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Adelita seguindo as pistas da Revolução Mexicana

Felipe Ávila é sociólogo pela UNAM e Doutor em História pelo Colégio de México.
Atualmente é Diretor Geral do Instituto Nacional de Estudios Históricos de las Revoluciones
de México. Entre seus trabalhos estão "El pensamiento económico, político y social de la
Convención de Aguascalientes" (1992); "Los orígenes del zapatismo" (2010) e a coautoria do
livro "História breve de la Revolución Mexicana" (2015) em parceria com Pedro Salmerón,
Doutor em História pela Faculdade de Filosofia e Letras da UNAM. Salmerón é professor-
pesquisador do Instituto Tecnológico Autónomo de México e da Faculdade de Filosofia e
Letras da UNAM.
Historia breve da Revolución Mexicana, propriamente sua Introdução, em seu original
espanhol, é o texto focado na presente análise. Composto em fluxo contínuo sob o subtítulo
¿Por qué hubo en México una revolución?, o texto de abertura do livro de Ávila e Salmerón
(2015) busca estabelecer as linhas gerais da investigação e proposições a respeito da
revolução no México, seu contexto e seus desdobramentos.
No início de seu texto, os autores (Ávila; Salmerón, 2015) declaram que as festas em
comemoração ao Centenário da Independência do México, promovidas pelo presidente
Porfírio Díaz, aparentavam ser a demonstração da força e da estabilidade de seu regime.
Pouco pode ser percebido das agitações sob a superfície, pois o dilema a respeito da sucessão
de Díaz parecia resolvido e seus adversários, o general Bernardo Reyes e Francisco I.
Madero, estavam no exílio e na prisão, respectivamente. No entanto, mal pode se adivinhar
que o regime, aparentemente tão sólido, seria arrasado por uma revolução em menos de um
ano, tendo Porfírio Díaz de renunciar à presidência e se exilar em Paris.
Felipe Ávila e Pedro Salmerón advogam que o movimento de agitação no México foi,
sobretudo, uma revolução social. Por isso, ao longo do texto, discutem sobre os seus
principais aspectos.
O principal argumento dos pesquisadores é que a Revolução Mexicana foi, majoritariamente,
uma revolução camponesa. Aliadas às reivindicações pela terra estavam outras demandas que
diziam respeito à desigualdade social, à pobreza, às péssimas condições de vida, à oposição
ao avanço das relações de mercado e à modernização produtiva, à centralização do poder em
detrimento das liberdades regionais. Porém, nos meios urbanos, a situação também era
delicada. Denunciava-se as condições insalubres de trabalho, os baixos salários, a pobreza, as
extensas jornadas de trabalho, as demissões, o desemprego, a recessão econômica. E, além
disso, das camadas médias da sociedade mexicana vinham à tona críticas sobre a dificuldade
de ascensão social, a falta de oportunidades e as restrições das liberdades individuais.
De acordo com os autores (Ávila; Salmerón, 2015), todas essas demandas e a maneira como
os homens e mulheres a situação se mesclaram e produziram a agitação social no México a
partir de 1910. Ao longo dos anos, inúmeros pesquisadores se dedicaram a analisar as razões
pelas quais os camponeses sua rotina e aparente passividade para lançarem-se em uma
insurreição, arriscando suas vidas e seus futuros. Muitos concordam que uma das principais
motivações foi a rápida deterioração das condições de vida relacionada à imposição do
capitalismo comercial relacionado ao imperialismo. Os principais agentes responsabilizados
pela catástrofe eram o Estado e as elites proprietárias de terras. No entanto, isto por si só, não
era suficiente. O texto também aponta para as reverberações do chamado de Francisco
Madero para que os mexicanos se rebelassem contra o governo, em novembro de 1910, em
regiões como Chihuahua, Durango, Sonora e Morelos, essencialmente rurais e focos iniciais
de rebeliões que rapidamente se espalharam pelo território mexicano.
Outro fator que deve ser levado em consideração é a concentração do poder nas mãos de
Porfírio Díaz. Ávila e Salmerón (2015) afirmam que o regime porfirista envelheceu junto
com seu líder, perdendo a capacidade de incorporar outros setores e grupos regionais na
estrutura governativa. Os novos setores buscavam canais de participação em um governo
fechado em si mesmo. A situação se agravou de forma mais aguda com os conflitos na
sucessão de Díaz.
Os autores (Ávila; Salmerón, 2015) destacam que a revolução não surgiu de maneira
espontânea. Em grande medida, foi o desdobramento de muitas lutas, mobilizações, tradições
e propostas desenvolvidas no século XIX e, principalmente, após a vitória sobre a
intervenção francesa. Elas inspiraram e construíram as referências que embasaram uma nova
etapa do processo de conscientização, mobilização e resistência popular, em maior escala,
com a revolução de 1910.
De acordo com os pesquisadores (2015), as revoluções sociais são o principal fator que
origina e explica as grandes mudanças na História. As grandes insurreições das massas
populares a fim de tomar o controle de seu destino, são um ponto fundamental, catalisadores
de mudanças que, de outro modo, levariam muito tempo para ocorrer. Para que uma rebelião
possa ser classificada como revolução precisa apresentar, ao menos, três características: uma
autêntica e significativa mobilização popular, o objetivo de tomar o poder do Estado a partir
de uma proposta alternativa de organização da sociedade e, a alteração significativa das
estruturas econômicas, sociais, políticas, jurídicas e culturais. Contudo, deve-se considerar
que essa mudança ocorre por meio de um processo prolongado e conturbado. No caso do
México, a revolução entre 1910 e 1920 e suas consequências nas décadas seguintes, causaram
mudancas fundamentais na história do país que moldaram sua trajetória ao longo do século
XX.
Os principais pontos fortes do texto de Felipe Ávila e Pedro Salmerón é a discussão sobre os
indivíduos e grupos e suas motivações no processo de revolução que levou a termo a
república oligárquica no México. Além disso, o trabalho dos autores é muito promissor ao
expôr as características mobilizadas para a classificação de um movimento como revolução.
É um trabalho coletivo que se destaca não só pela narração dos fatos mas pela discussão
sobre a sua complexidade. Sem dúvida alguma, é um trabalho que vale ser traduzido para o
português para que o público lusófono possa ter contato com seu conteúdo.

Douglas Maia da Silva Sobrinho, graduando


em Licenciatura em História pela
Universidade Federal de São João del-Rei.

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