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REVISTA BRASILEIRA DE
GEOLOGIA DE ENGENHARIA
E AMBIENTAL
2ª Edição Especial
números 1 e 2 de 2019
REVISTA BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA E AMBIENTAL
Publicação Científica da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
EditorES
Revisores
Adalberto Aurélio Azevedo – IPT Jorge Kazuo Yamamoto – USP
Alberto Pio Fiori – UFPR José Alcino Rodrigues de Carvalho – Univ. Nova de Lisboa
Alessandra Cristina Corsi – IPT (Port.)
Aline Freitas da Silva – DRM-RJ José Augusto de Lollo – UNESP
Andrea Valli Nummer – UFSM José Domingos Gallas – USP
Angelo José Consoni – TSAP José Eduardo Zaine – UNESP
Antonio Cendrero – Univ. da Cantabria (Espanha) José Luiz Albuquerque Filho – IPT
Antonio Manoel Santos Oliveira – UNG Kátia Canil – UFABC
Candido Bordeaux Rego Neto – IPUF/SC Leandro Eugênio da Silva Cerri – UNESP
Carlos Geraldo Luz De Freitas – IPT Luis de Almeida Prado Bacellar – UNESP
Clovis Gonzatti – CIENTEC Luiz Fernando D`Agostino – Nucleo
Denise de la Corte Bacci – USP Luiz Nishiyama – UFU
Diana Sarita Hamburger – UFABC Malva Andrea Mancuso – UFSM
Dirceu Pagotto Stein – Geoexec Marcelo Denser Monteiro – Metrô – SP / UAM
Edilson Pissato – USP Marcelo Fischer Gramani – IPT
Eduardo Brandau Quitete – IPT Marcia Pressinotti – IG/SMA
Eduardo Goulart Collares – UEMG Marcilene Dantas Ferreira – UFSCar
Eduardo Soares de Macedo – IPT Marcio A. Cunha – Consultor
Emilio Velloso Barroso – UFRJ Maria Cristina Jacinto Almeida – IPT
Eraldo L. Pastore – Consultor Maria Heloisa B.O. Frascá – Consultora
Fábio Soares Magalhães – WALM Maria José Brollo – IG/SMA
Fabricio Araujo Mirandola – IPT Marta Luzia de Souza – UEM
Filipe Antonio Marques Falcetta – IPT Nelson Meirim Coutinho – GEORIO
Flávio Almeida da Silva – Engecorps Newton Moreira de Souza – UnB
Frederico Garcia Sobreira – UFOP Noris Costa Diniz -UnB
Ginaldo Campanha – USP Reinaldo Lorandi – UFSCar
Helena Polivanov – UFRJ Renato Luiz Prado – USP
Jair Santoro – IG/SMA Ricardo Vedovello – IG/SMA
João Francisco Alves Silveira – Consultor Yociteru Hasui – Consultor
apoio editorial
Denise Amaral e Didiana Dórea
Conselho Deliberativo da ABGE: Claudio Luiz Ridente Gomes, Delfino Luiz Gouveia Gambetti,
Fabio Augusto Gomes Vieira Reis, Fernando Facciolla Kertzman, Francisco Nogueira de Jorge,
Iramir Barba Pacheco, Ivan Jose Delatim, Jacinto Costanzo Junior, Joao Paulo Monticelli,
Julio Yasbek Reia, Marcela Penha Pereira Guimaraes, Marcelo Denser Monteiro,
Maria Heloisa B. Oliveira Frasca, Otávio Coaracy Brasil Gandolfo, Paula Sayuri Tanabe Nishijima,
Raquel Alfieri Galera, Renata Augusta Rocha N. de Oliveira, Renivaldo T. Campos,
Ricardo Antonio Abrahão, Ricardo Vedovello e Silvia Maria Kitahara.
NÚCLEO SUL
Conselho Deliberativo: Andrea Valli Nummer, Cezar Augusto Burkert Bastos, Débora Lamberty,
Erik Wunder, Hermam Vargas Silva, Malva A. Mancuso e Murilo da Silva Espíndola.
NÚCLEO NORTE
Conselho Deliberativo: Claudio Fabian Szlafsztein, Dianne Danielle Farias Fonseca,
Elton Rodrigo Andretta, Iris Celeste Nascimento Bandeira, Luciana de Jesus P. P. Miyagawa,
Milena Marília Nogueira de Andrade e Sheila Gatinho Teixeira.
ABGE Central
Gerente Executiva: Luciana Marques
Av. Prof. Almeida Prado, 532 | Prédio 36 | Cidade Universitária | São Paulo – SP
Fones: (11) 3767-4361 | (11) 3719-0661
E-mail: abge@abge.org.br | Site: abge.org.br
APRESENTAÇÃO
Este número da Revista Brasileira de Geolo- comunidade pode compartilhar ideias, pensamen-
gia de Engenharia e Ambiental (RBGEA) corres- tos e interpretações sobre a Geologia de Engenha-
ponde formalmente à primeira edição da revista ria e Ambiental, com foco no âmbito geral de nos-
após a realização do 16° Congresso Brasileiro de sa atuação, nossa responsabilidade e do contexto
Geologia de Engenharia e Ambiental (16° CBGE) onde nos inserimos na atual busca do Homem
em setembro de 2018, na cidade de São Paulo, oca- por uma melhor e mais harmoniosa convivência
sião em que comemoramos o jubileu da ABGE. com o planeta. Nesta edição publicamos o texto
O tema que compôs o pano de fundo do even- “Geologia de Engenharia: A geociência aplicada
to foi “Geologia de Engenharia e Ambiental – Onde que vê o homem enquanto agente geológico” do
estamos e para onde vamos” em cujo contexto os geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos que nos
Núcleos Regionais de ABGE apresentaram relatos oferece uma reflexão sobre o uso do conhecimen-
dos respectivos “Desafios e Demandas Regionais to geológico aplicado à Geologia de Engenharia e
de Geologia de Engenharia e Ambiental”, que fo- a relação desta às demais áreas de conhecimento
ram publicados em nossa edição anterior. que compõem a grande área da Geotecnia. Pu-
Contudo, na reflexão de onde estamos e para blicamos também o texto do engenheiro geólogo
onde vamos, é imperativo e inevitável recordar de Edézio Teixeira de Carvalho intitulado “Serra
onde viemos. Por isso, considerando o simbolismo Fluminense em 2001 e 2020” que nos convida ao
da presente edição como a primeira desse novo ci- exercício de pensarmos em formas complemen-
clo da ABGE, a RBGEA inicia a seção “Nossa His- tares de interpretar e agir frente aos fenômenos
tória” com a intenção de resgatar nossa memória geológicos da dinâmica externa da Terra.
técnica e nossa evolução como associação profis- Completando a edição 2019, apresentamos
sional através da reedição de artigos publicados oito artigos técnicos dos Simpósios que compu-
em congressos passados. São publicações que, se seram o Congresso, que foram indicados pelos
não foram esquecidas, foram sufocadas por toda a Coordenadores desses eventos.
produção técnico-científica que veio depois, mas O artigo de Kaiber e colaboradores mostra
que nunca deixarão de ser as bases mais funda- uma avaliação da erodibilidade de materiais ob-
mentais de nossa identidade profissional. tidos por misturas de resíduos de construção civil
Inaugurando a Seção Nossa História, rea- (RCC) com solos da região de Sinop/MT, utili-
presentamos o artigo “Quatro Problemas Simples zando o equipamento de Inderbitzen Modificado.
de Geologia Aplicada”, escrito pelo Engenheiro Bandeira e colaboradores apresentam uma análise
Professor Paulo Teixeira da Cruz e pelo Geólogo de um processo de erosão fluvial conhecido como
Professor Nivaldo José Chiossi, publicado origi- Terras Caídas ocorrido no município de Porto
nalmente na 1ª Semana Paulista de Geologia Apli- Moz/PA, na margem direita do rio Amazonas. O
cada (São Paulo, 1969) que constitui o primeiro trabalho de Nogueira e colaboradores apresenta
evento técnico da ABGE, então Associação Paulis- as inovações metodológicas para a elaboração da
ta de Geologia Aplicada (APGA). carta geotécnica de aptidão à urbanização do mu-
Nessa edição da RBGEA inauguramos tam- nicípio de Itapecirica da Serra/SP. Silva e Silvei-
bém a Seção Contribuições e Reflexões onde nossa ra mostram a aplicação de técnicas de cartografia
morfométrica para a compreensão dos processos e colaboradores apresentam uma reflexão sobre o
morfodinâmicos atuantes na bacia hidrográfica distanciamento entre a formação acadêmica e as
do Ribeirão do Brejão, afluente da margem direita exigências impostas pelo mercado de trabalho.
do rio Araguari, município de Nova Ponte/MG. Por fim, Lins e colaboradores nos mostram um
Curtis Neto e colaboradores executaram uma processo analítico para a avaliação da ventilação
campanha de ensaios de compressão diametral de uma mina subterrânea.
para avaliar o potencial de geração de finos de Participe de nossa revista enviando seu arti-
britagem de três litotipos oriundos de uma pe- go técnico, seu texto de reflexão, seu comentário
dreira de produção de agregados em Limeira/ ou sua sugestão para que possamos juntos fazer
SP. O artigo de Gomes e colaboradores traz um da RBGEA a revista de divulgação e integração
enfoque na determinação da área ocupada por de- da Geologia de Engenharia e Ambiental no Brasil.
pósitos de resíduos de construção civil por meio
do tratamento de mapas e imagens aéreas. Cerri Desejamos a todos uma ótima leitura.
Sumário
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59 METODOLOGIA DE DELIMITAÇÃO DE DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS
Pedro Luiz Ferreira Gomes
Denise Balestrero Menezes
Geisy Candido da Silva
NOSSA HISTÓRIA
CONTRIBUIÇÃO E REFLEXÃO
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AVALIAÇÃO DA ERODIBILIDADE DE MISTURAS
SOLO – RCC PARA CAMADA DE REVESTIMENTO
PRIMÁRIO EM ESTRADAS RURAIS NÃO
PAVIMENTADAS UTILIZANDO O EQUIPAMENTO
DE INDERBITZEN MODIFICADO
EVALUATION OF THE ERODIBILITY OF SOIL – DEMOLITION WASTE MIXTURES
FOR PRIMARY LAYER ON UNPAVED RURAL ROADS USING MODIFIED
NDERBITZEN EQUIPMENT
Augusto Romanini
Professor, Facisas - Universidade de Cuiabá, augusto.romanini@gmail.com
Resumo Abstract
Este trabalho avaliou o efeito da erodibilidade de um This research evaluated the effect of the erodibility of
solo da região de Sinop – MT e de sua mistura com a soil of the Sinop – MT region and its mixture with
RCC (Resíduo da Construção Civil). Três misturas fo- CDW (Construction Demolition Waste) for application
ram ensaiadas, sendo elas o solo puro (M01), o solo in primary covering layers of unpaved roads. Three
com adição de 25% de RCC (M02) e o solo com adição mixtures were tested, being the soil pure (M01), soil
de 50% de RCC (M03). As misturas foram ensaiadas with addition of 25% of CDW (M02) and soil with 50%
em três condições: (i) sem imersão; (ii) imersão parcial addition of CDW (M03). The mixtures tested under
e (iii) imersão total. O estudo foi realizado com amos- three conditions: (i) without immersion; (ii) partial
tras compactadas no teor de umidade ótimo (wot) e na immersion and (iii) total immersion. The study was
Energia Proctor Normal. Um aparelho para a execução carried out with samples compacted in the optimum
do ensaio de Inderbitzen Modificado foi construído, moisture content (wot) and Normal Energy Proctor. An
utilizando materiais simples e acessíveis como tubos apparatus for the execution of the Modified Inderbitzen
e peças de PVC, grelha de churrasco e chuveiro. Este test constructed using simple and accessible materials
aparelho, por sua vez, tem a função de avaliar em la- such as pipes and PVC parts, barbecue grille and
boratório, através da perda de massa, a erosão causa- shower. This apparatus, in turn, has the function of
da pela água. Foi possível verificar que grande parte evaluating in the laboratory, through the loss of mass,
das amostras apresentam comportamento não erodí- the erosion caused by water. It was possible to verify
vel, e que a adição do resíduo acarretou no aumento that most of the samples presented non-erodible
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Avaliação da erodibilidade de misturas solo – rcc para camada de revestimento primário
em estradas rurais não pavimentadas utilizando o equipamento de inderbitzen modificado
da erodibilidade das amostras. As amostras que foram behavior, and that the addition of the residue led to
submetidas a imersão parcial obtiveram uma melhor an increase in the erodibility of the samples. Samples
resposta. No entanto para esta situação a aplicação do that submitted to partial immersion obtained a better
RCC para este tipo de solo é considerada inadequada. response. However, for this situation the application of
CDW for this type of soil considered inadequate.
Palavras-chave: Erodibilidade, Inderbitzen Modifica-
do, solo – RCC. Keywords: Erodibility, Modified Inderbitzen, soil – CDW
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
o objetivo de simular o efeito das gotas de chuva britador disponibilizado por uma empresa local.
chamado efeito “splash”. A escolha da faixa granulométrica seguirá a utili-
O efeito “splash” ou erosão por salpicamen- zada por Alves e Benatti (2015), ou seja, a fração
to, é caracterizado por Guerra e Mendonça (2004) areia, o intervalo utilizado é do passante na pe-
como sendo o início do processo erosivo. A desa- neira nº10 (2,00 mm) até o retido na peneira nº200
gregação ocorre pela colisão das gotas da chuva (0,076 mm) conforme a ABNT (1984c).
contra um solo exposto e sem vegetação. Este im-
pacto causa uma pequena compactação das par-
tículas do solo (selagem do solo) que dificultam 2.1.3 Preparação das misturas
a infiltração da água da chuva originando-se as-
Com o solo e o RCC foram confeccionadas 3
sim irregularidades na superfície do terreno que
consequentemente, geram poças com acúmulo de misturas, denominadas M01, M02 E M03. A Mis-
água. Quando essas poças saturam, ocorre o início tura M01 é composta apenas de solo, a Mistura 02
do processo de escoamento superficial. A erosão possui 75% Solo e 25% RCC e a Mistura 03 é com-
por salpicamento tende a ser limitada após a se- posta por 50% Solo e 50% RCC. Todas as adições
lagem do solo. foram feitas em função da massa seca do solo.
Dessa forma avaliou-se o potencial de erodi- As amostras foram denominadas de M01,
bilidade de um solo puro e duas frações de adição M02, M03 e o RCC, respectivamente e, posterior-
de RCC em um equipamento simplificado cons- mente, foram caracterizadas, através dos ensaios
truído utilizando materiais acessíveis. O equipa- de determinação do limite de liquidez (ABNT,
mento construído para o desenvolvimento desse 1984a), determinação do limite de plasticidade
trabalho permite que se adotem inclinações para o (ABNT,1984b) e análise granulométrica (ABNT,
escoamento superficial, que simulam a inclinação 1984c). Os parâmetros de compactação utilizados
do pavimento foram obtidos por Alves e Benatti (2015) utilizan-
do a Energia Proctor Normal.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.2 Ensaio de Inderbitzen Modificado
2.1 Preparação e caracterização das amostras
Este ensaio se caracteriza pela simplicida-
2.1.1 Solo de de análise dos resultados. Para realização do
ensaio, foram realizadas algumas alterações no
O solo utilizado neste trabalho é comumen- equipamento e na preparação dos corpos de pro-
te conhecido como “amarelo”, e foi coletado em va. A ideia original de Inderbitzen (1961) consiste
um trecho de uma estrada vicinal do município em o uso de um fluxo de água sobre uma rampa,
de Sinop, MT, em um ponto situado a cerca de o ensaio de Inderbitzen Modificado por sua vez,
500 metros do eixo da rodovia MT – 423, nas coor- simula o efeito da precipitação sobre a mistura.
denadas geográficas 11°45’29.3”S 55°22’31.9”W. O equipamento utilizado nos ensaios é descrito
A coleta foi feita no segundo semestre do ano de no item 2.3.
2014, a uma profundidade entre 0,60 e 1,00 m. Por se tratar da primeira avaliação, optou-se
Após a coleta, o material foi levado ao Laborató- por realizar o ensaio utilizando a inclinação de 20º
rio de Engenharia Civil da UNEMAT. O solo foi proposta por Freire (2001) e utilizada por Grando
seco ao ar, peneirado na peneira de 4,8 mm (nº 4) (2011). A inclinação da rampa pode ser ajustada
e armazenado em tambores metálicos. diretamente no equipamento. A baixa inclinação
visou atender as situações de rodovias não pavi-
2.1.2 Resíduo mentadas que podem ser atendidas pelo revesti-
mento primário.
Os resíduos de construção civil foram coleta- A vazão escolhida foi fixada em 50 mL/s, foi
dos em obras do município de Sinop. Os resíduos escolhida conforme proposto por Ide (2009) que
forma britados de forma mecânica, utilizando um corresponde a uma precipitação de 28 mm em 30
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Avaliação da erodibilidade de misturas solo – rcc para camada de revestimento primário
em estradas rurais não pavimentadas utilizando o equipamento de inderbitzen modificado
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 2. a) Peças “A” do Equipamento de Inderbitzen Modificado. b) Peças “A”, “B” e “C” do equipamento de Inderbitzen
Modificado desmontadas.
Peça A B C
Item A1 A2 A3 B1 B2 C1 Total
Adaptador soldável com bolsa e rosca 25 mm x 3/4” (un) 1 2 - 1 - - 4
Cano PVC – 25 mm (m) * 0,225 0,15 0,15 0,75 0,9 0,7 2,9
Cap Soldável 25 mm (un) 2 - - 1 4 1 8
Chuveiro Água fria (un) - - 1 - - - 1
Conexão para mangueira Redução 3/4” X 1/2” (un) 1 - - - - 1
Joelho 90º Soldável com Bucha de Latão 25 mm x 3/4” (un) - - 1 - - - 1
Joelho de 90º Soldável 25 mm (un) - - 1 - - 4 5
Luva Soldável com rosca interna 25 mm x 1/2” (un) - - 1 - - - 1
Luva União Soldável 25 mm (un) - 2 - - - - 2
Níple Rosca Branco Paralelo 1/2” (un) - - 1 - - - 1
Registro Esfera rosca externa 3/4” (un) 1 - - - - - 1
Rotâmetro – Medidor de Vazão (un) - 1 - - - - 1
Tê Soldável com Bucha de Latão na Bolsa Central 25 mm x 3/4” (un) 1 - - - 1 - 2
Tê Soldável Simples 25 mm (un) 1 - - - 2 1 4
Onde: (un) – Unidade. *Observação sobre recortes: Peça A1 recorte 0,225 m de tubulação em 1 recorte de 0,15 m e 3 de 0,025m; Peça B2
recorte 0,60 m de tubulação em 6 recortes de 0,15 m; Peça C recorte 0,70 m de tubulação em 2 recortes de 0,15 m, 2 de 0,20 m, 1 de 0,30 m e
1 de 0,05 m
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Avaliação da erodibilidade de misturas solo – rcc para camada de revestimento primário
em estradas rurais não pavimentadas utilizando o equipamento de inderbitzen modificado
Amostra AG(%) AM(%) AF(%) S+A(%)* LL(%) IP(%) SUCS TRB wot** **
M01 7 37 17 39 38 25 CL A-6 21,1 15,70
M02 10 39 21 30 30 20 CL A-2-6 15,3 17,65
M03 18 36 18 28 24 NP CL A-2-4 12,8 16,67
RCC 21 53 12 14 NL NP SC A-2-4 18,2 15,69
Nota: * Classificação segundo a ABNT (1995): Onde: AG – areia grossa (0,60 ≤ ϕ < 2,00 mm), AM – areia média (0,20 ≤ ϕ < 0,60 mm), AF – areia
fina (0,06 ≤ ϕ < 0,20 mm) e S+A – silte + argila (ϕ ≤ 0,074 mm). LL – Limite de Liquidez, IP – Índice de Plasticidade.SUCS – Sistema Unificado de
Classificação do Solo , TRB – Trasnportation Research Board, Wot – Teor de umidade ótimo, – Peso especifíco seco máximo. ** Dados obtidos
por Alves e Benatti (2015)
O solo foi coletado em uma região que per- Um processo que ocorre na região é a formação
tence à Bacia do Parecis uma das oito bacias se- de camadas de concressões lateríticas, formadas
dimentares Fanerozóicas do Brasil. A Bacia é for- pelo processo de aumento e rebaixamento do len-
mada por uma área de 500.000 km² nos estados çol freático, que proporciona a criação de óxidos
de Rondônia e Mato Grosso, com mais de 6.000 e consequentemente aglutinação de partículas,
metros de sedimentos Paleozoicos, Mesozoicos e essa ocorrência propicia a formação de um solo
Cenozoicos (BAHIA, 2007). de classificação como solo tropical laterítico. A Fi-
Apesar de pertencer a Bacia do Parecis, as gura 3 possibilita visualizar uma camada de cas-
unidades litoestratigráficas que caracterizam o calho laterítico de ocorrência na região.
solo do município são de formação mais recente.
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
O solo amarelo possui algumas informações fração total natural com preparação em pastilha
geológicas que podem auxiliar em uma análise plástica As fases minerais principais identifica-
mais abrangente dos dados. A classificação foi das na amostra são gibbsita [Al(OH)3],nacrita
realizada por Guimarães e Benatti (2016) utili- [Al2Si2O5(OH)4] e quartzo [SiO2]. A Tabela 3 apre-
zando ensaios de raio-X e fluorescencia de raio-X. senta a análise química de elementos maiores do
O ensaio foi conduzido com o solo da amostra solo sem adição de RCC.
M01 passante em malha nº200 (0,074 mm), em
Compostos Químicos
(%)
SiO2 (óxido de silício) 26,99 P2O5 (óxido de fósforo) 0,05
Al2O3 (óxido de alumínio) 42,27 K2O (óxido de potássio) 0,02
Fe2O3 (óxido de ferro) 6,06 MnO (óxido de manganês) 0,01
TiO2 (óxido de titânio) 2,48 Na2O (óxido de sódio) 0,01
CaO (óxido de cálcio) 0,07 LOI (Loss on ignition) 21,98
MgO (óxido de magnésio) 0,06 - -
Dados adaptados de Guimarães e Benatti (2016).
Ainda que o solo seja predominante argiloso química predominante em solos tropicais intensa-
conforme a classificação unificada, a microagrega- mente intemperizados.
ção das partículas de silte e argila devido à ação
da gibbsita com a contribuição da acidez do solo
3.2 Resultado do ensaio de erodibilidade
puro favorece a porosidade do solo, essa porosi-
dade pode estar associada a perda de massa. A Os ensaios realizados no aparelho de Inder-
porcentagem de LOI (Loss on ignition) de 21,98% bitzen Modificado (Figura 4a) simulam em labo-
indica a perda de massa durante o aquecimento ratório o efeito da água da chuva ao cair sobre o
da amostra. Os compostos químicos obtidos na solo, denominado efeito “splash” (Figura 4b) ou
fluorescência de raio – X presentes na Tabela 3 tra- erosão por salpicamento e define o início do pro-
duz os efeitos da hidrólise, resultados da reação cesso erosivo.
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Avaliação da erodibilidade de misturas solo – rcc para camada de revestimento primário
em estradas rurais não pavimentadas utilizando o equipamento de inderbitzen modificado
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Para o caso B, situação parecida ocorre, onde o comportamento do material no que se refere à p
a mistura M01 tem cerca de 83% do material reti- erda de massa frente à ação da água. A adição
do na peneira nº200, para a mistura M02 o mate- de RCC com o intuito de reduzir a erodibilidade
rial retido é na casa dos 88% e na M03 o material do solo também foi estudada por Dias (2014) em
retido é 90%, indicando a mesma situação do caso um solo diferente, e também não se apresentou
a e que também se repete no caso C, justificando vantajosa.
o aumento de perda de massa acumulada neste Sendo assim, a adição de RCC para reduzir a
dois casos. erodibilidade para camadas de revestimento pri-
mário não é viável, uma vez que mesmo que em
algumas análises mostre-se que a perda de massa
4 CONCLUSÕES é reduzida e/ou estabilizada no decorrer do tem-
po, a perda de massa acumulada é muito maior
Os resultados coletados nos ensaios indicam do que sem adição, o que pode acarretar aspectos
que a adição de RCC neste tipo de solo não melhora negativos as estradas (surgimento de patologias)
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Avaliação da erodibilidade de misturas solo – rcc para camada de revestimento primário
em estradas rurais não pavimentadas utilizando o equipamento de inderbitzen modificado
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Johannessen, B (Org.). 2008. Building Rural Roads. Artigo de conclusão de curso (Engenharia Civil).
Bangkok: Internacional Labour Organization. UNEMAT – Universidade do estado de Mato
466 p. Disponível em: <http://www.ilo.org/ Grosso. 10p. Sinop – MT.
wcmsp5/groups/public/--asia/---ro-bangkok/
documents/genericdocument/wcms_103551. Oda, S.. Caracterização de uma rede municipal
pdf>. Acesso em: 28 maio. 2019 de estradas nãopavimentadas. 1995. Dissertação
(Mestrado) – Curso de Engenharia Civil, Escola
Kaiber, A. L. C; Romanini, A. 2017.Avaliação de Engenharia de São Carlos, Universidade de
da erodibilidade de misturas SOLO – RCC para São Paulo, São Carlos, 186f.
camada de cobertura e proteção de taludes.
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CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA
DOS SEDIMENTOS MARGINAIS E SUA RELAÇÃO
COM SUSCETIBILIDADE À EROSÃO FLUVIAL
(TERRAS CAÍDAS) DA COMUNIDADE DE SÃO BRAZ,
MUNICÍPIO DE PORTO DE MOZ – PARÁ
GEOLOGICAL AND GEOTECHNICAL CHARACTERIZATION OF MARGINAL SEDIMENTS
FROM THE SÃO BRAZ COMMUNITY IN THE MUNICIPALITY OF PORTO DE MOZ-PA AND
THEIR RELATION TO SUSCEPTIBILTY TO FLUVIAL EROSION (TERRAS CAÍDAS)
Resumo Abstract
Na região Amazônica, além dos processos de inunda- In the Amazon region, besides flooding and land
ção e escorregamentos existem os processos erosivos, sliding processes there are also erosional processes,
principalmente a erosão fluvial, conhecida na região mainly fluvial erosion locally known as Terras Caídas.
como Terras Caídas. Este processo é muito temido pela The population dreads this process as it causes
população, uma vez que causa escorregamentos e so- landslides and undermining of great proportions
lapamentos de margem de grandes proporções, que that sometimes reach populated areas. An example of
atingem áreas muitas vezes ocupadas. Um exemplo such process took place in the community named São
deste evento ocorreu na comunidade de São Braz, loca- Braz, located in the municipality of Porto de Moz, in
lizada no município de Porto de Moz, estado do Pará, the state of Pará, on the right margin of the Amazon
na margem direita do rio Amazonas, onde uma área river where an area of about 400m in length has been
de aproximadamente 400m de comprimento foi arras- dragged by the river carrying away 14 buildings and
tada pelo rio Amazonas, levando 14 edificações e dei- dislodging 31 people. Due to this event, Geological
xando 31 pessoas desalojadas. Devido esta ocorrência Survey of Brazil – CPRM carried out a risk assessment
o Serviço geológico do Brasil – CPRM avaliou o grau on the surrounding area as well as a research on the
de risco da área ao entorno, assim como realizou uma geological and geotechnical features of the marginal
pesquisa sobre as características geológicas geotécnicas sediments in the area of the community mentioned
dos sedimentos marginais da referida comunidade, a above, in order to understand this process. Based on
fim de iniciar o entendimento sobre este processo. Com field observations and grain size analysis, it has been
base em observações de campo e análise granulomé- verified that the marginal sediments are predominantly
trica verificou-se que este sedimento marginal possui silty clay sediments and the x-ray diffraction analysis
uma textura predominantemente siltico argilosa, onde of samples have shown great amounts of quartz and
as amostragens de difração de raio-x mostraram gran- significant portions of muscovite, chlorite, iron oxide
des quantidades de quartzo, e porções significativas minerals and plagioclase with absence of expansive
de muscovita, clorita, minerais de oxido de ferro e pla- clay minerals. It means that even though there is no
gioclásio sem presença de argilo-minerais expansivos. expansive clay, such sediments have low conductivity
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Ou seja, mesmo não tendo argilas expansivas, tais se- (7, 41 x 10 -06 cm/s), little cohesion and a high soil
dimentos apresentam baixa condutividade (7,41 x 10-06 erodibility factor (k) of 0,070572 t.ha.h/há.Mj.mm,
cm/s), pouca coesão e um fator alto de erodibilidade propitiating a high susceptibility to erosive processes.
(k) no valor de 0,070572 t.ha.h/há.Mj.mm, o que propi-
cia uma alta suscetibilidade a processos erosivos. Keywords: River erosion; “Terras Caídas”; Marginals
sediments; Geoctechnic.
Palavras-chave: Erosão fluvial; Terras Caídas; Sedi-
mentos Marginais; Geotecnia.
20
Caracterização geológico-geotécnica dos sedimentos marginais e sua relação com suscetibilidade à
erosão fluvial (terras caídas) da comunidade de São Braz, município de Porto de Moz – Pará
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
4 METODOLOGIA
Figura 7 A e B. Obtenção da condutividade hidráulica dos sedimentos marginais da comunidade São Braz, Município de
Porto de Moz – PA.
22
Caracterização geológico-geotécnica dos sedimentos marginais e sua relação com suscetibilidade à
erosão fluvial (terras caídas) da comunidade de São Braz, município de Porto de Moz – Pará
Figura 8. Talude marginal constituído de sedimentos siltico argiloso mosqueado não consolida-
do, localizado na comunidade São Braz, município de Porto de Moz-Pará.
Figura 9. Curva Granulometrica dos sedimentos marginais do rio Amazonas, na comunidade São
Braz. Fonte: Serviço Geológico do Brasil, Laboratório de Análises Minerais – LAMIN Manaus.
23
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
A difração de raio x, permitiu verificar que dade São Braz, apresentam clorita e plagioclásio
além da grande quantidades de quartzo, e por- (Figura 10) sem presença de argilo minerais ex-
ções significativas de muscovita já visualizadas pansivos.
em lâmina, os sedimentos marginais da comuni-
Figura 10. Perfil da difração raio – X da amostra coletada na margem direita do rio Amazonas – Comunidade São
Braz. Fonte: Serviço Geológico do Brasil, Laboratório de Análises Minerais – LAMIN Manaus.
24
Caracterização geológico-geotécnica dos sedimentos marginais e sua relação com suscetibilidade à
erosão fluvial (terras caídas) da comunidade de São Braz, município de Porto de Moz – Pará
fluvial e que pode ser facilmente erodido por pro- CARVALHO, J.A.L. 2006. Terras caídas e
cesso de corrosão/abrasão devido à correnteza do consequências sociais: Costa do Miracauera –
rio. Mas não apresenta elementos suficientes para Paraná da Trindade, Município de Itacoatiara
explicar o processo de solapamento de grandes – AM, Brasil. Dissertação Mestrado em Sociedade
massas de terra, como o que ocorreu na comuni- e Cultura na Amazônia – Universidade Federal
dade de São Braz. Sabe-se que o terreno é pouco do Amazonas – UFAM, 141p.
coeso, mas não se tem conhecimento do elemen-
to desencadeador do solapamento. Desta forma, CARVALHO, J.A.L.; CUNHA, S. B.; IGREJA,
sugere-se que sejam realizados estudos sedimen- H.L.S.; CARNEIRO, D. de S. 2009. Episódio de
tológicos mais detalhados, como avaliação de um Terras Caídas no Rio Amazonas: caso Costa da
perfil mais profundo pra verificar a sequência Águia, Parintins–Am. In: Simpósio Brasileiro de
estratigráfica do depósito aluvionar, observando Recursos Hídricos, Campo Grande. Anais... Porto
diferenças litológicas. Análise de perfis sísmicos Alegre: Associação Brasileira de Recursos Hídricos.
para observar tanto a questão da sedimentação, Disponível em: http://www.abrh.org.br/sgcv3/
quanto a presença ou não de falhas. Testes geotéc- UserFiles/Sumarios. Acesso 15/04/2017.
nicos mais específicos, como de resistência (limite
FETTER, C. W. 2001. Properties of aquifers In:
de ruptura), saturação do solo e pressão hidrostá-
Applied hydrogeology. 4th ed. pp 84-88.
tica (poro pressão na cheia e vazante do rio). As-
sim como uma análise geofísica-geotécnica para
FOSTER, G. R. et al. 1981. Conversion of the
avaliar a erosão interna e o fluxo interno da água
universal soil loss equation to SI metric units. J.
no terreno.
Soil Water Conserv., Baltimore, v.36, p.355-359.
25
CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO À
URBANIZAÇÃO: INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO
PARA PREVENÇÃO DE DESASTRES NATURAIS NO
MUNICÍPIO DE ITAPECERICA DA SERRA, SP
PLANNING INSTRUMENT FOR THE PREVENTION OF NATURAL DISASTERS
IN THE MUNICIPALITY OF ITAPECERICA DA SERRA, SP.
Resumo Abstract
A carta geotécnica de aptidão à urbanização é um novo The geotechnical map of suitability for urbanization
instrumento para as políticas de planejamento territorial is a new instrument for municipal territorial planning
municipal que fornece diretrizes para ocupação do solo policies, which provides guidelines for land use, in face
frente à susceptibilidade aos desastres. Na Região Me- of susceptibility to disasters. In the Metropolitan Region
tropolitana de São Paulo, diversas cartas foram elabora- of São Paulo, various maps were developed since the
das desde a aprovação, em 2012, da Política Nacional de promulgation, in 2012, of the National Policy of Civil
Proteção e Defesa Civil que criou o instrumento. Este ar- Protection and Defense, which created this instrument.
tigo apresenta inovações metodológicas para elaboração This paper presents the methodological innovations to
dessas cartas, em um cenário de necessária governança develop these maps, in a scenario of necessary governance
entre os atores envolvidos na gestão de risco, a partir among the stakeholders involved in risk management,
do caso do município de Itapecerica da Serra. Do ponto based on the study case of the municipality of Itapecerica
de vista técnico-metodológico, empregou-se o modelo da Serra. Regarding the technical-methodological
Shalstab (Shallow Slope Stability) para avaliar a suscep- framework, the Shalstab (Shallow Slope Stability) model
tibilidade a eventos geodinâmicos. Zonas úmidas foram was used to evaluate the susceptibility to geodynamic
configuradas utilizando o modelo HAND (Height to the events. Wet zones were delimited using the HAND
nearest drainage), mapeamento de planícies fluviais e a (Height to the Nearest Drainage) model, mapping the
proximidade de encostas côncavas. Do ponto de vista da fluvial floodplains and the proximity to concave slopes.
gestão do risco foram realizadas diversas atividades en- Regarding risk management, many activities were carried
volvendo equipes da prefeitura municipal em um pro- out to involve teams from the municipal government in a
cesso de mútuo diálogo, capacitação e empoderamento process of mutual dialogue, training and empowerment
dos envolvidos nas ações de planejamento e defesa civil of the stakeholders involved in activities of municipal
municipal e regional. and regional planning and civil defense.
Palavras-chave – Carta geotécnica de aptidão à urbani- Keywords – Geotechnical cartography aptitude for
zação, Itapecerica da Serra, Gestão de Riscos, Planeja- urbanization, Itapecerica da Serra, Risk Management,
mento Territorial e Urbano. Territorial and Urban Planning.
26
Carta geotécnica de aptidão à urbanização: instrumento de planejamento para
prevenção de desastres naturais no município de Itapecerica da Serra, sp
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
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Carta geotécnica de aptidão à urbanização: instrumento de planejamento para
prevenção de desastres naturais no município de Itapecerica da Serra, sp
Figura 1. Fluxograma do roteiro metodológico empregado na Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização. Fonte: CANIL & NOGUEIRA, 2017.
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
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Carta geotécnica de aptidão à urbanização: instrumento de planejamento para
prevenção de desastres naturais no município de Itapecerica da Serra, sp
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Altura do HAND
Áreas úmidas Suscetibilidade
(metros)
Até 1 Alta
HAND e planície
2 Média
Terraço – áreas planas
maior do que 2 Baixa
fora do HAND
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Carta geotécnica de aptidão à urbanização: instrumento de planejamento para
prevenção de desastres naturais no município de Itapecerica da Serra, sp
mitiu contrapor o comportamento das diferentes classes de suscetibilidade associadas aos proces-
litologias e, relacionando à topografia, categori- sos geodinâmicos foram definidas conforme os
zar as classes do modelo em diferentes níveis de valores apresentados pela Tabela 3.
suscetibilidade aos processos geodinâmicos. As
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
34
Carta geotécnica de aptidão à urbanização: instrumento de planejamento para
prevenção de desastres naturais no município de Itapecerica da Serra, sp
e org.). Parâmetros para a cartografia geotécnica NOGUEIRA, F.R.; CANIL, K. (coord.) Carta geo-
e diretrizes para medidas de intervenção de áreas técnica de aptidão à urbanização: instrumento de
sujeitas a desastres naturais. Brasilia, Ministério planejamento para prevenção de desastres natu-
das Cidades/GEGEP/UFPE. 2013. Cap. 7, 39 p. rais nos municípios de Caieiras, Itapecerica da
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em: 29 jun. 2017. RENNÓ, C. D., NOBRE, A. D., CUARTAS, L. A.,
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35
CARTOGRAFIA MORFOMÉTRICA APLICADA À
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DO BREJÃO:
CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DOS PROCESSOS
MORFODINÂMICOS
MORPHOMETRIC CARTOGRAPHY APPLIED TO BREJÃO STREAM HYDROGRAPHIC BASIN:
CONTRIBUTION TO THE STUDY OF MORPHODYNAMIC PROCESSES
Alan Silveira
Professor do Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia (IG/UFU),
Campus Monte Carmelo (MG), alan.silveira@ufu.br
Resumo Abstract
O trabalho teve o objetivo de aplicar técnicas da car- The objective of this work was to apply morphometrical
tografia morfométrica com intuito de compreender os cartographic techniques to understand the
processos morfodinâmicos atuantes na bacia hidrográ- morphodynamical processes in the Ribeirão do Brejão
fica do Ribeirão do Brejão. Afluente da margem direita basin. A tributary of the right bank of the Araguari
do rio Araguari, situada no município de Nova Ponte river, located in the municipality of Nova Ponte (MG),
(MG), na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Pa- in the Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba Mesoregion,
ranaíba, a bacia hidrográfica em estudo está posiciona- the basin, which is under study, is situated at the
da na unidade geotectônica da Bacia Sedimentar do Pa- Paraná Sedimentary Basin (CODEMIG, 2017) and at
raná (CODEMIG, 2017) e na unidade morfoescultural the morphoscultural unit of Plateaus and Tablelands
dos Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná (ROSS, of the Paraná Basin (ROSS, 1985). It was assumed that
1985). Partiu-se do pressuposto de que os procedimen- the morphometrical cartographic procedures adopted
tos cartográficos morfométricos adotados contribuem contribute to the geomorphological interpretation of
com a interpretação geomorfológica da área de estu- the study area, especially regarding the verification
do, sobretudo quanto à verificação do potencial dos of the potential of the morphodynamical processes.
processos morfodinâmicos. Diante disso, propôs-se a In this paper, we proposed the organization of the
organização das Cartas Morfométricas de Declividade Morphometrical Maps such as Declivity (DE BIASI, 1970
(DE BIASI, 1970 e 1992), de Dissecação Horizontal (SPI- and 1992), Horizontal Dissection (SPIRIDONOV, 1981,
RIDONOV, 1981, com adaptações de MAURO et al., with adaptations of MAURO et al, 1991) and Vertical
1991) e de Dissecação Vertical (SPIRIDONOV, 1981). Dissection (SPIRIDONOV, 1981). The integrated analysis
A análise integrada dos documentos cartográficos pro- of the cartographic documents produced served to
duzidos possibilitou a identificação de locais de maior identify sites of greater susceptibility to the occurrence
suscetibilidade à ocorrência de processos morfodinâ- of morphodynamical processes and, consequently, this
micos e, consequentemente, contribuiu para o aponta- study contributed to the identification of areas that
mento de áreas que necessitam de ações vinculadas ao require actions related to environmental planning due
planejamento ambiental, tendo em vista a interferência to the anthropic interference evidenced.
antrópica evidenciada.
Keywords: Geomorphology; Morphometric
Palavras-chave: Geomorfologia; Cartografia Morfomé- Cartography; Morphodynamics; Ribeirão do Brejão;
trica; Morfodinâmica; Ribeirão do Brejão: Ponte Nova. Ponte Nova.
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Cartografia morfométrica aplicada à bacia hidrográfica do Ribeirão do Brejão: contribuição ao estudo dos processos morfodinâmicos
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Cartografia morfométrica aplicada à bacia hidrográfica do Ribeirão do Brejão: contribuição ao estudo dos processos morfodinâmicos
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Cartografia morfométrica aplicada à bacia hidrográfica do Ribeirão do Brejão: contribuição ao estudo dos processos morfodinâmicos
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Cartografia morfométrica aplicada à bacia hidrográfica do Ribeirão do Brejão: contribuição ao estudo dos processos morfodinâmicos
Para o setor da Alta Bacia, evidenciaram-se, Com isso, tem-se a Alta Bacia como um setor
sobretudo, declividades reduzidas (≤ 3 %, 3 a 6 % e em que as cabeceiras de drenagem apresentam
6 a 12%) correspondendo ao relevo suavizado (Fi- reduzido grau de entalhamento dos vales, reduzi-
gura 6). Acerca da dissecação horizontal, pôde-se da densidade de drenagem e baixas declividades.
perceber áreas de interflúvio extensas respectivas Desta forma, tem-se a presença de represamentos
às classes de 400 ˫ 800 m e ≥ 800 m, representando nestes vales amplos e pouco entalhados, sobretu-
baixa densidade de drenagem para este compar- do diante uma condição hidromórfica destas áreas
timento (Figura 6). Verificou-se, para a disseca- que possibilitam o acúmulo de água (Figura 7).
ção vertical, um reduzido grau de entalhamento
(< 20 m, 20 ˫ 40 m e 40 ˫ 60 m).
Figuras 6 e 7. À esquerda, relevo suavizado com reduzida declividade, baixa densidade de drenagem e baixo grau de enta-
lhamento dos vales, expresso pela ampla área destinada à agricultura. À direita, represamento em ambiente hidromórfico em
área de antiga vereda.
Para a Média Alta Bacia, evidenciaram-se bai- riação altimétrica de baixa a média alta (< 20 m,
xas declividades (≤ 3 % e 3 a 6 %), sobretudo pró- 20 ˫ 40 m, 40 ˫ 60 m e 60 ˫ 80 m), com exceção de
ximo aos canais fluviais. De modo geral, pôde-se algumas áreas com 80 ˫ 100 m.
perceber dois padrões acerca da dissecação hori- Este setor apresenta vertentes mais inclina-
zontal neste setor. As vertentes da margem direi- das quando comparado com a Alta Bacia (Figura
ta do canal principal apresentam classes baixas a 8), tendo em vista a maior presença e atuação dos
médias (200 a 400 m e 400 a 800 m), enquanto as canais fluviais. O leito sedimentar evidenciado
vertentes à esquerda do Ribeirão do Brejão apre- nas áreas de confluência sugere tanto a presença
sentaram baixíssima densidade de drenagem, dos arenitos da Formação Marília quanto a poten-
com valores superiores a 800 metros de interflú- cialidade de transporte do canal, uma vez que há
vio. Quanto à dissecação vertical, tem-se uma va- seixos rolados no leito (Figura 9).
43
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figuras 8 e 9. À esquerda, relevo com vertentes extensas e suavizadas pertencente à Média Alta bacia. À direita, confluência
entre o Ribeirão do Brejão (seta) e seu afluente sobre leito aluvionar com seixos.
A Média Baixa Bacia exibe dois principais de entalhamento na margem direita, com classe
padrões. As vertentes da margem direita apresen- muito baixa a média (< 20 m, 20 ˫ 40 m, 40 ˫ 60 m),
tam menor potencial à ocorrência dos processos ocorrendo também, porém em maior raridade,
morfodinâmicos quando comparada às vertentes dissecações verticais de 60 a 80 m. Por outro lado,
da margem esquerda. As vertentes à direita do Ri- a margem esquerda ressaltou um maior grau de
beirão do Brejão apresentam declividades desde entalhamento dos vales (80 a 100 m e ≥ 100 m).
baixas até altas (≤ 3 %, 3 a 6 %, 6 a 12 %, 12 a 24 Evidenciou-se uma alta potencialidade à
% e 24 a 40 %), enquanto as encostas à esquerda ocorrência dos processos morfodinâmicos na
exibem o predomínio de altas declividades (12 a margem esquerda do canal principal. Em campo,
24 %, 24 a 40 % e ≥ 40 %). Para a dissecação hori- notou-se um grau de entalhamento dos vales bem
zontal, observaram-se classes baixas (400 a 800 m marcante (Figura 10), assim como feições de ero-
e ≥ 800 m) nas porções Leste, enquanto a zona à são. Pôde-se comprovar a suscetibilidade da área
direita do canal principal apresentou classes baixa diante dessas feições erosivas lineares encontra-
a média alta (100 a 200 m, 200 a 400 m e 400 a 800 das, bem como dos terraceamento agrícola (Figu-
m). Evidenciou-se o predomínio de um baixo grau ra 11), que objetivam mitigá-las.
Figuras 10 e 11. À esquerda, marcante dissecação vertical e elevada inclinação da vertente (seta). À direita, terraceamento
agrícola (seta) implantado para mitigar a erosão.
44
Cartografia morfométrica aplicada à bacia hidrográfica do Ribeirão do Brejão: contribuição ao estudo dos processos morfodinâmicos
Em relação a Baixa Bacia, constataram-se, Tem-se para este setor uma alta potencialida-
em toda a porção deste setor, classes de média a de acerca da ocorrência dos processos morfodinâ-
muito alta declividade (6 a 12 %, 12 a 24 %, 24 a micos, sobretudo os processos erosivos lineares.
40 % e ≥ 40 %), com exceção de pequenas áreas A potencialidade da ação pluvial foi evidenciada,
que apresentaram baixa declividade. Acerca da diante um relevo entalhado (Figura 12), assim
dissecação horizontal, evidenciou-se um grande como pela presença de bolsões de contenção de
grau de dissecação nas zonas ao norte deste se- água pluvial (Figura 13). Não se notou procedi-
tor, sobretudo, diante a presença de uma rica rede mentos de recuperação de áreas degradadas, ten-
de drenagem. Para a dissecação vertical, notou-se do em vista o significativo número de sulcos ero-
que há um alto grau de entalhamento (80 a 100 sivos, que se não tratados, podem vir a se tornar
m e ≥ 100) quando comparado com o restante da voçorocas.
bacia diante uma maior densidade de drenagem
evidenciada neste setor.
Figuras 12 e 13. À esquerda, relevo entalhado (concavidade) (seta) diante da ação pluvial. À direita, bolsão de contenção de
água pluvial margeando estrada posicionada em vertente com elevada declividade (seta).
45
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
46
CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE FINOS
EM ENSAIOS DE COMPRESSÃO DIAMETRAL
ON THE PRODUCTION OF FINES IN DIAMETRAL COMPRESSION TESTS
Resumo Abstract
As etapas de desmonte e de britagem em minerações The blasting and crushing stages in aggregate mining
de agregados produzem britas de diversas granulome- produce materials of different granulometries. In
trias. Neste ciclo produtivo também são produzidos this productive cycle is also produced “fines” (with a
“finos” (com diâmetro menor que 4,75 mm) por vezes diameter smaller than 4.75 mm) sometimes in excessive
em quantidades excessivas e com baixa demanda co- quantity and with lower commercial demand, what
mercial, revelando que estudos quantitativos sobre as shows that quantitative studies about the granulometry
faixas granulométricas resultantes do beneficiamento ranges that are resulted from the beneficiation must
devem enfatizar as frações menores. Nesta perspectiva, also emphasize the smaller fractions. Based on these
o presente trabalho tem como objetivo analisar quanti- assumptions, the goal of this paper is to analyze
tativamente os finos gerados em ensaios laboratoriais, quantitatively the fines generated in laboratory tests
a partir de três litotipos (basalto, diabásio e monzodio- stem from three lithotypes (basalt, diabase, and
rito com diferentes granulações), amostrados em uma monzodiorite with different granulometries) that were
pedreira em Limeira-SP, constituindo geologicamente sampled in a quarry in Limeira City – São Paulo State,
uma ocorrência intrusiva na Formação Serra Geral. what constitutes geologically an intrusive occurrence
Foram realizados ensaios de compressão diametral in Serra Geral Formation. It was performed diametrical
em corpos de provas preparados, a partir de blocos compression tests in specimen that were prepared
representativos amostrados em campo. Os experimen- from representative blocks sampled in the field. The
tos envolveram uma campanha com diferentes taxas experiments involved a campaign with different
de carregamento, visando atingir rupturas rápidas em loading rates, that aimed to reach quick ruptures
torno de dez e vinte segundos de duração. Foi necessá- with a duration of about ten to twenty seconds. It was
rio a utilização cautelosa de uma embalagem plástica necessary the cautious application of a plastic package
envolvendo o aparato experimental, possibilitando a involving the experimental apparatus, what enables
47
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
coleta dos fragmentos resultantes das rupturas. Após a the picking of the fragments resulted from the ruptures.
conclusão dos ensaios, efetuou-se o peneiramento dos After the tests conclusion, it was executed the sieving
fragmentos nos diâmetros de 4,75 mm e de 1,00 mm, re- of the fragments with diameters of 4.75 mm and of 1.00
sultando em índices de perda de massa para cada amos- mm, what results in mass loss rates for each sample.
tra. Em termos das relações entre as perdas de massa In terms of the relation between the mass loss and the
e a resistência à tração dos materiais, observou-se um tensile strength of the rocks, it was noticed an increase
aumento dos finos relacionado as maiores resistências. of the fine according to the strength increases.
48
Considerações sobre a produção de finos em ensaios de compressão diametral
49
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Propriedades Descrição
Litologia Tipo de rocha; mineralogia (especialmente teor de quarto e argilominerais) e fabric (estrutura e textura).
Rocha intacta Resistência: índice de carga pontual (Is50), resistência à compressão uniaxial (RCU) e tração indireta (Brazilian
test);
Módulo de elasticidade estático (Εs), Relação Módulo e RCU (Ε/RCU), características de rigidez e fragilidade;
Peso específico, porosidade e absorção de água;
Velocidades de propagação de ondas (Vp e Vs), módulo de elasticidade dinâmico (Ed), Relação entre módulos
estático e dinâmico (Εs/ Ed).
Maciço Rochoso Orientação espacial e predomínio de cada família de juntas presentes;
Espaçamento das juntas (se estão uniformemente espaçadas, agrupadas ou distribuídas de modo aleatório);
Abertura das juntas, umidade (presença de água) e tipo de preenchimento e cimento;
Espessura de camadas, posição e orientação de camadas ou níveis de materiais brandos e duros.
Figura 1. (A) Contexto geológico da área de estudo, modificado de Perrotta et al. (2006); (B) Ilustração de perfis geológicos da
Intrusão de Limeira (SP), modificados de Santos (2015) e Faria (2008).
50
Considerações sobre a produção de finos em ensaios de compressão diametral
as rochas desta intrusão são as mais diferenciadas em contato com arenitos do Sub-Grupo Itararé.
em comparação às outras ocorrências da Forma- Subjacente ao basalto e com variação ao núcleo
ção Serra Geral. da Intrusão, ocorrem diabásios (DIA) de textura
É previsível, portanto, que um maciço geolo- fanerítica fina a média, até cerca de 30 metros das
gicamente com variação expressiva de rochas (Fi- bordas do corpo geológico. O corpo central da in-
gura 1) possa incorrer em condições tecnológicas trusão é composto por monzodioritos e apresen-
distintas, considerando as utilizações de brita na ta veios centimétricos de riolito, não tendo sido
construção civil e/ou obras de engenharia. Con- encontrado em campo a litologia quartzo-mon-
forme Curtis Neto (2019), alguns materiais da In- zodiorito, que ocorre em maiores profundidades,
trusão de Limeira apresentam diferentes proprie- como na pedreira ao lado (Figura 1). No entanto,
dades tecnológicas para o emprego em concretos foram observados que os monzodioritos possuem
hidráulicos e de asfalto. granulometrias diferentes (MONM e MONG).
A Pedreira “B” é caracterizada por um basal- A ilustração e a descrição petrográfica dos litoti-
to (BAS) de borda, rocha afanítica de granulação pos estudados estão dispostos na Tabela 2.
muito fina, que ocorre em faixas de 1 a 3 metros
Borda de resfriamento: menor Borda de transição: menor que 30 corpo central com espessura Corpo central com espessura
que 2 a 3 m. de espessura; m. de espessura em torno de 60 metros em torno de 60 metros
Textura afanítica e granulação Textura fanerítica e granulação Textura fanerítica e granulação Textura fanerítica e granulação
muito fina (< 1mm) fina a média (< 1 a 2 mm) média (1 a 5 mm) média a grossa (3 a 6mm)
51
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 2. (A) Aparato do ensaio de compressão diametral com corpo de prova, (B)
Envelopamento do equipamento para controle dos finos, (C) Configuração do ensaio
em prensa servo controlada do Laboratório de Mecânica das Rochas do Depto. de Geo-
tecnia da EESC/USP, (D) Detalhe da foto anterior, mostrando o envelopamento do
conjunto aparato de ensaio e corpo de prova.
52
Considerações sobre a produção de finos em ensaios de compressão diametral
Na taxa da norma (0,2 kN/s), a variação da resultados do BAS tanto em baixas como altas ta-
resistência entre o BAS e o MONG pode chegar a 3 xas de carregamento se deve basicamente a veios
Mpa, provocada basicamente pela granulação dos milimétricos de calcita cortando o litotipo, confor-
minerais formadores dos litotipos, característica me relatado em análises petrográficas de basal-
mineral intimamente relacionada à cristalização tos da Intrusão de Limeira, realizadas por Santos
fracionada do corpo geológico (Figura 1 e Tabe- (2015) e Santos (2018).
la 2). Além disso, a pronunciada dispersão de
53
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
A reprodução dos vídeos em câmera lenta a quantidade de finos produzida. Por outro lado,
mostrou que uma pequena fratura se forma no em taxas de 3,5 e 2,5 kN/s, rupturas em menos
centro do corpo de prova (CP) tanto no ensaio de 20 segundos, não foi possível estabelecer uma
normal como no modificado. Entretanto, em taxas correlação de forma satisfatória nem diferenciar
maiores, diversas fraturas foram propagadas no de forma clara a produção de finos entre os lito-
instante inicial de ruptura com maior produção de tipos, mas percebe-se uma tendência similar dos
finos. Além disso, notou-se que quando acionado resultados, maior resistência maior produção de
o comado de parar o carregamento da prensa, o fragmentos menores que 4,75 mm (Figura 5B).
atuador de carga, por inércia, continua carregan- Notou-se também que o MONM e MONG
do o CP e produzindo mais fraturas e fragmentos produziram maior quantidade de fragmentos me-
que o ensaio normal (Figura 4). nores que 1 mm do que o BAS e o DIA (Figura
Em taxas de 7 a 5 kN/s, rupturas em menos 5B). Esse aspecto pode estar relacionado à granu-
de 10 segundos, o BAS apresentou maior de ga- lação dos minerais formadores dos litotipos. Cur-
nho de resistência e maior produção de finos nas tis Neto (2019) obteve resultados de resistência a
peneiras n° 4 e 18 do que os outros litotipos (Figu- compressão uniaxial do BAS de 277,33 MPa em
ra 5A). Há uma tendência de correlação entre os comparação ao MONG com 197,79 MPa. Portanto,
valores do índice P para a peneira nº 4 e os valores o aumento da granulação do BAS ao MONG pode
de resistência, conforme o coeficiente de correla- ser responsável pela maior produção de finos, de-
ção R² igual a 0,56, indicando a melhor correlação. vido ao aumento do número de fissuras e defeitos
As curvas mais bem ajustadas foram as obtidas cristalinos dos minerais plagioclásios e piroxê-
por equações exponenciais (Figura 5A), indicando nios, concordando com as análises petrográficas
que quanto maior a taxa de carregamento, maior é de Curtis Neto (2019).
A produção de finos provenientes da ruptu- (4,75 mm) e n° 18 (1 mm) (Figura 6). Esses resul-
ra do CP durante o ensaio brasileiro dependeu da tados estão de acordo aos apontados por Bohloli
taxa de carregamento empregada. De modo geral, (2001) e Bohloli & Hoven (2007), onde rochas mais
em taxas mais altas, 5 a 7 kN/s, em comparação resistentes apresentam maior geração de frag-
a mais baixas, 2,5 a 3,5 kN/s, houve maior pro- mentos em ensaios de tração, quando carregadas
dução de materiais passantes nas peneiras n° 4 com altas taxas.
54
Considerações sobre a produção de finos em ensaios de compressão diametral
Figura 5. Relação entre o índice P e a resistância à tração em taxas de carregamento de 7 e 5 kN/s (A), rupturas em até 10
segundos, e de 3,5 e 2,5 kN/s (B), rupturas em até 20 segundos.
55
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
56
Considerações sobre a produção de finos em ensaios de compressão diametral
às suas instalações. O primeiro autor foi financia- Geologia de Engenharia e Ambiental, São Paulo,
do pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes- 131 pp.
soal de Nível Superior (CAPES).
Francklin Júnior I., Ribeiro R.P., Da Silva M.H.,
Aureliano F.S., Costa A.A.F., Garcia V.L.G. 2019.
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
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58
METODOLOGIA DE DELIMITAÇÃO
DE DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS
METHODOLOGY FOR DELIMITING TECHNOGENIC DEPOSITS
Resumo Abstract
Áreas de descarte irregular de resíduos de construção Areas of irregular disposal of construction waste are
civil são comuns por todo o país. Tais resíduos apre- common all over the country. Such residues present
sentam grandes riscos à população, pois, dependendo great risks to the population, since, depending on
do local em que são depositados, podem afetar o solo where they are deposited, they can affect the soil of the
da região e os lençóis freáticos próximos, além de gera- region and the nearby groundwater, besides generating
rem dificuldades de ocupação do solo. Alguns desses difficulties of occupation of the soil. Some of these
depósitos são feitos pelo próprio poder público, com deposits are made by the public power itself, with little
pouca fiscalização do que é depositado. A classificação supervision of what is deposited. The classification of
de depósitos tecnogênicos tem diferentes formas de technogenic deposits has different forms of approach,
abordagem, seja pelo tamanho, pela constituição dos whether by size, by the constitution of the residues or
resíduos ou pelo tempo em que estão incorporados by the time in which they are incorporated in nature.
na natureza. Este artigo tem enfoque na determinação This article focuses on the determination of the area
da área ocupada pelos depósitos com o de tratamen- occupied by the deposits with the treatment of maps
to de mapas e imagens utilizando o programa ArcGis, and images using the ArcGis program, through the
através do cruzamento de dados de anos distintos. O crossing of data from different years. The study made it
estudo possibilitou a avaliação dos depósitos no de- possible to evaluate the deposits over time, delimiting
correr do tempo, delimitando as áreas persistentes, the persistent areas, indicative of sites with larger
indicativas de locais com maiores volumes aterrados, volumes of landfills, and the results show that the
e os resultados demonstram que o método é um bom method is a good indicator of the evolution of deposits.
indicador da evolução dos depósitos. Os dados gráfi- The graphical data generated allowed evaluations such
cos gerados, possibilitaram avaliações como o ano que as the year with the largest deposit, the interval with
apresentou maior deposição, o intervalo com maior va- the largest volume variation, among other indicators
riação do volume, entre outros indicativos da própria of the municipal waste management itself over time.
gestão municipal de resíduos ao longo do tempo.
Keywords: Irregular disposal; construction waste;
Palavras-chave: Descarte irregular; resíduos de cons- anthropogenic deposits; GIS; historical images; São
trução civil; depósitos antropogênicos; SIG; imagens Carlos.
históricas; São Carlos.
59
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 1. Pontos estudados na área urbana de São Carlos. Fonte: Modificada de Valente et al. (2017).
60
Metodologia de delimitação de depósitos tecnogênicos
Depósitos tecnogênicos foram definidos como Geologia de Planejamento do Meio Físico do De-
“depósitos superficiais correlativos, comparáveis partamento de Engenharia Civil da Universidade
aos quaternários” de acordo com Pellogia (1997) Federal de São Carlos (UFSCar) quanto à sua lo-
que se refere a aterros, depósitos de “bota-fora”, calização, características do meio físico onde estão
coberturas remobilizadas, depósitos de assorea- inseridos, sua relação com áreas de fragilidade
mento, entre outros criados pela ação humana. ambiental à contaminação e à proximidade de
Estes depósitos (Figura 2) vêm sendo estu- cursos d’água.
dados por pesquisadores do grupo de pesquisas
Figura 2. Imagens de alguns dos pontos, volumes e materiais aterrados. Fonte: Acervo dos pesquisadores.
Também estão sendo estudadas as caracte- disponíveis nas cidades brasileiras ou de levanta-
rísticas intrínsecas destes materiais (VALENTE et mentos de alto custo.
al., 2017) e suas propriedades geotécnicas relacio- Este estudo foi feito com base nos trabalhos
nadas com as formas de infiltração de água (GO- anteriores sobre a modificação das áreas com de-
MES, 2017) e resistência à penetração (GOMES, posição de resíduos de construção civil através
2018), além de detalhamento em mestrado na fase de diversos ensaios, além da análise histórica de
de finalização. imagens e sobreposição das mesmas, objetos des-
Uma questão difícil de ser respondida, pela se artigo.
ausência de dados oficiais ou levantamentos de
campo, é a área e volume ocupados pelos depósi-
tos persistentes de resíduos que se tornam depó-
2 OBJETIVOS
sitos antropogênicos.
Os objetivos deste trabalho são testar e avaliar
A determinação da área pode, com dados de
métodos para a delimitação de áreas de depósitos
campo de superfície, uso de GPS e uso de imagens
antropogênicos gerados por descartes irregulares
de satélite, ser mais facilmente obtida.
de resíduos da construção civil associados ou não
Quanto à definição de volume, diversas ten-
com outros resíduos, identificando sua evolução
tativas de mapeamento em 3 dimensões estão sen-
no tempo.
do desenvolvidas, como as proposições de Beer et
al. (2012) utilizando dados de sondagem, de Tame
et al. (2013) com ensaios geofísicos, ou mesmo de 3 METODOLOGIA
Luberti (2018) que se baseou em imagens aéreas
e mapas topográficos históricos. Mas todos es- Para elaboração deste trabalho foram segui-
tes dependem destas informações oficiais pouco das as etapas apresentadas na Figura 3.
61
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
3.1 Caracterização das áreas de estudo Cartográfico do Estado de São Paulo (IGC, 1979);
pontos georreferenciados de contorno das áreas;
A caracterização consiste no estudo dos resí- delimitação de bairros e ruas (PMSC, 2013) e cur-
duos existentes nas áreas em relação a diferentes sos d’água extraídos e atualizados das cartas to-
aspectos, sendo eles: a proximidade de Áreas de pográficas citadas anteriormente.
Proteção Permanente, composição dos resíduos Por fim, utilizou-se imagens históricas dos
através de inspeção visual e de fichas de classifica- pontos estudados (2004 a 2017) obtidas na pla-
ção utilizando metodologias de trabalhos existen- taforma Google Earth Pro© (GOOGLE EARTH,
tes (FORD et al., 2014; OLIVEIRA & PELOGGIA,
2018) de diferentes satélites (Digital Globe, CNES
2014; MIRANDOLA & MACEDO, 2014), análise
/ Airbus, SPOT/ NASA), com o intuito de se de-
da envoltória da área, tipos de solo e materiais
limitar as áreas de depósito e observar sua relação
inconsolidados sobre os quais os resíduos encon-
com ocupação.
tram-se, fragilidade existente nas áreas, usos de
solo urbano e abrangência em área dos resíduos.
3.3 Delimitação das áreas através das ima-
3.2 Tratamento de dados em SIG gens históricas
Figura 4. Evolução dos depósitos no ponto 18 sobre imagens obtidas da plataforma Google Earth Pro®. Onde (a) 30 de junho
de 2004; (b) 17 de novembro de 2010; (c) 1° de junho de 2011; (d) 1° de abril de 2012; (e) 28 de outubro de 2013; (f) 09 de maio
de 2014; (g) 21 de junho de 2016 e (h) 25 de maio de 2017. Fonte: Gomes, 2017.
62
Metodologia de delimitação de depósitos tecnogênicos
Figura 5. Elaboração dos polígonos da área 32. Onde (a) Sobreposição dos depósitos retirados das imagens histó-
ricas e (b) Área limite de deposição e área persistente Fonte: modificada de Google Earth (2018).
Feito isso, foi possível elaborar uma tabela Tabela 1 apresenta os resultados obtidos. O cál-
com as áreas de deposição persistente e as áreas culo das áreas foi feito utilizando o próprio Arc-
limites de cada local estudado, assim como as map, o qual obtém a área dos polígonos feitos e
porcentagens relativas à área persistente quando demonstra tais resultados de acordo com a unida-
comparada aos limites de locais já ocupados. A de selecionada.
63
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Ponto estudado Área persistente (m²) Área limite (m²) Área persistente / área total (%)
18 10.835,65 28.582,47 37,91
22 2.184,46 12.107,51 18,04
26 832,45 5.400,91 15,41
32 2.709,81 13.020,60 20,81
40 1.227,18 8.485,72 14,46
68 1.077,25 9.268,20 11,62
70 13.828,92 33.709,28 41,02
71 60.571,89 85.096,83 71,18
77 819,48 5.324,82 15,39
Fonte: Autor, 2018.
Das áreas estudadas, o ponto 71 apresenta a Através desses gráficos é possível analisar
maior área de deposição persistente e a maior por- diversos aspectos referentes às áreas de deposi-
centagem de persistência. Outras que apresentam ção. Inicialmente se observa que todos os pontos
área limite ampla (18, 70) não apresentaram área já recebiam descartes em 2004. São possíveis as
persistente significativa, indicando dispersão de identificações de períodos (anos) onde ocorreu
descarte pela área total ao longo dos anos. um maior volume de deposição a partir da maior
área ocupada pelo depósito, intervalos com maior
crescimento ou decréscimo, além de possíveis es-
4.2 Elaboração de gráficos de deposição ao tabilizações da área dos depósitos.
longo do tempo O ano de 2013 no geral apresentou um acrés-
cimo de área com resíduos em quase todos os pon-
Utilizando o mesmo procedimento em SIG
tos. O maior acréscimo de área se deu no ponto 18
descrito no item anterior, definiu-se a área de de-
entre abril de 2012 e outubro de 2013. Já o maior
posição de cada ponto estudado na data da ima-
decréscimo ocorreu entre outubro de 2013 e 9 de
gem na qual o polígono feito se baseia. Através
maio de 2014 no ponto 70, ano de encerramento
disso, construíram-se gráficos de deposição ao
deste ponto que era de recebimento oficial da pre-
longo do tempo, com as áreas (m2) obtidas repre-
feitura municipal, passando a receber descartes
sentadas no eixo Y e as datas específicas das ima-
clandestinos posteriormente. A variação ao longo
gens analisadas colocadas no eixo X. A Figura 6
do tempo é distinta para os diferentes depósitos,
apresenta os gráficos das nove áreas estudadas.
não demonstrando um padrão.
64
Metodologia de delimitação de depósitos tecnogênicos
Figura 6 - Gráficos de evolução das áreas com descarte (m2) nos pontos estudados de 2004 a 2017. Fonte:
Figura 6. Gráficos de evolução das áreas com descarte (m2) nos pontos estudados de 2004 a 2017. Fonte: Autor, 2018.
Autor, 2018.
4.3 Dificuldades encontradas dados. Entre elas está a falta de imagens entre os
Através desses gráficos é possível analisar diversos
anos deaspectos referentes
2004 e 2010, assimàscomo
áreasode
anodeposição.
de 2015.
Inicialmente se observa que todos os pontos já recebiam descartes em 2004. São possíveis as identificações
A utilização de imagens históricas dos satéli- A adequação das imagens com suas coordenadas
de
tes períodos (anos)CNES
Digital Globe, onde /ocorreu
Airbusum maior NASA
e SPOT/ volume de deposição a partir da maior área ocupada pelo
dentro do Arcgis, além da precisão existente nas
depósito, intervalos com maior crescimento ou decréscimo, além de possíveis estabilizações da área dos
obtidas na plataforma Google Earth Pro© gera al- próprias imagens, também podem gerar áreas
depósitos.
gumas imprecisões na análise dos depósitos estu- diferentes das apresentadas realmente. Em etapa
O ano de 2013 no geral apresentou um acréscimo de área com resíduos em quase todos os pontos. O
maior acréscimo de área se deu no ponto 18 entre abril de 2012 e outubro de 2013. Já o maior decréscimo 65
ocorreu entre outubro de 2013 e 9 de maio de 2014 no ponto 70, ano de encerramento deste ponto que era de
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
futura das investigações serão buscadas imagens cada área quanto à sua utilização como depósito
aéreas de detalhe destes períodos não observados. de resíduos.
Outro aspecto importante é que os polígonos Das áreas estudadas, o ponto 71 apresenta a
são feitos de acordo com os resíduos encontrados maior área de deposição persistente e a maior por-
na imagem, não sendo possível através desse mé- centagem de persistência. Isso pode ter ocorrido
todo analisar a composição dos solos abaixo da porque este local funcionava como local de des-
camada superficial, sendo, portanto, indicativo de carte próprio da prefeitura de São Carlos, porém,
área ocupada por um maior volume de resíduos com o tempo a prefeitura parou de utilizar a área
nas datas das respectivas imagens. para tal fim, mas a deposição clandestina conti-
Originalmente, a equipe de pesquisa decidiu nuou. Esta área está sendo estudada em detalhe
em relação às suas características geotécnicas.
tratar a evolução dos resíduos de acordo com o
Deve-se destacar também que os valores
volume ocupado pelos depósitos em cada tempo.
apresentados mostram que as áreas apresentam
Porém, devido à dificuldade de se obter tais volu-
áreas de deposição bem discrepantes; isso se deve
mes, ainda mais avaliar a evolução desde os pri-
à própria configuração dos locais, que vão desde
meiros depósitos, levou a analisar os locais atra-
locais pequenos em extensão, como o ponto 68,
vés das áreas de deposição existentes. até locais com grandes dimensões, como os pon-
Há imprecisões geradas também pela presen- tos 71 e 18.
ça de cobertura vegetal sobre os resíduos. Obser- Por fim, o estudo das áreas de deposição ao
vou-se em todas as áreas o crescimento de vege- longo do tempo, assim como o estudo das áreas
tação herbácea e arbustiva, notadamente mamona mais persistentes demonstram que tal método é
(Ricinus communis L) e margaridão (Tithonia diver- um bom indicador da evolução dos depósitos em
sifolia), de crescimento rápido mesmo em meio questão, podendo indicar os locais de maior vo-
aos resíduos, podendo mascará-los nas imagens. lume depositado. Também se observou que po-
dem ser feitas avaliações dos dados apresentados
como, por exemplo, o ano que apresentou maior
5 CONCLUSÕES deposição, o intervalo com maior variação do vo-
lume, entre outros indicativos da própria gestão
Analisando-se as áreas estudadas através da
de resíduos do município.
sua caracterização, percebe-se que grande parte
está localizada em Áreas de Proteção Permanente,
sendo em sua maioria sobre solos arenosos com AGRADECIMENTOS
alta fragilidade, obtendo-se assim um impacto
ainda maior sobre os lençóis freáticos próximos e Os autores agradecem ao projeto de iniciação
os cursos d’água. científica processo nº 2017/00717-3, Fundação de
Através das imagens apresentadas e do qua- Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FA-
dro de áreas dos locais estudados percebe-se que PESP) e ao Departamento de Engenharia Civil da
há uma grande variação da área abrangida pelos UFSCar pelo suporte oferecido.
resíduos existentes nos locais ao longo do tempo.
Também é importante destacar que a falta de in-
formações entre o período de 2004 e 2010, assim
REFERÊNCIAS
como 2015, fazem com que a evolução histórica
BEER, J.; PRICE, S.J., FORD, J.R. 3D modelling
das áreas tenha lacunas de tempo das quais não
of geological and anthropogenic deposits at
foi possível adquirir informações para o estudo
the World Heritage Site of Bryggen in Bergen,
em questão. Estão sendo buscadas imagens de de-
Norway. Quaternary International. 2012, Vol. 251,
talhe em outras bases para uma melhor observa-
p.107-116.
ção desta dinâmica.
Os gráficos gerados permitem observar, jun- BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria
tamente à avaliação da sobreposição de limites de Nacional de Recursos Hídricos e Ambiente
áreas ocupadas nos diferentes anos, a dinâmica de Urbano. Melhoria da gestão ambiental urbana no
66
Metodologia de delimitação de depósitos tecnogênicos
67
Porque e como tornar o estudo mais
parecido com o trabalho
Why and how the study can become more likely work.
Resumo Abstract
O presente artigo trata do distanciamento entre a for- This paper deals with the distance between the
mação acadêmica de profissionais recém-graduados academic training of newly graduated professionals
e as exigências impostas pelo mercado de trabalho and the requirements imposed by the business labor
empresarial. As discussões apresentadas pretendem market. The discussions are intended to collaborate
contribuir com docentes de disciplinas profissionali- with teachers of vocacional disciplines, so that they can
zantes, para que possam praticar um ensino de me- practice a better quality teaching.
lhor qualidade.
Keywords: teaching, labor market, pedagogical
Palavras-chave: ensino, mercado de trabalho, aspectos didactic aspects.
didáticos pedagógicos.
68
Porque e como tornar o estudo mais parecido com o trabalho
69
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
com vasta experiência de ensino em vários níveis, Logo nas primeiras aulas da disciplina, o do-
incluindo o ensino superior. cente citado aplicava um exercício muito simples.
A proposta de “tornar o estudo mais pareci- Era perguntado a cada aluno presente em
do com o trabalho” representa a essência do que é qual área pretendia atuar como profissional quan-
tratado com muito detalhe por todo o livro. do concluísse a graduação, se na área acadêmica
O livro é antigo, mas a adoção de suas pro- ou no mercado empresarial. Em todos os anos em
postas, ainda que de forma bem tímida, seria uma que essa pergunta foi feita, mais de 90% dos alu-
verdadeira revolução em nosso ensino superior. nos responderam que pretendiam atuar no mer-
O texto reproduzido a seguir, de autoria do cado empresarial.
jornalista Gilberto Dimenstein (Dimenstein, 2003), Em seguida, era perguntado ao mesmo gru-
po de alunos quantos professores das disciplinas
também não é novo, dado que foi obtido em maio
geológicas tiveram ao longo de toda a graduação
de 2003 no site www.aprendiz.com.br:
e, desse total de professores, quantos os haviam
“Não se sabe ao certo, como ensinar – mas,
preparado para o mercado empresarial e quantos
pelo menos, sabemos como não se deve ensinar.
os haviam preparado para o meio acadêmico.
Idiotizar o aprendizado é obrigar a memorização
Invariavelmente, em todos os anos de apli-
de regras, numa era de abundância de informa- cação deste exercício, os alunos responderam que
ção. Idiotizar é estimular o aluno a ir bem nos tes- o número de docentes que os haviam preparado
tes, em vez de envolvê-lo na experimentação para para o meio acadêmico nunca foi inferior a 90%.
que desenvolva paixão pela curiosidade. É não Diante desses singelos dados pode-se cons-
mostrar como as várias disciplinas se relacionam, tatar que o descompasso entre o que se pretende
aplicadas ao cotidiano. ensinar e o que deveria ser aprendido é enorme,
Os educadores bem informados, em qualquer não é mesmo?
parte do planeta, sentem-se desinformados. Não Salienta-se aqui que a interação com docen-
conseguem acompanhar, como gostariam, a mu- tes de várias universidades permite afirmar que
dança de perfil das profissões, o surgimento de esse descompasso não é restrito ao que ocorre no
novas carreiras, impactadas pela velocidade tecno- Curso de Graduação em Geologia da Unesp – Rio
lógica jamais vista. Qualquer educador sério está Claro (SP), possivelmente sendo verificado em to-
com um olho na sala de aula e outro na empresa, das as nossas universidades.
vendo o que se pede do futuro profissional”.
Como pode ser facilmente verificado, o apelo
3 HABILIDADES VALORIZADAS PELO
para que a prática de ensino adotada considere o
MERCADO DE TRABALHO EMPRESARIAL
que exige o mercado de trabalho empresarial é co-
mum nas duas referências citadas. É importante esclarecer que o perfil do pro-
Mas será que este apelo foi considerado por fissional para atuar no meio acadêmico é muito
aqueles que tem o poder de decidir qual estratégia distinto do perfil do profissional para atuar no
didático-pedagógica deve ser adotada? Acredita- mercado empresarial. Os graduandos deveriam
-se fortemente que não. receber essa informação de forma detalhada, até
Para concluir a contextualização proposta, para poderem fazer suas escolhas com mais obje-
apoia-se em parte da experiência como professor tividade e diminuírem substancialmente a possi-
universitário do primeiro autor do presente arti- bilidade de uma escolha equivocada.
go, que ministrou a disciplina Geologia de Enge- Em geral, o acadêmico atua na produção do
nharia por 18 anos consecutivos no curso de gra- conhecimento básico, ainda que não vislumbre
duação em Geologia da Unesp – Rio Claro (SP), uma aplicação imediata para o saber que irá pro-
no período de 1997 a 2014. duzir. Não raro faz suas pesquisas de forma isola-
A disciplina, com carga horária de 120 horas, da ou em grupos numericamente restritos.
era oferecida nos dois últimos semestres ou no pe- Já o profissional do mercado empresarial ne-
núltimo semestre letivo do curso, dependendo da cessariamente se envolve na resolução de proble-
época. mas concretos, tendo o conhecimento básico como
70
Porque e como tornar o estudo mais parecido com o trabalho
principal fonte de dados. Em geral faz parte de Habilidade para trabalho em equipe Iniciativa
uma equipe de trabalho na qual cada participante Liderança
é responsável por determinada tarefa. Tolerância, argumentação, diplomacia Flexi-
Assim, enquanto para o acadêmico o método bilidade
é o foco principal da investigação, para o profis- Orientação para o cliente Maturidade emo-
sional do mercado empresarial o foco está na reso- cional
lução do problema investigado, independente de Construção de relacionamentos e parcerias
qual método é empregado. Desenvolvimento de pessoas
O profissional que atua no mercado empresa- Capacidade decisória
rial não pode correr riscos, de tal modo que a não
resolução do problema que investiga corresponde A esta altura do presente texto sugere-se a se-
a um insucesso ou mesmo fracasso. guinte reflexão: a estratégia didático- pedagógica
Já o acadêmico contribui para o avanço do que atualmente é mais largamente praticada em
conhecimento mesmo que sua pesquisa não al- nossas universidades favorece o efetivo desenvol-
cance o objetivo delineado e ainda que não atinja vimento das habilidades requeridas pelo mercado
o resultado desejado. de trabalho empresarial, conforme descrito?
Em geral, o profissional do mercado empre- Diante da estratégia didático-pedagógica
sarial trabalha com prazos mais exíguos em re- mais largamente praticada em nossas universi-
lação aos prazos dispendidos para as pesquisas dades e que não estimula o desenvolvimento das
acadêmicas. habilidades citadas anteriormente, a única forma
O acadêmico tem seu sucesso medido prin- dos futuros profissionais do mercado empresarial
cipalmente pela repercussão de suas publicações, desenvolver tais habilidades durante a graduação
enquanto a moeda de troca do profissional do
é por meio de intenso envolvimento em ativida-
mercado empresarial é sua competência, atestada
des extracurriculares, especialmente os estágios.
por sua capacidade acumulada para solucionar
Note-se que nas exigências da empresa não
problemas concretos.
foi sequer citada a necessidade de um bom nível
Não é objetivo do presente artigo analisar de
de conhecimento técnico-científico, dado que isso
modo aprofundado importantes conceitos refe-
é pressuposto básico. Atualmente, o aluno que
rentes ao processo ensino-aprendizado, mas é ne-
durante a graduação não aprender a aprender
cessário esclarecer que entende-se que “estudar”
continuadamente não terá oportunidades dura-
é absolutamente diferente de “aprender”, assim
como “saber” é completamente diferente de “sa- douras e boas colocações no mercado de trabalho
ber fazer”. empresarial.
Ainda que se corra o risco de pecar pela sim- Já não existe mais a estruturação da vida em
plificação, em sua maioria o acadêmico está volta- três fases sucessivas, a) pouco mais de duas dé-
do para o conhecimento teórico (saber), enquanto cadas de estudos; b) pouco mais de três décadas
o profissional que atua no mercado empresarial de trabalho; e c) determinado número de anos
deveria receber formação também em conheci- para desfrutar a aposentadoria. Hoje os limites
mento prático (saber fazer). No presente texto de- entre essas fases inexistem. É necessário conti-
nominaremos o saber fazer de “habilidade”. nuar aprendendo mesmo depois de concluída a
Em fevereiro de 2011, uma conceituada em- graduação, bem como a maior longevidade acaba
presa nacional disparou e-mail divulgando as ha- por retardar por muito tempo a aposentaria.
bilidades requeridas para os candidatos a vagas O mercado de trabalho empresarial atual
de geólogos e engenheiros. As habilidades reque- exige um profissional que se conheça mais e que
ridas eram: tenha claro seu propósito de vida. Tem sido cada
Foco em Resultado vez mais característico das novas gerações a au-
Extrema habilidade de comunicação escrita e sência de identificação com o que fazem. Desta
falada Habilidade em convencer e influenciar forma, os profissionais trocam de empregos e fun-
pessoas ções rapidamente, em busca da auto-realização
71
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
que não sabem onde conseguir, tampouco se um conteúdo aos alunos, motivando-os para o
dia a conseguirão. aprendizado; e
Robinson (2010) defende que o sistema de c) o sistema de avaliação: que se refere às for-
ensino deveria estimular o aluno a encontrar seu mas de verificação do efetivo aprendizado
Elemento-Chave (título de seu livro), que corres- dos alunos.
ponde ao ponto de encontro entre a aptidão natu-
ral e a paixão pessoal. Descreve, ainda, que encon- Robinson (2010) enfatiza (pg 227): “Acredito
tramos nosso Elemento-Chave quando sentimos com veemência, baseando-me em décadas de tra-
que estamos no lugar onde o que gostamos de balho na área, que a maneira mais eficaz de me-
fazer se encontra com o que sabemos (ou apren- lhorar a educação não é por meio do currículo e
demos) fazer bem. avaliação, embora sejam importantes. O método
Estamos em uma era na qual a humanização mais poderoso é investir na melhoria do ensino e
predomina e as empresas perceberam que o bem na qualificação de professores para que se tornem
estar dos seus colaboradores está totalmente liga- grandes profissionais. Não existe nenhuma gran-
do a resultados e por isso tem investido cada vez de escola em nenhum lugar do mundo que não
mais em gestão de pessoas e em profissionais que tenha grandes professores.”
ajudem os colaboradores a se sentirem parte inte- Entende-se que um grande professor é aque-
grante dos processos empresariais e, consequen- le que vai ajustando a prática de ensino que adota
temente, dos resultados da empresa. às mudanças apresentadas pelos alunos ao longo
Os coordenadores de equipe de perfil mais do tempo.
Cerri et. al. (2011) descrevem com detalhe as
tradicional estão tendo de se adaptar às novas
mudanças apresentadas pelos alunos, alertando
formas de relação entre líder e liderados e a uma
que alunos das gerações Veteranos, Baby Boo-
condição de hierarquia fluida, em contraposição à
mers e X (nascidos até 1980) foram habituados
rigidez da hierarquia antiquada. Hoje, a liderança
a aprender como base no sistema passo a passo,
não se dá mais pela antiguidade, mas pela compe-
com abordagem sequencial e gradativa; enquanto
tência e capacidade de realização, ou seja, o líder
os alunos das gerações Y (nascidos entre 1981-89)
não é mais imposto, é reconhecido e aceito natu-
e Z (nascidos após 1990) aprendem com maior fa-
ralmente.
cilidade por meio de abordagem não linear, com
Por seu lado, os jovens profissionais do meio
integração de formas e conteúdos, sem a adoção
empresarial precisam entender que a persistên-
de uma sequência pré-estabelecida.
cia e a disciplina continuam sendo características
O livro “Aprender na vida e aprender na es-
essenciais dos profissionais de sucesso. É preci- cola” (Delval, 2001), discorre sobre a baixa eficácia
so que esses jovens profissionais encontrem seus da concepção didático-pedagógica conteudista. O
mentores e cuidem de aproveitar ao máximo as autor citado afirma que os alunos passam longos
oportunidades de compor equipes com pessoas períodos em sala de aula e aprendem uma minús-
de diferentes níveis de experiência profissional. cula parcela do que é ensinado. Ao propor mo-
dernizar a prática de ensino, sugere a adoção de
4 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE estratégia didático-pedagógica fundamentada na
ESTRATÉGIAS DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS resolução de problemas.
O livro “Estratégias de ensino-aprendiza-
Os educadores consideram que o processo gem” (Bordenave & Pereira, 2002) trata das van-
ensino-aprendizado é estruturado em três pilares tagens da “educação problematizadora” (ou “li-
básicos: bertadora”), quando comparada à abordagem
a) o conteúdo programático ou currículo: que tradicional e conteudista (“educação bancária ou
corresponde àquilo que os alunos devem convergente”).
aprender; Cerri & Reis (2014) descrevem o método PBL
b) a estratégia didático-pedagógica: que tra- (Problem Based Learning), adotado há mais de
ta da forma como se pretende apresentar o trinta anos em alguns cursos de graduação, com
72
Porque e como tornar o estudo mais parecido com o trabalho
73
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
DELVAL, J. Aprender na vida e aprender STICE, J.E., Using KoIb’s Learning Cycle to
na escola. Porto Alegre: Artmed, 2001. 118 p. Improve Student Learning. Eng. Education,
DIMENSTEIN, G. Disponível em: http://www. V.77, n. 5, p. 291-296, 1987. apud FELDER, R.M. e
aprendiz.com.br. Acesso em: 18 maio 2003 SILVERMAN, L.K. Learning and teaching styles
in engineering education. Eng. Education. v. 78,
DRYDEN, G.; VOS, J. Revolucionando o n. 7, p. 674-681, 1988.
aprendizado. 1994. Tradução Marisa do
Nascimento Paro. São Paulo: MAKRON Books, VEEN, W.; VRAKKING, B. Homo zappiens:
1996. 475 p. educando na era digital. Tradução de Vinícius
Figueira. Porto Alegre: Artmed, 2009. 141 p.
ROBINSON, K. O Elemento-Chave. Rio de
Janeiro: Ediouro, Tradução de Evelyn Kay
Massaro. 2010. 263p.
74
SIMULADOR DE REDE DE VENTILAÇÃO DE MINA
SUBTERRÂNEA COM FORMULAÇÃO MATRICIAL
DE UM SISTEMA DE EQUAÇÕES NÃO LINEARES
MINE VENTILATION NETWORK SIMULATOR WITH MATRIX
FORMULATION OF A SYSTEM OF NONLINEAR EQUATIONS
Resumo Abstract
A solução de redes de ventilação de minas subterrâneas The solution of underground mine ventilation
é usualmente realizada por métodos iterativos. Este networks is usually performed by iterative methods.
trabalho apresenta uma formulação para o problema This paper presents a formulation for the underground
de ventilação de mina subterrânea onde a contribuição mine ventilation problem where the contribution of
de cada duto de ar é representada por uma matriz do each air duct is represented by a matrix of the air duct
elemento de duto de ar. Um sistema global é monta- element. A global system is assembled considering the
do considerando a contribuição de cada elemento de contribution of each air duct element. The nonlinearity
duto de ar. A não linearidade do problema é tratada problem is treated by the Newton-Raphson method.
pelo método de Newton- Raphson. A implementação The implementation performed is analogous to the
realizada possui analogia com o método dos elementos finite element method. The simulator implemented was
finitos. O simulador implementado foi comparado com compared with a simulator based on the Hardy- Cross
um simulador baseado no método de Hardy-Cross. Os method. The results were consistent. The limitations
resultados foram consistentes. As limitações e futuras and future extensions of the simulator are discussed.
ampliações do simulador são discutidas.
Keywords: Ventilation Network; Underground Mine;
Palavras-chave: Rede de Ventilação; Mina Subterrâ- Simulation.
nea; Simulação.
75
rugosidade das paredes do duto, do perímetro do duto pelo qual o ar é conduzido (O), do
comprimento do duto (L) e da área da seção transversal do duto (A). Utilizando unidades do
comprimento do duto (L) e da área da seção transversal do duto (A). Utilizando unidades do
sistema imperial, K em lb•min22/ft44, O e L em ft e A em ft22, a expressão para a resistência é dada
sistema imperial, K em lb•min /ft , O e L em ft e A em ft , a expressão para a resistência é dada
por:de Geologia de Engenharia e Ambiental
por:
Revista Brasileira
1 INTRODUÇÃO
K ⋅O ⋅ L
R = K ⋅ O ⋅ 3L (2) (2)
A determinação computacional da distribui- R = 5,2 ⋅ A3 (2)
5,2 ⋅ A
ção de pressões e vazões em uma rede de ventila-
ção de minas subterrâneas realiza-se muitas vezes Utilizando unidades do sistema internacio-
utilizando o métodoUtilizandode unidades
Cross do sistema
(1936). Algumas internacional, K em kg/m33, O e L em m2 e A em m22, a
Utilizando unidades do sistema internacional, K em kg/m , O e L em m e A em m , a
por: nal, K em kg/m , O e L em m e A em m , a expres-
3
expressão parasão
destas implementações a resistência
descritas é dada
expressão para a resistência éemdada Wang por: são para a resistência é dada por:
& Hartman (1967), Wang & Saperstein (1970) e
Wang (1982). A utilização de programação não
linear para resolver o mesmo problema é encon- K ⋅O ⋅ L
R = K ⋅ O3 ⋅ L (3)
trada em Wang (1984). Sereshki et al. (2016) fize- R = A3 (3) (3)
ram uma comparação entre diferentes métodos de A
solução do problema.
Gregory etPara al. (1976) discutem asrealizada
a implementação analogiasno presente Paratrabalho é conveniente
a implementação escrever
realizada a equação (1)
no presente
Para a implementação realizada no presente trabalho é conveniente escrever a equação (1)
na simulação de diferentes sistemas de condução trabalho é conveniente escrever a equação (1) na
na forma:
na forma:
de fluidos. Uma grande similaridade pode ser forma:
observada na solução de redes de distribuição de
a distribuição
água de pressões
e redes e vazõesdeem
de ventilação uma No
minas. redepresente
de ventilação
e muitas vezes utilizando o método de Cross (1936). Algumas
trabalho o programa de solução de redes de dis- 1
critas em Wang & 16º Hartman (1967),BrasileiroWang & Saperstein (1970) Qe= 0,5 ⋅ H 0f ,5 (4) (4)
tribuição 16º
de Congresso
água apresentado por
de GeologiaBrebbia & Fer-
de Engenharia e Ambiental
Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental R
2
2
programação não linear para resolver o mesmo problema é
rante (1983) foi adaptado para solução de redes de
ereshki et al. (2016) fizeram uma comparação entre diferentes
ventilação de minas. O programa implementado
.
utiliza uma 3. formulação
REPRESENTAÇÃO matricial MATRICIAL
e o método de DO PROBLEMA
analogias na simulação de diferentes sistemas3de
cutem asNewton-Raphson. REPRESENTAÇÃO MATRICIAL DO
de similaridade pode ser de
O simulador observada na solução
redes de ventilação de deminas redes de PROBLEMA
entilaçãoque
de minas. 1
Para representar o problema, toma-se solução
utiliza No
o presente
método de trabalho
Cross o
(1936)programa de
apresenta- uma rede deQdutos, ⋅ H 0f ,5
= 0,5 conectados por nós. Inicialmente, será (
a apresentado
do empor WangBrebbia
(1982)
esquecido &oeFerrante (1983)
implementado
expoente que foipor
existeadaptado
Lins
naetequação para Para
(4) erepresentar
R considerada
será o problema, toma-se linear
uma relação uma entre
de minas. O programa
al. (2008) eimplementado
foi utilizado
vazão para para
pressão; gerarutiliza uma
resultados
calcular que derede
formulação
a vazão um de dutodutos,
indicadoconectados
por i em por nós. Inicialmente,
termos da perda de carga
Raphson. permitiram testar
entre doiso nós.
programa
Uma com vazãoo serámétodo de quando
positiva será esquecido
indo deoum expoente
nó k para que um
existe
nó na equaçãose tem
j, quando
Newton-Raphson 3.
uma pressão REPRESENTAÇÃO
implementado
maior no MATRICIAL
presente DO
(4) e PROBLEMA
será considerada uma relação linear entre va-
ventilação de minas que utiliza o no nó k que
método de no nó j. (1936)
Cross
trabalho.porOs Lins
testesetmostraram(2008)um foii,bom funciona- zão enodais,
pressão;é para calcular coma vazão de um
e implementado Para al.o elemento utilizado
o vetor das paravazões gerar relacionado o vetor dasduto
pressões
mento do
o programa com notaisnovo
o métodoprograma.
de Newton-Raphson implementado indicado por i em termos da perda de carga entre
por meio de uma matriz de forma:
Para representar o problema, toma-se uma rede de dutos, conectados por nós. Inicialmente, se
mostraram um bom funcionamento esquecido doonovo programa.
expoente que existe na doisequação
nós. Uma (4)vazãoe seráserá positiva quando
considerada indo linear ent
uma relação
vazão e pressão; para calcular a vazão de umde nóumk para
dutoum nó j, quando
indicado se tem
por i em uma da
termos pres-
perda de carg
2 LEI DE ATKINSON
entre dois nós. Uma vazão será Qk são maior
positiva no
quando nó k
i que no nó j.
− 1 H k
indo de um nó para um nó quando se te
i 1
i
k j,
=
no nó j.Para o elemento (5)
− 1 1 H ij
Segundo Hartmanuma pressão et al. maior
(1997)no a nó
perdak que k i, o vetor das vazões nodais,
de
Q ij
carga (Hf) em um dutoPara de ar opode ser relacionada
elemento i, o vetor das é relacionado
vazões nodais,com o vetor das pressões
é relacionado comnotais pordas pressõe
o vetor
perda decom a vazão
carga (Hf) emde um
arnotais
(Q)
dutonopor
deduto,
meio pela
ar pode de conhecidamatrizLei
umarelacionada
ser meio de uma matriz de forma:
de forma:
com
onhecida de LeiAtkinson,
de Atkinson, Orepresentada
representada
somatóriopela daspela expressão:
expressão:
vazões que entram e saem em um nó qualquer deve ser nula. A Figura 1
ilustra o equilíbrio de vazões em um nó 5. Para garantir o equilíbrio de vazões em toda a rede de
dutos faz-se necessário montar uma matriz global
Qki que 1 − 1
relacione
H
o
i
k
vetor de vazões global {Q} com
= ki (
de pressões global {H}. Esta(1)matriz i i de matriz propriedade,
2
H f = R ⋅oQvetor (1) (5)
global
Q j pode ser chamada ou
− 1 1 H j
matriz de condutividade de ar. O problema fica representado por um sistema linear de forma:
A chamada resistência (R) é função do fator
é função do fator de atrito (K) que representa a condição de
Q}O= [somatório dasumvazões que entram
de atrito (K) duto O somatório dasde
que representa vazões que entram e saem em nó qualquer deve eser
saem
nula. A Figura
o, do perímetro do pelo qual aocondição
ar é conduzidorugosi-(O), {do k ]{H } (6)
dade das paredes ilustra
do o equilíbrio
duto, do de
perímetro vazões
do em
duto umem nó 5.
um Para
nó garantir
qualquer o
deveequilíbrio
ser nula.de
A vazões
Figura 1em toda a rede d
ilus-
área da seção transversal do duto (A). Utilizando unidades do
peloft qual dutos faz-se(O),
o arfté2, conduzido necessário montar uma
do acomprimento tramatriz global de
o equilíbrio que relacione
vazões em umo vetor
nó 5.de vazões
Para garan-global {Q} co
, O e L em e A em a expressão para resistência é dada
o vetor de pressões global {H}. Esta matriz global pode ser chamada de matriz propriedade, o
do duto (L) e daPara área cada
da seção transversal do duto tir o equilíbrio derepresente
vazões em otoda a rede de dutos
matriz de condutividade de ar. O problema fica representado por um sistema linearpor
duto, pode ser montada uma matriz que elemento, dada uma
de forma:
(A). Utilizando unidades do sistema imperial, K faz-se necessário montar uma matriz
equação com forma da equação (5). A montagem desta matriz global pode ser feita colocando a global que
em lb•min 2
/ft4, O e L em
contribuição de ft e A em
cada ft2, adoexpressão
matriz elemento na relacione
posiçãooapropriada
vetor de vazões global
da matriz {Q} com
global. Este oprocesso
ve- é
para K ⋅ Oilustrado
⋅ L na Figura 2, onde uma matriz de um
tor deelemento
pressões que liga
global o
{H}.nó n1
Esta ao nó
matriz n2 é
global colocada
pode na
R =a resistência é dada por: (2) {Q} = [k ]{H } (
5,2 matriz
⋅ A3 global. A Figura 2 representa uma situação genérica em que em cada nó existe um
76 determinado número de graus de liberdade por nó. No presente problema existe apenas um grau
de liberdade por nó (que é a pressão).
Para cada duto, pode ser montada uma matriz que represente o elemento, dada por um
j j
Simulador de rede de ventilação de mina subterrânea com formulação matricial de um sistema de equações não lineares
que entram e saem em um nó qualquer deve ser nula. A Figura 1
m um nó 5. Para garantir o equilíbrio de vazões em toda a rede de
r uma matrizser chamada
global de matrizopropriedade,
que relacione vetor de vazõesou matriz
globalde 4 IMPOSIÇÃO DAS CONDIÇÕES DE
{Q} com
}. Esta matrizcondutividade
global pode de serar. O problema
chamada fica representa-
de matriz propriedade,CONTORNO
ou
O problemado ficapor
representado por um sistema
um sistema linear de forma: linear de forma:
A matriz global representada na equação (6)
tem determinante nulo. Para representar um pro-
{Q} = [k ]{H } (6) (6) de ventilação de mina, é necessário condi-
blema
cionar a matriz para impor no mínimo que um nó
possua uma pressão conhecida. No problema de
er montada uma Para cada
matriz queduto, pode ser
represente o montada
elemento,uma dadama-
por uma
triz que desta
ão (5). A montagem represente
matrizoglobal
elemento,
pode dada uma ventilação
porcolocando
ser feita a de mina subterrânea, faz-se necessá-
elemento na equação
posiçãocom forma dada
apropriada equação (5). A montagem
matriz global. Este processorioérepresentar os pontos de acesso à superfície,
ma matriz dedesta
um elemento que liga
matriz global o nóser
pode n1 feita
ao nócolocando a e na
n2 é colocada nesses pontos o valor da pressão nodal é zero
presenta uma situação genérica em que em cada
contribuição de cada matriz do elemento na po- nó existe um
(pressão atmosférica de referência).
de liberdadesição
por apropriada
nó. No presente problema existe apenas
da matriz global. Este processo um grau De um ponto de vista numérico, o condicio-
essão).
é ilustrado na Figura 2, onde uma matriz de um namento da matriz global pode ser feito colocan-
elemento que liga o nó n1 ao nó n2 é colocada na do o valor unitário na diagonal principal e zerar
matriz global. A Figura 2 representa uma situação o resto da linha e o resto da coluna, além de zerar
genérica em que em cada nó existe um determi- o termo correspondente do vetor de termos inde-
nado número de graus de liberdade por nó. No pendentes. Isto é ilustrado na Figura 3(a).
presente problema existe apenas um grau de li- Uma peculiaridade deste tipo de formulação
berdade por nó (que é a pressão). é que a matriz global é simétrica. Além disso a
matriz global tem termos não nulos a uma deter-
minada distância da diagonal principal. Esta dis-
tância é chamada de largura de semibanda. Isto
é ilustrado na Figura 3(b). A numeração dos nós
adotada define a largura de semibanda.
O fato de a matriz global ser simétrica e de
banda, permite a adoção de técnicas de arma-
zenamento da matriz global, por exemplo, em
Equilíbrio no nó 5 (BREBBIA & FERRANTE, 1983).
semibanda, o que é ilustrado na Figura 3(c). O
programa implementado utiliza este tipo de ar-
Engenharia e Ambiental mazenamento
3 da matriz global.
Figura 1. Equilíbrio no nó 5 (BREBBIA & FERRANTE, 1983). Uma condição de contorno que represente
impor uma vazão em um determinado nó é con-
seguida colocando o valor da vazão de ar no vetor
dos termos independentes.
77
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
5 ANÁLISE NÃO LINEAR DA REDE DE número de iterações pode, também, ser imposto
VENTILAÇÃO eventualmente (BREBBIA & FERRANTE, 1983).
K ⋅ (H)⋅ H = C (7)
78 f ( xo ) = 0 (9)
∑ i i
i =1 i =1 (8)
n n ≤ TOL ≤ TOL (8)
∑H ∑H
i =1
i
i =1
i Simulador de rede de ventilação de mina subterrânea com formulação matricial de um sistema de equações não lineares
Figura 5. Aproximação para uma raiz de f(x)=0 (BREBBIA & FERRANTE, 1983)
O método de Newton-Raphson é uma técnica Segundo Brebbia & Ferrante (1983) o proces-
quema frequentemente
apresentado
apresentado ser de ser fácilde utilizada para encontrar
fácil implementação,
implementação, a raízes de
podesoser
convergência
a convergência pode
pode ser
seraplicado em sistemas matriciais como
es práticas. Pode
icas. Podeequações ser
ser conveniente conveniente
não linearesutilizar utilizar
e resolverum outros
Segundoum método
problemas
método Brebbia
com & com melhor
descrito
Ferrantea (1983)
melhor seguir. oAssumindo que após
processo pode ser montar
aplicadoto-em sistem
nvergência,
ncia, como
como onãométodo o método de Newton-Raphson.
de Newton-Raphson.
lineares. Resumidamente comoo descrito
método a deseguir.
New- Assumindo que após
dos os elementos demontar todos
uma rede, os elementos
se possui de uma re
um siste-
um sistema com K como uma função de H, isto é:
Raphson é ton-Raphson
Newton-Raphson uma pode
uma étécnica técnica serfrequentemente
descritoutilizada
frequentemente como utilizada
a para
seguir.paramaencontrar
encontrarcom K como uma função de H, isto é:
não lineares Suponha-se
e resolver que
outros se deseje
problemasencontrar
não
eares e resolver outros problemas não lineares. Resumidamente o um valor
lineares. de
Resumidamente o
Raphson
n pode ser pode serfaça
xdescrito
que descrito
uma função
como acomo f a(xseguir.
seguir. )Suponha-se
≡ 0 . Este valor
queserá
Suponha-se seque se deseje
deseje
K ⋅ (H)⋅ H = CK ⋅ (H ) ⋅ H = C (13)
x que
aça umafaça chamado
uma
função função f .( xEste
f ( x )x≡o,0onde: ) ≡ 0valor
. Esteserá
valor será chamado
chamado xo, onde:xo, onde:
Para a próxima iteração, pode ser escrita uma
f (x) ≡ 0 Para a próxima(9) função
iteração, F de
pode serforma que:
escrita uma função F de forma que:
f ( xo ) = f0( xo ) = 0 (9) (9)
Se for feita uma aproximação para o valor de
x, tomando xk, pode ser expandido:
F(H) = K (H) =)⋅KH⋅−(HC)=⋅ H0 − C = 0
F(⋅H
(14)
aproximação
mação para odevalor
para o valor de x, tomando
x, tomando , pode
xk, podexkser ser expandido:
expandido:
O método de Newton-Raphson apresenta o
O método de Newton-Raphsondeapresenta
incremento H, isto é, δoHincremento de função
k +1 , como uma H, isto é, δH k +
∂f ( xk ) ∂f ( xk ) da derivada de K(H ), isto é:
f ( x )
f ( xo ) ≅ f ( xok ) +
≅ f ( xk ) +δx δx (10)
função da derivada de K(Hk(10) (10)
), isto é:
k
∂x ∂x
∂
e: Por consequente: F′ = [K ⋅ (H ) ⋅ H − C] = ∂ [K ⋅ (H ) ⋅ H ] (15)
∂H ∂H
f ( x ) f ( xk )
δxk = − δxk = −k (11) ser(11)
A matriz F’ pode (11) fazendo as derivadas com relação a Hi p
encontrada
∂f ( xk ) ∂xf ( xk ) ∂x A matriz F’ pode ser encontrada fazendo as
elementos da coluna ‘i’ dederivadas
KH, e δ representa
com relaçãooaincremento na os
Hi para todos função, o que, leva
elemen-
matriz incremental de forma:
tos da coluna ‘i’ de KH, e δ representa o incre-
elpossível
encontrar um Desta
encontrar umforma,
incremento é possível
incremento
de x para encontrar
de xque
para que um
o novo incre-
ovalor
novo valormento
possa possanaser
ser função, o que, leva a uma nova matriz
mento de x para que o novo valor possa ser escrito: incremental de forma:
16º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental
eologia
xk +1e =
de Engenharia
Engenharia e Ambiental
xk + δxk
Ambiental (12) (12)
6 6
δQ j 1 1 1 − 1 δH j
= 0,5 ⋅ 0,5 ⋅ (16)
δQk R ∆H 0,5 − 1 1 δH k
ra 5. O processoIsto é indicado
pode na Figura
ser repetido até que5.aOsolução
processo pode
seja obtida com
. ser repetido até que a solução seja obtida com o
grau de acurácia requerido. Deve ser feito um δQ j 1 1 1 − 1 δH j
= 0Deve
registro ⋅ que
,5de ⋅ feito
,5 a
0ser equação registro
0 , 5um (16) utilizaa derivada da Lei de
de que
δ Q
forma da equação (4). Esta k é a
R ∆H
principal − 1 1 do
diferença
H k a equação
δprograma implementado
(16) utiliza a derivada da Lei de Atkinson, na forma
trabalho para estudo de redes de ventilação de minas com relação ao programa im
da equação (4). Esta é a principal diferença do pro-
por Brebbia & Ferrante (1983) para redes de distribuição de água.
Deve ser feito um registro de grama
que implementado
a equação (16)noutiliza presente trabalho da
a derivada para es-de Atkinso
Lei
Agora é possível escrever:
forma da equação (4). Esta é atudo de redes
principal de ventilação
diferença de minasimplementado
do programa com relação no pre
trabalho para estudo de redes deaoventilação
programade implementado
minas com relaçãopor Brebbia & Ferran- impleme
ao programa
por Brebbia & Ferrante (1983) para redes de distribuição de água.
te (1983) para redes de distribuição de água.
δQéj possível
Agora − 1 δH j
1 escrever:
Agora é possível escrever: =k − 1 1 δH k
t
δQk
δQ j 1 − 1 δH j
Montando estas matrizes t se
= kanteriormente,
como obtém um novo sistema
(17) de eq
δQk − 1 1 δH k
Figura 5. Aproximação para uma raiz de f(x)=0 (BREBBIA &
FERRANTE, 1983).
K t ⋅ δH = δC
Montando estas matrizes como anteriormente, se obtém um novo sistema de equaçõe
79
Note-se 1983).
ação para uma raiz de f(x)=0 (BREBBIA & FERRANTE, que o vetor δC no lado direito da equação é obtido pela falta de equ
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Montando estas matrizes como anteriormen- é possível visualizar a rede de ventilação em três
te, se obtém um novo sistema de equações: dimensões no AutoCAD ou em outro programa
que suporte o formato dxf.
Kt ⋅ δH = δC (18)
7 TESTE DO PROGRAMA
Note-se que o vetor δC no lado direito da
equação é obtido pela falta de equilíbrio, isto é, O programa VentoNL foi testado com uma
encontrando a diferença entre as ações externas e rede hipotética. Nesta rede os pontos nodais 1 e
essa que pode ser equilibrada com a solução pré- 8 representam os pontos de acesso à a superfície
via, isto é: em uma mina subterrânea, onde a pressão destes
nós é zero (pressão atmosférica). A mesma rede
δC = C − K (H k )H k (19) foi modelada com o programa Vento2007, cuja
implementação é descrita em Lins et al. (2008).
Geralmente, δC≠0 mas se tornará pratica- A principal diferença na modelagem é que o ven-
mente zero após poucas iterações. O método de tilador no programa VentoNL é representado por
Newton-Raphson geralmente assegura uma con- uma carga nodal no ponto nodal 6. No programa
vergência rápida. Uma discussão detalhada do Vento2007, a ação do ventilador é representada
método pode ser encontrada em Brebbia & Fer- no ramal que liga os pontos nodais 6 a 8.
rante (1983). A Figura 6 apresenta as vazões nos ramais
calculadas pelo programa VentoNL e a Figura 7,
as vazões calculadas pelo programa Vento2007.
6 IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA Os valores de vazões calculados pelos dois pro-
gramas são muito próximos. A única diferença
O programa implementado no presente tra- está no ramal que ligas os pontos nodais 6 e 8, o
balho foi denominado VentoNL. A implementa- que se deve à forma de consideração da carga do
ção foi feita em linguagem Fortran. O simulador ventilador.
foi desenvolvido por meio do simulador de redes Os resultados dos cálculos das cargas nodais
de água de Brebbia & Ferrante (1983). pelos programas VentoNL e Vento2007 são apre-
Na implementação os pontos nodais passa- sentados na Tabela 1. As diferenças nos resulta-
ram a ter coordenadas cartesianas em três dimen- dos são coerentes com as tolerâncias impostas em
sões. Rotinas adicionais permitem ao programa a cada programa.
geração de um arquivo de intercâmbio de dese-
nhos do AutoCAD (dxf). Com este procedimento
Figura 6. Vazões nos ramais calculadas pelo programa VentoNL, método de Newton-Raphson.
Figura 7. Vazões nos ramais calculadas pelo programa Vento2007, método de Cross (1936).
80
Simulador de rede de ventilação de mina subterrânea com formulação matricial de um sistema de equações não lineares
81
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Mechanics and Mining Sciences & Geomechanics WANG, Y.J. (1984) A Non-linear Programming
Abstracts, Vol. 4, No. 2, p.129-154. Formulation for Mine Ventilation Networks with
Natural Splitting. In International Journal of Rock
WANG, Y.J. & SAPERSTEIN, L.W. (1970) Mechanics and Mining Sciences & Geomechanics
Computer-aided solution of complex ventilation Abstracts, Vol. 21, No. 1, p.43-45.
networks. In Trans. SME-AIME, vol. 247, p.238-250.
82
Nossa História
RELATO DA NOSSA HISTÓRIA
84
QUATRO PROBLEMAS SIMPLES
DE GEOLOGIA APLICADA
Paulo Teixeira da Cruz
Professor de Mecânica dos Solos da Escola Politécnica da USP e da Escola de Engenharia de Lins
Consultor da CESP para Solos e Geologia.
85
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Elaboração por parte dos Geólogos, de rela- de jusante da barragem devido a um excesso de
tórios “Ultra Geológicos”; sub-pressões num determinado plano. Suponha-
Desconhecimento pelos Engenheiros Civis mos que as pressões nesse plano, a uma profundi-
da Aplicação da Geologia em vista da natu- dade H, têm um valor equivalente a z metros de
reza dos cursos de Geologia ministrados para água. Uma vez que o peso do maciço rochoso seja
Engenheiros, cujos currículos, muitas vezes, superior ao empuxo resultante desta sub-pressão,
podem ser considerados inadequados e até há uma condição de equilíbrio, O problema que
superados. se propõe seria de que esta sub-pressão atuante
no plano 0-0 pudesse se transmitir em parte, ao
No primeiro caso, a falta de objetividade e plano superior 0´-0´e provocar uma condição de
praticidade do Relatório Geológico se manifes- instabilidade neste plano superior, A questão
ta através de descrições não objetivas, onde são básica seria de se poder definir como esta pressão
abordadas frequentemente e até cansativamente se transmite de um plano ao outro, através de um
(para o engenheiro) teorias genéticas, datações estudo do sistema de fissuramento em planos
geológicas, mineralogia exaustiva, por um lado, verticais que ocorresse neste tipo de rocha.
mas ao mesmo tempo, generalizações extremas, Se não se puder definir a contento esta trans-
como por exemplo, a identificação de uma rocha missão de pressões a cotas mais elevadas, o proje-
como sendo muito fraturada ou ainda uma outra tista poderá ser levado à adoção de uma solução
como estando mais ou menos alterada. alternativa, tal como uma injeção de cimento a
No segundo caso, em vista da falta de co- montante o que pode representar um custo eleva-
nhecimentos geológicos pelos engenheiros, mui- do, e que poderia ser evitado se os problemas de
tas vezes, torna-se difícil uma visualização e uma infiltração de água nesse maciço rochoso fossem
compreensão da aplicação da Geologia. convenientemente definidos.
Esta falta de linguagem e, além disso, dife- 2) No problema 2 encontramos uma super-
rença de enfoque, leva muitas vezes, a nos depa- -estrutura de concreto, apoiada sobre o maciço ro-
rarmos com problemas que envolvem tanto Solos choso formado por uma sucessão de derrames de
como Geologia e que muitas vezes não são resol- basalto. Os planos de contato entre os derrames
vidos da maneira mais satisfatória, porque nem ou os planos de diaclases ou fissuras deste maciço
os Geólogos são capazes de resolver o problema rochoso, se apresentam em cotas diferentes e com
globalmente e nem os Engenheiros são capazes de diferentes valores de resistência ao cisalhamento,
elucidar as implicações da Geologia. Equacionando-se as forças horizontais atuantes
A nosso ver, um primeiro passo no sentido nesta estrutura (de uma maneira simplificada)
de integrar estas duas áreas da Engenharia Civil, verificamos que poderá ocorrer um deslocamento
seria aquele de introduzir nas Escolas de Enge- da estrutura para jusante, tanto no plano superior
nharia, cursos adequados de Geologia Aplicada e do contato concreto-fundação, como em planos
por outra parte, nas Escolas de Geologia, cursos inferiores.
de Mecânica dos Solos. Se a resistência ao cisalhamento nestes
planos, puder ser convenientemente definida,
poder-se-á limitar a escavação da fundação e seu
QUATRO PROBLEMAS SIMPLES DE reenchimento com concreto à menor cota, ou seja,
GEOLOGIA APLICADA aquele plano que representa o coeficiente de se-
gurança mínimo aceitável, O desconhecimento do
A seguir são mostrados quatro problemas mecanismo de resistência ao cisalhamento da ro-
que envolvem conhecimentos de Geologia Apli- cha, nestes vários planos, poderá levar o projetista
cada e Mecânica das Rochas. a escavações relativamente profundas ou ainda a
1) No primeiro problema temos o caso de adoção de uma série de sistemas de injeções, ou de
uma barragem de terra assente sobre uma espes- chumbamentos que representam, tanto um maior
sa camada de rocha, que apresenta planos prefe- tempo de construção, como um custo elevado.
renciais de percolação de água. A situação crítica 3) No problema 3, encontramos um túnel
seria aquela que levaria ao levantamento da área aberto em maciço rochoso. Este túnel é revestido
86
Nossa História – Quatro problemas simples de Geologia Aplicada
com uma camada de concreto e será submetido a Ora, problemas semelhantes da mesma na-
pressões internas, correspondentes a uma deter- tureza, já veem sendo estudados e discutidos em
minada coluna d݇gua. Entre o concreto e a rocha cursos normais de Engenharia, quando os mes-
serão procedidas injeções de colagem e preenchi- mos se referem à Mecânica dos Solos. O problema
mento. portanto, seria de se perguntar em que níveis ou
Se parte desta pressão interna transmitida em que cursos tal natureza de problemas deveria
ao revestimento de concreto, puder ser absorvi- ser abordada, uma vez que este tipo de proble-
da pela rocha, sendo transmitida pela injeção de mas, certamente poderão ocorrer simultânea ou
colagem, este revestimento poderá ser reduzido, isoladamente, nas inúmeras obras ligadas a apro-
o que implica num menor custo e também num veitamentos hidroelétricos, rodovias e a estabili-
menor tempo de execução. A determinação dos zação de encostas, já citados na Introdução deste
módulos de elasticidade destes três materiais trabalho.
seria fundamental para se definir as parcelas de
pressão absorvidas por cada um dos materiais.
Se estas propriedades mecânicas não forem co-
SOBRE UM CURRICULUM PARA UM
nhecidas, o projetista poderá ser levado à adoção CURSO INTEGRADO DE MECÂNICA DOS
de um revestimento blindado, que certamente SOLOS E GEOLOGIA APLICADA
seria mais caro.
Analisando de maneira sumaria as várias
4) O último problema se refere à abertura de
opções que vêm sendo adotadas em diferentes
um Canal num maciço rochoso, com capeamen-
Escolas no tocante a este problema, poderíamos
to de solo. As heterogeneidades deste maciço ro-
enunciar quatro enfoques que resumiriam as ten-
choso, bem como o seu sistema de diaclases, po-
dências mais gerais:
derão levar à abertura deste Canal com taludes
1) As disciplinas de Mecânica dos Solos e de
instáveis. A adoção de um talude estável a priori,
Geologia são integradas e ficam associadas ao(s)
que levasse em conta todas as probabilidades de
Departamento(s) de Engenharia Civil das várias
fatores desfavoráveis poderá tornar a obra antie-
conômica. Por outro lado, a abertura de taludes Escolas, e mesmo num caso extremo poderiam
excessivamente íngremes, poderia levar a surpre- chegar a se constituir num Departamento a parte,
sas desagradáveis. O problema, portanto, exigiria de Solos e Geologia.
um conhecimento adequado do tipo de material 2). As disciplinas de Geologia e Mecânica
e de suas propriedades mecânicas, para que os dos Solos, são ministradas numa mesma Escola,
princípios teóricos de estabilidade de taludes, pu- mas em níveis diversos, uma vez que a Geologia
dessem ser considerados. é considerada disciplina fundamental e portanto
Associada ainda a este problema do Canal, incluída nos primeiros anos (biênio fundamental),
estaria a definição ou o estudo do comportamento enquanto que as disciplinas de Mecânica dos So-
deste maciço rochoso durante o tempo e submeti- los, são consideradas de aplicação e são ministra-
do à erosão provocada pela incidência de chuvas das nos últimos anos do curso.
e mesmo à erosão na base resultante da oscilação 3) Tem-se reconhecido a necessidade de in-
sistemática do nível d’água. troduzir nas Escolas de Geologia, cursos funda-
Estes quatro problemas simples são aqui in- mentais de Mecânica dos Solos e vice-versa. A
troduzidos para mostrar a importância de se de- disciplina de Solos assume então um caráter de
senvolver uma Geologia Aplicada, que além de disciplina autônoma nas Escolas de Geologia,
poder informar sobre os processos formativos dos podendo ocorrer o mesmo com as disciplinas de
maciços rochosos, sua história, e seu desenvolvi- Geologia nas Escolas de Engenharia.
mento em eras geológicas, possa chegar à defini- 4) No curso normal para Escolas de Enge-
ção, num ponto (por assim dizer) do comporta- nharia deveria ser apenas ministrada a disciplina
mento em termos de Engenharia destes maciços, de Geologia Fundamental, bem como, disciplinas
quando submetidos aos tipos de solicitação eluci- relacionadas com os fundamentos de Mecânica
dados. dos Solos, deixando-se para o nível de Pós-Gra-
87
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
88
Nossa História – Quatro problemas simples de Geologia Aplicada
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Nossa História – Quatro problemas simples de Geologia Aplicada
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
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Nossa História – Quatro problemas simples de Geologia Aplicada
93
CONTRIBUIÇÕES
E REFLEXÕES
Palavras chave: geologia de engenharia, responsabilida- A IAEG (International Association for En-
de profissional, quadro fenomenológico gineering Geology and the Environment), refle-
tindo o crescimento exponencial dos problemas
Keywords: engineering geology, professional responsi- ambientais em todo o mundo, atualizou sua con-
bility, phenomenological framework ceituação epistemológica oficial para Geologia de
Engenharia, a qual consta de seus estatutos e já
dos estatutos da ABGE (Associação Brasileira de
Sobre a missão e a prática da
Geologia de Engenharia e Ambiental):
Geologia de Engenharia
“Geologia de Engenharia é a ciência dedica-
da à investigação, estudo e solução dos problemas
Mesmo constituindo-se em uma das geociên-
de engenharia e meio ambiente decorrentes da in-
cias aplicadas de maior e crescente importância
teração entre as obras e atividades do Homem e o
para o sucesso dos empreendimentos humanos
meio físico geológico, assim como ao prognóstico
no planeta, e para o sucesso da própria Humani-
e ao desenvolvimento de medidas preventivas ou
dade como espécie, a Geologia de Engenharia ain-
reparadoras de riscos geológicos”.
da é pouco conhecida do grande público e até de De uma forma concisa, podemos entender a
setores técnicos próximos, especialmente no que “Geologia de Engenharia como a Geociência Apli-
se refere à sua conceituação, sua vinculação cien- cada responsável pelo domínio tecnológico da in-
tífica principal e seu raio de ação. terface entre a atividade humana e o meio físico
Entre os campos de aplicação da Geologia geológico”.
destacam-se a Geologia Econômica, que tem por A Geologia de Engenharia, por outro lado,
missão a busca e a lavra de todos os recursos mi- integra, com a Mecânica dos Solos e com a Mecâ-
nerais de interesse do Homem (aí inclusos todos nica das Rochas, alimentando-se reciprocamente,
os tipos de minérios, o petróleo, o gás natural, a o grande campo da Geotecnia, o qual reúne todo
água subterrânea), e a Geologia de Engenharia, o ferramental científico e tecnológico para o mais
cuja missão maior é compatibilizar tecnicamente correto equacionamento, dimensionamento e exe-
toda intervenção do Homem no planeta com as cução de obras de engenharia no que diz respeito
características geológicas naturais (o ambiente às suas relações com os terrenos e materiais natu-
geológico) de cada região ou local afetado. rais com os quais interferem.
95
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Em que pese o uso de informações geológicas reza, as consequências para o homem costumam
para o benefício do Homem ser já muito antigo, ser catastróficas: acidentes locais como desliza-
desde mesmo o tempo das cavernas como abri- mentos, o rompimento de uma barragem, o colap-
go e moradia, a Geologia de Engenharia, como so de uma ponte, a ruptura de um talude, avarias
uma geociência aplicada sistematizada e indivi- e acidentes em fundações, recalques de terrenos,
dualizada, é relativamente recente. No Brasil, sua colapso de obras subterrâneas, patologias estrutu-
introdução e desenvolvimento deram-se espe- rais, por exemplo, ou problemas regionais como
cialmente a partir do final da década de 50, como o assoreamento de um rio, de um reservatório, de
conseqüência do surto de construção de grandes um porto, inundações, a contaminação de solos e
obras de infraestrutura no país. de águas subterrâneas, conseqüências extrema-
A partir de meados dos anos 70, a Geologia mente onerosas social e financeiramente, e muitas
de Engenharia brasileira, já considerada destaca- vezes trágicas no que diz respeito à perda de vi-
damente em todo o mundo por sua alta qualida- das humanas.
de, amplia consideravelmente seu campo de ação Para que essas consequências negativas não
objetivando o diagnóstico e a solução dos graves aconteçam é necessário que o homem conheça e
problemas de ordem regional e ambiental que entenda perfeitamente as características e proces-
atingem o país. Com isso assumindo suas funda- sos naturais do meio geológico em que está inter-
mentais e insubstituíveis responsabilidades no ferindo, de tal forma a melhor adequar seus pro-
suporte técnico-científico ao preceito conceitual jetos e estabelecer, ele próprio, uma indispensável
do desenvolvimento sustentado, qual seja, o de- condição de equilíbrio entre empreendimento e
senvolvimento provedor de qualidade de vida no forças naturais.
planeta para esta e para as gerações futuras. Fornecer informações para que essas ações
Para o atendimento de suas necessidades humanas levem corretamente em conta o fator
(energia, transporte, alimentação, moradia, segu- geológico, garantindo então seu êxito técnico/
rança física, saúde, comunicação...), o Homem é econômico/social e evitando as graves conse-
inexoravelmente levado a ocupar e modificar es- qüências referidas, constitui o objetivo essencial
paços naturais das mais diversas formas (cidades, da Geologia de Engenharia (GE).
indústrias, usinas elétricas, estradas, portos, ca- É indispensável, nesse contexto, que o geó-
nais, agropecuária, extração de minérios e madei- logo conheça exatamente quais os tipos mais co-
ra, disposição de rejeitos ou resíduos industriais muns de solicitação que os diferentes empreendi-
e urbanos...), fato que já o transformou no mais mentos (barragens, estradas, minerações, cidades,
poderoso agente geológico hoje atuante na super- metrôs, aterros sanitários, agropecuária) impõem
fície do planeta. aos terrenos, o que lhe permitirá orientar e objeti-
Por outro lado, não há intervenção humana var as investigações que se seguirão e a comunica-
no meio físico geológico natural que não provo- ção de seus resultados.
que algum tipo de desequilíbrio. O corte em uma De outra parte, é fundamental para o sucesso
encosta, o peso de uma barragem, o vazio provo- das operações de engenharia que estas se apóiem
cado pela escavação de um túnel, a impermeabi- em um perfeito casamento entre a solução adota-
lização do solo causada pela cidade, o rebaixa- da, as características geológicas dos terrenos e ma-
mento forçado do lençol d’água subterrâneo, o teriais afetados e os processos geológico-geotéc-
desmatamento de uma região; enfim, ao modifi- nicos naturais ou eventualmente provocados pela
car as condições naturais pré-existentes o homem implantação de um pretendido empreendimento.
está interferindo em um estado de equilíbrio dinâ- Daí a essencial importância da exatidão do diag-
mico natural. nóstico fornecido pelo geólogo de engenharia, no
Como resposta à ação do desequilíbrio há âmbito do qual devem estar descritos todos os fe-
uma mobilização de forças naturais orientadas, nômenos que podem ser esperados da interação
como reação, a buscar um novo estado de equi- solicitações/meio físico geológico. Ou seja, a GE
líbrio. Caso esse empenho de busca de um novo tem uma abordagem técnica essencialmente feno-
equilíbrio se dê isoladamente pela própria Natu- menológica.
96
Contribuição e Reflexão – Geologia de Engenharia: a geociência aplicada que vê o homem enquanto agente geológico
Por outro lado, a GE só conseguirá cumprir como devem metodologicamente interagir essas
cabalmente essa responsabilidade, e assim ser duas geotecnologias aplicadas que se impõe como
útil à Engenharia e à sociedade em um sentido o principal fator limitante de um trabalho mais
mais amplo, na medida em que não se descole rico e resolutivo entre os profissionais envolvidos.
de suas raízes disciplinares, de sua ciência-mãe, a De início, é importante firmar alguns concei-
Geologia, o que significa exercitar e priorizar seu tos de partida. O grande campo da Geotecnia é
principal instrumento de trabalho, o raciocínio composto basicamente pela Engenharia Geotéc-
geológico. Essa precaução a fará sempre ter como nica (EG) e pela Geologia de Engenharia (GE).
ponto de partida a consciência de que qualquer Partem, portanto, dessas duas geotecnologias os
ação humana sobre o meio fisiográfico interfere, conhecimentos necessários a levar a bom termo
não só limitadamente, em matéria pura, mas sig- qualquer empreendimento humano que interfe-
nificativamente, em matéria em movimento, ou re diretamente no meio físico geológico, ou que
seja, em processos geológicos, sejam eles menos usa materiais geológicos naturais como elementos
ou mais perceptíveis, sejam eles mecânicos, físico- construtivos.
-químicos ou de qualquer outra natureza, estejam Importante nesse contexto interdisciplinar
eles temporariamente contidos ou em pleno de- entender que ainda que em todas as fases de um
senvolvimento. empreendimento, do projeto à sua execução, deva
existir sempre um sadio e eficiente espírito de
equipe, uma ação continuadamente colaborativa
Sobre as relações da Geologia e interdisciplinar entre as diversas modalidades
de Engenharia com a Engenharia profissionais atuantes, é fundamental que nunca
Geotécnica se perca de vista a responsabilidade maior que
uma modalidade deva exercer, e por ela respon-
Compreende-se assim a extrema importân- der, em cada atividade e em cada fase de trabalho.
cia de geólogos e engenheiros (e arquitetos e ur- Nas investigações geológico-geotécnicas que
banistas, especialmente nos casos de edificações e antecedem o Projeto e o Plano de Obra e se pro-
problemas urbanos) comungarem perfeito enten- longam no período de obra e na própria operação
dimento sobre a natureza e fundamentos de suas do empreendimento, essa responsabilidade maior
responsabilidades específicas no desenvolvimen- é da GE.
to de projetos de engenharia em sua prática pro- No entanto, é preciso que fique muito claro a
fissional. Será sempre a mais exata compreensão todos que a missão da GE não se reduz a entregar
dessas diferentes responsabilidades que permitirá à engenharia um arrazoado sobre a geologia local,
o indispensável convívio harmonioso e comple- a posição do NA, um punhado de perfis e seções
mentar entre as duas categorias profissionais. geológicas e outro punhado de índices geotéc-
Em sã consciência não há hoje quem ponha em nicos relativos aos diversos materiais presentes.
dúvida a fundamental importância dos projetos Como já vimos, o trabalho da GE transcende essa
de engenharia, ou quaisquer outras intervenções limitada e apequenada visão meramente descriti-
humanas sobre o planeta, levarem em plena con- va e parametrizadora, ainda infelizmente bastante
sideração as características geológicas dos terrenos comum entre geólogos executantes e engenheiros
por eles afetados. Entretanto, são ainda comuns no geotécnicos demandantes.
ambiente geotécnico brasileiro dúvidas e desen- A abordagem da GE é essencialmente feno-
contros muito grandes sobre como deve desenvol- menológica. Todos os dados e informações ante-
ver-se na prática profissional real essa indispensá- riormente mencionados são muito importantes,
vel interação entre a Geologia e a Engenharia; em mas o produto final e essencial das investigações
nosso caso, mais precisamente entre a Geologia de geológico-geotécnicas na fase anterior ao Projeto
Engenharia e a Engenharia Geotécnica. e ao Plano de Obra é um Quadro Fenomenológico
Em não raros casos essa dificuldade explica-se onde todos esses parâmetros não estejam soltos
ainda em visões limitadas e preconceitos menores ou isolados, mas sim associados e vinculados a
de parte a parte, mas não há dúvida que funda- esperados comportamentos do maciço e dos ma-
mentalmente é o desconhecimento teórico sobre teriais afetados pelas futuras solicitações da obra.
97
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Ou seja, a missão maior da Geologia de Enge- Por seu lado, a Engenharia Geotécnica, en-
nharia está em oferecer à Engenharia (lato sensu) tendida como a engenharia dedicada à resolução
um quadro completo dos fenômenos geológico- dos problemas associados às solicitações impostas
-geotécnicos que podem ser esperados da intera- pelos empreendimentos humanos ao meio físico
ção entre as solicitações típicas do empreendimen- geológico, tem como sua missão maior a definição
to que foi ou será implantado e as características final, em âmbito de Projeto e Plano de Obra, das
geológicas (materiais e processos) dos terrenos soluções de engenharia e seus exatos dimensiona-
por ele afetados. A esse quadro fenomenológico a mentos físicos e matemáticos, zelando, juntamen-
GE junta suas sugestões de cuidados e providên- te com a GE, pela plena compatibilidade e solida-
cias que projeto e obra deverão adotar para ter es- riedade entre as soluções adotadas e os fenômenos
ses fenômenos sob seu total controle. geológico-geotécnicos a que se relacionam.
Assim, todo o esforço investigativo da GE Dentro desse entendimento, ainda que sem-
deve ser orientado, desde o primeiro momento, pre no âmbito de um trabalho permanentemen-
a propor, aferir, descartar e confirmar hipóteses te solidário e colaborativo, será de total respon-
fenomenológicas, de forma a, ao final, obter seu sabilidade da Geologia de Engenharia qualquer
quadro fenomenológico. problema que venha a acontecer e que decorra
A partir desse ponto, a GE entrega o bastão de fenômeno geológico-geotécnico que não te-
de comando (e responsabilidade maior) para a nha sido previsto, ou corretamente descrito, em
Engenharia Geotécnica, passando a assumir, nes- seu quadro fenomenológico. Como será de total
ta nova fase, o papel de apoio e complementação. responsabilidade da Engenharia Geotécnica qual-
Lembrando que a frente de obra sempre constitui- quer problema que ocorra pelo fato do projeto e/
rá um lócus privilegiado para a confrontação das ou do plano de obra não ter levado em conta, e
hipóteses levantadas, para as investigações com- da maneira adequada, algum fenômeno potencial
plementares que se mostrem necessárias e para o incluído no referido quadro.
monitoramento dos parâmetros geológicos e geo-
técnicos envolvidos nos fenômenos identificados
como possíveis.
98
SERRA FLUMINENSE EM 2011 E 2020
RIO DE JANEIRO MOUNTAINOUS REGION IN 2011 AND 2020
A serra Fluminense enfrentou em janeiro de cidos, pelo tamanho total da área daquelas cidades
2020 evento pluvial talvez comparável, a ver, ao e pelos 200 anos a mais de ocorrências repetidas.
de 2011. Nesse, de 2011, uma das imagens que
mais me impressionaram, embora ocupando pe-
queno espaço em Teresópolis, é a da igrejinha
da Figura 01, completamente rodeada por uma
neoformação geológica que podemos chamar le-
que aluvial. O leitor está vendo que a chuva mais
intensa já passara e a parte geológica que acaba-
va de nascer está aí, mostrando, talvez, algumas
dezenas de metros cúbicos de material terroso
areno-cascalhoso. Materiais mais finos como silte
e argila já caíram fora, talvez a metade do material
erodido lá no alto da serra. Agora convido o leitor,
versado ou não em geologia, para conversar com Figura 1. Igreja em Teresópolis afetada por movimento de
ele sobre o que a imagem pode significar. Você massa em janeiro de 2011. Fonte: site de Internet.
está vendo o predomínio de cascalho e areia, não
vê o material argiloso, mais puxado ao vermelho, Solo não é árvore, nem grama, que podem
que existe nas encostas não rochosas. Vamos ima- crescer para substituir o perdido. Aliás, uma lógi-
ginar que o material acumulado à volta do templo ca ambientalista que não pense na produtividade
mais o que já se foi tivessem somados um volume geológica da rocha para criar o solo, a ponto de nem
total da ordem de 10 metros cúbicos, ou 10.000 li-
considerar que o portador da água e nutriente da
tros. Admitamos que lá de onde vieram tivessem
vegetação não precise de tempo (geológico) para ser
uma porosidade de 10%, ou seja, com capacidade
total de 1.000 litros. Quer isto dizer que, se esse renovado e substituir o que se foi, precisa mudar.
material não tivesse sido erodido, e em seguida Precisamos, urgentemente, passar a pensar
descido, estaria lá no alto guardando 1000 litros em inúmeras outras formas complementares de
de água a mais do que o lá existente no momento agir no sentido de interpretar o fenômeno geoló-
da tomada da foto acima. gico envolvido nisso tudo (coleta de águas plu-
Imaginemos agora que chuvadas parecidas viais para reduzir a erosão das áreas montanho-
tenham ocorrido desde o ano em que Dom Pedro sas, implantar a mineração corretiva1, que traga
subiu a serra para morar e implantou Petrópo- de volta o solo perdido, e consideremos que a
lis junto às demais cidades da área (Teresópolis,
Nova Friburgo, Cachoeira de Macacus). Vamos ter
de multiplicar aqueles 1000 litros perdidos naquele 1
Simplificadamente desenvolvida no livro deste au-
curto episódio pelo número anual de eventos pare- tor Morte e Vida São Francisco
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
velha Europa parece não saber muito a respeito sarão de toda ajuda possível do governo e povo
daquilo que estou dizendo: Para ter certeza do fluminenses e brasileiro para ajudar a remover
que digo, está lá na revista GEOscientist da Geo- da legislação a monstruosidade legal contida
logical Society of London Volume 29 no. 06, July no Código Florestal e em outros dispositivos
2019 o seguinte artigo: “It’s time to take notice of legais, que resultam na perda de capacidade de
sand”. Parecem querer apenas areia (pensando só armazenamento nas áreas elevadas (fato 1), no
em construção), quando em verdade precisamos desastroso resultado do assoreamento global
de muito solo não só para conter inundações, ou nos corpos d’água (fato 2), e finalmente. igno-
pelo menos amenizá-las, mas para sustentar flo- rando a irrenovabilidade, em termos práticos,
ra e fauna – componentes transitórios do sistema do solo perdido, configurando evidente e ine-
geológico, e armazenar água – componente itine- vitável degradação territorial (fato 3).
rante do sistema geológico.
Os geólogos e engenheiros fluminenses sa-
bem muito bem do que precisam fazer, mas preci-
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