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Revista editada pela REBOB Rede Brasil de Organismos de Bacia - Março/ 2023 - Ano 12
águasdobrasil.org
2 REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 3
a água esta
em todos os
lugares
vamos cuidar
das águas
REBOB.ORG.BR
Expediente
04
DIREÇÃO EXECUTIVA E COORDENAÇÃO
TÉCNICA
REBOB Rede Brasil de Organismos de Bacias
Hidrográficas.
EDITORIAL
DIREÇÃO GERAL
Lupercio Ziroldo Antônio
EDITOR CHEFE
Wilson Fábio Godofredo
Excelent Mídia Publicidade
www.excelentmídia.com.br
JORNALISTA RESPONSÁVEL - REVISÃO
Tábata Bueno de Oliveira - MTB: 85638/SP
06 ARTICULISTAS CONVIDADOS
O conteúdo dos artigos é de exclusiva responsabilidade de seus autores. Foto e Capa: Excelent Mídia Publicidade
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 5
Precisamos cuidar
melhor de nossas águas
Meus amigos e amigas das águas. Mas o momento é altamente propício para viramos o jogo.
Anos passam, anos entram. Temos uma nova configuração política no país, com nova
Ficamos mais velhos, mas também mais experientes. presidência e novos governadores.
E, de certo modo, mais exigentes. Em consequência, novos planos sendo elaborados e
A nossa visão da realidade torna-se mais aguçada, desenvolvidos.
tendemos a querer que as coisas sejam perfeitas, nossos
projetos têm agora um planejamento de curto prazo para É extremamente importante nos mobilizarmos para forçar,
se concretizar. no bom sentido, que as novas lideranças políticas, seja
o executivo ou o legislativo, se mobilizem para entender
Esta é nossa vida, no contexto do relacionamento com as e atender as propostas formuladas pelas nossas
pessoas que estão ao nosso lado no cotidiano e no cenário organizações, principalmente da sociedade civil, que
configurado pelos espaços que nos circundam. se debruçam incansavelmente para discutir os planos
de bacia, a cobrança pelo uso da água, as soluções de
Agora, misture tudo que escrevi, agite bem, jogue para adaptação às mudanças climáticas e essencialmente, o
dentro de nosso trabalho junto aos recursos hídricos e contexto da sustentabilidade para nossas águas.
veremos poucas perspectivas no que se refere a soluções
para nossa meta maior, a de termos água em disponibilidade Estamos retornando com a distribuição da Revista Águas
e qualidade para todos. do Brasil, após dois anos de lacuna, face ao momento que
passamos e que nos fez ser mais fortes e resilientes.
A água simplesmente é periférica.
Esta edição, portanto, é especial!
Nove entre dez empreendimentos para serem Traz textos de vários articulistas, pessoas de profundo
implementados necessitam de água. envolvimento com os recursos hídricos, que, olhando para o
No entanto, mesmo sendo insumo altamente importante nos futuro, escreveram suas reflexões e sugestões para termos
setores da agricultura, de energia, transportes, saneamento, definitivamente a água dentro da agenda política do país.
saúde, lazer, economia, meio ambiente, o tema água fica
relegado a um segundo plano. Citando Alexander Graham Bell, “os raios de sol não
queimam enquanto não estão focados”.
Na imensidão dos problemas e danos causados por eventos
críticos como alagamentos, enchentes, desabamentos em Vamos todos focar em nossas águas. Mais fortemente do
encostas, verificamos, infelizmente, que a gestão da água que nunca.
tem papel secundário na elaboração das políticas públicas A vida agradece.
atuais. Ela é, usando um jargão do futebol, escanteada, ou
seja, deixada no canto.
A Água Nossa
de Cada Dia
A
escassez e o desperdício de constituindo um grande desafio para todos
água doce representam uma os atores sociais envolvidos no processo de
séria e crescente ameaça para o gestão, sejam eles técnicos, governantes,
desenvolvimento sustentável e usuários e sociedade civil, tendo em vista
proteção do ambiente. A saúde e o o caráter historicamente concentrador das
bem-estar do homem, a garantia de alimentos, políticas de intervenção governamentais no
o desenvolvimento industrial e os ecossistemas setor.
dos quais eles dependem estarão todos em
risco, se os recursos de água e solos não forem O desenvolvimento econômico e social está
geridos, na presente década, de forma mais fundamentado na disponibilidade de água
efetiva do que tem sido no passado. em quantidade e qualidade, na capacidade de
conservação e proteção dos recursos hídricos
É do nosso conhecimento que 60% da superfície e no fortalecimento da governança.
terrestre do planeta, logo mais experimentarão
um desequilíbrio alarmante entre as demandas É necessário, portanto, um esforço conjunto
crescentes de água e a água disponível, na ampliação e divulgação do conhecimento,
provocando conflitos e instabilidade política. A para aprimoramento do planejamento e
água sendo ensinada pela sede. gerenciamento dos recursos hídricos.
A
a outorga...”. Existem, porém, resistências de
diversidade territorial, econômica e alguns usuários, que acabam por impor seus
ambiental do Brasil demanda que o posicionamentos aos CBHs, no sentido de não
Gerenciamento de Recursos Hídricos aprovar ou de demandar providências prévias
- GRH seja adaptado a cada região, que acabam por inviabilizar a cobrança. Deve
sem adoção exclusiva do modelo ser entendido que CBH sem arrecadação da
da Lei 9.433/1997: Comitê – CBH e Agência cobrança, tem reduzida a possibilidade de
de Bacia Hidrográfica - ABH, sustentados pela exercer as suas atribuições (Lei 9.433/1997,
cobrança pelo uso da água. Art. 38). Eles continuarão a debater questões
relacionadas aos recursos hídricos e de
As características das Regiões Norte e Centro- articulação com entidades intervenientes (I), de
Oeste, com grandes bacias e população arbitrar em primeira instância os conflitos (II),
rarefeita, e do Nordeste, com problemas de de aprovar o plano (III) e de acompanhar a sua
escassez, demandam modelos regionais. Isto é implementação (IV), de propor ao Conselho de
notado nos estados que mais avançaram nos Recursos Hídricos pertinente os usos de pouca
seus GRHs, como o Ceará, com a criação da expressão, para isenção de outorga (V) e de
Companhia de Gestão de Recursos Hídricos estabelecer critérios e promover o rateio de
e dos Conselhos Gestores de Açudes. São custo (VI). Porém, não lhes caberá estabelecer
orientações para o GRH na região, que têm sido os mecanismos de cobrança e sugerir os
aproveitadas pelos demais estados. Contudo, valores a serem cobrados (VI) visando obter
poucos avanços são notados na formulação recursos financeiros para o financiamento dos
de uma Política Regional de Recursos Hídricos programas e intervenções dos planos (Art. 19
para as regiões Norte e Centro-Oeste, cujas III).
bacias hidrográficas apresentam dificuldades
de adequação ao modelo da Lei 9.433/1997.
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Precisamos cuidar de
nossas águas
A
água representa um ativo dos Há também em muitos lugares inovação na
mais importantes para nossa vida sistemática de outorgas com níveis maiores
econômica e social. Ambientalmente e menores de segurança, com pagamentos
é inegável que ela é o pilar mais diferenciados pelo nivel de garantia. Algumas
importante da vida no planeta. atividades o irrigante pode tomar um risco
maior, isso acrescenta eficiência no sistema.
Saber geri-la, regular seu uso, proteger seus
mananciais e cursos darão, como já visto no Há muita incerteza de como estará num
passado, o tom do sucesso ou fracasso da futuro próximo a gestão das águas e suas
nossa civilização, do nosso tempo. Infelizmente, consequências. No caso particular da irrigação,
apesar do amplo reconhecimento, a agenda o comprometimento dos fluxos de água e
da água não entra nos planos de governos, de sua indisponibilidade, ainda que em baixos
partidos, da mídia, à exceção das costumeiras percentuais, provocariam uma escalada nos
tragédias, simplesmente não há um senso de preços de alimentos muito superior à verificada
responsabilidade sobre o tema. pontualmente no Norte da África, quando em
dezembro de 2010 na Tunísia, devido à alta
A agricultura irrigada é o maior usuário de nos alimentos, eclodiu a Primavera Árabe que
água no planeta. Há um esforço razoável se espalhou por vários lugares e durante anos
para a redução desse volume, os ganhos derrubou governos e mudou a geografia política
são expressivos na medida que se incorpora em vários países árabes.
tecnologia e de alguma maneira se pressione
por esse avanço. A gestão de águas no Brasil teve momentos de
muita qualidade política desde a Constituinte
Muito ainda há para ser feito. Em termos de 1988 até a aprovação da lei que criou a
mundiais a agricultura irrigada utiliza cerca ANA- Agência Nacional de Águas em 2.000,
de 20% da área cultivada e tem uma produção tendo em seu intervalo produzido uma das leis
em volume de cerca de 40% do total, há ainda mais avançadas do mundo, a lei número 9433,
possivelmente um número maior se considerar a lei das águas sendo aprovada em 1997. O
o valor dessa produção, já que particularmente ambiente institucional dessas ideias seminais
no ocidente a agricultura irrigada dedica-se a foi a redemocratização do país, foi a visão
suprir de água, atividades como fruticultura, da democracia que se fez imperar ao longo
floricultura, horticultura, cafeicultura e toda de anos, nos quais fomos construindo esse
uma ampla cadeia de agricultura especializada. edifício institucional.
Os esforços para melhorar a produtividade
levam em conta a adoção de práticas Vários países usam dos mecanismos da
como fertirrigação que administra a água democracia para os comitês de água,
e fertilizantes na melhor hora do dia para a comissões da água, associações da água. São
planta, também outro tipo de irrigação de estruturas nas quais o Estado reconhece sua
precisão é aquela onde o mapa digital de uso é incapacidade de onipresença e delega a gestão
produzido por satélites ou drones que calculam aos poderes regionais ou locais. O princípio da
os volumes e a época a se ministrar a água. subsidariedade é reconhecido mundialmente
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como eficaz nas governanças públicas ou federal. Esses comitês tornaram-se órgãos de
privadas, problemas que podem ser resolvidos qualidade técnica razoável e baixa interação
na ponta não tem sentido o governo central com a sociedade, não deu resultado.
administrar, a não ser claro as questões
inerentes a seu mandato. A democracia precisa superar suas dificuldades
principalmente aquelas que brotam do
Há no entanto uma incerteza em várias inconformismo de vários segmentos da
regiões do mundo e no Brasil em particular sociedade e que acabam seduzidos por
sobre o futuro de nossas águas. Nos últimos discursos inconsequentes de que a resolução
anos experimentamos um desinteresse de tudo é muito simples. Há muitos estudos
governamental sobre a gestão das águas. atuais que pontuam a razão pelas quais
Órgãos foram esvaziados, foram nomeadas políticos inexpressivos galgam posições de
pessoas totalmente ignorantes no tema para liderança devido a ausência dos partidos
cargos de direção, abandonou-se o trabalho organizados nos debates com a sociedade e
de coordenação e cooperação com os estados quando o fazem é de maneira fragmentada,
na gestão integrada. Mas em muitos países e reverberando as verdadeiras disputas intra
não apenas no Brasil é importante o sistema partidárias, como por exemplo nas questões
de gestão contar com um órgão como a ANA, identitárias. Os partidos democráticos estao
que executa a política governamental no setor, passando por verdadeira autofagia para tentar
tem permanência de seus quadros técnicos e conviver com tantas questões, segundo o
cargos de direção com mandato. Não se deve pensador norte americano Mark Lilla.
ao sabor das alterações no governo mudar-se
as estruturas de órgãos gestores. Lembremos no entanto que a democracia
é resiliente e como lembrava o conservador
Se há deliberadamente aversão dos partidos Wiston Churchil é a pior forma de governo, com
de extrema direita em conviver com estruturas exceção de todas as demais.
fundadas nas estruturas sociais locais ou
ambientes mistos como os comitês onde os Atualmente, com a implementação dos atuais
governos são cobrados, há por outra parte Comitês de Bacias Hidrográficas, colegiados
uma resistência dos partidos de esquerda em constituídos por todos os segmentos da
conviver com instituições com certa autonomia sociedade, onde o debate e deliberações
como é no Brasil o caso das agências sobre os recursos hídricos procura sempre o
reguladoras. As margens de convivência vão consenso dentro do território da bacia, nossa
diminuindo e projetos de longo prazo pactuados esperança é que a sociedade exerça de maneira
anteriormente vão sendo abandonados nas democrática e organizada a gestão da água,
prateleiras de sempre. pois somente assim, de forma compartilhada,
integrada e participativa é que veremos um
Muito do futuro da gestão das águas está melhor futuro para nossas águas.
atrelado ao futuro da democracia. O Brasil
tem uma história de fracasso na gestão das
águas quando no governo militar instituiu os
chamados comitês chapa branca, os comitês
executivos de bacias hidrográficas, onde
só tinham assentos os órgãos do governo
A
ambiental, para instrumentos econômicos que
O tema da gestão da água tem estimulem uma utilização mais eficiente da
sido cada vez mais presente nos água?
interesses da classe política em todo
mundo. Nosso país não é diferente. • Que tipo de política de recursos hídricos deve
E as razões são basicamente, o ser desenvolvida a nível nacional, regional e
aumento populacional ocorrido ao longo do internacional para atingir estes objetivos de
último século trazendo demanda crescente e a eficiência e eficácia na utilização da água e na
instabilidade da oferta de água em função da conservação ambiental?
variabilidade e mudança do clima em nosso
planeta. • Como financiar o setor de abastecimento
de água e saneamento no mundo menos
Muita polêmica existe em torno das razões desenvolvido? E o desafio associado de
pelas quais as mudanças climáticas ocorrem, encontrar o sistema de subsídios adequado,
mas que o setor mais impactado por essas para permitir a prestação de serviços às
mudanças é o de recursos hídricos ninguém populações mais carentes.
discute. Assim, a ocorrência de secas mais
longas com impacto associado na produção O Brasil tem se destacado ao longo dos últimos
de alimentos e geração de energia e as cheias 30 anos por avanços significativos no setor
mais intensas com impacto social e econômico da gestão de recursos hídricos. Desde o final
gigantesco, levam insegurança hídrica a todos dos anos 1990, com uma proposta inovadora e
os países hoje e no futuro próximo. disruptiva da Associação Brasileira de Recursos
Hídricos, propondo a gestão da água no país
Este desequilíbrio entre oferta e demanda no por bacias hidrográficas, nosso país teve uma
nível de qualidade adequado, é o grande desafio evolução institucional significativa. Lembrando
da gestão da água em todo o mundo. Em regiões que até 1997, o tema da água era tratado
de oferta escassa (zonas áridas e semiáridas) institucionalmente no âmbito do Ministério de
os conflitos são geralmente evidentes. Minas e Energia.
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Benedito Braga
Engenheiro civil pela Escola de Engenharia de São
Carlos da USP, mestre em Hidrologia pela Stanford
University e em Hidráulica pela USP. PhD em Recursos
Hídricos, pela Stanford University. É presidente
honorário do Conselho Mundial da Água (World Water
Council - WWC). Foi Secretário de Saneamento e
Recursos Hídricos de SP e Diretor da ANA.
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Águas para o
Desenvolvimento
Sustentável do Brasil.
Á
Água é vida!! Chavão que merece ser UOL em 19 de janeiro de 2023. Hoje no
repetido pelos serviços prestados Paraná somos 5,1% de desempregados, o que
por esse patrimônio natural para a caracteriza praticamente pleno emprego.
humanidade!!!
Inúmeras iniciativas desde janeiro 2019 foram
Vida humana não se resume a pessoa acordar, tomadas para que esses números expressivos
levantar, respirar, se alimentar, com água aparecessem. Desburocratização para abertura
inclusive, voltar a dormir. Nós precisamos de de empresas, “descomplicas’ para atividades
trabalho, mobilidade urbana e interurbana, rurais, industriais, imobiliárias, apoio para
lazer, assistência para manutenção da saúde, geração de energias renováveis, incentivos
educação, previdência para uma aposentadoria fiscais e investimentos em infraestrutura como
cidadã, moradias, comunicações entre os melhoria dos portos, estradas, aviação regional
indivíduos e muito amor entre as pessoas e e interestadual e nacional, ampliação da
para com a biodiversidade! Certamente existem distribuição de energia, são algumas vertentes
mais ingredientes para a vida humana, esses que mudaram a economia paranaense, mas
eu priorizei. Como alcançá-los sem termos sem perdermos o horizonte da sustentabilidade,
uma economia que pague para que eles sejam especialmente na preocupação em transformar
ofertados? a proteína vegetal em proteína animal,
agregando valor aos produtos que brotam do
Com o olhar de gestor público, buscando solo. Fomos recentemente premiados pela
contribuir para o processo de geração de segunda vez consecutiva pela Organização para
empregos, geração de renda, geração de a Cooperação e Desenvolvimento Econômico -
impostos, entendo que temos o desafio da OCDE, pela sustentabilidade.
gestão de águas “cercado” por uma legislação
sólida e competente que pode dar as respostas A água no solo, a água na dessedentação animal
que precisamos para fazer com que as águas e a água na transformação industrial é base
paranaenses e brasileiras, se tornem indutoras para toda essa vida, somadas às iniciativas do
da melhoria da qualidade de vida de todos. saneamento básico!
Nenhum programa social é mais eficaz do que Uma população empregada, alimentada,
ofertar trabalho remunerado e toda a sociedade cidadã, consegue inclusive manter uma relação
deve se voltar para ampliar as oportunidades, saudável de cultura e religiosidade com as
para viabilizar os empreendimentos que trarão águas.
esses empregos. As estruturas de governo
têm sido cobradas por aqueles que por vezes Ter a ambição de dominar, qualitativa e
colocam em risco suas economias para quantitativamente, as águas para ofertá-las
empreender. É necessário criarmos o ambiente para os diversos usos trazendo os reflexos
favorável aos investimentos sem obstáculos positivos no campo social e ambiental é
ambientais irreais, com infraestrutura e com mais do que desejável. Ao mesmo tempo em
incentivos fiscais. “Desemprego cai para 8,1% que geramos energia renovável em nossa
e atinge 8,7 milhões de brasileiros.” Folha/ malha hídrica com empreendimentos que
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E
negociada; em nível federal, a ANA firmou mais
de uma centena de termos de alocação de
ntre tantas questões fundamentais água, essencialmente no semiárido.
para o aperfeiçoamento da gestão dos
recursos hídricos no Brasil, optamos Outro instrumento inovador de regulação em
por ressaltar o tema ‘alocação de água’ situações de escassez crônica de água são os
pela sua centralidade para a segurança “marcos regulatórios”, conceituados pela ANA
hídrica dos usos múltiplos e sua importância como um “conjunto de regras para o uso dos
para o desenvolvimento econômico, o bem- recursos hídricos, definido pelas autoridades
estar social e a proteção do meio ambiente outorgantes com a participação dos diretamente
para a atual e futuras gerações. interessados nesses usos e do comitê da
bacia, constituindo-se marco referencial para
O primeiro aspecto a destacar é que as leis das a regulação dos usos em determinado sistema
águas definiram a outorga de direitos de uso hídrico”. Mais de 40 marcos regulatórios
como o instrumento de gestão para realizar específicos estavam vigentes em no país em
a alocação de água no Brasil, considerando 2020, no semiárido brasileiro ou em situações
diretrizes fixadas pelos conselhos de recursos de conflito por incompatibilidade entre oferta
hídricos e as prioridades de uso definidas e demanda. De certa forma, estes cumprem o
pelos comitês de bacia nos planos de recursos papel dado pelas leis aos planos de bacia, até
hídricos. Passados mais de 25 anos de agora pouco praticado.
aprovação da lei federal das águas, muito
se avançou, inclusive para além do previsto Mesmo não tendo sido instituídos por lei, os
nos textos legais. Contudo, é preciso superar marcos regulatórios e a alocação negociada de
deficiências para dar mais estratégia, eficiência, água constituem, na prática, instrumentos de
equidade e escala à alocação de água. gestão da disponibilidade hídrica em situações
de conflito, sendo, portanto, complementos
Os números de outorgas emitidas pela ANA e de grande importância para a outorga. Outro
gestores estaduais, registrados anualmente aspecto essencial dessas experiências é o seu
nos Relatórios de Conjuntura de Recursos caráter participativo. Contudo, embora essas
Hídricos, evidenciam o controle progressivo iniciativas tenham se multiplicado nos últimos
do uso da água. Por outro lado, vários estudos anos, sua aplicação permanece modesta, na
apontam pela necessidade de aprimoramento escala nacional, e abrangem principalmente
desse instrumento, desde a ampliação de sistemas hídricos de caráter local ou bacias
suas bases técnicas e sistemas de informação hidrográficas de pequeno porte.
até a definição de diretrizes e critérios de
alocação e priorização do uso que orientem Nesse sentido, compartilhamos da opinião
estrategicamente os processos decisórios. daqueles que defendem a expansão dessas
abordagens para hidrossistemas considerados
Com o agravamento da escassez hídrica e de prioritários, em todo o país, mesmo sendo de
conflitos pela água em bacias hidrográficas maior complexidade. Destacamos aqui dois
e hidrossistemas, associados a fatores tipos de hidrossistemas.
antropogênicos e mudanças do clima,
fez-se necessário novos mecanismos de A primeira refere-se às bacias hidrográficas
regulação. Concebida pelo estado do Ceará com duplo domínio das águas – comumente
e posteriormente ampliada para sistemas 1. Alocação de água pode ser definida como sendo os processos e instrumentos
hídricos locais pela ANA, a “alocação negociada envolvidos no compartilhamento de águas superficiais e subterrâneas entre
de água” surgiu como uma forma de mediar diferentes usuários de água, inclusive ajustes sazonais e definição da disponibilidade
conflitos pelo acesso a água entre usos e hídrica no longo prazo (OCDE, Governança dos recursos hídricos no Brasil, 2015).
2. Uma possibilidade legal nessa direção foi introduzida pela Lei 14.026/2020, ao
usuários em bacias críticas ou em regiões com permitir à ANA declarar situação crítica de escassez nos corpos hídricos que impacte
recorrência de estiagens intensas, emergência o atendimento aos usos em rios de domínio da União (ver artigo do Jerson Kelman
nesta edição). Até agora tal possibilidade não foi utilizada.
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– ou mecanismos adaptados de pactuação de do Banco Mundial e da OCDE, além de estudos dos autores.
bases regulatórias de referência – poderiam
ser implementados nesses hidrossistemas,
assim como práticas de alocação negociada,
devidamente integrados à concessão de
outorgas e demais instrumentos de gestão de
recursos hídricos.
Francisco de Assis de Souza Filho
Professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC.
Cientista Chefe de Recursos Hídricos da FUNCAP/SRH-Ce.
CV: http://lattes.cnpq.br/4988966386848759
A
pós um quarto de século da conselhos estaduais, dos comitês de bacias,
publicação da Lei 9.433, que instituiu dos órgãos gestores estaduais e das entidades
a Política Nacional de Recursos do poder executivo federal que compõem
Hídricos, e 22 anos da criação da o Sistema Nacional de Gerenciamento dos
Agência Nacional de Águas – ANA, a Recursos Hídricos. É esperada, como resultado
gestão dos recursos hídricos no Brasil depara- de um debate mais amplo, uma proposta de
se com a necessidade de uma reforma a fim alteração da legislação atual bem diferente
de torná-la mais eficiente. A experiência de 25 do conteúdo do PL – 4.546 de 2021. A lacuna
anos de implementação do Sistema Nacional deixada quando da edição da Lei 9.433, ao
de Gerenciamento de Recursos Hídricos, após não contemplar de forma clara o componente
o estabelecimento da Lei Federal 9.433 de referente à ampliação, operação e manutenção
1997, enseja a oportunidade de, observando da infraestrutura hidráulica de múltiplos usos
o passado, lançar um olhar para o futuro da como um dos eixos da política dos recursos
Política das Águas no Brasil. O presente texto hídricos, não será corretamente preenchida
expõe ideias e reflexões que apontam o caminho através do PL – 4.546, que equivocadamente
da gestão sustentável dos recursos hídricos no institui uma política de infraestrutura hídrica. A
território brasileiro, tendo a governança como política de recursos hídricos já foi criada, sendo
foco. a infraestrutura um dos seus eixos.
M
diferenciadas para os profissionais que
uitos questionam: “Quais os atuam direta ou indiretamente no Sistema
caminhos necessários e ações de Gerenciamento dos Recursos Hídricos,
claras para a efetivação de uma Saneamento e Meio Ambiente, quer seja, como
gestão sustentável da água em funcionários dos Organismos Gestores ou
nosso território”. A origem da membros da Estrutura Global do Sistema, quer
programação neurolinguística (PNL) teve seja através de Conselhos, Comitês de Bacias e
fundamento inicial, como resultado de uma organismos afins.
pesquisa realizada e que apresentou como
solução para os problemas, colocar em um Faz-se urgente a formação de “Agentes
segundo plano os erros e valorizar os acertos. A Multiplicadores” e dotados de metodologias e
PNL tem quatro pilares: Conhecimento Sensorial, estratégias artificiosas capazes de sensibilizar
Resultado, Flexibilidade Comportamental e e promover a mudança cultural da sociedade,
sobre temas que envolvam a ação coletiva
Referência, dessa forma, deve-se ir em direção
e a sustentabilidade. Se a meta é atingir o
do desejado e não fugir daquilo que não se
gerenciamento integrado, as intervenções
quer. O importante é buscar a resposta para a
passam pelas boas práticas de Sensibilização
pergunta formulada e focar no objetivo.
e Educação Ambiental e implementação,
monitoramento e continuidade de obras e
Historicamente as palavras Planejamento ações ambientalmente indicadas.
e Gestão somente aparecem quando se
caracterizam de forma alarmante ou temporária É urgente a criação de comunicações velozes e
a escassez ou excesso de determinado eficazes para chegar-se à população obtendo
recurso, salvo raríssimas exceções. Na sua preciosa parceria no delicado processo da
atualidade os eventos climáticos extremos implantação do sistema de gestão.
trouxeram o imprevisível para a ordem do
dia, apontando a necessidade cada vez maior A incorporação dos “Temas Transversais”
de um planejamento adequado para gestão nos Sistemas de Gerenciamento dos
sustentável da água. Recursos Hídricos (SGRH) tornou-se uma
realidade, perceptível em eventos Nacionais
Fala-se em gestão descentralizada e e internacionais, tais como os Encontros
participativa dos recursos hídricos, porém, de Comitês de Bacias no Brasil (ENCOBs),
apesar de diversas iniciativas, infelizmente Assembleias da Rede Internacional de
uma parcela da população Brasileira ainda Organismos de Bacias (RIOB), Fórum Mundial
desconhece o que significam os instrumentos da Água promovidos pelo Conselho Mundial da
de gestão dos recursos hídricos e a real Água (WWC), entre outros. Tanto nos Convites
importância da implementação dos mesmos. a participantes, onde são respeitadas as
Também desconhecem qual seria seu papel questões de gênero, entre outros, bem como,
como cidadão, no contexto holístico das no relato de resultados positivos de Projetos
pretensões contidas nas Políticas Públicas. que utilizaram os “Temas Transversais”.
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 21
Revisitando a Lei
9.433/97: os vetos e as
omissões.
P
em 11 artigos do Projeto de Lei aprovado pelo
assados mais de 25 anos de sua Congresso que eram, no entender deste autor,
vigência, a Lei 9.4443/97 segue cruciais ao sucesso da Política. Em segundo
merecedora de considerações, eis que lugar, surge a oportunidade de comentar
os resultados até agora alcançados na omissões da Lei, certamente involuntárias,
Política Nacional de Recursos Hídricos pois na época talvez faltassem elementos para
ainda estão muito aquém do que se poderia a formulação de uma visão estratégica sobre
esperar, tendo em conta aspectos inovadores a relevância, por exemplo, da infraestrutura
nela contidos, potencialmente geradores de hídrica para o atingimento dos objetivos da
uma transformação radical na gestão dos Política.
recursos hídricos nacionais.
Cabe, desde logo, registrar aqui um “disclaimer”
Muito se tem dito em análises dos possíveis e ressalvar que o autor deste há muito não
gargalos, ao que parece, reconhecidos por participa de colegiados do Sistema e, portanto,
largo espectro dos atores e agentes do Sistema suas observações são baseadas em avaliações
Nacional de Gerenciamento de Recursos oficiais do Sistema e em debates seguidos nas
Hídricos, porém poucas, se tanto, tem sido as redes sociais dedicados à problemática da
medidas efetivamente destinadas a superá- gestão dos recursos hídricos no país.
los. Nesse sentido, uma iniciativa poderosa
empreendida pelo Banco Mundial no Brasil Vetos incidentes sobre a
(Diálogos para o Aperfeiçoamento da Política implementação dos Planos de
e do Sistema de Recursos Hídricos no Brasil, Recursos Hídricos
Banco Mundial 2018), compreendeu um
profundo diagnóstico e ofereceu uma série de A elaboração de Planos de Recursos Hídricos,
propostas e recomendações, que não serão sejam eles de âmbito estadual ou de bacias
aqui repetidas, embora permaneçam válidas hidrográficas, superava duas centenas em
e merecedoras do interesse de todos quantos 2020, e se encontravam em diferentes estágios
se preocupem com o futuro do Sistema e com de implementação (Conjuntura dos Recursos
maior efetividade da Política, dos seus objetivos Hídricos no Brasil, ANA 2021), mas não se tem
e resultados. um quadro completo do grau de sucesso no
atingimento de metas por eles estabelecidas.
Entretanto, cabe destacar pelo menos alguns Sabe-se, no entanto, que as dificuldades são
aspectos com o objetivo de fomentar um muitas, seja tanto do ponto de vista institucional
olhar crítico sobre o que se poderia chamar quanto a quem cabe implementar as ações,
de “pecado original” na inserção da Política quanto do ponto de vista financeiro, eis que os
no ordenamento jurídico do país, e quem sabe recursos originados pela cobrança pelo uso
ressuscitar medidas que o Congresso Nacional dos recursos hídricos, onde instituída, ainda
deixou de tomar na sequência da promulgação não permitiu a formação de fundos em escala
da Lei pelo Presidente da República, bem como satisfatória, salvo exceções, para viabilizar
o amadurecimento do posicionamento dos um fluxo suficiente para a implementação
colegiados do Sistema. progressiva, por exemplo, de obras. Ambos
os temas são recorrentes em discussões
Trata-se incialmente de trazer à tona alguns nos distintos foros do Sistema e nas redes
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 23
especializadas e serão objeto de comentários. vigente no setor elétrico, que possivelmente não
se aplicariam aos demais setores usuários de
Desde logo, leva-se em conta que a ausência de recursos hídricos, mas o fato é que até hoje não
agências de bacia ou de águas e as dificuldades há iniciativas para revisão e solução do tema,
enfrentadas na operação das entidades que continua a ser muito relevante na medida
delegatárias, uma criação sucedânea, não são em que a administração pública, a quem cabe
suficientes, salvo melhor juízo, para justificar parcela considerável de responsabilidades para
a reconhecida lentidão no alcance de metas a implementação dos planos, somente se move
estabelecidas nos planos estaduais ou de sob determinação legal. Se, no caso, não há lei
bacias hidrográficas. Julga-se que, ainda determinante, bem se pode inferir pelo menos
que haja agências em todas as bacias, será tal razão para a lentidão no alcance de metas.
indispensável a concorrência de outros agentes
e fontes de recursos. Por tal razão, diz-se então que os planos de
Nesse sentido, tem sido observada a pequena recursos hídricos não têm caráter vinculante.
participação do poder público municipal, que
mereceria considerações à parte tendo em No âmbito nacional, o Plano 2022-2040 está
vista competências constitucionais próprias vigente e contém plano de ação, o qual, em
dessa esfera e ao mesmo tempo o fato que os primeira leitura, entretanto, parece não abordar
municípios não têm domínio sobre recursos as questões aqui tratadas, pois nele não se
hídricos. Diga-se que esta não é uma das encontram considerações explícitas sobre
omissões da Lei, eis que é claro o comando cronograma e programação orçamentário-
aos Poderes Executivos do Distrito Federal e financeira para a sua implementação.
dos municípios a promoverem a integração
das políticas locais de saneamento básico, Mas, é interessante notar que a Resolução
de uso, ocupação e conservação do solo e CNRH 232/2022 que o aprovou determina
de meio ambiente com as políticas federal e que entes da administração federal, e os
estaduais de recursos hídricos. No entanto, menciona, deverão proceder à revisão do Plano
regra geral, não se tem indícios de integração considerando os ciclos de implementação, nos
ao nível desejável, e sim de omissão ao nível de anos de 2026, 2030, 2034 e 2038, para orientar
ação pelos entes municipais. Cabe notar que a elaboração dos Programas Plurianuais (PPAs)
aparentemente tampouco os colegiados do federal, estaduais e distrital e seus respectivos
Sistema tem alcançado sucesso na reversão orçamentos anuais. Tal previsão, no entanto
de tal quadro. parece ainda insuficiente para alterar o status
quo, a curto prazo a menos que nos citados
Acredita-se que em certa medida esse âmbitos haja iniciativas ágeis e decisão política
gargalo pode ser decorrente dos vetos ao que determinem suficiente alocação de fundos
Art. 7º. Incisos VI e VII, referentes à definição que se somem aos recursos da cobrança, para
de responsabilidades e de cronograma e criar efetivas condições de implementação dos
programação orçamentário-financeira para a planos nas respectivas esferas.
execução das medidas, programas e projetos,
que segundo o Projeto de Lei deveriam constar Caberá aos colegiados do Sistema acompanhar
no conteúdo mínimo dos planos. Nas razões do a evolução do tema.
veto foram apontadas questões da prática então
O
competência à União para criar o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos
artigo 22 da Constituição Federal -
Hídricos – SNGRH e definir critérios de outorga
CF diz que “compete privativamente
do direito de uso dos recursos hídricos.
à União legislar sobre águas...”. O
artigo 20 estabelece que “são bens
da União os lagos, rios e quaisquer A ANA foi criada para fazer funcionar o SNGRH.
correntes de água em terrenos de seu domínio, Passados mais de 20 anos, há ainda estados
ou que banhem mais de um Estado, sirvam de que não têm instituições com real capacidade
limites com outros países, ou se estendam a técnica para interagir com a ANA no sentido
território estrangeiro ou dele provenham, bem de tornar o SNGRH plenamente operacional,
como os terrenos marginais e as praias fluviais”. principalmente na outorga e fiscalização do uso
Até aqui tudo parece harmônico: a União legisla dos rios. Já está em tempo da ANA avançar na
privativamente sobre um bem que é seu. aplicação do princípio da subsidiariedade. Isto
é, tomar as rédeas das atividades nos estados
Porém, o artigo 26 diz que “incluem-se entre da federação que se mantêm inoperantes na
os bens dos Estados as águas superficiais gestão integrada por bacia hidrográfica do
ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em uso dos recursos hídricos. Só assim o SNGRH
depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da fará jus a seu nome: sistema “nacional” e não
lei, as decorrentes de obras da União”. “federal”.
Jerson Kelman
Professor aposentado da COPPE-UFRJ,
ex-presidente da ABRH e da ANA
26 REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29
N
os estágios iniciais de para debater, propor e impulsionar tal política
implementação da lei 9433/1997, pública, a exemplo dos que passaram a reunir
que instituiu a Política Nacional de os comitês de bacia de todo o país.
Recursos Hídricos - PNRH, pode-se
dizer que houve a conjugação dos Ao se completar dez anos de vigência da Lei
esforços dos vários níveis de governo com o 9433, pôde-se celebrar que a PNRH havia
ânimo participativo nas bases da sociedade. emplacado e que suas perspectivas se
anunciavam muito alvissareiras, na esteira dos
Sucessivamente foram sendo aprovadas as avanços democráticos do país. Naturalmente,
leis estaduais de recursos hídricos, algumas porém, foi se percebendo, a partir daí, um
até mesmo antes da lei nacional; proliferaram- estresse e um certo esgotamento desse
se os comitês de bacia federais e estaduais; processo, mas o entendimento era o de que
instalaram-se o Conselho Nacional de Recursos o estágio já alcançado na estruturação do
Hídricos - CNRH e os conselhos estaduais SINGREH e a massa crítica já construída,
de recursos hídricos; o Ministério de Meio tornavam possíveis a correção de rumos e a
Ambiente – MMA passou a contar com uma concepção de novas perspectivas, sobretudo
secretaria nacional, encarregada de formular e relativamente à gestão integrada dos recursos
implementar, a partir da perspectiva do governo hídricos.
federal, a política para essa área; embora
reticentemente, os estados foram também Essa percepção otimista, contudo, não ocultava
implementando as suas estruturas executivas o fato de que o tema “água” e sua respectiva
para gestão dos recursos hídricos; em 2000, política não tinham ainda a visibilidade e
através da Lei 9984, criou-se a Agência Nacional a aceitação necessárias na percepção da
de Águas - ANA, a qual representou, pela sua sociedade, refletindo-se na postura dos
robustez, excelência técnica e institucional, um governos, que relutavam em dar maior
enorme salto de qualidade na implementação centralidade a essa política. Os eventos hídricos
da PNRH. críticos de escassez de água, muito recorrentes
no semiárido nordestino, quando ocorreu em
Enfim, o Sistema Nacional de Gerenciamento São Paulo em 2014, já no âmbito do debate
dos Recursos Hídricos – SINGREH foi se sobre as mudanças climáticas, ganharam
estruturando em todo o país e os instrumentos notoriedade na opinião pública nacional e
de gestão das águas, como a outorga de mobilizaram a sociedade e os governantes,
direitos de uso da água, a cobrança financeira mas não foram suficientes para garantir uma
por esses direitos, a produção dos planos de mudança de patamar na PNRH.
recursos hídricos, entre outros, foram aos
poucos se disseminando. A crise política nacional desencadeada em
2016 mudou tudo, para pior. Se a PNRH padecia
Nesse contexto, a sociedade civil, por iniciativa de prestígio e avançava com dificuldades, o que
própria, também foi fazendo autonomamente passamos a assistir, sobretudo a partir de 2018,
a sua parte, realizando eventos nacionais foi a sua descaracterização e desconstrução. O
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 27
José Machado
Economista, graduado pela FEA-USP e pós-graduado pela
UNICAMP. Deputado Estadual (PT/SP, 1987/88). Prefeito Municipal
de Piracicaba/SP (1989/92 e 2001/2004). Deputado Federal (PT/
SP, 1995/98 e 1999/2000). Diretor-Presidente da Agência Nacional
de Águas (2005/2009). Secretário-Executivo do Ministério do Meio
Ambiente (2010).
28 REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29
P
das residências.
enso que o futuro do adequado
tratamento as águas urbanas será Esse fato, entretanto, nunca levou ao
aquele em que não olharemos mais reconhecimento de que uma rede unitária foi
como coisas distintas, a coleta de instalada (ou que passou a existir de fato), e
esgotos e a drenagem urbana - por isso mesmo, não se verificam ações para
como se fossem sistemas absolutamente que esses esgotos cheguem a algum tipo de
dissociados. As cidades têm um metabolismo, tratamento, acabando por serem lançados
e a produção de águas servidas se dá não só de forma rápida nos corpos receptores (rios,
pelos esgotos sanitários, mas também por lagos, lagoas, baias e praias), contribuindo
um conjunto de outras fontes, que encontram assim para a degradação desses corpos
na drenagem pluvial seu conduto. Há muitos hídricos. Aguarda-se então com paciência e
anos pesquisando o avanço do saneamento muita expectativa, o dia em que um sistema
pelo mundo, cada vez mais constatamos que e de esgotos independente, com tubulação
existência de coleta de esgotos exclusivamente própria seja instalado, acreditando-se que ele
por separadores absolutos não se configurou conseguirá receber todas as contribuições de
como solução única, efetiva e abrangente edificações que foram construídas no passado,
o suficiente, para dar conta do controle da sem nunca terem sido preparadas para esta
poluição de rios, lagos, lagoas, baias e praias. ligação.
Nosso compromisso na
Agenda de Ação da Água
é a restauração da Mata
Atlântica e a governança.
A
Agenda de Ação da Água, deve ser espaços de participação e governança nas
o principal resultado da Conferência políticas públicas enfraquecidas nos últimos
da Organização das Nações Unidas quatro anos.
realizada em Nova Iorque sobre o Até hoje, o Brasil ainda não reconheceu
tema, neste ano de 2023. Após 50 oficialmente o acesso à água limpa como
anos da última Conferência sobre água, a ONU direito humano. E a integração das políticas
volta a colocar o tema no centro das discussões públicas de clima, meio ambiente, recursos
globais e chama a atenção dos países e da hídricos e saneamento precisa de empenho e
sociedade para ações conjuntas e efetivas mudanças político-administrativas para ser
voltadas a acelerar a implementação dos implementada. O desenho do novo Governo e
compromissos assumidos na Agenda 2030 e seu arranjo institucional precisam refletir essa
na Agenda do Clima. A água, recurso essencial urgente necessidade de integração. Não é
à vida, finalmente passa a ocupar papel de possível garantir água e promover segurança
destaque na integração dos compromissos hídrica sem proteção das florestas, sem
de mudanças do clima e do desenvolvimento saneamento básico e ambiental e sem soluções
sustentável. baseadas na natureza.
Malu Ribeiro
Diretora de Políticas Públicas e Advocacy da Fundação SOS
Mata Atlântica. Bacharel em Comunicação Social, Jornalista,
Conselheira, representante da sociedade civil no segmento
entidades ambientalistas do CRH de São Paulo e no Comitê de
Bacias Hidrográficas dos Rios Sorocaba e Médio Tietê.
32 REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29
A
necessidades, somada à degradação da
qualidade e suas consequências, seja para o
valiar a relação histórica do homem uso ou para a saúde pública, agora se assevera
com a água é o início para construírmos pelas chuvas intensas mais frequentes,
o olhar do futuro para a gestão naquelas cidades que se instalaram nas
hídrica. É sabido que as grandes proximidades dos rios pela necessidade de
civilizações e cidades buscaram se uso, o degradou ao longo do tempo, e como
instalar em áreas com abundância de água, solução, propôs sistemas de macro drenagem
exatamente pela relação de dependência direta que tornaram os rios invisíveis, mas que
desse recurso natural com o desenvolvimento agora novamente emergem pela alteração no
e produção de alimentos e produtos e demais regime hidrológico imposto pelo modelo de
insumos que garantem as necessidades desenvolvimento econômico da sociedade.
básicas e a qualidade de vida de uma população.
Em uma perspectiva de benefícios imediatos, A avaliação dessa história fornece as condições
essa mesma ocupação próxima ao recurso básicas para que sejam definidos os alicerces
hídrico, pelo qual a humanidade entendia a de um modelo de futuro, tendo claro a todos
sua dependência, gerou a degradação dos rios, nós que a água é o recurso natural com maior
via de regra, utilizados também como meios dependência pela humanidade.
de descarte e transporte de todos os tipos de
resíduos decorrentes das atividades humanas. O conceito de segurança hídrica surge
Isso não apenas ocasionava um impacto fortemente na discussão política no Brasil em
ambiental e indisponibilidade de água por 2014, quando o sudeste passa por uma crise
requisitos de qualidade, como sérios problemas hídrica com forte impacto no abastecimento
de saúde pública por doenças de veiculação público de água de grandes metrópoles.
hídrica nas cidades.
Entretanto, o tema é largamente discutido e
Essa dualidade da relação com os rios, de estudado no mundo todo, na busca de um
dependência para uso e descarte daquilo que modelo de gestão mais pragmático, com a
não mais serve para o seu afastamento, gerou definição de ações de gestão acompanhadas
um modelo de desenvolvimento urbano que, de de métricas que sejam capazes de lidar e mudar
início, buscava a disponibilidade de água como a realidade dos grandes desafios da água
pré-requisito para a cidade existir, e, ao longo impostos pelo modelo de desenvolvimento aqui
do tempo, os rios foram sendo escondidos já apresentado: quantidade, qualidade e regime,
com estruturas de concreto, devido a sua esse último concretizado por eventos extremos
degradação, e transformados de solução a um hidrológicos de estiagem e cheia.
problema urbano.
Um grande desafio no Brasil é desvincular as
Com o passar do tempo, tornou-se explicita políticas públicas dos períodos de mandatos
a necessidade de mudança desse modelo. de governos, com horizonte curto, e situá-
O processo de urbanização e consequente las à uma visão estruturante de solução de
densidade populacional nas cidades, onde problemas, que demanda planejamento de
a água se tornava já um fator limitante ao alcance de médio e longo prazos.
desenvolvimento, gerou a necessidade
construção de infraestruturas hídricas para
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 33
Na gestão das águas nos deparamos assim Aqui cabe a discussão da integração de
com um olhar restrito de gestão da demanda, soluções de infraestrutura de drenagem, desde
ou seja, quanto de água é preciso ter para obras maiores até uma simples solução de
prover o uso agora, sem um planejamento da caixas de retenção de água em residências uni
infraestrutura necessária para sustentabilidade ou multifamiliares, tirando a sobrecarga (pico
do uso ao longo prazo, seja com a infraestrutura de cheia) do sistema público de drenagem. Por
construída, com obras hidráulicas, ou por meio outro lado, pacotes regulatórios municipais
da revitalização de bacias hidrográficas com podem ser propostos de forma a propiciar
soluções baseadas na natureza, que podem ser a retenção da água no solo ou mecanismos
viabilizadas de partida com a implementação para favorecer a infiltração, como créditos de
do Programa de Regularização Ambiental coeficiente construtivos verticalizados para
(PRA) previsto no Código Florestal Brasileiro. aumentar a área permeável.
O Marco Regulatório traz instrumentos como Assim, o olhar de futuro, com políticas
os blocos regionais, que permitem um processo estruturadas de médio e longo prazos, para a
de solidariedade entre municípios para ganho gestão das águas deve ter o foco na garantia
de escala e garantia de viabilidade econômica do desenvolvimento econômico que propicie
no balanço entre os investimentos necessários a dignidade humana, desde o abastecimento
e o custo da prestação do serviço ao cidadão. público, produção de alimentos, energia e
outros insumos, na garantia da sua saúde, na
Enfim, o desafio para a solução das enchentes proteção da sua integridade física e de sua
urbanas deve ser endereçado. Diversos residência e até mesmo no resgate da relação
estudos já demonstram que os custos anuais afetiva e cultural do homem com a água.
das perdas físicas ocasionadas por esses
eventos superam, em curto prazo, o valor dos Esse olhar de futuro só será possível em
investimentos das soluções para a questão. um novo paradigma político assumido pela
sociedade e seus governantes.
Marília Melo
Engenheira Civil pela UFMG (2002), mestrado em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG (2006) e
doutorado em Recursos Hídricos pelo Programa de Engenharia
Civil (PEC) - COPPE/UFRJ (2016). É Secretária Estadual de Meio
Ambiente de Minas Gerais. Foi Diretora Geral do IGAM/MG.
Mateus Simões
Mestre em Direito Empresarial pela Faculdade de Direito Milton
Campos. Vice-governador eleito em 2022. Secretário-geral
do Estado de Minas Gerais, de 2020 a 2022. Vereador (2016).
Procurador licenciado da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
É também Professor, Advogado e Consultor.
34 REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29
A palavra-chave
é ação.
E
stamos vivendo mudanças importantes. industrial.
A pandemia mudou nossa visão do Um primeiro conjunto de ações refere-se à
mundo e até mesmo nossa definição disponibilidade hídrica. Todo o esforço de
de bem-estar. reduzir as emissões de gases de efeito estufa
Passamos a valorizar a conectividade é extremamente importante para que os
digital e a sentir o quanto nossa conectividade ciclos naturais, que hoje já mostram grande
humana é insubstituível. perturbação, possam ter sua variabilidade
Presenciamos a importância do nosso equilíbrio reduzida talvez para um novo ponto de
quando nos deparamos com secas extremas e equilíbrio.
eventos chuvosos cada vez mais inesperados.
O recurso natural mais afetado pela mudança
No centro desses eventos surpreendentes está do clima é a água.
a água, a mostrar nossa fragilidade. Somos Precisamos, cada vez mais, colocar a água
dependentes dos recursos naturais essenciais no centro do debate para que a sociedade
e não podemos simplesmente considerá-los perceba que, talvez, a consequência mais
presentes, mas faz-se necessária ação para cruel do desequilíbrio das temperaturas se
tornar isso realidade. dará sobre o ciclo hidrológico, trazendo secas
que inviabilizam o abastecimento adequado
Durante a pandemia, a água potável, em todas das populações e, não menos importante,
as residências, teve sua importância destacada a produção de alimentos que pode levar as
para prover higiene. Nas secas percebemos populações vulneráveis a situações cada vez
que a disponibilidade hídrica é uma questão de mais desesperadoras.
segurança fundamental para toda a sociedade.
Nas chuvas intensas encaramos destruição. Hoje se fala nos migrantes do clima, situação
diretamente relacionada à falta de água
A palavra-chave para o século 21 é ação. para abastecimento e fome. Não podemos
pensar somente nas graves consequências
No campo dos recursos hídricos, a ação trazidas pelas secas, mas também lembrar da
deve se dar em várias frentes, nos âmbitos destruição provocada pelas chuvas torrenciais
tecnológico, social, organizacional e político. E que causam mortes e graves prejuízos
também olhando as diferentes necessidades econômicos.
que permitam a utilização sustentável da água
para prover abastecimento público, produção Nesta seara, há que se dar ênfase à importância
de alimentos, geração de energia e consumo da tecnologia sob diversos aspectos.
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 35
A esse conjunto de ações, quer se dê no lado Fica aqui um chamamento a todos, para que
da disponibilidade, quer no lado da demanda, tenhamos claro que é necessário agir rápido
podemos chamar de adaptação. Hoje as para que não se percam os avanços que
mudanças climáticas já estão à nossa porta, tivemos sobre a saúde e a qualidade de vida da
apesar de haver a variabilidade natural dos nossa sociedade nas últimas décadas.
ciclos, e seu impacto, com populações cada vez
maiores, mostram-se cada vez mais graves. A
E
grandes proporções, a partir de uma opção
m recente publicação da Confederação econômica verde e azul.
Nacional da Indústria – CNI - Estudo
sobre a Cobrança pelo Direito de Uso de A integração e o reconhecimento de ações
Recursos Hídricos, do qual somos uns de proteção e recuperação ambiental, à
dos autores, verifica-se que os esforços semelhança de serviços ambientais, e a
já empreendidos não foram suficientes para disponibilidade hídrica, já têm alguns bons
garantir a segurança hídrica, apesar do grande exemplos, tais como: as exitosas experiências
avanço na compreensão e na implementação da Agência Nacional de Águas e Saneamento
da Política Nacional de Recursos Hídricos e Básico, ANA, com o Programa Produtor de
respectivo Sistema. De fato, são periódicas as Água; a experiência em Extrema, Conservador
notícias sobre o risco hidrológico na geração de Água; o Bolsa Verde em Minas Gerais e
hidrelétrica e casos de desabastecimento, o Bolsa Floresta no Espírito Santo; e ainda
mesmo em regiões úmidas como São Paulo. programas assemelhados em outros estados,
privados e até municipais.
Objetivando contribuir para o aprimoramento
dessa Política e o Sistema, o estudo da CNI deu Todavia, o que se verifica a partir dessas
ênfase à análise e proposições de alteração iniciativas, em que pese os resultados locais
das regras do instrumento cobrança pelo uso serem alvissareiros, um alcance de pequena
da água. O referido estudo concluiu que a escala territorial e a pouca atratividade do
cobrança não consegue atingir os objetivos da particular. As práticas do que se pode chamar de
Lei das Águas, pois não promove o incentivo benefícios por ações ambientais, em sua quase
ao uso múltiplo racional, não exprime o valor totalidade, são iniciativas de agentes públicos;
econômico do bem público, nem consegue sendo que os benefícios, ou pagamentos de
financiar a gestão da bacia. serviços, são caracterizados como apoio,
compensação, recompensa, prêmio, ajuda,
O estudo, além do diagnóstico, propõe caminhos passando ao largo dos mecanismos de mercado
para a efetividade da Política de Recursos formalmente estabelecidos entre agentes
Hídricos, sendo que, para a cobrança, destaca privados, com contratos de trocas de valores
a necessária revisão conceitual, indicando a entre partes interessadas ou como safras
necessidade de normas com status de lei que verdes. Ou seja, ainda não foram explorados
a sustente e oriente, além da indicação de casos estritamente de PSA, no sentido de fazer
novos instrumentos e soluções criativas. No uma relação direta entre ação e valoração.
campo das soluções criativas propostas pelo
estudo, destacamos o Pagamento por Serviços Para robustecer esse cenário, estudiosos no
Ambientais (PSA). tema da economia do meio ambiente veem
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 37
se debruçando sobre a monetização desses e desenvolva critérios e métodos para que
serviços, tendo como referência o mercado de as atividades de proteção, conservação e
carbono. Como exemplo, o estudo Economic recuperação de recursos hídricos sejam
Cost of Drought and Potential Benefits of reconhecidas como serviços ecossistêmicos,
Investing in Nature-Based Solutions: A Case serviços monetizados e assim devidamente
Study in São Paulo. Esse estudo, avaliando a remunerados.
escassez hídrica, faz uma análise econômica
para o Sistema de Abastecimento de Água Certo que há desafios a superar, como o da
Cantareira de São Paulo, examinando os definição de mecanismos seguros de valoração/
potenciais benefícios econômicos de soluções monetização dos serviços ambientais
baseadas na natureza. São ações que se relacionados à melhoria da disponibilidade
enquadram perfeitamente no conceito de hídrica. A ECCON, com contribuições da
PSA para melhorar a segurança hídrica e Reservas Votorantim, recentemente colocou
reduzir o custo econômico da seca. De acordo em consulta pública mecanismos capazes
com os resultados, foram estimadas perdas de medir, reportar e verificar reduções de
econômicas de um único evento de seca emissões de gases de efeito estufa para a
de R$ 1,6 bilhão. Se, as soluções baseadas finalidade de constituir créditos de carbono
na natureza tivessem sido implementadas, de origem florestal. Daí surge o que a ECCON
esse custo poderia ter sido reduzido em denominou de PSA Carbonflor. Um programa
28%. Uma análise de custo-benefício, que de pagamento por serviços ambientais com
inclui apenas o abastecimento de água ou os foco na redução de emissões de carbono e
benefícios do abastecimento de água, indica manutenção dos estoques de carbono.
que o investimento em soluções baseadas
na natureza, teria um valor presente líquido Fica aqui o desafio para que centros de pesquisa,
positivo de R$ 144 milhões. Ou seja, os consultorias, academias e associações técnicas
resultados destacam a viabilidade econômica avancem em algo semelhante à proposta da
do hipotético investimento em PSA para evitar ECCON, como se fora um “PSA Carbono+Água”
as perdas da seca em SP. Comprovam, ainda - metodologia, que tenha fundamento científico
que de forma muito simplificada e pontual, para aferir, mensurar e valorar o efeito da
nossa tese de que o PSA, além de ser base para área preservada na melhoria da qualidade e
uma nova economia, pode contribuir com a quantidade de água. Seja, para agregar valor
gestão de recursos hídricos. ao crédito de carbono, agregando valor ao
Carbonflor, seja como valoração independente,
De modo que, nossa proposta é que o Sistema a fortalecer a cobrança pelo uso da água, em
de Gestão de Recursos Hídricos trabalhe uma aplicação mais que adequada.
Improrrogável
Q
ue a água é sinônimo de culturas bem como estabelece elos entre alguns
vida e progresso e que sua dos temas mais relevantes do nosso tempo,
disponibilidade ou carência tem tais como, os objetivos de desenvolvimento do
modulado conflitos e pautado o milênio, redução da pobreza, melhoria da saúde
desenvolvimento das sociedades, pública e até mesmo as mudanças climáticas.
ao longo da história, parece ser um consenso
universal. Frente à desafios tão maiúsculos, a experiência
secular, sinaliza que ações isoladas não foram,
Que uma nova cultura no tratamento da não são e não serão suficientes.
água que demanda uma visão integral com
ênfase em seu cuidado e aproveitamento Torna-se imprescindível, unificar esforços e
racional representa um dos grandes desafios catalisar sinergias entre as diferentes instâncias
da sociedade hodierna, que não admite de governos, especialistas e a sociedade civil,
procrastinação, também configura tema que visto que a proteção do meio em que vivemos
agrega opiniões. é responsabilidade de todos e um desafio de
cooperação e não de conflito.
Efetivamente o tema da convivência ambiental,
pacífica e harmoniosa, conecta pessoas e A partir de inputs da Constituição Cidadã de
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 39
1988, a lei 9433 de janeiro de 1997, muniu o Brasil Superada essa questão o sucesso da nossa
de um aparato jurídico institucional moderno política e do nosso Sistema está umbilicalmente
que propõe uma política de recursos hídricos ligado à nossa capacidade de implementar os
integrada, descentralizada e participativa com instrumentos de gestão preconizados pela Lei
potencial para fazer frente ao desafio de prover das Águas. Simples assim.
segurança hídrica e promover desenvolvimento
e bem-estar à população brasileira. Muito do que se contesta da eficácia da nossa
lei se deve, em realidade, à nossa ineficiência
Nesse contexto, duas décadas e meia em aplicá-la.
depois cabe refletir: em que ponto estamos?
Avançamos o suficiente? E se não, onde Nesse capítulo, a retomada da liderança da
falhamos? Quais os caminhos do futuro que Agência Nacional de Águas e Saneamento
deveríamos trilhar? Básico - ANA, enfraquecida nos últimos
anos, como condutora da implementação do
Certamente avançamos muito, mas SINGREH é de fundamental relevância.
seguramente poderíamos ter ido muito mais
além. É também de primordial importância que
se procure caminhos para se garantir a
Em verdade, ao se analisar esse período sustentabilidade do sistema reforçando-se
detecta-se padrões recorrentes de avanços e a solidez dos órgãos gestores de recursos
retrocessos e cabe meditar sobre como esse hídricos e implementando a cobrança pelo uso
ciclo pode ser quebrado. da água bruta.
O primeiro grande e maior obstáculo que Por fim, para manter vivo o espírito mais
pesou contra no passado recente e precisa profundo da Lei das águas é necessário
ser superado no futuro vindouro, é a falta de a retomada do prestígio dos organismos
inserção do tema da água na agenda política colegiados incluindo aí, a reorganização do
das grandes decisões nacionais. Conselho Nacional de Recursos Hídricos e o
empoderamento dos Organismos de Bacia
Malgrado o consenso de sua importância o Hidrográfica.
tema da água segue a reboque.
É tempo de esperança. É tempo de avançar!
P
lanejar é um ato inerente ao ser Como nosso tema central aqui é Gestão de
humano! Água, ou seja, administrar, por exemplo, uma
escassez crônica, tanto em quantidade quanto
Segundo o dicionário de Domingos em qualidade, garantindo um pouco de água
Paschoal Cegalla, planejamento para todos o tempo todo, vamos especificar
é o trabalho de preparação para qualquer essa reflexão.
empreendimento, segundo roteiro e métodos
determinados. Planeja-se cotidianamente: um Ora, da mesma forma, seguindo passos muito
jantar com amigos, uma viagem, a abertura de parecidos, planeja-se o futuro na área de
um negócio, um casamento, uma separação, gestão de recursos hídricos com o objetivo
uma mudança de emprego. de garantir a disponibilidade e a qualidade da
água para os diferentes usos: o abastecimento
Os procedimentos para qualquer um deles, humano, as atividades produtivas e de lazer e a
embora se possa não ter consciência, são conservação dos ecossistemas.
sempre os mesmos: definir objetivos a serem
alcançados, avaliar a situação atual, desenhar Segundo a doutrina da legislação brasileira,
cenários futuros possíveis e estabelecer a quem cabe planejar as ações de gestão da
um plano de ações para atingir os objetivos água? Bem, aqui começam as diferenças entre
definidos num prazo desejado. a gestão da água e a construção de outras
políticas públicas, inclusive a gestão ambiental.
Vale a pena ressaltar dois aspectos No Brasil a atribuição de planejar os usos
interessantes e fundamentais: futuros das águas num território específico
O primeiro deles é que ninguém tem um livro que é a bacia hidrográfica, é dos Comitês de
único do planejamento da sua vida. Bacia, com apoio de outros entes do sistema
O segundo é o motivo pelo qual não temos de gestão.
esses livros.
O permanente
desafio da gestão
integrada
e sustentável da
água
I
números são os desafios e os caminhos que este mesmo procedimento de pensar, planejar
nos levam a buscar a efetiva implementação e consequentemente implementar suas ações
da gestão sustentável e integrada de a partir da “caixinha setorial”, com recortes
políticas públicas, em relação aos recursos territoriais que em sua maioria não são a bacia
hídricos isto se torna imprescindível, pois hidrográfica.
a interdependência do elemento água com as
demais políticas de meio ambiente, saneamento As instâncias previstas na Política de Recursos
básico, agricultura, desenvolvimento Hídricos para promover a interlocução com
econômico, saúde entre outras é vital. as demais políticas públicas, que são os
Conselhos e Comitês de Bacia, assim como os
O marco legal da Política Nacional de Recursos instrumentos de planejamento não estão sendo
Hídricos (Lei Nº 9.433/2007) traz em seus suficientes para garantir a gestão integrada,
princípios e diretrizes a indicação da necessária resultando em significativos desafios à
articulação e integração institucional com as implementação da política de recursos hídricos.
demais políticas que intervém na gestão da
água, os quais estão claramente explicitados no No atual contexto observa-se que a metodologia
Capitulo III – Diretrizes Gerais de Ação, assim de elaboração dos planos, mesmo contando
como nos itens que tratam das atribuições com processos participativos de interlocução
e competências dos Conselhos Nacional e com a sociedade, não tem promovido a
Estaduais e Comitês de Bacias. “pactuação”, necessária com os atores
institucionais estratégicos das diferentes
Entre os instrumentos de gestão de recursos políticas públicas para garantir metas e
hídricos previstos e implementados os Planos compromissos que promovam resultados
de Recursos Hídricos, nos diferentes níveis efetivos na gestão dos recursos hídricos.
contam com um conjunto expressivo de
informações no diagnóstico da situação hídrica, O termo “Pacto” tem sido amplamente utilizado,
na cenarização e indicação de programas, mas vale destacar que o estabelecimento
projetos e ações, no entanto, geralmente não de compromissos institucionais para a
trazem como deverá ocorrer a interface com implementação de políticas públicas pode
as diferentes políticas públicas que interferem ocorrer de diversas formas, por meio
na gestão da água, ficando essencialmente de convênios, assinatura de termos de
voltados para o planejamento setorial. cooperação e outros mecanismos, que
usualmente tem se denominado “Pacto”,
Na prática as demais políticas públicas repetem mas que muitas vezes compartilham apenas
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 43
A
Existem conceitos sintéticos de gestão de
pós o último processo constituinte recursos hídricos, mas a complexidade e
no Brasil (1988) e nos estados (1989), abrangência do tema permite reconhecer
foram aprovadas leis e normas que (Assis, 2022) quatro eixos principais envolvidos:
instituíram políticas que ensejaram i) Objetivo geral de garantir a segurança hídrica
a denominada moderna gestão de e promover o desenvolvimento sustentável;
recursos hídricos. Mesmo com demandas por ii) Processo contínuo, participativo, integrado
ajustes, nosso arcabouço legal e normativo, de e descentralizado de planejamento, controle,
modo geral, é reconhecido como adequado. administração e tomada de decisões; iii)
Participação dos poderes públicos, setores
Em síntese, foram estabelecidos princípios usuários da água, universidades e sociedade
e diretrizes, como o planejamento por bacia civil, em instâncias centrais ou descentralizadas;
hidrográfica, a água como bem público e iv) Intervenções mediante investimentos
cuja utilização deve ser objeto de cobrança; em ações estruturais ou não estruturais, para
instituídos sistemas de gerenciamento aproveitamento múltiplo; proteção; recuperação
com participação dos poderes públicos, e conservação das águas em quantidade e
usuários e sociedade civil e colegiados com qualidade; e prevenção e mitigação de conflitos
poderes consultivo e deliberativo; e definidos de uso e eventos hidrológicos críticos.
instrumentos de gestão (ou da política).
As ações no nível nacional e estadual se
Há sinais de avanços, notadamente no campo concentram no aperfeiçoamento e atualização
institucional com a criação ou aperfeiçoamento da legislação; definição de estratégias, diretrizes
de entidades estratégicas para a gestão; e normas para aplicação dos instrumentos de
aumento do contingente de técnicos atuantes gestão; criação de programas; e financiamento
no setor; programas diversos de capacitação de por fontes existentes ou concepção de novas.
recursos humanos ou para melhoria da gestão Já no nível da bacia hidrográfica (em todas
e das condições de quantidade e qualidade da suas escalas), pode haver participação direta
água nos diferentes níveis de governo. ou indireta nas ações dos outros níveis, mas é
somente nelas que ocorrem as intervenções,
Mas, decorridos de 20 a 30 anos do início ou seja, o planejamento por bacia e as ações
desse modelo de gestão, ainda padecemos dele decorrentes é crucial para melhoria dos
de problemas e precariedades diversas, indicadores de recursos hídricos e atingimento
como: estruturas deficientes ou ausentes em do objetivo geral da gestão.
órgãos e entidades do setor; baixa integração
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Desafios e
Oportunidades na
Gestão de
Recursos Hídricos
no Brasil
L
er agendas e acordos globais Além disso, outras redes e instituições também
relacionados ao desenvolvimento cumprem importante papel aglutinador e de
sustentável, clima e meio ambiente, disseminação, a exemplo da REBOB (Rede
a exemplo da Agenda 2030 da ONU e Brasil de Organismos de Bacias).
seus 17 Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS), em muito pode ajudar a Os órgão gestores estaduais, em muitos casos
uma reflexão sobre o futuro relacionado ao com estruturas deficitárias e os comitês de
tema água e uma gestão sustentável no Brasil. bacias hidrográficas, em muitos casos com
Claro que os desafios em nosso território problemas de sustentabilidade, também
são peculiares e singulares, embora com integram esse tecido social, mas muitas vezes
similaridades a outras nações. tem dificuldades em aprofundar discussões.
para os grandes desafios sociais, ambientais água. Considerando aspectos futuros como
e econômicos, contribuindo para a construção urbanização, incremento populacional e
das bases do desenvolvimento sustentável do possíveis impactos de mudanças climáticas,
País. Os Planos de Ação em Ciência, Tecnologia esses problemas tendem a se agravar,
e Inovação foram construídos a partir das indicando a necessidade de Gestão Adaptativa,
diretrizes definidas pela Estratégia Nacional de incluindo a questão, mas ligada a gestão de
Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) 2016- riscos e desastres.
2022, com a participação da comunidade
científica, setor produtivo e órgãos públicos. É um tema que requer grande integração de
Esses planos estão sintonizados com os 17 saberes e além do caráter interdisciplinar em
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável diversos eixos, a busca pela visão integrada,
(ODS) da Agenda 2030 da Organização das sistêmica e transdisciplinar, e da relação com
Nações Unidas (ONU). Considerando o caráter a sociedade.
transversal da água, o ODS 6 está integrado
aos demais objetivos, como o ODS 2 (Fome A Água precisa definitivamente de uma agenda
Zero e Agricultura Sustentável), o ODS 3 política própria no país e para isso precisamos
(Saúde e Bem-Estar), o ODS 7 (Energia Limpa e fortalecer a nossa rede de instituições e
Acessível), o ODS 13 (Ação Contra a Mudança pessoas. O Conselho Mundial da Água (WWC-
Global) e o ODS 14 (Vida na Água), entre outros. World Water Council) tem justamente como
meta principal fortalecer o tema Água na
agenda política mundial.
Considerando desafios, oportunidades e
vantagens nacionais, foram selecionados Particularmente, no âmbito da Academia e
onze temas em CT&I tidos como estratégicos suas instituições relacionadas, considera- se
para o desenvolvimento, autonomia e como pilares fundamentais de atuação para
soberania nacional. Um dos temas é a essa estratégia conjunta: 1) a produção e
garantia da segurança hídrica. A segurança divulgação de conhecimento; 2) popularização
hídrica se constitui em um dos grandes da ciência e comunicação com a sociedade; 3)
desafios no cenário nacional, considerando interdisciplinaridade e transdisciplinaridade; 4)
suas múltiplas dimensões com relação aos diálogo ciência-políticas públicas.
aspectos econômicos, da sociedade, do clima,
e os desastres e desafios da resiliência, e dos Espaços de diálogo edificante devem ser abertos
ecossistemas, além da infraestrutura. para avaliação dos nossos instrumentos,
estruturas de governança, e outros, apontando
Os problemas atuais relacionados ao uso soluções integradoras entre os diversos
sustentável e conservação de recursos hídricos setores, segmentos e políticas públicas.
e a previsão e controle de eventos extremos
de precipitação que podem causar enchentes, Temos sim um futuro desafiante, mas
inundações e secas já representam grandes igualmente cheio de oportunidades para
desafios do ponto de vista de gestão da esperançar!
O futuro da água
Q
uando me pediram para escrever portas são abertas apertando-se um botão e,
sobre o tema, imaginei a água depois, outro botão para fechar. Melhor seria
como uma criança que pretende ser conservar a velha maçaneta.
petróleo quando crescer, ou quem
sabe vinho. Mas, ledo engano, não Ainda, qualquer desses filmes tem gente gorda
era isto exatamente o que esperavam da minha e homem careca, quando é plausível imaginar
crônica, imbecilidade crônica, como dizem que, no futuro, haverão de inventar uma pílula
meus detratores. que queime todas as gorduras e outra que faça
nascer cabelo, como uma tal de tricomicina da
Então vamos lá. Vou deixar a cerveja de lado e, marchinha de carnaval dos anos cinquenta.
com água, imaginar o futuro da água, o recurso
hídrico como se referem a ela nas leis e nos Mas, por que estou falando disso numa revista
manuais, o líquido que o passarinho bebe, que sobre águas?
não entra em boteco, a que em pedra dura tanto
bate até que fura, como ensinaram no colégio A água, como se sabe, é um bem finito que não
Salesiano. Enfim, como será no futuro a água. espicha nem se fabrica. No máximo é possível
dessalinizar a água do mar.
Ah, o futuro. Vira e mexe a gente assiste a filmes
ou séries que retratam o futuro distante. Em Então, como será a água no século 22? Até lá
Perdidos no Espaço, passado lá nos anos 60, acho, tenho esperança, creio, tenho fé, torço
o comandante da nave espacial fazia um diário com mais ardor do que para o Clube Atlético
de bordo ditando para um imenso gravador de Linense, que vão inventar um jeito de despoluir
rolo, já vi filmes que só tem carro voador, sei lá o precioso líquido. Mas, quem vencerá este
como organizar o trânsito com todos os carros embate, quem sairá vitorioso desta briga?
da cidade de São Paulo e mais os que teremos Os poluidores ou os inventores? Façam suas
no próximo século. apostas.
Tem outro filme dos anos sessenta, Star Trek, Vamos ter fé que os inventores inventem um
aquele do venusiano de orelhas pontudas, bichinho que coma os sacos plásticos e os
também passado no futuro espaço, que as restos de automóveis furtados que jogaram
REVISTA ÁGUAS DO BRASIL EDIÇÃO 29 49
nos nossos rios. Mas, mesmo despoluída ou a vela, há que ter um montão de água, seja
como o Rio Pinheiros há dezenas de anos, no rio, seja no mar.
como sempre afirma a propaganda de governo,
qualquer governo, ainda assim, como será a Assim, ninguém é louco para imaginar um
água? futuro com água sintética, dessas que vendem
em tubo como a velha lança perfume. Vai ter
Continuará a ser H2O, como me ensinaram nas que ter água e água em abundância. Para beber,
aulas de Química do Científico? Será ela toda para tomar banho, inclusive em Paris, e para
encanada, os rios dentro de imensos tubos, as navegar. Navegar é preciso, embora viver não
lagoas empilhadas verticalmente para ocupar seja preciso, dizia o General romano e depois
menos espaço e as bacias das barragens Caetano cantou. Ou seja, o futuro, embora
repletas de placas solares para produção de impreciso, tem que ter água para navegar
energia? Ou serão todos os rios navegáveis, preciso e beber por precisão.
com lanchas/taxis e navios/ônibus, desfilando
vagarosamente no Tietê? Pela sede, aprende-se a água, ensinou Emily
Dikinson. A água de boa qualidade é como
Quando trabalhei no Porto de Santos, sim, já a saúde ou a liberdade: só tem valor quando
fui portuário, lá tinha água pra dedéu, boa parte acaba, ensinou o nosso Guimarães Rosa, que
assoreada e boa parte com contaminantes sempre precisou dela, a água. Como Guimarães
vários. Mas, numa dessas inaugurações que o e como rosa.
Diretor tem que fazer um discurso para merecer
uma boca livre, lembrei, já naquela época, o que Para tanto, é preciso que órgãos como o
será o futuro da água. DAEE e a ANA sejam mantidos, prestigiados
e expandidos. E bem administrados por gente
O futuro já projetou, na ficção, aviões super que entenda do produto. Porque foram feitos
hiper blaster sonic, carros voadores e trens essencialmente para isso, preservar os recursos
balas e outras balas que não são de chocolate. hídricos, a água, enfim, para hoje, amanhã e o
Mas, no mar, no mar ninguém pensa em outra futuro.
coisa do que navegar num navio, singrando os
mares como singravam os piratas, carregando E, um conselho, se posso: como diz o ditado
gente e mercadoria, igual faziam os vikings e sueco, não jogue fora o balde velho até que
os portugueses cujas mães, dizia Fernando você saiba se o novo segura água.
Pessoa, salgaram os mares com suas lágrimas
de medo e de saudade. E, por fim, o velho Chico, não o rio, mas o poeta,
insistindo que cuidem bem da água: E qualquer
Ou seja, camaradas, acho que está na moda desatenção, faça não! Pode ser a gota d’água.
chamar de camaradas, pra ter navio, atômico
Sergio Antunes
É procurador autárquico do Estado de São Paulo, exercendo
suas funções no DAEE Departamento de Águas e Energia
Elétrica do Governo do Estado de São Paulo.
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S
será realizado pelo Fórum Nacional
de Comitês de Bacias Hidrográficas –
FNCBH em parceria com o Governo do
Estado do Rio Grande do Norte, por meio
da Secretaria de Estado do Meio Ambiente
e dos Recursos Hídricos – SEMARH, e a Rede Brasil
de Organismos de Bacias Hidrográficas – REBOB.
PÚBLICO-ALVO
ÁGUAS DO BRASIL:
GOVERNANÇA,
ADAPTAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO
O
XXV ENCOB traz o foco para os
desafios práticos e políticos de
gestão e governança da água diante
da necessidade de adaptação frente
as mudanças climáticas e eventos
extremos para suprir as necessidades humanas,
econômicas e ambientais em escalas locais e
globais, visando um desenvolvimento sustentável.
RR
AM
FORTALEZA
2006 e 2010
AM
PA MA
CE
NATAL
RN
2023
PI PB
PE
AC
TO
AL MACEIÓ
RO SE 2003 e 2017
BA ARACAJU 2006
MT
CUIABÁ 2012 GO
ILHÉUS 2005
UBERLÂNDIA 2009
SP RJ
BELO HORIZONTE 2001
PR
RIBEIRÃO RIO DE JANEIRO 2008
FOZ DO IGUAÇU 2007, 2019 e 2022 PRETO 2009
SC CURITIBA 2021
EDIÇÕES
RS
FLORIANÓPOLIS 2018
DO ENCOB
GRAMADO 2004
OBJETIVOS DO ENCOB
• Possibilitar que os Comitês de Bacias Hidrográficas
identifiquem as oportunidades e desafios para a promoção da gestão
integrada das águas, de forma participativa e descentralizada, de
modo a apontar para toda a sociedade a efetiva sustentabilidade dos
recursos hídricos;
PARTICIPAÇÕES E CAPACITAÇÕES
33.237
INSCRITOS JÁ PASSARAM PELO ENCOB
12.847
CAPACITADOS DURANTE OS ENCOBS
PÚBLICO DIVERSIFICADO
Dados do XXIV ENCOB
MEMBROS DE COMITÊS
MASCULINO FEMININO 1327
1764 INSCRITOS 1542 INSCRITOS COMITÊS REPRESENTADOS
53,36% 46,64% 226
MARKETING DIGITAL
Dados do XXIV ENCOB
2023
ÁGUAS EM
MOVIMENTO
21 A 25
AGOSTO - 2023
NATAL-RN
3A5 18 A 24
OUTUBRO - 2023 MAIO - 2024
SÀO PAULO-SP INDONÉSIA
19 A 24
NOVEMBRO - 2023
ARACAJU-SE
MAIS EVENTOS
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