à água e a de viscosidade intrínseca indique um valor igual ou
resistência à tração. superior ao valor da viscosidade intrínseca do
Estas são as características a serem controladas, produto submetido aos ensaios de durabilidade
no mínimo, podendo evidentemente o fabricante apresente a mesma durabilidade.
optar por controlar outras características para Deste modo, a norma brasileira (ABNT, 2021a)
oferecer um maior número de informações para seus permite o emprego para tempos de vida de projeto
clientes. superiores a 5 anos, desde que a viscosidade
A norma também indica a unidade e a forma de intrínseca do produto acabado seja uma das
apresentação dos valores a serem declarados na propriedades controladas e declaradas, e que o
Declaração de Desempenho, que devem sempre produto não desempenhe a função reforço.
considerar o valor nominal e o valor de tolerância.
O valor nominal da propriedade, VN, é o valor 3.3 Verificação da Durabilidade
estabelecido pelo fabricante, determinado como o
valor médio obtido no conjunto de ensaios de 3.3.1 Princípios
controle da propriedade, realizados em um número
considerável de amostras do produto, enquanto que o O emprego de um geossintético em uma estrutura de
seu valor de tolerância, VT, é o valor estabelecido engenharia civil requer que a função para qual ele
pelo fabricante em função dos resultados obtidos nos tenha sido especificado seja desempenhada por um

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


19
tempo mínimo, denominado vida de serviço de que a durabilidade do produto pode ser garantida
projeto. Portanto, o efeito dos mecanismos de desde que embasada em ensaios estabelecidos para
degradação sobre as propriedades funcionais dos análises de durabilidade de longo prazo. Os ensaios a
geossintéticos ao longo do tempo é um aspecto a ser serem realizados dependem do tipo de geossintético
avaliado necessariamente. (geotêxteis e correlatos ou barreiras geossintéticas) e
A norma ABNT NBR 16757 Partes 1 e 2 (ABNT, do tipo de polímero, com diferentes critérios de
2021a, 2020) indica as condições mínimas de análise aceitação. Alguns ensaios são realizados apenas em
para avaliar todos os produtos geossintéticos quanto barreiras geossintéticas (teor e dispersão de negro de
à sua resistência aos mecanismos de degradação que fumo, resistência ao stress crack etc.), outros são
podem ocorrer no solo e águas naturais, com pH de 4 específicos para polímeros suscetíveis à oxidação
a 9 e temperatura do solo de até 25 °C (meio ambiente (PP, PE, PVA, PA 6, PA6.6, AR) e outros à hidrólise
normal). A resistência ao intemperismo para o (PET, PA e AR).
período em que o produto não estiver coberto e a No caso das barreiras geossintéticas argilosas
resistência aos agentes do meio ambiente normal são (GCL), há necessidade de se avaliar os componentes
as características mínimas de avaliação. em geotêxtil, fibras de agulhamento e fios de costura,
conforme a Parte 1 da ABNT NBR 16757 (ABNT,
3.3.2 Resistência ao intemperismo 2021a). Também é necessário avaliar os
componentes em barreira geossintética polimérica,
O tempo máximo de exposição ao intemperismo que estes conforme a indicação da Parte 2 da ABNT NBR
a Declaração de Desempenho deve indicar tem por 16757 (ABNT, 2020).
base as condições recomendadas pelas diretrizes de No caso dos geotêxteis e produtos correlatos, o
durabilidade da ISO/TS 13434 (ISO, 2020) e critério para a indicação de durabilidade de até
considera a resistência retida após ensaios de 25 anos é o produto apresentar uma resistência à
intemperismo acelerado com exposição à radiação tração após exposição aos agentes de degradação
ultravioleta (UV). Geotêxteis, produtos correlatos e superior a 50% da resistência do produto antes da
barreiras geossintéticas são avaliados para uma exposição. Para as barreiras poliméricas os critérios
quantidade de radiação referente a um mês de de aceitação são mais complexos e variam em função
exposição (50 MJ/m²). Em função da resistência da característica avaliada. Estão descritos em tabela
retida, a norma ABNT NBR 16757 Partes 1 e 2 que indica o método de ensaio, o polímero para o qual
(ABNT, 2021a, 2020) estabelecerá o tempo de é recomendado, a frequência de ensaio e o critério de
exposição que a Declaração de Desempenho deverá aceitação para cada característica (ABNT, 2020).
indicar, considerando a função a desempenhar. Para os geossintéticos com prazos de vida de
Caso o tempo de exposição seja de até um ano, serviço maiores que 25 anos ou submetidos a
como em algumas aplicações das barreiras diferentes condições ambientes, a ABNT NBR 16757
geossintéticas, é necessário avaliar a resistência Partes 1 e 2 (ABNT, 2021a; ABNT, 2020) recomenda
retida após ensaios acelerados com exposição avaliação caso a caso.
radiante de 495 MJ/m² (correspondente ao valor A limitação em 25 anos da vida de serviço para
máximo estimado para um ano de exposição no condição de longo prazo do texto da ABNT NBR
Brasil). Por outro lado, produtos que não foram 16757 tomou como base as considerações da versão
avaliados em ensaios de resistência ao intemperismo de 2008 das diretrizes de durabilidade ISO/TR 13434
devem ter a indicação para serem cobertos no dia da (ISO, 2008), que estava em vigor na época da redação
instalação. da norma brasileira. O texto das diretrizes
mencionava que o conhecimento à época não
3.3.3 Vida de serviço sob condição ambiente permitia definir um conjunto de ensaios índice para
normal uma vida de serviço superior a 25 anos. Já em sua
versão posterior, a ISO/TS 13434 (ISO, 2020) indica
Produtos que não foram submetidos à avaliação de que a durabilidade para vida de serviço de projeto de
durabilidade somente poderão atender aplicações de até 100 anos em meio ambiente normal pode ser
vida de serviço de projeto de até cinco anos e em garantida com base em ensaios de rastreio, a serem
meio ambiente normal, devendo levar tal indicação usados como uma avaliação indicativa da duração
em sua Declaração de Desempenho. mínima em serviço do geossintético. Esse mesmo
Para aplicações com vida de serviço de até 25 texto indica uma série de ensaios concebidos para
anos e condição ambiente normal, a norma ABNT excluir os materiais que possam ter sua durabilidade
NBR 16757 Partes 1 e 2 (ABNT, 2021a, 2020) indica questionada.

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20
As novas diretrizes de durabilidade serão mais próxima, a fase de seleção de produtos
discutidas pela CEE – 175 com vistas a sua geossintéticos deve buscar os produtos que melhor
incorporação à norma de requisitos que deverá ser atendem às necessidades de projeto, e a especificação
revisada. para seleção de produtos tem papel crucial nesta fase.
3.4 Declaração de Desempenho A Declaração de Desempenho dos produtos
disponíveis é fundamental para as análises a serem
É dever do fabricante disponibilizar aos projetistas e realizadas pelo projetista nesta etapa, inclusive se
usuários a Declaração de Desempenho do produto uma análise de confiabilidade for efetuada pois
indicando: quanto menores forem os valores de tolerância, VT,
 todas as informações para a identificação e das propriedades garantidos pelo fabricante, maior
localização do fabricante ou do distribuidor; será a confiabilidade do projeto (Belo et al., 2022).
 a aplicação e função (ou aplicações/funções) para A especificação do projeto executivo deve trazer
as quais o geossintético foi desenvolvido; o Plano de Verificação da Qualidade, com as
 o polímero componente, detalhando eventual uso informações sobre os critérios de recebimento e de
de reciclado e sua porcentagem; aceitação definidos em função do controle de
 os valores declarados das propriedades qualidade do produto recebido, estabelecido pelo
características controladas; projetista.
 as condições de durabilidade previstas e demais Estes critérios se baseiam diretamente na
informações de interesse. verificação do atendimento às normas relacionadas
Os valores declarados das propriedades devem ao processo de fabricação (ABNT 2021a, 2020) e
sempre ser obtidos pelos métodos de ensaio nesta etapa a comparação entre os dados da
indicados na norma e apresentados em termos de Declaração de Desempenho utilizada na fase de
valores nominais e valores de tolerância para permitir seleção e a Declaração de Desempenho
que o controle de qualidade na obra e análise de acompanhando o produto é fundamental.
conformidade seja feito considerando o mesmo
procedimento que o adotado pelo fabricante (ABNT,
2021a, 2020). 5 CONCLUSÕES E COMENTÁRIOS
O tempo máximo de exposição à radiação
ultravioleta e a durabilidade para a condição de meio A inserção de produtos manufaturados na engenharia
ambiente natural também devem estar indicadas, bem geotécnica e ambiental permite ao projetista contar
como as recomendações para a estocagem das com um material com propriedades controladas e
bobinas. garantidas pelo fabricante, com variabilidade
Se o produto contiver poliéster reciclado e for conhecida.
indicado para um tempo de vida de serviço superior Os últimos anos trouxeram avanços
a 5 anos, a viscosidade intrínseca do produto acabado consideráveis no estabelecimento dos requisitos a
deve estar entre as propriedades com valor declarado. serem atendidos por fabricantes e distribuidores de
Além dos itens acima indicados, a Declaração produtos geossintéticos e, consequentemente, o
de Desempenho acompanhando o produto deve aumento da confiabilidade das propriedades
indicar o número do lote de fabricação e os detalhes consideradas em projeto.
de dimensão e massa do produto. O Brasil conta desde 2020 com norma que
estabelece os requisitos mínimos a serem atendidos
por fabricantes e distribuidores a fim de facilitar, por
4 ESPECIFICAÇÃO DE PROJETO parte de projetistas e usuários, a avaliação da
qualidade dos produtos considerados na fase de
A especificação de projeto é parte essencial para a seleção, com informações essenciais para o projeto.
qualidade de uma obra de engenharia. Projetos Estas normas indicam o conteúdo mínimo das
considerando geossintéticos devem ter ao menos uma informações que devem constar da Declaração de
especificação para fase de seleção de produtos e uma Desempenho de um produto geossintético,
especificação para a fase de executiva da obra. A documento base da garantia de qualidade do produto.
recomendação IGSBrasil 003 (IGSBrasil, 2014), que Os avanços no conhecimento e no
traz termos e definições complementares aos da desenvolvimento dos geossintéticos implicam em
norma ABNT NBR ISO 10318-1 (ABNT, 2021c), continuada revisão das normas existentes e na
detalha os principais aspectos da especificação de necessidade de novos projetos de norma, num
geossintéticos. processo de normalização bastante dinâmico, que
Diferentemente da situação de emprego de precisa ser acompanhado de perto por todos os
produtos naturais, quando a melhor opção é a que está profissionais envolvidos com esta tecnologia. A

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


21
participação nos grupos de trabalho e nas reuniões da
comissão é um dos modos mais interessantes de se
manter atualizado e de contribuir para um emprego
cada vez mais eficiente de uma técnica que representa
grandes avanços na engenharia geotécnica e
ambiental.

REFERÊNCIAS

ABNT (2013). NBR ISO 10319: Geossintéticos: Ensaio


de tração de faixa larga. Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 11.
ABNT (2020). NBR 16757-2: Geossintéticos: Requisitos
para aplicação - Parte 2 Barreiras geossintéticas.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, p. 14.
ABNT (2021a). NBR 16757-1: Geossintéticos: Requisitos
para aplicação - Parte 1 Geotêxteis e produtos
correlatos. Associação Brasileira de Normas Técnicas,
Rio de Janeiro, p. 14.
ABNT (2021b). NBR ISO 10320: Geossintéticos:
Identificação na obra. Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 3.
ABNT (2021c). NBR ISO 10318-1: Geossintéticos – Parte
1: Termos e definições. Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 9.
Belo, J. L. P.; Silva, J. L.; Queiroz, P. I. B. (2022).
Reliability analysis of an embankment built and
reinforced in soft ground using LE and FE.
Sustainability, v. 14, n. 4, p. 2224.
https://doi.org/10.3390/su14042224.
IGSBrasil (2014). IGSBrasil 003 – Termos e definições
complementares, https://igsbrasil.org.br/recomendaco
es, acessado em 30/01/2023.
IGSBrasil (2020a). IGSBrasil 002-1 – Características
requeridas para o emprego de geossintéticos – Parte1
Geotêxteis e produtos correlatos, https://igsbrasil.org.
br/recomendacoes, acessado em 30/01/2023.
IGSBrasil (2020b). IGSBrasil 002-2 – Características
requeridas para o emprego de geossintéticos –
Parte 2 Barreiras geossintéticas,
https://igsbrasil.org.br/recomendacoes, acessado em
30/01/2023.
ISO (2008). ISO/TR 13434:2008: Geosynthetics —
Guidelines for the assessment of durability.
International Organization for Standardization,
Geneva, Switzerland, p. 42.
ISO (2020). ISO/TS 13434:2020: Geosynthetics —
Guidelines for the assessment of durability.
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Koerner, R. M. (1998). Designing With Geosynthetics (4th
ed.). Prentice Hall, Inc., New Jersey, USA. p.761.
Utracki, L. A. (1995). History of commercial polymer
alloys and blends. Polymer Engineering and Science,
v. 35, n. 1, p. 2-17. https://doi.org/10.1002/pen.76035
0103.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


22
TEMA 2: DURABILIDADE DE GEOSSINTÉTICOS
GEOSSINTÉTICOS EM CONTROLE E PREVENÇÃO DE
EROSÃO

23
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Degradação de geossintéticos por intemperismo natural em área


costeira.
Rayanne Karlla Santos da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, rayannekarlla01@gmail.com

Lucas Araújo dos Santos


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, araujo.engprod@gmail.com

Fagner Alexandre Nunes de França


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, fagnerfranca@ufrn.edu.br

RESUMO: Os geossintéticos são materiais poliméricos empregados em diversos projetos de Engenharias, dentre eles,
seu uso em obras de proteção costeira destaca-se com alto potencial de aplicação, em conjunto com materiais granulares
para controle da erosão. A durabilidade, após exposição às intempéries, precisa ser conhecida para um dimensionamento
mais preciso. Assim como qualquer material polimérico, estão sujeitos à degradação em função da exposição à radiação
UV. As normas ASTM D5970 (2016) e ASTM D1435 (2013) contêm diretrizes para ensaios de exposição de campo,
com o intuito de avaliar a resistência mecânica do geossintético. Nesse sentido, este trabalho apresenta uma comparação
entre os dois padrões normativos pela mudança na inclinação de exposição de um geotêxtil de polipropileno em ambiente
costeiro à beira-mar de Natal/RN. Além disso, avaliou-se a influência da cor, e consequentemente da temperatura, da
mesa de exposição, bem como sua interação com material granular. O tempo de exposição foi de 42 dias e a resistência à
tração das amostras foi comparada com as obtidas das virgens. Os resultados indicaram pequenas diferenças na
degradação UV devido à inclinação da exposição. Por outro lado, a cor da mesa de exposição produziu maior degradação
naquelas amostras expostas em mesas pretas, se comparadas com aquelas em mesas brancas. Os dados obtidos neste
estudo são fundamentais para o dimensionamento e adoção de medidas mitigatórias em obras de engenharia costeira que
utilizam geossintéticos.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxteis, Deterioração, Radiação UV.

ABSTRACT: Geosynthetics are polymeric materials used in various engineering projects, among them, their use in
coastal protection works stands out with high potential for application, in combination with granular materials for erosion
control. Durability after exposure to the weather needs to be known for more accurate sizing. As with any polymeric
material, they are subject to degradation due to exposure to UV radiation. ASTM D5970 (2016) and ASTM D1435 (2013)
standards contain guidelines for field exposure tests, with the aim of evaluating the mechanical strength of the
geosynthetic. In this sense, article presents a comparison between the two normative standards for the change in the
exposure slope of a polypropylene geotextile in a coastal environment by the seaside of Natal/RN. In addition, the
influence of the color, and consequently the temperature, of the exposure table was evaluated, as well as its interaction
with granular material. The exposure time was 42 days, and the tensile strength of the samples was compared with those
obtained from virgins. Results indicated small differences in UV degradation due to exposure slope. On the other hand,
the color of the display table produced greater degradation in those samples exposed on black tables compared to those
on white tables. The data obtained in this article are fundamental for the design and adoption of mitigation measures in
coastal engineering works that use geosynthetics.

KEY WORDS: Geosynthetic, Deterioration, UV Radiation.

1 INTRODUÇÃO estas fontes pode-se destacar altas temperaturas,


oxidação, intemperismo natural, radiação ultravioleta
A durabilidade dos geossintéticos é afetada por e elementos químicos (Paula & Lopes, 2021).
fontes de degradação que reduzem a resistência em Com a ampliação na utilização dos materiais
virtude da alteração molecular do polímero. Dentre poliméricos, constatada por Shin & Oh (2007) em

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


24
virtude da escassez de recursos naturais e alto custo (exposição de campo) e ASTM 5310:11 (2019) no
de elementos robustos (escombros e concreto), a vida que tange teste de tração. Carneiro & Lopes (2017)
útil do geossintético chega a ser projetada para não fazem menção a manejo de normas para a etapa
intervalo de tempo superior a 100 anos e por esse de exposição em campo, entretanto constatam o
motivo sua durabilidade precisa ser garantida emprego da EN ISO 10319 (2016) para rompimento
(Valentin et al., 2021). Além disso, existem casos em de corpo de prova por tração. Carneiro et al (2018)
que o emprego ocorre com ex-posição direta a confeccionaram as amostras para ensaio de
agentes degradantes como é o caso das obras de degradação conforme orientações da EN ISO 9862
minas (Gulec et al., 2005), controle de erosão (da Luz (2005) e caracterização mecânica em virtude da EN
et al., 2021) e proteção costeira (Elias et al., 2022). 29073-3 (1992).
A nível de proteção costeira, a aplicação de Levando em consideração a complexidade das
geossintéticos tem enormes benefícios econômicos e obras de proteção costeira, devido a exposição direta
sustentáveis (Scholz et al., 2021). Rajabian et al. dos geossintéticos a intempéries e diferentes
(2012) destacam a utilização de revestimentos e metodologias para execução de ensaios, o objetivo
tubos geotêxteis, explanando aspectos positivos tais deste artigo concerne em avaliar o impacto das
quais a atuação do aparato em relação a cargas condições de contorno em testes de exposição de
hidrodinâmicas cíclicas e alterações promovidas pela campo no que tange a resistência a tração, utilizando
morfologia do fundo do mar. Entretanto, Dias Filho geotêxteis tecidos de polipropileno em diferentes
& Maia (2021) reconhecem a complexidade do configurações de disposição.
comportamento desses materiais, especialmente a
longo prazo, e enfatizam a necessidade de mais 2 MATERIAL E MÉTODOS
estudos sobre a interação solo-geotêxtil para obter
dados referentes a tensão e deformação, sendo a 2.1 Preparação das amostras
resistência a tração elencada como uma propriedade
de suma importância para avaliar esses esforços Foram utilizados geotêxteis tecidos StrataTex
mecânicos (ARDILA et al., 2021; LOMBARDI et W5050® de cor branca cuja resistência a tração
al., 2022). nominal equivale a 50KN/m, conforme ABNT NBR
Através de ensaios de laboratório Carneiro et al ISO 10319 (2013).
(2021) observaram um geocompósito de As amostras foram preparadas seguindo as
polipropileno (PP) reforçado com filamentos de recomendações da ABNT NBR ISO 9862 (2013),
polietileno tereftalato (PET) principalmente pelo viés sendo desprezadas as duas primeiras voltas da bobina
da resistência a tração. Foi identificado que a e os 100mm externos de cada borda. Foi então feito
radiação UV foi a principal responsável pela o corte no sentido transversal para retirar todo o
degradação nos testes de intemperismo tendo seu tecido a ser utilizado.
efeito mais pronunciado em virtude da elevação da Posteriormente, houve a marcação e corte nas
temperatura ou uso de irradiâncias UV mais altas. dimensões de 35cm por 60cm, sendo o menor lado no
No caso de ensaios de campo Carneiro & Lopes sentido longitudinal e o maior no sentido transversal,
(2017) avaliaram as alterações em propriedades visando a realização de testes de tração no sentido
mecânicas de geotêxteis de polipropileno, transversal.
submetidos a exposição natural em Portugal durante
3 anos. Os materiais foram preparados com 2.2 Caracterização da exposição em campo
estabilizantes e percebeu-se a degradação
principalmente no que tange a resistência a tração já O material foi exposto em ambiente costeiro na
no período inicial de 6 meses. cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte,
Com ênfase nos ensaios de campo, pesquisas vêm situada a 30 m de altitude, com 5º 47’ 42’’ de latitude
sendo desenvolvidas para avaliar a durabilidade dos sul e 35º 12’ 34’’ de longitude oeste, no
geossintéticos (Dierickx & Van Den Berghe, 2004), Departamento de Oceanografia e Limnologia da
(Bedia et al., 2003) (Grubb et al., 2015), (Hsieh et al., Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2015), (Marques et al., 2014), diferindo entre as (DOL/UFRN), nordeste brasileiro, conforme Figura
metodologias de testagem. 1.
Dierickx & Van Den Berghe (2004) por exemplo,
para a preparação dos corpos de prova seguiram o
pressuposto da EN 20139 (1992) e não utilizaram
norma específica para determinação da tração. Santos
(2020) por sua vez procedeu com as recomendações
da ASTM D5079 (2016), ASTM D1435 (2013)

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


25
amostras.

Figura 1. Indicação do local de exposição.

Cinco configurações foram previstas com a


utilização de mesas de madeira confeccionadas em
compensado naval (conforme a ASTM D5970
(2016)) com dimensões de 2,20m x 0,80m e altura do
menor lado de 0,50m. Além disso, as superfícies
foram alternadas em cores e inclinações, sendo o Figura 2. Ensaio de campo em operação.
segundo caso recomendações das ASTM D5970
(2016) e ASTM D1435 (2013). Adicional as cores e 2.3 Ensaios de tração no sentido transversal
inclinações, o geotêxtil foi também exposto em
superfície de material granular. As combinações são Para analisar a durabilidade dos geotêxteis, a
descritas abaixo: resistência mecânica via ensaio de tração foi
utilizada, sendo o teste governado pela ASTM D5039
Tabela 1. Grupos de exposição.
(2016). Além dos grupos indicados pela Tabela 1,
Grupo Superfície Inclinação
foram ensaiadas amostras virgens com 0 dias de
GB6 Latitude (≈ 6°)
Mesa preta exposição.
GB45 45°
GW6 Latitude (≈ 6°) O procedimento do teste se iniciou com o corte a
Mesa branca quente das amostras com 0 e 41 dias de exposição,
GW45 45°
GS Areia 0° resultando em corpos de prova com dimensões de
50cm por 5cm, formando 6 CP’s por grupo. Os testes
Antes da exposição, as mesas foram pintadas com de tração de faixa estreita foram realizados com
tinta fosca para madeira seguindo as instruções do geometria de 5mm de largura e distância entre garras
fabricante para limpeza dos tampos, mistura da tinta de 75mm, no Laboratório de Geotecnia e
e secagem com tempo total de 20h, ultrapassado o Geossintéticos da Universidade Federal de São
período indicado para garantir a fixação do produto. Carlos (LabGeo/UFSCar).
Após essa etapa preliminar, os materiais foram presos
as mesas com grampos, em concordância com a 2.4 Tratamento de dados
ASTM D5970 (2016).
Todos os elementos foram dispostos voltados para Para avaliar os resultados advindos dos ensaios de
a linha do equador (sentido norte) seguindo o resistência a tração, bases estatísticas com o emprego
pressuposto da ASTM D 5970 (2016). A Figura 2 de intervalos de confiança foram preteridas. Com
contempla o aparato em operação. isso, levando em consideração a quantidade pequena
O tempo considerado para análise dos resultados, de amostras (n < 30), a normalidade da distribuição
descriminados na ASTM D5970 (2016) como 1 mês foi avaliada pelo teste de Shapiro-Wilker para
teve discrepância de 11 dias por limitações na posterior escolha do método de cálculo, se
operação, totalizando então 41 dias. distribuição normal ou t student em virtude do
A caracterização do ambiente para avaliar o conhecimento do desvio padrão populacional. Todo
impacto do intemperismo natural foi efetuada com o o processo foi realizado com o auxílio do software R
auxílio dos boletins meteorológicos fornecidos pelo Studio. O fluxograma apresentado na Figura 3
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) com contempla as etapas de análise.
estação meteorológica automática e convencional,
ambas localizadas na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). Além disso, foram
realizadas leituras com termômetro infravermelho in
loco para medir a temperatura das mesas e das

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26
50 80%

Precipitação (mm)

Umidade Relativa Média


40 60%
30
40%
20

(%)
10 20%

0 0%

Fev
Jan

Mar
Precipitação Umidade Relativa Média

Figura 4. Dados de precipitação e umidade relativa


média.

Com a umidade relativa média de 74% e a


precipitação máxima de 45,9 mm, totalizando 104,5
mm, o período apresentou índices pluviométricos
esperados conforme a série temporal dos últimos oito
anos, tendo que vista que os meses com maiores
precipitações estão entre março e agosto.
Visando melhor caracterizar o reflexo das
condições climáticas nas superfícies das mesas e
amostras, a Tabela 3 foi confeccionada contendo os
dados aferidos in loco.

Tabela 3. Dados de temperatura aferidos in loco.


Figura 3. Etapas de análise para tratamento de dados Temperatura Temperatura
estatísticos. Data Grupo
da superfície da amostra
GB6 62,3 °C 43,3 °C
3 RESULTADOS GB45 54,5 °C 39,4 °C
22/01/
GW6 37,4 °C 33,4 °C
2022
3.1 Caracterização das condições de campo GW45 36,2 °C 37,2 °C
GS 52,0 °C 42,7 °C
O período da exposição de campo ocorreu entre as
datas 22/01/2022 a 04/03/2022. Nesse sentido, um GB6 52,8 °C 38,9 °C
resumo acerca das condições climáticas pode ser GB45 54,5 °C 40,2 °C
04/02/
GW6 38,4 °C 37,7 °C
visualizado pela Tabela 2. 2022
GW45 37,5 °C 37,4 °C
GS 43,0 ° C 37,7 °C
Tabela 2. Dados relativos as condições ambientais.
Radiação GB6 63,3 °C 47,5 °C
Radiação
Temperatura Global Máx. GB45 65,8 °C 50,8 °C
Dias Global 04/03/
Méd. Diária GW6 44,1 °C 45,2 °C
Acumulada 2022
Acumulada GW45 46,2 °C 44,5 °C
143,86 933,49 GS 53,7 °C 43,4 °C
41 29,37°C
(MJ/m²) (MJ/m²)
Na primeira data, 22/01/2022, a temperatura foi
A incidência de radiação e temperatura se verificada as 12h, com média do ambiente de 30 °C,
concentram elevadas como resultado do solstício de sem precipitação registrada e umidade de 71%. Para
verão no hemisfério sul. Para complementar a análise 04/02/2022, os dados obtidos foram registrados as
dos dados climáticos, a umidade do ar e precipitação 15h com 30,3°C de temperatura ambiente, umidade
se relacionam conforme Figura 4. de 68% e sem precipitação e em 04/03/2022, as 14h
a temperatura também foi registrada como 30°C,
umidade a 75% e sem precipitação. É possível
ressaltar que para todos os casos as temperaturas nas
superfícies das mesas e amostras foram superiores as
aferidas no ambiente e as situações com maiores
médias em todas as verificações foram as pretas,

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27
sendo o grupo em destaque GB45, apresentando os d) CP1 GW6
valores mais elevados, com máxima de 65,8 °C e 50,8 CP2
°C para mesa e amostra, respectivamente. 60
CP3

Resistência à tração (kN/m)


50 CP4
3.2 Ensaios de tração 40 CP5
30
A tendência de repetibilidade dos ensaios de
20
tração pode ser verificada pela análise das curvas de
tensão versus deformação, conforme ilustra a Figura 10
5. 0
0 5 10 15 20
CP1 AMOSTRA VIRGEM Deformação axial (%)
a)
CP2
60 CP3
e) CP1 GW45
Resistência à tração (kN/m)

CP4
50 CP2
CP5 CP3
40 60
CP6

Resistência à tração (kN/m)


CP4
30 50 CP5
20 40

10 30

0 20
0 5 10 15 20 10
Deformação axial (%) 0
0 5 10 15 20
Deformação axial (%)
b) CP1 GB6
CP2
60 CP3 CP1
f) GS
Resistência à tração (kN/m)

50 CP4 CP2
CP5 60 CP3
40
Resistência à tração (kN/m)

CP4
30 50
CP5
20 40 CP6
10 30

0 20
0 5 10 15 20 10
Deformação axial (%) 0
0 5 10 15 20

c) Deformação axial (%)


CP1 GB45
CP2
60 CP3 Figura 5. Curvas representativas de tensão x deformação
Resistência à tração (kN/m)

50 CP4 dos corpos de prova. (a) Grupo de amostras virgens (G0);


CP5 (b) Grupo de amostras pretas inclinadas a latitude (GB6);
40
(c) Grupo de amostras pretas inclinadas a 45° (GB45); (d)
30 Grupo de amostras brancas inclinadas a latitude (GW6);
20 (e) Grupo de amostras brancas inclinadas a 45° (GW45),
10
(f) Grupo de amostras na areia (GS).
0 Pela figura 5 nota-se a boa concordância entre os
0 5 10 15 20
corpos de prova de mesmas condições, com exceção
Deformação axial (%) da figura 5. (d), em que existe uma discrepância de
CP6 para com os outros elementos de mesma
categoria, o que faz com que a resistência fique mais
elevada em todas as análises. Por esse motivo, o CP6,
do grupo GW6 será eliminado para fins de
comparações estatísticas.

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28
Buscando compreender a relação entre cada uma Tabela 4. Determinação do intervalo de confiança.
das condições de contorno em relação a resistência a Desvio Intervalo de
Grupo Média
tração do geossintético, a Figura 6 agrupa as médias padrão confiança
dos ensaios de tração. 47,70 < 𝒙̅<
G0 49,70 1,908483
51,71
45,24 < 𝒙̅<
GB6 46,84 1,531518
48,45
43,54 < 𝒙̅<
GB45 45,19 1,570872
46,84
46,14 < 𝒙̅<
GW6 47,58 1,162389
49,02
46,55 < 𝒙̅<
GW45 48,45 1,809115
50,35
46,45 < 𝒙̅ <
GS 48,72 2,162804
50,98

A análise da resistência e os intervalos de


confiança por grupos podem ser melhor visualizados
pela Figura 7.

Figura 6. Comportamento tensão x deformação das


amostras agrupadas.

Pela representação acima a amostra virgem tem


resistência semelhante a indicada pela ABNT NBR
ISO 10319 (2013) e os demais grupos permeiam este
valor. Nota-se que a condição preta a 45° apresentou
menor resistência a tração e a branca a 45° maior
resistência.
Para uma maior precisão estatística, o teste de
Shapiro-Wilk para normalidade foi conduzido com o
objetivo de avaliar as hipóteses sobre a distribuição Figura 7. Intervalo de confiança para o parâmetro de
dos dados de resistência, tendo como hipótese nula resistência a tração (KN/m).
(H0) a afirmação de que as resistências se distribuem
normalmente e hipótese alternativa (H1) a afirmação Nota-se o grupo GB45 como destaque no que
de que as resistências não se distribuem tange a degradação, estando fora do intervalo de
confiança da amostra virgem, o que indica que houve
normalmente. Desta forma, foi verificado p-valor >
0,05 para todos os grupos, permitindo rejeitar H1 e degradação mais pronunciada, seguido do grupo
validando o ajuste dos dados à distribuição normal GB6. As amostras advindas de GW6, GW45 e GS
(Miot, 2017). obtiveram maiores valores de resistência a tração,
Uma vez validada a distribuição normal dos sendo GS o destaque com maior porcentagem dentro
dados, o pequeno tamanho das amostras (n < 30) e o do intervalo de confiança de G0.
desconhecimento das variâncias e desvios-padrão; a
distribuição t de student foi usada para melhor 4 DISCUSSÕES
estudar os valores que se distanciam das médias de
cada grupo, considerando um intervalo de confiança Pela análise dos dados pode-se inferir que a baixa
ao nível de 95%. Tais dados podem ser verificados na pluviosidade do período, somado a altas temperaturas
Tabela 4. e radiações globais foram condicionantes para a
ocorrência da degradação visualizada pela perda de
resistência a tração.
O comparativo entre superfícies indica que a mesa
em tampo preto acelerou o processo de degradação e
em relação à inclinação não houve nítida influência.
Esse destaque aos grupos GB6 e GB45 corroboram
às medições de temperatura in loco, já que os
materiais absorvem luz e os elétrons passam a oscilar
e emitir energia em forma de calor, o que é

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


29
transmitido da mesa para as amostras. S. T.; Tosaka, M.; Kohjiya, S. (2003) Natural
A perda de resistência média foi de 2,35 KN/m, e weathering of polypropylene in a tropical zone. Journal
algumas discrepâncias em relação a degradação foi of Applied Polymer Science, v. 87, n. 6, pp. 931–938.
observada, com destaque para o grupo GB45 com
maior índice e GS com menor índice, diferindo entre
Carneiro, J. R & Lopes, M. L. (2017). Natural weathering
si em cerca de 3,53 KN/m.
A nível de percentual, o grupo GB45 apresentou of polypropylene geotextiles treated with different
cerca de 9% de perda de resistência em relação a chemical stabilisers. Geosynthetics International, v.
amostra virgem e o valor representativo de todas as 24, n. 6, pp. 544–553.
condições gerou uma perda de resistência média de
4%. Carneiro, J. R.; Carlos, D. M.; Lopes, M. L. (2021).
O estudo laboratorial de Carneiro et al. (2021) Laboratory Degradation of a Reinforcement PET-PP
ratificam essa análise. Na ocasião identificou-se que Geocomposite Under Accelerated Weathering
a radiação UV foi a principal responsável pela Conditions. International Journal of Geosynthetics and
degradação nos testes de intemperismo, tendo seu
Ground Engineering, v. 7, n. 3, pp. 1–11.
efeito mais acentuado em virtude da elevação da
temperatura ou uso de irradiâncias UV mais altas.
Carneiro, J. R.; Morais, M.; Lopes, Lopes, M. L. (2018).
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31
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Degradação de geotêxtil não-tecido de poliéster em resíduos de


construção e demolição reciclado
Mateus P. Fleury
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), São Carlos,Brasil, mateusfleury@usp.br

Clever A. Valentin
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), São Carlos, Brasil, cclever@sc.usp.br

Jefferson Lins da Siva


Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br

RESUMO: Geotêxteis não-tecidos são materiais versáteis que possuem uma vasta gama de aplicação em obras
geotécnicas, como em estruturas de solo reforçado. Para diminuir os impactos gerados pela utilização de agregados
naturais como material de preenchimento dessas estruturas, a comunidade geotécnica têm buscado materiais alternativos.
Os resíduos de construção e demolição reciclados (RCD-R) tem se mostrado atraente por atender os requisitos técnicos
econômicos e ambientais. Contudo, para utilização em conjunto deste “novo” material de preenchimento e geossintéticos,
faz-se necessário avaliar a degradação do material de reforço. Este artigo objetiva avaliar essa degradação por meio da
exposição de geotêxteis não tecidos de poliéster em contato com RCD-R na condição inundada. Esses materiais foram
dispostos de maneira intercalada em cubas de aço inoxidável e mantidas em temperatura ambiente (21 ± 3ºC) e em
condição acelerada (50 ± 4ºC). Amostras de geotêxteis foram exumadas apos 180 dias e ensaiadas sob tração. Os
resultados mostraram uma significativa redução de resistência máxima e deformação na ruptura dos geotêxteis em ambas
temperaturas. Sob a condição acelerada, a degradação foi superior. A hidrólise é o principal mecanismo que causou a
degradação sendo catalizado pela alcalinidade do meio e pela temperatura (quando em condição acelerada). Conclui-se
que investigações pontuais da durabilidade do elemento de reforço devem ser realizadas quando materiais alternativos
são utilizados.

PALAVRAS-CHAVE: Durabilidade de Geossintéticos, Estrutura de Solo Reforçado, Agregados Reciclados, Fator de


Redução, Temperatura.

ABSTRACT: Non-woven geotextiles are versatile materials with various applications in geotechnical engineering, such
as reinforced soil structures. The geotechnical community has been searching for alternative materials to reduce the
impacts of adopting natural aggregates as backfill materials for these structures. Recycled construction and demolition
wastes (RCDW) have proved to be an attractive solution once they fulfil the technical, economic and environmental
requirements. However, for the combined use of this "new" backfill material and geosynthetics, it is necessary to evaluate
the degradation of the reinforcement. This paper aims to evaluate this degradation by exposing non-woven polyester
geotextiles in contact with RCDW in a flooded condition. These materials were arranged in stainless steel tanks and kept
at room temperature (21 ± 3ºC) and under accelerated conditions (50 ± 4ºC). Geotextile samples were exhumed after
180 days and tested under axial tensile load in the machine direction. The results showed a significant reduction of ultimate
tensile strength and strain at failure at both temperatures. Under the accelerated condition, the degradation was higher.
Hydrolysis is the primary mechanism that causes the degradation and is catalysed by the alkalinity of the tanks and
temperature (when under accelerated conditions). It can be concluded that punctual investigations related to the
reinforcements' durability should be carried out when alternative materials are used.

KEY WORDS: Geosynthetics Durability, Reinforced Soil Structures, Recycled Aggregates, Reduction Factor,
Temperature.

1 INTRODUÇÃO engenharia geotécnica. Na década de 80 ocorreu a


primeira execução brasileira de uma estrutura de solo
Geotêxteis não-tecidos foram um dos primeiros reforçado utilizando geotêxteis não-tecidos. Para a
materiais geossintéticos a serem introduzidos na utilização desses materiais na engenharia, torna-se

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


32
fundamental analisar suas propriedades ao longo do 2019). Constata-se que este material alternativo
tempo, ou seja, a durabilidade dos geossintéticos. atende aos requisitos técnicos estabelecidos para
Em projetos de estruturas de solo reforçado, no essas aplicações, e também apresenta vantagens
que tange o estado limite último, os engenheiros econômicas e ambientais (Banias et al. 2010; Blegini
consideram três mecanismos principais que e Garbarino, 2010; Coelho e Brito, 2013a, 2013b;
ocasionam diminuição da resistência à tração do Rodriguez et al. 2015; Asgari et al. 2017).
geossintético ao longo de sua vida útil (Allen e Para a utilização conjunta de geotêxteis não-
Bathurst, 1996; FHWA 2010). O primeiro tecidos de poliéster e resíduos de construção e
mecanismo está associado aos danos decorrentes do demolição reciclados em estruturas de solo
transporte, manuseio e instalação do material in-situ. reforçado, faz-se necessário quantificar a degradação
O segundo decorre do fenômeno de fluência que o material de reforço sofre quando em contato
(aumento da deformação do material quando com este material de preenchimento alternativo. Este
submetido a um carregamento constante) pois o estudo objetiva avaliar a degradação de amostras de
material apresentará um tempo de vida útil (ruptura) geotêxteis não tecidos dispostas entre camadas de
menor a medida que se aumenta a tensão cuja o qual RCD-R e exumadas após seis meses de exposição.
está submetido. O último mecanismo, degradação, Ensaios de tração foram realizados em amostras não
está associado a exposição do material a agendentes degradadas e degradadas para determinar o fator de
degradantes, como luz solar (radição ultravioleta), redução devido a degradação (𝐹𝑅𝐷 ).
água, microorganismos presentes no material de
preenchimento, entre outros.
O presente estudo dedica-se a avaliar a 2 MATERIAIS E MÉTODOS
degradação de geotêxteis causadas pelo contato com
o material de preenchimento. Há evidencias de uma 2.1 Materiais
pequenas redução de resistência de geossintéticos a
base de poliéter (PET) quando em contato com a água Um geotêxtil não-tecido agulhado de poliéster (PET)
(devido hidrólise); mas uma expressiva redução foi utilizado como elemento de refoço neste estudo.
quando o mesmo é submetido a um meio básico Segundo o fabricante, o geotêxtil possui massa por
(Halse et al. 1987; Mathur et al. 1994; Elias et al. unidade de área igual a 250 g/m², resistência à tração
1998; Jailloux et al. 2008; Carneiro et al. 2014). Estes máxima longitudinal de 12 kN/m e deformação na
estudos revelaram um significativa influência da ruptura maior de 70%. Após recebimento do material
solução em que o geossintético está inserido e o ph (em rolo de 5 m de comprimento no sentido
da mesma. Ionescu et al. (1982) e Yoo et al. (2010) transversal), amostras com dimensões de 45x40 cm
salientam que a degradação microbiológica dos (sentidos longitudinal e transversal, respectivamente)
geossintéticos é desprezível pois há baixo teor de foram obtidas para realização deste estudo.
matéria orgânica nos solos comumente utilizados Um resíduo de construção e demolição reciclado
como material de preenchimento. Contudo, quando (RCD-R), fornecido por uma industria de reciclagem
materiais não convencionais são utilziados como de resíduos localizada em Aparecida de Goiânia-GO,
material de preenchimento, ateção especial deve ser compõe o material de preenchimento do estudo. Este
dada a durabilidade do elemento de reforço. material é composto, principalmente, por solo
Tendo em vista que os recursos naturais são (material passante na peneira de 4,8 mm) seguido de
escassos, a engenharia tem buscado materiais materiais cimentates (concreto e argamassa) e
alternativos que possam subtituir os agregados alvenaria que compõem mais de 98% do material. A
naturais comumente utilizados como materiais de Figura 1 apresenta a curva granulométrica do RCD-
preenchimento. Está estratégia, visa diminuir os R utilizado.
impactos causados ao meio ambiente, fornecendo um
caráter mais sustentável às obras de engenharia
geotécnica. Nos últimos anos, diversos estudos
avaliaram a substituição dos materiais naturais por
resísuduos de construção e demolição reciclados
(RCD-R) em obras de pavimentação (Carg e
Thompson, 1996; Leite et al. 2011; Arulrajah et al.
2012b; Herrador et al. 2012; Ossa et al. 2016;
Delongui et al. 2018) e estruturas de solo reforçado
(O’Mahony, 1997; Touahamia et al. 2002; Aqui et al.
2005; Santos et al. 2013, 2014; Rahman et al. ; Vieira
e Pereira 2016; Vieira 2018a; Soleimanbeigi et al.

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33
recebida pelo fabricante) e as amostras degradadas
Figura 1. Curva granulométrica do RCD-R investigado. (exumadas da cuba de degradação).
2.2 Cubas de degradação A degradação foi quantificada por meio de fatores
de redução devido a degradação (𝐹𝑅𝐷 ) calculado pela
A metodologia adotada neste estudo foi baseada na Equação (1) abaixo:
ASTM D 5322-17 (2017). Amostras de geotêxteis
foram acondicionadas em cubas e intercaladas por 𝑇𝑣𝑖𝑟
𝐹𝑅𝐷 = ⁄𝑇 (1)
camadas de RCD-R com 25 mm de espessura. A 𝑑𝑒𝑔
Figura 2 apresenta o detalhe das cubas de degração.
de modo que: 𝑇𝑣𝑖𝑟 é a média de resistência a tração do
geotêxtil em seu estado virgem e𝑇𝑑𝑒𝑔 , é a média de
resistência a tração do geotêxtil após 180 dias de
degradação na cuba.

3 RESULTADOS

A Tablea 1 apresenta os resultados de resistência à


tração máxima (𝑇𝑚𝑎𝑥 ) e a deformação na ruptura (𝜀𝑟 )
obtidas após ensaios nas amostras virgens (não
degradadas). O valor médio de 𝑇𝑚𝑎𝑥 encontra-se
3.75% abaixo do valor reportado pelo fabricante, mas
𝜀𝑟 atende ao critério do mesmo (>70%).

Figura 2. Arranjo das amostras de geotêxteis na cuba de Tabela 1. Resultados dos ensaios de tração realizados em
degradação. amostras virgens.
Corpo de prova 𝑇𝑚𝑎𝑥 (kN/m) 𝜀𝑟 (%)
Antes de seu preenchimento, três tubos de aço
inoxidável (diâmetro de 5 mm e comprimentos de 25 1 10,29 88,75
cm, 15 cm e 10 cm) foram dispostos na parte frontal 2 12,09 79,99
do equipamento. Após o preenchimento das cubas 3 10,97 94,57
com o RCD-R e as amostras de geotêxtil, a mesma 4 12,49 86,54
foi inundada com água destilada. Um tanque (com 5 12,83 82,93
6 10,66 80,98
água destilada) foi posicionado acima do nível da
Média 11,55 85,63
cuba, e foi feita a ligação entre o tanque e o tubo (25
cm de comprimento) por meio de uma mangueira.
A Table 2 apresenta os resultados de 𝑇𝑚𝑎𝑥 e 𝜀𝑟
Após abertura da válvula do tanque, a água percorreu
obtidas após ensaios nas amostras degradadas, tanto
a mangueira até o tubo, e a inundação ocorreu de
em temperatura ambiente quanto em temperatura
baixo para cima.
acelerada. Com apenas 180 dias de degradação em
Uma cuba foi mantida à temperatura ambiente (21
temperatura ambiente, o valor de 𝑇𝑚𝑎𝑥 do geotêxtil
± 3ºC) e a outra à uma temperatura de 50 ± 4ºC.
sofreu uma brusca redução (49,18%). Sob a condição
Apesar das cubas permancerem tampadas, notou-se a
acelerada, a redução foi ainda maior (69,61%),
diminuição do volume ao longo do tempo. Portanto,
indicando assim que a temperatura atua como
periodicamente a cuba recebeu acrésicmo de água
catalizador do processo de degradação do geotêxtil,
destilada para manter o estado inundado.
conforme esperado. Em termos de deformação na
ruptura, tambem nota-se uma redução causada pela
2.3 Quantificação da degradação do geotêxtil
degradação, porém a redução foi semelhante (cerca
de 23%) independente da condição de degradação
Após 180 dias de exposição neste ambiente, uma
(em temperatura ambiente ou acelerada).
amostra de geotêxteis foi extraida de cada cuba,
lavada em água corrente e seca em estufa (30°C)
Tabela 2. Resultados dos ensaios de tração realizados nas
durante 24 horas. Após secagem das amostras, as amostras degradadas em temperatura ambiente e
mesmas foram cortadas em corpos de prova (20x5 cm
sentidos longitudinal e transversal, respectivamente)
e ensaiadas sobre tração seguindo as recomdações da
ASTM D 5035 (2011). Este procedimento foi
realizado tanto par as amostras virgens (como

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acelereda. acelerata (por temperatura). Após 180 dias de
Degradadas Degradadas exposição, amostras foram exumadas e ensaios de
Corpo
(21 ± 3ºC) (50 ± 4ºC) tração realizados em seis corpos de prova. Os
de
𝑇𝑚𝑎𝑥 𝑇𝑚𝑎𝑥 resultados mostraram uma significante redução de
prova 𝜀𝑟 (%) 𝜀𝑟 (%)
(kN/m) (kN/m) resistênica do geotêxtil mesmo sob temperatura
1 5,67 56,12 2,78 61,13 ambiente. Contudo, sob maior temperatura, o
2 6,11 74,87 3,46 73,21
geotêxtil foi muito mais afetado. A hidrólise é o
3 5,60 63,89 3,50 68,75
4 5,98 82,93 3,33 59,58 pricipal mecanismo responsável pela degradação do
5 5,53 53,21 3,84 63,34 geotêxtil que é acelerado pela alcalinidade material
6 6,38 62,79 4,14 72,66 de preenchimento adotado. Sob condição de
Média 5,87 65,64 3,51 66,45 temperatura elevada, esta atua como mais um
fenômeno catalizador da degradação.
Os resultados obtidos demonstram uma severa
degradação dos geotêxteis com apenas 180 dias de
exposição na cuba de degradação. Esas significativas REFERÊNCIAS
diminuições de 𝑇𝑚𝑎𝑥 e 𝜀𝑟 resultam do pH altamente
básico do meio, que decorre da grande concentração Allen, T. M.; Bathurst, R. J.(1996). Combined Allowable
de materiais cimentícios (concreto e argamassa) Strength Reduction Factor for Geosynthetic Creep and
Installation Damage. Geosynthetics international, v. 3,
presentes na composição do material de
n. 3, p. 407-439.
preenchimento. Em complemento, segundo o estudo Aquil, U. tatsuoka, F.; Uchimura, T.; Lohani, T. N.;
de Jailloux et al. (2008), a degradação por hidrólise é Tomita, Y.; Matsushima, K. (2005). Strength and
acelerada em ambiente básico, justificando assim a deformation characteristics of recycled concrete
severa degradação sofrida pelo geotêxtil. aggregate as backfill material. Soils and Foundations,
Em termos de fator de redução relativos a v. 45, n. 5, p. 53-72.
degradação (𝐹𝑅𝐷 ), os valores foram de 1,97 quando Arulrajah, A.; Piratheepan, J.; Ali, M. M. Y.; Bo, M. W.
em condição de temperatura ambiente, e 3,29 quando (2012). Geotechnical properties of recycled concrete
em condição acelerada de degradação. Os valores de aggregate in pavement sub-base applications.
Geotechnical Testing Journal, v. 35, n. 5, p. 1-9.
𝐹𝑅𝐷 foram superiores aos de Mathur et al.
Asgari, A.; Ghorbanian, T.; Yousefi, N.; Dadashzadeh, D.
(1994; 𝐹𝑅𝐷 = 1,00, 300 dias de degradação em Khalili, F.; Bagheri, A.; Raei, M.; Mahvi, A. H. (2017).
pH=10), Elias et al. (1998; FR D = 1,67, 800 dias de Quality and quantity of construction and demolition
degradação em pH=12) e Halse et al. (1987; FR D = waste in Tehran. Journal of Environmental Health
1,43, 120 dias de degradação em pH=12) para Science and Engineering, v. 15, n. 1, p. 1-8.
condições de degradação semelhantes a deste estudo. ASTM (2011) D 5035: Standard Test Method for Breaking
Contudo, Halse et al. (1988) obteve uma degradação Force and Elongation of Textile Fabrics (Strip
mais elevada (𝐹𝑅𝐷 = 3,33) de um geotêxtil não Method)West Conshohocken, PAASTM International,
tecido de poliéster quando submetido a 120 dias de 8p.
ASTM (2017) D 5322: Standard Practice for Laboratory
exposição em um ambiente alcalino (pH=12). A
Immersion Procedures for Evaluating the Chemical
diferença entre os fatores de redução reportados Resistance of Geosynthetics to Liquids, West
decorre da composição química das soluções Conshohocken, 8p.
adotadas pelos autores e a possível movimentação Banias, G.; Achillas, C.; Vlachokostas, C.;
dessas soluções nas cubas de degradação. Ademais, a Moussiopoulos, N.; Tarsenis, S. (2010). Assessing
variabilidade dos componentes do RCD-R pode multiple criteria for the optimal location of a
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poliéster comparado com as soluções (isoladas) facility. Building and Environment, v. 45, n. 10, p.
adotadas por estes autores mencionados. 2317-2326.
Blengini, G. A. e Garbarino, E. (2010). Resources and
waste management in Turin (Italy): The role of
recycled aggregates in the sustainable supply mix.
4 CONCLUSÃO Journal of Cleaner Production, v. 18, n. 10–11, p. 1021-
1030.
O presente estudo avaliou a degradação de geotêxteis Carneiro, J. R.; Carlos, D. M.; Lopes, M. L.; Paula, A. M.
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


36
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Influência da Dinâmica Climática na Durabilidade de Geotêxtil por


Intemperismo: Estudo de Caso
Mag Geisielly Alves Guimarães
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, mag@cefetmg.br

Denise de Carvalho Urashima


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil,
urashima@cefetmg.br

Beatriz Mydori Carvalho Urashima


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, urashimabeatriz@gmail.com

Marcus Vinícius Mendes Pereira


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil,
mvmendes@live.com

RESUMO: A engenharia com geossintéticos apresenta expressivas soluções em sintonia com o desenvolvimento
sustentável. A durabilidade por intemperismo é um relevante fator a ser ponderado ao longo da sua vida de serviço de
projeto. Inúmeros projetos requerem que o geossintético fique exposto à dinâmica climática, tais como obras para
armazenamento e distribuição de água, infraestruturas urbanas e costeiras, sistemas de confinamento de resíduos e
rejeitos, dentre outros. Há consenso sobre os efeitos nocivos de exposições prolongadas de materiais poliméricos às
intempéries, cujos produtos requerem formulações específicas para serem empregados expostos. Estes são associados,
principalmente, a radiação ultravioleta, temperatura ambiente, umidade, efeitos de choques térmicos ocasionados por
precipitações, cuja dinâmica climática varia significativamente com o local e as condições de exposição, época do ano,
estação climática e ao período do dia. O estudo de caso ponderou sobre a influência da dinâmica climática na durabilidade
de um geotêxtil tecido de polipropileno, utilizado para fins de pesquisa, a partir da exposição deste ao intemperismo
durante o verão (2020-2021) e o outono (2021). A durabilidade foi avaliada por parâmetros mecânicos retidos após os
períodos de exposição e a sua correlação com a dinâmica climática. Perdas de resistência à tração de 29,9% foram obtidas
no verão de 24,1% para o outono. A compreensão da dinâmica climática e das possíveis modificações nas propriedades
dos geossintéticos contribuem em tomadas de decisões para o dimensionamento de geossintéticos em aplicações expostas
ao intemperismo.

PALAVRAS-CHAVE: Durabilidade, Dinâmica Climática, Vida de Serviço de Projeto, Intemperismo, Desenvolvimento


Sustentável.

ABSTRACT: Designing with geosynthetics shows expressive solutions in line with sustainable development. Durability
due to weathering is a relevant factor to be considered throughout its design service life. Numerous projects require the
geosynthetic to be exposed to climate dynamics, such as works for the storage and distribution of water, urban and coastal
infrastructure, and waste containment systems, among others. There is a consensus on the harmful effects of prolonged
exposure of polymeric materials to weathering, whose products require specific formulations to be used exposed. These
are mainly associated with ultraviolet radiation, ambient temperature, humidity, and effects of thermal shocks caused by
precipitation, whose climatic dynamics vary significantly with the location and exposure conditions, the time of year, the
weather season, and the time of day. The case study considered the influence of climate dynamics on the durability of a
polypropylene woven geotextile used for research purposes, from its exposure to weathering during the summer (2020-
2021) and autumn (2021). Durability was evaluated by mechanical parameters retained after exposure periods and their
correlation with climatic dynamics. Tensile strength losses of 29.9% were obtained in summer and 24.1% in autumn.
Understanding the climatic dynamics and possible changes in the properties of geosynthetics contributes to decision-
making for the design of geosynthetics in applications exposed to weathering.

KEY WORDS: Durability, Climate Dynamics, Design Service Life, Weathering, Sustainable Development.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


37
1 INTRODUÇÃO e distribuidores de produtos geossintéticos. Estas
visam fornecer informações para adequadas
A engenharia com geossintéticos tem apresentado um especificações de projetos com geossintéticos, que
exponencial crescimento em suas aplicações devido englobam a avaliação da durabilidade mínima sob
às inúmeras alternativas tecnológicas e projetos meio ambiente normal, além de disponibilizar a
pautados no desenvolvimento sustentável. Dentre declaração de desempenho destes produtos entregues
estes, exemplificam-se aplicações que auxiliam no nas obras. Em particular a resistência ao
controle, armazenamento e distribuição de água, intemperismo, a declaração de desempenho deve
obras de infraestrutura e costeiras para a mitigação de indicar qual o tempo máximo de exposição, ou o
catástrofes naturais, como inundações e período a ser coberto, a partir do percentual de
deslizamentos de terra, aplicações que visam a resistência retida em ensaios de intemperismo
substituição de recursos naturais por geossintéticos, acelerado de acordo com norma europeia (EN, 2000).
como solos e rochas, dentre outros (Touze, 2021). Para geotêxteis (GTX) e produtos correlatos aos
Reporta-se, também, o emprego de geotêxteis geotêxteis (GTP), são indicados diferentes períodos
para a confecção de sistemas de confinamento de de exposição máxima em função de intervalos de
resíduos (SCR) destinados ao desaguamento e resistências retidas. Para as barreiras geossintéticas
confinamento de resíduos e rejeitos, tais como lodos (GBR), a resistência retida por intemperismo deverá
de estações de tratamento de esgoto e de água, ser de até 75% (ABNT, 2021a, ABNT, 2020).
efluentes industriais, dentre outros (Lawson, 2008; Nas aplicações nas quais geotêxteis e produtos
IGS BRASIL, 2016), Também, cita-se o emprego de correlatos estarão submetidos à dinâmica climática
SCR para lamas de mineração (Yang et al., 2019), do local de uso, os efeitos das intempéries podem ser
cuja aplicação tem sido considerada uma das associados a absorção de energia solar, com
alternativas promissoras para a redução de seu agravante à parcela referente a radiação ultravioleta
volume pelo aumento de teor de sólidos, inclusive (UV), temperatura do ambiente, presença de
com a possibilidade de empilhamento dos SCR. umidade, efeitos de choques térmicos ocasionados
A aplicabilidade dos materiais geossintéticos aos por precipitações, dentre outras próprias do local de
inúmeros projetos de engenharia requer o exposição (Lopes & Lopes, 2010; Greenwood et al.,
conhecimento da sua durabilidade frente aos fatores 2012; ISO, 2020). Lawson (2016) remete a
de degradação próprios do meio ambiente, importância da análise da durabilidade do material
solicitações de instalação e uso. A durabilidade de geotêxtil nas obras costeiras, se tais estruturas serão
geossintéticos refere-se à capacidade de empregadas para vida de projeto de longo prazo e,
desempenhar satisfatoriamente as funções para as principalmente, em situação exposta às intempéries e
quais foram dimensionados, com a garantia que as desgastes à abrasão, assim como nas aplicações de
propriedades funcionais atendam às propriedades SCR (Assinder et al., 2016).
requeridas, em níveis aceitáveis durante o tempo de Estudos acerca da durabilidade por intempéries
vida de serviço de projeto (ASTM, 2022; ISO, 2020). podem ser realizados em ensaios de campo ou
Existe um consenso na literatura que materiais acelerados em laboratório. Ensaios de exposição ao
poliméricos podem ser suscetíveis a diferentes ar livre visam avaliar o comportamento do material
mecanismos de degradação e que dependem, quando exposto à dinâmica climática em um local
diretamente, da constituição da matriz polimérica específico, por exemplo, onde um determinado
principal, bem como da incorporação de aditivos em produto geossintético é usado para as aplicações
sua resina polimérica primária (Koerner et al., 2017). expostas. Pondera-se a influência da dinâmica
As normas fornecem diretrizes para avaliação da climática local, como estudo complementar aos
durabilidade dos geossintéticos a partir de ensaios ensaios padronizados em laboratório, de modo a
normatizados, contextualizam a importância e a compreender as suas complexidades envolvidas
problemática da durabilidade para estes materiais, (Carneiro et al., 2014). A intensidade dos parâmetros
além de citarem quais são os parâmetros que regem climáticos varia significativamente com o local e as
esse comportamento, tais como: estrutura física do condições de exposição, a época do ano, a estação e
geossintético, natureza do polímero utilizado, o período do dia (Koerner et al., 2017). Portanto,
processo de fabricação, ambiente físico e químico, torna-se necessário conhecer o comportamento da
condições de armazenamento, instalação e dinâmica climática local por meio de tratamentos de
solicitações de projeto impostas aos geossintéticos, dados climatológicos históricos ou pela coleta de
dentre outros (ASTM, 2022; ISO, 2020). dados durante o intervalo de exposição às
Recomendações normativas brasileiras para intempéries.
geotêxteis e produtos correlatos (ABNT, 2021a) e Pereira et al. (2017) abordam um levantamento da
barreiras geossintéticas (ABNT, 2020) tratam de distribuição da energia solar no território brasileiro a
requisitos e procedimentos aplicáveis aos fabricantes partir de dados climatológicos coletados durante 17

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

38
anos (1999 a 2015). No território brasileiro, verifica- (GTX-W) de matriz polimérica de polipropileno para
se que existem macrorregiões que apresentam níveis fins de pesquisa. A escolha desta matriz polimérica
de radiação solar global semelhantes, inferiores ou justifica-se por corresponder a 90% dos geotêxteis
superiores à média anual. comerciais (Koerner, 2012; ISO, 2020). Foram
Dentre os elementos climáticos, a radiação realizados ensaios de caracterização física e
ultravioleta (UV) tem significativa influência na mecânica do geotêxtil intacto.
durabilidade de geossintéticos durante o tempo de A partir dos resultados de resistência à tração
exposição e maiores temperaturas como catalisadores máxima no sentido longitudinal de fabricação,
das reações de fotodegradação (Lopes & Lopes, aplicou-se a Equação 1 para a definição do número
2010; Greenwood et al., 2012; ISO, 2020). Para de corpos de prova a serem obtidos nas amostras
inferir sobre a radiação UV, normalmente faz-se uma expostas ao intemperismo, de forma a considerar o
relação com a radiação solar global (G). Publicações sentido com o menor coeficiente de variação.
em geossintéticos abordam que a relação entre a
radiação UV incidente e a radiação G está (UV/G) 𝑡𝛼 ∗𝑠 2
2 ,𝑛0 −1
entre 2,0% a 9,5% em várias localidades em todo o 𝑛≥( ) (1)
𝑒∗𝑥
mundo, cuja faixa depende de diferentes fatores,
como presença e concentração de nuvens, vapores Dado que n0 é o tamanho da amostra igual a 10, 𝑥
d’água, ar seco e aerossóis no local de medição. Isto corresponde à média amostral, 𝑠 o valor de desvio
remete a um valor médio de 7,5% da radiação UV padrão amostral, 𝑡𝛼,𝑛 −1 é a parcela referente ao valor
local em relação à radiação G (EN, 2000; EN, 2018; 2 0

Greenwood et al., 2012; ISO, 2020). crítico da distribuição t de Student para grau de
A adoção de estimativas de radiação UV liberdade igual a 9 (n0 – 1) tabelado (2,262), 𝑒
incidentes são realizados devido a disponibilidade de corresponde a precisão da estimativa.
dados de radiação G pela maioria das estações
meteorológicas convencionais, visto que 2.2 Exposição ao intemperismo
equipamentos que realizam medições de radiação
UV, inclusive no Brasil, não são comuns devidos aos Ensaios de durabilidade por intemperismo de campo
custos dos equipamentos apropriados a esta foram realizados no Centro Federal de Educação
finalidade. Pesquisadores brasileiros publicaram Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG),
resultados a partir de leituras obtidas e validadas por Unidade Varginha, situado ao Sul de Minas Gerais (-
modelos matemáticos e estatísticos para se estimar a 21,5490º Sul, -45,4194º Oeste, 925,00 metros acima
razão entre as radiações UV e G. Os resultados do nível do mar). A cidade de Varginha (MG)
validados nas cidades localizadas no Sudeste apresenta um clima quente e temperado com
(Botucatu, SP, entre 2001 a 2005) e Nordeste temperatura média anual em torno de 20,0ºC, média
(Pesqueira e Araripina, PE, entre 2008 a 2010) anual de pluviosidade de 1336 mm e classificação do
apresentaram similaridade para a razão de UV/G clima, de acordo com Köppen e Geiger, do tipo Cwa,
estimada em 4,2% (Escobedo et al., 2009, 2011, ou seja, clima subtropical de inverno seco e verão
2014; Leal et al., 2011). Apesar do Brasil apresentar quente (CLIMATE-DATA.ORG, 2021).
extensão continental, as similaridades obtidas nas Os ensaios de durabilidade por intemperismo de
validações supramencionadas justificam a escolha campo foram realizados pelas prescrições das normas
pela estimativa de UV/G de 4,2%, embora inferior ISO (2009a,b) com a fixação de amostras do geotêxtil
aos valores atualmente adotados em publicações de em pórtico metálico que permite um fluxo livre de ar
geossintéticos, que são baseados em recomendações entre as partes superior e inferior das amostras.
europeias. Denominada pelas normas supracitadas de exposição
Neste contexto, o estudo de caso ponderou sobre do tipo aberta, o pórtico é composto por tela metálica
a influência da dinâmica climática na durabilidade de galvanizada com malha de 30 mm x 30 mm,
geotêxtil a partir da exposição deste ao intemperismo inclinação de 22º em relação à horizontal, valor
durante o verão (2020-2021) e o outono (2021). A próximo à latitude do local de exposição (-21,5490º
durabilidade foi avaliada por parâmetros mecânicos Sul), e fixada com a face inclinada orientada para o
retidos após os períodos de exposição e a sua Norte geográfico (eixo Leste-Oeste), ou seja, em
correlação com a dinâmica climática avaliada. direção ao Equador.
As amostras foram fixadas ao pórtico com uso de
garras de alumínio e parafusos galvanizados de modo
2 MATERIAIS E MÉTODOS a não haver influência de superfícies oxidantes nas
2.1 Geotêxtil tecido de polipropileno amostras em exposição. A Figura 1 apresenta o
pórtico utilizado e a fixação de amostras de geotêxtil
Este estudo de caso empregou um geotêxtil tecido tecido de polipropileno obtidas no sentido

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

39
longitudinal de fabricação em medidas de 42 cm x 2019), que preconiza o uso de corpos de prova com
90 cm. largura de 50 mm, distância entre garras de 75 mm e
Os períodos de exposição ao intemperismo velocidade de tracionamento de 300 mm/min. A
compreenderam as estações climáticas de verão escolha de ensaio do tipo faixa estreita foi tomada,
(21/12/2020 a 20/03/2021) e outono (20/03/2021 a bem como a opção pela norma ASTM (2019), em
21/06/2021). Para cada período de exposição, função do tamanho amostral para os ensaios de
parâmetros meteorológicos foram coletados e durabilidade por intemperismo (Guimarães et al.,
tratados a partir de dados obtidos no Portal do 2017). Destaca-se que tanto os ensaios de
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), caracterização mecânica do material intacto quanto
vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e os corpos de prova extraídos das amostras expostas à
Abastecimento, que disponibiliza gratuitamente dinâmica climática foram realizados com a mesma
dados diários de estações meteorológicas metodologia.
automáticas e convencionais. Os dados obtidos nesta Os resultados foram tratados em termos
pesquisa são da estação meteorológica automática na estatísticos por valores médios (medida de posição),
cidade de Varginha (Código: A515), em operação coeficientes de variação (medida de dispersão),
desde 12/07/2006 e localizada a -21,5663º Sul, - inferência amostral por diagramas de caixa e
45,4041º Oeste e 949,78 m acima do nível do mar. A inferência populacional por intervalos de confiança
referida estação meteorológica está localizada a uma (IC), com nível de confiança de 95%. Devido a
distância em torno de 7 km do local de exposição das amostragem aleatória simples (n = 10) do geotêxtil
amostras. tecido de polipropileno apresentar aderência à
distribuição normal, desvio padrão populacional
desconhecido (σ), mas sim desvio padrão amostral
conhecido (𝑠), e n ≤ 30, os IC foram obtidos a partir
da distribuição T de Student (Montgomery & Runger,
2012).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Caracterização do geotêxtil tecido de


polipropileno

A Tabela 1 sumariza os parâmetros físicos e


mecânicos da amostra de geotêxtil obtidos a partir de
Figura 1. Amostras de geotêxtil tecido de polipropileno 10 corpos de prova.
em exposição ao intemperismo.
Tabela 1. Caracterização do geotêxtil tecido de
Os parâmetros meteorológicos de interesse para a polipropileno.
pesquisa são radiação solar global (G) total (MJ/m2), Parâmetros Valores***
temperatura média diária (ºC), umidade relativa do ar Massa por unidade de área 252,8 g/m²
média diária (%) e precipitação diária acumulada (ABNT, 2013) (0,8%)
(mm). Neste estudo de caso, a incidência de radiação Espessura 0,81 mm
UV durante os períodos de exposição climática foi (ABNT, 2021b) (2,1%)
estimada em 4,2% da radiação G, conforme estudos Resistência à tração máxima 56,7 kN/m
brasileiros (Escobedo et al., 2009, 2011, 2014; Leal (ASTM, 2019)* (0,8%)
Deformação à carga máxima 14,8 %
et al., 2011).
(ASTM, 2019)* (3,3%)
Resistência à tração máxima 57,8 kN/m
2.3 Parâmetros analisados (ASTM, 2019)** (2,0%)
Deformação à carga máxima 14,0 %
Após os períodos de exposição, foram realizados (ASTM, 2019)** (4, 3%)
tratamentos temporais das dinâmicas climáticas OBSERVAÇÕES: *Propriedades mecânicas no sentido
registradas, de modo a compreender o seu longitudinal, **Propriedades mecânicas no sentido
comportamento e influências em termos de transversal, ***Entre parêntesis os respectivos
durabilidade do geotêxtil analisado neste estudo de coeficientes de variação.
caso. A durabilidade do geotêxtil tecido de
polipropileno foi analisada por parâmetros Com a fixação da precisão da estimativa igual a
mecânicos obtidos de corpos de prova extraídos das 1% e o baixo valor amostral obtido para o desvio
amostras expostas e analisadas por ensaios de padrão (𝑠 = 0,5 kN/m), seriam necessários, no
resistência à tração do tipo faixa estreita (ASTM, mínimo, 4 corpos de prova (Equação 1). Deste modo,

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

40
o planejamento experimental estabeleceu a obtenção Verifica-se uma maior incidência de radiação UV
de 10 corpos de prova aleatórios nas amostras estimada no verão em comparação ao outono
expostas ao intemperismo no sentido longitudinal de (Tabela 2), com diferença entre as estações de
fabricação para a ponderação da durabilidade após os 11,9 MJ/m², assim como maiores picos de radiação
períodos de exposição. Ressalta-se que as dimensões solar global diária durante o verão na distribuição
amostrais (42 cm x 90 cm) expostas ao intemperismo temporal (Figura 2a). Conforme literatura, maiores
(Figura 1) permitiram a referida extração após os incidências de radiação UV culminam diretamente
períodos de exposição. em possíveis perdas de propriedades mecânicas por
fotodegradação, considerado como o principal fator
3.2. Dinâmica climática de degradação por intemperismo. Contudo, esse fator
não pode ser analisado de forma isolada, mas sim no
A Tabela 2 sumariza os parâmetros meteorológicos contexto da dinâmica climática dentre os períodos de
obtidos para os períodos de exposição analisados. A exposição em campo.
Figura 2 apresenta as distribuições gráficas por
tempo de exposição para o período de verão. Na 40
Radiação solar global diária (MJ/m²)
30

Temperatura média diária (°C)


Figura 3, tem-se o período de outono. 35

Radiação sloar global (MJ/m2)


25
30

Temperatura (ºC)
20
25
Tabela 2. Dinâmica climática nos períodos de exposição.
20 15
Período: Verão (90 dias)
Radiação Precipitação Temperatura Umidade 15
10

UV total total média (°C)* relativa do 10


5
estimada acumulada ar média 5

(MJ/m²) (mm) (%)* 0 0

74,3 214,8 22,2 ± 1,6 73,8 ± 10,0


Período: Outono (92 dias) Tempo (dias)
Radiação Precipitação Temperatura Umidade (a) Radiação solar total e temperatura média diária.
UV total total média (°C)* relativa do 35 100

Umidade relativa do ar média (%)


estimada acumulada ar média 30
90

80
(MJ/m²) (mm) (%)*
Precipitação total (mm)

25 70
62,4 70,8 17,9 ± 2,1 70,1 ± 7,7 60
20
OBSERVAÇÃO: *Desvio padrão (±). Precipitação total (mm) 50
15
40
Umidade relativa do ar
40 30 30
Radiação solar global diária (MJ/m²)
10 média diária (%)
20
35 Temperatura (ºC) 5
25
Radiação solar global (MJ/m2)

10
30
0 0
20
Temperatura (ºC)

25

20 15
Tempo (dias)
15
10 (b) Precipitação total e umidade relativa do ar.
10

5
5
Figura 3. Dinâmica climática registrada no período de
0 0
outono.

Tempo (dias) Menores índices pluviométricos foram


(a) Radiação solar total e temperatura média diária. registrados durante o outono (Figura 3b) em
35 100
comparação ao verão (Figura 2b), com diferença de
Umidade relativa do ar média (%)

90
30 precipitação total acumulada entre os períodos de 144
80
mm. Foram registrados índices pluviométricos em 38
Precipitação total (mm)

25 70

20
60 dias no verão e 25 dias no outono. Importante
50 destacar que os maiores volumes pluviométricos no
15

Precipitação total (mm)


40
verão se concentraram principalmente em
30
10
Umidade relativa do ar 20
fevereiro/2021, ao contrário da estação outono com
5 média diária (%)
10
incidências espaçadas durante a referida estação
0 0 climática.
Maiores índices pluviométricos foram registrados
Tempo (dias)
durante o verão no local de estudo. Para a estação
(b) Precipitação total e umidade relativa do ar. outono, apesar dos baixos índices pluviométricos, a
sua ocorrência temporal espaçada impediu o acúmulo
Figura 2. Dinâmica climática registrada no período de de partículas sólidas sobre a superfície das amostras
verão. expostas, o que poderia atuar como uma barreira de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

41
proteção à incidência de radiação solar na superfície em função do verão ter apresentado menores
das amostras. Para inferência da durabilidade por amplitudes térmicas diárias médias, amostras
intemperismo de materiais poliméricos, as expostas neste período receberam maior incidência
precipitações atuam como um fator de choque de calor durante o dia, cuja relação também pode ser
térmico pela redução da temperatura na superfície feita com maiores radiações (MJ/m²) solares globais
dos materiais expostos, de forma macro, em e, consequentemente, de radiação UV (Tabela 2).
comparação a temperatura incidente nos picos Contudo, este parâmetro também não pode ser
máximos diários. analisado separadamente, mas sim em conjunto com
Em termos de temperatura média diária, ocorreu incidência de radiação solar e nebulosidades diárias,
uma diminuição entre o verão e o outono, com cujo parâmetro não foi objeto de inferência.
redução média diária de 4,2°C. Este parâmetro Quanto à umidade relativa do ar, o período de
climático é de suma importância, uma vez que a verão caracterizou-se com média diária igual a
temperatura atua como catalizador de reações 73,8%. Durante o outono, obteve-se média diária de
químicas, como na fotodegradação. De acordo com a 70,1% e menor desvio padrão médio (7,7%) em
literatura, maiores incidências de radiação solar e comparação ao verão, que apresentou desvio padrão
temperaturas médias diárias podem corroborar em médio diário de 12,6% (Tabela 2). A diferença
maiores perdas de resistência à tração por percentual média de 3,7% pode estar relacionada a
intemperismo. Ademais, é necessário ponderar as maiores índices pluviométricos observados no verão.
amplitudes térmicas, que correspondem a variações
térmicas observadas durante o dia (Figura 4). 3.2. Durabilidade do geotêxtil tecido de polipropileno
30 2,5
A Tabela 3 sumariza os parâmetros mecânicos
25 obtidos durante os ensaios de durabilidade por
Amplitude térmica ( C)

intemperismo. A Figura 5 apresenta o tratamento


Temperatura ( C)

20
1,5
amostral dos resultados por diagrama de caixas. Na
15

1
Figura 6, tem-se a inferência estatística por intervalos
10 de confiança, para nível de confiança de 95%.
5
Temperatura média diária (°C) 0,5

Amplitude térmica diária (°C) Tabela 3. Dinâmica climática nos períodos de exposição.
0 0
Períodos Resistência à Deformação Perda de
tração à carga resistência
Tempo (dias) máxima, máxima, % à tração
(a) Estação climática verão. kN/m (Tmáx)* (ℇ máx)*
30 2,5 Verão 39,7 (2,0%) 8,3 (2,9%) 29,9%
25
Outono 43,0 (3,3%) 8,5 (4,1%) 24,1%
2
Amplitude térmica ( C)

OBSERVAÇÃO: *Entre parêntesis os respectivos


Temperatura ( C)

20
1,5 coeficientes de variação (COV).
15

1 60
Resistência à tração máxima -

10 56,7

Temperatura média diária (°C) 0,5 55


5
kN/m (Tmáx)

Amplitude térmica diária (°C)


0 0
50

45 43,0
Tempo (dias) 39,7
40
(b) Estação climática outono.
35
AMOSTRA Verão Outono
Figura 4. Comparação entre temperatura e amplitude INTACTA
térmicas diárias nas estações climáticas.
Figura 5. Diagrama de caixas nos períodos de exposição
Menores amplitudes térmicas globais foram ao intemperismo.
observadas no verão em relação ao outono, com
valores médios diários de 1,38°C e 1,65°C,
respectivamente. De forma direta, pode-se inferir que
as amostras expostas no outono sofreram maiores
choques térmicos ao longo do tempo, por ser a
estação climática limítrofe com o inverno, cujo
período é característico por temperaturas baixas no Figura 6. Intervalos de confiança (IC), com nível de
início da manhã e final de tarde e maiores confiança de 95%, nos períodos de exposição ao
temperaturas térmicas no meio do dia. Além disso, intemperismo.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

42
Verifica-se menor perda de resistência à tração no distintos fatores de degradação é uma temática
outono (24,1%) em comparação ao verão (29,9%). complexa, uma vez que depende diretamente da sua
Além disso, observa-se a redução nas respectivas formulação polimérica, condições de fabricação,
deformações à carga máxima em comparação ao instalação, armazenamento e uso. Diversas pesquisas
resultado obtido para o geotêxtil tecido de têm sido feitas, principalmente nas últimas duas
polipropileno intacto (14,8%). Devido a estação décadas, sobre a durabilidade dos geossintéticos
climática do verão ter apresentado maiores frente aos distintos mecanismos de degradação,
incidências de radiação UV estimada total durante os assim como a publicação de normas internacionais e
90 dias (74,3 MJ/m²) e temperaturas médias diárias nacionais que direcionam as análises destes materiais
(22,2 ± 1,6°C), este conjunto de parâmetros e os critérios de dimensionamento.
climáticos induziu a referida perda de resistência à Este estudo de caso objetivou discorrer sobre o
tração do geotêxtil tecido de polipropileno. comportamento de durabilidade dos geossintéticos
Como destacado anteriormente, maiores índices quando expostos a dinâmica climática em distintas
de radiação UV implicam na ocorrência de estações climáticas, em um mesmo local de
fotodegradação de materiais geossintéticos, como exposição, de modo a agregar, junto à comunidade
exemplificado neste estudo de caso relacionado ao científica, projetistas e fabricantes, sobre a relevância
geotêxtil tecido de polipropileno. Maiores deste fator de degradação e o quanto pode ser
temperaturas médias diárias também podem ter influenciado em relação à dinâmica climática. O uso
induzido os mecanismos de fotodegradação, assim de um geotêxtil tecido de polipropileno, para fins de
como maiores incidências pluviométricas em pesquisa e que não é empregado em aplicações
ocorrências de choques térmicos na superfície das expostas, teve como intuito exemplificar a ocorrência
amostras de geotêxtil tecido de polipropileno de alterações nas propriedades mecânicas em função
expostas. das condições climáticas de exposição.
A análise amostral por diagrama de caixas indicou Destaca-se que a dinâmica climática varia não
a distribuição dos resultados entre o intervalo apenas entre as estações para o mesmo ciclo
interquartil e, praticamente, a ausência de maiores climático anual, mas também entre os anos, inclusive
faixas entre os limites inferior e superior, o que para um mesmo local de estudo, e localizações
evidencia uma menor dispersão entre os resultados, geográficas. Há outros fatores que modificam as
condizentes com os baixos valores de COV indicados características típicas das estações climáticas, assim
na Tabela 3, assim como a ausência de valores como eventos climáticos extremos que vêm
atípicos (ou espúrios). A média populacional (µ) ocorrendo devido às inúmeras ações antrópicas no
indica que a resistência à tração para os períodos de meio ambiente.
exposição está deslocada à esquerda do IC para a Neste contexto, a compreensão da dinâmica
amostra intacta (54,8 < µ < 57,5 kN/m). Os ICs climática e das possíveis modificações nas
apresentaram um ligeiro aumento na dispersão dos propriedades dos geossintéticos contribuem em
resultados em comparação à faixa intervalar para o tomadas de decisões ao dimensionamento de
geotêxtil intacto devido às alterações mecânicas geossintéticos às inúmeras aplicações expostas ao
ocorridas pela exposição ao intemperismo. Este intemperismo. A incorporação de aditivos químicos
comportamento também foi verificado por análise que minimizem a ocorrência de fotodegradação é
interquartil por diagrama de caixas. Conforme realidade na manufatura de geossintéticos
esperado, o IC com maior deslocamento à esquerda direcionados a esse fim, cuja temática não foi
foi para a estação climática de verão. avaliada neste estudo de caso.
Como parâmetro de dimensionamento de Portanto, o dimensionamento de materiais
materiais geossintéticos, foram obtidos fatores de geossintéticos a serem empregados expostos ao
redução parciais (FRP) nas condições analisadas. Para intemperismo requer inferências quanto a períodos
a estação climática de verão, obteve-se FRP igual a máximos de exposição, aplicação de fatores de
1,4. Referente ao período de outono, o valor obtido é redução parciais que representem, o mais próximo
de 1,3. Os fatores de redução parciais obtidos neste possível, as condições climáticas e temporais do local
estudo de caso são, apenas, para fins de pesquisa, de exposição, assim como período do ano que
uma vez que foi analisado apenas um geossintético compreenderá o início das aplicações expostas ao
como exemplificação em condições de contorno intemperismo.
específicas de campo.

AGRADECIMENTOS
4 CONCLUSÕES
Os autores agradecem ao Centro Federal de
A durabilidade dos materiais geossintéticos aos Educação Tecnológica de Minas Gerais (Propesq n°

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

43
088/12) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Escobedo, J. F.; Dal Pai, A.; Oliveira, A. P.; Soares, J.; Dal
Científico e Tecnológico (Demanda Universal n° Pai, E (2014). Diurnal and anual Evolution of UV, PAR
456236/2014-7) pelos apoios financeiros. A Huesker and NIR irradiations in Botucatu/Brazil. Energy
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correlatos. Associação Brasileira De Normas ISO (2009b). ISO 877-2: Plastics - Methods of exposure to
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determinação da espessura a pressões especificadas: Organization for Standardization, Geneva.
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global solar radiation measured at Botucatu site in
Brazil. Renewable Energy, v. 36, p. 169-178.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

44
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação do Revestimento de Talude com Geossintético para


Controle de Erosão
Thays Regina Miotto Begnini
Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, Brasil, thays.begnini@estudante.uffs.edu.br

Rodrigo Fortunato de Oliveira


Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, Brasil, rodrigo.fortunato@estudante.uffs.edu.br

Isaque Fernandes Oliveira


Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, Brasil, isaquefoliveiraa@gmail.com

Mauro Leandro Menegotto


Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, Brasil, mauro.menegotto@uffs.edu.br

RESUMO: A exposição do solo causada pelas ações antrópicas é responsável por desencadear processos de erosão, os
quais ocorrem principalmente devido à ação das gotas de chuva e do escoamento superficial. Diversos problemas
ambientais decorrem dos processos erosivos, como a perda de nutrientes do solo, diminuição de oxigênio dissolvido e
assoreamento de corpos d’água, sendo, portanto, essencial o estudo de alternativas geotécnicas para controle da erosão.
Deste modo, este trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de diferentes tipos de geossintéticos no controle da
perda de solo em um talude da Área Experimental da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó. A
avaliação se deu por meio da instalação de quatro parcelas experimentais, recobertas com três diferentes tipos de
geossintéticos – geomanta, biomanta e geocélula. A quarta parcela foi mantida com solo exposto, de modo a ser utilizada
como controle. Após um período de oito meses de coleta de dados, percebe-se a expressiva diferença da perda de solo
entre os diferentes geossintéticos. Dentre as quatro parcelas, a recoberta com biomanta apresentou os melhores resultados,
com apenas 0,09 kg/m² de solo erodido, seguida da geomanta, com 0,38 kg/m², e da geocélula, com 2,81 kg/m². Em
contrapartida, o solo exposto apresentou erosão de 7,90 kg/m². Por meio destes resultados, percebe-se que a biomanta
configura-se como a melhor alternativa, entre os geossintéticos avaliados, para controle de erosão no talude em estudo.
Também, evidencia a necessidade de recobrimento e proteção de taludes, uma vez que a parcela com solo exposto
apresentou o resultado mais significativo de erosão.

PALAVRAS-CHAVE: Erosão do Solo, Geomanta, Biomanta, Geocélula.

ABSTRACT: Soil exposure caused by anthropic actions is responsible for triggering erosion processes, which occur
mainly due to the action of raindrops and surface runoff. Several environmental problems result from erosion processes,
such as loss of soil nutrients, decrease in dissolved oxygen and silting up of rivers, therefore, it is essential to study
geotechnical alternatives to control erosion. Thus, this paper aimed to evaluate the efficiency of different types of
geosynthetics in controlling soil loss in a natural slope of the Experimental Field of the Fronteira Sul Federal University
- Campus Chapecó. The evaluation took place through the installation of four experimental plots, covered with three
different types of geosynthetics – geomat, geoblanket and geocell. The fourth plot was maintained with exposed soil, in
order to be used as control. After an eight-month period of data collection, it is possible realize the significant difference
in soil loss between the different geosynthetic. Among the four plots, the covered with geoblanket presented the best
results, with only 0,09 kg/m² of eroded soil, followed by the geomat, with 0,38 kg/m², and the geocell, with 2,81 kg/m².
In contrast, the exposed soil presented 7,90 kg/m². Through these results, it can be seen that the geoblanket is the best
alternative, among the evaluated geosynthetics, for erosion control at the research site. It also highlights the need for
covering and protecting slopes, since the plot with exposed soil showed the most significant result of erosion.

KEY WORDS: Soil erosion, Geomat, Geoblanket, Geocell.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


45
1 INTRODUÇÃO Visando uma maior representatividade das
condições ocorridas em campo, este trabalho teve
A exposição do solo provocada pelas ações como objetivo avaliar a perda de solo por erosão em
antrópicas é responsável por causar um conjunto de um talude revestido com diferentes tipos de
atividades que desencadeiam a desagregação, geossintéticos, na Área Experimental da
transporte e deposição dos materiais da crosta Universidade Federal da Fronteira Sul, campus
terrestre, sendo estes processos chamados de erosão. Chapecó. Neste trabalho foram empregadas
Em países de clima tropical, como o Brasil, onde as geomanta, biomanta e geocélula para proteção do
precipitações pluviométricas são mais frequentes, a talude contra a erosão superficial.
erosão hídrica é predominante (Pes; Gioacomini,
2017) e depende, principalmente, da erosividade da
chuva, da inclinação do talude e do tipo de cobertura 2 CARACTERIZAÇÃO DO SOLO LOCAL
do solo (Rotta; Zuquette, 2015).
Os processos erosivos, portanto, são responsáveis A área de estudo localiza-se na região oeste do estado
por diversos problemas ambientais, como a perda de de Santa Catarina, no Município de Chapecó. Esta
nutrientes do solo e o assoreamento de corpos região tem como característica o afloramento de
hídricos (Guerra; Jorge, 2013), bem como problemas rochas da Formação Serra Geral, do Grupo São
de assoreamento de obras de drenagem. Autores Bento, predominando rochas vulcânicas efusivas
como Oliveira et al. (2019) relatam que esses representadas por uma sucessão de derrames que
problemas podem ser solucionados por um conjunto cobrem cerca de 50% da superfície do estado
de ações que englobam o melhoramento da (Scheibe, 1986).
resistência do solo, controle da infiltração e do A cidade de Chapecó está inserida na Unidade
escoamento superficial. Deste modo, a engenharia Geomorfológica Planalto dos Campos Gerais, mais
geotécnica apresenta soluções para controle, precisamente do Planalto de Chapecó. Os solos mais
mitigação e eliminação do problema ambiental correlacionados com essa unidade geomorfológica
relacionado à erosão por meio do uso de materiais são: Latossolo Bruno/Roxo, Latossolo
geossintéticos e da bioengenharia. Bruno/Vermelho-Escuro, Terra Bruna/Roxa
Os geossintéticos são materiais que auxiliam na Estruturada e Cambissolo com horizonte superficial
contenção dos processos erosivos mantendo a húmico ou A proeminente. A textura predominante
integridade do solo, pois trabalham para evitar o nestes solos é argilosa/muito argilosa (EMBRAPA,
destacamento das partículas pelo impacto das gotas 2004).
de chuva (perda por splash) e o arraste dos grãos De acordo com o mapa de solos do Programa
provocados pelo escoamento superficial. No caso de Nacional de Solos do Brasil – PronaSolos (BRASIL,
taludes, o emprego de geossintéticos tem a finalidade 2020) o solo da Área Experimental da UFFS/Campus
de diminuir o impacto das gotas de chuva, assim Chapecó é classificado pedologicamente como
como a vazão e a energia da água escoada na Latossolo Vermelho Aluminoférrico (LVaf),
superfície inclinada do terreno, atenuando os tratando-se de um Latossolo Vermelho
impactos na base do talude ou a jusante da área (Melo Aluminoférrico úmbrico, de textura muito argilosa,
et al., 2019). de relevo suave ondulado, em conjunto com um
Diversos estudos sobre erosão do solo têm sido Nitossolo Vermelho Distroférrico úmbrico, de
conduzidos em laboratório utilizando simuladores de textura muito argilosa e de relevo ondulado.
chuva para avaliar as perdas de solo, água e Menegotto et al. (2016) realizaram a
nutrientes, infiltração de água e lixiviação em solos caracterização geotécnica do solo da Área
(Ogbobe, Essien, Adebayo, 1998; Lascelles et al., Experimental da Universidade Federal da Fronteira
2000; Loch et al., 2001; Herngren, 2005; Smets et al., Sul (UFFS) - Campus Chapecó. Essa área localiza-se
2011; Soares et al., 2018; Oliveira et al., 2019; Melo nas coordenadas geográficas 27º 07' 07,9'' S e 52º 42'
et al., 2019). 25,7'' W e apresenta uma altitude de 603 m em
A vantagem desta metodologia está na relação ao nível do mar. Os resultados indicaram que
possibilidade de utilização em qualquer época do ano solo superficial é constituído predominantemente por
e o controle da intensidade da chuva artificial, porém partículas finas, apresentando 79% de fração argila,
tem como desvantagens a diferença nos índices 13% de fração silte e 8% de fração areia. O peso
físicos do solo compactado em relação aos de campo, específico dos sólidos é de 27,6 kN/m³, o limite de
o reduzido volume das amostras e a aplicação das liquidez é de 53% e o índice de plasticidade de 13%.
reais características das chuvas em campo (Ribeiro et A partir desses resultados o solo foi classificado pelo
al., 2000). Sistema Unificado como MH, que corresponde a um
silte de alta plasticidade, e pelo Sistema Rodoviário

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


46
como A-7-5. O índice de atividade apresentou um
valor de 0,17, indicando a presença de minerais
argilosos inativos.
De acordo com as classes de erodibilidade do solo
propostas por Salomão (1999), por tratar-se de um
latossolo de textura argilosa, o solo da Área
Experimental da UFFS/Campus Chapecó é
classificado como pouco suscetível à erosão. Por
outro lado, de acordo com a tabela elaborada por
Llopis Trillo (1999), fundamentada no Sistema
Unificado de Classificação dos Solos, o solo MH está
entre os quatro que mais erodíveis.

3 MATERIAL E MÉTODOS
Figura 1. Materiais geossintéticos utilizados nas parcelas
A perda de solo foi determinada por meio da experimentais.
instalação de quatro parcelas experimentais em um
talude natural da Área Experimental da Universidade Com as parcelas experimentais delimitadas e com
Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó. O início o objetivo de corrigir a acidez do solo, aplicou-se 400
dos procedimentos de instalação das parcelas deu-se g/m² de calcário em cada uma. Após 10 dias, semeou-
com a escolha do talude a ser utilizado, o qual deveria se nas parcelas 1, 2 e 3 uma mistura de espécies de
possuir uma inclinação de aproximadamente 1:2 sementes, composta por 60 g de Paspalum Notatum
(V:H), ou seja, com menos de 30º. Em seguida (grama batatais), 20 g de Avena Strigosa (aveia preta)
iniciou-se o processo de limpeza do talude, com a e 20 g de Lolium Multiflorum (azevém).
retirada da vegetação presente, composta por Em seguida, realizou-se o procedimento de
gramíneas e demais plantas rasteiras. instalação da geomanta e da biomanta, ambas fixadas
Após a limpeza demarcou-se o local das quatro com grampos de aproximadamente 15 cm de
parcelas e, utilizando calhas de alumínio, delimitou- comprimento e espaçamento de 50 cm.
se a área de 2 m x 2 m que compõe cada parcela. Na Figura 2 podem ser obsevadas as quatro
Em sequência, ajustou-se a inclinação das quatro parcelas experimentais após a implantação no local
áreas, que havia sido modificada no processo de de estudo.
retirada da vegetação, retornando para 1:2, e fixou-se
as calhas de delimitação com o auxílio de estacas de
madeira.
A seguir, na parcela 1 foi instalada a geocélula,
fixando-a no solo com grampos de aproximadamente
30 cm de comprimento, e preenchendo-a com o
próprio solo do local, retirado no processo de ajuste
da inclinação. Nas parcelas 2 e 3 foram abertas
pequenas covas no talude, com cerca de 5 cm de
profundidade e espaçamento de 10 cm, para posterior
semeadura e instalação da geomanta e biomanta,
respectivamente. A parcela 4 foi mantida com solo
exposto como modelo de comparação.
A geocélula utilizada era composta por tiras de Figura 2. Disposição dos geossintéticos nas parcelas
experimentais.
geotêxtil de polipropileno não tecido termofixado
ligadas entre si e com altura das células de 10 cm. A
Para coleta do solo erodido e da água escoada, na
geomanta era constituída por filamentos grossos de
parte inferior de cada parcela foi instalada uma calha
polipropileno, com espessura nominal de 16 mm e
com inclinação de 1%, que conduz a suspensão de
mais de 90% de vazios. Ainda, a biomanta
água e sedimentos por meio de tubos de PVC de 75
empregada era composta por fibra de coco, contida
mm de diâmetro até uma caixa d’água com
entre duas linhas de polipropileno fotodegradável,
capacidade de 310 L. Dentro da caixa d’água a fração
com gramatura do composto de 400 g/m². Na Figura
grossa da suspensão é inicialmente captada por um
1 pode-se visualizar os materiais geossintéticos
balde de 20 L (Figura 3). Ainda, a calha de coleta da
utilizados nesta pesquisa.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


47
suspensão foi parcialmente coberta com uma lona sementes de azevém, 20g de aveia preta e 30g de
plástica para impedir a que a água da chuva caísse grama batatais nas três parcelas.
diretamente em seu interior, o que alteraria o volume
de água coletado pelo sistema.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 5 apresenta o aspecto das parcelas


experimentais cerca de sete meses após a
implantação. Observa-se maior crescimento de
vegetação nas parcelas com a geocélula e com a
geomanta. Na parcela com biomanta a cobertura
vegetal foi menos pronunciada, fato este que pode ser
devido ao seu aspecto mais fechado - em comparação
com os outros geossintéticos utilizados - impedindo
uma maior a incidência de luz solar sobre o material
semeado.
Também, nota-se que neste período a biomanta já
se apresentava com uma degradação mais
Figura 3. Equipamento coletor da suspensão de água e pronunciada, tanto nas fibras de coco como nas linhas
solo. de polipropileno, uma vez que é composta por
materiais degradáveis. A geomanta e a geocélula não
Na Figura 4 observa-se o resultado da instalação demonstraram visualmente mudanças em sua
das parcelas e do sistema de armazenamento da estrutura física.
suspensão. Devido à estiagem na região no período de verão,
estação após a implantação do experimento, a
principal cultura desenvolvida durante os 7 primeiros
meses foi a Avena Strigosa (aveia preta), de
crescimento ereto, justamente por ser uma cultura
indicada para o período de inverno. Poucas sementes
de Paspalum Notatum (grama batatais), de
crescimento rasteiro, e de Lolium Multiflorum
(azevém) germinaram e se desenvolveram durante
este período.

Figura 4. Sistema de coleta da suspensão de água e solo.

A coleta do material erodido iniciou-se no mês de


novembro de 2021, estendendo-se até julho de 2022,
realizando-se após cada período de chuva. Nas
coletas, fazia-se a retirada do solo remanescente nas
calhas e da suspensão de solo e água presente nas
caixas de água. Media-se o volume de escoamento Figura 5. Parcelas experimentais após sete meses da
implantação.
gerado e a fração de solo era levada para laboratório
para secagem na estufa. Após a completa evaporação
Por meio de uma estação pluviométrica instalada
da fração líquida, realizava-se a pesagem do material
na Área Experimental da Universidade Federal da
para determinar a quantidade de solo seco erodido.
Fronteira Sul – Campus Chapecó, realizou-se a
Cerca de 45 dias após o plantio das sementes,
medição das precipitações entre os meses de
devido a um período prolongado de estiagem, foi
novembro de 2021 a julho de 2022, estando os
realizada uma ressemeadura, adicionando-se 20g de
resultados representados na Figura 6.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


48
massa de sólidos de maneira eficiente, uma vez que
sua estrutura é mais fechada, apresentando menos
vazios entre as fibras.
Destaca-se, por fim, que a perda de massa de solo
da parcela com a geocélula refere-se ao solo utilizado
no seu preenchimento, não sendo caracterizado como
solo com sua estrutura original no talude.

5 CONCLUSÃO

O impacto das gotas de chuva no solo exposto


Figura 6. Precipitação mensal entre novembro de 2021 a provoca a sua desagregação e o escoamento
julho de 2022. superficial transporta essas partículas desagregadas,
muitas vezes por quilômetros, até que elas sejam
Percebe-se que o mês de dezembro apresentou depositadas, causando problemas de grande
baixos volumes de precipitação pluviométrica, o que magnitude, como o assoreamento de cursos hídricos.
justifica o pouco desenvolvimento das culturas Portanto, esta pesquisa se propôs a avaliar a
semeadas. Em contrapartida, os meses de abril e maio atuação de diferentes tipos de geossintéticos no
foram os mais chuvosos no período de análise, controle da erosão hídrica de um talude da Área
ocorrendo no outono. Experimental da Universidade Federal da Fronteira
Após um período de aproximadamente oito meses Sul, campus Chapecó, de modo a subsidiar o uso
de coleta, percebe-se a expressiva diferença de solo destes materiais para controle de erosão em solo
erodido entre as quatro parcelas. Na Figura 7 residual de basalto.
apresenta-se o resultado acumulado das coletas, Nas condições avaliadas verificou-se que, entre os
realizadas em um intervalo entre novembro de 2021 geossintéticos empregados, o uso da biomanta
e julho de 2022. apresentou a menor perda de solo durante o período
analisado, sendo uma alternativa para controle da
erosão provocada pelo impacto das gotas de chuva.
Entretanto, apresentou uma menor cobertura vegetal.
Avalia-se que a geomanta também apresenta-se
como uma boa alternativa, uma vez que teve baixa
perda de solo, significativo crescimento de vegetação
e degradação menos pronunciada durante o período
de análise.
Quanto à geocélula, os resultados obtidos
demonstraram uma perda de parte do solo utilizado
no seu preenchimento, porém com crescimento da
vegetação similar ao da geomanta.
Por fim, evidenciou-se a importância do
Figura 7. Perda de solo acumulada nas diferentes
parcelas.
recobrimento e proteção de solos, visto que a parcela
de solo exposto apresentou um resultado expressivo
O solo exposto apresentou a maior perda de solo, de perda de solo.
durante o período analisado, com valor de 7,90
kg/m², evidenciando a problemática de manter solos
sem proteção e sem vegetação. Já a parcela que AGRADECIMENTOS
possui a cobertura com biomanta apresentou os
melhores resultados, com perda de solo de apenas Os autores agradecem a Universidade Federal da
0,09 kg/m². Este resultado pode justificar-se pelo fato Frolteira Sul – UFFS, pelo apoio por meio de
de a biomanta apresentar uma estrutura mais recursos financeiros disponibilizados para
condensada, diminuindo o contato das gotas de chuva desenvolvimento deste trabalho (Edital Nº
com o solo. Soares et al. (2018), em um estudo 270/GR/UFFS/2020, Projeto PES 2020-0375) e as
conduzido com o uso de biomantas para controle de empresas OBER e Maccaferri do Brasil, pela
erosão, afirmam que estes geossintéticos possuem a disponibilização das amostras dos geossintéticos.
capacidade de reter a umidade e minimizar a perda de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


49
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


50
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Evaluation of physical properties after 6 years submitted to the real


field conditions in the Arroio Passo da Mangueira channel.
A. Donassollo
Maccaferri do Brasil, Novo Hamburgo, Brasil, a.donassollo@maccaferri.com

J. R. C. Costa Jr.
Maccaferri do Brasil, Jundiaí, Brasil, j.costa@maccaferri.com

P. J. Santos Jr.
Maccaferri América Latina, Jundiaí, Brasil, p.santos@maccaferri.com

ABSTRACT: The channel works was constructed as a superficial revetment and protection of the Arroio Passo da
Mangueira banks. The channel solution was used in the lower part (1/3 of the height), and the base of the bank was used
gabion mattress with concrete. For the rest of the bank it was adopted an application of s for control erosion, with grassy
vegetation grouped with other vegetations of 50mm until 150mm of height. After six years of the application, were made
tests with the material to verify the degradation of the phisycal properties of the submitted to the reals conditions. In this
case, was noted a small physical degradation of the , and the bank presents a excellent natural coverage.

KEY WORDS: geomat, control erosion, gabion.

1 INTRODUCTION stability of the channel banks and to stabilize


hydraulically the wet perimeter of the section,
The erosion surface process can occur in both because of the shear stresses from the flow, a
urban and rural areas and has often and severely Gabion mattress (Maccaferri, 2009) was made
affected several regions of the country. Although it lower third (1/3) of the channel where there would
is a natural process, erosion can be accelerated by be constant water due the natural water flow
anthropic action, resulting in dangerous regime. In the upper two thirds (2/3), where the
consequences for the environment (Prado, 2015), presence of water would be sporadic and only in
such as loss of agricultural areas, degradation and periods of floods, geomat were performed with
water contamination, destruction of infrastructure grass planting (Figure 1).
works (roads, streets, channels, among others). The Arroio Passo da Mangueira channel was
For erosion control, simple and flexible originated from an agreement between the City
techniques can be employed, such as simple Hall of Porto Alegre city and the WMS
planting of vegetation, or more complex solutions, Supermercados do Brasil Company, the latter
such as rigid concrete structures. "With regard to would be responsible for doing some
surface runoff, the slopes can be filled with improvements to the surroundings of its
geomat" as said Palmeira (2018). The application establishment, located at Avenida Sertório, 6600,
of geosynthetics can be present in the entire range Sarandi neighborhood, Porto Alegre - RS. For this
of solutions, but to adjust the technique to local purpose, the company Pedraccon - Mineração e
conditions and to the agents that trigger erosive Paveamento had been contracted to do the work,
processes are necessary (slope, soil type, rainfall, specifically for the segment in question, the
use and occupation of the soil, etc). company EAT - Engenharia e Consultoria Ltda was
In this case, two solutions were applied to the contracted to develope the Arroio Passo da
same work, in order to guarantee the geotechnical Mangueira channel design.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


51
Figure 1. Transversal secction of the project adapted (EAT – Engenharia e Consultoria Ltda, 2011)

2 GEOSYNTHETICS FOR EROSION For geosynthetics to perform the erosion


CONTROL control function, they must basically attend the
following requirements:
Among the simple and flexible erosion control
techniques are the surface protection barriers. • Retain fines from the underlying soil or
When installed on cut or embankment slopes, they transported erodible materials;
tend to guarantee the integrity of the area by • Resist the flow velocities and shear stresses
protecting against the dynamics of the erosion caused by surface water flow.
process, which often occurs through the
detachment of soil particles through raindrops or In order to guarantee the continuity of the
the shear stress. mentioned performance it is important to check the
The surface protection barriers can be produced mechanical and hydraulic properties of the proposed
with temporary materials (TERMs - Temporay surface protection. Over 10 mm thick, associated
Erosion and Revegation Materials), for example with rich vegetation, can support velocities until 4.0
straw and coconut fibers, jute, etc., and / or with m/s in a maximum time of 20 hours (Theisen, 1992,
woods known as permanent (PERMs - Permanent apud Vertematti et al., 2015).
Erosion and Revegation Materials). In the latter Other physical characteristics that can be
case, geomantas are included, which are the object evaluated in the is its tensile strength. In addition
of this study (Marques & Geroto, 2015). to its own weight, the cover soil layer generates
The simple purpose of the TERMs type surface tensile efforts on the, but the system must be
protection barriers is to provide adequate competent to the point that it does not allow the to
conditions for the reconstitution of vegetation, rupture, compromising the continuity of the
retaining soil humidity, acting as a source of surface protection allowing an erosive process.
organic matter and temporary surface protection of
the land, since they are degradable. After its
degradation of TERMS, the vegetation developed 3 WORK CHARACTERIZATION
in the area will be responsible for surface
protection (Marques & Geroto, 2015). 3.1 Situation initial
In the case of simple protection barriers of the
PERMs type, in addition to providing surface Along the stretch, for the intervention, it was
protection against erosion processes permanently, possible to observe that the local soil was
the geomants, as they have elements in relief, heterogeneous and composed, in general, of a layer
present better performance (stability) on the of sandy-silty embankment and a layer of sandy
installation surface, adhering to the retention clay (figure 2). The clay layer showed dissection
capacity of the topsoil, even in conditions of runoff cracks and localized instability. the embankment
on the surface, and greater solidarity with the slope suffered an erosive process at its base, which
raticular system of vegetation, as its development could start a global rupture.
proceeds (Marques & Geroto, 2015).

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


52
meters of base and slopes 1:1.25, stabilized. The
parameters for the design were obtained from the
PDDrU- Master Plan for Urban Drainage, Passo
das Pedras and Mangueira Basin, 2002, developed
by IPH, for the Porto Alegre City Hall.
The criteria for sizing and selecting the most
suitable solution generally consider the velocity
and shear stress parameters. For such checks, the
input data in Table 2 were considered.

Table 1. Input data


Parameter Value Unit
Longitudinal channel slope 0,0014 m/m
Figure 2. Current situation of the Passo da Mangueira Banks slope 1:1,25 (V:H)
initial stretch of the on Rua Dona Alzira, Porto Alegre. Flow to TR=25 anos 39,00 m³/s

3.2 Analysis of geotechnical stability Maximum flow 76,50 m³/s


Velocity 2,38 m/s
The geotechnical stability verification of the
Water depth 3,16 M
slopes was made in order to evaluate if the
channel solution with trapezoidal section would Natural soil Sandy clay. w / sand 0,50 D50
be technically feasible. <50%
Soil parameters were adopted through a
correlation performed with percussion drilling An allowable velocity for the natural soil of
tests performed “in loco”. 0.50 m/s was considered to avoid the soil
The safety factor adopted for the section sediment erosion, however with the estimated
subjected to raised water table was 1.3 and 1.5 for acting stream velocity of 2.38 m/s, it required a
the lowered water table. The modeling of the superficial protection against the action of the
channel section was carried out in the SLIDE 6 - flow.
Rocscience Geotechnical Engineering Software At the bottom (1/3 of the channel height) and
(Figure 3), where the safety factors found exceed base of the embankment, mattress-type gabions
the established limits. with a mortar face were used, a solution that
would protect part of the bed against the flow
shear stresses and would also facilitate the
maintenance of the channel.
For the remainder of the slope (upper 2/3), the
application of a for erosion control was adopted,
with subsequent application of rich vegetation of
the grass type of pivoting root intercropped with
legumes between 50 mm and 150 mm high.

3.4 Application

For the execution the first step was to clean the


slope by removing trunks, boulders or any
obstacle that could obstruct the coils of the
geosynthetic, making it uniform and regularizing
Figure 3. Stable slope - SF =1,918 (without water action) it. This cleaning was performed with the aid of
heavy equipment and with subsequent manual
3.3 Revetment determination thinning.
In Figure 4, it is possible to verify the
Based on the hypothesis that the trapezoidal regularized slope and the beginning of the
channel slope was geotechnically stable, it was execution of the coating in mattress-type gabions
necessary to do the hydraulic checks. at the base of the channel gutter.
With the hydraulic verification of the channel,
a trapezoidal section was determined, with 7

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


53
Once anchored, the is unrolled from top to bottom
and with 30 cm overlaps at the ends of the rollers
(Figure 6).
To keep the in direct contact with the slope,
anchoring clamps were applied along the bank at a
rate of 3.25 clamps/m², spaced according to Figure 7.

Figure 4. Regularized slope

Prior to the installation of the, a channel was


spaced at least 1.0m from the top of the slope, with
the main function of anchoring the on the slope in
addition to being also responsible for the upper
drainage (Figure 5).

Figure 7. Fixing clamp density

The fixing clamps ensured a better uniformity and


contact of the geosynthetic with the slope. By this
criterion, it is assessed that even though the slope is
free of irregularities, a visual inspection was carried
out on the site after the application of the over the
slope, checking the need for additional clamping of
points in the points that did not present an adequate
Figure 5. Anchoring trench (MACCAFERRI, 2010) fixation. Figure 8 shows the type of clamp to be
applied to each section.
The channel was executed before the development
of the over the slope, with a height and depth of
0.30m, and with the same longitudinal extension of
the section to be protected. The upper end of the was
placed inside the channel and fixed with clamps.
After the first fixation of the geosynthetic, the
channel was filled with the soil that was removed Figure 8. Clamp type (Maccaferri, 2010)
from it and compacted manually.
For the vegetation correct development on the it is
necessary to do a seeding on the material. In this case,
it was opted for hydro-sowing, through the blasting
of the seeds in the dosage, fertilization and correct
hydration, thus dispensing the cover soil on the. This
procedure was adopted because it is faster than the
traditional sowing process, and its application is more
indicated in large areas to be sown.
The work started on April 5, 2013 and ended on
October 9 of the same year. In total, only 23 days
worked for the installation of the were considered,
representing an average productivity of 310.00
m²/day for a team of five men, that is, 62.00
m²/man/day.
Figure 6. application

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54
• Wide band traction resistance (transversal to
the coil);
• Medium elongation (transversal to the coil).

Table 3 shows the material specification values,


used with production reference and the values
obtained in the test made in 2019, that is, 6 years after
the work carried out where the was exposed and real
field conditions. The weight of the specification has
a value of 500 g / m² (minimum) while the weight
obtained by the sample taken from the work has a
value of 600 g / m². The thickness of the remained
basically stable, with the specification value being
Figure 9. View of the work completed in August / 2014. 16mm, while the value obtained in the 2019 test is
approximately 16.46mm.
The longitudinal tensile strength varied from
4 GEOMANTA TESTS AFTER 6 YEARS 3.39kN/m (production reference), against the 2019
test result of 1.93kN/m, that is, there was a reduction
One of the most frequent questions related to is of approximately 43% in the longitudinal tensile
related to its durability on site. The being a solution strength. The mean longitudinal elongation also
classified as permanent (Vertematti et al., 2015), showed a loss of approximately 9%, since the
must have characteristics that guarantee the integrity specification value was 81.38% and the value
of the surface protection system throughout the life obtained in the test in 2019 was 74%. The result
of the work, unlike the temporary solutions that after found in the transversal direction of the geomat
the initial period of the work, already to degrade showed a small loss in terms of tensile strength, less
leaving in this way the responsibility of superficial than 5%. Regarding stretching, there was an increase
protection only with the vegetation that has from 48.2% to 62%.
developed in this period.
The (PERMs) exposed to ultraviolet rays, can Table 2. Comparison of the initial values of the geomanta
and the values obtained in the 2019 trial.
generate a dryness of the polymer making the
Property Min. Value Unit
material brittle. Added to this degradation factor to Value test 2019
the traction demand generated by the weight itself
Mass per unit área
and the cover soil layer, they can favor the rupture of 500 600 g/m²
(ASTM D5261)
the during the life of the work. Thus, it is important
Thickness
to evaluate the integrity of the exposed in real field 16 16,46 mm
(ASTM D5199)
conditions, because in a case of early degradation the Maximal tensile strength
would no longer adhere to the capacity of retaining longitudinal 3,39 1,93 kN/m
topsoil in runoff of water on the surface, and would (ASTM D4595)
not contribute to solidarity with the raticular Elongation at rupture
vegetation system. longitudinal 81,38 74 %
In order to check the completeness of the, a (ASTM D4595)
sample was removed of approximately 1m² of the Maximal tensile strength
material present in the upper margins of the Passo da transverse 0,73 0,69 kN/m
Mangueira stream. The geomat sample was washed (ASTM D4595)
Elongation at rupture
so that any and all particles of soil and vegetation
transversal 48,40 62 %
would not interfere with the test results. This sample (ASTM D4595)
was tested on the following items:
The reduction in tensile strength and elongation
• Grammage; results were expected due to the exposure of the
• Thickness; material to weathering, especially to UV rays. It
• Wide band traction resistance (Longitudinal should also be noted that the longitudinal tensile
- coil development); strength as well as the elongation in this sense, were
• Medium elongation (Longitudinal - coil the properties evaluated that suffered the greatest
development); reduction. It is believed that this reduction was due to
the fact that it is the same direction in which the is

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


55
subjected to traction efforts due to the material's own Palmeira, E. M. (2018) Geossintéticos em geotecnia e meio
weight and the soil cover applied over it. This state ambiente. Oficina de texto. São Paulo, SP, cap. 5, p.
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possibly conditioning the degradation of the material. Prado, J. A., Donassollo, A. e Costa Jr., J. R. C. (2015).
Canalização do Arroio Passo da Mangueira com
The speed of the geosynthetics degradation
Geomanta. IX Congresso Brasileiro de Geotecnia
process exposed to real field conditions is difficult to Ambiental e VIII Congresso Brasileiro de
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since it may be less or more exposed, depending on Jundiaí, SP, BR.
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5 CONCLUSION Vertematti, J. C., et al. (2015). Manual Brasileiro de
Geossintéticos. 2 ed. Blucher. São Paulo, SP, p. 570.
In view of the work developed that presents an
application of as a superficial coating of the upper
bank of Arroio Passo da Mangueira, and subsequent
laboratory testing of the sample of taken from the
work itself, 6 years after its respective application, it
can be concluded that the applied material presented
results superior to the reference ones (referring to the
technical specification of the material and not
referring to any test carried out on the material in the
initial time of its application), like for example,
transversal elongation. On the other hand, although
expected, it presented results below those of
reference regarding strength and longitudinal
elongation. Finally, it should be noted that the
solution has met the expectations of the work so far,
since the vegetation on the bank has been
successfully developed, as well as the applied does
not show any breaks along its development on the
slope.

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Measuring Mass per Unit Area of Geotextiles.
American Society for Testing and Materials, West
Conshohocken, Pensilvânia, EUA. p. 3.
ASTM (2019). D5199-12: Standard Test Method for
Measuring the Nominal Thickness of Geosynthetics.
American Society for Testing and Materials, West
Conshohocken, Pensilvânia, EUA. p. 4.
EAT – Engenharia e Consultoria LTDA. Projeto de
canalização Arroio Passo da Mangueira, Porto
Alegre, 2011.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


56
TEMA 3: GEOSSINTÉTICOS EM DRENAGEM, FILTRAÇÃO E
BARREIRAS IMPERMEABILIZANTES

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise do Desempenho de Filtros Geotêxteis em Diferentes


Situações: Uma Avaliação de Aplicações nos Últimos 40 Anos
Matheus Viana de Souza
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, matheusvianadesouza@hotmail.com

Ivonne A. M. Gutiérrez Góngora


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, ivonne.gongora@unb.br

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: A presença de água em obras e construções civis demandam grande atenção, pois sua existência pode
ocasionar problemas que podem resultar em diversos danos e complicações para a obra. Considerando esta situação, a
implementação de filtros e sistemas filtrantes tornam-se de grande importância, podendo estes serem do tipo granular,
sintético ou mistos. Entre os materiais geossintéticos empregados com função de filtração, encontram-se os geotêxteis
(tecidos e não tecidos), que podem apresentar grandes vantagens se comparados aos tradicionais. Alguns fatores devem
ser levados em consideração para que os filtros geotêxteis exerçam e desempenhem da maneira esperada, como a
influência da estrutura do geotêxtil, distribuição e tamanho dos poros, as características do líquido, entre outros. A
presente pesquisa analisou diferentes casos de aplicação do geotêxtil como elemento de filtração, sendo estes empregados
em casos teóricos, ensaios laboratoriais e aplicação em campo. Os resultados obtidos por meio de análises de
informações demonstram a eficiência e o bom desempenho dos geotêxteis e permite identificar situações problemáticas
e que merecem estudos adicionais. Os problemas observados estão predominantemente associados a falta ou mau projeto
ou danos mecânicos durante a instalação ou ao longo da vida útil da obra.

PALAVRAS-CHAVE: Filtros, Geossintéticos, Geotêxtil, Dimensionamento, Avaliação.

ABSTRACT: The presence of water in construction sites and civil constructions requires great attention, because its
existence can cause problems that can result in various damages and complications for the work. Considering this
situation, the implementation of filters and filtering systems becomes of great importance, and these can be of granular,
synthetic or mixed type. Among the geosynthetic materials used with filtration function, there are geotextiles (woven and
nonwoven), which can present great advantages compared to traditional ones. Some factors must be taken into
consideration for the geotextile filters to perform as expected, such as the influence of the geotextile structure, distribution
and pore size, the characteristics of the liquid, among others. The present research analyzed different cases of application
of the geotextile as a filtration element, which were employed in theoretical cases, laboratory tests and field application.
The results obtained through information analysis demonstrate the efficiency and good performance of the geotextiles
and allow the identification of problematic situations that merit further study. The problems observed are predominantly
associated with poor design or mechanical damage during installation or over the lifetime of the construction.

KEY WORDS: Filters, Geosynthetics, Geotextiles, Design, Evaluation.

1 INTRODUÇÃO proteção antierosiva em obras hidráulicas. No Brasil,


as primeiras aplicações de geotêxteis aconteceram
A utilização de materiais sintéticos com aplicação em em 1971, em obras rodoviárias, como no caso da BR-
obras geotécnicas e de engenharia civil tem se 101 e na rodovia Transamazônica (VERTEMATTI,
mostrado cada vez mais eficiente e sendo 2001).
progressivamente difundida no meio. No início da Ao longo dos anos, com o desenvolvimento dos
década de 1950, surgiram as primeiras aplicações de geossintéticos, diversos estudos foram feitos em
geotêxteis tecidos como elementos de filtro para relação as propriedades dos geotêxteis, sendo

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normatizadas por instituições como American Segundo Koerner (2012), os geotêxteis podem ser
Society for Testing and Materials (ASTM), a francesa classificados em três classes: geotêxteis tecidos;
Association Française de Normalization (AFNOR), a geotêxteis não-tecidos e geotêxteis tricotados, sendo
International Organization for Standardization este último, constituído pela interligação dos fios por
(ISO) e a Associação Brasileira de Normas Técnicas meio de repetições de laços.
(ABNT). Este material pode apresentar funções variadas
A utilização de geossintéticos como elemento de para cada tipo de necessidade de projeto, como por
filtração é uma das principais aplicações em obras exemplo, aplicado como elemento de separação,
geotécnicas. A razão disso é que geralmente os proteção, filtração, drenagem, controle de erosão,
geotêxteis substituem com vantagem uma ou mais reforço e impermeabilização, esse último quando
camadas de agregados naturais dos sistemas filtrantes impregnado com asfáltico, sendo que neste artigo, a
convencionais (CTG, 2001). análise realizada será para efeito de filtração.
De acordo com a NBR 12553/2003, a função de
filtração de um geossintético tem como objetivo a 2.2 Filtros sintéticos
retenção de um solo ou de outras partículas
submetidas a forças hidrodinâmicas, permitindo a O geotêxtil como elemento de filtro pode apresentar
passagem do fluido em movimento através ou no como vantagens, se comparado com os filtros
interior do produto. granulares, a facilidade de transporte, facilidade e
Para que o geotêxtil trabalhe adequadamente rapidez de instalação e a ocupação de um menor
como um filtro, é necessário que ele atenda a alguns volume de material.
critérios, como: critério de retenção, critério de Segundo Vertemati (2018), para que um filtro ge-
permeabilidade, critério anticolmatação e critério de otêxtil seja considerado bem especificado, é necessá-
sobrevivência e durabilidade. rio que, quando dado o estabelecimento do fluxo per-
Problemas que podem ser relacionados com o manente, a estrutura do solo em contato com o filtro
mau desempenho dos filtros geotêxteis são devido a se mantenha estável, normalmente com a presença de
erosão interna (piping), cegamento do filtro, pontes de grãos de solo no contato com o filtro.
colmatação dos poros ou baixa permeabilidade do Geotêxteis do tipo tecido e não tecido podem ser
geotêxtil utilizado. Por isso, é necessário que haja utilizados como filtros. Porém, há uma predominân-
uma importante análise quanto ao método de cia no uso de geotêxteis do tipo não tecido nessas
dimensionamento a ser utilizado, considerando a aplicações, por possuir uma maior estabilidade
particularidade de cada obra a ser executada e o tipo quanto as dimensões das aberturas dos filtros e por
de geotêxtil a ser utilizado. apresentar uma menor susceptibilidade a danos me-
Sendo assim, o presente artigo tem por objetivo a cânicos e tendência de menores danos no funciona-
revisão da literatura sobre a utilização de geotêxteis mento do filtro no campo (PALMEIRA, 2018).
como elemento de filtros nos decorrer dos últimos 40
anos, avaliando sua utilização em casos teóricos, 2.3 Fatores de influência no sistema de filtro
ensaios laboratoriais e aplicação em campo.
De acordo com Muñoz (2005), a filtração não é uma
2 MATERIAIS E MÉTODOS função exclusiva e tão somente do geotêxtil, mas
também do solo que está adjacente a ele,
Devido ao artigo tratar de uma análise de trabalhos e principalmente em condições em que o fluxo é do
pesquisas realizados, esta seção apresentará alguns tipo unidirecional, pois há uma perda de partículas
dos principais ítens e conceitos aos quais devem ser finas quando submetidas ao primeiro fluxo, criando
atentados na utilização de um geotêxtil para cumprir uma zona onde as partículas maiores começam a
a função de filtro. limitar o movimento das partículas finas, dando
origem ao pré-filtro.
2.1 Geotêxteis Outro problema relacionado está com a formação
dessa rede de arcos acarreta um arqueamento na dis-
Os geotêxteis são produtos têxteis, flexíveis e posição das partículas de solo. Rollin e Lombard
porosos, fabricados comumente de poliéster (PET) (1988), citam a existência quatro propriedades do ge-
ou polipropileno (PP), cuja produção ocorre em duas otêxtil que são capazes de acelerar a formação de ar-
etapas distintas, sendo a primeira a fabricação de cos, que são: baixa permeabilidade, baixa porosi-
elementos lineares, como filamentos, fibras ou fitas, dade, grande espessura e Superfície com caracterís-
e a segunda na combinação desses elementos lineares tica de abundância de fibras livres em contato com o
na confecção de materiais planares (BOSKOV, solo.
2008).

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Atenções também devem ser dadas a estrutura do
meio filtrante, já que de acordo com Lima Júnior
(2014), a interação solo-geotêxtil pode ocasionar
duas condições distintas de filtração, que são as que
ocorrem em um meio poroso e a filtração de partícu-
las em suspensão.
Vale ressaltar ainda que o geotêxtil aplicado na
função de filtro pode sofrer algumas solicitações
como, por exemplo, as causadas por diferenças de
carga hidráulica, direção e sentido do fluxo. Fatores
como solicitações mecânicas e condições do meio em
que esteja aplicado também podem influenciar o seu
funcionamento. Figura 1: Mecanismos de colmatação do filtro geotêxtil
(Palmeira, 2018).
2.4 Critérios de dimensionamento de filtros Atenções também devem ser dadas para danos
geotêxteis causados no momento da instalação, como por exem-
plo, o tráfego de caminhões no momento do lança-
Para que o filtro exerça sua função com excelência, mento do solo, realizando algum dano; utilização de
desempenhando corretamente o papel para o qual foi material de aterro inadequado ou instalação sobre lo-
designado, é de suma importância que ele atenda à cal inadequado e impregnação de lama no geotêxtil.
alguns critérios, como o de retenção de partículas, Esses são alguns dos mecanismos que podem influ-
permeabilidade, anticolmatação e sobrevivência e enciar no mau funcionamento do geotêxtil, aos quais
durabilidade. podem ser evitados.
Para que esses critérios sejam aplicados é neces-
sário ter conhecimento de algumas propriedades físi- 3 RESULTADOS
cas e hidráulicas do filtro, como a espessura, coefici-
ente de permeabilidade, abertura de filtração etc., Considerando os elementos citados na seção anterior,
como também as propriedades do solo e do fluido foi realizado um levantamento de diferentes
percolante. De acordo com Palmeira (2003), para ca- produções bibliográficas relacionadas ao assunto, das
sos rotineiros, a correta especificação de em filtro ge- quais são listados pesquisas desde 1982 até 2022.
otêxtil requer dados disponibilizados pelos fabrican- Essas pesquisas variam entre observações teóricas
tes de geossintéticos e da curva granulométrica do sobre o tema, ensaios realizados em laboratórios e
solo. aplicação em casos de obra reais.
O primeiro trabalho avaliado é de Giroud (1982),
2.5 Aspectos associados aos geotêxteis no qual o autor realizou uma análise teórica, avali-
ando os critérios de permeabilidade e retenção, no
De acordo com Souza (2022), a perda da qual poderia ser aplicado para todos os tipos de solos,
funcionalidade do geotêxtil é uma das grandes considerando também que se aplicaria aos geotêxteis
preocupações durante o seu uso em obras de filtração. tecidos e não-tecidos. Nesse estudo, o autor utiliza
Mesmo sendo composto de um bom material e um uma abordagem racional, onde foram estabelecidos
processo de fabricação controlado, estes materiais critérios de filtração para geotêxteis. Embora estes
podem estar sujeitos a problemas durante o período critérios possam não parecer, para a época, como os
em que estiverem atuando. critérios já conhecidos para filtros granulares, eles
Considerando a existência da possibilidade de da- eram, provavelmente, tão válidos quanto.
nos mecânicos, o método mais usual para levar em Outro trabalho que realizou uma análise teórica
conta as consequências destes é a utilização de fato- sobre os critérios de permeabilidade e retenção dos
res de redução. Fatores de redução devem também ser geotêxteis foi o de Lawson (1982), no qual avaliou a
aplicados no cálculo da vazão de dimensionamento aplicação dos geotêxteis tecidos e não-tecidos, consi-
do sistema filtro-drenante. derando sua aplicação para qualquer tipo de solo que
Um dos pontos mais importantes com relação a fosse desejado. Em suas considerações, o autor cita
má funcionalidade dos filtros geotêxteis é a redução que as principais vantagens dos filtros geotêxteis em
de sua permeabilidade e a colmatação do filtro, que relação aos granulares eram que, os primeiros apre-
podem ser classificados como cegamento, bloquea- sentam desempenho comparável, propriedades con-
mento ou obstrução interna (Figura 1). sistentes, facilidade de colocação e maior economia.
O autor estimou ainda que, o tempo para a estabiliza-
ção da ponte de partículas do solo de base retendo

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partículas de grão fino seria até quatro ou cinco me- Figura 2. Etapas para a escolha do filtro geotêxtil (Auto-
ses após a instalação do geotêxtil. res, 2021).
Já a pesquisa realizada por Spada (1991) foi rea-
lizada em laboratório, contendo ensaios de filtração A pesquisa realizada por Fourie e Kuchena
de longa duração em amostras permanentes submer- (1995), avaliou laboratorialmente, por meio de testes
sas; Razão entre gradientes, pH da água, condutância de fluxo e ensaios sob tração, geotêxteis não tecidos
elétrica e turbidez. O tipo de solo utilizado pelo autor agulhados de polietileno, tecidos de polipropileno e
foi uma areia média de São Francisco com permeabi- tricotados de polipropileno de alta densidade. Suas
lidade de 20.10-4 m/s, solo de arenito caiuá e solos da gramaturas eram de 282, 200 e 150 g/m², respectiva-
unidade cenozóica. mente, sendo estes materiais ensaiados com solo do
Os geotêxteis utilizados foram do tipo tecido e tipo areia grossa e bem graduada com uma conduti-
não-tecido, com as seguintes especificações: Geotêx- vidade hidráulica saturada de 1x 10-4 m /s e um teor
til não tecido de polipropileno termoligado de 0.41 de finos de 4%.
mm de espessura. Dw = 240 μm, D90 = 250 μm; geo- Em suas avaliações, os autores notaram que, para
têxtil não tecido de poliéster agulhado de 0.40 mm de os critérios de retenção analisados, o geotêxtil tecido
espessura, permeabilidade de 6,4x10 -2 m/s e D95 400 não satisfez os critérios de Giroud (1982) e de Carrol
mm; e geotêxtil tecido de 3.9 mm de espessura, com (1983). Os geotêxteis não-tecidos não atenderam so-
permeabilidade de 2,2.10-3 m/s e D15 = 750 mm. Os mente ao critério de Christopher e Holtz (1985) e os
critérios de retenção analisados pelo autor foram: Co- tricotados atenderam a todos.
mitè Français des Geotêxtiles et Geomembrane Os autores citam ainda dois problemas diferentes
(CFGG), Federal Highway Administration (FHWA), relacionados ao efeito das tensões de tração nas ca-
IRIGM/EPM (Universidade de Grenoble e Escola racterísticas de permeabilidade e retenção de geotêx-
Politécnica de Montreal), Giroud, Código Alemão e teis foram identificados: O uso de geotêxteis não te-
Mlynarek. cidos e tecidos mostrou diminuições muito dramáti-
Como resultado da investigação, o autor notou cas na taxa de fluxo com aumentos relativamente pe-
que, os valores de GR, ao longo do ensaio, mantive- quenos na tensão de tração. No primeiro, uma aplica-
ram-se em torno de 1,0 para o ensaio com solo Caiuá ção em que solo colocado hidraulicamente é retido
e próximos a 1,6 para o ensaio com solo Cenozóico. por uma barreira geotêxtil foi considerada problemá-
O único critério de retenção que concordou integral- tica do ponto de vista da retenção de partículas. As
mente com os resultados de ensaios foi o proposto em deformações fora do plano resultaram em perda de
conjunto IRIGM/EPM. Já o critério do CFGG distan- partículas significativamente maior do que a obser-
ciou-se inteiramente dos resultados obtidos. Os de- vada para amostras sem tensão. As tensões de tração
mais critérios não coincidiram com os valores obti- de menos de 3% da resistência à tração final do geo-
dos nos ensaios realizados, pelo menos em dois dos têxtil resultaram em diminuições na taxa de fluxo de
três geotêxteis estudados. até 80% em comparação com os espécimes sem ten-
Luettich et al. (1992) realizaram diferentes le- são.
vantamentos de dados sobre geotêxteis tecidos e não Já a pesquisa realizada por Gardoni e Palmeira
tecidos, para que servisse como um guia passo-a- (2002), buscou analisar a microestrutura e caracterís-
passo de como utilizar o geotêxtil como filtro. Em sua ticas dos poros dos filtros sintéticos sob confina-
pesquisa, os autores buscaram fazer com que esses mento, por meio do ensaio conhecido como Bubble
critérios se aplicassem para todos os tipos de solo, Point Test, também chamado de Teste do ponto de
avaliando para ensaios de retenção, permeabilidade, bolha. Neste trabalho, foram estudados três geotêx-
anticolmatação, sobrevivência e durabilidade do ma- teis não tecidos agulhados (GA, GB e GC), de poli-
terial. A Figura 2 apresenta algumas etapas para a es- éster, com gramaturas de 200, 400 e 600 g/m², res-
colha do filtro geotêxtil, segundo autores. pectivamente.
Os autores notaram que para baixos níveis de ten-
são, as fibras geotêxteis são distribuídas de forma
bastante esparsa. No entanto, sob altos níveis de ten-
sões, macrocanais são formados entre os pacotes de
fibras em contato direto. A abordagem apresentada
por Masounave et al. (1980) mostrou uma acurácia
satisfatória na predição dos diâmetros dos poros,
principalmente no que diz respeito ao diâmetro mé-
dio dos poros do geotêxtil sob confinamento. O mé-
todo proposto por Faure et al. (1989) apresentou pre-
cisão razoável para os geotêxteis mais leves e baixos

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níveis de tensão, e desvios significativos dos resulta- Germano. O teor de finos (<0,074 mm) dos rejeitos
dos obtidos para o geotêxtil mais espesso. Em geral, variou entre 29% e 72%, dependendo dos rejeitos
as previsões do método simples proposto por Giroud considerados. Para esta pesquisa, foram realizados
(1996) foram as mais precisas, principalmente ensaios de razão entre gradientes (GR) e microscopia
quando um valor do coeficiente ζ utilizado era menor ótica.
ou igual a 15. Os resultados da razão entre gradientes em rela-
Wu et al. (2006) realizaram ensaios laboratoriais ção à tensão normal para o sistema FA-G1 apresen-
do tipo razão entre gradientes, conhecidos também taram valores menores que 0,5 no início do teste, in-
como ensaio de GR, avaliando dois geotêxteis não te- dicando a ocorrência de um grave mecanismo de pi-
cidos agulhados de poliéster, chamados pelos autores ping. Isto pode ser atribuído à instabilidade interna
de G1, G2 com massas por unidade de área (g / m 2) potencial deste material, caracterizada pela queda re-
de 250 e 450, respectivamente, Espessuras (mm) de pentina dos valores dos diâmetros das partículas em
1.4 e 2.5, respectivamente; O95 (milímetros) de 0.14 torno de 0,074 mm. O nível de tensões aumentou os
e 0.10, respectivamente; um de polipropileno, cha- valores de GR 8mm e GR permaneceu bastante cons-
mado de G3, com massa por unidade de área (g / m 2) tantes, enquanto o valor de GR3mm aumentou com
de 320, espessura (mm) de 1.8, O95 (milímetros) de uma tensão normal até um valor de 1,4 para uma ten-
0.24. Com relação aos solos usados tinham uma den- são normal tensão de 2000 kPa.
sidade dos grãos de Gs = 2.68, densidade de 1.786Mg Das amostras de geotêxtil exumadas, notou-se
/ m3, d50 de 0, 5mm, emax de 0, 638, emin de 0, 395. certa colmatação das camadas de filtro geotêxtil dos
Esferas de aço com diâmetros de 7, 11, 14,2, 15,85, sistemas de drenagem vertical após 6 anos em ser-
19, 25,4 e 31,8 mm foram ainda escolhidas para si- viço. As análises de microscopia auxiliaram estas ob-
mular vários tamanhos de solo. servações. Os resultados dos testes de razão de gradi-
Como resposta para os ensaios, os autores nota- ente sob um gradiente de sistema constante igual a 1
ram que o valor de GR aumentou conforme a propor- mostraram pior condição ocorreu nas proximidades
ção da área aberta diminuiu. Pode-se dizer que a re- da interface rejeito-geotêxtil.
lação do valor GR entre as camadas de drenagem e Blond et al. (2015) realizaram uma análise
drenagem livre (GR / GR100) diminui à medida que abrangente das técnicas de medição utilizadas para
a proporção da área aberta aumentou. determinar o tamanho da abertura do geotêxtil: Ta-
Os resultados experimentais mostraram que as manho da abertura aparente, originalmente chamada
discrepâncias dos índices de variação de fluxo entre de Apparent Opening Size (AOS) de acordo com a
os sistemas de filtração construídos com três tama- ASTM D4751, FOS - Filtration Opening Size, cha-
nhos de fibras diferentes foram insignificantes. Os mada também de tamanho abertura de filtração, O90,
valores de GR testados em ambos os geotêxteis sob e Bubble Point, aplicada para todos os geotêxteis
diferentes gradientes hidráulicos também mostraram não-tecidos do tipo termoligados.
menos de 5% de variação entre os três sistemas. Esse Para esta pesquisa, foram realizadas análises
fenômeno indica que o potencial de colmatação de críticas quanto a técnicas normativas para a medição
um sistema de filtração é influenciado pela proporção do tamanho de aberturas do geotêxtil, como as medi-
da área aberta, e não pelo tamanho da fibra. ções geradas por ASTM D4751; Tamanho de Aber-
Na pesquisa de Palmeira et al. (2010), foram tura 'O90' por ISO 12956; Tamanho de Abertura de
analisados Geotêxtil não tecido agulhado, de poliéster Filtração "FOS", de acordo com CGSB 148.1 n ° 10
com gramatura de 200 g/m2, com tGT (mm) de 2.3, e; Distribuição de tamanho de poros de acordo com
O95 (mm) de 0.130, kn (cm/s) de 0.27 e Ψ (s-1) de ASTM D6767. Foi mostrado que AOS, determinado
1.9., chamado de G1 ; Geotêxtil não tecido agulhado usando ASTM D4751 apresenta vários desafios ex-
de poliéster com gramatura de 400 g/m2, tGT (mm) de perimentais que tornam sua repetibilidade, portanto,
3.7, O95 (mm) de 0.09, kn (cm/s) de 0.27 e Ψ (s-1) de confiabilidade, relativamente pobre. O90, determi-
1.1. , chamado de G2; Geotêxtil não tecido agulhado nado usando a ISO 12956 apresenta menos desafios
de poliéster com gramatura de 627 g/m2, tGT (mm) de experimentais, mas a dispersão nos resultados ainda
4.5, O95 (mm) de 0.060, kn (cm/s) de 0.27 e Ψ (s-1) foi observada em testes que aplicaram o método
de 0.9. round Robin.
Foram ainda utilizados como solo experimental, O trabalho de Markiewicz et al. (2022) realizou
três tipos de rejeitos coletados nas barragens de rejei- a avaliação de geotêxteis utilizados em uma obra na
tos. Rejeitos FA é um material arenoso coletado da Barragem de Bialobrzegi, na Polônia, em 1999. Fo-
barragem de rejeitos da Fosfertil; O rejeito SA tam- ram utilizados nessa pesquisa geotêxtil não tecido de
bém é um material arenoso coletado na barragem de polipropileno, com massa por unidade de área de 450
Cava do Germano; O rejeito SL é um material mais g/m2, 5 mm de espessura e com coeficiente de perme-
fino coletado nas baias de secagem da barragem de abilidade de 0,005 m/s. Foram também analisados

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três geotêxteis virgens puncionados com agulha, de performance de todos geotêxteis nos diferentes
polipropileno. Os ensaios realizados foram de condu- ensaios efetuados nesta pesquisa.
tividade hidráulica, razão entre gradientes (GR) vari- O autor salienta ainda também sobre cuidados
ando entre 1 e 10 e, microscopia eletrônica. O solo especiais que devem ser tomados para evitar o
utilizado era uma Areia Siltosa com D10 = 0,02mm, surgimento de sedimentos ferruginosos na água em
D50 = 0,16 mm, D60 = 0,19, D85 = 0,34 mm, Cu = ensaios de filtração de longa duração, o que pode
9,5 e Cc = 2,38. O solo é caracterizado como interna- acarretar no comprometimento do geotêxtil em sua
mente instável, de acordo com o critério proposto por função de filtro. Em suma, pode-se descrever que o
Kenney & Lau (1985). desempenho dos filtros geotêxteis empregados foi
Com os resultados obtidos, foram observadas bom tanto no que se refere à capacidade de drenagem
reduções do coeficiente de permeabilidade do geo- da água como na filtração das partículas.
têxtil após os testes de GR entre 2,7 e 5,5 vezes, de- Na investigação proposta por Luettich et al.
pendendo do geotêxtil considerado. Os autores reco- (1992), constatou-se que, para solos de granulação
mendam ainda que os valores para GR8mm seja me- grosseira, as altas pressões de confinamento tendem
nor ou igual a 3.7 e, para GR4mm, menores ou igual a aumentar a densidade relativa do solo, aumentando
a 4.8. Testes de permeabilidade sob tensão vertical de assim a resistência à movimentação de partículas.
5 kPa (tensão de campo) foram realizados em corpos Isto afeta a seleção de critérios de retenção.
de prova exumados. Já para solos de grãos finos, as altas pressões de
Com relação ao valor do nível de impregnação confinamento diminuem a condutividade hidráulica
(λ) no geotêxtil exumado, foi igual a 0,88. Os resul- do solo (ks), e aumentam o potencial de o solo passar
tados dos ensaios de permeabilidade em corpos de através do filtro geotêxtil. O gradiente hidráulico (is)
prova exumados mostraram uma redução significa- irá variar dependendo da aplicação do filtro. Avaliou-
tiva (9 vezes menor) com relação ao valor do corpo se também outras considerações que devem ser
de prova virgem, porém, o critério de permeabilidade abordadas no projeto do filtro geotêxtil, como sendo:
para o filtro geotêxtil ainda foi atendido (kGT = 246ks, a estrutura geotêxtil; a intrusão do geotêxtil na
nesse caso). camada de drenagem; extrusão do solo de grãos finos
através do geotêxtil quando submetido a altas
4 DISCUSSÃO pressões confinantes; abrasão do geotêxtil devido à
ação dinâmica; contato íntimo do solo e do geotêxtil.
Considerando a pesquisa de Giroud (1982), foram Na pesquisa de Fourier e Kuchena (1995), os
realizadas discussões acerca dos mecanismos de critérios de retenção analisados foram: Giroud
filtração com geotêxteis, existentes na década de (1982), Carroll (1983), Christopher e Holtz (1985).
1980. O autor demonstrou ainda a necessidade de De acordo com os autores, os atuais critérios (da
aperfeiçoamentos nos métodos de dimensionamento época da pesquisa) de retenção de geotêxteis foram
utilizados para a época. Vale salientar que esta adequados para aplicações desta natureza. Citam
pesquisa foi elaborada ainda no princípio da ainda que é necessário a realização de testes de
utilização dos geotêxteis como elemento de filtração. desempenho com diferentes situações.
No trabalho de Lawson (1982), o autor discute a Na investigação realizada por Gardoni e
relevância e uso de critérios de filtro para geotêxteis. Palmeira (2002), os autores consideraram o uso de
Destaca-se ainda que a função do geotêxtil na ensaios de laboratório para obter a distribuição e
aplicação do filtro unidirecional é principalmente dimensões dos espaços de poros em um geotêxtil sob
atuar como catalisador na formação de um filtro de confinamento para fins de projeto de filtro como
solo estável a partir do solo de origem, in situ. A sendo limitado, devido à complexidade e custo desses
pesquisa apresenta ainda discussões sobre vários testes. Notou-se ainda que a presença de partículas de
critérios de filtro, com ênfase particular no critério de solo no geotêxtil reduz as dimensões dos poros e pode
retenção de filtro, sendo este de grande importância aumentar significativamente a capacidade de
para o desenvolvimento do uso do geotêxtil em retenção do geotêxtil.
filtração. Avaliando a pesquisa realizada por Wu et al
Na pesquisa desenvolvida por Spada (1991), (2006), nota-se que os valores de GR e taxas de fluxo
foram realizados 18 ensaios de filtração. Os apresentam apenas pequenas alterações, desde que a
resultados obtidos demonstraram bom desempenho área aberta permaneça a mesma. Isso mostra que a
dos geotêxteis. A comparação dos resultados de área aberta deve ser uma preocupação importante na
ensaios com os critérios da literatura, de seleção de avaliação do potencial de entupimento e da taxa de
filtros de geotêxteis revelou que os mesmos foram fluxo de um filtro. Os geotêxteis usados com esferas
conservadores, em que somente um único critério, de aço e testes de placa perfurada são diferentes,
dos seis considerados, foi capaz de prever a boa perdendo-se a oportunidade de comparar diretamente

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63
o desempenho de filtração de diferentes condições. mostrando conformidade com os valores obtidos de
Isso indica que as esferas de aço a jusante do geotêxtil ensaios e casos de obra.
aumentam o potencial de colmatação de um sistema Fatores que podem influenciar no bom
de filtragem de geotêxteis. desempenho do filtro podem ser considerados por
Na pesquisa realizada por Palmeira et al. (2010), meio de um bom dimensionamento, utilizando, por
o principal objetivo do estudo foi investigar o exemplo, os critérios de retenção de Giroud (1982),
desempenho de filtros geotêxteis em contato com Carrol Jr (1983), Lafleur (1999); critérios de
alguns rejeitos típicos no Brasil e avaliar seu real permeabilidade ou permissividade de Cristopher e
comportamento em campo. Os filtros geotêxteis dos Hotlz (1985), Lafleur (1999) etc, devendo sempre ser
sistemas de drenagem vertical das baias de secagem avaliado a pertinência de cada método para o caso em
funcionam em condições bastante severas. A lama de questão. Notou-se que os métodos utilizados nos
rejeitos é disposta na baia a uma certa distância desse casos avaliados demonstraram serem bons para o
sistema. Assim, chegam ao filtro principalmente processo de dimensionamento de filtros sintéticos em
partículas finas, capazes de serem transportadas pelo que foi empregado.
escoamento, e partículas em suspensão, o que pode Outros pontos também importantes, como
favorecer o cegamento e / ou alta impregnação do influência do nível de tensões atuantes sobre o
geotêxtil. geotêxtil e a presença de partículas de solo no seu
Para o trabalho de Blond et al. (2015), foram interior, também afetaram comportamento dreno-
analisadas quatro técnicas de medição de tamanho de filtrante esperado dos geotêxteis. Esse é um dos
aberturas. Três delas envolvem a passagem de fatores que deveriam ser levados em consideração
partículas através do geotêxtil para determinar um pelos critérios de dimensionamento, o que ainda não
tamanho de abertura característico. A quarta foi uma é feito.
técnica de medição indireta, onde a tensão superficial É certo que, com a evolução tecnológica, técnicas
de um líquido está envolvida na determinação do e ferramentas computacionais têm auxiliado cada vez
tamanho característico das aberturas do geotêxtil, no mais o entendimento do comportamento de diferentes
qual notou-se certa dificuldade em alguns casos. Os materiais na engenharia. Com isso, a utilização de
autores destacam ainda que não foi possível simulações numéricas, como o método dos elementos
demonstrar esta confiabilidade do FOS, determinada discretos, pode contribuir para o conhecimento sobre
de acordo com CGSB 148.1 n ° 10, porque não o comportamento de filtros geotêxteis, estimando
haviam laboratórios suficientes para realizar o teste assim, uma maior assertiva quanto ao filtro.
para permitir a determinação da repetibilidade entre Por fim, ressalta-se que, na presente pesquisa, os
laboratórios. geotêxteis são materiais que apresentam uma boa
E, por fim, as avaliações realizadas por eficiência como material filtrante. Vale ressalvar
Markiewicz et al. (2022), no qual trabalhou com a ainda que os conhecimentos sobre seu
exumação de amostras de geotêxteis utilizados na comportamento têm aumentado continuamente ao
barragem de Bialobrzegi, na Polônia, em 1999, longo dos anos, apresentando aperfeiçoamentos
notou-se que o solo utilizado era caracterizado como sobre seu uso em obras geotécnicas. No entanto, mais
internamente instável, conforme os critérios de estudos são necessários para um melhor
Kenney e Lau (1985), sendo este um grande conhecimento do comportamento de tais filtros em
problema no âmbito geotécnico. Antes da instalação situações críticas de utilização.
do filtro geotêxtil, em 1994, havia ocorrência do
fenômeno de sufusão no filtro de areia original. REFERÊNCIAS
Notou-se também que a permeabilidade reduziu
consideravelmente, considerando assim, a eficiência ABNT (2003). NBR 12553: Geotêxteis - Terminologia.
do geotêxtil. Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, p. 71.
5 CONCLUSÃO ABNT (2022). NBR ISO 12956: ABNT (2003). NBR
12553: Geotêxteis - Terminologia. Associação
Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 71.
O objetivo da realização desta pesquisa foi reunir e Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
avaliar diferentes pesquisas sobre desempenho de Janeiro, p. 71.
filtros geotêxteis, tanto para casos de aplicações AFNOR, (1989). AFNOR G 38 017: Standard Test
teóricas como para ensaios realizados em laboratório Method for Measuring the Soil-Geotextile System
ou em obras civis. Clogging Potential by the Gradient Ratio. American
Foram avaliados os diferentes processos de Society for Testing and Materials.
dimensionamento que atestaram suas eficiências nos ASTM (2021) ASTM D4751: Standard Test Methods for
casos em que foram empregados corretamente, Determining Apparent Opening Size of a Geotextile.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


64
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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise Numérica de Soluções de Impermeabilização de Barragens


de Terra: Geomembranas e Métodos Tradicionais
Rodrigo César Pierozan
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – IFRO, Campus Porto Velho
Calama, Porto Velho, Brasil, rodrigo.pierozan@ifro.edu.br

Ramissés Evangelista Araújo


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – IFRO, Campus Porto Velho
Calama, Porto Velho, Brasil, ramisses.evan.araujo@gmail.com

Giovanna Monique Alelvan


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, giovannaalelvan@etg.ufmg.br
RESUMO: Geossintéticos são soluções promissoras para a elaboração de projetos mais sustentáveis e tecnicamente
eficientes. Avaliações do ciclo de vida comparando soluções tradicionais envolvendo a extração de materiais naturais
com casos de aplicação de geossintéticos demonstram uma redução de até 84% na emissão de gases do efeito estufa para
estes últimos. Isso demonstra a necessidade de continuar investigando o desempenho técnico dos geossintéticos para
diferentes estruturas geotécnicas. Neste contexto, este artigo comparou do ponto de vista hidráulico a performance de
soluções convencionais de impermeabilização de barragens (trincheiras de vedação e tapetes impermeáveis) com a
impermeabilização por geomembranas. Um modelo numérico foi calibrado e validado a partir de ensaios em modelo
físico de barragem (1-g), o qual favoreceu o desenvolvimento de análises paramétricas adicionais. Com base nos
resultados, foi possível observar que o uso de geomembranas traz benefícios em termos de redução de vazões e
poropressões. Além disso, o uso de geomembranas se mostrou uma alternativa eficaz às técnicas convencionais de
impermeabilização de barragens, uma vez que o uso de geossintéticos está relacionado à redução da necessidade de
extração, transporte e compactação de volume de solo necessário para confeccionar as estruturas geotécnicas.

PALAVRAS-CHAVE: Barragens de terra; Tratamentos de fundações; Percolação; Geomembranas.

ABSTRACT: Geosynthetics are promising solutions for more sustainable and technically efficient design. Life cycle
assessments comparing traditional solutions involving the extraction of natural materials with cases of geosynthetic
application show a reduction of up to 84% in greenhouse gas emissions for the latter. This demonstrates the importance
of carrying on further investigation of the technical performance of geosynthetics for different geotechnical structures. In
this context, this paper compared from a hydraulic standpoint the performance of conventional dam sealing solutions (cut-
off and clay liner) with geomembrane sealing. A numerical model was calibrated and validated from tests on a physical
dam model (1-g), which supported the development of additional parametric analyses. Based on the results, it was possible
to observe that the use of geomembranes brings benefits in terms of reducing flows and pore water pressure. Moreover,
the use of geomembranes proved to be an effective alternative to conventional dam sealing techniques, since the use of
geosynthetics is related to the reduction of the requirement of extraction, transport, and compaction of the volume of soil
necessary for the construction of geotechnical structures.

KEYWORDS: Embankment dams; Foundation treatments; Seepage; Geomembranes.

1 INTRODUÇÃO noticiados ao longo dos últimos anos (e.g. Piciullo et


al., 2022; Scarpelin et al., 2022), muitos dos quais são
Barragens são estruturas projetadas para acumular relacionados ao fluxo pela barragem e fundação,
e/ou conter água e podem apresentar diversos tipos indicando a importância de estudos que abordem esse
de finalidades, como abastecimento de água, tema.
regularização de cheias, lazer e outros. Apesar de A percolação excessiva de água e o
potenciais vantagens proporcionadas por essas desenvolvimento de poropressões acima dos limites
estruturas, muitos acidentes e incidentes têm sido especificados em projeto podem ocasionar uma série

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66
de processos de deterioração da barragem, como é o 2016; Bhowmik et al., 2018; Cazzuffi & Gioffrè,
caso dos processos de erosão regressiva (e.g. 2020) e outros tipos de estruturas (e.g. Poulain et al.,
Yongbiao, 2019; Chen et al., 2019) e a instabilidade 2011; Lavoie et al., 2020) que são impermeabilizadas
de taludes (e.g. Hu et al., 2021). Logo, podem ser com geomembranas.
empregados tratamentos de impermeabilização do Neste contexto, este artigo avalia do ponto de
aterro e fundação de barragens de terra, contribuindo vista hidráulico soluções de tratamento das fundações
assim com o comportamento adequado desse tipo de de barragens de terra, realizando um comparativo
estrutura ao longo do tempo. entre as estruturas tradicionais e a impermeabilização
Uma solução convencional de tratamento de com geomembrana.
fundações consiste nas trincheiras de vedação (e.g.
Jin et al., 2021), as quais compreendem a escavação
de trincheiras no solo de fundação e o seu posterior 2 MATERIAL E MÉTODOS
preenchimento com aterro compactado. Além disso,
podem ser confeccionados tapetes de solos 2.1 Modelo Físico de Barragem
compactados a montante da barragem (e.g. Rezk &
Senoon, 2012), os quais causam o aumento do O modelo físico de barragem, utilizado como
caminho de fluxo e, por consequência, causam a referência nesta pesquisa, foi originalmente
redução das vazões e poropressões sob a barragem. desenvolvido por Pierozan (2014), sendo a fundação
Apesar dos potenciais benefícios oferecidos por esses permeável, o aterro da barragem e o material de dreno
métodos, ambos exigem a extração de grandes compostos, respectivamente, compostos por areia
quantidades de materiais naturais para compor os (areia bem graduada, SW), mistura entre areia e
aterros, levantando dúvidas quanto à eficiência do bentonita (areia siltosa, SM) e pedregulho
ponto de vista ambiental (e.g. Martinez et al., 2022). (pedregulho mal graduado, GP). Fotografias
No atual contexto de enfrentamento dos impactos relacionadas ao ensaio estão apresentadas na Figura
das mudanças climáticas, a engenharia geotécnica 1, com indicação do ensaio em andamento (Fig. 1A),
vem desenvolvendo soluções que auxiliem os países instalação de piezômetros nos materiais de aterro e
a cumprirem as Contribuições Nacionalmente fundação (Fig. 1B) e painel de leitura (Fig. 1C).
Determinadas (NDCs), definidas a partir do Acordo
de Paris. Soluções que utilizem geossintéticos como
substitutos aos materiais naturais vem se mostrando (A)
como alternativas viáveis para redução de impactos
ambientais. Análises de ciclo de vida comparando
construções convencionais com geossintéticos,
conduzidas pelo Instituto Federal de Tecnologia
Suíço (ETH) para diferentes aplicações,
demonstraram uma redução de até 84% na emissão
(B) (C)
de gases do efeito estufa no caso das propostas com
os materiais poliméricos (e. g. Stucki et al., 2011).
Heerten (2012) também demonstrou que a confecção
de estruturas com materiais naturais demanda mais
energia em relação às alternativas utilizando
geossintéticos.
Para as barragens as geomembranas podem ser Figura 1. Modelo físico de barragem: (A) Ensaio em
uma alternativa de impermeabilização de montante, andamento; (B) Indicação da instalação de piezômetros; e
recomendadas como opção menos poluente e mais (C) Painel de leitura (1 m x 1,5 m).
viável especialmente em casos em que materiais de
baixa permeabilidade não estão disponíveis na região Os ensaios foram realizados em duas condições:
(e.g. Bhowmik et al., 2018; Pierozan et al., 2019; Zhu com e sem soluções de tratamento de fundação. No
et al., 2022). caso dos ensaios com tratamento foi aplicada uma
Estudos a respeito do comportamento da camada impermeável com comprimento igual a
impermeabilização de estruturas geotécnicas quatro vezes a altura da barragem sobre a camada de
utilizando geomembranas vem crescendo ao longo fundação, resultando em um comprimento de 96 cm
das últimas décadas. Como exemplos, podem ser sobre a fundação, simulando então a instalação de
citados estudos envolvendo aspectos relacionados ao tapete impermeável de montante composto por
comportamento de barragens (e.g. Girard et al., 1990; geomembrana.
Whitfield, 1996; Messerklinger, 2014; Dong et al., Pierozan (2014) relata que foram realizados

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67
ensaios para determinação dos coeficientes de A calibração do modelo numérico envolveu a
permeabilidade dos materiais envolvidos na avaliação das condições de anisotropia de
construção do modelo físico. Os ensaios foram permeabilidade, partindo-se dos valores dos
realizados considerando-se carga hidráulica coeficientes de permeabilidade determinados
constante (ABNT NBR 13292, 2021), no caso dos experimentalmente. Dessa forma, foi possível definir
materiais de drenos e fundação. Por sua vez, ensaios a relação entre os coeficientes de permeabilidade nas
de carga variável (ABNT NBR 14545, 2021) foram direções horizontal e vertical, expressa como ky/kx,
empregados no caso do material de aterro. Dessa conforme resultados apresentados na Tabela 2.
forma, foram obtidos coeficientes de permeabilidade
ao longo da vertical (ky) iguais a 5×10-2 m/s, 2×10-6 Tabela 2. Propriedades dos materiais do modelo numérico.
m/s e 1×10-4 m/s, respectivamente, para os materiais dos Material Modelo de kx ky/kx
drenos, aterro e fundação. Fluxo (m/s) (adimensional)
Aterro Saturado 1×10-5 0,2
2.2 Calibração de Modelo Numérico Fundação Saturado 1×10-4 1

O modelo físico de barragem (Pierozan, 2014), 2.3 Validação de Modelo Numérico


considerando a situação sem tratamento da fundação,
foi utilizado na elaboração de modelo numérico na O modelo numérico foi validado com base nos
presente pesquisa (Araújo, 2022), com o uso do resultados experimentais do modelo físico com o uso
software SEEP/W. Os pontos de leitura de de geomembrana no tratamento de fundação. Para
piezometria, tomados como referência para tanto, a geometria do modelo numérico foi alterada
calibração, estão representados na Fig. 2A, enquanto para incorporar a presença de geomembrana a
a geometria do modelo numérico, por sua vez, está montante da barragem, como indicado na Fig. 2C.
representada na Fig. 2B. As condições de contorno Por meio da comparação entre os resultados
do modelo numérico estão sintetizadas na Tabela 1. experimentais e numéricos, foi possível constatar
pequena variação entre os valores (inferior a um valor
Tabela 1. Condições de contorno do modelo numérico. médio, em módulo, igual a 12%).
Condição de Característica Valor
contorno (m) 2.4 Análises Paramétricas
Reservatório Carga total de água 33
Drenagem Carga de pressão de água 0 Análises paramétricas encontram-se relacionadas na
Tabela 3.

(A)

(B)

(C)

Figura 2. Barragem de terra e fundação: (A) Posicionamento dos piezômetros intalados no aterro (PA) e fundação (PF); (B)
Calibração do modelo numérico; e (C) Validação do modelo numérico.

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68
Tabela 3. Análises paramétricas realizadas. Ao se comparar a situação sem tratamento de
Condição Detalhamento fundação (Fig. 2A) com as simulações envolvendo a
Trincheira de 4 m de profundidade construção de trincheiras de vedação (cut-off), com
vedação (Cut- 7 m de profundidade profundidades de 4 m (Fig. 2B), 7 m (Fig. 2C), 10 m
off) 10 m de profundidade (Fig. 2D) e 12 m (Fig. 2E), pode-se observar que a
12 m de profundidade
presença desse tipo de tratamento foi preponderante
Tapete de Apenas sobre o talude de montante
geomembrana 40 m sobre a fundação
na distribuição de poropressões nos aterros e
80 m sobre a fundação fundação. Observou-se que a presença de trincheira
Tapete de solo Sobre fundação, com 118 m de de vedação ocasionou o estrangulamento do fluxo,
compactado extensão e 4 m de altura aumentando assim as poropressões imediatamente
abaixo da barragem, na região do aterro compactado
mais próxima ao eixo, uma vez que uma parcela
3 RESULTADOS maior do fluxo passou a percolar por essa região. Não
foram observadas alterações consideráveis na
A Figura 3 apresenta as distribuições de poropressões distribuição de poropressões na região da fundação à
nas condições sem tratamento e com cut-off. montante da barragem.

(A)
A xx

(B)

(C)

(D)

(E)

Figura 3. Distribuição das poropressões, considerando: (A) Fundação sem tratamento; (B) Cut-off com profundidade
de 4 m; (C) Idem, profundidade de 7 m; (D) Idem, profundidade de 10 m; e (E) Idem, profundidade de 12 m.
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69
A Figura 4 apresenta as distribuições de Por sua vez, a alternativa de confecção de tapete
poropressões considerando tratamento com tapetes de aterro compactado a montante da barragem (Fig.
impermeáveis, sendo: geomembrana aplicada sobre o 4D) ocasionou a redução dos valores de poropressão
aterro da barragem e sobre a fundação; e tapete de abaixo do espaldar de montante, porém de forma
aterro compactado. menos considerável em relação ao tratamento com o
A aplicação de geomembrana sobre o espaldar de uso de geomembrana. Convém ressaltar que a
montante da barragem (Fig. 4A) afetou a distribuição performance dos tapetes impermeáveis de montante,
de poropressões no espaldar de montante, porém essa particularmente aqueles compostos por aterros
solução ocasionou alterações mínimas nas compactados, pode ser consideravelmente
poropressões medidas na fundação da barragem. Esse influenciada pelo surgimento de trincas no material
resultado se deve à baixa permeabilidade do material compactado ao longo do tempo, situação essa não
de aterro, fazendo com que uma parcela considerável considerada no modelo numérico. Além disso, em
do fluxo se dê pela fundação da barragem. Dessa virtude da geometria relativamente robusta do tapete
forma, a instalação de geomembranas sobre a de solo compactado, com comprimento de 118 m e
fundação, com comprimentos iguais a 40 m (Fig. 4B) espessura de 4 m, essa solução demanda a extração
e 80 m (Fig. 4C), se mostrou como uma alternativa de grandes volumes de materiais para sua
mais interessante para reduzir os valores de implementação em campo.
poropressão imediatamente abaixo do espaldar de A Figura 5 apresenta uma comparação dos valores
montante da barragem de terra, uma vez que uma de poropressão imediatamente abaixo do espaldar de
parcela maior da carga hidráulica pode ser dissipada montante da barragem, dada a relevância desse
ao longo do fluxo sob a geomembrana. parâmetro nas condições de estabilidade e segurança.
(A)

(B)

(C)

(D)

Figura 4. Distribuição das poropressões, considerando tratamento com tapetes impermeáveis nas seguintes condições:
(A) Geomembranas sobre o talude de montante; (B) Geomembranas sobre a fundação, com comprimento de 40 m; (C)
Idem, com comprimento de 80 m; (D) Solo compactado, com extensão de 118 m e 4 m de espessura.

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70
Figura 6. Gradientes hidráulicos abaixo do espaldar de
montante da barragem: (A) Pontos considerados; e (B)
Performance das diferentes soluções.

A partir da análise dos pontos localizados abaixo


Figura 5. Poropressões abaixo do espaldar de montante da do espaldar de montante (Fig. 6A) e de suas
barragem: (A) Pontos considerados; e (B) Performance das
respectivas leituras (Fig. 6B), pode-se constatar o
diferentes soluções.
aumento dos gradientes hidráulicos na região do
aterro referente às trincheiras de vedação (cut-off),
Considerando-se os pontos de análise sob o
corroborando com o aumento dos valores de
espaldar de montante (Fig. 5A) e suas respectivas
poropressão identificados nessa região (Fig. 5B).
leituras (Fig. 5B), pode-se constatar que a solução de
Dessa forma, a implantação de trincheiras de vedação
tratamento da fundação com o uso de geomembrana
pode demandar uma avaliação mais aprofundada da
foi a mais eficiente na redução da poropressão em
possibilidade de desenvolvimento de processos de
relação à situação sem tratamento. No caso do tapete
erosão regressiva (piping), dada a susceptibilidade
composto por solo compactado, não foi observada
dessa região ao aumento dos gradientes hidráulicos.
redução significativa nos valores de poropressão. Em
Por sua vez, a instalação de geomembranas sobre a
relação às trincheiras de vedação (Fig. 5B), a
fundação (Fig. 6B) ocasionou o aumento dos
implantação dessa solução ocasionou o aumento dos
gradientes hidráulicos na região próxima ao pé do
valores de poropressão na região do aterro
talude de montante, ressaltando então a importância
compactado próximo ao eixo, indicando que a
da confecção de ancoragem adequada da
diminuição da área útil para desenvolvimento do
geomembrana no talude, com o intuito de evitar a
fluxo pela fundação está diretamente relacionada ao
ocorrência de processos erosivos nessa região. A
aumento da parcela do fluxo que ocorre através do
solução de tapete de solo compactado (Fig. 6B), de
aterro da barragem, ocasionando então o aumento das
forma geral, apresentou comportamento similar às
poropressões nessa região.
soluções com o uso de geomembrana.
A Figura 6 apresenta uma comparação dos
Na Figura 7 estão representadas as vazões de
gradientes hidráulicos imediatamente abaixo do
percolação pelo aterro e fundação da barragem, assim
espaldar de montante da barragem.
como estão indicadas as reduções percentuais de
vazão total percolada das diferentes soluções, em
relação à situação sem tratamento.

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71
Com base nos resultados apresentados nessa
pesquisa, é importante observar que o uso de
geomembranas no tratamento de fundações de
barragens de terra pode resultar em uma série de
vantagens em relação às demais técnicas. Do ponto
de vista técnico, a implantação de tapetes
impermeáveis com o uso de geomembranas contribui
para o aumento do caminho de percolação, reduzindo
assim os valores de poropressão sob o espaldar de
montante da barragem, assim como as vazões de
percolação. Além disso, os geossintéticos também
trazem uma maior confiabilidade para as
propriedades de projeto em função do alto controle
tecnológico de fabricação e instalação. Contudo,
outros fatores relacionados a execução devem ser
acompanhados para garantir o bom desempenho do
material.
Figura 7. Vazões de percolação pelo aterro e fundação da
Do ponto de vista ambiental, o uso de
barragem e redução percentual da vazão total. geomembranas pode contribuir com a redução da
exploração de jazidas de solos, minimizando assim os
Em termos de vazões (Figura 7), pode-se observar impactos ambientais dessas atividades. Este fato
que as trincheiras de vedação (cut-off) foram pode ainda trazer benefícios aos prazos de execução
eficientes em proporcionar a redução das vazões pela do projeto, reduzindo drasticamente com a
fundação, uma vez que essa solução proporciona o simplificada instalação destes materiais.
estrangulamento do fluxo, favorecendo assim o
aumento do fluxo pelo material de aterro. Da mesma
forma, a instalação de geomembranas sobre a 5 CONCLUSÃO
fundação ocasionou a diminuição das vazões de
percolação pela fundação, assim como pode-se Este artigo apresentou uma avaliação numérica do
observar a redução de vazões pelo aterro. Por sua vez, comportamento de diferentes tipos de tratamento de
o tapete em solo compactado ocasionou a redução de impermeabilização de barragens, como é o caso de
vazões pelo aterro e fundação. trincheiras de vedação e tapetes impermeáveis a
Em termos de vazões totais (Figura 7), 3 (três) montante. Com base no estudo, as principais
soluções resultaram em valores compatíveis entre si, conclusões estão listadas na sequência:
sendo estas a aplicação de geomembrana sobre a ▪ A implantação de geomembrana sobre o terreno
fundação, com comprimento igual a 40 m, a de fundação de mostrou efetiva na redução das po-
confecção de trincheira de vedação, com altura igual ropressões sob o espaldar de montante, assim
a 7 m, e a construção de tapete de solo compactado, como foi observada a redução das vazões de per-
com 118 m de comprimento e 4 m de altura. As colação. Também foi observada a ocorrência de
soluções em questão resultaram, respectivamente, em elevados valores de gradientes hidráulicos na re-
vazões totais iguais a 32,0 m3/dia/m, 32,3 m3/dia/m e gião de encontro entre a geomembrana e o talude
32,4 m3/dia/m. Por sua vez, os volumes totais de solo de montante da barragem, demandando assim a
compactado necessários para implantação das implantação de ancoragem apropriada para evitar
diferentes soluções seriam iguais a 48,0 m3 a ocorrência de processos erosivos nessa região.
(considerando apenas a confecção de camada de solo ▪ A solução de tapete de solo compactado ocasio-
compactado para proteção da superfície superior da nou o surgimento de elevados valores de poro-
geomembrana), 67,7 m3 e 472,0 m3, por metro de pressão e gradientes hidráulicos sob o espaldar de
barragem, respectivamente. Dessa forma, pode-se montante, na região próxima ao eixo da barragem,
observar que a robustez da solução de tratamento da demandando cuidados adicionais em relação à
fundação com tapete de solo compactado não se possibilidade de ocorrência de processos erosivos.
traduziu em diferenças significativas em relação às Ainda assim, essa solução foi a mais eficiente na
outras técnicas em termos de vazões. redução das vazões totais de percolação.
▪ A construção de tapete de solo compactado, ape-
sar dos potenciais benefícios em termos de redu-
4 DISCUSSÃO ção de vazões de percolação e de poropressões,
está associada à extração de elevados volumes de

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72
solo, o que pode ocasionar impactos ambientais J. & McSaveney, M. (2021). Instrumented flume tests
consideráveis, além de haver o risco de surgi- on the failure and fluidization of tailings dams induced
mento de trincas ao longo da vida útil. by rainfall infiltration. Engineering Geology, v. 294,
Com base nos resultados dessa pesquisa, o uso de 106401.
Jin, G., Xu, H., Zhou, A. & Jiang, P. (2021). Permeability
geomembranas no tratamento de aterros e fundações
of soil-bentonite cut-off wall backfill material.
de barragens se mostrou uma tecnologia inovadora e Materials Letters, v. 305, 130775.
potencialmente vantajosa sob os pontos de vista Lavoie, F. L., Kobelnik, M., Valentin, C. A., Silva, J. L. da
técnico, econômico, social e ambiental. & Lopes, M. de L. (2020). Study of an exhumed HDPE
geomembrane used in an industrial water pond:
Physical and thermoanalytical characterisations.
AGRADECIMENTOS Results in Materials, v. 8, 100131.
Martinez, S., Delgado, M. del M., Marin, R. M.,
Os autores agradecem ao Instituto Federal de Marchamalo, M. & Alvarez, S. (2022). Pre-
Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia construction quantification of embodied environmental
impacts to promote sustainable construction projects:
(IFRO), ao DEPESP – Campus Porto Velho Calama,
The case study of a diversion dam. Journal of
à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), à Environmental Management, v. 314, 115061.
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Messerklinger, S. (2020). Failure of a geomembrane lined
Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de embankment dam – Case study. Geotextiles and
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CPNq) Geomembranes, v. 42, 256-266.
pelo apoio ao desenvolvimento da pesquisa. Piciullo, L., Storrøsten, E. B., Liu, Z., Nadim, F. &
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73
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação estatística do efeito de diferentes polímeros coagulantes


no desaguamento de sedimentos por meio do ensaio de coluna por
gravidade
Gustavo K. Kamakura
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), São Carlos, Brasil, kekamakura@usp.br

Maria A. Aparicio-Ardila
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), São Carlos, Brasil, maparicio@usp.br

Clever A. Valentin
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), São Carlos, Brasil, cclever@usp.br

Jefferson Lins da Silva


Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br
RESUMO: O desempenho de tubos geotextêis ou sistemas de confinamento de resíduos (SCRs) em geotêxtil pode ser
avaliado a priori por meio de diferentes ensaios de laboratório. Estes sistemas são usados no desaguamento de diferentes
resíduos, e para aplicações como o desassoreamento de corpos d’água. Nesta pesquisa foi realizado um estudo de
laboratório e análise estatística, para avaliar o desaguamento de sedimentos em diferentes concentrações de sólidos
elaborados no laboratório, por meio de ensaios de coluna por gravidade, em inglês Falling-Head Dewatering Test
(FHDT), em um geotêxtil tecido empregado para esta aplicação. Foram avaliados três tipos de polímeros coagulantes com
natureza química do tipo aniônica, catiônica e não iônica, em diferentes concentrações. Para o planejamento experimental
foi empregado o Delineamento de Faces Centradas (DFC) da Metodologia de Superfície de Resposta (MSR), em que as
variáveis de estudo foram o teor de sólidos inicial dos sedimentos e a dosagem do polímero coagulante, avaliando-se sua
relação com índices de retenção e desaguamento. Os resultados evidenciaram a importância de estudos preliminares ao
nível de bancada para a seleção adequada de polímeros coagulantes. O polímero catiônico foi o que obteve o melhor
desempenho no desaguamento. Na análise estatística observou-se que houve baixa correlação estatística entre as variáveis
independentes e dependentes analisadas. A variável independente que apresentou a maior significância estatística foi o
teor de sólidos.

PALAVRAS-CHAVE: tubos geotêxtil, sedimentos, desaguamento, sólidos totais, dosagem de polímeros, superfície de
resposta.

ABSTRACT: The performance of geotextile tubes for dewatering can be evaluated a priori through different laboratory
tests. These systems are used in different dewatering wastes and for applications such as de-silting water bodies. In this
research, a laboratory study and statistical analysis were carried out to evaluate the dewatering of sediments in different
concentrations of solids produced in the laboratory by the Falling-Head Dewatering Test (FHDT) on a woven geotextile
used for this application. In different concentrations, three types of coagulant polymers were evaluated, with the chemical
nature of anionic, cationic and non-ionic types. For the experimental planning, the Response Surface Methodology (RSM)
Faced Centred Design (FCD) was employed, in which the variables of the study were the initial solids content of the
sediments and the dosage of the coagulant polymer, evaluating its relation with retention and dewatering indices. The
study variables were the sediment's total solids initial and the coagulant polymer dosage, evaluating its relation with
retention and dewatering indices. The results highlighted the importance of preliminary studies at the bench level for the
proper selection of coagulant polymers. The cationic polymer was the one that obtained the best performance in
dewatering. In the statistical analysis, it was observed that there was a low statistical correlation between the independent
and dependent variables analyzed. The independent variable that presented the highest statistical significance was the
total solids initial.

KEY WORDS: geotextile tubes, sediments, dewatering, total solids, polymer dosing, response surface.

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74
1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAIS E MÉTODOS

O processo de ocupação de bacias urbanas de forma 2.1 Geotêxtil


inadequada pode causar erosão superficial e
assoreamento em corpos d’água, devido ao acúmulo Foi utilizado um geotêxtil tecido de polipropileno.
de sedimentos. Os principais fatores que aumentam a Este material é comumente empregado em aplicações
carga sedimentar nos corpos d’água são: a de desidratação. A Tabela 1 mostra algumas
suscetibilidade dos terrenos, uso inadequado do solo propriedades e características do material. Os ensaios
e construção de obras viárias sem planejamento geotêxteis foram realizados no Laboratório de
(Lima, 2008). Dentre as consequências do Geossintéticos da Universidade de São Paulo (USP)
assoreamento dos rios tem-se a redução do volume de em São Carlos, São Paulo, Brasil. O geotêxtil
água, escassez no abastecimento de água e utilizado é o mesmo utilizado no trabalho de
intensificação de enchentes. Sendo assim, ganham Aparicio-Ardila et al. (2020).
relevância as tecnologias que buscam reduzir o
acúmulo de sedimentos em corpos d’água e o Tabela 1. Propriedades do geotêxtil tecido.
desassoreamento. Propriedade Unidade Norma Valor
O uso de Sistemas de Confinamento de Resíduos
ABNT NBR
(SCRs) em geotêxtil pode ser uma alternativa de Massa por
kN/m ISO 9863-1 414
desaguamento de sedimentos, considerando o baixo unidade de área
(2013)
custo e bom desempenho reportado na literatura.
Destaca-se que cada caso de aplicação é particular, e ABNT NBR
necessita de estudos específicos para avaliar sua Espessura mm ISO 9863-1 2,18
aplicabilidade em diferentes situações. Os SCRs (2013)
precisam ser projetados segundo o tipo de resíduo
tratado, sendo que os principais aspectos de estudo ABNT NBR
Abertura
μm ISO 12956 200
são: a retenção de solo, a permeabilidade e a aparente
(2013)
colmatação (Ratnayesuraj & Bhatia, 2018). Além das
propriedades do geotêxtil, o uso de polímeros ASTM
adequados para a coagulação do resíduo tratado, e as Permeabilidade s-1 D4491 0,0024
características da torta de filtro ou “filter cake” que é (2015)
formada após o enchimento influenciam no
desempenho do sistema. Tração faixa ABNT NBR
108,9 x
O condicionamento químico pode melhorar o larga kN/m ISO 10319
105,6
(DL x DT)* (2013)
desempenho do desaguamento, sendo necessário
realizar um estudo para a seleção do polímero e sua * DL: direção da máquina; DT: direção transversal.
dosagem adequada (Satyamurthy & Bhatia, 2009).
Existem recomendações e critérios relacionados à 2.2 Sedimento
abertura de filtração para geotêxteis para a função de
filtração. No entanto, a experiência mostrou que as O sedimento foi preparado artificialmente em
propriedades dos resíduos são igualmente laboratório, constituído por uma mistura de água
importantes. Por este motivo, é necessário realizar destilada e uma amostra de solo. A análise
ensaios em protótipos de bancada e de escala piloto. granulométrica do solo foi realizada no Laboratório
Dentre os ensaios de bancada (não padronizados) de Mecânica dos Solos da Universidade de São Paulo
estão o ensaio de cone, de coluna por gravidade ou (USP) em São Carlos, São Paulo, Brasil, conforme os
Falling Head Dewatering Test (FHDT) e os ensaios procedimentos descritos na ABNT NBR 7181
de coluna pressurizada ou Pressure Filtration Test (1984). A curva granulométrica do solo mostra que a
(PFT). distribuição granulométrica compreende 57% de
O presente trabalho apresenta a avaliação do areia, 8% de silte e 35% de argila.
desaguamento de sedimentos artificiais por meio de
ensaios de coluna por gravidade seguindo os 2.3 Polímero coagulante
procedimentos de ensaio de Liao & Bhatia (2005) e
Huang & Luo (2007). Os sedimentos analisados Foram selecionados três tipos de polímeros,
tinham concentrações de sólidos diferentes, e foram compostos por poliacrilamida, sólidos, granulares e
condicionados quimicamente com três tipos de de natureza química distinta: aniônico, catiônico e
polímeros em diferentes concentrações. não iônico. As propriedades dos polímeros são
apresentadas na Tabela 2.

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75
Tabela 2. Propriedades dos polímeros. resposta quando há diversas variáveis a serem
Nomenclatura WF-340 WF-460 WF-500 estudadas. Sendo que o procedimento utilizado foi o
Não Delineamento de Face Central (DFC). A Tabela 3
Característica Aniônico Catiônico
iônico mostra os níveis das variáveis utilizadas nos
Densidade de experimentos.
35-40 60-65 -
carga (% mol)
Massa
Tabela 3. Níveis das variáveis utilizadas no experimento.
molecular 21 - 28 11 - 13 -
Variável Código Nível Nível Nível
(milhões)
-1 0 1
Densidade
0,75 0,75 - Teor de
(g/cm³) X1 10 % 15 % 20 %
pH solução sólidos (%)
5,0-7,0 3,0 – 1,0 - Dosagem de
aquosa
polímero X2 2 3 4
(mgPol/gST)
2.4 Índices de desempenho
A análise estatística foi realizada com nível de
Os índices mais comuns para avaliar o desempenho
confiança de 90% e todos os dados experimentais
de desidratação são a Eficiência de Filtração (EF)
gerados foram tratados no software Protimiza
(Moo-Young & Tucker 2002), apresentado na
Experimental Design, obtendo o nível de
Equação 1, e a Eficiência de Desaguamento (ED),
significância de cada variável pesquisada (p-valor).
conforme Equação 2. O ED mede a eficácia com que
Os valores de p-valor iguais ou superiores a 0,10
o fluido é drenado da pasta. Bhatia et al. (2013)
(nível de significância) indicam que não houve efeito
recomendam a adoção do índice Percentual de
estatístico sobre as variáveis dependentes analisadas.
Desaguamento (PD), apresentado na Equação 3, que
Os modelos matemáticos foram obtidos utilizando os
pode ser mais fácil de interpretar do que ED, pois o
resultados que apresentaram significância estatística.
valor máximo é 100%. Os índices de retenção e de
desidratação adotados foram turbidez e PD.
2.6 Montagem e procedimento dos ensaios
𝑇𝑆𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 −𝑇𝑆𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙
EF = x100 (%) (1) A Tabela 4 apresenta a matriz dos 11 ensaios
𝑇𝑆𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙
Na qual: EF: Eficiência de Filtração (%), TS inicial: realizados com os valores de cada variável estudada.
Teor de sólidos inicial (%), TS final: Teor de sólidos Observa-se que os ensaios 9, 10 e 11 são a triplicata
final (%). do ponto central da matriz de ensaios (Nível 0 de X1
x Nível 0 de X2).
𝑃𝑆𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 −𝑃𝑆𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙
DE = x100 (%) (2)
𝑃𝑆𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 Tabela 4. Programa experimental.
Na qual: DE: Índice de desaguamento (%), PS Dosagem de
inicial: Percentual de Sólidos inicial (%), PS final: Ensaio Teor de sólidos (%) polímero
Percentual de Sólidos final (%). (mgPol/gST)
1 -1 (10 %) -1 (2)
𝑊𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 −𝑊𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙
PD = x100 (%) (3) 2 1 (20 %) -1 (2)
𝑊𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 3 -1 (10 %) 1 (4)
Na qual: PD: Percentual de Desaguamento (%); W 4 1 (20 %) 1 (4)
inicial: Umidade inicial do sedimento (%); W final: 5 -1 (10 %) 0 (3)
Umidade final do sedimento (%). 6 1 (20 %) 0 (3)
7 0 (15 %) -1 (0)
2.5 Planejamento experimental 8 0 (15 %) 1 (4)
9 0 (15 %) 0 (3)
Seguindo o planejamento experimental adotado por 10 0 (15 %) 0 (3)
Aparicio-Ardila et al. (2020), com o propósito de 11 0 (15 %) 0 (3)
validar os resultados, além de otimizar tempo e
recursos, optou-se pela Metodologia de Superfície de As dimensões do aparelho de ensaio foram
Resposta (MSR). Este método é um conjunto de definidas considerando as dimensões dos aparelhos
técnicas matemáticas e estatísticas utilizadas para a de coluna por gravidade empregados pelo grupo de
modelagem e análise de problemas, em que o pesquisa da Universidade de Syracuse, NY, USA,
resultado depende de várias variáveis (Montgomery com 17 cm de altura e diâmetro aproximado de 7,2
& Runger, 2010). Através desse método estatístico é cm. Este equipamento foi empregado nos trabalhos
possível modelar problemas para otimizar uma de Liao & Bhatia (2005), Ratnayesusaj & Bhatia
2018 e Fatema et al. 2018. Para manter a proporção

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76
de altura e diâmetro, e considerando a importância do 3. Fixação do tubo PVC no suporte;
emprego de materiais de fácil acesso, definiu-se o 4. Calibração da célula de carga;
diâmetro de um tubo comercial de 7,5 cm (3 5. Homogeneização da solução sedimentar,
polegadas) com 20 cm de altura. A duração dos 6. Preparação do condicionante químico e adição na
ensaios foi fixada em 25 min, baseado no tempo de solução sedimentar;
ensaios de cone adotado por Avancini (2017) e 7. Inserção da mistura no sistema;
Aparicio-Ardila (2020). 8. Encerramento do desaguamento após 25 minutos;
As quantidades de solo, água destilada e 9. Retirada de três amostras da torta de filtro para
polímeros para cada ensaio são apresentados na pesagem;
Tabela 5 e 6. Para preparação do polímero coagulante 10. Secagem das amostras em estufa por 24 h.
foi utilizado 20 ml de água. 11. Pesagem das amostras da torta de filtro.

Tabela 5. Níveis das variáveis utilizadas no experimento.


Teor de sólidos 3 RESULTADOS
Solo (g) Água (ml)
inicial (%)
-1 (10 %) 60 180
0 (15 %) 90 450 3.1 Curvas de desaguamento
1 (20 %) 120 360
A Figura 2 apresenta a curva de desaguamento média
Tabela 6. Quantidade de polímero coagulante.
dos ensaios do ponto central da matriz (curva média
Dosagem de polímero
(mgPol/gST)
Polímero (g) dos ensaios 9, 10 e 11) para cada polímero avaliado.
-1 (2 mg Pol/gST) 0,12
Também é apresentada a curva de desaguamento sem
0 (3 mg Pol/gST) 0,27 o uso de polímero.
1 (4 mg Pol/gST) 0,48

A Figura 1 apresenta os equipamentos utilizados


para realização dos ensaios. O sistema possui: (1)
computador para armazenamento dos dados; (2)
célula de carga; (3) geotêxtil fixado com abraçadeira
de náilon; (4) tubo PVC fixado com abraçadeira
metálica no suporte; (5) suporte; (6) recipiente
coletor do efluente; (7) solução sedimentar com solo,
água e polímero coagulante.

Figura 2. Desaguamento médio dos pontos centrais.

3.2 Volume de percolado

Os modelos matemáticos para o volume total de


efluente desaguado em relação às variáveis estudadas
para cada polímero são apresentados a seguir. As
Figuras 3, 4 e 5 apresentam os modelos de forma
gráfica, para os polímeros aniônico, catiônico e não
iônico, respectivamente.

𝑉𝑎𝑛𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 = 199,28 - 95,45.𝑥1 (4)


Figura 1. Sistema para ensaios FHDT utilizado na
pesquisa. 𝑉𝑐𝑎𝑡𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 = 366,67 - 41,07.𝑥1 − 79,53.𝑥2 (5)

Os ensaios de bancada foram realizados conforme 𝑉𝑛ã𝑜 𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 = 401,01 − 61,2.𝑥1 (6)
a sequência de procedimentos descritos a seguir:
1. Secagem do solo durante 24h; Nas quais: 𝑉𝑎𝑛𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜: volume total percolado
2. Fixação do geotêxtil no sistema; utilizando o polímero coagulante aniônico,

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77
𝑉𝑐𝑎𝑡𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 : volume total percolado utilizando o 3.3 Percentual de Desaguamento (PD)
polímero coagulante catiônico, 𝑉𝑛ã𝑜 𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 : volume
total percolado utilizando o polímero coagulante não Os modelos matemáticos para o percentual de
iônico, 𝑥1 : nível da variável TS inicial, 𝑥2 : nível da desaguamento (PD) em relação às variáveis
variável dosagem do polímero. estudadas para cada polímero são apresentados a
seguir. As Figuras 6, 7 e 8 apresentam os modelos de
forma gráfica, para os polímeros aniônico, catiônico
e não iônico, respectivamente.

𝑃𝐷𝑎𝑛𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 = 46,86 - 5,40.𝑥1 (7)

𝑃𝐷𝑐𝑎𝑡𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 = 39,07 - 4,40.𝑥1 − 4,58.𝑥12 - 3,09.𝑥2 (8)

𝑃𝐷𝑛ã𝑜 𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 = 49,37 - 7,09.𝑥1 − 1,23.𝑥2 (9)

Nas quais: 𝑃𝐷𝑎𝑛𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 : PD utilizando o polímero


coagulante aniônico, 𝑃𝐷𝑐𝑎𝑡𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 : PD utilizando o
polímero coagulante catiônico, 𝑃𝐷𝑛ã𝑜 𝑖ô𝑛𝑖𝑐𝑜 : PD
utilizando o polímero coagulante não iônico, 𝑥1 :
Figura 3. Superfície de resposta do volume percolado nível da variável TS inicial, 𝑥2 : nível da variável
para o polímero aniônico. dosagem do polímero.

Figura 6. Superfície de resposta de PD para o polímero


Figura 4. Superfície de resposta do volume percolado aniônico.
para o polímero catiônico.

Figura 7. Superfície de resposta de PD para o polímero


Figura 5. Superfície de resposta do volume percolado catiônico.
para o polímero não iônico.

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78
4.3 Percentual de Desaguamento (PD)

Com base na Figura 6, observa-se que apenas o teor


de sólidos apresentou algum grau de significância
para o polímero aniônico. Sendo assim, para este
planejamento experimental o uso desse polímero não
reflete nos resultados de PD.
Para todos os polímeros utilizados constatou-se
que com o aumento do teor de sólidos inicial houve
redução de PD. Devido ao aumento da concentração
de sólidos tem-se maior volume de partículas sólidas
para formação da torta de filtro, com isso a taxa de
desaguamento é reduzida e o volume de água
Figura 8. Superfície de resposta de PD para o polímero destilada contida é maior. Portanto, a umidade final
não iônico. do resíduo retido no geotêxtil é maior.
Por fim, observa-se nas Figuras 7 e 8 que o
aumento da concentração da dosagem do polímero
4 DISCUSSÃO reduziu o valor de PD final, para os polímeros
catiônico e não iônico. Desse modo, baixas
4.1 Curvas de desaguamento concentrações de polímeros apresentaram melhores
taxas de desaguamento.
A partir da Figura 2, observa-se alta taxa de
desaguamento inicial, principalmente sem aplicação 5 CONCLUSÃO
de polímeros coagulantes. Dessa maneira, constatou-
se que o uso dos polímeros coagulantes reduziu a taxa De modo geral, os resultados desta pesquisa
de desaguamento nos primeiros minutos. Além disso, evidenciaram a importância de ensaios preliminares
o volume do efluente percolado utilizando o de bancada para seleção adequada de polímeros
condicionante químico não iônico apresentou valor coagulantes para SCRs em geotêxtil. Como outras
semelhante do volume final de efluente percolado constatações, pode-se citar:
sem o uso de coagulante químico. Por outro lado, o  O uso do Delineamento de Face Central
polímero coagulante aniônico apresentou baixo (DFC) da Metodologia de Superfície de
volume percolado, indicando possível colmatação Resposta (MSR) mostrou-se uma
dos poros do geotêxtil. ferramenta que auxilia o planejamento
experimental, otimizando custo e tempo,
4.2. Efluente desaguado além de contribuir para análise dos
resultados;
Com base nas Figuras 3 e 5, observa-se que apenas o  Os ensaios utilizando FHDT elaborados
teor de sólidos apresentou algum grau de atendem aos objetivos propostos, assim
significância para o polímero aniônico e não iônico. evidenciou-se a relevância dos ensaios para
Sendo assim, o uso desses polímeros não apresentou avaliar SCRs em geotêxtil, além da dosagem
influência nos resultados do volume percolado. Vale adequada de condicionante químico para
ressaltar que nos dois casos, os modelos apresentam melhorar o desaguamento;
baixa correlação estatística.  Os intervalos adotados de concentração
A Figura 4 mostra que com o aumento da inicial de sólidos dos sedimentos e a
concentração do sólido inicial e da dosagem do dosagem do condicionante químico
polímero ocorre a redução do volume total resultaram em baixa correlação entre as
desaguado. A partir do resultado constatou-se que variáveis independentes e dependentes
devido ao aumento da espessura da torta de filtro analisadas, sendo que o polímero catiônico
ocorreu a redução da permeabilidade do sistema. apresentou a maior correlação entre os
Além disso, o aumento da dosagem do polímero modelos matemáticos e resultados
tende a aglutinar as partículas sólidas, tornando-as experimentais;
partículas maiores que obstruem os poros do  Os resultados obtidos a partir do
geotêxtil e reduz o volume do efluente percolado. monitoramento do volume percolado
evidenciaram redução de volume percolado
com o aumento da concentração de sólidos
iniciais e dosagem de polímero.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


79
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


80
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Geotexteis não tecidos em drenagem internas de barragens de


rejeito: riscos e oportunidades
Beatriz Mydori Carvalho Urashima
WSP Consultoria e Projetos do Brasil, Belo Horizonte, Brasil, urashimabeatriz@gmail.com

Paulo Victor Castro


WSP Consultoria e Projetos do Brasil, Belo Horizonte, Brasil, paulo.castro@wsp.com

Paula Martins
WSP Consultoria e Projetos do Brasil, Belo Horizonte, Brasil, paula.martins@wsp.com

Thaís Lazarim
WSP Consultoria e Projetos do Brasil, Belo Horizonte, Brasil, thais.lazarim@wsp.com

RESUMO: Sistemas de drenagem interna de barragens de contenção de rejeitos, com aplicação de materiais geotêxteis
não tecidos, vem ganhando importante suporte técnico com casos de aplicações e pesquisas. Porém, ainda existem
incertezas intrínsecas ao emprego desses materiais em obras geotécnicas relacionadas a possíveis comportamentos não
mapeados e ao tempo de vida de serviço. Nesse âmbito, este artigo tem por objetivo apresentar uma identificação e
avaliação dos critérios e condições de aplicação de geotêxteis não tecidos nas funções de drenagem, filtração e separação
em um sistema de drenagem interna de uma barragem de rejeitos. Assim, neste artigo são discretizados, em teor
qualitativo, os possíveis riscos e oportunidade de otimização da configuração do sistema de drenagem interna em
comparação à uma configuração com uso de materiais granulares naturais (e.g. areia). Os riscos levantados envolvem a
possibilidade da ocorrência de carreamento de partículas do material constituinte do barramento e a filtração no geotêxtil
propensa a deposição de partículas em transporte. É discutido também o risco de furos de sondagens perfurarem o
geotêxtil durante investigações geotécnicas ou instalações de instrumentos. Visando a otimização da aplicação, traz-se a
proposta de verificação do sistema com geotêxtil não tecido por meio de ensaios específicos em escala real (piloto) de
comportamento do geossintético aplicado na obra para avaliação em relação às propriedades fornecidas na declaração de
desempenho de fabricante, com exumação de amostras.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxtil não Tecido, Barragem de Rejeito, Drenagem Interna.

ABSTRACT: Tailings dams internal drainage systems, with the application of non-woven geotextile, have been gaining
important technical support with cases of applications and research. However, there are uncertainties intrinsic to the use
of these materials in geotechnical works related to possible unmapped behaviors and service lifetime. In this context, this
article aims to present an identification and evaluation of the criteria and conditions for the application of non-woven
geotextiles in the functions of drainage, filtration and separation in an internal drainage system of a tailings dam. Thus,
this article discretizes, in qualitative terms, the possible risks and opportunities for optimizing the configuration of internal
drainage systems in comparison to a configuration using natural granular materials (e.g. sand). The risks raised involve
the possibility of entrainment of particles from the material constituting the dam and the filtration in the geotextile prone
to the deposition of particles in transport. Also discussed is the risk of drill holes piercing the geotextile during
geotechnical investigations or instrument installations. Aiming at optimizing the application, a proposal is made to verify
the system with non-woven geotextile through specific tests on a real scale (pilot) of the geosynthetic behavior applied in
the work for evaluation in relation to the properties provided in the manufacturer's declaration of performance, with
exhumation of samples.

KEY WORDS: Non-Woven Geotextile, Tailings Dam, Internal Drainage.

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81
1 INTRODUÇÃO O critério sugerido e apresentado na Figura 1,
indica que para a verificação do atendimento desse
A mineração é um segmento da economia que critério é sugerido que o solo apresente, para qualquer
contribui para o desenvolvimento econômico do ponto de divisão da distribuição granulométrica, um
Brasil. Por outro lado, o processo de lavra e valor de D15 da fração grossa no mínimo 5 vezes
beneficiamento da atividade mineradora geram maior que o D85 da fração fina.
rejeitos, os quais são muitas vezes reservados em
barragens de terra. Tais barragens podem ser
constituídas por, fundamentalmente, crista, taludes
de montante e jusante, sistemas de drenagem
superficial, filtros horizontal, vertical e drenos de pé
(Fonseca, 2018).
O geotêxtil não tecido pode ser aplicado em
sistemas de drenagem interna de barragens e diques
como uma camada de transição entre o núcleo
drenante desse sistema e o material presente na
camada externa (material constituinte do Figura 1. Avaliação da estabilidade interna
barramento). Nessa posição, pode-se considerar que (CIGB/ICOLD, 1995).
o geotêxtil não tecido estaria projetado para a função
de drenagem, já que ele deve permitir a vazão plena • Função de retenção (filtração)
do núcleo drenante e exercer a função de filtração, O critério de retenção busca evitar a geração de
visto a distribuição granulométrica do núcleo instabilidade no meio devido ao carreamento de
drenante em comparação a camada externa. partículas para o interior do dreno. Para tal, a
Nesse contexto, este artigo tem por objetivo avaliação do tópico anterior, do material a ser filtrado
apresentar a identificação e avaliação dos critérios e é o primeiro passo. Pois, a partir da distribuição
condições de aplicação de geotêxteis não tecidos na granulométrica (coeficiente de uniformidade, teor de
função de drenagem e filtração no sistema de finos e d85) e coesão desse material é possível
drenagem interna da barragem. Para tal, são determinar um critério para obtenção da configuração
discretizados os possíveis riscos e oportunidade de necessária para uma camada filtrante.
otimização de uma configuração de sistemas de Para a condição de materiais granulares não
drenagem interna em comparação à uma coesivos e filtros com coeficiente de uniformidade
configuração com uso de materiais granulares não elevados (menores que 20 vezes) a aplicação do
naturais (e.g. Areia). critério de Terzaghi é considerado, conforme a
Equação 1.

𝐷15
2 CRITÉRIOS E COMPORTAMENTOS ⁄𝑑 < 4 𝑜𝑢 < 5 (1)
85
AVALIADOS PARA DIMENSIONAMENTO DE
SISTEMAS DE FILTRAÇÃO E DRENAGEM Na qual:
D15 – é referente a granulometria do filtro;
Os critérios apresentados foram definidos, por d85– é referente a granulometria do meio.
consulta realizada ao CIGB/ICOLD (1995), para
sistemas granulares, sem a presença de geossintético. No uso de geotêxteis, a recomendação de
Contudo os conceitos estão vinculados a princípios dimensionamento quanto ao critério de retenção
físicos que ditam o funcionamento de sistemas filtro comumente adotado é apresentada por Bergado et al.
drenantes e por isso são aplicáveis ao contexto (1996), conforme a Equação 2.
estudado para a Barragem do Córrego Baco Pari.
Além dos critérios destacados, são apresentadas 𝑂95
⁄𝑑 ≤ 3 (2)
nos tópicos a seguir as principais características 85
esperadas das funções a serem desempenhadas por
materiais empregados nos sistemas de drenagem Na qual:
interna de barragens. O95 – é a abertura aparente de filtração do geotêxtil
• Características do meio determinada segundo a ASTM D 4751.
Antes de se avaliar as condições do sistema
drenante propriamente dito é importante a avaliação • Função de permeabilidade (drenagem)
do material adjacente quanto à estabilidade Em contraponto ao critério de retenção que busca
granulométrica. granulometrias mais fechadas, o critério de

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82
permeabilidade busca garantir a existência de um • Qualidade
gradiente positivo de permeabilidades da direção do Como critério de qualidade, espera-se que os
fluxo. materiais empregados nos sistemas drenantes não
Para a condição de materiais granulares não apresentem mudanças no comportamento
coesivos e filtros com coeficiente de uniformidade (permeabilidade e retenção) devido a ação de agentes
não elevados (menores que 20 vezes) a aplicação do químicos ou biológicos; das altas tensões
critério de Terzaghi é considerado, conforme a compressivas e de cisalhamento geradas na base do
Equação 3. maciço da barragem; e/ou Bridging (ponte).
Para entendimento do fluxo e transporte de finos
𝐷15 que podem gerar redução de permeabilidade ou até
⁄𝑑 > 4 𝑜𝑢 > 5 (3)
15
cegamento de sistemas drenantes, o conceito de
bridging é apresentado (CIGB/ICOLD, 1995). A
Na qual:
Figura 2 apresenta a variação na permeabilidade nas
D15 – é referente a granulometria do filtro;
proximidades de uma base filtrante devido a
d15– é referente a granulometria do meio.
deposição de finos carreados em um solo de
granulometria instável . Nesse fenômeno, os finos
Esse critério sugere que a permeabilidade
transportados geram mudanças na distribuição
mantenha um gradiente crescente no sentido do fluxo
granulométrica nas camadas adjacentes ao dreno.
em uma razão de 20 vezes, devido a variação da
Assim, a depender da abertura de filtração (9) haverá
permeabilidade com o quadrado do d15.
facilitação para o carreamento de finos para o interior
No uso de geotêxteis, a recomendação de
do dreno ou um acúmulo de finos na superfície.
dimensionamento quanto ao critério de
Na Figura 2, os demais números indicam,
permeabilidade apresentada por Bergado et al. (1996)
respectivamente, (1) porcentagem de finos por peso;
indica que a permeabilidade do Geotêxtil deve ser
(2) log do tamanho do grão; (3) camada 1; (4) camada
pelo menos 2 vezes maior que a permeabilidade do
2; (5) camada 3; (6) camada m; (7) material não
meio a filtrar. Deve-se considerar fatores de redução
afetado pela filtração própria; (8) interface e (10)
na determinação da permeabilidade do geotêxtil.
porcentagem em massa de grãos mais grossos que a
Outras características e comportamento também
abertura de filtração.
devem ser observados, conforme tópicos a seguir:
• Capacidade de fluxo
O critério de capacidade de fluxo visa assegurar o
funcionamento do sistema de drenagem em cenários
extremos de solicitação de fluxo pela barragem (por
exemplo: condições de fraturamento e fissuras
hidráulicas). Nessa condição, espera-se que o tapete
drenante tenha capacidade de condução do fluxo
evitado a geração de poropressão no interior do
maciço.
Para a avaliação desse critério é comum a
aplicação da lei de Darcy ou equações para fluxo
turbulento em meios porosos (e.g. Wilkins).
• Capacidade de regeneração por colapso
Esse critério é requerido em barragens com
emprego de drenos em maciços argilosos
compactados ou zonas com probabilidade de
formação de pequenas brechas ou fissuras, em
contato com o sistema de drenagem. Nesse caso, é
importante que o material empregado no filtro seja
não coesivo e apresente um comportamento de
rearranjo dos grãos e regeneração, para que o sistema Figura 2. Transporte de finos em meios porosos
de drenagem mantenha o funcionamento. (CIGB/ICOLD, 1995).
Esse critério é verificado para materiais
granulares com ensaios para avaliar coesão ou com a
restrição do teor de finos presentes. Materiais 3 RISCOS NA CONFIGURAÇÃO DE SISTEMAS
bidimensionais, tais como, geotêxteis não DE DRENAGEM INTERNA DE BARRAGENS
apresentam esse tipo de comportamento. EMPREGANDO GEOTÊXTEIS

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83
• Critério de retenção mapeados e a restrição de vida de serviço bem
A depender da variabilidade do 𝑑85 do material definida, são fatores que podem limitar a aplicação
constituinte do maciço, pode-se verificar o não dos geotêxteis não tecidos em funções de drenagem e
atendimento do critério de retenção para a abertura filtração em locais críticos (Koerner; Koerner, 2015;
aparente de filtração do geotêxtil especificado em Palmeira et al., 2010; Veylon et al., 2016). Por locais
projeto. Dessa condição, é possível a ocorrência de críticos entende-se, locais em que a falha do geotêxtil
carregamento de partículas para o interior do dreno. possa levar ao colapso da estrutura e locais onde não
Esse tipo de fenômeno, de formação de piping nas seja possível a substituição caso o desempenho de
regiões de contato com o geotêxtil, foi relatado por dimensionamento não seja apresetado, seja por falhas
Palmeira et al. (2010) em aplicações de geotêxteis pontuais (furos) ou redução na permeabilidade por
para a função de filtração em barragens. colmatação.
• Critério de permeabilidade O entendimento descrito acima é reforçado pelas
Os fenômenos de colmatação e cegamento não recomendações de projeto do CIGB/ICOLD (1995),
são mandatários em sistemas com emprego de U.S. Army Corps Of Engineers (2004) e U.S.
geotêxteis, o dimensionamento e emprego adequado Department of the Interior Bureau of Reclamation
podem conferir ao sistema uma configuração estável (2012).
na condição de fluxo. Contudo, como apresentado na O CIGB/ICOLD (1995) apresenta na conclusão
Figura 3, o tipo de material aplicado e o teor de finos sobre o uso de geossintéticos em geral a seguinte
do solo podem ser determinantes nessa situação. colocação:
“Em geral, geossintéticos devem ser apenas
utilizados onde eles não são críticos ao
desempenho em longo prazo da barragem, e
que possam ser reparados ou substituídos
caso necessário.”

Apesar das colocações do CIGB/ICOLD serem de


períodos onde os geossitéticos ainda não tinham
suportes das experiência prática atual e das pesquisas
acadêmicas, o discurso se mantêm suportado por
outras instituições, no entendimento que o
conhecimento para essa aplicação ainda está em
Figura 3. Potencial de colmatação em geotêxteis (adaptado evolução e por isso os riscos envolvidos podem não
de Koerner, 1933). ser aceitáveis para estruturas de grande porte e as
consequencias de falhas proporcionais.
• Outro critérios O U.S. Army Corps of Engineers (2004)
Por se tratar de um material bidimensional apresenta:
fabricado em polímeros geotêxteis observa-se que “O projeto do filtro para as camadas de
estes não apresentam capacidade de preenchimento drenagem e zoneamento interno de uma
barragem é uma parte crítica do projeto do
por colapso. Sabe-se que durante a instalação e na
aterro. É essencial que as partículas
fase operacional, falhas pontuais podem ocorrer, e individuais na fundação e no aterro sejam
nesse caso, há riscos de formação de zonas de fluxo mantidas no lugar e não se movam como
preferencial que conectem diretamente o núcleo resultado de forças de infiltração. Isso é feito
drenante ao meio de contato por meio de furos ou garantindo que as zonas de material atendam
rasgos. aos “critérios de filtro” em relação aos
Situações como a realização de furos de materiais adjacentes. [...] As camadas de
sondagens que atravessem o tapete drenante ou drenagem também devem atender a esses
solicitações de instalação podem causar falhas critérios para garantir a passagem livre da
pontuais. Além disso, condições de instalação com água. Todas as zonas de drenagem ou
permeáveis devem ser bem compactadas.
uso de ferramentas pontiagudas e a presença de
Onde for necessária uma grande capacidade
instrumentos nos quais os furos atravessam o tapete de carga, um dreno multicamada deve ser
drenante envolto em geotêxtil. fornecido. Geotêxteis (tecidos filtrantes)
não devem ser usados em barragens de
aterro.”
4 DISCUSSÕES
O U.S. Department of the Interior Bureau of
O potencial para comportamentos ainda não Reclamation (2012) estabelece que:

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


84
“Os geotêxteis são vulneráveis a danos na • Sobrevivência a instalação (procedimento em
instalação, têm vida de serviço finita escala real de instalação em campo com exumação
(tipicamente 50 a 150 anos) e podem perder dos corpos de prova de geotêxtil) seguido dos
sua permeabilidade devido a colmatação ensaios;
excessiva. Eles não devem ser usados em
• Resistência à tração NBR ISO 10319.
locais críticos para a segurança da barragem,
caso não funcionem como pretendido. Além • Abertura de filtração característica NBR ISO
disso, devido à sua vida de serviço limitada, 12956.
eles não devem ser usados em locais • Permeabilidade normal ao plano - NBR ISO
profundamente enterrados ou outros locais 11058.
que resultariam em medidas difíceis e caras • Resistência à tração de emendas NBR ISO 10321.
para obter acesso para substituição.” • Puncionamento estático (punção CBR) NBR ISO
12236.
Vale ressaltar que há estudos recentes que • Perfuração dinâmica (queda de cone) NBR ISO
direcionam soluções para parte das incertezas, como 13433
os apersentados por Giroud (2010). Há também casos • Ensaios de permeabilidade e condição
históricos de aplicações bem sucedidas como as desempenho da filtração com substrato e material do
apresetadas por Palmeira et al. (2010), Wu et al. dreno utilizado em campo;
(2006) e Veylon (2016). • Avaliação da durabilidade conforme ISO/TS
13434.
Por fim, os fatores de redução são estimados por
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS meio de experiência pregressa e permitem,
atualmente, inferência sobre as diretrizes para
Este artigo apresentou um levantamento teórico de avaliação da durabilidade. A realização dos ensaios
identificação e avaliação dos critérios e condições de indicados em geossintéticos empregados em filtros e
aplicação de geotêxteis não tecidos nas funções de drenos de barragens de rejeitos pode contribuir no
drenagem, filtração e separação em um sistema de entendimento da durabilidade desses materiais e
drenagem interna de uma barragem de rejeitos. possibilitar a otimização dos fatores de redução
Foram discretizados, em teor qualitativo, os possíveis empregados no dimensionamento dessas estrututas.
riscos e oportunidade de otimização da configuração
do sistema de drenagem interna. AGRADECIMENTOS
A aplicação de materiais geossintéticos vem
ganhando importante suporte prático e acadêmico À WSP Consultoria e Projetos do Brasil.
com diversos casos de implantação bem-sucedida e
suporte de pesquisas nas ultimas décadas.
Para a aplicação de geotêxteis, em condições em REFERÊNCIAS
que se tenha influência direta na estabilidade da
barragem, a redução de possíveis incertezas quanto ABNT (2013a). ISO 10319: Geossintéticos – Ensaio de
ao desempenho desse sistema, é recomendada, por tração faixa larga. Associação Brasileira de Normas
meio de ensaios e verificações prévias do Técnicas, Rio de Janeiro.
dimensionamento. ABNT (2013b). ISO 10321: Geossintéticos – Ensaio de
O dimensionamento de geossintéticos atualmente tração de emendas pelo método da faixa larga.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
considera a utilização de fatores de redução para a
Janeiro.
estimativa do comportamento do material frente a sua ABNT (2013c). ISO 12236: Geossintéticos – Ensaio de
durabilidade. puncionamento estático (punção CBR). Associação
Porém, onde os geotêxteis não tecidos já foram Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
aplicados na construção de barragens, sem a devida ABNT (2013d). ISO 12236: Geossintéticos – Ensaio de
verificação dos critérios apresentados, é perfuração dinâmica (ensaio de queda de cone).
recomendado que tal verificação seja ralizada. Para Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
embasamento e verificação dos fatores de redução Janeiro.
adotados em projeto, são recomendados ensaios ABNT (2022). ISO 12956: Geotêxteis e produtos
específicos de comportamento com material da obra correlatos – Determinação da abertura de filtração
característica. Associação Brasileira de Normas
para avaliação em relação às propriedades fornecidas
Técnicas, Rio de Janeiro.
na declaração de desempenho de fabricante. Os ABNT (2021). ISO 11058: Geotêxteis e produtos
seguintes ensaios e verificações conforme correlatos – Determinação das características de
metodologia proposta por Giroud (2010) e permeabilidade hidráulica normal ao plano e sem
recomendações do IGS Brasil: confinamento. Associação Brasileira de Normas

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


85
Técnicas, Rio de Janeiro.
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


86
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Influência do Processo de Enchimento no Comportamento


de Tubos de Geotêxteis
Michael Andrey Vargas Barrantes
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, ma12vargas@gmail.com

Luis Fernando Martins Ribeiro


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, lmartins@unb.br

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: Com a finalidade de reduzir teores de umidade a níveis aceitáveis de lodos, sedimentos ou resíduos, os tubos
geotêxteis podem ser utilizados onde o processo de enchimento pode ser realizado em uma ou em várias etapas. O número
de etapas pode influenciar o comportamento do tubo em termos de taxa de desaguamento, forma final e deformações no
geotêxtil. Nesta pesquisa, foram realizados ensaios de laboratório em tubos geotêxteis não tecidos para o desaguamento
de um material de granulometria fina usando diferentes estágios de enchimento. O comportamento do tubo foi monitorado
por instrumentação para avaliar a geometria do tubo, poropressões, tensões totais na base do tubo, deformações no
geotêxtil e capacidade de retenção. Os resultados obtidos mostraram que o aumento do número de estágios de enchimento
resultou em maior altura final do tubo, volume, deformações no geotêxteis, bem como maiores diâmetros das partículas
do solo que passaram através do geotêxtil.

PALAVRAS-CHAVE: Tubos de geotêxtil, desaguamento, geotêxtil não tecido.

ABSTRACT: To reduce moisture contents of sludge, sediment or waste to acceptable levels, geotextile tubes can be used
where the filling process can be carried out in one or several filling stages. The number of stages can influence the tube
behaviour in terms of dewatering rate, final shape and geotextile strains. In this research, laboratory tests were carried out
on nonwoven geotextile tubes for the dewatering of a fine-grained material using different numbers of filling stages. The
behaviour of the tube was monitored by instrumentation to assess tube geometry, pore pressures, total stresses at the tube
base, geotextile strains and retention capacity. The results obtained showed that the increase in the number of filling stages
resulted in larger final tube height, volume, geotextile strains as well as larger diameters of the soil particles that piped
through the geotextile.

KEY WORDS: Geotextile tube, dewatering, nonwoven geotextile.

1 INTRODUÇÃO amigáveis.
O aumento das atividades industriais fez com que
Os geossintéticos têm sido utilizados para sejam geradas grandes quantidades de resíduos com
diversas funções em projetos de engenharia grandes porcentagens de finos, teores variados de
geotécnica e geoambiental, tais como reforço do solo, líquidos e, não raramente, substâncias contaminantes.
drenagem, filtração e barreiras, por exemplo. Entre as Isso cria dificuldades para o descarte desses
razões pelas quais os geossintéticos ganharam materiais, e técnicas alternativas de manejo são
aceitação considerável ao longo dos anos estão: fácil necessárias (Moo-Young et al., 2002; Muthukumaran
transporte para os locais de trabalho, rápida & Ilamparuthi. 2006; Bourgès-Gastaud et al., 2014).
instalação e economia no uso de materiais naturais de A técnica de utilização de tubos geotêxteis tem sido
construção. Essas características podem gerar considerada uma solução eficiente e econômica para
economias de custo significativas em comparação redução do teor de umidade e disposição mais segura
com alternativas geotécnicas tradicionais e fornecer de resíduos (Maurer et al., 2012). Para entender
soluções de engenharia ambientalmente mais melhor o comportamento de desidratação de resíduos

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87
com tubos geotêxteis, vários estudos de laboratório mm, limite de liquidez de 37% e limite de
foram realizados nas últimas décadas (Moo-Young et plasticidade de 28%. O mineral predominante no solo
al., 2002; Moo-Young & Tucker, 2002; Koerner & é a gibbsita, e em seu estado natural o solo apresenta
Koerner, 2006; Muthukumaram & Ilamparuthi, macroporos e muitos agregados (Burgos, 2016). A
2006; Lawson, 2008; Liao & Bathia, 2008; Tabela 1 apresenta as principais propriedades
Satyamurthy & Bathia, 2009; Cantré & Saathoff, geotécnicas do solo utilizado nos ensaios.
2011). Para a confecção dos tubos foi utilizado um
Um problema específico enfrentado no campo da geotêxtil não tecido, perfurado com agulha, feito de
engenharia é como descartar de forma eficiente o filamentos contínuos de poliéster. A massa por
lodo com alto teor de água, como sedimentos unidade de área do geotêxtil é igual a 200 g/m2 e sua
dragados, resíduos industriais, lodo de tratamento de abertura de filtração igual a 0,115 mm. Os tubos
águas residuais e rejeitos de mineração (Bourgès- geotêxteis possuíam 1m de comprimento e 0,8m de
Gastaud, 2014). Além disso, o uso de tubos diâmetro. As principais propriedades do geotêxtil
geotêxteis para o desaguamento de rejeitos em usinas usado nos tubos estão resumidas na Tabela 2.
de mineração tem aumentado devido à eficiência de
drenagem e menores investimentos e custos de Tabela 1. Propriedades do solo
manutenção (Assinder et al., 2016; Newman et al., Proprieties Values
2004; Li et al., 2016; Wilke et al., 2015). Os D10 (mm)(1) 0.040/0.0036(2)
resultados apresentados por Yang et al., (2019) D50 (mm) 0.120/0.027
mostram que a aplicação de tubos geotêxteis em D85 (mm) 0.259/0.063
estruturas de armazenamento de rejeitos representa Coeficiente de uniformidade 3.7/8.4
uma boa alternativa para disposição de rejeitos finos. % menor que 0.075 mm 29/87
Alguns estudos (Lawson, 2008; Yee & Lawson, Limite de Liquidez (%) 37
2012, Wilke & Cantré, 2016, Ratnayesuraj & Bhatia Limite de Plasticidade (%) 28
2018, Kim & Dinoy, 2021) admitem processos de Índice de Plasticidade (%) 9
enchimento e desaguamento de tubos em um ou
Classificação SUCS CL
vários estágios. O número de estágio pode influenciar
Classificação AASHTO A-4
a geração de poropressão (Zhang et al., 2022),
Classificação MCT LA-LA’
deformações e forças de tração no geotêxtil (Plaut &
Filz, 2008, Kim et al., 2020), bem como limitar a Notes: (1) Dn = diâmetro da partícula para o qual n% das
acurácia das previsões do comportamento do tubo a partículas restantes são menores. (2) Os valores à esquerda
são de ensaios sem o uso de agente dispersante e os valores
partir de soluções teóricas.
à direita com o uso de agente dispersante.
Este trabalho apresenta e discute resultados de
testes de laboratório em grande escala para investigar
Tabela 2. Propriedades do geotêxtil
a influência de vários estágios de preenchimento no
Propriedades Valores
comportamento do tubo geotêxtil. Para tanto, tubos
foram preenchidos com lama em uma única etapa e Polímero (1) PET
MA (g/m2) 200
em três etapas. Os resultados obtidos nos
tGT (mm) 2.2
experimentos são apresentados e discutidos nos itens
a seguir. O95 (mm) (2) 0.115
J5 (kN/m) (3,6) 11.5
2 MATERIAIS E MÉTODOS Tmax (kN/m)(4,6) 9.8
max (%)(5,6) 83-100
2.1 Materiais Notas: (1) PET= poliéster; MA = massa por unidade
area (ASTM D5261); tGT = espessura nominal (ASTM
O material de preenchimento utilizado no D5261); (2) O95 = tamanho da abertura de filtração
programa experimental consistiu de uma mistura de (ASTM D6767); (3) J5 = rigidez à tração secante a 5%
argila siltosa laterítica e água, na forma de lama, com de deformação; (4) Tmax = resistência à tração; (5) max
concentração (em massa) de sólidos em 50%. A = deformação máxima; (6) Ensaio de faixa larga
análise granulométrica do solo realizada com (ASTM D4595).
analisador de granulometria a laser (Microtrac)
revelou valores de D85 (diâmetro para o qual 85% dos 2.2 Equipamento
diâmetros das partículas restantes são menores que
esse valor, Tabela 1) de 0,063 mm e 0,259 mm em Um canal (6 m de comprimento x 1,5 m de altura;
ensaios com e sem dispersante, respectivamente, D 50 1 m de largura) foi usado nos ensaios. Um trecho em
de 0,027mm e 0,120 mm, D10 de 0,0036 mm e 0,040 uma das extremidades do canal foi utilizado para a

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88
mistura do solo com a água. O resto do comprimento os tubos atingissem uma altura inicial de 450 mm.
do canal foi usado para construir os tubos geotêxteis
(Figura 1). As laterais do canal são transparentes para
permitir a visualização do formato deformado do
tubo durante o ensaio. Duas camadas de plástico
lubrificado foram aplicadas nas paredes do canal para
minimizar o atrito entre o geotêxtil e o vidro. O solo
foi continuamente e uniformemente misturado com
água para formar uma pasta com um peso unitário de
13,5 kN/m3 usando uma bomba de 3000 watts antes
da entrada da lama no tubo. Os tubos geotêxteis eram
cilíndricos, com diâmetro de 0,8 m e comprimento de
1 m. O tubo geotêxtil repousava sobre uma (a)
plataforma rígida no fundo do canal.

(b)
(a) Figura 2. Instrumentação do tubo (a) Localização das
células de tensão e transdutores de poropressão; (b)
Localização dos instrumentos na base do tubo geotêxtil.
Câmara de mistura de lama
Após o término dos ensaios, as partículas de solo
que passaram pelo geotêxtil foram coletadas para
análise granulométrica. Um analisador de partículas
1500 a laser (Microtrac) foi utilizado para a medição dos
mm diâmetros das partículas.
6000
1500 mm mm
3 RESULTADOS
(b)
Figura 1. Vista e dimensões do equipamento (a) Vista da 3.1 Redução de volume e taxa de desaguamento
câmara de mistura e área de ensaio; (b) Dimensões do
canal.
A Figura 3 apresenta o volume de água drenado
dos tubos ao longo de quatro semanas para o ensaio
Um tubo vertical conectado à base rígida foi
utilizando uma etapa de enchimento, identificado
instalado para medição de coluna d’água. A
com a nomenclatura TG-SD, e para o ensaio com três
deformação do tubo foi medida em vários pontos ao
etapas de enchimento (TG-3FE). Pode ser observado
longo de seu perímetro por meio de uma malha
uma estabilização das leituras no final da segunda,
quadrada (20 mm de largura) traçada ao longo da
terceira e quarta semana (ensaio TG-3FE). Para o ensaio
superfície do tubo em sua região central (Figura 2). TG-SD, a estabilização do volume de água drenada
pode ser observada 13 dias após o enchimento. A
Os ensaios começaram com a preparação da lama utilização de três estágios de enchimento levou a um
com uma concentração (em massa) de sólidos de volume de água drenada 29% maior em relação ao
aproximadamente 50%. O processo de mistura e ensaio com um único estágio de enchimento.
enchimento foi realizado por meio de uma bomba de
dragagem. A vazão de injeção da mistura dentro dos
tubos geotêxteis foi igual a 0,75 l/s. Os tubos foram
preenchidos com uma única etapa ou com três etapas
de enchimento. A etapa de enchimento durou até que

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89
120
Onde St é a concentração de sólidos no tempo t,
100
∆𝑉𝑡 é a redução do volume da lama contida ao longo
80 do tempo t e 𝑆0 é a concentração inicial de sólidos.
Volume (L)

60
500
40
400
20

Altura, H2 (mm)
0 300
0 10 20 30 40
Tempo (dias) 200

100
Figura 3. Volume acumulado de água drenada durante os
0
ensaios.
0 3 7 10 14 18 21 25 28 32 36
Tempo (dias)
A variação da altura decorrente do processo de TG-SD (H2) TG-3FE (H2)
desaguamento e adensamento do material retido nos Figura 4. Variação da altura do tubo com o tempo.
tubos é apresentada na Figura 4, onde se observa uma
maior altura final do tubo com 3 estágios de A partir da variação do volume de lama registrado no
enchimento. A taxa de variação da altura do tubo ensaio TG-SD (Figura 5.a), é possível obter a
após cada etapa de enchimento diminuiu no ensaio variação da concentração teórica com o tempo
TG-3FE. Segundo Yee & Lawson (2012), à medida utilizando a equação 1, conforme mostrado na Figura
que o número de estágios de drenagem aumenta, o 5.b. Uma redução gradativa do volume é obtida à
volume de sólidos e flocos depositados no tubo medida que a água escoa, consequentemente levando
também aumenta, diminuindo assim a variação de um aumento na concentração de sólidos com o
altura entre cada estágio de enchimento. Um tempo. Assim, de acordo com a solução teórica,
comportamento semelhante pode ser observado nas obteve-se um aumento de 9,6% de concentração no
duas primeiras semanas nos dois ensaios, no entanto, quinto dia e 11,6 % no final do ensaio, o que
o TG-SD apresentou 9% de diferença de altura no evidencia a influência do processo de desaguamento
final da segunda semana quando comparado com o nos primeiros dias, diminuindo ao longo do tempo.
ensaio TG-3FE. A formação de camadas de material O volume de efluente do tubo geotêxtil registrado
sedimentado no fundo do tubo ocorreu mais ao longo do tempo foi utilizado para calcular a
rapidamente entre os primeiros 3 e 5 dias após o variação da vazão de desaguamento com o tempo
processo de enchimento, associada a uma maior saída conforme mostrado na Figura 6. Com a variação da
de água livre. Desta forma, a transição de um vazão de desaguamento ao longo do tempo, pode ser
processo dominado pelo desaguamento para outro observado que valores máximos aos 14 e 24 dias
dominado pelo adensamento ocorreu dentro do corresponderam ao início da 2ª e 3ª etapa de
material retido nos tubos, conforme descrito por enchimento no ensaio TG-3FE. Pode-se notar que
Lawson (2008). neste ensaio, após a primeira etapa de enchimento, a
O volume de lama introduzido no tubo foi medido taxa de desaguamento chegou próximo de zero (1,7
para cada estágio de enchimento. A Figura 5 E-7 L/s) após 13 dias. Por outro lado, nas etapas
apresenta a variação do volume total do tubo com o posteriores o tempo foi reduzido para três e quatro
tempo durante os ensaios TG-SD e TG-3FE. De dias, mostrando que a capacidade de drenagem do
acordo com o Lawson (2008), existe uma relação geotêxtil envolvente não foi comprometida durante o
entre a mudança no volume de lama contida dentro tempo de ensaio. Para o ensaio TG-SD a drenagem
do tubo de geotêxtil e a mudança na concentração de observada foi quase nula (1,8 E-7 L/s) após
sólidos. Para um único ciclo de enchimento- aproximadamente 17 dias de ensaio.
desaguamento, o aumento esperado na concentração
de sólidos pode ser obtido para uma determinada
redução no volume da lama retido conforme
(Lawson, 2008):
1 0 ) 𝑆
(1−Δ𝑉 )(1−𝑆
𝑆𝑡 = 𝑡 𝑜
1
𝑜 ) 𝑆
(1)
1+(1−∆𝑉 )(1−𝑆
𝑡 𝑜

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90
0,5 passaram pelo geotêxtil (tomado como d 95, que é o
diâmetro de partícula para o qual 95% das partículas
0,4 restantes são menores) foi igual a 0,073 mm no
ensaio TG-SD e 0,093 mm no ensaio TG-3FE, que
Volume (m3)

0,3 são valores menores que o tamanho da abertura de


filtração do geotêxtil (O95 = 0,115 mm, Tabela 2).
0,2
Assim, o aumento do número de estágios de
enchimento pode ter facilitado a passagem de
0,1
material mais grosso através do geotêxtil. Isso pode
ser consequência de vibrações do tubo a cada estágio
0
0 10 20 30 40 de enchimento.
Tempo (dias) Ressalta-se que não foi adicionado agente
TG-SD TG-3FE floculante à lama nos ensaios atuais e que a camada
(a) geotêxtil é tensionada neste tipo de aplicação. No
0,4 57% entanto, Palmeira et al. (2019) relataram pouca
Desaguamento Consolidação variação nos tamanhos de abertura de filtração de
0,35 56%
Concentração de sólidos (%)
geotêxteis submetidos à tensão sob condições de
0,3 55%
deformação plana.
Volume (m3/m)

0,25 54% A massa total do solo que passou através do


0,2 53% geotêxtil no ensaio TG-3FE foi de 8,51 g contra 6,06
0,15 52%
g no ensaio TG-SD. Em relação à área superficial
Volume variation
Variação do volume total do tubo geotêxtil disponível para a passagem de
0,1 51% partículas, os valores obtidos foram de 3,39 g/m2 para
Solids
Concentração de sólidos
0,05 Concentration 50% o ensaio TG-3FE e 2,41 g/m2 para o ensaio TG-SD.
0 49% Ou seja, valores muito pequenos para que se
0 5 10 15 20 25 30 35 considere o efeito de piping como relevante.
Tempo (dias) .
100
Porcentagem passante (%)

(b)
80
Figura 5. Variação do volume do tubo e concentração de
sólidos com o tempo (a) Variação do volume versus 60
tempo; (b) Volume e concentração de sólidos versus tempo
- TG-SD. 40

1,E+00 20
Vazão de desaguamento (L/s)

1,E-01
0
1,E-02 1°Enchimento 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10
1,E-03
2°Enchimento
3°Enchimento Diâmetro das partículas (mm)
1,E-04
1,E-05
Solo TG-SD TG-3FE
1,E-06
1,E-07
Figura 7. Granulometria de partículas de solo que
passaram pelo geotêxtil.
1,E-08
0 10 20 30 40
Tempo (dias)
TG-SD 4 CONCLUSÕES
Figura 6. Variação da vazão de desaguamento com o
tempo. Este trabalho apresentou um estudo experimental
sobre o comportamento de tubos geotêxteis
A Figura 7 apresenta a distribuição preenchidos com lama em uma e em três etapas de
granulométrica das partículas (ensaios sem agente enchimento. Um equipamento de grande escala foi
dispersante) que passaram pelo geotêxtil durante os utilizado para simular as etapas de enchimento e
ensaios, bem como a curva granulométrica do solo desaguamento do tubo e a instrumentação geotécnica
original para comparação. A distribuição de forneceu informações relevantes para entender o
partículas de solo apresentado nesta figura mostra comportamento do tubo. As principais conclusões
que o valor máximo do diâmetro das partículas que obtidas neste estudo são resumidas a seguir.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


91
A utilização de três estágios de enchimento during filling and consolidation. Geosynthetics
aumentou significativamente a altura final do tubo e International.1-19.
o seu volume ao final do ensaio. Apesar de levar mais https://doi.org/10.1680/jgein.20.00035.
tempo para se encher o tubo, o uso de múltiplos Koerner, G.R., & Koerner, R.M. (2006). Geotextile tube
assessment using a hanging bag test. Geotextiles and
estágios de enchimento é mais eficiente no que se
Geomembranes 24 (2). 129–137.
refere à altura final do tubo e sua capacidade de Lawson, C.R. (2008). Geotextile containment for
armazenamento. hydraulic and environmental engineering.
O geotêxtil utilizado foi eficiente no Geosynthetics International. v. 15(6), p. 384-427.
desaguamento da lama. Partículas menores que o Li, Q.Y., Wang, H.D., Ma, G.W., Li, Z.J., Zhou, H.M., &
tamanho da abertura de filtração do geotêxtil foram Cui, X. (2016). An experimental study of the
capazes de escoar através do geotêxtil, mas em mechanical performance of tailings dam geofabriform.
quantidades muito pequenas, mas maiores em Rock Soil Mech. 37 (4). 957–964 (in Chinese).
tamanho e em quantidade no ensaio com três estágios Liao, K., & Bathia, S.K. (2008). Geotextile tube
de enchimento. dewatering: filtration criteria. Proc. The First Pan
American Geosynthetics Conference & Exhibition.
Os resultados obtidos no estudo aqui descrito
Cancun, pp. 506- 513.
mostraram a eficiência da utilização de tubos Maurer, B.W., Gustafson, A.C., Bhatia, S.K., & Palomino,
geotêxteis para o desaguamento de lamas. No A.M. (2012). Geotextile dewatering of flocculated,
entanto, mais pesquisas são necessárias, fiber reinforced fly-ash slurry. Fuel 97, 411-417.
principalmente para o desenvolvimento de métodos Moo-Young, H.K., & Tucker, W.R. (2002). Evaluation of
para prever o comportamento de tubos geotêxteis vacuum filtration testing for geotextile tubes.
submetidos a múltiplos estágios de enchimento. Geotextiles and Geomembranes. v. 20, p. 191-212.
Moo-Young, H.K., Gaffney, D.A., & Mo, X. (2002).
AGRADECIMENTOS Testing procedures to assess the viability of dewatering
with geotextile tubes. Geotextiles and Geomembranes.
Os autores agradecem à Universidade de Brasília 20 (5): 289-303.
e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Muthukumaran, A.E., & Ilamparuthi, K. (2006).
Laboratory studies on geotextile filters as used in
Nível Superior (CAPES), que apoiaram a pesquisa
geotextile tube dewatering. Geotextiles and
descrita neste trabalho. Geomembranes. v. 24, p. 210-219.
Newman, P., Hodgson, M., & Rosselot, E. (2004). The
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


93
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Uso de geocélulas PEAD preenchidas com material granular para


sistemas de drenagem superficial
Wladimir Caressato Junior
TDM Tecnologia de Materiais Brasil Ltda., Campinas, Brasil, wcaressato@tdmbrasil.com.br

Bruna Todescan de Carvalho


TDM Tecnologia de Materiais Brasil Ltda., Campinas, Brasil, btodescan@tdmbrasil.com.br

Leticia Toniato Andrade


TDM Tecnologia de Materiais Brasil Ltda., Campinas, Brasil, landrade@tdmbrasil.com.br

RESUMO: O presente trabalho demonstra como a utilização de geocélulas de polietileno de alta densidade (PEAD)
permite a construção de canais de baixo custo e muito rápidos para serem instalados, principalmente em regiões distantes
das grandes cidades, onde a escassez de materiais pétreos, pode tornar a implantação do projeto extremamente caro, além
de complexo em termos de construção e transporte. É demonstrada a metodologia a ser utilizada para o correto
dimensionamento de estruturas de drenagem através da utilização de geocélulas de polietileno de alta densidade (PEAD),
os principais benefícios que essas estruturas apresentam em relação às estruturas de drenagem convencionais além de um
comparativo econômico entre soluções.

PALAVRAS-CHAVE: Geocélulas PEAD, Sistema de Drenagem, Canais Perimetrais, Extravasores, Material Granular.

ABSTRACT: The present work demonstrates how the use of high-density polyethylene (HDPE) geocells allows the
construction of low-cost and quick-installation channels, mainly in regions far from big cities, where the scarcity of stone
materials, can make the implementation of the project very expensive, in addition to being complex in terms of
construction and transportation. The methodology to be used for the correct dimensioning of drainage structures is
demonstrated through the use of high-density polyethylene (HDPE) geocells, the main benefits that these structures
present in relation to conventional drainage structures as well as an economic comparison between the solutions

KEY WORDS: HDPE Geocells, Drainage System, Perimeter Channels, Spillway, Granular Material.

1 INTRODUÇÃO capacidade de fluxo transportado, podendo resultar


em grandes custos de reparo ou recuperação.
Em sua totalidade, seja em mineradoras, aterros Nos dias de hoje, com o constante avanço
sanitários, usinas fotovoltaicas, parques eólicos ou tecnológico, diaramente são publicadas novas
drenagem urbana, comumente canais são revestidos metodologias de cálculos, descobertas de novos
com concreto armado ou materiais pétreos. Partindo materiais e aplicações. Nesse cenário o papel da
desse principio, na maioria das aplicações os custos engenharia, de buscar alternativas que possam
de construção dessas estruturas consomem altas combinar com segurança e responsabilidade, ou até
porcentagens dos investimentos totais, sejam para mesmo substituir as estruturas convencionais por
novas estruturas, como para manutenção de estruturas que representem reais vantagens técnicas e
estruturas existentes. Dentro desses custos também econômicas, a fim de reduzir custos e viabilizar
incluí-se: à escassez de material pétreo que, em projetos. É neste contexto que os geossintéticos se
função a distância de pedreira, pode inviabilizar tanto tornam uma alternativa altamente interessante para
obras de pedra como concreto, às deficiências projetos de irrigação, condução e/ou drenagem.
construtivas e/ou de manutenção devido a mão de Especificamente, estão disponíveis materiais
obra mal treinada na região etc, que podem causar como geocélulas de polietileno de alta densidade
danos geotécnicos e de erosão, redução da (HDPE), que permitem reduzir a espessura da

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


94
camada de agregado, assim como reduzir o diâmetro
no material granular necessário para suportar as
vazões de projeto, em comparação de estruturas de
gabião ou enrocamento, por exemplo.

2 GEOCÉLULAS PEAD

As geocélulas PEAD são materiais geossintéticos


desenvolvidos pelo Corpo de Engenheiros dos EUA
e consistem em um conjunto de tiras de polietileno de
alta densidade (PEAD, ou em inglês HDPE)
conectadas por uma série de cordões de solda
ultrassônicos, distribuídos ao longo da largura da tira,
alinhados perpendicularmente ao eixo longitudinal Figura 1. Geocélulas usadas no revestimento de canais.
das tiras. Estendendo-se, as faixas interligadas
formam paredes de uma estrutura tridimensional de O sucesso do revestimento de canais com o uso
"confinamento celular" tipo colméia, que pode ser geocélulas, levou essa alternativa à aplicações cada
preenchida com materiais como: granulares, solo, vez mais ambiciosas, como a construção de estruturas
argamassa ou concreto. Cada “célula” atua como um para suportar fluxos de alta velocidade. Infelizmente,
pequeno recipiente que confina o material de essas aplicações em alguns casos têm sido
preenchimento, melhorando assim sua performance, acompanhadas de materiais de baixa qualidade, fora
frente às solicitações, comparado ao mesmo aplicado da especificação (por exemplo, GRI-GS15) ou sem
sem nenhum tipo de estrutra. Em comparação com as as propriedades corretas para interagir
texturas e perfurações em todas as paredes, essas adequadamente com o material de preenchimento,
características permitem que a estrutura final produzindo em alguns casos, resultados adversos.
funcione como uma estrutra interligada,
proporcionando uma melhor interação e desempenho 4 CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DO
da estrutura. MODELO DE GEOCÉLULA PEAD
O uso de geocélulas PEAD em projetos de canais
e drenagem de superfície tem crescido rapidamente, A utilização de proteções de canal com inclusão de
em grande parte devido às grandes vantagens que as geocélulas PEAD não é novidade, seja para canais
geocélulas oferecem sobre estruturas convencionais, abertos, bacias de dissipação, estruturas de drenagem
como gabiões ou enrocamento. Para citar um superficial, bem como drenagem em fechamento de
exemplo, os revestimentos feitos com geocélulas de aterros sanitários, pilhas de estéril e rejeito. No
PEAD dispensam o uso de mão de obra entanto, é de suma importância, para evitarmos
especializada, colocação e remoção de fôrmas, além falhas, o conhecimento das propriedades críticas das
de otimizar o processo construtivo, devido a redução geocélulas PEAD no momento de calcular e
dos tamanhos do material granular, facilitando seu especificar este tipo de material.
manuseio.
4.1 Perfurações da parede
3 SISTEMAS DE DRENAGEM COM
GEOCÉLULAS PEAD E MATERIAL Como mencionado, cada “célula” atua como um
GRANULAR COMO PREENCHIMENTO pequeno recipiente que confina o material de
preenchimento e restringe a movimentação lateral do
As geocélulas PEAD, devido sua estrutura celular, agredado, eliminando assim a necessidade da
quando preenchidas com material granular (brita 1, 2, utilização de agredado com grandes diâmetros.
3 ou pedra de mão), devido ao confinamento gerado Sabe-se, que quando imerso a água, o corpo tende
pelas paredes das geocélulas, é possível reduzir os a “pesar menos”. Isso ocorre em razão do empuxo
diâmetros do material pétreo, quando comparado que acontece devido a diferença de pressão existente
com as estruturas apenas confeccionadas com esse entre a parte superior e inferior do objeto, quando ele
tipo de material. Existem excelentes referências no é mergulhado em um fluído. Dessa forma, para
Brasil para canais de geocélulas em funcionamento, reduzir o efeito do empuxo no material granular de
inclusive para estruturas de vertedouro de barragens. preenchimento, são utilizadas geocélulas com
perfurações nas paredes.

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95
Figura 4. Aberturas comerciais das Geocélulas PEAD.

Com o avanço da tecnologia, seguido de novos


testes, as geocélulas estão em constante evolução e
hoje já é possível encontrar uma ampla gama de
aberturas, desenvolvidas de acordo com as
Figura 2. Perfurações para o livre fluxo de percolado. necessidades específicas de cada projeto, que será
submetido. Como exemplo, tem-se os modelos
Essa caracteristica evita que o fluído fique retido demonstrados a seguir.
no interior das células, aumentando assim a ação do
empuxo no material de preenchimento. Desta forma,
com o livre fluxo entre as distintas células, possibilita
a estrutura suportar maiores velocidades.

4.2 Abertura e altura

Para aplicação em canais abertos, é amplamente


utilizado o relatório CIRIA “Design of reinforced
Figura 5. Aberturas especiais das geocélulas PEAD,
grass waterways (1987)”, que sugere o uso de uma podendo ser fabricas com dimesões sob medida.
determinada profundidade de enchimento em função
a velocidade de fluxo, com base nos resultados de 5 DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA DE
testes hidráulicos. Para cenários de enchimento com DRENAGEM COM GEOCÉLULAS PEAD
material granular/pétreo, para garantir a PREENCHIDAS COM AGREGADO
estabilidade/permanência do agregado dentro da
célula, recomenda-se que o D50 deste material seja Para o dimensionamento das estruturas de
no máximo igual à metade da profundidade da parede proteção/revestimento de canais, é de extrema
da geocélula, garantindo assim a conformação de importância a determinação da magnitude das forças
duas camadas de material. Na Figura 3, podemos trativas e de abrasão geradas pelo fluido a ser
encontrar os modelos comerciais encontrados no transportado pelas estruturas hidráulicas. Por essa
mercado. razão, a verificação da estabilidade das proteções de
canais com geocélulas é fundamentalmente realizada
através da determinação da velocidade crítica de
arraste e do número de manning n.

Figura 3. Alturas comerciais das geocélulas PEAD.

Assim como a altura, a seleção do modelo da


abertura (comprimento e largura) das geocélulas
PEAD, é definido em função ao diametro do material
de preenchimento, de modo a garantir uma
distribuição que preencha toda a célula, evitando Figura 6. Relação entre tamanho médio de agregado e
deixar o material da base a mostra. Na continuação rugosidade.
são apresentadas as aberturas comerciais encontradas
no mercado. Os coeficientes de rugosidade manning de
agregados de revestimento são caracterizados

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principalmente pelo tamanho, forma e graduação das
partículas. Desta forma, valores típicos são
demonstrados na Figura 6.
Valores estimados de agregados para
revestimento, também podem ser obtidos através da
aplicação da equação 1 na continuidade:

𝑛 0,0152 𝐷50 (1)

Onde, Figura 8. Efeito do esvaziamento do material das


D50 = tamanho do agregado (mm). geocélulas PEAD vs velocidade crítica.

A partir de ensaios de sistemas de revestimento Dessa forma, mesmo que o volume de material de
com preenchimentos granulares, conduzidos em preenchimento dentro das geocélulas PEAD comece
Burlington, em 1987, no Centro Canadense de Águas a diminuir, podemos observar que isso nos traz uma
Interiores (CCIW) e na Universidade Estadual do melhora significativa em relação ao suporte a tensão
Colorado – Laboratório de Hidráulica, foi possível de arraste proporcionada pelo fluxo do canal, sem que
determinar, a partir de valores de velocidades de isso possa acarretar em uma falha do sistema de
fluxo, declividades e raio hidráulico, o tamanho drenagem.
médio de agregado a ser utilizado como material de Sendo assim, como o início dos processos
preenchimento para as geocélulas PEAD. Como erosivos estão diretamente relacionados com o
resultado desse teste, tem-se a Figura 7 na tamanho do agredado, temos que os materiais de
continuidade: preenchimento com o menor número de partículas
finas (material uniforme) possui uma maior
resistência a tensão de arraste do que os materiais
bem graduados.

6 COMPARAÇÃO ENTRE ESTRUTURAS


DE REVESTIMENTO DE CANAIS PERMEÁVEIS

Em função ao sucesso do uso das geocélulas PEAD


como revestimento de canais, visando demonstrar as
vantagens do uso do material refletido em seus custos
Figura 7. Relação entre velocidade, raio hidráulico e durante e pós obra, realizou-se um comparativo entre
diametro médio (D50) em geocélulas preenchidas com soluções convencionais permeáveis, onde pode-se
material granular. citar colchão tipo gabião, enrocamento organizado e
lançado versus revestimentos em geocélulas PEAD,
Conforme demonstrado na Figura 7, com o demonstrado na Figura 9.
incremento da velocidade, se faz necessário o
aumento do diâmetro médio do agregado e,
consequentemente das dimensões do modelo de
geocélulas PEAD, tornando-se um processo iterativo,
até a determinação e cumprimento dos parâmetros de
projetos. Softwares de cálculos, como por exemplo o
HCanales, podem ser utilizados para otimizar os
processos de cálculo.
Em caso de velocidades que superem as
velocidades críticas consideradas, se iniciará um
processo de esvaziamento das células. No entanto,
segundo ensaios realizados no CCIW, a medida que Figura 9. Comparação de custos para canais permeáveis.
esse processo evolue, o atrito e a resistência ao atrito
do material dentro das geocélulas PEAD aumentam. As geocélulas PEAD se tornam uma opção mais
Na Figura 8, podemos observar como esse processo atratativa para o revestimento e proteção do sistema
se desenvolve, em função ao esvaziamento de drenagem, pois além de ser uma solução
progressivo das geocélulas. econômica, reduzem significativamente os custos e
os riscos de transporte de material até à obra (p.ex. 1

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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caminhão consegue transportar de 40.000 a 50.000
m² de geocélulas numa unica viagem), 4 pessoas
conseguem instalar centenas de metros quadrados em
apenas um dia, alem de não ser necessário mão de
obra especializada para sua instalação.

7 CASOS DE SUCESSO NO BRASIL

Com o avanço das tecnologias, seja na elaboração de


metodologias de cálculos, ou na fabricação de
materiais especiais/sob medida, tem influenciado
cada vez mais os engenheiros na busca da utilização
das geocélulas PEAD, para o revestimento das Figura 11. Estrutura do vertedouro de uma barragem de
estruturas de drenagem. Na sequencia, serão rejeitos, Minas Gerais.
apresentados alguns casos históricos, realizados no
Brasil, onde foram utilizadas as geocélulas PEAD Na Figura 12, vemos um caso do canal de
preenchidas com material granular. drenagem de um aterro sanitário em São Paulo.
Na figura 10, podemos encontrar um canal Devido às fortes chuvas da estação, o cliente tinha
perimetral, executado com geocélulas PEAD urgência na realização do sistema de revestimento e
preenchidas com brita. Neste caso, o projeto estava proteção do canal. Neste caso, a solução com
concebido em concreto armado, no entanto, devido o geocélulas PEAD foi adotada em função a facilidade
cliente possuir o material granular in loco, a opção construtiva e agilidade que a solução proporcionava,
com geocélulas PEAD foi mais vantajosa, técnica e possibilidando a construção dentro do prazo
economicamente. estimado.

Figura 12. Sistema de drenagem e capitação de água de


aterro sanitário, São Paulo.
Figura 10. Canal perimetral para o descomissionamento
de barragem de água, São Paulo.
8 CONCLUSÕES
Na Figura 11, temos o caso de um extravasor
revestido com o sistema de geocélulas PEAD. Neste Existe uma grande variedade de geocélulas no
caso, devido a forte declividade do canal, foi mercado, cabendo ao projetista selecionar o material
necessário a construção de escadas hidráulicas mais adequado, dadas as adversidades de cada
(também confeccionadas com as geocélulas, porém projeto, para determinar o melhor tipo a considerar.
preenchidas com concreto), para corrigir a Dentre as principais vantagens da utilização das
declividade e proporcionar o mantenimento do geocélulas PEAD, é possível citar a rapidez de
preenchimento com material granular. Dessa forma, instalação e a ausência de mão de obra especializada
foi possível a utilização das geocélulas PEAD em para a execução, o que, mesmo gerando um valor
toda a extensão do extrasor, unicamente alteranto o inicial maior na compra de materiais, em relação às
tipo de preenchimento das geocélulas PEAD. estruturas convencionais, o retorno final da mesma e
o investimento podem chegar em até 50% de
economia para o cliente.
Atualmente, vários investigadores têm apoiado
ativamente a execução de trabalhos nessa área, de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


98
forma a fornecer aos clientes informações técnicas e FIERRO G. (2021) Revestimiento de Canales con
processos de cálculo detalhados, bem como materiais Geoceldas y Concreto Lanzado en Proyectos Mineros
elaborados com as melhores resinas disponíveis, y Agrícolas - GEOINGENIERIA 2021 - Lima, Perú
garantindo um bom desempenho e durabilidade a (2021)
FIERRO G. (2021) Metodología y Aplicación de
longo prazo. Uma longa lista de trabalhos bem-
Geoceldas con Suelo Cemento en Proyectos Civiles -
sucedidos dá a confiança para calcular e construir GEOINGENIERIA 2021 - Lima, Perú (2021)
estruturas hidráulicas com segurança e a certeza de GRI STANDARD GS-15 (2016). "Test Methods, Test
que as grandes vantagens das geocélulas PEAD, Properties and Frecuency for Geocells Made from
nesse tipo de aplicação, perdurarão no tempo. High Density Polyethylene (HDPE) Strips”,
Geosynthetics Institute: 1-9.
AGRADECIMENTOS KOERNER, R.M. (2012) Designing with Geosynthetics
6th Edition, p. 914
Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer ao MANUAL DE CARRETERAS VOLUMEN N°3,
Eng.° Gustavo Fierro, Gerente Corporativo I+D e Instrucciones y Criterios de Diseño, Dirección de
Vialidad – MOP Chile, Edición 2013.
Inovação do Grupo TDM, pelas fotos e informações
NORMAS TÉCNICAS COMPLEMENTARIAS PARA
fornecidas para a elaboração do presente artigo, além EL DISEÑO Y EJECUCIÓN DE OBRAS E
de todos os clientes, sejam projetistas, construtoras, INSTALACIONES HIDRÁULICAS; Gobierno del
clientes finais, que optaram por implantar Distrito Federal, Estado de México 2004.
revestimentos de geocélulas PEAD em suas ENGEL, P. y FLATO, G., “Flow Resistance and Critical
localidades. Flow Velocities for Geoweb Erosion Control System”,
Research y Applications Branch – National Water
Research Institute, Canada Centre for Inland Waters,
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Utilização de Geocomposto Drenante no Sistema de Drenagem


Interna de Barragens em Substituição do Material Granular
Fernanda Sasdelli Figueiredo Sales
Fonntes Geotécnica, Belo Horizonte, Brasil, fernanda.sasdelli24@gmail.com

Rafael Freitas Rodrigues


Fonntes Geotécnica, Belo Horizonte, Brasil, rfreitas829@gmail.com

Sabrina Medeiros Penasso


Fonntes Geotécnica, Belo Horizonte, Brasil, sabrina.penasso@engenharia.ufjf.br

Raphael Zanotti do Carmo


Fonntes Geotécnica, Belo Horizonte, Brasil, rc.zanotti@hotmail.com

Michel Moreira Morandini Fontes


Fonntes Geotécnica, Belo Horizonte, Brasil, michel@fonntesgeotecnica.com

RESUMO: Piping e liquefação são as duas das principais causas que levam uma barragem ao colapso e estão relacionadas
ao acréscimo de poropressão no interior do maciço em razão do não direcionamento do fluxo de água, ou seja, da
ineficiência ou inexistência do sistema de drenagem interna. Esse sistema serve para alívio da poropressão no interior do
maciço de uma barragem, à medida que direciona o fluxo para jusante da estrutura, evitando assim a saturação do maciço.
Atualmente, os materiais mais utilizados para composição do sistema de drenagem interna são os granulares (brita e
areia). No entanto, existem geossintéticos, como os geocompostos drenantes, que cumprem a mesma função dos materiais
granulares: filtragem e drenagem. Quando comparados os dois sistemas, a utilização de geocomposto drenante apresenta-
se mais vantajoso quanto ao custo-benefício, execução e transporte. Apesar dos geossintéticos apresentarem diversas
vantagens, comparado ao sistema de drenagem convencional com material granular, ainda é pouco usado e isso se deve,
possivelmente, à insegurança dos profissionais em utilizar um método alternativo e com baixo histórico de utilização.

PALAVRAS-CHAVE: Geocomposto drenante, Geossintético, Material granular, Custo, Execução, Transporte.

ABSTRACT: Piping and liquefaction are the two main causes that lead a dam to collapse and are related to the increase
of pore pressure inside the massif due to the non-direction of the water flow, that is, the inefficiency or lack of the internal
drainage system. This system serves to relieve the pore pressure inside the massif of a dam, as it directs the flow
downstream of the structure, thus avoiding the saturation of the massif. Currently, the most used materials for the
composition of the internal drainage system are the granular ones (gravel and sand). However, there are geosynthetics,
such as draining geocomposites, which fulfill the same function as granular materials: filtration and drainage. When
comparing the two systems, the use of draining geocomposite is more compatible in terms of cost-benefit, execution and
transportation. Although geosynthetics have several advantages compared to the conventional drainage system with
granular material, it is still little used and this is possibly due to the insecurity of professionals in using an alternative
method with a low history of use.

KEY WORDS: Draining geocomposite, Geosynthetic, Granular material, Cost, Execution, Transport.

1 INTRODUÇÃO industriais (MOREIRA, 1981 apud AZEVEDO,


2005). Em vista disso, as barragens exercem um
Barragens são estruturas físicas construídas o com importante papel socioeconômico, no entanto, podem
objetivo de conter água para abastecimento, gerar causar diversos impactos negativos sendo eles
energia elétrica, bem como acumular rejeitos ambientais, sociais e econômicos (VIANNA, 2015).

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


100
De acordo com AZEVEDO (2005), as barragens consulta ampla com fornecedores de geossintéticos e
precisam ser eficientes e seguras, tendo em vista as uma revisão bibliográfica na literatura, sobre as
consequências trágicas que trazem em caso de vantagens comparativas dos geossínteticos em
rupturas. A água é um dos principais problemas da relação ao meterial granular, quanto à execução,
engenharia geotécnica, uma vez que, se não transporte e custo. Após essa pesquisa, foi realizado
controlada, pode causar erosão, carreamento de finos, o dimensionamento de um sistema de drenagem
comprometem a estabilidade da estrutura. interna, com ambos os materiais, para uma mesma
Para solucionar tais problemas, sistemas de seção de uma barragem hipotética, para fins
drenagem interna são utilizados para garantir a comparativos.
segurança das barragens, visto que aliviam as A obtenção da vazão de projeto para
pressões internas e evitam a saturação do maciço dimensionamento do sistema foi feita através da
(PETROCELLI, 2019). análise de percolação com o auxílio do programa
Atualmente, o material mais utilizado para Slide2®, da Rocscience. Os parâmetros de
composição do sistema de drenagem interna são os permeabilidade do maciço compactado e do material
granulares (como areia e brita), na composição dos de fundação, utilizados para a elaboração dessa
tapetes drenantes e filtros verticais. No entanto, o análise, foram baseados em CRUZ (2004).
mercado oferece alternativas com a função de filtrar A vazão de projeto foi utilizada para o cálculo da
e drenar a água proveniente do fluxo interno das espessura de material granular, aplicando-se um fator
barragens, como é o caso dos geocompostos de segurança de 10, segundo recomendação da norma
drenantes. De acordo com IGS (International ABNT NBR 13028:2017, através da lei de Darcy,
Geosynthetics Society) os geossintéticos são expressada pela Equação 1.
materiais planos feitos através de polímeros, sendo
eles naturais ou não, utilizados em contato com o solo Q=k iA (1)
dentro de obras da engenharia. Nesse contexto,
segundo CARNEIRO (2009), para que os Onde:
geossintéticos cumpram sua função na drenagem Q: vazão de projeto (m³/s);
interna, a dimensão da sua abertura deve ser mínima k: permeabilidade do material drenante (m/s);
o suficiente para impedir a passagem de partículas i: gradiente hidráulico;
sólidas para o interior dos drenos, ao mesmo tempo A: área de drenagem (m²).
que permite a livre passagem da água.
O uso de geossintético em barragens como O geocomposto escolhido para compor o sistema
camada drenante teve início na década de 70, na de drenagem com geossintético foi o MacDrain®
construção de “Frauenau Dam” na Alemanha e 2R5 20.2, da Maccaferri. Esse possui um núcleo
“Hans Stridjon Dam” na África do Sul drenante formado por uma georrede de polietileno de
(VERTEMATTI, 2004). Nessa mesma época, os alta densidade termo-soldada em todos os seus
geotêxteis estavam sendo inseridos no Brasil como pontos de contato com dois geotêxteis não-tecido. O
dispositivos de drenagem em rodovias. produto possui alta resistência à compressão e
Os materiais granulares, apesar de ainda serem os elevada transmissividade. A Figura 1 apresento o
mais utilizados nas drenagens internas de barragens, produto e a Figura 2 a sua ficha técnica.
é um material de alto custo, visto que, quanto maior
a vazão de projeto, maior a espessura requerida de
material. Além disso, em locais de difícil aquisição,
a distância média de transporte é alta, elevando o seu
custo devido ao transporte. Dessa forma, esse artigo
tem como objetivo apresentar as vantagens
comparativas de custo e execução dos geocompostos
drenantes, quando utilizados na substituição do
material granular para composição do sistema de
drenagem interna de barragens. Embora os mesmos
ainda sejam pouco utilizados e divulgados,
apresentam desempenho satisfatório para tal função.

2 MATERIAL E MÉTODOS Figura 1. MacDrain® 2R5 20.2, da Maccaferri

Para elaboração deste artigo, foi necessário uma

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101
interna de barragens, o que melhor se encaixa é o
geocomposto drenante.
O geocomposto drenante consiste na junção de
dois geossintéticos: geotêxtil e georrede. Nessa
junção, o getêxtil tem a finalidade de impedir a
passagem de partículas sólidas para a georrede, que
acarretaria no entupimento deste.
Concomitantemente, a georrede funciona como um
dreno, permitindo a livre passagem da água e
conduzindo o fluxo para jusante da estrutura. Nesse
contexto, o geotêxtil entraria no lugar da transição
Figura 2. Ficha técnica do MacDrain® 2R5 20.2. com areia e a georrede substituiria o material
drenante, como caso da brita.
A metodologia de cálculo do sistema de
drenagem constituído por geossintéticos, consiste na 3.1 Custos de material e transporte.
verificações de propriedades físicas do materiais, tal
qual abertura de malha, resistência à tração, Em uma pesquisa realizada com fornecedores de
puncionamento e permeabilidade, a fim de averiguar geossintéticos da região de Belo Horizonte, Minas
se o material pré escolhido atende às necessidades Gerais, o custo médio do geocomposto drenante é de
impostas pelas condições de contorno de projeto. R$ 40,00 reais. O transporte é realizado de maneira
Para isso, o dimensinamento foi realizado baseado no convencional, por meio de caminhões e transportado
livro de Wavin: “Projetos de infraestrutura com em forma de bobinas. De acordo com os
geossintéticos” (2022). fornecedores, o frete da entrega do produto é
A primeira verificação trata-se da comparação calculado considerando um valor de R$ 4,00 reais por
entre a permissividade requerida e a admissível km.
apontada no catálogo do produto, através da Equação Quanto aos materiais granulares, o custo por
2. tonelada, de acordo com tabela de composição de
custos da CAIXA, SINAPI (MG. Out/2022) , varia
ψreq =
Q
(2) de acordo com a dimensão dos grãos, conforme
apresentado na Tabela 1.
Onde: Tabela 1. Custos dos materiais granulares – SINAPI
Ψreq:permissividade requeridado Geotêxtil, k/t. (MG. Out/2022).
(𝑠-1) Material Valor
Q: vazão total a evacuar calculada (m/s²). Areia Fina R$ 100,00
Δh: carga hidráulica, que é igual à altura do Areia média R$ 100,00
Geocomposto (m). Areia grossa R$ 101,30
H: altura do Geocomposto (m). Brita 00 R$ 121,25
L: comprimento do tramo de drenagem em Brita 01 R$ 105,02
questão (m).
Quanto ao transporte do material granular, o
Em seguida, verifica-se a vazão requerida em mesmo deve ser realizado em caminhão basculante,
relação a vazão de projeto, conforme a Equação 3. com tela de proteção. O valor do transporte, de
acordo com a tabela de composição de custos do
Qwreq =
Qt
(3) DNIT – SICRO (MG, nov/2016) é de R$ 0,76 reais
por t/km.
Onde:
Qt = Vazão total do projeto (m/s²); 3.2 Execução.
L = Comprimento do Geocomposto (m).
Para a execução do sistema de drenagem interna de
uma barragem com geossintéticos, não é necessário
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES mão-de-obra especializada, apenas acompanhamento
durante a execução e cuidado com o manuseio do
Dentre as opções de geossintéticos disponíveis no material a fim de evitar danos. Para isso, segundo o
mercado que cumpra a função de filtro e de dreno, Manual Brasileiro de Geossintéticos, deve ser
para substituição do material granular na drenagem removido qualquer objeto punço cortante da

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102
superfície em que será instalado. Ademais, a altura de realizadas na barragem e, considerando um fator de
queda de solo sobre o geocomposto deve ser limitada segurança mínimo de 10, são determinadas as
evitando danos, como rasgos no material. dimensões e espessuras da camada drenante. No
Quanto à execução com material granular, devem entanto, de acordo com os critérios de projeto civil
ser tomados cuidados especiais a fim de evitar a elaborados pela Eletrobrás em 2009, por razões
contaminação do material que será utilizado no construtivas envolvendo maquinários, existem
sistema de drenagem por material particulado, dimensões mínimas que os dispositivos de drenagem
especialmente em período de chuva. Em caso de devem ter, sendo eles:
contaminação o material deve ser removido e
substituído. Além disso, o controle de qualidade no a) filtro vertical ou inclinado: 0,60 m;
momento da execução do sistema de drenagem com b) filtro horizontal: espessura de 0,30 m;
material granular é de suma importância. Nesse c) trincheira drenante de fundação: largura 0,60
sentido, deve-se realizar ensaios de granulometria, a m;
fim de garantir que estes apresentem curva d) poços de alívio: diâmetro de 0,10 m.
granulométrica conforme os limites estabelecidos e
apresentados em projeto. De forma sucinta, é O sistema de drenagem atua no direcionamento do
importante garantir que as propriedades dos materiais fluxo de percolação pelo maciço, redireciona as
estejam dentro das requeridas em projeto, evitar a linhas de fluxo e evita, assim, a ocorrência de erosões
segregação e a contaminação do material que possa internas, pipping, e aumento das poropressões
alterar suas propriedades, garantindo qualidade na (FARIA, 2019). A partir de estudos relacionados a
execução do sistema. solos coesivos e não coesivos quando submetidos a
grandes forças de percolação, o engenheiro Karl Von
3.3 Dimensionamento. Terzaghi, em 1943, determinou critérios para o
dimensionamento de filtros, relacionando a curva
Após a coleta de informações apresentadas nos granulométrica dos materiais. Sendo assim, definiu
tópicos anteriores, para fins comparativo- dois critérios para adoção do material adequado para
quantitativos, foi realizado o dimensionamento de composição do sistema de drenagem internada:
um sistema de drenagem interna para uma barragem
com ambos os materiais, granular e geocomposto a) o material que compõe o filtro deve ser capaz de
drenante. reter e impedir a percolação de partículas do maciço
Com base nisso, primeiramente, com auxílio do através dele. Ou seja, o material deve ser bem
software Slide2, foi realizada uma análise de graduado, de modo que os vazios formados sejam
percolação em uma seção representativa do talvegue suficientemente pequenos para retenção de partículas
de uma barragem hipotética, a fim de obter a vazão provenientes do solo base;
máxima na saída do dreno para posterior b) o material do filtro deve ser permeável o suficiente
dimensionamento do sistema de drenagem interna de para permitir o livre escoamento da água, sem criar
ambas soluções comparadas neste trabalho. A Figura acréscimos de poropressão.
3 representa as linhas de fluxos e a vazão na saída do
tapete drenante obtida através da análise de Na dissertação de mestrado, elaborada por Silva
percolação, sendo essa de 3,1 x 10-6 m³/s/m (2016), constam relações estabelecidas por Terzaghi
considerando o diâmetro das partículas dos materiais,
para que o filtro satisfaça os critérios citados. No que
tange ao critério de retenção, o diâmetro D15 (mm),
que corresponde ao diâmetro da peneira que passa
15% das partículas, não deve ser superior a quatro
vezes o diâmetro que representa 85% do material
passante da camada mais fina do solo base, d85, então
D15/ d85 B ≤ 4. Para satisfazer o critério de
drenagem, e permitir o livre escoamento da água,
drenando-a do maciço, o filtro deve apresentar
Figura 3. Análise de percolação. condutividade hidráulica suficiente. Para que isso
ocorra, Terzaghi determina que a razão entre o
3.3.1 Dimensionamento com material granular diâmetro D15 (mm) do filtro e o diâmetro que
correspondente a 15% das partículas do maciço, d15
De acordo com a ABNT NBR13028:2017, a partir (mm), deve ser maior ou igual a quatro, ou seja, D15/
das vazões obtidas nas análises de percolação d15 B ≥ 4.

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103
Ademais, o material que compõe o filtro deve na drenagem interna. Dessa forma, necessita-se de
seguir o critério de uniformidade, onde a razão entre 3432 m³ de areia e 1764 m³ de brita. Levando em
a interface de material granular fino do filtro sobre a conta os preços apresentados no item 3.1 por m³,
de material grosso seja menor ou igual a 10, sendo sendo R$105,02 para uma brita 01 e R$100,00 de
D60 /D10 ≤ 10. Bem como, a porcentagem de areia, o custo com material da obra seria de
material fino, passante na peneira #200 (0,074 mm), R$528.455,28 (Tabela 2).
não deve ser superior a 2%.
Após escolha do material que atenda aos critérios Tabela 2. Valor total do material granular para drenagem
supracitados, é possível realizar o dimensionamento Material Volume (m³) Custo (R$)
do sistema de drenagem com material granular. Areia 3432,0 343.200,00
Dessa forma, considerando a permeabilidade do Brita 1764,0 185.255,28
material drenante do tapete (brita 01) de 0,15 m/s (k), Total 528.455,28
30 m da extensão do tapete (Ltap) e a vazão de saída
de 3,1 x 10-6 m³/s/m obtida na percolação (Q), é 3.3.2 Dimensionamento com geocomposto
possível determinar a espessura do filtro (B) drenante
utilizando material granular através da lei de Darcy,
uma vez que: Como já demonstrado no item 2 deste trabalho, o
dimensionamento de geossintético trata-se apenas de
Q=k iA verificações, a fim de averiguar se o produto pré-
𝐵 escolhido terá bom desempenho quando utilizado
Q= k 𝐵∗1 sobre condições de projeto específicas. O
𝐿𝑡𝑎𝑝
𝐵 geocomposto utilizado nas verificações foi o
Q= k MacDrain® 2R5 20.2 da Maccaferri. Para que esse
𝐿𝑡𝑎𝑝
produto seja apto a ser utilizado como camada
Dessa forma, fazendo a substituição dos valores drenante, deve atender ao critério de retenção (TAA),
na formulação e considerando um fator de segurança critério de permeabilidade e ao critério de
de 10, obtém-se que a espessura necessária do tapete colmatação.
para que atenda a vazão de projeto é de 0,026 m, Quanto ao critério de retenção, exige que abertura
conforme mostra Equação 4. do geotêxtil seja suficientemente pequena para que
evite a migração de partículas finas de solo até o
3,1𝑥10 = 0,15
²
= 0,025 𝑚 (4) dreno. Dessa forma, e baseado nos critérios de
retenção de Christopher e Holtz (1985), Carroll
(1983), tem-se a Equação 5.
No entanto, por questões construtivas a camada
em brita deve ter uma espessura mínima de 0,30 m. TAA < D85 * B (5)
O filtro vertical é composto por areia e deve ter uma
espessura mínima de 0,60 m, devido ao maquinário Onde:
utilizado na escavação para sua execução. Para mais, TAA: Tamanho da abertura aparente (mm);
deve-se ter uma camada de transição em areia de 0,20 D85: Diâmetro da partícula que corresponde a
m entre a brita do dreno horizontal e o maciço e 85% do solo que passa a ser peneirado.
fundação, tratando-se assim de um tapete drenante do B: Coeficiente que varia entre 1 e 3.
tipo sanduíche – areia, brita e areia –, conforme
mostra detalhe da Figura 4. Para solos granulares, com menos de 50%
passando na peneira #200, B é determinado em
função do coeficiente de uniformidade Cu =
D60/D10, conforme apresentado na Equação 6.

Cu≤2 e Cu≥8 B=1 (6)


1<Cu≤4 B=0,5 * Cu
4<Cu≤8 B=8/ Cu

No caso de solos arenosos e mal graduados B está


Figura 4. Detalhe do filtro vertical e tapete drenante. entre 1,5 e 2. E para solos finos com mais de 50%
passante na peneira #200, B depende do tipo de
Considerando as dimensões supracitadas, é possível geotêxtil, sendo que para geotêxteis não tecidos tem-
calcular o volume de cada material que será utilizado se a Equação 7.

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104
espessuras bem maiores de material granular, fato
B= 1,8 TAA ≤ 1,8 * D85 (7) que encarece consideravelmente a obra. Ressalta-se
também que essa economia é ainda maior quando se
O critério de permeabilidade requer apenas que a considera custos de mão de obra e tempo de
permeabilidade do geossintético (Kg) seja superior execução. Uma vez que, a solução com geocomposto
que a do solo em que será instalado (Ks), se tratando drenante não exige mão de obra especializada e sua
de um fluxo laminar com percentual de finos de até execução é mais rápida comparada a solução com
50%. Para fluxo crítico Kg deve ser 10 vezes maior material granular.
que Ks. Outro ponto importante é o transporte, os
Por fim, para que o produto atenda ao critério de geossintéticos são disponibilizados em rolos, não
colmatação – ou seja, entupimento da abertura do necessitam de veículos específicos e, dependendo da
geocomposto com o tempo, esse deve apresentar uma demanda, estão disponíveis a pronta entrega. Por
porosidade superior a 50%. outro lado, os materiais granulares precisam ser
Após verificações se o produto atende aos transportados em caminhões basculantes e são
critérios retrocitados, deve-se averiguar a retirados de jazidas, pedreiras, próximas ao local da
permissividade e vazão requerida com a admissível obra. No entanto, nem sempre esses locais são
através das equações 2 e 3 citadas no item 2 deste próximos ou não possuem material que atenda as
trabalho. especificações de projeto.
Posteriormente, as verificações e considerando as Conclui-se que, de modo geral, os geossintéticos
dimensões de 40 m de largura, para uma barragem apresentam vantagens sobre todos os critérios
com 200 m de comprimento, seria necessário 8000m² analisados neste trabalho. No entanto, ainda são
do geocomposto drenante. Conhecendo que o valor pouco utilizados, devido a insegurança dos
médio desse geossintético no mercado é R$ 40,00 profissionais em utilizar um método alternativo e
reais por m² o custo do produto para o sistema de com pequeno histórico de utilização.
drenagem com geocomposto drenante seria de R$ Por fim, é importante ressaltar que os resultados
320.000,00 reais. externados nesse trabalho se aplicam para a situação
particular simulada. Para condições distintas das aqui
descritas, devem ser avaliadas caso a caso e as
4 CONCLUSÃO verificações quanto a eficiência do geocomposto,
devem ser reavaliadas, adequando-se às novas
Conforme demonstrado no decorrer do trabalho, condicionantes.
observa-se que o uso do geocomposto drenante como
sistema de drenagem interna de barragens é um
método eficiente, simples e com excelente custo-
benefício. Quando comparado ao sistema AGRADECIMENTOS
convencional, o geossintético apresenta diversas
vantagens quanto ao custo e execução. O Os autores agradecem à empresa fornecedora da
procedimento executivo com geocomposto é simples ficha técnica com as informações do geossintético.
e não necessita de tantos cuidados especiais como
requer os materiais granulares. Como visto, para que
o sistema convencional seja eficiente, as REFERÊNCIAS
propriedades dos materiais granulares não podem ser
alteradas, nesse sentido, é de suma importância que ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
esse não seja contaminado, segregado e armazenado TÉCNICAS – ABNT. NBR-13028: Mineração ―
de forma incorreta. Enquanto o único cuidado Elaboração e apresentação de projeto de barragens para
disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e
necessário com o geossintético é com materiais
reservação de água ― Requisitos. Rio de Janeiro:
punço cortantes que possam perfurar ou rasgar o ABNT, 2017.
produto. AZEVEDO, M. P. N. Barragens de Terra: Sistemas de
Quanto ao custo, a simulação realizada mostra que Drenagem Interna. Dissertação (Graduação) - Curso de
para uma mesma barragem e uma mesma vazão, a Engenharia Civil, Universidade Anhembi Morumbi,
solução com geocomposto drenante foi 35% mais São Paulo, 2005
barata – tratando-se apenas do custo com material – CARNEIRO, J. R. C. Durabilidade de materiais
que a com material granular. Cabe ressaltar que a geossintéticos em estruturas de carácter ambiental: a
espessura e volume de material granular necessário é importância da incorporação de aditivos químicos.
diretamente proporcional a vazão de projeto, dessa 2009. Dissertação (Doutoramento em Engenharia do
Ambiente) – Faculdade de Engenharia, Universidade
forma, para vazões muito altas demanda-se

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


105
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


106
TEMA 4: GEOSSINTÉTICOS EM INFRAESTRUTURA
RODOVIÁRIA, FERROVIÁRIA E DE MINERAÇÃO

107
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Aspectos da fresagem e características de RAPs obtidos de


pavimentos reforçados com geossintéticos
Tiago Rodrigues Souza
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGECiv/UFSCar)
Vinci Aeroportos – Concessionária do aeroporto de Salvador, Salvador, Brasil
civil.souza@gmail.com

Natalia de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, Brasil
ncorreia@ufscar.org.br

Jorge Gabriel Zornberg


University of Texas at Austin, Austin, Texas
zornberg@mail.utexas.edu

RESUMO: Geossintéticos aplicados na pavimentação tem como função proporcionar maior vida útil a estrutura, seja pelo
aumento da capacidade estrutural ou pelo aumento da vida de fadiga. No entanto, ao término sua vida útil, faz se
necessário uma revitalização do pavimento. Quando reforçados, estes pavimentos podem se comportar de maneira
particular no processo de fresagem frente aos pavimentos convencionais não reforçados. Assim, um novo desafio pode
surgir nos próximos anos em termos de fresagem e potential de reciclagem de revestimentos asfálticos reforçados com
geossintéticos. Este estudo de campo, aliado à ensaios laboratoriais, aborda as características do material oriundo da
fresagem dos revestimentos reforçados, aqui chamados de G-RAP. Nesta pesquisa, uma pista teste foi construída no
Aeroporto Internacional de Salvador com diferentes seções de pavimentos reforçados, além de uma seção controle. Estas
seções passaram pelo processo de fresagem gerando diferentes tipos de RAP com geossintéticos (G-RAPs) além do RAP
convencional. A pesquisa mostrou que todos os geossintéticos foram “usináveis/fresáveis”, gerando RAPs com
características semelhantes ao RAP-controle. Foram verificados porcentagens de fragmentos/fibras de geossintéticos
menores que 1,3% nos RAPs. Verificou-se que os maiores teores de CAP nos G-RAPs foram encontrados nos
geossintéticos com maior teor de pré-impregnação de betume.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, pavimentos reforçados, fresagem, RAP, reciclagem de pavimentos

ABSTRACT: Geosynthetics applied in paving have the function of increasing pavement service-life, either by increasing
its structural capacity or by increasing pavement fatigue life. However, at the end of pavement service, it is necessary to
rehabilitate the pavement. When reinforced, these pavements can behave differently from conventional unreinforced
pavements in the milling process. Thus, a new challenge may arise in the coming years in terms of milling and recycling
potential of geosynthetic-reinforced asphalt overlays. This field study combined with laboratory tests addresses the
general characteristics of the milled-geosynthetic materials here called G-RAP. To conduct this research, an experimental
test section was constructed at Salvador International Airport with different reinforced pavement sections and the control
section. These pavements went through the milling process generating different types of G-RAPs in addition to the control
RAP. Research showed that all geosynthetics were “millable”, generating RAPs with characteristics similar to the RAP-
control. Percentage of fragments/fibers of geosynthetics smaller than 1,3% were verified in the RAPs. Highest levels of
bitumen content in the G-RAPs were verified for geosynthetics with highest contents of pre-impregnation of bitumen.

KEYWORDS: Geosynthetics, reinforced pavements, milling, RAP, pavement recycling

1 INTRODUÇÃO operacionalidade do pavimento inclui fresar a


superfície asfáltica antiga existente e substituí-la por
Um programa de reabilitação de pavimento asfáltico uma cobertura asfáltica nova. Tais programas de
convencional adotado para restaurar a reabilitação envolvendo operações de fresagem

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


108
resultarão na geração de grandes quantidades de revitalização superficial (fresagem e recapeamento),
asfalto fresado, também referido como pavimento os geossintéticos tem como função manter a
asfáltico recuperado (RAP). O alto acúmulo de integridade do revestimento asfáltico estrutural
estoques de RAP exige o desenvolvimento de uma reduzindo a propagação de trincas (Khodaii, 2009) e
técnica de construção sustentável que possa utilizar o a degradação causada pela entrada de água nestas
RAP em grandes quantidades como material de fissuras (Shukla e Yin, 2004), bem como possível
construção. Em 2019, cerca de 138 milhões de aumento da capacida estrutural do pavimento
toneladas de RAP foram armazenadas nos EUA, o (Correia e Zornberg, 2016; Kumar et al., 2022).
que é cerca de 20% maior do que o armazenado Contudo, por mais estruturado e duradouro que
durante 2018 (NAPA, 2020). Essa técnica de o pavimento seja, o término de sua vida útil é certo e
construção sustentável pode proteger o meio a necessidade de uma nova revitalização ou
ambiente, reduzindo uso de matérias-primas, de reconstrução do pavimento asfáltico se faz
construção e de emissões de gases de efeito estufa. A necessária. Neste novo ciclo, é comum a utilização
NAPA (National Asphalt Pavement Association) do processo de fresagem à frio para proporcionar
relata em sua pesquisa anual, realizada nos Estados eficiência na remoção da camada de revestimento
Unidos, que apenas 0,16% do RAP gerado em seu deteriorada e gerar um material fresado com
território é depositado em aterro, sendo o restante características granulométricas capaz de ser
deste material, 99,84%, utilizado em processos de reutilizado. Assim, um novo desafio pode surgir nos
reciclagem de novos pavimentos. Já a Federal próximos anos em termos de fresagem e reciclagem
Highway Administration (FHWA) estimou que 100,1 do RAP.
milhões de toneladas de pavimentos asfálticos são Os aspectos da fresagem e geração do material
fresados a cada ano durante os projetos de reciclado RAP de pavimentos reforçados é ainda
recapeamento e alargamento (Thakur e Han, 2015). pouco abordado na literatura. O RAP oriundo da
Já no Brasil, pode se considerar que o RAP é fresagem de pavimentos reforçados, aqui chamados
ainda muito pouco utilizado e que poucos são os de G-RAP, tem em sua composição fragmentos de
exemplos de processos sistêmicos de geossintéticos (fibras) que geram características
reaproveitamento do RAP, sendo o estado de São singulares para sua potencial reutilização como
Paulo o pioneiro e maior representante na utilização material de base e agregado para revestimentos
do RAP em novos pavimentos. Como exemplo, há o asfálticos. Portanto, programas experimentais
projeto de reciclagem à frio executado pela SP-Vias precisam ser elaborados para avaliar as
do Grupo CCR com o rejuvenescedor ANOVA 1300 características e o comportamento do RAP coletado
da CARGIL que é capaz de devolver ao RAP in de pavimentos reforçadas. Além disso, debates sobre
natura parte de sua capacidade ligante, deixando-o o quão “usináveis/fresáveis” são os geossintéticos
preparado para ser reaplicado como revestimento em tornaram-se uma preocupação cada vez mais comum
acostamentos e reparos superficiais (Bomfim, 2020). na comunidade de pavimentação asfáltica e,
Para auxiliar no desenvolvimento de projetos de infelizmente, a literatura existente sobre esse tópico é
reciclagem à quente, o Departamento Nacional de muito limitada.
Infraestrutura de Transporte (DNIT) publicou em Tran et al. (2012) investigaram a fresagem de
2021 a norma DNIT 033/2021 com instruções camadas de asfalto reforçado com geossintético e
específicas para concreto asfáltico reciclado em usina descobriram que, para ambas as misturas asfálticas
à quente (CAUQ). preparadas com 30% de RAP (com e sem
A redução de custo de um CAUQ com 50% de geossintético), nenhuma diferença apreciável foi
RAP na mistura pode alcançar mais de 30% (Kandhal relatada em termos de propriedades de resistência à
et al., 1997). Ainda há a possibilidade de utilização tração, deformação permanente, suscetibilidade à
deste material como estabilizador de solos. Hopp et umidade e análises de trincas térmicas. Gu et al.
al. (2015) estima um potencial econômico (2021) relataram que o uso de RAP com fragmentos
significativo, se o RAP for usado em aplicações de geossintéticos de até 30% nas novas misturas
base e sub-base, de aproximadamente 30% nos custos asfálticas apresentou excelente resistência à
materiais em uma mistura 50/50 de RAP e agregado deformações plásticas e suscetibilidade à umidade.
virgem. Por outro lado, a adoção de práticas Saxena et al. (2023) relataram que tanto o RAP
sustentáveis para prolongar a vida útil do pavimento quanto o G-RAP misturados com agregados virgens
inclui a incorporação de geossintéticos, tais como exibiram trabalhabilidade e propriedades adequadas
geotêxteis, geogrelhas e geocompostos nas camadas para uso como camada de base de pavimentos.
asfálticas para minimizar trincas reflexivas (Saride e Assim, este estudo visa abordar aspectos da
Kumar 2019). Quando utilizados entre as camadas do fresagem e características de RAPs obtidos de
pavimento asfáltico durante o processo de pavimentos reforçados oriundos do primeiro grande

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


109
estudo experimental realizado sobre fresagem de por ranhuras com sulcos de aproximadamente 1,2
revestimentos asfálticos com geossintéticos no mm de profundidade (ABNT NBR 16504, 2016). A
Brasil. Figura 2 apresenta a textura e espessura dos sulcos
após a fresagem da camada de revestimento inicial.

2 PROGRAMA EXPERIMENTAL

Inicialmente, para a produção dos G-RAPs foi


necessária a construção de uma seção teste em escala
real com diferentes tipos de pavimentos reforçados.
A seção teste continha 5,0 m de largura e 10,0 m de
comprimento e maiores detalhes podem ser
encontrados em Souza e Correia (2022). O local
escolhido para construir a seção teste foi o Aeroporto
Internacional de Salvador, operado pela Vinci
Aeroportos, empresa francesa responsável por Figura 2. Textura e espessura dos sulcos após a fresagem
da camada de revestimento inicial (Fonte Próprio Autor).
gerenciar 65 aeroportos em mais de 12 países.
2.1.2 Processo Construtivo da Seção Teste - 2ª
Etapa

Após a limpeza dá área fresada, foi realizada a


aplicação a emulsão asfáltica do tipo ruptura rápida
RR-2C. O uso de emulsão asfáltica é recomendado
por meio da especificação ET-DE-P00/043 (DER,
2006) que orienta sobre serviços de tratamento anti-
reflexão de trincas com geossintéticos em obras
rodoviárias. A emulsão RR-2C apresenta viscosidade
Figura 1. Localização Seção Teste - Aeroporto de Sybolt Furol a 50℃ (ABNT NBR 14491, 2007)
internacional de Salvador (Fonte Próprio Autor). de 182,5 s, peneiração (0,84mm) de 0,03% massa
(ABNT NBR 14393, 2012) e teor de resíduo seco de
2.1 Processo Construtivo 53% massa (ABNT NBR 14376, 2019). A aplicação
foi realizada por barra aspersora e a taxa de residual
O processo construtivo foi desenvolvido em 3 etapas, asfáltica média aferida em campo foi de 661,5 g/m².
onde a primeira consistiu na fresagem parcial da Após o rompimento da emulsão, os 5 tipos de
camada de revestimento desgastada. Na segunda geossintéticos, denominados GG1, GG2, GG3, GG4
etapa houve a aplicação de ligante asfáltico emulsão e GG5 foram instalados em faixas de 0,9 m de
RR2C e a instalação de diferentes geossintéticos. A largura, restando uma faixa controle (sem reforço) de
terceira etapa consistiu na aplicação camada asfáltica 0,5 m. A escolha dos geossintéticos foi direcionada
com os devidos procedimentos de compactação. de forma a abranger diferentes características
presentes em geossintéticos para pavimentação, cujo
2.1.1 Processo Construtivo da Seção Teste – 1ª intuito era obter cinco tipos de G-RAPs com
Etapa características singulares. A Figura 3 apresenta a
instalação dos geossintéticos no Aeroporto
O local destinado a construção da seção teste contava
com uma estrutura pavimentada composta pelo
reforço do sub leito em silte argiloso, base em brita
graduada simples com espessura de 180 mm e
revestimento asfáltico com espessura de 60 mm com
traço enquadrado na Faixa 3 do DNIT (Retro
analisado). Antes da instalação dos diferentes
geossintéticos para reforço, houve uma preparação da
área com a remoção parcial da camada de desgaste
por fresagem a frio de 20 mm de espessura realizada
com o auxilio de uma fresadora Wirtgem modelo
W200. A camada residual de asfalto era de 40 mm Figura 3 - Instalação dos geossintéticos no Aeroporto
cuja textura acabada após a fresagem era composta (Fonte Próprio Autor).

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


110
A Figura 4 apresenta os cinco diferentes com espessura de 70 mm, aplicado de forma
reforços geossintéticos, incluindo geogrelha de fibra mecanizada. O material continha características que
de vidro (GG1), geocomposto de geogrelha de fibra se enquadraram na Faixa 3 da norma DIRENG
de vidro com geotêxtil não tecido (GG2), 04.05.610, apropriada para pavimentos flexíveis
geocomposto de microfibra de vidro (GG3), aeroportuários. A Tabela 2 apresenta a faixa da
geocomposto de geogrelha de fibra de vidro com um mistura asfáltica utilizada na construção da seção
geotêxtil não tecido ultraleve (GG4) e geocomposto teste. A temperatura de aplicação do CAUQ foi
de geogrelha de poliéster com geotêxtil não tecido aferida antes e durante o processo construtivo, onde
ultraleve (GG5). a temperatura mínima de projeto seria 120°C.

Tabela 1. Faixa granulométrica das misturas asfálticas.


Faixa da Faixa da
Peneiras (mm) mistura mistura
superior inferior
25,4 100,0 100,0
19,1 100,0 100,0
15,9 100,0 100,0
12,7 98,2 93,2
9,52 89,4 89,5
4,76 67,5 72,6
2,00 41,1 56,5
0,42 20,2 39,2
0,177 12,3 10,2
0,074 5,6 5,3

Para a aplicação do CAUQ, foram utilizados os


Figura 4 - Geossintéticos utilizados no presente estudo
(Fonte Próprio Autor)
seguintes equipamentos: Vibroacabadora Ammann
modelo AFT 500, Rolo compactador Duplo tandem
A GG1 é uma geogrelha de fibra de vidro, possui e pneus Ammann O processo de aplicação do
revestimento polimérico e resistência à tração última material e compactação contou com a expertise da
de 75 kN/m e 95 kN/m nas direções longitudinal e equipe para garantir o grau de compactação e a
transversal, com tensão de alongamento de 3% qualidade da obra. . Inicialmente houve o
(ABNT ISO 10319). A GG2 é um geocomposto feito espalhamento do material com auxílio da
de um geotêxtil não tecido ligado termicamente a vibroacabadora, compactação inicial realizada com
uma geogrelha revestida com betume com 50 kN/m rolo duplo tandem em um total de 30 passadas e
de resistência e 3% de deformação, nas direções compactação com rolos de pneus realizando 20
longitudinal e transversal. A GG3, é um passadas de compactação e grau de compactação
geocomposto fabricado pela incorporação de malha próximo de 100%. A Figura 5 apresenta a seção em
de microfibra de vidro em manta de poliéster e construção.
revestida com produto elastomérico, apresentando
resistência à tração final de 25 kN/m e 30 kN/m em
uma tensão de alongamento de 7%. O quarto produto,
GG4, é um geocomposto de geogrelha de fibra de
vidro e um geotêxtil não tecido ultraleve, revestidos
com um betume e resistência à tração de 50 kN/m
com alongamento na ruptura de 3% nas direções
longitudinal e transversal. A GG5, é um
geocompósito feito de geogrelha de poliéster (PET) e
um geotêxtil não tecido ultraleve revestidos com
betume e resistência à tração de 50 kN/m, e uma
deformação de alongamento de 12% nas direções Figura 5. Seção teste em construção no Aeroporto de
longitudinal e transversal. Salvador (Fonte Próprio Autor).

2.1.3 Processo Construtivo da Seção Teste - 3ª 2.2 Procedimentos Experimentais


Etapa
A etapa experimental consistiu na fresagem dos
Realizada a instalação dos diferentes geossintéticos, diferentes pavimentos reforçados e da seção controle,
foi iniciada a aplicação da camada final de CAUQ, gerando 5 diferentes materiais recicláveis, aqui

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


111
designados como G-RAP1, G-RAP2, G-RAP3, G- resistência, suportada pela lança de transporte e
RAP4 e G-RAP5, além do RAP-C (controle) gerado descarga do RAP. Os materiais fresados G-RAP
pelo pavimento não reforçado. O Procedimento foram então coletados separadamente por caminhões
experimental B consistiu na fresagem da seção teste basculantes e estocados em local coberto para
e coleta dos materiais G-RAPs. A passagem do preservar suas características originais. Além do
maquinário de fresagem ocorreu no sentido cuidado com a escolha do local de estoque, os G-
longitudinal para que cada tipo de pavimento RAPs são mantidos coberto por lona plástica
reforçado fosse fresado separadamente. O evitando contaminações e presença de umidade. A
equipamento utilizado foi a Fresadora Wirtgem Figura 8 apresenta a fresagem e coleta dos materiais
modelo W100 L fabricada em 2010. Este e a Figura 9 apresenta os G-RAPs estocados.
equipamento contém um tambor de fresagem padrão
composto por 100 dentes de corte capaz de
proporcionar uma fresagem com até 1m de largura.
Antes de iniciar o processo de fresagem, os dentes de
corte foram substituídos para garantir apropriado
desbaste do material asfáltico e a sua correta
fragmentação. O processo foi realizado de forma
padronizada para todos os 5 tipos de pavimento
mantendo-se a rotação máxima do tambor de
fresagem que é de 320 RPM. A espessura de corte
definida foi de 90 mm, aferida de forma física com
auxílio de régua metálica durante todo o processo de Figura 8. Processo de fresagem e coletado do material G-
fresagem. A espessura foi pensada de forma a atingir RAP (Fonte Próprio Autor)
o reforço de geossintético que se encontrava entre a
nova e a antiga camada pavimentada. A Figura 6
demonstra o equipamento utilizado e a Figura 7 o
procedimento de troca dos dentes de corte.

Figura 9. G-RAPs estocados (Fonte Próprio Autor).

Figura 6. Fresadora W100 L Modelo 2010 (Fonte Próprio 2.2 Procedimentos Laboratoriais
Autor)
Para entender melhor as caracteristicas fisicas dos G-
RAPs, foram propostos ensaios laboratoriais para a
determinação da granulometria e do teor de CAP
presentes nos G-RAPs. O ensaio para a determinação
do teor de CAP baseou-se na norma DNER-ME
053/94 em que aproximadamente 1500g de amostra
do G-RAP foi submetida a sucessivas diluições em
solvente para retirar todo o material betuminoso
presente na sua mistura. Ao final do processo, a
amostra foi novamente pesada e a diferença de peso
Figura 7. Substituição das pontas de desbaste (Fonte é considerado o teor de CAP presente nos G-RAPs.
Próprio Autor).
Para o ensaio de granulometria, utilizou-se a
norma DNIT 412/2019 – ME cujas peneiras
Outra característica da fresadora utilizada nesta
continham abertura de malha variando entre 1”
etapa é a sua capacidade de coleta automática do (25mm) à n° 200 (0,075mm) adequadas para o
material fresado realizado pela correia transportadora
tamanho máximo do agregado contido nos G-RAPs.
confeccionada de borracha de alta densidade e

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112
Contudo, para entender melhor as caracteristicas dos tração e elevada rigidez, bem como elevada espessura
G-RAPs optou-se também pela coleta do percentil, em relação aos demais geossintéticos.
em massa, de fragmentos de geossintéticos presentes
em cada G-RAP. Para isso, os fragmentos de 100,0%
90,0% RAP-C
geossintéticos retidos abaixo da peneira 25,4 mm

Porcentagem que passa (%)


80,0% G-RAP1
foram separados e pesados. 70,0% G-RAP2
60,0% G-RAP3
50,0%
G-RAP4
3 RESULTADOS E ANÁLISES 40,0%
G-RAP5
30,0%
Por se tratar de um material oriundo de pavimentos 20,0%
reforçados com diferentes geossintéticos, os G-RAPs 10,0%
apresentam aspectos variados entre si. Em uma 0,0%
0,01 0,1 1 10 100
interpretação inicial é possível afirmar que
Diâmetro das partículas (mm)
características como a composição do material,
Figura 11 – Distribuição granulométrica dos RAPs com e
espessura e largura dos filamentos, tipo de polímero
sem geossintéticos (Fonte próprio autor).
e resistência à tração dos geossintéticos, podem ser
decisivos na composição do G-RAP. A Figura 10 A Figura 12a apresenta o teor total de
apresenta os aspectos dos diferentes G-RAPs fibras/fragmentos de geossintéticos, em
coletados na fresagem dos pavimentos reforçados. percentagem, presentes nos RAPs e a Figura 12b
apresenta o teor de fibras/fragmentos retidos na #19,1
mm.

Teor de fibras total 1,28%


G-RAP 1 G-RAP 2
G-RAP 3 G-RAP 4
G-RAP 5
0,82%

0,68% 0,66%

0,34%

(a)
Teor de fibras retido # 19,1 mm 0,72%
G-RAP 1 G-RAP 2
0,64%
G-RAP 3 G-RAP 4 0,61%
G-RAP 5

0,24%
0,19%

Figura 10. Aspectos dos diferentes G-RAPs e RAP-C (b)


coletados no processo de fresagem (Fonte próprio autor). Figura 12 – Teor de fibras/fragmentos de geossintéticos
presentes nos RAPs: (a) total; (b) retido na # 19,1 mm
(Fonte próprio autor).
A Figura 11 apresenta a curva granulométrica
dos G-RAPs e RAP-C. Nota-se que a distribuição
granulométrica dos RAPs com e sem geossintéticos Observa-se na Figura 12a que o G-RAP3
não foi substancialmente diferente. Observa-se que o apresentou o maior teor total de fibras/fragmentos,
G-RAP1 apresentou maiores fragmentos em sua seguido do G-RAP4, G-RAP2, G-RAP5 e, por fim,
mistura, tal como verificado na Figura 10. Neste G-RAP1. No entanto, os geossintéticos GG1 e GG2
caso, trata-se de uma geogrelha de alta resistência à apresentaram grandes porções não fresadas, tal como
observado na Figura 10. Já os geossintéticos GG3,

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113
GG4 e GG5 apresentaram mais fragmentos/fibras de do necessário para saturar o material, de acordo com
geossintéticos, e menores fragmentos de fresado. A a taxa de retenção de asfalto (Souza e Correia, 2022).
Figura 13 apresenta o aspecto dos fragmentos de Isso levou o G-RAP2 a apresentar um teor de CAP
geossintéticos retidos na peneira de 19,1 mm de ainda menor do que RAP-C.
abertura de malha. De modo geral, todos os G-RAPs foram
“fresáveis/usináveis” e apresentaram características
singulares para sua potencial reutilização como
agregado para revestimentos asfálticos ou material de
base. A presenca de fibras pode proporcionar
capacidade de reforço em novas camadas de
pavimentos.

4 CONCLUSÕES

Este estudo abordou aspectos da fresagem e


características de RAPs obtidos de pavimentos
reforçados. Os principais resultados são apresentados
Figura 13 – Aspecto dos fragmentos de geossintéticos a seguir:
retidos na peneira de 19,1 mm de abertura de malha ● Todos os geossintéticos avaliados neste estudo
foram “usináveis/fresáveis”, gerando RAPs
Outra caracteristica estudada nesta pesquisa foi com granulometria semelhante ao RAP-
o teor de CAP presente nos G-RAPs. A mistura controle;
original do CAUQ continha um teor de projeto de ● Pavimentos reforçados com diferentes
4,8%. A Figura 14 apresenta o teor de CAP presente geossintéticos geram materiais fresados com
em cada um dos 5 G-RAPs e no RAP-C. Os G-RAP3 diferentes características, tais como a
e o G-RAP4 apresentaram valores superiores ao quantidade de fragmentos/fibras;
percentil de CAP de projeto, resultado já esperado ● Em geral, o teor de fibras/fragmentos de
devido tanto a maior presença de fragmentos/fibras geossintéticos nos G-RAPs foi menor do que
no RAP quanto da presença de pré-impregnação com 1,3%, em massa;
betume nestes geossintéticos. Esta caracteristica é ● O teor de CAP presente nos RAPs foi alterado
muito importante pois, em caso de reutilização deste pela presença de fibras/fragmentos de
material em outra mistura betuminosa, provávies geossintéticos;
ajustes para um menor teor de CAP serão ● G-RAPs com geossintéticos pré-impregnados
observados. com betume podem influênciar diretamente no
teor de CAP presente no RAP.
5,30% 5,32%
Teor de CAP
RAP-C G-RAP 1
G-RAP 2 G-RAP 3
G-RAP 4 G-RAP 5
5 AGRADECIMENTOS
4,87%
4,77% 4,80%
Os autores agradecem o apoio recebido do Vinci
4,56% Airports , Salvador Bahia Airposts, ao CNPq no
Projeto Universal 421185/2018-0, ao Programa
CAPES Print/UFSCar e à Huesker Brasil e TDM
Brasil. Agradecimentos à Pavitec Asfaltos,
Construtora Alves Ribeiro e ao Laboratório de
Figura 14. Teor de CAP nos G-RAPs e RAP-C (Fonte Geotecnia e Geossintéticos da Universidade Federal
próprio autor). de São Carlos pela realização dos ensaios.

Os resultados de teor de CAP do G-RAP1


encontram-se também coerentes, uma vez que a GG1 REFERÊNCIAS
não tem pré-impregnação com betume e apresentou
menor teor de fibras no RAP. Já a GG2, embora tenha Bonfim V (2021), Pavimento Sustentável (1° Ed),
a geogrelha pré-impregnada, apresenta um espesso São Paulo SP, Exeção Editorial e Eventos, 1°
geotêxtil não tecido sem pré-impregnação. Além ed, p81
disso, o teor de ligante no campo para a GG2 foi 50% Canestrari, F., A. D’Andrea; G. Ferrotti; A. Graziani;

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


114
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115
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação da aderência entre camadas asfálticas reforçadas com


geossintéticos sob carregamento estático e cíclico
Matheus Pena da Silva e Silva
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, matheuspss@estudante.ufscar.br

Karolina Maria dos Santos


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, karolinamaria@estudante.ufscar.br

Natália de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, ncorreia@ufscar.br

RESUMO: Os fatores que influenciam a aderência entre revestimentos asfálticos com geossintéticos na interface têm sido
amplamente investigados por meio de ensaios monotônicos de cisalhamento de interface, com intuito de avaliar quais são
os fatores que podem ocasionar a falta de aderência. No entanto, pouco se conhece como a interface com geossintético se
comporta sob esforços cíclicos e qual o efeito do tipo de ligante na vida de fadiga por cisalhamento. Diante disso, esse
trabalho tem como objetivo avaliara aderência entre camadas asfálticas reforçadas com geossintéticos por carregamento
estático e cíclico, bem como diferentes ligantes asfálticos. Para isso, foram selecionados dois geossintéticos e dois tipos
de ligante asfáltico. Os corpos-de-prova foram confeccionados no laboratório e submetidos a ensaios de cisalhamento de
interface com carregamentos monotônicos e cíclios. Os resultados de resistência ao cisalhemento de interface apontaram
um desempenho superior da GS-II quando comparado com GS-I, tanto com emulsão quanto com CAP. No entanto, os
resultados do ensaio de fadiga por cisalhamento mostraram um desempenho superior do GS-I, em termos de vida de
fadiga, quando comparado com o GS-II, ao ser aplicada a emulsão asfáltica, e desempenho superior da GS-II quando
comparado com a GS-I, ao ser aplicado o CAP. Tais resultados indicam a importância de se avaliar a aderência de interface
sob carga cíclica, de modo a conhecer o melhor tipo e taxa de ligante para cada combinação de geossintético e superfície
asfáltica.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Aderência de interface, Fadiga, Ligante asfáltico, cíclico.

ABSTRACT: The influence factors that affect the interlayer bonding between asphalt overlays with geosynthetics at the
interface have been widely investigated through monotonic interface shear tests, aiming to evaluate which are the factors
that can cause the debonding. However, the geosynthetic interlayer behavior under cyclic stress and what is the effect of
the type of binder on the shear fatigue life are not well known. Therefore, this work aims to evaluate the effect of the tack
coat type and the geosynthetic type on the interface of asphalt concrete specimens’ performance under monotonic or cyclic
shear stress. For this, two geosynthetics and two tack coat types were selected. The specimens were made in the laboratory
and subjected to monotonic and cyclic interface shear tests. The interface shear bond results indicated a superior
performance for GS-II when compared to GS-II, for both tack coat types. However, the interface shear fatigue test results
showed superior performance for GS-I, in terms of fatigue life, compared to GS-II with emulsion application. Also, in
terms of fatigue life, GS-II showed superior performance when compared to GS-I with CAP 50-70 application. These
results indicate how important it is to evaluate the bonding through cyclic interface shear test to understand the best tack
coat type and rate for which asphalt surface and geosynthetic combination.

KEY WORDS: Geosynthetic, interlayer bonding, fatigue, binder, cyclic.

1 INTRODUÇÃO resistência de interface (aderência) e, por


consequência, o desepenho dos revestimentos
A aderência entre revestimentos asfálticos reforçados reforçacos com geossintéticos (Canestrari et al.,
com geossintéticos tem sido amplamente investigada. 2018, 2022; Correia & Mugayar, 2021; Correia et al.,
Diversos estudos vem sendo realizados de modo a 2022; Sagnol et al., 2019). No entanto, esses estudos
investigar quais são os fatores podem afetar a têm se concentrado em avaliar a aderência de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


116
interface por meio de ensaios monotônicos, tal como com alto teor de betume oxidado, e que contém um
sugerido por diversas recomendações normativas geotêxtil não tecido de polipropileno (PP)
vigentes (XXXX). termofixado. Este geocomposto apresenta como
Por outro lado, em recente estudo publicado pelo característica peculiar uma face superior polvilhada
Comitê Técnico RILEM 272-PIM – “Phase and com partículas de areia. O segudo geossintético (GS-
Inter-phase behavior of bituminous Materials” II) é uma geogrelha para revestimento asfáltico,
(Canestrari et al., 2022) que unem diversos tecida, autoadesiva, que tem cobertura betuminosa e
laboratórios em todo o mundo, indicam que os possui abertura de malha menor do que 20 mm. A
ensaios cíclicos de cisalhamento de interface são Figura 1 ilustra os geossintéticos selecionados para
mais adequados para prever a vida de fadiga da este estudo e a Tabela 1 apresenta as propriedades
interface, em decorrência da natureza cíclica das físicas de ambos materiais.
cargas de tráfego aplicadas ao pavimento. Esses
ensaios têm sido denominados como ensaio de fadiga (a) (b)
por cisalhamento e, sendo ainda escassos na
literatura, não são padronizados. Pesquisas têm sido
conduzidas de modo a avaliar a influência de
diferentes configurações de ensaio, tais como
frequência e amplitude do pulso de carga (D’Andrea
e Tozzo, 2016; Miró et al., 2021; Nian et al., 2020;
Song et al., 2016; Tozzo et al., 2015; Tozzo, Fiore, et
al., 2014; Wang et al., 2017; Yang et al., 2020).
Assim como nos ensaios de cisalhamento Figura 1. Geossintéticos: (a) GS-I, (b) GS-II.
monotônico, diversos são os fatores que influenciam
os resultados dos ensaios de fadiga por cisalhamento. Tabela 1. Propriedades físicas dos geossintéticos.
Estudos com ensaios de fadiga por cisalhamento em Propriedades GS-I GS-II
camadas de revestimos asfálticos apontam que o tipo Geogrelha de fibra
Geogrelha de
de ligante influencia a vida de fadiga (Nian et al., Tipo de vidro e geotextil
fibra de vidro
de polipropileno
2020; Ragni et al., 2019; Ragni et al., 2021; Wang et
Abertura da malha 17,2 (L) x
al., 2017). No entanto, esses estudos foram realizados 13,4 (L) x 16,4 (T)
(mm x mm) 18,8 (T)
para interfaces sem a presença de geossintético. Área da abertura da
Dentre os poucos trabalhos que avaliaram o malha (mm²)
208 323
comportamento de interfaces com geossintéticos sob Massa por unidade
cisalhamento cíclico estão os trabalhos de Donovan 691,1 663,8
de área (g/m²)
et al. (2000) e Safavizadeh et al. (2020), os quais Massa por unidade
apresentam influência da presença do reforço, da taxa de área do geotêxtil
de pintura de ligação e da abertura da malha do nos geocompostos 24,5 -
geossintético. Assim, pouco se conhece na literatura (g/m²) - NBR ISO
sobre o comportamento de interfaces com presença 9864
de geossintéticos e diferentes tipos de ligantes, bem Largura do tramo
3,3 6,5
longitudinal (mm)
como sobreod comportamento da interface em
Espessura do tramo
relação à carregamentos monotônicos e cíclicos. 1,1 0,9
longitudinal (mm)
O presente estudo tem como foco avaliar efeito do Largura do tramo
tipo de ligante e do tipo de geossintético no transversal (mm)
5,3 8,2
desempenho da interface de corpos-de-prova de Espessura do tramo
concreto asfáltico sujeitos a esforços cisalhantes 1,6 0,8
transversal (mm)
monotônicos ou cíclicos. Área de cobertura
40,0 49,5
(%)
Espessura total a 2
2 MATERIAIS E MÉTODOS kPa (mm) - NBR 1,8 1,6
ISO 9863-1
2.1 Geossintéticos e ligantes asfálticos Tipo de cobertura betume oxidado betume

Para esse estudo foram selecionados dois Para promover a aderência entre o geossintético e
geossintéticos com características distintas. O a mistura asfáltica, bem como avaliar a influência do
primeiro geossintético (GS-I) trata-se de um tipo de ligante, foram empregados dois diferentes
geocomposto para revestimento asfáltico constituído ligantes asfálticos. O primeiro trata-se da emulsão
de uma geogrelha tecida de fibra de vidro, coberta asfáltica catiônica de ruptura rápida tipo I (RR-1C),

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117
recomendada no âmbito nacional por meio da DNIT ES031 (2006), conforme ilustrado na Figura 2.
especificação ET-DE-P00/043 (DER, 2006) que
orienta sobre serviços de tratamento anti-reflexão de 100

trincas com geossintéticos em obras rodoviárias. 80


Como no cenário internacional há a recomendação de

% Passante
60
utilização de cimento asfáltico de petróleo (CAP)
quando do uso de geossintéticos (Department of 40

Transport and Main Roads, 2021), selecionou-se o 20 Mistura


Faixa superior
CAP 50/70 como pintura de ligação. As 0
Faixa inferior
características dos ligantes asfálticos são indicadas 0.01 0.1 1 10 100
Abertura da peneira (mm)
nas Tabelas 2 e 3.
Figura 2. Granulometrias dos agregados que compõem a
Tabela 2. Caracterização do CAP 50-70. mistura asfáltica.
Características Unid. Resultado
Penetração, 100 g, 5s, 25°C, 0,1 Quanto ao ligante asfáltico da mistura, foi
0,1 mm 51
mm - NBR 6576 utilizado o CAP 30-45 com teor ótimo de 4,3%. As
Ponto de amolecimento - NBR
°C 49,3
características do CAP 30-45 são apresentadas na
6560 Tabela 4.
cm
Ductilidade, 25 °C - NBR 6293 Tabela 4. Características do CAP 30-45.
Ponto de Fulgor, °C - NBR Características Unid. Resultado
°C >235
11341 Penetração, 100 g, 5s, 25°C 0,1 mm 31
Viscosidade Brookfield, a 135
478 Ponto de amolecimento °C 54
ºC, 20 RPM - NBR 15184
Viscosidade Brookfield, a 150 Ponto de Fulgor, °C °C >235
cP 232 Viscosidade Brookfield, a
ºC, 50 RPM - NBR 15184 478
Viscosidade Brookfield, a 177 135 ºC, 20 RPM
82 Viscosidade Brookfield, a
ºC, 100 RPM - NBR 15184 cP 232
150 ºC, 50 RPM
Tabela 3. Caracterização da emulsão RR-1C. Viscosidade Brookfield, a
82
Características Unid. Resultado 177 ºC, 100 RPM
Viscosidade Saybolt-furol a Índice de susceptibildade
s 26 - 1,3
25 °C - NBR 14491 térmica (IST)
Sedimentação, 5 dias -
%massa 0,7
NBR 6570 2.3 Preparação dos corpos-de-prova
Peneiração, 0,84 mm - NBR
%massa 0
14393 A preparação dos materiais tem seguido a curva
Carga de Partícula - NBR reológica do ligante, por meio da qual foram
--- Positiva
6567 definidas as temperaturas de mistura do cimento
Resíduo Seco - NBR 14376 %massa 62,5 asfáltico e dos agregados, bem como a temperatura
Desemulsibilidade - NBR de compactação. Portanto, o CAP 30-45 foi aquecido
%massa 54,5
6569 na faixa de 155 a 160 °C, o agregado na faixa de 170
a 175 °C, e a compactação foi realizada na faixa de
2.2 Mistura asfáltica 142 a 148 °C.
A produção da camada inferior foi realizada após
Os materiais que compõem a mistura asfáltica o aquecimento prévio dos materiais, com o ligante
utilizada nessa pesquisa são: a) agregado graúdo, asfáltico sendo adicionado a dosagem mineral, de
brita 1 e 0; b) duas composições de pó-de-pedra como modo a respeitar as porcentagens por peso da
agregado miúdo; c) cal hidratada calcítica tipo CH-1 dosagem da mistura asfáltica. Os corpos-de-prova
como fíller mineral; d) cimento asfáltico de petróleo para os ensaios de cisalhamento de interface e fadiga
30/45 (CAP 30/45). Tanto os agregados quanto o por cisalhamento foram produzidos com 150 mm de
fíller foram caracterizados por meio de ensaio diâmetro, cuja geometria é indicada para corpos-de-
granulométrico, conforme as normas AASHTO T27 prova reforçados com geossintéticos (FGSV 770,
e T37. As proporções dos materiais foram definidas 2013). Por esse motivo, duas adaptações foram
em função das curvas granulométricas individuais, de realizadas no método de compactação Marshall,
modo que a dosagem mineral foi composta de 46% sendo a primeira alusiva a compatibilização de
de brita 1, 12% de brita 0, 20 % de pó de pedra 1, energia, o que resultou em 213 golpes. A segunda
20,5% de pó de pedra 2 e 1,5% de cal calcítica. Esta adaptação é relativa à forma de compactação. Por se
mistura asfáltica atende a faixa C da especificação do tratar de corpos-de-prova com dupla camada, optou-

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118
se por aplicar os golpes em apenas uma face em cada camada asfáltica superior. O controle da mistura foi
camada, de modo a padronizar a compactação da realizado considerando o valor de no mínimo 97% da
camada inferior e superior, tal como em D’Andrea et densidade aparente da mistura asfáltica (Gmb),
al. (2013) e Tozzo et al. (2014) e Tozzo et al. (2016). conforme especificações da norma DNIT ES 031
No caso dos corpos-de-prova com emulsão na (2006).
interface, esta foi aplicada com auxílio de um pincel
em temperatura ambiente, com taxa residual de 600 2.4 Ensaio monotônico e cíclico de cisalhamento
g/m², calculada com base na porcentagem de resíduo de interface
seco apresentada na Tabela 3. Já no caso dos corpos-
de-prova com CAP na interface, utilizou-se o auxilio Para mensurar a resistência ao cisalhamento de
de um recipiente de vidro com pequenos furos em sua interface foi empregado o ensaio monotônico de
tampa metálica, para aplicação do CAP 50-70. O cisalhamento do tipo Leutner (Leutner, 1979). Os
ligante foi previamente aquecido em estufa a 135 °C ensaios ocorreram com uma taxa de deslocamento de
por uma hora. Após esse período, foi aplicado cisalhamento constante de 50,8 mm/min até a
uniformemente sobre a camada compactada na taxa ruptura, em temperatura ambiente de de 20 °C. Esses
600 g/m², sendo espalhado na superfície com auxílio procedimentos estão previstos na norma Suíça (Swiss
de uma espátula metálica e uma pistola de ar quente. Standard SN 640430, 2012) e na norma Alemã
Esse procedimento foi adotado por Safavizadeh et al. (FGSV, 2013), que prevê ensaios com reforços
(2020). A Figura 3 apresenta a preparação da geossintéticos. Para cada ensaio, foi obtida a curva
interface com CAP e o corpo-de-prova reforçado. tensão de cisalhamento da interface (relação da carga
de cisalhamento com a área da seção transversal do
(a) (b) corpo-de-prova) versus o deslocamento cisalhante.
Para mensurar a vida de fadiga por cisalhamento
de interface, foram realizados ensaios cíclicos com o
dispositivo tipo Leutner, usandos pulsos de tensão
controlados. O pulso de tensão possui formato
haversine com frequência de 5 Hz, com tensão
máxima de 250 kPa e 25 kPa de tensão de contato. A
escolha de 250 kPa foi baseada nos valores
(c) (d) encontrados na literatura (Miró et al., 2021; Nian et
al., 2020; D. Ragni et al., 2019; Tozzo, D’Andrea, et
al., 2014). A Figura 4 apresenta essa configuração.

(a) 300
Tensão máxima
250

200
Tensão (kPa)

Pulso no
Figura 3. Preparação da interface reforçada: (a) aplicação 150 formato Amplitude do pulso
do CAP 50-70; (b) espalhamento do CAP 50-70; (c) haversine de carga
100
geossintético instalado; (d) vista do corpo-de-prova
50 Carga de contato
reforçado.
0
0 0,05 0,1 0,15 0,2
No caso da emulsão asfáltica, a instalação do Tempo (s)
geossintético ocorreu logo após a ruptura da emulsão, (b) 300
enquanto nas interfaces com CAP 50-70, a instalação 250
ocorreu imediatamente após o espalhamento do 200
Tensão (kPa)

ligante. Por fim, com o geossintético instalado, 150


marcou-se a posição dos filamentos longitudinais de
100
modo a de realizar os ensaios de cisalhamento nesse
50
sentido.
A superfície onde o geossintético foi instalado foi 0
0 0,5 1 1,5 2
avaliada por meio do ensaio de mancha de areia, Tempo (s)
seguindo as recomendações da norma ASTM E965, Figura 4. Configuração do ensaio de cisalhamento cíclico:
o que indicou a textura superficial como grosseira, (a) pulso de tensão, (b) pulsos de carga de 5 Hz.
segundo o Manual de Restauração do DNIT (2006).
Ressalta-se que essa classificação atende os limites O critério de parada do ensaio foi a ruptura total
sugeridos de textura superficial pelo mesmo manual. da interface ou 10 mm de deslocamento cisalhante da
Posteriormente, a camada asfáltica inferior foi interface. Como não há uma padronização desse
recolocada no molde e em seguida produziu-se a ensaio, a configuração escolhida foi baseada em

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119
estudos realizados por D’Andrea & Tozzo (2016), A Figura 7 apresenta uma comparação das médias
Wang et al. (2017), Ragni et al. (2019) e Nian et al. de valores de pico de resistência ao cisalhamento de
(2020). interface de acordo com o tipo de geossintético e
Como resultado desse ensaio, é obtida a curva ligante aplicado na interface. Para a GS-I, os valores
deslocamento cisalhante permanente versus o de resistência ao cisalhamento foram de 1,18 MPa
número de ciclos, por meio da qual é determinada a para emulsão RR-1C e 1,31 MPa para o CAP 50-70.
vida de fadiga por cisalhamento de interface. A vida Para o GS-II, os valores de resistência ao
de fadiga corresponde ao número de ciclos na ruptura cisalhamento foram de 1,29 MPa emulsão RR-1C e
(Nruptura). A Figura 5 apresenta o resultado típico 1,45 MPapara o CAP 50-70. Em ambos, os casos a
obtido neste ensaio. interface com GS-II, independentemente do tipo de
ligante utilizado, apresentou valores superiores de
6 resistência ao cisalhamento de interface. Essa
Deslocamento cisalhante

5 diferença entre os resultados de resistência ao


permanente (mm)

4 cisalhamento de interface entre o GS-I e GS-II, pode


3 ser atribuído as diferentes características dos
2 geossintéticos e a compatibilidade deles com as
1 camadas asfálticas que os envolvem. A maior
Nruptura
0 abertura da malha da GS-II parece favorecer o
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 mecanismo de intertravemento descrito por
Número de ciclos
Sudarsanan et al. (2018a), bem como a presença de
Figura 5. Deslocamento cisalhante permanente versus geotêxtil no GS-I pode ter prejudicado a atuação do
número ciclo. mecanismo de intertravamento, o que também
justifica seu desempenho inferior. Observações
similares foram apontadas por por Kumar & Saride
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO (2017), Sudarsanan et al. (2018a), Sudarsanan et al.
(2018b), and Correia et al. (2022).
3.1 Ensaio monotônico de cisalhamento de
interface 2,00
RR1C CAP 50-70
Resistência ao cisalhamento de

1,60
A Figura 6 apresenta as curvas típicas de tensão
cisalhante versus deslocamento cisalhante, de uma
interface (MPa)

1,20
triplicata de ensaios para cada de combinação
geossintético e tipo de ligante. Nota-se que o tipo de 0,80
ligante influenciou na resistência ao cisalhamento,
uma vez que para mesma taxa de ligante residual, as 0,40
interfaces com CAP 50-70 apresentaram valores de
resistência superiores às interfaces com emulsão RR- 0,00
GS-I GS-II
1C. Além disso, percebe-se que o tipo de ligante
influenciou também no formato das curvas, sendo as Figura 7. Resultados de resistência ao cisalhamento de
curvas de interfaces com CAP 50-70 mais abertas, o interface de acordo com o tipo de geossintético e pintura
que significa que uma maior energia de fratura foi de ligação.
necessária para ruptura total da interface. O melhor
desempenho das interfaces com CAP frente a Apesar da diferença entre os resultados de
interfaces com emulsão RR-1C também foi notado resistência ao cisalhamento de interface, todas as
por Mohammad et al. (2012). combinações atingiram o critério mínimo requerido
de 0,56 MPa indicado pela FGSV 770 (2013) para
2 interfaces reforçadas com geossintéticos. Como o
GS-I - RR1C valor de 0,56 MPa é indicado para corpos-de-prova
Tensão cisalhante na

1,6 GS-I - CAP 50-70


extraídos do campo, Canestrari et al. (2022) indica o
interface (MPa)

GS-II - RR1C
1,2 GS-II - CAP 50-70 aumento do valor mínimo de resistência ao
0,8
cisalhamento de interface quando os corpo-de-prova
são produzidos no laboratório, o que resultaria em um
0,4 valor mínimo de 0,84 MPa, o que também foi
0 atendido pelas combinações avalidas.
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Deslocamento (mm)
3.2 Ensaio cíclico de cisalhamento de interface
Figura 6. Curvas típicas de tensão cisalhante na interface
versus deslocamento obtidas no ensaio monotônico.
A Figura 8 apresenta as curvas típicas de

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120
deslocamento cisalhante permanente versus número pode contribuir para o aumento da aderência pelo
de ciclos das combinações com geossintéticos e mecanismo de adesão ao se aplicar a emulsão
ligantes no ensaio cíclico. É importante ressaltar que asfáltica. Por esse motivo, diferentemente do que foi
para cada combinação foram ensaiados três corpos- observado no ensaio monotônico de cisalhamento de
de-prova. Nesse caso, observa-se a influência do tipo interface, a interface com GS-I apresentou
de ligante nas interfaces com geossintéticos e nota-se desempenho superior a interface com GS-II, quando
o aumento da vida de fadiga por cisalhamento de combinadas com emulsão asfáltica. O que pode
interface com a aplicação do CAP 50-70 frente à sugerir que o mecanismo de intertravemento em
interface com emulsão RR-1C, de modo similar aos ensaios cíclicos de cisalhamento de interface
resultados dos ensaios monotônicos. Observa-se necessite de adesão mínima entre o geossintético e as
ainda que, há uma diferença na velocidade de misturas asfálticas que o envolvem para que seja mais
deslocamento cisalhante permanente para as efetivo. O que foi notado ao se utilizar o CAP 50-70,
combinações com GS-II, notado pela diferença de uma vez que a interface com GS-II apresentou
inclinação do trecho linear da curva, o que significa desempenho superior a interface com GS-I. É
que a combinação GS-II com RR1C deformou com importante ressaltar que o aumento da vida de fadiga
maior velocidade do que a interface GS-II com CAP por cisalhamento com a aplicação do CAP frente a
50-70. No entanto, para as combinações com GS-I, emulsão está condizente ao encontrado por
essa diferença de inclinação não foi notada, o que Safavizadeh et al. (2022) para interfaces com a
indica que o tipo de ligante aumentou a vida de presença de geossintéticos. Os autores também
fadiga, mas não alterou a velocidade de deslocamento observaram a mudança no desempenho ao comparar
cisalhante da interface. resultados obtidos por meio de ensaio monotônico de
cisalhamento de interface e de fadiga por
10 cisalhamento. Em relação ao melhor desempenho
GS-I - RR1C GS-I - CAP 50-70
apresentado pela GS-I com emulsão e da GS-II com
8 GS-II - RR1C GS-II - CAP 50-70
CAP, não se tem ainda estudos na literatura que
Deslocamento cisalhante

avaliaram dois tipos de geossintéticos e dois tipos de


permanente (mm)

6
ligantes por meio de ensaios de fadiga por
4 cisalhamento.

2 10000
RR1C CAP 50-70
Vida de fadiga por cisalhamentro

9000
0 8000
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000
de interface

Número de ciclos 6000


Figura 8. Curvas típicas de deslocamento cisalhante 5000
4000
permanente versus número de ciclos nos ensaios cícliclos
3000
de interface. 2000
1000
A Figura 9 mostra a comparação das médias de 0
GS-I GS-II
valores de vida de fadiga por cisalhamento de
interface de acordo com o tipo de geossintético e
pintura de ligação. Para GS-I , os valores de vida de Figura 9. Resultados de vida de fadiga por cisalhamento de
fadiga (Nruptura) por cisalhamento de interface foram interface de acordo com o tipo de geossintético e pintura
de 3795 ciclos para emulsão RR-1C e de 4330 ciclos de ligação.
para o CAP 50-70. Para os corpos-de-prova com GS-
II, os valores de vida de fadiga por cisalhamento de
interface foram dede 2207 ciclos para emulsão RR- 4 CONCLUSÕES
1C e 5744 ciclos para o CAP 50-70. Em ambos os
casos a interface com CAP 50-70, Este trabalho avaliou o desempenho da aderência de
independentemente do tipo de geossintético interface de corpos-de-prova de concreto asfáltico
utilizado, apresentou maiores valores de vida de reforçados com geossintéticos, por meio de ensaios
fadiga por cisalhamento de interface. No entanto, monotônicos e cíclicos de cisalhamento de interface.
percebe-se que a contribuição do CAP 50-70 para o Para tanto, corpos-de-prova de mistura asfáltica
aumento da vida de fadiga foi maior para interface foram confeccionados em laboratório com
com GS-II, o que em termos percentuais corresponde combinações de interface que envolveram dois tipos
a um aumento de 160%, enquanto na interface com de geossintéticos e dois tipos de pintura de ligação.
GS-I, a aplicação do CAP proporcionou um aumento Como conclusões deste trabalho, notou-se um
de 14%. Isso pode ser explicado, pelo alto teor de aumento tanto da resistência ao cisalhamento de
betume oxidado já presente na amostra GS-I, o que interface quanto da vida de fadiga por cisalhamento

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121
da interface com a aplicação do CAP 50-70 quando partícula. Associação brasileira de normas técnicas,
comparado a aplicação de emulssão RR-1C. Os Rio de Janeiro, p. 6.
resultados de resistência ao cisalhemento de interface ABNT (2012). NBR 14393: Emulsões asfálticas —
apontaram um desempenho superior da GS-II quando Determinação da peneiração. Associação brasileira de
normas técnicas, Rio de Janeiro, p. 3.
comparado a interface com GS-I, tanto com emulsão
ABNT (2008). NBR 6569: Emulsões asfálticas catiônicas
quanto com CAP, evidenciando a influência do – determinação da desemulsibilidade. Associação
mecanismo de intertravamento em ensaio brasileira de normas técnicas, Rio de Janeiro, p. 3.
monotônico de cisalhamento de interface. No ABNT (2007). NBR 6576: Materiais asfálticos —
entanto, os resultados do ensaio de fadiga por Determinação da penetração. Associação brasileira de
cisalhamento mostraram um desempenho superior do normas técnicas, Rio de Janeiro, p. 7.
GS-I, em termos de vida de fadiga, quando ABNT (2007). NBR 14491: Emulsões asfálticas —
comparado com o GS-II, ao ser aplicada a emulsão Determinação da viscosidade Saybolt Furol.
asfáltica, e desempenho superior da GS-II quando Associação brasileira de normas técnicas, Rio de
comparado com a GS-I, ao ser aplicado o CAP. Tais Janeiro, p. 8.
AASHTO (2007). T37: Standard Method of Test for Sieve
resultados indicam a importância de se avaliar a
Analysis of Mineral Filler for Hot Mix Asphalt (HMA).
aderência de interface sob carga cíclica, de modo a American Association of State Highway and
conhecer o melhor tipo e taxa de ligante para cada Transportation Officials, Washington DC, United
combinação de geossintético e superfície asfáltica. States of America, p. 4.
AASHTO (2020). T27: Standard Method of Test for Sieve
AGRADECIMENTOS Analysis of Fine and Coarse Aggregates. American
Association of State Highway and Transportation
Os autores agradecem o apoio recebido da FAPESP Officials, Washington DC, United States of America, p.
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São 11.
Paulo) por meio do projeto número 2020/16027-9. Os Canestrari, F.; Cardone, F.; Gaudenzi, E.; Chiola, D.;
Gasbarro, N.; Ferrotti, G. (2022). Interlayer bonding
autores agradecem a FAPEAM (Fundação de
characterization of interfaces reinforced with
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas) através geocomposites in field applications. Geotextiles and
do processo nº 01.02.016301.001624/2021-10 pela Geomembranes, v. 50, p. 154–162.
bolsa de doutorado. Os autores também agradecem Canestrari, F.; D’Andrea, A.; Ferrotti, G.; Graziani, A.;
ao Laboratório de Geotecnia e Geossintéticos da Partl, M. N.; Petit, C.; Raab, C.; Sangiorgi, C. (2018).
Universidade Federal de São Carlos. Advanced Interface Testing of Grids in Asphalt
Pavements. M. Partl; L. Porot; H. Di Benedetto; F.
REFERÊNCIAS Canestrari; P. Marsac; G. Tebaldi (eds) Testing and
Characterization of Sustainable Innovative Bituminous
ABNT (2021). NBR 15184: Materiais betuminosos — Materials and Systems: State-of-the-Art Report of the
Determinação da viscosidade em temperaturas RILEM Technical Committee 237-SIB, Springer,
elevadas usando um viscosímetro rotacional. Cham, Switzerland, v. 24, p. 127–202.
Associação brasileira de normas técnicas, Rio de Correia, N.S. & Mugayar, A. N. (2021). Effect of binder
Janeiro, p. 5. rates and geogrid characteristics on the shear bond
ABNT (2019). NBR 14376: Ligantes asfálticos – strength of reinforced asphalt interfaces. Construction
determinação do teor do resíduo seco de emulsões and Building Materials, v. 269.
asfálticas convencionais ou modificadas – métodos Correia, N. S.; Souza, T. R.; Silva, M. P. S.; Kumar, V. V.
expeditos. Associação brasileira de normas técnicas, (2022). Investigations on interlayer shear strength
Rio de Janeiro, p. 4. characteristics of geosynthetic-reinforced asphalt
ABNT (2016). NBR 6560: Ligantes asfálticos — overlay sections at Salvador International Airport.
Determinação do ponto de amolecimento — Método do Road Materials and Pavement Design, p. 1–17.
anel e bola. Associação brasileira de normas técnicas, D’Andrea, A.; Russo, S. & Tozzo, C. (2013). Interlayer
Rio de Janeiro, p. 7. shear testing under combined state of stress. Advanced
ABNT (2016). NBR 6570: Ligantes asfálticos — Materials Research, v.723, p.381–388.
Determinação da sedimentação e estabilidade à D’Andrea, A. & Tozzo, C. (2016). Dynamic tests on
estocagem de emulsões asfálticas. Associação bituminous layers interface. Materials and
brasileira de normas técnicas, Rio de Janeiro, p. 4. Structures, v. 49, p. 917–928.
ABNT (2015). NBR 11341: Derivados de petróleo — Department of Transport and Main Roads (2021).
Determinação dos pontos de fulgor e de combustão em Transport and Main Roads Specifications - MRTS104:
vaso aberto Cleveland. Associação brasileira de Retarding Pavement Reflective Cracking using Asphalt
normas técnicas, Rio de Janeiro, p. 12. Geosynthetics. Department of Transport and Main
ABNT (2015). NBR 6293: Ligantes asfálticos - Roads, Queensland, Australia, p. 34.
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123
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação de Estacas Granulares Encamisadas com Geogrelha por


Meio da Técnica dos Solos Transparentes
Rodrigo César Pierozan
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – IFRO, Campus Porto Velho
Calama, Porto Velho, Brasil, rodrigo.pierozan@ifro.edu.br

Thaynara da Silva e Silva


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – IFRO, Campus Porto Velho
Calama, Porto Velho, Brasil, dthayss720@gmail.com

Edson Dias da Silva


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – IFRO, Campus Porto Velho
Calama, Porto Velho, Brasil, dias.dafamilia@gmail.com

Eduardo Hauck Antunes


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – IFRO, Campus Porto Velho
Calama, Porto Velho, Brasil, duduhauck@gmail.com

Celso Romanel
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, romanel@puc-rio.br

RESUMO: Colunas granulares reforçadas com geossintéticos constituem uma alternativa construtiva empregada na
melhoria das características geotécnicas de solos de baixa resistência. As ferramentas analíticas adotadas no projeto dessas
estruturas são essencialmente empíricas e baseadas em considerações que podem não ser representativas das condições
de campo. O objetivo deste trabalho consiste em aplicar a técnica de solos transparentes no estudo do comportamento
geomecânico de colunas granulares encamisadas, permitindo assim a visualização de deslocamentos internos durante
ensaios de prova de carga. Detalhes sobre a preparação dos solos transparentes são apresentados, em conjunto com as
propriedades geotécnicas mais relevantes, seguidos por resultados envolvendo ensaios de prova de carga em um arranjo
experimental transparente em escala reduzida (1-g). De acordo com os resultados, o encamisamento com o uso de
geogrelha contribuiu para reduzir o abaulamento da coluna granular, em especial na região correspondente ao topo da
coluna, em profundidades de até 3 (três) vezes o seu diâmetro. Por fim, o uso da técnica de solos transparentes
proporcionou conhecimentos relevantes acerca da performance da solução em estudo, de forma distinta em relação às
técnicas convencionais de testagem, evidenciando as potenciais vantagens relacionadas ao uso de técnicas inovadoras na
Engenharia Geotécnica.

PALAVRAS-CHAVE: Coluna granular encamisada; Geogrelha; Comportamento carga-deslocamento; Solos


transparentes.

ABSTRACT: Geosynthetic Encased granular Columns (GECs) are a construction technique employed to improve the
geomechanical performance of low-resistance foundation soils. The analytical tools used for the design of these structures
are essentially empirical and are based on assumptions that may not be completely representative of field conditions. This
study aims at employing the transparent soil technique to investigate the geomechanical behavior of encased granular
columns, favoring the visualization of internal displacements during load tests. Details on transparent soil preparation are
presented, along with relevant geotechnical properties, followed by results on load tests performed on a reduced scale (1-
g) transparent test setup. Based on the results, the geogrid column encasement inhibited column bulging, especially within
the column head, under depths up to 3 (three) times its diameter. Finally, the use of the transparent soil technique provided
relevant insight into the performance of the evaluated solution, which could not be observed using conventional testing
procedures, further evidencing the potential advantages of employing innovative solutions in Geotechnical Engineering.

KEYWORDS: Geosynthetic encased column; Geogrid; Load-displacement behavior; Transparent soils.

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124
1 INTRODUÇÃO avaliação do comportamento carga-deslocamento de
colunas granulares encamisadas, ao permitir a
O projeto, construção e manutenção de estruturas de visualização não intrusiva de deslocamentos internos
fundação em solos moles pode apresentar uma série durante ensaios geotécnicos (e.g. Iskander, 2010).
de dificuldades relacionadas ao comportamento Em síntese, solos transparentes são obtidos ao saturar
geotécnico desses materiais, como é o caso da baixa um agregado transparente com um líquido que
resistência de suporte, alta compressibilidade e baixa possua índice de refração equivalente, formando
permeabilidade, os quais podem ocasionar elevados assim um meio homogêneo à passagem da luz (e.g.
riscos de instabilidade. Entre os métodos atualmente Yuan et al., 2020). Uma série de técnicas de formação
disponíveis para lidar com esse tipo de solos, podem de solos transparentes podem ser encontradas na
ser citadas as estacas granulares compactadas, as literatura técnica, envolvendo areias (e.g. Peng &
quais favorecem a drenagem do maciço e, por Zornberg, 2019; Chen et al. 2019), argilas (e.g. Ads
consequência, estão relacionadas à aceleração do et al., 2020; Pierozan et al., 2021; Almikati et al.,
fenômeno do adensamento do solo mole, além de 2023) e diferentes tipos de misturas de materiais (e.g.
facilitarem a acomodação de deslocamentos verticais Lanting et al., 2019; Zhong et al., 2022).
(e.g. Demir et al., 2017; Li et al., 2018; Cengiz et al., O objetivo do estudo foi aplicar a técnica dos
2019). solos transparentes na avaliação do comportamento
Em geral, a resistência interna das colunas carga-deslocamento de coluna granular encamisada
granulares é condicionada pela reação lateral do solo com geogrelha. Nesse contexto, são apresentados
mole, a qual se opõe ao deslocamento axial do resultados relacionados à seleção e preparação dos
material de enchimento das colunas granulares, assim solos transparentes, assim como resultados
como pode haver uma parcela de contribuição experimentais envolvendo modelo físico em escala
oriunda da resistência de ponta quando em contato reduzida (1-g).
com camadas de maior resistência (Hughes &
Withers, 1974). Nos últimos anos, geossintéticos
vêm sendo empregados como encamisamento das 2 MATERIAL E MÉTODOS
colunas granulares, favorecendo o aumento da
resistência mecânica de colunas granulares instaladas 2.1 Areia Transparente
em solos de baixa capacidade de suporte, sendo esta
técnica denominada, no termo inglês, Geosynthetic A matriz sólida utilizada para confecção da areia
Encased Columns – GECs (Hong et al., 2017, 2019; transparente utilizada nessa pesquisa consistiu em
Ghazavi et al., 2018; Almeida et al., 2019; quartzo fundido de alta pureza. De acordo com o
Hosseinpour et al., 2019). Convém ressaltar que os fornecedor, o teor de sílica amorfa (SiO2) presente no
geossintéticos utilizados como encamisamento, e.g. quarto fundido é superior a 99,995%. Além disso, o
geogrelhas e geotêxteis, proporcionam resistência índice de refração e a massa específica desse material
adicional aos deslocamentos laterais das colunas. são iguais a 1,4585 e 2,2 g/cm3, respectivamente. O
Em geral, admite-se que em colunas granulares de material foi submetido a um processo de limpeza com
maior comprimento, o mecanismo de ruptura o uso de álcool isopropílico, seguido pelo processo
predominante é o abaulamento (Barksdale & Bachus, de moagem. Após a moagem, a determinação da
1983), o qual evidencia a concentração de tensões no granulometria foi feita por meio de peneiramento
topo das colunas ao longo de um comprimento entre (ABNT NBR 7181), sendo utilizados nos demais
2 (duas) a 4 (quatro) vezes o seu diâmetro (van ensaios os grãos com diâmetro compreendido entre
Eekelen & Brugman, 2016; Nagula et al., 2018; Chen 2,0 mm e 2,36 mm.
et al., 2021; Liu et al., 2021). Nesse contexto, estudos A saturação das amostras foi feita com o uso de
que contribuam com o entendimento a respeito dos mistura entre óleo mineral e solvente (aguarrás). As
mecanismos de solicitação dos reforços em colunas misturas foram confeccionadas considerando
granulares são particularmente relevantes do ponto diferentes concentrações de cada um dos
de vista técnico, uma vez que os métodos de constituintes. Um refratômetro digital foi utilizado
dimensionamento atualmente disponíveis são para verificação do índice de refração de cada
majoritariamente empíricos, podendo apresentar material, sendo obtidos valores de 1,4746 e 1,4287
divergências consideráveis entre os comportamentos para o óleo mineral e o solvente, respectivamente,
previstos e aqueles efetivamente observados em enquanto os valores encontrados para as misturas
campo. estão apresentados na Fig. 1(a). Como forma de
A aplicação de novas técnicas de investigação avaliar a transparência das misturas, foi utilizado um
laboratorial, como é o caso da técnica dos solos turbidímetro de bancada, sendo encontrados os
transparentes, poderia ser particularmente útil na valores apresentados na Fig. 1(b).

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125
(a) fundido triturado foram determinados seguindo as
determinações das normas técnicas vigentes,
obtendo-se os valores 0,46 (ABNT NBR 16843) e
0,76 (ABNT NBR 16840), respectivamente. A
deposição do material no modelo físico foi feita de
maneira controlada por meio da técnica da chuva de
areia, utilizando-se um funil adaptado para manter a
altura de queda das partículas constante e igual a 5
cm. Dessa forma, foi atingido um índice de vazios
igual a 0,58, que corresponde a uma compacidade
relativa de 60%.
Com relação aos parâmetros de resistência,
(b) Nelsen (2018) encontrou ângulos de atrito dos grãos
de quartzo fundido iguais a 45º e 44º, quando
considerado o material seco e saturado,
respectivamente. Dadas as características similares
entre os materiais empregados em ambas as
pesquisas, os valores em questão foram considerados
no presente trabalho.

2.2 Argila Transparente

A argila transparente utilizada na pesquisa foi


Figura 1. Misturas entre óleo mineral e solvente: (a) confeccionada com o uso de hectorita sintética (HS),
Índices de refração; e (b) Turbidez. denominada comercialmente como Laponite-RD®.
O material em questão é fornecido em pó, sendo
Com base nos valores apresentados na Fig. 1, foi então hidratado com água destilada. Pirofosfato de
possível estabelecer o teor ótimo de mistura, em sódio decahidratado (PSD) foi utilizado como aditivo
termos de transparência do conjunto, como sendo para controlar a reologia das misturas, evitando a
constituída por 69,2% de óleo mineral e 30,8% de formação de bolhas. A concentração de hectorita
solvente. Convém ressaltar que a proporção em sintética (𝑐𝐻𝑆 ) e de pirofosfato de sódio
questão se aproxima do índice de refração do quartzo decahidratado (𝑐𝑃𝑆𝐷 ), em porcentagem, foram
fundido (1,4585), conforme dados apresentados na determinadas da seguinte forma:
Fig. 1(a), além de coincidir com a turbidez mínima
determinada para o conjunto, como indicado na Fig. 𝑚𝐻𝑆
𝑐𝐻𝑆 = × 100 (1)
1(b). Na Fig. 2 estão apresentados os equipamentos 𝑚𝑤 +𝑚𝐻𝑆++𝑚𝑃𝑆𝐷
utilizados na medição dos índices de refração [Fig. 𝑚𝑃𝑆𝐷
2(a)], na turbidez [Fig. 2(b)], e uma visão geral da 𝑐𝑃𝑆𝐷 = × 100 (2)
𝑚𝑤 +𝑚𝐻𝑆+ +𝑚𝑃𝑆𝐷
amostra parcialmente saturada com a mistura entre
óleo mineral e solvente [Fig. 2(c)], considerando o onde 𝑚𝑤 , 𝑚𝐻𝑆 e 𝑚𝑃𝑆𝐷 são as massas de água destilada,
teor ótimo determinado. hectorita sintética e pirofosfato de sódio decahidratado,
respectivamente, em gramas.
(a) (b) (c)
A preparação das amostras foi feita com o uso do
aparelho de dispersão apresentado na Fig. 3,
conforme procedimentos estabelecidos por Pierozan
et al. (2021). De forma sucinta, o PSD foi adicionado
à água destilada e misturado por 1 min, sendo então
adicionada a HS, procedendo-se então à mistura por
um tempo adicional de 5 min. A velocidade de
Figura 2. Equipamentos utilizados na determinação do teor rotação da hélice foi ajustada para 1000 rpm durante
ótimo de mistura do óleo de saturação: (a) Refratômetro todas as fases da preparação. Na sequência, o
digital; (b) Turbidímetro; e (c) Material resultante material foi mantido em repouso até o ensaio.
parcialmente saturado.

Os índices de vazios mínimo e máximo do quartzo

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126
(a) (b) (c) 2.4 Condições de Similitude

A relação entre os comportamentos do protótio e do


modelo seguiu a relação indicada abaixo (Baker et
al., 1991):

𝐼𝑝 =𝑆𝑓 × 𝐼𝑚 (3)

onde 𝑆𝑓 é a escala geométrica (adimensional), e 𝐼𝑝 e


𝐼𝑚 são as quantidades físicas associadas com o
Figura 3. Hectorita sintética: (a) Aparelho de dispersão; (b) protótipo e o modelo, respectivamente, em unidades
Aspecto visual da hectorita sintética antes da hidratação; e do Sistema Internacional.
(c) Hectorita sintética hidratada.
A presente pesquisa se baseou na análise
Para preparação da argila transparente, foram dimensional proposta por Hong et al. (2016) para o
empregadas concentrações de hectorita sintética (𝑐𝐻𝑆 ) problema em questão, a partir da qual foi possível
e de pirofosfato de sódio decahidratado (𝑐𝑃𝑆𝐷 ) de 8% estabelecer a relação entre os parâmetros de análise
e 0,43%, a qual, segundo Almikati et al. (2023), em dimensões de protótipo e de modelo, com base na
corresponde a uma resistência não drenada de 0,5 Equação 3. Para tanto, foi considerado um fator de
kPa, considerando um tempo transcorrido igual a 7 escala (λ) igual a 20 (vinte).
(sete) dias após a preparação da amostra. Com base na Equação 3 e considerando a análise
dimensional apresentada, foi possível estabelecer a
2.3 Geogrelha relação entre os parâmetros de análise em dimensões
de protótipo e de modelo, conforme dados
Dada a necessidade de simular uma geogrelha real apresentados na Tabela 1. Na tabela em questão, 𝑆𝑢 é
em escala reduzida, foi utilizada uma tela de poliéster a resistência não drenada do solo mole, D e L são o
com abertura nominal de 2,0 mm, a qual possui diâmetro e o comprimento da coluna granular,
aplicação como reforço de impermeabilização na respectivamente e ø é o ângulo de atrito interno da
Construção Civil. De acordo com dados fornecidos areia saturada.
pelo fabricante, a resistência à tração (𝐽𝑔 ) desse
material é igual a 0,5 kN/m, enquanto a rigidez à Tabela 1. Relação entre os parâmetros do modelo e do
tração (𝑇𝑔 ) é igual a 0,1 kN/m, este último protótipo.
considerando um nível de deformação igual a 5%. O Parâmetro Unidade 𝑆𝑓 Modelo Protótipo
encamisamento da coluna granular foi confeccionado 𝐽𝑔 kN/m λ2
0,5 200
com o uso de molde cilíndrico, conforme Fig. 4, 𝑇𝑔 kN/m λ2 0,1 40
sendo as emendas seladas com o uso de resina incolor 𝑆𝑢 kPa λ 0,50 10
de elevada resistência à tração. D m λ 0,02 0,4
L m λ 0,10 2,0
ø Graus 1 44 44

Convém ressaltar que a abertura da malha da tela


de poliéster foi igual a 2 mm x 2 mm, o que
corresponde a uma abertura da malha da geogrelha de
40 mm x 40 mm em dimensões de protótipo. Além
disso, a granulometria do material de enchimento das
colunas, que em modelo correspondeu a valores
compreendidos entre 2,0 mm e 2,36 mm, seria
equivalente a pedras britadas com dimensões entre 40
mm e 47,2 mm, sendo estes valores representativos
dos materiais usualmente empregados em campo.

2.5 Modelo Físico

O modelo físico em escala reduzida (1-g) foi


Figura 4. Confecção do encamisamento da coluna granular
confeccionado no interior de um cubo acrílico, com
com o uso de tela de poliéster. dimensões internas iguais a 10 cm x 10 cm x 10 cm.

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127
A coluna granular foi posicionada no centro do cubo
acrílico, tendo então suas laterais protegidas com o
uso de papel filme para evitar a percolação de
hectorita sintética hidratada imediatamente após a
mesma ser despejada no recipiente. Na sequência, a
hectorita sintética hidratada foi despejada no interior
do cubo acrílico logo após sua preparação,
preechendo o espaço disponível no entorno da coluna
granular. Transcorridas 6 (seis) horas desde a
preparação da mistura, o papel filme foi retirado pois
o solo mole havia adquirido consistência suficiente
para que não houvesse colmatação dos vazios do
material de enchimento.
A superfície superior do cubo acrílico foi vedada
com o uso de papel filme para evitar a desidratação
da hectorita sintética, e o conjunto permaneceu em
repouso durante 7 (sete) dias. O repouso em questão
foi necessário devido ao comportamento tixotrópico
da hectorita sintética hidratada, i.e. levando ao ganho
de resistência com o passar do tempo. Anteriormente
ao ensaio, o material de enchimento da coluna
granular foi saturado com a mistura entre óleo
mineral e solvente, adquirindo a transparência Figura 6. Aspecto geral do equipamento utilizado para
esperada. realização da prova de carga.

3 RESULTADOS

A curva carga-deslocamento resultante da prova de


carga encontra-se apresentada na Fig. 7, estando os
pontos de leitura interligados por linha cheia. Com
base no experimento, foi observada uma carga de
ruptura igual a 20 kgf, sendo este valor associado a
um deslocamento vertical de 7 mm.

Figura 5. Modelo físico empregado na presente pesquisa.

O ensaio de prova de carga foi realizado


empregando-se uma prensa de ruptura de corpos de
prova, sendo feita a penetração de um pistão
cilíndrico com 5 cm de diâmetro no material, em
condições não drenadas. A velocidade de penetração
do pistão foi igual a 1,27 mm/min. O monitoramento
do carregamento foi feito por meio de anel
dinamométrico acoplado à prensa, enquanto o
controle dos deslocamentos verticais foi feito com o
uso de um extensômetro. Uma imagem do
equipamento utilizado encontra-se apresentada na Figura 7. Curva carga-recalque obtida por meio de prova
Fig. 6. de carga.

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128
A linha tracejada indicada na Fig. 7 corresponde à 4 DISCUSSÃO
aproximação da curva carga-recalque por meio da
equação proposta por Brinch-Hansen para estacas, a Com base nos resultados dessa pesquisa, pode-se
qual admite que a relação entre a carga (Q), em kgf, observar que a técnica dos solos transparentes
e o deslocamento (d), em mm, ocorre conforme a contribuiu significativamente com a observação não
seguinte equação: intrusiva dos deslocamentos internos das colunas
granulares encamisadas, promovendo assim
𝑄=
√d
(4) potenciais vantagens em relação aos procedimentos
𝑎+𝑏×𝑑
convencionais de investigação. Além disso, o uso
conjunto de areia e argila transparente pode favorecer
onde os valores adimensionais a e b correspondem aos estudos relacionados aos sistemas de solos
parâmetros de ajuste da curva.
estratificados, como é o caso de aterros reforçados
sobre solos moles.
Na Figura 8 apresenta-se a coluna granular No caso específico das colunas granulares
anteriormente ao ensaio [Fig. 8(a)] e durante o ensaio encamisadas com geogrelha, o uso da técnica dos
[Fig. 8(b)], assumindo um deslocamento vertical de solos transparentes pode ser considerado uma
10 mm (10% de deformação). Por meio da alternativa viável para visualização dos mecanismos
observação dos deslocamentos internos durante o de solicitação do reforço. Por meio do ensaio de
ensaio, o embarrigamento da coluna granular na prova de carga, foi possível observar que a geogrelha
região próxima ao topo não foi evidente, indicando contribuiu para rigidez da coluna granular ao longo
que o encamisamento em geogrelha favoreceu a de toda a profundidade, não sendo observado o
distribuição dos esforços verticais ao longo do fuste abaulamento da coluna na região próxima à aplicação
das colunas, aumentando assim o desempenho da carga, ao contrário do comportamento que
mecânico desses elementos. usualmente se desenvolve em colunas granulares sem
encamisamento. Dessa forma, o encamisamento da
(a) coluna granular com geossintéticos pode contribuir
com a redução da concentração de tensões na região
superior da estaca, fazendo com que as cargas sejam
distribuídas de forma mais adequada às camadas
subjacentes.

5 CONCLUSÃO

Este artigo apresentou um estudo a respeito do


comportamento carga-deslocamento de colunas
granulares em solo de baixa capacidade de suporte. O
(b) programa experimental envolveu o ensaio em modelo
reduzido com o uso de solos transparentes. Com base
no estudo, foi possível delimitar as seguintes
conclusões principais:
▪ A presença da geogrelha contribuiu com a capaci-
dade de carga das estacas ao restringir os desloca-
mentos laterais das colunas granulares, ao passo
que houve a redução da concentração de tensões
na porção superior das colunas granulares.
▪ A presença do reforço geossintético contribuiu
para mitigar o efeito do abaulamento das colunas
granulares, o qual se desenvolve predominante-
mente ao longo de um comprimento equivalente a
2 (duas) vezes o diâmetro de colunas granulares
sem encamisamento.
Figura 8. Aspecto visual da coluna granular: (a) ▪ A técnica dos solos transparentes se mostrou uma
Anteriormente à prova de carga; e (b) Durante a prova de
alternativa viável aos métodos convencionais de
carga, considerando um deslocamento vertical de 10 mm.
testagem em laboratório, tanto do ponto de vista

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


129
da areia transparente quanto da argila transparen- McLean, USA, 194 p.
tes, desde que respeitadas as devidas limitações Cengiz, C., Kilic, I. E. & Guler, E. (2019). On the shear
inerentes à técnica. failure mode of granular column embedded unit cells
Por fim, e com base nos resultados da pesquisa, subjected to static and cyclic shear loads. Geotextiles
and Geomembranes, v. 47, 193-202.
conclui-se que a possibilidade de empregar solos
Chen, J. -F., Guo, X. P., Xue, J. G. & Guo, P. H. (2019).
transparentes em ensaios laboratoriais pode trazer Load behavior of model strip footing on reinforced
uma nova gama de informações que não seriam transparent soils. Geosynthetics International, v. 26,
obtidas com facilidade por meio dos ensaios 251-260.
convencionais, como é o caso do comportamento dos Chen, J. -F., Li, L. -Y., Zhang, Z., Zhang, X., Xu, C.,
mecanismos de solicitação dos geossintéticos Rajesh, S. & Feng, S. -Z. (2021). Centrifuge modeling
utilizados em estruturas geotécnicas. Convém of geosynthetic-encased stone column-supported
também observar que ensaios adicionais podem ser embankment over soft clay. Geotextiles and
necessários para avaliar situações distintas daquelas Geomembranes, v. 49, 210-221.
apresentadas neste estudo. Demir, S., Ozener, P. & Kirkit, M. (2017). Experimental
and numerical investigations of behavior of rammed
aggregate piers. Geotechnical Testing Journal, v. 43,
411-425.
AGRADECIMENTOS Ghazavi, M., Yamchi, A. E. & Afshar, J. N. (2018).
Bearing capacity of horizontally layered geosynthetic
Os autores agradecem ao Instituto Federal de reinforced stone columns. Geotextiles and
Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia Geomembranes, v. 46, 312-318.
(IFRO), ao DEPESP – Campus Porto Velho Calama, Hong, Y. -S., Wu, C. -S. & Yu, Y. -S. (2016). Model tests
à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de on geotextile-encased granular columns under 1-g and
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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Desempenho de fadiga à flexão de revestimentos asfálticos reforçados com


geossintéticos
Ana Laura Cassini Souza Bernardinelli
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGECiv), Universidade Federal de São Carlos,
São Carlos, Brasil, alcsouza@estudante.ufscar.br

Tiago Rodrigues Souza


Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGECiv), Universidade Federal de São Carlos,
São Carlos, Brasil
Vinci Aeroportos – Concessionária do aeroporto de Salvador, Salvador, Brasil
civil.souza@gmail.com

Natália de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, ncorreia@ufscar.br

RESUMO: O uso de geossintéticos tem se mostrado eficaz em melhorar substancialmente o desempenho de pavimentos,
principalmente no aumento da vida de fadiga e alívio de trincas reflexivas. Este estudo tem como objetivo avaliar à fadiga
de prismas de revestimento asfáltico reforçados com geossintéticos, extraídos de trecho experimental no Aeroporto
Internacional de Salvador, Bahia. Foram utilizados três diferentes geossintéticos, sendo uma geogrelha de fibra de vidro
(GG1), um geocomposto de geogrelha de fibra de vidro e geotêxtil não tecido (GG2) e um geocomposto de geogrelha de
fibra de vidro e não tecido ultraleve (GG4) para entender o comportamento de fadiga de camadas de asfalto por meio do
ensaio cíclico de flexão à quatro pontos. Os ensaios foram realizados na frequência de 5 Hz, em corpos-de-prova com
dimensões 400 x 75 x 60 mm (comprimento x largura x altura). Os resultados sugerem que a incorporação de reforço
geossintético nas camadas asfálticas melhorou o desempenho à fadiga por fatores de 2 a 8 vezes para as amostras de GG1
e GG4, respectivamente. A aderência de interface provou ser uma questão particularmente importante para aumentar a
vida de fadiga nesta aplicação.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Pavimentos, Vida de fadiga, Reflexão de trincas, Aderência de interface.

ABSTRACT: The use of geosynthetics has been effective in improving the performance of pavements, mainly in
increasing fatigue life and relieving reflective cracks. This study aims to evaluate the fatigue life of asphalt beams
reinforced with geosynthetics, extracted from an experimental section at the International Airport of Salvador, Bahia,
Brazil. Three different geosynthetics were used, namely a fiberglass geogrid (GG1), a composite of fiberglass geogrid
and geotextile (GG2) and a geocomposite of fiberglass geogrid and ultralight nonwoven geotextile (GG4) to understand
the fatigue behavior of asphalt layers through cylclic four-point flexion test. The tests were carried out using 5 Hz
frequency on specimens measuring 400 x 75 x 60 mm (length x width x height). Results suggest that the incorporation of
geosynthetic reinforcement in the asphalt layers improved the fatigue performance by factors of 2 and 8 for the samples
of GG1 and GG4, respectively. Interface shear bond proved to be a particularly important issue for increasing fatigue life
in this application.

KEY WORDS: Geosynthetics, Flooring, Fatigue, Reflection of cracks, Interface shear bond.

1 INTRODUÇÃO manutenção frequentes (Pasquini et al. 2014). O uso


de geossintéticos tem se mostrado eficaz em
O aumento exponencial no volume de tráfego melhorar substancialmente o desempenho de
rodoviário tem resultado em um aumento pavimentos existentes. Os geossintéticos em
significativo na demanda por infraestrutura de revestimentos tem demonstrado aumento da vida de
transporte, o que dificulta o desempenho eficaz dos fadiga (Khodaii et al. 2009; Virgili et al. 2009;
sistemas de pavimento e requer programas de Ferrotti et al. 2012; Pasquini et al. 2014; Gu et al.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


132
2016), alívio de trincas reflexivas (Zamora-Barraza RR-2C apresenta viscosidade de Sybolt Furol a 50℃
et al. 2011; Gonzalez-Torre et al. 2015; Kumar e (ABNT NBR 14491, 2007) de 182,5 s, peneiração
Saride 2017; 2020; Kumar et al. 2021) e redução no (0,84mm) de 0,03% massa (ABNT NBR 14393,
afundamento das camadas e na deformação 2012) e teor de resíduo seco de 53% massa (ABNT
permanente (Sanders 2001; Correia e Zornberg 2016; NBR 14376, 2019). A aplicação da emulsão foi
Chen et al. 2018; Imjai et al. 2019; Kazimierowicz- realizada por barra aspersora em taxas de residuais
Frankowska 2020). No entanto, foi relatado que a asfálticas, aferidas em campo, de 259,2g/m² (A),
incorporação de geossintéticos entre as camadas de 544,8 g/m² (B), 788,2 g/m² (C) e 1052,0 g/m² (D).
revestimento asfáltico pode resultar em uma Após a ruptura da emulsão, os geossintéticos foram
resistência ao cisalhamento de interface reduzida, instalados em faixas de 0,9 m de largura por 10,0 m
levando a um possível descolamento entre as de comprimento, além de uma faixa controle (sem
camadas (Ferrotti et al. 2012; Pasquini et al. 2014; reforço) de 0,5 m por 10,0 m de comprimento,
Sudarsanan et al. 2018; Correia et al., 2022). conforme esquema da Figura 1.
Atualmente, diversas pesquisas vêm sendo feitas para
compreender como as propriedades dos
geossintéticos afetam a aderência de cisalhamento de
interface entre camadas de revestimento asfáltico
(Canestrari et al., 2018, Sagnol et al., 2019; Correia
e Mugayar, 2021; Canestrari et al., 2022). O
geossintético precisa ser impregnado com uma taxa
de ligante asfáltico adequada para promover
suficiente aderência. No entanto, pouco se sabe sobre
como a falta de aderência afeta o mecanismo
responsável pela melhoria dos sistemas de
pavimentos reforçados com geossintéticos, tal como Figura 1. Esquema construtivo da seção teste de pavimento
a mitigação de trincas reflexivas e aumento na vida reforçado com geossintéticos (adaptado de Souza e Cor-
de fadiga. reia, 2022).
O objetivo do presente estudo é identificar como
diferentes reforços geossintéticos em camadas A terceira etapa consistiu na aplicação de uma
asfálticas, obtidos de uma seção experimental de camada de concreto asfáltico usinado a quente
campo, resistem ao trincamento. O estudo foi (CAUQ) com espessura de 70 mm, com
realizado por meio de ensaios cíclicos de flexão em características que se enquadram na Faixa 3 da norma
viga 4 pontos. DIRENG 04.05.610. A Tabela 1 apresenta as faixas
granulométrica dos agregados das misturas asfálticas
2 MATERIAIS E MÉTODOS utilizadas na construção da seção teste. Maiores
detalhes sobre a construção do trecho experimental
2.1 Seção experimental de campo podem ser obtidos em Souza e Correia (2022).

Inicialmente, para a produção dos corpos-de-prova Tabela 1. Faixa granulométrica das misturas asfálticas.
reforçados com geossintéticos, foi realizada a Faixa da Faixa da
Peneiras mistura mistura
construção de uma seção teste, em escala real, no
(mm) superior inferior
Aeroporto Internacional de Salvador, operado pela
25,4 100,0 100,0
Vinci Aeroportos. O processo construtivo foi 19,1 100,0 100,0
desenvolvido em 3 etapas, onde a primeira consistiu 15,9 100,0 100,0
na fresagem parcial da camada de revestimento 12,7 98,2 93,2
desgastada, cuja estrutura pavimentada é composta 9,52 89,4 89,5
por subleito em silte argiloso, base em brita graduada 4,76 67,5 72,6
simples com espessura de 180 mm e revestimento 2,00 41,1 56,5
asfáltico com espessura de 60 mm, que atende a Faixa 0,42 20,2 39,2
3 do DNIT. Após a fresagem, a camada residual de 0,177 12,3 10,2
revestimento asfáltico era de 40 mm, cuja textura 0,074 5,6 5,3
acabada era composta por ranhuras com sulcos de
aproximadamente 1,2 mm de profundidade. Após a aplicação e cura da camada superior de
Na segunda etapa houve a aplicação do CAUQ descrito na terceira etapa, placas completas
ligante asfáltico emulsão de ruptura rápida (RR-2C) do revestimento asfáltico reforçado com
e a instalação de diferentes geossintéticos. A emulsão geossintéticos compostas pelo asfalto remanescente

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


133
da fresagem (40 mm), geossintético e a nova camada biaxial é de 50 kN/m e uma deformação na ruptura de
de CAUQ (70 mm), foram extraídas para compor este 3%. Este material apresenta massa por unidade de
estudo. As placas continham dimensão de 500 x 500 área do geotêxtil não tecido de 27,5 g/m² e taxa de
x 110 mm (comprimento, largura e espessura). retenção de asfalto de 421,12 g/m². A caracterização
Porém, para o processo de extração destas, uma dos geossintéticos foi realizada por Correia et al.
janela lateral às placas com dimensão de 150 x 500 (2022).
mm (comprimento e largura) foi aberta para
possibilitar a introdução de alavanca e a remoção por
completo da placa para o estudo. A Figura 2
apresenta o processo de extração das placas de
concreto asfáltico no trecho experimental no
Aeroporto.

Figura 3. Geossintéticos utilizados nesta pesquisa: (a)


GG1, (b) GG2, (c) GG4 (Fonte Próprio Autor).

2.3 Preparação dos corpos-de-prova

As placas de misturas asfálticas coletadas no


Aeroporto de Salvador tinham aproximadamente 500
x 500 x 110 mm (comprimento x largura x altura). O
processo de preparação dos corpos-de-prova de
Figura 2. Extração de placas de concreto asfáltico reforça- asfalto reforçado com geossintéticos foi o corte de
das com geossintéticos no trecho experimental no Aero- prismas nas dimensões 400 x 75 x 60 mm
porto Internacional de Salvador. (comprimento x largura x altura). O corte foi
realizado de modo a manter o posicionamento do
Posteriormente a esta extração, as placas foram
geossintético no terço inferior do prisma.
cortadas em corpos-de-provas prismáticos.
Após o corte, os primas foram também preparados
Especificamente para esta pesquisa, serão
para análise digital de imagens, com as faces pintadas
apresentados os resultados dos corpos-de-prova
de branco e padrão de manchas aleatórias com tinta
prismáticos coletados na área referente a faixa C de
preta. Os prismas foram cerrados em todas as faces
ligante asfáltico (788,2 g/m²), para os geossintéticos
de modo a eliminar possíveis microssifuras e
GG1, GG2 e GG4, além da seção controle conforme
minimizar a variabilidade nos ensaios. A Figura 4
indicado na Figura 1.
ilustra os prismas cortados na configuração final do
ensaio e um detalhe do posicionamento do reforço
2.2 Geossintéticos
geossintético no terço inferior do prisma.
A Figura 3 apresenta os diferentes geossintéticos que
foram utilizados nesta pesquisa. A GG1 é uma
geogrelha de fibra de vidro, que apresenta resistência
à tração final de 75 kN/m e 95 kN/m nas direções
longitudinal e transversal, com deformação de 3% na
ruptura (ABNT ISO 10319), bem como revestimento
polimérico e taxa de retenção de asfalto de 422,85
g/m² (ASTM D6140). A GG2 é um geocompósito de
geotêxtil não tecido ligado termicamente a uma Figura 4. Prismas cortados para ensaio e detalhe do
geogrelha de fibra de vidro revestida com betume. posicionamento do reforço geossintético (Fonte Próprio
Este material apresenta 50 kN/m de resistência à Autor).
tração biaxial e 3% de deformação na ruptura, nas
direções longitudinal e transversal, massa por 2.4 Ensaio cíclicos de flexão em viga 4 pontos
unidade de área do geotêxtil não tecido de 168,4 g/m²
e taxa de retenção de asfalto de 1553,67 g/m². A GG4 Após estarem nas dimensões corretas e pintados, os
é um geocomposto de geogrelha de fibra de vidro prismas reforçados e o prisma controle (sem reforço)
costurada em um geotêxtil não tecido ultraleve, foram analisados usando ensaios cíclicos de flexão
revestidos com betume, cuja resistência à tração em viga 4 quatro pontos, realizados com carga

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134
repetida sob modo de carga controlada, a uma influência dos reforços geossintéticos na propagação
temperatura de 20±2°C, seguindo especificações da de trincas das camadas asfálticas. A Figura 6
ASTM D7460. A Figura 5 apresenta um diagrama apresenta os resultados de deslocamento máximos
esquemático do prisma de asfalto na configuração de obtidos no centro dos prismas durante os ensaios. Já
teste usada no estudo. Uma distância fixa de 120 mm a Tabela 2 apresenta o número de ciclos de carga
foi mantida entre os pontos de carregamento e máximos para atingir determinados deslocamentos
suportes de rolos. Além disso, a carga foi aplicada verticiais, bem como os ciclos necessários para a
com pulsos de tensão controlados em formato ruptura total dos prismas. A Figura 7 apresenta as
haversine a uma frequência de 5 Hz, e um padrão de imagens da propagação de trincas reflexivas nos
carga típico para simular uma condição de tráfego em prismas de concreto asfáltico ensaiados neste estudo,
movimento correspondente a uma pressão de contato obtidas nos últimos 3 segundos antes da ruptura.
de eixo simples de 550 kPa.

Figura 6. Deslocamentos verticais máximos obtidos


durante o ensaio cíclico de flexão em 4 pontos.
Figura 5. Diagrama esquemático do corpo-de-prova de
prisma de concreto asfáltico e configuração de teste Tabela 2. Deslocamentos verticais máximos e
(dimensões em mm). (Fonte Próprio Autor). correspondentes ciclos de carga.
Nº ciclos
A tensão máxima obtida no ensaio pode ser Amostra
1mm 5mm 7,5mm 10mm Ruptura
determinada pela Equação 1, a seguir:
Controle 1832 11716 11747 - 11758
𝑃. 𝑙 GG1 685 15450 18439 20331 24040
𝜎= GG2 411 1589 2252 2944 3455
𝑏. ℎ2
GG4 2485 82542 88953 93861 96076
onde σ é a tensão máxima de flexão em MPa; P é o
carga máxima aplicada em N; l é o comprimento, b é De acordo com a Figura 6, conforme esperado,
espessura e h é a altura do prisma em mm, a deformação vertical aumentou com o aumento das
respectivamente. repetições de carga para todos os corpos-de-prova
Assim, para 550 kPa, com o calculo retroativo da ensaiados. Para os deslocamentos até 5 mm, a vida de
equação 1, de acordo com as dimensões dos prismas, fadiga da amostra controle (sem reforço) foi maior, o
uma carga P máxima de 450 N e uma carga de contato que pode ser justificado pela melhor aderência entre
de 150 N foram aplicados no ensaio. O mesmo as duas camadas, mas falharam após um número
procedimento experimental foi utilizado por Kumar comparativamente pequeno de repetições de carga
et al. (2021). Para a medida dos deslocamentos comparados com as amostras reforçadas. No caso do
verticiais máximos no centro do prisma, foi utilizado prisma controle, as trincas se propagaram
um LVDT (transdutor para medição de deslocamento abruptamente nas duas camadas e o prisma rompeu
linear) com resolução de 0,01 mm. após 11.758 ciclos. Já no caso dos prismas de alfato
reforçados pela geogrelha de fibra de vidro (GG1) e
pelo geocomposto de fibra de vidro (GG4), ambos
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO suportaram mais ciclos de carregamento do que a
amostra controle, resistindo por 24.040 e 96.076
Os ensaios de flexão em viga 4 pontos conduzidos em ciclos, respectivamente antes de falhar. Esses
prismas asfálticos não reforçados e reforçadas com resultados sugerem que a presença de geogrelhas e
geossintéticos facilitaram a compreensão da geocompostos na interface entre as camadas de
pavimento suportou o desenvolvimento de trincas

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


135
reflexivas por períodos de desempenho retenção de asfalto de 421,12 g/m² e assim, a taxa de
comparativamente superiores ao prisma controle. impregnação de emulsão RR2C usada no campo foi
Especificamente no caso do geocomposto de quase o dobro do necessário para saturar o
fibra de vidro e geotêxtil (GG2), que apresentou geossintético, levando a superiores resultados de
menor vida de fadiga do que o prisma controle, as resistência ao cisalhamento de interface (Souza e
trincas se propagaram e finalmente houve a ruptura Correia, 2022) e consequente superior desempenho
do prisma após 3.455 ciclos, porém o seu quanto à resistência ao trincamento e a minimização
deslocamento máximo foi maior que o controle, de trincas reflexivas, associado a reforço de elevada
atingindo 11,78mm. A explicação para a ruptura rigidez.
precoce pode estar relacionada a baixa aderência de De modo geral, todos os geossintéticos avaliados
interface obtida na seção da GG2 com taxa de 788,2 nesta pesquisa retardaram o crescimento de trincas
g/m², a qual foi observada por meio de ensaios de reflexivas. Os resultados sugerem que a incorporação
cisalhamento de interface do tipo Leutner no estudo de reforço geossintético nas camadas asfálticas
de Souza e Correia (2022). O geocomposto GG2 é melhorou o desempenho à fadiga por fatores de 2 a 8
composto por um espesso geotêxtil não tecido, e teve vezes, e que os resultados estão intrinsicamente
seu desempenho de aderência comprometido quando relacionados a aderência de interface.
instalado com taxa de impregnação 50% menor do
que a capacidade de retenção de asfalto, ou seja, do 4 CONCLUSÃO
que a quantidade ideal para saturá-lo. Na Figura 8, é
possível verificar o descolamento da interface no O comportamento das camadas asfálticas reforçadas
caso do ensaio realizado com o GG2, embora as com geogrelhas e geocompostos, de corpos-de-prova
trincas tenham se propagado em microfissuras. extraídos do campo, foi estudado em testes cíclicos
de flexão de quatro pontos, e as seguintes conclusões
podem ser tiradas do estudo:
• Verificou-se que os prismas de concreto
asfáltico reforçado pela geogrelha de fibra de
Nruptura= 11.758 Controle vidro (GG1) e pelo geocomposto de fibra de
vidro (GG4) melhoram com sucesso o
desempenho de fadiga em relação ao prisma
controle, retardando o desenvolvimento de
Nruptura= 24.040 GG1
trincas reflexivas e da ruptura. O resultado
representou uma melhoria na vida à fadiga de
cerca de 2 vezes e 8 vezes, respectivamente
para GG1 e GG4.
• O prisma reforçado pelo geocomposto de
Nruptura= 3.455 GG2 fibra de vidro e geotêxtil espesso (GG2)
apresentou menor vida de fadiga em
comparação aos demais, porém o seu
resultado foi relacionado com a baixa taxa de
impregnação de emulsão no campo e,
Nruptura= 96076 GG4 consequentemente, baixa aderência de
interface.
Figura 8 - Visualização da propagação de trincas em
prismas reforçados com geossintéticos e prisma controle. • Os geossintéticos (geogrelhas e
geocompostos) mostraram melhorar as
A geogrelha GG1 também apresentou muito características de fadiga das camadas de
baixa aderência de interface no campo para esta concreto asfáltico antes da ruptura e a
mesma taxa de aplicação de emulsão residual, o que aderência mostrou ser uma questão
de acordo Souza e Correia (2022), foi relativo à particularmente importante para aumentar a
instalação desta geogrelha espessa em superfície vida de fadiga de produtos com similar
fresada com alto resultado de macrotestura. No rigidez à tração.
entanto, a GG1 apresentou desempenho muito
superior ao prisma controle no ensaio de flexão, AGRADECIMENTOS
alcançando o dobro do número de ciclos antes da
ruptura. Isso ocorreu pela ação da elevada rigidez da O presente trabalho foi realizado com apoio da
geogrelha. Já o geocomposto GG4 apresentou Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


136
Financiamento 001. Os autores agradecem o apoio Gu, F., Luo, X., Luo, R., Lytton, R. L., Hajj, E. Y. &
recebido do Vinci Airports, Salvador Bahia Airposts Siddharthan, R. V. (2016). Numerical modeling of
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137
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo de caso drenagem de pavimentos rodoviários com utilização


de geocomposto drenante
Leonardo Marroffino Simões
Maccaferri do Brasil, Jundiaí, Brasil, l.simoes@maccaferri.com

Ricardo Oliveira Sirmatei


Maccaferri do Brasil, Jundiaí, Brasil, r.sirmatei@maccaferri.com

RESUMO: Com o passar dos anos novas tecnologias surgem, dentro da Engenharia essas tecnologias implementadas aos
projetos permitem uma maior eficiência técnica e/ou econômicas, sem comprometer o objetivo ou eficiência do projeto.
A drenagem de uma rodovia é um dos principais elementos, que vai contribuir para a vida útil do pavimento e para a
segurança dos usuários que trafegam pela rodovia. Uma drenagem eficiente reduz significativamente a aparição de
bombeamento de finos e trincas no pavimento. A utilização dos Geocomposto para drenagem profunda e de pavimento
em obras de rodovias substitui o dreno convencional, dreno francês, e reduz custos, riscos de acidente durante a obra, por
proporcionar maior a velocidade do serviço. Os drenos convencionais são compostos por uma vala preenchida com
material drenante (britas) envoltas em um geotêxtil e através dos vazios entre as britas conseguimos fazer o
encaminhamento e drenagem das águas, o Geocomposto drenante é formado por um núcleo drenante envolto em geotêxtil,
por se tratar de um material desenvolvido especificamente para drenagem e o encaminhamento de água, por seu núcleo,
apresenta uma vazão de água mais rápida quando comparamos com a brita. Neste artigo serão apresentadas as vantagens
técnicas e econômicas dos sistemas de drenagem com a utilização de geocompostos drenantes em comparação com os
sistemas convencionais.

PALAVRAS-CHAVE: Geocomposto; Geocomposto drenante; drenagem profunda; dreno.

Deve apresentar uma breve justificativa do trabalho e aspectos relevantes do seu desenvolvimento, citar os resultados e
conclusões mais significativas e não exceder 250 palavras num único parágrafo, devendo ser seguido das palavras chave
(no máximo seis). A fonte é Times New Romam, tamanho 10 e espaçamento simples entre linhas. Este resumo não deve
conter tabelas, figuras e ainda evitar citações bibliográficas. Entre a última linha do RESUMO e PALAVRAS-CHAVE
deve ser colocada uma linha em branco. A tradução do Resumo para o Inglês constituirá o ABSTRACT.

PALAVRAS-CHAVE: Palavras Mais Importantes, Máximo de Seis Palavras, Separadas por Vírgulas.

ABSTRACT: As the years go by, new technologies emerge, within Engineering, these technologies implemented in
projects allow greater technical and/or economic efficiency, without compromising the objective or efficiency of the
project. The drainage of a highway is one of the main elements, which will contribute to the useful life of the pavement
and to the safety of users who travel along the highway. Efficient drainage significantly reduces the appearance of fine
pumping and cracks in the pavement. The use of Geocomposite for deep and pavement drainage in highway works
replaces the conventional drain, French drain, and reduces costs, accident risks during the work, by providing greater
service speed. Conventional drains are made up of a trench filled with draining material (gravel) wrapped in a geotextile
and through the voids between the gravel we can make the routing and drainage of water, the draining Geocomposite is
formed by a draining core wrapped in geotextile, because it dealing with a material developed specifically for drainage
and the routing of water, due to its core, it presents a faster flow of water when compared to gravel. In this article, the
technical and economic advantages of drainage systems with the use of draining geocomposites will be presented in
comparison with conventional systems.

KEY WORDS: Geocomposite; Draining geocomposite; deep drainage; drain.

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138
1 INTRODUÇÃO caso mais comum é decorrente das precipitações
pode ocorrer de duas formas: infiltrações diretas das
Atualmente, o transporte rodoviário representa, precipitações pluviométricas e/ou provenientes de
aproximadamente 6% do PIB do país e 60% da lençóis d’água subterrâneos. E sendo assim, a função
receita líquida de muitas empresas, sendo o meio de principal do sistema de drenagem é escoar a água que
transporte que mais movimenta mercadorias no percola entre as camadas de um pavimento. Por isso,
Brasil (Bitencourt, 2022). é preciso que a capacidade drenante seja suficiente e
Visto a importância das rodovias para o país é que proteja o pavimento das águas que possam
muito importante que se apresentem sem patologias danificá-lo. As precipitações com pequena
e como os pavimentos são estruturas que, intensidade são as que mais proporcionam a
normalmente, apresentam uma grande área infiltração em pavimentos. Precipitações com grande
superficial devido à grande extensão e faixas de intensidade apresentam, normalmente, curta duração
rolagem, isso favorece a infiltração da água por e grande parte dela escoa pela superfície do
diversas formas. Segundo Pereira (2003), entre elas, pavimento. Já as precipitações de menor intensidade
podem ser citados as seguintes: ocorrem por períodos mais longos, fornecendo
•Infiltração através de superfícies permeáveis, suprimento de água constante para infiltração com
juntas, trincas ou fissuras; volume alto que passa para o interior da estrutura
•Infiltração lateral de águas acumuladas em (PEREIRA, 2003).
canteiros, acostamentos não revestidos e sarjetas A Drenagem, por definição, é o conjunto de
não estanques; sistemas e/ou instalações destinadas a remover e
•Fluxos de água ascendentes, provenientes de encaminhar os excessos de água contida no solo. A
lençol freático elevado, nascente e enchente de drenagem de pavimentos em rodovias, é um processo
rios; essencial e fundamental para a segurança dos
•Sucção capilar; usuários e para manter o desempenho, assim como a
•Condensação do vapor de água, como o resultado vida útil, e deve ser tratada com critérios específicos
das variações de temperatura e da pressão de projeto. De modo que a escolha dos dispositivos e
atmosférica. materiais responsáveis por este processo torna-se
essencial para o sucesso e um bom desempenho de
projetos que contemplem sistemas de drenagem.
Segundo Suzuki et al. (2013), a precoce ruptura de
pavimentos, cotidianamente observada, pode ser
evitada por meio de sistemas de drenagens e
prevenção de entrada de água, com uma correta
concepção, dimensionamento e projeto adequados.

Figura 1. Origem das águas no pavimento. 2 DANOS CAUSADOS POR ÁGUA LIVRE

Segundo Pereira (2003), a quantidade de água O nível freático, infiltração superficial, e o


resultante da condensação de vapores dispersos no excesso de umidade presente nas camadas estruturais
interior da estrutura dos pavimentos é desprezível de um pavimento são fatores fundamentais que
quando comparada com as oriundas das demais contribuem para o desenvolvimento de defeitos no
fontes. Quando ocorre de atingir as camadas mesmo. O bombeamento de finos, proveniente das
estruturais do pavimento, a água pode alterar as camadas inferiores e o trincamento do revestimento
características dessas camadas e seu desempenho, são as principais patologias que evidenciam a
consequentemente, ao longo do tempo, a infiltração presença de umidade excessiva na estrutura do
das águas superficiais, em um pavimento mal pavimento (AZEVEDO, 2007).
drenado, pode, eventualmente, reduzir a vida útil do Os defeitos de pavimentos flexíveis, relacionados
pavimento. A variação ou excesso no teor de umidade com a umidade, são caracterizados pela elevada
dá-se o nome de água livre. A água livre é a principal deflexão, trincamento por fadiga, redução da
causa de deterioração precoce das estradas capacidade de suporte e desagregação. Já no
(AZEVEDO, 2007). Sendo que, durante os primeiros pavimento de cimento Portland (rígido) os principais
anos é possível que seus efeitos sejam imperceptíveis defeitos relacionados com a presença de umidade são
(PEREIRA, 2003). de instabilidade de subleito, o bombeamento de finos
Com a presença de água livre no pavimento, logo que consequentemente geram perda de suporte, além
teremos o surgimento de patologias no pavimento. O do trincamento em formato conhecido como D-

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139
Cracking (trinca de canto). Todos esses problemas que recebem as águas por ele transportadas,
prejudicam a segurança dos usuários da via, podendo quando atingida sua capacidade de vazão,
a levar a graves acidentes, sendo alguns fatais. conduzindo-as para fora da faixa estradal.
• Drenos de base: são drenos que tem a função
de recolher as águas que se infiltram na camada
3 SISTEMAS DE DRENAGEM de base, sendo usualmente utilizados nas
situações em que o material da base dos
Os sistemas de drenagem de uma rodovia são acostamentos apresenta baixa permeabilidade,
subdivididos e três principais tipos, superficial, encaminhando-as para fora da plataforma.
subsuperficial e profunda. • Drenos transversais: são aqueles
posicionados transversalmente à pista de
3.1 Drenagem superficial rolamento em toda a largura da plataforma, sendo,
usualmente, indicados nos pontos baixos das
A drenagem superficial tem como objetivo escoar curvas côncavas ou em outros locais onde se
toda água superficial através da própria topografia do necessitar drenar as bases permeáveis.
terreno para que não haja poças ou represamento de
água favorecendo a infiltração. Ainda de acordo com 3.3 Drenagem profunda
DNIT, 2006 temos como principais tipos drenagem
superficial: Os drenos profundos têm o objetivo de interceptar
os níveis freáticos aflorantes do lenço freático,
• Caimentos de pista; impedindo que este chegue ao nível da estrutura do
• Valetas de proteção de corte e de aterro; pavimento. Esse tipo de dreno pode chegar até 2,0
• Sarjetas de corte e de aterro; metros de profundidade e são instalados geralmente
• Saídas de água, descidas de água e escadas em paralelo a faixa de rolagem da rodovia, nos locais
dissipadoras; onde o solo está saturado ou tem facilidade de
• Caixas coletoras e; saturação devido precipitação. A principal função é
• Bueiros de greide. garantir a integridade das camadas do pacote
mantendo a água abaixo da estrutura do pavimento.
3.2 Drenagem subsuperficial

A drenagem subsuperficial do pavimento consiste


captar toda água que infiltra pelo próprio pavimento
e chegam até a estrutura, a função desse tipo de dreno
é coletar e encaminhar de maneira rápida toda a água
que infiltra no pavimento. O adequado controle das
águas que infiltram na estrutura do pavimento é Figura 2. Rebaixamento de lençol freático. Fonte:
considerado fundamental para o bom desempenho Maccaferri (2022).
deste, sendo a drenagem subsuperficial a principal
responsável por este controle (MOULTON, 1990).
Oliveira (1982) conclui que: “A aplicação dos 4 DRENOS
conceitos de drenagem subsuperficial aos
pavimentos é, sem dúvida, a solução técnica e Os drenos são material que estão locados abaixo
econômica tanto para os pavimentos novos como do nível da faixa de rolagem da rodovia, e devem
para os existentes.” atender os requisitos mínimos estabelecidos para que
De acordo com Azevedo (2007), os dispositivos funcionem adequadamente. Um dreno é composto
drenantes subsuperficiais podem ser denominados e por três elementos: filtro, núcleo drenante e condutor.
descritos da seguinte forma: O filtro é responsável por não deixar que as
• Camada drenante: é uma camada de material partículas de solo carregada pela água percolem
granular, colocada logo abaixo do revestimento, dentro do núcleo drenante e colmatem o sistema, por
seja ele asfáltico ou de concreto de cimento isso denomina-se como filtro, pois separa a água das
portland. Com granulometria apropriada, tem a partículas de solo. O filtro pode ser executado com
finalidade de drenar as águas infiltradas para fora diversos tipos de materiais, os mais comuns são
da pista de rolamento; geotêxtil tecido e geotêxtil não-tecido.
• Drenos rasos longitudinais: são drenos que O núcleo drenante tem o objetivo de coletar a água
recebem as águas coletadas pela camada drenante. filtrada e destinar até o condutor. A principal
São aliviados pelos drenos laterais e transversais característica do meio condutor e a quantidade de

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140
vazios que ele possui para encaminha o máximo de atender às necessidades de projeto, sob critérios de
água possível, por geralmente ele é executado com qualidade e desempenho comprovados em ensaios
areia, britas, cascalhos grossos ou Geocomposto. normatizados. Não obstante é dotado de considerável
O meio condutor é responsável por receber a água ganho em produtividade e economia, devido às
coletada pelo núcleo drenante e encaminhar até um reduções da necessidade de matérias primas naturais
ponto de coleta ou uma saída. Comum mente e mão de obra especializada, à vista disso, pode ser
executado com tubo perfurado de PEAD. facilmente um substituto ao sistema tradicional,
desde que as vazões de ambos os sistemas sejam
equivalentes. Suas características físicas e de
5 DRENO CONVENCIONAL desempenho devem seguir os parâmetros presentes
na Especificação de Material na Norma DNIT
O dreno convencional de pavimento com material 161/2012 – EM – Geocompostos para drenagem e
granular são, segundo Jabor (2015), dispositivos que geotêxteis não tecidos aplicáveis a dispositivos de
tem como função receber as águas drenadas pela drenagem de rodovia – Especificação de material.
camada do pavimento de maior permeabilidade O dreno com Geocomposto drenante substitui os
conduzindo-as até o local de deságue. Dreno fornece elementos filtrantes e drenantes dos drenos
um caminho para que a água percole mais rápido e convencionais com material granular. Por se tratar de
possa ser encaminhada, o formato da vala do dreno e um único material que já vem pronto, temos uma
deve ser retangular para que se tenha uma agilidade instalação mais rápida e fácil. Como dispensa a
melhor na sua execução, embora possa ser triangular utilização de materiais britados o Geocomposto
ou pentagonal. Os materiais a serem utilizados são drenante é uma combinação de dois geossintéticos:
alguns dos que foram apresentados anteriormente, geomanta tridimensional e geotêxtil não-tecido. A
sendo o enchimento das valas com brita 1 ou brita 2, geomanta tridimensional, núcleo drenante, é
conforme necessidade do volume a ser escoado. fabricada com filamentos de polipropileno e
Ainda citando Jabor (2015) o envolvimento da vala termosoldada um geotêxtil não tecido de
com manta geotêxtil não tecida, se faz necessário polipropileno em todos os pontos de contato, exceto
quando a camada permeável possui agregado fino na região destinada à inserção do tubo perfurado. O
com possibilidade de ser carreada para o dreno, núcleo composto por pequenos canais é responsável
podendo vir a causar entupimento. Além do material pelo escoamento dos fluidos e o geotêxtil atua como
granular e da manta geotêxtil, utiliza-se também o separador e filtro, mantendo o solo e os resíduos fora
tubo para melhor escoamento da água prejudicial ao dos canais da geomanta (MACCAFERRI, 2016).
pavimento. O tubo mais comum é o PEAD, já visto Além do Geocomposto drenante, é utilizado também
anteriormente. o tubo coletor perfurado de PEAD.

Figura 3. Dreno convencional. Fonte: Maccaferri (2016).

6 GEOCOMPOSTO CONVENCIONAL

As obras de drenagem devem atender todas as


normas, especificações pertinentes ao projeto e os
produtos a serem devidamente bem instalados. A
solução em geocomposto é indicada aos processos de
drenagem vertical, horizontal, e em trincheiras
drenantes, cuja capacidade de vazão, comprovada por Figura 4. Geocomposto drenante. Fonte: Simões et al.
ensaios de transmissividade, permissividade e deve (2022).

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141
7 COMPARATIVO

Conforme apresentado nos itens acima, a


utilização de geocomposto drenante como dreno
subsuperficial e profundo pode ser um bom substituto
para as alternativas de drenos convencionais.
Trabalhos e artigos técnicos existentes,
comprovam que além de melhor desempenho quanto
aos processos executivos e custos, o geocomposto
drenante pode também apresentar melhor despenho
de técnico (capacidade drenante) que um dreno de
constituídos por núcleos naturais. Neste item, serão
evidenciados estes comparativos.

7.1.1 Comparativo processos executivos Figura 6. Dreno profundo com Geocomposto drenante.
Fonte: Cavilha et al. (2017).
Cavilha et al. (2017), realizaram um estudo
comparativo de duas obras em execução. A primeira A altura do geocomposto drenante utilizada foi de
sendo a restauração da RS-717, subtrecho entre a BR- 1,40m, devido a padrões de fabricação e o tubo em
116/RS e o portal de Tapes/RS, localizada em PEAD perfurado utilizado foi de 65mm de diâmetro.
Tapes/RS, com a instalação de drenos profundos com
geocomposto drenante. A segunda, também obra de 7.1.1 Procedimentos executados e resultados
restauração, foi na SC-418, subtrecho São Bento do obtidos
Sul – Divisa SC/PR (Fragosos), segmento do Km
63+980 ao Km 64+080, com instalação de drenos Os dois métodos em si são similares no geral.
profundos convencionais. Compreendem, basicamente, em escavação,
A seção adotada para a drenagem profunda colocação de material na vala e fechamento da vala.
longitudinal utilizando o geocomposto drenante na Segundo Cavilha et al (2017), a escavação para o
estrutura do pavimento foi uma seção similar ao dreno convencional foi executada com
dreno profundo longitudinal DPS 08 contido no retroescavadeira, devido ao grande volume de
Álbum de Projetos – Tipo de Dispositivo de escavação e para a obra com o geocomposto
Drenagem, do DNIT, 2006. drenante, como é necessário abrir uma vala com
abertura suficiente para passagem do tubo perfurado,
foi possível utilizar-se de equipamento de escavação
tipo valetadeira, fazendo-se um corte com apenas
15cm de largura e proporcionando uma
produtividade de escavação de 40m para cada hora de
serviço.
Na obra com o geocomposto drenante foi possível
utilizar o próprio material escavado para o reaterro da
vala, condição que proporciona maior produtividade
e significativa redução de custos. Neste caso, faz-se
necessário a compactação do material escavado.
Porém, reduz significativamente a necessidade de
bota fora.

Figura 5. Dreno profundo similar ao DPS 08. Fonte:


Cavilha et al. (2017).

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142
Cavilha et al. (2017), constataram que a
produtividade da execução de drenos com
geocomposto drenante foi consideravelmente maior
que a da execução do dreno de brita, tendo em vista
que o dreno de brita obteve uma média de produção
80% menor que a do dreno com geocomposto. Esses
valores são muito relevantes, pois influenciam
significativamente nos custos de uma obra, onde
quanto menor é o tempo gasto para execução de um
determinado serviço, maior é a economia gerada para
a construtora que executou o serviço.
Figura 7. Dreno profundo com Geocomposto drenante.
Fonte: Cavilha et al. (2017). 7.2 Comparativo eficiência drenante

Segundo Norma DNIT 161/2012, as propriedades


de vazão do geocomposto drenante para utilização
como drenos subsuperficiais em rodovias, devem
atender requisitos mínimos, onde a vazão precisa ser
maior ou igual a vazão padronizada para dispositivos
de drenagem tipo DPS 01 e DPS 08 (Drenos
longitudinais profundos presentes no álbum de
projetos do DNIT), cuja capacidade drenante é obtida
pela Lei de Permeabilidade de Darcy. Portanto, a
norma específica em sua Tabela 4, presente na página
5, a capacidade drenante mínima que o geocomposto
Figura 8. Dreno profundo com brita e geotêxtil. Fonte:
drenante deve atender, de acordo com o tipo solução
Cavilha et al. (2017).
de drenagem subsuperficial adotada. Ver Tabela 2
abaixo:
Segundo Cavilha et al. (2017), os equipamentos
Tabela 2. Tabela 4 – Capacidade de vazão do geocomposto
utilizados para execução dos drenos com o para drenagem. Fonte: Norma DNIT 161/2012.
geocomposto drenante foram menores do que na
execução do dreno convencional. Isso fez com que
não fosse necessário a interdição da faixa de rolagem
e trânsito controlado no segmento. Já na execução do
dreno convencional, devido à grande distância do
bordo da pista, também não houve fechamento de
pista, mas caso o mesmo fosse executado no
segmento do dreno com geocomposto, certamente
seria necessário o fechamento de uma das faixas de
rolagem, prejudicando o tráfego na rodovia.
Durante a execução dos serviços Cavilha et al.
(2017), mediram quantos metros lineares poderiam O geocomposto drenante tem a função de captar o
ser executados para cada uma das seções dos drenos fluxo de água e direcioná-lo para o tubo perfurado, e
estudados e chegaram nos resultados apresentados na sua capacidade de vazão, é determinada através do
Tabela 1 abaixo: ensaio de transmissividade, em função da pressão
sobre ele e do gradiente hidráulico aplicado:
Tabela 1. Produtividade dreno convencional e dreno com
geocomposto drenante. Fonte: Cavilha et al. (2017).
P= γ x h x K (1)

Onde:
h → Profundidade da trincheira [m];
i → Gradiente hidráulico (drenagem vertical) –
Pra trincheiras drenante o gradiente hidráulico
sempre será i = 1;
γ → Peso específico do solo [kN/m³];

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143
K → Coeficiente de pressão.
Também se utilizou do solo, coletado na obra
Para uma simples simulação do cálculo, será mencionada, para completar a caixa da solução de
tomado como base a profundidade da trincheira dreno com brita e getêxtil não tecido.
h=1,5m, o gradiente hidráulico sempre será i=1 para No ensaio laboratorial, fizeram medições para
trincheiras drenantes, o peso específico adotado será amostra de solo em estado seco e em estado saturado
γ = 18kN/m³ e para o coeficiente de pressão será após a realização de 1hora de ensaio, obtendo-se os
adotado o valor empírico do coeficiente de pressão resultados expressos na Figura 10 abaixo:
ativa Ka = 0,33.
Resolvendo a equação acima, temos que a pressão
aplicada no dreno com 1,5m de profundidade será de
aproximadamente 8,91kPA. Como a norma do DNIT
especifica uma pressão inicial de 10kPa, é importante
adotarmos esse valor como referência. Para essa
pressão, o geocomposto deve atender a uma vazão de
2,18 l/s.m. Portanto, se a escolha do material for feita
por um produto que atende a norma a grandes
pressões, 50, 100 ou 200kPa, será feita de maneira
erronia. O material deverá atender a vazão com a
pressão calculada para cada situação.
Atualmente, existem também trabalhos e artigos
técnicos com comparativos laboratoriais entre a
eficiência drenante de drenos convencionais com a
Figura 10. Volume drenado por minuto. Fonte: Oliveira et
dos geocompostos drenantes e os resultados são al. (2019).
bastantes satisfatórios.
Oveira et al. (2019), comparam o método Segundo Oliveira et al. (2019), o geocomposto
tradicional de um dreno de brita envolto por geotêxtil drenante foi capaz de drenar uma vazão de 2,66% a
raso, com a solução em geocomposto e tubo mais que o dreno de brita e geotêxtil não tecido
condutor, fazendo considerações sobre o volume de ensaiado. Portanto, é possível considerar a solução
água drenado em cada um deles, através de um ensaio em geocomposto drenante como uma das melhores
laboratorial que simula uma determinada escolhas quanto a drenagem subsuperficial de uma
precipitação sobre uma caixa bipartida com ambos os rodovia.
tipos de solução em dreno subsperficial raso de
pavimento. 7.3 Comparativo de custo
No experimento, para a moldagem do dreno de
brita convencional, utilizou-se de materiais como Em ambas as pesquisas destacadas nos
brita 1 e geotêxtil não tecido, já para o dreno com o comparativos acima, foram realizados comparativos
geocomposto, utilizou-se do material MacDrain, de custos em que a solução em geocomposto drenante
fornecido pela empresa Maccaferri e do solo mostrou-se mais econômica que a solução de drenos
escavado de uma obra executada na Rodovia SP 150, convencionais. Apesar de existirem diferentes meios
trecho Sul do km 40 (saída 1A). para realização deste comparativo e o mesmo sofrer
influência de acordo com a região e as condições da
obra em que se deseja implantar as soluções, a
utilização de geocompostos drenantes em
pavimentos vem crescendo de tal forma que
atualmente existem 8 composições de custos na
tabela Sicro do DNIT, são elas: 2004506, 2004507,
2004509, 2004510, 2004511, 2004512, 2004516 e
2004517.
Para uma simples representatividade dos
benefícios econômicos apresentados pela solução em
geocomposto drenante, será tomado como base,
utilizando os preços do estado de São Paulo, a
comparação entre o dreno DPS 08, representado
Figura 9. Modelo laboratorial. Fonte: Oliveira et al. pelos códigos 2003570 (com brita produzida), custo
(2019).

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144
de R$132,24/m e 2003571 (com brita comercial), REFERÊNCIAS
custo R$183,30/m e o Dreno Profundo H=1,5 m -
com geocomposto drenante, representado pelo AGÊNCIA CNT TRANSPORTE ATUAL. CNT lança
código 2004507, custo R$70,29/m. painel com dados do transporte rodoviário no Brasil.
Com base neste simples comparativo de Brasilia: Confederação Nacional do Transporte, 2020.
Disponível em: https://cnt.org.br/agencia-cnt/cnt-
composição de custos, presentes na tabela Sicro do
lanca-painel-com-dados-do-transporte-rodoviario-no-
DNIT, já é possível observarmos que a execução de brasil. Acesso em: 4 abr. 2022.
drenos com geocomposto drenantes se faz viável em AZEVEDO, A.M. Considerações Sobre a Drenagem
comparação ao sistema convencional. Comparado ao Subsuperficial na Vida Útil dos Pavimentos
DPS 08, com brita produzida, observa-se um Rodoviários. Trabalho de Conclusão de Curso
benefício de aproximadamente 46% e comparado ao (Mestrado). São Paulo, Escola Politécnica da
DPS 08, com brita comercial, o benefício é ainda Universidade de São Paulo, 2007.
maior, sendo de aproximadamente 61%. PEREIRA, A.C.O. Influência da Drenagem
Apesar da composição do Sicro ser um excelente Subsuperficial no Desempenho de Pavimentos
parâmetro para referência de custos de serviços, Asfálticos. Dissertação (Mestrado) – Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo,
materiais e equipamentos, recomenda-se sempre uma
2003.
prévia consulta de todos os valores destacados, pois MOULTON, L.K. Highway Subdrainage Design. Report
os mesmos podem sofrer alterações de acordo com as no. FHWA-TS-80-224 – Federal Highway
condições da obra em questão. Administration, 1980.
BITENCOURT, G. Transporte rodoviário: quais são as
principais vantagens. Disponível em:
8 CONCLUSÃO https://www.mutuus.net/blog/transporte-rodoviario/
OLIVEIRA, A. L. Drenagem Subsuperficial de Pavimento
O histórico brasileiro de obras tem demonstrado Flexíveis, 1982. Dissertação (Mestrado) – Escola
que a utilização de geossintético, no setor de Politécnica da Universidade de São Paulo, 1982.
DNIT - DEPARTAMENTO NACIONAL DE
infraestrutura viária, está cada vez mais recorrente e
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. Manual de
usufruindo de muitos êxitos. Apesar da aplicação do Drenagem de Rodovias. Brasília, 2006.
Geocomposto em drenos de pavimento parecer um DNIT - DEPARTAMENTO NACIONAL DE
processo simples, as diversas etapas executivas INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. Norma
devem ser seguidas e bem articuladas entre o 161/2012 - EM – Geocompostos para drenagem e
executor, projetista e fiscalizadora da obra. geotêxteis não tecidos aplicáveis a dispositivos de
Após comparar e avaliar o desempenho técnico drenagem de rodovia – Especificação de material. Rio
das duas alternativas de drenos, convencional e com de Janeiro, 2012.
Geocomposto, podemos concluir que ambas as JABOR, M. A. Drenagem de Rodovias – Estudos
soluções quando dimensionadas de maneira Hidrológicos e Projeto de Drenagem, 2015.
CAVILHA, R.M. e PAUL, T. Comparativo entre a
adequada e utilizando materiais de boa qualidade
utilização de geocomposto drenante e dreno
cumprem com a função. Ao comparar a metodologia convencional para drenagem profunda de rodovias.
executiva, se destaca o Geocomposto drenante, Curitiba, Instituto IDD, 2017.
devido a praticidade executiva, por se tratar de um OLIVEIRA, T.S.P e COSTA, R.C. Estudo comparativo de
material mais leve e de menor espessura, é possível drenagem subsuperficial em rodovias: substituição da
instalá-lo com uma equipe menor sem a necessidade convencional por geocomposto. Mogi das Cruzes,
de abrir uma grande vala e ainda com praticamente o Universidade de Mogi das Cruzes – Campus Villa-
dobro de produção diária. Quando comparado os Lobos, 2019.
custos de ambas as soluções, sempre mantendo a SUZUKI, C. Y. Drenagem subsuperficial de pavimentos.
capacidade de drenagem, novamente se destaca o São Paulo, Oficina de Textos, 2013.
Geocomposto drenante, seguindo como base a
planilha Sicro.
Podemos concluir que, nos casos apresentados
neste artigo, os drenos convencionais como drenos
com Geocomposto drenantes, são eficazes para
garantir a remoção do excesso de umidade da
estrutura dos pavimentos, desde que atendam os
requisitos técnicos normativos. Porém, o
Geocomposto drenante se destaca por ser capaz de
desempenhar a mesma função com melhor custo-
benefício.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Modelagem Computacional para Previsão de Deformações ao


Longo do Tempo de Muros Reforçados Aplicados em Ferrovias e
Encontros de Pontes
Sarah Eilen Carvalho da Silva
Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, Brasil, saraheilencs13@gmail.com

Rafael Ribeiro Plácido


Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, Brasil, rafael.placido@maua.br

RESUMO: A estabilidade das estruturas de arrimo sob o efeito de carregamentos dinâmicos ao longo do tempo é um
assunto pouco abordado pela literatura. Tendo isso em consideração, o presente trabalho visa prever as deformações ao
longo do tempo de solos reforçados devido à fluência e aos carregamentos dinâmicos incorporados à estrutura. Nessa
pesquisa foi analisado um aterro com solo tropical e geogrelhas, o qual foi incorporado carregamentos estáticos e
dinâmicos para acompanhar os seus efeitos a longo prazo. Foi realizada a simulação da estrutura após 1 mês, 3 meses, 6
meses, 1 ano, 2 anos, 5 anos, 10 anos, 25 anos, 50 anos e 100 anos a partir do término da construção. Foram calculados
os fatores de segurança, bem como o deslocamento da face e a deformação que a estrutura obteve em cada um desses
estágios pelo Método dos Elementos Finitos (MEF) empregando o software geotécnico Plaxis. O modelo desenvolvido
possibilitou estipular deformações e fatores de segurança limite para a estrutura com o intuito de prever a necessidade de
vistoria à construção. Os resultados sugerem que essas estruturas sejam vistoriadas anualmente, considerando que as
decisões de reforços sejam tomadas em função de sua deformação.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Solos reforçados, Geogrelhas, Ferrovias, Carregamento Dinâmico

ABSTRACT: The stability of retaining structures under the effect of dynamic loads over time is a subject rarely addressed
in the literature. Considering this, the present paper aims to predict the deformations over time of reinforced soils due to
creep and dynamic loads incorporated into the structure. In this research, a landfill with tropical soil and geogrids was
analyzed, in which static and dynamic loads were incorporated to monitor its long-term effects. The simulation of the
structure was carried out after 1 month, 3 months, 6 months, 1 year, 2 years, 5 years, 10 years, 25 years, 50 years, and
100 years from the end of construction. The safety factors were calculated, as well as the displacement of the face and the
deformation that the structure obtained in each of these stages by the Finite Element Method (FMM) using the
geotechnical software Plaxis. The developed model made it possible to stipulate deformations and limit safety factors for
the structure to predict the need for inspection of the construction. The results suggest that these structures be inspected
annually, considering that reinforcement decisions are taken according to their deformation.

KEY WORDS: Geosynthetics, Reinforced Soils, Geogrids, Railways, Dynamic Loading

1 INTRODUÇÃO sob condições seguras e com menor custo quando


comparado com o transporte rodoviário.
O desenvolvimento econômico de um país está Neste contexto, pesquisas voltadas às técnicas de
diretamente relacionado à sua capacidade de construção de ferrovias se tornam imprescindíveis.
movimentar mercadorias provenientes das indústrias Por se tratar de obras lineares e de grande extensão,
de base, como minérios de ferro, soja, farelos, as ferrovias encontram ao longo do caminho diversos
cimento e produtos siderúrgicos, por exemplo. Neste problemas geotécnicos de naturezas distintas devido
sentido, o transporte ferroviário se mostra como uma às limitações de rampas. São comuns em ferrovias,
alternativa eficiente permitindo se transportar por exemplo, obras de terraplenagem envolvendo
produtos das indústrias de base entre locais distantes grandes movimentações de terra para a execução de
cortes e aterros.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


152
As estruturas de contenção, mais especificamente
aterros, muitas vezes são reforçadas com 1.3 Solos Reforçados Aplicados em Ferrovias
geossintéticos para melhorar seu desempenho
mecânico. Quando se trata de obras dessa natureza, Estudos referentes à estabilização de taludes e aterros
as deformações dependentes do tempo, ocasionadas reforçados possuem grande relevância no que
pelo efeito da fluência do solo e dos reforços, e as concerne à geração de possíveis deslizamentos e
deformações provenientes dos carregamentos mecanismos de estabilização. Estradas e percursos
cíclicos em função da passagem dos trens são dois viários são extremamente impactados por esses
fatores preponderantes que governam o fenômenos, principalmente em épocas chuvosas. Há,
comportamento a longo prazo das estruturas de portanto, prejuízos sociais, econômicos e logísticos
arrimo. envolvendo esses tipos de acidentes. Dessa forma,
recalques e deformações provocados por veículos
1.1 Geossintéticos pesados são de suma importância dentro de projetos
geotécnicos aplicados em obras de infraestrutura
As obras de engenharia civil encontram diversas (Lachouski, 2021).
singularidades quando se trabalha com solos. Ao Dentro do sistema dinâmico no qual são
longo dos anos, os geossintéticos passaram a ser implantadas, as estruturas ferroviárias possuem
essenciais em grandes obras, principalmente como irregularidades ao longo do percurso. Essas variações
elementos de reforço, por serem recursos confiáveis implicam em deteriorações geométricas da via, assim
e eficientes (Vertematti, 2004). como contribuem para deslocamentos da camada de
Entende-se por geossintético o material produzido lastro (Pereira et al.).
industrialmente e trabalhado a fim de adquirir uma As linhas ferroviárias aliadas aos solos reforçados
propriedade específica para seu uso em obras com geogrelhas promovem soluções de baixo custo
(Benjamim, 2006). No que se refere a geossintéticos tanto para carregamentos estáticos quanto transientes
que auxiliam no reforço de maciços, como nas para o tipo de estrutura em questão, reduzindo os
estruturas de contenções, os materiais mais utilizados efeitos mencionados. Outro recurso aliado aos solos
são as geogrelhas. reforçados com geossintéticos são as paredes de
Geossintéticos em forma de malha, as geogrelhas contenção que dão maior estabilidade à estrutura e
possuem aberturas que permitem a interação com o reduzem a área da base dos aterros, otimizando o
meio em que estão confinadas, constituído por canteiro de obra e o percurso das linhas ferroviárias
elementos resistentes à tração (Aguiar e Vertematti, (Essen et al., 2021).
2004). Via de regra, possuem alta resistência e alto
módulo de rigidez. Essas malhas viabilizam maior 1.4 Carregamentos Dinâmicos
interação entre o solo e o geossintético, aumentando
a estabilidade e o reforço da estrutura (Benjamim, Os carregamentos dinâmicos de veículos atuam
2006). constantemente sobre estruturas ferroviárias e
rodoviárias induzindo-as a deformações
1.2 Solos Reforçados consideráveis sobre as vias (Ashmawy e Bourdeau,
1995). A influência desses carregamentos é muitas
A inclusão de geossintéticos em maciços de solo vezes interpretada e traduzida como um fator
reforçado como elemento de reforço do material de dinâmico ou fator de impacto aplicado à carga para
aterro propicia uma redistribuição global das tensões corrigir e utilizar valores mais assertivos em projetos
e deformações. Essa propriedade permite a adoção de de ferrovias. A carga dinâmica é um complemento à
estruturas com faces verticais (muros) ou maciços carga estática; ela incorpora variáveis como inércia,
mais íngremes (taludes) com menor volume de aterro amortecimento e rigidez da estrutura ao cálculo da
compactado (Vertematti, 2004). carga efetiva atuante na via (Pereira, Lopes e Castro).
Solos reforçados com geossintéticos passaram a Segundo Brina (1988), há diferentes autores que
ser recursos muito utilizados devido às suas realizaram interpretações e experimentos distintos
vantagens técnicas e de logística que incorporam nas para o cálculo do coeficiente dinâmico. No entanto,
obras geotécnicas. A fácil aplicação, a versatilidade vale ressaltar que um fator entre 1,3 e 1,4 para vias
dos materiais poliméricos e a possibilidade de usar de padrão médio ou inferior é mais conservador,
quase todos os tipos de solo, minimizando o tempo ficando ao lado da segurança da via.
de construção e custo da estrutura, estão entre os
fatores que contribuem para a crescente demanda por 1.5 Fluência dos Materiais
esse tipo de solução geotécnica (Plácido, 2016;
Benjamin, 2006).

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153
Um fator importante a ser considerado em projetos de (2016), cujos parâmetros de resistência e
muros em solos reforçados com geossintéticos se deformabilidade foram obtidos por meio de ensaios
refere às deformações que essas estruturas sofrem ao triaxiais do tipo CD, sendo seus valores apresentados
longo do tempo. O uso de geossintéticos como na Tabela 1.
reforços de solo fazem com que essas estruturas Para simular as deformações dependentes do
apresentem comportamento tensão-deformação em tempo do solo de aterro reforçado foi empregado o
função do tempo graças às características poliméricas modelo constitutivo Soft Soil Creep. Destaca-se que
desses materiais (Plácido, 2016). O fenômeno no o modelo foi validado por meio de calibrações entre
qual materiais poliméricos sofrem deformações ao os valores de deslocamentos da modelagem e valores
longo do tempo quando submetidos a carregamentos obtidos por instrumentação da obra real. Os métodos
constantes é denominado fluência (França, 2012). utilizados para a calibração e os resultados desses
Infere-se por fluência de um material a estudos são apresentados e discutidos por Plácido
deformação ao longo do tempo sob o efeito de uma (2016).
carga constante (Alves, 2011). De acordo com
Plácido (2016), os aspectos de fluência e relaxação Tabela 1. Parâmetros geotécnicos empregados nas análises
dos materiais podem ser analisados como a perda das numéricas (Plácido,2016).
suas características iniciais, ou mais especificamente, Solo
Solo de Solo de
a redução da rigidez desses materiais. No que tange Parâmetro atrás do
Fundação Aterro
projetos de solos reforçados aplicados a estruturas de muro
Modelo do Mohr- Mohr- Soft Soil
contenção, os efeitos de fluência tanto para o
Material Coulomb Coulomb Creep
geossintético quanto para o solo utilizados devem ser Tipo de
considerados e estudados. Drenado Drenado Drenado
Comportamento
Peso Específico
20.0 19.0 20.0
(kN/m3)
2 OBJETIVO Módulo de
Deformabilidade 1.0E+5 7.5E+4 -
Tendo-se em vista a importância do estudo de solos (kN/m2)
reforçados para a geotecnia, faz-se necessário o λ - - 9.0E-3
estudo aprofundado diante das obras de κ - - 6.0E-3
μ - - 4.0E-4
infraestrutura. O presente trabalho tem como objetivo
Coeficiente de
obter modelos e dados a serem aplicados em Poisson
0.35 0.30 -
estruturas que receberão ferrovias ou em encontros Coesão (kN/m )2
53.0 53.0 53.0
de pontes. Além de prever as deformações ao longo Ângulo de atrito
do tempo dessas estruturas, esse estudo visa obter 32.0 35.0 32.0
(graus)
valores limites para que sejam realizadas inspeções
nas estruturas, corroborando para uma manutenção Os parâmetros de deformabilidade ao longo do
preventiva eficaz e de fácil previsão. tempo do solo utilizado foram obtidos através de
ensaios triaxiais nos quais o carregamento foi
mantido constante e as deformações foram medidas
3 MATERIAL E MÉTODOS ao longo do tempo. Tais ensaios foram realizados nas
dependências do Instituto Mauá de Tecnologia. O
Esse trabalho apresenta uma avaliação do solo estudado é caracterizado como SC (areia
comportamento ao longo do tempo de estruturas de argilosa) pela classificação unificada.
solos reforçados com geossintéticos submetidos a Ressalta-se que, apesar do solo ser
carregamentos dinâmicos provenientes de ferrovias. predominantemente arenoso, por se tratar de um solo
A fim de analisar as deformações dependentes do laterítico tipicamente tropical, foram obtidos
tempo do solo do aterro e dos geossintéticos levando elevados valores de intercepto de coesão nos ensaios
em consideração a fluência dos mesmos e os triaxiais.
carregamentos dinâmicos aplicados à estrutura, foi
utilizada como referência o muro de solo reforçado 3.2 Caracterização dos geossintéticos
estudado por Plácido (2016).
A geogrelha utilizada nessa pesquisa foi a mesma
3.1 Caracterização do Solo empregada por Plácido (2016). Trata-se de uma
geogrelha biaxial de poliéster com resistência
O solo empregado nessa pesquisa possui nominal à tração de 40kN/m. Os resultados dos
comportamento semelhante ao estudado por Plácido

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154
ensaios de tração e de fluência são mostrados nas carregamento e descarregamento; deformações
Figuras 1 e 2 a seguir. secundárias dependentes do tempo; memória de
tensões de pré-adensamento; critério de ruptura de
Mohr-Coulomb. Para os demais solos, incluindo as
sacarias de face, foi empregado um modelo
elastoplástico convencional que emprega o critério de
Mohr-Coulomb como critério de ruptura.
A Figura 3 mostra uma vista geral da geometria
empregada no modelo desenvolvido no software
Plaxis 2D.

Figura 1. Curva de resistência à tração dos geossintéticos


estudados por Plácido (2016).

Figura 3. Vista geral do modelo numérico desenvolvido


para a simulação do muro de referência de Campinas.

As etapas de compactação do solo do aterro foram


Figura 2. Curvas de fluência da geogrelha para diferentes subdivididas para cada uma das 19 camadas. Nas
carregamentos (Plácido, 2016). primeiras 14 camadas, para simular de maneira mais
realista a construção do muro, adotou-se
3.3 Método dos Elementos Finitos carregamentos de 40 kN/m2 no solo distante até 2 m
da face interna da sacaria e de 70 kN/m2 na extensão
As análises numéricas podem ser resumidas em uma restante do aterro. Nas últimas 5 camadas foi
série de estudos que se utilizam de operações utilizada apenas a maior das cargas citadas ao longo
aritméticas básicas para a resolução de problemas de toda superfície. Tais carregamentos foram
matemáticos complexos. A fim de facilitar os empregados para simular os efeitos da compactação
cálculos, esses modelos agrupam números finitos de do solo através de carregamentos estáticos. As
conexões entre si e obtêm análises significativas para correlações entre o equipamento utilizado para
um conjunto de pontos discretos, substituindo compactação e sua respectiva carga estática foram as
equações diferenciais ou integrais por equações mesmas apresentadas por Ehrlich e Becker (2009).
lineares e não-lineares. (Havel, 2004). Além disso, foram adicionados os geossintéticos
sobre cada camada para configurar o solo reforçado
3.4 Simulação Numérica na estrutura, concluindo a etapa de elaboração da
estrutura.
Um muro de solo reforçado construído em Campinas A simulação da fase pós-construtiva iniciou-se
serviu como base para a modelagem numérica, com a criação de novas fases ao modelo.
considerando sua geometria e as seções estudadas Considerando que o intuito desse trabalho é avaliar
previamente por Plácido (2016). as deformações e variações do coeficiente de
Na elaboração do modelo foram aplicados segurança que ocorrem na estrutura a longo prazo,
diferentes parâmetros para cada material, dentre eles: foram incorporadas mais 10 etapas para o muro de
solo natural atrás do muro, solo do aterro, solo de referência, sendo subdivididas em 1 mês, 3 meses, 6
fundação, reforços e sacarias que formam a face do meses, 1 ano, 2 anos, 5 anos, 10 anos, 25 anos, 50
aterro. Destaca-se que para o solo do aterro anos e 100 anos.
reforçado, que representa maior interesse para essa Foi simulado o comportamento do solo do aterro
pesquisa, foi empregado o modelo constitutivo compactado para dois tipos de carregamentos:
denominado Soft Soil Creep, o qual apresenta as estático e dinâmico. Tendo em vista que o cálculo
seguintes características: módulo de rigidez do solo para a carga estática de vagões férreos foi realizado
dependente do nível de carregamento; distinção entre de acordo com o modelo de Talbot, considerou-se um
carregamento primário e solicitações de valor de 80 kN/m2 para as duas vias instaladas na

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155
estrutura, presentes acima do aterro na Figura 5. se encontram na Figura 5. Observa-se que os Fatores
Nesse modelo, foram calculadas as tensões no de Segurança apresentam uma redução considerável
subleito da ferrovia, com vias de 1,5 metros de ao longo do tempo de utilização da estrutura.
largura. Para a carga dinâmica, foi aplicado um fator
de impacto de 1,4 para uma velocidade de 60 km/h
considerando o material disponibilizado por Brina
(1988), resultando em uma carga de 112 kN/m 2.
Também foi monitorado o comportamento do fator
de segurança em relação ao tempo em todas as fases
criadas.
Outra questão estudada foi o deslocamento da
face do aterro ao longo da altura do muro. Foram
simuladas 14 alturas diferentes de acordo com a
espessura das sacarias da estrutura, variando de 40
cm em cada altura a partir do início do solo de aterro.
Os resultados foram das seguintes fases: pós- Figura 5. Fator de segurança em função do tempo em dias
construção, 1 mês, 1 ano, 5 anos, 10 anos, 50 anos e de carregamentos estáticos e dinâmicos.
100 anos. Assim, com o modelo adequadamente
calibrado, foram realizadas análises quanto aos No que tange ao deslocamento da face do aterro a
parâmetros anteriormente mencionados. analisado em 7 das fases da simulação, eles se
estabilizam a uma altura de 3,2 metros para os dois
tipos de carregamento. Abaixo dessa altura, essa
4 RESULTADOS movimentação é menor em todos os casos. Os dados
obtidos estão apresentados nas Figuras 6 e 7.
As etapas de compactação do solo induziram um
deslocamento da face da estrutura. O valor foi de
91,65 mm, com deformação de 1,637%. A estrutura,
decorridos 9 dias e meio a partir do início da
construção, apresentava um fator de segurança de
2,55. Para a simulação, foram aplicados, após a etapa
construtiva do muro, os dois tipos de carregamentos
de acordo com as fases anteriormente criadas. Os
valores de deformação da face do aterro em função
do tempo para cada carga são apresentados na
Figura 4.
Figura 6. Altura do muro em função do deslocamento da
face para o carregamento estático.

Figura 4. Deformação da face do aterro em função do


Figura 7. Altura do muro em função do deslocamento da
tempo (dias) com carregamento estático e dinâmico.
face para o carregamento dinâmico.
No que concerne ao fator de segurança, foi obtido
um valor de 2,55 da estrutura logo após a construção
5 DISCUSSÃO
do muro. Uma linha de tendência foi adicionada à
análise. Os resultados dos períodos pós-construtivos

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156
A estrutura sofre deformações maiores com o prever as movimentações e para limitar períodos para
carregamento dinâmico, possuindo, pelo menos, inspeções do muro em questão.
1,86% de aumento se comparado ao carregamento O fator de segurança inicial da estrutura pós-
estático. As deformações aumentam gradativamente construtivo foi de 2,55. Assim como a deformação,
devido ao tempo para ambas as cargas. Vale ressaltar ele também sofre variações ao longo do tempo graças
que a diferença entre as duas deformações também à perda de estabilidade da estrutura com as
aumenta com relação ao tempo. Para o período de 40 movimentações solo-reforço. Do mesmo modo que
dias, o acréscimo entre dinâmico e estático é de foi limitada uma deformação mínima para iniciar
1,91%. Já para 100 anos a deformação dinâmica manutenções na estrutura, é possível estipular um
supera a estática em 3,91%. Isso se deve ao fator de segurança com o mesmo intuito. Os
comportamento dependente do tempo tanto do solo e resultados sugerem que vistorias em estruturas de
quanto do geossintético sob o efeito da fluência. solos reforçados com geossintéticos aplicados em
Além disso, a partir desses dados é possível obter obras ferroviárias sejam vistoriadas anualmente para
um tempo recomendado para que sejam feitas que eventuais decisões de reforços sejam tomadas em
inspeções na estrutura. Limitando a deformação em função das deformações da estrutura.
2,0%, que é um valor médio de deformações Em uma segunda análise, vale ressaltar que
observadas em muros de solos coesivos reforçados existem algumas limitações para estipular um fator
com geossintéticos de acordo com Bathurst et al. de segurança adequado à estrutura. Devido à grande
(2008), a ferrovia com carregamento estático deverá redução desse fator ao longo do tempo, recomenda-
ser inspecionada 2 anos após a sua construção, se abranger uma margem de erro maior ao valor do
enquanto a vistoria prevista para a carga dinâmica é fator de segurança. Não são aconselhados valores
de 1 ano pós-construção. Essa é uma sugestão para muito próximos a 1,5, sempre buscando se manter a
que eventuais problemas de utilização das vias sejam favor da segurança.
evitados por excesso de deformação. Os deslocamentos horizontais da estrutura variam
Com relação ao fator de segurança, é possível de acordo com três aspectos estudados: altura do
notar que ocorreu maior redução desse fator ao longo muro, tipo de carregamento e tempo. Observou-se
do tempo para o carregamento dinâmico. A maior que, até uma altura de 3,2 metros a partir da base do
carga aplicada implica no menor fator de segurança aterro, a face sofre deslocamentos menores. À
para a mesma estrutura. medida que, em alturas superiores à mencionada, a
Acerca do deslocamento da face do aterro, em estrutura afasta-se mais, porém, não há variações
ambos os carregamentos a altura influencia entre esses deslocamentos.
diretamente no deslocamento horizontal da face, Em relação ao tipo de geogrelha empregado nessa
considerando que a maior carga ocasiona as maiores pesquisa, foram observadas deformações
distâncias. Assim como, quanto maior for o tempo relativamente elevadas, um pouco maiores que 2%.
atuante do carregamento, maiores serão os Para obras reais de ferrovias recomenda-se a
deslocamentos. Outrossim, nota-se que a partir de da utilização de geogrelhas mais rígidas.
altura de 3,2 metros os deslocamentos tornam-se Para posteriores trabalhos é recomendada
constantes independentemente do tipo de aplicação de carregamentos dinâmicos utilizando
carregamento ou do tempo aplicado. A distribuição outros mecanismos além do fator de impacto
dos deslocamentos da face é condizente com a incorporado ao carregamento. Além disso, é proposta
observada por Pedroso (2000). a variação do tipo de reforço, do solo empregado e do
tipo de face do muro.

5 CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
O estudo da estrutura de aterro com solo reforçado
foi realizado aplicando-se carregamentos estáticos e Agradeço ao Instituto Mauá de Tecnologia pela
dinâmicos. A simulação com a carga estática de oportunidade de realizar o presente trabalho,
80 kN/m2 obteve valores de deformações médias usufruindo da estrutura e trabalhando com
inferiores à dinâmica de 112 kN/m2, sendo eles, profissionais capacitados da área.
respectivamente, 1,982% e 2,047%. Tendo em vista
que essas deformações sofrem acréscimos ao longo
do tempo devido aos efeitos de fluência tanto do solo REFERÊNCIAS
quanto do geossintético empregado na estrutura, foi
possível determinar uma curva de tendência para

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


157
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


158
TEMA 5: INTERAÇÃO SOLO - GEOSSINTÉTICOS

159
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação da Relação entre Tamanho de Abertura da Geogrelha e


Diâmetro das Partículas de Agregado em Condições de
Carregamento Axissimétrico
Gabriel Marchi de Oliveira
Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal, gabriel.marchi.oliveira@ubi.pt

Isabel Maria da Conceição Fonseca Gonçalves Falorca


Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal, ifalorca@ubi.pt

RESUMO: O desempenho das interações entre camadas de agregado e geogrelhas está associado a diversos fatores:
propriedades físicas e mecânicas da geogrelha, dimensões e formas das partículas de agregado, densidade relativa da
camada de agregado e tensão confinante na interface. As propriedades físicas do solo e da geogrelha são fatores relevantes
para avaliar a interação solo-geogrelha. A relação entre o tamanho de abertura da geogrelha e o diâmetro das partículas
de agregado é utilizada para avaliar o melhor desempenho da interação, sobretudo, em condições de cisalhamento direto
e arrancamento. Neste estudo, foram realizados ensaios triaxiais em amostras de solos em camadas reforçadas com
geogrelhas de impressão 3D com três diferentes tamanhos de aberturas, a fim de avaliar a relação entre o tamanho de
abertura da geogrelha e o diâmetro mediano das partículas de agregado com melhor desempenho mecânico sob condições
de carregamento axissimétrico. O estudo evidenciou que a relação mais próxima de uma unidade apresenta um melhor
desempenho mecânico da interação solo-geogrelha.

PALAVRAS-CHAVE: Geogrelha, Solos em Camadas, Impressão 3D, Relação Abertura e Diâmetro.

ABSTRACT: The performance of the aggregate-geogrid layer interactions is associated with several factors: physical and
mechanical properties of the geogrid, aggregate particle size and shape, relative density of the aggregate layer and
confining stress at the interface. The physical properties of soil and geogrid are relevant factors in assessing soil-geogrid
interaction. The relationship between geogrid aperture size and aggregate particle diameter is used to assess the optimum
performance of the interaction, particularly under direct shear and pull-out conditions. In this study, triaxial tests were
carried out on layered soil samples reinforced with 3D printed geogrids at three different aperture sizes to evaluate the
relationship between geogrid aperture size and median diameter of aggregate particles with best mechanical performance
under axisymmetric loading conditions. The study evidenced that the ratio closer to one unit presents a better mechanical
performance of the soil-geogrid interaction.

KEY WORDS: Geogrid, Layered Soils, 3D Printing, Aperture and Diameter Ratio.

1 INTRODUÇÃO unidirecional e bidirecional quando apresenta


elevada resistência à tração nas duas direções
O desempenho das interações entre camadas de principais. Conforme o direito à patente Walsh
agregado e geogrelhas está associado a diversos (2019), as geogrelhas triaxiais apresentam elevada
fatores. Os principais fatores que influenciam nas resistência à tração em multi-direções do plano da
interações das geogrelhas com as camadas de geogrelha . Em relação ao processo de fabricação, as
agregados são: propriedades físicas e mecânicas da geogrelhas podem ser extrudadas, soldadas ou
geogrelha, dimensões e formas das partículas, tecidas. Os geocompósitos são combinações de
densidade relativa da camada de agregado, tensão geossintéticos destinados a múltiplas funções, por
confinante na interface. Os ensaios laboratoriais que exemplo, o geocompósito constituído por geogrelha
avaliam um dos principais fatores desta interação: a e geotêxtil, neste caso, a geogrelha desenvolve a
resistência na interface solo-geogrelha. função de reforço e as funções de separação e
Segundo Vertematti (2004) quando os elementos drenagem são desenvolvidas pelo geotêxtil.
resistentes à tração possuem elevada resistência em Segundo Jacoby (2008) as geogrelhas biaxiais
apenas uma direção, a geogrelha é considerada extrudadas são produzidas extrudindo uma folha

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160
espessa através de uma fieira padrão para chapas aberturas (Sg) foram utilizados neste estudo. O valor
planas ou especialmente concebida para extrudir um mínimo de Sg/d50 para obter os benefícios da
tubo contendo aberturas espaçadas regularmente. No geogrelha, isto é, uma maior resistência ao
caso de um folha plana, os furos são produzidos na cisalhamento das camadas de solo, foi determinado
folha após esta estar solidificada. A folha extrudada em uma relação de 0,90. O estudo revelou que o
plana de ambos os processos é então orientada nas Sg/d50 ideal fica na faixa de 0,95 ≤ Sg/d50 < 1,54.
direções da máquina e transversal, reaquecendo a Gao & Meguid (2018) investigaram um modelo
folha até uma temperatura abaixo do seu ponto de tridimensional de elementos discretos capaz de
fusão e esticando-a sequencialmente. O produto final capturar a resposta do solo reforçado. Em relação a
da geogrelha contém aberturas quadradas ou forma das partículas, a modelação de calcário britado
retangulares que são separados por fios altamente usando partículas de forma esférica resultou em uma
orientados. Uma espessa secção de polímero não resposta mais suave à carga e maiores assentamentos
orientado está localizado nas junções entre os fios. nos casos não reforçados e reforçados. Isso é
Uma vez que o polímero nessas junções tem uma atribuído ao fato de que partículas não esféricas ou
grande parte de orientação aleatória, os mesmos aglomeradas se interligam melhor com a geogrelha,
podem constituir áreas de fraqueza. resultando em maior confinamento e melhoria nas
Maghool et al. (2020) reportou o comportamento propriedades de resistência ao cisalhamento do
de amostras de escória de aço reforçadas com material granular.
geogrelha triaxial e geogrelha biaxial, sujeitas a Conforme Jewell (1996), de um modo geral a
cisalhamento direto. Os resultados indicam que a densidade relativa do solo e a tensão média efetiva
geogrelha biaxial conduziu a uma deformação exercem influência no comportamento dilatante do
vertical ligeiramente maior que a geogrelha triaxial. solo.
Isso pode ser atribuído ao tamanho de abertura maior A resistência da interface solo–geogrelha é um
da geogrelha biaxial, que fornece um melhor contacto fator importante para a elaboração de projetos de
entre os agregados acima e abaixo da camada de estruturas em solo reforçado. Na literatura existem
geogrelha. Um valor de coesão aparente mais alto foi diversos ensaios laboratoriais para determinar a
alcançado com a inclusão da geogrelha biaxial em resistência da interface solo-geogrelha. No que
comparação com a interface da geogrelha triaxial. O compete aos mecanismos em solos reforçados, os
comportamento observado pode ser atribuído ao ensaios de cisalhamento direto, ensaio de
maior tamanho de abertura da geogrelha biaxial em arrancamento, ensaio de deformação plana, ensaio de
comparação com a geogrelha triaxial que deixa uma tração confinada com solo e ensaio de compressão
área maior de vazio planar para interação entre as triaxial, podem ser utilizados para se obter a
partículas de agregado. resistência da interface solo–geogrelha. A
As dimensões e formas das partículas de agregado comparação dos resultados de cada ensaio é muitas
influenciam consideravelmente no desempenho dos vezes bastante divergente, tendo em vista, os
solos reforçados. Segundo Sieira (2003), quando o mecanismos, magnitude, direção dos esforços
solo tem partículas com dimensões muito inferiores aplicados e, sobretudo, as condições de fronteira dos
às aberturas das geogrelhas, a superfície de rotura diferentes ensaios. Portanto, a utilização de normas
ajusta-se à superfície lateral da grelha. À medida que para padronizar os ensaios é de extrema importância
a dimensão dos grãos aumenta, mantendo-se ainda para a obtenção de parâmetros que serão utilizados
inferior às aberturas da geogrelha, a superfície de como critério de projetos.
rotura é tangente às barras transversais da geogrelha. O presente trabalho tem como objetivo avaliar as
Quando a dimensão dos grãos é idêntica à das energias de deformação de solos em camadas
aberturas da grelha, as partículas de solo colocam-se reforçados com geogrelha modelos de diferentes
de encontro às barras transversais do reforço, e a materiais e tamanhos de aberturas, afim de avaliar a
rotura ocorre no interior da massa de solo. Neste caso, melhor relação entre o tamanho de abertura (Sg) de
o coeficiente de interação atinge o valor máximo. A geogrelhas modelos impressas em 3D e o diâmetro
menor interação ocorre quando a dimensão das mediano (d50) das partículas de agregado sob uma
partículas de solo é tão grande que inibe a penetração condição de carregamento axissimétrico (ensaio
dos grãos de solo nas aberturas da grelha. triaxial).
Sweta & Hussaini (2018) realizaram uma série de
ensaios de cisalhamento direto em larga escala a
diferentes taxas de cisalhamento, para investigar o
comportamento da camada de lastro não reforçado e
reforçado com geogrelha. Lastro de granito (d50 = 42
mm) e cinco geogrelhas de diferentes tamanhos de

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161
2 MATERIAL E MÉTODOS Tabela 1. Propriedades dos materiais utilizados nas
camadas de solo
Esta pesquisa utilizou a camada de agregado, assim Propriedade dos
Agregado Areia Borracha
como utilizado em estradas não revestidas para materiais
aumentar a capacidade de suporte da camada fraca, Gs (-) 2,63 2,65 1,16
neste caso foi simulada por uma camada de mistura d50 (mm) 12,82 1,04 3,57
areia-borracha. Nos pontos seguintes descreveram-se Cu (-) 1,3 2,4 1,8
os materiais, os equipamentos, os procedimentos de Cc (-) 1,0 1,0 0,9
ensaio de tração e triaxiais em solos em camadas e SI (%) 9 - -
resumiram-se as condições experimentais analisadas. FI (%) 7 - -

2.1 Solos sendo: densidade relativa das partículas (Gs),


diâmetro mediano das partículas (d50), coeficiente de
A seguir são apresentados os solos utilizados neste uniformidade (Cu), coeficiente de curvatura (Cc),
estudo que constituíram as camadas de agregado e
índice de forma (SI), índice de achatamento (FI).
camada fraca.
Tabela 2. Propriedades mecânicas relevantes das
2.1.1 Agregado amostras homogéneas
Parâmetros Mistura Agregado
O agregado de granito britado foi obtido a partir de eo (-) 0,49 0,80
uma brita comercial, Brita 5/15, fornecida por uma γd (kN/m³) 12,05 14,33
pedreira da região de Meimoa, Portugal, onde aflora
E (kN/m²) a 3013 18220
um granito de duas micas de grão médio a grosso,
 (°) b 32 49
com cor cinza e muito compacto, cuja fratura dá
c (kN/m²) b 15 0
origem a partículas ligeiramente alongadas,
Ψ (°) 13,48 10,54
apresentando-se sem alteração e com resistência à a
30 kPa de pressão de confinamento
compressão na ordem dos 106 N/m². A brita foi b
Os parâmetros de resistência foram calculados no estado crítico
peneirada para obter a fração necessária de 8 - 15
mm, classificada como GP - cascalho mal graduado, sendo: índice de vazios inicial (eo), peso volúmico
de acordo com o Sistema de Classificação Unificada seco (γd), módulo de elasticidade (E), ângulo de atrito
de Solos (ASTM D2487, 2017). A boa dureza do (), coesão (c), dilatância (Ψ).
agregado de granito minimizou a quantidade de
esmagamento de partículas no ensaio triaxial.

2.1.1 Mistura areia-borracha

Para simular a camada fraca foi utilizada uma mistura


de areia-borracha. A areia de sílica apresenta-se
lavada, com partículas arredondadas de diâmetro
entre 0,6 e 1,2 mm, classificada como SP – areia
uniforme mal graduada de acordo com o Sistema de
Classificação Unificada de Solos.
O granulado de borracha de pneu apresenta
Figura 1. Curva granulométrica dos materiais utilizados
granulometria entre 4 e 6 mm. O granulado de
nas camadas de solo
borracha não apresentou consideráveis resíduos de
metais, resíduos têxteis ou outros inertes. A areia e o 2.2 Geogrelhas
granulado de borracha foram selecionados de modo a
verificarem uma relação dos diâmetros medianos das As geogrelhas de polímero termoplástico poliácido
partículas o mais próximo possível de 1:10. láctico (PLA) e prolipropileno (PP) foram impressas
A Tabela 1 mostra as principais propriedades
por extrusão em uma impressora de mesa com
físicas e a Tabela 2 as principais propriedades tecnologia de Modelação por Deposição Fundida. As
mecânicas do solos utilizados neste estudo.
geogrelhas de material digital RGD 8560 foram
A Figura 1 apresenta as curvas de distribuição de impressas pela Stratasys Objet 500 Connex 3. A
tamanho de grão dos três materiais que foram usados tecnologia de Aparelho de Estereolitografia foi usada
na preparação das amostras. para imprimir a geogrelha com o material digital, o

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162
qual é uma mistura dos materiais Veroblackplus e Tabela 4. Propriedades físicas das geogrelhas de PP
TangoPlus através do processo de fotopolimerização, Tamanho das aberturas (mm)
isto é, esses materiais são constituídos por uma resina Parâmetros
14,0 16,1 18,0
base que se solidifica após a exposição à radiação
ultravioleta. t x w (mm) 1,05 x 1,35 1,20 x 1,35 1,35 x 1,45
Como parte do desenvolvimento da metodologia tj (mm) 2,1 2,1 2,1
experimental, as geogrelhas modelos (RGD 8560,
fb (%) 78,3 80,1 80,8
PLA e PP) foram desenhadas em softwares CAD,
e.g., Rhinoceros v5.0 (Figura 2). Foi utilizada a teoria V (mm³) 2343 2218 1832
de modelação física para geogrelhas, proposto por
Viswanadham e König (2004), considerando um Tabela 5. Propriedades físicas das geogrelhas de RGD
fator de escala de 2 para modelação das geogrelhas. Tamanho das aberturas (mm)
As propriedades geométricas da geogrelha são Parâmetros
14,3 16,3 18,3
importantes para ensaios laboratoriais, sobretudo,
para controlar o grau de interação solo-geogrelha. Em t x w (mm) 1,20 x 1,10 1,30 x 1,20 1,45 x 1,25
um ensaio de tração uniaxial de uma geogrelha tj (mm) 2,3 2,3 2,3
biaxial, a tensão máxima que a geogrelha resiste está
fb (%) 79,5 80,9 81,3
associada à menor secção transversal da geogrelha.
O programa experimental envolveu a utilização de V (mm³) 2849 2357 2433
geogrelhas modelos 3D, com o objetivo de alterar o
tamanho de abertura das geogrelhas e manter o sendo: dimensões das nervuras (t x w), espessura das
comportamento mecânico. As geogrelhas foram junções (tj), percentual de área aberta (fb) e volume
produzidas em dois formatos: retangular para a (V).
realização de ensaios de caraterização mecânica e Um geotêxtil de separação (GTX 1) que possui
circular para o programa experimental. uma baixa resistência à tração foi colado embaixo da
geogrelha, utilizando uma pistola de cola quente; a
cola quente foi aplicada apenas nas junções das
geogrelhas. Ao colar o geotêxtil na geogrelha evita-
se o deslizamento na interface.

2.3 Ensaio de Tração

As amostras de geogrelha foram fixadas nas garras


do equipamento de tração separadas com uma
distância inicial de 50 mm. O aperto das garras nas
geogrelhas se preocupou, principalmente, em aplicar
um torque suficiente para não danificar o material e
Figura 2. Geogrelhas desenhadas no software CAD com não permitir o seu deslizamento durante a execução
dimensões 10 x 10 cm (retangulares) e diâmetro de 10 cm do ensaio, além disso foram utilizadas borrachas para
(circulares)
acolchoar as faces serradas das garras. O
comprimento nominal de 50 mm foi adotado para
As Tabelas 3, 4 e 5 apresentam as características
garantir uma adequada fixação da amostra e a largura
físicas encontradas após controlar a resistência à
de 100 mm foi adotada para garantir um número
tração das geogrelhas com diferentes aberturas,
mínimo de elementos a serem tracionados.
secções transversais e aproximadas áreas de tração
A máquina foi ajustada para operar a uma
total equivalente.
velocidade de tração constante de 1,0 mm/min (2,0
%/min). Uma célula de carga de 1000 N foi
Tabela 3. Propriedades físicas das geogrelhas de PLA
selecionada para os ensaios de tração nas geogrelhas,
Tamanho das aberturas (mm) as leituras foram realizadas com uma precisão de 0,01
Parâmetros
13,9 15,9 17,9 mm para a extensão e 0,1 N para a força medida. A
t x w (mm) 1,00 x 1,40 1,15 x 1,40 1,20 x 1,55 Figura 3 representa as curvas típicas força-extensão
de tração para as geogrelhas e para o GTX1. O
tj (mm) 2,0 2,0 2,0 procedimento padrão foi adaptado para determinar as
fb (%) 77,7 78,6 80,2 propriedades de tração das geogrelhas. Além disso,
V (mm³) 2383 2075 1998 as tensões e deformações verdadeiras foram obtidas

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163
a partir do método da extensões verdadeiras que composta por uma estrutura de liga leve e parede de
considera a não linearidade geométrica. acrílico reforçada com anéis de fibra de vidro, cuja
transparência permite acompanhar visualmente a
6
PLA #18
evolução da configuração deformada da amostra
5,5

5
PLA #16
PLA #14
durante o ensaio.
4,5
RGD8560 #18
RGD8560 #16
A pressão máxima que a célula pode suportar é de
RGD8560 #14 1700 kPa. O bloco de topo utilizado foi de liga leve
Força de tração (kN/m)

4
PP #18
3,5 PP #16
PP #14
com uma superfície plana de contacto com a amostra
3 GTX1 e secção transversal circular. O pedestal da base
2,5

2
também constava com uma superfície plana de
1,5 contacto com a amostra e uma secção transversal
1 circular. O bloco de topo e o pedestal possuíam um
0,5 diâmetro igual ao diâmetro inicial da amostra. O
0
0 2 4 6 8 10 instrumento de medição externa da deformação axial
Deformação axial (%)
da amostra foi um transdutor de deslocamento
variável linear (LVDT) que possui um limite de 50
Figura 3. Resultados do ensaio de tração em geogrelhas mm com a resolução de 0,01 mm. O dispositivo de
de impressão 3D medição interna da força axial foi uma célula de carga
eletrônica submersível tem uma capacidade de 16 kN
2.4 Ensaio de Carregamento Axissimétrico
e uma precisão de 0,1 % em cada leitura. Os
controladores de pressão e volume possuem uma
No presente estudo experimental foi utilizado o
capacidade volumétrica de 200 ml, com capacidade
sistema de ensaio de corte triaxial de amostras de solo
de 1000 kPa e resoluções de 1 kPa e 0,001 ml. Os
existente no Laboratório de Mecânica dos Solos do
controladores de pressão não foram utilizados no
DECA-UBI. De entre os equipamentos utilizados,
estudo experimental devido as baixas pressões de
destacam-se os seguintes: prensa WFI Tritech 50 kN
confinamento aplicadas.
e câmara triaxial de elevada capacidade, para
Para permitir a preparação das amostras
amostras de 100 mm de diâmetro, na qual são
diretamente no pedestal e a aplicação da pressão
instalados sistemas automáticos de controlo e
radial às amostras secas ao longo do curso dos
aquisição de dados, controlados por computador,
ensaios, foi utilizada uma bomba à vácuo de palhetas
através do software GDSLAB. Resumidamente, a
rotativas, capaz de produzir 2,2 m3/h de
câmara triaxial permite o controlo independente da
deslocamento de ar livre. Este aparelho foi equipado
pressão, da força axial e da poro-pressão na amostra.
com regulador à vácuo, com sensibilidade de resposta
A medição destas grandezas, assim como da variação
menor que 0,2 kPa. Dessa forma, optou-se por
da altura e do volume da amostra é efectuada por
controlar a pressão de confinamento aplicando
meio de instrumentos (célula de carga, transdutores
sucção na base da amostra, através de um aparelho de
de deslocamento e de pressão) ligados a um
controlo de vácuo, como contrapressão, o que
computador através de um conversor de sinal
possibilitou simplificar consideravelmente a
analógico-digital. Os valores medidos, registados em
execução do ensaio. Além disso, junto com o sistema
intervalos de tempo pré-definidos, são convertidos
de sucção e no final do enchimento da câmara triaxial
em unidades de engenharia mediante a aplicação de
com água desaerada, a diferença entre o nível da água
calibrações prévias.
no reservatório e o da meia altura da amostra (nível
No âmbito deste estudo, de modo a aplicar baixa
de referência) foi limitada a 1 m ± 0,5.
pressão radial às amostras e permitir a
A variação volumétrica foi medida por meio da
instrumentação das geogrelhas, introduziram-se
variação do volume de água na câmara triaxial,
modificações na instalação dos sistemas automáticos
utilizando um medidor volumétrico com capacidade
de controlo e aquisição de dados convencional. A
de 100 ml e capaz de detectar variações de volume de
vantagem da adaptação implementada está nas
cerca de 0,05 ml, à temperatura ambiente sob uma
possibilidades que o sistema de ensaio faculta para
pressão de 10kPa. Um LVDT foi instalado no topo da
controlar baixos valores da pressão de confinamento
câmara triaxial com o intuito de sincronizar as
e para medir variações de volume das amostras com
medições da variação de volume e medição da
boa precisão. O dispositivo de carregamento axial
variação da altura da amostra. Os materiais são então
utilizado é uma prensa com capacidade de reação de
colocados num molde de 103 mm de diâmetro interno
50 kN. A velocidade controlada da prensa está dentro
e 200 mm de altura, previamente revestido com uma
de uma faixa de 0,00001 mm/min a 5,99999 mm/min.
membrana de borracha, nivelado e fixado ao pedestal
A câmara triaxial, modelo da Wykeham Farrance, é
para manter o alinhamento vertical da amostra.

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164
O procedimento de preparação das amostras de axissimétrico é um comportamento importante das
solos em camadas consistiu em: amostras modelo porque revela informação inerente
• determinar as quantidades de areia e borracha ao comportamento de interfaces agregado-geogrelha,
e colocar alternadamente o material na metade para além de permitir uma análise mais sistematizada
inferior do molde, em vinte camadas finas, compactar do efeito do tamanho da abertura das geogrelhas.
manualmente através de um pilão de borracha e Uma das formas de definir a cedência consiste em
controlar a altura da amostra; representar o módulo de elasticidade tangente e a
• colocar a geogrelha modelo na interface; deformação axial no campo das transformadas
• colocar o agregado na metade superior do logarítmicas (Malandraki e Toll, 1996), onde o ponto
molde em cinco camadas iguais. A extremidade da de cedência total reflete uma perda acentuada de
camada de agregado foi nivelada para evitar erros de rigidez do material. Dessa forma, a seguir foram
inclinação e assentamento do bloco de topo; calculados os módulos de rigidez tangente como Et =
• colocar o bloco de topo juntamente com dois Δqi/Δεi, onde i denota o valor da deformação axial
discos de membrana de borracha de 2mm de no decurso do ensaio.
espessura para diminuir o atrito da extremidade A Figura 5 mostra a variação do módulo tangente
superior; um lubrificante inerte em plásticos foi com a deformação axial das amostras reforçadas com
utilizado nas duas membranas; geogrelhas de diferente materiais e abertura de 14
• remover o molde aplicando vácuo dentro da mm, num diagrama em escalas logarítmicas, com
amostra, o suficiente para manter sua geometria; camada fraca de mistura e 30 kPa de pressão de
• colocar os anéis de vedação para selar a confinamento (e.g. amRGD#14_30). Os resultados
amostra e de modo a não introduzir extensão axial na dos ensaios triaxias em amostras homogéneas de
membrana. mistura e agregado (m_30 e a_30, respectivamente),
A Figura 4 mostra uma amostra preparada de foram apresentados para efeito de comparação. Pode-
acordo com o procedimento descrito. De modo geral, se observar que os valores do módulo tangente
a montagem das amostras preocupou-se em evitar diminuem com o aumento da compressão triaxial,
erros associados, como vazamento de água devido a indicando que as forças exteriores vão vencendo a
furos em membranas de borracha, inclinação do resistência interna até ser atingida a resistência
bloco de topo, desalinhamento vertical da amostra e friccional.
extremidades de fricção. Nas amostras reforçadas os valores do módulo
tangente são maiores do que os das amostras com
camada fraca, tendendo a aproximar-se dos valores
do módulo tangente para a amostra de agregado com
o aumento da deformação axial, mas caem para
valores semelhantes aos das camadas fracas em
deformações maiores. Embora o padrão de
comportamento seja semelhante para as diferentes
amostras, observa-se uma mudança na posição dos
pontos de cedência, os quais ocorrem em
deformações axiais menores do que nas amostras
com camada fraca. Este ponto foi atribuído em 9,0%
de deformação axial.
Deformação axial (%)
(a) (b) 0,1 1 10
100,00
Módulo de Elasticidade Tangente (MPa)

Figura 4. Amostra de solos em camadas sem reforço com a_30 (2)


amRGD#14_30
camada fraca de mistura: (a) Antes de ser ensaiada (b) amPLA#14_30
amPP#14_30
Depois de ser ensaiada com 20% de deformação axial 10,00 m_30 (2)

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
1,00

A energia necessária por unidade de volume para Cedência total

deformar as amostras até ser atingida a sua cedência


0,10
total foi utilizada para analisar a influência do
tamanho de aberturas da geogrelha de diferentes Figura 5. Variação do módulo tangente com a
materiais de impressão 3D no desempenho das deformação axial e rigidez das geogrelhas com 14 mm de
interfaces dos solos em camadas. abertura
A cedência sob condições de carregamento

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165
A energia de deformação total, desprezando os 4 CONCLUSÃO
termos dissipados no eventual esmagamento das
arestas das partículas e no subsequente rearranjo das Este estudo avaliou a energia de deformação das
partículas de agregado (Russel, 2011), é dada pela amostras de solos em camadas reforçados com
soma do trabalho realizado durante a distorção das geogrelha modelo de diferentes materiais e aberturas
amostras, causando alteração da sua forma, e do sob condições de carregamento axissimétrico. As
trabalho realizado durante a deformação volumétrica geogrelhas modelos foram impressas em 3D com o
das amostras, provocando variação do seu volume intuito de variar as aberturas da geogrelha e manter
(Hanley et al., 2018). um semelhante comportamento mecânico à tração.
Calcularam-se as componentes distorcional (Wd) Neste estudo, foi notado que uma relação entre o
e volumétrica (Wv) do trabalho realizado pelas forças tamanho de abertura e o diâmetro mediano da
exteriores (Wt) até ser atingido o ponto de cedência. partícula de agregado mais próximo de uma unidade
A energia de deformação total indica o somatório da apresentaram um melhor desempenho para ensaios
quantidade de trabalho distorcional e volumétrico, em solos em camadas sob condições de carregamento
necessária para a força de compressão triaxial induzir axissimétrico.
deformação no solo em camadas reforçado na
interface. A Tabela 6 apresenta os trabalhos de AGRADECIMENTOS
deformação distorcional, volumétrico e energia de
deformação total das amostras de solos em camadas À Universidade da Beira Interior e Banco Santander-
com reforço. Totta (Bolsa de Incentivo ao Doutoramento
De um modo geral as aberturas de 14 e 16 mm Santander Universidades/2018). À Biogoma –
evidenciaram um melhor intertravamento das Sociedade de Reciclagem de Pneus, Lda. À FCT –
partículas de agregado, este fato explica a maior Fundação para a Ciência e a Tecnologia
necessidade de energia para a força de compressão (GEOBIOTEC - Projeto UIDB/04035/2020 e C-
induzir as mesmas deformações nos solos em MADE - Projeto UIDB/04082/2020).
camadas na cedência total da amostra. Os valores dos
tamanhos de aberturas de 14, 16 e 18 mm possuíram REFERÊNCIAS
uma relação (Sg/d50): 1,09, 1,25 e 1,40,
respetivamente. Assim como foi apresentado por ASTM D-2487 (2017). Standard Practice for
Sieira (2003) em estudos das propriedades físicas das Classification of Soils for Engineering Purposes,
geogrelhas em ensaios de arrancamento do reforço ASTM International, West Conshohocken, PA, USA.
em solo, um melhor desempenho da interação solos- Gao G. & Meguid M.A. (2018). Effect of particle shape on
the response of geogrid-reinforced systems: insights
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IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação do comportamento de interface solo-geotêxtil em


camadas de solo reforçado com geossintéticos sob condições de
trabalho
Matheus Cardoso dos Santos
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, matheuscardoso@ufscar.br

Dr. Fernando Henrique Martins Portelinha


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, fportelinha@ufscar.br

RESUMO: O presente artigo avalia o comportamento da interface solo-geotêxtil não tecido em reforços aplicados sob
condições de trabalho em estruturas de contenção. Um equipamento de ensaio que simula as condições de trabalho de
uma camada reforçada de um muro em solo reforçado com geossintéticos considerando a escala 1:1 foi utilizado e
permitiu a investigação considerando as deformações e deslocamentos desenvolvidas ao longo de todo o reforço. No
ensaio, o reforço foi indiretamente solicitado pelo solo em um estado plano de deformações. As deformações e trações
mobilizadas pelo reforço foram determinadas por um amplo programa de instrumentação dentro e fora da camada
reforçada, que permitiram a avaliação da transferência de carga entre solo e reforço. Foram identificadas zonas
correspondentes a dois modos distintos de interação onde o solo transfere a carga ao reforço, apresentando os maiores
valores de tração mobilizada, e onde o reforço transfere carga ao solo pelo processo de arrancamento. Por fim, foi
constatado um aumento na área de ancoragem ativa em função do acréscimo de sobrecarga vertical aplicada sobre o
sistema reforçado.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintético, geotêxtil não tecido, interface, cisalhamento, resistência.

ABSTRACT: The present article evaluates the interface behavior of soil-nonwoven geotextile in reinforcements applied
under working conditions in retaining structures. A test equipment that simulates the working conditions of a reinforced
layer of a wall in soil reinforced with geosynthetics considering the 1:1 scale was used and allowed the investigation
considering the deformations and displacements developed throughout the reinforcement. In the test, reinforcement was
indirectly solicited by the soil in a plane strain state. The deformations and tension loads mobilized by the reinforcement
were determined by a wide instrumentation program inside and outside the reinforced layer, which allowed the evaluation
of the load transfer between soil and reinforcement. Zones corresponding to two distinct modes of interaction were
identified where the soil transfers the load to the reinforcement, presenting the highest values of mobilized traction, and
where the reinforcement transfers load to the soil through the pullout process. Finally, an increase in the active anchorage
area was found due to the increase in vertical overload applied to the reinforced system.

KEY WORDS: Geosynthetic, nonwoven geotextile, interface, shear stress, strength.


significante tanto de custos quanto de tempo de
execução (Farrag et al., 2004; Portelinha et al. 2014,
1 INTRODUÇÃO Yang et al., 2022). Ainda, a utilização de geotêxteis
não tecidos como camadas de reforço tem sido
A maioria das normas técnicas referentes a Estruturas relatada na literatura pois pode permite a drenagem
de Solos Reforçados com Geossintéticos (ESRG) interna que, por sua vez, melhora a estabilidade da
limitam o uso de solos finos como material de aterro estrutura de contenção ao dissipar as pressões da água
devido a baixa resistência interna e grandes decorrentes eventos de precipitação (Portelinha &
deformações, pricipalmente quando submetida a Zornberg, 2017).
variações no teor de umidade do solo. No entanto, a Uma preocupação específica ocorre sobre a
utilização de solos finos disponíveis no local de resistência de interface entre solo finos e
execução da ESRG resultam em uma economia geossintéticos, uma vez que tal comportamento é

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168
essencial para o desempenho satisfatório de ESRG sobrecarga vertical é aplicada através de uma bolsa
durante a vida de serviço. Assim, a compreensão da de ar posicionada entre o topo do sistema reforçado e
resposta mecânica na interface entre estes materiais a tampa de reação. A Figura 1 apresenta o
nas condições reais de trabalho de tais estruturas é de equipamento durante o ensaio descrito pelo presente
grande valia. estudo.
A questão da resistência de interface se mostra
complexa, uma vez que a transferência de carga do
solo para o reforço requer considerações cuidadosas.
Diversos estudos discorrem sobre o tema
considerando ensaios de cisalhamento direto que
aplicam a força diretamente ao solo (He et al., 2019;
Chao and Fowmes; 2021) ou em ensaios de
arracamento, onde a força é aplicada ao reforço
(Ferreira & Zornberg, 2015; Mirzaeifar et al., 2022).
No entanto, na maioria das ESRG o reforço é
submetido a cargas de tração resultantes do solo
circundante o qual confina o geossintético e que
induzem uma ativação indireta do reforço como, por
exemplo, as que ocorrem em estruturas de contenção,
como apontado por Portelinha et al. (2021).
Compreender e avaliar o comportameno de interface
entre solos finos e reforços geossintéticos se faz
necessário, pricipalmente através de ensaios que
simulem as condições reais de trabalho de ESRG.
Desta maneira, o presente trabalho tem como objetivo Figura 1. Equipamente utilizado no presente estudo.
avaliar a resistência de interface entre uma areia
argilosa e um geotêxtil não tecido através de um 2.2 Instrumentação
equipamento de ensaio que reproduz as condições de
trabalho de estruturas de contenção reforçadas com Para a avaliação do comportamento mecânico, o
geossintéticos. sistema foi instrumentado com uma série de sensores
que monitoraram os deslocamentos horizontais e a
2 MATERIAIS E MÉTODOS tração mobilizada pelo reforço. Um transdutor de
deslocamento foi posicionado externamente a caixa
2.1 Equipamento de ensaio de ensaio para se monitorar os deslocamentos
horizontais da face móvel. Ainda, seis pontos internos
O equipamento utilizado no presente trabalho distantes 100, 200, 300, 400, 500 e 600 mm da face
reproduz uma camada de solo reforçado com móvel foram acoplados a potenciômetros localizados
geossintéticos. O reforço é indiretamente mobilizado externamente a caixa de ensaios para o
pelo solo em condições de trabalho similares a acompanhamento dos deslocamentos internos,
existentes em ESRG. O sistema consiste em uma sistema este conhecido com ‘‘tell-tails’’.
faixa de reforço geossintético presente entre duas A carga de tração no reforço foi medida por uma
camadas de solo compactado no interior de uma caixa célula de carga conectada ao geossintético por meio
rígida com dimensões internas de 700 × 600 × 600 de uma garra interna que se projeta para fora da
mm (largura × comprimento × altura). O princípio de camada reforçada. A célula de carga foi então
funcionamento do equipamento consiste na aplicação conectada a um pórtico presente na face móvel.
de sobrecargas verticais no topo do sistema de solo Assim, a medida que a sobrecarga vertical tende a
reforçado as quais induzem tensões horizontais. A deslocar a face móvel e o pórtico a ela acoplado, o
medida que as tensões verticais são aplicadas, o reforço geossintético tende a restringir o movimento
reforço é solicitado indiretamente pelo solo e tende a do sistema e então a força de reação é medida. A
restringir o movimento da camada. Figura 2 apresenta os detalhes do equipamento e a
A parede frontal do equipamento move-se instrumentação utilizada. Maiores informações sobre
livremente na direção horizontal através de o equipamento e o programa de instrumentação
rolamentos que correm sobre trilhos em sua base, podem ser encontradas em Portelinha et al. (2021).
garantindo assim o estado plano de deformações. A

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169
Tabela 1. Características do solo.
Características Norma Valor
Fração areia ABNT 7181 56%
Fração silte ABNT 7181 12%
Fração argila ABNT 7181 32%
Limite de liquidez ABNT 6459 40%
Limite de plasticidade ABNT 7180 19%
Peso específico seco
ABNT 7182 17,9 kN/m³
máximo
Teor de umidade
ABNT 7182 14,6%
ótimo
Ângulo de atrito ASTM D7181 33°
Coesão ASTM D7181 12 kPa
2.4 Materiais

O solo utilizado consiste em uma areia argilosa


classificada como SC (SUCS – Unified Soil
Classification System) coletado na cidade de São
Carlos (São Paulo). A tabela 1 a seguir resume as
características do solo.

Figura 2. Detalhamento equipamento e instrumentação.


O reforço geossintético empregado foi um geotêxtil
2.3 Preparação e excecução do ensaio não tecido agulhado de polipropileno. A Tabela 2
apresenta as propriedades do material.
Inicialmente, as paredes traseira e laterais foram
revestidas com folhas de celulose e lubrificadas Tabela 2. Propriedades geotêxtil não tecido.
com vaselina para a redução do atrito lateral entre Características Norma Valor
o solo e o equipamento. O solo foi compactado no Gramatura ABNT 9864 295 g/m²
interior da caixa de ensaio em camadas de 50 mm de Espessura nominal ABNT 9863 2,93 mm
altura a 98% em relação ao peso específico seco Permissividade ABNT 11058 1,96 s-1
máximo e ±2% do teor de umidade ótima Abertura de filtração ABNT 12956 93 μm
determinada pela curva de compactação Proctor Resistência à tração
normal. As condições iniciais da camada de solo ABNT 10319 12 kN/m
(longitudinal)
compactado (densidade seca e teor de umidade) Alongamento ruptura ABNT
foram controladas durante toda a fase de 83 %
(longitudinal) 10319
compactação, a qual foi realizada por um martelo Rigidez (longitudinal) ABNT 10319 15 kN/m
vertical em queda livre.
O reforço geossintético foi embutido entre duas 3 RESULTADOS
camadas de solo com 300 mm de espessura. Por fim,
uma bolsa de ar foi posicionada entre o topo da Os deslocamentos internos distribuídos ao longo do
camada reforçada e a tampa do sistema para a comprimento do geotêxtil não tecido e desenvolvidos
aplicação da sobrecarga vertical. Foram aplicados sob diferentes tensões verticais estão presentes na
incrementos de carga de 20 kPa, os quais foram Figura 3. Nota-se que os valores dos deslocamentos
mantidos até a estabilização dos deslocamentos e o são maiores quanto mais próximos da face, como
valor final de 120 kPa.

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170
relatados por diversos estudos (Portelinha et al., mobilizada pelo reforço medida diretamente pela
2014; Balakrishnan e Viswanadham, 2016; célula de carga foi plotada de acordo com a
Portelinha e Zornberg; 2017; Derksen et al., 2021). deformação presente na face (Figura 5). Desta
maneira, foi possível a determinação da rigidez do
reforço, a qual apresentou um valor de J = 230 kN/m.
Assim, a tração em todo o comprimento do reforço
foi determinada multiplicando-se a deformação pela
rigidez confinada.

Figura 3. Deslocamentos internos ao longo do geotêxtil não


tecido.

A partir dos deslocamentos foi possível o cálculo


das deformações no reforço. A distribuição das
deformações no reforço foi determinada através de Figura 5. Comportamento tração-deformação geotêxtil não
funções sigmoidais, proposta por Zornberg & Arriaga tecido confinado.
(2003) e adotada em diferentes estudos (Balakrishnan
& Viswanadham, 2016, Yang et al., 2020, 2022). Em A análise da resistência de interface solo-reforço
resumo, uma função sigmoidal é ajustada para a curva foi desenvolvida seguindo a metodologia proposta
de deslocamentos acumulados e em seguida, a por Derksen et al. (2021). Os autores dividem o
deformação é calculada a partir da derivada da função reforço a partir da localização da tração máxima, onde
sigmoidal em relação a distância x da face. Desta duas formas de interações podem ser identificadas. A
maneira, foi possível determinar a deformação do Zona 1 corresponde a área de interação onde ocorre a
reforço em todo o comprimento, valor máximo e transferência de carga do solo para o reforço e está
localização em relação a face, como pode ser visto distribuída entre o valor máximo da tração até a face
na Figura 4. da estrutura. A Zona 2, distribuída entre a tração
máxima e o comprimento de ancoragem restante do
reforço, corresponde a interação onde o reforço é
arrancado do solo pela mobilização. Para evidenciar
tais zonas, as Figura 6a e 6b apresentam
separadamente a tração no reforço em função da
posição versus normalizada em referência ao
comprimento das áreas. Cabe aqui realçar que o locais
e valores máximos da tração no reforço de acordo
com o carregamento vertical aplicado correspondem
ao relatado pelas curvas de deformação presentes na
Figura 4.

Figura 4. Distribuição deformações geotêxtil não tecido.

Através da distribuição das deformações é


possível calcular a tração mobilizada pelo reforço. No
entanto, como relatado por Mendes et al. (2007),
Santos et al. (2014) e Portelinha et al. (2021), o
confinamento proporcionado pelo solo altera a
rigidez de geotêxteis não tecidos quando comparado
ao ensaio de faixa larga (ABNT 10319). Para a
determinação da rigidez confinada, a tração

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171
Figura 6. Tração geotêxtil não tecido: a) Zona 1
(transferência solo-reforço); b) Zona 2 (transferência Figura 7. Tensões de cisalhamento na interface
reforço-solo). sologeotêxtil não tecido: a) Zona 1 (transferência
soloreforço); b) Zona 2 (transferência reforço-solo).
As tensões de cisalhamento que atuam na interface
solo-reforço foram estipuladas dividindo-se as Os resultados da tração e tensão de cisalhamento para
funções que descrevem a tração em relação a x por x, a sobrecarga vertical de 120 kPa estão plotados em
por se tratar da referência ao comprimento das áreas conjunto na Figura 8. Em tal figura fica evidente a
(Figura 6). Ainda, no local onde a tração do reforço é faixa de transição que ocorre entre a transferência de
máxima, foi aplicada a condição de contorno onde a carga do solo para o reforço através da mobilização
tensão de cisalhamento é considerada nula devido a do geotêxtil não tecido e do reforço para o solo
transição entre os processos de interação através do arracamento. Ainda, a tensão de
(transferência de carga soloreforço e arrancamento). cisalhamento máxima ocorreu nas proximidades do
A Figura 7 apresenta as tensões de cisalhamento nas valor de tração máxima existente no reforço.
Zonas 1 e 2 de acordo com a posição x normalizada
em referência ao comprimento das áreas. Na Zona 1,
os valores positivos das tensões de cisalhamento
correspondem ao processo de transferência de carga
do solo para o geotêxtil não tecido e atingem os
maiores valores próximos a máxima tração, decaindo
até valores quase nulos próximos a face. Na Zona 2,
os valores negativos das tensões de cisalhamento
indicam que a tração no reforço é transferida ao solo
pelo processo de arrancamento, e apresentam valores
significativamente menores quando comparados aos Figura 8. Tração e tensão de cisalhamento na interface
presentes na Zona 1. Nota-se também um aumento no solo-geotêxtil não tecido (σv = 120 kPa).
comprimento ativo de ancoragem de acordo com a
sobrecarga aplicada, como relatado por diversos Por se tratar de um equipamento que reproduz o
autores (Ezzein & Bathurst, 2014; Ferreira & estado plano de deformações, as tensões horizontais
Zornberg, 2015; Derksen et al. 2021; Mirzaeifar et al., atuantes no reforço são provenientes das tensões
2022). verticais aplicadas. Tal princípio de funcionamento
melhor se aproxima da transferência de carga que
ocorre em estruturas de contenção com
geossintéticos. Assim, o comportamento aqui
descrito da resistência de interface entre o solo e o

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172
geotêxtil não tecido pode melhor representar a
interface em condições reais de trabalho. Tal fato
pode ser evidenciado com as deformações presentes
na Figura 4 que estão nos mesmos níveis dos valores
reportados em uma estrutura real de contenção
reforçada com geotêxtil não tecido e solo fino local
relatada por Portelinha et al., (2014).
Os resultados da tensão de cisalhamento máxima em
função da sobrecarga vertical aplicada estão
presentes na Figura 9. Nota-se que nos estágios
iniciais de carregamento (20 e 40 kPa) as tensões de Figura 10. Tração medida pela célula de carga de acordo
cisalhamento foram praticamente nulas. Tal com o cisalhamento de interface.
comportamento pode ser explicado pelas baixas
tensões horizontais geradas inicialmente devido 5 CONCLUSÕES
acomodações ente o solo e o reforço. Após o
desenvolvimento das tensões horizontais (a partir de O presente artigo avaliou a resistência de interface
40 kPa) as tensões de cisalhamento máximas crescem entre um solo fino e um geotêxtil não tecido em
de forma linear, com um ângulo de 9,1 º com o eixo condições de trabalho similares a estruturas de
que representa as tensões normais. contenção reforçados com geossintéticos. O
equipamento de ensaio apresentou um
comportamento satisfatório e similar ao relatados em
estruturas reais. As seguintes conclusões foram
obtidas:
• As tensões de cisalhamento máximas
ocorreram na Zona 1, onde ocorre a
transferência de carga do solo para o reforço,
e nas proximidades do valor de tração
máxima registradas pelo geotêxtil;
• As tensões de cisalhamento que ocorrem na
Zona 2 e representam a transferência de carga
do reforço para o solo sofreram um aumento
no comprimento ativo de ancoragem de
Figura 9. Tensão de cisalhamento máxima a cada tensão
acordo com o acréscimo de sobrecarga
vertical aplicada.
vertical aplicada.
• A sobrecarga vertical apresentou uma
Na Figura 10 é possível observar a tração mobilizada
relação linear com as tensões máximas de
pelo reforço, medida pela célula de carga com relação
cisalhamento presentes na interface
à tensão de cisalhamento na interface, normalizada
sologeotêxtil não tecido. Tal relação começa
pela tensão vertical aplicada. Conforme as tensões de
partir de 40 kPa, tensão vertical a qual
cisalhamento se desenvolvem na interface em
iniciase a mobilização indireta do reforço
decorrência do aumento da tensão vertical no sistema,
pelo solo.
a tração no reforço também tende a aumentar. Esse
• A tração registrada pela célula de carga
comportamento demonstra que a solicitação de tração
acoplada ao reforço apresentou um
no reforço se desenvolve por meio da interação
comportamento crescente de acordo com o
existente na interface, mecanismo presente em
desenvolvimento das tensões de
estruturas de contenção com geossintéticos.
cisalhamento na interface.
Assim, é possível concluir que o estudo da
interação solo-reforço é fundamental para a
compreensão do comportamento de estruturas de
contenção reforçadas com geossintéticos. A análise
da tração mobilizada pelo reforço em função da
tensão de cisalhamento na interface permite avaliar a
efetividade do reforço em suportar as cargas
aplicadas e assegurar a estabilidade da estrutura.
Além disso, os resultados obtidos podem ajudar o

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173
desenvolvimento de análises mais eficientes para o
projeto de estruturas de contenção utilizando
geossintéticos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à


Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo
apoio financeiro (Processo nº 2015/05807-5). Nós
também agradecemos à empresa de geossintéticos
Ober por fornecendo amostras de geossintéticos para
os testes.

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175
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Previsão do comportamento da resistência na interface


areia/geomembrana mediante a aplicação de rede neural artificial
Anderson Villamil González
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, anderson.gonzales@aluno.unb.br

Gregório Luis Silva Araújo


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, gregorio@unb.br

Francisco Evangelista Junior


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, fejr@unb.br

RESUMO: Durante a construção de certas obras civis, é necessário implementar sistemas de impermeabilização que
minimizem a probabilidade de infiltração de fluidos sobre o solo de fundação. Dentre os tipos de geossintéticos existentes,
as geomembranas (GM) representam uma das principais soluções utilizadas para suprir essa condição. Como em outros
materiais de construção, é relevante verificar se o tipo de GM utilizada é funcional para a obra segundo as condições
particulares existentes. Por este motivo, deve-se considerar que haja uma resistência de interface adequada entre a GM e
o material de contato a fim de se reduzir a possibilidade de ruptura. Existem ensaios de laboratório, como cisalhamento
direito, ring shear e plano inclinado, que podem ser utilizados para se verificar tal resistência, contudo, muita das vezes,
não são considerados nos projetos devido ao tempo e custos que requerem. Visando tais limitações, pode-se utilizar
resultados de referência de outros projetos. No presente trabalho é apresentado o resultado de uma Rede Neural Artificial
(RNA) do tipo Perceptron Multicamadas (PMC) para previsão dos valores de resistência da interface areia/GM (ângulo
de atrito) com base nos resultados de 430 ensaios de cisalhamento direto e plano inclinado realizados em pesquisas
anteriores. O desempenho do modelo RNA foi avaliado por meio de índices estatísticos (R², MSE, MAE e MAPE),
mostrando uma acurácia satisfatória para os valores previstos.

PALAVRAS-CHAVE: Geomembrana, Inteligência Artificial, Perceptron Multicamada, Rede Neural Artificial,


Resistência na Interface.

ABSTRACT: In the construction of some specific civil works, it is required to implement waterproofing systems that
minimise potential flow of fluids into the soil foundation. Among the existing types of geosynthetics, geomembranes
(GM) represent one possible solution to satisfy the waterproofing condition. As for other construction materials, it is
relevant to verify whether the type of used GM is adequate existing conditions in the field. For this reason, it must be
considered that there is a satisfactory interface shear strength between the GM and the contact material to reduce the risk
of failures. There are laboratory tests, such as direct shear, ring shear and inclined plane, which can be used to verify such
resistance. However, they are often not considered in the projects due to the time and costs they require. Therefore, the
results from other projects are used. In this paper, an Artificial Neural Network (ANN) of multi-layer perceptron (MLP)
type is implemented for the prediction of sand/GM interface shear strength values (friction angle) based on the results of
430 direct shear and inclined plane tests conducted in previous research. The performance of the ANN model was
evaluated from statistical indices (R², MSE, MAE and MAPE) and showed adequate accuracy for the predicted values.

KEY WORDS: Geomembrane, Artificial Intelligence, Multi-layer Perceptron, Artificial Neural Network, Interface shear
strength.

1 INTRODUÇÃO confinamento de líquidos ou gases (Koerner, 2012),


proteção, impermeabilização, controle de erosão,
Os geossintéticos são materiais poliméricos entre outros.
utilizados principalmente em soluções geotécnicas Atualmente, existe uma grande variedade de
como de separação de materiais, reforço de produtos elaborados de acordo com as propriedades
estruturas, sistemas de filtragem e de drenagem, físicas, mecânicas e hidráulicas demandadas na

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


176
maioria dos projetos (NBR 12553/2033, 2003). De acordo com Géron (2019), existem diferentes
Segundo Koerner (2012), os geossintéticos são tipos de técnicas ML, como a Support Vector
utilizados principalmente porque proporcionam Machine (SVM), Random Forest, Rede Neural
melhor desempenho e economia em comparação com Artificial (RNA), K-Means, entre outras,
materiais de engenharia comuns. diferenciadas pelo tipo de aprendizado utilizado
Dentro do grupo dos produtos geossintéticos (supervisionado, sem supervisão, semi-
encontram-se as geomembranas (GM), supervisionado e reforçado).
correspondentes a finas camadas de materiais As RNA’s são um tipo de análise de
poliméricos cujo objetivo principal é servir como aprendizagem onde os algoritmos utilizados tentam
barreira (ou método) de impermeabilização (devido à imitar as características biológicas do corpo humano
sua baixa permeabilidade), assim como fornecer (Fausset, 1994), com o uso dos seus neurônios que,
revestimento, proteção e separação entre o material por sua vez, são conectados para formar uma rede que
colocado e o solo de base existente (NBR ISO 10318, emite uma resposta.
2021). Desta forma, as RNA’s são neurônios conectados
Além de oferecer bom desempenho na uns aos outros para formar uma rede (arquitetura da
impermeabilização de algumas obras, o uso da GM rede). As RNA’s podem ser divididas em três seções
deve garantir uma resistência adequada de interface gerais, (i) dados de entrada contendo os parâmetros
com o material em contato, a fim de evitar rupturas iniciais de análise, (ii) uma ou mais camadas
(principalmente em taludes). Dessa forma, estimar a intermediárias (também conhecidas como camadas
interação entre o solo e o material de reforço utilizado escondidas ou hidden layers) que intervêm entre a
pode ser um tanto difícil, mas estudos e análises entrada e a saída da rede aumentando as análises
tornaram possível caracterizar este comportamento estatísticas (Haykin, 2001), e (iii) uma camada de
(Palmeira, 2009). saída que apresenta o(s) resultado(s) esperado(s)
É possível definir parâmetros de resistência na (Govindaraju y Ramachandra, 2000). O tamanho da
interface dos geossintéticos mediante experimentos rede dependerá do número de camadas necessárias
de laboratório, sendo os mais utilizados o para se obter análises com o menor erro possível.
cisalhamento direto, ring shear e plano inclinado Cada camada é conectada por links que contêm os
(Cen et al, 2018). Os testes são realizados simulando pesos sinápticos de análise. As camadas
características equivalentes às encontradas no campo. intermediárias podem conter valores de
Porém, em alguns casos, o desenvolvimento desses transformação conhecidos como "bias", que
testes pode implicar investimentos significativos de aumentam ou diminuem a entrada da função de
tempo e insumos (limitando sua execução), de modo ativação, e toda a rede funcionará com base no
que os parâmetros podem ser estimados com base em algoritmo utilizado, também conhecido como regra
outros resultados obtidos em obras de condições (Haykin, 2001).
semelhantes. As RNA’s são atualmente uma das técnicas mais
Ao longo do tempo, vários autores desenvolveram utilizadas no campo da IA, com uma ampla faixa de
pesquisas a fim de avaliar os valores de resistência na aplicações em diferentes áreas de estudo. Segundo
interface de GM com diferentes tipos de solo, por Ebid (2021), aproximadamente 48% de 626
exemplo, Izgin (1997) Costa e Lopes (2001), Vangla pesquisas realizadas entre 1984 e maio de 2019
e Gali (2016) e Sanchez (2018). A partir dos correspondentes ao uso de IA no campo da geotecnia
resultados obtidos, é possível estabelecer tais foram desenvolvidas por meio de RNA, obtendo bons
parâmetros ou fatores que influenciam diretamente resultados de previsão.
na resistência da interface, entre os quais se destacam O objetivo deste trabalho é prever os valores de
a rugosidade da GM, tensões aplicadas, resistência (ângulo de atrito) na interface areia/GM a
características do solo, tipos de interface, entre outros partir de uma RNA supervisionada (entradas e saídas
(Sanchez, 2018). conhecidas) como ferramenta de análise. Para tal
Com os avanços tecnológicos, foram finalidade, foi utilizada uma arquitetura Perceptron
desenvolvidas ferramentas capazes de utilizar bases Multicamada (PMC), com algoritmo de aprendizado
de informação para prever uma resposta. Dentro Back-propagation (BP). Os dados de treinamento e
destas tecnologias, destaca-se a metodologia teste foram obtidos a partir dos resultados de ensaios
Machine Learning (ML), definida pela IBM realizados em trabalhos de pesquisa existentes na
Education (2020) como um tipo de Inteligência literatura e em dados fornecidos pelo Grupo
Artificial (IA) e a ciência da computação que se NORTENE.
concentra no uso de dados e algoritmos para imitar a
forma como os seres humanos aprendem,
melhorando gradualmente sua acurácia.

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177
2 METODOLOGIA neurônios. Nas RNA’s atuais é recomendado o uso
da função Rectified Linear Units - ReLU,
Dentro desta seção, são apresentados os conceitos e correspondente a uma função unilateral não simétrica
dados da metodologia aplicada para análises de ou anti-simétrica, onde a resposta oposta a uma
previsão de resistência na interface areia/GM. entrada verdadeira é 0, conforme representado na
Figura 1 e na Equação 2 (Glorot et al., 2011).
2.1 Perceptron Multicamadas (PMC)
𝑔(𝑧) = max⁡{0, z} (2)
Conforme Haikyn (2001), a forma como os neurônios
são organizados e conectados dentro de uma rede
neural representa o tipo de arquitetura implementada.
As redes multicamadas (PMC) correspondem a uma
das arquiteturas majoritariamente implementadas
para previsão de resultados ou respostas. Este tipo de
rede corresponde a unidades (neurônios) organizadas
em camadas ou grupos com camadas escondidas
(hidden layers) entre os dados de entrada (input) e a
resposta de saída (output). De acordo com Shahin et
al. (2008), a definição da arquitetura da rede pode ser
um tanto difícil; o número de neurônios de input e Figura 1. Função de ativação ReLU - Rectified Linear
output é definido pelos dados de entrada e saída, Units (Goodfellow et al., 2016).
respectivamente, enquanto o número de camadas
escondidas (e seus neurônios) presentes na rede deve Finalmente, o algoritmo é ajustado através da
ser definido por meio de tentativa e erro. redução do erro existente (𝐸) entre a diferença dos
O processo de análise de uma rede do tipo PMC é valores de saída obtidos pela rede (𝑂𝑖 ) e os
unidirecional, começando com as entradas de verdadeiros (Υ𝑖 ). Em cada época, são precisados os
ativação de cada neurônio passando pelas camadas valores dos pesos sinápticos e bias (Camarena-
intermediárias até o(s) valor(es) de saída desejado(s), Martinez et al., 2021).
este processo também é conhecido como feedforward
(Haikyn, 2001). 1
𝐸 = 𝑛 ∑𝑛𝑖=1(Υ𝑖 − 𝑂𝑖 )2 (3)
Existem vários tipos de regras de aprendizagem
para as RNA’s, sendo o algoritmo Backpropagation -
2.3 Treinamento e teste
BP um dos mais aplicados a redes PMC
(Soleimanbeigi e Hataf, 2006). Este algoritmo é
A fase de treinamento da rede é definida durante a
estabelecido através de processos iterativos (épocas),
fase de aprendizagem, descrita anteriormente, onde
onde as camadas intermediárias e de saída recebem e
são estabelecidos os pesos sinápticos e bias. Durante
analisam cada resultado das entradas anteriores (𝑋𝑖 )
a fase de teste, o modelo da RNA desenvolvido é
afetado por cada peso sináptico (𝑤𝑖 ) e bias (𝜃𝑜 ), e
validado. As duas fases permitem o estabelecimento
posteriormente, processado através da função de
de uma arquitetura de rede apropriada que atinge o
ativação (𝑓), conforme a Equação 1: menor erro de análise possível, também conhecido
como cross-validation (Shahin et al., 2008).
𝑦 = 𝑓(∑𝑛𝑖=1 𝑋𝑖 𝑤𝑖 + 𝜃𝑜 ) (1) Dentre os critérios de validação utilizados, tanto
para a funcionalidade da rede como para a definição
A função de ativação estabelece uma alternativa da arquitetura ótima, encontram-se os métodos de
aproximada para estimar os valores de saída em coeficiente de determinação (R²), o erro quadrático
função dos inputs. Existem diferentes tipos de médio (MSE), o erro médio absoluto (MAE) e o erro
funções de ativação, como hiperbólico tangencial, percentual médio absoluto (MAPE) apresentados nas
sigmoidal, polinomial e senoidal, recomendadas Equações 4 a 7 (Shahin et al., 2008),
pelos autores de acordo com o desempenho obtido respectivamente. Valores de erro médios (MAE,
durante a implementação de uma RNA (Govindaraju MSE y MAPE) próximo a 0 e R² próximo a 1,
e Ramachandra, 2000). As duas primeiras funções representam um melhor desempenho preditivo e
anteriormente mencionadas são tipicamente funcionalidade do modelo.
conhecidas como as mais aplicadas, porém, estas
funções apresentam uma anti-simetria em relação ao ∑𝑛 ̂ 𝑖 )2
𝑖=1(𝑦𝑖 −𝑦
0 (em um eixo de coordenadas), o que não 𝑅2 = 1 − 𝑛
∑𝑖=1(𝑦𝑖 −𝑦̅)2
(4)
corresponde ao comportamento biológico dos

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178
1
𝑀𝐴𝐸 = 𝑛 ∗ ∑𝑛𝑖=1|𝑦𝑖 − 𝑦̂𝑖 | (5) convencional e CDM modificado) e plano inclinado
(PI), obtidos em investigações anteriores realizadas
1 por diferentes autores, e dados fornecidos pela
𝑀𝑆𝐸 = 𝑛 ∗ ∑𝑛𝑖=1(𝑦𝑖 − 𝑦̂𝑖 )2 (6) empresa de geossintéticos NORTENE.
Foi coletado um total de 430 amostras, que inclui
1 𝑦𝑖 −𝑦̂𝑖 os parâmetros de influência da resistência na
𝑀𝐴𝑃𝐸 = ∗ ∑𝑛𝑖=1 |( ) 100| (7)
𝑛 𝑦𝑖 interface areia/GM estabelecidos por cada autor. A
Tabela 1 mostra os dados estatísticos dos parâmetros
Onde n é o número de medidas, 𝑦𝑖 o valor real, 𝑦̂𝑖 de influência utilizados correspondentes aos dados
o valor esperado e 𝑦̅ o valor médio. mais comuns e com a maior quantidade de
A fase de teste avalia se a rede está funcionando informações disponíveis. Para o parâmetro “Tipo de
corretamente dentro dos limites estabelecidos pelo ensaio” foi atribuído um valor de 0 ou 1, sendo 1
treinamento. Todas as análises de treinamento e teste quando o ensaio CDC, CDM ou PI foi utilizado,
da rede foram realizadas em Matlab®. respectivamente.
Os dados foram divididos em dois grupos,
2.2 Dados utilizados treinamento e teste, com proporções de 80% e 20%,
respectivamente. A separação dos dados foi definida
Os dados de entrada (input) e valores de ângulo de de forma aleatória.
atrito na interface foram definidos com base nos
resultados dos ensaios de cisalhamento direto (CDC

Tabela 1. Informação estatística parâmetros influência da RNA.


Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Parâmetro
Trein. Teste Trein. Teste Trein. Teste Trein. Teste
Input
Velocidade (mm/min) 0,1 0,1 3,0 3,0 1,12 1,02 0,67 0,68
Tensão Normal aplicada (kPa) 1,0 1,0 300,0 300,0 43,8 42,55 49,2 47,03
Área de contato (cm²) 36,0 36,0 9024,0 9024,0 1438,0 1919,2 2924,7 3309,9
Espessura GM (mm) 0,5 0,5 3,0 2,5 1,69 1,62 0,44 0,45
Altura da aspereza GM (mm) 0,0 0,0 1,71 1,0 0,18 0,17 0,38 0,33
Densidade relativa areia (%) 20,8 20,8 98,0 98,0 61,5 60,53 19,74 22,36
 (g/cm³) 1,32 1,32 2,10 2,10 1,56 1,61 0,16 0,21
Cc 0,69 0,8 1,68 1,68 1,03 1,05 0,16 0,20
Cu 1,11 1,11 46,86 46,86 2,71 3,37 5,61 7,35
D50 (mm) 0,17 0,17 3,08 3,08 0,56 0,67 0,31 0,68
𝜙𝑠𝑜𝑙𝑜 25,3 29,0 49,5 46,0 38,58 37,06 4,89 4,35
Tipo ensaio CDC, CDM ou PI (valores de 0 ou 1, para caso respetivo)
Output
𝜙𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑓𝑎𝑐𝑒 7,5 12,0 64,5 58,7 28,16 28,31 6,98 8,66
GM: Geomembrana, : Massa específica do solo, Cc=coef. de curvatura, Cu=coef. de uniformidade, D50= Diâmetro meio
do solo (mm), CDC=Cisalhamento Direito Convencional, CDM=Cisalhamento Direito Modificado, PI=Plano Inclinado,
𝜙=ángulo de atrito

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No presente trabalho foi implementada uma


arquitetura de rede composta de 14 neurônios de
entrada (input), 2 camadas escondidas, e um (1)
neurônio de saída (output). A Figura 2 mostra de
forma aproximada o esboço da rede implementada.
O número de camadas escondidas foi definido a
partir do coeficiente de determinação (R²),
correspondente ao melhor ajuste presente nas fases
de treinamento e validação.

Figura 2. Esboço arquitetura RNA implementada.

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179
A Tabela 2 contém os valores de erro (MSE, MAE
e MAPE) e R² calculados para a arquitetura de rede
neural ótima implementada, com base em valores
observados e previstos.

Tabela 2. Valores de erros estatísticos na RNA.


Fase R² MAE MSE MAPE
Treinamento 0,92 1,32 3,70 5,03%
Teste 0,85 2,03 11,32 7,13%

Os valores de R² obtidos foram de 0,92 e 0,85 para


a fase de treinamento e teste respectivamente, o que
permite inferir um bom comportamento do modelo
de rede implementado, tendo em vista a grande
variabilidade das variáveis envolvidas. Com relação
aos valores de erro, quanto menor o valor obtido
(próximo a 0), maior será a precisão do modelo Figura 3. Gráfico de correlação dos valores observados e
(Amjad Raja et al., 2021). Tanto para os casos de previstos na RNA. (a) Fase de treinamento; (b) Fase de
treinamento como para os casos de teste, observa-se teste.
que o erro médio absoluto mostra um melhor ajuste
em comparação ao erro quadrático médio. Para Os valores de erro residual apresentados na Figura
ambos os casos, o erro percentual médio absoluto é 4, correspondentes à diferença entre os dados
inferior a 10%, mostrando uma margem adequada na observados no laboratório e os previstos pela RNA
previsão do modelo para a análise aqui interpretada. para o ângulo de atrito, mostram uma alta correlação,
A Figura 3 mostra os gráficos de correlação entre considerando que apenas 14 dos 344 dados (4,0%)
os valores de resistência da interface (ângulo de para a fase de treinamento e 10 dos 86 dados (11,6%)
atrito) obtidos nos testes de laboratório das para a fase de teste apresentam uma variação de ±5°.
investigações utilizadas (observados) e os valores
previstos pela RNA, tanto para as fases de
treinamento como de teste. Os gráficos incluem
linhas de tendência onde é possível observar que os
dados têm uma distribuição bem próxima da linha de
tendência, indicando uma boa precisão.

Figura 4. Gráfico de valores observados, previstos e


residuais: (a) Fase de treinamento; (b) Fase de teste.

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180
4 CONCLUSÕES ABREVIATURAS

A execução de testes para a avaliação dos parâmetros BP Backpropagation


de resistência da interface em geossintéticos CDC Ensaio de cisalhamento direto
representa uma atividade que pode requerer tempo e convencional
recursos não previstos no projeto. No presente CDM Ensaio de cisalhamento direto
trabalho, foi avaliada a funcionalidade de uma RNA modificado
de tipo MLP com algoritmo de treinamento BP para GM Geomembrana
a previsão dos valores de resistência da interface IA Inteligência Artificial
(ângulo de atrito) entre a areia e o GM. MAE Erro médio absoluto
Os resultados dos valores do ângulo de atrito da MAPE Erro percentual médio absoluto
interface previstos pelo modelo da RNA mostram ML Machine Learning
uma boa acurácia em função dos erros de correlação MSE Erro quadrático médio
estatística obtidos. O acima exposto permite PI Ensaio de plano inclinado
estabelecer que o modelo desenvolvido pode ser PMC Perceptron Multicamadas
aplicado como uma ferramenta de previsão, RNA Rede Neuronal Artificial
entretanto, deve-se levar em conta que o modelo é
aplicado para parâmetros de entrada dentro das faixas
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Resistência ao Cisalhamento de Interface de Solos Residuais


Tropicais e Geotêxteis em Ensaios de Cisalhamento Direto
Marcela Giacometti de Avelar
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, Nova Venécia, Brasil,
mavelar@ifes.edu.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, heraldopitanga@ufjf.br

Jefferson Lins da Silva


Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br

Taciano Oliveira da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, taciano.silva@ufv.br

Klaus Henrique de Paula Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaus.rodrigues@ufv.br

RESUMO: O objetivo desta pesquisa foi avaliar a interação de solos tropicais compactados e inclusões geossintéticas.
Com o intuito de concretizar esta pesquisa, foram utilizadas amostras de solos que fazem parte dos perfis desenvolvidos
de gnaisse e anfibolitos, correspondentes a duas ocorrências de maior relevância na microrregião de Viçosa, Zona da
Mata mineira, sendo identificados como solo VS e solo BR, classificados de acordo com a metodologia MCT como de
comportamentos não laterítico arenoso (NA’) e laterítico argiloso (LG’), respectivamente. Para compor os sistemas solo-
reforço, foram empregados dois geotêxteis tecidos biaxiais de polipropileno (T55 e T25) e um geotêxtil não tecido agu-
lhado de poliéster (NT10). A metodologia da investigação envolveu a realização de ensaios de cisalhamento direto, em
equipamento convencional de pequeno porte, de amostras compactadas de solo nas energias do Proctor Normal e Modi-
ficado, sem as inclusões (cenário de referência) e compondo os sistemas com os geotêxteis. Os parâmetros de resistência
ao cisalhamento das interfaces foram analisados sob as perspectivas da rigidez dos geossintéticos, dos tipos de solo e da
magnitude de energia empregada na compactação das amostras. As principais constatações da pesquisa foram: i) os ân-
gulos de atrito das interfaces (δ) foram, em geral, menores que os correspondentes aos solos puros compactados (ϕ); ii)
as inclusões geotêxteis conduziram à maior ductilidade dos sistemas solo-reforço; iii) a ação do reforço mostrou-se con-
dicionada por sua rigidez à tração; iv) as resistências ao cisalhamento de interface mostraram-se ligeiramente menores
para o solo arenoso.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxteis, Cisalhamento Direto, Compactação, Solos Tropicais, Interfaces Solo-Geossintético.

ABSTRACT: The objective of this research was to evaluate the interaction of compacted tropical soils and geosynthetic
inclusions. Soil samples corresponding to two occurrences of greater relevance in the Viçosa microregion were used,
identified as VS soil and BR soil, classified according to the MCT methodology as non-lateritic sandy (NA') and clayey
lateritic (LG') soils, respectively. Two polypropylene biaxial woven geotextiles (T55 and T25) and a non-woven needled
polyester geotextile (NT10) were used. The investigation methodology involved carrying out direct shear tests of com-
pacted soil samples at the energies of the Standard and Modified Proctor, without inclusions and composing the systems
with geotextiles. The shear strength parameters of the interfaces were analyzed from the perspective of geosynthetic
stiffness, soil types and the magnitude of energy used in the compaction of the samples. The main findings of the research
were: i) the friction angles of the interfaces (δ) were, in general, smaller than those corresponding to pure compacted soils
(ϕ); ii) the geotextile inclusions led to greater ductility of the soil-reinforcement systems; iii) the reinforcement action
was conditioned by its tensile stiffness; iv) the interface shear strengths were slightly lower for the sandy soil.

KEY WORDS: Geotextiles, Direct Shear, Compression, Tropical Soils, Soil-Geosynthetic Interfaces.

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183
1 INTRODUÇÃO reforço. Para isso, foi realizado um amplo trabalho
experimental de investigação da interação entre solos
A utilização de geossintéticos como elementos de de comportamentos geotécnicos distintos e
reforço em solos é uma técnica bastante consolidada geotêxteis tecidos e não tecido, por meio de ensaios
no meio geotécnico (Viana & Palmeira, 2009), tendo de cisalhamento direto, em um equipamento
sua aplicabilidade incorporada a uma ampla convencional (pequeno porte).
variedade de obras de terra que vão desde muros de
suporte (Portelinha et al., 2013) até estruturas 2 MATERIAIS E MÉTODOS
costeiras (Hornsey et al., 2011), passando por aterros
compactados (Ariyarathne et al., 2013), taludes 2.1 Materiais
(Huang, 2013), fundações sobre solos moles (Biwas
et al., 2013), aterros sanitários e áreas de disposição 2.1.1 Solos
de resíduos (Santos et al., 2014), colunas granulares
encamisadas (Hosseinpour et al., 2015) e, finalmente, Os solos considerados neste estudo fazem parte de
obras viárias (Asha & Madhavi, 2010). perfis desenvolvidos de gnaisse e anfibolitos,
O mecanismo de reforço consiste na associação correspondendo a duas ocorrências de maior
das propriedades mecânicas de um solo, que resiste relevância na microrregião de Viçosa, município de
bem à compressão e ao cisalhamento, com as Minas Gerais, sendo identificados como solo VS e
características dos geossintéticos, que resistem solo BR.
eficientemente aos esforços de tração. A combinação A amostra do solo VS foi coletada no horizonte C
desses materiais objetiva melhorar sua capacidade de de um talude localizado dentro do campus Viçosa da
suporte, diminuir a deformabilidade e aumentar a Universidade Federal de Viçosa (UFV), nas
estabilidade do maciço de solo (Bueno et al., 2005). proximidades da Vila Secundino, com coordenadas
O comportamento mecânico de uma estrutura de geográficas de Latitude 20º45’47.82” S e Longitude
solo reforçado depende essencialmente das 42º51’29.76” O. Trata-se de um solo residual jovem
características dos materiais envolvidos e da (saprolítico), de coloração acinzentada, sendo
interação entre eles. Nos solos residuais tropicais, classificado pedologicamente como Argissolo
dadas suas particularidades de formação geológica, Câmbico e texturalmente como areia fina siltosa com
propriedades tais como granulometria, morfologia e um pouco de argila [NBR 6502 (ABNT, 1995)]. Nos
composição químico-mineralógica das partículas, sistemas tradicionais de classificações rodoviárias, o
além da densidade compactada e grau de saturação, solo VS se enquadrou nos grupos A-4 (4), de acordo
podem ser aspectos de maior ou menor grau de com o Transportation Research Board -TRB [M 145
influência na resistência ao cisalhamento de - 91 (AASHTO, 2008)], e ML, conforme o Sistema
interfaces solo-reforço (Avelar, 2020). Unificado de Classificação dos Solos - SUCS [D
Os geotêxteis são, dentro da grande família dos 2487 - 11 (ASTM, 2011a)]. De acordo com a
geossintéticos, os materiais com maior campo de metodologia MCT [CLA 259 (DNER, 1996), ME
atuação, possuindo uma vasta gama de aplicações em 258 (DNER, 1994a) e ME 256 (DNER, 1994b)], foi
toda a engenharia civil, não somente na geotécnica, identificado como um solo não laterítico arenoso
como também em outras áreas, como ambiental, (NA’).
hidráulica e de pavimentação (Benjamim et al., 2007; A amostra do solo BR foi extraída do horizonte B
Koerner, 2012; Vertematti, 2015). Como reforço em de um talude de corte localizado à margem da
obras de terra, a popularidade dos geotêxteis decorre Rodovia BR 120 (km 640), com coordenadas
da sua menor rigidez quando comparados a outros geográficas de Latitude 20º47’31.74” S e Longitude
materiais usados como reforço, tornando-os 42º50’17.96” W. Trata-se de um solo classificado
compatíveis com vários tipos de solos em termos de pedologicamente como um Latossolo Vermelho-
deformabilidade, do aumento da resistência ao Amarelo – LV (Reis & Azvedo, 1998, 1999;
cisalhamento, da maior ductilidade proporcionada ao Azevedo, 1999; Reis, 2004). De acordo com os
sistema solo-reforço e da sua maior capacidade de sistemas classificatórios da NBR 6502 (ABNT,
drenagem tanto através do plano quanto ao longo do 1995), TRB (AASHTO, 2008) e SUCS (ASTM,
mesmo (Gray & Ohashi, 1983; Tatsuoka & 2011a), o solo BR foi identificado como um silte
Yamauchi, 1986; Haeri et al., 2000; Elias et al., 2001; argilo-arenoso, pertencente aos grupos A-7-5 (20) e
Palmeira, 2009; Tuna & Altun, 2012). MH, respectivamente. Na classificação MCT, por sua
Neste contexto, a presente pesquisa tem como vez, enquadrou-se no grupo dos solos de
objetivo principal caracterizar os mecanismos de comportamento Laterítico Argiloso (LG’), conforme
interação solo-reforço geossintético considerando-se as recomendações das normas CLA 259 (DNER,
as particularidades granulométricas de solos tropicais 1996), com leituras complementares aos métodos de
compactados e as propriedades dos geossintéticos de ensaio ME 258 (DNER, 1994a) e ME 256 (DNER,

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184
1994b). (ABNT, 2016) no cilindro grande (molde CBR), com
teores de umidade ótima e peso específico aparente
2.1.2 Geossintéticos seco máximo determinados no ensaio de
compactação. Subsequentemente, os corpos de prova
Para a avaliação dos parâmetros de resistência ao (CPs) foram moldados em um anel de 100 mm x 100
cisalhamento das interfaces solos-geossintéticos, mm x 20 mm, a partir dos cilindros compactados,
foram utilizados dois geotêxteis tecidos biaxiais como ilustra a Figura 2.
constituídos de laminetes de polipropileno (Figura
1a, 1b), sendo referenciados neste estudo por meio
das siglas T55 e T25, e um geotêxtil não tecido
agulhado (Figura 1c) de poliéster, representado pela
sigla NT10.

Figura 2. Moldagem dos CPs de solo compactado para os


ensaios de cisalhamento de interface.

Para os solos puros (sem geotêxteis), a montagem


(a) (b) (c) da caixa de cisalhamento e a execução do ensaio
Figura 1. Geotêxteis tecidos (a, b) e não-tecido (c) em-
seguiram os procedimentos padrões. Na análise do
pregados na pesquisa.
cisalhamento de interfaces, o material geossintético
foi cortado aproximadamente nas dimensões da caixa
As principais propriedades desses materiais são
de cisalhamento e instalado sobre um bloco de
apresentadas na Tabela 1.
madeira. Nas laterais da face do bloco, espalhou-se
Tabela 1. Propriedades dos geotêxteis empregados na
uma resina acrílica à base de cianoacrilato, de
pesquisa. secagem rápida, cuidando-se para que o geotêxtil
Propriedade T55 T25 NT10 fosse fixado apenas nas extremidades, com intuito de
Espessura nominal (e), mm* 0,93 0,66 1,99 minimizar quaisquer efeitos do adesivo na resistência
Massa por unidade de área, 244 117 210 ao cisalhamento do sistema e seguindo as
g/m2* recomendações do trabalho de Tupa (1994).
Resistência à tração nominal 55 25 10 Na sequência, inseriu-se o conjunto (bloco +
(longitudinal), kN/m ** geotêxtil) na metade inferior da caixa do aparato, de
Resistência à tração nominal 55 25 9 modo que o geotêxtil ficasse no limite do plano de
(transversal), kN/m ** cisalhamento (Figura 3a). Após a colocação do
Deformação na resistência no- ≤ ≤ 15 > 50
conjunto, a parte superior do equipamento foi
minal (longitudinal), %** 15
Deformação na resistência no- ≤ ≤ 15 > 50
preenchida com o CP de solo compactado (Figura
minal (transversal), %** 15 3b).
Abertura aparente dos poros, 0,20 0,25 0,13
O90, mm**
* Ensaios realizados no Laboratório de Geossintéticos da
Escola de Engenharia de São Carlos/ EESC-USP; **Da-
dos fornecidos pelos fabricantes.

2.2 Métodos

2.2.1 Ensaios de cisalhamento direto de interface

Os ensaios de cisalhamento direto foram realizados


em um equipamento com capacidade de 500kgf e
(a) (b)
sensibilidade de 0,001mm. Todo o procedimento de Figura 3. Preparação das interfaces de solos e geotêxteis
ensaio para os solos puros (sem geotêxteis) e das empregados na pesquisa: (a) inserção do bloco de madeira
interfaces solos-geotêxteis foi conduzido de acordo com o geotêxtil fixado; (b) esquema ilustrativo da
com a norma D3080 (ASTM, 2011b). montagem da caixa de cisalhamento direto de interface.
Com o intuito de obter as amostras a serem
ensaiadas, os solos foram compactados nas energias Os procedimentos foram realizados em condições
correspondentes ao Proctor Normal e Modificado drenadas, com consolidação no período mínimo de

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185
30 minutos, dependendo da tensão normal aplicada e parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo VS
dos tempos necessários à estabilização dos [coesão (c), ângulo de atrito ()] e das interfaces solo
deslocamentos verticais. As tensões normais VS-geotêxtil [adesão (a), ângulo de atrito ()].
utilizadas foram de 50, 100 e 200kPa, sendo Observa-se que os ângulos de atrito do Solo VS
realizadas no mínimo duas repetições de ensaio para (energias Normal e Modificada) foram maiores que
cada uma delas. O deslocamento horizontal máximo os ângulos de atrito das interfaces Solo VS-
medido foi de 19mm (deslocamento máximo do geotêxteis, sendo que os melhores resultados foram
equipamento). Antes do início do carregamento, o obtidos para as interfaces compostas pelo geotêxtil
sistema foi inundado com tempos de duração não tecido (NT10), quando comparadas às demais.
distintos para cada tipo de solo, a fim de se garantir Palmeira (1987) e Tupa (1994), com base em uma
que os valores de adesão e ângulo de atrito fossem extensa coletânea de dados de diversas pesquisas na
tomados em termos de tensões efetivas. A velocidade área, destacaram que, em grande parte dos casos em
de cisalhamento foi de 0,75mm/min. que se têm sistemas do tipo solos arenosos-geotêxteis
tecidos/não tecidos, os resultados dos ângulos de
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES atrito de interfaces apontam para as relações 0,75ϕ <
δ < ϕ (Palmeira, 1987) e δ ≥ 0,8ϕ (Tupa, 1994). Nota-
3.1 Parâmetros de resistência das interfaces solos- se então que, com exceção da interface Solo VS -
geotêxteis T25, todas as amostras compactadas na energia
Normal seguiram estas relações, ao passo que, nas
3.1.1 Resistência ao cisalhamento de interfaces solo interfaces cujas amostras do solo foram compactadas
VS-geotêxteis na energia Modificada, o mesmo não ocorreu.

Na Figura 4 são apresentadas as respectivas Tabela 2. Parâmetros de resistência ao cisalhamento do


envoltórias de ruptura correspondentes ao solo VS solo VS e interfaces solo VS-geotêxteis: energia do
(SG – Sem Geossintético) e às interfaces entre o solo Proctor Normal
VS e os geotêxteis não-tecido (NT10) e tecidos (T55 Interface   c a R2
o o (kPa) (kPa)
e T25), para as energias do Proctor Normal e () ()
Modificado empregadas na compactação do solo. VS-VS 40 0 0,971
VS-T55 33 0 0,986
VS-T25 29 0 0,975
VS-NT10 34 0 0,981

Tabela 3. Parâmetros de resistência ao cisalhamento do


solo VS e interfaces solo VS-geotêxteis: energia do
Proctor Modificado
Interface   c a R2
o o (kPa) (kPa)
() ()
VS-VS 45 0 0,987
VS-T55 31 0 0,992
VS-T25 30 0 0,974
(a) Energia do Proctor Normal VS-NT10 32 0 0,996

3.1.2 Resistência ao cisalhamento de interfaces solo


BR-geotêxteis

Na Figura 5 são apresentadas as respectivas


envoltórias de ruptura correspondentes ao solo BR
(SG – Sem Geossintético) e às interfaces entre o solo
BR e os geotêxteis não-tecido (NT10) e tecidos (T55
e T25), para as energias do Proctor Normal e
Modificado empregadas na compactação do solo.
(b) Energia do Proctor Modificado As Tabelas 4 e 5 apresentam os respectivos
Figura 4. Envoltórias de resistência ao cisalhamento do
parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo
solo VS compactado e de suas interfaces com os geotêxteis BR [coesão (c), ângulo de atrito ()] e das interfaces
investigados. solo BR-geotêxtil [adesão (a), ângulo de atrito ()].
Nas interfaces com o Solo BR, com as amostras
As Tabelas 2 e 3 apresentam os respectivos compactadas na energia Normal, os ângulos de atrito

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186
foram ligeiramente maiores para as interfaces Solo ângulos de atrito das interfaces seguem a relação δ ≥
BR-T55 e Solo BR-NT10, com uma certa adesão ao 2/3ϕ (Tupa, 1994). Sendo assim, todos os ângulos de
geotêxtil. As interfaces desse solo compactadas na atrito das interfaces nas amostras do solo BR,
energia Modificada exibiram ângulos de atrito compactadas nas energias do Proctor Normal e
menores que a do solo puro e reduzidos valores de Modificado, e os geotêxteis empregados neste estudo
adesão, sendo a interface com a inclusão do geotêxtil se apresentaram coerentes com esta relação.
não tecido (NT10) aquela que apresentou os
melhores resultados em relação às demais interfaces. 3.2 Curvas tensão cisalhante versus deslocamento
horizontal

Nas Figuras 6 e 7 são apresentadas, para fins


ilustrativos, curvas representativas da relação tensão
cisalhante () versus deslocamento horizontal (dh)
derivadas de um ensaio completo de cisalhamento
direto de interfaces solos-geotêxteis para cada tipo de
solo e energia de compactação aplicada.
As curvas tensão cisalhante-deslocamento
(a) Energia do Proctor Normal horizontal ilustradas mostram que ocorre uma
mudança sensível da rigidez dos solos com as
inclusões geossintéticas, conferindo aos mesmos a
característica de maior ductilidade. Observa-se
também nessas curvas que as interfaces solos-
geotêxtil não tecido (NT10) apresentaram tensões
cisalhantes máximas e deslocamentos horizontais de
ruptura superiores às interfaces solos-geotêxteis
tecidos (T55 e T25). Nota-se que, independentemente
do tipo de solo empregado e das energias de
compactação aplicadas nas amostras do solo, os
(b) Energia do Proctor Modificado
sistemas com a inclusão não tecida apresentaram uma
Figura 5. Envoltórias de resistência ao cisalhamento do tendência a deslocamentos horizontais de ruptura
solo BR compactado e de suas interfaces com os geotêxteis similares ou superiores aos dos solos e das interfaces
investigados. solos-geotêxteis tecidos.
Identifica-se também que, em alguns casos,
Tabela 4. Parâmetros de resistência ao cisalhamento do quanto maior a tensão normal do ensaio, maior é o
solo BR e interfaces solo BR-geotêxteis: energia do
deslocamento horizontal para a tensão de
Proctor Normal
cisalhamento máxima das interfaces solos-reforços,
Interface   c a R2
o
() o
() (kPa) (kPa) sendo, contudo, sempre maiores nas interfaces com
BR-BR 34 24 0,977 geotêxtil não tecido. A partir desses resultados,
BR-T55 34 1 0,996 entende-se que a magnitude dos deslocamentos
BR-T25 32 0 0,995 horizontais de ruptura apresenta uma relação direta
BR-NT10 35 11 0,980 com a tensão normal aplicada e com a rigidez à tração
dos geotêxteis.
Tabela 5. Parâmetros de resistência ao cisalhamento do Na prática, a ação do confinamento tende a
solo BR e interfaces solo BR-geotêxteis: energia do restringir a movimentação das fibras têxteis, evitando
Proctor Modificado o alinhamento das mesmas na direção da aplicação
Interface   c a R2 do esforço, sendo que esta limitação é tanto maior
o o (kPa) (kPa)
() () quanto mais rígido é o elemento de reforço. De outra
BR-BR 41 10 0,980 forma, a influência da rigidez do reforço se manifesta
BR-T55 32 0 0,995
BR-T25 30 4 0,991
na magnitude dos deslocamentos horizontais de
BR-NT10 35 0 0,980 ruptura, de maneira que, quanto mais rígido é o
reforço, menor é o deslocamento que ele precisa
Para os sistemas constituídos de solos coesivos, sofrer para atingir a tensão de cisalhamento máxima
tal como o solo BR, e geotêxteis tecidos/não tecidos, na interface (Kabir, 1984; Adib et al., 1990; Gomes,
a literatura descreve que, para as interfaces ensaiadas 1993; Rowe & Ho, 1996; Jewell & Wroth, 1987;
sob condições drenadas, na maioria dos casos, os Msouti et al., 1997; Lima Junior, 2000).

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187
Com o objetivo de verificar, comparativamente, a
resistência ao cisalhamento das interfaces entre os
solos e os geossintéticos empregados nesta pesquisa,
apresentam-se, na Figura 8, as respectivas envoltórias
de ruptura das interfaces.

(a)

(a)

(b)
Figura 6. Curvas tensão cisalhante versus deslocamento
horizontal das interfaces Solo VS-geotêxteis: (a) energia
Normal; (b) energia Modificada.
(b)

(a) (c)
Figura 8. Envoltórias de ruptura das interfaces solos – ge-
otêxteis em função do tipo de solo: (a) interfaces solos –
T55; (b) interfaces solos – T25; (c) interfaces solos –
NT10.

Embora ocorra um consenso na literatura de que


solos predominantemente arenosos, tal como o solo
VS, conduzem a um acréscimo de resistência na
interface (Costa Lopes, 2000), os resultados
mostrados não corroboram esta afirmação. De fato,
(b)
os ângulos de atrito do solo VS puro foram maiores
do que os do solo BR puro (Tabelas 3 a 5), no entanto,
Figura 7. Curvas tensão cisalhante versus deslocamento com a inclusão dos geotêxteis, as resistências ao
horizontal das interfaces Solo BR-geotêxteis: (a) energia cisalhamento de interface são ligeiramente menores
Normal; (b) energia Modificada.
para o solo VS comparativamente àquelas do solo
BR.
3.3 Efeito do tipo de solo
Em comparação com as amostras não reforçadas,
observa-se que houve uma redução de cerca de 28%,

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188
na energia Normal, e de 40%, na energia Modificada, pesquisa.
nos ângulos de atrito das interfaces solo VS-T25, ao
passo que, para a interface Solo VS-T55, esses REFERÊNCIAS
decréscimos foram em torno de 18% e 31%, e, para a
interface Solo VS-NT10, foram de aproximadamente Adib, M.; Mitchell, J.K.; Christopher, B. (1990). Finite
14% e 27%, nas respectivas energias de element modelling of reinforced soil walls and
compactação. Assim, para as particularidades da embankments. Design and Performance of Earth
retaining structures. Geotechnical Special Publication,
pesquisa, a redução do atrito de interface entre o solo
ASCE, v.25, p.409-423.
VS e os geotêxteis mostrou-se maior para aquelas AASHTO (2008). M 145 - 91: Standard Specification for
interfaces cujos geotêxteis eram mais lisos Classification of Soil sand Soil- Aggregate Mixtures
(geotêxteis tecidos). for Highway Construction Purposes. Washington,
Nas interfaces compostas pelo solo BR, D.C., 9p.
compactado na energia do Proctor Normal, tem-se a ASTM (2011a). D 2487 - 11: Standard Practice for
manutenção dos ângulos de atrito para as interfaces Classification of Soils for Engineering Purposes
solo-geotêxteis e uma redução nos interceptos (Unified Soil Classification System). West
adesivos. Por outro lado, nas amostras compactadas Conshohocken, PA, 11p.
na energia do Proctor Modificado, houve uma ASTM (2011b). D3080 / D3080M-11: Standard Test
Method for Direct Shear Test of Soils Under
diminuição deste parâmetro em ordem crescente nas
Consolidated Drained Conditions. West
interfaces solo BR-NT10 (15%), solo BR – T55 Conshohocken, PA, 7p.
(22%) e solo BR – T25 (28%), indicando, assim Ariyarathne, P.; Liyanapathirana, D.S.; Leo, C.J. (2013).
como nas interfaces com o solo VS, a maior Effect of geosynthetic creep on reinforced pile-
sensibilidade dos geotêxteis tecidos à granulometria supported embankment systems. Geosynthetics
do solo. International. v.20. n.6. London, England.
Asha, M.N.; Madhavi, L.G. (2010). Modified CBR Tests
4 CONCLUSÃO on Geosynthetic Reinforced Soil aggregate Systems.
In: Indian Geotechnical Conference, Mumbai, Índia,
Para as particularidades da presente pesquisa, 2010. Proceedings...Mumbai: GEOrendz, p.1-4.
ABNT (1995). NBR 6502: Rochas e solos. Rio de Janeiro,
conclui-se que:
18p.
i. A maioria dos resultados obtidos para os ABNT (2016). NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação.
ângulos de atrito das interfaces (δ) Rio de Janeiro,10p.
mostrou-se menor que os ângulos de Avelar, M.G. (2020). Abordagem experimental da
atrito dos solos puros compactados (ϕ); interação solo tropical – reforço geossintético sob a
ii. as inclusões geotêxteis conduziram à perspectiva de aplicação em obras de terra. Tese
maior ductilidade dos sistemas solo- (Doutorado em Engenharia Civil) - Programa de Pós-
reforço, uma vez que os deslocamentos graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal
horizontais de ruptura foram, em geral, de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais.
maiores para interfaces compostas com Azevedo, M.A.A. (1999). Contribuição ao estudo
geotécnico de solos de Viçosa – MG. Dissertação
solos e geotêxteis, quando comparados
(Mestrado em Geotécnica) - Universidade Federal de
aos dos solos puros; Viçosa, Viçosa.
iii. a ação do reforço mostrou-se Benjamim, C.V.S.; Bueno, B.S.; Zornberg, J.G. (2007).
condicionada por sua rigidez à tração, de Field monitoring evaluation of geotextile-reinforced
modo que, quanto mais rígido o reforço, soli-retaining walls. Geosynthetics International, v.14.
menor foi o deslocamento de interface n.2. p.100-118.
necessário para mobilizar as tensões de Biwas, A.; Krishna, A.M.; Dash, S.K. (2013). Influence of
cisalhamento na ruptura; subgrade strenth on the performace of geocell-
iv. com a inclusão dos geotêxteis, as reinforced foundation systems. Geosynthetics
resistências ao cisalhamento de interface International. v.20. n.6. London, England.
Bueno, B. S.; Benjamim, C.V. S.; Zornberg, J. G. (2005).
mostraram-se ligeiramente menores para
Field Performance of a Full-Scale Retaining Wall
o solo arenoso comparativamente ao solo Reinforced with Non-Woven Geotextiles. In: ASCE
argiloso. Geofroniers.
Costa Lopes, C. (2000). Estudo da interacção solo-
AGRADECIMENTOS geossintético através de ensaios de corte em plano
inclinado. Dissertação de Mestrado, FEUP, 194p.
Os autores agradecem à FAPEMIG, à Faculdade DNER (1996). CLA ME 259: Classificação de solos
de Engenharia da UFJF e ao Instituto Federal do tropicais para finalidades rodoviárias utilizando
Espírito Santo - Campus Nova Venécia pelo apoio à corpos de prova compactados em equipamento

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189
miniatura. Rio de Janeiro. investigations. Geosynthetics International. v.20. n.2.
DNER (1994a). ME 258: Solos – compactados com London, England.
equipamentos miniatura-determinação da perda de Reis, R.M. (2004). Comportamento tensão- deformação
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


190
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Um breve estudo a respeito da importância da modelagem da


interface geomembrana-resíduo
Luiz Henrique Ferrador Ben
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, luizhfb@hotmail.com

Patricia Rodrigues Falcão


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, falcao.rodrigues.patricia@gmail.com

Paula Taiane Pascoal


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, ptpascoal@hotmail.com

Leonardo Alberto do Nascimento


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, leo_ladn@yahoo.com.br

Magnos Baroni
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, magnos.baroni@gmail.com

RESUMO: Com a tendência de crescimento da população mundial tem se buscado desenvolver e implementar métodos
eficientes que torne a deposição de resíduos sólidos urbanos uma prática segura ao meio ambiente. Metodologias como
adição de geomembranas e membranas impermeabilizantes tem seu uso amplamente difundidos, porém este material
apresenta variações em seu comportamento quando submetido a interação de diferentes solos e resíduos. Logo, a análise
das diferentes interfaces entre solos, resíduos e materiais impermeabilizantes se faz necessária para verificação da
estabilidade global do talude, uma vez que quanto maior o fator de segurança da pilha de resíduo, mais estável será o
maciço e uma maior quantidade de material poderá ser depositada, sem a necessidade de desapropriação de novas áreas,
reduzindo o risco ambiental e social em caso de falha. No presente artigo é realizado um comparativo entre uma mesma
geometria de talude submetida a três interfaces, com geomembrana texturizada, geomembrana lisa e com contato direto
entre o resíduo sólido urbano e o material de suporte. Os parâmetros adotados para o resíduo foram obtidos através de
uma análise estatística entre diversos materiais já caracterizados. Por fim, foi possível concluir o impacto de cada interface
na estabilidade global do talude, e a particular interação entre os materiais empregados na análise.

PALAVRAS-CHAVE: Análise Equilíbrio Limite, Aterro hipotético, Análise Estatística, Ruptura de Talude, Estabilidade
em Aterros.

ABSTRACT: With the growing world population, efforts have been made to develop and implement efficient methods
that make the disposal of urban solid waste a safe practice for the environment. Methodologies such as the addition of
geomembranes and waterproofing membranes are widely used, but this material shows variations in its behavior when
subjected to the interaction of different soils and residues. Therefore, the analysis of the different interfaces between soils,
residues and waterproofing materials is necessary to verify the overall stability of the slope, since the greater the safety
factor of the pile of residues, the more stable the massif and the greater amount of material. can be deposited, without the
need to expropriate new areas, reducing the environmental and social risk in case of failure. In this article, a comparison
is made between the same slope geometry subjected to 3 interfaces, with textured geomembrane, smooth geomembrane
and direct contact between the municipal soil waste and the support material. The parameters adopted for the residue were
obtained through a statistical analysis among several materials already characterized. Finally, it was possible to conclude
the impact of each interface on the global stability of the slope, and the interaction between the materials used in the
analysis.

KEY WORDS: Limit Equilibrium Analysis, Hypothetical Landfill, Statistical Analysis, Slope Failure, Stability in
Landfills.

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191
1 INTRODUÇÃO impacto ambiental, social e risco a vidas no caso de
falha. Outro fator impactante no estudo condiz com a
De acordo com a NBR 8419 (ABNT, 1992), os caracterização de aterros compostos de Resíduo
aterros sanitários são definidos como a disposição de Sólido Urbano (RSU) se dá devido a grande
resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à heterogeneidade do material, logo soluções e
saúde pública e a sua segurança, tendo como objetivo métodos bem-sucedidos em determinado local
minimizar impactos ambientais, confinando os podem ser ineficiente quando aplicados a outra
resíduos a um menor volume permissível, realizando realidade.
tais objetivos através de um complexo sistema de Os parâmetros de RSU apresentam uma elevada
funcionamento. Com a ampliação da demanda não só variabilidade. Tal oscilação entre os valores
em quantidade, mas também em tamanho, técnicas e implicam em incertezas no cálculo de estabilidade de
materiais vêm sendo desenvolvidos para a execução taludes, e consequentemente gerando riscos de
de aterros com maior qualidade e segurança frente grande proporção ambiental e a vida humana,
tanto a aspectos ambientais quanto geotécnicos. conforme casos já relatados na literatura. Três casos
Um exemplo de material empregado em camadas bastante difundidos de rupturas de aterros de resíduos
impermeabilizantes são as geomembranas, que são referem-se ao deslizamento de parte do Aterro
materiais poliméricos de baixa condutividade Sanitário Rumpke nos Estados Unidos em 1996 (Eid
hidráulica e de pequena espessura, com ampla et al., 2000), a ruptura do talude do Aterro Payatas
utilização em diversas obras de caráter ambiental, nas Filipinas em 2000, ocorrendo a morte de mais de
como aterros sanitários e industriais, canais e 200 pessoas (Merry et al., 2005); e o deslizamento do
barragens (Locastro & De Angelis, 2016; Palmeira, lixão Leuwigajah na Indonésia em 2005, onde 147
2018). Devido as suas propriedades, são aplicadas em pessoas morreram (Koelsch et al., 2005). Em todos
áreas em que se faz necessário a execução de uma os casos as rupturas foram causadas por uma
camada na qual seja possível controlar a passagem de sucessão de falhas devido à falta de projeto
lixiviados, portanto, em geral, são utilizadas para geotécnico adequado. A Figura 1 apresenta como
impermeabilização de solo e preservação do lençol exemplo um aterro sanitário após sua ruptura, sendo
freático. este localizado em Leuwigajah.
Por um ponto de vista geotécnico, a caracterização
de sua interação com os diferentes meios e materiais
em que são empregadas são de extrema importância.
Devido a isso, esse tema vem sendo discutido e
analisado no meio técnico (Palmeira et al., 2002; Eid,
2011; Santos & Araujo, 2015; Sanchez et al., 2016;
Araújo et al., 2022), visando aprofundar tais análises,
Arruda et al. (2022) realizaram uma avaliação do Figura 1. Vista aérea do deslizamento do aterro
comportamento de uma areia quando submetido a Leuwigajah, onde a linha amarela demarca a estrutura do
interação com diferentes geomembranas, fazendo talude pré-rompimento (Koelsch et al., 2005).
assim um comparativo entre os impactos no aterro
sanitário. Desta forma, o presente artigo tem como objetivo
De forma paralela a caracterização dos materiais realizar um comparativo entre as diferentes interfaces
e suas interações, a modelagem computacional ocupa de solo com a geomembrana e RSU com
um espaço importante na avaliação destes, pois geomembrana. Foi considerado o uso de uma
através de diversos métodos, torna-se possível a geomembrana lisa e uma geomembrana texturizada.
criação de simulações analíticas com grande Além disso, foi analisado o estado da arte,
representatividade para o meio geotécnico. A partir apresentado como um compilado dos resultados
da utilização do software Slide 6.025 da Rocscience, apresentados por Norberto et al. (2020), Boscov
programa que utiliza o método de Equilíbrio Limite (2008) e Salomoni (2019), para os parâmetros
(MEL), é possível analisar a estabilidade de obras de geotécnicos do RSU.
carácter geotécnico (Ortigão & Sayão, 2004; Assis et
al., 2002). A adição de membranas e geomembranas, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
são medidas para controle e garantia da estabilidade
de um aterro sanitário, e através do método equilíbrio 2.1 Caracterização do material
limite se torna possível identificar uma tendencia de
diversos critérios predominantes na estabilidade Arruda et al. (2022) realizaram a avaliação do
global do talude. Vale ressaltar a importância da comportamento da interface submetida ao ensaio de
verificação de aterros sanitários, tendo em vista o cisalhamento direto, em que foram submetidas duas

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192
areias de granulometrias distintas e dois tipos de na Tabela 1, o CNU indica grande uniformidade do
geomembranas, sendo uma texturizada de polietileno material em questão. Já o coeficiente CC, que permite
de alta densidade (GT-PEAD), e uma lisa de identificar descontinuidades ou uma concentração
polietileno de baixa densidade (GL-PEBD), elevada de certo tipo ou tamanha de grãos,
conforme demonstrado na Figura 2. Com isso, as apresentou valores indicando que os materiais têm
interfaces foram comparadas a fim de analisar a boa graduação.
influência da textura das geomembranas juntamente Em posse da caracterização realizada por Arruda
com a granulometria das diferentes areias nos et al. (2022) quanto a interface Areia-Geomembrana,
parâmetros de resistência ao cisalhamento obtidos considerando apenas a areia B, foi realizado uma
através do ensaio citado. modelagem numérica por meio do método de
elementos finitos, em que se analisou o impacto de
diferentes interfaces na estabilidade de um talude
teórico composto por resíduos sólidos urbanos (RSU)
e seus impactos no fator de segurança para as
diferentes condições.
(a) (b) A modelagem foi realizada no software Slide
Figura 2. (a) Geomembrana texturizada; (b) 6.025 da Rocscience, em que a mesma geometria foi
Geomembrana lisa (Arruda et al., 2022). considerada para a verificação da estabilidade do
talude em situações distintas. Previamente para fins
A caracterização das areias e das geomembranas de comparação foi concebido um modelo base, onde
utilizadas por Arruda et al. (2022) encontram-se na a camada de resíduo tinha 16,80 metros de espessura
Tabela 1. Na Tabela 2 constam os parâmetros de e com 11 metros de espessura para o solo de
resistência das interfaces, considerando apenas a fundação. A superfície de contato foi composta
areia B, obtidos a partir do ensaio de cisalhamento de somente pela interação areia versus RSU, como
interfaces com caixa fixa, que não possui normativa forma de verificar o comportamento do material
brasileira, sendo tomada então como regulamentação frente a geometria imposta. De posse da tendência de
da ASTM (2014). comportamento do material, a análise foi replicada
com a inclusão da geomembrana na base do maciço
Tabela 1. Propriedades e parâmetros das geomembranas e de RSU, alterando assim o comportamento do talude.
das areias avaliadas (Arruda et al., 2022) O modelo base foi submetido a outras duas
Propriedades/ Geom. Geom. condições, em que na primeira foi acrescido de uma
Parâmetros Texturizada Lisa geomembrana texturizada de polietileno de alta
Espessura (mm) 1,95 1,00 densidade, e posteriormente uma geomembrana lisa
Densidade (g/cm³) 0,949 0,938 de polietileno de baixa densidade. A Figura 3
Altura da aspereza (mm) 0,82 0 apresenta a geometria dos modelos analisados.
Areia A Areia B
Índice de vazios máximo 0,40 0,46
Índice de vazios mínimo 0,26 0,22
CNU 0,50 1,00
CC 1,28 1,00

Tabela 2. Parâmetros de resistência das interfaces da Areia


B (Arruda et al., 2022)
Interface c’ (kPa) Φ’ (ο)
Areia 2,95 33,07
Areia GL 0 25,29
GT 7,4 30,84
Figura 3. (a) Geometria com uso de Geomembrana; (b)
Conforme observado na Tabela 1, quanto ao Geometria sem de Geomembrana.
índice de vazios, há uma similaridade entre os valores
mínimos e máximos das areias A e B. A partir da Os níveis de aceitação foram atrelados a
curva granulométrica apresentada, foi analisado para normativa NBR 11682 (ABNT, 2009), na qual o fator
cada fração de areia estudada o coeficiente de não de segurança mínimo recomendado para situação
conformidade (CNU) e o coeficiente de curvatura definitiva é de 1,5, para nível alto de segurança contra
(CC). O coeficiente CNU indica a quão melhor danos materiais e ambientais e nível médio de
graduada será a areia. Conforme os valores indicados segurança contra perda de vidas humanas.

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193
2.3. Análise Estatística

Reitera-se que a ruptura de um talude pode resultar


em inúmeros danos ambientais e de perda de vidas
humanas. Pela grande variabilidade encontrada na
caracterização destes materiais, Noberto et al. (2020)
reuniram parâmetros geotécnicos de RSU em forma
de um banco de dados. Salamoni (2019) e Boscov
(2008) também elencaram parâmetros de RSU. A
Tabela 3 demonstra um compilado de RSU
caracterizados a partir de diferentes ensaios e com
composições distintas.
Os resultados apresentados na Tabela 3 foram Figura 5. Histograma do Ângulo de Atrito.
plotados na forma de histograma. Na Figura 4 pode-
se observar o peso específico, o valor mínimo e
máximo foram de 5 e 15 kN/m³, respectivamente. A
média foi de 10,37 kN/m³ e a mediana foi de 10,35
kN/m³. Conforme a Figura 6, para a coesão do RSU
a faixa de valores variou de 0 a 51 kPa, com média
de 20,47 kPa e mediana de 20 kPa. Para o ângulo de
atrito, a variação foi de 0 a 49°, com média de 28,19°
e mediana de 29,10°.

Figura 6. Histograma da coesão.

Figura 4. Histograma do peso específico.

Após a análise estatística, foram adotados os


parâmetros médios nas análises de estabilidade.
Figura 7. Box Plot dos valores de Coesão.
Também foi verificada a influência do tempo de
deposição dos RSU, separados entre novos e antigos,
sendo a variação da coesão apresentada na Figura 7 e
do ângulo de atrito na Figura 8. Como pode ser
observado, o RSU novo apresenta valores superiores
de ângulo de atrito quando comparado com o RSU
antigo. Em termos de coesão, os RSU novos
apresentam uma maior faixa de variação ao serem
comparados com os RSU antigos. Salienta-se que
foram utilizados, nestas análises apenas os dados em
que a Tabela 3 indica o tipo de resíduo.

Figura 8. Box Plot dos valores de ângulo de atrito.

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194
Tabela 3. Adaptado de Norberto et al. (2020), Boscov (2008) e Salomoni (2019).
γ c
ϕ (°) Tipo de resíduo e/ou ensaio Referência bibliográfica
(kN/m³) (kPa)
Converse, Davis & Dixon
- 40,5 13,2 Prova de carga in-situ Associates (1975 em Gabr & Valero,
1995)
13 7 38 Resíduo municipal Gay et al. (1978)
Resíduos municipais estimados por observação
10 0 35 Cassina (1979)
de campo
Retro análise de deformações por cargas
9 10 16 Spillmann (1980)
induzidas
Cisalhamento direto. Resíduos com 9 meses de
11,5 7 42 Gay et al. (1981)
decomposição
Cisalhamento direto. Resíduos municipais
9,5 28 26,5 Gay et al. (1981)
novos
Retro análise conservadora, baseada em Cooper & Clark (1982 em Gabr &
- 37
Converse et al. (1975) Valero, 1995)
- 24 21,5 Valores recomendados de cálculo Landva et al. (1984)
- 23 24 Cisalhamento direto. Resíduos novos Landva et al. (1984)
- 16 38 Cisalhamento direto Landva et al. (1984)
Cisalhamento direto drenado. 61,5 mm
- 0 38 LA Country Sanitation District (1984)
diâmetro X 25,4 mm espessura
Retro análise conservadora, baseada em EMCON (1986 em Gabr & Valero,
- 35 13,8
Converse et al. (1975) 1995)
Retro análise conservadora, baseada em Cooper Enginerrs (1986 em Gabr &
- 34
Converse et al. (1975) Valero, 1995)
Retro análise conservadora, baseada em EMCON (1987 em Gabr & Valero,
- 17 19,9
Converse et al. (1975) 1995)
Resíduos novos não decompostos e pouco
7 - -
compactados Kaumoto & Cepolina, (1987)
11,5 - - Resíduos após a compactação
Retro análise conservadora, baseada em Harding-Lawson & Assoc. (1987 em
- 27 19,6
Converse et al. (1975) Gabr & Valero, 1995)
Retro análise conservadora, baseada em Dames & More (1988 em Gabr &
- 21 20
Converse et al. (1975) Valero, 1995)
Retro análise conservadora, baseada em EMCON (1989 em Gabr & Valero,
- 23,5 20,2
Converse et al. (1975) 1995)
Cisalhamento direto drenado. 419 mm X 287 Landva & Clark (1990 em Gabr &
- 15 33
mm Valero, 1995)
Cisalhamento direto drenado. 419 mm X 287 Landva & Clark (1990 em Gabr &
- 19 39
mm Valero, 1995)
Cisalhamento direto drenado. 419 mm X 287 Landva & Clark (1990 em Gabr &
- 12 35,2
mm Valero, 1995)
13 13,5 22 Resíduos sólidos antigos Benvenuto & Cunha (1991)
Richardson & Reynolds (1991) em
15 10 30,5 Cisalhamento direto in-situ
Kavazanjim et al. (1995)
10 - - Condição drenada
Benvenuto & Cunha (1991)
13 - - Condição saturada
10 15 30 Ruptura do Aterro de Bandeirantes - SP Bandeirantes (1991)
Cisalhamento direto. Dois fardos de 400 X 500
5 16 21 Del Greco & Oggeri (1994)
X 600 mm
Cisalhamento direto. Dois fardos de 400 X 500
7 24 22 Del Greco & Oggeri (1994)
X 600 mm
Cisalhamento direto. 1,5 m X 1,5 m - em
- 10 30 Withiam et al. (1995)
campo
Cisalhamento direto drenado. 63,5 mm
11,05 24 32,7 Gabr & Valero (1995)
diâmetro X 23 mm espessura
7,3 16 35 Triaxial CU (c/ medidas de w/u) Gabr & Valero (1995)
8 - - Resíduos Saturados Gabr & Valero (1995)
7 - - Resíduos Novos Santos & Presa (1995)

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195
10 - - Resíduos após a ocorrência de recalques
10 0,5 27 Resíduo municipal Blengimo et al. (1996)
Retro análise de ruptura no aterro de
- 16 28 Kaimoto & Cepollina (1996)
Bandeirantes (1991) Resíduos novos
Retro análise de ruptura no aterro de
- 16 22 Bandeirantes (1991) Resíduos antigos - boa Kaimoto & Cepollina (1996)
drenagem
Retro análise de ruptura no aterro de
- 13,5 22 Bandeirantes (1991) Resíduos antigos - má Kaimoto & Cepollina (1996)
drenagem
9 25,0 20 Aterro Inerte- Radiowo Koda (1997)
7,5 0 35 RSU novos
Strauss (1998)
7,5 0 31 RSU antigos
10,5 - - Sítio São João com 10 meses de alteamento Mahler & Iturri (1998)
- 40 35 Aterro municipal
Eid et al. (2000)
- 25 35 -
- 25 31,5 Aterro municipal Pelky et al. (2001)
- 23 46 Resíduos degradados Kavazanjian (2001)
15 - - EUA Kavaza & Njian (2001)
7 2 35 Aterro de Canabrava - BA Oliveira (2002)
- 39,2 29 Resíduo natural, com tensão de 20% Vilar & Carvalho (2002)
9 - - Aterro Sanitário Catapreta et al. (2005)
11,5 - - Portugal Gomes et al. (2005)
10,87 - - Ensaio Percâmetro, Santo André –SP Carvalho (2006)
12,1 - - Aterro com Resíduos Degradados Bauer (2006)
11 - - Mohawk landfill, NY Harris et al. (2006)
7 10 28 Aterro sanitário Ribeiro (2007)
- 30 30 Cisalhamento a tensão >200 kPa Stark et al. (2009)
- 47,5 28 Resíduos novos
- 38 16 Resíduos novos Reddy et al. (2009)
- 40 28 Cisalhamento direto - RSU decomposto
- 21 8 Cisalhamento direto - RSU recente
Reddy et al. (2011)
5 10 28 Prova de carga de talude
11 13,5 22 Aterro Sanitário de São Paulo Suzuki (2012)
- 20 25 Aterro sanitário - China Mohurd (2012)
15 15 35 - Xu et al. (2012)
- 48 34
Correlação de sondagens SPT de aterros Remédio (2014)
- - 35
11,3 18,24 32,27 Aterro sanitário - China Babu et al. (2014)
15 15 35 Resíduos municipais biodegradados
Cisalhamento de grande escala - composto Giri & Reddy (2014)
9,2 16 40,1
básico de resíduo
Cisalhamento de grande escala - composto
7,65 34,7 34,7
básico de resíduo + 20 % de fibras
Fucale et al. (2015)
Cisalhamento de grande escala - composto
9,7 48,1
básico de resíduo + 10 % de fibras
10,2 14,1 33 - Hong-Jun (2015)
Aterro de João Pessoa - cisalhamento direto
11 1,3 36,8
com 0 % de fibras
GRS (2016)
Aterro de João Pessoa - cisalhamento direto
11 10 33,5
com 15 % de fibras
Aterro de João Pessoa - cisalhamento direto
11 25 29,1 GRS (2016)
com 30 % de fibras
13 30 15
13 25 20 Aterro sanitário - China Fan et al. (2016)
13 20 25
10 5 30 Aterro sanitário - Índia Ering & Gl (2016)
12 14 34 - Jahanfar et al. (2018)

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196
3 RESULTADOS E ANÁLISES Tabela 4. Parâmetros de resistência das interfaces (Arruda
et al., 2022)
Como resultado da análise do comportamento do FS c’ Φ’ (ο)
Interface
maciço quanto as diferentes interfaces, pode-se obter (kPa)
a influência das diferentes geomembranas na Areia Versus RSU 2.953 2,95 33,07
estabilidade global do talude. Conforme as Figuras 9 RSU Versus GL 2.037 0 25,29
e 10, e a Tabela 4, pode-se observar o quão relevante RSU Versus GT 3.024 7.4 30,84
os parâmetros de interface são no comportamento do
maciço, principalmente quando analisado sua De acordo com os resultados descritos na Tabela
estabilidade global demonstrando a cunha de ruptura 4, pode-se perceber que frente ao modelo RSU versus
para as diferentes situações impostas ao talude. Areia houve um decréscimo de 31% no fator de
segurança da interface acrescida de geomembrana
lisa, reforçando o fato de que sua utilização é
decorrente unicamente de suas propriedades
impermeabilizantes. Já o modelo de interface rugosa
apresenta um fator de segurança semelhante ao
modelo base, com um acréscimo de somente 2% no
FS, porém quando comparado com o modelo de
interface lisa o FS sofre um acréscimo de 48%,
demonstrando um comportamento
consideravelmente superior, frente a interação dos
materiais utilizados na análise.

4 CONCLUSÕES

Em suma do exposto, pode-se concluir que a adição


de geomembranas na camada inferior do RSU gera
uma variação nos valores de fator de segurança.
Houve um decréscimo considerável no fator de
segurança da estrutura com geomembrana lisa, que
apesar de ter função exclusivamente
Figura 9. Superfície de ruptura da interface RSU versus impermeabilizante acaba influenciando
Geomembrana Lisa. negativamente na interação com os materiais
adjacentes, uma vez que sua interface se mostra
inferior em valores absolutos de coesão e ângulo de
atrito.
O talude acrescido de geomembrana rugosa
performou com desempenho satisfatório, pois além
de realizar a função impermeabilizante, acabou
aumentando o fator de segurança do maciço. Tal
performance resulta do acréscimo em coesão e
ângulo de atrito quando comparado as demais
estruturas. Vale ressaltar que o comportamento se
aplica exclusivamente aos materiais estudados, a
interface de interação entre diferentes componentes
deve ser avaliada isoladamente.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Universidade Federal de


Santa Maria, pelo apoio e incentivo a pesquisa; a
CAPES pela bolsa de pesquisa do segundo, terceiro e
quarto autor; e a FGS Engenharia pelo incentivo a
pesquisa do primeiro autor.
Figura 10. Superfície de ruptura da interface RSU versus
Geomembrana Rugosa.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


197
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


198
TEMA 6: MODELAGEM FÍSICA, NUMÉRICA E
PROBABILÍSTICA DE ESTRUTURAS COM GEOSSINTÉTICOS

199
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, BA, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análises de estabilidade interna com tratamento estatístico e


caracterização das deformações em um aterro reforçado com
geogrelha localizado em Salvador/BA
Lucas Dessoto Lima
UEFS, Feira de Santana-BA, Brasil, lucasdessotolima@gmail.com

João Carlos Baptista Jorge da Silva


UEFS/UFBA, Salvador-BA, Brasil, jcarlos@ufba.br

Ronaldo Ramos de Oliveira


Maccaferri do Brasil, Salvador-BA, Brasil, r.oliveira@maccaferri.com

RESUMO: Os materiais geossintéticos estão ganhando cada vez mais espaço no mercado geotécnico, especialmente a
geogrelha, posto que sua utilização acarreta no melhoramento mecânico do solo, trazendo vantagens econômicas
quando comparada a soluções tradicionais em concreto armado. Nesse viés, objetivou-se a realização de análises de
estabilidade do talude, estudos probabilísticos e caracterização das deformações sofridas devido ao carregamento
externo de um aterro reforçado de geogrelhas localizado em Salvador/BA. Para o içamento das vigas de um viaduto, era
necessária a utilização de um guindaste, que, carregado, geraria no solo uma tensão normal de até 80 kN/m², ademais, a
área de intervenção apresentava um desnível máximo de 8 m. Nessa lógica, optou-se pela construção de um aterro
reforçado com geogrelha, a fim de garantir a estabilidade durante o processo de colocação das longarinas pré-moldadas.
Foram modeladas seções do talude para análises de estabilidade pelo método de equilíbrio limite, com a utilização do
software Slide2. Ainda, foram feitas provas de carga sobre placa e a utilização do software RS2 para análise das
deformações. Observou-se um aumento significativo no fator de segurança, saindo de condições de instabilidade e
chegando ao valor de aproximadamente 1,4 para o método de Spencer. As análises probabilísticas apontaram para uma
probabilidade de falha de 0,067%. As provas de carga sobre placa apontaram para a tensão admissível deslocamentos
verticais entre 0,05 e 0,23 mm. Os resultados indicaram que a utilização da geogrelha contribuiu para aumentos
satisfatórios no controle de deformações e no fator de segurança do talude.

PALAVRAS-CHAVE: Geogrelha, Análise de estabilidade, Analise Probabilística, Deformações.

ABSTRACT: Geosynthetic materials are increasingly gaining ground in the geotechnical market, especially geogrid,
since its use leads to mechanical soil improvement, bringing economic advantages when compared to traditional
solutions in reinforced concrete. This study aimed to analyze the slope stability, probabilistic studies and deformation
characterization due to external loading of a geogrid reinforced embankment located in the city of Salvador, state of
Bahia in Brazil. A crane was required to lift the beams of a viaduct, which, when loaded, would generate a normal stress
of up to 80 kN/m² in the soil. Furthermore, the intervention area had a maximum gradient of 8 m. Therefore, a geogrid
reinforced embankment was chosen to ensure stability during the placement of the precast stringers. Slope sections were
modeled for stability analyses using the limit equilibrium method, with the Slide2 software. Plate loading tests were
also performed and RS2 software was used to analyze the deformations. A significant increase in the factor of safety
was observed, leaving unstable conditions and reaching a value of approximately 1.4 for the Spencer method. The
probabilistic analyses pointed to a failure probability of 0.067%. The load tests on plate pointed to admissible vertical
displacements between 0.05 and 0.23 mm. The results indicated that the use of geogrid contributed to satisfactory
increases in slope strain control and slope safety factor.

KEY WORDS: Geogrid, Stability analysis, Probabilistic analysis, Deformations.

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200
1 INTRODUÇÃO

Polímeros são substâncias formadas por


macromoléculas que são originadas por ligações
entre unidades de moléculas semelhantes, chamadas
de monômeros, os quais se repetem sucessivamente.
São exemplos de polímeros os plásticos, a borracha
e o amido presente nos alimentos (Carvalho, 1999).
O termo “geossintético” se refere a materiais
poliméricos que passam por um processo de Figura 1. Execução de aterro reforçado com geogrelha em
industrialização, dentre esses materiais estão os Salvador/BA.
geotêxteis e as geogrelhas. Estes vêm sendo
utilizados para aprimoramento e solução de diversos Dessa forma, pelas questões expostas, o presente
desafios no campo da geotecnia devido a sua alta trabalho tem por objetivo a caracterização e a
durabilidade, mesmo em contato direto com o solo e análise do comportamento de um aterro de solo
com a umidade, levando, consequentemente, a um reforçado com geogrelhas, a partir da análise de
menor custo, além de promover o controle de questões de estabilidade e controle de deformações,
qualidade, velocidade e simplicidade na aplicação. a qual foi possível devido ao auxílio dos softwares
Segundo Vertematti (2004), a comercialização Rocscience (2022) e da realização de provas de
das geogrelhas no Brasil teve início na década de carga sobre placa realizada em campo. No tocante
1990. Sob essa perspectiva, aquelas se apresentam aos softwares, o primeiro deles trata-se do Slide2, o
como malhas sintéticas de álcool de polivinila qual foi utilizado com o intuito de promover uma
(PVA), polipropileno (PP) ou Poliéster (PET) e abordagem de equilíbrio limite, bem como a análise
Polietileno de alta de densidade (PEAD), que de estabilidade interna do talude e análises
possuem elevada resistência com baixa deformação. probabilísticas. Ademais, utilizou-se um segundo
Dessa forma, tais propriedades favorecem o uso do software da mesma empresa, denominado RS2, o
geossintético em conjunto com o solo em obras que qual permite análises das deformações causadas
necessitam de uma maior capacidade de suporte do devido ao carregamento aplicado sobre o aterro,
que a oferecida, melhorando as propriedades utilizando uma abordagem em elementos finitos.
mecânicas do conjunto solo-geogrelha, por meio da
transferência de esforços entre os materiais, o que
garante estabilidade e segurança satisfatórias. 2 MATERIAL E MÉTODOS
Em se tratando de estabilidade de taludes, o uso
da geogrelha para reforço em aterros com Em momento anterior, nas fases de projeto e de
predominância de material arenoso permite que os execução do aterro, foram realizadas sondagens
mesmos sejam projetados com um maior ângulo de mistas para a caracterização do solo e identificação
inclinação, podendo ser executados, inclusive, de do nível d’água existente no terreno, uma vez que a
maneira subvertical e a grandes alturas, a depender poropressão terá influência direta na redução das
do dimensionamento. As geogrelhas funcionam tensões efetivas e no valor do fator de segurança do
como uma costura, absorvendo os esforços de tração talude.
que acarretariam em instabilidade no solo, evitando No material superior do aterro foi utilizado pó de
a formação de regiões de ruptura (Ehrlich & Becker, pedra, com peso específico igual 19 kN/m³, coesão
2009). de 0 kPa e ângulo de atrito igual a 32º; na parte
Nesse ângulo, acompanhou-se a execução de um inferior, foi utilizada areia suja com peso específico,
aterro reforçado com geogrelhas em Salvador/BA. coesão e ângulo de atrito respectivamente iguais a
Sua construção tinha como objetivo atuar como um 19 kN/m³, 0 kPa e 30º.
suporte para um guindaste durante a execução de A partir do levantamento planialtimétrico da área,
um viaduto na etapa de içamento das longarinas, de modelou-se o aterro em um arquivo dwg, no qual foi
modo que a estabilidade do talude e o controle das definida a geometria do aterro e foram geradas 8
deformações durante o uso da área a montante do seções transversais para a análise de estabilidade do
aterro deveriam ser garantidas (Figura 1). talude (Figura 2).

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201
Figura 2. Levantamento planialtimétrico e definição das
seções.

As modelagens dos cortes do talude foram salvas


no formatado dwt e, posteriormente, realizou-se a Figura 3. Içamento das Longarinas.
exportação para o software Slide2, no qual foram
feitas as análises de estabilidade por meio de As análises de estabilidade foram feitas nas 8
métodos de equilíbrio limite. Considerou-se que a seções e identificou-se a seção com menor fator de
superfície de ruptura seria não circular e foram segurança.
comparados os métodos de Spencer (1967), No Slide2, também foi possível o estudo
Morgenstern & Price (1965) e Sarma (1973) com probabilístico com o método de Hipercubo Latino,
relação à geometria da ruptura e do fator de com o intuito de complementar o resultado do fator
segurança apontado, usando-se, para tal, o método de segurança encontrado de forma determinística.
de busca de Path Search. As análises estatísticas foram realizadas para o
Com relação à disposição e caracterização das método de Spencer (1967).
geogrelhas utilizadas no projeto, estas foram Para os valores de desvio padrão, foram
aplicadas horizontalmente com 6 metros de utilizados aqueles apontados por Silva (2015), que
extensão, sendo que, na camada de areia suja fornecem uma covariância padrão para parâmetros
compactada, utilizou-se uma geogrelha com geotécnicos, os quais servem como estimativa, uma
resistência à tração de 120 kN/m na base do aterro e vez que não houve ensaios suficientes para a
nos 2,1 metros subsequentes, com um espaçamento caracterização do desvio padrão entre um número
de 70 cm. No restante da camada, manteve-se o suficiente de amostras (Tabela 1).
espaçamento, mas utilizando uma geogrelha de 90
kN/m; na camada mais superior, composta por pó de Tabela 1. Covariância parâmetros geotécnicos.
pedra compactado, reduziu-se o espaçamento para Parâmetro Covariância Faixa
50 cm. Padrão (%) Covariância (%)
Ao lançar as geogrelhas no software, foi Ângulo de atrito 10,0 4 - 20
possível seleciona-las com base no fabricante e no Coesão 40,0 20 - 80
modelo disponível na biblioteca do Slide2. Dessa Peso específico 3,0 2-8
forma selecionou-se a opção para a empresa
Maccaferri e os modelos Paragrid 120/5 e Paragrid A partir da escolha da opção de distribuição
90/5, nos quais as resistências à tração foram normal e da adoção de porcentagens de covariância
corrigidas para 120 e 90 kN/m, respectivamente. Os padrão, optou-se por variar somente o ângulo de
demais valores característicos foram preservados, atrito e o peso específico no pó de pedra e na areia
seguindo os dados já especificados pelo software. suja compactados - materiais constituintes do aterro
Foi considerada, para a análise de estabilidade, - posto que os valores de coesão adotados para estas
uma carga de 9600 kN – valor este majorado por 1,4 camadas foram iguais a 0. Para os demais tipos de
e distribuído horizontalmente sobre a área ocupada solo identificados na sondagem, adicionou-se a
de 14 x 12 metros sobre a crista do talude – o que variação na coesão. O cálculo do mínimo e máximo
gerou uma tensão de 80 kN/m² relativos ao relativo referente a cada parâmetro foi calculado
carregamento do guindaste no momento de com base em 3 vezes o valor do desvio padrão.
içamento (Figura 3). O tipo de análise escolhida para o estudo foi a de
Overall slope. Nesta, a variação nos parâmetros do
solo ocasiona a busca por uma nova superfície de
ruptura.
Após inserir os dados de entrada, foi obtida a
probabilidade de falha, representando a
porcentagem de superfícies de ruptura com fator de

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202
segurança menor do que 1. Dentre as superfícies
analisadas, considerando a variação nos parâmetros
e os índices de confiabilidade, que são apresentados
ao se considerar uma distribuição normal e
lognormal dos resultados, indicou-se o número de
desvios-padrão que separam o fator de segurança
médio do fator de segurança igual 1. O índice de
confiabilidade que assume uma distribuição normal
dos resultados (𝛽) pode ser calculada pela equação
1, em função do fator de segurança médio (𝜇𝐹𝑆) e
do desvio padrão do fator de segurança (𝜎𝐹𝑆):
𝜇𝐹𝑆 −1
𝛽 = (1) Figura 4. Discretização do talude em elementos finitos
𝜎𝐹𝑆
triângulares de 6 nós.
O uso da geogrelha, devido a sua alta rigidez,
promove menores deformações laterais nas camadas Após a discretização, foram gerados 4236
de contato com o solo, o que também implica em elementos e um total de 8881 nós. Os resultados
menores deformações verticais na superfície nos obtidos por meio do software puderam ser
quais são aplicados carregamentos externos comparados com dados alcançados em campo por
(Antunes, 2008). meio de um ensaio de prova de carga.
Segundo Ferreira (2009), simulações com O ensaio de prova de carga sobre placa foi
softwares têm um papel importante no sentido de executado em 2 pontos distintos do aterro, seguindo
complementar o entendimento da ação de o método apresentado na norma brasileira de prova
geossintéticos no solo, tornando o comportamento de carga estática em fundação direta NBR 6489
tensão versus deformação mais claro. Ao exportar o (ABNT, 2019). Foi elaborado um plano de carga
arquivo do Slide2 para o RS2, foi realizada uma com acréscimos sucessivos de 9,02 kN em 6
abordagem em elementos finitos, possibilitando a estágios, o que totalizou uma carga de ensaio
estimativa das máximas tensões e deformações que atingida de 54,12 kN ao final da etapa de
seriam observadas em campo em função do carregamento. Com relação ao descarregamento, foi
carregamento ao qual o aterro estaria submetido, seguida uma metodologia similar, com a retirada de
bem como a comparação da região de ruptura 9,02 kN, sucessivamente, em 6 estágios (Figura 5).
apontada pela análise tensão deformação com a O sistema de reação foi concebido por cargueira
superfície obtida por métodos de equilíbrio limite. apoiada em escavadeira com carga compatível para
Foi considerado que os parâmetros de resistência suportar o carregamento previsto no ensaio. Para
residual não se alteram com relação aos de pico. medir os recalques, foram utilizados quatro
Adotou-se o coeficiente de Poisson igual a 0,30; já deflectômetros com precisão de 0,01 mm, os quais
para o módulo de Young, tomou-se como referência foram colocados em dois eixos ortogonais sobre o
a faixa de valores relativa a uma areia compacta terreno e apoiados em vigas de referência, livres de
indicada por Guide (1991), foi adotado, ao final, o qualquer interferência dos movimentos da área
valor de 51,98 MPa. ensaiada.
Foram utilizadas para as análises malhas de
elementos finitos triangulares com 6 nós, uma vez
que, segundo Rezende (2020), elementos
triangulares com 6 nós ou quadrilaterais com 8 nós
tendem a apresentar menos variabilidade com
relação ao grau de refinamento da malha (Figura 4).

Figura 5. Prova de carga sobre placa.

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203
Por meio dos dados relativos as deformações superfícies críticas, com fatores de segurança
observadas, foi possível traçar o gráfico de tensão x menores do que 1, próximas a superfície inclinada
recalque. do aterro e passando pelo interior do material
Sabendo-se que durante a operação de içamento constituinte do aterro. Consequentemente, é possível
das longarinas do viaduto as tensões máximas concluir que a inclinação com a qual o talude foi
consideradas seriam equivalentes a 392,3 kN/m² - projetado, cerca de 70º, não seria possível sem a
consoante disposição da empresa contratante – e utilização de algum tipo de técnica de estabilização
estariam sob as patolas do guindaste, utilizou-se de taludes (Figura 7).
placas metálicas para uma melhor distribuição
destas, o que permitiu o alcance do valor de 80
kN/m². Foi, então, possível verificar a capacidade de
suporte do aterro em relação à finalidade pretendida.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Análises de Estabilidade

A seção número 4 apresentou os menores valores


para os coeficientes de segurança calculados por
equilíbrio limite. Figura 7. Simulação das Superficies de deslizamento
Com os dados de entrada inseridos, foram associadas a fatores de segurança no talude sem a
obtidos valores de fatores de segurança iguais a aplicação de geogrelha.
1,41; 1,37 e 1,40 para os métodos de Spencer
(1967), Morgenstern & Price (1965) e Sarma 3.2 Análises Probabilísticas
(1973), respectivamente (Figura 6).
Os resultados das análises probabilísticas apontaram
uma possibilidade de falha de 0,067%, valor obtido
a partir das variações conjuntas dos valores do
ângulo de atrito, da coesão e do peso específico – os
quais variam para mais e para menos, conforme as
metodologias já apresentadas. A partir do que foi
exposto acima, indicou-se que, das 3000 simulações
analisadas pelo software, menos de 3 apresentaram
fatores de segurança menores do que 1 (Figura 8).

Figura 6. Superfície de deslizamento e fatores de


segurança para diferentes métodos.

Quanto à localização da superfície de ruptura,


nota-se que os métodos de Spencer (1967) e de
Sarma (1973) apresentam geometrias próximas,
porém a delimitação da superfície de ruptura pelo
método de Morgenstern-Price (1965) abrange uma Figura 8. Análise Probabilística no Slide2.
área que contorna a região do aterro, se afastando
ainda mais das áreas nas quais houve aplicação da Com relação aos índices de confiabilidade, foram
geogrelha, o que levou à caracterização de uma encontrados os valores de 3,306 e 3,709 para um
situação de ruptura global. arranjo de distribuição normal e lognormal,
Observando-se as superfícies de deslizamento respectivamente. Segundo orientações da empresa
geradas em um modelo com ausência do responsável pelo software, a Rocscience (2022), o
geossintético, é possível notar uma concentração de valor mínimo de 3 deve ser garantido aos índices

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204
para que os resultados apresentados transmitam
certa segurança ao serem adotados para projetos, de
forma que, se houvesse muita variabilidade nos
coeficientes de segurança, ao se variar as
propriedades do solo no intervalo especificado (o
que busca cobrir possíveis incertezas relativa a
maneira como os parâmetros foram obtidos), os
valores tenderiam a ser menores do que 3. Logo, os
valores obtidos para os índices através da análise
garantem certa confiabilidade nos resultados
apresentados e, consequentemente, na segurança
com relação à estabilidade do talude.
A partir da observação do histograma gerado Figura 10. Comparação entre a provável região de ruptura
pela análise, é possível notar a distribuição dos e a superfície de deslizamento.
fatores de segurança em relação à frequência com
que os mesmos são apontados pela simulação,
chegando-se ao valor médio de 1,347. Nota-se que,
ao aumentar o número de simulações, o valor médio
se aproxima do valor encontrado de forma
determinística (Figura 9).
Verificou-se que os fatores de segurança gerados
apresentaram melhor ajuste para uma distribuição
normal em detrimento da lognormal.

Figura 11. Simulação da geometria do aterro em condição


de ruptura

3.4 Prova de Carga

Com os dados obtidos pela leitura dos


deflectômetros, foi possível relacionar a tensão
Figura 9. Distribuição normal de fatores de segurança aplicada, em kPa, com os recalques observados
pelo método de Spencer (1967). (Tabelas 2 e 3).
O valor máximo para o coeficiente de segurança Tabela 2. Correlação entre carga e tensão aplicadas
foi de 1,735, já o menor, de 0,986. O desvio padrão durante a fase de carregamento e o deslocamento vertical
encontrado foi de 0,105. acumulado.
Carga Tensão Ponto 1 Ponto 2
3.3 Análise Tensão Deformação (kN) (kPa) (mm) (mm)
9,02 93,75 0,06 0,27
Ao se analisar a provável região de ruptura gerada 18,04 187,50 0,12 0,39
pela metodologia de elementos finitos, nota-se certa 27,06 281,26 0,19 0,68
similaridade com a superfície de deslizamento 36,08 375,01 0,33 0,90
apontada pelos métodos de equilíbrio limite (Figuras 45,10 468,76 0,43 1,35
10 e 11). 54,12 562,51 0,51 1,71
Filtrando-se os deslocamentos verticais, foi
verificado um deslocamento máximo de 80 mm no Tabela 3. Correlação entre carga e tensão aplicada
durante o descarregamento e o deslocamento vertical
ponto mais crítico. acumulado.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/BA, Brasil.


205
Carga Tensão Ponto 1 Ponto 2 um fator de segurança de aproximadamente 1,4.
(kN) (kPa) (mm) (mm) As análises probabilísticas apontaram uma
45,10 468,76 0,50 1,69 chance de falha muito pequena quando comparadas
36,08 375,01 0,48 1,68 ao número de simulações realizadas pelo software.
27,06 281,26 0,47 1,66 Além disso, os fatores de segurança inferiores
18,04 187,50 0,44 1,62 tendem a uma situação de ruptura global, na qual a
9,02 93,75 0,40 1,45
0,00 0,00 0,32 0,83
superfície de deslizamento não intercepta as áreas
abrangidas pelo geossintético. Neste viés, os índices
As Figuras 12 e 13 mostram os resultados das de confiabilidade deram maior segurança à
confirmação do resultado encontrado.
provas de cargas efetuadas sobre o aterro.
Nas simulações realizadas no software de
análises de tensão deformação, assim como nas
análises de estabilidade, foi considerada a aplicação
de um carregamento distribuído na crista do aterro,
a localização da região de ruptura se assemelhou à
da superfície de deslizamento. Já a deformação
vertical máxima apontada pelo software, no ponto
mais crítico, foi de 80 mm.
As provas de carga apontaram deformações
verticais entre 0,05 e 0,23 mm, ao se considerar a
tensão admissível de 80 kN/m².

Figura 12. Gráfico Tensão x Recalque do ponto 1. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a construtora NM, a empresa


JCJ Consultoria e Projetos pela cessão dos dados e a
Maccaferri do Brasil.

REFERÊNCIAS

ABNT (2019). NBR 6489: Solo - Prova de carga estática


em fundação direta. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
Antunes, L. G. S. (2008) Reforço de Pavimentos
Rodoviários com Geossintéticos. Tese de Mestrado, –
Figura 13. Gráfico Tensão x Recalque do ponto 2. Universidade de Brasília. p.14
Carvalho, G. C. (1999). Química Moderna. Editora
Levando em consideração que a tensão normal Scipione, cap. 37. p. 482-483.
máxima sob o solo durante o içamento das vigas Ehrlich, M.; Becker, L. (2009). Muros e Taludes de Solo
Reforçado: projeto e execução. Oficina de Textos,
seria de aproximadamente 80 kN/m², tendo ainda a
São Paulo, cap 2.1. p. 25 – 26.
posse dos valores de recalque apontados pelos Ferreira, L. H. T. (2009). Modelos analítico e numérico
deflectômetros, foi feita uma interpolação linear para simulação de ensaios de arrancamento de
para a determinação do deslocamento associado, o geotêxteis. Tese de mestrado, – Universidade do
qual ficou caracterizado entre 0,05 e 0,23 mm. Estado do Rio de Janeiro. p. 02.
Guide, C. C. (1991) Geotecnia e tecnica delle fondazioni.
2 Volumi Ed. Hoepli.
4 CONCLUSÃO Morgenstern, N. R., Price, V. E. (1965). The Analysis of
the Stability of General Slip Surfaces. Géotechnique,
Por meio dos dados analisados, foi possível verificar 15, p.79–93.
que o uso da geogrelha como reforço do aterro Rezende, K. S. (2020). Estudos de caso: teste de
contribuiu como um elemento importante para a convergência de malha e comparações entre
estabilidade do talude e controle das deformações equilíbrio limite e análise de tensão-deformação em
estabilidade de taludes aplicada a minas a céu
devido ao carregamento externo. aberto. Tese de Doutorado, Universidade Federal de
Saiu-se de uma condição de instabilidade para Viçosa, p. 68-69.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/BA, Brasil.


206
RS2. Versão 11.017. Toronto, ON, Canada. Rocscience
2022
Rocscience (2022). Probabilistic Analysis Tutorial.
Slide2 User Guide p. 1 – 13
Rocscience (2022). Geogrid Reinforced Embankment.
RS2 User Guide. p.1 - 14
Sarma, S.K. (1973). Stability analysis of embankments
and slopes. Geotechnique, Vol.23:3, p. 423- 433.
Silva, C. C. (2015) Análise de estabilidade de um talude
da cava de Alegria utilizando abordagem
probabilística. Tese de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia. Núcleo de Geotecnia,
Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto.
267p.
Slide2. Versão 9.026. Toronto, ON, Canada. Rocscience
2022
Spencer, E. (1967) A method of analysis of the stability of
embankments assuming parallel inter-slice forces.
Géotechnique, Vol. 17: pp. 11-26.
Vertematti, J.V. (2015) (2 ed) Manual Brasileiro de
Geossintéticos, Associação Brasileira de das
Indústrias de Não tecidos e de Tecidos Técnicos, São
Paulo, cap. 1.4 , p. 20-21.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/BA, Brasil.


207
O COMITÊ TÉCNICO DE GEOSSINTÉTICOS
A Associação Brasileira das Indústrias de Nãotecidos e Tecidos Técnicos (ABINT) congrega empresas e
profissionais cujas atividades estejam ligadas à produção, transformação, comercialização,
fornecimento de insumos e equipamentos e outros, ligados aos nãotecidos e tecidos
técnicos. Um dos objetivos da ABINT é atuar intensamente na divulgação das diversas aplicações dos
Nãotecidos, Tecidos Técnicos e seus atuais e potenciais usos, além de promover, com ética e qualidade,
o desenvolvimento e o crescimento do mercado de aplicações nos mais diversos segmentos da
economia.

Dentro deste conceito, formou-se o Comitê Técnico de Geossintéticos da ABINT (CTG ABINT), grupo de
associadas ABINT composto por empresas fabricantes, distribuidoras e de instalação de
Geossintéticos, universidades, laboratórios e prestadores de serviços independentes de
controle e verificação da qualidade.

O CTG ABINT tem como objetivo divulgar as aplicações dos Geossintéticos em obras dos segmentos
Ambiental, Agronegócio, Construção Civil, Infraestrutura, Mineração, Transporte, entre outros, bem
como difundir os conceitos de qualidade a serem observados por fabricantes e usuários, contribuindo
para o desenvolvimento mercadológico de forma ética e responsável.

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Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise do Comportamento de Tubos Enterrados por meio de


Simulação Númerica
Ana Carolina Gonzaga Pires
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, carolina.gonzaga20@gmail.com

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: O presente estudo apresenta simulações númericas de testes em modelos físicos realizados em laboratório. O
objetivo da análise númerica consistiu na avaliação do comportamento de tubos enterrados reforçados com geossintéticos
e, consequentemente, na comparação entre previsões e medições. Analisaram-se os desempenhos de geossintéticos com
diferentes propriedades mecânicas e configurações geométricas. De modo geral, as simulações numéricas mostraram que
os resultados previstos reproduziram os padrões observados nos resultados experimentais, mas alguns desvios
significativos entre previsões e medições foram obtidos. Complementarmente, observou-se que a inserção do
geossintético no maciço com tubo enterrado propicia ao sistema efeitos benéficos em termos de reduções significativas
das tensões atuantes sobre o tubo e deformações e deslocamentos do tubo.

PALAVRAS-CHAVE: Geogrelha, Geotêxtil, Tubo Enterrado, Sobrecarga, Distribuição de Tensões.

ABSTRACT: The present study presents numerical simulations of model tests carried out in the laboratory. The objective
of the numerical analysis was to evaluate the behaviour of buried pipes reinforced with geosynthetics and, consequently,
the comparisons between predictions and measurements. The performance of geosynthetics with different mechanical
properties and geometrical configurations were analysed. In general, the numerical simulations showed that the predicted
results reproduced the patterns observed in the experimental results, but some significant deviations between predictions
and measurements were obtained. In addition, it was observed that the insertion of the geosynthetics in the soil mass
brought beneficial effects in terms of significant reductions in the stresses on the pipe and pipe deformations and
displacements.

KEY WORDS: Geogrid, Geotextile, Buried Pipe, Surcharge, Stress distribution.

1 INTRODUÇÃO como elementos de reforço do solo contendo tubo


enterrado sob cargas cíclicas foram estudados por
As tubulações enterradas estão sujeitas a ação das Tavakoli-Meharjardi et al. (2012), por meio de
cargas devido ao solo circundante, sobrecargas, ensaios em modelos, onde empregaram dois
tráfego de veículos, danos acidentais etc. Danos em tamanhos de borracha e diferentes teores de mistura
tubos enterrados devido a essas cargas podem (5%, 10%, 20%) e configurações de ensaio.
resultar em graves consequências, como perdas Posteriormente, Tavakoli-Meharjardi et al. (2015)
materiais, poluição ambiental e, não raro, perdas de complementaram este estudo com análises numéricas
vidas (Palmeira e Pires, 2017; Dave e Solanki, 2019). usando o software FLAC 3D, indicando uma boa
A fim de minimizar os esforços atuantes sobre as concordância entre os resultados numéricos e os
tubulações enterradas, os geossintéticos têm sido resultados experimentais.
empregados em projetos de tubos. Nesses cenários, Hegde e Sitharan (2015) investigaram o uso de
os geossintéticos se tornaram objeto de estudos de tubos de PVC enterrados em um aterro de areia
muitos pesquisadores (Corey et al., 2014; Kou et al., reforçado com geocélulas e com aplicação conjunta
2020; Zou et al., 2019; Palmeira e Pires, 2017; de geocélula com geogrelha, por meio de ensaios em
Almed, 2015), os quais têm avaliado o desempenho laboratório. Os resultados sugerem que o uso de
do geossintético assim como do sistema solo-tubo geocélulas com geogrelha reduz consideravelmente a
sob diferentes aspectos. deformação do tubo em comparação com outros tipos
O uso de geocélulas e mistura de solo-borracha de reforços. A influência da presença dos

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


208
geossintéticos também foi avaliada por estudos
numéricos, utilizando o software FLAC 3D. Estudos
numéricos, por sua vez, indicaram que a aplicação
das geocélulas apresenta uma melhor distribuição das
tensões na direção lateral, reduzindo assim as tensões
sobre o tubo.
Fattah et al. (2016) analisaram problemas de tubos
enterrados em solos reforçados com geogrelhas
empregando o método dos elementos finitos no
software PLAXIS 3D. Os autores realizaram uma
análise comparativa das simulações tridimensionais
com as bidimensionais de Rajkumar e Ilamparuthi
(2008). Observou-se que as análises tridimensionais
do comportamento do sistema tubo-solo indicaram
uma variação não linear da deflexão da tubulação Figura 1. Modelo esquematico dos ensaios (dimensões
com a tensão, enquanto a previsão bidimensional em mm).
apresentou uma variação quase linear.
O presente estudo utilizou o software Plaxis 2D Foram realizados ensaios nas condições não
para reproduzir os ensaios em modelo de tubos reforçada e reforçada com cinco geossintéticos
enterrados em aterros reforçados com geossintéticos distintos. Dentre os reforços selecionados tem-se
dispostos em configurações distintas. Os ensaios quatro geogrelhas (GG), com rigidez à tração
foram desenvolvidos por Palmeira e Pires (2021) variando de 34 a 300 kN/m e abertura da malha entre
com o propósito de avaliar o comportamento de tubos 1 x 1 mm a 20 x 20 mm. Um geotêxtil tecido (GT)
enterrados submetidos a aplicação de sobrecargas com rigidez à tração de 2000 kN/m foi também
superficiais. Além de representar as condições utilizado como referência para um reforço muito
ensaiadas, as simulações numéricas foram essenciais rígido em condições de protótipo.
para inferir algumas grandezas que não foram Foram definidas três configurações geométricas
monitoradas nos ensaios de laboratório. diferentes, sendo elas em camada horizontal, U
invertido e envelopado. Um dos critérios de seleção
2 MATERIAIS E MÉTODOS da geometria do arranjo do geossintético foi se a
mesma era plausível de ser executada em campo
2.1 Ensaios em modelo numa obra com tubos enterrados, tendo em vista os
métodos de instalação dos tubos em trincheiras
Os ensaios de laboratório de Palmeira e Pires (2021), (valas) e em saliência (positiva ou negativa).
utilizados como referência nesse estudo, foram As células de tensão foram identificadas com letra
realizados em escala 1:3,5 para avaliar a influência C acompanhada de um número (de 1 a 8) que
da presença do reforço em maciços onde as representa a sua posição no modelo. Pode-se observar
tubulações enterradas encontram-se solicitadas por que as células C1 a C6 correspondem às células que
carregamentos aplicados na superfície (sobrecargas). registram tensões verticais, enquanto a C7 e C8
A tensão vertical de sobrecarga foi aplicada por uma foram posicionadas para registrar tensões horizontais
placa rígida com 250 mm de largura, simulando próximas ao tubo. Além disso, as células C4, C5 e C6
condições de deformação plana (Fig. 1). estão na mesma profundidade de instalação, a 500
A tensão vertical máxima atingida ao final do mm da superfície, alinhadas com o centro do tubo.
ensaio foi igual a 160 kPa. Considerando-se um fator Medidas internas no tubo com LVDT’s permitiram
de escala (λ) de 3,5 para os testes, este valor resulta obter sua forma deformada e extensômetros elétricos
em uma sobrecarga de 560 kPa aplicada na superfície colados na superfície do tubo permitiram a medição
do solo em condições de protótipo, que é um valor de deformações em difentes pontos ao longo do seu
típico de pressão de pneus de caminhões. perímetro.
A Figura 1 apresenta o modelo esquemático dos
ensaios, indicando a disposição do tubo e da 2.1.1 Simulação númerica
instrumentação uilizada.
Para cumprir o objetivo de avaliar por meio da
simulação númerica a influência da presença e
arranjo do reforço foram admitidas as mesmas
propriedades do solo, do tubo e dos reforços
empregados nos ensaios experimentais. Nesse

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


209
sentido, utilizou-se o software Plaxis 2D, que da presença do reforço, foi realizado o refinamento
emprega o método de elementos finitos em suas da malha na região próxima ao tubo, delimitada pelo
análises. geossintético (indicado pelo quadrado amarelo na
Nas análises foram considerados elementos Figura 2).
triangulares de 15 nós para o solo. As geogrelhas, por
sua vez, são representadas por elementos de linha
definidos por cinco nós para cada elementos de solo
de 15 nós.
Foram feitas análises númericas das condições
não reforçada e reforçada com arranjo envelopado,
isto é, envolvendo completamente o tubo (Fig. 2).
O modelo constitutivo definido no programa para
análise do comportamento tensão-deformação foi o
elástico-plástico, usando-se o critério de Mohr-
Coulomb. Os parâmetros de entrada no Plaxis 2D
referente aos materiais foram definidos em ensaios de
laboratório e informações disponibilizadas pelo Figura 2. Discretização da malha.
fabricante dos materiais.
No que concerne à dilatância do solo do aterro, Nesse estudo foi análisada a distribuição de tensão
assumiu-se como sendo um valor típico para as vertical e horizontal no solo circundante ao tubo
condições dos ensaios. Além disso, o módulo de enterrado, comparando os resultados obtidos por
elasticidade para a densidade relativa (𝐷𝑟=50%) meio das simulaçoes númericas com àqueles obtidos
adotada nos ensaios experimentais foi estimado por nos ensaios experimentais em modelo.
meio da retroanálise de um ensaio de capacidade de
carga (condição sem duto e sem reforço) realizado no 3 RESULTADOS
próprio equipamento, obtendo-se um valor de 4600
kPa. Com relação ao reforço, o único parâmetro 3.1 Condição não reforçada (NR)
variado nas análises foi a rigidez à tração. A Tabela
1 apresenta um resumo dos parâmetros dos materiais A Figura 3 mostra a distribuição de tensão inicial no
envolvidos. maciço, considerando-se a presença do tubo
enterrado. A presença do tubo provoca uma alteração
Tabela 1. Propriedades dos materiais. nas tensões no solo. Foi possível constatar que
Material Propriedade Valor ocorreu uma modificação significativa no estado de
Peso específíco (kN/m²) 16,4 tensões, particularmente na região abaixo do tubo.
Peso específico saturado (kN/m²) 20,0
Coesão (kN/m²) 2,0
Solo Ângulo de atrito (°) 37,0
Ângulo de dilatância (°) 4,0
Coeficiente de Poisson 0,3

EA (kN/m) 7140
EI (kN m²/m) 0,0068
w (kN/m/m) 0,0287
Tubo
Coeficiente de Poisson 0,25
Rinter (solo-duto) 0,8
Rinter (solo-reforço) 0,4
J5% (kN/m) - GG1 (geogrelha) 300
J5% (kN/m) - GG2 (geogrelha) 34 Figura 3. Tensões no solo devido ao peso próprio dos
J5% (kN/m) - GG3 (geogrelha) 90,8 materiais.
Reforço
J5% (kN/m) - GG4 (geogrelha) 125,8
J5% (kN/m) - GT (geotêxtil não 2000
tecido) Na condição estudada, onde foi considera a
presença do tubo no maciço, o deslocamento
As simulações foram realizadas prescrevendo prescrito máximo na superfície foi de 21,5 mm para
valores de deslocamentos para que o programa que se atingisse a tensão máxima de 160 kPa dos
calculasse as forças e tensões correspondentes. Para ensaios experimentais.
um cálculo mais acurado da avaliação da influência As tensões verticais e horizontais no maciço na
análise numérica foram determinadas nas mesmas

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210
posições onde as células de tensão totais foram
posicionadas nos ensaios em modelo não reforçado Como esperado, em ambas as análises as tensões
(NR). Para tanto, levou-se em consideração o no solo tendem a diminuir com o aumento da
diâmetro das células de tensão (=75 mm) utilizadas profundidade, assim como ao longo da direção
nos ensaios experimentais. As tensões calculadas horizontal. Verifica-se que nos pontos C1, C2, C6 e
correspondem à média dos valores de tensões C8 houve uma boa comparação entre os valores de
verticais e horizontais previstas dentro da região do tensões obtidos e medidos. No entanto, as tensões
diâmetro da célula. verticais previstas nos pontos C3 e C5 na simulação
A Figura 4 mostra as tensões verticais e numérica realizada foram proximadamente 2 vezes
horizontais atuantes no maciço com tubo enterrado e inferiores às tensões medidas nos ensaios.
sem a presença do reforço para uma tensão na Alguns fatores podem ter contribuído para este
superfície de aproximadamente 160 kPa. De um aumento significativo da tensão no solo na região
modo geral, pode se notar que houve um aumento das abaixo do tubo, tais como:
tensões verticais no solo devido à presença da (i) Na instalação do tubo foram feitos ajustes no
estrutura enterrada, com exceção apenas à região seu posicionamento que podem ter provocado
abaixo do tubo. algum acréscimo de tensão na célula C3;
(ii) Possível rotação/translação da célula durante a
execução do ensaio.
Com relação às tensões na lateral do tubo, pode-
se notar que na posição de C4 as tensões medidas
foram 1,52 vezes superiores às tensões previstas na
simulação do caso NR. Em contrapartida, a tensão
horizontal prevista na lateral do tubo no ensaio em
modelo for maior que a medida (célula C7) no ensaio.
Já para a posição da célula C8, o valor previsto foi
próximo ao medido.

3.1 Condição reforçada

A Figura 6 mostra as distribuições de tensões


verticais previstas com a profundidade, ao longo da
vertical passando pelo centro do tubo.
Primeiramente, pode-se destacar que os reforços
GG2 e GG3 apresentam valores de tensões muito
semelhantes (Figura 6a). Por outro lado, observa-se
que as tensões no solo reforçado com o geotêxtil GT
foram inferiores, quando comparadas às das
geogrelhas. As mesmas constatações se aplicam ao
Figura 4. Distribuição das tensões no maciço com tubo -
(a) vertical; (b) horizontal. comportamento das tensões verticais ao longo da
direção horizontal (passando pelo centro do tubo),
A Figura 5 mostra a comparação entre os como mostrado na Figura 6b. É válido salientar que
resultados obtidos nas análises numéricas e nos o geotêxtil GT é significativamente mais rígido à
ensaios realizados em laboratório para a condição tração que os demais reforços. Nota-se que tal
não reforçada. diferença entre valores de rigidez não se manifesta de
de modo significativo nos resultados das tensões
verticais.
A Figura 7 apresenta as tensões horizontais
obtidas na região da linha d’água do tubo enterrado.
Pode-se notar que as tensões diminuíram ao longo da
direção horizontal em até 21 kPa, a medida que se
afasta do centro do tubo, dependendo do reforço.
Observa-se um desempenho um pouco melhor do
geotêxtil GT em relação as geogrelhas,
evidenciando-se tensões horizontais inferiores às
Figura 5. Análise comparativa das tensões no solo na
condição não reforçada. medidas nos ensaios com as geogrelhas (Figura 7),
em decorrência da maior rigidez à tração do geotêxtil.

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211
A Figura 8 mostra as comparações entre as razões
entre tensões verticais previstas e medidas em
ensaios com o arranjo envelopado. Pode-se notar que
em alguns casos as razões entre tensões no maciço
apresentaram valores próximos a 1, especialmente
nas posições C1, C6 e C8, onde o desvio máximo foi
de 20%.
Na posição C2, com exceção da geogrelha GG1,
a razão entre as tensões verticais no solo foram de
aproximadamente 0,7. Pode-se notar que nas
posições C3, C4 e C5 a razão entre as tensões
determinadas nas duas análises variou entre 1,5 a 2,1.
Comportamentos semelhantes foram observados
para os outros reforços nas posições C3, C4 e C5,
porém as tensões medidas foram no máximo 50%
superiores às previstas. Na posição C7, verifica-se
que as tensões medidas chegam a ser metade do valor
da tensão prevista. Vale ressaltar que não foram
Figura 6. Tensões verticais no solo determinadas nas apresentados os resultados de C5 para a geogrelha
análises numéricas. GG3 e de C8 para GG, pois não foram medidas as
tensões verticais nos referidos pontos nos ensaios
com estes reforços.

Figura 7. Tensões horizontais previstas para os


ensaiosreforçados com arranjo envelopado.

Figura 8. Comparação da razão entre as tensões medidas e previstas nas condições reforçadas com arranjo envelopado.

4 CONCLUSÕES as tensões medidas e previstas no solo, com um


desvio máximo foi de 20%. Porém, em determinados
As análises numéricas das condições reforçadas pontos as tensões medidas foram aproximadamente
ensaiadas em laboratório mostraram que em algumas 50% inferiores às previstas nas simulações
regiões do maciço houve uma boa concordância entre numéricas. Os desvios observados entre previsões e

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212
medidas podem ser consequência de fatores tais reinforced soil. Geosynthetics International, v. 29, p. 1-
como movimentações das células de tensões durante 41, 202
os ensaios e limitações da modelagem numérica Tavakoli Mehrjardi, G., Moghaddas Tafreshi, S. N.,
realizada (modelo constitutivo, por exemplo). Dawson, A. R. (2012). Combined use of geocell
reinforcement and rubber–soil mixtures to improve
Apesar da discrepância entre os valores de
performance of buried pipes. Geotextiles and
tensões, do ponto de vista de realização de ensaios em Geomembranes, 34, 116–130.
modelos físicos, as simulações foram importantes Tavakoli Mehrjardi, GH.; Moghaddas Tafreshi, S. N.;
para se constatar que pode haver um acréscimo Dawson, A. R. (2015). Numerical analysis on Buried
significativo no valor das tensões verticais na região pipes protected by combination of geocell
abaixo do tubo geradas durante a instalação do tubo reinforcement and rubber-soil mixture. International
na fase de preparação do ensaio. Desta forma, Journal of civil engineering (IJCE), 13 (2), Transaction
acredita-se que os ajustes na posição do tubo sobre a B, 90-104.
massa de solo tenham, de fato, provocado um Zhou, M., Wang, F., Du, Y.-J., Corey, R., Liu, M. D.
acréscimo de tensão sobre a célula de tensão total C3, (2019). Feasibility Study on the Use of Geosynthetics
to Reinforce Buried HDPE Pipes Subjected to
o que não invalida o desempenho dos reforços, mas
Localized Ground Subsidence. Transportation
mostra que se deve ter um cuidado mais rigoroso Geotechnics, 22 (2020), 100303
quanto à instalação do tubo.
Por fim, as análises numéricas das condições não
reforçadas e reforçadas mostraram o mesmo padrão
de comportamento observado nos ensaios quanto à
distribuição de tensões no solo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade de Brasília


(UnB) e ao programa de Pós-Graduação em
Geotecnia pela infraestrutura disponibilizada para a
realização das análises apresentadas. Além disso,
agradecem também às agências de fomento CNPq e
a CAPES pelo apoio financeiro para realização dessa
pesquisa, bem como aos fabricantes dos
geossintéticos utilizados.

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steel-reinforced HDPE pipes from static loading.
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IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise Experimental de Colunas Granulares Encamisadas com o


Uso de Laponite RD®
Henrique Petisco de Souza
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, henrique.petisco@gmail.com

Gregório Luís Silva Araújo


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, gregorio@unb.br

Jorge Gabriel Zornberg


University of Austin, Austin, United States, zornberg@mail.utexas.edu

RESUMO: A inclusão de colunas granulares em solos moles é uma técnica de melhoria muito empregada nesse tipo de
material. Entretando, sua baixa resistência não fornece o confinamento adequado para o material granular consituinte,
resultando em deformações radiais elevadas e possível ruptura. As colunas granulares encamisadas (GEC) surgiram como
um alternativa, onde uma camisa de geossintético é utilizada para confinar o material granular, elevando sua rigidez. O
monitoramento em campo é dispendioso e dependente das condições operacionais e ambientais da obra e a construção de
modelos de grande escala está associada à uma elevada carga de trabalho. Os solos transparentes associados às técnicas
de inferência por imagens, como o PIV, surgiu como alternativa para a eleboração de modelos em pequena escala, sem a
necessidade de inrtrumentação intrusiva. Este trabalho propõe a construção de modelos experimentais em escala com o
uso da Laponite RD®, uma argila sintética e transparente, para o estudo de colunas granulares convencionais e
encamisadas. Por meio de ensaios realizados nos modelos elaborados, verificou-e que a cravação de tubo executivo pode
deslocar o solo adjacente na direção de uma coluna previamente executada, o que lhe pode causar deformações. Quando
carregadas, as colunas encamisadas apresentaram desempenho superior ao das convencionais, com deslocamentos axiais
menores. Os elementos com menor compacidade relativa apresentaram maiores deslocamentos totais, sendo que, no caso
com camisa, o elemento sofreu flambagem. A associação da técnica de PIV com a Laponite RD® se mostrou promissora,
permitindo inferir e observar com clareza os deslocamentos no interior do material.

PALAVRAS-CHAVE: Solo transparente, colunas granulares encamisadas, Laponite RD®, argila mole e PIV.

ABSTRACT: The inclusion of granular columns in soft soils is an improvement technique widely used in this type of
material. However, its low strength does not provide adequate confinement for the constituent granular material, resulting
in a bulking process and possible rupture. The geotextile encased columns (GEC) emerged as an alternative, where a
geosynthetic case is used to confine the granular material, increasing its stiffness. Field monitoring is expensive and
dependent on the operational and environmental conditions of the work and the construction of large-scale models is
associated with a high workload. Transparent soils associated with image inference techniques, such as PIV, emerged as
an alternative for the development of small-scale models, without the need for intrusive instrumentation. This work pro-
poses the construction of experimental scale models using Laponite RD®, a synthetic and transparent clay, for the study
of conventional and encased granular columns. Through tests carried out on the elaborated models, it was verified that
the driving of an executive pipe can displace the adjacent soil in the direction of a previously executed column, which
can cause deformations. When loaded, the encased columns performed better than the conventional ones, with smaller
axial displacements. The elements with lower relative compactness presented greater total displacements, and, in the case
with case, the element suffered buckling. The association of the PIV technique with Laponite RD® proved to be promis-
ing, allowing for the inference and clear observation of displacements within the material.

KEY WORDS: Transparent Soil, Encased granular columns, Laponite RD®, soft clay and PIV.

1 INTRODUÇÃO materiais pouco competentes, como as argilas muito


moles. Nesse aspecto, uma das técnicas utilizadas é a
Técnicas de melhoria de solos têm sido amplamente inclusão de colunas granulares, que permite o
empregadas para permitir aplicações geotécnicas em aumento da capacidade de carga e acelera recalques

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214
por adensamento nesse tipo de solo de fundação material.
(Almeida e Marques, 2014). A Laponite RD® é um tipo de argila mole
Não obstante, a utilização de colunas transparente que pode ser empregada em modelos de
convencionais fica sujeita ao baixo confinamento pequena escala. O material, um silicato sintético
proporcionado pelo solo adjacente, quando produzido pela BYK Industrial e comercializado na
carregados, podem sofrem elevada deformação radial forma de um particulado branco, possui como
simultaneamente a deslocamentos axiais, resultando porofluído correspondente a água destilada, fluído de
em seu colapso. Assim a utilização desse tipo de fácil obtenção. Alguns trabalhos vêm empregando
coluna fica restrito à solos com Su ≥ 15kPa (FHWA, essa argila transparente para estudos de problemas
1980; Kempfert e Gebreselassie, 2006; Hosseinpour geotécnicos envolvendo solos moles (Ads et al.,
et al., 2014). 2020; Zhang et al., 2020; Ads et al., 2020).
A colunas encamisadas com geotêxtil (GEC) Este trabalho propõe a elaboração de modelos
surgiram como uma alternativa para solucionar esse físicos de pequena escala para o estudo do efeito do
problema. O uso uma camisa de geossintético carregamento em colunas convencionais e
confinando o material granular aumenta a rigidez do encamisadas inclusas em argilas muito moles. Além
elemento, reduzindo as deformações radiais e disso, veirificou-se o efeito da cravação do tubo
otimizando a transferência de carga ao longo do executivo sobre o solo adjacente.
elemento (Araújo, 2009; Alkhorshid, 2017; Schnaid
et al., 2017; Orekanti e Dommaraju, 2019 e Chen et 2 MATERIAIS E MÉTODOS
al., 2021). Os elementos são então tratados como
semi-rígidos. 2.1 Similitude dos modelo
O seu monitoramento em campo é um processo
dispendioso, pois a introdução de instrumentação Para atender as condições encontradas em escala real,
adequada está sujeita às condições da obra, como seu o modelo exprimental foi dimensionado de forma a
cronograma. Além disso, esses sensores ficam atender os critérios de similitude definidos para o
sujeitos à avarias decorrentes das atividades do problema geotécnico a ser estudado. Seguiu-se as
processo executivo, dada a sua fraglidade. Outra recomendações propostas por Hong et al. (2016), que
alternativa empregada para seu estudo é a elaboração atenderam às necessidades do estudo. A Tabela 1
de modelos físicos de grande escala, em campo ou resume as majorações impostas à escala adotada para
laboratório. Todavia, essa solução também apresenta o modelo para cada propriedade empregada no
como desvantagens a necessidade de grandes espaços estudo.
e a significativa carga de trabalho para a realização
de ensaios. Tabela 1. Ajuste do fator de escala para as propriedades
Os solos transparentes surgiram como uma dos materiais.
alternativa para estudo de problemas geotécnicos. Elemento Propriedade Fator de Escala
Quando associados a um profluído com índice de Su (kPa) (1/N)
Argila Mole
refração coincidente, esse materiais proporcionam H (m) (1/N)
um meio transparente com boa distância de  (kN/m³) 1
visualização, em que é possível observar a Material da Coluna ´ 1
movimentação em seu interior. Se aplicados em
D (m) (1/N)
modelos de pequena escala, os solos transparentes
Tg (kN/m) (1/N)2
podem apresentar propriedades geotécnicas similares Camisa de Geotêxtil
Jg (kN/m) (1/N)2
à alguns materiais granulares e argilas moles,
permitindo sua utilização em modelos experimentais
2.2. Caracterização dos Materiais
de pequena escala (Iskander et al., 2003; Liu e
Iskander, 2010; Zhao e Ge, 2014; Wu et al., 2021).
A escala utilizada para o modelo foi embasada nos
A análise do problema geotécnico se dá por meio
valores de resistência não-drenada (Su) da Laponite
de técnicas de imagem, como o Particle Image
RD®. Para tal, realizou-se ensaios de palheta no
Velocimetry (PIV), em que, após a captura de
material com concentrações de 4, 6, 8 e 10% em
imagens sequenciais, a utilização dos softwares
massa de silicato. Como para concentrações
correspondentes, pode-se inferir deslocamentos e
superiores a 4,5% o material sofre por um processo
deformações por meio da análise dos deslocamentos
de separação de fases, empregou-se o uso do aditivo
dos pixel das imagens (Khatami E Jaksa, 2019; e Li
Sodium Pyrophosphate Decahydrate (SPP) para as
et al., 2019). Assim sendo, também não é obrigatório
concentrações superiores a esse limite, segundo as
a inclusão de sensores, resultando em uma técnica
recomendações de Beemer et al. (2016). Às amostras,
não intrusiva que preserva as propriedades do

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215
permitiu-se a drenagem inferior por diferente análise, adotando-se glitter preto como partícula de
períodos de tempo. O preparo também seguiu as rastreio. A distância de visualização até o centro era
recomendações de Wallace e Rutherford (2015). de 15,0cm.
Após definidos a concentração em massa e o Para as colunas, definiu-se que seriam
tempo de adensamento, foram realizados ensaios pertencentes a uma malha quadrada, com diâmetro
adicionais de caracterização para a Laponite RD®. (D) de 80,0 cm e espaçamento (S) de 2,0 m, quando
Na Tabela 2 são listados todos os ensaios realizados em escala real. Já na escala do modelo, esse valores
e as normas adotadas. transformaram-se em D=20mm e S=50mm. Seguiu-
se essa geometria paras os casos de coluna
Tabela 2. Ensaios realizados na Laponite RD®. convencional e encamisada. Na Figura 1 é
Ensaio Realizado Norma Adotada apresentada a geometria da caixa de acrílico e o
Determinação do Limite de ASTM D4318-17 modelo executado.
Plasticidade
Determinação do Limite de NBR 6459-16
Liquidez
Ensaio de Palheta (Vane Test) ASTM D4648-16
Permeabilidade à Carga NBR 14545-21
Variável – Método B
Ensaio de Adensamento NBR 16853-20
Unidimensional
Determinação da Densidade Fornecido pelo
Real dos Grãos fabricante
(a)
Também foram caracterizados o material granular
utilizado na execução da coluna (Tabela 3) e o tecido
adotado para a camisa de geossintético. O tecido foi
ensaiado segundo as recomendações da NBR 12824
(2013) para o ensaio de tração de faixa larga, na
machine direction (MD), crossmachine direction
(CMD) e na região da costura da camisa. Os materiais
foram escolhidos de forma a atender os critérios de
similitude.

Tabela 3. Ensaios realizados no material granular.

Ensaio Norma Adotada (b)


Figura 1. Geometria do Modelo: (a) Dimensões adotadas e
Granulometria Utilizado granulômetro (b) Modelo executado.
Microtrac S3500
Determinação da Utilizado Pentapyc 2.4. Execução das colunas e carregamento.
Densidade Real dos Grãos 5200e
Determinação do Índice de NBR 16840-20 O processo executivo das colunas convencional e
Vazios Máximo encamisada foram similares, variando-se apenas o
Determinação do Índice de NBR 16843-20 diâmetro dos tubos executivos e a presença da camisa
Vazios Mínimo de geossintético. No primeiro caso, adotou-se um
tubo com diâmetro externo de 20,0 mm e ponta
2.3. Geometria do modelo experimental. fechada com tampa removível. No segundo caso,
utilizou-se um tubo com diâmetro externo de 25,0mm
À partir da escala escolhida para o modelo e diâmetro interno de 20,0 mm, também com ponta
experimental, definiu-se uma geometria para o fechada, entretanto, a camisa era posicionada
estudo das colunas granulares. A Laponita RD® foi internamente ao tubo. Em ambos os casos, os tubos
colocada em uma caixa de acrílico de 30x30x30cm, foram associados a pequenos motores de vibração em
com um dreno inferior de areia de 5cm de espessura. sua extremidade superior.
Definiu-se a espessura da camada de argila Após a cravação do tubo, o material granular foi
transparente na escala do modelo equivalente a uma introduzido em pequenas porções, sempre com
espessura de 10 m de argila mole na escala real. No vibração, sendo empurrado com uma haste metálica
centro do modelo foi delimitada uma seção de ao mesmo tempo que o tubo era retirado. A ponta da

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216
coluna ficava assente em material resistente e a tampa No procedimento de cravação foram capturadas
removível ficava retida na ponta. Considerou-se que imagens sequenciais em intervalo de 1s, enquanto
o material da camisa, quando em escala, possuia isso, no carregamento, foi realizada filmagem em
média rigidez na direção radial. A costura da camisa resolução full HD a 25fps, a fim de capturar rápidos
foi feita com linha de Nylon Poliamida por meio de deslocamentos. A câmera foi controlada pelo
uma máquina de costura convencional. A cravação software digiCamControl. Atrás da caixa,
também foi feita com vibração no tubo. Na Figura 2 posicionou-se uma luminária LED (Figura 3), com
– a é possível ver o sistema executivo. intuito de dar contraste para as partículas de rastreio.
Após a execução, as colunas foram carregadas Para evitar qualquer prejuízo nas imagens, o
estaticamente com incrementos de aproximadamente ambiente foi mantido sem qualquer tipo de
0,53N. O sistema de aplicação de carga consistia em iluminação.
um eixo linear com uma sapata inferior com diâmetro O software utilizado foi o PIVLab, que permitiu a
igual ao da coluna e uma plataforma superior para obtenção dos campos de deslocamento durante os
colocação dos pesos. Todo o sistema foi ensaios realizados, por meio da sequência de imagens
confeccionado em PLA por meio de uma impressora capturadas. Adotou-se subset com tamanho de
3D, e seu peso total foi considerado como primeiro 128x128 pixel, realizando-se duas passadas
estágio de carregamento. O eixo foi introduzido em adicionais com subsets de 64x64 e 32x32 pixel. A
um rolamento linear associado a um suporte calibração e conversão dos valores de pixel para
possicionado de forma a coincidir com o centro de milímetro foi realizada por meio da introdução de
aplicação do carregamento na coluna. Uma tira rígida uma régua graduada no mesmo plano da seção de
foi associada ao sistema, permitindo posicionar um análise, com posterior captura de uma imagem sob as
transdutor de deslocamento para a obtenção da mesmas condições de foco e distanciamento adotados
deformação da coluna durante o carregamento. A durante os ensaio. Após isso, no software, inferia-se
Figura 2 – b demonstra o processo de carregamento. na régua graduada uma distância fixa e seu
correpondente em pixel para a definição de um fator
de conversão.

Figura 3. Modelo Exprimental com coluna granular


(a) (b) executada.
Figura 2. Realização do ensaio: (a) Sistema executivo e (b)
Sistema de carregamento. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

2.5. Sistema de aquisição de imagens. 3.1. Caracterização dos materiais

Para a análise de PIV foi necessário a aquisição de A primeira etapa da caracterização da Laponite RD®
imagens sequenciais durante do processo de cravação foi a realização de ensaios de palheta para diferentes
do tubo e carregamento da coluna. A captura das concentrações em massa e dias de drenagem. A
imagens foi realizada com o uso da câmera Tabela 4 resume os valores de Su obtidos para cada
profissional DSLR Canon EOS Rebel T7i, com situação. O valores cresceram com o aumento da
resolução de 2976x1984 pixel, ISO 100, f6.3 e concentração de solo transparente. Segundo Wallace
velocidade obturador de 1/250. A câmera foi e Rutherford (2015), a resistência não-drenada do
posicionada a uma distância que permitisse reduzir material tende a estabilizar após os 7 dias de
ao máximo a distorção proporcionada pela lente e o drenagem. Desse modo, para simular uma argila com
foco foi ajustado para coincidir com a seção de Su≤10kPa, adotou-se o material com concentração
análise. igual a 4% e tempo de drenagem de 7 dias, o que
resultou em uma escala de 1/40, aproximadamente. O

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217
resultado final da mistura também apresentou boa
transparência para observação dos deslocamentos
internos.
Partindo-se da concentração definida de 4% em
massa de Laponite RD, realizaram-se os ensaios
restantes de caracterização do material. A Tabela 5 e
a Figura 4 resumem os resultados dos ensaios
realizados na argila transparente. Os valores obtidos
ficaram próximos aos apresentados por Wallace e
Rutherford (2015), estando as principais diferenças
relacionada ao modo de preparo das amostras e modo
de drenagem. Também se oberva o elevado valor de Figura 4. Curva de adensamento para a Laponite RD®.
índice de vazios iniciais e a alta compressibilidade do
material.

Tabela 4. Valores de Su para a Laponite RD®. D60 = 0.38mm


Laponite D30 = 0.25mm
4% 6% 8% 10% D10 = 0.15mm
RD® (%) Cu = 2.53
SPP (%) - 0,13 0,27 0,75 Cc = 1.10
emáx = 0.962
Tempo emín = 0.769
Resistência Não Drenada (Su, kPa) Gs = 2.71
(Dias)
3 0,175 0,370 0,583 0,800
7 0,262 0,450 0,750 0,950
Figura 5. Curva granulométrica da areia da coluna.
14 0,333 0,570 0,770 0,970
Tabela 6. Resultados do ensaio de tração de faixa larga.
Na Figura 5 é apresentada a curva granulométrica Jg (kN/m) Tg (kN/m)
do material granular, que consiste em uma areia fina Direção - MD 7,73 1,21
uniforme. Em relação aos ensaios realizados no Direção - CMD 2,15 0,551
material da camisa (Tabela 6), para compatibilização Costura 1,34 0,551
da escala, foi necessário adotar a direção CMD para
a rigidez radial da camisa. Além disso, a introdução 3.2. Modelos elaborados.
da costura resultou em uma perda de rigidez,
comportamento também descrito por Alkhorshid Ao todo, foram elaborados 5 modelos experimentais
(2017), ficando com valores entre baixa e média em escala, em que se estudou o efeito da cravação do
rigidez (Huesker, 2021). tubo executivo e carregamento da coluna. Para os
dois tipos de coluna se variou a compacidade relativa
Tabela 5. Resultados da caracterização da Laponite RD®. (CR) do material granular. A Tabela 7 apresenta as
Obtido Wallace e diferenças nos modelos, sendo que o Modelo 5 é uma
Rutherford, 2015 duplicata do Modelo 4.
Limite de 957.80 % 1150.00%
Liquidez (WL) Tabela 7. Configurações dos modelos experimentais.
Limite de 250.38% 240.00% Tipo de Coluna Compacidade
Plasticidade Relativa (CR)
(WP) Modelo 1 Convencional 83%
Índice de 707.42% 910.00% Modelo 2 Convencional 53%
Plasticidade (IP) Modelo 3 Encamisada 58%
Permeabilidade 1,25.10-7 – 3,00.10-7 – Modelo 4 Encamisada 83%
(ks) 1,06.10-6 cm/s 1,60.10-6 cm/s Modelo 5 Encamisada 83%
Densidade Real 2.53 (Fornecido pelo Fabricante)
(Gs)
3.3. Cravação do tubo.

O processo de cravação foi avaliado para os dois


diâmetros de tubos, considerando os Modelos 1 e 4
para análise. Tanto os deslocamentos na direção U
quanto na direção V foram normalizados pelo raio do

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218
tubo (R). Na Figura 6 se observam os campos de estabilizar, verificando-se menores variações em
deslocamentos finais nas duas direções. A linha estágios maiores de carregamento. Em relação à
vermelha corresponde ao limite da região onde ainda densidade relativa, a coluna mais compacta
se observam deslocamentos significativos, enquanto apresentou menor valor total de deslocamento axial,
a linha preta tracejada representa um eventual coluna embora ainda tenha sofrido colapso.
executada anteriormente com espaçamento S Quanto às colunas encamisadas, percebe-se q
estipulado anteriormente. significativa redução nos deslocamentos axiais
Pode-se ver que houve uma amplitude nos resultantes, devido ao confinamento proporcionado
deslocamentos laterais do material de até 7R, com pela camisa de geossintético. Os deslocamentos
magnitude de até 0,24R, e pode atingir um coluna obtidos nesse caso podem representar apenas 40%
anteriormente executada. Em relação aos daqueles vistos na coluna convencional. A menor
deslocamentos verticais, observa-se uma amplitude compacidade do elemento, assim como no caso
de deslocamentos de até 3,8R na ponta do tubo, com anterior, também impactou na magnitude dos
magnitude de até 0,12R. Também se visualiza um deslocamentos, sendo maiores no elemento com
movimento ascendente da argila transparente na menor CR. Não obstante, os calores finais ainda são
porção superior da seção analisada, que pode atingir menores do que no caso da coluna convencional.
valores próximos a 0,16R.

V+

(a)
(a) (b)

V+

(c) (d) (b)

Figura 7. Curvas carga x recalque: (a) Colunas


Figura 6. Cravação do tubo executivo: (a) Modelo 1 – convencionais e (b) Colunas encamisadas.
Direção U, (b) Modelo 1 – Direção V, (c) Modelo 4 –
Direção U e (d) Modelo 4 – Direção V. Por meio da análise de PIV foi possível estimar os
deslocamentos da argila transparente durante o
3.4. Carregamento das colunas. carregamento. Ambos os modelos com colunas
convencionais apresentaram significativas
Inicialmente, o carregamento de ambos os tipos de deformações radiais após sofrerem carregamento
colunas foi analisado por meio das curvas carga x axial. Após a estabilização da deformação radial, a
recalque dos elementos (Figura 7). No caso das protuberância formada tende a carrear o material
colunas convencionais, pode-se observrar a baixa localizado abaixo, conforme a coluna prossegue
capacidade de suporte dos elementos, onde se sofrendo deslocamentos axiais. Os resultados da
verifica o processo de colapso do elemento, análise de PIV para o final do carregamento na
resultando em grandes deformações totais. Após a direção U são vistos na Figura 8. Todos os
ocorrência da parcela mais significativa dos deslocamentos foram normalizados pelo diâmetro da
deslocamentos, o processo de deformação tende a se coluna (D = 20mm).

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219
no Modelo 3, onde houve uma tendência à ruptura
por flexão.

(a)

(a)

(b)

U+
Figura 8. Campo de deslocamentos na direção U: (a)
Modelo 1 e (b) Modelo 2.
(b)

Nos modelos 4 e 5, com maiores CR, não se pôde U+

observar deformações radiais na porção superior, Figura 9. Campo de deslocamentos na direção U: (a)
observando-se apenas deformações axiais restritas às Modelo 3 e (b) Modelo 4.
regiões próximas às colunas. Enquanto isso, para o
Modelo 3, com menor CR, verificou-se uma 4 CONCLUSÕES
tendência à flambagem do elemento, apesar dos
deslocamentos axiais finais ainda manterem Os modelos experimentais permitiram estudar de
magnitude inferior ao caso sem camisa. A baixa forma satisfatória o efeito do carregamento em
compacidade associada à elevada esbeltez da coluna colunas granulares executadas em solos moles. O
pode resultar num processo de ruptura por flexão para solo transparente apresentou propriedades, quando
maiores carregamentos nesse tipo de elemento. Na escala, muito similares às argilas muito moles. A
Figura 9 são apresentados os resultados da análise de transparência proporcionada possibilitou a
PIV ns direção U para os casos das colunas visualização interna do problema geotécnico
encamisadas para os Modelos 3 e 4. O Modelo 5, por analisado com definição e detalhe.
ser duplicata do Modelo 4, apresentou resultados Foi verificado que o processo de execução das
similares. colunas granulares pode exercer influência em
Ao se analisar as curvas de carga x recalque junto colunas previamente executadas, devido ao
às imagens obtidas pelo software de PIV, percebe-se deslocamento lateral da argila sobre o elemento. Esse
claramente o ganho de resistênciada coluna ao se efeito pode resultar em deformações laterais nas
introduzir a camisa de geossintético. Além da colunas vizinhas, que tendem a restringir o
significativa redução da deformação axial do movimento do solo, ocasionando danos e perda de
elemento, com deslocamentos de menos da metade eficiência da malha de colunas.
daqueles vistos no caso convencional, não foram O melhoramento das colunas granulares ao se
verificadas deformações radias, algo praticamente introduzir uma camisa de geossintético reduziu
inevitável durante o carregamento das colunas com significativamente as deformações radiais, dado o
baixo confinamento. Apesar disso, para que a coluna maior confinamento, e aumentou sua capacidade de
encamisada mantenha o bom desempenho, é suporte. Colunas granulares convencionais são
essencial que o material granular esteja bem inviáveis em argilas muito moles, pois não existe
compactado, favorecendo uma maior CR, caso confinamento das partículas de solo, resultando em
contrário, pode-se esperar situações com a observada seu colapso, mesmo com baixos carregamentos.

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Efeito de Grupo em Colunas Granulares Encamisadas


Sabrina Medeiros Penasso
Fonntes Geotécnica, Belo Horizonte, Brasil, sabrina.penasso@engenharia.ufjf.br

Mario Vicente Riccio Filho


UFJF, Juiz de Fora, Brasil, mvrf1000@gmail.com

Ennio Marque Palmeira


UnB, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

Michel Moreira Morandini Fontes


Fonntes Geotécnica, Belo Horizonte, Brasil, michel@fonntesgeotecnica.com

RESUMO: As estruturas sobre depósitos de solo mole posuem baixa capacidade de suporte e alta compressibilidade. Para
estabilizá-las podem ser utilizadas colunas granulares encamisadas, que promovem um confinamento adicional, levando
à mobilização de maior resistência ao cisalhamento. Torna-se necessário então, estudar a ação do carregamento lateral,
uma vez que essa solicitação pode ocorrer na ponta dos aterros. Desse modo, o objetivo deste trabalho é analisar o
comportamento de colunas granulares encamisadas miniaturizadas cisalhadas em grupo. Em campo, o uso de colunas
granulares encamisadas se dá em solo argiloso mole, porém, para a simulação foi utilizado solo arenoso no preenchimento
da coluna e da área circundante a ela. O material foi pluviado com densidades relativas de 40% e 100%. Foram realizados
ensaios de resistência ao cisalhamento direto variando o número de colunas encamisadas com lona plástica de polietileno
de baixa densidade (rigidez igual a 80 kN/m) em 1, 2, 4 e 9. Os resultados mostraram que houve aumento do intercepto
coesivo e do ângulo de atrito com o acréscimo de colunas, sendo os aumentos mais significativos para a areia compacta
(Dr=100%) que a fofa (Dr=40%).

PALAVRAS-CHAVE: Coluna Granular Encamisada, Cisalhamento Direto, Geossintético, Efeito de Grupo.

ABSTRACT: Structures on soft soil deposits have low bearing capacity and high compressibility. To stabilize them,
Geosynthetic Encased Columns can be used, which promote additional confinement, leading to the mobilization of greater
shear strength. It is then necessary to study the action of lateral loading, since this request can occur at the tip of the
embankments. Thus, the objective of this work is to analyze the behavior of group-sheared miniaturized Geosynthetic
Encased Columns. In the field, the use of Geosynthetic Encased Columns occurs in soft clayey soil, however, for the
simulation, sandy soil was used to fill the column and the area surrounding it. The material was rained with relative
densities of 40% and 100%. Direct shear strength tests were carried out by varying the number of columns lined with
low-density polyethylene plastic canvas (stiffness equal to 80 kN/m) by 1, 2, 4 and 9. The results showed that there was
an increase in the cohesive intercept and of the friction angle with the addition of columns, being more significant for
compact sand (Dr=100%) than loose sand (Dr=40%).

KEY WORDS: Geosynthetic Encased Columns, Direct Shear, Geosynthetic, Group Effect.

1 INTRODUÇÃO Entre as soluções disponíveis, a estabilização do


solo mole com colunas granulares é uma opção para
As estruturas sobre depósitos de solo mole são um reduzir o recalque e aumentar a capacidade de carga
desafio para a engenharia geotécnica, devido à sua do aterro, devido à facilidade de instalação e custo em
baixa capacidade de suporte e alta compressibilidade. comparação aos demais métodos (MOHAPATRA;
Desse modo, é necessário atrelar os requisitos de RAJAGOPAL, 2015). Porém, quando aplicadas em
dimensionamento, custo e tempo à obra de solos extremamente moles, pode não haver
estabilização de aterros construídos nessas confinamento lateral, levando ao abaulamento das
condições. colunas em profundidades rasas, resultando em

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


222
maiores recalques do aterro e intrusão de solo mole 2.2 Preparo da amostra
na coluna de brita, diminuindo sua seção drenante
(MURUGESAN; RAJAGOPAL, 2006). Antes de dar início aos ensaios, o material granular
Os problemas citados podem ser solucionados foi peneirado para retirada do material orgânico
utilizando um invólucro geossintético, que promove grosso e lavado para extração do sal presente na areia.
confinamento adicional, levando à mobilização de Essa lavagem contemplou um período de repouso do
maior resistência ao cisalhamento. Torna-se material em água durante 24 horas, o qual, na
importante que o efeito da ação do carregamento sequência, foi seco na estufa. Esse procedimento foi
lateral seja quantificado para se ter um entendimento repetido duas vezes, estando a amostra preparada
completo sobre as colunas granulares encamisadas para a realização dos ensaios.
(MOHAPATRA et al., 2016).
O presente trabalho tem o intuito de promover o 2.3 Pluviador
estudo do desempenho das colunas granulares
encamisadas com geossintético (GEC’s), realizando O pluviador foi calibrado, definindo a densidade
uma análise de grupo com diferentes números de relativa que cada funil fornece durante a pluviação.
colunas e configurações a fim de ser verificar a Nesse trabalho, foi utilizado o funil com diâmetro
influência do número de camisas no comportamento igual a 5 mm para obtenção da areia compacta, de
mecânico do conjunto solo-coluna encamisada. densidade relativa (DR) igual a 100%, e o funil com
abertura de 60 mm para a areia fofa, de densidade
relativa (DR) igual a 40%.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.4 Camisa de lona plástica de PEBD
O modelo reduzido procurou simular a aplicação de
GEC’s em laboratório, por meio do ensaio de A lona plástica preta de polietileno de baixa
resistência ao cisalhamento direto. Em campo, o uso densidade (PEBD) utilizada neste trabalho possui
de colunas granulares encamisadas se dá em solo módulo de rigidez (J) próximo a 20 kN/m e espessura
argiloso mole, porém, para a simulação foi utilizado (e) igual a 0,1 mm (valor fornecido pelo fabricante do
solo arenoso no preenchimento da coluna e da área produto), sendo o módulo de elasticidade (E)
circundante a ela. Assim há maior facilidade para estimado em 200 MPa. Apesar da lona plástica não
avaliar o ganho de resistência do solo em função do ser permeável, o ensaio de cisalhamento direto possui
revestimento geossintético e determinar as tensões configuração drenante, desse modo, não é gerado
cisalhantes e as deformações específicas. A excesso de poropressão durante a exeução do ensaio
configuração foi baseada em Rodrigues (2020) a fim em laboratório.
de comparar os resultados obtidos.
Cabe ressaltar que foi utilizada areia ao invés de 2.5 Modelo de laboratório
solo mole por razão de simplificação do modelo
reduzido laboratorial e pelo fato das características da Para a análise de grupo, a densidade relativa (DR) da
areia serem bem conhecidas e já haver ensaios de areia foi igual no interior da coluna e no solo
cisalhamento direto efetuados por Rodrigues (2020). circundante a ela, sendo realizados ensaios de
cisalhamento direto com DR = 40% e DR = 100%,
2.1 Areia para ambos. O módulo de rigidez do encamisamento
foi fixado em 80 kN/m em todos os ensaios de grupo,
A areia utilizada foi coletada na praia de São sendo correspondente a 4 voltas da camisa de lona
Francisco em Niterói – RJ, a mesma utilizada no plásrica pelo molde.
trabalho de Rodrigues (2020). Esse material também Para a realização dos ensaios, buscando avaliar o
já foi estudado por Oliveira Filho (1987) e Riccio efeito de grupo, foram utilizados quatro modelos
(2001). distintos, variando o número de colunas em: 1, 2, 4 e
De acordo com Rodrigues (2020), o material 9. A Figura 1 apresenta as diferentes configurações
possui 95,16% de areia fina, 4,75% de areia média e das colunas encamisadas dispostas na cixa de
0,07% de finos, sendo classificado como areia fina cisalhamento direto. Os ensaios foram realizados na
com vestígio de areia média e finos. A areia apresenta caixa de cisalhamento quadrada com 10,0 cm de lado,
curva granulométrica graduada e muito uniforme, no Laboratório de Mecânica dos Solos da
com CNU igual a 1,7 e CC igual a 0,9. A densidade Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
real (γs) encontrada foi de 2,652 gf/cm³, índice de
vazios máximo (emáx) igual a 0,86 e mínimo (emín)
de 0,53.

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223
(a) Figura 2, onde o material foi enrolado em volta do
bastão na quantidade de voltas desejada. A camisa foi
soldada com cola “ultra bond” em um transpasse de
0,5 cm a cada volta inteira; sendo retirada do molde
após finalizado o processo, adquirindo o formato de
coluna.

(b)

Figura 2. Moldagem das camisas de lona plástica de


PEBD.

A configuração típica de GEC’s baseou-se no


aterro teste da TKCSA (Companhia Siderúrgica do
Atlântico Sul), apresentado na Figura 3. A coluna
(c) possui diâmetro (c) igual a 80 cm e espaçamento
(S) de 200 cm, com diâmetro de influência (de) igual
a 226 cm (1,13 x S) e razão de substituição de área
(ae) equivalente a 12,53%.

(d)

Figura 3. Malha quadrangular típica de colunas granulares


encamisadas.

Assim, para representar a situação de campo no


modelo laboratorial, sendo o diâmetro da coluna do
protótipo igual a 2,124 cm, foi aplicado um fator de
redução (FR) de 37,67.
Figura 1. Configuração da caixa de cisalhamento para
análise em grupo, dimensões em centímetros: (a) 1 coluna; De acordo com Pinto e Cousens (1999), o material
(b) 2 colunas; (c) 4 colunas; (d) 9 colunas. usado em laboratório deve ter uma espessura de 1/FR
do valor do protótipo e uma deformabilidade de
1/FR² do valor do protótipo. Assim, o fator de
A fabricação das colunas de lona plástica foi feita redução (FR) deve ser aplicado ao módulo de
com o auxílio de um molde metálico de diâmetro elasticidade e à área. Desse modo, para que a
igual a 2,124 cm, produzido pelo Instituto de condição de campo seja representada na escala
Ciências Exatas da Universidade Federal de Juiz de reduzida e condição 1g (uma gravidade), o módulo
Fora. A montagem das camisas está apresentada na

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224
de rigidez (Equação 1) deve ser 37,67² (FR²) vezes de ensaio igual a 0,08 mm/min. Os passos seguidos
menor (Equação 2). estão apresentados na Figura 4, onde a caixa de
cisalhamento utilizada possui 10,0 cm de lado,
J (kN/m) = E (kN/m²) × e (m) (1) conforme configuração representada na Figura 1.

Jcampo (kN/m)
Jlaboratório (kN/m) = 37,67²
(2)

Sendo o módulo de rigidez da camisa de lona


plástica PEBD aproximado em 80 kN/m, pela relação
da Equação 2, o módulo da rigidez a ser representado
em campo para o geossintético é de
aproximadamente 113522,3 kN/m.
Cabe ressaltar que, devido ao valor do módulo de
rigidez à tração da lona plástica de PEBD utilizada no
modelo de laboratório, os valores de módulo de
rigidez correspondentes ao protótipo ficaram
superiores aos usuais em situação de campo, embora
geossintéticos com valores de rigidez superiores a
30000,0 kN/m já estejam disponíveis na presente
data.
Os ensaios de resistência ao cisalhamento
direto seguiram as instruções da ASTM
D3080/D3080M (2014). Primeiramente, a célula de
cisalhamento foi preenchida com a areia seca e
posicionada na máquina da Wille Geotechinik
modelo LO 2900, em seguida foi saturada para
impedir o possível ganho de resistência da areia seca
devido à resistência de canto dos grãos. Na sequência
foi adensada com tensões normais prescritas até sua
estabilização.
A configuração das cargas dispostas no suporte de
peso do balanço ficou como indicado na Tabela 1.
Como é possível notar, a carga do top cap
(dispositivo colocado acima do corpo de prova que
permite o acoplamento do pendural) é de 10,776 N.

Tabela 1. Configuração das cargas aplicadas no suporte do


balanço da LO 2900 para cada tensão normal desejada no
corpo de prova.
ÁreaCélula de
σn Peso Top Faplicada Fpeso
Cisalhamento Fpeso (N)
(kPa) Cap (N) (N) (kgf)
(m²)
7,9 79 6,822 0,695
14,9 149 13,822 1,409
29,1 291 28,022 2,857 Figura 4. Ensaio de resistência ao cisalhamento direto para
0,0100 10,776 análise de grupo: posicionamento das colunas, pluviação
57,3 573 56,222 5,731
100 1000 98,922 10,084 da areia, posicionamento da caixa na máquina.
200 2000 198,922 20,278

As colunas foram moldadas com lona plástica de 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO


PEBD, o preenchimento da areia foi feito com o
pluviador, em seguida o corpo-de-prova foi saturado, Foram realizados ensaios de resistência ao
adensado com as cargas descritas na Tabela 1 e cisalhamento direto com o encamisamento de lona
submetido ao cisalhamento direto com a velocidade plástica PEBD variando o número de colunas em 1,

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225
2, 4 e 9 e rigidez da camisa de 80 kN/m. A densidade 275
J80N1C40F40 y = tg(33,5 )x + 6,7 kPa
relativa da areia foi a mesma dentro e fora da coluna, 250
variando entre 40 e 100%. A seguir serão J80N2C40F40 y = tg(36,0 )x + 7,0 kPa
225
apresentados os resultados encontrados na análise de J80N4C40F40 y = tg(36,3 )x + 9,1 kPa

Tensão Cisalhante Máxima (kPa)


200
grupo. J80N9C40F40 y = tg(38,0 )x + 11,3 kPa
175
A partir dos gráficos de tensão cisalhante em
função do deslocamento horizontal, foram traçadas 150
as envoltórias de resistência ao cisalhamento de cada 125
modelo ensaiado, sendo possível fazer uma análise 100
do comportamento dos parâmetros de resistência de 75
acordo com o número de colunas.
50
A Figura 5 e a Figura 6 apresentam as envoltórias
de resistência de pico para a areia com DR = 40% e 25

DR = 100%, respectivamente. Na Figura 7 e na 0


0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250
Figura 8 há a representação das envoltórias de
Tensão Normal (kPa)
resistência crítica registradas a 7 mm de
deslocamento horizontal, para essas mesmas areias
Figura 7. Envoltórias de resistência crítica para DR = 40%:
citadas anteriormente. análise de grupo.
275
J80N1C40F40 y = tg(33,5 )x + 6,4 kPa
250 275
J80N2C40F40 y = tg(36,0 )x + 7,4 kPa J80N1C100F100 y = tg(37,4 )x + 9,1 kPa
225 250
Tensão Cisalhante Máxima (kPa)

J80N4C40F40 y = tg(36,3 )x + 9,1 kPa J80N2C100F100 y = tg(41,1 )x + 9,2 kPa


200 225
J80N4C100F100 y = tg(42,1 )x + 14,5 kPa
J80N9C40F40 y = tg(38,0 )x + 11,3 kPa
Tensão Cisalhante Máxima (kPa)

175 200 J80N9C100F100 y = tg(50,4 )x + 18,1 kPa


150 175
125 150
100 125
75 100
50 75
25 50
0 25
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250
Tensão Normal (kPa) 0
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250
Figura 5. Envoltórias de resistências de pico DR = 40%:
Tensão Normal (kPa)
análise de grupo.

275 Figura 8. Envoltórias de resistência crítica para DR =


J80N1C100F100 y = tg(42,6 )x + 13,1 kPa 100%: análise de grupo.
250
J80N2C100F100 y = tg(43,3 )x + 15,3 kPa
225
J80N4C100F100 y = tg(46,3 )x + 17,3 kPa
Tensão Cisalhante Máxima (kPa)

200 J80N9C100F100 y = tg(49,7 )x + 24,4 kPa Observou-se que algumas curvas tensão-
175 deslocamento dos ensaios eecutados com areia
150 compacta (DR = 100%) apresentaram picos de
125 tensão.
100
Os resultados indicados na Tabela 2 mostram o
aumento do intercepto coesivo (coesão aparente
75
equivalente) e do ângulo de atrito com o acréscimo
50
de colunas, sendo mais significativo para a areia
25 compacta. A Figura 9 apresenta o esquema dos
0 códigos na descrição das análises dos ensaios
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250
laboratoriais.
Tensão Normal (kPa)

Figura 6. Envoltórias de resistências de pico DR = 100%:


análise de grupo.

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226
Tabela 2 – Parâmetros de resistência da análise de grupo 52 C40F40 C100F100
com camisa de lona plástica PEBD.

Ângulo de Atrito ( )
Resistência de Resistência 48
Análise Pico Crítica
c’ (kPa) ϕ’ ( ) c’ (kPa) ϕ’ ( )
44
J80N1C40F40 6,4 33,5 6,7 33,5
J80N2C40F40 7,4 36,0 7,0 36,0
40
J80N4C40F40 9,1 36,3 9,1 36,3
J80N9C40F40 11,3 38,0 11,3 38,0
J80N1C100F100 13,1 42,6 9,1 37,4 36
J80N2C100F100 15,3 43,3 9,2 41,1
J80N4C100F100 17,3 46,3 14,5 42,1 32
J80N9C100F100 24,4 49,7 18,1 50,4 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Número de Colunas
30 C40F40 C100F100

Intercepto Coesivo (kPa)


25

20

15

Figura 9. Esquema dos códigos na descrição das análises. 10

A relação dos parâmetros de resistência de pico e 5


crítica é mais evidente para a areia compacta (DR =
100%), como pode ser visto na Figura 10 e na Figura 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
11.
52 C40F40 C100F100
Número de Colunas
Figura 11. Parâmetros de resistência crítica das envoltórias
Ângulo de Atrito ( )

48
conforme o número de colunas.

44
Observa-se que com o aumento no número de
40 colunas, houve um acréscimo no ângulo de atrito e no
intercepto coesivo. Essa elevação conjunta dos
36 parâmetros reflete o comportamento de aumento da
resistência.
32 A Figura 12 apresenta as fotos dos corpos-de-
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 prova após a execução dos ensaios de cisalhamento
Número de Colunas direto, para as diferentes configurações: 1, 2, 4 e 9
30 C40F40 C100F100
colunas encamisadas com lona plástica,
Intercepto Coesivo (kPa)

25 respectivamente.

20

15

10

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Número de Colunas
Figura 10. Parâmetros de resistência de pico das
envoltórias conforme o número de colunas.

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227
aumento de resistência do conjunto solo-coluna
conforme foram adicionadas camisas e rigidez no
encamisamento.
Na análise de grupo, com encamisamento com 80
kN/m de rigidez, variando o número de colunas em
1, 2, 4 e 9, houve aumento dos parâmetros de
resistência na condição de pico e crítica, sendo mais
evidente para a areia compacta.
Os aumentos nos parâmetros de resistência ao
cisalhamento, sejam coesão aparente e/ou ângulo de
atrito, monstraram-se proeminente nas duas
condições de análise. Dessa forma, houve aumentos
de resistência consideráveis na condição de pico e na
condição crític (residual). Para efeito de análise de
estabilidade da fundação, sugere-se a análise em
termos de condição de pico.
Com relação à aplicação prática, observa-se que o
artigo traz informações interessantes quanto à análise
de estabilidade da fundação composta pelo solo e
pelas colunas. Observa-se que, com o aumento do
número de colunas, os parâmetros de resistência do
conjunto solo-colunas aumentam. Isso mostra que a
razão de áreas interfere no fator de seguranaça a
respeito da fundação do aterro, ou seja, quanto maior
for a densidade de colunas, maior será o fator de
segurança contra rotura do aterro.
Cabe ressaltar que apesar das limitações de escala,
a escolha do equipamento de cisalhamento mostrou-
se adequada para as pretensões do estudo, pela
rapidez na realização de ensaios e para acomodar um
número maior de colunas, que no presente caso foi
igual a 9, sendo este o maior número de colunas
ensaiado. Ensaios em espaços menores podem
também ser encontrados na literatura, como
reportado em Mohapatra et al. (2016) que também
utilizou a caixa de cisalhamento direto para analisar
colunas granulares encamisadas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao grupo de pesquisa da Frente


Ferroviária da Universidade de Brasília. Ao Exatas
da Universidade Federal de Juiz de Fora pela
confecção do molde metálico. E à FAPEMIG, pelo
Figura 12. Corpos-de-prova da análise de grupo após a
realização dos ensaios de cisalhamento direto: 1, 2, 4 e 9
apoio financeiro e à pesquisa
colunas, respectivamente.
REFERÊNCIAS

4 CONCLUSÃO ALMEIDA, M. S. S.; RICCIO, M. V. F.; BABAEI, I. H.;


ALEXIEW, D. Geosynthetic Encased Columns for
Este trabalho contemplou um espaço amostral de 48 Soft Soil Improvement. Leiden, Holanda: CRC
amostras cisalhadas. As condições de ensaios foram Press/AA Balkema, 2019.
com a areia saturada e velocidade de deslocamento ASTM. D3080/D3080M - 11 - Standard Test Method for
de 0,08 mm/min da célula de cisalhamento. Nos Direct Shear Test of Soils Under Consolidated Drained
Conditions. American Society for Testing and
ensaios de laboratório, confirmou-se a expectativa de
Materials. West Conshohocken, Estados Unidos, p. 9,

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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2014.
EBGEO. Recommendations for Design and Analysis of
Earth Structures Using Geosynthetic Reinforcements.
German Geotechnical Society Ernst & Sohn Verlag für
Architektur und technische Wissenschaften GmbH &
Co. KG, Berlin, Germany. 2011.
MOHAPATRA, S. R.; RAJAGOPAL, K. Experimental
and Numerical Modelling of Geosynthetic Encased
Stone Columns Subjected to Shear Loading. The 15th
Asian Regional Conference on Soil Mechanics and
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MOHAPATRA, S. R.; RAJAGOPAL, K.; SHARMA, J.
Direct Shear Tests on Geosynthetic-Encased Granular
Columns. Geotextiles and Geomembranes, Elsevier
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MURUGESAN, S.; RAJAGOPAL, K. Geosynthetic-
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Geotextiles and Geomembranes, Elsevier Science
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OLIVEIRA FILHO, W. L. Considerações sobre Ensaios
Triaxiais em Areias. Dissertação de Mestrado, Instituto
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Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
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PALMEIRA, E. M. Geossintéticos em geotecnia e meio
ambiente. Oficina de Textos, 2018.
RICCIO, M. V. F. Estudo Experimental da Interação Solo-
Reforço Incluindo a Simulação da Compactação.
Dissertação de Mestrado, Instituto Alberto Luiz
Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(COPPE/UFRJ). Rio de Janeiro, 2001.
RODRIGUES, L. F. N. Estudo do Cisalhamento em
Colunas Granulares Encamisadas. Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Engenharia da Pós-Graduação
em Engenharia Civil da Universidade Federal de Juiz
de Fora, p. 145, 2020.
PENASSO, S. M. Estudo experimental, numérico e
analítico de colunas granulares encamisadas.
Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia da
Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade
Federal de Juiz de Fora, p. 197, 2022.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


229
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Modelagem Física de Plataformas de Transferência de Carga


reforçadas com geossintético utilizando um sistema estratificado de
solos transparentes
D. W. M. Santos
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, dhionata.wsantos@gmail.com

F. H. M. Portelinha
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, fportelinha@ufscar.br

RESUMO: Os aparatos de alçapão tem sido comumente utilizado em ambientes laboratoriais para simular o
comportamento de aterros estaqueados. Embora esse conjunto possa ser simplificadamente representado por um sistema
de alçapões, a complexidade imposta pela interação entre a camada granular, solo mole e as estacas ainda é pouco
estudada. Por conta disso, o presente artigo propõe o uso de um sistema estratificado de solos transparentes para investigar
o comportamento de plataformas de transferência de carga reforçadas com geossintético através da experimentação por
modelos físicos. O material granular foi simulado por uma areia transparente composta por grãos de quartzo fundido e
um fluido de saturação, ambos transparatens, enquanto a argila mole foi simulada por uma argila sintética transparente
comercialmente conhecida como Laponite RD®. A técnica de Velocimetria de Imagens por Partículas (PIV) foi utilizada
para monitorar o campo de deslocamento do sistema estratificado. Os modelos físicos emitiram padrões de deformações
que assemelham-se ao padrão triângular de expansão. Além disso, o padrão de deflexão das plataformas de transferência
de carga rememoram uma viga contínua de concreto submetida a flexão. Por fim, a presença do reforço reduziu
significativamente os deslocamentos verticais e horizontais do sistema estratificado de solos transparentes.

PALAVRAS-CHAVE: Solos transparentes, Quartzo, Laponite RD®, Sistema estratificado, Plataforma de transferência
de carga

ABSTRACT: Trapdoor tests have been commonly used as laboratory tests to simulate the behavior of piled
embankments. However, these are simplified approaches not accounting with the existing complexity related to the
interaction between the embankment mass, soft foundation soil and piles, demanding further investigations. The present
article proposes the use of a layered system of transparent soils to investigate the behavior of load transfer platforms
reinforced with geosynthetic based on physical models behavior. The granular material was simulated by a transparent
sand composed of fused quartz grains and a matching pore fluid, while the soft foundation clay was simulated using a
transparent synthetic clay commercially known as Laponite RD®. The Particle Image Velocimetry (PIV) technique was
adopted to monitor the displacement field of the layered system. The physical models emitted deformation patterns that
resemble the triangular pattern of expansion. Furthermore, the deflection pattern of the load transfer platforms indicates
a behavior of the granular layer similar to a continuous concrete beam subjected to bending effects. Finally, the presence
of reinforcement significantly reduced the vertical and horizontal displacements of the stratified system of transparent
soils.

KEY WORDS: Transparent soils, Fused quartz, Laponite RD®, Layered system, Load transfer platform

1 INTRODUÇÃO incentivado o desenvolvimento contínuo de novas técnicas


de melhoria. Abhishek e Madhav (2016) descrevem
A construção de aterros sobre solos moles tem diferentes soluções para construção de aterros sobre solos
crescido exponencialmente devido à carência de terrenos moles: drenos verticais pré-fabricados, reforços basais
com caraterísticas geotécnicas adequadas para com geossintéticos, colunas granulares, estacas rígidas e as
infraestruturas e outras obras. Esses solos estão associados plataformas de transferência de carga (PTC). Essas
a problemas de expansão, dispersão, deslocamentos soluções possuem vantagens e desvantagens e suas
excessivos e uma baixa capacidade de suporte (GHOSH; aplicações devem ser avaliadas caso a caso com base em
FATAHI; KHABBAZ, 2017). Tais problemas têm muitos fatores, entre eles, as condições reais do local, o

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230
tempo disponível e os objetivos da construção do aterro Unificado de Classificação dos Solos (SUCS), o quartzo
(DANG et al., 2008). Quando o prazo de obra é porta-se como uma areia mal graduada (SP).
relativamente limitado recorre-se normalmente a solução
de aterros estaqueados ou reforçados por colunas com
PTCs reforçadas ou não com geossintéticos (SCHAEFER
et al., 2017). Os benefícios inerentes a essa técnica é a
possibilidade de construção em um único estágio, redução
significativa dos recalques totais e diferenciais, descarte da
necessidade de escavações e substituição do solo (HAN;
GABR, 2002).
Para o dimensionamento de aterros estaqueados
reforçados com geossintéticos deve-se considerar a
ocorrência de dois mecanismos para a estimativa da
Figura 1. Quartzo fundido
distribuição das tensões no conjunto: o arqueamento do
solo e efeito membrana. Referências internacionais A fase líquida é composta pela mistura do
recomendam uma filosofia de projeto discretizada em dois petrolato líquido com óleo de terebentina em proporção
estágios (BS8006, 2010; CUR226, 2016; EBGEO, 2011). 1:1 (massa). O índice de refração de ambos os fluidos
O primeiro estágio refere-se à quantificação da carga equivalem, respectivamente, a 1,4779 e 1,4400, resultando
transferida para cabeça das estacas a luz de um modelo de em uma mistura com o índice de refração de interesse
arqueamento do solo. A carga remanescente atua no (1,4585).
reforço geossintético e no subsolo entre as estacas. O Para caracterização geotécnica da areia
segundo estágio consiste na estimativa da tração transparente foram realizados ensaios para determinação
mobilizada pelos geossintéticos incorporando modelos de dos seguintes parâmetros: massa específica dos sólidos
membranas (KING et al., 2021). Algumas referências (NBR 6458:2016), índice de vazios máximo (NBR
possibilitam ainda, dentro do segundo estágio, o 16840:2020), índice de vazios mínimo (NBR 16843:2020)
levantamento da parcela de carga do aterro atuante do e ângulo de atrito seco e em contato com os fluidos de
subsolo (CUR226, 2016; EBGEO, 2011). saturação (ASTM D3080). Os resultados encontram-se na
Uma das técnicas mais difundidas em ambientes Tabela 1.Uma representação do ensaio de cisalhamento
laboratoriais para simular o comportamento de aterros direto na condição seca e saturada é mostrada na Figura 2.
estaqueados é o aparato de multi-alçapões (RUI et al.,
Tabela 1. Caracterização geotécnica da areia transparente
2016, 2019, 2020a, 2020b; ZHANG et al., 2021). Embora
Propriedades Método Valores
o comportamento de aterros estaqueados possa ser
simulado por um sistema de alçapões, a complexidade s (kN/m³) - 22,20
imposta pela interação entre a camada granular, solo mole dmáx (kN/m³) 13,00
Método B
e as estacas ainda é pouco estudada. emín 0,71
Por conta disso, o presente artigo tem como dmín (kN/m³) 11,20
Método B1
objetivo o monitoramento de dois modelos físicos emáx 0,99
bidimensionais em escala 1:10 de plataformas de seco (°) - 49,00
transferência de carga reforçada com geossintético saturado (°) - 49,30
utilizando um sistema estratificado de solos transparentes (a) (b)
composto pelo Quartzo Fundido e a Laponite RD®. O
conteúdo desse artigo contempla duas etapas distintas: 1)
caracterização dos solos transparentes; 2) execução e
monitoramento (PIV) dos modelos físicos.

2 MATERIAL E MÉTODO
2.1 Solos transparentes
2.1.1 Areia transparente
A areia transparente é um meio bifásico
composto por partículas sólidas e um fluido de saturação Figura 2. Cisalhamento direto da areia transparente: (a)
com índices de refração compatíveis. Para a confecção da Quartzo seco; (b) Quartzo saturado.
areia transparente utilizou-se o quartzo fundido com
elevado teor de pureza nominal (99,995%). Para isso, 2.1.2 Argila Transparente
foram adquiridos rejeitos do processo de fabricação de A argila transparente foi preparada a partir da
produtos de vidro de quartzo em formato de tubos e outras adição de 7% de Laponite RD® em água destilada, cujo
vidrarias. O preparo das partículas granulares consistiu nas um perfil circulante é impelido por um agitador mecânico
etapas de moagem e peneiramento conforme mostrado na de alta velocidade. O ensaio Ball Penetration Test (BPT)
Figura 1. A granulometria selecionada possui um foi utilizado para estudar a resistência não-drenada da
coeficiente de uniformidade Cu = 1,41, coeficiente de Laponite RD® e verificar a influência do fluido de
curvatura Cc = 0,94, D50 = 1,75 mm e, segundo o Sistema

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231
saturação da camada granular no comportamento 2.3 Configuração dos testes
mecânico da argila transparente. O procedimento do
ensaio BPT seguiu recomendações de Ads et al. (2020). A A configuração adotada é mostrada na Figura 4.
ponteira do ensaio BPT é apresentado na Figura 3. O Em seguida, na Figura 5, é apresentado o modelo físico
cenário de análise compreendeu amostras virgens (7 dias), sem reforço geossintético finalizado. As faces da caixa são
ou seja, sem contato com a mistura de petrolato líquido e de acrílico e possuem 10 mm de espessura, as quais
óleo de terebentina e aquelas que foram expostas a esse permitem a captura dos deslocamentos em tempo real, a
fluido de saturação durante 24 (8 dias), 48 (9 dias) e 72 h partir de técnicas de visualização óptica. As dimensões
(10 dias), respectivamente. A resistência nominal de cada interna do modelo são 400 mm x 400 mm x 200 mm
ensaio, ou seja, na profundidade correspondente a dois (comprimento x altura x largura).
diâmetros (40 mm) encontram-se na Tabela 2. De acordo
com os resultados, em até 72 h, o fluido de saturação não
mostrou influência no comportamento mecânico da argila
transparente.

Figura 4: Configuração do modelo

Figura 3: Ensaio BPT


Tabela 2. Resistência nominal da argila transparente
Idade da amostra 𝑺𝒖
7 dias (virgem) 0,39 kPa
8 dias 24 h de exposição 0,41 kPa
9 dias 48 h de exposição 0,41 kPa
10 dias 72 h de exposição 0,43 kPa

2.2 Geossintético
Figura 5: Sistema estratificado de solos transparentes
Para caracterização mecânica da geogrelha em
miniatura foi realizado o ensaio de resistência a tração
faixa larga baseado na NBR ISO 10319 (ABNT, 2013b) . Adotou-se PTCs com 75 mm de altura, o que
Utilizando o princípio de similitude de escala proposta por equivale, em escala real, a uma plataforma com 750 mm
(VISWANADHAM; KÖNIG, 2004), foi realizada a de altura. Os elementos isolados de fundação são
extrapolação para o protótipo (valor médio de 5 amostras compostos por estacas rígidas (concreto) e argila mole. A
para cada direção). espessura da camada de argila, largura do capitel, largura
do fuste da estaca e espaçamento entre estacas são de 150
mm, 50 mm, 20 mm, 200 mm, respectivamente. Esses
Tabela 3. Propriedades da geogrelha modelo e protótipo parâmetros conferem ao modelo uma altura relativa H/(s-
Modelo físico Protótipo a) de aproximadamente 0,53 (H = altura da PTC; s =
Propriedade
Lon. Transv. Lon. Transv. espaçamento de centro-a-centro de estacas; e a = lagura do
ruptura (%) 22,85 43,13 22,85 43,13 capítel) e espaçamento relativo (s-a) / a igual a 3.
Tmáx (kN/m) 4,05 2,76 405 276 Para confecção da camada de argila transparente
J5% (kN/m) 12 0,91 1200 91 utilizou-se um teor de Laponite RD® de 7%, ou seja,
adotou-se uma mistura com aproximadamente 0,40 kPa de
resistência não-drenada. Esse valor, na escala do protótipo,

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232
seria equivalente a uma argila muito mole com resistência
não drenada de aproximadamente 4 kPa.
Para simular carregamentos semelhantes ao peso
próprio de aterros, no topo da PTC foi colocado uma placa
de poliestireno de 100 mm de altura seguido de uma placa
rígida, ambos com 380 mm de comprimento e 180 mm de
largura. A função do poliestireno é criar uma zona de
transição flexível, semelhante ao corpo de um aterro, entre
a PTC e a placa rígida, evitando que a aplicação de carga
no topo da plataforma assemelhasse-se à um radier.
Um tecido de algodão com função separação foi
posicionado na interface areia-argila transparente para
evitar a mistura dos materiais de diferentes naturezas além
de proteger a geogrelha contra abrasão. É importante
mencionar que entre o tecido de proteção e a geogrelha
modelo propriamente dita foi colocado uma camada de 5-
10 mm de material granular para haver a interpenetração
da geogrelha.
Os ensaios consistiram na compressão da placa
rígida sobre o modelo a uma taxa de deslocamento
constante de 2 mm/min. O carregamento era interrompido
com 30 kPa, o qual era o limite admitido para caixa de Figura 6. Campo de deslocamentos verticais (mm): (a)
acrílico sem danificá-la. sem reforço; (b) com reforço.
As deformações do sistema estratificado de solos
transparentes foram monitorados utilizado o PIVlab Deslocamento (mm)
(THIELICKE; SONNTAG, 2021; THIELICKE; 0 2,5 5 7,5 10 12,5 15 17,5
STAMHUIS, 2014). Em cada camada de solo transparente 0
25 Areia transparente
foi incorporado um plano de partículas opacas marcadoras
50
Elevação (mm)

para aumentar a rastreabilidade das camadas durante um 75


dado carregamento. 100 Argila transparente
125
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 150
175
Reforçado
200
3.1 Deslocamentos verticais 225 Não reforçado
250
Na Figura 6 encontram-se o campo de
deslocamentos verticais para o sistema estratificado de Figura 7. Perfil de deslocamento vertical.
solos transparentes. Arbitrou-se ao topo da plataforma a
elevação 0. Isso significa que a interface areia-argila os quais relatam, por exemplo, que a presença de
encontra-se na elevação 75 mm. Para o modelo sem geogrelhas mais rígidas captam mais carga através do
reforço, dentro da PTC, nota-se que os deslocamentos são efeito membrana e com isso, menos arqueamento de solo
inferiores em sua superfície e apresentam um suave é desenvolvido. No entanto, ao longo da profundidade, é
aumento nos primeiros 20 mm. Em seguida, tornam-se nítido a influência do reforço no perfil de deslocamento.
basicamente constantes até a cota de 60 mm. Nas
imediações do tecido de separação, o perfil deslocamento
3.2 Deslocamentos Horizontais
sofre uma pequena redução, provavelmente devido a sua
presença. Por outro lado, o modelo com reforço apresentou Na Figura 8 encontram-se o campo de deslocamentos
os maiores valores de deslocamentos verticais no topo da horizontais do sistema estratificado de solos transparentes
PTC. Posteriormente a isso, exibiu uma suave redução até com e sem reforço geossintético. Esses resultados indicam
a cota de 20 mm. Em seguida, o perfil de deslocamento que as PTCs emitem um padrão de deformação similar à
mostrou uma tendência similar aquela apresentada para o uma viga contínua de concreto submetida a flexão. Isso
caso sem reforço. significa que nas regiões adjacente as estacas os grãos de
Para facilitar a interpretação dos resultados, quartzo se afastam na parte superior e se aproximam na
plotou-se os valores deslocamentos verticais parte inferior da PTC. Entre as estacas, o padrão de
correspondentes as seções I-I e II-II (Figura 6) na Figura deformação é invertido. Percebe-se também, de modo
7. Percebe-se que, os deslocamentos do topo das PTCs são geral, uma redução significativa dos deslocamentos
praticamente os mesmos, independetemente do reforço horizontais com o uso do refoço geossintético. A presença
geossintético. Isso significa, provavelmente, que a do reforço, reduziu também, os reflexos do carregamento
presença do reforço reduziu a eficiência do arqueamento em profundidade.
do solo devido a redução dos deslocamentos diferenciais.
Esse efeito foi identificado também por Rui et al. (2019),

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233
Figura 8. Deslocamentos horizontais ao longo da Figura 9. Valores de deformação cisalhante: (a) sem
profundidade (mm): (a) sem reforço; (b) com reforço. reforço; (b) com reforço.

3.3 Análises das distribuições de deformacões


Rui et al. (2016) constataram três possíveis
padrões de deformação em aterros estaqueados utilizando
um aparato de multialçapão: 1) padrão triangular de
expansão (TEP) em casos em que H/(s-a) <= 1,5 e (s-a)/a
<=2; 2) padrão de desenvolvimento em formato de torre
(TDP) em casos em que H/(s-a) >=2 e (s-a)/a <=2; e 3)
padrão de deslocamentos equivalentes (ESP) em casos que
(s-a)/a>=3. Ambos os modelos de solos transparentes
apresentaram padrões de deformações que assemelham-se
ao TDP, conforme indicado pelos resultados de
deformação cisalhante na Figura 9. Para facilitar a
visualização, as principais superfícies de deslizamentos
foram indicadas por linhas pretas. Novamente, percebe-se
a influência do geossintético tanto nos valores de
deformação cisalhante quanto no comprimento das
superfícies críticas de cisalhamento.
A distribuição de deformacoes totais, ou seja, a
deformação na direção do vetor local são mostradas na
Figura 10. Valores negativos correspondem a deformações Figura 10. Deformação total: (a) sem reforço; (b) com
por compressão, enquanto valores positivos referem-se à reforço.
valores de deformação por tração. Altos valores de tração
ocorrem sobre os capitéis. Os valores máximos de bidimensionais de plataformas de transferência de carga
compressão encontram-se no topo da plataforma de reforçadas com geossintéticos utilizando um sistema
transferência de carga (entre estacas). Esses resultados estratificado de solos transparentes. Baseado nos
indicam, novamente, que as plataformas de transferência resultados encontrados, enumera-se as seguintes
de carga emitem um padrão de deflexão que remoram conclusões:
vigas contínuas de concreto. 1. A técnica de solos transparentes mostrou-se
promissora para simular o comportamento de de
sistemas estratificados;
2. A presença do reforço geossintético reduziu
4 Conclusão
significativamente os deslocamentos verticais e
horizontais do modelo;
Neste estudo realizou-se dois modelos físicos 3. A presença do reforço geossintético reduziu o
efeito do arqueamento do solo por conta da

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234
uniformização dos deslocamentos; dense sand by 2D model tests. Geotechnical Testing
4. As PTCs emitiram padrões de deformações que Journal, v. 39, n. 3, p. 415–430, 2016.
assemelham-se a um padrão triangular de RUI, R. et al. Experimental Investigation of Soil-Arching
expansão conforme apresentado por Rui et al. Development in Unreinforced and Geosynthetic-
(2016); Reinforced Pile-Supported Embankments. Journal of
5. O Padrão de deflexão das PTCs rememoram vigas Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, v.
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supported embankments using an interaction diagram.
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RUI, R. et al. Investigation of soil-arching development in

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235
TEMA 7: MUROS, TALUDES E SOLOS REFORÇADOS COM
GEOSSINTÉTICOS

236
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise da viabilidade técnica da verticalização de aterros sanitários


no Brasil com uso de estruturas em solos reforçados
Paulo Eduardo Oliveira da Rocha
Universidade Federal de São Carlos, Parnamirím, Brasil, paulo.rocha@geosolucoes.com

Thiago Villas Bôas Zanon


Solví Participação S.A., São Paulo, Brasil, tzanon@solvi.com

Fernando H. M. Portelinha
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, fportelinha@ufscar.br

RESUMO: Aterros sanitários possuem capacidade volumétrica limitada e quando seu nível de ocupação atinge valores
próximos ao limite estabelecido em projeto licenciado, devem ser encontradas novas áreas para ampliação ou implantação
de um novo aterro, para que não haja descontinuidade da gestão ambiental adequada dos resíduos sólidos urbanos (RSU),
com consequentes impactos ambientais, sociais e econômicos. Diante das dificuldades de viabilizar a expansão de aterros
sanitários, algumas técnicas da engenharia geotécnica têm sido empregadas, entre elas a utilização de diques construídos
em forma de estruturas de solo reforçado com geossintéticos. Para o presente artigo foi estudada a verticalização de dois
aterros sanitários brasileiros atualmente em operação empregando diques reforçados com a utilização de geogrelhas de
diferentes resistências, dimensionadas através de análises de estabilidade geral, por superfícies circulares e não circulares,
e verificações externas e internas dos diques reforçados. Nos dois casos estudados os resultados mostraram que há
viabilidade técnica para a verticalização dos aterros empregando-se geogrelhas, com incrementos de vida útil de até 11
anos. Por fim, o dimensionamento das geogrelhas resultou em valores de resistência disponíveis no mercado brasileiro,
contribuindo para a viabilidade econômica de ambas as estruturas.

PALAVRAS-CHAVE: Verticalização, Aterro Sanitário, Solo Reforçado, Geossintéticos, Resíduos Sólidos Urbanos.

ABSTRACT: Sanitary landfills have limited volumetric capacity and when their occupation level reaches values close to
the limit established in a licensed design, new areas must be found for expansion or implementation of a new landfill in
a new area is necessary, so that there is no discontinuity of the adequate environmental management of municipal solid
waste (MSW), with consequent environmental, social and economic impacts. Faced with the difficulties of making the
expansion of landfills feasible, some geotechnical engineering techniques have been employed, including the use of dikes
built as mechanically stabilized embankment (MSE). For the present article, vertical expansions of two Brazilian sanitary
landfills currently in operation was studied, using dikes reinforced with the use of geogrids with different resistances,
dimensioned through general stability analysis, by circular and non-circular surfaces, and external and internal
verifications of the reinforced dikes. In the two cases studied, the results showed that there is technical feasibility for the
verticalization of landfills using geogrids, with increments of useful life of up to 11 years. Finally, the dimensioning of
the geogrids resulted in resistance values available in the Brazilian market, contributing to the economic viability of both
structures.

KEY WORDS: Vertical Expansion, Sanitary landfill, Reinforced Soil, Geosynthetic, Municipal Solid Waste.

1 INTRODUÇÃO Brasil, a destinação sobre o solo é ainda mais


predominante: 60,5% são dispostos em aterros
A principal forma de destinação final de RSU sanitários, enquanto 39,5% em lixões ou aterros
(resíduos sólidos urbanos) globalmente é através da controlados (ABRELPE, 2022).
disposição final no solo: 45% desses resíduos são Mesmo com os aterros sanitários sendo uma
dispostos em alguma forma de aterro sanitário, técnica amplamente utilizada, eles possuem
enquanto 33% em lixões (Kaza et al, 2018). Já no capacidade volumétrica limitada.

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237
Quando o nível de ocupação de um aterro atinge
valores próximos ao limite do projeto de engenharia
licenciado, convencionalmente novas áreas para
ampliação do aterro ou escolha de nova área para
implantação de um novo aterro são desenvolvidas
para que não haja descontinuidade da gestão
ambiental adequada dos RSU, caso contrário tal
descontinuidade causa severos impactos ambientais,
sociais e econômicos. Com o passar dos anos, devido
ao crescimento das zonas urbanas e aumento das
exigências locacionais para aterros sanitários, torna- Figura 2. Verticalização de aterro de resíduos industriais
se cada vez mais difícil encontrar áreas viáveis para na India.
ampliação ou construção de novos aterros.
Diante das dificuldades de viabilizar a expansão No Brasil há poucos casos conhecidos de
de aterros sanitarios com soluções técnicas de ampliação de aterros de resíduos através do uso de
engenharia convencionais que usualmente ampliam diques construídos com estruturas em solo reforçado,
os impactos ambientais, económicos e sociais, novas como ilustra a Figura 3, porém nenhum caso de aterro
soluções não convencionais são bem-vindas. Uma de RSU, também conhecidos como aterros sanitários.
das técnicas que tem sido empregadas é a utilização
de diques construídos em forma de estruturas de solo
reforçado com geossintéticos. Dá-se o nome de
estruturas em solo reforçado para maciços de terra
construídos através da aplicação da técnica baseada
na interação entre solo e uma inclusão de reforço,
com transferência de tensões entre estes elementos
ocorrendo por atrito e/ou por resistência passiva,
dependendo da geometria do reforço (Plácido, 2016).
O emprego de estruturas em solos reforçados em
aterros existentes, perimetralmente a um maciço de
resíduos de aterro sanitário existente permite que
novo volume de resíduos possa ser obtido,
preenchido a partir do pé da face interna do dique e
escorado com o maciço, podendo potencialmente ser
alteado até o topo do maciço ou, adicionalmente, com
alteamento de mais camadas a partir do topo
dependendo das particularidades locais, e das
condições de estabilidade geotécnica. Tal solução
técnica praticamente não aumenta o perímetro do
aterro de resíduos, reduzindo ou eliminando o Figura 3. Verticalização de aterro de resíduos perigosos
impacto ambiental da utilização de novas áreas para localizado em Betim/MG, da Solví Essencis Ambiental.
disposição final de RSU.
Os diques reforçados tem sido empregados em Este artigo tem como objetivo avaliar a
aterros sanitarios de RSU em diversos paises pelo viabilidade técnica de verticalização de aterros com
mundo, como EUA e India, conforme ilustram as incremento da cota de superfície dos maciços através
Figuras 1 e 2. da criação de diques construídos em forma de
estruturas de contenção em solo reforçado com
geogrelhas junto ao pé do maciço na conformação
dos projetos de engenharia licenciados de 02 aterros
sanitários existentes no Brasil.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Para o presente artigo foi estudada a verticalização de


dois aterros sanitários brasileiros atualmente em
Figura 1. Verticalização de aterro sanitário nos EUA. operação empregando diques reforçados.

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238
Para o reforço dos diques foi considerada a 5,0 m de largura, geometria esta que corresponde a
utilização de geogrelhas, que tem como principais uma inclinação média de 1(V):3(H), ou seja, 18º.
vantagens sua melhor interação com o solo de Em ambos os casos estudados um grupo suficiente
aterramento para construção do dique, o que garante de seções foi analisado quanto à estabilidade
um melhor intertravamento com o solo, maior rigidez geotécnica geral, incluindo a estabilidade local,
quando comparadas à geotêxteis, resultando em estabilidade global dos taludes e da estrutura
menores valores de alongamento para mesmos níveis proposta, sendo este grupo de análises o principal
de tensão (Benjamim, 2006). No Brasil a maioria responsável pelo dimensionamento da resistência à
absoluta das contenções em solo reforçado com tração das geogrelhas empregadas como reforço dos
geossintéticos de grandes alturas é construída com diques. A estrutura foi avaliada quanto à sua
uso de geogrelhas tecidas, sendo exemplos destas estabilidade frente a possíveis rupturas global e local,
estruturas o grupo de contenções executadas na além de ter sido devidamente analisada quanto ao
cidade de Cajamar, no estado de São Paulo, entre os deslizamento, tombamento e excesso de pressão
anos de 2020 e 2021, com paramento frontal em telas exercido na fundação pelo dique reforçado, em
metálicas (Rocha et al., 2022a) e placas de concreto acordo com o preconizado pela Norma Brasileira de
de pequeno porte (Rocha et al., 2022b). Muros e taludes em solos reforçados (ABNT, 2021).
A Figura 4 ilustra seções geométricas A modelagem típica empregada para
representativas dos dois projetos de aterros sanitários determinação da estabilidade geotécnica de maciço
estudados. de RSU de aterros sanitários envolve a utilização de
métodos tradicionais de estabilidade de taludes de
(a) solo na Engenharia Geotécnica, sendo usualmente
utilizado o método de equilíbrio limite (Boscov,
2018). A determinação da resistência ao
cisalhamento de RSU é de difícil determinação
devido a uma série de dificuldades, sendo as
(b) principais a heteogeneidade dos materiais, bem como
a dificuldade de executar ensaios em laboratório
representativos. Boscov (2008) apresentou diversos
valores de peso específico de resíduos, apontando
que a maioria dos valores encontra-se em torno de 10
kN/m³. Desta forma os parâmetros usualmente
adotados de resistência ao cisalhamento de RSU tem
Figura 4. Seções típicas de verticalização dos maciços dos sido frequentemente obtidos de retroanálises de
aterros sanitários estudados, sendo em marrom claro o taludes rompidos (Vilar et. al., 2015), porém há
subsolo local, em verde a geometria do projeto de poucas retroanálises publicadas. A modelagem
engenharia licenciado, em azul os diques reforçados
propostos e em vermelho o volume adicional de resíduos
hidrogeotécnica associada a presença de lixiviado e
projetado para a verticalização com emprego dos diques. biogás gerados e presente na massa de resíduos é
(a) Caso 1; (b) Caso 2. tipicamente representada, como proposto por
Benvenuto & Cipriano (2010), através da
Para o Caso 1 foi concebido um dique reforçado consideração da ocorrência de bolsões de líquidos e
sobre o acesso perimetral existente do aterro, sendo gases, de dimensões e tempo de existência variável
que o dique concebido contornou três das quatro ao longo do maciço de resíduos. Representando a
faces do maciço do aterro, podendo-se visualizar na poropressão (pressão neutra) associada a presença
Figura 04(a) uma seção típica dos diques propostos. desses bolsões é utilizado o coeficiente de Bishop e
Já no Caso 2, uma vez que o aterro foi implantando Morgenstern (ru) que relaciona a pressão neutra da
num terreno com formato de anfiteatro, foi proposta Mecânica dos Solos com a tensão total vertical
a construção de um dique a jusante, como devido ao peso dos resíduos sobre o ponto.
representado na Figura 04(b). Benvenuto e Cunha (1991) analisaram a ruptura
Para ambos os casos a proposta de locação dos do aterro sanitário Bandeirantes e, atavés da
diques para verticalização dos maciços foi concebida retroanálise do deslizamento da massa de resíduos,
a partir da geometria final dos projetos de engenharia obtiveram valor de coesão de 13,5 kPa e ângulo de
licenciados; já geometria final dos maciços de atrito de 22º, com coeficiente ru de 0,60 . Kaimoto e
resíduos verticalizados consideraram camadas de Cepollina (1996) também realizaram a análise da
resíduos com 10 m de altura, taludes com inclinações ruptura com outra abordagem, em função da idade
próximas à 1(V):2,5(H) e bermas intermediárias com dos resíduos, obtendo os respectivos valores de
coesão e ângulo de atrito: 13,5 kPa e 22º para

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239
resíduos antigos; 16,0 kPa e 22º para resíduos geomembrana texturizada com outros materiais
dispostos com disposição superior a dois anos e foram adotados conservadoramente, valores
drenagem interna intensa no aterro; e 16,0 kPa e 28º ligeriramente inferiores ao já citados; com relação ao
para resíduos com disposição superior a dois anos e coeficiente ru foi adotado valor tipicamente utilizado
com drenagem interna. Benvenuto (2011) aponta que em projetos de aterros sanitários. Já os parâmetros de
os valores típicos geralmente adotados de coesão resistência ao cisalhamento das camadas do subsolo
variam de 10 a 30 kPa, enquanto de ângulo de atrito em cada caso estudado foram determinados a partir
de 15º a 30º. Atualmente tem sido recorrente a de resultados de sondagens de simples
utilização por especialista em projetos e reconhecimento com SPT executadas nas
monitoramento geotécnico a adoção de valores de investigações geotécnicas dos aterros, exatamente na
coesão de 19 kPa e ângulo de atrito igual a 28º. posição onde os diques foram posicionados, de
Para adoção dos parâmetros de interface de maneira que tanto para análises de estabilidade
geomembranas de PEAD com outros materiais, é externa (deslizamento, tombamento e pressão na
recomendado que os parâmetros sejam provenientes fundação), quanto para as análises de estabilidade
de ensaios em caixas de cisalhamento com amostras geral (global e local), as propriedades geomecânicas
com amostras dos materiais representativos da dos solos de fundação foram estimadas através do
interface, devendo as amostras de geomembrana método de Jopert (2007), com base nos valores de
corresponderem ao mesmo tipo concebido para ser índice de resistência à penetração N, e os resultados
usado na impermeabilização inferior do aterro destas análises se mostraram satisfatórios.
sanitário (com superfície lisa ou texturizada) e os Os reforços de cada um dos níveis da estrutura de
ensaios serem realizados com níveis de tensão solo reforçado foram definidos com o intuito de
representativos da situação de campo. No caso de garantir que Fatores de Segurança (FS) de 1,5 fossem
geomembranas texturizadas, que possuem respeitados, de modo que a estrutra fosse considerada
parâmetros de resistência ao cisalhamento superior segura em acordo com o preconizado em norma. As
ao de geomembranas lisas, tais parâmetros são resistências à tração consideradas nas verificações,
fortemente influenciados a distribuição e altura são as denominadas resistências de projeto, onde os
aspereza. Koerner (2012) aponta valores de interface devidos Fatores de Redução já foram devidamente
entre geomembrana texturizada PEAD com geotêxtil aplicados sobre valores de resistência caracteristicas.
não-tecido variando de 28o no caso de geotêxtil Vale a ressalva de que o intuito de tais verificações é
agulhado e 32 o no caso de geotêxtil termoligado. analisar a possibilidade de utilizar os reforços mais
resultados de ensaios realizados com geomembranas econômicos possíveis, ou seja, inicia-se a verificação
texturizadas PEAD 2,0 mm de fabricantes presentes com os reforços de menor resistência e,
no Brasil resultaram em ângulos de atrito com valores consequentemente, menor preço, alterando-se cada
superiores a 25o, para interfaces seja da linha para a próxima resistência disponível para o
geomembrana com GCL subjacente ou material tipicamente disponível no mercado, até
geomembrana com geotêxtil não-tecido de PET atingir-se o mínimo Fator de Segurança necessário
sobrejacente para que a estrutura seja considerada estável.
As análises para o presente estudo foram Além disso, algumas possibilidades geométricas
realizadas no software Slide 6.0 da RockScience. Os também foram avaliadas nesta fase, principalmente
parâmetros de resistência ao cisalhamento utilizados as relacionadas às possíveis inclinações dos taludes
nas análises são apresentados na Tabela 1. construídos com resíduos, sendo esta avaliação
fundamental para a decorrência do projeto, visto que
Tabela 1. Parâmetros geotécnicos utilizados nas análises existe uma sensibilidade elevada dos resultados em
de estabilidade. função desta inclinação, inclusive maior que a
Materiais γ c' ϕ ru relacionada ao comprimento e à resistência dos
(kN/m³) (kPa) (o) reforços adotados.
Resíduos 10 19 28 0,30 Assim como no primeiro caso, a estrutura foi
Interface avaliada quanto à sua estabilidade frente a possíveis
geomembrana de - 0 19 - rupturas global e local, além de ter sido devidamente
PEAD com outros analisada quanto ao deslizamento, tombamento e
materiais
excesso de pressão exercido na fundação pelo dique
reforçado. As geogrelhas adotadas no
Os parâmetros adotados para resíduos são
dimensionamento também foram avaliadas quanto a
aqueles mais utilizados atualmente pela comunidade
uma possível ruptura por falha interna, sendo em
de projetistas e responsáveis por monitoramento
alguns casos esta análise a determinante pela
geotécnico no Brasil; os parâmetros de interface de
definição da resistência do geossintético.

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240
A análise de arrancamento dos reforços não foi
realizada, visto que os mesmos foram idealizados
promovendo um envelopamento de sacos de ráfia
preenchidos com solo, de maneira a promover uma
regularização da face interna do dique, para posterior
aplicação das soluções de impermeabilização inferior
do aterro, no caso instalação de uma geomembrana
de PEAD, de maneira, que esta construção é
suficiente para garantir a ancoragem das geogrelhas
junto ao sistema de contenção, dispensando assim,
segundo a experiência dos autores, essa análise.
Figura 5. Detalhe das geogrelhas dimensionadas para o
Caso 1.
3 RESULTADOS

O Caso 1 retrata a avaliação da aplicabilidade da


técnica apresentada em um aterro sanitário de
grandes proporções, operado há mais de 25 anos, com
sua divisão estratégica em 3 trechos contínuos, em
acordo com a atual condição de operação do aterro.
Por tratar-se de estudo preliminar, o dique em solo
reforçado foi idealizado com altura constante, sem
variações dependentes de irregularidades
topográficas ou mudanças de declividade das vias
atualmente existentes no aterro, o que possivelmente
deve ocorrer em fases mais aprofundadas e
avançadas de projeto. Os diques idealizados para o Figura 6. Detalhe das geogrelhas dimensionadas para o
primeira caso resultaram em altura mecânica de 20 Caso 2.
m, sendo 18 m de altura livre e 2 m de engastamento,
com largura na base igual a 23 m, e largura no topo Também é possivel notar que o dimensionamento
igual a 14 m. dos diques presentes no Caso 1, resultaram em uma
O Caso 2 envolve um aterro de médio porte divisão da estrutura em 3 níveis de reforço, com
operado há 08 anos, com uma geometria favorável à praticamente 40% de sua altura sendo construída com
técnica de verticalização, uma vez que a morfologia geogrelhas de resistência característica igual a
do terreno natural se assemelha à uma barragem 50 kN/m, 30% com geogrelhas de 90 kN/m e outros
ancorada em maciço rochoso, como o clássico 30% com geogrelhas de 200 kN/m.
exemplo da barragem Hoover, construída na Já o dique idealizado para o Caso 2, mais esbelto,
Califórnia/EUA, posicionada em uma região com e mais alto, necessitou ser projetado com mais de
depressões acentuadas, num formato próximo a um 50% de sua altura fazendo uso de geogrelhas de 200
anfiteatro. Esse formato específico contribuiu para o kN/m, além de utilizar em sua base aproximadamente
aumento do volume de resíduos adicional gerado pela 10% de altura executada com geogrelhas de 400
verticalização, sendo que a estrutura concebida kN/m.As Figuras 7 e 8 ilustram a distribuição das
envolveu um dique de face triangular, com superfície geogrelhas na estrutura, além de apresentarem todas
horizontal, e altura máxima de 20 m no centro de seus as superfícies circulares de ruptura que
aproximados 300 m de extensão, suficientes para a apresentassem valores de FS abaixo de 1,60 com o
elevação de toda a cota do aterro e consequente intuito de demonstrar a importância de cada
incremento de sua capacidade de armazenamento de resistência aplicada.
resíduos. A estrutura concebida para o caso 2 resultou Além das análises de ruptura por superfícies
em altura mecânica de 24 m, sendo 21 m de altura circulares apresentadas nas figuras 7 e 8, também
livre e 3 m de engastamento, com largura de base de foram avaliadas possíveis rupturas em superfícies
aproximadamente 20 m, e largura de topo da estrutura não circulares, principalmente considerando o baixo
igual a 7,5 m. atrito existente entre camadas de geomembrana
As Figuras 5 e 6 ilustram os detalhes técnicos dos instaladas e novos resíduos lançados sobre este
diques em solo reforçado idealizados para os casos material, sendo estes resultados devidamente
avaliados, incluindo geometria dos diques e avaliados, mas não sendo determinantes para o
detalhamento dos reforços adotados. dimensionamento dos reforços em cada nível.

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241
Foi realizada avaliação da sensibilidade do FS
contra a ruptura global frente a inclinação dos taludes
do maciço de resíduos, de maneira que inclinações
médias próximas à 22º resultam em superfícies
preferências de ruptura tão horizontalizadas que a
inclusão de reforços, incremento das resistência ou
comprimento idealizados pouco alteram os
resultados da análise, até um momento onde as Figura 9. Comparativo de inclinações de taludes contra FS:
estruturas tornam-se praticamente inviáveis, (a) inclinação média de 23 graus, com FS 1,343;
economica e construtivamente. Alguns cenários de (b) inclinação média de 22 graus, com FS 1,390;
inclinação dos taludes em tal avaliação realizada são (c) inclinação média de 19 graus, com FS 1,487.
apresentados na Figura 9.
Assim, após realizada análise de estabilidade
aprofundada de um número significativo de seções,
de ambos os casos representados neste artigo, os
autores concluem que as melhores relação custo
benefício para a verticalização de aterros com
estruturas em solo reforçado ocorreram quando os
taludes projetados apresentavam uma inclinação
média de 19º, próximo à inclinação concebida em
ambos os casos estudados (18º).
Outro ponto relacionado à estabilidade do
conjunto estrutura reforçada e aterro sanitário
fundamental para a eficiência da verticalização é a
Figura 7. Distribuição de geogrelhas e superfícies qualidade da fundação onde o maciço reforçado será
circulares de ruptura nos diques do caso 1. construído (em termos de capacidade de carga),
resistência ao cisalhamento, e disponibilidade
geométrica, as quais foram atendidas em ambos os
casos analisados.
Cabe a ressalva que para o segundo caso estudado,
inicialmente foram adotados dados de solo de uma
região próxima ao local de aplicação dos diques,
porém, foram realizadas novas campanhas de
sondagem, visto que as primeiras análises realizadas,
demonstravam que caso a fundação não apresentasse
resistência equivalente a de um solo com índice de
resistência à penetração superior à 9 golpes (em
ensaios de sondagens de simples reconhecimento
Figura 8. Distribuição de geogrelhas e superfícies com SPT), a base do dique reforçado teria de ser
circulares de ruptura no dique do caso 2. melhorada, com a execução de um solo grampeado
por exemplo. A nova campanha de sondagens
Tal resultado é decorrente da grande altura da demonstrou que o atual dique implantado para o
massa contida em relação à estrutura reforçada, de aterro sanitário, construído apenas com solo
maneira que as superfícies analisadas, circulares ou compactado, pensado para ser a fundação da nova
não, tendem a se horizontalizar na região mais estrutura reforçada, apresenta sim propriedades de
próxima do dique de contenção, buscando por faixas resistência coerente com o projeto, forçando as
não reforçadas de solo, e de acordo com o equilíbrio superfícies críticas para dentro da massa reforçada, e
gerado, resultando em FS abaixo do mínimo assim compatibilizando as análises de estabilidade
necessário. com o incremento de reforços. Dessa maneira, ambos
Por se tratar de estruturas formadas por reforços os casos estudados apresentaram solo de fundação
horizontais, os diques em solo reforçado perdem abaixo dos diques reforçados com boas propriedades
eficiência nestes cenários específicos, sendo que o de resistência, dispensando a adoção de técnicas de
ganho em volume proporcionado por uma maior reforço de fundação.
inclinação dos taludes, acaba não sendo compensado, Com relação a disponibilidade geométrica, não é
devido ao incremento de custo das estruturas possível afirmar que o primeiro caso estudado
idealizadas. atendeu perfeitamente a este critério, visto que como

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242
se trata de uma estrutura muito longa, toda sua REFERÊNCIAS
extensão tem ainda de ser analisada de maneira mais
criteriosa, porém apresenta um potencial razoável. ABNT (2021) NBR 16920: Muros e taludes em solos
Os volumes incrementais que a técnica de reforçados - Parte 1: Solos reforçados em aterros.
verticalização dos aterros sanitários, sendo 11 anos Associação Brasileira De Normas Técnicas, Brasil.
para o Caso 01 e 5 anos para o Caso 02, valores ABRELPE (2022). Panorama dos resíduos sólidos no
Brasil. ABRELPE, São Paulo, p. 26.
expressivos para aterros sanitários, demonstrando o
Benjamin, C. V. S. (2006) Avaliação experimental de
potencial que a técnica pode ser aplicada com solução protótipos de estruturas de contenção em solo
para maximização do potencial volumétrico para reforçado com geotêxtil. Tese de Doutorado em
áreas de disposição final de RSU no Brasil. Geotecnia, Universidade de São Paulo, São Carlos.
Benvenuto, C. (2011) Monitoramento geotécnico e a
estabilidade dos aterros sanitários. Revista Limpeza
4 CONCLUSÃO Pública, ABLP, São Paulo, n. 77, p. 28-45.
Benvenuto, C.; Cipriano, M.A. (2010) Modelo reológico
Nos dois casos estudados de aterros sanitários de comportamento de resíduos e aterros sanitários,
brasileiros os resultados mostraram qua há segundo critérios de projeto e operação atuais no
Brasil. Revista Limpeza Pública, ABLP, São Paulo, n.
viabilidade técnica da verticalização dos aterros
74, p. 42-47.
empregando-se geogrelhas, avaliando-se todas as Benvenuto, C.; Cunha, M.A. (1991) Escorregamento em
condições de estabilidade geotécnica associadas massa de lixo no Aterro Sanitáro Bandeirantes em São
isoladamente aos maciços de resíduos, os dique Paulo. Anais Simpósio Sobre Barragens de Rejeito e
reforçados, e a combinação de ambas as estruturas. Disposição de Resíduos Sólidos (REGEO´91), ABMS,
As geogrelhas dimensionadas, considerando o Rio de Janeiro, v. 2, p. 55-66.
distanciamento dos planos entre elas nos diques, Boscov, M.E. (2008) Geotecnia Ambiental. São Paulo:
resultou em geogrelhas típicas presentes no mercado Oficina de Textos, p. 47-52.
nacional, o que pode contribuir para a viabilidade Kaimoto, L.S.; Cepollina, L.M. (1996) Considerações
econômica nos casos aplicados. sobre alguns condicionantes e critérios geotécnicos de
projeto e executivos de aterros sanitários. Anais
Destaca-se a importância de que a estrutura
Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental, PUC-
reforçada concebida em ambos os casos poder ser RS, Porto Alegre, v. 1., p. 51-54.
apoiada em sua totalidade sobre solo (devido às Joppert, I. (2007) Fundações e Contenções de Edifícios,
condições geométricas e geotécnicas locais) e em (1ª edição) Editora Pini, São Paulo.
nenhum momento sobre resíduos, não somente por Kaza, S.; Yao, L.; Bhada-Tata, P.; Woerden, F. V. (2018)
questões relacionadas à estabilidade, embora as What a waste 2.0: A global snapshot of solid waste
verificações em si indiquem estabilidade para esta management to 2050. Washington: World Bank, p. 5.
possibilidade, mas também por questões de recalque KOERNER, R.M. (2012) Design with geosynthetics.
diferencial entre face e costas da estrutura, além de Indianapolis: Xlibris, v. 2, p. 540.
questões construtivas que poderiam comprometer Plácido, R. R. (2016) Análises de campo e laboratório do
comportamento ao longo do tempo de muros de solos
drasticamente a qualidade e segurança final da obra.
tropicais finos. Tese de Doutorado em Ciências,
Uma possível constatação nas avaliações do Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
presente artigo é a importância de se ter um espaço 2016.
necessário para o apoio do dique reforçado em Rocha, P.E.O. (2022a) Estruturas em Solo Reforçado com
terreno natural para verticalização de aterros face em tela metálica em obra de grande porte em
sanitários com o emprego de estruturas em solos Cajamar – SP. Anais do XX Congresso Brasileiro de
reforçados. Vias de acesso perimetrais ao maciço Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, 2022,
podem ser utilizadas, sendo que tais vias podem ser Campinas.
realocadas para o topo da contenção reforçada, visto Rocha, P.E.O. (2022b) Estruturas em Solo Reforçado com
que o formato trapezoidal da contenção resulta em face em placas de concreto de pequenas dimensões em
obra de grande porte em Cajamar - SP. Anais do XX
larguras de topo de aproximadamente 7 m, suficiente
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
para funcionar como acessos perimetrais. Engenharia Geotécnica, Campinas.
Vilar, O.M.; Machado, S.L.; Carvalho, M.F. (2015)
Resíduos sólidos. In: ZUQUETE, L.V. Geotecnia
AGRADECIMENTOS ambiental. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 243.

Os Autores gostariam de agradecer à Solví


Participação S.A. e à GeoSoluções pelo apoio e
suporte na elaboração deste artigo e no
desenvolvimento de todo o trabalho.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


243
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise de Estabilidade Determinística e Probabilística de uma


Estrutura de Contenção em Solo Reforçado por Geotêxtil
Dêreck Hummel Becher
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, dereckhbecher@gmail.com

Patrícia Rodrigues Falcão


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, falcao.rodrigues.patricia@gmail.com

Tiago de Jesus Souza


Solotechnique Consultoria e Engenharia Geotécnica, Brasil, tiago.souza@solotechnique.com.br

André Querelli
Solotechnique Consultoria e Engenharia Geotécnica, Brasil, andre.querelli@solotechnique.com.br

Magnos Baroni
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, magnos.baroni@gmail.com

RESUMO: O presente artigo apresenta uma estrutura de contenção em solo reforçado com geotêxtil realizado no
município de Votorantim, no Estado de São Paulo. Tal escolha foi realizada tendo em vista que o subsolo do local
apresenta baixa capacidade de suporte, e esse tipo de contenção aceita pequenas deformações. Em síntese, foi avaliado a
análise de estabilidade por intermédio das abordagens determinísticas e probabilísticas. O viés da confiabilidade teve
como objetivo correlacionar o fator de segurança a uma probabilidade de falha, e, consequentemente arbitrando uma
fiabilidade a obra. Ao total foram avaliados quatro modelos: um em sua condição inicial, outro com variação do nível de
água, o terceiro com substituição parcial do solo do local por rachão, e, por último, a substituição do solo associada a
elevação do lençol freático. A partir da aplicação das abordagens supracitadas, conclui-se a importância de se considerar
as incertezas inerentes nos cálculos, já que a sua variabilidade resulta em variações significativas nos valores de fator de
segurança.

PALAVRAS-CHAVE: Talude, Fator de Segurança, Índice de confiabilidade, Variação de parâmetros geotécnicos.

ABSTRACT: This paper presents a reinforced soil containment structure with geotextiles made in the city of Votorantim,
in the state of São Paulo. This choice was made considering that the subsoil of the site presents low bearing capacity, and
this type of containment accepts small deformations. In summary, the stability analysis was evaluated through
deterministic and probabilistic approaches. The reliability bias had the objective of correlating the safety factor to a failure
probability and consequently arbitrating reliability to the work. A total of four models were evaluated: one in the initial
condition, another with water level variation, the third with partial replacement of the site's soil by crack, and finally the
soil replacement associated with the elevation of the water table. From the application of the approaches, one can conclude
the importance of considering the inherent uncertainties in the calculations, since their variability results in significant
variations in the safety factor values.

KEY WORDS: Slope, Safety factor, Reliability index, Variation of geotechnical parameters.

1 INTRODUÇÃO geotécnicos reais. A resistência de taludes e de obras


de contenção de solos está na premissa de sua
Um dos requisitos essenciais para o correto resistência ao cisalhamento (), a qual deve-se aos
conhecimento do comportamento dos solos e para um parâmetros de atrito () e da coesão (c) existente
dimensionamento acurado de obras geotécnicas está entre os grãos, além da tenção efetiva (’)
na obtenção de valores fidedignos aos parâmetros (Gerscovich, 2012). Em posse desses dados, é

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


244
possível calcular a resistência ao cisalhamento (ABNT, 2008) estabelece valores mínimos para os
através do critério de Mohr Coulomb. FS, em decorrência da magnitude do risco de perdas
A avaliação de uma possível ruptura no maciço se humanas e materiais, além da tipologia da obra
faz comparando as tensões cisalhantes (mob) com a geotécnica em questão. Considerando um risco alto
resistência de cisalhamento (f). Caso as ações a favor quanto a vidas humanas e danos ambientais, a norma
do movimento de massa (sobrecargas, peso próprio, preconiza um FS mínimo de 1,50.
tensão normal e poropressão) se igualarem ou Entretanto, os métodos determinísticos não
superarem as de resistência (coesão e coeficiente de quantificam em suas análises o grande espectro da
atrito), o maciço irá a ruptura. Caso contrário, ele variabilidade que os parâmetros geotécnicos
permanecerá em equilíbrio. demonstram em campo, resultando em valores de FS
Visando inibir potenciais riscos de rupturas em por vezes não condizentes com a realidade. Assis
taludes, Carvalho (1991) propõe recorrentes ações (2020) ressalta que o fato de a engenharia tradicional
mitigadoras de instabilidades. Dentre essas, ter sempre usufruído de abordagens determinísticas
destacam-se o retaludamento, a construção de muros proporciona uma “falsa segurança” sobre a precisão
de contenção, obras de drenagem superficial e desses cálculos, não considerando chances de erros e
interna, assim como a utilização de solos reforçados. probabilidades de falhas. Para superar essas lacunas
O uso de solos reforçados baseia-se na premissa nas abordagens determinísticas, surgiram os métodos
da interação entre solo e a inclusão de um reforço probabilísticos, buscando um tratamento estatístico
específico, a exemplo dos geossintéticos. Estes são nos cálculos. Conforme Falcão et. al. (2021), esses
capazes de proporcionar uma redistribuição global modelos consideram as incertezas das variabilidades
das tensões e deformações, aumentando a resistência dos parâmetros, caracterizando de forma mais ampla
do maciço, permitindo faces mais íngremes aos o problema. Isso possibilita uma maior
taludes (Vertematti, 2015). Conforme a NBR ISO confiabilidade para os resultados, uma vez que o FS
10318-1 (ABNT, 2021), os geossintéticos abrangem é associado a uma probabilidade de falha e aos níveis
uma vasta gama de materiais constituído por fibras de riscos presentes na obra. Assim, o FS passa de um
através da fusão de polímeros, podendo ser sintéticos valor determinado médio para uma função densidade
ou naturais, sob a forma de manta, tira ou uma de probabilidade, dependente de outras variáveis
estrutura tridimensional. Dentre a variedade existente aleatórias com diferentes valores de desvio padrão.
de geossintéticos, os geotêxteis são responsáveis A face do descrito, este trabalho tem como
pelas maiores aplicações no ramo da engenharia objetivo analisar a estabilidade da implantação de um
geotécnica, seja como função drenante, uso como aterro para edificação reforçado por geotêxtil. As
material filtrante, na separação de camadas de solo abordagens para o cálculo da estabilidade serão
para evitar a mistura e contato de materiais de baseadas em métodos determinísticos e
naturezas diferentes, além do uso no reforço de solos probabilísticos, com o auxílio do software Slide v.
(Touze, 2021). O uso de geotêxteis como reforço 6.0, que utiliza do Método do Equilíbrio Limite para
inserido no solo é um artifício amplamente utilizado as suas análises.
para possibilitar a construção de aterros sobre
fundações em solos moles, além de aumentar a
estabilidade de obras geotécnicas. 2 MATERIAIS E MÉTODOS
Há diferentes análises numéricas que relacionam
as distintas tensões atuantes nos solos, obtendo 2.1 Localização e descrição do estudo de caso
respostas frente a sua estabilidade. Dentre estes, um
dos que mais se destacam é o Método do Equilíbrio O aterro objeto de avaliação deste artigo está
Limite. Segundo Massad (2003), este modelo localizado no município de Votorantim, no Estado de
considera a massa de solo como um corpo rígido- São Paulo. Trata-se de um aterro como estrutura de
plástico, na iminência do escorregamento, ou seja, contenção em solo reforçado por geotêxtil, servindo
quando as forças cisalhantes se igualam às forças de como fundação para um empreendimento de um
resistência. A análise numérica é realizada sobre as bairro planejado. Durante visitas técnicas, foi
equações de equilíbrio, e o maciço é divido e constatada a presença de água no terreno, indicando
analisado em fatias individualmente. No âmbito que o solo de fundação se encontrava saturado. Esse
geotécnico global, são realizadas majoritariamente fator é de suma importância durante as análises de
abordagens determinísticas sobre as condições de estabilidade para obtenção de resultados coerentes
estabilidade de maciços terrosos. Estas abordagens aos da realidade. A afirmativa baseia-se no Princípio
proporcionam a obtenção de um valor único para o das Tensões Efetivas de Terzaghi, na qual as
Fator de Segurança (FS), o qual é função de valores resistências e deformações dos solos são controladas
médios dos parâmetros geotécnicos. A NBR 11682 pela tenção efetiva (’), sendo essa a diferença entre

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245
a tensão total (), e a poropressão () (Terzaghi, Nspt
1936). Em razões da condição descrita e da fundação 0 10 20 30 40
ser um material terroso, não permitindo adequada 1
compactação e desempenho, realizou-se a troca deste 2

Profundidade (m)
Areia Argilosa
solo por rachão britado, material pétreo que permite 3
fofa a medianamento
a execução do aterro sobre ele em condições 4 compactada
adequadas de umidade (Figura 1). 5
6 Areia Argilosa
pedregulhos finos
7 medianamente compactada
8
9 Solo Residual
pouco argiloso
10 compactado

Figura 3. Nspt e perfil do solo local.

A determinação das características geotécnicas


dos materiais é de demasiada importância sobre os
resultados finais. Nessa perspectiva, os valores da
Figura 1. Tratamento da fundação com rachão britado.
coesão, ângulo de atrito e peso específico dos solos
foram adotados conforme uma base de valores
O talude do aterro reforçado possuirá altura de 7,0
encontrados na literatura especializada, em função da
metros e inclinação de 4:1 (V:H), com a
classificação dos solos descritos anteriormente.
implementação de geotêxteis de 6,5 m de
comprimento, espaçados em 30 cm, com coeficiente
de interação com o solo de 0,6. A resistência a tração Material  (kN/m³) c (kPa)  ()
do geotêxtil tem valor nominal de projeto de 3 tf/m. Aterro 20,0 10,0 25,0
Ademais, considerou-se uma sobrecarga sobre o Solo Nat. 18.,0 1,0 30,0
platô do aterro de 2 tf/m² , conforme representado na Dreno 20,0 15,3 30,0
Figura 2. Rachão 20,0 1,0 35,0

Tabela 1. Parâmetros geotécnicos dos solos em estudo

2.3 Modelagem Numérica

Para a realização dos cálculos sobre a estabilidade,


usou-se do auxílio do software Slide v. 6.025. Criou-
se quatro modelos de taludes que representassem e
avaliassem as peculiaridades da obra. O Modelo 1
baseia-se no talude original com a inserção de
Figura 2. Representação do talude em estudo. geotêxtis (Figura 4). Já no Modelo 2, elevou-se o
nível da água (NA) em 4 metros (Figura 5).

2.2 Parâmetros geotécnicos

O subsolo que servirá como fundação para o aterro


reforçado foi investigado por sondagens de simples
percussão (SPT) até 10 metros de profundidade.
Mediante os resultados, o solo foi descrito como uma
areia argilosa marrom, fofa a de profundidade. Em
posição subsequente, encontra-se uma camada de 3
metros de uma areia argilosa, com pedregulhos,
medianamente compactada. Nas profundidades Figura 4. Modelo 1.
finais, verificou-se uma camada de solo residual de
silte arenoso, pouco argiloso, medianamente
compacto a compactado (Figura 3).

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246
todas as equações de equilíbrio estático do sistema.
Na abordagem probabilística, a ferramenta
computacional utiliza da simulação de Monte Carlo,
gerando aleatoriamente uma série de valores para os
parâmetros em estudo, tendo como base seus valores
de média e desvio padrão. Essa ação é repetida “n”
vezes, até os resultados convergirem para um
determinado valor, sem que haja maiores dispersões.
Optou-se por adotar 3500 iterações em cada cálculo.
Baseado em Duncan (2000) e no princípio do
Figura 5. Modelo 2.
Three Sigma Rule, usou-se do intervalo de três
No Modelo 3 foi considerado a inserção de um desvios padrões sobre à média, abrangendo 99,7%
rachão e de um dreno de areia, mantendo o NA dos dados normalmente distribuídos. Para o estudo da
original (Figura 6). Por fim, o Modelo 4 abordou a influência da variação dos parâmetros geotécnicos,
elevação do NA de forma conjunta com os efeitos adotou-se coeficientes de variação do peso
drenantes no interior do maciço, conforme figura 7. específico de 2%, 3% e 4%; para o ângulo de atrito
de 5%, 10% e 15%; e 35%, 40% e 45% para a coesão.

Figura 6. Modelo 3.

Figura 8. Exemplo de convergência de Monte-Carlo.

Outro método probabilístico recorrido foi o


FOSM (First Order Second Moment), tendo como
sua vantagem a necessidade de conhecer apenas a
média e o desvio padrão dos parâmetros, abrindo mão
da necessidade de conhecer suas distribuições de
probabilidades (Falcão et. al., 2021). Além disso, o
FOSM permite quantificar precisamente a influência
de cada um dos parâmetros nos resultados finais do
Figura 7. Modelo 4. modelo. Os valores dos índices de confiabilidade ()
e probabilidades de falha (PF) obtidos nas
Os métodos de cálculo definidos para a obtenção abordagens probabilísticas foram analisados sobre os
dos FS determinísticos foram o de Spencer (1967), critérios do U.S. Army Corps Engineers.
Bishop Simplificado (1955) e Morgenstern-Price
(1965), sendo que cada método possui considerações Desempenho  PF (%)
particulares sobre as análises de equilíbrio. O Método Alto 5,0 0,0000003
de Spencer busca satisfazer as equações de equilíbrio Bom 4,0 0,0003
estático, levando em consideração as forças Acima Média 3,0 0,01
interlamelares, por isso é apontado como um método
Abaixo Média 2,5 0,006
rigoroso (Gerscovich, 2012). Em contrapartida, o Podre 2,0 0,023
Método de Bishop Simplificado considera apenas Insatisfatório 1,5 0,07
rupturas circulares, e anula a resultante das forças Perigoso 1,0 0,16
verticais entre fatias, simplificando o cálculo. Já o
Método de Morgenstern-Price possui uma Tabela 2. Classificação da  e da PF pela U.S. Army
consideração mais precisa e rigorosa, satisfazendo Corps Engineers.

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247
3 RESULTADOS inicialmente análises alterando gradativamente os
coeficientes de variação do peso específico, coesão e
Em relação à abordagem determinística, verificou-se ângulo de atrito dos materiais.
os FS obtidos para cada um dos quatro modelos em Na Figura 10 é demonstrado um comparativo do
estudo. No primeiro modelo, no qual foi considerado montante obtido de  classificados segundo o U.S.
apenas a inclusão dos geotêxtis no talude original, Army Corps Engineers. Em primeiro momento, essas
foram obtidos FS maiores ao exigido por norma variações foram realizadas de forma individual sobre
(≥1,5) pelos três métodos. O Método de Spencer cada um dos três parâmetros, depois aos pares, e por
obteve FS de 1,554, o Método de Bishop de 1,536 e o fim alterou-se concomitantemente os três parâmetros.
de Morgenstern-Price de 1,560. Quando se examinou Assim, foram produzidas sete combinações de
a elevação do NA pelo Modelo 2, o FS diminuiu parâmetros, sendo que em cada uma dessas
significativamente, resultando em valores menores combinações os parâmetros eram analisados com três
que o admissível pela norma (1,309 para Spencer, diferentes coeficientes de variação, totalizando 21
1,208 para Bishop, e 1,312 para Morgenstern-Price). resultados para cada método de cálculo. Logo, foram
Pelo Modelo 3, considerando a inserção do rachão analisados 63 valores de FS, de  e de PF para cada
e do dreno, sem prever a elevação do NA e o efeito um dos quatro modelos em estudo. O Modelo 2
drenante, os valores dos FS apesentaram crescimento, apresentou os menores valores de . Pelo Método de
todos resultando acima de 1,66. Por fim, quando se Morgenstern-Price, dos 21 resultados do  apenas
considerou concomitantemente a elevação do NA e o nove tiveram seu desempenho classificado como
efeito drenante do material no Modelo 4, os FS dos “Alto”, quatro como “Bom”, dois como “Acima da
três métodos permaneceram aceitáveis, próximos de Média, dois como “Abaixo da Média”, dois como
1,60. Os valores da abordagem determinísticas são “Pobre” e, por fim, dois como “Insatisfatório”.
expressos na Figura 9. Comparando com os resultados do Método de
1,61 Spencer, apenas notou-se alteração no número de
4 1,61
1,59
 tidos como “Alto” e “Bom”, nos quais foram
1,68 obtidos sete e seis valores, respectivamente. No
Modelo

3 1,68 entanto, Bishop classificou apenas cinco resultados


1,66
1,31 como “Alto” e quatro resultados como “Bom”, mas
2 1,31
1,28 classificou cinco como “Acima da Média”, três como
1,56
1 1,55 “Abaixo da Média, e dois como “Pobre” e
1,54 “Insatisfatório”.
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 Os Modelos 3 e 4 obtiveram as melhores respostas
Fator de Segurança Requerido ao  , uma vez que cada método classificou dezessete
Morgenstern-Price Spencer Bishop dos vinte e um valores como “Alto”. Os resultados
obtidos dos três métodos para o Modelo 1 foram
Figura 9. Valores determinísticos do FS.
idênticos: treze valores de  como “Alto”, quatro
como “Bom”, e dois valores como “Acima da Média”
Em relação à abordagem probabilística pelo e “Abaixo da Média”.
Método de Monte Carlo, foram realizadas
Montante obtido de β

Bishop
Spencer
Morgenstern-Price
Alto
Alto

Alto

Alto
Bom

Insatisfatório

Bom

Insatisfatório

Bom

Insatisfatório

Bom

Insatisfatório
Pobre

Pobre

Perigoso

Pobre

Pobre
Acima Média
Abaixo Média

Perigoso

Acima Média
Abaixo Média

Acima Média
Abaixo Média

Perigoso

Perigoso
Acima Média
Abaixo Média

1 2 3 4
Modelos
Figura 10. Montante de  obtidos em cada modelo estudado.

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248
Os valores de  obtidos se apresentaram dento de mais elevados de  mostraram-se nas condições em
uma amplitude extensa, variando conforme as que o ângulo de atrito não era tratado como uma
diferentes combinações de parâmetros. Dentro do variável aleatória.
Modelo 1, ao variar apenas o peso específico dos Ao analisar o problema no Modelo 5 (Figura
solos em 2%, 3% e 5%, os valores de  ficaram em 12), levando em conta o efeito do dreno, do rachão e
torno de 105, 65 e 40, respectivamente. Por outro a elevação do NA, dentre os totais 63 resultados de
lado, os resultados de  diminuíram tendo como  obtidos apenas cinco resultados (7,94%)
variação apenas a coesão, obtendo valores de ordem mostraram-se dentro da classificação dada como
7 a 11, conforme a variação aumentava “Acima da Média”, sete resultados (11,11%) como
gradativamente em 35%, 40% e 45%. Ao tratar-se do “Bom”, e 51 resultados (80,95%) classificaram-se
ângulo de atrito como variável única, esses resultados como “Alto”.
continuaram a apresentar uma expressiva queda.

Índice de Confiabilidade
16
Alterando esse parâmetro em 5%, 10% e 15%, 14
obteve-se  para Bishop de 9,288; 4,641 e 3,1; 12
respectivamente, enquanto Spencer resultou em 10
8 Bishop
9,188, 4,633 e 3,104; e Morgenstern-Price em 9,081, 6 Spencer
4,573 e 3,072, respectivamente. A Figura 11 compara 4 Morgenstern-Price
os valores de  obtidos para o Modelo 1, conforme 2

40%

5%
2%
3%
5%
35%

45%

10%
15%

45%, 15%
2%, 35%, 5%
3%, 40%, 10%
5%, 45%, 15%
2%, 35%
3%, 40%
5%, 45%
2%, 5%
3%, 10%
5%, 15%
35%, 5%
40%, 10%
análises dos parâmetros e suas variações. Vale
destacar que apenas foram representados os valores
de  menores que 10, visando uma análise mais
detalhada desse intervalo de resultados.
ᵧ C ᵩ ᵧ, C ᵧ, ᵩ C, ᵩ ᵧ, C, ᵩ
As combinações mais críticas se mostraram
naquelas em que o ângulo de atrito foi tratado como
uma das variáveis envolvidas. Quando se variou o par Figura 12. Valores de  obtidos no Modelo 5.
coesão e ângulo de atrito, e em conjunto os três
parâmetros, foram obtidos os menores valores de . A Figura 13 apresenta a média dos resultados
Na abordagem respectiva às variações do peso de  dos três métodos de cálculo, analisando
específico em 5%, da coesão em 45% e do ângulo de separadamente as abordagens que envolviam ou não
atrito em 15%, os valores de  resultaram em 2,85 o ângulo de atrito como uma das variáveis através de
para Bishop, em 2,844 para Spencer e 2,864 para sua função densidade de probabilidade.
Morgenstern-Price.
Índice de Confiabilidade

30
29,953 23,834
25 22,492
Índice de Confiabilidade

10
20
9 15,76
13,244 14,381 13,656
8 15
7 10 7,572 7,291 7,03
6 Bishop
5,115
5 3,314
5
Spencer
4 0
3 Morgenstern-Price 1 2 3 4
2 Modelos
2%, 35%, 5%
2%, 5%

3%, 40%, 10%


5%, 45%, 15%
5%, 45%

3%, 10%
2%
3%
5%
35%
40%
45%
5%
10%
15%
2%, 35%
3%, 40%

5%, 15%
35%, 5%
40%, 10%
45%, 15%

Média dos Índices de Confiabildiade variando o ângulo de atrito


Média dos Índices de Confiabildiade sem variar ângulo de atrito
Média Geral dos Índices de Confiabildiade

ᵧ C ᵩ ᵧ, C ᵧ, ᵩ C, ᵩ ᵧ, C, ᵩ
Figura 13. Média dos valores de  obtidos nos 4 modelos.

Figura 11. Valores de  obtidos no Modelo 1. Em relação aos resultados das PF pelo Método
de Monte Carlo, considerando 3500 iterações, os
Analisando os resultados dos Modelos 2,3, e Modelos 3 e 4 apresentaram todos os seus resultados
4, nota-se um comportamento muito semelhante ao como nulos para os três métodos de cálculos dentro
encontrado no Modelo 1. Os menores valores de das 7 combinações de parâmetros e suas magnitudes
 obtidos foram dentro do Modelo 2 enquanto o peso de variações. Os demais modelos apresentaram certas
específico, a coesão e o ângulo de atrito eram porcentagens de PF, especialmente no Modelo 2 ao
variados simultaneamente em 5%, 45% e 15%, variar os três parâmetros simultaneamente em seus
respectivamente. O Método de Bishop obteve  de maiores valores de desvios padrões (). A Tabela 3
1,816, enquanto o Método de Spencer obteve 1,927 e apresenta os valores da PF obtidos pelo Método de
Morgenstern-Price resultou em 1,918. Os resultados Monte Carlo.

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249
No Método de Bishop, esse parâmetro foi
 (%) Bishop Spencer M.-Price
responsável por 65,84% da variância do FS; enquanto
PF no Modelo 1 que nos Métodos de Spencer e Morgenstern-Price
() 5; 15 0,025% 0,025% 0,025% essa grandeza foi de 70,03% e 74,29%,
(c, ) 45;15 0,100% 0,075% 0,100% respectivamente. O segundo parâmetro de maior
(c) 5;45;15 0,075% 0,075% 0,050% influência foi a coesão do solo de aterro, e depois o
PF no Modelo 2 ângulo de atrito do solo de aterro. A influência da
() 10 0,029% 0,029% 0,029% coesão do solo de aterro sobre o FS resultante foi, em
() 15 1,429% 1,057% 1,143% média, 17,03%, e o ângulo de atrito do aterro, em
() 3;10 0,029% 0,029% 0,00% média, 12,24%. Esse comportamento se mostrou
() 5;15 1,629% 1,171% 1,171% semelhante nos demais modelos estudados.
(c, ) 40;10 0,40% 0,20% 0,143% Em relação ao Modelo 4, o ângulo de atrito do
(c, ) 45;15 2,686% 2,00% 2,00% solo natural ainda apresentou a maior influência
(c) 3;40;15 0,40% 0,286% 0,257% sobre o FS. Para o Método de Spencer, esse
(c) 5;45;15 3,029% 2,143% 2,229% parâmetro representou 50,85% da variância do FS, já
Bishop 43,76% e para Morgenstern-Price 59,32%. O
Tabela 3. Valores de PF obtidos por Monte Carlo. ângulo de atrito do rachão e a coesão do solo do aterro
foram o segundo e terceiro parâmetro que mais
Ao aplicar o Método de FOSM, foi possível influenciaram após, respectivamente. A figura 14
quantificar a influência da variação dos parâmetros busca retratar a correlação da variação dos
dos solos sobre os resultados dos FS Dentro do parâmetros em estudo com a variação do FS, para
Modelo 1, a maior variância do FS se deu em função cada um dos tipos de materiais presentes no Modelo
das magnitudes do ângulo de atrito do Solo Natural. 4.

59,32% 50,85%
60%
Variância do FS

50% 43,76%

40%
20,86%
23,98%
30% 14,79%
17,00% 19,27%
3,70% 7,42%
20%
10,97% 0,04%
3,90%
10% 0,91% 0,04% 5,77% Spencer
3,02% Bishop Simplificado
0,76% 0,48% 0,11% 0,02% 0,00% 0,27% 0,00%
Morgenstern e Price
0%
Ângulo Atrito

Ângulo Atrito

Ângulo Atrito

Ângulo Atrito
Coesão

Coesão

Coesão
Peso específico

Peso específico

Coesão Solo

Peso específico

Peso específico

Aterro Solo Natural Rachão Dreno

Morgenstern e Price Bishop Simplificado Spencer

Figura 14. Influência dos parâmetros no Modelo 4.

Além das variáveis inerentes aos cálculos apresentaram Índices de Confiabilidade superiores ao
( c e ) também ocorre que os três métodos de mesmo. Assim como os modelos de cálculo, o nível
cálculos podem ser tratados como fatores de freático também é tratado como variável, uma vez que
variabilidade, em razão de suas hipóteses esse influi diretamente sobre a análise de estabilidade.
simplificadoras que vão conduzir a resultados
diferentes. Em função dos métodos de
Morgenstern-Price e Spencer serem métodos mais 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
rigorosos, percebe-se que seus resultados
apresentaram FS maiores que os obtidos por Bishop Baseado nos valores determinísticos obtidos do FS,
Simplificado (conforme Figura 9 e Tabela 2), além de observa-se que houve significativas alterações

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250
quando se alterou o modelo estudado. O Modelo 2 considerar as incertezas recorrentes aos dados usados
considerou a elevação do NA sem considerar o dreno nos cálculos e as incertezas frente aos modelos usados
ou rachão, resultando nos menores valores de FS, para eles. É pertinente usar mais de uma abordagem
enquanto os demais modelos não consideraram a para poder correlacionar e comparar os resultados
elevação do NA ou, então, consideraram o efeito obtidos e suas validades. Aliás, é válido sempre
drenante, obtendo FS aceitáveis por norma. Isso desconfiar dos valores do FS, já que os métodos
mostra, conforme Terzaghi (1936), a influência da determinísticos não computam em suas abordagens as
tensão efetiva sobre a resistência e deformações dos probabilidades de falhas e os índices de
solos. Esta mesma conclusão pode ser tomada confiabilidades dos modelos estudados, os quais são
analisando os resultados de  obtidos pelo Método de muito recorrentes e pertinentes dentro das análises de
Monte Carlo, nos quais o Modelo 2 foi o único a segurança de taludes e obras geotécnicas em geral.
apresentar valores tidos como “Pobre” e
“Insatisfatório”, pelo critério do U.S. Army Corps AGRADECIMENTOS
Engineers, enquanto nos Modelos 3 e 4 foram obtidos
17 valores de  classificados como “Alto”, do Os autores deixam seu agradecimento a
montante de 21 valores. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Ademais, nota-se que certos parâmetros Nível Superior (CAPES) pelo fomento as pesquisas
exercem influências muito significativas nos valores realizadas na Universidade Federal de Santa Maria.
finais de FS e , enquanto outros pouco influem
nesses resultados. As combinações que REFERÊNCIAS
demonstraram os piores resultados frente a segurança
se deram naquelas onde o ângulo de atrito do solo foi ABNT (2009). NBR 11682: Estabilidade de Encostas.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
tratado como uma função densidade de probabilidade,
Janeiro.
e não um valor determinado médio (Figuras 11 e 12). ABNT (2021). NBR ISSO 10318-1: Geossintéticos
Pela Figura 13 é possível perceber que a diferença Parte 1: Termos e definições. Associação Brasileira
entre a média de  ao considerar ou não o ângulo de de Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
atrito como variável aleatória alcançou magnitudes 6 Assis, A. P. (2020). Risk management for geotechnical
vezes menores (no Modelo 1). Além disso, os únicos structures: consolidating theory onto practice. Soils
grandezas de PF obtidos se deram nas combinações and Rocks 43 (3): p. 311-336.
que envolviam o parâmetro ângulo de atrito em suas Carvalho, P. A. S. de (1991). Manual de Geotecnia:
análises probabilísticas, alcançando valores que taludes de rodovias – orientação para diagnóstico e
soluções de seus problemas. São Paulo, Instituto de
superavam a classificação de “Perigoso”. Dentro do
Pesquisas Tecnológicas (IPT), publicação IP; n.
Modelo 1, a influência do ângulo de atrito do solo 1843.
natural sobre o FS alcançou 74,29% para Duncan J. M. Factors of Safety and Reliability in
Morgenstern-Price, e no Modelo 4 esse parâmetro foi Geotechnical Engineering. Journal of Geot.
responsável por 59,32% da variância do FS no mesmo andGeoenvir. Engineering, Volume 126, 2000.
método de cálculo. Dessa maneira, é possível notar Falcão, P. R., Fagundes, D. de F., Alves, A. M. de Lima
que os critérios de Mohr Colomb são válidos perante (2020). Análise Pobabilística de aterros sobre solos
a análise de resistência dos solos. moles. Vetor, Rio Grande, vol. 30, n° 1, p.38-48.
Pondera-se, também, que os maiores níveis de Gescovich, D.M.S. (2012). Estabilidade de Taludes.
incertezas nas análises de resistência do solo se deram São Paulo: Oficina de Textos.
Massad, F. (2003). Obras de Terra: Curso Básico de
diante das maiores dispersões dos parâmetros
Geotecnia. 2ª ed. São Paulo: Oficina de Textos
geotécnicos em estudo. Este fator ressalta a Pinto, C. de S. (2006). Curso Básico de Mecânica dos
importância da obtenção de dados representativos Solos em 16 aulas, 3ª ed. São Paulo: Oficina de
fidedignos aos valores reais de campo, e a Textos.
necessidade de considerar margens de erro Terzaghi, K. (1936). The Shearing Resistance of
apropriadas. Saturated Soils and the Angle Between the Planes of
Ainda, foi possível notar uma pequena Shear. Cambridge, Massachusetts.
variação nos resultados perante os três métodos de Touze, N. (2021). Healing the world: a geosynthetics
cálculo. Os Métodos de Spencer e Morgenstern-Price solution. Geosynthetics International, 28, n° 1, 1-31.
mostraram-se mais rigorosos em seus resultados U. S Army Corps Engineers (1997). Introduction to
probability and reliability methods for use in
frente ao Método de Bishop, uma vez que esses
geotechnical engineering. Department of the Army,
métodos buscam satisfazer todas as equações de Washington, United States.
equilíbrio estático, enquanto Bishop desconsidera a Vertematti, J. C. (2015). Manual Brasileiro de
resultante das forças verticais entre fatias. Geossintéticos, 2. ed. São Paulo: Blucher.
Por fim, esse trabalho mostra a relevância de se

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


251
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise numérica e analítica de um muro de solo reforçado com


geossintético
Luigi Tavares Gomes
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, goomes_8@hotmail.com

Patricia Rodrigues Falcão


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, falcao.rodrigues.patricia@gmail.com

André Querelli
Solotechnique Consultoria e Eng. Geotécnica, Jundiaí, Brasil, andre.querelli@solotechnique.com.br

Tiago de Jesus Souza


Solotechnique Consultoria e Eng. Geotécnica, Jundiaí, Brasil, tiago.souza@solotechnique.com.br

Magnos Baroni
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, magnos.baroni@gmail.com

RESUMO: Os muros de solo reforçado com geossintético, por apresentarem comportamento complexo, necessitam não
só de análises de estabilidade externa, mas também de análises de estabilidade interna. Dentre essas, a verificação das
máximas tensões de tração nos reforços, denota-se como a principal a ser realizada. No entanto, diversos métodos foram
desenvolvidos para tal determinação, os quais baseiam-se em diferentes teorias e consideram parâmetros distintos de um
a outro, resultando assim em valores divergentes. Diante disso, objetiva-se no presente estudo descrever quatro
metodologias distintas e apresentar seus resultados ao empregar estas em um projeto de muro de solo reforçado com
geossintético. Para isso, utilizou-se de tais metodologias: uma baseada em equilíbrio limite, duas em condições de trabalho
e uma em elementos finitos, sendo respectivamente as da AASHTO, de Simplified Stifness, de Ehrlich e Mirmoradi, e de
modelagens numéricas realizadas no software PLAXIS 2D. Os resultados indicam um devido contraste entre as
metodologias. Para os modelos que desconsideram a coesão do solo observa-se valores de máxima tensão de tração nos
reforços e de deformações no muro significativamente maiores que aqueles que a consideram. Ademais, nota-se a
influência de uma camada de aterro posta no pé do muro que ao efetuar um travamento deste, auxilia consideravelmente
no decréscimo dos valores analisados. Ressalta-se também que os modelos baseados em condições de trabalho, quando
comparados com os das modelagens numéricas, considerando ora a coesão do solo e ora não, apresentam devida
convergência de valores.
PALAVRAS-CHAVE: Muro de Solo Reforçado, Geossintético, Métodos Analíticos, Modelagem Bidimensional.

ABSTRACT: Due to their complex behavior, soil walls reinforced with geosynthetic material require not only external
stability analysis but also internal stability analysis. The main task that needs to be completed among these is the
verification of the reinforcements' maximum tensile stresses. Divergent values are produced by the various methods that
have been developed for this determination, each of which is based on a different theory and considers a different set of
parameters. Considering this, the purpose of this study is to describe four distinct methodologies and to present the
outcomes of their application to a geosynthetic reinforced soil wall project. To this end, it was used such methodologies:
one based on limit equilibrium, two in working conditions, and one in finite elements, being respectively those of
AASHTO, Simplified Stiffness, Ehrlich and Mirmoradi, and numerical modeling performed in PLAXIS 2D software.
The results indicate a due contrast between the methodologies. For the models that disregard soil cohesion, values of
maximum tensile stress in the reinforcements and of deformations in the wall are observed to be significantly higher than
those that consider it. Furthermore, the influence of an embankment layer placed at the foot of the wall can be noted,
which, by effecting a locking of the wall, helps considerably in the decrease of the analyzed values. It is also noteworthy
that the models based on working conditions, when compared with those of numerical modeling, sometimes consider the
cohesion of the soil and sometimes do not, present due to convergence of values.
KEY WORDS: Reinforced soil wall, Geosynthetic, Analytical Method, Bidimensional model.

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252
1 INTRODUÇÃO os efeitos dos reforços e rigidez do solo, as tensões
induzidas pela compactação do aterro e, geralmente,
Denominadas como soluções econômicas quando a coesão do solo. Assim, em função de seus
comparadas com as demais, as estruturas de princípios divergentes, muitas vezes direcionam a
contenção em solo reforçado apresentam resistência resultados diferentes, além de não fornecerem
a recalques de fundação, trivialidade construtiva e informações que tangem aos deslocamentos e
tempo de realização reduzido, além de proporcionar deformações que se desenvolvem nos reforços e as
a obtenção de taludes em solos estáveis na posição suas cargas de ruptura (Sugimoto & Alagiyawanna,
vertical (Elias et al., 2001). Mediante as essas 2003).
vantagens, tais estruturas estão sendo utilizadas para Buscando superar as limitações dos métodos
substituir o uso das intituladas “tradicionais” em baseados em equilíbrio limite, foram desenvolvidos
concreto armado ou ciclópico, pelo fato do custo métodos de dimensionamentos com compatibilidade
dessas aumentar consideravelmente com a altura do de deformações baseados em condições de trabalho,
solo a conter ou com situações em que os solos de como é o caso do método de Allen & Bathurst (2015)
fundação não apresentam capacidade de suporte e Ehrlich & Mirmoradi (2016).
necessária, necessitando assim de uma estrutura que Tendo em vista os diferentes métodos de
se adeque bem a recalques da fundação, sem dimensionamento, baseados em equilíbrio limite ou
apresentar danos estruturais (Ehrlich & Becker, condições de trabalho, se tem certas discrepâncias
2009). Diante disso, o emprego de geossintéticos em nas considerações de parâmetros necessários para a
aterros, fundações, pavimentos, muros de contenção determinação das máximas tensões nos reforços. O
etc., denota-se como um método eficaz para conceber Método Simplificado da AASHTO (2017), não
desempenho e acréscimo de vida útil a essas considera a rigidez da face do MSRG, diferentemente
estruturas (Hussein & Meguid, 2016). do método de Allen & Bathurst (2015), que torna
O dimensionamento de estruturas de muro de solo possível o cálculo da tensão máxima nos reforços
reforçado com geossintético (MSRG) abrange a para muros com face em blocos ou envelopada. De
determinação de dimensões, materiais e verificações outro modo, o método de Ehrlich & Mirmoradi
de fatores de segurança, para que assim essas (2016), apresenta resultados que considera o efeito da
estruturas consigam atender as condições de compactação das camadas de aterro, que não é
estabilidade externa e interna (Ehrlich & Becker, considerado nos demais métodos supracitados.
2009). Para a análise de estabilidade externa, Ademais, por se apresentarem como instrumentos
considera-se a massa de solo reforçado como um poderosos para suprir as carências das metodologias
muro convencional de gravidade, que, por fim, conceituadas empiricamente ou por equilíbrio limite,
garante a estabilidade da zona não reforçada, indo diversos estudos que utilizam métodos dos elementos
contra ao deslizamento e tombamento, além de finitos para analisar estruturas reforçadas com
garantir a estabilidade por meio da capacidade de geossintéticos vem sendo desenvolvidos e relatados
carga da fundação e evitar a ruptura geral. na literatura, como por exemplo: Perkins & Edens,
Já a análise de estabilidade interna, considerada 2003; Hussein & Meguid, 2016; Tran et al., 2013a,b;
como um aspecto particular no dimensionamento Mosallanezhad et al., 2016; Wang et al., 2016.
dessas estruturas, deve garantir que não ocorra Assim, o presente trabalho objetiva aplicar
ruptura por tração, arrancamento dos reforços ou diferentes métodos de dimensionamento para
instabilidade localizada na face. Para isso, faz-se verificar a estabilidade interna de um projeto de muro
necessário verificar a máxima tensão de tração nos de solo reforçado com geossintético, avaliando as
reforços, a resistência ao arrancamento, as conexões respectivas máximas tensões de tração em seus
dos reforços com o sistema de faceamento e a reforços, abordando análises baseadas em equilíbrio
instabilidade de trechos. limite, condições de trabalho e por intermédio do
Os métodos de dimensionamento para verificação método dos elementos finitos.
da estabilidade interna foram desenvolvidos com o
objetivo de compreender os mecanismos de 2 PROJETO DO MURO DE SOLO
comportamento de estruturas de solos reforçados REFORÇADO
com geossintéticos e de otimização de projetos. Em
geral, baseiam-se na teoria de equilíbrio limite e em Perante o pressuposto, para os comparativos
formulações empíricas, como é o caso do método objetivados no item 1, utilizou-se do muro de solo
Simplificado da AASHTO (2017), considerado reforçado e envelopado com geotêxtil não-tecido,
limitado em representar corretamente as tensões de exposto na Figura 1, o qual provém de um projeto
tração desenvolvidas nos reforços. Além de desenvolvido para ser implementado no município de
apresentar desvantagens relevantes ao desconsiderar Votorantim, no estado de São Paulo. As

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253
características geométricas condizem a 9,0 m de condições, o muro atingiu avaliado atingiu FS=1,50.
altura, com reforços de 6,0 m de comprimento e
espaçados a 0,3 m, com uma inclinação da face de (a) Análise de estabilidade global
4v:1h, correspondente a 14º.
Deterministic Global Minimum
FS (deterministic) = 1.5
FS (mean) = 1.5
PF = 0.0%
RI (normal) = 4.5
RI (lognormal) = 5.5

Probabilidade de ruína (ᴩf): <1:10.000


Índice de confiabilidade (ẞ): 4,5
0.30 m
1

9.00 m
(b) Análise de estabilidade interna
4
Deterministic Global Minimum
FS (deterministic) = 1.5
FS (mean) = 1.5
PF = 0.0%
RI (normal) = 4.2
6.00 m RI (lognormal) = 5.1
Figura 1. Muro de solo reforçado e envelopado.

O subsolo do local foi estudado por intermédio da


sondagem do tipo Standard Penetration Test (SPT),
sendo esse representado na Figura 2. Sucintamente, a
distribuição das camadas consiste em uma areia
argilosa fofa a medianamente compacta com Probabilidade de ruína (ᴩf): <1:10.000
espessura de 8 m, seguida de 10 m de silte arenoso Índice de confiabilidade (ẞ): 4,2

medianamente compacto a compacto. O nível d’água Figura 3. Análises de estabilidade.


encontra-se a 0,70 m de profundidade.
No entanto, somente a estabilidade externa de um
Nível d’água: 0,7 m de profundidade
MSRG não garante um bom dimensionamento e
consequentemente seu melhor desempenho. Para
5m
Areia argilosa com raízes isso, faz-se necessário alguns aspectos particulares
Fofa - mediamente compacta
no dimensionamento dessas estruturas, nesse caso, a
Areia argilosa com pedregulhos
3 m Mediamente compacta
análise de estabilidade interna. Assim, necessita-se
da determinação da tensão de tração máxima atuante
nos reforços (Tmáx), pela qual, para evitar a ruptura dos
Silte arenoso reforços, seus valores não deverão ser superiores ao
10 m Mediamente compacto - menor valor esperado para a resistência de projeto do
compacto
geossintético (Ehrlich & Becker, 2009).

3 METODOLOGIA
Figura 2. Perfil do subsolo.
Objetivando avaliar diferentes métodos de
Realizou-se análises prévias a respeito do fator de
determinação para a tensão de tração máxima (Tmáx)
segurança utilizando o método de equilíbrio limite,
dos reforços empregados no MSRG, utilizou-se de
através do software Slide 6.025 da ROCSCIENCE,
parâmetros para os solos e geossintéticos, além de
as quais foram completadas pela estimativa da
metodologias de cálculos distintas, as quais serão
probabilidade de falha, tais análises podem ser
descritas a seguir.
observadas na Figura 3. Diante a isso, a geometria do
projeto, composições de materiais do MRSG e demais
3.1 Parâmetros do solo
outros fatores, devem garantir valores de estabilidade
externa dentro dos limites preconizados pela NBR
Os parâmetros dos solos utilizados para o
11682:2021 considerando um risco alto quanto a vida
desenvolvimento do presente estudo, nortearam-se
humana e os riscos ambientais. Reitera-se que nessa
através do resultado da sondagem SPT, e assim,
condição o fator de segurança (FS) preconizado deve
adotados com base em coeficientes de variação
ser superior ou igual 1,50. Por conseguinte, sob essas

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254
encontrados na literatura especializada, nacional e
internacional. Além disso, tendo em vista o 3.3.2 Método Simplified Stiffness
desenvolvimento de análises numéricas, necessitou
da adoção de parâmetros de rigidez (Tabela 1). Proposta por Allen e Bathurst (2015), a Equação 3 é
empregue para determinação da Tmáx pelo método
Tabela 1. Parâmetros geotécnicos - solos. Simplified Stiffness.
Mate- γ c ϕ Ψ E v
o
rial kN/m³ kPa º kPa 𝑇𝑚𝑎𝑥 = 𝑠𝑣 [𝛾𝑟 𝐻𝐷𝑡𝑚𝑎𝑥 +
Aterro 20 10 25 0 5000 0,35 𝐻𝑟𝑒𝑓
Solo ( ) 𝛾𝑓 𝑆] 𝐾𝑎𝑣ℎ Φ𝑓𝑏 Φ𝑔 Φ𝑓𝑠 Φ𝑙𝑜𝑐𝑎𝑙 Φ𝑐 (3)
𝐻
natural 18 1 30 5 0,35
Nota: γ equivale ao peso específico natural do solo, c a
coesão, ϕ ao ângulo de atrito, Ψ a dilatância, E ao módulo Onde Kavh é o coeficiente de empuxo ativo para
de elasticidade e v ao coeficiente de Poisson. uma parede vertical, Href corresponde à altura de
referência, Dtmax é um fator de distribuição, Φg é o
3.2 Reforço fator de rigidez global, Φfs fator de rigidez da face,
Φfb fator de rigidez da inclinação da face, Φlocal fator
Com objetivo de resistir e distribuir os esforços de de rigidez local, Φc fator de coesão do solo. Salienta-
tração, e, assim garantir a estabilidade do muro de se que os demais parâmetros já foram definidos
face envelopada, utilizou-se como reforço geotêxtil anteriormente. A Tabela 2, provinda de Allen e
não-tecido. Para esse, foi considerado um coeficiente Barthurst (2015), expõe os coeficientes utilizados
de interação geotêxtil-solo de 0,60 e resistência de para o método supracitado.
tração de projeto igual a 30 kN/m.
Tabela 2. Resumo dos coeficientes utilizados no método
3.3 Determinação da carga máxima dos reforços Simplifield Stiffness
Coeficientes/expoen- Valo-
Fator Definição
Para obtenção dos valores de Tmáx nos reforços, tes res
empregou-se de quatro métodos. O Método Ch (para H em metros) 0,40
Simplificado da AASHTO baseia-se em análises de Tmax fator de Ch (para H em pés) 0,32
Dtmax
equilíbrio limite. Já os métodos de Allen & Bathurst distribuição y 1,20
(2015) e Ehrlich & Mirmoradi (2016), fundamentam- Dtmax0 0,12
se nas análises de condições de trabalhos, além do α 0,16
Fator de rigi-
emprego de análise computacional através do Φg
dez global β 0,26
Método dos Elementos Finitos (MEF).
"a" para o aço 0,00
Fator de rigi- "a" para mantas de
3.3.1 Método Simplificado da AASHTO Φlocal
dez local aço e geossintético ex- 0,50
tensíveis
A determinação da carga máxima nos reforços, pelo Fator de reba-
método simplificado, é dada por intermédio da Φfb d 0,40
tedor
Equação 1, proposta pela AASHTO (2014). Fator de rigi- ⴄ 0,57
Φfs
dez da face k 0,15
𝑇𝑚𝑎𝑥 = 𝑠𝑣 𝐾(𝛾𝑟 𝑧 + 𝑞) (1) Fator de coe-
Φc λ -16,0
são do solo
Pela qual 𝑠𝑣 corresponde ao espaçamento vertical
dos reforços, 𝐾 ao empuxo lateral do solo, 𝛾𝑟 o peso A determinação de Φg pode ser dada através da
específico, 𝑧 a profundidade considerada e 𝑞 a Equação 4, na qual os valores de α e β são provindos
sobrecarga. A AASHTO (2014), indica para da Tabela 2 e Pa correspondente a pressão
materiais do tipo geossintético a relação de entre K e atmosférica em kPa.
Ka é igual a 1,0. Assim, K pode ser determinado
conforme a equivalência demonstrada na Equação 2. 𝑆𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 𝛽
𝛷𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = 𝛼 ( ) (4)
𝑃𝑎
𝑐𝑜𝑠²(∅𝑟 +𝜔)
𝐾 = 𝐾𝑎 = 𝑠𝑖𝑛∅𝑟 2
(2)
𝑐𝑜𝑠 3 𝜔(1+ ) A obtenção do Sglobal se dá conforme a Equação 5,
𝑐𝑜𝑠𝜔
em que Jave é a rigidez a tração do reforço e n o
Em que 𝜔 se refere a inclinação da face com a número de reforços.
vertical e ∅𝑟 o ângulo de atrito do solo.

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255
𝐽𝑎𝑣𝑒 ∑𝑛
𝑖=1 𝐽𝑖 3.3.3 Método de Ehrlich e Mirmoradi (2016)
𝑆𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = 𝐻 = (5)
( ) 𝐻
𝑛
Baseado em condições de tensões de trabalho, o
Por seguinte, com Sglobal determinado, se faz método de Ehrlich & Mirmoradi (2016) deriva da
possível obter os valores respectivos de Φg pela simplificação do procedimento de projeto de Ehrlich
expressão exposta na Equação 6. Para essa, os valores & Mitchell (1994) e apresenta boa concordância de
de  e  são retirados da Tabela 2. resultados com o método primordial, com menos de
5% de variação (Ehrlich & Mirmoradi, 2016). O qual,
𝑆𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 𝛽 determina seus respectivos resultados de Tmáx
𝛷𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = 𝛼 ( ) (6)
𝑃𝑎 seguindo a Equação 12.

No presente caso, por se tratar de um MSRG com Tmáx = Sv Sh Kr 'z (12)


face envelopada, desprezou-se a parcela do fator de
rigidez da face (Φfs), adotando seu valor igual a 1. Tal método segue um procedimento de cálculo, no
Para determinação do fator de rigidez da qual primeiramente parte-se da determinação do
inclinação da face (Φfb), primeiramente coeficiente de empuxo ativo, baseando-se na
determina-se o valor do componente horizontal formulação de Rankine, apresentada na Equação 13.
do coeficiente de empuxo ativo (Kabh) pela ∅
Equação 7, na qual, Ka, se obtêm por intermédio 𝐾𝑎 = 𝑡𝑎𝑛2 (45° − ) (13)
2
da Equação 2.
Assim, parte-se para determinação do índice de
Kabh=Ka cos ω (7) rigidez relativo de reforço (Si), pela Equação 14, na
qual, para o caso de reforço com geossintético, o
Adiante, com a determinação da componente espaçamento horizontal (Sh) é igual a 1.
horizontal do coeficiente de empuxo ativo
𝐸𝑟 𝐴𝑟
considerando que a parede é vertical (Kavh) pela 𝑆𝑖 = (14)
𝑘 𝑃𝑎 𝑆𝑣 𝑆ℎ
Equação 8, consegue-se então determinar Φfb
mediante a Equação 8. Por diante, através da Equação 15, determina-se o
ângulo de atrito de solo no modelo hiperbólico da
𝑘𝑎𝑏ℎ 𝑑
Φ𝑓𝑏 = (
𝑘𝑎𝑣ℎ
) (8) curva tensão-deformação ('(utl)). Para isso,
necessita-se do cálculo de , bem como o
Por se tratar de um solo que se denota como requerimento desse ser menor ou igual a 1,
coesivo (c=10kPa), se faz pertinente considerar essa apresentado na Equação 16.
parcela para a obtenção de Tmáx seguindo o método 4𝑆
Simplified Stiffeness. O qual, a considera através do ∅′𝑢𝑡𝑙 = 𝐴𝑟𝑐 𝑐𝑠𝑐 ({[𝑅𝑓 + (1 − 𝑅𝑓 ) ((1+4𝑆𝑖 )) 𝜆] (𝑐𝑠𝑐 ∅′ −
𝑖
fator de coesão do solo (Φc), expresso na Equação 9, 1)} + 1) (15)
tendo o respectivo valor de λ apresentado na Tabela
2.
=0,02'-0,1 ≤1 (16)
Φ𝑓𝑏 = 𝑒 λ(c/(𝛾𝑟 ∗𝐻)) (9)
A Equação 17 remete a determinação de KOW, o
Por fim, para possível determinação de Tmáx qual se equivale ao coeficiente de empuxo em
repouso. Nota-se que a mesma teoricamente limitada
necessita-se do fator da distribuição (Dtmax) para esse.
O qual, parte da expressão denotada na Equação 10, ao analisar a expressão de ∅′ 𝑢𝑙𝑡 + 𝜔 que deve ser
e necessita-se da avaliação de Zb, pela Equação 11, menor a 90º, mediante a isso, a presente metodologia
quando esse resultar em valores maiores que a se apresentada recomendável a muros com inclinação
profundidade do MSRG (Z) determina-se Dtmax por de face menor que 20º, caso do muro aqui perscrutado
intermédio da Equação 10, já se Zb for menor a Z, (𝜔 = 14ᵒ).
admite-se Dtmax igual a 1.
1+𝑡𝑎𝑛(∅′ 𝑢𝑙𝑡 +𝜔)
𝐾𝑜𝑤 = [1 − 𝑠𝑖𝑛(∅′ 𝑢𝑡𝑙 + 0,85𝜔)] [ ]
𝑐𝑜𝑠𝜔+𝑡𝑎𝑛 ∅′ 𝑢𝑙𝑡
𝑧
𝐷𝑡𝑚𝑎𝑥 = 𝐷𝑡𝑚𝑎𝑥0 + ( ) × (1 − 𝐷𝑡𝑚𝑎𝑥0 ) (10) (17)
𝑧𝑏

𝑍𝑏 = 𝐶ℎ × (𝐻)𝑦 × Φ𝑓𝑏 (11) Seguindo para a tensão vertical geostática no nível


do reforço, a qual se utiliza da formulação de

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256
Meyerhof apresentada na Equação 18, em que Lr consideração de uma camada de aterro de 1,5 m de
corresponde ao comprimento do reforço (6,0 m) e se espessura no pé do muro. Enquanto um considera
varia a profundidade do reforço (Z). essa camada e apresenta sua real estrutura utilizada
na obra (a), o outro a desconsidera (b) para efeito de
yxZ
𝜎′𝑧 = 𝐾𝑎 𝑧 2
(18) comparação com as demais metodologias. Para
[1−( )×( ) ] ambos se considerou uma sobrecarga posta no platô
3 𝐿𝑟

do aterro de 20 kN/m mediante a uma futura


Mediante ao pressuposto, determina-se então a implantação de via sobre esse.
tensão vertical efetiva máxima (𝜎′𝑧𝑐 ), incluindo a
compactação na profundidade dada, a qual é (a) Modelo 1
determinada ao se considerar juntamente a tensão
vertical efetiva induzida pela compactação ( 𝜎′𝑧𝑐𝑖 ).
20 KN/m
As seguintes considerações apresentam na Equação
19. Com camada de aterro
no pé do MSRG

𝜎′𝑧𝑐 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜎′𝑧 < 𝜎′𝑧𝑐𝑖


𝜎′𝑧𝑐 = { } (19)
𝜎′𝑧 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜎′𝑧 ≥ 𝜎′𝑧𝑐𝑖

Para a determinação da rigidez relativa solo-


reforço (Si*), necessita-se do módulo expoente (n) do (b) Modelo 2
solo, para isso, empregou-se o valor de 0,5. A 20 KN/m
Equação 20 apresenta a expressão utilizada para se
obter os resultados de Si*. Sem camada de aterro
no pé do MSRG

𝑆𝑖
𝑆𝑖∗ = (20)
(𝜎 ′𝑧𝑐 𝐾𝑜𝑤 /𝑃𝑎 )𝑛

Para dar prosseguimento a metodologia,


necessita-se determinar o coeficiente de pressão de Legenda:
solo correspondente ao estado de tensões, incluindo Aterro compactado Solo natural Reforço
o aumento das tensões induzidas na compactação Figura 4. Modelos numéricos.
(Kc), esse é calculado a partir da Equação 21.
Visando analisar os efeitos da coesão do solo na
∅′ obtenção de Tmáx e comparar com aqueles métodos
[1+8𝑆𝑖∗ 𝑠𝑖𝑛( 𝑢𝑙𝑡⁄2)]𝐾𝑂𝑊
𝐾𝑐 = ∅′
(21) que não a consideram, se derivou do Modelo 2 o
2+8𝑆𝑖∗ 𝑠𝑖𝑛( 𝑢𝑙𝑡⁄2)−𝐾𝑂𝑊
Modelo 3, o qual para minimizar os efeitos da coesão
do solo, empregou-se o valor de c=1 kPa para evitar
Por fim, para então se obter os respectivos problemas de convergência no software utilizado. A
resultados de Tmáx, determina-se o coeficiente de Tabela 3 apresenta os parâmetros da modelagem
empuxo lateral de solo residual no final da construção numérica de cada um dos três modelos realizados.
(Kr), o qual é determinado através da Equação 22, na
qual a taxa de sobre adensamento (OCR) se dá Tabela 3. Parâmetros da modelagem numérica
mediante a razão entre 'zc e 'z. Configu- Modelo Número Número Especifica-
ração constitutivo de nós de fases ções
1,15 𝑆𝑖∗ (1−𝑠𝑖𝑛 ∅′ )(𝑂𝐶𝑅−𝑂𝐶𝑅𝛼 )
𝐾𝑅 = 𝐾𝐶 𝑂𝐶𝑅 − (22) Mohr -Cou- * / (¹)
1,5+𝑆𝑖∗ Modelo 1 43845 61
lomb
3.3.4 Modelo numérico – Método dos Elementos Mohr-Cou- * / (²)
Modelo 2 35817 59
Finitos lomb
Mohr-Cou- **/ (²)
Para avaliar os resultados de Tmáx frente as Modelo 3 35817 59
lomb
metodologias analíticas anteriormente descritas, Nota: * com coesão; ** sem coesão; (1) com aterro no pé
utilizou-se da modelagem numérica utilizando o do muro; (2) sem aterro no pé do muro.
software de elementos finitos PLAXIS 2D
(Brinkgreve & Vermeer, 2002). Duas configurações 4 RESULTADOS
do MRSG em estudo foram desenvolvidas. A Figura
4 apresenta estes modelos, os quais diferenciam-se na A Figura 5 apresenta os valores de Tmáx versus

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257
profundidade em que se localiza os reforços para as denotando assim os efeitos significativos da coesão
diferentes metodologias, contendo as analíticas do solo no processo de auxiliar frente as tensões que
(marcadores) e as numéricas (linhas tracejadas). estão sendo impostas.
Ademais, apresenta-se o somatório de Tmáx para cada Ao analisar os resultados provindos do Modelo 1,
sistemática. Assim, devido a consideração de nota-se uma diminuição drástica dos valores de Tmáx a
diferentes parâmetros de uma à outra, verifica-se a partir da profundidade de 6,5 m, na qual a camada de
divergência de resultados entre essas. aterro no pé do MSRG termina, sendo que essa
camada através da ação de empuxo passivo realiza
T máx (kN) um travamento da base do muro, ajudando a reduzir
0 10 20
0
o requerimento dos reforços e consequentemente
conter as deformações provocadas.
1
A Figura 6 expõe os resultados derivados das
2 modelagens numéricas. Essa, aborda as
3 representações da deformação da malha aumentada
Profundidade (m)

4
em 10 vezes para melhor visualização, com a
respectiva indiciação do reforço com o maior
5 resultado de Tmáx, além de o valor da máxima
6 deformação para cada modelo. Observa-se que as
7 maiores deformações ocorreram na extremidade
superior do MSRG, região em que os reforços
8
concebem as condições de estabilidade para a
9 estrutura.
10 Nota-se que para o Modelo 1 o maior valor de Tmáx
∑Tmáx (KN)
se dá no reforço acima da camada de aterro no pé do
307,02
AASHTO muro, enquanto para os demais modelos o maior
44,86
Simplified Stiffness valor se encontra no último reforço. Além do mais,
Ehrlich and Mirmoradi (2016) 299,02 verifica-se que o travamento realizado pela camada
Modelo 1 104,35 de aterro no pé do muro, Modelo 1, proporcionou
Modelo 2
184,48 uma atenuação de cerca de duas vezes o valor do
Modelo 3 309,10 máximo deslocamento quando comparado com o
Modelo 2, que não contém camada de aterro no pé do
Figura 5. Resultados de Tmáx e ∑Tmáx. muro, e quatro vezes quando comparado com o
Modelo 3, que não contém tal camada e não pondera
Observa-se que o método Simplified Stiffness os valores da coesão do solo.
resulta em valores inferiores aos demais métodos,
tendo uma boa convergência até a profundidade de Modelo 1
Modelo 1
3,0 m com os modelos numéricos 1 e 2 que
consideram os efeitos da coesão. Para o método da
AASHTO, verifica-se um comportamento linear,
com valores inferiores de força a tração nos reforços REFORÇO 21
REFORÇO 21
superiores, e maiores naqueles mais próximos a base Tmáx
Tmáx =
=
9,010
9,010 KN/m
KN/m
do muro, nessa metodologia, ao considerar a
sobrecarga no topo do muro, os valores de Tmáx se
Deformed mesh
Deformed mesh |u|
|u| (scaled
(scaled up
up
acentuam em todos os reforços, independente da 10,0
10,0 times)
times)
profundidade em que se encontram. Maximum
Maximum value
value == 0,1372
0,1372 mm
Já ao analisar os resultados do método proposto Modelo 2
2
Modelo
por Ehrlich & Mirmoradi (2016), verifica-se valores
maiores nas primeiras camadas de reforço pelo fato
deste considerar a influência da energia de
compactação sobre cada camada, além de apresentar
REFORÇO 29
REFORÇO 29
uma boa concordância com os valores provindos da Tmáx =
Tmáx =
análise numérica do Modelo 3, perante os quais têm 15,56
15,56 KN/m
KN/m
em comum a desconsideração da coesão do solo.
Deformed mesh
Deformed mesh |u|
|u| (scaled
(scaled up
up
Ademais, verifica-se que os métodos que 10,0
10,0 times)
times)
ponderam a coesão do solo apresentaram valores de Maximum
Maximum value
value == 0,2826
0,2826 mm
Tmáx inferiores a aqueles que a desconsideram, Modelo
Modelo 33

REFORÇO
REFORÇO 29
29
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil. Tmáx
Tmáx =
=
258 25,67
25,67 KN/m
KN/m
15,56 KN/m

Deformed mesh |u| (scaled up


10,0 times)
Maximum value = 0,2826 m

Modelo 3 REFERÊNCIAS

REFORÇO 29 AASHTO. (2017). AASHTO LRFD bridge design


Tmáx =
speficitions. ed. 7, Washington, DC.
25,67 KN/m
Allen, T. M., Bathurst, R. J. (2015). Improved simplified
method for prediction of loads in reinforced soil walls.
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10.1061/(ASCE)GT.1943-5606.0001355, 04015049.
Deformed mesh |u| (scaled up Ehrlich, M., Becker, L. (2009). Muros e taludes de solo
10,0 times) reforçado: projeto e execução – São Paulo: Oficina de
Maximum value = 0,5502 m Textos, 2009. – (Coleção Huesker: engenharia com
geossintéticos).
Ehrlich, M., Mirmoradi, S.H. (2016). A simplified working
Figura 6. Análises computacionais. stress design method for reinforced soil walls. Jornal
Géotechnique. 66(10):854-863.
5 CONCLUSÃO https://doi.org/10.1680/jgeot.16.P.010
Ehrlich, M., Mirmoradi, S.H. (2013). Evaluation of the
Diferentes metodologias de cálculo para obtenção de effects of facing stiffness and toe resistance on the
Tmáx nos reforços de um MRSG foram detalhadas e behavior of GRS walls. Journal Geotextiles and
utilizadas, abordando diferentes parâmetros e Geomembranes, v.40, p. 28-36.
princípios nas quais se baseiam. Elias, V., Christopher, B. R., Berg, R. R. (2001).
Tal alteridade de um método para outro mostra-se Mechanically stabilized earth walls and reinforced soil
slopes - design and construction guidelines.
como responsável da divergência dos resultados
Geotechnical Engineering, Washington, n. FHWA-
obtidos. A consideração de parâmetros como a NHI-00-043, p. 394.
coesão do solo, a tensão induzida pela compactação, Hussein, M. G., Meguid, M. A. (2016). A three-
o travamento do pé do muro e a rigidez da face dimensional finite element approach for modeling
denotam-se relevantes para se obter resultados da biaxial geogrid with application to geogrid-reinforced
tensão máxima nos reforços como se procede em um soils. Jornal of Geoxtextiles and Geomembranes.
muro físico. Montreal, v. 44, p. 295-307.
A utilização de modelagens numéricas Mirmoradi, S.H., Ehrlich, M. (2015). Modeling of the
empregando o método dos Elementos Finitos compaction-induced stress on reinforced soil walls.
apresenta-se como benéfica para a obtenção e Journal Geotextiles and Geomembranes, v. 43, p. 82-
88.
comparação dos resultados. Nas quais, se faz possível
Mosallanezhad, M., Taghavi, N., Hataf, N., Alfaro, M.
considerar todos os parâmetros e condições que se (2016). Experimental and numerical studies of the
aplicam em um MSRG, diferentemente das performance of the new reinforcement system under
metodologias analíticas que foram utilizadas. pull-out conditions. Geotextiles and Geomembranes, v.
O método de Ehrlich & Mirmoradi (2016), 44, p. 70-80.
baseado em condições de trabalho e que busca Perkins, S.W., Edens, M.Q. (2003). Finite element
considerar de forma mais realística o comportamento modeling of a geosynthetic pullout test. Geotech. Geol.
complexo das estruturas de solo reforçado, Eng., v. 21, p. 357-375.
apresentou melhor convergência dos resultados com Sugimoto, M., Alagiyawanna, A. (2003). Pullout behavior
o Modelo 3, no qual ambos não consideraram os of geogrid by test and numerical analysis. Journal of
Geotech. Geoenviron. Eng, v. 129, p. 261-371.
efeitos da coesão do solo. Denotando assim a
Tran, V.D.H., Meguid, M.A., Chouinard L.E. (2013a). The
necessidade da incrementação de fatores que application of coupled finite-discrete element method
relacionam a coesão do solo em sua metodologia. in analyzing soil-structure interaction problems. 3rd
Ademais, tal método vem apresentando boa Internation Conference on Particle-based Methods
correspondência com valores medidos em obras Fundamentals and Applications, Particles 2013,
instrumentadas e modelagens físicas e numéricas, Stuttgart, p. 200-211.
conforme constatado também por Ehrlich & Tran, V.D.H., Meguid, M.A., Chouinard L.E. (2013b). A
Mirmoradi (2013), Mirmoradi & Ehrlich (2015). finite-discrete element framework for the 3D modeling
of geogrid-soil interaction under pullout loading
AGRADECIMENTOS conditions. Geotext. Geomembr. 37, p. 1-9.
Wang, Z., Jacobs, F., Ziegler, M., 2016. Experimental and
Os autores agradecem a Solotechnique pela
DEM investigation of geogrid-soil interaction under
confiança e a disponibilização dos dados. Bem como pullout loads. Geotext. Geomembr. 44 (3), p. 230-246.
a CAPES pela bolsa do autor (2) e a UFSM pelo
incentivo as pesquisas.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


259
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Efeito da Distribuição Granulométrica e da Forma do Grão de Areia


na Eficiência do Reforço por Fibra Polimérica
Camilla Maria Torres Pinto
PPEC - UFBA, Salvador, Brasil, c.camillamaria@gmail.com

Murilo Pereira da Silva Conceição


PPEC - UFBA, Salvador, Brasil, pereiramurilosc@gmail.com

Sandro Lemos Machado


PPEC - UFBA, Salvador, Brasil, smachado@ufba.br

Miriam de Fátima Carvalho


PPEC - UFBA, Salvador, Brasil, miriam.machado@ufba.br

RESUMO: Este trabalho estuda o efeito da distribuição granulométrica e forma do grão de areia no comportamento
tensão-deformação de areias reforçadas com fibras de polipropileno, tendo como base resultados de ensaios de
compressão triaxial do tipo consolidado drenado (CD). Duas areias limpas com mesma densidade relativa (Dr 60%) e
com distribuição do tamanho e forma de grãos diferentes (arredondados e subangular) foram usadas para confecção de
corpos de prova de areia-fibra com dimensões de 200 mm de altura e 100 mm de diâmetro e com teores de fibras (Pf) de
0%, 0,5% e 1,0 % e diferentes comprimentos (12,5 mm, 25 mm e 51 mm). As areias reforçadas com fibras apresentaram
maior resistência do que as areias não reforçadas. O compimento das fibras apresentou-se mais efetivo no aumento da
resistência que o teor de fibras. A resistência das areias reforçadas foi afetada pela forma do grão da areia e gradação dos
grãos, onde os grãos subangulares atingiram valores de resistência superiores às areias reforçadas com grãos
arredondados.

PALAVRAS-CHAVE: Areia reforçada; SRF; Ensaio triaxial, Fibra Polimérica, Resistência ao cisalhamento

ABSTRACT: This paper studies the effect of granulometric distribution and sand grain shape on the stress-strain behavior
of sands reinforced with polypropylene fibers, based on the results of triaxial compression tests of the drained consolidated
type (CD). Two clean sands with the same relative density (Dr 60%) and with different grain size and shape distribution
(rounded and subangular) were used to make sand-fiber test specimens with dimensions of 200 mm of height and 100
mm of diameter and with fiber contents (Pf) of 0%, 0.5% and 1.0% and different lengths (12.5 mm, 25 mm and 51 mm).
Fiber-reinforced sands showed higher strength than unreinforced sands. Fiber length was more effective in increasing
strength than fiber content. The strength of the reinforced sands was affected by the sand grain shape and grain gradation,
where the subangular grains reached higher strength values than the reinforced sands with rounded grains.

KEY WORDS: Reinforced Sand; SRF; Triaxial Test, Polymer Fiber, Shear Strength

1 INTRODUÇÃO O comportamento mecânico das areias é


dependente de sua densidade relativa (Dr), que é
O emprego de solo reforçado em obras de engenharia governada pelo entrosamento entre as partículas,
requer o conhecimento do comportamento mecânico resultado da ação conjunta da distribuição
desse material compósito, formado pela união da granulométrica e formato dos grãos. Resultados de
matriz (solo) e do reforço (fibras, podendo ser de literatura apontam que o ângulo de atrito de uma areia
diferentes naturezas). De forma geral, os estudos de no estado mais compacto é da ordem de 7º a 10º
solos reforçados com fibra (SRF) realizam superior ao do seu estado mais fofo (Leonards, 1962;
comparações entre o comportamento do material Briaud, 2013). Além disso, considerando a mesma
reforçado com o do solo sem reforço, avaliando a Dr, o ângulo de atrito pode ser incrementado entre 4º
melhoria em propriedades específicas. a 6º para grãos com formato angulares em relação aos

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


260
formatos arredondados (Leonards, 1962), isto devido areia média e 16% de areia fina foram classificadas
ao maior entrosamento entre eles. Para definição do como SP segundo a SUCS, areias mal graduadas e
formato dos grãos de uma areia leva-se em conta a muito uniformes. Para a mesma condição de
esfericidade (formato médio), o arredondamento densidade relativa (Dr =60%), a areia de rio
(formato dos cantos) e sua rugosidade. Não sendo apresentou ângulo de atrito na condição de pico
uma variável fácil de ser definida, podendo ser maior que a areia de duna (3º maior). Na figura 1
determinada por microscopia, segundo Oda (1972a e pode-se observar que a forma dos grãos e uma
b). Quanto mais bem distribuída distribuição mais variada leva a este maior valor de
granulometricamente a areia (maior o coeficiente de ângulo de atrito.
não uniformidade), melhor será o entrosamento
existente e, consequentemente, maior o ângulo de Tabela 1. Carcaterísticas das areias usadas.
atrito da areia. Parâmetros Areia de Rio Areia de Duna
No caso de compósitos areia/fibra, além das Forma de grão Subangular Arredondado
variáveis mencionadas anteriormente, o mecanismo d10 (mm) 0,43 0,176
d30 (mm) 0,59 0,250
de interação fibra/grão, bem como o teor, a dimensão
d50 (mm) 0,83 0,290
e a rigidez da fibra afetam o ganho de resistência d60 (mm) 0,96 0,315
(Diambra e Ibraim, 2015). Parece consenso que Cu 2,24 1,79
existe um teor mínimo de reforço para se alcançar um Cc 0,84 1,13
ganho de propriedades mecânicas desejadas, porém, γs (kN/m³) 26,50 26,57
há um limite nesse valor, determinado a partir da emáx 0,79 0,748
matriz que se deseja incrementar, pois o excesso de emím 0,520 0,523
fibras de reforço pode vir a se amontoar dentro da ϕpico (º) CP Dr 36,5 33,6
matriz, impedindo que o compósito trabalhe 60%
eficientemente (Teodoro, 1999).
Resultados de literatura mostraram, de forma
geral, que a inclusão de fibra como reforço no solo
ocasiona um ganho de resistência à tração e uma
ruptura mais dúctil, bem como aumento da
resistência ao cisalhamento e redução da perda de
resistência ao cisalhamento pós-pico, aumento da
capacidade de suporte e redução de propagação de
fissuras, (Gray e Ohashi, 1983; McGown et al., 1978;
Loehr, Romero e Ang, 2005; Gao, Lu e Huang,
2020).
Nesse contexto, o presente trabalho visa avaliar o
efeito das características da areia referente a
distribuição granulométrica e formato de grãos na
curva tensão - deformação de um SRF com diferentes Figura 1. Curva granulométrica e forma dos grãos das
teores e comprimento de fibra. areias estudadas.

A fibra usada foi fornecida pela empresa Viapol


2 MATERIAIS E PROCEDIMENTOS sendo constituída de copolímero 100% virgem
(junção dos monômeros de etileno e propileno), com
2.1 Características das areias e da fibra comprimento de 51 mm, diâmetro médio de 0,51
mm, massa específica de 0,91 g/cm³, módulo de
Duas areias limpas, uma de rio (grão subangular) e elasticidade de 5 GPa e resistência a tração média de
outra de duna (arredondado) foram usadas como 500 MPa (parâmetros indicados pelo fabricante). Ela
material de matriz na pesquisa (Figura 1) e suas foi cortada manualmente para obter comprimentos de
propriedades índices, determinadas segundo as 12,5 mm e 25 mm e desfibrilada para uso nos
normas brasileiras (Análise granulométrica: NBR compósitos (Figura 2).
7181/2016; massa específica dos sólidos: NBR
6458/2016; determinação do índice de vazios
máximo de solos não coesivos: NBR 12004/1990;
determinação do índice de vazios mínimo: NBR
12051/1991) estão indicadas na Tabela 1. A areia de
rio com 10% de pedregulho fino, 62% de areia grossa
e 28% de areia fina e a areia de duna com 84% de

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261
material, prendendo a membrana ao cabeçote com
auxílio de borrachas de látex, garantindo a vedação
do conjunto, mantendo a sucção na base e aplicando-
a também no topo do CP, o que permite retirar o
molde metálico evitando a desestruturação do CP.
Com bomba de vácuo ainda aplicando a sucção, o
molde é removido tomando-se todas as precauções
para que não ocorra deformações no corpo de prova.
Fecha-se a célula triaxial e insere-se água na parte
externa da célula, aplica-se uma pequena pressão
externa no CP com um auxílio de um reservatório
para manter um leve confinamento na amostra e
fecha-se a válvula da aplicação de vácuo. A Figura 3
apresenta uma sequência de fotos do processo de
Figura 2. Fibra e comprimentos usados moldagem.
O CP segue para saturação por fluxo e avaliação
2.2 Preparação dos compósitos do coeficiente de permeabilidade, parâmetro adotado
como o indicador de qualidade do processo de
Foram ensaiados corpos de prova (CP) com areia moldagem, devido a ser um parâmetro muito sensível
pura e areia com adição de reforço (compósitos) em às variações no índice de vazios.
dois teores (0,5% e 1 %) e três comprimentos de fibra
(12,5 mm, 25 mm e 51 mm), o que permitiu avaliar a 2.3 Ensaios de compressão triaxial
interação e influência das fibras nas propriedades
mecânicas da areia. Foram realizados ensaios de compressão triaxial
As misturas areia/fibra foram realizadas consolidado isotropicamente drenado (CID), com
manualmente, com adição de cerca de 1 a 2% de água tensões confinantes de 50 kPa, 100 kPa, 200 kPa e
na composição para facilitar a aderência entre as 300 kPa, utilizando CP com teores de fibras de 0%,
fibras e o solo – moist tamping technique -, 0,5% e 1,0% e comprimento de 12,5 mm, 25 mm e
recomendada por Diambra et al. (2010). Tanto a água 51 mm. Todos os ensaios foram realizados em
quanto as fibras foram medidas em massa e duplicata.
adicionadas considerando a massa seca do solo. As Os procedimentos gerais adotados na preparação
fibras foram distribuídas e misturadas de forma e execução dos ensaios triaxiais seguiram os
pretensamente aleatória no solo, visando a simular princípios descritos por Head e Epps (2014). Os CPs
situações práticas de utilização do solo reforçado em que atenderam as variações do coeficiente de
campo. Os CP foram compactados em um molde permeabilidade, medidos após a saturação por fluxo,
bipartido de aço inoxidável (diâmetro interno de 100 seguiram para a saturação por contrapressão, com
mm e altura de 200 mm), fixado na base da célula medida do parâmetro B de Skempton (1954) superior
triaxial, onde o material foi acomodado em camadas, a 0,90. Procedeu-se o confinamento conforme a
buscando obter uma densidade relativa (Dr) de 60% tensão efetiva desejada e seguida da ruptura com uma
tanto nos CP de areia pura como nos compósitos taxa de carregamento de 0,667 mm/min num tempo
areia/fibra, de forma a garantir o mesmo índice de de cerca de 60 minutos. Maiores informações sobre
vazios inicial dos CPs. A fibra foi considerada como execução dos ensaios realizados podem ser
parte dos sólidos e calculou-se a massa específica dos encontradas em Conceição (2021) e Pinto (2021).
sólidos ponderada para cada combinação de
porcentagem de fibra nos compósitos (0,5% e 1 %).
A partir deste valor foram calculadas as massas secas 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
de fibras e solo para se atingir o valor de índice de
vazios para se ter a Dr desejada. A Figura 4 apresenta o efeito que a inclusão das fibras
Uma membrana de látex foi inserida no molde exerce nos valores de tensão desviadora de ruptura
metálico, bem como um geotêxtil em sua base. (σdf) para diferentes tensões confinantes. Cada ponto
Aplica-se uma sucção de 20 kPa pela base do CP com de (σdf) no gráfico representada a média de dois
o auxílio de uma bomba de vácuo e inicia-se a ensaios. Observa-se que a σdf é dependente da tensão
inserção da massa em 4 camadas, usando um funil confinante, teor e comprimento das fibras.
para o caso da areia pura e uma concha para a Comportamento similar foi reportado por Maher and
areia/fibra e procede-se a acomodação do material Gray, (1990); Shukla, (2017); Ghadr et al. (2022),
com uma sapata até obter a altura definida. Apoia-se dentre outros.
outro geotêxtil e o cabeçote sobre a última camada de

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262
Figura 3. Etapas de montagem dos CPs.

Observa-se que a σdf aumenta com o teor de fibra, moldagem Dr=60% foi empregada em todos os CPs.
sendo este aumento maior para as fibras maiores. Os corpos de prova da areia de rio, com grãos
Fibras mais longas apresentaram maior eficiência no subangulares, maior textura e granulometria menos
efeito reforço que fibras mais curtas (12,5 mm), uniforme, apresentaram maiores ganhos de
devido a maior possibilidade de se embricarem com resistência em relação à areia de duna, a qual posssui
os grãos, dobrando-se sobre os mesmos devido à grãos mais arredondados. Na areia de rio há
flexibilidade elevada da fibra, melhorando e condições para um melhor embricamento ou
eficiência do reforço. Também se pode observar que entrosamamento dos grãos, dificultando o
para tensões confinantes menores (50 e 100 kPa) o deslizamento e melhorando a interação solo/fibra.
ganho na tensão desviadora de ruptura é mínimo ou Estas diferenças podem ser melhor observadas em
inexistente, como por exemplo em compositos de termos da diferença entre a tensão desviadora do SRF
areia de duna com Pf=0,5% e L=25 mm, comparado e da areia sem reforço, como mostrado na Figura 5.
às tensões maiores (200 e 100 kPa). As tensões O ganho de tensão desviadora foi maior em quase
confinantes maiores melhoram a interação entre o todas as condições estudadas para os compósitos
solo e a fibra, promovendo uma ancoragem mais confeccionados com areia de rio em relação aos de
efetiva da fibra entre os grãos do solo. A melhor areia de duna. Os resultados obtidos nesta pesquisa
eficiência do reforço para as fibras longas é também estão em parte de acordo com Markou (2016), que
mais evidente para os maiores confinamentos. aponta que areias reforçadas e com grãos
Comparando-se resultados obtidos para a mesma subangulares atingiram maiores resistências que as
condição de confinamento e reforço, percebe-se a areias com grãos arredondados, contudo o autor
influência da granulometria e da forma dos grãos nos citado obteve também um aumento da resistência
valores de σdf, já que a mesma densidade relativa de com a diminuição do tamanho do grão.

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263
deixados pelos grãos maiores. O efeito da
uniformidade da granulometria parece se sobrepor ao
efeito relativo aos tamanhos dos grãos, já que
diferentes autores apontam maiores dilatâncias para
grãos maiores (Michalowski e Cermak, 2002 e Ghadr
et al., 2022),

a)

b)
Figura 4. Resultados de ensaios triaxiais CD para areia
pura e areia reforçada com diferentes teores e
comprimento de fibra. a) Compósitos com 0,5% de fibras;
b) Compósitos com 1% de fibras.

No que se refere às deformações axiais na ruptura,


para a maioria dos compósitos se obteve valores
variando entre 5 a 15%. Na Figura 6, resultados de Figura 5. Diferença entre a tensão desviadora na ruptura
para SRF com diferentes teores e comprimento de fibra.
ensaios para compósitos com 1% de fibra são
apresentados. Parece haver uma tendência de
compósitos com fibras mais longas (51 mm)
apresentarem picos de resistência para maiores
deformações axiais.
Na Figura 7 são apresentadas deformações
volumétricas na condição de ruptura (ponto de tensão
desviadora de pico) para os diversos compósitos
estudados. Como esperado, para um mesmo Dr, a
dilatância das areias diminui com o confinamento. A
inclusão do reforço promoveu uma redução na
dilatância, principalmente para as tensões maiores de
confinamento (200 e 300 kPa). Contudo, para o caso
da areia de duna, a redução da dilatância com o
reforço é menos evidente. Acredita-se que a maior
dilatância observada para a areia de duna esteja
relacionada a sua maior uniformidade, que diminui a Figura 6. Resultados de deformação axial na ruptura.
possibilidade de grãos menores ocupar os vazios

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264
Tabela 2. Parâmetros de resistência das areias e dos
compósitos devido ao incremento de fibra
Areia de duna Areia de rio
Material c’ Φ Δϕ c’ ϕ Δϕ
(kPa) (º) (º) (kPa) (º) (º)
Areia Pura
0 33,6 - 0 36,5 -
Pf=0
Pf=0,5%,
0 35,8 2,2 9,5 39,2 2,7
L=25mm
Pf=0,5%,
7,2 40,7 7,1 0 43 7,4
L=51mm
Pf=1%,
2,5 35,8 2,2 8,2 39,2 2,7
L=12,5mm
Pf=1%,
8,3 36 2,4 19,6 41,7 5,2
L=25mm
Pf=1%,
23,9 41,8 8,2 47,7 41,7 11,2
L=51mm
Figura 7. Resultados de deformação volumétrica na
ruptura obtidas de ensaios triaxiais CD para areia pura e
areia reforçada com diferentes teores e comprimento de 4 CONCLUSÕES
fibra.
A partir das análises dos resultados de ensaios
Os parâmetros de resistência ao cisalhamento das triaxiais CD realizados, pôde-se concluir que:
areias e de todas as combinações de SRF estudadas
estão apresentados na Tabela 2, assim como os - A inclusão da fibra de copolímero nas areias
acréscimos na coesão (c`) e no ângulo de atrito (ϕ`). estudadas, proporcionou o desenvolvimento de
Da tabela, observa-se que tanto a coesão quanto o compósitos com novas propriedades mecânicas,
ângulo de atrito sofreram incrementos com a adição fortemente influenciadas pelo comprimento e teor do
das fibras, com exceção do compósito Pf = 0,5% e L= reforço. Nesta pesquisa, comprimento da fibra
25 mm com areia de duna e Pf = 0,5% e L=51 mm forneceu uma maior contribuição ao ganho de
com areia de rio que não apresentaram ganho de resistência, quando comparado ao teor, indicando que
coesão seguindo o melhor ajuste. o aumento do comprimento ocasionou uma
Entre os compósitos que apresentaram menores ancoragem mais efetiva da fibra com grão. Além
valores de contribuição aos parâmetros de disso, o aumento do teor acima de 1% foi
resistência, as areias reforçadas com Pf = 0,5% e L= impraticável devido a dificuldade de
25 mm apresentaram coesão levemente superior as homogeneização dos materiais.
areias reforçadas com Pf = 1,0% e L = 12,5 mm, e - Os compósitos confeccionados com areia com
mesmo ângulo de atrito. Observando ainda os grãos subangulares (rio) e maior d50 apresentaram
resultados obtidos para as areias reforçadas com Pf maiores ganhos de resistência em relação a de grãos
=1 % e diferentes comprimentos, observa-se uma arredondados (duna) e menor d50, considerando as
influência significativa nos parâmetros de resistência mesmas condições de ensaio (teor e comprimento de
em função do comprimento da fibra. fibra e densidade relativa de moldagem Dr=60%).
Nesta pesquisa, os resultados apontam que o Este fato pode ser explicado devido ao melhor
comprimento da fibra e formato subangular dos grãos embricamento e entrosamamento grãos
forneceram maiores contribuiçôes ao ganho de subangulares, dificultando o deslizamento e
resistência, quando comparado ao teor, o que pode melhorando assim o comportamento mecânico.
ser verificado tanto no comportamento tensão- - Para uma mesma areia, a inclusão do reforço
deformação dos compósitos (Figuras 4 e 5) quanto promoveu uma redução na variação volumétrica de
nos valores fornecidos na Tabela 2. expansão (dilatância) principalmente para as tensões
maiores de confinamento (200 e 300 kPa), sendo que
a areia de rio apresentou menores dilatâncias
comparada com a de duna.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CAPES e FAPESB pelas


bolsas de pesquisa concedidas e à Viapol pelo
fornecimento das fibras poliméricas.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


265
Markou, I. (2016). Effect of Grain Shape and Size on the
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273
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Muros em Solos Reforçados com Geogrelha e Paramento em


Blocos Segmentais: Influência do Material Granular na Resistência
de Conexão
Augusto Henrique Diniz do Carmo
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil,
augustomgtp@gmail.com

Augusto Moreira Sousa


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil,
moreira_sgs_@hotmail.com

Denise de Carvalho Urashima


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil,
urashima@cefetmg.br

Mag Geisielly Alves Guimarães


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, mag@cefetmg.br

Pablo Augusto dos Santos Rocha


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, pablo-
rocha@hotmail.com

RESUMO: É primordial aos projetos de engenharia assegurar a segurança das estruturas projetadas em sintonia com as
diretrizes que norteiam o desenvolvimento sustentável. Projetos que empregam geossintéticos contribuem em distintos
aspectos para mitigar impactos ambientais, além de reduzir custos. As estruturas de contenção de solo reforçado com
geossintéticos têm ganhado mercado nos últimos anos, devido à possibilidade de estruturas cada vez mais verticalizadas
e com vantagens técnicas, econômicas e ambientais, desde que obedecidos critérios de projetos, qualidade de execução e
realização de manutenções periódicas. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência da granulometria do
material de preenchimento dos blocos segmentais empregados como faceamento de estruturas reforçadas com geogrelha
a partir de ensaios de resistência de conexão em um equipamento que permite a aplicação de forças horizontais e de
tensões normais. Foram empregados materiais granulares nas faixas granulométricas de 4,75/12,5 mm (brita 0) e 9,5/25,0
mm (brita 1), blocos segmentais de concreto com encaixe a seco e geogrelha de alta tenacidade. Cinco tensões normais
foram aplicadas para a obtenção das resistências de conexão em ambos os materiais granulares. Os resultados
demostraram que maiores resistências foram obtidas para a brita 1 como material de preenchimento em níveis de tensões
normais maiores (> 55 kN/m2), enquanto para tensões menores os valores obtidos foram similares entre as britas 0 e 1,
dentro do intervalo de variação do desvio padrão. Por último, atenta-se para a adequada seleção dos agregados graúdos e
para possíveis quebras que possam ocorrer com maiores tensões normais.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Reforçado, Geogrelha, Agregado, Conexão, Resistência.

ABSTRACT: Engineering projects must ensure the safety of structures designed in line with the guidelines that guide
sustainable development. Projects that use geosynthetics contribute in different ways to mitigate environmental impacts
and reduce costs. Soil containment structures reinforced with geosynthetics have gained market share in recent years due
to the possibility of increasingly verticalized structures with technical, economic, and environmental advantages, as long
as design criteria, execution quality, and periodic maintenance are obeyed. This research evaluated the influence of the
filling material granulometry of the segmental blocks used as facing structures reinforced with geogrid from connection
strength tests in equipment that allows the application of horizontal forces and normal stresses. Granular materials were
used in the granulometric zone of 4.75/12.5 mm (gravel 0) and 9.5/25.0 mm (gravel 1), segmental concrete blocks with
dry fitting and high tenacity geogrid. Five normal stresses were applied to obtain connection strengths in both granular

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materials. The results showed higher connection strength for gravel 1 as filling material at higher normal stress levels (>
55 kN/m2). In contrast, for lower stresses, the results were similar between gravel 0 and 1, within the range of standard
deviation variation. Finally, pay attention to the proper selection of coarse aggregates and possible breaks that may occur
for higher normal stresses.

KEY WORDS: Reinforced Soil, Geogrid, Granular Material, Connection Strength.

1 INTRODUÇÃO conjuntura, se a resistência ao cisalhamento do solo


for excedida, será formada uma cunha de ruptura no
Um dos desafios das obras de engenharia é a emi- trecho de ancoragem ativa do solo (Leshchinsky &
nente e progressiva necessidade de adoção de solu- Boedeker, 1989; Neely, 1995; Vieira et al., 2016). O
ções em sintonia com o desenvolvimento sustentável. sucesso dos mecanismos de reforços depende
Neste contexto, ressalta-se a contribuição dos proje- diretamente do desempenho de resistência de
tos que empregam geossintéticos, visto que estes ma- conexão entre o solo de aterro e o geossintético
teriais trazem economia por meio da substituição ou (Bergado et al., 1993; Urashima et al., 2006; Han et
redução de recursos naturais, melhoria do desempe- al., 2018).
nho ao ciclo de vida pelo aumento da longevidade ou É importante ressaltar que a resistência à tração do
diminuição de manutenções, redução nas emissões de geossintético, que neste artigo trata da geogrelha,
gases do efeito estufa, viabilizam obras com menores depende das solicitações de projeto, que também
impactos ambientais, entre outras vantagens se com- ponderam acerca da segurança contra a ruptura
parados com alternativas convencionais (Touze, global e local do sistema (Zornberg et al., 1998;
2021). Collin, 2001).
Em obras de infraestrutura, a incorporação de ele- Referente ao material granular de enchimento dos
mentos de reforço que possuam significativa resistên- blocos segmentais, este tem a função de atuar como
cia à tração, entre camadas de solo compactado, pro- material drenante do muro, o qual irá conduzir a água
picia a restrição das deformações que se desenvol- até os pontos de drenagens instalados na parte
vem no maciço terroso. Distintos materiais podem ser inferior do muro, tal qual de ancoragens entre
empregados como reforço, por exemplo, geossintéti- geogrelha e os blocos segmentais. Estes materiais são
cos, desde que possam resistir aos esforços e às de- classificados como agregados graúdos com
formações no interior do maciço, ou seja, constituir dimensões máximas características entre a malha
uma estrutura de muro em solo reforçado para estabi- 75mm e 4,75 mm e do tipo pedras britadas (ABNT,
lizar o trecho com ausência de reforços. O sistema de 2011). O objetivo deste artigo é contribuir para o
muro em solo reforçado é composto por três elemen- melhor entendimento de como o material de
tos: solo, reforço e paramento ou faceamento frontal preenchimento dos vazios existentes nos blocos
(Gerscovich et al., 2016). segmentais pode influenciar nos resultados de
O paramento pode ser constituído apenas pelo resistência à conexão do sistema muro reforçado.
próprio geossintético que envelopa o solo compac-
tado, como por painéis de concreto, tela metálicas,
blocos segmentados, entre outras opções de facea- 2. MATERIAIS E MÉTODOS
mento destes sistemas de contenção (ABNT, 2021a).
As principais razões pelo crescente emprego de 2.1 Agregados graúdos de preenchimento
muros em solos reforçados são a rapidez de constru-
ção, custo-benefício, estética, confiabilidade, durabi- Os agregados graúdos empregados na pesquisa foram
lidade comprovada, simplicidade de técnicas de extraídos em pedreira de rocha gnaisse de faixas
construção, além do bom desempenho (Koerner & granulométricas (Figura 1) 4,75/12,5 mm e 9,5/25,0
Soong, 2001) mm (ABNT, 2022a), as quais são comercialmente
O presente artigo trata de muros em solo reforçado classificadas de brita 0 e brita 1, respectivamente
com paramento realizado por blocos segmentais. (MME, 2009).
Neste contexto, deve-se observar que o atrito e a Curvas granulométricas dos agregados graúdos
conexão na interface solo-geossintético e blocos de foram obtidas antes e após os ensaios de resistência
faceamento-geossintéticos aplicam as cargas no de conexão de acordo com a ABNT (2022b).
elemento de reforço. Deste ponto, as cargas são Amostragem de agregados graúdos solicitados foram
transmitidas para a zona estável ou passiva. Portanto, retiradas entre as camadas de blocos segmentais, de
deficiências da resistência ao cisalhamento do solo é modo a ponderar possíveis alterações em seus
compensada pela resistência à tração do reforço de parâmetros físicos.
geossintético, que precisa ser previamente analisada
(Abu-Farsak et al., 2007; Vieira et al. 2016). Nesta

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275
pinos metálicos com 22,0 cm x 7,0 cm em formato de
L.

Figura 1. Agregados graúdos de granulometrias Figura 3. Blocos segmentais de concreto.


comerciais brita 0 (esquerda) e brita 1 (direita).
2.4 Ensaios de resistência de conexão
2.2 Geogrelha
Ensaios de resistência de conexão foram realizados
A geogrelha (GGR) empregada nos ensaios (Figura em um equipamento desenvolvido por Urashima &
2) é de matriz polimérica composta por Martins (2004) e que atende as preconizações da
multifilamentos de poliéster de alta tenacidade, ASTM (2018). Consiste em uma prensa de tração
tecidas sob tensão e coberta com proteção em horizontal com sistemas para a aplicação de força
policloreto de vinila, resistência nominal à tração de horizontal (a), tensão normal (b) e acionamento e
35kN/m e 32,8kN/m, nos sentidos longitudinal e aquisição de dados (c) (Figura 4).
transversal, respectivamente (dados fornecidos pelo
fabricante) com abertura nominal da malha de 25,4
mm (sentido transversal) x 22,2 mm (sentido
longitudinal). Corpos de prova de geogrelha de 1,30
b
m x 0,75 m, comprimento e largura, respectivamente, a
foram empregados como camada simples nos ensaios a
c
de resistência de conexão, detalhado no item 2.4. a a

Figura 4. Equipamento para ensaio de resistência de


conexão.

A força horizontal é aplicada a partir de motor


trifásico, inversor de frequência, pistão de rosca
infinita e garra cilíndrica para acoplar a geogrelha. A
tensão normal é feita pelo conjunto de confinamento
Figura 2. Geogrelha tecida empregada nos ensaios. em uma caixa, a partir da montagem de duas fiadas
(Figura 5) de blocos segmentais preenchidas de
2.3 Blocos segmentais material granular e uma bolsa de lona de alta
resistência (40 cm x 75 cm x 20 cm) conectada a uma
A Figura 3 apresenta a configuração dos blocos mangueira para a pressurização de fluído (água e ar).
segmentais de concreto utilizados nos ensaios de A primeira fiada de blocos (camada inferior) é
resistência de conexão. Apresentam dimensões formada por um bloco inteiro central conectada a dois
nominais de 39 cm (comprimento) x 27 cm (largura) terços de blocos laterais (Figura 5a). A segunda fiada
x 20 cm (espessura), massas em torno de 25 kg, duas (camada superior) consistiu em dois blocos inteiros
seções de vazios centrais de 17cm (comprimento) x 9 (Figura 5b). Esta configuração remete à amarração
cm (largura) para o preenchimento de materiais dos blocos segmentais empregadas nas estruturas de
graúdos, autoportantes e sistema de conexão por contenção (Figura 5c).

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276
As seções de vazios centrais foram preenchidas Os resultados foram analisados em termos de
com os materiais granulares (Figura 1) e, entre as valores médios e respectivos coeficientes de
fiadas, o posicionamento de uma camada simples da variação, análises amostrais por diagrama de caixas,
geogrelha (Figura 2), cujo comprimento excedente na assim como as relações lineares entre as tensões
extremidade conectada aos blocos foi ajustada por normais (kN/m²) e o parâmetro de resistência de
corte. A extremidade conectada ao sistema de conexão (kN/m). A ASTM (2018) estabelece que as
aplicação da força horizontal foi fixada a uma garra resistências de conexão devem atender a limites
do tipo cunha macho-fêmea (Figura 6). preconizados quanto a sua repetibilidade, cujos
resultados não devem extrapolar ± 10% em relação
ao valor médio amostral para cada nível de tensão
normal aplicada.

(a) Primeira fiada (camada inferior)

(b) Segunda fiada (camada superior)

Figura 6. Detalhes da fixação da geogrelha na garra do


tipo macho-fêmea.

(c) Visão frontal da amarração dos blocos segmentais.

Figura 5. Posicionamento das fiadas de blocos e


preenchimentos com materiais granulares.

A pressurização de fluído é monitorada por um


manômetro instalado na parte inferior de um tubo (a) Camada de geotêxtil não tecido.
cilíndrico de 120 cm (diâmetro nominal de 50 mm)
fixado na parede e em cota acima da caixa de
confinamento (Figura 4). Também, utiliza-se uma
camada de geotêxtil não tecido para a proteção da
bolsa contra avarias, como perfuração pelos
agregados graúdos de preenchimento (Figura 7a).
Um anteparo metálico é posicionado acima da bolsa
empregada para aplicação da tensão normal, de forma
a garantir a distribuição de tensão para as fiadas de (b) Sistema de pressurização posicionado sobre o conjunto
blocos segmentais (Figura 7b). de anteparo metálico.
Foram aplicadas cinco tensões normais de 5
kN/m², 45 kN/m², 55 kN/m², 65 kN/m² e 85 kN/m², Figura 7. Detalhes da montagem do sistema de
que simulam diferentes alturas dos muros de pressurização.
contenção com faceamento de blocos segmentais.
Destaca-se que a tensão normal de 5 kN/m² foi
aplicada ao se considerar apenas o posicionamento da 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
fiada superior dos blocos segmentais, preenchidos
com os materiais granulares e posicionados sobre a A Tabela 1 sumariza os parâmetros de caracterização
geogrelha. física dos agregados graúdos. Na Figura 8, tem-se as

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277
curvas granulométricas intactos e após os ensaios de 55 kN/m², as resistências de conexão foram similares
resistência de conexão. Os limites, inferior (d) e dentro do intervalo de variação do desvio padrão.
superior (D), das zonas granulométricas 4,75/12,5
mm e 9,5/25,0 mm são definidas na ABNT (2022a). 100

Porcentagem retida acumulada (%)


90
Observa-se que ambas as curvas granulométricas
80
se deslocaram à esquerda do intervalo das respectivas 70
faixas granulométricas, ou seja, aproximações dos 60

respectivos limites inferiores (d). Isto se deu em 50


Limite inferior (d)
40
função das solicitações mecânicas impostas aos Limite superior (D)
30
materiais granulares de preenchimento nos ensaios de 20
Agregado intacto
Agregado solicitado
resistência de conexão. Este comportamento 10
culminou no aumento do teor de finos, com 0
0,1 1,0 10,0 100,0
consequente redução dos módulos de finura para 5,8 Diâmetro (mm)

e 6,5 das granulometrias de brita 0 e brita 1, (a) Brita 0


100
respectivamente. Todavia, ambos os agregados

Porcentagem retida acumulada (%)


90
graúdos mantiveram as dimensões máximas 80
características de 12,5 mm e 19,0 mm, brita 0 e brita 70
1, respectivamente. Apesar dos deslocamentos 60
observados, não ocorreram a descaracterização dos 50
40
agregados nas respectivas classificações Limite inferior (d)
30
granulométricas. 20
Limite superior (D)
Agregado intacto
10 Agregado solicitado
Tabela 1. Caracterização física dos agregados graúdos. 0
0,1 1,0 10,0 100,0
Parâmetros Norma Brita 01 Brita 12 Diâmetro (mm)
(b) Brita 1
Massa ABNT 2880 kg/m³ 2920 kg/m³
específica (2021a) Figura 8. Curvas granulométricas dos agregados.
Absorção de ABNT 0,4% 0,9%
água (2021b) Tabela 2. Sumarização dos resultados para resistência de
Massa ABNT 1600 kg/m³ 1580 kg/m³ conexão.
unitária (2021c) Brita 01
Compacidade *** 55,6% 54,1% Tensão Resistência de Coeficiente de
Dimensão ABNT 12,5 mm 19 mm normal conexão (kN/m)3 variação (%)
máxima (2022b) (kN/m²)
característica 5 10,3 ± 0,7 6,3
Módulo de ABNT 5,9 6,9 45 12,2 ± 2,1 16,8
finura (2022b) 55 14,0 ± 0,8 5,7
Teor de ABNT 0,2% 0,2% 65 14,4 ± 1,0 6,8
material fino (2021d) 85 15,5 ± 0,7 4,8
1
4,75/12,5 mm Brita 12
2
9,5/25,0 mm Tensão Resistência de Coeficiente de
normal conexão variação (%)
Em termos de compacidade das britas, que é a (kN/m²) (kN/m)3
relação entre massa unitária e massa específica, 5 9,7 ± 0,7 7,4
indicou-se percentuais de 55,6% para brita 0 e 54,1% 45 12,8 ± 1,0 7,8
para brita 1 (Tabela 1). Consequentemente, 55 14,9 ± 1,2 8,2
apresentam percentuais de vazios de 44,4% e 45,9% 65 15,8 ± 1,0 6,6
para a brita 0 e brita 1, respectivamente. 85 16,5 ± 1,9 11,5
1
A Tabela 2 sumariza os resultados de resistência 4,75/12,5 mm
2
de conexão (kN/m) em função dos cinco níveis de 9,5/25,0 mm
3
tensões normais aplicadas (kN/m²). Na Figura 9, tem- Desvio padrão (±)
se os resultados amostrais avaliados em termos de
distribuição de caixas (box-plot). Na condição intacta, a brita 0 apresentou menor
Maiores valores de resistência de conexão foram percentual de vazios (44,4%) em comparação a brita
obtidos com emprego de brita 1 como material de 1 (45,9%). Desta forma, o arranjo inicial com menor
preenchimento, em comparação com brita 0, para os percentual de vazios pode ter contribuído para os
resultados apresentados (Tabela 2). Com o aumento
níveis de tensões normais maiores (65 e 85 kN/m2)
aplicadas. Observa-se que para as tensões de 5, 45 e das tensões normais, observou-se melhor rearranjo

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278
dos materiais granulares de brita 1, bem como um maiores tensões normais e, assim, comprometer as
maior efeito de imbricamento. funções do material granular no sistema.
Devido a certa similaridade entre os resultados
20
obtidos de resistências de conexão para os materiais
Resistência de conexão (kN/m)

18 16,5
15,8 15,5
granulares avaliados, uma inferência inicial seria
16 14,9 14,4
14,0 pelo uso de ambas as granulometrias. Contudo, a
14 12,2 12,8
referida tomada de decisão também deve considerar
12
10,3 9,7 o efeito de imbricamento, que depende diretamente
10
da abertura da malha. No estudo, foram analisadas
8
B0 B1 B0 B1 B0 B1 B0 B1 B0 B1 apenas materiais granulares de gnaisse, os quais não
5 kN/m² 45 kN/m² 55 kN/m² 65 kN/m² 85 kN/m² podem ser generalizados para as demais rochas de
Tensões normais
beneficiamento. Outros parâmetros também devem
ser avaliados, como os índices de forma dos
Figura 9. Diagramas de caixa de resistências de conexão
obtidas em relação às tensões normais
agregados, assim como aos processos de moagem.
Enfatiza-se que a resistência de conexão depende
A Figura 10 apresenta o tratamento estatístico por de distintos fatores, tais como: procedimento de
regressão linear entre as tensões normais aplicadas e construção do sistema que afeta as áreas de
os resultados amostrais médios de resistência de superposição de contatos entre fileiras, grau de
conexão. Para ambas as britas, obteve-se relações compactação do material de preenchimento, tensão
lineares como modelos matemáticos de melhor ajuste normal aplicada e granulometria. O artigo trata de um
à relação em tratamento, com coeficientes de experimento de laboratório, de forma que não avalia
determinação de 95,8% e 95,6% para a brita 0 e brita o processo construtivo.
1, respectivamente. Blocos segmentais de concreto podem requerer
maiores ou menores volumes de materiais granulares
20 de preenchimento, de forma a inferir diretamente na
área de contado entre o material granular. Outros
Resistência de conexão (kN/m)

15 fatores podem influenciar no comportamento


mecânico na interface de conexão, tais como o tipo
10 y = 0,0675x + 9,8375 de material de preenchimento e geogrelhas com
R² = 0,9576 diferentes resistências à tração e dimensões de malha,
5
Mínimo
que podem ser empregadas em camadas simples e
Médio duplas.
Máximo
0
0 20 40 60 80 100 AGRADECIMENTOS
Tensão normal (kN/m²)
(a) Brita 0
20 Os autores agradecem ao CEFET-MG pelos suporte
financeiro, às empresas Grupo Geofoco,
Resistência de conexão (kN/m)

15 Geossintéticos, Contenções e Proteção de Taludes


pelo fornecimento dos blocos segmentais e
y = 0,0906x + 9,321
10 R² = 0,9557 geogrelhas e à Pedreira Santo Antonio pelos
materiais granulares.
5
Mínimo
Médio
Máximo
0 REFERÊNCIAS
0 20 40 60 80 100
Tensão normal (kN/m²)
(b) Brita 1 ABNT (2022a), NBR 7211: Agregados para
concreto: Especificação. Associação Brasileira de
Figura 10. Relação linear de resistência de conexão em Normas técnicas, Rio de Janeiro.
função da carga normal aplicada. ABNT (2011), NBR 9935: Agregados:
Terminologia. Associação Brasileira de Normas
4 CONCLUSÕES técnicas, Rio de Janeiro.
ABNT (2021b), NBR 16917: Agregado graúdo:
Ressalta-se a adequada seleção dos agregados Determinação da densidade e da absorção de
graúdos como material de preenchimento e de água. Associação Brasileira de Normas técnicas,
possíveis quebras destes que possam ocorrer para Rio de Janeiro.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


280
TEMA 8: NOVOS PRODUTOS E NOVOS USOS,
SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÃO
PROPRIEDADES E ENSAIOS EM GEOSSINTÉTICOS

281
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Influência da alcalinidade do lixiviado no inchamento de bentonitas


cálcicas ativadas e modificadas com compostos poliméricos
Débora Toledo Vieira da Silva
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, dsilva@estudante.ufscar.br

Mauro Alexandre Paula de Sousa


Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos,
Brasil, mauro.sousa@ufopa.edu.br

Natalia de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, ncorreia@ufscar.br

Fernando H. M. Portelinha
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, fportelinha@ufscar.br

RESUMO: Os geocompostos bentoníticos fabricados com bentonitas modificadas por compostos poliméricos (BPC-
GCLs) são usados para melhorar as propriedades de inchamento e a condutividade hidráulica, especialmente sob
condições de líxiviados potencialmente incompatíveis. Embora modificados, estes líquidos incompatíveis
comprovadamente afetam o desempenho à longo prazo dos GCLs. No entanto, a maioria dos estudos na literatura foram
realizados com BPC-GCLs de bentonita sódica natural (Na-B) e, pouco se conhece sobre o comportamento de inchamento
quando do tipo cálcica ativada com sódio (SACa-B). Neste estudo, o comportamento de inchamento da SACa-B
modificada com diferentes porcentagens de compostos poliméricos foi avaliado em soluções de hidróxido de sódio
(NaOH) e em contato com água deionizada. Os compostos políméricos utilizados foram poliacrilato de sódio,
poliacrilamida e carboximetilcelulose nas proporções de 2, 4, 6, 8 e 10% em relação à massa seca das bentonitas. Ensaios
de swell index foram conduzidos de acordo com ASTM D5890 (2019) e procedimentos descritos por Wireko et. al (2020).
Os resultados indicaram que a adição do composto polimérico aumentou a capacidade de inchamento da SACa-B em
níveis semelhantes à Na-B. Observou-se que a capacidade de inchamento dos BPC-GCLs foi afetada pela solução de
NaOH devido ao pH elevado, independente da porcentagem de polímero adicionado.

PALAVRAS-CHAVE: GCL, Bentonitas ativadas, Polímeros, Inchamento, Líquidos agressivos.

ABSTRACT: Bentonite geocomposites made from polymer-modified bentonites (BPC-GCLs) are used to improve
swelling properties and hydraulic conductivity, especially under potentially incompatible leachate conditions. Although
modified, these incompatible liquids have been shown to affect the long-term performance of GCLs. However, most
studies have been conducted with sodium bentonite (Na-B) and little is known about the swelling behavior of BPC-GCLs
composed of sodium-activated calcium bentonite (SACa-B). This study compares the swell behavior of BPC composed
of SACa-B, here named BPC-SACa, tested in deionized water SI tests to those in NaOH. Polymers used in this
investigation were sodium polyacrylate, polyacrylamide and Carboxymethyl Cellulose in proportions of 2, 4, 6, 8 and
10% in relation to dry mass the bentonites. Tests were conducted according to ASTM D5890 (2019) and procedures
described by Wireko et. al (2020). Results indicate that the incorporation of polymers increased the swell index values of
the SACa-B in similar levels to Na-B. It was observed that the swelling capacity of BPC-GCLs was affected by the NaOH
solution due to the high pH, regardless of the percentage of added polymer.

KEY WORDS: GCL, Activated Bentonites, Polymers, Swelling.

1 INTRODUÇÃO especializadas e consistem em uma fina camada de


bentonita sódica natural (Na-B) ou cálcica ativada
Os geocompostos bentoníticos ou Geosynthetic clay com sódio (SACa-B) agulhada entre dois geotêxteis
liners (GCLs) são materiais produzidos em indústrias (tecidos ou não tecidos) ou ainda, termofixada a uma

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282
geomembrana. Os GCLs são amplamente utilizados elaborado para soluções incompatíveis. Com base
como barreiras hidráulicas na contenção de resíduos nessas normas, um ensaio de condutividade
por apresentarem espessura reduzida, o que hidráulica pode demorar meses, pois deve ser
proporciona facilidade de instalação em campo e garantido o equilíbrio químico e hidráulico do
aumento da capacidade de armazenamento de sistema (Katsumietal, 2008). Em casos de bentonitas
resíduos, e baixa condutividade hidráulica à água modificadas com polímeros o tempo pode ser ainda
(<10-10 m/s), substituindo assim as barreiras de argila maior (Scalia et al.,2014). Dessa maneira, o ensaio de
compactada (Koerner, 2012). Quando incorporada expansão livre é comumente empregado para avaliar
entre dois geotêxteis, a condutividade hidráulica dos de forma indireta a potencial compatibilidade
GCLs é principalmente controlada pela fração de química de bentonitas com os líquidos permeantes
argila (Rowe, 2020). usados nos ensaios de condutividade hidráulica
Nas bentonitas, o principal mineral constituinte é (Rosin-Paumier et al., 2010).
a montmorilonita que apresenta como cátion O ensaio de expansão mais comum é o swell index
dominante o Na+. Este argilomineral quando test (SI) normatizado pela ASTM D5890 (2019).
hidratado por soluções de baixa força catiônica sofre Numerosos estudos têm mostrado que existe uma
expansão por osmose química, resultando em uma relação entre o resultado do SI e a condutividade
espessa camada difusa que obstrui os poros da massa hidráulica de bentonitas sódicas naturais (Kolstad et
de bentonita. No entanto, quando em contato com al., 2004; Guyonnet et al., 2009; Chen et al., 2018).
lixiviados agressivos, tais como aqueles que possuem Nestes casos valores de SI > 14 mL/2g geralmente se
predominantemente alta força iônica (>300 mM), correlacionam com a condutividade hidráulica <10-10
cátions polivalentes e/ou pH extremo (1 e 14), as m/s, enquanto SI < 14 mL/2g geralmente se
bentonitas sódicas ou ativadas podem ter seu inchaço correlacionam com condutividade hidráulica > 10-10
osmótico inibido. Isso ocorre devido ao baixo m/s (Chen et al., 2018). No entanto, no caso de BPC-
gradiente de concentração entre o lixiviado e a região Na, os valores de SI e da condutividade hidráulica
interlamelar das partículas de montmorilonita, não estão bem correlacionados, como apresentado
resultando em uma fina camada dupla difusa, grandes nos resultados da Figura 1a em um estudo de Wireko
espaços porosos intergranulares e, et. al (2020) usando a metodologia da ASTM D5890
consequentemente, elevação da condutividade (2019). GCLs de BPC-Na com SI < 10 mL/2g ainda
hidráulica dos GCLs (>10-10 m/s) (Petrov & Rowe, podem manter baixa condutividade hidráulica (<10-10
1997; Wang et al., 2019; Zainab & Tian, 2020). m/s) (Scalia et al., 2014, 2018). Contrastando isso, os
Por conta dessa problemática, diversos trabalhos valores de condutividade hidráulica de GCLs de
da literatura vêm concentrando esforços em BPC-Na podem ser > 10-10 m/s quando SI de BPC-
desenvolver formas de melhorar a compatibilidade Na supera os 20 mL/2g. A baixa correlação entre a
química de GCLs com lixiviados agressivos, condutividade hidráulica e SI para esses BPC-GCLs
modificando bentonitas de forma química ou através pode ser um indicativo de que o procedimento e a
da adição de compostos poliméricos com a finalidade preparação da amostra para o teste SI não são
de garantir o potencial de expansão e, por apropriados para BPC-GCLs.
conseguinte, produzir obstrução intragranular da
bentonita e limitar as trocas de cátions, resultando
assim em baixos valores de condutividade hidráulica
(Scalia et al., 2018; Tian; Likos; Benson, 2019; Li et
al., 2021).
A produção de bentonitas modificadas por
compostos poliméricos (BPC) vem se concentrando
no uso de polímeros lineares (solúveis em água) e
polímeros reticulados (absorventes de água). Scalia
et al. (2014) produziram um BPC por polimerização
de ácido acrílico em uma pasta de Na-B para formar
ácido poliacrílico de sódio (Na-PAA), o que resultou
em BPC-Na. De acordo com Scalia et al. (2018), a
maioria dos fabricantes produzem GCLs contendo
uma mistura seca de Na–B e polímero(s).
A condutividade hidráulica de GCLs é
normalmente obtida em laboratório, por meio dos
ensaios especificados na ASTM D5084 (2016) e
ASTM D6766 (2020), este último especialmente

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283
No entanto, a maioria dos estudos tem sido
realizados com bentonita sódica (Na-B) e pouco se
sabe sobre o comportamento de inchamento de BPC-
GCLs compostos por bentonita cálcica ativada por
sódio (SACa-B). Neste estudo, o comportamento de
inchamento de BPCs de SACa em soluções alcalinas
foi comparado quando em contato com água
deionizada (DI). Os ensaios foram realizados de
acordo com a norma ASTM D5890 (2019), porém
com os procedimentos de preparação sugeridos por
Wireko et. al (2020).

2 MATERIAIS E MÉTODOS
Figura 1. Relação entre a condutividade hidráulica em 2.1 Polímeros
GCLs de BPCs-Na e valores SI: (a) BPCs-Na preparados
seguindo o método padrão ASTM D5890; (b) metodologia
sugerida por Wireko et. al (2020) (modificado de Foram utilizados três polímeros nesta pesquisa,
WIREKO et al; 2020). sendo dois deles do tipo linear e um do tipo
reticulado. Os polímeros do tipo linear apresentam
A Figura 1b apresenta uma correlação forte entre monômeros ligados por interações moleculares
valores de condutividade hidráulica de BPCs-Na e SI. (ligações fracas), enquanto os reticulares apresentam
Segundo Wireko et. al (2020) existem limitações na cadeias interligadas por ligações covalentes (ligações
aplicação do procedimento padrão ASTM D5890 fortes), formando uma rede de cadeias poliméricas
(2019) para preparar amostras para teste SI. lineares unidas quimicamente ou fisicamente por
Diferentemente da metodologia da ASTM D5890 reticuladores.
(2019), na metodologia proposta por Wireko et. al Os polímeros do tipo linear utilizados foram o
(2020), os ensaios de SI são realizados sem qualquer Carboximetilcelulose de Sódio (CMC) e a
processo de moagem e peneiramento das amostras de Poliacrilamida (PAM) que, quando em contato com a
BPC, indicando que estes processos têm influência água, se dissolvem formando um hidrogel. O
significativa nos valores de SI dos BPCs. segundo tipo de polímero utilizado foi o Poliacrilato
Logo, fica claro que saber o potencial hidráulico de Sódio (PAS) que, ao entrar em contato com a água,
desses materiais, quando expostos a soluções de alta se expande e absorve o líquido expandindo mais de
força catiônica, é necessário para que seu 200% do seu volume inicial.
desempenho em condições de serviço seja
satisfatório. Como exemplo de aplicação, pode-se 2.2 Bentonita
citar a exploração de bauxita no Brasil e no mundo
que, quando beneficiada para a extração do alumínio, A bentonita modificada por compostos poliméricos
produz um resíduo insolúvel gerado durante a etapa (BPC) utilizada nesse estudo foi do tipo SACa-B,
de clarificação do processo Bayer. Este resíduo é obtida em Boa Vista - PB. O material foi recebido já
popularmente conhecido como lama vermelha, sendo moído e antes da preparação das misturas parte da
depositados em lagoas que usam GCLs como parte amostra foi seca em estufa a 105ºC. Posteriormente
integrante do sistema de barreira de contaminantes. foi feita a adição de polímeros e preparação dos
Segundo Pradhan et al. (1996) e Hind et al. (1999) BPCs.
esses tipos de rejeitos apresentam constituição de
partículas extremamente pulverulentas em estado 2.3 Soluções
seco (95% do material é <44 m), área superficial
variando de 13-22 m²/g e tem como principal Os ensaios de swell index (SI) foram conduzidos em
característica uma elevada alcalinidade (pH na ordem amostras de BPCs usando água deionizada (DI) tipo
de 10-13). Para estes níveis de alcalinidade, o II, conforme especificações da ASTM D1193 (2006),
desempenho de BPC-GCLs tem sido investigado na e solução de hidróxido de sódio (NaOH) 1mol/L pH
literatura, e os fatores de influência, tais como as 14. As mesmas soluções também foram utilizadas
concentrações catiônicas de líquidos agressivos, tem para os ensaios de SI com SACa-B.
demonstrado afetar o desempenho à longo prazo dos
BPC-GCLs (Athanassopoulos et al., 2015; Tian e 2.4 Compósitos de bentonitas e polímeros
Benson, 2019; Li et al., 2021).

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284
Para compor os BPCs, foram utilizados os três
polímeros Carboximetilcelulose de Sódio, 2.5 Ensaio de Inchamento
Poliacrilamida e Poliacrilato de Sódio para preparar
as misturas, sendo identificados conforme o tipo de Os ensaios de inchamento da bentonita foram
polímero, respectivamente como CMC, PAM e PAS. realizados seguindo as recomendações da ASTM
A proporção total de polímeros em cada mistura foi D5890 (2019), porém com os procedimentos de
de 2, 4, 6, 8 e 10% em relação à massa seca da preparação dos BPCs sugeridos por Wireko et. al
bentonita. Além destas misturas, foram feitas (2020), tanto para a condição com hidratação em
misturas com dois tipos de polímeros, PAS+CMC e água DI quanto para os ensaios em soluções de
PAS+PAM, sempre respeitando as cargas NaOH. Para cada ensaio, uma amostra de 2g de BPC,
poliméricas totais citadas anteriormente. Por sem destorroamento ou peneiramento, é dispersa em
exemplo: para a carga total polimérica de 4%, foram uma proveta graduada com 90 ml do líquido
usados 2% de PAS e 2% de CMC ou, para uma carga hidratante, em incrementos de 0,1 g, com 10 minutos
total de 10%, foram usados 4% de PAS e 6% de de intervalo entre as adições. Os intervalos são
PAM. A Tabela 1 ilustra o programa de ensaios. Ao necessários para permitir a hidratação total e a
todo, 35 combinações foram avaliadas. consolidação da argila no fundo do cilindro. As
adições de argila continuam até que toda a amostra
Tabela 1. Misturas de SACa-B e polímeros avaliadas de 2 g é adicionada. A última etapa consiste em
nesta pesquisa. completar a proveta graduada até 100 ml. A amostra
Mistura com Misturas com Misturas PAS e é então deixada em repouso por no mínimo 24 horas
Polímero Isolado PAS e PAM CMC e, após este período, é registrado a altura de
2%PAS + 2%PAS + inchamento da bentonita.
2%PAS
2%PAM 2%CMC Para cada mistura de BPC e para a amostra SACa-
4%PAS + 4%PAS + B foram feitos ensaios em triplicatas. Na Figura 2, é
4%PAS
2%PAM 2%CMC
mostrado o resultado típico deste ensaio, após o
2%PAS + 2%PAS +
6%PAS período de repouso, para uma amostra de SACa-B
4%PAM 4%CMC
6%PAS + 6%PAS + em água DI.
8%PAS
2%PAM 2%CMC
4%PAS + 4%PAS +
10%PAS
4%PAM 4%CMC
2%PAS + 2%PAS +
2%PAM
6%PAM 6%CMC
8%PAS + 8%PAS +
4%PAM
2%PAM 2%CMC
6%PAS + 6%PAS +
6%PAM
4%PAM 4%CMC
4%PAS + 4%PAS +
8%PAM
6%PAM 6%CMC
Figura 2. Ensaio de swell index após o período de 24h em
2%PAS + 2%PAS +
10%PAM uma amostra de bentonita ativada em água deionizada.
8%PAM 8%CMC
2%CMC - -
4%CMC - - 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
6%CMC - -
8%CMC - - A seguir, serão apresentados os resultados do
ensaio de swell index. Para tanto, as combinações
10%CMC - -
serão nomeadas de acordo a porcentagem de
polímeros adicionada e o composto polimérico
As misturas foram feitas por incorporação física, utilizado, tal como 2%PAS, 2%PAM ou 2%CMC. As
na qual cada mistura foi agitada manualmente por 5 misturas serão representadas pelo agrupamento de
minutos e envelhecida por 24 horas, conforme feito duas nomenclaturas, tal como 2%PAS2+4%PAM, o
por Razakamanantsoa (2012). De acordo com o que significa 2% de PAS e 4% de PAM.
sugerido por Wireko et. al (2020), as misturas não As imagens dos ensaios de inchamento realizados
foram submetidas a nenhuma trituração ou nas amostras de BPCs e de SACa-B são mostradas na
peneiramento para evitar a possível separação do Figura 3, quando as soluções de ensaio são água DI e
polímero e da bentonita, ou seja, os corpos de prova NaOH (pH 14). A Figura 4 apresenta o aspecto do gel
foram utilizados de acordo com as misturas formado após adição do polímero. Nas Figura 3c e
preparadas.

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285
Figura 4 pode-se verificar que a adição de PAS com 60

teor de 10% manteve o aspecto de hidrogel, mesmo 50


apresentando alta redução no inchamento quando em

Swell Index (mL/2g)


40
solução de NaOH.
30

20

10

0
SACa-B 2%PAS 4%PAS 6%PAS 8%PAS 10%PAS
(a)
CP1 CP2 CP3 Média
60

50

Swell Index (mL/2g)


40

30

20

10
(a) (b) (c) 0
Figura 3. Amostras de bentonitas após 24 do término do SACa-B 2%PAM 4%PAM 6%PAM 8%PAM 10%PAM
ensaio: (a) SACa-B pura em água DI; (b) BPC com 10% (b) CP1 CP2 CP3 Média
PAS em água DI; (c) BPC com 10%PAS em NaOH. 60

50
Swell Index (mL/2g)

40

30

20

10

0
SACa-B 2%CMC 4%CMC 6%CMC 8%CMC 10%CMC
(c) CP1 CP2 CP3 Média
Figura 5. Resultados dos SI em água DI para os BPCs com
Polímeros isolados, (a) PAS, (b) PAM e (c) CMC.
Figura 4. Hidrogel formado com amostras de BPC usando
composto polimérico PAS no teor de 10% em NaOH.
A Figura 6 apresenta os resultados de inchamento
A Figura 5 apresenta resultados de cada para as combinações de BPCs com PAS e PAM, e a
combinação ensaiada, bem como os resultados Figura 7 para as combinações de PAS e CMC, ambas
médios do ensaio de expansão em água DI para os as figuras apresentam resultados de SI em água DI.
BPCs com polímeros isolados PAS, PAM e CMC, Nesta pesquisa, adotou-se que a soma das proporções
respectivamente. Na Figura 5a nota-se que quando não superaria 10%.
usado PAS, mesmo com a carga polimérica mais Na Figura 6a têm-se as proporções totais de 4 a
baixa (2%) os valores de SI foram em média 27ml/2g 10% de polímeros. Nessa imagem é possível notar
chegando atingir valore médio de 48ml/2g quando a que quando 2%PAS se associa em proporções de
carga polimérica foi de 10%, ou seja, mais do que o PAM superiores a 4%, os valores de SI pouco
dobro do que se obteve com a SACa-B. Entretanto, variaram em relação ao SI de SACa-B. Entretanto,
quando se comparam os valores de SI do polímero quando a razão PAM/PAS está no intervalo de 1 a 2,
PAM (Figura 5b), houve pouca variação, com um os valores de SI são ligeiramente superiores aos
pequeno aumento dos valores de SI nas proporções valores obtidos quando se tem somente 2%PAS nas
de 6 e 8%. No caso do polímero CMC (Figura 5c), misturas. Para a mistura de 8%PAS+2%PAM, o
houve aumento dos valores de SI, mas à uma taxa valor obtido de SI foi de 37 mL/2g, isto é, 10% abaixo
crescente, chegando atingir a ordem 1,5 vezes o valor no valor obtido para 8%PAS.
do SI da SACa-B. Nas misturas de 6%PAS e PAM abaixo desse
valor, ocorreu uma pequena redução de SI quando
comparados com os valores de BPCs de PAS.
Observou-se também que quanto maior a carga
polimérica de PAM na mistura, menor é o valor de

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286
SI. Por exemplo, fixando-se a carga polimérica de no valor de SI em relação à 8%PAS, ganho de 5%.
PAS em 2% e variando-se a carga de PAM de 4 a 8% Nas misturas com 4%PAS e CMC variando de 2 a
(Figura 6a), os valores obtidos para 6%, ocorreu elevação de SI na faixa de 10 a 15%, em
2%PAS+4%PAM foi de 29 mL/2g, enquanto que relação às misturas de 4%PAS. Para as misturas de
2%PAS+6%PAM e 2%PAS+8%PAM foram 23 e 21 6%PAS e CMC de 2 a 4%, houve aumento de 3 a 5%
mL/2g, respectivamente, indicando que PAM não de SI em relação às misturas de 6%PAS.
contribuiu para maiores valores de SI e que estas
misturas não são eficientes se comparadas com os 60

valores obtidos de BPCs de PAS. 50


40

Swell Index (mL/2g)


60
30
50
20
40
Swell Index (mL/2g)

10
30
0
20 SACa-B 2%PAS 2%PAS 2%PAS 2%PAS 8%PAS
2%CMC 4%CMC 6%CMC 8%CMC 2%CMC
10 (a) CP1 CP2 CP3 Média
0 60
SACa-B 2%PAS 2%PAS 2%PAS 2%PAS 8%PAS
2%PAM 4%PAM 6%PAM 8%PAM 2%PAM 50
(a) CP1 CP2 CP3 Média 40
60 Swell Index (mL/2g)
30
50
20
40
Swell Index (mL/2g)

10
30
0
20 SACa-B 4%PAS 4%PAS 4%PAS 6%PAS 6%PAS
2%CMC 4%CMC 6%CMC 2%CMC 4%CMC
10 (b) CP1 CP2 CP3 Média
0 Figura 7. Resultados dos SI em água DI para os BPCs com
SACa-B 4%PAS 4%PAS 4%PAS 6%PAS 6%PAS junção de PAS e CMC.
2%PAM 4%PAM 6%PAM 2%PAM 4%PAM
(b) CP1 CP2 CP3 Média
Figura 6. Resultados dos SI em água DI para os BPCs com Na Figura 8 são mostrados os resultados SI
junção de PAS e PAM. quando a solução é de NaOH (pH 14). É possível
observar que o valor médio de SI para SACa-B nesta
Na Figura 7, também se usou as proporções de 4 solução foi de 8ml/2g e que os valores de SI quando
a 10% de polímeros, mas neste caso com o uso das PAS é igual a 2% apresentam pouca variação. Nos
combinações de PAS e CMC. Para todas as valores de PAS>2%, os resultados de SI
combinações ocorreu aumento dos valores SI quando apresentaram-se superiores ao da SACa-B, enquanto
se comparados os valores de PAS isolado e esta que em todas as proporções de PAM a variação de SI
mesma proporção de PAS quando acrescida de CMC, foi relativamente pequena, na ordem de 1 mL/2g com
por exemplo, SI de 2%PAS < SI de 6%PAM e nula nas proporções de 4, 8 e 10% de
2%PAS+n%CMC, em que n é ≥ 2. Entretanto, PAM.
quando se observa as cargas poliméricas totais dessas Os resultados de SI obtidos com os BPCs de CMC
misturas, ocorre aumento de SI em relação ao valor (Figura 8c) em solução de NaOH, não apresentaram
obtido quando se usa somente CMC (Figura 5c) e aumento no valor de inchamento quando comparados
diminuição em relação a carga quando se fez uso de com SACa-B e por este motivo as misturas de
somente PAS (Figura 5a). PAS+CMC não foram ensaiadas para essa solução.
Entretanto, quando se compara razões de Na Figura 9 são mostrados os resultados de SI
CMC/PAS igual a 1 com 2%PAS, os valores de SI para as misturas de PAS e PAM quando a solução é
apresentam uma pequena redução, na ordem de 1 NaOH. Na Figura 9a, notou-se que quando tem-se
mL/2g. Para razões superiores a 2, há um ligeiro PAS em proporção de 2% e PAM de 2 e 4%, os
aumento de SI, na ordem de 10% acima de 2%PAS, valores de SI pouco variaram em relação à SACa-B.
indicando que razões maiores que 2 pouco Na Figura 9b PAS é igual ou superior a 4% e PAM
contribuem com o aumento de SI, como observado varia de 2 e 4%; os valores de inchamento nesse caso
na Figura 7. ficaram na ordem de 11ml/2g, ligeiramente abaixo de
Quando se analisou as misturas com quando se usou apenas 10%PAS.
8%PAS+2%CMC, observou-se um ligeiro aumento

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287
De modo geral, obervou-se neste estudo que,
20 mesmo que na solução alcalina o hidrogel foi
formado, o que pode ser um bom indício de
Swell Index (mL/2g)

15
desempenho no ensaio de condutividade hidráulica.
10 Os resultados deste estudo sugerem que o BPCs
podem ser semelhantes ao Na-B quando hidratado
5
com água deionizada, mas com valores muito
0 inferiores nas soluções de NaOH, mostrando assim
(a)
SACa-B 2%PAS 4%PAS 6%PAS 8%PAS 10%PAS grande influência do tipo de polímero e da
CP1 CP2 CP3 Média alcalinidade das soluções nos desempenhos de GCLs.
20
4 CONCLUSÕES
Swell Index (mL/2g)

15

10 Este estudo avaliou como os valores de


inchamento (SI) de bentonitas cálcicas ativadas com
5 sódio modificadas com polímeros isolados (PAS,
PAM e CMC) são afetados quando a solução
0
SACa-B 2%PAM 4%PAM 6%PAM 8%PAM 10%PAM hidratante é altamente alcalina. Nes estudos, 35
(b) CP1 CP2 CP3 Média combinações de BPCs e uma amostra de SACa-B
20
foram avaliadas com líquido hidratante de pH neutro
(água DI) e líquido alcalino com pH de 14 (NaOH).
Swell Index (mL/2g)

15 Os resultados demonstraram que:


• Os valores de SI em água DI para os BPCs de
10
PAS ou CMC apresentaram valores de
5 inchamento superiores aos requisitos
mínimos (24ml/2g em água DI) para
0
SACa-B 2%CMC 4%CMC 6%CMC 8%CMC 10%CMC
bentonitas comporem GCLs. Para o PAS, os
(c) CP1 CP2 CP3 Média resultados de SI se assemelham aos
encontrados na literatura para as bentonitas
Figura 8. Resultados dos SI em solução de NaOH para os sódicas naturais;
BPCs com Polímeros isolados, (a) PAS, (b) PAM e (c) • Valores de SI para os BPCs pouco variaram
CMC. em relação SACa-B quando o polímero
prioritário é o PAM. Nesses casos, observou-
se que este polímero atuou como uma agente
20 floculante nas misturas em solução de água
DI;
Swell Index (mL/2g)

15
• Os resultados de SI para soluções de NaOH
10 se mostraram bastante inferiores aos obtidos
5 com a água DI, o que leva a concluir que a
alcalinidade das soluções afeta o
0 desempenho das SACa-B.
SACa-B 2%PAS 2%PAS
2%PAM 4%PAM • Com o uso de polímeros isolados, observou-
(a) CP1 CP2 CP3 Média se que para BPCs de PAS, os valores de SI
20 foram superiores ou iguais aos de SACa-B.
Quando foi feito o uso de PAM, somente
Swell Index (mL/2g)

15
BPCs de 6% desse polímero apresentaram SI
10 superior aos de SACa-B, sendo os demais
iguais ou inferiores. Por último, BPCs de
5
CMC apresentaram valores iguais ou
0 inferiores aos de SACa-B.
SACa-B 4%PAS 4%PAS 6%PAS 6%PAS 8%PAS • Registrou-se uma diminuição de SI na ordem
2%PAM 4%PAM 2%PAM 4%PAM 2%PAM
(b) CP1 CP2 CP3 Média 243%, quando comparados 10%PAS em
Figura 9. Resultados dos SI em NaOH para os BPCs com água DI e NaOH. Entretanto, cabe destacar
junção de PAS e PAM. que todas as misturas de BPC que se fez o
uso do PAS apresentaram valores de SI
superiores ao da SACa-B, quando a solução

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


288
de ensaio era NaOH. conductivity testing and factors impacting its
• O desempenho de BPCs formados por performance. Canadian Geotechnical Journal 34(6), p.
PAS+PAM em água DI mostrou-se inferior 863-885.
Pradhan, J., Das, S. N., Das, J., Rao, S. B., Thakur, R.S.
ao desempenho de BPCs compostos apenas
(1996). Characterization of Indian red muds and
por PAS, indicando que essas misturas não recovery of their metal values, Light Metals, p. 87-92,
são eficientes quando comparadas com o 1996.
desempenho de PAS. Entretanto, Razakamanantsoa, A. R.; Barast, G.; Djeran-Maigre, I.
comparando-se os BPCs de PAS+PAM em (2012). Hydraulic performance of activated calcium
água DI com os de PAM e CMC de formas bentonite treated by polyionic charged Polymer. Clay
isoladas, o primeiro apresenta maiores Science, V. 59–60, p. 103-114.
valores de SI do que os dois últimos. Rosin-Paumier, S., Touze-Foltz, N., Pantet, A., Monnet,
P., Didier, G., Guyonnet, D., Norotte, V. (2010). Swell
REFERÊNCIAS index, oedopermeametric, filter press and rheometric
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in GCLs. Geosynthetics International 17(1), p. 1-11
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Rowe, R.K. (2020) Geosynthetic clay liners: Perceptions
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Shackelford, C.D. (2014). Long-term hydraulic
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


289
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Métodos de monitoramento da tensão normal em ensaios de


arrancamento de pequeno porte usando um RCD-R: influência nos
valores de coeficiente de resistência de interface
Priscila Fernanda Silva de Oliveira
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, priscilafso@discente.ufg.br

Eder Carlos Guedes dos Santos


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, edersantos@ufg.br

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: A utilização de resíduos de construção e demolição reciclados (RCD-R) em estruturas de solo reforçado (ESR)
pode ser uma estratégia sustentável. Para tanto, faz-se necessário entender a interação entre as partículas de RCD-R e os
elementos dos geossintéticos. O ensaio de arrancamento é um dos métodos utilizados para avaliar tal interação. Contudo,
os valores da tensão normal próximos aos elementos de reforço – durante o arrancamento – são afetados pelo arqueamento
do material de preenchimento, que é influenciado por parâmetros específicos de tal material, características do elemento
de reforço e condições de ensaio. Assim, o objetivo deste trabalho é verificar os valores de tensão normal em ensaios de
arrancamento de geogrelha realizados com uma areia reciclada em uma caixa de ensaio de pequenas dimensões. Para
obtenção das tensões normais, foram utilizados dois métodos: i) célula de tensão total, CTT, e ii) bolsa de ar pressurizada.
Foi utilizada uma geogrelha de poliéster usualmente empregada em ESR. Foram empregadas diferentes tensões de
confinamento e CTT instaladas a uma distância uniforme da parede frontal (distância a partir do centro da CTT). Na força
máxima de arrancamento verificou-se diferença entre os valores lidos pela CTT e os nominais (aplicados pela bolsa de
ar). Observou-se que, para as menores sobrecargas, foram lidos pela CTT os maiores valores em relação ao valor teórico
aplicado. Concluiu-se que os equipamentos de pequenas dimensões podem ser empregados para investigações
preliminares para tentar entender a interação solo-geossintético, e que a ARC apresenta características ambientais e
geotécnicas desejadas para o emprego em ESR.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos de construção e demolição, Geossintéticos, Reciclagem, Interação solo-reforço, Ensaio


de arrancamento, Sustentabilidade.

ABSTRACT: The use of recycled construction and demolition waste (RCDW) in reinforced soil structures (RSS) appears
as an environment-friendly environmental strategy. Therefore, it is necessary to better understand the interaction between
the RCDW particles and the geosynthetic elements. Pullout test is one of the methods used to evaluate such interaction.
Thus, the objective of this paper is to verify the values of normal stress obtained by mean of two methods (i. total stress
cell, TSC, and ii. air-filled rubber bag) when pullout tests were performed using a small box and RCDW. Grey recycled
sand (GRS) – classified as a gravelly sand – was used as fill material. A polyester geogrid commonly used in soil
reinforced structures was tested. Several confining stresses were employed in the tests and the TSC was installed at a
fixed distance from the front wall (distance from the center of the TSC). At the maximum pullout force, it was observed
difference between the values recorded by the TSC and those applied by the air-filled rubber bag. Tests carried out
applying the lower surcharges revealed higher stress values recorded by TSC in comparison to the theoretical surcharge
values. It is possible to conclude that small scale equipment is useful for the purpose of preliminary investigations to try
to understand the soil-geosynthetic interaction.

KEY WORDS: Construction and demolition waste, Geosynthetics, Recycling, Soil-reinforcement interaction, Pullout
test, Sustainability.

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290
1 INTRODUÇÃO Milligan, 1989); ii) condição da parede frontal da
caixa (Palmeira & Milligan, 1989, Farrag et al.,
O crescimento da indústria da construção civil sem o 1993); iii) variação da umidade do solo empregado
acompanhamento do desenvolvimento de novas (Gilbert et al., 1992); iv) tamanho dos grãos, abertura
técnicas tem provocado um aumento no volume da geogrelha e espessura das barras transversais
gerado de resíduos de construção e demolição (Jewell et al., 1984, Palmeira & Milligan, 1989); v)
(RCD). Estima-se que anualmente sejam geradas 10 efeito do tipo de solo (Bauer & Chang, 1993); entre
bilhões de toneladas de RCD no planeta, com grande outros.
parte tendo potencial de reciclagem (Xu et al. 2019). A Tabela 1 apresenta alguns parâmetros de ensaios
Assim, pesquisas têm sido realizadas buscando de arrancamento em caixas de pequenas dimensões.
estratégias de gestão desses resíduos, tais como:
controle de geração e na maneira de descarte (Wang Tabela 1. Exemplos de configurações de ensaios com
et al., 2010; Esa et al., 2017; Xu et al., 2019). caixas de pequenas dimensões.
Uma das alternativas sustentáveis de utilização de Araújo Neto
Parâmetros Kakuda (2005)
grandes volumes de resíduos de construção e (2017)
demolição reciclados (RCD-R) pode ser o emprego Altura da caixa
150 150
(mm)
desses materiais em estruturas de solo reforçado
Largura da
(ESR) (Santos et al., 2013, 2014). Entretato, para a 300 300
caixa (mm)
consolidação do emprego de RCD-R em ESR, é Comprimento
preciso entender melhor os mecanismos 250 250
da caixa (mm)
envolvidos na utilização desses materiais em Sistema de
Bolsa de ar Bolsa de ar
conjunto com os geossintéticos. Para tanto, faz-se Sobrecarga
necessário entender, por exemplo, a interação entre Material de
RCD-R** e
preenchimento Areia siltosa
as partículas do RCD-R e os elementos dos da caixa
areia natural***
geossintéticos quando submetidos à uma Poliéster de alta
solicitação. Poliéster de alta
tenacidade
Geogrelha tenaciade –
Uma das formas para avaliar essa interação revestido com
35/25-25
consiste na realização de ensaios de arrancamento. PVC – 110/30-20
Esses ensaios com geogrelhas permitem verificar as Número de
8 longitudinais e 7 longitudinais
interações por atrito (dos membros longitudinais e elementos da
7 transversais*; e 8 transversais
geogrelha
transversais) e por resistência passiva (dos membros
Nota: (*) entre as configurações de ensaios, foi escolhida
transversais), sendo que elas ocorrem de forma
a mais semelhante à esse trabalho; (**) e (***) indicam os
simultânea (Palmeira, 1987). parâmetros que variaram nos ensaios.
Os ensaios de arrancamento em laboratório são
realizados em caixa metálica rígida construída Como visto, diversos estudos abordam análises sobre
normalmente com seção transversal retangular. Um a resistência de geogrelha sob diferentes condições
esforço de tração é aplicado aos elementos de reforço de ensaios de arrancamento. Entretanto, são poucos
a uma velocidade de deslocamento de interesse, e a os realizados com RCD-R. Assim, para validar a
tensão de confinamento normalmente é aplicada por utilização desses materiais alternativos em ESR, sob
meio de um colchão inflável. Utilizam-se o aspecto do ensaio de arrancamento, é necessário: i)
basicamente os seguintes itens para a instrumentação: submetê-lo a condições iguais de ensaio; e ii)
i) célula de carga (medir a força de arrancamento); ii) verificar se apresentam os comportamentos
células de tensão total (tensão normal próxima ao satisfatórios para emprego nesse tipo de estrutura.
nível do geossintético) e iii) transdutores de Informações obtidas de ensaios de arrancamento
deslocamento internos ou externos (para a obtenção podem ser utilizadas em projetos (desde que simulem
de deformações ao longo do corpo de prova). De condições de campo) de: i) muros de contenção, ii)
acordo com as dimensões internas das caixas taludes, iii) aterros (ASTM, 2013). Diante disso, as
empregadas nos ensaios de laboratório, essas podem condições em que os ensaios são realizados têm
ser classificadas com de “grande” ou de “pequeno” grande importância na determinação dos parâmetros
porte. de resistência.
Observa-se que existem na literatura diversas Os métodos de dimensionamento em projetos de
configurações para a execução de ensaios de ESR, utilizam coeficientes que buscam quantificar a
arrancamento, e há um número elevado de interação solo-geossintético. O coeficiente de
parâmetros que podem afetar a resistência da interação solo-geossintético (f) tem sido um dos mais
interface geogrelha-solo, tais como: i) sistema de utilizado no meio técnico para a elaboração de
aplicação da tensão de confinamento (Palmeira & projetos devido à sua simplicidade. Entretanto, esse

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


291
coeficiente não diferencia as parcelas de resistência De acordo com a NBR 6502 (ABNT, 1995), a ARC
devido ao atrito e à resistência passiva. Ou seja, não pode ser classificada como uma areia pedregulhosa.
realiza uma verificação separada desses fatores, Quanto ao limite de plasticidade (LP), conforme a
fazendo uma análise mais abrangente (Kakuda et al., NBR 7180 (ABNT, 2016), a ARC pode ser classifi-
2006). A Equação 1 apresenta o cálculo de f: cada como ‘não plástica’ (NP). A Tabela 2 apresenta
os parâmetros geotécnicos e a Figura 1 apresenta a
T curva de distribuição granulométrica da amostra de
f = 2.𝐴.𝜎.𝑡𝑔ɸ (1)
ARC investigada.

Onde: Tabela 2. Propriedades geotécnias da ARC.


f - coeficiente de interação solo-geossintético; Parâmetro Valor
T - força máxima de arrancamento da inclusão obtida Massa específica (g/cm³) 2,71
em ensaio de arrancamento; CC 1,52
A - área plana do geossintético em contato com solo; CU 31,73
σ- tensão normal atuante no geossintético; Peso específico seco máximo,
16,90
ɸ - ângulo de atrito interno do solo. γdMáx (kN/m³)
Umidade ótima, wót (%) 16,40
Ângulo de atrito,  (°) 37,8
De acordo com Palmeira (2009), as condições de
Intercepto de coesão, c (kPa) 7,3
fronteira existentes nos ensaios de arrancamento
realizados em caixas são um dos fatores que podem
influenciar nos resultados e, assim, não recomenda-
se a utilização de caixas de pequeno porte ou sistemas
em que o comprimento do trecho de ensaio é muito
superior à altura da caixa de ensaios. Entretanto, há
trabalhos realizados em caixas de pequeno porte onde
os autores relataram bons resultados encontrados de
acordo com as situações por eles analisadas
(Sugimoto et al., 2001; Nakamura et al., 2003;
Hatami & Esmaili, 2015; Portelinha et al., 2018). Em
equipamentos de pequeno porte, é de se esperar que
as fronteiras influenciem no caso de interações
intensas entre solo e geossintético, o que causa
Figura 1. Curva de distribuição granulométrica da ARC.
dilatação em solos granulares compactados e tensões
maiores transferidas para as fronteiras. Assim, Para a realização dos ensaios de arrancamento, foi
equipamentos de menor porte seriam recomendados utilizada uma geogrelha empregada com a função de
para análises preliminares, para condições de reforço de solos (Figura 2). A Tabela 3 apresenta as
deslocamentos de arrancamento pequenos ou para
especificações da geogrelha fornecidas pelo seu
investigações mais pontuais (focando na interação
fabricante.
pontual entre grãos de solo e membros transversais
de grelhas, por exemplo).
Nesse contexto, este estudo objetiva verificar a
influência da tensão normal na determinação de f em
ensaios de arrancamento realizados em uma caixa de
pequenas dimensões, utilizando-se uma areia
reciclada como material de preenchimento.

2 METODOLOGIA

2.1 Materiais
Figura 2. Imagem da geogrelha (Oliveira, 2020).
Neste estudo foi utilizado um material produzido por
uma usina de reciclagem de RCD, localizada em Tabela 3. Características da geogrelha.
Aparecida de Goiânia-GO, denominado ‘areia reci- Propriedades Descrição
clada cinza’ (ARC). Segundo a usina, esse material é Polímero principal Poliéster (PET)
obtido por meio do processo de britagem de peças Abertura de malha nominal 20 x 25 mm
constituídas predominantemente de concreto. Resistência à tração nominal 35 kN/m

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292
Deformação na resistência nominal ≤10%
Módulo de rigidez a 5% de
≥ 350 kN/m
deformação

2.1 Métodos

Os ensaios de arrancamento de geogrelhas foram re-


alizados seguindo as recomendações da ASTM
D6706-01 – Standard Test Method for Measuring
Geosynthetic Pullout Resistance in Soil. Para a exe-
cução dos ensaios de arrancamento foi utilizado um Figura 4. CTT introduzida na segunda camada.
equipamento de pequeno porte construído por Araújo
Neto (2017), cujo projeto foi baseado na caixa desen- Todos os ensaios foram executados com amostras de
volvida por Teixeira (2003). geogrelha de 200 mm de largura; sendo que a CTT
A caixa de ensaio foi construída com chapas de aço em todos os ensaios estava a 125 mm da parede
de 3 mm, com as seguintes dimensões: i) 250 mm de frontal (distância a partir do centro da CTT); todas as
comprimento; ii) 300 mm de largura; e iii) 150 mm paredes internas da caixa (frontal, laterais e traseira)
de altura. Os ensaios foram realizados com i) a apli- foram cobertas com dupla camada de plástico com
cação de seis diferentes tensões normais (12,5 kPa, lubrificante entre elas.
25 kPa, 37,5 kPa, 50 kPa, 75 kPa e 100 kPa), ii) reuso
do material, iii) velocidade de arrancamento de 4,6 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
mm/min, iv) umidade ótima de compactação e v)
grau de compactação de 90%. A Figura 3 apresenta a Verificou-se uma pequena diferença entre os valores
configuração do ensaio de arrancamento. de tensão normal lidos pela CTT e o nominal
(aplicado pela bolsa de ar) para os instantes iniciais
de aplicação da tensão inicial (Figura 5), momento
anterior ao processo de arrancamento. Essa variação
não apresentou uma tendência em função do valor da
carga aplicada. Essa diferença pode ter sido
influenciada por pequenas perturbações
eventualmente causadas ao manuzear e fixar a caixa
no equipamento para a realização do ensaio e a
própria presença da geogrelha acima da célula.

Figura 3. Configuração do ensaio de arrancamento


(Oliveira et al., 2020).

Inicialmente, foram compactadas 2 (duas) camadas


até a altura da abertura para a passagem da geogrelha
– localizada a 75 mm de altura em relação ao fundo
da caixa. Após isso, foi necessário escavar 10 mm
Figura 5. Relação entre os valores de tensões nominais
para a instalação da célula de tensão total (CTT) (bolsa de ar) e os obtidos pela CTT.
(Figura 4); depois de instalada a CTT, a camada foi
restituída com o material de preenchimento, e, em A Figura 6 apresenta o resultado para ensaios desta
seguida, o corpo de prova de geogrelha foi disposto. pesquisa e de outros estudos que utilizaram materiais
Posteriormente, foi realizada a compactação das duas granulares, geogrelhas poliméricas e a CTT instalada
camadas superiores. Como em outras investigações a 125 mm da parede frontal da caixa. Foram avaliadas
geotécnicas, a presença da célula pode ter a relação entre a tensão lida na CTT e a aplicada na
influenciado os resultados até certo ponto. bolsa de ar no momento que ocorreu a força máxima
de arrancamento. Verificou-se que, quando o valor da
sobrecarga de confinamento foi aumentado, houve

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


293
uma aproximação dos valores lidos na CTT e os Esse comportamento é percebido na análise da areia
nominais (aplicados pela bolsa de ar). Observou-se reciclada, quando para máximos valores da força de
que nos sistemas avaliados de caixas de pequenas arrancamento (associados a maiores tensões normais
dimensões, os valores obtidos nas CTT apresentaram no topo da amostra), houve menores diferenças entre
valores superiores aos das tensões aplicadas pela as tensões medidas (Figura 7). Nos ensaios de
bolsa de ar, possivelmente devido às influências das arrancamento normalmente também podem ocorrer
fronteiras e dimensões do equipamento. Diferenças variações das tensões obtidas na CTT, pois existem
menores são observadas para maiores tensões de oscilação nas leituras devido à ação dos elementos
confinamento (75 e 100 kPa, Fig. 6c e Fig. 7), devido transversais, que promovem um fluxo de solo no
à menor dilatância dos solos sob tensões mais processo de cisalhamento à medida que ocorre o seu
elevadas. deslocamento. Teixeira (2003) e Kakuda (2005)
verificaram que esse fenômeno ocorre por conta da
dilatância do solo devido à influência
(movimentação) dos elementos transversais da
geogrelha durante o arrancamento. Assim, observou-
se nos ensaios em que houve o arrancamento (tensões
teóricas inferior ou igual a 50 kPa) que a variação do
valor obtido na CTT é perceptível. Os valores
encontrados na CTT foram superiores aos da
sobrecarga aplicada no momento que ocorre a força
máxima da arrancamento.

(a)

(b)
Figura 7. Valores nominais (bolsa de ar) e obtidos pela
CTT.

Tendo em vista que os valores de sobrecarga foram


diferentes em função do método de leitura (CTT ou
manômetro acoplado à bolsa de ar), o coeficiente de
resistência de interface (f) apresentou valores
distintos (Figura 8). Verificou-se que f apresentou
valores inferiores ao ter como referência apenas os
respectivos valores obtidos pela CTT, o que é mais
coerente com os resultados usualmente obtidos em
(c) equipamentos de grande porte.

Figura 6. Relação entre os valores de sobrecargas lidos


com a CTT e nominais (bolsa de ar) no momento de valor
máximo de arrrancamento: a) sobrecarga nominal de 25
kPa; b) sobrecarga nominal de 50 kPa e c) sobrecarga
nominal de 100 kPa. Nota: a sinalização com astericos
indica a configuração de ensaio adotada pelos autores
citados (conforme Tabela 1).

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294
Os autores também agradeçem à FAPEG pela bolsa
de doutorado da primeira autora (Processo
PCB2021031000230) em vigência atualmente –
período de conclusão das análises apresentadas.
Agradecimentos também são dedicados ao
Laboratório de Geotecnia (LabGEO) e Laboratório
de Inovação Tecnológica em Construção Civil
(LABITECC), ambos da Universidade Federal de
Goiás (UFG), pelo suporte dado para a realização dos
ensaios; ao Programa de Pós-Graduação em
Geotecnia, Estruturas e Construção Civil (PPG-
Figura 8. Coeficiente de interação para os valores GECON);e às empresas parceiras, pelo fornecimento
nominais (bolsa de ar) e obtidos pela CTT. do materais (RCD-R e geogrelha) utilizados no
estudo.
Verificou-se que o aumento das sobrecargas
aplicadas provocou o decréscimo do coeficiente de REFERÊNCIAS
resistência de interface, comportamento também
observado em outros trabalhos que utilizaram areias ABNT (1995). NBR 6502: Rochas e solos. Associação
(Lopes & Ladeira, 1996; Teixeira, 1999; e Araújo Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
Neto, 2017). Além disso, os resultados obtidos para ABNT (2016). NBR 7180: Solo – Determinação do limite
o RCD-R demonstraram que material possui um bom de plasticidade. Associação Brasileira De Normas
comportamento, sendo similar aos de outros Técnicas, Rio de Janeiro.
materiais, o que viabilizaria, assim, a sua aplicação Araújo Neto, O. G. (2017). Ensaio de arrancamento de
em estruturas de solo reforçado com geossintéticos. geogrelha com equipamento de pequenas dimensões
aplicado a compostos de resíduos de construção.
Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação
4 CONCLUSÕES em Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco,
97p.
Com base nos resultados obtidos de ensaios de ASTM (2013). D6706-01: Standard Test Method for
arrancamento com equipamentos de pequenas Measuring Geosynthetic Pullout Resistance in Soil.
dimensões, pode-se concluir: American Society for Testing and Materials
• A areia reciclada demonstrou variações dos Designation. Overland Park, 8 p.
resultados obtidos na CTT para as diferentes Bauer, G. E. & Shang, Q. (1993). Pullout Resistance of
tensões aplicadas – mesmo comportamento Large Geogrid Specimens in Site Specific Soils.
Geotechnical Engineering, v. 24, n. 1.
verificado por outros estudos que
Esa, M. R., Halog, A. & Rigamonti, L. (2017). Strategies
empregaram areia natural ou areia siltosa for minimizing construction and demolition wastes in
(materiais ditos convencionais) como Malaysia. Resources, Conservation and Recycling, v.
materiais de preenchimento. 120, p. 219-229.
• Os resultados de caixas de pequenas Farrag, K., Acar, Y. B. & Juran, I. (1993). Pullout
dimensões podem ser afetados por diversos resistance of geogrid reinforcements. Geotextiles and
fatores, entre eles as perturbações causadas Geomembranes, Philadelphia, v. 12, p. 133-159.
ao manuzear e fixar a caixa para a execução Gilbert, P. A., Oldham, J. C. & Coffing, L. R. (1992).
do ensaio, fronteiras e dilatância do solo. Laboratory Measurement of Pullout Resistance of
Geotextiles Against Cohesive Soils. Technical Report
• De uma forma geral, o equipamento de
GL-92-6, US Army Engineer Waterways Experiment
pequena dimensão se mostrou adequado para Station, Vicksburg, MS.
avaliação qualitativa inicial que ocorreu Hatami, K. & Esmaili, D. (2015). Unsaturated soil-woven
durante a interação solo-geossintético para a geotextile interface strength properties from small-
situação avaliada. scale pullout and interface tests. Geosynthetics
A utilização de uma areia reciclada apresentou-se International, v. 22, n. 2, p.161-172.
como uma proposta interessante de uso de material Jewell, R. A., Milligan, G. W. E., Sarsby, R. W. & Dubois,
ambientalmente sustentável em ESR. D. (1984). Interaction between soil and geogrids. In:
Symposium on Polymer Grid Reinforcement in Civil
AGRADECIMENTOS Engineering, 1985, London. Proceeding...London:
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Kakuda, F. M., Bueno, B. S. & Teixeira, S. H. C. (2006).
Os autores agradecem à CAPES, pela bolsa de Geogrid pullout tests using small scale equipment. In:
mestrado concedida à primeira autora do trabalho – International Conference on Geosynthetics, 8,
período de execução dos ensaios e análises iniciais. Yokohama. Proceedings… Rotterdam: Millpress, p.

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação da Capacidade de Carga de Colunas Granulares


Encamisadas em Solos Moles
Jaime Alberto Suárez Moreno
Universidade de Brasília - UnB, Brasília - DF, Brasil, jaime.suarez01@gmail.com

Gregório Luís Silva Araújo


Universidade de Brasília - UnB, Brasília - DF, Brasil, gregorio@unb.br

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília - UnB, Brasília - DF, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: O benefício do uso de colunas granulares encamisadas (em inglês Geotextile Encased Columns ou
“GEC’s”) que funcionam como estacas (quase rígidas) em solos de baixa resistência provou ser um método
eficiente para minimizar problemas de capacidade de carga e recalques. Nesta pesquisa, o desempenho de
grupo de colunas GEC é estudado através de um programa de ensaios de carga, desenvolvido em laboratório,
com uso de corpos de prova em grande escala. Sendo assim, foi avaliado o comportamento da GEC,
influenciado pelo comportamento mecânico do material de reforço e a presença de colunas vizinhas. Foram
realizados (4) quatro ensaios de carga aplicados sobre conjuntos de colunas GEC, com variação no valor do
módulo de rigidez radial de reforço do protótipo. Foram avaliados os desempenhos de cada um dos testes em
relação aos recalques e comportamento das poropressões. Os resultados mostram que, com o acréscimo do
valor de módulo de rigidez do reforço, a capacidade de carga da coluna GEC aumenta. Além disso, a razão de
concentração de tensões das colunas também aumenta. Os resultados encontrados indicaram que a máxima
deformação ocorre a uma profundidade aproximada de 1,5 vezes o diâmetro da coluna GEC.

PALAVRAS-CHAVE: geotêxtil de reforço, recalque, aterro, solo mole, poropressão, distribuição de tensões.

1 INTRODUÇÃO As GEC’s podem ser usadas para aplicações de


suporte de fundações ou aplicações de melhoria de
O principal objetivo da coluna granular é aumentar a solo em grandes áreas, quando as estruturas não são
capacidade de suporte e acelerar a taxa de excessivamente sensíveis a recalques (Shukur Al-
adensamento do solo mole, assim, diminuir o tempo Saadi, 2021). Na maioria das aplicações, as GEC’s
de duração do processo de melhoria do solo. Devido devem (idealmente) repousar sobre uma camada
ao confinamento lateral reduzido proporcionado rígida (Hosseinpour et al., 2016; Alkhorshid et al.,
pelos solos muito moles, a construção e aplicação de 2019; Shukur Al-Saadi, 2021). O método GEC é
colunas granulares convencionais tornam-se algumas considerado como uma técnica recente de melhoria
vezes difíceis, tendo em vista a menor capacidade de de solos. Assim, o objetivo principal da pesquisa é
carga dessas colunas. Este problema pode ser avaliar o comportamento de grupo de colunas
resolvido por meio da aplicação de encamisamento granulares encamisadas submetidas a provas de carga
com geossintéticos, o qual fornece confinamento por meio de modelos físicos em grande escala, afim
lateral (reforço) ao material das colunas. de alcançar um melhor entendimento de seu
O uso do sistema de melhoramento de solos comportamento.
conhecido como colunas granulares encamisadas (em
inglês Geotextile Encased Columns ou “GEC’s”) tem
sido usado com sucesso e encontra-se bem 2 MATERIAIS
estabelecido na prática da engenharia (Raithel &
Kempfert, 2002; Bräu, 2012; Almeida et al., 2018; 2.1 Solo usado para a realização dos ensaios
Shukur Al-Saadi, 2021; Zhang et al., 2022 e outros).

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297
O solo utilizado nos ensaios foi obtido por escavação cm/s para a mistura de solo peneirado com adição de
manual no campus experimental da Universidade de 4% de bentonita do peso do solo seco.
Brasília, na Asa norte do Distrito Federal. Na Figura A combinação solo-bentonita foi acrescida de
1 são apresentadas as curvas de distribuição água a fim de obter uma pasta homogênea e
granulométrica do solo fino utilizado na pesquisa, consistente. O valor do teor de umidade utilizado
com e sem meio dispersor. Na Tabela 1, são encontra-se em torno de 65% e corresponde ao limite
apresentadas as características granulométricas, de liquidez medido na mistura. Considerando o
obtidos a partir da curva granulométrica sem tamanho da caixa de teste, foi necessário preparar de
defloculante (Condição do ensaio). 5 a 7 toneladas de material de enchimento (Mistura
solo bentonita + água).
Também foi verificada a influência da
incorporação de bentonita na resistência ao
cisalhamento não drenada (Su) do solo, avaliada
através de ensaios de palheta, empregando a
metodologia proposta na normativa americana
ASTM D4648/D4648M (ASTM, 2016). Para fins do
teste, o valor de Su deve estar de acordo com a escala
utilizada (=7). Neste estudo, o valor da resistência
ao cisalhamento não drenada apresentou valores
menores a 2 kPa, que em escala real representaria um
material de baixa resistência (Su <15 kPa em escala
real). Registro fotográfico do ensaio de palheta é
Figura 1. Curvas de distribuição granulométrica com e sem apresentado na Figura 2.
defloculante.

Tabela 1. Parâmetros granulométricos do solo.


Parâmetro Valor
Cu (-) 2,730
Cc (-) 0,901
D50 (mm) 0,175
D10 (mm) 0,075
D30 (mm) 0,118
D60 (mm) 0,206 Figura 2. Ensaios de propriedades no solo mole
estudado:- Ensaio de palheta
Para estudar o comportamento das colunas GEC,
foi necessária a preparação de um solo muito mole. 2.2 Material de enchimento da GEC – Areia
Assim, foi adicionada bentonita ao solo peneirado,
empregando uma porcentagem correspondente a 4% Foi utilizada areia como material de enchimento na
do peso do solo seco. A caraterização do solo puro e construção das GEC’s e como material de aterro. A
a mistura solo-bentonita é apresentada na Tabela 2. massa específica dos sólidos (𝜌d) é de 2,64 g/cm3. O
material utilizado como elemento de enchimento
Tabela 2. Parâmetros granulométricos do solo. possui um valor de massa aparente seca que varia de
Valor 𝜌d min = 1,67 g/cm3 a 𝜌d máx = 1,94 g/cm3.
Propriedade Além disso, foram verificadas as propriedades
Solo puro Solo + 4% de bentonita
WL (%) 37 65 hidráulicas do material de enchimento compactado
WP (%) 23 28 com uma densidade relativa de 80% (que representa
IP (%) 14 37 o grau de compactação do material instalado dentro
Gs 2,68 2,70 da GEC), através da medição do coeficiente de
𝛾s (kN/m3) 26,28 26,47 permeabilidade (k). Foi obtido um valor de
permeabilidade de 0,08 cm/s por meio da realização
Foi verificada a influência no coeficiente de de um ensaio de carga constante.
permeabilidade (k) do solo intemperizado Na Figura 3 é apresentada a curva de distribuição
reconstituído, após a adição de bentonita em ensaios granulométrica obtida e na Tabela 3 são apresentados
de carga variável. O valor da permeabilidade foi de os parâmetros granulométricos encontrados na
1,33x10-3 cm/s para o solo peneirado e de 6,90x10-6 análise realizada. Segundo a distribuição

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298
granulométrica e os critérios da classificação (CTT), transdutores de poropressão (PZ) e medidores
AASHTO, o material é classificado como A-1-b. de recalques (MR). Cada um dos equipamentos
mencionados anteriormente foi submetido a um
processo de calibração, levando em conta as próprias
especificações dos instrumentos e do solo
empregado. O esquema da instrumentação
implementada é apresentado na Figura 4.

Figura 3. Curva de distribuição granulométrica da areia.

Tabela 3. Parâmetros granulométricos do solo.


Parâmetro Valor
Cu (-) 7,014
Cc (-) 0,813
D50 (mm) 1,258 (a)
D10 (mm) 0,258
D30 (mm) 0,617
D60 (mm) 1,813

2.3 Geotêxtil

Foram selecionados três tipos de materiais tecidos


para representar o geotêxtil de reforço. Foram
adotados como referência parâmetros comerciais.
Dependendo do valor do módulo de rigidez, os
materiais são denominados como geotêxtil de reforço
de resistência alta (RA), resistência média (RM) e
resistência baixa (RB) com módulos de rigidez a 5%
deformação de 2000kN/m, 3500kN/m e 6500kN/m,
respetivamente. Para cada um dos reforços, foram (b)
escolhidos materiais equivalentes na escala Figura 4. Modelo experimental proposto com
instrumentação: (a) Vista superior e (b) Vista frontal.
selecionada (=7), seguindo a análise de similaridade
proposta por Baker et al. (1991). Cada um dos
Para fazer o registro das leituras de
materiais representativos encontrados foi submetido
instrumentação empregadas em cada um dos ensaios
a caraterização através de testes de tração de faixa
realizados, foi utilizado um aquisitor de dados
larga em isolamento, massa por unidade de área,
fabricado pela empresa LYNX, modelo ADS 500. O
medição da espessura nominal. Na Tabela 4 são
Software AqDados 7.5 apoia a aquisição e
apresentados os valores dos parâmetros dos tecidos
visualização dos registros coletados pelo
de reforço sem costura e com costura encontrados a
equipamento em 16 canais de aquisição.
partir dos ensaios realizados.

2.4 Instrumentação
3 METODOLOGIA
Com o intuito de medir com precisão a resposta e o
O desempenho de grupo de colunas GEC foi
desempenho dos materiais que constituem a estrutura
estudado por meio de um programa de ensaios de
das colunas GEC do modelo experimental, foi
carga, desenvolvido em laboratório, levando em
implementado um conjunto de equipamentos de
consideração a presença de colunas vizinhas.
instrumentação, composto por células de tensão total

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299
Tabela 4. Parâmetros dos tecidos de reforço utilizados na pesquisa
Valor
Baixo (RB) Médio (RM) Alto (RA)
Propriedades Sem Com Sem Com Sem cos- Com cos-
costura costura costura costura tura tura
Módulo de rigidez a 5% deformação. Dire-
56,54 44,61 77,72 74,79 152,13 143,72
ção transversal (perimetral) (kN/m)
Resistência à tração
10,33 7,50 12,80 10,23 21,97 13,86
Direção transversal (perimetral) (kN/m)
Deformação máxima na resistência nominal
17 16 16 15 15 14
Direção transversal (perimetral) (%)
Massa por unidade de área (g/m2) 156 168 182
Espessura nominal (mm) 0,3 0,3 0,4
Tipo Poliéster Poliéster Poliéster

3.1 Provas de carga em grupos de colunas GEC medidores de recalques;


• Instalação de cabos correspondentes à
Para a configuração do grupo das colunas GEC instrumentação implementada;
utilizadas na pesquisa, foi selecionado um modelo • Tampa com bolsa de pressão de látex de 3 mm de
com distribuição triangular, considerada a mais espessura de 1,6 m x 1,6 m;
utilizada segundo Domingues (2006). Para alcançar
concordância no comportamento entre o protótipo e Uma vez que o equipamento foi adequado,
o modelo, a análise de similaridade pode ser usada instalou-se uma camada de areia compactada com 5
para determinar o fator de escala. Esta análise é cm de espessura, a fim de obter uma base rígida
amplamente explicada por Baker et al. (1991), sendo filtrante que se conecta com os registros do local.
que a relação fornecida pelo fator de escala (), está Acima dessa camada foi disposto um geotêxtil não
dada pela equação 1: tecido para desempenhar a função de separação da
camada filtrante com o solo mole.
𝑓𝑝
= (1)
𝑓𝑚

Onde, fp e fm são medidas físicas relacionadas ao


protótipo e ao modelo respectivamente. Na pesquisa,
buscou-se utilizar um fator de escala compatível com
o as dimensões do local utilizado. Nesse contexto, foi
selecionada uma escala de trabalho com valor de =7,
que é consistente com o equipamento e a
configuração geométrica do sistema de melhoria.

3.2 Caixa para desenvolvimento dos testes em


grande escala
Figura 5. Caixa metálica para execução dos ensaios em
Na pesquisa, foi utilizada uma caixa de ensaio com grande escala - local de ensaio com pórtico, tampa de
pressão e viga reação
dimensões de 1,60 m x 1,60 m e altura de 1,2 m, para
o modelo experimental. O local de trabalho é
apresentado na Figura 5. Algumas das modificações
4 REPETIBILIDADE DO ENSAIO
realizadas no equipamento utilizado são destacadas a
seguir:
Antes de iniciar a pesquisa, a repetibilidade dos
resultados dos testes foi avaliada por meio da
• Instalação de 4 registros na base, com a
realização de testes repetidos sob a mesma condição,
finalidade de controlar a saída da água na base da
utilizando amostras com reforço RM, que
caixa;
corresponde ao material encamisado com resistência
• Instalação de registros com acoplamento para média.
instalação de piezômetros; A Figura 6 exibe as tensões que foram suportadas
• Instalação de tabuleiro para colocação de

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300
pelas colunas centrais do sistema e pelo solo mole com variação do reforço.
envolvente para o ensaio com reforço RM e sua Observando a Figura 7, os recalques diminuem na
repetição. A tendência das tensões em cada um dos GEC e no solo mole circundante à medida em que há
elementos é considerada adequada para cada um aumento no módulo de rigidez da camisa de
incremento de tensões, apresentando leituras que reforço, destacando também que os recalques dentro
variam no máximo em 11%. Por sua vez, do sistema não são uniformes. No entanto, as
comportamento dos recalques dos elementos em cada diferenças são pequenas, de no máximo 4%. No caso
um dos ensaios de repetição é apresentado na Figura das GEC´s tipo RA e RM, houve um recalque
6b. De igual forma, a tendência do incremento do máximo de 10 mm e 14 mm, respectivamente,
recalque com o acréscimo de tensão é aproximada enquanto as colunas com reforço RB exibiram um
para ambos os ensaios, apresentando leituras com valor de 18 mm.
variação máxima de 15 %.

Figura 7. Carga aplicada versus Recalque com variação do


(a) material de reforço.

Quando os pilares foram submetidos à tensão


última, houve uma variação aproximada de 29%
entre o valor de recalque registrado na coluna GEC
com maior rigidez em relação à coluna GEC com
menor rigidez e aproximadamente 44% entre o
recalque registrado na coluna GEC com maior
rigidez em comparação com a coluna GEC de rigidez
média. Da mesma forma, houve uma variação
aproximada de 22% entre o valor do recalque
registrado no pilar GEC com rigidez média em
relação ao pilar GEC com menor rigidez. Esses
(b)
valores devem ser levados em consideração ao
Figura 6. Repetibilidade do ensaio: (a) Tensão aplicada
versus Tensão medida e (b) Tensão aplicada versus projetar esse tipo de estrutura como método de
Recalque melhoria.
Para o caso do solo mole, quando foram instaladas
colunas GEC´s tipo RA, RM e RB foram registrados
5 RESULTADOS: valores de recalque de 34 mm, 42mm e 49 mm
respectivamente. Verificou-se que o solo mole
5.1 Desempenho dos recalques registrou um valor de recalque de aproximadamente
3 vezes o valor do recalque do GEC.
Nos ensaios, foram medidos os recalques que
ocorriam na coluna central do sistema e sua coluna 5.2 Desempenho das poropressões
vizinha através dos instrumentos MR 1 e MR 2. Já no
solo mole circundante, foram usados os instrumentos Foram instalados quatro piezômetros, PZ1, PZ2, PZ3
MR 3 e MR 4. O recalque foi medido para cada e PZ4, posicionados em diferentes profundidades
acréscimo de carga, até atingir o valor de 45 kPa. O dentro do solo mole circundante à coluna central do
recalque correspondente a 45 kPa foi medido no final grupo das colunas GEC, os quais registraram o
dos ensaios, quando a poropressão foi dissipada. Na comportamento das poropressões durante o tempo
Figura 7 são apresentadas as curvas de recalque para total de execução do ensaio. As curvas obtidas para
cada um dos instrumentos utilizados em cada ensaio os instrumentos usados em cada um dos ensaios são

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301
apresentadas na Figura 8.
Foi encontrado que o comportamento das
poropressões em todos os ensaios realizados é
similar, pois, como esperado, a rigidez do reforço
empregado mudou pouco o valor de sua
transmissividade. O local de teste começou com
valores de poropressões considerados baixos
(menores a 1 kPa), que aumentaram de valor
proporcionalmente à profundidade de instalação do
instrumento (valores menores a 2 kPa). Uma vez
iniciado o processo de carga do ensaio, apresentou-se (a)
um acréscimo no valor das poropressões. Este valor
aumenta proporcionalmente à carga do ensaio. O
máximo valor de poropressão (de 12 a 14 kPa) foi
apresentado no instrumento PZ 4, situado próximo ao
fundo da caixa, e o mínimo valor de pressão (de 8 a
9 kPa) ocorreu no piezômetro PZ 1, localizado no
topo do sistema. Esses valores são de
aproximadamente 17% e 28% do valor do
carregamento aplicado.
Os valores de poropressão obtidos nos ensaios,
estão abaixo de 15 kPa, são considerados pequenos, (b)
e observou-se que os excessos de poropressões foram
parcialmente (50%) dissipados nas primeiras 48
horas do ensaio. Após esse período, a instrumentação
continuou registrando a dissipação desses valores,
adotando-se como critério de finalização quando os
piezômetros registraram valores próximos a 1 kPa.
Nesse ponto, assumiu-se que as poropressões dentro
do sistema foram dissipadas quase em sua totalidade.
Em todos os casos, este processo demorou
aproximadamente 12 dias.
(c)
5.3 Zona de influência da GEC Figura 8. Valores de excesso de poropressões em
diferentes locais com o tempo: (a) reforço RA, (b) Reforço
Foi medido no topo a área de influência da coluna RM e (c) Reforço RB.
GEC central. Em todos os ensaios, evidenciou-se que
a influência da coluna é considerada até uma
distância aproximada de 200 mm a partir do centro
da estrutura. Essa distância corresponde à metade da
separação entre colunas S=400 mm. Também foi
observado que existem regiões onde a área de
influência não consegue atingir. Essas áreas foram os
pontos selecionados para colocação da
instrumentação, que tinha o intuito de medir o maior Figura 9. Medição dos raios de influência da coluna GEC
valor de tensão e recalque ocorridos no sistema. Esse central - vista superior.
comportamento se repetiu em todos os ensaios,
independentemente da camisa de reforço utilizada. 5.4 Distribuição de tensões no sistema
Na Figura 9 são apresentados os registros
fotográficos da medição do raio de influência da Através de testes de carga para cada uma das
coluna central e vizinha nos sistemas testados. configurações e com ajuda das células de tensão total
CTT1, CTT2 e CTT3, foi possível verificar as
distribuições das tensões que foram transmitidas em
cada um dos elementos que compõem o sistema
ensaiado e a influência da presença de cada um dos
reforços. Os acréscimos de tensões para cada um dos

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302
ensaios são apresentados na Figura 10a. a 2,290. Isso indica que o conjunto de colunas GEC
A partir dos valores de acréscimos de tensões suportou aproximadamente a metade da tensão
registrados em cada um dos instrumentos, foi aplicada pelo sistema de carregamento.
possível verificar a distribuição de tensões que
aconteciam dentro dos sistemas testados para cada
aumento de carga. Na Figura 10b são apresentadas as
tensões suportadas pelas colunas centrais do sistema
e o solo mole envolvente devido ao incremento de
carga em cada um dos testes realizados. Com os
resultados obtidos, foi possível calcular coeficientes
de melhoria como eficiência “E” (1), v (col) /o e
o/v(solo), para cada um dos ensaios com
variação de material de reforço. A eficiência “E” da
coluna é definida como a razão entre a tensão vertical
absorvida pela GEC (′ 𝒗 (𝒄𝒐𝒍) ∗ 𝑨𝒄𝒐𝒍) e a tensão total
sobre a área sob sua responsabilidade (′ 𝒐 ∗ 𝑨𝒊𝒏𝒇), (a)
assim como é apresentado na equação 2. Os
resultados são apresentados na Tabela 5 tomando os
valores correspondentes à última tensão aplicada no
ensaio.

′ 𝑣 (𝑐𝑜𝑙)∗𝐴𝑐𝑜𝑙
𝐸= (2)
′ 𝑜 ∗𝐴𝑖𝑛𝑓

Nos gráficos, as curvas de tensões medidas


começam a se separar, indicando possíveis diferenças
no comportamento da resistência à tração frente às
diferentes tensões aplicadas devido à variação do
módulo de rigidez da manga de reforço. Isso é (b)
Figura 10. Variações de tensão vertical estimadas pelas
notável a partir de aproximadamente 1000 segundos
células de tensão para diferentes reforços: (a) variação com
de teste no gráfico Figura 10a e evidenciado a partir o tempo e (b) variação com a tensão aplicada.
de 10 kPa de estresse aplicado na Figura 10b.
Comparando os resultados do ensaio que utilizou Tabela 5. Fatores de Melhoria obtidos nos ensaios
a camisa RA e a camisa RB, tem-se que o valor da Coeficientes de melhoria
eficiência (E) decresce aproximadamente em 8%, Ensaio
E v (col)  v(solo)
apesar de que o valor da rigidez da camisa RA é 3,25 RA 0,59 4,40 2,29
vezes maior que a rigidez da camisa RB. Da mesma RM 0,53 3,97 1,95
forma, compara-se o valor de eficiência do teste que RB 0,51 3,77 1,59
utiliza camisa de reforço RM e RB. Este valor cai
aproximadamente 2%, apesar que o valor da rigidez Ao revisar as variações no valor da eficiência e a
da camisa RB ser quase o dobro do valor da rigidez razão da tensão medida na coluna com a tensão
da camisa RM. aplicada em cada um dos ensaios realizados, verifica-
A partir dos valores calculados para cada um dos se que utilizar camisas com alta rigidez não apresenta
ensaios, verificou-se que as tensões suportadas pela grande diferencial de resultados em relação ao uso de
GEC são de 6 a 10 vezes maiores comparadas com as camisas tipo RM e RB. Assim, o uso de camisas de
tensões suportadas pelo solo mole e essa ordem de reforço com alto módulo de rigidez em projetos deve
grandeza depende do material de reforço utilizado. estar relacionado a outros fatores como
Verificando a razão da máxima tensão que foi disponibilidade, custo e outros.
suportada pela GEC com a máxima tensão (45 kPa) Em todos os ensaios, a CTT5 apresentou os
aplicada no sistema (v(col)o), foi possível maiores valores registrados de pressão lateral. Este
determinar que as GEC suportaram uma tensão em comportamento está relacionado ao efeito do
torno de 4 vezes a tensão aplicada. abaulamento que acontece no corpo da coluna central
Revisando os valores calculados da relação instrumentada que presenta maior deformação uma
ov(solo), que correspondem à razão da tensão profundidade aproximada de 1,5D, próximo à
aplicada no sistema à tensão transmitida ao solo profundidade de instalação da célula de tensão CTT5
mole, foram encontrados valores que variam de 1,596 e CTT6. Os menores valores de tensão foram

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


303
medidos pelo instrumento CTT4, que está localizado poropressões em todos os ensaios realizados é
mais perto do topo. Da mesma forma, essas similar, pois, como esperado, a rigidez do reforço
diferenças de valores não são consideradas grandes empregado mudou pouco o valor de sua
ou significativas. transmissividade.

6 CONCLUSÕES AGRADECIMENTOS

Foram realizados 4 (quatro) ensaios de Agradecimentos ao curso de pós-graduação em


carregamento aplicado a um grupo de colunas GEC Geotecnia da universidade de Brasília – UNB, ao
com variação do módulo de rigidez radial, sendo um Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
dos ensaios realizados para verificar as condições de Tecnológico (CNPq) e à Fundação de Apoio à
repetibilidade do equipamento. Levando em Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF).
consideração os resultados preliminares da pesquisa
experimental, seguem as conclusões:
• A partir dos ensaios de carga, foi possível REFERÊNCIAS
verificar as distribuições das tensões dentro dos
sistemas testados. Para cada um dos ensaios, Alkhorshid, N.R., Araújo, G.L.S., Palmeira, E.M. &
verificou-se que as tensões suportadas GEC são Zornberg, J.G. (2019). Large-scale load capacity tests
de 6 a 10 vezes maiores comparadas com as on a geosynthetic encased column. Geotext.
Geomembranes, 47(5): 103458.
tensões suportadas pelo solo mole. Essa ordem
Almeida, M. de S.S. de Riccio Filho, M.V., Babaei, I.H. &
de grandeza dependerá do material de reforço Alexiew, D. (2018). Geosynthetic encased columns for
utilizado. soft soil improvement.
• Verificando a razão da máxima tensão que foi ASTM. (2016). ASTM d4648 / d4648m - 16 standard test
suportada pela GEC com a máxima tensão (45 methods for laboratory miniature vane shear test for
kPa) aplicada no sistema (v(col)o), foi possível saturatedfine-grained clayey soil.
determinar que as GEC’s suportaram uma tensão Baker, W.E. (Wilfred E., Westine, P.S. & Dodge, F.T.
em torno de 4 vezes a tensão aplicada. (1991). Similarity methods in engineering dynamics:
theory and practice of scale modeling. Elsevier.
• Revisando a os valores calculados da relação
Bräu, G. (2012). Recommendations for design and
ov(solo), que corresponde à razão da tensão analysis of earth structures using geosynthetic
aplicada no sistema à tensão transmitida ao solo reinforcements - ebgeo, second edition. Recomm. Des.
mole, encontramos valores que variam de 1,596 Anal. Earth Struct. using Geosynth. Reinf. - EBGEO,
a 2,29. Isso indica que o conjunto de colunas Second Ed.
GEC suportou aproximadamente a metade da Domingues, T. (2006). Reforço de Fundações com
tensão aplicada pelo sistema de carregamento. Colunas de Brita em Aterros sobre Solos Moles. Tese
• Com os resultados encontrados, foi possível de mestrado. Universidade do Porto.
determinar que as tensões absorvidas pela estaca Hosseinpour, I., Almeida, M.S.S.S. & Riccio, M. (2016).
Ground improvement of soft soil by geotextile-encased
central aumentam na medida que a camisa de
columns. Proc. Inst. Civ. Eng. - Gr. Improv., 169(4):
reforço apresenta um módulo de rigidez maior. 297–305.
• Os resultados indicaram também que a máxima Raithel, M. & Kempfert, H.-G. (2002). Geotextile-encased
deformação acontece a uma profundidade columns (gec) for foundation of a dike on very soft
aproximada de 1,5 vezes o diâmetro da coluna soils. Int. Conf. Geosynth., International conference on
GEC. geosynthetics 3(1025–1030): 6.
• Em todos os ensaios evidenciou-se que a Shukur Al-Saadi, A.N. (2021). Numerical simulation of
influência da coluna se estende até uma distância geosynthetic encased stone columns bearing on a
compressible soil layer used individually and in group
aproximada de 200 mm desde o centro da configurations. Tese de Doutorado em ingles.
estrutura. Essa distância corresponde à metade da University of Delaware
separação entre colunas (S=400 mm). Assim, o Zhang, X., Yoo, C., Chen, J.-F. & Gu, Z.-A. (2022).
sistema contempla grande parte da área do Numerical modeling of floating geosynthetic-encased
ensaio. Também se evidenciou que existem stone column–supported embankments with basal
regiões onde a área de influência não consegue reinforcement. Geotext. Geomembranes.
atingir. Estas áreas foram os pontos onde se
observaram os maiores valores de tensão e
recalque no sistema.
• Foi encontrado que o comportamento das

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


304
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Comportamento da Interface Solo-Geotêxtil sobre um


Geoespaçador: Influência da Deformação Perpendicular ao Plano
Larissa Faria Ribeiro
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, lribeiro@ita.br

José Antonio Schiavon


Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, schiavon@ita.br

Delma de Mattos Vidal


Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

RESUMO: Neste estudo são apresentados resultados de ensaios de resistência ao cisalhamento de interface em plano
inclinado, realizados com um geotêxtil não tecido posicionado sobre superfície rígida ou sobre um geoespaçador, com o
objetivo de avaliar a influência da deformação do geotêxtil sobre a resistência ao cisalhamento da interface solo-geotêxtil.
Os ensaios foram realizados com uma areia quartzosa média uniforme e um geotêxtil não tecido de polipropileno, tendo
o uso ou não de geoespaçador de polietileno de alta densidade sob o geotêxtil. Os resultados indicaram um ângulo de
atrito de interface solo-geotêxtil menor para o caso com uso de geoespaçador. Além disso, a resposta inclinação-
deslocamento da caixa superior do ensaio foi significativamente diferente entre as duas condições avaliadas. Os resultados
chamam a atenção para a possibilidade de que estimativas de ângulo de atrito de interface areia-geotêxtil possam ser
contra a segurança para o caso de uso de geoespaçador sob um geotêxtil, quando se considera como ângulo de atrito a
inclinação para um deslocamento de 50 mm, cuja validade precisa ser discutida.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de Plano Inclinado, Resistência de Interface, Sistemas de Cobertura, Geocompostos.

ABSTRACT: This study presents results of interface shear strength from inclined plane (ramp) tests performed with a
nonwoven geotextile positioned on a rigid surface or on a geo-spreader. The experiments aimed to evaluate the influence
of geotextile deformation on the shear strength of the soil-textile interface. The tests were performed with a uniform
medium quartz sand and a nonwoven polypropylene geotextile, with or without the use of a high-density polyethylene
geospacer under the geotextile. The results indicated a lower soil-textile interface friction angle for the case using the
geospacer. In addition, the inclination-displacement response of the upper test box was significantly different between
the two conditions evaluated. The results highlight the possibility that estimates of sand-geotextile interface friction angle
may be underconservative for the case of geospacer use under a geotextile, when considering as friction angle the
inclination for a displacement of 50 mm, the validity of which needs to be discussed.

KEYWORDS: Incline Plane (ramp) Tests, Interface Shear Strength, Landfill Cover Systems, Geocomposites.

1 INTRODUÇÃO polimérica (geomembrana). Com um geotêxtil


cobrindo a face do núcleo que recebe a água, as
Os geocompostos drenantes têm sido amplamente funções filtração e separação para os materiais em
utilizados em obras de engenharia, notadamente contato com o geocomposto são asseguradas.
como sistemas de cobertura de aterros sanitários e em Diversas situações de emprego de geocompostos
taludes. Nestas duas aplicações, o geocomposto drenantes, como as duas previamente mencionadas,
drenante tem a forma de painéis ou folhas, sendo requerem estabilidade ao deslizamento na interface
constituído de um núcleo rígido de polímero solo-geocomposto ou próximo a ela. No caso da
estampado (geoespaçador) ou formado como uma interface, a resistência ao deslizamento depende dos
rede tridimensional (georrede). Neste último caso, o mecanismos de interação entre solo e geotêxtil, já que
da georrede, a barreira à percolação de fluidos na este último é o material que mantém contato com o
direção perpendicular ao plano do geocomposto é solo de cobertura.
assegurada pelo uso de uma barreira geossintética A interação solo-geotêxtil se dá em função dos

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


305
mecanismos de interação entre esses materiais, sendo determinação do ângulo mínimo que ocorre o
portanto, dependente das propriedades físicas e deslizamento entre os materiais. Esse ensaio
mecânicas dos solos (como tamanho das partículas, apresenta algumas vantagens em relação ao ensaio de
massa específica aparente e condutividade cisalhamento direto pois permite a realização sob
hidráulica), além das propriedades mecânicas, forma baixo nível de tensão normal, possibilitando a
e geometria dos geossintéticos (como orientação simulação de condições presentes em locais como
espacial do geossintético na estrutura geotécnica; margens de reservatórios, canais revestidos e
rigidez à tração do produto; rugosidade do produto; coberturas de aterro, além disso viabilizam a
tensões confinantes sobre o produto). Na análise do avaliação do deslocamento em função do ângulo de
comportamento mecânico da interface solo- inclinação, a caracterização de interfaces em fases
geossintético, alguns mecanismos podem ser estáticas, transitórias e de deslizamento (Lopes et al,
reconhecidos, como o cisalhamento ao longo do 2014; Pierozan et al., 2019; Pitanga et al., 2009). A
geossintético e o cisalhamento solo-solo. (Pierozan et Figura 1 apresenta um esquema do ensaio de plano
al., 2019; Baltazar, 2008). inclinado.
Os ensaios mais utilizados para a análise da Para a execução do ensaio utiliza-se, por exemplo,
interação solo-reforço são o ensaio de cisalhamento as instruções normativas presentes na norma ABNT
direto e o ensaio de cisalhamento em plano inclinado NBR ISO 12957-2 (ABNT, 2013). A aparelhagem
(Pierozan et al., 2019). No entanto, para o estudo de para o ensaio possui pequenas dimensões e permite a
interfaces sob baixas tensões normais (menores que execução de ensaios com interface solo-solo e solo-
25 kPa), como é o caso dos sistemas de coberturas de geossintético. Durante a realização do ensaio são
aterros sanitários e taludes, o ensaio de plano esperadas três categorias de resultado: i) ruptura
inclinado fornece resultados mais representativos abrupta – que ocorre com 1 mm a 2 mm de
(Giroud et al., 1990). deslocamento; ii) movimento lento – deslocamento
Mesmo sob baixas tensões confinantes, ambos até 7 mm antes da ruptura; e ii) atrito inicial diferente
geotêxtil e solo de cobertura podem deformar-se nas do atrito de ruptura – quando durante a elevação da
zonas sobre os vazios existentes entre as nervuras da rampa, a caixa permanece estática durante alguns
georrede ou entre as saliências do geoespaçador intervalos de inclinação (Gourc et al., 1996).
subjacente. Ao acompanhar a deformação do No que se refere ao comportamento de
geotêxtil, o solo de cobertura preenche as inúmeras deslizamento da caixa superior durante realização do
depressões formadas pela deformação do geotêxtil. ensaio, Reyes Ramirez et al. (2002) propuseram
Deste modo, essa nova configuração do solo na dividir o comportamento em três diferentes fases. Na
interface pode proporcionar um empuxo passivo primeira fase, a caixa superior praticamente não se
numa condição de deslocamento cisalhante na move enquanto que o ângulo do plano inclinado ()
interface, o que poderia resultar em um incremento aumenta até atingir um ângulo crítico 0. Na segunda
da resistência ao cisalhamento na interface solo- fase, quando o ângulo do plano inclinado é maior que
geotêxtil. No entanto, não há trabalhos na literatura 0, a caixa superior passa se mover gradualmente
que comprovem a hipótese de incremento de para baixo, com uma aceleração crescente. Na
resistência ao cisalhamento causado pela referida terceira e última fase, quando o plano atinge um
deformação do geotêxtil e solo. ângulo s, a caixa superior exibe um deslizamento
Para avaliar tal hipótese, o presente trabalho instabilizado de velocidade crescente e aceleração
apresenta os resultados de ensaios de cisalhamento constante.
em plano inclinado em dois diferentes cenários: o
primeiro explora a resistência ao cisalhamento da
interface solo-geotêxtil não-deformada; o segundo
examina a resistência ao cisalhamento da interface
solo-geotêxtil quando o geotêxtil é colocado sobre
um geoespaçador. O objetivo do estudo foi, portanto,
compreender a influência da deformação do reforço
nas características de atrito de interface.

2 ENSAIO EM PLANO INCLINADO

O ensaio de plano inclinado permite a caracterização Figura 1. Modelo caixa de ensaios NBR ISO 12957-2
da resistência de interface do solo-geossintético pela (2013).

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


306
Ao realizar-se o ensaio de cisalhamento em plano interface apresentados no presente trabalho podem
inclinado, através das medidas de deslocamento (u) estar de algum modo superestimados.
em função do ângulo, de acordo com a norma ABNT
NBR ISO 12957-2 (ABNT, 2013), determina-se a
tensão normal por meio das Equações 1 e 2, 3 MATERIAIS E MÉTODOS
considerando equilíbrio estático, na direção normal e
tangencial ao plano, respectivamente: 3.1 Solo

N = W∙cosβ50 (1) O presente trabalho utilizou uma areia média


quartzosa para a preparação dos corpos de prova.
N∙tgϕstan = W∙senβ50 (2) Para a determinação do tamanho de suas partículas
por peneiramento, foram seguidas as recomendações
sendo que N é a força normal de reação que equilibra presentes na norma ABNT NBR 7181 (ABNT,
a componente da força peso (W) da caixa superior 2018). Observou-se que 90% das partículas são
para 50 que é o ângulo de inclinação da caixa menores do que 0,5 mm e cerca de 90% são maiores
correspondente a um deslocamento de deslizamento do que 0,35 mm, sendo o diâmetro médio (d50) da
limite u = 50 mm. O ângulo de atrito da interface stan ordem de 0,4 mm. A Figura 2 apresenta a curva
é obtido pela combinação das duas equações, o que granulométrica do material utilizado.
resulta na igualdade tgstan = tg50.
No entanto, na fase 3 do ensaio, segundo Reyes
Ramirez et al. (2002), não há equilíbrio estático, uma 3.2 Geossintéticos
vez que a caixa superior encontra-se em velocidade
crescente de deslocamento e aceleração constante. A presente pesquisa utilizou um geoespaçador de
Para este caso, Carbone et al. (2018) apresentam as polietileno de alta densidade (PE-HD) e um geotêxtil
relações com base no equilíbrio dinâmico: não tecido de polipropileno (PP) com massa por
unidade de área de 300 g/m² e resistência à tração de
N = W∙cosβs (3) 14 kN/m na direção de fabricação e 16 kN/m na
transversal (os três valores são declarados pelo
N∙tgϕs = W∙senβs − W∙γc ∙g −1 (4) fabricante). O geotêxtil sempre foi utilizado em
contato com o solo de estudo (areia), posicionado
Ao invés do valor correspondente ao sobre uma base rígida ou, quando foi o caso, sobre o
deslocamento arbitrário de norma (stan), o ângulo de geoespaçador (e este então sobre a base rígida). Os
atrito de interface (s) será dado em função do ângulo corpos de prova de ambos os materiais foram
da inclinação que a caixa superior atinge na fase 3 cortados e preparados com dimensões que permitiam
(s), bem como a aceleração constante da caixa a fixação na base rígida e o escorregamento da caixa
superior de maneira que não houvesse deslocamento
superior durante a fase 3 (c), bem como a aceleração
do geotêxtil em relação à garra de fixação. A
da gravidade na Terra (g = 9,81 m/s²), conforme
superfície da base rígida é suficientemente rugosa
demonstrado na Equação 5. Sabendo-se que a
para garantir que não haja deslocamento entre o
interface já estaria na fase 3 para um deslocamento
geossintético e a base.
de deslizamento igual a 50 mm, a Equação 5
demonstra que a determinação do ângulo de atrito via
norma (Equações 1 e 2) tenderia a superestimar o 100%
Material passante em massa

ângulo de atrito.
80%
tgϕs = tgβs − γc ∙g −1 ∙(cosβs )−1 (5)
60%

Contudo, a determinação de s por meio da


40%
Equação 5 não é possível a partir de resultados de
ensaios com a aparelhagem padrão prevista na norma 20%
ABNT NBR ISO 12957-2 (ABNT, 2013), pois não é
previsto dispositivo para medida e registro contínuo 0%
de aceleração ou velocidade. Por ter utilizado a 0,01 0,1 1 10

aparelhagem padrão prevista em norma, a presente Tamanho da partícula (mm)


pesquisa não pôde determinar a parcela de aceleração Figura 2. Resultado de análise granulométrica por
na fase 3. Logo, os valores de ângulo de atrito de peneiramento.

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307
3.3 Procedimento experimental específica aparente seca (d) igual a 1,59 g/cm³, e não
menos que 50 mm, que é a altura mínima estabelecida
O ensaio de cisalhamento em plano inclinado foi em norma.
realizado com o equipamento do Laboratório de Após a compactação, uma placa rígida foi
Geossintéticos da Divisão de Engenharia Civil do posicionada sobre o topo do corpo de prova de areia
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) ilustrado e, então, um peso com ângulo padrão de 27° foi
na Figura 3. O equipamento possui uma caixa inferior sobreposto à placa para provocar uma tensão normal
que permite a execução de ensaios solo-solo. Pode-se de 5 kPa, o que corresponderia aproximadamente a
adaptar o equipamento para a realização do ensaio uma espessura de 30 cm de solo pouco compactado.
solo-geotêxtil. Para tal, uma base rígida de madeira O monitoramento do deslocamento foi realizado
foi sobreposta à caixa inferior, como pode ser por meio de uma fita métrica presa em uma haste e
observado na Figura 3c. acoplada à caixa, de maneira que ao decorrer do
Os ensaios foram realizados conforme a norma ensaio, a fita se deslocasse sob a régua, o que
ABNT NBR ISO 12957-2 (ABNT, 2013). O primeiro facilitaria a visualização do deslocamento. O
ensaio foi executado com o geotêxtil posicionado monitoramento do ângulo de inclinação da caixa foi
sobre base rígida (sem o uso do geoespaçador) e feito por meio de um aplicativo de celular com
fixado na cabeceira do equipamento, impedindo a exatidão de 0,1°. A Figura 4 mostra um detalhe da
movimentação durante a realização do ensaio. Após aparelhagem de ensaio.
a fixação do geotêxtil, uma caixa de madeira com Para a realização do ensaio com o conjunto
dimensões em planta de 300 mm  400 mm e geoespaçador+geossintético, foi posicionado o
profundidade de 70 mm, revestida interna e geoespaçador sobre a base rígida e, em seguida, o
externamente com adesivo plástico transparente para geotêxtil. Os procedimentos seguintes foram
a diminuição do atrito, foi colocada sobre o corpo de similares aos do caso sem geoespaçador. A Figura 5
prova de geotêxtil. Em seguida, a caixa foi mostra a aparelhagem de ensaio preparada para
preenchida com uma quantidade em massa pré- execução do ensaio com geoespaçador.
determinada de areia, de modo que a altura ocupada Ambos os tipos de ensaio foram executados com
pelo material após compactação vibratória atingisse a uma velocidade de elevação de 3  0,5 graus por
marca estabelecida para se obter uma massa minuto, com o critério de encerramento do ensaio
correspondendo a um deslocamento da caixa
preenchida com solo igual a 50 mm (ABNT, 2013).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a presente campanha experimental, dois ensaios


de cisalhamento de plano inclinado foram realizados
com o conjunto geotêxtil+areia (GTX+AR) e outros
dois com o conjunto geoespaçador+geotêxtil+areia
(GSP+GTX+AR). O propósito de utilizar o
geoespaçador sob o geotêxtil é avaliar se ocorreria
um incremento na resistência ao cisalhamento de

Figura 3. Equipamento de Cisalhamento em Plano


Inclinado: a) vista frontal; b) vista lateral; c) vista lateral
em detalhe. Figura 4. Preparação para a realização do ensaio

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308
(a)
50
GTX+AR(1)
40 GTX+AR(2)

GSP+GTX+AR(1)
30

u (mm)
GSP+GTX+AR(2)

20

10

0
0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
 (°)

(b)
Figura 5. Preparação para a realização do ensaio com 30
geoespaçador sob o geotêxtil. GTX+AR(1)

GTX+AR(2)
interface como resultado da deformação do geotêxtil 20 GSP+GTX+AR(1)
e, consequentemente do solo, sobre os vazios do

u (mm)
GSP+GTX+AR(2)
geoespaçador, o que poderia proporcionar uma
componente de resistência mecânica ao deslizamento
10
tangencial da interface.
A Figura 6a apresenta os resultados dos quatro
ensaios. Diferentemente do esperado, o ângulo de
inclinação da caixa ao final do ensaio (50) foi maior 0
20 24 28 32 36
para o caso sem geoespaçador (GTX+AR), com 50  (°)
médio igual a 35,4° para GTX+AR e igual a 31,7°
Figura 6. a) deslocamento da caixa superior (u) com o
para GSP+GTX+AR.
ângulo de inclinação (); b) detalhe dos deslocamentos na
O comportamento de final da fase 1 e início de transição entre fases 1 e 2.
fase 2 foi razoavelmente similar entre os ensaios, com
deslocamentos de mesma grandeza até ~7 mm, mas indica o risco de trabalhar com valores de ângulo
conforme mostrado na Figura 6b. Por outro lado, de atrito obtidos no trecho de aceleração do
observa-se que o comportamento em termos de deslizamento. Num projeto, considera-se em geral
deslocamento com a inclinação foi diferente para as um fator de segurança parcial na tangente do ângulo
duas condições de ensaio. Os ensaios com GTX+AR de atrito de interface de 1,3, o que indicaria um
apresentaram uma fase 2 com deslocamentos ângulo de atrito em projeto de 29o, mesmo que seja
gradualmente crescentes, que é um dos dois considerado o valor para 50 mm de deslocamento no
comportamentos descritos por Pitanga et al. (2009). ensaio apenas com o geotêxtil. Nesta condição, a
Já os ensaios com GSP+GTX+AR apresentaram um interface apresentaria margem de segurança
aumento abrupto do deslocamento da caixa superior, adequada. No entanto, para uma interface do tipo
não permitindo praticamente tempo algum para GSP+GTX+AR, o fator de segurança parcial seria
registro dos valores de deslocamento (outro reduzido para 1,08, a interface com o geoespaçador
comportamento descrito por Pitanga et al., 2009). caso não fosse ensaiada. Por segurança, portanto,
Estes ensaios apresentaram, portanto, uma condição seria prudente considerar o ângulo de atrito de
de deslizamento não estabilizado, tendo uma fase 2 interface antes da zona de aceleração do
muito limitada ou praticamente inexistente (0 ≈ s). deslizamento.
Para deslocamentos de até 7 mm, uma superfície Cabe também mencionar que foi observada
com mais relevo, como a formada pela presença do alguma penetração de partículas de solo nos vazios
geoespaçador, não apresentou diferenças entre as fibras do geotêxtil. Esse fenômeno indica que
significativas, provavelmente porque o geotêxtil já uma parcela da resistência ao cisalhamento de
garante uma condição de atrito de interface não interface pode ser originada do contato entre
inferior ao da areia empregada. O deslocamento da partículas, e não somente do contato entre as
caixa sobre uma zona com os vazios formados pela partículas de solo e as fibras do geotêxtil. Se a
penetração do geotêxtil nos espaços do geoespaçador quantidade de partículas que penetram for grande, a
produz o solapamento da areia e a queda abrupta da resistência ao cisalhamento pode passar a ser
resistência. Esta situação não ocorreria em campo, controlada pela resistência ao cisalhamento do solo,

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


309
uma vez que as partículas que penetram ficam REFERÊNCIAS
aprisionadas entre as fibras e impedidas de se
deslocar em um certo grau, condição que pode ser ABNT (2013). NBR ISO 12957-2: Geossintéticos –
observada em vários ensaios com geotêxteis não Determinação das características de atrito. Parte 2:
tecidos (Gomes, 1993). Ensaio de Plano Inclinado. Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 12.
ABNT (2018). NBR 7181: Solo – Análise
Granulométrica. Associação Brasileira de Normas
5 CONCLUSÃO Técnicas, Rio de Janeiro, p. 12.
Baltazar, P. M. R. (2008). Interfaces Solo-Geossintético
O presente trabalho apresentou uma investigação em Corte em Plano Inclinado. Dissertação de
sobre a influência da deformação de um geotêxtil não Mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade
tecido posicionado sobre um geoespaçador sobre a do Porto, 93p.
resistência ao cisalhamento da interface areia- Carbone, L.; Briançon, L.; Gourc, J. P.; Moraci, N.;
geotêxtil. Ensaios de cisalhamento de plano inclinado Carrubba, P. (2012). Geosynthetic interface friction
foram realizados em interfaces areia-geotêxtil em using Force Procedure at the Tilting Plane.
Proceedings 5th European Conference on
duas condições: com o geotêxtil posicionado sobre
Geosynthetics-Eurogeo, v. 5. p. 93-98.
uma superfície rígida (GTX+AR) e com o geotêxtil Giroud, J. P.; Swan, R. H.; Richer, P. J.; Spooner, P. R.
posicionado sobre um geoespaçador (1990). Geosynthetic LandfillCap: Laboratory and
(GSP+GTX+AR). O estudo realizado possibilitou Field Tests, Design and Construction. Proceedings 4th
obter as seguintes principais conclusões: International Conference on Geotextiles,
− Os ensaios com o conjunto GSP+GTX+AR Geomembranes and Related Products, Balkema, The
resultou em valores de ângulo de atrito de Hague, v. 2. p. 493-498.
interface ~10% menores em comparação com os Gomes, R. C. (1993). Interação solo-reforço e
ensaios com GTX+AR; mecanismos de ruptura em solos reforçados com
geotêxteis. Tese de Doutorado, Escola de Engenharia
− A menor resistência ao cisalhamento de interface de São Carlos, Universidade de São Paulo, 236p.
nos ensaios com GSP+GTX+AR pode estar Gourc, J. P.; Lalarakotoson, S.; Müller-Rochholz, H.;
relacionada com a redução local de compacidade Bronstein, Z. (1996). Friction measurement by direct
da areia na região em que o geotêxtil se deforma shearing or tilting process – development of a
sobre o vazio entre as protuberâncias do European standard. Proceedings of the 1st European
geoespaçador. Geosynthetics Conference (EUROGEO 1), Balkema,
− A resposta inclinação-deslocamento dos ensaios Rotterdam. v. 3. p. 1039-1046.
com GSP+GTX+AR foi significativamente Lopes, M. L.; Ferreira, F.; Carneiro, J. R.; Vieira, C. S.
diferente daquela dos ensaios GTX+AR, com a (2014). Soil–geosynthetic inclined plane shear
behavior: influence of soil moisture content and
primeira exigindo uma fase 2 praticamente
geosynthetic type. International Journal of
inexistente, com um deslizamento instável e Geotechnical Engineering, v. 8, n. 3, p. 335-342.
abrupto da caixa superior ao final dessa fase. Já os Pierozan, R. C.; Sánchez, N. P.; Araújo, G. L. S.; Palmeira,
ensaios com GTX+AR exibiram um deslizamento E. M. (2019). Avaliação da Interação Solo-
gradual de fase 2 e um início de fase 3 Geossintéticos por Meio de Ensaios de Arrancamento
(deslizamento instável) entre 24 mm e 29 mm de e de Plano Inclinado. Anais IX Congresso Brasileiro
deslocamento da caixa superior. de Geotecnia Ambiental e VIII
− É sempre importante ensaiar a interface na real Congresso Brasileiro de Geossintéticos
condição de emprego. (REGEOSSINTÉTICOS 2019), ABMS/IGS Brasil,
São Carlos. p. 575-582.
Pitanga, H. N.; Gourc, J. P.; Vilar, O. M. (2009). Interface
shear strength of geosynthetics: Evaluation and
AGRADECIMENTOS analysis of inclined plane tests. Geotextiles and
Geomembranes, v. 27, n. 6, p. 435-446.
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Reyes Ramirez, R.; Gourc, J. P.; Billet, P. (2002).
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Influence of the friction test conditions on the
pelo apoio financeiro concedido via Processo n° characterization of the geosynthetics interfaces.
435898/2018-3. O presente trabalho foi realizado Proceedings 7th International Conference on
com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Geosynthetics (7th ICG), Balkema, Nice. p. 22-27.
Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código
de Financiamento 001, o qual é apreciado pela
primeira autora.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


310
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Comportamento de filtro geotêxtil em solo internamente instável


sob confinamento
Dellane Stephani Carvalho dos Santos
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, stephanidscs@gmail.com

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: Solos internamente instáveis são particularmente problemáticos para filtros de obras geotécnicas. Assim, o
objetivo do presente trabalho foi avaliar o comportamento filtrante de geotêxtil não tecido com gramatura de 200 g/m²
submetido a gradientes hidráulicos de 1 e 10 sem e com confinamento (tensão vertical de 25 kPa). A pesquisa envolveu
o uso de areia uniforme, areia mais 10% ou 20% de solo fino. O filtro se encotrava sobre jacente a esferas de aço ou uma
placa perfurada como material de apoio a fim de se avaliar o comportamento do filtro sobre diferentes materiais drenantes,
simulando mais realisticamente as condições esperadas no campo. Foi utilizado o permeâmetro de carga constante
presente no Laboratório de Geotecnia da Universidade de Brasília. Os resultados obtidos mostraram que o aumento do
gradiente hidráulico reduziu em uma ordem de grandeza a permeabilidade do sistema solo-geotêxtil nos ensaios sem
pressão tanto com esferas de aço como com a placa perfurada subjacente ao geotêxtil. A aplicação da tensão vertical de
25 kPa provocou reduções adicionais na condutividade hidráulica dos sistemas solo-geotêxtil.

PALAVRAS-CHAVE: Filtração, Geotêxtil não tecido, Solos Internamente Instáveis.

ABSTRACT: Internally unstable soils are particularly problematic for filters of geotechnical structures. Hence, the
objective this work was to evaluate the behavior of a non-woven geotextile filter with a mass per unit area of 200 g/m²
subjected to hydraulic gradients of 1 and 10 under unconfined and confined (vertical stress of 25 kPa) conditions. The
research involved the use of a uniform sand and sand plus 10% or 20% of fine soil. The filter rested on steel spheres or
just a perforated plate in order to investigate its performance on different bedding materials, thus simulating more
realistically the expected conditions in the field. A constant head permeameter present in the Laboratory of Geotechnics,
at the University of Brasilia, was used in the tests. The results indicated that the increase in the hydraulic gradient reduced
the permeability of the soil-geotextile system by one order of magnitude in the tests without confinement, both with steel
spheres and perforated plate as bedding material. The vertical stress of 25 kPa further reduced the hydraulic conductivity
of the soil-geosynthetic systems.

KEY WORDS: Filtration, Nonwoven Geotextile, Internally Unstable Soils.

1 INTRODUÇÃO percentagens das frações fina e grossa são maiores


que a da fração média (Kenney & Lau, 1985). Assim,
Os filtros geossintéticos são empregados há décadas é necessário que o projeto de filtro atenda a critérios
em diversas atividades na engenharia geotécnica e essenciais, como o de retenção, para evitar a perda
para proteção ambiental. Pesquisas sobre o dos grãos e o desenvolvimento de uma erosão interna
comportamento filtrante e drenante de geossintéticos progressiva. Além disso, deve-se também atender ao
sob confinamento são importantes para poder ampliar critério de permeabilidade para impedir o surgimento
seu emprego em grandes obras de engenharia de excessos de poropressão no solo, o que pode
(Gardoni & Palmeira, 2002). instabilizar a obra.
A estabilidade interna de um material implica na Nos filtros convencionais, é colocada uma
não migração de suas partículas mais finas quando camada de transição entre o solo base e o filtro
submetidas a agentes perturbadores como o fluxo granular para impedir o carreamento de grãos. O
d’água. Caso contrário, o solo apresentará processo executivo é mais complicado pela
comportamento instável. Com isso, solos necessidade de construir camadas verticais de
internamente instáveis são materiais onde as materiais não coesivos em trincheiras drenantes, por

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311
exemplo. Assim, a ideia do filtro geotêxtil é substituir situações de campo podem provocar um entupimento
a camada de transição e atuar como um filtro para o parcial dos poros do geotêxtil tornando-o menos
solo base. permeável, dependendo do nível de impregnação (λ),
Os produtos sintéticos reúnem vantagens como definido como a razão entre a massa de partículas
possibilitar a utilização de solos inicialmente dentro do geotêxtil e a massa de fibras do geotêxtil.
considerados inadequados para obra; possuir Além disso, a capacidade de retenção do filtro
instalação fácil, rápida e de baixo custo; ocupar um geotêxtil aumenta devido à presença de partículas de
menor espaço e contribuir para um menor impacto solo aprisionadas nos seus vazios, e as condições para
ambiental, pois evita a exploração de regiões onde o sua colmatação se alteram em relação ao geotêxtil no
material natural seja escasso ou seu uso proibido por estado virgem (Palmeira, 2022).
razões ambientais. Dessa forma, é possível um maior Um filtro geotêxtil pode ser submetido a
controle de qualidade junto com o aumento da diferentes mecanismos de colmatação, e alguns
produtividade na obra (menores prazos de execução) desses mecanismos estão esquematizados na Figura
e menor impacto ambiental. 1.
Frischknecht et al. (2012) reportam que um filtro
geotêxtil pode reduzir em mais de 90% alguns
impactos ambientais em relação a filtros granulares,
tais como a acidificação, eutrofização, emissão de
gases que contribuem para o aquecimento global,
consumo de energia não renovável e renovável e
consumo de água.
Alguns dos fatores que influenciam no
comportamento filtrante são a compressão e a
impregnação do geotêxtil. A impregnação pode
ocorrer pela intrusão de partículas nos vazios do
geossintético e partículas aderidas aos seus
filamentos que bloqueiam o fluxo do líquido. Além
desses fatores, a passagem de veículos trafegando
direto sobre o geotêxtil, material inadequado
depositado sobre ele, possíveis vazios no contato
solo-filtro geotêxtil, mecanismos de colmatação
como cegamento, bloqueamento e colmatação física,
química e biológica também interferem no
desempenho dos filtros (Palmeira, 2018).
A compressão de um geotêxtil não tecido afeta o
seu coeficiente de permeabilidade e a sua abertura de
filtração. Em um geotêxtil não tecido específico, o
aumento da tensão vertical favorece uma diminuição
da sua porosidade (n), espessura (tGT) e abertura de
filtração (OF). A influência da compressão na Figura 1. Mecanismos de colmatação física de um
diminuição da abertura dos poros do geotêxtil não geotêxtil (Palmeira & Fannin, 2002).
tecido não é considerada pelos critérios de projeto de
filtro geotêxtil (Cazzuffi et al., 2015). Comumente, O cegamento (“blinding”) ocorre quando
são usados ensaios sem pressão para a definição da partículas do próprio solo-base são levadas pela água
sua abertura de filtração, e o dimensionamento do e se acumulam sobre o geotêxtil, formando uma
filtro geotêxtil é geralmente feito apenas camada de partículas muito pequenas e de baixa
comparando-se diâmetros dos grãos de solo com a permeabilidade. Assim, o geotêxtil pode estar
abertura de filtração do geotêxtil (Palmeira & Fannin, internamente limpo, mas essa camada de solo fino
2002). pode comprometer o desempenho do sistema. O
A intrusão de partículas de solo não coesivo nos mecanismo de cegamento é típico em solos
vazios do geotêxtil não tecido pode ocorrer, por internamente instáveis (Palmeira & Fannin, 2002).
exemplo, durante o espalhamento do solo sobre o O bloqueamento (“blocking”) ocorre quando os
geotêxtil ou a sua compactação, pois a vibração e grãos ocupam os poros por onde a água deveria
compressão podem fazer as partículas penetrarem passar. Isso pode ocorrer em geotêxteis do tipo
nos vazios do geotêxtil. Assim, quando o fluxo de tecido, onde a água passa por pontos discretos. Para
água começa, o filtro não estará limpo. Essas um geotêxtil não tecido, é improvável a ocorrência de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


312
bloqueamento, pois há várias formas, dimensões e nitrogênio conectado a uma interface óleo-gás que é
elevado número de poros na superfície do geotêxtil, ligada ao cilindro hidráulico de aplicação de carga
tornando estatisticamente muito improvável a sobre a amostra. Esse método de aplicação de pressão
ocorrência de bloqueamento (Palmeira & Fannin, foi utilizado nas pesquisas de Gardoni (2000) e Tatto
2002). (2010) e foi escolhido por permitir manter a tensão
A colmatação física ocorre quando muitos grãos do vertical sobre a amostra constante ao longo do tempo.
solo base penetram e se acumulam nos vazios do As cargas aplicadas pelo cilindro hidráulico são lidas
geotêxtil, dificultando a passagem da água. Na por meio de uma leitora conectada à célula de carga.
colmatação química, a precipitação de substâncias Foram realizados ensaios com areia média a fina
químicas pode colmatar o geotêxtil. Já na colmatação e a mesma areia mais 10% ou 20% de material fino
biológica, a proliferação de bactérias pode obtido do antigo campo experimental de Geotecnia
comprometer a passagem de líquido através do da UnB, com o objetivo de criar amostras com
geotêxtil (Palmeira & Fannin, 2002). comportamento internamente instável. A Figura 3
Em vista do exposto, o objetivo dessa pesquisa foi apresenta as curvas granulométricas das misturas
avaliar o comportamento de conjuntos geotêxtil- obtidas por sedimentação e peneiramento, sem
solos internamente instáveis sob condições de defloculante (SD), e a Tabela 1 dados
confinamento. As interações entre amostras de areia granulométricos dos materiais.
com diferentes porcentagens de solo fino (0, 10, 20
%) e um geotêxtil não tecido com gramatura de 200
110
g/m² foram analisadas sob gradientes hidráulicos 100
iguais a 1 e 10 e sob tensões verticais de 0 e 25 kPa. 90
Os materiais sob o geotêxtil foram uma placa 80
70
perfurada e as esferas de aço. Os ensaios foram
% Passante

60
realizados no Laboratório de Geotecnia da 50
Universidade de Brasília. 40
30
20
10
4 MATERIAIS E MÉTODOS 0
0,001 0,01 0,1 1 10
A presente pesquisa utilizou um equipamento Diâmetro das partículas (mm)
especial desenvolvido na pesquisa de Gardoni (2000) Areia + 10%, SD
para os ensaios de razão entre gradientes (“Gradient Areia + 20%, SD
Areia
Ratio Tests”). A Figura 2 mostra o permeâmetro
utilizado. Os testes foram realizados com tensões Figura 3. Granulometria dos materiais
verticais no topo da amostra iguais a 0 e 25 kPa e para
os gradientes hidráulicos (i) iguais a 1 e 10. Tabela 1. Características dos materiais
Areia Areia+10% Areia+20%
Coeficiente de 4,69 28,3 54,5
Uniformidade
Coeficiente de 1,5 7,28 3,4
Curvatura
Densidade dos 2,70 2,675 2,676
grãos (g/cm³)
d10 0,13 0,023 0,011
d15 0,18 0,1 0,14
d50 0,41 0,42 0,4

A preparação da amostra de areia foi feita por


meio da técnica de pluviação submersa (Vaid &
Negussey, 1988), enquanto na preparação das
amostras de misturas com solo fino utilizou-se a
técnica de deposição de lama ou “slurry method”
Figura 2. Permeâmetro de carga constante (Tatto, 2010). (Kuerbis & Vaid, 1988). Todos os corpos de prova
tinham 5 cm de altura e massa específica seca de 1,50
A tensão vertical foi aplicada com o auxílio de um g/cm³.
sistema de pressão consistindo de um cilindro de gás O filtro de geotêxtil não tecido, agulhado, de

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313
poliéster, com filamentos contínuos, possui uma
AREIA, i = 1
gramatura de 200 g/m², e suas propriedades

Permeabilidade (cm/s)
relevantes são apresentadas na Tabela 2. O material 1,E+00
drenante sob o filtro sintético foram esferas de aço
(arranjo hexagonal em planta, com contato entre
1,E-01
esferas), com 15 mm de diâmetro, ou uma placa
perfurada.
1,E-02

Tabela 2. Características do geotêxtil


1,E-03
Material Poliéster 0 10 20 30
Gramatura (g/m²) 200 Tempo (horas)
Espessura (mm) 1,9
Abertura de filtração O95 0,1
(mm)
Permeabilidade (cm/s) 0,3
Figura 4. Permeabilidade areia – geotêxtil no i = 1.

Para a utilização das esferas de aço foi feito um


molde com material de Etil Vinil Acetato (borracha De acordo com a Figura 5, para o gradiente
EVA) para organização das esferas na base do hidráulico de 10 e na ausência de tensão vertical, o
permeâmetro com espaçamento nulo entre si, o coeficiente de permeabilidade com esferas e placa
quelevou a uma área livre para passagem de água de perfurada foram semelhantes, exceto para o ensaio
7,06 cm² (9,75%). A placa perfurada usada tem 72,38 com i = 10 e 25 kPa. A aplicação da tensão vertical
cm² de área, 96 mm de diâmetro, com 112 orifícios de 25 kPa reduziu a permeabilidade do sistema.
de 2,8 mm de diâmetro, logo, uma a área livre para
passagem de água é 6,8 cm² (9,52%), próxima ao AREIA, i = 10
valor do conjunto de esferas. 1,E+00
Os gradientes hidráulicos utilizados nos ensaios
Permeabilidade (cm/s)

foram iguais a 1 e 10. O gradiente hidráulico de 10 1,E-01


foi também utilizado para favorecer o fenômeno de
sufusão em solos internamente instáveis. Além disso, 1,E-02
valores dessa ordem de grandeza podem ser
encontrados em certas regiões do corpo de barragens 1,E-03
de terra e em sistemas de proteção de taludes
1,E-04
costeiros (Giroud, 1996).
0 10 20 30
Tempo (horas)

5 RESULTADOS GNT200, PLACA, i=10, 25 kPa


GNT200, PLACA, i=10, 0 kPa
GNT200, ESFERA, i=10, 0 kPa
Com relação aos ensaios sem confinamento, a GNT200, ESFERA, i=10, 25 kPa
condutividade hidráulica da areia mais o geotêxtil
não tecido de 200 g/m² (GNT200), no gradiente Figura 5. Permeabilidade areia-geotêxtil no i = 10.
hidráulico (i) de 1 (Figura 4), apresentou maior
coeficiente de permeabilidade em relação ao ensaio No caso de misturas com 10% de material fino
com i = 10. Isso aconteceu tanto para os ensaios com (Figura 6), o ensaio com pressão e placa perfurada
esferas de aço como para os com placa perfurada. com gradiente de 10 apresentou menor coeficiente de
Isso pode ser devido à maior intensidade da força de permeabilidade (1,85 x 10-4 cm/s) e menor vazão em
percolação no caso de maiores gradientes relação ao ensaio sem pressão.
hidráulicos, compactando adicionalmente o solo
base.

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314
AREIA+10% FINOS, i = 10 AREIA+20% FINOS, i = 10
1,E+00
1,E+00
Permeabilidade (cm/s)

Permeabilidade (cm/s)
1,E-01
1,E-01

1,E-02 1,E-02

1,E-03 1,E-03

1,E-04 1,E-04
0 10 20 30
1,E-05
Tempo (horas)
0 10 20 30
AREIA+10%FINOS, GNT200, PLACA, i=10, 0 kPa Tempo (horas)
AREIA+10%FINOS, GNT200, ESFERA, i=10, 25 kPa
AREIA+10%FINOS, GNT200, PLACA, i=10, 25 kPa AREIA+20%FINOS, GNT200, PLACA, i=10, 0 kPa
AREIA+20%FINOS, GNT200, PLACA, i=10, 25 kPa
AREIA+20%FINOS, GNT200, ESFERA, i=10, 0kPa
Figura 6. Permeabilidade areia+10% de finos e i = 10.
AREIA+20%FINOS, GNT200, ESFERA, i=10, 25 kPa

A Figura 7 apresenta resultados para o gradiente Figura 8. Permeabilidade areia+20% solo fino no i = 10.
igual a 1 e ilustra a redução da permeabilidade do
sistema solo-geotêxtil, onde, com placa perfurada
com 0 kPa de tensão vertical, o coeficiente de
6 DISCUSSÕES
permeabilidade foi igual a 2,7 x 10-4 cm/s e sob
confinamento de 25 kPa caiu para 8 x 10-5 cm/s.
O tipo de material drenante sob o geotêxtil
influenciou na permeabilidade do conjunto solo-
geossintético, com e sem aplicação de tensão vertical.
AREIA+10% FINOS, i = 1 Isso foi mais observado na mistura com 10% de solo
1,0E+00
fino e gradiente de 10.
No ensaio com a mistura com 10% de solo fino, a
Permeabilidade (cm/s)

1,0E-01 permeabilidade do conjunto solo-geotêxtil diminuiu


1,0E-02 em uma ordem de grandeza em relação ao resultado
do sistema areia-filtro.
1,0E-03
A porcentagem de 20% de solo fino não mudou a
1,0E-04 ordem de grandeza para condutividade hidráulica do
1,0E-05 sistema com a elevação do gradiente de 1 para 10,
0 10 20 30 permanecendo em 10-4 cm/s na condição sem tensão
Tempo (horas) vertical. No entanto, para os resultados com o
gradiente de 10, o aumento da tensão vertical para 25
AREIA+10%FINOS, GNT200, ESFERA, i=1, 0 kPa kPa influenciou o coeficiente de permeabilidade do
AREIA+10%FINOS, GNT200, PLACA, i=1, 0 kPa
conjunto solo-filtro.
AREIA+10%FINOS,GNT200, PLACA, i=1, 25 kPa

7 CONCLUSÕES
Figura 7. Permeabilidade areia+10% de finos e i = 1.
Esse trabalho avaliou a permeabilidade de sistemas
solo – geotêxtil não tecido utilizando-se areia com
Nos experimentos com 20% de finos (Figura 8), o diferentes porcentagens de finos e com o filtro
confinamento de 25 kPa reduziu a permeabilidade do geotêxtil subjacente a diferentes materiais drenantes.
sistema nos ensaios com gradiente hidráulico igual a Observou-se que para todos os ensaios com ou
10. No caso da placa perfurada, o resultado inicial foi sem as esferas de aço abaixo do geotêxtil o
5 x 10-4 cm/s, e ao se submeter 25 kPa de tensão coeficiente de permeabilidade do conjunto solo-
vertical reduziu para 9 x 10-5 cm/s. geossintético permaneceu na mesma ordem de
grandeza. A aplicação da tensão vertical de 25 kPa
reduziu o coeficiente de permeabilidade dos três
sistemas solo-geotêxtil investigados.

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315
A presença das esferas de aço de 15 mm de Kuerbis, R. & Vaid, Y. P. (1988). Sand sample
diâmetro, com espaçamento nulo entre elas, preparation - the slurry deposition method. Soils and
subjacentes ao filtro geotêxtil, teve influência no Foundations, v.28, p.107-118.
coeficiente de permeabilidade do sistema, Palmeira, E.M. (2018). Geossintéticos em geotecnia e
meio ambiente. Editora Oficina de Textos, SP.
dependendo do gradiente hidráulico e do valor da
Palmeira, E. M. & Fannin, R.J. (2002). Soil-Geotextile
tensão vertical sobe o sistema. Compatibility In Filtration. 7th International
Conference on Geosynthetics (ICG), Nice, França, v.
AGRADECIMENTOS 3, p.853-870.
Tatto, J. (2010). Comportamento filtrante de geotêxteis
Os autores agradecem à Universidade de Brasília, ao não tecidos sob diferentes condições de apoio.
fabricante dos geotêxtil ensaiado e à CAPES pelo Dissertação de Mestrado, Programade Pós-Graduação
apoio à pesquisa. em Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil,
Universidade de Brasília, 200 p.
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Reconstituted Sand Spedmens. Advanced Triaxial
ABNT (2021). NBR ISO 10318: Geossintéticos: Parte 1: Testing of Soil and Rock, American Society for
Termos e definições. Associação Brasileira De Normas Testing and Materials, ASTM STP 977, Philadelphia,
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 9. p. 405-417.
Brito, A. F. S. (2020) Permeabilidade de sistemas Wu, C. S.; Hong, Y. S.; Yan, Y. W. & Chang, B. S. (2006).
compostos de resíduos de construção e demolição Soil-nonwoven geotextile filtration behavior under
reciclados (RCD-R) e geotêxteis não tecidos. contact with drainage materials. Geotextiles and
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação Geomembranes, v. 24, p. 1–10.
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Cazzuffi, S.; Ielo. D.; Mandaglio, M. C. & Moraci, N.
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Frischknecht, R.; Stucki, M.; Büsser, S.; Itten, R. (2012).
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Gardoni, M. G. & Palmeira, E. M. (2002). Microstructure
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granular filters. Canadian Geotechnical Journal, v. 22,
p. 215-225.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


316
Fazer as políticas públicas chegarem a quem mais precisa. É isso o que a FLEM tem feito na Bahia. São 25 anos de história desta
fundação que fomenta e desenvolve projetos visando a transformação social.

E os geossintéticos estão presentes nos projetos da FLEM que vem transformado a vida de milhares de baianos e baianas da zona
rural.

A criação de um programa de apoio • Solução sustentável para o saneamento de unidades


ao aproveitamento eficiente da água familiares e coletivas;
pluvial comunga com os Objetivos de • Funcionamento sustentável sem necessidade de água, de
Desenvolvimento Sustentáveis energia elétrica e de qualquer tipo de aditivo químico e material
(ODS) para acabar com a pobreza, de secagem (como pó de serra, cal ou similar);
proteger o meio ambiente e o clima e • Não contaminação de solo ou aqüíferos;
garantir que as pessoas, em todos os
• Redução significativa de massa do resíduo fecal e
lugares, possam desfrutar de paz e de
destinação adequada da urina;
prosperidade.
• Ausência de odores e poluição (no solo, ar ou água);
Nesta perspectiva, o Programa Mais Água Boa nasce como um • Geração de adubo higiênico e armazenável, para posterior
arcabouço importante para validar algumas estratégias no meio utilização em cultivos agrícolas;
rural (revitalização de cisternas, desinfecção solar de água e • Manutenção fácil, podendo ser realizada pelo usuário sem
instalação de filtros) e outras no meio urbano (instalação de necessidade de conhecimentos especiais e sem risco sanitário,
equipamento para aproveitamento e tratamento de águas sem necessidade de equipamento de proteção especial;
pluviais nos centros urbanos e instalação de sistemas de • Compartimento para lavagem das mãos;
infiltração - tanques subterrâneos). • Conforto térmico, com sistema de ventilação adequada.
Além destas, destacam-se outras características:
• Unidade pré-moldada com instalação rápida e fácil com
Instalação de 200 unidades da geomembrana (bolsão de PVC)
sistema de encaixe, sem necessidade de obra civil;
especializada para retenção de água em 8 municípios baianos.
• Fácil transporte em paletes;
Municípios: Caetité, Caculé, Ibiassucê, Palmas de Monte Alto, Pilão Arcado, Sento Sé, Campo Alegre de
Lourdes e Remanso.

Curaçá (25 Módulos instalados)


Umburanas ( 10 Módulos instalados)
Mirangaba (20 Módulos instalados)
Itambé (10 Módulos instalados)
Itapetininga (25 Módulos instalados)

A iniciativa irá realizar a instalação de filtros em casas do


semiárido baiano.

desenvolvido para ser instalado em tubos


de descida das calhas, totalmente viável
para sistemas que necessitam de uma
filtragem mais fina e que utilizam pequenos
reservatórios, como as cisternas de placa.

anos
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Emprego do ensaio CBR para avaliação da capacidade de suporte


de um solo arenoso tropical reforçado com geotêxteis
Marcela Giacometti de Avelar
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, Nova Venécia, Brasil,
mavelar@ifes.edu.br

Klaus Henrique de Paula Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaus.rodrigues@ufv.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, heraldopitanga@ufjf.br

Jefferson Lins da Silva


Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br

Taciano Oliveira da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, taciano.silva@ufv.br

RESUMO: Este estudo apresenta os resultados de uma série de ensaios destinados a investigar os parâmetros de resistên-
cia CBR (Índice de suporte Califórnia) de um solo tropical reforçado por diferentes tipos de geotêxteis. As amostras do
solo utilizado no estudo fazem parte do perfil desenvolvido de gnaisse e anfibolitos da região de Viçosa, Zona da Mata
mineira, sendo identificado como Solo VS e classificado de acordo com a metodologia MCT como de comportamento
não laterítico arenoso (NA’). Os geotêxteis foram identificados conforme a sua constituição estrutural e resistência à
tração nominal como: T55 (geotêxtil tecido biaxial, constituído de laminetes de polipropileno, com resistência à tração
nominal de 55 kN/m); T25 (geotêxtil tecido biaxial, constituído de laminetes de polipropileno, com resistência à tração
nominal de 25 kN/m); e NT10 (geotêxtil não tecido agulhado, fabricado com poliéster, com resistência à tração nominal
de 10 kN/m). A metodologia de investigação envolveu a realização de ensaios Proctor Normal para a determinação dos
parâmetros ótimos de compactação do Solo VS, seguidos de ensaios CBR nas amostras não reforçadas (cenário de refe-
rência) e reforçadas, com as inclusões geossintéticas posicionadas à 1/2 e à 1/4 do topo dos corpos de prova, compactadas
na umidade ótima da referida energia. Como principal contribuição da pesquisa, conclui-se que, devido às reduzidas
dimensões do molde padrão, o ensaio CBR pode não ser o procedimento mais adequado para a avaliação da capacidade
de suporte de solos reforçados por geotêxteis.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de Laboratório, Solo Reforçado por Geotêxtil, CBR, Dimensões do Corpo de Prova.

ABSTRACT: This study presents the results of a series of tests aimed at investigating the CBR (California Bearing Ratio)
of a tropical soil reinforced by different types of geotextiles. The soil samples used in the study are part of the developed
profile of gneiss and amphibolites from the Viçosa region, Zona da Mata in Minas Gerais, being identified as Soil VS and
classified according to the MCT methodology as having a non-lateritic sandy behavior (NA'). The geotextiles were iden-
tified according to their structural constitution and nominal tensile strength as: T55 (biaxial woven geotextile, made of
polypropylene, with nominal tensile strength of 55 kN/m); T25 (biaxial woven geotextile, made of polypropylene, with
nominal tensile strength of 25 kN/m); and NT10 (needled non-woven geotextile, made of polyester, with a nominal tensile
strength of 10 kN/m). The research methodology involved carrying out Standard Proctor test to determine the optimal
soil compaction parameters, followed by CBR tests on the unreinforced and reinforced samples, with the geosynthetic
inclusions positioned at 1/2 and at 1/4 of the top of the specimens, compacted at the optimum water content. It is concluded
that, due to the reduced dimensions of the standard mold, the CBR test may not be the most appropriate procedure for
evaluating the bearing capacity of soils reinforced by geotextiles.

KEY WORDS: Laboratory Test; Soil Reinforced by Geotextile; California Bearing Ratio; Specimen Dimensions.

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317
1 INTRODUÇÃO geotêxteis

1.1 Considerações gerais Geralmente, o emprego de um geotêxtil como


material de reforço tem o objetivo principal de
Na atualidade, os geossintéticos destacam-se por promover uma melhoria considerável da capacidade
serem um dos produtos industrializados mais de suporte do subleito, quando este é constituido de
versáteis da construção civil. Dentre a grande um solo com má qualidade geotécnica, por meio da
variedade destes materiais disponíveis no mercado, distribuição das tensões transmitidas pela camada de
os geotêxteis são os que possuem uma vasta gama de solo compactado sobrejacente ao solo de fundação.
aplicações em toda a engenharia, não somente No entanto, para que tal beneficio ocorra, é
geotécnica, como também em outras áreas, como a necessário o desenvolvimento de três importantes
rodoviária e a hidráulica (Latha & Somwanshi, 2009; mecanismos de interação entre o reforço e o material
Koerner, 2012; Kumar & Rajkumar, 2012; do subleito (Figura 1), como relatam as pesquisas de
Chakravarthi & Jyotshna, 2013; Liu & Won, 2014; Giroud & Noray (1981), Haliburton et al. (1981),
Pei & Yang, 2018). Giroud et al. (1985), Perkins & Ismeik (1997), Holtz
Em muitos projetos rodoviários, a incorporação et al. (1998), Giroud (2009) e Zornberg (2013).
de um geotêxtil pode ser uma alternativa para suprir
os problemas encontrados quando o subleito é
constituído por um solo de baixa capacidade de
suporte e em situações nas quais a remoção e/ou
substituição tanto do solo de fundação quanto do
material de aterro são opções pouco viáveis dos
pontos de vista econômico e ambiental (Moayed &
Nazari, 2011; Choudhary et al., 2011; Kumar & Devi,
2011; Abdi & Arjomand, 2011; Singh & Gill, 2012).
O uso combinado do solo compactado, que possui
a característica de elevada resistência à compressão,
com o material geossintético, que apresenta alta
resistência à tração, contribui para a melhoria do (a) aumento da capacidade de suporte
desempenho mecânico do subleito e do pavimento
nele asentado (Floss & Gold, 1994; Meyer & Elias,
1999; Huntington & Ksaibati, 2000), permitindo-se a
redução das camadas de aterro e/ou estruturais
(Martin, 1988; Miura et al., 1990; Cancelli &
Montanelli, 1999; Bloise & Ucciardo, 2000;
Huntington & Ksaibati, 2000; Jenner & Paul, 2000)
e o prolongamento da vida útil do pavimento (Collin
et al.,1996; Cancelli & Montanelli, 1999; Jenner &
Paul, 2000; Watts et al., 2004).
Ressalta-se que este benefício é particularmente (b) efeito membrana tracionada
interessante, sob a perspectiva dos projetos de
engenharia rodoviária, em regiões que carecem de
materiais geológicos com características mecânicas
satisfatórias para aplicação nos aterros e nas camadas
dos pavimentos (Sarsby, 2007; Rawal &
Anaandjiwala, 2007; Chauhan, 2008).
A atuação dos geossintéticos como elemento de
reforço em estradas depende fundamentalmente da
qualidade do subleito, do material e da espessura da
camada de aterro ou estrutural (sub-base e base, por
exemplo), da localização da inclusão dentro do solo (c) confinamento lateral
(Chan et al., 1989), das propriedades do material de Figura 1. Mecanismos de reforço de subleito por geotêxtil
reforço (Perkins, 1999), da magnitude da carga (adaptado de Haliburton et al.,1981).
aplicada e da natureza da interação entre os materiais
envolvidos (Ghosh & Madhav, 1994). No primeiro mecanismo de reforço (Figura
1a), a inclusão do geossintético é responsável por
1.2 Mecanismos de reforço de subleito por aumentar a resistência do solo de aterro, afastando

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


318
potenciais superfícies de ruptura da camada de 1.3 Objetivos
fundação. O geotêxtil, com maior resistência à tração
que o solo, intercepta o plano de falha, forçando o seu Este estudo apresenta os resultados de uma série de
deslocamento para uma posição mais superficial, e ensaios CBR (Índice de suporte Caifórnia segundo as
suporta parte das tensões cisalhantes oriundas do normativas brasileiras) realizados com o objetivo de
tráfego, de modo a reduzir, simultaneamente, a investigar a influência da estrutura de diferentes tipos
intensidade do carregamento vertical que chega ao de geotêxteis e da posição de inserção destes
subleito (Holtz et al., 1998). geotêxteis na interação entre um solo tropical de
O segundo mecanismo de reforço (Figura 1b) comportamento não laterítico e os referidos
permite a transferência dos esforços provocados geossintéticos.
pelas solicitações de tráfego por intermédio do efeito
de membrana tracionada. Devido à sua rigidez, o 2 MATERIAIS E MÉTODOS
geotêxtil pode exercer uma força ascendente
imediatamente abaixo da zona de carregamento e 2.1 Materiais
assumir uma configuração côncava, ficando sob
tensão (Perkins et al., 1999). 2.1.1 Solo
Isto acontece porque as tensões normais
aplicadas ao reforço na sua face superior pelo solo do O solo considerado neste estudo faz parte de um
aterro são maiores que as tensões de reação verticais perfil desenvolvido de gnaisse e anfibolitos,
impostas à face inferior do material pelo solo de correspondendo a uma ocorrência de grande
fundação. Com esta nova configuração, o relevância na microrregião de Viçosa, município de
geossintético contribui para aumentar a capacidade Minas Gerais, sendo identificado como Solo VS. A
de suporte do sistema estrutural, em função da amostra do Solo VS foi coletada no horizonte C de
diferença nos níveis de tensão observados nos dois um talude localizado dentro do campus Viçosa da
lados do reforço, resultante do efeito membrana deste Universidade Federal de Viçosa (UFV), nas
material (Giroud & Noray, 1981; Houlsby & Jewell, proximidades da Vila Secundino, com coordenadas
1990). geográficas de Latitude 20º45’47.82” S e Longitude
O último mecanismo de reforço (Figura 1c) 42º51’29.76” O. Trata-se de um solo residual jovem
consiste no confinamento lateral do solo de aterro (saprolítico), de coloração acinzentada, sendo
provocado pelo geossintético. Quando cargas classificado pedologicamente como Argissolo
verticais são aplicadas na superfície do pavimento, as Câmbico e texturalmente como areia fina siltosa com
partículas do material de aterro tendem a espalhar-se um pouco de argila [NBR 6502 (ABNT, 1995)]. Nos
nos sentidos vertical e horizontal abaixo da zona de sistemas tradicionais de classificações rodoviárias, o
solicitação, conduzindo a deformações permanentes Solo VS se enquadra nos grupos A-4 (4), de acordo
na camada de aterro. No entanto, este movimento com o Transportation Research Board -TRB [M 145
pode ser contrariado com a introdução de uma ou - 91 (AASHTO, 2008)], e ML, conforme o Sistema
várias camadas de geossintético em razão da Unificado de Classificação dos Solos - SUCS [D
mobilização do atrito gerada pelo intertravamento 2487 - 11 (ASTM, 2011)]. De acordo com a
entre as interfaces aterro-reforço e subleito-reforço, metodologia MCT [CLA 259 (DNER, 1996), ME
contribuindo para o confinamento lateral das 258 (DNER, 1994a) e ME 256 (DNER, 1994b)], o
camadas de solo (Floss & Gold, 1994; Perkins, 1999; Solo VS é identificado como um solo não laterítico
Meyer & Elias, 1999). arenoso (NA’).
Adicionalmente, alguns autores, como Love et
al. (1987) e Perkins (1999), relatam a existência de 2.1.2 Geossintéticos
um quarto mecanismo de reforço, que resulta em uma
redução das tensões cisalhantes que chegam ao Para a avaliação dos parâmetros de resistência CBR
subleito. Os referidos autores demonstraram, por dos sistemas solo-geossintético investigados, foram
meio de ensaios usando carregamento monotônico, utilizados dois geotêxteis tecidos biaxiais
que as tensões horizontais transmitidas pelas constituídos de laminetes de polipropileno (Figura
solicitações do tráfego na base (ou na camada de 2a, 2b), sendo referenciados neste estudo por meio
aterro) e no solo de fundação decrescem à medida que das siglas T55 e T25, e um geotêxtil não tecido
o reforço é mobilizado na sua resistência à tração. agulhado (Figura 2c) de poliéster, representado pela
Menores tensões cisalhantes, concomitantemente sigla NT10.
com menores tensões verticais, resultam em um
estado de carregamento menor que implica em
menores deformações verticais do subleito.

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319
como preconiza a referida norma, mantendo-se,
evidentemente, a mesma energia total de
compactação empregada nos solos.
Os geotêxteis foram cortados no diâmetro do
cilindro CBR e inseridos entre as camadas
compactadas em duas configurações distintas: após a
segunda camada compactada (Figura 3b), isto é, no
meio da altura H do corpo de prova (posição H/2), e
após a terceira camada compactada (Figura 3c),
localizado à ¼ do topo do corpo de prova (posição
H/4).
(a) (b) (c)
Figura 2. Geotêxteis tecidos (a, b) e não-tecido (c) em-
pregados na pesquisa.

As principais propriedades desses materiais


são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Propriedades dos geotêxteis empregados na


pesquisa.
Propriedade T55 T25 NT10
Espessura nominal (e), mm* 0,93 0,66 1,99
Massa por unidade de área, 244 117 210 (a) (b) (c)
g/m2* Figura 3. Representação esquemática da compactação dos
Resistência à tração nominal 55 25 10 CPs para os ensaios CBR: (a) CP sem reforço; (b) CP
(longitudinal), kN/m ** reforçado à H/2; CP reforçado à H/4.
Resistência à tração nominal 55 25 9
(transversal), kN/m ** 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Deformação na resistência no- ≤ ≤ 15 > 50
minal (longitudinal), %** 15
A Tabela 2 apresenta os resultados da umidade de
Deformação na resistência no- ≤ ≤ 15 > 50
minal (transversal), %** 15 compactação (w), do peso específico seco (d) e do
Abertura aparente dos poros, 0,20 0,25 0,13 Índice de suporte Califòrnia (ISC) dos sistemas
O90, mm** investigados (solo e solo-geotêxtil), considerando-se
* Ensaios realizados no Laboratório de Geossintéticos da a média, o desvio padrão (DP) e o coeficiente de
Escola de Engenharia de São Carlos/ EESC-USP; **Da- variação (CV). Ressalta-se que os parâmetros de
dos fornecidos pelos fabricantes. ótimo da compactação Proctor Normal do Solo VS
corresponderam a Wót=14,04% e dmáx =17,63 kN/m3.
2.2 Métodos Na Figura 4 são apresentados especificamente os
resultados de ISC dos sistemas investigados.
2.2.1 Ensaio de compactação Os resultados evidenciam que, para as
particularidades da pesquisa, não houve aumento da
Para determinar os parâmetros de ótimo de resistência ISC do solo com a inserção do geotêxtil,
compactação (teor ótimo de umidade – Wót e peso independentemente de seu tipo e de sua posição de
específico aparente seco máximo - dmáx) do Solo VS, inserção. Várias pesquisas apontam para as
na energia correspondente ao Proctor Normal, foram limitações dessa modalidade de ensaio no que
adotados os procedimentos prescritos pela NBR 7182 concerne à sua capacidade de mobilizar o efeito de
(ABNT, 2016a). reforço promovido por geossintéticos.
Naeini & Mirzaklanlari (2008) ressaltam que as
2.2.2 Ensaios CBR (Índice de suporte Califórnia) reduzidas dimensões do molde CBR limitam a
largura dos geossintéticos, restringindo o
Para os parâmetros de ótimo da curva de desenvolvimento dos mecanismos de reforço. Gor et
compactação Proctor Normal do Solo VS, foram al. (2013) afirmam que as dimensões do corpo de
realizados os ensaios CBR (Índice de suporte prova CBR (Figura 5) limitam o espraiamento das
Califórnia), seguindo as prescrições da NBR 9895 tensões verticais, o qual caracteriza o efeito do
(ABNT, 2016b). Tanto os corpos de prova (CP) sem reforço no interior do solo nas condições reais de
inclusões como os reforçados foram compactados em campo.
quatro camadas (Figura 3a), e não em cinco camadas

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320
Tabela 2. Dados dos CPs submetidos aos ensaios CBR. o aumento do ângulo  de espraiamento das tensões
Posição
Sistema do Estatística
w d
ISC (%)
verticais devidas a um carregamento externo no
(%) (kN/m3) contexto de reforço do solo por um geossintético
reforço
Média (%) 13,67 17,55 13,0 (Figura 6), o que é impedido no caso do ensaio CBR.
Solo - DP 0,19 4,78 0,6
CV (%) 1,42 0,27 4,3
Média (%) 13,52 17,35 11,4
H/2 DP 0,06 0,1 0,9
CV (%) 0,41 0,6 7,6
Solo-T55
Média (%) 13,51 17,27 9,8
Figura 6. Ângulo  de espraiamento de tensões verticais
H/4 DP 0,09 0,1 0,4 devidas a um carregamento externo (Avelar, 2020).
CV (%) 0,67 0,57 3,6
Média (%) 13,5 16,96 9,3
Segundo Douglas & Kelly (1986), o comprimento
de ancoragem disponível para que o geotêxtil exerça
H/2 DP 0,07 0,04 0,6
seu papel de reforço é aquele que ocorre fora da área
CV (%) 0,49 0,24 6,1 carregada (Figura 7). Devido a isto, a largura do
Solo-T25
Média (%) 13,54 17,01 7,5 reforço deve ser suficientemente maior que a largura
H/4 DP 0,09 0,1 0,7 da fundação para que as porções de ancoragem, fora
da zona de solicitação, possam resistir aos
CV (%) 0,7 0,57 9,7
deslocamentos da área imediatamente abaixo da
Média (%) 13,77 16,85 7,8 aplicação das cargas.
H/2 DP 0,07 0,16 0,7
CV (%) 0,48 0,98 9,6
Solo-NT10
Média (%) 13,87 16,93 7,6
H/4 DP 0,14 0,02 0,3
CV (%) 1,01 0,13 4,5

14,0
12,0 Figura 7. Esquema do modelo teórico do mecanismo de
10,0
ancoragem do geotêxtil (adaptado de Douglas & Kelly,
ISC (%)

8,0
6,0 1986).
4,0
2,0
0,0 Alguns autores presumem que, durante o ensaio
CBR, o elemento de reforço não se encontra ancorado
lateralmente pelas camadas superior e inferior de solo
compactado, tratando-se antes de um elemento
axialmente rígido em movimento dentro do corpo de
Figura 4. ISC dos sistemas investigados na pesquisa. prova. Assim, o solo solicitado (acima do geotêxtil)
pela carga aplicada pelo pistão empurra o geotêxtil,
que não se encontra preso nas bordas (fora da área de
solicitação), para dentro da camada de solo abaixo do
reforço, ao mesmo tempo em que as tensões verticais
impostas pelo carregamento arrastam as bordas do
material para o centro (Jarrett & Bathurst, 1985;
Douglas & Kelly, 1986; Bourdeau et al., 1988).

4 CONCLUSÃO

Para as particularidades da presente pesquisa,


Figura 5. Dimensões envolvidas no ensaio CBR (adaptado
conclui-se que o ensaio CBR não se mostrou
de ABNT, 2016b).
adequado para avaliar a mobilização dos mecanismos
responsáveis pelo incremento da capacidade de
Giroud et al. (1985) e Burd (2006) apontam para
suporte do solo arenoso não laterítico investigado

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321
quando reforçado por diferentes tipos de geotêxteis Noordwijkerhout, Netherlands.
inseridos em diferentes posições. Os resultados Cancelli, A.; Montanelli, F. (1999). In-ground test for
corroboram pesquisas similares que apontaram as geosynthetic reinforced flexible paved roads.
condições de contorno características deste ensaio Geosynthetics Conference, v. 2, p. 863–878. Boston,
USA.
como fatores limitantes para a referida mobilização.
Chakravarthi, V.K.; Jyotshna, B. (2013). Efficacy
Os valores de ISC obtidos para os sistemas solo- overlying coarse aggregate and geosynthetic separator
reforço pesquisados mostraram-se condicionados on CBR value for soft subgrade of varying plasticity –
pelas reduzidas dimensões do cilindro CBR padrão, a lab study. International Journal of Research in
que não permitem a efetiva ancoragem dos geotêxteis Engineering Technology, v.2, n.12, p. 749-755.
dentro dos corpos de prova. Diante disso, infere-se Chan, F.; Barksdale, R.D.; Brown, S.F., (1989). Aggregate
que o ensaio CBR, conforme feito nesta pesquisa, não base reinforcement of surfaced pavements. Geotextiles
é o procedimento mais adequado para avaliar a and Geomembranes, v. 8, n.3, p. 165–189.
capacidade de suporte de solos com inclusões Chauhan, M.S. (2008). Performance evaluation of silty
geossintéticas, por não refletir as condições reais dos sand subgrade reinforced with fly ash and fiber.
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Choudhary, A.K.; Gill, K.S.; Jha, J.N. (2011) Improvement
reforçadas de um pavimento. in CBR of expansive soil subgrades using
geosynthetics. Proceedings of Indian Geotechnical
AGRADECIMENTOS Conference. Paper n. J-233.
Collin, J.G.; Kinney, T.C.; Fu, X. (1996). Full scale
Os autores agradecem à FAPEMIG, à Faculdade de highway load test of flexible pavement systems with
Engenharia da UFJF e ao Instituto Federal do Espírito geogrid reinforced base courses. Geosynthetics
Santo - Campus Nova Venécia pelo apoio à pesquisa. International, v. 3, n. 4, p. 537–549.
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


323
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Revisão Crítica da Utilização da Espectrofotometria para a


Caracterização de Geossintéticos
José Luiz Ernandes Dias Filho
Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, jlernandes@hotmail.com

Elias Socrates Nascimento da Cruz Junior


Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, Brasil,
elias.s.junior88@gmail.com

Paulo Cesar de Almeida Maia


Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, Brasil,
maia@uenf.br

RESUMO: Aplicações com geossintéticos abrangem diverso tipos de obras de engenharia e, conforme o projeto, há
grande variação das funções desses materiais, bem como sua suscetibilidade à degradação. Dessa forma, para realizar o
dimensionamento dessas estruturas, são necessários estudos de durabilidade. A avaliação dessa propriedade, por sua vez,
requer tempo por exposição do material no campo - nas condições de aplicação em obra, ou utilização de equipamentos
específicos para ensaios acelerados em laboratório. Sendo assim, este artigo tem como finalidade propor mais a utilização
do ensaio de espectrofotometria para avaliar os níveis de degradação de forma rápida e sem prejuízo a obra, por meio da
exumação de material no campo. Para isso, são apresentadas as principais características desse tipo de ensaio não
destrutivo em geossintéticos e discussão com alguns dos trabalhos que se utilizam dessa ferramenta. Pretende-difundir a
técnica por meio dos principais trabalhos presentes na literatura e orientações para futuros estudos com utilização da
espectrofotometria. Com isso, será possível entender melhor o comportamento dos geossintéticos aplicados in loco e
garantir rigoroso controle de qualidade em qualquer etapa de realização dos projetos de engenharia com este material. Os
resultados das principais experiências apresentadas na literatura técnica mostram como as características intrínsecas dos
materiais têm um papel importante no desempenho do projeto. Por fim, é sabido que a técnica é promissora, bem como o
fato de entender melhor o ensaio, aplicações e as propriedades de desempenho com o uso de geossintéticos, que são de
grande interesse em dimensionamento de obras de engenharia.

PALAVRAS-CHAVE: Espectrofotometria, Caracterização, Geossintéticos.

ABSTRACT: Applications with geosynthetics cover different types of engineering works and, depending on the project,
there is a wide variation in the functions of these materials, as well as their susceptibility to degradation. Thus, in order
to carry out the design of these structures, durability studies are necessary. The evaluation of this property, in turn, requires
time for exposure of the material in the field - under the conditions of application on site, or the use of specific equipment
for accelerated tests in the laboratory. Therefore, this paper aims to further propose the use of the spectrophotometry test
to assess the levels of degradation quickly and without damage to the work, through the exhumation of material in the
field. For this, the main characteristics of this type of non-destructive testing in geosynthetics are presented and discussion
with some of the works that use this tool. It intends to disseminate the technique through the main works present in the
literature and guidelines for future studies using spectrophotometry. With this, it will be possible to better understand the
behavior of geosynthetics applied in loco and to ensure strict quality control at any stage of engineering projects with this
material. The results of the main experiences presented in the technical literature show how the intrinsic characteristics
of the materials play an important role in the performance of the project. Finally, it is known that the technique is
promising, as well as the fact of better understanding the test, applications and performance properties with the use of
geosynthetics, which are of great interest in the design of engineering works.

KEY WORDS: Spectrophotometry, characterization, geosynthetics.

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324
1 INTRODUÇÃO física e química são os mais observados (Dias Filho
et al., 2019). A degradação física pode ser
De acordo com o capítulo brasileiro da Sociedade caracterizada pela fragmentação dos materiais em
Internacional de Geossintéticos (IGS Brasil, 2023), virtude de agentes mecânicos, sem que ocorra
os geossintéticos são materiais poliméricos, variação química, e a degradação química provoca
sintéticos ou naturais. Apresentam-se na forma de modificações na composição química do material,
manta, tira ou estrutura tridimensional, e são preferencialmente, em meios úmidos.
utilizados em contato com o solo ou com outros À vista disso, este artigo tem por finalidade a
materiais em aplicações da engenharia civil, apresentação, de forma mais detalhada, o ensaio de
geotécnica e ambiental. Por sua versatilidade, os espectrofotometria em geossintéticos, como uma
geossintéticos permitem aos fabricantes forma de caracterizar esses materiais, os quais podem
disponibilizar continuamente novos produtos, com ser exumados em pequenas amostras. Além disso,
propriedades específicas que melhor atendam às serão apresentados alguns dos principais trabalhos
necessidades de cada projeto. Este material possui que se utilizam dessa ferramenta.
uma das tecnologias mais avançadas mundialmente,
uma vez que, há um processo contínuo de melhora do
desempenho dos produtos existentes, baseado em 2 ESPECTROFOTOMETRIA
pesquisas e na observação do comportamento do
geossintético na obra. A utilização da espectrofotometria tem se mostrado
Os geossintéticos já vêm sendo amplamente uma alternativa para a caracterização de
aplicados em diversas obras de construção civil. geossintéticos após degradação. Valente et al. (2010),
Segundo Touze-Foltz et al. (2020), as principais Carneiro & Lopes (2017), Dias Filho et al. (2019),
razões de seu uso em grande escala com o passar do Leshchinsky et al. (2020) e Carneiro & Lopes (2022)
tempo incluem suas vantagens, que são: rapidez e analisam o espectro e o comprimento de onda da
simplicidade de aplicação, baixo impacto ambiental fonte de luz, procedimento utilizado em corpos de
e matéria prima em grande escala. Por isso, esse prova de pequeno porte na ordem de 4 cm², valor
material torna-se uma excelente alternativa aos abaixo do mínimo para a realização de cinco ensaios
materiais de construção tradicionais. de tração em largura equivalente a 3000 cm².
A literatura fornece poucas informações sobre a Portanto, para análise da durabilidade de amostras de
degradação de geossintéticos em obras civis. No geossintéticos exumados torna-se um procedimento
entanto, Raymond (1999) apresenta um estudo prático e sem prejuízo ao projeto.
mostrando as variações do comportamento dos Com a espectrofotometria ultravioleta-visível é
geossintéticos ao longo do tempo. Segundo possível determinar a capacidade de um material
Abramento (1995a; 1995b), a durabilidade dos absorver comprimentos de onda entre 200 e 800 nm
geossintéticos em obras civis pode ser avaliada pela que compõem o espectro ultravioleta (UV) e a faixa
exumação do material para avaliar seu desempenho visível para a fonte natural mais comum de radiação,
após o uso, simulações de laboratório e métodos de o sol, ou artificialmente por lâmpadas. Esses
avaliação de durabilidade. comprimentos de onda são classificados como UVC,
Conhecer as características dos geossintéticos UVB, UVA e visível. O UVC de comprimento de
aplicados em determinada construção é de suma onda curto cobre a faixa de 100 a 280 nm. UVB de
importância. A durabilidade desse material contra os comprimento de onda médio varia de 280 a 315 nm e
agentes de degradação é uma questão relevante a ser relativamente UVA de comprimento de onda longo
considerada para analisar o ciclo de vida e relevância cai entre 315 e 400 nm. o visível espectro tem
para a sua aplicação. Luz solar, altas temperaturas, comprimentos de onda na faixa de 400-780 nm e
ambientes com pH ácido ou alcalino e a presença de infravermelho a luz tem comprimentos de onda
água são alguns dos principais agentes de degradação maiores do que a luz visível (ver Figura 1). Suits &
dos materiais poliméricos. (Guimarães et al., 2015). Hsuan (2003), Yang & Ding (2006), Azuma et al.
Apesar de serem projetado para resistir gerações, (2009), Carneiro & Lopes (2017), por exemplo,
os geossintéticos estão susceptíveis a degradação e mostram a importância de avaliar a absorção desse
ações antrópicas. O estudo da degradação é espectro de luz ao longo da vida útil do material como
empregado na obtenção de informações sobre o mecanismo para avaliar a durabilidade do
comportamento a longo prazo devido a esses geossintético.
possíveis problemas. O espectrofotômetro infravermelho, usado para
Os mecanismos de degradação dependem do tipo identificar a estrutura, produz comprimentos de onda
de material e do meio ambiente de exposição. Para os na faixa espectral de 500-4000 nm, que pode ser
materiais geossintéticos, os mecanismos de natureza visualizada pela Figura 1. Para um determinado

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325
Figura 1. Visualização do comprimento de onda conforme o tipo de radiação.

comprimento de onda, a resposta de transmitância


indica a mudança nas ligações devido à
fotodegradação. Como procedimento amplamente
utilizado para filmes poliméricos, ele monitora a
banda carbonila, e ligações dupla carbono-oxigênio,
1712 cm−1, em função do tempo de exposição ao
ultravioleta radiação. Kwon et al. (2013), Curcio et
al. (2015) e Murakami & Koga (2016) usaram esta fonte amostra receptor
técnica para avaliar a formação de carbonila em
polímeros usados em pesquisas sobre embalagens. Figura 2. Detecção de luz transmitida pela fonte.
Há também estudos em geossintéticos como os de
Yang & Ding (2006), Azuma et al. (2009), Valente et
al. (2010), Rouillon et al. (2016). Este último, 3 METODOLOGIA
Rouillon et al. (2016), apresentou uma análise crítica
do uso do 1456 cm−1 banda, correspondente ao metil, 3.1 Apresentação da ferramenta
como uma forma fácil e representativa do
comportamento específico dos polipropilenos. A técnica do ensaio de espectrofotometria é baseada
Resumindo, espectrofotometria mede o quanto na ampliação consequente da energia, por meio de
uma substância absorve a luz no momento de uma fonte, em função do aumento da radiação
incidência de um feixe através de uma determinada incidida. Ao absorver a energia em forma de fótons,
amostra. A absorção de radiação se deve ao fato de as os elétrons da amostragem interagem entre si,
moléculas apresentarem elétrons que podem ser gerando uma transição elétrica de uma órbita com
promovidos a níveis de energia mais elevados, e menor energia para outra mais alta. O tipo e a forma
consequentemente, absorvendo-a. Em alguns casos a de interação de um composto com a luz dependem da
energia necessária é proporcionada pela radiação concentração da matéria contida na amostra. O
com comprimentos de onda no visível e o espectro de receptor, por sua vez, faz a leitura da radiação após
absorção estará na região visível. Em outros casos, é todo o processo descrito conforme Figura 2.
necessária energia maior, associada à radiação O material em estudo deve ser avaliado em duas
ultravioleta e infravermelho. condições: a primeira visa manter o controle dos
Na espectrometria de absorção, a luz é dados com amostras virgens, ou seja, sem exposição
direcionada através de uma amostra e a fração de luz há degradação; já a segunda faz-se a análise de
que passa pela amostra é medida (Figura 2). amostras que foram sujeitas a alguma forma de

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326
alteração – amostras exumadas, degradadas no 3.3 Espectrometria no infravermelho
campo ou laboratório.
A espectrofotometria, na qual as amostras são Os dados de transmitância dos raios infravermelhos
avaliadas por meio de luz ultravioleta e apresentam curvas de integração da área do gráfico,
infravermelha, apresenta resultados qualitativos e a qual corresponde à faixa espectral onde
quantitativos sobre a alteração do material após determinadas ligações químicas, como por exemplo,
processos de degradação. É importante observar que bandas carbonila (C=O) e metil (CH3), são
as amostras geralmente são compostas de materiais monitoradas como uma função do tempo de
na forma líquida. Quando sólido, geralmente é exposição à degradação.
aconselhável triturar e prensar os corpos-de-prova, O principal efeito comparativo dos resultados
além de garantir que a composição fique translúcida. obtidos é por meio de parâmetros mecânicos
Porém, tais procedimentos não possibilitaram a coletados dos ensaios ao longo do período de
avaliação da degradação, uma vez que alteraria o exposição do geossintético. Dados de resistência
estado físico da amostra. mecânica como resistência à tração e ao
puncionamento, por exemplo, fornecem uma forma
3.2 Espectrometria no UV-Visível de correlacionar com os dados de transmitância.

Os dados de absorbância, com análise espectral UV-


visível, possibilitam a avaliação do comportamento 4 RESULTADOS
do material após alterações sofridas. As áreas do
gráfico correspondente a cada faixa de comprimento Com base nas pesquisas bibliográficas realizadas,
de onda absorvido, que equivalente aos espectros observou-se escassez de material técnico voltado
UVC, UVB, UVA e de cor visíveis integradas com para os geossintéticos. A maior parte dos trabalhos
os dados das curvas de amostras virgens para são em filamentos e filmes na área da física e
comparação. Assim, é possível determinar o quanto a química. Os poucos e relevantes trabalhos na
absorção variou em relação ao material intacto. temática foram separados e identificados na Tabela 1.
Para fatores de comparação, são coletados dados Os resultados das principais experiências
meteorológicos para o período de degradação da apresentadas na literatura técnica mostram como as
amostra. Valores climáticos de radiação solar características intrínsecas dos materiais têm um papel
acumulada diária permitem uma boa correlação com importante no desempenho do projeto.
a absorbância das amostras.

Tabela 1. Resumo dos principais trabalhos técnicos e suas características.


Referencia Geossintético Polímero Método Observações
Suits & UV-Visível e Visão geral das aplicações e
Todos Todos
Hsuan (2003) infravermelho ensaios

Carneiro & Geotêxtil Citação do método e avalia-


Polipropileno UV-Visível
Lopes (2017) não tecido ção da radiação UV

Dias Filho et al. Polipropileno UV-Visível e


Geotêxtil tecido Apresentação dos métodos
(2019) e Poliéster infravermelho

Leshchinsky et al. Efeito da radiação no com-


Geogrelha Polietileno UV
(2020) portamento do material

Carneiro & Geotêxtil Citação do método e avalia-


Polipropileno UV-Visível
Lopes (2022) não tecido ção da radiação UV

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327
Três dos trabalhos focam geotêxteis, outro Por fim, Leshchinsky et al. (2020) apresenta um
geogrelha e mais um de caráter geral. É unânime as estudo com amostras de geogrelha de uma obra de
avaliações dos resultados em geotêxteis, porém o reforço de talude com 36 anos. Como resultados são
mesmo não pode ser dizer dos outros tipos de apresentadas as diferenças nas propriedades
geossintéticos devido à ausência de estudos. Outro mecânicas e químicas das amostras virgens para as
destaque fica para análises por ultravioleta. Todos exumadas. Foi destaque a avaliação da degradação
autores descrevem com boa relação os resultados dessas amostras expostas diretamente à radiação (na
obtidos conforme o tipo de polímero da fabricação do face do talude). Os autores destacaram que, embora
geossintéticos estudado. essas amostras tenham sido expostas às condições
Suits & Hsuan (2003) apresentam os métodos de ambientais severas em seu ambiente exógeno, suas
fotodegradação mais utilizados em geossintéticos. tensões de trabalho foram pequenas, principalmente
Além do procedimento de exposição natural ao ar ao fato do uso de estabilizadores UV presentes no
livre, são descritos os dois métodos laboratoriais de material. Foi observado também que as degradações
intemperismo acelerado, o arco de xenon e radiação das propriedades mecânicas não foram proporcionais
ultravioleta fluorescente, e um método externo de as variações das propriedades químicas.
intemperismo acelerado. Dos resultados, os autores
destacam que o fator crítico para uma boa correlação
entre fotodegradação natural e acelerada é monitorar
cuidadosamente o ambiente externo. Tanto a energia 5 CONCLUSÃO
radiante da luz solar quanto as temperaturas do local
devem ser monitoradas para eventuais análises. Este artigo apresentou uma revisão bibliográfica dos
Carneiro & Lopes (2017; 2022) também fazem métodos de exposição dos geossintéticos à
análises da radiação em exposição natural no campo degradação no campo e laboratório, bem como ao
e acelerada em laboratório. Com os resultados ensaio de espectrofotometria, que podem ser
observou-se uma boa correlação entre as utilizados para caracterização desses materiais em
propriedades mecânicas dos geotêxteis não tecido projetos de engenharia expostos à fotogredadação.
após os procedimentos de degradação. O diferencial Demostrou-se que o método deve ser usado e se faz
no estudo são as análises referentes aos aditivos satisfatório, uma vez que, a configuração é simples, a
estabilizantes, as quais mostraram eficientes em coleta de dados é rápida e a análise de dados pode ser
proteger o material. completada com excelentes resultados de correlação
Dias Filho et al. (2019) realizou uma análise mais entre as propriedades dos geossintéticos em amostras
profunda dos procedimentos de degradação no degradadas no campo e em laboratório. As literaturas
campo e laboratório com ensaios em amostras de citadas evidenciam que a massa por unidade de área,
geotêxteis tecidos e por um período de dois anos. aditivos estabilizantes e o tipo de polímeros podem
Foram realizados ensaios de espectrofotometria, na afetar as análises dos materiais expostos.
qual as amostras são avaliadas por meio de luz UV- Conforme Dias Filho et al. (2019), os ensaios de
visível e infravermelha. Com as análises utilizando a espectrofotométricas mostraram-se satisfatórios para
luz UV-visível identifica-se a absorção do espectro caracterização de geotêxteis tecidos degradados.
de luz com os dados de absorbância, já por meio do Esses resultados sugerem obter de pequenas amostras
infravermelho identifica-se a estrutura molecular exumadas de geossintéticos para avaliar suas
com os dados de transmitância. As metodologias de propriedades sem maiores prejuízos ao projeto e
ensaios foram apresentadas e, com os resultados, os permitem a avaliação da durabilidade através de
autores conseguiram correlacionar a variação das análise por absorbância ou transmitância. Portanto,
propriedades mecânicas dos geotêxteis estudados este estudo apresenta uma metodologia e ferramenta
com os dados de absorbância e transmitância. Dessa potencialmente valiosa para a investigação de
forma, foi possível estimar, com boa precisão, as projetos com geossintéticos. Além disso, quando
propriedades mecânicas dos geotêxteis exumados no usado em conjunto com dados meteorológicos e
campo, por meio de procedimentos acelerados no testes de degradação em condições de laboratório, o
laboratório. Resumidamente, os autores produziram método oferece espaço para mais pesquisas em
amostras degradadas aceleradamente em laboratório, durabilidade.
representativas de condições apresentadas no campo, Ficou claro também a necessidade de promover
conforme as variáveis climáticas locais. As amostras estudos relacionados ao tema, de forma que mais
produzidas são ensaiadas ou correlacionadas com o pesquisadores trabalhem com a técnica e em maior
banco de dados da amostra do estudo e, dessa forma, diversidade de geossintéticos, variedades de massa
são obtidos dados representativos da condição das por unidade de área, bem como material dos
amostras exumadas do campo. polímeros base utilizado em sua fabricação.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


328
Finalizando, a espectrofotometria mostrou ser K.W. (2013). One-dimensional TiO2 nanostructures
uma ferramenta com grande potencial para with improved UV-blocking properties. Mater. Lett. 93
caracterização dos geossintéticos aplicados no campo (1), p. 175–178.
e que necessitam análises de durabilidade. Com o Leshchinsky, B., Berg, R., Liew, W., Kawakami-Selin,
M., Moore, J., Brown, S., Kleutsch, B., Cutter, K.G. &
ensaio é possível compreender melhor as mudanças
Wayne, M. (2020). Characterization of geogrid
que ocorrem no material degradado e, conforme as mechanical and chemical properties from a thirty-six
aplicações dos geossintéticos no campo, obter year old mechanically-stabilized earth wall.
parâmetros do seu desempenho, os quais são de Geotextiles and Geomembranes, 48(6), p. 793-801.
grande interesse para avaliar e garantir a integridade Murakami, N. & Koga, N. (2016). In situ photoacoustic
de obras de engenharia. FTIR studies on photocatalytic oxidation of 2-propanol
over titanium (IV) oxide. Catalysis Communications.
83:1, p. 1-4.
AGRADECIMENTOS Raymond, G. P. (1999). Railway Rehabilitation
Geotextiles. Geotextiles and Geomembranes. 17 (4), p.
213-230.
O presente trabalho foi realizado com apoio da Rouillon C., Bussiere P.O., Desnoux E., Collin S., Vial C.,
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Therias S. & Gardette J. L. (2016). Is carbonyl index a
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de quantitative probe to monitor polypropylene
Financiamento 001. Os autores agradecem também o photodegradation? Polymer Degradation and
apoio da FAPERJ, UENF, Huesker Brasil e USP. Stability. 128, p. 200-208
IGS Brasil (2023). Os Geossintéticos. International
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


329
REALIZAÇÃO

APOIO SECRETARIA EXECUTIVA

PATROCINADORES
COTA OURO:

COTA PRATA:

COTA BRONZE:

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