Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BRASIL
COLÔNIA
Introdução
Uma das motivações para a expansão marítimo-comercial portuguesa
foi a busca por metais preciosos, em função das concepções metalistas
vigentes na Europa. Em um primeiro momento, a produção econômica
para exportação desenvolvida na colônia americana foi o cultivo da cana
e a produção do açúcar. Contudo, com as entradas e bandeiras, e outras
iniciativas de interiorização no continente americano, descobriram-se as
minas de ouro no Sudeste, o que significou uma grande transformação
na colônia e em sua relação com a metrópole e o comércio atlântico
triangular.
Neste capítulo, você vai compreender o interesse de Portugal na
busca por metais preciosos e sua relação com a interiorização da colo-
nização na América portuguesa. Estudará os movimentos de entradas e
bandeiras, suas características e seus resultados. Por fim, analisará com-
parativamente a estrutura política e social do Nordeste açucareiro e do
Sudeste minerador.
O que foi feito com o ouro enviado à metrópole em formato de impostos? No perí-
odo auge da exploração de ouro na América Portuguesa, entre os anos 1735 e 1754,
acredita-se que a exportação anual girava em torno de quase 15 toneladas. Boa parte
dos metais preciosos arrecadados pela coroa como tributos na exploração das Minas
foi utilizado para o pagamento de dívidas de Portugal com a Inglaterra, contraídas em
função da ajuda econômica e militar fornecida pelos ingleses durante o período do
domínio espanhol. Assim, alguns autores afirmam que a exploração mineradora da
América Portuguesa foi fundamental para o financiamento da Revolução Industrial
na Inglaterra. De acordo com Fausto (2004, p. 99):
Depois andou o Capitão para cima ao longo do rio, que corre sempre chegado
à praia. Ali esperou um velho, que trazia na mão uma pá de almadia. Falava,
enquanto o Capitão esteve com ele, perante nós todos, sem nunca ninguém o
entender, nem ele a nós quantas coisas que lhe demandávamos acerca de ouro,
que nós desejávamos saber se na terra havia. [...] Nela, até agora, não pudemos
saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho
vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados
como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos
como os de lá (CAMINHA, 2002, documento on-line).
2 As bandeiras e as entradas
A interiorização da colonização portuguesa na América ocorreu por diferentes
motivos: a necessidade de expansão da zona de cultivo da cana e produção
de açúcar, a atividade pecuária, o aprisionamento indígena, e a exploração
do território na prospecção por metais preciosos. De acordo com Resende
(2005, documento on-line):
[...] por todo o período colonial, as entradas para os sertões de Minas foram
movidas por este tripé de interesses: a terra (que era concedida como ses-
maria àquele que dela se apossasse), a busca do ouro e das pedras raras (que
estimulava os mais ávidos pela riqueza) e a preagem dos índios (que, a mais
das vezes, se prestava como reduto de mão-de-obra para a lavra mineral ou
agrícola e, sobretudo, como escravos domésticos, vivendo sob a administra-
ção dos colonos).
[...] apesar do termo “expedição” ser usado como uma referência genérica
a todas as incursões em direção ao interior do Brasil desde o início da sua
colonização e por diferentes partes do território, a sua variação ocorreu de
lugar para lugar e de tempos em tempos [...]. Tamanho, composição, objetivos
e responsabilidades são os fatores que determinaram a nomenclatura destas
atividades. A dificuldade em se conhecer os pormenores de cada expedição,
isto é, a sua organização estrutural, definiu assim a própria discordância entre
as opiniões correntes na historiografia brasileira.
O ciclo do ouro 5
A partir da descoberta das jazidas de ouro na região das Minas, os membros das expe-
dições procuravam ocultar alguns achados, de maneira a preservar a exploração para
si. Costumava-se manter em segredo algumas expedições para realizar a “guerra justa”
contra os indígenas, capturá-los e escravizá-los, ou seja, o sigilo era uma prática naquele
meio. Contudo, a coroa imediatamente identificou a ocultação como forma de vantagem
pessoal e promulgou o Decreto de 17 de abril de 1702, que proibia o segredo das des-
cobertas. “Estava, portanto, criada a relação entre descobrir um tesouro e guardar o seu
segredo. Relação presente no imaginário das bandeiras” (BONOME; LEMES, 2014, p. 168).
A prática mais comum era obter a concessão, na forma de patente, para montar
a bandeira. Muitos que ousavam fazer entrada sem a permissão oficial eram
presos sem delonga. Afinal, as conquistas significavam ganhos territoriais da
coroa e implicavam a expansão de seus domínios, e, em consonância com as
políticas e interesses dos capitães generais, contaram com recursos e anuência
do Estado. Para os afortunados, concedia-se uma sesmaria como mercê, que
funcionava como benesse e estímulo (RESENDE, 2005, documento on-line).
Fernão Dias Paes — realizou, entre os anos 1674 e 1681, uma expedição
pela região do atual Estado de Minas Gerais, em busca de metais e pedras
preciosas. Juntamente a Raposo Tavares, realizou outra expedição em
direção ao sul, rumo às reduções guaraníticas.
Bartolomeu Bueno da Silva — conhecido como Anhanguera, realizou
expedições em busca de metais preciosos, alcançando o Rio Vermelho,
no sudoeste de Goiás, entre 1680 e 1682.
Domingos Jorge Velho — sua expedição partiu rumo ao Nordeste,
durante os anos 1695 e 1697. Capturou indígenas no Maranhão e em
Pernambuco e contribuiu para o extermínio do Quilombo dos Palmares.
Um dos principais desafios enfrentados pela coroa portuguesa foi lidar com o contra-
bando e com a sonegação de impostos. Na luta contra as práticas ilícitas dos colonos,
até mesmo os indígenas foram considerados aliados. Nesse sentido, Resende (2005,
documento on-line) afirma que:
ANDRADE, F. E. de; REZENDE, D. F. de. Estilo de minerar ouro nas Minas Gerais escravistas,
século XVIII. Revista de História, nº. 168, p. 382–413, 2013.
BONOME, J. R.; LEMES, F. L. Bandeiras, Mitos e história nos sertões da américa portuguesa.
Revista Mosaico, v. 7, nº. 2, p. 165–172, 2014. Disponível em: http://seer.pucgoias.edu.br/
index.php/mosaico/article/download/4145/2369. Acesso em: 23 abr. 2020.
CAMINHA, P. V. de. A carta de Pero Vaz de Caminha (1º de maio 1500). 2002. Disponível
em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/carta.pdf. Acesso em:
23 abr. 2020.
DEL PRIORE, M.; VENÂNCIO, R. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta, 2010.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2004.
GODINHO, Vitorino de Magalhães. Portugal, as frotas do açúcar e as frotas do ouro
(1670–1770). Revista de História, v. 7, nº. 15, p. 69–88, 1953. Disponível em: http://www.
revistas.usp.br/revhistoria/article/view/35730/38446. Acesso em: 23 abr. 2020.
LAMAS, F. G. Para além do ouro das gerais: outros aspectos da economia mineira no
setecentos. Revista HEERA, v. 3, nº. 4, p. 37–54, jan./jun. 2008. Disponível em: https://
periodicos.ufjf.br/index.php/heera/article/view/26594/18346. Acesso em: 23 abr. 2020.
MONTEIRO, J. M. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São
Paulo: Companhia das Letras, 1994.
RESENDE, M. L. C. de. Minas dos Cataguases: entradas e bandeiras nos sertões do
Eldorado. Varia Historia, v. 21, nº. 33, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752005000100009&lng=pt&tlng=pt. Acesso
em: 23 abr. 2020.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2012.
O ciclo do ouro 11
TEIXEIRA, Ib. Uma pequena história da mineração brasileira. Revista Conjuntura Econô-
mica, v. 47, nº. 11, p. 16-17, nov. 1993. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/
index.php/rce/article/viewFile/53614/52328. Acesso em: 23 abr. 2020.
VAINFAS, R. Dicionário do Brasil colonial (1500–1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
Leituras recomendadas
ANASTASIA, C. A geografia do crime: violência nas Minas setecentistas. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2005.
BOXER, C. A Idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
FERREIRA, A. C. A epopeia bandeirante: letrados, instituições, invenção histórica (1870-
1940). São Paulo: Editora UNESP, 2002.
MENEZES, S. L. Alexandre De Gusmão (1695–1753) e a tributação das minas do Brasil. Re-
vista História, v. 25, nº. 2, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0101-90742006000200009&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 23 abr. 2020.
PAIVA, E. F. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século XVIII: estratégias de resistência
através dos testamentos. São Paulo: Annablume, 1995.
RENGER, F. O quinto do ouro no regime tributário nas Minas Gerais. Revista do Arquivo
Público Mineiro, v. 42, nº. 2, p. 90–105, jul./dez. 2006.
SOUZA, L. de M. e. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século XVIII. Rio de
Janeiro: Graal, 1982.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.