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resumo abstract
Entre os grandes desafios estabelecidos Among the great challenges posed for
para o futuro da humanidade, a the future of humankind, the issue of
questão da água se destaca por ser um water is of paramount importance, as it
recurso escasso, indispensável para a is a scarce resource essential for human
sobrevivência humana e manutenção survival, for maintaining ecosystems, and
dos ecossistemas, e insumo para todas which serves as input to all production-
as atividades produtivas. Este artigo related activities. This paper deals with
aborda a questão em nível global, the issue globally and centers its focus on
estabelecendo foco nas peculiaridades Brazil´s distinctive features. It highlights
do Brasil e destacando os principais key challenges to overcome, such as the
desafios a superar, como as dificuldades difficulties for human and industrial
decorrentes para o abastecimento supply, the growing water demand for
humano e industrial, a crescente food production, for energy generation,
demanda por água para produção and possible impacts of climate change
de alimentos, a geração de energia e on water resources.
os possíveis impactos de mudanças
climáticas sobre as fontes hídricas.
Keywords: water crisis; water availability;
conflicts over water.
Palavras-chave: crise hídrica; dispo-
nibilidade hídrica; conflitos por água.
Marcos Santos/USP imagens
proteger aqueles que padecem de doenças de ser produzida essa energia, a que custo am-
veiculação hídrica. No entanto, o tratamento biental e quais os conflitos que serão gerados
dos resíduos líquidos e sólidos que poluem a com outras atividades?
água e degradam o meio ambiente de maneira
geral ainda não alcança a devida prioridade da Esses são parte dos grandes problemas e desa-
maioria dos governos. Como resultado, o for- fios, do presente e do futuro, associados direta ou
necimento de água para os centros urbanos re- indiretamente à questão hídrica.
quer retiradas de água de fontes mais distantes,
aumentando os custos e gerando conflito com
DISPONIBILIDADE E
usuários de água nas áreas de origem.
• Se as cidades continuam a ter políticas públicas ESCASSEZ DE ÁGUA
que não se integram, o que irá ocorrer como fru-
to do crescimento descontrolado? O crescimento Existem dois tipos de escassez de água. A es-
desordenado das cidades aumenta a impermea- cassez econômica ocorre devido à falta de investi-
bilidade do solo e reduz a recarga dos aquíferos; mento e é caracterizada por pouca infraestrutura
a drenagem se torna mais deficiente; ilhas de e distribuição desigual de água. A escassez física
calor são formadas, potencializando o aumento ocorre quando os recursos hídricos não conseguem
da evapotranspiração; serviços de infraestrutu- atender à demanda da população. Regiões áridas
ra, tais como sistemas de abastecimento de água, são as mais associadas com a escassez física: em
tornam-se mais caros, inadequados e ineficientes. torno de 25% da população mundial vive em ba-
• Se o território das bacias hidrográficas conti- cias hidrográficas onde há escassez física de água.
nua a ser degradado, as matas destruídas e as Um bilhão de pessoas vivem em bacias hidrográfi-
várzeas ocupadas, os rios vão buscando recon- cas onde a água é economicamente escassa.
quistar suas planícies de inundação naturais, e Em 2015 o World Resources Institute (WRI),
inundações catastróficas tendem a ocorrer com analisando dados e cenários de mudanças climá-
mais frequência e intensidade. ticas globais, estabeleceu um ranking de stress
• Cenários do Painel Intergovernamental sobre hídrico para 167 países em 2020, 2030 e 2040.
Mudanças Climáticas sinalizam que regiões Os resultados indicam que 33 países, 14 dos quais
semiáridas podem se transformar em desertos. localizados no Oriente Médio, deverão apresentar
A vulnerabilidade de muitas regiões ao redor stress hídrico extremamente alto em 2040 (Maddo-
do mundo tem demonstrado há décadas que as cks, Young & Reig, 2015). Nove desses países estão
ações humanas são responsáveis pela deserti- entre os 11 com maiores riscos: Barein, Kuwait,
ficação. Os impactos das potenciais mudanças Palestina, Catar, Emirados Árabes Unidos, Israel,
climáticas sobre essas regiões tendem a torná- Arábia Saudita, Omã e Líbano. A região, já in-
-las cada vez mais inóspitas. discutivelmente a de menor segurança hídrica no
• Independentemente de mudanças climáticas, planeta, deverá enfrentar desafios excepcionais
em algumas regiões do mundo os impactos relacionados com a água com o passar dos anos.
mais alarmantes sobre os sistemas hídricos já A Figura 1 representa o ranking de relação uso/
aconteceram: incontáveis pequenos tributá- disponibilidade de água previsto para 2040. Chile
rios foram aterrados; existem rios importantes e Espanha estão incluídos entre os 33 países de
cujas águas já não chegam ao mar. Metade dos situação mais crítica.
pantanais do planeta desapareceu. Quando se observa a totalidade das reservas,
• As perdas de água ainda estão em níveis ina- sem análise das diferenças regionais, o Brasil apre-
ceitáveis na maioria dos sistemas de abasteci- senta situação de disponibilidade hídrica privile-
mento de água, tanto no ambiente doméstico, giada: detém mais da metade da água da América
como na indústria, comércio e irrigação. Como do Sul e 13% do total mundial, inclusive cerca de
produzir mais com menos água? 2/3 de um manancial subterrâneo que corre por
• A humanidade vai precisar de muito mais baixo dos países do Mercosul, com extensão su-
energia. A questão fundamental é: como vai perior à de Inglaterra, França e Espanha juntas.
ratio of withdrawals
to supply
NOTE: Projections are based on a business-as-usual scenario using SSP2 and RCP8.5.
Fonte: WRI
O agravante acontece quando se quantificam os recursos hídricos do Brasil. Essa região apresenta
recursos hídricos nas diferentes regiões do país: normalmente maior regularidade no tempo e no
o Brasil apresenta problemas relacionados à má volume de precipitações, presença de rede hídrica
distribuição desses recursos em escala intra e inter- superficial perene com vazões médias significati-
-regional, sendo afetado tanto pela escassez quanto vas e conta com aquíferos que acumulam grandes
pela abundância, assim como também pela degra- estoques de água. Mesmo assim o cenário da crise
dação causada em decorrência da poluição de ori- hídrica se instalou em diversas partes das áreas
gem doméstica e industrial. O quadro de escassez mais habitadas do Sudeste. O principal exemplo é
se manifesta principalmente no Nordeste, na parte a cidade de São Paulo, a maior do Brasil, cujos ma-
do seu território designada como semiárida. nanciais não têm seguidamente acumulado água
A distribuição espacial da população brasilei- suficiente para atender às demandas.
ra não se fez na proporção da disponibilidade de A Agência Nacional de Águas (ANA, 2005)
água doce. A região amazônica concentra 81% das elaborou análise da vazão dos principais rios bra-
reservas hídricas do país e 5% da população. Em sileiros, qualificando-os quanto à razão entre as
contraposição, o território semiárido do Nordeste, vazões de captação e disponibilidade. O resultado,
mesmo abrangendo grande parte da bacia do Rio indicado na Figura 2, mostra que o estado de criti-
São Francisco, dispõe apenas de 4% dos recursos cidade dos mananciais se dá na medida em que as
hídricos do país e é ocupado por 35% da população regiões são mais povoadas, como se poderia espe-
brasileira. Nas regiões hidrográficas banhadas pelo rar. Essa análise equivale ao aprofundamento para
Oceano Atlântico, que concentram 45,5% da popu- o Brasil daquela apresentada na Figura 1, agora se
lação do país, estão disponíveis apenas 2,7% dos observando as diferenças regionais.
figura 2
< 5% - Excelente
5 a 10% - Confortável
10 a 20 % - Preocupante
Historicamente, os maiores déficits hídricos período 1979 a 1983. Nessa série de cinco anos,
do Brasil são registrados no Nordeste, em sua os dois primeiros, 1979 e 1980, foram anos secos
porção semiárida, região ciclicamente submetida no sentido clássico (significativa deficiência de
à ocorrência de secas. chuvas durante os meses do período chuvoso).
A seca é um dos mais complexos fenômenos Em 1981, os totais de chuvas foram ligeiramente
naturais. Um enorme desafio dos governos de re- acima das médias normais esperadas, mas sua
giões atingidas por esse tipo de ocorrência da na- distribuição temporal resultou em seca agrícola,
tureza é mitigar seus efeitos (com ações de curto ou seja, as precipitações ocorreram após o perío-
prazo) e reduzir (a longo prazo) a vulnerabilidade do ideal para a germinação das plantas. Em 1982,
da sociedade para o convívio com o fenômeno, as precipitações foram baixas, mas ocorreram em
que é parte do clima, de recorrência inevitável. épocas propícias, e os resultados foram menos
Assim, em virtude de os efeitos se acumularem adversos para a agricultura. Novamente em 1993
por um considerável período de tempo, podendo e posteriormente em 1998-1999, novas secas as-
perdurar por anos antes do término do evento, solaram a região. E em 2011 começou a presente
torna-se difícil delimitar o início, o final e o grau seca, já configurada como a mais severa dos últi-
de severidade do fenômeno. mos 60 anos. O comportamento das precipitações
Outra característica que distingue as secas é a apresentou em 2012 os totais acumulados mais
sua duração. As secas usualmente requerem um críticos, como representado na Figura 3 para o
mínimo de 2 a 3 meses para se estabilizar, mas estado de Pernambuco, de forma similar aos de-
podem continuar por vários anos consecutivos. A mais estados da região. Naquele ano o impacto
magnitude do impacto da seca está diretamente sobre a produção agropecuária e a disponibili-
relacionada à duração do evento. Cita-se como dade de água nos mananciais difusos que aten-
exemplo a seca ocorrida no Nordeste brasileiro no dem à população rural foi desastroso. Nos anos
figura 3
Desenvolvimento
Econômico
700'0''S
700'0''S
100% Reserv. Eq. Máximo (hm3) Situação (hm3) - 2012 Situação (hm3) - 2013
1991 Situação (hm3) - 2014 Situação (hm3) - 2015 100% 75%
66% 75% 76%
348
261 228 261 265
800'0''S
564 11% 43%
327
7% 30% 20%
221 137 409 16%
258
169 137 1662 1618
Sertão 1535
Agreste
1129
Média Anual em mm 2012 2013 2014
603
506
381
196
779 698
Sertão 596
9 00'0''S
9 00'0''S
357
Zona da Mata e Litoral
Agreste
Legenda N
MATA e RMR W E
AGRESTE S
10 00'0''S
10 00'0''S
SERTÃO Km
0 50 10 200
figura 4
Fonte: NOAA
A Figura 5 representa o monitor de secas da crise hídrica. Esse processo foi marcante no
para o mês de agosto de 2015. Trata-se de sis- século XX. Em 1900, somente 13% da popula-
tema de monitoramento elaborado em conjunto, ção global residia em áreas urbanas. Em 2007, a
mensalmente, pelos órgãos gestores dos recursos população urbana cresceu para 49,4%, ocupan-
hídricos da região, juntamente com a ANA. O do somente 2,8% do território global. Em 2050,
monitor retrata o grau de severidade da seca no estima-se em 69,6% a população urbana mundial.
território nordestino, de forma distribuída. Sua Nesse contexto, a população brasileira cresceu,
elaboração decorre da compilação de diversos segundo a estimativa para 2015 do IBGE, de 90
indicadores, entre eles dados hidrometeorológi- milhões para 205 milhões desde 1970, e a popula-
cos e informações socioeconômicas. ção urbana passou de 55% para 84%. Obviamen-
te, suprir de água esses quase 170 milhões de pes-
soas concentradas nas cidades representa o maior
CONFLITOS E SOLUÇÕES desafio, sem minimizar o problema da população
RELACIONADOS COM A rural, principalmente da região semiárida.
Geralmente, a principal atitude para equacio-
CRISE HÍDRICA NO BRASIL nar o desabastecimento tem sido aumentar a ati-
vação das potencialidades hídricas, construindo
Abastecimento de água reservatórios formados por barragens, aumento
da exploração dos aquíferos, transferência de água
Tucci (2010) e Tundisi et al. (2014) destacam de bacias hidrográficas mais distantes e menos
o papel da crescente urbanização no agravamento exploradas. Tais ações, geralmente necessárias,
figura 5
LEGENDA
Intensidade:
Sem seca relativa
S0 Seca fraca
S1 Seca moderada
S2 Seca grave
S3 Seca extrema
S4 Seca excepcional
Tipos de impacto:
Autor: Inema - Bahia C = Curto prazo (e.g. agricultura, pastagem)
Elaborado em: 16/9/2015 L = Longo prazo (e.g. hidrologia, ecologia)
periferia das cidades do país, a dimensão do pro- Segundo o relatório da ANA, considerando a
blema cresce de forma dramática. Esse é, sem dú- relação área irrigada versus área total cultivada,
vida, um dos maiores agravantes da crise hídrica as regiões hidrográficas Atlântico Sul e Atlântico
nos meios urbanos, dado que atinge dois aspectos: Sudeste apresentam o mais elevado percentual de
reduz a disponibilidade de água para usos múlti- irrigação, com 19,4% e 24,02% em 2012. As regi-
plos, por conta da poluição, e aumenta os riscos ões do São Francisco e Atlântico Nordeste Oriental
à saúde da população que vive nas vizinhanças também se destacam, com irrigação em 17,8% e
desses corpos d’água. 14% da área total cultivada em 2012.
No que se refere à população rural difusa, mais No que se refere à bacia do São Francisco, há
dificil de atender por redes convencionais de abas- de se observar potenciais conflitos de uso entre
tecimento de água (principalmente no semiárido, a irrigação na bacia e fora dela, no futuro, quan-
por falta de fontes hídricas seguras na maior parte do o sistema de transposição estiver consolidado.
do território), as chamadas tecnologias apropriadas Também na própria bacia há potencial de conflitos
podem trazer ganho considerável de qualidade de entre irrigação, mineração, navegação e principal-
vida à medida que soluções como cisternas para mente com a geração de energia hidrelétrica.
captação de água de chuva e sistemas de dessali- Assim como se deve buscar ampliar as frontei-
nização de água de poços sejam universalizadas. ras agrícolas para atender à produção de alimentos
No caso de dessalinizadores, avaliação do autor para a população mundial em crescimento, é essen-
baseada em programa implementado em Pernam- cial que se promova a gestão da demanda por água
buco registra custo médio de R$ 12/m³ de água no setor. Para isso surgem a cada dia os avanços
produzida, incluindo custos de operação e manu- tecnológicos que aprimoram os equipamentos de
tenção preventiva e corretiva dos sistemas. O custo irrigação para poupar água. Por outro lado, é pre-
da água entregue à população por meio de carros- ciso desenvolver a cultura de evitar o desperdício
-pipa é da ordem de R$ 70 em média, o que mostra nos alimentos produzidos: de acordo com a Orga-
a viabilidade do processo, não apenas pelo custo, nização das Nações Unidas para a Alimentação e
como pela qualidade da água. a Agricultura (FAO, 2015), um terço dos alimentos
produzidos no mundo é desperdiçado. Além de não
Produção de alimentos e irrigação saciar a fome de 870 milhões de pessoas que não
têm o que comer no planeta, o desperdício anual de
A agricultura irrigada responde pelo maior 1,3 bilhão de toneladas de alimentos causa sérios
percentual de consumo de água entre todas as ati- danos ao meio ambiente. Isso porque, na produção,
vidades produtivas, da ordem de 70%. A irrigação os alimentos necessitam do consumo de água e do
é praticada em 17% das áreas aptas à produção uso da terra e, entre produção e preparo, ocorre
de alimentos no planeta, de onde saem 40% dos emissão superior a 3 bilhões de toneladas de gases
alimentos do mundo. De acordo com Folegatti et de efeito estufa para a atmosfera, impactando dire-
al. (2010), estima-se que, para garantir as deman- tamente o clima e gerando desperdício da ordem
das de alimentos, a área irrigada no planeta deve de 750 bilhões de dólares anuais.
crescer entre 20% e 30% até o ano 2025. Segundo
relatório da ANA (2013), a área irrigada no Brasil Geração de energia
em 2012 era 5,8 milhões de hectares, sendo que
o território nacional tem potencial da ordem de Segundo a Aneel, o Brasil possui 1.064 em-
30 milhões de hectares. Nos últimos 25 anos, a preendimentos hidrelétricos, sendo 407 centrais
produtividade dobrou, fato devido, em parte, ao de geração hidrelétrica (CGH), 452 pequenas cen-
aumento da utilização da irrigação. Ainda segundo trais hidrelétricas (PCH) e 205 usinas hidrelétri-
Folegatti et al. (2010), a área irrigada no Brasil é cas (UHE). A hidroeletricidade representa 70% de
responsável por mais de 16% do volume total de toda a capacidade instalada. Entre 2009 e 2012,
produtos agrícolas e 35% do valor econômico total 28 importantes aproveitamentos hidrelétricos
da produção, enquanto no mundo esses números (UHE) entraram em operação gerando um total
são da ordem de 44% e 54%, respectivamente. de 4.787,21 MW, dos quais 1.463,03 MW foram
figura 6
9039000
9039000
Ilustração do autor
Os eventos extremos trazem danos severos às homem. Há que se observar, contudo, a repetição
economias atingidas. No estado de Pernambuco, de eventos críticos com mais frequência, parecen-
nas inundações ocorridas em junho de 2010, a des- do fazer parte de uma tendência observada.
truição de áreas urbanas afetou diretamente 740 Relatório recente do IPCC – Painel Intergover-
mil pessoas. Considerando as atividades econômi- namental sobre Mudanças Climáticas, intitulado
cas, mais de 5 milhões de pessoas foram atingidas Mudanças Climáticas 2014: Impactos, Adapta-
por perdas e danos da ordem de R$ 3,4 bilhões ção e Vulnerabilidade, detalha os impactos das
(Bird, 2012a). Em 2011, a devastação ocorrida no mudanças climáticas até o momento, seus riscos
mês de janeiro na região serrana do estado do Rio futuros e as oportunidades para uma ação eficaz
de Janeiro afetou diretamente cerca de 300 mil destinada a reduzi-los. O relatório conclui que a
pessoas, com mais de 900 óbitos. Relatório do resposta às mudanças climáticas envolve fazer
Banco Mundial avalia em R$ 4,8 bilhões o custo escolhas sobre os riscos em um mundo em trans-
decorrente das perdas e danos provocados pelo formação e identifica as populações, indústrias e
evento (Bird, 2012b). ecossistemas mais vulneráveis ao redor do mundo.
Para ilustrar o outro extremo, pode ser citada Segundo os relatórios do IPCC, o semiárido
a ocorrência de vazões extremamente baixas no tenderá a sofrer eventos mais frequentes e seve-
Rio São Francisco em 2014. Considerando que o ros de seca, com o número de dias sucessivos sem
mês de outubro de cada ano tende a ser o de menor chuva tendendo a aumentar. Em complemento, a
vazão, são comparados na Tabela 1 dados de vazão tendência observada nas secas mais recentes é de
correspondentes ao mês de outubro de cada ano maior irregularidade espacial na distribuição das
desde 1929 até 2014, ano em que ocorreram as me- precipitações. As projeções futuras dos modelos
nores vazões desde que o monitoramento do rio foi de clima também sugerem aumento de chuva para
iniciado. Comparando com a média de outubro dos a Região Sul do Brasil e da bacia do Prata e para o
diversos anos, os percentuais da vazão em outubro oeste da Amazônia até o final do século XXI. Os
de 2014 foram de 22,7% e 15,6% apenas, respecti- efeitos do agravamento desses eventos poderão ser
vamente a montante de Sobradinho e Três Marias. mitigados por medidas de adaptação estruturais
Por enquanto, não é possível deduzir que esses e não estruturais, como construção de reservató-
fenômenos foram gerados ou ampliados pela mu- rios para conter enchentes ou para acumular água,
dança climática, dado que é difícil poder atribuir conforme o caso; integração de bacias hidrográfi-
um fenômeno específico a um processo de longo cas; receptação das águas de chuva nos lotes, para
prazo como as mudanças climáticas causadas pelo reduzir o impacto sobre os sistemas de drenagem
tabela 1
Bibliografia