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Diego Roggenbach,
2017
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo apresentar os principais motivos que levaram às grandes
navegações no século XV, empreendidas inicialmente pelos portugueses. O estudo discorre sobre o
tema baseado em três eixos principais: o interesse econômico; a religiosidade e o imaginário mítico. A
pesquisa foi realizada por meio de revisão bibliográfica, utilizando principalmente autores portugueses,
que em sua maioria defendem a tese de que foram vários os motivos que levaram os portugueses a
empreenderem as grandes navegações e não somente o ouro e as especiarias. Por isso, este artigo
apresenta uma visão mais ampla do contexto português do século XV que levou à política
expansionista, trazendo ao leitor leigo um conhecimento mais claro a respeito das mentalidades do
período, não se prendendo apenas nos interesses econômicos.
2
1. INTRODUÇÃO
A expansão marítima portuguesa teve seu início oficial em 1415, com a conquista
de Ceuta, uma posição muçulmana localizada estrategicamente no norte da África. A
partir dessa data, os portugueses passaram a investir recursos em uma longa
campanha de viagens pela costa africana, entrado em conflito com o Islã e com as
diversas tribos habitantes do litoral. Aos poucos, acabariam por formar um verdadeiro
“Império marítimo português”, termo que o historiador britânico Charles Boxer, notável
estudioso da história colonial portuguesa, utilizou para intitular um de seus livros1.
Essas viagens, no entanto, não surgiram sem planejamento e objetivos, mas foram
o resultado de uma série de acontecimentos que ocorreram em Portugal desde a sua
formação inicial, ainda na Idade Média, dando razões para que o reino português
voltasse seus interesses para o mar2.
Mas afinal, que razões foram essas e que fatos levaram Portugal a empreender os
descobrimentos, que não por acaso são apontados por muitos estudiosos como um
dos mais importantes acontecimentos da história da humanidade3?
Quando estuda-se a respeito dessa temática, costuma-se destacar os principais
motivos como econômicos, que são de forma muito simples apontados como a busca
pelo ouro e pelas especiarias, necessidades muito valiosas para os europeus do
século XV. Contudo, ao nos aprofundarmos no tema, podemos perceber que os
portugueses foram impulsionados por diversos motivos que os levaram a empreender
o projeto de expansão, sendo alguns mais importantes e outros desenvolvidos ao
longo da política expansionista conforme as necessidades surgiam. Um exemplo é o
caso da produção de açúcar, que mais tarde com a descoberta das ilhas do Atlântico
(Madeira, Açores, Cabo Verde, entre outras) tornou-se mais lucrativo do que o
esperado4.
De acordo com Boxer:
“(...) os impulsos fundamentais por trás do que se conhece
como a ‘Era dos Descobrimentos’ sem dúvida surgiram de uma mistura
de fatores religiosos, econômicos, estratégicos e políticos(...) Correndo
o risco de uma simplificação exagerada, pode-se, talvez, dizer que os
1
BOXER, Charles Ralph. O Império Marítimo Português: 1415-1825. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002.
2 FAUSTO, Boris. As causas da expansão marítima portuguesa e a chegada dos portugueses ao
Ora, podemos ver que os impulsos para a investida contra o norte da África e
posteriormente as viagens de descobrimento foram variados. É claro que não
podemos diminuir o peso da necessidade econômica, que interessava tanto aos
políticos do reino quanto aos navegadores e os integrantes da nobreza, como o
famoso Infante Dom Henrique, que com suas descobertas e investimentos no ultramar
enriqueceu e ganhou a tão esperada dignidade de cavaleiro cristão 6 (conquistada
preferencialmente no ardor da guerra contra os infiéis7) Contudo, outras motivações
tiveram seu papel, ora de justificar a guerra contra os muçulmanos, como é o caso da
religiosidade, que retomava o ideal de cruzada e “guerra santa”, ora do imaginário,
que resgatava os mais variados mitos e crenças da Idade Média, despertando nos
navegadores o desejo de aventura8.
Dessa forma, podemos apontar alguns eixos que guiarão essa pesquisa,
objetivando apresentar os principais motivos que impulsionaram as viagens
portuguesas, partindo de uma análise de cada item. Assim, utilizando-se de diversas
fontes bibliográficas sobre a temática, busca -se chegar a uma compreensão mais
geral do contexto expansionista dos século XV a partir de três eixos relevantes: o
“econômico”; “a religiosidade” e o “imaginário mítico”, que em proporções diferentes,
porém não menos importantes, influenciaram os portugueses nesse importante evento
histórico.
2.2 A RELIGIOSIDADE
p.215.
7
22
Ibid. p.32.
23 FRANCO Jr., Hilário. A Idade Média: Nascimento do Ocidente. São Paulo, 2001.
24 BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São Paulo:
Globo, 2006.
25 BASCHET, Jérôme. Op. cit. p.168.
8
26 BERTOLI, André Luiz. Guerra Legitimação e Poder no norte da África. As fontes portuguesas
(1415-1471). Revista eletrônica Roda da Fortuna. Volume 2, número 1-1, pp. 335-353. Disponível em:<
http://www.revista-ped.unifei.edu.br/> Acesso em: 01 de maio de 2014, p.342.
27 RUCQUOI, Adeline. Op. cit. p. 196.
28 BERTOLI, André Luiz. Op cit. p.342.
29 Grifo meu.
30 ALMEIDA, Fortunato de. Op cit. p.23-24.
31 RUCQUOI, Adeline. Op. cit. p. 217.
9
Ora, com a autoridade legitimada por Roma, muitos cristãos tinham consigo a
confiança de estar servindo à Deus nas guerras de reconquista e, caso morressem
em batalha, tinham a salvação e o paraíso garantidos.37
A carta logo foi traduzida para o latim e difundida pela Europa. Vários fatores
influenciaram o seu sucesso entre os cristãos: Primeiramente, porque oferece auxílio
de um poderoso exército para combater os muçulmanos no Oriente em uma época de
cruzada; depois, a carta se desenrola em uma descrição de um reino cristão
paradisíaco localizado na Índia, cheio de riquezas muito cobiçadas, como o ouro, as
pedras preciosas e a pimenta em abundância; por último, destaca que esse reino
exótico é governado por um poderoso rei e sacerdote cristão, o Preste João.46
Apesar da descrição romântica, a carta foi considerada por muito tempo como
um documento pelos europeus, e não um escrito fictício. 47 Isso acaba por prolongar
a crença de que o cobiçado “paraíso terrestre” estaria localizado na Índia, o que
explica a constante busca dos navegadores cristãos pelas riquezas e especiarias
indianas.48
A esperança de encontrar o reino do Preste João, possível aliado militar e
comercial contra os muçulmanos, acabou por despertar interesse nos exploradores
portugueses do século XV-XVI, na época da expansão marítima. Isso é demonstrado
43 ALMEIDA, Neri de Barros. Em busca do Paraíso. In: História Viva: Grandes Temas, n°14. São
Paulo: Duetto, s/d.p.34
44 Ibid.
45 VILHENA, Maria da Conceição. O Preste João: Mito, Literatura e História. Ponta Delgada:
3. CONCLUSÃO
Por fim, esta pesquisa não deixa de ser uma das possibilidades de análise
desse importante período histórico, que em sua complexidade pode oferecer ao leitor
uma visão geral sobre o contexto português do século XV que levou à expansão
marítima.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALMEIDA, Neri de Barros. Em busca do Paraíso. In: História Viva: Grandes Temas,
n°14. São Paulo: Duetto, s/d.
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Universidade, 1923.
BARROQUEIRO, Deana. O Enigmático Espião de Dom João II. In: Grandes Enigmas
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FRANCO Jr., Hilário. A Idade Média: Nascimento do Ocidente. São Paulo, 2001.
FONSECA, Luís Adão da.O imaginário dos navegantes portugueses dos séculos
15 e 16. Porto:Estudos Avançados 6(16), 1992, p. 35-51.
FONSECA, Luís Adão da. D. João II. Lisboa: Temas e debates, 2007.
GANCHO, Cândida Vilares. Como Analisar Narrativas. São Paulo: Ática, 2002.
GUENEÉ, Bernard. O Ocidente nos séculos XIV e XV (os estados). São Paulo:
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LE GOFF, Jacques. Uma Longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2008.
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Editora HUCITEC, 2008, p. 39-104.