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REVISTA BRASILEIRA DE
GEOLOGIA DE ENGENHARIA
E AMBIENTAL
Edição Epecial
Artigos do III SRA-LA
III - Congresso da Sociedade de Análise de Risco
Latino- Americana SRA– LA -2016
REVISTA BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA E AMBIENTAL
Publicação Científica da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
EditorES
Revisores
Adalberto Aurélio Azevedo – IPT Jorge Kazuo Yamamoto – USP
Alberto Pio Fiori – UFPR José Alcino Rodrigues de Carvalho – Univ. Nova de Lisboa
Alessandra Cristina Corsi – IPT (Port.)
Alessandra Cristina Corsi – IPT José Augusto de Lollo – UNESP
Aline Freitas da Silva – DRM-RJ José Domingos Gallas – USP
Andrea Valli Nummer – UFSM José Eduardo Zaine – UNESP
Angelo José Consoni – TSAP José Luiz Albuquerque Filho – IPT
Antonio Cendrero – Univ. da Cantabria (Espanha) Kátia Canil – UFABC
Antonio Manoel Santos Oliveira – UNG Leandro Eugênio da Silva Cerri – UNESP
Candido Bordeaux Rego Neto – IPUF Luis de Almeida Prado Bacellar – UFOP
Carlos Geraldo Luz De Freitas – IPT Luiz Fernando D`Agostino – Nucleo
Clovis Gonzatti – CIENTEC Luiz Nishiyama – UFU
Denise de la Corte Bacci – USP Malva Andrea Mancuso – UFSM
Diana Sarita Hamburger – UFABC Marcelo Denser Monteiro – Metrô – SP / UAM
Dirceu Pagotto Stein – Geoexec Marcelo Fischer Gramani – IPT
Edilson Pissato – USP Marcia Pressinotti – IG/SMA
Eduardo Brandau Quitete – IPT Marcilene Dantas Ferreira – UFSCar
Eduardo Goulart Collares – UEMG Marcio A. Cunha – Consultor
Eduardo Soares de Macedo – IPT Maria Cristina Jacinto Almeida – IPT
Emilio Velloso Barroso – UFRJ Maria Heloisa B.O. Frascá – Consultora
Eraldo L. Pastore – Consultor Maria José Brollo – IG/SMA
Fábio Soares Magalhães – Vogbr Marta Luzia de Souza – UEM
Fabricio araujo mirandola – IPT Nelson Meirim Coutinho – GEORIO
Filipe Antonio Marques Falcetta – IPT Newton Moreira de Souza – UnB
Flávio Almeida da Silva – Engecorps Noris Costa Diniz -UnB
Frederico Garcia Sobreira – UFOP Reinaldo Lorandi – UFSCar
Ginaldo Campanha – USP Renato Luiz Prado – USP
Helena Polivanov – UFRJ Ricardo Vedovello – IG/SMA
Jair Santoro – IG/SMA Yociteru Hasui – Consultor
João Francisco Alves Silveira – Consultor
apoio editorial
Denise Amaral e Didiana Dórea
Volume 7
2017
ISSN 2237-4590
DIRETORIA ABGE GESTÃO 2019/2020
Conselho Deliberativo da ABGE: Claudio Luiz Ridente Gomes, Delfino Luiz Gouveia Gambetti,
Fabio Augusto Gomes Vieira Reis, Fernando Facciolla Kertzman, Francisco Nogueira de Jorge,
Iramir Barba Pacheco, Ivan Jose Delatim, Jacinto Costanzo Junior, Joao Paulo Monticelli,
Julio Yasbek Reia, Marcela Penha Pereira Guimaraes, Marcelo Denser Monteiro,
Maria Heloisa B. Oliveira Frasca, Otávio Coaracy Brasil Gandolfo, Paula Sayuri Tanabe Nishijima,
Raquel Alfieri Galera, Renata Augusta Rocha N. de Oliveira, Renivaldo T. Campos,
Ricardo Antonio Abrahão, Ricardo Vedovello e Silvia Maria Kitahara.
NÚCLEO SUL
Conselho Deliberativo: Andrea Valli Nummer, Cezar Augusto Burkert Bastos, Débora Lamberty,
Erik Wunder, Hermam Vargas Silva, Malva A. Mancuso e Murilo da Silva Espíndola.
NÚCLEO NORTE
Conselho Deliberativo: Claudio Fabian Szlafsztein, Dianne Danielle Farias Fonseca,
Elton Rodrigo Andretta, Iris Celeste Nascimento Bandeira, Luciana de Jesus P. P. Miyagawa,
Milena Marília Nogueira de Andrade e Sheila Gatinho Teixeira.
ABGE Central
Gerente Executiva: Luciana Marques
Av. Prof. Almeida Prado, 532 | Prédio 36 | Cidade Universitária | São Paulo – SP
Fones: (11) 3767-4361 | (11) 3719-0661
E-mail: abge@abge.org.br | Site: abge.org.br
APRESENTAÇÃO
É com grande satisfação que apresentamos o Considerando que os atuais cenários de ris-
número único da Revista Brasileira de Geologia cos ambientais urbanos são resultados dos concei-
de Engenharia e Ambiental (RBGEA) do ano de tos iniciais atrelados a “desenvolvimento” e, por-
2017. Os artigos aqui compartilhados foram sele- tanto, da consequente necessidade dos processos
cionados do III Congresso da Sociedade de Análi- de planejamento e desenvolvimento urbano in-
se de Risco Latino Americana, realizado em Maio corporarem o risco como componente fundamen-
de 2016 na cidade de São Paulo. Os artigos selecio- tal, e na perspectiva de valorizar a interação entre
nados abordam diferentes temas da área da Geo- práticas sustentáveis de desenvolvimento urbano
logia de Engenharia e Ambiental, que apresentam e a gestão de risco de desastres, o trabalho de Bon-
interesse para a área acadêmica e profissional. giovanni, Freiats e Alves apresentou um exercício
Apresentamos, a seguir, uma breve descrição dos de avaliação de medidas de gestão de risco, consi-
estudos e pesquisas publicados nesta edição. derando seus impactos positivos segundo as três
Os artigos apresentados por Sousa e cola- dimensões da sustentabilidade (econômico, social
boradores apresentam uma reestruturação dos e ambiental) e seus mais importantes stakeholders
instrumentos legais municipais para articular os (partes interessadas) agrupados para avaliação.
diferentes atores envolvidos na gestão do risco O quadro de correlação, com os impactos devi-
e para atuar de maneira eficiente na temática de damente valorados será uma importante ferra-
riscos ambientais urbanos utilizando a bacia hi- menta de sensibilização de agentes financiadores
drográfica como unidade de análise das ações de e investidores, dos ganhos promovidos pelo de-
prevenção de desastres em consonancia com a Lei senvolvimento sustentável da gestão de risco de
nº 12.608/2012. A análise foi realizada nas bacias desastres naturais.
dos rios Aricanduva, Jacu e Itaquera, na zona leste No trabalho apresentado por Silva, Virgilio
do município de São Paulo. e Martins foi realizada uma análise dos dados de
Moretti e colaboradores apresentam uma precipitações disponíveis para a bacia do rio Sa-
análise das cartas de suscetibilidade e geotécni- pucaí a montante do município de Itajubá - MG,
cas aplicadas a identificação de parcelas do ter- com o intuito de determinar limiares de precipita-
ritório ainda não ocupados, suscetíveis a riscos ções extremas.
geotécnicos. No artigo aprofundam a análise Correa e colaboradores apresentaram o re-
sobre as variáveis que interferem na decisão sultado da compartimentação fisiográfica das ba-
de aquisição ou manutenção da propriedade cias hidrográficas Juqueriquerê, Santo Antônio e
pública das áreas suscetíveis ao risco, que se São Francisco, nos municípios de Caraguatatuba
encontram vazias ou desocupadas. A hipótese é e São Sebastião (SP), com finalidade de identificar
que existe uma hierarquia de importância quanto locais com maior vulnerabilidade a corridas de
à incorporação no patrimônio público de áreas de massa. Foram delimitadas unidades fisiográficas
risco geotécnico e que em alguns casos é possível, nas planícies fluviais e flúvio-marinhas; nos locais
ou mesmo recomendável, a manutenção da com depósitos de colúvio e de tálus, nos granitoi-
propriedade privada. des em morros isolados, nos granitoides e gnais-
Apresentação
5
Sumário
Evandro Freitas
evandrofreitas@prefeitura.sp.gov.br
RESUMO ABSTRACT
A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (Lei The National Policy on Protection and Civil Defense
n° 12.608/2012), como outras legislações, tem como di- (Law No. 12,608 / 2012), like other laws, has as a
retriz a “adoção da bacia hidrográfica como unidade de guideline the “adoption of the watersheds as the unit
análise das ações de prevenção de desastres”. A partir of analysis of disaster prevention actions.” From this
dessa normativa, foi possível reestruturar instrumentos legislation, it was possible to restructure municipal
legais municipais para articular os diferentes atores en- legal instruments to articulate the different actors
volvidos na gestão do risco e para atuar de maneira efi- involved in risk management and to work efficiently
ciente na temática de riscos ambientais urbanos. Tendo on the theme of urban environmental risks. Using as
como objeto de estudo a Zona Leste do Município de object of study the East Region of the city of São Paulo,
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Adoção da territorialização por bacias hidrográficas na gestão dos riscos hidrológicos
São Paulo, região da cidade que possui expressiva rede area of the city that has a significant hydrographic
hidrográfica, em sua maioria, ocupada por avenidas e network, mostly occupied by avenues and irregular
moradias irregulares nos fundos de vale, e caracterizada houses in the valley bottoms, and characterized by
pelo alto índice de impermeabilização que altera a high waterproofing index that compromises the
vazão dos corpos d’água, aumentando o escoamento flow of water bodies and affect runoff. This scenario
superficial. Esse cenário potencializa a vulnerabilidade enhances vulnerability to hydrological risks and from
para os riscos hidrológicos, e a partir desse panorama this perspective the management process was adequate
o processo de gestão foi adequado, considerando não taking into consideration the watershed boundaries,
somente aos limites políticos, possibilitando melhorias and not political boundaries.
na forma de gerir esses riscos.
Keywords: Hydrological risks; Territorialization;
Palavras-chave: Riscos hidrológicos; Territorialização; Watersheds; East Region of the city of São Paulo; Urban
Bacias Hidrográficas; Zona Leste de São Paulo; Gestão environmental management.
dos riscos ambientais urbanos.
9
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 1. Planta da Cidade de São Paulo em 1850. Em destaque, para efeitos comparativos, o Largo de São Bento. (HIMACO, 2014)
10
Adoção da territorialização por bacias hidrográficas na gestão dos riscos hidrológicos
Figura 2. Planta da Cidade de São Paulo confeccionada em 1928. Pode-se observar que mesmo sem a execução do Plano
Figura
de 2: Planta
Avenidas, a cidadeda Cidadesua
já expande demalha
Sãourbana.
Paulo Fator
confeccionada em ao
que se deve, tanto 1928. Pode-sedaobservar
funcionamento São Paulo que
Railway
mesmo sem a execução do Plano de Avenidas, a cidade já expande sua malha urbana. FatorBento.
como a instalação das fábricas ao longo da linha do trem. Em destaque, para efeitos comparativos, o Largo de São que
(HIMACO, 2014)
se deve, tanto ao funcionamento da São Paulo Railway como a instalação das fábricas ao longo
da linha do trem. Em destaque, para efeitos comparativos, o Largo de São Bento. (HIMACO,
2014) São Paulo possui alguns grandes marcos que população de baixa renda. Com a aplicação do
definiram quando e de que modo a urbanização Plano de Avenidas, na década de 1940, proposto
iria acontecer. Entre esses marcos, podemos citar pelo Eng. Prestes Maia, que consistia em promo-
o
SãoPlano de Avenidas
Paulo possui ealguns
a ascensão do automóvel
grandes marcos que ver obras para a retificação
definiram quando eeconfinamento
de que modo de riosa
urbanização iria acontecer.
como principal meio deEntre esses emarcos,
transportes podemos
o direcio- citar para
e córregos o Plano de Avenidas
a instalação e a ascensão
das avenidas fundo
do automóvel
namento das como principal
políticas meio
públicas de transportes
favorecendo esse de e vale
o direcionamento das políticas
e grandes obras viárias; públicas
com o processo de
favorecendo
modal. esse modal. industrialização de São Paulo, combustível para
A 1ªAGuerra Mundial
1ª Guerra e ae Crise
Mundial a Crisedos
dosanos 1920 favoreceram
anos 1920 a formação dos e incentivaram a industrialização
núcleos habitacionais dos traba-
em São Paulo, gerando um cenário com grande quantidade de proletariado
favoreceram e incentivaram a industrialização em lhadores; e, com o advento dos automóveis urbano e uma alta
e a
taxa de
Sãodensidade populacional
Paulo, gerando um cenário(ROLNIK,
com grande 2003),
quan-ainda concentrada
implantação nas proximidades
dos primeiros do Centro
ônibus urbanos (meio
e nas tidade
vilas operárias. Segundo
de proletariado urbanoRolnik
e uma(2003)
alta taxaatrelado
de de atransporte
isso, o Centro se estabeleceu
com maior autonomia que como um
os bon-
espaço cada vezpopulacional
densidade menos ocupado por população
(ROLNIK, 2003), ainda de baixa
des emrenda, umanavez
operação que houve
cidade), um aumento
facilitando o acesso
com oconcentrada
custo de vida nas proximidades do Centro e nas às periferias e assim, favorecendo a expansão por
(alimentação, vestuário e aluguéis), gerando assim, aumento na demanda da
terrenos
vilase operárias.
grande pressão
Segundo por moradia,
Rolnik principalmente
(2003) atrelado pela população
a população de baixa
para estes locais renda. Com
e o surgimento de lo-a
aplicação
isso, odo Plano
Centro de Avenidas,
se estabeleceu comona umdécada de 1940,
espaço cada proposto
teamentos pelo (ROLNIK,
irregulares Eng. Prestes 2003).Maia, que
consistia em promover obras para a retificação
vez menos ocupado por população de baixa ren- e confinamento de rios e córregos
Devido ao baixo ou inexistente investimen- para a
instalação
da, umadasvezavenidas
que houvefundo
um de vale ecom
aumento grandes
o custoobras
to viárias;
do Podercom o processo
Público em porçõesde industrialização
do espaço urba-
de São Paulo, combustível para a formação dos núcleos habitacionais dos trabalhadores;
de vida (alimentação, vestuário e aluguéis), ge- no destinados às moradias populares (ROLNIK, e, com
o advento
randodos automóveis
assim, aumento na ea implantação
demanda dos primeiros
por terrenos e 2003),ônibus urbanos irregulares
os loteamentos (meio de transporte
surgem nascom pe-
maior grande
autonomiapressão por moradia, principalmente pela riferias como uma alternativa viável para que ae
que os bondes em operação na cidade), facilitando o acesso às periferias
assim, favorecendo a expansão da população para estes locais e o surgimento de loteamentos
irregulares (ROLNIK, 2003). 11
Devido ao baixo ou inexistente investimento do Poder Público em porções do espaço urbano
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
população de baixa renda possua sua moradia. Bacias do: Córrego Três Pontes, Córrego Tijuco
Essas áreas, como as encostas íngremes e mar- Preto, Córrego Itaim, Córrego São Martinho, Ri-
gens de rios e córregos, foram ocupadas de forma beirão Água Vermelha, Ribeirão Lageado, Ribei-
precária por moradias, em sua maioria, de baixo rão Itaquera e Córrego Jacu), a bacia do Extremo
padrão construtivo e executadas pelo método de Leste é composta por cerca de 100 corpos d’água,
2. CARACTERIZAÇÃO
autoconstrução, DAS BACIAS
tipo de moradia DO EXTREMO
predominante com cerca deLESTE E ARICANDUVA
110 km² de área de drenagem. Já a
nas camadas de baixa renda. Bacia do Aricanduva é composta por cerca de 50
Afluentes da margem esquerda à jusante docorpos Rio Tietê, as Bacias Hidrográficas (BH) do Rio
d’água e com 100,4 km² de área de drena-
Aricanduva e do Extremo Leste (composta pelas Bacias do: Córrego Três Pontes, Córrego Tijuco
gem. Na Figura 3 podemos observar os limites
Preto, Córrego Itaim, Córrego
2 CARACTERIZAÇÃO São Martinho,
DAS BACIAS DO Ribeirão Água Vermelha, Ribeirão Lageado, Ribeirão
das BH analisadas. Nessas bacias, segundo os re-
Itaquera e Córrego Jacu),
EXTREMO LESTE E ARICANDUVA a bacia do Extremo Leste é composta por cerca de 100 corpos d’água,
com cerca de 110 km² de área de drenagem. Já agistros Baciadedoocorrências
AricanduvadaéDefesa Civil bem
composta como ode
por cerca
50 corpos d’água e com esquerda
100,4 km² de área que é noticiado pela grande mídia, são palcos re-
Afluentes da margem à jusante dode drenagem. Na Figura 3 podemos observar os
limites dasasBH analisadas. Nessas(BH)
bacias, correntes
segundo de episódios
os registros de enchentes
de ocorrências dae inundações
Defesa Civil
Rio Tietê, Bacias Hidrográficas do Rio
bem como o que é noticiado pela grande mídia, nospalcos
são períodos de chuva.de episódios de enchentes
recorrentes
Aricanduva e do Extremo Leste (composta pelas
e inundações nos períodos de chuva.
Figura Figura
3. Limite 3:
dasLimite das baciasanalisadas.
bacias hidrográficas hidrográficas analisadas.
Fonte dos dados: PortalFonte dos dados: Portal Geosampa.
Geosampa.
Elaboração: Amanda
Elaboração: Amanda Mendes deMendes de Sousa (2019).
Sousa (2019).
Entre os anos de 1940 e 1950 se iniciou o desenvolvimento urbano da Zona Leste, que está
Entre os anos de 1940 e 1950 se iniciou o de- distância do centro e pela concentração de baixa
relacionado com o padrão de crescimento periférico da cidade de São Paulo, caracterizado pela
senvolvimento urbano da Zona Leste, que está renda dos bairros. Nos anos de 1970 e 1980, hou-
distância do centro e pela concentração de baixa renda dos bairros. Nos anos de 1970 e 1980,
relacionado
houve com o padrão de
uma predominância crescimento
deste padrão e,peri- veàuma
devido predominância
demanda desteneste
por moradia, padrão e, devido
período foram
férico da cidade
construídos de São Paulo,
os primeiros caracterizado
prédios pela de
da Companhia à demanda
Habitaçãopor moradia,
de São Paulo,neste períododa
a COHAB, foram
Zona
Leste, o que favoreceu o aumento na quantidade de moradores da região.
12
Devido ao crescimento da área urbana na Zona Leste, problemas como inundações se
tornaram mais frequentes a partir dos anos 60. Apenas dez anos depois, na década de 1970, os
Adoção da territorialização por bacias hidrográficas na gestão dos riscos hidrológicos
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
possível pensar em soluções definitivas para os de limpeza e zeladoria ao longo das bacias, bem
problemas da região. como foram realizadas atividades de mobiliza-
ção com a finalidade de disseminar informações
preventivas relacionadas às fragilidades levan-
4 GESTÃO DAS BACIAS DO EXTREMO tadas no diagnóstico. Foi então proposto a cria-
LESTE E DO ARICANDUVA: GESTÃO ção do grupo de gerenciamento para a bacia do
INTEGRADA E A TERRITORIALIZAÇÃO DA Rio Aricanduva, através da Portaria nº 49 SMSP/
BACIA HIDROGRÁFICA GAB/2015, envolvendo as Subprefeituras de Ari-
canduva/Formosa, Itaquera, Penha, São Mateus e
Com a intuito de reestruturar o modelo de
Sapopemba.
gestão dentro da PMSP, adotando a bacia hidro-
Porém, esse não é o primeiro esforço da
gráfica como unidade de análise dos riscos hi-
COMDEC em realizar esse modelo de gestão. Em
drológicos, iniciou-se um processo de articulação
2004, em parceira com o Instituto de Pesquisas
na Zona Leste de São Paulo entre os atores locais
Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo, foi
com Coordenadoria Municipal de Defesa Civil
(COMDEC). Após diversas reuniões para dis- realizado um projeto para o controle de erosão da
cussão do tema foi criado, através da publicação Bacia do Rio Aricanduva, que tinha como meta a
de portarias, grupos de gerenciamento integrado conservação dos corpos hídricos e o controle de
com a finalidade de estabelecer ações estruturais processos erosivos causados pelo assoreamento e
e não estruturais em bacias de maior interesse do intensificação do escoamento superficial devido a
ponto de vista do risco hidrológico. impermeabilização do solo da região. Além da re-
Esses grupos têm como objetivo integrar tomada do projeto de controle de erosão, o intuito
ações de mitigação dos riscos hidrológicos, priori- hoje é também atuar na conservação e uso futuro
zando locais de maior vulnerabilidade da popula- da bacia, se utilizando tanto de medidas estrutu-
ção, através de mapeamento dos espaços onde há rais bem como de medidas não estruturais, dan-
maior vulnerabilidade para o desenvolvimento do continuidade aos projetos já estabelecidos em
de processos de enchentes e inundações. Ainda, anos anteriores.
esse grupo visa criar uma articulação entre os ato-
res locais, as Subprefeituras para que ações como
5 CENÁRIOS FUTUROS
limpeza dos canais de drenagem, controle do uso
do solo, contenção de margem de córrego, sejam Avaliando a experiência obtida com as Bacias
planejadas de forma integrada para que se pos- do Extremo Leste e do Aricanduva e suas possibi-
sa fazer melhor uso do recurso público e garantir lidades de atuação dos grupos de gerenciamen-
melhores condições para a população que reside to, como a atuação nas possibilidades de conser-
nas áreas de várzea dessas bacias. vação e recuperação das funções ecossistêmicas
Como piloto, foi publicada a Portaria nº 29 dos corpos hídricos, entendemos que os grupos
SMSP/GAB/2015 que definiu as bacias do Ex- de gerenciamento não devem se limitar apenas a
tremo Leste, abrangendo as Subprefeituras de ações de curto período ou a períodos de gestões
Cidade Tiradentes, Guaianases, Itaim Paulista, políticas para que a gestão integrada da bacia se
Itaquera e São Miguel Paulista. Com a realização desenvolva. O verdadeiro objetivo da aplicação
de encontros e planejamento de atividades, foi desse modelo de gestão é para que seja produza
criada uma experiência positiva de como gerir os uma gestão integrada permanente, ligada a pro-
riscos hidrológicos nessa porção do território e a cessos e procedimentos que deem legitimidade
partir dessa experiência foi possível expandir esse para atuação dos profissionais no território das
modelo para a criação do segundo grupo de ge- bacias, e não ligada a jogadas políticas e gestão
renciamento local. Entre as propostas de trabalho política de pessoas.
do grupo, foi elaborado pelos técnicos das subpre- Com o andamento das atividades que se tor-
feituras envolvidas um diagnóstico resumido dos naram demandas a partir da criação dos grupos
problemas que atingem a região e foram plane- de gerenciamento local, vem sendo possível criar
jadas, de maneira articulada e continuada, ações um modelo de gestão para os riscos hidrológicos,
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Adoção da territorialização por bacias hidrográficas na gestão dos riscos hidrológicos
respeitando as normativas legais vigentes. Esses representantes dos 38 municípios da RMSP e da Ca-
grupos vêm gerando experiências positivas o su- pital; representantes da comunidade técnica e aca-
ficiente para que possa servir de piloto, possibi- dêmica; de órgãos reguladores ou que atuam com
litando a expansão desse modelo para as outras as funções públicas de interesse comum (FPICs); e
bacias da cidade de São Paulo, uma vez que o representantes da sociedade civil organizada.
planejamento conjunto, a execução de ações de A espacialização da gestão tendo a bacia hi-
limpeza e zeladoria, de forma concomitante ao drográfica como unidade de gestão territorial traz
longo das bacias e as atividades de mobilização, um importante desafio, tanto entre as Subprefei-
apesar de simplista, demonstram uma diminuição turas e atores municipais bem como com os mu-
no número de ocorrências do verão subsequente à nicípios da RMSP, que é o de somar esforços dos
criação do grupo. A expansão desse modelo para diferentes atores que atuam no território a fim de
melhorar a eficiência do Poder Público em plane-
todo o município de São Paulo é um importante
jar estratégias para mitigação dos riscos hidroló-
passo para estabelecer uma gestão eficaz, uma vez
gicos e auxiliar a população a estabelecer sua re-
que torna possível somar esforços das Subprefei-
siliência.
turas e de seus técnicos em favor a problemática
de risco hidrológico e estabelece ações voltadas
para a real necessidade do território e para a reso- REFERÊNCIAS
lução de problemas das bacias hidrográficas mais
críticas dentro de cada região da cidade. Ainda, Livros e capítulos de livros:
a aplicação desse modelo em outras bacias pode
ROLNIK, Raquel. São Paulo. 2° ed. São Paulo:
fortalecer a descentralização do processo de ges-
Publifolha, 2003.
tão do município, criando uma política pública
viva e atuante no território.
Além da expansão desse grupo para as outras
bacias hidrográficas críticas dentro do município Congressos, simpósios ou outros eventos:
de São Paulo, há a intenção propôs esse modelo
KOBAYASHI, Marcia Yoko. As enchentes do rio
de gestão para as bacias localizadas nas divisas do
Aricanduva e a construção de conhecimento no
município de São Paulo com as cidades vizinhas ensino de geografia. São Paulo: USP, 2010. 115
da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). A p. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-
intenção é aplicar esse projeto nas bacias do Cór- Graduação em Geografia Humana, Faculdade
rego Pirajussara (bacia presente nos municípios de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
de Embu das Artes, Taboão da Serra e São Paulo), Universidade de São Paulo, 2010.
do Rio Cabuçú de Cima (bacia presente nos muni-
cípios de Guarulhos e São Paulo) e do Rio Taman- NOGUEIRA, Fernando Rocha. 2002. Políticas
duateí (bacia presente nos municípios de Santo públicas municipais para gerenciamento de riscos
André, São Caetano do Sul, Mauá e São Paulo), ambientais associados a escorregamentos em áreas
que possuem problemáticas bastante semelhantes de ocupação subnormal. Rio Claro. 256p. Tese
as observadas na Zona Leste de São Paulo. (Doutorado em Geociências e Meio Ambiente) –
Essa proposta está sendo discutida no âmbi- Universidade Estadual Paulista.
to da Câmara Temática Metropolitana para Ges-
SANTOS, Felipe Almeidas dos. As inundações na
tão de Riscos Ambientais Urbanos. Esse colegia-
Bacia do Aricanduva (Município de São Paulo) e
do, ligado ao Conselho de Desenvolvimento da
o suporte dos revestimentos vegetais da APA do
Região Metropolitana de São Paulo – CDRMSP, Carmo na interceptação das precipitações.
tem como intuito discutir e articular com os mu-
nicípios da RMSP as problemáticas de riscos São Paulo: PUC, 2011. 130 p. Dissertação de
ambientais urbanos e a aplicação das políticas Mestrado (Mestrado em Geografia) – Pontifícia
de gestão de risco. Essa câmara é composta por Universidade Católica de São Paulo, 2011.
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
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ÁREAS SUSCETÍVEIS AO RISCO
GEOTÉCNICO – QUANDO CONVÉM
A PROPRIEDADE PÚBLICA?
Geotechnical risk susceptible areas - when does
public property is convenient?
RESUMO ABSTRACT
A elaboração de cartas de suscetibilidade e cartas geo- The preparation of geotechnical maps has led to the
técnicas de aptidão à urbanização tem levado à identi- identification of territory parcels, not yet occupied,
ficação de parcelas do território, ainda não ocupadas, which can be classified as susceptible to geotechnical
que podem ser enquadradas como suscetíveis a riscos risks. The possibility of irregular occupation of these
geotécnicos. A possibilidade de ocupação irregular areas is greater when only use limitations are presented,
dessas áreas é grande quando se explicitam limita- without drawing attention to proposals for its effective
ções de uso sem que se apontem propostas para sua use, consistent with its geotechnical characteristics. To
efetiva utilização, compatíveis com suas características promote their proper use one of the questions is about
geotécnicas. Na perspectiva de promoção de um uso the convenience of public property. This article aims
adequado uma das questões que se apresenta é sobre to analyze the variables that influence the decision to
a conveniência ou não da propriedade pública. Busca- acquire or maintain public ownership of risk areas,
-se neste artigo aprofundar a análise sobre as variáveis which are empty or unoccupied. The hypothesis is that
que interferem na decisão de aquisição ou manutenção there is a hierarchy of importance for the incorporation
da propriedade pública das áreas suscetíveis ao risco, into the public property of geotechnical risk areas and
que se encontram vazias ou desocupadas. A hipótese that in some cases it is possible, or even advisable, to
é que existe uma hierarquia de importância quanto à maintain private property.
incorporação no patrimônio público de áreas de risco
geotécnico e que em alguns casos é possível, ou mesmo Keywords: Geotechnical risk, risk prevention, public
recomendável, a manutenção da propriedade privada. property
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
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Áreas suscetíveis ao risco geotécnico – quando convém a propriedade pública?
amplie o potencial de risco existente. Porém, para gestores públicos e da própria sociedade conta-
isso, é necessário que a área pública tenha adequa- rem com novos instrumentos de gestão de risco,
da utilização e que haja manutenção e fiscalização que identificam de forma mais clara as áreas im-
que possibilite evitar sua ocupação irregular. Em próprias à ocupação no território ou seja, áreas
alguns casos, cercar a área e permitir que a vege- que não devem ser edificadas ou onde devem ser
tação se recupere, pode ser uma alternativa, em tomadas precauções específicas para a ocupação.
especial se há uma população organizada no en- De acordo com a lei, os Municípios mais críticos
torno, que tem interesse em que a área seja manti- devem elaborar instrumentos de gestão de risco,
da desocupada e que notifique qualquer tentativa dentre eles o Mapeamento das áreas suscetíveis
de ocupação irregular, logo no início. Em outros à ocorrência de deslizamentos de grande impac-
casos, isto não basta, e a prevenção à ocupação to, inundações bruscas ou processos geológicos
irregular vai depender de uma ação mais direta ou hidrológicos correlatos; Mecanismos de con-
da municipalidade, dotando-a de um uso público, trole e fiscalização para evitar a edificação em
como parque, praça ou como área verde integrada áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos
ao terreno de algum equipamento público. Nestes de grande impacto, inundações bruscas ou pro-
casos pressupõe-se que haja uma ação de funcio- cessos geológicos ou hidrológicos correlatos e a
nários públicos que vão exercer a fiscalização da Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização, esta-
correta destinação da área. belecendo diretrizes urbanísticas voltadas para a
Vale destacar que parte dessas áreas susce- segurança dos novos parcelamentos do solo.
tíveis a risco, quando de baixo valor comercial, é Segundo Sobreira (2012, p.84) as cartas de susce-
usualmente doada pelos empreendedores ao Mu- tibilidade e de aptidão são cartas geotécnicas de
nicípio, por ocasião da aprovação do projeto de planejamento e gestão territorial e devem ofere-
parcelamento do solo, como área verde ou área cer condições de avaliação que dote o planejador
institucional. Porém, raramente o empreendedor de capacidade para intervenções que constituam
se responsabiliza pelos investimentos necessários cenários de desenvolvimento viável e são ins-
ao seu efetivo uso público, ou seja, doa um terreno trumentos de prevenção e correção de situações
para praça ou escola e não efetivamente uma pra- relacionadas a desastres naturais e tecnológicos.
ça ou escola. Em muitos casos a situação é mais As Cartas de Suscetibilidade são feitas na escala
grave, pois o terreno doado não tem condições 1:25.000 e têm por objetivo delimitar no territó-
para que nele seja construída uma praça ou esco- rio de um Município as áreas que possuem maior
la. Essas áreas inadequadas para os fins para as ou menor probabilidade de desencadeamento de
quais foram doadas, que ficam sem utilização por fenômenos naturais ou induzidos (deslizamen-
vários anos, constituem um dos grandes proble- tos, queda de rochas, rastejos ou inundação). As
mas em termos de ocupação irregular de áreas de Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização
risco potencial. Vale destacar que os Municípios são feitas na escala 1:10.000 ou 1:5.000 e indicam
têm amplos poderes atribuídos pela regulamenta- a capacidade dos terrenos para suportar os dife-
ção federal para que possam selecionar a área pú- rentes usos e práticas da engenharia e do urba-
blica que vão receber, por ocasião do fornecimen- nismo, com o mínimo de impacto possível e com
to de diretrizes para o parcelamento do solo (Lei o maior nível de segurança. A instituição de um
Federal 6766/79, arts 6-8). Infelizmente, porém, é Cadastro Nacional de Municípios Críticos quanto
raro que exerçam de fato esse poder. à ocorrência de processos geológicos está prevista
na Medida Provisória nº 547, publicada pelo go-
verno federal em 11/10/2011mas como até o mo-
3 Caracterização das áreas mento não foi definido este cadastro, foi adotada
suscetíveis a risco uma lista inicial proposta pelo Plano Nacional de
Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais
A implementação da Política Nacional de
do Governo Federal de 2012, com 821 Municípios
Proteção e Defesa Civil, instituída pela Lei Fe-
brasileiros prioritários. Os Municípios foram prio-
deral 12.608/2012, trouxe a possibilidade dos
rizados por apresentarem maior recorrência de
19
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
20
Áreas suscetíveis ao risco geotécnico – quando convém a propriedade pública?
21
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E
GESTÃO DE RISCO DE DESATRES NATURAIS
SUSTAINABLE DEVELOPMENT AND NATURAL DISASTER RISK MANAGEMENT
RESUMO ABSTRACT
Considerando que os atuais cenários de riscos am- Considering the current situation of environmental
bientais urbanos são resultados dos conceitos iniciais urban risk is a product of so called development, risk
atrelados a “desenvolvimento” e, portanto, da conse- incorporation should be a fundamental component of
quente necessidade dos processos de planejamento e urban development. The perspective of increasing the
desenvolvimento urbano incorporarem o risco como connection between urban development sustainable
componente fundamental, e na perspectiva de valori- practices and disaster risk management is the main
zar a interação entre práticas sustentáveis de desen- focus of thispaper.
volvimento urbano e a gestão de risco de desastres, o This paper presents an exercise of risk management
presente trabalho apresenta um exercício de avaliação assessment measures, considering its positive impacts
de medidas de gestão de risco, considerando seus im- in accordance with the three sustainability dimensions
pactos positivos segundo as três dimensões da susten- - Economic, Environmental and Social - and the most
tabilidade (econômico, social e ambiental) e seus mais important stakeholders grouped to this evaluation.
importantes stakeholders (partes interessadas) agru- The board of correlation, with the impacts properly
pados para avaliação. O quadro de correlação, com os addressed, will configure an important social
impactos devidamente valorados será uma importante engagement tool for financial agents and investors
ferramenta de sensibilização de agentes financiadores from the benefits provided by the natural disaster risk
e investidores, dos ganhos promovidos pelo desenvol- management of sustainable development.
vimento sustentável da gestão de risco de desastres
naturais. Keywords: natural disaster risk management;
sustainable development; urban planning; risk
Palavras-chave: gestão de risco de desastres naturais; management stakeholders; defense and civil protection
desenvolvimento sustentável; planejamento urbano;
stakeholders da gestão de risco; e proteção e defesa civil
22
Desenvolvimento sustentável e gestão de risco de desatres naturais
23
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Tabela 1. Eixos e subeixos de concepção de gestão de serviços/atividades podem trazer e, por uma série
risco a desastres naturais. de procedimentos legais, institucionais, e técnico-
-científicos, prevê-se a magnitude e a importância
Eixos de Gestão Atividades
desses “custos”. Depois disso, defini-se o limite de
Identificação e caracterização do risco
cada um desses “custos” e, por limite, entende-se
1. Conhecimento Análise do risco
do Risco
o nível mais distante que o “custo” (impacto) é ca-
Monitoramento do risco
paz de atingir.
Comunicação do risco
O conceito da sustentabilidade não sugere a
Intervenção corretiva ou mitigação dos riscos
estagnação do crescimento econômico, mas prevê
2. Manejo Intervenção prospectiva ou
do Risco antecipação aos riscos desenvolver sob a ótica de conciliação das dimen-
Proteção financeira ou transferência dos riscos sões ambiental, econômica e social.
3. Manejo Preparação e execução da resposta
do Desastre Preparação e execução da recuperação
2.3 Definição e Análise de Stakeholders
4. Arranjo Articulação intersetorial
Institucional (público, privado e sociedade civil)
Legal Arcabouço legal
O termo “stakeholder” se refere a entidades ou
indivíduos que tendem a ser significativamente
afetados pelos processos advindos do desenvol-
vimento e planejamento urbano. O termo inclui
2.2 O Desenvolvimento Sustentável organizações ou indivíduos cujos direitos nos
termos da lei ou de convenções internacionais
A ideia de desenvolvimento sustentável vem
lhes conferem legitimidade de reivindicação pe-
da proposta de integração entre as questões am-
rante o responsável pelas atividades causadoras
bientais e o desenvolvimento econômico e, por
dos impactos percebidos. Os stakeholders podem
definição, significa: “atendimento das necessida-
incluir tanto aqueles diretamente envolvidos nas
des do presente sem comprometer a habilidade
operações do processo de desenvolvimento e pla-
de as futuras gerações atenderem suas próprias nejamento urbano (p. ex.: empregados, acionistas
necessidades” (RATTNER, 1999). e fornecedores) como os que mantêm relações de
A sustentabilidade foi um dos resultados outros tipos com o local (p. ex.: comunidades lo-
mais perceptíveis das conf erências internacionais cais, grupos vulneráveis dentro das comunidades
sobre desenvolvimento nos últimos anos. Dentre locais, sociedade civil) (Global Reporting Initiati-
as de grande visibilidade, a Rio 92 reuniu mais ve - GRI, 2013).
de 100 chefes de estado e originou a Agenda 21, Para esse trabalho, na tentativa de endereçar
com 27 princípios que estabelecem os pilares bá- de maneira generalista os impactos potenciais e
sicos do desenvolvimento sustentável. O primeiro reais, listou-se grandes grupos de stakeholders em
princípio traduz a linha de raciocínio sobre a qual função dos eixos de gestão de risco a desastres
o documento está embasado: “Os seres humanos naturais. A Tabela 2 identifica quem são esses
constituem o centro das preocupações relaciona- stakeholders selecionados e alguns dos ganhos pos-
das com o desenvolvimento sustentável. Têm di- síveis quando se incorpora os conceitos da susten-
reito a uma vida saudável, produtiva e em harmo- tabilidade em metodologias de gestão. Assim de-
nia com anatureza”. finiu-se: i) Comunidade exposta, que representa
A discussão teórica, no entanto, revela uma parte específica da sociedade civil; ii) Financiador,
luta implícita pelo poder entre diferentes atores representada pelos gestores públicos federais e es-
sociais (stakeholders), competindo por uma posi- taduais (em consonância com a Lei 12.608/2012);
ção hegemônica , para ditar diretrizes e endossar e iii) Gestores públicos locais, que são os princi-
representações, levando a tensões e conflitos e re- pais gestores e executores das políticas de defesa
sultando em problemas ambientais e sociais, cha- e proteção civil.
mados “custos sociais” (RATTNER, 1999). Destaca-se, que este procedimento acaba por
Para dimensionar esses “custos”, identifi- ser um exercício, nos quais os gestores públicos
cam-se os impactos que determinadas operações/ locais podem ser desdobrados em secretarias
24
Desenvolvimento sustentável e gestão de risco de desatres naturais
diversas municipais (saúde, meio ambiente, podem não ser tão óbvios. O preenchimento da
obras, defesa civil), bombeiros, poder judiciário, e Tabela 2 demonstrou que uma partição em sta-
etc.. Assim como existe o papel do investidor, da keholders discretizados, de acordo com o proces-
sociedade civil não exposta diretamente ao risco, so de risco definido, pode melhorar a acurácia da
e assim por diante. O quadro podeser específico avaliação, e demonstrar impactos positivos, ainda
para alguns tipos de risco e alguns ambientes. nãodestacados.
A possibilidade de inclusão de diversos ou-
tros stakeholders (e.g. representantes da socieda-
3 RESULTADOS EDISCUSSÃO de civil organizada, entidades representativas do
comércio e da indústria, etc) e também de outros
Para realizar o exercício aqui proposto, atra-
riscos, como erosão costeira, secas e estiagem, per-
vés da experiência profissional dos autores e do
mitem que a análise de riscos na perspectiva do
estudo de casos anteriores (e.g. BONGIOVAN-
desenvolvimento sustentável seja utilizada como
NI et al, 2015b;FERREIRA et al, 2016; BUSH et
instrumento de gestão, possibilitando assim a
al; IKEMATSU et al, 2005, etc.), foi idealizada
ampliação de seus impactos positivos e a univer-
uma correlação entre os quatro eixos de gestão
salização dos ganhos junto à sociedade como um
de riscos de desastres naturais (Tabela 1), os sta-
todo. Paralelamente, a Tabela 2 expressa a viabi-
keholders e os possíveis impactos positivos nas
lidade de avaliar o grau de abrangência das medi-
três dimensões de análise do desenvolvimento
das de gestão, de sua repercussão e efeitos, o que
sustentável: econômico (E), social e antrópico (S)
lhe confere o caráter de uma notável ferramenta
e ambiental (A). Esta correlação é apresentada na
de informação e de convencimento, tanto para di-
Tabela 2 quesegue.
vulgação social como para captação de recursos
Ressalte-se que a correlação proposta leva
e consequentemente contribuir para melhorar a
em consideração processos de inundação e de
governança dos riscos.
movimentos de massa, e por isso, outros impactos
positivos podem ser destacados, enquanto alguns
25
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Tabela 2. Quadro da correlação dos stakeholders, eixos de gestão de risco a desastres e impactos.
Stakeholder
E Diminui prejuízos, com E Diminui prejuízos, com E Diminui prejuízos, com E Valoração do imóvel por
aspectos de saúde e segurança aspectos de saúde, segurança e aspectos de saúde e segurança meio de arranjos legais
patrimônio e incrementa a resiliência (regularização fundiária) e
participação da gestão de
Comunidade exposta
26
Desenvolvimento sustentável e gestão de risco de desatres naturais
27
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
28
DETERMINAÇÃO DE LIMIARES DE
PRECIPITAÇÕES EXTREMAS RELACIONADAS
À OCORRÊNCIA DE INUNDAÇÕES:
ESTUDO DE CASO DA BACIA DO RIO
SAPUCAÍ EM ITAJUBÁ – MG
DETERMINATION OF EXTREME PRECIPITATION THRESHOLDS RELATED TO FLOODING
OCCURRENCE: CASE STUDY OF THE SAPUCAÍ RIVER BASIN IN ITAJUBÁ – MG
RESUMO Abstract
O presente estudo realiza uma análise dos dados de This study performs an analysis of rainfall data
precipitações disponíveis na bacia do rio Sapucaí a available in Sapucaí River basin upstream from the
montante do município de Itajubá - MG, com o intuito city of Itajubá – MG, in order to determine thresholds
de determinar limiares deprecipitações extremas. Para of extreme rainfall. For the Sapucaí River basin it was
a bacia do rio Sapucaí foi encontrado um limiar de pre- found an average threshold of extreme rainfall of 46,5
cipitaçãointensa médio de 46,5 [mm] em 24 [horas] e [mm] in 24 [hours] and the spatial distribution of these
a distribuição espacial dos limiares não apresentou- thresholds showed no obvious pattern. The assessment
nenhum padrão evidente. A avaliação da frequência of the annual frequency of rainfalls that exceeded this
anual das precipitações que ultrapassaramesse limiar threshold showed no tendency of increase or decrease
não apontou nenhuma tendência de aumento ou dimi- along the time. Regarding the basin in the city of
nuição no tempo. Quanto à baciaem Itajubá, a análise Itajubá, the analysis focused on floods and the results
focou em inundações, e os resultados apontaram que suggest that in all the selected events a medium rainfall
em todos os eventosselecionados ocorreu uma chuva occurred with at least 46 [mm] in 24 [hours]. However,
média de pelo menos 47 [mm] em 24 [horas]. No en- this result is only approximate, since the concentration
tanto, essevalor é apenas aproximado, pois o tempo de time of the basin is inferior than 24 [hours] and without
concentração da bacia é menor do que 24 horas, esem hourly data it is not possible to obtain the time interval
dados horários, não é possível a obtenção do interva- in which this rainfall should be distributed to actually
lo de tempo em que essa chuva deveestar distribuída cause a flood.
para realmente ocasionar uma inundação.
Keywords: floods, thresholds, extreme rainfall,
Palavras-chave: inundações, limiares, precipitações ex- concentration time.
tremas, tempo de concentração.
29
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Assim sendo, este trabalho tem como objetivo a 21 de janeiro de 1979 Barbosa (2015)
avaliação dos dados de precipitação das estações 16 de janeiro de 1981 Pinheiro (2005)
30
A áreaLatitude
coordenadas de estudoSulfoi– delimitada
22°26’36” com e Longitude
o auxílio Oestedo software– 45°25’46”,
de sistemas no município
de informaçõesde Itajub
geográficas ArcGis® tomando como exutório a estação fluviométrica
sul de Minas Gerais (Figura 1). Foram verificadas as estações pluviométricas existentes 61271000, localizado pelasna b
coordenadas
traçada Latitude
e no seu Sul –sendo
entorno, 22°26’36” e Longitude
selecionadas 14Oeste
estações – 45°25’46”,
(Figurano 2).município de Itajubá no
Determinação de limiares de precipitações extremas relacionadas à ocorrência de inundações
sul de Minas Gerais (Figura 1). Foram verificadas as estações pluviométricas existentes na bacia
traçada e no seu entorno, sendo selecionadas 14 estações (Figura 2).
3
31
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
32
selecionada na bacia do rio Sapucaí. Na Tabela 2 apresentam-se os valores encontrados e na
Determinação de limiares de precipitações extremas relacionadas à ocorrência de inundações
Figura 3 pode ser visualizada a distribuição espacial dos mesmos.
Tabela 2. Precipitações extremas (frequência de 1%).
Tabela 2 – Precipitações extremas (frequência de 1%).
Código da Estação Precipitação
Código da Estação Precipitação
1%1% [mm]
[mm] Código da
Código da Estação
Estação Precipitação 1% [mm]
Precipitação 1% [mm]
2145017 47,5 2245029 56,0
2145017 47,5 2245029 56,0
2245000
2245000 45,1 45,1 2245066
2245066 45,2
45,2
2245010
2245010 46,4 46,4 2245074
2245074 47,0
47,0
2245011 38,8 2245077 45,7
2245011 38,8 2245077 45,7
2245018 47,4
2245018 47,4
33
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 4. Frequência
Figura das precipitações
4 – Frequência intensas intensas
das precipitações da bacia do
daRio Sapucaí.
bacia do Rio Sapucaí.
Figura 4 – Frequência das precipitações intensas da bacia do Rio Sapucaí.
Partindo para a análise referente à bacia delimitada no rio Sapucaí a montante do município
Partindo
de Itajubá, apóspara a análise
a seleção das referente
estaçõesà bacia de- quantidade
pluviométricas mínima de chuva necessária para
de de-
Partindo para a análise referente à bacia delimitadano
nointerior da bacia
rio Sapucaí e o levantamento
a montante do município
limitada
seus dadosnode
rio Sapucaí a montante do município sencadear mínima
os eventos
de de inundação selecionados.
de Itajubá, apósprecipitação
a seleção das foi estações
possível estimar a quantidade
pluviométricas no interior da baciachuva necessária
e o levantamento para
de
desencadear
de Itajubá, os
após eventos
a de
seleção inundação
das estações selecionados.
pluviomé- Os
Os resultados
resultados encontrados
encontrados mostram
mostram
seus dados de precipitação foi possível estimar a quantidade mínima de chuva necessária para que
que ememtodas
todas as enchentes
tricas no interior
desencadear selecionadas
da bacia
os eventos ocorreu
e o levantamento
de inundação uma chuva
de as
selecionados. de pelo
Osenchentes menos 47
resultadosselecionadas[mm] em
encontradosocorreu
mostram24
uma [horas]
quechuva
em de
(Figura
seus 5).
dados de precipitação foi possível estimar a pelo menos 47 [mm]
todas as enchentes selecionadas ocorreu uma chuva de pelo menos 47 [mm] em 24 [horas]em 24 [horas] (Figura 5).
(Figura 5).
consultadas. Sendo assim, pode-se levantar a hi- de aumento ou redução com o passar dos anos.
pótese de que essa quantidade de precipitação A respeito da bacia do rio Sapucaí a montante do
se concentrou em um intervalo de tempo menor município de Itajubá, segundo a análise das pre-
do que 24 [horas]. Para verificação dessa hipótese cipitações obtidas das 14 estações selecionadas e
foi calculado o tempo de concentração da bacia, do levantamento de eventos de inundação signi-
por três métodos diferentes e condizentes com as ficativos na região, foi determinado a quantidade
características da bacia em estudo. Os valores en- mínima de chuva necessária para desencadear os
contrados são apresentados na Tabela 3. eventos, que foi de pelo menos 47 [mm] em 24
[horas]. No entanto, a verificações de ocorrências
desse valor ao longo do tempo mostraram que ele
Tabela 3. Tempo de Concentração da bacia estudada.
nem sempre acontece vinculado a uma inundação.
Tempo de Concentração Isso pode ser explicado pelo fato da bacia possuir
Método
[horas] um tempo de concentração menor do que 24 [ho-
Corps of Engineers 9,9 ras]. A determinação de um limiar mais próximo
Ven te Chow 8,8 da realidade seria possível a partir de dados horá-
Watt e Chow 18,0 rios de precipitação, porém, não existem estações
com essa precisão na região estudada.
Como esperado, o tempo de concentração
da bacia é menor do que 24 [horas]. Assim sen-
do, pode-se inferir que a precipitação de 47 [mm] AGRADECIMENTOS
se concentrou em um período de tempo menor
do que um dia. Ou seja, se esses 47 [mm] forem Os autores agradecem ao CNPq pelo financiamen-
bem distribuídos durante 24 [horas] a inundação to da pesquisa a qual o trabalho está vinculado:
provavelmente não irá acontecer. No entanto, não Desenvolvimento de um sistema de prognóstico
será possível a determinação desse intervalo de por conjunto de chuvas extremas e sua aplicação
tempo em que o volume de precipitação deve-se em ações de prevenção a desastres naturais. Edital
concentrar devido à inexistência de dados horá- MCTI/CNPq/FNDCT N º 65/2013.
rios de chuva para a região de interesse.
Por fim, foi realizada uma análise das cotas REFERÊNCIAS
do rio nas duas estações fluviométricas de Itajubá,
citadas anteriormente, com o intuito de verificar BARBOSA, A. A.; OLIVEIRA, G. M.; OLIVEIRA,
se há alguma relação entre os níveis do rio Sapu- T. J. Histórico de enchentes em Itajubá/MG.
caí nos dias anteriores a inundação e a inundação Revista Meio Ambiente e Sustentabilidade, vol. 9,
em si, a partir da comparação dos eventos detecta- n. 4, p. 125-140, jul/dez 2015.
dos com volumes de precipitação acima do limiar
de 47 [mm] em dias com e sem enchentes. No en- COLLISCHONN, W.; DORNELLES, F. Hidrologia
tanto, não foi encontrada nenhum padrão. para engenharia e ciências ambientais. 1 ed.
Porto Alegre: Associação Brasileira de Recursos
Hídricos (ABRH), 2013.
4 CONCLUSÃO
PINHEIRO, M. V. Avaliação Técnica e Histórica
A análise das precipitações da bacia do rio Sa- das Enchentes em Itajubá – MG. Dissertação
pucaí, oriundas das 9 estações selecionadas, per- (Mestrado em Engenharia de Energia) –
mitiu a determinação de valores de precipitações Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, p. 104,
intensas a partir do percentil de excedência de 1%, 2005.
que foi de, em média, 46,5 [mm] em 24 [horas],
não tendo apresentado nenhum padrão na sua SILVEIRA, A. L. L, Desempenho de Fórmulas
distribuição espacial. O levantamento da frequên- de Tempo de Concentração em Bacias Urbanas e
cia anual de precipitações onde esse limiar foi Rurais. Revista Brasileira de Recursos Hídricos,
extrapolado não apresentou nenhuma tendência Porto Alegre, vol. 10, n. 1, p. 5-23, jan/mar 2005.
35
EMPREGO DA COMPARTIMENTAÇÃO FISIOGRÁFICA
NA SELEÇÃO DE ÁREAS-ALVO A PROCESSOS
DE CORRIDAS DE MASSA: APLICAÇÃO NA ÁREA
SERRANA DO LITORAL NORTE DE SÃO PAULO
EMPLOYMENT OF PHYSIOGRAPHIC COMPARTMENT IN THE SELECTION OF TARGET
AREAS FOR MASS RACING PROCESSES: APPLICATION IN THE SERRANA AREA OF THE
NORTHERN SÃO PAULO COAST
Rafaela Bressan
Graduação em Geologia, Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”,
36
Emprego da compartimentação fisiográfica na seleção de áreas-alvo a processos de corridas de massa
RESUMO ABSTRACT
O objetivo deste trabalho foi de realizar a comparti- The objective of this study was to perform the
mentação fisiográfica das bacias hidrográficas Juqueri- physiographic compartmentalization of Juqueriquerê,
querê, Santo Antônio e São Francisco, nos municípios San Antonio and San Francisco watershed, in the
de Caraguatatuba e São Sebastião (SP), com finalidade municipalities of Caraguatatuba and São Sebastião
de identificar locais com maior vulnerabilidade a cor- (SP), with the purpose of identifying areas with greater
ridas de massa. Foi empregado o método proposto por vulnerability to flow. It used the method proposed
Zaine (2011), com subsídio de bases cartográficas em by Zaine (2011), with allowance cartographic bases
escala 1:50.000, mapas geológicos em escala 1:50.000 e in scale 1: 50,000 geological maps at 1: 50,000 and
ortofotos com resolução 1:10.000, além de estudos de orthophotos with resolution 1: 10,000, and retro-
retro-análise dos eventos que já ocorreram no local. analysis of event studies that have already occurred
Foram delimitadas unidades fisiográficas nas planícies in local. Physiographic units were delimited in fluvial
fluviais e flúvio-marinhas; nos locais com depósitos de and fluvial-marine plains; in places with deposits of
colúvio e de tálus, nos granitoides em morros isolados, colluvium and talus in granitoids in isolated hills in
nos granitoides e gnaisses-migmatitos associados às granitoids and gneisses, migmatites associated with
médias e baixas encostas de serra e nas áreas de topo the middle and lower mountain slopes and on top of
com predominância de granitoides e a gnaisses mig- areas with a predominance of granitic gneisses and
matitos. A vulnerabilidade a corridas de massa é maior migmatites. The vulnerability of flow is greater in the
em encostas retilíneas a convexas, com valores de de- convex and straight slopes with slope values greater
clividade superiores a 30º. than 30º.
37
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
38
do proterozóico superior, rochas cataclásticas cambro-ordivicianas e intrusões básicas localizadas,
de idade mesozóica (geralmente na forma de diques).
Emprego da compartimentação fisiográfica na seleção de áreas-alvo a processos de corridas de massa
Figura 1 – Localização das bacias hidrográficas alvo de estudo
3.1. Materiais
Para a Eelaboração
3 MATERIAIS MÉTODOS do presente trabalho foram utilizados os seguintes materiais: cartas
3.2 Métodos
topográficas em escala 1:50.000 do IBGE das folhas Maresias (SF-23-Y-D-V-4) Caraguatatuba
(SF-23-Y-D-VI-1),
3.1 Materiais Pico do Papagaio (SF-23-Y-D-V-2), eDe Sãomodo
Sebastião (SF-23-Y-D-VI-3)
a subsidiar (IBGE,
a elaboração da com-
1973; 1974a; 1974b; 1975), mapas geológicos em partimentação fisiográfica, primeiramente (SF-
escala 1:50.000 da folha Caraguatatuba foram
23-Y-D-VI-1), Pico do
Para a elaboração doPapagaio (SF-23-Y-D-V-2)
presente trabalho foram (CPRM, 1982; CPRM, 1991) e do município de
gerados os mapas de declividade, hipsometria, hi-
São Sebastião (IG, 1996), ortofotos em escala 1:10.000 da Emplasa e levantamento bibliográfico
utilizados os seguintes materiais: cartas topográ- drografia e geologia da área de estudo. Para tal, fo-
dos processos de corrida de massa que já ocorreram na área.
ficas em escala 1:50.000 do IBGE das folhas Ma- ram dispensadas técnicas de geoprocessamento no
resias (SF-23-Y-D-V-4) Caraguatatuba (SF-23-Y- software Arcgis 10.2.2 nas curvas de nível em escala
3.2. Métodos
D-VI-1), Pico do Papagaio (SF-23-Y-D-V-2), e São 1:50.000 (com equidistância de 20 metros) através
SebastiãoDe(SF-23-Y-D-VI-3) (IBGE,
modo a subsidiar a elaboração da compartimentação fisiográfica,
dos comandos Create primeiramente
Tin e Slope, foram
ambos pela ferra-
gerados
1973; os mapas1974b;
1974a; de declividade, hipsometria,
1975), mapas geoló- hidrografia e geologia da área de estudo. Para tal,
menta 3D Analyst. Ademais, as ortofotos em escala
foram dispensadas técnicas de geoprocessamento no software Arcgis 10.2.2 nas curvas
gicos em escala 1:50.000 da folha Caraguatatuba 1:10.000, fornecidas pela EMPLASA, foram georre- de nível
em escala 1:50.000 (com equidistância de 20 metros) através dos comandos Create Tin e Slope,
(SF- 23-Y-D-VI-1), Pico do Papagaio (SF-23-Y-D- ferenciadas e mosaicadas no mesmo programa.
ambos pela ferramenta 3D Analyst. Ademais, as ortofotos em escala 1:10.000, fornecidas pela
-V-2) (CPRM, foram
EMPLASA, 1982; georreferenciadas
CPRM, 1991) e do emunicípio A realização
mosaicadas no mesmo da compartimentação fisiográfi-
programa.
de São Sebastião (IG, 1996), ortofotos em escala ca seguiu as recomendações da interpretação pelo
1:10.000 da Emplasa e levantamento bibliográfico método lógico (GUY, 1966; SOARES; FIORI, 1976;
dos processos de corrida de massa que já ocorre-3 ZAINE, 2011), que segundo Vedovello (2000) é
ram na área. passível de repetição por outros intérpretes ou
aplicação em outras áreas de maneira similar.
39
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Nesse sentido, o presente trabalho seguiu as eta- densidade de drenagem e de relevo. Nestas, de
pas de fotoleitura, fotoanálise e fotointerpretação, maneira geral, os vales são fechados, a amplitude
propostas por Soares e Fiori (1976). local é média a alta, bem como os valores de de-
A etapa de fotoleitura se baseou na identi- clividade, as encostas variam de convexas a retilí-
ficação das técnicas e processos de obtenção da neas e a forma dos topos varia de arredondada a
imagem orbital de sensoriamento remoto, como angulosa. Em relação às características geológico-
a resolução espacial, resolução espectral e outras -geotécnicas, nestas unidades a permeabilidade
características pertinentes a essa fase. intergranular varia de média para baixa, a relação
Para a fotoanálise, primeiramente a área foi escoamento superficial pela infiltração é média,
dividida em relação aos aspectos geológicos, con- bem como a profundidade do manto de alteração
siderando as diferentes litologias encontradas na e o topo rochoso varia de raso a sub aflorante. Nes-
área de estudo. Posteriormente, as análises da tes locais foram encontradas inúmeras evidências
forma, textura, estrutura dos elementos do relevo de ocorrência de movimentos de massa, através
da identificação visual e mapeamento das cicatri-
e da drenagem foram considerados referenciais
zes. Nesse sentido, a etapa de fotointerpretação
para a delimitação dos diferentes compartimen-
revelou que para estas unidades a potencialidade
tos, a partir da utilização dos mapas hipsomé-
a corridas de massa pode variar de média a alta,
tricos, de declividade e hidrográfico. Assim, esta
devido à morfologia das bacias hidrográficas e a
etapa seguiu as proposições do quadro de análise
densidade de drenagem. Cabe ressaltar que mo-
fotogeológica, elaborado por Zaine (2011).
vimentos de massa desta classe desenvolvem-se
A fotointerpretação, por sua vez, se baseou principalmente ao longo dos canais de drenagem
na assimilação dos resultados obtidos pela fotoa- de primeira à terceira ordem, com valores de in-
nálise, identificando o significado das formas e clinação do talvegue elevados. Nesse sentido,
características das unidades delimitadas no con- apesar de possuir baixos valores de densidade
texto de sua função para o ambiente. textural, a unidade fisiográfica 1, denominada de
A caracterização geológico-geotécnica foi ba- planícies aluviais restritas, é caracterizada como
seada nos resultados da interpretação das imagens uma região com alta probabilidade de ocorrência
pelas etapas anteriores e pelo trabalho de campo. de corridas de massa, devido à inclinação do tal-
Assim, as análises realizadas nessa fase seguiram vegue e sua inserção em bacias com formato mais
as orientações dos itens “Aplicações”, “Análise de circular e fechado, possibilitando a hiperconcen-
densidade textural” e “Análise das formas e carac- tração dos fluxos e favorecendo o escoamento su-
terísticas do relevo” propostos por Zaine (2011). perficial rápido de detritos. As unidades 2, 4, 5,
Em relação aos estudos de retro-análise, foram 6, 7 e 9 abrangem principalmente morfologias de
identificadas com o auxílio das ortofotos da Empla- relevo serrano a escarpado e litologias que variam
sa as possíveis evidências de movimentos de massa de gnaisses- migmatítiticas a granitos.
que ocorreram no local. Posteriormente a sua deli- As unidades 3, 10 e 11 possuem médios valo-
mitação, foram investigadas, através dos levanta- res de densidade textural. Nesse sentido, observa-
mentos bibliográficos realizados, as características -se nestes locais médias amplitudes locais, baixos
geológicas-geomorfológicas dos locais nos quais a médios valores de declividade e forma de encos-
esses eventos ocorreram (CORRÊA et. al, 2015). tas que pode variar de côncava a convexa. Ade-
mais, os topos são, em sua maioria, arredondados
e podem ser encontrados vales abertos a fechados.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Em relação às características geológico-geo-
técnicas, o manto de alteração nestes locais é mé-
Foram identificadas na área de estudo 17 dio, a profundidade do topo rochoso é interme-
unidades fisiográficas distribuídas ao longo da diária e o potencial a escorregamentos e corridas
Província Costeira e do Planalto Atlântico, com de massa varia de baixo a médio. Cabe destacar
diferentes contextos geológicos (Figura 2). que a unidade 11 é representada pelas rampas de
As unidades fisiográficas 2, 4, 5, 6, 7, 9 pos- colúvios e tálus e sua potencialidade a corridas de
suem alta densidade textural, e, portanto, alta massa é alta.
40
corridas de massa varia de baixo a médio. Cabe destacar que a unidade 11 é representada pelas
rampas de colúvios e tálus e sua potencialidade a corridas de massa é alta.
Emprego da compartimentação fisiográfica na seleção de áreas-alvo a processos de corridas de massa
Figura 2 – Compartimentação fisiográfica da área de estudo
5
41
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
42
Emprego da compartimentação fisiográfica na seleção de áreas-alvo a processos de corridas de massa
SOARES, P. C.; FIORI, A. P. Lógica e sistemática VEDOVELLO, R.; MATTOS, J.T. A Utilização
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43
MEDIDAS ESTRUTURAIS ADOTADAS EM ÁREAS
DE RISCO DE MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS
DE MASSA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA
CONSTRUÇÃO DE CIDADES RESILIENTES
STRUCTURAL MEASURES ADOPTED IN RISK AREAS OF LANDSLIDES AND THEIR
CONTRIBUTION TO BUILD RESILIENT CITIES
Kátia Canil
Geógrafa, Professora do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas e dos Programas de Pós Graduação
em Planejamento e Gestão Territorial e em Ciência e Tecnologia Ambiental – UFABC, katia.canil@ufabc.edu.br
RESUMO ABSTRACT
Desastres ocorrem com frequência em regiões densa- Disasters often occur in densely populated regions;
mente populosas. Somam-se aos eventos de natureza the hydrometeorological nature events plus the
hidrometeorológica as intervenções antrópicas que anthropogenic interventions can cause or increase the
podem acarretar ou potencializar a consequência dos result of impacts in risk areas. Thus, understanding the
impactos em áreas de risco. Assim, a compreensão dos natural phenomena and their occurrence, mechanisms
fenômenos naturais quanto a sua ocorrência, seus me- and dynamics are essential to propose preventive
canismos e sua dinâmica é fundamental para proposi- and corrective measures. Brazil has been relating
ção de medidas preventivas e corretivas. O Brasil vem internationally in order to look for solutions and
se relacionando internacionalmente com o propósito exchange experiences in the disasters context, some
de buscar soluções e trocar experiências no âmbito dos UN actions have had and continue to have leading
desastres. Certas ações da ONU tiveram e continuam role as a provider of concentration and experiences
tendo papel preponderante como veículo de concen- exchange around the world. The developed policy of
tração e troca de experiências ao redor do mundo. A building resilient cities is marked by structural and
política desenvolvida de construção de cidades resi- non-structural measures. This article sets out some
lientes é pautada por medidas estruturais e não estru- examples of structural measures related to reducing
turais. Este artigo expõe alguns exemplos de medidas disaster risks and building resilient cities contained in
estruturais que apontam para redução de riscos de UNISDR publications.
desastres e a construção de cidades resilientes frente a
movimentos gravitacionais de massa contidos em pu- Keywords: Hazards – Resilient Cities – Structural
blicações do UNISDR. Measures – Risk
44
Medidas estruturais adotadas em áreas de risco de movimentos gravitacionais de massa e sua contribuição para construção de cidades resilientes
45
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
comunidades resilientes que, também, são baseadas década de 90 como sendo a Década Internacional
em medidas estruturais; as quais são corroboradas para Redução dos Desastres Naturais (Internatio-
por meio de boas práticas. Dentre o conjunto de nal Decade for Natural Disaster Reduction – IDNDR)
experiências, existem medidas que estão mais pró- quando contou com o apoio de cerca de 180 paí-
ximas da realidade política e econômica brasileira, ses, para debater temas como a identificação dos
assim, serão estas as analisadas no presente artigo. riscos, a análise e cartografia dos riscos, as medi-
das estruturais e não estruturais de prevenção de
desastre, o planejamento para situações de emer-
2 OBJETIVO gência, as informações públicas e treinamento de
agentes públicos. Tais discussões, deram margem
Este artigo expõe alguns exemplos de me-
para elaboração de trabalhos contendo análises
didas estruturais que apontam para redução de
mais consistentes, novas ferramentas de avalia-
riscos de desastres e a construção de cidades re-
ção, guias e procedimentos para a implementação
silientes frente a movimentos gravitacionais de
de modelos de avaliação e gestão de riscos. Em
massa apresentados em publicações oficiais da 1994, ocorreu a Primeira Conferência Mundial so-
Organização das Nações Unidas – ONU, por meio bre Redução de Desastres em Yokohama onde foi
UNISDR. O presente texto busca contribuir para a aprovado um Plano de Ação 1994-2004 buscando
discussão da resiliência e apresentar estudos que dar continuidade nos avanços gerados pela IDN-
apontem nesse caminho, pois se trata de um tema DR (ALHEIROS, 2011).
ainda em construção e discussão no meio técnico A Segunda Conferência Mundial sobre Redu-
e acadêmico-científico. ção de Desastres em Kobe, em 2005, discutiu uma
agenda e uma campanha global para construção
de comunidades e nações resilientes por meio da
3 CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-
aprovação por unanimidade do Marco de Ação
METODOLÓGICAS
de Hyogo: Construindo a resiliência das nações
3.1 Resiliência e comunidades frente aos desastres 2005-2015 –
(Hyogo Framework Action – HFA) Almejou-se com
Para avaliar os estudos de caso e a aplicação o Marco de Ação de Hyogo reduzir substancial-
de medidas estruturais adotadas em áreas atin- mente as perdas em termos de vidas e de bens so-
gidas por desastres, é importante, inicialmente ciais, econômicos e ambientais das comunidades
apresentar alguns conceitos que consideram o ter- (UNISDR, 2012).
mo resiliência. Para Cardona, 2012, resiliência é a Um dos reflexos do Marco de Ação de Hyo-
capacidade de absorver ou resistir aos potenciais go foi a Campanha Global 2010-2015 “Construin-
impactos gerados a partir da ocorrência de um do Cidades Resilientes – Minha Cidade está se
evento natural (URBR, 2013). preparando”, com a publicação de um guia para
A resiliência é um conceito originário da Fí- gestores públicos locais, que aponta os 10 passos
sica e descreve a propriedade de certos materiais essências para construir cidades resilientes, quais
recuperarem sua forma original após um choque sejam: 1° Quadro Institucional e administrativo;
ou deformação, assim, uma cidade resiliente a de- 2° Recursos e Financiamento; 3° Avaliações de
sastres é aquela que está preparada para resistir, Risco e Ameaças Múltiplas – Conheça seu Risco;
4° Proteção, Melhoria e Resiliência de Infraestru-
absorver e se recuperar de desastres naturais, pre-
tura; 5° Proteção de Serviços Essenciais: Educação
venindo e minimizando a perda de vidas e bens
e Saúde; 6° construção de Regulamentos e Pla-
materiais (FREIRE, 2013).
nos de Uso e Ocupação do Solo; 7° Treinamento,
Educação e Sensibilização Pública; 8° Proteção
3.2 Política Internacional de Resiliência e ambiental e Fortalecimento de Ecossistemas; 9°
Redução do Risco de Desastre – ONU Preparação,
Sistemas de Alerta e Alarme, e Resposta Efe-
O Escritório das Nações Unidas para Redu- tivos; 10º Recuperação e Reconstrução de Comu-
ção de Riscos e Desastres – UNISDR instituiu a nidades (UNISDR, 2012).
46
Medidas estruturais adotadas em áreas de risco de movimentos gravitacionais de massa e sua contribuição para construção de cidades resilientes
Em março de 2015, foi realizada a Tercei- PreventionWeb, quais sejam: A Study on Flash
ra Conferência Mundial para a Redução do Ris- Floods end Landslides Disaster – Índia (PARKASH,
cos de Desastres em Sendai, onde foi aprovado o 2015), The Southern Leyte Landslide 2006 – Filipinas
Marco de Sendai para Redução de Riscos de De- (LUNA et al., 2011) e Adaptation to climate change
sastre 2015-2030 – Sendai Framework Disaster Risk using green and blue infrastructure – A database of
Reduction – SFDRR tendo como prioridades para case studies – Uma coleção de estudos de caso de
ação: 1. Compreensão dos riscos de desastres; 2. países da Europa e cidades americanas (KAZ-
Fortalecimento da governança dos riscos de de- MIERCZACK; CARTER, 2010).
sastres para gerenciar os riscos de desastres; 3. A publicação A Study on Flash Floods end
Investimento na redução dos riscos de desastres Landslides Disaster – Índia é extensa e discute em
para resiliência; 4. Melhoria na preparação para seus capítulos temas como aspectos do meio físi-
desastres a fim de providenciar uma resposta efi- co, desastres, vulnerabilidade, risco, histórico de
caz e de “Reconstruir Melhor” em recuperação, eventos, perdas e danos pós-desastres, ações de
reabilitação e reconstrução (UNISDR, 2015). resposta, planos de gestão e recomendações, en-
O SFDRR trouxe certas reflexões e inovações tre eles destaca-se o capítulo que discute mitiga-
frente aos temas e avanços produzidos pelo HFA, ção e medidas de prevenção, nesse item é apre-
porém há uma mudança de foco importante en- sentada uma lista de medidas de mitigação para
tre os dois marcos, pois a política da redução das deslizamentos de terra, são elas: A. Modificação
perdas por desastres passou para uma política de da Geometria da Encosta (p.e. redução do ângulo
redução dos riscos de desastres (STEVENS, 2015). de inclinação geral e altura e construção de bacia
de detritos); B. Sistema de Drenagem (p.e. drenos
de superfície, desidratação a vácuo e túneis de
4 EXPERIÊNCIAS/ BOAS PRÁTICAS E drenagem/galerias); C. Estruturas de Contenção
RESILIÊNCIA (p.e. muros de espera de paralelepípedos e ga-
bião caixa); e D. Reforço Interno da Encosta (p.e.
A busca por medidas estruturais que possam
tirantes, solo grampeado e plantio de vegetação)
reverter quadros de risco é algo que se aprimora
(PARKASH, 2015).
junto aos avanços tecnológicos e se complementa
A publicação The Southern Leyte Landslide
com a troca de experiências, tanto no âmbito na-
cional como internacional. Uma das ferramentas 2006 – Filipinas tem como tema central a recupera-
que está inserida nesse contexto é a compilação, ção de uma região do arquipélago que sofreu com
divulgação e publicação de dados referentes a deslizamentos (onde uma comunidade inteira foi
exemplos de ações que tem como intuito a redu- soterrada) e passou por um processo de recons-
ção de risco e resposta a desastres, esse tipo de trução por meio de reassentamento, o texto possui
trabalho é realizado pelo UNISDR. O meio para quatro capítulos fundamentais: 1. Visão geral do
se consultar algumas das publicações referentes estado atual e sua recuperação; 2. Processos de re-
a esse tema é utilizar a plataforma online Preven- cuperação; 3. Recuperação de setores específicos
tionWeb – Serving the information needs of disaster e estudos de caso; e 4. Problemas, lições e seguir
reduction community1, do próprio UNISDR. em frente. As medidas estruturais implementa-
A partir dos levantamentos realizados o arti- das nos assentamentos incluem melhorias para
go enfocou as medidas estruturais adotadas para as estradas, sistema de abastecimento de água,
redução do risco de desastres frente a processos serviços elétricos e de drenagem, e a construção
de movimentos gravitacionais de massa, em dife- instalações para sede do governo local, escola pri-
rentes países que estão ou poderão vir a ser imple- mária, centro de saúde e equipamentos de lazer
mentadas em território nacional. Os exemplos de- (LUNA et al., 2011).
monstram a gama de documentos e publicações A Adaptation to climate change using green and
possíveis de serem encontradas na plataforma blue infrastructure – A database of case studies – Uma
coleção de estudos de caso de países da Europa e
cidades americanas reúne estudos de casos de di-
1 PreventionWeb – http://www.preventionweb.net/
publications/list/ ferentes localidades e tipos de desastres, entre eles
47
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
destaca-se o caso de Seattle, Washington (USA), fazem parte de uma visão holística da resiliência,
que leva o nome de Seattle: Using vegetation to li- que compreendem, de certa forma, o conceito de
mit the hazard of landslides, esse texto é fundamen- construção de cidades resilientes, visando os 10
tado na manutenção e restauração da vegetação passos essências para este fim.
em áreas suscetíveis a deslizamentos de terra para O terceiro é vislumbrar como as experiências
redução de risco de desastre. A cobertura vege- internacionais de adoção de medidas estruturais
tal pode contribuir para estabilidade de encos- estabelecidas em áreas de risco aproximam-se da
tas íngremes, reduzir erosões, reduzir infiltração realidade brasileira, visto que, em linhas gerais
direta, aumentar a resistência do solo, reduzir o as obras realizadas nas três localidades, apresen-
efeito splash e reduzir a intensidade e velocidade tadas no artigo, são semelhantes àquelas aplica-
do escoamento superficial. A vegetação nativa é das em território nacional, são elas: mudança da
melhor, pois está mais adaptada ao clima, porém geometria do talude, sistemas de drenagem, co-
certos tipos de vegetação podem produzir um bertura do talude (natural ou artificial) e outras
efeito adverso na estabilidade no talude. O texto medidas complementares que tem o intuito de re-
apresenta, também, uma lista de plantas nativas qualificar uma área de risco e que possam torná-la
contendo o nome popular, nome científico, altura resiliente.
média, necessidade de luz e o local de preferência O quarto é a discussão da construção de cida-
para o plantio para o tratamento de áreas suscetí- des resilientes frente aos desastres, esse conceito
veis a deslizamentos de terra (KAZMIERCZACK; tem muito a avançar e essa pequena exposição de
CARTER, 2010). publicações demonstra que o caráter resiliente de
Nos casos supracitados as medidas apre- uma área parte de uma visão integral de medidas
sentadas foram implementadas pós-desastres, o estruturais e não estruturais que podem ser forta-
que demonstra como a gestão de riscos, mesmo lecidas a partir da troca de experiências nacionais
internacionalmente, está voltada para uma ação e internacionais.
de reposta e não de prevenção. No entanto, com o O Brasil é um dos países que mais aderiu à
Marco de Sendai, as discussões voltaram-se para campanha Construindo Cidades Resilientes, po-
a prevenção e com isso a redução de riscos, isto é: rém a simples aderência está longe de ser sufi-
adotar medidas de prevenção para minimização ciente para a construção da resiliência. É funda-
dos impactos. mental traçar estratégias de ação que envolvam
a política governamental, o apoio técnico e as
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS comunidades, considerando as trocas de expe-
riências em âmbito nacional e internacional, para
A forma como as publicações foram apre- criar condições para que áreas de risco de desas-
sentadas nesse artigo tem quatro papéis fun- tres tornem-se resilientes.
damentais: o primeiro é demonstrar o leque de
publicações que estão disponíveis na plataforma
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PreventionWeb. A plataforma se apresenta como
uma ferramenta interessante na busca de expe- ALHEIROS, M. M. Gestão de Riscos Geológicos
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O segundo é demonstrar de forma simplifi-
cada como estão estruturadas essas publicações, CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ESTUDOS E
considerando que as medidas estruturais adota- PESQUISAS SOBRE DESASTRES (CEPED).
das em áreas suscetíveis a movimentos gravita- Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a
cionais de massa têm suma importância, porém 2010. Universidade Federal de Santa Catarina
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