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RBGEA

REVISTA BRASILEIRA DE
GEOLOGIA DE ENGENHARIA
E AMBIENTAL

Edição Epecial
Artigos do III SRA-LA
III - Congresso da Sociedade de Análise de Risco
Latino- Americana SRA– LA -2016
REVISTA BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA E AMBIENTAL
Publicação Científica da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

EditorES

Prof. Dra. Alessandra Cristina Corsi – IPT


Prof. Dra. Kátia Canil – UFABC
Prof. Dra. Malva Andrea Mancuso – UFSM

Revisores
Adalberto Aurélio Azevedo – IPT Jorge Kazuo Yamamoto – USP
Alberto Pio Fiori – UFPR José Alcino Rodrigues de Carvalho – Univ. Nova de Lisboa
Alessandra Cristina Corsi – IPT (Port.)
Alessandra Cristina Corsi – IPT José Augusto de Lollo – UNESP
Aline Freitas da Silva – DRM-RJ José Domingos Gallas – USP
Andrea Valli Nummer – UFSM José Eduardo Zaine – UNESP
Angelo José Consoni – TSAP José Luiz Albuquerque Filho – IPT
Antonio Cendrero – Univ. da Cantabria (Espanha) Kátia Canil – UFABC
Antonio Manoel Santos Oliveira – UNG Leandro Eugênio da Silva Cerri – UNESP
Candido Bordeaux Rego Neto – IPUF Luis de Almeida Prado Bacellar – UFOP
Carlos Geraldo Luz De Freitas – IPT Luiz Fernando D`Agostino – Nucleo
Clovis Gonzatti – CIENTEC Luiz Nishiyama – UFU
Denise de la Corte Bacci – USP Malva Andrea Mancuso – UFSM
Diana Sarita Hamburger – UFABC Marcelo Denser Monteiro – Metrô – SP / UAM
Dirceu Pagotto Stein – Geoexec Marcelo Fischer Gramani – IPT
Edilson Pissato – USP Marcia Pressinotti – IG/SMA
Eduardo Brandau Quitete – IPT Marcilene Dantas Ferreira – UFSCar
Eduardo Goulart Collares – UEMG Marcio A. Cunha – Consultor
Eduardo Soares de Macedo – IPT Maria Cristina Jacinto Almeida – IPT
Emilio Velloso Barroso – UFRJ Maria Heloisa B.O. Frascá – Consultora
Eraldo L. Pastore – Consultor Maria José Brollo – IG/SMA
Fábio Soares Magalhães – Vogbr Marta Luzia de Souza – UEM
Fabricio araujo mirandola – IPT Nelson Meirim Coutinho – GEORIO
Filipe Antonio Marques Falcetta – IPT Newton Moreira de Souza – UnB
Flávio Almeida da Silva – Engecorps Noris Costa Diniz -UnB
Frederico Garcia Sobreira – UFOP Reinaldo Lorandi – UFSCar
Ginaldo Campanha – USP Renato Luiz Prado – USP
Helena Polivanov – UFRJ Ricardo Vedovello – IG/SMA
Jair Santoro – IG/SMA Yociteru Hasui – Consultor
João Francisco Alves Silveira – Consultor

apoio editorial
Denise Amaral e Didiana Dórea

Projeto Gráfico e Diagramação


Rita Motta – Editora Tribo da Ilha

Volume 7
2017
ISSN 2237-4590
DIRETORIA ABGE GESTÃO 2019/2020

Presidente: Delfino Luiz Gouveia Gambetti


Vice Presidente: Fernando Facciolla Kertzman
Diretora Secretária: Marcela Penha Pereira Guimaraes
Diretor Financeiro: Silvia Maria Kitahara
Diretor de Eventos: Renivaldo T. Campos
Diretor de Comunicação: Maria Heloisa B. Oliveira Frasca

Conselho Deliberativo da ABGE: Claudio Luiz Ridente Gomes, Delfino Luiz Gouveia Gambetti,
Fabio Augusto Gomes Vieira Reis, Fernando Facciolla Kertzman, Francisco Nogueira de Jorge,
Iramir Barba Pacheco, Ivan Jose Delatim, Jacinto Costanzo Junior, Joao Paulo Monticelli,
Julio Yasbek Reia, Marcela Penha Pereira Guimaraes, Marcelo Denser Monteiro,
Maria Heloisa B. Oliveira Frasca, Otávio Coaracy Brasil Gandolfo, Paula Sayuri Tanabe Nishijima,
Raquel Alfieri Galera, Renata Augusta Rocha N. de Oliveira, Renivaldo T. Campos,
Ricardo Antonio Abrahão, Ricardo Vedovello e Silvia Maria Kitahara.

NÚCLEO RIO DE JANEIRO


Conselho Deliberativo: Marcela Tuler Castelo Branco, Marcelo de Queiroz Jorge,
Marcio Fernandes Leão, Nelson Meirim Coutinho, Rafael Silva Ribeiro, Raquel Batista
Medeiros da Fonseca, Thiago Dutra dos Santos e Victor Augusto Hilquias Silva Alves.

NÚCLEO MINAS GERAIS


Conselho Deliberativo: Alberto Ferreira do Amaral Junior, Angelo Almeida Zenobio,
Ellen Delgado Fernandes, Fabio Soares Magalhães, Inácio de Carvalho, Luis de Almeida P. Bacellar,
Maria Giovana Parizzi, Thiago Marques Baptista Teixeira e Yan Lucas de Oliveira P. dos Santos

NÚCLEO SUL
Conselho Deliberativo: Andrea Valli Nummer, Cezar Augusto Burkert Bastos, Débora Lamberty,
Erik Wunder, Hermam Vargas Silva, Malva A. Mancuso e Murilo da Silva Espíndola.

NÚCLEO CENTRO OESTE


Conselho Deliberativo: Bruno Diniz de Mello Moreira, Gabriel do Nascimento Ribeiro,
Getúlio Ezequiel da C. Peixoto Filho, Joao Luiz Armelin, Kurt João Albrecht,
Patricia de Araujo Romão, Ricardo Moreira Vilhena e Rodrigo Luiz Gallo Fernandes.

NÚCLEO NORTE
Conselho Deliberativo: Claudio Fabian Szlafsztein, Dianne Danielle Farias Fonseca,
Elton Rodrigo Andretta, Iris Celeste Nascimento Bandeira, Luciana de Jesus P. P. Miyagawa,
Milena Marília Nogueira de Andrade e Sheila Gatinho Teixeira.

ABGE Central
Gerente Executiva: Luciana Marques
Av. Prof. Almeida Prado, 532 | Prédio 36 | Cidade Universitária | São Paulo – SP
Fones: (11) 3767-4361 | (11) 3719-0661
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APRESENTAÇÃO

É com grande satisfação que apresentamos o Considerando que os atuais cenários de ris-
número único da Revista Brasileira de Geologia cos ambientais urbanos são resultados dos concei-
de Engenharia e Ambiental (RBGEA) do ano de tos iniciais atrelados a “desenvolvimento” e, por-
2017. Os artigos aqui compartilhados foram sele- tanto, da consequente necessidade dos processos
cionados do III Congresso da Sociedade de Análi- de planejamento e desenvolvimento urbano in-
se de Risco Latino Americana, realizado em Maio corporarem o risco como componente fundamen-
de 2016 na cidade de São Paulo. Os artigos selecio- tal, e na perspectiva de valorizar a interação entre
nados abordam diferentes temas da área da Geo- práticas sustentáveis de desenvolvimento urbano
logia de Engenharia e Ambiental, que apresentam e a gestão de risco de desastres, o trabalho de Bon-
interesse para a área acadêmica e profissional. giovanni, Freiats e Alves apresentou um exercício
Apresentamos, a seguir, uma breve descrição dos de avaliação de medidas de gestão de risco, consi-
estudos e pesquisas publicados nesta edição. derando seus impactos positivos segundo as três
Os artigos apresentados por Sousa e cola- dimensões da sustentabilidade (econômico, social
boradores apresentam uma reestruturação dos e ambiental) e seus mais importantes stakeholders
instrumentos legais municipais para articular os (partes interessadas) agrupados para avaliação.
diferentes atores envolvidos na gestão do risco O quadro de correlação, com os impactos devi-
e para atuar de maneira eficiente na temática de damente valorados será uma importante ferra-
riscos ambientais urbanos utilizando a bacia hi- menta de sensibilização de agentes financiadores
drográfica como unidade de análise das ações de e investidores, dos ganhos promovidos pelo de-
prevenção de desastres em consonancia com a Lei senvolvimento sustentável da gestão de risco de
nº 12.608/2012. A análise foi realizada nas bacias desastres naturais.
dos rios Aricanduva, Jacu e Itaquera, na zona leste No trabalho apresentado por Silva, Virgilio
do município de São Paulo. e Martins foi realizada uma análise dos dados de
Moretti e colaboradores apresentam uma precipitações disponíveis para a bacia do rio Sa-
análise das cartas de suscetibilidade e geotécni- pucaí a montante do município de Itajubá - MG,
cas aplicadas a identificação de parcelas do ter- com o intuito de determinar limiares de precipita-
ritório ainda não ocupados, suscetíveis a riscos ções extremas.
geotécnicos. No artigo aprofundam a análise Correa e colaboradores apresentaram o re-
sobre as variáveis que interferem na decisão sultado da compartimentação fisiográfica das ba-
de aquisição ou manutenção da propriedade cias hidrográficas Juqueriquerê, Santo Antônio e
pública das áreas suscetíveis ao risco, que se São Francisco, nos municípios de Caraguatatuba
encontram vazias ou desocupadas. A hipótese é e São Sebastião (SP), com finalidade de identificar
que existe uma hierarquia de importância quanto locais com maior vulnerabilidade a corridas de
à incorporação no patrimônio público de áreas de massa. Foram delimitadas unidades fisiográficas
risco geotécnico e que em alguns casos é possível, nas planícies fluviais e flúvio-marinhas; nos locais
ou mesmo recomendável, a manutenção da com depósitos de colúvio e de tálus, nos granitoi-
propriedade privada. des em morros isolados, nos granitoides e gnais-
Apresentação

ses-migmatitos associados às médias e baixas Estamos certos de que o conjunto de artigos


encostas de serra e nas áreas de topo com predo- disponíveis em mais este número da RBGEA con-
minância de granitoides e a gnaisses migmatitos. figura uma contribuição relevante de profissionais
A vulnerabilidade a corridas de massa é maior em da área de Geologia de Engenharia e Ambiental,
encostas retilíneas a convexas, com valores de de- refletindo sobre temas relevantes para a gestão de
clividade superiores a 30º. riscos, análise eventos de precipitação extremos,
Moura e Canil expuseram alguns exemplos compartimentação fisiografica de bacias de corri-
de medidas estruturais que apontam para redu- das de massa e medidas estruturas para a constru-
ção de riscos de desastres e a construção de cida- ção de cidades resilientes.
des resilientes frente a movimentos gravitacionais
de massa contidos em publicações do UNISDR. Desejamos a todos uma ótima leitura!

5
Sumário

8 ADOÇÃO DA TERRITORIALIZAÇÃO POR BACIAS HIDROGRÁFICAS NA GESTÃO


DOS RISCOS HIDROLÓGICOS: AS EXPERIÊNCIAS NAS BACIAS DO ARICANDUVA,
JACU E ITAQUERA, NA ZONA LESTE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
Gabriel Gera de Gouveia
Amanda Mendes de Sousa
Ronaldo Malheiros Figueira
Natália Leite de Morais
Evandro Freitas
Rodrigo Nery e Costa
Vitor Cesar Nishimoto
João Paulo de Assunção
Luiz Carlos Pires

17 ÁREAS SUSCETÍVEIS AO RISCO GEOTÉCNICO – QUANDO CONVÉM A PROPRIE-


DADE PÚBLICA?
Ricardo de Sousa Moretti
Julia Azevedo Moretti
Cristina Boggi S. Raffaelli

22 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E GESTÃO DE RISCO DE DESATRES NATURAIS


Luis Antonio Bongiovanni
Julia Oliveira de Freitas
Fernando Machado Alves
29 DETERMINAÇÃO DE LIMIARES DE PRECIPITAÇÕES EXTREMAS RELACIONADAS À
OCORRÊNCIA DE INUNDAÇÕES: ESTUDO DE CASO DA BACIA DO RIO SAPUCAÍ
EM ITAJUBÁ – MG
Benedito Cláudio da Silva
Rebeca Meloni Virgílio
Alessandro Marques Martins

36 EMPREGO DA COMPARTIMENTAÇÃO FISIOGRÁFICA NA SELEÇÃO DE ÁREAS-


-ALVO A PROCESSOS DE CORRIDAS DE MASSA: APLICAÇÃO NA ÁREA SERRANA
DO LITORAL NORTE DE SÃO PAULO
Claudia Vanessa dos Santos Corrêa
Fábio Augusto Gomes Vieira Reis
Beatriz Marques Gabelini
Lucília do Carmo Giordano
Camila Jardinetti Chaves
Ana Maria Carrascosa do Amaral
Marina Mendes Coura
Rodrigo Irineu Cerri
Flávia Beatriz Demarchi
Gabriela Hernades Villani
Rafaela Bressan

44 MEDIDAS ESTRUTURAIS ADOTADAS EM ÁREAS DE RISCO DE MOVIMENTOS


GRAVITACIONAIS DE MASSA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA CONSTRUÇÃO DE CI-
DADES RESILIENTES
Rodolfo Baesso Moura
Kátia Canil
ADOÇÃO DA TERRITORIALIZAÇÃO POR BACIAS
HIDROGRÁFICAS NA GESTÃO DOS RISCOS
HIDROLÓGICOS: AS EXPERIÊNCIAS NAS BACIAS
DO ARICANDUVA, JACU E ITAQUERA, NA ZONA
LESTE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
HYDROGRAPHIC BASIN TERRITORY TO RISK MANAGEMENT: CASE STUDY IN
ARICANDUVA, JACU AND ITAQUERA BASINS, SÃO PAULO CITY EAST SIDE

Gabriel Gera de Gouveia


gggouveia@prefeitura.sp.gov.br

Amanda Mendes de Sousa


amandamsousa@prefeitura.sp.gov.br

Ronaldo Malheiros Figueira


rfigueira@prefeitura.sp.gov.br

Natália Leite de Morais


nlmorais@prefeitura.sp.gov.br

Evandro Freitas
evandrofreitas@prefeitura.sp.gov.br

Rodrigo Nery e Costa


rnerycosta@prefeitura.sp.gov.br

Vitor Cesar Nishimoto


vnishimoto@prefeitura.sp.gov.br

João Paulo de Assunção


apassuncao@prefeitura.sp.gov.br

Luiz Carlos Pires


lcpires@prefeitura.sp.gov.br

RESUMO ABSTRACT

A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (Lei The National Policy on Protection and Civil Defense
n° 12.608/2012), como outras legislações, tem como di- (Law No. 12,608 / 2012), like other laws, has as a
retriz a “adoção da bacia hidrográfica como unidade de guideline the “adoption of the watersheds as the unit
análise das ações de prevenção de desastres”. A partir of analysis of disaster prevention actions.” From this
dessa normativa, foi possível reestruturar instrumentos legislation, it was possible to restructure municipal
legais municipais para articular os diferentes atores en- legal instruments to articulate the different actors
volvidos na gestão do risco e para atuar de maneira efi- involved in risk management and to work efficiently
ciente na temática de riscos ambientais urbanos. Tendo on the theme of urban environmental risks. Using as
como objeto de estudo a Zona Leste do Município de object of study the East Region of the city of São Paulo,

8
Adoção da territorialização por bacias hidrográficas na gestão dos riscos hidrológicos

São Paulo, região da cidade que possui expressiva rede area of the city that has a significant hydrographic
hidrográfica, em sua maioria, ocupada por avenidas e network, mostly occupied by avenues and irregular
moradias irregulares nos fundos de vale, e caracterizada houses in the valley bottoms, and characterized by
pelo alto índice de impermeabilização que altera a high waterproofing index that compromises the
vazão dos corpos d’água, aumentando o escoamento flow of water bodies and affect runoff. This scenario
superficial. Esse cenário potencializa a vulnerabilidade enhances vulnerability to hydrological risks and from
para os riscos hidrológicos, e a partir desse panorama this perspective the management process was adequate
o processo de gestão foi adequado, considerando não taking into consideration the watershed boundaries,
somente aos limites políticos, possibilitando melhorias and not political boundaries.
na forma de gerir esses riscos.
Keywords: Hydrological risks; Territorialization;
Palavras-chave: Riscos hidrológicos; Territorialização; Watersheds; East Region of the city of São Paulo; Urban
Bacias Hidrográficas; Zona Leste de São Paulo; Gestão environmental management.
dos riscos ambientais urbanos.

1 URBANIZAÇÃO EM SÃO PAULO E SEUS maiores cidades de países em desenvolvimento


PROBLEMAS estabelecem suas moradias em assentamentos ir-
regulares.
A urbanização é o fenômeno social, econô- Em análise ao último Censo Demográfico
mico e ambiental mais significativo das últimas (IBGE, 2013), mais de 80% do número total da
décadas, causando alterações significativas ao população brasileira reside na área urbana, afir-
planejamento, desenvolvimento e gestão da socie- mando a tendência de concentração nessa porção
dade e no modo de vida das populações. Segundo do espaço, bem como de expansão dos grandes
HERZER & GUREVICH (1996) apud NOGUEIRA aglomerados urbanos (NOGUEIRA, 2002). Na ci-
(2002), o meio ambiente urbano é um conjunto das dade de São Paulo essa realidade não é diferente.
diferentes relações estabelecidas entre a socieda- O município cresceu economicamente e sua man-
de e o meio físico construído, que acontecem em cha urbana acompanhou esse crescimento conco-
um determinado espaço territorial, que é a cidade. mitantemente. Estima-se que em 1930 a área ur-
Os dados do relatório da Conferência Mundial bana de São Paulo era de 355 km², passando para
sobre Assentamentos Humanos (ODA, 1996 apud 1370 km² em 1980 (PMSP). Esse fenômeno de ex-
NOGUEIRA, 2002), indicavam que, avaliando a pansão urbana pode ser observado nas Figuras 1
dificuldade de estabelecer a infraestrutura mini- e 2, por meio das plantas da Cidade de São Paulo
mamente necessária (relativa às questões de ocu- nos anos de 1850 e 1928, respectivamente.
pação e uso do solo), 30 a 60% da população das

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Figura 1. Planta da Cidade de São Paulo em 1850. Em destaque, para efeitos comparativos, o Largo de São Bento. (HIMACO, 2014)

10
Adoção da territorialização por bacias hidrográficas na gestão dos riscos hidrológicos

Figura 2. Planta da Cidade de São Paulo confeccionada em 1928. Pode-se observar que mesmo sem a execução do Plano
Figura
de 2: Planta
Avenidas, a cidadeda Cidadesua
já expande demalha
Sãourbana.
Paulo Fator
confeccionada em ao
que se deve, tanto 1928. Pode-sedaobservar
funcionamento São Paulo que
Railway
mesmo sem a execução do Plano de Avenidas, a cidade já expande sua malha urbana. FatorBento.
como a instalação das fábricas ao longo da linha do trem. Em destaque, para efeitos comparativos, o Largo de São que
(HIMACO, 2014)
se deve, tanto ao funcionamento da São Paulo Railway como a instalação das fábricas ao longo
da linha do trem. Em destaque, para efeitos comparativos, o Largo de São Bento. (HIMACO,
2014) São Paulo possui alguns grandes marcos que população de baixa renda. Com a aplicação do
definiram quando e de que modo a urbanização Plano de Avenidas, na década de 1940, proposto
iria acontecer. Entre esses marcos, podemos citar pelo Eng. Prestes Maia, que consistia em promo-
o
SãoPlano de Avenidas
Paulo possui ealguns
a ascensão do automóvel
grandes marcos que ver obras para a retificação
definiram quando eeconfinamento
de que modo de riosa
urbanização iria acontecer.
como principal meio deEntre esses emarcos,
transportes podemos
o direcio- citar para
e córregos o Plano de Avenidas
a instalação e a ascensão
das avenidas fundo
do automóvel
namento das como principal
políticas meio
públicas de transportes
favorecendo esse de e vale
o direcionamento das políticas
e grandes obras viárias; públicas
com o processo de
favorecendo
modal. esse modal. industrialização de São Paulo, combustível para
A 1ªAGuerra Mundial
1ª Guerra e ae Crise
Mundial a Crisedos
dosanos 1920 favoreceram
anos 1920 a formação dos e incentivaram a industrialização
núcleos habitacionais dos traba-
em São Paulo, gerando um cenário com grande quantidade de proletariado
favoreceram e incentivaram a industrialização em lhadores; e, com o advento dos automóveis urbano e uma alta
e a
taxa de
Sãodensidade populacional
Paulo, gerando um cenário(ROLNIK,
com grande 2003),
quan-ainda concentrada
implantação nas proximidades
dos primeiros do Centro
ônibus urbanos (meio
e nas tidade
vilas operárias. Segundo
de proletariado urbanoRolnik
e uma(2003)
alta taxaatrelado
de de atransporte
isso, o Centro se estabeleceu
com maior autonomia que como um
os bon-
espaço cada vezpopulacional
densidade menos ocupado por população
(ROLNIK, 2003), ainda de baixa
des emrenda, umanavez
operação que houve
cidade), um aumento
facilitando o acesso
com oconcentrada
custo de vida nas proximidades do Centro e nas às periferias e assim, favorecendo a expansão por
(alimentação, vestuário e aluguéis), gerando assim, aumento na demanda da
terrenos
vilase operárias.
grande pressão
Segundo por moradia,
Rolnik principalmente
(2003) atrelado pela população
a população de baixa
para estes locais renda. Com
e o surgimento de lo-a
aplicação
isso, odo Plano
Centro de Avenidas,
se estabeleceu comona umdécada de 1940,
espaço cada proposto
teamentos pelo (ROLNIK,
irregulares Eng. Prestes 2003).Maia, que
consistia em promover obras para a retificação
vez menos ocupado por população de baixa ren- e confinamento de rios e córregos
Devido ao baixo ou inexistente investimen- para a
instalação
da, umadasvezavenidas
que houvefundo
um de vale ecom
aumento grandes
o custoobras
to viárias;
do Podercom o processo
Público em porçõesde industrialização
do espaço urba-
de São Paulo, combustível para a formação dos núcleos habitacionais dos trabalhadores;
de vida (alimentação, vestuário e aluguéis), ge- no destinados às moradias populares (ROLNIK, e, com
o advento
randodos automóveis
assim, aumento na ea implantação
demanda dos primeiros
por terrenos e 2003),ônibus urbanos irregulares
os loteamentos (meio de transporte
surgem nascom pe-
maior grande
autonomiapressão por moradia, principalmente pela riferias como uma alternativa viável para que ae
que os bondes em operação na cidade), facilitando o acesso às periferias
assim, favorecendo a expansão da população para estes locais e o surgimento de loteamentos
irregulares (ROLNIK, 2003). 11
Devido ao baixo ou inexistente investimento do Poder Público em porções do espaço urbano
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

população de baixa renda possua sua moradia. Bacias do: Córrego Três Pontes, Córrego Tijuco
Essas áreas, como as encostas íngremes e mar- Preto, Córrego Itaim, Córrego São Martinho, Ri-
gens de rios e córregos, foram ocupadas de forma beirão Água Vermelha, Ribeirão Lageado, Ribei-
precária por moradias, em sua maioria, de baixo rão Itaquera e Córrego Jacu), a bacia do Extremo
padrão construtivo e executadas pelo método de Leste é composta por cerca de 100 corpos d’água,
2. CARACTERIZAÇÃO
autoconstrução, DAS BACIAS
tipo de moradia DO EXTREMO
predominante com cerca deLESTE E ARICANDUVA
110 km² de área de drenagem. Já a
nas camadas de baixa renda. Bacia do Aricanduva é composta por cerca de 50
Afluentes da margem esquerda à jusante docorpos Rio Tietê, as Bacias Hidrográficas (BH) do Rio
d’água e com 100,4 km² de área de drena-
Aricanduva e do Extremo Leste (composta pelas Bacias do: Córrego Três Pontes, Córrego Tijuco
gem. Na Figura 3 podemos observar os limites
Preto, Córrego Itaim, Córrego
2 CARACTERIZAÇÃO São Martinho,
DAS BACIAS DO Ribeirão Água Vermelha, Ribeirão Lageado, Ribeirão
das BH analisadas. Nessas bacias, segundo os re-
Itaquera e Córrego Jacu),
EXTREMO LESTE E ARICANDUVA a bacia do Extremo Leste é composta por cerca de 100 corpos d’água,
com cerca de 110 km² de área de drenagem. Já agistros Baciadedoocorrências
AricanduvadaéDefesa Civil bem
composta como ode
por cerca
50 corpos d’água e com esquerda
100,4 km² de área que é noticiado pela grande mídia, são palcos re-
Afluentes da margem à jusante dode drenagem. Na Figura 3 podemos observar os
limites dasasBH analisadas. Nessas(BH)
bacias, correntes
segundo de episódios
os registros de enchentes
de ocorrências dae inundações
Defesa Civil
Rio Tietê, Bacias Hidrográficas do Rio
bem como o que é noticiado pela grande mídia, nospalcos
são períodos de chuva.de episódios de enchentes
recorrentes
Aricanduva e do Extremo Leste (composta pelas
e inundações nos períodos de chuva.

Figura Figura
3. Limite 3:
dasLimite das baciasanalisadas.
bacias hidrográficas hidrográficas analisadas.
Fonte dos dados: PortalFonte dos dados: Portal Geosampa.
Geosampa.
Elaboração: Amanda
Elaboração: Amanda Mendes deMendes de Sousa (2019).
Sousa (2019).

Entre os anos de 1940 e 1950 se iniciou o desenvolvimento urbano da Zona Leste, que está
Entre os anos de 1940 e 1950 se iniciou o de- distância do centro e pela concentração de baixa
relacionado com o padrão de crescimento periférico da cidade de São Paulo, caracterizado pela
senvolvimento urbano da Zona Leste, que está renda dos bairros. Nos anos de 1970 e 1980, hou-
distância do centro e pela concentração de baixa renda dos bairros. Nos anos de 1970 e 1980,
relacionado
houve com o padrão de
uma predominância crescimento
deste padrão e,peri- veàuma
devido predominância
demanda desteneste
por moradia, padrão e, devido
período foram
férico da cidade
construídos de São Paulo,
os primeiros caracterizado
prédios pela de
da Companhia à demanda
Habitaçãopor moradia,
de São Paulo,neste períododa
a COHAB, foram
Zona
Leste, o que favoreceu o aumento na quantidade de moradores da região.
12
Devido ao crescimento da área urbana na Zona Leste, problemas como inundações se
tornaram mais frequentes a partir dos anos 60. Apenas dez anos depois, na década de 1970, os
Adoção da territorialização por bacias hidrográficas na gestão dos riscos hidrológicos

construídos os primeiros prédios da Companhia ou regulamentações ou outros dispositivos legais


de Habitação de São Paulo, a COHAB, da Zona que permitam balizar esse processo.
Leste, o que favoreceu o aumento na quantidade Considerando a temática dos riscos hidroló-
de moradores da região. gicos e das bacias hidrográficas, temos como um
Devido ao crescimento da área urbana na dos marcos regulatórios em 2012 a promulgação
Zona Leste, problemas como inundações se torna- da Lei n° 12.608/2012, que institui a Política Na-
ram mais frequentes a partir dos anos 60. Apenas cional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC e que
dez anos depois, na década de 1970, os casos de prevê a adoção da bacia hidrográfica como unida-
enchentes e inundações se intensificaram e passa- de de análise das ações de prevenção de desastres
ram a ocorrer anualmente (KOBAYASHI, 2010). relacionados a corpos d’água. Aliada essa norma-
Por conta disso, a Prefeitura do Município de São tiva, existe a Política Nacional de Recursos Hídri-
Paulo (PMSP) e a Companhia do Metropolitano cos, instituída pela Lei nº 9.433/1997, que conso-
de São Paulo (Metrô) iniciaram as primeiras obras lida a bacia hidrográfica como unidade de gestão
no local entre os anos de 1960 e 1970 (DAEE, 1999), territorial e prevê em seus objetivos a prevenção
e em 1963 se iniciou a canalização do Rio Arican- contra eventos hidrológicos críticos.
duva. Nos anos 90 foram implantados os reserva- Através da Política Nacional de Recursos Hí-
tórios para contenção do excedente de águas plu- dricos e da promulgação da Lei nº 12.608/2012,
viais, e a partir dos anos 2000 houve uma maior foi possível aos municípios a reestruturação do
realização de obras, como novos piscinões, altea- órgão de Defesa Civil e suas equipes técnicas para
iniciar um trabalho de cunho preventivo e recupe-
mentos, alargamentos de calhas, parques lineares,
rativo em áreas de risco hidrológico. Adotar as ba-
e também constantes limpezas e desassoreamen-
cias hidrográficas como unidade de análise para
tos (KOBAYASHI, 2010). Entretanto, apesar da
os riscos hidrológicos torna os processos de ges-
realização dessas intervenções de engenharia com
tão e gerenciamento mais eficiente e preventivo
a finalidade de amenizar a quantidade de casos
do que a adoção de limites políticos uma vez que
de inundações, os problemas da região ainda são
processos como erosão, enchentes, inundação, en-
constantes.
tre outros processos naturais, intensificados pela
Segundo Marcia Yoko Kobayashi (2010), ape-
intervenção antrópica, ocorrem dentro da bacia e
sar de todas as obras de engenharia feitas na re-
se manifestam em toda a extensão de um corpo
gião para minimizar os episódios de inundações,
d’água, e não se valem apenas dos limites admi-
poucas ações não estruturais foram realizadas no
nistrativos. Portanto, as políticas públicas criadas
local. Dentre essas ações destacam-se algumas para mitigar, prevenir ou recuperar desastres na-
campanhas educativas abordando a problemática turais e, que adotando os limites político-adminis-
dos ratos e lixo, a operação Cata-Bagulho e ativi- trativo como unidade de análise oferecem a socie-
dades de educação ambiental promovidas pelo dade uma solução paliativa para o problema, pois
Parque do Carmo e pelo Serviço Social do Comér- esses limites não respeitam de maneira integral a
cio, o SESC. formação das bacias hidrográficas e limites natu-
rais do território.
3 A POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS No caso específico da Cidade de São Paulo, a
HÍDRICOS E A POLÍTICA NACIONAL divisão político-administrativa do território se dá
DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: SUAS por meio da divisão de Subprefeituras, limites es-
ses que não respeitam os das bacias hidrográficas,
DETERMINAÇÕES E SEUS AVANÇOS
o que traz a necessidade de reestruturação do mo-
As normativas legais são instrumentos im- delo de gestão para atender as normativas legais
portantes que contribuem para que a gestão, em e, adotando a bacia hidrográfica como unidade
especial a dos riscos hidrológicos, seja eficiente e de gestão e ainda, promovendo a integração das
colocada em prática, ainda que por força da lei, Subprefeituras, órgãos ambientais e demais atores
e pode se dar por meio de leis de âmbito federal, envolvidos para tratar das problemáticas da ba-
estadual ou municipal, sendo portarias, decretos cia hidrográfica em estudo, bem como tornando

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

possível pensar em soluções definitivas para os de limpeza e zeladoria ao longo das bacias, bem
problemas da região. como foram realizadas atividades de mobiliza-
ção com a finalidade de disseminar informações
preventivas relacionadas às fragilidades levan-
4 GESTÃO DAS BACIAS DO EXTREMO tadas no diagnóstico. Foi então proposto a cria-
LESTE E DO ARICANDUVA: GESTÃO ção do grupo de gerenciamento para a bacia do
INTEGRADA E A TERRITORIALIZAÇÃO DA Rio Aricanduva, através da Portaria nº 49 SMSP/
BACIA HIDROGRÁFICA GAB/2015, envolvendo as Subprefeituras de Ari-
canduva/Formosa, Itaquera, Penha, São Mateus e
Com a intuito de reestruturar o modelo de
Sapopemba.
gestão dentro da PMSP, adotando a bacia hidro-
Porém, esse não é o primeiro esforço da
gráfica como unidade de análise dos riscos hi-
COMDEC em realizar esse modelo de gestão. Em
drológicos, iniciou-se um processo de articulação
2004, em parceira com o Instituto de Pesquisas
na Zona Leste de São Paulo entre os atores locais
Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo, foi
com Coordenadoria Municipal de Defesa Civil
(COMDEC). Após diversas reuniões para dis- realizado um projeto para o controle de erosão da
cussão do tema foi criado, através da publicação Bacia do Rio Aricanduva, que tinha como meta a
de portarias, grupos de gerenciamento integrado conservação dos corpos hídricos e o controle de
com a finalidade de estabelecer ações estruturais processos erosivos causados pelo assoreamento e
e não estruturais em bacias de maior interesse do intensificação do escoamento superficial devido a
ponto de vista do risco hidrológico. impermeabilização do solo da região. Além da re-
Esses grupos têm como objetivo integrar tomada do projeto de controle de erosão, o intuito
ações de mitigação dos riscos hidrológicos, priori- hoje é também atuar na conservação e uso futuro
zando locais de maior vulnerabilidade da popula- da bacia, se utilizando tanto de medidas estrutu-
ção, através de mapeamento dos espaços onde há rais bem como de medidas não estruturais, dan-
maior vulnerabilidade para o desenvolvimento do continuidade aos projetos já estabelecidos em
de processos de enchentes e inundações. Ainda, anos anteriores.
esse grupo visa criar uma articulação entre os ato-
res locais, as Subprefeituras para que ações como
5 CENÁRIOS FUTUROS
limpeza dos canais de drenagem, controle do uso
do solo, contenção de margem de córrego, sejam Avaliando a experiência obtida com as Bacias
planejadas de forma integrada para que se pos- do Extremo Leste e do Aricanduva e suas possibi-
sa fazer melhor uso do recurso público e garantir lidades de atuação dos grupos de gerenciamen-
melhores condições para a população que reside to, como a atuação nas possibilidades de conser-
nas áreas de várzea dessas bacias. vação e recuperação das funções ecossistêmicas
Como piloto, foi publicada a Portaria nº 29 dos corpos hídricos, entendemos que os grupos
SMSP/GAB/2015 que definiu as bacias do Ex- de gerenciamento não devem se limitar apenas a
tremo Leste, abrangendo as Subprefeituras de ações de curto período ou a períodos de gestões
Cidade Tiradentes, Guaianases, Itaim Paulista, políticas para que a gestão integrada da bacia se
Itaquera e São Miguel Paulista. Com a realização desenvolva. O verdadeiro objetivo da aplicação
de encontros e planejamento de atividades, foi desse modelo de gestão é para que seja produza
criada uma experiência positiva de como gerir os uma gestão integrada permanente, ligada a pro-
riscos hidrológicos nessa porção do território e a cessos e procedimentos que deem legitimidade
partir dessa experiência foi possível expandir esse para atuação dos profissionais no território das
modelo para a criação do segundo grupo de ge- bacias, e não ligada a jogadas políticas e gestão
renciamento local. Entre as propostas de trabalho política de pessoas.
do grupo, foi elaborado pelos técnicos das subpre- Com o andamento das atividades que se tor-
feituras envolvidas um diagnóstico resumido dos naram demandas a partir da criação dos grupos
problemas que atingem a região e foram plane- de gerenciamento local, vem sendo possível criar
jadas, de maneira articulada e continuada, ações um modelo de gestão para os riscos hidrológicos,

14
Adoção da territorialização por bacias hidrográficas na gestão dos riscos hidrológicos

respeitando as normativas legais vigentes. Esses representantes dos 38 municípios da RMSP e da Ca-
grupos vêm gerando experiências positivas o su- pital; representantes da comunidade técnica e aca-
ficiente para que possa servir de piloto, possibi- dêmica; de órgãos reguladores ou que atuam com
litando a expansão desse modelo para as outras as funções públicas de interesse comum (FPICs); e
bacias da cidade de São Paulo, uma vez que o representantes da sociedade civil organizada.
planejamento conjunto, a execução de ações de A espacialização da gestão tendo a bacia hi-
limpeza e zeladoria, de forma concomitante ao drográfica como unidade de gestão territorial traz
longo das bacias e as atividades de mobilização, um importante desafio, tanto entre as Subprefei-
apesar de simplista, demonstram uma diminuição turas e atores municipais bem como com os mu-
no número de ocorrências do verão subsequente à nicípios da RMSP, que é o de somar esforços dos
criação do grupo. A expansão desse modelo para diferentes atores que atuam no território a fim de
melhorar a eficiência do Poder Público em plane-
todo o município de São Paulo é um importante
jar estratégias para mitigação dos riscos hidroló-
passo para estabelecer uma gestão eficaz, uma vez
gicos e auxiliar a população a estabelecer sua re-
que torna possível somar esforços das Subprefei-
siliência.
turas e de seus técnicos em favor a problemática
de risco hidrológico e estabelece ações voltadas
para a real necessidade do território e para a reso- REFERÊNCIAS
lução de problemas das bacias hidrográficas mais
críticas dentro de cada região da cidade. Ainda, Livros e capítulos de livros:
a aplicação desse modelo em outras bacias pode
ROLNIK, Raquel. São Paulo. 2° ed. São Paulo:
fortalecer a descentralização do processo de ges-
Publifolha, 2003.
tão do município, criando uma política pública
viva e atuante no território.
Além da expansão desse grupo para as outras
bacias hidrográficas críticas dentro do município Congressos, simpósios ou outros eventos:
de São Paulo, há a intenção propôs esse modelo
KOBAYASHI, Marcia Yoko. As enchentes do rio
de gestão para as bacias localizadas nas divisas do
Aricanduva e a construção de conhecimento no
município de São Paulo com as cidades vizinhas ensino de geografia. São Paulo: USP, 2010. 115
da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). A p. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-
intenção é aplicar esse projeto nas bacias do Cór- Graduação em Geografia Humana, Faculdade
rego Pirajussara (bacia presente nos municípios de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
de Embu das Artes, Taboão da Serra e São Paulo), Universidade de São Paulo, 2010.
do Rio Cabuçú de Cima (bacia presente nos muni-
cípios de Guarulhos e São Paulo) e do Rio Taman- NOGUEIRA, Fernando Rocha. 2002. Políticas
duateí (bacia presente nos municípios de Santo públicas municipais para gerenciamento de riscos
André, São Caetano do Sul, Mauá e São Paulo), ambientais associados a escorregamentos em áreas
que possuem problemáticas bastante semelhantes de ocupação subnormal. Rio Claro. 256p. Tese
as observadas na Zona Leste de São Paulo. (Doutorado em Geociências e Meio Ambiente) –
Essa proposta está sendo discutida no âmbi- Universidade Estadual Paulista.
to da Câmara Temática Metropolitana para Ges-
SANTOS, Felipe Almeidas dos. As inundações na
tão de Riscos Ambientais Urbanos. Esse colegia-
Bacia do Aricanduva (Município de São Paulo) e
do, ligado ao Conselho de Desenvolvimento da
o suporte dos revestimentos vegetais da APA do
Região Metropolitana de São Paulo – CDRMSP, Carmo na interceptação das precipitações.
tem como intuito discutir e articular com os mu-
nicípios da RMSP as problemáticas de riscos São Paulo: PUC, 2011. 130 p. Dissertação de
ambientais urbanos e a aplicação das políticas Mestrado (Mestrado em Geografia) – Pontifícia
de gestão de risco. Essa câmara é composta por Universidade Católica de São Paulo, 2011.

15
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Artigos de Periódicos: Paulo, 02 Fev. 2009, Caderno C, Folha Cotidiano.


Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e fsp/cotidian/ff2402200922.htm>. Acesso em: 25
Estatística. Atlas do censo demográfico 2010 / de Julho de 2012.
IBGE. – Rio de Janeiro: IBGE, 2013. 72 – 81 p.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA. Disponível em: <http://www.
ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
Sites e páginas da internet:
condicaodevida/indicadoresminimos/notasindi
PMSP – Prefeitura Municipal de São Paulo. cadores.shtm>. Acesso em: 15 de Abril de 2013.
Zelando pela Cidade: Áreas de risco. Disponível
UNIFESP – UNIVERSIDADE FEDERAL DE
em: <http://www3.prefeitura.sp.gov.br/saffor_
SÃO PAULO. HIMACO: História, Mapas e
bueiros/FormsPublic/serv14AreasRisco.aspx>.
Computadores. Disponível em: <http://www2.
Acesso em 30 de outubro de 2015.
unifesp.br/himaco/index.php#>. Acesso em 20
de abril de 2019.
FOLHA DE SÃO PAULO. Temporal causa
inundações e protesto em SP. In: Folha de São

16
ÁREAS SUSCETÍVEIS AO RISCO
GEOTÉCNICO – QUANDO CONVÉM
A PROPRIEDADE PÚBLICA?
Geotechnical risk susceptible areas - when does
public property is convenient?

Ricardo de Sousa Moretti


Universidade Federal do ABC – UFABC – ufabc.moretti@gmail.com

Julia Azevedo Moretti


Doutoranda- Faculdade de Direito da USP- moretti.julia@gmail.com

Cristina Boggi S. Raffaelli


Doutoranda UFABC–Instituto Geológico - IG - cristina@igeologico.sp.gov.br

RESUMO ABSTRACT

A elaboração de cartas de suscetibilidade e cartas geo- The preparation of geotechnical maps has led to the
técnicas de aptidão à urbanização tem levado à identi- identification of territory parcels, not yet occupied,
ficação de parcelas do território, ainda não ocupadas, which can be classified as susceptible to geotechnical
que podem ser enquadradas como suscetíveis a riscos risks. The possibility of irregular occupation of these
geotécnicos. A possibilidade de ocupação irregular areas is greater when only use limitations are presented,
dessas áreas é grande quando se explicitam limita- without drawing attention to proposals for its effective
ções de uso sem que se apontem propostas para sua use, consistent with its geotechnical characteristics. To
efetiva utilização, compatíveis com suas características promote their proper use one of the questions is about
geotécnicas. Na perspectiva de promoção de um uso the convenience of public property. This article aims
adequado uma das questões que se apresenta é sobre to analyze the variables that influence the decision to
a conveniência ou não da propriedade pública. Busca- acquire or maintain public ownership of risk areas,
-se neste artigo aprofundar a análise sobre as variáveis which are empty or unoccupied. The hypothesis is that
que interferem na decisão de aquisição ou manutenção there is a hierarchy of importance for the incorporation
da propriedade pública das áreas suscetíveis ao risco, into the public property of geotechnical risk areas and
que se encontram vazias ou desocupadas. A hipótese that in some cases it is possible, or even advisable, to
é que existe uma hierarquia de importância quanto à maintain private property.
incorporação no patrimônio público de áreas de risco
geotécnico e que em alguns casos é possível, ou mesmo Keywords: Geotechnical risk, risk prevention, public
recomendável, a manutenção da propriedade privada. property

Palavras-chave: risco geotécnico, prevenção de riscos,


propriedade pública

17
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

1 Introdução – a aquisição de A desapropriação comum pode se dar por


terras pelo poder público utilidade pública (Decreto-lei nº 3.365/41) ou in-
teresse social (Lei nº 4132/62), conforme os casos
Os bens públicos são aqueles que pertencem listados nessas leis. No caso da herança vacante,
às pessoas jurídicas de direito público interno (art. após 5 anos da abertura da sucessão, não havendo
98 do Código Civil – CC), ou seja, União, Estados, herdeiros legítimos (descendentes, ascendentes,
Municípios, autarquias e fundações de direito cônjuge ou companheiro e colaterais, conforme
público. A Constituição Federal (CF) relaciona os art. 1829, CC) nem testamento, os bens passam ao
bens pertencentes à União1 (art. 20, CF) e aos Es- domínio do Município (art. 1822, CC; arts 738-742
tados (art. 26, CF), já os bens do Município vêm, do Código de Processo Civil- CPC) por meio de
normalmente, discriminados na sua Lei Orgâni-
decisão judicial.
ca2. Quanto às terras públicas municipais, pode-se
O Município pode adquirir imóveis por meio
dizer que são compostas, principalmente, pela
da dação em pagamento, que é forma de cumprir
doação de áreas públicas por ocasião do parce-
com obrigações de forma diversa da originalmen-
lamento do solo para fins urbanos, mas também
existem bens municipais cuja origem remonta a te pactuada (art. 356-359, CC). Em relação às dívi-
terras devolutas existentes na área urbana. O Mu- das tributárias, a entrega de bens ao Estado é uma
nicípio também pode ter terras ou adquiri-las por forma de extinguir o crédito tributário, saldando
meio da desapropriação, arrecadação de bens no a dívida que originalmente deveria ser paga em
caso de herança vacante e dação em pagamento. moeda. Comumente se fala no recebimento, por
No parcelamento do solo urbano, há a exi- parte do Município, de imóvel com dívidas de
gência de doação de áreas destinadas a sistemas Imposto Predial e Territorial Urbano- IPTU como
de circulação, áreas verdes e de uso institucional, forma de quitar a dívida tributária. A utilização
estabelecendo responsabilidades claras do lotea- da dação em pagamento depende de lei munici-
dor em termos de implantação de infraestrutura pal que regulamente o código tributário nacional-
urbana (Lei 6766/79). O percentual de áreas doa- CTN (art. 156, XI, CTN), que é norma de eficácia
das ao Município deve ser proporcional à densi- limitada, e a aceitação de bem como pagamento
dade da ocupação e seguir as regras expressas na não é obrigatória: o Município irá avaliar a con-
legislação municipal, especialmente o plano dire- veniência de aceitar o imóvel, após avaliação do
tor e lei de zoneamento3. bem. Na cidade de São Paulo, há decreto regu-
As terras devolutas foram definidas pela Lei
lamento a dação em pagamento autorizando o
de Terras (Lei nº 601/1850) como aquelas que
Município a receber imóveis mediante escritura
não se achavam destinadas a algum uso público
pública, inclusive de terceiros, como forma de pa-
tampouco se encontravam no domínio particular.
gamento de débitos inscritos em dívida ativa ou
Originalmente pertencentes ao governo central,
houve um processo de descentralização a partir já em execução fiscal, após análise de pertinên-
da Constituição de 1891 que atribuiu aos Estados cia da medida e avaliação do imóvel (Decreto nº
o domínio sobre as terras devolutas existentes no 56235/2015, arts. 518-520).
seu território, seguida de leis estaduais que trans-
feriram aos Municípios as terras devolutas situa-
2 Desafios de gestão das áreas
das em determinado raio do centro urbano4.
públicas suscetíveis a riscos
geotécnicos
1 Algumas leis específicas também relacionam bens da
União, como o Decreto-lei nº 9.760/46. A propriedade pública de uma área suscetível
2 A Lei Orgânica é a norma fundamental do Município,
uma espécie de “constituição municipal”. No caso de São
a riscos geotécnicos pode ser uma forma de garan-
Paulo os bens municipais estão regulados no art. 110 e tir que a área não venha a ser irregularmente ocu-
seguintes da Lei Orgânica. pada ou que não venha a ter uma destinação que
3 Na redação anterior da Lei 6.766/79 exigia-se, que as
áreas públicas a serem doadas perfizessem, no mínimo,
35% da área total da gleba a ser parcelada. situadas no raio de 6 km a partir do centro. Esse raio
4 Pela Lei Estadual nº 16/1891, pertenciam aos Municípios foi posteriormente ampliado para 8 km (Lei Estadual
com mais de 1.000 habitantes as terras devolutas nº 2.484/1935) e 12 km para a capital (Decreto nº 14.916/45).

18
Áreas suscetíveis ao risco geotécnico – quando convém a propriedade pública?

amplie o potencial de risco existente. Porém, para gestores públicos e da própria sociedade conta-
isso, é necessário que a área pública tenha adequa- rem com novos instrumentos de gestão de risco,
da utilização e que haja manutenção e fiscalização que identificam de forma mais clara as áreas im-
que possibilite evitar sua ocupação irregular. Em próprias à ocupação no território ou seja, áreas
alguns casos, cercar a área e permitir que a vege- que não devem ser edificadas ou onde devem ser
tação se recupere, pode ser uma alternativa, em tomadas precauções específicas para a ocupação.
especial se há uma população organizada no en- De acordo com a lei, os Municípios mais críticos
torno, que tem interesse em que a área seja manti- devem elaborar instrumentos de gestão de risco,
da desocupada e que notifique qualquer tentativa dentre eles o Mapeamento das áreas suscetíveis
de ocupação irregular, logo no início. Em outros à ocorrência de deslizamentos de grande impac-
casos, isto não basta, e a prevenção à ocupação to, inundações bruscas ou processos geológicos
irregular vai depender de uma ação mais direta ou hidrológicos correlatos; Mecanismos de con-
da municipalidade, dotando-a de um uso público, trole e fiscalização para evitar a edificação em
como parque, praça ou como área verde integrada áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos
ao terreno de algum equipamento público. Nestes de grande impacto, inundações bruscas ou pro-
casos pressupõe-se que haja uma ação de funcio- cessos geológicos ou hidrológicos correlatos e a
nários públicos que vão exercer a fiscalização da Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização, esta-
correta destinação da área. belecendo diretrizes urbanísticas voltadas para a
Vale destacar que parte dessas áreas susce- segurança dos novos parcelamentos do solo.
tíveis a risco, quando de baixo valor comercial, é Segundo Sobreira (2012, p.84) as cartas de susce-
usualmente doada pelos empreendedores ao Mu- tibilidade e de aptidão são cartas geotécnicas de
nicípio, por ocasião da aprovação do projeto de planejamento e gestão territorial e devem ofere-
parcelamento do solo, como área verde ou área cer condições de avaliação que dote o planejador
institucional. Porém, raramente o empreendedor de capacidade para intervenções que constituam
se responsabiliza pelos investimentos necessários cenários de desenvolvimento viável e são ins-
ao seu efetivo uso público, ou seja, doa um terreno trumentos de prevenção e correção de situações
para praça ou escola e não efetivamente uma pra- relacionadas a desastres naturais e tecnológicos.
ça ou escola. Em muitos casos a situação é mais As Cartas de Suscetibilidade são feitas na escala
grave, pois o terreno doado não tem condições 1:25.000 e têm por objetivo delimitar no territó-
para que nele seja construída uma praça ou esco- rio de um Município as áreas que possuem maior
la. Essas áreas inadequadas para os fins para as ou menor probabilidade de desencadeamento de
quais foram doadas, que ficam sem utilização por fenômenos naturais ou induzidos (deslizamen-
vários anos, constituem um dos grandes proble- tos, queda de rochas, rastejos ou inundação). As
mas em termos de ocupação irregular de áreas de Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização
risco potencial. Vale destacar que os Municípios são feitas na escala 1:10.000 ou 1:5.000 e indicam
têm amplos poderes atribuídos pela regulamenta- a capacidade dos terrenos para suportar os dife-
ção federal para que possam selecionar a área pú- rentes usos e práticas da engenharia e do urba-
blica que vão receber, por ocasião do fornecimen- nismo, com o mínimo de impacto possível e com
to de diretrizes para o parcelamento do solo (Lei o maior nível de segurança. A instituição de um
Federal 6766/79, arts 6-8). Infelizmente, porém, é Cadastro Nacional de Municípios Críticos quanto
raro que exerçam de fato esse poder. à ocorrência de processos geológicos está prevista
na Medida Provisória nº 547, publicada pelo go-
verno federal em 11/10/2011mas como até o mo-
3 Caracterização das áreas mento não foi definido este cadastro, foi adotada
suscetíveis a risco uma lista inicial proposta pelo Plano Nacional de
Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais
A implementação da Política Nacional de
do Governo Federal de 2012, com 821 Municípios
Proteção e Defesa Civil, instituída pela Lei Fe-
brasileiros prioritários. Os Municípios foram prio-
deral 12.608/2012, trouxe a possibilidade dos
rizados por apresentarem maior recorrência de

19
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

inundação, enxurradas e deslizamentos, número largas extensões territoriais ou grupo de pes-


de óbitos, desabrigados e desalojados, registrados soas, além daquelas que serão atingidas na
nos últimos 20 anos e coube ao Serviço Geológico própria área de risco, se a mesma vier a ser
do Brasil (CPRM) o mapeamento dos setores de irregularmente ocupada. Pressupõe-se aqui
alto e muito alto risco a inundações, enxurradas e que a propriedade pública deverá possibilitar
movimentos de massa nesses Municípios. Atual- condições de prevenção da ocupação irregu-
lar melhor que aquela que seria obtida caso
mente no Estado de São Paulo, já foi elaborado o
a sua propriedade fosse mantida particular;
mapeamento dos setores de risco alto e muito alto
‚‚ áreas consideradas estratégicas para con-
em 72 desses Municípios considerados prioritá- servação e/ou uso público, em função, por
rios. Existem outras priorizações que consideram exemplo, da sua condição ambiental, poten-
parâmetros assemelhados, como as elaboradas cial paisagístico, ou importância para o inte-
pelo Observatório das Chuvas e pelo Centro Na- resse coletivo.
cional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais- CEMADEN. Por outro lado, devem ser excluídas da lista-
O Observatório das Chuvas, em 2012, arro- gem de áreas prioritárias para aquisição públicas,
lou 89 Municípios mais vulneráveis do ponto de aquelas em que:
vista do meio físico utilizando informações so- ‚‚ o proprietário tem uso ou proposta de uso
bre “número de mortes”, “frequência de gran- que assegura a segurança quando aos riscos
de acidentes geotécnicos e não se considera
des eventos destrutivos” e “população atingida
que exista especial interesse na manutenção
ou afetada”, utilizando como fonte de dados os
da propriedade e/ou o acesso público;
arquivos da Secretaria Nacional de Defesa Civil. ‚‚ já existem claras restrições legais à sua ocupa-
O CEMADEN, no escopo do Plano Nacional de ção; os principais riscos e consequências de
Gestão de Riscos, monitora Municípios com histó- uma eventual ocupação ocorrem na própria
rico de registros de desastres naturais. Ao final de área, não se expandindo significativamente
2015 constavam 75 Municípios no Estado de São para áreas vizinhas e é gradativa a ocorrência
Paulo, esse número foi ampliado para 88 no início do risco, com sinais prévios de sua ocorrên-
de 2016. Quanto às Cartas de Suscetibilidade, fo- cia. É o caso, por exemplo, de algumas vár-
ram elaboradas pela CPRM para 300 Municípios zeas não ocupadas, sujeitas a problemas de
brasileiros prioritários, 47 deles pertencentes ao inundação que acontecem de forma lenta e
Estado de São Paulo, segundo informações atua- gradual.
lizadas em janeiro de 2016. A Carta de Aptidão à
Urbanização é um instrumento de gestão de ris- 5 Definição do nível de prioridade
co recente no Estado de São Paulo e no momento quanto à propriedade pública
tem-se o registro de apenas quatorze prontas ou
em elaboração. O Instituto de Pesquisas Tecnoló- Quando se retira da listagem de áreas de ris-
gicas do Estado de São Paulo- IPT e a Universi- co aquelas que são inequivocamente consideradas
dade Federal do ABC- UFABC estão realizando prioritárias e aquelas que claramente são conside-
estas primeiras cartas. radas de baixa prioridade para serem adquiridas
pelo poder público, visando a prevenção de riscos
de acidentes, pode-se ter ainda uma lista relativa-
4 Listagem de áreas que interessa a
mente grande de áreas. Apresenta-se adiante um
propriedade pública: prioridades
conjunto de questões e procedimentos que pode
Pode-se considerar que algumas áreas susce- vir a orientar a hierarquização das áreas cuja aqui-
tíveis ao risco são prioritárias, quando se cogita da sição pode ser considerada prioritária.
conveniência da sua manutenção como proprie- Para o conjunto de áreas que se pretende ana-
dade pública, ou da sua aquisição por parte do lisar, é necessário obter algumas informações, que
poder público. Destacam-se duas situações: vão orientar a decisão quanto à sua importância
‚‚ áreas cuja eventual ocupação irregular tem relativa, quando se considera a aquisição pública.
efeito multiplicador, ou seja, pode afetar Inclui-se nesses levantamentos:

20
Áreas suscetíveis ao risco geotécnico – quando convém a propriedade pública?

‚‚ dados sobre o proprietário atual da área, 4.3 Dificuldade e complexidade da operação de


sobre sua condição de parcelamento, regu- aquisição da área (número de proprietários, con-
laridade da documentação junto à munici- dição da documentação etc.)
palidade e no cartório de imóveis e sobre a
existência de pendências no pagamento de A proposta é que, para cada uma dessas 10
impostos e tributos; questões seja atribuída pontuação que varia de 1
‚‚ dados sobre a facilidade de acesso à área, pro- a 3, com maior pontuação para as áreas de maior
ximidade com áreas de ocupação irregular interesse e prioridade de aquisição e a soma indi-
no entorno e sobre as condições de vigilân- ca a importância relativa de cada área para o fim
cia para evitar sua ocupação irregular (a área específico de aquisição ou manutenção da pro-
tem atualmente algum uso ou pessoa que é priedade pública, na perspectiva de prevenção de
responsável por sua manutenção, é murada,
riscos geotécnicos.
a vizinhança ajuda na proteção contra sua
ocupação irregular etc.).
As perguntas que podem ser feitas, visando à Bibliografia consultada
ponderação da importância de aquisição pública
da área podem ser agrupadas em 4 eixos: CANIL, K. (coord.) Projeto de Pesquisa:
Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização:
1-Interesse de uso público da área; Instrumentos de Planejamento para prevenção de
1.1 Avalie a importância de assegurar livre acesso
público à área de risco (considerar seu potencial
desastres naturais nos municípios de Rio Grande
ambiental, paisagístico etc.) da Serra e São Bernardo, Região do Grande ABC,
1.2 Avalie a possibilidade de obtenção de recur- Estado de São Paulo. São Bernardo: UFABC: 2014.
sos para implantação e manutenção da área como
parte do patrimônio público. CPRM. Cartas de Suscetibilidade a Movimentos
Gravitacionais de Massa e Inundações. Disponível
2-Riscos e consequências da eventual ocupação
em: <http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/
irregular
2.1 Avalie a gravidade da ocupação irregular ou cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=3497&sid=38#s
inadequada da área de risco aopaulo> Acesso em: 09 mar 2016.
2.2 Avalie a extensão da área e da população que
pode ser afetada pelo acidente ______. Setorização de Riscos Geológicos.
2.3 Avalie a exposição da área de risco à ocupação Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/
irregular ou inadequada publique/Gestao-Territorial/Geologia-de-
3-Alternativas de uso da área que consigam pre-
Engenharia-e-Riscos-Geologicos/Setorizacao-de-
venir os riscos, mesmo com propriedade privada Riscos-Geologicos-4138.html> Acesso em: 11 mar.
3.1 Avalie a possibilidade e conveniência de ma- 2016.
nutenção da propriedade privada e do uso e ocu-
pação atuais, com eventual estímulo do poder SOBREIRA, F.G.; SOUZA, L.A..Cartografia
público Geotécnica Aplicada ao Planejamento Urbano.
3.2 Avalie a possibilidade e conveniência de es-
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e
timular algum outro uso/ocupação diferente da
atual, mantendo-se a propriedade privada da Ambiental, v.2, n.2, p.79-97, 2012.
terra.
OBSERVATÓRIO DAS CHUVAS. Municípios
4-Avaliação de custo e benefício da aquisição. Selecionados. Disponível em <http://www.
4.1 Visibilidade pública e política da aquisição da brasil.gov.br/observatoriodaschuvas/municipios-
área selecionados.html> Acesso em: 10 mar. 2016.
4.2 Custos envolvidos na operação

21
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E
GESTÃO DE RISCO DE DESATRES NATURAIS
SUSTAINABLE DEVELOPMENT AND NATURAL DISASTER RISK MANAGEMENT

Luis Antonio Bongiovanni


Grupo Regea-Pangea, bongiovanni.luiz@gmail.com

Julia Oliveira de Freitas


Consultora Ambiental e Social, juliaoliveira.freitas@gmail.com

Fernando Machado Alves


Grupo Regea-Pangea, fernando@regea.com.br

RESUMO ABSTRACT

Considerando que os atuais cenários de riscos am- Considering the current situation of environmental
bientais urbanos são resultados dos conceitos iniciais urban risk is a product of so called development, risk
atrelados a “desenvolvimento” e, portanto, da conse- incorporation should be a fundamental component of
quente necessidade dos processos de planejamento e urban development. The perspective of increasing the
desenvolvimento urbano incorporarem o risco como connection between urban development sustainable
componente fundamental, e na perspectiva de valori- practices and disaster risk management is the main
zar a interação entre práticas sustentáveis de desen- focus of thispaper.
volvimento urbano e a gestão de risco de desastres, o This paper presents an exercise of risk management
presente trabalho apresenta um exercício de avaliação assessment measures, considering its positive impacts
de medidas de gestão de risco, considerando seus im- in accordance with the three sustainability dimensions
pactos positivos segundo as três dimensões da susten- - Economic, Environmental and Social - and the most
tabilidade (econômico, social e ambiental) e seus mais important stakeholders grouped to this evaluation.
importantes stakeholders (partes interessadas) agru- The board of correlation, with the impacts properly
pados para avaliação. O quadro de correlação, com os addressed, will configure an important social
impactos devidamente valorados será uma importante engagement tool for financial agents and investors
ferramenta de sensibilização de agentes financiadores from the benefits provided by the natural disaster risk
e investidores, dos ganhos promovidos pelo desenvol- management of sustainable development.
vimento sustentável da gestão de risco de desastres
naturais. Keywords: natural disaster risk management;
sustainable development; urban planning; risk
Palavras-chave: gestão de risco de desastres naturais; management stakeholders; defense and civil protection
desenvolvimento sustentável; planejamento urbano;
stakeholders da gestão de risco; e proteção e defesa civil

22
Desenvolvimento sustentável e gestão de risco de desatres naturais

1 INTRODUÇÃO reativo, e que assim não promove necessariamen-


te um DesenvolvimentoSustentável.
Atualmente no Brasil os processos de plane- Por fim, o presente trabalho na busca da inte-
jamento e desenvolvimento urbano, quando im- ração entre o desenvolvimento sustentável e ges-
plementados, não cogitam de critérios de susten- tão do risco de desastres naturais, estabelece um
tabilidade e programas de redução e erradicação quadro de inter-relação dos stakeholders com uma
de riscos socioambientais como escorregamentos reflexão entre os instrumentos de gestão de riscos
e inundações. Dessa forma, a possibilidade de in- promovidos pela Lei n°12.608/2012 e as atuais
teração entre sustentabilidade e gestão de riscos concepções da gestão de riscos em seus quatro
deve ponderar, além das próprias medidas de eixos, junto com o desenvolvimento sustentável,
gestão, o balanço de seus impactos (positivos e traduzido aqui como um balanço entre os impac-
negativos), considerando as três dimensões (eco- tos positivos e negativos nasquestões econômicas,
nômica, social e ambiental) para as partes interes- sociais eambientais.
sadas (stakeholders).
Assim, a promoção de uma gestão do risco
num cenário de Desenvolvimento Sustentável, 2 MÉTODOS
visa apresentar a todos stakeholders impactos po-
2.1 Agestão de risco de desastresnaturais
sitivos, de maneira que a gestão do risco possa
ser entendida como fator impulsionante da conti- Nas últimas décadas, no campo teórico-
nuidade da prática da sustentabilidade. Contudo, -conceitual e tecnológico houve grandes trans-
este processo com potencial de criar um círculo formações, os conceitos de riscos e desastres gra-
virtuoso ainda não é claro, tanto na gestão do ris- dativamente evoluíram acrescentando ao longo
co, como nas práticas de sustentabilidade, além do tempo novas concepções e variáveis, que não
disso, as partes interessadas ainda carecem de de- só refletiram nos modelos conceituais, teóricos e
finição, e frequentemente uma parte interessada, educativos, como também nas diretrizes adminis-
desconhece a existência de outra, dificultando a trativas e organizacionais implicando em novas
possibilidade de interação esinergia. concepções e práticas de gestão. Esta evolução de-
A Lei Federal n° 12.608 de 2012, que esta- ve-se principalmente ao protagonismo da Organi-
belece a Política Nacional de Defesa e Proteção zação das Nações Unidas (ONU) cujas iniciativas
Civil (incluindo a gestão de riscos de desastres se tornaram referências nas atuações de proteção
naturais), contribuiu com a evolução do proces- e defesa civil em todo o mundo.
so, indicando não só medidas de gestão como Em março de 2015, foi realizada em Sendai
definindo diversos stakeholders, muitas vezes com (Japão) a 3ª Conferência Mundial de Redução de
atribuições especificas, principalmente para os Riscos de Desastres, organizada pela ONU, que
casos de gestores públicos, divididos em esferas estabeleceu o Marco de Ação de Sendai para o
federais, estaduais e municipais, além de agências período 2015-2030, com as seguintes prioridades:
e autarquias. O gestor público ao efetuar a gestão 1ª - Compreensão do risco de desastres; 2ª - For-
do risco de desastres naturais, por um lado coloca talecimento da governança do risco de desastres
em prática as atividades, e desta maneira, mesmo para a sua gestão; 3ª - Investimento na redução de
que empiricamente, pode gerar informações e ex- risco de desastre para a resiliência; e 4ª - Melhorar
periências que podem ser analisadas do ponto de a preparação para desastres a fim de proporcio-
vista do Desenvolvimento Sustentável, e assim nar uma resposta eficaz e para “reconstruir me-
por outro lado tornar-se um instrumento de con- lhor” em recuperação, reabilitação e reconstrução
vencimento, tanto de interessados financiadores, (UNISDR, 2015).
quanto de interessados investidores nessa ges- Coerente com tais prioridades, as modernas
tão. Apenas destaca-se que quando os aspectos e concepções de gestão de riscos de desastres suge-
ações oficiais ocorrem por efeito de lei, por vezes rem a adoção de quatro eixos de gestão, com seus
estas ações não almejam o Desenvolvimento Sus- subeixos apresentados na tabela 1 (Bongiovanni
tentável, mas caracterizam apenas um resultado et al., 2015).

23
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Tabela 1. Eixos e subeixos de concepção de gestão de serviços/atividades podem trazer e, por uma série
risco a desastres naturais. de procedimentos legais, institucionais, e técnico-
-científicos, prevê-se a magnitude e a importância
Eixos de Gestão Atividades
desses “custos”. Depois disso, defini-se o limite de
Identificação e caracterização do risco
cada um desses “custos” e, por limite, entende-se
1. Conhecimento Análise do risco
do Risco
o nível mais distante que o “custo” (impacto) é ca-
Monitoramento do risco
paz de atingir.
Comunicação do risco
O conceito da sustentabilidade não sugere a
Intervenção corretiva ou mitigação dos riscos
estagnação do crescimento econômico, mas prevê
2. Manejo Intervenção prospectiva ou
do Risco antecipação aos riscos desenvolver sob a ótica de conciliação das dimen-
Proteção financeira ou transferência dos riscos sões ambiental, econômica e social.
3. Manejo Preparação e execução da resposta
do Desastre Preparação e execução da recuperação
2.3 Definição e Análise de Stakeholders
4. Arranjo Articulação intersetorial
Institucional (público, privado e sociedade civil)
Legal Arcabouço legal
O termo “stakeholder” se refere a entidades ou
indivíduos que tendem a ser significativamente
afetados pelos processos advindos do desenvol-
vimento e planejamento urbano. O termo inclui
2.2 O Desenvolvimento Sustentável organizações ou indivíduos cujos direitos nos
termos da lei ou de convenções internacionais
A ideia de desenvolvimento sustentável vem
lhes conferem legitimidade de reivindicação pe-
da proposta de integração entre as questões am-
rante o responsável pelas atividades causadoras
bientais e o desenvolvimento econômico e, por
dos impactos percebidos. Os stakeholders podem
definição, significa: “atendimento das necessida-
incluir tanto aqueles diretamente envolvidos nas
des do presente sem comprometer a habilidade
operações do processo de desenvolvimento e pla-
de as futuras gerações atenderem suas próprias nejamento urbano (p. ex.: empregados, acionistas
necessidades” (RATTNER, 1999). e fornecedores) como os que mantêm relações de
A sustentabilidade foi um dos resultados outros tipos com o local (p. ex.: comunidades lo-
mais perceptíveis das conf erências internacionais cais, grupos vulneráveis dentro das comunidades
sobre desenvolvimento nos últimos anos. Dentre locais, sociedade civil) (Global Reporting Initiati-
as de grande visibilidade, a Rio 92 reuniu mais ve - GRI, 2013).
de 100 chefes de estado e originou a Agenda 21, Para esse trabalho, na tentativa de endereçar
com 27 princípios que estabelecem os pilares bá- de maneira generalista os impactos potenciais e
sicos do desenvolvimento sustentável. O primeiro reais, listou-se grandes grupos de stakeholders em
princípio traduz a linha de raciocínio sobre a qual função dos eixos de gestão de risco a desastres
o documento está embasado: “Os seres humanos naturais. A Tabela 2 identifica quem são esses
constituem o centro das preocupações relaciona- stakeholders selecionados e alguns dos ganhos pos-
das com o desenvolvimento sustentável. Têm di- síveis quando se incorpora os conceitos da susten-
reito a uma vida saudável, produtiva e em harmo- tabilidade em metodologias de gestão. Assim de-
nia com anatureza”. finiu-se: i) Comunidade exposta, que representa
A discussão teórica, no entanto, revela uma parte específica da sociedade civil; ii) Financiador,
luta implícita pelo poder entre diferentes atores representada pelos gestores públicos federais e es-
sociais (stakeholders), competindo por uma posi- taduais (em consonância com a Lei 12.608/2012);
ção hegemônica , para ditar diretrizes e endossar e iii) Gestores públicos locais, que são os princi-
representações, levando a tensões e conflitos e re- pais gestores e executores das políticas de defesa
sultando em problemas ambientais e sociais, cha- e proteção civil.
mados “custos sociais” (RATTNER, 1999). Destaca-se, que este procedimento acaba por
Para dimensionar esses “custos”, identifi- ser um exercício, nos quais os gestores públicos
cam-se os impactos que determinadas operações/ locais podem ser desdobrados em secretarias

24
Desenvolvimento sustentável e gestão de risco de desatres naturais

diversas municipais (saúde, meio ambiente, podem não ser tão óbvios. O preenchimento da
obras, defesa civil), bombeiros, poder judiciário, e Tabela 2 demonstrou que uma partição em sta-
etc.. Assim como existe o papel do investidor, da keholders discretizados, de acordo com o proces-
sociedade civil não exposta diretamente ao risco, so de risco definido, pode melhorar a acurácia da
e assim por diante. O quadro podeser específico avaliação, e demonstrar impactos positivos, ainda
para alguns tipos de risco e alguns ambientes. nãodestacados.
A possibilidade de inclusão de diversos ou-
tros stakeholders (e.g. representantes da socieda-
3 RESULTADOS EDISCUSSÃO de civil organizada, entidades representativas do
comércio e da indústria, etc) e também de outros
Para realizar o exercício aqui proposto, atra-
riscos, como erosão costeira, secas e estiagem, per-
vés da experiência profissional dos autores e do
mitem que a análise de riscos na perspectiva do
estudo de casos anteriores (e.g. BONGIOVAN-
desenvolvimento sustentável seja utilizada como
NI et al, 2015b;FERREIRA et al, 2016; BUSH et
instrumento de gestão, possibilitando assim a
al; IKEMATSU et al, 2005, etc.), foi idealizada
ampliação de seus impactos positivos e a univer-
uma correlação entre os quatro eixos de gestão
salização dos ganhos junto à sociedade como um
de riscos de desastres naturais (Tabela 1), os sta-
todo. Paralelamente, a Tabela 2 expressa a viabi-
keholders e os possíveis impactos positivos nas
lidade de avaliar o grau de abrangência das medi-
três dimensões de análise do desenvolvimento
das de gestão, de sua repercussão e efeitos, o que
sustentável: econômico (E), social e antrópico (S)
lhe confere o caráter de uma notável ferramenta
e ambiental (A). Esta correlação é apresentada na
de informação e de convencimento, tanto para di-
Tabela 2 quesegue.
vulgação social como para captação de recursos
Ressalte-se que a correlação proposta leva
e consequentemente contribuir para melhorar a
em consideração processos de inundação e de
governança dos riscos.
movimentos de massa, e por isso, outros impactos
positivos podem ser destacados, enquanto alguns

25
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Tabela 2. Quadro da correlação dos stakeholders, eixos de gestão de risco a desastres e impactos.
Stakeholder

Eixos de gestão de riscos de desastres naturais

Conhecimento do Risco Manejo do risco Manejo do desastre Arranjo Institucional- legal

E Diminui prejuízos, com E Diminui prejuízos, com E Diminui prejuízos, com E Valoração do imóvel por
aspectos de saúde e segurança aspectos de saúde, segurança e aspectos de saúde e segurança meio de arranjos legais
patrimônio e incrementa a resiliência (regularização fundiária) e
participação da gestão de
Comunidade exposta

recursos financeiros pelo


arranjo institucional
S Aumento da percepção S Menor exposição a agentes S Envolvimento da comunidade S Emponderamento da
e sensibilização de risco, patológicos, e situações nas questões sociais locais, sob comunidade, participação na
capacidade de reivindicação e desconfortáveis gerais de casos a ótica de resiliência e todos gestão do espaço urbano
cobrança de desabrigamento seus bônus
A Entendimento das questões A Diminui a exposição a resíduos A Menor exposição a agentes A Compartilhamento da gestão
ambientais no cotidiano sólidos e efluentes, incrementa patológicos, relacionados à ambiental com a comunidade e
proporcionando boas práticas condições de sobrevivência de efluentes e potabilidade de aos preceitos ambientais legais
ambientais ecossistemas locais água, além de exposição a de áreas de preservação (APAS
intempéries e APP)
E Diminui interrupções da E Aumento nas condições de E Dificulta a ocorrência de E Permite tomadas de
produção econômica e de segurança das instalações interrupções da produção decisões mais seguras,
ônus com indenizações e em áreas de risco, públicas e econômica e de ônus com diminui passivos judiciais,
seguridade social. Melhora a privadas preservando todos indenizações e seguridade e corresponsabilidades em
capacidade de o financiador os seus potenciais econômicos, social e a melhor recuperação eventuais falhas do sistema
empenhar recursos em áreas com redução em gastos em da normalidade pelo aumento de defesa e proteção civil,
prioritárias. saúde da resiliência. otimização e disponibilização e
gestão de recursos econômicos
por consórcios ou comitês
S Permite um melhor S Melhora as condições para S O aumento da resiliência S Possibilidade de organizar a
aproveitamento e tomada desenvolvimento local evita a longa interrupção gestão do risco de desastre em
Financiadores

de decisões na aplicação de de serviços e programas consórcios ou comitês, com


recursos na gestão do risco de diversos para a população, a os aspectos e particularidades
desastres, principalmente com presteza da resposta diminui regionalizados, de maneira
melhorias na vulnerabilidade a proliferação de males de que possam otimizar recursos
social convívio de comunidades humanos e preservar questões
fora de seus costumes, e ainda culturais
evita perdas de patrimônios
culturais
A Permite avaliar os possíveis A Melhora na qualidade e A Uma rápida recuperação A Permite uma sinergia entre os
impactos ambientais em disponibilidade de recursos permite que os impactos instrumentos legais de gestão
decorrência de desastres hídricos, e aumenta a ambientais sejam de risco e de gestão ambiental
naturais, determinar segurança ecossistêmica minimizados, preservando os
prognósticos e recursos naturais, para
mitigações uso adequado
E Permite ganhos e proporciona E Diminui custos com E Permite otimização dos custos E Diminui ocupações irregulares,
embasamento para as obras saúde, assistência social, de limpezas, recuperações e construções de equipamentos
e planejamento, que além de desassoreamento de cursos de assistência social, o aumento públicos vulneráveis, e seus
trazer benefícios à população, água, qualidade dos recursos de resiliência permite prejuízos. Ganha-se eficiência
também promova a gestão hídricos, reconstruções de vias, ao gestor público local a nas atividades de zeladoria,
Gestão Pública Local

de risco, com ordenamento drenagens e equipamentos retomada da normalidade e transversalizando a gestão de


das campanhas de limpeza e públicos, além de economia devida produção econômica. risco
manutenção de vias e com limpezas, manutençõese
sistemas de drenagens recuperações ambientais,
S Melhor comunicação S Preserva a saúde, segurança e S A eficiência deste serviço S A multidisciplinaridade
com a comunidade sobre patrimônio público, privado e aumenta a proteção às pessoas organizada permite o
as demandas das áreas cultural e promove a rápida volta da planejamento e devida
vulneráveis, promovendo sociedade ao cotidiano fiscalização para uma expansão
atividades de manejo Antecipa remediação de urbana ordenada
de risco, e promoção possíveis doenças e a
de aprofundamento do compra de itens básicos de
conhecimento do risco higiene, saúde e
A Aumenta a acurácia na A Diminui impactos causados A A agilidade na limpeza A A expansão urbana ordenada,
previsão das dificuldades e por erosão, assoreamento, e recuperação da área propicia ganhos na preservação
possíveis impactos ambientais saneamento ambiental e atingida diminui os impactos ambiental, como erosão,
decorrentes de desastres resíduos sólidos ambientais assoreamento e gestão de
naturais, otimizando a resíduos e efluentes
aplicação de outros eixos de
gestão

26
Desenvolvimento sustentável e gestão de risco de desatres naturais

4 CONCLUSÕES frente à somatória dos prejuízos, perdas e danos,


devidamente valorados, para que possam utilizar
Este trabalho apresenta a proposta de se ana- este conhecimento como sensibilização de agentes
lisar a interação entre o desenvolvimento susten- financiadores e investidores, dos ganhos promo-
tável e a gestão do risco de desastres naturais, por vidos pelodesenvolvimento sustentável da gestão
meio do estabelecimento de um quadro de inter- de risco de desastresnaturais.
-relação dos stakeholders permite uma reflexão en-
tre os instrumentos de gestão de risco de desastres
naturais. Para os três atores selecionados, os qua- REFERÊNCIAS
tro eixos de gestão de risco, e as três dimensões do
BONGIOVANNI, L. A.; ALVES, F. M.;
desenvolvimento sustentável (econômica, social e
FAGUNDES, M. G.; IWASA. O. Y. 2015. Avaliação
ambiental), foram propostos mais de 36 impactos
da capacidade de gestão municipal de riscos de
positivos, entre os inúmeros possíveis.
desastres naturais no nordeste brasileiro. In 15º
Destaca-se que a dinâmica de se avaliar o
Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e
desenvolvimento sustentável da gestão de risco,
Ambiental. Bento Gonçalves, Associação Brasileira
desde o ponto da identificação, definição e análi-
de Geologia de Engenharia e Ambiental, 2015.
se dos stakeholders envolvidos, pode ser conside-
rada um avanço no estudo e avaliação de gestão BONGIOVANNI. L. A.; MALVESE, S. T. 2015.
de risco, especialmente no âmbito público local. A Gestão de riscos como política pública prioritária
compreensão da presença e do papel de inúme- na Região do Grande ABC. In: 15º Congresso
ros atores permite a percepção e entendimento Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental.
da abrangência dos ganhos devidos à adequadas Bento Gonçalves, Associação Brasileira de
medidas de gestão. O exercício de se escolher sta- Geologia de Engenharia e Ambiental, 2015.
keholders e definir seus impactos, em busca de um
balanço, e distribuí-los dentro dos eixos de gestão BUSCH, A.; AMORIM, S. 2011. A tragédia da região
propostos, também promove um melhor entendi- serrana do Rio de Janeiro em 2011: procurando
mento da abrangência dosganhos. respostas. Escola Nacional de Administração
Este exercício da integração da gestão do ris- Pública – ENAP. Casoteca de Gestão Pública.
co de desastre aos processos de planejamento, de- Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/
senvolvimento urbano e sustentabilidade vai ao bitstream/1/328/2/A%20trag%C3%A9dia%20
encontro de um dos objetivos e diretrizes primor- da%20regi%C3%A3o%20serrana%20do%20
diais da Política Nacional de Proteção e Defesa Rio%20de%20Janeiro%20em%202011%20
Civil, determinada pelo parágrafo único do Art. procurando%20respostas.pdf
3º da Lei 12.608/2016: a qual “deve integrar-se às
políticas de ordenamento territorial, desenvolvi- FERREIRA, C. J. ; ALVES, F. M.; RAFFAELLI,
mento urbano, saúde, meio ambiente, mudanças C. B. S.; SOUZA, C. A. 2016. Causas da redução
climáticas, gestão de recursos hídricos, geologia, do risco de escorregamentos e de inundações em
infraestrutura, educação, ciência e tecnologia e às núcleos residenciais do município de Poá, SP, no
período 2006-2015. In: III Congresso da Sociedade
demais políticas setoriais, tendo em vista a pro-
de Análise de Risco Latino Americana, 2016.
moção do desenvolvimentosustentável.”.
A partir da análise simplificada, com apenas GLOBAL REPORTING INITIATIVE - GRI. 2013.
três stakeholder foi possível entender os ganhos G4 Diretrizes para Relato de Sustentabilidade –
sucessivos e complementares que podem surgir Manual de Implementação. p. 258. 2015.
a partir da gestão de risco dentro de um panora-
ma de desenvolvimento sustentável, e sugere-se IKEMATSU, P. et al 2015. Mapeamento de áreas
aos gestores públicos locais o entendimento desse de risco a deslizamentos e inundações e de
processo, e seguir um detalhamento com devida áreas de preservação permanente (APPs) em
valoração financeira em todas as esferas (econô- núcleos e loteamentos irregulares no Município
mica, social e ambiental) para que seja comparada de São Roque, SP. In: 15º Congresso Brasileiro

27
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

de Geologia de Engenharia e Ambiental. Bento Ambiental. Disponível em: <http://webcache.


Gonçalves, Associação Brasileira de Geologia de googleusercontent.com/search?q=cache:https://
Engenharia e Ambiental, 2015. www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/estudos_
ambientais/ea20b.html>. Acesso em: 28 mar2016.
RATTNER, H. 1999. Sustentabilidade –
umavisãohumanista . Disponível em: <https:// UNISDR – UNITED NATIONS INTERNATIONAL
ds ust ent avel .wik is p ac es .com/file/vi e w / STRATEGY FOR DISASTER REDUCTION.:
RATTNER%2C+1999.pdf>. Acesso em: 19 fev. Sendai Framework for Disaster Risk Reduction —
2016. 2015 – 2030. Geneva, UNISDR, 2015.

UNESP – Universidade Estadual Paulista “Julio de


Mesquita Filho”. Instrumentos de Gerenciamento

28
DETERMINAÇÃO DE LIMIARES DE
PRECIPITAÇÕES EXTREMAS RELACIONADAS
À OCORRÊNCIA DE INUNDAÇÕES:
ESTUDO DE CASO DA BACIA DO RIO
SAPUCAÍ EM ITAJUBÁ – MG
DETERMINATION OF EXTREME PRECIPITATION THRESHOLDS RELATED TO FLOODING
OCCURRENCE: CASE STUDY OF THE SAPUCAÍ RIVER BASIN IN ITAJUBÁ – MG

Benedito Cláudio da Silva


Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI, silvabenedito@unifei.edu.br

Rebeca Meloni Virgílio


Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI, rebecameloni@gmail.com

Alessandro Marques Martins


Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI, marques.unifei@yahoo.com.br

RESUMO Abstract

O presente estudo realiza uma análise dos dados de This study performs an analysis of rainfall data
precipitações disponíveis na bacia do rio Sapucaí a available in Sapucaí River basin upstream from the
montante do município de Itajubá - MG, com o intuito city of Itajubá – MG, in order to determine thresholds
de determinar limiares deprecipitações extremas. Para of extreme rainfall. For the Sapucaí River basin it was
a bacia do rio Sapucaí foi encontrado um limiar de pre- found an average threshold of extreme rainfall of 46,5
cipitaçãointensa médio de 46,5 [mm] em 24 [horas] e [mm] in 24 [hours] and the spatial distribution of these
a distribuição espacial dos limiares não apresentou- thresholds showed no obvious pattern. The assessment
nenhum padrão evidente. A avaliação da frequência of the annual frequency of rainfalls that exceeded this
anual das precipitações que ultrapassaramesse limiar threshold showed no tendency of increase or decrease
não apontou nenhuma tendência de aumento ou dimi- along the time. Regarding the basin in the city of
nuição no tempo. Quanto à baciaem Itajubá, a análise Itajubá, the analysis focused on floods and the results
focou em inundações, e os resultados apontaram que suggest that in all the selected events a medium rainfall
em todos os eventosselecionados ocorreu uma chuva occurred with at least 46 [mm] in 24 [hours]. However,
média de pelo menos 47 [mm] em 24 [horas]. No en- this result is only approximate, since the concentration
tanto, essevalor é apenas aproximado, pois o tempo de time of the basin is inferior than 24 [hours] and without
concentração da bacia é menor do que 24 horas, esem hourly data it is not possible to obtain the time interval
dados horários, não é possível a obtenção do interva- in which this rainfall should be distributed to actually
lo de tempo em que essa chuva deveestar distribuída cause a flood.
para realmente ocasionar uma inundação.
Keywords: floods, thresholds, extreme rainfall,
Palavras-chave: inundações, limiares, precipitações ex- concentration time.
tremas, tempo de concentração.

29
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

1 objetivos A segunda análise está relacionada com


a quantidade de chuva responsável pela ocor-
A área urbana do município de Itajubá, lo- rência de inundações na bacia do Rio Sapucaí a
calizado no sul do estado de Minas Gerais, é montante do município de Itajubá, cidade que
atingida por inundações desde a sua fundação, apresenta desde a sua fundação problemas com
em 1819, existindo relatos de mais de 50 even- eventos de cheias.
tos (BARBOSA, OLIVEIRA, OLIVEIRA, 2015; Foram selecionados eventos de inundação
PINHEIRO, 2005). Esses eventos extremos po- que ocorreram no município a partir da década de
dem ter diversas causas, simultâneas ou não, 60, devido a maior quantidade de estações ativas
como impermeabilização da área de drenagem, na região com dados suficientes para análise das
precipitações extremas, assoreamento dos rios e precipitações extremas. Os eventos foram escolhi-
a ocupação do solo em áreas de risco. Em áreas já dos a partir do levantamento de estudos sobre o
consolidadas, uma possível maneira de minimi- histórico de enchentes em Itajubá, sendo selecio-
zar os danos provocados, é a adoção de medidas nados apenas os considerados de grande magni-
não-estruturais, como o zoneamento de áreas de tude pelos autores consultados (Tabela 1).
risco e os sistemas de alerta.
Sendo o volume de precipitação uma das Tabela 1. Eventos de inundações significativos ocorri-
causas presentes na maioria dos eventos de inun- dos no município de Itajubá – MG.
dação, sua análise é de extrema importância para
o desenvolvimento de medidas não-estruturais. Evento de inundação Fonte

Assim sendo, este trabalho tem como objetivo a 21 de janeiro de 1979 Barbosa (2015)

avaliação dos dados de precipitação das estações 16 de janeiro de 1981 Pinheiro (2005)

pluviométricas existentes na bacia hidrográfica 27 de dezembro de 1986 Pinheiro (2005)


Barbosa (2015) e Pinheiro
delimitada no Rio Sapucaí a montante do municí- 16 de janeiro de 1991
(2005)
Barbosa (2015) e Pinheiro
pio de Itajubá na tentativa de determinar os limia- 2 de janeiro de 2000
(2005)
res de precipitações extremas responsáveis pelas 5 de janeiro de 2007 Barbosa (2015)

principais inundações relatadas na bacia. 15 de fevereiro de 2009 Barbosa (2015)

Para determinação da data exata em que o


2 método utilizado evento ocorreu, dado que nem sempre foi forneci-
do pelos estudos consultados, realizaram-se aná-
Primeiramente foi realizada uma análise da
lises das vazões de duas estações fluviométricas
ocorrência de chuvas intensas na bacia do Rio Sa-
existentes no município, 61271000 (exutório da
pucaí. Foram pré-selecionadas as estações pluvio-
bacia em estudo) e 61285000. Foram construídos
métricas da bacia com mais de 30 anos de dados
hidrogramas mensais para cada ano selecionado
de precipitação no Sistema de Informações Hi-
e verificado o mês e o dia em que ocorreu o pico
drológicas (HidroWeb) da Agência Nacional de
de vazão em ambas as estações. Quando o dia do
Águas (ANA). Com auxílio do software Manejo
pico não coincidiu, foi escolhido aquele que acon-
de Dados Hidroweb 4.2. verificou-se a existência
teceu primeiro.
de falhas nos dados e selecionou-se apenas as es-
A área de estudo foi delimitada com o auxílio
tações que apresentaram pequenas quantidades
do software de sistemas de informações geográ-
de falhas, sendo ao todo selecionadas 9 estações.
ficas ArcGis® tomando como exutório a estação
Em seguida foi determinado o percentil de
fluviométrica 61271000, localizado pelas coorde-
excedência igual a 1% de cada uma dessas esta-
nadas Latitude Sul – 22°26’36” e Longitude Oes-
ções, sendo possível a verificação dos valores de
te – 45°25’46”, no município de Itajubá no sul de
precipitação que ocorreram em apenas 1% do
Minas Gerais (Figura 1). Foram verificadas as es-
tempo de todo o período de dados existente na
tações pluviométricas existentes na bacia traçada
estação, ou seja, a estimação de um limiar de pre-
e no seu entorno, sendo selecionadas 14 estações
cipitações intensas.
(Figura 2).

30
A áreaLatitude
coordenadas de estudoSulfoi– delimitada
22°26’36” com e Longitude
o auxílio Oestedo software– 45°25’46”,
de sistemas no município
de informaçõesde Itajub
geográficas ArcGis® tomando como exutório a estação fluviométrica
sul de Minas Gerais (Figura 1). Foram verificadas as estações pluviométricas existentes 61271000, localizado pelasna b
coordenadas
traçada Latitude
e no seu Sul –sendo
entorno, 22°26’36” e Longitude
selecionadas 14Oeste
estações – 45°25’46”,
(Figurano 2).município de Itajubá no
Determinação de limiares de precipitações extremas relacionadas à ocorrência de inundações
sul de Minas Gerais (Figura 1). Foram verificadas as estações pluviométricas existentes na bacia
traçada e no seu entorno, sendo selecionadas 14 estações (Figura 2).

Figura 1 – Localização da bacia estudada.


Figura 1. Localização da bacia estudada.
Figura 1 – Localização da bacia estudada.

Figura 2. Localização das estações pluviométricas selecionadas para o estudo.

3
31
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Para cada evento foram levantadas as pre- 0 , 79


cipitações para os 14 dias anteriores e os 2 dias  L 
TC = 7,68  0,5  [min]
seguintes à inundação de todas as estações e cal- S 
culada a média para cada dia desse intervalo de
tempo. Assim foi possível estimar a chuva média Nas três equações, L é o comprimento do cur-
diária na bacia responsável pela enchente em Ita- so d’água principal em [km] e S é a declividade
jubá e a sua distribuição no tempo. Para a con- média do curso d’água principal em [m/m]. É
firmação do valor encontrado no passo anterior importante ressaltar que, para as formulações de
foram levantados todos os dados de precipitação Corps of Engineers e Ven te Chow, Silveira (2005)
existentes nas 14 estações pluviométricas e inves- afirma que o modo de cálculo da declividade mé-
tigada a existência de chuvas médias diárias aci- dia é incerto nas informações dadas pelas fontes
ma do limiar encontrado. bibliográficas. Por isso, foi adotada uma equação
Ainda analisando a chuva média responsável sugerida por Collischonn e Dornelles, 2005, onde
pela ocorrência das inundações foi determinado P85% é a altitude em [m] do ponto do curso d’água
o tempo de concentração da bacia por três méto- principal à 85% de seu comprimento a partir do
exutório, P10% é a altitude em [m] do ponto do cur-
dos diferentes, considerados condizentes com as
so d’água principal à 10% de seu comprimento a
características da mesma. O cálculo do tempo de
partir do exutório e L é o comprimento do curso
concentração da bacia é de grande importância já
d’água principal em [m]:
que define o tempo necessário para que a água
que precipitou no ponto mais distante da bacia
P85 % − P10 %
caminhe até o exutório. Sendo assim, é necessária S= [ m / m]
uma análise crítica da chuva média e sua distri- 0,75 L
buição temporal, pois os dados disponibilizados
para o estudo são dados de precipitação diários e Como última análise verificou-se as cotas
não horários. do rio Sapucaí na estação fluviométrica 61271000
O primeiro método utilizado foi o do Corps (exutório da bacia em estudo) para verificação,
of Engineers, recomendado por Silveira (2005), da existência ou não, de uma relação entre os
que possuí validade teórica para bacias rurais de eventos de inundação e o nível d’água nos três
dias anteriores ao evento. Para isso foram com-
até 12.000 [km²]:
parados dados dos eventos selecionados com
outras datas onde não foi relatada nenhuma en-
TC = 0,191L0, 76 S −0,19 [horas ] chente no município.

O segundo método utilizado foi o de Ven te


Chow, também recomendado por Silveira (2005), 3 DISCUSSÃO
e possuí validade teórica para bacias rurais de até
Ao levantarmos estações pluviométricas com
19 [km²]. No entanto, o autor obteve bons resulta-
uma quantidade significativa de dados e com pou-
dos ao avaliar seu desempenho em bacias de 153
cas falhas foi possível estimar o volume das pre-
[km²] até 11.162 [km²]:
cipitações intensas de cada estação selecionada na
bacia do rio Sapucaí. Na Tabela 2 apresentam-se
TC = 0,106 L0, 64 S −0,32 [horas ] os valores encontrados e na Figura 3 pode ser vi-
sualizada a distribuição espacial dos mesmos.
Por fim, o terceiro método, sugerido por Col-
lischonn e Dornelles (2013), possui validade teóri-
ca para bacias de até 5.840 [km²]:

32
selecionada na bacia do rio Sapucaí. Na Tabela 2 apresentam-se os valores encontrados e na
Determinação de limiares de precipitações extremas relacionadas à ocorrência de inundações
Figura 3 pode ser visualizada a distribuição espacial dos mesmos.
Tabela 2. Precipitações extremas (frequência de 1%).
Tabela 2 – Precipitações extremas (frequência de 1%).
Código da Estação Precipitação
Código da Estação Precipitação
1%1% [mm]
[mm] Código da
Código da Estação
Estação Precipitação 1% [mm]
Precipitação 1% [mm]
2145017 47,5 2245029 56,0
2145017 47,5 2245029 56,0
2245000
2245000 45,1 45,1 2245066
2245066 45,2
45,2
2245010
2245010 46,4 46,4 2245074
2245074 47,0
47,0
2245011 38,8 2245077 45,7
2245011 38,8 2245077 45,7
2245018 47,4
2245018 47,4

Figura 3 – Distribuição das precipitações extremas em milímetros na bacia do rio Sapucaí.


Figura 3. Distribuição das precipitações extremas em milímetros na bacia do
rio Sapucaí.

Ao analisarmos os valores de precipitação encontrados temos que, em média, a chuva


diária intensa na bacia do Rio Sapucaí é de 46,5 [mm] e que sua distribuição espacial não
apresentaAonenhumanalisarmos os valores
padrão. de precipitação
A partir limiar estimado
do levantamento para chuvas intensas
da quantidade em todas as
de precipitações que
encontrados
ultrapassaram o temos
limiarque, em média,
estimado para a chuva
chuvasdiária nove estações
intensas em todas pluviométricas, no períodopluviométricas,
as nove estações de 1934
intensa na bacia do Rio Sapucaí é de 46,5 [mm] a 2013, é possível perceber
no período de 1934 a 2013, é possível perceber que a bacia não possui uma tendência que a bacia não possui de
e que sua distribuição espacial não apresenta uma tendência
aumento na frequência de precipitações com o passar dos anos (Figura 4). de aumento na frequência de pre-
nenhum padrão. A partir do levantamento da cipitações com o passar dos anos (Figura 4).
quantidade de precipitações que ultrapassaram o

33
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Figura 4. Frequência
Figura das precipitações
4 – Frequência intensas intensas
das precipitações da bacia do
daRio Sapucaí.
bacia do Rio Sapucaí.
Figura 4 – Frequência das precipitações intensas da bacia do Rio Sapucaí.
Partindo para a análise referente à bacia delimitada no rio Sapucaí a montante do município
Partindo
de Itajubá, apóspara a análise
a seleção das referente
estaçõesà bacia de- quantidade
pluviométricas mínima de chuva necessária para
de de-
Partindo para a análise referente à bacia delimitadano
nointerior da bacia
rio Sapucaí e o levantamento
a montante do município
limitada
seus dadosnode
rio Sapucaí a montante do município sencadear mínima
os eventos
de de inundação selecionados.
de Itajubá, apósprecipitação
a seleção das foi estações
possível estimar a quantidade
pluviométricas no interior da baciachuva necessária
e o levantamento para
de
desencadear
de Itajubá, os
após eventos
a de
seleção inundação
das estações selecionados.
pluviomé- Os
Os resultados
resultados encontrados
encontrados mostram
mostram
seus dados de precipitação foi possível estimar a quantidade mínima de chuva necessária para que
que ememtodas
todas as enchentes
tricas no interior
desencadear selecionadas
da bacia
os eventos ocorreu
e o levantamento
de inundação uma chuva
de as
selecionados. de pelo
Osenchentes menos 47
resultadosselecionadas[mm] em
encontradosocorreu
mostram24
uma [horas]
quechuva
em de
(Figura
seus 5).
dados de precipitação foi possível estimar a pelo menos 47 [mm]
todas as enchentes selecionadas ocorreu uma chuva de pelo menos 47 [mm] em 24 [horas]em 24 [horas] (Figura 5).
(Figura 5).

Figura 5 – Precipitação média em 24 [horas] dos eventos de inundação selecionados.


Figura – Precipitação
Figura5. 5Precipitação médiamédia
em 24 em 24 [horas]
[horas] dos de
dos eventos eventos de inundação
inundação selecionados.
selecionados.
A partir da determinação das chuvas médias diárias para todo o período de dados existente
para cada uma
A partir dadas 14 estações
determinação dasselecionadas
chuvas médiasverificou-se que todo
diárias para eventos com mais
o período de 47existente
de dados [mm] de
para Aocorrem
chuvacadapartir
uma da emdeterminação
das 14diversas
estações das onde
datas chuvas
selecionadasnãomé-foramverificou-se queinundações
identificadas
verificou-se que eventos eventos com
com mais nas
demais de 47de[mm]
referências
47 [mm]
consultadas.
dias diárias Sendo
para assim,
todo o pode-se
período delevantar
dados a hipótese
exis- de de que
chuva essa
ocorrem quantidade
em de
diversas
chuva ocorrem em diversas datas onde não foram identificadas inundações nas referências precipitação
datas onde não
se concentrou
tente para cada
consultadas. em um
umaassim,
Sendo intervalo
das 14pode-se de tempo
estaçõeslevantar menor
selecionadas do que
foram
a hipótese 24 [horas].
identificadas
de que Para verificação
inundações
essa quantidade dessa
nas referências
de precipitação
hipótese
se foi calculado
concentrou o tempo de
em um intervalo de tempo
concentração
menor do daquebacia, por trêsPara
24 [horas]. métodos diferentes
verificação dessae
condizentes
hipótese foi calculado o tempo de concentração da bacia, por três métodos diferentessão
com as características da bacia em estudo. Os valores encontrados e
34
apresentados
condizentes com na Tabela 3.
as características da bacia em estudo. Os valores encontrados são
Determinação de limiares de precipitações extremas relacionadas à ocorrência de inundações

consultadas. Sendo assim, pode-se levantar a hi- de aumento ou redução com o passar dos anos.
pótese de que essa quantidade de precipitação A respeito da bacia do rio Sapucaí a montante do
se concentrou em um intervalo de tempo menor município de Itajubá, segundo a análise das pre-
do que 24 [horas]. Para verificação dessa hipótese cipitações obtidas das 14 estações selecionadas e
foi calculado o tempo de concentração da bacia, do levantamento de eventos de inundação signi-
por três métodos diferentes e condizentes com as ficativos na região, foi determinado a quantidade
características da bacia em estudo. Os valores en- mínima de chuva necessária para desencadear os
contrados são apresentados na Tabela 3. eventos, que foi de pelo menos 47 [mm] em 24
[horas]. No entanto, a verificações de ocorrências
desse valor ao longo do tempo mostraram que ele
Tabela 3. Tempo de Concentração da bacia estudada.
nem sempre acontece vinculado a uma inundação.
Tempo de Concentração Isso pode ser explicado pelo fato da bacia possuir
Método
[horas] um tempo de concentração menor do que 24 [ho-
Corps of Engineers 9,9 ras]. A determinação de um limiar mais próximo
Ven te Chow 8,8 da realidade seria possível a partir de dados horá-
Watt e Chow 18,0 rios de precipitação, porém, não existem estações
com essa precisão na região estudada.
Como esperado, o tempo de concentração
da bacia é menor do que 24 [horas]. Assim sen-
do, pode-se inferir que a precipitação de 47 [mm] AGRADECIMENTOS
se concentrou em um período de tempo menor
do que um dia. Ou seja, se esses 47 [mm] forem Os autores agradecem ao CNPq pelo financiamen-
bem distribuídos durante 24 [horas] a inundação to da pesquisa a qual o trabalho está vinculado:
provavelmente não irá acontecer. No entanto, não Desenvolvimento de um sistema de prognóstico
será possível a determinação desse intervalo de por conjunto de chuvas extremas e sua aplicação
tempo em que o volume de precipitação deve-se em ações de prevenção a desastres naturais. Edital
concentrar devido à inexistência de dados horá- MCTI/CNPq/FNDCT N º 65/2013.
rios de chuva para a região de interesse.
Por fim, foi realizada uma análise das cotas REFERÊNCIAS
do rio nas duas estações fluviométricas de Itajubá,
citadas anteriormente, com o intuito de verificar BARBOSA, A. A.; OLIVEIRA, G. M.; OLIVEIRA,
se há alguma relação entre os níveis do rio Sapu- T. J. Histórico de enchentes em Itajubá/MG.
caí nos dias anteriores a inundação e a inundação Revista Meio Ambiente e Sustentabilidade, vol. 9,
em si, a partir da comparação dos eventos detecta- n. 4, p. 125-140, jul/dez 2015.
dos com volumes de precipitação acima do limiar
de 47 [mm] em dias com e sem enchentes. No en- COLLISCHONN, W.; DORNELLES, F. Hidrologia
tanto, não foi encontrada nenhum padrão. para engenharia e ciências ambientais. 1 ed.
Porto Alegre: Associação Brasileira de Recursos
Hídricos (ABRH), 2013.
4 CONCLUSÃO
PINHEIRO, M. V. Avaliação Técnica e Histórica
A análise das precipitações da bacia do rio Sa- das Enchentes em Itajubá – MG. Dissertação
pucaí, oriundas das 9 estações selecionadas, per- (Mestrado em Engenharia de Energia) –
mitiu a determinação de valores de precipitações Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, p. 104,
intensas a partir do percentil de excedência de 1%, 2005.
que foi de, em média, 46,5 [mm] em 24 [horas],
não tendo apresentado nenhum padrão na sua SILVEIRA, A. L. L, Desempenho de Fórmulas
distribuição espacial. O levantamento da frequên- de Tempo de Concentração em Bacias Urbanas e
cia anual de precipitações onde esse limiar foi Rurais. Revista Brasileira de Recursos Hídricos,
extrapolado não apresentou nenhuma tendência Porto Alegre, vol. 10, n. 1, p. 5-23, jan/mar 2005.

35
EMPREGO DA COMPARTIMENTAÇÃO FISIOGRÁFICA
NA SELEÇÃO DE ÁREAS-ALVO A PROCESSOS
DE CORRIDAS DE MASSA: APLICAÇÃO NA ÁREA
SERRANA DO LITORAL NORTE DE SÃO PAULO
EMPLOYMENT OF PHYSIOGRAPHIC COMPARTMENT IN THE SELECTION OF TARGET
AREAS FOR MASS RACING PROCESSES: APPLICATION IN THE SERRANA AREA OF THE
NORTHERN SÃO PAULO COAST

Claudia Vanessa dos Santos Corrêa


Pós-graduação em Geociências e Meio Ambiente, Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”, claudiageobrax@yahoo.com.br

Fábio Augusto Gomes Vieira Reis


Geólogo e Eng. Civil, Prof. Dr. Departamento de Geologia Aplicada,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, fabioreis@rc.unesp.br

Beatriz Marques Gabelini


Pós-graduação em Geociências e Meio Ambiente,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Lucília do Carmo Giordano


Ecóloga e Eng. Ambiental, Doutora em Geociências e Meio Ambiente,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, lcg@ecogeologia.com.br

Camila Jardinetti Chaves


Pós-graduação em Geociências e Meio Ambiente,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Ana Maria Carrascosa do Amaral


Pós-graduação em Geociências e Meio Ambiente,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Marina Mendes Coura


Graduação em Geologia, Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”, marina.mcoura@gmail.com

Rodrigo Irineu Cerri


Pós-graduação em Geociências e Meio Ambiente,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Flávia Beatriz Demarchi


Graduação em Geologia, Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”,

Gabriela Hernades Villani


Graduação em Geologia, Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”

Rafaela Bressan
Graduação em Geologia, Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”,

36
Emprego da compartimentação fisiográfica na seleção de áreas-alvo a processos de corridas de massa

RESUMO ABSTRACT

O objetivo deste trabalho foi de realizar a comparti- The objective of this study was to perform the
mentação fisiográfica das bacias hidrográficas Juqueri- physiographic compartmentalization of Juqueriquerê,
querê, Santo Antônio e São Francisco, nos municípios San Antonio and San Francisco watershed, in the
de Caraguatatuba e São Sebastião (SP), com finalidade municipalities of Caraguatatuba and São Sebastião
de identificar locais com maior vulnerabilidade a cor- (SP), with the purpose of identifying areas with greater
ridas de massa. Foi empregado o método proposto por vulnerability to flow. It used the method proposed
Zaine (2011), com subsídio de bases cartográficas em by Zaine (2011), with allowance cartographic bases
escala 1:50.000, mapas geológicos em escala 1:50.000 e in scale 1: 50,000 geological maps at 1: 50,000 and
ortofotos com resolução 1:10.000, além de estudos de orthophotos with resolution 1: 10,000, and retro-
retro-análise dos eventos que já ocorreram no local. analysis of event studies that have already occurred
Foram delimitadas unidades fisiográficas nas planícies in local. Physiographic units were delimited in fluvial
fluviais e flúvio-marinhas; nos locais com depósitos de and fluvial-marine plains; in places with deposits of
colúvio e de tálus, nos granitoides em morros isolados, colluvium and talus in granitoids in isolated hills in
nos granitoides e gnaisses-migmatitos associados às granitoids and gneisses, migmatites associated with
médias e baixas encostas de serra e nas áreas de topo the middle and lower mountain slopes and on top of
com predominância de granitoides e a gnaisses mig- areas with a predominance of granitic gneisses and
matitos. A vulnerabilidade a corridas de massa é maior migmatites. The vulnerability of flow is greater in the
em encostas retilíneas a convexas, com valores de de- convex and straight slopes with slope values greater
clividade superiores a 30º. than 30º.

Palavras-chave: Compartimentação fisiográfica, corri- Keywords: Physiographic compartmentalization,


das de massa, fotointerpretação flows, photointerpretation

1 INTRODUÇÃO As etapas de realização da compartimenta-


ção fisiográfica envolvem a aplicação de técnicas
Uma das maneiras de estudar os elementos de sensoriamento remoto a partir do método ló-
que compõe o meio físico é por meio da compar- gico de interpretação de imagens, desenvolvido
timentação fisiográfica, que segundo Oliveira et. por Veneziani e Anjos (1982), no qual a extração
al (2007), consiste na divisão de uma determinada de dados e análise das imagens é baseada nos ele-
região em áreas que apresentem, internamente, mentos da rede de drenagem e do relevo. Neste
características fisiográficas homogêneas e distin- método os estudos de textura, forma e estrutura
tas das áreas adjacentes. Desta maneira, podem das feições seguem as etapas de fotoleitura, fo-
ser efetuadas inferências sobre as propriedades toanálise e fotointerpretação. Segundo Soares e
do meio e estabelecidas as suas decorrentes po- Fiori (1976), a etapa de fotoleitura compreende o
tencialidades e limitações (OLIVEIRA et. al, 2007). reconhecimento dos elementos de textura de in-
A compartimentação é efetuada pela análise teresse na imagem; a fotoanálise, por sua vez, faz
dos elementos componentes do meio físico, que a associação e ordenação das partes da imagem
podem ser de natureza geológica ou geomorfoló- analisada e a fotointerpretação trata da análise
gica, e da identificação de aspectos locais desses da imagem visando à descoberta e avaliação, por
elementos, ou seja, das suas formas de ocorrên- métodos indutivos, dedutivos e comparativos do
cia (VEDOVELLO; MATTOS, 1993; 1998). Zaine significado, função e relação dos objetos corres-
(2011), Silva et. al (2010) e Cardoso et. al (2009) pondentes às imagens (SOARES; FIORI, 1976).
salientam que para a compartimentação ser reali- Uma vez que reúne características fisiográ-
zada deve ter como referência, principalmente, as ficas de uma paisagem, o método de compar-
propriedades texturais (relevo, forma e estrutura timentação fisiográfica pode indicar locais que
de drenagem) do meio analisado. possuam maior susceptibilidade à ocorrência a

37
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

processos geológicos, como as corridas de mas- contexto geomorfológico do Planalto Atlântico e


sa (flow). Segundo Gramani (2001), as principais da Província Costeira (Figura 1). A Província Cos-
condições para a deflagração destes eventos são: teira é dividida por Almeida (1964) em Serranias
fonte abundante de partículas e detritos de solos Costeiras e Zona da Baixada Litorânea. As planí-
e/ou rocha inconsolidados; presença de encostas cies possuem ocorrência restrita distribuídas por
íngremes (geralmente acima de 25°); grande flu- um litoral bastante recortado, onde são frequentes
xo de água atingindo os materiais suscetíveis a as enseadas e praias. A costa é abruptamente in-
escorregamentos (hidrodinâmica: chuvas, degelo, terceptada pela borda oriental do Planalto Atlân-
rompimento de lagos, outros) e vegetação esparsa tico com ocorrência de pontões rochosos perpen-
(GRAMANI, 2001). Ademais, outros parâmetros diculares à direção geral desta estrutura, os quais
morfométricos e geotécnicos também influenciam favorecem a formação de baías.
na ocorrência destes fenômenos, tais como mor- Segundo o mesmo autor, a ação dos movi-
fologia das bacias, forma dos vales, densidade de mentos neotectônicos, representada pelos movi-
drenagem, permeabilidade intergranular e pro- mentos de blocos de falhas, é responsável pelo de-
fundidade do manto de alteração (GRAMANI, senvolvimento de rifts e soerguimento da Serra do
2001). Mar e Mantiqueira. Esses movimentos ocorreram
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é de basicamente ao longo de antigas linhas de fraque-
realizar a compartimentação fisiográfica prelimi- za do Pré-cambriano, com direção predominan-
nar das áreas abrangidas pelas bacias hidrográfi- te leste-nordeste determinando a linha de costa
cas do Rio Santo Antônio, do Rio Juqueriquerê e atual. Esta área encontra-se totalmente inserida
do Rio São Francisco, localizadas nos municípios no Embasamento Cristalino em trecho do cintu-
de Caraguatatuba e São Sebastião (SP), com a fi- rão de cisalhamento transcorrente Paraíba do Sul.
nalidade de identificar áreas-alvo propícias a pro- Com relação à litologia da região serrana,
cessos de corridas de massa. destaca-se a ocorrência de rochas polimetamór-
ficas de idade arqueana (migmatitos, gnaisses,
granito-gnaisses, biotita gnaisses), granitóides fo-
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO liados do proterozóico superior, rochas cataclásti-
cas cambro-ordivicianas e intrusões básicas locali-
A área de estudo compreende às bacias hi-
zadas, de idade mesozóica (geralmente na forma
drográficas do Rio Santo Antônio, do Rio Juqueri-
de diques).
querê e do Rio São Francisco, localizadas nos mu-
nicípios de Caraguatatuba e São Sebastião (SP), no

38
do proterozóico superior, rochas cataclásticas cambro-ordivicianas e intrusões básicas localizadas,
de idade mesozóica (geralmente na forma de diques).
Emprego da compartimentação fisiográfica na seleção de áreas-alvo a processos de corridas de massa
Figura 1 – Localização das bacias hidrográficas alvo de estudo

Figura 1 – Localização das bacias hidrográficas alvo de estudo


3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Materiais
Para a Eelaboração
3 MATERIAIS MÉTODOS do presente trabalho foram utilizados os seguintes materiais: cartas
3.2 Métodos
topográficas em escala 1:50.000 do IBGE das folhas Maresias (SF-23-Y-D-V-4) Caraguatatuba
(SF-23-Y-D-VI-1),
3.1 Materiais Pico do Papagaio (SF-23-Y-D-V-2), eDe Sãomodo
Sebastião (SF-23-Y-D-VI-3)
a subsidiar (IBGE,
a elaboração da com-
1973; 1974a; 1974b; 1975), mapas geológicos em partimentação fisiográfica, primeiramente (SF-
escala 1:50.000 da folha Caraguatatuba foram
23-Y-D-VI-1), Pico do
Para a elaboração doPapagaio (SF-23-Y-D-V-2)
presente trabalho foram (CPRM, 1982; CPRM, 1991) e do município de
gerados os mapas de declividade, hipsometria, hi-
São Sebastião (IG, 1996), ortofotos em escala 1:10.000 da Emplasa e levantamento bibliográfico
utilizados os seguintes materiais: cartas topográ- drografia e geologia da área de estudo. Para tal, fo-
dos processos de corrida de massa que já ocorreram na área.
ficas em escala 1:50.000 do IBGE das folhas Ma- ram dispensadas técnicas de geoprocessamento no
resias (SF-23-Y-D-V-4) Caraguatatuba (SF-23-Y- software Arcgis 10.2.2 nas curvas de nível em escala
3.2. Métodos
D-VI-1), Pico do Papagaio (SF-23-Y-D-V-2), e São 1:50.000 (com equidistância de 20 metros) através
SebastiãoDe(SF-23-Y-D-VI-3) (IBGE,
modo a subsidiar a elaboração da compartimentação fisiográfica,
dos comandos Create primeiramente
Tin e Slope, foram
ambos pela ferra-
gerados
1973; os mapas1974b;
1974a; de declividade, hipsometria,
1975), mapas geoló- hidrografia e geologia da área de estudo. Para tal,
menta 3D Analyst. Ademais, as ortofotos em escala
foram dispensadas técnicas de geoprocessamento no software Arcgis 10.2.2 nas curvas
gicos em escala 1:50.000 da folha Caraguatatuba 1:10.000, fornecidas pela EMPLASA, foram georre- de nível
em escala 1:50.000 (com equidistância de 20 metros) através dos comandos Create Tin e Slope,
(SF- 23-Y-D-VI-1), Pico do Papagaio (SF-23-Y-D- ferenciadas e mosaicadas no mesmo programa.
ambos pela ferramenta 3D Analyst. Ademais, as ortofotos em escala 1:10.000, fornecidas pela
-V-2) (CPRM, foram
EMPLASA, 1982; georreferenciadas
CPRM, 1991) e do emunicípio A realização
mosaicadas no mesmo da compartimentação fisiográfi-
programa.
de São Sebastião (IG, 1996), ortofotos em escala ca seguiu as recomendações da interpretação pelo
1:10.000 da Emplasa e levantamento bibliográfico método lógico (GUY, 1966; SOARES; FIORI, 1976;
dos processos de corrida de massa que já ocorre-3 ZAINE, 2011), que segundo Vedovello (2000) é
ram na área. passível de repetição por outros intérpretes ou
aplicação em outras áreas de maneira similar.

39
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Nesse sentido, o presente trabalho seguiu as eta- densidade de drenagem e de relevo. Nestas, de
pas de fotoleitura, fotoanálise e fotointerpretação, maneira geral, os vales são fechados, a amplitude
propostas por Soares e Fiori (1976). local é média a alta, bem como os valores de de-
A etapa de fotoleitura se baseou na identi- clividade, as encostas variam de convexas a retilí-
ficação das técnicas e processos de obtenção da neas e a forma dos topos varia de arredondada a
imagem orbital de sensoriamento remoto, como angulosa. Em relação às características geológico-
a resolução espacial, resolução espectral e outras -geotécnicas, nestas unidades a permeabilidade
características pertinentes a essa fase. intergranular varia de média para baixa, a relação
Para a fotoanálise, primeiramente a área foi escoamento superficial pela infiltração é média,
dividida em relação aos aspectos geológicos, con- bem como a profundidade do manto de alteração
siderando as diferentes litologias encontradas na e o topo rochoso varia de raso a sub aflorante. Nes-
área de estudo. Posteriormente, as análises da tes locais foram encontradas inúmeras evidências
forma, textura, estrutura dos elementos do relevo de ocorrência de movimentos de massa, através
da identificação visual e mapeamento das cicatri-
e da drenagem foram considerados referenciais
zes. Nesse sentido, a etapa de fotointerpretação
para a delimitação dos diferentes compartimen-
revelou que para estas unidades a potencialidade
tos, a partir da utilização dos mapas hipsomé-
a corridas de massa pode variar de média a alta,
tricos, de declividade e hidrográfico. Assim, esta
devido à morfologia das bacias hidrográficas e a
etapa seguiu as proposições do quadro de análise
densidade de drenagem. Cabe ressaltar que mo-
fotogeológica, elaborado por Zaine (2011).
vimentos de massa desta classe desenvolvem-se
A fotointerpretação, por sua vez, se baseou principalmente ao longo dos canais de drenagem
na assimilação dos resultados obtidos pela fotoa- de primeira à terceira ordem, com valores de in-
nálise, identificando o significado das formas e clinação do talvegue elevados. Nesse sentido,
características das unidades delimitadas no con- apesar de possuir baixos valores de densidade
texto de sua função para o ambiente. textural, a unidade fisiográfica 1, denominada de
A caracterização geológico-geotécnica foi ba- planícies aluviais restritas, é caracterizada como
seada nos resultados da interpretação das imagens uma região com alta probabilidade de ocorrência
pelas etapas anteriores e pelo trabalho de campo. de corridas de massa, devido à inclinação do tal-
Assim, as análises realizadas nessa fase seguiram vegue e sua inserção em bacias com formato mais
as orientações dos itens “Aplicações”, “Análise de circular e fechado, possibilitando a hiperconcen-
densidade textural” e “Análise das formas e carac- tração dos fluxos e favorecendo o escoamento su-
terísticas do relevo” propostos por Zaine (2011). perficial rápido de detritos. As unidades 2, 4, 5,
Em relação aos estudos de retro-análise, foram 6, 7 e 9 abrangem principalmente morfologias de
identificadas com o auxílio das ortofotos da Empla- relevo serrano a escarpado e litologias que variam
sa as possíveis evidências de movimentos de massa de gnaisses- migmatítiticas a granitos.
que ocorreram no local. Posteriormente a sua deli- As unidades 3, 10 e 11 possuem médios valo-
mitação, foram investigadas, através dos levanta- res de densidade textural. Nesse sentido, observa-
mentos bibliográficos realizados, as características -se nestes locais médias amplitudes locais, baixos
geológicas-geomorfológicas dos locais nos quais a médios valores de declividade e forma de encos-
esses eventos ocorreram (CORRÊA et. al, 2015). tas que pode variar de côncava a convexa. Ade-
mais, os topos são, em sua maioria, arredondados
e podem ser encontrados vales abertos a fechados.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Em relação às características geológico-geo-
técnicas, o manto de alteração nestes locais é mé-
Foram identificadas na área de estudo 17 dio, a profundidade do topo rochoso é interme-
unidades fisiográficas distribuídas ao longo da diária e o potencial a escorregamentos e corridas
Província Costeira e do Planalto Atlântico, com de massa varia de baixo a médio. Cabe destacar
diferentes contextos geológicos (Figura 2). que a unidade 11 é representada pelas rampas de
As unidades fisiográficas 2, 4, 5, 6, 7, 9 pos- colúvios e tálus e sua potencialidade a corridas de
suem alta densidade textural, e, portanto, alta massa é alta.

40
corridas de massa varia de baixo a médio. Cabe destacar que a unidade 11 é representada pelas
rampas de colúvios e tálus e sua potencialidade a corridas de massa é alta.
Emprego da compartimentação fisiográfica na seleção de áreas-alvo a processos de corridas de massa
Figura 2 – Compartimentação fisiográfica da área de estudo

Figura As unidades com fisiográfica


2 – Compartimentação baixa densidade textural
estão concentradas principalmente na Província
da área de estudo
Costeira e sua principal característica é a baixa densidade de drenagem e ausência de estruturas
geológicas orientadas. Nesse sentido, as unidades 8, 12, 13, 14, 15, 16 e 17, indicadas por
modelados “planície costeira”, “planície aluvial”, “praial” e “colinas isoladas” possuem baixa
probabilidade à ocorrência
As unidades com baixade corridas textural
densidade de massa 5em seu interior. Entretanto,
CONSIDERAÇÕES FINAIScabe ressaltar que
as corridas de massa, de acordo com Gramani
estão concentradas principalmente na Província (2001), possuem um grande raio de alcance,
mesmo em áreas planas. Pela retro-análise, foi possível As unidades fisiográficas 9, corrida
observar que a grande de massa
11 e 12 possuem
Costeira e sua principal característica é a baixa
que ocorreu em 1967 em Caraguatatuba (SP),maior na bacia hidrográfica
potencialidade do Rio Santo
à ocorrência Antônio,
de processos
densidade de drenagem e ausência de estruturas
embora tenha sido originada à montante da planície costeira, a atingiu com grande força
geológicas orientadas. Nesse sentido, as unidades de corrida de massa devido aos seus valores de
destrutiva.
8, 12, 13, 14, 15, 16 e 17, indicadas por modelados densidade textural (grande densidade de drena-
“planície
5. costeira”, “planície
CONSIDERAÇÕES aluvial”, “praial” e gem, grande densidade de relevo, altos valores de
FINAIS
“colinas isoladas” possuem baixa probabilidade amplitudes locais e de declividade, forma de en-
à ocorrência de corridas
As unidades de massa9,em11seue inte-
fisiográficas costas que
12 possuem variam
maior de convexa a retilínea
potencialidade e estrutu-de
à ocorrência
rior. Entretanto,
processos cabe ressaltar
de corrida de massa que as corridas
devido ras geológicas muito orientadas). Entretanto,
de valores de densidade textural (grande densidade
aos seus cabe
massa,
de de acordo
drenagem, com Gramani
grande densidade (2001), possuem
de relevo, altosressaltar
valores que a unidade fisiográfica
de amplitudes locais e de1 declividade,
também é
um grande
forma raio de alcance,
de encostas que variammesmo deem áreas pla-
convexa enquadrada como uma região alvo à ocorrência
a retilínea e estruturas geológicas muito orientadas).
Entretanto, cabe ressaltar
nas. Pela retro-análise, que a unidade
foi possível que destes
observarfisiográfica fenômenos,
1 também devido à forma
é enquadrada dasuma
como bacias hi-
região
a grande corrida de massa que ocorreu em 1967 drográficas na qual está inserida e à inclinação do
alvo à ocorrência destes fenômenos, devido à forma das bacias hidrográficas na qual está
inserida e à inclinação
em Caraguatatuba (SP), do
na talvegue dos seusdo
bacia hidrográfica canais de drenagem.
talvegue dos seus Futuramente, com a finalidade
canais de drenagem. Futura-
de determinar o raio de alcance de possíveis corridas de massa no local, serão
Rio Santo Antônio, embora tenha sido originada à mente, com a finalidade de determinar o raio de empregadas
modelagens numéricas
montante da planície na área
costeira, a partir
a atingiu comdegran-
softwares de simulação
alcance como odeRAMMS
3D,corridas
de possíveis massa no FLO-
e olocal,
2D. serão empregadas modelagens numéricas na área
de força destrutiva.
a partir de softwares de simulação 3D, como o
RAMMS e o FLO- 2D.

5
41
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

AGRADECIMENTOS casos internacionais. Dissertação (Mestrado


em Engenharia de Solos), EPUSP - Escola
Os autores agradecem a Agência Nacional de Petróleo Politécnica, Universidade de São Paulo, São
(ANP) pelo fomento à pesquisa e à bolsa de pesquisa Paulo. 2001. 372 p.
concedida. O trabalho foi desenvolvido no âmbito do
Programa de Formação de Recursos Humanos em Geo- GUY, M. Quelques principes e quelques expériences
logia e Ciências Ambientais aplicadas ao Petróleo da surla methodologie de la photointerpretation.
UNESP - PRH 05, com apoio do PRH/ANP. In: Symp. Intern. Photo-Interpretation, 2. Paris,
Acte... 21-41. 1966.
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E ESTATÍSTICA. Folha de Maresias. São Paulo:
ALMEIDA, F.F.M. Fundamentos Geológicos
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Geografia e Geologia, São Paulo, n. 41, p. 169-263. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
1964. E ESTATÍSTICA. Folha de Caraguatatuba.
São Paulo: IBGE, 1974a. SF-23-Y-D-VI-1. Escala
CARDOSO, D.; RIEDEL, P. S.; VEDOVELLO, R.;
BROLLO, M. J.; TOMINAGA, L. K. 1:50.000.

Compartimentação fisiográfica do município de IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE


Peruíbe, litoral de São Paulo – uma abordagem GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Folha do Pico do
metodológica como subsídio à avaliação geotécnica Papagaio. São Paulo: IBGE, 1974b. SF-23-Y-D-V-2.
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CORRÊA, C.V.S.; REIS, F.A.G.V.; AMARAL, GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Folha de São
A.M.C.; COURA, M.M.; GIORDANO, L.C.; Sebastião. São Paulo: IBGE, 1975. SF-23-Y-D-VI-3.
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C.J. Caracterização geológico-geomorfológica IG – INSTITUTO GEOLÓGICO DO ESTADO DE


dos principais movimentos de massa na região SÃO PAULO. Mapa geológico do município de
sudeste do Brasil entre os anos de 1967 e 2011 São Sebastião. São Paulo: IG, 1996. Escala 1:50.000.
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Bento Gonçalves: ABGE, 2015.
técnicas de fotointerpretação na compartimentação
CPRM - COMPANHIA DE PESQUISA DE fisiográfica do município de Cananéia, SP – apoio
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folha Caraguatatuba. SF-23-Y-D-VI-1. São Paulo: UNESP, São Paulo, v. 26, n, 1, p. 55-65. 2007.
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SILVA, P. C. F.; VEDOVELLO, R.; FERREIRA, C.
CPRM - COMPANHIA DE PESQUISA DE J.; CRIPPS,J. C.; BROLLO, M. J.; FERNANDES,
RECURSOS MINERAIS. Mapa geológico da
folha Pico do Papagaio. SF-23-Y-D-V-2. São A. J. Geo-environmental mapping using
Paulo: CPRM, 1991. Escala 1:50.000. physiographic analysis: constraints on the
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GRAMANI, M.F. Caracterização geológica- pollution hazards in the Metropolitan District of
geotécnica das corridas de detritos (“Debris Campinas, Brazil. Environmental Earth Sciences,
Flows”) no Brasil e comparação com alguns v. 61, n. 8, p. 1657-1675, 2010.

42
Emprego da compartimentação fisiográfica na seleção de áreas-alvo a processos de corridas de massa

SOARES, P. C.; FIORI, A. P. Lógica e sistemática VEDOVELLO, R.; MATTOS, J.T. A Utilização
na análise e interpretação de fotografias aéreas em de Unidades Básicas de Compartimentação
geologia. Notícia Geomorfológica, v. 16, n. 32, p. (UBCs) como base para a definição de unidades
71–104, Dez. 1976. geotécnicas: Uma abordagem a partir de
sensoriamento remoto. In: Simpósio Brasileiro
VEDOVELLO, R. Zoneamentos Geotécnicos de Cartografia Geotécnica, 1998, Florianópolis.
Aplicados à Gestão Ambiental, a partir de Anais... Florianópolis: ABGE,1998.
Unidades Básicas de Compartimentação –
UBCs. Tese (Doutorado em Geociências e Meio VENEZIANI, P; ANJOS, C. E. Metodologia de
Ambiente), Instituto de Geociências e Ciências interpretação de dados de sensoriamento remoto
Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, e aplicações em Geologia. São José dos Campos:
2000. INPE, 1982. 54p.

VEDOVELLO, R.; MATTOS, J. T. de Zoneamento ZAINE, J. E. Método de Fotogeologia aplicado


Geotécnico por Sensoriamento Remoto para a estudos geológico-geotécnicos: ensaio em
estudos de Planejamento do Meio Físico: aplicação Poços de Caldas, MG. Tese (Livre docência
em expansão urbana. In: Simpósio Brasileiro de em Geociências e Meio Ambiente), Instituto de
Sensoriamento Remoto, 7, 1993, Curitiba. Anais... Geociências e Ciências Exatas, Universidade
Curitiba, 1993. p. 155-162. Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rio
Claro, 2011.

43
MEDIDAS ESTRUTURAIS ADOTADAS EM ÁREAS
DE RISCO DE MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS
DE MASSA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA
CONSTRUÇÃO DE CIDADES RESILIENTES
STRUCTURAL MEASURES ADOPTED IN RISK AREAS OF LANDSLIDES AND THEIR
CONTRIBUTION TO BUILD RESILIENT CITIES

Rodolfo Baesso Moura


Mestrando do Programa de Pós Graduação em Planejamento e Gestão
do Território – UFABC, rodolfobmoura@hotmail.com

Kátia Canil
Geógrafa, Professora do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas e dos Programas de Pós Graduação
em Planejamento e Gestão Territorial e em Ciência e Tecnologia Ambiental – UFABC, katia.canil@ufabc.edu.br

RESUMO ABSTRACT

Desastres ocorrem com frequência em regiões densa- Disasters often occur in densely populated regions;
mente populosas. Somam-se aos eventos de natureza the hydrometeorological nature events plus the
hidrometeorológica as intervenções antrópicas que anthropogenic interventions can cause or increase the
podem acarretar ou potencializar a consequência dos result of impacts in risk areas. Thus, understanding the
impactos em áreas de risco. Assim, a compreensão dos natural phenomena and their occurrence, mechanisms
fenômenos naturais quanto a sua ocorrência, seus me- and dynamics are essential to propose preventive
canismos e sua dinâmica é fundamental para proposi- and corrective measures. Brazil has been relating
ção de medidas preventivas e corretivas. O Brasil vem internationally in order to look for solutions and
se relacionando internacionalmente com o propósito exchange experiences in the disasters context, some
de buscar soluções e trocar experiências no âmbito dos UN actions have had and continue to have leading
desastres. Certas ações da ONU tiveram e continuam role as a provider of concentration and experiences
tendo papel preponderante como veículo de concen- exchange around the world. The developed policy of
tração e troca de experiências ao redor do mundo. A building resilient cities is marked by structural and
política desenvolvida de construção de cidades resi- non-structural measures. This article sets out some
lientes é pautada por medidas estruturais e não estru- examples of structural measures related to reducing
turais. Este artigo expõe alguns exemplos de medidas disaster risks and building resilient cities contained in
estruturais que apontam para redução de riscos de UNISDR publications.
desastres e a construção de cidades resilientes frente a
movimentos gravitacionais de massa contidos em pu- Keywords: Hazards – Resilient Cities – Structural
blicações do UNISDR. Measures – Risk

Palavras-chave: Desastres – Cidades Resilientes – Me-


didas Estruturais – Risco

44
Medidas estruturais adotadas em áreas de risco de movimentos gravitacionais de massa e sua contribuição para construção de cidades resilientes

1 INTRODUÇÃO Brasil referente a desastres (inundações e desli-


zamentos) em quatro estados brasileiros (Santa
O desastre é uma grave perturbação do fun- Catarina, Alagoas, Pernambuco e Rio de Janeiro)
cionamento de uma comunidade ou sociedade, onde os custos com desastres foram da ordem de
gerando perdas sociais, econômicas ou ambien- R$ 15,5 bilhões, o que indica a necessidade do en-
tais, ultrapassando a capacidade da comunidade gajamento governo e sociedade civil com o tema
ou da sociedade em lidar com os impactos a partir e, também, a dificuldade de recuperação econô-
de seus próprios recursos – o desastre pode ser mica e social das áreas atingidas (URBR, 2013).
descrito como a exposição a um perigo, acentuado A gestão de risco de desastre é fundamenta-
pelas condições de vulnerabilidade e a incapaci- da por meio de ações que buscam prever, redu-
dade de suportar as potenciais consequências ne- zir e controlar fatores de risco de desastre, sendo
gativas (UNISDR, 2009). necessário, para sua eficiência, o uso de meca-
Desastres têm ocorrido com maior frequên- nismos adequados, instrumentos, estratégias e a
cia em grande parte das regiões densamente implementação de políticas (ICSU-LAC, 2010). O
povoadas do planeta. Somam-se aos eventos de gerenciamento de áreas de risco conta com ações
natureza hidrometeorológica as intervenções an- de prevenção e preparação, dentre as medidas de
trópicas que podem acarretar ou potencializar prevenção têm-se as estruturais e não estruturais
a consequência de impactos em áreas de risco, que podem ser instituídas em situações de risco
surpreendendo, até mesmo, países bem prepara- atual ou potencial. As ações sobre uma situação
dos e com políticas consolidadas para agir fren- de risco atual buscam intervir nas consequências
te aos desastres. Dessa forma, a necessidade de e nos processos do meio físico, a prevenção quan-
se compreender os fenômenos naturais quanto a to aos processos relacionados a movimentos gra-
sua ocorrência, seus mecanismos e sua dinâmica vitacionais de massa (escorregamentos, quedas
é fundamental para proposição de medidas pre- de blocos e corridas de massa) parte de medidas
ventivas e corretivas. estruturais relacionadas à urbanização e obras de
O histórico brasileiro de grandes eventos estabilização, que, por vezes, são soluções de en-
relacionados aos movimentos gravitacionais de genharia, pautadas em obras de contenção, siste-
massa apresentou forte impacto sobre a gestão de mas de macro e micro drenagem, reurbanização
riscos geológicos no país, dando origem a ações de áreas, realocação de moradias, entre outras
e políticas que apontam para a redução de riscos medidas (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006).
e a atenuação da perda de bens e de vidas hu- Uma das alternativas técnicas frente aos pro-
manas, conforme preconiza o Plano Nacional de cessos do meio físico são as obras de engenharia
Gestão de Riscos e a Política Nacional de Proteção e seu leque de possibilidades capazes de prove-
e Defesa Civil – PNPDEC – Lei 12.608/12. Esses rem segurança a uma área onde se instala o risco
acidentes datam de registros de quase um século, hidrometeorológico (inundações, deslizamentos).
tais como: Monte Serrat – Santos 1928; Bairro de As obras de contenção de encostas incluem os re-
Laranjeiras – Rio de Janeiro 1967; Caraguatatuba taludamentos, aterros, estruturas de contenção e
1967 (inundação e deslizamento); Serra das Araras proteção superficial. As obras de drenagem in-
– Piraí 1967; Petrópolis 1988; Campos do Jordão cluem valas revestidas, canaletas, guias e sarjetas,
2000; Santa Catarina 2008; Angra dos Reis 2010; tubos de concreto, escadas hidráulicas caixas de
Petrópolis 2011; Teresópolis 2011; Nova Friburgo dissipação e de transição, trincheiras drenantes e
2011. Segundo o Atlas Brasileiro de Desastres Na- drenos profundos. A reurbanização de áreas con-
turais (CEPED, 2012) no período de 1991 a 2010 ta com soluções para o sistema viário, drenagem
o número de mortos por desastres foi de 2.475, de águas pluviais e esgoto, coleta de lixo, realoca-
tendo como os fenômenos mais letais as inunda- ção e melhoria de moradias (MINISTÉRIO DAS
ções bruscas (43,19%), os movimentos de massa CIDADES, 2006).
(20,40%) e as inundações graduais (18,63%). As medidas estruturais para o tratamento
O relatório do Fórum URBR 2012 (Understan- de áreas risco serão objeto de discussão desse ar-
ding Risk BR) faz menção a estudos, elaborados tigo, com o intuito apresentar exemplos de políti-
pelo Banco Mundial com dados de 2008 a 2011, cas desenvolvidas pela ONU referente à redução
que contextualizam os impactos econômicos no de riscos de desastres e construção de cidades/

45
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

comunidades resilientes que, também, são baseadas década de 90 como sendo a Década Internacional
em medidas estruturais; as quais são corroboradas para Redução dos Desastres Naturais (Internatio-
por meio de boas práticas. Dentre o conjunto de nal Decade for Natural Disaster Reduction – IDNDR)
experiências, existem medidas que estão mais pró- quando contou com o apoio de cerca de 180 paí-
ximas da realidade política e econômica brasileira, ses, para debater temas como a identificação dos
assim, serão estas as analisadas no presente artigo. riscos, a análise e cartografia dos riscos, as medi-
das estruturais e não estruturais de prevenção de
desastre, o planejamento para situações de emer-
2 OBJETIVO gência, as informações públicas e treinamento de
agentes públicos. Tais discussões, deram margem
Este artigo expõe alguns exemplos de me-
para elaboração de trabalhos contendo análises
didas estruturais que apontam para redução de
mais consistentes, novas ferramentas de avalia-
riscos de desastres e a construção de cidades re-
ção, guias e procedimentos para a implementação
silientes frente a movimentos gravitacionais de
de modelos de avaliação e gestão de riscos. Em
massa apresentados em publicações oficiais da 1994, ocorreu a Primeira Conferência Mundial so-
Organização das Nações Unidas – ONU, por meio bre Redução de Desastres em Yokohama onde foi
UNISDR. O presente texto busca contribuir para a aprovado um Plano de Ação 1994-2004 buscando
discussão da resiliência e apresentar estudos que dar continuidade nos avanços gerados pela IDN-
apontem nesse caminho, pois se trata de um tema DR (ALHEIROS, 2011).
ainda em construção e discussão no meio técnico A Segunda Conferência Mundial sobre Redu-
e acadêmico-científico. ção de Desastres em Kobe, em 2005, discutiu uma
agenda e uma campanha global para construção
de comunidades e nações resilientes por meio da
3 CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-
aprovação por unanimidade do Marco de Ação
METODOLÓGICAS
de Hyogo: Construindo a resiliência das nações
3.1 Resiliência e comunidades frente aos desastres 2005-2015 –
(Hyogo Framework Action – HFA) Almejou-se com
Para avaliar os estudos de caso e a aplicação o Marco de Ação de Hyogo reduzir substancial-
de medidas estruturais adotadas em áreas atin- mente as perdas em termos de vidas e de bens so-
gidas por desastres, é importante, inicialmente ciais, econômicos e ambientais das comunidades
apresentar alguns conceitos que consideram o ter- (UNISDR, 2012).
mo resiliência. Para Cardona, 2012, resiliência é a Um dos reflexos do Marco de Ação de Hyo-
capacidade de absorver ou resistir aos potenciais go foi a Campanha Global 2010-2015 “Construin-
impactos gerados a partir da ocorrência de um do Cidades Resilientes – Minha Cidade está se
evento natural (URBR, 2013). preparando”, com a publicação de um guia para
A resiliência é um conceito originário da Fí- gestores públicos locais, que aponta os 10 passos
sica e descreve a propriedade de certos materiais essências para construir cidades resilientes, quais
recuperarem sua forma original após um choque sejam: 1° Quadro Institucional e administrativo;
ou deformação, assim, uma cidade resiliente a de- 2° Recursos e Financiamento; 3° Avaliações de
sastres é aquela que está preparada para resistir, Risco e Ameaças Múltiplas – Conheça seu Risco;
4° Proteção, Melhoria e Resiliência de Infraestru-
absorver e se recuperar de desastres naturais, pre-
tura; 5° Proteção de Serviços Essenciais: Educação
venindo e minimizando a perda de vidas e bens
e Saúde; 6° construção de Regulamentos e Pla-
materiais (FREIRE, 2013).
nos de Uso e Ocupação do Solo; 7° Treinamento,
Educação e Sensibilização Pública; 8° Proteção
3.2 Política Internacional de Resiliência e ambiental e Fortalecimento de Ecossistemas; 9°
Redução do Risco de Desastre – ONU Preparação,
Sistemas de Alerta e Alarme, e Resposta Efe-
O Escritório das Nações Unidas para Redu- tivos; 10º Recuperação e Reconstrução de Comu-
ção de Riscos e Desastres – UNISDR instituiu a nidades (UNISDR, 2012).

46
Medidas estruturais adotadas em áreas de risco de movimentos gravitacionais de massa e sua contribuição para construção de cidades resilientes

Em março de 2015, foi realizada a Tercei- PreventionWeb, quais sejam: A Study on Flash
ra Conferência Mundial para a Redução do Ris- Floods end Landslides Disaster – Índia (PARKASH,
cos de Desastres em Sendai, onde foi aprovado o 2015), The Southern Leyte Landslide 2006 – Filipinas
Marco de Sendai para Redução de Riscos de De- (LUNA et al., 2011) e Adaptation to climate change
sastre 2015-2030 – Sendai Framework Disaster Risk using green and blue infrastructure – A database of
Reduction – SFDRR tendo como prioridades para case studies – Uma coleção de estudos de caso de
ação: 1. Compreensão dos riscos de desastres; 2. países da Europa e cidades americanas (KAZ-
Fortalecimento da governança dos riscos de de- MIERCZACK; CARTER, 2010).
sastres para gerenciar os riscos de desastres; 3. A publicação A Study on Flash Floods end
Investimento na redução dos riscos de desastres Landslides Disaster – Índia é extensa e discute em
para resiliência; 4. Melhoria na preparação para seus capítulos temas como aspectos do meio físi-
desastres a fim de providenciar uma resposta efi- co, desastres, vulnerabilidade, risco, histórico de
caz e de “Reconstruir Melhor” em recuperação, eventos, perdas e danos pós-desastres, ações de
reabilitação e reconstrução (UNISDR, 2015). resposta, planos de gestão e recomendações, en-
O SFDRR trouxe certas reflexões e inovações tre eles destaca-se o capítulo que discute mitiga-
frente aos temas e avanços produzidos pelo HFA, ção e medidas de prevenção, nesse item é apre-
porém há uma mudança de foco importante en- sentada uma lista de medidas de mitigação para
tre os dois marcos, pois a política da redução das deslizamentos de terra, são elas: A. Modificação
perdas por desastres passou para uma política de da Geometria da Encosta (p.e. redução do ângulo
redução dos riscos de desastres (STEVENS, 2015). de inclinação geral e altura e construção de bacia
de detritos); B. Sistema de Drenagem (p.e. drenos
de superfície, desidratação a vácuo e túneis de
4 EXPERIÊNCIAS/ BOAS PRÁTICAS E drenagem/galerias); C. Estruturas de Contenção
RESILIÊNCIA (p.e. muros de espera de paralelepípedos e ga-
bião caixa); e D. Reforço Interno da Encosta (p.e.
A busca por medidas estruturais que possam
tirantes, solo grampeado e plantio de vegetação)
reverter quadros de risco é algo que se aprimora
(PARKASH, 2015).
junto aos avanços tecnológicos e se complementa
A publicação The Southern Leyte Landslide
com a troca de experiências, tanto no âmbito na-
cional como internacional. Uma das ferramentas 2006 – Filipinas tem como tema central a recupera-
que está inserida nesse contexto é a compilação, ção de uma região do arquipélago que sofreu com
divulgação e publicação de dados referentes a deslizamentos (onde uma comunidade inteira foi
exemplos de ações que tem como intuito a redu- soterrada) e passou por um processo de recons-
ção de risco e resposta a desastres, esse tipo de trução por meio de reassentamento, o texto possui
trabalho é realizado pelo UNISDR. O meio para quatro capítulos fundamentais: 1. Visão geral do
se consultar algumas das publicações referentes estado atual e sua recuperação; 2. Processos de re-
a esse tema é utilizar a plataforma online Preven- cuperação; 3. Recuperação de setores específicos
tionWeb – Serving the information needs of disaster e estudos de caso; e 4. Problemas, lições e seguir
reduction community1, do próprio UNISDR. em frente. As medidas estruturais implementa-
A partir dos levantamentos realizados o arti- das nos assentamentos incluem melhorias para
go enfocou as medidas estruturais adotadas para as estradas, sistema de abastecimento de água,
redução do risco de desastres frente a processos serviços elétricos e de drenagem, e a construção
de movimentos gravitacionais de massa, em dife- instalações para sede do governo local, escola pri-
rentes países que estão ou poderão vir a ser imple- mária, centro de saúde e equipamentos de lazer
mentadas em território nacional. Os exemplos de- (LUNA et al., 2011).
monstram a gama de documentos e publicações A Adaptation to climate change using green and
possíveis de serem encontradas na plataforma blue infrastructure – A database of case studies – Uma
coleção de estudos de caso de países da Europa e
cidades americanas reúne estudos de casos de di-
1 PreventionWeb – http://www.preventionweb.net/
publications/list/ ferentes localidades e tipos de desastres, entre eles

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

destaca-se o caso de Seattle, Washington (USA), fazem parte de uma visão holística da resiliência,
que leva o nome de Seattle: Using vegetation to li- que compreendem, de certa forma, o conceito de
mit the hazard of landslides, esse texto é fundamen- construção de cidades resilientes, visando os 10
tado na manutenção e restauração da vegetação passos essências para este fim.
em áreas suscetíveis a deslizamentos de terra para O terceiro é vislumbrar como as experiências
redução de risco de desastre. A cobertura vege- internacionais de adoção de medidas estruturais
tal pode contribuir para estabilidade de encos- estabelecidas em áreas de risco aproximam-se da
tas íngremes, reduzir erosões, reduzir infiltração realidade brasileira, visto que, em linhas gerais
direta, aumentar a resistência do solo, reduzir o as obras realizadas nas três localidades, apresen-
efeito splash e reduzir a intensidade e velocidade tadas no artigo, são semelhantes àquelas aplica-
do escoamento superficial. A vegetação nativa é das em território nacional, são elas: mudança da
melhor, pois está mais adaptada ao clima, porém geometria do talude, sistemas de drenagem, co-
certos tipos de vegetação podem produzir um bertura do talude (natural ou artificial) e outras
efeito adverso na estabilidade no talude. O texto medidas complementares que tem o intuito de re-
apresenta, também, uma lista de plantas nativas qualificar uma área de risco e que possam torná-la
contendo o nome popular, nome científico, altura resiliente.
média, necessidade de luz e o local de preferência O quarto é a discussão da construção de cida-
para o plantio para o tratamento de áreas suscetí- des resilientes frente aos desastres, esse conceito
veis a deslizamentos de terra (KAZMIERCZACK; tem muito a avançar e essa pequena exposição de
CARTER, 2010). publicações demonstra que o caráter resiliente de
Nos casos supracitados as medidas apre- uma área parte de uma visão integral de medidas
sentadas foram implementadas pós-desastres, o estruturais e não estruturais que podem ser forta-
que demonstra como a gestão de riscos, mesmo lecidas a partir da troca de experiências nacionais
internacionalmente, está voltada para uma ação e internacionais.
de reposta e não de prevenção. No entanto, com o O Brasil é um dos países que mais aderiu à
Marco de Sendai, as discussões voltaram-se para campanha Construindo Cidades Resilientes, po-
a prevenção e com isso a redução de riscos, isto é: rém a simples aderência está longe de ser sufi-
adotar medidas de prevenção para minimização ciente para a construção da resiliência. É funda-
dos impactos. mental traçar estratégias de ação que envolvam
a política governamental, o apoio técnico e as
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS comunidades, considerando as trocas de expe-
riências em âmbito nacional e internacional, para
A forma como as publicações foram apre- criar condições para que áreas de risco de desas-
sentadas nesse artigo tem quatro papéis fun- tres tornem-se resilientes.
damentais: o primeiro é demonstrar o leque de
publicações que estão disponíveis na plataforma
REFERÊNCIAS
PreventionWeb. A plataforma se apresenta como
uma ferramenta interessante na busca de expe- ALHEIROS, M. M. Gestão de Riscos Geológicos
riências internacionais de gestão de risco, resposta no Brasil. ABGE. Revista Brasileira de Geologia
a desastres e resiliência que podem, muito bem, de Engenharia e Ambiental - REGEA, v.1, n.1, pág.
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ta sobre uma situação risco, desde a organização em-saude- ambiental?download=1193:2013-06-
de uma política até a realização de uma obra. 24-12-42-39&start=20. Acesso em 14 mar. 2016
O segundo é demonstrar de forma simplifi-
cada como estão estruturadas essas publicações, CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ESTUDOS E
considerando que as medidas estruturais adota- PESQUISAS SOBRE DESASTRES (CEPED).
das em áreas suscetíveis a movimentos gravita- Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a
cionais de massa têm suma importância, porém 2010. Universidade Federal de Santa Catarina

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Medidas estruturais adotadas em áreas de risco de movimentos gravitacionais de massa e sua contribuição para construção de cidades resilientes

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